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Gestão e Estratégia
Foto Siva
Indústria portuguesa de componentes para automóveis cresce acima da média europeia
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O volume de negócios das empresas que abastecem a indústria automóvel em Portugal foi o melhor de sempre em 2019. Adão Ferreira, secretário-geral da Associação de Fabricantes para a Indústria Automóvel (AFIA), explica como o setor está a lidar com as quebras provocadas pela pandemia e pela escassez de semicondutores, fundamentais no fabrico de um automóvel. O gestor evidenciou a boa articulação entre as empresas ibéricas neste domínio, recordando que a Península Ibérica produz anualmente mais de três milhões de veículos automóveis, sendo o segundo maior produtor europeu.
Textos Susana Marques smarques@ccile.org Fotos DR
Quantos são os associados da AFIA e quanto representam em volume de negócios? Quanto faturaram no total as empresas associadas da AFIA no seu melhor ano? E em 2020 e quanto se prevê que faturem este ano? A indústria portuguesa de componentes para automóveis é constituída por 350 empresas. No ano de 2020 interrompeu uma série de seis anos consecutivos de recorde em termos de volume de negócios. A faturação agregada das empresas passou dos 11,9 mil milhões (ano 2019, recorde absoluto) para 10,4 mil milhões de euros no ano de 2020, ou seja, uma queda de 12,8%. Para 2021, a projeção da AFIA aponta para uma subida de 1,2% face a 2020.
Que percentagem da produção dos associados da AFIA se destina a exportação? Quais são os
principais mercados destino da produção portuguesa? A indústria de componentes automóveis é uma indústria altamente exportadora, com as vendas ao exterior a representarem mais de 80% do volume de negócios. A Europa absorve a maior parte dos componentes exportados, 91% das exportações, sendo que os restantes 9% das exportações têm como destino o resto do mundo. Em termos de países e relativamente ao ano de 2020, o mercado espanhol é o que mais consome componentes fabricados em Portugal, com uma quota de 30%, seguido da Alemanha (21%), França (12%) e Reino Unido (7%).
Como define o panorama empresarial atual dos fabricantes para a indústria automóvel, em Portugal? Quais são as nossas maiores vantagens e fragilidades? O setor é formado por PME, mas também por empresas portuguesas que se internacionalizaram, formando grupos multinacionais que atuam próximo dos seus clientes; e por um elevado número de multinacionais estrangeiras (a indústria de componentes automóveis constitui uma fonte de atração de investimento direto estrangeiro em Portugal). É uma indústria transversal e, portanto, mobilizadora agregando várias indústrias e tecnologias: metalurgia, metalomecânica, elétrica e eletrónica, química, plásticos, vidro, borracha, têxtil, curtumes, etc. Portugal é um país periférico em relação os nossos principais mercados, o que afeta naturalmente a nossa competitividade global. A competitividade das nossas empresas depende das suas capacidades próprias, mas também de fatores macroeconómicos que lhes são externos. A previsibilidade e a estabilidade das políticas públicas, assim como uma justiça que funcione são fundamentais para a confiança e para o investimento, em Portugal são um fator muito crítico.
De que forma a pandemia afetou os associados da AFIA, sobretudo tendo em conta a atual escassez de semicondutores? Há dois anos sabíamos que muito ia mudar, que tínhamos que resolver os desafios da digitalização e responder ao exigente quadro do Green Deal. E, tínhamos que nos preparar para incorporar as transformações que o mercado impunha nomeadamente da transição energética e da mobilidade. Hoje, em 2021, numa conjuntura adversa, que resulta da crise pandémica, sabemos que os drivers das mudanças serão os mesmos, mas o covid-19 acelerou todo o processo e condicionou a procura de veículos automóveis, ao que temos que acrescentar a rutura de abastecimentos e acréscimo de preços no mercado das matérias-primas e a falta de fiabilidade dos processos de logística.
O que poderá ser mais crítico e decisivo para solucionar a crise de semicondutores? Quais são as questões-chave para resolver este problema, no vosso entender? A crise de escassez de semicondutores atingiu a indústria automóvel numa altura em que o setor começava a sentir uma ligeira recuperação moderada dos níveis de produção na sequência de um abrandamento dos casos de covid-19. O aumento da procura de chips da indústria automóvel começou quando as linhas de fornecimento de semicondutores (localizadas essencialmente na Ásia) já estavam sobrecarregadas por uma procura significativa de chips do setor da eletrónica de consumo, para telefones e infraestruturas 5G, novas plataformas de videojogos e equipamento informático. A tendência é incontornável: a procura automóvel de semicondutores continuará a crescer em grande escala devido à quota crescente de tecnologias de condução autónoma e assistida para manter os condutores confortáveis e seguros, bem como a eletrificação dos veículos com a exigida gestão sofisticada do desempenho da bateria e outros
componentes eletrónicos. Efetivamente algumas fábricas de construção automóvel na Europa já tiveram que parar temporariamente a produção por falta de chips. Pelo que esta situação também está a afetar a indústria portuguesa de componentes para automóveis dadas as paragens na produção dos seus clientes. A Europa tem que apostar no fabrico e investigação & desenvolvimento de chips, para não estar tão dependente da Ásia. O setor automóvel a nível mundial é responsável por cerca de 10% da procura de semicondutores, na Europa esse valor sobe para 37%. A falta de chips para os construtores de automóveis está a arrastar toda a cadeia de fornecimento.
2021 não foi um ano de recuperação para o setor, ao contrário do que se chegou a estimar… Que expectativas têm face a 2022? O ano de 2021 tem sido marcado indelevelmente pela incerteza nas cadeias de abastecimento, espera-se que em 2022 haja uma maior estabilidade nos fornecimentos e assim a produção automóvel possa retomar o seu ciclo normal.
Até que ponto as verbas destinadas à indústria poderão ajudar os associados da AFIA? A AFIA propôs ao Governo, através do Ministério da Economia, um Programa Específico de Apoio e Incentivo ao Investimento para as empresas acompanharem a transição digital e energética. A AFIA considera que um programa que ajudasse as empresas a conseguirem aumentar o seu posicionamento nos projetos dos novos veículos teria também um efeito junto dos construtores (OEM) e fornecedores de primeira linha (TIER1), captaria a atenção dos decisores e potenciaria não só a indústria nacional, mas também o sistema científico nacional. A indústria automóvel tem uma relevância importante para a economia de Portugal, devido à sua capacidade de exportação, à criação de empregos qualificados, ao valor acrescentado e ao efeito catalisador noutros setores, nomeadamente enquanto motor da capacidade competitiva do ecossistema científico. Por isso, é fundamental estabelecer um quadro que garanta uma transformação cuidadosamente gerida para alcançar com sucesso a descarbonização e a digitalização da economia.
Em que ponto estão os associados da AFIA no que diz respeito à sustentabi-
Foto Mobinov
lidade e à digitalização, duas das prioridades de investimento do Plano de Recuperação e Resiliência português? A indústria portuguesa de componentes automóveis continua a realizar investimentos, tanto em equipamentos produtivos como na inovação de processos mais eficientes, aumentando consequentemente a sua produtividade e adaptando-se aos novos desafios dos fabricantes de automóveis, para tornar o automóvel cada vez mais seguro, eficiente e ecológico.
O que é mais urgente melhorar no setor em Portugal? E como o poderemos fazer? Há boa articulação entre as universidades/centros de investigação e a indústria para evoluirmos? A indústria portuguesa de componentes para automóveis tem preconizado um percurso virtuoso e de excelência, combinando a afirmação da sua competitividade com o esforço de penetração no mercado, ganhando quota de mercado, crescendo mais que a Indústria Europeia, o que teve como consequência a criação de emprego qualificado, o aumento das exportações e um conjunto de externalidades para a economia nacional, das quais destacamos o trade off com o sistema tecnológico e I&D nacional.
Como qualifica a cooperação entre Portugal e Espanha no que diz respeito ao setor automóvel? A Península Ibérica no seu conjunto produz anualmente mais de três milhões de veículos automóveis, sendo o segundo produtor europeu. Pelo que é um polo muito importante na indústria automóvel europeia. Espanha é o principal cliente dos componentes automóveis fabricados em Portugal, sendo que por outro lado, é um dos principais fornecedores da indústria automóvel portuguesa. Portugal é país destino de expansão internacional de empresas espanholas, assim como Espanha tem sido local para as empresas portuguesas se internacionalizarem com fábricas e/ou centros, quer através de investimentos de raiz quer por parcerias / joint-ventures. A AFIA tem uma relação muito profícua com a Sernauto – Asociación Española de Proveedores de Automoción, tomando posições conjuntas junto das instâncias europeias na defesa da indústria automóvel ibérica.
(Nesta edição em pdf, foi corrigido o valor das exportações do setor, de “30%” para “80%”, conforme consta na primeira coluna da pág. 15)
O impacto da crise de semicondutores
- Uma boa parte do funcionamento de um automóvel depende de eletrónica e a tendência é aumentar esse peso com a crescente eletrificação das frotas.
A Consultora AlixPartners calcula que a atual escassez de semicondutores provoque perdas de 210 mil milhões de dólares em receitas na indústria automóvel, em 2021, a nível mundial. - O setor automóvel é responsável por 37% da procura de semicondutores na Europa e por 10% da procura mundial, de acordo com dados da Associação Europeia da Indústria de
Semicondutores. - Na recente Web Summit, realizada em Lisboa, o CEO da ARM,
Simon Segar, avançou que o mundo está a investir para reforçar a capacidade mundial de produção de chips, em 50% nos próximos cinco anos, representam qualquer coisa como dois mil milhões de dólares (1.770 milhões de euros) por semana.
Haan alia design e sustentabilidade no segmento de produtos de cuidados pessoais
Nasceu em 2018, em Barcelona, com o propósito de criar e comercializar, da forma menos nociva possível, produtos de higiene, como desinfetantes para as mãos, cuja procura disparou com a pandemia. A Haan está presente em 44 países e aposta no design para seduzir e sensibilizar os consumidores.
Texto Susana Marques smarques@ccile.org Fotos DR
Eric Armengou e Hugo Rovira trabalharam “como distribuidores de marcas de moda e acessórios durante anos” e em 2018 decidiram iniciar um novo projeto, em paralelo: “um projeto mais próximo da forma como vemos a vida, uma marca com um claro compromisso social desde a sua origem. iniciámos um processo em busca de possíveis oportunidades de negócio em que pudéssemos inovar, cobrir uma necessidade latente no mercado e devolver o nosso grão de areia ao planeta. durante uma viagem aos Estados unidos, descobrimos a utilidade do higienizador de mãos, onde a sua utilização já era generalizada. Adorámos a ideia, mas não o produto em si, que sentimos que poderia ser melhorado em termos de apresentação e design. Ao mesmo tempo, começámos a investigar a indústria de cuidados pessoais. Percebemos que o setor estava a ficar para trás, com um modus operandi demasiado convencional. Vimos um espaço onde podíamos inovar.”
A marca Haan nasce assim em Barcelona no ano de 2018 e atualmente produz e comercializa quatro produtos, frisam os empresários: “O higienizador de mãos, o creme de mãos, a pasta de dentes e o sabonete líquido de mãos. todos eles com diferentes fragâncias. O desenvolvimento do produto começa internamente na Haan. O nosso arquiteto de marca avalia quais os produtos que devemos apostar para colocar no mercado e, assim, avançamos.”
Este novo ano arranca com novos produtos, adiantam os fundadores da Haan: “No primeiro trimestre de 2022, temos novos lançamentos planeados na categoria body care. Não podemos já revelar quais são, mas em breve teremos novidades. Aquilo que move a nossa inovação é encontrar oportunidades que sejam úteis para o dia a dia dos consumidores, com produtos diferenciadores e cujas fragâncias agradem a qualquer um. Sempre sob os valores de serem produtos com ingredientes naturais, recarregáveis e com embalagens o mais sustentável possível.”
Os empreendedores souberam tirar partido da sua “experiência no mundo da distribuição de moda”, onde fizeram “grandes contactos nos canais retalhista, farmacêutico e de beleza”, mas também manter o olhar crítico
sobre o mercado: “como trabalhámos com muitas marcas e coleções com datas de validade, apercebo-nos de que a forma como estávamos a consumir não era sustentável para o planeta. Assim, ao fundar a Haan, decidimos dar a volta à indústria (turn care around), sendo sustentável e, ao mesmo tempo, doando 20% dos seus lucros para a criação de poços de água potável em comunidades em desenvolvimento. A missão é ser parte do jogo, mas também parte da solução.” Os gestores assinalam que “a sustentabilidade é o ponto-chave em todos os lançamentos”, já que “todos os nossos produtos de cuidados pessoais apresentam uma fórmula ‘limpa’, com pelo menos 90% de ingredientes de origem natural, em embalagens de alta qualidade, recicláveis e reutilizáveis, devido ao facto dos nossos produtos poderem ser recarregáveis”. Estas embalagens “permitem recarregar o produto até três vezes (duas, no caso do sabonete líquido para mãos) e, consequentemente, reduzir 89% das emissões de plástico, água e cO2 geradas”.
Além da sustentabilidade, o design é mais um argumento para convencer os consumidores a reutilizar as embalagens: “O nosso grande objetivo é desenvolver produtos com um design tão apelativo que faça com que os nossos clientes prefiram reutilizar as suas embalagens em vez de as deitar fora e comprar uma nova. desta forma, podemos começar a afastar-nos da atual cultura “descartável” e começar a comprar produtos para usar uma vida toda. No caso do creme de mãos e da pasta de dentes, isto torna-se ainda mais expressivo na medida em que propomos aos nossos consumidores que demorem apenas quatro minutos a limpar o interior e o exterior da embalagem e a reutilizá-la tantas vezes quantas quiserem. uma ação muito simples, mas que pode ter um grande impacto se for transferida para todas as embalagens utilizadas para cuidados pessoais numa base diária. Ser sustentável como marca de cuidados pessoais já não é uma ação de marketing, é uma necessidade.”
As embalagens são produzidas na china e as fórmulas dos produtos em Espanha, onde também são embalados os produtos. “No primeiro ano, produzimos 100 mil unidades e ficámos sem stock ao fim de apenas três meses”, contam os gestores, acrescentando que a pandemia foi muito desafiante para a marca: “A procura aumentou exponencialmente e os nossos fornecedores tinham parado a produção. Fizemos tudo o que pudemos para manter a nossa distribuição, para podermos continuar a servir os nossos distribuidores nacionais e internacionais. Penso que fomos bem-sucedidos, na medida do possível, e isso ajudou a fortalecer, ainda mais, as relações com estes clientes, que viram como demos tudo de nós para fazer avançar as produções – como foi o exemplo da Hasse Healthcare, nosso distribuidor exclusivo em Portugal.” igualmente desafiante é “o desenvolvimento de produtos em geral, encontrar as melhores fórmulas, os registos e desenvolver embalagens apelativas e diferenciadoras face ao resto do mercado”, frisam Eric Armengou e Hugo Rovira.
Sendo uma marca recente, a Hann já chega atualmente a 44 países: “temos uma estratégia integrada de marketing e comunicação, ligando todos os nossos canais para que os nossos objetivos e valores sejam mantidos, independentemente da localização. também confiamos fortemente nos embaixadores e influenciadores da marca para serem os nossos representantes na comunicação do nosso produto e dos seus benefícios.”
A marca tem uma rede de parceiros que distribuem os produtos Hann em farmácias, lojas de beleza, de moda, parafarmácias e grandes superfícies. “Em Portugal, a exclusividade da distribuição pertence à Hasse Healthcare e os portugueses podem encontrar os produtos também em inúmeras farmácias”, indicam os detentores da Haan, sublinhando que “estreita relação com todos os parceiros”, com que mantêm “contacto diariamente para compreender as suas necessidades”. com um investimento inicial de 30 mil euros, já recuperado, no primeiro ano de atividade, a Hann obteve um volume de negócio de 100 mil euros. “Excedeu certamente as nossas expectativas e, desde então, a dinâmica não se alterou. Este ano, as previsões são de seis milhões de euros”, revelam os gestores, indicando que as vendas online representam 8% do total das receitas.
Os empresários avançam que pretendem abrir loja própria, mas ainda não podem revelar pormenores sobre a localização ou data de abertura.
Blue Atlantic Forum discute potencial da economia azul
Pesca, biotecnologia e turismo são os eixos principais do desenvolvimento da chamada economia azul, na Galiza. Como desenvolver essas áreas e tirar partido do oceano da forma mais sustentável foi a questão transversal que levou ao Blue Atlantic Forum, em Baiona, nos passados dias 24 a 26 de novembro vários especialistas e agentes económicos. A segunda edição terá uma dimensão ibérica.
Texto Susana Marques smarques@ccile.org Foto DR
Espanha é a segunda economia azul europeia, depois do Reino unido, de acordo com dados de 2019 da união Europeia, citados pela sem comprometer a biodiversidade e a sustentabilidade. Os três dias de jornadas discutiram temas relacionados com três setores de vital importância para o desenorganização do Blue Atlantic Forum - BAF2021, que durante três dias concentrou em Baiona, na Galiza, vários especialistas e agentes económicos para discutir os desafios e as oportunidades em torno da economia do mar. O evento, organizado pelos responsáveis do concelho de Baiona, decorreu nos dias 24, 25 e 26 de novembro, no Parador conde de Gondomar, com o objetivo de perceber como desenvolver as áreas económicas relacionadas com o mar, volvimento sustentável da Galiza, em geral, e de Baiona, em particular, nomeadamente sobre turismo marítimo e de costa, pesca e aquicultura e biotecnologia marinha, abordando questões como a formação, o financiamento, o empreendedorismo, a mudança climática ou as oportunidades que as rias galegas apresentam no âmbito da economia azul. Para o presidente da autarquia, “Baiona tem que superar a fase de viver de costas para o mar. Agora vamos também fazer com que a economia olhe para o Atlântico, com uma nova estratégia de economia azul com a qual iremos promover a criação de empresas de qualidade e empregos em vários setores.”
Jacobo camba, diretor da Associação Blue Atlantic Forum, faz um balanço muito positivo do evento: “A primeira edição foi um sucesso de conhecimento, já que um dos principais objetivos do fórum é divulgar o que é economia azul e as oportunidades que ela oferece. um sucesso técnico, pois tanto a produção local quanto a transmissão via streamimg funcionaram perfeitamente. E também um sucesso em
termos de tempo. Há que ter em conta que uma parte considerável dos 806,9 mil milhões de euros do Plano NextGenerationuE será destinada a indústrias e setores relacionados com os oceanos, mares e costas. daí a importância de concentrar os diferentes atores principais da economia azul atlântica. Representantes institucionais, empresários, profissionais do mar, da indústria hoteleira, cientistas, estudantes e público em geral trocaram opiniões sobre as oportunidades existentes em torno da economia azul”, adianta o mesmo responsável.
Não há dados exatos sobre o valor da economia azul para a Galiza, mas é inegável que a região “tem um a posição preponderante nas áreas de pesca e aquicultura”, sublinha Jacobo camba, acrescentando que “o crescimento passa pelo desenvolvimento do turismo costeiro de forma sustentável e pelo impulso de setores emergentes, especialmente a biotecnologia marinha e a energia eólica no mar”.
O BAF2021 teve um alcance regional, mas está previsto um BAF2022 ibérico, a realizar nos dias 19, 20 e 21 de outubro de 2022 no Parador de Baiona, adianta o gestor espanhol. “Portugal é uma potência da economia azul, com um Ministério do Mar e entidades tão qualificadas como o Fórum Oceano, com quem queremos construir pontes de colaboração”, frisa o responsável.
Em 2022, o evento será em espanhol e em português. Esta segunda edição será a consolidação do fórum como espaço de referência de discussão, formação e divulgação sobre a economia azul numa perspetiva atlântico-europeia.”
A organização está já a pensar na continuidade do projeto: “Os passos mais importantes são garantir financiamento para a realização das edições de 2023 e 2024 e consolidar mais colaborações com entidades privadas. Para o futuro, queremos adicionar mais um setor aos três em que o fórum está atualmente focado: pesca e aquicultura; biotecnologia marinha e turismo costeiro.”
Jacobo camba informa ainda que a primeira edição pode ser vista via streaming, gratuitamente.
Financiado por fundos GAlP (Grupos de Ação local do Setor Pesqueiro), que canalizam fundos europeus FEMP (Fundo Europeu Marítimo e de Pesca), o projeto é também cofinanciado pela Administração da Província de Pontevedra e Ayuntamiento (câmara) de Baiona, e pela Abanca Mar, a primeira entidade privada a apoiar financeiramente o projeto. “O apoio privado é fundamental para o crescimento futuro do fórum e é uma parte que estamos a dinamizar”, remata Jacobo camba.
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O cirurgião Joaquim Barbosa é um exemplo de perseverança, rigor e de muito amor pela sua profissão, que exerce há quase 50 anos. Uma vida inteira de dedicação, que passam por escutar e conversar com os seus pacientes, duas formas de curar tão importantes como os atos clínicos e as cirurgias que realiza. Além da prática, fez sempre questão de partilhar os seus conhecimentos com os seus pares, quer em congressos internacionais quer em publicações da especialidade, frisa o cirurgião vascular.
Textos Clementina Fonseca cfonseca@ccile.org Foto Sandra Marina Guerreiro sguerreiro@ccile.org
Apatologia vascular ganhou uma nova visibilidade com a pandemia, como frisa Joaquim Barbosa, cirurgião com quase 50 anos de prática, a maior parte dos quais ligado à cirurgia vascular.“ A doença vascular apresenta muitas complicações decorrentes da covid-19 – muito mais do que em qualquer outro tipo de especialidade. Muitas delas estão ainda por comprovar cientificamente. Mas, de qualquer modo, “eu tenho visto doentes com complicações de patologia vascular, nomeadamente venosa, indiscutivelmente depois da covid-19, a que eu chamo precisamente patologia vascular pós-covid. Ainda não se saberá a verdadeira incidência deste tipo de complicações, mas que elas existem, existem. Não se conhecem todas as sequelas da covid, nomeadamente a nível vascular ou mesmo do pulmão, mas, na minha opinião, estas deverão vir a surgir, quase seguramente”, adianta o cirurgião, que é coordenador do serviço de cirurgia Vascular do Hospital dos SAMS (sistema de assistência médica e social dos bancários).
É um dos cirurgiões com maior experiência na área da patologia vascular, em Portugal, especialidade médica que se dedica ao diagnóstico clínico e imagiológico e ao tratamento médico e cirúrgico das doenças das artérias, veias e vasos linfáticos. E, com um tom pedagógico, enumera alguns dos principais fatores de risco que podem contribuir para desencadear doenças vasculares arteriais, como o tabagismo, o a diabetes, a hipertensão arterial, o stress, o sedentarismo, a obesidade, entre outros.
O médico alerta ainda para uma das principais patologias que podem ocorrer e que afetam as artérias, como as obstruções e os aneurismas. “O acidente vascular cerebral é um dos acidentes que mais mata em Portugal!”, alerta o especialista.
Ao nível das veias, há dois fenómenos mais comuns: um deles, a trombose venosa, que resulta da obstrução das mesmas. Este fenómeno necessita de tratamento eficaz, pois muitas vezes dá origem a embolias pulmonares, acidente que tem “uma alta taxa de mortalidade”. Menos grave, mas com elevada incidência, outra das patologias mais frequentes é causada pelo refluxo venoso, que se localiza sobretudo nos membros inferiores, dando origem às varizes.
Quanto às doenças que podem afetar os vasos linfáticos, destaca-se o linfedema, refere o médico especialista.
Participação em sociedades científicas
Além das práticas médica e cirúrgica, Joaquim Barbosa mantém uma forte dedicação a “uma vertente associativista, pertencendo a várias sociedades científicas”, onde os especialistas e investigadores de determinadas áreas de conhecimento partilham as suas experiências e conhecimentos teóricos.
Atualmente, mantém-se ligado à Sociedade Portuguesa de Angiologia e cirurgia Vascular” (SPAcV), da qual foi um dos fundadores, ex-presidente e sócio emérito. Os objetivos desta associação passam, nomeadamente, por “fomentar a divulgação e a troca de
conhecimentos entre cirurgiões, mas, sobretudo, por sensibilizar a população para a existência destes tipos de patologias tão graves”.
“Trabalho fundamentalmente por prazer “
Joaquim Barbosa nasceu há 74 anos, no Porto, e há quase cinco décadas que começou a exercer a profissão de cirurgião.
“Sou cirurgião por vocação. desde os meus seis anos de idade que não quis ser outra coisa senão ‘operador’. Sou uma das poucas pessoas que fazem na vida aquilo que sempre quiseram fazer!”, comenta. destaca, deste modo, como é a sua relação com os doentes: “um cirurgião, como qualquer médico, deve ter características marcadamente humanas no que respeita à relação com o paciente. Para mim, é mais importante um bom relacionamento com o doente do que o tratar imediatamente. Há várias formas de relacionamento: ou com indiferença, ou com carinho. tenho já uma certa idade e não quero abdicar desta minha maneira de ser e de tratar os meus pacientes de forma afetiva”, frisa. “Gosto muito de conversar com os doentes que opero. Acabo por prolongar muito as minhas consultas, em detrimento da qualidade da minha vida familiar e pessoal”, admite o médico. começou a sua carreira como cirurgião geral no Hospital de Santa Maria (HSM), e mais tarde enveredou por uma especialidade mais específica, a cirurgia vascular.
Atualmente, é coordenador da cirurgia Vascular do Hospital dos SAMS, unidade onde trabalha há cerca de 20 anos.
“Fui um dos fundadores do atual serviço de cirurgia Vascular do HSM”, recorda. Frisa ainda o seu trabalho junto dos seus pares, como fundador e membro de várias sociedades científicas, tendo ainda publicado centenas de artigos e comunicações e conferências, em publicações nacionais e internacionais, sendo alguns destes artigos “ainda hoje referência científica” na área da cirurgia, em particular da cirurgia vascular, conclui.
Uma vida sempre ativa
“levei sempre uma vida intensa, a começar pela vida profissional, que foi sempre uma loucura. trabalhava muitas horas, mesmo ao domingo chegava a ter operações. continuo a trabalhar todos os dias, mas com um horário mais reduzido”. Mas foi intensa também “com a família, amigos e a viajar. tenho aquilo a que se chama uma vida vivida, alias é o nome do livro que estou a escrever, mas ainda só escrevi dois terços do mesmo. com a pandemia, reduzi o ritmo. Pensava que ia ser um período de inspiração, mas afinal foi uma desinspiração”.
Pela mesma razão, “o hospital dos SAMS esteve parado”, encerrou todas as atividades durante quase dois meses, devido a um “grande foco de infeções”. durante esse mês e meio esteve confinado em casa, o que o afetou psicologicamente, reconhece o cirurgião que não pára. Embora trabalhasse na mesma, com risco elevado, nada se assemelhou aos “médicos da linha da frente – venero-os pelo que fizeram nessa altura, e ainda agora”.
Foto DR
Paixão por viagens e por África
Nascido no Porto, Joaquim Barbosa viveu em Moçambique, país onde iniciou os seus estudos universitários, tendo depois concluído os mesmos em Portugal, na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. Foi cirurgião geral do Hospital de Santa Maria, onde exerceu também as funções de assistente da faculdade. Foi posteriormente cirurgião vascular na mesma instituição. A paixão por África manteve-se sempre. “Considero-me português e também moçambicano”, confessa. Casado e com duas filhas e dois netos, um dos seus maiores prazeres, nos tempos livres, é viajar. “Herdei o vício de viajar dos meus pais”, um hábito que transmitiu também às suas filhas. Já correu meio mundo, quer por razões de trabalho, quer por motivos lúdicos. “É mais fácil dizer os países onde ainda não estive”, comenta, sobre todos os locais que já visitou. Onde gostaria de ir agora? “Já não sei…”.