Financeiro - setembro-outubro/2020

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PALAVRA FINAL NICOLA TINGAS*

CRESCIMENTO REQUER REALISMO, PLANEJAMENTO E METAS DE LONGO PRAZO "Estadista é aquele que pensa na próxima geração" Winston Churchill, ex-primeiro ministro da Grã-Bretanha

O Brasil entrou em processo de crescente endividamento externo desde o "Plano de Metas", de Juscelino Kubitschek (1956-1960). O endividamento externo foi intensificado durante o governo militar (1964-1985) para financiar a "estratégia de desenvolvimento" baseada nos planos do "PAEG", de Castelo Branco, e "II PND", de Ernesto Geisel. A década de 1980 foi período de crise e inflação, com choques externos (petróleo e dívida externa) e a desestruturação interna, gerando a recessão entre 1981 e 1983. José Sarney (1986 a 1989) terminou seu mandato em hiperinflação. O Brasil passou a enfrentar os chamados "deficits gêmeos" (dívida externa e deficit fiscal/dívida pública). Fernando Collor assumiu em 1990, estabelecendo o congelamento de ativos financeiros, o que provocou forte recessão. Em 1994, o ministro Fernando Henrique Cardoso implementou o "Plano Real", estabilizando a inflação, ancorada por taxa de câmbio fixo. Em 1999, o congelamento cambial ficou insustentável. Para sair da crise foi criado o "tripé macroeconômico" (câmbio livre, meta de inflação e responsabilidade fiscal). (*) Nicola Tingas é consultor econômico da Acrefi. Artigo concluído em 1.10.2020.

financeiro#121 setembro-outubro 2020

O governo Lula (2002-2010) assumiu em condições macroeconômicas favoráveis e cenário externo de firme expansão global. Conseguiu distribuir renda, dobrar a relação Crédito/PIB de 24% para 50%, consolidou intenso crescimento econômico. Pôde-se quitar a dívida externa, acumular reservas e aliviar a pressão fiscal. No governo Dilma ocorreu forte expansão do deficit fiscal e profunda recessão (2015 e 2016). Em 2020, já no governo Bolsonaro, com a pandemia, foi necessário amplo gasto emergencial, agravando a situação fiscal. A prioridade atual é conter e reduzir o gasto público; para propiciar condições de estimular a volta do crescimento nos próximos anos. Infere-se desse histórico que quando a política econômica é realista, há planejamento e visão de longo prazo – mesmo com perdas durante o ciclo econômico – em termos estruturais e podese aferir "valoração futura" no contexto dinâmico da nação. Ao contrário, a visão política estreita e personalizada do "ganho rápido" estabelece resultado econômico parcial, que se dilui no tempo, prejudicando empresas, população e o futuro das próximas gerações. f


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