Abby Green [Doces Vinganças1] Vingança No Altar (Jessica 1701)

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VINGANÇA NO ALTAR Ruthlessly bedded, forcibly wedded

Abby Green

Ele a seduziu por vingança... E agora teria de levá-la ao altar! O multimilionário Vicenzo Valentini acreditava que Cara Brosnan desempenhara um papel importante na desgraça de sua irmã. Por isso, não mediria esforços para fazê-la pagar, mesmo que tivesse de seduzi-la para depois revelar sua identidade e finalmente abandoná-la. Mas Cara não havia feito nada de errado. Chocada e arrependida por ter dado sua virgindade a um homem impiedoso como Vicenzo, ela descobriu que estava grávida! E agora teria de atender a mais uma cruel exigência dele: o direito de possuí-la mais uma vez... desta vez como esposa! Digitalização: Projeto Revisoras Revisão: Hester


Jéssica 170.1 – Vingança no altar – Abby Green

Tradução Deborah Mesquita de Barros Halequin 2012 PUBLICADO SOB ACORDO COM HARLEQUIN ENTERPRISES II B.V./S.à.r.l. Todos os direitos reservados. Proibidos a reprodução, o armazenamento ou a transmissão, no todo ou em parte. Todos os personagens desta obra são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas é mera coincidência. Título original: RUTHLESSLY BEDDED, FORCIBLY WEDDED Copyright © 2009 by Abby Green Originalmente publicado em 2009 por Mills & Boon Modern Romance Título original: THE TUSCAN TYCOON'S PREGNANT HOUSEKEEPER Copyright © 2009 by Christina Hollis Originalmente publicado em 2009 por Mills & Boon Modern Romance Arte-final de capa: núcleo i designers associados Editoração eletrônica: EDITORIARTE Tel.: (55 XX 21) 2569-3505 Impressão: RR DONNELLEY Tel.: {55 XX 11) 2148-3500 www.rrdonnelley.com.br Distribuição exclusiva para bancas de jornais e revistas de todo o Brasil: Fernando Chinaglia Distribuidora S/A. Rua Teodoro da Silva, 907 Grajaú, Rio de Janeiro, RJ - 20563-900 Para solicitar edições antigas, entre em contato com o DISK BANCAS: (55 XX 11)2195-3186/2195-3185/2195-3182 Editora HR Ltda. Rua Argentina, 171,4o andar São Cristóvão, Rio de Janeiro, RJ - 20921-380 Correspondência para: Caixa Postal 8516 Rio de Janeiro, RJ - 20220-971 Aos cuidados de Virgínia Rivera virginia.rivera@harlequinbooks.com.br

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PRÓLOGO

Vjcenzo Valentim permaneceu de pé por um longo momento, olhando para as feições frias de uma mulher morta. Sua irmãzinha. Ela tinha apenas 24 anos. A vida inteira pela frente. Todavia, não mais. Aquela vida fora roubada num horrível acidente de carro. E ele chegara tarde demais para impedir isso, para protegê-la. O que parecia um bloco de granito pesava em seu coração. Ele devia ter seguido seus instintos e insistido que ela fosse para casa semanas atrás... Se o tivesse feito, teria percebido o perigo que sua irmã estava correndo. O pensamento o fez cerrar os punhos quando dor e culpa o assolaram, com tanta força que Vicenzo tremeu com o esforço necessário para não extravasar seus sentimentos na frente do atendente do necrotério. Tinha sido mantido longe deliberadamente. Um estratagema cruel para garantir que ele não fosse ver sua irmã. Quando pensou no quanto aquilo o fazia se sentir fútil, quis correr e fugir, esmagar alguma coisa. Lutou para recobrar controle. Precisava levar sua irmã para casa. Ele e seu pai vivenciariam o luto lá. Não nesse país frio, onde ela havia perdido a inocência, e sido conduzida por um caminho sombrio que levara ao trágico final. Vicenzo estendeu uma mão trêmula e deslizou um dedo pelo rosto gelado de sua irmã. A ação quase o desfez. O acidente não lhe marcara o rosto, e isso tornava a dor ainda mais difícil de suportar, porque, daquela forma, ela poderia quase ter oito anos novamente, agarrando a mão de Vicenzo com força. Controlando-se, ele inclinou-se e beijou-lhe a testa sem vida. Endireitando o corpo, virou-se abruptamente, dizendo com voz sofrida: ― Sim. Esta é minha irmã. Allegra Valentini. ― Uma parte sua não podia acreditar no que estava acontecendo, que aquilo não passava de um horrível pesadelo. Ele deu um passo atrás para permitir que o atendente subisse o zíper do saco de cadáver. Vicenzo murmurou alguma coisa inteligível e saiu da sala, sentindo-se claustrofóbico, seguindo seu caminho através do hospital, querendo chegar do lado de fora e respirar ar fresco. Embora isso fosse risível. O hospital ficava bem no centro nebuloso de Londres. Do lado de fora, ele respirou fundo diversas vezes, inconsciente dos olhares que atraía com seu corpo alto e forte, feições bonitas e pele cor de oliva. Parou como uma estátua exótica de masculinidade potente contra o pano de fundo do hospital na luz da manhã. Contudo, não via nada além da dor em seu interior. O médico descrevera aquilo como um acidente trágico. Mas Vicenzo sabia que tinha sido muito mais que um acidente. Duas pessoas haviam morrido na colisão: Allegra... sua irmã linda, correta e amada... e o namorado enganador dela, Cormac Brosnan, o homem que a seduzira de maneira calculista, com uma mão agarrando a fortuna de Allegra e a outra segurando Vicenzo para que ele não interferisse. Ira o percorreu. Ele não suspeitara da perspicácia e influência de Brosnan até que fosse tarde demais. Sabia agora, mas essa informação era incapaz de trazer Allegra de volta. Contudo, uma pessoa sobrevivera ao acidente. Uma pessoa tinha saído daquele hospital uma hora depois de ter entrado na noite anterior. As palavras do médico lhe voltaram à mente: ― Nem mesmo um único arranhão no corpo... inacreditável. Ela era a única usando cinto de segurança, o que, sem dúvida, salvou-lhe a vida. Mulher sortuda. Mulher sortuda. As palavras aumentaram a raiva de Vicenzo. Cara Brosnan. A irmã PROJETO REVISORAS

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de Cormac. Relatos declararam que Cormac estivera ao volante do carro, mas nem por isso Cara Brosnan tinha sido menos responsável. O maxilar de Vicenzo enrijeceu. Se ele tivesse chegado lá mais cedo, teria informado Cara que pretendia fazê-la pagar por aquilo. Ele tivera de suportar o momento devastador quando o médico lhe dissera que um alto nivel de drogas e álcool havia sido encontrado no organismo de sua irmã. Seu chofer, que devia tê-lo avistado nos degraus do hospital, parou na sua frente, o motor do carro ligado. Vicenzo forçou-se a se mover e entrar no veículo. Durante o trajeto, tentou reprimir o desconhecido sentimento de pânico. Ela estava morta, se fora para sempre. Vicenzo tinha ciência de que essa era a primeira vez em anos que alguma coisa penetrava o muro de ferro que ele construíra ao redor de suas emoções. De seu coração. Tomara-se forte e impenetrável desde aquela época. E precisava buscar tal força agora. Principalmente por seu pai. Ao ouvir a notícia da morte da filha amada, seu pai sofrera um pequeno derrame e ainda estava no hospital... embora estável o bastante para permitir que Vicenzo fizesse aquela viagem. Sua mente voltou para a mulher que tivera participação em causar esse terrível dia trágico. O irmão dela estava morto. Mas ela não era menos responsável do que ele pelo que eles haviam planejado juntos. Vicenzo sabia que não descansaria até que a forçasse a sentír parte da dor que ele sentia no momento. O fato de que Cara saíra do hospital tão rapidamente depois do acidente tomava o sentimento amargo ainda mais forte. Ela fugira impune. Ele precisava esperar agora... pelos papéis, pela burocracia, antes que pudesse levar sua irmã para casa, onde ela seria enterrada com seus ancestrais muito antes de seu tempo. Vicenzo olhou para as ruas movimentadas, para as pessoas cuidando de seus afazeres diários sem uma única preocupação no mundo. Cara Brosnan era uma dessas pessoas. Naquele momento, ele soube que a procuraria e a faria pagar por sua manipulação desonesta. CAPÍTULO UM Seis dias depois — Mas, Rob, eu estou bem para trabalhar, e só voltarei para Dublin amanhã. ― Cara não conseguiu evitar o tremor de sua voz. Ainda se sentia abalada. Seu bom amigo notou isso também, comum arquear sardônico da sobrancelha. ― Certo, eu acabei de ver um porco voando lá fora. Sente-se neste banco agora, antes que caia. Você não irá trabalhar na sua última noite aqui. Eu lhe prometi seu salário de duas semanas, e você ainda tem as gorjetas para receber. Cara estava prestes a apontar que não trabalharia durante as duas semanas de aviso prévio, mas viu a expressão dura no rosto bonito dele, e observou-o servir uma dose de uísque antes de colocar o copo na frente dela, sobre o balcão do bar. ― Beba, mesmo atrasada. Você parecia prestes a desmaiar no funeral ontem. Cara desistiu de lutar e sentou-se no banco alto. O ambiente na escuro, quente e familiar. Aquele local tinha sido seu lar pelos últimos anos, e uma onda de emoção a preencheu diante da gentileza de seu velho amigo. ― Obrigada, Rob. E obrigada por ter ido comigo ontem, eu não acho que teria conseguido sozinha. A sua presença lá, assim como a de Barney e Simon, significou muito para mim. Ele estendeu o braço e cobriu-lhe a mão com a sua. ― Querida, nós nunca deixaríamos você passar por isso sozinha. Cormac se foi agora. Acabou. E aquele acidente não foi culpa sua, portanto, não quero ouvir mais uma PROJETO REVISORAS

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palavra sobre isso. É um milagre que ele não a tenha matado também. Você sabe muito bem que era, somente uma questão de tempo antes que alguma coisa acontecesse. Sim, mas eu poderia ter tentado mais arduamente detê-los... proteger Allegra... pensou Cara, e sorriu com fraqueza. As palavras de Rob eram para tranquilizá-la, mas tinham mexido com emoções sempre presentes. A culpa terrível por não ter sido capaz de impedir que Cormac dirigisse naquela noite. Ela fora no carro com eles num esforço de ser a sóbria, de ser aquela que se certificaria de que eles não fossem descuidados... Mas Rob não precisava saber disso. Ela sorriu novamente, esperando fazê-lo acreditar que estava bem. ― Eu sei. ― Esta é minha garota. Agora, beba isso e você se sentirá muito melhor. Cara obedeceu, torcendo o nariz quando o líquido queimou sua garganta. Ela sentiu o efeito imediatamente, uma sensação calmante em sua barriga. De modo impulsivo, inclinou-se sobre o bar e puxou Rob na sua direção, beijando-o de leve nos lábios e abraçando-o. Ele era tão querido. Vinha cuidando dela por tanto tempo. Cara não podia contemplar como sua vida teria sido vazia e desesperançada sem a amizade de Rob. Ele a abraçou apertado, antes de afastar-se e beijar-lhe a testa. Então olhou para trás de Cara e disse: ― Parece que os primeiros clientes estão chegando. Cara virou-se e viu uma figura alta através da abertura nas cortinas pesadas que isolavam o bar VIP do resto da boate. Por alguma razão, um estranho tremor a percorreu, mas ela o ignorou e voltou-se para Rob. Até agora, o estabelecimento estivera abençoadamente calmo. Ela decidiu que iria embora em breve. Precisava arrumar seus poucos pertences a fim de voltar para casa em Dublin, e estar pronta pela manhã, quando o advogado chegasse para tomar posse das chaves do apartamento. Subitamente, a idéia de voltar para aquele apartamento enorme, vazio e sem alma a fez tremer, enquanto se recordava da visita que recebera na noite anterior, sozinha naquele apartamento, após o funeral. Aquilo era algo de que estava fugindo, a última semana tendo sido quase terrível demais para suportar. Cormac, seu irmão, não a deixara com nada, exceto as roupas que ela vestia agora. Desde que os pais deles tinham morrido e ele ficara com sua irmã mais velha de 16 anos, Cormac deixara claro que não gostava da obrigação fraternal. Mas logo aprendera a usar a presença de Cara em sua vantagem, vendo-a como um tipo de empregada da casa. Ela não esperara nada mais, todavia ainda foi um choque descobrir que Cormac não apenas tinha débitos astronômicos, mas que, no mesmo instante que eles haviam sido pagos... Rob chamou-a de volta ao presente, falando baixinho: ― Querida, não olhe, mas aquela figura alta que estava espiando através da cortina agora mesmo é a mais divina espécie de homem. Eu não o rejeitaria na minha cama, com certeza. Por algum motivo misterioso, Cara sentiu aquele tremor estranho novamente, e também se sentiu um pouco constrangida em seu vestido justo de jérsei. Ela o colocara porque pensara que ia trabalhar, mas agora tentava puxá-lo para cobrir mais as coxas. Questionou sua própria reação por um momento, mas, então, atribuiu-a à privação de sono dos últimos dias e ao choque que sofrera recentemente. Sorriu para Rob, satisfeita pela distração. ― Ora... você diz isso sobre todos os homens. Rob balançou a cabeça, uma expressão reverente no rosto. ― Oh, não. Este... não é como nenhum que já vi antes... E, infelizmente, minha intuição infalível me diz que ele é heterossexual. Rob endireitou o corpo. PROJETO REVISORAS

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― Ele está vindo aqui. Deve ser alguém importante. Cara, querida, sente-se e sorria. Um pouco de flerte e uma noite com um homem como ele farão você esquecer tudo sobre seu irmão tirano, acredite. Porque uma coisa é certa... você nem mesmo se lembraria do seu próprio nome. É exatamente o que devia fazer agora... divertir-se um pouco antes de ir para casa. E, então, Rob voltou a atenção para o estranho misterioso, cuja presença Cara sentiu ao seu lado, e disse alegremente: ― Boa noite, senhor. Em que posso ajudá-lo? A pele de Cara se arrepiou, mas ela tentou ignorar a emoção intensa que sentiu na presença do homem. Também ignorou o conselho de Rob. Não pretendia se perder numa noite de paixão com ninguém... muito menos com um estranho. Especialmente uma noite após o funeral de seu irmão, ainda mais especialmente quando nunca experimentara nenhum tipo de paixão em seus 22 anos. Rob, apesar de toda a intuição que alegava ter, parecia achar que Cara era tão liberal quanto ela fingia ser. Mas aquela era um fachada para se autopreservar, que criara para evitar os comentários depreciativos de Cormac, e também para evitar atenção indevida na boate. Com todas as intenções de ir embora, ela virou-se para descer do banco... mas, antes que se desse conta, tinha se virado para onde o homem estava de pé ao bar. Sentindo-se absurdamente compelida, olhou para cima e deparou-se com um anjo caído, que a encarava de volta. Com olhos que pareciam verdes e dourados sob longos cílios pretos. E sobrancelhas pretas. Maçãs do rosto altas. Uma boca que atraiu o olhar de Cara e o manteve ali. Ela foi tomada pelo bizarro desejo de pressionar seus lábios contra aquela boca, sentir seu gosto e textura. Algo que nunca quisera fazer com qualquer homem antes... jamais. Isso tudo aconteceu em segundos. Juntamente com a percepção de que ele possuía ombros largos e devia ter mais de 1,80m. Pela postura arrogante, Cara soube que ele tinha o tipo de corpo que faria Rob babar. Usava um sobretudo pesado, mas, por baixo, uma camisa aberta no colarinho evidenciava a pele bronzeada e alguns pelos escuros. Cara não podia compreender o calor que se instalou em seu baixo-ventre, enquanto eles se entreolhavam pelo que pareceu séculos. Ela arfou e sentiu tontura. E ainda estava sentada! De algum lugar distante, veio uma voz: ― Senhor? O homem esperou por um longo momento antes de olhar para Rob. Cara sentiu como se tivesse sido suspensa no ar, e agora estivesse voltando a Terra. Era uma estranha sensação. A voz dele era baixa e profunda. E então Rob estava pondo outra dose de uísque na sua frente e gesticulando para o homem com uma expressão travessa nos olhos. ― Do cavalheiro. Rob distanciou-se, assobiando, e Cara o amaldiçoou silenciosamente enquanto começava a protestar: ― Oh, não... eu já estava indo embora... ― Por favor. Não vá embora por minha causa. A voz profunda tinha um sotaque delicioso e Cara não pôde evitar olhá-lo novamente. Desta vez, a sensação de calor que experimentou se espalhou por todo seu corpo, e, quando ele sorriu, o salão pareceu girar. Ela decidiu permanecer sentada por mais um momento. ― Eu... ― começou, de modo pateticamente ineficaz. Ele tirou casaco e sobretudo, revelando a camisa de seda branca, e o corpo que Cara suspeitara existir estava agora muito evidente. Sentou-se no banco ao seu lado, efetivamente prendendo-a, tornando sua tentativa de escapar desconcertante. Ela estava PROJETO REVISORAS

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lutando uma batalha perdida, e sabia disso. Ali, em meros segundos, aquele completo estranho tinha despertado seu corpo adormecido por 22 anos e Cara parecia não conseguir se mover ou formar uma sentença coerente. ― Bem... certo, então. Beberei o drinque que você me trouxe ― murmurou ela, e acomodou-se melhor no banco, esperando colocar alguma distância entre os dois. Ele angulou o corpo na sua direção e Cara pegou o copo, com a intenção de beber num único gole antes que se dissolvesse de vez. Mas então ele falou novamente, atrofiando seu cérebro. ― Qual é o seu nome? Ainda segurando o copo, ela o fitou. ― Cara. Cara Brosnan. Ele a estudou por um longo momento, os olhos enigmáticos. ― Cara... Ela enrubesceu perante o jeito como ele pronunciou seu nome, quase como um termo carinhoso. ― Cara ― repetiu ela, mas sem aquele sotaque que ele usara, e que tivera o poder de fazer sua pele se arrepiar. O que estava lhe acontecendo? Seria o choque dos últimos dias? As palavras sugestivas de Rob? Seu sofrimento? Pois, embora não pudesse dizer que amava seu irmão, ou até mesmo que gostava dele ― não depois que anos de abuso tinham destruído tais emoções ―, não seria humana se não tivesse lamentado que agora perdera sua família inteira. Todavia, sofria mais por Allegra, a namorada de seu irmão, que também morrera no acidente. O homem arqueou uma sobrancelha preta. ― De onde você é? ― Irlanda. Estou indo embora para lá amanhã. Moro aqui desde que tinha 16 anos, mas voltarei para casa agora. Cara sabia que estava tagarelando, mas ele a olhava com tanta intensidade que a enervava, causando-lhe sensações que ela nunca experimentara antes. Ele ergueu o copo. ― Um brinde ao recomeço. Nem todos são afortunados o bastante para recomeçar a vida. Cara ouviu a irritação na voz do homem, mas ele estava sorrindo e aquilo a confundiu. Ela bateu o copo no dele e o tinido produzido pareceu restaurar um pouco de sua sanidade. Deu um pequeno gole em seu drinque e sentiu-se cedendo à inevitabilidade daquela conversa, daquele homem. ― E você? Qual é o seu nome e de onde você é? ― Ele levou um longo momento para responder, como se estivesse considerando alguma coisa, deixando-a nervosa. Finalmente falou: ― Eu sou da Itália... Enzo. Prazer em conhecê-la. A menção do nome do país a perturbou momentaneamente. Allegra era da Itália: Sardenha. Ela forçou-se a respirar. Era apenas uma coincidência, mas uma dolorosa. Ele estendeu uma mão, com dedos longos de aparência forte e capaz. Relutantemente, Cara estendeu a sua, muito menor, mais branca, com sardas que ela detestava. Uma mão grande envolveu a sua, os dedos descansando sobre as batidas frenéticas do interior de seu pulso. Impotente contra a onda de sensação que o toque lhe causou, Cara podia jurar que suas pupilas haviam se dilatado naquele momento. Enzo parecia similarmente capturado por alguma emoção. Uma expressão dura cruzou o rosto bonito antes de desaparecer, quando ele sorriu novamente, fazendo-a acreditar que ela imaginara aquilo. Seu sorriso era lento, sexy e devastador. Oh, Deus. PROJETO REVISORAS

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Cara finalmente recolheu a mão e colocou-a debaixo da perna, dizendo a si mesma que não estava tremendo. De repente, precisava de espaço daquela intensidade. Desceu do banco, seu corpo roçando o dele por um momento e esquentando sua pele. ― Com licença, eu preciso ir ao toalete. Sobre pernas trêmulas, ela se apressou em direção à boate cheia; a música, antes abafada pelas grossas cortinas de veludo, agora alta demais. Cara entrou no banheiro e fechou a porta com alívio, descansando as mãos sobre os azulejos frios. Olhou para seu reflexo, meneando a cabeça. A distância do homem estava fazendo pouco para acalmar sua pulsação ou amenizar o rubor em seu rosto. A imagem de Enzo estava perturbadoramente viva nos olhos de sua mente. Por que isso estava lhe acontecendo? Justamente nessa noite? Ela não tinha nada de especial. Cabelos ruivos longos e lisos, olhos verdes que puxavam para o castanho, pele branca e sardenta. Sardenta demais. Um corpo desengonçado. Nenhuma maquiagem. Era isso que via no espelho. Uma estranha euforia a pegou de surpresa. Iria finalmente para casa no dia seguinte, para longe de Londres, onde nunca se sentira em casa. O fato de que aquela boate e seus funcionários pareciam um lar desde que ela deixara Dublin após a morte de seus pais dizia tudo. Mas, então, a terrível memória do acidente voltou para assombrá-la. Toda cor foi drenada de seu rosto quando uma imagem vivida da noite chuvosa e do carro vindo na direção deles passou em sua cabeça como um filme de horror, juntamente com sua incapacidade de impedir aquilo, de gritar a tempo de avisar Cormac. E, mesmo se tivesse gritado... Cara segurou-se no balcão da pia, enquanto uma dor profunda a consumia. Ela olhou para baixo. Como podia ter se esquecido, mesmo por um segundo, dos eventos catastróficos de poucos dias atrás? O acidente fora tão grave que os paramédicos haviam declarado que era um milagre que ela tivesse sobrevivido. Enzo. Seu coração parou e recomeçou a bater. Ele a fizera esquecer-se do horror por um breve momento. Cara olhou para seu reflexo novamente, ignorando o brilho intenso em seus olhos. Não duvidava que ele tivesse ido embora quando ela retornasse. Conhecia bem o tipo de Enzo. Ele não esperaria por alguém como ela. Os homens que freqüentavam aquela boate eram, na maioria, homens ambiciosos da cidade, que podiam pedir o champanhe mais caro e conseguir as mulheres mais lindas. Todavia, Enzo não tinha dado essa impressão. Parecia sofisticado demais para isso. Sem dúvida, era rico ― Cara podia reconhecer isso de longe ―, e o mero pensamento a fez estremecer. Conhecera milionários suficientes para uma vida inteira, tendo passado a desprezar o poder que eles exerciam, o estilo de vida que almejavam. Contemplou pedir que um dos funcionários pegasse sua bolsa, para evitar vê-lo novamente, mas então reprimiu o medo tolo. Lidaria com a situação, se Enzo ainda estivesse lá ou não... Ao entrar na seção VIP, todavia, todos os pensamentos recentes de Cara desapareceram. Ele tinha ido embora. Apesar de ter esperado aquilo, ela não pôde evitar uma onda de desapontamento. Ainda estava tentando entender o significado de sua emoção quando o barman, Joe, entregou-lhe um bilhete. Ela abriu o pedaço de papel. Era de Rob, escrito às pressas: Querida, eu tive de ir... uma crise doméstica com Simon surgiu. Ligo amanhã antes de você viajar! Robbie X. Cara balançou a cabeça, mesmo enquanto admitia que o disparo em seu coração falava da esperança que tivera de que o bilhete fosse de Enzo. Mas isso era que era ridículo. Eles haviam conversado por apenas poucos minutos. No momento em que estava se virando para sair, avistou seu telefone sobre o bar PROJETO REVISORAS

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e foi apanhá-lo, pegando seu casaco também. Um som veio de trás, então uma voz familiar: ― Estou muito atrasado para pedir que você tome outro drinque comigo? Um alívio a inundou. Ele não tinha ido embora. Cara virou-se para fitá-lo. Ele era ainda mais alto do que ela imaginara, segurando o sobretudo casualmente sobre um dos braços. E, naquele momento, por mais irracional que fosse, Cara soube que não queria que ele fosse embora. A sensação de alívio era forte demais para ser ignorada. Tudo que ela conseguiu foi menear a cabeça, hipnotizada pela beleza daquele rosto. Os olhos de Enzo brilhavam com alguma intenção que a deixou fraca. ― Ótimo. Eu pedi uma mesa e uma garrafa de champanhe. Um calor se instalou entre as pernas de Cara. Ela foi incapaz de responder com coerência e Enzo a pegou pelo braço e levou-a para onde uma das garçonetes os estava conduzindo para uma mesa isolada, escondida por uma cortina ornada. Eles se sentaram um na frente do outro. ― Então... aqui estamos ― murmurou ele. Uma súbita tensão preencheu o ar. Ela não podia entender por que, mesmo enquanto assentia. Enzo inclinou-se para frente, o rosto iluminado pela lâmpada acima deles. Ele era realmente o homem mais lindo que ela já vira. ― Conte-me, você vem aqui com freqüência? A pergunta, que sempre parecia um clichê na boca de outros homens, soou completamente diferente quando ele falou. Cara deu um sorriso cauteloso. ― Aqui é como meu segundo lar. ― Percebendo imediatamente que a sentença não fora bem construída, apressou-se em esclarecer: ― Isso é, é claro, porque eu... Naquele momento, a garçonete retornou com o champanhe, impedindo Cara de explicar que trabalhava lá. E, quando Enzo dispensou a garota e serviu as taças, ela já havia esquecido o que ele perguntara. ― Vamos beber a esta noite. Cara franziu o cenho, mas bateu a taça na dele. ― Por que esta noite? Ele deu um gole do champanhe. ― Porque eu acho que a noite vai se provar... catártica. Cara deu um gole de seu próprio champanhe, saboreando as bolhas que explodiram na sua garganta. Mal podia acreditar que estava sentada lá, em suas roupas de trabalho, tomando champanhe com aquele homem enigmático. Durante todo o tempo que trabalhava lá, nunca conhecera um homem com aquele dinamismo... e alguns dos homens mais ricos do mundo freqüentavam aquela boate exclusiva. Tinha sido o lugar favorito de seu irmão... e era como ela conseguira o emprego. Pelo menos, seu vestido era adequado o bastante, simples e preto. O único problema era o comprimento... curto demais... mas Simon, o gerente, namorado de Rob, insistia que ela se vestisse de maneira sexy, uma vez que era a anfitriã da casa. E, com Barney lá para protegê-la de atenções indesejadas, Cara geralmente evitava situações lascivas. Algo de que Simon tivera consciência quando a contratara, uma vez que sentira que da era muito jovem na época para trabalhar na boate. No final, ele a colocara à porta, para recepcionar os clientes. ― Conte-me sobre você, Cara. Ele estava falando com aquele sotaque de novo, mudando a pronúncia de seu nome. Alguma coisa na expressão de Enzo lhe causou uma sensação de déjàvu, mas ela não conseguiu identificar o que era. Estava tentada, a aceitar a sugestão de Rob... perder-se um pouco, permitir que aquele estranho a ajudasse a esquecer sua dor. Haveria ainda muito tempo para sofrer, quando ela fosse para casa e tentasse recomeçar. Com o pensamento, a ameaça da noite anterior voltou à sua cabeça, e Cara teve de lutar para enterrar o medo. Mas, somente por enquanto, podia fingir, com aquele homem, que tudo estava bem... não podia? PROJETO REVISORAS

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Enzo arqueou as sobrancelhas. ― Você tem diploma em Administração de Empresas e Contabilidade? Cara assentiu, ainda orgulhosa do diploma que finalmente obtivera, há poucas semanas, depois de um longo caminho, incerta sobre por que ele parecia tão incrédulo. Talvez fosse um daqueles homens que não acreditava que mulheres pudessem conseguir qualificações e trabalho. Todavia, não parecia esse tipo de homem. A garrafa de champanhe estava pela metade. Uma leveza deliciosa a envolvia. Sentia como se tivesse vivido numa espécie de nevoeiro até hoje e agora estava tudo claro como cristal. Apesar de ter acabado de conhecer Enzo, achava fácil conversar com ele... e isso era uma revelação, uma vez que ela nunca fizera isso com ninguém antes. ― Mas você não foi à faculdade? Cara estivera olhando intensamente para a boca de Enzo. Enrubesceu. ― Eu falei isso? ―Aquilo era engraçado. Ela não se lembrava de ter dito a ele que estudara de casa. ― Você tem razão, eu não fui. ― Ela estava se perguntando como eles tinham chegado naquele assunto, quando um bip tocou de algum lugar perto. Enzo pediu licença e tirou seu celular do bolso do casaco, atendendo ao chamado com um sorriso apologético, falando alguma coisa sobre um pai doente. Cara sinalizou que iria embora, para lhe dar privacidade, mas ele segurou-lhe o pulso, puxando-a de volta. Enquanto ele falava em italiano rápido, manteve os olhos fixos nela, e começou a acariciar-lhe o interior do pulso com o polegar. Cara precisou se conter para não gemer. O homem tinha alguma ideia do que estava lhe causando? Mas ela também não conseguia tirar os olhos dele. E nem recolher a mão. Que loucura era aquela? Enzo terminou a conversa e guardou o telefone. Então, soltou-lhe a mão abruptamente, quase como se tivesse se arrependido de segurá-la. Cara pensou que a mudança de atitude talvez tivesse alguma coisa a ver com o pai dele, e perguntou de modo hesitante: ― Está tudo bem? Ela viu o maxilar forte enrijecer. Ele parecia estar travando algum tipo de luta interna. Fitou-a então, e a intensidade de seus olhos a prenderam no lugar. Então disse: ― Hora de partir. Por um segundo, Cara imaginou se ele estava sugerindo que ambos saíssem de lá. Então, sentiu-se mortificada. Por que um homem como Enzo iria querer isso? Evitando-lhe o olhar, ela pegou suas coisas e murmurou: ― Tenho um dia movimentado amanhã. É melhor eu ir embora também. Obrigada pelos drinques. Enzo já tinha pago a conta, recusando a tentativa de Cara para contribuir. Apesar de detestar que outros pagassem suas contas, aquilo havia sido um alívio, pois ela mal tinha dinheiro para chegar em casa. Rob saíra antes que tivesse a chance de lhe dar suas gorjetas e levaria duas semanas antes que ela recebesse seu último pagamento. Deixou Enzo guiá-la através da área VIP, agora congestionada, e de volta para a boate. Tremeu um pouco. Não lamentava se despedir do lugar. Aquela era a noite de folga do porteiro Barney, e o substituto dele era novo, portanto ela disse um breve boanoite enquanto saía. Logo eles estavam no ar frio da noite de primavera. Era quase meia-noite. Cara tremeu quando Enzo ajudou-a a vestir o casaco. Ele capturou-lhe os cabelos longos e libertou-os, suas mãos roçando-lhe a nuca. Ela se derreteu por dentro. O gesto parecia muito íntimo. Naquele momento, seu nome foi chamado por alguém na fila, e Enzo baixou as mãos, fazendo-a se sentir ridiculamente desolada. Uma atriz, que era cliente regular, acenava-lhe. Cara acenou de volta e viu a mulher entrar na boate com seu grupo, agradecendo silenciosamente porque nunca mais teria de ajudar a carregá-la novamente. ― Uma amiga sua? PROJETO REVISORAS

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Cara virou-se para Enzo, o coração bombeando de modo frenético. ― Não exatamente. ― Ela deu um passo para trás e se afastou um pouco. ― Ouça, obrigada por tudo... e pelos drinques... Foi bom conversar com você. Com as mãos enfiadas nos bolsos, Enzo a estudou. ― Você realmente quer ir? O cérebro de Cara congelou. Seu coração disparou. ― O que você disse? ― Vá ao meu hotel comigo. Aquilo era chocante, e não era uma pergunta. Era um comando. Um que fez o sangue de Cara correr mais rapidamente nas veias. Deus sabia que ela não estava pronta para aquilo, muito menos nessa semana. Quem ela estava enganando? Não estaria pronta para um homem como Enzo em um milhão de anos. Entretanto, mesmo enquanto pensava nisso, uma nova consciência inundou seu corpo, fazendo-a acreditar que ele era o único homem no mundo com quem ela poderia fazer amor. Confusa pela força daquele sentimento, recuou, meneando a cabeça. ― Sinto muito, eu não... Faço esse tipo de coisa, porque, na verdade, nunca o fiz. Ela balançou a cabeça de novo. Independentemente do que o seu corpo estivesse dizendo, sua mente avisava-a para correr na direção oposta. Enzo estava parado sob a luz da rua, os ombros enormes, o rosto bronzeado. As palavras de Rob voltaram. Aquele homem poderia fazê-la esquecer? Por uma noite? Mas, mesmo enquanto ela pensava na oportunidade que estava perdendo, ele deu um passo atrás também. O momento tinha passado. E claro que Enzo não insistiria. Era um mistério o que vira nela, para começar. ― Allora, buonanotte. Cara. Ela parecia ter perdido a capacidade de falar ao perceber que nunca mais veria aquele homem na vida. E de súbito se perguntou como seria beijá-lo. Mas aquilo era pura fantasia. Ele não era para ela e Cara nem queria que fosse. Não desprezava o tipo de homens que freqüentavam aquela boate? Por outro lado, não sentia que ele era diferente? Apesar das racionalizações, seu corpo queria dizer: Espere... sim. Eu aceito o que você está oferecendo. Mesmo que ele mostrasse indiferença à sua resposta. Era óbvio que não se importava. Tudo que tinha de fazer era estalar os dedos e mulheres cairiam aos seus pés. Cara precisava se focar nisso. Não havia nada especial acontecendo lá. ― Boa noite, Enzo. ― Ele nem mesmo lhe dissera seu sobrenome. Ela virou-se abruptamente e partiu, seu coração disparado. E, por mais ridículo que parecesse, naquele momento sentiu-se mais sozinha do que jamais se sentira em toda a sua vida. E Isso para dizer o mínimo. Lágrimas queimaram seus olhos, e Cara disse a si mesma que aquilo era o resultado da tensão dos últimos dias, não da noite incrível que surgira do nada. Enquanto passava pela fila de pessoas esperando para entrar na boate, ouviu uma garota dizendo: ― Olhe para ele... ela deve ser louca para deixá-lo... Cara parou e virou-se lentamente. Enzo não a estava mais olhando. Ela observou enquanto ele falava com o porteiro, que assobiou, obviamente pedindo que o manobrista trouxesse o carro dele. Tudo que ela podia ver eram os ombros largos, os cabelos negros e a beleza masculina daquele corpo. Alguma coisa em seu interior estava suplicando por uma conexão. O pensamento de nunca mais vê-lo começou a lhe causar pânico. Cara estava inconsciente de seus pés indo numa direção Inevitável: de volta para Enzo. Então estava parada atrás dele, e sentiu que o mundo voltara ao seu eixo. Com o coração bombeando, tocou-lhe o ombro. Ele virou-se, olhando-a imensamente. ― Mudou de idéia? A arrogância sardônica não foi capaz de destruir a fraqueza que a levara de volta PROJETO REVISORAS

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para ele. Ela não conseguiu responder de imediato. Nunca fizera nada tão impulsivo na vida, mas então nunca desejara algo com uma necessidade tão visceral. Uma noite. Com aquele homem maravilhoso. Depois, permitiria que toda a dor e mágoa retornassem. Mas apenas por essa noite, pelas poucas horas que se estendiam, poderia ser outra pessoa. Não a garota órfã aos 16 anos; não a irmãzinha ameaçada pelo irmão mais velho, esperando pateticamente que ele pudesse mudar; não a garota trabalhando dia e noite para obter um diploma. E não a garota que estivera envolvida num horroroso acidente de carro do qual havia sido a única a escapar sem nenhum arranhão. Um músculo estava se movendo no maxilar de Enzo e Cara teve um forte desejo de pressionar os lábios ali. Queria agarrar aquele momento no qual poderia se perder com uma paixão que a fizesse tremer. Finalmente assentiu e respondeu com a voz rouca: ― Sim. Eu gostaria de ir para o seu hotel. CAPÍTULO DOIS O trajeto para o hotel foi feito em silêncio. Cara ficara tensa ao entrar no carro, o acidente ainda muito vivido em sua mente. Mas Enzo a olhara e ela se forçara a relaxar. De alguma maneira... parecia tão certo estar ali com ele. E logo estava se sentindo segura. Então o chofer parou o carro do lado de fora de um dos hotéis mais discretamente exclusivos de Londres, renomado pelo modo como protegia seus clientes ricos e famosos. Enzo desceu do veículo e estendeu-lhe a mão. Fechando os olhos num momento supersticioso, Cara estendeu a sua e encontrou-a imediatamente envolvida pelos grandes dedos dele, como se provando a si mesma que aquilo era para ser. Ele a conduziu através das portas do hotel. O porteiro cumprimentou Enzo em italiano. Eles entraram no elevador e ainda nenhuma palavra foi falada, nem um olhar foi trocado. Um calor começou a se construir no baixo-ventre de Cara, subindo cada vez mais. Ela podia sentir os bicos de seus seios enrijecidos contra o tecido de seu vestido. Quando as portas do elevador se abriram, eles saíram num corredor com uma porta no final. Enzo abriu a porta para uma suíte luxuosa e Cara o seguiu, seus olhos se arregalando diante de tanto esplendor. A sala da suíte era projetada como uma biblioteca vitoriana. Enzo havia soltado sua mão e removido casaco e sobretudo, e andou para uma mesa que continha garrafas de bebidas. Olhou para trás, as feições sombreadas. Cara o fitou e aquele tremor recomeçou. Não podia acreditar que estava lá. ― Gostaria de um drinque? Ela meneou a cabeça, enquanto Enzo se servia de algum líquido escuro e dourado. Como os olhos dele, pensou Cara. Ele bebeu num único gole e pôs o copo sobre a mesa. Então virou-se para encará-la, e o poder no corpo enorme fez o coração de Cara disparar novamente. Ela não possuía experiência, mal tinha beijado um homem antes, entretanto, em algum lugar profundo, sabia que era seu destino estar com aquele homem nessa noite. Uma certeza que se tornava cada vez mais forte desde que ela tomara a decisão. Mesmo sem tocá-lo, sentia como se o conhecesse, como se já tivesse estado com ele antes... o que era loucura, claro. ― Venha aqui. Como se num sonho, respondendo a alguma necessidade que ganhara vida em seu interior, ela andou para ele, parando a poucos centímetros de distância. Enzo fechou o espaço entre eles e abriu-lhe o casaco, removendo-o pelos ombros dela e deixando-o escorregar para o chão. Cara estudou os olhos dourados, subitamente precisando se sentir tranqüilizada, mas o que viu não a tranqüilizou. Paixão. Puro desejo. PROJETO REVISORAS

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Uma sensualidade que prometia levá-la para um mundo novo. ― Enzo, eu... ― Xiii. ― Ele pôs um dedo nos seus lábios, calando-a. O que foi melhor, pois Cara nem mesmo sabia o que ia dizer. Sua falta de experiência parecia irrelevante agora. Falar poderia quebrar o encanto. Enzo ergueu as mãos e segurou-lhe a cabeça, entrelaçando os dedos nos cabelos dela. Aproximou-se ainda mais, de modo que os corpos de ambos se conectassem, e Cara se sentiu queimando através do vestido. No momento em que ele abaixou a cabeça, ela fechou os olhos. O primeiro toque dos lábios sensuais nos seus foi suave, delicioso. Instintivamente Cara levou as mãos à cintura de Enzo, e, quando ele inclinou a cabeça para trás, ela abriu as pálpebras, encontrando aqueles olhos dourados intensos fixos nos seus. Oh, Senhor. Após um longo momento, a cabeça dele baixou novamente, mas, em vez de beijála na boca, Enzo beijou-lhe a testa, então desceu numa trilha pelas suas faces e para o pescoço, onde sua pulsação batia freneticamente. A língua dele provou-lhe a pele. Cara virou a cabeça, procurando-lhe a boca cegamente, queria sentir o gosto dele, as línguas de ambos se unindo numa dança erótica... mas Enzo parecia ter outras idéias. De súbito, ela sentiu-se desnorteada e não teve ciência do gemido que escapou de sua garganta. Mãos grandes em sua cabeça a mantiveram onde ele a queria. Olhos intensos pousaram em sua boca. Os lábios de Cara formigavam... ela queria muito ser beijada. Mas, então, ele segurou-lhe as nádegas e pressionou-a mais contra si mesmo, fazendo-a sentir o volume da excitação masculina. Ela gemeu. Beijos foram esquecidos quando todo desejo pareceu se concentrar em seu baixo-ventre. Querendo estar mais perto, se isso fosse possível, Cara envolveu os braços ao redor das costas de Enzo, sentindo os músculos poderosos se flexionando sob a camisa de seda. Querendo sentir-lhe a pele, tirou-lhe a camisa de dentro da calça, gemendo baixinho quando suas mãos fizeram contado com as costas quentes. Enzo inclinou-lhe a cabeça para trás, expondo-lhe o pescoço para sua boca. Ela arfou, seus quadris se movendo instintivamente contra o corpo poderoso. Ele afastou-se, ofegante. ― Você é uma bruxa, Cara meneou a cabeça, confusa. ― Não, eu sou somente Cara... Os olhos dourados adotaram uma expressão que ela não conseguiu decifrar. Ele se moveu um pouco, fazendo-a sentir a extensão e poder de sua ereção. As pernas de Cara quase cederam. No próximo instante, ela foi erguida por braços fortes e levada para o quarto adjacente, igualmente suntuoso, com uma cama king-size de quatro colunas, as cobertas viradas de maneira convidativa. Ele a colocou no chão e, trêmula, Cara removeu seus sapatos, sentindo o tapete grosso sob seus pés. Observou-o tirar as almofadas que adornavam a cama antes que ele se virasse, o brilho do olhar ainda mais feroz agora. A única coisa que a manteve calmamente parada ali foi o fato de saber que o desejo dele estava espelhado em seus próprios olhos. Ela não podia voltar atrás. Aquilo era destino. Tinha tanta certeza disso que não hesitou por um segundo. Aproximou-se e ergueu as mãos, começando a abrir-lhe os botões da camisa. Conforme o peito poderoso era revelado aos poucos, o tremor nos dedos de Cara aumentou. No último botão, Enzo segurou-lhe as mãos e, impacientemente, puxou as laterais da camisa, fazendo o botão voar para algum lugar no tapete. A camisa foi para o chão, e Cara olhou para o peito magnífico à sua frente. Estendeu as mãos e tocou-o, trilhando os dedos sobre os mamilos dele. Ouvindo-o arfar, ergueu a cabeça, e viu que os olhos de Enzo estavam fechados. Ele os reabriu em seguida, e a dinâmica mudou. Enzo virou-a, erguendo-lhe os PROJETO REVISORAS

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cabelos da nuca, claramente procurando um zíper ou alguma abertura no vestido. Quase doeu para respirar quando ela murmurou: ― É um vestido de jérsei. Ele virou-a novamente, as feições impacientes. ― Um o quê? Cara não pôde responder. Apenas levou as mãos para a bainha de seu vestido e o removeu pela cabeça, sentindo seus cabelos caírem sobre as costas. Sabendo que Enzo estava estudando seu corpo, não foi capaz de olhá-lo, sentindo-se de repente tímida. Também estava muito ciente da natureza funcional de suas roupas íntimas, de como deviam ser insípidas comparadas à lingerie de renda e seda que outras mulheres provavelmente usavam para ele. Sua calcinha era branca de algodão, e tão velha que, se ela não estivesse enganada, tinha um furo na costura. Mortificação a envolveu quando Cara pensou em seu próprio corpo. Seus seios eram muito pequenos; seus quadris, estreitos demais. Seu irmão sempre lhe dissera que ela tinha corpo de menino. Com a cabeça baixa, ela cobriu os seios com as mãos e imediatamente sentiu Enzo aproximar-se e abaixá-las na sua lateral. Cara lutou contra o pânico. De súbito, sentia-se totalmente inadequada. Não queria ver pena nos olhos dele, ou desgosto pelo corpo pouco feminino. Um dedo foi colocado sob seu queixo, forçando-a a levantar a cabeça. Ela manteve os olhos fechados. ― Cara... Era aquela inflexão na voz novamente, fazendo-a se derreter por dentro. Relutantemente, Cara abriu os olhos, e o encarou. Os olhos de Enzo estavam escuros e... ardentes. Muito ardentes. Ela franziu o cenho. ― Mas eu... não... ― Não, o quê? ― perguntou ele com a voz rouca, os olhos dourados viajando pelo seu corpo, absorvendo cada curva, os seios altos e firmes, os mamilos rijos contra o algodão branco do sutiã. O desejo de Cara retornou com força total. Ele não a estava olhando com desgosto, em absoluto. ― Eu pensei... pensei que você não fosse me achar... ― Atraente? Enzo meneou a cabeça e tirou os braços dela, deixando seu corpo falar por si mesmo. Com incrível graça, removeu a calça, assim como meias e sapatos. Cara engoliu em seco. Os pés dele eram grandes e bronzeados. As pernas eram musculosas... pernas de um atleta, não de alguém que se exercitava numa academia. Seus olhos finalmente foram para a parte da anatomia masculina ainda escondida sob a cueca. Com a boca seca, ela viu quando Enzo baixou a cueca e tirou-a, libertando toda a extensão do que parecia para Cara uma ereção enorme. Ela ergueu os olhos para ele. Certamente não havia como...? Enzo deu alguns passos à frente e puxou-a para si, até que os corpos de ambos se tocassem. E onde Cara podia sentir o poder da sexualidade pulsando contra seu corpo. Ele entrelaçou os dedos em seus cabelos, aparentemente deleitando-se com as mechas longas e lisas. Ela inclinou-se e mordiscou-lhe o pescoço gentilmente, arrepiando-se ao sentir o leve gosto de sal. O pênis agora provocava o ponto entre suas pernas através da calcinha, numa deliciosa tortura, e Cara movimentou os quadris, buscando uma conexão mais profunda, querendo senti-lo dentro de si. Tinha ciência disso, mesmo que nunca tivesse tido tal experiência antes. De alguma maneira, eles se moveram e Enzo sentou-se na lateral da cama, na frente de Cara. Envolvendo um braço em sua cintura, ele a puxou para mais perto. Então levou as mãos para suas costas e abriu-lhe o sutiã, deixando-o cair no tapete. Os bicos PROJETO REVISORAS

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dos seios de Cara enrijeceram ainda mais sob o olhar ardente. Enzo segurou um seio, a mão grande e bronzeada contra a pele clara, enfatizando as sardas. Ela não teve tempo de se sentir envergonhada, porque ele a pressionou ainda mais junto ao seu corpo e Cara teve de pôr as mãos nos ombros largos para firmar-se. Mas não estava preparada para a sensação quando uma boca quente e molhada envolveu seu mamilo, a língua provocando o bico com movimentos eróticos. Cara ofegou, sua barriga se contraindo, suas mãos apertando os ombros dele convulsivamente. Entre as pernas, podia sentir a ereção de Enzo, e, instintivamente, fechou-as, prendendo-o. Ele afastou a boca de seu seio. ― Bruxa ― repetiu, antes de tomar-lhe o outro mamilo na boca. Desta vez, Cara gritou. Sentia-se tão úmida no ápice de suas coxas que estava embaraçada. Aquilo era normal? Como se lendo seus pensamentos, Enzo levou as mãos para as laterais de sua calcinha e puxou-a para baixo. Subitamente encabulada, Cara deteve-lhe as mãos. Seu rosto queimava. E se o que estava sentindo não fosse normal? Mas, com surpreendente gentileza, ele afastou-lhe as mãos e removeu-lhe a calcinha. Ela estava completamente nua agora, exposta. E então sentiu uma mão segurar sua nádega direita. Olhou para baixo, notando as pupilas dilatadas de Enzo. Eles já estavam ambos ofegantes, brilhando com leve transpiração. A outra mão grande foi para o interior de suas pernas, enviando calor para onde ela estava mais sensível. Ela parou de respirar. Seus cachinhos vermelhos lá embaixo fizeram Cara encolher-se interiormente, o estigma de ser ruiva trazendo de volta memórias da infância. Memórias ainda doloridas. Mas Enzo pareceu não notar. E ela logo esqueceu as lembranças, quando dedos hábeis começaram a explorar suas dobras secretas. Cara pensara que não poderia agüentar mais daquelas sensações, todavia o prazer daqueles toques tão íntimos quase a fez desmaiar. ― Dio. Você é inacreditavelmente responsiva. As palavras dele foram perdidas para Cara, enquanto ela inclinava a cabeça para trás, sentindo os cabelos roçando sua cintura. Com uma ousadia que não podia impedir, abriu mais as pernas, permitindo-lhe acesso. Dedos deslizaram para dentro de seu centro úmido, fazendo movimentos rítmicos e enlouquecendo-a de prazer. E, quando ele usou o polegar para lhe pressionar o clitóris, ela gritou. . Levantando a cabeça, Cara o fitou, genuinamente mistificada por aquelas sensações que pareciam se centrar ao redor de sua barriga e entre suas pernas. Seus movimentos se tornaram mais instintivos, mais desesperados. Ela não estava mais no controle de seu corpo. Estava literalmente nas mãos daquele homem, e à mercê de alguma coisa consumidora demais da qual não podia fugir. Ela agarrou-lhe os ombros. Precisava se apoiar em alguma coisa. E então, após uma escalada que pareceu infinita, subitamente estava suspensa numa altura que nunca soubera existir. Com um simples toque do polegar de Enzo no triângulo entre as pernas, Cara mergulhou numa onda de sensações espasmódicas, seu corpo inteiro enrijecendo e liberando. O prazer era tão fantástico que ela não pôde acreditar que tinha esperado tanto tempo para experimentar aquilo. Todas aquelas conversas tolas que ouvira por anos finalmente faziam sentido, pensou sonhadoramente enquanto sentia Enzo erguê-la e colocá-la na cama. Sonolenta, observou os movimentos agitados de Enzo, enquanto ele pegava um pacotinho de alumínio da gaveta do criado-mudo, abria-o e deslizava um preservativo em sua ereção... a qual parecia ainda maior. Ela estava grata que ele pensara em proteção, porque isso nem sequer passara por sua cabeça, e a falta da mesma não a teria contido de forma alguma. Não quando, àquela altura, mal podia se lembrar de quem era. Ele estendeu-se ao seu lado, e o corpo de Cara foi novamente despertado imediatamente. Momentos atrás, ela estava pronta para dormir, mas agora desejo estava PROJETO REVISORAS

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se construindo do novo. Com maior intensidade ainda. De algum modo, ela sabia que o que acabara de experimentar não era nada comparado ao que estava por vir. A antecipação quase lhe causou medo. Poderia suportar um prazer ainda mais intenso? Enzo deslizou uma mão pelo seu corpo, sobre suas curvas e bicos de seus seios. Em seguida, a boca seguiu a mesma trilha, até envolver um mamilo e deixá-la em chamas. Cara segurou-Ihe a cabeça entre seus seios e gemeu. Ele acomodou-se entre suas pernas, antes de levantar a cabeça, libertando-se das mãos possessivas dela. ― Paciência... Ele ergueu-lhe os quadris e usou as coxas para lhe apartar mais as pernas. Cara podia sentir o pênis contra as dobras sensíveis de seu sexo. Seu corpo estremeceu em resposta. ― Diga-me o quanto você quer isso ― demandou ele, a voz rouca excitando-a ainda mais. ― Como eu nunca quis qualquer outra coisa ― respondeu ela com sinceridade, uma onda de emoção envolvendo-a. Sabia agora que estava lá porque sentia muito mais do que apenas uma conexão física com aquele homem. ― Fale que você precisa disso ― murmurou ele e, com um movimento sutil, Cara sentiu a ponta da ereção penetrá-la. A Intrusão era nova e, ao mesmo tempo, familiar. Mais uma vez, ela teve a estranha sensação de já ter dormido com ele antes. ― Oh... Ele deslizou um pouco mais fundo. ― Fale ― demandou com uma voz rouca. Instintivamente, Cara ergueu os quadris, fazendo com que ele deslizasse um pouco mais. Então levantou a cabeça. ― Eu preciso disso... preciso de você. Por favor, Enzo...por favor. Com um gemido de pura satisfação masculina, Enzo segurou-lhe os quadris, abaixou a cabeça e tomou um dos mamilos na boca. Ao fazer isso, enterrou-se dentro dela, completamente. Cara gritou, incapaz de se conter. Tinha ouvido dizer que doía, mas tudo que sentiu foi um prazer tão intenso que poderia ter chorado. Enzo afastou-se, um olhar interrogativo no rosto. ― Eu machuquei você? Ela balançou a cabeça vigorosamente. ― Não... Eu apenas... nunca me senti assim antes. Relaxando as feições, Enzo segurou-lhe os quadris e começou a investir, o ritmo cada vez mais acelerado. E, com cada investida, ela escalava para um lugar ainda mais alto, deixando o pico que alcançara previamente na poeira. Enzo a chamara de bruxa, mas ele era um mago. A pele deles estava molhada de suor e Cara suplicou quando os movimentos se tornaram rápidos demais. ― Por favor, Enzo... por favor. E, então, subitamente ela estava lá. Seu corpo enrijeceu e ela prendeu a respiração, abrindo os olhos para fitá-lo. O brilho nos olhos escuros era inescrutável, pensou, segundos antes que seus músculos internos se contraíssem ao redor do membro poderoso. No momento que começou a cair, Cara sentiu o choque de outro pico se aproximando. E, quando os movimentos de Enzo pararam, e ele também enrijeceu, ela começou a mergulhar novamente, desta vez com ele, enquanto o sentia liberar o prazer em seu interior. O peso de Enzo era delicioso sobre ela. As pernas de Cara o envolviam, os braços lhe rodeavam o pescoço. Nunca mais queria deixá-lo. A sensação de conexão era maravilhosa. Seus corações batiam em conjunto contra seus peitos. Após longos momentos, Enzo libertou-se. Acomodou-os de lado, aninhando as costas de Cara contra seu peito, e envolvendo-lhe a cintura com um braço. Cara começou a mergulhar num sono tranqüilo, pela primeira vez em muito tempo, sentindo paz. Como se tivesse chegado em casa, depois de uma árdua e longa jornada. PROJETO REVISORAS

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Vicenzo voltou à consciência lentamente e o mundo se endireitou. As batidas frenéticas de seu coração recuperaram seu ritimo normal. A realidade o atingiu em cheio e com clareza dolorosa. Ele sentiu o corpo sedutor unido ao seu, sentiu a maneira possessiva que seu próprio braço a envolvia, e ficou tenso. Pensou no que acabara de acontecer... como tinha se permitido a chegar àquele ponto. Como permitira que ela o levasse a tal ponto, como se ele não tivesse controle sobre a situação? Desde o momento que a vira no bar e se deparara corri aqueles olhos verdes misteriosos, tudo havia mudado. Algo com que ele não contara: desejá-la com um fervor que excluía tudo que já sentira na vida. Aquilo era humilhante, chocante e consumidor. Agindo por puro impulso, guiado por alguma coisa que não podia entender bem nem mesmo agora, disse a si mesmo que ele era apenas Enzo... tinha mantido sua identidade real secreta. O rosto dela o hipnotizara: uma pele linda, com sua explosão de pequenas sardas fazendo-a parecer muito jovem e inocente. Vicenzo reprimiu seus pensamentos enquanto se desvencilhava cuidadosamente do corpo adormecido de Cara. Forçou-se a analisar com frieza o que acabara de acontecer. Ele quisera ver o que ela faria... ver a mulher que passara tempo com sua Irmã, fingindo ser amiga dela. Cara tentaria seduzi-lo? Seus instintos haviam se provado certos, e também o instinto de revelar sua identidade por enquanto. Suas justificativas o confortaram, mesmo enquanto ele registrava a revelação desagradável de que não pretendera ir tão longe. Lembrou a si mesmo de que a vira em ação antes mesmo de conhecê-la... abraçada ao barman quando ele entrara na boate, apenas para voltar as atenções para ele assim que Vicenzo chegara, provando ser uma sedutora consumada. Cheia de pequenos truques inocentes. Por um momento lá, ele tivera a ridícula impressão de que ela pudesse ser virgem, mas Cara logo esmagara tal suspeita, tomando-o com a confiança que só poderia ter nascido da experiência. Ele sentou-se na cama, antes de se levantar, seus músculos protestando. O ato de amor tinha sido tão apaixonado, tão incrível que Vicenzo não podia se lembrar da última vez que experimentara um sexo tão ardente... se é que isso ocorrera algum dia. E justamente com ela. Ele foi para o banheiro, desgosto somando-se à sua raiva. Livrou-se do preservativo e virou-se para se olhar no espelho, o rosto rígido de tensão. Fúria o percorreu. Aquela seria uma doce vingança, afinal de contas... porque Cara compartilhara sua cama nessa noite sem saber quem ele era, sem dúvida esperando que ele lhe desse um estilo de vida exorbitante, agora que o irmão se fora. Disse a si mesmo que a convidara para ir ao hotel como um teste... não porque a quisera com uma urgência que beirava o desespero. Mas no fundo sabia que, no momento que Cara parara diante dele no ar frio da noite, todos os pensamentos sobre Allegra tinham sido esquecidos no calor da excitação, suas motivações se tornando confusas. Ele tinha de lhe dar crédito. Ela era boa. Um homem menos cínico teria sido enganado pelo jeito que Cara voltara atrás e se oferecera com toda a inocência fingida de uma novata. Como se ela não fizesse isso o tempo todo. Mas Vicenzo aprendera muito cedo como as mulheres podiam ser egoístas e manipulativas. Sua própria mãe lhe ensinara essa lição. E ele aprendera bem. Em última análise, elas cuidavam de si mesmas, e era exatamente o que Cara Brosnan estava fazendo... já querendo construir seu ninho, procurando por seu próximo sustento... O irmão dela havia seduzido Allegra com toda intenção de roubar-lhe a riqueza e abandoná-la na beira da estrada. Havia uma simetria irresistível no que acabara de acontecer. Vicenzo faria com Cara algo similar ao que ela e o irmão tinham planejado fazer com a irmã dele. PROJETO REVISORAS

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O rosto sem vida de Allegra voltou-lhe à mente. Ele não sentiu remorso ou culpa agora. Reprimiu todas as emoções. Aproveitara-se de um desejo físico intenso. Podia admitir isso. Cara era uma mulher linda, afinal. Era bem versada, e certamente possuía conhecimentos que sua irmã protegida nunca tivera. Allegra fora uma presa fácil para um predador corrupto como Cormac Brosnan. Talvez Cara tivesse surpreendido e enfeitiçado Vicenzo mais do que ele esperara, mas, essencialmente, era ali que ele a queria: à sua mercê e sentindo toda a dor que alguém como ela tivesse a capacidade de sentir, o que ele supunha que não era muita. Isso era muito melhor do que confrontá-la e tentar fazê-la admitir a culpa. Ela teria rido dele. Uma mulher que podia dormir com um completo estranho na noite depois de enterrar o próprio irmão era alguém que Vicenzo facilmente desprezaria. Ele entrou no banho. Depois, voltou para o quarto a fim de se vestir e esperar que Cara acordasse. CAPÍTULO TRÊS Cara sentiu a consciência retornar aos poucos, sensações novas percorrendo seu corpo deliciosamente pesado e relaxado. Então, tornou-se ciente do fato de que não estava mais aconchegada ao corpo de Enzo, com as pernas e braços dele protetoramente ao seu redor. Ela sorriu. Não tivera idéia que fazer amor poderia ser assim. Estendeu uma mão, esperando sentir um corpo grande e sólido, mas a cama estava vazia ao seu lado. Cara abriu os olhos e piscou contra a luz do dia penetrando as janelas. Quanto tempo tinha dormido? Sentando-se, olhou para o outro lado do quarto. Enzo estava sentado numa cadeira, observando-a na cama. Cara sorriu de modo hesitante, sentindo-se tímida. ― Bom dia. Enzo não respondeu, apenas continuou observando-a. Um mau presságio enviou um calafrio pela coluna de Cara. O ar no quarto estava gelado, e ela não tinha idéia por quê. Seu sorriso desapareceu. ― Enzo...? Com movimentos flexíveis, ele levantou-se e foi para a janela, onde olhou para fora por um longo momento, as mãos nos bolsos. Vendo que ele estava totalmente vestido, de terno e gravata, Cara cobriu mais os seios com o lençol. Ele virou-se então, olhando-a fixamente. Qualquer traço de carinho e paixão desaparecera. O semblante de Enzo estava hostil, como se ela tivesse acabado de insultá-lo. E então ele falou: ― Meu nome completo não é Enzo... embora a família e os amigos usem a abreviação para me chamar. É Vicenzo. Vicenzo Valentini. Por um momento, Cara não teve reação. Como se alguma coisa a estivesse protegendo. Então começou a absorver a importância daquelas palavras. O nome. Não podia ser. O ar esvaiu-se de seus pulmões. Ouviu-se perguntar com fraqueza: ― O que disse? ― Você me ouviu. Ela balançou a cabeça, enquanto suas mãos agarravam o lençol. Sentia-se desnorteada. ― Você é irmão de Allegra? ― Muito bem. Cara não podia entender a animosidade dele. E o fato de que esse homem estava PROJETO REVISORAS

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trazendo de volta o terrível pesadelo daquela noite e a dura realidade da vida dela para aquele quarto era incompreensível. ― Você sabe quem eu sou? ― Obviamente ele sabia, mas ela se sentiu compelida a perguntar. ― É claro que sei, Cara. ― A voz dele era zombeteira, confundindo-a ainda mais. ― Eu sabia quem você era mesmo antes de sermos apresentados. Fui àquela boate especialmente para encontrá-la. Ela balançou a cabeça de novo. ― Mas por quê... por que você não me contou quem era? Alguma emoção indecifrável cruzou o semblante dele, antes que a máscara dura voltasse ao lugar. ― Porque eu queria vê-la pessoalmente. A irmãzinha de Cormac Brosnan, o homem que pretendia se casar com minha irmã em Las Vegas na véspera do aniversário de 25 anos de Allegra, de modo que pudesse reivindicar a fortuna dela antes de cruelmente dispensá-la. Cara empalideceu. Somente descobrira sobre os planos de Cormac no dia do acidente. Lembrava-se de tê-lo repreendido, perplexa que ele faria uma coisa daquela. Ele rira diante de seu rosto. E então, naquela noite... ― Você sabia. Ele viu a reação dela, e a voz era implacável e condenatória. Cara encontrou-lhe os olhos, tudo girando ao seu redor. ― Sim, mas... Vicenzo afastou-se da janela com um movimento violento, impedindo-a de continuar. E Cara surpreendeu-se em como já estava pensando nele como Vicenzo. Enzo se fora há muito tempo. ― Sim, mas nada. Você sabia e participou dos planos de seu irmão. Diga-me, você era a confidente perfeita de Allegra? Dizendo-lhe o quanto seu irmão a amava, preparando-a para a queda? Cara arregalou os olhos. ― Não. Eu não sabia o que Cormac estava planejando... não até a semana passada, juro. Eu gostava de sua irmã... Dor a percorreu porque fracassara em ajudar... entretanto, não tivera tempo suficiente. Vicenzo avançou em direção à cama e ela se encolheu ainda mais. Ele praguejou em italiano. ― É claro que você gostava de minha irmã, senhorita Brosnan. Ela representava sua passagem para um futuro em que você nunca mais precisaria se preocupar com dinheiro. ― Ele estalou os dedos. ― E os débitos de seu irmão desapareceriam num instante. Quando ele a chamou de senhorita Brosnan, ela sentiu o coração encolher dentro do peito. Podia ver agora a semelhança dele com Allegra. Notara na noite anterior, mas, é claro, não tivera um referencial para aquilo. Cara ajoelhou-se na cama, segurando o lençol ao seu redor com ambas as mãos. Ainda não compreendia bem aquilo. Sua cabeça girava com muitas questões. ― Eu não entendo. ― Quer que eu a ajude entender? Cara engoliu em seco. Ele parecia tão intimidador. Totalmente diferente do homem que se tornara seu primeiro amante. ― Assim que seu irmão percebeu que Allegra era herdeira de uma parte substancial da fortuna Valentini, perseguiu-a com o único objetivo de roubar-lhe a riqueza. Cara estremeceu, mas ele continuou: ― Cormac apresentou-lhe as drogas para torná-la mais maleável, para torná-la dependente dele. E, enquanto isso, ele me mantinha ocupado em casa com uma falsa oferta de compra da empresa, assegurando-se de que eu não viesse ver minha irmã. ― PROJETO REVISORAS

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Vicenzo deu uma risada irônica. ― Afinal, ela estava aqui trabalhando... uma mulher adulta, sempre me dizia, capaz de cuidar de si mesma. Por que eu deveria me preocupar? Cara sentiu-se nauseada. Testemunhara as ações de seu irmão. O que Vicenzo falava não a surpreendia, mas ela não soubera que Cormac tinha influenciado Allegra tanto assim. Só vira Allegra ir e vir, passar a noite algumas vezes. Ela parecia doce, e feliz. Fora quando ele revelara seus planos que Cara começara a ver Allegra como uma vítima em potencial. E tal revelação chegara tarde demais. Cara engoliu em seco. ― Se você sabia disso... ― Esse é o problema. ― A expressão dele era mortalmente fria. ― Eu não sabia. Até que descobrimos que a oferta de comprar as ações da firma era falsa. Imediatamente suspeitei que ele estava aprontando alguma coisa, e também percebi que ele era o novo namorado de Allegra. Coloquei um investigador para descobrir o que estava acontecendo com ela e seu irmão. ― Então é por isso que você me conhecia ― disse Cara, chocada. Ele não respondeu. ― Seu irmão sempre buscou namoradas ricas, mas estava endividado e desesperado quando conheceu Allegra. Infelizmente, quando descobri tudo isso e cheguei a Londres... era tarde demais.. O tom melancólico na voz de Vicenzo tocou o coração de Cara, mas, antes que ela pudesse dizer qualquer coisa em sua defesa, ele a acusou: ― E você e seu irmão mataram minha irmã. Mas ele se foi, e não pode pagar pelo crime. Você, todavia, saiu do acidente sem um único arranhão. ― Ele deu um sorriso sarcástico. ― O destino não é uma feliz coincidência? O horror da situação finalmente atingiu Cara. Ela sentou-se sobre os calcanhares, as mãos tremendo agora. Imagens vividas do acidente voltaram à sua cabeça... a chuva incessante, o barulho de metal, o cheiro de gasolina e fumaça. O terrível silêncio depois do barulho ensurdecedor da colisão... ― Foi um acidente ― disse ela com fraqueza. No dia seguinte, enviara um cartão de condolências para os escritórios Valentini em Londres, não sabendo o endereço deles em Sardenha. Sentira-se tão inútil, querendo fazer algum contato com a família de Allegra. Evidentemente, ele não recebera o cartão, ou, se recebera, isso teria adicionado sal à ferida. ― Pode ter sido um acidente trágico, devido ao tempo, mas não tenho dúvidas de que, se vocês dois não tivessem usado minha irmã de maneira tão odiosa, ela ainda estaria viva. O peito de Cara comprimiu-se em dor....porque aquelas palavras foram corno flechas em seu coração. O sofrimento de Vicenzo era tangível. ― Por favor... você não entende. Eu não participava da vida de meu irmão. ― Exceto como sua escrava não remunerada. Vicenzo riu em zombaria. ― Oh, verdade? Desde seus 16 anos, você viveu com ele naquela cobertura luxuosa. Não há registro de que você tenha freqüentado escola ou faculdade na Inglaterra... apesar de alegar ter obtido um diploma. A partir dos seus 17 anos, você tornou-se cliente regular na boate favorita de Cormac, e, pelo que vi ontem à noite, aprendeu cedo a seduzir e enganar. Eu tenho fotografias suas, saindo da boate às 4h da manhã, nos braços de diversas celebridades. ― Pare ― exclamou Cara. ― Não é nada disso. Mas ele não parou. Começou a andar de um lado para o outro, ― Você e seu irmão eram cúmplices, senhorita Brosnan. Você agia como anfitriã nas festas dele... sem dúvida, entretendo os amigos de Cormac ao longo do caminho. PROJETO REVISORAS

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No minuto que ele disse aquilo, a lembrança horrorosa da outra noite voltou para Cara... que o amigo de Cormac esperara que ela fosse o pagamento por uma dívida que nem mesmo sabia existir. ― Por favor, pare ― suplicou Cara. Ele finalmente parou, e olhou-a com uma expressão tão desapaixonada que era quase pior do que todas as palavras e revelações. ― A conta no seu nome, a qual tinha regularmente mais de um milhão, diz tudo. Seu irmão a estava financiando para que você fosse sua cúmplice. É uma pena que o dinheiro não fosse dele. Cara nem mesmo se surpreendeu que ele soubesse sobre a conta, ou com o fato de que Cormac estava endividado. Nada mais a surpreenderia. Ela não soubera sobre a conta, até encontrar um extrato bancário em seu nome sobre a mesa de seu irmão, poucas semanas atrás. Ingenuamente, assumira que ele tinha ganhado o dinheiro. Cormac vinha usando o nome dela para se proteger. Cara ainda ficava enojada ao pensar como ele complicara sua vida. A existência de uma conta como aquela em seu nome tinha o potencial de arruinar qualquer chance de um futuro profissional, e agora Vicenzo Valentini sabia sobre isso também. Cara sentiu como se estivesse se sufocando. ― Eu não tinha acesso àquela conta. ― Conte-me outra história. Isso é tão interessante. Cara suspirou. Após uma pausa, perguntou: ― Por que você dormiu comigo? Ele aproximou-se, colocando uma mão sobre a cama e abaixando-se. A mão livre segurou-lhe o queixo para forçá-la a encará-lo. Vicenzo forçou-se a não responder ao desejo que a proximidade lhe causou. Agradecia agora à sua força de vontade por não tê-la beijado propriamente na noite anterior. E só conseguira isso porque quisera beijá-la com uma avidez que ia além de tudo que já sentira com qualquer outra mulher. Pela primeira vez, tinha percebido como beijar uma mulher na boca era um ato íntimo. ― Eu dormi com você, Cara, porque, depois de conhecê-la, decidi que esta seria a maneira mais satisfatória de confrontá-la com a verdade. Na manhã seguinte, você acreditaria que tinha seduzido outro milionário que a sustentaria. Uma dor profunda a assolou, deixando-a entorpecida em seguida. ― Não sou tolo para acreditar que você não vai se recuperar de onde nós paramos e encontrar outro para explorar... afinal, você não perdeu tempo para saldar as dívidas de Cormac, perdeu? Eu sei tudo sobre a visita que você recebeu de Sebastian Mortimer anteontem. E sobre as dívidas de seu irmão, que foram misteriosamente saldadas depois ― acusou ele com desprezo. ― Seu preço é alto. Cara ficou nauseada pela interpretação de algo que poderia ter sido estupro, e suor brotou em suas sobrancelhas. ― Eu não dormi com ele e, se você checar propriamente, descobrirá que os débitos foram pagos antes de ele ter me visitado. Bem, ele obviamente estava ciente de seu charme e pagou adiantado. Bastava. Cara afastou-lhe a mão de seu rosto, furiosa agora pela maneira como ele acusava-a injustamente. Ela saiu da cama, agarrando o lençol junto ao corpo. Agradeceu agora por ele não ter percebido que ela era virgem. Estar vulnerável diante daquele homem seria um convite a sua aniquilação. Suas pernas tremiam muito. ― Você entendeu tudo tão perfeitamente, senhor Valentini. Se terminou sua versão rude de um tribunal ilegal, talvez permita que eu coloque minhas roupas? De modo que eu possa desaparecer da sua vista? PROJETO REVISORAS

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Vicenzo permaneceu imóvel, estudando-a por um longo limpo. Cara mordeu o lábio, tentando impedir que emoção explodisse de seu peito. Seus olhos ardiam com lágrimas e ela sabia que era uma questão de tempo até que desmoronasse. ― Não se preocupe, senhorita Brosnan. Eu não sonharia em tocá-la novamente. Só lamento que, diferentemente de minha irmã, você não tenha inocência para dar. Estou fazendo com você o que seu irmão planejou fazer com Allegra. É triste saber que você não sentirá um décimo da devastação que ela sentiria. Talvez seja uma bênção que ela nunca tenha chegado a esse ponto, não é mesmo? Ele andou para a porta então, virando-se uma vez para olhá-la com imenso desgosto, antes de sair. Cara ouviu a porta externa se abrir e fechar. Por um longo momento, permaneceu parada lá, entorpecida. E então, sentindo falta de ar, respirou fundo, e, com isso, a náusea veio. Ela correu para o banheiro e deu vazão ao seu enjôo, até que não restasse nada além de bile. Fraca e tremendo, voltou para o quarto, inconsciente das lágrimas que escorriam pelo seu rosto. Então pensou numa coisa. Ele nunca a beijara. Não na boca. Não após o breve roçar de lábios que a deixara ansiando por mais. E tinha evitado suas patéticas tentativas de beijá-lo. Cara via tudo claramente agora. Ele evitara o que muitos consideravam ainda mais íntimo que a penetração final. Toda a ternura de sentimentos havia sido mera ilusão, suas próprias fantasias românticas projetadas na situação. Vicenzo a tomara com crueldade para lhe ensinar uma lição. Eles não tinham feito amor, apenas sexo. Ele quisera fazê-la sentir uma prostituta barata, e conseguira. Cara não pôde mais conter os soluços. De alguma maneira, perceber aquilo era o mais insuportável de tudo.

CAPÍTULO QUATRO Dois meses depois, Dublin Cara tentou não parecer suplicante. Mas estava desesperada. O homem de meiaidade do outro lado da mesa tirou os óculos. ― Lamento, mas você não tem a experiência que estou procurando. Descobrirá que muitas firmas sentirão o mesmo. Cara sabia que estava lutando uma batalha perdida, então pegou sua bolsa e levantou-se. ― Obrigada, senhor O'Brien, e apreciei seus comentários. Eu só lhe peço que pense em mim se surgir alguma vaga que não requeira experiência. Ele apertou a mão que ela ofereceu. ― É claro, querida. Manteremos seu currículo arquivado. Com centenas de outros, sem dúvida, pensou Cara. Era a mesma história em todo lugar. Uma recessão global levava todos a dispensarem funcionários supérfluos. Aquele era o pior momento para ser inexperiente e tentar procurar emprego. Todavia, quando ela saiu no glorioso dia de primavera, soube que se sentia feliz por estar longe de Londres. Longe do que acontecera lá. Cara atravessou a rua, e praguejou por, inconscientemente, ter tomado aquela direção. Pois agora estava diante do restaurante que acabara de abrir numa das ruas mais movimentadas de Dublin. Valentini's. Apenas mais um da famosa rede mundial de restaurantes verde, branco e vermelho, que vendiam não somente refeições maravilhosas, como tudo mais, desde iguarias italianas até utensílios domésticos. O que eles ofereciam era uma fatia da vida italiana, uma promessa de alegria e um modo de PROJETO REVISORAS

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vida relaxante. A grande ironia era que, não tendo idéia na época de quem era o irmão de Allegra, todavia sabendo que Allegra tinha alguma conexão com a família, o Café Valentini's em Londres tornara-se um refúgio para Cara. Ela havia passado horas lá no seu tempo livre, estudando ou lendo, fazendo um cappuccino durar o máximo possível, saboreando a rara solidão. E, agora, ali estava um daqueles Cafés em Dublin, com sua fachada esplendorosa. Vicenzo Valentini obviamente não estava sofrendo os efeitos da crise na economia global. Mas ela teve de reconhecer que aquela era apenas uma cruel coincidência, uma vez que, sem dúvida, os planos dele para abrir uma filial em Dublin tinham sido feitos muitos meses antes. Cara passou rapidamente pelo Café, uma onda de náusea a assolando. Sentira náuseas todas as manhãs pelo último mês. Finalmente, tinha ido ao médico na semana anterior, e confirmado seu pior medo. Estava grávida. Em algum nível, sabia que ainda estava em choque, incapaz de acreditar nisso. Nem mesmo contemplara ainda o que queria fazer em termos de contatar Vicenzo. Atravessou a rua, subitamente sentindo-se muito perto das lágrimas. O mais importante agora era arranjar um emprego. Do jeito que estava, mal tinha dinheiro para pagar mais um mês do aluguel do seu estúdio decadente, e menos ainda para trazer um bebê ao mundo. Lutando contra o pânico, entrou numa banca para comprar alguns jornais, ignorando o fato de que o dinheiro em sua bolsa estava acabando. Um pouco depois, desceu do ônibus e andou em direção ao seu apartamento. Na metade do caminho, o céu se abriu e, em segundos, ela estava ensopada. Um casal passou correndo e rindo, a mulher abrigando-se sob o casaco do namorado. Cara sentiu como se alguma coisa muito preciosa tivesse se rompido em seu interior para sempre. Inocência e otimismo. Por um breve momento antes que Vicenzo Valentini jogasse sua bomba, ela experimentara felicidade pela primeira vez em anos. Cara abriu a porta suspirando. Ele lhe roubara suas frágeis esperanças e sonhos, e ela o odiava com uma intensidade assustadora. No banheiro, despiu-se. Exausta demais, deixou as roupas molhadas onde estavam e vestiu um roupão velho. Olhou seu reflexo no espelho. Estava abatida, as sardas sobressaindo-se em sua pele clara. Havia círculos escuros sob seus olhos, e seus cabelos ruivos, normalmente brilhantes, agora estavam opacos e sem vida. ; Suas mãos foram para a barriga. Ela olhou para baixo, lágrimas inundando-lhe os olhos. Depois que Cormac morrera, Cara pensara que estaria livre para recomeçar... para viver sua própria vida. Entretanto, o destino lhe trouxera mais problemas. Olhando para cima, enxugou as lágrimas. Precisava comer. Cuidar de si mesma. Achar um emprego. De alguma maneira, tinha de sustentar ao bebê e a si mesma. Ainda se surpreendia com o sentimento de amor e proteção que experimentara por aquele pequeno ser assim que descobrira a gravidez, apesar das circunstâncias. Havia uma emoção profunda ligada a isso, também, mas Cara não queria analisá-la. Ela foi esquentar a sopa do dia anterior. Quando se sentou, notou a carta sobre a mesa... uma carta que abrira naquela manhã. Pânico ameaçou voltar, roubando-lhe o apetite. A ameaça contida naquele pedaço de papel a fez tremer. Cara forçou-se a comer; depois, acomodou-se para olhar os jornais. Circulou vagas de emprego e listou-as em ordem, de modo que no dia seguinte pudesse levar seu currículo nas empresas. Uma hora depois, abriu o último jornal. Não esperava encontrar muita coisa, então virou as páginas, bocejando. Estava cansada. Mas, então, sentou-se ereta, como se uma carga de adrenalina tivesse acabado de ser injetada em suas veias. Seu coração disparou, enquanto ela olhava para uma fotografia de Vicenzo Valentini ao lado de outro homem. Ele sorria, e a imagem em branco e preto apenas acentuava as lindas feições masculinas. Aquele maxilar esculpido. Ele parecia feliz. Sofisticado. Despreocupado. PROJETO REVISORAS

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Cara levou uma mão à barriga. Que direito ele tinha de parecer tão feliz, enquanto ela estava lá, beirando à pobreza, grávida de um bebê dele, depois que Vicenzo decidira brincar de Deus com sua vida? Ela fechou os olhos, dor a inundando. Mesmo agora, o conhecimento dos métodos de seu irmão a horrorizava... quão longe ele teria ido, e como Allegra fora enganada. Porque, como Cara bem sabia, a única pessoa que seu irmão tinha amado era ele mesmo. Ela leu o artigo que acompanhava a foto no jornal. Ele compareceria a um evento em Dublin naquela noite, para celebrar o lançamento de seu novo restaurante. Cara teria imaginado que Vicenzo fizera aquilo de propósito, apenas para lhe enviar outro aviso, mas sabia que isso era irracional. Tudo não passava de uma cruel coincidência. Ela leu o artigo novamente... mais devagar desta vez. Durante o evento, ele anunciaria uma fusão com um conhecido empresário irlandês, Caleb Cameron, que cuidaria das franquias das lojas de departamento Valentini's ao redor do país. Com Vicenzo Valentini tão perto, era como se ele a estivesse ridicularizando novamente. Ela sabia que tinha de fazer alguma coisa enquanto ele estivesse lá. Afinal, ele era responsável pela vida crescendo em sua barriga, e alguma coisa visceral estava compelindo-a a confrontá-lo. *** Vicenzo valentini reprimiu a vontade de tirar sua gravata borboleta, jogá-la no chão, abrir o primeiro botão da camisa e fugir do salão de bailes. Voltar para sua ilha, Sardenha, onde o céu era estrelado e tudo era tranqüilo e silencioso. O que estava lhe acontecendo? Sentia-se insatisfeito, irritadiço. E já fazia semanas que experimentava esses sentimentos. Dois meses, para ser exato. Ele congelou, rejeitando aquele pensamento e as imagens vividas que o acompanharam. Seu peito se comprimiu, causando-lhe uma onda de culpa que não queria reconhecer. Dois meses atrás, Vicenzo começara o processo de cura, iniciando por vingar a morte de sua irmã. Então, por que não sentia que estava no caminho da cura? Ele reprimiu os pensamentos ao ver seu bom amigo Caleb Cameron aproximar-se com sua pequena esposa, Maggie, cujos cabelos ruivos lhe traziam mais memórias indesejáveis. Os dois se cumprimentaram, ambos bonitos e atraindo muita atenção. ― Finalmente ― disse Caleb. ― Pensei que nunca fossemos convencê-lo a abrir uma loja aqui. Vicenzo ignorou a provocação de seu amigo e beijou as duas faces de Maggie. Ela estava no final de sua segunda gravidez. Maggie repreendeu o marido carinhosamente, então pegou uma mão de Vicenzo nas suas e murmurou: ― Lamentamos muito não termos podido ir ao funeral de Allegra. Deve ter sido devastador para você e Silvio. Tocado pela emoção genuína, Vicenzo sentiu alguma coisa comprimir seu peito ao testemunhar o óbvio amor entre o casal. Caleb sempre fora muito protetor em relação à esposa, desde que Vicenzo os conhecera... logo depois que eles tinham se casado, quando ele fizera uma negociação comercial com Cameron, dois anos atrás. Embora vêlos juntos sempre fosse uma experiência agradável, costumava causar um efeito claustrofóbico em Vicenzo, que não queria uma vida doméstica para si mesmo. Nenhuma mulher poderia ocupar esse espaço na sua vida. Ele jurara muito tempo atrás não ser como seu pai e entregar-se a uma mulher que talvez um dia tivesse o poder de devastar a família. Caleb puxou Maggie para seu lado e pôs uma mão possessiva na grande barriga grávida. Então Maggie chamou-lhe a atenção para a chegada de um conhecido deles. Vicenzo olhou para trás e, a distância, perto das portas, capturou um vislumbre de cabelos ruivos e pele clara. O som do salão desapareceu. Sua pele arrepiou-se. Não PROJETO REVISORAS

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podia ser. Mas por que não? Ele não estivera dolorosamente ciente de onde estava desde que descera do avião, uma hora atrás? Seu coração disparou violentamente. Cara estava do lado de fora do salão de bailes no hotel exclusivo do centro da cidade. Nervos deixavam-na temporariamente imóvel. Nem sequer notava pessoas passando por ela, olhando-a com curiosidade. Precisava pensar na injustiça, na raiva que pulsava em seu peito, ou desistiria, e Vicenzo Valentini nunca saberia das conseqüências de suas ações. Porque ela certamente não teria recursos para ir procurá-lo na Itália. Respirou fundo e disse a si mesma que, depois que lhe contasse, poderia ir para casa e se sentir pelo menos um pouco vingada. Passou pela porta, estremecendo diante do barulho e da multidão de pessoas. Não se incomodara em se arrumar, tendo jogado fora o vestido que usara naquela noite em Londres. Estava de jeans e camiseta sob um casaco leve, sem maquiagem, e com os cabelos presos num rabo de cavalo. Avistou-o quase imediatamente. Ele estava de costas, mas ela o reconheceria em qualquer lugar. Seu próprio corpo traidor pareceu pulsar em resposta, fazendo seu coração bombear. Aquele físico poderoso era tão familiar... Ela podia lembrar-se até mesmo do gosto salgado da pele dele, do jeito como ele a preenchera completamente... Cara hesitou. Como poderia fazer aquilo? Entre as pessoas, ele estava de pé com o outro homem da fotografia, tão lindo e intimidador, e, sem dúvida, tão rico quanto Vicenzo. Aquele era um mundo à parte. Cara reprimiu o medo que lhe dizia para fugir, e seguiu em frente, cada passo levando-a para mais perto de Vicenzo Valentini. Vicenzo sentiu um arrepio da nuca, como o aviso de perigo segundos antes do ataque de uma cobra. Reprimiu a vontade de virar-se, dizendo a si mesmo que estava sendo ridículo. Mas, então, Caleb parou no meio da sentença, Maggie olhou para a direita de Vicenzo e um aroma familiar provocou-lhe os sentidos. Era o cheiro inconfundível de rosa almiscarada. Um que estava em seu banco de memórias recentes. Seu corpo já estava respondendo, de um jeito que não sentia em... semanas. Percepção chocante o atingiu em cheio. Virou-se, e lá estava Cara Brosnan, encarando-o com aqueles enormes olhos verdes, os cílios realçando a pele muito pálida. Nem um pingo de maquiagem. O tempo pareceu parar enquanto eles se entreolhavam. Então ele ouviu Maggie perguntar: ― Você conhece esta mulher? Tudo voltou para Vicenzo... tudo pelo que aquela mulher tinha sido responsável. Seu instinto era atacar verbalmente. Ele negou a reação que ela estava causando em seu corpo. ― Não, não acredito que eu a conheço. ― E, então, virou-se para Caleb e Maggie, dando as costas a ela. Cara piscou por alguns segundos. Não podia acreditar que ele tinha feito aquilo. Negado sua existência. Raiva subiu à superfície e ela começou a tremer incontrolavelmente. Planejara ir lá e agir de modo frio e articulado... mas agora tais planos tinham voado pela janela. Mal percebeu as pessoas em volta quando o rodeou e parou em sua frente. ― Como você ousa fingir que não me conhece? ― Brosnan! ― A voz de Vicenzo foi como um chicote em sua pele. Cara deu um sorriso triunfante, mesmo quando tremia tanto que não sabia como estava de pé. ― Se você não me conhece, então como sabe meu nome? Um nervo pulsava na testa de Vicenzo. Cara sabia que só tinha o elemento da surpresa por mais alguns segundos, então se voltou para o outro casal. Se pudesse manchar a reputação dele, pelo menos um pouquinho... Uma pequena multidão sé reunira em volta deles. PROJETO REVISORAS

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― Sabiam que, dois meses atrás, seu amigo aqui esteve em Londres comigo? ― Cara apontou um dedo para seu próprio peito. ― Ele deliberadamente armou para... Suas palavras foram interrompidas quando Vicenzo segurou seu braço com força e começou a conduzi-la através da multidão. Ela abriu a boca para protestar, e, como se lendo sua mente, ele virou a cabeça e olhou-a. ― Nem mais uma palavra, Brosnan. A multidão se abriu como o Mar Vermelho e logo eles estavam fora do salão de bailes e num saguão isolado. Ele parou-a na sua frente. Cara estava ofegante e esfregou o braço que ele apertara enquanto a conduzia para lá. ― Você não precisava ter me movido à força, como se eu tivesse dois anos de idade. Uma sobrancelha se ergueu e Cara encolheu-se. Nunca o vira tão furioso. E como podia ter tanta consciência da beleza dele naquele smoking? ― Oh, não? E o que queria que eu fizesse? Que a deixasse falar a sórdida verdade? Que você foi responsável por... ― Pare! ― gritou Cara, subitamente perturbada por encará-lo com tamanha proximidade. Ele cruzou os braços. ― O que você está fazendo aqui, senhorita Brosnan? ― O que você está fazendo aqui? ― devolveu ela, tentando ganhar tempo, sabendo muito bem por que ele estava lá. Sua raiva estava se dissolvendo rapidamente numa onda de emoções confusas, agora que o confrontava. ― Eu tenho negócios aqui. Não que isso seja da sua conta. Cara respirou fundo e desviou o olhar. Estava lá agora. Precisava fazer aquilo. Ele tinha de saber o que fizera. Ela o fitou. ― Eu também tenho negócios aqui. Com você. Vicenzo se aproximou e observou-lhe a reação. Ela enrubesceu e arregalou os olhos. Era óbvio que Cara não fora lá para se divertir. Na verdade, ele estava surpreso que ela não tivesse sido detida na porta, pelo traje esporte que usava. Ele precisou de toda sua força de vontade para não baixar os olhos para o corpo deleitoso, para aqueles seios firmes que cabiam perfeitamente em suas mãos, com bicos cujo gosto era paradisíaco em sua boca... Suas memórias foram recompensadas com uma ereção pulsante dentro da calça, e com o lembrete de que nenhuma mulher desde então conseguira excitá-lo. ― Bem, que negócios são estes? Fale aqui e agora, ou terei de mandar expulsá-la, porque, no que me diz respeito, nós concluímos quaisquer negócios. Cara recusou-se a ser intimidada. Imitou-lhe as ações, aproximando-se, de modo que apenas centímetros os separassem. E foi encorajada pelo brilho ardente que viu nos olhos dele. ― Bem, infelizmente este não é o caso, pois eu estou grávida de um bebê seu. Lamento que as conseqüências de sua vingança daquela noite são maiores do que você antecipou. Vicenzo ficou muito imóvel por um momento, então deu um passo atrás, gesticulando uma mão no ar. Algo que parecia alívio cruzou-lhe as feições. ― Impossível. Eu usei proteção. Dor a percorreu pela negação fervorosa dele. Cara fechou as mãos em suas laterais. ― Bem, o preservativo deve ter rasgado ou algo assim... porque, goste você ou não, eu estou grávida. De seu bebê. Vicenzo teve uma súbita imagem de Caleb e Maggie, e de como Caleb abraçara a esposa grávida de modo protetor apenas momentos atrás. Lutou contra uma onda de PROJETO REVISORAS

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náusea e confortou-se com o fato de que Cara estava mentindo. Só podia estar. Ele riu ironicamente. ― Você levou dois meses para descobrir um jeito de me contatar? E agora surge com isso? O que achou que aconteceria? Que eu a pediria em casamento pelo bem da criança? Não conseguiu encontrar outro bilionário iludido para agarrar... Sebastian Mortimer, talvez? O pai verdadeiro? O coração de Cara se apertou tanto que, por um instante, ela viu tudo preto. ― Eu lhe disse antes que não dormi com aquele homem, e não poderia pensar num destino pior do que me casar com você. Tudo que quero é informá-lo das conseqüências de sua ação... especialmente na luz de seu estilo de vida livre e fácil. Não quero ser acusada de manter seu bebê em segredo, quando você está saindo com a última modelo que virou atriz. Vicenzo virou-se de lado e Cara agiu por impulso, pensando que ele fosse sair andando, dispensando-a novamente. A dor era muito grande. Precisava fazer alguma coisa para que ele acreditasse nela. Segurou-lhe a manga, detendo-o. Então falou antes que pudesse censurar-se: ― Detesto admitir, mas eu era virgem naquela noite. Não que você tenha notado. Este bebê é seu. ― Ela deu uma risada sarcástica. ― Acha realmente que depois daquela noite eu saí procurando alguém que me engravidasse, somente para que pudesse perseguir você, dizendo que o filho era seu? O corpo inteiro de Vicenzo enrijeceu. Ele podia ouvir as palavras, mas não absorvia a importância das mesmas. Ela tinha de estar mentindo. Mas, então, uma lembrança de Cara parada à sua frente, estranhamente vulnerável, naquelas roupas de baixo simples, lhe veio à cabeça. E também houvera o momento passageiro no qual ele suspeitara que ela fosse virgem... Meneando a cabeça, como se para negar a terrível suspeita que o envolvia, Vicenzo repetiu: ― Impossível. Todavia, seus olhos permaneceram fixos em Cara, em algum tipo de louca fascinação, enquanto ele a via enrubescer e a sentia apertar mais sua manga. ― Você pode acreditar ou não, Vicenzo, mas o fato é que estou grávida, e o bebê é seu. Eles se entreolharam por um longo momento. Então, alguma coisa piscou do lado direito do saguão, e Cara encolheu-se. Outro flash veio, rapidamente seguido por mais uma dúzia. Ambos olharam na direção das câmeras. ― Dio ― exclamou Vicenzo, no mesmo instante que Cara percebeu o que estava acontecendo. Eles tinham sido capturados pelos paparazzi. Ela os vira à entrada do hotel, mas estava muito nervosa para dar atenção àquilo. Agora sentiu Vicenzo afastar sua mão da manga dele, e, no instante seguinte, sentiu-o agarrar-lhe o braço novamente... sem dúvida para levá-la a algum outro lugar e acusá-la de orquestrar aquilo, também. Cara desvencilhou-se do aperto, e saiu correndo através da multidão que gritava, as perguntas que soavam no ar fazendo suas pernas tremerem. ― Senhor Valentini, é verdade? Você vai ter um bebê? Qual o nome dela? Lutando contra o pânico, Cara finalmente chegou à porta, apavorada que Vicenzo a capturasse a qualquer momento. Entrou no primeiro táxi que viu do lado de fora. Ofegando no momento que o carro saiu do meio-fio, olhou para trás a tempo de ver Vicenzo sair do hotel, fúria estampada em seu rosto. Cara deu o endereço para o motorista e fechou os olhos. O que tinha feito? Não podia acreditar que permitira que ele mexesse tanto com ela, levando-a a revelar tudo... a verdadeira extensão de sua vulnerabilidade e inexperiência daquela noite. E, ao fazer PROJETO REVISORAS

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isso, não apenas lhe contara sobre a gravidez, ela abrira a porta para permiti-lo de volta em sua vida, para devastá-la ainda mais... Porque uma coisa era certa: ela não esperava nem por um segundo que Vicenzo Valentini fugisse disso. CAPÍTULO CINCO Vicenzo bateu um punho fechado na palma de sua mão. A agitação no saguão atrás de si era total, enquanto a equipe do hotel tentava expulsar os fotógrafos. Cara Brosnan estava iludida se achava que poderia ameaçá-lo com a gravidez. Todavia, as declarações dela... que tinha sido virgem, que não dormira com Mortimer... reverberavam em sua cabeça. Isso seria possível? Tudo nele queria dizer que não! Mas a suspeita estava rapidamente se tornando uma possibilidade distinta. Naquele momento, Vicenzo sentiu uma mão bater em seu ombro. Virou-se para ver seu amigo parado ali. Caleb gesticulou a cabeça na direção do hotel. ― Maggie está tentando controlar o frenesi. Quer me contar quem era aquela, e por que a mídia estava aqui? Vicenzo meneou a cabeça. Por mais que gostasse de seu amigo, não poderia começar a articular aquilo em voz alta. Caleb riu suavemente. ― Um aviso, meu amigo. Essas ruivas são perigosas. Eu sei bem. Desde o minuto que pus os olhos em Maggie, ela me virou de ponta-cabeça. Vicenzo lutou para controlar a raiva e sorriu. ― Acredite, isso não é nada como você e Maggie. Caleb apenas arqueou uma sobrancelha e, quando Vicenzo liderou o caminho para dentro do hotel, sentiu aquele aperto no peito novamente... exceto que, dessa vez, não parecia estar passando. Cara retornou ao seu prédio no fim da tarde seguinte, depois de outro dia frustrante à procura de emprego. Acordara naquela manhã mais nauseada do que de costume... sem dúvida, resultado de suas ações impetuosas da noite anterior. Passara o dia nervosa, achando que Vicenzo apareceria a qualquer momento. Quando se aproximou de seu apartamento agora, todavia, os pelos de sua nuca arrepiaram-se. A porta estava levemente entreaberta. Ela sabia quem estava lá. Mas não adiantaria fugir. Sentindo a presença dele em cada fibra do seu ser, abriu aporta. Vicenzo Valentini estava de pé, perto do sofá esfarrapado, Com as pernas abertas numa postura dominadora. Vestia jeans, camiseta polo e uma jaqueta de couro marrom. Ela não conseguiu falar quando parou na soleira e observou a figura magnífica. Nem mesmo se incomodou em perguntar como ele tinha conseguido entrar lá. Ele a fitou com expressão enigmática. Ergueu um pedaço de papel branco e perguntou, quase casualmente: ― Por que Sebastian Mortimer está chantageando você? A carta. ― Como você ousa bisbilhotar minhas coisas privadas? ― Em pânico, Cara aproximou-se para lhe tirar o papel da nulo. Mas Vicenzo segurou-lhe o braço e manteve a carta fora de seu alcance. ― Por que Sebastian Mortimer está chantageando você? ― repetiu, em tom duro. ― Porque eu não dormi com ele ― respondeu Cara. Tentou desvencilhar o braço, mas ele não a soltou. ― Ele pagou os débitos de Cormac sem meu conhecimento, e veio me apresentar isso como um fato consumado. Esperou que eu fosse mostrar minha gratidão... tornando-me amante dele. ― Cara estremeceu ao lembrar quão perto Mortimer chegara de forçar-se sobre ela. Vicenzo ainda segurava seu braço e, absurdamente, ela se sentiu protegida. PROJETO REVISORAS

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― A idéia não lhe agradou, então? Ela balançou a cabeça, e olhou para a carta. ― Ele está ameaçando reverter o débito no meu nome, se eu não mudar de idéia. O rosto de Vicenzo era como pedra. ― Todavia, ele estava muito confiante de sua resposta, se pagou adiantado. Na verdade, Sebastin Mortimer era um sociopata arrogante com um ego grande demais. Como confidente de Cormac, tivera ciência da posição vulnerável de Cara e contara com isso, assumindo que ela concordaria com seu plano. Quando isso não acontecera, ele se tornara cruel num instante. ― Bem, ele não conseguiu a resposta que esperava ― disse ela. A mão de Vicenzo apertou mais seu braço. ― Ele machucou você? Cara arfou diante do jeito que ele subitamente enfureceu-se. Não pôde impedir a lembrança de Mortimer se aproximando cada vez mais, o pânico enquanto ela tentava aplacá-lo, sua busca por uma rota de fuga quando ele alcançou-a, com seu excesso de peso e sorriso malicioso... Ela reprimiu a memória e meneou a cabeça. ― O zelador chegou à porta. Eu consegui me livrar dele antes que alguma coisa acontecesse. Vicenzo a estudou. E, naquele momento, não duvidou do terror que viu no rosto de Cara, como se ela estivesse revivendo alguma coisa. Ele suprimiu a vontade irracional de protegê-la. Mas então percebeu que acreditava nela. E isso era, em grande parte, porque, na noite anterior, finalmente concluíra que Cara tinha sido virgem. Os sinais que havia ignorado naquela noite não podiam ser negados. O corpo de Cara estava reagindo pela proximidade de Vicenzo. Ela libertou-se do toque dele e colocou alguma distância entre os dois, parando perto da área da cozinha. ― E, antes que você me acuse disso, eu não tive nada a ver com a presença da mídia no hotel, ontem à noite. Alguém no salão de bailes deve ter avisado os repórteres. Vincenzo arqueou uma sobrancelha incrédula, e deu um passo à frente. Cara deu um passo atrás, em direção à minúscula cozinha anexa. ― O quê? Nem mesmo algumas palavras sussurradas antes de você entrar para jogar sua bomba publicamente? Lamento, mas não acredito nisso. Você orquestrou tudo, porque agora vê uma maneira de reivindicar o prêmio maior. Afinal, se Allegra tivesse se casado com seu irmão, a herança dela seria só uma fatia do que eu possuo. Você é uma garota esperta. Deve ter percebido isso no momento que soube quem eu era. Deve se parabenizar por ter guardado sua virgindade para a maior oferta... ou foi apenas porque Mortimer a nauseava fisicamente, e, devido à morte de seu irmão, você precisava de dinheiro com urgência? Talvez estivesse planejando voltar para Mortimer se não encontrasse um protetor rico mais atraente? Cara sentia-se tão tonta pelas palavras ofensivas que pensou que pudesse desmaiar. Pura raiva a envolveu. ― Você é absolutamente... ― Não termine ― disse ele, aproximando-se. A presença de Vicenzo era ameaçadora; todavia, Cara percebeu que não se sentia fisicamente ameaçada... não como se sentira com Mortimer. Essa era uma ameaça muito diferente, e linha a ver com a reação do seu próprio corpo, que parecia querer seguir numa única direção: para ele. Vicenzo parou a poucos centímetros de distância, encarando-a de modo duro e implacável. ― A história de um herdeiro Valentini já está por toda imprensa aqui, e nos noticiários italianos. Será impossível negar sem criar um tumulto ainda maior. ― E por que você iria querer negar? É verdade ― disse ela, sentindo-se protetora PROJETO REVISORAS

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em relação ao seu bebê. Precisava assumir responsabilidades por suas ações, e não poderia negar a verdade de sua gravidez ali, na frente do pai da criança. Vicenzo passou uma mão impaciente pelos cabelos curtos. ― Você tem prova? Uma pontada de dor a assolou, mas Cara assentiu. Guardara a receita do médico, contendo a data provável do nascimento do bebê, uma lista de alimentos para evitar, suplementos para tomar, a data de sua primeira consulta do pré-natal. Ela pegou sua bolsa, colocou-a sobre a mesa lascada e retirou o papel de dentro. Com Cara de costas para ele por um momento, Vicenzo olhou ao redor do apartamento pela primeira vez. Era... chocante. Paredes manchadas indicavam terrível umidade. A janela com vista para um beco escuro estava quebrada, as cortinas eram imundas. O motivo pelo qual ela o procurara era evidente, e o fato de que ele lhe dera tal motivo doía. Cara virou-se, estendendo-lhe um pedaço de papel, o rosto pálido e sardento fazendo-a parecer vulnerável e incrivelmente jovem. Ele pegou o papel e estudou-o, vendo as indicações de que ela estava realmente grávida. E as datas combinavam com a noite deles em Londres. Ele poderia procurar o médico, comprovar a veracidade daquele papel, mas sua intuição dizia-lhe que isso não era necessário. A possibilidade muito real de que seria pai o estava entorpecendo. Cara cruzou os braços. ― Viu? Então, a menos que eu tenha corrido diretamente para cama de outro homem... o que não fiz, o bebê é seu. ― Você poderia ter mentido para o médico sobre datas. Como posso ter certeza de que carrega meu bebê? Assim que falou aquilo, Vicenzo sentiu um efeito curioso de suas palavras. Uma emoção primitiva o envolveu: seu bebê; sua semente. Uma declaração de sua própria masculinidade. E, mesmo antes que Cara respondesse, ao ver a expressão ultrajada no rosto dela, ele acreditou que ela estava carregando seu filho. Não sabia por que tinha tanta certeza, e isso o irritou. Era do tipo que confiava apenas em fatos concretos. Mas, dessa vez, o instinto era muito forte. Cara tremeu de raiva. ― Essa pergunta nem mesmo é digna de uma resposta. Se isso o consola, confesso que me arrependi amargamente de minha decisão de ir confrontá-lo. Ela continuou encarando-o, mas já podia sentir sua raiva se transformando numa emoção muito mais vulnerável sob o olhar fixo de Vicenzo. ― Eu apenas... vou ter um bebê como resultado do que aconteceu... do que você fez. Ele deu um passo à frente, parecendo furioso. ― O que eu fiz? Havia dois de nós naquele quarto naquela noite. Preciso lembrá-la que você foi embora, e depois se arrependeu e voltou diretamente para os meus braços? De que eu não a forcei a nada? Ele deu outro passo, e Cara se encolheu, indo para perto da parede. ― Eu também preciso lembrá-la que usei proteção? E vamos apenas dizer que não me recordo de qualquer... problema com o preservativo. Cara enrubesceu. Como saberia? Certamente, não possuía a experiência dele nesse tipo de coisa. ― Tem certeza de que não houve um problema? Quero dizer, como pode estar tão certo? Tudo em Vicenzo reagiu ao apelo feito pela voz rouca. E ao fato de que sentia uma forte necessidade que ela admitisse que aquilo era uma grande piada. Que ela não tinha sido virgem. Que não fizera amor com abandono natural que ele acreditara. Vicenzo lembrou-se de que o prazer que experimentara com Cara havia sido tão PROJETO REVISORAS

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potente que, depois, ele nem mesmo checara se o preservativo estava intacto; E agora, segurando a evidência num pedaço de papel, tinha de admitir que não fora tão cuidadoso naquela noite. A possibilidade de que podia ser pai era assustadora. Sua determinação de não ter uma família nascera de um juramento feito muito tempo atrás. Até mesmo seu pai não ousava exigir isso de Vicenzo, depois de tudo que acontecera na família deles. Mas então, lembrou-se, seu pai estivera dependendo de Allegra para cumprir esse papel... Até agora. E agora essa mulher, Cara Brosnan... possuía alguma coisa contra a qual ele não conseguia lutar. Ele deu uma risada sarcástica. ― Você nem sequer precisou me encontrar... eu vim até você. Bastante conveniente, não acha? Cara colocou-se atrás da poltrona, agarrando o encosto. ― Eu só descobri que estava grávida uma semana atrás. Então vi a reportagem no jornal, dizendo que você viria a Dublin. Arrogância marcou as feições dele. ― Mas, sem dúvida, você teria me informado sobre minha paternidade iminente mais cedo ou mais tarde? Cara refletiu sobre aquilo. O que teria feito se ele não tivesse ido a Dublin? Então um instinto profundo lhe deu a resposta. ― Sim... eu teria lhe contado. Os olhos de Vicenzo brilharam. ― É claro que teria. Ela o estudou e viu que ele interpretara suas palavras erroneamente. Cara teria lhe contado porque, apesar de tudo, Vicenzo tinha direito de saber. Não porque queria lucrar com a contribuição. Mas ele não acreditaria nisso, então ela não disse nada e ergueu o queixo. Vicenzo a olhou, viu a inclinação do queixo e a determinação nos olhos verdes. Ela não ia admitir que o bebê era de outro homem, exceto seu. Isso não lhe deixava opção. ― Bem, então não temos escolha. Eu não posso ir embora daqui sem você. Cara franziu o cenho. ― O que você quer dizer? ― O que quero dizer é o seguinte: Você poderia ter dormido com alguém depois de mim, mas vamos assumir que este bebê é meu. Isso muda tudo. Não permitirei que você tente me ameaçar ou me chantagear com essa história. Cara cerrou os punhos. ― Este bebê é seu. E você pode ir embora. Agora lamento ter lhe contado. Vicenzo riu. ― Ir embora? Oh, aposto que eu posso. E, no minuto que você ficar sozinha, sua história será vendida e espalhada por todos os jornais, numa tentativa de me colocar contra a parede. Se eu não reconhecê-la, e ao bebê, você pode me processar em milhões e jogar o nome da minha família na sarjeta. ― Ele balançou a cabeça. ― De jeito nenhum. Cara apertou o espaldar da poltrona, a qual estava oferecendo pouca proteção contra o homem à sua frente. Medo a percorria. Uma sensação de déjàvu a envolveu. Era como o momento que ele revelara seu nome completo. ― Do que você está falando? ― Meu pai viu os noticiários. Ele é antiquado... tradicional ― disse Vicenzo. ― Ele quer conhecer a mãe do meu filho... a mulher que conseguiu fazer o filho dele mudar de opinião. Ele está se recuperando de um derrame; você e seu irmão causaram sofrimento suficiente na vida de meu pai. Não permitirei que você o faça sofrer ainda mais, negandose a conhecê-lo. Desnecessário dizer que ele não sabe que a mulher que ajudou a causar a morte de Allegra está agora alegando ser a mãe do neto dele. Aquelas palavras feriram Cara, mas ela manteve-se firme, mesmo quando o olhar PROJETO REVISORAS

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de Vicenzo percorreu seu corpo de maneira ardente. ― Se você carrega meu filho, como afirma tão enfaticamente, só há uma coisa a ser feita. Em meia hora, partiremos para Roma e nos casaremos. Por mais que a idéia de me casar com você me excite, essa é uma instituição da qual nunca gostei; portanto, isso não me causará nenhuma emoção. O casamento garantirá legitimidade desde o princípio para o herdeiro Valentini, e eu poderei vigiar cada movimento seu. Também salvará a minha reputação; nossas ações já baixaram de valor por conta desse escândalo em potencial. Cara sentiu a cor drenar de seu rosto, enquanto se esforçava para absorver aquilo. ― Nunca. Eu nunca me casaria com alguém como você ― declarou ela com horror. Vicenzo ficou ameaçadoramente imóvel e disse em tom sedoso: ― Então você está disposta a assinar um documento legal, negando todas as alegações de que essa criança é minha? E jurando que não terá mais nenhum contato comigo pelo resto de sua vida? Porque essa é a única outra alternativa além do casamento. Cara abriu a boca, então a fechou, quando sentiu o peso do poder daquele homem. Queria tanto poder dizer que sim. Mas não podia negar ao seu filho o direito de conhecer o pai. Então, meneou a cabeça, sabendo que estava selando seu destino. Uma expressão de intenso cinismo brilhou nos olhos de Vicenzo. Ele esperara tal resposta. ― Achei que não. Você será recompensada por carregar um herdeiro Valentini e, na hora certa, será enviada de volta para cá. Eu ficarei com a custódia total da criança. As pernas de Cara quase cederam. ― Mas... você não pode fazer isso. Eu terei este bebê. É o meu bebê. ― Ela pôs a mão sobre a barriga de modo protetor. Vicenzo deu um pequeno sorriso. ― Acho que vai descobrir que eu posso fazer tudo que quiser, senhorita Brosnan. Não duvido que, com o incentivo certo, você será persuadida a ir embora quando a hora chegar. Vincenzo observou-a empalidecer. Viu as mãos delicadas apertando o encosto da poltrona. Ela era boa em usar suas expressões, sem dúvida, ciente de como podia manipular as pessoas com isso. Mas não ele. ― Eu lhe darei meia hora para arrumar as malas e sair daqui comigo, como se tivéssemos nos reconciliado. Cara suspirou, tentando absorver tudo que acabara de acontecer. Não tivera ideia de que confrontá-lo poderia causar toda essa reviravolta de eventos. O fato de que ele não sabia toda a verdade de sua vida com Cormac era insignificante. Vicenzo provavelmente nunca saberia. Alguma coisa morrera no interior de Cara naquela manhã, quando descobrira quão longe aquele homem estava disposto a ir para se vingar. Ela sabia agora que nunca mais poderia estar vulnerável diante dele. Também sabia que caso se recusasse a ir com ele, Vicenzo não hesitaria em levála dali à força. O fato que o pai estava doente a tocava. A última coisa que queria era ser responsável por causar mais dor na vida do homem. Podia imaginar como tinha sido horrível para ele enterrar uma filha... Ademais, que condições ela tinha de criar um filho sozinha nesse momento? Uma espécie de responsabilidade maternal a inundou. Não possuía escolha. Reunindo o máximo de dignidade que foi capaz, respondeu: ― Muito bem. Nada se alterou na expressão de Vicenzo. Ele deu um passo atrás e abriu um braço. ― Então você tem meia hora. PROJETO REVISORAS

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Cara teve de conter um grito de histeria. Não levaria mais de dez minutos para empacotar seus poucos pertences, mas ele não precisava saber disso. Ela começou a andar para seu quarto, mas ele segurou-lhe o braço no caminho. O toque queimou através das roupas. Cara enrijeceu e não o olhou. ― Não pense que escapará de assinar um acordo pré-nupcial. Haverá uma cláusula que permitirá um exame de DNA depois que o bebê nascer, para confirmar que ele é meu. E se não for, Cara... você pagará um preço alto por me enganar. Ela o encarou, por mais que isso lhe custasse. ― A única pessoa que enganou alguém aqui foi você, quando escondeu sua verdadeira identidade de mim em Londres. Quando ela se desvencilhou, aquelas palavras feriram Vicenzo, relembrando-o seu raro momento de fraqueza, o nível de atração carnal que os levara para as conseqüências atuais. Por mais que a culpasse, tinha de assumir responsabilidade por suas próprias ações. Estava fazendo isso. Mas que Deus a ajudasse se ela estivesse mentindo. CAPÍTULO SEIS Vicenzo finalmente exalou o ar que estivera prendendo. Acabara de falar para uma mulher o que nunca contemplara fazer: pedi-la em casamento. Mas tudo que podia pensar agora era como o aroma de Cara o provocara quando ela havia passado. Fazendo-o lembrar coisas que ele queria esquecer... a linda pele branca e sardenta, a maneira como os músculos femininos internos o tinham apertado... Cara era virgem. Não permitiria que ela o enfeitiçasse novamente. E por que o desgosto que ele sentia por essa atração não reprimia sua libido? Vivenciaria uma situação que nunca quisera. Casamento e um bebê. Sempre desprezara a idéia de se tornar pai. Ver seu pai humilhado e arrasado tornara Vicenzo determinado a não pôr uma criança no mundo e arriscar passar pela mesma coisa. Seu lema era ter prazer com mulheres que não faziam exigências. Se fizessem, estariam fora de sua vida. A idéia de domesticidade, de criar uma unidade familiar lhe causava pânico. Vicenzo controlou suas emoções. Teria um herdeiro, ponto final. Tivera de aceitar tal possibilidade depois da morte de Allegra, de qualquer forma. Acontecera mais cedo do que gostaria, e não com a pessoa de sua escolha, mas, no final, Cara não seria parte da equação... porque ele sabia que, com o encorajamento certo, ela partiria. Vicenzo virou-se da porta fechada do quarto e sentou-se no sofá. A carta de chantagem de Sebastian Mortimer chamou-lhe a atenção, e, tomando uma decisão impulsiva, ele pegou seu celular e deu um telefonema. Quando cara voltou à sala Vicenzo estava ao telefone, falando em italiano. Seu estômago se contraiu. Ela vestira jeans e um suéter, e prendera os cabelos de modo severo. Tudo parecia surreal. Ele a fitou, então olhou para sua pequena mala, antes de terminar a ligação e guardar o celular no bolso, anunciando: ― Isso está resolvido. ― O que está resolvido? ― perguntou ela. ― Dentro de 24 horas, aquele débito será saldado por mim em seu nome. E, se Mortimer quiser briga, nós temos esta carta como evidência. ― Mas... isso significa que ficarei em débito com você. ― Ela o estudou. ― E por que você faria isso? ― Porque tenho de admitir que a idéia de que tudo que você ganhe seja meu por uma quantidade considerável de tempo é atraente. Ademais, não quero o escândalo em potencial de minha esposa conectada a uma conta que esconde negociações desonestas. Cara absorveu a enormidade do que ele acabara de fazer. Ela levaria anos PROJETO REVISORAS

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trabalhando para pagar os juros do débito, sem mencionar o débito em si. Subitamente, apesar do fato de o débito estar cancelado, a vingança de Vicenzo Valentini parecia pior do que qualquer cenário que ela pudesse imaginar. ― Vamos. ― Ele pegou sua mala e gesticulou para que ela o precedesse para fora do apartamento. Ela suspirou. Não tinha escolha senão acompanhá-lo. Teria de se focar no fato de que odiava Vicenzo Valentini, e tentar esquecer que, por um breve momento, sentira exatamente o oposto disso. *** Vicenzo pôs a mala no porta-malas de um carro elegante, então abriu a porta de passageiro para ela. Cara respirou fundo, enquanto ele fechava a porta e rodeava o veículo. Quando ele começou a dirigir, um carro vindo na direção oposta fez Cara encolher-se no banco. Vicenzo diminuiu a velocidade e olhou-a. ― O que foi? ― Nada... Um pouco de medo, só isso. ― Ela olhou para frente. ― Os carros nem estavam perto. ― Eu sei ― disse ela, envergonhada de sua própria reação. ― É que... é minha primeira vez no banco da frente de um carro depois do... Ela não conseguiu terminar. Sua reação não era racional. Estivera sentada no banco de trás na noite do acidente. Mas a cena ainda era tão vivida na sua mente. Vicenzo parecia tenso ao seu lado, sem dúvida, Iembrando-se do porquê a odiava tanto. Desolada, Cara virou a cabeça e olhou pela janela. Vicenzo não perdeu tempo em tirá-la do país e levá-la para seu território. Eles estavam num avião particular dentro de uma hora, e aterrissando em Roma poucas horas depois. Nem uma única palavra foi trocada entre os dois, e o trajeto para uma cobertura luxuosa no centro da cidade acabou no que pareceu minutos. Vicenzo lhe mostrou a cozinha, dizendo que ela poderia se servir do que quisesse, então a levou para um enorme quarto de hóspedes. Depois de um banho, cansaço a dominou, e ela aconchegou-se entre deliciosos lençóis egípcios, mergulhando instantaneamente num sono sem sonhos pela primeira vez em longo tempo. Ao acordar na manhã seguinte, Cara ficou impressionada ao ver o que não notara na noite anterior. Janelas do chão ao teto davam vista para a cidade. Uma onda de excitação a percorreu. Nunca viajara para lugar algum. Não desde que seus pais tinham morrido e ela se mudara para Londres, a fim de morar com Cormac. Enquanto cresciam, eles geralmente passavam as férias na Irlanda, não tendo condições financeiras para ir a outro lugar. Mas agora... Cara saiu da cama e foi olhar pela janela. A vista da cidade abaixo era fascinante e, a distância, ela podia ver o contorno familiar do Coliseu. Naquele momento, ouviu um barulho e virou-se, o coração disparando quando a realidade voltou. Não estava lá de férias. Vicenzo estava parado à porta, alto e poderoso, vestido de calça escura e camisa cinza. Ela cruzou os braços, sentindo-se envergonhada numa camiseta grande, com estampa de carneirinhos na frente.. ― Dormiu bem? ― perguntou ele, com toda educação de um anfitrião solícito. ― Sim, obrigada. A cama é... muito confortável. Ele inclinou a cabeça. ― Quando você estiver pronta, junte-se a mim na sala de jantar. Temos coisas a discutir. Ele deu um passo atrás e fechou a porta. Cara pôs a língua para fora brevemente... não que o gesto infantil a fizesse se sentir melhor. Vicenzo tentou se concentrar no jornal, mas a imagem de Cara contra a janela naquela camiseta gigante, com os cabelos desalinhados sobre um ombro, estava gravada PROJETO REVISORAS

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em sua retina, fazendo-o lembrar-se das pernas longas e delgadas o envolvendo, enquanto ele se enterrava no corpo deleitoso. O desejo feroz que o dominara naquela noite, apesar de saber quem era Cara Brosnan, era algo pelo que Vicenzo ainda não se perdoava. Um som veio da porta, e ele olhou para cima. Cara estava com as mesmas roupas do dia anterior. E o fato que ela hesitava ali, com os cabelos puxados para trás, o irritou. Ele se levantou. ― Sente-se e sirva-se... e pare de representar, Cara. Você está aqui agora, e eu fui honesto sobre o que você pode esperar, portanto, nada irá mudar. Cara sentia-se intimidada pelo visual dele contra o pano de fundo romano. Vicenzo parecia ter saído de uma revista de magnatas modernos. Embora parecesse mais um pirata do que um modelo. Ele voltou a se sentar e Cara entrou na sala cautelosamente. Enquanto se servia de café e pão doce, forçou-se a se lembrar de que ele era um autocrata vingativo. ― Eu precisarei de sua certidão de nascimento e seu passaporte. Cara o fitou. As paredes estavam se fechando ao seu redor. ― Eu precisarei deles de volta. Vincenzo sorriu. ― Não se preocupe, eu não pretendo manter seu passaporte como algum soberano medieval. Uma vez que vir onde ficaremos em Sardenha, saberá que uma fuga será muito difícil. Sem mencionar que, se você tentar fugir, a dívida de Cormac volta para seu nome em 24 horas, com as autoridades relevantes notificadas. Todavia, eu manterei o passaporte por causa do seguro, enquanto estivermos em Roma. Furiosa, Cara bateu a xícara sobre o pires. ― Por mais que eu adorasse sair daqui e nunca mais vê-lo, a idéia de ficar e me tornar um estorvo na sua vida também tem seus atrativos. Vicenzo inclinou-se para frente e disse com um sorriso frio: ― Não me teste, Cara, e não tente brincar com fogo. Você não vencerá. Mais tarde naquele dia, Cara teve de admitir que Vicenzo Valentíní era a pessoa mais fria que ela já conhecera. O homem da boate naquela noite era muito diferente do estranho que agora esperava no saguão principal da boutique em que ele a levara. A vendedora gesticulou para as roupas empilhadas ao redor delas. ― Tem certeza de que não quer ver mais nada, senhora? Cara meneou a cabeça. A moça olhou-a, nervosamente. ― E tem certeza de que não quer... refinar um pouco seu gosto? Cara meneou a cabeça. Sabia que o que estava fazendo era um pouco infantil, mas era irresistível saber que a extrema concentração de Vicenzo em tudo, exceto nas roupas que estava comprando para ela, teria suas conseqüências. ― Tenho certeza ― respondeu ela com firmeza. A vendedora insistiu: ― Mas, mesmo o vestido que você escolheu para usar no cartório... ― Está ótimo. Meu noivo e eu estamos de luto... de modo que não seria apropriado usar branco. A jovem vendedora ruborizou. ― Sinto muito, eu não tinha idéia... Quero dizer, eu sabia sobre a irmã do signore Valentiní, mas... ― Ela parou. A compaixão genuína da garota fez Cara sentir uma onda de emoção. O que estava fazendo? Vicenzo lhe dissera para não brincar com fogo, e lá estava ela, saltando sobre o fogo. Mas, antes que pudesse falar qualquer coisa, a garota estava empacotando as roupas e liberando-a para se vestir novamente. Eles haviam sido seguidos por paparazzi o dia inteiro. Vincenzo a levara para diversas lojas, e, uma vez do lado de dentro, parava de fingir ser o noivo atencioso, ignorando-a até que eles saíssem da loja novamente. PROJETO REVISORAS

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Era isso que tinha incentivado a pequena rebelião de Cara... a qual agora parecia tola e vazia. Ela tirou aquilo da cabeça, e disse a si mesma que ele nem notaria. Quando eles saíram dessa última loja, uma banca de jornal próxima chamou sua atenção. E uma foto com uma manchete. Os paparazzi tinham desaparecido, provavelmente satisfeitos com a quantidade de fotos tiradas daquela viagem às compras. Mas agora Cara pegou-se querendo inspecionar o jornal. Vicenzo estava atrás dela, e ergueu um jornal da prateleira. Sorriu sardonicamente ao ver uma foto dos dois saindo do apartamento naquela manhã. Cara ficou impressionada com a rapidez que aquilo fora publicado. ― O que diz a matéria? ― perguntou ela. ― A manchete diz: "Uma nação perderá seu solteiro mais elegível quando Valentini se casar, em alguns dias". Cara deu um suspiro resignado. Não poderia escapar daquela situação até que tivesse o bebê dele. Mas, curiosamente, esse pensamento não despertou o medo que esperara. Sabia que, como a mãe do bebê, ela teria seus direitos, não importava quão rico e poderoso Vicenzo fosse. A certeza dele de que poderia comprá-la parecia ter nascido de uma crença que ele tinha sobre as mulheres em geral. Essa revelação e sua curiosidade relutante sobre por que Vicenzo acreditaria nisso manteve Cara quieta durante o trajeto de volta à cobertura. Diversas manhãs depois, Cara levantou-se e descobriu que Vicenzo tinha saído, como fazia todas as manhãs, deixando um bilhete para dizer que um guarda-costas estaria esperando no andar de baixo, se ela quisesse visitar pontos turísticos. Cara não se enganara pensando que Vicenzo estava preocupado com sua segurança, mas aproveitara a oportunidade para conhecer a cidade, encantando-se com sua beleza antiga. Ela entrou na sala de jantar e foi admirar a vista, sentindo-se muito solitária. O mais assustador era que sentia falta... de uma conexão entre ela e Vicenzo. A conexão que acreditara existir na noite em que ele a seduzira. Cara censurou-se. Não existira nenhum nível de conexão entre eles, exceto um plano de vingança. Enzo estava morto. Nunca tinha existido. Ele tinha sido Vicenzo o tempo todo e, quanto antes ela entendesse isso, melhor. O telefone tocou, causando-lhe um sobressalto. Cara achou o aparelho e atendeu. Era Vicenzo. ― Nós fomos convidados para um jantar esta noite ― disse ele, e Cara ignorou o modo como a voz profunda a fez se sentir ainda mais solitária. ― Oh, verdade? ― murmurou ela, sarcasticamente. ― Esteja pronta para sair às 7h. Será bom sermos vistos juntos na véspera de nosso casamento. Cara abriu a boca para falar, mas só conseguiu arfar ao perceber que ele já desligara. Ela bateu o telefone contra a mesa e deu boas-vindas à ação dele... porque aquele era um lembrete humilhante do fato de que nenhuma conexão existira entre eles. CAPÍTULO SETE Naquela noite, Cara emergiu do quarto e foi para a sala de estar principal. Ouvira Vicenzo chegar, e eram 7h... o horário que ele lhe pedira que estivesse pronta. Nervosa, ela respirou fundo e entrou na sala para encontrá-lo servindo-se de um drinque. A noite estava caindo sobre Roma do lado de fora, com luzes se acendendo, tornando o cenário PROJETO REVISORAS

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altamente sedutor. Ele virou-se para olhá-la, e Cara tremeu, sentindo-se quase despida. Vicenzo apertou o copo em ação reflexa. O vestido dela era sem mangas, preto e justo, com um dos ombros desnudos. Batia abaixo dos joelhos e tinha um bolso no quadril, acentuando cada curva. As sandálias prateadas de salto revelavam pés pequenos e delicados. Os cabelos estavam presos num coque solto, e argolas de prata roçavam-lhe o pescoço. Não havia excesso de maquiagem ou jóias, apenas aqueles cílios incrivelmente longos e o cheiro pessoal que lhe provocava os sentidos. A boca rosada zombava de Vicenzo, fazendo-o se arrepender de não tê-la beijado antes. Subitamente, queria muito beijá-la, marcá-la. ― Eu não tinha certeza do tipo de traje... ― Está bom ― ele a interrompeu, a voz rouca de Cara afetando-o fisicamente. Vicenzo bebeu seu drinque num gole só, então a pegou pelo braço e conduziu-a para fora, antes que fizesse alguma tolice, como beijá-la. Cara estava sentada no banco de trás do carro de Vicenzo. Ainda não descobrira se o desagradara pela escolha do vestido. Ele estava de temo preto, camisa preta e gravata azul, parecendo perigoso e maravilhoso ao mesmo tempo. Olhava para frente, oferecendo-lhe apenas o perfil forte. Eles chegaram a uma casa palaciana, com luzes de conto de fadas brilhando em árvores e ao longo do muro que cercava a propriedade. O carro seguia outros num ritmo lento. Vicenzo inclinou-se para frente e disse: — Dario, pare o veículo. Iremos andando daqui. O chofer obedeceu-lhe, e Vicenzo desceu, rodeando o carro para ajudar Cara. Ao lhe dar a mão, ela lembrou-se do momento em Londres quando supersticiosamente acreditara que aquela noite inteira era obra do destino. Depois de um jantar suntuoso, durante o qual Cara tentou não se sentir muito deslocada nas redondezas luxuosas, ela agora estava de pé ao lado de Vicenzo, enquanto ele conversava com alguns outros homens. Ela não perdera os olhares especulativos deles, ou os das mulheres ao redor da mesa de jantar. Alguns tinham sido desdenhosos, lembrando-lhe das outras mulheres de Vicenzo. Num momento de fraqueza, ela o pesquisara na Internet, e sentira-se nauseada pela quantidade de mulheres que entravam e saíam de sua vida. Seu estômago se contorceu. Ele tinha uma namorada atual? Estava saindo com alguém naquelas últimas noites em Roma? Por isso chegava em casa tão tarde? Cara detestava admitir, mas não conseguia dormir enquanto não o ouvia entrar no apartamento. E por que o pensamento de uma namorada a feria tanto? Cara deu um gole de sua água, e então engasgou. A mão de Vincenzo estava em suas costas imediatamente. Ele vinha agindo como o noivo perfeito durante a noite inteira... com pequenos toques aqui e ali, deixando seus nervos à flor da pele. Ela praticamente empurrou-lhe a mão. ― Eu vou ao toalete ― disse, entregando-lhe o copo e saindo. Um pouco depois, Vicenzo tentava se concentrar na conversa, mas não conseguia. Onde estava Cara? Uma onda de pânico o envolveu. Eles iam se casar no dia seguinte, e ele experimentava uma estranha ansiedade. Disse a si mesmo que era impaciência para levá-la a Sardenha, quando teria Cara exatamente onde a queria: sob seu total controle. Então ele a avistou. Ela estava num canto da sala, conversando com um homem alto, de boa aparência. Vicenzo o reconheceu. Ele era famoso por ter lindas amantes enquanto a esposa brincava com rapazes mais novos. Uma fúria cega o fez atravessar o espaço rapidamente. Cara estava assentindo em resposta a algo que Stefano Corzo dizia, um braço ao redor da barriga e um copo de água na outra mão. A aparência tão comportada dela o enfureceu ainda mais. PROJETO REVISORAS

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A pele de Cara se arrepiou, informando-a que Vicenzo estava perto. Ela teve de disfarçar um tremor quando o sentiu deslizar um braço ao redor de sua cintura. Ele cumprimentou o outro homem educadamente, mas Cara sentiu a tensão na voz profunda, e maravilhou-se ao perceber como já o conhecia bem. ― Hora de irmos embora ― disse Vicenzo. ― Amanhã será um grande dia. O casamento. Ela sentiu um friozinho na barriga enquanto o acompanhava, e eles se despediam dos anfitriões. Uma vez dentro do carro, a atmosfera estava carregada de tensão, mas Cara tentou ignorar o fato de que se sentia muito consciente de Vicenzo. ― Então, sobre o que você e Stefano estavam conversando? ― perguntou ele. Cara o olhou brevemente, antes de virar o rosto outra vez. ― Estávamos falando sobre a crise econômica na Irlanda, e seus efeitos na Europa. ― Stefano a parara quando ela estava saindo do toalete, mas Vicenzo sem dúvida pensava que ela estivera tentando seduzir o outro homem. Vicenzo a fitou, os olhos brilhando. Ela estivera falando sobre economia? O pensamento fez alguma coisa mover em seu peito, e ele desviou o olhar, antes que pudesse revelar quão ambíguo aquela declaração o fazia sentir-se. Quando eles chegaram ao apartamento, Cara virou-se a fim de ir para seu quarto, mas ele parecia estar bloqueando o corredor com sua enorme presença dominadora. Ela deu um passo atrás, querendo que ele se movesse. ― Eu vou dormir... Por que ela estava subitamente ofegante? Uma onda de eletricidade pareceu passar entre os dois, e, do nada, veio a consciência de algo tão erótico que Cara sentiu que devia fugir... depressa. Entretanto, não conseguia se mover, presa pelo olhar inescrutável de Vicenzo. Ele estendeu o braço e ergueu-lhe o queixo, olhando para sua boca. O coração de Cara bombeou freneticamente no peito. Ele não ia... Vicenzo abaixou a cabeça, e Cara percebeu que ele ia realmente beijá-la. Mas, antes que os lábios dele tocassem os seus, ela teve uma reação visceral. Não podia arriscar aquela rejeição novamente... que ele pudesse virar o rosto para não beijá-la na boca. Não quando queria tanto ser beijada. Desespero a inundou. Nada mudara. Ela pôs as mãos no peito largo para empurrá-lo, e virou a cabeça, de modo que a boca de Vicenzo tocasse seu rosto. Mesmo isso destruiu seu equilíbrio. Ele rodeou-lhe a cintura, puxando-a para mais perto, e Cara arfou, calor a inundando. Olhou-o e notou que o maxilar de Vicenzo estava tenso. Teve ciência da ereção masculina contra seu corpo e da umidade de desejo em resposta entre suas pernas. ― Não ― disse ela com firmeza. ― Não permitirei que faça isso. Eu não quero você. Mesmo enquanto falava, Cara sabia que estava mentindo. Queria-o mais do que qualquer coisa. O olhar de Vicenzo moveu-se para seu pescoço, depois para seu ombro. A pele de Cara formigava onde aqueles olhos descansavam. Então, ela o sentiu deslizar a alça de seu vestido pelo seu ombro e ao longo do braço. Cara tentou usar as mãos para detê-lo, mas elas estavam presas contra o peito sólido. Ele abaixou a cabeça e traçou beijos pelo seu ombro, descendo ainda mais a alça, puxando o vestido para baixo e começando a desnudar-lhe um dos seios. ― Vicenzo, por favor... não. — Vicenzo, por favor... sim. — A voz dele soava gutural. — Não minta para si mesma, Cara. Pode mentir para mim, mas não para si mesma. Você quer isso tanto quanto eu. Ela balançou a cabeça para negar, apesar de saber que estava mentindo para si PROJETO REVISORAS

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mesma. Arfou quando seu seio foi desnudado completamente, o modelo eliminando a necessidade de um sutiã. Vicenzo segurou-lhe as mãos em uma das suas, olhando-a como se a desafiando a detê-lo. Cara não conseguia se mover, pensar ou falar. Com um brilho triunfante nos olhos, ele baixou a cabeça, fechando a boca em um dos bicos, já rijo e suplicando pelo toque dele, por sua língua. Cara percebeu que a parede a estava apoiando quando tombou contra a mesma, fechando os olhos e ofegando. Ao registrar a óbvia excitação dela, o desejo de Vicenzo aumentou. Ele sabia que não estava longe de acabar de despi-la e possuí-la ali, de pé contra a parede. Com um esforço supremo, parou e afastou-se, rapidamente ajeitando o vestido para esconder a visão daquele seio deleitável. Olhos brilhantes o fitaram de maneira acusadora, e ele finalmente a soltou e deixou-a se afastar da parede. As pernas de Cara tremiam, e a pulsação sob a pele clara do pescoço lhe Informou sobre o desejo dela por ele. Vicenzo estendeu a mão e puxou-lhe a alça do vestido que caíra. Ela se encolheu, causando-lhe raiva. ― Amanhã nós estaremos casados, e esse será um casamento apropriado. Na cama ou fora dela. Haverá alguma recompensa para mim nesse casamento, Cara. Eu não vejo a necessidade de procurar amantes quando ambos sabemos como nossa química é poderosa... pelo menos, até que nosso desejo se esgote; o que, sem dúvida, acontecerá. Cara lutou para reencontrar o equilíbrio. Não podia acreditar no que deixara acontecer, na sua falta de controle. ― Vá para o inferno, Vicenzo. Eu não o deixarei chegar perto da minha cama. ― Bravas palavras, Cara ― murmurou ele sedosamente. ― Acho que acabamos de provar como elas são vazias. E ele virou-se e saiu, deixando-a ali, com o corpo doendo pelo desejo insatisfeito. Na noite seguinte, Cara estava na cozinha do apartamento, fazendo jantar. Sentiase entorpecida. Estava casada com Vicenzo Valentini. A aliança de platina brilhou no seu dedo quando ela pegou uma panela. Para alguma coisa tão errada, aquela aliança simples parecia tão certa. Combinava com sua mão alva e delgada. Abruptamente, ela e removeu e colocou-a sobre o balcão de mármore. Ocupou-se com o processo de cozinhar e tentou, sem sucesso, bloquear os eventos do dia. Quando saíra de seu quarto naquela manhã, num vestido cinza simples, Vicenzo a levara de volta para o quarto e abrira os armários. Ao não encontrar nada além de roupas pretas, cinzas e azul-marinho, explodira: ― Do que você pensa que está brincando? ― Caso tenha esquecido, estamos ambos de luto ― replicara ela. ― Eu certamente não vou bancar a moça ingênua e tornar esse casamento uma farsa maior do que já é. Ele a fitara com expressão desconfiada por um longo momento, antes de sair do seu quarto com a instrução de que eles partiriam em cinco minutos. Somente dois colegas de Vicenzo tinham ido à cerimônia no cartório... um evento frio e sem emoção. Quando eles saíram e se depararam com os paparazzi, ele seguraralhe a mão, informando à imprensa que estava tão impaciente para se casar com sua noiva que abrira mão de qualquer celebração em Roma. A festa aconteceria em Sardenha, na propriedade de sua família. E depois Vicenzo a levara de volta para o apartamento, dizendo que precisava cuidar de negócios no escritório pelo resto do dia, a fim de deixar tudo pronto antes que eles partissem para Sardenha. Ela assinara o acordo pré-nupcial, tendo lido que ele não lhe daria nada, caso ela PROJETO REVISORAS

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insistisse em ficar depois que o bebê nascesse, e uma pequena fortuna se ela partisse. Cara não tivera problema em assinar aquilo, uma vez que não queria o dinheiro dele e não tinha intenção de abandonar seu bebê. Perdida em pensamentos na cozinha agora, não notou Vicenzo parado à porta, observando-a. Ela abriu a geladeira e pegou um vidro de tempero quando ouviu uma voz profunda: ― Que gracinha... fazendo jantar para nós, como uma boa esposa. Cara virou-se, o coração disparado, e derrubou o vidro de tempero no piso imaculado. Num instante, Vicenzo estava lá, abaixando-se e recolhendo os cacos maiores, mas o tempero estava espalhado por todo lado. Ela moveu-se para ajudar, mas gemeu de dor quando um pedaço de vidro cortou seu pé descalço. Vicenzo segurou-a quando ela estava prestes a perder o equilíbrio, e então Cara estava sendo erguida do solo e colocada sobre a ilha no meio da cozinha. Ele abaixou-se para inspecionar o pé dela, o qual estava doendo muito. ― Desculpe ― murmurou ela. ― Você me deu um susto. Vicenzo ergueu-lhe o pé nas mãos grandes, e olhou-a brevemente. ― Você não devia ter se movido. Emoção a envolveu pela maneira gentil que ele segurava seu pé. Era quase como se aquele toque estivesse derretendo o gelo que ela pusera ao redor de seu coração para suportar os eventos do dia. Seus olhos lacrimejavam quando ela falou: ― Desculpe. Foi um acidente. Vicenzo endireitou o corpo, ainda segurando-lhe o pé, e olhou para a cabeça baixa de Cara, os cabelos cor de cobre brilhando sob as luzes da cozinha. Era emoção verdadeira que ouvira na voz dela? Ele supusera que ela deveria estar zangada porque assinara o acordo pré-nupcial naquela manhã. No entanto, Cara não demonstrara a menor frustração. E, na noite anterior, Vicenzo quase esperara que ela tentasse seduzi-lo... apenas para tentar garantir mais dinheiro para si mesma... todavia, ela não fizera isso. Ele a atacara. Concentrou-se em tirar o caco de vidro do pé delicado, ouvindo-a gemer baixinho, antes de ir buscar material para limpar o ferimento e fazer um curativo. No momento que acabou o curativo, percebeu que os ombros de Cara estavam tremendo, a cabeça ainda baixa. Ele ergueu-lhe o rosto. Os olhos dela estavam fechados, mas ele viu uma lágrima escorrendo-lhe pela face. Alguma coisa se moveu em seu interior, e Vicenzo instintivamente secou-a com um polegar. ― O caco de vidro saiu agora. Ela apenas assentiu, o queixo tenso contra a mão dele. E, quando Vicenzo estudou aquele rosto bonito, seu sangue esquentou. Não pôde resistir fazer o que deixara de fazer naquela noite em Londres, o que ela o impedira de fazer mais cedo... ele beijou-a. Choque desarmou qualquer defesa que Cara pudesse ter criado se soubesse o que Vicenzo ia fazer. Era tarde demais. Duas mãos grandes seguravam sua cabeça, os dedos entrelaçando em seus cabelos, soltando-os, de modo que cascateassem sobre suas costas. Ela sabia que deveria lutar, mas mal conseguia respirar, quando sentiu aquela boca deliciosa cobrir a sua e demandar entrada. A dor ainda era aguda, a rejeição dele ainda vivida. E Cara não podia acreditar que o deixara vê-la chorando. Sentia-se confusa; estava lá com seu inimigo mortal, alguém que a magoara muito, entretanto, tudo que queria era entregar-se ao abraço, aos beijos dele. Era como da primeira vez... o desejo intenso apagando as razões pelas quais não deveria querer aquilo. Cara entreabriu os lábios, começando a ceder, incapaz de continuar lutando contra algo que queria com desespero. Vicenzo segurou-lhe a cabeça com mais força e acomodou o corpo poderoso entre suas pernas. Aquilo a deixou em chamas. E então, PROJETO REVISORAS

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com incrível habilidade e erotismo, ele a beijou até que ela não pudesse resistir mais. Ela abriu a boca totalmente, aceitando a invasão da língua de Vicenzo, permitindo-lhe provála exatamente como eIa ansiara que ele fizesse naquela noite em Londres. Cara colocou as mãos sobre os ombros largos e correspondeu aos beijos. Quando ele se afastou e murmurou com voz rouca: "Envolva suas pernas ao meu redor", ela fez isso automaticamente. Vicenzo pôs uma mão sobre o traseiro dela e levou-a para fora da cozinha. Cara queria que ele a beijasse novamente, e não parasse mais. Queria que ele a fizesse esquecer, como antes. Pressionou beijos no pescoço dele, no queixo, em todos os lugares que conseguiu alcançar, cada vez mais excitada. Quando Vicenzo a deitou sobre a cama no quarto dele, Cara já não era mais capaz de pensar através das ramificações do que estava acontecendo. Talvez, se ele lhe permitisse um momento para que a realidade fosse absorvida... mas despiu-se com impaciência, e qualquer chance do retorno da sanidade desapareceu quando Vicenzo estendeu-se ao seu lado na cama, gloriosamente nu, a pele dourada brilhando na luz parca. Ele removeu-lhe a camiseta, jogando-a longe. O sutiã seguiu o mesmo caminho. Seus seios estavam rijos e sensíveis, os bicos formigando de maneira quase dolorosa, e, quando Vicenzo deslizou uma mão sobre um deles, Cara arqueou as costas, fechando os olhos e mordendo o lábio. Ele removeu-lhe a saia então e, por um longo momento intenso, fitou-lhe os olhos. Finalmente, baixou a cabeça, bloqueando a luz, e tomou-lhe a boca num beijo ardente e apaixonado. Vicenzo a puxou para si e, com uma mão trilhando suas costas, deixando um rastro de fogo no caminho, segurou-lhe as nádegas, antes de puxar a calcinha e deslizá-la por suas pernas. A tensão familiar estava se construindo, aquela umidade entre as pernas... Cara ergueu uma perna sobre a dele, instintivamente abrindo-se de um jeito que fez Vicenzo emitir um gemido profundo. Ela desceu uma das mãos para tocar e sentir a ereção masculina, que era como veludo sobre aço. Ele enrijeceu e parou de beijá-la. Eles se entreolharam por um momento. Então Vicenzo puxou-lhe a perna ainda mais para cima em seu quadril, antes de remover-lhe a mão da carícia inocente. Ele encontrou o centro do desejo de Cara, os dedos provocando-a, fazendo-a apertar os ombros largos enquanto ofegava. Mas ele tirou a mão e, antes que Cara pudesse protestar, sentiu o membro poderoso roçando seu centro, uma mão em seu traseiro ancorando-a mais firmemente contra ele. Ela arfou ao sentir aquela intrusão novamente, familiar e estranha ao mesmo tempo. Ela era tão inexperiente. Vicenzo reconhecia isso agora, e não podia acreditar que não reconhecera na primeira vez. Os seios perfeitos se moviam contra seu peito com a respiração ofegante de Cara. Quando ele investiu mais fundo, sentiu-a acomodá-lo com uma série de movimentos convulsivos e pequenas torções dos quadris. Era aquilo que o enfeitiçara antes, levando-o a acreditar que ela fosse mais experiente; contudo, agora sabia que tais movimentos eram puramente instintivos. Vicenzo baixou a cabeça e beijou-a antes de enterrar-se totalmente em seu interior. Cara circulou-lhe o pescoço com os braços e, quando ele começou os movimentos, o mundo foi reduzido ao quarto em que estavam, àquela mulher e à explosão que se aproximava cada vez mais. Eles chegaram ao topo juntos, e então, com um grito de deleite, Cara caiu numa onda de prazer tão consumidora que, se não tivesse se agarrado a Vicenzo, temia ter sido levada a outra dimensão para sempre. Quando cara finalmente voltou a Terra, e à realidade do que acabara de acontecer, desvencilhou-se do abraço de Vicenzo. Ele não acordou. Apressada, ela vestiu-se, mas, PROJETO REVISORAS

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quando se virou à porta para olhá-lo, encontrou-se gravitando para uma cadeira num canto escuro. Sentou-se lá, observando-o, como se isso pudesse ajudá-la a dar sentido ao ocorrido. Como aquilo tinha acontecido? Seria porque ele a beijara? Vicenzo quebrara suas defesas tão completamente com uma ação tão simples? Uma sensação de autodesgosto a preencheu. Sua patética tentativa de não permitir que ele a beijasse tinha durado aproximadamente dez segundos. Cara tentou justificar suas ações. Ele a pegara num momento de fragilidade, de modo que ela não tivera tempo de erguer suas defesas para resisti-lo. Mas sabia que estava mentindo para si mesma. Declarara que nunca dormiria com ele, entretanto, dera-lhe aquela noite de núpcias, consumando o casamento, praticamente embrulhada para presente. Nem mesmo lutara contra. A memória do beijo incendiário retornou. Certamente um beijo não podia representar tanto, podia? Ao lembrar como tinha sido maravilhoso beijá-lo, Cara foi tomada por uma onda de pânico. Levantou-se e saiu do quarto silenciosamente. Foi para a cozinha e limpou a sujeira do chão. Culpa a preenchia. Estivera procurando por aquela conexão elusiva novamente? A conexão que nunca existira? Uma tosse veio da porta e ela olhou para cima, ficando tensa. Vicenzo estava, parado ali, com nada além de uma calça, o primeiro botão aberto, os braços cruzados sobre o peito formidável. Cara ruborizou e, para seu desgosto, sua barriga tremeu com desejo renovado. Ele arqueou uma sobrancelha. ― Nós não queremos uma repetição do que aconteceu, queremos? ― Não ― respondeu ela, evitando-lhe o olhar enquanto limpava o chão. ― Certamente não queremos. Vicenzo estava ao seu lado num instante e colocou-a de pé com uma mão no seu braço. ― Eu estava falando sobre o vidro caindo, não sobre o que aconteceu depois. Ela o encarou com toda força que foi capaz de reunir. ― E você sabe muito bem sobre o que eu estou falando. Ele gesticulou a cabeça na direção de onde eles tinham feito amor, ainda irritado por não tê-la encontrado em sua cama. ― Esse foi um exercício que provou quão facilmente você cairá na minha cama. Então, sim, Cara... com esse tipo de química, haverá muitas repetições do que ocorreu há pouco, até que este desejo se esgote, é claro. O fato de que ele tinha armado aquilo tão friamente provava com que facilidade ele a lancetaria com uma faca. Cara tentou desvencilhar o braço, mas Vicenzo o apertou mais ao avistar alguma coisa atrás dela e estender-se para pegar. Era a aliança de Cara. Ele pegou-lhe a mão e colocou a anel em seu dedo. Inclinou-lhe o queixo, mas ela evitou fitá-lo. ― Eu não quero ver esta aliança fora de seu dedo novamente, Cara. ― Sim, senhor ― zombou ela. Vicenzo puxou-lhe a mão para mais perto. ― Para seu próprio bem, Cara, faça o que eu digo. Isso tornará nossa convivência mais fácil. E, quando eu estiver pronto para deixá-la, quando você der à luz o meu herdeiro, então poderá tirar esta aliança e jogar no mar, se quiser. ― Isso não acontecerá. Porque eu não vou abandonar meu bebê ― declarou ela tremendo, finalmente encarando os olhos frios de Vicenzo. Ele arqueou uma sobrancelha incrédula. ― Não? Eu sei, por experiência própria, como é fácil para uma mulher abandonar sua família, então não acredito na ilusão do elo maternal. Você irá embora com o PROJETO REVISORAS

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incentivo certo em seu bolso. Aquelas palavras brutais a chocaram, pois confirmavam a total falta de confiança de Vicenzo nas pessoas. E sobre quem ele falava? Sobre a mãe? Não importava; ela não queria sentir nada em relação a ele. ― Acredite no que quiser, Vicenzo. Você verá quando a hora chegar. Ela recolheu a mão e foi para a porta, jogando o pano de prato que ainda segurava dentro da pia quando passou. Virou-se para falar: ― Eu vou para cama. Sozinha. ― Você sabe onde me encontrar se acordar ardendo de desejo no meio da noite, Cara. Com um grito estrangulado que não podia mais conter, por reconhecer sua própria fraqueza, ela virou-se e correu para seu quarto, qualquer apetite por jantar tempo desaparecido há muito tempo. Vicenzo apoiou as mãos sobre o balcão, onde pouco tempo aliás estivera extraindo um caco de vidro do pé de Cara. Onde eles tinham entrado em chamas por causa de um beijo. Praguejou por ter permitido que ela o incitasse a dizer o que ele lhe dissera. Tinha deixado transparecer muita coisa. Mas, confortou-se, Cara não teria ilusões agora sobre o futuro que ele contemplava. Vicenzo olhou para cima, porém não viu nada. Sua provocação sobre ela acordar ardendo de desejo durante a noite era risível... porque ele já estava ardendo de desejo de tê-la sob si. CAPÍTULO OITO Cara tinha observado a sombra do pequeno avião dançando sobre o mar Mediterrâneo abaixo, antes que eles aterrissassem na ilha de Sardenha, no aeroporto de Alghero. As palavras de Vicenzo na noite anterior, a ambivalência dele em relação ao bebê e sua própria vulnerabilidade tinham feito Cara fechar-se em si mesma num mecanismo de defesa. Ele lhe dissera que a propriedade da família ficava localizada perto das ruínas de Tharros, na costa oeste. Um jipe com motorista os esperava no aeroporto e o sol da tarde batia na cabeça de Cara. Após dirigir por aproximadamente quarenta minutos, o motorista, Tommaso, virou numa estrada estreita ladeada por árvores altas, formando uma sombra misteriosa. Eles viraram à direita, em direção à costa. Um enorme conjunto de portões de ferro apareceu e se abriu, como se por mágica, quase escondido pela densa folhagem e buganvílias coloridas. Eles emergiram num pátio completo com uma fonte, sua água cristalina jorrando numa piscina baixa. Flor de lótus flutuava na água calma. A casa apareceu então, surpreendendo Cara com sua discreta elegância. Ela não sabia ao certo o que esperara. Sua experiência com milionários restringia-se às pessoas que competiam para viver de maneira mais ostentosa possível. Eles pararam, e Cara desceu antes que Vicenzo pudesse rodear o carro para abrir sua porta. Sentia-se nervosa e queria fugir de qualquer possível contato físico com ele. Ela olhou para a casa, com janelas que iam do chão ao teto, cortinas brancas esvoaçando gentilmente com a brisa quente. Uma varanda ampla abraçava o exterior da propriedade, rodeando toda a frente e lateral da construção, e um gramado exuberante descia para onde Cara supunha estar o mar. Ela podia ouvir o barulho das ondas quebrando por perto, e uma onda de emoção a envolveu com o som. PROJETO REVISORAS

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Aquilo era uma das coisas que sentira falta em Londres. A casa de sua família em Dublin ficava ao sul da cidade, na costa, mas Cormac não perdera tempo em vendê-la, assim que seus pais haviam falecido. Cara crescera com o barulho do mar à sua porta, e fazia tanto tempo que não o ouvia que agora uma onda de nostalgia a envolveu. Vicenzo a estudou. Ela estava evitando seu olhar, mas ele sabia que Cara tinha consciência de sua presença. Ela evitara olhá-lo durante o dia inteiro, o que o irritara. Não estava acostumado com mulheres ignorando-o. A blusa cinza banal sobre o short preto que Cara usava também o irritava, demonstrando que ela estava determinada a representar aquela farsa. A atenção de ambos foi tomada por um enorme cachorro branco que veio correndo na direção deles. Cara viu o cão parar ofegante a poucos metros de distância. Agindo por instinto, agachou-se sobre um joelho, batendo na grama com sua mão. O cachorro aproximou-se, e ela acariciou-o, deleitando-se na maciez do pelo branco, um sorriso genuíno no rosto bonito. ― Quem é você? Você não é lindo? ― O nome dele é Doppo. Era o cachorro de Allegra. Ele normalmente não se aproxima de estranhos. Ela olhou para cima para ver Vicenzo com uma expressão dura no rosto. A menção de Allegra causou-lhe um aperto no peito. Ele obviamente não gostara que ela tivera uma conexão imediata com o cachorro. Talvez preferisse que Doppo lhe arrancasse um membro? Silenciosamente, Cara agradeceu ao cão por aceitá-la. Ignorando Vicenzo, voltou a alisar o pelo do cachorro, sussurrando. ― Ciao, Doppo. Acho que você e eu seremos amigos. Vicenzo observou quando Cara endireitou o corpo, e teve de reprimir uma estranha emoção. Cara Brosnan tinha atitudes muito contraditórias para seu gosto, e, quanto antes ele a colocasse num lugar onde saberia o que esperar, melhor. Segurou-lhe o braço, e ela ficou tensa, arregalando os olhos num gesto cauteloso. Vicenzo lutou contra aquela imagem vulnerável que Cara projetava tão bem. ― Você conhecerá meu pai no jantar. Eu disse a ele que nós nos conhecemos através de Allegra, em Londres. O que, de certa forma, é verdade. Também falei que foi... um caso impetuoso, e que não planejávamos que você engravidasse tão cedo. Meu pai não esperará que nos comportemos como recém-casados apaixonados; entretanto, certa quantidade de representação é requerida. Ele não sabe sobre a conexão de seu irmão com Allegra. Eu não quero aborrecê-lo de nenhuma maneira. Meu pai já sofreu bastante desde o funeral e o derrame. O peso em sua própria consciência abalou Cara... mas não pelas razões que ele acreditaria. ― Essa é a última coisa quê eu quero. Vicenzo olhou para os braços desnudos de Cara. Passou um dedo ao longo de um deles e uma onda de desejo a percorreu. Ele franziu o cenho. ― Sua pele é tão branca que quase acredito que você nunca esteve nesse tipo de sol antes. Cara nunca estivera! O que sabia que não se encaixaria na imagem que ele tinha dela... como a irmã de um milionário corrupto e hedonista. Ela afastou-se. ― Poupe-me de sua falsa preocupação. Tenho certeza de que você ficaria feliz em me ver com queimadura de segundo grau. Os olhos de Vicenzo brilharam por um momento, mas então ele gesticulou para que ela o seguisse para dentro da casa. Cara foi levada para um quarto suntuoso pela governanta sorridente que Vicenzo PROJETO REVISORAS

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lhe apresentara como esposa de Tommaso, Lúcia. Com a barreira do idioma, Cara apenas sorriu em agradecimento e gesticulou, explicando que ela mesma desfaria sua mala. O interior da casa era branco e brilhante, com muitos espaços abertos... um contraste com o exterior muito tradicional. Era também surpreendentemente aconchegante. Ela vira uma sala de estar de aparência confortável, com uma grande TV de plasma e prateleiras repletas de livros. Sempre tivera uma crença secreta que poderia se dar bem com alguém que possuísse muitos livros, pois sempre fora uma leitora voraz, mas isso provava o quanto você podia se enganar. Ela também vira uma sala de jantar com uma mesa branca e um vaso com flores vermelhas exóticas no centro. Seu quarto era branco, e, felizmente, não parecia ser o quarto de Vicenzo. Era muito feminino. As portas da varanda se abriam para um jardim lindamente gramado, com vasos de flores aqui e ali, criando um ambiente charmoso. O lugar era tão pacífico que suavizou um pouco a alma de Cara. Uma batida soou à sua porta, e ela a abriu, para ver Vicenzo parado do outro lado, maravilhoso em uma calça de algodão e camisa branca. ― Eu virei buscá-la às 8h para o jantar. ― Eu vi onde é a sala de jantar. Posso encontrar... ― Nós iremos juntos... como é esperado. Meu pai usa outra parte da mansão, mas, sem dúvida, esperará que nós compartilhemos a cama de casal. ― Ele se aproximou então, e Cara recuou automaticamente, o coração disparado. ― E, embora iremos dormir juntos, Cara, tenho certeza de que você entende que não desejo compartilhar uma cama com você por mais tempo que o necessário. Cara reprimiu a sensação de pânico que parecia sempre muito perto da superfície. — Se não se importa, você está bloqueando minha passagem. Com um sorriso zombeteiro, ele deu um passo atrás e Cara teve dificuldade em fechar a porta sem bater. Às 8h daquela noite, Cara e Vicenzo aproximaram-se da porta da sala de jantar. Cara estava tão nervosa que suor começou a brotar na sua testa. Ela passou as mãos úmidas em seu vestido, o qual era simples e preto, com decote alto e batendo nos joelhos... conservador o bastante para conhecer o pai de Vicenzo. Tinha total ciência da dor que aquele homem devia ter sentido, e se considerava culpada em nome de seu irmão. Inconsciente de seu tumulto, Vicenzo segurou-lhe o cotovelo, conduziu-a para dentro da sala e apresentou-a ao pai, um homem de pele enrugada e bronzeada pelo sol, com cabelos grisalhos e surpreendentes olhos brilhantes. Ele parecia amável. Amável, mas triste, pensou Cara. Oh, Deus. Sem dúvida, levá-la lá para se deparar com a devastação causada pelas ações de seu irmão era parte do plano de vingança de Vicenzo. Enquanto se aproximava do homem mais velho, à cabeceira da mesa, ela percebeu que ele estava numa cadeira de rodas. Parou ao lado dele e fez algo totalmente instintivo. Agachou-se sobre um joelho, de modo que eles ficassem no mesmo nível. Tomada por uma emoção espontânea, murmurou: ― Signore Valentini, lamento muito por sua perda, e eu... Ele a surpreendeu, pegando-lhe a mão e dizendo com sotaque carregado: ― Acalme-se, criança. Foi um acidente horrível. Nós perdemos nossa linda e vibrante Allegra. Com força surpreendente, o pai de Vicenzo ergueu-lhe a mão, gesticulando para que ela se levantasse, o que Cara fez. Vicenzo se colocara do outro lado da cadeira de seu pai, e agora signore Valentini pegava a mão do filho também. Ele olhou de um para o outro. Cara evitou capturar os olhos de Vicenzo, certa de que eles teriam uma expressão zombeteira, algo que não suportaria ver agora. O pai dele falou: PROJETO REVISORAS

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― Vocês dois se uniram para fazer uma coisa linda... um casamento e um bebê. Isso me dá alegria. ― Apertando as mãos de ambos, ele soltou-as, então disse com jovialidade: ― Agora, vamos comer! A governanta chegou e serviu o jantar e, enquanto Cara comia, sentiu que as palavras dele a tinham afetado mais do que gostaria de admitir. Esperara que ele fosse como o filho... frio, cínico e desconfiado. Mas não era. E, com uma pontada de dor no coração, ela teve de conceder que já gostava do homem, e detestaria que ele fosse magoado. Quando eles terminaram o café, signore Valentini disse de maneira enfática: ― Chega dessa formalidade. Você deve me chamar de Silvio. ― Ele subitamente pareceu cansado. ― E deve me desculpar. Desde meu derrame, eu me canso facilmente. Cara começou a se levantar, mas ele gesticulou para que ela ficasse sentada. Vicenzo ajudou com a cadeira do pai, e um enfermeiro apareceu para levar Silvio. Depois que eles se retiraram, Vicenzo voltou a se sentar à mesa e murmurou: ― Bem, você causou uma excelente impressão. É incrível vê-la em ação. Mas então, eu vivi isso na própria pele, não é? Cara enfureceu-se. ― Diferentemente de você, seu pai é um cavalheiro. É fácil gostar dele. Vicenzo inclinou-se para frente. ― Você viu como ele é. Apesar das experiências, meu pai é um romântico sentimental... mas eu sempre deixei claro que não esperasse isso de mim. Allegra ia preencher esse papel na nossa família... casar-se e ter bebês. Se seu irmão tivesse conseguido o que queria, ela teria voltado para cá com sonhos destruídos e um casamento rompido, roubada de sua herança. Se você tentar se aproveitar do coração mole dele, eu a derrubarei. ― Você me derrubará onde? ― exclamou Cara, quase gritando. ― Se eu já estou na sarjeta? Ele gesticulou ao redor deles. ― Vivendo neste luxo? Eu acho que não. Sua gravidez é a única razão pela qual você está aqui, apreciando isso. Mesmo sabendo que era inútil, e que estava se abrindo para mais dor, Cara não pôde evitar se defender. ― Eu lhe disse antes... eu não participava da vida de Cormac. ― Você mesma confessou que sabia quais eram os plano de Cormac em relação à Allegra. Espera que eu acredite que não a usava para agir como confidente de Allegra? Para lhe amenizar as dúvidas e medos? Encorajá-la a confiar nele? Cara meneou a cabeça e inconscientemente colocou uma mão sobre a barriga, tentando aliviar uma súbita pontada de dor naquela região. Disse a si mesma que se devia ao tumulto que aquele homem estava criando. ― Juro, eu mal conhecia sua irmã. ― Uma vivida memória voltou. Nas primeiras vezes que Cara encontrara Allegra, Cormac tinha fingido que ela era uma empregada que dormia no serviço. Aquilo era algo que o divertira. Vicenzo bufou com incredulidade. ― Meus relatórios mostram que ela passou tempo no apartamento de Cormac. Allegra ia àquele clube quase todas as noites... a mesma boate que você disse ser seu segundo lar. Então, por favor, não finja que não a conhecia intimamente. Nem sequer pode admitir isso? Raiva percorria Vicenzo em ondas, e de repente Cara se sentiu cansada e nada bem. Um suor frio tomava conta de todo o seu corpo. Aquela conversa estava lhe provando que era impossível conversar com Vicenzo. Ela se levantou e jogou o guardanapo sobre a mesa. ― Não posso lhe dizer o quanto lamento sobre sua irmã. Ao contrário do que você parece pensar, sua preciosa investigação mostrou-lhe apenas os aspectos mais PROJETO REVISORAS

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superficiais de minha vida. Não posso falar por Cormac e Allegra, porque, infelizmente, pelo que sei, tudo que você viu era real. Mas a vida social deles não me incluía. Minha realidade era muito diferente da deles. ― Ela estava tremendo por dentro. ― Agora, se me der licença, vou dormir. Foi um longo dia. Cara virou-se e começou a andar. Ouviu-o se levantar e segui-la, mas naquele momento Tommaso apareceu à porta e disse alguma coisa em italiano para Vicenzo. Ela aproveitou a distração e apressou-se para seu quarto, onde se trancou. Depois de um rápido banho, aconchegou-se sob as cobertas, e antes de adormecer prometeu a si mesma que faria todo o possível para mostrar a Vicenzo o quanto ele estava errado ao seu respeito. Sabia que não seria capaz de agüentar toda a gravidez com a desconfiança e condenação dele... sem mencionar se Vicenzo a levasse para cama novamente, onde todas as suas defesas desmoronavam... Cara estava tendo um pesadelo. Sabia que estava sonhando, mas não conseguia acordar. Finalmente, como se escalando através de camadas de cobertas sufocantes, libertou-se e despertou, sentando-se na cama com uma dor aguda no abdômen e suor escorrendo-lhe pelas costas. Estava gritando com a intensidade da dor, não conseguindo conter-se. Houve uma batida à porta. ― Cara? O que está acontecendo? ― perguntou Vicenzo. Cara tentou falar, mas uma pontada de dor roubou-lhe as palavras. Um gemido escapou de sua boca, enquanto ela ouvia a maçaneta da porta chacoalhando. Tentou novamente: ― Eu não consigo... Não sei o que... oh, Outra pontada a fez se dobrar na cama, e foi quando ela sentiu que estava molhado entre suas pernas. Levantou as cobertas e olhou para baixo. Mesmo no escuro, pôde ver a mancha escura de sangue. O bebê. ― Cara, abra a porta. Por que diabos você se trancou aí? Cara tentou pôr as pernas para fora da cama, sabendo que era muito importante que chegasse à porta e a abrisse. Mas, quando se levantou, todo o sangue pareceu esvair-se de sua cabeça. O quarto girou, transformando-se numa escuridão bem-vinda, em que não havia dor nem Vicenzo gritando com ela. ― Sei que não é muito consolo, mas isso é bastante comum, especialmente nos primeiros meses de gravidez, como sua esposa estava. A menção do médico de "sua esposa" mexeu com alguma coisa profunda no interior de Vicenzo. Ele tentou reprimir o pânico ainda fresco em sua memória, de quando tinha arrombado a porta do quarto e visto Cara deitada no chão, parecendo sem vida. ― Tem certeza de que ela está bem? Quero dizer, não há nada errado com ela? O médico meneou a cabeça. ― Absolutamente nada. Mas, psicologicamente, levará um tempo para que ela supere isso. Nunca é fácil lidar com um aborto, por mais no começo que a gravidez esteja. Uma estranha emoção envolveu Vicenzo. ― Como...? Por que isso...? O médico sorriu gentilmente. ― Por que isso aconteceu? ― Ele deu de ombros. ― Há muitas razões possíveis, e talvez esta gravidez simplesmente não fosse para ser. E é mito que sexo pode provocar um aborto, portanto, não se culpe por isso. ― O médico sorriu, fazendo Vicenzo parecer uma fraude. ― Eu sei que vocês são recém-casados... ela devia estar passando por algum tipo de estresse extremo para provocar um resultado como este... Cara abriu os olhos e fechou-os em seguida quando a luz os atingiu dolorosamente. Ouviu um movimento ao lado da cama e tentou abri-los novamente. Não sabia bem o que estava acontecendo. PROJETO REVISORAS

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― Cara? Como você está se sentindo? A voz de Vicenzo. Ele soava quase gentil. Ela tentou falar, e sua voz saiu estridente: ― Por que você parece tão gentil de repente? ― E então escuridão envolveu-a mais uma vez. Quando Cara acordou, bem mais tarde, tudo estava mais claro. Lembrou-se de Vicenzo gritando para que ela abrisse a porta... Abriu os olhos por um instante e levou as mãos à barriga. Então Vicenzo estava ao seu lado, as mãos sobre a cama. Cara olhou para cima, tomada por uma terrível sensação de vazio. ― O que aconteceu? A expressão de Vicenzo era velada, mas não dura ou sarcástica. ― Lembra-se de ontem à noite? ― Eu me lembro de cólicas... depois me lembro de ter andado e visto... ― Ela parou, recordando-se do sangue. Olhou para Vicenzo. ― O bebê... Ele meneou a cabeça. ― Nós perdemos o bebê, Cara. Sinto muito. Nós. Ele dissera nós... quase como se tivesse desejo aquele bebê tanto quanto ela. Uma dor profunda envolveu Cara, tão aguda que ela não sabia se conseguiria suportar. Sua voz tremeu com a força da emoção: ― Saia daqui, Vicenzo. Saia. ― Cara... ― Você é a última pessoa do mundo que eu quero ver ou com quem quero falar agora, Vicenzo. Saia. Ele não se moveu por um longo momento, e Cara rezou para ele fosse. Precisava ficar sozinha. Quando ele finalmente partiu, ela virou a cabeça para a parede oposta e chorou pelo bebê que tinha sido concebido contra todas as probabilidades. Mas sabia que também estava chorando por alguma coisa muito mais perturbadora. Estava tudo acabado. Vicenzo Valentini não hesitaria em expulsá-la de sua vida agora. E Cara chorou ainda mais ao reconhecer que viver com Cormac não lhe ensinara nada sobre se valorizar... Porque, como podia se sentir tão arrasada por romper uma conexão tão tênue com um homem que a desprezava? Vicenzo andava do lado de fora do quarto de hospital de Cara, como se isso ajudasse a acalmar os sentimentos que ameaçavam implodir em seu interior. O jeito como ela a olhara há pouco o devastara, banindo qualquer dúvida que ele pudesse ter sobre se o bebê era ou não seu. Agora, quando finalmente não podia mais negar que acreditava que seria pai, era tarde demais. Uma emoção o percorreu, abalando-o com sua força, porque ele a estivera reprimindo. Era a mesma sensação de impotência e raiva que experimentara ao olhar para o corpo morto de sua irmã. Era dor. E, por um segundo, inundou-o como uma onda gigante, ameaçando destruí-lo. Ele não tinha aceitado seu próprio bebê. E, ainda mais perturbador, era a necessidade que sentia de retificar o que havia acontecido, a fim de restaurar o equilíbrio. Tal sentimento o pegou de surpresa e o abalou mais do que qualquer outra coisa, porque, pela primeira vez, teve de admitir um anseio por alguma coisa que sempre negara. As palavras do médico lhe voltaram à mente: ela devia estar passando por algum tipo de estresse extremo para provocar um resultado como este. Sua esposa. Seu bebê. Sua culpa.

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CAPÍTULO NOVE Cara estava reprimindo tudo, exceto o sentimento de perda em seu interior. O médico explicara que não havia nada que alguém pudesse ter feito. Aquele era o tipo de coisa que acontecia, e ela poderia ter uma gravidez normal e saudável assim que ela e seu marido quisessem tentar novamente. A dor aumentou com o pensamento de tal cenário e como uma parte sua secreta se sentia ambígua em relação a isso. Ela estava andando pelo quarto, arrumando sua pequena mala. Depois de alguns dias se recuperando no hospital, Vicenzo a levara para casa, pouco tempo atrás. Ele tentara lhe falar nos últimos dias, mas ela o bloqueara. Já havia passado por sofrimento demais, e não suportaria vê-lo com pena dela. Sentia-se arrasada pelo pequeno ser que perdera. Assim que tinha descoberto sobre a gravidez, fora tomada por um amor muito grande. Um amor tão forte por seu bebê que a fizera ir confrontar Vicenzo... o maior erro que já cometera. Cara sentou-se na cama por um momento. Sua gravidez a impulsionara a procurar Vicenzo. Mas, subitamente, a alternativa, não ter descoberto que estava grávida e não ter tido um motivo para procurá-lo, encheu-a de uma dor inexplicável. Naquele exato momento, Vicenzo abriu a porta e entrou. Olhou para a mala sobre a cama. ― O que você está fazendo? Cara tinha quase acabado, então se levantou e começou a fechar o zíper da mala. ― O que lhe parece, Vicenzo? Eu estou indo embora. Não há mais razão para esta farsa... ― Cara... Cara virou-se, subitamente furiosa. ― Não fale meu nome assim. Eu sei o que a palavra significa, e não sou sua querida. Ironicamente, de onde eu venho, Cara significa amiga. Mas você também não é meu amigo. Portanto, não ouse falar meu nome... nesse tom de voz. Ele deu um passo à frente, e Cara precisou de toda sua força de vontade para tentar detê-lo. Ela ergueu uma mão. ― Por favor, não. ― Ela deu um passo atrás, parando quando sentiu a cama atrás de seus joelhos. Vicenzo continuou se aproximando, uma expressão intensa no rosto. E, então, estava tão perto que ela podia sentir-lhe o cheiro, sentir o calor dele envolvendo-a, e a concha frágil que mantivera ao seu redor desde que saíra do hospital rachou-se. A emoção irrompeu num soluço estrangulado e tudo ficou nublado quando lágrimas inundaram seus olhos e escorreram por suas faces. Antes que ela pudesse desmoronar, Vicenzo estava lá, envolvendo-a nos braços como se nunca mais quisesse soltá-la. Quando os soluços de Cara começaram a diminuir, ela percebeu que eles estavam sentados na beira da cama e que a camisa de Vicenzo estava molhada. Começou a se afastar. Para seu imenso alívio, ele a liberou. Cara não podia olhá-lo, e, do nada, ele lhe passou um lenço de papel. Ela enxugou os olhos. ― Desculpe-me... ― Não. A veemência no tom de Vicenzo a fez olhá-lo. PROJETO REVISORAS

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― Você não tem de se desculpar por isso, Cara. Ele se levantou e afastou-se, o corpo poderoso irradiando uma tensão quase palpável. Cara podia sentir que tudo estava mudando ao redor deles, o que a fez se sentir ainda mais nervosa do que já se sentira com aquele homem. Vicenzo virou-se abruptamente, passando uma mão pelos cabelos. ― Sou eu que devo me desculpar. Foi inteiramente culpa minha você ter acabado no hospital. Cara meneou a cabeça. ― Não, Vicenzo. O médico disse que o que aconteceu é muito comum. Não é culpa de ninguém. Com isso, um sentimento estranho o envolveu. Não podia entender por que Cara não aproveitava aquela oportunidade para culpá-lo. Quando ela se dissolvera em seus braços, os soluços desconsolados tinham rompido alguma coisa em seu interior também, mas ele não pudera extravasar. Nem podia agora. Ter o corpo suave e flexível de Cara contra o seu lhe despertara um desejo feroz de protegê-la. Vicenzo procurou desesperadamente por equilíbrio, por alguma coisa familiar na qual se agarrar. Não estava negando o papel que ela tivera nos jogos do irmão... mas mesmo isso estava mudando. Tornando-se menos claro. Cara levantou-se e estendeu o braço para sua mala, mas Vicenzo chegou antes, uma mão a detendo. Ao primeiro toque dele, ela recuou. ― O que você está fazendo? A impaciência dele fez Cara se sentir mais segura, num terreno mais conhecido. ― Estou indo embora. Deve ser isso que você quer saber? Vicenzo a encarou e, por um momento, Cara podia jurar ter visto algo que lembrava sofrimento nos olhos dele. ― Eu não desejaria para ninguém o que você passou, Cara. ― O rosto dele estava tenso com raiva... e alguma outra coisa. Naquele momento, ela soube que Vicenzo não era tão sem coração quanto imaginara. E tal conhecimento a abalou. Afinal, ele não lhe mostrara nada além de desprezo desde que revelara sua verdadeira identidade, e Cara não gostava de admitir que talvez aquilo fosse alguma coisa que vira nele antes que a máscara caísse. Percebeu que ele poderia estar passando por seu próprio tumulto particular, por mais ambivalente que tivesse sido sobre o bebê. ― Desculpe, eu não pretendi ser rude. Só quero dizer que agora você irá querer que eu volte para casa. ― Não está se esquecendo de seu débito? Cara empalideceu dramaticamente e Vicenzo censurou-se, não sabendo o que havia com aquela mulher que o fazia falar a primeira coisa que lhe vinha à cabeça. A primeira coisa que lhe ocorrera para mantê-la lá, sob seu controle. Ele praguejou em italiano. ― Ouça, esqueça o que eu disse. Os últimos dias foram de muita tensão. Você não está bem para ir a lugar algum, Cara. Está fraca, e ainda em choque. Meu pai está preocupado com você. Então Vicenzo ainda estava querendo se vingar, pensou Cara com tristeza. Por que outra razão mencionaria o que ela ainda lhe devia? Ela forçou-se a parecer mais forte do que se sentia. ― Sim, mas eu não me importo de ir embora. Talvez seja melhor. Antes que seu pai passe a esperar mais alguma coisa de nós... ― Não, Cara. Eu não a deixarei ir embora assim. Você precisa descansar e se recuperar. Admita isso, pelo menos. Está pálida como um fantasma. Naquele momento, como se o corpo dela concordasse com Vicenzo, uma tontura a fez balançar um pouco. Num instante, ele estava lá, ajudando-a a se sentar na cama. ― Está decidido. Sem discussões, Cara... por favor, pelo menos por enquanto. Pedirei que Lúcia suba com alguma refeição, e para ajudá-la a se preparar para cama, e PROJETO REVISORAS

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depois você deve dormir. Cara tentou protestar, mas estava realmente sem forças. Mal ouviu Vicenzo sair, ou Lúcia retornar com uma massa fragrante, pão e suco. A mulher mais velha gentilmente ajudou-a a vestir uma camiseta, supervisionou-a durante a refeição, e só faltou colocá-la na cama. Cara estava dormindo quando Vicenzo entrou silenciosamente no quarto um pouco mais tarde. Ele permaneceu sentado no canto por um longo tempo, observando-a. Cara Brosnan era um enigma. Ou era a irmã manipuladora e interesseira do irmão igualmente corrupto... ou era uma pessoa para quem Vicenzo não tinha referencial. Uma coisa era certa. Ele não iria permitir que ela partisse tão cedo... não até que descobrisse quem ela realmente era. Cara estava muito mais fraca depois do aborto do que imaginou que ficaria e concluiu que tal fraqueza era uma combinação de perder seu irmão, do estresse de saber que estava grávida e da procura de emprego improdutiva. Tudo a estava atingindo agora, e, no fim de cada tarde, sentia-se tão exausta que ia dormir no mesmo horário que Silvio. Quase três semanas se passaram numa espécie de rotina tediosa enquanto ela se recuperava. Vicenzo era muito educado, todavia distante. Nunca mencionava a dívida, ou a partida de Cara. Ela encontrava grande consolo em Silvio, e passava tempo em sua companhia todos os dias... lendo ou jogando xadrez, ou conversando sobre qualquer coisa. Doppo, o cachorro de Allegra, também se provara um aliado, seguindo-a para todo lado com uma devoção que Cara sabia que devia ser, em parte, porque ele sentia falta da dona. De qualquer forma, ele era uni conforto. Vicenzo às vezes aparecia, depois de alguns dias viajando a negócios, e o coração de Cara nunca deixava de disparar cada vez que o encontrava. Uma noite, depois que Silvio se recolhera para dormir, Cara saiu no terraço para uma xícara de chá. Parou no meio do degrau ao ver Vicenzo sentado à mesa de ferro, bebendo café. Ele olhou para cima quando a ouviu. O coração de Cara bombeou. ― Desculpe... ― Ela virou-se para ir. Ele levantou-se. ― Não, espere. Ela virou-se, sentindo-se sem graça. ― Ouça, realmente... ― Cara, sente-se. Eu não vou morder. Ele parecia cauteloso e, quando Cara aproximou-se, viu que ele tinha um maço de papéis sobre a mesa. Ela sentou-se e, após um momento, perguntou: ― Você estava trabalhando? Vicenzo deu uma risada curta. ― Pode-se dizer que sim. Analisando as falcatruas de seu irmão... traçando a oferta de tomada de poder de Cormac para que isso não aconteça novamente. Cara estremeceu por dentro. ― Ainda está trabalhando nisso? Mas eu pensei... você disse que a oferta era grosseira... ― Era... mas foi a falta de sofisticação de Cormac que lhe permitiu causar tantos danos. Quase antes de perceber o que estava fazendo, Cara perguntou: ― Há algo que eu possa fazer para ajudar? Eu conhecia Cormac. Talvez eu enxergue coisas que você não consiga enxergar. ― Ela acrescentou, quase na defensiva: ― Eu realmente tenho qualificações. Vicenzo a estudou por um longo momento, então murmurou: ― Por que não? Uma ajuda com processamento de dados não seria nada mau PROJETO REVISORAS

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para mim. Preciso ir para Roma em alguns dias, mas eu gostaria de adiantar as coisas aqui, primeiro. Cara não duvidava que ele a estava testando em algum nível, e foi conduzida para o escritório moderno de Vicenzo pela primeira vez. Era enorme, com computadores e copiadoras. Ele a levou para uma mesa que continha folhas impressas com colunas e números. Imediatamente, Cara se sentiu em casa. Entendia de números. Tinha mergulhado no estudo dos números nos últimos anos, a fim de escapar de Cormac. Ele gesticulou para a mesa e Cara sentou-se. ― O que você vê aqui é uma bagunça que ainda estou organizando. Parte do ataque foi liberar numerosos vírus em nosso programa de contabilidade. Estou tentando desembaralhar isso primeiro, apenas para me certificar de que nada falte. Cara olhou-o e tentou esconder seu choque. Saber que seu irmão tinha feito aquilo era muito desconcertante. ― Embora a empresa esteja sendo monitorada mais seguramente que antes, a violação me deixou nervoso... motivo pelo qual quero saber exatamente o que seu irmão fez antes de qualquer outra pessoa. ― Ele deu um passo atrás, a figura dominante e poderosa. ― Tenho de admitir que a idéia de você, irmã dele, se oferecer para resolver isso contém certa ironia deleitável. Cara ergueu o queixo, determinada a não ser abalada por ele. ― Por que simplesmente não me mostra o que quer que eu faça? CAPÍTULO DEZ Vicenzo olhou para onde Cara estava sentada de pernas cruzadas no chão, com papéis ao seu redor. Para sua surpresa, eles haviam trabalhado juntos até tarde na noite anterior e, quando ele fora para seu escritório nessa manhã, Carajá estava lá, trabalhando no que começara na noite anterior. Nas últimas semanas, ele testemunhara o quanto o aborto a arrasara. E sentira culpa, juntamente com outra emoção que não queria analisar. Tinha feito o possível para lhe dar espaço. Mas as questões permaneciam... muitas questões. Assim como a revelação perturbadora de que não queria que ela fosse embora. Cara estava vestida de preto, os cabelos presos no topo da cabeça por um lápis. Manuseando papéis, parecia concentrada. De vez em quando, acariciava Doppo distraidamente, que estava deitado perto, olhando-a com adoração. Enquanto Vicenzo a observava acariciar a cabeça de Doppo, soube que queria sentir a mão dela sobre si, acariciando-o. Moveu-se desconfortavelmente, e viu as costas de Cara enrijecerem. Ela também estaria consciente dele? Cara ouviu a cadeira de Vicenzo mover-se atrás de si. Então ele apareceu em sua linha de visão e ela olhou para cima, antes de levantar-se também. Ele inclinou-se sobre a mesa e cruzou os braços. Cara preparou-se para o que viria. ― Então, se você não foi à faculdade, como conseguiu um diploma? ― Através da Universidade Aberta, estudando em casa... Cormac não aprovava que eu freqüentasse a faculdade. ― E você sempre fazia o que seu irmão lhe dizia? ― perguntou ele, em tom zombeteiro. ― Não acredito muito nisso... apesar de ver a lógica. Sem dúvida, você era muito mais útil para ele sem uma faculdade atrapalhando sua agitada vida social. Cara fechou as mãos em suas laterais. Tinha feito o que seu irmão mandava por não ter escolha... a menos que preferisse ficar sem teto nas ruas de Londres desde os 16 anos. ― Eu já lhe disse que minha vida com meu irmão não foi como você imagina. PROJETO REVISORAS

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― E como foi então, Cara? Quantas herdeiras iludidas você e seu irmão convenceram de que ele amava, de modo que pudessem explorá-las? Dor a percorreu. Como podia ter esquecido que, quando estivesse forte o bastante, Vicenzo voltaria a persegui-la. Ela virou-se para partir. ― Eu não tenho de ouvir isso... Mas ele moveu-se rapidamente e segurou-lhe o braço, fazendo-a arfar pelo contato. Vicenzo a virou e Cara viu a mão dele erguida. Reagiu em reflexo, encolhendo-se e abaixando a cabeça. Então congelou, ofegando. ― Acha que eu bateria em você? ― A voz dele soou horrorizada. Cara tremeu e olhou para cima. Meneou a cabeça com fraqueza. Percebia agora que ele erguera a mão para firmá-la. ― Não ― replicou ela. ― Eu não sei o que... ― Alguém bateu em você. Foi Mortimer? Cara não podia entender o brilho furioso nos olhos dele. Balançou a cabeça novamente. ― Quem bateu em você, Cara? ― Por que você se importa? ― perguntou ela, não querendo que ele visse seu lado vulnerável. Ninguém sabia sobre aquilo. Nem mesmo Rob ou Barney. Ela sentia vergonha disso, de sua fraqueza. ― Conte-me, Cara. Então ele fez algo a que ela não podia contra-atacar. A mão Que segurava seu braço começou a acariciá-la gentilmente. Cara tremeu e o olhou. Vicenzo não desistiria. Ela abaixou a cabeça de novo e falou num sussurro: ― Cormac. Às vezes, quando ele estava bêbado, me batia, Eu quase sempre conseguia me esquivar... mas, às vezes... Vicenzo praguejou e soltou-a. Imediatamente, Cara pôs distância entre os dois. ― Como eu falei, nem tudo foi como parece. ― Assim você continua dizendo. Eles se entreolharam por Um longo momento, até que Lúcia apareceu à porta e anunciou: ― Signore Valentini está no terraço, esperando Cara... ― Xadrez. ― Ela olhou para Vicenzo, mas a expressão no rosto dele era ilegível. ― Eu prometi ao seu pai uma partida de xadrez esta manhã. ― Olhou para os papéis no chão, a evidência das falcatruas de seu irmão a enojando. ― Mas eu posso ficar aqui... ― Não. Agrade meu pai. Eu arrumo os papéis. Vicenzo passou uma mão pelos cabelos depois que Cara saiu da sala. Com todas aquelas contradições, ela o fazia se sentir estranhamente vulnerável. E essa era uma emoção que ele não gostava. Um sentimento que quase o devastara uma vez, e ele não permitiria que voltasse agora. Naquela noite, após o jantar, Vicenzo chamou Cara no momento em que sabia que ela pretendia escapar, depois que Silvio tinha se recolhido. Ela virou-se para aporta, e ele se aproximou. ― Sim? ― É seu aniversário amanhã. Cara empalideceu. Desde que seus pais haviam morrido ninguém se lembrava de seu aniversário... Cormac certamente não. Ela ia fazer 23 anos no dia seguinte. ― Sim ― respondeu, incerta sobre o que ele estava pensando. ― Eu tenho uma casa em Emerald Coast, em Porto Cervo. Eu a levarei lá amanhã à tarde, e nós podemos sair para jantar... Cara agarrou a maçaneta da porta. Subitamente, a idéia de deixar aquela casa era assustadora. ― Mas por que você faria isso? Ele deu de ombros. ― Proponho uma trégua. Concorda? PROJETO REVISORAS

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Cara assentiu, muito confusa para fazer qualquer outra coisa. ― Ótimo, partiremos por volta das 4h. Leve alguma roupa para sair. Vicenzo observou-a sair da sala e questionou sua sanidade, O que estava fazendo? E por que se sentia compelido a fazer alguma coisa para o aniversário de Cara, cuja data checara no passaporte dela? Ele confortou-se. Aquele seria o grande teste, Ele a levaria para um lugar onde ela, certamente, mostraria sua verdadeira natureza... e isso o ajudaria a diminuir as dúvidas cada vez mais freqüentes em sua cabeça. Às 4h da tarde seguinte, Cara estava pacientemente esperando no hall, com uma pequena sacola. Vicenzo saiu do escritório e olhou de Cara para a sacola, perguntando com incredulidade: ― Isso é tudo? Ela assentiu. Ele deu de ombros e conduziu-a para o jipe. Depois de dez minutos, eles pararam num campo, onde Cara viu um helicóptero esperando. Dentro de minutos, estavam sobrevoando o terreno montanhoso em direção ao leste. Ela olhou para baixo, fascinada. Excitação a percorreu por estar num helicóptero pela primeira vez. Vicenzo apontava coisas ao longo do caminho, e Cara tentou ignorar as sensações que sua proximidade com o corpo poderoso no pequeno espaço lhe causava. Quando eles aterrissaram, suas pernas tremiam tanto que quase cederam. Para sua mortificação, Vicenzo a ergueu do solo. Quando ela começou a protestar, ele beijou-a por um longo momento. Então, afastou-se e Cara o olhou, seu corpo vivo com desejo. Então ele disse: ― Nós somos recém-casados, lembra? Sorria para as câmeras. Cara olhou ao redor e foi quase cegada pelos flashes de câmeras, que estavam atrás de uma cerca, a poucos metros de distância. O mundo real estava de volta. Vicenzo a colocou num jipe com vidros escuros e eles partiram. A mansão para a qual Vicenzo levou Cara era totalmente diferente da casa da família dele. Era o sonho de um arquiteto: ângulos e cantos abstratos, vidros por toda parte, pintura interna branca. Havia uma piscina enorme com vista para o mar Tyrrhenian. O lugar era muito bonito, pensou Cara, mas... frio. Não habitado. Um lugar para amantes. Era para lá que ele levava suas amantes? Como se lendo sua mente, Vicenzo falou: ― É geralmente aqui que entretenho pessoas... onde faço reuniões profissionais ou eventos sociais. Cara enrubesceu. Ele pretendia entretê-la lá? Ela tentou injetar entusiasmo na voz ― É... muito... limpo. Ele jogou a cabeça para trás e riu. ― Certamente ninguém nunca descreveu o lugar assim antes. Ela irritou-se. ― Perdoe minha resposta inarticulada. Vicenzo aproximou-se, ergueu-lhe a mão e pressionou um beijo ali. Ele a olhou com intensidade, e o coração de Cara disparou. ― Nós sairemos em uma hora. Eu lhe mostrarei onde você pode se aprontar. Uma hora depois, Cara entrou na área de recepção e Vicenzo olhou para cima de alguns papéis que estava manuseando. Estava em terno preto e camisa branca aberta no colarinho. Magnífico. Ela estava com um vestido longo sem manga e aberto nas costas. Deixara os cabelos soltos num esforço de não se sentir tão exposta. Ele aproximou-se e estendeu-lhe uma caixa de veludo vermelho. ― Um presente de aniversário... e irá combinar com seu vestido. Vicenzo estudou o vestido azul-real, notando que a cor ai fazia parecer mais pálida. Mais vulnerável. Também notou que Cara olhava para a caixa com desconfiança. Impaciente, ele mesmo abriu, esperando ver a resposta usual... os olhos arregalados, a surpresa fingida, a admiração diante do espelho, o agradecimento emocionado. Cara arregalou os olhos, sim, porém não fez mais nada do esperado. Olhou para PROJETO REVISORAS

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os deslumbrantes brincos de safira aninhados no veludo branco. Estendeu uma mão para tocá-los de maneira reverente. Enrubesceu. Olhou para Vicenzo, que teve de se controlar para não jogar a caixa no chão e tomá-la nos braços. Ela estava tão linda. Quase sem maquiagem, a pele levemente dourada pelo sol. ― Devem ter custado uma fortuna. Tinham custado. E nenhuma outra mulher já comentara sobre o custo de jóias. ― É um presente de aniversário... coloque-os. ― Ele estendeu-lhe a caixa. Cara quase recuou. ― Mas, e se eu perder um deles? ― Eles estão assegurados ― replicou ele. Não estavam, mas, se aquilo a fazia se sentir melhor... ― Tem certeza? ― Sim. Somente então, com incrível cuidado, Cara tirou os brincos do veludo e colocou-os nas orelhas. Ela nem mesmo se olhou no espelho, como todas faziam. Os brincos brilharam lindamente contra a pele clara. ― Obrigada. ― De nada. ― Vicenzo fechou a caixa, e teve o pressentimento de que o resto da noite também não seria exatamente como ele planejara. E não foi. Ele levou-a a um restaurante que acabara de abrir, com uma lista de espera que se estendia até o ano seguinte. Cara sorriu educadamente, mas não parecia à vontade. E estava distraída dos olhares invejosos das mulheres e dos olhares de admiração dos homens. Em determinado ponto, ele perguntou: ― Está tudo bem? ― Oh, sim, o restaurante é adorável... ― Mas? Ela pareceu envergonhada, antes de dizer: ― Bem, é um pouco como a casa... limpo e com uma culinária perfeita. ― Cara sorriu. ― Eu sempre me imaginei no Mediterrâneo, sentada numa trattoria local, olhando o mar... Ela corou então, e Vicenzo teve de controlar seu impulso de agarrá-la e fugir de todos ao redor deles. Não podia dizer que estava apreciando aquele lugar também, e ver a mansão através dos olhos de Cara mais cedo o fizera sentir-se desconfortável. Mas agora ele a estava levando para a boate mais famosa de Porto Cervo, numa tentativa quase desesperada de que ela mostrasse quem realmente era. Se Cara tinha ficado desconfortável no restaurante, agora parecia muito incomodada. Teimosamente, Vicenzo persistiu. Pediu champanhe com morangos. Convidou-a para dançar. Ela recusou. Quando alguém colidiu com uma garçonete ao lado deles e todos os drinques caíram da bandeja, Cara saltou de seu assento para ajudar a garota. Aquele foi o momento mais animado no qual ele a viu a noite inteira. Depois disso, Vicenzo tirou Cara de lá. Dispensou o carro e disse: ― Você se importa de andar? Não é longe, e podemos ir pela praia. Ela meneou a cabeça e pareceu aliviada. ― Ótima idéia. Quando eles estavam andando ao longo da praia, sapatos nas mãos, Cara finalmente relaxou. Sentia-se culpada por não ter se divertido, mas todos aqueles lugares não tinham nada a ver com ela. Mas sem dúvida tinham a ver com Vicenzo... assim como a mansão onde ele entretinha pessoas. Cara olhou para cima, encantada com as estrelas no céu. ― Tão lindas. Sinto como se eu pudesse estender o braço e pegá-las. Elas estão PROJETO REVISORAS

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tão perto. Quando ela olhou para Vicenzo, ele também estudava o céu, o perfil forte e bonito. No momento que eles chegaram à mansão, Vicenzo pegou-lhe a mão e conduziu-a para as pedras. Cara puxou o vestido para cima, a fim de facilitar a escalada. No topo, parou contra Vicenzo. Não podia se mexer, ou cairia sobre as rochas. Ele a fitou e colocou uma mecha de cabelos atrás da orelha dela. ― Você não perdeu os brincos. Ela meneou a cabeça. ― Não. Graças a Deus. Uma dívida é suficiente. Uma nova tensão preencheu o ar quando ele a rodeou pela cintura e puxou-a para si. ― Vicenzo... Ele a calou com um beijo ardente. Os sapatos de Cara caíram de uma mão nervosa, enquanto ela, instintivamente, envolvia-lhe o pescoço nos braços, erguendo-se para se moldar ainda mais perto. Vinha ansiando por Vicenzo durante as últimas semanas. A distância entre os dois tinha sido necessária para sua paz mental e recuperação, mas sentia-se ávida pelos abraços e beijos dele. Quando eles finalmente se separaram, Vicenzo pegou-lhe a mão e conduziu-a para dentro da mansão. Então, em vez de fazer amor com ela, como Cara esperava... e tanto desejava... ele deu-lhe um beijo na testa e virou-a em direção ao quarto dela. ― Vá dormir, Cara. Você está cansada... Por um segundo, ela não se mexeu. Ele pôs uma mão em suas costas, como se para impulsioná-la a andar... porque, se ela se virasse e o olhasse... Ela moveu-se. Hesitantemente. Após alguns passos, virou-se, o queixo erguido. Gesticulou para os brincos e deu um sorriso tenso. ― Obrigada por isso... e por tudo. Eu me diverti muito. E então ela se foi. Na noite seguinte, Cara estava sentada no terraço depois de jantar com Silvio, terminando a partida de xadrez: que eles tinham começado mais cedo. Estava irritada consigo mesma. Deveria estar se sentindo em paz, mas, desde que Vicenzo a informara mais cedo, logo após o retorno da costa leste, que ia passar alguns dias em Roma a negócios, ela estava nervosa. Silvio surpreendeu-a, falando de repente: ― Vicenzo não é um homem fácil. Cara sentou-se ereta, horrorizada por Silvio se sentir compelido a agir como algum tipo de confidente. ― Silvio, você não precisa... Ele ergueu uma mão, calando-a. ― Sabia que a mãe de Vicenzo e Allegra foi embora quando ele tinha 12 anos e ela apenas quatro? Cara meneou a cabeça, não podendo evitar o interesse agora. Era daí que vinha a desconfiança cínica de Vicenzo? Silvio moveu um peão no tabuleiro, antes de continuar: ― Minha esposa e eu fomos infelizes por algum tempo. Nosso casamento foi arranjado. Ela perdera o coração muito antes de mim, para um amor de infância. Eu tinha ciência do fato, mas, depois que nos casamos, tivemos filhos, pensei que ela pudesse esquecê-lo. Cara permaneceu silenciosa, observando-o. ― Ela começou a agir de modo esquisito... saindo em horários estranhos, tornando-se distante, misteriosa. Suspeitei que estivesse vendo alguém e. confrontei-a. Ela admitiu que estava saindo com seu antigo amor. A esposa dele falecera e o deixara com uma criança pequena. Emilia me contou que ele a queria ao seu lado, ajudando-o a criar o filho. Cara arfou, mas Silvio não pareceu ouvi-la. ― Eu lhe supliquei para ficar. Em vão. Não sei o que as crianças sabiam, mas, de PROJETO REVISORAS

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alguma maneira, sabiam. No dia que Emilia escolheu deixar os filhos, eles estavam aninhados no hall, tendo se recusado a ir para a escola naquela manhã. ― Silvio deu de ombros. ― Talvez tenham nos ouvido discutir. Allegra segurava a mão de Vicenzo com força. Quando Emilia saiu com sua mala, Allegra correu atrás dela, implorando que a mãe parasse. Emilia precisou empurrá-la... e foi quando Vicenzo saiu do lado de fora. Ele a seguiu até o portão, perguntando por que, por que, por quê. Emilia entrou no carro, o amante já estava com o motor ligado e a criança, no banco de trás. Vicenzo segurou a porta do carro aberta, impedindo-a de fechar. Finalmente, Emilia saiu do carro e deu-lhe um tapa no rosto. Com tanta força que eu ouvi daqui de dentro da casa. Foi somente então que Vicenzo parou de perguntar por quê. Cara estava chocada. Então era pôr isso que Vicenzo acreditara que ela seria cruel o bastante para abandonar seu próprio bebê. Ela olhou para Silvio. ― Eu não tinha idéia. ― E por que teria? Eu sei que Vicenzo nunca falou sobre o que aconteceu. E eu sabia que não podia pedir que ele se casasse e tivesse filhos. ― Silvio a fitou. ― Mas agora... desde Allegra... tudo mudou. Mas, Cara, saiba que estou muito feliz com sua presença aqui. Antes que Cara pudesse pensar numa resposta, ele disse: ― Se me der licença, querida, acho que já passou de minha hora de dormir. Cara levantou-se e ajudou-o com a cadeira de rodas até a sala. O enfermeiro da noite apareceu e levou Silvio para o quarto. Ela voltou para se sentar no terraço e olhar a escuridão por um longo tempo. Podia imaginar o tipo de elo que tinha sido formado entre Vicenzo e Allegra naquele dia. Sentiuse triste pelo que eles haviam passado. E uma dor ainda maior a assolou ao pensar que, se tivera alguma esperança de que Vicenzo abrisse seu coração algum dia, ela foi esmagada pelo que acabara de descobrir. CAPÍTULO ONZE Vicenzo estava de pé, observando Cara sentada na borda da piscina da casa, com sua linda vista para o Mediterrâneo. Seu coração descompassou com a percepção de que sentira falta dela. E também com a confirmação de que ela não estava se comportando da maneira como as outras mulheres que ele conhecia: um corpo besuntado de óleo adorando o sol... revistas ao redor... Lúcia indo e voltando, levando drinques. Finalmente teve de conceder que Cara era diferente de qualquer mulher que ele já conhecera. E o que tinha descoberto em Londres nos últimos dias pesava sobre seus ombros. Sua opinião original sobre ela estava sendo cada vez mais destruída. As pernas delgadas estavam dobradas e o queixo de Cara descansava nos joelhos. O biquíni preto e modesto esquentou seu sangue mais do que os menores biquínis que ele vira em incontáveis mulheres ao longo dos anos. Os cabelos ruivos estavam presos num rabo de cavalo, fazendo-a parecer muito jovem. Cara era jovem. Jovem demais para já ter passado por tanta coisa ruim. Doppo estava estendido ao lado dela, e Vicenzo maravilhou-se ao ver como Cara o e cachorro haviam se aceitado com uma conexão quase fervorosa. Ele acabara de visitar o túmulo de Allegra, que ficava numa colina atrás da casa, e descobrira flores frescas lá. Sabia que aquilo não era obra de seu pai, devido a sua falta de mobilidade. Podia ter sido Tommaso ou Lúcia, mas... Cara percebeu sua presença antes que Doppo se levantasse e começasse a abanar o rabo energicamente. Sua pele arrepiou-se quando ela virou a cabeça para ver PROJETO REVISORAS

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Vicenzo inclinado contra uma árvore próxima, observando-a. Ele estava lindo, de jeans e camiseta preta, cabelos úmidos como se tivesse acabado de tomar banho. Sentindo-se envergonhada em seu biquíni, ela levantou-se, pegou a canga na qual estivera sentada e amarrou-a sobre os seios. Ele se aproximou, fazendo o coração de Cara disparar no peito. ― Sua pele está bronzeada. Cara fez uma careta, pensando na pele branca demais que herdara. ― Combina com você. ― O olhar de Vicenzo a percorreu. O leve bronzeado misturado com as sardas deixava-lhe a pele lindamente dourada. Ele ergueu alguma coisa... um cartão. Cara o reconheceu. Era o cartão de condolências que ela enviara para os escritórios Valentini em Londres, todas aquelas semanas atrás. ― Eu só recebi isto quando voltei para Roma. Estava no meio de diversos outros cartões de condolências, de modo que eu não o vi até uns dias atrás. Cara engoliu em seco. ― Eu enviei naquela semana... depois do acidente. Eu não sabia o que fazer... como entrar em contato com você. Perguntei no hospital, mas eles não me deram detalhes... Vicenzo sabia, pelo carimbo postal, que Cara enviara o cartão para seu escritório antes que ele a conhecesse naquela noite. A simples mensagem de condolências tocara fundo seu coração. As revelações das últimas 24 horas vieram-lhe à mente, fazendo-o querer empurrála. Para algum lugar que não tivesse de lidar com todas as contradições dela. ― Por que você enviou o cartão, Cara? O que esperava conseguir, se eu o recebesse? Cara não pôde esconder a amargura da voz. Por um momento, quando o vira observando-a, fantasiara que alguma coisa tinha mudado. Obviamente não. ― Nada. Eu mandei porque queria estender minhas condolências... eu não sabia o que mais fazer. Vicenzo suspirou; então, subitamente pareceu quase frustrado. ― Por que você não me contou que trabalhava na boate, Cara? Ela congelou. ― Como você descobriu? Ele deu um pequeno sorriso. ― Quando cheguei a Roma, soube que alguém chamado Rob vinha ligando todos os dias, procurando uma maneira de contatá-la. Eu atendi uma das ligações, e ele me informou que você tinha uma devolução de impostos de seu salário para receber, da qual, com certeza, estaria precisando. Queria saber como fazer para lhe enviar o dinheiro. Ele tentou me intimidar com suas perguntas sobre onde você estava. Cara sorriu ao pensamento de Rob tentando intimidar Vicenzo ao telefone, mas parou de sorrir quando notou que ele a olhava intensamente. ― Não lhe contei porque você não teria acreditado em mim, e eu não tinha energia para brigar. O lugar era ruim, eu podia ver isso. ― Disse que a boate era como um segundo lar para você ― acusou Vicenzo. ― Era como um segundo lar. Rob, o namorado dele, Simon, e Barney, o porteiro... eram... são... como uma família para mim. Vicenzo meneou a cabeça, como se tentando entender aquilo tudo. ― Eu costumava levar Cormac para a boate todas as noites. ― Ela não pôde encará-lo ao dizer isso, então se virou e olhou para baixo, chutando a grama distraidamente. ― Ele me usava como um tipo de serviço de táxi, fazendo-me esperar do lado de fora, de modo que ele pudesse ir embora a hora que quisesse. Uma noite, o tempo estava horrível, e eu estava tentando estudar no carro. Ela fez uma pausa. ― Barney ficou com pena de mim e me levou para o pequeno escritório dele, de PROJETO REVISORAS

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modo que eu pudesse estudar num lugar quente. Ele me fez chá, me deu biscoitos... e isso se tornou uma rotina. Eu deixava Cormac na boate e ia estudar no escritório de Barney. ― E como você passou disso para trabalhar lá? Sabendo que não suportaria se ele não acreditasse nela, Cara virou-se para encará-lo. ― Uma noite, Simon estava frenético porque a anfitriã da porta ligou avisando que estava doente no último minuto. Eu me ofereci para substituir a garota. Eu me saí bem e, quando aquela anfitriã deixou o emprego, ele me pediu para assumir a vaga. Cormac aceitou isso porque queria impressionar Simon e, afinal de contas ― acrescentou ela com amargura ―, uma vez que eu tinha um salário, significava que Cormac podia me cobrar aluguel pelo meu quarto no apartamento dele. ― Ele lhe cobrava aluguel? ― perguntou Vicenzo, incrédulo. O que Cara falava agora era tão diferente do que o que ele acreditara... Ele a viu erguer o queixo, a expressão desafiadora nos olhos. O orgulho. E sentiu um aperto no peito. Sabia que não seria difícil checar aquela história e, se instruísse seus contadores em Roma para passarem um pente-fino nas contas de Cormac, eles provavelmente encontrariam uma quantidade regular de dinheiro sendo depositada numa delas. E, uma vozinha o relembrou, naquela manhã em Londres, ela dissera não ter acesso à conta em seu nome. Vicenzo teve de conceder que ela não parecia ter recebido fundos de tal conta. A lembrança da reação de Cara ao ver os brincos zombou dele agora. E as roupas simples que ela insistia em usar. Aquelas não eram ações de uma princesa mimada. Cara quase podia ver os pensamentos girando na cabeça de Vicenzo, enquanto ele analisava suas palavras, e não suportou mais o silêncio. ― Eu lhe disse que as coisas não eram o que pareciam. Ela queria que ele fosse embora dali e a deixasse sozinha. Por isso não lhe contara nada. Contar-lhe sobre aquela parte íntima de sua vida era encontrar um nível de dor que ela estivera evitando. Mas, de repente, Vicenzo estava muito perto, erguendo-lhe o queixo, de modo que ela lhe encontrasse os olhos, antes de perguntar: ― As flores no túmulo de Allegra? Com seu corpo reagindo pela proximidade, pelo toque daquela mão quente em seu queixo, Cara estudou-lhe o semblante de maneira apreensiva. Ele estava zangado por ela ter ido a um lugar tão privado? O pensamento tornou sua voz quase defensiva: ― Eu gosto de ir lá em cima. É pacífico... mas, se você preferia que eu não tivesse ido... Ele balançou a cabeça abruptamente, um brilho curioso nos olhos. ― Não. Obrigado. Foi bom ver as flores lá. Subitamente sentindo uma nova tensão na atmosfera, Cara deu um passo atrás. ― Você mencionou o tipo de lugar que gostaria de ver quando nós estávamos em Emerald Coast. Há um estabelecimento aqui perto, de uma amiga minha... jantaremos lá esta noite. ― Oh, não. Nós não precisamos ir a lugar algum... Mas Vicenzo apenas a segurou pelo braço e conduziu-a para dentro da casa, Doppo seguindo fielmente. ― Sim, precisamos. É um lugar simples, então não se preocupe em se arrumar... Naquela noite, quando Cara entrou no hall, sentia-se muito nervosa. Disse a si mesma que aquele não era um encontro romântico. Sabia que só estava lá ainda por causa da questão do débito não resolvido... mas talvez agora pudesse convencer Vicenzo a deixá-la ir para encontrar trabalho e começar a pagá-lo. Ignorou a pontada de dor diante PROJETO REVISORAS

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do pensamento de pedir-lhe liberdade... mas não agüentaria muito daquilo... de Vicenzo olhando-a como se a estivesse vendo pela primeira vez. Então parou de pensar quando Vicenzo apareceu à porta da frente, em jeans e camisa cinza de manga longa, que marcava cada músculo definido no peito largo. Ele segurava um capacete de motocicleta em cada mão. Seus olhos a percorreram, notando o jeans desbotado e blusa preta sem mangas de Cara. Sapatilhas pretas baixas. Os cabelos estavam soltos, mechas raivas caindo sedosamente sobre um dos ombros. Ela carregava um casaco num braço, e Vicenzo pensou que nunca vira alguém mais sexy do que naquele momento. Todavia, o preto da blusa o fez querer levá-la para a boutique mais próxima e vesti-la em cores vibrantes. Mas Cara não era uma amante vestida para seduzir e excitar, embora o excitasse muito sem fazer o menor esforço. Era sua esposa, e uma história confusa ainda existia entre eles, com ou sem revelações. E, além de tudo isso, havia o desejo, ardente e mais poderoso do que antes, abalando seu corpo inteiro. Cara pegou o menor dos capacetes que ele estendeu-lhe e acompanhou-o para o lado de fora, onde uma moto enorme e poderosa esperava. ― Você já andou de moto antes? Cara meneou a cabeça, sentindo-se excitada com a aventura, assim como aliviada porque eles não entrariam num carro ou no jipe. ― Como nós... Quero dizer, como eu subo? Ela observou quando Vicenzo levantou uma das pernas e sentou-se no banco da moto, o jeans esticando-se sobre as coxas musculosas. A visão era tão erótica que as pernas de Cara tremeram. Ele estendeu-lhe a mão e, depois de envolver uma das mãos ao redor da sua, pôs a outra em sua cintura. ― Apenas levante sua perna aqui, atrás. Ela fez como o instruído e encontrou-se sentada de pernas abertas na moto, o banco fazendo-a escorregar contra ele. ― Desculpe ― murmurou ela, enrubescendo enquanto tentava ir mais para trás. Vicenzo pôs uma mão na sua coxa e Cara parou, o toque a fazendo tremer em resposta. ― Fique onde está. O banco é projetado para ser assim. Cara engoliu em seco. Não poderia estar mais perto dele. Depois que ambos vestiram seus capacetes, Vicenzo pegou-lhe as mãos e colocou-as ao redor de sua cintura. ― Agora, incline-se contra mim e segure firme. Então ele ligou a moto e saiu, o motor potente soando no ar. Instintivamente, as mãos de Cara se apertaram mais ao redor de Vicenzo, quando ela sentiu um medo inicial de cair. Mas, quando eles passaram pelos portões e pegaram a estrada, ela começou a relaxar. A estrada na qual estavam margeava a praia, e a vista era tão espetacular, enquanto o sol baixava no horizonte, que Cara estava sem fôlego. Tentava saborear cada segundo daquela experiência incrível, absorvendo a vista, o jeito como o corpo do Vicenzo se inclinava nas curvas, o motor poderoso sob eles. Aproximadamente dez minutos depois, eles pararam no acostamento, a fim de ver o pôr do sol. Permaneceram sentados em silêncio, admirando as faixas rosadas pintando o céu. Cara sentiu um nó na garganta. Parecia patético, e eles nem tinham jantado ainda, mas aquela já era a melhor experiência que alguém lhe dera. Depois de mais um curto trajeto ao longo da costa, eles pararam na extremidade de uma praia cuja areia branca brilhava na luz do crepúsculo. Saltando da moto, Vicenzo virou-se para ajudá-la, duas mãos firmes em sua cintura. Ela estava mais do que um pouco ofegante no momento em que seus pés tocaram o solo. Água cristalina batia na praia e Cara andou em frente para explorar, tirando os sapatos para sentir a textura da areia, ainda quente do sol. PROJETO REVISORAS

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Vicenzo juntou-se a ela, surpreendendo-a quando pegou sua mão. Sentindo-se vulnerável, Cara tentou afastar-se. ― Está tudo bem. Você não precisa fazer isso. ― Cara. ― Ele parou e puxou-a para seus braços. ― As coisas mudaram. Nós dois sentimos isso. — Vicenzo a pressionou mais contra seu corpo, fazendo-a sentir a evidência da ereção masculina. Pura luxúria a percorreu. ― Isso é tudo que importa agora. Não o passado nem o futuro. Isso é só para nós. Não tem mais nada a ver com seu irmão ou com minha irmã. Mas tem a ver... com o débito. Mas ela já estava se perdendo naqueles olhos dourados. ― Mas... na outra noite... quando você não quis... ― Na mansão de Emerald Coast? Ela assentiu. Vicenzo a fitou. A revelação daquela noite, e do que esta lhe mostrara sobre Cara, ainda doía. ― Não me pareceu certo ― disse ele. E não parecera. A parte a inegável fragilidade daquela noite, de alguma maneira o pensamento de fazer amor com Cara naquele lugar o desagradara. Surpreendeu a si mesmo agora, jurando vender n mansão. Ele deu um passo atrás, puxando-a gentilmente para que ela o acompanhasse. Logo, eles se aproximaram de um restaurante com um terraço aberto, recuado da praia numa clareira. Luzes fracas vinham das janelas e portas abertas, e, quando eles entraram, Cara sentiu que estava pisando no cenário italiano mais íntimo. Vicenzo foi cumprimentado por uma mulher rechonchuda mais velha, que envolveu Cara nos braços antes de dar diversos beijos no seu rosto. Cara riu, e a sensação foi boa. Uma leveza deliciosa a envolvia. Eles foram conduzidos para um andar superior, ao ar livre, o qual tinha uma única mesa, com vista para a praia e o mar além. Se Cara tivesse pintado um quadro do que imaginara um dia, certamente seria aquilo. ― Nós devíamos ter tentado chegar aqui para o pôr do sol ― disse Vicenzo. ― Oh, não. ― Cara virou um rosto sorridente para ele. ― Isso é maravilhoso. A lua na água será mágica... e as estrelas. Vicenzo estava atônito. Se tivesse levado qualquer de suas ex-namoradas lá, elas teriam corrido de volta para civilização. Cara refletiu sobre as palavras de Vicenzo um pouco depois, enquanto o observava falar com o garçom em italiano. Se o que havia entre eles não era sobre Cormac ou Allegra, então por que ela ainda estava lá sob a proteção dele? O débito. Como uma covarde, esquivou-se de tal pensamento novamente. O garçom saiu e Vicenzo a fitou. Então sorriu, e Cara soube que não era forte o bastante para lidar com um Vicenzo charmoso. Eles conversaram sobre diversas coisas, embora cuidando para evitar assuntos controversos. Ele lhe contou como o avo tinha começado os negócios da família e que um dia o local fora apenas um campo com uma oliveira. O pai havia expandido e começado uma cadeia de lojas italianas, então Vicenzo transformara o negócio numa empresa global num curto período de tempo. Cara pensou na mãe dele e no que ela fizera, podia entender agora o que dera tanta determinação a Vicenzo. Ela lhe contou timidamente como encontrara consolo no Café Valentini em Londres. Ela nunca o vira assim: relaxado, engraçado, charmoso... Nem mesmo naquela noite em Londres, uma vez que a surpresa pela atração sexual de ambos não tinha deixado espaço para muito mais. Durante o café, ele a olhou tão intensamente que ela perguntou: ― O que foi? Há alguma coisa no meu rosto? Ele meneou a cabeça, então indagou baixinho: ― Por que ficou com seu irmão por tanto tempo? Por que você se submeteu àquilo? PROJETO REVISORAS

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CAPÍTULO DOZE Cara sentiu um nó se formar em seu estômago imediatamente. Não queria falar sobre aquilo, mas ele sabia muita coisa agora... Ela olhou para seu café, girando a xícara ao redor do pires. Do nada, a mão de Vicenzo cobriu a sua, parando-lhe o movimento nervoso. Com relutância, Cara olhou para cima. ― Cormac era sete anos mais velho que eu. Era o meu herói. Eu costumava seguilo por toda parte e não entendia quando ele não me queria por perto. Desde criança, ele se preocupava com a imagem... A voz de Cara era baixa com emoção. ― Cormac era brilhante. Ganhou uma bolsa de estudos numa escola particular, mas, quando os outros garotos descobriram que nosso pai era carteiro, passaram a provocá-lo sem misericórdia. Acho que foi quando ele começou a se ressentir de nossa origem humilde. Mas nossos pais eram tão amorosos... Uma dor familiar a envolveu e Vicenzo apertou-lhe a mão. Ela engoliu o nó na sua garganta. ― Eles eram pessoas simples. Nossa mãe era dona de casa... Ambos faleceram no espaço de um ano um do outro. Papai teve um enfarto, e acho que, quando mamãe descobriu que tinha câncer, logo depois simplesmente desistiu. Cormac já havia ido para Londres, para ganhar seus milhões na cidade. Quase nunca vinha para casa ver mamãe quando ela estava morrendo... Vicenzo sentiu raiva o percorrendo. Ela segurara o peso da morte dos pais nos ombros. E era apenas uma criança. ― E quando ela morreu? ― Eu fui morar com Cormac. Ele tinha 23 anos e condições de me sustentar, de modo que não pôde negar. Mamãe me implorara para ficar de olho nele. Estava tão preocupada. Quando eu cheguei lá, ele não me deixou terminar a escola, e me pôs para trabalhar no apartamento dele. Eu consegui estudar em casa e me sobressair com notas "A", e depois fiz a Universidade Aberta... Ela desviou o olhar, a voz emocionada. ― Eu estava planejando partir. Tinha meu diploma e meu emprego na boate... àquelas alturas, sabia que não poderia ajudar Cormac. Tudo que eu estava fazendo era vê-lo se autodestruir. Allegra era afortunada por ter um irmão como você. Eu sempre desejei que Cormac algum dia se transformasse em alguém que não era. Patético, eu sei. Vicenzo apertou-lhe a mão. ― Isso não é patético. É muito humano. E ele era um tolo. Para o alívio de Cara, ele pareceu contente em não estender o assunto, e então percebeu que eles eram os últimos no restaurante. Quando saíram, Vicenzo virou-se para olhá-la, erguendo-lhe a mão para beijar sua palma, antes de murmurar suavemente: ― Obrigado por me contar sobre seu irmão, Cara. No momento em que a moto parou do lado de fora da casa, ela estava tremendo. Durante o trajeto, a blusa de Vicenzo se erguera, de modo que as mãos de Cara ficaram em contato direto com a pele nua do estômago dele. Quando ela tentara mover as mãos, ele as cobrira com uma das suas. A tentação de explorar e sentir-lhe o abdômen rígido, e mais abaixo, sobre a parte da anatomia coberta pelo jeans, tinha sido pura tortura. Vicenzo removeu os capacetes dos dois e guardou-os, então ergueu-a da moto diretamente para seus braços. Cara o estudou, vendo puro desejo no rosto dele. ― Você sabe que só há um lugar onde esta noite pode acabar, não sabe? PROJETO REVISORAS

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Cara tentou respirar, tentou forçar alguma racionalidade em sua mente. Mas tudo em que podia pensar era em Vicenzo. Reunindo toda sua força de vontade, empurrou-o e forçou-o a colocá-la no chão. Desviou o olhar. Se ele a levasse para cama, ela temia se partir em mil pedacinhos. Tinha sido muito mais fácil quando Vicenzo acreditara o pior ao seu respeito. ― Ouça, eu não quero... Ele ergueu-lhe o queixo, forçando-a a encontrar-lhe os olhos. ― Você não quer o quê, Cara? Isso? Ele a puxou para si e Cara se derreteu, Ela tentou lutar, mas já estava se partindo em mil pedacinhos, e não conseguia parar aquilo. ― Eu quero você, Cara. ― Vicenzo segurou-lhe o rosto com ambas as mãos e beijou seus lábios. Ela fechou os olhos. Queria-o tanto, também. Desta vez, quando ele a pegou nos braços, Cara não protestou. Vicenzo carregou-a através da casa silenciosa para o quarto dele. Dentro do cômodo escuro, colocou-a no chão e acendeu um abajur. Cara começou a tremer em antecipação, e arfou quando ele parou atrás dela. Levantando os cabelos de sua nuca, deu um beijo ali. Ela sentiu dedos longos nos botões de sua blusa, abrindo um por um, roçando-a a pele no processo. O tremor intensificou-se. O sangue de Vicenzo corria freneticamente nas veias. Estava tão excitado que chegava a doer. Virou-a e estudou-lhe o rosto. Os olhos eram grandes piscinas verdes. A boca era um convite impossível de ignorar. Beijar Cara era como provar o mais doce néctar. Ele abaixou a cabeça e ela abriu os lábios de uma maneira tão inocentemente provocante que Vicenzo esqueceu tudo sobre lhe remover a blusa e concentrou-se em explorar a boca deliciosa. Foi somente então que sentiu mãos delicadas perto da bainha de sua camisa e afastou-se. Com um brilho nos olhos, Cara ergueu-lhe a camisa. Vicenzo levantou os braços para ajudá-la a se livrar da roupa. Ela explorou-lhe o peito, sentindo os músculos se flexionarem sob a pele cor de oliva. Os mamilos masculinos enrijeceram quando ela os tocou, então enrijeceram ainda mais quando Cara inclinou-se e explorou-os com sua língua. Vicenzo segurou-lhe a cabeça, puxando-a de volta, atordoado pela maneira como ela o estava excitando. Ele acabou de desabotoar-lhe a blusa, até que ela caísse aos pés dela. A respiração de Cara acelerou. Ela viu os olhos de Vicenzo baixarem, antes que as mãos másculas abrissem seu jeans e o removessem. O tecido de seu sutiã era fino, e Cara sentiu os mamilos pulsarem contra o algodão. Quando ele segurou um dos seios e provocou-o com o polegar, ela teve de agarrar-se aos braços fortes para se firmar. Vicenzo rapidamente livrou-se do sutiã, assim como da calcinha. Cara arfou enquanto o observava despir-se com impaciência, até que eles ficassem nus um diante do outro. Vicenzo a puxou para mais perto e abaixou a cabeça para beijá-la, e Cara deleitouse de prazer. A ereção viril pressionava sua barriga, e ela moveu-se sensualmente contra ele. Vicenzo precisou parar de beijá-la para não explodir naquele ponto. ― Cara... Ela falou completamente sem pensar quando lhe tocou a boca com um dedo: ― Enzo... Os olhos verdes continham pura paixão, e ela estava ofegante. E o chamara de Enzo... Vicenzo não podia pensar sobre nada agora. Só tinha forças para deitar Cara sob si e tomá-la. Ele a ergueu do chão e carregou-a para cama, deitando-a. Os cabelos PROJETO REVISORAS

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vermelhos se espalharam ao redor do travesseiro. As partes mais brancas da pele, que o sol não tinha alcançado, os seios e o ponto entre as pernas, convidaram-no a beijar e explorar, até que ela estivesse se contorcendo com desespero. ― Enzo... por favor... Tudo que Cara sabia era que Vicenzo precisava preenchê-la agora, ou ela morreria pela espera. Ele beijara seu sexo, a língua provocando intimamente e ela quase caíra do precipício. Ele posicionou o copo forte e poderoso sobre o seu e Cara abriu as próprias pernas em antecipação, arqueando-se para recebê-lo. Apoiando-se sobre as mãos, ele a penetrou lentamente, olhando-a com tanta intensidade que levou lágrimas aos olhos de Cara. Ele a estava matando com sensualidade e carinho, e ela não sabia se poderia sobreviver. Vicenzo fitou aqueles olhos inacreditavelmente lindos. Naquele momento, ela arqueou os quadris, fazendo-o deslizar mais fundo... todo o caminho. E, com um gemido gutural, ele perdeu-se nela, até que ambos atingissem um clímax explosivo, antes de mergulharem num sono abençoado. Na manhã seguinte, quando Vicenzo acordou, permaneceu de olhos fechados e reviveu cada momento mágico da noite anterior. Todas as vezes que eles tinham se amado com ardor crescente. Seu corpo já estava enrijecendo em antecipação. Estendeu a mão para tocá-la, esperando encontrar o corpo dela perto, e não sentiu nada. Abriu os olhos e sentou-se. A cama estava vazia. Fria. Cara havia ido embora há muito tempo. Uma onda de raiva o preencheu, enquanto ele se levantava e vestia uma calça. Saiu no corredor e entrou sem cerimônias no quarto dela. A cama estava desarrumada. Ele franziu o cenho. Ela voltara para dormir na própria cama? O pensamento o deixou quase incandescente... e onde Cara estava agora? O sol mal tinha nascido do lado de fora. Com uma raiva irracional, Vicenzo começou a procurá-la, na sala de jantar, cozinha, sala de estar, no terraço e perto da piscina, até finalmente encontrar-se do lado de fora da porta de seu escritório. Sentindo um aperto no peito, abriu a porta e entrou. O aperto intensificou-se quando ele viu Cara, de costas para ele, sentada no chão de pernas cruzadas, em jeans e uma blusa larga, com Doppo, como sempre, ao seu lado, e toda a papelada na qual eles estavam trabalhando ao seu redor. Cara soubera o minuto exato em que ele entrara na sala. Até mesmo sentira, para seu desgosto, quando ele se levantara. Vicenzo entrou descalço e parou na sua frente. Ela olhou para cima, e calor a inundou diante da figura máscula, com o magnífico peito nu e o botão do jeans aberto... Quando ele adormecera abraçando-a, ela ficara tão tentada a relaxar e dormir, também. Mas o terrível medo de que acordasse para encontrá-lo sentado no canto do quarto, fitando-a com aquela expressão gelada que ela vira ao acordar em Londres, não lhe permitiu ceder ao seu desejo. Tal medo a fizera sair da cama dele na noite anterior, e também em Roma, na noite do casamento deles. ― O que está acontecendo, Cara? ― perguntou Vicenzo, o tom de voz impaciente. Cara olhou para os papéis. ― Estou trabalhando nisso. Ele abaixou-se e estendeu uma mão. Sem escolha, Cara pegou-lhe a mão e ignorou a onda de prazer que o contato causou. Segundos depois, recolheu a mão, respirou fundo e aguardou, tensa. ― Cara, eu não espero que você continue trabalhando nisso. Está tudo sob controle agora. ― Ele sorriu. ― Deixei-a ajudar naquela noite para testá-la... para ver o quanto você sabia sobre as tramóias de Cormac. PROJETO REVISORAS

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Aquilo não era novidade para Cara. Ela cruzou os braços. ― Mas o fato é, Vicenzo, que eu ainda sou responsável pelas ações de meu irmão. Ele acenou uma mão no ar, dispensando o comentário. ― Não seja tola, Cara. Seu irmão fez isso, não você. ― Sim, mas me envergonho do que ele fez. Não permitirei que você lide com isso. Não enquanto eu estiver aqui. ― Ela ergueu o queixo. ― E há o débito que ainda tem de ser pago. Se eu puder começar com isso, talvez possamos fazer algum acordo quando eu arrumar um emprego, de modo que eu possa começar a pagá-lo propriamente. Se você puder me dar uma referência sobre o meu trabalho aqui, isso me ajudaria a achar um emprego. Vicenzo passou uma mão pelos cabelos. Por que ela estava sendo tão teimosa? Ele tivera um vislumbre de outra mulher na noite anterior. Da mulher que conhecera em Londres. A mulher que queria conhecer melhor. Doce, inocente, sexy, aberta... Mas, agora, era como se a noite anterior nunca tivesse acontecido. Ele vacilou entre querer sacudi-la e beijá-la. Vicenzo não acreditava mais que Cara fosse responsável pelo débito de Cormac, mas alguma coisa incitou-o a dizer: ― Levaria anos para quitar esse débito. Ele a viu empalidecer. ― Eu sei ― replicou ela. ― Isso é tudo que existe entre nós, e entre mim e minha liberdade. Enquanto você estiver me mantendo aqui, eu quero trabalhar para desfazer a confusão que Cormac criou. É o mínimo que posso fazer. Irritado pela implicação que ela não passava de sua prisioneira, Vicenzo fechou o espaço entre os dois, pisando nos papéis descuidadamente. ― O débito não é a única coisa entre nós, Cara. Cara inclinou a cabeça para trás e arregalou os olhos. ― Eu não vou mais dormir com você, Vicenzo. ― Oh, não? ― E, com incrível precisão, ele colocou-a de pé e puxou-a para si, ignorando as mãos de Cara contra seu peito, tentando empurrá-lo. Ele a beijou. Ela tentou mover á cabeça, mas perdeu a batalha. No momento que se entregou ao beijo, Cara soube que o pior tinha acontecido. Agora ele saberia o quanto ela o desejava. E isso lhe daria mais poder sobre ela do que o débito, ou o fato de que Cara ainda era sua prisioneira. O fato de que sempre fora uma prisioneira... exceto que sua prisão não tinha paredes ou trincos. Duas semanas depois, Cara respirou aliviada pela primeira vez desde que ela e Vicenzo haviam começado a dormir juntos. E a única razão para isso era que ele tinha ido para uma reunião emergencial em Roma. Ela estava tentando tão arduamente resistir a ele em todos os níveis, mas, quando ele a tocava... tornava isso impossível. Durante o dia, Cara conseguia manter distância. Mas, à noite, eles se tornavam insaciáveis em seu desejo. Assim que Vicenzo adormecia, Cara se levantava e voltava para seu próprio quarto. Sabia que aquilo o enfurecia. E, na noite anterior, quando ela tentara sair da cama, ele lhe segurara o braço, sussurrando com uma voz sonolenta: ― Sem escape esta noite. Cara tinha ficado deitada lá por um longo tempo, mas, quando o sol começara a nascer, conseguira desvencilhar-se do abraço e sair sem acordá-lo. Era uma vitória vazia, mas a expressão de Vicenzo, antes que ele fosse para Roma, dissera-lhe que ela não escaparia novamente... e por isso Cara teria de persuadi-lo a deixá-la ir embora. Estava determinada a mostrar-lhe, quando Vicenzo voltasse de viagem, que ele não poderia mantê-la lá. Cada dia que se passava, Cara se apaixonava mais pelo lugar... por Silvio... por Doppo. Por Vicenzo. Silvio estava lhe dando aulas de italiano, e Lúcia estava lhe ensinando algumas receitas tradicionais italianas. A idéia de pertencer a uma família já formada era tentadora, PROJETO REVISORAS

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assim como perigosa demais. Sua vida não era assim. A vida de Vicenzo não era assim. Ela precisava seguir em frente e recomeçar. E, apesar do fato, graças ao débito de Cormac, de que nunca teria a liberdade total pela qual ansiava, talvez, quando esse casamento falso acabasse, ela estivesse de volta em casa e arranjasse um emprego, e pudesse sentir um pouco de paz. Afinal de contas, as coisas que os tinham unido eram perda; incompreensão e sofrimento. E débito. Tudo que Cara precisava fazer agora era convencer Vicenzo a deixá-la ir. CAPÍTULO TREZE O cansaço que Vicenzo vinha sentindo desde que entrara no avião que o levaria de Roma para Sardenha desapareceu magicamente quando ele dirigiu para dentro dos portões de sua propriedade. Já estava antecipando o encontro com Cara. Talvez ela estivesse na piscina... ou. brincando com Doppo na praia. Ou talvez estivesse tirando uma siesta do calor. O pensamento fez seu próprio corpo esquentar. Ele consultou o relógio e andou para a porta da frente, tirando a gravata enquanto ia. Mas, quando entrou, algum sexto sentido lhe disse que ela não estava lá. Naquele momento, a enfermeira de seu pai apareceu no hall. Ela era uma mulher maternal na casa dos cinqüenta. ― Ah, signore Valentini, se está procurando sua esposa, ela saiu... ― Ela deu uma pequena risada. ― Foi um pouco dramático, na verdade. Pânico o fez gelar por dentro. ― O que você quer dizer? ― Oh, não há nada errado com Cara ― disse ela, percebendo o nervosismo de Vicenzo. ― É o cachorro... Nós estávamos no jardim, e ele de repente pareceu desmaiar... Lúcia e Tommaso tinham ido às compras, e eu não podia deixar seu pai, então Cara levou-o ao veterinário. Alívio o inundou, deixando-o tonto. Era apenas o cachorro. Mas então o pânico retornou. ― Você disse que ela o levou ao veterinário? ― Sim. ― A enfermeira consultou seu relógio. ― Mas isso foi mais de três horas... Ela já deveria ter voltado. ― Como ela foi para lá? ― Eu ofereci meu carro a ela. Não estou com pressa... meu turno não acaba até... Vicenzo não quis ouvir o resto. Largou tudo e correu para fora da casa, subindo em sua moto. Tudo que em que podia pensar era no terror no rosto de Cara naquele dia em Dublin, quando ela havia achado que eles bateriam o carro. Ela sempre ficava tensa dentro de um carro, até mesmo no banco de trás. Vicenzo saiu da propriedade e foi direto para o veterinário. Ao chegar lá, descobriu que Carajá tinha ido embora. O veterinário estava explicando que Doppo ficara desidratado, e que pedira que Cara fosse buscá-lo lá dentro de alguns dias. ― Quando minha esposa saiu daqui? ― perguntou Vicenzo, impaciente. ― Não muito tempo atrás. Ela parecia um pouco pálida, na verdade. Perguntei-lhe se queria que eu ligasse para alguém, mas ela disse que ficaria bem... Vicenzo forçou-se a ficar calmo. Esvaziar a cabeça de tudo, exceto de encontrá-la. Finalmente a encontrou, e o alívio que o percorreu foi imenso. Um pequeno carro estava parado no acostamento da estrada, e Cara estava ajoelhada sobre o gramado ao lado da porta aberta, obviamente tendo vomitado. Ele saltou da moto e correu para tomá-la nos braços. Cara estava fraca e tremendo, o rosto tão pálido que puro medo o assolou. Vicenzo pegara uma garrafa de PROJETO REVISORAS

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água do veterinário, num momento de clareza, e agora a fazia beber. Ela bebeu um pouco, mas não parou de tremer. ― Vicenzo... ― Xii. Não fale. Vou levá-la para casa agora. Você está segura. Mesmo enquanto a erguia nos braços, ele sentiu as mãos de Cara agarrando sua camisa. ― O carro... é da enfermeira. Eu não acho que bati o carro, bati? ― Não, querida, o carro está bem. E Doppo está bem. ― Vicenzo amaldiçoou o cachorro silenciosamente. Subiu na moto, ainda a segurando, e acomodou-a na sua frente, ordenando que ela segurasse firme. Uma vez dentro da propriedade, Cara já se sentia mais forte. E também se sentia uma completa tola. Não conseguira fazer uma simples jornada de carro. Sua preocupação com Doppo a fizera chegar ao veterinário, mas, sem ele no carro, ela havia desmoronado, o acidente de carro fatal voltando com detalhes assustadores. Conseguiu descer da moto sem ajuda, e disse: ― Eu pensei que fosse conseguir. Afinal, eu não estava dirigindo na noite do acidente, mas não consegui... ― Evidentemente não ― murmurou Vicenzo. ― No que você estava pensando? Por que não ligou para mim, ou esperou até que Tommaso e Lúcia chegassem em casa? Cara o olhou e sentiu a cor drenar de seu rosto. ― Você está zangado porque eu saí da casa? Ele segurou-lhe o braço. ― Não, sua tolinha. Estou zangado porque você quase arriscou a sua vida por um cachorro. ― Mas ele desmaiou, Vicenzo. Eu não tinha certeza se ele estava respirando... E, depois de tudo que aconteceu, eu não ia deixar Doppo morrer só por estar com medo de dirigir. Sem palavras, Vicenzo a conduziu para a sala de estar, onde a sentou, antes de ir até o bar. Voltou com uma dose de uísque e ofereceu a ela. Cara torceu o nariz. ― Não, obrigada. ― Tudo bem. ― Vicenzo bebeu o uísque, parecendo pálido. Ele sentou-se ao seu lado. ― Acho que está na hora de você me contar como acabou naquele carro com eles naquela noite. Cara levantou-se imediatamente, não querendo reviver o terror. ― Não quero falar sobre isso. ― Virando-se, acrescentou com culpa. ― Para quê? Isso não trará sua irmã de volta. ― Eu sei que não, Cara. Mas acho que você vem se punindo por muito tempo por alguma coisa pela qual não teve culpa. ― Não muito tempo atrás, você estava contente em me culpar. ― Vicenzo levantou-se. ― Sim, mas eu estava errado. E fiz isso porque estava sofrendo, e porque pensei que você fosse igual ao seu irmão. ― Ele negou-lhe as mãos e levou-a de volta para o sofá. ― Cara, se você não contar para alguém o que aconteceu naquela noite, nunca se libertará disso. ― Mas, não entende? ― Ela estava quase soluçando. ― Eu nunca me libertarei disso. Se eu não estivesse lá, se não tivesse acreditado que precisava cuidar de sua irmã e de meu irmão... Vicenzo apertou-lhe as mãos. ― Conte-me, Cara. Eu mereço saber o que aconteceu com minha irmã. Como ela poderia lhe negar aquilo? Cara o fitou através das lágrimas. Começou a explicar como Cormac e Allegra tinham estado no apartamento naquela noite. Ela PROJETO REVISORAS

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cozinhara para eles, então ouvira Cormac ao telefone, fazendo arranjos para ir à boate. Era a noite de folga de Cara e, por uma vez, ele não queria que ela o levasse, porque tinha um carro novo... um novo brinquedinho com o qual queria impressionar Allegra. Cara ouvira o discurso dele, o tom de voz embriagado. Soubera naquele mesmo dia, mais cedo, que Cormac planejava levar Allegra para Las Vegas em breve, numa suposta viagem surpresa, onde proporia que eles se casassem num capricho romântico, pretendia fazer isso sem a interferência da família dela e sem as restrições de um acordo pré-nupcial. Até aquele momento, Cara não soubera das intenções de Cormac em relação à Allegra. Olhou para Vicenzo agora. Então recolheu as mãos. Não podia tocá-lo, falar e permanecer sã. ― Eu gostava de Allegra. Ela era doce comigo... algo que nenhuma das outras namoradas de Cormac tinha sido. Ela não merecia ter conhecido meu irmão... Cormac sabia que eu gostava de Allegra, e que ela gostava de mim, e por isso mesmo não me permitia vê-la com freqüência. ― Cara deu um sorriso triste. ― Ao contrário do que você acredita, meu irmão era muito paranóico para me usar como o peão que você pensou que eu fosse. Ela mordiscou o lábio. ― Eu queria ajudá-la. Mas não sabia o que fazer. Eu deveria tentar falar com ela? Ou procurar a família de Allegra? Allegra mencionou você algumas vezes, mas eu só descobri sobre o plano de Cormac naquele dia... Achei que houvesse tempo. ― A voz de Cara falhou. ― Eu não podia deixar Cormac levá-la para a cidade, quando ele estava tão embriagado... e Allegra não estava muito melhor. De alguma forma, consegui persuadi-lo a me deixar levá-los. Achei que estivesse fazendo um favor a eles. Protegendo sua irmã. Eu me sentia tão mal sobre o que ele planejava fazer com Allegra, e queria achar um jeito de detê-lo... Vicenzo pegou-lhe a mão novamente. ― Cara, apenas me conte o que aconteceu. ― No último minuto, Cormac insistiu em dirigir, dizendo que eu não seria capaz de lidar com o carro... Eu entrei no veículo de qualquer forma, pensando que pudesse ao menos tentar me certificar de que ele dirigisse com segurança. ― Cara o olhou. ― Os dois se recusaram a pôr o cinto de segurança... quanta estupidez. E então... a chuva começou. Torrencialmente. De súbito, faróis vinham na nossa direção. Cormac pegara o lado errado da pista... Isso é tudo de que me lembro, até que alguém estava me ajudando a sair do veículo. Eu andei, Vicenzo. Fui para o hospital, e eles me deixaram sair logo em seguida... Para surpresa de Cara, Vicenzo se levantou, puxando-a consigo, a expressão inescrutável. ― Você está exausta ― foi tudo que ele disse. Ela assentiu. E não disse uma palavra quando ele a pegou pela mão e conduziu-a para a cozinha. Em silêncio, ele preparou-lhe uma omelete simples e pão, obrigando-a a comer. Depois, sentindo-se muito confusa, Cara permitiu que Vicenzo a levasse para o quarto. Com um beijo casto em sua testa, ele a impulsionou para dentro. ― Descanse, Cara. Nós conversaremos amanhã. Na manhã seguinte, Cara acordou sentindo-se desorientada e grogue. Tinha dormido por quase 14 horas. Saiu da cama e tomou um banho rápido, pondo um vestido preto liso. Quando o colocou, uma parte sua revoltou-se com a cor, sentindo instintivamente que a hora de seguir em frente e abandonar o sofrimento chegara. E o fato de que era Vicenzo quem provocara essa mudança a abalou. Ela investigou a sala de jantar, mas não viu Vicenzo ou Silvio. Imaginou que Silvio PROJETO REVISORAS

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estivesse na cama ― ele às vezes dormia até mais tarde. Cara parou diante da porta do escritório do Vicenzo. Naquele momento, a porta se abriu e ela recuou, o rosto enrubescendo. Vicenzo parecia austero de terno e gravata. ― Eu estava indo procurá-la... nós precisamos conversar. Trêmula, Cara o precedeu para dentro, da sala. Ele parecia tão sério que a assustava. Ele gesticulou para que ela se sentasse na cadeira oposta à grande mesa, e também se sentou. Cara sentiu como se estivesse indo para uma entrevista. Olhou ao redor e viu que todos os papéis haviam desaparecido. ― O que você fez com os papéis? Eu os teria arrumado. ― Eles foram rasgados. Cara arfou. ― Mas eu ainda não tinha lhe dado o relatório. ― Eu sei o que Cormac fez, Cara, e, como ele não é mais uma ameaça, não vi problema em destruir a evidência agora. ― Mas... você poderia ter feito isso semanas atrás. ― Sim. Mas, enquanto você estava aqui, e enquanto eu a via como uma ameaça, eu precisava me certificar de que soubesse o que ele fez. Alguma contradição fez Cara perguntar: ― E como você sabe que eu não sou ainda uma ameaça? Vicenzo olhou-a longamente, antes de replicar. ― Você ainda é uma ameaça, Cara. Esse é o problema. Raiva e mágoa começaram a inundá-la, mas então Vicenzo levantou uma mão. ― Não falo desse tipo de ameaça, Cara. A ameaça à qual me refiro é totalmente distinta. ― Ele levantou-se e foi para a janela, ficando de costas para ela. Após um tempo, virou-se. — Você me chamou de Enzo quando fizemos amor. Cara enrubesceu, imediatamente tentando se proteger. ― Desculpe... isso não significa... Ele meneou a cabeça e sorriu. ― Não se desculpe. Eu gostei. Fazia muito tempo que ninguém me chamava de Enzo. Cara franziu o cenho. ― Mas, naquela noite em Londres... ― Eu me apresentei como Enzo, sim. Porque, quando eu a conheci, Cara, não tinha intenção de levá-la para cama. Meu único desejo naquela noite era informá-la do que eu pensei que você tivesse feito. Vicenzo suspirou. ― Eu concluí algo baseado em evidências circunstanciais, e condenei-a injustamente junto com seu irmão. Como não fui capaz de proteger Allegra, eu ataquei. Eu a superprotegi por muito tempo. Nós tivemos uma briga poucas semanas antes que ela morresse. Ela ordenou que eu a deixasse em paz... ― Não é culpa sua que ela conheceu Cormac ― murmurou Cara. ― Eu sei... ainda assim... Quando fui àquela boate e a vi sentada lá naquele vestido, você virou-se e olhou para mim... Eu estava perdido desde aquele momento, Cara, e tudo por causa dos sentimentos que você me causava somente ao me olhar. Peguei-me agindo por instinto, apresentando-me como Enzo... Era como se eu precisasse me tornar outra pessoa para justificar a atração que sentia. Para justificar meu comportamento, disse a mim mesmo que estava escondendo minha identidade para ver o quanto você era mercenária e manipuladora. Autodesprezo marcava-lhe as feições, chocando Cara. ― E, quando eu a convidei para ir ao meu hotel, você negou... Fiquei furioso pela rejeição, pois eu a queria com desespero. ― Ele riu. ― Eu estava disposto a deixá-la ir embora sem sequer confrontá-la. Estava correndo o risco de esquecer por que eu tinha ido procurá-la, em primeiro lugar. ― Mas então eu voltei ― completou Cara, incerta de aonde ele queria chegar com PROJETO REVISORAS

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aquilo. Vicenzo se aproximou, olhando-a. ― Mas então você voltou. Cara estremeceu ao ver como suas ações inocentes o tinham levado a ter uma concepção errada de seu caráter. Pegando-a de surpresa, ele abaixou-se sobre um joelho à sua frente. ― Por que você voltou, Cara? Não deve ter sido fácil, se você não fizera aquilo antes. A proximidade e as perguntas de Vicenzo a fizeram querer se fechar numa concha. Não poderia revelar a profundidade das emoções que a haviam abalado naquela noite. Não poderia revelar o quanto ele a magoara. ― Foi o mesmo para mim... A atração. Eu nunca tinha conhecido ninguém que me fizesse sentir daquela forma... o aquela semana... fora tão terrível. Você apareceu do nada e, de súbito, era como se nada mais existisse no mundo, exceto você. Eu só queria... me perder naquilo. Fugir da dor. Alguma emoção brilhou nos olhos de Vicenzo, mas ele levantou-se e foi para a janela novamente, enfiando as mãos nos bolsos. Quando voltou a se virar, o rosto era uma máscara de neutralidade. ― Eu lhe devo um pedido de desculpas, Cara. Mais do que isso. Por tudo e especialmente por aquela noite... a manhã seguinte. Eu estava zangado comigo mesmo por perder o controle e descontei em você. Quando você apareceu em Dublin para me falar da gravidez, adicionei outro pecado ao crime, assumindo que você era como todas as mulheres que conheci. ― Seu pai me contou sobre sua mãe ― disse Cara baixinho. Ele deu um sorriso tenso. ― Sim. Minha mãe certamente quebrou a nossa família. Meu pai nunca se recuperou completamente... e ele e eu superprotegemos Allegra... como se isso pudesse recompensá-la pelo abandono da mãe. ― Foi por isso que acreditou que eu abandonaria meu bebê, se você me pagasse o bastante? Ele assentiu. ― Eu jamais faria isso, Vicenzo. Nada no mundo teria me persuadido a abandonar meu bebê. Nada. Eu teria ficado. Por isso foi fácil assinar o acordo pré-nupcial. Não me importo com dinheiro. Eu teria ficado para estar com meu filho. ― E com você, admitiu ela para si mesma. ― Eu sei ― disse Vicenzo, com a voz emocionada. ― Acredito em você. E não imagina como isso foi difícil para mim. Confiar novamente. Minha mãe partiu todos os nossos corações, e, desde o dia que ela partiu, eu venho negando minha própria necessidade de criar uma família, de me apaixonar. ― Mas, por que você insistiu em se casar comigo, se viveu essa experiência? ― Cara prendeu a respiração. ― Disse a mim mesmo que era porque você estava carregando meu herdeiro. Disse a mim mesmo que era para impedir escândalos nos jornais. Disse a mim mesmo que dessa forma eu poderia controlá-la e puni-la, mostrando-lhe que, mesmo casada com um bilionário, você efetivamente não tinha nada... Mas, na realidade, minhas razões para esse casamento foram muito mais ambíguas do que isso. Porque, a partir do momento que nos conhecemos, eu comecei a mudar. Você me mudou. Cara observou quando Vicenzo puxou uma cadeira e se sentou à sua frente. Ele pegou-lhe as mãos, e ela pôde senti-las tremendo. Ele a olhou intensamente. ― Ontem, quando eu cheguei em casa e você tinha sumido... e quando fui procurála e a vi no acostamento daquela estrada, acho que envelheci algumas décadas no espaço de meia hora. Tudo que eu podia imaginar era você deitada em algum lugar no PROJETO REVISORAS

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fundo de uma ravina. ― Mas eu estou bem ― apontou Cara. ― Eu sei. Mas isso me forçou a enfrentar uma coisa. No começo, acreditei que você fosse má e manipuladora. Interesseira. Mas isso era ridículo. Você não tinha idéia de quem eu era aquela noite em Londres; todavia, eu disse a mim mesmo que você tinha ido para minha cama porque eu era rico... Ele balançou a cabeça. ― Todos os conceitos que eu tinha sobre você começaram a se dissolver. E muito antes do que eu estava preparado para admitir. Foi o jeito como você assinou o acordo pré-nupcial, sem a menor hesitação. ― Ele sorriu. ― O elo que formou com meu pai; sua determinação em usar preto. E a noite do seu aniversário, a qual foi um completo desastre. Quando ela ia protestar, ele apertou-lhe mais a mão. ― Foi. E então houve... o aborto. Nós perdemos o bebê por causa da minha teimosia em ver a verdade. Cara começou a se sentir em pânico. ― Vicenzo, você não pode pensar assim. Não foi culpa sua. Uma expressão sofrida cruzou o semblante dele. ― Eu preciso libertá-la, Cara. Não posso mantê-la aqui e nunca deveria ter trazido você para cá. Perdoe-me por ter causado ainda mais sofrimento em sua vida... o bebê. Cara não conseguia respirar. Recolheu as mãos de Vicenzo e levantou-se. Racionalmente, sabia que deveria estar feliz, mas sentia que estava morrendo. Posicionou-se atrás da cadeira. ― Mas há o débito. Eu ainda preciso pagar o débito de Cormac. Vicenzo também se levantou. ― O débito está pago. Ela meneou a cabeça. ― Não. Eu não permitirei que você cubra o prejuízo que ele causou. Vicenzo balançou a cabeça. ― Acabou, Cara. O débito não existe mais... em lugar algum, nem mesmo no papel. Você foi tão vítima de seu irmão quanto Allegra. Estou fazendo isso por você, e em memória à minha irmã. Ela não ia querer isso para você, e eu também não quero. ― Mas... ― Cara esforçou-se para absorver o fato de que ele queria que ela fosse embora, e de que ela não conseguia se sentir feliz com a perspectiva de sua liberdade. Então, como se lendo sua mente, Vicenzo falou: ― Você tem sua liberdade agora, Cara. Pode ir para casa, procurar emprego. Eu já fiz arranjos para lhe comprar um apartamento em Dublin, e ajudá-la a recomeçar. Eu posso lhe arrumar um emprego também. Uma onda de náusea subiu à garganta de Cara. ― Não. Você não precisa fazer isso. ― Lágrimas se acumularam em seus olhos e ela piscou para reprimi-las. ― Sim, preciso. Um súbito silêncio se instalou entre eles. E então Vicenzo prendeu-lhe o olhar e declarou: ― É o mínimo que posso fazer pela mulher que eu amo, a quem tanto feri. CAPÍTULO CATORZE O coração de Cara parou de bater. O tempo parou. ― O que você disse? Vicenzo estava imóvel como uma estátua. PROJETO REVISORAS

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― Eu disse que isso é o mínimo que posso fazer pela mulher que amo. ― Você não me ama... ― Cara meneou a cabeça, atordoada. ― Sim, amo. Eu me apaixonei por você. Eu quase desmoronei ontem. Dois meses com você, e minhas defesas foram destruídas pela primeira vez. Eu tinha uma aliança no seu dedo e você trancada como minha noiva grávida. ― Mas isso era por causa do bebê, da imprensa... Não era? Vicenzo sorriu. ― Era? Desde o momento que eu a deixei naquela manhã, não consegui mais tirála da cabeça. Eu teria achado alguma desculpa para procurá-la. ― O sorriso dele desapareceu. ― Não tenho direito de mantê-la aqui, quando tudo que você quer e merece é sua liberdade. Você tem o poder nas mãos para se vingar de mim, Cara, se for embora. Ele fez uma pausa. ― Mas, se sentir que pode ficar e dar uma chance a este casamento, então... você me faria o homem mais feliz do mundo. Eu não me iludiria pensando que você pudesse me amar, depois de todo sofrimento que eu lhe causei. Cara o estudou. Não duvidava que ele sentisse culpa sobre o bebê, e por ter duvidado dela. Mas como sobreviveria caindo nos braços dele agora, apenas para que Vicenzo se cansasse dela depois de algumas semanas ou meses? Ele tinha sido um playboy até conhecê-la. Eles apenas haviam passado por circunstâncias dramáticas e sofrido perdas dolorosas. Então ela meneou a cabeça, embora seu coração estivesse se despedaçando por dentro. ― Você tem razão. Tudo que eu sempre quis foi ser livre. E, se você está disposto a me deixar ir agora, eu gostaria de ir. Vicenzo enrijeceu visivelmente. ― É claro. Se é isso que você quer. Tommaso a levará para o aeroporto em uma hora. Mandarei levar suas coisas para seu novo apartamento. Deixarei que você decida o que fazer sobre nosso casamento. Cara abriu a boca, mas ele ergueu uma mão. ― Eu destruí o acordo pré-nupcial, então, se você decidir que quer a separação, será bem provida. Desnecessário dizer que terá acesso aos fundos enquanto isso. Eu só lhe peço que considere o que realmente quer antes de tomar uma decisão final. Se ela precisasse de um sinal, então era aquele. Ele nem mesmo estava tentando fazê-la mudar de idéia. Confusa e sofrendo, Cara só pôde assentir. Então, antes que desmoronasse, virou-se e saiu do escritório. Uma hora depois, ela esperava nos degraus perto da porta da frente. Tommaso tinha ido buscar o jipe. Gelo parecia envolver leu coração. Ela ouviu um som atrás de si e virou-se. Se fosse Vicenzo... Mas era Silvio, fazendo-a sentir-se devastada. ― Desculpe-me ― murmurou ela, com olhos marejados. Ele veio parar ao seu lado, fitando-a com olhos amáveis. ― Pelo quê? Você tem de fazer o que tem de fazer. ― Obrigada por sua compreensão. Tommaso parou o jipe e Cara inclinou-se para beijar as faces de Silvio. Ele segurou-lhe as mãos e disse: ― Não sei se você entende, Cara, mas Vicenzo não voltava para esta propriedade desde que saiu de casa aos 17 anos. Todavia, ele a trouxe para cá, porque acho que sabia, pela primeira vez, que estava disposto a arriscar o coração novamente. Choque a percorreu. Não, queria dizer, ele só me trouxe aqui para se certificar de que eu não causasse problemas. Entretanto... Ela ouviu Tommaso abrir a porta do jipe e pegar a pequena mala aos seus pés. A vontade de ceder era enorme... Mas precisava ser forte. Se ficasse, arriscaria a dor de um coração partido maior do que podia imaginar. PROJETO REVISORAS

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Sua boca tremeu. ― Sinto muito, Silvio. Ele assentiu e moveu a cadeira de rodas para trás. Cara entrou no jipe e virou a cabeça, para que ele não visse suas lágrimas. No momento que eles estavam entrando no aeroporto, e Tommaso lhe dando mais um lenço de papel, Cara finalmente concedeu que, se entrasse naquele pequeno avião esperando na pista, seu coração se partiria de forma tão irreparável que qualquer coisa em comparação seria melhor. Quando ela desculpou-se e pediu que Tommaso voltasse, ele não pareceu surpreso. E, quando ela pediu-lhe que parasse em Tharros, e saiu de uma pequena boutique num vestido branco estampado com pequenas margaridas, ele não disse uma palavra. A casa estava silenciosa quando eles retornaram. Cara respirou fundo do lado de fora do escritório de Vicenzo, e abriu a porta. Ele estava junto à janela, as mãos nos bolsos, cada linha do corpo tensa. Ela notou uma garrafa de uísque sobre a mesa e um copo vazio. Então ele virou-se, e Cara quase estremeceu diante da expressão no rosto dele. Os olhos de Vicenzo estavam vermelhos, e então ela soube que havia infinitamente mais entre eles do que apenas a série de eventos que os unira. Vicenzo viu Cara parada ali, num vestido branco e descalça, os cabelos soltos. Era uma miragem. Só podia ser. Ela parecia um anjo. Não podia ser real. E então ela estava se aproximando, colocando-se na ponta dos pés, rodeando-lhe o pescoço e dizendo: ― Perdoe-me por ter ido embora... mas eu estava com medo... com medo de que tudo que você sentia fosse culpa e um dever de me dar liberdade... Eu queria que você saísse e me segurasse, me pedindo para ficar, e, quando isso não aconteceu... ― Ela meneou a cabeça, os olhos lacrimejando. ― Eu não sou livre sem você, Vicenzo. Você é minha liberdade. Era real, pensou Vicenzo. Ela voltara vestida de branco, para fazê-lo acreditar. ― Oh, Cara. ― Ele abraçou-a apertado, as palavras soando abafadas contra o pescoço dela enquanto ele a beijava e falava ao mesmo tempo: ― Eu só não tentei impedi-la de ir por medo que você me odiasse por não lhe dar escolha. Mas não imagina como foi difícil ficar aqui, pensando em você entrando naquele avião... Eu ia beber até o estupor, para não segui-la e arrastá-la de volta para cá. Cara beijou-lhe os lábios, o rosto. ― Eu não consegui ir. O pensamento de deixar a ilha, deixar você, era insuportável demais. Eles se beijaram então, como nunca tinham se beijado antes, como se estivessem separados por anos. Finalmente, Cara afastou o rosto e sorriu-lhe. ― Enzo... Vicenzo... eu o amo tanto. Ele sorriu, e seu corpo enrijeceu diante da expressão sexual nos olhos verdes, da suavidade do corpo deleitoso contra o seu. Segurando-lhe o rosto, olhou-a intensamente: ― Você vai se casar comigo, Cara? Aqui no gramado, na frente das pessoas que amamos... de modo que eu possa lhe provar o quanto a amo e preciso de você? Felicidade explodiu através de Cara como um raio de sol. ― É claro que me casarei com você! Quantas vezes quiser. ― Ela pressionou os lábios nos dele, roubando-lhe a alma com um beijo doce. Era começo da noite quando Cara acordou lentamente e abriu os olhos, aliviada ao ver Vicenzo apoiado sobre um braço, fitando-a com seriedade. ― Cara, eu nunca mais vou deixá-la, como fiz naquela noite. Foi por isso que você nunca ficou na minha cama, não foi? Cara assentiu. PROJETO REVISORAS

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Jéssica 170.1 – Vingança no altar – Abby Green

Vicenzo abaixou a cabeça e beijou-a profundamente, contando-lhe sobre seu amor, sua devoção. ― Perdoe-me por tê-la magoado. Ela tocou um dedo nos lábios dele. ― Vamos esquecer isso. Esta é nossa segunda chance. Vicenzo pôs uma mão possessiva sobre a barriga dela. ― Acha que essa segunda chance poderia incluir tentar outro bebê? Cara sorriu, então puxou-lhe a cabeça para um beijo. ― Eu acho que se nosso registro prévio de engravidar for alguma indicação, já podemos estar lá... Mas, só para garantir, não faz mal algum tentar novamente... Eles se casaram novamente numa cerimônia íntima no jardim da propriedade, com vista para o mar, seis semanas depois. Rob, Barney e Simorí viajaram da Inglaterra para ser os padrinhos de Cara. Se os italianos acharam aquilo estranho, não fizerem comentários. Cara andou descalça ao longo do corredor gramado no braço de Rob. Num lindo vestido cor de creme que ia até os tornozelos, ela usava uma guirlanda de peônias brancas na cabeça, os cabelos soltos e cascateando nas costas. Não usava nenhuma jóia, exceto o anel de diamante que Vicenzo lhe dera no dia anterior. Ele teve de reprimir as lágrimas ao vê-la se aproximar. Nunca vira nada mais adorável na vida. Ele também estava esporte, descalço, em calça preta e camisa branca aberta no colarinho. Eles nunca quebraram o contato ocular. E, quando chegou a hora do beijo, depois que os votos foram trocados, Vicenzo emoldurou o rosto de Cara nas mãos e sussurrou suavemente, antes de tocar os lábios nos seus: ― Eu prometo amá-la para sempre, e beijá-la com a maior freqüência possível, senhora Valentini. Cara reprimiu as lágrimas e deu um sorriso trêmulo. ― Ótimo. Então, apresse-se e me beije, senhor Valentini. Ele a beijou, por um longo, longo tempo... até que a multidão começou a aplaudir, rindo, e finalmente pedindo que eles parassem, de modo que pudessem prosseguir com as celebrações. EPÍLOGO Oito meses depois, Cara sorriu, sonolenta, ao sentir mãos fortes tirarem sua filha de oito semanas de seu peito, onde ela começara a acordar, emitindo pequenos ruídos alegres. ― Hora de Sophia Allegra e seu papá terem um momento de conexão, eu acho... e deixar mamma descansar. Cara abriu os olhos a tempo de aceitar o longo beijo na boca antes que Vicenzo ― ou Enzo, como ela o chamava agora ― endireitasse o corpo e lhe piscasse, então ia em direção ao jardim com a filha deles aninhada em seu peito. Ela ergueu-se sobre os cotovelos e observou seu marido saindo, nu, exceto por uma bermuda, as costas largas bronzeadas pelo sol, depois das férias que tirara para passar com elas. E então, não querendo ficar para trás, ela levantou-se, amarrou um sarongue ao redor da cintura e foi se juntar à família na beira da praia, vendo as ondas batendo na areia. Vicenzo passou um braço possessivo ao seu redor, e o olhar que eles trocaram dizia tudo. Cara envolveu-lhe a cintura com os braços e, juntos, eles permaneceram na praia com sua filhinha, assistindo ao sol nascer num outro lindo dia. PROJETO REVISORAS

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Fim

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