#19 Administração: a bola da vez do mercado

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Esse cara é você? Cinco dicas para fazer seu marketing pessoal

Marketing Como vencer a guerra entre os concorrentes no ponto de venda

contraponto fevereiro/março de 2013 – ano 2 – no 19 www.administradores.com R$ 12,50

O plano de negócios é fundamental para abrir uma empresa?

Administração a bola da vez do mercado Conheça as áreas, cargos e negócios que realmente precisam do profissional de Administração. Saiba quais são as tendências e o que fazer para ter uma carreira ou um negócio de sucesso na área.



EDITORIAL

Expediente

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CONTATOS

clique e veja agora a tv administradores

Projetos se tornando realidade Nós do Administradores começamos o ano muito empolgados com os projetos lançados e com aqueles que estão por vir. A novidade principal, sem dúvida, é a nova versão do portal, recheada de funcionalidades. Passamos 2012 planejando e desenvolvendo o novo site que estreou em janeiro. Além de um portal mais atraente e intuitivo, particularmente, destaco a chegada da TV Administradores, que é mais uma possibilidade de interação e troca de conhecimentos entre todos nós. A chegada de Daslei Ribeiro, como editor de vídeos, e o engajamento de toda a equipe em abraçar mais essa ideia têm sido fundamentais para a realização desse projeto. Se você está lendo este editorial pela versão digital, poderá acompanhar nas páginas seguintes alguns dos programas da TV. Caso esteja lendo na versão impressa, então, é só parar na página 9, anotar o link e posteriormente acessá-lo em seu computador. Os anos de 2013 e 2014 ainda prometem outras grandes novidades, mas é claro que não vou estragar as surpresas. É só continuar nos acompanhando. Sobre esta edição, a reportagem que muitos administradores desejavam ler se tornou a nossa capa.

Fomos identificar como, de fato, anda o mercado da Administração, quais são as projeções da área e as oportunidades de carreira, além de onde estão sobrando vagas e muito mais. Realmente constatamos que a Administração é a bola da vez do mercado. Há também outras matérias imperdíveis, como a que dá dicas para a realização de um bom marketing pessoal, a criatividade como inclusão de disciplina na sala de aula e a entrevista com Ricardo Loureiro, presidente da Serasa Experian. Vale destacar ainda a matéria da seção gonzo, com a ida da nossa estagiária Agatha Justino a diversos videntes em busca de descobrir se, realmente, é possível prever o futuro. Esperamos que você curta esta edição, da mesma forma que gostamos de prepará-la. Agora é com você. Boa leitura!

Assinaturas www.administradores.com.br/revista PUBLICIDADE comercial@administradores.com.br +55 (83) 3247 8441 correspondência Av. Nossa Senhora dos Navegantes, 415 / 304 - Tambaú - João Pessoa - Paraíba CEP 58039-110 redação revista@administradores.com.br Publisher Leandro Vieira leandro@ administradores.com.br Redação Editor Fábio Bandeira de Mello fabio@ administradores.com.br Repórteres Agatha Justino agatha@ administradores.com.br Eber Freitas eberfreitas@administradores.com.br, Fábio Bandeira de Mello, Mayara Emmily mayara@ administradores.com.br e Simão Mairins simao@administradores.com.br Revisão Danielle Vieira COLABORADORES Carlos García Pont, Davi Bertoncello, Daylini de Oliveira, Ícaro Allende, Henry Mintzberg, Mari Gradilone, Maurício Prandi, Martha Maznevki, Paulo Rocha e Oliveira, Raniere Rodrigues, Seth Godin, Stephen Kanitz. ARTE DIREçÃO João Faissal | Imaginária Design design@ imaginaria.cc Design e ilustração Thiago Castor thiago@administradores. com.br EDITOR DE vÍDEO Daslei Ribeiro daslei@administradores. com.br COMERCIAL Diretor Comercial Diogo Lins diogo@administradores.com.br FINANCEIRO Anna Vita Vieira annavitavieira@administradores.com.br Atendimento ao Leitor Anna Valéria Onofre annavaleria@administradores.com.br Impressão Gráfica Moura Ramos www.mouraramos.com.br

Fábio Bandeira de Mello editor

fevereiro/março 2013

administradores.com

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sumário

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feedback

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AGENDA

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entre vist a

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ACADÊMICO Por qu

Pres id en te da Sera sa Ex peri an co nta com o ge ri r um a com pa nh ia ad m ira da e te m id a

e nã o se apre nd e cr ia tiv id ad e nos cu rsos de Adm in is traç ão?

insight

Adm in is tran do os m itos da assi stên ci a m éd ica

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28

Marketing pessoal: como fazer esse cara ser você?

Como as lições das Olimpíadas de Barcelona podem ajudar o Brasil?

PEI, BUF!

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09

ambiente externo

ONLINE

20

24

negócios Q ua

nd o tercei ri za r é um bom e um m au negóci o

carreir a

Su a em pres a es tá pron ta pa ra o futu ro ? Perg un te ao s “caubóis di gi ta is”

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estratégia

INFOGRÁFICO Quais são os rastros que deixamos?

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marketing

contraponto

Com o trabalh ar o pon to de ven da e ven cer a gue rra ent re os con cor ren tes

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o que drucker faria? As dúvidas dos leitores respondid as com os conceitos do pai da Administração

capa

Administração: a bola da vez do mercado

O pla no de negócios é fun dam ental para abr ir um a empresa?

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jornalismo gonzo

MENTE ABERTA O ridículo é o novo excepcion al | Seth Godin

As previsões e o misticism o dos videntes

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ADMINISTRADOR DO FUTURO

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ADMINISTRADORES NA HISTÓRIA

Irm ãos Vill as-Bôas: os sertani stas empreen ded ores do Bra sil

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administradores.com

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ENTRETENIMENTO - Cur iosi

dad es e hum or - Ações para um mu ndo mel hor - Leitura : Vamos às Com pras! - Cin ema : Gon zaga, de pai para filho

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artigo do leitor

Razões para algumas empresas em fase inicial não terem sucesso | Maurício Prandi

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FORA DO QUADRADO

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ponto final

O prim eiro gra nde adm inis trad or do mu ndo | Stephe n Kan itz



PONTO FINAL Com todo o respeito ao consultor Stephen Kanitz, não compreendo a sua indignação com o uso da expressão “gestão” em sala de aula. Qual é o problema? Se a questão é de ordem semântica, não vejo o porquê da revolta, pois o sentido de um termo ou expressão não está limitado à sua fronteira etimo-epistemológica. Possivelmente esta posição do prof. Kanitz esteja alinhavada com a expressão “gestor”, utilizada a qualquer profissional (que não um administrador) apto a conduzir determinada atividade de caráter gerencial, sugerindo uma intromissão de outros especialistas em área apenas restrita ao administrador. Mas isto é reflexo da globalização e da falta de maior qualificação do administrador “puro sangue”, que precisa estar permanentemente focado na ampliação dos seus conhecimentos e práticas. Gestão continua sendo uma expressão perfeita para traduzir os diversos matizes que compõem a ciência chamada Administração, não correspondente, a meu ver, a um estilo típico de “mandachuva” ou “mandarins”. Professor Jairo de Carvalho Guimarães

TROCA DE CONHECIMENTO Gostaria de agradecer à revista pelas

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administradores.com

informações passadas em cada artigo ou notícia. A revista nos mostra a realidade do mercado atual, destacando as coisas importantes para a nova realidade das organizações. Todo esse conhecimento fica mais fácil de aprender em uma forma interativa e também de passar as informações para outras pessoas. Micheli Stuber

ENTREVISTA Meu chefe... Gente boa, um ótimo exemplo profissional a ser seguido. Alex Novaes

Adorei! Não adianta tecnologia se você não sabe o que fazer com ela. Nora Regina Silva Oliveira

Muito bom! Concordo plenamente, e pior ainda, quando não é nítido qual é a tecnologia adequada ao seu negócio, a fim de dar o devido suporte às estratégias de sua empresa, uma realidade em muitas organizações. Marcelo Sbaraine

CAPA Acredito que muita gente sabe “o que fazer”; o desafio é saber “como fazer”. A complexidade dos problemas públicos do

fevereiro/março 2013

Brasil envolve muito mais do que gestão, envolve questões históricas, culturais, econômicas e políticas. Mas é claro que o fator “gestão” tem sua significância relevante. Alex Bruno

Vamos concordar que nossa missão enquanto administradores não é fácil, mas somos a nova geração e temos o dever e o compromisso profissional e pessoal de fazer o melhor. Afinal, para que serve uma carreira inicial se não tivermos desafios estimulantes pela frente como os problemas do Brasil? Deucimara Rangel Vieira

DE LONGE Essa revista Administradores é pra lá de boa. Estou compartilhando-a com minha filha na Austrália. Hélio Vilela de Carvalho

Mande também O seu recado para a Administradores através do revista@administradores.com.br


EVENTOS 02 março

06 de março

19 de março

Formação de Consultores

Fórum Mundial de Neuromarketing

Responsável: Cegente Local: São Paulo – SP Info: adm.to/consultor_sp

Responsável: NMSBA e FGV Projetos Local: São Paulo – SP Info: adm.to/neuro_2013

8º Encontro Regional dos Estudantes de Administração – Sudeste

28 março

07 MAIO

Conecades – 10 anos Responsável: VEM! Local: Guarapari – ES Info: adm.to/ conecades

Family Business 2013 Responsável: HSM Local: São Paulo – SP Info: adm.to/ family_13

10 maio 17º Encontro Regional dos Estudantes de Administração - Nordeste

Responsável: RDreams Local: Macéio – AL Info: adm.to/ eread13ne

fevereiro/março 2013

Responsável: RDreams Local: Juiz de Fora – MG Info: adm.to/eread_13

19 maio

19 maio

07 JUNHO

IV Encontro de Administração da Informação - EnADI Responsável: Anpad Local: Bento Gonçalves – RS Info: adm.to/ Enadi2013

VI Encontro de Estudos em Estratégia - 3Es Responsável: Anpad Local: Beto Gonçalves – RS Info: adm. to/3es_2013

21º Encontro Regional dos Estudantes de Administração - Sul

administradores.com

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Responsável: RDreams Local: Balneário Camboriú – SC Info: adm.to/ eread13sul


AMBIENTE EXTERNO | RÁPIDAS

Tragédia em Santa Maria choca o mundo

Arábia Saudita nomeia pela primeira vez mulheres ao Parlamento O rei Abdullah bin Abdul, da Arábia Saudita, nomeou pela primeira vez na história mulheres para a Shura, uma assembleia consultiva que tem como objetivo aconselhar o rei. A decisão está sendo considerada como o passo mais significativo dos sauditas em relação aos direitos das mulheres, devido ao país ser uma monarquia ultraconservadora. Desde que assumiu o trono, em 2005, o rei Abdullah garantiu o direito das mulheres votarem e cancelou punições de chicotadas para uma mulher que foi presa por dirigir. No país, elas são obrigadas por lei a se submeter à tutela masculina durante toda a sua vida.

divulgação

Uma noite que era para ser de celebração, mas que teve um dos finais mais catastróficos da história do Brasil. Esta pode ser uma descrição para a madrugada do dia 27 de janeiro, no qual ocorreu um incêndio que matou mais de 230 pessoas, sendo a maioria jovens universitários, na boate Kiss, em Santa Maria (RS). A tragédia, considerada a maior do Rio Grande do Sul e o segundo maior incêndio do Brasil, foi causada pelo acendimento de um sinalizador e acabou alcançando estas proporções por uma série de falhas de segurança, como excesso de lotação e falta de saídas e luzes de emergência. A catástrofe teve repercussão internacional, sendo noticiada por jornais como The Guardian, The New York Times, Le Monde, El País e NBC, entre outros.

FRASES É um salário justo para quem quer fazer um trabalho sério, honesto

Nélson Bornier prefeito de Nova Iguaçu - RJ.

Após 15 dias no cargo, Bornier aumentou seu salário de R$ 9,5 mil para R$ 19,2 mil

Um dos nossos objetivos é poder viver sem o Big Brother

Guilherme Zattar

executivo da Globosat e diretor do Multishow, sobre a exibição do reality show pelo canal

Vocês fracassariam vendendo Colacola no deserto

Revista Forbes divulga o ranking dos pastores brasileiros mais ricos

divulgação

Uma reportagem veiculada na revista Forbes mostrou o crescimento do número de evangélicos no Brasil, que correspondem hoje a 22,2% da população, ou

42,3 milhões de pessoas. Além de mostrar esse aumento, a reportagem fez um levantamento sobre a renda dos pastores. Edir Macedo, responsável pela fundação da Igreja Universal do Reino de Deus, lidera a lista com uma fortuna estimada em US$ 950 milhões. Valdemiro Santiago ficou em segundo com US$ 220 milhões e, em terceiro, Silas Malafaia, com uma fortuna avaliada em US$ 150 milhões.

Campus Party: o recanto dos nerds empreendedores A 6ª edição da Campus Party, um dos maiores eventos de inovação tecnológica, internet e entretenimento eletrônico em rede do mundo, estacionou em São Paulo e reuniu milhares de nerds e aficionados por tecnologia. No entanto, o evento realizado no último 28 de janeiro a 3 de fevereiro foi além do mundo geeks. Os participantes foram estimulados frequentemente ao empreendedorismo e a investir em ideias e projetos inovadores. Agora, a Campus Party embarca para Recife, em julho deste ano.

Ricardo Martinelli

presidente do Panamá. Ele afirmou que o Brasil não sabe vender seus produtos no exterior

Se me aposentar, não vivo mais. Meus amigos que se aposentaram não estão mais comigo

Walter Orthmann catarinense, de 90 anos. Ele trabalha desde os 15 anos na mesma empresa, uma tecelagem. Como gerente de vendas, passa quatro meses por ano viajando pelo país

Os idosos deveriam se apressar para morrer

Taro Aso

ministro de Finanças do Japão

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ONLINE | www.administradores.com

ARTIGOS

ENQUETE

#FICADICA

Como você, administrador ou estudante de Administração, avalia sua própria formação? E se você não tiver perfil empreendedor?

3,54%

14,92%

38,10%

Excelente

Mediana

Boa pedida para ficar antenado em sites e blogs sem ter que entrar um por um. O aplicativo é excelente para ler seus feeds RSS.

UPAD

Marcos Hashimoto mostra que nem todas as pessoas precisam ter características desse perfil, tão comentado atualmente

ENTREVISTA

adm.to/perfil_empreendedor

As cinco escolhas que você deve fazer para ter uma produtividade extraordinária

4,94%

Luciano Meira, vice-presidente da FranklinCovey Brasil, revela dicas para os profissionais serem mais produtivos

Ruim

5 estratégias para minimizar as interrupções indesejadas no dia a dia

adm.to/produtivos

38,50%

VÍDEO

Quem foi Peter Drucker?

Boa

TWITTER

Orkut

FACEBOOK

LINKEDIN

@admnews

adm.to/ orkutadm

adm.to/ facebookadm

adm.to/ linkedinadm

Raniere Rodrigues, diretor geral da Drucker Society of Brazil, explica por que Peter Drucker é o pai da Administração moderna adm.to/admtalks_raniere

shutterstock

FOI DESTAQUE NA WEB

shutterstock

adm.to/interrupcoes

Veja quais são os 12 profissionais mais escassos no mercado

Está no ar o novo Administradores.com

De acordo com estudo, empresas aguardam até 120 dias para encontrar um candidato qualificado

Interface renovada otimiza a experiência do leitor e estimula a participação dos usuários; confira todas as novidades

adm.to/escassos

Reeder for iPad

Ótima dica para tomar notas, realizar anotações sobre PDFs e editar fotos. Um dos seus atrativos é poder ampliar as linhas.

Péssima

Christian Barbosa mostra dicas para evitar que algumas pausas comprometam o desenvolvimento de suas atividades

APP

adm.to/novo_adm

E agora, como administrar? Série especial mostra como gerir empresas de diferentes segmentos, segundo a experiência dos próprios empreendedores adm.to/como_administrar

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Elimine os focos do mosquito da dengue. Fique atento aos locais que podem acumular água: MANTENHA A CAIXA D’ÁGUA FECHADA

MANTENHA A LIXEIRA FECHADA

NÃO DEIXE ÁGUA ACUMULADA SOBRE A LAJE

MANTENHA AS CALHAS LIMPAS


E não se esqueça: se sentir febre, com dor de cabeça, dor atrás dos olhos, no corpo e nas juntas, pode ser dengue. Procure uma unidade de saúde.

www.facebook.com/combataadengue

Melhorar sua vida, nosso compromisso.


ENTREVISTA | RICARDO LOUREIRO

Como administrar uma companhia admirada e temida ao mesmo tempo? Ricardo Loureiro, presidente da Serasa Experian, destaca à revista Administradores como, de fato, é gerir uma organização desse porte, a evolução dos profissionais globais e o atual panorama econômico do Brasil. por fábio bandeira de mello

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|

foto divulgação


S

er uma empresa global sem perder a pró-

periência em áreas de tecnologia, marketing, vendas e crédito e

pria identidade; trabalhar uma imagem

cobrança. Para ele, algo fundamental nesse desafio é “ter pes-

positiva mesmo sendo temida por muitos

soas engajadas, pessoas interessadas em dar um algo a mais,

consumidores e liderar mais de 2.500 fun-

que estejam cientes da razão delas estarem ali”.

cionários. Esses são alguns desafios de Ricardo Loureiro, presidente da Serasa Experian e Experian América Latina.

Em entrevista exclusiva à Revista Administradores, Ricardo Loureiro não poupou temas e falou sobre como administrar

Formado em Engenharia pela USP e mestre em Administra-

uma empresa desse porte, além de quais são os profissionais

ção de Empresas pela Universidade Mackenzie, Ricardo já está

mais desejados do mercado, como anda a inadimplência do

nesse cargo desde 2009, mas conta com mais de 25 anos de ex-

consumidor brasileiro e o tão sonhado cadastro positivo.

“Nós precisamos de pessoas que gostam de pessoas, líderes que sejam capazes de trabalhar o desenvolvimento de seus liderados”

A Serasa tem mais de 2.500 funcionários. É uma das maiores empresas do segmento no mundo. Quais são os principais desafios para administrar uma empresa desse porte?

Eu acho que o principal é ter um time capaz de promover uma empresa de alta performance. E, para isso, você deve ter pessoas engajadas, interessadas em dar um algo a mais, que estejam cientes da razão delas estarem ali. Elas não estão fazendo uma pequena tarefa, estão contribuindo com uma missão maior. Em nosso caso, na Serasa, a gente contribui com mais de cinco milhões de negócios que são feitos por dia e que usam, de alguma maneira, algumas informações nossas. Então, fazer as pessoas entenderem a relevância do trabalho delas promove o engajamento. Outra coisa importante é ter a liderança capaz de perpetuar esse processo, não só para a Serasa, mas para qualquer empresa que pretenda ter bons resultados e ser uma equipe de alto desempenho.

Saber que o nome da pessoa ou da empresa está na Serasa nunca foi alegria para consumidores e organizações. Pelo contrário, entrar na lista de maus pagadores sempre foi algo muito temido. Muita gente, inclusive, tem certo pavor só em ouvir o nome da empresa. Como vocês lidam com isso? Como trabalham a imagem da Serasa?

Hoje eu acho que isso está muito menor. A gente tem feito um trabalho de mostrar à sociedade a que viemos, a que nos prestamos, qual é a nossa capacidade de ajudar o mercado a evoluir de uma maneira sustentável. Hoje se fala muito em sustentabilidade e o que a gente trabalha, basicamente, é focando na sustentabilidade. É ajudando as empresas a fazerem bons negócios e os consumidores a não se endividarem mais do que podem. Esse é o trabalho principal. Nós divulgamos isso de uma maneira sistemática no mercado e apresentamos diariamente indicadores econômicos de comportamento, financeiros e de crédito, dando a nossa contribuição para a sociedade. Mais recentemente nós desenvolvemos alguns feirões “Limpa Nome”, onde atraímos em cada um mais de 10 mil pessoas que tiveram a possibilidade de fazer acordos com seus credores. Todas essas iniciativas ajudam a montar uma imagem mais favorável e criar uma aproximação da Serasa com a população.

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ENTREVISTA | RICARDO LOUREIRO

A Experian incorporou a Serasa em 2009. Houve algum tipo de mudança no perfil profissional exigido na empresa após esse período de transição?

A Experian é uma empresa que trabalha muito a questão da globalização. Ela não é uma empresa multinacional. Ela não chegou aqui para implementar um “modelito” desenvolvido em algum lugar. É uma empresa que promove as melhores práticas que consegue absorver em todos os locais onde atua, estando presente em 44 países com escritórios. Então, é um grande intercâmbio que foi criado, capaz de acelerar os processos em cada um desses países atendidos. No entanto, uma mudança que a gente precisou fazer foi, de fato, ter pessoas capazes de entender isso, que valorizem e deem sequência a essa visão. Porque é bom para nós, para os clientes, para o mercado e para o Brasil. Não foi uma mudança grave, nem demandou grandes transformações, mas exigiu sim uma atenção adicional do ponto de vista da administração e do desenvolvimento das pessoas que trabalham conosco.

Você acredita que o mercado brasileiro, agora em mais evidência, vai exigir um profissional mais globalizado?

Sem dúvida. O inglês, por exemplo. Ele é absolutamente necessário para você entrar na Serasa hoje. E isso é uma característica do mundo global. Não é só o inglês, o espanhol também. Claro, essa questão de idioma é um exemplo, um pequeno exemplo. A maturidade é estar atento às questões de sustentabilidade, que hoje são importantes e estão em desenvolvimento no mundo inteiro. São coisas que nosso profissional deve estar atento.

Mas quais características você vê como fundamentais nesse novo perfil de profissional?

Nós procuramos pessoas que sejam capazes de valorizar, de gostar naturalmente, de se comportar com base em quatro atitudes: ser ético, ser empreendedor, ser excelente naquilo que faz e ser gente. Porque as empresas são feitas de gente. Nós precisamos de pessoas que gostam de pessoas, líderes que sejam capazes de trabalhar o desenvolvimento de seus liderados e de colaborar com seus pares. Então, esse é um texto amplo, mas essas quatro atitudes são características das pessoas que procuramos na empresa. E não é porque a gente gosta mais ou gosta menos, mas são aquelas que a gente acredita que são mais facilmente adaptáveis à nossa cultura estabelecida.

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Mudando um pouco de assunto e abordando o lado econômico do Brasil. O momento do nosso país é de estabilidade e emprego. Tenho uma pergunta bem direta sobre isso e a respeito da atuação da Serasa: atualmente, o brasileiro tem pago suas dívidas?

Qual é a classe que está mais inserida nesse quadro de inadimplência?

Em 2011 foi instituída a lei do cadastro positivo, que vai permitir que as empresas tenham acesso às pessoas que pagam em dia. O que realmente muda com o cadastro positivo?

Nós tivemos um crescimento muito grande de pessoas entrando em um mercado de consumo. Crescemos, nos últimos anos, praticamente um Canadá em termos de consumidores, em torno de 40 milhões. O crédito floresceu muito em função do crescimento e da qualidade do emprego, da moeda e da renda. Por outro lado, nós estamos vivenciando hoje é uma situação de, considerando o crédito, inadimplência muito elevada e, de fato, isso reflete uma situação de certo descontrole para boa parte da população. Isso não leva a nenhuma espécie de desequilíbrio ou situação grave de insolvência, de problemas de sistemas – estamos muito longe disso –, mas de qualquer maneira, revela uma ineficiência muito grande em nosso processo de concessão e crédito. Seja pelo novo consumidor, porque as pessoas estão tendo um acesso muito facilitado ao crédito ou porque elas estão com um excesso de confiança. Não importa qual o motivo, mas estamos vivenciando, de fato, um crescimento de inadimplência muito elevado, incompatível com a situação do mercado.

Eu diria a você que não conseguimos mostrar que é por conta do noviciado, por exemplo. Está meio disseminado. Até pelo motivo que falei: excesso de confiança, muita oferta e isso faz com que as pessoas deem o passo maior do que a perna.

Eu vejo que esse cadastro vai dar oportunidade para o mercado contar com uma infraestrutura que evite dois problemas que estamos vivenciando neste momento. Primeiro: as empresas estão perdendo muito dinheiro. Só os bancos vão perder mais de R$ 100 bilhões este ano por conta de créditos que não vão reaver; e segundo: é que as pessoas possam se livrar desse fantasma do superendividamento. Então são duas coisas que o cadastro positivo permitirá ao mercado, ou pelo menos a ter ferramentas, para minimizar esses dois problemas.


Você acredita, então, que isso trará um benefício direto para a população e uma segurança maior para as empresas?

Essa é a dinâmica. Hoje, como consumidores, quando vamos contratar um serviço ou um crédito, nos é oferecida a mesma condição. Quem não é um mau pagador acaba sendo igual a todo mundo. O que acontece é que todo o risco dessa dívida – que não é paga – é divida entre nós, bons pagadores da mesma forma. Então a gente paga pelo bom e pelo mau. Vai acontecer que na medida em que o mercado, bem competitivo como é o nosso, reconhecer os bons pagadores, vai trabalhar em seus mecanismos de atração de bons clientes as ofertas diferenciadas, que podem refletir em um desconto, em uma taxa de juros associada ao risco que realmente você representa. Por que você vai pagar a mesma taxa de juros que um cara que tenha muito mais riscos de não pagar do que você? Por exemplo: você tem 15 anos de história de crédito, nunca teve nenhum problema, comprou, pagou, comprou, pagou. Então a probabilidade de você ter um problema nesse momento é quase zero. Por que eu vou lhe impor um custo de risco genérico? É um recurso que as empresas perdem hoje, pois não têm como distinguir esses

consumidores. Então isso vai possibilitar que – e você vê em todo lugar do mundo em que o cadastro positivo foi implementado – as empresas tenham condições de segmentar suas ofertas. E farão isso.

E em relação ao tempo para, efetivamente, o cadastro positivo funcionar. Existe alguma previsão?

Enquanto a informação negativa era um direito do credor – de tornar público algo que evitasse que o consumidor desse problema em outros lugares e tivesse mais condições de voltar para repagá-lo –, a informação positiva é um direito do consumidor. E isso é muito bom. Por outro lado vai existir um pouco de trabalho. Daqui para frente, os próximos contratos, você e eu, daremos autorização para que essas informações originadas pelo nosso bom pagamento sejam enviadas para um birô de crédito. Como isso não vai ser gerado automaticamente, ainda teremos que esperar um pouquinho para que esse histórico tenha um esquema para recuperar as autorizações de cada consumidor, para que ele possa ser utilizado. Isso vai demorar, talvez, uns 12 a 18 meses para que seja possível criar uma densidade de dados relevantes e tirar o benefício disso.

“Não importa qual o motivo, mas estamos vivenciando, de fato, um crescimento de inadimplência muito elevado, incompatível com a situação do mercado”

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acadêmico | DENTRO DO QUADRADO

Cria tivi dade

o descompasso entre mercado e salas de aula por eber freitas

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Na era do conhecimento, a criatividade está se tornando a competência mais desejada pelas empresas, inclusive em ramos tradicionais. Mas será que os administradores estão preparados para atender a essa expectativa? 16

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fevereiro/março 2013


“A

s escolas matam a criatividade”. É

assim que o especialista em criatividade Sir Ken Robinson define o papel do atual sistema educacional sobre a capacidade inventiva das crianças. A verdade é que poucas pessoas podem dizer que foram criadas para desenvolver plenamente as suas capacidades criativas. Mas muitas podem dizer que estudaram para passar em um curso universitário, fazer especialização, mestrado, doutorado e conseguir uma boa vaga no mercado de trabalho. E aqui começa uma sequência de frustrações. O índice de evasão dos estudantes nas universidades públicas, em 2010, chegava a 13,2%, enquanto nas privadas era de 15,6%, segundo o MEC. Não é um fenômeno a ser desconsiderado. Vale salientar que o curso de Administração é a maior graduação do país, com 1,1 milhão de alunos matriculados. Nas escolas de Administração, os currículos são frequentemente compostos por disciplinas teóricas e acadêmicas, úteis para análises e aplicação em situações-padrão nas empresas. Mas o mercado vai à outra direção: ele precisa de profissionais criativos, capazes de lidar com problemas e crises das maneiras mais ilógicas possíveis e necessárias, e não de jovens frustrados com canudos na mão. “Nossas escolas de Administração não acompanharam o ritmo da revolução digital na era do conhecimento, durante os últimos 30 ou 40 anos”, explica o diretor executivo do Instituto de Ciência, Tecnologia e Qualidade (ICTQ), Marcus Vinicius de Andrade. “Grande parte dos conceitos da ciência de Administração são intocáveis. A grande preocupação das escolas tem sido a memorização destes conceitos já formados e a demonstração de cases – que em outras palavras, são fórmulas prontas que apontam sucesso ou fracasso”, diz.

Antes subestimada, a criatividade está passando a ser tão necessária para os negócios quanto a própria capacidade de negociar. O profissional que não souber desenvolver soluções inusitadas e arriscadas para uma determinada situação, pode permanecer relegado a trabalhos operacionais. “Se você não estiver preparado para errar, nunca terá uma ideia criativa”, afirma Ken Robinson, em palestra no TED. Para Erick Krulikowski, sócio-diretor da iSetor, não são só as empresas da chamada Indústria Criativa que precisam de talentos com essa competência. “No atual contexto mundial e na competição entre empresas e países, as empresas estão percebendo cada vez mais que devem colocar todos os seus esforços para criar produtos que sejam capazes de gerar valor – e esse processo depende de criatividade e inovação”, indica.

De onde vem a criatividade? Um dom ou uma disciplina? Há mais de uma resposta para esta pergunta. Uma delas é que a criatividade é um dom de todos os seres humanos. “O simples fato de uma pessoa buscar uma rota alternativa no trânsito já é um exercício de criatividade. A inteligência criativa está presente em qualquer profissional – de forma ativa ou adormecida –, o desenvolvimento e o uso desta inteligência são mais uma questão de poder pessoal do que de ‘capacidades limitadas’”, explica Marcus Vinícius. É verdade que, de uma forma ou de outra, algumas pessoas conseguem se sobressair melhor do que outras na hora de pensar além do óbvio. Mas isso não é impeditivo para ninguém: “um profissional criativo é aquele capaz de gerar valor para a sua empresa. É aquele que consegue conceber produtos realmente novos, e que certamente será disputado pelas empresas, criando novas realidades”, defende Erick. Outra resposta é que, sendo ou não uma dádiva, a criatividade consiste em um processo. Logo, torna-se mais eficiente na medida em que é trabalhada, utilizada e desenvolvida. Alguns métodos ajudam a espremer a criatividade, como o pensamento lateral, brainstorming, método 635 e o teste dos por quês. “São ferramentas interessantes, mas os principais elementos para o desenvolvimento das capacidades criativas são relacionados com a atitude”, declara Erick. “É preciso es-

tar aberto a coisas novas, vislumbrar novas soluções, questionar o status quo, articular ideias de maneira diferente, não temer o erro. É uma postura diferente perante o trabalho e a vida, e isso é o mais complicado de se atingir”, indica.

Seja, faça, ouça, veja Enquanto existir esse abismo entre universidades e mercado, a maioria dos alunos de Administração vai depender apenas de si mesma para desenvolver, na marra, a própria criatividade. “A universidade tem que dar base para tomar decisões inteligentes e rápidas. Não podemos ficar parados somente na fundamentação teórica. Os administradores precisam agir com esperteza e rapidez”, afirma o professor Marcélio José Ribeiro, coordenador do curso de Administração da Faculdade Cantareira (SP), que incluiu o ensino da criatividade na grade curricular. No livro AHA!, o consultor Jordan Ayan aponta 10 estratégias – que na verdade são dicas manjadas, reunidas em tópicos – que ajudam a incrementar o pensamento criativo: ter um bom relacionamento interpessoal, trabalhar em um ambiente enriquecedor, viajar a lazer, ser bem-humorado, apreciar literatura e música, exercitar algum tipo de arte, dentre outras práticas. Faz sentido: o poder de improvisação do jazz pode ensinar muito sobre como tomar decisões rápidas frente a um ritmo quase instantâneo de inovações do mercado. Conhecer outras culturas e comportamentos amplia a compreensão do mundo e dá uma carga nova de informações para a massa cinzenta processar – isso é algo importante para profissionais que só conhecem a rota do trabalho para casa e eventualmente algum outro ambiente. Mas em um primeiro passo, independente da aplicação ou não de uma determinada metodologia, a Filosofia nos ensina muito bem desde a aurora dos tempos: buscar o porquê das coisas, questionar até o próprio modelo de negócios quando necessário. “É uma questão de desenvolvimento”, afirma Marcélio. Adotando outra visão, pode-se admitir que “a criatividade é fruto da sua negociação com o mundo”, como afirma o artista plástico Cadu Costa, no documentário O processo criativo. E a negociação é, hors concours, a habilidade radical do bom administrador. Portanto, se um profissional deseja ser um tomador de decisões, deve saber que a criatividade é um fator capaz de desequilibrar qualquer conjuntura. Ao seu favor.

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INSIGHT SAÚDE

Administrando os mitos da assistência médica por henry mintzberg

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É constante ver no noticiário os obstáculos eminentes relacionados à saúde, à falta de atendimento em hospitais e aos problemas com planos de saúde. No entanto, o caos que muitos países vivem hoje na área tem solução e pode ser contornado. Henry Mintzberg é um dos autores mais produtivos da Administração na atualidade, com 16 livros publicados, quase todos considerados referências na área. Ele é professor na McGill University, co-fundador do International Master’s Program in Practicing Management, usado por institutos de ensino em Administração no Canadá, Inglaterra, Índia, China e Brasil. Mintzberg também é responsável pelo desenvolvimento do curso CoachingOurselves, que em solos brasileiros é gerenciado pelo Grupo A. www.impm.org www.coachingourselves.com

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xistem muitos mitos que cercam a Administração. Por exemplo: que os gestores mais velhos sentam em cima (mas de que?), que líderes são mais importantes que gestores (tente liderar sem gerir), e que as pessoas são recursos humanos (eu sou um ser humano). Os mitos cercam também os sistemas de saúde, quando destacam que não é menos importante que um sistema e trata da saúde (geralmente é uma coleção de tratamentos de doenças). Combine esses dois mitos e você chegará à bagunça que estamos enfrentando no mundo dos planos de saúde. Vamos começar com os mitos de gestão que prevalecem no sistema de saúde, e, em seguida, listaremos algumas soluções para sair dessa confusão. Mito 1: O sistema de saúde está falhando. Converse com qualquer pessoa, em qualquer lugar do mundo e ela lhe dirá isto, mas a verdade é bem o oposto: em muitos lugares do mundo desenvolvido, a assistência médica é bem sucedida – e cara. Em outras

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palavras, o sucesso é o problema, não a falha. Consulte algumas estatísticas. Nós estamos vivendo mais, perdendo menos filhos, e isso graças aos avanços nos tratamentos médicos. O problema é que muitas dessas melhorias são caras e nós não queremos pagar por elas – certamente não como pessoas saudáveis através dos nossos seguros e impostos. Então, o serviço fica apertado e o sistema aparenta estar falido. De fato, os problemas não estão relacionados aos serviços de assistência médica tanto quanto nas intervenções. Nós consideramos três intervenções: engenharia social, liderança e prática de negócios. Mito 2: O sistema de saúde pode ser reparado com o uso inteligente da engenharia social. O sistema está quebrado e os experts precisam consertá-lo: geralmente pessoas no “chão”, que conhecem os problemas viscerais, mas também especialistas do “alto” – como economistas, e consultores –, que acreditam que conhecem o problema conceitualmente. Graças a eles, em assistência de saúde, nós medimos e misturamos como loucos, nos

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reorganizamos e aplicamos a técnica de gerência do mês. Faça isso e tudo acabará bem. Mas será que é sempre? Em particular, experts se esforçam para cooperar com as pressões, mas não oferecem soluções, a maioria aparece com ideias ainda mais complicadas. E se, ao invés disso, nós reconhecermos que as mudanças nas assistências médicas devem vir de fora das operações, para então serem difundidas? Considere, por exemplo, as mudanças recentes que fizeram diferença, não apenas o corte de custos – essa é a parte fácil – mas a melhoria da qualidade. Cirurgias diárias precisam estar no topo dessa lista. Essa ideia partiu de clínicos engajados, e não de engenheiros sociais. Mito 3: Sistemas de saúde podem ser consertados com a ajuda de um líder herói. Novos líderes podem ajudar, principalmente quando vêm substituir um líder ruim. Mas o que significa liderança em um ambiente onde os profissionais têm tanto poder? Em hospitais, por exemplo, médicos respondem melhor a sua própria hierarquia profissional que as hierarquias de gestores ou autoridade formal. Assim, o que pode ser chamado de “liderança heróica”, um termo que está na moda no mundo dos negócios, pode ser ruim no âmbito da saúde. É muito mais necessário trazer o que chamamos de gestão engajada: gestores que são bastante proativos, ajudando outros membros a se engajarem. Mito 4: Os problemas do sistema de saúde podem ser resolvidos se ele for tratado


como um negócio. É uma ideia bastante popular nos Estados Unidos. Talvez nenhum país trate o sistema de saúde mais como um negócio, ou encoraje a competição nesse meio. Mas dado o desempenho dos americanos – bem mais caro que em qualquer outro lugar e cujo desempenho nos rankings é medíocre – nós precisamos usar isso como um exemplo das maravilhas do mundo competitivo nos sistemas de saúde? Em nome da competição, a saúde sofre da individualização: todo profissional e cada instituição por si. Então vamos tentar algo diferente: assistências médicas funcionam melhor se não forem tratadas como um negócio. Exige cooperação, e não competição entre instituições. Médicos podem ser bem pagos, mas eles são inteligentes e capazes de ganhar dinheiro em outro lugar. O que os mantêm no sistema de saúde é o senso de que estão servindo. Isso se aplica às enfermeiras, que não ganham tão bem, além de alguns gestores. O que acontece quando os hospitais são vistos como “fábricas especializadas”, pacientes como “consumidores” e médicos como “players das indústrias” (como descreveu Herzlinger, em 2006)?

Revendo a gestão: uma distribuição pelo topo Como observamos no início, a gestão partindo de cima é um mito. Afora os gráficos onipresentes e os famosos bônus, o que é a gestão partindo do topo? Nos hospitais, os administradores do alto escalão ficam no térreo (talvez para escaparem mais rápido). Estar no topo de uma organização, não significa que você sabe tudo que acontece nela.

Será que esses administradores devem ter o poder de tomar decisões sobre a compra de um equipamento caro, independente da opinião dos médicos que fazem uso dele? Isso nem sempre faz mais sentido do que deixar essas decisões para os próprios médicos. Essas escolhas não são financeiras ou técnicas, mas decisões do hospital, que exigem a colaboração de toda a equipe. E não se engane: o envolvimento dos médicos nesse tipo de decisão faz com que eles tomem as rédeas da gestão - assim que nós passarmos a ideia de que gestão é algo praticado com pessoas chamadas de gestores.

Revendo a estratégia: como não se aventurar, o planejamento Se você quer entender o significado de estratégia em uma organização como um hospital, fique longe da maioria dos livros sobre o assunto. Eles lhe explicam como planejar uma estratégia; reconhecer uma aventura estratégica desde o princípio. E de onde isso vem? Raramente de algum gerente “de cima” e raramente em algum processo de planejamento. Eles vêm em parte das atividades de aventura dos profissionais: a preocupação sobre uma nova doença aqui, a defesa de um novo tratamento ali. Em outras palavras, a estratégia de um hospital está ligada à soma de várias experiências da equipe de profissionais. Então aqui, especialmente, é assim que nós distribuímos a gestão: profissionais do térreo, que não são gestores, mas que são responsáveis pela maior parte das iniciativas estratégicas na saúde. Claro que existem outras estratégias mais convencionais,

por exemplo, sobre os serviços e onde colocá-los. Mas isso foi construído dentro da estrutura e história de cada instituição. Hospitais podem se engajar em um plano estratégico, mas esse é o grande negócio. Na minha experiência, isso não conta muito. Muitas vezes é só o que chamamos de “buraco administrativo” – a falta de conexão entre máquinas de gestão.

Revendo o estilo de gerir: como cuidar mais que curar Enfermagem, focada nos cuidados, pode ser um modelo mais adequado para gestão do que a medicina focada na cura. Nossas instituições de assistência médica, em outras palavras, exigem mais cuidados do que cura: o engajamento desses gestores faz com que essas instituições funcionem de maneira mais suave, melhor que ter líderes heróicos correndo para consertar os problemas. Existe um quadrinho que mostra um grupo de médicos ao redor de um paciente, com a questão: “quem vai abrir?”. Na medicina, nós sabemos quem vai abrir, nos negócios não. É por isso que a administração é uma prática cooperativa, um estilo longe dos líderes heróicos. Administrar um sistema de saúde deve ser um trabalho contínuo, holístico e voltado ao trabalho preventivo, mais que intervencionista, com curas estreitas e radicais. O que isso deixa claro é que existe muita energia e boa vontade no campo dos sistemas de saúde, para trabalhar com colaboração e mais efetividade em nível global e local. Nós precisamos apenas deixar de lado os mitos.

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negócios | tercerização

Toma que o filho é teu! por eber freitas

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Terceirizar processos e atividades incrementa os ganhos e agiliza a produtividade; mas abrir mão da responsabilidade junto com o serviço pode trazer grandes prejuízos. Acredite, muito grandes.

N

o início do ano, a MRV Engenharia foi parar nos noticiários internacionais, mas não da maneira que gostaria: o Ministério do Trabalho e Emprego

divulgou uma relação de empresas que mantinham trabalhadores em condições análogas à escravidão. E lá estava o nome da incorporadora, uma das principais parceiras da Caixa Econômica Federal (CEF) no programa Minha Casa Minha Vida. Em sua defesa, a MRV declarou que a acusação se baseou em uma fiscalização antiga, “em que foram identificadas supostas irregularidades promovidas por uma empresa terceirizada que prestava serviço para a MRV, a qual não trabalha mais para 20

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a companhia desde 2011”. Verdade ou não, o estrago foi feito: a CEF suspendeu a concessão de novos financiamentos e a mancha ficou difícil de apagar depois de cair nas graças das redes sociais. Um caso semelhante ocorreu com a grife Zara em agosto de 2011. Uma fiscalização flagrou imigrantes bolivianos trabalhando em condições desumanas por salários irrisórios em uma empresa fornecedora da companhia. O resultado todos já sabem.

Na economia capitalista contemporânea, terceirizar serviços, processos e atividades é algo comum e se encaixa normalmente na estratégia de mercado das empresas. Deixar para outra o desenvolvimento de uma atividade que poderia consumir recursos humanos e financeiros sem trazer resultados, é uma prática mais que comum, é sensata. Se não passa pelo core business, certamente há quem tenha expertise para fazer o serviço melhor por um custo mais baixo.


Isso não isenta, no entanto, a empresa contratante de sua responsabilidade sobre o resultado final. Embora a MRV e a Zara – longe de serem os únicos exemplos – tenham apontado o indicador para fornecedores inescrupulosos, em algum ponto o processo de terceirização deixou brechas. Isso permitiu que tais empresas permanecessem atuando em suas redes de fornecedores, mesmo adotando condições absurdas de trabalho.

Os fins e os meios A terceirização mantém um contingente considerável da força de trabalho no Brasil: cerca de 8,2 milhões de trabalhadores – ou 22% da mão de obra com carteira assinada

– trabalham sob este vínculo. No entanto, existem algumas restrições para as empresas ao utilizarem esse serviço, que não pode ser feito em todas as áreas de uma organização. “A Justiça do Trabalho se posicionou no sentido de que não é possível terceirizar a atividade-fim da empresa, independente do segmento de atuação, somente a atividade-meio, como serviços de limpeza e segurança”, destaca a advogada Sandra Sinatora. De acordo com a advogada, a base jurídica adotada para casos de irregularidades em servidores terceirizados é a Súmula 331 do Tribunal Superior do Trabalho (TST), que aponta: “A contratação de trabalhadores por empresa interposta

é ilegal, formando-se o vínculo diretamente com o tomador dos serviços, salvo no caso de trabalho temporário (Lei nº 6.019, de 03.01.1974)”. Aqui entra a complicação dos call centers: o mesmo TST entendeu, em uma recente decisão, que uma funcionária terceirizada que trabalhava no atendimento da operadora Claro era uma funcionária da própria operadora - ou seja, criou-se uma jurisprudência de que o atendimento é uma atividade-fim das empresas, para a revolta dos provedores desse tipo de serviço. Enquanto não é aprovada uma lei definitiva sobre os serviços de terceirização, o filho – e o risco – é das empresas contratantes. Vários projetos estão fevereiro/março 2013

estacionados na Câmara, aguardando consenso dos deputados federais. Pelo menos um projeto, afirma Sinatora, derruba a posição do TST, no sentido de que todas as atividades – inclusive as atividades-fim – poderão ser terceirizadas.

Processos, não cabeças Uma maneira mais eficiente e segura do que adquirir mão de obra nessa modalidade de contratação é terceirizar os processos – atividade conhecida como business process outsourcing (BPO). Essa posição é defendida por Luiz Henrique de Oliveira, diretor da Associação Brasileira de Provedores de Serviços de Apoio Administrativo (Abrapsa). “Em um proadministradores.com

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negócios | tercerização

cesso terceirizado, o provedor apresenta uma melhor prática, um processo padronizado. Isso traz vantagens imediatas para o contratante, como o controle e gestão sobre o serviço, métricas e indicadores, mais segurança e maior escala”, sustenta. Produtividade e redução dos custos são as principais vantagens apontadas pelo consultor empresarial José Carlos Ignácio. “Produtividade pelo fato de o terceirizado ser permanentemente mais preocupado em fidelizar o cliente do que o funcionário CLT. E custos porque normalmente os pisos salariais são menores do que os da empresa e, principalmente, pelo terceirizado não ser custo fixo, incorrendo em gastos apenas no volume utilizado”, defende. Segundo o consultor empresarial José Carlos Ignácio, a responsabilidade da empresa no processo de terceirização é inalienável. “Não é possível abrir mão da participação da empresa no processo de controle de qualidade do terceirizado, pois os níveis de exigência e o conhecimento técnico são muito maiores na empresa do que no terceirizado. O nível e forma de monitoramento variam no caso a caso”, afirma. “A opção de terceirização implica em ganhos, tendo como contrapartida a gestão dos atos do terceirizado”, completa Inácio. Com isso, em vez de jogar o serviço no colo da empresa terceirizada e deixá-la embalar, a contratante ganha um poder de gestão e governança, com termos, condições e prazos previstos em contrato. Isso significa que a empresa – que, por lei, é responsável solidária pelo serviço terceirizado – pode estabelecer um vínculo estratégico com a contratada. “O BPO agrega tecnologia, in22

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fraestrutura e metodologias ao processo, permitindo que as empresas fiscalizem e economizem tempo e dinheiro”, garante o diretor da Abrapsa. Dependendo do tipo de serviço ou empresa, terceirizar o processo pode não ser a melhor alternativa, “pelo turnover natural, pela não especialização, por não ser o foco do negócio, o processo acaba sendo relegado ao segundo

portanto, basta apenas uma dosimetria diferente da que é anunciada na caixa, ou uma bactéria incômoda no prato de comida, para a opinião pública cair em cima como uma torrente, implicando em multas e sanções pelo Estado. A Sapore, empresa que atua no ramo de distribuição de alimentos e forma uma rede de restaurantes, conta com nada menos do que 1,9 mil forne-

Se não passa pelo core business, certamente há quem tenha expertise para fazer o serviço melhor por um custo mais baixo

plano. Dessa forma não há um ganho real, uma consistência que haveria se o processo fosse terceirizado”, diz Luiz Henrique de Oliveira.

Fazendo bem feito Manter uma estrutura de governança sobre os fornecedores é vital para empresas de determinados ramos, como alimentício e farmacêutico. A Anvisa mantém rédeas bem curtas com relação às normas e padrões dos materiais e processos, fevereiro/março 2013

cedores e 1,1 mil restaurantes – em uma cadeia logística que vai desde o produtor rural até o embalador. Manter essa turma na linha não é algo simples. Segundo Veridiana Correa, diretora de Marketing da rede, foi necessário desenvolver metodologias próprias para fiscalizar os serviços terceirizados. “Nós vamos até o fornecedor na ponta, até o local, para saber se ele está fazendo tudo da forma correta, de acordo com as normas da Anvisa. Durante o contrato, os fornecedo-

res sofrem um sério processo de certificação para que nós possamos garantir a qualidade do produto”, relata. De acordo com Veridiana, fatores como temperatura e armazenamento são determinantes na qualidade final do produto. Se estiver em desacordo com as normas, é devolvido. “Temos um departamento de qualidade que faz a auditoria dos estoques, prazos de validade e testes da coleta de amostra”, diz. Já a Blanver é uma empresa que atua no fornecimento de produtos farmacoquímicos para farmácias de manipulação de medicamentos. Há dois anos passou a terceirizar o fabrico de medicamentos sólidos como uma estratégia para “ampliar a possibilidade de venda de um produto e dar mais opções para os clientes [que, no caso, são os laboratórios]”, destaca Sérgio Frangioni, diretor-presidente da Blanver. A companhia também disponibiliza um laboratório para a análise de amostras dos produtos, como forma de manter a qualidade e os padrões determinados por lei. “Com a terceirização, cria-se um controle duplo: tanto nós como os nossos clientes somos obrigados a aferir a qualidade dos medicamentos. Felizmente, temos um excesso de zelo, e a legislação existe para garantir isso”, lembra. Para Sérgio, a terceirização é uma tendência cada vez mais forte no segmento. O que antes era um aproveitamento sazonal da capacidade das fábricas de medicamentos, atualmente está se convertendo no negócio em si. “O terceirizador acaba virando um laboratório, nós fabricamos os nossos próprios insumos, mas, ao contrário de concorrer com os nossos clientes, oferecemos mais uma alternativa”, explica.



carreira | NOVO PERFIL

Sua empresa está pronta para o futuro?

Pergunte aos “caubóis digitais” por martha maznevski imagem shutterstock

Antenados e bem informados, esses profissionais estão levando empresas a outro nível de comunicação, reconhecimento e engajamento.

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ua empresa é feita para ser bem-sucedida no mundo de ontem e de hoje, ou seja, está preparada para o futuro? Como já é clichê falar que o

mundo está mudando, o foco agora é preparar o terreno

veem uma lacuna na forma como as empresas e CEOs estão deixando de se envolver, e como são cegos às perspectivas de negócios em diversos setores. Recentemente, junto a um grupo de CEOs, eles relataram o que observam, o que está em falta e quais possibilidades que imaginam.

para perceber as oportunidades oferecidas pelas novas

A hora de se engajar

realidades. Os “caubóis digitais” de hoje – nativos digitais

“Nós vemos pessoas sendo completamente abertas e transparentes em relação aos seus funcionários atuais e antigos. Quando estamos interessados em uma empresa, a primeira coisa que fazemos é acessar GlassDoor.com – uma rede social onde as pessoas compartilham o que pensam de suas empresas, incluindo dados salariais, informações privilegiadas sobre como conseguir emprego lá e até mesmo índices de aprovação do CEO. Você só pode participar se você contribuir, e decidimos internamente se confiamos na informação. Depois, acessamos o LinkedIn para conversar com funcionários atuais e obter insights em tempo real. Para nós, o site corporativo é um buraco negro; um último recurso de pesquisa. Porém, não vemos recrutadores reconhecendo a existência dessa realidade. Certamente não vemos líderes incentivando seus funcionários a serem honestos sobre a empresa. Essa informação é pública apesar das políticas corporativas. É útil porque é honesta e porque desenvolve credibilidade”.

que são líderes globalizados, pensativos e engajados - já aceitam as mudanças e expõem ideias interessantes sobre tais oportunidades.

Apresento-lhes cinco caubóis digitais dos formandos de 2012 do programa de MBA do IMD: Angelos, Aswini, Thibaut, Nael e Sophie. Eles nasceram entre 1979 e 1985, então vamos dizer que têm uma média de 30 anos. Você já sabe que os computadores e a internet são considerados básicos por eles, e você provavelmente acha que são viciados em Facebook ou jogos on-line. Mas pense mais um pouco sobre o mundo em que eles se inserem. Quando crianças, os primeiros grandes eventos mundiais que testemunharam foram o massacre da Praça Tiananmen e a queda do Muro de Berlim, mas eles só teriam um conhecimento real dos ocorridos se houvesse implicações locais diretas. Quando adolescentes, ao se conscientizarem do mundo, viram a crise financeira asiática, a concretização da mudança climática e o fim do Apartheid na África do Sul. Assim que se tornaram adultos, no final da adolescência e início dos 20 anos, iniciando suas carreiras, observaram o estouro da bolha dos “pontocom”, a queda da Enron e o 11 de setembro desencadear uma guerra contra o terror e o crescimento descontrolado da utilização de recursos naturais. Para eles, agora com 30, a crise financeira global de 2008 foi, inevitavelmente, apenas mais um evento. Suas perspectivas enquanto caubóis digitais vão muito além da fluência tecnológica. Eles pressupõem uma série de crenças sobre um mundo em que líderes de nível sênior ainda estão se adaptando. Mais especificamente, eles dizem que: — Fronteiras e papéis são fluidos e permeáveis; — O poder é distribuído, o controle requer permissão; — Para os indivíduos, as organizações, a sociedade e o meio ambiente, não há sucesso sem a sustentabilidade. Estas declarações sempre foram relativamente verdadeiras, mas durante séculos líderes agiam como se não existissem. Enquanto a maioria dos líderes de nível sênior agora está revendo suas suposições, estes caubóis digitais já as incorporam. E eles enxergam oportunidades nessas pressuposições. A maioria dos líderes de nível sênior de hoje não está se adaptando bem a este mundo, enquanto nossos caubóis digitais

“A maioria das empresas desaprova o uso de fóruns de internet, exceto quando é um blog patrocinado corporativamente. Querem manter claras as fronteiras da empresa e as informações privadas. Será que não entendem que isso gera desconfiança e que as informações estão lá, públicas, de qualquer forma? Claro, sabemos que não devemos acreditar em tudo o que lemos, mas a transparência nos ajuda a tomar nossas próprias decisões”. “A maioria dos CEOs não tem presença na mídia social. Porém, continuamos sendo ensinados de que os bons líderes são pessoas que escutam. Se eles não estão presentes onde as pessoas estão discutindo, então o que estão realmente ouvindo?”. As coisas precisam mudar. Por que as empresas não almejam ser pioneiras na comunicação aberta com estes tipos de fóruns de discussão? Se houvesse mais engajamento e compromisso dos funcionários, realmente acabariam atraindo melhores funcionários – podendo até mesmo melhorar a relação empresa-funcionário. Imagine a boa vontade que uma plataforma de internet aberta poderia gerar. Ambos os lados se aproximariam muito. Menos funcionários descontentes causariam menos noites sem dormir aos chefes. Além disso, poderia incentivar a retenção de talentos dentro da empresa e deixá-los mais contentes. Ao aproveitar o conhecimento desses talentos, o valor sustentado torna-se imensurável.

Sobre a saúde Agora vamos ver o exemplo de um setor de negócios específico: a saúde.

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carreira | NOVO PERFIL

“Nesse setor, vemos pacientes buscando saber mais sobre sua própria saúde, querendo dialogar sobre isso. Hoje a mídia social permite que façam isso. A saúde é a terceira atividade mais popular na internet, com 80% dos usuários buscando informações sobre saúde (projeto de internet Pew, 2011)”. “Vemos também médicos que utilizam as mídias sociais em suas próprias profissões. Na internet eles se juntam, recebem orientação de seus colegas e questionam conceitos estabelecidos. A plataforma chinesa DXY tem mais de dois milhões de membros e cresce a uma taxa de 30 mil novos usuários a cada mês. Cerca de 60% dos médicos esperam que sua comunicação on-line aumente no futuro (Pesquisa Digitas, 2010). Vemos que há mais de 13 mil aplicativos de saúde para o iPhone. Este mercado deverá crescer 25% nos próximos cinco anos”. “Mas não vemos empresas da área da saúde se envolvendo no diálogo. Isso parece estranho, pois são claramente especialistas em suas respectivas patologias. Nós não vemos, ou não nos é dito, como utilizam o feedback dos pacientes para melhorar seus tratamentos. Também não vemos muita confiança entre as empresas da área da saúde e as diferentes partes interessadas. Nem pacientes nem médicos são incentivados a se engajarem com empresas farmacêuticas on-line. Os médicos são três vezes mais propensos a se engajarem com outros médicos, e duas vezes mais propensos a se engajarem com os pacientes do que com empresas farmacêuticas (levantamento da EPG em cinco grandes países europeus, 2010)”.

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As coisas precisam mudar. Nossas sociedades não voltarão à comunicação rígida e mono-direcional. A mídia social pode ser nova, mas o boca a boca existe desde sempre - a tecnologia apenas facilita isso. Cerca de 78% dos consumidores americanos confiam nos outros consumidores, enquanto apenas 55% deles acreditam

do por um reconhecimento de marca superior e lealdade duradoura - e por uma sociedade mais saudável.

Adeus ao velho, bem-vindo ao novo? Isso é apenas um momento do meu dia a dia como diretora do programa de MBA no IMD.

ao idealismo. Então, você vai continuar com uma organização que se baseia nas premissas antigas de fronteiras, poder, controle e sucesso? Ou vai encontrar oportunidades nas novas pressuposições? E se você não tiver certeza de como encontrar as oportunidades, pergunte aos seus caubóis digitais.

Eles pressupõem uma série de crenças sobre um mundo em que líderes de nível sênior ainda estão se adaptando nos anúncios publicitários. “Uma marca não é mais o que as empresas dizem aos consumidores, é o que os consumidores dizem uns aos outros”, disse Scott Cook, CEO da empresa de software americana Intuit. E ele tem razão! Imagine quanto valor um prestador de serviços de saúde poderia criar ao levar conhecimento às discussões. Imagine a vantagem competitiva sustentável que uma empresa de saúde poderia desenvolver ao utilizar das informações valiosas on-line, gerando confiança aos pacientes e médicos. Isso acabará sendo recompensa-

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Eu ouço conversas como estas o tempo todo, com temas que vão desde esportes a indústria pesada, produtos de consumo a música, além de uma grande variedade de serviços. Sim, esses líderes mais jovens ainda precisam aprender muito com a experiência, mas, como um líder de nível sênior disse uma vez: “Se a inexperiência fosse crime, as prisões estariam cheias”. Os líderes de nível sênior podem aprender muito sobre o desenvolvimento de organizações para o futuro ao ouvir o que está por trás das palavras referentes às mídias sociais e

Martha Maznevski é professora de Comportamento Organizacional no IMD e Diretora do programa de MBA. Ela escreveu este artigo em parceria com Angelos Diatsintos, Aswini Gauthama Sankar, Thibaut Girard, Nael Itani e Huizhong (Sophie) Zhang, alunos do programa de MBA 2012 do IMD.


1. Comunique-se bem

Como fazer esse cara ser você? por simão mairins

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izer que é “o cara” funcionou muito bem para o cantor, compositor (e rei) Roberto

Para fazer com que sua marca seja vista e reconhecida, você tem que se comunicar. Isso não significa, entretanto, que você deve passar o dia fazendo ligações, postando coisas no Facebook e interagir em todas as ocasiões com outros profissionais só para mostrar ao mundo que você existe e sabe fazer alguma coisa. “O bom comunicador não é o que fala muito, mas o que consegue ser bem compreendido”, destaca André Ortiz. Nesse sentido, procure trabalhar sua capacidade de discutir boas ideias, observando sempre os momentos mais oportunos. Procure, também, se tornar uma boa referência na área em que atua e conquiste boas avaliações dos seus stakeholders.

Carlos. Graças a sua prepotente canção “Esse cara sou eu”, ele conseguiu ven-

der 1,5 milhão de cópias de um CD com quatro músicas, teve 500 mil downloads na iTunes e, obviamente, está ganhando uma boa grana com tudo isso. Nem sempre, entretanto, ser avalista de si mesmo dá certo. Fora do mundo imaginário da poesia feita para derreter mulheres sonhadoras à espera de alguém que abra a porta do carro quando elas vêm vindo, esse tipo de postura pega mal. Além disso, a menos que você já tenha vendido mais de 100 milhões de discos, cantado para o papa e conseguido a façanha de fazer com que seu trabalho seja bem recebido em todos os lugares, ninguém vai dar muito crédito ao simples fato de você dizer que é alguma coisa. Fazer seu marketing pessoal – não tenha dúvidas – é importante (bem importante!). Como ressalta o professor André Ortiz, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), “todo profissional deve trabalhar sua imagem, sua postura,

2. Tenha uma postura profissional Não adianta bancar o piadista do escritório para conquistar a simpatia dos colegas e não conseguir mandar bem em suas responsabilidades. Além disso, para algumas funções, certos tipos de postura não são convenientes. “Às vezes, aquele brincalhão não é promovido mesmo sendo um bom profissional, porque não tem a postura exigida para o cargo”, ressalta André. Nesse ponto, não há fórmula pronta. O ideal é observar seu mercado, avaliar suas pretensões e procurar agir de forma condizente com o que almeja.

3. Sim, é importante cuidar da aparência É muito importante se programar e ter uma rotina bem definida de trabalho ou de estudo. De acordo com a psicóloga Ana Beatriz Cintra, é preciso “se organizar, reservando os últimos horários do dia para fazer a agenda do dia seguinte”. Além disso, é necessário que essa programação também seja aplicada nos períodos de descanso durante a atividade. Sobre isso, a especialista aponta que pequenos intervalos a cada 2 horas fazem com que a atividade renda muito mais.

sua conduta, porque é isso que vai fazer com que ele seja indicado, recomendado”. Mas, bancando o Ciro Bottini de si mesmo, como se sua carreira fosse uma câmera digital à venda no Shoptime, há grandes chances de as coisas não darem certo, de acordo com o que explica André. “Quando se fala em marketing pessoal, as pessoas associam muito à imagem. Mas não é só isso. É, principalmente, a forma como você é lembrado pelas outras pessoas, o seu posicionamento. Existe uma falácia de que numa entrevista de emprego você deve dizer o que o entrevistador quer ouvir. Mas, na verdade, o que você tem que fazer é passar confiança. O entrevistador quer ver a marca registrada daquela pessoa”, ressalta o professor, que elencou cinco dicas que vão ajudar você a fazer um bom marketing pessoal.

4. Seja a fonte de novas (e boas) ideias De nada adianta fazer a publicidade se o produto não for bom: o cliente compra na primeira vez e não volta nunca mais. Provar que é tão competente quanto divulgou ser é fundamental. “O bom profissional leva novas ideias para a empresa, faz acontecer, é um intraempreendedor, busca resultados, não é o que fica só reclamando. Quando existir um problema, apresente a solução”, recomenda André.

5. Seja humilde Apesar do pedantismo de seu eu lírico dizendo às mulheres que é o cara, Roberto Carlos não se concedeu o título de rei, o conquistou. Por isso, não tente bancar o Romero Britto (um pintor brasileiro que fala com sotaque americano e quer que o mundo acredite que ele é o novo Picasso). “Prove sua capacidade primeiro. Construa sua carreira passo a passo. Reconheça que você é um eterno aprendiz”, sugere Ortiz.

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ESTRATÉGIA | OLIMPÍADAS

As lições das Olimpíadas de Barcelona podem ajudar o Brasil por paulo rocha e oliveira e carlos garcía pont

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Uma boa lembrança sobre os Jogos Olímpicos ou um legado para a cidade? Que tal, então, os dois? Veja o que Barcelona fez para transformar esse evento esportivo em um marco definitivo para sua evolução.

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xcelente gerenciamento, cooperação estreita entre os setores público e privado e implementação exemplar do plano estratégico

foram os pilares do sucesso dos Jogos Olímpicos de Barcelona em 1992. Duas décadas depois é a vez do Brasil. Um estudo de caso que acaba de ser publicado pela IESE Business School sugere reflexões que talvez possam ser aplicadas ao planejamento dos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro. O estudo analisou como os fatores que levaram ao sucesso do evento e à herança deixada pelas obras de infraestrutura e mobilização institucional ajudaram a alavancar o potencial turístico e de negócios da Catalunha nos anos posteriores ao evento. A pergunta que vale um milhão de dólares: o que você quer ser depois dos Jogos Olímpicos? Antes deles, Barcelona não era a potência turística que é hoje. Na verdade, em contraste à situação atual do Rio 28

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de Janeiro, nem era potência turística. Apesar de estar no litoral do Mediterrâneo e exibir belos monumentos, era basicamente um centro industrial em decadência e com sérios problemas de infraestrutura, não muito diferentes dos que existem hoje no Rio. A Olimpíada forçou Barcelona a refletir sobre o que desejava ser depois do evento. Isso levou à elaboração de um plano estratégico abrangente, que começou a ser aplicado antes dos Jogos e continuou fevereiro/março 2013

por muito tempo. Esta foi a chave: não colocar o foco nas exigências em curto prazo do evento em si, mas usá-lo como um trampolim para criar um impacto positivo e duradouro em toda a região. Outra característica marcante: houve uma verdadeira parceria público-privada, na qual quase 40% dos custos totais – a maioria em obras de infraestrutura – foram financiados pelo setor privado. Esse alto nível de investimento é consequência da credibilidade e viabilidade de implementação do plano estratégico. O setor privado participou da elaboração do plano, tinha um papel claro na sua implementação e esperava retorno positivo nos apoios financeiros. Além dos investimentos em infraestrutura, o plano estratégico incluiu políticas de desenvolvimento turístico, governamental, de gerenciamento de talentos e de marca, abrangendo o evento e os anos posteriores.

Três pilares do sucesso O estudo atribuiu o sucesso dos Jogos Olímpicos de Barcelona a três fatores principais. Primeiro: coordenação institucional. O Comitê Olímpico Internacional, os governos da Espanha, da Catalunha e de Barcelona se uniram em torno de um objetivo comum, com um nível de coordenação extraordinariamente alto. A coordenação com o setor privado foi impecável e se refletiu no elevado nível de investimentos. Segundo: excelente gerenciamento de marca. O organismo público/privado criado para os Jogos transformou-se no organismo oficial de turismo de Barcelona após o evento, e continuou a posicionar a sua marca como “uma cidade de destino” global. Além de organizar regularmente eventos esportivos de clase internacional, Barcelona se reposicionou como um local de negócios e transformou-se em uma das principais escalas de na-


vios de cruzeiro na Europa. Terceiro: execução exemplar. A chave do sucesso da execução esteve na colaboração e no trabalho em rede, tanto público quanto privado e entre diferentes atores desse setor. Além disso, os Jogos atraíram para Barcelona um elenco de talentos altamente qualificado, além da colaboração de 35 mil voluntários. Sem essa força de trabalho treinada e talentosa, o plano estratégico não teria tanto sucesso. Esses três pilares se apoiaram numa sólida base conceitual: o foco no cliente. A estratégia turística não se concentrou na oferta, nem se limitou às ações do governo, mas sim na perspectiva do cliente, do turista que toma a decisão de vir ou voltar ao destino. O sucesso de Barcelona é consequência de um esforço maciço feito em todos os pontos da cadeia produtiva do turismo, que hoje opera competitivamente dentro dos mais altos padrões internacionais de qualidade de serviço.

Replicando o “Efeito BaRcelona” Depois dos Jogos, o turismo teve um aumento fenomenal, passando de 1,7 milhão de visitantes em 1990 para cerca de 7 milhões em 2007. Apenas para comparar: o Brasil inteiro recebe cerca de 5 milhões de turistas estrangeiros por ano, e este número praticamente permanece estável há uma década. Barcelona também se reposicionou como centro de negócios. Em 2009, ficou no segundo lugar em número de convenções realizadas na Europa. A população também se beneficiou com as melhorias feitas nas vias públicas, transporte público, renovação da orla, recuperação de bairros e com o orgulho de transformar Barcelona em uma cidade conhecida mundialmente. Os desafios para o Rio de Janeiro e para o Brasil não são pequenos. A cidade e seus atrativos turísticos já são conheci-

dos mundialmente. As razões principais que têm feito o turismo crescer tão pouco no Brasil nos últimos anos são a falta de infraestrutura, segurança e a má relação preço-qualidade na prestação de serviços. Melhorar isso tudo não é fácil, pois requer uma mudança da perspectiva atual - centrada na oferta - para uma perspectiva centrada nos turistas. Além disso, a adesão do setor privado é fundamental. Uma maior participação no financiamento de um evento desta natureza reflete que o padrão de investimento está voltado para o futuro e, portanto, repousa num plano de desenvolvimento sustentável e rentável em longo prazo. Como é de praxe, podemos ter certeza de que ao término da Olimpíada, organizadores e políticos vão dizer que ela foi um sucesso. Sem dúvida, ficará a lembrança de uma bela festa. Mas a experiência de Barcelona sugere que, para ficar fevereiro/março 2013

um legado, e não apenas uma lembrança, há muito trabalho a ser feito para que a Olimpíada de 2016 seja o marco de uma transformação positiva e profunda na cidade e no setor turístico.

Paulo Rocha e Oliveira e Carlos García Pont são professores da IESE. A instituição está entre as dez melhores escolas de negócios do mundo e é pioneira em educação executiva na Europa desde sua fundação em 1958, na Espanha. IESE Insight www.ieseinsight.com

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fevereiro/marรงo 2013


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MARKETING | PONTOS DE VENDA

As lições do coelhinho para vender mais por agatha justino

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Com o período da Páscoa chegando, a “guerra” entre os fabricantes de chocolate para encantar os consumidores já começou. Descubra as estratégias utilizadas por essas empresas nos pontos de venda para conquistarem você.

A

s cinzas do carnaval mal foram varridas, mas o varejo não perde tempo. Con-

fetes e fantasias já cederam seus lugares aos coelhinhos e ovos de chocolate nas prateleiras. A sensação ao entrar em um supermercado é a de que o tempo está voando, mas o calendário das indústrias acompanha as necessidades do mercado. A tradição de presentear pessoas queridas com ovos é um costume milenar e está relacionada ao cristianismo. Antigamente pintava-se um ovo oco de galinha com cores alegres a fim de celebrar a ressurreição de Jesus Cristo. Em outras culturas, como a grega e egípcia, os ovos de galinha coloridos também eram utilizados, mas em datas diferentes. No entanto, o que era apenas uma tradição se tornou um grande negócio - e dos mais lucrativos. Em 2012, a Páscoa foi responsável pela produção de 18 mil toneladas de produtos, com 80 milhões de ovos vendidos em mais de 800 mil pontos de venda do Brasil. Segundo Ubiracy Fonseca, vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados (Abicab), a data representa o 13º mês do comércio, já que corresponde a mais de um mês de dedicação na produção, trabalho de marketing, vendas

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fevereiro/março 2013

e, consequentemente, faturamento. Para os fabricantes de chocolate, a Páscoa começa 18 meses antes e antecipar todo o processo é importante para que seja possível concluir todas as operações. “Esse processo envolve todas as áreas da empresa que se mobilizam para o desenvolvimento dos produtos, contratação e treinamento de funcionários temporários (no primeiro momento para a produção e no segundo para o ponto de venda), estratégia de comunicação, venda de produtos, logística, preparação do PDV, entre outros”, afirmou André Barros, gerente executivo de marketing da Chocolates Garoto. Uma das principais lições deixadas pela Páscoa é a importância do trabalho integrado entre todos os setores da empresa, já que um evento tão grande não pode ser construído de forma individual. “A Páscoa demanda o trabalho de uma equipe dedicada. É preciso planejar para ter os produtos expostos nos pontos


de venda por cerca de 40 dias e quase 60% das vendas aos consumidores se concentram nos três últimos dias da Páscoa. É uma operação complexa e com logística bem específica”, ressaltou o gerente executivo da Garoto.

A diversidade conta (e muito) Como são produtos sazonais, os ovos de chocolate precisam ser vendidos durante a Semana Santa e é essa necessidade que desperta entre as companhias uma concorrência pesada. As indústrias ajustam a produção ao ritmo de vendas, e este às ações de marketing para não perder seu estoque. As empresas investem massivamente em publicidade e na diferenciação dos ovos. São novos sabores, tamanhos, embalagens chamativas, brindes e licença de personagens ou times de futebol à disposição dos consumidores. “A empresa precisa entender o desejo do cliente e transformá-lo em um produto completo: desde criação

Você sabia? O consumo de chocolate por brasileiro é de 2,2 kg por ano.

2,2KG

de embalagens até a escolha de sabores e formatos. No plano de marketing anual, a Páscoa é um evento que contribui para a divulgação das marcas, apresentação de novos produtos e encantamento do consumidor”, disse André Barros. Segundo Ubiracy Fonseca, este ano os brasileiros poderão caminhar pelas parreiras de supermercado explorando a diversidade: ao todo serão lançados 100 novos ovos. A Nestlé, por exemplo, traz um portfólio 30% renovado. “Todas as indústrias fazem a lição de casa, ou seja, a briga realmente é muito forte. As empresas trabalham o portfólio, diferenciam o canal de venda e investem bastante em comunicação, além de promoverem as vendas junto ao varejo com várias promoções. É um jogo de gente grande”, explica Marcelo Miyashita, professor de Marketing da Casper Líbero.

Como mostrar o ovo da Páscoa Para conquistar crianças e

adultos, as marcas apostam em estratégias que não se resumem aos chocolates em si ou a uma linha diversificada. A aposta está em como exibir esses produtos. Com isso entram em campo as estratégias do trade marketing, que compõem toda a análise dos hábitos e preferências dos consumidores nos pontos de venda. Destacar displays, ações de degustação e cuidado com a apresentação dos produtos são apenas algumas das maneiras de trabalhar a publicidade. “Uma boa exposição é composta por um mix completo de produtos, com opções de escolha, conveniência e serviço aos consumidores. Também é importante ter ações diferenciadas, como degustação com promotores de cada empresa, para aproximar o produto do cliente, e cuidar da apresentação dos produtos, já que expor ovos quebrados pode comprometer sua aceitação”, lembra Ricardo Bassani, gerente de marketing de cho-

Os números do chocolate

colates da Nestlé. Além de investir nas tradicionais parreiras, as marcas promovem ações exclusivas e pontos de venda diferenciados. A Lacta, por exemplo, busca atrair o cliente por meio de vitrines temáticas, chamadas de in store - pequenas exposições montadas dentro das lojas dos clientes, proporcionando um ambiente mais acolhedor e especial para a compra. Renata Claro, gerente de marketing de Páscoa da Lacta, explica que como o evento engloba diversas marcas do portfólio dentro de um único espaço, o desafio de comunicar todas elas no ponto de venda deve ser superado. “Isso deve ocorrer por meio de inovações em materiais de visibilidade, treinamento da equipe de abordagem e lançamentos que revelem a identidade de cada marca dentro do contexto de Páscoa, reforçando o conceito de serviços prestados ao consumidor na hora da compra”, completa.

Fique atento

2010**

2011**

%

Produção

582 mil

650 mil

+11,6%

Consumo aparente*

562 mil

631 mil

+12, 2%

Exportação

33 mil

33 mil

0%

Importação

13 mil

14 mil

+8%

Os ovos nunca estão expostos próximos aos produtos ou materiais que exalam cheiros fortes, como carne, peixe, queijos, ou ainda material de limpeza e higiene. Além disso, eles nunca estão em freezers, já que as condições ideais básicas são temperaturas entre 18 e 22ºC.

Fonte: ABICAB - Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados * Consumo aparente (produção + importação - exportação) ** Valores em Toneladas

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(Debate) contraponto | EMPREENDEDORISMO

O plano de negócios é fundamental para abrir uma empresa?

por mari gradilone e davi bertoncello imagem shutterstock

Na hora de começar a empreender, alguns defendem com veemência que uma empresa só dá certo quando é feito um plano de negócios. Outras pessoas, no entanto, falam que essa etapa não é tão necessária assim. Convidamos dois executivos, com opiniões distintas, para defenderem os seus pontos de vista.

Mari Gradilone é sócia-diretora do Grupo Virtual Office, empresa de escritórios virtuais que está há 20 anos no mercado. Ela é empresária, formada em Arquitetura e Desenho Industrial pela Universidade Presbiteriana Mackenzie.

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SIM! E

m um mercado tão dinâmico e instável, o plano de negócios é uma etapa fundamental ao iniciar qualquer empreendimento. Atualmente, vivenciamos um cenário em que muitas empresas apresentam queda de produção, aumento de custos, dificuldade de repasse de preços e baixos níveis globais de atividade econômica. A crise financeira assombra o mercado internacional, e, logo se reflete também no Brasil. Por isso, ao iniciar um negócio é de total importância um planejamento, não apenas pela busca de recursos, mas principalmente pela síntese das ideias e eficiência das mesmas. Tendo em mãos um plano de negócios é possível diminuir riscos no mercado, já que se têm escrito no documento todos os objetivos da empresa, além do passo a passo para que eles sejam alcançados. Atualmente, antes de entrar em um mercado tão competitivo é necessário avaliar questões importantes sobre a empresa. No caso, análise da concorrência, pesquisa de mercado e viabilidade da empresa são pontos iniciais que auxiliam na primeira etapa do processo. Sendo assim, é possível entender os pontos fortes e fracos do seu negócio, traçar um retrato fiel do seu setor, dos servi-

ços e produtos, além das atitudes do próprio empreendedor. Com essa organização, identificamos a gestão empresarial ideal para o negócio. Para auxiliar na montagem do plano é importante um modelo que sirva como roteiro. Vale lembrar que é de extrema importância buscar informações gerais sobre o segmento da empresa, que podem ser encontradas em veículos de comunicação, principalmente na internet, ou até mesmo junto aos clientes e outros empresários do ramo. No relatório, são abordados pontos como dados dos empreendedores, missão da empresa, setores de atividades, forma jurídica, enquadramento tributário, capital social e fonte de recursos, entre outros. O plano de negócios deve ser visto como uma trilha e não um trilho, portanto devemos acompanhar o relatório permanentemente, já que mudanças e alterações são comuns nesse tipo de planejamento. O plano de negócios pode ser uma ótima ferramenta para prospecção de novos sócios e investidores, além de ser uma opção para estabelecer novas parcerias com fornecedores. O importante é que, ao final, o plano de negócios responda a seguinte pergunta: “vale a pena abrir, manter ou ampliar o meu empreendimento?”.

“Antes de entrar em um mercado tão competitivo é necessário avaliar questões importantes sobre a empresa” fevereiro/março 2013


) A

o longo de 10 anos dedicados à publicidade tive contato com milhares de ideias para campanhas: filmes, anúncios, sites e o que mais fosse. Como qualquer criativo, acostumei a ter ideias dilaceradas todos os dias. Faz parte do jogo. Com os anos, veio o desapego. Um profissional de criação vive de ideias, mesmo sabendo que 99% delas vão morrer. Então tive uma. Que tal parar de ter ideias para grandes anunciantes e ter uma para mim? Pareceu coerente. Daí veio a parte mais difícil: tê-la! Na época, em 2010, eu pouco sabia sobre a recente cultura do empreendedorismo no Brasil, as startups. De longe, mais me parecia outra loucura do pessoal de San Francisco, algo tão distante da nossa realidade quanto caminhar pelado pela Rua Castro. Após os primeiros contatos, vi um cenário fértil de incentivo ao empreendedorismo. Quanto mais conhecia, mais me identificava. Concordei com muito do que vi, até que veio o tal de business plan (BP) ou, em português, plano de negócios. Por vezes percebi que algumas pessoas do meio tratavam aquela sigla tal qual um indiano a uma vaca. Muitos a consideravam como parte mais relevante do negócio. Mais do que a própria ideia. É aí que entra o meu ponto: um ótimo plano de negócios salva uma ideia ruim? É claro que não. A questão é que diferente da realidade das agências, aquelas pessoas, em sua maioria jovem, muito

NÃO! provavelmente estavam defendendo com unhas e dentes a sua primeira ideia. Vamos aos fatos, não sou radical ao ponto de dizer que uma empresa não precisa de um plano de negócios, mas penso que nem de longe ele é a espinha dorsal. Explico: mais importante do que um PN é o poder de mudar as regras do jogo a qualquer momento e aproveitar as oportunidades. Além do mais, dentre os muitos quesitos de um plano de negócios, talvez a parte mais importante seja o Planejamento Financeiro, que nada mais é do que um compilado de projeções em alguns cenários - negativo, neutro e positivo. E ninguém em sã consciência projeta o seu próprio fracasso. Bom, ao menos é isso que Sigmund Freud acreditava. Partilhando ou não da minha forma de encarar a supervalorização atual que alguns dão ao plano de negócios, dos números ninguém foge: sete em cada dez empresas brasileiras fecham as portas antes de completar cinco anos (fonte: SEBRAE). Muito provavelmente todas elas tinham um ótimo plano de negócios, mas, ainda assim, 70% delas falharam. Culpa do PN ou da ideia? Um dia desses, conversando sobre o assunto, perguntaram se minha empresa tem um BP. É claro que tem. Mas, mais importante do que isso, é o fato de ter na ponta da língua os diferenciais, pontos positivos e oportunidades para qualquer investidor ou empresa que deseja ser meu parceiro na ideia da minha vida.

“Sete em cada dez empresas brasileiras fecham as portas antes de completar cinco anos. Muito provavelmente todas elas tinham um ótimo plano de negócios”

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Davi Bertoncello é publicitário premiado em festivais como o Cannes Lions, com passagens pelas agências WMcCann, Ogilvy e AgênciaClick. É hoje sócio-diretor executivo da Hello Research, agência de pesquisa e inteligência de mercado que em pouco mais de um ano já figura entre as 20 maiores empresas do setor.

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DÚVIDAS | DRUCKER RESPONDE

CONFLITO DE GERAÇÕES

DIVERSOS CURSOS

Geração X, Y, Z, Alfa ou Baby Boomers: a relação entre essas gerações dentro de uma organização geralmente é bastante turbulenta. Existem maneiras de unir todas elas encaixando suas qualidades, sem perder o foco de produtividade e lucratividade dentro de uma empresa?

Sou estudante de Administração e pretendo assumir a MPE do meu pai. Pretendo fazer Contábeis, pois é mais um ano de estudo, mas não pretendo atuar na área. Além disso, tenho uma imensa vontade de fazer Direito, ou seja, ficaria com três cursos. ADM e Direito eu pretendo atuar na área. Minha duvida é a seguinte: posso construir uma carreira com esses cursos no currículo? Se sim, quais são as melhores opções?

daylini de oliveira

É possível, Daylini. As relações interpessoais sempre serão um desafio nas empresas, mas elas podem ser superadas quando se tem um bom planejamento, princípios e valores que agregam os perfis das pessoas e o treinamento. As metodologias e técnicas de aprendizagem organizacional são formas práticas para envolvê-las, porque repassam a missão da organização. As soluções para os problemas surgirão ao passo que o grupo esteja comprometido. Para isso, as lideranças devem focar a gestão para o que almejam, além de provocar os liderados ao trabalho em equipe e para a utilização do capital intelectual. Os perfis X, Y, Z, Alfa ou Baby Boomers representam o nosso desenvolvimento, e todos são importantes, estratégicos e empíricos. SEM OPORTUNIDADE

adriana nascimento

Querida Adriana, este dilema é vivenciado por todos os profissionais em todas as áreas. De início sugiro tentar a inserção pela área técnica e aos poucos conquistar o seu espaço como administradora. Costumo dizer que se inserir no mercado é como colocar a linha na ponta da agulha, às vezes demora, mas quando conseguimos, costuramos à vontade. Adriana, você tem que tentar mais, pois o mercado te quer, não desamine. Hoje a internet dispõe de uma infinidade de sites que propõem interação profissional. Busque desenvolver o seu networking. No Brasil ainda temos mais empresas do que administradores formados, a regra aqui é interagir e se integrar. Existem cursos, seminários, palestras e fóruns que envolvem profissionais em diversas instituições, essa é uma forma de conhecer pessoas que podem lhe ajudar. Boa Sorte! administradores.com

O que Drucker faria? por raniere rodrigues

Hiago, talvez sua preocupação aqui esteja mais relacionada ao sucesso que almeja enquanto profissional e o retorno financeiro que estas profissões podem lhe proporcionar. Então, é importante você esclarecer isso para si mesmo. Peter Drucker certamente diria para você se definir pelo que mais se identifica, tendo foco e objetividade, afinal você será feliz na escolha da formação que tem haver com suas habilidades. Nesse caso, parece-me ser a Administração. Então, acredito que você deva concluir seu curso e buscar uma pós-graduação que lhe faça aprimorar aquilo com que se identifica. As outras formações deverão ter prioridade apenas se desejar mudar de profissão mesmo, pois sempre você poderá expandir sua mente.

Tire suas dúvidas através da ótica

Por que muitos administradores têm dificuldade de conseguir um emprego? Estou há um ano e meio desempregada.

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hiago pereira

dos pensamentos de Peter Drucker, considerado o pai da Administração moderna. Basta enviar a sua pergunta, curiosidade ou questionamento para revista@administradores.com.br

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O responsável pelas respostas é o professor Raniere Rodrigues dos Santos, diretor geral da The Drucker Society of Brazil – Recife, professor de Administração da Universidade Federal de Pernambuco, Coordenador de Extensão na Faculdade dos Guararapes e um dos principais pesquisadores de Peter Drucker no Brasil.

PRÁTICA E TEORIA Sou do tipo que domina a teoria, mas pouco a prática e meu objetivo é me tornar instrutor de formação profissional no SENAI. A grande questão é se esse meu perfil é adequado para seguir carreira como instrutor. Se não for, como posso mudá-lo e em que precisarei mudar? lucas rocha vieira

Caro Lucas, toda teoria precisa de prática e vice versa. Estamos vivendo no Brasil um momento especial em relação à necessidade de mão de obra específica e técnica nos setores produtivos. Acredite no seu sonho e siga em frente. Recomendo alinhar o conhecimento técnico e prático, por meio de experiências de trabalho em empresas da área que pretende seguir. Isso lhe trará uma bagagem sem precedentes. A outra questão é dedicar-se aos estudos didáticos, por meio de livros específicos para a área escolhida, como consequência deverá buscar a formação superior. Isso fortalecerá a credibilidade do conhecimento técnico e prático adquirido.


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CAPA | MERCADO

Administração: a bola da vez do mercado por mayara chaves

| foto shutterstock

Conheça as áreas, cargos e negócios que realmente precisam do profissional de Administração. Saiba quais são as tendências e o que fazer para ter uma carreira ou um negócio de sucesso.

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À

s vezes, ser um administrador não é algo que escolhemos quando ainda estamos no Ensino Médio. Vem de família,

como é o caso de André Dias. Ele, que atua até hoje na empresa criada pelo pai, a GGD Metals, desmistificou o rótulo inicial de “filho do dono”, tomou gosto pelo negócio e fez com que ele crescesse. Outros, no entanto, mudam um pouco o curso que vinham seguindo, como fez Jorge Torres. Ele, que aprendeu muito trabalhando em restaurantes, acabou partindo para o caminho do empreendedorismo quando apostou na comida chinesa. Assim, se tornou dono de uma rede de sucesso, a China House. Alguns, ainda, já provam que têm aptidão para a área desde a infância, época em que Pedro Graziano começou a dar seus passos como administrador e, hoje, aos 25 anos, é sócio de um espaço de coworking em Ribeirão Preto, o CoNéctar Coworking. Esses diferentes perfis de administradores - com histórias bem distintas - mostram que atuar no mercado de Administração é um processo dinâmico, que movimenta pessoas que conduzem e empreendem na busca de alcançar objetivos, sonhos e metas. No entanto, na hora de pensar em se tornar um administrador e atuar nessa área, é necessário planejamento, autoconhecimento, pesquisa e, ainda, que o indivíduo questione suas próprias motivações, procurando respostas sobre as vantagens ou não de embarcar nesta carreira. Perguntas como “mercado saturado?”, “poucas oportunidades?” e “concorrência excessiva?” são alguns dos questionamentos que passam pela cabeça de quem vai escolher uma área para se profissionalizar. Com a Administração não é diferente. A área, inclusive, é uma das que mais crescem em número de estudantes e profissionais - com 114 mil administradores se formando a cada ano. Só na graduação estão matriculados 1,3 milhão de universitários, o que torna o curso o maior em número de alunos do Brasil, superando em quase o dobro a quantidade de estudantes do curso de Direito, que é o segundo maior e possui 723 mil estudantes. Por isso mesmo, a Administração pode ser vista por um observador leigo como uma profissão em que há excesso de pessoas, provocando, consequentemente, um inchaço no mercado ou até mesmo a insuficiência de postos disponíveis. Mas, quando levamos em consideração as

diversas possibilidades de atuação de um administrador e a existência, de acordo com o IBGE, de 4,8 milhões de organizações e empresas formalizadas no Brasil, esse tipo de visão perde o sentido. No campo empresarial, o administrador está sendo requisitado devido à necessidade e preocupação cada vez maior com a qualidade da gestão das companhias, até porque a taxa de negócios que pedem falência é alta no Brasil – cerca de metade das companhias fecha após três anos de existência, quase sempre devido à falta de preparação dos dirigentes. O administrador não só é qualificado para gerir empresas, mas tem muitas possibilidades de carreira, que podem ser escolhidas dentro e fora da companhia. Essa gama de escolhas, além de permitir ao administrador atuar de diferentes maneiras, também acaba abrindo portas não só para ele. Isso porque, além das áreas tradicionais, existem segmentos diretamente relacionados ao administrador, que profissionais de outras áreas acabam atuando, como Finanças, Recursos humanos, Vendas, Logística, Marketing e TI. Psicólogos, publicitários, economistas, etc., são apenas alguns dos profissionais que operam em segmentos próprios dos administradores. Mas por que essas áreas são específicas dos administradores? Exatamente porque todas elas envolvem e necessitam de profissionais que saibam gerir pessoas, recursos, ações e informação, entre outros. No Marketing, por exemplo, não se lida com publicidade por si só, mas com criações de estratégias e um conhecimento contínuo a respeito do mercado. E se alguém já lhe disse que Finanças é só para economistas está redondamente enganado. Um administrador tem toda a capacidade para administrar ativos financeiros e entender como potencializar os ganhos no mercado financeiro. Muitas dessas áreas específicas, por pouco agregarem administradores qualificados, podem se apresentar ainda mais atrativas. “Algumas áreas da Administração são muito procuradas, como Marketing e Recursos Humanos. Outras, como Logística e Administração Financeira, atraem menos administradores, o que pode significar oportunidades”, afirma Sebastião Luiz de Mello, presidente do Conselho Federal de Administração (CFA). Ele também explica, com base nos dados da “Pesquisa Nacional sobre o Perfil, Formação, Atuação e Oportunidades de Trabalho do Administrador 2011”, que as áreas mais promissoras para a contratação de administradores no Brasil são as de consultoria empresarial, serviços e administração pública direta e indireta, sendo que várias dessas áreas, que são tendência, já contam com a presença massiva de profissionais (Veja detalhes abaixo).

Onde os administradores estão Vendas: 7,31%

Gestão de Gestão de Outra: processos: 9,14% 6,20% Logística: projetos: 4,24% 4,96% Sistemas de Operacional: Administração informações: 6,06% geral: 28,80% Recursos da 1,44% Contábil: Marketing: Tecnologia informação: humanos: 5,18% 1,53% 2,43% 9,46% Financeira: 13,25%

*dados da pesquisa nacional sobre o perfil, formação, atuação e oportunidades de trabalho do administrador 2011

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CAPA | MERCADO

Áreas que demandarão administradores Os resultados do CFA em relação às áreas que são tendência também corroboram com os dados da pesquisa da empresa norte-americana CareerBuilder, que fez uma projeção sobre os setores que mais realizarão contratações em 2013. O estudo aponta que, no Brasil, a área administrativa está entre as que mais receberão profissionais neste ano. O levantamento norte-americano aponta que, em parte, as boas projeções para contratação especificamente no Brasil se devem a um melhor desempenho no setor industrial e aos planos do país para a vinda da Copa do Mundo, em 2014, e das Olimpíadas, em 2016. Além disso, segundo os dados, a perspectiva de contratação nos BRICs será maior do que em outros países (ao lado). No entanto, a demanda por administradores não existe só em áreas, mas em cargos específicos em que há escassez de profissionais qualificados, como aponta uma pesquisa realizada pela Page Personnel. Dos 12 cargos que mais carecem de profissionais no Brasil, nove deles podem ser ocupados por administradores. Uma dessas funções é a de supervisor de produção. Para exercer o função, é preciso, entre outras habilidades, saber trabalhar com a gestão de pessoas e conhecer a cadeia de produção. A lista de cargos escassos ainda conta com Vendedor Key Account Sênior¹ e os analistas de Revenue Management², Inteligência de Mercado, Marketing Digital, entre outros (ao lado).

Conquista dos mercados

Áreas que mais contratarão em 2013 nas 10 maiores economias do mundo

Os 12 profissionais mais escassos do mercado

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Alemanha TI, Vendas, Produção

Cargo Remuneração Média Quantidade de dias para recrutar

China Vendas, Pesquisa e desenvolvimento, Produção

Projetos Logísticos

Vendedor Técnico¹

R$ 4,5 mil a R$ 9 mil

R$ 6 mil a R$ 7 mil

90 dias Técnico de Campo (manutenção eletromecânica)¹

30 dias Analista de Revenue Management³ R$ 3 mil a R$ 6 mil 60 a 90 dias

Strategic Sourcing (Compras Estratégicas)

Analista de Gerenciamento por Categoria Sênior

R$ 4 mil a R$ 8 mil

R$ 5,2 mil a R$ 7 mil

45 a 60 dias

90 dias

Demand Planning (Planejamento e Demanda)

Supervisor de Produção

R$ 4 mil a R$ 8 mil

R$ 6,5 mil a R$ 9 mil

60 dias

30 a 60 dias

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Rússia Produção, Atendimento ao cliente, Engenharia

Japão TI, Engenharia, Serviço ao cliente

R$ 3 mil a R$ 4 mil

Diante de todas as diversas 40

Reino Unido Vendas, Atendimento ao cliente, Administrativo

Índia TI, Marketing, Atendimento ao cliente

Brasil Atendimento ao cliente, TI, Administrativo

¹ não contam com formação específica em administração ² responsável pela negociação de contratos com compradores ³ responsável pela gestão de receitas nas operações de vendas

Itália Produção, Vendas, Administrativo

França Produção, Vendas, Informática

EUA Vendas, TI, Atendimento ao cliente

***pesquisa realizada pela consultoria careerbuilder

**pesquisa realizada pela consultoria careerbuilder

90 a 120 dias Vendedor Key Account Sênior² R$ 4,5 a R$ 6 mil + comissões 60 a 90 dias Analista de Inteligência de Mercado R$ 5 mil a R$ 6,5 mil 60 a 90 dias Analista de Marketing Digital / E-commerce R$ 4,5 mil a R$ 5,5 mil 60 a 90 dias Consultor em Engenharia¹ R$ 3 mil a R$ 8 mil 60 dias


áreas disponíveis e da grande necessidade de contratação de administradores, é preciso saber conquistar essas oportunidades. A formação mais generalista pode até facilitar e aumentar o leque de atuação, mas um dos problemas é a concorrência ainda maior que ela pode gerar, por isso a necessidade da qualificação. Mas não é só o candidato que vem se preparando para conquistar o mercado. As próprias universidades, antes mesmo que o estudante inicie sua carreira, já estão buscando adotar uma visão mais inovadora e próxima ao mercado, aponta Ligia Mello, sócia fundadora da Hibou Monitoramento de Mercado e Consumo. “Muitos dos professores, independente dos títulos de mestres e doutores, são profissionais que atuam no mercado e estão trazendo essa relação trabalho/academia. Além disso, vejo dois caminhos: o primeiro é a necessidade do profissional se reciclar sempre, principalmente em áreas que não são específicas do seu trabalho. Segundo: para ser um bom gestor é preciso ler sobre tudo. Não é necessário que o profissional saiba tudo, mas conhecer o panorama geral é muito importante para ter esse dimensionamento”, explica Lígia. Se ter uma visão ampla e competências diversificadas é importante, por outro lado, a capacitação e especialização em uma determinada área ainda pesa no currículo dos administradores. “Se o administrador gosta de trabalhar com números e se encontrou na área financeira, deve se especializar nessa área, se gosta de lidar com pessoas e se encontrou na área comercial, deve buscar especialização nessa área. De qualquer forma,

a visão holística das organizações vai diferenciar esse profissional especializado”, afirma Cláudio Carvajal, professor dos cursos de Administração da FIAP. Ele, entretanto, ressalta que em qualquer área que esse profissional atue, ele terá que ter fluência em inglês, além de um grande conhecimento acerca das tecnologias

proporção global no país. Para os especialistas não favoráveis à internacionalização da carreira, atuar fora do país já não é relevante devido aos olhos do mundo estarem voltados para o Brasil e até mesmo, em alguns casos, em relação à real compensação quando se comparam os salários nacionais aos de fora.

O administrador não só é qualificado para gerir empresas, mas tem muitas possibilidades de carreira, que podem ser escolhidas dentro e fora da companhia da informação e de como elas implicam na inovação do setor em que atua.

Internacionalizar a carreira é uma boa opção? Um dos caminhos para o administrador desenvolver sua carreira é se especializar e atuar fora do Brasil. No entanto, especialistas divergem no que diz respeito à necessidade ou não da busca por experiências fora do país. E os motivos para isso são o bom momento econômico brasileiro e a realização de eventos de grande

A experiência só seria válida, de acordo com Mirelle Philomeno, gerente da Manpower Especialist/RJ, para quem integra comitês executivos de companhias. “O profissional deve sair do Brasil no momento em que ele faz parte de um comitê, onde estará participando do dia a dia da matriz da empresa, pois, em termos de perspectivas de mercado e de carreira, arrisco dizer que hoje não há lugar melhor no mundo que o Brasil”, justifica. Por outro lado, considerando a experiência internacional como um diferencial, Fabrífevereiro/março 2013

cia Antunes, gerente da Page Personnel, destaca dois momentos ideais para que o administrador internacionalize-se: “Logo no início da carreira, intercâmbio, curso de férias e estágio internacional agregarão bastante, principalmente no que se refere ao amadurecimento pessoal e abertura para encarar desafios, mudanças e novas realidades. Um segundo grande momento será depois deste profissional assumir uma função gerencial. A experiência com outras práticas de trabalho, metodologias, mercados e culturas vão potencializar as habilidades e a gestão em vários níveis”, explica. Mas não é apenas o momento da carreira que vale na hora de pensar em internacionalizar. É fundamental levar em conta o momento econômico brasileiro e a vinda crescente de empresas de fora para o país, até porque não é necessário sair do Brasil para ter uma carreira internacionalizada, de acordo com o empresário Renato de Castro. “Já foi a época em que para um executivo brasileiro desenvolver uma carreira internacional ele precisaria ir para o exterior. O que vale aqui é a máxima da globalização que as empresas estão focando cada vez mais: pense global e haja local”, afirma Renato, que também é apresentador do programa Executivo Global.

Serviço público vs. iniciativa privada Não é só a necessidade de internacionalização da carreira que causa divergências entre especialistas. A própria disputa por talentos entre empresas é questionada, principalmente quando a batalha traz como rivais as empresas do setor público e as companhias da administradores.com

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CAPA | MERCADO

iniciativa privada. Mas existe mesmo uma competição? Verdade seja dita, muitas pessoas com capacitações cobiçadas pela iniciativa privada ainda preferem o serviço público, que oferece benefícios bem atrativos. E é neste ponto que as empresas devem investir para conservar e captar talentos. “Falta à iniciativa privada criar um modelo de retenção de talentos, baseado na carreira, remuneração, formação continuada, estabilidade, qualidade de vida que seja, ao mesmo tempo, realizável em termos orçamentários, e bom para o funcionário, a fim de que este consiga vislumbrar o devido retorno por seu esforço”, afirma Carlos Alexandre Duarte Correa, coordenador do curso de Administração da UNISUAM. Por outro lado, a falta de recursos na iniciativa privada, se comparada ao setor público, acaba virando um problema na hora de oferecer benefícios aos profissionais. “É preciso que o governo crie políticas públicas que incentivem a iniciativa privada a crescer e a investir na mão de obra qualificada. Sem isso, muitas empresas não terão condições de oferecer bons salários e a estabilidade aos seus colaboradores”, explica o presidente do CFA. Ainda assim, há especialistas que acreditam que não há competição entre os dois tipos de empresa, já que os perfis profissionais e sua atuação são diferentes em cada uma delas. No entanto, vale lembrar que profissionais mudam seus objetivos e podem migrar, em algum momento da carreira, para uma ou outra iniciativa.

Virando empresário Ser funcionário da iniciativa privada ou do setor público não 42

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são as únicas opções de atuação dos administradores. Ser dono de um negócio também é um anseio de quem administra, ou melhor, é um sonho, pelo menos para quase 44% dos brasileiros, de acordo com pesquisa Global Entrepreneurship Monitor 2012 (GEM). E se engana quem pen-

empreender, mas se preparam pouco. Isso faz com que o negócio delas não dê certo ou fique estacionado, pouco inovador, exatamente porque elas não se preparam”, explica Renata Chilvarquer, gestora de Educação Empreendedora da Endeavor.

Se ter uma visão ampla e competências diversificadas é importante, por outro lado, a capacitação e especialização em uma determinada área ainda pesam no currículo dos administradores sa que a necessidade é o maior motivo para os brasileiros terem sua própria empresa. Para a maioria deles (70%), a oportunidade é a maior motivação. No entanto, apesar de os números do empreendedorismo brasileiro impressionarem, aqueles que iniciam a jornada como empresários se qualificam pouco para dar esse passo. “No Brasil, vemos que as pessoas têm muita vontade de fevereiro/março 2013

Diante disso, conhecimentos das funções generalistas e de todos os setores dentro de uma companhia podem ser de grande ajuda no momento de abrir o próprio negócio. “Empresas de pequeno e médio porte podem ser mais indicadas para quem tem como objetivo claro ser um empresário no futuro, pois geralmente nestas estruturas organizativas o profissional não se especia-

liza tanto numa função e acaba assumindo responsabilidades mais transversais, com acesso e contato mais direto a outras áreas da empresa”, explica Fabrícia Antunes. Além do conhecimento, também é preciso que o empreendedor esteja em sintonia com o mercado para saber como fazer do novo negócio algo realmente inovador. Segmentos relacionados às tecnologias, por exemplo, oferecem muitas oportunidades para novas iniciativas, inclusive dentro de grandes áreas, em tese, já “manjadas”, como infraestrutura, agronegócio, educação e saúde. Renata Chilvarquer afirma que “para ter oportunidades em mercados não saturados, é preciso pensar em grandes problemas. Por exemplo, o agronegócio é um grande mercado que precisa de tecnologia para ser otimizado ao mesmo tempo em que o mercado da educação e a infraestrutura são grandes problemas que geram grandes oportunidades em inovações, também na cadeia de valor desses setores”. Grandes mercados com potencial pouco explorado, empresas buscando talentos para ocupar cargos de grande demanda e segmentos cada vez mais carentes de profissionais. Empreendendo ou não, os administradores são cada vez mais necessários no mercado, mas não é só isso. É preciso qualificação e é primordial que se busque isso agora. Grandes oportunidades de negócios e de carreira estão surgindo e é preciso que os profissionais de Administração estejam atentos e busquem inovar cada vez mais, uma vez que eles são parte fundamental da válvula motriz do desenvolvimento do Brasil.


Salário médio do administrador De acordo com a Pesquisa Nacional sobre o Perfil, Formação, Atuação e Oportunidades de Trabalho do Administrador 2011, realizada pelo CFA, 43,37% dos administradores recebem remunerações entre 3,1 e 10 salários mínimos. Já a média salarial, levando em conta todos os profissionais, ficou em 9,7 salários mínimos.

POR QUE O ADMINISTRADOR É TÃO NECESSÁRIO? Sabe aproveitar, como ninguém, o momento econômico do Brasil Capacidade de planejamento e execução

Mais de três mil horas de faculdade se preparando para lidar com empresas

Conhecimentos para gerir pessoas e recursos

Sabe lidar com números

Tem uma visão geral do todo, ao mesmo tempo em que pode ser um especialista

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JORNALISMO GONZO | vidente

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O que você pode e o que não pode prever do seu futuro por agatha justino

| imagem daslei ribeiro

Com várias idas e vindas a videntes, a repórter da Administradores foi buscar indicações sobre o seu destino e se deparou com algumas situações e reflexões bem curiosas sobre a construção do amanhã.

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m conselho para as futuras gerações: nunca comemore fazer uma matéria gonzo antes do tempo. A missão pode parecer fácil, mas o destino sempre achará seus meios de lhe passar a perna das maneiras mais bizarras

possíveis. Se não passar, é por que não era uma matéria gonzo de verdade. Vibrei quando decidimos que eu visitaria videntes para a reportagem. No universo da Administração somos sempre desafiados a planejar, prever as reações do mercado e tomar decisões no escuro. Resolvemos, então, inovar e pedir um pouco de luz aos oráculos. Além disso, não seria nada ruim começar o ano com algumas previsões.

Essa animação foi o meu primeiro erro. Para encontrar uma cartomante, eu penei. Embora as videntes divulguem seus contatos em qualquer poste, levei uma rasteira de duas delas. A primeira me mandou para um endereço errado, a casa de um possível desafeto, que, para se vingar, ela manda clientes desavisados. Entendi isso porque, ao me expulsar, a dona da casa mandou uma mensagem: “diga para essa pilantra da Mãe Luana que pare de mandar gente para cá. Aqui é um ambiente de família! Vai embora, demônio!” – recado dado, amiga. No outro dia procurei outra e fui parar em um barraco em uma das áreas mais perigosas da cidade, reconheci a cilada e dessa vez nem ousei descer do carro. Foi na terceira tentativa que encontrei Pai Sandro. A casa de Pai Sandro tinha tudo que eu sempre imaginei de um bom vidente: na entrada, as pimentas contrastavam com um vaso com sal grosso e sete cabeças de alho (sete, o número cabalístico) e um vaso de arruda, além de um sapo com olhos arregalados, um gato antipático e, como não poderia deixar de ser, uma vasilha de pipoca sem sal. Na parede, fotos de Iemanjá; nas estantes, imagens de vários santos. Enquanto esperava, minha mãe sussurrou ao meu ouvido: “soube que ele é do Maranhão, deve ser dos bons”, sorri, enquanto uma das carrancas me encarava como se lesse meus pensamentos e recriminasse o meu receio de estar ali.

Tinha marcado o horário para as 13h30min, de uma sexta-feira, que por sorte não era 13. Ele atrasou aproximadamente 30 minutos, dando tempo para eu refazer o script de perguntas. Eu tinha uma história montada na cabeça. Estava decidida a criar uma personagem: meu nome seria Adriana, cujo projeto seria abrir uma empresa com uma amiga. Mas, enquanto maquinava o roteiro, comecei a pensar: e se esse homem tiver realmente o dom de prever meu futuro souber qual a fonte dos meus atuais problemas e, quem sabe, resolvê-los com a ajuda espiritual? Enquanto minha cabeça fervia de ideias, Pai Sandro abriu a porta. Confesso que me desapontei com seu figurino, uma blusa polo e uma bermuda vermelha eram comuns demais para um homem que anunciava ter contato direto com os Orixás. Entramos em seu consultório e eu não conseguia esconder minha curiosidade acerca da decoração. Eram vários frascos com banhos de limpeza espiritual, baralhos, imagens e esculturas cujo simbolismo não pertencia a minha realidade. A visita custou-me R$ 40, com mais R$ 20 ainda teria o direito de jogar os búzios, mas optei pelas cartas ciganas. “O que você quer saber? Amor, dinheiro ou família?”, perguntou Pai Sandro. “Carreira”, respondi cada vez menos cética e com o olhar voltado

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JORNALISMO GONZO | vidente

para a tesoura que ele deixava em cima da mesa. Fiquei imaginando o que ele faria com aquele objeto. Foi o momento em que decidi não pensar em mais nada macabro. Ele começou a puxar as cartas e organizá-las em um círculo confuso: “Adriana, posso lhe dizer tudo que as cartas me mostrarem?”, naquela altura do campeonato já não sabia mais o que estava fazendo ali, mas disse que sim. Foi quando Sandro começou a falar: “você já é inteligente e vai chegar ao topo da sua carreira rápido”. Permaneci calada e deixei que ele continuasse: “vejo que no seu atual ambiente de trabalho existe um colega que tem muita inveja de ti” (sempre soube que o editor Fábio Bandeira de Mello invejava minha condição de estagiária, eis a raiz de toda a implicância); “sobre esse negócio que você deseja abrir, talvez esse não seja o melhor momento para investir. Suas energias estão baixas, você precisa rezar um pouco mais”, balancei a cabeça como um sinal de concordância. Pai Sandro continuou jogando, mas o sistema agora era diferente: três grupos de três cartas. Para cada, eu teria o direito de fazer uma pergunta. Escolhi as mais básicas: “eu vou ser bem sucedida?”, “como será o meu ano de 2013?”. E, por fim, “eu vou casar?”. De acordo com ele, eu não permanecerei em jornalismo por muito tempo, pois o meu futuro seria como empresária (quem sabe uma administradora?). Ele contou também que meu ano de 2013 será de mudanças difíceis na carreira e na família, e, quanto ao casamento: “não consigo ver um no seu futuro, está tudo ainda muito nebuloso”. Claro, não consegui esconder meu desapontamento. Percebi que meu tempo havia acabado. Ao sair, Pai Sandro ofereceu uma limpeza espiritual que, aparentemente, me livraria dos invejosos. Por R$ 150,00 eu não teria que me preocupar com olho gordo. Não fiquei tentada. Se existe, de fato, um invejoso perto de mim terei que cuidar dele sozinha.

Rita e o Tarô de Marselha Diferente de Pai Sandro, minha segunda consulta foi com uma taróloga nada caricata: Rita não possuía em seu consultório gatos, bolas de cristal ou pimentas. Apenas um olho grego acima da porta e as fotos de seus dois filhos na mesa. Sua sala casava seu trabalho como vidente e psicóloga, enquanto suas previsões 46

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eram dadas com um tom científico. Antes de começarmos, ela me disse: “eu confio plenamente nas minhas lâminas, elas nunca erram”. Sendo essa minha quarta tentativa com videntes, não tinha outra opção a não ser torcer para que suas lâminas mostrassem um futuro às margens do Sena. Antes de ler minha mão, Rita rezou e pediu proteção. É praxe na quiromancia que a primeira mão a ser lida seja a esquerda, que se refere às vidas passadas do indivíduo. Só depois ela iria interpretar a direita, que revela o futuro e o presente. Na minha palma, ela leu que no passado eu fui um professor de matemática bastante racional e frio. Por ser assim, eu teria abandonado e feito sofrer muitas mulheres. Esse seria o meu carma desta vida. E pelo visto de muitas outras. Ao pegar a direita, ela foi direta e seca: “você se casará três vezes e terá um filho”. Naquela hora, tudo que eu conseguia pensar era: “como eu fui de nenhum a três casamentos? Não podia dar algo mais simples, apenas um mesmo?”.

nanças, uma surpresa bem desagradável: o ceifador. Uma carta feia, com um esqueleto nada feliz, que, segundo Rita, representa uma perda financeira por pura irresponsabilidade. “Você precisa mandar uma mensagem para o universo de que gosta de dinheiro e que sabe como gastá-lo. Se você desperdiçar, o universo entenderá que você não quer essa riqueza”, afirmou. Comecei então a fazer uns cálculos mentais, pensando nos cortes que preciso fazer para deixar bem claro para o universo que eu gosto sim de dinheiro (quando o assunto é grana, melhor prevenir). Ela aproveitou o momento para cortar minhas asas: esse não é o momento ideal para viajar, nem para abrir um negócio”. “O que eu vejo aqui é que serás professora do curso que estudas agora”. Para finalizar a consulta, lancei a pergunta: “eu sou estagiária em uma empresa e gostaria de saber se estou no caminho certo. Eu serei reconhecida por esse trabalho?”. Resposta: “Na verdade, eles nem

Saber o que o amanhã nos reserva é tão desagradável quanto esperá-lo. O melhor mesmo é criá-lo Passada a leitura das mãos, partimos para as cartas: “esse é um tarô especial que ganhei de uma bruxa de Marselha, vou abri-lo para você porque o tradicional é muito pesado, e você é muito sensível para receber pancadas”.

O ceifador Puxei 13 cartas, uma referente a cada mês do ano, e outra que sintetizaria um conselho final. Meu jogo foi organizado em círculos por setor, ou seja, além de simbolizar o mês, as cartas eram dispostas para representar áreas específicas da minha vida, como trabalho, carreira, dinheiro, relacionamentos, família, saúde e carma, entre outros. Na segunda carta, correspondente ao mês de fevereiro e também às minhas fi-

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percebem muito a sua presença”. (O boss Leandro Vieira disse que isso era balela, assim espero!). Sandro e Rita descreveram futuros bem distintos. No primeiro, uma empresária, provavelmente solteirona. No segundo, uma professora com três maridos. Embora não me veja em nenhum dos dois cenários, essas duas previsões me fizeram refletir: saber o que o amanhã nos reserva é tão desagradável quanto esperá-lo. O melhor mesmo é criá-lo, como pregava muito bem Peter Drucker. Não sei se entre os dois videntes houve algum acerto. Talvez em uma próxima ocasião eu tenha a oportunidade de escrever uma nova matéria para dizer a vocês. Até lá, vou construindo minha carreira e vida pessoal saboreando (ou não) cada surpresa.



MENTE ABERTA sendo ridículo

O ridículo é o novo excepcional por seth godin

Seth Godin escreveu 13 livros que foram traduzidos em mais de 30 línguas. Cada um tem sido best-seller. Ele escreve sobre a revolução pós-industrial, a forma como difundir ideias, marketing, parar de fumar, liderança e, acima de tudo, como mudar tudo.

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ez anos atrás, no livro Purple cow (Vaca roxa), eu argumentei que em um mercado saturado pela mídia, não existia espaço para produtos medianos voltados às pessoas comuns – essa fatia da população já não poderia ocupar a mesma posição de antes. Empurrar uma ideia por meio de um anúncio implacável já não é suficiente. A alternativa: produtos e serviços notáveis, onde “notável” significa que alguém está o evidenciando. Quando alguém presta atenção no que você está fazendo, a palavra se espalha, substituindo a estratégia cara e previsível de Mad Men (seriado). Quando a estratégia é a do boca a boca, a publicidade é imprevisível, mas possui um potencial de efeito mágico, no qual as ideias se espalham. Mas o que faz algo se tornar notável? Mês passado, publiquei um livro de 800 páginas, grande o suficiente para matar um pequeno mamífero, caso seja mal utilizado. Não está à venda, mas aqueles que receberam uma cópia pelo Kickstarter

postaram sobre o assunto, falaram sobre ele e até fizeram vídeos. E a coisa mais legal que me disseram sobre isso foi que era “ridículo”. Claro que era. Era muito pesado e custou muito para enviar aos receptores. Era muito grande para levar para a praia e provavelmente iria se desintegrar por causa do peso através do tempo. É ridículo não vender um tão bom no varejo após todo o trabalho para escrevê-lo e é ridículo gastar tanto tempo fazendo de algo uma perda. Um videoclipe superproduzido (Gagnam Style), um modelo de negócios tão generoso que as pessoas se perguntam se vai ser bem sucedido (Keller Williams), um pintor que produz uma nova obra por dia (Abbey Ryan) e os quadrinhos do Hugh. Todos eles são ridículos, é claro, em seu modelo não comercial de fazer negócios. É a ousadia de se importar muito, dividir muito e se conectar muito. Se não é ridículo, é difícil imaginar que em ressonância as pessoas investem tempo e energia para espalhar a palavra. E a ironia mágica é que esse plano ridículo é, na verdade, o mais sensato. Nós podemos visualizar o termo “ridículo” como um insulto ao que as pessoas julgam como normal. É uma palavra mal vista por aqueles que desejam manter o status quo e evitar o fracasso. Ou nós podemos ao abraçar o ridículo como um sinal de que talvez, apenas talvez, nós estejamos sendo generosos, corajosos, criativos e bobos. Você sabe, excepcionais. Mais duas considerações sobre isso 1. Ridículo não é seguro. Se você faz algo ridículo e falha, as pessoas vão dizer: “seu imbecil, é claro que não ia dar certo, o que você estava fazendo era ridículo”. E é por isso que é tão raro. Não por que não temos capacidade para nos imaginarmos sendo ridículos, mas por que temos medo de sermos. 2. Não seja ridículo só por que essa é uma estratégia de marketing inteligente. Seja ridículo por que enquanto a eficácia permite que você seja assim, o objetivo real é que você seja generoso, emocionante e que toque algumas estrelas. Por que você pode.

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ARTIGO DO LEITOR negócios

cinco razões pelas quais empresas não tÊm sucesso por maurício prandi

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statísticas publicadas pela SBA (Small Business Administration, dos EUA) indicam que 70% dos novos empreendimentos sobrevivem por pelo menos dois anos, enquanto o percentual é reduzido para 51% após cinco anos. Ao iniciar um negócio, a última coisa que vem à sua mente é o fracasso. No entanto, se você identificar e resolver com bastante antecedência os possíveis motivos que o leva a ocorrer, a empresa terá mais chances de dar certo. Os parágrafos seguintes descrevem algumas razões que explicam o fracasso de um negócio, além de dar dicas sobre como evitá-lo. 1. Iniciando o negócio com os objetivos errados Você nunca deve iniciar um negócio quando a única razão é fazer um monte de dinheiro rapidamente. Há também um equívoco em achar que a pessoa terá mais tempo para passar com a família e que sempre irá responder a si mesmo. Um novo negócio exige muita dedicação. Além disso, a pessoa só deve começar um empreendimento que possui uma profunda paixão por acreditar fortemente que seus produtos e serviços irão responder às necessidades dos consumidores.

Este artigo pode ser conferido no Administradores adm.to/fase_inicial

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2. Falta de planejamento adequado Sucesso nos negócios pode ser alcançado pelo planejamento, cuidado sistemático e estratégico, bem como o trabalho duro e a determinação. A maioria das pequenas empresas falha devido a uma falta de planejamento de negócios adequado. Ele deve conter todos os aspectos do negócio, como a proposição de venda original, a concorrência, as necessidades da força de trabalho, os desafios e potenciais soluções, detalhes financeiros e assim por diante. É preciso determinar se vai valer a pena o esforço de vários anos na estrada antes de investir seu tempo e dinheiro nele. 3. Gestão Pobre Muitos estudos indicam que a má gestão é a principal causa de falhas de negócio. A maioria das empresas

muitas vezes não tem o conhecimento adequado em áreas vitais como marketing e vendas, finanças, recursos humanos, compras, produção etc. Você precisa colocar a equipe de gestão no lugar certo; uma equipe que tem a capacidade de estudar, planejar, organizar e controlar todos os aspectos das operações de negócios. Há muitos benefícios na utilização de consultores financeiros para esse ponto. 4. Capital insuficiente Boa parte dos proprietários de negócios tende a subestimar a quantidade de dinheiro necessária para gerir um negócio e acabam operando com insuficiência de fundos. Outros podem também esperar lucros irrealistas das vendas. Lembre-se, o cliente determina o preço, não você. É importante estabelecer a quantidade real de valor que você vai precisar para iniciar e executar o seu negócio. No caso de uma quantia alta, então, para a fase inicial de receita préempresas é importante que a equipe de gerenciamento mantenha seu foco no primeiro lançamento do produto. Você precisa de receita para sobreviver. Na minha experiência, sempre leva mais tempo e requer mais recursos para fazer qualquer coisa. Não tente “ferver o oceano” com a primeira versão de um produto. 5. A falta de um bom site Com o rápido aumento de usuários na internet, hoje você precisa registrar uma forte presença on-line para operar um negócio. Em uma pesquisa feita pelo Cisco, 74% dos consumidores se voltam à rede antes de fazer uma compra na loja. No início de um negócio, um site com design profissional é recomendado para permitir aos usuários encontrar e ficar bem familiarizado com os seus produtos e serviços. Seu site tem que fazer uma boa impressão e olhar profissional, mas só isso não é suficiente. Ele também tem que ser funcional e fazer seu trabalho tornar o mercado ciente de você e dos seus produtos. A criação e a manutenção de um website é complexo e demorado. A menos que essa seja a sua linha de negócios, procure ajuda!

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ADMINISTRADOR NA HISTÓRIA | Irmãos Villas-Bôas

Irmãos Villas-Bôas Os sertanistas empreendedores do Brasil por simão mairins

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foto arquivo da família villas bôas

LINHA DO TEMPO

Às vezes, entrar para a história depende da coragem de arriscar a ser apenas mais um fracassado. Os Irmãos Villas-Bôas resolveram fazer isso e marcaram seus nomes na história brasileira.

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O grupo ergue o posto Jacaré, na época, o mais importante da região

Orlando e Cláudio recebem a missão de marcar o centro geográfico do Brasil

O governo cria a Funai e oferece a presidência a Orlando, que a rejeita

1947

1960

1967

1943

eixar a zona de conforto e se arriscar em um empreendimento que tem 50% de chances de não dar certo, movido pelos outros

50% de ser algo capaz de mudar o mundo. Essa bem que poderia ser simplesmente uma das milhares definições prontas sobre o que é empreendedorismo que existem por aí. E, de certa forma, não deixa de ser. Mas é, principalmente, um resumo do resumo do que foi a vida e o trabalho dos irmãos Orlando, Cláudio e Leonardo Villas-Bôas.

No final dos anos 1930, o presidente Getúlio Vargas lançou a Marcha para o Oeste, com o intuito de estender a presença do Estado ao Centro-Oeste e Norte do país. Em 1943, os irmãos Villas-Bôas se alistaram na primeira expedição do projeto, a Roncador-Xingu, deixando tudo para trás, inclusive as carreiras profissionais que tinham até então. A viagem para aquele mundo desconhecido mudou para sempre suas vidas e se transformou em um capítulo importante da história do Brasil. Instruídos, os Villas-Bôas precisaram se passar por analfabetos para serem aceitos no grupo, já que o intuito do governo naquele momento era recrutar, majoritariamente, trabalhadores braçais, para abrir caminhos e ocupar terras. No entanto, graças aos conhecimentos que tinham sobre a região alvo da expedição e os métodos de organização que dominavam, os irmãos logo assumiram postos de comando. Orlando, o mais velho dos três, acabou se tornando o grande líder. 50

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1954

Os irmãos ingres- Os irmãos usam sua influsam na Expedição ência para pressionar o goRoncador Xingu verno a barrar a ocupação do Xingu incentivada pelo governo do Mato Grosso

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Grande negociador, Orlando foi o responsável por mediar a maioria dos contatos feitos na região e intermediar a maior parte dos conflitos. Com uma visão sistêmica, que poucos tinham, ele foi capaz de garantir o andamento da expedição e, ao mesmo tempo, garantir a preservação do espaço e da cultura das comunidades indígenas encontradas no caminho. Sem soberba pela posição de liderança conquistada, os três colocaram a mão na massa assim como todos os outros sertanistas integrados na expedição. Abriram estradas, construíram pontos de apoio, carregaram suprimentos e fizeram vários outros trabalhos braçais, como qualquer integrante da expedição. No fim das contas, tomaram parte em todas as etapas do processo que lideraram. Ao longo de quase 30 anos dedicados ao trabalho entre o Centro-Oeste e o Norte, os irmãos Villas-Bôas foram responsáveis por conduzir a fun-

1961 É criado o Parque Indígena do Xingu

1976 Cláudio e Orlando são indicados ao Nobel da Paz pelo resgate das tribos xinguanas

dação de quase 40 cidades e vilas, a abertura de 1.500 km de estradas, a criação do Parque Nacional do Xingu e, principalmente, a desconstrução da imagem histórica que o país tinha de que os índios eram simplesmente selvagens, sem cultura nem organização social. A jornada dos três irmãos foi contada nos livros de História, no cinema e na TV pela ótica da aventura, mas poderia, muito bem, ser um grande case em livros de Administração. No fim das contas, ela é um exemplo do que é empreender e, principalmente, da diferença que uma boa administração – conduzida por líderes capazes de enxergar todos os fatores que envolvem o empreendimento – faz para o sucesso de uma iniciativa. Afinal, os sertanistas puseram em prática, como poucos, habilidades que o mercado espera do profissional ideal: iniciativa, “acabativa”, liderança, capacidade de negociação, visão sistêmica e paixão.


Administrador

do futuro por fábio bandeira de mello

Todo edição, neste espaço, destacamos jovens profissionais ou estudantes que estão fazendo a diferença em suas áreas e prometem ser grandes administradores do futuro. No entanto, para este exemplar, resolvemos fazer algo diferente e trouxemos uma iniciativa bem bacana realizada pela Faculdade da Serra Gaúcha, em Caxias do Sul. A FSG realizou no final do ano passado um concurso cultural com o mesmo nome dessa editoria: Administrador do Futuro. O objetivo foi revelar jovens profissionais com grande potencial e capacidade para assumir cargos estratégicos em grandes empresas. Foram inscritos mais de 200 estudantes e 14 deles selecionados para disputar provas com temáticas sobre finanças, marketing e negócios, sempre aliando aos conteúdos já estudados em sala de aula. O vencedor do concurso foi Lucas Taufer, que ainda recebeu um emprego em uma das maiores empresas da Serra Gaúcha. Conversamos com Dênis Childem, coordenador do curso de Administração da FSG, que revelou mais detalhes dessa iniciativa que colocou os estudantes da área em contato direto com a vivência da profissão.

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imagem divulgação

veja o vídeo com todos os 14 participantes

O concurso cultural da FSG revelou jovens profissionais com grande potencial e capacidade para assumir cargos estratégicos em grandes empresas.

Como surgiu essa iniciativa?

Por quais provas os estudantes tiveram que passar?

Existe previsão para uma nova versão?

Inúmeras vezes por dia recebemos e-mails de gestores de empresas pedindo indicações de pessoas para trabalhar. Muito pelo fato da FSG estar bastante integrada à cidade, que é o segundo maior polo metal-mecânico do país. Então, pensamos em fazer alguma coisa para elevar esses talentos que temos na faculdade, que na verdade são muitos. Começaram a surgir algumas ideias até que chegamos a esse concurso cultural, que é inspirado na dinâmica do Programa Aprendiz.

Nós fizemos tudo em parceria com as empresas da região. Então, elas apresentavam um problema real para os alunos, alguma coisa que estivesse efetivamente acontecendo. Os estudantes eram divididos em dois grupos e cada equipe tinha que arrumar uma solução para a tarefa. Um grupo de professores e empresários julgava qual era a equipe vencedora da etapa. Com o grupo perdedor, nós rediscutíamos todo o problema. Como no reality show, um participante era eliminado. Mas, claro, tivemos também outras provas, com temáticas relacionadas à negociação, entre outras.

Temos sim. Agora no segundo semestre vamos realizar novamente. Nós, inclusive, temos várias ideias novas. Pensamos até algo em termos de intercâmbio. É interessante também destacar que distribuímos mais de 30 mil reais em prêmios. Para você ter uma ideia, Lucas, que foi o vencedor, além do emprego na empresa Marcopolo, ganhou uma bolsa de estudos integral de pós-graduação, já o segundo colocado recebeu um netbook. Na primeira prova, onde estavam todos os participantes, cada um ganhou um tablet. Foi bem bacana nesse sentido também.

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Quais características que você notou nos participantes e considera como fundamental para o administrador do futuro? A que se destacou mais foi a atitude de pegar aquele assunto, ir para cima e tentar resolver. Essa foi uma das características mais latentes entre os vencedores. Outras coisas fundamentais foram o espírito de liderança e o trabalho em equipe. Foi interessante analisar os vídeos depois e verificar as primeiras apresentações comparadas com as últimas. Pareciam até outras pessoas pela evolução e experiência obtidas ao longo do concurso.

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FORA dO QUADRADO A CES 2013, maior feira de eletrônicos do mundo, foi realizada nos Estados Unidos em janeiro e contou com mais de 3,2 mil expositores. Lá foi apresentada uma série de novidades ao público que deverá ser tendência em diversos setores nos próximos meses e anos. Separamos alguns dos mais criativos produtos por lá que deverão estar, em breve, disponíveis. por eber freitas e fábio bandeira de mello

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fotos divulgação

Capacidade 2 monstruosa no pendrive O pendrive dos sonhos de muita gente foi anunciado. A Kingston lançou o DataTraveler HyperX Predator 3.0, com capacidade de até 1 terabyte. Com revestimento em zinco, ele apresenta maior resistência ao choque, oferece velocidades acima dos 240MB/s e é otimizado para PCs mais novos com USB 3.0. Quem se empolgou com o produto prepare o bolso: o modelo de 512 GB custará R$ 3.999 e a versão de 1 TB ainda não teve o seu valor divulgado.

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A volta da 5 Polaroid

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1 Garfo inteligente Imagine o seu talher ensinar a forma certa de se alimentar? Estranho? Então, você já pode parar de imaginar, pois ele existe. Pelo menos, segundo os criadores de HAPIfork – um garfo capaz de monitorar o quanto e como você come. O utensílio usa sensores eletrônicos e se o indivíduo come mais rápido do que o recomendado, o garfo vibra e luzes piscam em sua alça. O objeto ainda pode enviar os dados para um programa de reeducação alimentar por Wi-Fi. O valor dele é de US$ 99.

Rastreador 3 de bolsas e maletas Quem já perdeu uma mala durante uma viagem sabe o que é desespero. O Trackdot é um dispositivo que pode ajudar a evitar esse tipo de situação: com menos de três polegadas, ele pode ser colocado dentro da bagagem. Se ela for extraviada, pode ser ativado e a sua localização será exibida no site da Trackdot. Para ativar a localização é cobrada uma taxa de US$ 9, ou o usuário pode optar por um plano anual de US$ 13. O aparelho em si custa US$ 50.

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Relógio cus4 tomizável de ePaper O Peeble promete ser um acessório tão útil quanto os relógios de pulso tradicionais já foram um dia. Com a tela baseada em papel eletrônico – semelhante ao Kindle –, o Peeble opera com um software próprio e aceita aplicativos para diversas funcionalidades. Por padrão, ele pode ser conectado a um smartphone, emitir alertas de e-mails, compromissos na agenda e menções no Twitter, e até exibir a previsão do tempo. O gadget já está em pré-venda por US$ 150.

Assim como a Kodak, a Polaroid passou por maus bocados após a invasão das câmeras digitais. Mas na CES 2013 ela mostrou que pode se reinventar. A empresa lançou o modelo iM1836, uma câmera digital com sistema operacional Android 4.1 – o que permite acessar a web e compartilhar imagens nas redes sociais, além de lentes móveis. O aparelho captura imagens com 18 megapixels de resolução e vídeos em 1080p (HD), além de contar com uma saída HDMI para TVs. O visor tem 3.5 polegadas. A previsão é que a câmera chegue ao mercado no primeiro trimestre de 2013, ao custo de US$ 400.

Walkman a 6 prova d’água A Sony apresentou um fone de ouvido/ MP3 ousado. O novo integrante da linha Walkman é o NZW-W270, a prova d’água e que permite que nadadores também aproveitem a moda dos fones esportivos. Os earphones, que também são resistentes ao suor, contêm 4 GB de capacidade de armazenamento de músicas e são controlados por um fio, onde é possível ligar e desligar, selecionar músicas e listas de reprodução. O valor dele será de US$ 99,99.

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9 11 12 O futuro do papel

7 Vidro mais resistente Não inventaram ainda um produto que impeça em definitivo um aparelho eletrônico sofrer arranhões, mas, pelo menos agora, os riscos de acontecer isso com o vidro serão minimizados. A Corning, fabricante de vidros, apresentou a terceira geração do famoso Gorilla Glass. Utilizado principalmente em smartphones e tablets, o novo material promete ser até três vezes mais resistente do que a geração anterior. Nada mau.

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Carregador 8 livre de eletricidade O Nectar não é apenas um carregador de baterias externo e portátil: ele funciona de forma totalmente livre de energia elétrica, utilizando cartuchos de gás butano. Qualquer aparelho com cabo e entrada USB pode ser conectado nele e recarregar as baterias. Um cartucho dura em média duas semanas; e quando acabar, basta apenas trocar o refil. Desenvolvido pela Liliputian Systems e pela Brookstone, o nectar deve chegar ao mercado no segundo trimestre de 2013, por US$ 300. Os cartuchos, proprietários, irão custar US$ 10.

Auto9 falante bluetooth Tecnologias de alto-falantes pipocaram durante a CES 2013. Um dos mais legais é o iFrogz BoostPlus, que funciona com a tecnologia Bluetooth – eliminando a dependência de certos padrões de conectores que mudam com as novas versões de gadgets (né, Apple?). Basta colocar o smartphone sobre o aparelho que a música vai se espalhar por todo o ambiente. A fonte de energia são três pilhas AA; em modo standby, o iFrogz fica até seis meses sem precisar de novas baterias. Custa US$ 60 na Zagg. Veja como funciona em adm.to/boostplus

Almofada 10 para ouvir na cama Quem possui o costume de dormir com música de fundo ou gosta de assistir à TV na cama, poderá ganhar um reforço de primeira. Foi lançado um travesseiro que possui embutido um conjunto de alto-falantes cobertos por espuma. O travesseiro se conecta a TV usando um transmissor sem fio e tem os controles na lateral do travesseiro. O conjunto de baterias pode ser removido do interior da almofada para o carregamento e a cobertura do lado de fora pode ser removida quando necessitar de uma lavagem. O preço dele será US$ 129.

Ultra HDTV: 11 nova geração das TVs Quem acabou de comprar sua TV de Led Full HD achando que, finalmente, estava no topo da tecnologia, nos desculpe, mas não está. Isso porque foi lançada a Ultra HDTV (High Definition TV). A novidade está no número de pixels, que dobrou em ambas as direções, passando de 1920 x 1080 pixels para 3840 x 2160. No entanto, alguns especialistas afirmam que a diferença da resolução da TV 4K, como é chamada, só funciona mesmo em telas muito maiores, para televisões do tamanho de uma parede.

Quem já assistiu Minority Report deve se lembrar das cenas onde as pessoas aparecem lendo jornais interativos e completamente digitais, apesar de terem um suporte totalmente flexível. Ainda não estamos lá, mas um projeto da Intel em parceria com a Plastic Logic e a Queen’s University quer dar mais um passo nessa direção. O PaperTab parece um papel plastificado, mas tem funções interessantes, como o uso de gestos simples para interagir com a tela e a transmissão de dados. Por enquanto, ainda não está no mercado, mas estamos aguardando ansiosamente.

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ENTRETENIMENTO | curiosidades, humor e sustentabilidade

MKT de guerrilha

Boa memória pode render troféus

As comidas “típicas” espaciais

Teste: quantos números de telefone e aniversários você sabe de cor (não vale consultar a agenda do celular ou o Facebook)? Se você falou “muitos”, pode, quem sabe, pensar em disputar até o Campeonato Mundial de Memória que acontece todo ano. Nele, representantes de diversos países realizam exercícios de memória como sequência de dígitos binários, cartas de baralho, entre outros. O atual campeão, Johannes Mallow, da Alemanha, memorizou um número com 2.245 dígitos em uma hora. E aí, você supera? 54

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gantes que remetessem a marca na frente do espaço. Com isso, transformou a esquina em um verdadeiro cenário da Knorr. A campanha foi criada pela agência Santa Adworks e realizada na cidade de Istambúl, na Turquia.

O Irã informou recentemente que mandou um macaco para fora do planeta. Tem empresa fazendo campanha para enviar vários consumidores para o espaço também. Com tantos olhares voltados para lá, surgiu uma curiosidade: como esse povo come? A Advanced Food Technology Project é o nome do programa da NASA dedicado a pesquisar o que há de mais prático em relação à alimentação dos astronautas. Entre os pratos mais inseridos estão batata doce, sopa de amendoim, biscoito de manteiga e arroz espanhol. Dá para sobreviver por alguns dias...

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Outdoor é uma estratégia bem tradicional quando empresas querem divulgar determinado produto ou serviço. Em quase todas as cidades pelo mundo eles estão presentes no mesmo estilo e formato. Mas a Knorr, especializada em temperos, resolveu acrescentar um “toque do chef” nesse tipo de divulgação para chamar atenção de quem atravessava a rua. A empresa criou uma peça que se estendia de uma ponta a outra da esquina, além de inserir objetos gi-

Vacina contra alcoolismo pode ser criada Para curar o alcoolismo, o melhor remédio é a ressaca. Pelo menos é isso que acreditam cientistas da Universidade do Chile. A ideia do grupo é criar vacinas que causam ressacas tão intensas que farão os pacientes pensarem duas vezes antes de beber. A vacina funcionaria diretamente no fígado da pessoa. A ressaca é gerada quando o álcool é metabolizado no órgão. Testes em ratos já se mostraram eficientes e o tratamento em humanos deve ser iniciado, ainda em fase de testes, em novembro deste ano.


AçÕES para um mundo melhor

DES COM Protótipo gera PLI eletricidade através CAN da gravidade DO por

ADJOURN Efetuar um intervalo em uma reunião formal, com hora marcada para seu reinício. Acontece nos tribunais quando o tempo dos debates se torna muito longo, necessitando vários dias.

ACTIVITY SAMPLING Trata-se de uma amostragem das atividades. Nela são feitas numerosas observações instantâneas de um grupo de máquinas, processos ou operários, durante certo tempo. Cada observação registra o que está ocorrendo em dado momento.

CHOICE NODE Chamado também de nó de escolha. É o nome que se dá a cada ponto de uma decisão quando a pessoa tem que escolher por alguma alternativa ligada a diversos aspectos de um determinado caso.

eber freitas

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reprodução vimeo/therefore

Fontes renováveis de energia estão por toda parte, basta procurar e investir. Um exemplo disso é o projeto GravityLight, que gera energia elétrica utilizando como combustível apenas a força da gravidade – que existe em qualquer lugar da Terra. O projeto, apoiado pela plataforma de crowdfunding Indiegogo, conseguiu arrecadar quase US$ 400 mil de 6,2 mil financiadores – a meta inicial era de US$ 55 mil. A iniciativa deve levar luz às regiões mais pobres do planeta, onde ainda se utilizam lâmpadas a querosene ou lampiões, que funcionam a partir da queima de combustíveis fósseis. Para ser acionado, o dispositivo de 9 kg deve ser erguido até ficar próximo a uma lâmpada de LED acoplada. Isso é o suficiente para gerar energia elétrica até 30 minutos. Outra vantagem do dispositivo é o seu custo, avaliado em aproximadamente US$ 20. A meta é reduzir para US$ 10 e ampliar a escala de produção. O GravityLight é assinado pelos designers Martin Riddiford e Jim Reeves, da Deciwatt.org, agência de pesquisa focada em aparelhos de baixo consumo. O desenvolvimento do aparelho durou quatro anos. O próximo desafio é encontrar parceiros regionais para implantar a distribuição do GravityLight.

clique e Conheça melhor o projeto

GravityLight é uma nova abordagem revolucionária para o armazenamento de energia e criação de iluminação.

humor

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ENTRETENIMENTO | Leitura e cinema

LEITURA 1977, a Envirosell, cuja especialidade é estudar minuciosamente o comportamento de nós, consumidores. Agindo como verdadeiros arapongas, os consultores da Envirosell vão a shoppings, lojas, bancos e repartições públicas e observam atentamente como as pessoas se comportam, fazem diversas anotações e gravam horas e horas de vídeos. Vamos às compras! (Why we buy: the science of Shopping) foi o livro de estreia do autor, lançado em 1999, e traduzido para 27 idiomas. Em 2009, a Campus lançou por aqui uma nova edição, revista e atualizada e que, apesar do preço um tanto salgado (R$ 99,00 no site da editora), vale cada centavo. A ciência de Underhill parte de um pressuposto básico: “há certas capacidades, tendências, limitações e necessidades físicas e anatômicas comuns a todas as pessoas e o ambiente varejista deve se ajustar a essas características”. Ao contrário da teoria de Darwin, que prega que os organismos bem-sucedidos são aqueles que melhor se adaptam ao seu ambiente, no varejo são as lojas (ou seja, o ambiente) que precisam se adaptar aos consumidores (organismos). Quer um exemplo? As pessoas diminuem o passo quando vêem superfícies reflexivas e aceleram quando vêem bancos. Vitrines de bancos são maçantes e espelhos nunca são monótonos. E o mesmo vale para as lojas localizadas ao lado das portas de entrada, pois sempre entramos apressados

e só diminuímos a velocidade alguns metros mais à frente. Conclusão: se for abrir uma loja em um shopping, nunca escolha os espaços ao lado de um banco ou em uma das entradas – a não ser que queira correr o risco de ver seus potenciais clientes apenas correndo na frente de sua loja. Esse é apenas um dos diversos exemplos do livro de Underhill, que ensina também que os varejistas que desejam vender para o público feminino têm de aprender a agradar, também, o público masculino, pois os maridos e namorados – se não tiverem onde sentar ou algo para se entreter – ficam apressando as pobres moças, que adoram experimentar a loja inteira antes de tomar a decisão de compra (ou não!). E para quem pretende se aventurar a vender pela internet, as reflexões do autor sobre as tendências do comércio eletrônico são referências valiosíssimas. Se você deseja entender como – e por quê – nós consumimos, o livro Vamos às compras! é uma leitura OBRIGATÓRIA – e essas letras maiúsculas foram, sim, para chamar a atenção dos seus olhos, sacou?

Walmart: a estratégia vencedora do varejo mundial

Paixão e significado da marca

Com uma narrativa bem-humorada e muito real, o livro apresenta a trajetória de Joe Labor, um ex-workaholic que deixou o “piloto automático” para se tornar um homem de escolhas conscientes.

por roberts bryan e

O livro reúne textos breves sobre questões ligadas à marca e seu significado real. Nele, o autor propõe colocar o significado no centro da estratégia de geração de valor para marcas.

Évora, 240p. R$ 39,90

Campus/Elsevier, 264p. R$ 59,90

Vamos às compras! por leandro vieira

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imagem divulgação

Um dos melhores profissionais de marketing do mundo não é formado em Administração. O cara é psicólogo ambiental (se você nunca ouviu falar de psicologia ambiental, trata-se do ramo da psicologia que estuda o comportamento humano e sua interação com o meio ambiente). Paco Underhill é considerado o criador da “ciência do consumo”. Ele fundou uma empresa em

Ed. Campus, p.336 R$ 99,00 Leandro Vieira é publisher da Administradores e volta e meia lembra das estratégias descritas no livro quando vai ao shopping com sua esposa e filhos.

ESTANTE Muito trabalho, pouco stress por andré caldeira

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natalie berg

O livro oferece uma ampla visão de como o Walmart surgiu de suas humildes raízes em uma área rural do Arkansas para se tornar um fenômeno mundial do varejo.

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por arthur bender

Integrare Business, 272p. R$ 49,90


assista ao trailer

CINEMA

Lua, o primeiro astro pop do Brasil por

O filme conta a história de Luiz Gonzaga (1912-1989) e Gonzaguinha (1945-1991), e de um amor que venceu o medo e o preconceito, resistindo à distância e ao esquecimento.

ícaro allende

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divulgação

Gonzaga, de pai para filho não é um filme exatamente sobre o “Rei do Baião”; conta mais a história de um “pai tronxo” – como ele mesmo se descreve – que, de tão talentoso e com vontade de sempre fazer acontecer, escreveu seu nome na história da música popular brasileira. É também um filme onde se assiste à construção da figura do primeiro pop star do país, seu reinado e sua ruína, o que pode dar boas lições para qualquer um que pensa em Marketing e Administração. Entretanto, é bom que se diga: Gonzaga era rei empossado pelo povo, não por tocar todo fim de ano na Globo. Era pop e popular ao mesmo tempo, foi voz dos sertões do Brasil e, vejam a diferença: cantava “com” o povo e não “para” o povo. E disso vê-se pouco no longa do diretor Breno Silveira, em cenas escassas, porém certeiras. Como quando Gonzaga – vendo que os ingressos tinham acabado e que tinha mais gente fora do que dentro – resolve, por conta própria, tocar em cima da laje da casa de show para todos. Isso é pré-Beatles, isso é início de carreira, e isso, antes de uma bela jogada de marketing, foi felicidade em tocar para seu povo. Gonzaguinha é quem nos conduz durante o filme: enxergamos o pai através do filho. O ponto de partida da trama é o reencontro dos dois. Quando um filho rancoroso vai ao encontro de um pai ausente e de um rei no ostracismo. É através do filho que assistimos à trajetória de sucesso do menino pobre de Exu, interior de Pernambuco. Menino de poucos estudos, mas de muito tino, que colocou em prática dois princípios que vivem aparecendo nos cases de sucesso – referências em livros e conferências de Administração: descobrir seu verdadeiro talento e inovar. Gonzaga resolveu arriscar, trocou os saudosos pés-de-serra do sertão natal para enca-

rar uma escalada dificílima aos grandes palcos. Para isso, além de muita saudade, levou para o Rio um som que, até então, ninguém tinha escutado por lá. Era o Baião, que sacudiu e botou todo mundo pra dançar. Essa inovação musical, em um mercado de mirradas novidades, agradou em cheio. Fez com que ele navegasse por muito tempo em um oceano azul, longe da concorrência sangrenta do oceano vermelho. Seu sucesso, como acompanhamos no longa, é interessante que se saiba, também está muito ligado à identidade icônica que ele criou. A roupa de cangaceiro e a sanfona são hoje em dia símbolos de uma região e estão para o Nordeste quase como uma maçã mordida está para a Apple. A diferença é que, antes de ser uma ótima estratégia promocional, vestir-se daquela maneira para Gonzaga era vestir-se de seu povo. O filme tem muito do Nordeste das novelas, mas tem muito de interessante e emocionante. É bacana observar, por exemplo, Gonzaga decidindo cada passo da carreira, apesar de não tê-la administrado bem. É emocionante ver aquele menino sair fugido do sertão e chegar até onde chegou. Todavia, no final, o que fica é a impressão que a gente foi ao cinema buscando o rei – figura mítica e pop –, mas acabou encontrando o Gonzaga homem, o “Lua”, como os chegados lhe chamavam. É isso que Gonzaguinha descobre. É isso que nós descobrimos juntos com ele: o auge, a queda e a volta do homem que se tornou rei sem levantar uma espada, só com sanfona, simpatia e muito talento. E você, resiste a esta história? Ícaro Allende é jornalista, fã de carteirinha das músicas do mestre Gonzaga e, dizem, um pé de valsa quando o assunto é forró.

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PONTO FINAL INÍCIO E FIM

O primeiro grande administrador do mundo por stephen kanitz

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/ wikimedia

imagem einsamer schütze

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Stephen Kanitz é consultor de empresas e conferencista. Vem realizando seminários em grandes empresas no Brasil e no exterior. Mestre em Administração de Empresas pela Harvard University, foi professor da USP. No Twitter, @stephenkanitz.

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uem foi o primeiro grande administrador do mundo? É curioso como nenhum livro de Administração, nenhum livro de história da Administração menciona esse homem. Foi alguém que administrou 20 mil funcionários há 4.600 anos, deixou um produto que dura até hoje, criou o primeiro sistema just in time e a primeira cadeia de logística em grande escala. E para durar 4.600 anos, sem dúvida, foi o primeiro a adotar o padrão de qualidade total. Empresas com mais de 20 mil trabalhadores só iriam reaparecer 4.550 anos depois. E vale salientar que não eram escravos, mas sim trabalhadores pagos, que precisavam ser motivados e não chicoteados. Estou me referindo a Hemiunu, o administrador da maior obra do planeta por muitos séculos: a Pirâmide de Giza, no Egito. A proporção é o seguinte, para construir o monumento em 20 anos seria necessário colocar um bloco de cinco toneladas em seu devido lugar a cada dois minutos. Compare isso com a lentidão do PAC. Infelizmente muitos livros o consideram apenas o primeiro arquiteto do mundo. Mas, honestamente, desenhar oito linhas iguais à pirâmide não requer muitos conhecimentos de Arquitetura. Os engenheiros também o consideram o primeiro engenheiro civil e, nesse caso, é mais difícil de refutar de fato. Havia muitos cálculos a serem feitos e estresses a serem superados. Mas, ainda sim, colocar essencialmente uma pedra em cima de outra, não requer tantos conhecimentos de engenharia civil assim. Criar a ponte Pênsil, de San Francisco, ou a torre Eiffel, esses sim requerem cálculos estruturais complexos. A verdade é que a Pirâmide de Giza foi construída graças às técnicas de Administração que Hemiunu inventou. Ele desenvolveu o planejamento da produção, controle de qualidade, coordenação de alimentação e alojamentos dos trabalhadores, hierarquia, ordens de produção em tempo real e contabilidade de estoques. Ou seja, as

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Hemiunu é identificado como o homem responsável pela construção da Grande Pirâmide. Ele também era “real selo portador”, “Chefe do Exército” e “Expedições Guide”.

inovações em Administração são muito maiores do que as de Engenharia Civil e a Arquitetura. Tanto é que engenheiros civis sequer estudam pirâmides hoje. Portanto, sem querer negar os dotes de arquitetos e engenheiros, gostaria de propor a tese que Hemiunu foi, sem dúvida, o primeiro grande administrador da história, cuja obra pode ser contemplada nos dias atuais. Era exatamente esse o propósito da pirâmide: durar ao longo do tempo, como vem durando até hoje. Acho que nós administradores temos uma dívida com Hemiunu, por termos o esquecido por 4.000 anos. Dívida que da minha parte está paga. Visitem-me de tempos em tempos no blog.kanitz.com.br/ para matar as saudades. Abraços! Com esse artigo me despeço dos leitores da Administradores. Agradeço a honra de poder ser um colunista em seu início e desejo muito sucesso ao meu sucessor.


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