Promessa de Êxtase Raffaele: Taming His Tempestuous Virgin
Sandra Marton
Raffaele Orsini não quer uma esposa... No entanto, ao conhecer sua prometida, sua honra o compele a se casar. Ela não é o que ele esperava... mas suas roupas discretas não podem esconder seu corpo voluptuoso e feminino, tampouco seu temperamento selvagem! Chiara Cordiano não amará seu marido! Ela tentou de tudo para escapar a seu destino, mas, em um piscar de olhos, foi levada de sua pitoresca cidadezinha na Sicília para Nova York! Chiara quer odiá-lo, mas a sedução corre quente no sangue dos Orsini. Com seu corpo moreno, seu jeito soturno e sua tentadora masculinidade, Raffaele não hesitará em domá-la!
Digitalização: Silvia Revisão: Loretta
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton
Querida leitora, Chiara Cordiano jamais aceitaria um casamento arranjado por seu pai. O que a esperaria seria uma vida triste e miserável ao lado do filho de outro mafioso qualquer. Tudo que ela queria era escapar o quanto antes, e faria o que fosse necessário. Rafaelle Orsini, seu prometido, não era nada do que ela esperava, mas poderia representar sua última esperança. Filho americano de um antigo chefe da máfia, era rico por seus próprios méritos, lindo, sedutor... E, com a atração instantânea entre eles, talvez essa união pudesse dar certo, afinal... Equipe Editorial Harlequin Books
Tradução Diego Willrich HARLEQUIN BOOKS 2009 PUBLICADO SOB ACORDO COM HARLEQUIN ENTERPRISES II B.V./S.à.r.l. Todos os direitos reservados. Proibidos a reprodução, o armazenamento ou a transmissão, no todo ou em parte. Todos os personagens desta obra são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas é mera coincidência. Titulo original: RAFFAELE: TAMING HIS TEMPESTUOUS VIRGIN Copyright © 2009 by Sandra Myles Originalmente publicado em 2009 por Mills & Boon Modern Romance Arte-final de capa: Isabelle Paiva Editoração Eletrônica: ABREU'S SYSTEM Tel.: (55 XX 21) 2220-3654 / 2524-8037 Impressão: RR DONNELLEY TeL:(55XX 11)2148-3500 www.rrdonnelley.com.br Distribuição exclusiva para bancas de jornais e revistas de todo o Brasil: Fernando Chinaglia Distribuidora S/A Rua Teodoro da Silva, 907 Grajaú, Rio de Janeiro, RJ — 20563-900 Para solicitar edições antigas, entre em contato com o DISK BANCAS: (55 XX 11)2195-3186/2195-3185/2195-3182. Editora HR Ltda. Rua Argentina, 171,4° andar São Cristóvão, Rio de Janeiro, RJ — 20921 -380 Correspondência para: Caixa Postal 8516 Rio de Janeiro, RJ — 20220-971 Aos cuidados de Virginia Rivera virginia.rivera@harlequinbooks.com.br 2
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton
Capítulo 1
Raffaele Orsini se orgulhava de ser um homem sempre sob controle. Não havia dúvidas de que sua habilidade em separar a emoção da lógica era uma das razões que o fizera chegar tão longe na vida. Rafe poderia olhar para um banco de investimentos ou corporação financeira qualquer e ver não o que a empresa era, mas o que poderia vir a ser, com o devido tempo e dinheiro e, obviamente, com o experiente direcionamento que ele e seus irmãos poderiam oferecer. Eles tinham criado a Irmãos Orsini há apenas cinco anos, mas já obtinham um incrível sucesso no arriscado mundo das finanças internacionais. E sempre foram incrivelmente bem sucedidos com lindas mulheres. Os irmãos compartilhavam a beleza morena de sua mãe e o intelecto aguçado de seu pai, ambos imigrantes vindos da Sicília para os Estados Unidos décadas atrás. Diferentes de seu pai, haviam colocado seu talento em ambições dentro da legalidade, embora agindo sempre dentro de um perigoso limite que funcionava a seu favor tanto na cama quanto nas salas de reunião. Foi o que acontecera hoje, quando Rafe dera um lance mais alto que o de um príncipe saudita na compra de um respeitável banco francês que há tempos interessava aos Orsini. Dante, Falco, Nicolo e ele, haviam comemorado com drinques algumas horas atrás. Um dia perfeito, em vias de se tomar uma noite perfeita... Até este momento. Rafe saiu do saguão do prédio de sua amante, do prédio de sua ex-amante, pensou friamente. Pegou o táxi oferecido pelo porteiro e inspirou profundamente o fresco ar do outono. Precisava se acalmar. Talvez uma caminhada de Sutton Place até sua cobertura na Quinta Avenida ajudasse. Qual era o problema com as mulheres? Como elas podiam dizer algo no começo de um romance, mesmo tendo a maldita certeza de que não era o que queriam dizer? — Estou completamente dedicada a minha carreira — dissera Ingrid com seu sexy ronronar germânico após a primeira vez em que dormiram juntos — É preciso que você saiba, Rafe. Não estou nem um pouco interessada numa relação estável, então se você estiver... Ele? Numa relação estável? Ele ainda se lembrava de como havia gargalhado e a puxado para baixo de si. A mulher perfeita, ele pensara, ao recomeçar a fazer amor com ela. Linda. Sexy. Independente... Até parece. Seu celular tocou. Ele o sacou do bolso, conferiu o número na tela e o jogou novamente para dentro do paletó. Era Dante. A última coisa que queria era falar com um de seus irmãos. A imagem em sua mente ainda estava muito vivida. Ingrid, abrindo a porta. Ingrid, vestindo não algo justo e sofisticado para o *jantar per se, mas, ao invés disso, usando... O quê? Um avental? Não do tipo prático que a mãe dele usava, mas uma coisa toda feita de babados, renda e laços. Ingrid, não cheirando a Chanel, mas a frango assado. 3
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton — Surpresa — ela exclamou. — Eu faço o jantar hoje! Ela? Mas não tinha nenhuma habilidade doméstica. Ela lhe contara isso. Divertira-se ao revelar esse detalhe. Não esta noite. Esta noite ela passeara com seus dedos pelo peito dele e sussurrara: — Aposto que ignorava que eu sabia cozinhar, liebling. Exceto por liebling, ele já ouvira isso antes. O que fez seu sangue gelar. A cena seguinte fora extremamente previsível, em especial as estridentes reclamações dela de que era hora do relacionamento deles evoluir e ele explodindo: — Que relacionamento? Rafe ainda conseguia ouvir o som do que quer que ela houvesse jogado nele, batendo na porta enquanto ele saía. Seu celular tocou de novo. E de novo. Até que finalmente soltou um palavrão, puxou o maldito aparelho de seu bolso e o abriu. — O quê?! — gritou. — Boa noite para você também, mano. Rafe franziu a testa. Uma mulher indo em sua direção decidiu mudar de caminho. — Não estou com humor para brincadeiras, Dante. Entendeu? — Está bem — disse o irmão, animado. Silêncio. Então Dante pigarreou — Problemas com a "valquíria"? — Nenhum. — Bom. Porque eu odiaria jogar uma bomba em você se estiverem... — Jogar que bomba em mim? O irmão dele suspirou ao telefone: — Compromisso obrigatório, amanhã de manhã às 8h. O Velho quer nos ver. — Espero que você tenha dito a ele o que fazer com esse pedido. — Ei, sou só o mensageiro. Além disso, quem ligou foi a mama, não ele. — Inferno. Será que ele está novamente às portas da morte? Você disse a ela que ele é ruim demais para morrer? — Não — disse Dante sensatamente. — Você diria? Foi a vez de Rafe suspirar. Eles todos idolatravam a mãe e as irmãs, mesmo elas parecendo poder perdoar Cesare Orsini em tudo. Os filhos dele não podiam. Eles descobriram quem era seu pai anos atrás. — Maldição — disse Rafe. — Ele tem 65 anos, não 95. Ainda tem muitos anos pela frente. — Olhe, também não quero ouvir sermões sem fim sobre onde estão os bancos dele, ou qual a combinação do cofre e os nomes de seus advogados e contadores tanto quanto você. Mas você acha que eu diria isso à mama? Rafe franziu ainda mais a testa. — Certo. Oito horas da manhã. Encontro vocês lá. — Cara, seremos só você e eu. O Nick está indo para Londres hoje à noite, lembra? O Falco viaja para Atenas de manhã. — Maravilha. 4
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton Ele dormiu até mais tarde na manhã seguinte, tomou uma ducha rápida, não fez a barba, vestiu um suéter preto de algodão, um jeans desbotado e tênis, e chegou à casa de seus pais antes de Dante. Cesare e Sofia viviam no Greenwich Village. Meio século atrás, quando Cesare comprou a casa, a área era parte da Little Italy. Os tempos mudaram. As ruelas apertadas se tomaram elitizadas e chiques. Cesare também mudou. Deixou de ser um gângster de baixo escalão para se tomar primeiro um capo, o líder do sindicato, e então o chefe. Um don, embora no vernáculo siciliano o velho título italiano de respeito tenha um significado todo próprio. Cesare era dono de uma empresa privada de higienização e meia dúzia de outros negócios legalizados, mas sua verdadeira profissão era uma que ele nunca confirmaria para sua esposa, seus filhos e filhas. Rafe subiu os degraus da residência e tocou a campainha. Ele tinha a chave, mas nunca a usara. Este local não era sua casa há muitos anos; anos antes de deixá-la ele já não pensava mais naquela casa como seu lar. Sofia saudou-o como sempre fez, com um beijo em cada bochecha e um abraço, como se não o visse há meses em vez de apenas algumas semanas, então deu um passo para trás e o olhou criticamente. — corava.
Você não fez a barba esta manhã. Para sua decepção, Rafe sentiu que
— Me desculpe, mama. Queria ter certeza de que chegaria aqui a tempo. — Sente-se — ela ordenou, enquanto o conduzia a uma ampla cozinha. — Tome o café da manhã. Dante chegou alguns minutos depois. Sofia o beijou, disse que ele precisava de um corte de cabelo e o apontou a mesa. — Mangia — ordenou ela, e Dante, que não recebia ordens de ninguém, obedeceu como um cordeirinho. Houve um breve silêncio. Depois Dante disse: — Então, você e a "valquíria" terminaram? Rafe pensou em tudo que poderia dizer, de "Não" a "O que o faz pensar isto?" Ao invés disso, deu de ombros: — Ela disse que era hora de reavaliarmos nosso relacionamento. Dante teceu um comentário de uma só palavra, o que fez Rafe rir. Ele quase podia sentir seu mau humor se dissipar. — Eu tenho a cura para Reavaliação de Relacionamento — disse Dante. — É? — Tenho um encontro com a ruiva em meia hora. Quer que eu ligue pra ela e veja se tem uma amiga disponível? — Vou ficar sem mulheres por enquanto. — Certo, já ouvi isso antes. Bem, se você tem certeza... — Por outro lado, o que dizem mesmo sobre sacudir, levantar a poeira e dar a volta por cima? Dante riu. 5
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton — Ligo para você de novo em dez minutos. Errado. Ele ligou em cinco. A ruiva tinha uma amiga disponível. E ela adoraria conhecer Rafe Orsini. Bem, com os diabos, pensou Rafe presunçosamente ao chamar um táxi, que mulher não adoraria? Os irmãos estavam em seu segundo espresso quando o capo de Cesare, um homem que o servia há anos, apareceu. — Seu pai os verá agora. Os irmãos baixaram seus talheres, limparam os lábios com guardanapo e se levantaram. Fillipo balançou a cabeça. — Não, não juntos. Um de cada vez. Raffaele, você primeiro. Rafe e Dante se entreolharam. — É a prerrogativa de papas e reis — disse Rafe com um sorriso forçado. Suas palavras baixas o bastante para não chegarem aos ouvidos de Sofia, que mexia uma panela de molho no fogão. Dante deu um sorrisinho. — Divirta-se. — Claro. Com certeza será divertidíssimo. Cesare estava em seu estúdio, um escuro aposento escurecido ainda mais pela abundância de móveis pesados, paredes entupidas de pinturas melancólicas de Nossa Senhora e de santos e fotografias emolduradas de parentes desconhecidos do Velho Mundo. Cesare estava sentado por detrás de sua mesa de trabalho de mogno. — Feche a porta e espere lá fora — ele disse a Fillipo, e conduziu Rafe a uma cadeira. — Raffaele. — Pai. — Como você está? — Estou bem — Rafe respondeu, desinteressado — E você? Cesare balançou a mão de um lado ao outro. — Cosi cosa. Está tudo bem comigo. Rafe levantou as sobrancelhas. — Bem, aí está uma surpresa. — Ele bateu com as mãos nas coxas e se pôs de pé — Neste caso, já que você não está às portas da morte... — Sente-se. Os olhos azuis escuros de Rafe escureceram até quase se tomarem negros. — Eu não sou Fillipo. Não sou sua esposa. Não sou ninguém que receba ordens suas, pai. Não as recebo há muitos anos. — Não. Não desde o dia em que você se formou no ensino médio e me disse que tinha uma bolsa de estudos para uma universidade chique e me informou o que eu podia fazer com o dinheiro que havia guardado para suas mensalidades — disse Cesare 6
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton suavemente. — Você acha que eu havia esquecido? — A data está errada — disse Rafe, ainda mais friamente. — Não obedeço ordens suas desde que descobri como você ganhava a vida. — Tão metido a santo — zombou Cesare. — Você acha que sabe de tudo, meu filho, mas eu lhe prometo: qualquer homem pode penetrar na escuridão de uma paixão. — Não sei de que diabos você está falando e, para falar a verdade, não me importo. Adeus, pai. Mandarei Dante entrar. — Raffaele. Sente-se. Isto não irá demorar. Um músculo se contraiu na mandíbula de Rafe. Droga, por que não?, ele pensou. O que quer que seu pai lhe quisesse dizer desta vez poderia ser divertido. Ele sentou, esticou as longas pernas, cruzou-as na altura do tornozelo e cruzou os braços sobre o peito. — Bem? Cesare hesitou. Era algo notável de se ver. Rafe não conseguia se lembrar de já ter visto seu pai hesitar anteriormente. — É verdade — finalmente disse seu velho pai. — Não estou morrendo. Rafe deu uma risada de desdém. — O que queria discutir com você da última vez, eu não... eu, hã, não estava preparado para fazer, embora achasse que estava. — Um mistério — disse Rafe, seu tom deixando claro que nada do que seu pai diria lhe interessaria. Cesare ignorou o sarcasmo. — Como eu disse, não estou morrendo. — Outro momento de hesitação. — Mas morrerei algum dia. Ninguém sabe exatamente o momento, mas é possível como você sabe, que um homem em minha, hã, profissão possa às vezes encontrar seu fim de maneira inesperada. Outra primeira vez. Cesare nunca antes havia feito sequer um aceno de confissão de suas atividades ilegais. — Essa é sua não tão sutil maneira de me dizer que algo está para acontecer? Que mama, Anna e Isabella podem estar em perigo? Cesare riu. — Você tem visto filmes demais, Raffaele. Não. Nada está, como você disse, "para acontecer". Mesmo se estivesse, o código de nossa gente proíbe causar dano a membros da família. — Eles são sua gente — disse Rafe com força, — Não "nossa". E a honra entre chacais não me impressiona. — Quando chegar meu momento, sua mãe, suas irmãs, você e seus irmãos, todos serão bem cuidados. Sou um homem de posses. — Não quero nada do seu dinheiro. Nem meus irmãos. E somos mais do que capazes de cuidar bem da mama e de nossas irmãs. — Certo. Doe o dinheiro então. Será de vocês o que quiserem. Rafe concordou com a cabeça. 7
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton — Ótimo. — Ele começou novamente a se levantar da cadeira. — Imagino que esta conversa esteja... — Sente-se — disse Cesare e então acrescentou a única palavra que Rafe nunca o ouvira dizer: — Por favor. O chefe das famílias de Nova York debruçou-se à frente. — Não me envergonho da maneira pela qual vivi — disse com suavidade — Mas fiz algumas coisas que talvez não devesse ter feito. Você acredita em Deus, Raffaele? Não se importe em responder Já eu, não tenho certeza. Mas só um tolo ignoraria a possibilidade de que as ações de sua vida possam um dia afetar o destino de sua alma. Os lábios de Rafe se contorceram num sorriso frio. — É tarde demais para se preocupar com isto. — Há coisas que fiz em minha juventude... — Cesare pigarreou. — Coisas erradas. Coisas que não foram feitas para o bem da famiglia, mas pelo meu. Coisas egoístas e que me mancharam. — E o que isto tem a ver comigo? Os olhos de Cesare encontraram os de seu filho. — Estou lhe pedindo que me ajude a consertar uma dessas coisas. Rafe quase riu. De todos os pedidos bizarros... — Roubei algo de grande valor de um homem que me ajudou quando ninguém mais o faria — disse Cesare com a voz rouca. — Quero me reparar. — Envie um cheque para ele — disse Rafe com deliberada crueldade. O que tudo isso tinha a ver com ele? A alma de seu pai era problema pessoal. — Não é o bastante. — Faça um cheque bem gordo. Ou, diabos, faça-lhe uma oferta que ele não possa recusar — Rafe apertou os lábios. — Você é assim, não é? O homem que pode comprar ou intimidar qualquer um para conseguir qualquer coisa. — Raffaele. Como homem, como seu pai, suplico por sua ajuda. A súplica era surpreendente. Os olhos de seu pai queimavam com a culpa. O que custaria a ele entregar um cheque em mãos e oferecer um pedido de desculpas há muito em débito? Gostasse ou não, aquele homem havia dado vida a ele, a seus irmãos e irmãs. Ele os havia, a sua própria maneira, amado e cuidado. De forma um tanto distorcida ele os havia até ajudado a ser quem eram. Se ele havia finalmente criado uma consciência, mesmo de forma tardia, não seria uma coisa boa? — Raffaele? Rafe inspirou profundamente. — Certo. O.k. — ele disse rapidamente, pois sabia como seria fácil mudar de idéia. — O que quer que eu faça? — Tenho a sua palavra de que fará o que eu pedir? — Sim. Cesare concordou com a cabeça. — Você não se arrependerá, prometo. Dez minutos depois, após uma longa, complexa e ainda assim estranhamente 8
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton incompleta história, Rafe pulou de pé. — Você está louco? — gritou. — É um pedido simples, Raffaele. — Simples? — Rafe riu. — Esta é uma maldita maneira de descrever me pedir para ir até uma aldeia esquecida por Deus na Sicília e me casar com uma... uma camponesa sem nome nem educação formal! — Ela tem um nome. Chiara. Chiara Cordiano. E não é uma camponesa. Seu pai, Freddo Cordiano, possui um vinhedo. É dono de plantações de oliveiras. É um homem importante em San Giuseppe. Rafe se debruçou sobre a mesa de trabalho do pai, bateu com as mãos na superfície brilhante e polida do mogno e olhou furiosamente. — Não me casarei com esta. moça. Não me casarei com ninguém. Está claro? Seu pai o olhava fixamente. — O que está claro aqui é o valor da palavra de meu primogênito. Rafe agarrou o pai pela camisa e o puxou a seus pés. — Cuidado com o que me diz! — rosnou. Cesare sorriu. — Que temperamento irascível, meu filho. Por mais que queira negar, o sangue dos Orsini bate em suas veias. Lentamente, equilibradamente.
Rafe
soltou
a
camisa.
Levantou-se
e
inspirou
profunda
e
— Vivo de acordo com minha palavra, pai. Mas você a conseguiu com uma mentira. Disse que precisava de minha ajuda. — E preciso. E você disse que me ajudaria. Agora diz que não. — O pai arqueou as sobrancelhas — Qual de nós mentiu? Rafe deu um passo para trás. Em silêncio, contou até dez. Duas vezes. Finalmente, concordou com a cabeça. — Eu lhe dei minha palavra, então vou até a Sicília me encontrar com este Freddo Cordiano. Direi que você se arrepende do que quer que tenha feito a ele décadas atrás. Mas não me casarei com a filha dele. Estamos claros? Cesare deu de ombros. — Seja como você quiser, Raffaele. Não posso forçar sua obediência. — Não — disse Rafe com raiva. — Não pode. Ele saiu do aposento a passos largos, usando as portas de estilo francês que davam para o jardim. Não tinha nenhuma vontade de ver sua mãe, Dante ou qualquer outro. Casamento? De jeito nenhum, especialmente não ordenado, especialmente não se para estar de acordo com seu pai... especialmente não com uma moça nascida e criada em um local esquecido pelo tempo. Ele era muitas coisas, mas não louco. A mais de seis mil quilômetros dali, na fortaleza rochosa que o pai dela chamava de lar e que ela chamava de prisão, Chiara pulou de pé em descrença. 9
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton — Você fez o quê? — disse em italiano florentino perfeito — Você fez o quê? Freddo Cordiano cruzou os braços. — Quando falar comigo, faça-o na língua de seu povo. — Responda à pergunta, papa — disse Chiara, no dialeto grosseiro que seu pai preferia. — Eu disse que lhe encontrei um marido. — Isso é loucura. Você não pode me casar com um homem que nunca vi na vida. — Você se esquece de quem é — seu pai rosnou — Isso é o resultado de todas aquelas idéias bobas que lhe foram enfiadas na cabeça por aquelas governantas pomposas que sua mãe me fez contratar. Sou seu pai. Posso casar você com quem eu quiser. Chiara bateu com as mãos nas coxas. — O filho de um de seus camaradas? Um gângster americano? Não. Eu não me casarei com ele e você não pode me forçar a isto. Freddo deu um leve sorriso. — Você preferiria que eu a trancasse em seu quarto e a mantivesse lá até que ficasse velha e feia o bastante para que nenhum homem a quisesse? Ela sabia que a ameaça dele era vazia. Ele não a trancaria em seu quarto. Em vez disso, a manteria prisioneira naquele horrível vilarejo, naquelas ruelas antigas e estreitas de onde ela passou a maior parte de seus 24 anos rezando para poder deixar. Ela tentara deixá-las antes. Os homens de seu pai, educados porém implacáveis, a haviam trazido de volta. Eles fariam o mesmo novamente, ela nunca poderia se ver livre de uma vida que odiava. E ele certamente não a permitiria escapar do casamento para sempre. Ela era uma moeda de troca, um meio para a ampliação ou manutenção de seu vil império. Casamento. Chiara conteve um calafrio. Ela sabia como seria, como homens como seu pai tratavam suas mulheres, como ele tratara a mãe dela. Este homem, embora americano, não seria diferente. Ele seria frio. Cruel. Teria cheiro de alho, charutos e suor. Ela seria pouco mais que uma serviçal e de noite exigiria certas coisas dela em sua cama... Lágrimas de ódio brilharam nos olhos violáceos de Chiara. — Por que faz isso comigo? — Sei o que é o melhor para você. Por isso. Era uma piada. Ele nunca pensou nela. Este casamento era pelos próprios objetivos dele. Mas não aconteceria. Ela estava desesperada, mas não era louca. — Bem, já recobrou a razão? Está preparada para ser uma filha obediente e fazer o que lhe digo? — Prefiro morrer — disse ela. E, embora desejasse correr, forçou-se a sair de maneira calma e contida. Mas assim que alcançou a segurança de seu quarto e trancou a porta, gritou de raiva, pegou um vaso e o arremessou na parede. Vinte minutos mais tarde, mais calma, molhou o rosto com água gelada e foi procurar o único homem que amava. O homem que a amava. O único homem a quem poderia pedir ajuda. 10
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton — Bella mia — disse Enzo, quando ela o encontrou. — Qual é o problema? Chiara lhe contou. Os olhos escuros dele tomaram-se ainda mais negros. — Eu a salvarei, cara — disse ele. Chiara jogou-se em seus braços e rezou para que ele conseguisse.
Capítulo 2
Rafe decidiu não contar a ninguém para onde estava indo. Seus irmãos teriam rido ou uivado, e certamente não havia amigos com quem pudesse discutir as maquiavélicas intrigas de don Orsini e sua interpretação da honra siciliana. Honra entre ladrões, pensou Rafe de maneira sombria, enquanto seu avião pousava no Aeroporto Internacional de Palermo. Ele teve de pegar um voo comercial, pois Falco usara o avião dos Orsini para ir a Atenas. Mas mesmo sem o benefício de chegar com seu jato particular, ele passou rapidamente pelo Controle de Passaportes. O humor de Rafe era negro. A única coisa que reduzia seu humor ranzinza era saber que em apenas um dia deixaria para trás aquela ridícula tarefa. Talvez, ele pensou enquanto saía do terminal em direção ao calor do início de outono siciliano, talvez ele pudesse, em algumas semanas, pagar uma rodada de bebidas aos seus irmãos e, quando estivessem todos rindo e relaxados, ele diria: "Vocês nunca imaginariam onde estive mês passado." E lhes contaria a história. Toda ela, começando por sua reunião com Cesare. E eles concordariam com a cabeça quando lhes descrevesse quão gentilmente disse a Chiara Cordiano que lamentava, mas que não se casaria com ela. E sim, ele seria gentil, afinal de contas, não era culpa dela. Um peso pareceu ser removido de seus ombros. Certo. A situação poderia não ser tão ruim quanto imaginava. Diabos, aquele era um bom dia para um passeio de carro. Ele almoçaria em alguma pitoresca pequenina trattoria no caminho para San Giuseppe, telefonaria a Freddo Cordiano e lhe diria que estava a caminho. Ao chegar, cumprimentaria a retorcida mão do velho, diria algo educado à filha dele e estaria de volta a Palermo à noite. Sua agente de viagens lhe reservara um hotel que anteriormente fora um palácio. Disse-lhe que era elegante. Ele tomaria um drinque, a seguir um jantar na sacada de sua suíte. Ou talvez fizesse uma parada no bar. As italianas estavam entre as mulheres mais lindas do mundo. Bem, não a que ele estava indo conhecer, mas à noite ela já seria passado. Na hora em que chegou ao balcão da locadora de veículos, Rafe sorria. Mas não por muito tempo. Ele havia reservado um utilitário esportivo, um SUV, ou seu equivalente italiano. Em geral não gostava destes automóveis. Preferia carros mais baixos e rápidos como o Corvette que tinha em casa. Mas ele havia checado no mapa e San Giuseppe era um lugar alto nas montanhas. A estrada para lá parecia mais ser uma trilha para cabras do 11
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton que qualquer outra coisa, então ele decidiu pela tração de um SUV. O que esperava por ele na vaga não era um SUV. Era sim o tipo específico de carro que ele realmente desprezava. Aquela grande monstruosidade americana, um modelo há muito da preferência de seu pai e amigos. Um Mobster Special, um carro de gângster. A balconista deu de ombros e disse que deveria ser um erro de comunicação mas, scusi, era tudo que tinha disponível. Perfeito, pensou Rafe ao sentar ao volante. Um filho de gângster, em uma tarefa de gângster, dirigindo um carro de gângster. Só lhe faltava um charuto gordo entre os dentes. Era o fim do bom humor. E as coisas não ficaram melhores após isso. Ele fora muito generoso ao chamar de trilha de cabras àquela faixa de terra esburacada, com o escarpado da montanha de um lado e um vertiginoso desfiladeiro em direção ao vale do outro. Aquilo estava mais para um desastre anunciado. Dezesseis quilômetros. Trinta. Cinqüenta, e ele ainda não vira outro carro. Não que estivesse reclamando. Não havia espaço para dois carros. Não havia sequer espaço para... Alguma coisa negra pulou do meio das árvores para o meio da estrada. Rafe xingou e pisou no freio. Os pneus lutaram para manter a aderência, o carrão deslizando de um lado a outro. Ele precisou de toda sua habilidade para freá-lo. Quando finalmente conseguiu, o capô estava a milímetros do vazio que se estendia por sobre o vale. Ele ficou absolutamente imóvel. Suas mãos, agarradas ao volante, tremiam. Ele podia ouvir o leve tiquetaquear da ventoinha de resfriamento e a batida de seu próprio coração. Gradualmente, o barulho da ventoinha diminuiu. Seu coração desacelerou. Ele puxava ar para os pulmões. O.k. A coisa a se fazer agora era dar ré, com bastante cuidado... Alguma coisa bateu na porta do carro. Rafe se virou em direção à janela semiaberta. Lá estava um cara obviamente fantasiado para um Halloween antes da época. Camisa negra. Calça negra. Botas negras. E um antigo e negro revólver de cano longo, apontado diretamente para a cabeça de Rafe. Ele ouvira histórias de bandidos de estrada da Sicília e rira delas, mas somente um idiota riria desta situação. O homem deu uma sacudidela com o revólver. O que significava? Sair do carro? Droga, não. Rafe não faria isto. O revólver sacudiu de novo. Ou estava tremendo? O cara estava tremendo? Sim, ele estava. E isso não era bom. Um ladrão nervoso e armado... Um ladrão nervoso, de cabelos brancos e escassos e olhos remelentos. E manchas de idade na mão que segurava o revólver. Que maravilha. Ele seria assaltado e morto pelo avô de alguém. Rafe pigarreou. — Calma, vovô — disse, mesmo sendo ínfimas as chances de que o velhinho entendesse uma palavra de inglês. Ele ergueu as mãos, mostrou que estavam vazias, e 12
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton lentamente abriu a porta. O bandido chegou para o lado e Rafe saiu, cuidadosamente contornando a beirada da estrada e o desfiladeiro além dela. — Você fala inglês? — Nada. Ele buscou no fundo de sua memória — Voi, hã, voi parlate inglese! — Certo, olhe, vou tirar minha carteira do bolso e dá-la a você. Daí voltarei para o carro e... O revólver fez um arco no ar. Rafe tentou não piscar quando ele passou na frente de seu rosto. — Cuidado, vovô, ou esta coisa periga disparar. O.k., aqui vai minha carteira... — Não! A voz do velho tremeu. Voz tremida. Mão tremida. Isto estava ficando cada vez melhor. Seria uma história ainda melhor que a que planejara contar a seus irmãos, isso se vivesse o bastante para contá-la. — Caiofuora! Caiofuora? O que isso queria dizer? O nome do velho, talvez. Mas não parecia uma palavra italiana ou siciliana. O velho cutucou o abdômen de Rafe com o cano da pistola. Rafe cerrou os olhos. Outro cutucão. Outro rouco "Caiofuora" e, droga, agora já era o bastante. Rafe segurou o revólver pelo cano, sacou-o dos dedos tremidos do bandido e o jogou no abismo. — O.k. — disse, avançando sobre o velho. — O.k., agora cheg... uhn! Alguma coisa o atingiu, forte, por trás. Era um segundo ladrão, envolvendo seus braços no pescoço de Rafe e montando em suas costas. Rafe pegou seu atacante pelos braços e lhe deu uma gravata que soltou-o de si, o ladrão rosnou, lutou, mas era um peso leve, e Rafe o contornou e o prendeu pelos pulsos com suas mãos... Maldição, aquele ali era apenas uma criança. Não apenas peso leve, mas peso mosca. O menino também se vestia todo de preto, desta vez com um velho chapéu de feltro de abas largas que escondia seu rosto. Era um peso mosca, mas era um lutador. O menino o atacava de todos os lados, chutando, tentando unhá-lo, diabos, tentando mordê-lo! Rafe jogou o rapaz a seus pés. — Pare — gritou. O menino resmungou alguma coisa incompreensível em resposta, ergueu um joelho e mirou no meio das pernas dele. Rafe girou e se afastou. — Você é surdo menino? Eu disse pare! Evidentemente, pare não se traduzia bem, pois o menino não parou. Ele partiu para cima de Rafe, o velho juntando-se à briga e golpeando-o com o que parecia ser um pequeno galho de árvore. — Ei — disse Rafe, indignado. Não era assim que as coisas deveriam ocorrer. Ele era o cara durão ali, e caras durões não levam surras de meninos e velhos. Ele sabia perfeitamente bem que poderia encerrar aquele ataque, apenas alguns bons golpes resolveriam, mas só a imagem de bater no matusalém e em um delinqüente juvenil já lhe parecia repulsiva. — Olhe — disse com sensatez —, vamos resolver isto. Vovô, abaixe o pau. E você, menino, vou soltar você e... Péssima decisão. O menino mirou com o joelho novamente. E desta vez acertou 13
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton Rafe naquele lugar com uma precisão devastadora. Rafe, gemendo de dor, preparou seu punho e acertou um cruzado de direita no maxilar do menino. Devia ter sido um bom golpe, pois o menino caiu nocauteado. Ainda tentando respirar, Rafe se voltou para o velho. — Me escute — disse, respirando com dificuldade... O galho de árvore o acertou na nuca. E Rafe caiu ao lado do menino. Ele despertou lentamente. Ah, Deus, sua cabeça doía. O matusalém lhe acertara a cabeça, o menino tinha lhe dado uma joelhada. Ele havia sido total e completamente humilhado. Será que o dia poderia piorar? O velho estava sentado na estrada, segurando o menino em seus braços, o balançando, falando com ele em um siciliano rápido e aparentemente aflito. Ele sequer olhou para cima enquanto Rafe dolorosamente se punha de pé. — O.k. — ele disse irritado, — O.k., velho. Levante-se. Está me ouvindo? Deixe o menino e levante-se. — O velho o ignorou. Rafe abaixou-se e agarrou o longo e fino braço do velho — Eu disse, levante-se! — Caiofuora! — gritou o velho. E, de repente, as palavras fizeram sentido. O que ele estava dizendo era caia fora. Bem, diabos, ele certamente obedeceria. Mas primeiro tinha de se certificar que o menino estava bem. Evitar que esta dupla incomum o roubasse era uma coisa, matá-los era outra totalmente diferente. Rafe empurrou o bandido para o lado e foi em direção ao menino desmaiado, levantou-o com o antebraço. O menino gemeu, seu chapéu caiu e... E o menino não era realmente um menino. Ele era... ela era uma menina. Não. Não uma menina. Uma mulher de rosto oval, pálido e uma sedosa e longa cabeleira negra. Ele havia nocauteado uma mulher. E tinha imaginado se o dia poderia piorar... Cuidadosamente ele a pegou em seus braços, ignorou o velho que puxava sua manga e a carregou para o lado da estrada que dava para a montanha. A cabeça da jovem pendeu para trás. Ele podia ver-lhe o pulso batendo rápido nas delicadas fendas do pescoço. O ângulo em que o corpo dela estava fazia com que os seios pressionassem a grossa lã de seu blusão. Ele a sentou sobre a encosta coberta de capim. Ela ainda estava inconsciente. E era também incrivelmente linda. Somente um canalha notaria isso num momento daqueles, mas somente um tolo não notaria. Seu cabelo não era apenas escuro, era da cor de uma noite sem nuvens. Suas sobrancelhas eram delicadas asas sobre os olhos fechados, seus cílios sombras negras contra maçãs de rosto angulosas. Seu nariz era reto e fino sobre uma boca rosada. Rafe sentiu um movimento de desejo no baixo ventre. Isso não era incrível? Desejo por uma mulher que tentou emasculá-lo, que serviu de ajudante para um velho armado de revólver.. E que agora se prostrava indefesa ante ele. Droga, pensou e a segurou pelos ombros, sacudindo-a. 14
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton — Acorde — disse com força. — Vamos, abra os olhos. Os cílios dela tremeram e então se ergueram lentamente, e ele percebeu que os olhos dela mais que se igualavam ao resto de seu rosto. A íris não era azul, mas da cor de violetas em flor. Seus lábios estavam entreabertos. A ponta de sua língua, delicada e rosa, cruzou por sua boca. Desta vez, o desejo que se movia em sua virilha o fez se apoiar nos calcanhares. Só isto era preciso? Estar em solo siciliano era o que bastava para revertê-lo aos instintos bárbaros de seus ancestrais? A clareza retomava aos olhos dela. Ela pôs a mão no maxilar, teve um sobressalto e o fitou com um olhar cheio de ódio. Aqueles suaves lábios rosados revelaram pequenos e perfeitos dentes brancos. — Stronzo — ela resmungou. Era uma palavra que qualquer menino que houvesse crescido em uma casa onde adultos falassem italiano com freqüência certamente entenderia, e isso o fez dar uma risada. Grande erro. Ela se sentou, repetiu a palavra e tentou golpeá-lo no maxilar. Ele se desviou sem esforço e ela tentou novamente. Ele prendeu as mãos dela nas suas. — Esta é uma péssima idéia, baby. Ela sibilou com os dentes e lançou um olhar ao velho por sobre o ombro de Rafe. Rafe balançou a cabeça. — Outra péssima idéia. Se você mandá-lo chegar perto, ele sairá machucado. — O desprezo era visível nos olhos dela. — Tá, eu sei. Você deduziu que ele me acertou na primeira vez mas, olhe, é o seguinte. Eu não me deixo acertar uma segunda vez. Está entendendo? Uma seqüência de palavras voou dos seus lábios. Rafe entendeu algumas, mas não era necessário um diploma de italiano para compreender o significado. O olhar dela lhe disse tudo que ele precisava saber. — Certo, também não sou seu fã. Esta é a maneira como você e o vovô aqui recebem as visitas? Vocês os assaltam? Seqüestram seus carros? Talvez os joguem abismo abaixo? A boca da jovem se apertou, quase como se houvesse entendido o que ele disse, mas é claro que não. Não que isto importasse. A questão era, o que ele faria com aquela dupla? Deixá-los aqui era seu primeiro instinto, mas... será que ele não deveria avisar as autoridades? Sim, mas ele havia ouvido histórias sobre a Sicília e seus tiras. Talvez esta dupla fosse o equivalente italiano de Robin Hood e João Pequeno... salvo que neste caso João Pequeno era, na verdade, a donzela Marian. A mulher tinha uma leve marca no maxilar, no lugar onde ele a havia acertado. Ele nunca batera em uma mulher na vida, e aquilo o perturbava. Talvez ela pudesse precisar de cuidados médicos. Ele não achava que fosse o caso, não pela forma como ela estava agindo, mas sentiu-se um pouco responsável por ela, mesmo tendo feito o que fez apenas para se proteger. Ele podia se ver dizendo ao juiz local: "Veja bem, meritíssimo, ela me atacou. E eu a acertei em legítima defesa." Era a verdade absoluta, mas isso só levaria os nativos às risadas. Ele tinha l,92m de altura, pesava mais de l00kg. E ela tinha... o quê? l,70m? E provavelmente pesava uns 54kg a menos que ele. O.k. Ele levaria a dupla para casa. Talvez o que acontecera lhes servisse de lição. Rafe pigarreou. 15
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton — Onde você e o vovô moram? Ela o encarou, com o queixo levantado em tom de desafio. — Hã, dove è... dove è sua casa? Sua casa? A mulher sacudiu a mão para se soltar. Olhou fixamente para ele. Ele olhou-a fixamente de volta. — Estou disposto a levar você e o vovô para casa. Está entendendo? Sem tiras. Sem apresentar queixa. Só não desafie a própria sorte. Ela riu. Era aquele tipo de risada que fez com que Rafe cerrasse os olhos. Quem diabos ela pensava que era? E do que achava que podia rir? Ela o atacara, sim, mas fora ela quem perdera a luta. Agora ela estava lá, no meio do nada, a mercê de um homem o dobro de seu tamanho. Um homem que estava irritado como o diabo. Ele não precisaria de sequer um segundo para mostrar a ela quem estava no comando, mostrar que ela estava a sua mercê, que ele precisaria apenas segurar firmemente aquele perfeito e lindo rosto com suas mãos, colocar a boca contra a dela, e ela pararia de olhar para ele com tamanho desprezo, tamanha frieza, tanta raiva. Um beijo, apenas um, e a boca da moça suavizaria. A rigidez de seus músculos daria lugar a uma sedosa submissão. Seus lábios se entreabririam, ela envolveria seus braços ao redor do seu pescoço e sussurraria para ele. E ele entenderia o sussurro, pois um homem e uma mulher não precisam falar a mesma língua para conhecer o desejo, para transformar a raiva em algo mais quente e selvagem... Rafe pulou em pé. — Levante-se — rosnou. Ela não se mexeu. Ele fez um gesto com a mão. — Eu disse, levante-se. E você, velho, entre na parte de trás do carro. O velho não se mexeu. Ninguém se mexeu. Rafe se inclinou para a mulher. — Ele é velho — disse calmamente —, e realmente não desejo ser violento com ele. Então por que você não pode apenas dizer a ele para fazer o que mandei? Ela o entendeu. Ele podia ver em seu rosto. Rafe deu de ombros. — O.k., façamos do pior jeito. Os olhos violáceos brilharam. Ela se levantou, balbuciou uma série de palavras e o velho concordou com a cabeça, foi até o carro e subiu na parte de trás. Rafe apontou o dedo para o carro. — Agora você. Uma última olhada raivosa. Então ela se virou, marchou em direção ao carro e começou a subir ao lado do velho. — O assento de passageiro. — Rafe estalou os dedos. — Na frente. Ela disse algo. Algo que mulheres não diziam, mesmo as meninas de rua da infância dele. — É anatomicamente impossível — ele respondeu friamente. O rosto dela corou. Bom. Ela de fato entendia inglês, ao menos um pouco. Isto facilitaria as coisas. Ela entrou no carro. Ele bateu a porta após ela, deu a volta em direção ao lado do motorista e pôs-se atrás do volante. — Você mora quantos quilômetros montanha acima? Ela cruzou os braços. Rafe rangeu os dentes, ligou o carro, afastou-se cuidadosamente do desfiladeiro íngreme e continuou a subir a estrada em silêncio. Minutos e quilômetros se passaram. E 16
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton quando ele já quase havia perdido a esperança de reencontrar a civilização, um vilarejo surgiu. Uma placa de madeira aparentando estar lá desde o início dos tempos anunciava o nome do locai. San Giuseppe. Ele parou o carro e vislumbrou pela primeira vez a Sicília de seu pai. Rafe engrenou a marcha. A mulher ao seu lado balançou a cabeça e foi em direção à porta. — Você quer sair? Ela levantou o queixo de maneira arrogante, o que deixou à vista a ferida que ele lhe produzira. A culpa o torturou e ele inspirou profundamente. — Ouça — disse. — Sobre seu maxilar... Outro lampejo daqueles olhos violáceos quando ela se virou para ele. — É, eu sei. Acredite-me, o sentimento é mútuo. Tudo que estou tentando dizer é que você devia colocar um pouco de gelo neste machucado. Vai diminuir o inchaço. E tome uma aspirina. Você sabe o que é aspirina? As-pi-ri-na — ele disse, sabendo o quão imbecil deve ter parecido, mas não conhecendo nenhuma outra maneira de transmitir a mensagem. De repente, ela deu uma ordem. O velho respondeu. Seu tom sugeria que ele protestava, mas ela repetiu a ordem. Ele suspirou, abriu a porta do carro e desceu. Rafe segurou-a pelo ombro enquanto ela se movia para seguir o velho. — Você entendeu o que eu disse? Gelo. E aspirina. E... — Entendi cada palavra — ela disse friamente. — Agora veja se você entende signor. Caia fora. Está me ouvindo? Caia fora, como Enzo lhe disse para fazer. Rafe a encarou. — Você fala inglês? — Falo inglês. E italiano. E o dialeto siciliano. Você obviamente não. — Aqueles olhos deslumbrantes cerraram-se até que apenas um talho de cor aparecesse. — Você não é bem-vindo aqui. E se você não sair por conta própria, Enzo fará com que você saia. — Enzo? Quer dizer o vovô? — Rafe riu. — Isto é que chamo de ameaça, baby. — Ele é mais homem do que você jamais será. — É mesmo? — disse Rafe, sua voz ficando mais grave e perigosa. E, sem pensar, ele pegou-a pelos ombros e a levantou por sobre o painel, em direção a seu colo. Ela lutou, golpeou-o com os punhos, mas ele estava preparado. Pegou-lhe as duas mãos com apenas uma das dele, passou a outra mão pelo cabelo dela, inclinou-lhe a cabeça para trás e beijou-a. Beijou-a como havia imaginado beijá-la, lá atrás na estrada. Ela lutou, mas sem resultado. Ele fervia de fúria e humilhação... Fervia com a sensação de tê-la contra seu corpo. A boca macia contra a sua. Os seios, tentadores, contra a dureza de seu próprio tórax. As nádegas arredondadas se acomodando em seu colo. O corpo dele reagiu quase imediatamente, seu sexo inchando de tal forma que teve certeza de que nunca o sentira tão grande ou pulsando com tamanha urgência. Ela sentiu isso acontecer, como poderia não haver sentido? Ele a ouviu emitir um gritinho de choque, sentiu o murmúrio contra sua boca. Os lábios dela estavam abertos e tentava mordê-lo, mas ele voltou a tentativa contra ela, usando isto como oportunidade para beijá17
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton la mais fundo, para colocar sua língua mais dentro do sedoso calor da boca dela. Ela arfou novamente, fez um pequeno som de aflição... E então algo aconteceu. A boca dela suavizou-se contra a dele. Adoçou-se. Tornou-se quente e desejosa, e o fato de saber que poderia tê-la aqui, agora, fez com que o corpo dele, já duro, se tornasse como de pedra. Soltou-lhe os pulsos, colocou a mão sob o blusão que ela usava e segurou o delicado peso do seio... Os dentes dela se afundaram em seu lábio. Rafe jogou-se para trás e pôs a mão na pequena ferida. Seu dedo saiu portando uma gota rubra. — Porco — ela disse, com a voz tremendo. — Isto não se faz, porco sujo! Ele a encarou, viu os olhos chocados, a boca tremendo, e recordou-se de seu pai lhe dizendo que qualquer homem pode penetrar na escuridão de uma paixão avassaladora. — Ouça — ele disse. — Ouça, eu não quis... Ela abriu a porta e disparou para fora do carro, mas não sem antes lhe lançar uma série de impropérios sicilianos. Diabos, ele pensou, tirando o lenço do bolso e o passando contra os lábios. Talvez ele merecesse aquelas palavras.
Capítulo 3
Estaria o americano indo atrás dela? Chiara corria cegamente em direção ao beco estreito que conduzia a uma há muito esquecida entrada para o Castello Cordiano. Ela seguia suas reviravoltas, que subiam de maneira íngreme em direção ao topo da montanha. Ninguém sabia da existência daquela passagem. Ela a descobrira quando criança, escondida no armário do quarto de crianças com sua boneca preferida, para fugir da crueldade de seu pai e da religiosidade de sua mãe. Tinha sido sua rota para a liberdade desde então, além do prazer adicional de fazer de bobos os homens de seu pai, quando parecia sumir por debaixo de seus narizes. O beco terminava em um campo de arbustos e rocha escarpada. Uma grossa vegetação de arbustos e hera escondia a centenária porta de madeira que levava ao castelo. Ofegante, com a mão no coração, Chiara recostou-se sobre a porta e lutou para recuperar o fôlego. Ela esperou, então espreitou por uma fenda na folhagem intrincada. Grazie Dio! O americano não a havia seguido. Agir como o bruto que era devia ter sido o bastante para ele. Não havia surpresas ali. Ela sempre soubera como o mundo funcionava. Homens eram deuses. As mulheres suas empregadas. O americano cometera o deslize para recordá-la daquelas verdades da maneira mais crua possível. Chiara tomou um longo e equilibrante fôlego, abriu a pesada porta e a cruzou. Seu 18
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton coração não voltou ao batimento normal até que estivesse segura dentro do quarto e a porta fechada atrás dela. Que desastre fora aquele dia! Sim, ela havia se afastado do castelo como nunca antes, mas e daí? O plano de assustar o americano e o mandar correndo de volta havia sido um miserável fracasso. Pior que um fracasso pois, ao invés de assustá-lo, ela o havia enfurecido. Irritar um homem daqueles nunca era uma boa idéia. Chiara tocou seus lábios com a ponta do dedo. O sangue dele estava nela? Não, mas ela ainda conseguia sentir a marca da sua boca, ainda sentia seu gosto. A carne quente e firme. A rapidez de sua língua. A aterrorizante sensação de invasão... E então, sem nenhum aviso, aquela sensação no seu baixo ventre. Como se algo estivesse lentamente pulsando no mais fundo de si. Ela piscou e puxou ar para dentro dos pulmões. Não adiantava pensar sobre o ocorrido. O que importava era o que aconteceria a seguir. Ela havia subestimado terrivelmente o americano. Ele era muito alto. De físico muito esguio. Mas era mais que o visual que o separava daqueles homens que conhecia. Era... O quê? Suas roupas? O temo cinza, risca de giz que fora certamente feito sob medida? O Rolex de ouro que havia visto de relance em seu pulso bronzeado e peludo? Talvez seu ar de sofisticação. Ou sua autoconfiança. Autoconfiança presunçosa, mesmo enquanto Enzo lhe apontara o revólver. Mesmo quando ela se lançara em suas costas. Mesmo quando cravara os dentes em seus lábios para encerrar aquela vil demonstração de dominação masculina do tipo eu-estou-nocomando-aqui. Aquele beijo quente e possessivo. Chiara se afastou da porta. Ela deveria trabalhar rápido. Dio, se o seu pai a visse agora... Ela quase riu ao se despir daquele traje negro e camisa branca sem colarinho que Enzo encontrara para ela. Pensar sobre Enzo era o bastante para que parasse de rir. Que humilhação ele sofrera hoje. E se o pai descobrisse algum dia o que ele havia feito... O velho era seu mais querido amigo. Seu único amigo. Fora motorista de seu pai quando ela era pequena e fora sempre gentil, mais gentil do que qualquer um, mesmo sua mãe. Mas sua mãe não havia sido feita para este mundo. Chiara tinha apenas vagas recordações dela, uma esguia figura de negro, sempre ajoelhada na velha capela ou sentada em uma poltrona debruçada sobre sua Bíblia, nunca falando, nem mesmo com Chiara, exceto para lhe sussurrar avisos a respeito do que a vida lhe guardava. Sobre os homens e tudo que eles queriam. — Homens são animais, mia figlia — ela lhe sussurrara. — Só querem duas coisas. Poder sobre os outros. E executar atos de depravação sobre o corpo de uma mulher. Chiara chutou a roupa delatora para o fundo de seu armário, então correu para o banheiro antigo e girou as torneiras da banheira. O que sua mãe lhe dissera era a verdade. Seu pai controlava seus homens e seu vilarejo com mão de ferro. Em relação ao resto... ela já ouvira acidentalmente as piadas sujas dos homens de seu pai. Sentira os olhos deles deslizando sobre ela. Um em particular olhava para ela de um jeito que a nauseava. Giglio, o braço direito de seu pai. Ele era uma enorme bolha de carne. Tinha lábios vermelhos e úmidos e seu rosto estava sempre suando. Mas eram os olhos dele que a faziam tremer. Eram olhos pequenos, próximos um do outro. Cheios de malícia, como os 19
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton olhos de um javali que certa vez confrontara-se com ela na montanha. Giglio passara a vigiá-la com uma audácia assustadora. Certo dia, ao cruzar com ela, a mão dele encostara de leve nas suas nádegas e ele pareceu mantê-la lá demoradamente, de propósito. Ela arfara de susto e recuara. Seu pai estava no recinto. Será que ele não vira o que havia ocorrido? Por que ele não reagira? Chiara livrou-se desta recordação ao afundar-se na banheira de água quente. Ela tinha coisas mais importantes com que se preocupar agora. Enzo e ela tinham falhado. O americano manteria o compromisso marcado com o pai dela. A questão era, será que ele a reconheceria? Enzo poderia se manter longe dele, mas ela não. Afinal, ela era a razão pela qual o americano estava lá. Ela estava numa vitrine. À venda, como uma cabra premiada. Tudo o que podia fazer era rezar para que ele não a reconhecesse. Era possível, não? Ela estaria usando um vestido, seu cabelo preso para trás no coque usual, ela falaria de maneira suave, se comportaria com discrição e manteria os olhos no chão. Ela se manteria o mais invisível possível. E mesmo se ele a reconhecesse, ela poderia rezar para que ele não a quisesse, mesmo que fosse uma honra para ele desposar a filha de don Freddo Cordiano. Um homem como aquele certamente recusaria tal honra. Por que tê-la quando ele poderia escolher suas próprias mulheres? Embora considerasse repugnante toda aquela visível masculinidade, ela sabia que havia quem se fascinasse por aquele rosto áspero, por aqueles penetrantes olhos azuis, por aquele duro e forte corpo. Aquele momento, quando ele a puxara para seu colo, quando ela o sentira por baixo de si. A recordação a fez tremer. Ela nunca havia imaginado... Ela sabia que o órgão sexual masculino tinha aquela capacidade. Não era ignorante a este respeito. Mas aquela parte dele parecia ser enorme. Certamente um corpo feminino não podia acomodar algo daquele tamanho... Uma batida soou à porta. Chiara se endireitou na banheira. — Sí? — Signorina, per favore, il vosíro padre chiede che lo unite nella biblioteca. Chiara ficou imobilizada. Seu pai a queria ver na biblioteca. Estaria ele sozinho ou o americano teria chegado? — Maria? È solo il mio padre? — No, signorina. Ci è un uomo con lui. Uno americano. Ed anche il suo capo, naturalmente. Oh, Deus. Chiara fechou os olhos. Não apenas o americano. Giglio estava lá também. Será que o dia poderia ficar pior? Será que o dia poderia ficar pior? Rafe sentiu um músculo pular em sua bochecha. Para que se preocupar em imaginar isto? O dia já havia piorado. Ele tinha um não solicitado cálice de grappa na mão, um charuto gordo que havia recusado na mesa ao seu lado, uma horrenda massa de músculos e gordura chamada Giglio transbordando de uma cadeira a sua frente. 20
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton Cordiano havia apresentado o homem como seu sócio. Mas certo seria dizer que era seu capo. Aquele era só o apelido do dia para capangas. Por alguma razão o Homem-suíno não gostava dele. Tudo bem. O sentimento era mútuo. Além disso, Cordiano parecia decidido a contar intermináveis histórias autoenaltecedoras ocorridas nos gloriosos dias de sua juventude, quando homens eram homens e não havia nada que ninguém pudesse fazer a respeito. As tentativas dele em fazer com que o assunto chegasse ao fim foram infrutíferas. Após os apertos de mão e a cerimonial entrega de um charuto não desejado e a taça obrigatória de grappa, Rafe entregou a Cordiano a carta lacrada de seu pai. — Grazie — disse o don e a jogou, fechada, sobre a mesa de trabalho. A cada vez que ele pausava para tomar fôlego, Rafe tentava apresentar a versão verbal do pedido de desculpas de seu pai. Sem sorte. Cordiano não lhe dava oportunidade. Ao menos a proposta de casamento não fora mencionada. Talvez Cesare já lhe tivesse explicado que Rafe não se aproveitaria da generosa oferta de tomar para si a obviamente indesejável filha de seu velho inimigo. — ...para você, signor Orsini. Rafe piscou e se voltou em direção a Cordiano. — Desculpe-me, o quê? — Eu disse que este certamente foi um longo dia para você e aqui estou eu, lhe entediando com minhas histórias. — O senhor não me entedia nem um pouco — disse Rafe e a seguir forçou um sorriso. — A grappa não está a seu gosto? — Temo dizer que não sou apreciador de grappa, don Cordiano. — E também não um apreciador de charutos — disse Cordiano, com um rápido exibir de dentes. — Na verdade... — Rafe pôs a taça sobre a mesinha ao lado da cadeira e se levantou. O Homem-suíno também se levantou. Basta, pensou, — Também não aprecio ser observado como se fosse roubar a prataria da casa, então peça para que seu cão de guarda relaxe. — Claro. — O don deu uma risada, embora o som tenha sido notadamente soturno. — É apenas porque Giglio o vê como um concorrente. — Acredite em mim don Cordiano, não estou nem um pouco interessado em tomar o cargo dele. — Não, obviamente que não. Somente quis dizer que ele sabe que estive buscando uma maneira de agradecer a ele por seus anos de dedicação e... — E tenho certeza de que encontrará uma recompensa adequada, mas não tenho nada a ver com isto. Estou aqui Um nome de meu pai. Eu agradeceria se pudesse ler a carta que ele lhe enviou. Cordiano sorriu. — Mas eu sei o que ela diz, signor. Cesare suplica meu perdão pelo que me fez há quase meio século. E você, Raffaele, posso chamá-lo assim? Você está aqui para me 21
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton garantir que ele foi verdadeiro em cada palavra. Certo? — É basicamente isto. Então, posso voltar para casa e informar meu pai de que as desculpas foram, aceitas? Porque está ficando tarde. E... — Seu pai lhe contou o que fez? — Não. Não me contou. Mas isto é entre você e... — Eu era seu... suponho que você chamaria de patrocinador. — Que bom para ambos. — Ele devolveu minha generosidade roubando la mia fidanzata. — Lamento, mas não falo... — Seu pai roubou minha noiva. — O sorriso de Cordiano tornou-se frio. — Fugiu com ela no meio da noite, dois dias antes de nos casarmos. — Não entendo. Meu pai tem uma esposa. Ela... — O queixo de Rafe caiu. — Você está dizendo que minha mãe estava noiva do senhor? — Definitivamente estava, até seu pai roubá-la de mim. Toda aquela coisa de "escuridão de uma paixão" começava a fazer sentido. E agora? O que ele poderia dizer? Já era difícil imaginar um jovem Cesare, mas imaginar sua mãe como uma jovem fugindo com ele... — Você achava que isto era sobre algo simples? — A voz do don era tão fria quanto seu sorriso. — É por isto que ele o enviou aqui, rapaz. Para oferecer um pedido de desculpas que valesse, um que eu poderia aceitar. Olho por olho. Esta é nossa maneira. Ou, agora que muitos anos se passaram, um feito por um desfeito. — Cordiano cruzou os braços. — Seu pai roubou minha noiva. Eu lhe mostrarei meu perdão ao deixar você tomar minha filha como sua. Está vendo? Se ele estava vendo? Rafe quase riu. De jeito nenhum. Nem mesmo um gênio via qualquer lógica naquilo. — O que vejo — disse secamente. — É que você tem uma filha da qual deseja se livrar. O Homem-suíno fez um som com o fundo da garganta. — E, de alguma maneira, você e meu velho confabularam este esquema absurdo. Bem, esqueça. Isto não irá acontecer. — Minha filha precisa de um marido. — Tenho certeza de que precisa. Compre um, se isto for necessário. A montanha de músculos rosnou e tomou um passo à frente. Rafe podia sentir a adrenalina pulsando. Droga, pensou, olhando o capo, ele poderia fazer mais do que dar uma boa luta. Irritado do jeito que estava, ele poderia derrubá-lo. — Tenho a palavra de seu pai sobre este assunto, Orsini. — Então você não tem nada, pois não é da palavra dele que precisa e sim da minha. E posso muito bem lhe assegurar que... — Aí está você — disse Cordiano com força, olhando para além de Rafe. — Demorou demais para obedecer minhas ordens, menina. Rafe se virou. Havia uma figura na porta. Chiara Cordiano chegou para se juntar a eles. — Virou pedra? — disse o don rispidamente. — Entre. Há um homem aqui que quer 22
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton conhecê-la. Até parece, quase disse Rafe, mas lembrou a si mesmo que nada disto era culpa da menina. Na verdade, sentiu um arremedo de pena por ela. Já deduzira que ela deveria ser sem graça. Talvez pior que isso. Talvez tivesse verrugas do tamanho de melancias. Ela também era uma mulher derrotada. Tudo nela deixava claro isso. Sua cabeça estava inclinada, mostrando um negro cabelo preso num coque apertado. Suas mãos cruzadas à frente, descansando sobre a cintura, se ela tivesse uma. Era impossível dizer, pois seu vestido não tinha forma, negro e feio como seus sapatos. Sapatos de cadarço, ele pensou com incredulidade. Não conseguia ver seu rosto, mas não precisava vê-lo. Deveria ser tão simplório quanto o resto dela. Não era de estranhar que seu pai estivesse querendo dá-la. Nenhum homem em sã consciência iria querer uma mulher patética como aquela em sua cama. O.k. Ele seria educado. Poderia fazer isto por ela, pensou, e abriu a boca para dizer olá. O Homem-suíno antecipou-se a ele. — Buon giorno, signorina — disse o capo Rafe viu um tremor passar através dos estreitos ombros dela. — O signor Giglio falou com você — o don disse rispidamente. — Onde estão seus modos? — Buon giorno — disse ela suavemente. Rafe curvou a cabeça. Havia algo de familiar na voz dela? — E você não cumprimentou nosso hóspede, signor Raffaele Orsini. A mulher inclinou a cabeça. Não foi fácil de fazer, o queixo já estava quase em seu peito. — Buon giorno — sussurrou. — Em inglês, menina. Rafe sentiu outro surto de simpatia. A pobrezinha estava aterrorizada. — Tudo bem — ele disse rapidamente. — Não sei muito italiano, mas consigo fazer uma saudação. Buon giorno, signorina. Come sta? — Responda a ele — ladrou Cordiano. — Estou bem, obrigada, signor. Definitivamente havia algo de familiar na voz dela... — Por que está vestida assim? — seu pai reclamou. — Você não vai para um convento. Vai se casar. — Don Cordiano — disse Rafe rapidamente —, já informei ao senhor... — E por que está parada aí com a cabeça abaixada? — Cordiano agarrou a filha pelo braço, seus dedos apertando-a com força. Ela recuou, e Rafe deu um passo à frente. — Não — ele disse calmamente. O capo saltou à frente, mas Cordiano levantou a mão. — Não, Giglio. O signor Orsini está certo. Ele está encarregado destas coisas agora. É direito dele, e apenas dele, disciplinar a noiva. — Ela não é minha... — Rafe deu uma rápida olhada na mulher, então baixou a voz. — Já lhe disse, não estou interessado em desposar sua filha. 23
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton Os olhos de Cordiano endureceram. — Esta é sua palavra final, Orsini? — Que tipo de homem é você, para fazer sua filha passar por algo assim? — disse Rafe com raiva. — Eu lhe fiz uma pergunta. Esta é sua palavra final? Poderia algum homem se sentir pior do que Rafe se sentia agora? Ele odiava o que Cordiano estava fazendo com a menina. E por que diabos ela não dizia nada? Ela era dócil ou burra? Não é assunto meu, disse a si mesmo, e olhou para Freddo Cordiano. — Sim — disse com voz rouca —, é minha palavra final. O Homem-suíno deu uma risada. O don deu de ombros. Então agarrou o pulso de aparência delicada da filha. — Neste caso — disse —, dou a mão de minha filha a meu fiel braço direito, Antônio Giglio. Finalmente, a mulher levantou os olhos. — Não — ela sussurrou. — Não — disse novamente e o grito cresceu, ganhou força, até tomar-se estridente; Não! Não! Não! Rafe a encarou. Obvio que sua voz era familiar. Aqueles grandes olhos violáceos. O nariz pequeno e reto. As maçãs do rosto esculpidas, a inebriante boca rosada... — Espere um minuto — disse. — Espere apenas um maldito minuto... Chiara voltou-se na direção dele. O americano sabia. Não que isto importasse. Ela estava encurralada. Encurralada! Ela tinha de fazer alguma coisa... Desesperada, soltou a mão da de seu pai. — Vou lhe dizer a verdade, papa. Você não pode me dar a Giglio. Veja... veja, eu e o americano já nos conhecemos. — Pode ter certeza que sim — disse Rafe, furioso. — Na estrada para cá. Sua filha saiu do meio das árvores e... — Só queria cumprimentá-lo. Como um gesto de... boa vontade. — Ela engoliu em seco. Seus olhos encontraram os de Rafe. — Mas... mas ele... ele abusou de mim. Rafe pulou em direção a ela. — Tente contar a seu pai o que realmente ocorreu! — O que realmente aconteceu — ela disse com um sussurro tremido — é que... é que bem ali, no carro dele... bem ali, papa, o signor Orsini tentou me seduzir! Giglio soltou um palavrão. Don Cordiano urrou. Rafe teria dito: Você é maluca, todos vocês são. Mas os negros cílios de Chiara Cordiano tremeram e ela desmaiou, caindo direto nos braços dele.
Capítulo 4
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Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton
Era como estar preso em um pesadelo. Em um momento Rafe estava para dizer o floreado pedido de desculpas de seu pai. No seguinte... No seguinte, Chiara Cordiano estava caída tão mole quanto um saco de roupas em seus braços. Estaria ela fingindo? A mulher era uma atriz de alta categoria. Primeiro um bandido durão, depois uma comedida Siciliana, quando na verdade era tudo menos comedida. Momentos atrás, ela o havia atacado com a ferocidade de uma leoa. E houve aquele fervente momento de calor sexual. Ah sim, a moça era uma atriz infernal e esta era sua melhor atuação até agora. Alegar que ele tentara seduzi-la. Ele a havia beijado, era tudo, e beijar não era o mesmo que seduzi-la. O don conteve seu capo com a mão em seu braço e uma série de ordens bruscas. Rafe sabia que o Homem-suíno queria matá-lo. Deixe que tente. Ele estava mais do que com disposição para cair em cima daquela carga de banha. Antes de tudo, a mulher em seus braços tinha de abrir os olhos e admitir que havia mentido. Ele olhou ao redor, caminhou até um sofá coberto com bordados e deixou-a cair sem cerimônia sobre o local. — Chiara — disse com força. Sem resposta. — Chiara — repetiu, e a sacudiu. Cordiano foi até um armarinho de mogno, pôs conhaque em uma grossa taça de cristal e a estendeu. Rafe pegou a taça, passou o braço pelos ombros de Chiara, levantou-a e tocou seus lábios com a borda da taça. — Beba. Ela gemeu suavemente. Cílios grossos e negros tremeram e lançaram sombras sobre sua pele leitosa. Mechas de cabelo escaparam do horrível coque e caíram sobre suas bochechas, delicadamente encaracoladas. Ela aparentava uma fragilidade quase inacreditável. Mas não. Ela era afiada como uma navalha e esperta como uma raposa. — Vamos lá — ele disse com força. — Abra os olhos e beba. Os cílios dela tremeram novamente, então se abriram. Ela o encarou, suas pupilas fundas como uma noite sem luar e envoltas por uma borda de pálido violeta. — O que... o que aconteceu? Bom. Simples mas bom. — Você desmaiou. — Ele sorriu friamente. — E bem no momento ensaiado. Havia um olhar de desafio passado naqueles extraordinários olhos? Ele não tinha certeza. Ela se inclinou à frente, calma, seus dedos pálidos por cima dos dedos bronzeados dele enquanto punha a boca na taça. — Agora que está novamente de volta entre os vivos, que tal contar a verdade para seu pai? — A verdade sobre... — O olhar confuso foi de seu pai até Rafe, — Oh! — Ela suspirou e seu rosto enrubesceu. Rafe cerrou os olhos. As reações dela não podiam ser reais. Não aquele desmaio 25
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton vitoriano, não seu comportamento a respeito do que acontecera no carro. Por Deus, ele só a beijara. Era isso. Ele a trouxera a seu colo e a beijara e, certo, ela acabara por mordê-lo, mas somente após ter reagido ao beijo, após ele ter ficado rijo como pedra, ela ter sentido isso e... E ele ter agido como um idiota. Que diabos se passara com ele? Ele estivera furioso, mas raiva não tem nada a ver com sexo... certo? — Don Cordiano — ele disse com cuidado —, eu beijei sua filha. Lamento se a ofendi. — E eu devo aceitar suas desculpas? O tom de voz do don era arrogante. Fez com que Rafe se eriçasse. — Não estou pedindo que você aceite — desse irritado e voltou-se para Chiara. — Não devia tê-la beijado. Se a assustei, me desculpe. — Talvez você pudesse me explicar como conseguiu se encontrar com minha filha antes de se encontrar comigo. Talvez ele pudesse, Rafe pensou, mas ele jamais ficaria de pé ali e admitiria que fora quase derrotado por um arremedo de mulher e um velho. Além disso, aquela parte da história pertencia à filha de Cordiano, ele pensou com crueldade, e então olhou novamente para ela. Que se danasse tudo aquilo. — É sua vez, signorina — disse Rafe friamente. Chiara sentiu o coração disparar. O americano estava certo. Era o momento dela dizer: — Você entendeu errado, papa. Este homem não me "encontrou", não da maneira como faz parecer. Eu o parei na estrada e tentei assustá-lo para que fosse embora. Que piada! Ao invés de assustá-lo, ela o trouxe diretamente a San Giuseppe. E ela não poderia explicar isto, não sem contar tudo a seu pai, o que significaria ter de contá-lo a respeito de Enzo. Não importassem as conseqüências, expor a parte de Enzo nesta bagunça seria fatal. Ela conhecia bem seu pai. Ele baniria Enzo de San Giuseppe, o local onde o velho passara toda sua vida. Ou, o coração dela pulou para sua garganta, ou Enzo poderia sofrer um acidente infeliz, uma frase que já ouvira seu pai usar no passado. — Papa. O signor Orsini e eu nos encontramos quando eu... quando eu... — Silêncio — urrou seu pai. — Isto não é com você. signor Orsini? Exijo uma explicação. — Exige? — disse Rafe suavemente. — Com certeza. Estou esperando você explicar suas ações. — Eu não me explico para ninguém — disse o americano friamente. O pai dela endureceu. — Você vem aqui para me suplicar perdão por um insulto de meio século. Em vez disso me insulta novamente. 26
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton — Também não suplico. Ofereci-lhe as desculpas de meu pai, e pedi desculpas a sua filha. Pelo que me consta, isso encerra nossos negócios. Chiara prendia a respiração. O aposento parecia haver petrificado e os lábios de seu pai pareciam curvados em algo que supunha-se fosse um sorriso. Mas não era, ela sabia. Ainda assim, o que ele disse a seguir a surpreendeu. — Muito bem. Você é livre para partir O americano concordou cora a cabeça. Ele seguiu para a porta enquanto seu pai andou em direção a ela. — De pé — grunhiu ele Raffaele Orsini já havia aberto a porta, mas parou e se virou ao ouvir as palavras do pai dela. — Vamos deixar uma coisa clara, Cordiano. O que aconteceu... eu ter beijado sua filha... não foi culpa dela. — O que diz não significa nada aqui. Agora saia. Chiara. Levante-se. Chiara pôs-se lentamente de pé. Ela sabia que, se fosse homem, ele a machucaria. Algum arcaico senso de moral sempre evitara que isso acontecesse. Ainda assim, ele não deixaria que aquilo passasse em branco. Uma mulher deveria defender sua honra até o último suspiro. Ela não o havia feito. Os olhos do pai se fixaram nos dela. — Giglio! — ele gritou. — Si, don Cordiano? — Ouviu tudo? — Si. Ouvi. — Então sabe que minha filha perdeu a honra. Rafe ergueu as sobrancelhas. — Ei, espere aí um maldito minuto... — Todos estes anos em que a criei com carinho... — Você nunca me criou — disse Chiara, sua voz tremendo. — Babás. Governantas... Seu pai a ignorava. — Eu cuidei para que ela se mantivesse virtuosa e guardasse sua castidade para o leito nupcial. — Papa. Do que está falando? Não perdi minha castidade! Foi apenas um beijo! — E hoje ela escolheu jogar fora sua inocência. — A boca do don se contorcia — Tal desonra trazida a minha casa! — Eu trouxe desonra a esta casa? O don a ignorou. Sua atenção estava no capo. — Giglio — disse —, meu velho amigo. O que devo fazer? — Espere um minuto — disse Rafe, indo em direção ao don. — Escute-me, Cordiano. Você está transformando isto em algo que nunca ocorreu. Eu beijei sua filha. 27
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton Mas com certeza não a desvirginei! — Aqui não é a América, Orsini. Nossas filhas não ostentam os corpos. Elas não se deixam ser tocadas por desconhecidos. E não estou falando com você. Estou falando com você, Giglio, não com este... este straniero. Não posso sequer culpar a ele pelo ocorrido. Estrangeiros não sabem nada de nossos costumes. A culpa foi de minha filha, Giglio. E agora, o que devo fazer para restaurar a honra de nossa família? — O.k. — Rafe disse rapidamente. — O.k., Cordiano, diga-me o que faço para terminar com esta maluquice. Você quer que eu dirija minhas desculpas a você? Considere feito. O que aconteceu foi totalmente culpa minha. Eu me arrependo. Não quis ofender sua filha ou a você. Pronto. Satisfeito? Era como se não tivesse dito nada. Cordiano sequer olhou para ele. Ao invés disto, abriu seus braços de maneira suplicante para seu capo. Giglio suava. E, de supetão, Rafe percebeu para onde aquele pesadelo estava indo. — Espere um minuto — disse, mas Cordiano pôs sua mão nas costas de Chiara e a mandou voando para os gordos braços de seu capo. — Ela é sua — disse em tom de desgosto. — Apenas tire-a de minha vista. — Não! — O grito de Chiara ecoou pelo aposento. — Não! Papa, você não pode fazer isso! Cordiano pegou o telefone de sua mesa de trabalho. O italiano de Rafe era ruim, seu siciliano ainda pior, mas ele não precisava de um tradutor para entender o que o homem dizia. Ele organizava o casamento de Chiara com o Homem-suíno. Chiara, que entendeu cada palavra, ficou branca. — Papa. Por favor, por favor, eu lhe suplico... Basta, pensou Rafe. Arrancou o telefone das mãos de Cordiano e o arremessou através da sala. — Isto não vai acontecer — grunhiu. — Você não é ninguém aqui, signor Orsini. Os lábios de Rafe se apertaram em um frio sorriso. — É aí que você se engana. Eu sou alguém. É hora de você entender isto. Chiara! Afaste-se do porco e venha para mim. Ela não se moveu. Rafe tirou os olhos de Cordiano o bastante para dar uma olhada nela. Soltou um palavrão sob um suspiro. O desmaio anterior provavelmente tinha sido falso. Este agora não seria. Ela não estava apenas pálida, estava transparente. — Giglio. Deixe a moça. Nada. Rafe tomou fôlego e enfiou a mão no bolso, agarrou seu BlackBerry e o esticou para a frente para criar um volume no bolso. Como esperava, os olhos do capo seguiram o movimento. — Faça isso — ele disse por entre os dentes —, e você poderá sofrer um infeliz acidente. Era tudo de que precisava. Os braços do porco caíram para os lados. — Chiara. Venha para cá. 28
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton Ela cruzou a sala lentamente, seus olhos nunca deixando os dele. Ao alcançá-lo, ela tremia como uma muda de árvore durante uma ventania. Os dedos dele sentiram que a pele dela suava. Ele a enlaçou pela cintura dela e a segurou contra si. — Está tudo bem — disse com suavidade. Ela concordou com a cabeça. Ainda assim ele conseguia ouvir os dentes dela batendo. — Está tudo bem — disse ele novamente. — Tudo vai ficar bem. Ela olhou para ele. Os olhos brilhando com lágrimas prontas a escorrer, e balançou a cabeça. — Não — disse ela, tão baixinho que ele mal pôde ouvi-la. — Meu pai me dará a Giglio. — Ele não o fará. Eu não deixarei. Ela inspirou fundo e devagar. Tão profundamente que ele podia ver os seios se elevando, mesmo por debaixo daquele vestido negro sem forma. — Ele fará o que quiser, signor Orsini, assim que você partir. Estaria ela certa? Era isto apenas uma trégua temporária? Claro que ela estava certa. Assim que ele fosse embora o don a forçaria a casar-se, se não com o desgraçado Homem-suíno, então com qualquer outro. Chiara Cordiano seria a esposa de um ladrão e assassino. Ela se deitaria sob ele em seu leito nupcial enquanto ele forçaria os joelhos dela a se afastarem, gemeria e se enfiaria fundo dentro dela... — Está bem — disse Rafe, suas palavras em voz alta naquela sala petrificada. Cordiano arqueou uma sobrancelha. — Está bem o quê, signor Orsini? Rafe inspirou profunda e quase infinitamente. —
Está bem — disse secamente. — Eu me caso com sua filha.
Capítulo 5
O jato particular que Rafe alugou voava rapidamente pela noite escura. Ele o alugara no aeroporto em Palermo. A alternativa, uma espera de seis horas por um voo comercial para casa, lhe pareceu impossível. O avião era bem parecido com o luxuoso modelo que ele e seus irmãos possuíam. Piloto e copiloto haviam sido altamente recomendados, a comissária de bordo era agradável e eficiente. Certificara-se de que ele estava confortável, que tinha uma taça de um excelente Bordeaux na mesa ao seu lado, que o filé-mignon estivesse perfeito para o jantar, não que ele estivesse com ânimo para jantar, e então desapareceu de vista. O voo noturno em um jato particular geralmente era um ótimo momento para se relaxar após um dia difícil. 29
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton Mas não desta vez. Um músculo na bochecha de Rafe pulsava. Desta vez, ele não estava só. Havia uma mulher sentada na outra fileira. Ela sentava envolta em um casaco negro, embora a cabine estivesse a estáveis 22°C. Estava sentada, imóvel, ombros para trás, espinha rígida. Da última vez em que ele havia olhado, as mos dela estavam entrelaçadas em seu colo. Era uma desconhecida, malvestida e de lábios fechados. E, por acaso, esposa dele. Esposa dele. As palavras, o próprio conceito, eram impossíveis de se conceber. Ele, o homem que não tinha nenhum interesse em se casar, havia se casado com Chiara Cordiano. Casou-se com uma mulher que não conhecia, de que não gostava, que não queria, não mais do que ela o queria. Como diabos ele se deixou enroscar naquela situação? Ninguém nunca o havia acusado de ser um cavaleiro salvador de donzelas, mas ele não poderia simplesmente ter ficado parado e deixá-la ser entregue ao Homem-suíno. Considerando, é claro, que isto realmente aconteceria. Rafe franziu a testa. Aconteceria mesmo? Rafe soltou um palavrão sob um suspiro. Ele havia caído em um golpe. O pai dele queria que ele se casasse com a filha de seu velho inimigo. Freddo Cordiano queria a mesma coisa. Mas Rafe disse que não, e então Cordiano criou uma cena saída diretamente de um conto de fadas. Ou o príncipe se casava com a princesa, ou o ogro a teria. A única dúvida era, será que Chiara estava a par de tudo? Rafe cruzou os braços. Como filha siciliana obediente que era, e se ela concordasse em atuar da melhor maneira possível para fazê-lo acreditar que tudo o que acontecera aquele dia fora real, a começar pela cena ridícula na estrada? Uma dupla de bandidos burlescos, parando o seu carro... Sim. Era uma bela encenação. Tanto o pai quanto a filha sabiam que aquilo não o faria fugir, muito pelo contrário, o deixaria ainda mais determinado a chegar a San Giuseppe. Mesmo aquele beijo no carro. A luta inicial dela contra ele, seguida daquele doce suspiro de rendição, ela suavizando os lábios, seu gosto quente e delicioso... Ele fora passado para trás. Além dele, a única outra pessoa que não participara do golpe era Giglio. Chiara e o pai usaram o capo tanto quanto o usaram. Prova final? A rapidíssima cerimônia de casamento. Não houve necessidade de proclamas, nenhuma formalidade além da assinatura de alguns documentos na frente de um prefeito que estava quase de joelhos aos pés do don. Meia dúzia de palavras ditas e bam! Estava pronto. Rafe se ajeitou na poltrona. O.k. Compreendia tudo. Não que importasse. Havia casado com a mulher. Agora tinha de descasar. Próxima parada, anulação. Divórcio. O que fosse necessário. Problema resolvido. Não que ele fosse simplesmente abandonar sua ruborizada noiva. Ele faria a coisa honrosa. Um acordo financeiro. Considerando todo o esforço de Chiara, o arrastando até ela, seria justo. Então ela poderia voltar à Sicília e ele poderia esquecer tudo sobre... — Signor Orsini. 30
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton Ele levantou os olhos. Chiara estava de pé ao seu lado. — Sim? Sim? Chiara forçou-se a não mostrar nenhuma reação. Três horas de silêncio, e o melhor que Raffaele Orsini poderia responder era sim, com tal frieza que parecia acompanhada de cubos de gelo? Ainda assim, ela tentaria não demonstrar seu descontentamento. — Signor. Precisamos conversar. Os olhos dele cerraram-se até se tomarem fendas azuis. Chiara queria bater o pé em fúria! Que imbecil! Acaso ele achava que ela era um gato de rua que ele recolhera? Que seria tão grata a ponto de simplesmente sentar-se quieta e deixá-lo fazer o que quisesse com a vida dela? Sim, ela se casara com ele. Deus sabe que ela não queria tê-lo feito, mas a escolha entre ir para a América com um gângster e ficar em San Giuseppe com um assassino facilitou sua decisão. A única surpresa foi ele ter consentido com a cerimônia, do jeito como esta aconteceu. Ela passara as últimas horas tentando descobrir uma razão. Agora, tinha várias. Talvez ele finalmente percebera os benefícios de se casar com a filha do don. Ela não tinha nenhuma ilusão a respeito de sua atratividade feminina: era pequena como um ratinho, magricela, nem um pouco parecida com as mulheres voluptuosas que atraíam os olhares masculinos. Ela era sim um elo de ligação com o pai e, portanto, um elo de ligação ao poder. Era hora de colocar as cartas sobre a mesa. Ela lhe disse exatamente isto. — Bem? Ela sabia como as coisas funcionavam com homens daquele tipo. Precisavam acreditar que estavam no comando, mesmo quando não estavam. Ela tomou fôlego, então soltou: — O que fez, ao pedir que me casasse com você... Ele soltou uma risada pelo nariz. — Eu não lhe pedi nada. — Bem, sim. Claro. O que quero dizer é, se você não houvesse proposto... — Você continua entendendo errado, baby. Eu não propus. — Estou apenas usando uma figura de linguagem, signor Orsini. — E estou trazendo um fato. Não lhe pedi, não propus. — Os olhos dele cerraramse novamente. — E ainda assim, surpresa, surpresa, aqui estamos. Ela concordou com a cabeça, mas não fora nenhuma surpresa. Ele havia sido enviado para casar-se com ela e o fez. — Então? Ele estava esperando. Certo. Ela só precisava dizer isto de maneira correta. — Aqui estamos de fato — disse educadamente. — E... Ela hesitou. Esta era a parte complicada. O desafio seria convencê-lo de que ele havia feito tudo que precisava, que agora ele poderia dar o passo que deixaria ambos livres. Ela tinha uma pequena fortuna a lhe oferecer em troca do divórcio. A mãe havia 31
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton deixado todas suas jóias. Nunca as usara. Vaidade, dizia, era um pecado. Mas mama não foi completamente não mundana. Escondera suas jóias, contou a Chiara onde encontrálas no caso de algum dia precisar do que elas lhe pudessem comprar. O dia chegara. As jóias estavam escondidas no fundo da pequena mala. O americano poderia ficar com todas, caso garantisse sua liberdade. Ainda assim, ela precisava argumentar adequadamente, sem arranhar o ego de macho dele. — E — ela continuou — não é o que eu quero. O que nenhum de nós quer. Ele não disse nada, e ela tocou os lábios com a ponta da língua. Ao observá-la fazer isso, o estômago de Rafe se contorceu. Ela sabia o que fazia? Era um gesto inocente ou deliberado? Ela tinha a língua rosada. Era a língua de um gatinho. Havia tocado a dele, mesmo que brevemente, e ele se lembrava da sensação sedosa. Ela ainda falava, mas ele não a escutava mais. Rafe levantou os olhos e estudou-lhe o rosto. Brilhava de animação. Chiara tinha, como ele já reparara, belos traços. Belos? Na verdade era linda. Aqueles grandes olhos violáceos adornados por cílios longos e grossos. O narizinho reto perfeitamente equilibrado sobre uma boca rosada e embriagante. Por que ela se vestia daquela maneira? Por que se mantinha tão dura? Por que confinava o que ele agora lembrava ser uma sedosa cabeleira de grossos cachos em um penteado tão pouco atraente? Era tudo aquilo uma ilusão? Uma parte do golpe? — Por que usa seu cabelo assim? Ele não queria ter feito a pergunta. Ela, claro, não esperava uma pergunta assim. Ainda estaria falando de uma coisa ou outra. Agora interrompera uma frase no meio e o encarava como se ele a houvesse pedido para lhe explicar uma equação de segundo grau. E então ela riu nervosamente. — Perdão? — Seu cabelo. Por que o prende para trás? A mão de Chiara foi até o cabelo. — Fica... fica mais arrumado assim... — Deixe-o solto. A voz do americano era bruta. Seus olhos eram chamas azuis. De repente parecia difícil respirar. — Eu não... não vejo nenhuma razão para... — A razão é que estou lhe dizendo para fazer — disse Rafe, e uma vozinha chocada dentro dele sussurrou: O que diabos você está fazendo? Era uma boa pergunta. Ela não era um homem que dava ordens a mulheres por aí. Ele explicaria, explicaria que estava brincando... — Solte seu cabelo, Chiara — ele disse e esperou. Os segundos se arrastavam. Então, lentamente, ela pôs as mãos no cabelo. O coque se desfez. O cabelo dela, grosso, lustroso, cacheado, caiu em suas costas. — Assim está melhor. 32
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton Ela concordou com a cabeça. Pigarreou. cruzou as mãos sobre o colo. — Como eu dizia... — Está quente aqui. Ela engoliu em seco. — Não me parece... — Você não precisa deste casaco. Ela olhou para si, e então para ele. — Estou... estou confortável. — Não seja boba. Ele chegou até ela, tomou a lapela do casaco em suas mãos — Tire-o. Chiara sentiu seu coração pular. Ela estava sozinha com este desconhecido. Completamente sozinha, de uma maneira como nunca estivera sozinha com um homem. Com Enzo, sim. Com seu pai. Com o velho e semidemente padre de San Giuseppe. Mas isto era diferente. Este homem era jovem. Era forte. Ele era seu marido. Isso lhe dava direitos. Privilégios. Ela sabia sobre aquelas coisas, oh Deus, ela sabia... — O casaco. — Sua voz era rouca. — Tire-o. Com o coração disparado, ela desabotoou o casaco e tirou-o dos ombros. — Me escute — disse ela, e odiou o jeito como sua voz tremeu. — Signor Orsini. Não quero ser sua esposa tanto quanto você não quer ser meu marido. — E? — E estamos encurralados. Você não teve escolha a não ser se casar comigo e... Os olhos dele se cerraram novamente. Ela já aprendera o bastante sobre ele para saber que aquilo não era um bom sinal. — É isto que você pensa? — Seu pai queria isso. — Ele não disse nada e ela continuou, apressada: — E meu pai queria isso. Então... — Então fiz isto para agradar os dois? — Sim. Não. Talvez não — Ela estava perdendo terreno, podia sentir. O que tinha de fazer era falar mais rápido, fazê-lo ver que ela entendia por que ele havia feito o que fez e o que ele poderia ganhar em desfazê-lo. — Talvez meu pai lhe fez promessas. Talvez tenha dito que o recompensaria. Ele se recostou na poltrona. Cruzou novamente os braços. — Ele lhe ofereceu uma recompensa, signor? Posso fazer uma oferta melhor. Os cantos da sua boca se curvaram. — Você pode — ele disse, bem calmamente. — Assim que chegarmos à América, encerraremos o casamento. É uma coisa fácil de fazer em seu país, certo? Ele deu de ombros. — E você vai embora. Para longe de mim. Para longe de seu simpático pai. Daquele 33
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton miserável vilarejo. E todo mundo vive feliz para sempre. Certo? Ele entendeu! O alívio dela foi enorme. — Sim — ela disse com um rápido sorriso. — E eu lhe darei... — Oh, sei o que você me dará, baby. Mas seria algo que eu conseguiria de qualquer jeito. Chiara balançou a cabeça. — Eu não entend... — Esta coisa preta que está usando. Confusa, ela olhou para si mesma novamente, e então para ele. — Coisa preta? Você quer dizer... meu vestido? — O que está por debaixo dele? Ela piscou. — Por debaixo...? — Me dê um tempo, O.k.? Você não é surda. Pare de repetir o que digo e responda à pergunta. O que está por debaixo deste vestido? O rosto dela se aqueceu de cor. — Minhas... minhas roupas de baixo. Ele deu um sorrisinho. Ela quase fez aquelas palavras arcaicas parecerem reais. — Seda? Renda? Sutiã? Calcinha? — Ele sorriu de lado — Ou é um fio-dental? Chiara pulou de pé. — Você é nojento! — Sabe, demorei um pouco, mas finalmente entendi. Esta fantasia. As roupas, o cabelo, o "Não-me-toque" quase que escrito em sua testa... foi tudo preparado para mim, não é? Ela virou e se afastou. As mãos dele caíram pesadas nos ombros dela e ele a girou para si. Ele não sorria mais. Seu rosto estava duro, os olhos frios. — A verdadeira Chiara Cordiano é aquela que beijei no carro. — Você está pazzo! Louco! Me solte. Me sol... Rafe inclinou sua cabeça e a beijou. E quando ela tentou girar e se livrar dele, ele segurou-lhe o rosto entre as mãos e a beijou com ainda mais força, forçando-lhe os lábios a se abrirem, enfiando sua língua na boca, tomando, exigindo, furioso com ela por suas mentiras, incluindo a maneira como ela chorava agora. Lágrimas grandes e perfeitas descendo pelo rosto enquanto ele se afastava. — Qual é, baby? — ele disse com crueldade. — Qual a razão para continuar prolongando isso? Saia deste vestido ridículo. Faça o que você sem dúvida faz melhor. — A boca dele se contorceu. — Faça realmente bem feito e talvez eu possa lhe dar esse divórcio que tanto quer. — Por favor — ela soluçava, — por favor... — Maldição — rosnou Rafe. Já era o bastante. Ele esticou a mão, segurou o colarinho do horrível vertido negro, e o rasgou de cima a baixo... E viu algodão branco. 34
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton Tudo em algodão branco, sem forma e sem apelo sexual. Sutiã. Calcinha. O tipo de coisa que as irmãs dele usavam por debaixo do uniforme escolar quando crianças. Ele parou em pé, em silêncio, incerto. Isto também era parte da encenação? — Não — sussurrou Chiara. — Eu lhe imploro, não, não, não... Ou joelhos dela se dobraram. Rafe soltou um palavrão e pegou sua esposa nos braços. Ele sabia, sem sombra de dúvida, que havia entendido tudo errado.
Capítulo 6
A cabine girava. O chão se inclinava. E tudo em que Chiara podia pensar era: Não, não vou desmaiar de novo! Uma vez durante a vida era o bastante. O que era precisava fazer agora era fugir, não desmaiar. O americano a colheu em seus braços. — Fique comigo — ele dizia — Vamos lá, baby, fique comigo! Ele a queria consciente durante o ato. Só perceber isto era o bastante para afastar a névoa cinza de seu cérebro. Chiara conclamou todas as suas forças e começou a bater com os punhos contra os ombros dele. Um golpe o acertou no queixo. Ele prendeu as mãos descontroladas com uma das dele e as segurou firmemente contra o peito. — Ei! — disse. — Vá com calma! Ir com calma? Ir com calma? Talvez as mulheres do mundo dele cedessem, mas ela lutaria até o que parecia seu último alento, pois este era um homem forte. Muito forte. Não importa o que ela fizesse, não conseguia se livrar dele. — Chiara! Me ouça. Estou tentando ajudá-la. — Mentiroso! Mentiroso, mentiroso, men... — Maldição, você está louca? Não, pensou Rafe, respondendo à própria pergunta. Não louca. Ela estava cega de pânico e ele não poderia culpá-la. O que diabos havia feito, a não ser rasgar as roupas dela daquele jeito? Ela sabia que o que viria a seguir seria... Inferno. Ele manteve uma mão presa nos pulsos dela, usou a outra para tentar juntar as bordas do vestido. Era impossível, especialmente com ela se debatendo durante todo o processo. Chiara tinha alguns golpes perigosos. Ele precisava se lembrar disso. A maneira como ela podia dar uma joelhada, por exemplo, mirando com precisão. Chegar perto, tirar o equilíbrio dela, seria sua única proteção. Ele passou os braços ao redor dela, tirou-a do chão e trouxe-a com força contra si. — Chiara! Pare de lutar contra mim! 35
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton A moça era a personificação de uma gata de briga. E era macia. Muito macia. Os seios se encostavam contra seu tórax. A barriga contra a virilha dele. Ela ainda estava lutando, se movendo contra ele, se esfregando nele... Desesperado, Rafe passou os olhos ao redor Ele precisava de um local para colocála. O avião dos Orsini tinha um quarto privativo e um banheiro na parte de trás da cabine. Bem, havia uma porta na parte de trás deste aqui. Ele não tinha a mínima idéia do que haveria lá. Pelo que sabia, poderia ser até uma porta trancada, mas valia a pena... Rafe suspirou de alívio. A porta se abriu. E além dela havia um aposento. Uma sala de estar. Talvez um escritório. Havia uma escrivaninha. Um pequeno lavabo visível além de uma porta parcialmente aberta. E, o melhor de tudo, um sofazinho de couro feito sob medida para acomodar uma fêmea fora de controle, pensou ele e fechou a porta com o ombro. Ele foi direto até o sofá. Derrubou Chiara ali e ficou de pé. Péssima idéia. Em menos de um segundo ela estava de pé e tentando contorná-lo. Ele a segurou, lutou até colocá-la novamente no sofá, agachou-se na frente dela e segurou seus antebraços com as mãos. — Me escute — disse —, não vou machucá-la. Chiara mostrou os dentes. Um rottweiler treinado teria sido mais amigável. Rafe balançou a cabeça, frustrado. Tinha uma bagunça nas mãos e a culpa era somente dele. Ele havia matado sua esposa de susto. Era culpa dele, claro, mas como iria saber que ela explodiria como um paiol de pólvora caso a tocasse? Você não apenas tocou nela, sussurrou aquela vozinha matreira dentro dele. Verdade. Ele partiu para cima dela como se estivesse sem controle. Mas de quem era a culpa, senão dela? Uma mulher não podia brincar de quente-e-frio daquele jeito. Aquele beijo de manhã. Aquele momento de incrível entrega. Acaso ele deveria esquecer o que havia acontecido? Sim, mas ela passara por muita coisa hoje. Ele também, mas não era a mesma coisa. Ele não fora ameaçado com a "bênção" de se tomar a esposa do capo de seu pai. Pelo momento acreditaria que sua esposa não havia feito parte do acordo... por que novamente pensar nela como sua esposa? Ela não era nada além de um impedimento temporário em sua vida. Talvez se acalmasse assim que entendesse isso. Diabos, ela precisava se acalmar. Rafe respirou fundo. — Veja — disse. — Desculpe-me por tê-la assustado. Eu nunca... quer dizer... eu não fazia idéia... A questão é que eu estava irritado. E.. Hora da verdade, pensou e respirou fundo novamente. — Olhe, é o seguinte. Eu achei que você estava me enrolando. Achei que fizesse parte do plano. Sabe, para me convencer a me casar com você. O rosto dela demonstrava incredulidade, mas ela parou de se debater, ao menos por enquanto. — Certo — ele disse com cuidado. — Vou soltá-la. Depois vou me levantar e pegar 36
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton sua mala para que você possa mudar de roupa. O.k.? Chiara olhou para ele. — Eu não fazia parte de nenhum plano — disse, com fria precisão. — Você quer vestir algo ou não? Ele podia vê-la ponderando a oferta. Então finalmente ela concordou com a cabeça. — Certo. Bom — Lentamente ele retirou suas mãos dela. Ela se sacudiu enquanto ele se punha de pé. Estava horrível, não só com o vestido rasgado, mas seu rosto estava lívido, os olhos enormes e negros. E ele era o motivo. Ele, o idiota que disse sim ao casamento para salvá-la, tinha provocado isto. — Eu já volto — ele disse com rapidez, saindo da saleta como se rasgar as roupas de uma mulher e quase matá-la de susto fossem ocorrências do dia a dia. Ele não encontrou a mala dela. Melhor assim. Ela devia provavelmente estar entupida com vestidos negros e já vira o bastante deles por uma vida inteira. Ele pegou sua própria mala de mão e voltou para a saleta. E parou. Chiara estava exatamente onde ele a havia deixado, segurando a parte rasgada do vestido sobre os seios. A única diferença era sua postura. Ela sentara com a cabeça baixa, o cabelo caindo pelo rosto. A luta havia deixado seu corpo, ela parecia pequena e vulnerável. Parecia derrotada, da mesma maneira como parecera na casa do pai. Vê-la assim o corroía por dentro. Ela tremia. De medo? Não, pensou Rafe, não desta vez. Ele deixou a mala de mão cair e correu até ela. Ela estava à beira de um choque. A adrenalina havia ido ao limite e então se exaurido, e este era o preço a se pagar. — Chiara — disse, ao segurá-la. Ela ergueu os olhos. Rafe conseguia ouvir-lhe os dentes batendo. Ele se xingou baixinho, ajoelhou-se e a pôs em seus braços. Ela recusou se mexer, ele a trouxe ainda mais perto, sussurrando seu nome acariciando-lhe as costas com sua enorme mão. Gradualmente, sentiu o corpo dela ficar imóvel. — Agora chega — disse suavemente, sua boca contra a testa de Chiara, sua mão ainda acalmando-a e, por fim, ela deu um suspiro e encostou-se nele. Rafe fechou os olhos. O rosto dela estava contra sua garganta, os lábios levemente entreabertos. Ele conseguia sentir o delicado suspiro da sua respiração, quente contra a pele dele. Os braços dele a envolveram mais firmemente. Rafe a tirou do sofá e a pôs de joelhos. Sentiu as mãos dela contra seu tórax, uma palma encostada no seu coração. Ela era tão pequena. Tão delicada. Ele podia sentir a fragilidade dos ossos dela. — O.k.? — perguntou suavemente. Ela respondeu, contida: — Sim. Agora por favor me solte, signor Orsini. Rafe levantou-se e buscou a mala de mão. Ela sentou-se novamente no sofá, um exemplo de compostura exceto pelo vestido em frangalhos. Ele pigarreou, derrubou a 37
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton mala no chão e a apontou com o queixo. — Nada ali vai lhe servir bem, é claro — disse bruscamente. — Tenho minhas próprias coisas. Em minha mala. — Sim, bem, eu peguei a primeira mala que encontrei. De qualquer forma, há algumas coisas que podem lhe servir Jeans, malhas, um par de camisetas.. — Ele balbuciava. Ela podia se virar sozinha, assim que ele lhe desse um pouco de privacidade — Vou, hã, vou esperar lá fora. Me avise quando estiver pronta e então... e então conversaremos. O.k.? Chiara concordou com a cabeça. O rosto não denunciou nada, mas, considerando tudo, ele deduziu que as coisas caminhavam bem. Assentiu em resposta, saiu do aposento, fechou a porta, cruzou os braços... E esperou. Quando já havia decidido que ela fingia que ele não existia, a porta se abriu. Ela usava uma das camisetas dele por cima de um de seus shorts de ginástica. A camiseta cobria até os joelhos dela, o short ia até o meio da panturrilha. Estava descalça. Seu cabelo era uma leve névoa de seda da cor do chocolate negro. Ele deduziu que ela encontrou a escova dele e a usara. Ela deveria estar com uma aparência engraçada. Ao menos ridícula. Não estava. Estava linda. Ele sorriu. Grande erro. Ela levantou o queixo e ele sabia que estava pronta para lhe fazer passar por um inferno. — Muito obrigado pelas roupas, signor. — É só Rafe. — Obrigada, signor Orsini — ela repetiu e inspirou profundamente. O tecido de algodão da camiseta se projetou de um jeito que levou os olhos dele para os seios. — E por isso aqui — continuou, em uma voz que o fez parar de pensar sobre a camiseta e sobre o que havia por debaixo dela. Levantando os olhos, ele viu o inconfundível brilho do aço na mão dela — Me toque novamente e mato você! Droga. A escova não era a única coisa que ela havia encontrado. Ela encontrou também sua tesoura de unhas. — Chiara — ele disse calmamente —, abaixe isso. — Não até chegarmos a Nova York e você me libertar. — Você está livre. — A boca dele se contorceu. — Eu me casei com você. Não a comprei. — Eu já lhe disse. Quero a anulação. Um divórcio. O que for legalmente necessário. Ele sentia sua própria irritação aumentar Ela dificilmente estava em posição de fazer exigências. — Tenho dinheiro. As sobrancelhas dele se arquearam. — O quê? — Tenho as jóias de minha mãe. Já lhe falei sobre elas. Obviamente você não 38
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton estava me ouvindo. — Seus olhos encontraram os dele. — São muito valiosas. Eu as darei em troca de minha liberdade. A mulher tinha uma opinião incrível sobre ele. Ele teve de se lembrar de manter a calma. — Você acha que isto é um bazar? Que pode pechinchar comigo para conseguir o que quer? O rosto dela ficou vermelho. — Não. Não quis dizer... — Ela inspirou profundamente — Estou vendo o que está tentando fazer, signor. Está pensando que se levar esta conversa para outro lado, irá me dissuadir. Ele arqueou uma sobrancelha negra — Dissuadir? — Si. Significa... — Sei o que significa. Que alguém lhe ensinou palavras pomposas em inglês naquele buraco em forma de vilarejo. — San Giuseppe não é "meu" vilarejo — disse ela friamente. — E sim, a srta. Ellis me ensinou, como você diz, um inglês pomposo. — Uma das namoradas de seu pai? — Uma de minhas tutoras — disse Chiara e levantou o queixo — Graças a ela você não poderá me dissuadir em inglês ou em várias outras línguas. — Eu deveria estar impressionado? — Você deveria estar avisado, signor Orsini. Não estou preparada para aceitar sem luta o que você e meu pai me empurraram goela abaixo. Rafe deu um sorrisinho. — Acha isto divertido, signor? Juro que me defenderei caso se aproxime de novo. Ele pensou em ir direto até ela e arrancar a tesoura de suas mãos. Ele não se machucaria, seria como tirar doce de uma criança, mas, diabos, isto estava ficando interessante. — Então, você quer se livrar deste casamento. — Não é um casamento, é uma aliança entre meu pai e o seu. — Que seja — disse, como se não soubesse que ela talvez estivesse certa. Ele sacudiu de leve a cabeça. — Pelo jeito as mulheres modernas não acreditam mais em manter seus votos. Chiara estalou a língua. — Que besteira! Nenhum de nós quer este casamento e você sabe disto. Por alguma razão, a certeza dela o irritou. — E você sabe disto por que...? Quero dizer — continuou, como se fosse a voz da razão. — Sou italiano. E se eu não acreditar em divórcio? E se o sol explodisse? Ele não era italiano, exceto por descendência. Ele era americano. Era como se via. E embora não acreditasse que as pessoas devessem ficar entrando e saindo de casamentos, ele efetivamente acreditava no divórcio quando nenhuma outra solução fosse mais possível. Como agora, quando os dois haviam sido forçados em uma união que nenhum 39
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton queria... que era exatamente o que ela tinha dito. Sim, mas por que facilitar as coisas para ela? Ele fora ludibriado para dentro desta situação. Mesmo se ela não houvesse participado do plano, ela também não havia protestado. Agora ela queria cair fora. Tudo bem, ele também. Mas antes ele queria algumas respostas. E esta mulher, sua esposa, era a única que poderia fornecê-las. — Estou esperando, baby. Por que eu deveria concordar com um divórcio? Afinal de contas, cruzei um oceano para me casar com você. Chiara piscou os olhos. — Mas você disse a meu pai... — Sei o que disse a ele. Eu disse que não desejava me casar com você — Rafe deu de ombros. — Qualquer bom homem de negócios sabe que não deve aceitar a primeira oferta ao entrar em uma negociação. — Uma negociação? — Ela o encarou em descrença. — Você quer dizer... você quer dizer que sempre teve a intenção de seguir com tudo até o final? Que apenas deixou meu pai pensar que poderia me entregar àquele... àquele animal? — Eu não disse isto. — Deixou implícito. Primeiro dissuadir, agora implícito. Palavras difíceis, mesmo para falantes nativos, o que Chiara não era. O que ela era, sua pequena esposa armada com tesoura, é uma fonte de surpresas. — Eu me casei com você — ele disse calmamente. — Não importam meus motivos. E em relação a você... não vi papai lhe apontando uma pistola durante a cerimônia. — Não entendo o que isto quer dizer. — Quer dizer que você se casou comigo sem sequer um protesto. — Eu teria me casado com um... um asno, se isto significasse não ter de me casar com Giglio! — Você também não é nenhum bilhete premiado, baby. As bochechas dela ficaram vermelhas. — Você sabe o que quero dizer. E não me chame de "baby". Sou uma mulher adulta. Sim. Ela era, como disse, uma mulher adulta. Sua mulher. Sua esposa. Rafe sentiu o corpo se agitar. Eles estavam sozinhos, faltavam ainda algumas horas para a aterrissagem. Ele quase a matara de susto ao avançar sobre ela com a sutileza de um touro alucinado, mas num momento em que tinha feito um julgamento errado a seu respeito. Ela não era uma femme fatale. Era inexperiente. Afinal de contas, quantos amantes poderia uma mulher ter em um vilarejo do tamanho de San Giuseppe? A reação dela a ele não fora teatral. Acontecera porque ele não usara de finesse. Ela estava louca de medo. Medo real e honesto. Alguma coisa horrível havia ocorrido a ela antes. Alguma coisa que a machucara tanto que ela teve de se esconder por debaixo daqueles horríveis vestidos pretos. Quem fizera aquilo com ela? Certamente um homem. Giglio? Um dos outros brutos 40
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton que o pai dela empregava? Ele foi tomado de um ódio irascível. Ele convenceu a si mesmo que sentiria isto em relação ao estupro de qualquer mulher, que não era nada que sentia em particular por Chiara. — Chiara. Ela olhou para ele. — Quem a machucou? Ela o encarou. A cor sumiu-lhe do rosto. — Não sei o que quer dizer. — Sim, você sabe. Por que gritou quando a toquei? — Quer dizer, por que não me derreti de prazer? As palavras escorriam veneno, mas ela não o derrubaria tão facilmente. Rafe cruzou os braços. É uma pergunta simples. O que a deixou tão aterrorizada em relação aos homens? — O que quer dizer é: por que não estou disposta a deixar os homens conseguirem o que querem comigo? — Que tal você parar de me dizer o que quero dizer e apenas responder às minhas perguntas? Do que tem medo? — Se jogarmos uma partida do "Jogo das Vinte Perguntas", eu ganho um divórcio? Em dois passos ele estava diante dela. A mão de Chiara se levantou, a tesourinha brilhava. Rafe não gostava de joguinhos. Ele pegou o pulso dela, arrancou a tesoura de sua mão e jogou o objeto no sofá. Uma pergunta — ele disse bruscamente —, e quero uma resposta. Por que você tem medo de sexo? — Não tenho medo. Além disso, o que tenho ou não tenho não é da sua conta. A mulher era impossível! — É da minha conta sim — ele disse rapidamente. — Você é minha esposa. Ela gargalhou. Diabos, ele não poderia culpá-la. A verdade era que ela não era mais esposa dele do que ele marido dela. Exceto que ele era. Tinha um documento enfiado em seu passaporte que provava isso. — Era por que você achava que eu iria... — Ele sentiu o rosto ficar quente — forçála? — Ele pôs as mãos nos ombros dela. — Eu não iria. Fui agressivo, verdade, e não deveria ter sido. Mas nunca a tomaria contra sua vontade. — Os olhos dela o chamaram de mentiroso. Ele não podia culpá-la por esta reação também. — É verdade. Não sou nenhum santo, mas nunca forçaria uma mulher a fazer amor comigo. — Amor — ela disse, com uma risadinha de desdém. — É isto que homens e mulheres fazem. Fazem amor. — As mãos dele a seguravam. — Eu nunca dormiria com uma mulher que não me quisesse. 41
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton Não, pensou Chiara. Não, ele não precisaria. Uma mulher cederia a ele voluntariamente. Raffaele Orsini era todas as coisas que as mulheres supostamente querem em um homem. Era forte, bonito e tão masculino que em certos momentos a deixava tonta. Então, se uma mulher gostasse de sexo, gostaria dele. E havia mulheres que gostavam de sexo. Ela não era boba. Entendia isto, embora nunca quisesse ser uma daquelas mulheres. Não importava o que ele afirmasse, sexo era algo para homens. Uma mulher tinha que ceder àquilo, se fosse casada. À nudez. À intimidade. Ao corpo contra corpo, ao cheiro de suor, à terrível, dolorosa e humilhante invasão de seu corpo... A mãe havia lhe explicado tudo para que estivesse preparada quando, chegasse o momento de ser desposada. — Não quero que minha filha vá para sua noite de núpcias sem saber o que a espera — mama lhe havia dito. Um calafrio passou por ela. O americano reparou. Como um grande e bravo macho que era, reagiu instantaneamente. — Chiara. Ela balançou a cabeça, deu um passo para trás, mas ele passou os braços por ela e a trouxe mais próxima. Ela o deixou fazer isto. Quanto mais cedo o convencesse de que estava bem, mais cedo ele a soltaria. Ela sentia o calor vindo dele. Sentia a dureza de seu corpo masculino. Sentia o aroma masculino. O medo a fez engasgar. Ele parecia saber disso e começou a sussurrar como fizera alguns minutos atrás. Tinha de admitir que naquela situação ele a havia acalmado, mas ela estivera em choque. Fora o calor dele que a acalmara. Ela disse a si mesma que um cobertor teria tido o mesmo efeito. Ainda assim, sentiu-se respondendo ao toque calmante dele, à voz dele. Ela suspirou, fechou os olhos, sentiu uma das mãos dele acariciar seu cabelo, pegar delicadamente seu rosto, levar seu rosto até o dele... Chiara se jogou para trás. — Não me toque! Rafe afastou-lhe as mãos com extremo cuidado. Ela o olhava como se ele fosse um serial killer. Sem dúvida, nenhuma a moça tinha qualquer problema. Mas não era problema dele. Ela não era problema dele. No minuto em que chegassem a Nova York, ele ligaria para sua advogada e lhe diria para começar a lidar com o que fosse necessário para encerrar com esta fraude de casamento. O quanto antes se livrasse desta bagunça melhor.
Capítulo 7
A primeira visão que Chiara teve de Nova York quase a deixou sem fôlego. 42
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton Luzes, o que pareciam milhões delas, piscando embaixo do avião, como brilhantes sobre veludo negro. Assim que o jato começou a descer, ela pôde ver que as luzes se moviam. Eram as luzes de automóveis percorrendo infinitas autoestradas que se cruzavam. Aonde todas estas pessoas iam no meio da noite? Era madrugada no horário local. No fuso horário da Costa Leste. Ela teria de se lembrar disto. Não era como na Itália, onde a hora era a mesma se você estivesse em Roma, Florença ou Palermo. O avião aterrissou com um delicado solavanco contra a pista de pouso. O comandante fez um agradável anúncio, dando a eles boas. vindas à Nova York. Chiara, após se debater com o cinto de segurança, ficou rapidamente de pé. O avião ainda se movia pela pista de taxiamento quando ela começou a atravessar cegamente o corredor. Uma forte mão se fechou levemente em seu ombro. — Estou feliz em vê-la com tanta pressa para chegar a seu novo lar — disse seu marido. Ela sentiu ironia na voz dele, sentia possessividade naquele toque. O coração disparou. Só Deus sabia o que vinha pela frente. O que quer que fosse, ela enfrentaria com coragem. Se a vida lhe ensinara alguma coisa, era que você nunca deveria demonstrar fraqueza na frente de seu opressor. O avião finalmente parou. A porta se abriu com um shoosh. Minutos depois, saíram em direção a um automóvel que os esperava. Um motorista uniformizado esperava ao lado do veículo. O carrão se moveu silenciosamente através da noite. Por enquanto tudo bem, pensou Rafe, descontando o fato de que sua esposa sentava ao seu lado como uma prisioneira sendo conduzida à execução. Amanhã pela manhã, primeira coisa do dia, ele telefonaria para sua advogada, começaria o procedimento que faria sua vida voltar ao normal. Não importava o que houvesse dito á Chiara, ele queria o divórcio tanto quanto ela. E o drama no avião, todo aquela conversa de não dar o divórcio a ela? Nada daquilo importava. Ele estava chateado, era só, e havia feito uma ameaça que não tinha a menor intenção de manter Ele queria cair fora. O trânsito estava calmo nesta hora da madrugada. O carrão se movia tranqüilamente, acelerou pela Quinta Avenida e parou em frente do edifício dele. O porteiro os saudou educadamente. Se ele achara incomum a visão de uma mulher enrolada em um casaco como aquelas velhinhas de filmes estrangeiros ruins, ele fora muito bem treinado para demonstrar. Eles subiram o elevador em silêncio. Nada de novo aqui. Eles haviam feito a viagem desde o aeroporto da mesma forma. A porta se abriu quando chegaram a sua cobertura. Rafe a conduziu para o hall de entrada. — O.k. — disse bruscamente —, estamos em casa. Que comentário idiota, mas o que mais poderia dizer? Deixou as malas no chão, tirou sua jaqueta, conferiu uma pequena pilha de 43
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton correspondência sobre a mesa próxima à entrada, conferiu sua secretária eletrônica, deu a Chiara tempo para dizer algo, fazer algo mas, ao se virar, ela estava parada precisamente onde ele a havia deixado, exceto que os ombros dela se apoiavam contra a parede. Apesar de tudo, ele sentiu pena, junto à angustiante compreensão de que não havia por que ficar bravo com ela. Não importavam as acusações que podia fazer-lhe. A verdade era inevitável. Nenhum dos dois queria este casamento. Droga, pensou, e pigarreou. — Chiara? — Ela o olhou. — Por que você não, hã, tira o casaco? Ela não respondeu. O.k., Ele tentaria de novo. — Você gostaria, hã, gostaria de comer alguma coisa? Nada. A mandíbula dele se apertou. Ela não o ajudaria em nada. — Olhe — ele disse —, sei que isto não é o que nenhum de nós queria... — É o que você queria — replicou friamente. — Eu? Diabos, não. Por que você acha... — Você não concorda com o divórcio. — O.k. Certo — Rafe passou a mão em seu próprio cabelo — Olhe, em relação a isto... — A única coisa que lhe prometo, signor, é que nunca serei uma verdadeira esposa para você! — Maldição, se você apenas me escutar... — Você pode me forçar a continuar sendo sua propriedade. Pode me forçar a fazer uma série de coisas, mas nunca o deixarei esquecer que as farei contra minha vontade. Os olhos de Rafe se cerraram. — Estamos falando de sexo novamente? — Estou falando a respeito de submissão feminina era geral e, sim, isto inclui... isto inclui... — Sexo. — Ele deu um sorriso fechado. — Você pode dizer a palavra. Não a contaminará. A cor do seu rosto foi de um rosa profundo a um vermelho intenso. — Sei que é difícil para você acreditar, mas nem toda mulher quer fingir que gosta de ser o recipiente dos desejos mais básicos de um homem. Uau. A atitude dela definitivamente precisava de atualização, mas isto seria problema de outro homem, não seu. Por que não dizer a ela que não teria nada com que se preocupar? O divórcio estava apenas a um telefonema de distância... — Talvez você ache que tem direito a... a privilégios especiais por supostamente me salvar de Giglio. Qualquer que fosse o seu limite, ele podia senti-lo chegar ao fim. — Supostamente? Chiara deu de ombros. — Você mesmo disse. Você tinha intenção de se casar comigo desde o começo. — Só disse isto porque estava irritado. Droga, você sabe muito bem que só fiz isto 44
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton porque seu velho ameaçou entregá-la ao capo. — Por que eu deveria acreditar em você agora? — O sorriso dela era frio como gelo — Afinal de contas, signor, você mente para mim com tanta facilidade. OK. Agora chega. Ele havia sido insultado demais. Era hora de deixá-la cozinhar no próprio caldo por um tempo. — Sabe — disse friamente. — Ouvi besteiras o bastante para toda uma vida. Agora é hora de ir para cama. A cor sumiu do seu rosto. Ela entendera errado. Ele abriu a boca para explicar, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, ela soltou uma frase em siciliano que ele só havia ouvido quando criança, nas ruas. — Certo — disse entre os dentes. — É exatamente o que sou. Ele partiu na direção dela, pegou seu braço e a puxou para si. Ela gritou, lutou e, com um xingamento que se igualava ao dela, ele a levantou nos braços e a carregou pela escada até o segundo andar, seguindo pelo corredor até um dos quartos de hóspedes onde jogou-a no centro da cama. Ela desvirou e se encostou nos travesseiros. Seu cabelo era um emaranhado de cachos rebeldes. Seu casaco estava aberto, exibindo o traje ridículo que usava... O traje incrivelmente sexy que usava. Os seios obscurecidos pelo fino algodão da camiseta dele. Seus mamilos ásperos e apenas aguardando pelo toque dos dedos dele, pelo calor de sua boca... Rafe deu um passo para trás. Apontou com a cabeça uma porta entreaberta. — Seu banheiro é ali. Há uma escova de dentes limpa no lavabo. Pasta de dentes. Toalhas. Sabonete. Xampu. O que quer que possa precisar. — Se acha que vou me... me preparar para você... — Se fizesse isto estaria perdendo tempo. Gosto de minhas mulheres carinhosas, femininas e sexy. Você não se aproxima nem um pouco desta descrição. Não me espanta que seu velho tenha de lhe encontrar um marido. Uma frase bem colocada, e ele a havia proferido enquanto saía do aposento. Estava na metade do caminho em direção ao hall quando ouviu a porta do quarto bater forte o bastante para fazer as paredes tremerem. Por algum louco motivo isto o fez sorrir. Um banho quente e cama. Era o que ele precisava. O banho estava bom. Assim como a cama, até ele transformar os lençóis numa bagunça emaranhada. Após uma hora tentando dormir, ele desistiu, virou de costas e ficou vendo o relógio digital piscar os minutos um após outro. Duas da manhã. Três. Quatro. Maldição, ele tinha que trabalhar pela manhã. Não tinha tempo para isto agora. Uma dose de conhaque resolveria. Resolveu. Vinte minutos após beber o Courvoisier, Rafe deitou-se na cama e desmaiou. Algo o acordou. Ele não tinha certeza do que era. Um som, mas o quê? Não o despertador. Os números vermelhos no relógio se mantinham a 5h da manhã, o que significa que tinha 55 minutos até o aparelho começar a buzinar. 45
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton De novo. Um barulho. Fraco, mas... Um choro? Isso. Alguém chorava. Inferno. Era Chiara. Sentou-se na cama e esfregou as mãos no queixo barbado. E agora? Ignorá-la? Bem que devia. Deixe-a chorar. Quem se importava? Todas as vezes em que tentara tratá-la com delicadeza, ela reagira como um cão raivoso. Ele recostou novamente contra os travesseiros e cruzou os braços por baixo da cabeça. Ela estava infeliz? Ele também não estava exatamente eufórico. Se ela chorava, o problema era dela. Mas o choro não parava. Diabos, e daí? Ele já ouvira mulheres chorar antes. Ingrid, por exemplo, poucos dias atrás... Uma vida inteira atrás. Mas não havia sido um choro como este. Triste. Desesperado. Como se os soluços estivessem sendo arrancados da alma dela. Rafe levantou-se, partiu em direção à porta, então foi para o quarto de hóspedes e lá parou. — Chiara? Primeiro achou que os soluços haviam terminado. Não. Apenas foram abafados. Ela chorava como se o seu coração fosse explodir. — Chiara — disse de novo, e bateu suavemente na porta. Ainda sem resposta. Ele respirou fundo. Então, cuidadosamente, tentou a maçaneta. Ela girou e a porta se abriu. O quarto estava escuro, mas ela deixara a luz do banheiro acesa e a porta parcialmente aberta. Ele podia ver uma forma amontoada no centro da cama. Rafe a chamou novamente. Ainda sem resposta. Lentamente se dirigiu até lá e se sentou, com cautela, na borda do colchão. Podia vê-la agora, parte dela ao menos. Ela era um pequeno e triste volume por debaixo do edredom, seu rosto enterrado nos travesseiros. O coração dele se apertou. Ela era pequena e estava assustada, ele sabia e havia influído nisso. Sem pensar, aproximou-se e suavemente acariciou-lhe os cabelos. — Chiara, querida. Me desculpe. Por favor, não chore... Os lençóis pareciam explodir. Rafe se preparou para um grito, um berro, um direto em seu queixo... Mas nada aconteceu. Chiara jogou-se em cima dele, enlaçou-o pelo pescoço e enterrou o rosto úmido no ombro nu dele. Espantado, ele sentou-se absolutamente imóvel. Então, devagar, envolveu-a em seus braços. Colheu neles aquela doce, terna e atemorizada mulher. Ele fechou os olhos. Segurá-la era maravilhoso. E ela estava perfumada. Seu sabonete. Seu xampu. E misturado a estes aromas, a essência de mulher. De Chiara. De sua esposa. O corpo dele se arrepiou. Silenciosamente, se amaldiçoou por isto. Não havia nada de sexual acontecendo aqui. A aurora já despontava sobre uma cidade que dormia e ele tinha uma mulher em prantos em seus braços. Lembre-se disto, Orsini, disse a si mesmo com severidade. 46
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton — Chiara — disse gentilmente. — O que houve? Teve um pesadelo? Ela concordou com a cabeça. Seus cabelos, aqueles maravilhosos cachos negros, deslizavam como plumagem pela pele de Rafe. Ele fechou os olhos de novo, a trouxe mais perto, segurou-a mais firmemente contra o coração. — Quer falar sobre isso? Ela balançou a cabeça. — Não. Tudo bem. Você não precisa... — Sonhei que era minha noite de núpcias. Um músculo se contraiu na mandíbula dele. Era a noite de núpcias dela. E era uma droga saber que ele era o seu pesadelo. — Está tudo bem, baby. Nada vai lhe acontecer. Eu prometo. — Minha noite de núpcias com... com Giglio. Agora sim, um pesadelo. Os braços de Rafe a apertaram mais. — Shh, querida. Foi somente um pesadelo. Um calafrio passou por ela. — Foi tão real. As mãos dele em mim. A sua boca. — Shh — disse Rafe novamente, um ódio irracional surgiu nele pela imagem que ela descrevia. — Giglio não pode alcançá-la. Não mais. Silêncio. Outro calafrio. Então um sussurro tão baixo que ele quase não pôde ouvir. — O quê? — perguntou ele, e inclinou a cabeça em direção à dela. — Eu disse... disse que tenho sido horrível com você, Raffaele. Você me salvou dele. E ao invés de lhe agradecer, o acusei de... de todos os tipos de coisas terríveis. Ele sorriu. — Me parece que ambos fizemos um bom trabalho em acusar um ao outro de todos os tipos de coisas terríveis. — É só que nunca esperei que nada disto acontecesse. Meu pai havia ameaçado me casar com um americano, mas... — É bem o que todo cara espera — disse Rafe, tentando usar de humor. — Ser o pior pesadelo de uma linda mulher. Sua pequena tentativa passou despercebida por ela. — Não — ela disse rapidamente. — Não sonhei com você, Raffaele, sonhei com... — Eu sei. Só quis dizer... Chiara, você tem de acreditar em mim. Sim, meu pai queria me casar com você, mas eu não tinha a menor intenção de fazê-lo. Não que um homem não tivesse sorte ao se casar com você — ele acrescentou rapidamente. — Mas... A mão dela se levantou. Ela colocou-a sobre os lábios dele. — Não é... não é que eu não queira ser sua esposa. É que eu não queria ser esposa de ninguém, entende? Ele não entendia. Não mesmo. Ele saía com mulheres desde os 16 anos e nunca havia cruzado com uma cujo objetivo final, não importava o que dissesse, não fosse o casamento. Então pensou sobre o que sabia da mulher em seus braços. A dominação do pai dela. O isolamento. E acima de tudo seu medo de sexo, um medo sobre o qual ele fizera pouco para 47
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton diminuir nas últimas horas. — É verdade — ela disse. — Não é você. Seria com qualquer homem. — E se encostou mais nos braços dele, o rosto voltado para o dele, os olhos brilhantes, seus negros cílios salpicados de lágrimas. — Você entende? Deus, ela era tão linda! Tão vulnerável, recostada em seus braços... — Sim — disse ele, sua voz um tanto áspera. — Eu entendo. Mas você precisa saber... precisa saber que nem todos os homens são animais, querida. Um sorriso pálido curvou os lábios dela. — Talvez você seja a exceção. A exceção? Se fosse, seu corpo não estaria respondendo ao terno calor do corpo dela. Ele não estaria olhando para ela e se perguntando se a boca de Chiara tinha o gosto tão doce quanto ele lembrava, se ela estava nua por debaixo daquela coisa gigante de algodão que ele deduzia ser uma camisola. — Eu... eu agradeço sua decência — disse ela, e cada miserável instinto masculino que ele tinha gritava: É? Então que tal provar isto? Ele sentou-se reto, quase arrancou os braços de Chiara de seu pescoço e a fez sentar-se contra os travesseiros, agradecido... bem, esperançoso... que sua calça de malha escondesse o efeito que ela provocava sobre ele. — Bem — ele disse, animado. — Você estará bem agora — Ela não respondeu. — Então, hã, então tente dormir um pouco. — Ainda sem resposta. Ele pigarreou — Chiara? Sobre o divórcio? — Sim? A nota de esperança contida naquela palavra o teria entusiasmado, se esta fosse Ingrid ou qualquer uma de uma centena de mulheres. Como estava, só o fez sentir uma pontada de remorso. — Ligarei para minha advogada como primeira coisa da manhã para iniciar o processo. Ela deu um suspiro profundo. — Grazie bene, Raffaele. As jóias... — Esqueça. São suas. — Posso ao menos usá-las para pagar minha parte dos custos legais? — Eu disse que não as quero. — Ele sabia que havia sido grosso, mas, droga, ela realmente pensava que ele iria deixá-la pagar pela dissolução do casamento? Tudo bem que fosse um casamento falso, mas mesmo assim... — Prefiro que fique com elas — ele disse, buscando um tom mais calmo. — Grazie. Posso usar o dinheiro delas para viver. Nova York é uma cidade cara, certo? — Sim, Nova York é cara. Mas não será tão ruim. Não com a pensão alimentícia. — Pensão alimentícia? Pensão alimentícia? Sua mente desnorteada ecoava. Um acordo já era ruim o bastante, mas pensão alimentícia? Por que ele pagaria pensão para uma mulher que fora sua esposa por... o quê, 24 horas? 48
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton — Não quero pensão alimentícia, Raffaele. Não tivemos um casamento de verdade. — Certo, mas aqui é a América. Todo mundo paga pensão alimentícia — retrucou ele com uma cara séria, embora já pudesse ouvir sua advogada gritando de pavor jurídico. Chiara sorriu. — Acho — ela disse, bem suavemente. — Acho que talvez você seja um homem honrado, Raffaele Orsini. A culpa fez com que a mandíbula dele se apertasse. Ela não pensaria isto se pudesse ver a resposta do corpo dele à suave mão que ela depositou em sua coxa. Ele tomou aquela mão, cumprimentou-a rapidamente e se levantou. — O.k. — disse claramente —, hora de dormir. O sorriso dela desapareceu. — Você não terá aquele pesadelo de novo — disse Rafe suavemente. Ela não respondeu, então ele pigarreou: — Se quiser... se quiser, me sento naquela cadeira e espero até você dormir. — Não se importaria? — Me importar? Não. Fico feliz em fazê-lo. — Você estaria confortável? Confortável? Não nesta vida. A cadeira em questão era uma Queen Anne, ou Marie Antoinette, ou Lady Godiva ou algo assim. Tinha um ar frágil. Ele pusera seu próprio gosto na sala de estar, na biblioteca, na sala de jantar e em seu quarto, mas havia ficado impaciente depois de um tempo e deixara o decorador livre para fazer os quartos de hóspedes. Um dos resultados disso era aquela cadeira. Poderia agüentar um anão, mas agüentaria um homem que descalço tinha l,92m de altura? — Raffaele? Não quero que fique desconfortável. — Ficarei bem — ele disse com convicção, puxou a cadeira para a frente, sentou nela e rezou para que não desmontasse sob seu peso. — Grazie bene — disse Chiara com suavidade. Rafe concordou com a cabeça. — Sem problemas. Feche os olhos e... Ela dormia. Ele sentou lá observando-a por um tempo, a negra curvatura dos cílios e suas bochechas pálidas, as curvas de seus cachos contra o rosto, o constante subir e descer dos seios. Um músculo se contraiu na mandíbula de Rafe, ele se levantou e ajeitou o edredom sobre os ombros dela. Queria tocá-la. O rosto dela. O cabelo. Os seios. Ele forçou seu cérebro a parar de ir para onde ia. Concentrou-se em inspirar fundo. Precisava descansar, mas era impossível. A maldita cadeira... E se saísse devagarinho do quarto? Ela estava dormindo muito profundamente. Sim, mas e se sonhasse com Giglio de novo? Ele havia prometido que ela não sonharia, mas até agora suas previsões inteligentes foram dificilmente infalíveis. As costas dele doíam. Sua bunda. Suas pernas. Ele olhou para a cama. Era uma king-size. Chiara estava encolhida em um canto. Ele poderia sentar a uma certa distância... sentar não, deitar... e ao menos esticar as pernas. Ele não a tocaria e ela nunca saberia que ele estava ali. Rafe mudou-se com cuidado, esperando para se certificar de que ela não acordasse antes de ele se encostar nos travesseiros. Sim. Assim estava bem melhor. Ele sabia que 49
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton não iria dormir mesmo estando exausto. Bocejou. Bocejou novamente até sua mandíbula estalar. Talvez pudesse fechar os olhos por apenas uns minutinhos... O sol, brilhando através das portas da varanda, o acordou. Chiara estava dormindo em seus braços, a mão dela sobre o coração dele, sua respiração suave e quente contra a garganta dele. Rafe engoliu um gemido de frustração. Então deixou cair o mais leve dos beijos no cabelo de sua esposa adormecida, deixou sua cama e partiu em direção a seu banheiro para a mais longa ducha fria que tomaria em sua vida.
Capítulo 8
Lentamente, cuidadosamente, Chiara abriu os olhos. Ela havia sonhado ou Raffaele tinha estado na cama com ela, segurando-a em seus braços? Deve ter sido um sonho. Um homem não entraria na cama de uma mulher apenas para ficar próximo a ela. Nem mesmo um homem como Raffaele, que, tinha de admitir, parecia ter instintos decentes. Nem mesmo ele teria dormido com ela encolhida contra ele sem... sem tentar algo sexual. Ainda assim, o sonho parecia real. Os braços dele, confortantes e fortes ao redor dela. O corpo dele, quente e sólido contra o dela. O coração dele, batendo sob a palma dela. E então, quase antes dela acordar, o suave roçar dos lábios dele... Um sonho, é claro. E, pelo menos, um sonho que não a havia deixado em pânico. Apesar das coisas nele que eram boas, sua galhardia em casar-se com ela, sua gentileza na noite anterior, ele ainda representava tudo o que ela desprezava. Só que ela não mais o desprezava. Chiara afastou os cobertores e pôs-se rapidamente de pé. Havia uma manta de lã afegã de cashmere nos pés da cama. Ela se enrolou na manta e pisou, descalça, sobre um rico tapete oriental até as portas que se abriam para uma pequena varanda. A rua estava movimentada. Ainda assim, aqui em cima era surpreendentemente quieto. Ela também não esperava por isto. A verdade era que ela não esperava pela maioria do que lhe aconteceu desde ontem. Ela certamente não esperava o quão pouco descobrira a respeito de Raffaele Orsini. 50
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton Ela havia, quase certamente, julgado errado as razões dele para se casar com ela. Sentia-se um pouco culpada. Não muito, afinal de contas, ambos julgaram errado um ao outro. Mas tudo apontava para o fato de que ele tinha ido à Sicília para fazer o que o pai dele lhe pedira. Que ele a havia tomado como esposa somente para salvá-la de ser entregue a Giglio. Mas, como ele dissera, não era nenhum Cavaleiro Andante. Era um criminoso, como o pai dela. Como o pai dele. Estava em seu sangue, mesmo que ele aparentasse mais um homem saído das revistas de moda que eram a única fraqueza da srta. Ellis... Era interessante, até surpreendente, que ele tivesse instintos decentes, mas isto não mudava os fatos. Ainda assim, não seria uma coisa boa deixar claro que estava grata a ele pelo que havia feito? Ela pouco lembrava do que disseram um ao outro na noite passada, quando ele entrara no seu quarto. Ela tinha bastante certeza de ter agradecido, mas mostrar sua gratidão seria educado. Como? Ela podia encontrar maneiras de ser útil. Café! Homens adoram acordar sentindo o cheiro de café. Quando seu pai descia pelas manhãs, sempre dizia que o cheiro de um bom espresso fresco era a maneira perfeita de começar um dia. Chiara retirou um vestido e roupas de baixo de sua mala, correu para o banheiro e ligou o chuveiro. Rafe sempre começava o dia com uma chuveirada. Este dia começou com duas, ambas geladas o bastante para fazer seus dentes tremerem. A água gélida fez o serviço de aquietar seus ainda pulsantes hormônios, mas nada conseguia parar a dor de cabeça que se acomodara bem atrás de seus olhos. Ele engoliu dois comprimidos de ibuprofeno, mas os duendes dentro de seu crânio somente riram e bateram mais fortemente em seus tambores. A dor de cabeça se igualava a seu humor rapidamente deteriorante. Ele era louco? Tinha de ser, do contrário por que estava levando esta rotina de escoteiro tão longe? Já era ruim o bastante haver casado com Chiara. O que diabos o possuiu para que o fizesse dormir com ela, realmente dormir com ela, sem nenhum eufemismo aqui? Acordar ao lado de uma mulher que não podia ter grudada em você e uma ereção indesejável dentro de sua calça não era uma boa idéia, especialmente se estiver preso a ela e incapaz de fazer qualquer coisa contra aquela ereção. Certo. Definitivamente não era uma maneira de se começar um dia. E exatamente quando ele começou a aceitar a bagunça em que havia se metido? Rafe olhava furioso ao sair do chuveiro e se enxugar. Próximo passo, tribunal de divórcio. Agora era o momento para telefonar para sua advogada. Primeiro, antes de tudo, deveria fazer sua cabeça funcionar direito. Um par de aspirinas para ajudar o ibuprofeno a fazer seu efeito. Então café. Muito café. Forte e negro. Isto resolveria o problema. 51
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton Ele fechou o zíper e colocou um suéter de algodão cinza. Não se importou em fazer a barba. Não adiantava fingir que iria para o escritório hoje. Nada em sua mesa era tão importante quanto dissolver um relacionamento que não era um relacionamento. Conferiu as horas. Mal havia passado das sete. Uma hora razoável para ligar para Marilyn Sayers, mas antes tomariam aquele café. Deixe as pílulas para enxaqueca fazerem o trabalho. Ele queria aparentar frieza e controle ao contar a Sayers sobre sua incrível situação. Ela teria perguntas, mas tudo que realmente precisava saber era onde e quando a cerimônia de casamento havia acontecido e que ele o queria anulado o quanto antes. Cerimônia de casamento? Ele deu uma risadinha. Ridículo. Não dignificaria o que aconteceu em San Giuseppe com este nome. Houve um tipo de cerimônia e só. Certamente aquilo não fora uma... Crash! Rafe girou em direção à porta. O que era isso? Parecia que dois carros haviam acabado de colidir em seu apart... De novo, aquele barulho metálico de batida alto o bastante para fazer com que os duendes em seu crânio seguissem o ritmo. Quando o terceiro estrondo ecoou pela cobertura, ele já estava na metade das escadas, correndo em direção ao hall... Ele derrapou até parar na entrada da cozinha. Mas que diabos...? Parecia que o departamento de utensílios de cozinha da Bloommgdale's decidira realizar uma queima de estoque bem ali, em sua imaculada, em sua antes imaculada, cozinha. As bancadas de granito branco, o piso de pedra negra... estavam todos cobertos com panelas e frigideiras. Grandes. Pequenas. De aço inoxidável. De ferro. De cerâmica. O local estava entulhado até os tornozelos de utensílios de cozinha, mais que imaginava que possuísse, pois aquelas coisas foram idéia de seu decorador, não dele. Por que um homem que não cozinhava precisaria de um milhão de itens de cozinha? No centro de tudo estava Chiara, vestida como um agente funerário em algo negro que ia até a altura dos tornozelos e pesados sapatos pretos, o cabelo preso naquele maldito coque. Chiara, que havia decidido tomar a cozinha dele. Chiara, que estava, sem dúvida, prestes a pronunciar aquelas famosas oito palavras... — O que está fazendo? — ele disse diretamente. Ela se virou para ele. — Raffaele! — Eu lhe fiz uma pergunta. O que está fazendo? Ela hesitou, olhou ao redor e então para ele. — Acho que você ignorava que eu sabia cozinhar. Tá. Era uma variação das palavras, mas o tema era o mesmo. Cara, como ele a havia julgado erroneamente! Ela deu um sorriso hesitante. — Estava fazendo café. Rafe cruzou os braços. — Qual é, baby? — Sua voz era gelada. Incrível, considerando que sentia sua pressão sangüínea disparando em direção à estratosfera — Só café? Que tal um verdadeiro desjejum? Ovos. Rabanada. Waffles. Você consegue fazer estas coisas, certo? Ela engoliu em seco. Concordou com a cabeça. E deu outro sorriso cauteloso. Rafe podia sentir sua irritação crescendo, Ela queria sair deste casamento? Até parece, ele 52
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton pensou em ódio crescente, e sua pressão já passando do teto. — Tenho uma empregada doméstica — ele grunhiu. — Quando quero preparar algo, peço a ela para fazer. O sorriso de Chiara desapareceu. — Sim. É claro. Eu lhe disse, só desejava fazer café. Espresso. Mas não encontrava a cafeteira, então... — Não encontrava porque não tenho uma. Ou você deduziu que ter um nome italiano significava ter saído da barriga de minha mãe com uma cafeteira espresso enfiada em... minhas mãos? — Não. Quer dizer, sim. — Ela prendeu o lábio entre os dentes. — Não quis deixá-lo irritado. — Não estou irritado — disse Rafe — Por que estaria? Só porque você decidiu que não quer mais cair fora deste casamento absurdo... — O quê? — Só porque você acha que essa do "eu sei cozinhar" mudaria minha decisão... — Você é pazzo! Claro que quero, como você disse, cair fora deste casamento! — As mãos dela bateram na cintura. — E não tenho a mínima idéia do que seja essa do "eu sei cozinhar"! — Uma história parecida. Chiara se recompôs. — Não preciso ficar aqui ouvindo esta idiotice. — Não. O que precisa fazer é arrumar minha cozinha. — Rafe olhava irritado. — Olhe só. Você a desmontou e... O som de algo borbulhando chamou sua atenção. O olhar dele foi para além dela. A prensa francesa estava no bocal frontal de seu enorme fogão Viking. O bocal estava vermelho de tão quente, a prensa francesa cheia d'água. Água fervente. Ele disse um palavrão, correu pela cozinha, pegou a prensa francesa e deu um berro quando seus dedos encostaram no vidro quente. O previsível aconteceu. A prensa escorregou de suas mãos, espatifou-se contra o chão e espirrou água fervente nos dedos de seus pés descalços. — Oh, Dio mio! Chiara sacudiu as mãos. Uma delas segurava uma frigideira de ferro. O previsível aconteceu novamente. A frigideira quicou na bancada e caiu nos dedos do pé ainda descalço e agora escaldado de Rafe. — Figlio di puttana! — Raffaele! — disse Chiara, aparentando estar chocada. Rafe a ignorou, pulou até a geladeira e apertou um botão. Cubos de gelo caíram em sua mão. Ele segurou alguns e jogou, outros nos dedos de seu pé. Droga, sua vida havia se transformado em um reality show. E era tudo culpa desta mulher. Não. Culpa dele. Por que se casara com ela. Mas e daí? Podia tê-la deixado em Palermo. Podia tê-la deixado em um hotel de Manhattan. Podia ter feito uma centena de coisas ao invés de tê-la em sua casa. Chiara chamou-o de novo e ele se voltou para ela. — Você está... você está bem? 53
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton — Estou O.k. — ele respondeu friamente. Ela apontou para a mão e para o pé dele. — Me desculpe, Raffaele. A voz dela tremia. Estava a ponto de chorar. E quem se importava? — Só quis fazer uma coisa boa. Mostrar que era agradecida pelo que você fez por mim. — A única maneira de fazer isto seria apagar o dia de ontem, e isto não vai acontecer. As lágrimas apareceram, enchendo os olhos dela até que brilharam como diamantes. E daí? As mulheres tinham facilidade em produzir lágrimas instantâneas. Isto não mudava nada. — Pare com isso — ele rosnou. Ela se virou de costas e chorou com mais força. Ele se sentiu mal mas, diabos, ela provavelmente queria que se sentisse assim. Ela era esperta. Em algum momento entre a cerimônia em San Giuseppe e a chegada aqui ele havia se esquecido disso. Bem, não esqueceria novamente. Esta era a mulher que havia lhe preparado uma emboscada na estrada. Que o havia beijado como se quisesse sugar as amídalas segundos antes de assumir o papel de Virgem Petrificada. Esqueça o que pensou ontem á noite, que ela era tão vitima quanto ele. Ainda assim, ele certamente não a queria chorando por causa de alguns acidentes idiotas. — O.k. — disse. — Chega. É só uma cozinha. — Eu queimei seus dedos. — Você não os queimou, eu os queimei. — Ele virou-a para ele, mostrou a mão e flexionou os dedos. — Está vendo? Tudo bem agora. O gelo resolveu o problema. — E quebrei os dedos de seu pé. — Dedo. Apenas um. O dedão. — Ele baixou os olhos e ela fez o mesmo. Flexionou os dedos do pé e se segurou para não fazer cara de dor. O maldito dedão provavelmente estava quebrado mesmo, mas ele preferiria andar sobre pregos a ter de admitir isto. — Está vendo? Está tudo bem. O gelo faz maravilhas. Ela deu um pequeno soluço e levantou o rosto em direção ao dele. Diabos, ele pensou, com um nó na garganta, não ensinavam mais as mulheres a chorar delicadamente no Curso Básico de Pranto? Porque não havia nada de delicado nos olhos vermelhos e nariz escorrendo de Chiara. Ela estava verdadeiramente uma bagunça, uma bagunça tão patética quanto a cozinha e o casamento deles. E ainda assim ela parecia até mais linda. Como podia ser? Tudo que ela usava era feio. Estava sem maquiagem. Havia chorado até o rosto ficar um desastre. — Raffaele. - A voz dela rachava. Mais lágrimas escorriam por suas bochechas. — Eu sinto muito. Por tudo. Por arruinar sua vida, sua cozinha... — Sshh — ele disse, e então fez a única coisa lógica. Segurou o rosto dela com as mãos, trouxe-lhe os lábios até os seus e a beijou. Sua mente lhe disse que aquilo era um erro. Você não beija uma mulher da qual quer se livrar. Você certamente não beija uma mulher que deixou claro que tinha medo de qualquer tipo de intimidade física. 54
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton Só... só que ela não lutou. Não arfava de medo ou ódio. Não, ele pensou admirado, não... Ela se derretia em seus braços. Num momento segurava uma mulher em prantos, cuja espinha parecia feita de aço. No momento seguinte ela estava na ponta dos pés, inclinando-se em direção a ele. Os braços firmes ao redor do seu pescoço. O coração dela disparado como o dele. Era o que deveria ter ocorrido esta manhã cedo, ele pensou... Então parou de pensar. As mãos dela lhe acariciavam o cabelo. Chiara gemeu e trouxe o rosto dele para mais perto. Ele sussurrou-lhe o nome, inclinou a boca esfomeada em direção à dela, segurou-lhe as nádegas com as mãos em concha e a levantou era direção a sua pulsante ereção. Ela prendeu a respiração. Ele achou que a tivesse assustado, mas ela se moveu contra ele, e de novo, uma tentativa de impulso da parte inferior do corpo dela o fez chegar mais perto do que nunca da perdição. — Raffaele — sussurrou. A palavra tremeu em seus lábios, que flutuavam sobre os dele. — Chiara. Minha linda Chiara. As mãos dele subiram. Seguraram os seios em concha. Ela soltou um gritinho, pronunciou o nome dele, fez aqueles doces sons que uma mulher faz quando deseja um homem. Ele jogou para o lado o que quer que ainda estivesse na bancada de granito, segurou-lhe a cintura e a levantou até lá. Não assim, dizia a lógica. Não aqui, não na primeira vez dela! Ao inferno com a lógica. Ele a queria, agora. Precisava dela, agora. Estava tonto de desejo, louco de desejo, desejando beijá-la, tocá-la, e invadir-lhe o corpo. De alguma maneira forçou-se a ir devagar. Beijou-a nas pálpebras, nas sobrancelhas, na boca. Doce. Macia. Quente. Os lábios dela presos aos seus. Ele sentiu o primeiro roçar delicado da língua dela contra sua, e o desejo, quente e pungente, o atingiu como uma flecha. — Raffaele? Raffaele. Eu quero... eu quero... — Me diga — ele respondeu com voz rouca, entre beijos quentes e profundos. — Diga-me o que você quer, querida. Tudo, ela pensou. Oh Dio, ela queria tudo. A boca de Raffaele bebendo da sua. A sedosa intrusão da língua dele. Os dedos tocando-lhe as maçãs do rosto, o pescoço, os seios. E, sim, o que ele fazia agora. Desabotoando a interminável fileira de botões do vestido. Deixando o corpo nu para ele. A curva dos seios aparecendo por cima do sutiã. Ele beijou a cavidade do pescoço dela. Mordiscou suavemente a pele. Ela arfou. Sua cabeça caiu para trás. Ela teria caído para trás também, estava mole como se não tivesse ossos, mas ele segurou-lhe os ombros, as fortes mãos apoiando-a ao trazê-la novamente para si e beijá-la de novo e de novo. Não era o bastante. Nada era o bastante. Como poderia ser o bastante? Ela doía de desejo por ele. Para que ele a possuísse. Ela choramingou o nome de Rafe. Os olhos dele encontraram os dela. Os olhos 55
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton negros de desejo. Ela sabia o que aquilo significava. Pela primeira vez, um surto de temor deslizou pelo seu ventre. — Raffaele — disse sem fôlego. — Raffaele... Ele segurou a barra do vestido, colheu-a em suas mãos grandes e elevou-a até sobre as coxas dela. Colocou-se sobre ela. Ainda observando-lhe o rosto, colocou uma das mãos no meio das pernas dela, aquele templo do mal sobre o qual a mãe a havia alertado. Ela deu um gritinho. — Raffaele — disse e ele passou os dedos por debaixo da borda da calcinha, e Chiara sentiu a umidade daquele local, o calor, a palpitação de sua pulsação... — Ai meu Deus — gritou, esganiçada, a voz de uma mulher. — Oh, sr. Orsini! Eu não sabia... Chiara congelou. Rafe ficou imóvel — Voltarei mais tarde, senhor, O.k.? Claro. É o que farei. Me desculpe, senhor... Um gemido baixo saiu da garganta de Chiara. Ela se pôs em movimento, um vulto de energia pulando da bancada, e então tentou se livrar dos braços de Rafe que estavam envoltos nela. — Calma — ele sussurrou. Ela lutava contra ele, mas Rafe se recusava a soltá-la. Ela dizia algo em siciliano, repetindo a mesma coisa incessantemente com voz baixa e angustiada. Ele achou que poderia ser que ela quisesse morrer, e o coração dele se entregou. — Chiara. Ela balançou a cabeça. Os olhos dela fechados. Como se o que ela não pudesse ver não pudesse machucá-la. — Querida. Olhe para mim. Outro balanço da cabeça. Rafe suspirou e trouxe o rosto dela para seu ombro. Apesar de dizer que ia sair e voltar mais tarde, a empregada ainda estava parada na entrada da cozinha, os olhos tão redondos quanto seu rosto e a mão apoiada sobre o coração. Rafe pigarreou. — Bom dia, sra. 0'Hara — disse de maneira agradável. A mulher acenou com a cabeça. — Bom dia, sr. Orsini. Sinto muitíssimo. Não tinha a intenção... — Não, claro que não. O olhar dele foi da empregada para a mulher em seus braços. A escolha era simples aqui. Ele podia deixar Chiara ir Ela dispararia correndo e provavelmente acrescentaria isto às suas já distorcidas idéias a respeito de sexo. Ou ele poderia segurá-la enquanto dava prosseguimento à cena. Afinal de contas, aquele era apenas um pequeno embaraço. Alguém tropeçando num homem e numa mulher prestes a fazer sexo? Não havia nada de original aí. Uma história que, contada às companhias certas, até seria divertida. 56
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton Ele sentia Chiara tremer, as lágrimas dela encharcando seu suéter. Rafe pausou. Quando tinha lá seus 20 anos pulara de bungee jumping. Ainda lembrava da sensação, aquele momento de dar nó nas tripas, quando se está a ponto de pular da ponte em direção ao vazio sem volta. — esposa.
Sra. 0'Hara — disse. — Sra. 0'Hara... gostaria de lhe apresentar minha
Capítulo 9
Rafe cerrou os olhos e pensou em sua situação atual. Ele estava casado. Ele, um homem que nunca pensara sobre casamento, que fugia como o diabo da cruz sempre que uma mulher sequer sussurrasse a palavra. Ele estava casado com uma desconhecida, de um mundo tão diferente do dele que até seria engraçado se não fosse tão inacreditável. Este era o item um da "situação atual". O item dois era que, embora ele fosse terminar o casamento o mais rápido que pudesse, isto não o impedira de, item três, quase transar com Chiara na bancada de sua cozinha, o que levava, inexoravelmente, ao item quatro; que Chiara era quase certamente virgem, e fazer sexo com ela iria, oh maldição, item cinco, complicar ainda mais a anulação do casamento. E nem vá ao item seis, que ele já a apresentara com sua esposa, o que ela não era. Bem, era, legalmente, e... E que cena desastrosa fora aquela! A empregada doméstica ficara tão feliz que só faltou cantar uma música de parabéns. Já Chiara, não. Ela havia ficado rosa-choque. — Não sou sua esposa — ela disse — e se acha que... que avançar em mim me toma sua esposa, você está errado! Daí ela fugiu. Ele pensou em tentar explicar as coisas para sua empregada, mas desistiu e foi atrás de Chiara. Só que ela havia trancado a porta. Era hora de seguir em frente, pensou. Ela queria o divórcio. Ele também. Puxou o celular do bolso, acessou a lista de contatos e selecionou o número de Marilyn Sayers. O telefone tocou e tocou. Quando alguém finalmente atendeu, não era ela, mas sim sua secretária eletrônica. — Marilyn — ele disse com impaciência —, é Rafe Orsini. Atenda se estiver aí. Ou me ligue de volta. Rápido, é urgente. Ele mal havia fechado o celular quando este tocou. Ele olhou no visor e viu com alívio que era ela. — Marilyn. Obrigado por retomar tão rápido. Não, estou bem. Só estou numa situação complicada, é só. Veja.. — Ela o interrompeu. Ele piscou — Você está aonde? Ela estava em Istambul. A oito mil quilômetros dali. Algo a respeito das primeiras férias que ela e o marido tiravam em anos, blábláblá, mas Rafe não dava a mínima. Tudo 57
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton o que ele registrou é que ela estaria fora por mais uma semana. — Uma semana? — Ele balançou a cabeça ao navegar pela ponta particularmente lotada da Sexta Avenida — Impossível. Tenho um problema. Um problema pessoal. E... Marilyn? A ligação caiu. Rafe soltou um palavrão e apertou o redial. Marilyn atendeu e disse que a ligação estava ruim. — É. Eu sei. Ouça, este problema que eu tenho... Ela o interrompeu de novo, pediu que entrasse em contato com seu sócio. Ele lidaria com tudo. Rafe balançou a cabeça, como se pudesse vê-lo. Se Rafe tivesse um dia de idade, o sócio de Sayers teria 90 anos: um velho engomado que usava colete, relógio de bolso e que demorava dez anos para cruzar uma sala. Explicar a ele como havia conseguido uma esposa que não era esposa? Pedir a ele que apressasse as coisas para que se divorciassem rapidamente, pois se tivessem de passar outro dia juntos ele poderia arrancar as horríveis roupas negras de sua esposaque-não-era-esposa e deixá-la apenas com a suave e doce pele para o prazer dos olhos, mãos e boca dele? — Isso não está bom — ele rosnou. — Preciso de você, não do seu sócio. Era inútil. Sayers lamentava, mas... a ligação ficou muda. Rafe resmungou e fechou o telefone com um tapa vingativo. Certo. E agora? Fácil. Tire Chiara de sua casa. Esperar uma semana não seria difícil, após fazer isso. Longe dos olhos, longe das preocupações. Ele encontraria um lugar para ela. Era uma excelente idéia, uma que reforçaria o fato de que o casamento não era mesmo um casamento. E quão difícil seria encontrar algum lugar para escondê-la? A cidade estava entupida de corretores de imóveis. Ele só precisaria de um que colocasse seu pedido como prioridade máxima. Claro! Rafe abriu o celular, verificou sua lista de contatos de novo e apertou um botão. — Imobiliária Chilton, — Elaine Chilton, por favor. Era a solução perfeita. Para que ligar para um corretor desconhecido quando tinha alguém na ponta dos dedos? Ele conhecera a srta. Chilton não se lembrava aonde. Uma festa, um jantar. Não importava. Ela tomara o celular dele de sua mão, após ele ter atendido uma ligação, sorrira de maneira graciosa e colocara o número dela na memória. — Caso algum dia precise de mim — ela murmurara. Ele não precisara. Estava envolvido com Ingrid na época, mas agora tinha absoluta certeza de que precisava dela. — Alô? — Elaine? É Rafe Orsini. — Ora, ora, ora — ela disse com um rouco sussurro — Como está, sr. Orsini? Ele disse que estava bem e foi direto ao assunto. Disse que tinha interesse em vêla. — É urgente — assinalou. Ela deu uma risadinha sexy. — Que bom! Rafe sentiu-se desconfortável por um segundo. Estariam eles falando da mesma 58
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton coisa? — Onde você está? — perguntou ela. Ele informou. — Perfeito. Tenho um apartamento para alugar a algumas quadras daí. — Como ele é? Outra risadinha. — Tenho certeza de que o achará perfeito. — Ela lhe deu o endereço e lhe disse para encontrá-la em 20 minutos. Rafe desligou. Sua preocupação desaparecera. Perfeito? Com certeza... Meia hora depois ele voltava apressadamente ao seu prédio, furioso com o destino, com a vida e com sua própria burrice. Elaine Chilton o havia esperado, sim... em um sofá rosa-claro vestida com um babydoll vermelho de seda e salto agulha preto e, certo, talvez ele não tivesse lidado com a situação da maneira correta. Talvez não devesse olhar para uma mulher seminua e dizer; "Oh, me desculpe! Veja, o que queria dizer é que estava interessado em encontrar um apartamento para uma mulher que está morando comigo." Definitivamente, uma péssima escolha de palavras, ele pensou, ao marchar em direção a seu prédio, olhar irritado para o infeliz porteiro e entrar no elevador. Ele provavelmente merecia os insultos que Elaine lhe proferira, ou mesmo o tapa. Ao menos ele evitou dizer; "OK, agora que este assunto já foi encerrado, me fale sobre o aluguel." O elevador começou a subir O próximo passo era ligar para um hotel. O Waldorf O St. Regis. Não tão acolhedor quanto um apartamento decorado, mas quem se importava? O que contava é que Chiara estaria lá e ele aqui. E assim que Sayers voltasse ao escritório, as coisas voltariam a ficar O.k. A porta do elevador se abriu. Rafe chegou em casa... e encontrou Chiara, esperando por ele da mesma forma que Elaine Chilton o esperara. Bem, não da mesma forma. Nada de baby-doll de seda. Nada de salto agulha. Nada de sofá rosado. Chiara estava sentada no hall de entrada, em uma poltrona Eames. Por que vê-la provocava nele o efeito de uma corrente elétrica? — Raffaele. — Ela se levantou. — Me desculpe. A voz dela era tímida, mas os olhos se mantinham presos nos dele. Era uma combinação de vulnerabilidade e desafio que sempre mexia com ele. — Acho que digo isso demais a você, mas.. — Ela lambeu os lábios. — Mas reagi de forma exagerada. Você estava simplesmente tentando me salvar de um embaraço na frente de sua empregada, eu devia ter entendido isso. — Não — ele disse. — É minha culpa. Eu lidei com a situação de maneira errada. Sei o que você quer e.. — Por que a voz dele estava tão rouca? Ele pigarreou. — Estive em contato com rainha advogada. — Por favor, me deixe terminar. É difícil para mim, mas preciso dizer — Ela inspirou profundamente — O... o beijo, Raffaele. Foi imperdoável. — Sim — ele passou a mão pelo cabelo. — Me desculpe por aquilo, Chiara. Eu não deveria ter... — Esta resposta é minha. Quero dizer, eu estava errada. Não há nenhuma explicação que eu possa oferecer. Só posso lhe dizer que me arrependo e... 59
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton — Não — ele disse de supetão, á voz ainda mais rouca. — Não se arrependa querida. Por favor. — Mas eu... — O rosto dela ficou rubro. — Eu não deveria ter retribuído o beijo. — Chiara. Foi uma coisa boa. É uma coisa saudável responder aos beijos de um homem. Aos meus beijos. — Mas eu não... eu nunca... A voz dela sumiu. Afastou os olhos dele. Havia pensado que seria difícil admitir que tudo o que acontecia quando ele a tocava era culpa dela tanto quanto dele, mas o que ele não esperava é que vê-lo a deixaria zonza. Quase tonta. Com medo de manter os olhos nos dele, pois olhar dentro daqueles lindos olhos azuis a fazia querer... querer... Ela sentiu um suave toque em seu cabelo. Era a mão dele retirando os cachos de cima da testa. Seus dedos, se entrelaçando nas mechas. Deixou escapar um gemido. O que estava acontecendo? Ela queria sussurrar o nome dele, levar o rosto dele ao dela... — Não — disse ela rapidamente. — Não, isso não deve acontecer de novo. Aquelas coisas que fiz... — Você me beijou — respondeu ele baixinho. — E eu beijei você. Beijar não é uma coisa feia, querida. De alguma forma, a mão dele segurava o queixo dela. De alguma forma, o rosto dela ia em direção ao dele. E então suas bocas se encontraram. Ele a beijava, beijava-a com suavidade, e ela respondia ao beijo. Ela segurou o suéter dele com as mãos, prendeu o algodão macio com seus pulsos e se levantou até ele. Os braços dele a envolveram. Ele a segurou contra si e Chiara segurou-lhe o rosto com as mãos, seus lábios macios e quentes contra os dele. Ela fazia sonzinhos, gemidos de prazer e desejo, e ele sabia que bastava tomá-la. Ele só precisava tomá-la em seus braços e carregá-la pela escada até a cama. O que ele queria, o que quisera desde a primeira vez em que a beijara, se tomaria realidade. Faria amor com ela. Tomaria a inocência dela. Tome-a e não seja melhor que bastardos como o pai dela e Giglio, homens que abusariam desta mulher linda e corajosa, em vez de honrá-la e protegê-la. Ele a beijou uma última vez. Então descansou a testa na dela. — Chiara. — A voz dele soava rouca. Ele pigarreou — Querida. Tive uma grande idéia. Vamos... vamos recomeçar. — Recomeçar? — Sim. Eu, você. Esta situação em que estamos... Não temos de ser inimigos, Chiara. Podemos ser amigos. Ela parecia desnorteada. Por que não estaria? Era provavelmente a última coisa que esperaria que ele dissesse. Diabos, era a última coisa que ele esperaria dizer. Mas era o correto e ele sabia. Ele seria amigo dela, não amante, nem que isto o matasse. — Eu gostaria disso — disse ela suavemente. — Recomeçar com você, Raffaele. 60
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton Então ela sorriu, e ele se perguntou como era possível que tudo o que havia de bom no mundo estivesse contido no sorriso de uma mulher.
Capítulo 10
Ele sabia que ambos tinham de sair daquele apartamento. — Eu — disse de supetão — estou com tanta fome que poderia comer um urso. Ela riu. — Acho que seria difícil encontrar um urso na Quinta Avenida. — Oh, não sei. Esta é uma cidade surpreendente. Chiara assentiu. — Já li que sim. Ela havia lido tudo sobre Nova York. Lera sobre ela, mas nunca a havia visto. Ele estivera tão centrado em sua própria e egoísta infelicidade que sequer pensara sobre o que tomaria as coisas mais fáceis para ela. E ela acabara de lhe dar a resposta. Ele podia mostrar-lhe a cidade. E, no processo, mantê-la a uma distância segura. Uma situação onde todos ganham, pensou e decidiu não perder mais tempo. Tomou-a pela mão e correu com ela para o elevador. Quando ela perguntou onde estavam indo, ele deu um sorrisinho e disse que iam em busca daquele urso. É claro que nenhum dos restaurantes em que pensara possuía urso no cardápio, mas ele tinha uma extensa lista de lugares favoritos. Estariam todos lotados nesta hora do dia, mas não era problema. Ele nunca precisara de reserva para conseguir uma boa mesa. Este era um dos benefícios de se ser Rafe Orsini. La Grenouille. Este era o nome do restaurante para onde a levou. Chiara sabia que significava sapo, embora saber por que alguém daria a um lugar tão elegante o nome de uma criatura tão humilde era algo que estava além de seu entendimento. Ela também entendeu o que Raffaele não entendia. Ela estava fora de seu ambiente aqui, tanto quanto... bem, um sapo. Todo mundo olhava para ela. Certo. Talvez não todo mundo, mas dava no mesmo. Os freqüentadores eram tão elitizados quanto o restaurante, as mulheres bem vestidas, seus cabelos e rostos como testemunha do tempo que despendiam nos melhores salões de beleza da cidade. O que deveriam estar pensando dela naquele horrível vestido preto, horríveis sapatos pretos, horrível casaco preto? Não que importasse. O seu Raffaele era um homem incrível, mas jamais conseguiria uma mesa aqui. O local estava muito cheio. E além disso havia a forma como ela estava vestida... 61
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton Mas conseguiram uma mesa. Imediatamente. Uma mesa de canto com assento estofado. Ela soube, instintivamente, que aquele era um ponto cobiçado. Os garçons apareceram. Ajudantes. Cardápios, cartas de vinho... Ela disse a Raffaele que fizesse o pedido por ela. Era o bastante observá-lo escolher um vinho, um prato, observá-lo sorrir quando ela provou do salmão e lhe deu um sinal de aprovação. E era mais que o bastante observar as mulheres o olhando, os olhares de inveja transformando-se em descrença ao voltarem suas atenções para ela. Sim, ela pensou, com o queixo se levantando, oh sim, eu estou com este homem. Este lindo homem que é generoso, gentil e carinhoso. Era por isso que a equipe do restaurante o tratava tão bem? Ou era por algo mais obscuro? Será que o poder de Raffaele era similar ao do pai dela? O prato de Chiara, até agora tão perfeito, de repente parecia intragável. — Chiara? Ela levantou os olhos. Raffaele a observava. E tinha o olhar preocupado. — Querida, se não gostou do que pedi para você... — Não. Não, está tudo bem. Estou... estou cansada, acho. Toda esta caminhada... Em um segundo ele estava de pé, ajudando-a a se levantar, jogando uma pilha de notas de dinheiro na mesa. O maître correu até eles. Estava tudo bem? Não, pensou Chiara, não estava tudo bem. Ela estava casada com um homem que era tudo o que ela desprezava... exceto que ela não estava realmente casada com ele, nem realmente o desprezava. O que sentia por ele era... era... Ela sentiu um tremor. Raffaele curvou o braço ao redor dela. — Vou chamar vim táxi — disse com suavidade —, e iremos para casa. Ela concordou. Só que não era a casa dela, era a dele. Era tudo uma situação temporária. E isso era bom, não? Claro que era. Ela não tinha lugar na vida de Raffaele Orsini. Ela não queria um lugar na vida dele. Não queria, não queria, não queria... Oh. Deus. Ela queria sim. Ao chegarem em seu apartamento, ele queria chamar seu médico. Chiara recusou. Ainda estava pálida, mas pelo menos havia parado de tremer. — Estou cansada, Raffaele, é só. Basta uma noite de sono e estarei bem. Ela foi para o quarto dela. Ele para o dele. Ainda estava cedo. Ele pensou em telefonar para Falco. Ou Nicolo. Pensou em abrir seu BlackBerry e ligar para uma mulher. A que ele conhecera no dia em que terminou com Ingrid... Em vez disso, tirou a roupa, vestiu uma calça de malha e ligou a TV. Clicou em vários canais que não passavam absolutamente nada que prestasse e finalmente jogou desapontado o maldito controle remoto de lado. A porta se abriu. Rafe olhou para sua esposa. Ela usava outra roupa feia, seu rosto, como sempre, desprovido de maquiagem, seu cabelo solto e bagunçado, ainda úmido do banho. — Raffaele — disse ela tremendo —, sinto tanto por ter estragado nossa noite... 62
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton Rafe deu um gemido, levantou-a em seus braços e beijou-a. Quando ela ficou na ponta dos pés e respondeu ao beijo, ele sabia que não haveria nada no mundo que o faria mandá-la a nenhum lugar. — Baby — disse rispidamente —, você não me deve desculpas. — Sim, eu lhe devo. E pensei... de repente pensei que nada disso fazia sentido. Você. Eu. Nosso casamento... Quem você é. As palavras lhe passaram pela mente, mas ela não as disse. Por enquanto era o bastante saber quem seu Raffaele parecia ser. Um homem em cujos braços ela se sentia segura e querida. Enquanto durasse, ela não pensaria em nada mais do que aquilo. Eles tomaram o café da manhã. Ela cozinhou. Bacon. Ovos. Torradas. Ele comeu tudo, cada pedaço. Mas ele fez o café, provocando-a até que ela riu e disse que ele teria de comprar uma cafeteira espresso e então ela lhe mostraria como se faz um café de verdade. Eles saíram para ver a cidade. Porque, Rafe decidiu, qual o sentido em fazer o sócio de Sayers entrar em ação? Certamente esperar mais alguns dias não seria problema. Ele contou a ela sobre Dante. E Nicolo. E Falco. Ela disse, com certa melancolia, que deveria ser bom crescer junto com irmãos. Ele disse que muitas vezes eles eram uns pent... eram irritantes, mas geralmente eram ótimos caras. Por volta do meio-dia ele sugeriu que voltassem a Manhattan para almoçar. Chiara deu um olhar de desejo para a barraquinha de cachorro quente Nathan 's hot dog. — Não suponho — ela disse —, não imagino que você prefira comer... — Um cachorro quente? — Rafe riu, pegou-a no colo, deu meia-volta com ela, que tentava manter-se séria enquanto exigia que ele a pusesse no chão — Um beijo e a ponho no chão — replicou ele. Deixá-la sair após aquele modesto selinho nos lábios foi a coisa mais difícil que já fizera. Foram até o Nathan's. Ele pediu o cachorro quente com mostarda. Ela preferiu com chucrute. E cebolas. E molho. — Posso também pedir batata frita, por favor, Raffaele? Ele queria lhe dizer que ela poderia pedir o quisesse, que ela já tinha... que ela já tinha... — Fritas — pediu ele ao menino na barraquinha, e rogou a si mesmo para parar de pensar, porque o local onde a cabeça dele o levava não fazia o mínimo sentido. Ele ouvira dizer que ver a cidade com alguém que a visitava pela primeira vez o fazia ver coisas de maneira como nunca havia visto. Ver a cidade com Chiara era uma experiência maior que isto. Era maravilhoso. Era fantástico. Era incrível. Era uma agonia. Os dias passavam e ele sabia que estavam aproveitando um tempo de prorrogação. Não importava quantos lugares lhe mostrasse, quantos pequenos parques e cantos escondidos explorassem, tudo isso iria terminar multo em breve. Isto era uma coisa boa, é claro. Ele tinha sua vida para tocar. Não ia ao escritório há 63
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton dias, não tinha vontade de ir e... bem, isto não era bom. Nem era bom tomar tantos banhos frios. Que escolha tinha? Um homem levava uma linda mulher até a porta do quarto dela todas as noites, a beijava, dizia a si mesmo que o beijo seria na bochecha ou na testa e, ao invés disso, terminava capturando os lábios dela com os seus, terminava com os braços de Chiara firmemente envoltos em seu pescoço e o doce e inebriante corpo contra o seu... Um homem a quem isto acontecia só tinha uma maneira de salvar sua pele: cambalear pelo corredor e tomar uma longa e gelada chuveirada. Bem, se este era o preço que ele tinha de pagar por horas de risos e companhia, companhia feminina, bem, ele o pagaria. A verdade era que ele amava tudo o que faziam. Ir aos museus. Passear no parque. Até mesmo andar do segundo andar de um ônibus de dois andares. Assim, os dias eram perfeitos. Mas inevitavelmente chegava aquele momento no fim de cada dia em que deixava Chiara na porta do quarto dela. Ele era um homem, saudável e heterossexual, com apetites saudáveis. Quisera muitas mulheres ao longo da vida... Mas nunca quisera ninguém como a queria. O corpo dele doía de desejo por ela. Bem, e por que não a desejaria? O problema era que seu coração doía também. Ele sabia que isto era loucura, pois sexo e desejo nada tinham a ver com o coração. Era isso que dizia a si mesmo no fim de outro longo dia. Eles haviam se divertido, mas, sem aviso, durante o jantar num pequeno restaurante de Chinatown, algum momento entre os bolinhos no vapor e a Carne Szechuan, Rafe olhou para sua esposa e aquela dor em seu coração piorou de repente. Que tipo de jogo ela estava jogando? Era culpa dela. Tudo. Que estivessem casados. Que estivessem naquela bagunça. Que ele estivesse ficando maluco, dividido entre querer arrastá-la para seu quarto e acreditar que tinha de tratá-la como se fosse de cristal. E ela sabia. Mulheres sempre sabem destas coisas. O que tudo aquilo significava? Era tudo encenação? O jeito de caipira. O estilo "prefiro-uma-vida-simples". Os quentes beijos que, ela devia saber que o deixavam com um tipo de angústia que ele não experimentara desde os 16 anos. Era tudo encenação? O que mais poderia ser? ele pensou com frieza. E no momento em que ela estava a ponto de dizer algo sobre alguma coisa, quem diabos se importava? Ele jogou os palitinhos de hachi no prato e se levantou. Chiara levantou os olhos. — Raffaele? — Está tarde — ele disse rispidamente. — E amanhã volto a trabalhar. — Ele não havia decidido aquilo até dizer, mas, por Deus, era uma excelente idéia. Ele puxou a carteira e jogou algumas notas sobre a mesa. — Vamos. Ela o olhava. Ele não piscou, nem mesmo quando os olhos dela começaram a brilhar. Não são lágrimas, ele disse a si mesmo. É um truque de luz. Ou talvez um truque dela. — Vamos — ele repetiu e ela pôs seus palitinhos de hachi na mesa e se levantou. 64
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton Na hora em que conseguiram um táxi, ela já estava chorando. Em silêncio, mas chorava. Estaria chateada porque ele havia puxado a cortina e dado uma boa olhada ao que estava por trás? Na verdade, ele não se importava. Era isso. Chega. Sayers estaria de volta amanhã. Timing perfeito. Ele ligaria para ela, poria o processo de divórcio em ação e seria o final daquilo. Eles foram no táxi em silêncio, tomaram o elevador para o apartamento dele da mesma maneira. Ela ainda chorava? Ele não sabia dizer. A cabeça estava voltada para o outro lado. Seu cabelo escondia o rosto. Bom. Ele olhara demais para aquele rosto. Quando chegaram ao hall de entrada da cobertura dele, ela se virou para ele. Raffaele. — Sua voz tremia. Ele cruzou os braços de forma resoluta. — Raffaele. O que eu fiz? — Nada — replicou calmamente. — Sou eu. Deveria ter lidado com a realidade mais cedo. Não somos nada um para o outro, Chiara, apenas duas pessoas forçadas por dois velhos a algo que nenhum de nós queria. Bem, é hora de encerrar esta farsa. Ela teve um sobressalto. Rafe sentiu um nó na garganta, mas, droga, alguém tinha que dizer aquela verdade. Ela olhou para o outro lado. Passou-se um longo momento. Então virou o rosto para ele. A expressão no rosto de Chiara o surpreendeu. Ela estava calma. Contida. Ela parecia... parecia aliviada. — E você está certo. Não há sentido em continuar esta... esta farsa. Agradeceria se ligasse para sua advogada amanhã. Ele concordou com a cabeça. Ela subiu as escadas. Ele assistiu até que ela sumiu de vista, ouviu a porta dela abrir e ouviu-a fechar... E sabia que acabara de perder a única coisa no mundo que importava. — Chiara — ele disse e então gritou o nome dela e correu até as escadas, subindo dois degraus de cada vez, correndo pelo corredor e escancarando a porta do quarto. — Querida. Chiara, eu não quis dizer aquilo. Eu não... Ela se virou para ele. Soluçava, seu rosto encharcado de lágrimas. —
Baby — ele sussurrou, e ela já estava em seus braços.
Capítulo 11
Rafe colheu com força a esposa em seus braços. O coração dele pareceu levantar voo quando ela envolveu os braços ao redor do pescoço dele e pressionou seu corpo contra o dele. Rafe sabia que a raiva contra ele não passara de uma patética tentativa de esconder a verdade. Ele a queria, a quisera desde aquele primeiro beijo na Sicília. E ela o queria. Ele não fugiria disso naquela noite. A cama estava só a alguns passos de distância. Ele 65
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton podia levá-la até lá, tirar-lhe a roupa, arrancar suas próprias roupas e se enterrar nela. Uma estocada profunda ela seria dele. Uma parte do cérebro que ainda funcionava disse-lhe que ele devia muito mais a ela, muito mais. Ela era inocente. Era virgem. E contaram a ela coisas que acontecem entre homens e mulheres que a apavoraram. Os próximos movimentos dele teriam de ser perfeitos. Tão perfeitos quanto a inocência dela. — Chiara — ele disse cora suavidade. Ela lentamente abriu os olhos. Suas pupilas estavam enormes, profundas, negras e cheias de todas as perguntas que um homem sempre quis que lhe fizessem. Com todo seu coração, Rafe esperava ter as respostas que a agradassem. — Chiara — repetiu e a beijou. Uma vez. Duas vezes, os lábios roçando suavemente os dela, a cada vez demorando-se um pouquinho mais até que ela deu um suspiro de prazer e seus lábios se entreabriram. — Assim mesmo — murmurou. — Sim, querida. Abra-se para mim. Sinta meu gosto. Deixe-me sentir seu gosto. Ele podia sentir-lhe a hesitação. Então, lentamente, ela o deixou entrar. A necessidade de jogá-la na cama passou por ele de tal maneira que Rafe sentiu seus músculos contraírem. O grande e poderoso corpo estremeceu. — Raffaele? — Está tudo bem. Eu só... eu quero.. — Ele segurou o rosto dela entre as mãos, trouxe-a até si e beijou-a, sua boca quente e aberta sobre a boca dela, a língua dele procurando pela doçura que o esperava. O gosto dela o preencheu. Mel. Creme. Baunilha. E, misturado a tudo isso, o gosto de uma mulher em chamas. Ele sussurrou-lhe o nome. Ela chegou mais perto. As mãos subiram do peito aos ombros dele, e ele a trouxe até si. Sentiu o peso delicado dos seios contra a rija parede que era seu tórax, sentiu a convexidade feminina do ventre de Chiara contra seu plano e tenso abdômen. Sentiu sua ereção crescer e inchar até que teve de gemer com o quase insuportável prazer daquilo. Chiara arfou. Agarrou com força os ombros dele. Repetiu o nome de Rafe e ele pôde ouvir choque, surpresa e apreensão naquela única palavra sussurrada. Ele estava rijo como pedra. E aquilo tudo era novo para sua esposa. Ele afastou seus lábios. Segurou-a pelos ombros. Ela choramingou, tentou se aproximar e, embora o mortificasse ter de impedi-la, ele o fez. — Por que.. — a voz dela era baixa e melada. — Por que parou de me beijar? O que fiz de errado? Se fiz... — Não — ele retrucou rapidamente. — Deus, não! Não há uma maneira certa ou errada de se beijar. — Outra inspiração funda. — Mas não a quero apressar, querida, ou a assustá-la. — Não tenho medo de você — sussurrou ela. — É o resto. O... o toque. — Podemos parar agora — ele disse e se perguntou se um mentiroso ainda assim podia se candidatar à santidade. A resposta foi tênue demais para ser ouvida. Ela o fitou nos olhos. — Eu não quero parar. Quero saber o que homens e mulheres fazem juntos. 66
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton — Não homens e mulheres — disse ele com voz rouca. — Nós. Você e eu. — O sorriso dela encheu-lhe o coração. — Si. Você e eu, Raffaele. Me mostre, por favor Rafe trouxe a mão dela até seus lábios e pressionou, beijando as pontas dos dedos dela. Então levou a mão até sua ereção. A respiração de Chiara chiou entre os dentes, a palma dela segurando em concha o rijo volume dentro do jeans dele. Rafe estremeceu e Chiara puxou a mão de volta. — Eu o machuquei? — Não — disse ele com a voz rouca, pegando a mão dela e colocando nele de novo. — Não, você não me machucou. Eu.. — ele engoliu em seco. — Eu amo o que você acabou de fazer. Me tocar desta maneira... Você sabe o que significa, quando estou duro assim? Ele observou os dentes dela roçarem o lábio inferior da boca. Ele desejava fazer aquilo por ela. Morder suavemente aqueles lábios delicados. — Significa... — A voz era tão baixa que ele precisou se inclinar para escutá-la. — Significa que você... você quer fazer coisas em mim. Rafe engoliu um palavrão. — Significa que quero fazer coisas com você. Nos tocarmos de maneiras que dê prazer a nós dois. Ela consentiu com a cabeça e mergulhou-a de maneira que os cachos de seu cabelo se tomassem uma cortina que a escondia dele. — Faça então — sussurrou ela.. Rafe inspirou profundamente e soltou o fôlego devagar o bastante para ter tempo de pensar. Então pôs sua mão sob o queixo de Chiara e levantou o rosto até o dele. — Ei — disse gentilmente —, isso não é uma consulta no dentista. — Isto fez com que ela sorrisse, como ele esperara acontecer. — Chiara, querida, não vamos fazer nada que você não queira fazer. — Este é o problema. Não sei o que quero ou o que não quero. Ela levou as mãos até o peito dele. O que sentia era o coração dele disparar? — Eu só sei que... que alguma coisa acontece quando você me beija, Raffaele. Eu sinto... eu sinto... — Me diga. O rosto dela ficou rubro. — Eu sinto coisas. Sensações. Em... em partes de mim — Uma risada parecida com pranto estava presa na garganta. — Não posso falar sobre isso. Falar sobre meu corpo é... Ela arfou quando ele pegou-lhe o seio com a mão em concha, deu um gritinho e quase retrocedeu, mas ele passou um braço ao redor e segurou-a enquanto os dedos dele se moviam suavemente, infalivelmente pelo mamilo. Ele podia senti-lo inchar mesmo por baixo do áspero e duro algodão do vestido. Ela gemeu. Seus cílios se inclinaram, tomando-se luas crescentes negras contra as bochechas. — Você sente algo quando faço isso? — perguntou, com voz rouca. 67
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton Ela levantou os olhos até ele, o rosto lívido. — Sim. Oh Dio, sim. Assim. Bem assim... — Onde você sente isso? — Aí. Onde você está me tocando? E... em outro lugar. Mais embaixo de meus seios, Raffaele. Eu sinto... Ela deu mais um gritinho quando ele desceu a mão pelo corpo até a junção das coxas. Ele a havia tocado lá antes, mas tudo havia acontecido rápido demais. Nada do que aconteceria agora seria rápido. Ele lentamente, lentamente, lhe traria prazer, e não se preocuparia com seus próprios desejos. Pela primeira vez, somente os desejos dela, o prazer dela, a satisfação dela importavam. — Aqui? — ele disse com a voz abafada. — O que está sentindo, baby? — Eu sinto... eu sinto... calor. Um formigamento. O que acontece numa tempestade, quando você está lá fora e o relâmpago atinge a colina e você quase pode sentir a eletricidade nos ossos. Sabe do que estou falando, Raffaele? Ele sabia. Era como ele se sentia agora, como se uma tempestade de incrível magnitude estivesse crescendo dentro de si, uma tensão quase além do que ele podia tolerar. Ele reagiu à pergunta sussurrada abrindo-lhe as pernas o bastante para colocar a mão em concha por cima do duro tecido do vestido. Ela arfou, seus olhos reviravam: — Sinto como se... como se estivesse derretendo. Aí. Aí onde está sua mão. Ele podia sentir seus próprios músculos tremerem. A inocência dela era o bastante para fazê-lo chegar no limite do descontrole, mas ele não deixaria isso acontecer. — Seu corpo está se preparando para mim, querida. Para nós. Ele moveu a mão e ela arfou de novo. Então enterrou o rosto no ombro dele. — Eu nunca soube... — Não — disse Rafe com uma risadinha. — Nem eu sabia. — Era verdade. Ele estivera com muitas mulheres e teve muito prazer com elas, mas isso, o que acontecia agora, a maneira como ele se sentia... — Acho que estou pegando fogo — ela sussurrou. Ele também estava. Quando voltasse na manhã seguinte, a sra. 0'Hara poderia bem encontrar aquele quarto em cinzas. — Eu acho... ele pigarreou. — Por que não tiramos um pouco destas roupas do caminho? — É hora de eu... me despir? — Deixe isso comigo — ele disse com a voz rouca. Será que tudo o que ela possuía tinha mais de mil botões? E os botões tinham de ser tão pequenininhos, especialmente quando ele tinha dedos tão grandes e desajeitados? Demorou uma eternidade para ele abrir o primeiro botão. O segundo. O terceiro... O vestido começou a se abrir, revelando-a para ele, o que o fez se esquecer dos botões, casas e do tamanho de seus dedos. Ele passou as costas da mão pela garganta de Chiara, e então seguiu o mesmo caminho com beijos suaves. A pulsação dela, naquela 68
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton tema cavidade onde o pescoço se encontrava com suas clavículas, dançava por debaixo da boca dele, e Rafe exultava com aquela sensação. Finalmente, todos os botões estavam abertos. Rafe a livrou do vestido e deixou-o cair aos pés dela. O sutiã e calcinha dela eram de algodão branco, assim como foram da primeira vez. Exceto que então Rafe não a havia despido, ele rasgara o vestido. Mais uma razão para fazer isso com o maior carinho e cuidado. Ele a tocaria como se ela fosse feita do mais delicado cristal. Ele faria assim. Faria assim... mas a curva dos seios sobre aquele modesto sutiã era embriagante. E, Deus, ele conseguia ver a silhueta escura dos mamilos... Rafe inclinou a cabeça a fechou a boca sobre a ponta de um seio coberto com algodão. O grito de prazer de Chiara quase o rasgou em dois. Com um grunhido baixo, ele a tomou nos braços, carregou-a até a cama e a deitou. Chutou longe seus mocassins, puxou com força o suéter por cima da cabeça e o jogou para o lado. O olhar fixo de Chiara passeou por ele, quente e urgente como se o acariciasse. Ele deitou-se ao lado e beijou-a, sugando o mel de sua boca, as mãos descobrindo o corpo de Chiara. O sutiã se abria na frente, e ele enviou um agradecimento silencioso a qualquer deus que tivesse lhe enviado aquele presente. Ela não tentou pará-lo enquanto ele soltava os colchetes, mas quando o sutiã se abriu, suas mãos correram para cobrir os seios. Ele balançou a cabeça, suavemente pegou-a pelos pulsos e trouxe-lhe as mãos para os flancos. — Deixe-me ver você — ele suspirou. — Preciso ver você, Chiara. Ela se deitou de costas. Respirava com força. Rafe sentia os olhos dela nele enquanto a fitava. Ah, ela era linda. Mais linda do que imaginara. Os seios eram arredondados, com bicos de um rosa-claro já em riste pedindo pelo calor da palma dele. Ele levou seu olhar para o rosto dela, observou-lhe os olhos ao segurar um dos seios com a mão em concha, gemendo ao sentir seu peso perfeito. As pupilas de Chiara se abriram, pareciam engolir suas íris enquanto ele movia o polegar sobre a ponta do seio. — Raffaele... A voz dela tremia. Ele acariciou o mamilo de novo, com seu polegar e indicador. Chiara gemeu. — Você gosta disso? — ele perguntou de maneira abafada. Um choramingo surgiu da garganta dela. Ela gemeu de novo quando ele aumentou a pressão da carícia, baixou a cabeça, fechou seus lábios ao redor do mamilo endurecido e o levou fundo ao calor de sua boca. Ela disse algo em italiano. Ele não entendeu as palavras, mas a maneira como Chiara arqueou o corpo, a sensação da mão dela segurando-lhe firme a nuca enquanto ele sugava a pele arrepiada, diziam tudo que precisava saber. Ele se afastou. Ela fez um som de doce protesto. — Não me deixe — sussurrou. 69
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton — Não — ele disse com força. — Nunca. Levou ínfimos segundos para ele abrir o zíper do jeans, livrar-se da calça e da cueca. Ele viu os olhos dela passarem rápidos pelos genitais dele, crescerem de espanto e então voarem para o rosto. Ele nunca havia imaginado o que uma mulher poderia sentir na primeira vez em que visse um homem com ereção total. Agora imaginava. Seria assustador? Talvez, especialmente se a mulher fosse completamente inocente. E se o cara fosse grande. Ele era. Ele sempre tivera um tipo de orgulho arrogante de macho em relação ao seu tamanho. Agora percebia que o que faria uma mulher experiente sorrir de antecipação poderia fazer sua Chiara sentir terror Ele pegou a mão dela. Trouxe-a aos lábios dele e pressionou-os em um beijo na palma. — Não se assuste disse com suavidade. — Esta é apenas outra parte de mim. — Beijou a mão de novo, então colocou-a lentamente sobre sua ereção. Ela hesitou e então ele sentiu o primeiro e fresco acariciar dos dedos dela. Precisou de toda sua determinação para não jogar a cabeça para trás e gemer. — Viu? — disse, lutando para manter a voz firme. Lentamente, a mão se fechou ao redor do falo túrgido. Rafe mordeu o lábio. — É tão duro — disse ela maravilhada. — E, mesmo assim, tão macio. — Não macio — disse ele, sendo um pouco fútil. — Não... Ah. Ela moveu a mão. Para cima. Para baixo. Para cima... Ele segurou-lhe o pulso. — Não — disse com voz rouca — Ou isto acabará muito depressa. Ele beijou-lhe suavemente os lábios. — Além disso — sussurrou —, não é justo. — Não é? Ele sorriu. — Estou nu. Você não. Ele beijou-a novamente, com mais profundidade, por mais tempo e, ao fazê-lo, tirou a calcinha. Então tracejou com a mão o desenho da calcinha. Os lindos sulcos da cintura. A curvatura do quadril. Os delicados cachos que protegiam o âmago de sua feminilidade. Os dedos de Chiara seguraram os dele. — Não vou machucar você, Chiara — disse suavemente. Lentamente, ela afastou a mão. Rafe acariciou aqueles cachos. Acalmou-a com palavras suaves. Beijos suaves. Ela estava sob o toque sedoso dele, quente e, sim, molhada. Molhada por causa dele. Ele se afastou e olhou para ela. Engoliu em seco. Nua, ela era tudo o que ele imaginara. Era uma pintura de El Greco que ganhara vida, a Afrodite de Praxíteles ainda mais perfeita por ser de carne e osso, não de mármore frio. — Chiara — sussurrou e desceu pelo corpo, pressionando os lábios naquele doce e feminino delta. As mãos dela correram em direção aos ombros dele. — Não! Você não deve... 70
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton Ele a pegou pelos pulsos e continuou a beijá-la. Gradualmente, as mãos dela relaxaram nas dele. Sua respiração se tomou mais rápida. E quando ele suavemente abria aquelas pregas delicadas, ela soluçou o nome dele. — Chega, é demais — disse ela, a voz falhando. — É demais... Ele sabia que ainda não era o bastante. Queria vê-la voando aos céus e depois mergulhando naquilo novamente... com ele. — Abra as pernas para mim — ele disse com uma voz tão rouca que não parecia a dele. — Não posso — disse ela sem fôlego. — As pessoas não... — Abra as pernas, baby. Por mim. Lentamente, ela fez o que ele pedira. Ele a tocou com reverência, abriu novamente as pregas e gemeu ao ver o delicado botão do clitóris. — Chiara — disse com suavidade, e pousou a boca. Um choramingo irrefreado escapou-lhe da garganta. Ela começou a chorar. Rafe imediatamente parou, mas então sentiu as mãos dela em seu cabelo, prendendo-o ao invés de afastá-lo. Até parece que lhe tiraria algum dia a boca, pensou. O gosto dela. O cheiro dela. Ela era tudo que um homem poderia querer ou sonhar. E era dele. Ele passou as mãos por debaixo de Chiara, levantou-a até a intimidade passional do beijo dele. Rafe a sentiu estremecer, então ela gritou seu nome e ele sabia que ela havia tido um vislumbre dos ardentes raios do sol, É agora, ele pensou e se moveu por sobre ela, posicionou-se entre as coxas e a penetrou. Seus dentes rangiam pela determinação de fazê-lo bem lentamente. Ele não queria machucá-la, não queria machucá-la... As pernas de Chiara se cruzaram sobre o quadril dele, encorajando-o. Rafe jogou a cabeça para trás e empurrou fundo. Voou aos confins da terra e levou sua esposa consigo. Chiara deitou-se ao lado do duro corpo de Raffaele, seus braços ainda o segurando. O batimento cardíaco dele se reduzia. Ou talvez fosse o dela? Estavam tão juntos que ela não conseguia saber de quem era. E ele ainda estava dentro dela. Ela fechou os olhos. Um homem, dentro dela. Não. Era este homem que estava dentro dela. Este homem, que a havia levado numa viagem tão intensa que ela quisera que nunca terminasse. Este homem. Seu marido. O pensamento causou-lhe um doce tremor. Raffaele se mexeu. Sem pensar, ela apertou os braços ao redor dele. — Ei — disse Rafe suavemente e ela enrubesceu ao perceber que ele queria sair dela. É claro que queria. A mãe lhe havia dito algumas coisas que obviamente eram incorretas, mas outras eram certamente precisas. Por exemplo, quando um homem terminava o que queria fazer com uma mulher, não tinha mais desejo de permanecer na cama dela. A cama era de Raffaele, não dela, mas o princípio era o mesmo. 71
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton Como sou idiota, ela pensou, e o deixou sair. Ele saiu de cima, mas não foi a lugar nenhum. Em vez disso, a pegou nos braços e a trouxe para mais perto. Surpresa, ela o deixou abraçá-la, adorava que ele a abraçasse, mas não era tão boba para pensar que ele a seguraria assim por muito tempo. — Você está bem? Ela concordou com a cabeça e se pôs mais pertinho, o nariz quase na junção entre o ombro e o braço dele. Ela adorava o cheiro que ele exalava. O cheiro de Rafe era masculino, almiscarado e excitante. — Chiara? — Ele passou uma das mãos no cabelo dela e segurou-lhe a bochecha. — Eu a machuquei? De fato machucara, naquele fantástico momento final, mas ela preferiria ter morrido ao fazê-lo parar A sensação de tê-lo bem fundo nela... fora um prazer tão incrível que só de lembrar já a estremecia. — Droga — ele disse com voz rouca. — Eu a machuquei. — Não. Está tudo bem. Não me importei. — Não se importou? — De repente, ela não estava mais aninhada nele, estava de bruços e Rafe se inclinava sobre ela. — Droga, você tem todo o direito de se importar — disse ele com voz rouca. — Tentei ir devagar mas... — Raffaele. — Ela sorriu. — Foi maravilhoso. Ele deu um sorrisinho. E que sorrisinho convencido! Mas por que não seria? Ele era lindo. — É mesmo? — Maravilhoso — ela disse suavemente. — Na próxima vez que fizermos amor será ainda mais maravilhoso. O coração dela estava saciado. Não haviam feito sexo, fizeram amor. Como a mãe dela estivera errada! — O quê? — ele perguntou, sorrindo para ela. Ela sorriu em resposta. — Nada. Eu só estava pensando... — Eu também — Ele deu um sorriso de lado. — Sobre a próxima vez. — Fico muito feliz que esteja pensando nisso, Raffaele — ela sussurrou. — Muito feliz. Rafe a beijou, Ela suspirou e abriu sua boca para a dele. Beijaram-se mais profundamente, a mão dele segurando em concha o seio dela e o mamilo intumescendo ao toque. — Oh — ela disse suavemente. — Oh, sim... Ele desceu a mão para mais baixo no corpo dela. Segurou-a com a mão em concha. Deslizou um dedo dentro daquelas dobras inchadas... e viu que ela contorcia o rosto. Xingou baixinho e a tomou nos braços. — Viu? Eu a machuquei. Me perdoe, baby. Ainda é muito cedo. — Não. — Suas bochechas dela ficaram rosadas. — Se você quiser... quiser fazer amor de novo... — Eu gostaria de fazer amor até amanhã — disse ele solenemente. — Mas esta foi 72
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton sua primeira vez e você precisa de um tempo para se acostumar. Ela teria protestado, mas ele a beijou novamente e então se levantou da cama. Ela se sentou, os lençóis cobrindo os seios, e o observou. Ele mudara de idéia. A deixaria agora? Não. Não o faria. Desavergonhadamente nu, foi até o banheiro da suíte e fechou a porta. Chiara recostou-se nos travesseiros. Sentia-se mole, feliz e exausta. Era como se houvesse experimentado um milagre. Que sexo... que fazer amor pudesse ser assim... Mas não era realmente amor. Amor não era o que Raffaele, o que seu marido sentia por ela. Mas tudo bem pois... pois não era também o que sentia por ele. Lágrimas saíram-lhe dos olhos. E para quê? Qual razão havia para chorar? Por algo que havia iniciado como um desastre e se transformado em algo, sim, algo maravilhoso. Ela estava livre de seu pai, de San Giuseppe. E estava com um homem que a ensinou que sexo podia ser a experiência mais maravilhosa da vida de uma mulher... Mesmo que ele não fosse ser parte da vida dela... — Ei. A voz de Raffaele era suave. Ele estava de pé ao lado da cama, segurando uma pequena bacia e uma toalha. — Querida. Por que está chorando? — Não estou chorando. Estou só... só choramingando. Ninguém nunca lhe disse que as mulheres choramingam quando estão felizes? — Ela limpou as lágrimas e procurou imediatamente mudar de assunto. — Obrigada pela bacia de água, mas... — Mas você mesma ia cuidar das coisas. — Si. Como devo. Como... Raffaele, isto não é coisa para você fazer. Mas ele já estava sentado ao lado dela, a toalha na mão. — Sim — disse com suavidade —, é algo que também tenho de fazer. — Levou uma flanela até as coxas, afastou-as com delicadeza e começou a limpá-la. — Eu tirei sua virgindade. Ela deu um sorrisinho. — Sim — sussurrou. — Você tirou. Rafe enxaguou a flanela na bacia, torceu-a e com cuidado usou-a novamente nela. Havia gotinhas de sangue nas coxas dela e na flanela. Ver seu próprio sangue, saber que fazer amor com ele fora a razão de haver vertido aquele sangue, era quase avassalador. Ele pôs a flanela de lado. Secou-a delicadamente com a toalha macia, subiu na cama e a colheu em seus braços. — Feche os olhos, querida. Os últimos dias foram longos. — Humm. — Só... só me deixe beijá-la antes... Os lábios dele se fecharam sobre os dela. Ela suspirou de prazer. A boca dele se moveu para baixo. Pelo pescoço dela. Chiara suspirou de novo. A boca de Rafe encontrou os seios e os suspiros dela se transformaram em gemidos. — Raffaele — disse, enquanto ele sugava o mamilo. — Raffaele... 73
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton — Ainda é muito cedo — ele disse com voz rouca, mas ela deslizou a mão entre ele, o tocou, o acariciou e ele gemeu e subiu nela. — Você tem certeza? A resposta dela veio não através de palavras, mas através de uma carícia com os dedos, do arquear de sua espinha, da sincronização do respirar dela com o dele. Ele se afastou, pegou algo da gaveta do criado-mudo. Chiara sabia o que era. Uma camisinha. Ele não usara uma da primeira vez. Era o período seguro do mês. A srta. Ellis lhe havia ensinado biologia básica, mas ela pensou que não se importaria se ele a engravidasse. Aquele era o seu Raffaele. O seu marido. Ela o observou abrir o pacotinho e desenrolar a camisinha. Ela queria fazer aquilo para ele. Tocá-lo. Explorar aquele membro rijo com as mãos, com a boca... Ela foi até Rafe quando ele voltou e a penetrou lentamente. Ele se encaminhava com tanto cuidado que seus músculos tremeram. E finalmente estava profundamente dentro dela. Era possível uma mulher morrer de prazer? Se fosse, valeria a pena por tudo que estava sentindo naquele momento. O ritmo que ele estabeleceu era forte e apressado, mas ela se manteve com ele, estocada após estocada. Ela gritou, arqueou-se da cama e, segundos depois, gritou de novo enquanto seu Raffaele a levava para um lugar onde o sol ardia eternamente. — Chiara — ele sussurrou — Minha linda, linda esposa. Lágrimas novamente surgiram dos olhos dela. Ela piscou para retê-las e reagiu aos carinhosos beijos, enquanto ele a trazia mais perto em seus braços. Momentos depois, a respiração dele era profunda e uniforme, mas ela se manteve acordada durante muito tempo, dividida entre uma incrível alegria e um desespero de cortar o coração. Raffaele era seu marido. Só que não era. Não de verdade. E tudo isso, tudo o que estavam vivendo, não duraria.
Capítulo 12
Havia algum protocolo especifico para o comportamento de uma mulher quando acordava nos braços de um homem? Você se mantém deitada, imóvel, até ele acordar? Se livra do abraço dele, junta suas roupas, e sai do quarto na ponta dos pés? E se isso tudo o acordasse? O que uma pessoa diz para a outra após passarem a noite juntos fazendo amor? Eles haviam feito amor repetidas vezes, pensou Chiara com um pequeno calafrio de prazer E cada vez fora diferente e ainda melhor que a anterior. 74
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton Como sua mãe pudera estar tão errada? Isto não era dor, submissão ou humilhação. Era puro prazer, uma escalada de tirar o fôlego, de parar o coração, até o topo de uma montanha e daí um longo e atordoante voo até as estrelas. Pelo menos, era assim quando seu amante era Raffaele Orsini. Durante a noite acordara com os beijos dele. Despertara do sono com o coração disparado, lutando contra aquele toque masculino alheio. — Não — dissera bruscamente, e ele envolvera seu rosto com as mãos. — Chiara. Querida, sou eu. Lentamente, ela se deu conta da familiaridade daquele corpo firme disposto sobre o seu. O cheiro dele. Os traços dele. A pele, macia e quente por cima de músculos duros. — Raffaele — sussurrou. — Me desculpe, Chiara. Não quis assustá-la. — Não. Você não me assustou. Eu só... Que horas são? — É tarde. Bem tarde. É melhor dormir. Ela rira, levantara a mão e acariciara a sexy barba por fazer na mandíbula dele. — Humm. Você também. — Em breve — ele sussurrara, entre beijos. — Mas antes, um beijo... Um beijo. Então outro. Ela levantara os braços e os envolvera ao redor do pescoço dele. Os beijos se tomaram mais profundos. A reação dela se tomara mais intensa. A parte dele que ela temera tanto já estava dura contra sua barriga dela. E agora inchava ainda mais. Por que tivera antes tanto medo disso? De ser abraçada tão intimamente? De ser beijada como se fosse a única esperança de salvação de um homem. Da carícia de uma mão forte e calejada. Aquela carne ereta e pulsante era tão lindamente, ferozmente masculina. — Raffaele — ela sussurrara. Sem a mínima vergonha, ela enrolara uma perna sobre a dele. Rafe dissera seu nome numa voz tão cheia de desejo que parecera uma carícia, passara a mão por baixo dela e a levantara até ele. Quando o pênis ereto a penetrara, ela segurara o fôlego. Instantaneamente, ele o tirou. — Perdoe-me, querida. Você está dolorida. — Me dói — ela sussurrara —, mas não porque estou dolorida, Raffaele. Me dói o desejo por você. Quero você dentro de mim. — E, cheia de vergonha, enterrara a cabeça no ombro dele — Oh. Não devia ter dito... — Sim — ele replicara com força, segurando-a pela nuca e levando o rosto até o seu de modo que seus olhos se encontraram. Você devia. Amo ouvir você dizer que me quer — E é verdade — respondeu ela. — Eu o quero. Quero você, quero... Suas bocas se fundiram. Momentos depois, ele estava profundamente dentro dela. Ao lembrar disso, Chiara sorriu. Na verdade, estava um pouquinho dolorida, mas era uma dorzinha maravilhosa, uma recordação de ter feito amor com seu marido... 75
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton O sorriso desvaneceu. Seu marido. Seu extremamente temporário marido. Como ela esquecera disso? E mais ainda, como ela esquecera de que, apesar da gentileza e docilidade dele, seu marido estava na mesma "profissão" que seu pai? Ela queria chorar. A mãe dela entendera tudo errado. Sexo não era feio. Era uma droga para fazer as mulheres esquecerem a verdade. Rapidamente ela empurrou os lençóis para o lado e se desvencilhou do abraço de Raffaele. Havia luz da manhã o bastante no quarto para que ela pudesse ver suas roupas jogadas no chão. Se ela fosse bem silenciosa... — Ei. Ela congelou. Seu vestido abraçado ao corpo, suas costas para a cama. — Que horas são? — Raffaele bocejou. A roupa de cama farfalhava. Ela sabia que ele procurava o relógio no criado-mudo — Chiara — gemeu —, não são nem seis e meia. — A voz dele transformou-se em um rouco ronronar. — Volte para a cama. Ela respirou para se acalmar e forçou a imagem mental do corpo musculoso e lindo do marido para fora de sua mente. O importante era falar com calma. Ela comportara-se como uma boba, mas isso não aconteceria novamente. Ele precisava entender isto. — Seis e meia é tarde para mim. Em casa eu já estaria na cozinha, fazendo café. A risadinha dele foi baixinha e sexy. — Nós já tentamos isto, lembra? Sou eu que faço o café por aqui. — Não importa quem faz o café. O que importa é que sua empregada chegará em breve. — E? — E não quero que ela nos encontre assim. Mais barulho de farfalhar. Ele estaria saindo da cama? Não, por favor. Deixe-o ficar onde está. Ao menos faça-o vestir uma roupa. — Sem problemas, querida. A sra. 0'Hara não vem hoje. E, mesmo se viesse, ela nunca entra em meu quarto. Bem, em qualquer quarto com uma porta fechada. — Certamente que não. Tenho certeza de que ela está sob ordens estritas para não incomodar você e qualquer mulher que tenha trazido a casa para... — É isso que a está incomodando? — Não. Não é. Por que isso me incomodaria? — De fato, por quê? Por que ela teve de dizer algo tão idiota... Ele veio por detrás e deixou as mãos caírem levemente sobre os ombros dela. — Você está tentando contar todas as mulheres que dormiram comigo? — Não — ela repetiu. — Já lhe disse isso. Lentamente, ele a virou para si. O coração de Chiara acelerou. Sim, ele estava nu. Lindamente nu, os ombros e braços musculosamente firmes, uma espiral de pelos negros sobre o tórax rijo, um abdômen plano conduzindo até seu sexo. — Não vou mentir para você — ele disse calmamente — Mulheres estiveram aqui. Por que aquela confissão doía? 76
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton — É sério, Raffaele, você não me deve nenhuma explicação. — Talvez não. Mas é importante que você entenda. Nunca passei uma noite como essa, querida. E nunca acordei desejando que a noite ainda não houvesse terminado. Ela não respondeu. Sequer ousava fitá-lo nos olhos. Alguma coisa estava errada, mas Rafe não tinha a mínima idéia do que seria. — Chiara. Ele pôs a mão embaixo do queixo da esposa e levantou-lhe o rosto em direção ao seu. Sim. Algo a perturbava. A ele também. Alguma coisa mudara dentro dele, durante aquela longa noite. Tinha a ver com o fato deles terem feito amor, mas era mais que isto. Ele desejava ardorosamente saber o que era, mas o que quer que houvesse mudado, o que quer que sentisse, estava além de seu alcance. Ele só sabia que estava feliz. Incrivelmente feliz. Repetiu o nome de Chiara, inclinando a cabeça e a beijando. No começo ela não respondeu. Então suspirou e beijou-o em resposta. Ele sorriu. — Bom dia, querida — disse suavemente. O sorriso dela era trêmulo. — Bom dia, Raffaele. Rafe sentiu um nó no estômago. Era difícil decidir o que mais queria agora. Carregála de volta para a cama e fazer amor com ela, ou simplesmente segurá-la em seus braços. E lá estava ela de novo, aquela expressão triste nos doces olhos. Será que ela se arrependia de sua longa e maravilhosa noite juntos? — Querida? — Ele hesitou. — Você lamenta que tenhamos feito amor? Ele esperava uma resposta rápida, um sorriso e um não. E talvez um toque dos lábios contra os seus. Mas os segundos se passaram e, quando ele começou a achar que ficaria louco, ela balançou negativamente a cabeça e se derreteu contra ele. — A questão é — disse ela com uma vozinha —, a questão é que não entendo nada disso. A sensação de alívio dele era enorme. Recuou, apenas o bastante para ver o rosto dela e soltou um sorrisinho safado e sexy. — O que você não entende, baby? Ficarei feliz em ajudar. — Estou falando sério, Raffaele. Quero dizer, mal nos conhecemos. Nosso casamento não é.. — Ela não conseguia dizer, não era isso ridículo? — O nosso não é um casamento normal. Só estamos juntos porque você foi meu cavaleiro andante. — Lamento por desapontá-la, mas duvido que a armadura de um cavaleiro fosse tão manchada quanto a minha. — E este é outro motivo. — A voz dela era grave. — Sua... sua profissão. As sobrancelhas dele arquearam. — Bem, devo admitir que muitas pessoas não gostam muito dos caras que estão no mesmo mercado que eu agora, mas... — Você tem sido tão bom para mim. Tão gentil. — Os olhos buscaram os de Rafe. — Como pode ser um deles? 77
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton — Um deles, quem? — Você sabe. Você é membro da... da... Como a chamam por aqui? A organização de meu pai. Do seu pai. Como pode ser você e também fazer parte daquilo? Demorou alguns segundos para ele entender. Ela ainda achava que ele era um mafioso. Ele teria rido, mas sentiu que aquilo não era algo engraçado. — Certo — ele disse com vigor — Eis o que faremos. Chuveirada. Nos vestirmos. Então sairemos para tomar café da manhã e, depois disso, eu lhe mostrarei no que trabalho. No que realmente trabalho, querida, ao contrário do que você pensa que seja. — Eu sei o que você faz, Raffaele. Não acabo de lhe dizer isso? — Sim. Você disse. — Ele a beijou. E apenas para garantir, beijou-a de novo. — E — disse suavemente — vejo que isso realmente importa para você. — Claro que importa — disse ela com indignação. — Eu... nós fizemos coisas... — Coisas fantásticas — replicou ele com a voz rouca. — Coisas incríveis — Ele beijou-a devagar e delicadamente — E as faremos de novo, querida, mas antes vou mostrar a você quem realmente sou. — Eu estou lhe dizendo... Ele a silenciou com outro beijo. — Sei que está — disse suavemente. — E agora estou lhe dizendo, baby. Me dê o benefício da dúvida, O.k.? Chiara assentiu. — O.k. — murmurou, porque talvez estivesse errada a respeito dele. Tinha de estar errada. Como podia ela, de todas as pessoas, ter feito amor com um homem que era tão maligno quanto seu pai? Como podia ela haver deitado nos braços dele? Acima de tudo, ela pensou, acima de tudo... Acima de tudo, como podia ela estar se apaixonando por ele? Vinte minutos mais tarde, ele estava de banho tomado e vestido. Sua esposa esperava por ele. Ela havia domado o cabelo, diabos, prendendo-o atrás em um daqueles nós, e usava um daqueles vestidos pretos. Ele devia ter feito alguma careta. Ela corou um pouco e passou a mão pelo comprimento do vestido. — Sei que não é isso que as novaiorquinas vestem, mas... Rafe pôs o braço ao redor dos ombros dela e a beijou. Era o tipo de abertura que estava esperando, e não a deixaria passar — O café da manhã pode esperar — disse. — Primeiro vamos atrás do que as novaiorquinas vestem. Ainda era cedo. Muito cedo para a Saks estar aberta, mas por que isto o impediria? Ele tinha um cliente que conhecia um cara que conhecia outro cara...
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Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton
Capítulo 13
Ele fez uma ligação no celular enquanto Chiara entrava no táxi que chamara ao saírem da Saks. Disse ao porteiro que aguardasse uma entrega da loja, que o carregador deveria levar tudo para sua cobertura e colocar tudo na suíte principal. Então subiu no táxi, segurou a mão de sua esposa e pediu ao taxista que os levasse ao Balthazar, um bistrô no Soho onde a refeição matinal era tanto um ritual quanto uma arte. Lá ele fora recebido calorosamente e de maneira pessoal, e conduzido até sua mesa usual. Esta mesa fornecia um pouquinho de privacidade, embora privacidade fosse algo que faltasse ali. Mas a multidão e o barulho eram parte do charme. O auxiliar trouxe os cardápios, Chiara agradeceu, abriu o dela, mas não olhou para ele. Ela estava mais ocupada em olhar ao redor daquele ambiente lotado. Rafe também não olhou seu cardápio. Estava mais ocupado olhando para sua esposa. Senhor, como ela era linda! E não eram as roupas novas, era ela mesmo. Ela era linda e cheia de vida. Ela havia falado praticamente sem parar desde que saíram da Saks, animada com o que via na rua, a arquitetura, as pessoas. — Que cidade — dissera com alegria. — Tão cheia de gente! Onde todos estão indo com tanta pressa? Onde eu estou indo?, Rafe pensara. Não apenas saindo para tomar café da manhã. Ele estava indo para um lugar à velocidade da luz, um lugar que nunca estivera antes, e se aquilo não fazia sentido para ele, era algo do qual não conseguia se livrar. A única certeza era de que estava indo para lá devido a sua esposa. — Oh, Raffaele, este lugar é maravilhoso! Chiara se inclinava na direção dele, sorrindo. Ele pegou-lhe a mão e trouxe-a aos lábios. — Fico feliz que tenha gostado. — Você vem aqui com freqüência? Parece bem longe de onde mora. O garçom aproximou-se. Rafe fez um gesto para que saísse. — É, mas meu escritório fica apenas a algumas quadras daqui. O sorriso dela diminuiu. — Seu escritório. — Sim. Então me habituei em parar aqui para o café da manhã quando posso. — Você não trabalha em casa como... como... — Como o seu pai ou o meu? Não. Minhas operações são grandes demais para 79
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton isso, embora haja vezes que gostaria de poder trabalhar em casa. — Oh. O "oh" dela foi seco, Ele sabia o que ela estava pensando, que as "operações" dele deveriam ser até maiores que a do pai dela. Que continuasse pensando assim. Somente aumentaria a surpresa e, ele esperava, o prazer dela ao ver o edifício da Irmãos Orsini e seu lindo escritório. — Então — ele disse, animado —, o que quer de café da manhã? Chiara olhou no cardápio. Ela podia sentir a alegria em seu coração desvanecendo. Tudo isso, a noite nos braços de seu marido, o passeio de compras esta manhã... Tudo um sonho. Ela não devia esquecer disso novamente. Não importava como Raffaele a fazia se sentir, ele era parte de um mundo que odiava. Ele fora a San Giuseppe fazer o que o pai dele o ordenara por ser um bom soldado no sentido siciliano da expressão. Ainda bem que este dito casamento terminaria assim que a advogada dele retomasse à cidade. De repente, pensar em comer a deixou enjoada. Cuidadosamente, pôs o cardápio na mesa. — Na verdade, Raffaele, não estou muito... não estou terrivelmente esfomeada. Ela tentou livrar a mão da dele. Ele não deixou. Em vez disso, se inclinou mais para perto dela. — Chiara — disse suavemente —, o dia mal começou. Não determine ainda o resultado de meu julgamento. — Ele beijou a palma dela. — O.k.? Os olhos deles se encontraram. Seu marido era lindo e sincero e... e, Deus, oh Deus, ela não estava se apaixonando por ele, ela já estava apaixonada por ele. O amava desesperadamente e de repente percebeu que não importava se era um soldado da organização do pai ou não. Que os céus a ajudassem, ela não se importava. Tudo o que importava é que o amava. E ia perdê-lo. — Chiara? Você pode fazer isso? Pode confiar em mim? Ela queria chorar. Ou se levantar da cadeira e se jogar nos braços de seu Raffaele. — Sì — sussurrou. Ele sorriu e disse que estavam deixando o pobre garçom maluco e perguntou se ela gostaria que ele pedisse por ela. Chiara concordou com a cabeça, pois não confiaria em si mesma se falasse. Se o fizesse, diria palavras que ele não queria ouvir, que ela o amava... Que ela sempre o amaria e guardaria como jóias preciosas aqueles dias em que fora sua esposa. Durante a metade do desjejum, Rafe percebeu que não ligara para sua secretária pessoal para avisá-la de que iria para o escritório hoje. Ele ignorara sua agenda a semana inteira, mas ao menos ligara para ela a cada manhã para dizer que não estaria presente no escritório. Ele sequer pensara em ligar para ela hoje. 80
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton Ele estivera com outras coisas na mente esta manhã, e só lembrar destas coisas o fazia querer pegar Chiara em seus braços, carregá-la para fora dali e fazer amor com ela. Fazer amor com ela. Fazê-la chegar ao orgasmo e, desta vez, quando ela gritasse seu nome ele diria a ela... diria a ela... O mundo parecia girar. Diria a ela o quê? De repente parecia difícil respirar. O que acontecera com todas as resoluções da noite passada? Ele era velho demais para deixar sexo, mesmo um sexo fantástico, bagunçar sua cabeça. Em relação ao que planejara, levar Chiara ao escritório da Irmãos Orsini... Ele tinha de estar fora de si! O que diria aos irmãos? Como a apresentaria? Bom dia, como está todo mundo hoje? Ah, aproveitando, esta aqui é minha esposa? Além disso tudo, qual o motivo? Por que importaria se ela o visse como um respeitável banqueiro ou se continuasse acreditando que ele era um capanga bemvestido? Sim, ele... ele gostava dela. Gostava da companhia dela. Mas aquele negócio todo, o suposto casamento, tinha a estabilidade de um dente-de-leão em uma ventania. Rafe deu um longo e forte suspiro. Uau. E tudo aquilo que ele havia dito a respeito de não se afundar ainda mais no buraco? Ele estava a centímetros de se enterrar tão fundo que para sair dali precisaria de uma escavadeira. Graças a Deus que havia recuperado o bom senso. Ele chamaria um táxi, o faria passar diante do escritório e apontaria o prédio para Chiara. Ela que concluísse o que quisesse acerca da escolha profissional dele. Então ele a beijaria porque, sim, o sexo foi ótimo. Mas isso não significava ter de se explicar a ela. Então ele a beijaria, sairia do táxi para ir trabalhar e pediria ao taxista que a deixasse em seu apartamento. Assim que estivesse no escritório, ligaria para Sayers. Se ela já tivesse retomado, ótimo. Se não, quem se importava se o sócio dela rangia ao andar? Diabos, um divórcio era só um divórcio. Qualquer advogado sabia lidar com aquilo. Que alívio poder de repente ver as coisas com tanta clareza. Ele estivera no meio de uma neblina nos últimos dias, mas a neblina terminara e o sol aparecia... — Mais café? — perguntou o garçom. — Não — respondeu Rafe. Chiara olhou surpresa para ele. Acaso ele tinha sido meio brusco? Talvez. Só que, de repente, ele estava com pressa. Como ele podia ter deixado as coisas saírem tanto de controle? — Acabei de lembrar — ele disse a ela — que tenho alguns compromissos esta manhã. Ela concordou com a cabeça. O rosto perdeu um pouco da empolgação, mas ela pôs o guardanapo ao lado do prato e se levantou antes que ele pudesse fazer o mesmo. — Claro — ela disse educadamente. — Você precisa trabalhar hoje. — Sim, é isso. Então apenas passaremos na frente do meu escritório... — Não há necessidade, Raffaele. — Não. Passaremos na frente. Então, hã, então você pode voltar para o apartamento enquanto eu... A voz dele desvaneceu enquanto sacava algumas notas de dinheiro e as jogava na mesa. Tinha pressa demais, agora que recuperara os sentidos, para perder tempo esperando pela conta. Um táxi encostou no meio-fio assim que saíram para a rua. Rafe segurou a porta e fez um movimento para Chiara entrar. Ele entrou após ela, indicou o endereço ao 81
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton motorista e se sentou. Segurara-lhe a mão durante todo o caminho até o centro da cidade. Agora sentava de braços cruzados, sem dizer nada. Chiara também estava em silêncio. Ele olhou-a por um momento. Ela estava pálida, o que o fez se sentir horrível. O táxi parou. Rafe olhou pela janela para o prédio conhecido. Tinha orgulho do prédio, todos eles tinham, e agora percebia que estivera esperando que Chiara gostasse dele, inferno, que achasse o prédio charmoso, mas por que isso importava? O que as preferências, aversões e opiniões dela a respeito dele tinham a ver com qualquer coisa? Ela não era parte da vida dele. Ele não a queria como parte de sua vida. Ele queria cair fora desta bagunça. Deste casamento. Desta situação ridícula... — Que se dane tudo! — rosnou. E quando Chiara olhou para ele, os olhos dela turvos de lágrimas, Rafe a puxou para seus braços. Beijou-a com força. Beijou-a profundamente. Ela respondeu ao beijo da mesma maneira, suas mãos segurando com firmeza os ombros dele, suas lágrimas salgadas nos lábios dele. O taxista pigarreou. — Hã, o senhor quer sair? Ou posso continuar adiante? Uma risada escapou dos lábios de Chiara. Rafe deu um sorrisinho e inclinou a testa contra a dela. — Está vendo este prédio? — perguntou suavemente. Ela olhou para fora e assentiu. — É um lindo prédio, Raffaele. — Sim, bem, é meu. — A voz dele estava cheia do orgulho de saber que marcara seu lugar no mundo e que o fizera sozinho — Nosso. Meu e de meus irmãos. Dante, Falco e Nicolo. Somos sócios na empresa. Vê aquela placa de bronze sobre a porta? Irmãos Orsini. Somos banqueiros privados. Conselheiros financeiros. Corretores. Nenhum de nós seguiu os passos de nosso pai. Entendeu? — Ele segurou o rosto dela com as mãos em concha. — Você não se casou com um santo, Chiara, mas também não se casou com um bandido. Você se casou... se casou comigo. O sorriso dela iluminou seu rosto inteiro. — Fico feliz — ela disse com suavidade. — É — ele disse com voz rouca. — Eu também. Rafe trouxe-a para mais perto em seus braços, deu ao motorista seu endereço na Quinta Avenida e levou a esposa para casa. Ter um elevador privativo era uma coisa multo boa. Significava que um homem podia beijar sua esposa assim que as portas se fechassem. E quando abrissem novamente ele já a teria seminua. Significava que podia levantá-la nos braços e carregá-la até sua sala de estar, arrancar as próprias roupas e o resto das roupas dela e fazer amor com ela no sofá de seda branco com o calor do sol do meio-dia em ambos. Rafe demorava-se sobre cada curva de Chiara. Nenhum centímetro de pele ficou sem ser beijado. Ele deu atenção aos seios, sugando profundamente os mamilos, então gentilmente abrindo-lhe as pernas e dando o mesmo tratamento intensivo ao clitóris. E enquanto ela soluçava por aquele primeiro orgasmo, ele a virou de bruços, beijou-a na nuca, nos pontos sensíveis atrás das orelhas dela, acariciou as costas dela de cima para baixo com a mão e repetiu o mesmo percurso com os lábios. Então pôs a mão em concha 82
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton entre as pernas dela, gemendo de prazer em como o corpo dela ficava úmido de desejo por ele, pelo momento em que a penetrasse. — Por favor — sua esposa sussurrou. — Raffaele, por favor... Ele a colocou de quatro e deslizou lentamente para dentro dela, as mãos em concha nos seios, sua respiração forte ao tentar se controlar. Ela gritou quando o segundo orgasmo a atingiu. Então, só então, Rafe se soltou, deixou de se controlar, deixou suas emoções levantarem voo enquanto a verdade o enchia de um prazer quase insuportável. Estava apaixonado por sua esposa. Depois, ele abriu uma garrafa de Châteauneu du Pape e pôs suas taças deste saboroso vinho tinto para ambos. Embora fosse outono, não estava frio o bastante para acender a lareira. Ainda assim ele decidiu acender sua enorme lareira em pedra, jogou umas almofadas grossas no chão diante da lareira, enrolou sua esposa e a si mesmo na manta afegã de cashmere preto e sentou segurando-a em seus braços enquanto observavam as chamas e bebiam o vinho. Saber que a amava provocava um peso dentro dele. Ele não quisera Chiara, porque seu pai o ordenara a querê-la. Agora a queria com todo o seu coração. Mas e se ela não o quisesse? E se ela quisesse o rápido divórcio que ele lhe prometera? Sim, aquilo fora antes de todo o resto, das horas nos braços um do outro, mas ele não era um menino, era um homem. Sabia perfeitamente bem que fazer amor não era a mesma coisa que estar amando. Ela vivera a vida de uma Rapunzel dos contos de fada, trancada num castelo. Fora solitária. Inocente. Com medo de ser dada a um homem que fosse um ogro. Ele chegara e mudara tudo aquilo. Se dissesse que a amava, ela poderia se sentir grata o bastante para dizer que o amava também, e gratidão era a última coisa que queria. E se ele a quisesse... e ela quisesse apenas sua liberdade? Quando as coisas ficaram tão complicadas? Ele baixou os olhos até ela, que estava deitada calmamente em seus braços, a cabeça contra o tórax nu dele, os olhos fechados, os cílios curvando-se em direção às bochechas. O coração dele se encheu de amor. Por que ele tentava resolver isso como uma equação? Ele só tinha que dizer a ela como se sentia, apenas dizer: "Chiara, querida, não quero um divórcio. Quero você, preciso de você. Eu amo... O interfone tocou. Rafe franziu a testa. Quem seria? Com certeza ele não esperava ninguém. Chiara olhou para ele. — Raffaele? O que foi isto? — Nada, querida. Apenas o interfone. Ele vai parar após um... Bzzzz. Ah! A entrega da Saks. Rafe segurou o sorrisinho que ia dar, beijou-lhe o topo da cabeça dela e a tirou de seu colo. — É o porteiro. Deve ser uma entrega. Ele tem autorização para assinar por mim, mas.. — Ele sorriu. — Já volto. 83
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton Mas não era uma entrega. Eram, disse o porteiro, os irmãos dele. Dois deles, pelo jeito. Tinham suas próprias chaves do elevador e passaram direto por ele. Na verdade já estavam apertando o botão do elevador. E considerando que o sr. Orsini e sua hóspede, hã, subiram um tanto apressadamente... Rafe bateu o interfone. Podia ouvir o suave zumbido do elevador começando a descer. Desconcertado, ele passou a mão pelos cabelos. Dois de seus irmãos. Nicolo e Falco, provavelmente, a não ser que Dante estivesse de volta à cidade e... e que diabos isso importava? Seus irmãos estavam chegando. E Chiara estava nua na sala de estar. Ele correu até ela. Pegou-a pela mão e puxou-a para ficar de pé. — Raffaele? — Está tudo bem — disse enquanto corriam pelos degraus. — É só que meus irmãos estão aqui. O soluço de susto dela quase sugou todo o ar da escada. — Dio mio! Seus irmãos? Mas nós estamos... — É — ele abriu a porta de sua suite com os ombros e quase quebrou o pescoço pisando em dezenas de caixas e sacolas de compras empilhadas no chão. — Eu não contei nada a ninguém sobre... Não disse uma palavra sobre.. — Ele respirou fundo — Só se vista, baby, está bem? Eu cuido do resto. — Me vestir com o quê? Este não é o meu quarto, é o seu. — É. Certo, mas há estas coisas todas aqui. — Ele fez um gesto para os pacotes. As coisas que você experimentou hoje pela manhã. — Você comprou tudo? — Sim, então pegue alguma coisa e... — Mas eu disse a você... — Agora não é hora de discutir! — Rafe correu para seu closet, se enfiou numa calça jeans, passou uma camiseta pela cabeça e ouviu a voz de Nick subindo as escadas. — Rafe? Você está aí, cara? Chiara congelou. Ele também. — Raffaele? — ela sussurrou. Rafe sacudiu a cabeça e Fez sinal com a mão. — Já vou descer. — A gente pode subir se... — Não! Não, tá tudo bem. Estou descendo. — Raffaele. — Sua esposa estava branca como leite. — Minhas roupas... estão espalhadas pela sala inteira! As dele também. Maldição. Era hora de dançar conforme a música. Em alguns minutos seus irmãos saberiam tudo sobre Chiara. Que ele fora à Itália, que se casara com ela indo contra toda razão... Que ele a amava. 84
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton O momento não podia ser pior. Eles saberiam deste último detalhe antes dela mas, diabos, se havia alguma coisa que a vida lhe ensinara é que você joga com as cartas que tem na mão, mesmo que não sejam as que preferia ter. Ele respirou fundo por uns momentos e então foi até a porta. — Raffaele, espere! Chiara correu até ele, cruzou os braços ao redor do pescoço dele, ficou na ponta dos pés e beijou-o. Ele a pegou pelos pulsos e levou as mãos dela para os lados. — Precisamos conversar. Ele falava mais sério do que ela jamais o ouvira falar. O olhar também era sério. Um calafrio a percorreu. — Falar sobre o quê, Raffaele? Ela viu o pomo de Adão dele se mexer enquanto engolia. — Sobre nós. — Ele levantou a mão como se fosse segurar-lhe o queixo, mas não o fez. Ao invés disso, foi em direção à escada.
Capítulo 14
Falco e Nick estavam na varanda, conversando entretidamente. Rafe sabia que falavam dele. Não fora ao escritório por mais de uma semana. Certo. Bem, OK. O quanto antes contasse a eles o que se passava, melhor. Primeiro se livraria daquela pilha indiscreta de roupas pelo sofá. Talvez não eles não tivessem reparado nelas. Ele podia apenas pegar tudo, assim, abrir a porta do armário do aparelho de som embutido e socar tudo lá dentro. Bom. Excelente. Agora respire fundo novamente e se junte a eles na varanda. Ele já estava virando um especialista. — Oi — disse, animado. Seus irmãos se viraram para ele. Tinham um ar sombrio. — Boa idéia, virem aqui fora. — Ele disse com tanta empolgação que se sentiu num comercial de TV. — O sol, o céu azul... — O que está acontecendo? — perguntou Falco. — Acontecendo? — Você o ouviu — disse Nick. — O que você está aprontando? — Não estou aprontando nada. — Isto seria mais difícil do que pensara — Eu só... eu só... — Você não aparece no escritório há dias. O tom de Falco o irritou. — O quê? Eu precisava ter enviado um recado por escrito de mama explicando 85
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton minha ausência? — Você está doente? — Se estou...? — Rafe sacudiu a cabeça. Os irmãos estavam preocupados com ele, só isso. A expressão dele se suavizou — Não, Nicolo. Não estou. Nick e Falco se entreolharam. Então Nick pôs a mão no bolso de seu paletó. — Você deixou isso no elevador Ele olhou para o que estava na mão de Nick. Droga, era a calcinha de algodão da Chiara. — Rafe? Ele levantou a cabeça. As sobrancelhas de Nick estavam arqueadas. As de Falco também. — É — ele balbuciou e tomou a calcinha da mão de seu irmão. — Ou você virou travesti — disse Falco calmamente —, ou não é só o elevador que anda fazendo sobe-e-desce por aqui. Em outro momento Rafe teria rido. Agora estava muito ocupado tentando enfiar a calcinha no bolso. — Muito engraçado. — Rafe olhou para Nick. — O que é isso? Um interrogatório? Seus irmãos se entreolharam novamente. — Se chama preocupação fraterna — disse Falco com ironia. — É o que acontece quando você tem um irmão que sempre se comportou de certa maneira e de repente começa a fazer coisas sem sentido. — Olha, eu estou bem. O.k.? Não sou uma criança. E... — Estamos preocupados com você, cara. A justa indignação de Rafe desapareceu. Eles estavam preocupados. Ele podia ver isso. Além do mais, ficar protelando não faria com que a explicação ficasse mais fácil. — É. — Ele pigarreou. — Hã, alguém quer uma cerveja? — Não — rosnou Falco. Nick deu uma cotovelada nas costelas dele — Cerveja é uma boa idéia. Falco olhou para ele: — Cerveja está ótimo. Os irmãos foram até a cozinha. Nick quase tropeçou em uma bota de salto alto feminina. Ele deu um sorrisinho e desferiu outra cotovelada em Falco. Este também deu um sorrisinho, mas depois os dois franziram o cenho. Isso não era bom. Não era bom mesmo. Eles pegaram as geladas e suadas garrafas de cerveja que Rafe tirou de sua geladeira Subzero. Abriram as garrafas, beberam, limparam as bocas com as costas da mão e deram tempo a ele, deram tempo, deram tempo... — Eu me casei. A garrafa de cerveja de Nick escorregou de sua mão. Ele conseguiu pegá-la no último minuto, mas não antes que metade da cerveja caísse em seu sapato. A garrafa na mão de Falco virou, enviando uma cachoeira de cerveja em seu terno. — Você o quê? 86
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton Rafe levantou os ombros e os deixou cair. — Eu me casei. Uma semana atrás. Nick olhou para Falco. — Ele se casou. Falco concordou com a cabeça. — A calcinha branca. — Ele se casou com uma mulher que usa cal... — 0.k. — disse Rafe friamente. — Agora chega. Não iremos fazer piadinhas com a roupa de baixo de minha esposa. Silêncio. Então Nick pigarreou. — Está bem. O que realmente queremos discutir é sua esposa. Rafe hesitou. Então deu de ombros da mesma maneira que antes: — É. Eu só... A coisa é que nem sei por onde começar. — Começar pelo início sempre funciona — disse Falco calmamente. Rafe assentiu. Ele pôs a garrafa de cerveja no balcão. Seus irmãos fizeram o mesmo. Então foram até a sala, sentaram-se e Rafe começou a falar. Ele fez como Falco sugerira. Começou pelo início, pela reunião que o pai deles havia solicitado. Em seguida pensou em contar como Chiara o emboscara na estrada vindo de Palermo. Na primeira vez em que a beijara. Eles não precisavam ouvir aquilo tudo. Era muito pessoal, muito ligado ao que sua esposa e ele imediatamente sentiram um pelo outro e tentado negar. Ao invés disso, lhes contou somente a parte que importava. O ultimato do pai dela, que se Rafe não se casasse com ela, ele a daria para o animal que era seu capo. Nick soltou um palavrão. Rafe concordou com a cabeça. — Eu não tinha nenhuma escolha. Disse que me casaria com ela. E me casei. — Você tinha escolha — disse Falco. — Poderia ter ido embora. — Você teria? Falco lhe deu um longo e avaliativo olhar. Então deu de ombros. — Certo. Você se casou com ela. Trouxe-a para os Estados Unidos. E então o quê? Tenho certeza de que disse a ela que aquilo não era de verdade. — Claro! — Rafe enterrou as mãos nos bolsos traseiros de seu jeans e começou a andar. — Acaso me casaria com uma mulher que não fosse escolhida por mim? Acaso me casaria com uma mulher porque Cesare ordenara? — Nem a pau. — Deixei claro que tudo aquilo era temporário. — Ligou para sua advogada? — Para Sayers. Claro. Liguei para ela imediatamente. — Rafe balançou a cabeça. — Ela estava fora do país. Pediu que falasse com seu sócio. 87
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton — E foi o que fez. — Não. Não liguei — Contar a história era quase tão complicado quanto vivê-la — Eu decidi esperar Sayers voltar... mas as coisas começaram a mudar. — Mudanças do tipo "calcinha-branca-no-elevador" — disse Nick com humor. Rafe se virou para ele irritado. — Já lhe disse que isto não seria motivo de conversa. — Talvez deva ser. Você a levou para a cama. Transformou um problema logístico em um problema emocional — disse Falco com frieza. — Não. Sim. Maldição, não é assim tão simples! — Não é? — Eu sabia o que precisava fazer. Dar apoio a ela. Ajudá-la a recomeçar. Encontrar um lugar para ela viver, este tipo de coisa. — Mas? — Mas é mais fácil dizer do que fazer Eu me senti responsável por ela. — Ele fez uma pausa. — E, então, há poucos minutos, percebi tudo. — Agradeça a Deus pelos pequenos favores — balbuciou Falco. — Percebi que estive me esquivando, evitando lidar com a realidade. Nick girou os olhos. — Aleluia! — E agora sei exatamente o que tenho de fazer — Então faça. — Eu ia fazer Eu ia falar com Chiara, lhe dizer a verdade, mas vocês dois palhaços apareceram. — Então diga a ela assim que sairmos. — Claro que direi. Mas, vejam, não é tão simples. — Rafe se virou e marchou de novo pelo aposento, então se virou para seus irmãos. — Ela sabe que eu queria cair fora. Fui claro a este respeito desde o começo. Diabos, eu disse isto a ela a cada chance que tive. Não queria que ela entendesse de maneira errada o nosso acordo. Mas... — Mas você dormiu com ela — disse Falco secamente. — E isso complicou as coisas. — Você ouviu o que eu disse? Não é assim tão simples. — Claro que é. Você está preocupado em como ela reagirá quando lhe contar a verdade. — Droga, é claro que estou preocupado! E se ela não reagir como quero que reaja? E se ela disser não? E se ela disser "Raffaele, me casei com você. E agora"... — E agora — disse uma voz feminina. — E agora terminou. Os três se viraram. Nick e Falco piscaram. A mulher que estava no meio da escada estava toda vestida de preto. Seu cabelo estava puxado para trás, preso num coque e ela carregava uma mala negra. — Chiara — Rafe sorriu e começou a em direção a ela. — Baby. Estou feliz que esteja aqui. Quero que conheça meus... 88
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton — Não tenho o mínimo interesse em conhecer estes homens. O tom de voz de Chiara era gelado. Isso era bom, porque sua pulsação estava tão alta que a sala parecia girar. Se ela aparentasse frieza, se parecesse sob controle, talvez não chorasse. Talvez o seu Raffaele nunca saberia que lhe havia partido o coração. — Querida. Estes são meus irm... — Deixei as coisas que você comprou para mim na cama, Raffaele. Tenho certeza de que poderá doá-las para caridade. Rafe piscou. Que diabos estava acontecendo? Por que sua Chiara o olhava tão friamente? Ele ia contar aos irmãos que estava apaixonado por sua esposa, que estava apavorado de medo de contar a ela que a amava, porque Chiara poderia dizer que aquilo era tudo muito bonito, mas que queria sua liberdade, assim como lhe prometera. — Baby. Qual é o problema? — Não me chame assim. E não me trate como se eu fosse burra. Garanto que não sou. Rafe foi para a frente dela enquanto ela descia o resto dos degraus — Chiara... — Por favor, saia da rainha frente. O queixo dela se ergueu. Os olhos dela brilharam com lágrimas para verter. Ela era, de novo, sua durona porém vulnerável Chiara. E embora ele não entendesse a razão, ela estava deixando claro que não o queria. Os olhos dele cerraram-se. — O que está acontecendo aqui? — A verdade. É isso que está acontecendo aqui. Você e seus irmãos não precisam se preocupar. Não quero este casamento. Nunca quis. Quero o divórcio, como combinamos, e o quero o quanto antes. — Chiara... — Eu ouvi tudo — ela disse e sentiu que sua compostura deslizava. — Ouvi cada palavra, Raffaele! — Você ouviu...? Não. Espere um minuto. Olhe, você entendeu errado. O que eu estava dizendo aos meus irmãos era que... Chiara! — A voz de Rafe se elevou quando ela passou por ele e correu, não para o elevador, mas para a cozinha. O.k. Ao menos ela não saíra. Tudo o que precisava fazer era se livrar de Nick c Falco e conversar com ela, fazê-la ouvir.. A cozinha? — Droga — disse Rafe. — A entrada de serviço! Falco segurou-o pelo braço. — Raffaele. Deixe-a ir. — Maldição, me largue! — Rafe — disse Nick. — O.k., ela riu por último. E daí? Quem se importa com quem deu a palavra final? Você queria que ela fosse embora. Bem, ela foi embora. Espere alguns dias, uma semana, e acabará esquecendo que esta cena sequer... Rafe se soltou da mão de Falco. — Seus idiotas — rugiu. — Não queria que ela fosse embora! Eu a amo. Sempre a amarei. Ela é minha esposa! 89
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton Nicolo e Falco se entreolharam enquanto Rafe corria para a cozinha. A porta de serviço estava aberta. As luzes do mostrador do elevador de serviço indicavam que ela já havia chegado ao subsolo. — Cazzo! — disse Falco. Então foram atrás de Rafe, que já corria lance abaixo pela escada de incêndio. Chiara desembocou na rua e parou confusa. Ela estava numa rua lateral desconhecida. Ouviu uma buzina, olhou em direção à esquina e viu que estava a alguns metros da Quinta Avenida, de seus taxis e ônibus. Ela não tinha dinheiro para qualquer um deles, mas isso era um problema com o qual lidaria quando precisasse. Ela começou a correr. Que idiota tinha sido! Esta tarde, deitada nos braços de Raffaele, com o coração cheio de amor, se permitiu uma pequena fantasia, se deixou pensar que o que vira nos olhos dele fora mais que desejo, que tinha sido amor. — Idiota — disse e correu ainda mais rápido. Ele não a amava. Por que a amaria? Ela fora um estorvo que se transformara num brinquedo sexual. Muito bom para ele, mas sexo tinha tudo a ver com homens. Ela sabia disso, sempre soubera. Como podia ter esquecido? — Chiara! Era a voz dele. O seu Raffaele corria atrás dela, mas ele não era mais o "seu" Raffaele, não era mais "seu" em nada. — Chiara! Espere! Ela havia começado a correr antes, mas Rafe tinha pernas mais compridas. Ele a alcançaria, era só uma questão de tempo. Ela estava na Quinta Avenida agora. Táxis zuniam por ela. Chiara correu até a rua, balançando a mão freneticamente, mas teria dado no mesmo se fosse invisível. Os táxis continuavam em seu caminho. — Chiara! Ela olhou para trás. Dio! Os irmãos estavam logo atrás dele. Tinha de fazer algo! Chiara mergulhou no trânsito congestionado, ignorando as buzinas e freadas. Ouvia Raffaele novamente gritando atrás dela e, então, graças a Deus, chegou no parque. Fugir aqui seria mais fácil. Sem carros. Sem ônibus. Ela era uma boa corredora. Tinha pernas fortes pelos anos de passeios nas colinas ao redor de San Giuseppe. Se conseguisse pôr um pouco mais de distância entre ela e... Raffaele a agarrou por trás. Ela uivou, as pernas dele se enrolaram nas suas e os dois caíram juntos. Ela tentou rolar, mas ele a segurava pelas costas, o quadril dele montado sobre o dela, as mãos dele segurando-lhe os punhos dela. Agora os irmãos dele estavam lá também, despenteados, ofegantes e olhando para ela com ódio nos olhos. — Me solte! — ordenou ela. Raffaele se levantou e a pôs de pé. 90
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton — Eu disse... me... solte! — Nunca — ele rosnou, e o olhar duro no rosto dele a fez estremecer. — Eu vou gritar... — Não. Não vai — ele disse e cobriu-lhe a boca com um beijo. Chiara batia com os punhos contra os fortes ombros de seu marido. Ela mordeu o lábio dele. E então, embora fosse deplorável fazê-lo, ela cedeu a este último beijo. E então outro. E outro... — Hã, Rafe? Precisa da gente, mano? Rafe não respondeu. Em vez disso segurou o rosto de Chiara com as mãos, mudou o ângulo do beijo e sentiu seu coração pular quando ela deu um daqueles gemidinhos. — Ele não precisa da gente — disse Falco. — Não — disse Nick, rindo. — Não precisa. Eles lhe desejaram boa sorte, disseram que adorariam conhecer aquela mulherzinha se os dois algum dia decidissem parar para tomar fôlego... E então foram embora. — Eu te amo — Rafe sussurrou contra os lábios da esposa. — Não — disse ela com interrupções. — Você não me ama. Ouvi cada palavra que você disse. — Não podia ter ouvido, pois nunca tive chance de dizer as únicas palavras que importavam — Rafe a afastou, apenas o bastante para ver o adorável rosto dela. — Eu te amo Chiara. — Mas você disse que não sabia como me dizer que queria terminar nosso casamento. Você disse... — Eu disse que não sabia como lhe dizer que a amo. Ao menos era isso que eu ia dizer — Rafe sorriu. — Você simplesmente não me deu chance. — Oh, Raffaele. Tenha certeza disso. Por favor, tenha certeza... por que eu te amo. Eu te adoro. Eu... Rafe beijou-a novamente. Ali era Nova York, e as pessoas desviavam deles, mas mesmo alguns daqueles endurecidos novaiorquinos sorriram. — Eu te amo — disse Rafe. — Não quero nunca perder você. Quero que você seja minha esposa para sempre — Ele engoliu em seco. — Quer dizer, se você me quiser Chiara riu, mesmo com lágrimas ainda brilhando em seus olhos. — Quero você para o resto de nossas vidas, meu Raffaele — ela disse e o marido a pegou nos braços. Aqueles novaiorquinos endurecidos assobiaram e festejaram, e Raffaele Orsini carregou para casa sua linda e turbulenta esposa. Não é todo homem que pode casar duas vezes com a mesma mulher. Rafe sim. Quando ele contou à família a notícia do casamento, todo mundo enlouqueceu um pouco. A mãe dele chorou. Suas irmãs também. Falco e Nicolo, que, é claro, já sabiam a 91
Paixão 156 – Promessa de êxtase – Sandra Marton respeito, giraram os olhos com toda aquela inadequada comoção. Dante, que ficara sabendo após seu retorno de Deus-sabe-onde, deu de ombros e lançou um sorriso enigmático. Cesare apenas parecia convencido e disse que sabia que aquilo aconteceria. Rafe decidiu deixar as coisas assim. Seu pai havia se metido em sua vida, não em benefício de seu filho, mas para salvar a própria consciência. O fato das coisas terem dado certo não mudou nada. — Uma cerimônia de casamento — disse a mãe dele, secando os olhos no avental — Precisamos de uma cerimônia de casamento de verdade. Rafe disse que já tinham tido uma, mas as irmãs dele entraram na dança e, quando ele olhou para a esposa, viu que os olhos dela brilhavam com a idéia. Então ele fez o que os homens sempre fazem em situações assim. Ele cedeu. A cerimônia ocorreu na pequena igreja da vizinhança que Sofia Orsini sempre amara. Ou os federais e os tiras foram gentis o bastante naquele dia, ou simplesmente foram muito discretos, pois não havia um único agente ou policial à vista. Chiara usou um vestido de bordado francês antigo sobre seda. Botõezinhos de rosa de seda cor-de-rosa adornavam a cauda do vestido, e o véu do vestido de casamento de Sofia caiu graciosamente de uma tiara de rosas cor-de-rosa em seus cabelos negros. — Cesare e eu fugimos — disse Sofia de maneira envergonhada —, mas minha mama sabia de nosso plano e me deu o véu dela. Eu ficaria honrada se você o usasse. Chiara se emocionou, beijou a sogra e disse que ela é que ficaria honrada. Anna e Isabella foram suas damas de honra. Nick, Falco e Dante foram os padrinhos de Rafe. Assim o altar ficou lotado. Os homens davam sorrisinhos, as mulheres risadinhas, mas todos ficaram solenes assim que a cerimônia simples começou. — Minha Chiara — sussurrou Rafe no momento de levantar o véu de sua noiva e de beijá-la. Ela sorriu aos olhos dele. — Meu Raffaele — disse suavemente e beijou-o com todo o amor que tinha em seu coração. Após isso, na recepção, Isabella e Anna alegremente concordaram que tudo parecera um conto de fadas. Não existem contos de fada, pensou Dante com um olhar sombrio, ao menos não para ele... Mas ele sabiamente decidiu manter para si aquela informação.
Fim
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