Maisey yates [poder e desejo] alianca de desejo (jessica 214 1)

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ALIANÇA DE DESEJO (His Ring Is Not Enough)

Maisey Yates

Depois do "sim"... O plano de Ajax Kouros não incluía ser abandonado no altar. Especialmente diante de milhares de convidados e centenas de repórteres. O futuro de sua empresa depende de se casar com uma Holt. Quando sua cunhada assume o lugar da noiva, ele não pode recusar. Leah Holt cresceu vendo sua bela irmã socialite pendurada no braço de Ajax. Ela sempre teve uma queda por ele, e agora tem a chance de atrair os holofotes para si e salvar a fortuna de sua família. Mas o "sim" é apenas o começo. Leah logo percebe que seu novo marido é um entretenimento bem mais complexo do que o garoto de suas fantasias juvenis... Digitalização: Simone R Revisão: Cássia


Jessica nº 214.1

Aliança de Desejo

Maisey Yates

Querida leitora, As heroínas de Jessica 214 se envolvem com dois homens poderosos pelo bem dos negócios de suas famílias. Em Aliança de desejo, Leah Holt assume o lugar de sua irmã no altar e se casa com Ajax Kouros para salvar a empresa de seu pai, e a dela. A paixão de adolescente que sentia por ele nada tem a ver com isso ou, pelo menos, é do que ela tenta se convencer... E m Poder do coração, Natalie Carr conhece e se encanta por Ludo Petrakis um pouco antes de descobrir que ele pretende comprar a empresa de seu pai por preço de banana. Que belo balde de água fria! Mas Ludo resolve aumentar o valor da proposta, desde que Natalie esteja incluída no pacote! Boa leitura! Equipe Editorial Harlequin Books Tradução: Celina Romeu HARLEQUIN 2013 PUBLICADO SOB ACORDO COM HARLEQUIN ENTERPRISES II B.V./S.à.r.l. Todos os direitos reservados. Proibidos a reprodução, o armazenamento ou a transmissão, no todo ou em parte. Todos os personagens desta obra são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas é mera coincidência. Título original: HIS RING IS NOT ENOUGH Copyright © 2013 by Maisey Yates Originalmente publicado em 2013 por Mills & Boon Modern Romance Título original: IN PETRAKIS’S POWER Copyright © 2013 by Maggie Cox Originalmente publicado em 2013 por Mills & Boon Modern Romance Projeto gráfico e arte-final de capa: Núcleo i designers associados Editoração Eletrônica: ABREU'S SYSTEM Impressão: RR DONNELLEY

www.rrdonnelley.com.br Distribuição para bancas de jornal e revistas de todo o Brasil: FC Comercial Distribuidora S.A. Editora HR Ltda. Rua Argentina, 171,4° andar São Cristóvão, Rio de Janeiro, RJ — 20921-380 Contato: virginia.rivera@harlequinbooks.com.br

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CAPÍTULO UM

— É oficialmente hora de entrar em pânico. Leah Holt terminou de ler a mensagem de texto no celular e olhou para o pai. Ele parecia em choque, e Leah não podia culpá-lo. Sentia-se da mesma forma. Todos estavam ali. Tudo estava pronto. A decoração havia sido feita, o bolo chegara. A mídia tinha sido avisada e aparecera lá em massa. O noivo estava presente e pronto. E a noiva sumira. — Por que é hora de entrar em pânico? — perguntou Joseph Holt. Não queria delatar Rachel. Por mais preocupante que a mensagem fosse, Leah sabia que Rachel não teria feito aquilo sem um motivo muito grande. — Ela partiu. Não virá. — Quem não virá? Leah ergueu os olhos e seu coração quase parou. Ajax Kouros entrava; vestido num smoking negro que lhe moldava perfeitamente o físico. Parecia intocável, como sempre. Um deus, mais do que um homem. Vê-lo a fazia pensar no passado. Quando o seguia por toda a propriedade, falando sem parar. Sua irmã na escola, o pai ocupado com o trabalho, a mãe tomando chá com as amigas. Mas Ajax sempre estivera lá para ouvi-la. A pessoa que imaginara que a compreendia. Muito tempo havia se passado desde então. Não era mais uma menina. Não era mais a idiota que acreditava que um homem como Ajax se interessaria por ela ou no que tinha a dizer. E ele não era mais aquele menino, bronzeado por trabalhar sem camisa ao sol. Era um bilionário agora. Um dos mais bem-sucedidos homens de negócios do mundo. E naquele dia deveria se casar com a irmã dela e assumir o controle da Holt Industries, assim como um bom pedaço do negócio dela, já que a corporação do pai tinha um grande número de ações de sua empresa. Mas Rachel havia partido e não voltaria, dizia a mensagem de texto. Era tão pouco característico de sua brilhante e linda irmã. A eterna anfitriã e queridinha da mídia que nunca falhava. Era sempre linda e, graciosa, um modelo constante para fotos. Tão diferente de Leah, que também era um modelo constante para fotos por motivos totalmente opostos. E a mídia adorava aquele jogo. Adorava enfatizar cada um de seus defeitos, cada imperfeição. Leah engoliu e encontrou os olhos de Ajax. Estavam escuros, duros. Sempre tinham sido. Mesmo quando menino, nunca havia um sorriso lá. Nenhuma luz. Mas a escuridão a atraía, como sempre havia atraído. — Rachel não virá. — A voz era apenas um sussurro ensurdecedor na sala de estar. — O que quer dizer com “não virá”? — A voz de Ajax era suave como uma pedra de granito. — Apenas... Acabou de me mandar uma mensagem. Ela. Aqui. — Entregou o celular a Ajax e quase o deixou cair quando os dedos dele roçaram os dela. — Diz que quer ficar com Alex, quem quer que ele seja, e que não pode se casar com você. E lamenta. — Posso ler Leah, mas obrigado. — E lhe devolveu o celular. Então olhou para o pai 3


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dela. — Você sabia? Joseph balançou a cabeça. — Que havia mudado de ideia? Não. Nunca a pressionei, Ajax, você sabe. Tinha a impressão de que estava totalmente de acordo. Ajax acenou e voltou o olhar para Leah. — Você sabia? — Não. — Se soubesse, jamais teria deixado as coisas chegarem tão longe. Jamais permitiria que Rachel deixasse Ajax daquele jeito, sem aviso e com o mundo todo observando. — Que é Alex? Que outras informações há aí? — Eu. — Leah olhou as mensagens. — Ela não diz. — Mande uma mensagem para ela. Agora. — Ajax, se ela precisa de espaço. — A voz do pai era insegura. — Não estou muito preocupado com isto. — A resposta de Ajax foi seca e dura. Leah escreveu o texto com a maior velocidade que conseguiu. — Alex quem? Eu conheço? — Não. Alex Christofides. — Inesperado. Lamento. — Alex Christofides. — Ajax e o pai dela trocaram um olhar que dizia tudo. Ela se arrepiou ao entender. — Alexios — repetiu Leah, a voz lenta. — Alexios Christofides. — É este mesmo. Como se não bastassem suas tentativas para destruir meus negócios, o canalha teve que destruir também meu casamento. E fazer uma tentativa para se apossar da Holt, imagino. — Por que, Ajax? Por que ele o odeia tanto? — Não sei. Negócios, eu suponho. — Mas ela... Ela sabe? Quem ele é? — Não, não é o mundo dela. Não. Mas era o de Leah. Sabia sobre Alexios Christofides e suas tentativas de tirar do mapa o conglomerado de indústrias e lojas de varejo de Ajax através da compra secreta de ações e denúncias de atividades ilegais que jamais existiram e nunca foram provadas. Alexios tinha sido uma dor de cabeça para Ajax nos últimos cinco anos. — E você nunca falou sobre ele com ela? — Como disse — os dentes estavam cerrados —, não é o mundo dela. Leah enviou outra mensagem para Rachel enquanto o pai e Ajax continuavam a conversar. — Ele é inimigo de Ajax. Não sabia? E se estiver usando você? Tarde demais, L. Não posso me casar com Jax agora. Preciso estar com Alex. — No dia do seu casamento? — Lamento. Confie em mim. Não há outro caminho. — Se Rachel o escolheu — afirmou o pai —, então o escolheu. — Mesmo se está determinado a prejudicar Ajax? E quanto à empresa? Meu negócio está misturado a ela. Vou ser atropelada por suas táticas agressivas. — Está presumindo que ele não se importa com Rachel. E que Rachel é uma idiota. Não acredite nisto, Leah. — Não, é claro que não. Rachel jamais seria tão idiota. Pelo menos, isto é o que todos pensariam. A brilhante, controlada Rachel, que se comportava tão bem em qualquer situação social, nunca seria afastada do homem com quem estava destinada a se casar com mentiras e enganações. Era esperta demais. Leah não acreditava. A irmã era maravilhosa e tinha sido mimada pela mídia. Rachel não via as coisas feias da vida. E a ideia de que um homem, Alexios, poderia mentir para ela, usá-la, fez o estômago de Leah queimar. — Passe a empresa para mim — disse Ajax a Joseph. — Modifique o contrato. 4


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— Faria isto, mas a empresa foi prometida às minhas filhas. Ao marido da primeira que se casasse. — Sempre foi destinada a mim. Você fez o contrato pensando em mim. — Sim. Naturalmente presumi que seria você. Mas o que posso fazer? Dei minha palavra e não usarei a empresa para obrigar Rachel a se casar com o homem que quero para ela. E, se esta é a escolha dela, tem o direito à empresa. Ela conhece o contrato. Leah sabia que a promessa havia sido feita para Ajax e Rachel. Joseph amava Ajax como o filho que nunca tivera e ele e Rachel tinham parecido uma união lógica desde o princípio. Era como se Ajax sempre tivesse sido destinado a ser parte da família. Mas agora tudo estava sendo arruinado. E a cadeia de lojas de Leah, seu negócio, toda a sua vida, faziam parte do pacote que poderia ficar nas mãos do inimigo de Ajax. Se Alex estava tentando agarrar a Holt e destruí-la por vingança contra Ajax, então esmagaria os sonhos de Leah também. Não era a queridinha da mídia. Não era a linda. Não atraía homens. Mas tinha a Leah’s Lollies. Seu negócio crescia e se tornava uma espécie de moda. Doces de uma de suas lojas eram um dos presentes mais populares do mundo. Não o perderia. Não podia. Era quem ela era. — Preciso conversar sozinha com Ajax. — Não se permitiu tempo para pensar. — Por favor. — Virou-se para o pai. Ele acenou. — Se precisa. — Olhou para Ajax. — Lamento meu filho, mas não posso obrigá-la a se casar. Não a forçarei. E, se escolheu Alex, mesmo que seja seu inimigo, não a impedirei. — Jamais lhe pediria isto. O pai saiu da sala e Leah combateu a tentação de segui-lo, argumentar com ele. Seria mais fácil do que lidar com Ajax. Mas o pai não cederia. Dera sua palavra e, no mundo de Joseph Holt, no qual os homens tinham honra, nenhum se rebaixaria a usar uma mulher como parte de uma rivalidade nos negócios. Mas aquele não era o mundo real, sabia, e Ajax também. Ajax passou a mão pelo cabelo. — O que se pode fazer? Há um contrato pronto para ser assinado, um casamento planejado. Há mil convidados que chegarão dentro de três horas. A mídia estará aqui. Este tem sido considerado o casamento do século. Portanto, a questão — virou-se para Leah, — o que se pode fazer? Havia um indício de perda de controle que Leah jamais vira. Olhou para ele, para a linha dura da sua boca. Preocupação nos olhos. Ajax Kouros, preocupado. E a resposta chegou. Tão clara; tão simples. Era assim que as coisas funcionavam nos negócios e estavam lidando com um problema ligado aos negócios. Um contrato precisava ser assinado. Ou, mais especificamente, dois contratos precisavam ser assinados. — O que diz o contrato? — A posse da Holt deveria passar para mim depois da assinatura do contrato de casamento, com a cláusula de que o casamento dure por cinco anos. Se não, a posse volta para seu pai. — E os nomes no documento? — Sem nomes. Intercambiável. Esta é a questão. — Mínimo de cinco anos? — Sim. — Eu faço isto. As palavras pairaram no ar, altas demais no vazio. Por um breve momento, ela se sentiu exposta. Desajeitada. Não. Não era mais aquela garota. Era mais forte. Aprendera. Jamais se exponha. Nunca os deixe ver você chorar. 5


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— Faz o quê? — Os olhos escuros de Ajax prendiam os dela. — Eu. — A insegurança lhe apertou a garganta. A Leah do passado voltou; aquela que havia idolatrado Ajax. A garota que fizera uma idiota de si mesma buscando sua atenção, seu afeto. A adolescente estúpida que quase se declarara a ele momentos antes de ele lhe dizer que amava Rachel. É pela Leah’s Lollies. Não tem relação nenhuma com aqueles sentimentos. É pela Holt. Não era mais escrava de seus sentimentos. Como todo mundo, ele escolhera Rachel. E ela aprendera a se esconder, porque tinha seu orgulho. — Eu me caso com você. E então os convidados e as empresas, as suas e as minhas, e a Holt, tudo ficará bem. E não importa se Rachel se casar com Christofides no mês que vem ou amanhã, ele não porá as mãos na Holt. Tudo vai dar certo. Ele riu sem humor. — Tudo vai dar certo, é? Perfeito. Apenas um soluço. — Sei que é mais do que um soluço. Mas é melhor do que nada. Ajax não era um homem extrovertido. Tinha sido bom para a irmã, mas não muito afetuoso. Perguntara-se mais de uma vez que tipo de relacionamento tinham. Mas no momento tinha que reconhecer que Ajax parecia um homem que acabara de perder o amor de sua vida. Ajax passou de novo os dedos pelo cabelo, a expressão em seus olhos tão diferente da costumeira. Perdido. Lembrou a ela de uma versão mais jovem dele. Do menino que havia sido antes de chegar à Propriedade Holt. Ainda se lembrava do momento em que o conhecera, quando ele havia aparecido na propriedade para trabalhar. Era como se o mundo tivesse se despedaçado. Era tão jovem, mas houvera alguma coisa nele que a atraíra. Num segundo ele passara a ser tantas coisas para ela. E a ouvira. Fizera-a se sentir importante, especial. E se agarrara a ele, seguira-o por toda parte como um filhote perdido. Só de pensar se arrepiava de constrangimento. Ele olhou para ela, aquela expressão perdida desaparecida tão depressa como surgira. Agora era ilegível, inexpressiva. — Você terá que servir. A forma como falou a fez querer se desmanchar numa poça de água e escorregar para fora da sala. Estava sendo comparada com Rachel de novo. E nem chegava aos pés dela. — Obrigada. E de nada. — Não espere que fique feliz. Minha noiva me abandonou; preferiu ficar com meu rival. E nem teve a cortesia de me avisar; preferiu entrar em contato com você. — Sou a irmã dela. — E eu sou o homem que ela devia amar. Ela colocou a mão no braço dele, sentiu uma onda de calor lhe percorrer o corpo e a tirou como se a tivesse queimado. Não havia esperado por aquilo. Afinal, deixara de se importar com Ajax anos atrás. Tinha sido apenas atração física; afinal, era humana. Qualquer mulher que o tocasse sentiria a mesma coisa. Felizmente soubera como esconder aquele momento de insanidade. Passara anos cultivando sua máscara, aquela que mantinha a mídia longe. Que impedia que fosse ferida. A que dizia: Oh, é você de novo. Não me aborreça. Oh, Deus do céu. Eu o pedi em casamento. E o pensamento lhe apagou o sorriso. Mas não o fizera por si mesma, não pessoalmente. Tudo estava em risco. O futuro da Holt, da Leah’s Lollies, e os sonhos e o trabalho duro de Ajax. E isto importava para ela. Não o amava mais, deixara de amá-lo anos atrás. Mas se importava. Com a Holt. Com sua empresa. — Por que, Leah? O que ganha com isto? 6


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— Bem, Ajax, Rachel evidentemente enlouqueceu. Fugiu com este homem que você e eu sabemos que não está com ela por coincidência. Um homem que fez isto apenas para machucar você. — Sim. — Meu pai ama Rachel, mas não consegue ver suas falhas. — E ela as tem? — É confiante demais e sabemos que isto é uma falha. Alexios vai usá-la para chegar a você, para pôr as mãos na Holt, para impedi-lo de expandir seus negócios. Vai magoá-la. E não posso permitir, nem você. — É claro que não. — Então está combinado. Precisamos nos casar antes dela. Você ainda pode fazer parte da família, que é o que quer. De outra forma, ambos perderemos a Holt. Você perde mais. Perde Rachel e a Holt para Christofides. — Não sabia que a Holt era tão importante para você, Leah. — É o legado da minha família. Não posso apenas deixá-la ficar sob o controle de um estranho. É mais do que um legado, meu pai tem ações do meu negócio, que está sob o guarda-chuva corporativo da Holt. De repente, um estranho tem o controle sobre mim e minha empresa. — E se Rachel quiser a Holt? — Não quer. Não significa para ela o que significa para mim e você sabe. Seria sua mão direita socialmente, mas duvido; que já passou um dia lá por vontade própria. — Verdade. Mas não pedi isto dela. Uma anfitriã, alguém que me dê uma aparência mais suave, era disto que precisava. Observou as linhas duras do rosto. Sim, ele certamente precisava de uma boa anfitriã. Inspirou com força e colocou a máscara dura no lugar. — Bem, isto está acontecendo agora. E quer que outro homem tenha sua esposa e seu negócio? Ajax deu um passo em direção a ela, o olhar sombrio preso no dela, e alguma coisa dentro dela se desmanchou. — Além da Holt, Leah, o que você quer? — Proteger a Leah’s Lollies. A Holt tem um quarto das minhas ações. E, além de minhas lojas de doces estarem presas à Holt, sou uma Holt. É meu legado. É nosso, não só seu. — Devia ter sido meu e de Rachel. — Eu sei. — E confia suas ações a mim? Alexios é um gênio financeiro. Talvez ele seja melhor para seus negócios do que eu. Rachel parece pensar assim. — Você fará o que é certo para o meu negócio, Ajax, não tenho dúvidas. — Não sei. Talvez eu venda as ações. Pensa que me darão lucro? — É claro. Vendo coisas caras e que fazem mal. Acho que estarei no mercado para sempre. Ele arqueou uma sobrancelha e alguma coisa mudou em sua expressão. — Um sucesso, portanto. Há poucas coisas que as pessoas amam mais do que seus vícios. — Sim. Bem, se puder, permita que eu continue a defender o casamento. — Por favor. — Não havia emoção em lugar nenhum. — Você tem razão. Está tudo pronto. Você, prestes a assumir as rédeas na Holt. Os convidados. O pastor. O bolo. Há... Doei um bocado de doces. — Gentil de sua parte. — Bem, agora estou doando uma noiva, o que pode ser mais do que gentil. — Se eu aceitar. — Oh. 7


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Ajax olhou para a mulher que até dez minutos atrás seria sua cunhada. Agora estava falando em ser sua esposa. Leah. Mal pensava nela como mulher. Em sua mente, ainda era uma menina de 16 anos, gordinha, com os cabelos cacheados, aparelho nos dentes e louca por doces. Lembrava-se claramente de encontrar um doce esperando por ele junto com as ferramentas de jardineiro todos os dias quando começara a trabalhar na propriedade Holt. E, o que começara como uma brincadeira de criança; continuara como uma tradição. Quando iniciara seu estágio na sede corporativa em Nova York, encontrara balas na escrivaninha. E, quando começara a própria empresa, uma grande cesta de chocolates o esperava no escritório. Sim, onde quer que seus pequenos presentes surjam, ele via Leah, a menina. A doce, descomplicada Leah, que olhava para ele e via alguém para quem valia à pena sorrir. Mas aquela visão não combinava com a realidade ali de pé diante dele. Agora era uma mulher, tinha 23 anos. Um pouco da gordura desaparecera, mas não tudo. O cabelo ainda era uma pesada massa de cachos escuros, embora menos frisados do que quando era adolescente. E havia uma dureza nela que não existira antes. Mesmo assim, não era como Rachel. A linda, esguia Rachel. Rachel, a mulher a quem queria há tantos anos. A mulher com quem passara tanto tempo planejando se casar. Tinha estado lá, no fim de seu caminho, e havia sido seu objetivo por tanto tempo que sua remoção o deixara perdido. Sem um alvo. A única mulher que amara. E o deixara. E, sem ela, a Holt e, cada parte de seu plano, de sua vida, se despedaçariam. Se permitisse, se não aceitasse a oferta de Leah. Era um dia péssimo para seu orgulho. A noiva por quem esperara por anos o deixara no dia do casamento por outro homem. Aquele casamento parecia ser o toque final para que as coisas finalmente se encaixassem. Era tudo o que queria; tudo pelo que trabalhara. Sua recompensa pelo controle rígido, por nunca se desviar do caminho que se determinara a seguir. Mas Rachel claramente não via as coisas assim. Talvez fizesse sentido. Rachel era apaixonada, mas não por ele. E nunca se incomodara com sua reserva para com ela. Mas o orgulho não lhe daria o que queria, não traria Rachel de volta. Recusar Leah não o beneficiaria. No entanto, tinha grande dificuldade de pensar nela como esposa. Como o tipo de mulher com quem partilharia a vida, levaria a festas, para a cama. Leah não era a mulher com quem se imaginara vivendo. — Bem, vamos lá, Ajax, não faça uma garota esperar assim. Havia um pequeno sorriso estampado em seu rosto. Como se não se importasse. Perguntou-se quando se tornara tão calculista. Quando trocara aquela doçura pela dureza de uma mulher de negócios. — Aceito. — Não havia um motivo lógico para não aceitar e era um homem lógico. A emoção jamais poderia governá-lo. — Vou chamar uma costureira para adaptar para você o vestido de Rachel. O rosto de Leah ruborizou, embora sua expressão continuasse fria. — Pode mandar cortar 30 centímetros da barra e acrescentar o tecido à cintura? Estava exagerando, mas tinha razão. Rachel era alta e angulosa, enquanto o topo da cabeça de Leah nem chegava até seu ombro. E sua largura era maior do que a da irmã, embora suas proporções fossem atraentes, redondas nos lugares certos. Apenas nunca pensara naquilo. — Que tamanho, então? Vou lhe comprar um novo. — Eu cuido disto. Terá que ser pronto; é claro. Temos apenas duas horas, mas é factível. — Você é também uma herdeira Holt. 8


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— Sim, somos praticamente intercambiáveis. Exceto, é claro, pelo tamanho do vestido. — Não foi o que quis dizer. Não são intercambiáveis. Você não é Rachel. Rachel, que, em sua mente, era a personificação da vida perfeita. Havia imaginado que, quando alcançasse aquele dia, quando se casasse com ela, sua luta para permanecer no caminho traçado, para ficar no controle, chegaria ao fim. Que finalmente chegaria a um destino em vez de andar infinitamente. Jamais a tocara; nada além de um beijo casual, mas nos últimos seis anos as coisas entre eles tinham sido compreendidas. Não haviam passado todo o tempo juntos, não agiam como um casal. Rachel não quisera se sentir presa. Mas acreditara que, no fim, se voltaria para ele. Cometera um erro e detestava errar. — Lamento. Não o fato de não ser ela, mas de ela ter partido. — É claro que lamenta. Agora está presa a mim. Ergueu os olhos para ele, aqueles brilhantes olhos cor de uísque. Não sabia por que ela parecia prestes a chorar. E não gostava. Joseph Holt tinha se tornado seu mentor quando era adolescente, e sua família havia; de muitas formas, se tornado sua família. Nunca faria nada para ferir a família Holt. Jamais. — Não é tarde demais, Leah. Não a prenderei a uma decisão apressada tomada no calor de um momento emocional. — É tudo muito emocional. — Quis dizer, para você. — Para você também. Não sente nada? — Sinto, é claro que sinto. Mas não tomo decisões com base em emoção e é por isto que estou preparado para me casar com você em vez de com Rachel. É lógico. — Sim. Bem, embora a situação seja emocional, não fiz a oferta por emoção. — A Holt é minha. Por direito. Não sou da família pelo sangue, mas seu pai me treinou para isto. — Eu sei. E trabalhei muito para levar a Leah’s Lollies à posição que ocupa e não quero destruí-la nesta guerra. Olhou para Leah e se perguntou se a havia subestimado. Sabia que tinha cabeça para negócios, enquanto Rachel era uma socialite. Era um dos motivos por que teria sido uma esposa tão valiosa. Fazia o que ele não conseguia. Ligava-se a pessoas, conquistava amigos com facilidade e usava seu carisma para fazer acontecer o que queria. Era o acessório perfeito para sua vida. Leah, ao contrário, era focada nos negócios. Provavelmente gostaria de tomar decisões na Holt, o que seria seu direito, já que a posse seria partilhada entre eles. Mas ele teria as ações da Leah’s Lollies, que era um negócio de grande sucesso. E, com sua participação, poderia aumentar sua abrangência com a produção em massa. Poderia dar muito lucro para ele e Leah. — O que mais você sabe Leah? — Muito. Vejo coisas. Sei o quanto significam para você. Sei que não passou tantos anos trabalhando para meu pai para acabar sem a direção da Holt. Era verdade. Joseph Holt se tornara seu mentor quando tinha 16 anos, com pouca escolaridade e nenhum dinheiro, trabalhando nos terrenos da opulenta Propriedade Holt em Rodes. Acabara de deixar a mansão do pai, fugira da ilha onde havia crescido, onde havia tanta corrupção que nem mesmo a polícia podia ajudá-lo. Estivera vagando com outros adolescentes que haviam sido expulsos das famílias pelos motivos mais variados. E protegera todos eles porque sabia sobre a maldade que esperava por eles. Haviam vivido e trabalhado assim até que empregos melhores os levaram para lugares melhores. Para Ajax, aquele lugar melhor tinha sido proporcionado por Joseph Holt. A família Holt passava todos os verões e invernos na propriedade. Ao contrário de outras famílias 9


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ricas para quem trabalhara; eles tinham sido gentis e amigáveis com os empregados. Joseph Holt dedicava tempo e energia para conversar com todos, conhecê-los. E tivera um interesse especial por Ajax. Tornara-se o pai que nunca tivera. E lhe ensinara a se interessar por negócios. Mandara-o para a faculdade. Dera-lhe dinheiro como capital para investir. Ajax passara três anos trabalhando na Holt nos Estados Unidos e, depois, saíra para criar seu próprio negócio a partir do zero, lidando com lojas de varejo primeiro, depois com a indústria. Ajax fizera sucesso graças a Joseph, sabendo o tempo todo que, no fim, a Holt seria parte de seus bens. Como seria Rachel. Perdera uma destas coisas naquele dia; não perderia a outra. — Você entende muita coisa, Leah. E acho que herdou a capacidade de seu pai para perceber um bom acordo de negócios. E sua incapacidade de perdê-lo. Ela ergueu o queixo, os cachos ricos do cabelo escorregando pelos ombros para se derramar pelas costas. — Sou uma Holt, Ajax. — Como Rachel. — Não sou minha irmã. E precisa se lembrar disso. Ele a observou, mas só conseguia ver a adolescente, sentada no escritório do pai, um livro no colo, o cabelo selvagem mal contido por uma tira de borracha. Ou seguindo-o pelos terrenos da propriedade, falando sem parar de uma nova ideia para um negócio, perguntando-lhe se ele achava que funcionaria. Se você se dedicar completamente, Leah; vai funcionar. Isto era o que sempre lhe dizia. Na ocasião, não percebera como era verdade. Como seria perigosa quando se determinasse a fazer alguma coisa. — Não há perigo de eu esquecer. — Preciso. — Limpou a garganta. — Bem, preciso me aprontar.

CAPÍTULO DOIS

As mãos de Leah tremiam quando pegou o buquê, aquele que seria de sua irmã. Felizmente jamais poderia usar o vestido ou os sapatos de Rachel. E aquela era a primeira vez em que se sentia grata por isto. Não queria as flores, o noivo, o vestido e os sapatos da irmã. O vestido e os sapatos eram dela. As flores e o noivo... Não. Seu coração apertou quando se olhou no espelho. Os olhos eram grandes demais para o rosto e pareciam muito amedrontados. A máscara havia desaparecido porque, de repente, se deu conta da realidade do que estava fazendo. No papel, tinha sido tudo muito simples. Não podia permitir que Alexios tivesse a Holt. Se ele estava usando Rachel, não podia ter aquela recompensa. Mas ali, em pé usando um vestido de noiva? Era real. Insano. Pegou um lenço de papel da penteadeira e o comprimiu nos lábios. Ficou com uma grande mancha vermelha. Seus lábios manchariam os de Ajax? E então foi atingida com força. Ia beijá-lo. Hoje. Deixou-se cair na cadeira diante do espelho. Ia se casar com ele. Um casamento conveniente. Pior, seria exposta à imprensa, à maldade que sempre faziam com ela. E essa era a coisa que mais detestava. O casamento seria um grande acontecimento. Rachel era tão popular, um ícone de estilo para as massas e a favorita das capas de revistas de todo o mundo. E Ajax, exalava um sombrio sex appeal e mistério, além de ser um bilionário. E ela simplesmente não 10


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combinava. Levantou-se e tentou não tropeçar enquanto se olhava no espelho. Colocou a mão sobre os seios, mal contidos pelo corpete do vestido sem alças. Não seria sua escolha, mas tinha sido uma emergência e tivera que aceitar o que conseguira. Mostrava um pouco demais de suas curvas, que eram abundantes. E as exibiria diante de mil pessoas. Mais fotógrafos. Como a noiva substituta da adorável Rachel, a quem a mídia amava. A quem os homens, durante toda a vida delas, amavam. Lembrou-se da ocasião em que fora a um evento com um vestido que Rachel usara algum tempo antes. Então, lá estava Leah, cometendo aquele erro fatal típico de adolescentes. Sua figura menos do que esguia chamava a atenção, já que o vestido era pequeno demais para ela. Sua foto aparecera numa revista de moda sob o título “Quem o Veste Melhor?” E Leah havia sido criticada cruelmente no artigo e na internet. Lembrou-se de que se sentara e chorara no escritório do pai em casa, quando lera, e de Ajax chegar. Estava de férias de seu império corporativo, no qual trabalhava de maneira quase insana. Mas sempre encontrava tempo para eles, sempre se sentira como parte da família Holt. — Estou me sentindo tão humilhada, Ajax! — Soluçara. — Como vou viver depois disto? Os olhos de Ajax nela eram escuros e impassíveis. — Se não quer ser comparada a sua irmã, pare de imitá-la. Você é diferente, nunca será ela. — Ajoelhou-se diante dela. — E nunca permita que a vejam chorar. Nunca lhes dê nada que possam usar contra você. Um alvo que não se abala não é satisfatório. Ele estava certo, então e agora. Não era Rachel. E assim fez um esforço para parecer o mais diferente possível da irmã. E nunca mais os deixou vê-la chorar. Tornarase a esperta, a que tinha um humor ferino, a mulher de negócios que não dava a mínima para o que a imprensa dizia e não perdia tempo tentando conquistá-la. Tornara-se dona de si mesma. Menos com Ajax. Sentia-se à vontade com ele, mostrava-se. Contava-lhe tudo o que havia em seu coração. Passava horas andando atrás dele pela propriedade ou ia para seu escritório depois das aulas. E lhe deixava presentinhos. Ajax não era extrovertido, mas sempre ganhava um sorriso dele no dia seguinte. Pequeno, mas, vindo de Ajax, era puro ouro. E aqueles pequenos sorrisos transformaram a paixonite de menina em amor. Estivera tão perto de lhe contar. Mas perdera a coragem. E dias depois ele anunciara que pretendia se casar com Rachel. Nunca permita que a vejam chorar. As palavras dele se repetiram em sua mente enquanto seus sonhos eram esmagados. Nunca mais voltara ao escritório dele. Nunca mais lhe deixara doces na escrivaninha. Nunca mais permitira que sua armadura se rachasse. Mas, não importava como reagia, ainda não gostava do que a imprensa escrevia sobre ela e sabia que aquele casamento não seria exceção. Poderia viver muito bem sem as manchetes depreciativas a ela que seria a atração dos jornais do dia seguinte. Mas era inevitável. Certo, não iriam se referir claramente a sua figura curvilínea, mas haveria indiretas. Adoravam o fato de ela ter uma cadeia de lojas de doces e insinuavam que ela comia demais os próprios produtos. — Leah. — O pai entrou no quarto. — Está pronta? — Sim. E quero levar isto adiante. Você sabe o que é isto. Assinou o contrato. Haverá um prazo de validade para este casamento. Ele provavelmente nunca a tocará. Mas a fantasia e a realidade colidiam e era difícil se lembrar de como devia se sentir. A expressão do rosto do pai mudou, como se a visse por dentro. 11


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— Compreendo. — Estendeu o braço. — Então vamos. Admito que não esteja pronto para ver você casada. — Tenho 23 anos. — Mesmo assim. Com Rachel, eu sabia o que ia acontecer. Estava muito mais preparado para o casamento dela. E conhecia as intenções de Ajax. No momento em que seus sentimentos por Rachel mudaram, ele me contou. — Há seis anos. — Leah sabia o momento exato. Porque a lembrança ainda doía tanto, não importava que não devesse. — Ela queria viver um pouco primeiro. Tinha apenas 22 anos quando ele se apaixonou por ela. E você não quer viver? — Posso viver com um marido. Vou me casar, não morrer. — É verdade. Mas você ainda é minha caçula. — Papai, não moro em casa há anos. — Eu sei. — E Ajax é como um filho para você. O pai parou de andar e olhou para ela. — E, se a magoar, vou destruí-lo. Ela piscou. — Ele não vai. Garantiria isto. Sua armadura era sólida e não quebraria. Apesar daquele momento de insegurança no quarto de vestir, não teria mais fraquezas. De qualquer modo, Ajax não significava mais nada para ela. Poderia achá-lo fisicamente atraente, mas era apenas isto. Pararam de falar porque já estavam no saguão, e além dele estava o pátio, onde tudo havia sido preparado para o casamento. O de Rachel. Nada era do gosto de Leah. As portas se abriram e a luz do sol entrou, pintando-a também de branco. Começou a descer os degraus e os convidados se levantaram com um arquejo e sussurros enquanto o quarteto de cordas tocava. Sabia o que estavam dizendo, pensando. Por que ela? Por que não a linda irmã? Todos deviam concluir que Rachel partira. Porque, de modo algum, Ajax a preferiria a Rachel. Ergueu os o lhos e viu Ajax no fim da aleia. Ajax, que sempre fora a sua fantasia. Nela, ele se virava e sorria, não tinha aquela expressão que a considerava o juiz, o júri e o carrasco prestes a lhe dar a sentença de morte. Mas era assim que parecia agora. Severo. Como um homem no patíbulo, não no altar. Ela apertou o braço do pai e continuou a caminhar sem olhar para Ajax. O que estava fazendo? Não podia recuar. Estava na metade da aleia, e o homem já havia sido desprezado uma vez. E, à medida que se aproximava, a dor no coração aumentava; um nó de emoção crescendo dentro dela, sufocando-a. E a lógica não conseguia desmanchálo. A voz da mente, que lhe dizia que não devia sentir nada por ele, não conseguiu nada. Onde estava sua armadura? Pararam diante do altar e Leah não conseguiu respirar. — Quem entrega esta mulher a este homem? — A voz do pastor era fina, distante. — Eu entrego. A voz do pai também estava distante, portanto o problema era com ela. E então o pai lhe beijou o rosto e ela se moveu em direção a Ajax. Ele estendeu a mão e ela a tomou. Nunca lhe segurara a mão. Nunca a tocara. O calor a tomou, começando no rosto e se espalhando. Oh, maravilha. Agora estava ruborizando. O que havia de errado com ela? Por que não conseguia se controlar? Por que tudo parecia tão real? Não é real. São negócios. E por Leah’s Lollies. E pela Holt. Não é por você. Ele lhe tomou a outra mão também e a virou para ficar de frente para ele. O terror a invadiu e, depois dele, uma emoção tão grande, tão real que não podia negá-la. Cresceu 12


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e floresceu. Naquele momento, a realidade desapareceu e a fantasia venceu. Ele disse seus votos numa voz firme e forte, sem emoção, mas era assim que ele era. Ela disse os dela sem gaguejar e sentiu que cada palavra era verdadeira, significativa. Que não haveria mais ninguém a não ser ele, para sempre. E nunca houvera. Sentiu as muralhas dentro dela começarem a balançar. A ruir. Todas as suas defesas. — Pode beijar a noiva. O coração de Leah parou e, por um momento, o mundo também. Seu olhar caiu sobre os lábios de Ajax. Quanta vez se imaginara beijando-os? Foi seu último pensamento antes que ele passasse o braço pela cintura dela, descesse a cabeça e a boca cobrisse a dela. Não estava preparada para o calor, a onda de puro fogo que lhe percorreu as veias. Viu-se erguendo os braços, curvando os dedos em torno das lapelas do paletó do smoking. Havia esperado alguma coisa casta, apropriada para os mil pares de olhos, mas não foi o que recebeu. O que recebeu foi um beijo de verdade, completo. Ele deslizou a língua pelos lábios fechados e ela os, abriu ansiosa, provando-o como ele a provava. Leah sentiu que desmaiaria, mas Ajax estava lá para segurá-la, o braço forte em torno de sua cintura; os dedos dela presos à lapela do smoking. Nunca tinha sido beijada assim. Nunca. E nem se sentira daquela maneira. Como se fosse morrer se ele parasse de tocá-la, como se sua pele estivesse em fogo. Seus seios doíam, o coração disparava. E a dor era baixa e forte entre suas coxas. Uma dor que só ele podia amenizar. E se sentiu horrivelmente exposta. E então, de repente, ele se afastou e ela quase perdeu o equilíbrio. Os convidados batiam palmas e o pastor dizia alguma coisa, mas ela não percebia nada, a cabeça rodava, as pernas tremiam. — Sorria — sussurrou Ajax, e seu cérebro começou a funcionar de novo. Nunca permita que a vejam chorar. Assim, ela sorriu e ele a levou pela aleia enquanto o quarteto tocava. Subiram a escada, entraram na casa, as portas se fecharam e Ajax afrouxou a gravata. — Não devemos. O fotógrafo? — Acha mesmo que quero fotos? — Eu... Pensei... É nosso. Pagamos ao fotógrafo. — Já foram tiradas fotos demais. Não estou interessado em posar. O que quero é uma bebida. — Você não bebe. — Não. Não fez nenhum bem ao seu ego. O casamento o fazia querer beber. — E a recepção? — Estou ansioso demais para levá-la para minha Villa e consumar o casamento. — A voz era seca. — Vamos embora. — O... O quê? — Vamos embora. Agora. Ele lhe tomou a mão e seguiram em direção às portas do pátio da frente, onde uma limusine esperava. Abriu a porta para ela, ergueu-a para o banco, entrou e fechou a porta. Então olhou pela janela e ela lhe seguiu o olhar até o fotógrafo em pé na escada. — Vamos lhe dar uma foto — grunhiu Ajax. Puxou-a para seu corpo, os seios, que quase pulavam do decote, amassados no peito dele, e pela segunda vez no espaço de cinco minutos era beijada de novo por Ajax Kouros. Depois de jogar Ajax no lixo como as “fantasias que jamais se realizavam”, dois beijos num tempo tão curto eram chocantes. A língua mergulhou profundamente, provando-a, enviando uma onda de 13


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choque que a atingiu bem no núcleo. E, de novo, correspondeu impotente. Os dedos se entrelaçaram no cabelo dele, seguraram-no com força. Não podia fingir que não sentia nada. Que jamais quisera um homem como queria Ajax. Ele afastou a boca da dela e lhe beijou o pescoço e desceu, desceu. Oh... Sim. Então ele ergueu a cabeça. — Dê a partida. Uma ordem ao motorista, não a ela. Beijou-lhe o pescoço de novo, a língua traçando um círculo sobre a pele antes que a limusine deixasse a entrada de carros e tomasse a sinuosa estrada que levava à via expressa. Então se afastou; todo o calor desaparecido. — O que foi... Isto? — Não estava no humor para dar entrevistas. E você? — Eu... Não, suponho que não. — Precisamos criar uma história antes de conversar com a imprensa. — Certo, é conveniente. — Os lábios dela estavam inchados e quentes e se sentia tonta. O que acontecera com ela? Estaria no meio de um sonho louco? — Precisa haver uma explicação sobre o motivo de ser você, e não Rachel, no altar comigo. — E a verdade não vai funcionar? Que ela percebeu que amava outro homem? — Não, não vai. Seria assim tão simples para você? — Acho que não. Mas, por favor, vamos encontrar uma resposta que não destrua completamente meu orgulho. Já tive demais disto na mídia. — Parece que nós dois temos questões de orgulho. Não pretendo magoar você, Leah, mas nada disto era parte do meu plano. — É evidente. — Imagino que não fosse parte do seu também. — Bem, esta manhã estava me aprontando para o casamento da minha irmã e de repente era o meu casamento. Agora estou casada e numa limusine a caminho de, não sei. Talvez tenha me dito, mas esqueci por causa da loucura que foi o dia de hoje. — Minha casa. Não estávamos planejando viajar em lua de mel até as coisas se acomodarem na Holt. — Vai para Nova York? — Ainda não. Mas vou trabalhar do meu escritório aqui para colocar tudo em ordem. Seu pai deixou tudo funcionando bem e a transição já está se realizando, mesmo assim. — Negócios primeiro. Não tenho nada para usar, só este vestido. Não tenho... Calcinhas. Nem desodorante. Minha mala ficou em casa. — Providenciarei roupas novas para você, se quiser. E suas coisas de Nova York. — Minhas coisas de... O quê? — Você vai viver aqui comigo. E é claro que iremos à Nova York, mas você ficará comigo na minha cobertura, não no seu apartamento. — Tenho um apartamento muito bom. — Vamos viver juntos. Somos marido e mulher. — Ah. Certo. Sim. Somos. — Você parece chocada. — Você não está? Observou-a com olhos avaliadores. — É difícil me chocar, Leah, mas estou. Era tão seco, tão condescendente. Não era justo que tivesse tanto controle. Que sua máscara jamais escorregasse. Porque se sentia confusa e amedrontada. A realidade abençoada estava começando a se impor. Fria. E lhe mostrava como tinha sido ridícula nos últimos minutos. Como se deixara ser idiota por causa de dois beijos. Mas não deixaria que ninguém percebesse; principalmente Ajax. 14


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— Quer mesmo que eu viva com você? — Preciso é uma palavra melhor. Não vou correr o risco de este casamento não parecer real. Ela não respondeu e passaram o resto do caminho até a casa dele em silêncio. E a raiva começou a se construir. Uma raiva abençoada, que a ajudava a fortalecer a armadura. A limusine subiu o caminho sinuoso que levava à casa de Ajax no alto da montanha. Percebeu que nunca estivera lá. Ele ia à propriedade da família em Rodes para festas e visitava a cobertura da família em Nova York, mas ela nunca o visitara. Também nunca vira onde ele vivera como adolescente que trabalhava na propriedade, mas então era uma criança. Portões duplos se abriram quando a limusine se aproximou. E, além deles, estava à casa elegante e moderna com janelas que se abriram para a natureza que a cercava. Montanhas atrás, o oceano à frente. Brilhantes flores cor-de-rosa subiam pelas paredes, uma concessão única à tradicional Villa grega. Todo o resto era novo: linhas claras e uma construção muito dispendiosa. — Nunca estive aqui. — Não? — Não. Você nunca me convidou. Bem, não é como se estivéssemos sempre juntos. — Não mais. — Apenas nos encontrávamos nas mesmas festas. E não por acaso. Depois de ter o coração partido por Ajax, precisara evitá-lo. Ter tempo para construir suas barreiras. — E não dou festas. — Portanto, mistério resolvido. É por isto que nunca estive aqui. O carro parou e ela saiu logo. Não queria esperar que a porta fosse aberta por Ajax ou o motorista. Quanto mais distante da cerimônia, mais estranha se sentia com aquele vestido. Mais tensa. Cada vez que a beijara, a neblina da fantasia se fechara e tudo parecera um sonho. Agora, em pé diante da casa de vidro e aço, o sol batendo com força em sua pele, pareciam reais demais. — Podemos entrar? Estou sentindo calor. — É natural, com este vestido. — Liderou o caminho para a casa e ela seguiu aliviada quando entraram no fresco saguão de pedra. — Está melhor agora? — Sim, obrigada. — Espero que suas coisas estejam aqui logo. Imagino que isto seja bem desconfortável. Olhou para baixo e viu que os seios estavam tentando escapar de novo. Respirou fundo. Suas coisas. Porque deveria viver ali. Porque ele queria que parecesse real. — Então... — As palavras escaparam antes que pudesse pensar. — Vamos consumar este casamento? — O quê? — Você disse, disse que estava ansioso para consumar e mandou buscar minhas coisas. Quer fazer isto agora? — Acho que não. — Não havia entendido a ironia. — Certamente não esta noite. — O que exatamente vai ser este casamento? E, se não esta noite, quando? — Queria mostrar uma imagem à imprensa, é tudo. Pelo contrato que assinamos, temos que ficar casados por cinco anos antes de o acordo ser concluído, ou a posse da empresa vai para... — Para Alex, não é? — Se ele ficar com sua irmã por tanto tempo. Isto significa que este casamento não vai acabar logo nem será fácil. Mesmo assim, talvez seja melhor que pensemos em tornar este arranjo permanente. Entretanto, você se ofereceu no último minuto, dificilmente vou levá-la à força para cima e violentá-la. 15


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— Não foi isto que eu... — Foi você que perguntou. — Apenas para deixar as coisas claras. Nós nos casamos hoje e você fez o comentário sobre a consumação. — Então está me oferecendo também o seu corpo? Agora? Que tal aqui? Posso dispensar os criados ou, inferno, eles são pagos para não ver nada; portanto, para que dispensá-los. Gostaria que lhe rasgasse o vestido e a tomasse contra a parede? — A voz era áspera, sem firmeza. Exigira demais e agora havia nele uma impressão de perigo. Nunca o vira tão perto de perder o controle. Estar no caminho dele era quase amedrontador. Mas também estava tensa. Sentia-se vulnerável, em desvantagem, duas coisas que detestava. E tentar lhe tirar o controle a fazia sentir que o detinha. — Eu poderia Leah. Algumas mulheres gostam. Ou, se preferir, eu posso levá-la para cima e torná-la realmente minha esposa. Mas faria isto apenas porque estou com raiva. Dela. Pensaria nela. É a única mulher que já amei e se afastou de mim no dia do nosso casamento para ficar com um homem que desprezo. Se fizer sexo com você será para me vingar dela. Sou um homem. Jamais se esqueça. Posso pensar em alguma coisa enquanto lhe abro as pernas. Não a tornaria especial. Sim, posso ter você. Mas a questão é, vai me querer? As palavras não deviam feri-la. Mas eram tão frias, tão duras. Mas não permitiria que ele visse. — Você a amava? — Eu a amo. Há anos. E não desaparece de repente, por mais conveniente que seja. — Suponho que não. E o orgulho dela queimava. Não a queria. Mas via nos olhos escuros que o orgulho dele também estava destroçado. Percebia como era difícil para ele. Perdera a mulher que amava. Casara-se com outra. Alguém por quem não tinha sentimentos. Olhava-a e via um sonho destruído. E aquilo a destruía também. — Então acho que vou para o meu quarto, já que não está interessado numa consumação rápida. Boa noite. Ele acenou. — Amanhã faremos um plano. — Esperarei ansiosa. Talvez uma noite de sono a ajudasse a pensar no que estava acontecendo com ela. E o que faria a respeito.

CAPÍTULO TRÊS

Ajax acordou sem ressaca. Porque não conseguira beber. Como Leah observara, não tomava álcool. Gostava demais do seu controle. O vício era a destruição do homem. Vira o vício de perto, vivera-o, e tinha feito o melhor que podia para destruir pelos menos uma pequena parte dele. E agora fugia de qualquer tipo de vício. A deserção de Rachel não era motivo para desistir. Mas, Theos, havia lhe atingido duramente o orgulho. Desceu a escadaria usando apenas a calça negra do pijama. Não queria se vestir. Chegou à sala de jantar onde a única coisa que não podia evitar estava sentada, uma xícara de café na mão, os olhos cor de uísque, atentos. Parecia uma criança perdida. E não tinha paciência para lidar com aquilo. 16


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— Espero que tenha dormido bem. — Tentou ser educado porque, a despeito do que sentia, era a forma adequada de tratar uma esposa. Ou, pelo menos, imaginava que fosse. — Nem um pouco. O cabelo escuro e cacheado estava preso no alto da cabeça e usava um suéter largo, do tipo que escondia os seios e a cintura. Não que se importasse. Sua figura era a última de suas preocupações. — Se o colchão é um problema, podemos trocá-lo. — Não foi o colchão, mas a súbita aquisição de um marido. No entanto, posso estar enganada. — Parece um pouco zangada esta manhã. — Pareço? Ajax descobriu que queria brigar com ela e não sabia o motivo. Nunca buscara uma briga sem motivo. Crescera num ambiente tão volátil que aprendera cedo que aquela era a forma mais rápida de morrer ou, no mínimo, sofrer muita dor. Manter a cabeça baixa, fazer o que mandavam, o tempo todo planejando e montando uma estratégia, aquela era a maneira de sobreviver. Mas hoje não queria sobreviver, queria lutar. Parecia um substituto perfeito para uma bebedeira. — Você não combina com o estilo noiva tímida. Você está péssima, para dizer a verdade. — É sempre canalha assim? Ótimo. Estava se zangando. Era o que queria. — Talvez nunca tenha tido a chance de me conhecer. Mas, agora, estou com um maldito mau humor. — E por que está descontando em mim? Ele não sabia. Não sabia por que seu controle estava se desfazendo. Por que se sentia incapaz de dominar a emoção. — Porque você está aqui, agape mou. A sortuda noiva substituta. — Minha irmã estaria recebendo este tratamento? Se for assim, compreendo por que fugiu do casamento. — Se sua irmã estivesse aqui, ainda estaríamos na cama. E eu certamente estaria num humor bem melhor. Alguma coisa de que não gostou brilhou nos olhos cor de âmbar. Dor? Tinha ido longe demais ao soltar sua raiva. Dizendo coisas que nem tinha certeza que sentia apenas para deixar a raiva sair. Deixando a emoção dominá-lo em vez de sublimá-la. Não sabia como se sentiria se dormisse com Rachel. Mas sexo com a esposa era a metade da atração do casamento para ele. Tudo na vida tinha seu lugar. Um fogo queimando na lareira era bom, mas o fogo fora dela se tornava um problema. Sim, as coisas tinham seu lugar. E estivera ansioso para ter tudo como devia ser. E agora seu plano tinha sido estragado e não sabia qual devia ser seu próximo movimento. Para um homem que gostava tanto de planejar o futuro, era desconcertante. — Desculpe; isto foi grosseiro. Estou frustrado e não tem relação com você. — Mas a frustração, ou sua incapacidade de lidar com ela, parecia ligada a Leah. Ela piscou e a tensão no corpo diminuiu. — É claro que não. Nada disto tem relação comigo, tem? — Estou feliz por você entender tão bem a situação. — Não compreendo Ajax. O que, diabo, quer de mim? Quer que fique aqui pelos próximos cinco anos, vivendo em sua casa, então sair alegremente com se nada tivesse acontecido? — É evidente que isto não pode acontecer. — Evidente? 17


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— Não a desrespeitaria assim. — Ah, querido, depois de todo o lixo que me disse na noite passada, está dizendo que não quer me desrespeitar? — Estava com raiva. — Maravilha. Eu também estava. E estou. — Pedi desculpas. — Um pedido de desculpas não é uma poção mágica que faz sarar, é apenas um curativo. Ajudou a amenizar, mas o ferimento ainda está aqui. — Bem, talvez devamos deixar isto de lado e pensar no que precisamos fazer. — Está bem. — Estamos casados e não temos escolha. — Sim. — E temos que permanecer casados por pelo menos cinco anos. — Aham. — E planejei me casar com alguém da sua família. Em manter Holt na sua família. Queria me casar. Gostaria de ter filhos. De um casamento de verdade. — Oh, mesmo? — Sim. Queria uma esposa. Sempre foi meu objetivo final. — Mas é alta, loura, esguia e se chama Rachel? — Sim. Mas, no fim, que diferença faz? — É assim que se sente? Eu importo tão pouco, e ela também? — Não é você, Leah. Tenho um plano para a minha vida desde que deixei a casa do meu pai. Planejei trabalhar e crescer, e consegui. Ter um novo começo com apenas trabalho duro e honestidade. Nunca mais andar pelo caminho que nasci para trilhar. E foi o que fiz. Conheci sua família e seu pai e sua mãe; deram-me as boas-vindas. E então lá estava Rachel. Tudo combinava, parecia perfeito. Soube no instante em que a vi que ela era meu objetivo final. Que seria minha esposa. É a primeira vez que uma parte do meu plano não dá certo. — Bem, talvez seja porque ela é uma mulher, e não um empreendimento dos negócios. — Mas teria sido perfeito. — Não, Ajax, não seria. Vocês ficariam bem, mas não seria perfeito. Porque ela não é perfeita e você certamente não é. — Mas fazia sentido. Na minha cabeça, ela fazia tudo entrar nos lugares certos. — Ela não é um empreendimento de negócios e não é também um ideal. Ele passou os dedos nas têmporas. — Eu sei. — Bem, parece que não sabe. Fala do casamento com ela como um objetivo final e então... Então, o quê? Seria tudo perfeito? Sua vida seria perfeita? — Não posso. É difícil. Tenho trabalhado tanto, Leah, por toda a minha vida. Quando cheguei à sua casa, seus pais me trataram mais como filho do que empregado. Eles me abrigaram; deram-me foco e propósito. Seu pai me abriu o caminho, me ensinou coisas, como ser um homem, como ser forte. Deu-me objetivos, me mandou para a faculdade. Andei pelo caminho que abriu para mim sem descanso, nunca desviando o olhar do objetivo, do final. — No qual você faria a Holt continuar vivendo por ele. Quando você se tornaria parte de nossa família. — Estive caminhando por um longo tempo. — E então alcançará o fim e descansará? — E então talvez eu não precise trabalhar tanto para ficar no controle todo o maldito tempo porque já terei chegado a um ponto estável. Meu. Tudo estaria no lugar. Porque agora não estava. Fizera dinheiro, conquistara poder e conexões. Usara 18


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todos os recursos à sua disposição para derrubar a rede de tráfico de drogas e de pessoas do pai. E ainda não conseguia descansar. Ainda não sentia que podia parar de trabalhar, de tentar se distanciar do passado. De tudo o que havia feito. — Por que precisa ter tanto controle, Ajax? — Havia compaixão nos olhos dela. Se soubesse com quem estava falando, se conhecesse a besta que vivia nele, não o olharia assim. Ajax se levantou e começou a andar pela sala. — Não é nada. Ainda pode ser consertado. Leah o estudou, percebeu sua tensão. Estava desconfortável. E precisava considerar que podia muito bem estar com o coração partido. Dissera que amava Rachel, mas pela primeira vez duvidou. Duvidou se a conhecia de verdade ou se ela era apenas algo simbólico para ele. — Tenho um plano, Leah. — Oh, maravilha. Vamos ouvi-lo. Ele parou de andar. — Primeiro, precisamos mostrar uma frente unida. Vou assumir a direção de uma imensa corporação e mudar algumas coisas. Precisamos estar juntos, e não me permitirei parecer fraco. — Não, você não se permitiria. — E não serei visto como um homem forçado a esta situação. — O orgulho é uma coisa linda. Pelo menos, acho que é. Não sei se ainda tenho algum. — Eu também me vejo como um suprimento menor. — A expressão se tornou feroz. — E vou me dedicar à produção em massa dos produtos da Leah’s Lollies assim que tiver tempo. Ela ganhou tempo olhando as unhas. — Pagamento por serviços prestados? Ele pareceu assustado por um momento e o rosto ficou pálido. — Não é este o tipo do acordo. Você é minha esposa, não uma mulher que comprei. — E por quanto tempo serei sua esposa? — Aquilo não tinha sido decidido. Se ela seria sua esposa no papel ou na realidade. — Fiz votos e pretendo honrá-los. E você? — Em relação a quê? — A tudo. Qual é o sentido de um divórcio quando esta união é útil á nós dois? — Está deixando de fora a questão do amor. — Você não me parece do tipo romântico. Tinha razão. Agora. Nem sempre tinha sido verdade. Mas aquele otimismo ensolarado lhe havia sido roubado quando vira pela primeira vez Rachel em pé ao lado de Ajax. O casal perfeito, tão bonito, tão elegante. E seu coração partido se recusou a sarar. — Não sou. Mas o que ganho com isto, Ajax? Além de um marido que é amargo comigo e vai pensar em outra mulher se algum dia fizermos amor? — Ele a observou e alguma coisa mudou nos olhos dele, o calor brilhando nas profundezas escuras. Um calor que provocou um fogo semelhante nela. — O que eu ganho? — O que você quer? Como eles haviam concordado, o orgulho deles havia sido praticamente destruído. Então, por que se agarrar a ele agora? Não ficaria imóvel, furiosa por não ter o que queria. Faria suas exigências. Se ele queria um casamento, ela o daria. Tinha sua armadura no lugar; não precisava de amor. Não o queria. Mas poderia lidar com uma parceria de negócios, cimentada pelo casamento. E sexo com Ajax? Bem, estava atraída por ele. E, francamente, estava cansada de ser virgem. Era uma forma conveniente de cuidar da atração e da virgindade. Faria daquele um casamento que funcionaria para ela, não apenas para ele. Para o inferno com os planos 19


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dele! Ela tinha seus próprios planos. Se dissesse “não”, talvez pudesse libertá-la. Mas se dissesse “sim”. — Se vamos continuar casados, então quero um casamento. Quero você, na minha cama, todas as noites e jamais com outra mulher. Quero que você me dê apoio pessoal e profissional. Não viverei minha vida pela metade para sempre por causa de uma decisão precipitada que tomei. — Naturalmente quero filhos, como já disse. Sempre fez parte do meu plano. E você? Não tinha pensado muito naquilo porque o casamento lhe parecia muito distante. Mas parte dela sempre soubera que um dia seria mãe. — Também quero. — E, como você é minha mulher, dormir com você parece lógico. Qual é o sentido de buscar prazer em outro lugar? — Fico aliviada que pense assim. Embora não muito lisonjeada. — Melhor para nossa saúde, bem-estar e imagem na mídia. — No entanto, mantenho meu ponto de vista original. Você e eu podemos pensar nos pontos mais delicados do relacionamento quando tudo estiver calmo na arena pública. Vamos sair juntos como recém-casados felizes, mas será melhor manter nosso relacionamento o mais simples possível. Não quero que Christofides pense que há uma fraqueza que pode explorar. Não quero que fique desesperado e decida vir seduzi-la. — Eu? — Pode fazer isto se perceber que com Rachel não será capaz de destruir meus objetivos. — Oh, seduzida por vingança por um casamento que é apenas por negócios. Sou uma garota de tanta sorte! — É a realidade, Leah. Não digo isto para insultar você. — É claro que não. — Também, no lado positivo de esperar, você precisa de tempo para se ajustar. — Tempo para me ajustar? O que quer dizer? — Ontem você seria minha cunhada, hoje é minha esposa e duvido que esteja preparada para a mudança. Você não é uma prisioneira e, embora tenha entrado neste acordo por vontade própria, foi um momento muito emocional e há muitos motivos por que nosso casamento faça sentido em termos de negócios. Mas, só porque tudo faz sentido, não significa que você e eu somos um casal. Você precisa de tempo antes de estar pronta para a consumação. Ela piscou. — Preciso de tempo? — Exatamente. Ela se sentiu como se ele lhe tivesse batido, destruído seu ego. E agora lhe dizia o que ela queria. Para o inferno! — Você não tem a menor ideia do que quero; para o que estou pronta. Não ouse pensar que pode me dizer. A noção de fazer sexo me agrada. Não concordei em me casar com você sem pensar, sei o que o casamento significa. — Você é jovem, Leah, ingênua. Não vou tirar vantagem disto. É preciso um pouco de tempo para todos se ajustarem a esta situação. Ela agora se sentia desafiadora, seu orgulho se erguia, aquele orgulho que pouco antes dissera que não importava mais. — Não preciso de tempo, Ajax. Pode me ter sobre esta mesa agora se quiser. Pense na minha irmã. Inferno; pense na Inglaterra, não me importo. Sei o que quero. E quero você. As palavras pesaram no silêncio. Admitira que ô queria. Que queria fazer sexo com 20


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ele. E se sentiu mais forte. — A questão é: não quero você. É uma criança para mim. Olho para você e vejo uma menina, não uma mulher. Não doeu tanto porque podia ver que ele a atacava por causa da dor. Não por causa dela. — Tenho 23 anos. Não sou uma criança. A raiva desapareceu dos olhos dele e apenas pareceu cansado. — Eu... Eu ainda não tive tempo de me ajustar ao novo plano. E ela ficou furiosa. — E o plano é tudo, certo? — Sim, Leah, o plano é tudo. Como passa pela vida sem um? — Siga seu coração. Suas paixões. — A paixão — parecia uma palavra de baixo calão — é o elemento mais destrutivo da vida. — Você não sente paixão? — Eu a nego. — Nem mesmo por Rachel? — Por nada. Por ninguém. — Pensei que a amava. — Que relação tem o amor com a paixão? — Absolutamente toda. — É aí que se engana Leah. Paixão é egoísmo, dar prazer a si mesmo. E este caminho pode ser muito escuro. Então Ajax saiu da sala e o restinho da fantasia evaporou. Percebeu que o homem que achava que conhecia era um estranho.

CAPÍTULO QUATRO

Ajax precisava de um novo plano. Depois de pensar, viu que o antigo não estava tão destruído como imaginara. Ainda estava casado com uma herdeira Holt e ainda teria a Holt Enterprises. Tinha uma esposa, embora não a que queria, mas com ela ainda teria os filhos de que precisava para continuar seu legado. Legado do qual se orgulhava. Ao menos em teoria. Quanto a Rachel, seus sentimentos por ela não eram essenciais para o plano. Amor, por mais agradável que fosse como uma ideia, não era essencial para o plano. Em relação ao sexo, tinha sido Rachel em sua mente por tanto tempo que era difícil transferir o desejo para Leah. Leah, que era dez anos, mais nova do que ele. Leah, tão suave. Pelo menos, no passado, quando conversavam, quando tinha sido tão aberta. Ligara-se a ele num nível totalmente diferente do resto do mundo. Mas querê-la? Aquilo podia esperar. Pelo menos até se acostumar com a ideia. Alguns diziam que o sexo era uma necessidade humana básica, como comer e beber. Ele discordava. Vivera sem ele por muitos anos. Exatamente como nunca precisara de álcool. Valorizava o controle acima de tudo e tudo o que pudesse distraí-lo de seus objetivos havia sido descartado como desnecessário. Mas estivera ansioso por aquela parte do casamento. A admissão quase o fez rir. Gostava de pensar que estava totalmente acima do 21


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desejo, mas não era este o caso. Era apenas muito bom em domá-lo. As horas que passara trabalhando até tarde da noite eram um testemunho do fato de que sublimava o desejo. Leah era sua esposa de verdade, de acordo com o novo plano esboçado aquela manhã. Repetia a frase de novo e de novo na mente, tentando torná-la real, incorporar o fato em sua visão do futuro. Entender como ela combinaria com seu objetivo final. Haveria um evento para levantamento de fundos aquela noite para uma das instituições beneficentes que Ajax favorecia o que significava que as coisas pessoais ficariam suspensas por algum tempo. Pensaria no lado físico do casamento mais tarde. Aquela noite; fariam uma exibição para a imprensa e os convidados. Andou pela casa à procura de Leah. Não a vira desde a discussão daquela manhã. Finalmente a encontrou no estúdio, o laptop no colo, os cabelos escuros empilhados no alto da cabeça. Trocara a roupa e usava agora uma camiseta e uma calça de yoga. Tinha uma caneta na boca, quatro sacos de balas diante dela com a embalagem de bolinhas em verde e rosa que identificava os produtos da Leah’s Lollies e digitava furiosamente. — Vejo que suas coisas chegaram. Ela parou e voltou os olhos dourados para ele. Então tirou a caneta da boca. — É, e tive que lidar com algumas questões. — Uma emergência de chocolate? — Você se surpreenderia. Problema de qualidade. Tive que sair e pegar algumas caixas ao acaso para fazer uma avaliação não oficial. Não encontrei problemas, mas acho que há. E não gosto. A Holt é minha fabricante. Pago a ela, é tudo certo, não é nepotismo. — Então é uma cliente da Holt, que tem ações da sua empresa. — Sim. — Mas agora se casou com o dono da Holt. Suponho que as ações estão voltando para você de muitas formas. E é a acionista majoritária da Leah’s Lollies. — Uma das minhas vantagens. Uma de muito poucas. — Talvez poucas nesta situação, mas, em geral, parece que têm muitas. É o que sempre disse que queria. Estava sempre me falando de suas ideias para uma loja. Rosa, você dizia, seria rosa. Agora fazem tinta com uma cor que chamam de Rosa Leah, não fazem? Ela dobrou a cabeça para o lado, uma ruga na testa. — Como sabe? — Li sobre seu trabalho. — Se houvesse um artigo sobre ela, naturalmente o lia. E, de vez em quando, se sentia compelido a fazer uma pesquisa na internet para saber como estavam às coisas com ela. Porque era irmã de Rachel. Era apenas natural. — Ah. — Voltou o olhar para a tela, então o ergueu de novo. — Desculpe, precisa de alguma coisa? — Eu me esqueci de lhe dizer que há um evento beneficente esta noite e Rachel e eu planejamos participar. Dadas as circunstâncias do nosso casamento, tenho certeza de que a mídia estará lá, e vão querer uma história. — Quer dizer, temos que ir? — Sim. Se não formos, estaremos convidando especulações. Não darei isto ao público. Não darei a Christofides. Ela levou a mão à testa. — Oh, puxa. — Sim. Tem um vestido? — Tenho muitos. É um mau hábito meu, comprar vestidos que não vou usar. Não me julgue, todo mundo precisa de um hobby. — Bem, neste caso foi bom para nós. — Suponho que sim. 22


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Ele a observou e, mais especificamente, a maneira como não olhava para ele. Não como costumava. Geralmente, quando prestava atenção nela, via a garota com os olhos brilhantes. Parecia diferente agora. Sem brilho. Cansada. Nunca a vira cansada. Leah era uma mulher com uma energia infinita, pelo menos sempre lhe parecera assim. Mas agora não. E era muito mais dura, mas não percebera até as últimas 24 horas. — Você precisa estar pronta às 6h. — Certo. — Não olhou para ele. — E precisa não parecer como se estivesse pensando em me cortar a cabeça. — Sem garantias, querido. — A voz era fria. — Todos pensam em nós como recém-casados. — Somos recém-casados. Casamento é difícil. As primeiras 12 horas são as piores. — Continuou a digitar sem olhar para ele. — Assim parece. Mas precisamos tentar fazer isto parecer real. — É real. Como você lembrou, assinei a licença, fiz os votos. É real, cara. — Você sabe o que quero dizer. — Amor. — E então ergueu os olhos para ele. — Quer que pareça amor. Quer que eu olhe para você com adoração para que ninguém duvide da minha felicidade ou do tamanho do seu pênis. Já entendi. A garganta dele fechou e um calor estranho lhe cobriu o rosto. — Você geralmente não fala assim. — Talvez fale Ajax. Como saberia? Quando foi a última vez que conversamos de verdade? Seis anos atrás? Não nos conhecemos. Não pensei que pudesse ser um canalha tão grande como foi esta manhã, mas, eu, aprendi uma coisa nova. E acha que sou uma criança, mas está enganado sobre isto também. Estamos aprendendo coisas novas. — Acho que está tendo um ataque porque está zangada comigo. Ela lhe lançou um olhar letal. — Ataques são o que garotinhas têm. Sou uma mulher, e estou de mau humor. — É isto, então? Não estou acostumado a lidar com mulheres e seus humores. — E por quê? — Porque nunca vivi com uma mulher. Quando estão de mau humor, posso fugir. — Oh, que encantador. Você só lida com elas quando são doces com você. — Não é isto. Não pretendi insultar, apenas fiz uma observação. — Oh. — Abaixou os olhos de novo. — Bem, de qualquer maneira. Escute, entendo que esta noite é importante. Também não quero estragar tudo. Já estou sendo chamada de noiva substituta pela imprensa e não gosto do título, assim é conveniente para mim se todos pensarem que temos um caso apaixonado. — Isto é parte do plano. Meu plano. — O novo plano? — Precisávamos de um. — Sabe; todos vão pensar que traímos Rachel. — Vão? — Com uma troca de noiva duas horas antes do casamento? Ou ela traiu você ou você a traiu. — Traição não precisa fazer parte disto. E se tivéssemos percebido de repente que nos amamos, enquanto Rachel e eu pretendíamos nos casar apenas por conveniência? Leah se sentiu como se estivesse sendo esfaqueada no coração. E não sabia por que doía. Por que, depois de suportar tão bem cada mágoa, aquela fosse tão profunda. Não tinha relação com Ajax especificamente; era por ser de novo considerada menos do que Rachel. Por todos. E Ajax. Ajax a havia preferido também. Os pais sempre amaram as duas e as tratavam com igualdade, mas Rachel tinha alguma coisa, uma elegância à qual as pessoas reagiam de imediato. Era linda, tinha a 23


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postura certa, alta e esguia. Em comparação, Leah sempre tinha sido desajeitada. Sua vida nunca tinha sido o turbilhão social da de Rachel. Não recebia muitos convites, não tinha uma corte de homens encantados. Era “A Outra Holt”. E saber disto doía, não importava quantas camadas de armadura construísse entre si mesma e o mundo. — Acha que as pessoas vão acreditar? — Por que não? — E o que Rachel pode dizer? — É com Christofides que me preocupo. O que ela lhe contou? E o que pode levá-la a dizer? — Oh. Sim, tem razão. O namorado malvado. — Talvez um de nós deva. — Eu. — Não suportava a ideia de Ajax ligando para Rachel. — Eu faço isto. — Fechou o laptop e se levantou. — E então vou me aprontar para esta noite. — Está bem. — Ótimo. Uma sombra passou pelo rosto dele. — Diga a ela... Diga a ela que eu disse “oi”. Ela segurou o computador com mais força e tentou ignorar a onda de tristeza que a tomou. Por ele. Por si mesma. — Direi. Fechou a porta do quarto, pegou o celular e mandou uma mensagem para a irmã. Você está bem? E esperou. Estou bem. Jax está bem? Não gostava do apelido que a irmã dera a Ajax. Está. Casou-se comigo. E esperou a resposta, que chegou depressa. Nossa. Acabo de ver na internet. Leah esperou por mais. Nada chegou, então enviou outra mensagem. Você está feliz? Não amava Ajax, amava? A resposta foi imediata. Não assim. Não como deve ser para se casar. Sabe? Você ama Alex? A resposta demorou. Preciso estar com Alex. Sem declarações de amor ou de felicidade. Está mesmo bem? Sou mais durona do que pensa. Se alguém perguntar, diga que você e Ajax iam se casar pela empresa. Diga que nos apaixonamos e você nos deixou casar. Por quê? Leah deixou escapar um suspiro exasperado. Pelo orgulho dele. Diga a ele que lamento. E contarei à imprensa e aos curiosos o que vocês quiserem. Tenho que lidar com meus próprios problemas. Direi a ele. E mandou dizer "oi". Obrigada. Não sei quando voltarei. Há coisas com que preciso lidar. Cuide-se. Amo você. Também amo você. Leah desligou o celular e o jogou sobre a cama com um rosnado. Percebeu que a 24


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irmã não devolveu o “oi” de Ajax, o que, por algum motivo, aborreceu-a. Estava presa entre se sentir protetora dele e furiosa com ele e, em algum lugar no meio, furiosa consigo mesma. Bem, não havia tempo para aquilo. Não importava como se sentia, não naquele momento. Inspirou o ar com força e foi até o closet. Não podia perder tempo com sentimentos idiotas. Precisava escolher um vestido e parecer maravilhosa. Colocar sua máscara. Porque, não importava qual seria a história, ainda seria a noiva substituta de Ajax Kouros. E a imprensa adorava diminuí-la. Se dependesse dela, seria a fabulosa e sexy noiva substituta de Ajax Kouros, que não temia as fotos ou as comparações.

CAPÍTULO CINCO

A mulher que desceu a escadaria para encontrá-lo era totalmente diferente daquela que vira à tarde. Os cabelos cacheados cor de mogno tinham sido domados e agora mostravam ondas suaves, os olhos cor de uísque tinham uma sombra escura que os fazia brilhar. E o vestido negro não lhe escondia as curvas. Em estilo grego, moldava-lhe o corpo sem revelar pele, mas dando a todos uma sugestão da figura debaixo dele. Os lábios estavam pintados de um vermelho-cereja, o perfeito acabamento para o conjunto. Estava desempenhando bem seu papel. Parecia uma mulher apaixonada, a mulher que queria ficar linda para o marido. Não eram apenas a roupa e a maquiagem, era a forma como olhava para ele. Ou antes, a forma como não olhava para ele. O queixo estava erguido, a expressão, fria. Altiva. Leah Holt havia sempre olhado para ele com um brilho especial nos olhos. Ninguém nunca o olhara assim. Ninguém nunca sorrira para ele como ela, com afeto evidente e caloroso. Ninguém jamais deixara chocolate na escrivaninha dele. Havia perdido aquilo em algum momento. E só agora sentia a falta. — Você está linda. Era verdade. Percebeu que sempre erguia um escudo no que se referia a Leah. Era jovem demais para ele; não podia olhar para ela daquele jeito, embora a transformação de Leah fosse tão impressionante que ele tivesse que olhar. Parecia-lhe que o gelo que emanava dela seria óbvio para todos. E então ela sorriu; os lábios vermelhos se abrindo e ele pôde ver como, era falso. — Então vamos. E ela estendeu a mão. Ele a tomou e seguiu com ela para o carro que esperava. Ela se debruçou e o corpo entrou em contato com o dele. Ajax parou e, por um segundo, foi incapaz de desviar o olhar dos seios maravilhosos. O fogo o percorreu de uma forma como nunca se permitira sentir. Não. Cerrou os dentes e se afastou para abrir a porta do carro para ela antes de tomar o assento do motorista. O silêncio entre eles era confortável. Leah mantinha o olhar no celular, e ele, na estrada. Gostava de dirigir. Era uma de suas poucas indulgências. Carros. Gostava de carros, da maneira como respondiam aos comandos. Dirigir era a única ocasião em que deixava a mente descansar. Estava quase relaxado, quando estacionou em frente ao hotel onde o evento seria realizado. 25


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Mas, quando rodeou o carro para abrir a porta para Leah, os flashes explodiram e ele viu o gelo nos olhos dela, que seria revelado nas fotos. E só então percebeu que ela sorria. — Pronto marido querido? — A voz era puro aço, combinando com a postura, o corpo tenso. — Pronto agape mou. Passou um braço em torno da cintura dela, puxou-a para a lateral do corpo. Abraçara-a no dia anterior, beijara sua boca. Mas, então, a adrenalina estava alta. Tivera apenas um objetivo: sair do local da cerimônia antes que as perguntas começassem. E tivera sucesso. Mas não naquele momento. De gritar com ela naquela manhã à onda de luxúria que o tomava agora, Leah parecia estar zombando de seu controle. O casamento devia ter tornado tudo mais fácil, mas, até agora, o seu apenas fazia tudo mais difícil. Fazia-o sentir como se estivesse sendo puxado para trás. Para o lugar onde começara. Para o homem que tinha sido. De volta ao inferno. Onde não era ele que sofria a danação eterna. Era ele que a provocava. Fechou os olhos por um momento e bloqueou as luzes das câmeras. As lembranças. Levou-a para dentro do hotel, sorrindo para ela o tempo todo, não para os fotógrafos. Pareceria muito melhor nas fotos, provocaria melhores manchetes. E controlaria o desejo, o calor. Passou os dedos de leve na curva da cintura dela. Frequentava festas assim com Rachel, o braço em torno dela. Mas Leah era diferente. A cintura era mais acentuada, os quadris, mais largos, enquanto Rachel tinha sido reta e esguia. Uma observação; era tudo. Mas achava interessante. A mão se moveu um pouco mais para baixo, para os quadris redondos. Sim, muito interessante. — Precisa fazer isto? — Fazer o quê? — Tocar-me assim? — Você é minha esposa. E, se me lembro bem, você me disse ontem que me quer na sua cama. Todas as noites. Assim, achei que ter minha mão em seu corpo vestido não seria um problema. — Pensei que só nos preocuparíamos com o nosso relacionamento pessoal depois de ter o controle sobre o relacionamento público. — Este é o nosso relacionamento público, agape. — Desculpe. Pareceu território pessoal. — E isto a perturba? Deus sabia que o perturbava. Esta mudança radical em sua aparência física o perturbava. Não cabia mais na caixa onde a colocara e não gostava nem um pouco. Passaram pelas portas duplas que levavam à brilhante antessala do salão de bailes do hotel. — Sim. Não. Não sei. — Está preparada para dormir comigo, mas o pessoal a perturba? — Quer parar de falar nisto? Não é sobre nossa vida pessoal, é nossa vida pública. — Sorriu para um fotógrafo. — A menos que nossa vida pessoal comece a afetar a fachada pública, o que é o objetivo de a deixarmos como está por enquanto. — Não sei, parece que nunca foi à melhor das ideias. Não tenho certeza se nossa vida pessoal é boa. — Não tenho certeza se temos uma. Ele a sentiu endurecer. — Não. — As palavras dela eram rijas como sua postura. — Afinal, nunca estive em sua casa. Você praticamente cresceu na minha. — Na do seu pai. 26


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— A quantas festas de Natal você foi à minha cobertura em Nova York? — A algumas. — Sim, e, no entanto nunca estive em sua casa até ontem. É claro que acha que não temos um relacionamento pessoal. Eu é que pensava que pelo menos havia respeito entre nós. Não serei mais tão idiota. — Pegou uma taça de champanhe da bandeja de um garçom que passava e deu um gole para se fortificar. Dois homens de negócios os fizeram parar e começaram a falar sobre a nova direção da Holt com entusiasmo. Normalmente, Leah participaria da conversa. Interessava-se pelos negócios e pela Holt. Mas, no momento, tudo o que conseguia fazer era acenar e tomar champanhe. Um equilíbrio delicado. Não beba demais, pode ser perigoso. Mas precisava de um pouco para suportar aquilo. Sabia se fingir de durona. Mas tudo parecia falhar quando estava com ele. E era horrível. Antigos sentimentos ressurgiam, se renovavam devido à proximidade. E não queria aquilo. Quero você. Na minha cama, todas as noites. Sim, tinha dito aquilo. E o teria. Porque o queria, porque precisava haver uma vantagem para ela naquele casamento. E, se fosse acesso ao corpo dele, ficaria mais do que feliz. Não tinha relação com emoções, com a dor que surgira no dia em que se casaram. O sexo não a feriria. Seria bom. Pelo menos, imaginava que seria. Talvez fosse melhor esperarem. Precisava controlar seus nervos virginais. Já mostrara vulnerabilidade demais quando era uma adolescente apaixonada. Não, ele não teria mais nada. Agora, era ela que tomaria. Os homens se afastaram deles enquanto se entregava aos seus pensamentos. — E agora, o quê? Mais, conversa fiada? Sorrisos para as câmeras? Dançar para nossos admiradores? — Eu não danço. — Devíamos dançar. — Ergueu o queixo, sentindo-se desafiadora e zangada. Consigo mesma, por ser tão estúpida no que se relacionava com ele. Um olhar ao corpo poderoso e se desmanchava. Patético, mulher, patético. — Já lhe disse, eu não. — Mas eu danço. E você me privou de uma dança no dia do nosso casamento. Não vai negar à sua noiva sua primeira dança com o marido, vai? Sentia-se compelida a provocá-lo ainda mais. Talvez porque ele agia como se fosse o prejudicado. Deu um passo em direção a ele e colocou a palma aberta no peito dele. A pele queimava contra a mão dela. — Dance comigo —, sussurrou os olhos presos nos dele. Ele lhe segurou o pulso, uma expressão estranha no olhar, de curiosidade. Inclinou a cabeça, os olhos jamais se afastando dos dela, e ergueu o braço dela até os lábios. Beijou-lhe a pele sensível do lado interno do pulso. E o coração disparou; o calor lhe percorreu as veias. — Acho que será melhor esperar para abraçá-la assim quando estivermos a sós. — Leah percebeu que as pessoas próximas podiam ouvir. — Não confio em mim mesmo no que se refere a você. Ela não conseguiu respirar. — Então está certo. Mas é melhor que faça valer a pena para mim quando estivermos sozinhos. Não faça promessas que não pode cumprir. — Nunca, agape. Nunca. A noite passou com mais conversas sem substância, mais champanhe, mais, pequenos toques que dissolviam o gelo dela aos poucos. E, quando pegaram o carro para voltar para a Villa, estava exausta. Emocional e fisicamente. Não sabia como suportaria aquele casamento. Dois dias, e achava que havia envelhecido dez anos. Fechou os olhos e descansou a cabeça nas costas do assento enquanto Ajax levava 27


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o carro para fora da cidade. Tentou apenas respirar até entrarem na Villa, lado a lado, sem se tocar. A casa estava escura e todos os empregados haviam saído. Virou-se para ele e o calor que sentira no sangue a noite toda cresceu; a raiva o alimentando. Fechou as mãos em punhos quando chegaram ao começo da escada em direção aos seus quartos separados. E parou. — Ajax. Ele se virou para ela, e o mundo desapareceu, não havia nada além dele. Sem tempo para pensar. Nada daquela emoção estúpida. Porque não era mais desejo, era necessidade. De ganhar algum controle. De fazê-lo reagir. Deu um passo em direção a ele e plantou as duas mãos em seus ombros, empurrando-o contra a parede enquanto se erguia nas pontas dos pés e lhe capturava a boca num beijo. Ele ficou imóvel por um momento, então, com um grunhido feroz, passou um braço pela cintura dela. Não era fácil chocar Ajax Kouros, mas ele ficara chocado diversas vezes nos dois últimos dias. Por sua noiva fujona, por sua noiva substituta e agora pelo beijo que ela lhe dava. Um beijo que parecia incluir toda ela. Não apenas o corpo, mas a própria alma. Nunca tinha experimentado nada igual. Não era simples luxúria, era paixão viva. E, por um instante, não houve nada além do calor, do gosto dos lábios dela, da suavidade dos seios comprimidos ao seu peito. E a intensidade que alimentava cada movimento. Segurou-a bem perto do corpo, sentiu sua forma, cada centímetro dela. E então, porque parecia certo, ergueu a outra mão e a mergulhou nos cabelos ondulados. Era como seda deslizando por seus dedos. Fechou a mão e agarrou as mechas, prendendo-a a ele, impedindo-a de terminar o beijo, de se afastar. Aquilo era novo. Provar uma mulher de uma forma como nunca provara. Sexo usado de forma errada era um vício. Mas aquilo... Aquilo era a dose de uísque que não havia tomado no dia do casamento. Era cada copo de bebida, cada convite para um quarto de hotel, cada linha de cocaína que já recusara. Na primeira fase da vida, cada pecado estivera à sua disposição e ele os cometera. Mas então escolhera dar as costas a tudo. Não porque fosse um santo, mas porque nele viviam as tendências mais sombrias. E então as negou. Porque sabia que aquele era o longo e escuro caminho para o inferno e, embora tivesse começado a vida nele, fizera tudo o que podia para encontrar outro diferente. Mas agora perdia o controle. Por causa de Leah. Ela abriu os lábios e ô beijou mais profundamente, as línguas dançando. E, já que parecia certo, já que queria, ele lhe mordeu de leve o lábio inferior e acalmou a dor com uma lambida. O pequeno som que escapou da garganta de Leah foi de prazer, e o encorajamento o levou mais adiante. Estava consumido por aquele novo anseio de se preencher com o gosto dela, sombrio e doce. Segurou-a com força e trocou suas posições, encostou-lhe as costas contra a parede, ambas as mãos agora em seu cabelo, mantendo-a junto ao corpo. As mãos dela estavam por toda parte. Seus ombros, suas costas, suas nádegas. Puxou-o mais, podia sentir a ereção dele. E Ajax se afogava naquele beijo, era dominado por ele. Tremia com ele. — Ajax. Leah. Esmagava Leah contra a parede. Leah, que apenas concordara em se casar com ele para salvar seus negócios. Leah, que enfraquecia suas defesas. Leah, sua esposa. E, sim, podia ter um relacionamento íntimo com ela. Algum dia. Mas seria-nos próprios termos. Não tremendo como um viciado que precisava de uma dose. Afastou-se, olhou para seus lábios inchados, vermelhos por seu beijo. Queria traçálos com o polegar, seguir suas linhas com a língua. Beijá-la de novo. Mas apenas abaixou as mãos e as fechou em punhos para disfarçar o tremor. — Acho que chega por esta noite. — Afastou-se e começou a subir a escada. 28


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— Você acha? Porque, para mim, foi apenas o começo. Devia desistir. Tomá-la nos braços e carregá-la para seu quarto e jogá-la na cama. Dar aos dois ô que seus corpos queriam. Porque não devia lhe importar, não devia fazê-lo se sentir como se estivesse prestes a se perder, a perder total e completamente o controle. Afinal, estivera preparado para dormir com Rachel e a perspectiva não o fizera sentir como se estivesse prestes a enlouquecer. Tentou evocar a imagem da mulher que amava e não conseguiu. Tentou pensar numa fantasia que tivera com ela e descobriu que não havia nenhuma. Nunca tivera fantasias com Rachel. Soubera que dormiriam juntos e isto tinha sido o suficiente. Porque aconteceria no tempo certo, de acordo com o plano. Porque então. Então tudo estaria completo. Seria certo. Mesmo quando trabalhava ao ponto da exaustão antes de se deitar, a excitação não desaparecia; quando lhe tomava na mão, nunca imaginara uma mulher específica. Não, naqueles momentos imaginava suavidade, calor, um som feminino de desejo. Como os que Leah deixara escapar. Não, não faria aquilo, não seria escravo de seu corpo. Então, por que, diabo não conseguia parar de tremer? — Eu lhe direi quando estiver pronto para começar com você, Leah. E é melhor que tenha certeza porque, quando acontecer, não vou parar. Se permitisse que aquela sensação que rugia dentro dele se soltasse, sabia que não teria controle. Lembranças surgiram. De mãos de mulheres em seu corpo. De beijos conhecedores. E então de uma garota, chorando no canto da cama como se um monstro estivesse diante dela. Precisava parar; reconquistar o controle. Se não, se tornaria um escravo.

CAPÍTULO SEIS

Ajax lançou todas as pragas que sabia contra a mídia na manhã seguinte. Se não fosse por ela, poderia fugir de sua esposa por algum tempo e ir para Nova York, cuidar de assuntos urgentes da Holt. Embora, para ser sincero, não fosse apenas à mídia. Todos os funcionários estranhariam se ele chegasse sem Leah, à amada herdeira com quem acabara de se casar. Sim, estava verdadeiramente preso. E precisava de distância, da oportunidade de recuperar seu controle, e não a conseguia. Entrou furioso no estúdio e encontrou Leah, as pernas curvadas sob o corpo, o laptop diante dela, um pedaço de alcaçuz vermelho pendurado nos lábios. A combinação o levou diretamente para a noite anterior. Doce. Vermelho. Lábios. O beijo. Praguejou de novo, longa e poderosamente e em silêncio. — Precisamos ir para Nova York. — As palavras eram mais ásperas do que pretendia. Ela arqueou as sobrancelhas e chupou o doce na boca. — Precisamos? — Sim. Parece que seus problemas de controle de qualidade não são os únicos. Assim, tenho que ir e descobrir onde está o elo fraco da corrente ou não haverá mais Holt. — Está exagerando. — Um pouco. Mas não quero perder terreno na primeira semana da minha administração. Não acha que Christofides adoraria? 29


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— Tenho certeza que sim. — O que significa que preciso estar lá. E você também. — Suponho que pareceria errado se eu não fosse. — Quase tão ruim como não aparecer para o casamento. Começaria a parecer que tudo o que consigo é repelir mulheres. Ela riu. — Duvido que alguém pense que você repele mulheres. Embora, às vezes, suas maneiras sejam muito rudes. — Maneiras rudes? — E é difícil lidar com você. — É? — Se não sabe, está fora da realidade. — Gosto das coisas do jeito como gosto delas. Gosto que ocorram de acordo com o plano. Ela se levantou e espreguiçou; os seios firmes empurrados contra o tecido da camiseta. E ele não conseguiu se impedir de olhar. Não conseguiu impedir a lembrança de como era tê-los pressionados contra seu peito. Tão macia. Tão feminina. Tão diferente dele. — E, quando as coisas não ocorrem de acordo com o plano, você fica mais rude. — Não vou negar. Mas, em minha defesa, posso dizer que muito pouca coisa na minha vida adulta aconteceu fora do plano e não tenho prática de improvisar. — Nada ousaria contrariá-lo. Você é apavorante demais. — Apavorante? Não gostou da descrição. Fazia-o se lembrar de coisas que deviam ficar enterradas. Não tentava ser apavorante. Nem era muito divertido, sabia. Mas as coisas que pessoas achavam divertidas tinham um lado sombrio e passara nele seus primeiros anos de vida. Se um cara rico quisesse ficar alto numa festa, a droga tinha que vir de algum lugar. Se alguém quisesse pagar por sexo ou assistir a um vídeo pornô, aquelas mulheres e homens teriam que vir de algum lugar. Tinha visto aquelas pessoas. Sua dor. Pior, causara a dor. Uma mansão cuja manutenção dispendiosa precisava ser paga. O dinheiro tinha que vir de algum lugar. Quando menino, não soubera. Andava pela mansão sem supervisão e tomava o que estava em oferta. A comida na cozinha. As substâncias à disposição. E, mais tarde, qualquer mulher disponível. Então aprendera que cada diversão tinha um preço. Tudo o que brilhava era escuro e sujo por baixo. Outras pessoas podiam fingir que não era verdade e ter as coisas sem sentido, gastar dinheiro no que custava a alma de outras pessoas. Mas ele não podia. E, sim, aquilo o tornava sem graça. Mas a alternativa era a depravação. E fugira quando tinha 16 anos, trocara o nome, mudara de ilha. — Você é um pouco severo demais. — Sou prático e algumas pessoas acham difícil lidar com isto. Pessoas que são levadas por emoções, e não pela lógica. — A lógica não explica tudo. Não tem todas as respostas. — Debruçou-se, pegou outro pedaço de alcaçuz da mesinha de café e o levou aos lábios. — Doce não é lógico. Não faz bem. Pode apodrecer seus dentes. Mas gostamos dele. — Deu uma mordida e sorriu. Se alguém o fazia querer esquecer a podridão e provar o doce, era ela. A percepção o abalou. — Porque as pessoas são idiotas. E isto é sensação, não lógica. Você gosta de doce e, assim, embora seja mau para sua saúde e não contribua nada para sua vida, você o come. — Eu não só o como, eu o vendo. E o crio. 30


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— Assim, todo o trabalho de sua vida é baseado numa coisa totalmente desnecessária. — Mas é uma coisa de que as pessoas gostam; Ajax. Faço as pessoas felizes. — E lhes dá cáries. Ela riu. Sempre gostara do som da risada dela. Não era educada ou reprimida. Era apenas, sensação. Engraçado, embora tivesse se livrado das suas, sempre gostara de ver as dela. Porque nunca ninguém as roubara. Porque não precisava saber de todos os horrores da vida. Uma mulher como Leah não precisava saber. Uma onda estranha de necessidade de proteger o tomou. O impulso de protegê-la da escuridão e de tudo que a tocara era forte demais. O impulso de protegê-la dele mesmo. Mas aquilo era uma impossibilidade. Era sua esposa e a tocaria, e tudo passaria para ela. E precisavam ir para Nova York. — Apavorante ou não, você vai para os Estados Unidos comigo. Ela deu de ombros. — Ótimo. A maior parte das minhas coisas está lá. E preciso ver minha loja. Gosto de visitar minhas lojas. Especialmente as grandes. — Uma viagem de trabalho para nós dois. Ela acenou; o olhar se erguendo para o dele como se estivesse tentando ler seus pensamentos. — O quê? — O que o quê? — Está se concentrando tanto que posso ouvir você pensando. — Estou pensando sobre a noite passada. — Deu outra mordida no alcaçuz. — O que sobre ela? — Aquela brilhante conversa com os dois homens de negócio. Não, não é isto. Nosso beijo. A lembrança fez um fogo percorrer a pele de Ajax. Precisava pensar melhor nisto, mais tarde. Como podia sentir aquilo sem se dar a permissão? A resposta era simples. Culpa de Leah. Ela estava fazendo coisas com ele. E não sabia como podia ter aquele poder. Quando acreditava que amava outra mulher. Quando mantivera o controle por tanto tempo. — O que sobre ele? — Estou pensando por que adiamos. Acho que ficou bem claro ontem à noite o que ambos queremos. — E teremos, mas quando tivermos tempo para pensar apenas nisto. E, de novo, se sentiu tenso, inquieto. Não estava preparado para enfrentar a parte física do relacionamento deles. Era por causa dela, decidiu. Porque tinha sido às pressas. Porque o que ela havia feito, pela empresa e por ele, era muito parecido a se vender. E se sentia angustiado sobre isto. Se tivesse dúvidas sobre se ela o queria, se queria estar casada com ele, se sentiria como um dos cúmplices do pai. E este tinha sido o motivo por que fugira da mansão. Para escapar daquele destino a qualquer preço. Você. Na minha cama. Todas as noites. Ela havia dito aquilo, mas fizera os votos. E estava presa a ele, o que a deixava aos seus cuidados. E, se não se importasse com ela, ficaria sob seu poder e nunca seria aquele tipo de homem. — Quando? — Na nossa lua de mel. Está tudo planejado. Será dentro de duas semanas. Isto nos dará tempo. Para eu resolver tudo na Holt, você lidar com problemas do controle de qualidade e para nós convencermos a imprensa de que tudo está muito bem no nosso relacionamento. 31


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Teria tempo para se acostumar à ideia e não se sentir um estuprador, exigindo direitos de marido apenas porque era a esposa dele. E, se ela não se importava se imaginava outra mulher quando estivesse junto na cama, ele se importava. Não gostava de usar pessoas e não podia usar Leah. Faria dela uma prostituta, pagando-lhe na forma de segurança para a empresa dela. E não podia fazer amor com ela enquanto tinha sentimentos por outra mulher, embora estivesse se tornando cada vez mais difícil pensar em Rachel. A lembrança daquele beijo entre ele e Leah apagava tudo e era difícil pensar em qualquer outra coisa. — Duas semanas? E então apenas começamos a viver como um casal de verdade? — Tem que acontecer em algum momento. De preferência quando pudermos pensar apenas um no outro. — Compreendo... E... E, além do sexo, o que é o casamento para você, Ajax? É amor? Companheirismo? Amizade? — Eu... Eu partilharei sua cama. Protegerei você. Eu lhe darei filhos. Se estender a mão na escuridão, estarei lá. Aqueles eram seus verdadeiros votos de casamento. Suas promessas a ela. E eram sérias para ele. Estava mudando de direção, mas ainda era um caminho que podia percorrer. Amor não era necessário nem uma forte ligação emocional. Não quando existia honestidade, fidelidade. Lealdade. Nem mesmo sabia o que era o amor. Rachel tinha sido o símbolo de seus sonhos, sua linha de chegada. Passara a significar tanto para ele que tinha sido fácil imaginar que era amor. Mas agora duvidava. Leah havia dito que via Rachel como um ideal. Talvez fosse verdade. Talvez fosse incapaz de amar. De uma forma estranha, achou o pensamento confortador. O amor era uma emoção grande demais, difícil de controlar. — Nada mais? — Isto é tudo, Leah. Para mim, é tudo. Ela desviou o olhar e passou a mão nos cachos. E ele se lembrou de mergulhar os dedos neles na noite anterior. Estavam mais lisos, então. Perguntou-se como seria sua textura agora. Ela mordeu o lábio inferior e ele se lembrou que fizera a mesma coisa na noite anterior. E do pequeno som de prazer que ela emitira. O estômago apertou; a virilha também. Sua falta de controle o deixou tão atônito que demorou a recuperá-lo. Tudo o que podia fazer era olhar para ela e sentir o calor que o queimava. — Estou lhe dando tudo porque você é minha esposa. Nenhuma outra mulher terá esta posição, agora ou nunca. Não importa como o casamento começou. — Obrigada, Ajax. — Os olhos dela estavam cheios de tristeza. Queria lhe oferecer mais. Conforto. Mas era a última pessoa do mundo que poderia oferecer conforto a alguém. Ternura. Porque, se deixasse as muralhas caírem, a escuridão venceria. Normalmente, voltar para a Holt era como voltar para casa. Mas Leah não se sentiu em casa quando passou pelas portas de vidro e entrou no saguão familiar de mármore cinzento. Era igual, mas tudo tinha mudado. Seu pai não estava lá, estava em Rodes. Não havia mais uma escrivaninha com o nome dele. A Holt Enterprises sempre tinha sido o reino de Joseph Holt. Agora pertencia a Ajax. E a ela. Interessante porque jamais imaginara que aquilo aconteceria. E agora percebia o quanto valorizava ser parte da empresa. A Holt era importante para Ajax. Ele faria o melhor para a empresa e seu sucesso seria grande. E Ajax era importante para ela. Era seu marido. E o voto que fizera no estúdio de casa, quando deixara evidente como considerava importante sua posição como esposa dele. Aquilo lhe dava pelo menos esperança. De que as coisas podiam ser boas, melhores, o que a fazia querer abaixar um pouco suas defesas. Fazia-a querer tentar. E, enquanto atravessavam a recepção quase vazia àquela hora da noite, teve uma 32


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estranha sensação de déjà vu. Quanta vez o seguira assim quando era adolescente? Antes de erguer suas barreiras, de saber como as pessoas a viam. Andando atrás dele, falando sobre uma coisa e outra, adorando cada migalha de atenção que ele lhe dava. Tentando fazê-lo olhar para ela. Sorrir para ela. Na época, parecia que era amigo dela. Que tinha sentimentos por ela. Como adulta, via o que era; uma garota gordinha e iludida; seguindo um homem mais velho e sofisticado que não tinha tempo para ouvir seus planos para suas lojas de doces. E, no entanto, ele tivera. Sempre tinha sido gentil com ela, nunca a fizera se sentir indesejada. Se não tivesse agido assim, provavelmente não teria tido aquela paixonite por tanto tempo. Mesmo agora, não era imune a ele. Aquele beijo... Entraram no elevador e ele apertou o botão. Ela tivera fantasias com ele em elevadores. Sempre que subiam ou desciam juntos. Ele a tomava nos braços e a beijava, nos lábios, no pescoço. Tudo muito apaixonado na ocasião, mas sua imaginação era melhor agora. Sim, as fantasias de agora não eram tão inocentes. Podiam continuar de onde tinham parado na noite anterior. Ele lhe erguia a saia e punha a mão entre suas coxas para acalmar aquela dor pulsante que ameaçava. — Então — a alegria era falsa enquanto bloqueava as imagens na mente —, já escolheu a decoração para seu escritório? — Não. — Bem, vai querer torná-lo pessoal, certo? — Não vou trabalhar aqui. Outra pessoa ficará encarregada. — Mas você terá um escritório. — Sim, mas não vou passar muito tempo nele. — Sua falta de interesse em coisas frívolas é horrível. Sabe como é difícil tentar conversar com alguém que não pensa em frivolidades? — Lamento não atender à sua necessidade de me fazer gostar de coisas triviais. — Conversar com você não é nada fácil. — Nem todo mundo pensa assim. — Não costumava ser tão difícil comigo. O que mudou? — Você parou de falar comigo. Oh. Certo. Tinha mesmo. — Acho que sim. Seguiu-o pelo corredor e se lembrou de novo. Quantas vezes caminharam assim? E como não percebera que, mesmo então, embora andasse juntos, ela caminhava sozinha? Não precisava dela, não a queria. Apenas, aceitava sua presença. E era por isto que as balas que comprara para ele estavam em sua bolsa, e não na escrivaninha dele. Porque não havia decidido o que fazer. Ele abriu a porta do que tinha sido o escritório do pai dela. As pinturas nas paredes haviam sido tiradas. A placa com o nome dele sobre a escrivaninha desaparecera. Um nó lhe fechou a garganta. — Uau. Acho que agora é realmente seu. — Ele teve pressa em tirar suas coisas. — Ajax. — Relutou, tentando não fazer a pergunta que a atormentava, mas não conseguiu se impedir. — Você dormiu com minha irmã? O olhar dele se voltou totalmente para ela, o rosto chocado. Bem, choque para Ajax, o que significava uma ruga mais profunda do que o normal. — Por que pergunta? — Mórbida, ah, Deus, é sempre mórbida a curiosidade. Sei que me disse que não devo me comparar a ela, mas neste sentido, bem, preciso saber se você vai nos comparar. 33


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Encolheu-se porque quais seriam as chances de Ajax nunca ter dormido com Rachel? Ficaram juntos por muito tempo e Ajax era um homem incrivelmente sexy e viril. Leah nunca teria sido capaz de manter as mãos longe dele por todo aquele tempo. Inferno, ela o atacara e o empurrara contra uma parede depois de dois dias de proximidade. — Eu lhe disse isto? — Para não me comparar? Sim. Você... Você não se lembra? Então viu sua expressão. Não se lembrava. Que estupidez pensar que se lembraria! Aquele momento decisivo de sua vida passara despercebido por ele. Como era revelador! — De qualquer maneira... Eu só... Queria saber. — Não dormimos juntos. — O quê? Como é possível? — Decidimos esperar até estarmos casados. — Estava visivelmente desconfortável com o assunto. — Não... Não esperava por isto. — Por que não? — Homens pressionam uma garota por sexo. Por que acreditaria que você é diferente? — Não sou como a maioria dos homens. — Aproximou-se, os olhos jamais abandonando os dela. Parou, inclinou a cabeça, traçou-lhe o queixo com a ponta do dedo. — Sou muito, muito pior. Afastou-se e ela sentiu que havia uma barreira invisível entre eles. Feita de gelo e de seus sentimentos por outra mulher. E queria gritar com ele por não ser o homem que ela queria que ele fosse. Mas isto não era justo, era? Ficar zangada com ele por não ser como o imaginara. E não fazia sentido machucar tanto. Abriu a bolsa e segurou a caixinha de trufas que pusera lá. Seu ramo de oliveira. Mas não agora. Sabia que precisava se proteger ou ficaria totalmente vulnerável, ridícula. Não baixaria seus escudos por ele. Soltou a caixinha e lhe deu as costas. — Vou voltar para minha cobertura e providenciar o transporte das minhas coisas. — Ótimo. Volte para minha casa à noite. — Por quê? — Aparências, agape, por que mais? — Ah, é claro. — Então não queria estar com ela; era tudo parte daquele plano estúpido. — Vejo você mais tarde, então. Tentarei atrair a atenção dos paparazzi quando voltar. Pelas aparências. — Faça o que acha que precisa. Gritar com você até esquecer como me sinto confusa. — Certo. Até mais. Ajax observou Leah se afastar, um estranho peso no coração. Ela parecia, transtornada. Mas não quisera falar sobre sexo, não quando seu corpo queimava com a lembrança daquele beijo. E não quisera admitir que nunca dormisse com Rachel. Orgulho? Não sabia que tinha aquele tipo de orgulho masculino. Fizera suas escolhas deliberadamente e não se arrependia. Olhou para a escrivaninha, que parecia vazia. Porque Joseph Holt não estava lá e Ajax sentia falta da presença de seu mentor. Era um homem com quem queria se parecer. Ao contrário do próprio pai, Joseph Holt era um homem bom. Importava-se com a família, com as pessoas, com os funcionários. Havia nele uma honestidade, uma bondade que era totalmente desconhecida por Ajax quando chegara à propriedade, um menino perdido com cicatrizes internas que jamais haviam desaparecido. E Joseph Holt o recebera e lhe mostrara que havia uma forma de viver completamente diferente do que conhecera a vida toda. Diferente do inferno sujo e repugnante em que fora criado. 34


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Um inferno no qual quase mergulhara. Sentou-se à escrivaninha. Agora dele. E apenas esperou que, com a ausência de Joseph e de todas as suas coisas, ainda pudesse ser o homem que ele lhe ensinara a ser. E, de repente, percebeu por que a escrivaninha parecia tão vazia. Leah não lhe deixara nenhum doce.

CAPÍTULO SETE

Os dias em Nova York foram horríveis. Leah evitava Ajax o máximo que podia. Passava o tempo em sua loja e em seu laboratório, experimentando novos sabores. Não criava mais doces, mas era uma boa distração quando se sentia estressada. Suas duas semanas estavam chegando ao fim. Em alguns minutos viajaria para a lua de mel. Com um homem com quem mal falava. Ia se encontrar com ele no aeroporto porque ambos estiveram ocupados demais para tomar o mesmo carro. Bem, não, era mentira. Ela poderia ter encontrado tempo, mas mentira para evitar aqueles poucos momentos extras. Agora estava no aeroporto, esperando na sala particular por ele, com caixas de doces espalhadas aos seus pés. Sempre carregava um bom suprimento e, desta vez, pegara muitos chocolates que apresentavam defeitos no formato. Seria um consolo para uma ocasião realmente deprimente. Então Ajax entrou; inacreditavelmente sexy num terno preto. Estava perfeito, nem um fio de cabelo fora do lugar. Tudo nele gritava controle. E ela não sabia por que o achava tão atraente. Queria afrouxar a gravata, desabotoá-lo, despentear-lhe o cabelo com os dedos. Inalou o ar com força e se debruçou para pegar as caixas de doces. — Oi — cumprimentou enquanto apertava as caixas contra o peito. — Estou apenas... Peguei todos estes doces e agora. — Quase deixou uma delas, cair. Ele se aproximou. — Aqui. — Despejou as caixas nos braços dele. — Pegue. Por favor. — Então se debruçou e pegou o resto e a bolsa. — Pronto? — Tudo está pronto. Sua bagagem está a bordo. — Ótimo. Obrigada. Então. Para onde vamos? — Não lhe disse? — Não, é uma dessas coisas sem importância sobre as quais não conversamos. Como sua cor favorita, a verdadeira natureza de seu relacionamento com minha irmã. Este tipo de coisa. — Vai mesmo falar de novo nisto? — Segurou a porta aberta para ela passar. Ela andou a frente dele em direção à saída onde ficavam os aviões particulares. — Acho que sim. Não tinha planejado perguntar nem da primeira vez. Estou sofrendo de um caso terminal de honestidade no momento. — Não é tão encantador como pode pensar. — Oh, não penso que é encantador. Acho que é tremendamente constrangedor. Vou tentar parar assim que puder. — Quando considerar adequado. Olhou para os aviões. — Qual deles é o seu? — O maior. — Sério? 35


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Entrou no avião. Já voara nele para Nova York, mas para ela um avião era igual a qualquer outro. O interior, porém, era o que o diferenciava de tudo o que havia visto antes. Tapetes luxuosos, mobília de couro, uma televisão enorme de tela plana e um quarto ô tornavam maior e mais confortável do que a maioria dos apartamentos de Manhattan. Ajax colocou suas caixas de doce no sofá e se sentou ao lado delas. Assim, ela escolheu uma poltrona do outro lado. Mais seguro. — Agora me diga para onde vamos. — Não quer que seja uma surpresa? — Não. O casamento foi uma surpresa. Quero saber onde será a lua de mel. — Santa Lucia. — Oh, uau. Por algum motivo, a imagem da linda ilha, onde nunca estivera, mas da qual já vira fotos, fez sua garganta apertar. Talvez porque ele planejara a viagem para Rachel. Por que se sentia assim? Por que se importava com ele, com a lua de mel ou com qualquer outra coisa? Seria muito mais fácil se pudesse ser como ele. Sem sentimentos. Podia ser casado, com ele, administrar seus negócios, aparecer com ele em eventos e tê-lo nu na cama dela no final da noite e jamais se importar se estava ou não pensando em outra mulher. Mas não era assim. Tivera que endurecer quando entrara no mundo dos negócios. Mas com Ajax de vez em quando ele a fazia se sentir como a menina que tinha sido. Suave. Exposta. Não gostava daquilo. Especialmente quando decidira se proteger duplamente. Sentia o estômago embrulhado e não conseguia comer. Bem, apenas doces. Felizmente levara um bom suprimento. Ajax tirou o laptop da pasta, ligou-o e se concentrou na tela. A conversa terminara. Bem, tudo certo. Podia ficar sentada lá e comer doces. E pensar na lua de mel que agora sabia que seria cheia de sol e areia. Os picos azuis e verdes de Santa Lucia pareciam ainda mais vibrantes depois de duas semanas na cinzenta Nova York. Leah sempre gostara da cidade, mas se sentia mais em casa perto do oceano. Ajax havia alugado uma Villa particular, uma estrutura maciça de madeira, com a praia à frente e as montanhas cobertas por árvores densas atrás. Parecia saída diretamente de uma fantasia. — Há quanto tempo planejou vir para cá na lua de mel? — Por que perguntava? Não queria saber. Maldita curiosidade. — Mais de um ano. Quando estabelecemos a data do casamento, reservei este lugar. — Você gosta de seus planos, não gosta? — Sem um plano, como sabe que está no caminho certo? — Não sei. Se segue um plano tão completamente, como sabe se não está perdendo alguma coisa realmente maravilhosa que está a apenas alguns centímetros à esquerda? Ele deu de ombros e subiu a escada que levava para dentro da Villa. — Não vale o risco. Não para mim. Abriu a porta e entrou; Leah o seguiu, observando o ambiente. Era um aposento gigantesco, todo aberto, com um teto alto. O piso era de madeira, áspero e inacabado, e dava a impressão de uma coisa rústica em meio ao luxo. O quarto era separado da área de estar por uma cortina transparente. E, além dela, havia uma cama enorme. Não precisariam de quartos separados. Olhou para as costas largas de Ajax, seus quadris estreitos e... Bem, sim, seu traseiro perfeito e musculoso. Era uma vista maravilhosa, exatamente como achava quando adolescente. — Que risco? O risco de fracassar? 36


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— Não. O fracasso não seria tão ruim. Há coisas muito piores, muito mais sombrias a temer. — Deixou a mala que carregava. — Deixe-me lhe fazer uma pergunta, Leah. — Vá em frente. — Acha que é uma boa pessoa? Ela piscou. — Sim. Eu... Suponho que sim. Faço doces, não guerra, e sorrio para pessoas quando passo por elas na rua. Nunca roubei dinheiro da bolsa da minha avó. Sim, sou uma boa pessoa. — Certo, mas você tem certeza de que continuaria uma boa pessoa se suas circunstâncias mudassem? Que teria uma ética tão enraizada que a impediria de mudar? — Gosto de pensar que sim. — Sentia que não ia gostar do que viria a seguir. — Eu acredito que não sou uma boa pessoa. Não que apenas não seria se as coisas mudassem, mas se algum dia tirasse os olhos do prêmio diante de mim, se escorregasse. Mergulharia de novo na escuridão de onde vim e não estou disposto a fazer isto. Não apenas por mim. Por todos que posso ferir. Emoção, necessidade, luxúria. Estas coisas cegam. São imprevisíveis. Não confio nelas. Ela riu um pouco, mas apenas para aliviar a tensão, a inquietude. — Você jamais, feriria ninguém, Ajax. Ele riu sem humor. — Oh, diz isto, Leah, mas não sabe nada sobre mim. Pensa que sabe. Pensa que nasci no momento em que apareci na propriedade de sua família? Não. Na ocasião, já havia vivido mais em 16 anos do que uma garota como você viveria até o fim de seus dias. E isto não é um insulto. Você não quer ver o que eu vi. Saber o que fiz. Mas eu sei. E a lembrança disto é o que me mantém neste caminho. É que me faz lembrar, todos os dias, de como é importante manter os olhos fixos no objetivo. — Ajax. — Não vamos mais falar sobre isto. — Não, não vamos. Você me disse que é pior do que a maioria dos homens. Agora me diz que fez coisas. Acho que tenho o direito de saber com o que estou lidando. — Por quê? Pensei que me conhecesse tão bem...? — Não. Conhecia sua máscara. E gostava mais dela. — Todo mundo gosta. E deve. — E, com isto afrouxou a gravata e a tirou —, acho que vou nadar. E então começou a desabotoar a camisa e a tirou, ficando nu da cintura para cima. Ah. Nossa! Era tão fácil esquecer como estava zangada, ferida e confusa quando olhava para aquele torso esguio e bem definido. A pele dourada com um pouco de pelo negro sobre o peito. Enfatizando como eram masculinos. Como se precisasse ser lembrada. Ele se dirigiu para a área do quarto e ela apenas ficou lá, olhando. Estava atrás da cortina, mas podia ver sua silhueta através da gaze fina. Ele abriu uma das malas que haviam sido levadas antes deles e tirou uma sunga, então abaixou a calça e a cueca. E, enquanto ele tirava a roupa, a armadura caiu do corpo dela. Não devia estar olhando, mas não conseguia parar. Toda aquela pele, as coxas musculosas, o traseiro e... E... Seu cérebro parou de funcionar quando o viu de frente. A sombra escura no alto das coxas era uma coisa maravilhosa. Ele ergueu o olhar para ela e saiu de trás da cortina. — Gostou do que viu? — Muito. Mas é uma coisa boa, não é? — Devo ruborizar e gaguejar agora? — Não sonharia com isto. Afinal, você viu coisas que nem consigo imaginar. — Não se esqueça. Passou por ela e saiu. E então ela percebeu o que ele estava fazendo. Evitando-a. 37


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Evitando a intimidade do momento. Mas não escaparia. Foi ao quarto, abriu a mala e encontrou sua roupa de banho. Era de uma peça, negro. Não era o que queria. Ele não seria o único a inspirar luxúria. Precisava ir às lojas do resort. Um mergulho não apagou o fogo que queimava o sangue de Ajax. Mas a água não estava tão fria como precisava. Não era excitação. Pelo menos, não era apenas excitação. Mas, no momento em que entrara naquela sala, olhara para Leah e para aquela cama, havia percebido o que aconteceria. E queria. E havia sido uma colisão com a realidade. Leah havia sido manipulada para estar ali. Aquele lugar havia sido escolhido para outra mulher. E ele simplesmente a levara lá, como se ela e Rachel fossem intercambiáveis. Sabia muito bem que não eram. Para começar, Rachel não havia feito seu sangue ferver. E Leah testava os limites de seu controle. Fazia-o querer coisas que não queria há anos. Estivera tão perto de jogála na cama quando entraram. Beijá-la até ela perder aquela expressão triste, até exorcizar o fantasma da mulher que pretendera levar para lá. E então tivera que se lembrar do motivo por que precisava manter o controle. Do tipo de homem que era. É claro, com Leah não haveria drogas envolvidas. Não as tocara em 17 anos. Nem mesmo se sentira tentado. Não depois da última vez. Mesmo assim, não conseguia separar o sexo do caos e da vergonha que permeava o ar na casa de seu pai. Não podia separá-lo de sua última noite lá. De uma mulher apavorada. Uma mulher que ele apavorara. Não, não queria pensar naquilo. Mas precisava. Tinha que se lembrar porque, assim, saberia o motivo por que o controle era tão importante. — Ah, ótimo, você ainda está aqui. Ele se virou ao som da voz de Leah e sua boca secou. A lembrança desapareceu. E tudo o que podia ver eram curvas e uma pele clara e macia. E um biquíni vermelho que devia ser ilegal. Abraçava-lhe os quadris, um laço de cada lado, e lhe parecia que seria a coisa mais fácil do mundo soltar aquelas tiras. O top era igual e mal lhe cobria os seios. Sua barriga não era magra ou definida. Não, era simplesmente Leah. Apenas uma mulher. E era sua suavidade, era suas curvas que a faziam parecer completamente feminina. E, por um momento, apenas um momento, sua percepção do sexo, as coisas que presenciara, o que fizera, foram apagadas. E havia apenas Leah. — Sim, estou. Aonde foi? — Fazer compras. — Comprar o quê? — Todo o tipo de coisas. Principalmente isto. — Indicou o biquíni. Não que houvesse muito a mostrar. — O que mais? — Lingerie. Do tipo que quer que alguém veja. O calor aumentou e se centrou na virilha. — Mesmo? — Sim. Parece interessado. Não havia como mentir, era evidente. E, de qualquer maneira, por que deveria? Era sua esposa e o queria. Não a estaria forçando. Ela fizera sua escolha. — Estou. — A voz era insegura, a voz de um estranho. — Fico feliz. — Isto significa que está pronta? Aqui? Agora? — Ele não estava. Não enquanto se sentisse daquele jeito. — Não. É agradável antecipar, não acha? Ele não tinha ideia de por quanto tempo havia antecipado. — Não sei se agradável é a palavra que usaria. 38


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Ela deu um passo em direção a ele, insegura, os seios balançando. E ele se sentiu como um adolescente. Não o adolescente que tinha sido; com acesso ilimitado ao sexo. Mas um garoto inexperiente, que sentia o desejo de dar, não apenas de tomar, como fizera no passado. Queria acariciar, não apenas possuir. E também havia incerteza. Ela o desequilibrava. Mais um efeito colateral de não agir de acordo com o plano. Ou talvez um efeito colateral daquele corpo lindo. Ela estendeu a mão e lhe tocou o rosto. — Não sei. É mais agradável do que brigar, o que parece ser uma das duas únicas coisas que fazemos. Brigar e beijar. E as rédeas que o prendiam se romperam. Ele inclinou a cabeça e lhe tomou a boca, depressa e com força, desesperado demais pelo sabor dela para esperar. Quando interrompeu o beijo, os olhos dela estavam arregalados, a boca, inchada. — Ah! — O quê? — Temia ter ultrapassado os limites. Mas tivera a certeza do que ela queria. Flerte. Sedução. Sempre sabia como era quando as mulheres o queriam. Sempre o queriam; especialmente depois que enriquecera. E sempre as descartava, mas isto não significava que não era capaz de reconhecer quando uma mulher pensava em sexo. — Desculpe; você apenas me esvaziou a mente. — E isto é, bom? — É. Apenas. Acho que não consigo pensar em nada espirituoso para dizer por um minuto. Assim, talvez possa desviar o olhar da minha vergonha e deixar minha mente transformada em gelatina em paz? — Vai nadar? — Pensei que devia esperar meia hora para nadar, depois de ter o cérebro remexido. — É um fato científico? — Não faço ideia. Ele sorriu. Não pôde evitar. — Acho... Acho que devia levá-la para jantar esta noite. — Romance? — Sim. — Não precisa. — Eu sei. Mas quero. — Vindo de você, Ajax, isto é puro romance.

CAPÍTULO OITO

Leah precisou de apenas uma hora depois do encontro na praia para decidir que não deixaria Ajax levá-la para jantar. E tinha motivos e um plano próprios. O plano de emboscá-lo. Não precisava de romance. O que queria era sentir que tinha algum controle. Que não estava apenas sendo levada. Aprendera pelo menos uma coisa sobre Ajax desde seu casamento, duas semanas atrás. Que era governado pela cabeça. Não era uma coisa que se aprendia apenas olhando para ele. Alto, grande, musculoso, parecia um homem ligado ao lado físico. Como a promessa de sexo e suor. Mas era controlado pela mente. E gostava assim. E não o queria calculando a forma como o casamento seria consumada. Teria controle 39


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demais. E de uma coisa sabia: por mais fortes que tivessem sido seus sentimentos por ele quando era adolescente, não o havia amado. Havia liberdade neste pensamento. O tipo de liberdade que a fazia sentir que talvez não precisasse se resguardar tanto quanto pensara. Jamais conhecera Ajax, não de verdade. Imaginara quem achava que era por causa das conversas educadas que tiveram. Porque ele sorrira para ela, aceitara seus presentes. Mas agora sabia. Não era possível amar um homem que não conhecia. Mas não amá-lo não significava que não o queria. Estava tão atraída por ele que sentia dor. Entre outras coisas. E não queria que se controlasse, queria-o tão vulnerável como ela. Ser virgem a deixava em enorme desvantagem, mas não pensaria em todas as lindas mulheres, entre elas sua irmã, que haviam frequentado a cama dele. E ele a queria. Vira a expressão em seus olhos. Escolhera aquele biquíni como um desafio e um teste para o próprio benefício. Porque não queria que ficasse chocado quando á visse nua. Seu corpo era legal, mas não tinha aquela aparência de vara tão popular. Não era uma modelo. Mas ele a vira e a desejara. Era uma vitória. Agora planejava tomar o controle dele enquanto suas defesas estavam baixas. Seu plano maligno de seduzir o bilionário grego estava em pleno andamento. E quando conseguisse, talvez pudesse exorcizar os sentimentos. Talvez tivesse algum poder. Ou talvez apenas diminuísse a intensidade dos sentimentos que tinha por ele. Continuava a ser a noiva substituta. A segunda escolha. A herdeira Holt menos bonita, menos famosa, menos celebrada. Amava a irmã, realmente amava. E estava tudo bem ter menos cotação com a imprensa. Mas deixar Rachel ter o coração do marido? Era injusto. Não o amava. Ele não a amava. Mas não queria que amasse outra. Parecia sensato. E aquela noite não seria sobre amor, ou ser a segunda melhor. Naquela noite ela seria a desejada. E isso era apenas sobre controle. E sexo. Assim que ele voltasse do assunto urgente que fora chamado ao resort para resolver. Nunca seduzira ninguém. Mas, então, nunca estivera num casamento sem amor. Assim, era tudo território novo. Olhou-se no espelho e deixou escapar um suspiro. Sim, parecia quase outra mulher. Muita maquiagem nos olhos, os seios expostos lindamente no decote baixo do vestido justo. Estava um mulherão, macia e cheia de curvas. E, sim, de lado seu ventre não era reto, mas, oh, bem, era ela e seduziria um homem com o que tinha. Podia não ser o tipo de mulher que ele provavelmente gostava, mas o seduziria mesmo assim. A porta da Villa se abriu e ela se virou. Podia vê-lo no umbral, a silhueta clara através da cortina. — Você voltou. — Sim. Está pronta para sair? Ela afastou a cortina. — Não. — Você parece pronta. Ela colocou as mãos nos quadris. — Isto não é o tipo de coisa que normalmente uso para sair. — Por que não? — Ele a observou dos pés à cabeça e uma onda de calor a percorreu. — Por que... Bem, apenas não é. — Vai se trocar? — Vai se fingir de obtuso? — Talvez. 40


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— Não faça isto. — Aproximou-se até ficar tão perto que sentiu o calor que emanava do corpo dele. — Não combina com você. É experiente demais. — Experiente? Não sei se esta é a palavra que usaria. — A expressão era de granito. — Enfadado? Talvez. — De qualquer maneira, se fazer de idiota não é seu jogo. — Talvez não, mas você me impede de pensar. — Mesmo? Ajax fechou os punhos nas laterais do corpo, combatendo o anseio de tomar Leah nos braços e se livrar das correntes que o prendiam de uma vez por todas. Mandar o controle para o inferno e simplesmente tomar o que queria; aquilo pelo que estava faminto. De alguma forma, Leah tinha começado a se tornar uma obsessão. Um desejo de que não conseguia se livrar, do qual não conseguia escapar. E os sentimentos que havia tido por Rachel no que deveria ter sido o dia de seu casamento haviam sido consumidos pelas chamas da necessidade que tinha de Leah. Doce Leah. Que havia crescido e se transformado numa tentadora mulher de língua afiada, com curvas que evocavam fantasias nos cantos mais sombrios de sua alma. Fantasias que nunca permitia que vivessem em sua mente. Que pairavam as margens da consciência, uma neblina que impedira que se aproximasse. Mas agora estava dominado por elas. Seria mais fácil simplesmente deixá-las fluir agora, bloquear o caminho, a visão de tudo o que ocorrera no passado e do que planejara para o futuro. Jamais se sentira assim. Nunca tinha sido um escravo de seus desejos como agora. Experimentara a excitação sexual, é claro. Mas a verdade era que não fazia sexo havia 17 anos. E o desejo, o desejo adulto de um homem por uma mulher, lhe era totalmente desconhecido. Garantira que fosse assim. Porque sempre acreditara, desde que despertara para a realidade de quem era, do que era capaz de se tornar, que precisava esperar até ter certeza de que teria o controle. Que seria no contexto certo. Que a mulher não estava apenas ali, permitindo-se ser usada em troca de alguma coisa. Que a mulher precisava querer. Mas agora nada daquilo tinha importância. Porque havia alguma coisa sobre Leah que fazia o passado parecer inexistente. Queria mergulhar naquela sensação. Ser batizado por ela. Sair limpo e novo. Uma ilusão sabia, mas queria se apegar a ela. Apenas por um momento. Ela estendeu a mão e traçou o rosto dele com a ponta do dedo, o olhar no dele. Tentando-o como nunca havia sido tentado. E queria. Queria provar o que se negara por tanto tempo. Deixar as lembranças das mulheres na mansão do pai desaparecer para que houvesse apenas isto. Doce, sensual e limpo. Queria tudo e, de repente, sentiu que não aguentava mais, que precisava tê-la naquele momento. Dezessete anos de negação e nunca se sentira tão perto do limite. Nunca sentira nada tão urgente. Mas agora estava trêmulo, sentia que precisava dela mais do que precisava de ar. Tentou olhar para ela e ver a garota que tinha sido; lembrar-se de um tempo em que não a quisera. Agora não tinha certeza se houvera este tempo. Como nunca percebera? Como nunca quisera? Um sussurro de alguma coisa, desejo, medo, lhe passou pela pele. E uma lembrança. A lembrança de uma menina que sempre lhe deixava presentes. Que lhe contava tudo o que acontecia em sua vida. Uma garota que fazia seu coração, um coração que congelara anos atrás, se sentir quente como ninguém mais conseguia. Nem mesmo a mulher que pensara que amava. Ele lhe tocou o rosto, suavemente, então traçou o lábio inferior com o polegar. Jamais tocara uma mulher assim. Com reverência. A lembrança de outros encontros o deixou envergonhado. As mulheres em seu mundo antigo, no mundo de seu pai, tinham sido tratadas como objetos. Alguns homens também. Mas tivera experiências apenas com 41


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mulheres. Que talvez o aceitassem porque era o filho do chefão. Porque não queriam ser jogadas para fora da mansão sem acesso às drogas. Ou, pior, ser vendidas para outro “mestre” que seria ainda mais cruel. E seu último encontro com uma mulher tinha sido tão rude. Horroroso no fim. As drogas lhe nublavam o cérebro. Tomara mais naquela noite do que antes. E por que não? Seu pai as dera a ele. Um presente de aniversário. E era tão raro que seu pai lhe desse, atenção. Por que não desfrutar dos presentes? Os frutos de seu trabalho, dissera o pai. A evidência de como seus produtos era bom. Não era a primeira vez que tomava drogas. Era humano, um menino com acesso total aos excessos, e os tomara. Mas não na variedade ou na quantidade com que se servira na noite do seu aniversário. E seu pai o encorajara a provar outro produto. Mulheres. Sim, havia se envolvido com as prostitutas que ficavam na mansão antes, mas nunca com as mulheres que seu pai traficava. Mal vira alguma delas antes. Você pode domá-la, garoto. Uma virgem. Um presente para você. Ela pode dizer “não”, mas não é verdade. Paguei-lhe bem para abrir as pernas. Ela se entregará, queira ou não. Afastou-se de Leah e respirou fundo. Não queria pensar naquilo. Não agora. Nem nunca. Havia expiado aquele crime em particular, ou pelo menos feito o melhor que podia para consertá-lo. Mas ainda se lembrava. O rosto dela. Seu medo. As lágrimas. Mas assim que percebera. Assim que tivera um momento de claridade. E então os dois fugiram. Levara-a de volta à família, as cicatrizes nela apenas as que ele fizera o único homem que a tocara. Mas pelo menos... Pelo menos havia parado. O controle vencera no fim. E cuidara para que sempre vencesse. Leah era sua esposa, fizera votos. Ela queria estar ali, não havia sido sequestrada, vendida. Não? Pelas ações de sua empresa? Pela posse da Holt? Não. Não era a mesma coisa. — Diga-me que me quer — rosnou. — Diga-me. — Quero você. — Diga meu nome. — Seu consentimento era essencial. Ela lhe tocou o rosto. — Quero você, Ajax. — Por que se casou comigo? — Pela Holt. Por meus negócios. E por você, que trabalhou demais e não podia perder tudo. — Mas você tomou a decisão. Você quis. — Ninguém me forçou. Você estava lá, meu pai. Ele nunca me obrigaria. A ideia foi minha. — Tocou-lhe o lábio com a ponta do dedo, traçou-o como ele fizera com o dela. — E, se você se lembra, exigi intimidade como parte dos meus termos e condições. — Eu me lembro. Mas por quê? — Mulheres também têm hormônios, Ajax, e não quero me satisfazer com um homem que não é meu marido. Se este casamento é real, honraremos nossos votos. — Concordo. — Será fiel a mim também? — É claro. — Não importa o que aconteça? — Com quem a trairia? Ela suspirou; trêmula. — Durante toda a minha vida, Ajax, estive atrás dela. Todos os que nos compararam encontraram falhas em mim. Você também a preferiu. Disse que a amava. Pensou em dizer alguma coisa sobre emoção. Que não sabia se as tinha. Que havia 42


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voltado tudo o que tinha para o amor a Rachel porque se casar com ela tinha lhe parecido uma boa ideia. Mas não tinha certeza se realmente a havia amado. Uma vez o objetivo lhe roubado, o sentimento também desaparecera. E também não sabia se não a havia amado. Não sentia nada quando pensava nela agora, nem mesmo luxúria. Sentia mais por aquela garota de rosto banhado de lágrimas de 17 anos atrás do que pela mulher com quem pretendera se casar havia apenas algumas semanas. E começou a lhe contar, mas não foi isto que disse. — Você não vai ter que dividir meu corpo com nenhuma outra mulher. A expressão dela se tornou feroz. — Pode apostar que não. Está casado comigo. — Não, não foi isto que quis dizer. — Por que estava falando nisto agora? Se explicasse, teria que lhe falar sobre seu passado. Mas havia tanto tempo, e isto era diferente. — Não estive com uma mulher desde que tinha 15 anos. A boca de Leah se abriu. — O quê? — Portanto, perto de 18 anos. — Isto... Isto é tempo demais. — Deu um passo para trás. — Não acredito em você. Seu... Seu corpo parece implorar para ser lambido e está me dizendo que nenhuma mulher, neste tempo todo, jamais fez isto? — Elas se ofereceram. Eu recusei. Ela mal conseguia respirar. — Sem ofensa, mas por quê? Você é homem, homens gostam de sexo. Geralmente não dizem “não” para o sexo. — Não, Leah, não dizem. E não gosto de ser parte do que cerca o comportamento irresponsável do sexo casual. — Nem todo sexo é irresponsável. — Não, não é. Mas, sempre pensei que era melhor no contexto de um relacionamento. Como nunca tive um, eu me abstive. Já lhe disse que queria esperar pelo casamento para estar com Rachel. Não podia lhe contar toda a história. Não agora. Não enquanto ela o olhava daquele jeito. — E você conseguiu esperar? — Sim. Facilmente. Valorizo meu controle acima de tudo, Leah. Se decidir fazer uma coisa, faço. Se decidir não fazer, não faço. — Você devia ganhar um troféu de controle ou coisa assim. Mas então nunca desejou ninguém apaixonadamente. — Não. — Era a verdade, percebia. Se Rachel o tivesse feito se sentir assim, como Leah fazia, se ela o fizesse tremer, teria conseguido se manter distante? — Por que. Porque, se tivesse se... Bem, se ela o quisesse, acho que não teria conseguido dizer “não”. — Talvez seja verdade. — Um pensamento perturbador. — Mas, mas agora? — Estamos casados. Isto é certo. — Certo. — Os olhos brilharam. — Por que me contou? Ele franziu a testa. — Porque é honesto. — Você é praticamente virgem. — Não sou. Não sou inocente. A conversa o deixava desconfortável. Talvez fosse orgulho masculino. Talvez não fosse tão diferente dos outros homens como imaginara. Não tão imune às coisas estúpidas pelas quais os homens mediam seu sucesso. No entanto, sentia um pouco de 43


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vergonha por admitir sua condição à esposa. — Você não parece virgem, com certeza. — Não? — Você viu coisas demais. Está refletido em seus olhos. — Estendeu a mão e traçou a linha da testa dele antes de afastá-la. — O que você viu Ajax? — Coisas que você não viu. Não a sobrecarregarei com elas. — Mas, como disse, não nasceu no dia em que apareceu na propriedade do meu pai. — O homem que sou agora nasceu. E é este homem que vai fazer amor com você esta noite. Não aquele que fui. Não aquele no qual podia ter me tornado. — Mas quero saber o que fez de você o que é. — Não. Leah, não pode querer. Por favor, esta noite quero o modo como olhou para mim. Como olha para mim. Por favor. Ela acenou. — Está bem. Terei o que pode me dar. Esta noite. — Não sei por onde começar. Olho para você e há tanta coisa que quero. Um rosa profundo lhe cobriu o rosto, mas os olhos não se afastaram dos dele. — Então podemos ter um problema, porque olho para você e o desejo tanto que dói. E não sei como começar. Porque não sou praticamente virgem. Sou realmente virgem. — Agora, isto me parece impossível. — O quê? — Como tantos homens não viram seus encantos? — É mais como eu, não ver os deles. — É justo. Você não me parece inocente. — Como lhe pareço? Pousou o polegar no queixo dela. — Uma sedutora. — Isto é... Quase doce demais. — Beijou-lhe o polegar. — Está seduzido? Completamente. Estava pronto para se ajoelhar e implorar. Esperara tanto por aquele momento. Tanto para sentir uma coisa assim. Diferente da luxúria que se importava apenas em se alimentar. Era como se fosse à primeira vez. Oh, Theos, como queria que fosse a primeira vez. — Acho que não precisamos nos preocupar tanto quanto imagina. — Acha? — Não. Sempre acreditei em fazer planos. Quando decidi me casar, sabia que precisaria ter as habilidades de um marido capaz de satisfazer a esposa. Assim, li muito. E também tenho o dom do foco total. Quando estivermos na cama, aplicarei meu conhecimento e meu foco unicamente em você. Um homem que teve uma amante todos os dias pelos últimos 18 anos, mas que não tenha o meu foco e perfeccionismo, não seria capaz de satisfazê-la como conseguirei. Os olhos dela escureceram, a respiração se tornou rasa, a pulsação na base do pescoço disparou. Sim, era uma mulher excitada. Uma mulher que o queria. Uma virgem. Estranhamente, achou a revelação perturbadora. Um vago e inquietante paralelo. Considerava seu toque uma violação de sua inocência. Mas esperava apenas inocência emocional, e não física. E ele não tinha. Não importava quantos anos haviam se passado, carregava a prova na alma. Um lixo que jamais desapareceria. E tentara. Esperara sentir algum tipo de absolvição quando ajudara a destruir o império maligno que o pai construíra. No entanto, quando tudo terminara, olhou dentro de si mesmo e viu o monstro. Não havia nada limpo nele. Tinha que tomar cuidado. Mas não podia voltar atrás agora. Não conseguia. Não quando ela olhava para ele como se fosse o melhor presente 44


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que já recebera. Outra evidência de sua inocência. Ela não sabia o que estava pedindo. Não conhecia o homem com quem estava prestes a fazer amor. Devia lhe contar. Quem era; de onde vinha, como tinha sido sua vida até chegar aos portões da Holt Manor e se transformar em Ajax Kouros, deixando para trás seu nome real, sua vida, sua ligação com o pior traficante de drogas e de seres humanos da Grécia. Escolhera ser decente, mas o monstro continuava lá. Exigente, cruel, pronto para se soltar. E aquela noite queria libertar a besta, saciar seu apetite. Não. Não permitiria. — Acha que pode lidar comigo? — Empalmou-lhe o rosto, os olhos nos dela. E ela sorriu. — Ia lhe fazer a mesma pergunta. Ele hesitou. Queria lhe dar alguma coisa doce, algum momento para consumar o casamento tirar-lhe a virgindade e acabar com seu celibato e seguir em frente. Mas havia o monstro. E Ajax temia que, se fizesse o movimento errado, aquela parte sombria de si mesmo se soltaria. Leah lhe tomou a escolha. Beijou-o com força, profundamente, devorando-o, a língua escorregando na dele, os dentes lhe mordiscando o lábio inferior. Os dedos estavam mergulhados em seu cabelo, o corpo pressionado ao dele. Ele passou um braço pela cintura dela e com o outro fez o que ansiava há tanto por fazer. Parecia que desde sempre. Empalmou-lhe o seio, tão macio, tão incrivelmente sexy, e passou a ponta do polegar sobre o mamilo. Ela arqueou dentro dele, a carne suave lhe enchendo a palma. Tão perfeito. Tão incrivelmente perfeito. Uma combinação que só encontraria com Leah. Sua mão, o seio dela. Tudo queimava depressa, intensamente, as mãos dela subindo sob a camisa, os dedos acariciando os músculos de suas costas, seu ventre, seu peito. Isto não era doce e fácil como havia imaginado. E ele sentiu que era a primeira vez para ele também. Mas não podia pedir nada mais, quando era exatamente o que queria. Aquele momento de liberdade. De necessidade satisfeita depois de uma vida de negação. Ela se afastou dele, os lábios inchados, os olhos pesados, tentadores. Então levou as mãos às costas e segurou a alça do zíper do vestido. — Espere, deixe comigo. Ela se virou e afastou o cabelo. Ele passou um braço em torno dela, a mão descansando em seu ventre. Então inclinou a cabeça e lhe beijou a nuca. Sentiu um tremor percorrer o corpo de Leah e ela se arqueou, as nádegas contra a ereção. Puxou-a para mais perto e se arremessou. Um som áspero escapou da garganta de Leah. Paixão. Necessidade. Não medo. Tudo o que precisava era continuar. Não havia necessidade de encorajamento; estava tão tomado pelo desejo que o corpo perdido em sensações assumiu o controle que jamais lhe permitira em 18 anos. Desceu o zíper lentamente e o tecido se separou. Passou a mão pela pele exposta, a carne sedosa. Então a cabeça desceu de novo e ele lhe beijou o ombro. — Ah, sim, Ajax. E riu. E, naquele momento, o tempo pareceu congelar. Olhou nos olhos dela e viu um instante do passado. Não da casa do pai, mas no escritório da Holt. Leah olhando para ele, sorrindo, deixando uma barra de chocolate sobre sua escrivaninha. Que comeria mais tarde, embora sentisse que era errado encorajar a crescente conexão entre eles. Então lhe deu as costas, mas agora... Agora não se afastaria. Afastou-lhe o vestido dos ombros e o deixou cair. E então só conseguiu olhar. Para suas curvas, enfatizadas pelo sutiã e a calcinha de renda negra. A cintura estreita, o alargamento dos quadris, o formato das nádegas. Estendeu a mão e lhe empalmaram as 45


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nádegas. Tão perfeito. A beleza que irradiava dela era tão rara, tão incrível, que se sentiu humilde. Não merecia tocá-la. — Quero tocá-la. — A voz era um rosnado. Como o da besta. — Onde? — Em toda parte. E quero prová-la. Em toda parte. — Gosto desta promessa. — E posso cumpri-la. Desabotoou o sutiã e o jogou para o lado. Passou o braço em torno dela de novo, segurou-lhe os seios nus, a pele tão suave, o mamilo rijo contra sua palma. Era a primeira vez que tocava uma mulher assim. O anseio, chocante, quente e diferente de tudo o que sentira antes, explodiu nele. — Preciso ver você. — Beijou-lhe o ombro. — Esperei por tanto tempo. Ela se virou para ele, os olhos brilhantes. — Eu também. Ajax. Não sabe por quanto tempo. Não havia timidez no olhar dela. E ele olhou tudo o que queria. A visão de Leah, parada lá, os seios nus, os mamilos rosados na pele branca. Deixou o olhar viajar para baixo, para o fiapo de renda que cobria seu lugar mais íntimo. — Tire. — E era mesmo um rosnado. Ela não afastou o olhar do dele enquanto descia calcinha. Ajax a olhava enquanto o desejo e o desespero lhe arranhavam a garganta. Deixou-se cair de joelhos, beijou-lhe o ventre abaixo do umbigo. E desceu. Estava trêmulo, louco pelo primeiro sabor dela. Seu anseio era visceral, tão necessário como respirar. Abriu-lhe levemente as coxas e a cobriu com a boca, a língua acariciando as dobras macias, o pequeno feixe de nervos que lhe daria mais prazer. Ela soluçou e se debruçou; as mãos lhe apertando os ombros. E ele continuou a prová-la, mais profundamente, mais depressa. Não conseguia ter o bastante dela. Jamais teria. Seu gosto, a forma como lhe soluçava o nome, a forma como as unhas lhe cortavam a pele, mesmo através da camisa. Aquilo era uma primeira vez para ele, uma carícia que jamais fizera. Porque nunca se importara em dar satisfação às mulheres da casa de seu pai. Afastou o pensamento e se focou em Leah. Ela lhe preenchia os sentidos. Sustentava-o. Como vivera sem ela, sem aquela doçura? Apertou-lhe os quadris e a puxou mais para seus lábios, perdido nela, perdido. — Ajax. Disse o nome dele como um apelo, uma oração e, quando o orgasmo a tomou, o corpo tremeu enquanto ele a firmava e descansava a cabeça no ventre dela, tentando recuperar o fôlego, e ela enlaçava os dedos no cabelo dele. O gesto era doce demais para o final de uma coisa tão crua e descontrolada. Mas parecia tão certo. As mãos dele tremiam tanto que teve dificuldade para desabotoar a camisa. Mas Leah tomou a frente de novo. As mãos dela deixaram uma trilha de fogo na pele dele, testando-o, levando-o ao limite e, quando o segurou através do jeans, ele afastou sua mão. — Cuidado. — O quê? — Demais. Certamente não havia 18 anos que não tinha um orgasmo, mas sempre os tinha sozinho. Havia se convencido de que precisava ter total controle. Que sexo pareceria familiar devido aos anos de satisfação solitária. Mas não levara em consideração a variável. A mulher. Sua parceira. Leah era uma participante ativa e não lhe permitia estabelecer o ritmo. Não lhe permitia seguir seu plano. Tinha o próprio plano e o levava com ela. — Gosto que esteja no limite. — Tocou-o de novo. — Gosto que me queira tanto. 46


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— Leah. — Sim. Diga de novo. — Não faça isto. — Não, meu nome. — Leah — repetiu, num rosnado feroz. — Gosto disto. E ele também. Demais para impedi-la, embora devesse, embora precisasse recuperar o controle da situação. Devia comandar; não estar sob o comando dela. — Pare de me tocar. Agora. Ela afastou a mão e ele abriu a fivela do cinto, depois o botão e o zíper, e se libertou dela. — Não é justo. Quero tocar. — Não. Se o tocasse, tudo terminaria. Não o sexo. Mas não sabia o que seria capaz de fazer. Se o fogo ficasse quente demais. Se a fera escapasse de suas correntes. — Vá para o quarto. — Precisava reafirmar sua autoridade. Precisava recuperar o controle e mantê-lo. — É assim que vai jogar? Tomou-lhe o queixo nos dedos e beijou-lhe os lábios de leve. — Se quiser jogar, agape, será segundo minhas regras. Agora vá para a cama e espere por mim como uma boa garota. Ela sorriu, mas ele não se deixou enganar. Vira o aço sob a suavidade. — É claro, querido. Ela se virou, foi para o quarto e se recostou nos travesseiros, os braços abertos. Convidativa. Certamente não era uma virgem tímida. Ajax se aproximou da cama e ela se ergueu nos joelhos, os olhos presos aos dele. Debruçou-se e lhe beijou o peito enquanto ele mergulhava os dedos em seu cabelo. Os lábios dela lhe percorreram o ventre e desceram. Então lhe lambeu a ponta da ereção. O prazer e o calor que o percorreram o abalaram, quase o destruindo. Ele lhe puxou o cabelo, jogando-lhe a cabeça para trás. — Não vamos jogar assim, agape, não esta noite. — Mas você fez isto comigo. Também quero prová-lo. — Não. Não esta noite. — Estava perto do limite, o controle tênue demais. E o controle era tudo. — Então o que você quer? — Isto. Deitou-se ao lado dela e desceu a cabeça sobre o seio, a boca tomando profundamente um mamilo rosado, sugando-o, acariciando-o com a língua. E agora era ela que tremia; os dedos no cabelo dele. Com isto podia lidar. Era o que queria. Voltou à atenção para o outro seio, sugando, lambendo, até ela ofegar debaixo dele, pequenos sons de prazer lhe escapando dos lábios. Subiu e lhe tomou a boca, com força, e ela correspondeu. Podia sentir o desespero de Leah agora, sua necessidade. — Está pronta? — Precisava perguntar por que sabia que haveria dor. E não gostava disso. — Sim. Ah, sim, por favor, agora. Ela abriu as coxas, ele se instalou entre elas e se pressionou contra a entrada úmida. Então se afastou e substituiu a ereção por um dedo, que mergulhou lentamente até ela suspirar. Era tão apertada. Estava tão molhada. E ele quase se perdeu ali e naquele instante. Cerrou os dentes e moveu o dedo dentro dela, o polegar lhe acariciando o clitóris. — Bom? — Sim. 47


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— Mais? — Sim. Ele acrescentou um segundo dedo, esticou-a gentilmente e os moveu para dentro e para fora até sentir os músculos internos se contraírem em torno deles. Estava tão tenso que mal podia respirar; doía com a necessidade de estar dentro dela. Sentir sua excitação em torno dele. Estar conectado a ela. Tirou os dedos e se aproximou de novo. Sentia o calor, a umidade escorregadia contra a ponta da ereção. Ela lhe beijou o pescoço, o canto da boca, as mãos se movendo em suas costas. Tocando. Tentando. Testando. E ele a penetrou devagar, centímetro por centímetro, mais para ele do que para ela. Estava perdido. Por um momento, a mente ficou vazia. Havia apenas aquilo. Apenas o corpo dela. Apenas a sensação dela em torno dele. Empurrou-se mais profundamente, investindo com força, e ela arquejou; uma pequena nota de dor que o levou rapidamente para o presente. — Tudo bem? — Ela acenou e mordeu o lábio. Ajax se debruçou e a beijou. — Se quer morder um lábio, morda o meu. Não esperava que aceitasse a sugestão, mas aceitou e lhe prendeu o lábio de leve com os dentes. E a dor foi exatamente o que precisava para tirar a intensidade do prazer, para permitir que recuperasse um pouco do controle. Invadiu-a de novo e, estabeleceu um ritmo, as unhas de Leah arranhando-lhe as costas, os ombros. O toque dela o inflamava, a dor o ancorava. — Mais forte — grunhiu, agarrando-lhe uma das coxas e passando-a por seu quadril enquanto continuava a cavalgá-la. Ela se segurou com mais força nos ombros dele, as unhas mergulhando tão profundamente que tirou sangue. — Mais forte — repetiu. E ela obedeceu. Cada vez que a penetrava, ela arqueava nele até finalmente senti-la enrijecer debaixo dele, um grito silencioso na garganta, o calor pulsando em torno dele. E ele se soltou. O ritmo esquecido, a firmeza desaparecida. Apenas uma corrida louca para terminar o que restava do sangue que lhe pulsava na mente, a força do orgasmo o despedaçando, deixando-o perdido, incapaz de se juntar. De ser inteiro de novo. Antes daquela explosão. Antes do orgasmo. Antes de Leah. De alguma forma, num momento louco, sua mulher mudara tudo. E ele ficou desesperado para encontrar um caminho para voltar a ser o que era.

CAPÍTULO NOVE

O mundo de Leah balançou e mudou. Completamente. Ajax, em teoria, era uma coisa; na realidade, outra totalmente diferente. Tinha sido firme, algumas vezes gentil; autoritário e, oh meu deus, sabia quais os botões apertar no corpo de uma mulher. Mal podia respirar. Quanto tempo se passara desde que haviam se separado, 10, 20 minutos? Desde que o orgasmo a estraçalhara? Duas horas? Trinta segundos? Não fazia ideia. Ajax se afastara e ele estava sentado de costas para ela, aquelas costas musculosas, perfeitas. Estendeu a mão e lhe traçou as linhas dos músculos. Ele não reagiu; apenas se levantou. E ela dobrou a cabeça para o lado para apreciar a vista. Oh, a vista. Admiraralhe o corpo muitas vezes. — Aonde vai? — Viu que se afastava da cama. — Tenho trabalho a fazer. — Pegou a calça do chão, vestiu-a e a privou do 48


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espetáculo. — O quê? Vai... Trabalhar? Como pode, depois... Depois de tudo? — Oh, não, soava tão... Carente. Mas precisara baixar á guarda para estar com ele daquela maneira. E ainda não tivera a oportunidade de se proteger de novo. Da frieza de Ajax. Ele se virou para ela. — O mundo não parou só porque fizemos sexo. E ela conseguiu apenas olhar para ele, as palavras congeladas na mente. O mundo dela havia parado. Mas, pelo visto, não o de Ajax. Danação. — Bem, acho que o mundo devia parar por um segundo. Isto devia ser um casamento de verdade. Nossa lua de mel. Sei que está agindo assim para que pareça bem para a mídia, mas você disse que seria para sempre, e isto significa que precisa voltar aqui e começar a agir como marido. — Acabei de desempenhar meu papel. Não ficou satisfeita? — Não. — Sentou-se e cobriu os seios. — Seus gritos durante os orgasmos múltiplos contam uma história diferente. — Você. Você. Isto não era necessário. E foi rude. E satisfação sexual e minha satisfação com este momento não estão ligadas! — Isto é um casamento real, agape, como disse que seria. Estive na sua cama como exigiu, mas o que acontece depois é assunto meu. — O casamento não é assim. — Estava se despedaçando sob a camada de proteção que ainda existia. — O nosso é. Passou pela cortina e saiu, e ela apenas ficou sentada lá, os joelhos contra o peito, um tremor gelado lhe percorrendo o corpo. Para ela, o sexo mudara tudo. E parecia ter mudado para ele também. Mas não se sentia mais próximo dela. Não o fazia querer abraçá-la. Dera-lhe seu corpo. Deixara que ele passasse as mãos por sua carne nua, acolherao dentro do corpo. Dera-lhe absolutamente tudo. E mesmo assim não a queria. Queria apenas maior distância dela. E a última gota da fantasia, o último brilho fraco de luz na escuridão, a esperança que não sabia que ainda existia, apagou. Tomou o cuidado de evitar Ajax no dia seguinte. Quando acordara cedo na manhã seguinte, ele dormia no sofá da sala. Teve que sufocar o impulso de cobri-lo, de lhe tirar o cabelo da testa, de arranjá-lo numa posição mais confortável. Era evidente que adormecera enquanto trabalhava; meio sentado, o laptop sobre a mesa diante dele, o pescoço dobrado num ângulo desconfortável. E foi bom, já que seu estado de exaustão lhe permitiu sair sem ser vista. Passou o dia pelas praias particulares, nadando, parando no bar para um suco de frutas e um almoço. Sim, mesmo sendo uma ilha pequena e exclusiva, havia muitos lugares onde podia evitar o marido para pensar no que havia acontecido na noite anterior. Entre eles. Tentar encontrar uma forma de reconstruir as barreiras internas. Mas agora não sabia mais como se proteger, quando parecia que ele estava dentro dela. Suspirou, deixou a saída de praia cair e começou a andar em direção às ondas. — Como você está? Virou-se e viu Ajax. — Bom dia. — Perguntei como está. — Não sei. Como está você? Era praticamente virgem. Virgens não ficam emotivos depois do sexo? — Leah, eu estou falando sério. — Eu também. Deu de ombros. 49


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— Ótimo. — Ah, bom. Eu também. Ótima. Estou contente por você estar bem. Detestaria me sentir culpada por lhe tirar a virtude. — Não tenho nenhuma. — Assim disse você. — E você? — Minha virtude perdida? Muito bem. — Era sobre isto que estava perguntando. — Está bem. — Ergueu as mãos. — Não estou bem. Não quero que durma no sofá. — Por quê? — Porque é errado. Casais devem partilhar a cama, não acha? — Muitas vezes na história casais dormiram separados. — E daí? Muitas vezes na história pessoas morreram de disenteria, mas esta é uma tendência que não quero que continue. — Não sei como será passar tanto tempo comigo. Talvez deva se preocupar com outra coisa além de partilhar uma cama comigo a noite toda. Por exemplo, se vai suportar tomar o café da manhã comigo. — Ou, talvez, já que é nossa lua de mel, possamos descobrir quanto suportamos um do outro. Por que não fazer um pouco de terapia de imersão? — Por que não deixarmos de lado a necessidade de terapia? — Ajax, por que não quer partilhar uma cama comigo? — Não é o que faço Leah. — Você admitiu que não fez nada assim por um longo tempo, então como sabe o que sentiria? — Tentou não chorar ou fazer qualquer outra coisa humilhante. Como lhe quebrar a cabeça. — Teria partilhado uma cama com Rachel? — Não. — Mas pensei que a amava. — Não amava Leah, é evidente. A admissão a espantou e a deixou vazia. — O que isto significa? Você me disse todo o tempo que a amava. Não esteve com outra mulher desde que a conheceu. Ele ergueu a mão para a cabeça. — Nada disto tinha relação com ela. Fiz um plano. Decidi me casar com ela porque seria a melhor coisa para a minha vida. Ser parte da família Holt. E o sentimento surgiu. — Abaixou as mãos e as fechou em punhos. — Mas nem pensei nela desde nosso casamento e ficaria chocado se encontrasse um homem que pensasse nela quando tem você, nua e debaixo dele. A voz dele se tornou mais profunda, mais áspera, a expressão dos olhos mudando. — Bem... Então, acho que há isto. — Você não gosta de pensar nela comigo. — Observação brilhante, Sherlock. Realmente não gosto. — Por quê? — Bem, me responda uma coisa, Ajax, e qualquer que seja a resposta, seja sincero. O que acha de outro homem me tocar? Beijar-me como você me beijou? Tocar meus seios como você tocou? Um músculo pulsou no queixo de Ajax. — Teria que matá-lo. E, quando digo isto, não é de brincadeira. Ou metaforicamente. — Ah. — Acreditava nele. — Ajax quem era você antes de chegar à nossa casa? Antes de trabalhar para meu pai? — Esta discussão não é necessária. Eu não. — Você me disse isto na noite passada. Como se quisesse me proteger ao 50


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esconder de mim, mas sinceramente? Com honestidade, sem fingir que estou feliz, sem me proteger, sem esconder as lágrimas? Você me destruiu. Sua reação ao que aconteceu entre nós, me deixando como me deixou. Não pode fingir que, ao se fechar e não me dar nada, não está me ferindo. — Leah, não sabe o que está pedindo. — Não, não sei. Então me conte. Não é justo. Você me conhece por quase toda a minha vida. Conhece minha família. Testemunhou todos os meus estágios mais desajeitados, o que, em minha opinião, lhe dá poder demais. Sei que não apareceu simplesmente um dia. Sei que tem cicatrizes de alguma coisa, algum lugar. Conte-me para que eu compreenda. — Você não quer compreender. — Quero. — Não. — Virou-se, a expressão feroz. — Não vou ficar aqui na praia com você neste biquíni ridículo e lhe contar todos os detalhes sórdidos da minha vida. Ela rosnou, estendeu a mão para trás, desamarrou o top do biquíni e o jogou na areia. — Pronto. Metade do biquíni ridículo desapareceu. Assim, me conte metade da história. Ele olhou ao redor, então de volta para ela. — Que diabos acha que está fazendo? — Meu biquíni era um problema. Removi o problema. Metade dele, pelo menos. Agora me conte. — Não pode simplesmente ficar aí assim. Ela levou as mãos aos quadris, a raiva, a adrenalina lhe correndo pelo corpo. Porque suas defesas não se mantinham. Tinha que fazê-lo se desnudar também. E se tivesse que ficar lá, seminua, para obrigá-lo, ficaria. — Posso. Estou. Conte. Ajax inalou o ar com força, os olhos presos nos seios de Leah. Ela o empurrava, levava-o para a beira do abismo, e o monstro se esticava nas correntes implorando para ser libertado. E, se não tivesse cuidado, as correntes se partiriam. — Você não quer saber, Leah. É... É o tipo de escuridão que nunca viu. — Posso lidar com sua escuridão, Ajax. A expressão nos olhos dele era a de um homem prestes a ser levado à câmara de tortura. — Não quero que precise lidar com isto. — Dureza. Casei-me com você, o que significa que é assunto meu. Não sou uma criança, uma flor de estufa. Ajax, toda a minha vida foi vivida diante do mundo. Estranhos fazem os comentários mais maldosos sobre mim em blogs, nos jornais, tudo por que... Porque, quando você tem algum tipo de rosto público, queira ou não, as pessoas acham que você lhes pertence. E isto me ensinou muito sobre elas. Coisas horríveis sobre as pessoas. Então, talvez para você eu pareça inocente, mas a verdade é que vi mais do que pensa. Pode me confiar sua história. Sua escuridão. Não vou fugir. — Mas talvez devesse. — Não. Ele fez uma pequena pausa. — Meu pai foi... É, acho, não deve ter mudado o nome. Nikola Kouklakis. E não, não temos o mesmo nome e não é acidental, é deliberado. É um criminoso. O criminoso mais notório de Atenas. Um dos piores do mundo. Sem dúvida já ouviu o nome dele nos noticiários. É um barão das drogas e um traficante de seres humanos. Nasci e cresci em sua fortaleza. Minha mãe nunca estava lá e nem sei quem é. Fui criado pelo meu pai, o mais violento e detestado homem da Grécia. E, antes de partir, quase me tornei um homem como ele. Estava sendo preparado para ser o sucessor de um homem que vendia 51


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drogas e mulheres. E sabe o que mais, Leah? Eu teria sido. — Não, Ajax, você não poderia. — Sim, Leah, poderia. Por que acha que é tão importante para mim manter o controle? Porque acha que preciso ter um plano para tudo, manter meus olhos no prêmio? Porque a ganância, a corrupção, o assassinato, tudo está em meu sangue. É quem eu sou. Genética ou criação? Não importa; os dois lados da escuridão ainda existem em mim. Se não mantiver as correntes, se não tiver controle. — Isto é ridículo, Ajax. Você é tão criminoso quanto eu. — Se andar pelos becos do centro de Atenas, vire duas vezes à direita, então passará por dois edifícios. No terceiro, vire à esquerda. Bata à porta e alguém atenderá; geralmente um garoto. Diga a senha da noite e eles o levarão aos fundos. Abrirão sua mochila, verificarão os pacotes. Você pegará o dinheiro e voltará para casa. — Engoliu em seco. — Tem que saber o caminho. Porque andará no escuro. E é apavorante porque você é apenas um garotinho. E precisa ser muito rápido para não acabar com a garganta cortada. Ou pior. — O que é pior? — Ser vendido. Acredite, é pior. Homens que querem comprar garotinhos, não são para nada bom. — Olhou para ela e viu o horror no rosto adorável. — Sou um mensageiro de drogas. Não é uma atividade criminosa? — Era uma mula. Uma criança. — Chame do que quiser. Cheguei a uma idade em que sabia o que estava fazendo e continuei. Negócio de família e tudo. Pensou na mansão opulenta na colina, dominando a cidade. Nos corredores cheios de pessoas, mulheres que pareciam fantasmas, olhos vazios e desesperados. Famintas. Dispostas a vender qualquer coisa por uma dose da droga de sua escolha. — É o mais horrendo dos negócios. As drogas transformam pessoas em fantasmas. Rouba delas tudo o que é vital. Tem apenas um anseio, a dose seguinte. E sacrificam tudo para consegui-la. Nós. Meu pai e eu; lucramos com isto. — Não você. Era uma criança. — Vivi na mansão. Vesti ternos de grife comprados com aquele dinheiro. — Sim, mas não está lá agora. — Pare de tentar me justificar. Vendi drogas quando era menino e as tomei quando era adolescente. E usei as mulheres viciadas nelas. Acho. — Hesitou. — Há muito tempo que suspeito que Alexios Christofides seja filho de uma prostituta que viveu na fortaleza do meu pai. Não tenho certeza, mas ele me odeia tanto que deve ser mais do que os negócios. — Mas você não fez nada com ele. Era um garoto. — Eu era parte do problema. Quer saber como perdi minha virgindade, Leah? Com uma prostituta. Não com uma das que eram sequestradas e vendidas, mas uma das que ficavam por lá esperando por seu veneno predileto. Ela queria fechar os olhos, bloquear o rosto dele, suas palavras, enquanto as peças do quebra-cabeça que Ajax Kouros era se juntavam. Como o menino de quem gostava; como o homem diante dela, unidos. Por esta nova verdade. — Fiz negócio com ela, que me tomou a virgindade em troca de uma dose dupla de cocaína. E isto não é tudo, nem chega perto. Não pode nem começar a entender. Era um menino, vagando por uma imensa mansão cheia de vícios, e nada estava fora do meu alcance. Alguns dias eu não comia porque ninguém preparava comida para mim. Estava lá, mas ninguém pensava em mim. Até eu descobrir onde estava o poder no pequeno sistema de classes que meu pai construiu para si mesmo. Sexo e drogas. — Eu não. — Não imaginou que era isto, não é? Porque teve tanta sorte de viver como viveu. E agora estraguei tudo. Não devia ter tentado fazer você entender. 52


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Uma imagem lhe surgiu na mente. Uma garota chorando, o vestido rasgado. Um pedaço de tecido na mão dele. A prova de que ele havia feito aquilo. Suas lágrimas eram culpa dele. Seu medo tinha sido causado por ele. E a clareza depois da neblina das drogas que seu pai lhe dera, apenas o suficiente para erguer os olhos para o espelho na parede do quarto e ver o monstro. E reconhecer o próprio rosto. — Eu perguntei. — Cubra-se. — Por quê? — Porque não consigo pensar com você assim. — Com o passado sangrando no presente. A escuridão cobrindo toda a luz linda que Leah lhe dera na noite anterior. — Talvez não precise pensar. Deu um passo em direção a ele. Ajax a agarrou pela cintura. — Não ouviu nada do que acabei de lhe contar? De quem eu sou? — O filho de um criminoso horrível e violento. E talvez, se não o tivesse conhecido por quase toda a minha vida, isto pudesse me amedrontar. Mas vi como age, Ajax. Observei-o trabalhar nos jardins, ser um assistente do meu pai, um assessor de confiança antes de ter 18 anos. Vi como meu pai acreditava em você, o mandou para a faculdade, recebeu-o como estagiário na Holt. Vi sua fé em você e vi que nunca o desapontou. E minha irmã, você nunca a teve. Nunca a feriu. Queria honrá-la com seus votos de casamento. E eu. Uma garota idiota que o seguia por toda parte e falava sobre doces, e você me ouvia. Não, Ajax, quando olho para você não vejo um monstro. — Você nunca me viu sem meu plano. Meu controle. — Claro que vi. No dia do nosso casamento. — Debruçou-se e roçou os lábios nos dele. E ele recuou. — Agora não. Podia lhe contar como era quando realmente perdia o controle. Ou podia lhe mostrar. Ficou tentado a deitá-la na areia e tomá-la, com força, depressa, satisfazer aquela fome que nunca acabava. Encher sua escuridão com a luz dela. Mas não faria nada porque, se soltasse a fera, mesmo por um momento, poderia nunca mais subjugá-la, subjugar-se. — Não — repetiu áspero. — Por quê? Sem conseguir pensar direito, estendeu a mão e colocou a palma aberta de Leah sobre seu peito, o calor e o fogo que o tomaram quase demais para suportar. E então a puxou para ele, os seios esmagados, a boca violentando a dela. E precisava. A necessidade profunda e consumidora como nunca. Como o anseio por uma droga, impossível de resistir, ameaçando jogá-lo no abismo. E ele queria pular. Queria seguir seu desejo até o inferno e levá-la com ele. E então se afastou; a respiração pesada e penosa. Começou a falar, mas não conseguiu formar as palavras. Assim, virou-se e a deixou lá na praia, apenas com a calcinha do biquíni. E, pela primeira vez, não tinha um plano.

CAPÍTULO DEZ

Ajax se sentou nos pés da cama, uma echarpe esticada entre os punhos. Pensara durante toda a tarde sobre o que fazer com Leah. Era sua esposa, não havia como fugir desta realidade. Uma esposa a quem prometera um casamento. Mas, quando ela o 53


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tocava, tudo lhe desaparecia da mente. Não podia mais ver o caminho. Tudo o que via eram aqueles olhos cor de uísque, que o haviam enfeitiçado anos atrás e o levado para uma coisa que não identificava. E fugira daquilo; sentira-se obrigado. Mas agora estava cativado por eles de novo. E não conseguia manter o controle. Os problemas só começavam quando ela o tocava, e isso tinha que parar. Se pudesse ficar no controle... Se pudesse afastar as variáveis e ter todo o poder sobre o corpo nu de Leah, aberto para ele. Ter prazer, dar prazer. Uma vez com ela e estava perto da obsessão. Perguntara-lhe se partilharia a cama com Rachel e mentira. Porque Rachel não lhe desafiava o controle como Leah. Leah entrou na Villa e a verdade ô atingiu, em cheio. Sempre soubera que seria assim. Que seria Leah a despertar o monstro. Ela esticou o tecido da saída de praia sobre os seios e ele se sentiu desapontado por não vê-los nus. Não podia fingir que não a queria. Queria. Mais do que qualquer coisa ou pessoa. A posse da Holt agora parecia sem importância quando comparada com a necessidade de unir o corpo ao de Leah. Ela não sabia como era tentadora e, se fizesse as coisas ao seu modo, jamais saberia. — Onde estava? — E por que se importa? — Sou seu marido. — Oh, é mesmo? Bem, não pode ser meu marido apenas quando lhe convém, Ajax. Não pode me empurrar na praia, sair e então esperar que lhe conte onde estive. — E se alguma coisa tivesse lhe acontecido? — Vivi meus primeiros 23 anos sem você, e posso muito bem viver os próximos 23 anos assim também. — Diga-me, Leah, agora que sabe tanto sobre mim. — Apertou mais a echarpe em torno dos punhos. — Ainda me quer? Ela ergueu o queixo. — Sim. — Diga-me exatamente o que quer de mim. — Já lhe disse. — Diga de novo. Confirme seus termos. — Você. Na minha cama. Filhos — acrescentou —, apoio para meu negócio. A expansão da Leah’s Lollies deve ser uma prioridade. Ele afastou os punhos um do outro o máximo que, conseguiu o tecido se esticando entre eles. — Feito. — E o que este acordo vai me custar? Minha alma? — Não quero sua alma, menina querida, quero seu corpo. — Eu ofereci. De graça. — Nos meus termos. — E quais são os seus termos? — Você não pode me tocar quando fizermos sexo. — Isto é impossível. — Não, não é. Quando você me toca, me empurra para longe demais, depressa demais. Começo a perder o controle, e isto é inaceitável. — E você tem uma solução? — Você disse que pode lidar com minha escuridão. — Levantou-se, a echarpe ainda enrolada nas mãos. Os olhos dela caíram no tecido e os olhos dourados mostraram o choque. Então, ela os ergueu para os dele e molhou os lábios lentamente com a língua. — Vai me mostrar sua escuridão? — Não, pretendo protegê-la dela. — Como? 54


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— Preciso de controle. — Quanto? — Total. Pode me dar isto? Na cama, preciso de todo o controle. O coração de Leah batia devagar e com força, o corpo todo tremia. Pela primeira vez teve receio. E sentiu que Ajax era um estranho. — Diga-me o que quer fazer. — Mas sabia instintivamente o que queria. Do que precisava. — Quero amarrar suas mãos. — E então o quê? — Vou lhe dar tanto prazer que nem conseguirá pensar. E então... Então quero lhe abrir as pernas e me perder em você. Era um estranho. Nunca tinha visto aquela parte dele crua, sexual. E percebeu, chocada, que ninguém além dela jamais a vira. Que ele provavelmente nunca experimentara. E que ela a despertara. Ajax era sua fantasia mais querida, seu desejo mais antigo. Partira-lhe o coração durante grande parte de sua vida. Ao ignorá-la como mulher. Ao dar atenção à irmã. Ao ficar noivo da irmã. Ao se recusar a demonstrar afeição e romance no casamento. E então, agora, a necessidade de ter toda a sua atenção focalizada nela, ficar à sua mercê, ser o objeto de sua dominação, era uma resposta à fantasia que não podia recusar. Porque, naquele momento, viu claramente. Sua necessidade de amarras era uma aceitação do poder dela. De sua capacidade de lhe roubar o controle. E entendeu a força da submissão. Não, Ajax jamais a amaria. Era grande demais a diferença entre o homem que era e o homem que havia imaginado que era. Não havia como construir uma ponte sobre um abismo tão extenso. Mas podia ter aquilo. Desfrutar daquilo. E por que não? Por que não lucrar alguma coisa com aquela obsessão estúpida? Aqueles sentimentos que tiveram uma influência tão grande na definição de sua vida? Parecia que ele a possuía. De diversas formas. Se não podia ter tudo, se não podia ser o homem que queria, então talvez pudesse ter aquilo. E teria. Permitiria que ele mantivesse controle total, comando total do corpo dela, de seu prazer. Teria que parar de se proteger tanto. Porque não havia como ter tudo o que ele oferecia se, se escondesse atrás de uma muralha. Saber que não devia amá-lo seria proteção suficiente. Sentiria o prazer que lhe daria e ficaria emocionalmente distante. Estendeu as mãos juntas à frente. — Então me tome. Uma luz sombria brilhou nos olhos dele. Desenrolou a tira de seda dos pulsos, lentamente. Então começou a amarrar cada ponta nos pulsos dela. Lentamente. Sensualmente. E ela queria o jogo. Não precisava de liberdade, não a queria, quando seu cativeiro significava tanto. — Diga-me de novo. — As mãos apertaram o nó. — Quero que me tome. — Por quê? — Porque quero você. — Na cama. — A ordem foi brusca. Ela obedeceu e se sentou na beirada, as mãos amarradas no colo. Ele lhe acariciou o rosto com as costas da mão, passou-a pelo queixo, lento, doce. Possessivo. Levou as mãos para o nó do top do biquíni e o desamarrou antes de afastar a saída de praia, deixando-a embolada na cintura junto com o top. Ficou nua para ele, que a estudou, a fome nos olhos. — Quer saber do que é capaz um homem que não fez sexo em 18 anos? Quer ver 55


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toda a inocência que achou que eu tinha? E ela soube que a faria pagar pelo comentário. Pagar da melhor forma possível. Desceu a cabeça e tomou um mamilo profundamente na boca, sugando com força e, apenas com isto, ela não conseguiu pensar. Respirar. Queria fechar os olhos, mergulhar no esquecimento onde só havia aquele prazer, aquela sensação. Mas se obrigou a manter os olhos abertos para olhar para ele. Para ver Ajax, sua mais antiga e querida fantasia, lhe dando prazer. Mas ele não tinha terminado. Abandonou-lhe os seios e desceu a saída de praia e o top pelas coxas, então se ajoelhou diante dela. Tirou-lhe a calcinha do biquíni e a jogou para o chão, junto com as outras peças. — Abra as pernas. E ela só pôde obedecer. Ele se instalou entre suas coxas e lhe beijou a carne sensível. O primeiro toque da língua foi como uma chama, quente e branca, e um arquejo lhe escapou da garganta. — Deite-se e ponha as mãos acima da cabeça. Ela obedeceu de novo, as pernas penduradas na beirada da cama. Então ele as segurou e as colocou sobre seus ombros. Então a puxou contra a boca. As sensações de prazer que lhe assaltaram o corpo quase a fizeram desmaiar. Estava desesperada para tocá-lo, mas não podia; as mãos presas, exatamente como ele lhe prendera a alma. Tudo nela estava à beira do abismo, esperando pelo alívio, soluçando por ele. Ajax se moveu e começou a lhe dar prazer com as mãos, os lábios e a língua, penetrando-a com um dedo, provocando-lhe uma onda de choque. Estava tão perto, tão perto. E, cada vez que se preparava para mergulhar no abismo, ele se afastava, só um pouco, para começar tudo de novo, levando-a cada vez mais para cima. — Ajax... Não posso. Não poss... — Sim, pode. — E lambeu-a no mesmo ritmo da penetração dos dedos. Ela se mexeu contra ele, tentando chegar ao fim do caminho. E ele se afastou, deixando-a tonta e insatisfeita. — Ainda não. — E levou a outra mão à fivela do cinto. Ela estava morrendo. Precisava tocá-lo, prová-lo. E sabia que ele não permitiria. Ajax se despiu devagar e ficou em pé diante dela completamente nu, para seu prazer. Mas não podia tocá-lo. Estava desesperada e sabia que ele gostava de vê-la assim. E tinha pensado que era poderosa. Mas definitivamente estava excitada. De uma forma boa, com a promessa de um orgasmo tão intenso que lhe pareceu certo não ter o controle. Na verdade, parte dela, uma parte que não sabia que existia, adorava a sensação. — Você aprova? — Mais do que isto. — Está pronta? — Ainda não. Quero... Quero provar você. — Não. Desculpe agape. É contra as regras. — Quero violar as regras. — Vai segui-las ou não permitirei que tenha um orgasmo. Ela prendeu a respiração. — Oh. — Vai ser uma boa garota? — Sim. — Engoliu com força, o estômago contraído. Percebeu que as mãos dele não tremiam tanto como da última vez. As pontas dos dedos lhe acariciaram o rosto, o gesto gentil. Puxou-a para cima, deitando-a toda na cama, os braços fortes em torno dela, abraçando-a com força. Ela inalou profundamente. Estava cercada por Ajax e nunca se sentira tão segura. Então tudo o mais desapareceu 56


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por um breve instante. E então ele estava sobre ela. Lançou os seios em direção aos lábios dele e ele se fartou, o prazer nascendo nos mamilos e descendo para o ápice das coxas. — Agora — pediu Leah. — Não, não é assim que funciona. — Pressionou a ereção contra as dobras escorregadias, passando-a repetidamente para frente e para trás. Ela ofegou e arqueou contra ele. — Por favor. — Assim é melhor. — Jogou os quadris contra ela, o contato maravilhoso com o clitóris. — Por favor — repetiu, sabendo que se fosse uma ordem ele a negaria de novo. Ajax pressionou a ponta da ereção contra a entrada de seu corpo e a penetrou devagar. Lágrimas se formaram nos olhos dela, lágrimas de alívio. Precisava dele. Precisava da liberação. E então foi capturada completamente, afogando-se em seus beijos, no ritmo do corpo dele, que a lancetava. O sangue rugia, o prazer se construía, muito, demais. Achava que não sobreviveria. — Por favor — sussurrou de novo, a palavra apenas um som surdo. Invadiu-a uma última vez e enrijeceu sobre ela, a ereção pulsando dentro dela enquanto se soltava seu orgasmo o tomando ao mesmo tempo em que o dela, e ambos se perderam. Quando recuperou os sentidos, as mãos ainda estavam acima da cabeça, os braços, dormentes. E ela também. — Pode? — E ergueu as mãos amarradas. Ele se sentou depressa, desamarrou-a, então ficou em pé. Parecia; mal encontrava a palavra para descrever. Assombrado, talvez. Apavorado. — Tenho trabalho a fazer. — Como na noite anterior. — Voltarei para você quando terminar. Leah ficou deitada de costas, massageando os pulsos e observando-o sair nu para a área de estar. Sentou-se assim no sofá, os braços descansando nas coxas. E foi então que percebeu que, por mais que exigisse, Ajax estava tão abalado como ela. Havia separado completamente o passado do homem em quem se tornara. Todos os anos em que o conhecera, jamais tinha visto sua escuridão. Vira sua determinação. Inteligência. Fome. Apenas não sabia o que o tornava tão determinado. Que estivera correndo não apenas para alguma coisa, mas de alguma coisa. Da escuridão. E agora via. E temia que estivesse ficando cansado demais de correr. Queria lhe dar sua armadura, protegê-lo. Mas não sabia como libertá-lo da escuridão.

CAPÍTULO ONZE

A lua de mel passou depressa demais. Ela e Ajax faziam sexo todas às noites. E todas as noites ele lhe amarrava as mãos e lhe mostrava um mundo de prazer que ela nunca imaginara possível. Mas não eram próximos durante o dia. Leah se sentia mais distante dele do que nunca. Durante o dia. Fechou os olhos quando o avião tocou a pista do aeroporto de Nova York. E viu imagens do tempo que haviam passado em Santa Lucia. As mãos amarradas na cabeceira da cama, de bruços. 57


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Velas era a única iluminação. Ele passava a mão por suas costas, segurava-lhe os quadris e a penetrava profundamente. E sua voz tão desesperada, tão áspera, dizendolhe como era bom; palavras em grego, algumas que ela nunca ouvira. Abriu os olhos e olhou pela janela. Estava frio e cinzento. Pista cinzenta, céu cinzento, horizonte cinzento. — Bom estar de volta — comentou, enquanto esperava o avião parar. Então se levantou e espreguiçou. — Você parece tão entusiasmada. — Estou. — Não estava. Aquilo era esquisito. Sentia que conversava com um estranho. Um estranho frio e distante, não o homem com quem fizera sexo quente, erótico, todas as noites da última semana. Era seu amante, seu único amante. Não houvera outro homem com ela durante aquelas noites. E, no entanto, o Ajax sentado diante dela, tão frio e calmo e entediado, não era aquele homem. Queria tocá-lo, mas não tinha permissão. Os dedos se fecharam em punhos. Não era ao comando dele que obedecia, mas era seu autocontrole que testava. Não queria se tornar escrava de sua necessidade dele. Sabia que aquele não era um casamento por amor. E cada vez mais se perguntava se ele podia ou não amar. Porque via partes dele, de sua alma, que a amedrontavam agora. Ajax sempre tinha sido uma constante em sua vida. Sério, estudioso, gentil. Agora era seu marido e, como marido, era distante, zangado. Como amante, era dominador, generoso, sexy. E, como homem, perguntava-se se o conhecia, se a pessoa que sempre pensara que era seria apenas uma ilusão, uma fachada que usava como o garoto apavorado que fugira do tipo de passado que nem conseguia imaginar. Quando menina, não vira nada daquilo. Ficara cega por sua beleza física, por sua gentileza com ela. Quando adolescente, tinham sido aqueles pequenos sorrisos e a aceitação de seus presentes que a conquistaram. Vira o que queria ver, idealizara-o. Mas nunca imaginaria que olharia para ela com aquela expressão fria e sombria. Tão distante. Sem emoção. Nunca imaginaria que ele lhe amarraria as mãos e faria sexo com ela. Não amor, sexo. Em termos físicos, Ajax era exigente e lhe dava tudo. Mas os olhos eram vazios. Gostava de ser amarrada e, se fosse apenas um jogo, não teria queixas. Mas Ajax usava a situação para manter o controle e se manter distante. Não eram iguais, e ele não permitia que fosse parceira. Era tudo ele, o que ele queria. Dava-lhe orgasmos incríveis, mas não era o bastante. Nunca estivera tão insegura. Era casada com Ajax e descobria que não o conhecia. E, como fizera sexo com ele sem proteção a semana toda, podia estar grávida. E isso não era nada bom, quando estava tão confusa. Seu celular tocou e ela leu a mensagem. — Oh, Ajax, preciso parar na loja. Você se importa? — Se é uma emergência, certamente precisamos ir. — Não é realmente uma emergência. Minha gerente quer que eu veja uma coisa,mas agradeço. — É claro. Estou investindo na empresa, assim devo garantir que tudo corra bem. Nossa. — É claro. A Leah’Lollies era uma mancha de cor no meio da cidade cinzenta. O piso era um tabuleiro de jogo, quadrados coloridos que levavam para diferentes caminhos e que terminavam em pilhas de doces diferentes. Ajax se encantou. Era um excesso de açúcar, uma tentação para o apetite. Assim que entraram, Leah foi levada para os escritórios nos fundos e Ajax ficou parado no meio da loja. Uma adolescente se aproximou, usando o uniforme característico em listas vermelhas e brancas e um sorriso ensaiado. — Bem vindo à Leah’s. Pirulito? — E estendeu um que combinava com seu 58


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uniforme. — Não. Ela pareceu um pouco desconcertada, mas ele não gostava de doces. Apenas quando Leah os deixava para ele. Sempre os comia porque não queria lhe ferir os sentimentos. Uma coisa que fizera o tempo todo desde que haviam se casado. — Não quero pirulito, mas tem balas duras vermelhas? — Toneladas. Canela ou fruta? — Fruta. — Por aqui. A garota o ajudou a escolher um pacote com pequenas balas vermelhas e redondas. Cereja. Lembrava-lhe dela. De seus lábios vermelhos. Da primeira vez em que a beijara porque queria. De seu biquíni, o que usara na primeira noite em que fizeram amor. Leah voltou alguns minutos depois que ele havia pagado pelas balas e as guardado no bolso do paletó. — Ficou entediado? — Como uma pessoa pode ficar entediada aqui? — Sinto a mesma coisa. — Havia um sorriso sonhador no rosto dela. — Mas minha loja favorita é a da França. — A expressão de Leah era puro entusiasmo. Ele se perguntou como seria amar tanto uma coisa. Ter tanta paixão pelo trabalho, pela vida. Não sabia. Jamais saberia. Sua natureza exigia que se mantivesse aprisionado. A paixão estava totalmente acorrentada. Menos quando está com Leah. Então é ela que está presa. Correntes ou uma echarpe de seda. Aquilo era paixão se aproximando sem se libertar. Um jogo perigoso, mas não conseguia parar. E não por causa do acordo, mas porque ansiava pelo gosto dela. Por senti-la. Era mortal, mas não podia se afastar. Nem mesmo queria. Leah sempre tinha sido importante para ele e agora ameaçava lhe minar os esforços. Puxá-lo de volta à escuridão. Ser escravo das paixões. Um homem que mal merecia estar vivo, muito menos ter o toque doce e suave das mãos de Leah. O homem que mais temia. Durante o dia, pelo menos, conseguia fazer que as coisas voltassem ao normal. E, à noite, com as mãos dela presas, tinha algum tipo de controle. Suas defesas se mantinham firmes. Pensou na caixa de balas de cereja em seu bolso e se perguntou no que estava pensando quando as comprara. Afastou o pensamento. Tudo estava bem, as defesas, firmes. Era o arranjo perfeito. Tinha Leah, a linda — como não percebera antes como era linda? — e excitante Leah em sua cama todas as noites. Tinha uma esposa que compreendia sua devoção ao trabalho, já que era tão devotada ao dela como ele. Ela lhe tornara possível ter a Holt. Sim, as coisas estavam absolutamente perfeitas. — Podemos ir? — E já pensava como amarraria as mãos dela naquela noite. Como mergulharia o rosto entre suas coxas até deixar os dois exaustos. Ansiava por ela, pelo gosto dela. Oh, sim, tinha planos para aquela noite. Muito mais prazerosos agora que tinha Leah como esposa. — Uh, sim, claro. Se não quiser nada. — Não, não preciso de nada. — Ah. Certo. Sem se tocarem, saíram da loja e foram recebidos por explosões de flashes. Ficou momentaneamente cego pelas luzes brilhantes que o cercavam de todos os lados. Tentou olhar para Leah, mas não conseguia enxergar. — Onde estiveram na última semana? — gritou um dos jornalistas, e os outros consideraram aquilo um sinal. 59


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— Ajax! Ajax! O que diz sobre as alegações de que sua ex-noiva o abandonou por outro homem? — Ajax! Por que esta farsa? — Leah! Como é ser a noiva substituta? Ajax segurou o braço de Leah e a puxou para bem perto do corpo. — Sem perguntas — rosnou, puxando-a para o carro. Sempre havia atraído atenção da mídia, mas nunca assim. Era por causa de Rachel, é claro, além de sua associação com a Holt e pelo que havia acontecido no dia do casamento. Mas era principalmente Rachel. Sem dúvida havia sido indiscreta com o amante. E agora ele e Leah eram muito mais fascinantes do que quando inventaram a história sobre a separação amigável entre ele e Rachel e sua descoberta de seus sentimentos por Leah. Enquanto ele ajudava Leah a entrar na limusine, ouviu a última pergunta. — Como é ser abandonado pelo cisne e ter que ficar com o patinho feio? Ele fechou a porta com força e gritou ao motorista para partir. Então deixou escapar uma série de maldições em grego. Sua visão começou a clarear devagar e pôde ver o rosto de Leah. Uma lágrima brilhante descia pelo rosto. Ela não emitiu um som, não mudou a expressão enquanto ficava sentada, estoica, a umidade no rosto. O carro parou diante do edifício onde ficava sua cobertura e Leah desceu antes que o veículo parasse completamente. Ajax a seguiu. — Leah. — Não. — E andou diante dele, parando às portas para que ele digitasse o código e então se apressando à frente dele de novo. — O que eles disseram. — É a verdade. Sou a substituta e ambos sabemos. Foi minha escolha, sabia o que estava fazendo. Mas isto não significa que tenho que gostar do lixo que eles gritam para mim em público. — Certo; maldição. — Seguiu-a para dentro do elevador. — Não vou permitir que seja publicado, Leah. — Vai controlar a imprensa, querido? É mais poderosa do que o presidente. — Tenho conexões. E isto não é notícia. É o tipo mais baixo de diversão, oferecido a pessoas que não têm nada melhor a fazer do que desfrutar da infelicidade dos outros. É uma tragédia grega dos dias atuais. — Sim, toda a catarse de Édipo Rei sem o incesto. Estou entusiasmada por ser parte dela. — Eu a teria poupado. — Não tem importância, Ajax. — Limpou uma lágrima do rosto. — Mesmo se não a publiquem, não será menos verdadeira. Você a queria e ficou preso a mim. — Eu não a amava. — Mas a queria. Não conseguia se imaginar levando Rachel para a cama, nem em fantasia. Não conseguia imaginar ter ou querer outra mulher, a não ser Leah. Podia vê-la agora, os cachos escuros espalhados no travesseiro, os braços erguidos acima da cabeça, os seios altos. Uma oferta. Uma que sempre aceitaria. — Não a quero agora. — Achava que jamais quisera. — Eu. Isto é bom. Mesmo assim. A Noiva Substituta. Um título atraente. Vai pegar. — Eu vou... — Vai o quê, Ajax? Invadir as redações, todo mau e bravo, e exigir retratações? Por quê? De que adianta? Tomou-lhe o queixo na mão. — Porque não deixarei que a firam assim. — Por que não? Você me fere o tempo todo. 60


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Ele soltou o rosto dela, um sentimento estranho, gelado, se espalhando pelo corpo. As portas do elevador se abriram e ela saiu para o corredor, esperando que ele abrisse a porta. Passou por ele e entrou na sala de estar. — Então, bom, vou para a cama. E acho que vou deixar você livre esta noite. — Vai me deixar livre? — Do nosso acordo. Todas as noites. Minha cama. Esta noite não quero. — Por quê? — Era uma pergunta idiota, mas não sabia como consertar a situação. Leah tinha sido diferente na loja de doces. Mais suave. Mais como a Leah que sempre conhecera. Mas agora suas defesas estavam erguidas, altas e fortes em torno dela. Não podia alcançá-la. Não sabia o que dizer ou fazer. — Estou com dor de cabeça. Uma coisa relacionada à exposição forte demais aos flashes. Boa noite. Saiu da sala e Ajax se dirigiu ao bar. Mantinha um bar em casa com um estoque completo. Dizia a si mesmo que era para seus convidados, mas no fundo sabia. Era uma bandeira vermelha diante da besta, tentando-a. E aquela noite quase caiu na armadilha. Cerrou os dentes e se afastou. Estava no controle. Ninguém o tomaria dele, nem mesmo Leah.

CAPÍTULO DOZE

Leah acordou se sentindo péssima e continuou assim o dia todo. O encontro da noite anterior com a imprensa tinha sido a realização de todas as suas inseguranças do passado e do presente. Tanta gente achava que não era boa. Diziam isso com muita facilidade e lembravam-lhe de que seu marido, o homem com quem fazia amor todas às noites, realmente não a queria. Teve muito tempo para ficar cada vez mais irritada, já que Ajax passou o dia todo na Holt e ela se lembrava repetidamente do fiasco com a imprensa. Estava fazendo uma busca na geladeira, procurando alguma coisa para comer, quando ele voltou e entrou na cozinha. — Leah, eu espero que não tenha jantado. — Era isto que estava procurando. Estou com fome. — Não tenho muita coisa aqui. Raramente venho para cá. — É, percebi. Pedimos uma pizza? — Não, pensei que devíamos sair para jantar. — Por quê? Ele lhe estendeu um jornal, aberto nas páginas de mexericos sociais. Havia uma foto enorme dela e Ajax saindo da Leah’s Lollies. Ambos pareciam tensos e havia uma distância significativa entre eles. Percebeu que as expressões eram devidas aos flashes. Quanto ao fato de não estarem se tocando... Bem, não podia, não queria que o tocasse. Assim, a culpa era dele. A manchete era realmente boa. — “Tensão entre Ajax Kouros e noiva substituta enquanto herdeira Holt se diverte com novo amante”. Nossa; encantador. — Inalou com força. — Na verdade, também sou uma herdeira Holt, mas geralmente sou a “outra herdeira Holt”. E agora fui ainda mais rebaixada. É como se não tivesse um nome. Este título de noiva substituta é uma moda. — E é por isto que vamos sair. Uma demonstração de união é essencial agora. Não 61


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vou permitir que este casamento se transforme numa farsa. — Este casamento é uma farsa, Ajax. Ele lhe agarrou o braço e a puxou para ele, os olhos escuros brilhando. — É? Parecemos ter alguns momentos muito reais. — Na cama. E mesmo então, é apenas um jogo. — Não há nada de divertido nisto, Leah. Nada. — Não disse que havia. Mas você não é real. Nada é real. Você tem regras e é como um juiz nu. Não posso fazer nada que você não queira. — É para o seu bem. — Mesmo? E quando se tornou um especialista no que é bom para mim, Ajax? — Não é sobre você que preciso saber, é sobre mim. — Por quê? — Quer saber por que não estive com uma mulher em 18 anos? Quer saber por que tenho que me controlar? Por que preciso amarrar suas mãos? — Sim. — Mas não tinha certeza. — Na noite em que fiz 16 anos, quase estuprei uma garota. Leah congelou. — Você o quê? Não acredito. Não Ajax, você não. — Sim. Meu pai nunca me deu muita atenção. Nunca soube quem é minha mãe, provavelmente uma prostituta, no sentido literal da palavra. Cresci negligenciado, cercado por excessos. Na noite do meu aniversário, meu pai fez uma festa para mim. Com drogas, muitas drogas. Não era a primeira vez que as tomava. Era como um menino numa loja de doces. Mas, naquela idade, meu pai decidiu que era hora de eu compreender totalmente os produtos que vendia para que, quando me tornasse homem, pudesse sucedê-lo nos negócios. Quando, não. Quando me tornasse um homem como ele. — O quê... O quê? — Estava completamente fora de mim, nunca tinha tomado tanta droga. E havia uma festa. Era barulhenta e quente, as pessoas fazendo sexo em cada quarto da casa. No corredor. Mulheres tinham sido pagas para estar lá, pagas para prestar serviços aos homens, fazendo seu trabalho em público porque não tinham escolha. E então havia Célia. Sei o nome dela, ainda me lembro. Meu pai me fechou num quarto com ela e eu estava... Estava tão seguro de mim mesmo, da minha importância. Afinal, mulher nenhuma jamais dissera “não” para mim. Quem ousaria dizer “não” para o filho do chefão? Ela tinha sido dada a mim. E eu a queria. Não vi mais nada, apenas o que queria. E, inferno, tinha sido paga para ficar comigo. Era minha prostituta, certo? Portanto, estava pronto para apenas tomá-la. E quase tomei. Lembrava-se de rasgar o vestido dela. Dos soluços, dos punhos o atingindo. E de repente tudo se tornou claro. Percebeu o que estava fazendo. Percebeu pela primeira vez que sua busca pela satisfação própria tinha um custo para aqueles que usavam. Percebeu pela primeira vez que as outras pessoas tinham importância. Não era o que via. Não tinham lhe ensinado nada. Lutava pela sobrevivência dentro das paredes da mansão do pai. Tomando o que precisava; o que queria, sem consequências. Mas vira de repente, no rosto manchado de lágrimas de uma garota, que havia consequências. O preço alto de sua forma de desfrutar da vida. — Ajax, mas você não fez isto. É o que importa. — Não, Leah, não é. Eu agarrei-lhe o braço e então olhei para ela, realmente olhei. Estava aterrorizada. Chorando. Por minha causa, pelo que estivera prestes a fazer com ela. Porque era cego demais para ver outra coisa além de mim mesmo. — E as drogas. Você estava drogado. — Isto torna as coisas melhores, Leah? Nunca devia ter aceitado aquilo. Muito menos dormir com uma mulher que era paga para estar lá. Sabe o que meu pai disse? Não queria saber. 62


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— O quê? — Dome-a. É uma virgem. Vai gostar dela. — Oh. — E naquela sílaba havia um mundo de dor. Por ele. Por Célia. — Era apenas uma garota. Dezesseis anos, como eu, descobri mais tarde. — Como descobriu? — No minuto em que fiquei sóbrio e capaz de fazer outra coisa além de chorar com ela pelo que estava acontecendo, pelo que quase havia feito; pelo que meu pai fazia, nós fugimos. Levei-a de volta para casa. Não era prostituta. Não estava lá por que queria, ou por causa das drogas. Tinha sido sequestrada. Não podia ir à polícia, sabia que muitos policiais estavam na folha de pagamento do meu pai. Por que outro motivo um homem com um comportamento tão transparente teve uma vida criminosa tão longa? E, pela traição, ele teria mandado me matar. Teria encontrado a família de Célia e a matado também. — Ajax isto é horrível. Você não tinha ajuda. Nenhuma forma de fugir. — Ela não teria precisado de ajuda se não fosse pelo meu pai. Se não fosse por mim. — E você a salvou. — Não me transforme no herói desta história degradante. Não houve nada heroico no que fiz. Foi o mínimo que um ser humano podia fazer por outro. Nunca... Nunca mais serei aquele homem. Que sentia que tudo lhe pertencia. Que abria mão de todo o controle, que sufocava tudo o que havia de bom nele na busca pelo prazer. — Um prazer de que não desfrutou. — Pare de distorcer as coisas para que eu pareça bom. Um assassino pode interromper o golpe da faca antes de atingir a vítima. Mesmo assim, em seu coração, é um assassino. — E acredita que vai me ferir se eu o pressionar? Ele inalou o ar com força e a estudou, os olhos vazios, sem fundo. — Este é o problema. Não sei o que faria. Mantive a mim mesmo, tanto de mim mesmo, aprisionado por tanto tempo. Tudo o que sei é que a fera está com fome. Não sei o que quer, mas sei que não descobrirei às suas custas. — E é por isto que nunca esteve com uma mulher? — Para mim, sexo tem seu lugar. Não é nos corredores de uma mansão onde todos podem ver. Não é com uma garota aterrorizada que foi sequestrada. Sexo assim tem uma vítima, Leah. Pensei que num casamento esta dinâmica desapareceria. — A pele ficou cinzenta, a expressão, pétrea. — Não fiz de você uma vítima, fiz? Ela ergueu o queixo, tentou parecer confiante, não demonstrar que estava se quebrando por dentro. Por ele. Por tudo o que sofrera. Por como se via. Ajax acreditava que tinha uma fera dentro dele. Mais do que isto, pensou Leah, provavelmente acreditava que era a fera. — Ajax, eu lhe pedi que dormisse comigo. Disse-lhe que queria sexo. Você jamais fez nada que eu não quisesse. Você amarra minhas mãos porque eu permito. Apenas me submeto porque quero. Sou forte, posso lidar com você. — Mas temo ser capaz de quebrá-la. Ela balançou a cabeça. — Não acredito. Ajax, o homem que é hoje, o homem que é agora, poderia existir sem aquele momento com Célia? — Não compreendo. — Sem aquele momento de clareza, quando viu o que era pela primeira vez, você teria mudado? — Eu não... Leah, eu não posso. — O que seu pai está fazendo agora? — Está na cadeia. Porque usei minhas conexões para encontrar um meio de colocá63


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lo lá. Espero que esteja morto, Leah, rezo para que esteja. — Você o mandou para a cadeia? — Sim. — E as mulheres? — Pelo que sei; com acesso a todos os computadores dele, as autoridades libertaram um número recorde de pessoas. — Por sua causa. Por causa de quem você é. — Não. — Precisa se punir? — Não estou me punindo. Estou mantendo seguras as pessoas que me cercam. Menos você. — Sentiu um aperto no peito. — Temo não estar mantendo você segura. — Sou forte, posso me manter segura sozinha. E saber o que quero. — E o que quer? — Dolmades. Leve-me a um restaurante grego. O coração de Ajax quase abria um buraco no peito. Ainda estava cheio de adrenalina com a confissão que fizera a Leah. O jantar não ajudara a aliviar a tensão. Perguntou-se se merecia Leah. Porque a verdade era feia, muito feia. E ele merecia queimar no inferno. O restaurante era pequeno e estava na moda; era aonde as pessoas realmente famosas iam. Pessoas que não queriam privacidade, que gostavam de ser vistas. O lugar perfeito para encontrar a imprensa, para ter fotos tiradas. A imprensa. Tinha que pensar nela agora e não apenas em seu passado, no monstro que vivia nele. — Quer dançar? — Pensei que não dançava. — Não danço. Agora, gostaria de dançar ou não? Leah dobrou a cabeça para o lado e o observou. — Sim, vou dançar com você. Ele se levantou e lhe estendeu a mão. — Certo, mas tente não olhar para mim como se a tivesse convidado para ficar diante do esquadrão de fuzilamento, está bem? Ela sorriu. — Puxa Ajax, está tentando fazer uma piada? — Sim. Consegui? — Quase. — Tomou-lhe a mão e ele fechou os dedos em torno de sua suavidade. Seu calor. Levou-a para a pista, onde já havia outros casais, puxou-a para o corpo e começou a se movimentar no ritmo da música. E percebeu que não sabia mesmo dançar. — Nunca fiz isto. — Não pode ser. Você esteve em centenas de eventos com Rachel. — E sempre disse a ela o que lhe disse. Não danço. — Então por que está dançando agora? — Porque você estava certa. Não posso invadir as redações e ameaçar matar pessoas. Não seria adequado. — Não mesmo. — E não posso impedi-los de publicar coisas como as de hoje. Mas, maldição, eu posso matar os rumores. Posso garantir que ninguém, em lugar nenhum, presuma que você é substituta para qualquer coisa. Ela piscou e descansou a cabeça no ombro dele. — Mas eu sou. — Eu não conhecia Rachel, não de verdade. Nunca tivemos uma conversa mais profunda. Nunca lhe contei sobre minha vida na fortaleza do meu pai. E ela não gostaria 64


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de ouvir. Estava satisfeita de ter apenas a fachada e isto estava ótimo para mim. Era até preferível. Mas não a conhecia e ela não me conhecia. Não conheço você também, mas estou começando. E acho... Acho que você me conhece mais do que qualquer outra pessoa no mundo. — Sério? — Sim. Sério. Começando quando você costumava ir me visitar. Você se lembra? Ela riu; um som com sabor de lágrimas. — É claro. — Você me levava chocolates. Sempre me fazia sentir que alguém pensava em mim. Em mim, não na minha capacidade para os negócios ou qualquer outra coisa. Apenas em mim. E agora é a única mulher que conhece meu passado. A única que esteve comigo como homem. Assim, oficialmente, você me conhece melhor do que qualquer outra pessoa. — Acho que sim. — E está aqui comigo. Não fugiu. E, agora que conheço você, agora que vejo você como uma mulher que não hesita em gritar comigo, a ferir meu ego com um comentário sarcástico, descubro que não pode haver outra mulher tão certa para mim. — Mas sou a mulher certa para você? Ou qualquer outra seria errada? — Ergueu a cabeça, os olhos dourados brilhantes. — Não sei. Mas estamos juntos. — Depois de três semanas de casamento. Merecemos uma medalha. — Não sei se realmente compreendo o amor e temo que nunca vá compreender. Pensei que sabia o que era, mas agora é claro para mim que tive uma ligação por conveniência e não por afeição verdadeira ou emoção profunda. Não sei se sou capaz de saber como dar. Meu pai não amava nada além de poder e dinheiro. E me ensinou a pensar em mim como a autoridade absoluta, meu próprio deus, a adorar a mim mesmo e minhas necessidades e naquele único momento na minha vida, quando vi o rosto dela. Aquela foi a primeira vez que olhei para fora de mim mesmo. A primeira vez que vi que as outras pessoas tinham sentimentos, necessidades e sonhos, que eram tão importantes como os meus. Mais importantes. E que eu tinha o poder de destruí-los. Os dedos dela se curvaram na lapela do paletó, puxaram-no para mais perto enquanto ele continuava. — Apenas esta migalha de humanidade me custou um esforço enorme e, depois disto, tento manter minhas necessidades, meus desejos, sob controle para não ferir ninguém. Não posso ser tudo o que um marido deve ser, mas não serei cruel. Não vou ferir você ou forçá-la ou fazer nada que não queira. Nunca. O coração de Leah disparou, as mãos tremeram. Estava falando com ela sobre si mesmo. Tudo o que acreditava sobre si mesmo. E estava, ao mesmo tempo, prometendo jamais magoá-la. E suas palavras destruíam cada muralha que ela construíra entre eles. Ele não sabia? Não tinha ideia de que o casamento com um homem que mantinha metade do coração, metade de quem era prisioneira dentro de si mesmo só poderia magoá-la? Mesmo se a mágoa decorresse apenas de observá-lo? Dia após dia, lutando contra o que considerava seu demônio interno, quando era apenas Ajax. Lutava contra si mesmo, contra os apetites que as pessoas aceitavam. Que faziam a vida valer à pena. Não sabia que a mataria vê-lo fazer aquilo? Olhou para ele, para o terrível vazio nos olhos dele, e imaginou seu fogo, sua vida aprisionada no lugar mais profundo, gritando por liberdade. Passara a vida idolatrando Ajax Kouros, um homem que havia considerado perfeito. Mas não havia conhecido Ajax. Não sabia das lutas que enfrentava; de onde viera ou porque era tão determinado a chegar ao destino final. 65


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Havia amado uma ilusão. E agora, diante dela, estava o homem. Ou parte dele, pelo menos. Queria o resto, queria-o inteiro. Conhecê-lo, saber coisas sobre ele que nem ele sabia; as coisas que não reconhecia. E então percebeu que estava se vendendo barato demais. Vendendo os dois baratos demais. Tinha decidido não se proteger tanto, e vê-lo com realismo. Aceitar que não podia amar, não podia amá-la. E ela, por sua vez, não o amaria. Não seria vulnerável a ele. Estava aceitando a metade dele voluntariamente. Pressionando-o por nada porque, se fizesse isto por amor, teria que admitir seu anseio por ser amada por ele. Que queria mais do que sexo e companheirismo. E se exporia à dor. Tinha acabado de pensar nele como um homem que se negava, mas ela seria melhor? Estava se protegendo. Protegendo-se de uma parte de si mesma que queria se libertar. Aquela parte que acreditava que merecia ter tudo, que acreditava que valia a pena arriscar o coração. Que a felicidade de Ajax valia o risco que seu coração correria. — Então, o que está dizendo é que, se pudesse voltar ao momento em que decidiu fazer o pedido de casamento, sabendo o que sabe agora, você me pediria? — Sim. — Eu... Eu não sei se diria “sim”. — Por quê? Era à hora de baixar á guarda. De ter expectativas. De acreditar que podia fazê-lo mudar. De acreditar que não era a Noiva Substituta. — Você diz que me conhece, Ajax, mas sinto que não conheço você. Não posso nem explorar seu corpo quando estamos juntos na cama. O que significa que você realmente não me conhece também. Você me mantém na coleira. Seguindo suas regras para que você mantenha este controle que preza tanto. — Não quero prender você, Leah. Sou eu que preciso. — Isto pode ser o que pensa que está fazendo, mas a verdade é, quando impõe regras, quando me impede de fazer o que quero, de lhe mostrar o que quero; apenas me transforma na pessoa que quer que eu seja; a pessoa que pensa que precisa que eu seja. E não a pessoa que sou. Não é de admirar que seja tão bom para você. Mas pode ter o que tem comigo com qualquer mulher. Quer dizer, qualquer mulher obediente. Ele a girou, então a puxou de novo para o corpo, o rosto junto ao dela. — Nada mal. — Obrigado, aprendo depressa. — Sim, aprende. — Então acha que não lhe permito ser quem é? Alguma vez a impedi de dizer tudo o que lhe vem à mente? Você diariamente me ataca com sua língua afiada, querida, e não fiz nada sobre isto, fiz? Sim, ela tinha feito aquilo, com frequência. Para se proteger, afastá-lo. Mas não faria isto agora. Cerrou os dentes, libertou as mãos e lhe empalmou o rosto. Ele parou de se mover, uma expressão confusa no rosto que ela adorou. O grande e forte Ajax Kouros confuso por elazinha. — Desculpe. Faço isto quando você fere meus sentimentos e é mais fácil gritar com você do que lhe mostrar que estou magoada. E esta noite, Ajax, apenas esta noite, me entenda não posso deixar de lado o sarcasmo para sempre, vou parar. Mas preciso de uma coisa em troca. — O quê? — Preciso jogar pelas minhas regras. Apenas esta noite. — Depois de tudo que lhe contei sobre mim? — Se você perder o controle; vai me machucar? Ele pareceu apavorado. 66


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— Não sei. — Eu sei. Não vai. Você não é assim. Homens que gostam de machucar mulheres; não é desejo. Ou perda de controle porque está com uma mulher a quem não conseguem resistir. Isto é mentira. Eles querem ferir, gostam de se sentir poderosos. E nunca vi esses desejos em você. — Leah. — Minhas regras; está bem? Não as suas. Esta noite. Vamos lá, você já está até dançando. É apenas um pequeno passo depois disto. Podemos ter um pouco de diversão no caminho para o inferno. — Quais são as suas regras? Ela falou baixinho: — Minhas mãos desamarradas. E faço o que quiser com você. E, Ajax, meu querido, eu tenho dez anos de fantasias guardadas para você. — Dez anos? — Certo, vamos deixar de lado os primeiros anos. Havia muita corrida pelos campos e você enfeitando meu cabelo com flores. Mas as coisas começaram a ficar boas quando tinha 16 anos. — Fantasias? Sobre mim? Ela sorriu. — Não achou que deixava doces em sua escrivaninha apenas para ser gentil, achou? — Sim, achei. E significava muito para mim, como já disse. Está dizendo que estava tentando me atrair? — Uma trilha de balas que eu esperava que o levasse para minha cama. — Sutil demais. — Percebo isto agora. — Por que eu? — Porque pensava que era perfeito. E lindo. Estava enganada. — Estava? — Não sobre a parte de ser lindo, mas sobre a parte de ser perfeito. Inventei um homem e não devia ter feito isto. Você não é perfeito, Ajax. Mas não sou mais uma garota e não preciso que seja perfeito. — O que você precisa? — Apenas de você. Do homem que é. Do homem em quem se tornou por causa de seus erros. Por causa de suas cicatrizes. Não o homem que é com todas estas correntes, mas o homem que é de verdade. — Você não sabe Leah. — Você me contou. — Contei-lhe que entendi em quem estava me tornando e o motivo, mas nem sei o que pode acontecer agora. — O negócio é o seguinte. Também não sei. Mas precisa me dar a oportunidade de conhecê-lo. Dar a si mesmo a oportunidade de ser você. E eu lhe darei a oportunidade de me conhecer. Ele ergueu a mão, empalmou-lhe o rosto, então passou os dedos pelo cabelo dela, desmanchando-lhe o penteado. — Mas há uma grande chance de que não goste de mim quando me conhecer. Ela lhe virou a palma para o rosto e a beijou. — Ajax, você dançou por mim. Para que a imprensa não diga coisas horríveis sobre mim. Gosto do que já conheço de você. Muito. — Mesmo sabendo sobre meu passado? — Seu passado me parte o coração. Não consigo imaginar como foi ser uma criança num lugar como aquele. Ter um pai como aquele. 67


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— E se, se você cavar tão fundo, Leah, dentro de mim, e descobrir que a escuridão continua? Que não há fim para ela. Se for tudo o que sou? Ela piscou para impedir que as lágrimas descessem. E não tentou muito segurá-las. Seu coração doía, a garganta queimava. Porque não sabia a resposta. Se Ajax pudesse lhe dar apenas escuridão, o que isto significaria? Teve vontade de começar a construir uma nova armadura. Afastá-lo. Fugir para um lugar onde estaria a salvo de comparações feitas por ele, pela mídia. Pelo medo profundo de que um dia olharia nos olhos dele buscando a verdade de seus sentimentos e não visse nada. Fugir de tudo que pudesse feri-la. Mas não podia. Nunca mais. — Então aceitarei tudo o que é. As palavras pesaram na alma, a promessa lhe apertou o coração. Porque naquele momento sabia que era verdade e não poderia recuar. Mas, quando olhou para os olhos escuros, sem expressão, desejou que pudesse. Desejou que outro homem houvesse lhe tomado o coração anos atrás para que não se sentisse tão vulnerável agora. Mas não havia outro homem, apenas Ajax. Sempre tinha sido assim e sabia que sempre seria. Cada músculo do corpo de Ajax estava tenso, preparado para agir a qualquer momento. Atacar Leah, talvez? Ou fugir. Era a outra possibilidade. Haviam voltado para a cobertura em silêncio total. E ele se perguntava se ela já estava arrependida do que pedira a ele. Estava dividido. Queria-a, queria as mãos dela em seu corpo, a boca nele, em todo ele. Mas sabia que, se isto acontecesse num momento de cegueira o controle que conquistara tão duramente durante todos aqueles anos se dissolveria e nunca mais o recuperaria. Que podia se tornar o monstro que sempre temera ser. Que se tornaria aquilo que mais odiava. Oh, não seria um barão do tráfico, mas um homem consumido pelo desejo de poder, de sucesso, a qualquer custo. Sim, aquilo vivia nele. Forte e sombrio, tentando eliminar tudo e todos que se colocassem em seu caminho para o poder absoluto, e não se importava com quem ficasse ferido no processo. Não queria que aquilo se libertasse. Nunca. Mas agora estava em pé no quarto da cobertura e Leah olhava para ele com seus grandes olhos dourados. E daria tudo para prová-la sem limites. Sem amarras para mantê-la distante. Sim, era isto que queria. E não podia mais combater seu anseio. Tê-la era a coisa mais essencial que podia imaginar. A realização de um sonho enterrado tão fundo, por tanto tempo, que trazê-lo à luz era quase doloroso. — Mostre-me, Leah. Mostre-me o que quer. Quem você é.

CAPÍTULO TREZE

— Você primeiro. — Ela ergueu o queixo, os olhos brilhando. — Sinto que tenho dado demais ultimamente. Não que você não dê admiravelmente. Você dá. Mas me sinto vulnerável e agora é sua vez. Dispa-se, Ajax. A ordem fez parecer que queria mais do que ver a pele. Como se quisesse o tipo de nudez que ele mais temia. A que revelaria o que lhe restava da alma. Mas faria isto por ela. Ficou nu diante dela. Trêmulo. Ela estava com as mãos livres; podia fazer com ele o que quisesse. Estava à mercê dela e não se arrependia. Ela se aproximou lentamente, uma chama brilhando nos olhos dourados. Estendeu a 68


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mão e a espalmou no peito nu, as unhas o arranhando de leve. A dor era como tinha sido da primeira vez, um tempero para o prazer que o percorria. E então ô beijou, os lábios quentes no pescoço, os dentes mordiscando. Um testemunho de seu poder. Que o prendia apenas pelo toque. A besta balançou as correntes. — Cuidado. Mordeu-o com mais força. — Acho que não. Estou cansada de ser cuidadosa. Estou cansada de tentar parecer que não me sinto afetada pelo lixo que é escrito sobre mim nos jornais. De manter a cabeça baixa. Estou cansada de tentar me tornar mais atraente para o público, de me esconder. Mas principalmente estou cansada de não ter você como quero. — Então me tome. Mas não sou responsável pelas consequências. — Oh, espero que haja consequências. Não faça promessas que não pode cumprir. Agarrou-a pelos pulsos e a puxou com força, os seios esmagados no peito, a ereção pressionando-lhe o ventre. — Haverá agape. Não se engane. Inclinou a cabeça e lhe capturou os lábios, a língua mergulhando profundamente. Quando se separaram, estavam respirando com dificuldade, o rosto de Leah ruborizado. Ela olhou para baixo, para ele, o desejo evidente, a admiração clara. — Bem, agora você vai enfrentar minhas consequências. Sinto como se tivesse feito dieta por anos e estou morta de fome. Debruçou-se e beijou-lhe o peito, fez uma trilha pelo ventre, mordeu-o e o fez pular. Envolveu-lhe a ereção com os dedos, apertou gentilmente e Ajax tremeu. — São estas as consequências para mim? — Sentia um aperto na garganta. — Estou apenas começando. Fantasiei demais sobre isto. Não faz ideia. — Inclinouse e o tocou com a língua, e uma fisgada de calor lhe percorreu as veias. Era demais. Podia sentir alguma coisa se soltando dentro dele. As muralhas começando a desmoronar. As correntes a quebrar. Quando ela deslizou a língua por toda a extensão, ele perdeu o controle. Afastou-se dela, o coração disparado, a respiração difícil. — Não posso. Leah pare. — Por quê? — É demais. Não posso... Não consigo respirar. — Agora sabe como me sinto. O tempo todo. Cada vez que estou com você. Deixe Ajax. — Debruçou-se mais uma vez, tomou-o na boca e o lambeu. Então o sugou profundamente e ele mergulhou na escuridão, num mundo de prazer absoluto. Onde não havia mais nada além do que ela o fazia sentir. Mergulhou os dedos no cabelo dela enquanto ela o lambia e o sugava, demonstrava seu desejo de lhe dar prazer. Ele se sentiu humilde e além da razão. E, quando sentiu o orgasmo surgindo, afastou-se. — Assim não. — Por que não? Você fez isto comigo muitas vezes. — Eu sei. Mas quero estar dentro de você. Quero que me cavalgue. — Uma posição que não havia sido possível com as mãos dela amarradas. Ela sorriu tentadora. Sedutora. Mulher. E ele sentiu por ela o que um homem devia sentir por uma mulher. Mas havia mais, um calor que não conseguia explicar. E que sempre estivera lá e que crescera desde o momento em que a vira pela primeira vez. Quando ela deixava doces na escrivaninha dele. O motivo por que ele voltara o foco para outra mulher assim que pudera. O motivo por que nunca a vira como mulher antes do casamento. Emoção. Paixão. Aquele calor, somado ao desejo, produzia um fogo tão intenso que temeu que os consumisse. E então se lembrou das balas. — Deite-se. — Pensei que eu estava dando as ordens. 69


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— Não. Apenas nos livramos das regras. — O que está planejando? — Vai descobrir. Mas não saberá se não obedecer. — Minhas consequências? — Pode considerar assim. Ela se deitou e ele se virou. Então ouviu o som de papel celofane. Quando ele se voltou de novo para ela, Leah estava deitada de costas, apoiada nos cotovelos. Despirase completamente. E parecia uma fantasia criada especialmente para ele. Nada podia ser mais perfeito; ninguém chegaria nem perto. — Está um passo à minha frente. — Tomo iniciativas. É uma das minhas melhores qualidades. Ele se aproximou da cama, a caixa na mão. — Por que tem uma caixa da Leah’s Lollies? — Comprei isto algumas noites atrás. Não sabia o motivo, mas agora sei. Abriu a caixa e tirou uma bala vermelha e redonda e a colocou na coxa dela. Debruçou-se e pressionou os lábios lá, então tomou a bala entre os dentes. E lambeu-lhe a pele, o sabor da cereja se misturando ao dela. — Deite-se. Não precisou pedir duas vezes. As mãos dela estavam soltas nas laterais do corpo, os seios subindo e descendo a cada respiração. Ajax depositou uma bala bem abaixo do umbigo, depois outra acima, então mais outra. Até ter construído uma trilha vermelha até os seios, três balas entre eles. E então colocou uma nos lábios dela. — Segure-a aí. Ela acenou de leve. E ele observou a trilha de tentação sobre o corpo lindo. — Sempre achei você doce. — Inclinou a cabeça, lambeu-lhe o clitóris e ela pulou; um som surdo lhe escapando dos lábios. — Cuidado, não solte minha recompensa. Moveu-se para a bala que estava baixa no ventre, exatamente acima do triângulo de cachos no ápice das coxas, e a tomou com os dentes, depois lhe lambeu a pele. Gosto de cereja e Leah. Seguiu a trilha até os seios e parou para lhe traçar os mamilos com a ponta da língua antes de tomá-los profundamente na boca, saboreando-os como saboreara as balas. Não precisava de açúcar ali; eram deliciosos. Seguiu para o vale entre os seios e lambeu as balas remanescentes antes de levar a boca à dela. Traçou a linha dos lábios com a língua e capturou a bala antes de beijá-la profundamente. — Você tem gosto de cereja. — A voz de Leah era trêmula. — Você também. Ela riu. — Interessante como isto funciona. Ele lhe segurou os quadris e trocou suas posições até ela estar montada nele, o cabelo formando uma cortina de seda em torno deles, a ponta da ereção à entrada úmida do corpo dela. Leah se segurou nos ombros dele, se moveu e o tomou, centímetro por centímetro. E ele lhe observou o rosto, a expressão de puro prazer enquanto o sentia dentro dela. E então ele se perdeu e não conseguiu fazer mais nada além de sentir. Estava à mercê dela, seu calor apertado e úmido o cercando, seu ritmo lento e firme levando-o à loucura. E, de repente, se sentiu desesperado e faminto, um poço de necessidade e de desejo se abrindo dentro dele, e temeu que jamais ficasse satisfeito. Reverteu às posições, fechou os olhos e a tomou com força, o suor lhe cobrindo a pele. A besta estava solta. Sua necessidade era tão intensa e violenta que seu controle desapareceu completamente, todo o ser tomado pela fome, pelo anseio de reclamá-la, de torná-la dele, de encontrar o prazer máximo. Nela. Sua mulher. Sua esposa. Leah. Um grito rouco lhe escapou dos lábios e ela arqueou, os músculos internos pulsaram em torno dele. E Ajax se soltou, se desmanchou dentro dela, seu orgasmo uma chama, 70


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queimando-o, o calor tão forte que não restaria mais nada dele quando tudo terminasse. E finalmente acabou. Não havia mais nada além dele e Leah. E a percepção de que todas as suas muralhas haviam desaparecido. Que estava sem defesas. Havia soltado a besta em Leah. Afastou-se dela e se sentou; o coração batendo com força, a respiração em arquejos. Olhou para Leah, para os lábios inchados, os olhos grandes cheios de choque e confusão. Então se virou e saiu do quarto. Leah estava atônita. Devastada. Seu mundo ficara totalmente abalado por seu encontro com Ajax. Não havia mais uma escuridão fria nele. Estava pleno de um fogo negro, quente e perigoso, destruidor e maravilhoso. Jamais teria o suficiente dele, de como era receber sua paixão sem restrições. O modo como começara, a maneira como reagira a ela, a brincadeira sexy com as balas. E então, oh, e então aquele momento em que ele perdera todo o controle e voltara todo o seu poder para o prazer dos dois. Aquele momento em que ele se soltara nela. Estava dolorida da melhor maneira. Gostava quando era rude, quando era o homem sob o verniz. Mas não gostava que se afastasse enquanto o mundo dela se partia. Levantou-se, vestiu a camisa dele foi procurá-lo. — Ei, que diabos? A menos que tenha vindo tomar água. Neste caso, também quero. — Ajax andava de um lado para o outro, a postura tensa. E ainda estava nu. Era lindo, mesmo rijo e atormentado. — O que foi Ajax? No que está pensando? Estávamos fazendo amor e aquela coisa de “conhecer um ao outro” e então você apenas saiu. — Você está bem? — Ótima. Um pouco instável, mas é natural. Significa que você fez tudo certo. — Pare de transformar tudo em piada. Fui rude com você. Nem mesmo sei... Nem mesmo me lembro do que fiz. — Vou lhe refrescar a memória. Você perdeu o controle e me tomou com tanta força que me tirou o fôlego. E senti um prazer além de tudo o que já experimentei. — Eu a machuquei? — Não. Bem, estou um pouco dolorida, mas do jeito bom. — Não há um jeito bom de dor. Maldição, Leah, se tivesse me pedido para parar talvez nem mesmo a ouvisse. Não sei se poderia parar. Este é o tipo de monstro que sou. As palavras ficaram paradas no ar, reveladoras. — Você não me machucou, Ajax, e nunca me machucaria. Não acredita que sei o que quero? Do que gosto? Que não mentiria se você me ferisse apenas para salvar sua consciência? Você sabe que nunca faria isto com você, conosco. Sou sempre sincera com você. E então se arrependeu amargamente. Porque não tinha sido sincera com ele. Nem consigo mesma. Tentara encobrir as crescentes emoções que sentia com suas camadas de proteção. Para não se apaixonar por ele. Para não amar sozinha. Entrara naquele casamento conhecendo apenas o Ajax da fantasia, não o real. Pensando que não era suscetível ao homem que não conhecia. E desde então conhecera a realidade. Vira como era ferido. Tivera que enfrentar quem ele era; de onde tinha vindo. Saber que não era perfeito, mas uma alma danificada, machucada, faminta por amor e por um pouco de paz em si mesmo. Porque o íntimo da Ajax era uma zona de guerra, um lugar sem repouso onde vigiava todos os desejos que tinha. Era escravo de si mesmo. E, ao descobrir tudo o que era, que tinha sido e que não podia ser, soube que seus sentimentos mudaram. E não podia mais escondê-los. Não podia mais se proteger quando a vitória sobre os demônios dele podia depender de sua honestidade. — Amo você. E era verdade. Não importava se jamais correspondesse, precisava que soubesse. Vira em Ajax o perigo de se fechar e não faria isto. 71


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— O quê? — Olhou-a com aqueles olhos vazios e a falta de emoção quase a destruiu. — Amo você. Amo você por quase toda a minha vida. Bem, pelo menos pensava que amava. E então houve uma época em que tentei arrancá-lo do meu coração porque precisava me proteger. Porque você a escolheu. Porque a imprensa me dizia quem eu era. Que não era especial ou linda e pensei... Tive certeza de que nunca mereceria você. Mas sabe de uma coisa? Mantive tudo em segredo porque eu não o amava realmente. — Com certeza. — Não o conhecia. Não sabia que havia sido criado numa fortaleza de drogas e um bordel. Não sabia que você se sentia como se fosse um monstro, e então se mantinha preso em correntes. Não sabia que havia perdido a virgindade com uma prostituta. Que fugiu de uma posição de poder e riqueza e ficou sem nada para salvar a vida de uma garota, para salvar a própria alma. Não sabia que não tinha tocado uma mulher por 18 anos com medo de perder o controle. — Você parece muito impressionada por isto. — Bem, sim, acho que é muito atraente. Estou contente por ter sido sua primeira depois de tanto tempo. Estou contente por você ter sido meu primeiro. E é isto, estou contente por conhecer você. Mesmo que a verdade não seja fácil, bonita. Porque agora conheço você, Ajax. Tudo o que é, e agora amo você. — Acabou de dizer. — Que não o amava antes. Amava a ideia que fazia de você, mas não você. Não a confusão que você é. — Não devia amar a confusão que sou. Sou... — Um monstro, você me disse. Um monstro que nem uma vez tentou me ferir fisicamente. Um monstro que passou todos estes anos respeitando a minha família. Um monstro que desmantelou uma das piores quadrilhas criminosas do mundo. É você é um monstro. — Você não compreende. E então ela percebeu. O terror nos olhos dele, a profundidade de seu medo, e compreendeu. — Eu realmente compreendo. — Se compreendesse, exigiria o divórcio. Se realmente soubesse. — Ajax, você é um maldito covarde. — Porque quero protegê-la? — Porque quer se proteger! Sei por que, até esta noite eu estava fazendo a mesma coisa. Esta é a verdade, Ajax. Não tem medo do que pode sair, tem medo do que pode entrar. Sei que sua vida foi difícil. Sei que foi mais do que posso imaginar. E sei que você teve que se proteger. Ele lhe segurou os braços. — Acha que tenho medo? Que sou uma vítima? Que era eu encolhido no canto da cama chorando enquanto um canalha enlouquecido pelas drogas tentava me estuprar? Não. Não tente me transformar no que não era. No que não sou. — Foi uma coisa horrível, Ajax. Mas quando a garota pensa no passado, como acha que o vê? Como um monstro? Ou como seu salvador? Porque, se não tivesse sido você naquele quarto com ela, teria sido outro homem. E teria parado quando visse as lágrimas dela? Ou a teria forçado sem pensar duas vezes? Ele a teria deixado na fortaleza de seu pai e ela nunca mais veria a família. — Pare. — Ele lhe deu as costas. — Você precisa desta mentira, não precisa? Que está além da redenção porque isto lhe dá uma justificativa para se afastar do mundo e então não precisa admitir como está apavorado. — Isto não é mentira, Leah, é o que sou. Não pode amar isto. — Bateu no peito com o punho fechado. 72


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— Por que não? — Porque eu não amo! — rugiu. — Porque eu realmente me conheço. E desprezo tudo em mim. Mudei meu nome, deixei minha casa. Mas nada disto muda o que sou, quem sou. E você é uma idiota, Leah Holt, porque vou arrastá-la para o inferno comigo. Se tiver um cérebro, vai se vestir e sair por aquela porta. O coração dela se partiu. Porque agora via como ele se odiava e como estava ferido. — Não, não vou partir só porque é difícil. Não desistiria, não agora, não dele. — Isto é o mais fácil que será, agape. Não vai funcionar. — Não adianta Ajax. Não vai conseguir. Sou a única mulher que já o viu nu, e não quero dizer nudez física. Vejo você e acho que é isto que o apavora. — Devia apavorar você. — Sim, me amedronta um pouco. Mas apenas porque quero que me ame, Ajax. Quero que se abra e se arrisque. Quero que pare de se proteger, como eu fiz. Foi difícil demais vir aqui e lhe dizer que amo você. E quero que me ame também. — Não amo você. — Não. Não... Não diga isto. — Quer que eu minta para fazer você se sentir melhor? — Quero que diga a verdade. Porque não podia ser. Como podia lhe dizer que não a amava depois do que havia acontecido momentos antes? Aquele momento tão perfeito? Tinha que ser amor. — Não amo você. — Era final. — Certo. — Segurou as lágrimas. Queria bater nele. Gritar com ele. Esconder a dor. Mas não faria isto, não agora. Ele merecia ver como era quando se saía de trás das muralhas. Uma lágrima desceu e ela se deixou cair no sofá. Outra lágrima se seguiu. E outra. — Leah? Um soluço a sacudiu e ela cobriu o rosto com as duas mãos. Estava desprotegida pela primeira vez em anos. Desmanchando-se. — Leah. — Ela apenas balançou a cabeça. — Recuso-me a ser manipulado. Se você acha que lágrimas vão me fazer mudar de ideia. Ela abaixou as mãos. — Tenho mais orgulho do que isto. — É evidente que não tem. — Estou deixando você desconfortável? Mas é assim, Ajax, isto é o que pessoas fazem quando seus corações são partidos. — O tom de voz subiu, ela parecia histérica e não se importava. — Talvez seja por isto que não compreendo e não me importo. Não tenho coração. — Passou por ela, voltou ao quarto e saiu logo depois, vestido em jeans e camiseta. — Estou partindo. Porque acho que é teimosa demais para sair. — Devo esperar uma notícia do seu advogado? — Sim. — A Holt? — A última das minhas preocupações no momento. Doeu mais do que uma bofetada. Que ele deixasse tudo, o motivo por que haviam se casado, para se afastar dela. — E se estiver grávida? Porque nunca usamos preservativos. — Vamos pensar na custódia. Não vou deixar você desamparada. — Não poderia. Tenho uma empresa bem-sucedida. Tenho milhões de dólares. Nunca fui indefesa. Nunca precisei de você, apenas queria você. Apenas amo você. Mas não o quero agora, assim é melhor mesmo que se vá. 73


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Ele acenou; um músculo pulsando no queixo. Então se virou e saiu.

CAPÍTULO CATORZE

Era tudo o que podia a fazer, Ajax tinha certeza. Não tinha escolha. Amo você. As duas palavras mais aterrorizantes que Leah poderia lhe dizer. Porque significavam que esperava que lhe desse mais do que podia. Não, não mais do que podia, mais do que queria. Andou pelo quarto do hotel repassando aqueles últimos momentos com ela. Usando sua camisa, a barra mal lhe tocando o alto das coxas. O rosto coberto de lágrimas, a dor e a infelicidade nos olhos que via em seus pesadelos. Teria sido tão fácil mentir. Continuar a tomar dela. Salvar seu relacionamento com ela e com o pai, a única influência boa em sua vida quando era adolescente. Tivera que enfrentar aquilo no passado. Aquela garota que olhava para ele com tanta confiança. Uma linda menina de 16 anos que era, sim, gordinha e com os cabelos ondulados demais, mas ele sabia que ela tinha o potencial de se transformar em seu mundo. Na ocasião, não se permitira completar o pensamento. Não se permitira admitir o quanto ela significava para ele. Então voltara a atenção para outra pessoa mais segura. Sim, teria sido fácil mantê-la. Afastar-se, impedir que fosse ferida pelo monstro, tinha sido a parte difícil. A coisa certa. Porque não podia lhe dar o que ela precisava. Não tinha amor dentro de si, e podia apenas destruí-la. Mentiroso. As palavras dela se repetiam. Apavorado. Covarde. Ela havia se desnudado para ele, lhe dado tudo. E ainda se escondia. Não tem medo do que pode sair, tem medo do que pode entrar. E então se permitiu se lembrar, realmente lembrar, de sua última noite na casa do seu pai. Do terror da menina. Do próprio medo. Da forma como as drogas lhe nublaram a mente, como ficara doente depois. Do horror. Do conhecimento pavoroso do que seu pai fazia. Do que podia se tornar. De que havia bem e mal no mundo e que, se não fizesse alguma coisa logo, estaria do lado do mal. Numa única noite seu mundo desabara. Olhara para fora de si mesmo, para a realidade, e vira toda a dor, o abuso, todas as formas como uma pessoa podia ser destruída, corrompida e pervertida. E então se fechara para cada desejo, cada emoção, por medo de ter os errados. Tentara se livrar da sensação. Destruíra a organização do pai, mas não funcionara. Salvara o maldito mundo e não tinha sido capaz de se salvar. E assim construíra as muralhas, enterrara tudo e se desligara. E então viera Leah. Derrubara as muralhas com as mãos amarradas, literalmente. E não gostava. Queimava-o, parecia que sua pele tinha sido arrancada. E a carne, exposta. Andou até o bar e pegou uma garrafa de uísque. Caro, de alta qualidade. Mas aquilo não era importante, desde que afastasse a dor por apenas um momento. Lembrou-se do dia do casamento, de como ficara tentado a se afundar na bebida. Mas não conseguira. Olhou a garrafa por um momento, então pegou um copo e o encheu. Não encontraria respostas no fundo de um copo de uísque. Não encontraria esperança, nem mesmo um bálsamo para sua dor. Mas talvez encontrasse o esquecimento. Sorriu e ergueu o copo para a boca. Não havia doces suficientes no mundo para tornar seu dia menos amargo. E olhar para aquelas idiotas balas de cereja, como as que Ajax tomara de seu corpo, apenas a 74


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fazia querer chorar de novo. Ou jogar coisas e se sentar num canto com uma barra de chocolate. Ou 20. Odiava aquilo. Odiava ficar longe dele. Odiava como ele a tinha ferido. Odiava saber que quase tivera tudo e agora perdera. Era uma idiota. Devia ter se calado e mantido o casamento. Teria continuado a dormir com ele todas as noites e dito amo você o tempo todo apenas na mente. Não devia ter dito nada a ele. Não, não era verdade, sabia que tinha feito a coisa certa. Leah começou a abrir caixas de balas e a encher os grandes jarros de vidro da vitrine. Enquanto estivesse em Nova York, passaria algum tempo em sua loja principal. Trabalhar lá era terapêutico. Trabalhar com doces era terapêutico. Assim como comê-los. Menos aquelas balas de cereja. Então a imagem de Ajax lhe surgiu na mente e se sentiu oca por dentro, as lágrimas se formando. Haveria um dia em que não choraria por Ajax? Sim, haveria, é claro. Porque mágoas não doíam assim para sempre. Embora algumas jamais desaparecessem. E aquilo era mais do que mágoa, era como perder uma parte de si mesma. Assim, não, não choraria para sempre. Mas para sempre uma parte de seu coração estaria morta. Pegou a bolsa e o casaco e saiu para a tarde fria. E uma jornalista com um gravador avançou em direção a ela, acompanhada por dois homens, um segurando uma câmera e o outro, um microfone. Todas as suas inseguranças, todos os seus medos a tomaram e a mantiveram presa na calçada. — Sra. Holt, há boatos de que seu marido se hospedou num hotel na noite passada. Algum comentário? Problemas no paraíso? O que fará se o perder? Ela quase riu. Porque o havia perdido. E percebeu que nada mais a feriria tanto de novo. Ergueu a mão e indicou o edifício atrás. — Vou trabalhar. Porque sou a proprietária de uma cadeia de doces de muito sucesso. Sou uma empresária, uma mulher de negócios. Não sou apenas a outra herdeira Holt. Não sou apenas a noiva substituta de Ajax Kouros. Tenho minha própria identidade, meu próprio sucesso. Estava gritando agora. Anos de raiva reprimida contra todos os membros da imprensa que abusaram dela era despejados naquela única mulher. Mas não se importava. Sempre pensara assim, mas não tivera a coragem de dizer. Ajax lhe dera coragem, fizera-a acreditar que merecia mais. Que merecia sair da sombra da irmã e exigir respeito. — Não sou definida pelo meu nome de família ou como me comparo com minha irmã. Não sou definida pelo meu marido. Tenho um nome. Sou Leah Holt e não sou menos do que ninguém. Sou eu mesma. Ajax leu o noticiário no celular, deitado no piso do quarto de hotel, e adorou a manchete. Leah Holt Declara: Não sou definida por meu marido! Bom para ela. Riu e o som enviou uma onda de dor para a cabeça. O fundo do poço era de rocha e o deixara em pedaços sangrentos. Sua cabeça parecia prestes a estourar. Mas nada, nada se comparava à dor no coração. Leah estava certa, não passava de um covarde. Não fizera nada além de se esconder, de se proteger de qualquer dor em potencial, qualquer emoção, por tantos anos. Anos demais. Oh, aqueles olhos cor de uísque. Olhara para eles, mesmo quando era uma adolescente, e soubera que ela poderia destruí-lo. Que teria poder total sobre ele. Então se escondera. E ainda estava se escondendo. De ressaca e escondido. Não mais. Queria telefonar para Leah, mas não sabia o que dizer. Queria ligar para o pai dela, mas também não sabia o que dizer. Então, restava apenas um número. 75


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— Rachel. — Sabe onde está Leah? — Nem cumprimentou. — Sim. E, se você não sabe, acho que não devo lhe dizer. Especialmente com as manchetes de hoje. — Cometi um erro. — Você partiu o coração da minha irmã e não posso perdoá-lo, Jax. — Não quero o seu perdão, quero minha esposa de volta. — Tive que me afastar de você por motivos particulares. Parcialmente porque não queria me casar com um homem que me via apenas como uma conveniência. Se Leah quer mais do que isto, se quer amor, deixe-a partir. Deixe que tenha amor. — Eu a amo. — A voz era áspera, o corpo tremia. — Você a ama? — Mais do que qualquer coisa. Por favor. Preciso falar com ela. Pessoalmente. Tenho que implorar. Rastejar. Houve uma longa pausa. — Está bem, Jax. Vou ajudá-lo. Sempre houvera alguma coisa confortadora na propriedade Holt em Rodes. Desde o momento em que pisara lá, como um garoto emocionalmente destroçado, sentira-se bem. Agora, quando Ajax andou até a porta, percebeu o que era. Parecia sua casa. De uma forma que nenhum lugar parecera antes. Estranho que entendesse aquilo agora. E parecia tão óbvio. Como seus sentimentos por Leah. Não, não havia respostas no fundo de uma garrafa de bebida. Apenas uma dor de cabeça infernal. Mas, depois disto, quando a dor no peito não havia diminuído, quando as coisas apenas ficaram piores, ele percebeu que era tarde demais para se proteger. E que não queria mais se proteger, nem precisava. Apenas esperava que Leah estivesse mesmo lá. Que Rachel tivesse dito a verdade e que Joseph Holt não estivesse esperando por ele com intenções violentas. Esperava uma criada quando a porta se abriu, mas era Leah, a boca aberta de espanto, a pele pálida. Começou a fechar a porta e ele colocou o pé para impedir. — Não. Leah, por favor. — Meu pai não está em casa. — Não é por isto que estou aqui. — Minha irmã também não está em casa. — Não dou a mínima para onde sua irmã está e você sabe. Ela abriu a porta devagar. — Então, o que está fazendo aqui? — Acho que a verdadeira pergunta seria, por que não vim uma semana atrás? Ou, talvez, por que não estava aqui um ano atrás? Por que não foi o nosso casamento desde o começo? — Ergueu a mão para o rosto dela. — Por que não entendi que sempre foi você? — Por que. Por que. — Ou talvez eu tenha entendido. Acho que sim. Acho que todas as vezes que me deixou doces, eu sabia. Cada vez que a ouvia falar sobre seus sonhos, eu sabia. Mas você era demais para mim, então fugi. Garanti que não fosse você. Porque sabia que exigiria demais de mim. E estava certo. Você exigiu. Quis tudo de mim e me deixou sem defesas. Você tem razão, não é menos do que ninguém, Leah Holt. — Leu meu desabafo no jornal. — A voz tremia. — Li. E cada palavra é verdadeira. Você não é definida por mim, por quem é em relação a sua irmã. Você é linda. Como ninguém mais. É tão linda que é como olhar para o sol. E me queima. Ilumina minha alma. Queria me esconder da luz porque sabia que me exporia. Porque sabia que mostraria quem sou e como não poderia fazê-la fugir de mim? Todos os anos em que não se permitira sentir e querer desabou sobre ele agora. 76


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Ameaçaram sufocá-lo. Estava devastado. Por tudo. Pela enormidade do amor que sentia por aquela mulher diante dele, pela imensidão do anseio por fazer tudo dar certo. — Leah, antes de você eu estava acorrentado numa prisão onde eu mesmo me prendi para me sentir seguro. Mas uma prisão é sempre uma prisão, não importa se está lá por escolha. Você me libertou. Você me fez entender que tudo o que estava fora, tudo o que podia me ferir, valia a pena porque o bom supera a dor. Qual é a vantagem de viver sem dor se não posso sentir seus braços em torno de mim nunca mais? Que vantagem existe em estar seguro se nunca mais puder beijá-la? Que bem há em qualquer coisa se não tiver seu amor? — Ajax, você... Você disse que não me amava. — Porque sou tudo o que disse. Sou um covarde. Mas não serei mais. Estou livre do medo, agora existe apenas o amor. É tudo o que importa. Você é tudo o que importa. — Ajax. — Jogou os braços em torno dele e enterrou o rosto em seu pescoço, as lágrimas lhe molhando a pele. Ele a envolveu nos braços; segurou-a com força junto dele. Sua esposa. O amor de sua vida. — Pensei que sabia o que era amor, mas estava enganado. Chamei de amor uma coisa confortável, que eu podia controlar, mas, Leah, não era amor. Jamais conheci nada assim. Tão profundo. Tão real. — Também pensei que sabia. Mas só soube depois que o conheci. Quando descobri como você é forte e maravilhoso. Depois que soube sobre o inferno em que viveu e do qual escapou. — Danificado. Mas você... Você me renovou Leah, me fez sentir coisas de uma forma que não sabia que existia. Antes, era como olhar tudo envolvido na escuridão, mas agora, agora vejo. Agora compreendo. Pensei que sabia o que era o amor, pensei que me conhecia. Mas você me resgatou. Leah fechou os olhos com força e abraçou Ajax. E ele a abraçou também. Estava inteira agora. O pedaço perdido de seu coração estava de volta. — Oh, Ajax. Você também me resgatou; ajudou-me a me encontrar. — Fico tão contente porque, sem você, sem todas as coisas que me disse; sem você me amando quando não conseguia amar a mim mesmo, não estaria aqui agora. — Amo você. — Afastou a cabeça, empalmou-lhe o rosto e olhou dentro dos olhos dele, que agora brilhavam de emoção. Não mais vazios. — Agora me diga o que sente. — Amo você. — O olhar nunca deixou o dela. — Amo você agora e para sempre. — Então, tudo considerado. O que acha de continuarmos casados? — Fechou os olhos. — Oh, pedi você em casamento de novo. Preciso parar de fazer isto. Ele lhe segurou o queixo. — Não, não pare. Gosto de todas as suas propostas. — É? — É. — Então. Aceita? — Leah, eu não sou perfeito. — Eu sei querido. Ele riu, então ficou sério de novo. — Vou falhar com você. Vou cometer erros. Vou... Vou rosnar de vez em quando. Mas, mesmo então, eu a amarei. E, se puder aceitar o pouco que tenho a oferecer, então serei o homem mais feliz do mundo. Leah se estendeu nas pontas dos pés e o beijou com todo o coração. Quando se separaram, os dois respiravam com dificuldade. — Ajax, isto foi à coisa mais idiota que já ouvi. — O quê? A parte em que vou falhar com você? — Não, isto é honesto. Você é humano, afinal. A parte de ter pouco a oferecer. Ajax, 77


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seu amor não é pouco, é tudo. — Oh, Leah, estou tão feliz de você pensar assim. Sinto do mesmo jeito. Sem seu amor, ainda estaria acorrentado bem no fundo de mim mesmo. Sem você, nem mesmo estaria vivendo. Não de verdade. Seu amor uniu todas as peças quebradas e me deixou inteiro. E então Ajax Kouros, o homem de seus sonhos, olhou para ela de uma forma que superaram todas as suas mais loucas fantasias e a beijou. Beijou-a como passara tantas noites sonhando que a beijaria. E podia sentir seu beijo até a ponta dos dedos dos pés. Porque esta era a liberdade de estar exposta. Podia sentir tudo. E este era o homem de verdade, com todas as cicatrizes, todas as falhas. E mais apaixonado do que podia imaginar. — Tenho uma echarpe de seda no meu quarto. — Não preciso mais dela. — Quem falou que precisa? Tudo de que preciso é você. O resto é diversão. Ele sorriu; o mais sincero sorriso que já vira nele. — Diversão. Mais uma coisa que não tinha além do amor. Leah, eu tenho a sensação de que com você não vou ficar sem nenhum dos dois. — Isto é uma promessa.

EPÍLOGO

— É oficialmente hora de entrar em pânico. Leah saiu do banheiro, entrou no quarto na propriedade do pai em Rodes e se aproximou de Ajax, que esperava por ela sentado na cama. — Por quê? A noiva desapareceu de novo? — Rachel? Não, está pronta para andar pela aleia e se encontrar com Alex. Tinha se passado muito tempo desde o dia em que Rachel fugira do casamento que acabara sendo o dela e de Ajax. O melhor dia da vida de Leah. — Então, por que vamos entrar em pânico? — Bem, sei como gosta de planejar tudo. E sei que, depois que nos entendemos, decidimos esperar alguns anos antes de ter filhos. — E? — E, bem, isto não vai acontecer. Acabei de fazer um teste. Estou grávida. Ajax sorriu e o nó em seu estômago se desmanchou. Ele se levantou, abraçou-a, puxou-a para o peito e a beijou, com força, profundamente, com tudo o que tinha. Sem controle. Como sempre fazia. — Esta é a melhor das notícias, Leah. O melhor presente. — Mas, nossos planos. — Quem se importa com planos? O melhor dia da minha vida aconteceu porque todos os meus planos explodiram no meu rosto. Foi quando encontrei o amor. Quando encontrei você. Realmente encontrei você. — Muito obrigada por não ter um ataque. — Ergueu-se na ponta dos pés e o beijou de novo, então relaxou; a testa encostada no queixo dele. — Você sempre me surpreende. Nunca me canso disto. — É um alívio porque está preso a mim pelo resto da vida. — Sempre pensei que tinha que planejar cada passo. Que tinha que saber o que havia adiante, cada detalhe, ou me perderia. Mas agora sei uma coisa com certeza. Não me importo para onde meu caminho me leva. Não preciso saber o que há em cada 78


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esquina. Tudo o que preciso saber é que, no fim, estarei ao seu lado. — É uma promessa.

Fim

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