Colônia Leopoldina: versos aos ventos teus

Page 1

COLÔNIA LEOPOLDINA VERSOS AOS VENTOS TEUS



JOSÉ FRANCISCO DE MELO NETO

COLÔNIA LEOPOLDINA VERSOS AOS VENTOS TEUS

EDITORA DO CCTA/UFPB JOÃO PESSOA 2017



COLEÇÃO - COLÔNIA LEOPOLDINA SÉRIE 1 - EDUCAÇÃO, HISTÓRIA E FILOSOFIA Volume 1 História imperial e pós-modernidade (alguns elementos para discussão) Alexandre Gilberto Sobreira Sílvio César da Silva de Carvalho SÉRIE 2 - GEOGRAFIA E CIÊNCIAS NATURAIS Volume 1 COLÔNIA LEOPOLDINA (AL): situações político-ambientais. Maria Betânia Alves dos Passos Marília Gabriela da C. Gomes José Francisco de Melo Neto Volume 2 COLÔNIA LEOPOLDINA (AL): situações político-ambientais (vol II). Andréa Marques Silva Elizabete M. do N. G. Veloso Paulo Edson de Araújo Valquíria Maria da Silva José Francisco de Melo Neto SÉRIE 3 - SOCIOLOGIA E POLÍTICA Volume 1 COLÔNIA LEOPOLDINA (A): 30 anos de lutas populares por mudanças e cidadania - (1983-2013). José Francisco de Melo Neto Volume 2 COLÔNIA LEOPOLDINA (AL): 65 anos de política partidária dominante (1950 a 2015) (relatos e visões críticas) José Francisco de Melo Neto Osvaldo Batista Acioly Maciel Sílvio César da Silva de Carvalho


SÉRIE 4 - LETRAS E LITERATURA Volume 1 COLÔNIA LEOPOLDINA - versos aos ventos teus José Francisco de Melo Neto

Lista de fotos: capa -- serra da catita - colônia leopoldina. foto 1 -- membros fundadores da academia de cultura de colônia leopoldina foto 2 -- cercanias da cidade foto 3 -- resistência foto 4 -- sem nome foto 5 -- fazenda marvano - jacuípe-al


foto 1 - membros fundadores/as da academia de Cultura de colĂ´nia leopoldina - ACCL


FICHA CATALOGRÁFICA

Revisão: Prof. Ms. Admmauro Gommes Profa. Dra. Anaína Clara de Melo


ACCL



dedicatória Versos ao povo do polígono da guerra dos cabanos, em especial, do vale do rio jacuípe, em terras também da atual colônia leopoldina, em que negros, índios e mestiços lutaram por liberdade e direito de viver nas matas.



Apresentação Em busca da cidade sumida A poesia nos permite juntar retalhos de uma longa jornada e lançar sobre eles um olhar de ternura e alumbramento. Esta foi a primeira impressão que tive ao ler Colônia Leopoldina: versos aos ventos teus, principalmente na sentença: “caçando a cidade sumida” (NON SENSE). Lembrei-me do mesmo desencanto de Carlos Drummond, ao procurar a terra natal: “Quis ir para Minas, Minas não há mais.” No caso de José Francisco de Melo Neto, Colônia Leopoldina ainda há e sua existência ressignifica a existência do escritor.


Caberiam, portanto, outros títulos a esta obra, se assim fosse do querer do autor: Tributo a Colônia, Louvações à cidade, ou, se Almeida Garrett não tivesse escrito Viagens na minha terra, este cairia igualmente uma luva ao conjunto de poemas que ora apreciamos, pois nela se destacam o poeta e a poesia num canto devoto e definitivo de viajante que visita o solo onde nasceu e reconhece na fauna e na flora aspectos presentes da sua formação (...plantas, aves e beijaflor/ tatus e tamanduás). O tempo não ofuscou a memória da infância nem se negou a reacender a vontade do retorno. Deste modo, a paisagem de Colônia nunca saiu das fixações de JFMN, quando ele mesmo diz: é “um canto que canto tão bem longe.” Longe fisicamente, perto pelas permanentes visitas à casa paterna e às origens nunca negadas. É evidente a autodenúncia nestas indagações: Que amor novo? Há velho amor em ti?


É, por assim dizer, um livro de poemas que surgem como quem procura localizar um tesouro que havia escondido. Depois de muito tempo, a intenção de agora é dar publicidade aos resquícios de uma história que responde pela múltipla visão do homem, do saudosista, do intelectual e do poeta. Pela expressão mnemônica, as imagens apresentamse fragmentadas apontando para a reconstrução do passado. Isso se pode atestar facilmente, tanto no poema Cidade Deserta (Palavras, olhares/ Palavras, valores/ Valores, coração), quanto em tantos outros versos curtos que aceleraram o ritmo imposto pelo eu-lírico, pois têm pressa e revelam a infinidade de pedaços de coisas e sentimentos oriundos do desejo implacável de quem é crítico consciente de seu tempo, como se atesta logo na Dedicatória (...em que negros, índios e mestiços lutaram por liberdade e direito de viver nas matas).


O recorte social vai se avolumando até que a intencionalidade do livro atinge o ponto máximo nos últimos dois poemas: Esquecer jamais e Uma madrugada de abril. A literatura assume, definitivamente, a função de engajamento. Esta, ofuscada pelo sentimento dos versos anteriores, mesmo que se procure negar o saudosismo (Não mais escreverei sobre saudade), o compromisso de um ativista jamais é esquecido, antes percebido nas entrelinhas de cada estrofe. A cidade ressurge em forma de bandeira de luta e isso vai além de mera referência geográfica, onde vislumbramos a partida e a linha de chegada do escritor, eminente professor titular da Universidade Federal da Paraíba que volta para contribuir com a sociedade leopoldinense. E esta logo inclui no mapa cultural brasileiro, quando faz com que reassuma a dimensão histórica que sempre mereceu.


Assim, toda a obra de José de Melo, tanto científica quanto de investigação sociopolítica ou poética, desdobra-se em subtemas dentro de um mesmo eixo: a defesa de um povo, a luta pelo direito ao direito, o resgate da cidadania historicamente negada, mas definitivamente acreditada pelo escritor. Para ele, tudo é possível em nome da coletividade, quando todos se juntam numa só voz, ao acreditar que lutar é preciso. Somente assim, todos encontraremos a cidade sumida, que, afinal de contas, por todo tempo, esteve dentro de cada um de nós. Em síntese, este livro é mais um canto de amor à terra natal, entoado por um de seus filhos mais lustres, José Francisco de Melo Neto. Admmauro Gommes Xexéu, PE, aos de 7 fevereiro de 2017.



SUMÁRIO APRESENTAÇÃO....................................................13 AULA DA SAUDADE................................................21 DA SERRA flor do serrado..........................................25 intimismo..................................................27 cidade deserta..........................................29 non sense..................................................31 sim e não em você...................................34 amo............................................................36 viandando.................................................38 a volta........................................................39 eu disse: não!............................................42 tu................................................................43 VENTOS DAS BANDAS DE LÁ outra vez...................................................47 ai de mim!.................................................49 ah! nem sei................................................50 ausência.....................................................51 carnais.......................................................52 encantos....................................................53 incompletude...........................................54


matéria escura..........................................55 me chama..................................................56 na serra......................................................57 pergunta....................................................58 reencontro.................................................59 significado................................................60 teu corpo...................................................61 veneração..................................................62 um passado...............................................63 ARARIPE Je ne pas...!................................................67 CANAVIAIS carro de natal............................................71 cercanias....................................................72 poema carioca..........................................73 poema nas águas do guaíba ..................75 terras "ninhas"..........................................76 lampejos....................................................77 sofrimento.................................................78 uma ode à colônia cabana......................81 esquecer jamais........................................85 UMA MADRUGADA DE ABRIL


AULA DA SAUDADE Aos concluintes de qualquer curso superior Processos filosofia ou combate movimento busca marca de encontro conhecimento sentimento realidade para escutar a voz de uma saudade. É ser sujeito objeto síntese esquemática dialética linguagem tecnologia afinidade e fazer brotar saudade. Média nova antiga clássica história meteoros ambulantes fogos pirilampos na cidade do prazer de ter saudade. 21


Logotipo logomarca logotudo logo agora pesquisa leis de ensino transversais pluralidade do saber ser uma saudade. Pós-graduação serviço público excelência impedimentos greves impaciência empiria exegese religiosidade em fazer valer saudade. Hardware software e mais que é abraços festas alegrias monografias textos mas saber se vivo estou se eu souber sentir saudade.

22


DA SERRA



FLOR DO SERRADO

Abril. ciência-hoje. livraria. bolsa azul. vermelho. defesa da vida. supernova. superquadra. cpg. e eu sem você! Ética. arquitetura. agronomia. produção. sistemas. química. semiótica. política. ogum megê. e eu sem você! Computação. simulação. ergonomia. sessão especial. discurso. festa e painel. produtos naturais. coca-cola. tv. e eu sem você!

25


Simpósio multidisciplinar. psicologia. la dance de l`univers – je ne suis pas. pcb. sqe. qno. viplan. unb. e eu sem você! Anticorpos monoclonais. cronobiologia. terapia sexual. tabagismo. cpf. rmn. vacina antifeto. show de química. ldb. e eu sem você! Hidráulica, recombinantes. fisiologia. sociedade: brasil ano dois mil. como assim dar parecer eu sem você? Funk. punk. jung. alegoria. consciência. pos-moderno. yang. in. anarquismo. social. eu. mais o quê eu sem você?

26


INTIMISMO Superar a matéria o comentário. fugir da imprensa. não resposta ao público. fim da família. não conservar o nome. não cuidar de filhos. o cultural. de lado o preconceito. nem fazer orações. nem fazer caridade. ser profundamente apolítica. um choro de amada. um amor possessivo e dominador. e tal conflito superado 27


com amor que quero compartilhado. de lado o machismo. além do feminismo. crise de sentimentos como não teres medo? como é difícil! ir além do próprio ego. fazer viver o próprio eu. é possível ser capaz de ser feliz: se se amar removendo tudo mais.

28


CIDADE DESERTA Palavras, olhares. palavras, valores. valores, coração. entendimento, poesia. encontros, conversas. desencontros, desentendimentos. conversas nossas tão poucas. conversas nossas nas brigas. falações gregas. expressões latinas. nada em guarani. vontade, gestos teus de ri. expressões permanentes de ir. necessidades de ir. o tempo como fundamento, decisões. 29


tentativas minhas de ficar. expressões minhas de ficar. necessidades minhas de ficar. teu canto, teu trabalho, teu som. meu som, meu trabalho, meu canto. tua visão, teu mundo, amenidades. minha visão, meu mundo, meus materiais não respondem aos teus e nem aos meus. meus ciúmes escondidos e profundos não aceitam teu mundo. talvez nos queiramos para nós. não entendes, é minha mata. a cidade foi ferindo a mata. são meus ciúmes. agora, onde estás?

30


NON SENSE O sonho, a imagem, a fantasia, o real. e eu caçando a cidade sumida letreiros, lanchonetes, motéis móveis padronizados, lojas, nova vida. Estranha história de um amor filmada. estradas como video-games gigantes. cidades como puro out-doors. e se tudo transfigura o simulacro e na busca de tua representação. Concreto mesmo só a contradição. prédios de vidro descartável vejo e sua efemeridade me fascina desde a unidade socrática já perdida. e é na falta da consistência de si mesmo construindo o novo, motivo da vida. 31


Que amor novo? Há velho amor em ti? qual agora o belo e qual a razão? e há a razão e o belo que queres? fórmulas de vida há infinitas e candentes mas a totalidade e o nada em ti, em mim, são presentes. procuro a trilha escondida da tua dúvida e o arrebento do discurso e do preceito. surrealismo, confusão, o preconceito a irreverência, a violência, o sexo, teu ser o humor, o mutável, tudo é risível em teu viver. é a tua estranheza maquínica, talvez tua superação da velocidade a laser. estranho conceito do teu estranho novo mundo. fim de tua crise como regra e sim exceção. 32


teu discurso conflitante pulsa meu coração. mas se o todo cicundante é de dúvida onde buscar o teu mapa incompleto? não me devorarás pois a dúvida é minha certeza. é a epistemologia discordante da tua contemporaneidade. como não viver efêmero e gratuitamente a atual eternidade? que resta a ti, a mim esta realidade? como explicação? desespero? nihilismo? é preciso se viver com a falta. após as chuvas vem a brancura da névoa do inverno. amo-te, este teu amor pós-moderno.

33


SIM E NÃO EM VOCÊ Não mais escreverei sobre saudade não, não há saudade. não mais direi sobre ternura não, não há ternura. não mostrarei afeto não há sangue nas veias. não, não buscarei carinho pois futilidade. não falarei de amor disseram não existir. que mais dissera? que os astros não combinam? aprendi? escutei? vivo? elas, conversas, versões pelo fim dos sentimentos e sonhos. 34


ah! ney /deys! que bom! lí dela carta de amor. todo diferente meu coração. volto correndo a escrever, então. de amor, de escrever, de energia, com força ama. ah! há, sim, lugar para se amar e sonhos.

35


AMO Te quero amada, te amando mais. te quero companheira vivendo ao meu lado. te quero amiga te confidenciando mais. te quero amante fervente de amor. te quero mais, pois te quero na luta estando ao lado. saĂşde pois, sim. trabalho pois nĂŁo aliena. amor 36


pois te quero. emoções pois corações. busco as coisas, tornando-as possíveis te elevando aos céus do prelúdio querendo o querer do pirata azul. ser feliz.

37


VIANDANDO Chega a noite, fora o vento. no para-brisa, água escorre. eu busco luz e o dia morre. Com braços meus te afagar. lábios meus corpos beijar. vejo-te aqui e não estás. Chuva insistentemente cai. em mim, canto vazio soa. se eu contigo o tempo voa. Mãos, lábios, cabelos teus mas em vão. onde estarás? se mais te amo. amo-te mais.

38


A VOLTA O lar. a casa. o mar. De um homem teu ontem cuidar. MatĂŠria comodidade buscar. Os anos tua monotonia bateu.

39


Às campinas convite se foi. Um projeto político viver. O eu, os teus só assustar. Sair de mim não ofender. Não há princípios a te cobrar. A volta ao lar tudo ao ar. 40


Ciúmes de amor floresceu. Não fomos nós foram eles. eles e só. Teu olhar. ao lado estar. mas não podemos amar.

41


EU DISSE: NÃO! Não vim por você. não estou para amá-lo. não amo você e nos amamos ao mar. eis seus escritos, já, por tantas vezes. eles causariam perigo. e nos amamos ao mar. vamos morar nas campinas? vamos fugir? brincadeiras. prisão e o teu medo de amar. e nos amamos ao mar. Mesmo querendo demais. não mais podia te amar. pois o vento da rede levara um sonho, do sétimo andar. 42


TU Árvore me toca. flores no caule e frutos diferentes me penetram os olhos. me alimentam por dentro. folhas amarelas no chão contrastam com a folhas verdes da copa. flores que nunca vi. nem sei a cor. flor que me toda e embora no chão. sou da mata, do campo. de vê-la , não me aproximo. ah! uma chuva que vem vindo de intencionalidade. teu fascínio. quero a primavera. vejo a chuva. 43



VENTOS DAS BANDAS DE LÁ



OUTRA VEZ Em todos os lugares de ares, de mares e de cor sinto afagos, apertos e amor. teus cantos, encantos e vozes de serra e brejeira querendo sempre retorno. encantos alados. contando com o inesperado no caos, desejos de ti de novo.

47


48 Foto 2 - cercanias


AI DE MIM! E te ver nem sei. te sentir, se foi. de te olhar, sei lĂĄ. cravada na mente que nada desmente o som, o tu, o sim. mais claramente mais, mas nunca o suficiente. pensar sempre em te ser. nem sinto coisa ruim. pois o que restou para mim foi nĂŁo parar de te querer.

49


AH! NEM SEI As coxas, a perna os ais! o braço, os peitos e mais. de olhos, de luzes me penetram e encontro esforço último de mãos e dorso. um corpo a buscar, buscando, sempre um brinde de novo te amando.

50


AUSÊNCIA Sem estar. sem te ver. o teu sorriso. o teu querer. alegria e o bem de amar. sem o toque, só a fome. sem ardor. sem olhar. sem vibrar. sem teu ser. sem te amar. sem coração, já nem vejo, restando apenas o desejo.

51


CARNAIS Cantos, versos, flores. manhãs vivas de sol entardecer. o pensamento rodeia e, muito perto do coração pulsante de viver. sem ti, sem ar, sem vida. perambulam por veias de sangue, quente o teu ser. vibrante entoa a vida de feliz. cabelo que seduz. desejos que consomem tua luz desejo louco que conduz.

52


ENCANTOS

Dos cantos, dos tempos, dos ais. dos doces e dos sais. das cenas e demais. dos risos, dos brilhos de santo, do dia coberto de mantos. tão manso, tão meu e etéreo teu corpo repleto mistério, de modos e de todos encantos.

53


INCOMPLETUDE Não o tu nem o eu. sem sujeito e objeto. sem o teu suave manto. descortino, além de amizade. desejos. só saudade. minha incompletude, ansiedade se derrama na tua criatividade.

54


MATÉRIA ESCURA Leve-me e amassa de desejos peitos teus. acima teus acalantos de ninar brados de desejos. entendas pelo meu não saber. sabedoria que se esconde vivendo a me atormentar. alimenta a beleza e minha cruz que é lutar, lutar por tua luz para que, pelo escuro, eu possa passar.

55


ME CHAMA Destroços de naves, navegantes vidraças repartidas, estilhaçadas batidas, tempestades, nem lucidez e emoções sempre ameaçadas. Poeiras, paineira entumecida ricochetes, baraúnas, estampidos vorazes, doces, tempestivos amores intensos e vividos. Mas que de longe, de nada serve. sem formas, sem vida, porém quem sabe se te amar, te amar não só faça bem!

56


NA SERRA Ao pĂŠ da serra, vento que corta o ar. sinto teu cheiro, mas tĂŁo distante de estar. envolto em fazeres despisto pensamentos que em todos momentos cobrem de dor, nĂŁo te amar.

57


PERGUNTA Parei, presente estive. sempre desejos ambulantes e envolventes. não fogem de mim não fujas. penso respostas. e se ligeiras, fogueiras de ar? não! suficiente é só perguntar.

58


REENCONTRO Invernos versos meus esfriados de um tempo tão presente. parecem aliviar as dores de não te ter um coração que bate levemente. pensar mais que pensar e sem prazer buscando da vida o merecido teus braços, teus beijos, meus afagos nunca que por mim nunca esquecidos mais que demais sendo de menos de amar, de querer, de toda fonte perdidos os shows nosso horizonte.

59


SIGNIFICADO Querer amar sentir passado. viver em sonhos todos atropelados. buscar de novo. amar, amar. feliz achado. sentido amado. venero teu significado.

60


TEU CORPO Chegada, partida vazia. se chego, se vais. distante, pensante. teu corpo, teu corpo um cosmo etĂŠreo repleto mistĂŠrio de medos, de cheiros num manto de todo encanto.

61


VENERAÇÃO És busca sem fim. criatura que me juveneceu. santa, se santa és nem sei. nos meus braços, o dia amanheceu. romântico, bebida de todo canto. cristalina água que bebi. o mel que te adociquei. peneira de traços sem sol. das barras, das lutas removido, jubilando tão somente ter vivido, venerando todo aquele teu sentido.

62


UM PASSADO Eu vi o tempo mas nem era o tempo, era o ato. eu vi a coisa mas nem era a coisa, era um fato. eu te vi e te amo mas nĂŁo eras tu, fogo fĂĄtuo. vi a lua mas que lua, mero brilho dado. pelas luzes das estrelas, do universo. tudo como, apenas, narrativas de passado.

63



ARARIPE



JE NE PAS...! De repente silĂŞncio no mundo. Um beijo que cala tudo. Um ar de respirar. Um mar de te beber. O ar, o mar de amar. Ja ne pas. 67



CANAVIAIS



CARRO DE NATAL Vivendo, voando e o sal correndo e vendo o sol das terras de natal. sentindo presença em céus em vidro dos algos tão quentes nas terras de natal. reis anônimos e magos em busca de vida impertinente nas terras de natal. tabajaras, xucurus, potiguaras do sul do vale dos yacuípes de terras antes de cocal wassu em lutas e te quero nas terras de natal.

71


CERCANIAS Despedaรงando o tempo venerando os azes de um baralho da sorte. pulando os ventos acantonados nas serras de uma canastra que nem vi batendo sempre numa tecla sรณ. vivendo momentos de retornos a um campo de crianรงa e cercanias de olhos pintados de carnaval em quentes tempos de natal.

72


POEMA CARIOCA Noite alta, cama, quarto de hotel. luzes apagadas, afago o ar. da varanda vejo o cristo redentor. noite escura e seu brilho no corcovado das serras cariocas. estou cansado dos fazeres do dia e meus pensamentos passeiam pelos canaviais. não se limitam pensamentos avoantes. continuo vagando e, veja, vejo da cidade vagalumes. me enrosco na cama e voam meus sonhos. penso em você. mas não tenho você! sozinho, ventos, nuvens vagueiam. solto as mãos mas não toco em você. 73


não há você. minhas mãos soltas em teu corpo em todo corpo teu de branca cor. sinto o meu corpo no teu corpo sob o brilho da bênção do cristo redentor.

74


POEMA NAS ÁGUAS DO GUAÍBA Águas do guaíba, porto alegre cair do sol, brilho de mar mas, não é o mar. canta, prenuncia, inspira o verbo mas não o amar. voam pássaros, velejam barcos sem alegria. arcos, farrapos, retratos. aqui, eu te queria. longe, bem longe, saudade aperta um coração sedento que enviveceu. um porto alegre será somente tu nos braços meus.

75


TERRAS "NINHAS" Uma cidade que vi crescer, crescer e pouco avanรงar. cheias de nada mas de ventos, de ais. com plantas, aves e beija-flor tatus e tamanduรกs. presente um verde de tudo, um perfume, restos de matas, brancos e cores e paus-d'arco que eliminam o tempo que podem estar cheio de dor. por conta dos "ficos" e dos "nรฃos" sรณ se pode entender terra de pouco, se loucos e cheios de amor.

76


LAMPEJOS Espaços, vistas, ambiente percorrendo as sombras de estar só posso até vislumbrar efusiante as contas de um amor fervente. Posso nem se quer me parecer com as trovoadas das águas sertanejas. muito mais te vejo e te olho vislumbrado com teu sorriso e arte de te ver. Mas quando em ti presente vejo pego tuas mãos e quase prendo um coração que tão rapidamente se contentaria com um só pequeno beijo.

77


SOFRIMENTO Eu vi o teu rápido passar por ventos, textos, mas nunca via tão belo corpo desfilar ileso em tua casa que prá sempre moraria. Mas de que vale tudo e tanto ao meu favor, pensar, saber se apenas vejo e revejo cada dia mas nem nunca pensar e nem poder. Nem poder sei lá o quê se vejo, se te sinto e já sentia. mas, de que vale se não vale o meu desejo de te querer, queria.

78


79 foto 3 - resistĂŞncia



UMA ODE À COLÔNIA CABANA Um canto que canto tão bem longe te vejo e escuto e teu calor por mais que distante de ti se viva te escuto e sinto o teu ardor. Mas se mesmo assim se desesperas teus morros, teus verdes, tuas terras não te vejo com ternura princesinha mas com marcas de todas tuas serras. De um rio que te curva e serpenteia por águas muito antes navegáveis entregue ao cultivo de uma só moita mas de tantas terras para todos rentáveis.

81


E não foi isso o que aconteceu. liberdade, moradia, viver nas matas foram só lutas, com fogo, cana e brasa e distante de noites serenatas. Tudo isto partiu para alÊm do ar. da gente cabana restam desejos pois de teu povo, somente a amargura e na esperança ficando os teus lampejos.

82


83 foto 4 - sem nome



ESQUECER JAMAIS Raios cortem os céus. ser colônia não mais energias gerais das forças das mentes riscando as matas por vida e liberdade de dentro das canas das lutas cabanas. Estourem as serras. as águas de bombas há muito se foram e não mais estrondam: liberdade de viver nas matas. direitos como cidadão sem torturas nas canas das lutas cabanas. 85


Apitem os trens. buzinem usinas. levantem-se mortos. abram-se as casas. pululem os bichos. as lutas te chamam bagaços de cana das lutas cabanas Engenhos produzam mentes e corações. destruam-se senzalas. tragam a doçura de querer e fugir. restaurem o doce melaço das canas das lutas cabanas. colônia, minha colônia de tantas lutas esquecidas de propósito. 86


querem esconder aquilo de mais forte que vem da terra, das serras de canas das lutas cabanas. "lutar por ideais mesmo que a derrota seja uma possibilidade". lema de luta de superação de indicadores tão baixos que querem calar a força, as matas, as canas das lutas cabanas.

87



fazenda marvano - jacuĂ­pe-al Nesta fazenda, faleceu Vicente Ferreira de Paula, guerreiro cabano.

89



UMA MADRUGADA DE ABRIL



às crianças aos jovens para nunca esquecerem que houve uma madrugada de abril, em 1964

Escravidão república tenentismo resgate histórico sessenta e quatro constituinte reforma de base medos poder do cgt quartelada. Passeata dos cem mil tfp movimentação de tropas maranhão rio grande Bahia bandeiras trincheiras quase nada.

93


Salário educação bolsa escola plano nacional estatutos da terra da serra magistério bnh fgts inss conquistas. Desenvolvimento cupulismo duas décadas autoritarismo reacionarismo pseudorevolução para onde talvez mal quisto. Relatos de prisão tortura luta pau de arara foguete telefone fotos dramáticas radiografia elizabeth teixeira julião cabra marcado. Onde está joão pedro? nêgo fuba!!! anistia conduta moralidade trabalhadores pequena burguesia que querias que querias alforria ao lado. 94


Contra ao contra violência solidária inter“in” inter”soft” inter"üp” inter”net" percepções de curso e dissolução leveza. Surrealismo repressão liberdade tragédia invasão à faculdades de concreto de massa de saber o medo congela o pensamento tristeza. Assassinos sabotagem flor candelabro reluzente divisão árabe belfast israel leste oeste apartação gás letal. Muro artificial liberalismo plus valia busca de liberdade com toda angústia modelo mexicano latino americano carnaval. 95


Augrúrias periferia compra-se modernidade rouba-se pós-moderno é 100mb memória superação de oposição alternativas ave maria! Patente de vida genoma mágica por trás da ciência top models topquarks topless até nunca madrugada de abril tope o combate à opressão.

96



Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.