Futebol: Bases Científicas da Preparação de Força

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FUTEBOL: Bases Científicas da Preparação de Força Adriano Vretaros


ADRIANO VRETAROS

FUTEBOL: Bases Científicas da Preparação de Força

São Paulo Edição do Autor 2015


CONSIDERAÇÕES INICIAIS Autorizo a reprodução parcial desta obra para fins de ensino e pesquisa, desde que seja citada esta fonte originária (autor, título e ano). Este eBook não pode ser transmitido por qualquer meio e\ou mídia visando fins comerciais sem a devida autorização do autor.

Dados do ISBN VRETAROS, Adriano 146 páginas – 2015 FUTEBOL: Bases Científicas da Preparação de Força Inclui Bibliografia ISBN: 978-85-920311-0-7

eBook

Futebol, Treinamento de Força, Bases Científicas São Paulo – BRASIL


PREFÁCIO

A intenção de escrever este livro emergiu das inquietações surgidas durante a minha carreira; tanto nas leituras sobre a teoria do treinamento desportivo e desenvolvimento de pesquisas científicas, quanto na prática da preparação de atletas. A paixão pelo futebol e preparação física me fizeram refletir acerca de qual seria um tema dentro da atualidade científica que ao mesmo tempo contribuiria para os profissionais envolvidos no meio futebolístico e, sanaria minhas dúvidas mais frequentes. Assim, iniciei ao longo do tempo, um manuscrito que considero do ponto de vista acadêmico interessante. Sempre acreditando que quanto mais se obtêm conhecimento pautado na ciência, melhores seriam os entendimentos sobre determinada prática profissional. Dentro das capacidades biomotoras envolvidas no futebol, a força motora representa uma ação capital determinante para o sucesso ou fracasso de um time. Uma base sólida da força em suas diferentes manifestações aprimoraria o desempenho dos jogadores, como também é considerada uma ferramenta útil na prevenção de lesões. Compreendendo como cada manifestação da força funciona e, entendendo os meios e métodos de aplicação mais eficazes, poderíamos auxiliar os preparadores físicos a embasarem suas filosofias de trabalho. Todavia, nos momentos finais da confecção e, ao partir para a publicação, senti que uma obra em papel encadernada e com fins comerciais não atingiria meus objetivos. Por isso, tomei a decisão de publicar em formato digital eBook, sem fins comerciais, para que possamos atingir um grande número de leitores. Detalhe adicional: parti da premissa do ¨menos é mais¨


SOBRE O AUTOR

Adriano Vretaros • Pós-Graduado em Bases Fisiológicas e Metodológicas do Treinamento Desportivo – Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) • Graduado em Educação Física – Universidade do Grande ABC (UniABC) • Preparador Físico • Contato: avretaros@gmail.com


SUMÁRIO

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Prefácio Sobre o autor Sumário Introdução 1.0 - Compreendendo a preparação de força no futebol 2.0 - A controversa abordagem ecológica 3.0 - Características gerais do futebol 4.0 - Controle motor e futebol 5.0 - Bioenergética e futebol 5.1 -Sistema anaeróbio alático 5.2 - Sistema anaeróbio lático 5.3 - Sistema aeróbio 6.0 - Princípios do treinamento desportivo 6.1 - Princípio da individualidade biológica 6.2 - Princípio da adaptação 6.3 - Princípio da sobrecarga 6.4 - Princípio da progressividade 6.5 - Princípio da interdependência volume-intensidade 6.6 - Princípio da especificidade 6.7 - Princípio da concorrência 6.8 - Princípio da treinabilidade 6.9 - Princípio da variabilidade 6.10 - Princípio da desadaptação 6.11 - Princípio da continuidade 7.0 - Fisiologia muscular e futebol 8.0 – Força 9.0 - Força motora no futebol 9.1 - Resistência muscular localizada 9.2 – Hipertrofia 9.3 - Força máxima 9.4 - Resistência de força rápida 9.5 - Força explosiva 10.0 - Treinamento funcional 11.0 - Avaliação da força 11.1 - Teste de 1 repetição máxima

04 05 06 08 09 11 14 17 19 19 20 21 23 23 23 24 24 24 25 25 26 26 27 27 29 32 34 35 38 42 45 51 59 66 66


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11.2 - Impulsão horizontal 11.3 - Salto unipodal triplo horizontal 11.4 - Salto sêxtuplo 11.5 - Impulsão vertical 11.6 - Teste de força abdominal 11.7 - Functional movement screen 12.0 - Aquecimento no futebol 13.0 – Fadiga 14.0 – Fadiga no futebol 14.1 – Glicogênio 14.2 – Desidratação 14.3 – Propriocepção 14.4 - Fatores adicionais limitantes do desempenho no futebol 15.0 - Métodos de recuperação 16.0 - Recuperação no futebol 16.1 - Massagem 16.2 – Crioterapia 16.3 - Técnicas adicionais de recuperação 17.0 - Lesões no futebol 17.1 - Joelho no futebol 17.2 - Tornozelo no futebol 17.3 - Quadril no futebol 17.4 - Isquiotibiais no futebol 17.5 - Prevenção de lesões no futebol 18.0 – Periodização 19.0 - Periodização da força no futebol 20.0 - Controle das cargas 21.0 – Lista de abreviações 22.0 - Referências bibliográficas

67 67 68 68 68 69 71 75 77 78 78 80 81 83 85 85 86 87 90 92 93 94 97 98 103 106 112 116 118


INTRODUÇÃO O futebol é uma modalidade de desporto conhecida mundialmente pela sua beleza e plasticidade nas ações motoras durante uma partida. São encontradas uma diversidade de capacidades biomotoras que apóiam o desempenho futebolístico. Entre elas, a força motora. Considerada na atualidade como capacidade biomotora crucial em um grande rol de esportes, a força e suas diferentes manifestações se fazem existentes no futebol moderno. Não é apenas a citação de futebol-força que nos faz recordar de imediato a importância da força no futebol e, sim, o futebol de resultados. No futebol de resultados, os jogadores devem estar devidamente condicionados na força motora para suportar as cargas impostas pelas partidas que requerem efeitos de grande magnitude no desempenho. A execução de sprints curtos intermitentes, mudanças de direção, saltos, giros, carrinhos e demais movimentações acabam solicitando em variados graus da força. Em acréscimo, as habilidades motoras como os passes, dribles, fintas e distintos tipos de chutes podem ser considerados resultantes de vetores da força. O preparador físico ao vislumbrar este quadro, se sente na obrigação de incorporar em seus programas de treinamento a força motora e suas derivações. No entanto, mesmo o mais experiente dos profissionais se depara com questões inerentes acerca da prescrição do treino da força, levando-o a indagar: Qual o perfil das fibras musculares nos jogadores de futebol? Como elaborar um programa de treino da força baseado na concepção ecológica? Quais os principais princípios norteadores no desenvolvimento da força? Como a força se manifesta nas funções táticas? Como treinar a força no futebol? Quais os melhores testes de avaliação da força no futebol? Como realizar um aquecimento efetivo em futebolistas? Quais as formas de fadiga no futebol? Quais as lesões que mais acometem os futebolistas? Como periodizar a força no futebol? Como se realiza o controle das cargas de treino? Estas e outras perguntas podem ser respondidas com a leitura deste manuscrito, como também pode levar o leitor a refletir e buscar questões mais aprofundadas fundamentado nas pesquisas aqui apresentadas. Vale dizer que futebol tem se modernizado e, assim a ciência acompanha este progresso. Portanto, ao adentrarmos no universo científico voltado ao futebol, não espere todas as respostas, haja visto a ciência levantar um maior número de interrogações do que decifrar arquétipos. Desejo a todos uma boa leitura e compreensão!

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1.0 - COMPREENDENDO A PREPARAÇÃO DE FORÇA NO FUTEBOL A definição de esporte como entendemos hoje, pode ser considerada como uma atividade específica estruturada que envolve vigorosos esforços de caráter físico em conjunção com o uso de habilidades motoras complexas, direcionado por motivações externas e internas. A preparação de força no esporte consiste na edificação de um conjunto de sessões de ordem prática corporal e\ou intelectual visando por meio da somatória das mesmas, provocar alterações fisiológicas específicas (agudas e\ou crônicas) no organismo de um atleta. As variantes da força (resistência de força, força máxima, resistência de força rápida e força explosiva) são regidas por processos complexos de interação, cuja compreensão requer estudos contínuos afim de se encontrar a melhor solução de determinadas tarefas enfrentadas nas sessões de treino e competições. Segundo Barbanti et al (2004), as pesquisas com orientação para o treinamento das capacidades biomotoras apresentam uma grande variabilidade de resultados, com significados relevantes para os preparadores físicos. O futebol, visto na atualidade, reflete a evolução científica ao longo dos anos. Com isto, o antigo futebol-arte passou a ser conhecido como futebol-força. Não por acaso, os jogadores tornaram-se mais altos, mais fortes e mais rápidos. Alterou-se a dinâmica global do jogo. Nas partidas, os futebolistas realizam movimentos rápidos e repetitivos em distâncias curtas. A expressão destas ações motoras realizadas com e sem bola, representam prioritariamente a manifestação da força. As frenagens , arrancadas e constantes mudanças de direção exigem altos níveis da força e potência muscular para vencer a inércia da massa corporal nas solicitações durante a partida. Os métodos de preparação da força em futebolistas vem sendo estudados por inúmeros pesquisadores. Todavia, alguns preparadores físicos, continuam pautando seus treinamentos em meios e métodos ultrapassados, arraigados em filosofias de trabalho não muito bem compreendidas. Uma destas, reside no fato, que durante o período preparatório antecedente a temporada, deve-se criar uma base de sustentação aeróbia nos jogadores. Questiono: como uma base aeróbia irá melhorar o desempenho físico no futebol durante o longo período competitivo, regido por um componente físico determinante como a potência muscular? Basta observarmos as pesquisas, para concluir que níveis elevados de consumo máximo de oxigênio (VO2máx) não é mais um fator relevante para o sucesso no futebol moderno. O futebol não é uma modalidade de endurance como a maratona, triatlo, ciclismo de estrada e outras. Nestes esportes, o VO2máx é considerado uma variável importante. Porém, visto isoladamente, não é considerado elemento determinante. A conjunção do VO2máx com outros parâmetros é que ditarão a 9


performance nestas modalidades. Ao analisarmos resultados de avaliações físicas, constatamos que o VO2máx dos jogadores sofre flutuações ao longo temporada. Mesmo em condições de VO2máx reduzido, os futebolistas conseguem sustentar seu patamar de desempenho nas partidas (Silva et al, 2015). Está bem elucidado na literatura que o futebol contemporâneo deve ser visto como modalidade de força-velocidade-potência. Neste sentido, iremos explanar acerca da preparação de força no futebol, tentando demonstrar que a força, por si só, é um requesito essencial e de maior relevância que as demais capacidades biomotoras para a performance dos futebolistas. Nosso entendimento da palavra preparação é sinônimo do ato de preparar-se, disposição, manipulação, etc. Portanto, em vez de utilizarmos termos como: treinamento de força, musculação, treino com pesos e afins, preferimos usar no título desta obra a macrodenominação: preparação de força. A preparação de força parte do pressuposto de preparar o atleta para algo, no caso, a força, e mais especificamente voltada ao futebol. Assim, neste texto, a preparação de força no futebol englobará os exercícios de musculação, treino com aparelhos, treino com pesos, calistênia, treinamento funcional, técnicas de levantamento olímpico, pliometria, entre outros. Resumindo, este livro visa apresentar os fundamentos para a elaboração da preparação de força no futebol baseados em pesquisas científicas e experiências práticas vivenciadas, reconhecidas como determinantes para a obtenção de um alto nível de desempenho esportivo.

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2.0 - A CONTROVERSA ABORDAGEM ECOLÓGICA A ecologia é um ramo fragmentado da ciência que estuda a interatividade dos seres vivos com o meio ambiente. Na teoria do treinamento desportivo, uma abordagem ecológica, significa uma aproximação dos meios e métodos de preparação ao habitat natural da respectiva modalidade. O habitat natural refere-se ao local, espaço físico e condições ambientais onde se desenvolvem as ações motoras pertinentes ao esporte. Não é uma simples alocação da aparelhagem e equipamentos da sala de treinamento para o campo de jogo. Baseia-se no princípio da especificidade, ao qual apregoa, que os meios e métodos de treinamento empregados, para serem efetivos, devem propiciar uma transferência positiva para a ação motora da modalidade. Essa transferência se dará pela utilização de modelos de treino que respeitem a especificidade bioenergética, neuromuscular, biomecânica e recursos metodológicos mais próximos da realidade presente na arena competitiva. Como exemplo, podemos citar, o conceito de periodização tática criado pelo professor português Vitor Frade, no qual relaciona a complexidade do treinamento técnico-tático a um modelo de jogo. Para operacionalizar a preparação de força no futebol baseado numa concepção ecológica, devemos nos atentar a fugir de meios analíticos de interpretação no treinamento. Em vez de nos restringirmos à treinarmos preparação de força isoladamente nas suas manifestações, devemos incorporar elementos presentes nas habilidades motoras inerentes ao futebol (por exemplo, a bola durante os exercícios físicos). Araújo et al (2006) e Duarte et al (2010) discorrem que métodos de treinamento orientados sobre uma dinâmica ecológica, nas ações motoras desempenhadas pelos atletas, os mesmos expressam a integração comportamental no contexto real da atividade competitiva. Entendendo que, a variabilidade e dinâmica de ações que caracterizam o jogo de futebol são de ordem complexas, devido às decisões individuais e estratégias coletivas, não podemos desintegrar o treino da preparação de força das atividades específicas ocorridas no terreno de jogo (Vaz et al, 2014). A intenção seria preparar o futebolista como um todo, não os seus diferentes componentes de maneira isolada. Carravetta (2012) acentua que após a década de 90, surge a concepção científica sistêmico-ecológica no futebol. Na concepção sistêmico-ecológica, a abordagem transdisciplinar globalizada rege as situações-problemas que surgem nos programas de treinamento e enfatizam a espontaneidade e autonomia dos atletas aperfeiçoando os componentes psicofísico-motores. O vitorioso treinador português José Mourinho diz em suas entrevistas que 11


acredita no trabalho de força executado somente na área de reabilitação. Rui Faria, o preparador físico que acompanha Mourinho não é adepto das corridas em torno campo, como também no trabalho de força executado no ginásio. Todavia, aceita o uso da bola em seus treinos físicos. Sua filosofia de trabalho é pautada em um processo natural complexo, segundo ele de difícil execução para outros que tentarem imitar ou copiar. Em outras palavras, somente quem criou saberia operacionalizar (Vieira, 2010). Deveríamos pautar as nossas linhas metodológicas de treinamento em abordagens de sucesso? Sim e não! Ou por acaso algum sério preparador de atletas que obedece aos princípios científicos acreditaria em seguir cegamente um modelo de treino só pelo fato dos resultados apresentados...Sem uma análise rigorosa e crítica...Não! Então, onde se encaixa o sim? O sim viria (ou não!) com uma série de estudos direcionados a avaliar tais métodos a longo prazo. Scaglia (2015) analisou a filosofia de Mourinho na ótica da pedagogia do treino, alegando que abordagens de entendimento analíticas, fragmentam o futebol e são exploradas de forma desconexas diante das reais exigências e ocorrências de uma partida. A programação dos treinos, segundo ele, só teria validade quando possibilitasse aos jogadores vivenciarem situações mais utilizadas nos jogos. Tais ideias metodológicas, se distanciam dos modelos reducionistas (Medina, 1996) que apregoam interpretações do saber científico assinaladas em subdivisões especializadas. Com essas afirmações, fico imaginando se não estamos regredindo a um estágio do passado onde os métodos de treinamento eram fundamentados no improviso, carentes de bases científicas mais apuradas. Quando, por exemplo, os métodos de treinamento dos atletas no atletismo da prova de 100 metros eram apenas a reprodução fiel da distância. Questiono: Estamos regredindo ou progredindo? Difícil resposta...Porém, uma frase que tem norteado a filosofia de trabalho dos preparadores físicos adeptos da linha ecológica merece análise: • Frase : ¨O atleta treina como compete ou joga¨ Esta frase no qual afirma que o jogador deve treinar como compete, tem duas vertentes: a primeira, no qual quanto mais próximo estiver o estímulo e os métodos de treino da atividade motora da partida, está correta. Entretanto, analisando pela segunda vertente, verificamos que não é adequado treinarmos diariamente reproduções fiéis da atividade orgânico-fisiológica-motora futebolística nos treinos, pois as cargas devem sofrer flutuações e variações nos métodos (princípio da interdependência volume\intensidade e princípio da variabilidade) nas unidades de treinamento. Em determinados momentos, como por exemplo, em um microciclo de choque, as cargas empregadas são suficientemente elevadas e ultrapassam as exigências de esforços requeridas nas partidas. Também, por outro lado, normalmente 12


após as partidas e, em diferentes ocasiões do micro\mesociclo o treinamento denominado regenerativo envolve cargas extremamente leves com intensidades menores do que os jogadores suportam nos jogos e\ou treinos. Em particular, devemos nos ater ao fato de que existem décadas de pesquisas desenvolvidas na área de treino da força que aprovam seus benefícios no desempenho e, não será uma abordagem com estas características que determinará o não uso do ginásio de pesos para os atletas. Assim, com base nas premissas levantadas, devemos nos indagar se a abordagem ecológica seria um modismo passageiro no futebol, ou quais argumentos fidedignos justificariam a continuidade dessa abordagem a longo prazo? Definitivamente, esse excesso de especificidade no pensamento ecológico poderia resultar em efeitos deletérios na preparação corporal global dos jogadores, devido principalmente a unilateralidade das ações (uso predominante do membro dominante). Entre os efeitos, podemos citar: problemas de ordem postural, assimetrias de membros, desequilíbrios musculares, entre outros. Acreditando que o rendimento no futebol é fruto do domínio motor automatizado somado a magnitude dos componentes físicos, Carravettta (2012) profere acerca da complexidade de processos motores e perceptivos que estão envolvidos: tomadas de decisões, controle, regulação e execução. Neste contexto, podemos supor que a linha ecológica propiciaria uma aproximação com os componentes reais envolvidos na partida. Em contraste, na preparação de força, o preparador físico precisa estar ciente que nem todos os meios e métodos de treino poderão ser adaptados ao pensamento ecológico. Os postulados dessa concepção ¨moderna¨ nos remete a uma postura crítica e aberta por parte do preparador físico, que deverá interagir mais profundamente com o técnico da equipe, conhecendo seu modelo de jogo e configurando adequadamente os esforços específicos dos jogadores na unidade de treino. A dita ¨periodização tática¨ seria bem-vindo nos treinos integrados que envolveriam aspectos técnicos-físicos, técnicos-táticos e técnicos-táticos-físicos. Além dessas três esferas, criar expectativas adicionais em relação a singular linha ecológica nos parece muito precoce no presente momento. Portanto, no transcorrer deste livro, não existirá ¨receita de bolo¨ como desenhos de exercícios para preparação de força tão comuns em outras literaturas sobre o tema. Haverá sim, exemplos de exercícios, porém os mesmos não passam de meras amostras para uma melhor compreensão. A nossa real intenção seria solicitar da criatividade dos conhecimentos técnicos-científicos aqui apresentados, para que o preparador físico desafie a si próprio na construção de seus programas de treinamento.

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3.0 - CARACTERÍSTICAS GERAIS DO FUTEBOL O futebol é considerado um esporte coletivo de invasão, onde duas equipes compostas de onze jogadores cada uma se confrontam em uma arena de 100-110 metros de comprimento por 64-75 metros de largura com superfície de grama. O objeto de jogo é uma bola esférica, cuja circunferência pode oscilar entre 68-70 centímetros e com uma massa de 410-450 gramas. O objetivo do jogo é marcar gols entre os travessões dispostos longitudinalmente de lados opostos do campo. As ações motoras predominantes dos jogadores são realizadas com os pés, porém em algumas ocasiões se empregam o joelho, o peito e a cabeça. O goleiro é a única função que pode se utilizar das mãos em suas ações. A disposição dos atletas no campo de jogo segue desenhos táticos estratégicamente determinados pelo treinador da equipe. Entre os sistemas táticos mais perfilhados tem sido utilizado o 4-3-3, o 5-3-2, o 4-4-2 e o 4-5-1. Essas variações táticas acontecem por meio de marcações individuais, por zona ou mista. Para entender melhor as características de movimentação e demanda fisiológica no futebol, a maioria dos pesquisadores tem calculado as distâncias percorridas nas partidas através de rastreamento da filmagem acoplados à recursos tecnológicos como softwares e o GPS. No entanto, pesquisadores como Soares & Rebelo (2013) reportam que os estudos que empregam mensurações das distâncias no futebol possuem limitações. Tal fato se deve a não observação dos esquemas táticos adotados pelas equipes. Citam, como exemplo, em um time que privilegie ações defensivas, os laterais atuariam mais recuados e, portanto, cumpririam menores distâncias. Ao contrário, quando o treinador dá ênfase aos esquemas ofensivos, os laterais, em tese, percorreriam maiores distâncias. A solução para isto seria a mensuração de um numerário (n) maior de partidas, como também a identificação do modelo de jogo. D´Ortavio & Tranquilli (1993) citam os tipos de movimentação de um meiocampista correlacionando com as velocidades: parado, andando (5Km\h), corrida lenta (11Km\h), corrida média (15Km\h), corrida larga (18Km\h), corrida rápida (21Km\h), sprint (24Km\h), sprint máxima velocidade (27Km\h), corridas de costas (3 a 21Km\h), corridas laterias (0 a 21 Km\h). O quadro 01 mostra um mapeamento das movimentações entre as diversas funções táticas no futebol.

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Variáveis do jogo

Quadro 01 – Demandas de movimentação no futebol Defensores Zagueiros MeioMeiocentrais campistas campistas avançados

Atacantes

Distância percorrida Total (m)

9885+\-555 10710+\-589 11450+\-608 11535+\-933

Corrida em alta 1834+\-256 intensidade (m) Corrida em muito alta intensidade (m) Sprint (m)

10314+\1175

2605+\-387

2825+\-473

3138+\-565 2341+\-575

603+\-132

984+\-195

927+\-245

1214+\-251

955+\-239

152+\-50

287+\-98

204+\-89

346+\-115

264+\-87

7,74+\-0,24

7,52+\-0,32

74+\-23

62+\-19

Outras variáveis Corrida em máxima velocidade 7,31+\-0,30 (metros x segundo) Tempo de recuperação (segundos)

101+\-15

7,93+\-0,31 7,76+\-0,28

51+\-16

73+\-22

(Adaptado de Bradley et al, 2009) Em média, nas equipes profissionais, as distâncias percorridas flutuam entre 9 a 12 Km com variações dependentes da função tática desempenhada pelos jogadores. Aparentemente, os meios-campistas são os que percorrem maiores distâncias entre os jogadores de linha. O goleiro, em média, perfaz 4km por jogo. Na interpretação de Santi Maria et al (2013) existem alguns fatores que influenciam nos valores de distâncias percorridas pelos jogadores de futebol, assim dispostos: posição de jogo, estilo da equipe, nível de competição, condicionamento físico dos jogadores, espaço competitivo, evolução da modalidade, momento da temporada, metodologia de análise, condições climáticas e dinâmica da partida. 15


Observando as distâncias percorridas e suas respectivas velocidades, nota-se que as ações motoras futebolísticas são de caráter acíclico intermitente regidas pela imprevisibilidade dos esquemas táticos praticados pelas equipes. Isoladamente, os componentes físicos não determinam o sucesso no futebol moderno. Deve-se dar atenção também as habilidades motoras técnicas atreladas ao entendimento tático por parte dos jogadores (Silva Neto, 2013). Por mais habilidoso e condicionado fisicamente que seja o jogador, as estatísticas demonstram que a bola só ficará nos seus pés (para realização de passes e\ou variados chutes) em apenas 1-2% do tempo total da partida (Anderson & Sally, 2013). Garganta apud Freitas Silva et al (2015) observam que a lógica futebolística consiste em intercalações dos estados de ordem\desordem, estabilidade\instabilidade, uniformidade e variedade. São comportamentos que envolvem habilidades complexas e interdependentes, com dinâmicas próprias. No vingente futebol de resultados, as equipes de ponta amadureceram para um jogo mais equilibrado nos sistemas de defesa e ataque. Nas palavras de Anderson & Sally (2013), ditas de outra forma, o futebol tático atual tenta evitar erros, punindo os erros da equipe adversária. Ainda segundo os autores, com as informações estatísticas compartilhadas, os times tornaram-se mais parecidos e, com acesso a jogadores talentosos, o número de gols apresentou queda significativa ao longo dos anos. No alto nível existe um grau elevado de uniformidade na natureza do jogo.

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4.0- CONTROLE MOTOR E FUTEBOL Toda conduta motora, entendida a nível neurofisiológico, se inicia no cérebro (área pré-motora, córtex motor primário, córtex pré-frontal dorsolateral e córtex parietal posterior). São processos cognitivos distintos formados em circuitos com diferentes tipos de organização para prática e aprendizagem de habilidades (Lage et al, 2015). O planejamento de uma tarefa motora é gerida por um conjunto complexo de atividades neurais. A célula nervosa é o neurônio. Os neurônios motores exercem funções eferentes, e ao contrário, os neurônios sensoriais costumam realizar ações aferentes. Proporcionalmente, segundo Magill (2011), a relação entre neurônios é de dez neurônios motores para cada um sensorial e 200 mil interneurônios. Os motoneurônios sofrem uma divisão, a saber: alfa (medula espinhal –> ramificações nas fibras músculo esqueléticas) e gama (músculo esquelético –> fibras intrafusais). Ambos motoneurônios, exercem o papel de transmissão bidirecional da informação. O controle do movimento voluntário é baseado em respostas neurofisiológicas moduladoras da atividade neural em conjunção com uma sequências de eventos. O sistema nervoso central (SNC) como orgão-presidente, atua sobre o cérebro e medula espinhal integrando e organizando as informações sensoriais e motoras no controle do movimento. Por meio do córtex motor que envia sinais pelos axônios, os músculos conseguem controlar a coordenação dos movimentos e da postura. A ativação da unidade motora sobre a influência de impulsos nervosos que conduzem os motoneurônios alfa, cujo determinado grau de recrutamento contrairá a fibra muscular. A velocidade de contração muscular, por meio do sistema neuromotor, ajusta os reflexos de proteção durante a coordenação e o equilíbrio. Almeida (1999) argumenta que o SNC se utiliza de múltiplas possibilidades na execução do movimento em busca de uma única solução. Na visão deste autor, a biomecânica, contribui metodologicamente para uma descrição cinemática e\ou cinética do ângulo, velocidade, aceleração e torque muscular nas ações motoras. Conforme a tarefa motora, ocorrem invariabilidades de ordem cinemática, controlando amplitudes articulares e alternâncias nas mudanças espaço-temporais dos alvos-finais. Ao estudar a existência de um sistema sensório-motor integrado, Medeiros (2007) retrata uma necessidade de respostas adaptativas às circunstâncias do meio ambiente, decorrentes de processos cognitivos que estariam presentes em estágios de vida extremamente precoces, como dos recém-nascidos. Os proprioceptores (receptores localizados músculos, articulações e tendões) retransmitem a informação acerca da dinâmica da atividade motora para o SNC. 17


McArdle et al (2011) lembram o papel importante dos proprioceptores no monitoramento contínuo de qualquer estratégia de movimento, conseguindo criar modulações para o comportamento motor objetivado. Na atividade esportiva, Platonov (2008) salienta acerca da eficácia da atividade motora específica competitiva. O controle motor por meio dos mecanismos neurológicos, psicológicos e fisiológicos regulam a construção hierárquica das ações especializadas que constituem o arcabouço técnico\tático da modalidade. Em geral, resumidamente, as principais habilidades executadas pelos futebolistas em sua diversidade motora incluem: o passe, o drible, o chute, o cabeceio (ofensivo e defensivo), o controle de bola, controle de corpo e o desarme. As habilidades motoras executadas no futebol são de análise complexa. Segundo Shan & Westerhoff (2015), uma análise mais detalhada das ações do futebolista requerem o uso de imagem tridimensional. Os autores reportam que o chute é um dos movimentos mais estudados. Na pesquisa, sobre a eficácia do chute, ficou evidenciado que a execução do chute é dependente de toda uma coordenação multi-articular. O movimento rotacional do tronco em concordância com os membros superiores, propiciam uma condição para gerar a contração muscular explosiva, através do pré-alongamento, resultando em um chute mais potente. Ao comparar o movimento do chute em duas condições experimentais distintas (bola parada ou bola em movimento), Egan et al (2007) citam que jogadores mais experientes utilizam a flexão rápida do joelho como uma estratégia de exploração dinâmica na busca pela precisão. Segundo Teixeira et al (1998) as habilidades complexas no futebol de condução de bola, chute de precisão e chute de potência efetuados com as pernas dominante e não dominante, denotam assimetrias laterais específicas a tarefa motora devido principalmente ao caráter dinâmico das ações. Os movimentos balísticos na diversidade de chutes empregados possuem uma relação existente entre a velocidade do movimento e a precisão. Na propulsão da bola, as ações balísticas tem a intenção de projetá-la em determinado local (jogador, gol, etc). Assim, a área-alvo virtualmente projetada requer da precisão para se atingir o alvo real. São as alterações que podem ocorrer no perfil cinemático do chute (força inercial e força muscular) que irão afetar o controle dos movimentos (Teixeira, 2000). Nos esportes coletivos, como o futebol, devido a imprevisibilidade que norteia as ações durante a partida, ocorre uma grande variabilidade dinâmica e mutabilidade para solucionar as tarefas motoras nestas condições instáveis, afetando diretamente os padrões neuromusculares coordenativos e requerendo um alto grau de neuroplasticidade.

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5.0 - BIOENERGÉTICA E FUTEBOL As diferentes formas de trabalho biológico se utilizam da energia de reações químicas derivada dos alimentos, para uma cíclica conversão ao trabalho mecânico do músculo esquelético. Para MacArdle et al (2011), a definição de bioenergética retrata o fluxo e a permuta de energia no aporte de um sistema vivo. Os autores advogam que no corpo, a energia química derivada dos macronutrientes, inicialmente segue para o sistema muscular para ser convertida em trabalho mecânico, e posteriormente, dispersa-se em energia térmica sob a forma de calor. O entendimento da bioenergética permite solucionar questões de como a maquinaria humana responde ao estresse fisiológico imposto pela atividade motora. O fornecimento de energia para o trabalho muscular durante o exercício é regido por três macrosistemas interligados e sobrepostos: sistema anaeróbio alático, sistema anaeróbio lático e sistema aeróbio.

Função

Quadro 02 – Distribuição energética no futebol Anaeróbio Alático Anaeróbio Lático

Aeróbio

Goleiro

80,00%

20,00%

0,00%

Meio-Campo

60,00%

20,00%

20,00%

Atacante

80,00%

20,00%

0,00%

Ponta

80,00% 20,00% (Adaptado de Bompa & Haff, 2012)

0,00%

5.1 - Sistema Anaeróbio Alático A moeda corrente resultante da conversão dos elementos químicos celulares e moleculares para a atividade mecânica da musculatura esquelética é conhecida como adenosina trifosfato (ATP). A contração muscular se dá pela quebra da ATP em adenosina difosfato (ADP) e um íon de fosfato. Pelo fato de existir uma pequena quantidade de ATP nos músculos, suficiente para aproximadamente dois segundos de trabalho em alta intensidade, a garantia de um trabalho mais prolongado se dará pela ressíntese de ATP. Essa ressíntese é obtida pelas reações anaeróbias, como também pelas vias aeróbias (Platonov, 2008). O sistema anaeróbio alático é caracterizado por uma elevada potência na liberação de energia e curta duração. Neste sistema, a fosfocreatina (PCr) é a substância precursora para recompor o ATP. Para MacArdle et al (2011), a energia 19


imediata gerada pelo sistema anaeróbio alático em atividades motoras de curta duração e altíssima intensidade, como por exemplo, na prova de 100 metros do atletismo, provém quase que de forma exclusiva do trinômio fosfagênio-ATP-PCr. Este processo que não necessita da presença do oxigênio para ser acionado, e também pelo fato de não necessitar de uma série de reações químicas funcionais, costuma esgotar as reservas de fosfocreatina em até aproximadamente 10 segundos de exercício máximo de curta duração no desempenho. De acordo com Goulart et al (2007), no decorrer de uma partida do futebol, em média a cada 90 segundos, é realizado um sprint com duração de dois a quatro segundos. As movimentações que incluem: trote, corrida em intensidade média, sprints de curta duração, saltos intercalados por períodos andando ou parados, geram tempo suficiente para ressíntese dos fosfagênios. Neste sentido, o metabolismo anaeróbio alático se faz presente nos jogadores de linha. Todavia, vale lembrar que a capacidade de ressintetizar rapidamente o ATP está relacionado com a capacidade aeróbia, ou seja, quanto melhor a aptidão aeróbia do jogador, mais efetiva será sua recuperação dos esforços intermitentes intensos (Soares & Rebelo, 2013). O goleiro é outro jogador que se utiliza das vias aláticas durante as suas ações motoras. Porém, diferente dos jogadores de linha, a atividade motora do goleiro de futebol está relacionada a potência anaeróbia alática, resultando em redução pequena do ATP-CP (Gallo et al, 2010). 5.2 - Sistema Anaeróbio Lático No sistema anaeróbio lático, o fosfagênio dará prosseguimento num ritmo mais acelerado para suprir as demandas energéticas exigidas pelo exercício de curta duração. Esse processo também é conhecido com glicolítico. Este termo é atribuído por envolver a degradação incompleta do carboidrato em ácido lático. A conversão do carboidrato em glicose com parte deste em utilização imediata, e outra parte convertida em glicogênio muscular e hepático para futuro aproveitamento (Foss & Keteyian, 2000). Neste sistema que é movido sem a presença do oxigênio, a glicose, principal fonte de energia, participa ativamente em exercícios de intensidade alta, mas não máxima. Na premissa de Tubino apud Larangeira & Leal (2011), o metabolismo lático se origina na decomposição das reservas de glicogênio muscular e hepático e por consequência, produz ácido lático. Azevedo et al (2009) ao revisarem aspectos bioenergéticos, chamam a atenção para as fibras de contração rápida, que possuem um maior concentração da isoforma lactato desidrogenase (LDH), causando a conversão de piruvato em lactato, resultando em aumento na sua concentração muscular e sanguínea. Isso se dá no exercício intenso, a partir de quando o hidrogênio não suporta o ritmo de sua oxidação, o piruvato acaba criando uma união temporária com o hidrogênio para formar o lactato (McArdle et al, 2011). 20


As atividades motoras de intensidade máxima com 1-3 minutos de duração, que caracterizam esse sistema, levam ao rápido acúmulo de lactato (McArdle et al, 2011 ; Platonov, 2008). Os valores de lactato na prática futebolista representam a participação do sistema anaeróbio lático. A flutuação de valores do lactato em partidas tem sido menores no final do segundo tempo, quando comparado com o final do primeiro período do jogo. Sobre este aspecto, Silva et al (2000) encontraram médias de lactato na ordem de 7,1+\-0,6 mM no fim do primeiro período e 5,7+\-1,3mM (p<0,05) ao fim da partida. Ao dividir os jogadores por função tática, os valores foram: meiocampistas (6,4+\-1,8mM e 5,6+\-1,2mM), laterais (6,9+\-2,9mM e 4,7+\3,0-mM) e atacantes (7,7+\-1,8mM e 7,2+\-2,1mM). Em sessões de treino, os valores de lactato tem se apresentado superiores: 10,8+\-5,35mM (Lopes et al, 2009). 5.3 - Sistema Aeróbio O sistema aeróbio de produção da energia, também denominado oxidativo, envolve o uso de oxigênio nas reações bioquímicas. Nestas reações aeróbias, são utilizados de forma sequencial e devidamente sobrepostos, a glicose, os lipídeos e as proteínas como substrato em atividades acima de 3 minutos de duração (Astrand & Rodahl, 1980). Segundo Foss & Keteyian (2000), podemos dividir o sistema aeróbio em duas partes: a primeira, que consiste no término da oxidação dos carboidratos e a segunda parte, que consiste no prosseguimento com a oxidação dos ácidos graxos livres e dos aminoácidos. O ciclo de Krebs é que organiza a via final de oxidação destes substratos. Importante ressaltar que ocorrem inúmeras interconversões dos nutrientes no sistema aeróbio. As gorduras, para se fracionarem, são dependentes dos carboidratos para se catabolizar em sua usina metabólica. Já, as proteínas, durante sua desaminação perdem a molécula de aminoácido com os restos do esqueleto de carbono penetrando nas vias metabólicas para produção do ATP (McArdle et al, 2011). Apesar do futebol ser realizado em dois tempos de quarenta e cinco minutos, totalizando uma hora e trinta minutos de duração, não podemos considerá-lo uma atividade aeróbia. O sistema oxidativo se torna relevante para o futebol durante os intervalos ativos e\ou passivos na partida entre os sprints de intensidade variada, ou seja, na recuperação. O consumo máximo de oxigênio (VO2máx) é indicador mais representativo do sistema aeróbio. Em futebolistas, os valores médios de VO2máx se encontram na faixa de 60 ml\kg\min (Haugen et al, 2014 ; Mercer et al, 1997 ; Rhea et al. 2010 ; Silva et al, 2011). Tais valores, são caracterizados como inferiores, se comparado a modalidades consideradas de endurance. Comparando o VO2máx por função tática, os meio-campistas apresentam 21


valores 8% maiores que os goleiros (Haugen et al, 2014). O binômio limiar anaeróbio e economia de movimento regem o desempenho dos futebolistas de elite em testes diagnósticos do VO2máx (Ziogas et al, 2011). Conforme Soares & Rebelo (2013), a importância do sistema aeróbio bem desenvolvido reflete-se em um aumento na distância percorrida pelo atleta, como também da intensidade, número de sprints e maior envolvimento com a bola.

Sistema

Quadro 03 – Resumo dos sistemas bioenergéticos Fonte Energética Característica Tempo de Recuperação

Anaeróbio alático

ATP-CP

Energia imediata Elevada potência Curta duração

3 a 5 minutos

Anaeróbio lático

Carboidrato

Intensidade máxima de curta e média duração

24 a 48 horas

Aeróbio

Carboidratos Gorduras Proteínas

Média e longa duração de 24 a 48 horas intensidade moderada (Adaptado de Foss & Keteyian, 2000 ; McArdle et al, 2011 ; Wilmore & Costill, 2001)

22


6.0 - PRINCÍPIOS DO TREINAMENTO DESPORTIVO A elaboração dos programas de treinamento físico desportivos contemporâneos seguem as leis científicas de certos princípios. A literatura costuma apresentar uma grande diversidade destes princípios, a maioria interconectados. Para efeito deste texto, cuja abordagem é sobre a capacidade biomotora força, ficaremos restritos aos seguintes princípios: individualidade biológica, adaptação, sobrecarga, interdependência volume e intensidade, continuidade, desadaptação, especificidade, variabilidade, progressividade, concorrência e treinabilidade. 6.1 - Princípio da individualidade biológica Este princípio advoga que somos seres humanos distintos, ou seja, únicos. Parte do pressuposto que possuímos características herdadas geneticamente (genótipo), tais como a composição das fibras musculares, o biotipo, altura máxima, etc. Somando-se a isto, surge o conceito de fenótipo, que se refere as contribuições externas ao longo da vida (no caso, o treinamento). Desta forma, o fenótipo, por meio do desenvolvimento de programas de treinamento, permitiria aumentos nos valores de VO2máx, força máxima, etc (Azevedo et al, 2007). A individualidade biológica se aplica também aos gêmeos em suas variações (monozigóticos ou dizigóticos) (Cavaliere Junior, 2009). Pesquisas realizadas nas décadas de 1970-1980 indicam que gêmeos submetidos a um programa de treino idêntico irão resultar em responsividades diferentes. Sendo assim, conforme Dantas (2003), quanto maior for individualizado a prescrição do treino, maiores são as chances deste indivíduo atingir seu máximo desempenho. 6.2 - Princípio da Adaptação A homeostase é um estado de equilíbrio do organismo. O princípio da adaptação refere-se a Síndrome de Adaptação Geral proposta por Hans Selye em 1936. Esta lei confere ao organismo uma série de mudanças funcionais decorrentes da quebra da homeostase. Esta quebra ocorre pelos estímulos oriundos das cargas de treinamento. Conforme a magnitude desses estímulos (débeis, médios, fortes ou supramáximos), ocorrerão as adaptações positivas ou negativas. No treinamento racionalmente organizado, a busca constante é pelas adaptações positivas, pois são as mesmas que permitiriam a supercompensação orgânica numa direção de aperfeiçoamento fisiológico da capacidade biomotora que 23


está sendo trabalhada. 6.3 - Princípio da Sobrecarga O princípio da sobrecarga é baseado nas adaptações funcionais (agudas ou crônicas) que ocorrem no organismo do atleta. Expondo o organismo do atleta às sobrecargas, proporcionaria adaptações nos processos de anabolismo\catabolismo responsáveis pela evolução do seu desempenho. Vale recordar que essas sobrecargas impostas devem ser racionalmente organizadas na busca por respostas orgânicas apropriadas (Pereira & Souza Junior, 2003). Este princípio está intimamente correlacionado com o princípio da adaptação. O direcionamento das cargas deve respeitar as adaptações requeridas. Por isso, Bompa & Haff (2012) classificam as cargas como sendo: estressoras, de manutenção ou recuperativas. 6.4 - Princípio da Progressividade No princípio da progressividade, as cargas devem ser aplicadas de forma gradual e respeitando os períodos específicos de adaptação da capacidade biomotora. A progressividade pode se dar por variados meios, entre eles: aumento da frequência semanal de sessões de treino, acréscimos graduais no volume e\ou intensidade, orientações mais específicas das cargas, inclusão de novos métodos de treinamento, etc (Badillo & Ayestarán, 2001). 6.5 - Princípio da Interdependência Volume e Intensidade A interdependência do volume (quantidade) e da intensidade (qualidade) se dá de forma antagonista. Conforme ocorre a aplicação das cargas nos seus devidos períodos de preparação e de acordo com o modelo de periodização utilizado, o volume das atividades deverá ser acrescido seguido pela concomitante redução na intensidade e vice-versa na direção contrária; com a redução do volume acompanhado pelo aumento da intensidade.

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Quadro 04 – Variáveis manipulativas no treino de força Volume Intensidade Densidade Alterações no número de repetições

Aumento das cargas

Alterações na frequência

Alterações no número de séries

Aumento do grau de dificuldade

Distribuição das sessões

Alterações no número de exercícios

Mudança de exercício

---

---

Redução dos intervalos (Adaptado de Kamel, 2004)

---

6.6 - Princípio da Especificidade A especificidade está relacionada as características e exigências particulares da modalidade praticada pelo atleta (Weineck, 1999). Os aspectos bioenergéticos com a utilização adequada dos substratos fisiológicos. A morfofuncionalidade do desporto que requer atletas com somatotipos específicos. Soma-se a isto, o respeito aos parâmetros dos desenhos biomecânicos da atividade competitiva. Por último, os métodos de treino empregados que se relacionem com atividade motora da devida modalidade. 6.7 - Princípio da Concorrência As diferentes capacidades biomotoras se apresentam com suas particularidades que exigem conhecimentos quanto a heterogeneidade sequencial. Determinadas sequências de sessões de treino com orientações heterogêneas causam efeitos antagônicos, no qual uma vai se sobrepor a outra, ou seja, a concorrência. O treino de força tem sido o mais estudado quanto ao efeito da concorrência em relação ao treino de caráter aeróbio (Paulo et al, 2005). O quadro 05 apresenta algumas das principais capacidades biomotoras que sofrem interferência do princípio da concorrência.

25


Quadro 05 – Concorrência das capacidades biomotoras Capacidades biomotoras antagônicas 1

Treinamento aeróbio # Treinamento de força

2

Treinamento de flexibilidade # Treinamento de força

3

Treinamento aeróbio # Treinamento de velocidade

4

Treinamento aeróbio # Treinamento de resistência de velocidade

5

Treinamento aeróbio # Treinamento de agilidade

6

Treinamento de força # Treinamento de coordenação

7

Treinamento anaeróbio # Treinamento de força

8

Treinamento técnico-tático # Treinamento de força (Adaptado de Marques Junior, 2012) 6.8 - Princípio da Treinabilidade

Segundo Tubino & Moreira (2003), o princípio da treinabilidade refere-se a janela de adaptação funcional dos atletas. Enquanto atletas jovens possuem uma grande reserva de adaptação para o treinamento, ao contrário, os atletas de elite possuem uma janela de adaptação menor (devido principalmente aos longos anos de treinamento a que foram expostos). Isso significa, que nos atletas de elite, o organismo dos mesmos responderá com adaptações fisiológicas de forma mais lenta às cargas se comparado aos atletas jovens. Se quisermos alcançar desempenhos cada vez mais superiores nos atletas altamente treinados, devemos nos atentar a qualquer pequeno detalhe do treino que possa fazer a diferença (meios, métodos e recursos). 6.9 - Princípio da Variabilidade Este princípio preconiza que os estímulos de treinamento no qual os atletas são submetidos devem sofrer variações. Sem uma adequada variação nas cargas (volume, intensidade e\ou densidade), nos meios e métodos de treinamento, os atletas estarão sujeitos a uma espécie de platô no seu desenvolvimento. De acordo com Lussac (2008) uma diversificação nestas variáveis envolvidas nos estímulos de treino possibilitariam elevações no desempenho físico dos atletas.

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6.10 - Princípio da Desadaptação Com a interrupção ou diminuição das cargas regulares de treinamento por determinados períodos, como no caso de lesões ou férias dos atletas, ocorre uma queda na manutenção dos níveis de condicionamento fisico. Este fenômeno recebe diferentes denominações: desadaptação, destreinamento, reversibilidade (Powers & Howley, 2000 ; Mujika & Padilla, 2001 ; Platonov, 2008). Com a desadaptação, os reajustes fisiológicos adquiridos no treinamento sofrem uma queda, que é dependente proporcionalmente ao intervalo do tempo de interrupção dos treinos. Esses desajustes ocorrem a nível cardiovascular e neuromotor. Na visão de Platonov (2008), cada um desses sistemas funcionais reage com ritmos diferentes. No aspecto cardiovascular, Powers & Howley (2000) salientam que cinco dias de destreino ocasionam distúrbios nas mitocôndrias celulares podendo chegar a perdas de 50% daquilo que foi adquirido anteriormente. Em adição, MacArdle et al (2011) revelam que o destreino aeróbio reduz o tamanho e número das mitocôndrias, assim como as enzimas responsáveis pela capilarização e oxidação de carboidratos e das gorduras. Na questão neuromuscular, Platonov (2008) aponta que no terceiro e quarto dia de inatividade é possível observar uma diminuição significativa no tecido muscular. O autor reporta uma queda acentuada na força máxima devido a redução do sistema nervoso de recrutar unidades motoras. Outro fenômeno ligado ao princípio da desadaptação é a denominada ¨acomodação¨. A acomodação consiste no uso frequente de uma mesma atividade, exercício e\ou sobrecarga, sem variabilidade no seu volume ou intensidade, resultando em queda nas adaptações adquiridas anteriormente. As habilidades motoras técnicas específicas da modalidade parecem ser as menos afetadas pelo processo de destreino (Platonov, 2008). 6.11 - Princípio da Continuidade A continuidade está intrinsecamente relacionada a um continuum dos programas de treinamento. Em todo programa de treino deve existir uma sequência lógica e devida regularidade em relação às sessões de treinamento. Por exemplo, se for agendado sessões de treino às segundas, quartas e sexta-feiras, não deverá ser alterado essa sequência com a exclusão de algum desses dias. A eliminação da segunda-feira e sexta-feira, por exemplo, não permitiria um desenvolvimento adequado das respostas fisiológicas correspondentes ( sessão 1 → sessão 2 → sessão 3 → ...). 27


O princípio da continuidade está visível principalmente na periodização, com sequências racionalmente programadas: (microciclo 1 → microciclo 2 → microciclo 3...) + (mesociclo 1 → mesociclo 2 → mesociclo 3...) + (macrociclo 1 → macrociclo 2 → macrociclo 3...).

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7.0 - FISIOLOGIA MUSCULAR E FUTEBOL O corpo humano possui aproximadamente 600 músculos envolvidos por um tecido conjuntivo fibroso. As fibras músculares esqueléticas de formato cilíndrico e alongado são constituídas de sarcolema, sarcoplasma e miofibrilas. Nas miofibrilas são encontradas subunidades menores, denominadas filamentos. Esses filamentos de proteínas (actina, miosina e titina) dentro do sarcômero estão dispostos longitudinalmente, e são responsáveis pela mecânica do regime de contração muscular através da sua sobreposição entrelaçada (pontes cruzadas) (Wilmore & Costill, 2001). O encurtamento ou alongamento das fibras musculares se dá pela hidrólise do ATP, no qual a cabeça de miosina por meio do papel da ATPase ativada pela actina produz a mecânica de deslizamento. Esses ciclos de deslizamento possuem um caráter assincrônico e são regidas por eventos químicos-cinéticos (McArdle et al, 2011). A lei do ¨tudo ou nada¨ é o mediador da contração muscular. A base dessa lei parte da premissa de que o impulso e subsequente disparo neural, provocaria ou não uma contração. Toda contração muscular é dependente: 1) axônios que inervam o fuso muscular, 2) quantidade de motoneurônios e 3) interneurônios reguladores (excitatórios e\ou inibitórios) (McArdle et al 2011). Quanto a classificação dos tipos de fibras musculares, Foss & Keteyian (2000) citam: fibras tipo I (vermelhas, tônicas, contração lenta, oxidativas), tipo IIa (branca, fásica, rápida-oxidativa-glicolítica), tipo IIb (branca, fásica, rápida-glicolítica) e tipo IIc (indiferenciada, não-classificada, interconexão). A distribuição do tipo de fibra muscular tem forte influência genética. Na unidade motora, o tipo de fibra muscular é homogêneo. Contudo, um grupo muscular possui constituição variada em diferentes proporções. Essa variedade nos tipos de fibra e unidades motoras é que permite a musculatura esquelética se adapte as demandas do meio externo. Apesar da constituição dos tipos de fibras sofrerem influência genética, suas características podem sofrer alterações que são orientadas conforme a especificidade do treinamento (Tricoli & Barbanti, 2003). Platonov (2008) complementa que são observadas proporções diferenciadas das fibras nos atletas de alto desempenho. Essa diferenciação se dá pelo tipo de carga principal orientadora da modalidade (resistência ou força\potência). Portanto, o tipo de fibra pode ser considerado como um dos fatores determinantes do desempenho e da capacidade funcional do atleta.

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Quadro 06 – Principais tipos de fibras musculares esqueléticas Características Tipo I Tipo IIa Tipo IIb Energia

aeróbia

Mista (aeróbia\anaeróbia)

anaeróbia

Velocidade de contração

baixa

elevada

muito elevada

Velocidade de relaxamento

baixa

elevada

elevada

Diâmetro

pequena

grande

grande

Velocidade de fadiga

lenta

moderada\rápida

rápida

Capilarização

elevada

moderada

baixa

Mitocôndrias

elevada

moderada

baixa

Cor

vermelha

branca

branca

Via de fonte do ATP oxidativa glicólise-oxidativa glicolítica (Adaptado de Foss & Keteyian, 2000 ; McArdle et al, 2011 ; Wilmore & Costill, 2001) A composição das fibras musculares em futebolistas jovens foi investigada por Metaxas et al (2014). Os jogadores foram divididos em três grupos respeitando-se a idade e o tempo de treinamento no futebol: grupo A (11,2+\-0,4 anos com 3,7+\-1,5 anos de treinamento), grupo B (13,1+\-0,5 anos com 6,6+\-1,6 anos de treinamento) e grupo C (15,2+\-0,6 anos com 8,0+\-1,1 anos de treinamento). A análise da composição das fibras foi realizada por meio da biópsia do músculo vasto lateral do membro dominante. Em termos comparativos, no grupo C em relação ao grupo A e B foi encontrada predominância de 18% de acréscimo das fibras de contração rápida tipo IIa. Todavia, o número de células satélites não diferiu entre os grupos. Os autores atribuem esse resultado aos efeitos dos diferentes regimes de treino e cargas ao qual os jogadores são submetidos com o evoluir da idade. Outro estudo que analisou o perfil das fibras musculares, comparou a composição das fibras, o tamanho e características capilares entre futebolistas de elite jovens e sedentários com idades semelhantes. No percentual e diâmetro da fibra não foram encontradas diferenças entre os grupos. No entanto, nos futebolistas, todos os diferentes tipos de fibras apresentaram tamanhos maiores. Foram maiores: média de capilares em torno de cada fibra, densidade capilar maior e capilar maior em relação proporcional à fibra (Kuzon et al 1990). Apesar de não encontrarmos na literatura alguma pesquisa sobre a composição 30


das fibras em futebolistas adultos, acreditamos que o foco dos estudos deveriam ser sobre as categorias de base. Será interessante na formação dos jogadores, verificar os tipos de fibra, para efeito de controle evolucional da idade cronológica e maturacional em relação as cargas específicas que os jovens são submetidos. Cargas específicas devidamente orientadas, permitiriam a construção de uma composição de fibras tidas como ¨ideal¨ para a prática do futebol.

31


8.0 - FORÇA A segunda lei de Newton apregoa que a força é o produto da massa pela aceleração (F= m.a). A capacidade do músculo de produzir tensão frente a uma resistência de ordem externa é denominado força. Todavia, esta definição pode ser considerada muito simples quando nos referimos a atividade motora. Na ação motora esportiva, existe uma relação ativa primária do sistema nervoso central, permitindo que o aparelho contrátil muscular reaja por meio de tensões às cargas externas impostas (Bompa & Haff, 2012 ; Verkhosahnsky, 2001). Barbanti et al (2004) acrescentam que a força motora sofre dependência dos fatores tempo e velocidade frente as cargas. A determinação da força é dependente da atividade combinada de vários músculos: agonistas, antagonistas, sinergistas, estabilizadores, entre outros. A magnitude da força exercida pelo atleta durante um mesmo movimento sofre influências do tempo disponível para o desenvolvimento da força, velocidade de execução, posição corporal (alavancas) e direção do movimento (Zatsiorsky & Kraemer, 2008). De acordo com Moura (2003), existem três situações típicas quando um grupamento muscular é solicitado: 1) resistência externa menor que a força gerada pelo músculo, ocasionando o seu encurtamento e o movimento; 2) resistência externa equivalente a força gerada pelo músculo, não causando mudanças no comprimento muscular e sem realizar movimento; 3) resistência externa maior que a força gerada pelo músculo, ocasionando o seu alongamento.

Exercício estático dinâmico

Quadro 07 – Tipos de ação muscular Ação do músculo Comprimento muscular isométrica

sem alteração

concêntrica \ encurta \ alonga excêntrica (Adaptado de Moura, 2003)

Resistência externa igual menor \ maior

Métodos de treinamento que privilegiam a força dinâmica (concêntrica \ excêntrica) são considerados superiores ao trabalho isométrico (Platonov, 2008). O treino isométrico tende a ficar restrito aos ganhos de força nos respectivos ângulos articulares treinados. Existem diferentes tipos de manifestações da força muscular que podem ser desenvolvidas em um programa de treinamento. A escolha, quanto ao tipo, frequência 32


e duração do treino das valências de força são dependentes da modalidade praticada. Platonov (2008) cita três tipos básicos de força: força máxima, força de velocidade e força de resistência. No entanto, Bompa & Haff (2012) declaram as manifestações da força no esporte de forma mais analítica: força geral, força especial, força de velocidade, força máxima, resistência muscular, força absoluta e força relativa. A preparação de força na atividade esportiva visando o alto rendimento deve ser trabalhada de forma multifacetada.

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9.0 - FORÇA MOTORA NO FUTEBOL Uma classificação analítica das necessidades de força nos jogadores divididos por função tática foi apresentada por Bompa (2001b). Ficou restrito aos zagueiros, meio-campistas e atacantes. Barbanti apud Rinaldi et al (s\data) classifica a especificidade de força nos esportes coletivos em: força de lançamento, força de salto, força de sprint e força de resistência. Pombo (1998) ao estudar a estrutura de treino da força no futebol ao longo da temporada, apresenta uma organização em três níveis: força de base, força-coordenação e força específica do futebol (sequencial e intermitente). No quadro 08, baseados nos autores mencionados, e com a nossa visão e abordagem, que leva em conta aspectos técnicos-táticos, apresentamos os tipos de força necessárias para as diferentes funções no futebol.

Quadro 08 - Tipos de força no futebol por função tática Função Tática Expressões da Força atacantes

força explosiva, força de aceleração, força de desaceleração, resistência de força rápida, força de salto, força de sprints

meio-campistas

força de aceleração, força de desaceleração, resistência de força rápida, força de salto, força de sprints, força de lançamento

zagueiros

força explosiva, força de aceleração, força de desaceleração, resistência de força rápida, força de salto, força de sprints, força de lançamento

goleiros

força reativa, resistência de força rápida, força explosiva

No futebol, pelas ações motoras expressas durante uma partida, como os chutes, giros, saltos, deslocamentos frontais, laterais e de costas seguidos por mudanças de direção em diferentes intensidades, podemos dizer que se faz necessária uma implementação de progressão didático-pedagógica das seguintes manifestações da força: resistência muscular localizada, hipertrofia, força máxima, resistência de força rápida e força explosiva. 34


Importante frisar, que não basta apenas a aplicação das cargas de força nas suas respectivas variações, é preciso criar condições favoráveis para a transferência de força em direção a ação motora presente na atividade futebolística.

9.1 - Resistência Muscular Localizada Bompa (2001a) intitula o trabalho inicial de resistência muscular localizada (RML) de adaptação anatômica. A resistência de força se relaciona com a capacidade do atleta de suportar a fadiga, conservando indicadores da força, em condições de desempenho que requeiram o uso prolongado da mesma (Platonov, 2008 ; Weineck, 1999). Manso (1999) considera a força de base como orientação para uma adequada adaptação ligamento-músculo-articular. Para Bossi (2005) a RML trabalha com a intenção de resistir aos esgotamentos derivados das exigências dos componentes da força. A posição de Powers & Howley (2000) sobre a RML se refere a capacidade de aplicação da força de maneira prolongada, mantendo a qualidade do gestual técnico. A RML é manifestada em exercícios cuja fadiga é resultante do funcionamento dos elementos constituintes do sistema neuromuscular. É caracterizada tipicamente pelo elevado número de repetições quanto pelo tempo em que se consegue manter com determinado ritmo de levantamentos e\ou posturas (Zatsiorsky & Kraemer, 2008). Em grande parte das modalidades cíclicas de média e longa duração a RML é uma das qualidades determinantes para alcançar o alto rendimento. Isto devido ao elevado número de repetições de movimentos solicitados. O trabalho de RML aumenta o potencial oxidativo muscular. Oliveira (2004) apresenta uma taxionomia para a RML, assim disposta: RML aeróbia dinâmica, RML aeróbia estática, RML anaeróbia dinâmica e RML anaeróbia estática. O objetivo do treino de RML é o de criar pré-condições fisiológicas nas estruturas musculares do aparelho locomotor para que o corpo do atleta suporte aos trabalhos de força que serão enfatizados ao longo da temporada e servindo como meio preventivo de lesões. A RML é caracterizada por um treinamento de força que emprega cargas baixas com um número moderado a alto de repetições (Bompa, 2001a). Visa trabalhar exclusivamente todo equilíbrio da cadeia muscular agonista\antagonista de forma harmônica e simétrica, assim como, reforçar tendões e ligamentos antes da submissão aos treinos mais intensos (Bompa & Cornacchia, 2000). É um tipo de trabalho primário muito utilizado após retorno do jogador das lesões ou cirurgias. Conforme Barona & Ríos (2012) o melhor método para trabalhar a RML no futebol seria através do treinamento em circuito (circuit training), que se caracteriza 35


por uma série de exercícios enfatizando a musculatura motora global (primária e secundária), relacionada ou não, ao gestual técnico da modalidade. O futebol de alto nível preza muito pela integridade dos seus atletas durante os treinos, visando prevenir o surgimento de lesões. Souza et al (2014) propuseram uma forma de treino da RML com o objetivo complementar e de preservação dos atletas frente as cargas repetitivas monótonas e desgastantes: treino dos membros inferiores em meio líquido. No estudo dirigido por Pereira (2013), cujo objetivo era verificar a prática da musculação em times de futebol profissional no sul do país, foi constatado que na pré-temporada 60% dos preparadores físicos entrevistados trabalham a RML. Sendo a pré-temporada caracterizada por um período curto em relação a temporada, os trabalhos de RML acabam por realizar-se de forma concorrente com outras capacidades biomotoras, além dos exercícios de caráter técnico e tático (Oliveira et al, 2012). Alguns preparadores físicos, em modalidades de força\potência, costumam iniciar os programas de treino da força através da hipertrofia, deixando o trabalho de RML negligenciado a um segundo plano. Isto se deve ao fato de que a RML solicita preferencialmente das fibras de contração lenta, podendo acarretar em efeitos negativos nas atividades que dependem da força\potência. Silva & Oliveira (2003) defendem a ideia supracitada, afirmando que o futebol é uma modalidade de desporto coletivo que exige na sua essência a força e a velocidade em distâncias pequenas. Para eles, não é aceitável seguir a temporada esportiva baseados na pirâmide de treinamento tradicional, onde a base é a resistência aeróbia, seguido por anaeróbia lática e lática. A justificativa está baseada na conversão dos tipos de fibras, cuja orientação é mais dificultosa no sentido das fibras lentas para rápidas. Figura 01 – Orientação da conversão dos diferentes tipos de fibras musculares

I

IIc

IIa

LENTAS

RÁPIDAS

36

IIb


Quadro 09 – Modelo de treino da resistência muscular localizada Séries Repetições Intervalo Carga Velocidade Intervalo entre séries de execução entre sessões 2a5

12 a 35

30-65 segundos

30-60% 1RM

Moderada a rápida

48-72hs

O treino visando a RML pode ser executado por meio de circuito (circuit training). O treino em circuito é montado com diversas estações onde o atleta percorre uma estação no tempo pré-estabelecido e, em seguida, parte para o tempo de recuperação e estação subsequente. Ao se treinar em circuito, cada estação deve ser pensada de forma a não fadigar a mesma musculatura em estações seguidas, ou seja, a sequência das estações deve apresentar solicitações de diferentes grupos musculares. A vantagem do treinamento em circuito é aglomerar um número grande de jogadores e o fato do mesmo poder ser realizado no campo. Nos exercícios apresentados (quadro 10) fica a critério do preparador físico a escolha quanto ao uso de máquinas ou pesos livres. Para jogadores das categorias de base que estão em processo de formação, o adequado seria o emprego predominante das máquinas visando a preservação e aprendizagem da estabilidade corporal nos exercícios. Já nos atletas profissionais, pode ser dado ênfase ao uso de pesos livres, como também alternar cargas com pesos livres e máquinas. O quadro 10 não apresenta necessariamente os exercícios de forma sequencial para utilização. É apenas uma lista de opções possíveis dos exercícios.

Quadro 10 – Exemplos de exercícios para desenvolver resistência muscular localizada Membros Superiores 1

Supino reto

2

Supino inclinado

3

Puxada frontal (pulley)

4

Pull-over

5

Rosca direta

6

Rosca tríceps no pulley

7

Desenvolvimento frontal 37


8

Remada em pé (alta)

9

Remada sentada

10

Extensão de coluna Membros Inferiores

1

Cadeira extensora

2

Mesa flexora

3

Cadeira adutora

4

Cadeira abdutora

5

Flexão plantar no leg press Tronco

1

Abdominal

2

Abdominal com rotação do tronco

3

Abdominal invertido Pescoço

1

Exercícios isométricos (flexão\extensão e flexão lateral)

2

Suporte com carga (flexão\extensão e flexão lateral)

9.2 - Hipertrofia A hipertrofia muscular é uma adaptação morfológica visível através da área de secção transversal do músculo. Está associado a um aumento no material miofibrilar resultando em fibras musculares de maiores volumes. Consiste em um aumento da área transversal de cada fibra e não por meio do aumento no número de fibras (hiperplasia). A contribuição da hiperplasia no processo de crescimento muscular é na proporção menor que 5% (Guedes, 2012 ; Zatsiorsky & Kraemer, 2008). Dois processos de hipertrofia da fibra muscular são descritos: sarcoplasmática e miofibrilar. Na hipertrofia sarcoplasmática ocorre o crescimento do sarcoplasma através do aumento das proteínas não contráteis. A densidade da área dos filamentos diminui e a secção transversal da fibra aumenta sem acompanhamento da força muscular. Já, na hipertrofia miofibrilar, a mesma acontece por meio do alargamento da fibra com ganho de miofibrilas e filamentos (actina e miosina) (Zatsiorsky & Kraemer, 2008). Guedes (2012) postula que a hipertrofia miofibrilar é resultado de uma adaptação decorrente da sobrecarga tensional, enquanto a hipertrofia sarcoplasmática 38


deriva da sobrecarga metabólica. Os dois tipos de hipertrofia se manifestam em uma sessão de treinamento da força. Zatsiorsky & Kraemer (2008) propõem que a hipertrofia miofibrilar é encontrada em atletas de elite, enquanto a hipertrofia sarcoplasmática pode ser observada nos fisiculturistas. O mecanismo que explica o alcance da hipertrofia por meio do treino com pesos, é o da supercompensação proteíca muscular. Emerge na relação catabolismo durante as sessões e, subsequente anabolismo durante os repousos apropriados, aliado a recursos nutricionais (McArdle et al, 2011 ; Teixeira & Guedes Jr, 2009 ; Zatsiorsky & Kraemer, 2008). A influência hormonal para os atletas que objetivam a hipertrofia muscular deriva principalmente da testosterona (anabólico) e fatores de crescimento da insulina (IGF-1). Vale lembrar, o papel catabólico do hormônio cortisol. Assim, o equilíbrio entre anabolismo e catabolismo podem otimizar o processo de hipertrofia muscular. Azevedo et al (2009b) atestam que as citocinas pró-inflamatórias desempenham um papel relevante no desenvolvimento da hipertrofia. Os autores sugerem que estas mediadoras inflamatórias participam ativamente na regeneração muscular, ativação das células satélites e na síntese de proteínas. Durante a realização de treino resistido intenso e\ou no alongamento excêntrico, ocorre a expressão de uma isoforma muscular recém identificada, conhecida como mechano growth factor (MGF). Conforme Minamoto & Salvini (2001) podemos atribuir a MGF a capacidade de sinalizador molecular para hipertrofia derivada do estímulo mecânico. O tipo de protocolo empregado irá determinar o ganho de hipertrofia no comprimento e diâmetro do músculo (Zatsiorky & Kraemer, 2008). Em termos metodológicos, quanto ao treino visando hipertrofia, alguns autores defendem o uso de treinamento até a falha concêntrica (TFC), alegando que esta forma de treinamento permitiria maiores ganhos hipertróficos (Guimarães Neto, 2012). Por outro lado, trabalhos realizados com indivíduos experientes no treino de força demonstram que a utilização de TFC induz a um aumento do estresse oxidativo, que poderia resultar em sobretreinamento (Toscano et al, 2011). Comparando os efeitos da fadiga sobre o TFC em exercícios monoarticulares e multiarticulares, Eches et al (2013) comprovaram que durante a realização de séries múltiplas a 70% de 1RM, o desempenho motor não é sustentado em ambos tipos de exercícios, embora nos exercícios multiarticulares em menor grau. Outra pesquisa com a mesma finalidade, porém com cargas igual a 80% de 1RM por meio de TFC, encontraram respostas semelhantes (Barroso et al, 2011). Manso apud Vretaros (2003) destaca que a hipertrofia presente em diferentes modalidades de desporto sofrem variações: fisiculturista (hipertrofia geral), fundista (hipertrofia seletiva confirmativa de fibras lentas) e velocista (hipertrofia seletiva de fibras rápidas). Não objetivamos uma hipertrofia acentuada nos jogadores de futebol, como encontramos nos fisiculturistas. Todavia, vale chamar a atenção para alguns fatores 39


envolvidos na hipertrofia em futebolistas. Na teoria da evolução, desenvolvida por Charles Darwin, os seres vivos sofreram mutações e\ou adaptações com o passar dos tempos. Estudos sobre tendências seculares, na área de antropologia física, apontam que os seres humanos estão apresentando valores de estatura mais elevados, além de serem mais fortes. No passado, algumas décadas atrás, jogadores como Pelé e Garrincha com seu dribles desconcertantes sobressaiam-se nos jogos, com físicos corporais diferentes dos encontrados na atualidade. Observem Cristiano Ronaldo, Seedorf, Edgar Davids entre outros. Apesar de não encontrarmos pesquisas que suportem a tese na qual os futebolistas de hoje possuem um corpo mais hipertrofiado, acreditamos na observação direta para comprovar tal fato. Porém, não bastaria observar, é preciso mensurar o desenvolvimento da massa muscular. Sendo assim, o controle do índice de muscularidade pelo preparador físico é tarefa essencial. Portanto, verificações do somatotipo dos jogadores, com atenção no componente mesomórfico se faz necessário, para garantir um trabalho de força hipertrófica adequado para o rendimento no futebol. A título de ilustração, encontramos uma pesquisa sobre somatotipos em futebolistas turcos, realizada por Hazir (2010) com uma amostragem significativa. Foram analisados um total de 305 profissionais masculinos, da Super Liga Turca (n=161) e Primeira Liga Turca (n=144). Os componentes do somatotipo (endomorfiamesomorfia-ectomorfia) dos futebolistas estudados, de modo geral, a média encontrada foi de 2,4-4,8-2,3 (0,9-0,8-0,7). O somatotipo é dominado pelo componente mesomórfico, e baixa endomorfia e ectomorfia. Outra pesquisa demonstra dominância do componente mesomórfico (2-5 1\2-2) no futebol (Rienzi et al, 2000). Adicionalmente, Herdy et al (2013) estudaram 872 futebolistas masculinos das categorias sub-09, sub-11, sub-13, sub-15, sub-17, e sub-20 de um clube da primeira divisão do futebol brasileiro. Todas as posições (goleiros, atacantes, laterais, zagueiros e meias) foram analisados quanto ao somatotipo. Em todas as categorias houve valores maiores de mesomorfia que a ectomorfia e endomorfia. Portanto, com base nestes estudos, a predominância da mesomorfia nos indica massa muscular, o que implica hipertrofia. Pinno & González (2005) observam que o aumento da massa muscular nos esportes coletivos de invasão é bastante evidente nos dias atuais. Essa hipertrofia vem acompanhada de aumentos na força oferecendo uma segurança articular. A junção de aumentos na força, com treinos de velocidade e coordenação irão tornar os jogadores de futebol mais ágeis, sem causar efeitos negativos no desempenho. Em nossa visão, no treino de força hipertrófica voltada para os futebolistas, objetivamos uma hipertrofia seletiva das fibras de contração rápida.

40


Séries

3a5

Quadro 11 – Modelo de treino da hipertrofia muscular Repetições Intervalo Carga Velocidade entre séries de execução 8 a 15

2a4 minutos

65-85% 1RM

moderada

Intervalo entre sessões 36-48hs

Nos exercícios para o desenvolver da hipertrofia em futebolistas, seguem-se semelhantes aos exercícios de RML, também se podendo utilizar de outros diferentes. A questão central reside no período de tempo de aplicação do programa. Um programa que envolva um número longo de microciclos resultaria em grande ganho de massa muscular, podendo prejudicar o desempenho motor dos jogadores. Uma lei geral a ser respeitada é a ordem dos exercícios para um efetivo ganho de força. Exercícios multiarticulares devem preceder exercícios uniarticulares, evitando com isso, níveis de fadiga. Sugestão adicional refere-se a alternância de exercícios para os membros superiores com exercícios para os membros inferiores (Bompa & Haff, 2012 ; Fahey, 2014). Quadro 12 – Exemplos de exercícios para desenvolver hipertrofia muscular Membros Superiores 1

Supino reto

2

Supino inclinado

3

Puxada frontal (pulley)

4

Pull-over

5

Rosca direta

6

Rosca invertida

7

Tríceps no pulley

8

Desenvolvimento frontal

9

Remada em pé (alta)

10

Remada sentada

11

Extensão da coluna Membros Inferiores

1

Meio-agachamento 41


2

Agachamento búlgaro

3

Leg press

4

Cadeira extensora

5

Mesa flexora

6

Cadeira adutora

7

Cadeira abdutora

8

Flexão plantar no leg press Tronco

1

Abdominal

2

Abdominal com rotação

3

Abdominal invertido Pescoço

1

Exercícios isométricos (flexão\extensão e flexão lateral)

2

Suporte com carga (flexão\extensão e flexão lateral)

9.3 - Força Máxima Para Weineck (1999), a força máxima representaria a maior força que o sistema neuromuscular pode mobilizar por meio de uma contração voluntária máxima. Na concepção de Bompa & Haff (2012), a demonstração de força máxima mais visível é induzida pela maior carga que o atleta pode exercer de uma vez. A força funcional máxima na atividade esportiva, no conceito de Zatsiorsky & Kraemer (2008), é denominada força máxima maximorum. Força máxima é diferente da força absoluta. Platonov (2008) relata que o potencial da força absoluta pode ser concretizado em condições especiais (eletroestimulação, alongamento forçado da musculatura, etc). Para Weineck (1999) a força absoluta é representada pela soma da força máxima e da força de reserva mobilizada em condições extremas. A força máxima produzida por um músculo ou grupos musculares é dependente principalmente de fatores neurais que executam o disparo das unidades motoras, e não somente relacionado ao tipo de fibra muscular e a área de corte transversal (McArdle et al, 2011). 42


Existe uma distinção da força máxima: estática ou dinâmica. Segundo Weineck (1999) a força máxima de caráter estático será sempre maior que a força máxima dinâmica, pois o desenvolvimento da força máxima só ocorre quando a capacidade de contração muscular estiver em equilíbrio. Por meio do treino da força máxima ocorre o aperfeiçoamento da coordenação intra e inter-muscular. Conforme Weineck (1999) o desenvolvimento da coordenação intermuscular é realizado através de treino específico. Já na coordenação intramuscular, a velocidade de contração muscular pode ser aprimorada por meio de treinamento dinâmico de força máxima, especificamente, com métodos excêntrico e pliométricos. A força máxima não é desenvolvida de maneira independente. Ela surge como uma introdução a ser aplicada na força explosiva dos jogadores de futebol (Silva, 2011). Neste sentido, Harre & Lotz (1989) dizem que a construção de uma base sólida de força máxima consistiria no aspecto primário para posterior formação da capacidade de força explosiva. Existe uma correlação ótima da força máxima com a força de velocidade. Segundo Platonov (2008), essa correlação se manifesta quanto maior for a resistência mecânica a ser vencida. Weineck (1999) alega que a força máxima sofre dependência dos componentes: • estrias transversais dos músculos (linhas Z); • coordenação intermuscular (entre músculos que atuam como agonistas em um mesmo movimento); • coordenação intramuscular (coordenação e\ou sincronização interna dentro do músculo) Em jogadores de futebol da categoria infanto-juvenil, Moreira & Baganha (2007) estudaram a relação existente entre a força máxima e a velocidade média de corrida. Na pesquisa, o comprimento dos membros inferiores não apresentou relação com a velocidade. No entanto, a força máxima correlacionou-se significativamente com a velocidade média dos sprints de 40 metros (r=0,78). O treino de força máxima tem sido negligenciado na dinâmica de preparação dos futebolistas juvenis (Braz, 2010). O autor acompanhou a estruturação das cargas de uma equipe juvenil durante dezessete microciclos. Verificou que foi priorizado o treino de RML no período competitivo, sem realizar sessões da força máxima, o que influenciou no desempenho de velocidade nos sprints de 10 metros (manutenção) e 30 metros (queda no desempenho). Afirma que existe uma necessidade lógica de sistematização dos treinos de força máxima para alcançar melhores resultados na função neuromuscular no futebol. Em jovens futebolistas, com idades compreendidas entre 13 a 17 anos, Sander et al (2012) acompanharam durante dois anos um programa de desenvolvimento da força máxima no agachamento (frontal e costas). Houveram resultados positivos com o treino, sendo que a porcentagem real de ganhos na força nos dois tipos de 43


agachamento foram estimadas em 56-80% nos grupos A(17 anos) e B(15 anos). No grupo C(13 anos), os valores encontrados de ganhos na força foram de 230-250%. Também houveram ganhos na velocidade nos testes de sprints.

Séries

3a7

Quadro 13 – Modelo de treino da força máxima Repetições Intervalo Carga Velocidade entre séries de execução 1a6

3a5 minutos

85-100% 1RM

lenta

Intervalo entre sessões 24hs

Os mesmos conceitos apresentados para o treino da hipertrofia servem para confecção dos exercícios para treinamento da força máxima. Uma observação pertinente deve ser citada: como o treino de força máxima envolve cargas elevadas, talvez o uso dos aparelhos de musculação permitiriam atingir valores maiores de cargas se comparado aos pesos livres, além de proporcionar maior segurança. Todavia, alguns atletas de elite também conseguem levantar altas cargas com pesos livres. A escolha quanto ao uso de pesos livres ou aparelhos no treino da força máxima ficaria a critério final do preparador físico que conhece melhor os seus jogadores. Quadro 14 – Exemplos de exercícios para desenvolver força máxima Membros Superiores 1

Supino reto

2

Supino inclinado

3

Puxada frontal (pulley)

4

Rosca direta

5

Tríceps no pulley

6

Remada sentada Membros Inferiores

1

Agachamento

2

Meio-agachamento

3

Cadeira extensora

4

Mesa flexora 44


5

Leg press

6

Cadeira adutora

7

Cadeira abdutora

8

Flexão plantar no leg press

Um exemplo de periodização curta de oito semanas (microciclos) para desenvolvimento da força máxima dos jogadores é apresentado no quadro 15. Baseiase na concepção de alterar o volume\intensidade das cargas a cada dois microciclos para objetivar a força máxima, evitando o desenvolver da hipertrofia que ocasionaria ganho de peso. Quadro 15 - Exemplo de periodização de oito semanas para força máxima Semana 3 séries de 6 RMs 1-2 Semana 3-4

3 séries de 5 RMs

Semana 5-6

3 séries de 4 RMs

Semana 7-8

3 séries de 3 RMs

9.4 - Resistência de Força Rápida Na resistência de força rápida, sua responsabilidade é vista por manter a produção de força explosiva por períodos prolongados. Na atividade futebolística, essa resistência de força explosiva se dá de maneira extremamente breve (milissegundos) nas ações de paradas bruscas, saídas rápidas e constantes mudanças de direção. São aproximadamente em média 1400 ações de deslocamentos (curtos, médios e longos) com intensidade variada (Ré & Meira, 2011). As corridas em alta e sub-máxima intensidade se realizam repetidas 125 vezes (72-159), por 2,3 segundos em média (Krustrup et al, 2005). Zagueiros costumam realizar por partida, distâncias consideráveis de alta intensidade por meio de sprints (com menos cabeceios e desarmes) que os jogadores das outras funções. Atacantes cobrem distâncias em alta intensidade semelhantes aos meio-campistas e laterais, todavia sofrem um declínio mais acentuado nas distâncias em sprints quando comparados aos meio-campistas e defensores (Bangsbo et al, 45


2006). Manter níveis de resistência de força rápida durante uma partida pode se explicar pela elevação da temperatura muscular, que proporciona melhores impulsos nervosos e desinibição neural, como pela rápida capacidade de ressintetizar ATP-CP nos períodos de menor intensidade, e quando não, um aumento no percentual da via glicolítica e aeróbia para sustentar as demandas metabólicas (Dal Pupo et al, 2010). Assim como na força explosiva (próximo tópico a ser abordado), a resistência de força rápida é subordinada ao ciclo alongamento-encurtamento (CAE). O CAE parte do princípio do armazenamento de energia elástica. Através da reversão muscular do regime excêntrico para o concêntrico, de maneira rápida, o alongamento resulta numa ação concêntrica mais potente (Fleck & Kraemer, 2006). De acordo com Moura (2003), o CAE é o padrão de movimentação mais comum em atividades da locomoção humana, também chamado ciclo excêntricoconcêntrico. O autor explica que o CAE é ativado por meios reflexos, mecânicos e elásticos da musculatura esquelética. A ativação reflexa ocorre nos fusos musculares, por meio do alongamento, cujo arco-reflexo aumenta a tensão inicial melhorando a capacidade de gerar força. Os meios mecânicos correspondem ao movimento rotacional da cabeça de miosina propiciando maior energia na ação excêntrica. Por último, os meios elásticos são resultado dos elementos contráteis que armazenam energia potencial. Ao discorrer sobre o CAE, Marques Junior (2009) alega que existe uma ação direta sobre as propriedades mecânicas dos músculos (componente contrátil - CC, componente elástico em paralelo – CEP, e componente elástico em série – CES). No CC, a responsabilidade recai sobre a junção actina-miosina, requerendo energia para geração de força. O CEP atua na manutenção da estrutura muscular, executando a força de oposição na ação do alongamento. Já, no CES, localizado no tendão e entre as pontes cruzadas, amortece o músculo e sua inserção da movimentação brusca requerida. A metodologia empregada para desenvolver os trabalhos da resistência de força rápida é por meio do treino pliométrico. O treinamento de pliometria consiste tipicamente de exercícios que envolvem o CAE. Komi (2006) alega que as forças são geradas na rápida passagem da fase excêntrica para a contração concêntrica explosiva, por meio preferencial de uma ampla gama de alongamentos e forças de impacto como o andar, correr, saltar sobre efeito da ação gravitacional. São elementos naturais de recuo elástico do músculo (estiramento-recuo) mediados pelo reflexo miotático. Bosco (1985) explana que o CAE é o modelo preferido de atividade da musculatura na locomoção humana. Em um padrão de movimentação típico no futebol, as ações de andar, correr, saltar durante os treinos de resistência de força rápida, devem ser feitos por meio de deslocamentos frontais, de costas e laterais para melhor ativação do CAE. Nos exercícios pliométricos para membros inferiores estão inclusos saltos verticais, saltos horizontais, saltos múltiplos, saltos repetitivos no mesmo local, saltos em profundidade (drop jump) entre outras possibilidades (McArdle et al, 2011). 46


Objetivando a resistência de força rápida, utilizaremos os saltos citados, descartando os saltos em profundidade, que serão mais detalhados acerca da sua utilização na progressão do treino de força explosiva para potência. Weineck (1999) aborda sobre a pliometria de forma a existir uma classificação dos tipos de exercícios: simples, médios e intensivos. Os exercícios pliométricos simples são realizados com o peso corporal sem uso de equipamentos adicionais para aumentar sua intensidade. Na pliometria média, aparecem os equipamentos para realização dos saltos: barreiras, caixas, etc. Por fim, os exercícios de pliometria intensiva envolvem saltos complexos com uso dos mais variados equipamentos e possibilidades com elevada exigência. Devemos nos atentar aos exercícios de pliometria para os treinos objetivando a resistência de força rápida, cuja característica se distingue da pliometria voltada para a força explosiva (potência). Nos exercícios de pliometria para futebolistas que serão apresentadas no final desse tópico, envolverão predominantemente pliometria simples com peso do próprio corpo e alguns equipamentos como cones, barreiras baixas, bamboles, etc. O emprego desses equipamentos se justifica pelo fato que o desenvolvimento da resistência de força rápida exigir grandes volumes e, não altas intensidades como nos treinos de potência. O treino pliométrico é um método de preparação da força mais suscetível ao risco de lesões. Platonov (2008) considera que para evitar o surgimento de lesões na pliometria, o método deveria ser empregado por atletas devidamente preparados, com elevado nível força máxima e velocidade, mobilidade articular, coordenação motora e técnica. O tipo de superfície em que se realiza o treinamento pliométrico causa influências no desempenho neuromuscular. Parece existir um conexão causal entre a aterrissagem e a impulsão. Uma combinação de fatores existente entre as propriedades do piso (rígido, areia ou grama), qualidade do calçado (tênis, chuteira ou descalço), cargas (peso corporal, colete lastrado, halteres ou barra) e técnicas de aterrissagem (bipodal ou unipodal). Sobre esta questão, Impellizzeri et al (2008) compararam o efeito do treino de pliometria em duas superfícies distintas: areia e grama. Dois grupos de futebolistas foram submetidos a um programa de pliometria no período de quatro semanas, três vezes semanalmente, onde foram avaliados no desempenho pré-pós no salto contramovimento (CMJ), agachamento com salto (SJ), teste de sprint 10 metros e 20 metros. Nos resultados, o grupo na areia demonstrou melhor performance no SJ, devido a requerer mais intensamente da fase concêntrica do movimento, para compensar a degradação de energia elástica da absorção na areia e dificuldade do tornozelo com o vetor de força. Já, no grupo grama, os valores do CMJ foram superiores. Isso se explica pela utilização mais efetiva da fase excêntrica aumentando a potencialidade do CAE. Ambos os grupos melhoraram o desempenho nos testes de sprint. Em outro estudo semelhante, Moraes (2014) comparou treinos pliométricos realizados por jogadores de futebol na areia e grama. O treinamento periodizado de 47


cinco semanas incluía exercícios como CMJ, drop jump, e saltos múltiplos. O volume de saltos executados foi de 48 saltos na primeira e segunda semanas, 64 saltos na terceira semana, 80 saltos na quarta semana e 120 saltos na quinta semana. Durante o programa, os atletas realizaram normalmente as sessões de treino técnico e tático. Os resultados encontrados demonstram diferenças significativas (p<0,05) no drop jump nas alturas de 44, 66 e 88cm realizado na areia em relação a grama. Quadro 16 – Características das propriedades dos diferentes pisos Piso Lapso do tempo de Risco de lesão Grau de contato transferência rígido

curto

alto

moderada

areia

longo

baixo

moderada

grama

médio

moderado

alta

Para sanar questões sobre o tipo de piso nas sessões de treino pliométrico, sugerimos que na pré-temporada sejam executados na superfície de areia, cujas características físicas de deformação criariam maiores exigências nas estruturas do pé, tornozelo e joelho, fortalecendo-os. Ao adentrar na temporada, a grama seria a superfície indicada que respeitaria o princípio da especificidade. Outra forma para se trabalhar a resistência de força rápida no futebol sem o emprego dos exercícios pliométricos, seria através do treino muscular com pesos (musculação) com carga intermitente. Silva (2001) propôs um modelo de treinamento com carga intermitente, considerado por nós como alternativa interessante. O programa com doze semanas de duração, consistia de dois grupos de futebolistas separados: grupo 01 (carga contínua: 3 séries de 12 repetições a 70% de 1RM e após recuperação de 2 minutos, 3 séries de 25 repetições a 50% de 1RM) e grupo 02 (carga intermitente: 3 séries de 12 repetições a 70% de 1RM e 3 séries de de 25 repetições a 50% de 1RM de forma alternada, sendo: uma série a 70% seguida por outra de 50% e assim sequencialmente). Para avaliação, foi utilizado o teste de carga máxima no leg press horizontal. Resultados pré-pós no grupo contínuo (132,0+\-4,0 e 145,0+\-5,0 Kg) e intermitente (131,0+\-7,0 e 161,0+\-9,0 Kg) indicam que quando comparados, a superioridade do grupo intermitente se mostrou significante em 11% (p<0,05). O pesquisador ressalta que a intenção deste protocolo de treino com as cargas alternadas se mostrou eficiente na reprodução das ações motoras rotineiras dos jogadores nas partidas; como as corridas intermitentes e intervaladas. Segundo ele: ¨ treinar variando a carga é adaptar o músculo do futebolista à intermitência do jogo¨. Um aspecto pouco pesquisado na literatura e de importância capital é a questão dos efeitos do treino pliométrico sobre as habilidades técnicas dos jogadores de futebol. A princípio alguns argumentos negativos ou neutros poderiam advir, pois o 48


treinamento pliométrico sobre o ponto de vista técnico, melhoraria o desempenho do chute através de mecanismos neurais e fisiológicos resultando em maior força. Outrossim, habilidades motoras específicas da modalidade como o passe, drible, finalização, entre outras, ainda não se sabem ao certo seus efeitos finais. Tentando sanar esta dúvida, Vieira (2011) estudou a influência do treino de jogos em programas de força e pliometria na precisão do passe e finalização. Com este fim, dividiu jogadores sub-18 em três grupos: grupo pliometria (GP), grupo força (GF) e grupo controle (GC). A duração do treinamento foi de dezesseis semanas com frequência semanal de três dias e sessões de trinta minutos. Os treinos experimentais antecediam o treinamento técnico-tático da equipe. A precisão do passe foi avaliada nas distâncias de 10, 30 e 60 metros e, o teste de precisão de finalização foi medido em uma trave regulamentar dividida em áreas de pontuação por meio de quadrantes fixados nas bordas superiores do travessão. As avaliações ocorrerram em três momentos distintos do delineamento experimental: antes (T1), durante na oitava semana (T2) e no fim (T3). Na precisão do passe de 10 e 30 metros, houve melhoras significativas em todos os grupos com diferenças nos momentos de avaliação. Já no passe de 60 metros, não foram encontradas diferenças significativas. Também, no teste de finalização não houveram diferenças entre os grupos. O pesquisador salienta que os treinos de força e pliométricos, além de melhorarem as capacidades de salto, propiciaram melhoras nas habilidades de passes e finalizações. Quadro 17 – Modelo de treino da resistência de força rápida Séries Repetições Intervalo Carga Velocidade Intervalo entre séries de execução entre sessões 3a5

10 a 30

2a5 minutos

30-50% 1RM

rápida

24hs

Nos exemplos de exercícios apresentados no quadro 18 devem ser trabalhados tanto os membros inferiores (principais efetores das ações motoras no futebol) como também os membros superiores dos jogadores (os exercícios de resistência de força rápida para membros superiores também solicitam o tronco, que é considerado essencial para o desempenho no futebol). Os exercícios foram adaptados de uma proposta feita por Vretaros (2003).

Quadro 18 - Exemplos de exercícios para desenvolver resistência de força rápida Fases Tipos de Exercícios 1

Membros Inferiores 49


Saltos verticais no local Saltos verticais Saltos horizontais em deslocamento Saltos com uma perna no local Saltos com uma perna em deslocamento Saltos com giros de 180 graus 1

Membros Superiores Flexão de braços no local Deslocamento ¨carrinho de mão¨ Deslocamento ¨carrinho do mão¨ com flexão de braços

2

Membros Inferiores Skeeping alternados com saltos verticais Skeeping alternados com saltos horizontais Skeeping alternados com saltos em uma perna Skeeping alternados com saltos giros de 180 graus Skeeping alternados com saltos giros de 360 graus Saltos sobre barreiras baixas (30-50 cm) Skeepings alternados com saltos sobre barreiras baixas (30-50 cm)

2

Membros Superiores Flexão de braços com ¨batida de palma¨ Deslocamento ¨carrinho de mão¨ com flexão de braços

3

Membros Inferiores Saltos com uma perna em deslocamento Saltos sobre barreiras baixas com uma perna

3

Membros Superiores Lançamentos de medicine ball frontal Lançamentos de medicine ball com rotação do tronco Lançamentos de medicine ball para trás

4

Membros Inferiores Saltos horizontais com uma perna seguido trocas de passe 1x1 durante 5 minutos Saltos sobre barreiras baixas ambas as pernas seguido de trocas de 50


passe 1x1 durante 5 minutos Saltos sobre barreiras baixas com uma perna seguido trocas de passe 1x1 durante 5 minutos Circuito de mudanças de direção seguido por jogo reduzido 2x2 por 5 minutos Circuito de mudanças de direção seguido por saltos sobre barreiras baixas e finalização ao gol 4

Membros Superiores Lançamentos de medicine ball frontal seguido de sprint 10 metros Lançamentos de medicine ball frontal seguido de sprint 20 metros Lançamentos de medicine ball frontal seguido de sprint e finalização ao gol

9.5 - Força Explosiva A potência é expressa na seguinte fórmula: potência= força x distância\tempo. Gomes & Souza (2008) conceituam a força explosiva (potência) como a capacidade de superação, na menor unidade de tempo possível, uma determinada resistência. A capacitação do atleta em desenvolver a força máxima no mínimo tempo é definida como força explosiva (Zatsiorsky & Kraemer, 2008). Segundo Hegedus (1980) o limite para o desenvolvimento da potência está relacionado ao fator-chave velocidade. Com finalidade de aumentar a potência de um determinado movimento, Fleck & Figueira Junior (2003) citam que pode ser trabalhado por meio do aumento do peso a ser resistido, como também pela diminuição do tempo na execução da movimentação. Conforme Zatsiorsky & Kraemer (2008) a potência é dependente das características da tarefa, carga e percentual da força máxima. Para o desempenho de potência, é necessário um pré-requisito de níveis ótimos da força máxima. Transmutar ganhos de força máxima em ganhos de velocidade não é tarefa considerada simples. A seleção dos exercícios para aprimoramento da potência requerem cuidados quanto aos músculos acionados, tipos de resistência, tempo e taxa de desenvolvimento da força, velocidade do movimento, direção do movimento e a relação postura-força. Uma das características marcantes dos exercícios utilizados no treino da potência, é que a explosão da ação muscular deve ser executada tão rapidamente quanto possível e com adicional esforço muscular máximo. Somando-se a isto, vale lembrar que tais exercícios devem ser realizados em 51


ausência de fadiga do sistema nervoso, preferencialmente logo após o aquecimento (Zatsiorsky & Kraemer, 2008). Bompa & Haff (2012) reportam que para alcançar alta capacidade de gerar força se faz necessário obter altas velocidades de movimento. O treino de força explosiva altera o potencial da porção de alta velocidade da curva força-velocidade, ou seja, a taxa de desenvolvimento da força (TDF). A TDF é um indicador da rapidez em que a força é desenvolvida. Existe uma interrelação entre força máxima e a TDF; o produto da força e a velocidade resulta em potência. A curva do esforço explosivo, segundo Verkhoshansky (2001), é interdependente dos seguintes aspectos: • força máxima; • manifestação da força rápida no início da tensão; • capacitação em aumentar o esforço do trabalho na condição dos músculos contraídos (força de aceleração) Fry apud Bompa & Haff (2012) sugere que o treinamento da força explosiva aumenta o tamanho das fibras de contração rápida, assim como, causa alterações na área de secção transversal das fibras tipo II e tipo I, favorecendo a força máxima. Executar uma atividade envolvendo força máxima é considerado um condutor eficiente para executar ações musculares em treino subsequentes de força explosiva (Guilherme et al, 2012). As modificações que ocorrem no comportamento mecânico do músculo durante treinos da potência muscular (Bosco, 1985): • • • • • •

frequência dos impulsos nervosos; número de fibras musculares que enviam mensagem do cérebro; influência do biofeedback nos proprioceptores do fuso muscular; tipos de fibras musculares; dimensão e força da fibra muscular; utilização adequada da energia elástica na ativação do CAE

A força máxima e a potência dos membros inferiores em futebolistas solicitam da musculatura do quadríceps, isquiotibiais e tríceps sural gerando fortes contrações nas ações de saltar, lançamentos, sprints, mudanças bruscas de direção e ritmo (Campillo et al, 2009). O treino da potência no futebol, segundo Turner & Stewart (2014), acontece de forma multidimensional. Para tanto, propõem três tipos de meios de treinamento: treino balístico, pliometria (saltos em profundidade) e técnicas de levantamento olímpico. A conjunção do trabalho pliométrico com o uso de cargas complementares é denominado treino balístico, considerado eficaz para o aumento da potência 52


(Platonov, 2008). Segundo McArdle et al (2011) no treino com resistência balística, o atleta executa o deslocamento do segmento ou peso corporal com sobrecarga, o mais rápido possível, produzindo elevados níveis de força máxima. Ribas (2009) estudou os efeitos do treino balístico na potência anaeróbia alática em jogadores de futebol. Durante quatro semanas, o grupo experimental realizou um protocolo de treinamento balístico que consistia de três séries de oito repetições do exercício agachamento seguido de salto, com carga de 30% de 1RM, tendo como intervalo três minutos entre séries. Os resultados apontaram para um aumento na potência absoluta e relativa, sem encontrar valores estatísticamente significativos. Zatsiorsky & Kraemer (2008) denominam os saltos em profundidade como exercícios com ação muscular reversível. A melhoria na força explosiva pelos saltos em profundidade é decorrente da inibição dos reflexos do órgão tendinoso de Golgi, potencialização do reflexo de alongamento e tempo apropriado. Os riscos de lesões musculoesqueléticas nas sessões de treino da pliometria visando a potência partem da premissa de que os saltos e quedas geram cargas estimadas em aproximadamente dez vezes ou mais do peso corpóreo. Uma norma proposta pela NSCA (National Strength and Conditioning Association) preconiza que antes de iniciarmos o atleta ao treinamento de potência, o mesmo deveria conseguir executar levantamento de cargas equivalente a 1,5 vezes o peso corporal no agachamento (McArdle et al, 2011). Somando-se a isto, Zatsiorsky &Kraemer (2008) alegam que os saltos em profundidade não devem ser realizados em atletas com experiência de treinamento de força menor do que três a quatro anos. Nos membros inferiores, os saltos em profundidade imprimem grandes exigências de força sobre os tendões calcâneos e patelares, na unidade músculotendão e, em menor escala na coluna vertebral. Os músculos do trem inferior mais solicitados: quadríceps (vasto medial, vasto intermédio, vasto lateral e reto femural), isquiotibiais (semimembranoso, semitendinoso e bíceps femural) e tríceps sural (gastrocnêmio lateral, gastrocnêmio medial e sóleo). Junior apud Silva & Oliveira (2003) referem-se as articulações envolvidas no salto vertical, com suas diferentes contribuições: • • • • •

1) Extensão dos joelhos – 56% 2) Flexão Plantar – 22% 3) Extensão do tronco – 10% 4) Balanço dos membros superiores – 10% 5) Extensão do pescoço – 2%

No futebol, o salto para cabecear é a segunda ação motora mais utilizada durante os jogos e treinos, sendo a primeira o passe. Existe no salto vertical durante os treinamentos de salto em profundidade, variações: unipodal e bipodal. O uso dos dois pés (bipodal) no ato de saltar, possui vantagens pelo fato de uma maior flexão do joelho e flexão dorsal do tornozelo, com esses ângulos articulares maiores gerando 53


níveis de força adicionais se comparado a execução do salto unipodal (Silva & Oliveira, 2003). Todavia, nas sessões de treino da potência com o uso de saltos em profundidade, o emprego das duas variações são recomendadas para se atingir altos desempenhos. Miyama & Nosaka (2004) encontraram que um programa de oito semanas de salto em profundidade (cinco séries de 20 repetições de uma altura de 0,6 metros) provocaram sérios danos musculares persistindo por 48 horas após a realização da atividade. Os autores especulam que 48 horas não seria tempo suficiente para recuperação das sessões de salto em profundidade com volume total de cem saltos consecutivos, podendo causar overtraining, principalmente nas fases iniciais do programa. Porém, os sujeitos do estudo não possuíam experiência neste tipo de treino, o que poderia ter provocado o retardo na recuperação, pois se comparados com atletas de alto nível, as 48 horas seriam tempo suficiente. Os intervalos de tempo durante as sessões de treino da pliometria com o uso de salto em profundidade podem ocasionar diferenças no resultado final, principalmente em jovens atletas. Para entender esta questão, um estudo analisou sete semanas de treinamento pliométrico com intervalos de 30, 60, ou 120 segundos entre séries, de baixo volume (sessenta saltos por sessão; 2 séries de 10 saltos em profundidade nas caixas de 20, 40 e 60 centímetros) e alta intensidade. Encontraram melhorias no salto vertical em todos os grupos (G30, G60 e G120). Além disso, a velocidade em um teste de chute foi aprimorada. Os autores atribuem esse desempenho no chute aos aspectos neuromusculares explosivos dos músculos extensores das pernas utilizados na pliometria, bem como, fatores biomecânicos melhorados (velocidade linear máxima) no contato com a bola. Outro dado de relevância diz respeito a dor muscular após as sessões. Normalmente, a dor muscular é acentuada imediatamente após as sessões de pliometria de alta intensidade e nas 24 horas seguintes, induzindo à danos musculares. Entretanto, foi observada uma redução nos indicadores da dor após 24 horas neste estudo, devido a um fenômeno protetivo que acontece no decorrer das sessões, especificamente nas duas primeiras semanas (Ramirez-Campillo et al, 2014). No futebol feminino, oito semanas de treino pliométrico (uma vez na semana, sessenta minutos de duração) em adição aos treinos técnico e tático, durante a temporada, envolvendo salto triplo, CMJ e saltos horizontais, promoveram ganhos na potência muscular e velocidade de sprint 20 metros (Ozbar et al, 2014). Os goleiros são uma função tática que requer níveis predominantes do sistema anaeróbio alático, quadro representado pela potência. Os efeitos do treino pliométrico sobre a potência de membros inferiores de goleiros profissionais foi avaliada por Secco (2011). O programa pliométrico persistiu durante um período de seis meses, com trinta e oito sessões totais, com média de sessenta saltos por sessão. A potência foi analisada pelo salto vertical (jump test) em plataforma partindo de uma superfície de 50cm de altura em relação ao solo. As avaliações ocorreram uma vez ao mês. Houve melhora final de 4,3% na potência em relação as médias alcançadas nos testes. O desenvolvimento da potência dos jogadores em conjunção com o treino de outras capacidades biomotoras pode gerar o fenômeno da concorrência. Oliveira et al 54


(2012) analisaram sete semanas do período preparatório de treinamentos classificados em funcional (resistência anaeróbia, aeróbia e especial) e neuromuscular (velocidade cíclica e acíclica, resistência de força e potência) nos ganhos de potência muscular. Os treinamentos foram realizados seis vezes por semana, com sessões de duração média de oitenta minutos, e volume total de 3485 minutos em 68 sessões (funcional=1890 minutos, e neuromuscular=1595 minutos). Mesmo com riscos fisiológicos do efeito da concorrência, as adaptações decorrentes dos treinos melhoraram significativamente a potência dos futebolistas que foi mensurada através do teste de salto horizontal (pré=2,44+\-0,1 e pós=2,48+\-0,1, p<0,05). Em relação aos exercícios de levantamento olímpico, Fleck & Kraemer (1999) dizem que estes são comumente utilizados para o desenvolvimento da potência. Os exercícios arranque e arremesso e desenvolvimentos incompletos (power clean) são considerados efetivos. Berardi et al (1998) compararam duas metodologias de treinamento: exercícios derivados do treino de levantamento olímpico (arranque, arremesso, power clean, abdominais e espinhais) com exercícios em alta intensidade (supino, agachamento, remada baixa, abdominais e espinhais) quanto a capacidade de gerar potência. Após oito semanas do programa, com frequência semanal de três dias, os resultados encontrados mostraram que exercícios de levantamento olímpico são mais eficazes para o desenvolvimento da potência muscular nos testes empregados. Nos exercícios que envolvem técnicas de levantamento olímpico visando o desenvolvimento de potência, o uso de cargas adequadas permitiriam alcançar os objetivos em menor tempo, como também prevenir o surgimento de lesões neste tipo de sistema de treino. Sobre esta ótica, Comfort et al (2012) estudaram qual carga seria considerada ótima no exercício power clean visando desenvolver a potência em atletas. Através da mensuração em plataforma de força, o desempenho em três repetições do power clean foram avaliadas com as cargas de 30, 40, 50, 60, 70 e 80% de 1RM. A ocorrência do pico de potência aconteceu na condição de 70% de 1RM (2951+\-931,71 Watts). Os autores indicam que para maximizar o desenvolver da potência, cargas equivalentes a 60-80% de 1RM no power clean seriam consideradas ideais. Zamudio (2013) apresenta outra forma conhecida para trabalhar potência no futebol: o método de contrastes, também conhecido como método búlgaro. Este método consiste na alternância de cargas na mesma sessão. Exercícios de carga pesadas (+\-90% de 1RM) com cargas baixas (40-50% de 1RM) realizando os movimentos em altíssima velocidade (por exemplo, uma série de agachamento seguido por sprint de velocidade). Essa metodologia foi aperfeiçoada por Vretaros (2008) quando propôs os exercícios de força combinados (EFC). Os EFC são uma ferramenta que envolve a execução na mesma sessão de treino do exercício de força máxima seguido pelo exercício de força explosiva somado sequencialmente ao gesto da atividade motora específica da modalidade envolvida (por exemplo, uma série do exercício leg press, seguido por uma série de saltos em profundidade, e terminando com a execução de uma série de chutes ao gol). O treinamento da potência pode ser realizado em conjunto com outros métodos 55


visando seu melhor aproveitamento na força explosiva e, em outras capacidades biomotoras como a velocidade. Sobre isto, Costa (2010) realizou uma pesquisa com estudo de caso em três futebolistas universitários. O delineamento experimental constituiu-se de: indivíduo 01 (prática isolada de treino da velocidade de deslocamento através de sprints repetitivos), indivíduo 02 (prática por meio de exercícios pliométricos) e indivíduo 03 (prática mista envolvendo sprints repetidos e pliometria). Durante uma intervenção de seis semanas, os indivíduos foram avaliados em três ocasiões: após as duas primeiras semanas, ao fim das seis semanas e após dez dias da última medição com a finalidade de verificar a retenção dos treinos propostos. As baterias de testes incluíam o salto horizontal e sprint de 20 metros. Os resultados apontaram para efeitos positivos dos treinos nos indivíduos 01 e 03. No indivíduo 02 os ganhos foram discretos. Apesar da amostra pequena no estudo, podemos especular que um treino misto (sprints e pliometria) poderia criar resultados em ganhos de potência, principalmente em períodos onde a mesma permanecer estagnada havendo necessidade real de variações na metodologia para se atingir resultados superiores. No arcabouço de metodologias visando ganhos de potência, Gil (2013) denota sobre o RMT (Resisted Movement Training), que consiste na aplicação de sobrecargas em ações motoras determinantes específicas da modalidade (manipulação da intensidade em conjunto com a manutenção da especificidade). Neste tipo de abordagem, os equipamentos mais empregados incluem: trenó, bandas elásticas, páraquedas, coletes lastrados, Vertimax® entre outros. O autor referido realizou um estudo com jogadores de futebol americano empregando este tipo de sobrecarga em um protocolo com duração de dez semanas. Foram encontrados resultados que apontam para melhorias superiores no grupo experimental em variáveis da potência: 1RM, potência média, potência média propulsiva, CMJ, SJ, salto horizontal, velocidade (5, 10, 15 e 20 metros) e agilidade. No entanto, a grande particularidade na utilização destes equipamentos que envolvem o RMT é que a sobrecarga é de difícil quantificação. Também, deve-se ter um cuidado adicional em observar possíveis alterações na cinemática dos movimentos realizados. Uma informação relevante é existência de alta correlação da força explosiva dos membros inferiores dos futebolistas com as velocidades de sprints nas distâncias de 10 metros (r= -0,74), 20 metros (r= -0,73), 30 metros (r= -0,81) e 40 metros (r= -0,88) (Pasquarelli et al, 2010). A força explosiva e a agilidade dos jogadores de futebol foram analisados para verificar a possibilidade de correlações. Por meio do teste de impulsão horizontal e teste de shutle run, Campanholi Neto et al (2011) encontraram alta correlação (p<0,05) entre as duas capacidades. Outra forma contemporânea de treinamento muito utilizada no futebol são os jogos reduzidos. A grande maioria dos preparadores físicos se emprega destes minijogos objetivando melhorar a resistência especial. Entretanto, devido as ações motoras realizadas nos jogos em campos reduzidos reproduzirem esforços intermitentes explosivos, Fernandes & Navarro (2014) resolveram investigar se esta forma de treino produz impacto na capacidade de gerar potência. Dois grupos de 56


jogadores foram analisados; o grupo 1 (jogos reduzidos curtos: 1:1, 2:2, 3:3 e 4:4) e grupo 2 (jogos reduzidos médios: 5:5, 6:6, 7:7 e 8:8). Ambos os grupos realizavam o RAST Test pré e pós intervenção. Tanto o grupo 1 (886,27 +\-228,79 versus 850,82 +\-145,02 watts) quanto o grupo 2 (877,69 +\-240,09 versus 791,39 +\-141,42 watts) melhoraram os valores de potência máxima após as sessões. Os investigadores concluíram que ambos tipos de jogos reduzidos permitiram gerar potência, com resultados mais expressivos no grupo com espaço reduzido mais curto. Além disso, seria necessário pesquisas longitudinais para verificar a efetividade deste meio de treino durante um macrociclo. A potência muscular dos jogadores sofre flutuações durante a temporada. Com a intenção de mensurar o grau destas variações na potência, Silva et al (2013) discriminaram três momentos distintos: final da temporada, início da pré-temporada e final da pré-temporada. O achado relevante neste estudo foi que na medida do salto vertical no período compreeendido entre final da temporada precedente e início da temporada subsequente (período de interrupção dos treinos por férias), os jogadores apresentaram manutenção dos valores de potência. Fato explicado pelos autores como uma supercompensação do treino aplicado na temporada anterior. Também, foi questionado a sensibilidade do teste (CMJ) no qual deveria ser realizado não de forma isolada, mas sim, em conjunto com outras medidas, tais como: SJ e sprints de curta distância que permitiriam maior validade para o futebol. A potência muscular dos futebolistas pode ser melhor explanada quando apresentada por função tática. Quanto a isto, Rinaldi et al (s\data) resolveram avaliar a potência muscular de membros inferiores (flexores\extensores do joelho) dos jogadores por meio de dinamômetro isocinético. Os jogadores foram divididos em três grupos, assim dispostos: grupo 01(zagueiros e centroavantes), grupo 02(meio campistas) e grupo 03(laterais e pontas). Na velocidade de 60 graus\segundo (extensão\flexão), o grupo 01 (225+\-26,9 e 132+\-22,7 N\m) e o grupo 02 (221,8+\47,12 e 139+\-29,3 N\m) apresentaram melhor desempenho que o grupo 03 (214+\19,72 e 134+\-21,9 N\m). Estes resultados implicam que o teste simula as reais tarefas desempenhadas pelos meio campistas e zagueiros cujos deslocamentos consistem em corridas sub-máximas e trote, além dos saltos muito empregados pelos centroavantes e zagueiros. Já, na velocidade isocinética de 300 graus\segundo, o grupo 03 (197,7+\-31,7 e 66,8+\-19,1 N\m) demonstrou valores superiores em relação aos grupos 01 (181,2+\-181 e 155,3+\-22,7 N\m) e 02 (185,6+\-76,5 e 147+\-33,1 N\m). Nesta velocidade, o grupo 03 que é constituído por laterais e pontas, foram superiores devido as adaptações que se desenvolvem durante os treinos e partidas, cuja capacidade de força mais evidente é a força de sprint. Enfim, os autores defendem a tese que os níveis de força (potência) gerados pelos atletas respeitam a especificidade de suas funções táticas e que os treinos deveriam ser elaborados respeitando esses parâmetros.

57


Séries

3a6

Quadro 19 – Modelo de treino da força explosiva Repetições Intervalo Intervalo Carga Velocidade Intervalo entre entre de entre saltos séries execução sessões 6 a 10

10 segundos

3a5 minutos

30-50% 1RM

rápida

48-72hs

Quadro 20 – Exemplos de exercícios para desenvolver força explosiva 1 Arremesso 2

Arranque com kettebell

3

Arranque

4

Agachamento com salto

5

Salto em profundidade (queda bipodal)

6

Salto em profundidade (queda unipodal)

7

Salto em profundidade bipodal seguido de sprint 15 metros

8

Salto em profundidade bipodal seguido de sprint 20 metros

9

Salto em profundidade unipodal seguido de sprint 15 metros

10

Salto em profundidade unipodal seguido de sprint 20 metros

11

Abdominal completo com lançamento de medicine ball

12

Exercícios utilizando RMT (Resisted Movement Training)

13

Exercícios utilizando EFC (Exercícios de Força Combinados)

14

Jogos reduzidos

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10.0 - TREINAMENTO FUNCIONAL O treinamento funcional (TF) é uma metodologia de treinamento que foi utilizada por fisioterapeutas e, que atualmente, após a década de 90, foi incorporada na área do fitness e aos meios de treino dos atletas. Através do TF o aparelho locomotor do atleta pode ser treinado por meio de movimentos. Ao contrário do treino de força convencional, que se foca em exercícios direcionados aos grupos musculares de forma uniplanar em planos estáveis, o TF busca exercitar os movimentos. Os movimentos solicitados no TF abrangem multiplanos e multi-articulações. A intenção é tornar o corpo mais eficiente quando solicitado nas variações de planos e bases estáveis e\ou instáveis. Quadro 21 – Diferenças básicas entre o TF e o convencional Treinamento Convencional Treinamento Funcional Treina músculos

Treina movimentos

Uniplanar

Multiarticular + Multiplanar

Superfícies Estáveis

Superfícies Estáveis + Instáveis

Exercícios Simples

Exercícios Complexos

Posições Estáticas

Posições Estáticas + Dinâmicas

Exercícios Gerais

Exercícios Gerais + Específicos (Vretaros, 2015)

Para uma melhor compreensão do TF é preciso conhecer sua terminologia de trabalho específica, dividida em fases: • Fase 01: Propriocepção • Fase 02: Core • Fase 03: Capacidades Biomotoras Propriocepção pode ser entendida como a informação sensorial-motora sobre as características da movimentação que está sendo executada (direção, localização no espaço, velocidade e ativação muscular). A propriocepção traz o feedback dos ajustes segmento-posturais-corporais frente às ações e cargas a que o corpo é submetido (Magill, 2011). O órgão tendinoso de Golgi (OTG) e os fusos musculares são considerados os receptores proprioceptivos, que estão localizados nos tendões e 59


dentro das fibras musculares, respectivamente. No TF o feedback proprioceptivo é responsável sobre o deslocamento do membro e\ou articulação na posição espaço-temporal, sendo a base para correções. É importante para o timing no início dos comandos motores (Magill, 2011). Assim, um feedback proprioceptivo distorcido (pela fadiga ou falta de estimulação) altera a coordenação dos movimentos multiarticulares afetando a precisão espacial e temporal dos movimentos. Diversos estudos asseguram a importância do TF direcionado para propriocepção como sendo uma estratégia adequada para prevenção de lesões no futebol e outras modalidades (Alentorn-Geli et al, 2009 ; Borghuis et al, 2008 ; Daneshjoo et al, 2012 ; Ergen & Ulkar, 2008 ; Hides et al, 2011 ; Leung et al, 2015 ; O´Brien & Finch, 2014 ; Zazulak et al, 2007). Treino do core no TF refere-se a exercitar a zona central do corpo. Uma definição do core foi apresentada por Vera-Garcia et al (2014): capacidade dos sistemas musculares e osteoarticulares coordenados pelo sistema nervoso-motor, para manutenção ou retorno a uma posição ou trajetória do tronco quando este é acometido a perturbações de forças externas ou internas. Para Granacher et al (2014) funcionalmente, o core facilita a transferência de torques e momentos angulares para as extremidades superiores e inferiores. De acordo com Bossi (2011) os músculos que comandam o centro de gravidade (core) corporal, são representados pela região abdome-quadril-espinha. No treinamento da força central-funcional, os músculos do core agem em conformidade na estabilidade da coluna vertebral, pelve, tórax e estruturas da cadeia cinética acionada (McArdle, 2011). A estabilidade do core é fundamental para iniciação funcional dos movimentos, estabilização lombar e controle motor no desempenho atlético (Akuthota et al, 2008 ; Akuthota & Nadler, 2004).

Região

Quadro 22 – Músculos do core Músculos

Abdominal

reto do abdome, transverso do abdome, oblíquo interno, oblíquo externo

Quadril

iliopsoas, reto femural, sartório, tensor da fáscia lata, pectíneo, glúteo máximo, glúteo médio, glúteo mínimo, semitendinoso, semimembranoso, bíceps femural, adutor curto, adutor longo, adutor magno, gêmeo superior, gêmeo inferior, obturador interno, obturador externo, quadrado femural, piriforme

Espinha

eretor espinhal, quadrado lombar, paraespinhal, trapézio, psoas maior, multifídios, iliocostais lombares, iliocostais torácicos, rotatores da espinha, 60


serrátil anterior, latíssimo dorso (Adaptado de Alen et al, 2002) Os exercícios no TF são executados em cadeia cinética fechada, isto é, durante o movimento realizado, os segmentos corporais distais permanecem fixos. O acréscimo das perturbações corporais devido ao desequilíbrio provocado durante os movimentos provocam solicitações na região do core e potencializam a propriocepção e determinada capacidade biomotora (McArdle, 2011). Behm et al apud Reis et al (2015) complementam o quadro acima acrescentando ao conceito anatômico do core: esqueleto axial (cintura pélvica e escapular) e os tecidos moles (articulações, fibro-cartilagem, ligamentos, tendões, fáscias, e músculos). O equilíbrio é capacidade de controlar o centro de gravidade corporal na base de sustentação. No TF, causar estabilidade e\ou instabilidade na base de sustentação, exige solicitações diferenciadas nos músculos enfatizando principalmente a região do core (Bossi, 2011). No futebol, Ayala (2008) adverte que o equilíbrio e\ou desequilíbrio provocado pelo TF, contribui para os jogadores melhorarem a coordenação, o controle do esquema corporal, minimizar a possibilidade de lesões por quedas e aprimorar o rendimento físico-desportivo. O core ou estabilidade do tronco, afeta a capacidade de controlar a posição de movimentação do tronco durante a aplicação de cargas dinâmicas. Diferentes tipos de exercícios produzem resultados distintos na resposta motora. Portanto, a seleção adequada dos exercícios no TF devem ser devidamente repensados. As capacidades biomotoras a serem desenvolvidas no TF, segundo Bossi (2011): • • • •

Resistência muscular localizada, força máxima, potência, velocidade, agilidade Resistência de velocidade, resistência anaeróbia, resistência aeróbia Coordenação geral, coordenação específica Flexibilidade, mobilidade

A seguir apresentamos alguns estudos acerca do TF no futebol e, em seguida, continuamos com algumas informações adicionais acerca dos parâmetros para elaboração e confecção dos exercícios funcionais. No futebol feminino, Nesser & Lee (2009) verificaram a relação existente entre a força do core e a performance. Com este fim, os sujeitos foram testados em diferentes avaliações: força (1RM no supino e 1RM no agachamento), performance (CMJ, sprint de 40 jardas, shutle-run 10 jardas) e força do core (extensão e flexão do tronco, ponte direita e esquerda). Os resultados evidenciaram que o core não sofre correlações com a força e potência nas jogadoras testadas. Entretanto, os pesquisadores ressaltam que o papel do core é essencial em um programa de 61


condicionamento e, deveria ser investigado conforme a especificidade da modalidade. A capacidade de transferir forças do centro corporal para as extremidades em futebolistas foi investigada por Shinkle et al (2012). Os jogadores foram submetidos a um programa de lançamento de medicine ball (para frente, trás, direita e esquerda) em posições estáticas e dinâmicas. Os resultados evidenciaram altas correlações nos níveis de força avaliados. Estudo recente sobre os efeitos do TF em jogadores de futebol avaliou o treino do core por nove semanas (2-3 vezes semanalmente), na força de ativação do tronco, salto contramovimento, velocidade de sprint, agilidade e rapidez. O TF causou efeitos significativos na força extensora do tronco (5%), sprints de 10 e 20 metros (3%) e rapidez (1%) (Prieske et al, 2015). Imai et al (2014) estudaram a estabilidade do tronco em jovens futebolistas durante doze semanas de TF. Foram avaliados quanto a efetividade de dois tipos de exercícios: exercícios de estabilização do tronco (SE – prancha frontal, prancha dorsal, exercício quadrupede e ponte lateral) e exercícios de tronco convencionais (CE – abdominal, abdominal rotacional, extensão dorsal-1 e extensão dorsal-2). Durante o programa de intervenção, os jogadores foram testados em relação ao equilíbrio, teste de Cooper, sprint de 30 metros, agilidade, salto vertical e salto rebote. Nos resultados, os SE demonstraram possuir benefícios superiores quando comparados ao CE; nos testes de equilíbrio e desempenho envolvidos. Uma investigação interessante realizada em futebolistas, avaliou se os exercícios do core afetam a área de corte transversal dos músculos reto abdominal, oblíquos, psoas maior, quadrado lombar e paraespinhais. Essa análise foi feita usando ressonância magnética. O programa de TF durou seis meses, sendo realizado a uma frequência semanal de quatro dias, em adição ao treino específico regular de futebol em seis dias por semana. Houve aumento significativo na área de corte transversal dos músculos após os seis meses (grupo treino= 4,4-13,4% e grupo controle= 5,510,9%) (Hoshikawa et al, 2013). No TF, os exercícios realizados são multiplanares; plano sagital, coronal, frontal e transversal (D´Elia, 2013). Uma observação mais detalhada das ações motoras que ocorrem no futebol nos indicam que os movimentos gestuais específicos são realizados em grande parte, com o apoio de um dos pés no chão (Sargentim, 2013). O chute, como uma das habilidades motoras básicas mais utilizadas pelos jogadores, ocorre numa sequência proximal-distal. Durante o contato do pé com a bola, a força de reação ao solo é afetada vertical e lateralmente. O membro de suporte (apoio) possui elevada importância para o desempenho do chute, oferecendo equilíbrio postural, além de auxiliar na trajetória da bola (Cossio-Bolaños & Maria, 2013 ; Cunha et al, 2013). Sargentim (2013) destaca que no TF voltado para futebolistas, devem ser respeitados o equilíbrio simétrico das articulações do tornozelo, joelho e quadril, com exercícios sobre uma base de apoio e cuja vertente de força do core seria na diagonal. Contrariando em parte o autor supracitado, na nossa concepção, após análise 62


das habilidades motoras do futebol, explícitas no quadro 23, acreditamos ser imperativo treinarmos os jogadores durante o TF nos variados planos em vetores de força na vertical, horizontal e diagonal. Quadro 23 – Vetores da força nas habilidades motoras mais empregadas no futebol Habilidade Motora Movimentos Vetor de Força chute\passe

rotação quadril, flexão\extensão do joelho

horizontal-verticaldiagonal

salto para cabeceio

flexão\extensão do joelho, flexão plantar\dorsi flexão do tornozelo, flexão\extensão do pescoço

vertical

marcação

flexão\extensão do joelho, flexão plantar\dorsi flexão do tornozelo, rotação do quadril

horizontal-verticaldiagonal

drible\finta

flexão\extensão do joelho, flexão plantar\dorsi flexão do tornozelo, rotação quadril

horizontal-verticaldiagonal

condução de bola

flexão\extensão do joelho, flexão plantar\dorsi flexão do tornozelo

horizontal

Duas características relevantes do TF aplicado no futebol: objetivando ganho de força ou fortalecimento articular. No ganho de força, os exercícios de TF devem ser executados em bases estáveis cujas possibilidades de ganho são maiores. Por outro lado, se o TF objetivar fortalecimento articular e propriocepção, as bases instáveis são as mais adequadas (Sargentim, 2013). Somando-se a isto, para treino das capacidades biomotoras no TF em futebolistas, as duas versões de base são apropriadas. No quadro 24 apresentamos um guia de progressão pedagógica do TF.

63


Quadro 24 – Guia de progressão do TF Características

Fase 1

Aprendizagem do movimento

2

Propriocepção

3

Exercícios estáticos em superfície estável

4

Exercícios estáticos em superfície instável

5

Exercícios dinâmicos em superfície estável

6

Exercícios dinâmicos em superfície instável

7

Exercícios dinâmicos em ambiente imprevisível

A disposição do TF no planejamento da temporada em paralelo com outras valências físicas deve ser pensado com cautela para propiciar ganhos significativos (propriocepção, core e capacidades biomotoras) entre as diversas sessões de treino com orientações distintas. A periodização é a palavra-chave para contornar possíveis direcionamentos equivocados das metodologias empregadas no TF.

Quadro 25 – Modelo de microciclo com TF na pré-temporada período segunda terça quarta quinta sexta sábado domingo manhã

tarde

TF(P) TF(P) TF(P) Repouso + + + Técnica Técnica Técnica TF(C) + RML

TF (CB)

TF(C) + RML

TF (CB)

TF(P) + T+T

Repouso

TF(P) + Coletivo

TF(C) + RML

Repouso

TF (CB)

*TF(P)= treino funcional da propriocepção, TF(C)= treino funcional do core, TF(CB)= treino funcional das capacidades biomotoras, RML= resistência muscular localizada, T+T= técnica e tática

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Quadro 26 – Modelo de microciclo com TF na temporada período segunda terça quarta quinta sexta sábado domingo manhã

tarde

Repouso TF(P) Repouso + Coletivo Tática Repouso

TF (CB)

Repouso

TF(P) + Fmáx

Repouso T+T

Coletivo

TF(C) + Veloc

TF(CB) Jogo

*TF(P)= treino funcional para propriocepção, TF(C)= treino funcional do core, TF(CB)= treino funcional das capacidades biomotoras, Fmáx= força máxima, Veloc= velocidade, T+T= técnica e tática

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11.0 - AVALIAÇÃO DA FORÇA Qualquer instrumento para avaliação deve respeitar a qualidade nas medidas e os critérios de cientificidade. Validade, objetividade e reprodutibilidade são os critérios que regem um programa de avaliação. Fatores adicionais para uma avaliação daquilo que se propõe envolveriam os conceitos de confiança, precisão, rigor, exatidão, resolução e erro (Bonin & Schütz, s\data). A nossa ideia é apresentar protocolos simples de baixo custo com boa aplicação no treinamento, pois alguns clubes da segunda e terceira divisão, como nas categorias de base, não possuem equipamentos mais sofisticados para avaliação da força. Precisão, versatilidade e economia são palavras-chave para os preparadores físicos que necessitam de pouco tempo para aplicação dos testes e rápida interpretação dos dados em uma temporada longa. A seguir apresentaremos os testes de 1 repetição máxima, impulsão horizontal, salto unipodal triplo horizontal, salto sêxtuplo, impulsão vertical, teste de força abdominal e o functional movement screen. São testes considerados simples de fácil aplicação em qualquer local e que envolvem materiais pouco sofisticados em termos tecnológicos. 11.1 - Teste de 1 Repetição Máxima (1RM) O teste de carga máxima ou teste de repetição máxima (1RM) mensura a força máxima exercida pelo atleta por meio de uma repetição, em um determinado exercício. É considerado teste ¨padrão-ouro¨ para medir a força. No entanto, é realizado sob condições de tentativa-e-erro. Os exercícios mais utilizados para o teste de 1RM tem sido o supino (membros superiores) e o agachamento (membros inferiores). Vale lembrar que o teste de 1RM é o preditor das cargas na grande maioria dos exercícios de força. Neste sentido, Turner et al (2011) alegam que para o futebol deveria ser empregado o agachamento, haja visto, a solicitação predominante das extremidades inferiores nas ações motoras dos jogadores e, também, pelo fato de não encontrarem correlações significativas entre o supino e o desempenho no futebol. Os mesmos autores apontam o uso do teste de 1RM no exercício power clean para medir a potência. Nossa experiência prática, nos reporta a indicar o uso do agachamento, mas também, o leg press, mesa extensora e flexora e o supino, conforme o nível dos futebolistas a serem avaliados. Justificamos essa abordagem pelo fato de que futebolistas em formação ainda não possuem base motora segura na execução de um exercício complexo como o agachamento. Por isso, a opção pelo leg press, mesa flexora e extensora que são realizados em máquinas, proporcionando maior 66


estabilidade e segurança. Quanto ao supino, acreditamos na sua necessidade, pois os membros superiores durante as ações futebolísticas, são requeridos em termos de coordenação motora e força elevadas. No que se refere ao power clean para mensurar potência, concordamos com os autores, desde que os jogadores sejam instruídos e treinados quanto a técnica biomecânica correta de execução do exercício. Discrepância adicional para os exercícios cadeira adutora e abdutora, pois os mesmos, apesar de não encontrarmos estudos apontando correlações significativas com a performance no futebol, acreditamos na sua importância para ações motoras, em especial nas diversas variações de chute. Com as adaptações neurofisiológicas proporcionadas pelo programa de treino da força, a 1RM tende a mudar continuamente. Por isso, o jogador deve ser avaliado com determinada periodicidade para que se possa realizar adequações nos parâmetros das cargas. Materiais: barras, anilhas com variações de peso, aparelhos, ficha de anotação 11.2 - Impulsão Horizontal A impulsão horizontal mensura a força explosiva de membros inferiores indiretamente por meio da performance de impulsionar-se horizontalmente. O atleta se posiciona com os pés paralelos atrás de uma linha representada por uma fita fixada ao solo. Após comando, o atleta deverá saltar no sentido horizontal tentando atingir a maior distância. Deverá ser realizado três tentativas, ao qual prevalecerá a maior medida alcançada. Observação: o salto será invalidado se precedido de marcha, corrida ou salto (Matsudo, 1995). Materiais: fita adesiva, fita métrica, ficha de anotação 11.3 - Salto Unipodal Triplo Horizontal Serve para avaliar a potência de membros inferiores dos futebolistas. Consiste em realizar a maior distância possível por meio de três saltos unipodais, podendo utilizar os membros superiores (braços) para impulsionar uma distância maior a ser atingida. Para respeitar o princípio da especificidade, é interessante a realização do teste em uma superfície de grama. Os jogadores devem se posicionar atrás de uma linha demarcatória no solo, cuja distância total será calculada por meio de trena métrica partindo desta linha até o ponto final atingido. Os três saltos deverão ser feitos de forma contínua, sem que o membro contralateral toque o solo. O teste deve ser realizado em ambos as pernas (dominante e não-dominante) e o resultado será através da média dos três saltos de cada perna (Selistre et al, 2012). Materiais: fita adesiva, fita métrica, ficha de anotação 67


11.4 - Salto Sêxtuplo O salto sêxtuplo é empregado para avaliar a força rápida de membros inferiores. Possui variações conforme as características da modalidade a ser avaliada. Pode ser executado de forma unilateral que consiste de seis saltos com a mesma perna. Na forma bilateral, são executados três saltos alternados com cada perna. Outra variação do teste, utilizada no futebol, seria o salto sêxtuplo bilateral simultâneo que são seis saltos seguidos com as duas pernas simultâneamente (Pasquarelli et al, 2010). Materiais: fita adesiva, fita métrica, ficha de anotação 11.5 - Impulsão Vertical A impulsão vertical (IV) mensura a força explosiva dos membros inferiores através da performance de impulsionar verticalmente. Duas variações da IV: salto sem auxílio dos braços e salto com auxílio dos braços. Com uma fita métrica fixada verticalmente na parede, o atleta após comando executa uma das variações da IV com objetivo de tocar a ponta dos dedos marcados com giz no ponto mais alto da fita métrica. São executados três tentativas, onde prevalecerá o maior valor alcançado (Matsudo, 1995). Materiais: fita adesiva, fita métrica, giz ou tinta, ficha de anotação

11.6 - Teste de Força Abdominal Mede a força da musculatura abdominal. Com a execução do exercício abdominal (flexão\extensão do quadril) durante 1 minuto. Será considerado o valor do maior número de repetições durante 1 minuto executado de forma correta (Matsudo, 1995). Materiais: colchonete, cronômetro, ficha de anotação

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11.7 - Functional Movement Screen (FMS) O Functional Movement Screen (FMS) é uma técnica de avaliação da força que permite identificar e solucionar problemas corporais relacionados aos desequilíbrios musculares e assimetrias, déficits de flexibilidade, equilíbrio e estabilidade (Rumpf, 2015). Indica as compensações musculares que ocorrem em uma musculatura indevidamente trabalhada e que podem se tornar um potencial risco de lesões. Para uma devida avaliação são usados sete exercícios complexos ao qual são examinados na qualidade de execução (Kiesel et al, 2007 ; Song et al, 2014): • Agachamento profundo (mobilidade bilateral, simetria e funcional dos quadris, joelhos e tornozelos) • Passo obstáculo (padrão da mecânica de movimento) • Afastamento antero-posterior em linha (lunge) (avalia quadril, mobilidade e estabilidade do tronco, flexibilidade do quadríceps e estabilidade do joelho e tornozelo) • Mobilidade do ombro (graus de liberdade bilateral de movimentação do ombro, mobilidade escapular e extensão da coluna torácica) • Elevação de perna reta ativa (determina a flexibilidade ativa dos isquiotibiais, gastrocnêmios e sóleo mantendo a pélvis estável) • Estabilidade do tronco ao empurrar para cima (pusch-up) (estabilidade do tronco enquanto um movimento simétrico é realizado) • Estabilidade rotativa (estabilidade do tronco em múltiplos planos enquanto as extremidades superior e inferior estão em movimento combinado) Os movimentos são analisados pela observação direta da imagem por fotos, vídeo e a olho nu. Apesar de não haver um consenso na literatura, Song et al (2014) propõem o uso de duas filmadoras posicionadas estrategicamente em frente e ao lado do atleta a ser avaliado\testado.Vale adicionar que seria interessante a presença de dois ou mais avaliadores experientes. É adotada uma escala de pontuação de no máximo de 21 pontos, variando entre 0 (dor durante a movimentação) a 3 (ação desempenhada corretamente). Rumpf (2015) relata que para cada exercício é dada uma pontuação e cinco destes são testados bilateralmente. As pontuações: • • • •

Nota 3 (ação desempenhada corretamente) Nota 2 (execução com compensação) Nota 1 (não pode executar a tarefa) Nota 0 (dor durante a movimentação)

69


Após a soma das pontuações, os jogadores que apresentarem valores inferiores ou iguais a 14 pontos, estariam situados em uma situação de risco de desenvolvimento de lesões (Chorba et al, 2010). Informações adicionais quanto a melhor aplicabilidade do FMS podem ser adquiridas em cursos específicos, como também em vasta literatura sobre o tema (Butler et al, 2010 ; Chorba et al, 2010 ; Kiesel et al, 2011 ; Minick et al, 2010 ; Smith et al, 2013 ; Teyhen et al, 2012). Materiais: bastões, traves com barreira, colchonete, fita adesiva, filmadoras, ficha de anotação

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12.0 - AQUECIMENTO NO FUTEBOL O aquecimento pode ser considerado um mecanismo de pré-mobilização do organismo que antecede a atividade principal. Por meio do aquecimento, ocorre o aumento da temperatura muscular proporcionando o aumento da elasticidade tecidual, produção aumentada do líquido sinovial que banha as articulações, melhoria na função do SNC com concomitante melhora no recrutamento de unidades motoras. Além disso, o aumento no débito cardíaco e fluxo sanguíneo periférico complementam as reações orgânicas durante o aquecimento (Di Alencar & Matias, 2010). Conforme Weineck (1999) e Fahey (2014) o aquecimento pode ser subdividido em parte geral e parte específica. O aquecimento de caráter geral seria uma condição de pré-ativação dos grandes grupos musculares através de atividades variadas dinâmicas. No aquecimento específico, a atividade se volta para a musculatura seletiva empregada na respectiva modalidade. Ao nos referirmos aos tipos de aquecimento, logo surge uma questão: o alongamento deve ou não ser realizado? Em caso afirmativo, como incluir o alongamento dentro do processo de aquecimento? Essas questões surgem devido a várias pesquisas que investigaram o efeito do alongamento sobre a performance de força, com resultados conflitantes. Neste sentido, Ribeiro et al (2007) destacam que na prática esportiva é usualmente utilizado o alongamento durante a realização do aquecimento. Estes autores investigaram a hipótese da perda de desempenho nos exercícios de força, quando antecedidos por alongamento. Realizaram dois protocolos de aquecimento precedendo um teste de 10 RM no leg press. O primeiro protocolo consistia de trinta segundos de alongamento estático nos membros inferiores, e no segundo protocolo, o aquecimento era realizado no próprio aparelho com carga leve. Os resultados encontrados não demonstraram diferenças significativas no desempenho muscular. Em futebolistas, Gonçalves et al (2013) compararam os efeitos do alongamento estático ou dinâmico na performance. Foram avaliados impulsão horizontal, flexibilidade, velocidade e ativação muscular nos isquiotibiais. No alongamento estático, a impulsão horizontal (p=0,02) e a flexibilidade (p=0,03) sofreram melhorias na fase crônica. Os dois tipos de alongamento provocaram decréscimos na velocidade. Por último, o alongamento dinâmico propiciou aumentos na atividade elétrica dos isquiotibiais. Alguns trabalhos, desenvolvidos mais recentemente, advogam a tese da exclusão dos exercícios de alongamento durante o aquecimento, afirmando que o mesmo pode ser prejudicial para a produção de força em atividades que envolvam força\potência. Aquecimentos de alta intensidade e curta duração são efetivos para esportes de equipe. Zois et al (2015) comprovaram que um protocolo de aquecimento usando 71


exercício de força (no caso, leg press), causa um efeito de potencialização pósativação muscular melhorando o desempenho físico antes das atividades nas sessões de treinamento. O conceito de potencialização pós-ativação parte da premissa de que a realização de exercícios de força no aquecimento (pré-ativação), desencadeiam mecanismos fisiológicos na fosforilação da miosina regulatória de cadeia leve. Com isso, causa alterações nas pontes cruzadas com aproximação dos filamentos de actina, que implica em maior quantidade de conexões contráteis, gerando maior produção de tensão. Soma-se a isto, as questões neurais: aumento no recrutamento de unidades motoras, melhor sincronia dos disparos de impulsos nervosos, diminuição de mecanismos inibitórios centrais e periféricos, como também um possível aumento da inibição recíproca dos músculos antagonistas (Batista et al, 2010). Os pesquisadores destacam alguns pontos relevantes durante a utilização de exercícios de força objetivando atingir a potencialização pós-ativação: 1) selecionar o exercício de força adequado, 2) programar de forma correta o momento da realização no aquecimento de maneira que não resulte em fadiga para atividade subsequente. Podem ser empregados exercícios isométricos ou dinâmicos de intensidade próxima a máxima e de curtíssima duração. Buscando verificar o efeito de potencialização pós-ativação no aquecimento, Marques (2012) alega que o uso do salto vertical e da pliometria, desde que administrados em indivíduos com experiência em treino de força, podem ser úteis no ganho ou na manutenção de potência nos membros inferiores. Santos (2011) estudou o efeito do aquecimento na produção de potência em jogadores de futebol. Comparou os efeitos da realização do aquecimento ou não, nos resultados de impulsão vertical. O aquecimento empregado foi uma corrida contínua a 85% da frequência cardíaca máxima durante vinte minutos. A altura média do salto vertical foi significativamente maior quando foi realizado o aquecimento (45,47+\8,89 versus 47,85+\-8,28 cm). O uso do exercício meio agachamento ou saltos pliométricos em futebolistas foram analisados quanto a sua efetividade na potencialização pós-ativação na velocidade de sprint em 20 metros. No trabalho, após um aquecimento com exercícios usando deslocamentos e mudanças de direção com bola em seguida alongamento, cada atleta realizava uma série de quatro repetições máximas do meio agachamento, e repouso por cinco minutos. Em sequência, era avaliada a velocidade de 20 metros. Na próxima fase, após o aquecimento padrão, era realizado uma série de quatro saltos pliométricos consecutivos sobre barreiras dispostas a 40cm de altura, seguido de cinco minutos de repouso e novamente avaliada a velocidade de 20 metros. Concluiu-se que o exercício meio-agachamento quando comparado com a pliometria foi mais efetivo para desencadear o efeito de potencialização pós-ativação (Carvalho et al, 2012a). Nos treinos de musculação, o aquecimento se utilizando de cargas neuromusculares tem se mostrado mais eficaz. Luz Junior et al (2014) avaliaram os efeitos de diferentes protocolos de aquecimento sobre o desempenho de força 72


máxima nos exercícios supino e leg press (sem aquecimento, cinco minutos de esteira, cinco minutos de bicicleta, quinze repetições com 40% de 1RM ou duas séries de duas repetições com 90% de 1RM). Concluíram, que o aquecimento com protocolo de força máxima apresentou resultados positivos em membros superiores e inferiores. Todavia, em menor escala, os aquecimentos aeróbios e de resistência de força influenciaram melhorias do desempenho muscular no leg press. Com base nas pesquisas apresentadas, podemos propor um modelo de aquecimento para jogadores de futebol. Um modelo para sessões de treinamentos de força e outro para ser realizado em dias de jogos. Quadro 27 – Modelos de aquecimento para sessões de treino da força Treino de força na sala de musculação Aquecer usando o mesmo exercício a ser realizado com carga mínima Treino de força no campo Aquecer com corridas lentas seguidos de aumento da intensidade de forma gradual Aquecer com exercícios usando força isométrica seguida de saltos Aquecer usando troca de passes em deslocamento Aquecer com saltos horizontais (usando as duas ou uma perna) Aquecer usando troca de passes em deslocamento e finalização de chute ao gol Aquecer usando troca de passes em deslocamento e finalização de salto com cabeceio ao gol

Nos dias de jogos, os jogadores precisam estar fora do vestiário rapidamente, pois o regulamento alega que é necessário estar no campo dez minutos antes da partida. Assim, elaboramos uma proposta de aquecimento levando em conta tal fator. Além disso, iremos propor duas formas de aquecimento que poderiam ser feitos no vestiário e, complementados após a entrada em campo, para não perder o efeito do aumento da temperatura muscular. Todavia, vale salientar, que a soma do aquecimento executado no vestiário mais o aquecimento feito no campo não deve ser excessivo, pois corre-se o risco dos jogadores iniciarem a partida em estado de fadiga.

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Quadro 28 – Modelos de aquecimento para os dias de jogos Aquecimento em aparelho no vestiário Aquecer realizando 2-3 séries de leg press com carga mediana Aquecer realizando 2-3 séries de agachamento ou meio-agachamento com carga mediana Aquecimento no vestiário sem uso de aparelhos Aquecer com exercícios leves de saltitos no local (saltos verticais); polichinelo látero-lateral, polichinelo anteroposterior, etc Aquecer realizando skeepings, seguidos de corridas de intensidade gradual Aquecer com exercícios pliométricos (ambas as pernas ou uma perna) Aquecimento no campo Aquecer com bola usando troca de passes Aquecer com a realização de alongamentos dinâmicos Aquecer com bola ¨bobinho¨ Aquecer com bola realizando chutes de finalização ao gol Aquecer com bola realizando corrida lenta e finalizando com cabeceio ao gol

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13.0 - FADIGA A fadiga é um mecanismo de proteção contra possíveis efeitos deletéricos do esforço visando proteger a integridade dos processos de ordem fisiológica (muscular, metabólica, cardíaca e mental) (Ascensão et al, 2003 ; Paula, 2004). Exaustão ou esgotamento é um termo erroneamente utilizado para designar a fadiga. Weineck(1999) e Baroni et al (2011) salientam que diferentemente da fadiga, que costuma ser uma situação reversível e permite uma continuação da atividade com um gasto de energia maior e coordenação motora desequilibrada, a exaustão seria uma condição de impossibilidade total de realizar o exercício. A fadiga possui um caráter multifatorial, e suas classificações são: periférica (neuromuscular e metabólica), central (processos mentais) e de governo central (cardíaca). Na fadiga de origem periférica, ocorrem alterações nos níveis de concentração da enzima creatina-fosfato (nas atividades de alta intensidade – fibras de contração rápida), glicogênio muscular (cuja diminuição pode alterar a relação excitaçãocontração) e também na relação lactato-pH (acidose metabólica). Moreira et al (2008) retratam a fadiga de origem central como relacionada aos complexos processos de formulação dos padrões motores pelo córtex cerebral, cerebelo e junções sinápticas. Complementando, Ferreira & Moro (2011) chamam a atenção para o neurotransmissor dopamina, que sofre uma redução durante a execução do exercício e\ou atividade de longa duração. Essa redução da dopamina acaba estimulando o aumento da serotonina (5-HT) que concorre com o triptofano (TRF). Na liberação da serotonina no cérebro, surge a inibição da excitação do sistema nervoso central (SNC). Além disso, de acordo com Ascensão et al (2003), ocorrem perturbações psicológicas na motivação, atenção, humor e depressão, como também na coordenação neuromuscular. Por último, a fadiga de governo central proposta por Noakes (2000), retrata a questão da regularidade da oferta de oxigênio para o coração. O autor apresentou uma esquematização no qual o pico de fluxo sanguíneo das coronárias acaba afetando a eficiência e contratibilidade do coração, ocasionando um débito cardíaco máximo. Este fato, se reflete na eficência músculo-esquelética alcançado pelo volume de trabalho limitando o débito cardíaco. Seria um mecanismo de proteção contra possíveis danos resultantes da falta de oxigenação. Platonov (2008) destaca dois tipos de comportamentos da fadiga associada na relação cargas de treino\competições: a fadiga visível e a fadiga oculta. A fadiga visível por se apresentar espontaneamente após as cargas, é de fácil resolução e controle durante os processos de recuperação, pois não é cumulativa. Em contrapartida, a fadiga oculta, caracterizada pela dificuldade de identificação, pode gerar risco de overtraining resultante do seu acúmulo residual.

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Quadro 29 – Características comportamentais da fadiga Fadiga Aguda Não- residual Compensatória Risco de Visível overreaching Fadiga Oculta

Crônica

Residual

Nãocompensatória

Risco de overtraining

O overreaching e o overtraining são duas síndromes decorrentes do exercício e sua relação com a fadiga (desequilíbrio entre as cargas e a recuperação). No caso do overreaching, tal estado ocorre de forma aguda, transitória e, pode ser revertido com métodos de recuperação apropriados. Já o overtraining ou sobreuso, refere-se a uma síndrome multifatorial de característica mais grave. Seu diagnóstico não é fácil e, quanto mais precocemente for identificado, maiores as chances de uma recuperação. É marcante uma sensação de estafa prolongada por parte do atleta, não conseguindo realizar as sessões de treino com a mesma frequência, intensidade e duração anteriormente acostumado. Os sintomas alternados de cansaço e excitação cercam o sistema nervoso simpático. No sistema nervoso parassimpático, a inibição e depressão são marcantes. O tratamento do overtraining envolve várias situações complexas, tais como: reduções nas cargas de treino, mudanças no tipo de treinamento e até afastamento dos treinos. Intervenções multidisciplinares com psicólogos, nutricionistas, fisioterapeutas, médicos e outros profissionais se fazem obrigatório. Métodos de diagnóstico podem ser efetuados por via bioquímica ou indicadores psicométricos (POMS, RPE, REST-Q Sport) (Costa & Samulski, 2005).

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14.0 - FADIGA NO FUTEBOL O futebol é um esporte com imprevisíveis variações de movimentos alternando o seu tipo, duração e frequência. Então, uma partida com duração total de noventa minutos, é um grande elemento potencializador de fadiga (Bangsbo et al, 2007). Isso devido principalmente aos movimentos repetitivos de corridas, sprints, mudanças de direção e colisões físicas com diferentes graus de magnitude. De acordo com Russell et al (2011), no futebol, a fadiga afeta diretamente a proeficiência técnica e tática, assim como as ações técnicas coletivas e individuais. Na prática, os indicadores mais utilizados para mensurar o nível de estresse fisiológico da fadiga são a creatinaquinase (CK), relação testosterona\cortisol, lactatodesidrogenase (LDH), testes neuromusculares (salto vertical, salto contramovimento, etc), questionários de percepção subjetiva do esforço (PSE, POMS, etc), entre outros. Estudando os efeitos da fadiga em jogadores de futebol, Greig & Siegler (2009) investigaram acerca do pico de força excêntrico do músculo isquiotibial durante um jogo simulado de noventa minutos. Antes do jogo e durante o intervalo de quinze minutos, os jogadores foram submetidos a uma avaliação isocinética da musculatura flexora do joelho. Os resultados apontaram para uma redução significativa no pico de torque em função do tempo de andamento da partida. Tal fato, é um indicador de grande risco de lesões nos isquitibiais nas partidas, devido principalmente, pela constante utilização de movimentos explosivos. Os efeitos da fadiga no futebol feminino dinamarquês foram estudados. As avaliações incluíam o salto contramovimento, teste 30 metros de sprints e o teste YoYo de resistência intermitente. No teste Yo-Yo a queda ocorrida foi de 62% após a partida em relação ao início (484+\-50m versus 1265+\-133m, p<0,05). No teste de sprints 30 metros a queda foi de 4% mais lento no fim do jogo, em relação ao estado de repouso (5,06+\-0,06 segundos versus 4,86+\-0,06 segundos). O salto contramovimento não foi afetado pela fadiga decorrente da partida. Os autores reportam que os efeitos da fadiga são mais evidentes com a aproximação do final do segundo tempo do jogo (Krustrup et al, 2010). A fadiga neuromuscular em atividades intermitentes é dependente da velocidade de contração muscular. Segundo Morel et al (2015) os mecanismos da fadiga são induzidos pela força-velocidade empregada nas contrações musculares. A magnitude da fadiga afeta a precisão dos movimentos técnicos. Lyons et al (2006) verificaram que quanto maior o grau de fadiga no qual os jogadores foram submetidos, ocorrem interferências significativamente negativas no desempenho do passe em um teste específico.

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14.1 - Glicogênio A depleção nos estoques de glicogênio muscular e hepático, com a finalidade de preservar níveis adequados de glicemia durante uma partida é considerado um fator indutor de fadiga. Nas atividades intermitentes de alta intensidade que ocorrem no futebol, ao iniciar as partidas com glicogênio depletado, podem ocorrer reduções na capacidade de desempenho do jogador para manter deslocamentos em ritmos elevados, principalmente no segundo tempo da partida. Evidências realizadas por meio de biópsia do músculo vasto lateral, demonstram uma grande utilização de glicogênio nas fibras de contração rápida (287,4+\-41,2 mmol de glicose por unidade) quando comparado as fibras de contração lenta (182,2+\-34,5 mmol de glicose por unidade, p<0.05) neste tipo de exercício (Nicholas et al, 1999). Uma ingestão alimentar adequada no aporte de carboidratos durante os respectivos períodos de alimentação diários poderiam sanar essa deficiência. Assim como, a suplementação de carboidratos pré-jogo, aliado a uma hidratação com líquidos carboidratados durante a partida. 14.2 - Desidratação Sendo uma atividade aberta, outro fator contribuidor de fadiga no futebol são as condições climáticas que os jogadores estão expostos (Mohr et al, 2005). A desidratação acima de 2% do peso corporal já reflete indícios de fadiga. A evaporação do suor é o mecanismo essencial para termorregulação do organismo. Neste quesito, a umidade relativa do ar (URA) é tida como a grande inimiga das atividades esportivas sujeitas a variações do clima. O aumento da URA leva a diminuição da taxa de evaporação do suor presente na superfície cutânea da pele, e ocasiona uma menor liberação do calor corporal, podendo levar o atleta a injúrias de ordem térmica (Carvalho & Mara, 2010). Machado-Moreira et al (2006) revisaram as recomendações da National Athletic Trainer´s Association (NATA) acerca da reposição de fluídos na prática esportiva. A NATA recomenda ingestão de 500-600ml de água ou bebida hidroeletrolítica de duas a três horas antes do exercício, e 200300ml 10-20 minutos antes da atividade. Durante o exercício, a percepção da sede e o estado climático é que irão determinar a ingestão de líquidos pelos jogadores. Existem indicadores para avaliar o status hídrico do atleta (quadro 30).

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Estado de Hidratação

Quadro 30 – Índices do estado de hidratação % Coloração Peso Corporal da Urina

Gravidade da Urina

Eu-hidratação

+1 a -1

1 ou 2

< 1010

Desidratação mínima

-1 a -3

3 ou 4

1010 - 1020

Desidratação significativa

-3 a -5

5 ou 6

1021 - 1030

Desidratação grave

> -5 >6 (NATA apud Moreira-Machado et al, 2006)

> 1030

A maioria dos pesquisadores tem investigado a questão da hidratação em relação à atividade competitiva, ou seja, durante partidas simuladas ou reais, como também durante as sessões de treino (Andrade-Souza et al, 2015 ; Gordon et al, 2015 ; Salum & Fiamoncini, 2006). O controle do peso corporal durante uma sessão de treino físico\técnico de duas horas e trinta minutos de duração foi investigada por Salum & Fiamoncini (2006). Foram encontradas diferenças na percentagem de peso corporal perdido nos jogadores conforme a função tática que desempenham; sendo os maiores valores de perda para os goleiros (-1,78%) e os menores para os atacantes (-0,76%). A questão da desidratação para Mohr et al (2005) implica em grandes perdas hídricas numa partida em condições climáticas termo-elevadas, oscilando de 3 a 5 litros, conforme variabilidade individual dos jogadores. Em futebolistas profissionais do Chile (n=156), Castro-Sepúlveda et al (2015) encontraram 0,6% de estado euhidratado, 9% de desidratação mínima, 76,9% de desidratação significativa e 13,5% de desidratação séria em condições de pré-treino. A fadiga decorrente da desidratação afeta a função muscular. A força isocinética, isométrica e a potência da musculatura flexora\extensora dos joelhos em futebolistas, indicaram que a reposição de fluídos durante noventa minutos de treinamento, não conseguiu compensar as reduções nos níveis da força e velocidade de sprints (Ali & Williams, 2013). Ao verificarem os efeitos de um clima quente sobre a performance muscular de jogadores de futebol, Mohr et al (2010) mostraram quedas no desempenho dos valores de repetidos saltos contramovimentos (-2,6%) e três séries de sprints de 30 metros (-8,2%), após partida de jogo amistoso de dois tempos de quarenta e sete minutos por um intervalo de quinze minutos. Na Copa do Mundo FIFA 2014, realizada no Brasil, Nassis et al (2015) analisaram a associação existente entre o estresse do clima quente e a performance dos jogadores. Nos 64 jogos estudados, o número de sprints e a distância percorrida em alta intensidade foram menores conforme a elevação da temperatura. Todavia, a velocidade de pico 79


das ações, como também o número de passes bem sucedidos, não foram significativamente afetados tanto em elevadas como em baixas temperaturas. Chegaram a conclusão que futebolistas de elite conseguem criar uma modulação das atividades motoras nas partidas, a ponto de manter a preservação das características globais do jogo independente do clima. Na revisão de Monteiro et al (2003) sobre a hidratação direcionada aos futebolistas, salientam que o desempenho somente pode ser melhorado se o líquido a ser consumido contiver além da água, o carboidrato. Estratégias como hiperhidratação na semana pré-partida, aclimatação e alterações nas regras do jogo que permitissem os atletas ingerirem líquidos a qualquer sinal de sede, tornariam a fadiga induzida por desidratação menos provável. A indumentária, ou seja, os uniformes usados pelos jogadores de futebol influenciam o ganho e\ou a perda de calor, afetando a eficiência do processo de hidratação. Uniformes de tecidos com fibras sintéticas, permitem uma transferência eficaz do calor e umidade da pele para o meio ambiente. As cores escuras dos uniformes atraem e absorvem os raios solares promovendo ganhos de calor. Em contraste, uniformes de cores claras dissipam calor mais facilmente por refletirem raios luminosos para longe do corpo (MacArdle et al, 2011). Os referidos pesquisadores citam alguns fatores que influenciam o efeito de isolamento da vestimenta nos atletas: velocidade do vento, movimentos corporais, roupas aderentes ou folgadas, transferência de vapor da água e fator de eficiência por permeação. Somando-se a isto, a cor da pele dos jogadores segue o mesmo princípio aplicado a cor dos uniformes. 14.3 - Propriocepção A fadiga causa interferências de ordem negativa nos mecanismos de propriocepção. O controle neuromuscular com o intuito de manter a estabilidade muscular dinâmica, por meio de aferências proprioceptivas dos receptores da periferia para centros superiores e as respostas motoras são afetadas pela fadiga. Uma redução e\ou déficit proprioceptivo sensorial do movimento e da posição articular no controle postural se torna um agente indutor de lesões, devido principalmente aos efeitos da fadiga no tempo de reação muscular em tarefas que exigem respostas musculares em condições extremamente rápidas (Santos Silva et al, 2006 ; Zazulak et al, 2007). Nos jogos de futebol, a queda nas respostas proprioceptivas músculoarticulares, devido a fadiga imposta pelas cargas, ocasionam disfunções nos mecanorreceptores, podendo levar os atletas a lesões (Cerulli et al, 2001 ; Greig &Walker-Johnson, 2007 ; Mohammadi & Roozdar, 2010). Segundo Ergen & Ulkar (2008) uma articulação ou membro em movimento, são dependentes diretamente do feedback proprioceptivo na percepção consciente ou inconsciente das ações motoras.

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14.4 - Fatores adicionais limitantes do desempenho no futebol O futebol com sua característica de esforços alternantes curtos de máxima ou supramáxima intensidade por períodos de recuperação variáveis, acaba exigindo dos jogadores a capacidade de reproduzir e manter repetitivos sprints. Sendo assim, a presença da fadiga tende a limitar a execução dessas ações motoras. Na visão de Girard et al (2011), nos esportes coletivos como o futebol, a habilidade do jogador em repetir inúmeros sprints durante uma partida sem queda na sua velocidade, é condição crucial do desenvolvimento físico. A revisão dos autores acerca dos fatores limitantes na habilidade de executar repetitivos sprints, estão enunciados: fatores musculares (excitabilidade muscular, limitações no suprimento de energia, acumulação de metabolitos), fatores neurais (unidade neural, estratégias de recrutamento muscular) e outros (regulação do stiffness muscular, perturbações ambientais). Quadro 31 – Resumo dos fatores limitantes na capacidade de reproduzir sprints Aspecto Fator Condição Fisiológica Muscular

Excitabilidade muscular

Distúrbios iônicos

Muscular

Limitações no suprimento Recuperação parcial dos de energia estoques de ATP nas fibras de contração rápida

Muscular

Limitações no suprimento de energia

Muscular

Limitações no suprimento Limitação na contribuição de energia do sistema oxidativo de produção de ATP nos sprints finais de acordo com o valor de VO2máx do atleta

Inibição na utilização do sistema anaeróbio glicolítico nos sprints subsequentes

Muscular

Acúmulo de metabolitos

Acidose metabólica inibe a atividade do ATP derivada da glicólise

Muscular

Acúmulo de metabolitos

Acréscimos no fosfato inorgânico afetam a liberação de cálcio no

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retículo sarcoplasmático e\ou sensibilidade miofibrilar Neural

Neural

Unidade neural

Reduzida eficiência na geração de comando motor com reflexos na atividade cerebral elétrica

Estratégia de recrutamento Com a fadigabilidade das muscular fibras de contração rápida, ocorre relativa contribuição das fibras de contração lenta na geração de força

Outros

Regulação da rigidez muscular (stiffness)

Outros

Perturbações ambientais

Manutenção de níveis adequados de stiffness muscular é condição básica para suportar fadiga durante séries de sprints

Execução dos exercícios em condições de altitude e climáticas extremas (Adaptado de Girard et al, 2011)

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15.0 - MÉTODOS DE RECUPERAÇÃO No meio esportivo, os recursos recuperativos são empregados com a finalidade de restaurar o organismo dos atletas das cargas a que são submetidos nos treinos e competições, com isso, prevenindo contra efeitos residuais da fadiga e permitindo um adequado restabelecimento e otimização das funções físicas e mentais. Na literatura sobre recuperação, temos observado um detalhe que passa desapercebido por alguns autores. As pesquisas tem se apegado a apresentar meios e métodos de recuperação imediata, negligenciando o conhecimento do tempo de recuperação das capacidades biomotoras treinadas. Neste sentido, Marques Junior (2012) preconiza ser essencial o preparador físico conhecer a recuperação das diversas capacidades biomotoras, melhorando o planejamento das sessões de treino subsequentes. O quadro 32 apresenta os intervalos de tempo recuperativo das capacidades biomotoras. Quadro 32 – Tempos de recuperação das capacidades biomotoras Treinamento Período de Recuperação Partida ou Jogo

24h a 72h

Técnico ou Técnico-Tático

6 a 24h

Força Máxima ou Força Rápida

24h

Resistência de Força Rápida ou Resistência Muscular Localizada (RML)

48h

Salto em Profundidade (Iniciação)

24h

Salto em Profundidade de Força Rápida

48h

Salto em Profundidade de Força Máxima

72h

Anaeróbio Alático, Anaeróbio Lático e Aeróbio

24h a 48h

Agilidade

6h

Flexibilidade 24h (Adaptado de Marques Junior, 2012) Entre os procedimentos de recuperação pós-treino e\ou jogo mais conhecidos e utilizados estão os meios passivos e ativos. Recuperação passiva engloba meios mais elementares, entre eles, o principal: o sono. Visa o restabelecimento de viagens prolongadas, e das cargas de treino\jogos 83


com 9 a 10 horas de sono por dia, principalmente durante a noite (Bompa & Haff, 2012). Os meios de recuperação ativa consistem em estratégias de grande potencial; desaquecimento ativo, massagem, termoterapia, crioterapia, eletroestimulação, roupas compressivas, oxigênioterapia, farmacologia e técnicas nutricionais.(Bompa & Haff, 2012 ; Feitosa, 2013 ; Goto & Morishima, 2014).

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16.0 - RECUPERAÇÃO NO FUTEBOL A sequência ininterrupta de sessões de treino e partidas causam um desequilíbrio orgânico podendo levar os jogadores a fadiga muscular, falta de energia e esgotamento, podendo resultar em overtraining. Além disso, tais sinais podem intensificar o aparecimento de lesões, baixa resistência física e imunológica. De fato, se não houver uma recuperação correta dos parâmetros físico-orgânico-imunológico dos atletas, os mesmos não apresentarão um bom desempenho para as próximas sessões de treino ou partidas (Feitosa, 2013). A recuperação está atrelada ao processo da fadiga, buscando o restabelecimento da capacidade de trabalho. Não implica necessariamente em retorno do organismo do atleta ao estado normal. E sim, que as reações orgânicas após as cargas são conservadas e reforçadas, para posteriormente com a recuperação ocorrer a situação de supercompensação (Platonov, 2008). No futebol, suas atividades motoras implicam em solicitações predominantes do ciclo alongamento-encurtamento que estão relacionadas ao rompimento de material miofibrilar e danos nas citosinas. Checchi (2013) cita também mudanças hormonais, hematológicas, alterações no humor e apetite, que podem ocorrer em uma situação de sub-recuperação dos treinos ou jogos. 16.1 - Massagem A massagem tem sido utilizada na recuperação física de atletas como elemento restaurador durante e após as atividades. Pode ser considerada como um agente recuperador da fadiga, atuando na melhora da circulação, redução da hipertonicidade e remoção de metabolitos como o lactato. Cassar (2001) ao se referir a massagem com fins terapêuticos, cita os diferentes tipos de técnicas: deslizamento, compressão, massagem linfática, percussão, fricção, vibração, agitação e trabalho corporal. Em treinos de força, Marchetti & Gonçalves (2006) avaliaram o efeito da massagem entre as séries no exercício mesa flexora unilateral do membro não dominante até a fadiga. Os resultados indicaram que a massagem promove aceleração do processo recuperativo e pode ser considerada uma intervenção efetiva na recuperação pós-séries no treino de força. No futebol, Lopes et al (2009) investigaram os efeitos da massagem na remoção do lactato após uma sessão do treino de caráter anaeróbio. O protocolo envolvia cinco tiros e no grupo intervenção, a massagem (técnicas de deslizamento superficial e profundo) era aplicada logo em seguida aos exercícios durante dez minutos. Após esta fase era executado um repouso ativo a 50% VO2máx durante dez 85


minutos. Na comparação do grupo com a intervenção da massagem em relação ao grupo controle, apresentou velocidade de remoção 18,7% mais rápida. Concluíram que a massagem pode ser um meio efetivo para remoção do lactato quando empregada com outra estratégia recuperativa. 16.2 - Crioterapia No futebol e em outras modalidades desportivas a crioterapia é um método de recuperação muito utilizado que apresenta benefícios. Crioterapia inclui técnicas de recuperação com o uso de gelo ou baixas temperaturas atingindo os tecidos para controle das dores, inflamações e lesões. Entre os efeitos proporcionados pela crioterapia incluem-se a diminuição da velocidade de condução das vias sensitivas e motoras. Após a aplicação da crioterapia, Brancaccio et al (2005) relatam que ocorre uma diminuição do fluxo sanguíneo local, levando a diminuição do metabolismo e minimizando danos teciduais causados pela hipóxia. Os autores pesquisaram o uso da crioterapia em ratos treinados e sedentários sobre uma lesão muscular provocada no gastrocnêmio direito. Houve diminuição na desorganização das fibras na lesão dos ratos treinados em comparação aos sedentários. Também, neste estudo, a crioterapia minimizou a ectasia vascular e angiogênese. Podemos especular que a crioterapia beneficia mais indivíduos treinados. Todavia, é necessário averiguar o tipo de atividade envolvida (aeróbia ou anaeróbia). Na musculatura do quadríceps, Carvalho et al (2012b) verificaram a efetividade de duas modalidades de crioterapia: sacos com gelo e sacos contendo mistura de gelo e água. Nos resultados, ambas as variações produziram resfriamento da musculatura. A técnica que empregou mistura de gelo e água ocasionou resfriamento maior. Um indicador muito utilizado no futebol visando a recuperação completa dos jogadores é a creatinaquinase (CK). É um marcador da intensidade dos esforços desenvolvidos, que produz respostas inflamatórias e declínio da função anaeróbia nas 72 até 96 horas pós-partidas (Checchi, 2013). Os efeitos da crioterapia sobre a concentração de CK em futebolistas foi estudada por Figueiredo-Freitas et al (2006). O delineamento consistia na realização de tiros em alta velocidade nas distâncias de 5, 10, 20 e 30 metros tentando reproduzir deslocamentos específicos da partida. Após a realização dos exercícios, os atletas imergiam os membros inferiores em uma banheira contendo água e gelo, cuja temperatura se manteve em torno de 8 graus. O tempo de imersão total foi de 15 minutos, onde após 24, 52 e 76 horas eram coletados amostras de sangue. O grupo controle realizou os mesmos exercícios do programa sem a imersão e, com a execução de repouso passivo. Nos resultados, o grupo submetido ao tratamento crioterápico apresentou níveis de concentração de CK duas vezes maiores após 24 horas da realização dos exercícios (p< 0,05). Concluíu-se que no desenho 86


experimental aplicado, a crioterapia propiciou uma recuperação na meia-vida da CK sérica. Ascensão et al (2011) compararam duas técnicas de recuperação nos jogadores de futebol: imersão em água fria (10 graus) e imersão em água termoneutra (35 graus) durante dez minutos. Nos dois grupos foram mensurados índices de dano muscular (CK e mioglobina), inflamação (proteína reativa C), função neuromuscular (squat jump , salto contramovimento, sprint de 20 metros e força máxima isométrica do quadríceps) e dor muscular de início tardio (antes, 30 minutos antes do fim, 24 e 48 horas depois da partida). A percepção de frio foi maior no grupo imersão em água fria (média 7) em relação ao outro grupo (média 0,5). Acréscimos na atividade da CK 24 e 48 horas após tratamento foram maiores no grupo termoneutro. Houve aumento na mioglobina em ambos os grupos sem diferenças significativas. Concentrações de proteína reativa C foram elevadas em ambos grupos, sendo maior no termoneutro (p<0,05). Os testes de saltos sofreram quedas nos valores, sendo após 24 horas no squat jump e 24 e 48 horas no salto contramovimento no grupo termoneutro. Os testes de sprint não foram afetados em ambos grupos. Queda na força isométrica do quadríceps foram notadas após 24 e 48 horas no tratamento termoneutro, enquanto no grupo água fria somente após 48 horas. Concluíram que a crioterapia na forma de imersão em água fria imediatamente após partida é um meio redutor dos marcadores de dano muscular. Na questão sobre remoção do lactato sanguíneo após atividade motora, Baroni et al (2010) verificaram que a crioterapia de imersão por dez minutos (a 5 graus) mostrou-se menos efetiva quando comparado a recuperação passiva. Merece destaque uma informação sobre a crioterapia apresentada por Feitosa (2013). De acordo com ele, existem jogadores que não se adaptam bem a crioterapia, devido a uma hipersensibilidade extrema a baixas temperaturas. Acredita que deve ser usado o bom senso quanto a aplicabilidade ou não da crioterapia em futebolistas. 16.3 - Técnicas adicionais de recuperação Entre as técnicas recuperativas adicionais temos a termoterapia, eletroestimulação, terapia de contraste, imersão em água, drogas anti-inflamatórias, estratégias nutricionais, oxigênioterapia, roupas compressivas e o sono. A termoterapia se utiliza do calor para provocar aquecimento no corpo (imersão em água com temperatura morna ou quente, saunas, banheiras de hidromassagem quentes, banhos de vapor, bolsas quentes e uso de lâmpadas infravermelhas) (Bompa & Haff, 2012). Eletroestimulação, segundo Feitosa (2013) consiste no emprego da corrente elétrica para provocar contrações musculares que intensificam a circulação e oxigenação eliminando toxinas. É um procedimento feito por meio de aparelho portátil que usa correntes de onda (corrente galvânica e correntes variáveis). Na terapia de contraste, o emprego de meios físicos como o calor e o frio de 87


forma alternada produzem alterações no fluxo sanguíneo, redução do inchaço, diminuição das respostas inflamatórias e dos espasmos musculares, assim como altera a percepção de dor (Bompa & Haff, 2012). Imersão do corpo ou partes corpóreas no meio líquido proporciona por meio da pressão hidrostática, estímulos no fluxo sanguíneo com um aumento na taxa de reposição energética, estimula os proprioceptores cutâneos, e faz a eliminação dos resíduos que melhoram a recuperação. A oxigênioterapia é a inalação de oxigênio concentrado ou misturas de gases que causam um aumento temporário na saturação de oxigênio no sangue e tecidos, acelerando a recuperação após atividades de cargas intermitentes (Pupis et al, 2013). Roupas compressivas são empregadas para tratamento das desordens inflamatórias. Aplicando a compressão, cria um gradiente de pressão que reduz os espaços para formação de inchaço, hemorragia e hematomas. Em medicina, elas são usadas no tratamento preventivo da trombose. Na prática esportiva, seus benefícios incluem aumento no retorno venoso, improvisa filtração capilar de grande volume sanguíneo e ajuda a remover sub-produtos (Davies et al, 2009). O uso de drogas anti-inflamatórias não esteróides tem sido usado como meio recuperativo. Seu emprego tem como finalidade estimular uma recuperação aguda da função muscular e minimizar dores musculares. No entanto, anti-inflamatórios não esteróides devem ser prescritos com cautela, pois sua utilização crônica pode atenuar a síntese proteíca induzida pelos exercícios de força (Bompa & Haff, 2012). Entre as estratégias nutricionais recuperativas no futebol, Fernandes (2015) cita a hidratação (repor água e eletrólitos), alimentação (repor glicogênio e proteínas) e suplementos adicionais. O sono é uma variável recuperativa. Quantidades adequadas de horas dormindo e o sono de qualidade (sem ruídos, sem luzes, local apropriado, etc), permitem uma oportuna restauração psicofísica. De particular contexto são as inúmeras viagens em que os atletas são submetidos. Viagens a nível nacional são pouco ou muito desgastantes conforme o meio de transporte utilizado e quantidade de horas. Já nas viagens internacionais, os desajustes no ritmo circadiano são mais evidentes, podendo ocasionar alguns sintomas negativos, tais como: dificuldades com sono, desempenho cognitivo reduzido, perda de motivação, irritabilidade, perda de apetite, entre outras (Bompa & Haff, 2012). Para Nédélec et al (2015) o sono antes e após as partidas sofre efeitos potenciais estressores: o efeito ¨primeira noite no hotel¨, a excitação prépós jogo, o brilho das luzes policromáticas do estádio, iluminação dos aparelhos eletrônicos (celular, televisão, tablet, etc), tempo de cochilo durante o dia, mudanças na temperatura ambiente e efeito cumulativo da fadiga nas viagens da temporada. Esses fatores provocam irregularidades no padrão de sono dos jogadores que irão se refletir em quedas no desempenho. Um estudo sobre recuperação após partidas demonstra a importância e os efeitos das diferentes estratégias de recuperação e, que pode ser utilizado no futebol foi orientado por Gill et al (2006). Na pesquisa, com vinte e três jogadores de rugby profissionais da Nova Zelândia, o objetivo era descobrir qual de quatro estratégias 88


recuperativas seria a mais eficiente após partida. As quatro tipos de estratégias envolvidas: recuperação passiva (nove minutos sentado no banco e devidamente hidratado), recuperação ativa (exercício de baixa intensidade no cicloergômetro por sete minutos), terapia de contraste (imersão de um minuto em água fria de 8-10 graus, alternando com dois minutos na água quente de 40-42 graus, durante nove minutos), roupa compressiva (vestir uma roupa de compressão nos membros inferiores usando até a manhã seguinte, aproximadamente doze horas). Foram coletados as amostras de CK, 3,5 horas antes e imediatamente após quatro jogos, e às 36 e 84 horas após as partidas. O quadro 33 apresenta a efetividade dos diferentes meios de recuperação empregados. Quadro 33 – Efetividade dos meios de recuperação em jogadores de rugby Técnica de Recuperação Recuperação após 84 horas Recuperação Ativa

88,20%

Roupa Compressiva

84,40%

Terapia de Contraste

85,00%

Recuperação Passiva 39,00% (Adaptado de Gill et al, 2006) As estratégias de recuperação apresentadas podem ser aceleradas com o uso combinado de duas ou mais modalidades restauradoras. Existe a possibilidade de implementar um número infinito de combinações de acordo com as necessidades específicas do esporte (Bompa & Haff, 2012).

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17.0 - LESÕES NO FUTEBOL Sendo o futebol considerado um esporte de contato, acaba tornando os jogadores mais suscetíveis ao risco de lesões musculoesqueléticas se comparado a outras modalidades de não-contato. Porém, devemos nos atentar ao fato de que mesmo sendo um esporte de contato, acabam ocorrendo lesões de não-contato nas partidas e\ou treinos. O que observamos na mídia em relação as lesões de nãocontato, seriam lesões decorrentes de microtraumatismos de repetição, lesões de fadiga dos treinos, lesões decorrentes da fadiga de jogo e, alguns casos de lesões cardíacas agudas. Em pesquisas analisadas, percebemos que os autores tomam o cuidado inicial de definir lesão segundo os objetivos e critérios do respectivo estudo. No nosso caso, consideraremos como lesão qualquer acometimento de ordem musculoesquelética ou trauma no jogador, que o leve a sofrer atendimento médico imediato ou posterior, tanto nos treinos como nas partidas, podendo levá-los ao afastamento por dias ou meses, como somente momentâneo. As lesões são uma problemática corriqueira no futebol. Na contratação de novos jogadores para o elenco são realizados exames aprofundados na intenção de descobrir eventuais lesões existentes ou mal recuperadas. Os clubes se preocupam cada vez mais com o tempo de afastamento dos seus jogadores devido ao elevado custo monetário\financeiro na sua recuperação. Além disso, existe uma pressão muito grande no ambiente futebolístico para que o jogador retorne precocemente do tratamento. Essa pressão exercida pelo retorno envolve o risco do jogador perder ou ser desvalorizado na sua titularidade e\ou função. Também acontece a necessidade do treinador, patrocinadores e dirigentes para com a presença imediata do jogador-chave na equipe. Os fatores causadores de lesões no futebol podem ser divididos em: intrínsecos e extrínsecos. Fatores intrínsecos relacionam-se com o desempenho muscular (fraqueza muscular, instabilidade, fadiga e falta de flexibilidade). Quanto aos fatores extrínsecos, estão incluídos o meio ambiente, terreno de jogo, equipamento, regras do jogo, etc (Marujo, 2014). As lesões estão presentes em sua maioria nos membros inferiores e em futebolistas masculinos. A prevalência de lesões ocorrem no joelho, coxa, tornozelo e lesões por fadiga. Sua frequência é maior durante as partidas quando comparadas com os treinamentos (Costa, 2011). A gravidade de uma lesão pode ser deduzida baseando-se no tempo de afastamento do atleta. Neste sentido, Checchi (2013) apresenta uma classificação: lesão ligeira (de 1 a 3 dias de ausência), lesão leve (de 3 a 7 dias de ausência), lesão moderada (de 8 a 28 dias de ausência) e lesão grave (acima de 28 dias de ausência). No futebol feminino, Berredo & Malschik (2010) aplicaram um inquérito de morbidade a dezenove jogadoras de dois clubes do Distrito Federal. A frequência dos 90


locais anatômicos de acometimento foram o tornozelo (16), ombro (04), mão (01), dedo (01), lombar (01), pelve\sacro (01), coxa (02), joelho (06) e perna (02). Quanto ao tipo de lesão, as citadas: ligamentar (10), fratura (04), luxação\subluxação (01), muscular (02), entorse (10), outros (03) e sem diagnóstico (04). As lesões de contato foram predominantes (64,70%) em relação as de não-contato (35,30%). Dos relatos de 33 lesões totais, o tempo mediano de afastamento foi de 15 dias (0-730). Nesta formatação de estudo supracitada (inquérito de morbidade), Barbosa (2014) ao investigar 198 futebolistas com idade compreendida de 12 a 18 anos, verificou baixa correlação do viéis recordatório de lesões dos atletas no período de quatro meses de acompanhamento. Talvez, o inquérito recordatório não seja um instrumento tão confiável para pesquisas sobre lesões. Acreditamos que o ideal seria uma ficha individual do histórico do jogador no departamento médico\fisioterápico para melhor controle das lesões, tratamentos e\ou cirurgias realizadas na temporada. Nascimento et al (2015) estudaram vinte e cinco jogadores profissionais paraenses na temporada 2013, por meio de uma pesquisa transversal descritiva. Da amostra total, 36% relataram ter sofrido lesões na temporada. Foram registrados onze tipos de lesões, sendo que alguns jogadores apresentaram mais de uma lesão. Os tipos de lesões citadas e o seu respectivo percentual: entorse de tornozelo (18,18%), distensão de coxa (18,18%), luxação de joelho (9,09%), entorse de joelho (18,18%), contusão (9,09%), lombalgia (18,18%) e tendinite (9,09%). A maioria das lesões foi por contato mecânico direto (36,36%) e por sobrecarga repetitiva (27,27%). A ocorrência se deu em sua maioria durante os treinos (54,54%) quando comparado com os jogos (45,45%) e, a função tática mais afetada foram os meio-campistas (44,44%). No futebol amador masculino do interior de São Paulo, Zanuto et al (2010) acompanharam cinquenta jogadores de dez equipes durante uma competição quanto aos indicadores de lesões. Ao final do campeonato encontraram 0,40 lesões por jogo, equivalente a 12,0 lesões por 1000 horas\atleta. No quesito circunstâncias das lesões, 57% ocorreram por contato e 43% sem contato. Quanto a gravidade da lesão, 43% foram consideradas leves, 33% moderadas e 24% graves. Os locais acometidos incluem a coxa (38%), tornozelo (24%), joelho (10%), perna (10%), membros superiores (10%), pé (5%) e tronco (5%). Os mecanismos de lesão foram por trauma (38%), entorse (38%), aceleração (14%) e chute (10%). Os autores destacam que os números notificados de lesões deste estudo são considerados inferiores aos jogadores profissionais, devido ao acontecimento de lesões serem proporcionais aos níveis de atuação. Em competições internacionais, como a Copa América de 2011 na Argentina, foram investigados as lesões. Em vinte e seis partidas realizadas, 26 jogadores lesionaram-se e acumularam 63 lesões. Estimando a incidência, os autores encontraram valores de 2,42 por 1000 horas de jogo por partida disputada. Os membros inferiores foram acometidos por 54 lesões (85,7%) e 09 (14,3%) no resto do corpo. A distribuição das lesões por segmentos corpóreos foram assim dispostas: joelho (09 casos), perna (04 casos), coxa (03 casos), tornozelo (02 casos), pé (02 91


casos), face (02 casos), tórax (01 caso), mão (01 caso) e ombro (01 caso). Nos quinze minutos finais das partidas ocorreram as predominâncias de lesões (Pedrinelli et al 2013). Estudos longitudinais nos permitem uma melhor interpretação do ¨fenômeno¨ lesão esportiva. Sendo assim, encontramos um estudo de caráter longitudinal desenvolvido por Dias (2011) com futebolistas de elite. O autor acompanhou três temporadas consecutivas (2006-2009) recolhendo dados durante os treinos e as partidas disputadas. Neste período foram encontradas 167 lesões, equivalente a um padrão de incidência de 7,2 (5,8-8,6) lesões por 1000 horas de exposição. Nos jogos a incidência foi maior que dos treinos. O tempo de afastamento dos jogadores da primeira temporada em relação a terceira diminuiu (24,6 versus 9,0 dias, p<0,05). Concluiu que a manutenção da equipe multidisciplinar no decorrer das temporadas contribuiu para estes resultados. Os goleiros no futebol também são acometidos por lesões. Os goleiros amadores estão sujeitos a maior incidência de lesões quando comparados aos goleiros de equipes profissionais (Schmitt et al, 2008). Mihalik et al (2005) assentam para um caso de fratura maxilofacial e trauma dental em um goleiro após choque traumático na face com o joelho de um jogador adversário. Ademais, outras lesões envolvem o goleiro: ruptura parcial do bíceps braquial (Lopez-Zabala & Fernández-Valencia, 2013), fratura distal do rádio (Kraus et al, 2007), fraturas de tíbia e fíbula (Bopen et al, 1999), entre outras. Strand et al (2011) encontraram taxas de incidência de lesões nos goleiros norueguêses na ordem de 27,9 por 1000 horas durante os jogos, 23,6 para o treino específico de goleiros e 9,1 para outros tipos de treinamentos futebolísticos. Neste mesmo estudo, 36% das lesões acometeram os membros superiores dos goleiros, em especial referência ao ombro. Em termos musculares, Paschoal et al (2013) reportam as percentagens de lesões nos jogadores como sendo 37% para os isquiotibiais, 23% para os adutores, 19% para o quadríceps e 13% na panturrilha. Ao analisar os meses de maior ocorrência de lesões numa temporada, Monteiro et al (2014) citam outubro e novembro. Isso se deve, em parte, por serem meses de final da temporada no Brasil, o que agravaria o surgimento das lesões por estado de fadiga. 17.1 - Joelho no Futebol O joelho é uma articulação elaborada para dar estabilidade e mobilidade aos membros inferiores. O joelho sustenta forças equivalentes a 4-6 vezes o peso corporal. Os movimentos funcionais do joelho de flexão, extensão e rotação axial são controlados entre as estruturas ósseas, ligamentos, meniscos, e os músculos ao seu redor. O LCA é considerado mais fraco e suscetível a injúrias quando comparado ao seu parceiro oposto (ligamento cruzado posterior – LCP). Dados epidemiológicos aferem a lesão predominante nos joelhos dos 92


futebolistas: rupturas no ligamento cruzado anterior (LCA). Na concepção de Fernandes (2007) as lesões de LCA no futebol estão interrelacionadas com fatores externos (nível de competição, número de jogos da temporada e calçado esportivo) e fatores internos (idade, sexo, alterações anatômicas, estabilidade articular, força musculoesquelética, agilidade, coordenação e histórico de lesão prévia). Em quatro equipes de futebol profissional foram realizados um estudo retrospectivo acerca da incidência de lesões de joelho no Campeonato Paulista de 2004. Revelou-se que do total de trinta e oito lesões de joelho em trinta jogadores, a maior incidência foi no LCA, representando 26,3% (Barbosa et al, 2005). As entorses de joelho ocasionadas por traumas diretos ou indiretos podem originar lesões nos meniscos, condrais e ligamentares (principalmente LCA) nos jogadores de futebol. Stewien & Camargo (2005) investigaram a ocorrência de entorses de joelho no futebol da primeira divisão do Amazonas. Foram estudados jogadores de ambos os sexos, utilizando como instrumentos a entrevista do histórico de entorses, avaliação subjetiva e exame físico. Nos jogadores masculinos, 32% haviam se referido a entorses (28% unilateral e 4% bilateral) e as jogadoras possuíam histórico com 23% de entorses (19% unilateral e 4% bilateral). Entre os jogadores, o joelho mais afetado foi o lado esquerdo (56%) e nas jogadoras, o joelho direito (69%). Ao dividir os atletas por função tática, a maioria das entorses estavam presentes nos meio-campistas (29,5%), defesa (29,5%) e atacantes (22%). A maioria das lesões de entorse foram ocasionadas durante as partidas (68%). Quanto ao tipo de tratamento efetuado, no masculino, o conservador foi feito em 56% dos joelhos e o cirúrgico em 44%. Nas mulheres, 85% o tratamento conservador e em 15% não foi realizado nenhum tipo de tratamento. O tempo de retorno para prática esportiva dos jogadores masculinos oscilou na média de 3,5 meses (1 a 9 meses) e nas jogadoras, a média de retorno foi de 3,7 meses (1 a 9 meses). Na avaliação funcional, foi observado que os jogadores são divididos em 76% varos e 24% alinhamento normal. Enquanto as atletas femininas, 62% possuem alinhamento normal e 38% varas. Enfim, quando comparados os atletas em termos de frouxidão articular, a presença foi maior entre as jogadoras (63%). 17.2 - Tornozelo no Futebol O tornozelo (articulação tíbio-társica) é outro local de acometimento de lesões no futebol, em particular pelas entorses que os jogadores sofrem. O tornozelo e o pé são importantes estruturas de locomoção do ser humano. O pé se apoia no chão por meio do equilíbrio adquirido por uma estrutura triangular. São três pontos de apoio que formam arcadas ósseas que constituem e sustentam o denominado arco plantar. No aspecto muscular, os músculos que atuam sobre o tornozelo e o pé possuem fixações proximais e são divididos em três grandes grupos: posterior, anterior e lateral. São estes três grupos musculares que permitem a realização das ações cinesiológicas da junção pé\tornozelo: flexão plantar, dorsiflexão, inversão, eversão, 93


rotação externa, rotação interna, pronação e supinação (Smith, 1987 ; Vretaros, s\data). Massada apud Lopes (2008) salienta que no futebol os membros inferiores são mais propensos a lesões (76,3%), sendo o tornozelo representado por 26,3%. Em jogadores infanto-juvenis (entre 15 e 17 anos) masculinos, Beirão & Marques (2008) investigaram a incidência de entorses do tornozelo. Após aplicação de um questionário abordando a incidência e recidivas das entorses, foi constatado que 54% dos jogadores tiveram entorses do tornozelo, enquanto 46% não. Entre os atletas que sofreram a lesão, 43% relatam apenas um acontecimento, 50% dois acontecimentos e 7% três vezes. Ao analisarem as reais causas de acometimento das entorses, foram encontrados 36% dos casos via traumatismo direto, 43% alegaram como causa as irregularidades do gramado, 7% atribuem a entorse aos obstáculos como pisar na bola e no pé de outro jogador e por último, 14% justificam como causa o desequilíbrio corporal. No tocante ao mecanismo lesivo, 86% por entorses em inversão e 14% por eversão. Levando em conta a posição tática dos jogadores, 21% das lesões acometeram os zagueiros, 7% um lateral esquerdo, 36% meio-campistas e 36% nos atacantes. A entorse de tornozelo por inversão tem sido a mais frequente quando o pé se encontra em flexão plantar, invertido e aduzido. Na entorse, o principal músculo envolvido são os fibulares. Contudo, o bíceps femoral pela sua inserção na cabeça da fíbula, acaba sofrendo um mecanismo de reflexo de estiramento durante a entorse. Com o objetivo de verificar os efeitos de uma bandagem numa simulação de entorse de tornozelo em futebolistas, Barreto et al (2010) dividiram os jogadores em três grupos randomizados, assim dispostos: CTRL (grupo controle sem aplicação da técnica), FIB (grupo com a técnica de ativação do músculo fibular longo) e BNM (grupo submetido a duas técnicas de correção articular simultaneamente). Nos três dias do experimento, todos os jogadores foram obrigados a passar por todos os grupos com intervalo de vinte e quatro horas. Ao serem submetidos a plataforma de simulação de entorse, uma análise eletromiográfica dos músculos bíceps femoral e fibular longo acompanhava o tempo de desarme. Nos resultados, uma comparação entre os grupos BNM e CTRL não foram encontradas diferenças significativas na resposta do músculo fibular. No entanto, análise da frequência mediana apontou aumento no grupo FIB em relação aos demais. Segundo os autores, isso detalha um maior controle motor e seleção de fibras que serão recrutadas para defesa do tornozelo no momento da entorse. Concluem que as técnicas de bandagem expostas poderiam minimizar as respostas neurofisiológicas na entorse do tornozelo por inversão. 17.3 - Quadril no Futebol A pubalgia é considerada uma lesão recorrente no quadril de futebolistas profissionais. Especula-se que é mais comum acometer atividades motoras que 94


envolvam grandes esforços na sínfise púbica, como por exemplo nas saídas rápidas, mudanças de direção, paradas bruscas e diferentes tipos repetitivos de chutes. Iniciase por uma dor na sínfese pubiana (conhecida como região inguinopúbica ou virilha), de característica aguda ou crônica, na maioria dos casos unilateralmente (membro dominante). Silva et al (2011a) mencionam que a pubalgia representa índices de 6,3% das lesões por sobreuso na atividade esportiva. Esses autores usaram a eletromiografia para avaliar os músculos de futebolistas envolvidos com a pubeíte: reto abdominal, adutor longo, e glúteo médio. Queixas de dor durante os treinos e partidas foram expressas na realização do chute (22%), giros (11,1%), corridas (66%), arrancadas (11,1%) e combinações de movimentos. No grupo de jogadores acometidos, a resposta eletromiográfica do músculo adutor longo se mostrou diminuída e estes atletas possuíam maior tempo de prática no esporte (11,33+\-3,57 anos) quando comparado ao grupo controle (8,33+\-1,87 anos, p<0,05). Retratam ainda, que o teste de contração voluntária máxima isométrica utilizado poderia ser uma ferramenta útil na avaliação eletromiográfica da pubalgia. Na literatura não há consenso sobre a fisiopatologia da pubalgia. Todavia, alguns fatores predisponentes podem estar envolvidos como os adutores do quadril, rotatores do quadril, isquiotibiais e na articulação sacroilíaca. Quanto aos adutores do quadril, o seu encurtamento muscular por meio de um tratamento com estiramento inadequado obrigaria o jogador a tentar utilizar toda sua amplitude de movimento, aumentando o estresse e a força de cisalhamento na junção miotendinosa, o que resultaria irritação mecânica e inflamação. Ainda sobre os adutores do quadril, a pubalgia poderia estar relacionada a um desbalanço entre abdutores e adutores e os rotatores internos do quadril gerados pelos movimentos de chute. Na questão sobre os rotatores do quadril, os movimentos compensatórios (internos ou externos) causam alterações no funcionamento das articulações sacroilíaca e pubiana, resultando em problemas de ordem mecânica (cisalhamento). A responsabilidade dos isquiotibiais na pubalgia refere-se ao seu encurtamento, que no desenho biomecânico do chute correto, solicitaria uma maior tração no reto abdominal levando a estresses danosos no púbis. No que tange a articulação sacroilíaca, sua instabilidade (púbis e duas sacroilíacas) e reduzida mobilidade acarretariam futuros problemas na região pubiana dos jogadores (Azevedo et al, 1999). A literatura consultada, de maneira geral, afirma que no surgimento da pubalgia deve-se iniciar com tratamento conservador (fisioterapia) e que se não reagir à altura, parte-se para uma abordagem invasiva (cirurgia). É complexo reconhecer tais sinais logo de imediato no jogador, pois alguns suportam as dores nos treinos e jogos e, somente buscam auxílio médico após longos períodos de permanência dos sintomas. O ideal seria o atleta manifestar-se o mais precocemente para evitar os procedimentos cirúrgicos. Em um jogador profissional meio-campista foi investigado o tratamento conservador fisioterápico da pubalgia através de estudo de caso. Nesta pesquisa, a queixa do atleta era de dor na face medial da coxa direita e foi evoluindo nos meses 95


subsequentes para dor bilateral, na área de inserção dos adutores e região escrotal. Na avaliação foram identificadas alterações como a hiperlordose lombar, encurtamento dos isquiotibiais e iliopsoas, sinais inflamatórios e perda de força na musculatura abdominal inferior, quadríceps e adutores. O tratamento se estendeu por sete semanas consecutivas com duração de uma hora e meia diária, onde aos sábados eram realizadas as reavaliações. A fisioterapia se constituiu de exercícios de alongamento (músculos posteriores da coxa, iliopsoas, rotatores dos glúteos e quadrado lombar) e fortalecimento muscular. Soma-se a isto, o uso da crioterapia, ultra-sons pulsáveis, massagem, natação e bicicleta estacionária. Ao final, verificou-se a eliminação dos encurtamentos musculares (iliopsoas e isquiotibiais) e redução da hiperlordose lombar, bem como ausência de sinais dolorosos na palpação e na realização de chutes\passes (Oliveira, 2011). Grava de Sousa et al (2005) estudaram o tratamento cirúrgico da pubalgia de vinte e três futebolistas profissionais realizados entre os anos de 1991 a 2001. Para um melhor entendimento, caracterizaram a dor existente em três níveis: leve (quando surgia após atividade física e não sendo limitante), moderada (quando aparecia durante os movimentos para chutar e no início das arrancadas) e intensa (incapacitante até nas atividades diárias). Do total de jogadores, 78,2% apresentavam dor intensa e 21,7% moderada. A técnica cirúrgica envolvida consistia na liberação da fáscia da musculatura do reto abdominal, curetagem do disco interpúbico e cartilagem articular e, no fim, tenotomia parcial dos músculos adutores. Dos jogadores operados, 05 eram meia-direitas, 05 ponta-direitas, 03 ponta-esquerdas, 03 volantes, 02 alas, 02 centro-avantes, 01 lateral direito, 01 pivô, e 01 ala direita. No pós-operatório e retorno para prática dos treinamentos, 4,4% retornaram na segunda semana, 4,4% na terceira, 21,7% na quarta, 21,7% na quinta, 8,7% na sexta, 13,0% na sétima, 17,4% na oitava e 8,7% na nona semana. A técnica cirúrgica envolvendo a ressecção trapezoidal da sínfese púbica associada a tenotomia parcial bilateral do adutor longo foi empregada para solucionar a pubalgia em futebolistas. Foram envolvidos 30 jogadores profissionais entre os anos de 2000 a 2008 que apresentavam dor no púbis nos últimos doze meses. Eles não responderam satisfatoriamente ao tratamento conservador e estavam afastados das atividades esportivas. Entre as funções desempenhadas pelos jogadores na equipe: sete defensores, dezessete meio-campistas e seis atacantes. Os jogadores retornaram em média oito semanas aos treinamentos após a cirurgia e dezesseis semanas para os jogos. Um critério de reavaliações longitudinais foi efetuado aos 12, 24 e 36 meses do tratamento. Uma dessas reavaliações envolvia radiografia anteroposterior da bacia com carga, onde não foram encontrados deslocamentos na sínfese púbica e nenhuma queixa de instabilidade. No estudo, os autores defendem o procedimento como sendo rápido, de efetiva solução e baixo índice de complicações pós-cirúrgicas (Queiroz et al, 2014). Os exames de imagem mais empregados para diagnótico e futuro tratamento da pubalgia, segundo Reis et al (2008) deveriam ser a radiografia e a ressonância magnética que permitiriam um maior detalhamento anatômico da região afetada. 96


Nahas et al (2007) narram a ocorrência de uma lesão rara no futebol: fraturaluxação traumática no quadril. O jogador amador descreveu para os médicos a lesão durante a partida como sendo resultado de uma disputa de bola por cabeceio, e que na queda ao solo, sem contato com outro jogador, sentiu imediatamente dor no quadril esquerdo e na perna de mesmo lado. O tratamento envolvido foi de ordem cirúrgico e, após seis meses com uso de muletas e fisioterapia, o jogador foi liberado para reiniciar o condicionamento físico. 17.4 - Isquiotibiais no Futebol O grupo muscular biarticular denominado isquiotibial fica localizado anatomicamente na parte posterior da coxa e, é constituído pelos músculos: bíceps femoral, semitendíneo e o semimembranoso (Kamel, 2004). Na atividade intermitente futebolística de caráter intensa, os isquiotibiais produzem elevados valores de força. Sua atuação ocorre de maneira excêntrica no quadril e no joelho durante os constantes movimentos de acelerações e desacelerações (Rodrigues et al, 2007). Para Carlson (2008) análises biomecânicas indicam que durante uma corrida, o alongamento máximo dos isquiotibiais acontece na fase final de oscilação antes do contato do pé com o solo, no momento da flexão do quadril e redução da flexão do joelho. Também, existe uma confirmação de que a contração máxima dos isquiotibiais se dá nesta fase, com a finalidade de travar a força do quadríceps e os flexores do quadril. Marujo (2014) explana que as lesões de isquiotibiais no futebol tendem a acontecer de forma mais frequente quando a mesma é reincidente. Dessa forma, o autor cita os principais sintomas da lesão de isquiotibiais: a) estalo b) dor súbita na parte posterior da coxa, c) inchaço d) hematomas, e) dificuldade na caminhada, e f) dificuldade em realizar a flexão do joelho. O equilíbrio muscular agonista\antagonista visando evitar déficits de força é uma variável respeitável para prevenção de lesões nos isquiotibiais em futebolistas. No futebol de Portugal, Gonçalves (2000) avaliou futebolistas da primeira liga quanto a força máxima isocinética dos flexores\extensores do joelho buscando confrontar os índices de equilíbrio da musculatura do quadríceps\isquiotibiais dos membros dominantes e contralaterais. Foi constatado que os jogadores lesionados na temporada, nos isquiotibiais, haviam tido nas avaliações diferenças de força superiores a 10% nos membros dominantes e não-dominantes (p<0,05). Em relação ao desequilíbrio de força e o risco de lesão nos isquiotibiais, Navarro et al (2015) concluem que é dependente: • tipo de avaliação empregado, por exemplo, concêntrico-excêntrico, velocidade angular isocinética, entre outras; • déficit de força excêntrico nos isquiotibiais; 97


• déficit unilateral ou quadríceps\isquiotibiais; • fadiga; • nível de performance

bilateral

de

força

funcional

na

relação

A flexibilidade da musculatura isquiotibial após uma lesão aguda fica reduzida devido a formação de tecido cicatrizante intramuscular. A execução de trabalhos que visem desenvolver a flexibilidade dos isquiotibiais tem como objetivo a restauração do comprimento muscular. Isso permitiria reduzir as cargas excêntricas a que os isquiotibiais são submetidos durante os movimentos e\ou atividades (Carlson, 2008). Sendín et al (2005) constataram que a cadeia muscular cinética reta posterior (inclui os isquiotibiais e o tríceps sural) de cem jogadores quando comparados aos não atletas, possuem elasticidade superior nos isquiotibiais e nível inferior no tríceps sural. Treinamento vibratório (cinco séries de sessenta segundos) proporciona aumento da flexibilidade nos isquiotibiais (88,46%) em um protocolo de duas semanas de duração, três sessões semanais (Ferreira, 2013). Na literatura revisada não foram encontradas evidências consistentes apontando que a flexibilidade dos isquiotibiais poderia ser um elemento preventivo para as lesões no futebol. Em contrapartida, Thorborg (2012) defende que para prevenir o surgimento e\ou recorrência das lesões de isquiotibiais em futebolistas, exercícios como o Nordic Hamstring e treinos de força isocinéticos (quadríceps e isquiotibiais) tem se mostrado efetivos. Navarro et al (2015) questionam a necessidade de realização dos estudos biomecânicos nas lesões de isquiotibiais dos futebolistas nas ações motoras específicas de correr, saltar e chutar, preferencialmente em 3D (terceira dimensão). Também, neste aspecto, atribuem o mérito de melhor compreender a sincronização muscular lombopélvica-isquiotibiais durante a corrida e\ou sprints. 17.5 - Prevenção de Lesões no Futebol Buscando alcançar o sucesso desportivo e a prevenção de lesões no futebol se faz necessário uma ampla equipe multidisciplinar no organograma da equipe. Dias (2011) cita alguns destes profissionais de suma importância para uma equipe profissional que almeja elaborar um programa de prevenção de lesões: médicos especializados em medicina esportiva, enfermeiros, fisioterapeutas, preparadores físicos, nutricionistas, massagistas, médico ortopedista esportivo, dentista, podologista, optometrista e posturologistas. Vretaros (2002) diz que o quesito relevante para um programa profilático das lesões esportivas não é a quantidade de profissionais envolvidos, e sim , a capacidade dos mesmos em compartilhar e interpretar a solução dos diferentes diagnósticos.

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Figura 02 – Plano de ação para futebolista lesionado FUTEBOLISTA LESIONADO

MÉDICO DESPORTIVO

Exames, Avaliação diagnóstica, Indicação de tratamento

FISIOTERAPEUTA DESPORTIVO

Reabilitação, Reavaliação funcional do membro lesionado

Adaptação músculo-funcional para a modalidade

PREPARADOR FÍSICO

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A figura 02 foi baseada na proposta elaborada por Vretaros (2002) para o caso de um atleta lesionado necessitar de um plano de ação visando o retorno à prática esportiva competitiva. Entre as técnicas mais usadas na atualidade para prevenção de lesões no futebol e outras modalidades de desporto estão inclusas o treinamento funcional (Sargentim, 2013), treino de reprogramação neuro-motora (Boiça, 2015), pré-reabilitação (Meir et al, 2007), e outras. Merece atenção o termo pré-habilitação, ao qual significa uma sistemática revisão das lesões mais comuns na especificidade do esporte e, com isso, traçar um programa para minimizar sua incidência (Meir et al, 2007). Independente da estratégia preventiva a ser adotada, o treinamento funcional, a reprogramação neuromotora e, por último a pré-habilitação tem se servido de exercícios similares. Neste entendimento, cabe ao preparador físico basear-se no banco de dados das lesões para identificação dos locais mais acometidos pelas lesões e, a partir disso, elaborar exercícios que fortaleçam, estabilizem e desenvolvam a propriocepção músculotendínea-articular dos jogadores. Dentre os parâmetros essenciais para um programa efetivo de prevenção de lesões no futebol, devem ser observados: a existência do histórico de lesão, as alterações de controle postural, aspectos relacionados a acumulação de fadiga e possíveis estados de overreaching (Dias, 2011). Uma forma de prevenção das lesões musculares é através do treino de equilíbrio, que afeta diretamente o controle do movimento e postura. Assim, Silva & Hirata (2013) investigaram a oscilação do centro de pressão plantar (COP) no comportamento do equilíbrio dinâmico no desempenho do chute. A metodologia empregada consistia na realização de três chutes que foram filmados e, instruídos a acertar um alvo na parede (2,00 x 2,00 metros) numa distância de nove metros. Os autores acreditam que o registro do COP pode ser uma ferramenta eficaz para correção do gestual motor do chute e prevenir futuras lesões. De fato, o uso da biomecânica no entendimento e prevenção de lesões traumato-ortopédicas tem sido prática cada vez mais frequente. O kinesio taping é mais uma ferramenta no arsenal para profilaxia das lesões esportivas. Consiste num suporte anatômico que produz feedback mecânico corrigindo possíveis desalinhamentos (muscular, fascial ou articular) durante a movimentação e conferindo uma estabilidade assintomática (Bastos, 2014). Em futebolistas, o kinesio taping tem sido estudado na prevenção de lesões no tornozelo (Brogden & Greig, 2014) e ligamento cruzado anterior (Nadali et al, 2014). Em jovens futebolistas, foram estudados os efeitos potenciais do kinesio taping no ganho de força da musculatura do quadríceps (imediatamente, 48 horas e 72 horas após a sua aplicação). Para tanto, os trinta jogadores realizavam um protocolo de avaliação isocinética por meio de cinco contrações máximas concêntricas (velocidades de 240, 180 e 90 graus\segundo). Foram mensurados a força do quadríceps sem e com a utilização do kinesio taping no membro dominante e não100


dominante. As técnicas de aplicação do kinesio taping foram o ¨I¨ e o ¨Y¨. Nos resultados, verificou-se que o kinesio taping promove aumento na força do quadríceps, sendo em 240 graus\segundo imediatamente após aplicação em ambos os membros e, na velocidade de 180 graus\segundo no membro não-dominante. Após 48 horas, em duas velocidades (180 e 240 graus\segundo) também em ambos os membros. Porém, na velocidade de 90 graus\segundo as alterações significativas somente ocorreram no membro não-dominante (Bastos, 2014). Em contraste, Serra et al (2015) encontraram respostas neutras no ganho de força dos extensores do joelho (quadríceps) após aplicação de kinesio taping e 3M Micropore em futebolistas masculinos e femininos. Não evidenciaram medidas de ganho da força imediatamente e após 24 horas. No entanto, acreditamos que o kinesio taping é, e deve ser utilizado nos jogadores de futebol como medida preventiva de acordo com as necessidades individuais. Para prevenção de lesões que acometem a região da virilha\quadril dos jogadores, Serner et al (2013) propuseram um protocolo de oito exercícios criteriosamente selecionados que envolvem a adução de quadril. Estes exercícios englobam contrações isométricas de adução do quadril com uma bola entre os tornozelos, adução isométrica com a bola entre os joelhos, adução em decúbito lateral, deslizamento com adução\abdução, adução com banda elástica, aparelho de adução, adução supina bilateral e adução Copenhagen. Acredita-se que tais exercícios realizados em intensidade gradual permitiriam exercer um efeito protetor muscular. A FIFA propôs um programa de treino para prevenção de lesões denominado ¨11+¨. O ¨11+¨ é um programa que envolve uma rotina de vinte minutos englobando a execução de exercícios de força, pliometria, core e equilíbrio. Esse programa possui variações e progressões por meio de exercícios-chave (Costa, 2012). Um instrumento tecnológico que recentemente foi adotado para detecção de lesões ainda imperceptíveis é a termografia. A termografia é um método que registra de forma não invasiva a radiação térmica emitida pelo corpo. Através da formação de imagens térmicas produzidas pela radiação infravermelha no corpo do jogador, permite precisar o local da lesão (estágio inicial ou evolutivo). Com o uso das imagens produzidas, é mostrado o gradiente de diferença de calor nos grupos musculares, permitindo com isso, recomendar repouso, reforço da musculatura, diminuição das cargas do treino e prevenção de uma futura lesão. Todavia, o equipamento é de alto custo e requer treinamento para sua utilização correta (Silva & Andrade, 2014). McCall et al (2015) realizaram um survey com os médicos das 32 equipes participantes da Copa do Mundo FIFA 2014, visando mapear as estratégias de prevenção de lesões adotadas. Os cinco principais testes usados para detectar lesões por não-contato que foram citados pelos médicos das equipes: avaliação da flexibilidade, aptidão física, função e mobilidade articular, equilíbrio\propriocepção, resistência muscular e pico de força muscular. As variáveis monitoradas: diário médico, número e\ou minutos de jogos realizados, bem estar subjetivo, frequência cardíaca, marcadores bioquímicos e bem estar objetivo (exemplo: horas de sono). No 101


survey os médicos também foram indagados sobre a importância do preparador físico no processo preventivo de lesões. Foram listados os principais exercícios durante os programas individualizados, que norteiam a prevenção de lesões, e devem ser observados rigorosamente pelos preparadores físicos: flexibilidade, core, combinação dos regimes de contração muscular, equilíbrio\propriocepção e exercícios excêntricos.

102


18.0 - PERIODIZAÇÃO É impossível manter o desempenho dos jogadores em cem por cento das suas capacidades físicas durante toda a temporada. Com o objetivo de planejar sistematicamente os picos de desempenho dos atletas e conhecer racionalmente o seu comportamento foi criado a periodização. Historicamente, a periodização teria surgido na Grécia antiga. Porém, a literatura aponta também regiões como Roma, Egito ou China. Tudo se iniciou com o modelo primitivo denominado ¨tetras¨, cujos ciclos consistiam de três dias de treino por um dia de descanso (recuperação ativa ou passiva) (Platonov, 2008 ; Bompa & Haff, 2012 ; Marques Junior, 2012). A literatura atribui o mérito da criação e\ou origem dos diferentes modelos de periodização aos cientistas russos, especificamente ao professor Matveev. Naquela época (meados dos anos 1950), o modelo tradicional de periodização baseou-se no ciclo olímpico, ou seja, de quatro em quatro anos (Alves, 2010). Na atualidade, surgiram os modelos contemporâneos de periodização. Tais modelos se utilizam de ciclos curtos e concentrados em determinadas valências físicas: periodização em bloco, estrutural, individualizado de Bondarchuk e estruturado para modalidades coletivas (Tourinho Filho & Barbanti, 2010). A estruturação global da periodização se dá em ciclos, assim divididos: • Unidade de treino (menor unidade, ou seja, a sessão de treinamento) • Microciclos (podem ser constituídos de 5 a 10 dias, porém são mais utilizados na forma de sete dias – uma semana) • Mesociclos (um mês – quatro microciclos) • Macrociclos (anual, semestral, quadrimestral, ou subdivisão menor)

Microciclo Ordinário Estabilizador Choque

Quadro 34 – Tipos de microciclos Características Intensidade e\ou volume elevado objetivando melhora no condicionamento Controle do volume e\ou intensidade manutenção dos níveis de condicionamento Intensidade e\ou volume consideradas padrões

elevados

objetivando

acima

das

a

cargas

Recuperativo

Intensidade e\ou volume diminuído objetivando restauração físico-orgânico-psicológico do atleta

Controle

Microciclo de avaliação dos processos de treino e respostas específicas do condicionamento (Adaptado de Dantas, 2003 ; Guedes, 2012) 103


Quadro 35 – Resumo das características dos diversos modelos de periodização Estudo Criador Modelo de Características Periodização Matveev, 1997

Matveev

Clássico

Leis biológicas aplicadas ao ciclo olímpico, variações ondulatórias, picos controlados no período competitivo

Farto, 2002 ; Pereira, 2009

---

Pendular

Alternação ritmada de microciclos contrastantes, sequência de microciclos básicos e regulação

Alves, 2010

Tschiene

Estrutural

Modalidades de força explosiva, manutenção de níveis elevados da intensidade, dinâmica das cargas em formato de ondas

Blocos

Esportes de características de força, cargas concentradas (desenvolvimento unilateral biomotor)

Oliveira, 2007 Verkhoshanski ; Alves, 2010

Alves, 2010

Bondarchuck

Bondarchuck

Não existe preparação geral (exceto na recuperação), preparação específica com base nos movimentos competitivos, regida em função da curva de forma física

Bompa & Haff, 2012

Bompa

Bompa

Modalidades de força, potência, velocidade e resistência, especificidade bioenergética, modelo de treino, utiliza somente macro e microciclos

Gomes, 2002

Gomes

Alves, 2010 ; Issurin, 2010

Issurin e Kaverin

Cargas Seletivas Usada inicialmente no futebol, capacidades de velocidade, alternância de cada capacidade por mês (mesociclo) ATR (Acumulação, 104

Adaptação ao modelo periodização em blocos

de


transformação e realização) Pivetti, 2012 ; Borges, 2014

Vitor Frade

Tática

Metodologia de treinamento originada no futebol, pode abranger esportes coletivos, ênfase dada nas tarefas técnicas e táticas (indiretamente desenvolve questões físicas), baseada na complexidade do modelo de jogo

ArroyoToledo et al, 2013

---

Reversa

Originária do treino de força (levantamento de peso), iniciase com alta intensidade e baixo volume e gradualmente aumenta-se o volume e reduz a intensidade

Fleck & Kraemer, 2009

---

Não-linear

Estudada nos treinos de força, mais flexível que a linear, cargas com diversidade de estímulos, múltiplos picos

Forteza, 2006 ; Pereira, 2009

Forteza

Sinos Estruturais Ajuste da estrutura pendular, distinção entre cargas gerais e específicas, predominância em cargas especiais, vários macrociclos na temporada

105


19.0 - PERIODIZAÇÃO DA FORÇA NO FUTEBOL Uma temporada no futebol brasileiro é considerada longa, variando em torno de dez meses, com a participação em média de quatro campeonatos, entre eles: Estaduais, Libertadores ou Sul Americana, Libertadores ou Copa do Brasil e Campeonato Brasileiro (Carravetta, 2012). Os jogos são realizados na grande maioria das vezes às quartas e aos domingos. Notadamente, Bompa & Haff (2012) frisam que no Campeonato Inglês de futebol, as equipes tendem a competir na temporada a cada três dias e meio e\ou quatro dias e meio. Quanto maior o número de jogos que o atleta compete, menor será seu tempo precioso para realizar treinos para a próxima competição. O termo polimento é frequentemente empregado para descrever uma estratégia de elevação do condicionamento e\ou preparo do atleta. No polimento, as cargas periodizadas são alteradas (volume, intensidade ou densidade) nos microciclos que antecedem a competição buscando a curva de aproveitamento para um pico de desempenho (Bompa & Haff, 2012). A problemática dos picos de desempenho nos esportes coletivos está ligada a questões que envolvem quantidade e magnitude. Uma quantidade razoável de picos no período competitivo pode ser alcançada através da modulação apropriada do polimento. Em contrapartida, o manuseio da magnitude dos picos não é tão simples. Inicialmente, em um time de futebol com vários jogadores, na mensuração da magnitude dos picos será evidente as variações inter-individuais. Agregando-se a isto, em um período competitivo prolongado as respostas individuais da magnitude sofrerão constantes oscilações, cujas características são dependentes da escolha do modelo de periodização e estratégia de polimento, tendendo a declinar seus valores nos estágios finais da temporada. A explicação mais plausível para esse fato seria a necessidade de diminuição da quantidades de picos, para que se possa atingir magnitudes suficientemente elevadas. Questiono: o que priorizar? Quantidades de picos ou magnitudes elevadas? Talvez, a conduta mais aceitável como artifício seja priorizar quantidades de picos em determinados momentos da temporada (competições mais curtas) e, quando não, alternar possibilidades de magnitudes elevadas em competições longas nos momentos estratégicos.

106


Figura 03 – Gráfico hipotético comportamental dos picos ao longo da temporada

100,00% 90,00% 80,00% 70,00% 60,00% Quantidade Magnitude

50,00% 40,00% 30,00% 20,00% 10,00% 0,00% Bloco 01

Bloco 02

Bloco 03

Bloco 04

O período da pré-temporada no futebol é considerado curto para desenvolver um estágio adequado de condicionamento. Portanto, deve-se periodizar a prétemporada de tal forma que os níveis mais elevados do condicionamento sejam alcançados na temporada. A discussão de quanto se emprega de exercícios de caráter geral ou específico na pré-temporada não está bem estabelecido segundo os parâmetros dos modelos de treinamento contemporâneos. Alguns autores clássicos preservam o conceito de que sendo a pré-temporada identificada como período preparatório, deve-se dar ênfase predominante as atividades de caráter geral que não possuem muita ligação com a modalidade. Outros autores costumam dividir a pré-temporada em dois períodos preparatórios; geral, nos microciclos iniciais e, específico nos microciclos finais que se aproximam da temporada. Ao contrário, modelos contemporâneos resguardam atividades gerais na pré-temporada, salientando que quanto maior o grau de especificidade melhor. Sem adentrarmos no mérito de qual seria a melhor abordagem na prétemporada, poderíamos dizer que conforme a periodização adotada pelo preparador físico (blocos, estrutural, etc), haverá uma adequação tida como apropriada. Nos jogadores das categorias de base, a periodização clássica com o período preparatório dividido em dois (geral e específico) se apresentaria como receptível para um 107


desenvolvimento multilateral. Nos profissionais, conforme a escolha do modelo a ser periodizado e o tempo disponível para os treinamentos, o período preparatório poderá ou não sofrer subdivisões. Por exemplo, se houver um entendimento da comissão técnica que o campeonato estadual será considerado como competição de controle, os microciclos iniciais do campeonato poderiam ser uma extensão da curta prétemporada. Ao iniciar a temporada, define-se a quantidade de competições que a equipe irá participar. Não existe uma frequência considerada ¨ótima¨ de treinos da força nos microciclos. No entanto, está bem estabelecido que maiores serão os ganhos de força, quanto maior o número de sessões do treinamento das diferentes manifestações da força. Bompa & Haff (2012) apregoam que no auge do período competitivo os níveis de força adquiridos podem ser mantidos (microciclo estabilizador) com treinos alternados de força máxima e potência. Os quadros 36 até 39 apresentam a distribuição das manifestações de força no futebol nos distintos modelos de periodização.

Quadro 36 – Distribuição das manifestações da força na periodização clássica Tipos de PP PP Período Período Período Força Geral Específico Competitivo Transição Transição Passivo Ativo RML Hipertrofia

X

X X

Força Máxima Resistência Força Rápida

X X

X

Força Explosiva

X

*PP Geral= período preparatório geral, PP Específico= período preparatório específico, RML= resistência muscular localizada

108


Quadro 37 – Distribuição das manifestações da força na periodização dupla Tipos de PPG PPE PC 1 PT 1 PPE 2 PC 2 PT 2 Força RML

X

X

Hipertrofia

X

X

Força Máxima

X

Resistência Força Rápida

X

Força Explosiva

X

X X

X

X

*PPG= período preparatório geral, PPE= período preparatório específico, PC 1= primeiro período competitivo, PT 1= primeiro período de transição, PPE 2= segundo período preparatório específico, PC 2= segundo período competitivo, PT 2= segundo período de transição, RML= resistência muscular localizada

Quadro 38 – Distribuição das manifestações da força na periodização dupla sem transição no meio da temporada Tipos de PPG PPE PC 1 PPE 2 PC 2 PT Força RML Hipertrofia

X X

X

Força Máxima

X

X

Resistência Força Rápida

X

X

Força Explosiva

X

X

*PPG= período preparatório geral, PPE= período preparatório específico, PC 1= primeiro período competitivo, PPE 2= segundo período preparatório específico, PC 2= segundo período competitivo, PT= período de transição. RML= resistência muscular localizada

A periodização em blocos é um modelo contemporâneo mais empregado nos atletas de alto nível. Possui como característica marcante as cargas concentradas em blocos (desenvolvimento unilateral biomotor). No geral, simplificando, podemos 109


classificar as tarefas nos blocos: • Bloco A: Preparação física especial • Bloco B: Preparação técnica e tática • Bloco C: Competição Na periodização em blocos, na fase inicial (bloco A), devido a elevada concentração unilateral de cargas, acaba ocorrendo um declínio nos níveis de força. Posteriormente, ao adentrar no bloco B, cuja predominância se fixa aos aspectos técnicos e táticos da modalidade, a força cuja curva sofria queda, tende a elevar-se gradualmente. Por fim, no bloco C com as competições, o pico de desempenho se acentua. Existem inúmeras possibilidades de variações na periodização em blocos (por exemplo, subdivisões dos blocos em A1, A2, A3, B1, B2, B3...) que são dependentes da experiência do profissional e do calendário de aplicação. O exemplo proposto no quadro 39 é uma dessas variações.

Quadro 39 – Distribuição das manifestações da força na periodização em blocos Tipos de Bloco Bloco Bloco Bloco Bloco Bloco Bloco Bloco Força A1 A2 B1 C1 A3 A4 B2 C2 RML

X

Hipertrofia

X

X

X

Força Máxima

X

Resistência Força Rápida

X

X

X

Força Explosiva

X

X

X

X X

X

X

X

X

X

*Bloco A1= primeira preparação especial de força, Bloco A2= segunda preparação especial de força, Bloco B1= primeira preparação técnica e tática, Bloco C1= primeiro bloco competitivo, Bloco A3= terceira preparação especial de força, Bloco A4= quarta preparação especial de força, Bloco B2= segunda preparação técnica e tática, Bloco C2= segundo bloco competitivo

De acordo com Oaks & Simali Garcia (2013) o calendário do futebol brasileiro tem se apresentado mal distribuído durante a longa temporada. Segundo os pesquisadores, o ideal nos treinos seria manter intensidades altas, com prioridade para o sistema neuromuscular explosivo nas sessões de treino. A escolha dessa vertente se baseia na questão de que as partidas envolvem ações motoras predominantes de 110


caráter força-potência. Ainda mais, consideram o modelo de cargas seletivas o mais adequado para aplicação em futebolistas profissionais. Sobre a periodização de cargas seletivas aplicadas no futebol e futsal, Cetolin & Foza (2010) revelam que ao organizar as cargas neste modelo, ocorrem poucas alterações no volume durante o macrociclo. O foco estaria em alternar as capacidades biomotoras a cada mês (mesociclo), se concentrando nas manifestações da velocidade e buscando crescente manutenção do desempenho. O quadro 40 exemplifica o modelo de cargas seletivas direcionada ao futebol.

Quadro 40 – Exemplo hipotético de periodização no modelo das cargas seletivas no futebol Capacidades Biomotoras Mesociclo 1 Mesociclo 2 Mesociclo 3 Resistência geral

20,00%

10,00%

10,00%

Resistência específica

25,00%

20,00%

15,00%

Força (diferentes manifestações)

35,00%

40,00%

35,00%

Velocidade (diferentes 20,00% 30,00% manifestações) (Adaptado de Cetolin & Foza, 2010)

40,00%

111


20.0 - CONTROLE DAS CARGAS Segundo Rebelo et al (2012) a quantificação das cargas de treino é um fator relevante no processo de planejamento do treino. Permite entender e prevenir o surgimento do estado de overtraining e, colocar os jogadores em situação considerada ¨ótima¨ para as competições da temporada. Monitorar as cargas de treinamento nos esportes coletivos não é tarefa qualquer. O simples fato de serem vários jogadores, cada um em sua distinta função tática, aliado as diferentes capacidades biomotoras a serem desenvolvidas, tornam o controle das cargas uma missão complexa. São diversos os intrumentos usados para quantificar as cargas no futebol: frequência cardíaca, consumo máximo de oxigênio (VO2máx), níveis de lactato, distância percorrida, marcadores bioquímicos, entre outros. Nakamura et al (2010) relatam uma diferenciação existente entre a carga interna (percebida) e carga externa (planejada). Restringindo-se aos métodos de monitoramento de cargas externas nos treinos de força, podemos dizer que o controle da tonelagem (volume) na sessão seria o primeiro passo. Esse controle se consegue ao multiplicar em um determinado exercício estabelecido, o número de série versus o número de repetições pela carga levantada em quilos (ver quadro 41).

Quadro 41 – Esquematização do controle da tonelagem (volume) no treino de força 3 séries x 12 repetições x 100kg = 3600 Kg ou 3,6 toneladas

A intensidade das cargas no treino de força é perceptível pela carga erguida (normalmente em Kg). Alguns treinadores empregam apenas a quantidade de repetições a serem completadas (8-12 RM). Porém, é mais comumente expressa em termos de percentual de uma repetição máxima (por exemplo, 80-90% de 1RM). Esse controle do volume e da intensidade como da densidade das cargas permitiria criar as modulações exigidas pela periodização. Para complementar, merece recordação o quadro 04 com as variáveis manipulativas no treino de força (página 25). Para monitorar a carga interna de cada sessão de treino elaborada, alguns estudiosos tem apresentado como ferramenta útil a escala de percepção subjetiva de esforço (PSE) modificada. Tal controle é obtido pelo produto da duração da sessão (em minutos) pelo valor da escala apontada pelo atleta (Borin et al, 2007). Em complemento, Pinheiro et al (2014) defendem que a proposta inicial da escala PSE foi utilizada para medir a intensidade do esforço, porém advertem que nos estudos 112


experimentais a PSE tem aumentado de forma linear mesmo em estado de equilíbrio fisiológico. Com isso, advertem que o ideal seria considerar a PSE como uma escala marcadora da duração tolerável do esforço em determinada intensidade. Em termos práticos, por exemplo, o jogador indica na escala de percepção subjetiva o valor de 3 e, sendo a duração total da sessão 50 minutos, então 3 multiplica 50 e obtêm-se 150 unidades arbitrárias (intensidade do treino). A forma como se aborda o jogador para indicar o esforço percebido segue uma padronização: 1) O atleta responde a pergunta indicativa após 15-30 minutos do término da sessão de treinamento 2) A pergunta indicativa é: ¨Quão intensa foi a sua sessão de treino?¨ 3) O atleta indica na tabela o valor correspondente (classificação de 0 a 10)

Quadro 42 – Tabela de percepção subjetiva de esforço modificada Classificação Descrição Intensidade 0

Recuperação

1

Sumariamente fácil

2

Fácil

3

Moderado

4

Mais ou menos difícil

5

Difícil

< 4= baixa

6 7

Muito difícil

8

>4 e <7= moderada >8= alta

9 10 Fadiga máxima (Adaptado de Foster et al, 2001 ; Moreira et al, 2015 ) Os cálculos das cargas (PSE) devem ser realizados individualmente e de forma coletiva, buscando análise e interpretações em cima de valores estatísticos (por exemplo, a média, mediana, moda e outras).

113


Quadro 43 – Exemplo hipotético de carga individual no microciclo com um jogo semanal Segunda descanso

Terça

Quarta

Quinta

Sexta

Sábado 100 UA

Domingo

180 UA

230 UA 330 UA

Jogo 800 UA

410 UA *UA= unidades arbitrárias

Quadro 44 – Exemplo hipotético de carga individual no microciclo com dois jogos semanais Segunda descanso

Terça

Quarta

160 UA

Quinta 70 UA

Sexta 200UA

Jogo 650 UA

Sábado

Domingo

120UA

Jogo 800 UA

* UA= unidades arbitrárias

Silva et al (2011) em estudo com jogadores de futebol 7 society e futsal, analisaram a PSE no treino de força no exercício cadeira extensora. Em diferentes cargas (5 RM, 10 RM ou 15 RM) e intervalos de recuperação (30, 60 e 120 segundos) os atletas apontavam a PSE na escala OMNI-RES (OMNI – Resistance Exercise Scale) imediatamente após o fim das três séries. Encontraram que quanto menor foi o intervalo de recuperação, maior foi a sensibilidade no indicador de fadiga percebida. Além do treino de força, Gaudino et al (2015) reportam que a PSE pode ser empregada para quantificar as cargas de distâncias percorridas em alta velocidade, o número de impactos e acelerações durante as sessões do treino de futebolistas de 114


elite. Uma variável influenciadora da PSE seria a monotonia das sessões. De acordo com Foster apud Nakamura (2010), a monotonia pode ser calculada através da média das cargas de um determinado período (no caso, microciclo) dividido pelo desvio padrão. Vale atentar que quanto menor for a variação das cargas, maior tenderá a ser a monotonia. Valores elevados de monotonia podem ser considerados indicadores de patologias, como as doenças infecciosas e lesões. Equacionar a distribuição da carga interna (PSE) e externa (volume\intensidade) se faz imperativo nos modelos contemporâneos de periodização do treinamento da força. Durante a implementação de um programa de treino, o monitoramento contínuo e os necessários ajustes das cargas permitirá avaliar se os objetivos estão sendo atingidos.

115


21.0 - LISTA DE ABREVIAÇÕES VO2máx: consumo máximo de oxigênio ATP: adenosina trifosfato ADP: adenosina difosfato PCr: fosfocreatina RML: resistência muscular localizada IGF-1: fator de crescimento da insulina MGF: mechano growth factor (isoforma muscular) TFC: treinamento até falha concêntrica RM: repetições máximas CAE: ciclo alongamento-encurtamento CC: componente contrátil CEP: componente elástico em paralelo CES: componente elástico em série CMJ: salto contramovimento SJ: agachamento com salto DJ: drop jump (salto em profundidade) TDF: taxa de desenvolvimento da força NSCA: National Strength Conditioning Association RMT: resisted movement training

116


EFC: exercícios de força combinados TF: treinamento funcional OTG: órgão tendinoso de Golgi FMS: functional movement screen SNC: sistema nervoso central pH: potencial hidrogeniônico 5-HT: serotonina TRF: triptofano URA: umidade relativa do ar NATA: National Athletic Trainer`s Association CK: creatinaquinase LCA: ligamento cruzado anterior LCP: ligamento cruzado posterior PSE: percepção subjetiva de esforço UA: unidades arbitrárias LDH: lactatodesidrogenase

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22.0 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Akuthota, V & Nadler, SF. Core strengthening. Archives of Physical Medicine and Rehabilitation, v.85, n.01, p.86-92; 2004 Akuthota, V ; Fereiro, A ; Moore, T & Fredericson, AM. Core stability exercise principles. Curr. Sports Medicine Rehabilitation, v.07, n.01, p.39-44; 2008 Alen, S ; Iosia, M ; Dudley, GA ; Stanforth, D & Steverwald, B. Core strength training. Sport Science Exchange Roundtable 47, v.13, n.01; 2002 Alentorn-Geli, E ; Myer, GD ; Silvers, HJ ; Samitier, G ; Romero, D ; LázaroHaro, C & Cugat, R. Prevention of non-contact anterior cruciate ligament injuries in soccer players. Part 1: mechanisms of injury and underlying risk factors. Knee Surgery, Sports Traumatology, Arthroscopy, v.17, n.07, p.705-729; 2009 Ali, A & Williams, C. Isokinetic and isometric muscle function of the knee extensors and flexors during simulated soccer activity: effect of exercise and dehydration. Journal of Sports Science, v.31, n.08, p.907-916; 2013 Almeida, GL. Biomecânica e controle motor aplicado no estudo de disfunções motoras. Motriz, v.05, n.02, p.178-182; 1999 Almeida, HFR ; Almeida, DCM & Gomes, AC. Uma ótica evolutiva do treinamento desportivo através da história. Revista Treinamento Desportivo, v. 05 , n. 01, p.40-52; 2000 Alves, FJ. Modelos de periodização. Lecturas: Educación Física y Deportes (Buenos Aires), año15, n.148, septiembre de 2010. Amatuzzi, MM & Carazzato, JG. Medicina do esporte. Roca, São Paulo; 2004 Anderson, C & Sally, D. Os números do jogo. Por que tudo o que você sabe sobre futebol está errado. Paralela, São Paulo; 2013 Andrade-Souza, VA ; Bertuzzi, R ; Araujo, GG ; Bishop, D & Lima-Silva, AE. Effects of isolated or combined carbohydrate and caffeine supplementation between 2 daily training sessions on soccer performance. Applied Physiology Nutrition and Metabolism , v.40, n.05, p.01-07; 2015 Araújo, D ; Davids, K & Hristovski, R. The ecological dynamics of decision 118


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