Px 313 noite com o inimigo abby green

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A sua necessidade de consolá-la fora impressionante e totalmente inesperada em alguém que costumava manter as pessoas a distância. Madalena não passava de uma estranha, mas, naquele momento, ele sentira uma profunda a nidade com ela. Depois de um longo tempo, ela se afastou e ele a soltou com relutância. – Preciso ir – disse ela. – Devem estar procurando por mim. Ele a pegou pelo braço, sentindo uma agitação no peito. Ela se voltou, e ele perguntou: – Espere... Você me encontra aqui, amanhã? – O mundo parecera ter parado, e ele esperara ouvir uma gargalhada, alguma indicação de que se enganara, mas ela corou. – Gostaria muito – respondeu ela.


Querida leitora, Não existe homem que perdoe a humilhação feita por uma mulher quando ele realmente ama. Por outro lado, algumas vezes eles não conhecem as histórias nos bastidores e entendem tudo errado. Somente o perdão é capaz de unir novamente dois corações apaixonados! Boa leitura! Equipe Editorial Harlequin Books


Abby Green

NOITE COM O INIMIGO

Tradução Maria Vianna

2013


CAPÍTULO UM

MADDIE VASQUEZ se mantinha nas sombras como uma fugitiva. A alguns metros se erguia o hotel mais luxuoso de Mendoza em sua gloriosa majestade colonial, de frente para a imponente Praça da Independência. Ela garantiu a si mesma que não era uma fugitiva. Estava apenas se preparando... Avaliava o nível das pessoas que entravam no saguão: ricas e exclusivas, a elite da sociedade de Mendoza. A tarde escurecia e as lâmpadas que piscavam nos arbustos e nas árvores criavam um ambiente de contos de fadas. Maddie endureceu os lábios e tentou acalmar o coração. Há muito tempo deixara de acreditar em contos de fadas – se é que já acreditara. Jamais abrigara ilusões a respeito do lado sentimental da vida. Era o que provavelmente acontecia com qualquer criança que a mãe tratasse como uma boneca para ser mostrada, e cujo pai se ressentisse por ela não ser o filho que ele perdera. Maddie sacudiu a cabeça para afastar a repentina melancolia e, ao mesmo tempo, percebeu a chegada de um carro esporte prateado – evidentemente antigo e luxuoso – à entrada do hotel. Ela se encolheu, sentiu a boca seca e as mãos úmidas de suor. Seria...? O porteiro do hotel abriu a porta do carro e uma longa silhueta saiu do banco do motorista. Era ele. Maddie sentiu o coração parar por um instante. Nicolás Cristobal de Rojas. O mais bem-sucedido vinicultor de Mendoza e provavelmente, naquele momento, de toda a Argentina. Sem contar a sua vinícola na região de Bordeaux, na França, que garantia que ele tivesse duas vindimas por ano. No meio reconhecidamente instável da produção de vinhos, os lucros de Nicolás haviam triplicado nos últimos anos e ele irradiava sucesso de cada centímetro dos seus 1,95m e dos ombros largos. Ele vestia um smoking preto e olhava ao redor com um olhar entediado. Maddie podia ver o seu belo rosto arrogante e severo. O olhar dele passou pelo lugar onde ela estava escondida, e só então ela sentiu o coração bater novamente e voltou a respirar. Esquecera como aqueles olhos azuis eram impressionantes. Ele parecia mais magro. Mais bronzeado. Mais sexy. O seu notável cabelo louroescuro facilitava a sua identi cação no meio da multidão – não que o seu carisma e a sua elegância não o distinguissem. Ele tinha mais que aparência... Tinha uma aura quase tangível de poder e de energia sexual. Um movimento inesperado fez com que Maddie desviasse os olhos e visse o porteiro ajudar uma bela loura a sair do outro lado do carro. A moça se aproximou de Nicolás. Seus cabelos brilhavam quase tanto quanto o vestido muito justo de lamê prateado. Ela enlaçou o braço no dele e Maddie não conseguiu ver o olhar que os dois trocaram, mas, pelo sorriso da loura, não duvidou que tinha sido intenso. Ela sentiu uma pontada de dor e colocou a mão no peito. Não! Não deixaria que ele a perturbasse daquele jeito. Não deixaria que ele a perturbasse de jeito nenhum. Maddie passara a maior parte da adolescência sonhando com ele, desejando-o. E seus sonhos tolos haviam terminado em desastre, no recrudescimento da hostilidade que existia entre as suas famílias há gerações. O desacordo acabara com todas as brigas e levara a sua própria família a se separar. Ela realizara todas as suas fantasias, mas também fora jogada em um pesadelo de terríveis revelações. A


última vez em que vira Nicolás Cristobal de Rojas fora alguns anos atrás, em um clube, em Londres. Os olhares dos dois haviam se cruzado através da sala cheia de gente, e ela jamais esqueceria o desprezo que vira em seu rosto, antes que ele se virasse e fosse embora. Ela respirou profundamente várias vezes, rezou, implorando por calma, e endireitou os ombros. Não podia se esconder no escuro a noite inteira. Fora até ali para dizer a Nicolás Cristobal de Rojas que estava em casa e que não pretendia vendê-la a ele. O antigo legado da família estava em suas mãos e ela não deixaria que morresse com ela. Era preciso que Nicolás soubesse, ou iria pressioná-la da mesma maneira que zera com seu pai, aproveitando-se da sua fraqueza para tentar convencê-lo a vender suas terras ao vizinho mais bem-sucedido. Por mais que ela preferisse recorrer a advogados, não estava em condições de pagar seus honorários. E não queria que Nicolás pensasse que estava amedrontada demais para enfrentá-lo pessoalmente. Maddie tentou esquecer o último encontro catastró co que haviam tido: se voltasse ao passado, com certeza iria dar meia-volta. Precisava se concentrar no presente. E no futuro. Mais que ninguém, ela sabia como a família de Rojas podia ser impiedosa e, ainda assim, se impressionara com a pressão a que Nicolás de Rojas submetera um homem debilitado. Era o tipo de atitude que ela esperaria do pai dele, mas não dele... Que grande tola! Deveria ter sabido o que esperar. Maddie ajeitou o vestido preto brilhante. Suas mãos tremiam. O orçamento, que encolhera desde que deixara a Argentina, não lhe permitia comprar trajes de baile. Naquela noite haveria o prestigiado Jantar Anual dos Vinicultores de Mendoza, e ela não conseguiria entrar se não se misturasse aos outros. Por sorte, ela encontrara alguns vestidos que haviam sido de sua mãe, e que seu pai não destruíra durante o ataque de fúria que tivera há oito anos... Escolhera um que lhe parecera discreto, com um decote alto na frente. Só depois que o vestira e percebera que se não saísse logo iria perder a oportunidade, ela viu que ele deixava as costas à mostra... Até a altura das nádegas. Todas as outras roupas precisavam de uma boa lavada. Só aquele fora miraculosamente protegido por uma capa de plástico. Portanto, seria aquele ou nada. Maddie só desejava que sua mãe fosse menos audaciosa e mais alta. Ela tinha 1,80m, e o vestido acabava na altura do meio das coxas, mostrando grande parte das pernas. A sua combinação incomum de cabelo preto, olhos verdes e pele clara fora uma cortesia da mãe de sua bisavó, que viera para a Argentina com uma onda de imigrantes e se casara com um membro da família Vasquez. Portanto, quando ela saiu das sombras e o sopro de uma brisa suave lhe atingiu a pele nua, sentiu-se extremamente exposta. Reunindo toda a coragem de que precisaria para aquele encontro, ela corajosamente ignorou os olhares que provocava e entrou no luxuoso saguão de mármore. NICOLÁS CRISTOBAL de Rojas abafou um bocejo. Trabalhara dobrado para garantir que as uvas daquele ano logo estivessem prontas para a colheita. Depois de um verão caprichoso, elas produziriam a melhor vindima que pudessem conseguir, ou a pior. Ele sorriu sutilmente. Sabia que a produção da vindima não era a sua única desculpa para trabalhar como o diabo. A sua ética de trabalho estava profundamente enraizada na infância problemática. – Realmente, querido – disse uma voz seca ao seu lado. – Eu sou tão entediante? Nic olhou para sua acompanhante e deu um sorriso bem-humorado. – Jamais. A loura fingiu lhe dar um beliscão no braço. – Acho que o tédio está começando a afetá-lo, Nic. Você precisa ir para Buenos Aires e se divertir um pouco. Não sei como ca neste lugar parado. – Ela estremeceu dramaticamente, disse algo a respeito de ir ao banheiro e se afastou com um sexy andar sinuoso.


Nic ficou feliz por ser imune àquele tipo de demonstração feminina, observou os homens se virarem para olhá-la, sacudiu a cabeça e agradeceu à sorte por Estella tê-lo acompanhado naquela noite. Isso afastaria, pelo menos temporariamente, as mais ousadas devoradoras de homens de Mendoza. Não estava disposto a aguentar as mulheres mercenárias, que parecia atrair aos montes. Sua última namorada gritara histericamente com ele durante uma hora acusando-o de não ter alma nem coração. Ele não queria passar por isso outra vez tão cedo. Podia passar sem sexo, se fosse esse o resultado. Para dizer a verdade, seus últimos relacionamentos sexuais tinham parecido estranhamente... vazios. Satisfatórios apenas em um aspecto. E quanto a relacionamentos de longo prazo? Com certeza, ele não pretendia sequer pensar no assunto. A relação venenosa de seus pais lhe ensinara, desde a mais tenra idade: ele escolheria uma parceira de longo prazo com extremo cuidado e prudência. Naturalmente, em algum ponto do seu futuro haveria uma companheira estável: ele tinha um legado valioso para passar à próxima geração e não pretendia romper o precioso ciclo da herança. Nesse momento, ele viu alguém aparecer na porta do salão de baile. Nic se arrepiou e sentiu uma comichão na nuca, exatamente da mesma maneira como acontecera quando, ao chegar ao hotel, tivera a sensação de estar sendo observado. Ele não conseguia ver as feições da moça. Só conseguia ver as suas longas pernas claras, bem torneadas, e o curto vestido preto cintilante que acentuava a sua silhueta esguia. Mas algo nela lhe era familiar. Ele sentia isso em suas entranhas. Os cabelos negros desciam em ondas sobre seus ombros, e ele a viu virar a cabeça. Mesmo de onde estava, ele percebeu que ela se acalmava e que depois começava a andar... diretamente em sua direção. Nic sentiu um impulso absurdo de se virar e ir embora, mas cou parado onde estava. Enquanto ela se aproximava cada vez mais por entre a multidão, ele percebeu que uma suspeita se formava e se rmava em sua cabeça. Não poderia ser, ele disse a si mesmo. Fazia anos... Ela morava em Londres. Nic mal percebia os murmúrios, que aumentaram de volume quando ela parou diante dele, a poucos centímetros de distância. A certeza e a incredulidade lutavam em sua cabeça, além do reconhecimento de que ela estava linda. Ela sempre fora bonita – levemente etérea –, mas amadurecera e se tornara uma beleza desde a última vez em que a vira. Era escultural, esbelta e curvilínea ao mesmo tempo. Um pacote excitante. Nic não tinha percebido que a examinara detalhadamente, até que os seus olhos se encontraram, e ele a viu corar. Aquilo teve um efeito direto no seu corpo, levando-o a sentir um latejar quente de desejo na virilha. O tédio que ele fora acusado de sentir desaparecera. Várias sensações e muitas emoções começaram a se agitar em suas entranhas, as mais fortes sendo a amargura da traição e a humilhação. Ainda, depois de tantos anos. Ele se protegeu atrás de um frio muro de raiva. Qualquer coisa serviria para extinguir a indesejada pontada de desejo. Seus olhos desa aram os olhos que, de tão verdes, pareciam pedras preciosas, e ele precisou recorrer a todo o seu férreo controle para não voltar no tempo e reviver a sensação de neles se afogar. – Madalena Vasquez – disse ele, separando as sílabas, sem um traço de perturbação na voz. – O que diabos você faz aqui? MADDIE SE encolheu e tentou manter a compostura. Antigamente ele a chamava de Maddie. A caminhada da porta até ali parecia ter durado séculos, não segundos, e os sapatos de sua mãe, que calçava um número a mais, também não a tinham ajudado. Ela ouvia os murmúrios em volta e sabia que nenhum seria elogioso, depois de seu pai ter expulsado publicamente a ela e à sua mãe, oito anos antes. A boca de Nicolás de Rojas formou um sorriso falso. – Por favor, aceite as minhas condolências pela morte de seu pai.


Uma labareda subiu pelas costas de Maddie. – Não vamos ngir que você se importa – disse ela sem se incomodar que ouvissem. Nicolás de Rojas não se embaraçou por ter audiência, mas a dor e a revolta inútil que ela sentiu pela morte do pai quase a sufocaram. O homem à sua frente cruzara os braços, parecendo ainda mais intimidador. A pele de Maddie formigava incomodamente nas costas descobertas. Suas mãos, caídas ao lado do corpo, se fecharam e se crisparam. Nic deu de ombros com indiferença. – Não. Não posso dizer que me importei. Mas pelo menos sou educado. Maddie corou intensamente. Alguns anos antes, ela soubera da morte do pai dele pelos jornais. Os dois eram produto de gerações que teriam alegremente dançado sobre os túmulos uns dos outros, mas não era do seu feitio se comprazer com a morte de alguém, até mesmo de um inimigo. – Eu também sinto pela morte do seu pai – disse ela desajeitada, mas sinceramente. Ele levantou a sobrancelha e contraiu o rosto. – Isto também se aplica à minha mãe? Ela se suicidou ao descobrir que a sua mãe e o meu pai tiveram um caso durante anos... Depois que o seu pai lhe contou. Maddie empalideceu ao ouvi-lo dizer que sabia do caso. Percebeu quanta raiva estava contida naquela máscara de civilidade, quando os olhos dele brilharam perigosamente e marcas de tensão surgiram ao redor da sua boca sensual. Ela cou atordoada e sacudiu a cabeça. Não tinha ideia de que seu pai contara à mãe dele sobre o caso, e nem de que ela havia se suicidado. – Eu não sabia de nada disso... Ele sacudiu a mão com desdém. – Nem poderia. Você se apressou em ir embora e em gastar a fortuna da família, viajando pela Europa com a sua mãe perdulária. Maddie sentiu-se enojada. Estava sendo pior do que ela receara. Imaginara ingenuamente que diria as poucas palavras que pretendia dizer a Nicolás de Rojas, que ele a responderia civilizadamente, e que isto seria tudo. Mas a antiga hostilidade entre as famílias ainda estava forte e viva, e irrompera entre os dois, com algo mais que Maddie não queria admitir. De repente, Nicolás de Rojas deu uma olhada ao redor, rosnou uma praga e pegou-a pelo braço. Antes de saber o que estava acontecendo, ela se viu sendo literalmente arrastada para o outro lado da sala. Em um canto retirado, ele a fez virar e encará-lo. Des zera-se de toda a civilidade e seu rosto brilhava de raiva e de indignação. Maddie se soltou e massageou o braço que latejava, resolvida a não deixar que ele percebesse o quanto estava abalada. – Como ousa me tratar como uma criança indisciplinada?! – Eu já lhe perguntei uma vez: o que está fazendo aqui, Vasquez? Você não é bem-vinda. Diante daquela arrogância, Maddie sentiu a raiva subir e se lembrou de por que estava ali e do que estava em jogo: a sua subsistência. Ela se aproximou. – Para sua informação, aqui eu sou tão bem-vinda quanto você. Eu vim lhe dizer que, assim como meu pai não cedeu à sua pressão para vender as terras, eu também não cederei. Nicolás de Rojas escarneceu: – A única coisa que você tem agora é um pedaço de terra inútil com vinhas estragadas. É um horror. A sua terra não produz nenhum vinho digno de nota há anos. Maddie disfarçou a dor de saber que seu pai perdera tudo e retrucou: – Você e o seu pai pressionaram o meu e sistematicamente o expulsaram do mercado, até que ele não podia mais competir. – Ela o viu endurecer o queixo. – Não foi nada além do que zeram conosco várias vezes. Eu adoraria dizer que gastamos tempo


planejando meios de sabotá-lo, mas os vinhos dos Vasquez deixaram de vender porque simplesmente eram inferiores. Vocês provocaram isso, sem precisar da nossa ajuda. As palavras a atingiram dolorosamente porque era verdade, e Maddie recuou ao perceber o quanto ele estava furioso e indignado. A maneira como ela reagia tinha mais a ver com a proximidade de Nic e com o efeito que isso provocava no seu corpo, e pior, com lembranças perturbadoras, que com a raiva que ele demonstrava. Ela não conseguiu se impedir de ter uma visão do tempo em que pressionava tanto o corpo contra o dele que podia sentir todos os seus músculos e a evidência da sua atração por ela. Era atordoante e excitante. Ela o desejava tanto que chegara a lhe implorar... – Aqui está você! – Agora não, Estella – resmungou Nic. Maddie agradeceu silenciosamente pela interrupção, deu uma olhada na loura linda que vira com ele, na entrada do hotel, e tentou se afastar, mas Nic a agarrou novamente pelo braço. – Espere por mim na mesa, Estella – resmungou ele. A moça arregalou os olhos e olhou de um para outro, soltou um assobio, sacudiu a cabeça e foi embora. Maddie pensou vagamente que ela era tolerante demais para uma namorada. Ainda abalada pela lembrança vívida que tivera, ela tentou se soltar furiosamente. Sentiu o vestido escorregar do seu ombro, notou que ele olhava e viu um brilho ardente passar pelos seus olhos azuis. Ela começou a falar rapidamente para não reagir àquele olhar – que provavelmente fora obra da sua imaginação. Aquele homem não sentia nada por ela, a não ser ódio. – Eu simplesmente vim lhe dizer que estou de volta e que não vou vender a propriedade dos Vasquez. E, se eu vendesse, você acha que, depois do que nós passamos, seria para um de Rojas? Eu preferiria incendiá-la. Pretendo devolver à terra toda a sua glória. Nicolás cou parado e depois soltou uma gargalhada, jogando a cabeça para trás e mostrando o seu pescoço forte. Quando ele endireitou a cabeça, Maddie sentiu uma fraqueza e um calor perturbador. – Você deve ter perturbado muito o seu pai antes de ele morrer, para convencê-lo a deixá-la para você. Depois que você e sua mãe partiram e todos souberam do caso, ninguém esperava vê-las novamente. Maddie crispou os punhos. Era-lhe doloroso pensar naquele tempo e no quanto seu pai, justificadamente, ficara furioso. – Você não tem ideia do que está falando. – Era de conhecimento público que o seu pai, quando morreu, não tinha um peso em seu nome. É o provedor suíço que se casou com a sua mãe que está sustentando esse capricho? – Ele endureceu o queixo. – Ou será que também arranjou um marido rico? Você encontrou um em Londres? Da última vez em que a vi, você estava frequentando os clubes certos. Maddie ficou indignada e apertou ainda mais as mãos. – A minha mãe não está nanciando nada. E eu não tenho um marido rico, nem namorado ou amante. Não que isso seja da sua conta. Nic fez uma expressão perplexa e chocada. – Está querendo me dizer que a princesa mimada dos Vasquez acha que pode voar para casa e recuperar um vinhedo falido, sem ajuda ou experiência? Cansou-se das festas em iates, em Cannes, e arranjou um novo passatempo? Maddie sentiu o sangue subir. Ele não tinha ideia de como ela lutara para se a rmar junto ao pai, para provar que poderia ser tão boa quanto qualquer homem... quanto seu pobre irmão que morrera. Agora jamais teria aquela chance porque seu pai também morrera. E não deixaria que o legado que herdara morresse com ela. Queria provar que era capaz de recuperar as vinhas, e não iria deixar que


outro homem – além de seu pai – ficasse no seu caminho. – É exatamente o que estou dizendo, Nicolás. Fique longe do meu caminho e não espere um anúncio de “Vende-se”... Jamais. – Enquanto ela recuava, evitando que ele visse suas costas nuas, ele falou friamente: – Eu lhe dou duas semanas para gritar e sair correndo. Você não sabe o que é necessário para administrar uma viticultura de sucesso. Nunca trabalhou nem um dia nas vinhas. Faz muitos anos que a Vasquez não produz um vinho que valha a pena, e o seu pai afundou com os preços acima do mercado. Você está dando um passo maior que as pernas, Vasquez, e vai perceber que, não importa o preço que coloque no cartaz, pretendo cobri-lo. Só para ter a satisfação de saber que a sua família se foi para sempre. Maddie escondeu a mágoa. Ele sabia que ela nunca trabalhara nas vinhas porque ela havia lhe contado. Fora uma revelação íntima que não deveria ser usada contra ela. Nic se aproximou e falou friamente: – Como você vê, eventualmente a propriedade fará parte da marca de Rojas... Recusando-se a vendê-la, você só está prolongando a sua agonia. Pense bem: em uma semana pode estar em Londres, sentada na primeira la de um des le, com dinheiro su ciente para satisfazê-la por muito tempo. Providenciarei pessoalmente para que você não tenha motivos para voltar aqui nunca mais. Maddie balançou a cabeça e tentou controlar a horrível sensação de que pulara num abismo. Estava chocada com a extensão do ódio daquele homem, mais magoada do que deveria, e isto a apavorava. Quando ela falou, não conseguiu impedir a rouquidão da própria voz. – Aqui é o meu lar... tanto quanto seu... E, antes de me ver ir embora, você terá que carregar o meu cadáver. – Maggie estava amargamente ciente de que, a despeito da sua declaração, tudo que ele dissera era verdade. A não ser pela ideia que ele tinha da sua vida. A este respeito, ele nada sabia, e ela não pretendia lhe contar. Ela recuou mais um pouco. – Não se aproxime da minha propriedade, de Rojas... Nem você, nem ninguém do seu pessoal. Vocês não serão bem-vindos. Ele sorriu com ironia. – Admiro a sua atuação, Vasquez, e estou ansioso para ver quanto tempo você vai sustentar o seu papel. Por fim, Maddie conseguiu desviar os olhos de cima dele e ir embora, mas não antes de tropeçar nos sapatos demasiado largos. Ela trincou os dentes e orou silenciosamente para manter a dignidade e não perder um sapato na frente do arrogante de Rojas e da multidão atônita, enquanto caminhava para a porta. Manteve a cabeça erguida. E só quando chegou ao velho jipe do pai, no estacionamento, foi atingida pelo choque e tremeu incontrolavelmente por longo tempo. A terrível realidade é que ele tinha razão. Tentando fazer a propriedade produzir outra vez, ela estaria correndo atrás do nada. Mas não iria deixar de tentar. Seu pai lhe oferecera uma reparação há muito tempo devida, e, ainda que tivesse vindo tarde, ela sempre se agarrara à esperança de que ele iria procurá-la. Ela teria voltado antes, se soubesse que seria bem-vinda. Desde que conseguia se lembrar, sempre desejara trabalhar na propriedade. Quando recebera a carta comovente do pai doente, que desabafava seu arrependimento, Maddie não fora capaz de ignorar o pedido de que ela voltasse para casa e tentasse salvar as terras. Seu relacionamento com o pai nunca havia sido próximo. Ele deixara claro que queria ter tido lhos, não uma lha, e acreditava piamente que o lugar da mulher era em casa, e não nos vinhedos. Mas ele compensara uma vida de desprezo no seu leito de morte, quando percebera que poderia perder tudo. Maddie rezara e esperara chegar em casa a tempo de vê-lo, mas ele morrera durante o primeiro trecho do voo que a levara a Buenos Aires. Um advogado viera lhe dar a notícia, e ela fora diretamente


do aeroporto de Mendoza para o funeral particular e solitário, em uma sepultura localizada na propriedade. Não conseguira entrar em contato com sua mãe, que estava em um cruzeiro com o quarto marido, dez anos mais moço, e se sentia muito solitária diante da animosidade de Nicolás de Rojas e da aparentemente insuperável tarefa de administrar a plantação dos Vasquez. A lenda dizia que os ancestrais de Maddie e de Nicolás de Rojas eram dois amigos espanhóis imigrantes, que haviam feito uma longa jornada até a Argentina para começar vida nova. Os dois tinham combinado plantar juntos uma vinha, mas alguma coisa acontecera. Uma mulher estaria envolvida nessa história: um caso de amor que dera errado e uma amarga traição. Como vingança, o ancestral de Maddie jurara destruir o nome dos de Rojas. E para isso fundara a vinicultura Vasquez, instalando-a exatamente ao lado da de seu rival. Os vinhos Vasquez haviam feito um sucesso estrondoso, prejudicando o nome dos de Rojas e garantindo que a briga recrudescesse e se agravasse, enquanto cada geração dos dois lutava para dominar e se vingar. A violência entre as famílias havia se tornado habitual. Uma vez, um membro da família de Rojas fora assassinado, mas nunca haviam provado que o culpado tinha sido um Vasquez. Reviravoltas da sorte haviam ocorrido através dos anos, mas, quando Maddie nascera, as duas propriedades se igualavam em matéria de sucesso e as nuvens negras de hostilidade entre as duas famílias pareciam ter dado uma trégua. Apesar da relativa paz, Maddie crescera sabendo que seria punida ainda que estivesse apenas olhando na direção dos vinhedos dos de Rojas. Ela corou violentamente ao se recordar de que Nicolás a chamara de “princesa”. Na verdade, ele só a via em alguns eventos sociais, quando as famílias eram forçadas a se encontrar, e quando os an triões nervosos tomavam cuidado para que eles realmente não se misturassem. A mãe de Maddie aproveitava essas ocasiões para exibi-la vestida na última moda, forçando a menina naturalmente discreta e estudiosa, tentando moldá-la para ser a lha so sticada que ela tanto desejava. A linda mãe de Maddie desejava uma confidente, não uma criança. Maddie se sentia tão constrangida e morti cada naquelas ocasiões que dava um jeito de desaparecer, enquanto admitia ter uma fascinação proibida por Nicolás Cristobal de Rojas, seis anos mais velho e que, apesar de ainda adolescente, irradiava virilidade e uma clara arrogância. A tensão e a distância entre as famílias só o deixava ainda mais atraente e fascinante. E então, quando ela zera 12 anos, fora mandada para um internato, em Londres, e só voltava para casa durante as férias. Vivia para aqueles poucos meses e suportava ser exibida pela mãe como se fosse uma boneca, porque isso signi cava que poderia ter o prazer proibido de ver Nicolás de Rojas durante o torneio anual de polo ou nas festas. Às vezes, ela olhava pela janela do seu quarto e o via à distância, montado a cavalo, inspecionando as vinhas vizinhas. Para ela, ele parecia um deus louro – forte e orgulhoso, e, quando ela o encontrava socialmente, ele sempre estava rodeado por garotas. Maddie comprimiu os lábios ao pensar na bela loura que ele acabara de dispensar com indiferença. Evidentemente, nada mudara... Oito anos antes, a trégua entre as famílias explodira e se transformara em renovada inimizade, mostrando a Maddie a profundidade do ódio que existia entre elas. Ela queria esquecer o fato de que estragara a impressão que provocara em Nicolás, que se desmanchara tão rapidamente quanto se formara. Em que alguém como ele iria acreditar? Numa vida de propaganda e impressões erradas? Ou nos mais breves momentos cheios de desejo, que haviam azedado para sempre? Maddie balançou a cabeça e estendeu a mão trêmula para dar a partida no motor. Tinha diesel su ciente para chegar até a pequena cidade de Villarosa, a meia hora de Mendoza. Com certeza, Nicolás passaria a noite em uma suíte do majestoso hotel, acompanhado da loura de pernas compridas, mas ela não tinha para onde ir, a não ser uma propriedade arruinada de onde a eletricidade fora cortada


hรก meses, e onde ela e os fantasmas de trabalhadores leais dependiam de um antigo gerador para ter luz. Ela saiu do estacionamento do hotel e pensou que vรกrios ancestrais dos de Rojas deveriam estar rindo do seu impasse.


CAPÍTULO DOIS

NIC ESTAVA

em transe. Quando Madalena Vasquez saiu, ele só via a imagem das costas nuas e dos cabelos negros sobre a pele clara. Ela tropeçou nos sapatos, o que a fez parecer dolorosamente vulnerável, mas se recuperou e saiu do salão como uma rainha. Ela não tinha o direito de se aborrecer por ele a ter chamado de “princesa”, porque era o que ela sempre fora. Quando mais jovem, parecia uma delicada boneca de porcelana, e ele odiava admitir, mas sempre cara fascinado com a sua pele pálida e com seus olhos verdes. Nic se envergonhava da sua ingenuidade, mas houvera momentos em que acreditara que ela não se sentia à vontade no seu ambiente social, quando parecera quase enojada pela mãe empurrá-la e exibi-la. Ele percebera que, sob a sua delicada aparência, existia algo mais sólido. Nic contraiu a boca. Bem, ele experimentara pessoalmente o quanto havia de sólido sob aquela beleza etérea. Como se precisassem lhe lembrar do tipo de pessoa que era ela. Uma vez tentara desa ar seus preconceitos, mas não passara de uma encenação. Ela herdara a natureza sedutora da mãe: uma sensualidade capaz de enfeitiçar o homem mais resistente, e que, antes dele, enfeitiçara seu pai. E Madalena só tinha 17 anos. Ele se sentia humilhado ao recordar, mas não conseguia controlar as lembranças. Não logo depois de tê-la visto de perto pela primeira vez em anos. Uma noite ele estivera inspecionando as vinhas próximas às terras dos Vasquez. Precisavam estar vigilantes para o caso de sabotagem. Naquela noite em particular, ele se sentia cansado e frustrado. Cansado da constante tristeza de sua mãe, nunca diagnosticada como depressão, da corrosiva crueldade e da habitual violência de seu pai. Durante o jantar, o pai estivera bebendo e reclamando sobre como o sucesso dos Vasquez ameaçava suas vendas. Nic sempre acreditara que cada um faz o próprio sucesso, mas, contido pela autoridade do pai, não fora capaz de dizer o que pensava. Algo o zera levantar os olhos para a pequena colina que servia de limite natural entre as duas propriedades, e ele vira uma mulher de cabelos negros montada num cavalo. Madalena Vasquez. Olhando diretamente para ele. O seu cansaço imediatamente se transformara em uma raiva irracional por ela fazer com que ele pensasse nela, sonhasse com ela, apesar de ela ser proibida. Também representava a obscura e confusa briga que ele jamais entendera. Mas a imagem orgulhosa que ela formava, montada no cavalo, só fez fasciná-lo ainda mais. Cedendo a um impulso mais forte que a vontade, Nic esporeara o cavalo e galopara na sua direção, só para vê-la dar meia-volta e desaparecer. Oito anos depois, ele ainda sentia a necessidade premente latejar no seu sangue: necessidade de ir até ela, de vê-la de perto. Durante toda a vida, jamais haviam permitido que os dois se falassem, mas ele percebera a maneira como ela o olhava a distância e, depois, desviava os olhos, envergonhada. Por m, ele conseguira vê-la ao longe, com os cabelos esvoaçando ao vento, galopando pelo vale como se fosse uma bala, e fora atrás dela. Encontrara o seu cavalo amarrado a uma árvore no limite das duas propriedades, num lugar remoto onde haviam plantado orquídeas. Ela estava em uma clareira entre as árvores, como se soubesse que iria segui-la. Ficara mais fascinado pelos cabelos brilhantes e pelo rosto corado do que queria admitir. Nic apeara do cavalo e se aproximara. A sua raiva se dissolvera como a neve sobre a pedra quente.


A natureza proibida do que estavam fazendo se impregnara no ar que os cercava. – Por que você me seguiu? – perguntara ela de repente, com a voz rouca. Ele respondera instintivamente: – Talvez eu só quisesse ver a princesa Vasquez de perto. Ela recuara, pálida como um fantasma e com os olhos brilhando como esmeraldas. Ele estendera as mãos. – Espere. Não sei por que eu disse isso... Desculpe. – Ele suspirara. – Eu a segui porque queria... E porque acho que era isso que você queria que eu fizesse. Ela corara, e Nic, sem se dar conta, tocara-lhe o rosto, fascinado pela maneira como ela demonstrava suas emoções claramente. Havia sentido a maciez de sua pele sob a mão calejada e um desejo tão forte que quase o derrubara. Ela mordera o lábio e dera um passo para trás, parecendo preocupada. – Não deveríamos estar aqui. Se alguém nos vir... Ele a vira estremecer. Os seus seios esticaram o tecido da blusa e as calças de montaria que lhe envolviam os quadris. Ele tentara se controlar, mas sentira o fogo se espalhar no seu corpo. Ela lançara um olhar de desa o, con rmando que não era tão delicada quanto parecia – como se o galope pelo campo já não houvesse confirmado a suspeita que ele tinha. – Eu não sou uma princesa. Odeio ser exibida em público como uma espécie de manequim. É a minha mãe que... Ela desejaria que eu fosse mais parecida com ela. Não me deixam sequer cavalgar sozinha: preciso sair escondido, enquanto estão ocupados... Ele a vira olhar para a sua boca e corar novamente. A energia e a testosterona se espalharam no seu corpo e ele sorrira. – Eu passo praticamente o dia montado num cavalo... Trabalhando nos vinhedos. – Foi isso que eu sempre quis. Mas, quando o meu irmão morreu, o meu pai me pegou colhendo uvas e me mandou para casa. Disse que, se me encontrasse nos vinhedos outra vez, ele me bateria com o cinto. Nic se admirara e sentira o peito se encolher. Sabia muito bem o quanto doía a cólera de um pai. – O seu irmão morreu há alguns anos, não morreu? – perguntara ele. Madalena desviara os olhos e engolira com dificuldade. – Ele morreu num acidente, quando estavam esmagando as uvas. Só tinha 13 anos. – Sinto muito. Vocês eram muito próximos? – perguntara ele com tristeza. – Eu o adorava – respondera ela com os olhos brilhando. – O meu pai é dado a... crises de raiva. Um dia, eu o aborreci, e ele teria me batido se Alvaro não tivesse me defendido. O meu pai não hesitou em bater nele, furioso por ter sido enfrentado pelo próprio lho. Naquela época, ele tinha apenas oito anos... – Os olhos dela estavam cheios de lágrimas. Nic já fora objeto de várias surras e agira por instinto, abraçando-a. A sua necessidade de consolá-la fora impressionante e totalmente inesperada em alguém que costumava manter as pessoas a distância. Madalena não passava de uma estranha, mas, naquele momento, ele sentira uma profunda afinidade com ela. Depois de um longo tempo, ela se afastara e ele a soltara com relutância. – Preciso ir – dissera ela. – Devem estar procurando por mim. Ele a pegara pelo braço, sentindo uma agitação no peito. Ela se voltara, e ele perguntara: – Espere... Você me encontra aqui amanhã? – O mundo parecera ter parado, e ele esperara ouvir uma gargalhada, alguma indicação de que se enganara, mas ela corara. – Gostaria muito – respondera ela.


Eles haviam se encontrado todos os dias, durante uma semana, e, naqueles momentos roubados, o tempo parecia suspenso numa bolha e as inibições se desmanchavam. Nic lhe contara coisas que nunca dissera a ninguém, com a maior facilidade, como se a conhecesse há anos. A cada dia que passava, mais ele se deixara absorver por Madalena Vasquez, mais cara fascinado pela sua beleza, que ele descobrira ter uma sensualidade natural e que o deixava aturdido de desejo. Mas, depois do primeiro dia, quando a abraçara, assustado com a dimensão do próprio desejo, evitara tocá-la. A tensão sexual que existia entre os dois tinha explodido no último dia. Quando ele chegara para encontrá-la, os dois haviam cado calados. O ar parecera vibrar de tensão em volta deles, e ela já estava em seus braços, antes que ele os estendesse. Ele a beijara e ela se agarrara a ele como se estivesse se afogando. Ele a agarrara pelos cabelos macios como seda e sentira que as pernas dela tremiam. Os dois haviam escorregado para o chão e se deitado sobre a grama, sob a sombra das árvores, indiferentes ao ambiente idílico. Consumido de desejo, ele lhe abrira a blusa com dedos trêmulos. Não era um adolescente inexperiente, um novato, mas se sentira um quando ela olhara para ele por entre as pestanas e com o rosto rosado. Quando ele lhe abrira a blusa e o sutiã e descobrira seus seios brancos de mamilos róseos, quase perdera a cabeça. E, quando ele já estava embriagado pelo gosto de seus doces seios, pelos gemidos que ela soltava e pelos movimentos que fazia com os quadris, só percebera que acontecera alguma coisa ao senti-la endurecer em seus braços. Os dois levantaram a cabeça ao mesmo tempo e viram as guras sinistras, montadas a cavalo, que os observavam. Tudo cara confuso. Nic se apressara a cobrir Maddie, e ela se escondera atrás dele. Os dois tinham sido empurrados, sem cerimônia, para fora da clareira, por seus respectivos empregados, e levados de volta para casa... – Alô? Terra chamando Nicolás? Nic estremeceu e voltou ao presente. Estella segurava duas taças de champanhe, e lhe ofereceu uma delas. – Tome. Acho que lhe fará bem. Ele se sentia sensível e exposto, mas se fez de indiferente e tomou a bebida, controlando-se para não tomá-la de um só gole. – Então aquela moça era mesmo da família Vasquez? Pensei que precisaria de uma mangueira para esfriar as coisas entre vocês. – Ela é a última Vasquez. Voltou para assumir os negócios da família – resmungou Nic, querendo esquecer as lembranças. – Que interessante... – Estella falou em tom inocente. – Você também é o último da sua linha... – A única coisa interessante é que ela será forçada a vender as terras, e nalmente caremos livres dos Vasquez para sempre. Muito tenso, ele se afastou, fugindo ao olhar curioso de Estella. Não queria que analisassem o seu encontro com Madalena Vasquez. E a última coisa que desejava era que o nome dos de Rojas voltasse a ser arrastado na lama dos boatos, e que houvesse o recrudescimento de antigas hostilidades. Quanto mais depressa Madalena Vasquez percebesse a inutilidade do seu plano e o quanto não era bem-vinda, melhor seria para todos. – O QUE ele estará pretendendo? – Maddie murmurou para si mesma, virando e revirando o convite como se fosse uma armadilha. A mensagem havia sido escrita de um lado e era muito simples. “Você está convidada para provar o melhor vinho produzido este ano pela famosa Vinícola de Rojas. Sábado, 19h. Casa de Rojas – Villarosa, Mendoza. Traje de gala.” O convite chegara pelo correio e lhe fora trazido por Hernan, o mais antigo, leal empregado e viticultor de seu pai. Ele e a esposa, Maria, que


cuidava da casa, trabalhavam em troca de comida, ainda que Maddie houvesse lhes dito que não sabia quando poderia lhes pagar novamente o salário. O capataz da vinicultura tinha ido embora há muito tempo, e ela sabia que, até poder pagar outro, precisaria assumir este cargo. Recém-formada em Enologia e Viticultura, faltava-lhe experiência, mas lhe sobrava entusiasmo e ansiava por aquela oportunidade, ainda que fosse um cálice envenenado. Ela engoliu a emoção que sentia pela prova de lealdade de Hernan e lhe entregou o convite. Ele leu silenciosamente e o devolveu a ela com uma expressão inescrutável. – Sabe que, se aceitar este convite, você será a primeira Vasquez a ser convidada para ir à terra dos de Rojas? Maddie assentiu calada. Era extraordinário. Ela não sabia o que ele estaria tramando, mas precisava admitir que estava intrigada para ver a famosa propriedade. Para sua surpresa, Hernan deu de ombros. – Talvez você devesse ir. Os tempos mudaram e as coisas não podem continuar como sempre foram. Ele está pretendo algo. Não tenho dúvida. Nic de Rojas é muito mais inteligente que o pai e, talvez, que o avô. Ele é um inimigo perigoso de se ter... Mas, talvez, um inimigo que você conheça...? – Ele se calou. Maddie olhou o convite, pensativa. O encontro tumultuado dos dois ocorrera exatamente há duas semanas, e ela ainda cava abalada quando se lembrava. Examinar os documentos do pai, desde então, mostrara-lhe o quanto Nicolás de Rojas desejava se apoderar de suas terras. Seu pai fora bombardeado por cartas que o aconselhavam a vender a propriedade. Algumas, persuasivas, quase amigáveis, e outras claramente ameaçadoras. Todas enviadas pelo advogado dos de Rojas, mas assinadas por Nicolás de Rojas. Havia uma carta ameaçadora datada do dia em que seu pai morrera. Por mais que Maddie tivesse vontade de rasgar o convite e mandá-lo de volta a Nicolás, sabia que não poderia se isolar e precisava ver contra o que iria lutar. A festa seria na noite seguinte. Ela colocou o convite dentro de uma gaveta, levantou resolutamente e voltou a colocar o chapéu de caubói que estivera usando. – Vou pensar no assunto. Enquanto isso, nós precisamos inspecionar novamente o vinhedo do leste. Parece que ele é a nossa melhor perspectiva de ter uma colheita este ano. – Você quer dizer, a única – disse Hernan sombriamente enquanto se dirigiam para o velho jipe. Maddie tentou não deixar que a sensação de pânico a dominasse. Estava acontecendo com assustadora frequência, e não lhe agradava. Perceber que a tarefa monumental de aproveitar a única chance de colheita que teriam naquele ano dependeria dela, de Hernan e dos amigos que ele conseguisse convencer a ajudar em nada a aliviava. Seu pai fora um viticultor da velha escola e evitara os métodos modernos. Isso dava certo quando se produzia vinhos mais caros e de primeira qualidade e também mais acessíveis, porém, nos últimos anos, seu pai só produzira vinhos de mesa mais baratos. A sua única esperança eram as uvas que haviam sobrevivido à negligência de seu pai, orescido e amadurecido no vinhedo do leste. Eram uvas Sauvignon que produziam o famoso vinho branco que colocara o nome dos Vasquez no mapa – principalmente porque os vinhos tintos eram mais comuns na Argentina. Se eles pudessem colhê-las e garantir qualidade e quantidade aos investidores, talvez algum deles lhes desse o dinheiro de que precisavam para voltar aos negócios, ou, pelo menos, que lhes permitisse pagar as contas. NIC ESTAVA parado no jardim interno da sua hacienda, muito tenso. Concentrava-se na imponente porta de entrada, onde se via uma longa la de convidados elegantes que haviam viajado de todos os lugares do mundo para a degustação. Centenas de velas tremulavam em lanternas, garçonetes


impecavelmente vestidas em preto e branco circulavam, servindo vinho e canapés. E ele só conseguia pensar... se ela viria. Por que a convidara realmente? Ele disse a si mesmo que fora porque queria que ela fosse embora e sentiu um espasmo no peito. Sabia que era muito mais que isso. Na verdade, o que ele queria, desde oito anos atrás e desde que a vira num clube em Londres, era vê-la alquebrada e arrependida. Destruir a sua perfeição. Vê-la tão humilhada como ele havia se sentido, exposta. Ela o levara a se expor e ele estupidamente acreditara na sua encenação. As palavras que Maddie dissera ainda soavam em sua cabeça: “Eu estava entediada. Queria seduzir você porque você era proibido. Era excitante...” Uma voz maldosa soou ao lado dele. – É apenas questão de tempo para você comprar a propriedade dos Vasquez. Nic tirou os olhos da porta por um instante e olhou para o seu advogado, que fora amigo de seus pais – mais de sua mãe que de seu pai. Ele era um homenzinho baixo e acima do peso, com olhar duro e calculista. Nic jamais gostara dele, porém fora mais fácil mantê-lo que dispensá-lo, depois da morte de seu pai, e pensou que deveria pedir ao secretário que procurasse outro advogado. Ele seria justo e daria ao señor Fiero um belo plano de aposentadoria. Ele notou um movimento na porta, voltou-se e viu Madalena Vasquez entrando. A sua reação instantânea foi quase ridícula: seu corpo se contraiu, a necessidade de vê-la mais de perto voltou, chocando-o com a sua intensidade. Nunca sentira isso por outra mulher – nem por alguma amante. De onde ele estava, ela parecia mais estonteante que há duas semanas. Prendera os cabelos e usava um vestido justo azul-escuro, sem alças, que revelava a delicadeza dos ombros e do pescoço, a rmeza dos braços. No entanto, embora Nic não conseguisse de nir o que fosse, o vestido tinha algo de estranho como o que ela usara em Mendoza, que parecera não lhe assentar perfeitamente – como se não fosse dela. Estava tão acostumado a ver mulheres imaculadamente vestidas que podia detectar a menor anomalia a um quilômetro de distância, e não era o que esperava de Madalena Vasquez. – Quem é? Ela me parece conhecida. – Aquela – disse Nic, não gostando que o advogado também estivesse olhando para ela – é Madalena Vasquez. Ela voltou e assumiu a propriedade da família. O advogado riu cruelmente. – Aquele lugar está em ruínas. Ela vai implorar para que você o compre. Nic se afastou do advogado e caminhou em direção a ela. Não conseguia compreender o impulso intenso e perturbador que sentira de dar um soco no homem e que ainda o perturbava ao se aproximar e se deparar com os olhos verdes que o tavam. Ela corou, e ele notou as sombras discretas sob seus olhos: sinais de cansaço. Ele sentiu o peito se contrair. Antigamente, ele teria acreditado no artifício, mas, como sua mãe lhe ensinara, não passava de um truque para angariar simpatia, para fazer com que um homem acreditasse que ela era inocente como parecia. E Maddie era inescrupulosa. No entanto, ele sabia que sua cabeça não controlava o seu corpo, e o desejo foi instantâneo. – Seja bem-vinda à minha casa. MADDIE TENTOU esconder o quanto estava perturbada só de vê-lo caminhando na sua direção, e conteve a respiração. Chamar aquilo de casa era pouco para um verdadeiro palácio. No passado, a sua casa já fora semelhante, mas agora não passava de um esqueleto desintegrado. Ela não acreditara no charme de Nic nem por um segundo. Os seus olhos eram duas lascas de gelo, e ela estremeceu imperceptivelmente, esquecendo que resolvera se mostrar indiferente. – Por que me convidou para vir aqui? – Por que você veio? – retrucou ele imediatamente.


Maddie corou. Todos os seus motivos agora pareciam inconsistentes e transparentes. Deveria ter devolvido o convite rasgado, como pretendera, mas não devolvera. Ela deu de ombros. – Eu vim porque já se passaram duas semanas, e eu queria que você soubesse que não pretendo ir a lugar algum. Nic fez um gesto com a cabeça, e ela mal notou o homem que se aproximava. – Sim, senhor? – Madalena Vasquez, gostaria de lhe apresentar o administrador da minha casa, Geraldo. Ele lhe mostrará a casa e providenciará tudo que você precisar. Se me dá licença... Preciso receber outros convidados. Ele se voltou para ir embora. Maddie se sentiu inexplicavelmente desamparada, abandonada... A intensidade do que ele lhe provocara ainda era grande e ela se amaldiçoou por car tão vulnerável. Precisava ser forte para enfrentar Nicolás de Rojas e sua arrogância, ou não sobreviveria. Ela forçou um sorriso e se virou para o homem ao seu lado. – Obrigada. – A cabeça de Maddie girava quando Geraldo, que provara ser um encantador an trião, levou-a de volta ao jardim, que agora estava cheio de convidados. Os homens usavam smokings e as mulheres cintilavam em longos vestidos, cobertas de joias. Era difícil lidar com a opulência que acabara de ver. A parte que vira da casa era mobiliada com móveis lindos, mas confortáveis. Era um lar. Aquilo a afetava profundamente. A sua própria casa sempre se assemelhara a um mostruário frio e austero, cheio de antiguidades empoeiradas que, infelizmente, já tinham sido vendidas para cobrir a derrocada do pai. – Vou deixá-la aqui, se não se importa? Maddie olhou para o administrador e viu que ele esperava uma resposta. – Claro. Você deve estar ocupado. Desculpe se o desviei das suas tarefas. – Foi um prazer, señorita Vasquez. O enólogo, Eduardo, irá lhe servir o melhor da nossa seleção de vinhos para degustar. Um homem simpático levou-a até a mesa de degustação. Só quando ela viu o olhar sarcástico de Nicolás entre os convidados, do outro lado da sala, entendeu que estava sendo levada exatamente para onde ele pretendia, para ver o que ele queria que ela visse. Ficou chocada com a transparência da intenção de Nicolás e com a maneira como ela esquecera o que estava acontecendo ali. Voltou a atenção para Eduardo, que discorria sobre os vários vinhos. Quando alguém o interrompeu, ela aproveitou para se afastar de Nicolás, mas odiou perceber que sabia sempre onde ele estava, como se um o invisível os ligasse. Desde que atingira a puberdade, sempre tivera consciência dele como homem. Ela cruzou uma sala silenciosa e pouco iluminada, cheia de estofados luxuosos e móveis de madeira rosada. Saiu para uma varanda que cercava a casa e amparou-se na grade que a delimitava. A brisa trazia o som de uma banda de jazz. Maddie sorriu cinicamente. Nicolás de Rojas poderia tê-la parado na porta, e ela ainda estaria admirada com o seu sucesso e a sua fortuna. Os caminhos de cascalho, leiras e leiras de videiras bem-cuidadas e os galpões iluminados serviam de amostra. Era o que ela queria ver nas suas terras: vê-las orescer, como acontecia quando ela era pequena, com leiras de videiras carregadas de uvas maduras suculentas... Ela ouviu um ruído e se virou. Seu coração bateu mais forte, ao ver Nicolás parado na porta da sala, bloqueando a luz, com as mãos nos bolsos. Ele estava tão bonito que, por um momento, ela se esqueceu de tudo e só conseguiu enxergá-lo. Precisou recorrer a todo o seu domínio e sorriu. Um sorriso nervoso. Ver a casa de Nicolás de perto a abalara mais profundamente do que gostaria de admitir.


– Você realmente acha que exibir o seu sucesso me faria correr para o aeroporto com o rabo entre as pernas? Ele contraiu o queixo e se aproximou. A respiração de Maddie parou na garganta ao sentir o seu perfume, mas ela não tinha como recuar. Suas costas já estavam na grade de madeira. – Isto aqui deve parecer chato para você, depois do brilho de Londres. Sem mencionar as pistas de esqui em Gstaad. Você não está perdendo a estação? Maddie ficou muito vermelha e aumentou o sorriso, escondendo a dor daquela lembrança. – Jamais o teria imaginado como leitor do Celebrity now!, senhor de Rojas. – Maddie já se repreendera: deveria ter descon ado, quando a mãe irresponsável desejara vê-la e se oferecera para pagar o voo que a levaria até a estação de esqui. Ela era a mesma mãe que se recusara a ajudá-la, por acreditar que já havia se sacri cado demais pela lha. Assim que ela chegara, cara evidente que a mãe precisava dela para criar a imagem de mãe dedicada. Na verdade, a sua intenção era seduzir o atual marido, que era divorciado, mas também um pai devotado. Maddie cara extremamente desapontada e magoada, e não tivera coragem de discutir com ela. O resultado é que concordara em tirar uma foto para uma revista, onde as duas apareciam como grandes amigas. – Eu estava voando da Europa para casa. A aeromoça me deu a revista errada e, quando eu vi a capa, não consegui resistir e quei sabendo como você e sua mãe têm uma relação maravilhosa, e como foram em frente depois do doloroso rompimento com seu pai. Maddie sentiu-se enojada. Também lera a reportagem e não acreditava como, por carência de afeto, deixara que a mãe a manipulasse tão completamente. – Esta noite foi uma tentativa inútil da sua parte, de Rojas. Você só me fez car mais determinada a ter sucesso. – O fato de ele pensar que a havia acuado e de tê-la julgado provocou uma onda de revolta em Maddie. – Acabo de passar duas semanas em uma casa sem luz e, como pode ver, eu não estou fugindo para o spa mais próximo. Agora, se não se importa, está tarde e eu preciso levantar cedo. – Maddie segurou a saia para sair, mas naquele momento o sapato muito largo saiu do seu pé e a fez tropeçar. Ele a pegou pelo braço e a sensação que ela sentiu foi de choque. Nicolás não a soltou. Ela se virou para encará-lo, sem um pé do sapato. – O que quer dizer com “sem luz”? Maddie sempre se considerara alta, mas no momento se sentia extremamente pequena. A amargura lhe embargou a voz por ela se sentir tão vulnerável, sabendo que fora exatamente o que ele pretendera. – Estamos usando um velho gerador para iluminar a casa, já que cortaram a luz há meses... Desde que o meu pai parou de pagar as contas. Nicolás abanou a cabeça, chocado. – Eu não sabia que estava ruim a esse ponto. Maddie tentou puxar o braço e entrou em pânico quando ele a segurou com mais força. – Como se você se importasse. Estava ocupado demais, assinando as cartas do seu advogado, fazendo tudo para convencer um moribundo a lhe vender a casa. Sabe que ele recebeu a última carta no dia em que morreu? Nicolás pareceu confuso. – Do que você está falando? Nunca assinei carta alguma. Toda a correspondência entre a minha família e a sua parou no dia em que meu pai morreu. Eu estava ocupado demais, recuperando a nossa produção e renovando a propriedade e a casa. – Pode dizer as mentiras que quiser, de Rojas. Esta noite foi um erro. Eu desapontei todas as gerações da minha família e o meu pai ao vir aqui. Não acontecerá novamente. Ele relaxou o aperto no seu braço. Maddie se sentiu desorientada e a sua raiva se dissipou. Ele


olhava para ela com os olhos em chamas, transmitindo-lhe algo básico, instintivo, que a atingia profundamente. – Mas você veio aqui esta noite, e há algo no ar... Algo que já nos aproximou antes e que ainda existe... Maddie sentiu-se ainda mais desorientada. Conseguiu soltar o braço, mas as palavras que ele dissera a levaram de volta ao momento em que ele declarara: – Você não passa de um brinquedo tentador. Eu estava curioso para sentir o sabor da princesa Vasquez, e agora sei que é veneno. A amargura e a raiva daquela conversa de oito anos antes fora aguda e obscurecera a sua vida. Maddie nunca mais con ara em outro homem. Havia mantido uma parte de si mesma escondida, por medo de se magoar novamente, de enfrentar dolorosas revelações. Precisava afastá-lo antes que ele percebesse como ela estava vulnerável. Ela endireitou os ombros e olhou-o diretamente nos olhos. – Eu já seduzi você uma vez, de Rojas. Realmente pensou que esta noite eu tentaria seduzi-lo outra vez? Oito anos não foram suficientes para recuperar o seu ego? Nicolás se empertigou e ficou muito pálido. – Você é uma vadia.


CAPÍTULO TRÊS

MADDIE NÃO

sabia onde encontrara forças para dizer palavras que bem poderiam ser dirigidas a ela. Não se recuperara do que ocorrera oito anos antes, nem de longe. Sentiu um zumbido nos ouvidos, ignorou-o e ergueu a cabeça. – Não se preocupe. Você não me verá novamente. Acho que podemos dizer que a farsa acabou. Eu vim aqui porque estava curiosa para saber o que você pretendia. Você me subestimou totalmente. Ela se voltou para ir embora, mas esqueceu que estava apenas com um sapato. Perdeu o equilíbrio e teria caído, se Nicolás não a segurasse contra o peito, passando um braço sob seus seios, e outro pelos seus ombros. Ela sentiu a adrenalina invadir suas veias. Tentou se soltar, mas ele a segurou com força. E os dois estavam sozinhos... Ela sentiu vontade de gritar, mas ele lhe tampou a boca, como se adivinhasse seu pensamento. Maddie entrou em pânico, não pela ameaça de violência, mas pela ameaça de algo muito mais poderoso. A evidência da excitação de Nicolás de Rojas contra suas costas fazia com que ela sentisse o corpo derreter. Um grito silencioso ecoou em sua cabeça: Não! Isso não, por favor. Se ele a tocasse, a sua vulnerabilidade ficaria exposta. Ela mordeu a mão dele e o ouviu praguejar. Sentia as entranhas se contraírem e o fogo se espalhar em suas veias. Com a maior facilidade, ele a virou de frente e apertou-a contra o corpo. Maddie estava totalmente indefesa e, para seu desgosto, o que mais sentia era excitação. – Solte-me. Ele sacudiu a cabeça, com os olhos brilhando. Ela se sentiu perdida: o passado e o presente se misturavam e estava seriamente perturbada. – Eu ainda não terminei com você, Maddie. O coração de Maddie se encolheu quando ela o ouviu chamá-la pelo diminutivo. Lembrava-se de ter lhe dito que preferia ser chamada desse jeito. Ele lhe acariciara o rosto e dissera: – Então, será Maddie. Nicolás deu um sorriso de predador e a trouxe de volta ao presente. – Se acha que eu a subestimei, você também me subestimou. Temos assuntos inacabados. E, ironicamente, eles não têm nada a ver com negócios. Antes que ela pudesse entender ou prever, ele a puxou com mais força e pressionou os lábios contra os seus. Por um instante, Maddie não reagiu. Mas, de repente, uma sensação de calor explodiu no seu corpo. Desesperada, ela tentou se agarrar à realidade e não deixar que o desejo vencesse a sua intenção de car imóvel, de não corresponder. Mas era o mesmo que esperar que o sol não levantasse de manhã. Estar nos braços dele era como ver um raio de fogo do outro lado do mar e correr para a praia. Maddie sentia o impulso inevitável e poderoso de segui-lo, e a sua parte racional mandava que ela se soltasse, que não reagisse. Mas uma parte maior doía com o esforço que fazia para resistir. Como se percebesse o seu con ito, Nic soltou-lhe as mãos e segurou-a pela cabeça, puxando-a para beijá-la melhor. Ele passou a língua pelos seus lábios e dissolveu a sua resistência. Ela sacudiu as mãos por um instante. Sabia que deveria usá-las para empurrá-lo, mas, quando as colocou no meio deles e sentiu os músculos de Nic sob a camisa... não o empurrou.


Ele gemeu ao perceber que ela cedia e se tornou mais ousado, abrindo-lhe os lábios com a ponta da língua, insinuando-a dentro da sua boca. A sensação causada por aquele gesto íntimo fez com que ela se encostasse a ele e sentisse os seios pressionados contra o peito de Nic. Ele a segurou pela cintura e puxou-a contra o corpo. Maddie sentiu o tamanho da sua excitação contra o abdome e o calor úmido que se espalhava entre suas pernas. O mundo se transformara em uma fornalha de sensações e de desejo desesperado... Mas, subitamente, uma brisa fria a despertava do transe, e ela olhava para o rosto impassível de Nic. Ele parecia ser feito de pedra, e Maddie se sentia como uma gelatina. Os seus lábios estavam intumescidos, o seu coração batia como um tambor e os seus cabelos caíam sobre a pele sensível. – Você... – Ela não conseguiu dizer mais nada. Com uma voz tão fria que a fez despertar mais ainda, Nic disse: – O que você quer dizer, Maddie? Queria que eu acreditasse nesta encenação? Que eu a tivesse deixado muda de paixão? – Um brilho de amargura cruzou o seu rosto e ela se abalou. Por um instante, ela esqueceu a própria humilhação. – Você esquece que já tentou isso uma vez comigo. Eu não sou bastante estúpido para cair outra vez. Mas não pode negar que me deseja. Tanto ou mais do que quando estava tremendo em meus braços há oito anos. Eu poderia tê-la possuído naquele dia, e você teria me acompanhado a cada passo. Você pode ter me seduzido por tédio, mas não havia nada entediado na sua reação, como não há agora. Você nunca foi capaz de admitir esta verdade. A arrogância de Nic e a sua expressão zeram com que Maddie saísse do seu torpor. Ela saiu dos seus braços abruptamente e percebeu que ele estava corado. – Eu não estou interessada nas suas hipóteses, ou no seu entendimento do passado. O passado é passado, e é lá que ele deve car. Isto... – Ela fez um gesto para indicar o que acontecera. – É nada além de uma prova de que a atração física pode ser desgraçadamente arbitrária. Isso é tudo. Nic sorriu. – Se eu não tivesse parado, poderia tê-la possuído aqui mesmo, a poucos passos de uma centena de convidados. E precisaria abafar os seus gritos de prazer com a mão. A crueza das palavras fez com que ela levantasse a mão. Ele fora longe demais. Antes que a mão dela atingisse o seu rosto, ele a segurou com rmeza. Maddie se sentiu chocada. Jamais levantara a mão para alguém em sua vida. – Eu só estava provando que você não tem controle sobre o desejo que sente por mim agora, como não tinha há oito anos, quando tentou me convencer de que o que nós zemos foi tão abominável que a deixou doente. Você veio aqui esta noite para me testar, da mesma maneira que eu a testei. A minha cama está livre... Será bem-vinda se quiser se juntar a mim. Podemos ceder à atração arbitrária até que você recupere o senso e decida me vender a propriedade dos Vasquez. Maddie puxou a mão e dominou a vontade de tentar esbofeteá-lo outra vez. A versão que ele dera daquela tarde fatídica era diferente da sua. Ela sabia que havia lhe dado a impressão de que não gostara do que acontecera entre os dois... E por um tempo ela achara abominável, mas não pelos motivos que ele pensava, e não poderia dizer a ele. Por mais que o odiasse, naquele momento, dizer a verdade seria se expor mais ainda. Nic saberia que aquela semana significara muito para ela, que não o seduzira para se divertir. Não haveria como desligá-lo daquela crença porque era a única defesa que ela possuía contra ele. Maddie se empertigou e falou friamente: – Você esquece que a sua cama estava bastante ocupada há duas semanas. Eu passo, obrigada. Maddie se voltou e foi embora. Para seu alívio, ele não a impediu. Só quando ela saiu pela porta de entrada, percebeu que estava sem sapato. Não iria voltar para pegá-lo. Ela entrou no jipe que o manobrista trouxera e observou as luzes da hacienda no retrovisor. Só então respirou.


Fora tola ao pensar que Nic de Rojas não iria mencionar o que acontecera no passado. Ele era viril demais e orgulhoso. Ela magoara o seu ego... Maddie estremeceu ao recordar a amargura que vira no seu rosto há poucos minutos. Ela não tinha ideia de que tudo ainda estivesse vivo e não resolvido entre os dois. Embora os eventos de oito anos atrás tivessem causado abalos violentos, imaginara que ele esquecera a semana que levara a eles e que os anos e os vários casos que ele tivera com belas mulheres tivessem levado o seu encanto inocente e desajeitado a cair na insignificância. A maneira como ele a beijara e a lembrança daquela semana – daqueles dias em que o desejo crescera tanto que ela implorara para que ele zesse amor com ela – zeram-na tremer tanto que ela precisou parar o carro, ou iria se arriscar a sofrer um acidente. Maddie apoiou a cabeça no volante e tentou esvaziar a cabeça, mas era impossível. As lembranças eram muito fortes, principalmente depois do que acabara de acontecer. Naquele dia, ela conseguira escapar dos pais e cavalgara sozinha. Esperava ver Nic de Rojas de longe e o seu coração quase parara quando o vira a poucos metros. Ela se assustara com a sua expressão e fugira, sem saber por quê. Talvez, por causa da excitação deliciosa provocada pelo fato de ser proibido. Ela havia se virado, visto que ele a seguia e sua excitação atingira o auge. Sensível como estava, o movimento ritmado do cavalo quase a zera gritar. Quando chegara ao orquidário, o seu corpo estava tenso como a corda de um arco, ansiando por ele. O orquidário era o seu lugar preferido, um refúgio secreto. E então ele chegara, tomado pela mesma energia tensa. Tinha sido incrível nalmente vê-lo de perto. Nada a preparara para a sua perfeita virilidade. Ele a tocara gentilmente e eles haviam conversado. Conversado de verdade. Depois de ter passado tantos anos achando que ninguém era capaz de compreendê-la, Maddie encontrara a nidade com a pessoa mais improvável: o filho do maior inimigo de sua família. Naquele dia, quando ela fora embora, sentira o coração pesado até que Nic perguntara se a veria de novo no dia seguinte. E depois, no próximo, e no outro. A semana adquirira um clima de sonho. Os momentos que passavam no orquidário haviam se tornado, para ela, a sua única realidade. Nic a consumia, preenchia as suas noites com sonhos vívidos. No nal daquela semana, ela passara por tal tormento – desejando-o e temendo o próprio desejo – que se jogara em cima dele. Ele a acariciara e beijara, e Maddie ainda corava ao recordar a falta de pudor com que se contorcera sob suas mãos, implorando por algo que só podia imaginar. E, de repente, o inferno explodira. Um bando de cavaleiros sinistros havia aparecido e acabado com o idílio. A ausência dos dois fora notada por olhos vigilantes. Nic a colocara atrás dele, enquanto ela abotoava a blusa e o seu pavor crescia ao ouvir as vozes que se transformavam em gritos. Os dois foram arrastados para fora da clareira. Ela olhara para trás e vira Nic se debatendo entre os homens de seu pai e sendo colocado sobre o cavalo. Maddie chorara ao ver que um dos homens dava um soco em Nic para sossegá-lo. Nessa altura, ela já tinha sido colocada sobre o seu cavalo e estava sendo levada. Quando chegara em casa, sua mãe a esperava, muito pálida e furiosa, e perguntara: – É verdade? Você foi encontrada com Nicolás de Rojas? Pela primeira vez na vida, Maddie sentira uma onda de revolta e erguera o queixo. – Sim, é verdade. Ela não estava preparada para a violenta bofetada que zera seus dentes vibrarem dentro da cabeça. Sentira o sangue a orar no canto da boca, levara a mão ao rosto e olhara horrorizada para a mulher que, até aquele momento, só a tocara em público para dar a impressão de uma proximidade que não existia. Em seguida, sua mãe tivera uma crise de choro e Maddie, ainda com o rosto ardendo, precisara levá-la para a sala e acalmá-la com uma dose de brandy.


– Mãe, é realmente tão terrível que eu estivesse com Nicolás? Nós... gostamos um do outro – dissera Maddie, ainda chocada. A mãe a fizera sentar ao seu lado no sofá. – Você não pode vê-lo novamente, Madalena. Eu a proíbo. Pense no que isso iria fazer ao seu pai. Maddie se revoltara novamente: negar que queria ver Nic outra vez seria como negar a si mesma. Ela se levantara, agitada. – Isso é ridículo! Você não pode me impedir de vê-lo. Nós não ligamos para essa briga estúpida. Ela já durou tempo suficiente. Sua mãe também levantara. – Madalena, você não vai me desobedecer neste caso. O uso repetido do seu nome completo havia feito com que algo se rompesse no peito de Maddie. Anos de frustração por ter que suportar a exasperação do pai, provocada pela morte do lho, e o egocentrismo da mãe, fizeram com que ela explodisse. – Se eu quiser me encontrar com Nic de Rojas de novo, não há nada que você possa fazer para me impedir. – Um silêncio pesado caíra na sala e sua mãe ameaçara desmaiar. O copo que ela segurava tremia tanto que Maddie o tirara de sua mão. – Este drama pode dar resultado com papai, mas comigo não vai funcionar... – Posso lhe dizer por que não pode vê-lo novamente. Maddie se calara. Havia algo que causava arrepios no tom que a mãe usara. E, quando ela prosseguira, destruíra o seu mundo para sempre. – Desde quando eu era criança, quando nossas famílias se conheceram em Mendoza, eu me apaixonei por Sebastian de Rojas... Eu não era daqui e não sabia detalhes a respeito da briga entre a família dele e a Vasquez... – Você era apaixonada pelo pai de Nicolás? O que isso tem a ver com o que está acontecendo agora? – A verdade é que eu queria que Sebastian se casasse comigo, mas eu era muito jovem, e a família dele o forçou a se casar com uma mulher de sua escolha. Ele se casou com ela e logo tiveram Nicolás. – A mãe de Maddie voltara a sentar, e sua voz fraquejava. – Pensei tê-lo perdido para sempre... Até que conheci seu pai. – Ela olhara para a lha com um olhar angustiado. – Um dos motivos para me casar com ele foi poder estar perto de Sebastian. Quando ele me viu novamente, não conseguiu resistir a me levar para a cama. Nós nos encontrávamos sempre que podíamos, em hotéis. – Ela retorcera a boca com amargura. – Eu não tinha ilusões. Sebastian vibrava por dormir com a mulher do seu inimigo, mas nunca iria contar a alguém e prejudicar a sua reputação. Maddie se sentira estranhamente distante de tudo, como se a voz da mãe viesse de longe. – Durante um inverno, ele foi para a Europa, a negócios, e, quando voltou, eu estava grávida de seu irmão, Alvaro. Ele cortou todos os contatos, achando que eu não iria querer mais vê-lo, que escolhera manter meu casamento. – Os olhos da mãe estavam cheios de lágrimas, mas Maddie não manifestara nenhuma simpatia. Sentira-se enojada ao saber o quanto sua mãe zera para conseguir o que queria: casara-se com um homem que não amava para conseguir afastar outro da mulher e do filho. – Não vejo o que isso possa ter com o fato de eu me encontrar de novo com Nic de Rojas – comentara Maddie, voltando-se para sair da sala, mas ouvira a mãe se levantando atrás dela. – Tem tudo a ver com o porquê de você não vê-lo outra vez. Maddie se voltara com relutância e vira a mãe engolir em seco. – Eu não deixei de ver Sebastian totalmente. Houve uma ou duas vezes em que consegui convencêlo a me encontrar. Depois de uma dessas vezes, descobri que estava grávida... de você. – Ela corara intensamente. – Mas naquela época eu também estava dormindo com seu pai. A verdade é que não posso ter certeza de que Sebastian de Rojas não é seu pai.


Maddie olhara para a mãe. Suas palavras pareciam ter batido numa parede invisível e caído entre as duas, e ela não conseguira entender o seu terrível signi cado. A mãe percebera e se apressara a esclarecer. – Você não pode se encontrar com Nicolás de Rojas de novo porque ele pode ser seu meio-irmão. Maddie deixara cair o copo que ainda segurava sem perceber. Entrara em estado de choque e a única coisa que o interrompera havia sido o rugido de cólera que ouvira atrás delas. Seu pai estava parado na porta, muito vermelho, em estado apoplético. Nos seus olhos se via uma espécie de loucura. – Eu sabia! Sempre soube que havia algo entre vocês. O meu lho era realmente meu lho, ou também era filho daquele bastardo? Depois disso as lembranças de Maddie eram confusas. Ela se recordava de muitos gritos e choro, de ter sido arrastada até o seu quarto e trancada pelo pai. No dia seguinte, depois de uma noite insone, ela saíra pela janela e fora buscar um cavalo, sem se importar com a ira do pai. Precisava sair dali. Ela cavalgara instintivamente até o orquidário e, perturbada como estava, desmontara do cavalo antes de perceber que não estava só. Nic de Rojas saíra das sombras com o rosto muito tenso. Ela sentira um misto de repulsa e de excitação proibida nas entranhas. Teria esperado que ele estivesse ali, como durante toda a semana, a despeito do que acontecera? Porém, o que no dia anterior lhe parecera puro e direito se tornara sujo e errado... – Por que está aqui? Ele dera um sorriso tenso. – Eu queria saber se você viria. Vê-lo ali, esperançoso, quando ela carregava um terrível segredo, fora demais. Ela quase se engasgara com as palavras, mas dissera: – Eu vim aqui para ficar sozinha. Eu não queria vê-lo. Você deveria ir embora. Agora. Nic se aproximara e a segurara pelos braços. – Não acredito que você não queira me ver. Vai deixar que eles a intimidem? Maddie se soltara e entrara em pânico. – Tire as mãos de mim. Não suporto que você me toque. – Ela se afastara, sem conseguir controlar o fel. Vomitara em cima da grama onde haviam se deitado no dia anterior. Tremendo e suando frio, levantara e o vira muito pálido. – Por favor, vá embora. Não quero vê-lo novamente. – Você teria me enganado ontem. Ela sentira ânsias novamente, mas se controlara. – Isso foi ontem. Agora é hoje. Eu não quero ter mais nada com você. – Ele não havia se mexido e o desespero de Maddie aumentara. Não conseguira encará-lo. Não quando ele lhe despertava tais sentimentos, e quando poderia ser... Ela sentira o estômago se contrair de horror e dissera a primeira coisa que lhe viera à cabeça. – Eu estava entediada, entendeu? Eu estava entediada e queria saber se conseguiria seduzi-lo. Você era proibido. Era excitante. Isso é tudo... Maddie levantou a cabeça do volante, e a luz de um carro que passava a fez piscar. Sua cabeça estava pesada por causa das lembranças torturantes e ela tentou afastá-las. Não precisava se lembrar do que viera a seguir, da maneira como ele se tornara frio e desdenhoso, como lhe dissera que Maddie tinha gosto de veneno. Ele se aproximara e enfatizara friamente: – Eu achava que a briga se tornara irrelevante. Bem, ela acaba de se tornar relevante outra vez. Maddie só queria que ele fosse embora, mas, quando Nic se fora, ela sentara e chorara até cair no sono, de cansaço. Quando, horas depois, ela voltara para casa, encontrara suas malas prontas e a mãe e o pai esperando por ela ao lado do carro. Sem uma palavra de explicação, ele as levara até a entrada do aeroporto e dissera simplesmente:


– Vocês não são mais minha esposa e minha filha. Maddie e a mãe haviam embarcado num voo para Buenos Aires e, só quando chegaram à casa de sua tia, ela se virara para a mãe e dissera: – Quero saber com certeza quem é o meu pai. Acho que, pelo menos, mereço isso. Constrangida, a mãe concordara, mas uma das condições para obter uma amostra de DNA do futuro ex-marido fora abrir mão de um acordo de divórcio generoso... Algo pelo qual ela jamais perdoara Maddie. Um mês depois de saírem de Mendoza e de casa, Maddie entrara no consultório de um médico em Buenos Aires, levando uma amostra de DNA, e se submetera ao teste. Duas semanas depois, recebera os resultados e descobrira não ter qualquer parentesco com Nicolás de Rojas ou com seu pai. Não havia dúvida de que era uma Vasquez. A constatação não lhe servira de consolo, porque sabia que levaria as terríveis revelações da mãe para o túmulo – com a revelação ainda mais dolorosa de que Nic não sentia nada além de desejo por ela. Havia acreditado que ele partilhara uma parte íntima de si mesmo com ela, mas tudo não passara de uma trama para lhe dar uma falsa sensação de segurança. Ao pensar na maneira como ele a manipulara, levando-a a ansiar por ele em poucos dias, ela se envergonhava. Maddie se sentiu controlada a ponto de dar a partida no jipe para continuar a jornada para casa. Escrevera ao pai para lhe contar o resultado do exame de DNA, mas ele não a perdoara pelos pecados da mãe até estar em seu leito de morte. Ela desejava honrar as vontades do pai e faria tudo para se esquecer de Nic de Rojas e salvar a propriedade dos Vasquez. – VOCÊ DEIXOU isto para trás, ontem à noite, Cinderela. Maddie cou muito tensa e se arrepiou, ao ouvir a voz conhecida. Desviou os olhos das vinhas que inspecionava e viu a silhueta longa e morena delineada pelo sol, segurando um par de sapatos. Por um segundo, ela piscou, sem entender. Dormira muito pouco naquela noite. Toda vez que fechara os olhos, imagens tentadoras ou pesadelos apareciam. Talvez estivesse alucinando de cansaço. Quando a silhueta e os sapatos não desapareceram, ela fez uma careta e se levantou. – Você não precisava ter se dado o trabalho. – Ela se sentia empoeirada por dentro e por fora do jeans, da camiseta e de um velho par de botas de montaria. Felizmente o chapéu a escondia dos intensos olhos azuis de Nic, mas ela podia ver muito bem que ele também estava vestido informalmente, com uma camisa polo e um jeans justo e desbotado. – Estou intrigado por você estar usando sapatos e vestidos que não são do seu tamanho. Maddie corou e olhou para ele, sem car surpresa por ele saber o número do seu sapato. Perdera o fôlego por efeito do magnetismo de Nic e pelo fato de vê-lo em plena luz do dia. O azul dos seus olhos parecia mais forte contra o tom de oliva da sua pele. – Eles são da minha mãe – respondeu ela sem pensar. – A sua bagagem foi extraviada? – perguntou ele espantado. Maddie começou a se afastar. – Foi... Todas as 24 malas luxuosamente marcadas com o meu monograma. – Naquele momento, ela se deu conta de que Nic de Rojas estava vendo a sua plantação ridícula e do que isto signi cava, e se voltou para encará-lo. – Como você entrou aqui? Saia imediatamente: isto é uma propriedade particular. Ele estalou os lábios e cruzou os braços, levando-a a admirar os seus músculos e se irritar por ser tão fraca. – Que falta de educação! E isso depois que eu me mostrei tão hospitaleiro com você, ontem à noite... Estamos fazendo história, Maddie. É a primeira vez que alguém das nossas famílias ignora os


limites. – Ele retorceu a boca. – A não ser pelo caso sórdido entre a sua mãe e o meu pai, claro, e pela nossa... insatisfatória aventura pelo mesmo caminho. Maddie ficou aborrecida e desviou o olhar. – Isso faz muito tempo. – Ela ergueu o queixo, mas estremeceu ao ver que ele endurecera o rosto. – Você é realmente um enigma, não é, Madalena Vasquez? Realmente não consigo vê-la como sendo do tipo estudioso. Maddie ficou gelada e se lembrou da conversa que tivera com Eduardo, o enólogo dos de Rojas. – Você fez com que seus empregados lhe contassem as conversas que tivemos? Ou colocou escutas e nos ouviu? Nic ficou ainda mais admirado. – Você realmente quer dizer que, entre as festas animadas, formou-se em Enologia e Viticultura? Maddie ficou furiosa e contra-atacou: – A sua vida social agitada não o impediu de ser o mais jovem Mestre de Vinho do mundo. – Você tem me investigado, Maddie? Ela corou e olhou para baixo, mas um profundo orgulho levou-a a levantar os olhos novamente. Não deixaria que ele a intimidasse. Ela ergueu o queixo desafiadoramente. – É verdade. Eu me formei no ano passado e obtive grau de excelência. Se não acredita, consulte os registros da Universidade de Bordeaux. – Quem pagou os seus estudos, Maddie? Um amante generoso? Ou talvez você tenha seduzido alguém para obter a excelência?


CAPÍTULO QUATRO

MADDIE TREMEU de raiva. – Tem razão, Nic. Seduzi meus professores e orientadores para obter o título. Eu sou mesmo boa na cama e eles são extremamente corruptos. Nic corou. Jamais cutucara uma mulher daquele jeito, mas nenhuma o provocava tanto. O problema é que saber que ela realmente recebera o título de excelência em Bordeuax arruinava a opinião que formara a respeito de Maddie Vasquez. Constrangido, ele perguntou: – Foi para lá que foi todo o seu dinheiro? Por um instante ela não falou, e ele não podia culpá-la. E, quando ela respondeu, sua voz estava tensa. – Eu estava trabalhando em uma vinícola em Bordeaux, e o proprietário nanciou o meu curso. – Ela evitava olhar para ele. Nic queria levantar-lhe o rosto para ver seus olhos, mas receava tocá-la. Tinha medo de perder o controle, como zera na noite anterior, e de derrubá-la no chão. Maddie levantou os olhos verdes que faiscavam. – E, antes que você pergunte: não, eu não dormi com ele para fazer com que ele me patrocinasse. Ele mantinha bolsas de estudos na Universidade de Bordeaux para os empregados, e eu me candidatei. Foi muito simples. – Que sorte você teve – resmungou Nic, mas o seu desejo latejava insistentemente, fazendo com que ele não prestasse atenção. Maddie respirou profundamente e seus seios repuxaram a camiseta. Ele viu uma faixa de pele na sua cintura, acima do jeans. Ela trançara os cabelos, mas alguns cachos soltos haviam se grudado no seu rosto. Ela estava mais bela que qualquer outra mulher que ele já vira, e Nic sentiu o coração se contrair dolorosamente. Na noite anterior, quando a abraçara, sabia que parte do seu desejo se devia a querer provar algo para si mesmo. Queria vê-la se desmanchar. E ela se derretera, cara tonta depois do beijo. Ele precisara recorrer a todo o seu controle para parecer coerente, mas sua cabeça também se desmanchara em pedaços, e tudo que havia desejado fora levantála sobre os ombros e levá-la para o quarto, como um homem das cavernas. Mas saber que ela o desejava não lhe dera a satisfação que ele esperava. Porque ele queria mais, muito mais. Queria satisfazer a necessidade de conhecê-la intimamente. Queria terminar o que começara há oito anos. Por que ele olhava para ela como se a avaliasse? Maddie não estava gostando disso, e nem da maneira como ele se mostrava à vontade no seu território. Ela cruzou os braços. – Quero que você vá embora agora. Você não é bem-vindo aqui. Ele franziu os olhos como se acabasse de lhe ocorrer uma ideia. – Quero ver as cartas que você disse que foram assinadas por mim. Maddie se surpreendeu, abriu e fechou a boca, mas concluiu que não havia motivo para recusar. E aquilo o afastaria das vinhas. – Tudo bem. Elas estão em casa. – Ela percorreu a alameda entre as videiras, sabendo que ele a seguia. À distância, Hernan inspecionava outras videiras e se mostrou surpreso, mas Maddie lhe fez um sinal de que estava tudo bem. Ela viu o jipe reluzente de Nic parado ao lado do seu jipe decadente. Evidentemente, ele abriu a porta do belo jipe, Maddie hesitou, mas acabou por tirar o chapéu e entrar.


Enquanto dava a partida, Nic olhou para o velho jipe e comentou: – Aquela coisa é uma armadilha mortal. – Que você deve aprovar totalmente. – Eu não desejo que você morra, Maddie, só que vá embora. Há uma grande diferença. – Ele mudou a marcha. – Então, quanto tempo você passou na França? Maddie hesitou, odiando revelar algo da sua vida pessoal. – Eu fui para lá aos 21 anos, depois de passar um ano em Londres. – Deve ter sido quando eu a vi naquela boate. Maddie se encolheu ao recordar o desgosto que vira no rosto dele, naquela noite. Ele a observara de cima a baixo e fora embora. Ela sentiu vontade de lhe contar que só estivera lá porque esbarrara em velhos colegas da escola de Londres, que tinham insistido para que ela participasse da comemoração de aniversário de um deles e até haviam lhe emprestado uma roupa. Por isso ela usara o vestido de lamê prateado que não deixava muito para a imaginação. Toda vez que encontrava com Nic, parecia não ter sorte com as roupas. Ela simplesmente respondeu que sim e se voltou para a janela, sem notar que ele a olhava descon ado, achando que escondia algo. Mas o quê? Claro que ela se esbaldara durante um ano em Londres, e talvez o seu dinheiro tivesse acabado e ela se vira forçada a trabalhar na França. Mas algo não batia. Com certeza, ela achara que ganharia mais se voltasse e assumisse os negócios da família. Talvez ele tivesse subestimado a sua ambição. Nic se lembrou de que ela dissera que sempre desejara trabalhar na vinícola. Há oito anos, ele não teria acreditado, mas agora que sabia que ela se formara em Enologia e Viticultura precisava admitir a possibilidade de que fosse verdade. Ela ainda estava ali, como bem enfatizara, e ele acabara de vê-la de joelhos, colocando as mãos na terra sem medo de se sujar. Ele também precisou admitir que tinha cado impressionado com o estado lastimável da propriedade dos Vasquez. Já percebera os sinais de cansaço debaixo dos olhos de Maddie, e não o agradava que isto tivesse lhe despertado um estranho instinto de proteção. Eles chegaram à casa, que estava em péssimo estado, mas que ainda mantinha a grandeza dos seus melhores dias. Enquanto esperava que Maddie o zesse entrar, Nic percebeu que a reviravolta da sorte entre as duas propriedades se tornara evidente, mas isso não lhe proporcionou nenhuma sensação de triunfo. Maddie agradeceu silenciosamente a presença de Maria, que viera recebê-los, e lhe pediu para servir um café. Era importante que Nic não percebesse como as coisas iam mal. Se ela lhe desse a impressão de normalidade, ele não iria rodeá-la como um abutre espreitando a carniça. Ela já falara demais na noite passada, de várias maneiras... Ficou corada ao se lembrar do beijo e disfarçou, levando Nic até o escritório e esperando que ele não notasse como estava empoeirado. Ela foi diretamente até a mesa, pegou as cartas e entregou a ele, curiosa para ver a sua reação. Maria trouxe o café e Maddie o serviu, enquanto Nic se sentava e lia as cartas. Ela se sentou do outro lado da escrivaninha e se deu conta de que suas pernas tremiam. Até o momento o rosto de Nic se mantivera impassível, mas, quando ele chegou à ultima carta, ela o viu contrair as narinas e car muito vermelho. Maddie sentiu uma pontada no estômago: já percebera que ele estava furioso. – Esta assinatura não é minha. – O seu nome está embaixo. – Eu sei – falou ele bruscamente. – Mas a assinatura não é minha. – Ele pegou um papel e uma caneta sobre a mesa, assinou seu nome e entregou-o a ela. – A minha assinatura é bem diferente porque eu uso a mão esquerda. Maddie constatou que a assinatura era completamente diferente, que não passava de um rabisco


arrogante. Não precisava investigar se ele mentia. Nic era orgulhoso demais para negar, se tivesse mandado as cartas: odiava-a e queira que ela fosse embora. – Então, quem as mandou? – As primeiras são do meu pai e de seus advogados, mas, depois que ele morreu, alguém começou a falsificar a minha assinatura. Acho que sei quem foi, mas preciso confirmar antes, se você concordar. Maddie assentiu. Nic tomou o café de um só gole. – Já tomei o seu tempo demais. – Os dois se levantaram, e ela cou aliviada por ele estar indo embora. Maddie se sentia constrangida por saber que não fora ele quem mandara as cartas. Levou-o até a porta e perguntou hesitante: – Isso quer dizer que a pressão para que eu venda a propriedade vai parar? – Ela se deu conta de com quem estava lidando, quando ele se voltou e lhe deu um sorriso em que não havia nem um traço de cordialidade. – Na verdade, nada mudou, Maddie. Eu ainda quero que você vá embora, porque nunca mais quero ver um Vasquez. Existem outros meios de persuasão, além de cartas. Meios muito mais agradáveis. Maddie amaldiçoou a própria ingenuidade e a maneira como o seu corpo reagira quando ele dissera “agradáveis”. – Eu disse uma vez e repito, de Rojas: só sobre o meu cadáver. Eu não vou a lugar algum. – E nós estávamos indo tão bem... Usando nossos primeiros nomes. Encare os fatos, Maddie. Você precisa de um investimento maciço de capital para fazer com que as vinhas voltem a ser lucrativas e, mesmo assim, serão precisos anos de boas safras para recuperar os danos que já foram feitos. Apesar de louvável, o seu diploma de nada adianta quando você não tem vinho e vinhedos férteis. Você não tem sequer eletricidade. Maddie deu um sorriso, apavorada por ter lhe contado tanta coisa. – Na verdade, nós temos eletricidade. Eu consegui pagar uma parte das contas. Não estamos tão mal. Agora, se já terminou a sua investigação, eu gostaria que você desse o fora. Maddie cou satisfeita por bater a porta na cara de Nic, e só respirou sossegada ao ouvir o ruído do jipe se afastando. Apoiou-se na porta e afastou os cabelos do rosto, enquanto Maria aparecia, vindo da cozinha. – Precisamos de mais diesel para o gerador. Ele parou novamente. Maddie teria rido se não temesse acabar chorando. Mentira a respeito da luz para que Nic não soubesse como estava vulnerável. A verdade é que as coisas estavam muito piores do que ele descon ava. Ela precisava realmente procurar um investidor e sabia exatamente quem não deveria procurar... Maddie estremeceu levemente ao pensar que os outros métodos de persuasão de Nic teriam muito a ver com lhe mostrar o quanto ela o desejava e, enquanto isso, em se vingar pela maneira como ela o rejeitara oito anos antes. E pelo caso entre sua mãe e o pai dele, que desencadeara aquela guerra. Sabia que, se permitisse qualquer intimidade entre ela e Nic, ele teria o poder de destruí-la, e não queria lhe dar aquela satisfação. NIC APERTOU o volante com força, enquanto ia embora. Não duvidava de que Maddie estivesse mentindo a respeito da luz e não gostava da sensação de tê-la encurralado a ponto de ela precisar mentir. Droga! Nic bateu no volante. Só quando saía do escritório do pai dela, percebera a dimensão do que estava fazendo. Fora o primeiro membro de sua família a entrar na propriedade dos Vasquez e o fizera com a displicência de quem dava dois passos porque queria vê-la. Aquela vontade ultrapassara a desculpa de devolver os sapatos e de questionar Maddie a respeito do seu diploma. Assim que


chegara perto dela, desejara-a tanto que quase sentira o seu gosto na boca. Depois de tantos anos, ele ainda se lembrava do seu perfume e do gosto de Maddie, apesar de ter mantido sempre a sua cama ocupada. Ainda que fosse cego, seria capaz de localizá-la entre várias mulheres. E ele nem dormira com ela. Ainda. Droga! Ele percebera a obstinação em cada curva do seu corpo. Sabia, porque era algo profundamente entranhado também no seu corpo: um impulso para a vitória e para o sucesso. Nic fora uma criança doente. Sua mãe sofrera complicações durante o parto e nunca mais engravidara. Seu pai se entregara à tristeza por saber que o seu legado pesaria sobre os ombros de um lho único debilitado. E, ainda que Nic tivesse se tornado forte e saudável, seu pai jamais acreditara totalmente em sua capacidade. Nem quando ele conseguira o admirável feito de se tornar Mestre de Vinho, aos 28 anos – quando a média de obtenção do título na primeira tentativa era apenas de sete por cento. Nic sabia, agora, que a superproteção da mãe se devera à sua fragilidade na infância, quando ele precisava vencer a letargia e as alergias que o enfraqueciam. Mas ele lentamente as superara com determinação e pelo desejo de ver o pai olhá-lo sem mostrar decepção. Quando completara 12 anos, era maior que seus colegas de classe, a asma desaparecera e ele se mostrava forte como um touro. O médico que o atendia comentara que nunca tinha visto algo de semelhante em sua vida. Nic sabia que não havia sido um milagre: fora a sua determinação de vencer. Ninguém soubera da luta ferrenha e pessoal que ele travara para se fortalecer e vencer, até que ele contara a Maddie, no orquidário. As palavras haviam escapado de sua boca sem que ele percebesse, e ele ainda se lembrava dos enormes olhos verdes cheios de empatia, que lhe aqueceram o coração. Apertou novamente o volante com força, furioso por ter sido tão ingênuo, por ter se deixado enganar por um rostinho bonito e por um corpo atraente, por aquela sensação de a nidade... Teria estado tão desesperado que a imaginara? A dúvida sempre o perturbara. Como consequência, ele nunca mais deixara uma mulher se aproximar: no instante em que alguma mulher tentava conhecê-lo mais intimamente, ele a despachava. A declaração que zera a Maddie, de nunca mais querer vê-la, tinha mais a ver com se livrar da crescente obsessão que sentia por ela a aumentar a extensão do império dos de Rojas. Nic sabia que a queria, mas também sabia que, em nome da sua sanidade, precisava resistir. Por outro lado, sabia que a única maneira de recuperar o bom-senso seria tê-la deitada sob ele, contorcendo-se e implorando por alívio. Quando ele chegou em casa, estava extremamente irritado e resolveu aproveitar o mau humor para ter uma conversa com o seu futuro ex-advogado, a respeito das cartas. Sentiu-se furioso novamente ao pensar no que o homem fizera em seu nome. DOIS DIAS depois, Maddie estava exausta e sentia que travava uma batalha perdida. Voltava de Villarosa, trazendo uma quantidade parca de alimento para ela, Maria e Hernan, quando percebeu que o tanque do jipe estava quase vazio. Ela pensou em como seria mais fácil desistir, telefonar para Nic e dizer que ele vencera. Com o dinheiro da venda, poderia proporcionar conforto a Maria e Hernan pelo resto de suas vidas. Maddie viu os limites da propriedade à distância e sentiu um nó na garganta. Embora seu pai a tivesse proibido de trabalhar na vinícola por ser mulher, ela a amava. Desde pequena cara fascinada por todo o processo. Lembrava-se de, erguida sobre os ombros magros do irmão, esticar-se para tocar as uvas com reverência, admirada de como aqueles frutos suculentos podiam se transformar em vários tipos de vinho. Ali, o seu coração se alegrava e ela se sentia ligada à terra e às estações. O cenário de fundo, formado pelos magní cos picos nevados dos Andes, fora a imagem que a sustentara durante os


seus anos de exílio. E agora que voltara, não deixaria que Nic de Rojas a expulsasse novamente, só por querer aumentar o seu império. Mas Maddie sabia que enfrentava uma batalha difícil. Acabara de sair do banco, em Villarosa, onde o gerente levara duas horas explicando por que seria impossível lhe dar um empréstimo, na atual conjuntura econômica. O banco fora o seu último recurso: durante os últimos dias, ela procurara outros viticultores da região, e todos haviam lhe dito não estar interessados no investimento. Um deles tinha sido bastante franco para dizer que não podia desa ar de Rojas e que, se ele soubesse que alguém a ajudara, seria o mesmo que ter agitado a capa vermelha diante do touro; que ele era poderoso demais, e que os outros não podiam se arriscar a ser engolidos pelo seu império. Sem levantar um dedo, Maddie se vira condenada pela sua relação destrutiva com de Rojas. Para sempre. Quando ela se aproximou de casa e o viu encostado no jipe brilhante, de braços cruzados, o seu sangue ferveu. Desceu do jipe e pegou as compras, segurando-as à sua frente como escudo. Ele esboçou o gesto de ajudá-la, mas ela se agarrou aos pacotes. – Pensei ter lhe dito que não era bem-vindo aqui. Ele teve a coragem de sorrir. – Você é sempre tão mal-humorada à tarde? Preciso me lembrar disso no futuro. Talvez você seja do tipo matinal. Maddie percebeu que ele a seguia até dentro de casa. Colocou as compras em cima da mesa e voltou-se, pondo as mãos na cintura. – Você não é bem-vindo aqui, de Rojas. Ouvi o seu nome tantas vezes, esta semana, que foi o su ciente para o resto da minha vida. Portanto, por favor, vá embora. – Ela sentia vontade de empurrá-lo, mas receava tocá-lo. Tinha medo do que já começava a sentir, do desejo de prová-lo, de saboreá-lo. Ele vestia calças largas de algodão e uma camisa branca: tinha a aparência típica de um vinicultor de sucesso. Ela também se vestira bem para ir ao banco. Pensando no comentário que Nic fizera, ela usara um pouco do seu dinheiro minguado para comprar algo que lhe servisse. Ele parecia ter adivinhado o que Maddie pensava. Examinava atentamente a saia justa, os sapatos scarpin e a blusa clássica. Nic levantou os olhos e observou os cabelos, que ela prendera num coque. – Gostei da sua aparência de executiva... Muito discreta. Maddie crispou os punhos. Não queria se sentir modesta: todo o seu corpo fervia. Antes que ela pudesse dizer alguma coisa, ele continuou: – Parece que você tem procurado um investidor. Pela sua cara, posso dizer que não teve sorte. Ela engoliu um impropério e tentou manter a calma. – Não é surpresa que a comunidade local não queira desa ar seu vizinho mais poderoso. Como é se sentir o dono da região, Nic? Você se sente poderoso ao saber que as pessoas têm medo de investir e provocar a sua ira? Isto di cilmente irá encorajar uma competição saudável, não acha? É muito mais fácil ter sucesso no vácuo. – Se o seu pai ainda fosse vivo, poderia lhe dizer tudo a respeito desse assunto. A sua família foi a primeira a esmagar a competição local, preferindo manter tudo simples e entre eles próprios. Se você tivesse investigado, saberia que mais vinhas oresceram depois da queda da sua propriedade do que antes, e eu realmente investi em algumas delas. Maddie cou corada. Mais uma vez, ele fazia ou dizia o oposto do que ela esperava. Ela não gostava do fato de que ele sempre a deixasse de pé atrás. – Eu vim aqui lhe dizer que quem escreveu as cartas foi o advogado do meu pai. Eles foram amigos por vários anos e, sem que eu soubesse, ele prometeu ao meu pai que continuaria a pressionar o seu pai para que vendesse as terras. Eu descon o que ele estava apaixonado por minha mãe, e que, depois


que ela se suicidou, ele tenha resolvido se vingar do seu pai por ter lhe contado a respeito do caso. Maddie sentou-se em uma cadeira, sentindo uma sensação de inutilidade. A situação embaralhada que havia entre os dois nunca deixaria de espalhar veneno? – Obrigada por me contar. – Ela olhou para ele e pensou ter visto um brilho preocupado nos seus olhos, mas fora tão rápido que deveria ter sido imaginação. – Também tomei a liberdade de pagar o que você devia e as próximas contas previsíveis de luz. Maddie se levantou, exaltada. – Por que você fez isso? Eu lhe disse que estava tudo bem. Nic se aproximou de um interruptor e o ligou. Nada aconteceu, e Maddie cou muito vermelha. Ele falou com indiferença: – Eu sabia que você estava mentindo. Eu z isso porque é uma questão de segurança e de saúde. Não posso car parado e esperar que haja um acidente quando poderia tê-lo evitado. A luz será religada a qualquer momento. Sentindo-se impotente de raiva, Maddie começou a tremer: não poderia dizer nada porque, quando Hernan fora ligar o gerador, tropeçara no escuro e quase se machucara seriamente. Nic a deixara atada. Como poderia arriscar a segurança dos empregados, recusando o seu favor? E como poderia aceitar? – Como eu disse, Maddie, eu só quero que você vá embora. Não quero vê-la morta. – Ele ergueu a sobrancelha. – É tão difícil dizer: “Obrigada, Nic”? Maddie sentia a garganta se apertar, mas por fim conseguiu falar. – O que você quer de mim? – Ela começou a tremer quando ele se aproximou com um olhar intencional. Podia quase ouvir a cabeça dele funcionando, quando ele respondeu calmamente: – Jante comigo esta noite. Na minha casa. Maddie engoliu em seco e combateu o impulso de correr. Ele lhe mostrava o quão longe precisaria ir para compensá-lo. Ela queria dizer que não, recusar, mas estava encurralada e não tinha como escapar. A segurança dos empregados era importante demais. – Tudo bem – falou ela por m, constrangida. Por um momento o ar pareceu vibrar de tensão, mas Nic se voltou e saiu. Maddie se sentou novamente, enfraquecida e com a cabeça latejando. Ele acabara de lhe puxar o tapete ao fazer algo de generoso, mas, ao convidá-la para jantar, Nic a confundira, reforçando que era um perigo para ela em outros terrenos, além do pro ssional. Talvez este fosse o plano de Nic: atingi-la em todos os pontos em que pudesse demonstrar sua fraqueza, até que ela estivesse exatamente onde ele queria... Maddie estremeceu quando uma imagem lhe veio à cabeça: ela, deitada numa enorme cama, e Nic como um pirata à procura do tesouro. Naquela noite, teria de dizer a ele claramente que recusaria qualquer outro gesto de generosidade e que faria um plano para reembolsá-lo pelo pagamento da eletricidade. Como que para convencê-la, de repente a sala se iluminou. Maddie pestanejou, enquanto Maria entrava com um ar desconfiado e a abraçava, emocionada. – Ah, niña, agora eu sei que tudo vai dar certo... Maddie não teve coragem de lhe dizer que a espada de Damocles ainda pairava sobre suas cabeças. – BOA-NOITE, SEÑORITA Vasquez. Entre, por favor. Maddie controlou os nervos e entrou no saguão majestoso da casa de Nic. Uma luz suave banhava o ar de dourado, lembrando a ela o ambiente sedutor da primeira noite em que entrara ali. Ficar indiferente não era fácil. Ela e Geraldo atravessaram o jardim agora vazio, onde a fonte gorgolejava e os vasos de flores coloridas se espalhavam pelos cantos, e ele a levou até a sala principal. – O señor de Rojas logo irá recebê-la. Ele foi detido por um telefonema. Posso lhe oferecer uma


bebida? – perguntou ele gentilmente. – Uma água com gás – respondeu ela com um sorriso tenso. Naquela noite, pretendia se manter alerta. Geraldo a serviu, disse que ela casse à vontade e saiu. Maddie viu o próprio re exo no vidro de um quadro e ajeitou a saia. Era a mesma que ela usara antes, mas a combinara com uma blusa cinza de seda, solta e com um decote largo. Ela ajeitou a blusa para que não caísse pelo ombro. Depois de muito pensar, resolvera prender os cabelos para evitar que Nic pensasse que pretendia seduzi-lo. Maddie se aproximou de uma parede cheia de fotogra as, examinou-a e cou intrigada: o que via era claramente a história da família de Rojas. – Desculpe por tê-la feito esperar. Maddie apertou o copo e se voltou. Nic estava parado na porta, vestindo uma calça preta e uma camisa azul-claro com o colarinho aberto. Seus cabelos dourados re etiam na luz e seus olhos azuis ainda lhe tiravam o fôlego. Ela se sentiu inexplicavelmente tímida e cou irritada. Precisara criar uma casca grossa para sobreviver aos últimos anos e não gostava da sensação de fragilidade que Nic de Rojas lhe causava. – Tudo bem. Eu não esperei muito. Ele se aproximou e parou ao seu lado. – A minha família. – Ele indicou as fotos com a cabeça. – Desde o século XIX, antes de eles saírem da Espanha e virem para cá. – Nós também temos uma parede semelhante a esta – falou Maddie, sorrindo. – Eu sempre me pergunto por que os meus ancestrais pareciam tão sérios nas fotografias. – Os tempos eram difíceis. Eles precisavam lutar para sobreviver. Maddie olhou para Nic, lembrando-se claramente do momento em que ele lhe contara que tinha sido uma criança doente e como lutara para superar a sua fragilidade. Agora ele era tão viril, tão cheio de energia, que se tornava difícil de acreditar, e a maneira com que ele falara a atingira profundamente. Mas o momento passou e Nic se afastou, indicando-lhe o caminho. – Vou levá-la até a sala de jantar. Maddie se adiantou, desajeitada, amaldiçoando Nic por lembrá-la de coisas que não desejava e por se mostrar tão cavalheiro. Era mais fácil lidar com ele quando o campo de batalha estava mais definido. Nic puxou a cadeira e esperou que ela se sentasse, antes de se sentar do outro lado da mesa. Era uma mesa pequena, íntima, iluminada por velas, criando um ambiente sedutor demais para o gosto de Maddie. – Um aperitivo para apurar o paladar? – perguntou Nic. Maddie levantou os olhos e combateu o impulso de puxar o decote da blusa para se refrescar: sua pele subitamente começara a ferver. Nic parecia espalhar alguma espécie de encanto sobre ela, e Maddie odiava admitir, mas estava curiosa para saber que vinhos ele iria escolher. A nal, ela estava jantando com um Mestre de Vinhos e havia poucas centenas deles no mundo: o grupo era muito selecionado. – Só um gole. Eu estou dirigindo. Nic serviu um vinho branco sem deixá-la ver o rótulo. Maddie levantou a taça, girou o copo e sorveu o seu aroma. Ficou muito pálida e não provou o vinho, colocando a taça sobre a mesa. – Isso é uma piada?


CAPÍTULO CINCO

NIC FEZ uma cara inocente. – Por que seria uma piada? – Você me serviu um Vasquez. Por quê? Esperava que não o reconhecesse? Isto é um teste? – Ela colocou o guardanapo na mesa e se levantou. Estava mais abalada que nunca. Nic segurou-a pelo pulso. – Sente-se, por favor. Admito que estava curioso para saber se você reconheceria o vinho. Maddie soltou o braço, mas não se sentou. – Claro que reconheci. Cresci vendo diariamente essas uvas crescerem – falou ela com uma voz emocionada, sentando-se abruptamente. – Eu não quis aborrecê-la – disse Nic. – Não, só me testar para ver se eu conheço meu trabalho, ou se dormi com alguém para conseguir o meu diploma. Nic ficou corado. – Não acredito que você tenha manipulado os resultados. Ela sentiu os olhos se encherem de lágrimas, piscou furiosamente e o viu car horrorizado. Maddie sabia que suas emoções vinham de uma mistura do luto pelo pai e da pressão que estava sofrendo, além da paixão que Nic evocava sem esforço. Ela se controlou, pegou a taça e bebeu um gole. Fechou os olhos e deixou que o líquido escorresse pela garganta, macio como a seda. Abriu os olhos e olhou para ele. – Se não me engano, é da safra de 99 e nos deu o prêmio de melhor vinho branco do New World Wines daquele ano. Nic olhou-a com interesse. – Você acertou. O meu avô comprou uma caixa de cada vintage dos Vasquez para analisá-los, como o seu pai fez com os nossos, com certeza. Maddie concordou e se acalmou. – Desculpe... Você me pegou de surpresa. Este vinho sempre foi um dos meus preferidos. Ele me lembra de casa. Daqui. Quando eu sentia o seu aroma, sempre sentia nostalgia. Ele era pedido no restaurante onde eu trabalhava. Eu ngia não saber que deveria abri-lo na mesa, para poder abri-lo antes, sem que ninguém visse, e cheirá-lo. – Ela viu que ele a olhava intensamente e baixou os olhos. – Eu cava maravilhada ao pensar que a garrafa percorrera um longo caminho. Ele me fazia pensar em como fora o ano, se as estações tinham sido boas para as uvas. Só pelo cheiro eu sabia se fora bom ou ruim. Não acredito que não tenha sido despedida por tamanho erro, mas os fregueses sempre me perdoavam. Nic observava as sombras das velas no rosto de Maddie. Corada, lábios volumosos, a blusa encostando-se ao pescoço e o movimento dos seios esticando a seda. Claro que os fregueses iriam lhe perdoar qualquer coisa. Ele nunca vira algo tão sensual como a maneira como ela segurava o copo. Estava fascinado com a sua beleza e sensualidade natural, mas de repente sentiu que voltava no tempo


e divagou. O terreno em que pisava fora abalado. Ela estava lhe dizendo exatamente o que ele sentia pelos vinhos que cultivava. Cada ano o vintage tinha uma personalidade, uma complexidade. Maddie olhou para ele, viu o seu olhar fascinado e soltou o copo. – O que foi? Ele balançou a cabeça e corou. – Nada. Eu não deveria tê-la testado. – Ele sorriu constrangido. – Você parece provocar o que eu tenho de pior. Maddie abafou uma sensação de vitória. – Vou aceitar isto como um elogio. – Saúde – disse ele, levantando o copo e bebendo um gole. A virilidade do gesto inerentemente delicado deixou Maddie arrepiada. A entrada foi servida e os dois comeram em silêncio. Maddie se reprovou por ter cado histérica por ele a ter testado e por ter falado da saudade de casa, como se isto fosse interessá-lo. Quando serviram o prato principal, ela se concentrou na deliciosa fatia de carne. Para sua surpresa, conseguiram manter uma conversa leve, e, quando Nic lhe passou uma taça de vinho tinto, Maddie a pegou, muito à vontade. – Prove este. É um novo blend que eu estou introduzindo e este é o primeiro corte. Ainda não está no mercado. – Tem certeza de que quer compartilhar seus segredos com o inimigo? – Depois de ver seus vinhedos, acho que não corro risco. Maddie corou ao ser lembrada da dolorosa realidade. Bebeu um gole de vinho e sustentou o olhar de Nic, mas, por fim, fechou os olhos para tentar distinguir os sabores. Quando os reabriu, ele a encarava. – Bem, é um Malbec clássico, mas diferente de todos que já provei. Tem um toque de outra coisa. – Impressionante. – Gostei. Não é marcante como os outros Malbec... Tem maior complexidade... Pinot? – Vejo como você conseguiu o seu título. Maddie cou orgulhosa. Um empregado entrou para tirar os pratos, Nic se levantou e levou-a para a varanda onde a beijara na noite da festa, e onde havia uma mesinha iluminada por velas. Ela teve vontade de recuar e ir embora, mas não queria lhe dar a satisfação de saber que a perturbava. Nic puxou a cadeira para ela, e um garçom lhes serviu tortinhas de limão. Ele abriu uma garrafa de vinho e Maddie cou com água na boca para prová-lo com a sobremesa. Sentindo-se irritada com a facilidade com que ele a cativava, ela protestou: – Não precisava fazer isso. Não está funcionando. – O que não está funcionando? – perguntou ele, sorrindo gentilmente. – Você já estabeleceu os seus motivos, Maddie. É mais feliz na miséria que desfrutando de conforto comigo. Subestimei a sua capacidade de lidar com o desconforto. O apetite de Maddie sumiu. – Você subestimou muito mais, Nic. Não sabe o que aconteceu quando eu fui embora. Você tem a ideia idílica de que eu fui para a Europa e passei o tempo esquiando e me divertindo. – Por que não me conta o que fez? – falou ele, com cuidado. Maddie pensou em recusar, em dizer que não era da sua conta, mas queria que ele entendesse que ela era feita de material mais forte e que não iria desistir. Tinha também o perigoso desejo de que ele olhasse para ela sem desconfiança e sem zombaria. – Quando eu e a minha mãe fomos embora, não tínhamos nada. O meu pai nos expulsou e nos esqueceu completamente. Passamos três anos em Buenos Aires, morando com minha tia, que, por m, nos despejou. Naquela altura, minha mãe se divorciara e arranjara um namorado rico. Ela me deu uma


passagem só de ida para Londres, para se livrar de mim. – Ela não disse que a mãe a culpara por não receber nada no divórcio. Maddie tava a escuridão que cercava a propriedade. – Eu fui para Londres e arranjei um emprego noturno num restaurante. Durante o dia, trabalhava como camareira. A noite que você me viu no clube foi um acaso. Eu nunca tinha ido lá, e nunca mais voltei. – Maddie corou ao pensar no vestido que usara. – Quando consegui juntar algum dinheiro, mudei-me para a França e trabalhei colhendo uvas, durante o verão. Acabei em um vinhedo de Bordeaux, onde Pierre Vacheron me deu um emprego. – Maddie olhou para Nic, na defensiva. – Ele descobriu de onde eu vinha, que eu tinha algum conhecimento sobre vinhos, e resolveu me dar uma bolsa de estudos. Eu ainda estaria lá, se o meu pai não tivesse me mandado uma carta, pedindo que eu voltasse para casa. Pierre havia me oferecido um emprego estável. A fisionomia de Nic nada mostrava. – Aquele artigo na revista pintou um quadro diferente. Já que revelara tanto, Maddie resolveu que podia lhe dizer a verdade a respeito do seu relacionamento com a mãe egocêntrica. E, com isso, ela reviveu a sua humilhação. Quando acabou de falar, ela soltou o copo e se levantou, admirada com a dimensão da própria ingenuidade ao pensar que Nic de Rojas era tão gentil e charmoso quanto se mostrara naquela noite. Com outras mulheres, podia ser. Com ela, não. Ele só estava tentando abalá-la, e ela deixara. – Quero que você saiba que eu não vou ser dissuadida ou seduzida pela armadilha do dinheiro. Levado por uma onda de raiva ambígua, Nic retrucou: – Não subestime a minha determinação para conseguir o que quero, Maddie. Já provei a minha determinação várias vezes. – Então retornamos ao ponto onde começamos? O olhar de Nic se tornou ardente, enquanto se xava na boca de Maddie. Ela recuou e levantou a mão. – Não... – Mas não adiantou, e ele se aproximou e puxou-a. – Sim. Foi assim que tudo começou, e nós ainda não acabamos. – Ele abaixou a cabeça e lhe deu um beijo incendiário e devastador, para o qual Maddie não tinha defesa. Não depois de ter se exposto tanto. Ela o agarrou pelos braços e se colou a ele, enquanto Nic a fazia arquear o corpo, cada vez mais, sob a pressão do beijo. Lábios esmagados contra dentes, mordidas na pele macia. Maddie sentiu o gosto de sangue, mas não sabia se era dele ou dela. Era o que ela queria: teria dado tudo para prolongar aquele momento... Subitamente, Nic soltou-a e afastou-a. – Vá embora, Maddie. Ela cou chocada, magoada e confusa, sem fôlego. Viu o sangue nos lábios de Nic: ela o mordera. A necessidade de retomar o controle a fez dizer, abalada: – Será um prazer. Não pretendo me vender pelos meus vinhedos, Nic. Quanto mais rápido você perceber, melhor. NIC SENTIU a agonia da frustração sexual. Não entendia como conseguira soltá-la quando ela o beijara e mordera seu lábio com sofreguidão. E isto depois de tudo que havia contado sobre sua vida, deixandoo extremamente sensibilizado. Ele presumira que Maddie e a mãe haviam recebido muito dinheiro. Não sabia que o pai as expulsara sem lhes dar nada, e que a mãe também lhe dera as costas e que ela tivera que trabalhar em dois empregos para se sustentar. Nic foi até a balaustrada da varanda e respirou profundamente, tentando se controlar. Ter beijado


Maddie naquele momento o lembrara vivamente de se perder antes no seu encanto sedutor. Ela passara uma semana envolvendo-o, fazendo com que ele acreditasse nela com facilidade. Só para, no m, lhe mostrar como cara enojada ao seduzi-lo. Depois que ele a tocara, ele vira como ela vomitara e se engasgara. Nic sentiu o peito se contrair. Ela deveria estar realmente muito entediada, para ultrapassar os limites do que poderia suportar ao fazer algo de excitante e proibido. Naquele dia, algo muito pessoal e frágil se quebrara dentro dele. Nic se tornara duro e impenetrável. E, desde então, nenhuma mulher conseguira trincar aquela casca protetora, ou desa ar o seu cinismo. Mas a maneira como Maddie o beijara, tão natural e intensamente como ele se lembrava, fora algo para o qual ele não estava preparado. Nic achava que aguentaria beijá-la, mas havia sido realmente arriscado. Ele tivera a sensação de deslizar para longe de tudo que sempre o mantivera enraizado na realidade e na sanidade. Depois de uma mãe nervosa e superprotetora e de um pai sujeito a ataques de raiva, que não hesitava em usar os punhos, ele desenvolvera aversão a ser tocado, mas, quando Maddie o tocava, nunca era su ciente. De repente, ele percebera que achava o toque de qualquer mulher invariavelmente desagradável e invasivo, mas não o dela. Admitir este fato o deixara nervoso... Fora por isso que a empurrara. Algo dentro dele endureceu. Ele iria tê-la, mas nos seus termos. Iria forçá-la a ser honesta com ele e consigo mesma. Desta vez, não haveria dramas, arrependimentos e recriminações. Apenas satisfação e um desfecho. ALGUNS DIAS depois, Maddie estava sentada no escritório, lendo um convite que fora dirigido ao seu pai, para o Baile de Gala Anual dos Viticultores da América Latina, dali a dois dias. O baile se realizava em uma cidade diferente a cada ano, e seria realizado em Buenos Aires. Tão perto, e tão longe. Ela suspirou e pensou que era exatamente do que precisava: uma chance de encontrar pessoas que se lembravam dos Vasquez como bem-sucedidos. Seria perfeito para procurar investidores. Mas não havia como ela voar para Buenos Aires porque, além de não ter dinheiro, as linhas aéreas estavam em greve. O telefone tocou, Maddie atendeu e corou ao ouvir a voz conhecida, mas esfriou ao se lembrar da maneira que ele interrompera o beijo e a empurrara. Odiava Nic de Rojas por ter exposto a sua fraqueza e o seu desejo daquele jeito, por tê-la rejeitado. – Você recebeu o convite? – Que convite? – perguntou ela, de mau humor. – Você é uma péssima mentirosa, Vasquez. Deve estar olhando para ele neste momento e imaginando como chegar lá e atrair alguns pobres investidores para nanciar as suas terras moribundas. – Ah, você se refere a este convite? – falou ela com indiferença. – Eu recebi. Por quê? – Você vai? – Claro que vou – afirmou ela irritada. – Por que não iria? – Não precisa car na defensiva, Maddie... Perguntei porque eu vou usar um jato particular e pensei em lhe oferecer uma carona. Maddie cou boquiaberta, mas logo se recuperou. Depois do que acontecera, nada aceitaria daquele homem. – Não, obrigada. – Ela adoçou a voz. – Já z outros arranjos. Vejo você lá. – Ela o ouviu resmungar algo sobre mulheres teimosas e desligou. Agora precisaria ir: não iria mostrar a ele nenhuma fraqueza. QUANDO MADDIE chegou a Buenos Aires, dois dias depois, cansada e suada, estava toda dolorida.


Fizera uma longa viagem de ônibus, a partir de Mendoza, e cada solavanco da estrada re etira em seus nervos. Ela puxou a mala e se dirigiu ao hotel mais barato que encontrara perto do hotel Grand Palace Buenos Aires, onde seria o baile, naquela noite. Quando ela se fechou no quarto e se olhou no espelho, percebeu que teria muito trabalho para parecer uma viticultora de sucesso. NIC NÃO gostava da sensação de antecipação, de intensa expectativa. Estava acostumado a ter o controle de tudo e se sentia inútil. Percebeu que era por não saber onde Maddie estava. Quase a procurara e a forçara a vir com ele, mas a sensação do desejo em carne viva o impedira. Como ela iria chegar ali? Sabia que não deveria ser por ar, por causa da greve. Naquele momento, ele notou um rosto conhecido na multidão e sorriu calorosamente, agradecendo a distração. MADDIE SENTIA um nó no estômago. Tomou fôlego e entrou no salão de baile repleto. Conseguira descobrir mais um vestido da mãe, que lhe coubera perfeitamente. Era verde e cintilante, comprido, relativamente discreto, com mangas compridas e decote alto. Mas, quando ela caminhava, uma fenda do lado mostrava a sua perna. Ela praguejara quando a vira: quanto mais cedo aumentasse o seu guarda-roupa, melhor. Quase estourara o limite do cartão de crédito para comprar um par de sapatos baratos e para fazer o cabelo, que caía em ondas sobre um dos ombros. Ela cou feliz por ter gasto aquele dinheiro ao ver a aparência imaculada dos demais convidados. Só esperava que ninguém notasse que os brincos de esmeralda eram bijuterias. Quando ela viu Nic do outro lado da sala, crispou as mãos em torno da bolsa, que carregava como um escudo, porque odiava ter a sensação de excitação que ele lhe provocava. Mas ele não olhava para ela. Olhava para uma mulher que estava diante dele, e lhe sorria de um jeito que a deixava enciumada. E então, como se os dois estivesse conectados por uma onda telepática, ele levantou os olhos, olhou para ela e o seu sorriso se apagou. A mulher que estava com ele se voltou, e Maddie sentiu um buraco no peito ao reconhecer a linda loura que estivera com ele, na noite em que o reencontrara, em Mendoza. Alguém passou com uma bandeja de champanhe e Maddie pegou bruscamente uma taça, porque acabara de ver Nic puxando a companheira e caminhando em sua direção. Ela não conseguia se mexer, e o amaldiçoava intimamente, porque sabia que ele iria lhe apresentar a amante e fazer com ela se sentisse suja. Ele se aproximou com um olhar de curiosidade. Maddie cou paralisada como uma corça diante dos faróis. Nunca se sentira tão exposta, não deveria ter ido... Deveria ter sabido que ele não perderia a oportunidade de humilhá-la. – MADDIE, VOCÊ veio... Vou resistir à tentação de perguntar como conseguiu. Ela tentou falar, mas perdera a voz. Sentiu que a loura a observava curiosamente e corou. Nunca estivera naquela situação... Beijara o homem de outra... E estava decepcionada: jamais esperara que ele tivesse aquele tipo de comportamento. – Quero que você conheça... Como se presenciasse um acidente de carro em câmera lenta, Maddie olhou para a loura e sorriu, um sorriso amarelo. Percebeu que a moça era mais jovem do que pensara, e que deveria ter no máximo 20 anos, e sentiu-se nauseada e, mais preocupante, teve vontade de lhe arrancar os olhos. – Esta é minha prima, Estella. Você deveria tê-la conhecido na noite da degustação, mas ela precisou vir para Buenos Aires, onde trabalha como modelo e é muito solicitada. Depois de passar alguns dias no campo, ela costuma ter urticária.


A moça olhou adoravelmente para Nic e socou-lhe o ombro. – Não é urticária, Nic. Como você gosta de exagerar... Maddie percebeu que, além de muito bonita, a moça tinha senso de humor. E de repente se deu conta de que ele dissera “minha prima”, e precisou disfarçar o alívio. – Muito prazer em conhecê-la, Estella. – Eu digo o mesmo, Maddie. – Ela se voltou para Nic com um sorriso. – Preciso encontrar meu namorado, ou ele vai organizar uma busca. – Preciso conhecer este homem que nge que não vai dormir no seu quarto esta noite – disse Nic, olhando para Estella com afeição. – Sim, Nic, mas, por favor, não lhe faça um interrogatório. Ele é um cara realmente bom. – Ela beijou o rosto de Nic e foi embora. Maddie não estava preparada, quando ele se voltou para ela friamente. – Reservei um quarto para ela no hotel porque não gosto da ideia de ela voltar para casa tão tarde. Pelo menos, desse jeito eu sei que ela estará em segurança. O pai dela era irmão da minha mãe. Ele morreu quando ela era pequena, e eu me tornei uma espécie de figura paterna para ela. Maddie sentiu o peito apertar ao perceber como ele se preocupava com a prima. – Ela parece ser uma boa moça. Naquele momento, alguém esbarrou em Maddie e ela se encolheu, sentindo dor no quadril. – O que foi? – perguntou ele, ansioso. – Nada. Eu só estou meio dolorida depois... – Ela se calou, mas ele percebeu imediatamente. – Você veio de ônibus, não é? Toda essa teimosia... – Ele soltou uma praga. – Quanto tempo? Quatorze horas? – Na verdade, 16. Tivemos um pneu furado – admitiu ela, constrangida. Ele sacudiu a cabeça. – Suponho que esteja aqui para procurar um investidor? Ela ficou vermelha. – E que outra opção eu tenho? É encontrar um investidor ou perder tudo para você. – Você seria uma mulher muito rica. Maddie sentiu algo se contorcer no peito ao ouvi-lo reiterar que queria vê-la longe. – Quando vai colocar na sua cabeça dura que não se trata de dinheiro? Eu amo as minhas terras e quero que elas voltem a atingir todo o seu potencial. Nic se irritou e abriu a boca para responder, mas, naquele momento, soou o sinal do jantar. Maddie aproveitou e sumiu no meio da multidão, agradecendo por ele não ter pegado o seu braço. Pretendia conversar com tantas pessoas quanto fosse possível e ficar longe de uma em particular. DURANTE O jantar, Nic observava Maddie do outro lado da mesa. Ela se sentara ao lado de Alex Morales, um dos maiores viticultores dos Estados Unidos, um homem em quem ele não con ava e de quem jamais gostara, sem saber por quê. Era algo intuitivo e se tornava mais forte a cada segundo. Não conseguia se concentrar nas conversas em torno dele, e sentia vontade de rosnar na direção da desagradável cabeça vermelha, que parecia determinada a obter uma ampla visão do decote de Maddie. Só podia imaginar os enormes olhos verdes implorando para que Morales investisse no seu pobre vinhedo, e precisava se conter para não se levantar, arrancá-la da cadeira e levá-la para longe. MADDIE OLHOU para seu companheiro de jantar, sem poder acreditar. – Você realmente gostaria de discutir esse assunto? – Claro, querida – disse o homem, exalando charme.


Para o gosto de Maddie, ele era encantador, mas um tanto presunçoso. Ela não iria dispensar um investidor apenas por uma impressão duvidosa: tivera sorte de se sentar ao lado de Alex Morales e de que ele se interessasse pela propriedade dos Vasquez. Seria a solução de todos os seus problemas. Se conseguisse convencê-lo, se livraria de Nic. Ela percebera que ele não tirara os olhos dela a noite inteira e tentara ignorá-lo, mas naquele momento não resistiu, olhou para ele e sorriu satisfeita por vislumbrar o fim de seus problemas: os olhos dele chisparam de raiva. O jantar acabou e todos começaram a se dirigir para o salão de dança. Alex Morales ajudou Maddie a se levantar e segurou-lhe a mão por mais tempo que o necessário, mas ela disse a si mesma que deveria aproveitar a oportunidade. – Desculpe, preciso dar um telefonema. Volto dentro de meia hora para continuarmos a nossa conversa – falou ele, fazendo um gesto antiquado. – Eu gostaria muito, sr. Morales. – A ansiedade de Maddie era óbvia. – Por favor, chame-me de Alex – disse ele, sorrindo. – Por que não me encontra no meu quarto... Digamos, dentro de 35 minutos? – Ele informou o número do quarto. Maddie reparou que a conversa tomara um rumo inesperado e se apavorou. – Desculpe... Não seria mais fácil nos encontrarmos em um dos bares? Morales olhou para ela com um ar condescendente. – Preciso ligar do meu quarto. Seria mais fácil se você fosse até lá. Todos os bares estão cheios e muito barulhentos. Claro, se a conversa não é importante para você... Maddie percebeu que se arriscava a perder a chance. – Não, não – falou ela depressa. – Tudo bem se for no seu quarto. Morales se afastou, mas logo foi substituído por alguém mais alto e perturbador. Ela tentou desviar, mas Nic lhe bloqueou o caminhou. – Eu não confio nesse homem.


CAPÍTULO SEIS

– A H, POR favor! Você não suporta que alguém perceba o potencial das minhas terras e que queira investir em mim. Os olhos de Nic brilharam. – Acho que ele quer investir, mas não necessariamente na sua propriedade. Onde irá encontrá-lo? Maddie corou. Recusou-se a responder e tentou ir embora, mas Nic segurou-a pelo braço. Ela trincou os dentes contra a reação do próprio corpo. – Não me diga que irá encontrá-lo no quarto dele. Aquela conversa foi para isso? – Ele a viu car ainda mais vermelha, e explodiu. – Para ser bem claro, Maddie, você é muito inexperiente para lidar com um homem como Morales. Ele vai mastigá-la e cuspi-la! Maddie reagiu instintivamente. Mal sabia Nic o quanto ela era realmente inexperiente, sicamente e em situações como aquela, mas cada grama do seu orgulho exigia que ela se mostrasse con ante. Ela olhou para ele e jogou os cabelos para trás. Sorriu e tentou imitar o tom condescendente que Morales usara com ela. – Você realmente acha que eu jamais conheci homens como Morales? Eu conheço o tipo, Nic. Ele só precisa ser devidamente manipulado. Nic ficou corado e soltou-a como se ela o tivesse picado. Maddie se sentiu vazia. – Desculpe por ter pensado que você estaria numa situação que não está preparada para enfrentar. Se ele é o tipo de investidor que você quer, e se está disposta a fazer o que for preciso, eu claramente subestimei você e a sua ambição. Ele foi embora, deixando-a insegura e amedrontada. O que Nic quisera dizer com não con ar em Morales? Ela recordou o sorriso macio do homem e estremeceu. Ainda que ele tentasse agarrá-la, ela não poderia ir embora? Nic zera com que ela se sentisse envergonhada e lhe dera a momentânea impressão de estar preocupado. Maddie não estava acostumada a que alguém assumisse suas batalhas. Seu irmão fora o único que lutara por ela, mas morrera há muito tempo. Percebendo que tinha cado sozinha na sala de jantar, Maddie olhou para o relógio, praguejou silenciosamente e se dirigiu aos elevadores. NIC ESTAVA com amigos em um bar, quando a viu passar e entrar em um dos elevadores. Ele sentiu o peito se apertar e sua visão cou nublada. Não acreditava que ela iria adiante. Evidentemente, ele a subestimara. Subestimara a sua ambição em vencer, não importava o que fosse necessário. Ele se debateu com as emoções que sentia, mas, de repente, se lembrou do ar de desa o de Maddie e de como ela corara. Estaria tentando provocá-lo? Ele colocou o copo no balcão e se desculpou. Quando Maddie não estava presente e lhe embaralhava a cabeça, a sua bravura lhe parecia muito frágil. Nic correu para veri car o número do quarto de Morales, voltou e apertou o botão do elevador. Mas, de repente, parou. Talvez ele tivesse confundido a maneira como ela o beijara com fervor. Talvez ela mudasse de estratégia e desse a cada homem o que achava que ele queria. Talvez o tivesse manipulado, beijando-o do jeito que o afetaria mais, lembrando-o de como reagira no orquidário?


A porta do elevador abriu, e Nic não conseguiu se mexer. Iria atrás de Maddie e arriscaria se expor novamente? Já podia ver o deboche no seu rosto, quando ela abrisse a porta do quarto de Morales. O que ele iria dizer quando chegasse ao quarto? – Nic! Estive procurando você em todos os cantos. Você precisa conhecer Louis... Ele está esperando... Nic olhou estonteado para a prima, que o pegara pelo braço. Tudo de repente pareceu voltar à perspectiva, e ele se reprovou pela indecisão. Só sentia descon ança e antipatia por Maddie – e um desejo inconveniente. Amava Estella incondicionalmente. Quem era mais importante para ele? – Vamos lá – disse ele, sorrindo e esquecendo a feiticeira de cabelos negros, que seria capaz de se cuidar. MADDIE ESTAVA presa em um pesadelo. Trancara-se no banheiro da suíte de Morales e tremia. Não sabia quanto tempo se passara, mas, por m, ele deixara de bater na porta e de chamá-la há alguns minutos. Ela se olhou no espelho: olhos arregalados de susto, cabelos desgrenhados, o vestido rasgado no ombro e o sangue a orando de um corte no lábio. Ela ainda estava em choque. Não acreditava no que acontecera. A primeira indicação de que algo estava errado fora o fato de ele estar bêbado, mas, de início, Morales havia sido gentil e interessado. Ele a desarmara e a zera acreditar que estava exagerando. Ela tentara ignorar que ele falava enrolado e que cambaleava, e começara a falar da vinícola. Ele se sentara ao lado dela e colocara a mão em sua coxa. Ela se apavorara e dera um salto, e tudo mudara repentinamente. Ele tinha se tornado uma fera. Na luta que se seguiu, ele lhe rasgara o vestido e lhe batera no rosto. Maddie conseguira escapar, fugira para o banheiro e se trancara. Morales gritara obscenidades e ela tivera medo de que ele arrombasse a porta, mas, depois de um longo tempo, felizmente, ele se aquietara. Maddie se aproximou da porta e ouviu o som inconfundível de um ronco. Abriu a porta, ainda apavorada com a possibilidade de que ele a empurrasse violentamente, mas viu Morales jogado no sofá, dormindo profundamente, de boca aberta. Quase chorando de alívio, ela correu para a porta, mas suas mãos tremiam tanto que teve di culdades para abri-la. E, só quando chegou ao corredor, ela percebeu que perdera os sapatos durante a briga, mas não iria voltar para pegá-los. Forçando-se a caminhar, ela tomou a direção do elevador. NIC FEZ a curva no corredor onde deixara Estella na porta de seu quarto, e estancou ao ver uma silhueta familiar caminhando em sua direção. Ele sabia que Morales estava hospedado naquele andar, e um dos motivos pelos quais levara Estella até o quarto fora este. Teria esperado encontrar Maddie fazendo a sua encenação vergonhosa? Bem, o seu desejo subconsciente a conjurara e a zera aparecer diretamente à sua frente. A raiva o atingiu como uma onda de lava, assim como algo mais potente e perturbador: ciúme. Naquele momento, Maddie levantou os olhos e cou paralisada. Nic a ouviu dizer algo inarticulado, como um soluço abafado na garganta. Ela deu meia-volta e começou a caminhar. Para longe dele. Nic só via a sua roupa repuxada, seus cabelos desgrenhados. E, então, ele notou que ela estava sem sapatos. A sua fúria atingiu as alturas. Descalça, ela parecia extremamente vulnerável, mas estivera... O fel subiu à garganta de Nic e, antes que ele percebesse, a raiva o levou a correr atrás dela. – Bem, você deu a Morales tudo que ele queria, ou apenas o su ciente para mantê-lo interessado? – indagou ele, com desgosto e decepção. Maddie parou, muito tensa, mas não se voltou. – Deixe-me em paz, Nic – falou ela, com a voz rouca.


Nic cou revoltado, achando que ela brincava com seus sentimentos. Pegou-a pelo ombro e virou-a de frente, mas, quando viu o seu rosto, sentiu o coração despencar dentro do peito. – Maddie, o quê...? Morales fez isto com você? Maddie tentou desviar o rosto, mas ele a segurou pelo queixo e praguejou violentamente. Ela se soltou e recuou. O sangue no lábio parecia cintilar na palidez do seu rosto. – O quê, Nic? Não vai dizer “eu lhe disse”? A nal, você me avisou para não con ar nele. – Maddie tentou se controlar e ser forte. Não suportava que Nic presenciasse a sua humilhação. Nunca se sentira tão frágil e fraca. E inútil. E odiava o terror que a levava a desejar se apoiar na sua força. Os olhos dela se encheram de lágrimas. – Quando eu disse que não con ava em Morales, foi por instinto. Jamais gostei dele ou dos seus métodos de negociação, mas nunca achei que ele fosse violento. – Bem, parece que o seu instinto estava certo – falou ela com amargura. – Quando ele fez isso com você? Depois...? Maddie olhou para Nic com horror e esqueceu as lágrimas. Ele achava que ela dormira com Morales? A opinião que ele tinha a seu respeito era muito baixa. Ela se sentiu nauseada. Só poderia culpar a si mesma por ter querido provar a ele que era experiente. De repente, a combatividade a abandonou. O choque que a deixara atordoada passara, o tremor, que diminuíra, intensificou-se. – Eu não dormi com ele. Isto nunca foi minha intenção. Eu não poderia... Um homem como aquele... Só para conseguir alguma coisa. Pode me chamar de ingênua ou do que quiser, mas eu fui ao quarto dele acreditando que falaríamos de negócios. – Maddie respirou fundo e evitou encarar Nic. – De repente, ele estava em cima de mim... Eu não conseguia me mexer, nem respirar. Ele estivera bebendo, mas eu não percebera o quanto. Ele rasgou o meu vestido e depois me bateu... Maddie cou horrorizada quando começou a chorar. Os soluços pareciam vir do nada, ela não conseguia controlá-los e se sentia gelada. Inesperadamente, ela sentiu o calor envolvê-la num abraço musculoso, com perfume de almíscar. Por fim, sentia-se em segurança. Ela parecia extremamente frágil em seus braços, com o corpo tremendo violentamente. Nic queria tanto acreditar nela que quase lhe doía. Vê-la prostrada daquela maneira era tão difícil quanto vê-la desa adora e triunfante. Ninguém poderia ngir o terror que ela mostrava. Seu pai costumava bater em sua mãe quando ela o irritava, e qualquer violência contra as mulheres o horrorizava. O ódio que sentia de Morales chegava a assustá-lo. No entanto, Nic achava difícil que Maddie não soubesse onde se metia, quando aceitara se encontrar com ele no quarto. Como ela pudera ser tão ingênua? Como não previra que Morales poderia se tornar violento? No fundo, ele se recriminava por tê-la deixado entrar naquela situação, por ter deixado o orgulho impedi-lo de seguir seu instinto de ir atrás dela. Maddie o deixara tão confuso que ele preferira deixá-la em perigo a enfrentá-la. Nic abraçou Maddie por longo tempo, até que ela parou de chorar e cou quieta em seus braços. Ele lhe acariciava as costas e de repente teve um déjà vu: uma outra ocasião em que a apertara nos braços depois que ela chorara. Ele se preparou para o sofrimento que sempre acompanhava esta lembrança, mas ele não veio. Depois de algum tempo abraçados, Nic percebeu que o seu instinto de proteção se transformava em uma onda de desejo. O corpo dela se moldava perfeitamente ao seu. Ele endureceu o queixo, mas não conseguiu impedir o corpo de reagir à proximidade de Maddie, nem à maneira como ela pressionava os seios sobre o seu peito. Quando ela se mexeu, ele relaxou o abraço. Maddie se deu conta de que caíra nos braços de Nic como se fosse uma espécie de heroína frágil e cou embaraçada. Afastou-se dele com relutância, ainda se sentindo tonta, e xou os olhos em sua camisa.


– A sua camisa está suja de sangue. – Tudo bem – disse ele. Para embaraço de Maddie, o abraço deixara de ser confortador e se tornara algo mais provocativo há algum tempo... Quando o sangue começara a aquecer partes íntimas do seu corpo, seus mamilos se eriçaram sob o sutiã, sua pele se arrepiara e esquentara. Nic não a soltara totalmente: segurava-a pelos ombros e a encarava. – Aonde você pensa que vai? – perguntou ele. Maddie o fitou, temendo que ele visse o desejo em seus olhos. – Vou voltar para o meu hotel. – Ela estremeceu. – Preciso tomar um banho. Estou me sentindo suja. Quando Nic a soltou, ela cou horrorizada ao sentir que suas pernas não a sustentavam, como se ela não pudesse se manter de pé sem ele. Nic pegou-a rapidamente nos braços. – Você não vai a lugar algum. Você vem comigo. Maddie tentou protestar, mas estava demasiado fraca. Estar nos braços de Nic parecia ser uma enorme traição a si própria, mas não tinha forças para resistir. Ele entrou num elevador, subiram ao último andar, atravessaram um corredor e ele abriu a porta que dava para uma sala parcamente iluminada, com um vista deslumbrante da noite de Buenos Aires. Ele a colocou sobre o sofá. – Você ficará bem por um minuto? Maddie assentiu, sentindo-se culpada. No momento em que ele a envolvera nos braços, sentira-se muito melhor. Ela o viu pegar o telefone, enquanto desfazia o nó da gravata e tirava o paletó. Quando ele abriu os botões superiores da camisa, ela sentiu a boca seca. – Mande um kit de primeiros socorros. Obrigado. – Ele desligou e desapareceu no banheiro, e ela ouviu o barulho de água correndo. Ele voltou e se agachou ao lado dela. – Você se sente bem para tomar um banho? A pele de Maddie ainda formigava quando ela pensava em Morales. Ela concordou vigorosamente, e Nic a ajudou a se levantar do sofá. – Há um roupão no banheiro. Quando você sair, eu vou cuidar do seu lábio. Maddie entrou no banheiro, fechou a porta e apoiou-se nela até se sentir estonteada com o vapor. Fatigada, despiu-se e entrou debaixo do chuveiro, deixando que a água escorresse longamente pelo corpo, antes de se ensaboar. Quando ela voltou a se sentir limpa, saiu do chuveiro, se enxugou, passou a toalha nos cabelos e os deixou soltos às costas. Ela amarrou o roupão e abriu a porta para enfrentar Nic. Ele estava de costas, olhando pela janela. O coração de Maddie perdeu o compasso, quando ele se voltou, soltou o copo que segurava e caminhou até ela. – Deixe-me ver o seu lábio. Ela tocou o lábio e se encolheu: estava bem inchado. Nic segurou-a pelo queixo e virou o seu rosto na direção da luz. A sua proximidade estava afetando os nervos de Maddie. Ele a soltou e pegou um algodão e um antisséptico na caixa de primeiros socorros. – Pode ser que isto doa um pouco. – Ele passou o algodão sobre o lábio inchado, e Maddie conteve a respiração, sentindo as lágrimas lhe a orarem aos olhos. – Pelo menos, parou de sangrar. Amanhã terá desinchado. – Você está acostumado com lábios partidos? – perguntou ela, brincando. Para sua surpresa, Nic contraiu o maxilar. – Eu já tive muitos no passado. Algo chamou a atenção de Maddie e ela pegou a mão dele. – O que houve com seus dedos? – Eles estavam seriamente arranhados. Nic tentou soltar a mão, mas


Maddie segurou-a com firmeza. – Enquanto você estava no banho, eu fiz uma visita a Morales. – Você bateu nele? Ele fez uma cara feroz. – Eu me controlei para não bater nele até deixá-lo desmaiado. Ele tem sorte por só ter cado com o queixo machucado. Exaltada pela emoção, ela lhe beijou os dedos. – Eu odeio violência, mas, nesse caso... Obrigada. – Os olhos dele eram tão azuis que Maddie tinha a sensação de estar caindo, embora ainda estivesse de pé. O ambiente se tornara silencioso de repente, até que Nic falou: – Morales está dizendo que você dormiu com ele. A princípio, Maddie não entendeu, mas de repente processou as palavras e percebeu o jeito como Nic a olhava. Ela soltou a mão dele, embaraçada por tê-la beijado. Estivera olhando para ele como se fosse uma tiete, e ele achava que... Ela ficou nauseada. – Você acha que eu estou mentindo – falou ela sem expressão, consciente de que usava o roupão sem nada por baixo, e de ter se exposto. Como pudera esquecer que ele sempre pensava o pior a seu respeito? Só porque Nic a protegera e fora cavalheiro? Ele não zera nada que não faria por outra mulher em desespero. E ela vira um signi cado em tudo que ele zera... Maddie desviou os olhos. Ainda que se declarasse inocente, seria a sua palavra contra a de Morales. – A nal, por que lhe importaria? Nic sentiu um peso no peito. Acreditara em Maddie ao vê-la tão transtornada no corredor. Mas, quando enfrentara Morales, ele resmungara em voz pastosa: – Com ciúmes, de Rojas? Porque ela dormiu comigo, e não com você? Ele vira tudo vermelho e, antes que percebesse, seu punho atingira a cara do homem. Nic se reprovava por ter sido levado à violência – não tanto pelo que Morales zera, mas pela possibilidade de que ela tivesse dormido realmente com ele. Há poucos minutos, quando ela lhe beijara os dedos e o tara, ele quase mergulhara nos seus olhos verdes e se perdera – de novo. Da última vez que isto havia acontecido, ela o aniquilara. Ele não era mais um jovem imaturo, mas ela parecia ter lhe tirado uma camada protetora da pele, expondo novamente o seu eu mais escondido. Tentando se livrar do peso no peito, Nic aparentou frieza. – O que me importa é o fato de saber que um homem abusou de você. O resto não é da minha conta. MADDIE ESTAVA profundamente magoada por ele não con ar nela, e não acreditava que se deixara enganar por um pouco de ternura. Nic provava o quanto ela era ingênua. Como se Alex Morales já não tivesse lhe mostrado. – Tem razão. Não é da sua conta – falou ela friamente, voltando-se para pegar suas roupas no banheiro. – Aonde você vai? – Vou voltar para o meu hotel. O meu ônibus para Mendoza sai às seis da manhã. Nick soltou um palavrão que a fez corar. – Você não vai voltar para aquele hotel. Já é tarde. Amanhã você voltará para casa comigo. Não vai fazer uma viagem de ônibus de 16 horas outra vez. Maddie se irritou. Por que ele não a deixava ir embora? – Eu acreditaria que você se importa, se não tivesse acabado de me acusar de dormir com um homem para garantir um benefício. Um homem violento! Francamente, o meu hotel infestado de


baratas é mais atraente que a perspectiva de ficar aqui e ser julgada. – Droga, Maddie. Eu consigo outro quarto, mas você não vai sair deste hotel nem que eu precise trancá-la aqui. Diga onde está a sua bagagem. Maddie olhou para ele, fumegando por dentro e por fora. – Diabos, Nic de Rojas. Você se acha tão perfeito? Como ousa se ngir de honrado, quando acha que eu não passo de uma prostit... Nic se aproximou rapidamente e ela recuou, com a pulsação latejando na garganta. Ele vibrava de raiva, mas não era por ela, e isto a abalou. – O nome do hotel e o número do seu quarto, Maddie. Não vou aceitar “não” como resposta. Para seu desgosto, quando Maddie pensou em voltar para o hotel pulguento e na torturante viagem de ônibus, teve vontade de chorar. Ainda se sentia fragilizada e vulnerável. Nic achava que ela se vendera por suas terras, mas ainda insistia em cuidar dela, como se fosse um pacote desagradável que ele precisasse carregar. Ele parecia determinado, e ela não duvidava que fosse capaz de trancá-la na suíte. – Hotel Esmeralda, quarto 410. NIC VOLTOU à suíte, depois de ter reservado outro quarto e de ter buscado as coisas de Maddie no hotel. Quisera se afastar e esfriar a cabeça para voltar a raciocinar normalmente. No fundo, ele não acreditava que Maddie tivesse dormido com Morales, mas, quando ela o tava, sentia necessidade de erguer uma parede entre os dois. Ficava apavorado com a facilidade com que ela o provocava, e não tivera defesa ao vê-la desesperada. Carregando uma pequena mala incrivelmente leve, ele parou diante da porta e pensou que todas as mulheres que conhecia viajavam com uma verdadeira comitiva para carregar a bagagem, mas não Maddie. Quando Nic abriu a porta e entrou, esperava encontrá-la onde a deixara, mas tudo parecia silencioso. Maddie estava enroscada em cima do sofá, com os cabelos espalhados sobre os ombros e a cabeça apoiada em um dos braços. Ele soltou a mala e se aproximou, mas ela não se mexeu. Tomado de um sentimento forte demais para controlar, ele empurrou uma mecha de cabelos para trás da orelha de Maddie. Ela estava tão pálida que o corte no lábio parecia mais chocante. Nic não resistiu e beijou o corte. Maddie estava dormindo, mas algo incrível acontecia em seu sonho. Ela se sentia rodeada de segurança e de calor, e de algo mais forte. Desejo. Sonhava que Nic lhe tocava os lábios de leve e demoradamente, como se não conseguisse se afastar. Ela lutou para recuperar a consciência e abriu os olhos. Estava tando diretamente os olhos azuis de Nic, que a olhava com intensidade. Maddie não tinha certeza de estar sonhando ou não. Tentou mexer a boca, odiando romper o contato com os lábios quentes, mas ele a beijou com maior rmeza. Maddie entreabriu os lábios e fechou os olhos. Soltou um gemido quando ele lhe explorou a boca com a ponta da língua, e afundou no sofá ao sentir o contato dos seios com o peito de Nic. A pressão do beijo se tornou mais forte, e ela sentiu o fogo lhe percorrer as veias. Ele enfiou os dedos em seus cabelos e lhe puxou a cabeça. Maddie se sentiu flutuar: a euforia se espalhava em seu sangue. Quando a boca de Nic se descolou de seus lábios e desceu pelo seu pescoço, ela sentiu o ventre se contrair. Se estava sonhando, não queria acordar nunca mais. Ele continuou a descer a cabeça, e ela percebeu que ele abria o seu roupão. O ar frio correu sobre a parte exposta de seus seios. Maddie segurou Nic pelos ombros, levantou a cabeça e viu os cabelos dourados sobre a sua pele clara. Ele lhe descobriu os seios e tocou-os, acariciando seus mamilos com os dedos calejados. Maddie conteve a respiração e arqueou o corpo contra o dele instintivamente. Quando ele lhe acariciou os seios com a boca, ela gemeu alto. Nunca sentira tanto desejo... Pelo menos, não depois


da catastrófica semana em que tudo mudara e fora destruído. O desejo de Maddie se transferia para Nic. Sua boca cou mais ávida e suas mãos se moveram mais para baixo, insinuando-se para dentro do roupão. Ele a beijou novamente, esquecendo-se do lábio ferido. Foi como jogar água fria sobre os dois. Maddie sentiu a dor assim que ele lhe tocou os lábios, e gritou, e ele se afastou como se tivesse levado um tiro. Ela percebeu que seu lábio voltara a sangrar. Arrastou-se para fora do sofá e se perguntou como acabara beijando Nic. O rosto dele não lhe servia de conforto: estava muito corado e com uma expressão torturada. Maddie correu até o banheiro e parou diante do espelho. Não havia muito sangue, e ela molhou uma ponta da toalha e colocou-a sobre o lábio. Os seus olhos estavam arregalados e brilhando, suas faces estavam coradas, sua respiração arfava como depois de uma corrida, e o vértice de suas pernas encontrava-se úmido e latejava... O lugar de onde ele aproximara a mão, onde seus dedos quase haviam tocado. Ela fechou as pernas como se isso pudesse eliminar o desejo e, assim que se sentiu mais controlada, voltou para a sala e o encontrou parado como uma estátua, olhando para ela. – Agora eu gostaria de car sozinha. – Maddie viu um brilho selvagem passar pelos olhos dele e, em dois passos, ele já estava na sua frente. – Você também queria, Maddie. Não finja que não. Ela cou vermelha. Ele a beijara suavemente, e ela acordara. Poderia tê-lo empurrado, mas por fraqueza correspondera à pressão de seus lábios, e o beijo se tornara mútuo. Ainda lhe doía a opinião que ele fazia dela. Precisava se proteger. Para ele, não passava de uma atração. Nic sequer se importava que ela pudesse ter dormido com outro homem há algumas horas. Nic levantou a mão como se fosse tocar o seu rosto e Maddie recuou. Os olhos dele brilharam perigosamente. – Eu estou bem, Nic. Por favor, vá embora. Ele olhou para ela por longo tempo, com o rosto contraído, e por fim se afastou. – Virei buscá-la às oito da manhã. Esteja pronta. Maddie assentiu. Ao chegar à porta, ele se voltou e falou em tom ameaçador: – Ainda não terminamos, Maddie. Nem de longe.


CAPÍTULO SETE

NA MANHÃ seguinte, Maddie

cou grata por Nic parecer preocupado. O trajeto até o aeroporto foi silencioso. Ele lhe levantara o rosto e examinara cuidadosamente o seu lábio, e ela sentira a temperatura subir. – O inchaço desapareceu. Mais alguns dias, e não se verá nada. Maddie sentiu vontade de dizer que já sabia, e, em parte, apreciava a sua preocupação, ainda que fosse super cial. O jatinho particular era extremamente luxuoso, e ela se sentiu intimidada por mais uma demonstração da fortuna de Nic, enquanto, com indiferença, ele ocupava uma poltrona dupla junto à parede oposta. Depois que o avião levantou voo e ela recusou o champanhe, o silêncio caiu entre os dois. Maddie desejou ter trazido um livro pelo qual pudesse se ngir interessada. Estava consciente demais da presença de Nic e se sentia tentada a lhe perguntar o que havia de errado. Ela se arriscou a olhar para ele e o viu com a cabeça apoiada no encosto da cadeira, de olhos fechados. Seu rosto estava tenso. Não deveria estar dormindo. Maddie observou a sombra que as pestanas faziam sobre as marcantes maçãs do seu rosto, o queixo contraído. A camisa aberta no pescoço deixava entrever os pelos dourados do seu peito contra a pele morena. Nic abriu os olhos e a pegou olhando para ele como uma adolescente excitada. A despeito da sua aparência relaxada, ele estava alerta como um animal preparado para dar o bote. – Tenho uma proposta a lhe fazer – disse ele. – Que tipo de proposta? – Extremamente nervosa, ela cruzou as pernas e pigarreou. Nic olhou para suas pernas, e instintivamente ela as fechou. – Acho que você mostrou o quanto está determinada a salvar a sua propriedade. Maddie corou ao pensar no desespero que sentira no quarto de Alex Morales. O homem poderia têla machucado muito mais do que fizera. – Eu não faria de novo o que fiz ontem à noite. Foi estupidez. Ele reagiu imediatamente. – Você estava fora do seu terreno. Maddie se rebelou, mas ele tinha razão, e ela só queria esquecer o assunto que a fazia reviver tantas emoções dolorosas. – Você ainda pretende arrumar um investidor? Não vai vender? – Nunca! – declarou ela, abanando a cabeça. – E vai continuar a procurar um investidor? – É preciso. – Era isso que eu temia – Nic disse secamente. – O que quer dizer? – perguntou Maddie, preocupada. – Não será fácil. Morales já deve estar denegrindo o seu nome. Se ontem à noite ele me disse que vocês haviam dormido juntos, deve estar dizendo o mesmo para os outros. Maddie se sentiu nauseada. O seu desejo era gritar que era inocente, mas Nic não acreditaria. – O que isso quer dizer?


– Quer dizer que, a não ser que vá para a Europa para fazer contatos, você não terá nenhuma chance de encontrar um investidor. Maddie começou a se sentir mal. Não possuía dinheiro para a viagem e não poderia pedir ajuda ao seu antigo empregador, que tinha um negócio orescente, mas não o su ciente para lhe emprestar o que ela precisava. Além disso, ela o abandonara depois de ele ter nanciado o seu curso. Já fora bastante generoso. – Então, o que está fazendo? Mostrando o quanto o meu caso é perdido? Nic a levara exatamente para onde queria. Bem, não exatamente. Ele queria realmente vê-la deitada, implorando por ele. Mas aquele seria um meio de atingir seu objetivo. A noite anterior lhe mostrara o quanto ele perdia o controle ao chegar perto dela. Precisava possuí-la, mas, ao mesmo tempo, se proteger daquela fraqueza. E a proposta que iria fazer o protegeria. – Eu vou investir na sua propriedade. Maddie ficou muito pálida, respirou fundo e o sangue voltou a lhe colorir o rosto. – De jeito nenhum. Você está pretendendo me destruir. Nic sorriu. – Admito que de início eu queria que você fosse embora, mas, desde que voltou para casa, a vida se tornou mais divertida. Ela cruzou os braços e Nic não conseguiu desviar os olhos dos seus seios. Precisava possuir aquela mulher. Se não o fizesse, ficaria louco. Maddie fervia por dentro. Então, Nic considerava-a divertida? Ela percebeu que ele se sentava ao lado dela e esticava as pernas, prendendo-a no assento. – O que acha que está fazendo? – resmungou ela. Ele sorriu. – Vou lhe mostrar que só lhe resta aceitar a minha proposta, ou as suas terras serão devastadas e os seus empregados ficarão sem nada, depois de longos anos de trabalho. Maddie fechou a boca que abrira. Maria e Hernan nada possuíam além do que ela lhes dava. Sequer recebiam o salário. Nic pareceu ler seus pensamentos e falou gentilmente: – Se você aceitar o meu investimento, farei um plano de aposentadoria para Hernan e Maria. Hernan poderá voltar a trabalhar nos vinhedos. Você poderá contratar um novo chefe vinhateiro. Precisa de novos barris, e sabemos que eles custam caro. A última vez que eu soube, seu pai ainda usava uma basquet press. Maddie ficou muito vermelha. Seu pai preferia antigos métodos. – A basquet press está voltando à moda. – Eu não nego – disse Nic. – Eu também a uso em algumas uvas. Mas ela não é su ciente: deve ser um recurso secundário em uma produção mais moderna. É um luxo equivalente a você colher as uvas manualmente. – Você ainda colhe manualmente – protestou Maddie. – Sim, mas só no caso de certas uvas. A maior parte das nossas colheitas é feita por máquinas. Maddie sentiu uma dor no peito. O que Nic usava na vinícola era um misto de antigo e de novo, da maneira como ela sempre sonhara fazer. – Nem todos os seus vinhedos estão arruinados. Existe esperança de você ter uma produção respeitável no próximo ano, se cuidar das vinhas agora e zer a poda. E quanto aos vinhedos que produziram alguma coisa? Como irá fazer a colheita sozinha, só com Hernan? Maddie se encolheu. Não conseguia desviar o olhar fascinado com que encarava Nic. Ele estava batendo nos muros que ela construíra, mostrando os buracos que levariam a derrubá-los. – Vou redigir um contrato que será um documento legal. Investirei na sua propriedade, fornecerei


mão de obra e material, novo maquinário. Supervisionarei a produção do primeiro vinhedo a funcionar, seja no ano que vem, ou no próximo. Depois, prometo me retirar e deixar que você assuma o trabalho. Maddie ficou desconfiada. – Você vai embora? Ele riu cinicamente. – Não sem todos os anos receber uma parte signi cativa dos lucros, Maddie, até recuperar o meu investimento. Durante algum tempo você não receberá muito, mas eu lhe darei a sua propriedade de volta e os seus empregados estarão protegidos. Uma pequena semente de esperança e animação oresceu dentro do peito de Maddie. Nic estava sendo mais que generoso. Ela pensou em Nic supervisionando tudo, dando ordens, e a esperança morreu. – Você vai transformar a propriedade dos Vasquez em uma das suas subsidiárias. Nic sacudiu a cabeça. – Não é nisso que estou interessado. Gosto da ideia de criar alguma competição, e estou interessado em ver como você administraria as coisas. Maddie não via Nic aceitando seus conselhos. – Você colocaria isso no contrato? – perguntou ela, desconfiada. – Claro. Tudo por escrito. Você poderá lê-lo com seus advogados. Maddie se apavorou. Não tinha dinheiro para advogados. Ela e Hernan fariam o melhor possível... Ela se assustou: já estava pensando como se tivesse concordado? A facilidade com que Nic a manipulava era impressionante, mas ela não iria perder a classe. – Preciso pensar. – Não há muito que pensar, Maddie. – Nic sorriu. – Ofereço-lhe a escolha entre afundar ou nadar. – Ele se acomodou na cadeira, apoiou a cabeça e, em alguns minutos, ressonava. Maddie cruzou os braços e sua cabeça fervilhava. Olhou descon ada para Nic. Ele tinha um objetivo. Não deveria ser tão simples. Ela olhou pela janela e viu os pampas abaixo. Era o que sempre desejara. A chance que lhe fora negada a vida inteira pelo pai, e, quando ele nalmente cedera, fora tarde demais. E agora, Nic de Rojas, a pessoa mais improvável do mundo, lhe oferecia uma segunda oportunidade. Maddie tinha responsabilidades para com os empregados. Hernan e Maria não poderiam trabalhar indefinidamente: logo precisariam se aposentar. Ela suspirou e o cansaço finalmente a levou a dormir. – Maddie... Ela acordou sobressaltada. Estivera sonhando com Nic e o seu rosto formigava, como se tivesse sido acariciado. Maddie abriu os olhos e ele estava tão próximo que ela via as rugas nos cantos de seus olhos. Percebeu que estava excitada e que o sonho deveria ter sido erótico, e encolheu-se na poltrona. – Vamos aterrissar em poucos minutos. Coloque o cinto de segurança. Ela colocou o cinto e respirou aliviada quando ele se afastou. Logo depois aterrissavam, entravam no jipe de Nic e saíam de Mendoza, em direção a Villarosa. Maddie se sentia exausta física e emocionalmente. Ele estava muito sério. Teria ela imaginado a conversa no avião? Nic levou-a até a entrada de casa e parou o carro. – A recuperação da casa faria parte do contrato – disse ele. – Por que está fazendo isso? Nic hesitou e deu de ombros. – Eu tenho recursos... Não gosto de ver boas vinhas virarem pó.


Maddie tentou entender. Não podia concordar sem saber por quê. Ela se virou no banco e o encarou. – Mas as nossas famílias... A discórdia... Nós brigamos por tanto tempo. Como vou saber se você não vai assumir controle total? Nic contraiu a boca e algo de ambíguo brilhou nos seus olhos. – Uma vez você me disse que a briga não tinha valor para você. Maddie se entristeceu ao pensar no passado. – Você me disse o mesmo, e de repente tudo explodiu novamente. – Os nossos pais estão mortos, Maddie – falou ele com severidade. – Agora somos apenas nós. Estou disposto a esquecer, se você estiver. Maddie não acreditou nele nem por um segundo. Podia ver algo mais brilhando nos seus olhos e se encolheu intimamente. – Há uma condição na minha proposta, e ela não estará no contrato – disse ele. Ela se arrepiou imediatamente. – Eu sabia que era bom demais para ser verdade. Qual é a condição? – Ela precisou esperar algum tempo, com os nervos vibrando de tensão, até que ele, por fim, respondesse. – Uma noite comigo, Maddie. Uma noite na minha cama, para acabarmos o que começou há oito anos. Maddie olhou para ele, perplexa. Sabia o que acontecia entre os dois: algo que vibrava no ar quando se aproximavam. E, na noite passada, ela quase lhe implorara para possuí-la... Mas tinha esperança de poder ignorar a verdade e Nic acabara de pô-la em evidência, incluindo-a na sua proposta de negócios. Maddie sentiu um nó na garganta e sacudiu a cabeça. – Você pode não acreditar, mas ontem à noite eu recebi uma proposta semelhante e recusei. Por que acha que seria diferente? Nic se inclinou em sua direção e ela não tinha para onde escapar. A maçaneta da porta lhe machucava as costas. Nic se aproximara tanto que ela sentia o seu hálito sobre o rosto. Ele passou o dedo pelo seu queixo, por debaixo do decote da camiseta e tocou a veia que pulsava em seu pescoço. Maddie sentiu que o seu braço lhe roçava os seios, arrepiando-lhe os mamilos. Ele sorriu como se soubesse exatamente o que estava acontecendo com o corpo dela e mexeu levemente o braço. – Isso é diferente porque você não o desejava, Maddie. Você me deseja tanto que até posso sentir o cheiro. E é por isso que vai concordar. Maddie entrou em pânico e se sentiu sufocar. Esticou o braço e abriu a porta, quase caindo ao sair do jipe. Ele saiu atrás dela e lhe entregou a mala, sorrindo. – Você sabe onde me encontrar, Maddie. Espero notícias suas. Quero dizer, se estiver interessada em salvar suas terras e em ser honesta consigo mesma. Ele entrou no jipe e foi embora, provocando uma nuvem de poeira. DURANTE QUASE uma semana, Maddie passou noites insones, abaladas por demônios e pela voz de Nic dizendo que ela fosse honesta consigo mesma. Passou longos dias encarando o fato de que, sem recursos, ela e Hernan nada fariam com que conseguissem cultivar em uma pequena parte dos vinhedos. Ela sentia a cabeça girar, repassando a última conversa que tivera com Nic e sempre sentindo uma onda de calor ao chegar ao ponto em que ele dissera: “Você me deseja tanto que quase posso sentir o cheiro. É por isso que vai concordar.” Maddie não podia negar que o desejava e se apavorava à medida que os dias passavam e pela maneira como voltava a pensar nele. Não percebera o quanto se


acostumara a vê-lo, a esperar que ele aparecesse. E, quando ele não aparecia, ela não gostava da sua sensação de vazio. Maddie tentou esquecer a condição da proposta, mas sempre voltava a pensar nela. A ideia de fazer as coisas daquele jeito, com limites claramente de nidos, sem falsos sentimentos envolvidos, sem ngida sedução... Deveria tornar tudo mais fácil. Quando se tratava de Nic de Rojas, ela era fraca. Ele poderia ter ngido e tentado seduzi-la, e ela teria caído e mostrado os sentimentos ambíguos que tinha por ele. A proposta não deixava espaço para ambiguidades, e ela estaria protegida. Por m, haveria um desfecho e a porta do passado seria fechada. As lembranças desagradáveis do que acontecera se apagariam e ela poderia seguir em frente. Maddie bloqueou o fato de que precisaria lidar com Nic todos os dias, durante longo tempo, porque isto tornaria a perspectiva de um nal redundante. Enquanto os dias passavam, ela não tinha coragem de pegar o telefone e de mudar irrevogavelmente sua vida. No fim da semana, tarde da noite, ela estava no escritório e Hernan entrou, preocupado. – Estou preocupado com você, com este lugar. Estamos contra a parede, Maddie. Não há nada que você possa fazer. Terá que vender. – Mas, e quanto a você e Maria? – Ela o viu empalidecer levemente, mas Hernan deu de ombros com fingida indiferença. – Não se preocupe, niña. Podemos nos cuidar. Você não é responsável por nós. Maddie sentiu a esperança se desmanchar sob um tremendo peso. Sabia o quanto a propriedade devia a Hernan. Talentoso viticultor, ele fora responsável pela qualidade das uvas, o que permitira que seu pai e seu enólogo obtivessem blends de destaque que os levaram à fortuna. Maddie sabia que não poderia dar as costas a Hernan e a Maria, e ao seu próprio legado. – Pode ser que não precisemos vender. – O que quer dizer? – perguntou Hernan, animado. Maddie lhe contou a respeito da proposta de Nic, sem mencionar o detalhe que afetava apenas a ela. – Você vai aceitar, não vai? – perguntou ele admirado. – É uma chance de salvar o nome dos Vasquez... A única. – É um passo muito grande. Como saberei que posso con ar nele? – Ela sabia que não estava falando do investimento, e sim da possibilidade de dormir com ele, e de Nic destruí-la; estava falando a respeito de não poder confiar em si mesma, se desse aquele desastroso passo. Hernan se agitou na cadeira e parecia ter envelhecido dez anos. – O que foi, Hernan? – Na verdade, Maria está doente, Maddie. Ela precisa de tratamento. Tratamento pelo qual não podemos pagar. Maddie levantou e o abraçou. Os olhos de Hernan se encheram de lágrimas. – Não queríamos preocupá-la. Pensamos que a única opção seria vender e nos mudarmos para a casa de nosso filho, em Buenos Aires. Maddie sabia que os dois odiavam a cidade, que suas vidas estavam ali. O lho deles em Buenos Aires não era rico e tinha a própria família para cuidar. – Vocês não irão a lugar algum. Se eu aceitar o trato com Nic de Rojas, vocês serão cuidados, principalmente Maria. – Nós não queremos pressioná-la – disse ele, pegando a mão de Maddie. – Eu sei, Hernan – falou ela, inclinando-se para encará-lo. – Mas vocês merecem algo por tantos anos de trabalho. No mínimo, merecem cuidados médicos e segurança. E agora eu poderei lhes dar. – Maddie respirou profundamente. – Esta noite eu vou telefonar para Nic de Rojas.


Hernan apertou a mão dela e Maddie cou emocionada. Estava feito. Não havia volta. Nem se ela quisesse. Aquelas pessoas eram mais importantes para ela que qualquer preocupação pessoal. NA NOITE seguinte, Maddie estava a caminho da propriedade de Nic, levando uma mala de mão. Estava tão tensa que ameaçava se desmanchar. Ela respirou fundo: o dia fora tumultuado e cheio de emoções. Na noite anterior, ela telefonara para Nic e aceitara a sua proposta, impondo sua própria condição: de que Maria recebesse o melhor tratamento possível. Nic não hesitara. Havia concordado imediatamente, o que destruíra mais um preconceito que ela possuía a seu respeito. Naquela manhã, ele aparecera com o seu médico pessoal, Maria fora levada para a melhor clínica particular de Mendoza, e ela vira o alívio estampado nos olhos do velho casal. Maddie se sentira extremamente emocionada ao vê-los ir embora. E agora se apavorava com o alívio que sentira ao ver Nic chegar, e que se misturara a uma intensa excitação. Fora como se não o visse há meses, não dias. Ele aparentava cansaço e ela precisara se conter para não perguntar se estava tudo bem. – Obrigada por cuidar de Maria. Era muito importante para Hernan e para mim. – De nada. – E agora, o que acontece? – Ele olhara para ela com uma intensidade que a fizera corar. – Você vai à minha casa, esta noite. Às 20 horas. – Ele não falara mais nada e se fora. Maddie se concentrou na estrada e tentou não pensar em como seria a noite. NIC ANDAVA de um lado para outro do escritório. Não queria admitir que entrara em pânico quando Maddie telefonara, na noite passada. Estivera se sentindo abafado e não gostara do desespero que havia sentido para vê-la novamente. Odiara não saber o que ela estaria fazendo. Teria ido procurar outro investidor? Por um milagre, teria arranjado um, sem que ele soubesse? Ele concordara imediatamente quando ela falara a respeito de cuidar de Maria. Concordaria com tudo, a não ser que ela renegasse a parte pessoal do acordo: passar uma noite com ele. Uma noite. Nic parou e olhou para os vinhedos que se estendiam sob o crepúsculo. Uma noite. Seria su ciente. Geralmente era o bastante para que ele se cansasse de uma mulher. Por que com Maddie seria diferente? Ele se arrepiou. A quem estava enganando? Maddie fora diferente desde o momento em que seus hormônios haviam percebido que ela crescera. Nic passou a mão na cabeça e se voltou. O maço de papéis sobre a mesa era o contrato: resumia tudo que ele não conseguia dizer sobre a mulher que voltara à sua vida. A mulher que ele desejara mais que o ar que respirava. Ele não havia percebido o quanto ansiava por ela, até ouvir a sua voz na noite passada. E, embora a voz dela estivesse fria, ele pegara fogo ao ouvi-la. E quando ele a encontrara naquela manhã... Sentira vontade de imprensá-la contra a parede e de possuí-la ali mesmo. O seu desejo surgira como uma fera que lhe rasgava as entranhas. O contrato queria dizer que Maddie não poderia voltar atrás depois daquela noite e dizer que estivera entediada e que se arrependia do que acontecera. Ela queria muito a sua propriedade e também o desejava intensamente, embora, sem o contrato, Nic soubesse que ela poderia negar. Daquele jeito, ela não poderia negar e ele não iria se expor. Nunca mais. Então, por que, quando olhava para o contrato, Nic sentia como se aquelas folhas zombassem dele? MADDIE OLHOU com cautela para a grande caixa cor-de-rosa sobre a cama, como se ela fosse lhe dar um bote. Chegara à casa de Nic e fora recebida por Geraldo, que a abraçara calorosamente e a levara para uma suntuosa suíte – como se os dois não soubessem que ela passaria a noite com Nic. – Um presente do señor de Rojas. – Geraldo lhe mostrara a caixa. – Ele a encontrará na sala de


jantar, às 20h. Se precisar de alguma coisa, basta pedir. Maddie abriu a caixa, removeu camadas de papel no vermelho e encontrou o que pareciam ser quilômetros de cetim cinza. Ela levantou o vestido e perdeu o fôlego. Era maravilhoso. Nenhuma mulher caria indiferente ao ver algo lindo como aquilo. O tecido era encorpado, mas leve como uma pluma. Sem alças, com um corpete franzido, cintura alta, o vestido caía em camadas até o chão. Dentro da caixa ainda havia mais: sapatos prateados, enfeitados com strass, delicadas roupas de baixo em renda cinza e uma caixa de veludo – onde ela encontrou um par de brincos e um bracelete de diamantes. Algo de frágil se abalou dentro de Maddie ao reconhecer o luxo dos objetos sobre a cama, mas, ao mesmo tempo, Nic lhe fazia um favor ao tratá-la como uma amante. Ela só precisaria desempenhar um papel, e talvez se mantivesse intacta e imune à emoção. Exatamente às 20h, Maddie parou à porta que uma moça lhe indicara. O vestido se colava às suas pernas. Ela vestira a roupa de baixo porque qualquer outra coisa iria aparecer sob o vestido. As joias pareciam pesadas e frias sobre a sua pele. Ela colocara o mínimo de maquiagem e deixara os cabelos soltos – principalmente porque as mãos trêmulas não lhe permitiriam fazer nada mais elaborado. Ela tomou fôlego, bateu na porta e a abriu. O cenário com que se deparou era extremamente sedutor, com uma mesa para dois, à luz de velas. Nic estava parado perto da janela, com as mãos nos bolsos, vestindo calça preta e camisa branca, com os cabelos úmidos do banho. – Você colocou o vestido. Maddie tentou manter o equilíbrio e engoliu a vontade de lhe dizer que apenas desempenhava o papel que ele queria. – Sim, obrigada. – Pode entrar – ele falou sorrindo. – Eu não mordo. Prometo. Maddie sentiu o sangue esquentar ao imaginá-lo mordendo a sua pele sensível. Nic falou com um empregado que entrara, esperou que o homem saísse, serviu duas taças de champanhe, ofereceu uma a ela e fez um brinde. Maddie bebeu um gole de champanhe e olhou ao redor da sala. – O seu lábio cicatrizou bem – observou Nic. Maddie olhou para ele e tocou o lábio. – Esta noite você está linda. Maddie sentia uma sensação desconfortável. Não estava acostumada com a gentileza e os elogios de Nic, não sabia como se comportar e só podia pensar no quanto ele estava bonito. – Você também. – Ela corou. – Quero dizer, não lindo, mas bonito. – Santo Deus! Maddie tomou mais um gole de champanhe, pensando que fazia papel de idiota, que ela não era so sticada. Nic não sabia disso? Para disfarçar, ela perguntou se tinha notícias de Maria. Ele informou que ainda faziam exames, mas que talvez Maria tivesse um problema cardíaco. – Obrigada novamente. Hernan não sabia o que fazer, e eles não podiam pagar pelo tipo de tratamento que estão recebendo. – Eu mantenho um plano de saúde para todos os empregados. Maria e Hernan também serão incluídos – falou Nic severamente. Maddie descon ava que Nic iria ajudá-los de qualquer maneira, e isso a constrangia. Ela falou amargamente: – Como eu também serei sua empregada? – Sócios, Maddie. – Ele bebeu o resto do champanhe e fez um gesto para que ela se sentasse à mesa elegantemente posta com talheres de prata e pratos de porcelana. O champanhe começava a borbulhar no sangue de Maddie, deixando sua cabeça leve. A cena a intimidava, principalmente por Nic parecer tão sofisticado e à vontade. Os empregados entraram discretamente e lhes serviram uma sopa leve, mas Maddie sentia uma


sensação claustrofóbica e mal conseguia engoli-la. Os dois estavam ngindo ignorar o elefante na sala: o fato de que Nic esperava que jantassem e que depois zessem sexo. Ela não conseguia imaginá-lo sem aquela cara séria, e o seu desejo de permanecer distante se dissolvia rapidamente. Enquanto os empregados entravam e tiravam os pratos, ela sentia calor e se agitava. – Você está bem? Parece febril. A maneira como ele perguntou, sem emoção, fez com que ela sentisse vontade de gritar que não estava bem. Maddie se levantou abruptamente, sacudindo a mesa e causando um ruído de copos que batiam. Ela se apoiou na mão trêmula e percebeu como estava agitada. O brilho dos diamantes no seu braço parecia queimá-la. – Eu não posso fazer isso desse jeito, fingindo que é normal, quando não é.


CAPÍTULO OITO

NIC SIMPLESMENTE olhava para ela. Maddie sentia a pele formigar e arrancou o bracelete e os brincos caros e luxuosos. Sentiu-se imediatamente mais leve. – Tudo isso. Não sou eu. Não posso me sentar aqui e agir como se nada estivesse acontecendo... Nic também se levantou. Um empregado entrou com uma bandeja, mas Nic o fez desaparecer com um olhar e se voltou para Maddie com um olhar feroz. – Alguma coisa realmente está acontecendo. Você não pode fazer isso, Maddie. É tarde para voltar atrás. Se não tivermos esta noite, você não terá nada. Maddie se afastou da mesa cambaleando, abaixou-se e tirou os sapatos, apontando os saltos como armas. Seu coração disparara e ela precisava de ar, de espaço, e de algo mais tangível do que havia naquela sala. – Se vamos fazer isso, será à minha maneira. Não posso fazer deste jeito... Este cenário de sedução... É tudo falso... Nós dois sabemos que não se trata disso. – Ela se voltou, ergueu o vestido e saiu correndo em direção à porta de entrada da casa. Ouviu uma praga e Nic correndo atrás dela. Maddie não sabia sequer aonde estava indo. Olhou à esquerda e viu os estábulos a distância. Logo depois, ela estava selando um cavalo e puxando-o para fora da baia. – O que está fazendo? Ela respirou profundamente e quase fraquejou, mas ergueu os ombros. – Eu não estou fugindo. Se isto está acontecendo, será à minha maneira. – Ela usou um caixote para montar no cavalo e, agora que o via de cima, o seu coração tropeçava. Um cavalo relinchou ali perto. Nic pareceu travar uma luta íntima, soltou uma praga, e ela o viu tirar o paletó e puxar seu cavalo para fora do estábulo. Maddie vibrou ao perceber seus músculos sob a camisa, ncou os tornozelos no cavalo e ele se afastou dos estábulos. O sol acabara de se pôr, mas ainda havia luz e o céu se colorira de lilás. Fileiras e leiras de vinhas se espalhavam até onde a visão alcançava. À distância se via os enormes barris e galpões que abrigavam o sustentáculo do império de Nic. Maddie fez o cavalo trotar para longe da casa, cavalgando em direção dos limites das duas propriedades. Quando atingiu bastante distância, ela fez o cavalo diminuir o passo e logo ouviu o bater dos cascos potentes que a seguiam. Ela sempre se sentira livre montando um cavalo, e não olhou para trás. A brisa fresca da noite batia no seu rosto, a saia do vestido esvoaçava em torno de suas pernas, acompanhando o ritmo da montaria. Maddie sentiu a presença imponente do garanhão de Nic ao seu lado. Nic se inclinou e lhe tomou as rédeas, fazendo-a parar. Ela precisou apertar as pernas em torno do cavalo para não cair. – O que você...? – Aonde é que você vai? – perguntou Nic, furioso. Maddie abriu a boca e a fechou. Ofegava, mas se recusava a ser intimidada. – Você sabe aonde estamos indo. – Ela viu algo passar rapidamente pelo rosto dele, mas foi fugaz, e os olhos dele brilharam de indignação. – Eu não vou até lá com você.


Maddie puxou as rédeas. – Se você me quiser... Nós vamos até lá. Nic olhou para ela. Respirava com di culdade, e não pela corrida, mas porque estava fervendo. Ele entrara numa espécie de transe desde que ela aparecera na sala de jantar, mais linda que qualquer mulher que ele conhecera. Quando pensara que ela estava fugindo, entrara em pânico. Mas havia saído do transe quando percebera o que ela estava sugerindo. – O que é isto? Alguma tentativa patética de ser poética? Comigo não adianta. Pre ro tê-la na minha cama ou nos estábulos. Maddie abafou a dor por ele falar tão cruelmente. – Não. Será lá ou em lugar algum. – Ela virou o cavalo e saiu a galope. Nic praguejou novamente. Ainda não estava escuro, mas ela poderia tropeçar em alguma pedra e cair. Ele saiu galopando atrás dela. Quando chegou ao orquidário, sentiu-se tonto. Evitara aquele lugar durante anos, como se fosse uma praga. Maddie tirara a sela do cavalo e o amarrara a uma árvore, e estava à sua espera. Exatamente como zera há anos, a não ser pelo fato de que agora ela era uma mulher madura. Nic desmontou, muito tenso, amarrou o cavalo em outra árvore e se aproximou. Maddie estava muito pálida, de olhos arregalados. Ele se sentiu exposto, mas relutava em deixar que ela percebesse o quanto estar ali o afetara. Maddie não acreditava ter tomado aquela atitude dramática. Agira instintivamente para acabar com o jantar pretensamente polido. – Aqui tudo começou e acaba aqui. Esta noite. Para sempre – falou ela, com a voz rouca. Nic parecia ter crescido e cado mais forte na obscuridade. Ela sentiu uma onda amarga e doce de emoção ao recordar que ele já fora mais sensível, porém, quando ele se aproximou, Maddie perdeu o fôlego. Ele parou a dois passos de distância. – Bem, o que está esperando? – perguntou ele laconicamente. O tom casual, depois de tanta ira, quase a fez gritar. Maddie achara que levá-lo até ali iria comovêlo. Nic achava que ela dormira com Morales, que era uma grande sedutora, e ela jamais zera algo de parecido. E a razão estava exatamente na sua frente. A cicatriz do último dia traumático, depois de uma semana vertiginosa, perfeita, ainda lhe doía e a impedira de se relacionar com outros homens, por medo da rejeição e de revelações apavorantes. Ela de repente se revoltou por Nic não ter sentido o mesmo, por ter seguido sua vida. A raiva levou-a a se aproximar e a puxá-lo pela camisa, a procurar cegamente a sua boca, fechando os olhos para a realidade do que fazia, dizendo a si mesma que podia isolar suas emoções dos fatos. Por um instante, Nic pareceu se submeter ao capricho desajeitado de Maddie, e ela cou frustrada. Ele deveria estar percebendo a sua inexperiência e não reagia. Mas, de repente, ele assumiu o controle e tudo mudou. Músculos de aço a envolveram e imprensaram contra o corpo. Ele a beijou com admirável habilidade, misturando a língua com a dela, inclinando-lhe a cabeça. Maddie sentiu o corpo car lânguido e aquecer. Sentiu o desejo clamar por atenção, seus seios intumescerem sob o vestido. Quando ele a soltou, ela estava tonta e não conseguiu abrir os olhos. Ele lhe pegou o rosto, ela abriu os olhos e se deparou com dois oceanos azuis. Dois oceanos tempestuosos. Nic lhe acariciou o rosto com o dedo e beijou-a novamente, desta vez, lentamente, mordiscando-lhe os lábios, antes de roçá-los. Havia algo de terno no beijo, e ela sentiu o coração se derreter. Maddie se lembrou do tempo em que ele era gentil e sedutor, antes de... Antes de tudo desmoronar. As lágrimas lhe inundaram os olhos, e ela tentou evitá-las. Nic lhe beijou o pescoço, os ombros. Segurou-a pelas costas e puxou-a, passou as mãos pela sua cintura, pelos quadris e levantou-a levemente pelas nádegas, encaixando-se entre suas pernas.


Maddie engasgou e tentou afastá-lo, chocada. Mas ele não a soltou. Encarou-a xamente, com os olhos brilhando, e movimentou o corpo ritmicamente, até deixá-la com a respiração ofegante e se movimentando para acompanhá-lo. O desejo de Maddie aumentava, persistente e desesperadamente. Ela quase soluçou de alívio quando percebeu que ele a deitava na grama, sob as árvores. Ele parecia um deus louro sobre seu corpo, devorando-a com os olhos, observando a sua respiração ofegante. Nic passou as costas da mão pelo corpete do vestido, e ela conteve a respiração ao sentir os nós de seus dedos sobre os seios. Ele procurou o zíper, ela levantou um pouco o corpo para que ele pudesse abri-lo, e ele puxou o vestido e expôs um de seus seios. Maddie mordeu o lábio, controlando o impulso de se cobrir. Ele estava com o rosto corado, com as pupilas dilatadas, e ela sentiu uma onda de poder feminino lhe percorrer as veias. Ele a desejava. Maddie se movimentou instintivamente, empinando o peito, e o viu sorrir, mas fechou os olhos quando ele reverentemente lhe acariciou o seio, passando o dedo sobre seu mamilo. Ele nem percebeu que dissera alguma coisa, até ouvir a própria voz perguntar em tom rouco: – O que você quer? Ela abriu os olhos e sentiu as pestanas pesadas. – Eu quero... – “Você”, ela desejava dizer, mas se calou. – Você quer que eu sinta o seu gosto? – Ele não esperou por uma resposta. Parecia febril. Seus olhos brilhavam intensamente, sua mão e seus dedos a acariciavam e Maddie sentia vontade de gritar de frustração e de prazer. Nic soltou o peso do corpo sobre ela, pressionando-a contra o chão, sua ereção se tornara ainda mais poderosa. Quando ele abaixou a cabeça e lhe sorveu o mamilo, Maddie gritou de prazer, mas ele não parou, continuou a sorvê-lo, a acariciá-lo com a língua, até deixá-lo tão sensível que ela gritou novamente e contorceu o corpo. Quase bruscamente, Nic puxou o corpete do vestido, desnudando-lhe os seios completamente, e fez a mesma coisa com o outro seio, levando Maddie à loucura. Ela levantava e abaixava a cabeça, sentia que ele lhe levantava o vestido, e não conseguia falar ou pensar: só conseguia sentir. Ele abaixou a mão, tocou-a entre as pernas, sobre a calcinha úmida, e levantou a cabeça para olhar para ela. Começou a movimentar os dedos, pressionando-os. Maddie gemeu. Sentia-se exposta, mas era o que desejava. – Você está pronta para mim, não está? – perguntou Nic. Ela concordou, de repente se sentindo muito vulnerável. Estava pronta para ele há anos. Há séculos. – Diga o quanto você me deseja agora. Maddie não conseguia pensar enquanto ele a tocava com tamanha intimidade. Sonhara com aquele momento por tanto tempo, e era incrível que estivesse acontecendo. As palavras saíram sem que ela quisesse. – Eu quero você, Nic... Tanto. Eu sempre o desejei. Ele imobilizou a mão por um instante. Maddie não entendeu o cinismo que viu passar pelo seu rosto. – Você diria qualquer coisa, não é? Ela balançou a cabeça e quase gritou, quando ele mexeu os dedos novamente, com mais força, como se estivesse zangado e percebesse a sua ansiedade. – Eu não... – Ela engasgou ao sentir que ele levantava o tecido e tocava diretamente sua carne. – Sim, diria. Mas não importa. Nada importa, a não ser isto. – Com um gemido gutural, ele abaixou a cabeça e beijou-a. Ela sentiu que ele lhe invadia o corpo com os dedos e gritou, mas o seu grito foi abafado pelos lábios de Nic. Maddie estava totalmente exposta e excitada, e mal percebeu quando começou a rasgar a camisa de Nic, por querer sentir sua pele contra os seios. Enquanto ele descia a


calça por suas pernas, ela se sentia febril e queimava. A camisa rasgada no peito de Nic deixava ver uma leira de pelos que descia por dentro de sua calça. Ele se afastou, abriu o zíper da calça e ela arregalou os olhos ao ver o volume sob a sunga. Maddie não sentiu nada além de intensa excitação. Ela o ouviu abrir a embalagem e colocar um preservativo. Estava vagamente consciente de sua saia enrolada na cintura e do corpete abaixo de seus seios. Enquanto isso, ele a manipulava como a uma boneca, mas ela não se importava. Nic se colocou entre suas pernas e tocou-a novamente, ela gemeu alto e arqueou o corpo contra o dele. – Por favor... – soluçou ela. – Faça alguma coisa... – Ela nem sabia o que pedir. Só sabia que precisava de mais. Nic apoiou o peso nas mãos e fez pressão contra o corpo de Maddie. Ela sentiu os músculos se contraírem, se defendendo da invasão, e arregalou os olhos. Era o que ela queria e desejava, mas instintivamente sabia que seria dolorido. Nic pressionou mais um pouco e ela conteve a respiração, sentindo dor. – Você está tensa – resmungou Nic. Maddie sabia que a única maneira seria acabar com aquilo de uma vez: ela levantou os quadris, puxou-o pelas nádegas e gritou de dor. – Dios, Maddie... Você não... – falou ele, assustado. – Não fale... – ordenou ela, suando frio. – Não ouse parar agora. Por um momento a tensão os dominou. Nic parara no meio do caminho e a dor deveria ser devastadora, mas ele só via como ela estava determinada, corada. Ele foi atingido por várias emoções, e a mais forte era a felicidade. Maddie era sua. Seria sua, naquele momento, e de ninguém mais. Ele percebeu que ela estivera desempenhando um papel na hora em que lhe dissera como o desejava. A revelação invalidara a afirmação e o levava em direções que ele não podia analisar no momento. – Vai doer um pouco... Mas prometo que será passageiro. Maddie olhou para ele, linda, corada, desalinhada, e mordeu o lábio. – Tudo bem. A con ança que ele via nos olhos dela quase o partiu em dois. Nic contraiu o queixo e entrou no corpo de Maddie. Ela gritou, mas puxou-o pelas nádegas. Maddie chorava e gritava, mas não o empurrava. Nic se comoveu com a sua coragem e beijou-a, sentindo o gosto salgado das lágrimas. – Tudo bem, querida. A pior parte já passou... Tente relaxar. Quando eu me mexer vai melhorar. Maddie sentia dor, mas algo dentro dela se derreteu com o tom carinhoso das palavras de Nic. Algo que ela reprimira por tanto tempo, e que voltava a despertar. Ela se sentia uma guerreira. Queria compartilhar a dor com ele. Sem conseguir falar, ela lhe beijou o ombro e sentiu que seu corpo se adaptava ao dele, que relaxava. Nic começou a se movimentar, e de repente ela percebeu que a dor desaparecera, dando lugar a outras sensações, a arrepios de excitação. Ela o agarrou pelas nádegas e relaxou totalmente. Ele se movimentou devagar, entrando e saindo do seu corpo com maior facilidade. Maddie contorceu os quadris. – Pare, Maddie... Já está difícil... Eu não vou aguentar... Ela cou quieta, admirada com a gentileza que ele demonstrava e com a sua potência. Enquanto isso, ele ensinava o seu corpo a reagir ao dele e o desejo crescia. A dor dera lugar ao prazer. Uma espécie de prazer que ela nunca sentira. Maddie ncou os calcanhares na grama e começou a se contorcer no momento em que os movimentos de Nic se tornaram mais rápidos, mais fortes. Ela sentia o sangue vibrar nas veias, o


coração disparar. Esperava por alguma coisa, mas não sabia o quê. Nic tocou o seu ponto mais sensível, enquanto se mexia com incansável precisão. Maddie o abraçou com as pernas, atraindo-o para si, e o prazer explodiu em todo o seu corpo, irradiando-se a partir de onde ele a tocava. Foi como uma onda sem m, assustadora na sua magnitude, que deixou Maddie tremendo convulsivamente, enquanto Nic se soltava e gritava. Ela o viu contrair o corpo e o sentiu pulsar dentro dela, e então Nic soltou o peso e imprensou-a contra o solo. Maddie o abraçou e admitiu que o amava. Jamais o odiara, não conseguiria. Apaixonara-se por ele à distância, como uma adolescente, e isto se tornara evidente naquele mesmo lugar, há muitos anos. Ele faria parte dela para sempre e, assim como Nic lhe mostrara o paraíso, destruiria o seu coração. MADDIE MAL se deu conta do trajeto de volta para casa. Nic a colocara diante dele na sela e puxara o seu cavalo pelas rédeas. Abraçara-a pela cintura, e ela apoiara a cabeça no seu peito e entrara em um estado de letargia. Ter Maddie sentada tão perto era uma tortura deliciosa que Nic não queria que acabasse. Ele ainda sentia um prazer mais intenso do que já sentira ou imaginara. Só de pensar no que acontecera, o seu desejo se manifestava novamente, e ele trincava os dentes para controlá-lo. Um pensamento lhe dominava a cabeça: ela era virgem. Não dormira com Morales. Embora tivesse acreditado nela, em parte ele não quisera abrir mão de uma semente de dúvida, como se ela fosse rir por ele con ar nela. Entregara-se mais apaixonadamente que qualquer outra mulher que ele já levara para a cama. Nic pensou que jamais esqueceria o olhar con ante de Maddie. Ela sentira dor, mas não o repelira. Comportara-se como uma guerreira. Só mais tarde, ele percebera que se comportara como um animal no cio, que sequer tirara as roupas e que enrolara o vestido dela em torno da cintura. Tudo estava saindo do seu controle. Tinha um peso no peito, mas não conseguia evitar apertá-la com força, ou de se regozijar ao senti-la respirar sobre a sua pele. MADDIE SÓ despertou quando sentiu que Nic a carregava nos braços pela casa. Sua cabeça estava leve: a deliciosa letargia apagava tudo, inclusive seus pensamentos. Tudo parecia calmo e silencioso. Sem pensar, ela acariciou o queixo de Nic. Ouviu uma porta abrir e viu que estava sendo levada para o quarto. Sua sanidade ameaçou se manifestar, mas ela se sentiu covarde. Era como se estivessem dentro de uma bolha, que ela não queria que estourasse. Nic colocou-a gentilmente na cama e ela pestanejou. Ele imediatamente se aproximou. – Você está dolorida? Maddie se sentiu envergonhada e corou. – Um pouco, mas estou bem. – Só de olhar para ele, o seu sangue acelerava, e ela voltava a desejálo. Nic beijou-a levemente. – Dê-me um minuto e eu farei com que se sinta melhor. Ela cou calada e o viu entrar no banheiro. De repente, percebeu que, como uma louca, rasgara a camisa de Nic. Maddie sentiu o coração se apertar e impediu que a realidade se manifestasse. Nic voltou, tirou a camisa rasgada e deixou ver o seu glorioso peito musculoso. Ele era mais bonito do que ela pensara. Ele a levantou da cama sem esforço. Maddie se enroscou contra o seu peito, sentindo-se segura em seus braços. Quando entraram no banheiro, o vapor se espalhava pelo ar e a água corria do chuveiro. Ele a colocou no chão, mas Maddie sentiu as pernas bambas, e isto só piorou quando Nic abriu o zíper do seu vestido e o tirou. Ela reagiu instintivamente e tentou se cobrir.


– Não acha que é tarde para ser modesta? Ela sorriu fragilmente, enquanto ele a despia. E corou intensamente. Os olhos de Nic a devoravam com avidez, e ele lhe tocou os seios. Ela mordeu o lábio e seus mamilos endureceram de desejo. – Não consigo deixar de tocá-la – falou ele com a voz rouca, afastando as mãos. – Eu gosto... Não pare – revelou ela, aproximando-se e colocando as mãos dele sobre os seus seios. Nic olhou para ela com os olhos em fogo, e Maddie sentiu uma onda de ternura. – Não... Se eu começar agora... – Ele se afastou, despiu-a e a fez entrar sob o chuveiro. Maddie deixou que a água rolasse pelo seu corpo, e começou a gemer ao sentir as mãos de Nic lhe ensaboando. Quando ele acabou, ela estava apoiada na parede, implorando para que ele parasse. Ele passou o sabonete para ela. – É a sua vez. Santo Deus! Maddie pegou o sabonete e começou a fazer espuma. Nic apoiou as mãos na parede, uma de cada lado da sua cabeça. Ela começou a ensaboá-lo pelos ombros e, à medida que descia as mãos, arregalava os olhos. Quando chegou à sua ereção, ensaboou-a fascinada e o viu prender a respiração. Para conter a excitação, Maddie mandou que ele se virasse de costas. – Estraga-prazeres – resmungou Nic. Maddie levantou as mãos para lhe ensaboar as costas e parou, horrorizada, ao ver as cicatrizes na sua pele. Elas iam da nuca até a cintura. Nic se voltou abruptamente. Estava tão pálido que a deixou preocupada. – Que marcas são estas? Ele olhou para ela, mas não respondeu. Fechou a torneira do chuveiro, saiu, enrolou uma toalha na cintura e entregou outra a ela. Maddie pegou a toalha sem nada dizer, mas sentiu um arrepio de frio. Ela se enxugou, enrolou a toalha na cabeça e o seguiu até o quarto. Nic estava parado, olhando pela janela. Ela não sabia o que fazer: estava em terreno desconhecido. – Nic? – Ela o viu contrair ainda mais os músculos. As cicatrizes se tornaram mais aparentes. Maddie se lembrou de que, há oito anos, os empregados do pai de Nic haviam precisado forçá-lo a acompanhá-los. Ela cou gelada e se aproximou. – Aconteceu naquele dia, não foi? Aqueles homens bateram em você? Ele contraiu o queixo e evitou encará-la. – O que lhe importa? – perguntou ele secamente. Todos os sinais de paixão haviam desaparecido. O corpo tenso de Nic parecia rejeitá-la. Ele nunca estivera mais distante. Exatamente como no dia em que ela voltara para encontrá-lo no orquidário... e não fora capaz de esconder o seu horror. – Eu... Eu só quero saber o que aconteceu. Ele olhou para ela, e os seus olhos estavam frios como o gelo. Maddie estremeceu e ele ergueu uma sobrancelha. – Você quer mesmo saber os detalhes sórdidos?


CAPÍTULO NOVE

MADDIE ASSENTIU com o coração descompassado. Não poderiam ser mais sórdidos do que o que ela enfrentara naquela tarde desastrosa. – Os homens do meu pai me trouxeram de volta para casa – Nic falou sem expressão. – Eles disseram a ele com quem haviam me encontrado, e o que estávamos fazendo. O meu pai cou mais furioso que nunca, me levou para o meio dos estábulos e pediu aos homens que me segurassem, enquanto ele me chicoteava. Maddie olhava para ele e só conseguia enxergar o seu rosto como o vira no dia seguinte, antes que se transformasse em uma máscara gélida e cruel. Ele parecia pálido e deveria estar em agonia, mas voltara para vê-la... Talvez ele não quisesse ter dito o que dissera? Talvez pretendesse apenas se proteger contra a maneira que ela reagira. Maddie se sentiu enfraquecer, mas Nic continuou a falar, sem mostrar emoção. – Olhando para trás, agora vejo como o fato de eu fazer amor com a lha da sua ex-amante deve têlo enlouquecido, mas, na época, eu não sabia. Maddie começou a tremer violentamente, sem conseguir apagar a imagem de Nic sendo chicoteado. E tudo pelo que tinham feito inocentemente. As consequências haviam sido catastróficas. – Não faça essa cara de terror, Maddie. Pensei que você gostaria do melodrama causado por nós. Não era isso que você precisava para acabar com o seu tédio? Melodrama! Tédio! Maddie quase gritou. Ele não tinha ideia. Fora chicoteado por sua causa. Ela cobriu a boca e correu para o banheiro a tempo de vomitar no vaso. Ele veio atrás dela. – Deixe-me sozinha, por favor. – Não. Quero ajudá-la... Antes que ela soubesse o que estava acontecendo, ele a levantava do chão e colocava uma toalha úmida no seu rosto. Nic colocou pasta de dente na escova e ela escovou os dentes. Quando acabou, ele a pegou pela mão e levou-a de volta ao quarto. Maddie puxou a mão e se sentou na beirada da cama. – Você é um enigma, Madalena Vasquez. Resolveu me provocar há anos e, quando eu lhe conto o que me aconteceu, você vomita. – Ele contraiu o rosto como se tivesse se lembrado de alguma coisa e se encolheu. Maddie sabia que ele se lembrara do que ela havia lhe dito e desejou poder apagar as palavras cruéis. – Eu nunca resolvi provocá-lo, Nic, e nem humilhá-lo – falou ela, com a voz rouca. – Juro, pelo meu pai, que eu não tinha nenhum plano. Quando você me seguiu no primeiro dia, eu fiquei apavorada, mas também satisfeita. Eu queria você... Mas nunca pensei em seduzi-lo para me divertir. Aquela semana... significou muito para mim. Nic se aproximou e levantou-a pelos braços. – Não tente rescrever a história, Maddie. Você me seduziu porque estava entediada. Aquela semana foi uma diversão, nada mais. – Não. – Maddie balançou a cabeça. – Eu queria vê-lo de novo. – Ela se sentia à beira de um precipício. Sabia que não poderia lhe dizer tudo, e resolveu lhe contar meia verdade. – Naquele dia em


que nós fomos descobertos, eu fui levada para casa e encontrei minha mãe apavorada. Tivemos uma enorme discussão e ela me contou sobre o caso que tivera com o seu pai... O meu pai ouviu. – Maddie se sentia confortada pelo fato de estar apenas omitindo alguns detalhes. – Quando eu o encontrei, no dia seguinte, não consegui lhe falar a respeito do caso. Era sórdido demais. Eu estava envergonhada e tinha medo do que aconteceria se soubessem que eu continuava a encontrá-lo. Precisava fazer com que você se afastasse e disse as coisas mais horríveis que consegui imaginar: mas não era verdade. Maddie se sentia mais exposta que nunca. Acabara de abrir o seu coração. Ela desviou o olhar, temendo que ele visse que ela mentira, que ele visse a verdade que ela ocultara. Nic a soltou e ergueu-lhe o queixo, fitando-a com um olhar penetrante. – Antes que o seu pai aparecesse, algumas semanas depois, e que a minha mãe descobrisse sobre o caso, eu pensei que você e a sua mãe tinham ido embora para fugir daqui... e de mim. Maddie sentiu tristeza pela interpretação que ele dera aos fatos. Mas talvez Nic já soubesse o terrível segredo que ela carregara por tanto tempo... – O que o meu pai disse exatamente aos seus pais? Nic recuou e passou a mão na cabeça. – Ele queria falar com a minha mãe. A nal, o meu pai já sabia. Meu pai não estava, naquele dia. Eu me lembro de encontrá-la histérica, gritando que o meu pai e a sua mãe tinham um caso. Precisei chamar um médico para sedá-la. Alguns dias depois, ela tomou uma overdose de comprimidos e deixou um bilhete dizendo ao meu pai que sabia de tudo. Já tinha sido ruim terem nos encontrado juntos, mas, depois do suicídio da minha mãe, a velha inimizade se fortaleceu. O ódio do meu pai o levou a ter um infarto. Maddie sentia o coração se encolher. A mãe de Nic não parecia ter dito muita coisa. Se seu pai tivesse lhe contado a terrível verdade, ela deveria tê-la levado para o túmulo. Talvez tivesse sido horrível demais para ela compreender. Se o pai de Nic soubesse, com certeza a teria usado contra seu pai e contra o próprio filho. Ela colocou a mão no braço de Nic. – Sinto muito. Nic deu um sorriso tenso e amargo. – Na maior parte do tempo, a minha mãe não era exatamente estável. É provável que ela sofresse de depressão, ou de bipolaridade, mas nunca foi diagnosticada. Não precisava muito para fazê-la perder a cabeça. – Deve ter sido difícil crescer com essa... falta de consistência. Nic deu uma risada e puxou o braço. – Pode-se dizer que sim. Enquanto meu pai tentava endurecer um lho fraco, minha mãe chorava silenciosamente num canto. Maddie se comoveu ao ouvi-lo falar novamente da sua fraqueza. – Mas você se superou e provou que ele estava errado... – Ainda assim, ele não me respeitava. Acho que eu ter vencido o irritava. – Nic retorceu os lábios. – Isso só queria dizer que ele precisava que seus homens me segurassem, enquanto ele me batia. Não tinha mais a satisfação de fazer isso sozinho. Maddie sentiu as lágrimas lhe subirem aos olhos. Não sabia que ele fora tão maltratado pelo pai. Nic percebeu o brilho nos seus olhos e puxou-a. Ela sentiu um nó na garganta e um peso no peito. Ele parecia furioso. – Acho que está na hora de pararmos com a conversa e de nos lembrarmos do porquê desta noite... – Ele a beijou antes que Maddie respondesse. Enquanto as lágrimas rolavam pelo seu rosto, ele se mostrava rude e tentava transportá-la para um espaço onde as palavras não eram necessárias. Ela


cedeu, abraçou-o pelo pescoço, e a dor no seu coração se intensi cou mesmo quando as lágrimas secaram e seus soluços se transformaram em gemidos de desejo. QUANDO MADDIE acordou, na manhã seguinte, demorou para perceber onde estava e o que acontecera. Sentia-se dolorida, mas de prazer. Ela se lembrou do vestido, do jantar, do orquidário... E do quarto de Nic. Abriu os olhos e viu que estava no quarto para onde fora levada na tarde anterior. Ela se sentiu vulnerável ao pensar que ele a levara para lá adormecida, de madrugada, como se tivesse se cansado dela, como se não suportasse passar nem mais um momento junto dela. E ela sabia por quê. Ele se ressentia por ter se aberto, por ter contado o que passara. Só de pensar que ele voltara ao orquidário com as costas em carne viva, ela sentia vontade de gritar. Alguém bateu na porta e Maddie se encolheu. Estava sensível demais e não se sentia preparada para encarar Nic. Mas era a mesma moça que a levara à sala de jantar na noite passada, e que lhe trazia uma bandeja com o café da manhã. – Trago um recado do senhor de Rojas. Ele disse que irá encontrá-la esta noite, na sua casa. O contrato. Maddie sentiu um peso no peito. Quando a moça saiu, ela se levantou, enrolou-se em uma toalha e foi até a janela que dava para os vinhedos e, ao longe, os picos nevados dos Andes. A vista era maravilhosa. Nic cavalgava entre as vinhas e, ao vê-lo, ela se encolheu. Naquele mesmo instante, ele olhou em sua direção. Maddie cou ali, encolhida, sentindo-se humilhada. Ele sequer se dera o trabalho de vir lhe dizer pessoalmente. A noite acabara. Ele conseguira o que queria: vê-la tão exposta e rejeitada quanto ele se sentira anos antes. Se ele já sentira algo por ela, acabara há longo tempo. NIC SE censurou por olhar para a janela e imaginar que iria vê-la. Maddie dormia profundamente quando ele a deixara, com a pele branca marcada pelos sinais da paixão. Ele ainda sentia o sangue ferver e o corpo reagir. Arrancou uma uva de um galho e mordeu-a. Eduardo o observava, e Nic sentiu necessidade de ficar só. – Mais alguns dias e poderemos colhê-las. Encontro você mais tarde para conferir as outras. Eduardo entendeu a indireta e se foi. Nic suspirou de alívio. Estava muito confuso. Maddie fora a primeira mulher com quem ele dormira abraçado, relutando em soltá-la. Isso o zera levá-la de volta ao quarto. Ansiava por ela ainda mais, desde que provara cada pedacinho do seu corpo. Novamente, pela primeira vez. Geralmente o seu desejo se esgotava rapidamente, mas a noite passada saíra dos trilhos no momento em que Maddie se levantara e arrancara as joias, os sapatos. E no orquidário... Nic relembrou o pânico que sentira ao perceber o que ela pretendia, embora no fundo também desejasse romper a falsa polidez do jantar. Quando ele a vira na clareira, lhe parecera terrível, mas correto. Não havia melhor lugar para um desfecho. Mas ele esquecera tudo ao beijá-la. E quando descobrira a sua inocência... Ele ainda se derretia por dentro ao pensar que ela era virgem, que era sua e de mais ninguém. Nic só reparou que sua mão estava cheia de uvas ao sentir o suco escorrendo entre os dedos. Olhou para ela e percebeu que tremia. Lembrou-se das lágrimas nos olhos de Maddie ao ouvir o que ele dissera sobre seus pais, da a nidade que sempre existira entre os dois. O passado e o presente se misturavam perigosamente. Dormir com Maddie deveria ter sido terapêutico, mas se transformara em algo diferente e provara como ela era perigosa, invadindo suas defesas e lhe arrancando informações como zera no passado. O que ela havia dito a respeito do que acontecera ainda era difícil de digerir e causava uma reviravolta que ameaçava tudo. De repente, Nic sentiu medo. Um sentimento absolutamente novo para ele. E, então, ele se lembrou


do contrato e cou aliviado. O contrato colocaria um limite à noite anterior e o protegeria. Mais importante: manteria Maddie à distância. MADDIE ENTRARA num estado de torpor bastante e caz. Bloqueava as lembranças da noite anterior e, se lhe ocorria alguma imagem perturbadora, pensava em outra coisa até que ela desaparecesse. A casa estava vazia sem Hernan e Maria. Ela falara com Hernan e cara arrasada ao saber que Maria precisaria sofrer uma cirurgia na próxima semana. Sentindo-se angustiada, não estava nada ansiosa para receber a visita de Nic, trazendo vitoriosamente o contrato. Ela resolveu fazer um inventário das adegas e anotar o que iria precisar. Nic deveria esperar que ela estivesse preparada, quando começasse a receber o dinheiro. Maddie não se sentia animada por sua propriedade receber uma injeção de fundos. Tudo parecia não ter mais sentido. Quando ela se lembrava de como se sentira nos braços de Nic, no orquidário, garantia a si mesma que a onda de amor se devera o fato de ele ter sido seu primeiro homem. Ela afastou Nic da cabeça e se concentrou em trabalhar. Depois de algum tempo, suas costas doíam, de tanto ela se abaixar para ver os rótulos dos barris. Quando Maddie ouviu alguém chamá-la, por um instante pensou maldosamente em se esconder entre os barris, como ela e o irmão faziam quando crianças. – Aqui embaixo – gritou ela. Ouviu os passos de Nic, sua pele arrepiou, e ela mordeu os lábios para afastar as lembranças. Assim que ele apareceu, de jeans e camiseta, despenteado, bonito, Maddie sentiu o corpo esquentar e não conseguiu falar. – Como poderia saber onde encontrá-la? – perguntou ele, aborrecido. – Por que você não tem um celular? Poderia estar em qualquer lugar da propriedade... – Ele se aproximou, com os olhos brilhando, e, para desgosto de Maddie, ela sentiu vontade de chorar. – Como pode ver, eu estou aqui – respondeu ela asperamente. – Eu não conseguia encontrá-la. Procurei em todos os lugares. Se algo tivesse lhe acontecido... Você poderia ter caído e quebrado uma perna, ou algo assim. – Ele se calou e soltou uma praga. – Preciso saber onde você está. Ela se abalou ao ouvir a última frase, recuou e se tornou fria. – Não vamos ngir que você realmente se preocupa, Nic. Você só não tem tempo para perder procurando um sócio. Trouxe o contrato? – Ela cou surpresa ao vê-lo empalidecer e depois recuperar a cor. – Trouxe. Está no escritório do seu pai. – Ele deixou que ela subisse na frente e aproveitou para recuperar o controle. Toda a sua con ança desaparecera quando não a encontrara e imaginara-a caída em algum lugar. Com tanto maquinário precário, tudo era possível... O seu alívio ao encontrá-la fora impressionante. Quando chegaram ao escritório, Maddie deu uma olhada no contrato e olhou-o friamente. Nic sentiu o sangue ferver e uma pontada na virilha. Queria vê-la em êxtase novamente, no mesmo instante. – Hernan não voltará por alguns dias. Preciso esperar que ele chegue e examine isto. Nic reparou que ela engolia em seco e que estava corada. Ótimo. Não estava tão fria quanto parecia. – Eu tive notícias de Maria. Ela está recebendo um bom tratamento, o médico acredita que a cirurgia será simples e que não haverá complicações. – Ótimo, mas isto vai ter que esperar até a volta de Hernan. Não posso incomodá-lo por causa de um contrato. Nic cou aliviado. Um adiamento. De repente ele começara a odiar o maldito contrato. Tudo que ele queria era Maddie.


Ela não gostou do olhar de Nic ao se inclinar sobre a mesa. – Por mim, tudo bem. Mas, até que o acordo seja assinado, isso ainda não acabou. Maddie engoliu em seco e fingiu indiferença. – O que não acabou? Nic deu a volta na mesa, levantou-a da cadeira e puxou-a contra o corpo. – Isto. – Ele a abraçou com força, e os dois se encaixaram como duas peças de um quebra-cabeça. Maddie crispou os punhos e tentou afastá-lo, mas ele começou a beijar o seu queixo, o seu pescoço. – Não, Nic. Não. A resposta que ele lhe deu foi levantá-la do chão. – Onde é o seu quarto? Maddie cou dividida. Sua respiração já estava ofegante e o seu corpo ansiava por ele, mas tinha centenas de motivos para não ceder. Tudo lhe parecia frágil e ilusório, como se fosse um sonho, e entre os dois havia, pela primeira vez, uma sensação de leveza. – Lá em cima, segunda porta à direita – disse ela, odiando-se por ser tão fraca. Quando os dois entraram no quarto, tudo mais desapareceu. O passado, o presente e o futuro. Existia apenas o agora e o inesperado e louco adiamento. Maddie sentia-se aliviada por não ter assinado o contrato. Até assiná-lo, seria livre e não deveria nada a Nic de Rojas. Nic tirou-lhe a blusa e ela lhe tirou a camisa. Ele lhe soltou os cabelos e acariciou-os gentilmente. – Isto ainda não acabou... – disse ele, erguendo o queixo de Maddie. Ele a beijou sofregamente, tirou o seu sutiã e acariciou-lhe os seios. Maddie agarrou-o pelos cabelos e gemeu. Quando ele a colocou na cama e abriu o zíper do seu jeans, ela levantou os quadris para ajudá-lo a despi-la. Maddie não tinha tempo para pudores: estava excitada demais e impaciente para que ele também tirasse as roupas. Ela suspirou, satisfeita, quando Nic se deitou ao seu lado e acariciou o vértice de suas pernas. Não poderia falar, ainda que desejasse. No momento em que Nic colocou o preservativo e entrou no seu corpo, Maddie resolveu que aproveitaria enquanto durasse. Lidaria com as consequências mais tarde. QUANDO ELA acordou, já era noite. Estava sozinha, e gelou ao recordar o que acontecera. Minutos depois de se encontrar com Nic, os dois estavam na cama. Aquilo não fazia parte do plano. Seria apenas uma noite, e ela assinaria o contrato... Mas ela não assinara. E sentia um alívio culpado. Era como se os dois pudessem ignorar o inevitável, desde que o contrato não existisse. Assim que ela o assinasse, tudo mudaria. Maddie ouviu um barulho na cozinha, que cava dois andares abaixo do seu quarto. Levantou-se, vestiu-se, ajeitou os cabelos e desceu sem fazer ruído. Ela ouviu alguém assobiar na cozinha e parou, boquiaberta, ao se deparar com Nic fazendo panquecas. Ele abotoara a camisa errado e o botão do jeans ainda estava aberto. Assim que a viu, ele parou de assobiar. – Como você gosta das suas? Com creme, chocolate ou morangos? Maddie entrou na cozinha, sentindo-se entre a realidade e o sonho. – Onde você encontrou tudo isso? – Eu comprei. Maddie olhou para ela, assustada. – Que horas são? Quanto tempo eu dormi? Nic olhou para o relógio. – São 9h. Você dormiu cerca de quatro horas. – Você deveria ter me acordado. – Ela olhou para o outro lado, não querendo que ele percebesse


como estava aliviada por vê-lo ainda ali. – Você parecia tão tranquila... – O que Nic não queria dizer é que não gostava do quanto desejava vê-la sem as olheiras de cansaço no rosto. Quando ele acordara, precisara se conter para não beijá-la e puxá-la contra o corpo. Quando ele vira a penúria da cozinha, sentira-se culpado. Saíra para fazer compras pela primeira vez em anos. E, enquanto fazia compras, percebera que, também pela primeira vez em anos, sentia-se incrivelmente leve. Sem o contrato entre ele e Maddie não haveria barreiras a serem removidas entre os dois. Poderiam continuar a ter um caso porque, com certeza, depois de mais algumas noites, ele se cansaria e se afastaria dela. Nic contraiu o queixo ao admitir que o seu desejo por Maddie parecia ter cado mais forte. De repente, ele sentiu vontade de jogar os ingredientes de lado, limpar a mesa e possuí-la ali mesmo. Maddie se sentou alegremente num banco e cou olhando, enquanto Nic preparava outra panqueca. Ele já fizera seis. – Quantas pessoas vêm para o jantar? Ele olhou para ela e deu um sorriso irônico. – Eu costumava fazer toneladas de panquecas quando trabalhava nas vinhas francesas, durante um verão. Nós nos revezávamos para cozinhar... Moradia comunitária – explicou ele. – Eu estava fazendo o curso de Mestre de Vinhos. – Foi uma grande conquista. Seu pai deve ter cado orgulhoso. – Ela se reprovou ao vê-lo car tenso. – Ele morreu logo depois de eu receber o resultado. Não pareceu ficar impressionado. Maddie se comoveu ao perceber que ele não recebera nenhum afeto do pai. Isso era algo que ela conhecia. – Então, já resolveu? – perguntou ele, segurando uma jarra com chocolate e uma caixa de creme. Maddie nunca pensara ter uma imaginação erótica, mas imediatamente o imaginou espalhando chocolate sobre seus seios e lambendo-os. Ficou vermelha e disfarçou. – Creme e morangos, por favor. Nic olhou para ela com malícia e colocou o chocolate de lado. – Talvez eu o use mais tarde... – Ele serviu a panqueca e ofereceu um copo de vinho a Maddie. Ela bebeu um gole e deixou que o líquido a levasse para longe da realidade: tudo era finito e transitório. – NIC? O que estamos fazendo? Ele fechou os olhos e afastou a lembrança dos gemidos roucos de Maddie há poucos instantes. Acabara de se vestir e se voltara. Maddie estava na cama, apoiada nos cotovelos, deliciosamente despenteada e corada. O lençol mal encobria suas curvas, e ele, mesmo que saciado, sentira o desejo recrudescer. A quem estava enganando? Dentro do jipe, de volta para casa, ainda a desejava. Três dias e noites haviam se passado e o tempo parecia parar, assim que ele entrava no terreno dos Vasquez. Ele fora até lá todos os dias, a pretexto de conversar sobre as vinhas, mas invariavelmente os dois acabavam na cama. O seu desejo era insaciável. Maldição! Ele socou o volante: Maddie entrara no seu sangue. Ocupara exatamente o lugar que ele não queria, um lugar do qual nenhuma outra mulher se aproximara. Desde aquela semana no orquidário, quando ele chegara tão perto de se abrir emocionalmente, Nic mantivera o coração fechado para todos. Aprendera bem sua lição. A despeito disso, ele sabia que deveria corrigir as lembranças do que acontecera há oito anos. Maddie fora inocente, não tivera consciência do seu poder. Mas o que ela dissera ainda doía. A veemência com que ela falara ainda estava vívida na lembrança de Nic, assim como a maneira como ela vomitara quando ele a tocara. Ele admitia que talvez tudo não tivesse passado de uma reação


melodramática de adolescente, depois que ela ficara sabendo do caso da mãe. A pergunta que ela fizera ainda soava em sua cabeça: – Nic, o que estamos fazendo? Ele voltara para a cama e a beijara longamente. Só parara ao sentir que estava chegando ao ponto onde não conseguiria se conter. – Até que o contrato esteja assinado, é isto que estamos fazendo. Ela puxara o lençol para cima e o afastara. – E, então, tudo terá acabado. É isso? Ele tara os grandes olhos verdes e vira algo que o deixara extremamente nervoso: o seu próprio reflexo quando jovem, expondo-se ao ridículo. Não faria mais isso por ninguém. – Não pode ser mais nada... Não, se você quer o investimento. Maddie empalidecera e o encarara. – Eu só queria ter certeza de que não havia dúvida. Ele cara furioso com a frieza de Maddie. Beijara-a novamente, até ouvi-la gemer, demonstrando a sua falta de controle. – Volto mais tarde para conversarmos a respeito de alguns detalhes. Maddie respondera em tom de desafio: – Esta tarde, eu vou à clínica ver Maria. A cirurgia foi marcada para amanhã. – Então virei buscá-la e iremos juntos, depois de termos conversado. Nic sabia que, assim que Maria se recuperasse, Hernan voltaria a Villarosa, examinaria o contrato, e Maddie iria assiná-lo. A trégua entre os dois estaria terminada. Madalena Vasquez estava ligada a emoções e a lembranças demais para ocupar um lugar na sua vida.


CAPÍTULO DEZ

O CELULAR que Nic lhe dera vibrou dentro do bolso do jeans, e Maddie soltou uma praga antes de atender e ouvir um autoritário: – Onde você está? Ela imediatamente derreteu e sentiu o sangue correr para os lugares mais sensíveis do corpo. – Estou nos tonéis. – Ela desligou. Estava abalada desde o momento em que Nic dissera que o relacionamento deles voltaria a ser platônico, assim que o contrato fosse assinado. Deveria ter cado feliz. Não era tola para imaginar que seria algo mais. Ela sabia que havia muita coisa entre os dois. A briga entre as famílias podia ter acabado, mas causara danos demais para serem sanados pelos dois... Maddie suspirou e quase morreu de susto ao ouvir um sussurro: – Não caia lá dentro. Ela se voltou e viu Nic parado na passarela que cercava os tonéis. Estivera tão pensativa que não ouvira o ruído do jipe, nem os seus passos sobre o metal. – Uma vez eu caí... Tinha nove anos. – Como aconteceu? – perguntou Nic, espantado. – Eu estava brincando de esconde-esconde com o meu irmão, Alvaro. Hernan estava aqui, ajudando a decantar as uvas. Eu quei fascinada, debrucei demais para olhar e caí. Felizmente, Hernan me pescou imediatamente. – Maddie sorriu envergonhada. – Ele me agarrou pelos cabelos. Eu quei mais aborrecida com a dor do que com o fato de que poderia ter me afogado em vinho tinto fermentado. Hernan e Maria me levaram para casa e me banharam. Jamais contaram aos meus pais... – Maddie estremeceu. – Se tivessem contado, meu pai teria me trancado no quarto por uma semana, sem comida. – Ele costumava fazer isso? – perguntou Nic revoltado. Maddie estremeceu e tirou alguns resíduos do enorme tonel vazio. – Algumas vezes... Se algo o zangava. Ficou mais frequente depois que Alvaro morreu. Ele era um homem irritado... Revoltado por ter uma lha inútil a quem não poderia passar o seu legado. – Maddie percebeu que estivera resmungando e mudou de assunto. – Os tonéis precisam de uma reforma. O meu pai os colocou aqui porque queria voltar a usar tanques de concreto. – Podemos nos livrar deles, se você quiser, e usar aço. Depende do que você achar melhor. Os dois voltaram ao nível do solo e discutiram os méritos de uma reforma ou da modernização das instalações. A caminho da clínica, Maddie sentiu que retomara o controle. Mas o seu controle foi abalado, quando ela presenciou a preocupação que Nic tinha com Maria, e a insistência para que ela fosse bem-cuidada. Ele mostrava que se importava com pessoas que nem trabalhavam para ele... Na volta, Maddie estava silenciosa, e se admirou quando Nic perguntou: – Por que o seu pai mudou de ideia? Ele expulsou você e sua mãe e lhes deu as costas. Por que, de repente, ele deixou tudo para você? Maddie cou tensa e não conseguiu falar por algum tempo. Só conseguia pensar naquela tarde fatídica e nas coisas terríveis que havia ouvido. Ela se sentiu enjoada.


– Pare o carro, por favor. Nic parou o carro perto de um mirante de onde se via os Andes à distância. Maddie saiu do carro e cambaleou, sentindo um tremendo peso. Nic também saiu do carro e tocou-lhe o ombro. – Maddie, o que foi? Ela pulou para trás, de olhos arregalados. Ele a viu pular, viu seus olhos cheios de horror... Ela já olhara para ele daquele jeito antes. Encolhera-se daquele jeito quando ele a tocara... – Há algo... que você não sabe. Algo que aconteceu, depois que nos encontraram. – Ela se voltou de frente para a vista. Nic contraiu o peito como se esperasse um golpe. – O que eu não sei? – Eu não quero lhe contar – Maddie falou baixinho. Nic pegou-a pelo ombro e fez com que ela o encarasse. Soltou-a, como se odiasse tocá-la, e Maddie teve a sensação de que era inevitável. Talvez ela lhe devesse uma explicação. Aquilo fecharia o círculo. – Diga, Maddie. – Eu não lhe disse naquele dia porque não podia... E depois, porque eu não queria que você tivesse uma sombra terrível envenenando a sua cabeça como envenenou a minha. Nic sacudiu a cabeça, confuso, e olhou para ela muito sério. – Não vamos sair daqui até que você me diga, Maddie. Ela olhou em volta, sentindo-se desmaiar. Sentou-se sobre a amurada do mirante e começou a falar, hesitante. – Eu não lhe contei tudo que aconteceu quando voltei para casa... depois de sermos apanhados. Eu tive uma briga com a minha mãe, como lhe disse... Ela estava lívida. – Nic cruzou os braços e Maddie fixou os olhos em algum ponto a meia distância. – Ela me disse que eu não iria vê-lo de novo. Eu disse a ela que não poderia me impedir. – Maddie olhou para ele continuou docemente. – Eu queria vê-lo de novo... E, então, ela me contou sobre o caso com seu pai. Eu não sabia o que aquilo tinha a ver conosco, e tentei ir embora... E ela me disse outra coisa... – Mantendo os olhos xos nos olhos de Nic, ela lhe contou tudo que acontecera. – Por isso eu não podia mais vê-lo... E o meu pai ouviu tudo. Nic sentiu como se tivesse levado um soco no estômago. Olhou para Maddie, sem expressão, de repente sentiu-se nauseado e só não vomitou porque a sua força de vontade foi mais forte. – Quando fomos para Buenos Aires, a minha mãe concordou em pedir uma amostra de DNA ao meu pai. Ele cedeu, com a condição de que ela nada recebesse no divórcio. Eu z o teste e descobri que era lha dele, mas aí já era tarde para lhe contar tudo isso. Muita coisa tinha acontecido. Eu ainda estava traumatizada com a possibilidade... – Maddie se calou e engoliu com di culdade. – Eu escrevi uma carta para o meu pai, mas não recebi resposta até pouco antes da sua morte. Nic estava recuperando a cor, mas parecia não conseguir olhar para ela. Para Maddie isto tinha o efeito de uma chicotada. – Meu Deus, Maddie... – Ele subiu na mureta e olhou para o in nito. Maddie olhou na mesma direção e mordeu o lábio com tanta força que sentiu o gosto de sangue. – Naquele último dia... Eu não percebi que ia até o orquidário até chegar lá. Foi por isso que, quando vi você, reagi daquele jeito. Como eu poderia lhe dizer o que a minha mãe havia en ado na minha cabeça? Era monstruoso. – O seu pai deve ter contado à minha mãe. Deve ter sido por isso que ela tomou uma decisão drástica – disse Nic com amargura. – Eu também acho. E sinto muito. – Santo Deus, Maddie. A culpa não foi sua – afirmou ele secamente. Ela se encolheu. Guardara o segredo por tanto tempo, e agora ele também maculara a cabeça de Nic.


Maddie sentiu o tremor subir pelas pernas e se espalhar pelo seu corpo. – Desculpe. Eu não queria que você soubesse... Eu não deveria ter dito nada. Ela o ouviu praguejar, e, de repente, ele a abraçou com força, reduzindo o seu tremor a leves estremecimentos. Maddie não conseguiria sequer chorar. Nic lhe acariciava as costas, os cabelos, como se domasse um cavalo bravio. Depois de algum tempo, ele a afastou e segurou-a pelos ombros. – Estou feliz por você ter me contado. – Ele cou olhando para ela, até que ela concordasse. E, então, segurou-lhe a mão e levou-a de volta para o carro como se fosse uma criança. Maddie se sentia anestesiada. Um Nic muito sério sentou-se ao lado dela e os dois voltaram a Villarosa. Quando ela o viu tomar o caminho de casa, admirou-se. – Aonde estamos indo? – Você vai para casa comigo esta noite. Ela sentiu o calor inevitável e começou a despertar. Algo mudara entre os dois, depois que ela contara a terrível verdade. Ele acabara de abraçá-la como um irmão. Talvez jamais voltasse a desejála, depois de saber. Ainda que não fosse verdade, fora veneno. Eles chegaram à casa de Nic. Sem uma palavra, ele a levou para o quarto. Maddie estava insegura e confusa, e soltou-se da mão dele. – O que estamos fazendo aqui? – Ela se envergonhava do quanto o queria. Ele parou diante dela. – Vamos exorcizar os demônios agora mesmo, aqui. – O que quer dizer? Como? Ele lhe pegou o rosto e apertou-a contra o corpo que se enrijecia. – Deste jeito. E, então, ele a beijou. Um beijo diferente de qualquer outro, que lembrava o primeiro beijo que ele lhe dera, que ela tanto desejara depois de uma semana de crescente excitação, e que fora extremamente sensual, mas desajeitado. Desajeitado como quando ele desabotoara a sua blusa e corara ao ver os seus seios. Era como se o passado e o presente se unissem. Nic colocou-a na cama, abriu sua blusa e puxou o sutiã para baixo, revelando seus seios. Maddie arqueou o corpo como se implorasse para ser acariciada. – Eu nunca esqueci o seu gosto... A doçura da sua pele, dos seus seios. Eu poderia ter me afogado no seu perfume... Maddie en ou os dedos nos cabelos de Nic e uma onda de emoção a fez levantar a cabeça e beijálo. As carícias estavam imbuídas de ecos do passado, da maneira como Nic a tocara pela primeira vez, naquele dia. Eles ultrapassaram o ponto onde haviam parado. Des zeram-se das roupas, que foram espalhadas pelo chão ou sob seus corpos, na cama. Quando ele se colocou sobre ela, sua boca cobria o seio de Maddie e sua mão acariciava seu corpo, deleitando-se com a pele de cetim, úmida de suor. – Nic, por favor... – implorou ela, contorcendo-se com impaciência. Ele se movimentou, entrou no seu corpo, e Maddie se deliciou por estarem unidos. – Mantenha os olhos abertos – falou ele. Ela não conseguia tirar os olhos de Nic, enquanto ele se movimentava ritmicamente dentro dela e levava-a para longe da sombra do que acontecera. Quando Maddie atingiu o orgasmo, ele parecia transcender tudo, ser espiritual. Como se um peso lhe tivesse sido tirado. O olhar de Nic a queimava e ardia dentro dela, enquanto ele se exaltava e se soltava dentro do seu corpo. Ela o envolveu pelos quadris, com as pernas. Nic caiu ao lado dela, exausto, e a abraçou. Antes de cair no sono, ele pensou em como fora intenso possuí-la sem barreiras e em como ela o envolvera com as pernas e o puxara para o fundo do seu


corpo. MADDIE ACORDOU e olhou para Nic, que dormia um sono relaxado. Acordado ele sempre era tenso e controlado. Ela sentiu o coração se contrair e sentiu nostalgia de um tempo em que o vira relaxar e rir. Talvez ele ainda conseguisse, com outra mulher... Não com ela. Ele já fora mais leve e cheio de esperança, e ela tinha sido o motivo pelo qual a leveza e a esperança de Nic haviam sido substituídas pelo cinismo. Quando ela pensava em toda a con ança que havia sob a sua arrogância... A sua rejeição deveria tê-lo ferido muito fundo para ser perdoada. Maddie não quis esperar que Nic acordasse. Sabia que algo mudara na noite passada. Eles haviam ultrapassado um marco: tinham enterrado o passado. A relação entre os dois era baseada em antigas diferenças, no desejo insatisfeito... O contrato logo seria assinado e ele iria mantê-la na periferia da sua vida. Ela precisava encarar a própria consciência culpada. Dormira com Nic, usando o contrato como desculpa, porque seria a única maneira de dormir com ele. Nic não iria querê-la sem o contrato. Não se sujeitara a seduzi-la apenas por desejo. Ela precisava sair dali, antes de alimentar alguma esperança de que talvez... em outro mundo, se não tivessem uma história tão complicada... tudo poderia ser diferente. A verdade é que Nic colocara as mãos no que mais desejava: a propriedade dos Vasquez. Ele vencera e, de quebra, se vingara. QUANDO NIC acordou, o sol estava alto. Ficou desorientado. A cama estava vazia e ele se sentiu amargamente aliviado. A última coisa que se lembrava era de ter acordado durante a noite e de ter visto Maddie sensualmente relaxada em seus braços. Ela acordara e o provocara, e ele a possuíra novamente. Nic ainda sentia a cabeça girar ao recordar o que ela lhe dissera. Reagira instintivamente, levara-a para casa e zera amor com ela para apagar as terríveis palavras. Quando se lembrava da maneira como ela olhara para ele enquanto faziam amor, sentia-se tonto. As revelações de Maddie deram uma reviravolta no passado, que ele ainda não conseguira assimilar. Não poderia mais culpá-la pela reação que tivera naquele dia. Ele teria reagido da mesma maneira, ou ainda mais violentamente. Pensar que ela mantivera tudo em segredo o deixava doente. Ela quisera vê-lo novamente. Se a mãe não tivesse lhe dito o que dissera, aquele dia teria sido diferente. Suou frio ao pensar em como poderia ser diferente agora: bloqueou imediatamente seus pensamentos e cou muito tenso. Fechara o círculo com Maddie. Haviam feito uma trégua. Poderia perdoá-la e seguir em frente. Investiria na propriedade e a colocaria de pé novamente. Isso seria su ciente. Não poderia pensar em outras alternativas porque isso ameaçaria as defesas que construíra cuidadosamente contra a angústia da mãe e o abuso do pai, e que fortalecera desde a semana que passara com Maddie e sentira o coração bater pela primeira vez. O conceito de amor sempre lhe fora estranho até conhecer Maddie. E havia sido destruído depois da sua rejeição cruel. Não importa o que ele soubesse agora. Não poderia desfazer o dano. Maddie estava ligada a tudo e jamais poderia fazer parte do seu futuro. Nic sentiu a dor de pensar que deveria deixá-la no passado. Levantou, tomou um banho frio, pensando que poderia finalmente seguir em frente, mas apenas se deixasse Maddie para trás. MADDIE SAIU cansada da clínica, mas feliz, até ver o conhecido jipe parar no estacionamento. Ela apertou o passo e abaixou a cabeça. – Maddie! Ela se voltou. Não estava preparada para encontrar Nic. Fazia dois dias que o deixara na cama e não


o vira desde então. A mensagem era clara: siga em frente. Tentou aparentar indiferença, mas não conseguia conter o impulso de devorá-lo com os olhos. Cruzou os braços, com o coração apertado. – Como está Maria? – Bem. A operação foi um sucesso. Ela cará internada alguns dias, mas teve sorte. Eles estão muito gratos a você. – Não foi nada – disse ele, com um gesto displicente. – Você quer alguma coisa? – perguntou Maddie. Ele olhou para ela por longo tempo, e ela sentiu um arrepio de frio. – Naquela noite... Não usamos proteção. Maddie gelou e ficou corada. Não pensara naquele assunto. – Tudo bem. A minha menstruação veio hoje – disse ela, mortificada. – Ótimo. – Hernan volta para casa amanhã. Ele examinará o contrato e eu devo assiná-lo no dia seguinte. – Ela se sentia uma fraude: lera o contrato e ele era mais que justo e generoso. Só estava adiando as coisas. – Eu vou buscá-lo. Ela se voltou rapidamente na direção do carro, odiando as lágrimas que surgiam em seus olhos. Devia ser bobagem, mas, naquele momento, parecia que qualquer ligação que tivessem tido por m se rompera. – Maddie... Ela parou, piscou para disfarçar as lágrimas e se voltou. Nic não se movera. – Sinto muito que... Ela levantou a mão para calá-lo e engoliu o amargor de esperar que ele lhe dissesse algo banal. – Não, Nic. Não precisa dizer nada. Acabou. – Ela correu para o carro. Ela e Nic haviam procurado um desfecho e encontraram. O que ela pensara existir entre os dois não passara de ilusão, de emoções exacerbadas. Enquanto observava a estrada através de um véu de lágrimas, pensando que, se aquilo fora um desfecho, por que não parecia ter terminado? MADDIE OLHOU para o contrato. Ela e Hernan o haviam lido na noite passada e concluído que ela não poderia fazer melhor negócio. Com o investimento de Nic os vinhedos e a casa seriam completamente renovados e modernizados – algo que seu pai sempre recusara. Este fora um dos motivos para a ruína da propriedade. Hernan e Maria seriam protegidos e cuidados. Nic traria um gerente de projetos, um novo mestre enólogo e contrataria mão de obra para a colheita. Maddie sabia que só lhe restava assinar, não apenas por ela, mas também pela economia local. A propriedade sempre contratara moradores locais e voltaria a empregá-los. Não podia negar que queria ver seu legado re orescer, mas seria uma pena que ela não estivesse lá para ver. Pegou a caneta com mão pesada e assinou o contrato. Com isso, selava o seu destino: não poderia mais car ali. Não poderia ver Nic todos os dias e conviver com o esquecimento do que houvera entre os dois. Ela se escondera atrás do investimento para vender a alma e o coração a Nic. O que acontecera entre eles se reduzira a um documento legal. Maddie tentou escrever uma mensagem para Nic, mas tudo lhe parecia ridículo e banal. Por m, ela escreveu simplesmente: “Nic, estou lhe passando o controle total da propriedade, e todas as decisões a Hernan. Ele é a melhor pessoa para supervisionar o trabalho a ser feito. Atenciosamente, Maddie.” Ela colocou o recado dentro de um envelope e deixou-o sobre o contrato, com um bilhete para


Hernan. E saiu de casa. NIC OLHOU o pôr do sol que coloria os picos nevados dos Andes de cor-de-rosa. A barba incipiente coçava. Seus olhos ardiam. Não dormira uma noite inteira, desde o dia em que acordara na cama vazia. O panorama da sua vasta propriedade jamais deixara de lhe dar satisfação, mas há semanas deixara de animá-lo. Ele se tornara distraído e perdera o interesse pelo trabalho, que sempre fora sua razão de ser. No dia anterior, Eduardo precisara repetir três vezes o que lhe dizia, e ele rosnara como um urso ferido. Ele se desculpara, mas percebera estar perdendo o pouco controle que conseguia manter. E começara a perder o controle quando vira Madalena Vasquez entrando no hotel de Mendoza. Antes mesmo de reconhecê-la, soubera que tudo mudaria irrevogavelmente. E, de repente, enquanto a luminosidade se espalhava sobre os Andes, Nic percebeu o que aquilo signi cava e o que deveria fazer para recuperar a sanidade. Tudo aquilo – a sua batalha com os pais, a sua fortuna – nada signi cava. Porque, a partir do momento em que vira Maddie Vasquez montada num cavalo, oito anos antes, e a seguira até o orquidário, ela passara a controlar o seu destino. Ela conquistara a sua con ança e o destruíra com a sua brutal rejeição – agora compreensível. Era a única que poderia curá-lo, fazer com que ele se arriscasse a con ar novamente... Desde que ela voltara para casa, ele começara a despertar, a voltar à vida e a resistir porque o sofrimento era intolerável. Mas o sofrimento se tornara tão indispensável para ele como respirar. Nic nem notou que se mexera, até estar dirigindo o jipe em direção à casa de Maddie. Não reparou no outro veículo que passou pela estrada: um táxi. Quando chegou, a casa estava silenciosa, e ele imediatamente pressentiu por quê. Foi até o escritório, viu o contrato e as mensagens. Colocou o bilhete para Hernan de lado, abriu o envelope com o seu nome e leu. Então pegou o contrato e olhou a última página: a assinatura de Maddie estava na última linha. Com um rugido inarticulado, ele atirou o contrato contra a estante, e as páginas se espalharam. Ele saiu da sala com um olhar enlouquecido. MADDIE ESTAVA na la do guichê, contando o dinheiro. Tinha o su ciente para a passagem. Quando chegasse a Buenos Aires, tentaria convencer sua tia a deixá-la car com ela por algumas semanas, até encontrar um... – Fugindo, Maddie? O raciocínio de Maddie congelou. Ela se voltou e viu Nic atrás dela, de braços cruzados. A sua sionomia calma e controlada desmentia a sua aparência: cabelos despenteados, olhos avermelhados e queixo coberto por uma incipiente barba dourada. E ele estava muito, muito bonito. Maddie se voltou para o guichê e tentou controlar o sangue que lhe aquecia as faces. – Não sei por que se deu o trabalho de vir até aqui, Nic. E não: eu não estou fugindo. – Ela avançou dois passos, mas ele a seguiu. – Você quase me enganou. Percebeu que não iria aguentar? Que você realmente não se importava tanto com a propriedade? Maddie tentou se esquivar e passar por ele. – Você sabe que isso não é verdade. Eu amo aquelas terras. – Então por que está indo embora? Maddie corou. As pessoas começavam a observá-los porque, com certeza, reconheciam um dos cidadãos mais importantes de Mendoza. Bastaria que a reconhecessem também para terem assunto para fofocas durante meses: de Rojas escorraça Vasquez para fora da cidade! Ela se afastou da fila, para evitar que os ouvissem, e passou por Nic.


– Eu não preciso estar lá para você investir na propriedade dos Vasquez. – Faz parte do contrato – falou ele irritado. Maddie sentiu vontade de bater o pé no chão. As suas emoções estavam à flor da pele. – Eu estou indo embora, Nic, e não há nada que você possa fazer ou dizer para me impedir. – Ela resolveu voltar ao fim da fila e começar tudo de novo. – E se eu disser que não quero que você vá, e que isto nada tem a ver com o investimento? Maddie parou e sua respiração se tornou ofegante. Sequer notava os olhares interessados das pessoas que passavam entre ela e Nic. Ela não ouvira bem, ou ele não dissera o que ela ouvira: ela deu mais um passo adiante. – Droga, Maddie! – Nic se plantou diante dela. Maddie o encarou e notou que um músculo do seu queixo tremia. – Nic...? – Eu não quero que vá porque acabo de perceber que preciso de você. Maddie crispou as mãos em torno da bolsa. Alguma coisa voou dentro do seu peito, mas ela pensou que ele deveria estar falando do investimento. – Hernan estará lá. Ele é capaz de... Nic quase explodiu. – Eu não estou falando sobre o investimento. Ele não me interessa. Só me ofereci para investir porque você estava resolvida a se arriscar perigosamente. E o contrato... – Ele se calou e soltou uma praga, antes de admitir. – O contrato foi um meio de levá-la para a cama sem reconhecer que eu tinha medo de que você me rejeitasse de novo. Ele levantou a mão e acariciou o rosto de Maddie. Ela percebeu que a mão dele tremia e teve um déjà vu. – Eu z uma confusão por ser muito covarde para admitir o que você me fez sentir ao voltar, Maddie. – Ele sacudiu a cabeça. – A sua rejeição, naquele dia... Foi como se tivessem arrancado o meu coração do peito e jogado no chão. Depois disso, nada mais importava. Eu me fechei. Em uma semana eu tinha me apaixonado completamente por você... A visão de Maddie cou turva. Ela segurou a mão de Nic sobre o seu rosto, desejando que ele confiasse nela. – Ah, Nic... Sinto muito que tenha acontecido, que a minha mãe tenha me envenenado, que eu não pudesse lhe dizer. Eu o queria tanto. Eu me apaixonei por você. É por isso que não pode me perdoar. – Ela afastou a mão dele do seu rosto, decidida, e recuou. – É por isso que eu estou indo embora. Não sou forte o su ciente para car perto de você, amando-o e sabendo que seguiu a sua vida, que precisa ir em frente. Nic parecia perplexo. – Você me ama? Ainda agora? Maddie assentiu e as lágrimas lhe umedeceram os olhos. – Você sempre esteve no meu coração e na minha cabeça. Quando eu voltei, disse a mim mesma que o odiava por ser autoritário, por me fazer acreditar que o que acontecera entre nós dois, há oito anos, para você não passara de puro desejo. Mas era uma mentira. Só concordei com esse maldito contrato porque pensei que seria a única maneira de você me aceitar... Maddie enxugou as lágrimas, agarrou-se à bolsa e passou por ele, mas Nic segurou-a pelo braço. – Por favor, Nic... Deixe-me ir. Você não pode me fazer ficar. Não agora. Ele não a ouviu. Virou-a para ele e ergueu-lhe o rosto. Maddie viu a sua expressão e sentiu o coração parar. Ele parecia tão vigoroso, tão livre das sombras terríveis. Um sorriso iluminava o seu


rosto... Ela sentiu o coração voltar a bater, fazendo com que sua cabeça casse leve. Nic gentilmente perguntou: – Você ouviu alguma palavra do que eu disse? Maddie cou confusa. O que ele teria dito? Nic pegou a sua bolsa e soltou-a no chão. E, antes que ela pudesse tomar fôlego, ele já se ajoelhava diante dela e lhe pegava as mãos. Olhando-a com os imensos olhos azuis, ele falou com a voz rouca: – Maddie Vasquez, eu a amo. Você já me fascinava antes que eu a conhecesse e, quando nos conhecemos, eu me apaixonei profundamente por você. Nunca deixei de amá-la, por mais que isso me doesse, mas só percebi isso quando você voltou para casa. Eu disse a mim mesmo que a odiava e que queria me vingar... Mas eu queria você, queria o seu coração, e era covarde demais para admitir... Ela estava muda de perplexidade, certa de estar sonhando. A la se desmanchara e os dois estavam cercados por uma multidão de espectadores curiosos. Maddie ouviu alguém suspirar dramaticamente perto dela. – Maddie Vasquez... você me daria a honra de se casar comigo? Não poderei prosseguir com minha vida se não souber que você estará comigo. Quero que tenhamos lhos e envelheçamos juntos, e que sejamos aqueles que enterrarão para sempre a briga entre nossas famílias. Eu a amo. Ela começou a chorar abertamente e a emoção a levou a tremer. Nic levantou e abraçou-a, embalando-a e acalmando-a. Quando ela conseguiu se acalmar, afastou-se um pouco e olhou para Nic. Ele ainda parecia feroz e angustiado. Ela ainda podia ver o medo nos seus olhos: o medo de que, de qualquer maneira, ela fosse embora. Maddie abraçou-o pelo pescoço e lhe deu um beijo salgado, dizendo com um suspiro emocionado: – Sim. Eu me caso com você, Nic de Rojas. Como poderia ser diferente, se eu o amo tanto? Os gritos da multidão zeram com que Maddie escondesse a cabeça no peito de Nic, envergonhada. Ela sentiu que ele a levantava do chão e que a carregava para fora, para a luz do sol. Um ano depois – Não – disse Nic pacientemente. – Somos casados, mas a minha mulher tem uma enorme propriedade em seu nome e resolveu manter o nome Vasquez. Ela é uma mulher moderna. Maddie estava de mãos dadas com Nic e controlou o riso quando ele lhe apertou a mão com mais força. Os dois observaram o velho casal de esnobes se afastar, demonstrando reprovação pela sua falta de conveniência. Os habitantes de Mendoza só aos poucos começavam a aceitar a união de RojasVasquez, mas as terras dos Vasquez estavam a caminho de orescer novamente através do próprio rótulo. Quando o casal se foi, Maddie riu alto e escondeu a cabeça no peito de Nic. Ele lhe acariciou o pescoço com ternura. Maddie se controlou, adorando a sensação de calor lânguido que ele lhe provocava ao tocá-la e que, mais que nunca, logo se transformaria em algo mais forte, se tivesse oportunidade. – Bem, señor de Rojas – disse ela, sorrindo para o marido. – Você sabe que este é o nosso primeiro aniversário? – Mas nós só nos casamos há nove meses – disse Nic, levantando a sobrancelha. Maddie olhou ao redor do suntuoso salão de baile do hotel em Mendoza e apertou a mão dele. – Não este tipo de aniversário. Estou falando da primeira vez em que nos reencontramos, no ano passado... Nic tou os olhos verdes límpidos e adoráveis da esposa e sentiu o peito se contrair intensamente,


como sempre acontecia ao sentir sicamente o amor. Ele se lembrava de que, ao vê-la surgir na porta naquela noite, um ano antes, pressentira que ela lhe traria problemas, mas não mudaria nem um segundo do que acontecera. Nic sorriu, levantou a mão da esposa e beijou-a. Os olhos dela escureceram, ele imediatamente sentiu o sangue correr para a virilha e quase gemeu alto. Pareciam dois adolescentes fogosos. – Feliz aniversário, meu amor – falou ele com a voz rouca, acariciando o rosto de Maddie. Ela mexeu o rosto sob a mão dele e Nic olhou para ela, desejando que estivessem a sós. Ela suspirou e ele olhou para baixo, preocupado. Notou que Maddie tinha uma expressão de desconforto e que abaixava a mão, apoiando-a sobre a enorme barriga. Já haviam se passado duas semanas do prazo. Maddie resmungou de bom humor: – Você acha que este bebê vai resolver aparecer? Se ele demorar mais tempo, vou precisar de um guindaste para me movimentar. Nic sorriu e abraçou-a. – Sei um jeito de apressá-lo... Maddie se derreteu sob o olhar de desejo de Nic. O ano que passara fora um sonho. Ela o amava mais do que acreditara ser possível quando se apaixonara por ele. – Podemos ir embora agora? – Podemos fazer o que quisermos – disse ele, depois de beijá-la. – Mas, o seu discurso... – Ela o viu trocar um olhar com Eduardo. – Eduardo cuidará disso. Isto... – disse ele, tocando-lhe a barriga. – Você, nós... Não há nada mais importante que isto. NO DIA seguinte, às cinco da manhã, Nic e Maddie davam as boas-vindas ao lho, Alvaro, assim chamado em homenagem ao irmão dela. Exausta, mas feliz, Maddie observava Nic ninar o filho. – Se pudéssemos patentear o seu método de apressar o parto, faríamos uma fortuna. Uma mãozinha agarrou o dedo de Nic. Ele olhou para a esposa e brincou. – Da próxima vez eu me empenharei mais. Maddie resmungou. – Da maneira que eu estou me sentindo, não haverá próxima vez. Nic riu e Maddie cou feliz por ele ter recuperado a cor. Ele quase desmaiara na sala de parto por nada poder fazer enquanto Maddie evidentemente sentia dor. Nic se aproximou e entregou o filho para Maddie, que o colocou para mamar. – Não se preocupe, sra. Vasquez – disse Nic, junto ao ouvido dela. – Eu lhe darei tanto prazer da próxima vez que você não vai pensar na dor. Maddie olhou para ele e viu os seus olhos escurecerem ao ver o lho lhe sugar o seio. Ela sentiu um calor no ventre, que nenhuma dor seria capaz de diminuir, nem depois de 15 horas em trabalho de parto. – Onde eu fui me meter? – resmungou ela baixinho. Nic beijou-lhe o pescoço, ergueu-se para olhá-la, colocou a mão na cabeça do lho... E simplesmente sorriu.


O DEVER E A PAIXÃO TRISH MOREY ELES VIERAM para ela no silêncio da noite, enquanto o acampamento estava silencioso, exceto pelo farfalhar das folhas das palmeiras no ar frio, e do bufar de camelos do deserto. Ela não teve medo quando ouviu a lâmina cortando a parede da tenda. Nem quando um homem vestido de preto, o rosto coberto por uma máscara que mostrava apenas os olhos, entrou, embora a altura dele e largura dos ombros fossem o bastante para lhe roubar o fôlego e fazer sua pulsação acelerar. Em vez disso, Aisha sentiu tanto alívio que seus olhos se encheram de lágrimas. Alívio que o resgate pelo qual tanto rezara tinha finalmente chegado. – Eu sabia que você viria para mim. – Completamente vestida, ela se levantou da cama para encontrá-lo, quase tropeçando em sua pressa de fugir. Engoliu um soluço, sabendo que escaparia, sabendo quão perto chegara. Mas finalmente estaria segura. Não precisava ter medo. Mas quando a mão grande cobriu sua boca para calá-la, e ela se sentiu puxada contra o corpo musculoso, não pôde negar sua súbita onda de medo. – Não fale mais uma palavra, princesa – o homem sussurrou no seu ouvido. – Ou pode ser sua última. Aisha enrijeceu, mesmo enquanto aceitava a indignidade, pois havia sido criada para não aceitar o toque de estranhos. Mas possuía pouca escolha, agora, com o braço forte circulando sua cintura, os dedos de uma mão grande abertos de seu peito à sua barriga, enquanto a palma da outra mão lhe cobria a boca, de modo que ela quase podia sentir o gosto da pele quente dele. Desnecessariamente perto. Desnecessariamente possessivo. Ela podia sentir o cheiro de cavalo e couro, de areia e ar do deserto... juntamente com um aroma almiscarado, que parecia alcançar todos os lugares que ele tocava, fazendo-a pensar que talvez não estivesse tão segura quanto imaginara. Alguma coisa em seu interior se rebelou. Homem tolo! Ele podia estar lá para salvá-la, mas ela não estivera pronta e esperando? Ele pensava que Aisha rezara por ajuda apenas para gritar ou correr, e arriscar suas chances de fuga? Estava cansada de ser tratada como um prêmio, primeiro pelos homens grosseiros de Mustafa, e agora por seu próprio pai. Ela era princesa de Jemeya, a nal de contas. Como este homem ousava tratá-la como um saco de melões que pegara no mercado? Ele mudou de posição, e ela se contorceu, esperando se aproveitar da imobilidade do homem, enquanto ele parecia focar em alguma outra coisa, mas não havia escapatória. O braço de aço a puxou mais contra a parede do corpo sólido, os dedos apertando-lhe a carne, roubando-lhe o ar dos pulmões. Aisha arfou, entreabrindo os lábios, e sentiu um dedo longo se colocando entre eles. O choque se transformou em pânico quando ela provou o gosto dele em sua boca.


Sentiu-se invadida, violada com a intensidade do ato. Então fez a única coisa possível. Mordeu. Com força.


314 – O DEVER E A PAIXÃO – TRISH MOREY A princesa Aisha é obrigada a se casar com Zoltan, um bárbaro, para que ele possa ser coroado. Apesar de sua rebeldia, Aisha se sente cada vez mais atraída por ele! 315 – O LADO SOMBRIO DO DESEJO – JULIA JAMES O pai de Flavia quer que ela seja uma companhia agradável para Leon, um de seus convidados de honra. Até quando ela conseguirá resistir às investidas dele sem se apaixonar? 316 – A ÚLTIMA APOSTA – TRISH MOREY Marina ama e odeia Bahir. Agora que ele descobriu que a paixão havia deixado algo mais do que lembranças, irá apostar alto para ter Marina de volta! 317 – SEDUZIDA PELO SHEIK – SHARON KENDRICK O poderoso sheik Haidar sofre um acidente e passa a depender de Isobel, sua assistente. Agora, a única maneira de aplacar sua fúria contra o destino é tê-la sempre em sua cama! 318 – SEGREDO SOMBRIO – KATE HEWITT Grace chega à ilha particular de Khalis para conhecer a coleção de arte de sua família. Porém, ela esconde um segredo que pode ameaçar os planos dele. 319 – ENTREGA DO CORAÇÃO – MELANIE MILBURNE Natalie é obrigada a aceitar o segundo pedido de casamento de Angelo para salvar sua família, Porém, desta vez ele a pedira em casamento não por amor, mas por vingança! 320 – MARIDO DESCONHECIDO – KATE HEWITT Rejeitada em sua noite de núpcias, Noelle esconde sua dor levando uma vida glamourosa. Quando Ammar retorna, ele não aceita ser repelido por ela. Pois agora Noelle conhecerá de verdade seu marido! 067 – QUEBRANDO O CÓDIGO DA SEDUÇÃO – KELLY HUNTER Poppy West buscou refúgio em uma ilha, porém se deparou com muitos problemas ao encontrar Sebastien, um homem sexy e muito sedutor! Últimos lançamentos: 310 – JOGO PERIGOSO – SHARON KENDRICK O magnata Zac Constantinides havia feito um julgamento precipitado de Emma, sua decoradora. Agora ela iria se vingar dele fazendo provar de seu próprio veneno. 311 – JOIA DA COROA – LYNNE GRAHAM O sangue azul de Ruby fora descoberto, e agora ela teria de se casar com o sheik Raja al-Somari se quisesse garantir a paz de seus reinos.


312 – BELEZA IMPURA – SHARON KENDRICK Ciro D’Angelo queria uma esposa pura como a neve. Ao conhecer Lily Scot, tinha certeza de que ela era a mulher ideal! Porém surpresas surgem na noite de núpcias… 066 – FATOR DE ATRAÇÃO – ANNE OLIVER Melanie e Luke viviam um amor proibido. Ele vinha de uma família rica, e ela era uma garçonete. O que Luke fará ao saber que Melanie vinha escondendo um segredo dele há algum tempo?


CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

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Green, Abby Noites com o inimigo [recurso eletrônico] / Abby Green; tradução Maria Vianna. — Rio de Janeiro: Harlequin, 2013. Recurso digital (Paixão; 313) Tradução de: One night with the enemy Formato: ePub Requisitos do sistema: Adobe Digital Editions Modo de acesso: World Wide Web ISBN 978-85-398-0680-5 (recurso eletrônico) 1. Romance irlandês. 2. Livros eletrônicos. I. Vianna, Maria. II. Título. III. Série.

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CDD: 828.99153 CDU: 821.111(415)-3

PUBLICADO SOB ACORDO COM HARLEQUIN ENTERPRISES II B.V./S.à.r.l. Todos os direitos reservados. Proibidos a reprodução, o armazenamento ou a transmissão, no todo ou em parte. Todos os personagens desta obra são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas é mera coincidência. Título original: ONE NIGHT WITH THE ENEMY Copyright © Abby Green 2012 Originalmente publicado em 2012 por Mills & Boon Modern Romance Projeto gráfico de capa: nucleo i designers associados Arte-final de capa: Isabelle Paiva Editoração Eletrônica da versão digital: Ranna Studio Editora HR Ltda. Rua Argentina, 171, 4º andar São Cristóvão, Rio de Janeiro, RJ — 20921-380 Contato: virginia.rivera@harlequinbooks.com.br


Capa Teaser Querida leitora Rosto Capítulo um Capítulo dois Capítulo três Capítulo quatro Capítulo cinco Capítulo seis Capítulo sete Capítulo oito Capítulo nove Capítulo dez Próximos lançamentos Créditos



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