#16 Estratégia: Os segredos (nem tão secretos) do oriente

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PHILIP KOTLER A conversa da Administradores com a lenda viva do marketing agosto/setembro de 2012 – ano 2 – no 16 www.administradores.com

MERCADO DO SEXO A fantástica indústria do fetiche

INFOGRÁFICO Descubra o que é e como funciona o Design Thinking

Estratégia:

tos e r c e s o ã t m e n

Os segredos do Oriente Dos ensinamentos milenares até as mais avançadas criações tecnológicas, descubra como o estilo oriental pode fazer a diferença na hora de administrar

R$ 12,50



EDITORIAL

Expediente

do encontro com kotler ao oriente Quando pedimos para as pessoas apontarem cinco nomes relevantes do marketing, pode ter certeza, um nome estará presente na maioria dessas listas: Philip Kotler. Sua extrema facilidade em transmitir conceitos e premissas sobre o marketing já inspirou pelo menos cinco milhões de pessoas que compraram seus livros. Kotler, inclusive, é o detentor de diversas teorias estudadas nas universidades e aplicadas nas empresas em todo o planeta. Apesar de já ter tido o privilégio de assistir a uma palestra de Kotler em 2010, foi apenas em junho desse ano que tive a felicidade de conversar pessoalmente com o professor. Minutos antes do contato, mais parecia uma criança próxima de abrir seu presente de aniversário. Ansiedade, coração batendo rápido, mãos suando... Afinal, não é todo o dia que o ícone do marketing está na minha frente. A conversa, compartilhada com outros jornalistas, não demorou muito, um pouco menos de uma hora. Mas foi tempo suficiente para o professor de 81 anos mostrar toda a sabedoria que o faz ser tão

aclamado pelo mundo. Esse bate-papo está na Administradores (págs. 38, 39) e inaugura uma nova editoria na revista: Troca de ideias. A edição que está em suas mãos traz também temas bastante peculiares. Na matéria de capa, buscamos desvendar os segredos orientais sobre estratégia. Disciplina, respeito, busca pela excelência, harmonia física e social. Fomos atrás das milenares referências da China e do Japão – como o samurai Musashi e o general Sun Tzu – para entender como os dois países conseguem se manter até hoje referências na hora de fazer negócios e na construção de uma carreira. Entre as descobertas está o engajamento de toda a organização em torno de valores comuns e a sua transmissão para os clientes. Os outros segredos você descobre lendo a reportagem. Na editoria de Jornalismo gonzo, o repórter Simão Mairins foi às compras em um shopping center de duas formas distintas (o rico e o pobre) para saber se existem diferenças no atendimento

entre os consumidores. O resultado foi surpreendente. E tem mais: o mercado lucrativo do sexo, a vida além da academia para os doutores, a inclusão de portadores de necessidades especiais no mercado, o lado negro das redes sociais e as tendências do futuro na gestão de pessoas são algumas das reportagens que preenchem essa edição que está suculenta de conteúdo. Em nome daqueles que fazem a revista e o portal, aproveito a ocasião para desejar um parabéns especial para todos os administradores pelo Dia do Administrador, comemorado em 9 de setembro. Estamos realizando uma campanha em prol da valorização do profissional, que vai desde o adesivo que você está recebendo com a revista até diversas ações pela internet, principalmente no Facebook (facebook.com/portaladministradores). Movimente essa ideia conosco, afinal: “A Administração move o mundo”. Agora é contigo. Boa leitura!

CONTATOS Assinaturas www.administradores.com.br/revista PUBLICIDADE comercial@administradores.com.br +55 (83) 3247 8441 correspondência Av. Nossa Senhora dos Navegantes, 415 / 304 - Tambaú - João Pessoa - Paraíba CEP 58039-110 redação revista@administradores.com.br Publisher Leandro Vieira leandro@ administradores.com.br Redação Editor Fábio Bandeira de Mello fabio@ administradores.com.br Repórteres Agatha Justino agatha@ administradores.com.br Eber Freitas eberfreitas@administradores.com.br, Fábio Bandeira de Mello, Mayara Emmily mayara@administradores.com.br e Simão Mairins simao@administradores.com.br Revisão Allana Dilene COLABORADORES Carlos Hilsdorf , Esperanza Suarez Ru, Flávio Perazzo, Henry Mintzberg, José Ramón Pin Arboledas, Leda Maria Vieira, Michael D. Watkins, Raniere Rodrigues, Rodolfo Araújo, Seth Godin, Stephen Kanitz e Vanessa Versiani. ARTE DIREçÃO João Faissal | Imaginária Design design@ imaginaria.cc Design e ilustração Thiago Castor thiago@administradores. com.br COMERCIAL Diretor Comercial Diogo Lins diogo@administradores.com.br FINANCEIRO Anna Vita Vieira annavitavieira@administradores.com.br Atendimento ao Leitor Anna Valéria Onofre annavaleria@administradores.com.br Impressão Gráfica Moura Ramos www.mouraramos.com.br

Fábio Bandeira de Mello

editor

agosto/setembro 2012

administradores.com

3


índice

09

ONLINE

16

A.K. Pradeep explica o poder do neuromarketing na relação empresa/ consumidor

Existe vida para doutores fora da academia? Descobrimos que sim!

entrevista

08

ambiente externo

20

10

carreira

ACADÊMICO

- Os dilemas e obstáculos dos deficientes no mercado profissional - Sete transições que bons líderes devem fazer - As tendências para os próximos 20 anos na gestão de pessoas

28

07

NEGÓCIOS

AGENDA

Mercado do sexo: a fantástica indústria do fetiche

18

insight

06

feedback

Criando uma teoria sobre a criação de teorias | Henry Mintzberg

34

INFOGRÁFICO

32

contraponto

Descubra o que é e como funciona o Design Thinking

Qual é o melhor tipo de profissional para as empresas: generalista ou especialista?

66

36

ponto final

tendência

Como nunca acumular problemas | Stephen Kanitz

O lado negro das redes sociais

62

- Curiosidades e humor - Ações para um mundo melhor - Leitura: Imagine: how creativity works - Cinema: Erin Brockovich

58

ambiente interno

60

FORA DO QUADRADO

Logística, Finanças, TI, Marketing e RH pelo Brasil

38

40

ENTRETENIMENTO

troca de ideias

capa

Os segredos (nem tão secretos) do oriente

As lições de Philip Kotler sobre marketing

47

53

artigo

- O espetacular (administrador) Homem-Aranha | Leandro Vieira - Tempos modernos, hábitos nem tanto | Flávio Perazzo

QUIZ

Você se comporta de maneira correta no ambiente de trabalho?

48

jornalismo gonzo

57

ADMINISTRADOR DO FUTURO

A iniciativa do estudante Pietro Franzero

4

administradores.com

56

ADMINISTRADORES NA HISTÓRIA

Brian Epstein: O verdadeiro líder dos Beatles

agosto/setembro 2012

55

o que drucker faria

As dúvidas dos leitores tiradas com os conceitos do pai da Administração moderna

52

MENTE ABERTA

Como ganhar dinheiro na internet | Seth Godin

O tratamento muda para consumidores de classes sociais diferentes?

51

pei, buf

Como fazer seu marketing pessoal?


independentemente do assunto, argumentos para mostrar sempre algo interessante sobre a área da administração. Thiago Paulino

Assinante 2 A edição está EXCELENTE! Design e texto no topo da cadeia alimentar! Parabéns por mais esse excelente trabalho! :) Jamile Ferreira

Até o plástico! Gostaria de parabenizá-los pela revista Administradores! Recebi ontem, amei... a capa, o material, o plastiquinho e tudo! Material excelente... Nota-se a diferença de outras por aí... A qualidade, muito boa. Liliane Miranda

Administrador público O artigo O diário de um gestor público, da Isabela Couto, retrata exatamente a realidade do serviço público. As soluções apresentadas são completamente plausíveis. A questão é saber quem tem interesses que ocorram essas mudanças?! Dayse Santana

Sobre a capa 1 Bonita, intrigante e inspiradora. A cara da Administradores. Breno Dias Pinheiro

Sobre a capa 2 Essa capa quebra o antigo paradigma do Terno e a Gravata! Perfeita e atual!

Saulo Tarso

Cleverson Souza

Administrador público 2 Venho trazer minha opinião sobre o artigo O diário de um gestor público. Sou servidora há dois anos e concordo em parte. Primeiramente, é necessário haver mudança de pensamento de generalizar que todos os servidores não trabalham. Realmente existem pessoas que se acomodam, mas quem disse que não há o mesmo tipo de pessoa no setor privado? Acho que devem sim haver incentivos de meritocracia para busca constante por aprendizado. O serviço público não tem concorrente, mas é essencial para o bem da sociedade, e, portanto, deve ter um projeto de gestão melhor. Acho que ambos os setores dão contribuições para a sociedade, cabendo a cada pessoa decidir o que é melhor para si, a estabilidade ou a constante busca do reequilíbrio. Viviane Koenigkan

Evento Estudo ADM. Irei a um evento em novembro e seria legal divulgar na revista. Não sei se já foi feito o contato, mas vale a pena tentar: 4º Encontro Magno dos Estudantes de Administração – EMEAD. 15 a 17 de novembro, em Florianópolis-SC.

Intuição Para vencer não precisamos de bola de cristal, mas um pouco de intuição não é nada mau. Antonio Marcos Menezes

ERRATA

Entrevista com Goleman Realmente, amei a entrevista com Daniel Goleman. Vocês acertaram na edição, é um assunto novo e de grande valia para os administradores, pois usar inteligentemente a emoção a seu favor é um diferencial para os profissionais, e principalmente, para as lideranças. Valeu a pena ser assinante da Administradores.

Na edição de junho/julho, o link para os documentos na hora de abrir uma empresa (pág 34) é adm.to/documentos_info. A data correta do ENEAD (pág 7) era 16 de julho de 2012.

Rosária Cal Bastos

Assinante 1 Fico muito admirado com a facilidade que a Administradores acha,

Mande também O seu recado para a Administradores através do revista@administradores.com.br

agosto/setembro 2012

administradores.com

5


Hábil thinkstock

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EVENTOS

INTERFACE MODERNA SEGUINDO AS TENDÊNCIAS ATUAIS BANCO DE DADOS CLIENTE/SERVIDOR FIREBIRD ECF / TEF / PAF-ECF / NF-e / nFP / Sintegra

16 agosto

30 agosto

Congresso Nacional sobre Gestão de Pessoas

Formação e Certificação Internacional Professional & Self Coaching

Responsável: ABRH Nacional Local: São Paulo – SP Info: adm.to/conarh12

HOMO HOMOLOGADO PAFECF E TEF INÚMEROS UTILITÁRIOS PARA FACILITAR O SEU DIAADIA E MUITOS OUTROS RECURSOS ÓTIMO CUSTO/BENEFÍCIO PARA CLIENTES DE DIVERSOS SEGMENTOS

12 setembro

18 setembro

SUPORTE VIA TELEFONE, CHAT, TICKET’S E ACESSO REMOTO

VI ENEC Responsável: Estudos do Consumo Local: Rio de Janeiro – RJ Info: adm.to/ vi_enec

Executive Marketing Summit Responsável: Informa Local: São Paulo – SP Info: adm.to/ summit_set

DOS MESMOS CRIADORES DO HÁBIL EMPRESARIAL MAIS DE 20 ANOS DE ATUAÇÃO NO RAMO DE AUTOMAÇÃO COMERCIAL LICENCIAMENTO MENSAL POR MÓDULOS A ESCOLHER, COM VALORES MUITO ATRATIVOS* * TAXA DE IMPLANTAÇÃO DE R$ 499,00 MAIS VALOR MENSAL DOS MÓDULOS

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Responsável: IBC Coaching Local: São Paulo – SP Info: adm.to/coaching_ago

22 setembro

22 outubro

EnANPAD 2012 Responsável: ANPAD Local: Rio de Janeiro – RJ Info: adm.to/ enanpad12

XLVII CLADEA Responsável: ESAN Local: Lima – Peru Info: adm.to/ cladea2012

18 novembro 28 outubro

05 novembro

XXIII ENANGRAD Responsável: ANGRAD Local: Bento Gonçalves – RS Info: adm.to/ enangrad23

XXII ENBRA Responsável: CRA/RJ Local: Rio de Janeiro – RJ Info: adm.to/enbra

18 novembro EnAPG 2012 Responsável: ANPAD Local: Salvador – BA Info: adm.to/enapg

www.HABILENTERPRISE.com.br KOINONIA SOFTWARE LTDA. RUA ITAPUÃ, 1258  CEP 85504060  PATO BRANCO  PR

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administradores.com

agosto/setembro 2012

Simpósio 2012 Responsável: ANPAD Local: Salvador – BA Info: adm.to/ simposio2012


Quem quer ter mais reconhecimento faz

Vestibular UNINASSAU.

NOVOS CURSOS 2012.2

CURSOS

CURSOS CURTA DURAÇÃO

Medicina Medicina Veterinária Engenharia de Petróleo Engenharia Eletrônica Engenharia de Controle e Automação Engenharia Naval Engenharia de Alimentos Engenharia da Computação Geologia Ciência da Computação Agronomia Ciências Biológicas Serviço Social Relações Públicas Letras - Português (Lic.) Letras - Inglês (Lic.) Pedagogia Música (Lic.)

Engenharia Civil

Design de Interiores (2 anos)

Engenharia Química

Logística (2 anos)

NOVOS CURSOS - CURTA DURAÇÃO Pilotagem de Aeronaves (2 anos) Fotografia (2 anos) Jogos Digitais (2,5 anos) Petróleo e Gás (3 anos) Estética e Cosmética (3 anos) Negócios Imobiliários (2 anos) Produção Audiovisual (Cinema) (2 anos) Eventos (2 anos) Gestão Comercial (2 anos)

Direito

Engenharia Mecânica Engenharia Elétrica

Marketing (2 anos)

Engenharia de Produção

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Gestão Portuária (2 anos)

Odontologia Psicologia Educação Física

Gastronomia (2 anos) Design de Moda (2 anos)

Biomedicina

Gestão da Qualidade (2 anos)

Nutrição

Gestão Financeira (2 anos)

Farmácia

Análise e Desenvolvimento de Sistemas (2,5 anos)

Enfermagem Fisioterapia

Redes de Computadores (2,5 anos)

Administração

Sistemas para Internet (Webdesign) (2,5 anos)

Ciências Contábeis

Sistemas de Banco de Dados (2,5 anos)

Turismo

Jornalismo Publicidade e Propaganda Arquitetura e Urbanismo Sistemas de Informação

Radiologia (3 anos) Segurança no Trabalho (3 anos) Construção de Edifícios (3 anos)

FACEBOOK.COM/UNINASSAU agosto/setembro 2012

administradores.com

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divulgação

AMBIENTE EXTERNO | RÁPIDAS

Brasil vai crescer menos que os EUA, diz Forbes

Bicicletas paulistas não recomendadas

A revista americana Forbes apontou que o crescimento do Brasil vai ser menor que o dos Estados Unidos em 2012. De acordo com reportagem de julho, o PIB estadunidense deve crescer por volta de 2% este ano, mas o crescimento econômico brasileiro estancou. Além disso, a revista diz que o Brasil não tem dados bons o suficiente para crescer acima dos 2,6% de 2011. “A menos que os EUA tenham um segundo semestre terrível, o mais provável é que a economia do Brasil fique aquém da do Tio Sam”, diz o texto. No entanto, a perspectiva pelo Ministério da Fazenda este ano é otimista, de 4%.

Em meio ao intenso debate relacionado à preocupação com questões ambientais e transportes alternativos, o Diário Oficial do Estado de São Paulo publicou em julho (11) uma reportagem sobre os prejuízos provocados pelo aumento de ciclistas na capital paulista. Intitulada “Mais ciclistas, mais acidentes”, a matéria ressalta que 3,4 mil pessoas foram internadas pelo SUS na cidade em 2011, “gerando custo de R$ 3,25 milhões à administração estadual”. A matéria mostra também boxes e entrevistado orientando a não utilização das bicicletas “para não colocar a vida de quem pedala em risco”.

Eleições 2012!

O que os candidatos podem (e o que não podem!) na internet

Administradores apoia Plataforma Liderança Sustentável A Plataforma Liderança Sustentável, projeto idealizado por Ricardo Voltolini (foto) e que reuniu dez líderes brasileiros ligados à sustentabilidade em uma série de diálogos, terá uma segunda etapa. Nesta nova fase, mais dez presidentes de grandes empresas serão integrados à iniciativa, que agora conta oficialmente com o apoio institucional do Administradores. com e da revista Administradores. Para a edição 2012, o tema das conversas é “Como as empresas estão envolvendo e educando líderes para a sustentabilidade”.

8

administradores.com

É proibido fazer propaganda:

É permitido fazer propaganda:

»» paga em qualquer veículo; »» em veículos de pessoas jurídicas, mesmo que gratuita; »» em veículos ou canais oficiais.

»» Em site do candidato, com endereço comunicado à justiça eleitoral; »» Em site do partido ou da coligação a que o candidato pertence; »» Por e-mail, desde que não seja para endereços comprados; »» Em blogs, redes sociais e aplicativos de mensagens instantâneas.

FRASES Clientes nos perguntaram se poderiam abrir uma conta conosco para ter um cartão com a imagem de Karl Marx

Se você inovar frequentemente terá muitos fracassos, mas se não inovar, sairá do mapa

A minha mãe me ensinou que não devo roubar

Vocês são muito lentos

Roger Wirtz porta-voz do banco alemão

Philip Kotler o “papa” do marketing mundial,

Rejaniel de Jesus catador de material reciclável,

Rolf Heuer

Sparkasse Chemnitz. A empresa lançou cartões de crédito com uma figura do autor do livro O capital, obra fundamental na crítica ao capitalismo.

agosto/setembro 2012

em recente palestra dada no Brasil para empresários e empreendedores sobre a importância da empresa manter uma política de inovação.

em São Paulo. Ele e sua esposa acharam na rua R$ 20 mil e entregaram o dinheiro à polícia.

diretor-geral do Centro Europeu para a Pesquisa Nuclear (Cern), sobre o Brasil não integrar o grupo de pesquisas que comprovou a existência do bóson de Higgs. O projeto no país está parado na Câmara.


ONLINE | www.administradores.com

ARTIGOS

ENQUETE

#FICADICA

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Você, estudante de Administração, pretende seguir qual caminho ao concluir o curso?

Os 7 erros mais comuns de um profissional mal sucedido

33.65%

Trilha do Empreendedor O aplicativo, que é gratuito, mostra um roteiro para iniciar um negócio próprio.

Abrir seu próprio negócio

O professor Marcos Morita mostra o que você não deve fazer para se dar bem na carreira

ENTREVISTA

adm.to/sete_erros

28.52%

4.12% Outros

Trabalhar para empresas privadas

7.43%

E se Philip Kotler fosse visitar sua empresa?

Wikibrands: os desafios das marcas de mil donos

TWITTER

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FACEBOOK

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o ert ar c ai d v o nã

Mike Dover, autor do Wikibrands, explica porque as marcas deixaram de ser estáticas e intocáveis adm.to/wikibrands_adm

FOI DESTAQUE NA WEB vo cê

Minotauro fala sobre a importância de ter foco e disciplina na busca pelo sucesso profissional adm.to/minotauro_ufc

Seguir carreira acadêmica

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O que você pode aprender sobre carreira com um campeão do UFC?

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Alfredo Passos fala sobre o que Kotler costuma apontar para que as empresas se tornem bem-sucedidas

Aplicativo gratuito que faz o computador gastar menos energia. Ele desliga o monitor quando o usuário se ausenta da frente da tela.

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Prestar concurso público

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Cinco lições do Guia do Mochileiro das Galáxias para a vida profissional

Frases assassinas: como destruir ideias e frustrar pessoas

Cinco dicas estratégicas para você negociar suas dívidas

Obra escrita por Douglas Adams faz representações metafóricas sobre a vida real e as situações que enfrentamos

“Não vai dar certo” e “Você está louco?”, são, sem dúvida, as frase destruidoras mais célebres

Economista e professor de finanças explica quais são os melhores meios para a negociação

adm.to/galaxias

adm.to/assassinas

adm.to/dividas_adm

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ENTREVISTA | A.K. PRADEEP

Como o neuromarketing pode alterar a relação entre empresas e consumidores?

A.K. Pradeep, um dos principais estudiosos da área no mundo, fala com exclusividade à Administradores sobre como as pesquisas cerebrais podem desvendar o que está por trás da decisão do consumo. por fábio bandeira de mello

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|

foto divulgação e thinkstock


A

ntes de iniciar a leitura desse texto, pare por um instante e tente lembrar quantas propagandas você viu hoje.

as coisas podem mudar. Alguns cientistas estão mapeando o cérebro do consumidor e conseguindo identificar do que gostamos e porque gostamos. A técnica utilizada é chamada de neuro-

Lembrou? Ainda não? Realmente,

marketing e já vem sendo adotada por

é um teste difícil. Não precisamos

organizações como a Intel, PayPal,

nem sair de casa para começar o

MCDonald’s, Unilever, Google, HP,

bombardeio de empresas divul-

Citi e Microsoft. A Administradores conversou

gando sua marca. Seja no rádio, na televisão, na internet, no encarte

com A. K. Pradeep, um dos maio-

que deixam na caixa de correio, fora

res pesquisadores de neuroma-

tantas outras espalhadas pelos ou-

rketing do mundo e CEO da Neu-

tdoors, atrás dos ônibus e em pontos estratégicos pela cidade. Em meio a centenas de publicidades, não é fácil para as empresas atrair e prender a atenção de nós consumidores. No entanto, parece que

roFocus, empresa referência nesse segmento. Ele contou mais detalhes sobre essa técnica e alguns segredos que se escondem atrás do subconsciente do consumidor.

“Medir o cérebro é complicado, porém essa é a melhor forma de conseguir respostas precisas de seus consumidores”

Aprimorar produtos antes de levá-los ao mercado, evitar o desperdício da verba de anúncios e saber as motivações dos consumidores são os desafios de dez entre dez empresas, independente do segmento. O neuromarketing é capaz de desvendar esses segredos? Sim. Os testes neurológicos – que medem as respostas do cérebro a um estímulo no nível subconsciente – podem auxiliar as empresas a entender o que funciona e o que não, quando o produto se encontra em um estágio conceitual ou na criação de uma peça publicitária. Para completar, entre outras coisas, nós testamos os conceitos para o cliente. Medir as respostas dos consumidores revela, de forma clara e específica, a eficácia deste conceito e o que pode ser feito para melhorá-lo. Isto pode ajudar os clientes a poupar dinheiro, pois eles terão mais chances de acertar o conceito já no começo – e então, poderão alcançar o sucesso no mercado quando o produto ou a propaganda estiverem lançadas de fato. Qual é a diferença do neuromarketing para as pesquisas convencionais de mercado? As formas tradicionais, como pesquisas e grupos focados, con-

fiam-se apenas no que se chama de “respostas articuladas”. Essa é uma forma de perguntar aos consumidores o que eles gostaram, perceberam, sentiram ou do que eles lembram sobre a embalagem de um produto ou uma propaganda. Entretanto, o neuromarketing mede como eles realmente respondem, em nível subconsciente no mesmo instante em que eles estão experimentando algo. Nós medimos antes que os fatores externos como linguagem, educação, influências étnicas e culturais alterem ou distorçam a maneira com que as pessoas respondam as perguntas. Eis um fato interessante: quando se pede ao cérebro para que ele formule uma resposta a uma questão sobre algo que ele vivenciou, o processo de formulação da resposta altera a informação original e a recordação que se tem da experiência. Então, enquanto os consumidores tentam, de boa fé, lembrar de forma apurada como eles se sentiram sobre algo, podem confundir suas intenções. Como os testes neurológicos trabalham no subconsciente, as informações que coletamos são bem precisas, detalhadas e apuradas, e nós reunimos muitas, mais que qualquer pesquisa mercadológica. Medir o subconsciente é extremamente valioso para as companhias, porque é onde o marketing crítico é formado, inclusive em relação ao interesse inicial pelo produto, intenção de compra e lealdade à marca. agosto/setembro 2012

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ENTREVISTA | A.K. PRADEEP

E como são feitos exatamente esses estudos e análises através do neuromarketing?

Nós usamos sensores do tipo EEG (eletroencefalografia) para captar a atividade das ondas cerebrais combinado a um rastreamento ocular. É completamente seguro e não-invasivo. Os sensores EEG “escutam” pequenos sinais que a atividade cerebral gera, então, é uma tecnologia “passiva”, bastante parecida com o eletrocardiograma que o médico aplica no seu peito. Medir o cérebro é complicado, porém essa é a melhor forma de conseguir respostas precisas de seus consumidores. Nós medimos sete núcleos: três que chamamos de análise neurométrica, que são atenção, engajamento emocional e retenção de memória. Combinamos esses fatores a um placar de eficácia geral. Da neurométrica, nós tiramos ainda: intenção de compra (ou visão) e inovação (que pode ser descrita como compreensão da mensagem).

A NeuroFocus atende grande empresas multinacionais nessa área da neurociência. Entre os vários relatórios e pesquisas que participou, quais os resultados mais surpreendentes?

Todo dia, ao redor do mundo, nós conduzimos estudos para os nossos clientes em seus laboratórios. Para completar, temos times em campo em outras locações do mundo, conduzindo estudos para os clientes. Constantemente fazemos novas descobertas, então é impossível separar cada estudo por vez. No meu livro, faço um esboço de algumas descobertas, entres muitas que já fizemos durante anos. Ultimamente, o cérebro tem sido o objeto mais fascinante de se explorar, pois é ele quem guia nossas vidas. Nós somos muito mais parecidos que diferentes, quando se trata dos nossos cérebros.

Falando no seu livro (O cerébro consumidor: os segredos de vender para o subconsciente), você afirma, no entanto, que homens e mulheres têm formas diferentes de pensar na hora de realizar uma compra. Quais diferenças seriam essas?

Gênero é um dos núcleos em que os cérebros são diferentes. Homens e mulheres possuem distinções básicas, assim como idosos e jovens. Mulheres geralmente são mais capazes de pensar holisticamente, isto significa que elas combinam o pensamento emocional ao racional. Neurologicamente, homens se encaixam melhor em atividades competitivas. Geralmente, mulheres tendem a lembrar mais detalhes “emocionais” que os homens. Em termos de consumo, podemos explicar isso em uma frase: “mulheres consomem, homens compram”.

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Dr. Pradeep, geralmente quando mencionamos o neuromarketing, encontramos casos relacionados a grandes empresas. É caro realizar pesquisas dessa natureza? Uma empresa de pequeno ou médio porte tem condições de arcar com esse tipo de ciência?

Realmente, muitas empresas globais criaram Neurolabs conosco, mas também há exemplos de negócios menores que se beneficiaram da neurociência do consumidor. Um caso em especial que eu descrevo no meu livro é a California Olive Ranch. Essa empresa, recém-criada, veio até nós com duas opções de embalagens para um novo azeite e perguntaram: “qual design venderá melhor? E por quê?”. Nós conduzimos testes neurológicos, que não apenas revelaram a embalagem vencedora, como explicaram porque aquele design particular surtia mais efeitos no consumidor. A versão campeã pontuou melhor nos primeiros testes neurológicos de atenção, engajamento emocional, retenção de memória e se saiu melhor durante o nosso indicador de desempenho no mercado que avaliou as intenções de compra diante da novidade, e o nível de estranhamento das pessoas. Ao final dos testes, nós ainda ensinamos como seria possível melhorar a embalagem vencedora, para torná-la ainda mais atraente na prateleira. Então, a California Olive Ranch nos enviou um comunicado assim: “o método científico NeuroFocus permitiu a criação de uma garrafa de azeite inteligente, melhorada, que nos poupou tempo, diminuiu os custos, e os riscos”. Ajudar empresas de diferentes portes e tipos a alcançar o sucesso é algo que nós fazemos em bases contínuas ao redor do mundo.

“Sempre aconselhamos nossos clientes a divulgar rostos em seus materiais. O cérebro também prefere imagens à esquerda e palavras ou números à direita”


O que, de modo geral, as empresas podem fazer para atrair seus consumidores?

As pessoas possuem diferentes desejos e experiências. Como isso é trabalhado no neuromarketing? Não seria um risco generalizar o perfil do consumidor de uma empresa?

Existe uma lista do que chamamos de “melhores práticas neurológicas” que as empresas utilizam para fazer seus produtos, embalagens, sites, propagandas e outras atividades mais atrativas e impactantes para o cérebro. Por exemplo, o cérebro ama rostos. Por isso, sempre aconselhamos nossos clientes a divulgar rostos em seus materiais. O cérebro também prefere imagens à esquerda e palavras ou números à direita. Então, aconselhamos nossos clientes a seguir esse layout. O cérebro também adora quebra-cabeças; é um dispositivo que pode ser usado para atrair o subconsciente. Mas quebra-cabeças devem ser visuais e fáceis de resolver. São esses os preferidos da nossa mente. Ele também gosta de ver a origem dos produtos alimentícios, então aconselhamos a colocá-la nas embalagens. Para lojas, sugerimos aos varejistas que criem tampas (aquelas telas nos finais das lojas) curvadas sempre que possível, já que o cérebro não gosta de bordas afiadas. Existem milhares de práticas neurológicas que reunimos ao longo dos anos.

De fato, as pessoas têm diferentes desejos e experiências. Mas entender como o subconsciente delas respondem a uma marca, produto, ao design de uma embalagem, logomarca, estande de vendas, comercial de TV, e tantos outros elementos de marketing é o que fazemos. Vamos usar uma marca como exemplo. Como uma empresa pode medir a maneira com que os consumidores a percebe? Ou a maneira com que eles se sentem e o que essa marca significa para eles? O que é mais valorizado? A empresa pode tentar pedir aos consumidores que tentem explicar isso. Porém, geralmente, é difícil para uma pessoa descrever em palavras detalhadamente e de maneira confiável a relação delas com uma marca. Mas, com a neurociência do consumidor, medimos exatamente como eles respondem em níveis subconscientes a atributos bem específicos. Uma das prioridades dos testes neurológicos é explicitar o

quanto esses pequenos atributos aumentam a associação com a marca, por exemplo, a logomarca e o design da embalagem. Então, podemos identificar e medir fatores centrais que os consumidores conectam à marca, e não dependemos apenas de respostas articuladas e corrompidas por fatores externos. Medir diretamente no cérebro permite a captura de respostas mais amplas e profundas que o subconsciente elabora. É melhor que confiar apenas em respostas escritas ou faladas, que atravessam filtros criados pela mente, como a educação, língua, bagagem cultural, e tantas outras influências que podem distorcer os resultados da pesquisa tradicional.

Com todas essas ferramentas digitais – como os buscadores e as redes sociais – está cada vez mais fácil conhecer os hábitos das pessoas, basta pesquisar na internet. Como você enxerga a competição entre o neuromarketing e esse sistema de propaganda que alcança o consumidor de uma forma mais econômica?

A neurociência do consumidor mede como as pessoas respondem inconscientemente. Eu posso lhe perguntar o que você gosta ou lembra, de uma propaganda veiculada em uma plataforma como as mídias sociais, por exemplo, e você provavelmente fará um bom esforço para lembrar das suas reações. O problema é que a resposta pode ou não ser a experiência que marcou verdadeiramente o seu subconsciente quando ele foi exposto a uma publicidade na rede. Às vezes, elas podem coincidir, mas geralmente, são distintas. Uma diferença importante está ligada ao fato de que é no nível subconsciente que o marketing crítico, interesse no produto, intenção de compra e lealdade à marca são formados. Essa é a razão pela qual medir o subconsciente é tão importante – você estará acessando as informações no lugar onde ela é mais precisa e confiável. Então, sim, é possível observar como as pessoas migram de um site para outro, contar quantos cliques certo banner ou propaganda recebe e tantas outras formas de avaliar o comportamento das pessoas on-line. Mas como saber qual parte do site que chamou mais atenção? Que elementos do banner atingiram suas emoções? Quanto do vídeo assistido on-line ficou gravado na memória? Essas são as pequenas coisas que a neurociência do consumidor consegue descobrir e quantificar.

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administradores.com

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ENTREVISTA | A.K. PRADEEP

Então, de certa forma, a união das duas ferramentas deixaria o marketing ainda mais forte...

Vou lhe contar sobre algo que é bem interessante – algo que já está começando a mudar a publicidade na TV e tem muitas implicações no marketing de celular. É chamado de neuro compression (neuro compreensão), e é uma tecnologia única criada pelo NeuroFocus da Nielsen. A neuro compression acontece dentro do material de vídeo. Imagine um comercial de TV com 30 segundos de duração. Através dessa técnica é possível capturar a maneira que o subconsciente responde, segundo por segundo. Nosso software mede as respostas neurológicas mais fortes, isolando-as frame por frame – e editando-as junto. O produto é um vídeo curto, mas que detém as cenas mais impactantes do ponto de vista cerebral. E como é o cérebro quem controla o comportamento, é dele a perspectiva mais importante – certamente do ponto de vista de um marqueteiro, é. Se você é um publicitário de vídeo – na TV, YouTube, outros – a neuro compression permite que você obtenha retornos melhores dos investimentos feitos nas mídias. Após aplicá-la em vários vídeos, descobrimos algo fascinante: quanto menor a versão, maior a pontuação nos testes. Os resultados são sempre melhores do que as versões originais e mais longas.

Professor, para finalizar, uma pergunta que possivelmente gestores de todo o mundo gostariam de fazer para você. Por que algumas empresas conseguem criar tanta fascinação nos consumidores, transformando-os em “devotos” de suas marcas?

Essa uma ótima, porém complexa pergunta. As empresas que tendem a fazer sucesso são aquelas que possuem uma compreensão intuitiva de como o cérebro trabalha e do que ele gosta. Veja a Apple como um grande exemplo. Eles entendem o básico, que o cérebro prefere designs simples, que ele responde bem a ambientes simples, com poucos objetos como são as Apple Store. Eles colocam os produtos na direita e fora das vitrines, incentivando os clientes a comprarem e usarem. Eles fazem o processo de compra o mais simples e “indolor” possível. Outras empresas líderes entendem que precisam criar embalagens com design atrativo para o cérebro, como aquelas cuja superfície tem texturas. Ainda, outro recurso utilizado pelas lojas é trazer o mostruário para as pessoas. Então, existe um número de boas práticas que as empresas podem seguir para ajudá-las a se destacar no mercado e contribuir para o seu sucesso. Nós sempre lembramos que o cérebro faz o comportamento - portanto, é importante realizar ações para atraí-lo e satisfazê-lo, em troca, o subconsciente lhe ajudará a levantar as vendas e alcançar o sucesso.

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acadêmico | DOUTORADO

Doutores empreendedores por mayara chaves

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fotos divulgação

Aliando conhecimentos teóricos à prática, esses profissionais otimizam sua atuação tanto em sala de aula quanto em seus empreendimentos e estão mostrando que existe vida fora da academia.

“I

magine um universo de professores doutores em gestão numa dada faculdade. Cabem num ônibus. Feche o ônibus e anuncie que está rumando para uma empresa onde eles todos irão mostrar como as coisas deveriam funcionar. No entanto, apenas 1/3 deles fi-

cará confortavelmente sentado no ônibus, pois têm essa vivência essencial, esse contato que faz com que aliem a teoria à prática em permanência. Já o restante estará em maus lençóis, pois se exporá ao ridículo, posto que não têm tido a chance de confrontar teoria e realidade, ou por terem uma prática equivocada do que seja pesquisa em gestão, ou ‘ficam pesquisando as empresas sem sair dos muros protetores da academia’.”

Doutorado em números fonte:

ministério da educação

6,8 mil doutores em 2002

13,3 mil doutores em 2012

Esta situação, relatada por Henrique Freitas, professor doutor em Administração na UFRGS, mostra como educadores - especialmente os que têm uma trajetória acadêmica avançada, como os doutores - precisam ser atualizados e atuantes no mercado e na prática. E a importância de se ter essa vivência concreta do conhecimento também pode ser sentida em sala de aula. No momento em que a prática da Administração é questionada por um aluno, como um professor que há anos mantém seu foco apenas na academia responderá a esse tipo de pergunta com propriedade e conhecimento de causa? A saída está na conciliação de atividades

em 2001

Nas universidades 35,9% 49,9% públicas Nas universidades privadas

da educação superior de

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12,1% 15,4%

Docência com doutorado

fonte: censo

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Rubens da Costa Santos

Bruno Rondani

Kavita Miadaira Hamza

PhD em Marketing pela USP Rubens sonhava em empreender desde a juventude. Sua primeira atuação foi no ramo de serviços, ajudando o pai, quando tinha cerca de 16 anos. “Meu pai tinha uma empresa de limpeza de telefones na cidade de São Carlos, época em que a cidade tinha os primeiros telefones automáticos recém instalados e eu acabei ficando responsável pelas visitas a clientes para a higienização quinzenal. Eu fazia as visitas usando uma bicicleta e no bagageiro ia uma bolsa com os equipamentos. Foi o meu primeiro empreendimento!”, relembra. Com o tempo, atuou em várias empresas, realizou consultorias e foi professor na FGV e na USP. Hoje atua como consultor independente com empresa própria (RS Consultoria e Assessoria) em sociedade com a esposa.

doutor em Gestão de Inovação pela FGV Estudante de Engenharia Elétrica, Bruno fundou a empresa Allagi Consultoria, especializada em Open Innovation, na incubadora da Unicamp em 2004. Logo depois, esse projeto serviu de base para o seu mestrado, também em Engenharia. A empresa acabou se desenvolvendo mais na área de gestão e ele começou a estudar mais sobre o assunto. “Tive que viajar e estudar pra conhecer mais essas práticas e resolvi então entrar na FGV, onde eu poderia seguir as disciplinas do doutorado dentro daquilo que me interessava. No meu doutorado, analisei o processo de decisão dos empreendedores na hora de constituir uma rede desse tipo”, afirma. Inicialmente em cargo de operação na empresa, há três anos faz parte do conselho da empresa, como chairman.

acadêmicas, como ensino e pesquisa, e o contato com o mundo corporativo e o empreendedorismo. Esse tipo de relação permite tornar o ensino do doutor em sala de aula mais dinâmico e rápido, pois existe a vivência das situações de mercado, como afirma Yeda Oswaldo, professora do Doutorado da Universidade Metodista e dona de uma empresa de consultoria na área de Gestão de Pessoas. “Nesse sentido, não é necessário que se espere que alguém escreva sobre alguma teoria para somente depois estudar sobre ela”, explica.

dores. Sobre a dedicação exclusiva, o artigo também dispõe sobre as atividades permitidas a esse professor, entre as quais está a possibilidade de colaborar esporadicamente em assuntos de sua área mediante autorização da instituição a qual está vinculado. “Quando realizo trabalhos de assessoria e consultoria, eles são feitos via uma normatização que é autorizada pela universidade e, assim, é possível realizar ações tanto em empresas públicas como no terceiro setor”, explica Magnus Luiz Emmendoerfer, professor doutor da Universidade Federal de Viçosa. Além disso, ele ressalta que o professor não pode ter um negócio ou atividade empregatícia atuando como um administrador.

Dedicação exclusiva No entanto, para quem leciona em instituições federais, a possibilidade de atuação no mercado é limitada. De acordo com o artigo 14 do decreto 94.664/87, existem as seguintes possibilidades para a atuação de professores, que são: tempo parcial (20 horas semanais), exercido pela minoria dos docentes e dedicação exclusiva (40 horas semanais sem possibilidade de exercer outro trabalho remunerado, público ou privado, com poucas exceções), regime para a maioria dos educa-

Para além da Academia Diante disso, apesar de o professor doutor com dedicação exclusiva poder ter contato com o mercado, são anuladas suas possibilidades enquanto gestor que executa atividades e administra uma organização. No entanto, docentes que não atuam sob esse regime e doutores que não lecionam em universidades federais têm a oportunidade de efetivamente

doutora em Administração pela USP No final de 2011, a professora da Mackenzie e da ALFA-GO Kavita foi convidada para ser sócia em uma empresa de frozen yogurt. Inicialmente foi montado um plano de negócios. Levou-se quatro meses para montar um plano de negócios que vislumbrasse o fluxo financeiro. “Ao analisar os resultados, decidimos que valia a pena e iniciamos outras pesquisas no mercado, na busca de fornecedores e parceiros”. O negócio foi aberto ao público no dia 2 de junho deste ano, no formato de um quiosque dentro do hipermercado Extra de São Caetano do Sul. “Tem sido bastante desafiador, e finalmente sinto na pele as dificuldades que muitos empresários têm em colocar na prática aquilo que em geral eu ensino na teoria, em sala de aula”.

empreender e mostrar que teoria e prática devem ser valorizadas da mesma maneira. Isso possibilita espaço para o doutor utilizar seus conhecimentos teóricos para otimizar os negócios, o que, inclusive, possibilita um complemento aos seus rendimentos. De acordo com o professor Marcos Fava Neves, chefe do Departamento de Administração da USP em Ribeirão Preto, embora as universidades façam um reajuste contínuo dos salários, em 10 anos ocorreu um desalinhamento com o mercado. Antes um docente de tempo integral com boa formação recebia 40% ou 50% do que ganharia como gestor no setor privado, mas hoje ele recebe 20% desse valor. “Uma pessoa com a mesma qualificação no setor privado chega a ganhar quatro ou cinco vezes mais. Então é necessário que ele possa complementar sua renda com seu trabalho, e com isto melhorar as aulas, as publicações e dar retorno à sociedade também”, afirma Neves, que também é criador do Spinoff Markestrat. Há alguns doutores que já vêm atuando dessa forma e tendo ótimos resultados. Confira a as ações empreendedoras de alguns deles.

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INSIGHT conhecimento

Criando uma teoria sobre a criação de teorias por henry mintzberg

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imagem thinkstock

Existem milhões de teorias difundidas em diversas áreas pelo mundo. No entanto, você precisa saber algo que todas elas têm em comum.

Henry Mintzberg é um dos autores mais produtivos da Administração na atualidade, com 16 livros publicados, quase todos considerados referências na área. Ele é professor na McGill University, co-fundador do International Master’s Program in Practicing Management, usado por institutos de ensino em Administração no Canadá, Inglaterra, Índia, China e Brasil. Mintzberg também é responsável pelo desenvolvimento do curso CoachingOurselves, que em solos brasileiros é gerenciado pelo Grupo A. www.impm.org www.coachingourselves.com

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u não desejo cair em um buraco pensando em como devo desenvolver teorias. Além disso, esse é o trabalho de psicólogos cognitivos, que estudam a produção de conceitos e padrões de reconhecimento, mas nunca dizem muito sobre como pensamos. Quero começar explicando sobre o que a teoria não é, e então, passarei cautelosamente para o que elas parecem ser.

O que a teoria não é: verdade É importante perceber, ainda no começo, que todas as teorias são falsas. Elas são, no final das contas, apenas palavras e símbolos em um papel, sobre uma realidade que parecem descrever. Por não serem realidade, elas simplificam. Isso significa que nós devemos escolher nossas teorias, baseados no quanto elas são úteis, e não na quantidade de verdade que elas apresentam. Um exemplo simples explicará bem: em 1492, nós descobrimos a verdade. A terra é redonda, e não quadrada. Será mesmo? Para realizar essa descoberta, Cristóvão Colombo enfrentou os mares. Mas algum dos

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construtores de seus navios, ou até seus sucessores, conhecia a curvatura exata do mar? Eu acredito que não. Até então, a teoria que a terra era plana funcionava perfeitamente bem na construção de navios, mas não servia na hora de navegar. Aí a teoria que a terra era redonda

Desculpe-me, Einstein, mas sua teoria da relatividade é muito especulativa, não foi comprovada, então não podemos publicá-la funcionava bem melhor, ou então, nós nunca teríamos notícias de Colombo de novo. Na verdade, uma viagem à Suíça facilmente provará que teorias são mentirosas. Não é uma

coincidência o fato de que não foi um suíço quem apresentou a ideia da terra redonda. A Suíça é o lugar da teoria que diz que a terra tem formato irregular. Essa teoria é considerada global (de acordo com os próprios satélites, a terra não é redonda, tem protuberâncias no Equador). Se a terra não é redonda, plana ou meio a meio, como esperar que qualquer outra teoria seja verdade? Donald Hebb, um renomado psicólogo, resolveu esse problema bem: “A boa teoria é aquela que se sustenta tempo suficiente até você encontrar uma teoria melhor”. Mas como nossos exemplos já tornaram isso claro, a teoria seguinte nem sempre é melhor ou mais útil para ser aplicada. Por exemplo, nós provavelmente ainda usaríamos a física de Newton mais que a de Einstein. É isso que faz a moda nas ciências sociais tão disfuncional, como a obsessão dos economistas por mercados livres ou a fascinação que o behaviorismo exerce nos psicólogos. A teoria em si pode ser neutra, mas a promoção de uma ideia como verdade a torna um dogma, e isso faz com que paremos de pensar em prol da doutrinação. Então, precisamos de todos os tipos de teorias – quanto mais, melhor. Como pesquisadores, estudiosos e professores, nossa obrigação é a de estimular o pensamento, e de uma maneira positiva, que nos ofereça teorias alternativas – diversas explicações do mesmo fenômeno. Nossos estudantes e leitores devem deixar nossas salas de aulas e publicações ponderando, imaginando, pensando, e não sabendo.


O que o desenvolvimento da teoria não é: objetivo e dedutivo Se as teorias não são verdades, como elas podem ser objetivas? Nós fazemos uma grande confusão acerca da objetividade da ciência e na pesquisa, portanto, confundimos dois processos bem diferentes: a criação da teoria e o teste da teoria. O primeiro baseia-se no

ressantes. Eu, pessoalmente, sempre considerei a vida muito curta para testar teorias. Nunca deixa de me surpreender como nos amarramos a testar hipóteses no nosso campo, seja em questões do tipo “como planejamento paga?” ou “empresas agem certo ao fazer bem?”. Talvez o problema seja que nossas teorias falem sobre nós mesmos, e como podemos ser objetivos sobre isso? É isso que me motiva a ressaltar: de-

nossas pesquisas e o entendimento de que relevância vem do rigor” (Schendel 1995:1). Essa reivindicação não foi rigorosa, já que nenhuma evidência foi apresentada em seu nome. Como sempre, foi levado como um artigo de fé. Leia as publicações “rigorosas” da nossa área, e você chegará uma conclusão oposta: que esse tipo de rigor, metodológico, encontra seu caminho para relevância. Pessoas muito

imaginações, insights e descobertas. Se eu estudasse um fenômeno e através dele surgisse uma boa teoria, não seria certo desenvolvê-la porque ela pertenceria a outra pessoa? Aceite isso e você estará rejeitando praticamente todas as teorias, da física à filosofia, porque nós todos somos esforços idiossincráticos, invenções de mentes criativas. (Já pensou? “Desculpe-me, Einstein, mas sua teoria da relatividade é muito especu-

Uma das mais famosas teorias do mundo está descrita no Alcorão e na Bíblia: a de Adão e Eva no paraíso. processo de indução (do particular para o geral, de informações tangíveis a conceitos gerais), enquanto o segundo é formado através da dedução (do geral para o particular). Eu fico feliz que outras pessoas testem teorias, façam pesquisas dedutivas. Isso é útil; nós precisamos descobrir não se aquela teoria é falsa (já que todas são), mas se pelo menos como, porque e onde ela funciona melhor em comparação a outras. No entanto, eu simplesmente não acredito que precisamos de tanta gente fazendo isto na nossa área, comparado à pequena quantidade de pessoas que criam teorias inte-

vemos inventar explicações, não encontrá-las. Nós não descobrimos as teorias, nós as criamos. E essa é a grande diversão. Se pelo menos alguns dos nossos estudantes doutores experimentassem! Mas não, eles foram ensinados a ser objetivos, científicos (no sentido limitado da palavra), o que significa que nenhuma criação, apenas a dedução, é academicamente correta. Anos atrás, em uma publicação de administração estratégica, o editor escreveu que “para nossa área continuar com esse crescimento, é preciso desenvolver ligações entre pesquisa e prática, e então, melhorar

preocupadas em fazer sua pesquisa corretamente geralmente falham na perspicácia. Claro, o rigor intelectual não fica no caminho da relevância. O editor se referiu a isso como “lógica cuidadosa”, mas o que ele quis dizer foi o seguinte: “pesquisas nessa área não devem ser especulações, opiniões, ou jornalismo esperto; devem ser sobre produção de trabalhos nos quais as conclusões possam ser desenhadas independentemente do público-alvo da pesquisa ou dos resultados que foram atribuídos”. Eu vejo como uma pesquisa burocrática, porque procura observar a dimensão humana –

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lativa, não foi comprovada, então não podemos publicá-la”). É por isso que vemos tão pouca indução na nossa área, a criação de poucas teorias interessantes. O estágio inicial, o ato de conceber ou criar uma teoria, não me parece algo para chamar de uma análise lógica, por não estar suscetível a isso. A questão é de como a nova ideia surge para o homem – seja um tema musical, um conflito dramático ou uma teoria científica. Essa pode ser uma ótima sugestão de pesquisa para psicologia científica; mas é irrelevante para a análise lógica do conhecimento científico.

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carreira | inclus達o

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(D)eficiência sem limites por mayara chaves

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Na busca por vagas e estabelecimento no mercado, os deficientes têm conquistado vitórias, mas ainda se deparam com a falta de acessibilidade e os preconceitos de empresas e pessoas.

N

ascida no interior de Pernambuco, Joana Belarmino é filha de um casal de camponeses que teve ao todo 13 filhos, sete dos quais nascidos

cegos, ela inclusa. Mas nada disso impediu que ela fosse criada e educada como qualquer outra criança. E, assim, Joana estudou, aprendeu por meio do braille e fez vestibular para Jornalismo, contrariando opiniões de diversas pessoas na época. “Educadores, pedagogos e as pessoas que lidavam com a questão da profissionalização diziam que seria muito difícil eu conseguir ser jornalista”, explica. No entanto, ela formou-se pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e atuou em uma empresa do ramo por nove anos. “Foi um período muito difícil no jornal O Norte, porque na época, na década de 80, nem as pessoas que enxergam usavam o computador. Era usada a máquina de escrever e eu fazia minhas coberturas com braille e gravador. Apesar de ter sido um período desafiante, foi muito produtivo. Fiz grandes reportagens e aprendi que a faculdade é o lugar em que você reflete sobre a prática, mas a redação lhe dá exatamente o que a instituição não pode, que é a rotina, o fazer cotidiano”. Após esse período, a profissional voltou a estudar, fez Mestrado, depois participou de um concurso e segue a carreira docente desde 1994 na própria UFPB, tendo concluído, em 2004, Doutorado pela PUC, em São Paulo. Joana faz parte de um grupo seleto, mas que vem aumentando nos âmbitos social e profissional: deficientes com carreiras de sucesso. Alvo de segregação e marginalidade social históricas, esse segmento vem, literalmente, transpondo barreiras ao longo do tempo e hoje, ser deficiente deixou de ser sinônimo de incapacidade. No entanto, essa mudança de paradigma é recente. Os avanços relacionados a esses profissionais no mercado de trabalho só começaram a ocorrer a partir da década de 90, como o estabelecimento de cotas nas empresas. No Brasil, a lei previdenciária nº 8213/91

passou a obrigar que companhias com 100 ou mais funcionários tenham de 2% a 5% de seu quadro funcional formado por deficientes. Essa legislação, segundo o sociólogo Leo Voigt, especialista em responsabilidade social, gerou uma revolução que abriu um mundo de oportunidades para os deficientes e gerou novos desafios para eles e para as companhias. “Tanto os ambientes de trabalho tiveram que se adaptar ao perfil dessa mão de obra quanto esses trabalhadores tiveram que tentar adentrar em espaços antes inacessíveis”, destaca Voigt.

Desafios Apesar desse esforço de ambos os lados, ainda há problemas com o cumprimento desta obrigatoriedade pelas companhias, que muitas vezes contratam pressionadas por fiscalizações, não confiam na capacidade desses profissionais ou não oferecem estruturas físicas que promovam a acessibilidade deles. Segundo Isabela D’Angelo, psicóloga e analista de RH da Proton Consultoria, essas organizações precisam se conscientizar de que a diversidade é benéfica para a sociedade e para o próprio profissional com deficiência. “O agosto/setembro 2012

principal é quebrar barreiras físicas e atitudinais”, afirma. No entanto, os desafios não se resumem à receptividade das empresas. Muitas organizações ainda têm dificuldades em encontrar profissionais qualificados para preencher totalmente as cotas, o que prova que ainda existe muito o que fazer. É preciso “que (as pessoas com deficiência) estudem, desenvolvam-se, briguem pelo direito à educação, transporte, exigindo do governo capacitação e facilitação de sua inserção no mercado”, declara Maria Lúcia Benhame, especialista em Direito Trabalhista. Um desses casos em que houve busca pelo aperfeiçoamento é o de André Luís Macedo. Em 1995, um mergulho na praia em água rasa mudou completamente a vida dele, na época com 17 anos. O rapaz, que era estudante de nível médio, fraturou a cervical e ficou tetraplégico. Passou dois anos na reabilitação e após esse período, fez supletivo e prestou vestibular na área de Computação para a UERJ, onde estudou por quatro anos. “É uma outra realidade. Às vezes as provas eram em papel e eu fazia no computador. Mas consegui ir me adaptando e participando”, conta. Depois de formado, foi em administradores.com

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carreira | inclusão

Objetivo: ser administradora A prática de outras atividades, como esportes, dança e terapias, estimulam e possibilitam o desenvolvimento de habilidades físicas e motoras. E esse tipo de incentivo foi um aliado no caso da estudante de Administração pela Universidade Católica de Pelotas Thaís Pinheiro Cândia. Ao nascer, ela teve uma doença chamada kernicterus, um tipo de icterícia, que evoluiu após 24h a um estado de paralisia cerebral. Em decorrência, teve sequelas na parte da coordenação motora e audição. Diante disso, seus pais procuraram opiniões de vários neurologistas, que afirmaram que o desenvolvimento de Thaís dependeria do estímulo dado a ela. Assim, a partir do incentivo de seus fa-

miliares, começaram os progressos. Aos 4 anos ela começou a andar e falar auxiliada por tratamentos de fisioterapia, hidroterapia e fonoaudiologia, além de ter aprendido leitura labial sozinha. Para se alfabetizar, sua mãe teve um papel fundamental. “Na primeira série, minha mãe colocava cartazes por todos os lados para que eu pudesse aprender a ler e a escrever”, conta. Após passar por várias dificuldades no ensino fundamental e médio, com relação à falta de aparelhos auditivos e ao próprio preconceito de professores e colegas, ela fez vestibular para Administração na Universidade Católica de Pelotas e foi aprovada. Hoje, com 18 anos, está terminando o primeiro semestre. “Estou amando o curso e pretendo fazer um estágio na área neste semestre”, afirma.

Abrindo os olhos dos outros

É preciso uma rede de colaboração

Constrangimentos infundados

“Eu sempre sofria preconceito, tanto por ser deficiente, quanto por me sair bem nas aulas”, afirma Thaís, que quando começou a cursar o primeiro ano do ensino médio, sofreu com atitudes de pessoas da escola. “Parecia que todos os professores não me conheciam e não me aceitavam apesar de eu estar no mesmo colégio há tanto tempo. Não fazia sentindo essa discriminação. Nem meus colegas ajudavam, por eu ser diferente”, relata a estudante, que acabou repetindo a série no mesmo colégio, o que mudou a atitude dos professores. “Isso começou a fazer com que eles se dessem conta de que eu tinha problemas e tenho até hoje”, desabafa.

Em sua vida como jornalista, Joana passou por situações em que as pessoas receavam que ela não conseguiria realizar uma matéria e até mesmo fontes que acreditavam que ela se ressentiria se falassem com outros jornalistas. “Esse tipo de preconceito está dentro da cultura, da sociedade, fica mais diluído”, afirma. Ela acredita que o maior preconceito é o institucional, pela falta de condições de trabalho para o deficiente exercer sua cidadania. No caso dela, esses obstáculos puderam ser superados com o apoio de uma rede de colaboração. “Os obstáculos são impostos pela falta de se pensar um modelo de cidadania que incorpore todas as pessoas, daí a importância dessa rede colaborativa”.

Para André, o preconceito se deu mais na busca por oportunidades nas empresas privadas, onde o preconceito normalmente não é exacerbado, mas quando chegava o momento de se receber um feedback, vinha uma negativa. No entanto, o receio das empresas não condiz com sua atuação como profissional. “Na Petrobras realizo meu trabalho há 5 anos, já fui reconhecido com premiações internas. Se eu fosse incapaz, teria só entrado, ficado encostado, mas não é o que mostra a realidade. Tenho produzido muito aqui”, explica.

busca de emprego e encontrou barreiras de preconceito em empresas particulares, o que o fez optar pelo funcionalismo público, conseguindo ser aprovado em concurso da Petrobras para a área de Análise de Sistemas. “No mercado particular, a gente bate com a cara na porta mesmo. A única opção seriam os concursos públicos, já que temos a legislação que fala da cota e, para mim, foi a melhor saída”, explica. E nem as adversidades impediram que André deixasse de praticar esportes. Há um ano ele e outros cadeirantes praticam o power soccer (futebol em cadeira de rodas motorizadas). “Eu soube do esporte por meio de atendimentos e, então, comecei a ir em busca de pessoas e começamos a colocar em prática”.

thaís pinheiro cândia

Estudante de Administração

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joana belarmino

Professora doutora em Comunicação e jornalista

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andré luís macedo

Analista de Sistemas da Petrobras



carreira | LIDERANÇA

Sete transições que bons líderes devem fazer .

* |

por michael d watkins

imagem thinkstock

Para atingir um patamar ideal de líder, os profissionais devem passar, de acordo com eles mesmos, por uma espécie de “provação”. Está na hora de você descobrir quais são eles.

H

á transições significativas que os líderes experimentam ao assumir novas funções. E as mais difíceis ocorrem ao deixarem, pela pri-

meira vez, de serem líderes funcionais para serem gerentes gerais, ou líderes das unidades de negócios, ou empresariais. Mas o que ainda é incerto é a natureza dessas mudanças. Ao entrevistar mais de quarenta executivos seniores para obter um levantamento qualitativo em primeira mão, observamos a 24

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natureza das transições na liderança. Assim, surgiu a ideia das sete grandes mudanças pelas quais os líderes passam entre a liderança funcional e a empresarial.

1. De perito a multifuncional As funções de negócios de uma empresa são subculturas gerenciais, com suas próprias regras e linguagens. Gerentes transitando entre papéis de liderança da empresa devem, portanto, trabalhar duro para atingir uma “fluência multifuncional”. Alguém do marketing obviamente não pode se tornar um expert em operações ou P&D, mas pode tornar-se fluente – confortável com os principais termos, ferramentas e ideias empregadas pelas inúmeras funções a serem integradas. É crítico que os líderes empresariais


tenham conhecimento suficiente para serem capazes de avaliar e contratar as pessoas certas para liderar áreas funcionais das quais não sejam especialistas.

2. De analista a integrador A responsabilidade primária de líderes funcionais é desenvolver e gerir seu pessoal para atingir profundidade analítica em domínios focados. Por outro lado, líderes empresariais gerenciam equipes multifuncionais com o objetivo de integrar o conhecimento coletivo e usá-lo para resolver importantes problemas organizacionais. Como se pode imaginar, é importante que os novos líderes empresariais foquem na gestão da tomada de decisão integrada e na resolução de problemas e, ainda mais importante, aprendam a chegar a um equilíbrio. Líderes empresariais devem também gerir nos “espaços em branco” – assumir a responsabilidade de problemas que não se enquadram perfeitamente em uma única função, mas que ainda são importantes para o negócio.

Ser um definidor de agenda significa identificar e priorizar ameaças emergentes; e comunicá-las de forma que a organização possa responder. O restante da função exige a mobilização de ação preventiva e a condução da mudança organizacional. E isso cria uma organização que aprende e responde eficazmente às mudanças em seu ambiente, podendo surpreender seus concorrentes.

6. De guerreiro a diplomata Líderes empresariais eficazes enxergam os benefícios de moldar ativamente o ambiente externo e gerir relacionamentos críticos com poderosas entidades, como governos, ONGs, a mídia e investidores. Eles identificam oportunidades de colaboração entre empresas, estendendo a mão aos rivais para ajudar a moldar as regras do jogo. Gerentes funcionais, por outro lado, tendem a focar mais no desenvolvimento e implantação de capacidades internas para lidar melhor com seus principais concorrentes.

3. De tático a estrategista

7. De coadjuvante a protagonista

Mais do que os líderes funcionais, líderes empresariais estabelecem e comunicam a direção estratégica de suas organizações. Sendo assim, devem definir e comunicar claramente a missão e os objetivos (o quê), as capacidade essenciais (quem), a estratégia (como) e a visão (por que) para seus negócios. Além disso, devem trocar as marchas com facilidade, deslocando-se entre o foco tático (as árvores) e o foco estratégico (a floresta). É importantíssimo que aprendam a pensar estrategicamente, o que significa aperfeiçoar sua capacidade de: 1. perceber padrões importantes em ambientes complexos; 2. cristalizar e comunicar enfaticamente esses padrões aos outros na organização; 3. usar estas informações para antecipar e moldar as reações outros principais players, incluindo clientes e concorrentes.

Pessoas tendem a observar primeiro os líderes empresariais para obterem pistas sobre as atitudes e comportamentos “certos”, e para ter visão e inspiração. No nível de líder funcional, é aceitável ser apenas um gerente eficiente e eficaz, um membro do “elenco de apoio”. Líderes empresariais, pelo contrário, estão constantemente “no palco principal”, onde se espera um padrão mais elevado – um modelo exemplar. Para o bem ou para o mal, a liderança sênior de cada organização é contagiante; os comportamentos dos líderes tendem a ser transmitido aos seus subordinados diretos, que retransmitem ao nível seguinte, e assim por diante. Com o tempo, permeiam a organização de cima para baixo, influenciando atividades em todos os níveis. Eventualmente, são incorporados na cultura organizacional, influenciando as pessoas que são promovidas e contratadas, criando um círculo de feedback de auto-reforço – sendo positivo ou negativo.

4. De pedreiro a arquiteto Na medida em que gerentes avançam na hierarquia, tornam-se cada vez mais responsáveis por lançarem as bases para o desempenho superior – criando o contexto organizacional em que o avanço dos negócios aconteça. Para serem eficazes a este respeito, líderes empresariais devem entender como as bases da estratégia, estrutura, sistemas, processos e habilidades interagem. Devem também ser especialistas nos princípios do design organizacional, melhoria de processos de negócios e gestão de capital humano. Poucos líderes de potencial elevado recebem treinamento formal na teoria e prática do desenvolvimento organizacional, deixando-os despreparados para serem os arquitetos de suas organizações, ou para serem consumidores prendados no trabalho dos consultores de desenvolvimento organizacional.

5. De solucionador de problemas a definidor de agenda Muitos líderes são promovidos devido às suas habilidades em resolver problemas. Mas quando chegam ao nível de líder empresarial, devem focar menos na correção e mais na definição da agenda da organização.

Estas sete mudanças entre a liderança funcional e a empresarial são cruciais para o sucesso da transição. Mas é importante ter em mente que os maiores motivos pelos quais os líderes fracassam em tais transições é deixar de aprender. É impossível estar totalmente pronto para se tornar um líder empresarial pela primeira vez, mas há muito que se pode fazer na preparação; e por conhecer as consequências das mudanças, os líderes serão mais bem preparados para passar pela transição.

Dr. Michael Watkins é professor de Liderança e Mudança Organizacional do IMD, International Institute for Management Development uma das principais escolas de negócios do mundo, localizada em Lausanne, Suíça.

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carreira | RECURSOS HUMANOS

As tendências para os próximos 20 anos na gestão de pessoas * e josé ramón pin arboledas |

por esperanza suarez ru

imagens thinkstock

Os modelos de gestão tradicionais precisam ser – urgentemente – revisados por empresas que insistem em adotar um perfil dos séculos passados. A sociedade e a forma de se fazer negócios estão mudando e o futuro indica uma mudança ainda mais drástica no principal ativo das organizações: as pessoas.

O

cenário econômico, social e demográfico do século XXI exige da gestão de pessoas um papel proativo, capaz de contribuir para o êxito da

empresa. Este papel deve ser menos centralizado no posto de trabalho e ter um foco maior nas pessoas que o desenvolvem. Além disso, a circulação de trabalhadores do conhecimento de país para país, uma vida cada vez mais digitalizada e, por que não, o aparecimento de aplicações da informática com novidades e tecnologias sociais, também favorecem esse panorama de alteração. A primeira tendência que é preciso marcar, portanto, está relacionada à personalização ou individualização na gestão de pessoas.

Demografia, globalização e mobilidade O envelhecimento da população mundial, inclusive em países jovens, como o Brasil, unido a um índice de natalidade em declínio e a um 26

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aumento na idade em que se tem o primeiro filho, abrem novos desafios e marcam novas tendências na gestão de pessoas. A mobilidade internacional e o envelhecimento da população tornarão obrigatório um melhor gerenciamento da diversidade, com várias gerações, de valores diferentes, no interior de uma mesma organização. Por sua vez, a tendência para uma conciliação entre as vidas no trabalho e na família assumirá um papel importante, não só pelo cuidado dos filhos (ou filho), mas também pelo cuidado dos pais, cuja longevidade será maior. Essa conciliação deixará de ser um tema associado à mulher e será considerada uma

necessidade para dotar a sociedade de uma estrutura social com certa estabilidade. A globalização e a mobilidade internacional dos trabalhadores tornarão necessária uma sólida estratégia de expatriados e impatriados (estrangeiros importados pelas empresas). As últimas tendências apontam para o desenvolvimento de políticas de rotação internacional para quem quiser fazer carreira em uma organização.

Novas tecnologias Com relação à digitalização da vida e ao desenvolvimento das tecnologias e mídias sociais, é possível assegurar que estão


mudando a maneira como as pessoas se comunicam, dentro e fora do trabalho. Entre outros fatores, graças à sua existência, as pessoas estão sendo mais conhecidas pelo que sabem fazer do que pelo posto ocupado, o que torna obrigatório um giro de 360 graus na gestão de pessoas. Na atual e na futura cultura empresarial, vem sendo imposto o conceito de “redarquia”, apontado por autores como Cabrera, em oposição à “hierarquia” das empresas tradicionais. A redarquia significa uma nova ordem baseada nas relações de participação surgidas de forma espontânea entre pessoas com interesses parecidos. A execução e a colocação em marcha de ações não estarão, portanto, focadas em quem tem o poder no nível hierárquico, mas naquele que, por meio de redes de colaboração, conseguir levá-las ao fim. As gerações que se incorporarem às organizações daqui a duas décadas vão exigir um estilo de direção capaz de permitir que trabalhem em uma estrutura mais informal. Trata-se de uma geração digital que assume os valores da rede: participação, horizontalidade, transparência, cola-

boração, criatividade e assim por diante. Por tudo isso, outra tendência é a criação de redes sociais internas ou corporativas (ou plataformas colaborativas) de forma generalizada nas empresas.

A era da colaboração Neste contexto, novos conceitos vão sendo implantados, tentando definir a mudança que está ocorrendo na já chamada era

as pessoas trabalham e se relacionam, e vem se arraigando profundamente. Esta nova forma de compartilhar coisas do trabalho, inclusive fora do horário de serviço e da estrutura hierárquica da empresa, é o que, de acordo com Shirky, está mudando o mundo, profissional e pessoal. As estruturas serão mais planas e a forma de progredir em nível profissional terá mais a ver com os projetos dos quais se participa

dade aberta e flexível, no lugar de professores sentados em suas cátedras. Resumindo, as tendências para os próximos anos serão: acentuação de políticas como a gestão da diversidade, expatriados no mercado e conciliação entre o trabalho e a família; maneiras criativas de promover as pessoas, baseadas mais na colaboração em projetos do que na ascensão vertical; a liderança colaborativa e o aproveitamento das novas tecnologias coletivas para dirigir o talento.

Comandos e líderes serão eternos estudantes, com mentalidade aberta e flexível, no lugar de professores sentados em suas cátedras da colaboração: inteligência coletiva, consumo colaborativo, nativos digitais, geração Facebook, geração Einstein, milennials (a geração nascida entre 1980 e 2000, trabalhadores da década seguinte). São conceitos que deixam claro o aparecimento de uma nova revolução, que tem a ver com a maneira como

do que com os cargos ocupados. Cria, também, um ambiente propício para que as pessoas possam demonstrar suas competências para o resto da comunidade. É a partir daí que esperamos a transformação dos profissionais daqui a 20 anos: comandos e líderes serão eternos estudantes, com mentaliagosto/setembro 2012

Esperanza Suarez Ru é pesquisadora do IRCO (Centro Internacional de Pesquisa de Organizações) do IESE Business School, eleita uma entre as dez melhores escolas de negócios do mundo. ieseinsight.com

José Ramón Pin Arboledas é professor de Gestão de Pessoas nas Organizações e Ética dos Negócios do IESE Business School.

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NEGĂ“CIOS | SEXO

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Mercado do sexo:

a fantástica indústria do fetiche por simão mairins

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imagem divulgação adão e eva toys

Motéis, casas de swing, sexshops, brinquedos eróticos, agências de turismo para casais liberais, sites de vídeos pornográficos, redes sociais de sexo. Quem disse que o prazer não é negócio?

E

m 79 d.C., mais precisamente no dia 24 de agosto, o vulcão Vesúvio destruiu completamente as cidades de Herculano e, a mais notória,

Pompeia, ambos centros importantes do Império Romano. A história daquela noite ficou, então, literalmente sepultada durante cerca de 1.500 anos, até que, durante escavações para uma obra de desvio do curso do rio Sarno, trabalhadores esbarraram em antigos muros em ruínas.

Na época, alguns profissionais chegaram a ser chamados para averiguar os achados, mas acabaram optando, inexplicavelmente, por não investigá-los. No século XVIII, entretanto, a região voltou a ser escavada e a história do dia em que o Vesúvio acordou veio à tona, explicando o motivo pelo qual os primeiros a se deparar com as ruínas (durante a repressora Idade Média) preferiram não tocá-las. A cidade era um imenso centro dedicado ao prazer, e o sexo, em todas as suas formas imagináveis (e talvez até inimagináveis, para os mais puritanos!), inundava as ruas e clubes naquele fatídico 24 de agosto. Explorações realizadas nos últimos três séculos extraíram do que restou de Pompeia afrescos eróticos, taças com cenas de sexo em alto relevo, várias esculturas com representações do deus grego da fertilidade, Príapo, e até postes construídos com conotações fálicas.

Uma cidade como Pompeia seria inconcebível nos dias de hoje. Depois de quase dois milênios de transformações culturais e redefinições de paradigmas, práticas como aquelas passaram a ser socialmente reprimidas. Mas o mundo, evidentemente, não matou o erotismo e ainda inventou a pornografia. Tabu ou não, o fato é que pequenos mundos devotados ao prazer são mais comuns hoje do que se pensa e, como quase tudo em sociedades capitalistas, acabaram sendo responsáveis por movimentar negócios e, nesse caso específico, construir sólidos e importantes mercados.

Pequenas pompeias modernas Dedicadas especialmente a adeptos de um estilo de vida liberal, algumas iniciativas têm ganhado espaço no Brasil e no mundo. Em São Paulo, por exemplo, estão localizadas algumas das mais famosas casas de swing do país. Espaços normalmente bem amplos, as casas de swing são aparentemente boates como todas as outras. Por dentro, entretanto, agregam espaços reservados para que dois ou mais casais se encontrem, shows de strip-tease e ambientes dedicados à realização de fetiches (mais ou menos como os afrescos de Pompeia), além de, é claro, permitir que as pessoas façam sexo em qualquer lugar do clube (sim, também como nas ruas de Pompeia). Com o crescente número desses estabelecimentos, as casas têm procurado inovar, acrescentando serviços e buscando se diferenciar na qualidade de requisitos cruciais nesse tipo de negócio. Um clube localizado na região de Moema, em São Paulo/SP, por exemplo, aposta no quesito higiene ao extremo, oferecendo, entre agosto/setembro 2012

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NEGÓCIOS | SEXO

outras coisas, dispositivos com gel antibactericida nas cabines reservadas e antisséptico bucal nos banheiros. Outro fator importante é o sigilo. Normalmente, quem frequenta casas de swing não quer se expor fora daquele ambiente. Por isso, uma série de cuidados deve ser levada em conta e o grau de importância dado por cada empresa a esse quesito pesa bastante na decisão dos clientes. Um mecanismo adotado para garantir maior discrição é dar preferência à entrada de casais. Em alguns casos, inclusive, há necessidade de cadastro prévio para ter acesso aos clubes. Além disso, nos que recebem pessoas desacompanhadas, os preços são bem mais caros para quem entra sozinho (na maioria das casas, o ingresso de homens solteiros custa entre quatro e cinco vezes mais que o de casais).

Perdidos en un barco O swing e demais formas de sexo em grupo não são, entretanto, exclusividade das casas noturnas especializadas. Há, por exemplo, agências de turismo dedicadas exclusivamente à organização de “cruzeiros liberais”. A CasalFirstTour é uma delas. Há sete anos atuando no segmento, ela organiza viagens para casais swingers com destinos nacionais e no exterior. No Brasil, normalmente, os destinos mais procurados são regiões de serra ou praias nobres, de preferência bem afastadas de grandes aglomerações urbanas. Já no exterior, a agência explica que o Caribe e a Europa são os locais mais procurados pelos clientes brasileiros. Uma das últimas viagens organizadas pela CasalFirstTour teve como destino a cidade de Balneário Camboriú, apresenta-

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da na divulgação como “a mais liberal do Brasil”. O pacote incluía desde hospedagem em um hotel fechado apenas para o grupo até transporte para a praia do Pinho (naturista), além de uma noite em uma famosa casa de swing da cidade. “A agência foi criada há sete anos com o objetivo de oferecer tranquilidade, ambiente agradável, conforto e discrição aos casais liberais que procuram opções de lazer fora dos clubes convencionais do segmento. As viagens são planejadas com muita cautela, para que possam atingir excelência e qualidade no atendimento”, dizem os donos da empresa.

so, a tecnologia empregada nas funções é também um ponto importante. Todos querem um produto que faça mil e uma coisas”, conta André. Para quem pensa que atuar nesse segmento é fácil, André destaca que a coisa não é tão simples quanto parece. “No segmento erótico ainda lidamos com o preconceito e tabus. Veja como exemplo nossa dificuldade para fazer propaganda. Muitos canais têm a porta fechada para o nosso segmento - revistas, rádios, televisão. Alguns termos não podem ser utilizados, algumas imagens também. Quando chega o dia dos namorados todos querem matéria, o assunto tem destaque. Mas

Tabu ou não, o fato é que pequenos mundos devotados ao prazer são mais comuns hoje do que se pensa Brinquedos Outro segmento bastante forte no mercado erótico é o de “brinquedos”. A empresa Adão&Eva Toys é uma das mais conhecidas fabricantes e importadoras desse nicho no Brasil. O diretor comercial da companhia, André Luiz Marques, explica que, por lidar com a imaginação e a fantasia das pessoas, a marca precisa criar coisas novas e atrativas. “Viajamos para outros países e visitamos feiras especializadas, onde encontramos novas tendências, novas tecnologias, novos materiais”, explica André. “Alguns fatores são cruciais na hora de criar um produto. O primeiro é o material. Temos diversos tipos, como vidro, plástico, látex e silicone. Além dis-

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além dessa época é difícil ter espaço”, conta o diretor. Mesmo com as dificuldades, a situação é boa para o segmento. Nos últimos cinco anos, o faturamento tem crescido em torno de 15% anualmente.

Mercado de preservativos: mais que saúde Embora massivamente incentivado por campanhas governamentais e já absorvido como uma questão de saúde pública, o uso de preservativos por muito tempo enfrentou certas resistências por ser visto por alguns casais, e principalmente por homens, como um limitador do prazer. Justamente para quebrar essa barreira os fabricantes começaram uma

corrida pelo desenvolvimento de produtos mais atrativos. E aí surgiu uma infinidade de opções: camisinhas mais sensíveis, retardantes, com sabor, com cheiro e muito mais. Agora, não mais visto somente como um mecanismo de segurança, mas também enquanto um “algo a mais” na relação, o preservativo ganha cada vez mais mercado. “Hoje, o grande desafio da categoria é criar preservativos diferenciados, ou seja, ao mesmo tempo que oferece segurança, o produto também proporciona prazer. Por isso cresce o consumo dos preservativos retardantes, sensitive, hot e outros, e por outro lado, vemos a queda do preservativo lubrificado comum. Estamos preparados para atender este novo perfil de consumidor, que vê no preservativo um item essencial na hora do sexo, não só para sua segurança, mas também para aumentar o seu prazer”, conta Bruno Koudela, gerente de marketing da Blowtex.

Motéis: luxo, comodidade e expansão da experiência Casais heterossexuais tradicionais interessados apenas em uma noite de sexo em um ambiente diferente. Jovens namorados. Casais homossexuais. Swingers. Essa é apenas uma pequena segmentação dos diferentes públicos que os motéis atraem e precisam saber atender. Por isso, uma tendência forte nesse setor hoje, principalmente nos estabelecimentos de luxo, é a ampliação do mix de serviços e produtos. O Union Motel, localizado em João Pessoa/PB, é um empreendimento relativamente novo, mas tem se destacado bastante em âmbito nacional por adotar uma postura pouco tradicional para o segmento, tanto no que diz respeito aos serviços prestados


As camisinhas estão cada vez mais diversificadas para atrair novos consumidores

quanto pela imagem pública que tem construído. Eleito como um dos dez melhores motéis do Brasil, a empresa procura fazer jus ao título investindo na diversificação de sua oferta, direcionando sua comunicação não mais apenas aos homens, mas também às mulheres, e tentando transformar uma ida ao motel em mais que uma simples noite (ou dia) de sexo. “Apesar de sermos conhecidos pela irreverência das nossas peças publicitárias, nos preocupamos em não fazer algo vulgar ou machista, que possa desvalorizar as mulheres. Nas suítes, elas encontram produtos de qualidade de marcas conhecidas, fazendo com que se sintam à vontade e valorizadas como sempre devem ser”, conta Jeorge Segundo, administrador do Union. Sobre os serviços, Jeorge destaca que a empresa resolveu “investir, por exemplo, em um totem de atendimento eletrônico para atender os clientes sem um

porteiro, dando uma maior sensação de discrição. Passamos a entender bem não só de hotelaria e hospedagem, mas da área gastronômica para trazer um conceito de Motel Gourmet, bem como de lavanderia profissional. Temos uma estrutura diferenciada, desde a arquitetura aos equipamentos, como home theater, notebook, área externa com banheira ou ofurô em todas as suítes. A maior de nossas suítes, por exemplo, a Porto Ravel, tem 300m², com piscina com água aquecida, cinema, sauna, sala de estar, quarto duplo e até mesmo uma boate, proporcionando entretenimento aos nossos consumidores”, conta Jeorge.

A revolução da web No ano passado a internet ajudou a revolucionar uma parte importante do Oriente na chamada Primavera Árabe, que mobilizou milhares de pessoas na Europa e na América, e também no movimento Occupy Wall Street, reafirmando com bastante ênfase seu potencial transformador. O mercado erótico, evidentemente, assim como vários outros segmentos das economias, não ficou

alheio a esse poder. No ciberespaço, a indústria pornô ganhou novo fôlego: comprar em uma sexshop ficou mais sigiloso e, para as marcas, surgiu uma nova forma de chegar aos seus públicos. Ao passo que algumas das principais produtoras de filmes pornôs fechavam suas portas, uma infinidade de sites e blogs começou a ganhar a rede, fazendo com que canais eróticos e pornográficos, juntos, se tornassem o nicho mais acessado em todo o mundo. Para se ter uma ideia da dimensão do mercado movimentado pelas páginas com conteúdo adulto na internet, apenas no Sexlog – site brasileiro que se apresenta como “rede social de sexo e swing” – há mais de 2 milhões de pessoas cadastradas, responsáveis pelo compartilhamento de cerca de 10,5 milhões de fotos e a troca de mais de 600 milhões de mensagens. Do total de usuários, boa parte paga para usufruir de serviços extras. Já no site Xvideos.com, que tem servidores na Holanda, mas tem usuários praticamente no mundo todo, são postados diariamente cerca de 2.000 vídeos, segundo estimativas da própria empresa. Estruturado também como uma espécie de rede social de vídeos, bastante parecida com o Youtube em sua dinâmica, fatura com publicidade.

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Ao mesmo tempo, o público de sexshops ganhou a oportunidade de comprar sem o desconfortável risco de ser visto entrando em uma loja. “A compra on-line oferece ao consumidor total discrição, desde o momento em que ele está procurando produtos até a entrega, que são realizadas em caixas pardas sem constar o nome da loja na caixa ou na nota fiscal”, conta Daniel Passos, diretor-geral da Loja do Prazer, sexshop totalmente on-line. Para o marketing, a internet tem se demonstrado também um importante canal. A marca de preservativos Prudence, por exemplo, realiza anualmente a promoção “Testadores de Camisinhas Prudence”, que premia consumidores com produtos da marca por meio de um concurso cultural. “A cada ano nos surpreendemos ainda mais. Este ano, a internet movimentou muito a promoção – fosse postando contos eróticos para concorrer à história vencedora, fosse divulgando e acompanhando os textos no hotsite. Com grande interação nas redes sociais, a página da marca no Facebook alcançou quase 100 mil seguidores ao término da campanha”, comenta Denise Santos, gerente de marketing da DKT do Brasil, empresa detentora da marca Prudence. E aí: você vai continuar achando que Pompeia simplesmente desapareceu do mapa?

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contraponto | FORMAÇÃO

(Debate) Qual é o melhor tipo de profissional para as empresas? por leda maria vieira machado e vanessa versiani

Duas teses diferentes para o mesmo questionamento. Confira o que especialistas ligadas à área de RH têm a dizer sobre o perfil ideal para os profissionais dentro das organizações.

É fundamental que ele entenda e conheça o negócio como um todo. Se ele focar numa só área, ele tem poucas chances de crescer verticalmente na carreira.

Leda Maria Vieira Machado é coordenadora do curso de Pós-MBA em Gestão de Pessoas da HSM Educação 32

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GENERALISTA!

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uando falamos de gestão como um todo, temos que considerar que o profissional não irá desempenhar uma função única e específica, e aqui destacamos a importância do executivo generalista. É fundamental que ele entenda e conheça o negócio como um todo. Se ele focar numa só área, tem poucas chances de crescer verticalmente na carreira. Mas, obviamente, uma empresa tem espaço para ambos os perfis: especialistas e generalistas. Se considerarmos o programa de trainee, esse é um exemplo típico que leva o profissional a desempenhar um papel de generalização. Ele passará por áreas como RH, vendas, compras, marketing entre outras. E o objetivo é exatamente esse: ter um crescimento lateral para galgar uma posição vertical na carreira, seguindo para uma possível liderança, gerência, diretoria. Vai depender do negócio, do momento que a empresa está passando, da maturidade da empresa para definir também qual será a escolha entre os dois modelos.

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O generalista precisa ter uma visão global. Ele, como pessoa, provavelmente terá alguns talentos natos ou desenvolvidos, mas definitivamente é necessário que seja um generalista, para ter condição de gerir um negócio, definir onde a equipe será alocada, aonde a empresa está indo e/ou quer chegar. Tem que entender de marketing, gestão de pessoas e demais disciplinas. Em geral, as universidades não estão formando executivos que o mercado precisa. O executivo é formado muito mais pelos interesses próprios, de carreira dele. Outro ponto importante é que muitos executivos ficam focados somente no negócio e esquecem de se nutrir de fontes externas, vivenciar outras experiências que não apenas as do negócio. Isso pode deixá-lo com uma visão muito míope. Enfim, um generalista consegue fazer uma análise mais genérica, enxerga mais possibilidades de avanço do negócio, de sua equipe, bem como chances de se antecipar ao mercado, localiza oportunidades e inovações que, de fato, agreguem valor ao mundo empresarial e, consequentemente, à sociedade.


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ESPECIALISTA!

A

verdade é que ninguém consegue ser bom em tudo. Então, ao invés de ser um profissional mediano, que sabe um pouco de muitos segmentos sem destacar-se em nada, vale a pena dedicar uma boa parte do seu tempo e dos seus investimentos em uma área específica. Isso irá diferenciar a sua atuação dos demais concorrentes. Claro que entre um especialista que só sabe sobre aquela área e nada mais e um especialista que tem conhecimentos mais amplos, o que tem a cabeça mais aberta possui mais chances no mercado. Caso você leitor(a) já tenha visto o filme Tempos modernos, de Chaplin, pode perceber nele uma crítica à massificação, ao tudo sempre muito igual. Isso vale também para sua carreira hoje. Se você faz o mesmo que qualquer outro profissional, sem ter nada de especial que fortaleça o seu nome no mercado, pode ser trocado a qualquer momento, além de não ter força para negociar um salário melhor ou mais benefícios.

Buscar nichos específicos na profissão é interessante. E é fundamental procurar diferenciais. Assim como uma empresa de sucesso tem diferenciais importantes em relação à concorrência, um profissional de sucesso também deve pensar da mesma forma e ter características próprias que o levem a atingir suas metas profissionais mais visionárias. Outra grande vantagem do especialista é ter uma visão ampla sobre a situação a ser resolvida, sobre a empresa e sua área de negócio, sabendo como comunicar-se com os demais profissionais, do seu setor e dos outros, e pensando a situação a fim de buscar resultados através de sua especialidade. Um generalista vê o todo, mas não encontra diferenciais de ação, pois é um profissional mediano. Não basta especializar-se em algo. É preciso diferenciar-se, desenvolver características únicas em seu trabalho para destacar-se profissionalmente. Mas o resultado deste investimento de tempo e dinheiro é garantido: seu sucesso profissional e um nome forte no mercado de trabalho.

É preciso diferenciarse, desenvolver características únicas em seu trabalho para destacar-se profissionalmente.

Vanessa Versiani é w em personal branding em serviços de valorização e diferenciação da imagem da Diferencie-se!

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que podem ou não obedecer a uma ordem cronológica determinada e sobre as quais nem sempre há um consenso entre nomenclaturas e quantidades de passos, mas que invariavelmente levam a uma solução inovadora.

ESPECIALISTAS APONTAM ETAPAS

RUMO À INOVAÇÃO: DESIGN THINKING

1. MERGULHANDO

O CLIEN DA CO NOV

Primeiramente há o mergulho no cenário do problema. É o momento em que os profissionais se colocam no lugar das outras pessoas e buscam compreender acontecimentos de maneira profunda e sob a ótica dos mais variados atores.

caso doug dietz - ge O designer de produtos da GE Doug Dietz fez isso em um hospital. Mesmo com o sucesso do aparelho de ressonância magnética projetado por ele, foi identificado que 80% das crianças tinham que ser sedadas para usar o equipamento. O próprio profissional presenciou o exame de uma garotinha, que chorava aterrorizada diante da máquina.

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SERÁ QUE NÃO EXISTE UM CAMINHO MELHOR MESMO QUANDO TUDO ESTÁ DANDO CERTO? O Design Thinking mostra que a resposta pode ser sim. Essa é uma abordagem para a criação de produtos e serviços originais. Busca fazer com que CEOs, administradores, executivos, vendedores, estagiários e até consumidores pensem como designers para fugir do modo tradicional de lidar com decisões. Sua utilização crescente vem como uma maneira de enfrentar as dificuldades em identificar soluções diferentes, ou seja, de verdadeiramente inovar. Nesse tipo de pensamento, busca-se formular questionamentos a serem respondidos a partir das informações coletadas durante a observação de um problema ou até de algo que já é eficiente, mas que pode ser melhorado e aperfeiçoado. Assim, o Design Thinking propõe soluções por meio da interdisciplinaridade, criatividade e cooperação entre diversos profissionais, muitas vezes de ramos diferentes, procurando entender comportamentos, culturas e outras peculiaridades. O raro, o diferente e os extremos são mais valorizados que a massificação na hora da inspiração.

MAYARA CHAVES

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Após a coleta de informações, a equipe analisa, reflete e sintetiza os dados para entender o problema e, assim, chegar a uma solução.

caso doug dietz - ge

THIAGO CASTOR

A VIA NÃO É MAIS DE MÃO ÚNICA

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2. ENTENDENDO O PROBLEMA

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No caso da GE, com o intuito de solucionar o medo que as crianças tinham da máquina e a necessidade do uso de sedativos, Doug procurou auxílio de especialistas para aprender sobre Design Thinking e chegar a uma solução.

E

I


3. COLABORAÇÃO DE IDEIAS

NTE PARTICIPA ONCEPÇÃO DO VO PRODUTO

A partir do que foi coletado e analisado, começa, então, a fase de criação e colaboração de vários profissionais – ligados direta ou indiretamente àquele contexto – com ideias, sugestões e opiniões.

ADMINISTRADORES NÃO PODEM TER MEDO DE OUSAR

caso doug dietz - ge Pensou-se em levar para as crianças algo mais lúdico, tornar o ambiente mais amigável para que se sentissem à vontade, tornando a experiência dos pequenos pacientes uma aventura. A máquina e a sala foram pintadas, imitando um navio pirata, e os operadores foram treinados para lidar com crianças.

4. PROTOTIPANDO

0%

Com base nas ideias e soluções geradas, é iniciada a etapa de prototipação e implementação do que foi criado. Neste passo é analisada a reação das pessoas diante do produto/serviço, o que pode demandar correções ou reformulações. Esta fase não é necessariamente a final, já que pode existir ao longo do processo e pode originar um novo mergulho.

crianças tinham que ser sedadas no exame

ENFATIZA A PESQUISA QUALITATIVA E A INTERAÇÃO SUBJETIVA

caso doug dietz - ge

crianças tinham que ser sedadas no exame

10%

Com a implementação do novo ambiente e a atuação de profissionais treinados, caiu para 10% o número de crianças que precisavam ser sedadas – diminuido os custos com anestesia – e mais crianças puderam ser examinadas por dia. A experiência, antes desagradável, tornou-se diversão para as crianças.

HÁ INTERAÇÕES EM TODAS AS FASES

*Com colaboração dos especialistas Rique Nitzsche, Luis Alt e Gustavo Machado. Material de pesquisa: Design thinking: inovação em negócios, Maurício Vianna. IMAGENS: DIVULGAÇÃO; THINKSTOCK

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TENDÊNCIA | REDES SOCIAIS

O lado negro das redes sociais por agatha justino

Cultura da preguiça, ansiedade ao extremo e geração de crianças sem convívio social. É hora de conhecer o que pode estar atrás dos rostos sorridentes que aparecem em sua timeline.

A

s redes sociais se tornaram panelas em ebulição, nas quais fervilham diariamente milhares de atualizações entre fotos, compartilhamentos e curtidas. Embora muitas informações não passem de fogos-fátuos, a vontade de checar as mensagens

só parece aumentar a cada notificação. No entanto, essa necessidade de nos mantermos conectados a todo o tempo proporcionou o surgimento de mais uma angústia para o século XXI: a “Depressão do Facebook”. O fenômeno foi caracterizado pela primeira vez em 2011, pela Academia Americana de Psicologia, em um estudo aplicado em crianças e adolescentes. Os pesquisadores afirmaram que a Depressão do Facebook é motivada pelo afastamento do convívio social e pelo narcisismo que as crianças desenvolveram pelo uso da internet. O distúrbio pode se aliar a uma baixa autoestima, que se entristece ao se comparar a outras no site. Isso porque, para alguns, esses espaços se tornaram um concurso de popularidade. A psicóloga infantil Ana Dias explica que isso acontece porque os jovens estão mais vul36

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neráveis a confundir a realidade e a fantasia no universo virtual, onde não existem tantos conflitos e é possível recriar a identidade. “Como consequência, vemos a formação de adultos cada vez menos resilientes e mais obcecados em maquiar o cotidiano”, alerta a psicóloga. A formação dessa identidade negativa já é fomentada desde cedo, com crianças novas cada vez mais grudadas à tecnologia. Se antigamente era comum ter como “ponto de encontro” as brincadeiras nas ruas e praças como soltar pipa, pega-pega etc., hoje as crianças dão preferência à comunicação pela internet e aos jogos virtuais no videogame. Até nas festas de aniversários já é comum observar uma roda de crianças que não interagem entre si, por estarem conectadas em seus celulares e tablets.


A utilização do Facebook já fez com que você se sentisse ansioso ou estressado?

68% Sim 32% Não

enquete realizada pelo administradores.com

Não consegue controlar o seu tempo nas redes? O especialista em redes sociais, Fernando Souza, acredita que é preciso maturidade para controlar o nível de exposição na internet. “Criança tem que ser criança. Não estou dizendo para descartamos totalmente nossa rotina de tecnologia. O videogame e a internet auxiliam para deixar o individuo habituado a uma interface digital, porém existem jogos e sites adequados para cada idade e fase do aprendizado”, acredita.

As faces do Face Embora essa forma de escapismo, que gera ansiedade, esteja associada ao ambiente infantil, muitos adultos compartilham da mesma situação na internet. Foi o que provou uma pesquisa realizada pela Universidade Edinburgh Napier, na Grã Bretanha, baseada em entrevistas com 200 jovens usuários do Facebook, Twitter e Tumblr. O estudo mostrou que quanto maior o número de amigos adicionados, maior o estresse ao qual o usuário é submetido. Os participantes do estudo explicaram que sentem necessidade de mostrar aos co-

Felizmente, existem formas de controlar o tempo gasto com atividades improdutivas. Uma delas é a plataforma Rescue Time, que fornece diariamente estatísticas sobre quais sites você está visitando e monitora quantas horas você dedica a cada um deles. O primeiro relatório pode ser assustador, mas impulsiona as pessoas a otimizarem o tempo dedicado à internet e a afastar a ansiedade de checar a caixa de mensagens a cada quinze minutos.

legas que são pessoas divertidas, criativas e populares, e justificaram que permanecem na rede porque têm medo de perder o contato com amigos distantes, e porque não querem ser excluídos de algum evento importante. A cientista que conduziu o estudo, dra. Kathy Charles, compara a necessidade de se conectar ao vício do jogo. “Como em jogos de azar, o Facebook mantém os usuários em um limbo neurótico, do qual eles temem sair e perder algo interessante.” A empresária Lana Oliveira conhece bem essa aflição. Ela gasta entre 10 a 14 horas por dia conectada, e afirma já ter se prejudicado seriamente por causa do uso excessivo da rede. Ela admitiu que já se sentiu mal por priorizar o Facebook, deixando de lado outras atividades importantes, até mesmo o convívio com suas filhas, que demonstram incômodo com o tempo que a mãe dedica à internet. No antigo emprego, Lana costumava a acessar a página escondida do chefe e viu sua produtividade baixar. Quando perguntada por que não deleta sua conta, Lana responde: “já exclui por

uma vez, por motivos pessoais, mas voltei sete dias depois. Senti falta sim, parecia que eu não estava tendo acesso a tantas informações como antes, embora tenha continuado lendo os mesmos sites de notícias, revistas e afins”. A angústia, apontam especialistas, é causada pelo bombardeio de informações e pela necessidade que o usuário tem de participar de várias publicações, além da expectativa de que os outros amigos comentem e aprovem as suas. Para Ana Dias, o Facebook se transformou em refúgio agradável para aqueles que se sentem insatisfeitos com a própria vida, e desejam renovar a imagem. “As pessoas querem dar um tom de realidade à vida de ilusões que levam, e cobrem as frustrações exibindo as fotos da última festa ou viagem. Uma pessoa que dedica quase a metade do dia a ler postagens e escrever status transforma o que deveria ser uma distração saudável em uma fonte de preocupação. É a velha diferença entre a face que mais mostro, e a face que sou”, comenta a psicóloga.

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TROCAS DE IDEIAS | PHILIP KOTLER

As lições de

Philip Kotler

sobre Marketing por fábio bandeira de mello e mayara chaves

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imagem divulgação

O detentor de muitas das teorias estudadas nas universidades e utilizadas pelas empresas em todo o planeta arrumou um tempinho para conversar com a revista Administradores sobre, é claro, marketing.

E

le é reverenciado como o principal nome do marketing mundial há quatro décadas. Em diversos rankings espalhados pelos cinco continentes, seu nome aparece como uma

das pessoas mais influentes do mundo corporativo. Seus livros já venderam mais de cinco milhões de cópias e foram traduzidos para 20 idiomas em mais de 58 países. Ele também é professor da Kellogg School of Management, da Northwestern University, e presta consultoria para grandes empresas como General Electric, IBM, AT&T, Honeywell, Michelin e Merck. Com esse currículo invejável, Philip Kotler se tornou uma lenda viva do marketing. Apesar de seus 81 anos, o professor ainda mostra disposição ao circular pelo mundo disseminando seus conceitos em palestras e consultorias. Em conversa com a Administradores e colegas jornalistas após sua aula magna no seminário HSM Marketing 3.0, realizado recentemente no Brasil, Philip Kotler indicou alguns dos princípios que as empresas podem e não podem fazer.

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Você afirma que a marca tem o seu momento para alavancar no mercado. O que é preciso para isso acontecer?

Sinergia, insight do produto, um olhar mais atualizado. Existem as métricas também. Isso não significa que qualquer empresa, simplesmente por desejar, chega a isso. Porque esse momento, muitas vezes, está altamente relacionado com uma grande descoberta tecnológica, como quando uma empresa cria alguma coisa que todos nós queremos ter. Um exemplo é quando você entra numa loja da Apple e as pessoas estão lá comprando. E isso também não dura para sempre, porque depois que todo mundo tem um computador, eles são considerados simplesmente coisas comuns.

E como uma marca se desenvolve do zero?

Isso tem a ver com fazer alguma coisa que atraia muita atenção e algo que agregue valor ao cliente. Então, essa é uma pergunta que eu teria que responder de forma diferente para cada empresa. Por exemplo, o que uma empresa de suco faz para que sua marca se torne interessante? O que é importante para o conceito do momento? No entanto, algo tem que ser claro para todos: não basta ter apenas uma cultura de inovação, é preciso mantê-la constantemente, porque o mundo não para. Se você inovar muito, vai errar bastante, mas se não inovar, sairá do mapa. Então não há escolhas.

Muito se diz sobre os melhores caminhos para aplicar ao marketing. Mas e o inverso? O que as empresas não devem fazer em seu marketing?

Não desperdice dinheiro, não procure o mercado errado, não procure o mercado de massa quando o seu produto apela apenas para um grupo pequeno. Não exceda no preço do seu produto, não ignore seus concorrentes, observe-os de forma cuidadosa e aprenda com eles também. Essas são algumas das coisas em que vocês deveriam prestar atenção.

A respeito dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), que indicavam oito metas universais para os 191 estados membros, qual seria o papel das empresas entre esses objetivos?

Os Objetivos do Milênio foram desenvolvidos há cerca de 10 anos ou pouco mais. E um dos princípios foi de reduzir a pobreza no mundo pela metade, bem como a fome, além de outros. Essas metas deveriam ser alcançadas até o ano 2015 e lamentavelmente isso não irá acontecer, embora possa se dizer que a China reduziu sua pobreza como jamais visto na história mundial. Mas é preciso continuar essa busca. No ano que vem teremos uma cúpula na Malásia e lá estarão 40 especialistas em redução da pobreza, todos com o intuito de transformar o mundo em um lugar melhor. Nós estamos criando incubadoras. A incubadora é um projeto desenvolvido por pessoas em várias partes do mundo, e nelas tentamos pensar formas de produzir alimentos que tenham melhores nutrientes, ou como fazer com que as crianças que abandonam a escola não desistam da sua formação. Ou seja, muitos dos Objetivos do Milênio podem ser transformados em projetos de incubadoras cujas soluções serão oferecidas para a sociedade.

“Se você inovar muito, vai errar bastante, mas se não inovar, sairá do mapa”

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CAPA | ORIENTE

Os segredos por eber freitas

|

ilustrações utagawa kuniyoshi

Entenda a relação entre as táticas de guerra, tradições filosóficas da China e do Japão e as suas influências no desenvolvimento de estratégias de negócios. Sim, vamos falar sobre A arte da guerra... mas ela não vem sozinha.

O

que se esconde por trás dos intrincados fono-ideogramas que constituem a escrita chinesa – posteriormente adaptada pelos japoneses – há milhares de anos? Diferente do nosso alfabeto de 26 letras, unidas para formar palavras e conceitos, cada um dos elementos da escrita na terra do Rio Amarelo representa ideias que podem ser traduzidas para dezenas de palavras em idiomas ocidentais. Quantos segredos podem ser ocultos

no meio dessa miríade de significados intangíveis? Como encontrar a sabedoria em aproximadamente 60 mil ideogramas sem pertencer a essa cultura? E, principalmente, de que maneira essa filosofia oriental pode impactar nas estratégias de negócios?

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s o t e r c e s nem tão

s do Oriente O livro A arte da guerra é o exemplo mais evidente dessa busca. A sua tradução para os idiomas ocidentais não é tão recente. Em 1772, o padre jesuíta francês Amiot fez a primeira tradução - algumas versões brasileiras foram publicadas, inclusive, a partir do francês. O prodígio estrategista militar Napoleão Bonaparte pode ter sido um dos primeiros, certamente o mais notável, usuário ocidental dos segredos de Sun Tzu. A partir do final do século 20 e começo do século 21, a obra passou a ser uma fonte

extremamente produtiva de lucros para o mercado editorial. Não apenas o livro original é procurado por leitores com diversos perfis, mas também novas versões adaptadas ou livremente inspiradas pipocaram nas editoras e livrarias. Menos conhecido, mas com ensinamentos igualmente eficientes, O livro dos cinco anéis (ou Esferas), do samurai japonês Miyamoto Musashi é um símbolo do inflado orgulho nipônico. O motivo da credibilidade dos seus ensinamentos é simples: ao lutador não é atribuída

nenhuma derrota nos mais de 60 embates travados - um deles se deu contra dezenas de adversários. Musashi derrotou rivais poderosos utilizando técnicas que por vezes não estavam diretamente relacionadas à esgrima. Executivos e consultores, igualmente avessos à derrota no mundo dos negócios, buscam adaptar o caminho da espada à vida profissional. As duas obras não foram inéditas nem detêm um tipo de conhecimento exclusivo ou secreto. As mesmas premissas elaboradas por Sun Tzu estão agosto/setembro 2012

presentes nos ensinamentos taoístas, uma das bases da cultura chinesa, compendiadas no livro Tao Te King, e no moísmo. Musashi, tutelado espiritualmente no zen budismo pelo monge Takuan Soho, uniu sua experiência espartana ao bushido – o caminho do guerreiro – para desenvolver seu próprio sistema filosófico para o combate. Nas páginas seguintes, confira como os fundamentos da arte de criar estratégias da China e do Japão podem influenciar seus negócios e sua própria carreira. administradores.com

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CAPA | ORIENTE

Dissecando A arte da guerra Sun Tzu teria vivido no período conhecido como o das Primaveras e Outonos (770 - 476 a.C), marcado tanto pela fragmentação em pequenos e numerosos estados que futuramente viriam a compor a China, bem como pelo desenvolvimento de quatro filosofias principais: o confucionismo, o taoísmo, o legalismo e o moísmo. Sua obra teria sido imortalizada durante a era histórica imediatamente posterior, que perdurou até a primeira unificação da nação, em 221 a.C, sob a mão pesada do estado de Qin. Não há consenso sequer sobre a existência de Sun Tzu, assim como o nosso Homero. A arte da guerra pode ser uma compilação de registros feitos por diversos generais, segundo defendem alguns historiadores. O fato é que a obra já era uma referência em estratégias militares há 2400 anos atrás. “É provável que os textos do 42

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seu ‘tratado militar’ tenham sido estendidos, o que corrobora a atribuição da obra a um único autor ou a uma escola de pensamento bem integrada, cujo interesse deve ter sido o de concluir um clássico de refinada sabedoria”, teoriza o psicólogo Wagner Cunha, organizador e comentarista de O tao da guerra: os fragmentos perdidos da dinastia Zhao. Esta segunda obra, aliás, reúne registros escritos por outro general chinês que teria vivido 150 anos após Sun Tzu: Er-Hu. Curiosamente, os ensinamentos são bem semelhantes em determinados pontos, o que pode ser atribuído tanto à influência do seu antecessor como às tradições filosóficas que influenciaram ambos. Um dos capítulos de A arte da guerra se dedica a revelar os métodos de como vencer uma batalha antes de se desembainhar a espada. “Deves almejar como aquilo agosto/setembro 2012

que há de mais perfeito, conservar intactos os domínios dos teus inimigos”, diz. Esse princípio vem do moísmo, movimento formado por guerreiros e filósofos que rejeitavam a ideia de que a força, tamanho ou números eram suficientes para decidir uma batalha - numa época de descentralização política, onde quem contava com mais recursos supostamente tinha direito de oprimir e pilhar os mais fracos. E os escritos atribuídos a Er-Hu em O tao da guerra revelam: “demonstrar a superioridade dentro e fora da esfera de atuação do exército e ganhar a guerra utilizando pouco ou nenhum esforço é o tao do general”. O tao é para a China mais ou menos o que o cristianismo é para o ocidente, resguardando a significativa diferença de que o primeiro não é apenas uma religião, mas uma filosofia universal e cósmica. E assim, tem sua influência na formação de estraté-

gias, principalmente na ideia de yin-yang, arquétipo que dispensa apresentações.

A arte nos negócios Nos séculos seguintes, a China foi precursora em tecnologias que só seriam descobertas pelo ocidente muito tempo depois, provando que a tradição de desenvolvimento agressiva consolidada no pensamento filosófico poderia ir além da guerra. Enquanto a Europa estava saindo do obscurantismo medieval, a dinastia Ming (1368-1644) se expandia com um exército de um milhão de homens. Sua tecnologia naval era incomparavelmente superior à europeia, e o império transitava com desenvoltura pelo Oceano Índico até a costa da África. Séculos antes, a nação já dominava técnicas de tipografia, realização que a Europa só concretizou em 1439 e que foi a


condutora do desenvolvimento técnico-científico do ocidente. Os fatores que impediram a China de se tornar uma potência mundial 600 anos atrás, liderando o mundo com sua própria Revolução Industrial, são variados. O historiador Niall Ferguson, no livro Civilização: ocidente x oriente, aponta pelo menos seis forças que levaram a Europa à vanguarda: competição, ciência, direito de propriedade, medicina, consumo e trabalho - as mesmas com as quais convivemos até hoje. A China que cresceu a passos largos na última década teve início durante o governo comunista de Mao Tse Tung – admirador dos imperadores do passado – e seu sucessor, Deng Xiaoping, considerado o arquiteto do milagre econômico chinês. A economia galopante, no entanto, já é vista com menos euforia por analistas: a revista Time aponta contradições graves, como corrupção generalizada, abuso de poder e excesso de presença estatal na economia. “É uma sociedade

legalista, obcecada por burocracia e infinitas regulações”, diz a reportagem. O consultor Eduardo Silva, sócio-fundador da FBM Consulting, tem outra visão. A empresa anunciou recentemente um novo escritório em Hong Kong para prestar serviços a outras companhias brasileiras que pretendem abrir novas unidades no país, fugindo da tributação selvagem do Brasil. “A China ainda é o maior fabricante mundial de produtos manufaturados. Quando a crise financeira passar, a demanda global vai se manter e isso vai beneficiar o país. Por outro lado, a classe média chinesa é composta por 280 milhões de habitantes e potenciais consumidores”, argumenta. A China é, de fato, um dos destinos mais promissores para se fazer negócios. O mercado de livros, por exemplo, pode se beneficiar de diversos fatores para imprimir na terra da Grande Muralha. Em 2011, de acordo com a Administração Geral de Publicações da China, foram impressos 7,71 bilhões de livros

no país. Títulos de algumas das maiores editoras, como Jorge Zahar e Siciliano, já foram manufaturados por lá. Maurício de Sousa recebeu um prêmio de literatura infantil na China, e A turma da Mônica deve ganhar versões em chinês. O arquiteto brasileiro Fernando Brandão foi o coordenador do pavilhão brasileiro na Expo Xangai 2010 e, como consequência do sucesso no evento, foi convidado a ministrar aulas na Universidade de Xangai e pretende abrir uma filial do seu escritório no país. “É uma quantidade de trabalho muito grande, tem muita coisa pra fazer. Eu espero expandir meus negócios por lá, criar raízes na China, talvez até morar um tempo”, diz. Uma das principais muralhas que os brasileiros precisam enfrentar para colher os lucros desse mercado é o idioma e, consequentemente, a cultura. O arquiteto não achou natural quando alguns executivos, antes de fechar negócios, fizeram uma sabatina de perguntas pessoais. agosto/setembro 2012

“Eles querem conhecer sua família, ver fotografias. Você não fala muito sobre o negócio em si. É uma relação de extrema confiança que, se for quebrada, adeus. O respeito é a base de todos os entendimentos”, conta Brandão. A consultora Ling Wang, brasileira nascida em Taiwan, ressalta que profissionais brasileiros com fluência em idiomas como o mandarim ou cantonês são valiosos para empresas que querem estabelecer relações no país. “Os brasileiros têm que começar a considerar a Ásia como uma opção de carreira. Quem compreender isso vai sair na frente”, explica. Mas não é apenas o idioma; pequenos gestos são significativos no trato com negociantes chineses, desde entregar e receber cartões de visitas com as duas mãos até se dirigir a profissionais com o mesmo nível hierárquico. “Eles dão muito valor à meritocracia. Se percebem que o profissional se preparou para negociar segundo os costumes deles, isso é valorizado”, finaliza Wang. administradores.com

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CAPA | ORIENTE

Os samurais da vida moderna O ano é, precisamente, 1600 d.C. Após um dos conflitos mais cruéis da história do Japão, a Batalha de Sekigahara, um jovem de 17 anos pertencente ao exército derrotado escapa da carnificina perpetrada contra os sobreviventes. Seu nome é Miyamoto Musashi, o samurai invencível. Durante mais de uma década de rotinas espartanas de treinamentos e duelos, Musashi desenvolveu uma técnica única, amparada em preceitos teóricos que ele compilou no livro Gorin no Sho (O livro dos cinco anéis). Com o fim do período de guerras feudais preconizado pelo xogunato Tokugawa, que durou mais de dois séculos, os samurais assumiram cargos mais burocráticos e civis, e o uso das espadas passou de uma representação social para algo sem uso prático. A história de Musashi foi ressuscitada na década de 1930, com o romance homônimo de Eiji Yoshikawa. E com ela, o ideal do caminho da espada, mas com novas aplicações: ne44

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gócios, esportes, política, dentre outros. “Musashi ressalta a sabedoria do aprender todos os aspectos e todas as artes de uma profissão ou negócio. Isso reforça a antiga instituição do aprendizado, através do qual as pessoas podiam dominar uma ocupação em todos os seus aspectos por meio de um processo natural do desenvolvimento”, interpreta Thomas Cleary, estudioso do budismo e PhD em Línguas e Civilizações do Leste Asiático.

O fim como a motivação para o melhor O pai da escola niten-ichi, como todo bom samurai, sabia encarar a morte segundo os preceitos do zen-budismo: com serenidade, racionalidade e ciente de que cada dia pode ser o último. O bushido revela em seus primeiros preceitos essa compreensão: “um samurai deve antes de tudo ter sempre em mente, dia e noite, o fato de que um dia irá morrer”, escreagosto/setembro 2012

veu Daidoji Yuzan, estrategista e militar do século XVII. Essa disposição para a morte, no entanto, não era vista como uma desculpa para uma vida dissoluta. A partir dessa perspectiva, o samurai exerceria seu dever com disciplina, sem procrastinar suas obrigações, vivendo com moderação; ironicamente esse era visto como o segredo para uma longa e frutífera vida. “A civilização japonesa está de tal modo vinculada ao caminho do guerreiro que certos hábitos e mentalidade dessa postura permanecem entranhados nas camadas mais profundas do inconsciente individual e coletivo dessa nação”, afirma Cleary. Marcelo Miyashita, consultor de marketing brasileiro, resgatou as raízes, o símbolo e os princípios da família para nortear os negócios. “Quando eu resolvi empreender e ser o responsável pelas minhas decisões, resolvi não só adotar o nome da minha família, como também o brasão, que está

presente em todas as peças de comunicação. Isso serve para mim como um lembrete de quem eu represento: a minha família”, explica o consultor. Esse resgate não se dá por acaso ou por capricho do empresário, mas por valores mais profundos: um profissional, por mais alto que ele vá na carreira, ou por maiores que sejam as suas realizações, deve isso a quem trabalhou antes dele. “Nos negócios isso fez sempre com que eu tomasse muito cuidado com minhas decisões, porque elas impactam na reputação e na imagem de quem eu represento”, diz.

O toyotismo: cortando o inimigo A busca pela excelência não poderia deixar de ser a marca de um dos principais modelos de produção industrial do século 20, o toyotismo. A Toyota Motors hoje é a maior fabricantes de veículos do mundo. No primeiro quadrimestre de 2012,


segundo um estudo da Jato Dynamics, a empresa foi a líder do segmento em produção. Foram fabricados 2.133.851 veículos no mundo, um aumento de 25,4% em relação ao mesmo período de 2011. A Toyota foi a principal responsável pelo modelo de produção que leva o seu nome, que se desenvolveu sobretudo após a Segunda Guerra Mundial. Em um país arrasado, com baixa demanda e recursos escassos, a implantação de um padrão baseado no taylorismo-fordismo dificilmente daria certo, o que não impediu a tentativa. “Nos cinco primeiros anos do pós-guerra voltamos nossos esforços para elevar a eficiência de todas as maneiras possíveis. Aumentamos a produtividade em cinco ou seis vezes e nos posicionamos para produzir mil caminhões ao mês. Infelizmente não conseguimos vender todos e acabamos ficando com uma pilha de veículos encalhados”, relatou Taiichi Ohno, em uma conversa com os repórteres Takahiro Fujimoto e Koichi Shimokawa em 1984. “A crise no pós-guerra nos ensinou que a mera

elevação da produtividade não era uma cura universal para todos os problemas da empresa. Descobrimos a importância de aumentar a produtividade e reduzir os custos ao mesmo tempo”, disse Ohno, um dos idealizadores do modelo. A estratégia sucinta – produtividade na medida da demanda com máxima redução dos custos – pode ser comparada com o modelo de combate proposto por Musashi: sem movimentos desnecessários com a espada e sem demonstrações infrutíferas de habilidade, com o foco apenas em cortar o inimigo. “Vibrar com rapidez a espada longa, tentando executar meneios e floreios, pode resultar em dificuldades”, ensina o espadachim. Pelo jeito, Ohno e Kiichiro Toyoda aprenderam bem a lição.

O florescer de uma filosofia japonesa A abertura do Japão para o ocidente durante a Era Meiji expôs fraturas significativas do país em diversas áreas, tais como militar, tecnológica, política e científica. Como a abertura era

inevitável, restava aos japoneses frear o tsunami cultural que poderia erradicar a identidade nipônica. Todo esse clima pode ser resumido na citação clássica do político e estudioso da época Sakuma Shozan: “técnicas ocidentais, moral oriental”. Nesse panorama, o filósofo Kitaro Nishida desenvolveu o ba, concepção filosófica voltada para ambientes de conhecimento compartilhado. A principal premissa é que a harmonia é essencial em quaisquer ambientes (físico ou social). Em 1998, os professores de Harvard Ikujiro Nonaka e Noboru Konno propuseram, no periódico California Management Review, a aplicação ampla do ba no ambiente organizacional. No Brasil, essa filosofia foi adotada pela consultoria Ba Stockler, fundada há aproximadamente quatro anos pelo professor e consultor Luís Henrique Stockler. Ele explica que “percebia que quando chegava no meio ou no final do projeto, o ambiente, a proximidade entre o contratante e o contratado não era de intimidade. Eles não interagiam, não entravam na cultura do negócio. Esagosto/setembro 2012

tudando o conhecimento, como ele se cria e se multiplica, me deparei com o conceito do ba”. A teoria foi utilizada como fundamento para a abertura e desenvolvimento da Ba Stockler. Para o empresário, a estratégia faz a diferença não apenas nos resultados, mas no relacionamento estabelecido junto aos clientes. “As empresas hoje não querem contratar um planejamento, e sim alguém que pegue uma equipe e incorpore ao novo projeto”, conta Stockler. No final, o que vai fazer a diferença não é simplesmente a adoção de um ou outro fundamento estratégico oriundo da Ásia para a empresa – alguns valores, como a ética e a compostura, são compartilhados entre diversas culturas. O que realmente ajuda a atingir a excelência é o engajamento de toda a organização em torno de valores comuns e a sua transmissão para os clientes, stakeholders e fornecedores. Se tais valores estão de acordo com o tipo de serviço ofertado e com o papel da companhia na sociedade, então você certamente está no rumo certo: o caminho do empresário. administradores.com

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Conhecer apenas o idioma de uma cultura é como ir a um país diferente e visitar somente o aeroporto.

O Berlitz é muito mais do que apenas uma escola de idiomas. É uma instituição de educação global que, ao longo dos seus mais de 130 anos, vem se aprimorando para formar gestores globais. Em todos os lugares do mundo em que está presente, o Berlitz disponibiliza aos seus clientes mais de 40 idiomas e tudo o que é necessário para atuar neste contexto globalizado. Experimente o Berlitz você também e seja alguém preparado aqui e em qualquer outro lugar. Acesse www.berlitz.com.br ou ligue 0800 70 39 555.


QUIZ você se comporta de maneira correta no ambiente de trabalho? imagem

thinkstock

G

ostando ou não, é no ambiente de trabalho que a maioria dos profissionais

RESULTADOS

5

passa a maior parte de sua rotina diária.

SIM {Some 2 PONTOS}

No entanto, muitos não se adaptam bem ao estilo

NÃO {Some 1 PONTO}

da empresa e à forma que ela é conduzida. Isso pode provocar reações adversas e comportamentos indesejados, principalmente por encontrarmos

Trabalho bem em equipe e acredito que todo resultado é melhor quando sabemos agir em grupo.

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diferentes perfis de pessoas nesse espaço. E você,

Quando me sinto desmotivado, disparo currículos pela internet e fico só aguardando as ofertas.

SIM {Some 1 PONTO}

como se comporta no seu ambiente profissional?

NÃO {Some 2 PONTOS}

1

2

3

4

Meu trabalho é extensão da minha casa, portanto, divido os problemas pessoais com os colegas.

7

Meu desempenho é muito melhor quando concordo com a missão e os valores da empresa na qual trabalho.

SIM {Some 1 PONTO}

SIM {Some 2 PONTOS}

NÃO {Some 2 PONTOS}

NÃO {Some 1 PONTO}

Promoção tem prazo certo para acontecer. Quando percebo que meu crescimento está demorando, mudo de emprego.

8

Quando a empresa resolve fazer algum evento de confraternização, dou uma desculpa qualquer e não participo.

SIM {Some 1 PONTO}

SIM {Some 1 PONTO}

NÃO {Some 2 PONTOS}

NÃO {Some 2 PONTOS}

Caso meu chefe me passe uma tarefa que não tenha entendido ou não saiba executá-la, procuro conversar a respeito para atingir o melhor resultado.

9

Colaboro com as ações socioambientais da empresa. Afinal, faço parte do grupo e devo zelar pela coletividade.

SIM {Some 2 PONTOS}

SIM {Some 2 PONTOS}

NÃO {Some 1 PONTO}

NÃO {Some 1 PONTO}

Durante reuniões, procuro só ouvir e concordar. Afinal, manda quem pode e obedece quem tem juízo.

10

Mantenho boa distância do meu chefe para não criar intimidade. Amizade no trabalho só atrapalha.

SIM {Some 1 PONTO}

SIM {Some 1 PONTO}

NÃO {Some 2 PONTOS}

NÃO {Some 2 PONTOS}

{Teste elaborado pelo portal Finanças Práticas, que faz parte da estratégia de responsabilidade social corporativa da Visa International - www.financaspraticas.com.br }

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Até 14 pontos É melhor você rever alguns conceitos, para que compreenda seu verdadeiro papel no ambiente de trabalho e valorize mais a equipe, bem como a cultura da empresa. Questione-se: sente-se motivado e valorizado? Você tem feito a sua parte? Quem sabe uma mudança de tarefas ou mesmo de departamento não resolva o problema? Não seja radical nem imediatista. Pense a respeito e aja com equilíbrio.

15 a 17 pontos Você está no caminho certo, mas pode melhorar ainda mais. Que tal pensar um pouco mais na coletividade e caprichar no seu papel como profissional? Saber trabalhar em grupo é um grande diferencial no mundo corporativo. Por melhor que seja o profissional, ele precisa saber se comportar em equipe, mostrando-se envolvido e pronto para respeitar as diferenças.

18 a 20 pontos Continue assim! Você certamente crescerá muito profissionalmente, por respeitar o ambiente de trabalho, valorizar a empresa e a equipe, além de se sentir bastante motivado por isso. Lembre-se sempre que uma relação de respeito, admiração e parceria, sem dúvida, encurta grandes distâncias quando se trata de crescimento profissional. Sucesso!! administradores.com

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JORNALISMO GONZO | HORA DA VENDA

Ei, olha pra mim! por simão mairins

Será que o atendimento dos vendedores é diferente entre pessoas bem vestidas e aquelas nem tanto? Fomos atrás de descobrir isso e fizemos uma verdadeira jornada no mundo das vendas.

S

exta-feira, passava das 18h. O rush já começava a se formar nas avenidas e o estacionamento do maior shopping da cidade já estava engarrafado com a busca por uma vaga. Depois de circularmos um pouco e esperarmos bastante numa fila de indecisos que não sabiam se iam ao subsolo ou subiam ao primeiro andar do edifício garagem, finalmente encontramos um lugar para estacionar. Era o extremo do pátio, bem em frente ao portão que dá acesso

à favela que fica lá por trás. Para a maioria dos que ali passavam, aquele lugar era uma espécie de Faixa de Gaza. Para nós, perfeito.

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Já devidamente paramentado com a velha camisa (uns seis anos de uso, no mínimo!) que comprei em um supercombo daqueles “leve três por R$ 12,00”, um short que quase morreu afogado na água sanitária na minha mal sucedida tentativa de ser um solteiro competente na lavanderia, um par de havaianas pretas milimetricamente sujas de terra, um boné desbotado e a barba por fazer, desci do carro e simulei uma entrada triunfal a pé pela porta dos fundos. Mas foi só para entrar no espírito. O teatro de verdade tinha que funcionar lá dentro. Já tomando distância do meu editor, Fábio Bandeira de Mello, que me acompanhou até avistarmos as primeiras vitrines, comecei a estudar o ambiente e ver mais ou menos por onde começar, seguindo na medida do possível o roteiro previamente elaborado. A ideia ali era entrar em lojas de diferentes segmentos e níveis, e ver, de fato, como um cara simples seria atendido em cada uma. Como o shopping é, do ponto de vista da oferta, relativamente democrático (com lojas bem caras e outras mais acessíveis), sabia que seria possível traçar alguns paralelos. Com isso em mente, fui lá. No térreo, tradicionalmente, estão as lojas mais populares. A primeira em que parei foi uma de calçados. Mas, se o objetivo era ser maltratado para ter uma história interessante para contar aqui, não deu certo. Mal parei na vitrine e já veio um vendedor me dando boa noite. Como vi que ali me tratariam bem, acabei não demorando muito. Mas, antes de sair, deu tempo ainda de outro atendente se aproximar e, simpaticamente, dizer que, caso eu precisasse de alguma coisa, poderia chamar. Quase em farrapos como eu estava, cheguei a acreditar que

os seguranças poderiam me tratar, no mínimo, como um suspeito. Foi então que resolvi pedir informação a um deles. Caprichando nas gírias e no “sotaque malandrês”, perguntei a um deles onde ficava o banheiro mais próximo. E aí o indivíduo teve a petulância de, também muito educadamente, perder uns segundos de seu tempo me explicando detalhadamente como chegar ao toilette. Agradeci, abaixei a cabeça e sai.

Próximo andar Com todo mundo me tratando bem naquela área, peguei a primeira escada rolante e decidi passar logo para o nível 2 da ação: as lojas intermediárias. Caí em cheio na entrada da filial de uma grande rede de móveis e eletrodomésticos. Cresci logo os olhos para uma TV LED 3D que chamava atenção na entrada da loja. Parei em frente a ela e comecei a ler os detalhes. No momento, havia uns dois vendedores atendendo outros clientes e, por alguns minutos, fiquei sozinho. Mas logo que ficou livre, um dos atendentes veio até mim, falando sobre o produto, dando detalhes sobre a tecnologia e já adiantando as incontáveis formas facilitadas de pagamento que eu poderia ter. Foi aí que comecei a desconfiar dessa história de preconceito. Principalmente agora, com a economia brasileira bombando. A turma já tomou consciência de que a classe C – e até a D – está endinheirada, ou pelo menos com crédito suficiente para ir às compras. “Não dá mais para tratar ninguém mal simplesmente por achar que não vai sair dali uma venda, porque todo mundo agora pode comprar”, pensei. Mesmo cada vez mais descrente na possibilidade de encontrar boas histórias para a pauta, dei sequência à cami-

nhada e resolvi parar numa loja de ternos, mas já com a certeza de que o cara ia pensar: “olha lá que oportunidade: a classe C não quer só TV de LED, quer andar na beca, bem elegante”. Então, parei. Olhei. Caminhei em frente à vitrine. Entre os manequins, vi que uns cinco vendedores conversavam lá dentro. Suspeitei até que um tivesse me visto. Mas, para tirar a prova, decidi entrar. Entrei, olhei, esperei. Opa! Ali a coisa começou a mudar de figura. Dos cinco desocupados que jogavam conversa fora lá nos fundos da loja, um deles só se dignou a vir me atender quando comecei a desarrumar as camisas empilhadas em um dos armários internos. Mesmo assim, ele desistiu no meio do caminho, quando um desenvolto usuário de camisas Lacoste entrou na loja e seguiu em direção ao lado contrário de onde eu estava. Aquele primeiro desprezo me animou e aí fui com tudo para o teste da praça de alimentação. Quase sempre que alguém passa em frente aos restaurantes e lanchonetes, é comum as atendentes exibirem o cardápio e convidarem a conhecer as ofertas. Então, para mostrar com bastante ênfase que queria comer alguma coisa, passei lentamente por toda a circunferência do ambiente, olhando para todos os menus afixados nas paredes. Em alguns casos, me atrevi até a olhar nos olhos de uma vendedora. E nada. Quase no fim, ao me ver com ar de humilhado depois de ter sido preterido por uma garçonete, que me deu as costas para oferecer todo o brilho dos seus olhos a um casal aparentemente mais bem abastado, a funcionária de uma cozinha pegou um cardápio no balcão e disse: “pode olhar, moço”.

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O relógio de R$ 3 mil Definitivamente, a coisa começava a mudar de figura. Segui, então, com toda a estranha felicidade de estar sendo mal atendido, para uma loja de relógios. E foi aí que o bicho pegou. Assim como nos estabelecimentos anteriores, fui completamente ignorado. Havia três vendedoras conversando ao lado de um balcão, mas todo esforço que fizeram foi o de não me deixar perceber que haviam me notado. Para fazer com que elas mesmas se denunciassem, resolvi me fazer uma vergonha: olhei para o preço de uma peça e esbravejei: “Três mil conto? Tá doido! Lá no centro acho um igualzinho por 10 reais”. O trio não aguentou e soltou aquela risada, me fitando com olhares que dispensavam qualquer palavra. Com o rabo entre as pernas, saí cabisbaixo, saltitando de alegria por dentro. Minha matéria estava salva. Pouco mais à frente, vi logo as duas mais caras lojas de roupas de todo o shopping. A vinte metros, já senti que ali estavam escondidas boas histórias. E não deu outra. Dessa vez, nem me dei ao trabalho de fazer o teste da vitrine e entrei logo. Já na primeira, fui mais uma vez ignorado e, por persistir na presença, comecei a assustar a pobre moça do caixa, que logo chamou o único vendedor homem presente naquele momento e lhe disse algumas coisas no ouvido, sem me perder de vista. O homem, então, se dirigiu aos fundos da loja e eu saí, já começando a temer uma aproximação de seguranças (o que estragaria meu trabalho no melhor da festa). Nesse momento, decidi, estrategicamente, mudar de piso. Foi então que cheguei ao setor de serviços, no último andar. Lá, entrei na faculdade, onde fui pedir informações sobre curadministradores.com

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JORNALISMO GONZO | HORA DA VENDA

sos: “dona, eu queria saber aí se vocês têm uns curso técnico, profissionalizante. É que eu tô desempregado e queria ver se eu aprendia uma profissão”. E ela, fazendo uso de toda a estupidez que tinha em si, me respondeu, apontando para o lado oposto: “sei não. Vá perguntar lá dentro”. Fui. Mas não havia ninguém por lá. Vi, entretanto, por um vidro, que por trás da mulher que me atendeu, uma moça e um senhor com crachás estavam conversando. Apesar de tentar atrair seus olhares para perguntar sobre o tal curso, não tive sucesso. Já com material suficiente e temendo um baculejo dos seguranças, pois provavelmente eles já haviam sido avisados pelo pessoal da loja de roupas sobre minha presença estranha, decidi ir embora. Só que as coisas não acabaram por aí. Fiquei curioso para saber uma coisa: como toda essa gente com quem lidei nesse dia me trataria se eu estivesse de terno e gravata?

Sete dias depois Sexta-feira, passava das 18h. Uma semana depois de passear com minha camisa surrada, o short manchado e o boné desbotado, entrei triunfante (neste momento usufrua da sua capacidade de imaginar em câmera lenta), todo na beca, pela porta da frente Passo a passo, refiz todo o roteiro de uma semana atrás e o resultado foi, no mínimo, engraçado. Na loja de calçados, me atenderam da mesma forma nos dois dias. Parabéns para esses vendedores. Dei o maior valor. Na filial da rede de eletrodomésticos, entretanto, aconteceu algo inusitado: fui melhor tratado quando cheguei arrastando o chinelo. Não sei se simplesmente dei o azar de pegar um mau vendedor na segunda vez. Mas 50

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sai de lá com a suspeita de que os juros do crediário pagos pelo “eu mais pobre” poderiam ser mais interessantes que a compra à vista do “eu mais rico”. Como iria jantar por lá mesmo, mudei o roteiro e deixei a praça de alimentação para o fim. Passei, então, pela loja de ternos, onde rapidamente fui atendido. Mas foi lá onde percebi o primeiro indício de um fato que viria a comprovar mais tarde: independente da roupa do cliente, alguns vendedores atendem realmente mal. Nesse caso, por

um presente encantador e que mulher nenhuma resistira aos lindos detalhes feitos com pedras preciosas. Já contente com a cena, não perdi muito tempo. Agradeci o atendimento e, para não sair com a impressão de que entrei só para olhar, pedi um cartãozinho, perguntei o nome e prometi que voltaria para comprar (ledo engano). Repeti o mesmo modus operandi em todos os estabelecimentos seguintes. Na loja de roupas em que levantei suspeitas na primeira vez, fui recebido

“como um rei chegando a uma festa em seu reino, fui cortejado por praticamente todos que trabalhavam ali” exemplo, disse que queria uma camisa de uma cor que não tinha lá. A moça me respondeu dizendo apenas que infelizmente não tinha, sem fazer nenhum esforço para me mostrar que poderiam existir outras opções.

De volta aos relógios Na sequência, voltei à loja de relógios. Confesso que estava ansioso para esse momento. E foi um dos mais excitantes, de fato. Coloquei o primeiro pé na loja e a vendedora que mais havia zombado de mim na semana anterior me abriu um sorriso imenso: “Olá, boa noite! Posso ajudar?”. Sem nenhum ressentimento pelo ocorrido do último encontro, pedi para ver um relógio feminino para presentear minha namorada. Ela logo se apressou em abrir a vitrine, de onde tirou uma peça que, segundo ela, era uma das mais caras da loja, mas que valeria a pena. Disse que seria agosto/setembro 2012

como um velho amigo da família. A moça do caixa chamou novamente o único vendedor homem presente no momento. Mas dessa vez não se preocupou em falar baixo: “fulano, por favor, atenda aquele senhor que acaba de entrar”. Nessa hora, juro, quase comecei a rir. E então aproveitei a oportunidade para pôr em prática uma pequena vingança. Pedi para ver quase todas as camisas visíveis na vitrine e ainda boa parte das que estavam bem dobradas nas prateleiras internas. Depois disse: “obrigado. Queria só dar uma olhada mesmo. Até logo”.

Agora quero um MBA! Já feliz da vida, segui rumo ao destino final. Novamente, entrei na faculdade e me dirigi à moça da recepção. Dessa vez, não era a mesma pessoa. Cumprindo a formalidade, pedi informações sobre MBAs e, depois de demonstrar um certo despreparo

para a função, a recepcionista apontou a moça da sala ao lado, aquela que uma semana antes havia visto pelo vidro. Naquele instante, lá de dentro, ela já me olhava atentamente. Nos entreolhamos e ela me chamou. Na hora, percebi logo: foi amor à primeira vista (pelo que ela pensava ter no meu bolso ou na minha conta bancária imaginária). Como um cavalheiro, cruzei a porta e fui até sua mesa: “boa noite?”, disse eu. “Olá, boa noite! Tudo bem?”, ela respondeu. Daí para a frente, mandei a mesma conversa. Só que, em vez de cursos técnicos profissionalizantes, pedi sugestões de bons MBAs. Daí ela tirou um monte de panfletos da gaveta com informações sobre diversos cursos. Enquanto eu olhava, já foi logo perguntando meu nome, e-mail e telefone (e eu fiquei imaginando de a próxima pergunta ser: “vai fazer o que hoje à noite?”). Antes de eu decidir por uma opção, o mesmo senhor que estava ao lado dela na primeira vez chegou junto e começou a fazer recomendações, falar sobre formas de pagamento e até mesmo tentar me convencer a fazer duas especializações ao mesmo tempo (mal sabendo eles o quanto o “eu real” está suando para pagar a que está cursando!). Satisfeito, agradeci a gentileza e, como um bom cafajeste, pedi o telefone e prometi ligar. Em seguida, dei as costas e sai por aquela mesma porta de vidro, para nunca mais voltar. Para fechar a noite em grande estilo, voltei à praça de alimentação e, como um rei chegando a uma festa em seu reino, fui cortejado por praticamente todos que trabalhavam ali em frente aos balcões. Depois de percorrer todo o espaço e rejeitar um por um, comi um sanduíche no restaurante mais barato e fui embora.


Como fazer seu marketing pessoal? por agatha justino

| imagem thinkstock

Conheça seus pontos fortes e fracos

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selva do mundo corporativo exige sabedoria e destreza de seus membros. É um ambiente que pode estar repleto de armadilhas, colegas que

são concorrentes e elogios que mascaram farpas. No entanto, ele pode ser também amistoso, onde existe uma convivência sadia, harmônica, em que se respeita o espaço do outro.

Em meio a esses dois cenários, uma coisa é certa: aqueles que mais se destacam geralmente são os capazes de melhor se adaptarem ao trabalho e que executam bem o seu marketing pessoal. Na verdade, a empatia e o jogo de cintura para lidar com ambientes sociais é algo que está em desenvolvimento desde a infância e, com o tempo, deixa de ser uma brincadeira para ajudar em nosso trabalho e crescimento profissional. Para Gabriel Rossi, especialista em marketing pessoal, o profissional deve se organizar na perspectiva do mercado e lembrar que toda propaganda é uma promessa. O marketing só irá funcionar, portanto, se você for um funcionário que cumpre com a imagem transmitida. É preciso conhecer seus colegas, que são o público alvo, no caso. “Marketing pessoal é lembrar que as pessoas falam sobre você quando você vai ao banheiro”, afirma Rossi. O erro mais comum daqueles que querem construir uma marca pessoal é confundir ações de marketing com autopromoção. Carla Furtado, diretora de conteúdo do Marketing 360º, lembra que não há nada mais improdutivo para a imagem que “jogar confete em si mesmo”. Além disso, deve se ter cuidado para não perder a autenticidade. “Espelhar-se demais em outra pessoa pode gerar uma espécie de miopia, perda de foco e uma postura artificial que é facilmente percebida pelo mercado”, alerta a especialista.

Carla aconselha o profissional a adotar ferramentas similares às empresas. Preparar uma matriz SWOT – oportunidades e ameaças, que detalha pontos fortes e fracos individualmente. A partir dessa matriz, pode-se traçar um plano estratégico. “Não é possível promover um produto deficiente. Da mesma forma, é necessário que a pessoa esteja em sua melhor condição, que seja realmente competente e competitiva.”

Cuidado com os rastros digitais Utilize a internet e as redes sociais como aliadas e não permita que o seu comportamento no mundo virtual comprometa a sua reputação. Tudo que você escreve, cada foto e comentário publicado, fica registrado como uma biografia digital, portanto, é preciso ter cuidado com a maneira com que você se comporta. O que acontece em Vegas não fica mais por lá. Com a internet, seus erros podem se espalhar mais rápido do que você imagina. Evite parecer cansado do trabalho no Facebook ou Twitter e reclamar de colegas.

Trabalhe no marketing de fora para dentro Embora a personalidade seja algo que se exprima de dentro para fora, o marketing faz um caminho inverso, e é necessário investir na imagem. Mantenha um guarda-roupa adequado, um aspecto discreto, crie um site profissional e tenha sempre em mãos cartões de visita.

Crie uma rede de contatos A construção de uma rede de relacionamentos, o chamado network, é muito importante. Apesar de todas as tecnologias e facilidade de comunicação pela internet, o contato pessoal ou por telefone não deve ser ignorado. Um simples almoço ou café no meio da tarde pode abrir mais oportunidades do que você imagina. Faça cursos, socialize no happy hour e invista na sua agenda profissional. No entanto, lembre-se: mais importante do que criar uma rede de contatos é mantê-la.

Matenha a autenticidade Gabriel Rossi ressalta a importância da autenticidade. Construir uma imagem não significa elaborar um personagem e sim transparecer a personalidade de um profissional competente, confiável e prestativo. O maior pecado de um funcionário é deixar lacunas entre o que ele diz e o que realmente faz.

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MENTE ABERTA ESCOLHAS

Como ganhar dinheiro na internet por seth godin

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Seth Godin escreveu treze livros que foram traduzidos em mais de trinta línguas. Cada um tem sido bestseller. Ele escreve sobre a revolução pós-industrial, a forma como difundir ideias, marketing, parar de fumar, liderança e, acima de tudo, como mudar tudo.

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ilustração thiago castor

O primeiro passo é parar de “Googlar” perguntas do tipo “como enriquecer on line?”. Não que você não deva almejar ganhar dinheiro on-line, mas porque o tipo de coisa que você vai encontrar lá irá lhe ajudar a perder dinheiro on-line. É como perguntar a um dono de cassino como ganhar dinheiro em Vegas. Não pague a ninguém por instruções simples de como atingir esse objetivo. Aliás, não pague a ninguém por aulas de como escrever ou vender manuais ou e-books sobre como ganhar dinheiro na internet.

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Conecte o desconector.

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Lidere.

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Construa um legado on-line que aumente diariamente seu valor.

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Enriqueça off-line. Se você consegue enriquecer cara a cara, será bem mais fácil no mundo digital. A internet não é mágica, é apenas eficiente.

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Enriqueça devagar.

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Foque na fonte mais escassa da internet: atenção. Se você tentar inventar uma forma de transformar uma atenção barata em dinheiro, você vai falhar. A atenção que você deseja não é barata, e é difícil obtê-la via “SEO”. Ao invés disso, descubra como receber uma atenção cara.

Seja o melhor do mundo em algo que as pessoas valorizem. É mais fácil falar que fazer e vale mais do que você imagina. Socialize com pessoas que não estejam procurando por atalhos. Aprenda com elas.

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Fracasse. Fracasse muito e fracasse por nada. Este é o melhor presente que a internet tem dado às pessoas que desejam se aventurar em novos negócios.

Mais que atenção, foque em confiança. Confiança é ainda mais escassa que atenção.

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Ganhe dinheiro em pequenas escalas e depois seja implacável.

Não se preocupe tanto em relação à parte “on-line”. Ao invés disso, descubra como criar valores. A parte on-line se resolverá sozinha.

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Não persiga a mania on-line de ontem.

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Pense alto, aja com intenções e não se atole. Se não está nos seus objetivos, por que você perde seu tempo nisso?

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Aprenda incessantemente. Aprenda a codificar, a escrever com persuasão, a entender as novas tecnologias, traga para sua equipe apenas os melhores, encontre recursos pouco usados e detecte os padrões locais.

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Este não é um jogo em que um perde e o outro ganha. Quanto mais você acrescentar à sua comunidade, melhores serão suas recompensas.

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Não se demita do seu trabalho diário. Comece a trabalhar à noite e nos fins de semana para descobrir pequenos fracassos.

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Construa uma reputação pública. Uma boa, e tenha certeza de que você a merece. Isso ajudará a manter uma imagem positiva.

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Seja obsessivamente especializado. Nenhum nicho é pequeno demais se é seu.

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ARTIGO poderes

O Espetacular (Administrador) Homem-Aranha por leandro vieira

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imagem divulgação

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Leandro Vieira é publisher da revista Administradores e fã assumido do Homemaranha. Leandro curte tanto o super-herói que o escritório do Administradores é todo ambientado com cenas do HQ de Peter Parker. Veja em adm.to/cafofo_adm

o ser picado por uma aranha radioativa, o jovem Peter Parker adquire força e poderes proporcionais aos de um aracnídeo, tornando-se o popular super-herói conhecido como Homem-aranha. Diferente de um Super-homem, a quem praticamente tudo é possível caso não haja uma porção de kryptonita por perto, o Homem-aranha se vale muito mais de sua inteligência e sagacidade do que de seus poderes aracnídeos na hora de enfrentar seus inimigos. Na verdade, entre as porções homem e aranha, a que mais se destaca é a natureza humana do personagem. Sem a máscara, Peter ainda se vira nos 30 para administrar suas vidas acadêmica, profissional e pessoal. E não pense que é fácil.

Um administrador que lança teias Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades. Nosso herói aprendeu muito cedo o significado dessas palavras. Ao abrir mão de impedir a fuga de um assaltante, algo que seria extremamente fácil para alguém com suas habilidades, Peter jamais imaginaria que o mesmo assaltante viria a matar o seu tio Ben, a verdadeira figu-

ra paterna de sua vida. A culpa e o remorso ajudaram a talhar o seu caráter, mas foi a consciência de sua responsabilidade que transformou Peter Parker em um verdadeiro herói. “Se você é bom em algo, fazer o bem é uma obrigação moral”, diria o tio Ben. Quando começamos nossas carreiras em Administração, não fazemos ideia dos poderes que iremos desenvolver. Boa parte das pessoas considera apenas o simples exercício de sua função como o limite de sua responsabilidade. Para o administrador, nunca é assim. Suas decisões implicam em consequências que vão muito além de seus efeitos diretos e visíveis. Elas repercutem no tempo e impactam, positiva ou negativamente, no bem-estar da sociedade. Rosabeth Moss Kanter, professora da Harvard Business School, ilustrou bem essa premissa em um brilhante artigo publicado na Harvard Business Review em 2010: “O simples ato de vender um café, por exemplo, já exige muito mais conhecimento do que como preparar e servir a bebida. Onde foi cultivado o grão? Em que condições de trabalho, com que pesticidas? O copo é de papel reciclado? Quantas árvores foram derrubadas e quanta água foi usada para fabricá-lo? A tampa de plástico solta toxinas? E fecha bem o suficiente para que a bebida não derrame e queime a pessoa?” Trocadilhos à parte, os resultados de nossas escolhas se espalham por uma imensa teia. É a consciência do tamanho de nossa responsabilidade que irá determinar o quão bons poderemos ser, o quão importantes as organizações às quais estamos à frente podem se tornar. O administrador exerce um papel determinante na construção do edifício social. Grandes poderes, grandes responsabilidades. Apesar de ter sido criado por Stan Lee e Steve Ditko há exatos 50 anos, Peter Parker, o Homem-aranha, exerce identificação imediata na juventude de qualquer tempo: ele é o nerd tímido e desajeitado que sofre bullying no colégio, pena para conquistar a primeira namorada, adquire auto-confiança ao descobrir seus poderes e decide fazer a diferença no mundo a partir da noção exata de suas responsabilidades. Um exemplo a ser seguido por todo e qualquer administrador.

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ARTIGO DO LEITOR administração

Tempos modernos, hábitos nem tanto por flavio perazzo

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ilustração thiago castor

Em tempos de conhecimentos “fast food”, questiono: o que temos de novo realmente no campo da Administração? O que estamos construindo?

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Flavio Perazzo é professor do curso de Gestão Pública do Centro de Tecnologia e Desenvolvimento Regional da Universidade Federal da Paraíba. flavioperazzo.com.br

m dos maiores clássicos do cinema foi apresentado por Charlie Chaplin com sua obra prima chamada Tempos

Modernos. No filme, Chaplin interpreta um operário em uma fábrica americana, representando um típico trabalhador “moderno”, capaz de executar movimentos precisos, dentro de um sistema de fabricação “perfeito”. Assistindo à atuação do grande comediante, as cenas se tornam hilárias. Para quem vivenciou ou trabalhou dentro desta sistemática, talvez não tenha sido tão engraçado. Na verdade, o grande mérito do filme é a crítica embutida, referente à sociedade de uma maneira geral, baseada, então, em um mecanicismo da qual parece não ter conseguido mais se libertar. Esse é o retrato da sociedade contemporânea, mesmo com o avanço do que conhecemos como pós-modernismo, muitos de nossos hábitos e ações ainda estão arraigados dentro de um cenário automatizado, que nos prende em uma rotina previsível. Mesmo a tão falada geração Y ainda sofre com a concepção e a herança da transformação da sociedade desde a Revolução Industrial. A padronização continua crescente, poucas organizações apresentam-se inovadoras de fato,

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embora tenhamos um número infinitamente maior em relação àquelas pioneiras do início do século XX, época marcada por um capitalismo monopolista. As técnicas de gestão, de tempos em tempos, se reapresentam sob uma nova roupagem, contribuindo para a manutenção da estrutura que vivenciamos. Os livros acadêmicos de Administração refletem isso, pois ainda estudamos tal qual prescreveu Henri Fayol. Não nego que o mundo mudou, o pós-modernismo nos mostra mudanças no âmbito da sociedade. Novos elementos surgiram, paradigmas são multiplicados e passam a ser aceitos simultaneamente.

Contudo, em tempos de conhecimentos “fast food”, questiono: o que temos de novo realmente no campo da Administração? O que estamos construindo? Nossos hábitos são, de fato, diferentes dos Tempos Modernos de Charlie Chaplin ou apenas acrescentamos novas ferramentas? As máquinas mudaram ou apenas foram adicionadas novas engrenagens? É claro que essa discussão não se encerra nos argumentos apresentados. Há mais questões a serem abordadas, o tema não é tão simples quanto apresentado. O certo é que a reflexão se faz necessária. Paremos para pensar, para que possamos tentar, pelo menos, conduzir um pouco essa máquina à qual fomos submetidos. Afinal, enquanto vivermos os tempos, eles serão sempre modernos, mas os hábitos, necessariamente, não.

Queremos o seu texto publicado na Revista Administradores Cadastre-se em administradores.com e publique artigos em sua conta. Os textos mais interessantes serão selecionados e poderão estar na próxima edição da Administradores.

Este artigo pode ser conferido no Portal Administradores através do link adm.to/temposmodernos


DÚVIDAS | DRUCKER RESPONDE

GRANDES OU PEQUENAS?

IDADE É PROBLEMA?

É melhor trabalhar em uma empresa pequena e assumir um cargo de liderança rapidamente, porém sem muito crescimento, ou trabalhar em uma empresa grande e ir crescendo aos poucos?

Tenho 33 anos e vou me formar em 2014. Gostaria de saber se ainda há tempo para entrar nesta área tão concorrida que é a Administração, destacando que no momento exerço outra profissão, que é a de técnica de análises clínicas.

luiz fernando paiva

alcione nascimento

Se todos os profissionais do mundo pensassem assim, ele seria melhor gerido, você concorda Alcione? Veja bem, sempre há tempo para refazermos as nossas histórias. A construção profissional não está embasada no abandono do conhecimento adquirido, mas pelo acréscimo que fazemos a ele. Você pode estudar Administração e focar na área de Saúde, a gestão hospitalar é complexa e carente de profissionais que a dominam. Saiba que sua maior concorrente é você mesma. O mercado irá receber os profissionais que estejam preparados para assumir os desafios que lhe são designados. EMPRESAS DO FUTURO

Qual o futuro da Administração em seu ponto de vista? Apesar da Administração de pessoas ser tão importante, muitas empresas ainda não investem nela. tiago ferreira

Caro Tiago, Peter Drucker certamente diria que “o futuro repete o passado”, mas as empresas avançaram, assim como as pessoas também. Vivemos a era do conhecimento, como Drucker preveu. Temos avanços por um lado, em grandes corporações que investem nas pessoas e promovem planos de carreira interessantes, mas também há desafios, como as empresas que são mais recentes e lutam pela permanência no mercado (uma realidade comum no Brasil). Este segundo cenário, inclusive, dificulta o investimento nas pessoas tanto pelo equilíbrio financeiro quanto por uma questão de tempo e amadurecimento. Vejo que precisamos estar em constante mudanças e transformações, a exemplo de outros lugares do mundo, como aconteceu na Noruega e no Japão em décadas anteriores.

O que Drucker faria? por raniere rodrigues

Luiz Fernando, entendo que primeiro você deve se perguntar: “O que eu quero para o meu futuro? O que almejo ser? Líder?”. Independentemente de sua resposta, veja que tudo depende do espaço de poder. O líder precisa ser alguém que dialoga, compreende, equilibra e influencia a partir de questões éticas e morais sobre o que é bom e certo, tanto para o negócio quanto para a sociedade. Além disso, deve haver a dedicação. O trabalho sempre irá lhe impor desafios diferentes, seja em uma grande ou pequena empresa. Sua carreira pode ser promissora em ambas as realidades, tudo depende de como você irá aplicar o que aprendeu; isso sim fará a diferença. ESCOLHA

Tire suas dúvidas através da ótica dos pensamentos de Peter Drucker, considerado o pai da Administração moderna. Basta enviar a sua pergunta, curiosidade ou questionamento para revista@administradores.com.br

O responsável pelas respostas é o professor Raniere Rodrigues dos Santos, diretor geral da The Drucker Society of Brazil – Recife, professor de Administração da Universidade Federal de Pernambuco, Coordenador de Extensão na Faculdade dos Guararapes e um dos principais pesquisadores de Peter Drucker no Brasil.

Estou formado em Administração há apenas dois meses, tenho 40 anos e me apaixonei pela área. Estou à procura de emprego e só encontro vagas que pedem experiência comprovada em carteira. O que devo fazer? laudemi oliveira

Laudemi, é natural que as empresas solicitem experiência, mas você precisa focar sua busca. Não recomendo sair atirando para todo lado. Especializar é uma boa opção, o segredo é o foco que você precisa trazer para a sua formação. Busque treinamentos específicos, como um curso de coaching, logística aplicada, auditoria em qualidade ou gestão de projetos, por exemplo. Além disso, você deve continuar tentando. Escolha oportunidades de trabalho específicas e prepare-se para elas. Nada de formular um currículo genérico, igual para todas as empresas. Não se preocupe muito com o cargo, mas analise as possibilidades que ele pode lhe proporcionar. Desejo-lhe sucesso e insista em sua busca.

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ADMINISTRADOR NA HISTÓRIA | brian epstein

Brian Epstein

O verdadeiro líder dos Beatles por simão mairins

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foto divulgação

LINHA DO TEMPO

1934 Responsável pela profissionalização dos Beatles, Brian Epstein foi o grande mediador de conflitos na banda, o que garantiu a unidade do grupo.

E

Nasce Brian Epstein

Ele nunca apareceu em capas de discos, não compôs refrãos famosos nem arrancou gritos e suspiros de fãs ensandecidas. Sem

Brian Epstein, entretanto, talvez você jamais tivesse ouvido falar em John Lennon e “iê, iê, iê” continuaria sendo uma simples expressão sem sentido. Empresário que internacionalizou a marca Beatles, o britânico profissionalizou e construiu a imagem engomadinha dos quatro garotos de Liverpool. Epstein nasceu em 19 de setembro de 1934, lá mesmo em Liverpool, e começou a ganhar a vida trabalhando em uma loja de discos. Foi em um dia de trabalho nesse primeiro emprego, inclusive, que ele se interessou pelos Beatles. Certo dia, um jovem chegou perguntando se havia algum disco da banda para vender, mas ninguém lá sequer havia ouvido falar no grupo. Curioso, Epstein anotou o nome e foi procurar informações. Logo descobriu que se tratava de um conjunto que estava fazendo um razoável sucesso tocando em bailes na região. Já atuando como empresário, Epstein procurou e se uniu aos Beatles em 1961, quando conseguiu para a banda um teste em Londres, na gravadora Decca, selo de alguns dos artistas mais famosos da época. Os garotos foram recusados (feito do qual a gravadora se arrependeu amargamente um pouco mais tarde). Mesmo assim, assinaram com o ex-vendedor de discos, que se tornou o administrador oficial da banda em 1962. Estratégico, Brian Epstein conseguiu que John, Paul, George e Ringo deixassem de lado as jaquetas de couro, proibiu o jeans e convenceu os garotos a usar suéteres nos shows (que, 56

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Epstein conhece os Beatles

Os artistas geridos por Epstein ocupam 85 posições no TOP 100 britânico

Morre Brian Epstein

1961

1963

1967

1962

1964

Os Beatles aparecem na TV pela primeira vez

Os Beatles conquistam os EUA

posteriormente, deram lugar aos ternos). Epstein vetou também o uso de drogas durante e antes das apresentações. “Acho que os tornei mais profissionais. Os Beatles são muito inteligentes, sagazes, mas não eram requintados. Trouxe isso para eles: elegância, habilidade organizacional e dinheiro”, disse o empresário em uma entrevista à revista Veja, em fevereiro de 1964. Com a imagem de bons moços feita, veio o passo mais largo: ganhar a América. Epstein investiu pesado na divulgação dos garotos nos EUA, fazendo propaganda em cidades estratégicas. As canções logo caíram no gosto do público no lado de cá do Atlântico e meteoricamente os Beatles se tornaram um fenômeno mundial. Com o sucesso, surgiram também as desavenças e as disputas de egos entre os músicos. Mas com uma capacidade de liderança indiscutível, Epstein sempre

1970 Os Beatles anunciam o fim da banda

mediou os conflitos e conseguiu manter a estabilidade da banda durante anos. O empresário, no entanto, embarcou de forma tão intensa na pandemia beatlemaníaca que acabou sendo vítima dela. Para conseguir encarar a maratona de shows e se manter acordado, começou a usar anfetaminas. Com o tempo, tornou-se dependente e passou a sofrer cada vez mais com a falta de sono. Em 1967, aos 32 anos, foi encontrado morto. O laudo apontou overdose de carbitol, medicamento utilizado justamente para combater a insônia. Sua partida prematura é apontada como um dos principais motivos para o fim da banda. Sem ele, as brigas internas ficaram mais intensas e as relações com os empresários seguintes não foram nada saudáveis. Em 1970, finalmente, os já não mais tão garotos de Liverpool anunciaram o fim da banda.


Administrador

do futuro por fábio bandeira de mello

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foto acervo pessoal

mundo jovem Conheça algumas ações pertinentes das empresas juniores espalhadas pelo Brasil

Empreendedores sociais

pietro franzero

A Projetos Consultoria Integrada, do Centro Universitário de Brasília (UniCEUB), elaborou o planejamento da reforma do presídio feminino do Gama. O convênio assinado com a Secretaria de Segurança Pública (SSP/

Com apenas 18 anos e cursando o 3º período de Administração da Fundação Getúlio Vargas, Pietro Franzero já mostra desenvoltura quando o assunto é iniciativa. O aluno participa ativamente do Gazeta Vargas (revista universitária), já foi residente de pesquisa no GVcev (Centro de Excelência em Varejo da GV) e é um dos organizadores do GVG – a associação estudantil pela diversidade sexual da FGV. Além disso, em 2011, esteve na equipe que ganhou o desafio Procter & Gamble, competição de universitários com instituições de todo o Brasil. “Pietro é questionador, trabalha duro para obter seus resultados, é diligente para obter a colaboração daqueles que são importantes para os seus objetivos”, ratifica a professora Eliane Pereira Zamith, que ainda complementa: “ele tem capacidade acima da média para comunicação escrita e oral e é bastante auto-motivado.

DF) foi para a reforma dos blocos 4 e 5 da penitenciária. Os responsáveis pela reforma do presídio entraram em contato com a empresa júnior e conseguiram baixar muito o preço total do projeto com uma ideia diferente: usar presidiários de outro prédio na reforma. E, com apoio total da pró-reitoria da universidade, os membros do núcleo de engenharia civil da Projetos Consultoria Integrada colocaram a mão na massa. Em tempo recorde foram feitos os serviços: planta baixa, cortes, 3D, vigamento e locação de pilares. O sucesso do projeto rendeu dois prêmios bastante significativos: o Cidadania Sem Fronteiras e o Prêmio Nacional de Gestão Educacional (PNGE).

Visibilidade com iniciativa A Ayra Consultoria, Empresa Júnior de Gestão de Negócios na Universidade Federal do Rio de Janeiro, aplicou o conceito de “em-

Como anda o projeto da associação estudantil pela diversidade sexual?

Qual foi o maior aprendizado no desafio Procter & Gamble?

O GVG anda bem. Tem sido de enorme gratificação observar o relacionamento amistoso que nossos membros estão desenvolvendo (o networking é realmente incrível). Tem sido muito motivador ouvir também os agradecimentos e os depoimentos dos membros comparando a situação anterior com a atual. Durante esse semestre realizamos alguns eventos de integração e pretendemos trazer, em breve, um circuito de palestras pertinentes ao tema da diversidade para a FGV.

Seria difícil eleger um “maior” aprendizado no MegaCase P&G. Como semi-calouro realizando um projeto com estudantes do 6º e 8º períodos, foi uma experiência muito enriquecedora. Contudo, acredito que meu maior aprendizado tenha sido o de comprometimento com a equipe – é uma questão não só de confiar no trabalho dos outros membros, mas também de se cobrar mutuamente, de incentivar a persistência e a excelência, e, não menos importante, de comemorar cada pequena conquista.

presa aberta” com a disponibilização de modelos da documentação interna do Movimento Empresa Júnior para que todos possam ter acesso, a fim de auxiliar e desenvolver outras empresas que estejam passando por situações semelhantes. Depois de selecionar os melhores documentos da EJ, estruturar a página de cada diretoria na web e pensar na divulgação, a empresa elaborou um vídeo explicativo, que seria exibido no final dos eventos do Movimento com as principais diretrizes da “empresa aberta”. O projeto teve uma excelente aceitação, o que resultou em um aumento de mais de 234% nas visualizações do site, comparado aos meses anteriores.

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ambiente interno por simão mairins

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imagens divulgação e thinkstock

ranking

os sete mais ricos que passaram dos 90 anos de idade Karl Albrecht 92 anos alemanha 25,4 bilhões* Anne Cox Chambers 92 anos EUA 12, 5 bilhões Sulaiman Al Rajhi 92 anos Arábia Saudita 5,4 bilhões Karl Wlaschek 94 anos Áustria 4,7 bilhões Aloysio de Andrade Faria 91 anos brasil 4,3 bilhões Kirk Kerkorian 95 anos eua 3,3 bilhões David Rockefeller 97 anos eua 2, 5 bilhões *O ranking de bilionários é feito pela Forbes. O valor está em dólar.

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logística

Abralog traça perfil dos profissionais que atuam na área de logística A Associação Brasileira de Logística (Abralog), em parceria com as instituições de ensino Fatec, Fundação Vanzolini, Senai e Universidade Cruzeiro do Sul, está realizando um mapeamento dos profissionais da área no Brasil. Os resultados serão apresentados na XVI Conferência Nacional de Logística, nos dias 3 e 4 de outubro de 2012, e deverão servir como base para a criação de programas de educação, cursos e eventos voltados para quem atua no segmento.

TI

KPMG cria grupo que vai desenvolver soluções de TI para gestão tributária Com objetivo de atender às necessidades das companhias na gestão de suas obrigações tributárias, a consultoria internacional KPMG criou o TTG – Tax Technology Group. O grupo é formado por especialistas das áreas tributária e tecnológica e terá sob sua responsabilidade o KTAX, um conjunto de soluções tecnológicas capaz de realizar revisões fiscais sobre arquivos magnéticos, de modo a assegurar consistência na entrega ao Fisco.

Mesmo esperando efeitos da crise, CEOs vão aumentar investimentos em TI Uma pesquisa realizada pelo Gartner em mais de 25 países ouviu 220 presidentes de empresas com faturamento superior a US$ 500 milhões. Os resultados apontam que 85% dos executivos acreditam que as companhias serão impactadas pela crise econômica em 2012. Ao mesmo tempo, o levantamento revela que mais de 50% dos CEOs aumentarão os investimentos em TI neste ano, em vez de cortá-los. agosto/setembro 2012


MERCADO

Estudo aponta principais tendências que irão impactar setor de seguros até 2020 O meio ambiente, o crescimento demográfico, a tecnologia e os valores ético-sociais foram apontados como as quatro megatendências que vão ter um grande impacto sobre as seguradoras e suas estratégias até 2020. Fatores como o aumento da expectativa de vida da população mundial e o crescimento vertiginoso do uso de mídias sociais poderão criar uma série de oportunidades para o segmento, mas também ameaças. A informação é do relatório feito pela KPMG internacional chamado Seguradoras inteligentes: criando valor de oportunidades em um mundo em constante mudança.

NOVO PLAYER

Palo Alto Networks abre escritório no Brasil A empresa norte-americana Palo Alto Networks, especializada em segurança de rede e desenvolvedora de soluções em Firewall de Próxima Geração (Next Generation Firewall) está chegando ao Brasil. Com escritório em São Paulo, o objetivo é se aproximar das demandas dos países da América do Sul. Arthur Capella foi nomeado country manager para o Brasil e será responsável pela implementação e execução das operações.

Empresa do Peru quer superar Avon e Natura no mercado de cosméticos brasileiro A empresa peruana de cosméticos Belcorp começou suas operações no Brasil apenas no final de abril deste ano, mas já tem grandes planos para o país. Até 2015, deve investir US$ 200 milhões na construção de uma fábrica e espera que, em três anos, seu faturamento no mercado brasileiro chegue a R$ 450 milhões, tornando-o um dos nichos mais importantes para seus resultados globais.

recursos humanos

Brasil é o terceiro país no ranking* de home office CHINA SINGAPURA

finanças

Pesquisadores criam “sismógrafo financeiro” Uma equipe israelo-alemã desenvolveu um mecanismo capaz de detectar os sintomas iniciais de uma crise global. Misturando física moderna com teorias econômicas contemporâneas, a equipe garante ter forjado uma ferramenta apta a prever quando um furacão financeiro está se formando no horizonte. O mecanismo, uma espécie de “sismógrafo financeiro”, é construído com base numa nova compreensão dos princípios do moderno campo de sistemas biológicos complexos, cada vez mais popular da física.

BRASIL

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47%

AUSTRÁLIA

45%

BÉLGICA

44%

LUXEMBURGO

44%

REINO UNIDO

44%

HOLANDA CHILE SUÍÇA

43% 42%

38%

*Pesquisa da Robert Half que ouviu 1.876 diretores de RH em 16 países

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FORA dO QUADRADO Utensílios diferentes para o quarto, o banheiro, a sala, o jardim e até para levar ao trabalho ou à universidade. Veja o que empresas estão criando de diferente por aí. por eber freitas e fábio bandeira de mello

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fotos divulgação

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1 Cobertor dos sonhos Já pensou em assistir a um bom filme debaixo do cobertor sem ter de tirar as mãos para comer pipoca, trocar o canal de televisão, tomar uma bebida quente ou ler um livro? É a partir desta ideia que surgiu o Cobertor com Mangas. A novidade é leve, oferece toque macio, é antialérgico e ainda resiste a chamas. O produto é vendido entre R$ 79 a R$ 95 e pode ser encontrado no site wacwac.com.br

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O cofre 6 inimigo da economia

Papel 2 higiênico em dólar Se você quer se sentir um milionário, ao menos em algum momento, uma boa saída pode ser adquirir esse utensílio bem higiênico. Com desenhos de notas de 100 dólares, será um verdadeiro luxo a hora que você utilizar o banheiro.E não precisa ser rico para comprá-lo. Ele está sendo vendido por R$ 27,93 no site Coisas Geniais: adm.to/ papel_dolar

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Sabonete 5 de sangue Capa sorri3 dente para iPhone Que tal adicionar mais uma função para o seu iPhone? Além de todos os aplicativos legais, ele também pode ser uma pequena carteira. Com essa capa de silicone que simula um sorriso, é possível encaixar cartões, pequenos papéis, cédulas e outras bobagens. Na amazon.com é possível encontrá-la por $4,99

encarando 4 o frio like a knight Para quem já sonhou em ser um cavaleiro de justas medieval e todo dia passa frio no ar condicionado da empresa, esse é o invento ideal. O estilista Chadwick Dillon criou um casaco com capuz integrado que simula uma armadura saída de contos quixotescos. Só falta lançarem uma versão ninja dessa capa.

Imagine você chegar a um ambiente e, ao usar o banheiro, em vez de ter sabonete para lavar as mãos, encontrar uma bolsa de sangue... Estranho pensamento? Mas é possível. Na verdade, o Blood Bath Shower Gel continua sendo um sabonete líquido, só que nesse formato diferente. Que as pessoas iriam levar um susto, com certeza iriam. O produto está sendo vendido por $5,99 na Think Geek.

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Depois de meses economizando no cafezinho para juntar os trocados no cofre, é hora de efetuar o saque no melhor estilo Las Vegas. Esse cofre slot machine funciona exatamente como aparenta: coloque o dinheiro, puxe a alavanca e comece a torcer pela combinação certa. Qualquer sequência de BARs e 7 rende prêmios para o usuário, ou seja, libera as moedas.


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12 Carregador de pulso Carregar7 me você deve Yoda, o maior mestre e patrono universal do hipérbato, agora pode dar conselhos sábios bem ao pé do seu ouvido. A mochila caracterizada do mestre tem espaço suficiente para um volume considerável de livros – e ainda mostra o quanto você é um geek descolado na escola ou universidade. Que a força convosco esteja.

9 Uma cadeira 8 de balanço e algo mais Quem tem bicho de estimação entende bem: sentar em algum lugar é um convite para ele se encostar nos pés. Para aproveitar melhor o espaço e dar mais comodidade ao bichano e seu dono, o designer Paul Kweton criou essa cadeira que dispensa descrições. Assim, os melhores amigos podem descansar juntos no mesmo cantinho.

11 Calça mesa 9 Sapataria Carrossel Você não sabe mais onde colocar seus sapatos? Então, de acordo com a Rakku Design, seus problemas estão perto do fim. A empresa criou a Magic Wheel, uma sapateira que suporta até 30 pares de sapatos femininos ou 20 pares masculinos (dependendo do modelo). Basta girar a roda e pegar o calçado desejado. O produto está sendo vendido no Brasil por R$ 299,00 e pode ser encontrado em adm. to/magic_wheel

10 Suga-moscas Depois que inventaram as raquetes-elétricas-matadoras-de-insetos, a competição de inventos mais úteis da história da humanidade, que já teve campeões com a roda e o fogo, ficou acirrada. O sugador de moscas é o mais novo player. Seu diferencial: ele não mata o bicho e… é muito mais legal. O kit inclui o cilindro, três cartuchos e a pistola.

Uma ótima vestimenta para quem gosta de um piquinique ou tem o hábito de comer no sofá. A calça Picnic Pants transforma-se em uma mesa quando uma pessoa se senta em uma posição de pernas cruzadas. Ela também possui na lateral um bolso ajustável que mantém a bebida sem cair. Feito pela empresa italiana Acquacalda, o produto é um conceito e ainda não está sendo vendido. Você compraria?

Celulares, jogos portáteis e MP3 são ótimos para passar o tempo, como ferramentas de trabalho e em viagens. Mas o problema é que, muitas vezes, basta utilizarmos um pouco mais para a bateria acabar. O carregador de pulso universal Gadget Wrist Charger promete mudar esse panorama. Basta ligar um cabo mini USB e pronto: ele carrega praticamente qualquer dispositivo. A Think Geek vende o produto por $44.99.

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divulgação

ENTRETENIMENTO | curiosidades, humor e sustentabilidade

MKT de guerrilha

Data provável da morte: aniversário

Estádios são os locais mais citados no Facebook

Do político Franklin Roosevelt Jr. até o cineasta brasileiro Carlos Reichenbach, não faltam exemplos de felizardos que faleceram na data do seu aniversário. Agora essa hipótese ganhou uma comprovação científica. Um estudo publicado no Annals of Epidemology revelou que pessoas com mais de 60 anos têm 14% a mais de chances de morrerem no dia do aniversário, e as causas mais comuns são ataques cardíacos, derrames, suicídios e quedas acidentais. Se você está nessa faixa etária, é bom tomar um cuidado a mais na data. 62

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por ilusões transparentes, que pretendem passar para as pessoas a sensação de realidade que os jogadores encontrarão com o PSP.

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Muitos dizem que outdoors são geralmente todos iguais. Seguem aquele “modelo chato” de passar a informação. Se você tinha essa opinião também, deve ter alterado com as imagens acima da ação de divulgação feita pela Sony para o vídeo-game PSP. Em um deles, a empresa colocou no outdoor o portátil em formato gigante; nos outros, ela optou

Curioso para saber por onde seus usuários andam, o Facebook realizou um mapeamento dos locais mais citados em suas linhas do tempo. O levantamento aponta as cidades e os espaços públicos dessas localidades que mais foram referenciados na rede. Entre os 25 primeiros centros urbanos apresentados estão Nova York, Londres e, claro, São Paulo. Já entre os ambientes frequentados, os campeões de referências foram os estádios, seguidos pelas praças, parques de diversão, casas de show e shoppings.

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Pessoas com QI alto são mais infiéis Esta é uma das conclusões de um estudo do polêmico cientista Satoshi Kanazawa. De acordo com a pesquisa, as pessoas inteligentes de ambos os sexos chamam mais a atenção que outras e, por serem mais visadas, correm maior risco de trair. No entanto, se as mulheres forem “mais bem educadas”, a probabilidade de traição é menor. Ainda de acordo com o pesquisador, em relação ao gênero masculino, as mulheres preferem homens com poder ou riqueza, por isso é mais provável que eles sejam infiéis.


DES COM PLI CAN DO Arbitramento Utilização de uma terceira parte neutra para resolver uma disputa trabalhista. Pode atuar com árbitro qualquer pessoa capaz (maior de 18 anos) que tenha a confiança das partes envolvidas no conflito.

Assessment Center Centro de avaliação. Seção padronizada para avaliação de empregado, apoiando-se em tipos múltiplos de testes e avaliadores.

Flex Time

Inovação que elimina o horário rígido de entrada e saída do empregado a cada dia de trabalho. O empregado pode iniciar e terminar a jornada de trabalho como desejar, dentro de uma certa faixa de horas.

AçÕES para um mundo melhor

Empresa e universidade: parceria no combate à dengue por

eber freitas

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foto

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Imagine o ganho que o Brasil teria se existisse um ciclo virtuoso entre governo, universidades e empresas privadas, no qual todo o conhecimento produzido fosse um potencial bem de consumo. Essas patentes e tecnologias poderiam ser revertidas em royalties para as próprias instituições públicas, pesquisadores e em lucro para as companhias. No entanto, um abismo separa as pesquisas e o desenvolvimento produzido dentro das universidades públicas brasileiras com o mercado. São poucas iniciativas que unem essa cultura de inovação movida ao trabalho em conjunto. Uma dessas “agulhas no palheiro” está em Minas Gerais. A Ecovec, empresa que combate vetores como o mosquito da dengue, e a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) desenvolveram um sistema que melhora a vida de milhares de pessoas no Estado e ainda traz lucros. A tecnologia desenvolvida por pesquisadores da instituição, chamada de MI Dengue, permite monitorar em tempo real a incidência de vetores da doença nos municípios, fornecendo ao gestor municipal informações cruciais para combatê-la. “A UFMG hoje é a principal parceira da

Ecovec. Nós trabalhamos com quase 100% de interação, tanto que a sede da empresa se localiza dentro do parque tecnológico que pertence à Universidade”, afirma Luís Felipe Barroso, diretor da Ecovec. Em geral, 2,5% do faturamento obtido com as vendas é revertido para a Universidade em forma de royalties. “Um outro modelo de parceria consiste em um laboratório dentro da UFMG, em um espaço alugado; todos os equipamentos, que são muito caros, são nossos, mas quem utiliza são os professores e alunos e em outras pesquisas”, diz. Essa união já rendeu bons frutos. Em 2006, o MI Dengue recebeu o prêmio Tech Museum Awards na categoria de tecnologias voltadas para a área da saúde, e Bill Gates (fundador da Microsoft) visitou pessoalmente o stand durante o evento. Atualmente, a empresa tem 25 contratos firmados junto a

governos e municípios e monitora cerca de 60 cidades apenas no Brasil, além de atuar em alguns outros países com clima tropical.

Case A Votorantim Celulose e Papel (atual Fibria, maior produtora de celulose do mundo) construiu, em 2007, uma planta industrial em Três Lagoas (MS). Naquele ano o município tinha cerca de 70 mil habitantes e sofreu uma epidemia de dengue onde mais de 10% da população foi infectada. “Como consequência, muitos empregados ficaram sem trabalhar, gerando um prejuízo de milhões para a unidade e um grande atraso no cronograma”, relata Barroso. “Eles entraram em contato conosco com a proposta de comprar o MI Dengue para o município: pagam 120 mil reais por ano e monitoramos a cidade para eles. De lá pra cá não houve mais epidemias de dengue”.

humor

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ENTRETENIMENTO | Leitura e cinema

LEITURA Não é este o caso de Imagine: how creativity works (Imagine: como a criatividade funciona), no qual Jonah Lehrer oferece uma visão um tanto científica sobre criatividade. Ciências, aliás, é a praia de Lehrer, um jornalista especializado em traduzir jargões acadêmicos para um formato adequado a nós, leigos. O livro reúne algumas das mais recentes descobertas acerca do processo criativo, muitas das quais, aliás, contradizem o que até agora tínhamos como verdade. A mais importante contribuição de Imagine talvez esteja na diferenciação entre os estágios do processo criativo e que tipo de habilidade é desejável em cada um. De um lado, temos a briga direta com o problema que tentamos resolver. Uma luta que, segundo Lehrer, só vencemos quando já estamos quase a ponto de desistir, algo que os livros que romantizam o processo criativo convenientemente costumam esquecer. Nesta fase, a mente precisa divagar pelo caótico repositório de informações armazenadas na memória, buscando associar ideias e conceitos aparentemente distantes e desconexos. Três elementos são fundamentais para isto: um vasto repertório, uma mente capaz de afastar-se do pensamento convencional e manter a ingenuidade do iniciante. Como esta tarefa requer pensamento divergente, livre e descompromissado, deve-se permanecer relaxado e distraído. Sono em dia, escutar a música favorita e até um banho demorado ajudam a criar o clima pro-

Rodolfo Araújo é o agora ainda mais criativo autor dos blogs www.autoatrapalha.com.br e www. naopossoevitar.com.br

Equilíbrio e Resultado

Nos Bastidores da Nintendo

O Trigo, a Água e o Sangue

por christian barbosa

por jeff ryan

por luiz fernando da silva pinto

O livro ensina a organizar ideias, colocando-as em prática por meio de estratégias como: desenvolver um modelo mental orientado para a realização; ter clareza do que é realmente importante; eliminar a fadiga mental gerada pelo excesso de informação.

O livro conta a história da Nintendo e destaca como o Super Mario salvou a empresa do abismo; como fez dos concorrentes, mesmo os velozes como Sonic, parecerem tartarugas; e como reinventou o mercado de jogos com o Wii.

A obra fala sobre gestão estratégica de uma forma diferente. O autor leva-nos, como um guia turístico da história, a observar o modo de vida e as descobertas dos povos sumeriano, egípcio, grego, cretense, fenício e outros.

Sextante, 144p. R$ 24,90

Saraiva, 256 p. R$ 39,90

Senac/ FGV, 476p. R$ 80,00

Imagine: How Creativity Works por rodolfo araújo

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A moderna literatura corporativa está repleta de livros sobre inovação e empreendedorismo, dois conceitos intimamente ligados por seus elementos fundamentais: criação e execução. Muito já se escreveu, também, sobre o segundo elemento, mas quase nada sobre o primeiro. O pouco que há trata o tema de forma meio mágica, mitológica, transcendental.

pício ao surgimento das epifanias. Depois do momento de insight, começa a parte da transpiração. Apesar de a ideia normalmente vir completa, ela ainda precisa ser lapidada, adaptada e, finalmente, posta em prática, do contrário, continuará a ser apenas uma ideia. Ao contrário da fase anterior, nesta o foco é fundamental. Lehrer desafia também um modelo até hoje utilizado por muitas empresas: o brainstorming. Segundo ele, um fator essencial ao sucesso criativo dos grupos é a diversidade de sua composição: quanto mais variadas as experiências, maiores as chances de combinar diferentes expertises na busca de soluções. Em diversas áreas, soluções são encontradas por não especialistas. Um exemplo pitoresco, porém ilustrativo, é o do programador que virou barman. Por não ter experiência (leia-se: vícios), o amador criava drinks misturando ingredientes jamais imaginados – como bourbon e bacon, por exemplo. Sim, bacon. São ousadias que somente os novatos buscam, por não terem compromissos com tradições nem temerem heresias. Compõem a necessária oxigenação de que toda companhia necessita, para inovar e brilhar em mercados cada vez mais exigentes. Ed. Houghton Mifflin Harcourt, 304p.

ESTANTE

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CINEMA Erin Brockovich por

Baseado em acontecimentos reais, o filme emocionou telespectadores de todo o mundo pela determinação de Erin e rendeu a Julia Roberts o Oscar de melhor atriz em 2001

carlos hilsdorf

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Assim como existem lendas urbanas, há também as corporativas e, dentre elas, as que insistem em impor os padrões que determinam a obtenção de sucesso em uma carreira. Isto acaba inibindo muitas pessoas de tentarem realizar seus sonhos por acreditarem que não se enquadram no tal “perfil ideal”. Isso não significa que determinadas características e estilos de personalidade, comportamento e competência não sejam significativas para uma carreira de sucesso, mas sim que esses traços precisam ser observados em maior profundidade e relativizados conforme o contexto. O filme Erin Brockovich aborda esta reflexão, que é baseado em acontecimentos reais. Erin (personagem vivida por Julia Roberts) sai de seu último relacionamento sem recursos e com três filhos para criar. Sem diploma universitário, sem grande experiência ou uma rede de relacionamentos que pudesse ajudá-la, parte em busca de um emprego, mas um acidente de trânsito agrava sua situação, levando-a à corte onde perde o processo frente à exposição de seu passado conturbado. Sem êxito nas entrevistas, como último recurso, utilizando determinação, persistência e persuasão, convence o advogado que a defendeu a contratá-la. Durante o arquivamento de processos, ela observa que um deles envolve a compra de imóveis por uma grande empresa multinacional. Ao notar a presença de laudos médicos anexos ao processo, fica curiosa. Afinal, para que laudos na compra de imóveis? Erin toma a iniciativa de investigar a questão e descobre que em todas as casas que estão sendo compradas, há pessoas estranhamente doentes. Sensibilizada com as famílias e seus dramas particulares, ela começa a assumir riscos e pesquisar a fundo o que estava ocorrendo. Obstinada, descobre que uma empresa multinacional estava eliminando poluentes na nascente dos rios da região e que a água poluída conduzia a uma série de doenças fatais. Erin começa, então, a agir as-

sumindo a causa destas famílias. Convence seu empregador a pegar o caso e as 600 pessoas envolvidas a assinarem uma procuração para viabilizar a ação contra a empresa. Com sua coragem e ousadia, Erin colhe amostras de água contaminada e animais mortos pela contaminação, expondo-se a riscos e ameaças. Em reuniões com os advogados da multinacional, Erin negocia com firmeza e argumentação contundente, surpreendendo os representantes de ambos os lados da demanda. O valor da causa chega a US$ 28 bilhões de dólares. Obtendo a vitória, Erin, além de salvar e modificar a vida de mais de 600 pessoas humildes, impediu a continuidade e a impunidade de um crime gravíssimo. Com o êxito do processo torna-se uma mulher rica e sócia do seu então empregador, que passa a fazer parte de um respeitado escritório de advocacia. Desta maneira, essa mulher desajeitada, vestindo-se de maneira pouco convencional para os ambientes empresariais, sem experiência e, aparentemente, inapropriada para trabalhar com advocacia, entrou para a história. Tudo isso graças à sua determinação ética, sua postura profissional e o conjunto das suas atitudes empreendedoras. Erin teria sido reprovada na imensa maioria das entrevistas de emprego a que milhares de pessoas se submetem todos os dias, o que prova que talento é algo que está além das aparências, rótulos e pré-julgamentos. Claro que o caso de Erin é muito particular, algo que não pode ser tomado como regra, mas é, também, uma lição de que ética, atitude empreendedora e uma causa nobre pela qual lutar podem suplantar a ausência de muitas outras características. Carlos Hilsdorf é economista, pós-graduado em Marketing pela FGV, consultor e pesquisador do comportamento humano. Palestrante dos Congressos Mundiais de Administração (Alemanha e Itália). Autor do Atitudes vencedoras e 51 atitudes essenciais para vencer na vida.. www.carloshilsdorf.com.br

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PONTO FINAL leis

Como nunca acumular problemas por stephen kanitz

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Stephen Kanitz é consultor de empresas e conferencista. Vem realizando seminários em grandes empresas no Brasil e no exterior. Mestre em Administração de Empresas pela Harvard University, foi professor da USP. No Twitter, @stephenkanitz.

ste é o segredo da administração profissional: nunca acumular problemas. Quando eles se acumulam, o diagnóstico fica mais difícil, a solução complicada, a implementação comprometida e a avaliação dos resultados bem mais questionável. Você pode até ter resolvido um dos seus vários problemas, mas como os outros estão piorando, você jamais saberá que uma das soluções foi encontrada. Seus oponentes não irão apenas discordar, mas mostrarão dados concretos que a situação está piorando. Portanto, volto a repetir: o segredo da administração e da própria vida pessoal é nunca permitir que problemas se acumulem. Por isso, administradores são tão necessários nas organizações. Eles conseguem resultados numa área que tantos fracassam, como empresários, empreendedores, políticos e governo. A diferença é que administradores são treinados para seguirem as seguintes leis:

Lei 3 - Problemas precisam ser resolvidos sem termos todos os dados a nossa disposição

Lei 1 - Problemas precisam ser identificados logo que ocorrem

Na primeira vez que eu ouvi este conselho de um dos meus professores de Harvard, tive a mesma reação que você está tendo agora. “Maluco, óbvio que está brincando. Tomar uma decisão rápida, mas possivelmente errada, não pode ser sério”. O raciocínio é mais ou menos assim. Se você tomou uma decisão errada, através dos indicadores que estabeleceu para avaliar as ações, descobrirá que sua decisão foi equivocada. E como você é rápido, logo irá tomar outra decisão corrigindo o problema. Tudo isso exige preparo, treinamento, um código de ética e uma coragem que levam tempo para ensinar e aprender. Por isso o curso de Administração não é para qualquer tipo de pessoa. Especialmente não combina com alguns tipos de personalidades perfeccionistas e que não vivem bem com incertezas. Se sua empresa anda devagar ou parada porque acumulou problemas e agora não consegue resolvê-los, contrate um administrador profissional, alguém treinado para resolver problemas de uma forma competente. Mas contrate antes disso tudo acontecer, porque poderá ser tarde demais, e não haverá muito que um administrador possa fazer além de lentamente fechar as portas de sua empresa ou organização.

Administradores irão implantar um complexo sistema de avaliação e contabilidade para identificar todos os problemas no nascedouro. Estabelecerão padrões, benchmarks, orçamentos, planos, justamente para identificar problemas assim que acontecerem. Eles estarão medindo a sua “pressão” constantemente.

Lei 2 - Problemas precisam ser resolvidos assim que ocorrem Um dos problemas em empresas “administradas” por profissionais de outras áreas é que as demais ciências prezam por análises e decisões bem feitas, de preferência perfeitas. Engenheiros, economistas, advogados, todos passaram pela experiência de terem tirado zero numa prova por um pequeno erro, ou detalhe. Erro de aproximação, às vezes, por calcular 3,9 em vez de 4.0. Isto leva a um erro administrativo que chamamos de analysis paralysis. Se todo problema for analisado à exaustão, a empresa para. Mas no mundo acadêmico, nada precisa ser feito para amanhã ou ontem. Nenhuma ponte precisa ser construída “para amanhã”. 66

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Isso na Engenharia e Economia seria uma heresia e uma irresponsabilidade. Como não saber todos os fatos antes de tomar uma decisão? Por isso não é fácil ser administrador. A responsabilidade é enorme, justamente porque tomamos algumas decisões “irresponsáveis”, na terminologia do engenheiro e do economista. Fazemos isso porque sabemos que não tomar uma decisão, ficar parado e analisando um problema - também é uma forma de ser irresponsável. O que acontece é que não tomamos decisões às cegas, mas normalmente juntamos dados com diferentes níveis de precisão. Em contabilidade, isto é muito claro.

Lei 4 - Uma decisão mal feita é melhor do que uma decisão não feita



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