Sabrina 1238 - SEMPRE SONHEI COM VOCÊ JESSICA HART
Digitalização: Joyce Revisão e Formatação: Cynthia M. Era maravilhoso simplesmente estar perto dele... Ellie Walker sempre fora apaixonada por Jack Henderson, desde os tempos de criança. Sabendo que ele nunca retribuiria seu amor, ela viajara tentando esquecê-lo. Agora, anos mais tarde, Ellie estava de volta, e talvez, finalmente, tivesse uma oportunidade de realizar seu sonho. Depois de um romance que terminara tragicamente, Jack precisava de uma esposa, de alguém que o ajudasse a cuidar de sua filhinha. O casamento com que Ellie tanto sonhara poderia acontecer. Mas será que algum dia ela significaria mais do que uma noiva de conveniência para Jack?
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Sempre Sonhei com Você Outback Brides - Jessica Hart
- Sabrina nº 1238 -
Jessica Hart
1 - Outback Bride 2 - Outback Husband 3 - Baby at Bushman's Creek – Julia 1207- Corações divididos [E-book] 4 - Wedding at Waverley Creek – Sabrina 1238- Sempre sonhei com você[E-book] 5 - A Bride for Barra Creek – Julia 1225- Procura-se uma noiva [E-book]
CAPÍTULO I Ellie estacionou o seu jipe na sombra de uma I árvore perto da varanda da casa. Estava cansada depois da longa viagem e parou por um momento junto à porta de entrada, olhando à sua volta. As lembranças voltaram. Estava em Bushman's Creek, o lar de Jack. A última vez que o vira fora há três anos, mas era como se o tivesse visto havia poucos minutos. Sua imagem continuava provocando nela as mesmas reações. Fechou os olhos um instante lembrando-se do sorriso de Jack, do brilho de seu olhar quando ria. Ellie suspirou. Tinha tentado esquecê-lo. Procurara se convencer que ele era simplesmente um velho amigo, alguém que a considerava uma espécie de irmãzinha querida, só isso. Havia se torturado a cada vez que se lembrava de cada uma das namoradas de Jack, todas bonitas, extremamente atraentes e tão diferentes dela. Tinha procurado ficar bem longe de Jack durante esses últimos três anos na esperança de que as lembranças fossem sumindo. Esforço inútil, se levasse em conta que a única coisa que ela queria era poder vê-lo de novo. Agora ela estava de volta. Ellie fez um esforço para colocar de lado a imagem de Jack e bateu na porta. Viera ali a pedido de sua mãe, que estava preocupada com Lizzie, sua irmã mais velha. Por que ela estaria morando em Bushman's Creek, a fazenda onde morava Jack e seu irmão Gray? Por que nunca havia dado uma explicação clara sobre isso? Olhando novamente à sua volta, não acreditava que estava voltando para a casa de Jack. Só aceitara porque sua mãe havia garantido que ele estaria em uma viagem aos Estados Unidos e não haveria nenhuma chance de reencontrá-lo. Mesmo assim, tinha de reconhecer que não precisava ver Jack para voltar a sentir as emoções fortes que a presença dele sempre lhe provocava. As lembranças já eram mais que suficientes. — Ellie! — Lizzy exclamou contente ao ver a irmã. — Nem pode imaginar como estou contente que você esteja aqui! — Eu também estava com muita saudade de você — disse abraçando carinhosamente a irmã. — Ando querendo conversar com alguém — confidenciou Lizzy. — Tenho ficado meio isolada e sem ninguém por perto para contar as novidades. — Lizzy, o que você está fazendo nesta casa? — Ellie perguntou, aproveitando a acolhida entusiasmada da irmã. — Mamãe contou-me que você desmanchou o seu noivado e se mudou para a casa de Gray. Afinal, o que está acontecendo? — Oh! Mamãe está se preocupando à toa. É verdade que terminei o meu noivado, mas não vim morar com Gray. Estou apenas dando uma ajuda por aqui, até que Clare volte. — Clare? Quem é Clare? — A esposa de Gray. Não me diga que mamãe não lhe contou sobre o casamento! — Estou completamente confusa! Projeto Revisoras
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Sempre Sonhei com Você - Sabrina nº 1238 Jessica Hart — Venha, eu explico tudo enquanto tomamos um chá. Caminharam para a cozinha e sentaram-se à mesa. Embora Ellie tentasse evitar, as recordações estavam cada vez mais fortes. — Tudo é bastante simples — continuou Lizzy, enquanto levava o bule de água quente para a mesa e servia o chá. — Gray se casou com uma moça inglesa chamada Clare há uns dois meses. Eu gostaria que você estivesse por aqui e pudesse ter assistido ao casamento. Foi uma beleza. Lizzy suspirou nostalgicamente antes de continuar contando, o que acontecera. — Eles estão agora em lua-de-mel na Inglaterra. Como eu estava sem fazer nada quis ajudá-los — explicou. — Mas vou voltar para casa tão logo eles retornem e assim você pode dizer pura a mamãe deixar de se preocupar comigo. — Gray não está por aqui? — Ellie perguntou surpresa. — Quer dizer que você está sozinha nesta casa enorme? — Ah, não — Lizzy respondeu. — Jack está aqui comigo. Ellie sentiu seu coração disparar só em ouvir o nome de Jack e colocou a xícara de chá na mesa, para evitar que sua mão trêmula a deixasse cair. — Jack? — Ela estava consciente de que sua voz soara estridente demais. Por que ficava tão perturbada fisicamente só em pensar nele? — Mamãe me disse que ele estava viajando... — E estava. Esteve nos Estados Unidos e na América do Sul por uns tempos, mas voltou há um mês mais ou menos. Estou surpresa de que mamãe não saiba disso. Ellie não respondeu, limitou-se a ficar olhando para a janela. Não via a paisagem lá fora, apenas o rosto de Jack parecia ocupar todo o espaço. Jack estava por perto e talvez ela o visse. — Como ele está? — perguntou, tentando disfarçar as emoções que sentia. — Bem... — Lizzy pareceu hesitar, como se estivesse para dizer alguma coisa a mais. — Você vai poder descobrir isso por si mesma — Lizzy disse. — É ele quem está entrando agora na varanda. Houve apenas o tempo de Ellie se levantar para ver a porta ser aberta e Jack entrar na cozinha. — Lizzy, você... — Jack parou a frase, quando percebeu que ela não estava sozinha. Ellie sempre rezava para que a magia que sentia quando estava ao lado de Jack desaparecesse, mas suas esperanças haviam sido inúteis. Ele estava à sua frente. O mesmo corpo, os mesmos cabelos loiros, os olhos escuros. Nada mudara. Jack estava do mesmo jeito que ela se lembrava, mas parecia tê-la esquecido, porque a olhava como se estivesse procurando reconhecer a moça que estava na cozinha de sua casa. — Oi, Jack, tudo bem? — Ellie tentou parecer bem à vontade. Sempre disfarçara o que sentia por ele e até agora tinha se saído bem. Afinal, ninguém descobrira que sempre estivera apaixonada por Jack. Como não percebiam a reação que ele provocava nela apenas por ficar ao seu lado? Era estranho que não ouvissem as batidas de seu coração que parecia prestes a explodir. — Ellie! — Jack disse finalmente. — Não estava reconhecendo você! Também, você cresceu! — Abraçou-a satisfeito por encontrar a amiguinha dos velhos tempos. Ela já tinha crescido há bastante tempo atrás, apenas Jack não tinha ainda percebido. — É muito bom ver você de novo, Ellie — ele continuou batendo amigavelmente em seu ombro. — Faz anos que não a vejo. — Três anos e meio — Ellie falou sem pensar, depois se arrependeu, pois tanta precisão fazia parecer que ela andara contando os minutos que passara longe dele. — Algo em torno disso — acrescentou apressada, e sentou-se em uma cadeira prevendo o pior. — O que andou fazendo nesse tempo todo? — Jack perguntou, enquanto colocava o chapéu sobre a mesa. Projeto Revisoras
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Sempre Sonhei com Você - Sabrina nº 1238 Jessica Hart — Andei por aí, viajando, trabalhando... — Ellie não podia confessar que passara o tempo amando-o e tentando, ao mesmo tempo, esquecê-lo. Um pouco inquieta, percebeu que Jack parecia cansado. Perdera aquela energia vibrante que possuía antes. Devia ter acontecido alguma coisa grave. Sentiu, de repente, uma inesperada vontade de chorar porque por mais que ele disfarçasse havia uma tristeza muito grande nos seus olhos. — Onde você esteve? — Jack perguntou, forçando um sorriso. — Viajei pelos Estados Unidos. Fui babá por uns tempos, depois arranjei emprego em um rancho, no Wyoming. Adorei trabalhar lá. — Não sei porque você não pode simplesmente ficar em casa — Lizzy reclamou, olhando a irmã mais nova com afeição e um leve ar de censura. — Não acredito que passou três anos nos Estados Unidos e não foi nenhuma vez para Nova York. — Não gosto de cidades grandes — Ellie confessou na defensiva. — Não sou como você, Lizzy. Sou uma garota do campo. — E não há nada de errado nisso — Jack afirmou, sorrindo e observando as duas irmãs. Era difícil acreditar que elas eram irmãs. Lizzy tinha cabelos bem loiros, olhos azuis e era extrovertida, ao contrário de Ellie, sempre muito quieta e meio tímida. Também se vestiam de forma diferente, apesar de as duas usarem jeans. A de Lizzy, porém, tinha um corte elegante enquanto a de Ellie era a típica calça usada nos ranchos. — Lizzy estava me contando que Gray se casou. — Procurou mudar de assunto, porque tinha percebido que Jack a estava comparando com Lizzy. — Lamento ter perdido a cerimônia. — Também sinto não ter estado aqui — Jack confessou. — Você não esteve no casamento de Gray? Ele apenas negou com um gesto de cabeça. — Por quê? O que você estava fazendo longe de Bushman's Creek? Jack deu uma olhada rápida para Lizzy e, quando ia responder, um choro de criança chamou a atenção deles três. — Vocês escutaram isso? — Ellie perguntou curiosa. — Pareceu ser choro de bebê! — E é isso mesmo — Lizzy respondeu, apontando para um aparelhinho que estava sobre a mesa, de onde saía o som. — É Alice. — Você tem um bebê? — Ellie perguntou arregalando os olhos. — Não se preocupe que o bebê não é meu — Lizzy riu. — Apesar de que eu bem que queria que fosse. Alice é uma graça. — E de onde veio o bebê? Com certeza não é de Gray, é? Ellie olhava para Lizzy e não estava preparada para nenhuma surpresa. — Ela é minha — Jack disse. Não podia ser verdade! Com certeza, Jack estava brincando. Procurando esconder a sua surpresa, Ellie ficou à espera que ele risse e confessasse estar brincando com ela. O bebê que estava chorando não podia ser de Jack, porque isso significava que ele encontrara alguém, havia se apaixonado e se fixado com uma garota só. Jack teria mudado tanto assim e deixado de ser o namorador que sempre fora e assumido o papel de marido e pai? — Foi uma surpresa também para mim — Jack comentou. Então era verdade. Ellie escutava agora o que sempre temera ouvir. Apesar de saber que Jack nunca se apaixonaria por ela, preferia vê-lo envolvido em namoros inconstantes, nunca assumindo compromissos sérios como devia estar acontecendo. Passara tantas noites sonhando com a possibilidade de ele vir um dia a descobrir que a amava também... Perdera muito tempo com isso. Fora tola a ponto de imaginar que Jack nunca se apaixonaria por alguém que não fosse ela. — Não sabia que você tinha se casado também — conseguiu falar finalmente. — Não me casei. — Havia tristeza na expressão de Jack. Projeto Revisoras
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Sempre Sonhei com Você - Sabrina nº 1238 Jessica Hart — Mas... — Ellie estava bastante confusa. — Quer que eu explique tudo para ela? — Lizzy perguntou, colocando a mão no ombro de Jack. — Não, deixe que eu mesmo conto — Jack exclamou sorrindo. — Vou ter de me acostumar a contar essa história para muita gente, porque vão estranhar em me ver, de repente, com um bebê no colo. Jack suspirou fundo e olhou diretamente para Ellie pronto a contar a sua história. — Veja, Ellie. Pippa, a mãe do bebê, veio para Bushman's Creek como cozinheira, mais ou menos dois anos atrás. Era inglesa, estava passeando pela Austrália, e bastou nos conhecermos para descobrirmos que havíamos sido feitos um para o outro. Eu, pelo menos, apaixonei-me por ela no instante em que a vi. Ele se deteve um momento, perturbado com as lembranças. — Ela era do tipo que ilumina o lugar onde entra — ele completou. Ellie gostaria de poder gritar que ele também era exatamente assim aos olhos dela. — Nunca havia me sentido daquele jeito, antes — Jack continuou. — De repente, descobri que estava apaixonado e que Pippa me amava também. Vivemos juntos três meses maravilhosos e então... — Então o quê? — Ellie não conseguiu deixar de perguntar. — Então estragamos tudo. — Jack sorriu com tristeza. — Tivemos uma briga estúpida sobre bobagens e a situação fugiu de controle. Antes que pudéssemos parar para pensar melhor, Pippa já tinha arrumado as malas e voltado para a Inglaterra, dizendo que nunca mais queria me ver. Ellie percebeu que ele a fitava, mas parecia estar vendo à sua frente a mulher que amara e perdera. — Devia ter impedido que ela embarcasse naquele avião, mas, além de ser teimoso, eu estava tão bravo que a deixei partir — explicou com amargura. — Cheguei a pensar que Pippa era geniosa demais e que era melhor esquecê-la. Jack sacudiu a cabeça como que se censurando por ter pensado tal coisa. — O problema — ele prosseguiu — é que não consegui deixar de pensar nela. Sentia sua falta, apesar de fingir que nada disso acontecia. Esforcei-me para esquecê-la, mas nada funcionou. Tudo que eu olhava me fazia lembrar dela... Depois de algum tempo, decidi que me faria bem viajar, ir para longe. Passei uns tempos nos Estados Unidos e viajei pela América do Sul. Pensei que em nenhum desses lugares faria associações com Pippa, mas não importava onde estivesse, sempre me lembrava dela. No fim, desisti. Ellie queria poder confessar que agira do mesmo jeito tentando esquecer Jack. Entendia muito bem o que ele sentira. Também viajara para longe e terminara concluindo que Jack continuava sendo o único homem que ela amaria na vida. — Tomei um avião para Londres — Jack disse com voz trêmula, como se estivesse entrando na parte mais triste da história. — Sabia que poderia descobrir o endereço de Pippa através da irmã dela. Treinei bastante o que ia dizer e, claro, era uma confissão de amor. Pretendia declarar o meu amor. Ia implorar que ela se casasse comigo e voltasse para Bushman's Creek... Ellie escutava como se estivesse em transe. Cada palavra feria seu coração como se fosse uma faca. Queria poder fechar os olhos e tampar os ouvidos, mas não podia deixar de olhar a expressão angustiada de Jack. — Cheguei muito tarde. — A voz dele soava sem emoção. — Quando cheguei ao apartamento de Clare, a irmã de Pippa, não havia mais ninguém lá. Uma vizinha me contou que Pippa havia morrido ao dar à luz o bebê e que Clare havia viajado, tinha ido levar o bebê para o pai, que morava na Austrália. Ela estava vindo me procurar... — Oh! Jack... — Ellie murmurou, sem saber o que falar. Parara de pensar no seu próprio sofrimento, para lamentar o que Jack passara. Estava com pena dele e de Pippa. — Essa foi a primeira vez que escutei falarem de Alice. A princípio, tive dificuldade em aceitar a realidade. Tudo o que sabia é que Pippa morrera e que eu não chegara a tempo Projeto Revisoras
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Sempre Sonhei com Você - Sabrina nº 1238 Jessica Hart de confessar o meu amor. — Antes de morrer, ela pediu que Clare trouxesse Alice para a Austrália para que pudesse crescer ao lado do pai — Lizzie aparteou, vendo que Jack não conseguiria terminar a sua história. Ellie escutava, mas sua atenção estava focalizada apenas em Jack. Viu que ele sofria muito e desejou poder confortá-lo, mas sabia que nada do que dissesse iria ajudá-lo naquele momento. — Clare cumpriu sua promessa — Lizzie continuou —, mas quando chegou aqui, Jack estava na Inglaterra. Então decidiu ficar cuidando da sobrinha e Gray convidou-a a esperar por Jack em Buchman's Creek. — Agora estou de volta! — Jack exclamou. — O bom de tudo é que Clare e Gray se apaixonaram e resolveram se casar. Agora, sou eu que vou cuidar de minha filha. — E você aprendeu bem depressa a trocar fraldas — Lizzie falou procurando animá-lo. — E falando em trocar fraldas... — Ela apontou para a babá eletrônica por onde se podia ouvir um choro mais forte agora. — Ainda preciso melhorar muito — Jack respondeu. — Você quer conhecer a minha filha, Ellie? Sem nem saber se respondera ou não, Ellie seguiu Jack pelo corredor, não sentindo muita segurança em suas pernas. Jack abriu a porta e ela pôde ver um bebê com cabelinhos loiros e olhos castanhos bem parecidos com os do pai. Havia se descoberto e chorava bem alto. — Papa! — Alice reconhecera o pai. Jack pegou-a no colo e a levantou bem alto no ar, fazendo-a rir. Depois beijou Alice com tanto carinho que Ellie ficou emocionada. Não havia dúvida onde estava seu coração. — Esta é Alice — falou com orgulho. — Acho melhor trocá-la, antes de fazer as apresentações. Ellie sentou-se em um banquinho e ficou observando Jack lidar com o bebê. Ele procurava fazer tudo com muito cuidado e ternura, mas se atrapalhava um pouco. Tirou a fralda suja e ficou sem saber onde colocá-la. Ellie decidiu ajudar. Afinal, amigos eram para essas coisas. Pegou a fralda suja e colocou-a no lixo, arrumando logo uma limpa e entregando-a a Jack que a olhou agradecido. — Você faz tudo parecer bem fácil — ele exclamou admirado. — Tenho anos de prática nisso. Não se esqueça que trabalhei muito tempo como babá, lá nos Estados Unidos. Cheguei a até trocar fraldas em meus sonhos. — Também ando sonhando isso — Jack admitiu rindo. — Só que nem em meus sonhos faço a coisa direito... O bebê se agitava e Jack não conseguia fechar a fralda. — Nunca pensei que cuidar de um bebê fosse tão exaustivo — ele resmungou, tentando colocar Alice na posição certa. — A única coisa que sabia é que os bebês tomam mamadeira e dormem a maior parte do tempo... Depois da chegada deste anjo aprendi muita coisa. — Riu, porque Alice se soltara novamente da fralda e tocava o rosto do pai com seus dedinhos. — Nunca estive tão cansado antes. Lizzie tem me ajudado muito. — Bem, parece que você anda aprendendo depressa — Ellie falou gentilmente. — Nunca imaginei que veria você trocar fraldas! — É, nem eu — Jack concordou. — Se tivesse me perguntado há dois meses se queria ter filhos, eu com certeza teria dito que não. Mas, no momento em que Clare colocou Alice em meus braços, senti que tudo estava absolutamente certo. Ele acariciou os cabelos macios da filha com tanta ternura que Ellie sentiu vontade de chorar. — Mesmo assim fico meio assustado. Nunca tive tanta responsabilidade antes. Ela é Projeto Revisoras
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Sempre Sonhei com Você - Sabrina nº 1238 Jessica Hart pequenina e depende de mim. Fico apavorado quando penso que não vou saber tomar conta dela direito. — É claro que vai se sair muito bem como pai — Ellie retrucou com firmeza. — Olhe só para ela! Está absolutamente feliz! Naquele.momento, Alice virou-se para ela e sorriu. — Você quer pegá-la no colo? — Jack perguntou. — Adoraria. Alice era um bebê fofinho. Ellie encostou-a em seu peito com carinho. — Adoro bebês — confessou. — Que idade ela tem? — Dez meses. Pena que perdi todo esse tempo longe dela. — Agora você desconta, Jack. Tem o resto da vida para fazer isso. Veja como ela está feliz, sadia e em segurança. — Bem, em grande parte está assim tão bem porque Clare soube cuidar dela — Jack reconheceu. Fico com medo de não me sair tão bem quanto ela. Lizzy também tem sido fantástica, mas não posso lhe pedir que fique eternamente por aqui cuidando de minha filha. Ela tem outros planos, inclusive o de montar um negócio próprio. Deve estar querendo voltar para Perth. — Tenho certeza de que ela pode ficar até que Clare volte. Afinal, a lua-de-mel não pode durar muito tempo, não é? — Eu sei, mas também não acho que seja justo jogar a responsabilidade sobre Clare. Ela já fez tanto por Alice que agora tem o direito de se dedicar à sua nova vida de casada sem ter de cuidar também de um bebê. Tenho pensado em começar uma vida nova com Alice em algum outro lugar. — Está pensando em comprar alguma propriedade? — Ellie perguntou enquanto encostava o queixo sobre a cabecinha de Alice. — Pensei em dar uma olhada na fazenda de Len Murray, lembra-se dele? Len morreu dois meses atrás e parece que a filha quer vender a fazenda. Dividiu as terras em lotes e vai vendê-las separadamente. Estou interessado em Waverley, que parece ser um lote de bom tamanho. Pode ser o que ando procurando... — Mas Jack, Len Murray vivia como um recluso — Ellie protestou. — Lembro-me de que meu pai chegou a comentar, que Murray deixou a propriedade cair aos pedaços. E isso foi há uns cinco anos. Agora, tudo deve estar ainda mais destruído. — Mesmo assim, quero dar uma olhada — Jack disse com teimosia. — Dá para se chegar a Waverley Creek em meia hora, se for de avião. Acho essa distância perfeita, porque não quero que Alice cresça longe da tia. Vou visitar a fazenda n manhã. Ellie percebeu que nada o faria mudar de idéia e não fez qualquer comentário. — Por que você não vem comigo? — Jack perguntou de repente. — Eu? — Você é a pessoa certa para avaliar a fazenda! — Jack exclamou entusiasmado. — Sempre adorou ficar consertando cercas e laçando bois enquanto Lizzy ficava pintando as unhas e sonhando com bailes. — Bem, mas parece que a experiência de Lizzy é bem mais útil do que a minha quando se está procurando um emprego — Ellie observou com certa amargura. — Não concordo com isso — Jack falou com sinceridade. Adoro Lizzy, mas nunca pensaria em levá-la junto para visitar uma fazenda. Você sabe o que deve ser observado e pode me dar sua opinião se acha interessante ou não eu comprar aquela fazenda. Ellie continuava hesitando, mas Jack parecia convencido de que precisava dela. — Venha comigo — ele praticamente implorou. — Assim, pode me impedir de fazer uma bobagem! Não era fácil olhar para aquele sorriso e negar o seu pedido. Claro que o melhor seria inventar uma desculpa e não se arriscar a passar um dia inteiro com Jack. Afinal, ia ser uma verdadeira tortura, tê-lo assim tão perto. Por outro lado, como conseguiria resistir à idéia de passar um dia ao lado do homem que sempre amara? Projeto Revisoras
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Sempre Sonhei com Você - Sabrina nº 1238 Jessica Hart — Vamos, você vai se divertir — Jack insistiu. — Está bem — disse sucumbindo à tentação. — Vou adorar ir com você conhecer a fazenda. Amanhã chegarei aqui bem cedinho. CAPÍTULO II Bem, o que você acha? Ellie hesitou. Havia várias cadeiras na varanda da fazenda Waverley, mas como tudo na propriedade, também estavam velhas e tanto ela como Jack tinham preferido se sentar nos degraus. Haviam acabado de visitar a casa principal que precisava; de uma reforma urgente e também já haviam notado que várias cercas estavam quebradas. — Seria um desafio colocar essa fazenda funcionando novamente — Ellie respondeu. — Devo ser maluco já que estou pensando em comprá-la, não é? — Jack comentou, bem-humorado. — Na verdade, não. — Ellie olhou em redor mais uma vez. — Deve ter sido uma fazenda excelente e pode voltar à velha forma, mas o trabalho de reforma vai ser longo e desgastante. — Isso não me assusta, acho que pode ser bom para mim. Afinal, não sobra tempo para se pensar quando se tem muito trabalho pela frente. — Pode ser que isso funcione — Ellie concordou. Jack a olhou com curiosidade. Sabia que Ellie falava sério e compreendia o momento difícil pelo qual ele passava. Fora uma boa idéia tê-la trazido. Sempre gostara de Ellie. Haviam crescido juntos, mas ela era a caçula do grupo e seus irmãos reclamavam que tinham que tomar conta de uma criança tão pequena e que não podia acompanhá-los em suas brincadeiras. Jack a considerava uma espécie de irmãzinha. Agora, observando-a já moça, sentia curiosidade em saber o motivo que levara Ellie a se dedicar só ao trabalho. De repente, tomou consciência de que sabia muito pouco sobre ela, especialmente porque Ellie mais escutava do que falava. Desde criança fora assim. — Desculpe-me. — Jack interrompeu os pensamentos, porque Ellie acabara de lhe fazer uma pergunta. — Estava distraído. O que você disse? — Só perguntei o que você estava achando da fazenda Waverley. — Gostaria de conhecê-la melhor — Jack disse em um impulso. — Vamos explorá-la? Vi algumas selas em um dos barracões e aqueles cavalos ali parecem estar precisando dar umas voltas. O que acha da idéia? — Podemos pegar os cavalos sem pedir permissão? Não estou vendo ninguém por perto agora... — Acredito que ninguém vai se importar — Jack comentou. Virou-se para o pasto e assobiou alegremente para os cavalos. — Mesmo assim, devíamos pedir permissão antes de pegar os cavalos. — Se nos deixaram sozinhos para ver a fazenda, é porque confiam em nós, não acha? E não estamos levando os cavalos embora, só dando um passeio. Assobiou novamente e os cavalos o olharam com curiosidade aproximando-se da cerca. — Se eu fosse o proprietário da fazenda, ia ficar feliz que alguém estivesse seriamente interessado em comprar essa propriedade que está praticamente caindo aos pedaços. — Jack acrescentou. — Além do mais, vão nos agradecer por estarmos exercitando os cavalos. Ellie continuava indecisa, mas terminou concordando com o passeio, porque Jack sempre conseguia o que queria. Riu ao lembrar-se de que ele sempre fora teimoso, desde os tempos de criança. Os cavalos não pareceram ficar muito satisfeitos quando Jack foi colocar as selas, mas Projeto Revisoras
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Sempre Sonhei com Você - Sabrina nº 1238 Jessica Hart depois de alguma resistência e vários pulos, terminaram se acalmando e aceitando as montarias. Jack e Ellie escolheram um caminho entre as árvores que margeavam a enseada. Durante a estação das chuvas, aquela era uma área que deveria ficar inundada, mas como não chovia havia meses, apenas se viam algumas lagoas. O dia estava bastante quente, mas a área era sombreada e apenas poucos raios de sol venciam a barreira das árvores. Ellie cavalgava consciente de que Jack estava ao seu lado. Ele também cavalgava com facilidade e segurava as rédeas com apenas uma das mãos... Jack desde garoto adorava festas, mas isso não significava que não soubesse administrar uma fazenda de gado. O lugar era realmente lindo. Bandos de passarinhos pareciam protestar contra os invasores de seu recanto e, depois de revoadas, pousaram nos galhos mais altos e ficaram observando os intrusos. Contente em deixar Jack observar com mais atenção os campos onde poderia fazer as futuras plantações, Ellie entregou-se ao prazer de estar ao lado do homem a quem sempre amara. Na noite anterior, deitada na cama onde dormira desde criança, ficara tentando se convencer de que deveria esquecer Jack de vez e parar de sonhar. Ele estava sofrendo por causa de Pippa e agora tinha que se ajustar ao papel de pai. Não estava pronto para amar novamente e talvez nunca deixasse de lamentar a perda da mãe de sua filhinha. Saber de tudo isso não significava que conseguiria parar de amá-lo, mas, pelo menos, pararia de sonhar com ele agora que sabia que sempre seriam apenas amigos. Naquele momento, enquanto cavalgava na tranqüilidade daquele lugar tão agradável, a amizade bastava para ela. Era como se tivesse acordado de um longo sono e renascera para uma nova vida. Podia sentir a fragrância de eucalipto no ar, misturado com o cheiro de areia molhada e o couro das rédeas. Ouvia o trotar dos cavalos, o canto dos pássaros e os barulhos típicos da floresta. Estava alerta e mais viva do que nos últimos três anos. Sabia que não estava sonhando, somente porque podia ver Jack à sua frente, abrindo o caminho. — Você parece feliz — Jack disse, voltando-se para ela. — Estou feliz em ter voltado para casa novamente — ela respondeu, temerosa que a expressão de seus olhos a traísse e Jack percebesse que ela estava assim por estar ao seu lado. — Senti muita falta desse lugar quando estive longe. Algumas vezes, fechava os olhos e desejava estar em casa, em algum lugar como este aqui, mas sempre que abria os olhos de novo, descobria que fora apenas um truque de minha imaginação e sentia vontade de chorar. Ellie parou de falar, com medo de ter falado demais. Jack a olhava atentamente, franzindo as sobrancelhas. — Se sentia tanta falta assim, por que não voltou antes? — perguntou. — Achei que teria de arranjar um emprego na cidade mas prefiro muito mais trabalhar em uma fazenda. Sonhava apenas cm estar por aqui. — Ellie explicou, sem dizer em voz alta o que realmente sentia. Nos seus sonhos, Jack sempre estava junto dela. — Você podia ficar trabalhando na fazenda de sua família. — Acontecem que mamãe e papai passaram a direção da fazenda para meu irmão Kevin e sua mulher Sue. Não sobraram muitos quartos vazios na casa... e também não quero dar palpite no trabalho de Kevin. Por isso, prefiro apenas visitá-los. Nunca sequer me passou pela cabeça a idéia de voltar a morar lá... Aquela não é mais a minha casa. — Então, o que você pretende fazer? — Jack estava interessado de fato em saber do futuro de Ellie. — Ainda não sei bem — Ellie resmungou. — Quem sabe procuro um emprego por aqui, mas Mathison não é exatamente o centro das oportunidades. Seria bom se eu soubesse pilotar um helicóptero, mas não sei. Talvez tente arranjar um trabalho como Projeto Revisoras
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Sempre Sonhei com Você - Sabrina nº 1238 Jessica Hart ajudante de fazenda, sei lá... — Não me parece justo — Jack reclamou. — Tem certeza de que você e Kevin não podem administrar a fazenda juntos? — Não desde que ele se casou com Sue. Gosto de minha cunhada e ela sempre me recebe de braços abertos. Mesmo assim, agora a fazenda é dela e de Kevin e não acredito que queiram alguém dando opinião no trabalho deles. — Continuo achando que não é justo você ter de ficar de fora — Jack insistiu. — Assim é a vida, Jack. Acredito que meus pais passaram a fazenda para Kevin, porque acharam que tanto Lizzy quanto eu iríamos nos casar e arranjaríamos nossas próprias fazendas. — Talvez isso ainda aconteça. — Jack ficou pensando nos fazendeiros que havia por ali e que poderiam querer se casar com Ellie. Havia alguns, mas nenhum merecedor de sua velha amiga. — Quem sabe... — Ellie manteve os olhos baixos e deu um leve sorriso. Passaram a cavalgar sem dizer mais nada por um bom tempo até chegarem perto de uma lagoa que se formara entre rochas e árvores. — Vamos parar por aqui — Jack sugeriu. Ele amarrou os cavalos em uma árvore e Ellie escolheu uma pedra grande e lisa para se sentar. Tirou o chapéu e passou os dedos por seus cabelos castanhos soltando-os. Olhou em volta como se quisesse se certificar de que não estava sonhando. O lugar parecia mágico e ela tinha Jack bem pertinho dela. — Posso ensinar Alice a nadar naquelas águas tranqüilas — Jack falou pensativo. — Costumávamos nadar o tempo todo em uma lagoa parecida, quando éramos crianças. Você se lembra? — Adorava nadar em Bushman's Creek. — Ellie suspirou nostálgica. — Tivemos momentos ótimos naqueles tempos, não é? Quero que Alice cresça com esse tipo de lembranças que nós dois temos — Jack disse seriamente. — Ela terá, Jack. — E se crescer se sentindo solitária? — Havia preocupação nos olhos de Jack e ele veio se sentar ao lado de Ellie. — Você tinha Lizzy e Kevin para brincar junto e eu tinha Gray, mas Alice não vai ter ninguém para brincar com ela. Ellie sentia a proximidade de Jack, sentado tão perto dela. Sabia também que não significava nada para ele esbarrar no ombro dela. Estava preocupado com o futuro da filha, só isso. — Waverley Creek pode dar muito trabalho, mas parece ser a fazenda certa para mim — ele disse finalmente. — Acredito também que será o lugar ideal para Alice. — O lugar certo para Alice é onde você estiver, Jack. — Mesmo que ela cresça sem irmãos? — Você pode encontrar alguém e querer ter outros filhos — Ellie murmurou, procurando não fitá-lo. — Não quero conhecer ninguém. — A voz de Jack soou dura. — O que Pippa e eu tivemos foi especial. Como vou conseguir encontrar alguém que me faça sentir como quando estava com ela? — Talvez você se satisfaça com um tipo diferente de amor. — É fácil para você dizer isso! — Jack exclamou com ironia. — Você nunca esteve apaixonada. — Isso é o que você pensa. Jack olhou-a cheio de curiosidade. Percebeu que ela falara com amargura. Porém, era muito jovem para poder ter sofrido por amor. De repente, fez seus cálculos e percebeu que ela deveria estar com uns vinte e cinco anos. Não era mais a menininha que brincava com ele. Já tinha idade suficiente para ter passado por um desapontamento amoroso. Só que parecia um absurdo que Ellie estivesse apaixonada. Nunca a imaginara suspirando por alguém. Acostumara-se a vê-la Projeto Revisoras
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Sempre Sonhei com Você - Sabrina nº 1238 Jessica Hart sempre entretida com cavalos, trabalhando na fazenda, coisa mais de menino do que de uma garota. E ainda continuava desse jeito, sem a vaidade que as outras mulheres tinham. Naquela manhã, ele a encontrara esperando por ele, vestida com jeans de trabalho e uma blusa azul bem prática. Não estava com bolsa, não usava óculos de sol, não passara batom e nem se enfeitara. Jack achara isso ótimo. Era a velha Ellie, segurando um chapéu na mão e disposta a acompanhá-lo. Olhou-a com afeição, mas ela estava com o olhar vago, como se estivesse distraída ou pensando em alguém. Começou a vê-la de forma diferente. Será que sempre tivera aquela pele sedosa e o corpo delicado? Como não percebera antes que ela crescera e não se parecia mais com um garoto? — Não sabia disso — Jack disse suavemente. — E por que deveria saber? — Ellie continuava olhando para a lagoa sem encará-lo. — É alguém que você conheceu nos Estados Unidos? — ele não conseguiu deixar de perguntar. — Não — Ellie sussurrou bem baixinho. — Fui aos Estados Unidos para esquecê-lo. — E conseguiu? Ellie fitou-o e Jack percebeu pela primeira vez que os olhos dela eram de uma cor maravilhosa, algo entre o cinza e o verde. — Não — ela falou depois de um longo silêncio. — Tentei, mas não consegui. — Ele deve ser alguém muito especial. — Jack estava confuso com a idéia de que Ellie estava apaixonada. — Ele é especial. — Então voltou para casa para tentar ajeitar as coisas entre vocês dois? — Não há nada entre nós dois. — Ellie não sorria mais. — Ele nunca esteve apaixonado por mim e sei que nunca me amará. É só um sonho, mas eu aceito isso e nada me fará parar de amá-lo. Não voltei esperando por alguma mudança entre nós dois — confessou. Pensei que talvez eu pudesse ficar melhor morando perto dele. — Pobre Ellie. Você também precisa encontrar alguém diferente, não é? — É verdade. — Horrorizada, Ellie percebeu que seus olhos estavam começando a se encher de lágrimas. Jack a abraçou com carinho querendo confortá-la. — Você tem razão. Não é nada fácil — ela murmurou. — Pelo menos você entende como me sinto a respeito de Pippa. Não posso me imaginar amando alguém como a amei. Pode parecer bobagem, mas é como se tivesse encontrado a outra metade de mim e perdido-a em seguida. Não consigo me sentir inteiro sem Pippa. Ellie olhou-o disfarçadamente. Jack estava olhando para o chão com uma expressão dura. — Ninguém pode tomar o lugar de Pippa! — ele exclamou como que querendo deixar bem clara a sua situação, inclusive para ele mesmo. — E quem será a mulher que aceitará ser uma espécie de segunda escolha? Não posso pedir isso para ninguém. Ellie sentiu como se alguém a tivesse esfaqueado. Mesmo assim, entendia os sentimentos de Jack. Ela própria havia tentado se apaixonar por outros homens, mas não conseguira. Não importava se o rapaz fosse bonito, simpático e charmoso. Ninguém substituiria Jack em seu coração. — Entendo o que você sente — afirmou, triste. — Parece que estamos no mesmo barco... — Jack conseguiu sorrir. — Pelo menos você tem boas lembranças, enquanto eu tenho de me contentar com meus sonhos — Ellie falou com amargura. — E mais do que lembranças, você tem Alice. — Sim, tenho Alice. E por causa dela preciso esquecer minhas tristezas e pensar seriamente em encontrar alguém com quem possa me casar. Senão, a menina vai crescer Projeto Revisoras
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Sempre Sonhei com Você - Sabrina nº 1238 Jessica Hart com babás. Minha filha precisa de uma mãe, não de alguém que fique com ela apenas uns tempos e que irá embora quando se cansar ou achar um trabalho mais interessante. — Não precisa ser exatamente do jeito que você está pensando, não é, Jack? — Não, devo estar exagerando — ele concordou. — Mas você sabe como é difícil encontrar alguém, que seja de confiança, para acompanhar o crescimento e a educação de um filho. E onde vou encontrar quem prefira viver em uma fazenda isolada em vez de ficar na cidade? Jack perdeu-se em pensamentos. — De fato não posso comprar Waverley Creek. É uma fazenda boa, mas será melhor que Alice cresça em um lugar como Bushman's Creek. — Mas não é isso exatamente o que você iria preferir, não é? — Penso que será injusto com Gray e Clare. Eles acabaram . de se casar e vão ter de lidar com um bebê que não é deles. Minha única alternativa é encontrar uma esposa. Mas onde vou encontrar alguém que me aceite junto com meu bebê? O olhar de Ellie era um misto de dor e esperança. Deixou seus olhos passearem pelos cabelos loiros de Jack, pelos ombros largos e másculos e pelas pernas longas musculosas. Era maravilhoso estar ao seu lado. Quando estivera nos Estados Unidos, tinha sofrido por estar longe de Jack, mas a distância ainda lhe permitia ter sonhos impossíveis. Naquele momento, junto dele, ouvindo-o falar, teve a certeza de que Jack nunca a amaria do jeito que ela o amava. Sempre tivera medo de que ele encontrasse alguma moça e se apaixonasse. E agora isso tinha acontecido. Ela tinha que fazer alguma coisa. — Você pode estar diante da solução que procura — sugeriu num repente de coragem. — Não estou entendendo. — Você pode se casar comigo. — Ellie escutou-se dizendo. — Casar com você? — Jack olhou espantado para ela. Ellie teve vontade de dizer que estava brincando, tanta era a surpresa nos olhos de Jack. Mas não recuou. — Você quer alguém que viva permanentemente em Waverley Creek e o ajude a cuidar de Alice — ela explicou, tentando parecer que lidava com um negócio. — Eu estou querendo ficar permanentemente nesta área de fazendas. As condições aqui não me aborrecem e vou gostar de morar no campo. — Não posso me casar com você — Jack disse com ar de desconsolo. — Por que não? — Porque... — Ele agitou os braços, passou a mão nos cabelos, tentou encontrar as palavras certas. — Porque... — Porque não me ama? Eu sei disso. — O que estava tentando dizer é que você não me ama. — Então estamos no mesmo barco — Ellie repetiu o que Jack dissera momentos atrás. — Mas por que você iria se casar com um homem que não ama? — Quero ficar por aqui e esta seria a solução ideal. — É porque estaria perto do homem por quem está apaixonada? — Em parte — Ellie disse lentamente. — Por outro lado, não quero trabalhar na cidade e voltar aqui apenas em visitas. Quero um lar só meu, um lugar onde possa me fixar. Se me casar com você, posso ajudá-lo a reconstruir Waverley e transformá-la em uma ótima fazenda. Jack não parecia estar convencido de que essa seria a coisa certa a se fazer. — Pense bem, Jack — Ellie reforçou. — Um casamento por conveniência entre nós tem tudo para dar certo. Sei como você se sente a respeito de Pippa. Assim, não vai precisar fingir comigo e não vou esperar mais do que você possa me oferecer. — Ellie tentou sorrir. — Você terá alguém para cuidar de Alice em base permanente. — E o que você ganha com isso? — Jack indagou. Projeto Revisoras
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Sempre Sonhei com Você - Sabrina nº 1238 Jessica Hart — Segurança. Não tenho dinheiro, Jack. Não posso comprar uma fazenda e não tenho habilidades para me sair bem em qualquer outro tipo de trabalho. Só posso ficar aqui se encontrar um emprego, mas aí vou ter de depender de um patrão. Melhor será se puder me casar. Jack sentiu o absurdo da situação. Estava conversando calmamente sobre casamento com Ellie Walker. Sua amiga devia estar desesperadamente infeliz para pensar em se casar com um homem a quem sequer não amava. — Ellie, você é muito jovem para se ligar a um homem que é apenas seu amigo. Quem sabe encontra alguém... — Não vou, Jack — ela disse com firmeza. — Só existe um homem para mim e nunca haverá outro. — E você parece ter certeza de que ele não possa vir a amá-la — Jack falou com cuidado procurando não magoá-la. — E se ele perceber que a ama? — Isso não vai acontecer nunca. — Ellie suspirou. — Já perdi muito tempo sonhando com algo impossível e só agora caí na realidade. Ellie afastou os olhos de Jack, tentando não deixar transparecer seus sentimentos por ele. — Já aceitei que não vai acontecer aquilo que sempre desejei na vida... Também sei que nunca serei feliz estando muito longe dele. Pelo menos, se me casar com você, poderei... vê-lo. — Sua voz fraquejou naquele momento. — Quem é ele, Ellie? — Jack perguntou. — Não posso lhe contar. — E não acha que eu teria o direito de saber, se nos casássemos? — Não. Você teria que aceitar que saber o nome dele não faria a menor diferença. — Mas é alguém que você vai ver sempre, se morar por aqui? — Algumas vezes, sim — ela afirmou tentando parecer convincente. — Mas não será melhor deixar de vê-lo? — Eu estarei em meu lar, com minha família. Terei Alice e não precisarei partir novamente. Posso ficar em Waverley. — Não sei não, Ellie. Parece uma idéia meio louca. — Olhou para a água do lago, tentando imaginar-se casado com Ellie. Parecia absurdo, mas a idéia começava a lhe parecer interessante. Um casamento iria resolver os seus problemas e mesmo que não tivesse pensado em Ellie como esposa, agora ela parecia a escolha perfeita. Era prática, sensível, confiável, gostava de trabalhar e nunca entrava em pânico, nem mesmo nas situações mais complicadas. Também cuidaria bem de Alice. Jack se lembrava bem de como ela o ajudara a trocar a fralda do bebê e como a tinha pegado no colo e acariciado. Ellie sabia lidar com bebês e também sabia como trabalhar em uma fazenda. Não era como Pippa, naturalmente, mas talvez a vida ao seu lado fosse até mais fácil. Ellie sabia perfeitamente como ele se sentia em relação a Pippa e assim ele não teria que fingir estar apaixonado, do jeito que teria que fazer com qualquer outra mulher. Com Ellie podia sempre dizer a verdade, dizer o que sentia e saber que o aceitava do jeito que ele era, sem fazer exigências. E o mais importante de tudo: era sua amiga. Ficou olhando a água do lago por um longo tempo aceitando cada vez mais a idéia de Ellie. Por outro lado, Ellie estava arrependida do que dissera. Temia que agora não pudessem ser mais amigos como antes. Que bobagem voltar à Austrália! Devia ter ficado nos Estados Unidos. — Esqueça o que eu disse — Ellie falou quebrando o silêncio. Estava certa de que Jack nunca aceitaria se casar com ela. Projeto Revisoras
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Sempre Sonhei com Você - Sabrina nº 1238 Jessica Hart — Pois estou achando que não é uma má idéia. — Verdade? Mas... — Mas temos que pensar melhor nisso. O casamento é um grande passo e não devemos nos apressar porque podemos nos arrepender depois. — E o que você está sugerindo? — A voz de Ellie soou calma, mas ela estava tremendo inteira. — Devemos arrumar a fazenda primeiro. Vou fazer uma oferta para comprar Waverley Creek, mas teremos que reformá-la e isso vai exigir muito trabalho por uns dois a três meses. Se você ficar morando com Kevin e Sue por uns tempos, poderá me ajudar. Jack hesitou por um momento, depois continuou a expor seu pensamento. — Pode parecer bobagem eu estar aqui falando que precisamos nos conhecer melhor. Mas essa será uma chance de nos acostumarmos com a idéia de que iremos nos casar. Também poderemos mudar de idéia e, se ainda não estivermos casados, será mais fácil a separação. O que você acha disso? — Parece certo — Ellie concordou, sem nem acreditar que Jack estava pensando seriamente em se casar com ela. Tentou aparentar tranqüilidade quando foi com Jack desamarrar os cavalos que os esperavam pacientemente. — Acho melhor não contarmos a ninguém o que conversamos hoje, Ellie. — Definitivamente não podemos contar nada para Lizzy — Ellie concordou rapidamente. Sua irmã não aceitaria nunca a idéia de que ela se casasse com um homem a quem não amasse e iria tentar fazê-la mudar de idéia. — O que você vai dizer a ela? — Que passamos um dia ótimo. E foi isso mesmo o que aconteceu. Jack ficou surpreso por constatar que se divertira ao lado de Ellie. O futuro lhe pareceu menos sombrio. Não estava mais tão deprimido como estivera ao sair de Bushman's Creek naquela manhã. Também não lhe assustava o destino de Alice. Agora estava decidido a comprar Waverley Creek e Ellie havia sugerido uma solução perfeita para o problema que o atormentara antes. Jack sentiu uma enorme gratidão por Ellie. Mesmo que a idéia de casamento não vingasse, pois ela podia mudar de idéia, mesmo assim, ele agora estava com pensamento positivo e, pela primeira vez depois que perdera Pippa, não se sentiu tão sozinho. Tudo por causa de Ellie. — Estou contente por você ter vindo comigo, Ellie. Ela sentiu a emoção quase sufocá-la, mas procurou manter a aparência de calma. — Também estou feliz por ter vindo, Jack. CAPÍTULO III Ponto! — Ellie afastou-se um pouco para admirar o resultado de seu trabalho. — Temos uma janela pronta aqui. O que você acha, Alice? — perguntou sorrindo para o bebê, que estava se divertindo batendo um pincel em uma lata de tinta vazia. Alice parou de brincar ao ouvir o seu nome e abriu um sorriso para Ellie exibindo os dois dentinhos. Era a criança mais sociável que conhecera, e adorava que conversassem com ela, respondendo em uma linguagem incompreensível e que todos tentavam interpretar. Naquele momento, o bebê bateu entusiasmado o pincel na lata como que aprovando a pintura. — Ela está querendo deixar bem claro que está achando linda a pintura da janela — Jack disse aproximando-se das duas. Jack encostou-se no batente da porta, secando as mãos em um pano velho antes de pegar a filha no colo e jogá-la para o ar, para delírio de Alice. Apesar de Ellie estar em contato direto com Jack nos últimos dois meses, trabalhando intensamente na reforma da fazenda, ainda estremecia cada vez que ele ficava perto dela. Projeto Revisoras
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Sempre Sonhei com Você - Sabrina nº 1238 Jessica Hart Agora, vendo Jack e Alice juntos, sentia-se feliz. Pai e filha se adoravam e Ellie não conseguia deixar de sentir uma pontinha de tristeza ao perceber que não havia dentro do coração de Jack lugar para ninguém mais além de sua filhinha. — O que Alice está dizendo agora? — Ellie perguntou sorrindo. — Está querendo saber porque você ainda está trabalhando — Jack respondeu, fingindo estar interpretando os gritinhos do bebê. — Quero terminar a janela — ela explicou, enquanto colocava o pincel em uma vasilha com solvente e procurava também um pano velho para limpar as mãos. — Como você está indo com o trabalho na cozinha? — Terminei. Venha ver como ficou. — Oh! Jack, ficou linda! — Ellie exclamou ao entrar na cozinha que meses antes estava imunda e úmida. Agora tudo estava limpo e cheirando à pintura, tendo se transformado em um cômodo claro e acolhedor. — Parece bem melhor, não é? — entusiasmou-se Jack. — Vamos comemorar com cerveja, está bem? — E, ato contínuo, passou a filha para os braços de Ellie. — Você fica com Alice, enquanto eu pego as cervejas. Ellie levou o bebê para a varanda. Jack jogara fora toda a mobília velha e trouxera duas cadeiras novas e uma pequena mesa, onde almoçavam e tomavam lanche quando terminavam o trabalho do dia. Não percebera o quanto estava cansada e precisando de um descanso. Sentou-se em uma das cadeiras e colocou Alice junto de seus brinquedos no chão de madeira que agora estava bem limpo. A cada dia que passava ficava mais envolvida com o bebê. Os últimos dois meses haviam sido mágicos. Ellie sentia-se feliz por estar de volta ao lugar onde nascera e crescera e por estar fazendo algo útil. O trabalho de reforma da fazenda era duro e exaustivo, mas era compensador ver a casa velha estar voltando a ser bonita como quando fora construída. E, claro, havia Jack. Ellie não se importava de trabalhar tanto se ao fim de cada dia podia sentar-se ao lado dele na varanda onde ficavam conversando tranqüilamente. Eles eram amigos, mais amigos do que haviam sido antes, mas nada mais do que isso. Kevin e Sue andavam estranhando o tempo que eles passavam juntos e haviam feito uns comentários críticos quando por umas duas vezes ela passara a noite na fazenda, querendo adiantar o serviço. Seu irmão e sua cunhada não precisavam ter se preocupado, porque, naquelas ocasiões, Jack a tratara exatamente como a uma irmã. Jack não mencionara mais a proposta que Ellie fizera de os dois se casarem. Agora, ela ficava relutante em tocar no assunto, temendo que Jack tivesse mudado de idéia. Nem queria imaginar o que aconteceria se tivesse desistido completa-mente da idéia. Isso significaria que ela não iria mais a Waverley Creek e não veria mais nem Alice nem Jack. Resolveu afastar depressa esse pensamento. Tinha de parar de pensar no futuro e desfrutar apenas o momento presente. Além do mais, a cada dia que passava, ia guardando as lembranças das conversas que tinham, das refeições que compartilhavam e das brincadeiras com o bebê. — Aqui estão as cervejas. — Jack apareceu com uma vasilha de isopor com gelo para manter as bebidas bem frescas. Jack sorriu e levantou a bebida em um brinde. — Para você, Ellie. Obrigado. — Pelo quê? — Por tudo — ele respondeu seriamente. — Pensa que não tenho notado como tem trabalhado duro nos últimos dois meses? A casa vai ficar muito bonita quando terminarmos. — Jack olhou para as janelas pintadas com ar aprovador. — Se não tivesse me ajudado, eu nem poderia pensar em me mudar agora, mesmo faltando coisas para fazer. — Você já está pensando em se mudar para a fazenda? — Ellie olhou-o preocupada. Projeto Revisoras
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Sempre Sonhei com Você - Sabrina nº 1238 Jessica Hart — Temos apenas que terminar o quarto de Alice. Podemos deixar os outros cômodos para depois. A casa já está habitável, não acha? Podemos bem morar nela. Ellie ficou em dúvida se Jack a estava incluindo nessa mudança. As coisas iriam mudar e acabariam aqueles momentos mágicos dos últimos tempos. — Pensei que você só se mudaria com tudo pronto. — Gray e Clare já voltaram há um mês. São maravilhosos com Alice, mas... — ele hesitou um instante, depois olhou diretamente para Ellie. — Bem, está ficando muito difícil para mim vê-los tão apaixonados. Não é que eu tenha ciúme, é que me lembro demais de Pippa e de como vivíamos como eles nos beijando e abraçando. Dói ver que não a verei nunca mais. — Entendo que deve ser difícil para você... Clare e Pippa eram irmãs e só de olhar Clare você deve se lembrar de Pippa. — Algumas vezes isso acontece — Jack confessou. — Não que sejam parecidas, mas Clare faz alguns gestos, exatamente como Pippa fazia. Fico desesperado porque sei que tenho de parar com a fantasia de imaginar que ela está na Inglaterra e ainda tenho tempo de ir procurá-la e pedir que me perdoe pela briga tola que tivemos. — Oh! Jack... — Os olhos verdes de Ellie revelavam o quanto ela lamentava o sofrimento dele. — Não me olhe assim, minha amiga. Não é sempre que sofro desse jeito. Mas você compreende que não quero atrapalhar o casamento de Gray e Clare e quero que os dois sejam muito felizes. Só acho que vai ser mais fácil para mim se vier para cá com Alice. Assim que ouviu aquelas palavras, Ellie entendeu que ele não a incluíra nessa mudança. — Espero que terminemos logo a reforma por aqui e graças a você isso não vai demorar. — Fico feliz em poder ajudar — ela murmurou tentando sorrir e esconder a sua apreensão. — Você tem me ajudado tanto! Não sei o que teria acontecido se estivesse sem você... — Jack exclamou com sinceridade. Olhou em volta com satisfação. — Mais uma semana e esta casa será novamente um lar. Mal posso esperar — ele admitiu sorrindo com um ar de menino. — Então você se muda para Waverley. E o que acontece então, Jack? — Mais trabalho pela frente. — E quanto à Alice? — Isso depende de você, Ellie. — Ele virou-se para ela e a fitou diretamente. — Nem acredito que já faz dois meses que conversamos sobre casamento. Você se lembra daquele dia na lagoa? — Claro. — Ellie preferiu não olhar para ele. — Ando pensando bastante sobre a conversa que tivemos. — E o que decidiu? — perguntou, sentindo a boca seca. — Acho que seria ótimo para mim se nos casássemos. Também seria ótimo para Alice — ele acrescentou devagar. — Não tenho certeza se seria bom para você... — Não sou eu que devo decidir isso? — Não quero que você faça algo de que venha a se arrepender depois. É muito bom ter você por perto. Você me ajuda muito e poderia resolver todos os meus problemas domésticos, mas o que tenho a lhe oferecer em troca é o trabalho duro de me ajudar a criar um bebê e cuidar da fazenda. — E eu teria a chance de poder ficar na terra que amo — ela acrescentou. — Pareceme uma troca justa. — Mas você merece muito mais do que isso — Jack retrucou sacudindo a cabeça. — Você disse que queria segurança e isso eu posso lhe oferecer. Como minha esposa você será dona de metade da fazenda e se quiser partir terei de comprar a sua parte. Você não precisaria se preocupar com dinheiro nunca mais. Projeto Revisoras
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Sempre Sonhei com Você - Sabrina nº 1238 Jessica Hart — Nunca me referi a uma segurança financeira, Jack — Ellie protestou. — Só quero um lar. Não preciso de mais nada. — Acho que você não percebe o que significa tê-la aqui comigo — Jack confessou. — Posso arranjar empregados, mas cada vez que penso em morar em Waverley eu a vejo ao meu lado, Ellie. Além do dinheiro que vou economizar por não ter de contratar cozinheiras e babás! — Espero que não precise contratar ninguém, Jack. — Você não precisa ficar pensando no dinheiro a que tem direito. Basta saber que o tem. Se não aceitar ser também a proprietária de Waverley, não creio que possa me casar com você. Ellie percebeu que ele não mudaria de opinião quanto a essa parte. Odiava pensar que iria se beneficiar financeiramente com o casamento, quando tudo o que queria era estar ao lado do homem que amava. — Não seja orgulhosa — Jack disse impaciente. — Até parece que estou comprando você... — É como estou me sentindo — comentou com um pouco de amargura. — Seja sensata. Se estivéssemos para nos casar como as outras pessoas fazem, você não pensaria duas vezes em compartilharmos dos mesmos bens, não é? — Mas nosso casamento é diferente, não é? — De fato — ele concordou. — Não seremos exatamente como os outros casais, mesmo assim precisamos dividir tudo no meio em Waverley. — Está bem — Ellie concordou finalmente. — Tenho outra condição — Jack disse. — Qual é? — Se você perceber que quer se separar, terá de ser sincera o me dizer que eu a deixarei livre. Você pode achar agora que não há esperança alguma de poder ficar com o homem por quem está apaixonada, mas o tempo passa e tudo pode mudar. Tem de me prometer que, se isso acontecer, será sincera e eu a deixarei ir sem mágoas. Ellie sentiu uma ponta de amargura. Naturalmente ele a deixaria ir, porque não a amaria nunca. Sempre soubera dos sentimentos de Jack e isso não deveria magoá-la mais, mas a magoava. — Também você tem de me prometer que será sincero comigo se vier a se apaixonar por outra mulher — ela pediu. — Seremos como sócios, como você disse, não marido e mulher comuns. Se desejar se separar de mim, eu lhe darei a separação também. Jack pareceu pensar sobre o assunto, depois concordou com um gesto de cabeça. — Estamos entendidos, então? Ellie ainda hesitou por um momento, mas depois esticou a mão e deixou que Jack a apertasse com a sua. Estavam fazendo uma espécie de pacto. — Você quer se casar comigo, Ellie? — Jack fez o pedido formal. Ellie pensou que acordaria a qualquer momento e que tudo o que estava acontecendo era apenas um sonho. O que mais desejara na vida estava acontecendo. Claro que não era exatamente como em suas fantasias, onde ele se mostrava apaixonado por ela, mesmo assim seria feliz porque estaria com ele como amiga. Jack esperava impaciente por sua resposta. Ellie fitou-o com carinho, afastando as últimas dúvidas. — Sim, eu quero. — Tem certeza? Jack percebeu que ela hesitara e insistiu. — Tenho certeza. — Ótimo — Jack disse sorrindo e observando o rosto bonito de Ellie, os cabelos castanhos puxados para trás da orelha e os olhos verdes claros e sinceros. Abaixou o olhar para os lábios dela e, inesperadamente, ficou com vontade de beijá-la. Ela tinha aceitado o seu pedido de casamento. Não seria natural que se beijassem? Jack sentiu uma ponta de culpa por estar pensando nisso. Esta era Ellie, sua Projeto Revisoras
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Sempre Sonhei com Você - Sabrina nº 1238 Jessica Hart irmãzinha. E ela amava outro homem e o casamento era apenas um arranjo que favorecia aos dois, como se fosse apenas um contrato de negócios. E era exatamente o que ele queria. O casamento só daria certo se eles pudessem continuar amigos e ele poderia comprometer essa amizade se a beijasse. Mas se iam se casar, não bastava um aperto de mão como se estivessem fechando um negócio. Pensando assim, Jack inclinou-se e beijou Ellie no rosto. Sentiu a maciez da pela e a proximidade de seus lábios. Instintivamente, ela fechou os olhos, emocionada. Fora apenas um beijo rápido, um beijo entre irmãos, mas o suficiente para deixá-la com a sensação de que estava flutuando e o chão lhe fugira dos pés. Jack se afastara um pouco como se o beijo o tivesse feito se lembrar novamente de Pippa. Ellie achou melhor não olhar para ele naquele momento. Estava claro que Jack tentaria disfarçar a frustração que sentia por não poder beijar mais a mãe de sua filha. Observou Alice que brincava tranqüila sem saber que o pai estava fazendo sacrifícios pensando nela. — Bem... — Jack pegou sua cerveja e tomou um gole. Estava se sentindo sem jeito. Fora apenas um beijinho no rosto. Imagine se tivesse ousado beijá-la de verdade. Ellie poderia ter se irritado, porque certamente ele não era o homem que ela gostaria de beijar. — Bem... — repetiu — e quando podemos nos casar? — Tão logo pudermos arrumar os papéis — Ellie falou tentando parecer natural e tranqüila. — A não ser que prefira esperar mais um pouco... — Melhor terminarmos logo com isso — Jack retrucou sem pensar, mas quando olhou para Ellie percebeu uma expressão de mágoa em seus olhos e se arrependeu por não ter escolhido melhor as palavras. Podia ser um casamento de conveniência, mas isso não significava que a cerimônia fosse uma espécie de castigo para ele. — Acredito que prefira um casamento simples — ele disse, querendo quebrar o silêncio desagradável que se seguira. — Tem razão, mas não acho que isso será possível. Minha mãe e Lizzy vão adorar preparar a festa. Nunca vão me perdoar se não der a elas a chance de nos oferecer uma festa memorável. Jack concordou com um gesto de cabeça. Não pensara nisso, mas Gray e Clare também iriam querer algo bem animado. — Jack, preferia que ninguém ficasse sabendo o porquê de estarmos nos casando. Minha família não vai achar certo um casamento desse tipo e Lizzy pode querer me fazer desistir dele, se souber dos reais motivos que nos levaram a isso. — Tem razão — Jack concordou prontamente. Nós somos amigos há muito tempo e seria praticamente impossível enganá-la. — Vamos ter de fingir que nos apaixonamos. — Você faria isso? — Ellie perguntou ruborizando. — Sei que vai ser muito difícil para você... — Também para você. — Jack olhou-a diretamente nos olhos. Ellie desviou o olhar, com medo de que Jack descobrisse que o mais difícil para ela era fingir que não o amava. — Acredito que vou conseguir lidar com esse problema — Jack disse finalmente. — Se você pode, também posso. Ellie percebeu que Jack a olhava de forma estranha e teve quase a certeza de que ele descobrira os seus sentimentos. — Vou tentar... — ela murmurou, apavorada diante da idéia de que pudera ter deixado escapar o seu segredo. — Ellie... — Jack começou a dizer, depois parou, indeciso. Naquele momento, Alice jogou longe a lata com que brincava e ambos se afastaram assustados. Ellie aproveitou para virar o rosto e disfarçar o embaraço que sentia. Jack pegou a filha nos braços e a jogou para o alto na brincadeira que Alice adorava. Ela puxou os cabelos Projeto Revisoras
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Sempre Sonhei com Você - Sabrina nº 1238 Jessica Hart do pai que gemeu e se vingou jogando-a mais alto ainda. O riso deles tirou a tensão que os dois estavam sentido. Aliviada, Ellie começou a pensar que imaginara ter sido descoberta. Sentou-se meio trêmula em uma das cadeiras e aos poucos foi se acalmando. — O que você vai dizer para Gray e Clare? — Gostaria de contar a verdade para eles — Jack confessou depois de pensar um pouco. — Isso se você não se importar. Não quero que Clare pense que esqueci Pippa tão depressa. — Você acha que Clare vai aceitar que você se case? — Clare quer o melhor para a sobrinha e vai entender que nosso casamento fará Alice crescer mais feliz. — A voz de Jack soou confiante. — Ela é uma ótima pessoa e você vai gostar dela — acrescentou. — Acho que o mais importante é que ela goste de mim — Ellie retrucou, meio insegura. — Ela gostará. E vamos aproveitar que o aniversário de Alice será no próximo domingo para que vocês duas se conheçam. Alice é muito pequena ainda para entender de festas, mas acho que devemos fazer alguma coisa especial nesse dia. Você está convidada para o almoço. — Está bem — Ellie concordou, apesar do aniversário de Alice não dever ser a ocasião ideal para conhecer a tia da criança que deveria estar naquele dia se lembrando muito da irmã que perdera. Ellie estava muito nervosa enquanto dirigia para Bushman's Creek. Chegara o aniversário de Alice e ela terminara fazendo a vontade de Lizzy e concordado em não vestir sua habitual calça jeans. A irmã a forçara a comprar na cidade um vestido vermelho bem curto. Era bonito, mas não conseguia se sentir ela mesma dentro da roupa. — Pare de reclamar porque ficou uma beleza — Lizzy afirmara decidida. — Relaxe e seja feminina para variar! A princípio, pensou que podia ser uma boa idéia parecer feminina quando estivesse com Jack. Mesmo assim, d mais provável é que Jack risse ao vê-la daquele jeito. Mas Jack não riu quando foi recebê-la. Parou surpreso, vendo Ellie descer do carro e não conseguiu nem cumprimentá-la. Olhou a amiga que estava tão diferente com um vestido vermelho que acabava acima do joelho e revelava pernas perfeitas. — Ellie... por que... — ele começou a reclamar. Ellie respirou fundo e tentou cobrir com as mãos os braços nus. Jack a estava olhando com uma expressão estranha e ela se sentia desconfortável. Teve certeza de que fizera uma bobagem usando aquele vestido e nem trouxera um casaco para cobrir o corpo. — Você está tão diferente... — É o vestido — ela justificou. — De fato. — Jack fez um esforço para agir com naturalidade. — Esqueci que você tinha pernas. — Tentou brincar, mas não estava se saindo muito bem. — Aposto que não vejo suas pernas desde que você tinha uns seis anos de idade. — Kevin disse a mesma coisa quando me viu com esse vestido. Sinto-me ridícula nele — Ellie admitiu. Jack não achou que ela estivesse ridícula. Na verdade, nunca Ellie lhe parecera tão bonita. Mesmo assim, preferia que ela tivesse vindo com seu velho jeans. — Você parece bem — ele disse secamente. Não era a acolhida que ela deveria estar esperando. Ele deveria dar-lhe um abraço, porém só de pensar em tocar em seus ombros e sentir o calor de sua pele já ficava perturbado. Jack estava consciente de que Ellie estava ressentida. Podia ser bobagem, mas ele a queria do jeito que sempre fora. Quieta, gentil, nada exigente. Agora, parecia outra pessoa com aquele vestido. Nem conseguia encará-la. O que precisava era se convencer de que ali à sua frente estava sua velha amiga e tinha de agir com ela do jeito de sempre. — Entre e venha conhecer Clare — disse secamente e virando-se entrou na casa, Projeto Revisoras
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Sempre Sonhei com Você sendo seguido por Ellie.
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Jessica Hart
CAPÍTULO IV Clare era muito diferente do que Ellie a imaginara. Magra e bem morena, era bonita, tinha olhos claros brilhantes e usava uma roupa bem elegante. Ela estava na cozinha dando os últimos retoques no bolo de aniversário de Alice. Sorriu para Jack quando ele entrou com Ellie e largou a faca que tinha na mão para abraçá-la. — Estava ansiosa em conhecer você — foi dizendo com simpatia. — Jack me contou como têm trabalhado na fazenda. Ah, veja como Alice está contente com a sua chegada — acrescentou, apontando para o bebê que reconhecera Ellie e abrira um enorme sorriso. Alice estava sentada em uma cadeira de bebê e enfiava os dedos em um pratinho com creme de bolo. Tinha os mesmos olhos que Jack e seu sorriso era irresistível. Ellie nem tentou resistir e deu um beijo bem no topo da cabecinha de Alice onde fios loiros estavam começando a aparecer. Ainda estava rindo entretida com a criança, quando percebeu que Jack e Clare a olhavam. Clare também sorria, um pouco tristemente, mas a expressão de Jack não era nada amigável. Ele parecia irritado em vê-la com sua filha. — Vou lá fora ajudar Gray com o churrasco — ele avisou, ao sair apressadamente da cozinha. Clare percebeu o olhar magoado de Ellie, mas não fez comentário algum. — Seu vestido é de uma cor maravilhosa — Clare disse aproveitando para quebrar o silêncio que ficara depois da saída de Jack. — Não estou acostumada a usar vestidos. Ando o dia inteiro de jeans — respondeu sorrindo. — Jack nem me reconheceu quando desci do carro. Jack devia ter detestado o vestido vermelho. Percebera que procurara não tocá-la e logo dera uma desculpa para não ficar ao seu lado. Seu olhar não tinha sido o de um amigo. Era estranho ele agir desse jeito. Será que ficara doente ou, quem sabe, mudara de idéia sobre o casamento dos dois? Ou ela poderia ter dito alguma coisa que o tivesse irritado. Mas o quê? Tudo o que tinha feito era trocar a velha jeans por um vestido curto. E Jack, que sempre vivia fazendo elogios, simplesmente deixara claro que não gostara do jeito que ela viera vestida. — Por que não se senta? — Clare interrompeu os pensamentos de Ellie. — Você fica comigo enquanto termino os enfeites do bolo? — Claro que fico. — Ellie procurou se controlar e afastar os maus pensamentos. — Estou contente que finalmente nos encontramos — Clare falou sem afastar os olhos do bolo. — Já sei muita coisa sobre você através de Jack e de Lizzy, claro. — Tinha me esquecido que você conhece minha irmã. — Tive muito ciúme dela no começo — Clare admitiu. — Sabia que ela tinha namorado Gray há muito tempo atrás e fiquei com medo de que um ainda gostasse do outro. Lizzy foi tão minha amiga que passei-a adorá-la. Queria não gostar dela, mas isso foi impossível. — De fato, é difícil alguém conhecer Lizzy e não gostar dela — Ellie comentou sentindo-se mais à vontade. — Ela tem sido uma amiga maravilhosa para Gray e Jack e, claro, para mim também — Clare disse seriamente. — Você não é nada parecida com ela — acrescentou, olhando Ellie com atenção. — Sempre fomos muito diferentes e as pessoas nem acreditavam que fôssemos irmãs. — Ellie suspirou lembrando-se dos cabelos loiros da irmã e de seus olhos bem azuis. Adorava Lizzy, mas desde criança ficara à sua sombra. Projeto Revisoras
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Sempre Sonhei com Você - Sabrina nº 1238 Jessica Hart — Pippa e eu éramos exatamente desse jeito — Clare contou. — Era extrovertida e eu muito quieta. Pippa parecia tão cheia de vida. Fazia tudo com paixão. — Sinto muito! — Ellie exclamou com simpatia. — Você deve sentir muita falta dela. — De fato, mas não o tempo todo. Antes eu ficava. Foi horrível quando ela morreu e achei que nunca mais ia ser feliz, mas descobri uma felicidade que jamais imaginei ser possível... Ellie percebeu que os olhos de Clare brilhavam de felicidade. — Pode ser um clichê, mas a vida de fato continua. Penso em Pippa muitas vezes, mas não vejo seu fantasma. — Jack vê — Ellie disse sem pensar. — No momento, sim, mas isso vai passar. — Clare hesitou, procurando encontrar as palavras certas. — É difícil para ele ficar aqui em Bushman's Creek. Este foi o lugar onde ele passou todo o tempo que esteve com Pippa. É uma casa cheia de memórias. Vai ser diferente quando estiver em Waverley — acrescentou gentilmente. — Ele falou sobre o que nós dois combinamos? — Ah, sim. — Você não se importa? — Por que deveria? Na verdade, estou um pouco preocupada. Acho que o casamento será muito bom para Jack. Afinal, ele precisa de uma esposa e Alice de uma mãe. — Você acha que posso não saber tomar conta de Alice? — Claro que não! Estou preocupada com você. — Comigo? — Um casamento sem amor é muito arriscado. É o que Gray e eu fizemos. — Mas você está tão feliz! — Gray e eu estamos felizes agora, mas quando nos casamos, não sabíamos que estávamos tão apaixonados um pelo outro. Achamos que apenas nos dávamos bem e eu escondia que estava desesperadamente apaixonada por ele. Deve ser difícil viver com alguém quando não há amor no meio. — É diferente entre mim e Jack — Ellie disse. — Já sei que Jack não me ama. Está ainda preso às lembranças de Pippa. — Jack nos contou que você está apaixonada por alguém. — Estou. — A voz de Ellie soou bem fraca. — Você ama Jack, não ama? Ellie sentiu um frio no estômago. Depois de um certo tempo, criou coragem e fitou Clare encontrando um olhar cheio de simpatia. — Como você adivinhou? — Foi o jeito como você o olhou momentos atrás, alguma coisa em sua voz quando você fala o nome dele. Talvez tenha descoberto porque estou tão apaixonada que percebo quando os outros também estão. — Clare sorriu. — Acho que olho para Gray do mesmo jeito — acrescentou. — Você não vai contar nada para Jack, vai? — Claro que não — Clare lhe assegurou. — Isso é algo que somente você pode dizer a ele. — Eu nunca vou dizer — Ellie disse amargamente. — Jack somente está se casando comigo porque pensa que amo outro homem e vou me contentar apenas com sua amizade. Ele não quer que ninguém ocupe o lugar de Pippa e nem vou tentar ocupá-lo. — Ellie, Pippa não iria querer que Jack passasse o resto da vida chorando por ela! — Clare exclamou, enquanto voltava a enfeitar o bolo. — Ele pode não esquecer nunca a minha irmã, mas irá se apaixonar de novo. Pippa era maravilhosa e eu acho que ele estava encantado com ela, mas isso não significa que iriam ser felizes juntos. Clare ficou pensativa por alguns momentos. — Pippa tinha uma personalidade muito forte, assim como Jack. Talvez eles fossem Projeto Revisoras
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Sempre Sonhei com Você - Sabrina nº 1238 Jessica Hart parecidos demais. Nestes casos, o relacionamento nem sempre dá certo. — Clare suspirou. — Talvez nem continuassem juntos depois que a paixão esfriasse. Ellie permaneceu calada, mas escutava com atenção as palavras de Clare. — Jack vai acabar pensando nisso — Clare continuou. — Ele ainda é jovem e com certeza vai se apaixonar de novo, mas... — Não será por mim, não é? — É, isso pode acontecer. Você não deve ter muitas esperanças, senão pode sair magoada. Sei que você será maravilhosa com ele, mas nem sempre as pessoas se apaixonam pelas pessoas que deviam. — Sei disso — Ellie disse com uma ponta de amargura. — Se só nos apaixonássemos pela pessoa certa, eu não estaria agora apaixonada por Jack, mas estou e tenho de viver com esse sentimento. Acredito que ele venha a conhecer alguma outra mulher e gostar dela e estarei pronto para deixá-lo ir embora. Jack nunca saberá que o amo. — Isso vai ser difícil, Ellie. Tem certeza de que vale a pena se casar com Jack sabendo que não a ama? — Tenho. É minha única chance de ficar perto dele e vou aproveitar. — Espero que tudo dê certo para você, Ellie. Realmente desejo isso. — Fico contente que você pense assim — falou emocionada. — Você sabe, fico triste porque não vou poder ficar muito tempo com Alice. Tanto Gray como eu vamos sentir falta dela, porém será melhor para ela viver ao lado de você e de Jack e fazer parte de uma família. Além do mais — Clare abriu um enorme sorriso —, nós vamos também ter um filho! — Oh! Clare! Que notícia maravilhosa! — Também achamos. Gray está fora de si. Parece que é o único pai que existe no planeta. — Clare pegou Alice no colo e a beijou. — Mas vamos sentir a sua falta, queridinha. — Olhou para Ellie e lhe estendeu o bebê. — Quer levar Alice? — perguntou. — Claro que quero! — As duas se olharam satisfeitas ao ver como Alice ia toda feliz para o colo de quem logo seria sua nova mãe. — Vamos nos unir aos outros — Clare sorriu e empurrou Ellie para o jardim, onde Jack e Gray estavam entretidos em fazer o churrasco. Gray era muito parecido com o irmão, só que de temperamento diferente. Olhou a esposa se aproximando e sorriu com amor. Clare encostou-se nele e os dois se beijaram sem acanhamento. Ellie sentiu um aperto na garganta e lutou para não chorar. Se Jack a olhasse daquele jeito algum dia! Mas quando ele a olhou naquele momento, segurando o espeto de churrasco, seu rosto estava sem qualquer expressão. Jack estivera olhando para Ellie e percebeu seu ar de sofrimento enquanto fitava Clare e Gray se beijando. Imaginou logo o que ela estaria pensando. Devia ser difícil ver pessoas apaixonadas quando se sabia que seu amor não tinha esperanças. Ele próprio andava se sentindo assim, até o momento em que Ellie descera do carro com aquele vestido vermelho. Desde então, sentimentos confusos teimavam em ocupar sua mente. Não era culpa de Ellie que ele estivesse de mau humor, mas, de alguma forma, talvez fosse a culpada. E não fazia nada para mudar essa sua idéia, já que ficara a distância, abraçando Alice com todo carinho. Cada vez que ele via a filha no colo dela, desviava o olhar e lidava com o churrasco de forma meio selvagem. — Oi, Ellie! — O sorriso de Gray pegou-a de surpresa. — Faz anos que não a vejo. Você se transformou em uma mulher espetacular! — ele exclamou enquanto lhe dava um forte abraço. — Onde está a garotinha dos outros tempos? Jack concentrou-se nos bifes. Não queria que Ellie se transformasse em coisa alguma. Queria que ela ficasse exatamente do jeito que sempre fora. Com um canto do olho, viu quando ela sorriu para Gray e, segurando Alice com apenas um braço, abraçou o amigo de infância com entusiasmo. Ele também podia tê-la abraçado desse jeito, não fosse o choque que levara quando a vira naquele vestido vermelho. Projeto Revisoras
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Sempre Sonhei com Você - Sabrina nº 1238 Jessica Hart — Lamento ter perdido o seu casamento, Gray. Mas cheguei bem na hora para novas congratulações, não é? — perguntou, referindo-se à gravidez de Clare. O sorriso de Ellie fez Jack ficar mais irritado ainda e querendo saber onde ela aprendera aqueles truques femininos? Só porque tinha posto um vestido já virara uma conquistadora! Onde estava aquela garota com ar de rapaz que pintava janelas e paredes e nunca se preocupava com sua aparência? — Acabei de contar a novidade para meu irmão — Gray confessou com ar radiante. — Falei tanto na minha felicidade em ser pai que Jack já estava quase pedindo socorro e querendo que você aparecesse e o afastasse de mim. Ellie olhou rapidamente para Jack que continuava entretido com as carnes. Ele não parecia estar ansioso para tê-la ao seu lado. No mínimo, torcia para que a festa acabasse logo e ela fosse embora. — Vai ser étimo Alice ter um priminho ou priminha. — E, em seguida, apertando o bebê junto a si, concluiu: — Assim, você vai ter com quem brincar, não é queridinha? Alice deu seus gritinhos que todos interpretaram como concordância. Era um dia importante para Alice, apesar de ser novinha demais para aproveitar uma festa de aniversário. Mesmo assim, estava radiante, rodeada de pessoas que gostavam dela. Pegara um pedaço de bolo de chocolate e agora tanto seu rosto, como os cabelos e o vestidinho estavam sujos. O mau humor de Jack desapareceu quando ele percebeu a felicidade da filha. Alice parecia saber que era o centro das atenções e piscava os olhos de maneira divertida ao mesmo tempo que tentava bater palmas. Jack jurou para si mesmo que faria qualquer coisa pela filha. Alice era a razão de seu casamento com Ellie. Não importava que ela estivesse suspirando por outro homem, o fato é que estava ali, cuidando de sua filha. Desviou os olhos da filha para Ellie, que parecia satisfeita, rindo das graças de Alice e bem à vontade sem sua velha calça jeans. Horas depois, Alice estava exausta com tanto excitamento e a levaram para a cama. Ellie despediu-se de Clare e Gray e Jack a levou até o carro. — Lamento não lhe ter feito muita companhia hoje — ele desculpou-se, quebrando o silêncio que havia entre os dois. — Tudo bem. Sei que passou o tempo todo pensando em Pippa. — Ellie hesitou. — Deve ter sido um dia muito difícil para você. — Não foi isso — ele confessou. — Pensei nela, claro, mas não consigo entender o que deu em mim de repente. — Jack parecia confuso. — Pode ter sido porque preciso me acostumar com a idéia de que vamos nos casar. Seus olhos se encontraram e Jack pensou que Ellie parecia cada vez mais misteriosa. — Contei a Clare que íamos nos casar e ela aprovou. Agora você precisa convencer sua família. Já disse alguma coisa a eles? — Já. — E como reagiram? — Mamãe está felicíssima e já começou a fazer planos para a festa do casamento. Papai não disse quase nada, mas também parecia satisfeito. Kevin e Sue acharam ótimo. No mínimo ficaram aliviados porque assim não vou viver o resto da vida com eles... — E Lizzy? — Ah, ela me pareceu suspeitar de alguma coisa — Ellie admitiu. Lembre-se de que ela sabe como você se sente em relação a Pippa e também me conhece. Adivinhou logo a verdade. — A verdade? — Sim, que você está procurando uma mãe para Alice. — E ela adivinhou a verdade sobre você, também? — Ela acha que estou disposta a fazer qualquer coisa para ficar por aqui. Não revelei nada a ela. Projeto Revisoras
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Sempre Sonhei com Você - Sabrina nº 1238 Jessica Hart — E você disse que íamos nos casar por isso mesmo? — Não. — Ellie apertou os lábios lembrando-se da conversa que tivera com a irmã. — Não gosto de mentir para ela, mas você sabe como Lizzy é romântica quando se trata de casamentos. Pensa que você deveria se casar comigo apenas se estivesse apaixonado e tudo fosse perfeito. Precisei fingir que era isso exatamente o que nos acontecera. Menti que estávamos apaixonados. — E ela acreditou em você? — Não tenho certeza. — Ellie mordeu o lábio novamente. — Acho que não. Ela perguntou quando isso tinha acontecido e eu disse que foi durante o tempo em que havíamos passado juntos, reformando a fazenda. Mesmo assim, ela continuou pedindo os detalhes... Jack podia imaginar a reação de Lizzy ao escutar essa história maluca. — Que tipo de detalhes ela queria saber? — Ah, você sabe... — Ellie afastou o olhar e começou a mexer no trinco da porta do carro. — Queria saber como nos apaixonamos, quando nos beijamos pela primeira vez, como foi o beijo... — E o que você disse? — Que tinha sido maravilhoso, claro. Não podia dizer que nunca nos havíamos beijado, não é? — Não se você quer que ela acredite que estamos apaixonados — Jack concordou. — Ela avisou que virá para casa na próxima semana para constatar tudo por si mesma — Ellie falou sombriamente. — Já perguntou a mamãe e papai o que estão planejando para a festa de noivado. Tentei dizer que estaríamos muito ocupados com a reforma da fazenda e não tínhamos tempo para festas, mas perdi meu tempo. Mamãe já convidou metade do distrito. Deviam saber que não gosto de festas! Por que não nos deixam planejar a cerimônia por nossa conta? — Pobre Ellie! — Jack não conseguiu deixar de rir. — Eles só querem que seja uma festa inesquecível para você. Não vai ser tão ruim assim. — Vai ser sim. Será horrível. Não vou conseguir relaxar í um minuto sequer. Todos vão ficar me olhando e Lizzy estará nos observando para ver se estamos mesmo apaixonados. — Então temos que estar prontos para convencê-la, não é? — Como iremos fazer isso? — Ellie perguntou, ainda aborrecida com a perspectiva de ter de comparecer naquela festa de noivado. — Bem... — Jack pareceu estar pensando sobre o assunto. — Podemos treinar o beijo — ele sugeriu com naturalidade. — Vamos nos beijar? — Ellie se espantou. — É um costume os noivos se beijarem na festa de noivado. — Eu sei, mas... — Não vai ser um problema, vai? — Não... não... — ela tentou dar uma resposta com coerência, mas só de pensar na perspectiva de os dois se beijarem sentia-se atordoada. — Então podemos começar a praticar agora — Jack disse como se a idéia lhe tivesse surgido naquele momento. — Praticar? — Vou ter de beijá-la na festa e no casamento. Só acho que pode ser uma boa idéia se eu a beijar agora para não deixar que pareça ser a primeira vez durante a festa de noivado quando estaremos na frente de todos os parentes e convidados. Ele fazia tudo soar tão normal, tão óbvio, como se estivessem apenas para se darem as mãos. — E aí, o que você acha? — Jack perguntou. Ellie não sabia se o amava ou o odiava naquele momento porque o sorriso que ele ostentava nos lábios deixava bem claro o quanto se divertia com a situação. Projeto Revisoras
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Sempre Sonhei com Você - Sabrina nº 1238 Jessica Hart — Não sei o que dizer... — Pelo menos não vai ter de mentir quando contar a Lizzy sobre nosso primeiro beijo. Ellie sentiu o coração bater forte como se estivesse para explodir a qualquer momento. Olhou para Jack, procurando saber se ele estava brincando. Queria tanto beijá-lo, sonhara tanto com isso, mas ao mesmo tempo temia revelar seus sentimentos naquele contato íntimo. — Não vou beijá-la, se você não quiser — Jack falou suavemente. Quando ela não respondeu nada, deu um passo à frente, aproximando-se bastante de Ellie. — Não! Quer dizer, não me importo. Acho que devemos treinar mesmo — ela conseguiu murmurar. — De fato é uma boa idéia. Ellie tinha certeza de que era mesmo uma ótima idéia, caso ela não agisse como uma tola e deixasse bem claro todo o amor que sentia por Jack. E ali parecia o lugar perfeito. Seria muito mais romântico um beijo no jardim de Bushman's Creek do que e,m alguma festa cheia de gente. — Não devemos fazer papel de bobos na festa, não é? — ela perguntou, tentando colocar um sorriso nos lábios. — Não — Jack concordou. O sorriso desapareceu de seus olhos. Jack procurou se lembrar que quem estava ali diante dele era Ellie, a velha amiga e não alguma estranha atraente vestida de vermelho. Decidiu deixar essas idéias de lado e concentrar-se no beijo. Estava absurdamente nervoso. Tinha beijado muitas mulheres, mas ninguém como Ellie. Ela era diferente. Hesitante, ele a puxou para seus braços, como se nunca tivesse beijado uma garota antes. Sentiu o calor do corpo de Ellie, a maciez do vestido, a suavidade de sua pele e sentiu a garganta seca. Ela estava trêmula. Um calor invadiu todo o seu corpo, quando sentiu o toque das mãos de Jack. Tinha de ajudá-lo, pois Jack parecia estranhamente tímido. Colocou as mãos em seus ombros e tentou não pensar que ele deveria estar pensando em Pippa, naquele momento. Tinha amado Jack pelo seu charme, pelo seu humor e sua personalidade, pelo calor de seus olhos, pelo seu sorriso, mas, naquele momento, apenas estava consciente de que ele era um homem. Um homem que estava para beijá-la. Sentiu uma vontade enorme de passar sua mão por baixo da camisa dele e acariciar seu peito. Queria sentir a força daquele corpo másculo. Um desejo físico incontrolável tomou conta dela, deixando-a sucumbir ao desejo, quando Jack a aconchegou em um abraço. Ellie estava imóvel, apenas sentindo o pulsar desenfreado de seu coração. Sabia que estava perdida. Sentia o calor das mãos dele em seus cabelos, no rosto e nas costas. Então, Jack colocou a mão no queixo trêmulo e delicado e pediu: — Olhe para mim, Ellie. Vagarosamente, Ellie levantou os olhos. Jack a estava olhando com uma expressão diferente, enquanto acariciava a sua nuca. Depois de um momento, inclinou a cabeça e seus lábios tocaram os dela. Era um beijo gentil, mas o simples toque de seus lábios provocou uma reação tão forte em Ellie que ela se entregou ao prazer e seus dedos conseguiram desabotoar um dos botões da camisa dele e tocar no peito musculoso. Quando o beijo terminou, Ellie teve de lutar para não gritar em protesto. Jack pretendia deixá-la ir agora. Ela não queria beijá-lo, apenas concordara com o beijo. Um beijo bem rápido já era o suficiente, mas a doçura dos lábios dela o tinha surpreendido e ele se viu puxando-a novamente para junto dele e a beijando novamente, desta vez com um beijo mais apropriado para uma garota de vestido vermelho. Ellie sentiu a delícia daquele contato apaixonado e pensou que não resistiria e deixaria claro tudo o que sentia por Jack. Não quis pensar sequer nas complicações que resultariam dessa sua fraqueza. Projeto Revisoras
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Sempre Sonhei com Você - Sabrina nº 1238 Jessica Hart Levou suas mãos para seus ombros novamente, depois para seu pescoço e se abandonou ao prazer de tocá-lo. Os lábios de Jack se moviam quentes e persuasivos sobre os dela, provocando uma sensação incontrolável. Não importava que não houvesse estrelas no céu, nem tambores tocando para comemorar o primeiro beijo deles. Não se importava também que Jack a tivesse ignorado a maior parte do dia e que o beijo não tinha maior significado para ele. O fato é que estava em seus braços e que ele a beijava. Ellie nunca soubera que um beijo pudesse demorar tanto tempo. Podiam ter passado apenas alguns segundos, mas parecia ter durado uma hora. Tudo o que ela sabia é que terminara muito cedo. Quando Jack se afastou, teve de se encostar ao carro, para não deixar que ele percebesse que estava trêmula demais. Sentiu o mundo girar e se esforçou para readquirir o equilíbrio. — Você acha que convenceremos Lizzy? — ele perguntou, como se estivesse plenamente controlado. — Espero que sim... — O beijo tinha quase convencido ela mesma. Olhou Jack, tentando ler seus pensamentos. — Melhor eu ir embora — Ellie conseguiu dizer. Viu que Jack a observava enquanto tentava colocar o carro em funcionamento, porém parecia que a chave não entrava na ignição, de tanto que suas mãos tremiam. O beijo o deixara meio tonto. Ainda podia sentir a maciez dos lábios dela e o perfume de sua pele. E a tinha beijado duas vezes, quando certamente ela estaria ansiosa para ir embora e afastar-se dele. Ellie ainda não conseguira ligar o carro. Finalmente conseguiu e acenou levemente despedindo-se. Jack não sorria, apenas estava com um olhar preocupado. — Você avisa Gray e Clare sobre a festa do próximo sábado? — ela perguntou. — Claro. — Ele hesitou um instante. — Tudo bem com você, Ellie? — Seu tom de voz era diferente e ele colocara uma das mãos na janela do carro. — Estou bem. — Não ficou chateada porque a beijei? — Claro que não. — Ellie sorriu. — Sou eu que tenho que lhe agradecer, porque minha família é que tem de ser convencida de que estamos apaixonados. Isto faz parte do nosso acordo. O acordo. A razão pela qual iam se casar. A razão pela qual ela estava ali. A razão que tinha esquecido enquanto a beijava. — Ah, sim, o acordo — Jack disse em um tom meio frio, dando um passo para trás para deixá-la ir embora. CAPÍTULO V Jack não estava com nenhuma vontade de ir à festa de noivado que seria naquele fim de semana. Especialmente porque ele era o noivo. Tinha passado a semana toda de mau humor. Reconhecia que era tudo porque tinha beijado Ellie. Na ocasião, parecera uma boa idéia beijá-la antes da festa, mas agora estava arrependido. Pior ainda é que se via a toda hora pensando em Ellie de uma forma estranha. Lembrava-se dela naquele vestido vermelho, de suas pernas bem-feitas, da maciez de seus lábios e de como sentira sua pele sob os dedos. Agora não podia desfazer o que fizera. Devia era se lembrar de que se tratava de Ellie, sua amiga de infância. Tinha beijado antes muitas garotas mais bonitas que ela e com muito mais paixão. Não havia razão alguma para ficar tão perturbado apenas com aquele beijo em particular. E Ellie nem parecia ter ficado abalada com o beijo. Dissera claramente que fazia parte Projeto Revisoras
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Sempre Sonhei com Você - Sabrina nº 1238 Jessica Hart do trato e tudo bem. Era ele que havia se esquecido do acordo que haviam feito. Agora, no banco de trás do carro que Gray dirigia ao lado de Clare, Jack não conseguia nem manter uma conversação banal. Fingiu estar ocupado em lidar com Alice, que estava quase dormindo, sentada em sua cadeirinha, por causa do balanço do carro. Jack observou a filha. Sua boquinha estava meio aberta e seus enormes cílios piscavam sonolentos. Ela havia sido o motivo pelo qual decidira se casar. Quase fizera a bobagem de telefonar para Ellie durante a semana e cancelar o noivado, mas se detivera todas as vezes em que pegara o telefone com essa intenção. Melhor assim. Alice precisava de uma mãe já que Pippa morrera. Ele estava fazendo a coisa certa se casando com Ellie. Estava irritado porque podia ter estragado tudo ao beijá-la. Apesar de apegar-se a essa justificativa, o fato é que estava ansioso em vê-la novamente. Não devia estar querendo isso. O que devia ter em mente é que se casando teria uma amiga ao seu lado, uma companhia útil, alguém que o ajudaria na fazenda e tomaria conta de sua filha. O que ele poderia querer mais? Talvez o que o irritara fosse o fato de que não estava preparado para ver Ellie usando um vestido tão sensual. Seu humor não havia mudado quando Gray estacionou na frente da casa de Ellie. Para piorar as coisas, ela estava usando o mesmo vestido vermelho e parecia ainda mais bonita do que quando estivera na festinha de Alice. Estava, por sinal, de sempenhando seu papel de noiva feliz com perfeição, rindo para todos, parecendo animadíssima. Jack devia estar agradecido que ela fingisse tão bem, mesmo assim ficou ainda mais irritado. Não gostava de ver que seus olhos brilhavam quando ela falava e ria. Também não estava aceitando bem aquele bando de homens que a rodeavam mostrando-se interessadíssimos nela. Teve certeza de que o homem que ela amava devia estar na festa, senão por que ela estaria com olhos tão brilhantes? Ellie devia ter mais orgulho e não ficar se contentando em meramente ver o homem que amava por perto. Afinal, não recebia nada em troca... Na certa quisera impressioná-lo usando aquele vestido que tirava os homens do sério. Do outro lado da sala, Ellie observou a expressão zangada de Jack e suspirou desanimada. Estava nervosa porque esta era a primeira vez que o encontrava depois do beijo. Era importante que Jack não percebesse o que aquele contato íntimo havia significado para ela. Ele nunca saberia como passara as noites lembrando-se de cada detalhe daquele momento mágico. Naquele momento, Jack exibia de novo aquela expressão de aborrecimento. Deveria ter se arrependido de tê-la beijado. Bem, podia ficar sossegado. Ela não tinha intenção de embaraçá-lo nem ali na festa nem em qualquer outro lugar. Sorriu para Jack, mas ele não fez sinal de que a tinha visto. Estava sorrindo para os pais dela e parecendo ansioso em rever as velhas namoradas que esperavam para cumprimentá-lo. Sorriu para todas elas também. Ellie sentiu-se amargurada ao ver que ele abraçava as moças com entusiasmo. Conforme a festa ia passando, Ellie foi ficando irritada porque Jack continuava a evitála. Não era culpa sua que ele a tivesse beijado! Se não queria se casar, bem que podia ter dito. Não precisava ter vindo à festa, mas já que estava ali, devia se portar como um noivo. Sentiu vontade de ir tirar satisfações de Jack, mas se lembrou da satisfação de seus pais em estarem lhe oferecendo aquela festa. O que gostaria era poder chegar perto das ex-namoradas de Jack e empurrá-las para longe dele e poder dizer a ele que, se ele queria uma empregada grátis, que arranjasse outra. Mas não podia fazer isso, claro. Todos pareciam estar muito contentes e se divertindo bastante. Ellie levantou o queixo, forçou um sorriso. Jack podia deixar óbvio que não estava apaixonado, mas ela ia fingir ser uma noiva perfeita nem que isso a matasse. Como conhecia todos que estavam na festa, não deveria ser tão difícil se divertir. O problema é que continuava sentida porque Jack a estava ignorando completamente. Cada Projeto Revisoras
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Sempre Sonhei com Você - Sabrina nº 1238 Jessica Hart vez que ela o olhava, via o noivo com alguma garota pendurada nele. Todas eram loiras, bonitas e, claro, haviam sido beijadas por ele em algum momento de suas vidas. De repente, sentiu-se completamente desanimada. A quem estava tentando enganar? Todos deviam perceber que ela não era o tipo de mulher que Jack gostava. Como iriam aceitar que em meio a tantas garotas bonitas e dispostas a se casarem com Jack, ele havia escolhido justo a quieta e apagada Ellie Walker? Com esses pensamentos parou de sorrir. Sentiu-se exposta e humilhada, como se todos na sala estivessem apontando para ela e rindo. Tinha de escapar dali. Saiu da sala da sala sem ser vista e passou, despercebida, pela cozinha onde sua mãe conversava com as amigas enquanto preparava mais pratos para a festa, e procurou o canto mais deserto da varanda, cheio de plantas altas, lugar ideal para poder ficar sem ser vista por ninguém. Sentou-se aliviada em uma das velhas cadeiras. O esforço de sorrir o tempo todo a deixara com dor no maxilar. Tentou acalmar-se naquele silêncio acolhedor. — O que você está fazendo aqui? Ellie se assustou com a voz de Jack. Ele estava ao seu lado ali na varanda, com uma expressão de censura. — O que você acha que estou fazendo? — ela retrucou, bastante irritada. Que direito tinha ele de lhe pedir satisfações? — Veio aqui para se encontrar com seu famoso amante? — Jack sugeriu com voz ofensiva. — O quê? — Ellie arregalou os olhos sem acreditar no ouvira. — Vi você olhar em volta para ver se alguém a estava olhando e aí sair sorrateiramente da sala — ele acusou. — Ficou bastante claro para mim que estava indo se encontrar com alguém às escondidas. Pensei que você havia me dito que não há nada entre vocês dois! — E não há mesmo — ela disse secamente, aliviada que ele não tivesse percebido o que ela de fato sentia. — É? — Jack fez um ar de quem não acreditava no que ouvia. ;— Então, por que saiu daquele jeito da festa? — Não saí às escondidas. Só estava precisando de um pouco de ar e ficar sozinha. Não queria que ninguém viesse atrás de mim — Ellie acrescentou. — Por que não? — Ele sentou-se em uma cadeira ao lado da sua. — Não gosto de festas. — Pois me pareceu que estava adorando — Jack disse com ironia. — Seria capaz de jurar que estava se divertindo muito. — Por que deveria estar me divertindo, Jack? Passei a noite toda mentindo para minha família e para meus amigos. Tive de fingir que estava feliz por estar noiva de um homem que me ignorou o tempo todo. Recebi olhares de piedade de suas ex-namoradas que devem estar procurando encontrar um motivo pelo qual você resolveu ficar noivo de alguém que não significa nada para você. O que o faz pensar que estava me divertindo? — Não a ignorei. Nem consegui chegar perto de você, que parecia feliz por estar sendo o centro das atenções. — Não viu que eu estava me esforçando para parecer uma noiva alegre e deixar minha família feliz? Meus pais tiveram um trabalho danado para organizar a festa e iam se chatear se eu não estivesse delirantemente feliz. E claro que fingi estar me divertindo! O que você esperava que eu fizesse? Que ficasse lá parecendo uma infeliz? — Não precisava flertar com todo homem que fosse conversar com você — Jack falou duramente. — Flertar? — Ellie quase engasgou, tão enfurecida estava. — Não estive flertando com ninguém. Nem sei como flertar! — Oh! eu não diria isso — ele retrucou. — Na verdade você é perfeita nessa arte. Devo ter sido o único homem com quem você não flertou! Projeto Revisoras
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Sempre Sonhei com Você - Sabrina nº 1238 Jessica Hart — Isso porque você nem chegou perto de mim! — Ellie exclamou com a voz trêmula. — Mas você tinha coisas muito melhores a fazer. Estou surpresa que tenha percebido o que eu estava fazendo! . — É claro que percebi. Jack olhou para Ellie sentindo-se incapaz de pensar racionalmente. O vestido vermelho era como uma chama, e seus olhos verdes brilhavam de raiva, tornando-a mais viva do que nunca. Lembrou-se novamente do beijo e percebeu que ficara mais perturbado ainda. — É que estamos noivos, não é? — Ah! Então você só se lembrou disso agora? — Ellie nunca discutira antes com Jack e descobrir que podia ficar com raiva dele a surpreendia. — Isso explica que tenha me evitado o tempo todo e prestado mais atenção em suas ex-namoradas. — Estive apenas conversando com velhas amigas — ele disse, sem querer admitir que ver Ellie rodeada de rapazes também o havia deixado irritado. — Engraçado que suas velhas amigas sejam todas jovens e muito bonitas! Não era costume de Ellie ser assim tão sarcástica e Jack não estava gostando de como ela estava reagindo agora. Apertou os lábios e olhou-a duramente. — Não seja ridícula! Conversei com todos na festa. Fui delicado com suas tias, disse as coisas certas para seu pai e irmão e encantei sua irmã e sua mãe. Teria conversado com você, mas nem consegui chegar perto. Teria que lutar contra uma fileira de homens que estavam ansiosos em dar uma olhadinha em você usando este vestido! Houve um silêncio estranho entre os dois. Cada um olhava para o outro com raiva e prontos para partirem para uma discussão mais acalorada ainda. — Ele está aqui, não está? — Jack perguntou em um tom de voz diferente. — Quem? — O homem que você ama. — Está — ela admitiu depois de um momento. — Logo vi — Jack retrucou sem olhar para ela. — E como se uma luz surgisse dentro de você. Pippa costumava ficar assim. Ela me disse que era porque eu estava por perto. Ellie não queria ouvir falar em Pippa naquele momento. Aproximou-se de Jack a ponto de quase tocá-lo. — Sim, você tem razão. Esse deve ser o motivo. — Ele é casado? É esse o problema? — Não quero falar sobre isso. — Olhei todos os homens solteiros que estavam perto de você — Jack continuou. — E todos estavam ansiosos em ter a chance de abrir esse zíper do seu vestido. Então não é nenhum deles. Você podia levantar o dedinho e escolher quem quisesse entre eles. — Jack... — Ellie insistiu. — Não quero falar sobre esse assunto, está bem? — Não conto para ninguém. Só queria saber quem é. — Não é da sua conta. — Como não é? Vamos nos casar! — Fizemos um acordo — ela disse secamente. — Contei a você a minha situação e você disse que entendia. Não pretendo discutir mais nada sobre isso. — Ah, então é assim? — Jack a olhou frustrado. — Você acha muito natural que eu tenha de aceitar ver você desse jeito cada vez que o tal sujeito estiver na mesma sala? Antes que Ellie pudesse responder qualquer coisa, o som de sapatos de salto alto soou na varanda. — Aqui estão vocês! — Lizzy exclamou satisfeita. — Nem pensem em se esconder. Estive procurando por vocês por toda parte. Vamos fazer um brinde aos noivos e papai vai fazer um discurso... Lizzy parou de falar quando percebeu o jeito que Ellie e Jack estavam se olhando. — Estou sentindo fumaça no ar... O que está acontecendo? Vocês estão brigando? — Não é nada — Ellie afirmou em uma voz sem muita firmeza. — Vocês estão prontos para o beijo ou vou ter de entrar naquela sala e dizer a todos Projeto Revisoras
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Sempre Sonhei com Você - Sabrina nº 1238 Jessica Hart que o noivado está desfeito? — Lizzy perguntou com ar inocente. — É claro que o noivado está de pé. — A voz de Jack soou bem diferente do que a de momentos antes. — Pode mandar pegar os copos que já estamos indo. Lizzy divertiu-se ao ver como Jack praticamente empurrou Ellie para dentro da festa. Todos pareciam estar esperando por eles. Ellie ficou sem jeito em ver que sorriam e que o pai era aplaudido quando se levantava para fazer o discurso. Ninguém percebia que o sorriso de Jack não combinava com seu olhar frio e irritado? Também não notavam como ele segurava a mão dela com uma certa violência? Nem sentiam no ar a tensão que havia entre os noivos? Somente Lizzy parecia olhar para eles, mas sorria. Ellie procurou descobrir se ela desconfiara de alguma coisa, se escutara a conversa da varanda, mas estranhamente Lizzy parecia satisfeita. Tinha a sensação de que estava parada ali há horas. Jack apertava sua mão sem piedade e todos riam das piadas que seu pai estava fazendo. Nem se atrevia a olhar para Jack, mas sua mão já estava doendo sob a pressão com que ele a segurava. — Viva os noivos! — Todos gritaram levantando os copos e fazendo o brinde. O arranjo que ela e Jack haviam feito devia só interessar a eles, no entanto agora parecia que a cidade inteira queria que o casamento deles fosse um sucesso. Teria sido mais fácil não ter concordado com festa alguma. Os gritos cessaram e todos ficaram olhando para o casal, esperando que se beijassem. Ela levantou os olhos apreensiva, temendo que Jack pedisse desculpas e saísse da sala. Não era possível que concordasse em beijá-la logo depois da briga que haviam tido. Tentou libertar sua mão, sem sucesso. Ele a puxou para bem perto dele, sorrindo de tal modo que Ellie se esqueceu de tudo e sentiu seu corpo começando a se excitar. Tentou falar alguma coisa, sem ter idéia do que diria, entretanto já era tarde. Jack a puxara bruscamente para seus braços e seus lábios desceram sobre os dela sem lhe dar chance de qualquer protesto. Era um beijo diferente agora. Não havia ternura nem sinal de prazer. Era uma espécie de desafio. Os lábios de Jack estavam firmes e exigentes, suas mãos apertavam forte seus braços nus, e a raiva que um sentia pelo outro funcionava como uma espécie de descarga elétrica. Ellie estava abalada com a intensidade com que se entregava ao beijo. Era como se estivesse em meio a uma explosão incontrolável. Jack a estava punindo. Bem, ela estava cansada de agir como uma doce garota que não reclamava nunca de nada nem de ninguém. Aceitava o desafio que ele lhe fazia. Provocante, retribuiu o beijo. Esqueceu-se de que não estavam sozinhos e que havia seus parentes e convidados assistindo ao beijo. Não pensou no acordo que fizera com Jack. Nada importava agora a não ser a excitação perigosa que envolvia os dois. Quando o beijo terminou, Ellie procurou se assegurar se que ainda estava viva ou se fora consumida pela paixão. Era como se seus lábios tivessem sido feitos para se encontrarem em busca do prazer máximo, como se as mãos de Jack fossem perfeitas para acariciá-la. — Ei, deixem isso para depois! — alguém gritou rindo. — Há crianças aqui dentro. Todos começaram a rir e aplaudir ao mesmo tempo. Ellie viu Jack se afastar um pouco sem prestar atenção ao protesto que ela fazia. O que tinha acontecido entre eles? Em um minuto, ela e Jack estavam se beijando furiosamente, e no outro... Não entendia o que tinha mudado e por que ele se afastara novamente dela. Sabia que se sentia estranha depois do beijo e ficou com medo de desmaiar. Apoiou-se em Jack para não cair. Seus olhos encontraram os dele finalmente. Jack a olhava consternado, chocado mesmo com o que os convidados podiam pensar dos dois. Talvez tivessem achado graça e pensado que os dois haviam preparado aquela cena para diverti-los. Muitos riam e aplaudiam e ouviam-se assobios por toda parte. Projeto Revisoras
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Sempre Sonhei com Você - Sabrina nº 1238 Jessica Hart — Felicidades para Ellie e Jack — muitos gritavam. Aos poucos, todos foram saindo satisfeitos. Ellie sentiu-se exausta, mas conseguiu se despedir de todos, como se estivesse acostumada a ser beijada assim todos os dias. Jack ficara ao seu lado o tempo todo, com o braço em sua cintura, como um apaixonado faria. Ellie disse a si mesma que era melhor assim, que devia parar de se sentir confusa e abalada. Nem sequer haviam voltado a conversar, quando Clare e Gray se aproximaram trazendo Alice, que dormia como um anjo. Jack a pegou no colo e despediu-se de todos com animação, mas sem olhar para Ellie uma única vez. — Estava pensando em ir para Waverley na semana que vem, Ellie — Jack finalmente disse olhando-a a distância. — Você quer ir junto ou estará ocupada? Ellie não tinha certeza se conseguiria continuar fingindo. Forçou um sorriso e procurou agir como se nada tivesse acontecido entre os dois. — Irei com você, claro. Ainda tenho as janelas para terminar de pintar. — Gray e eu estaremos ocupados com o gado nos próximos dias e não poderei ir a Waverley antes de quarta-feira — Jack disse com formalidade. — Venho pegá-la, se você quiser. — Ótimo. Jack hesitou, como se quisesse dizer alguma coisa mais, mas depois pareceu mudar de idéia e apenas acenou para ela. — Então, estamos combinados. Vejo você na quarta. Ellie ficou apenas olhando ele colocar o bebê no carro e entrar sem sequer olhar para trás. Depois que não viu mais o carro, sentou-se em um banco do jardim. Não percebeu que Lizzy estava por perto observando-a com uma expressão curiosa. — O que foi? — perguntou, na defensiva, apesar de Lizzy não ter dito nenhuma palavra. — Só queria dizer que no começo estava inquieta com seu casamento com Jack — Lizzy disse finalmente. — Pensei que ambos iam se casar pelos motivos errados e quando ele chegou na festa e a cumprimentou, achei que tinha razão. No entanto, depois que vi vocês dois brigando vi que me enganara e aprovei seu casamento. — Você aprovou? — Ellie olhou para a irmã sem entender o que ela queria dizer. — Ah, sim! — Lizzy exclamou. — Vocês estavam tendo uma boa briga quando eu apareci lá na varanda, não é? Isso é um bom sinal. — Por quê? — Ora, você nunca brigou na sua vida e se Jack conseguiu deixá-la fora de si, isso é sinal de que há algo de especial entre vocês dois. Só duas pessoas que se importam uma com a outra conseguem brigar daquele jeito. E se beijam do jeito que vocês se beijaram depois... Ellie olhou, surpresa para a irmã, que começara a suspirar. — Gostaria de achar alguém que me beijasse daquele jeito, não importando se houvesse uma multidão nos olhando. Você tem muita sorte. — Lizzy... — Ellie sentiu um impulso, depois se controlou. Quase contara a verdade para a irmã. Tivera vontade de dizer que eles eram apenas amigos, que haviam feito um acordo. Mas Lizzy parecia tão feliz que não teve coragem de confessar seu segredo. Se fizesse, ela contaria aos seus pais e todos ficariam desapontados com sua mentira. Melhor seria continuar fingindo. E tinha a lembrança do beijo de momentos antes para ocupar seus pensamentos pelos próximos dias. Não fora como ela sempre sonhara, mas ao menos ele a beijara de verdade. Era melhor essa lembrança do que suas velhas fantasias... Podia estar trabalhando em um empreguinho na cidade, ou estar vendo Jack ficar noivo de outra mulher naquela noite. Isso não acontecera. Jack iria casar com ela e viveriam juntos na fazenda que estavam reformando agora. Não era exatamente o que ela sonhara, porém muito mais do que imaginara conseguir. Projeto Revisoras
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Sempre Sonhei com Você - Sabrina nº 1238 Jessica Hart — Sim — concordou fitando a irmã. — Tenho muita sorte. Na quarta-feira, Jack veio apanhá-la bem cedo para irem à fazenda. Ellie estava esperando por ele na entrada da propriedade, preparando-se para o que aconteceria quando se encontrassem. — Oi, Ellie. — Oi — ela respondeu alegremente, entretida em colocar o cinto de segurança do carro. A viagem não seria demorada, pois iriam de avião. Estava determinada a agir com naturalidade como se nada de diferente, tivesse acontecido entre eles na festa de noivado. O beijo que haviam trocado continuava em sua memória, perturbando-a. Sentia-se trêmula cada vez que se lembrava de como seu corpo reagira ao contato com Jack. Iria se casar com ele. Morar junto seria mais difícil do que ela imaginara antes. No entanto, era melhor passar por dificuldades do que ficar longe de Jack. Agora pretendia fingir que nada a perturbava e estava apenas interessada em pintar as janelas que faltavam. Ellie estava contente de ter Jack ao seu lado durante todo o vôo. Por uns momentos, fechou os olhos lembrando do que sentia quando sorria para ele, quando tirava o chapéu e seus cabelos apareciam despenteados e brilhantes sob os raios do sol. Jack, em silêncio todo o tempo, pilotava atento aos instrumentos de vôo. Ellie olhou-o com carinho. Sempre o conhecera tão bem, mas agora sabia como seus lábios beijavam, como aquelas mãos eram capazes de acariciar o seu corpo. Endireitou-se no banco. Agora tinha lembranças e não apenas sonhos. Tudo estava muito diferente. CAPÍTULO VI Ellie tentou desesperadamente encontrar um assunto que quebrasse o silêncio pesado que havia entre ela e Jack. Ele parecia entretido em pilotar o avião, mas os dois teriam de conversar sobre alguma coisa, senão o dia que tinham pela frente seria infernal. — Você trouxe tinta para pintarmos o banheiro? — perguntou enfim. Podia ser um assunto trivial, mas era melhor do que ficar sem dizer nada. — O suficiente para terminarmos o cômodo e ainda vai sobrar para retocarmos o quarto de Alice. Jack sentiu-se aliviado que Ellie tivesse quebrado o silêncio. Passaram a conversar sobre decoração, depois falaram sobre o tempo, de como choveria nos próximos dias e da chance de acontecer alguma enchente. Quando os assuntos triviais acabaram, comentaram da necessidade de comprarem um gerador para Waverley e quanto combustível o aparelho poderia consumir. Pelo menos estavam conversando e aliviando a tensão que havia entre eles desde o beijo do noivado. — Sinto muito sobre o que aconteceu no outro dia — Jack disse não agüentando mais continuar com aquela conversa banal. — Sobre o que você está falando? — Ellie perguntou meio assustada. — Eu estava fora de mim — Jack explicou. — Você tem razão. O que você sente por esse outro homem não é assunto meu. Não devia ter brigado por causa disso — reconheceu. — Estava tão bravo só porque achei que ele estaria ali na festa. O fato é que estava por demais nervoso por causa do noivado. — Ambos estávamos. — Ellie procurou manter um ar despreocupado. — Também quero me desculpar pelo beijo — Jack acrescentou respirando fundo. — Ah... tudo bem. — Não sei mesmo o que deu em mim. Perdi completamente o controle. Projeto Revisoras
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Sempre Sonhei com Você - Sabrina nº 1238 Jessica Hart Ellie engoliu em seco, lembrando-se de como ela própria se comportara quando do beijo. Agarrara-se a ele, não se importando com o que Jack poderia ter descoberto naquele momento. — Assustei você? — ele perguntou, arriscando uma rápida olhada para ela. — Não, não... — Estava com medo que tivesse. Você parecia aborrecida. — Fiquei só um pouco surpresa, foi isso — Ellie conseguiu dizer. — Tem certeza de que quer continuar com nosso acordo?/ — Jack lidava com os instrumentos de vôo, mas parecia ansioso em escutar a resposta. — Percebi, na festa, que pode ser muito difícil para você casar-se comigo. Ainda mais com esse meu gênio. Não vou culpá-la se você tiver mudado de idéia depois do jeito que me comportei. — Você está querendo me dizer que desistiu de nosso casamento? — Não — ele respondeu rapidamente. Na verdade, pensara muitas vezes em terminar com tudo. Chegara a pegar o telefone mais de uma vez para falar com Ellie, mas desistira sempre no último momento. Comentara com Clare e Gray sobre os homens que a haviam cortejado na festa, mas sua cunhada e seu irmão insistiam que tudo não passara de imaginação dele, que estava apenas com ciúme. Ele, porém, não acreditava nisso, pois simplesmente não fazia sentido a idéia de sentir ciúme de Ellie. Acabara se convencendo de que agira daquele jeito porque estava cansado, confuso, mas definitivamente não com ciúme. Arriscou um olhar para Ellie. Felizmente ela estava vestida com seu velho jeans e um camisão de brim. Nada de roupa sensual. Estava do jeito que ele a conhecia e não provocante como estivera na festa, capaz de deixá-lo enfurecido. Odiava a idéia de que poderia tê-la magoado. Sempre fora uma espécie de irmãzinha para ele. — O que estou tentando dizer é que você não precisa continuar com os planos de nosso casamento só porque já tivemos a festa de noivado oficial. Podemos cancelar tudo e arranjar alguma desculpa. Quem sabe dizemos que vamos adiar a data do casamento. No final, as pessoas vão se esquecer de nós dois — Jack argumentou. — Não quero cancelar o casamento. — Ellie estava com medo que ele decidisse terminar com tudo. — Eu também quero pedir desculpas, Jack. Fui culpada pela briga também. Se um não quer, dois não brigam, não é verdade? Vamos esquecer tudo e fingir que nada aconteceu. — Fico feliz que você pense assim. Melhor esquecermos tudo. Ellie sorriu tristemente. Como ia se esquecer de que ele a beijara? Não havia a menor chance disso acontecer. — Pelo menos algo resultou de bom daquela festa — comentou. — Lizzy está convencidíssima de que nos amamos. — Verdade? — Fiquei surpresa também. Mas minha irmã achou que nossa briga era um bom sinal. Sei lá por quê. Chegou a dizer que tinha inveja de nós. — Lizzy não diria isso se soubesse da verdade — Jack retrucou, com uma ponta de amargura. Da janela do avião, Ellie olhou a paisagem lá embaixo. A vegetação era como um carpete verde que ocupava toda a área. — De fato. Lizzy ficaria furiosa se descobrisse que a estamos enganando. É romântica demais — comentou finalmente. — Deve estar achando que descobri de repente uma nova alma gêmea. Mesmo sabendo o que ela sabe sobre meus sentimentos por Pippa. Ellie percebeu que Jack estava olhando para ela com uma estranha expressão no olhar. — Perguntei a Lizzy seja esteve apaixonada por você, afinal sempre ficavam tão juntos. Eram tão amigos e sempre tiveram tantas coisas em comum... — Ellie explicou. Projeto Revisoras
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Sempre Sonhei com Você - Sabrina nº 1238 Jessica Hart — E o que ela disse? — Que sempre foi apenas sua amiga. — Engraçado, sempre achei que ela gostava de Gray. Não sei por que desmanchou o namoro com ele. Nunca senti nada de especial por ela, apesar de ser tão bonita e tão amiga. Fui me apaixonar por Pippa, que se parecia com ela, apesar de não ser loira. Lizzy e Pippa tinham muita coisa em comum. Ellie sentiu uma ponta de mágoa porque Jack estava novamente pensando em Pippa. — Ela era tão alegre, tão divertida, tão cheia de energia, assim como Lizzy. Mas nunca sinto nada quando Lizzy me toca, mas com Pippa era como se o sol estivesse iluminando o lugar onde ela estava. Você entende o que estou falando, não é? Ellie pensou no que sempre sentira por Jack e apenas concordou com um gesto de cabeça. Também ela era capaz de ver até estrelas em pleno dia quando ele aparecia à sua frente. — Sim, conheço esse seu sentimento — respondeu. — Não há como explicar por que nos apaixonamos por uma pessoa e não por qualquer outra. Jack a fitou por um longo tempo e, em vez de pensar em Pippa, ficou entretido em ver como eram as linhas do rosto de Ellie, a curva de sua boca, o jeito com que os cabelos se ajeitavam atrás da orelha. Seu coração bateu meio descontrolado. — É, não escolhemos a pessoa por quem vamos nos apaixonar — ele concordou. Aproveitou o momento para poder fazer a manobra do avião e parar de sentir aquela estranha sensação que o envolvia quando olhava Ellie mais atentamente. — E o que seus pais estão pensando? — Jack perguntou. — Estão convencidos de que nos amamos? — Acho que nem lhes passou pela cabeça que o nosso casamento fosse de interesses. Mamãe só pensa no meu vestido de noiva e nos enfeites da cerimônia. Quer uma festa bem tradicional. Até brigamos, porque não quero me casar em uma igreja de Mathison. — O que há de errado com a igreja? — Jack perguntou. — Se você quiser uma cerimônia religiosa, tudo bem. — Igrejas são para casamentos de verdade — Ellie falou secamente. — E o nosso é de mentira? — Você sabe que é, Jack. Prefiro um casamento em Waverley Creek e não em uma igreja. Estamos nos casando porque você precisa de uma mãe para Alice e alguém para ajudá-lo em Waverley e eu estou me casando com você porque prefiro morar aqui e não na cidade. — Muito bem falado — Jack resmungou, sentindo uma ponta de irritação. — Estou apenas sendo honesta. Nosso casamento não vai ser como seria se você estivesse se casando com Pippa — Ellie expressou-se com certa dificuldade. — Concordamos que nossos votos não seriam como os elos de um casamento normal. Você não acha melhor que o casamento não seja na igreja? — Se você quer desse jeito, também quero. — Não se trata do que eu quero — sussurrou. — É que me parece mais apropriado, diante da situação. Olhou rapidamente para Jack, mas ele adotara uma expressão vazia. — Achei que podíamos montar um altar aqui na fazenda. — Boa idéia — Jack concordou, tentando parecer entusiasmado. O problema é que ele não se sentia entusiasmado. Na verdade, estava decepcionado, especialmente porque Ellie ficava repetindo os motivos pelo qual estava se casando com ele. Não parecia nem um pouco animada com os preparativos para a festa e deixara bem claro que o casamento deles seria uma espécie de farsa, um mero jogo de interesses. Resolveu pensar em outra coisa e não falar mais sobre o casamento. Queria de saber se o beijo que acontecera entre os dois a havia perturbado como acontecera com ele. Queria saber como ela tinha se sentido enquanto se abraçavam e se ficara acordada à Projeto Revisoras
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Sempre Sonhei com Você - Sabrina nº 1238 Jessica Hart noite pensando naqueles momentos. Estranhamente ele ficara. Jack e Ellie suspiraram aliviados olhando o resultado do trabalho de pintura daquela semana. — Vou arrumar uns dois homens lá de Bushman's Creek na semana que vem — disse á Ellie. — Preciso deles para arrumar os alojamentos dos empregados e a área onde os animais vão ficar. — Ótimo — Ellie concordou, tentando parecer distante de Jack assim como ele estava com ela. — A que horas você vai me pegar? — Você pode tirar uma folga. Gray disse que pode me emprestar Jed e Dave por um mês pelo menos, até que eu arranje meus próprios empregados. — Mas posso ajudar, também — ela ofereceu. — Não me importo com trabalho duro. — Acho melhor você cuidar dos preparativos do casamento. Está próximo e ainda há muita coisa para organizar. — Mamãe e Lizzy não me deixam fazer nada. — Mesmo assim... — Jack hesitou. — Não vamos precisar de você por enquanto. Ellie sentiu como se ele a tivesse esbofeteado. Estava claro que não a queria por perto. Devia achar que uma mulher era boa só para limpar a casa e cuidar dos filhos. Por enquanto, Clare estava com Alice e ela era dispensável. — Então está bem. — Não ia deixar Jack perceber o quanto ele a magoara. — Não há qualquer motivo para eu ficar aqui na fazenda, se você não precisa de mim, não é? — disparou, encerrando a conversa e preparando-se para ir embora dali. Ellie voltou para casa naquele mesmo dia e tentou mostrar interesse pelos buques e arranjos da festa, enquanto sua mãe e Lizzy viviam penduradas no telefone contando para as amigas o que iam vestir e o que estava sendo preparado para o bufe. Na verdade, estava inquieta e aborrecida. Fora com Lizzy escolher um vestido de noiva em Perth, mas quando estava na cidade, sentiu-se mais solitária ainda e deslocada. Obedientemente, deixou-se levar de loja em loja, comprando vestidos e enxoval. Enquanto isso, a fazenda ia sendo reformada e ela não estava lá para ajudar. O pensamento de que logo estaria em Waverley deu-lhe forças para não se desesperar. Quando tivesse tirado o vestido de noiva, as flores tivessem murchado e os convidados ido embora, ela estaria com Jack e Alice na fazenda e ali seria útil. Tudo, então, ficaria bem melhor. Chegara o dia do casamento. — Nem acredito que minha irmãzinha vai se casar! — Lizzy exclamou, rodeando Ellie toda animada e ajeitando o vestido de noiva. — Vou ser a única solteira por essas áreas aqui da Austrália! — Você vai encontrar alguém, Lizzy, e tudo ficará perfeito. — Não vou não. Só sirvo para ser dama de honra. Esta vai ser a terceira vez que faço isso. Nunca sou a noiva! — Bem, você não é só a minha dama de honra... preciso de você lá para me dar apoio moral. — Eu sei — Lizzy disse rindo. — Só estou brincando. Ninguém vai me impedir de segurar seu buque hoje e pode ter certeza de que serei eu a pegá-lo quando você o jogar para o alto. — Pronto! — exclamou. — O vestido está perfeito e você está linda! Ela olhou-se no espelho. Lizzy insistira para que ela se maquiasse e agora parecia que uma estranha a olhava do espelho. Uma estranha com olhos verdes luminosos, os cabelos enfeitados por pequenas pérolas em um arranjo romântico. — Seu vestido é maravilhoso! — Lizzy elogiou, querendo animar a irmã e forçá-la a ficar mais animada. Adorei que você escolheu esse tom prata. Combinou com seu tom de pele. — Queria poder me casar de jeans — Ellie riu com o olhar assustado da irmã. Sabia que seu vestido era muito bonito, com um corte elegante e que caía bem em seu corpo. Projeto Revisoras
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Sempre Sonhei com Você - Sabrina nº 1238 Jessica Hart Mesmo assim, não estava à vontade toda arrumada e maquiada. — Imagine se casar com jeans! Você pensa em cada coisa. O que deu em você? — Lizzy censurou. — Vai sair por aquela porta para se casar com o homem mais bonito da região, o mais sexy, o mais charmoso e quer se casar de jeans! Você não quer que Jack a ache uma noiva linda? Por um momento, Ellie deixou-se levar pela imaginação. Bastaria Jack olhá-la com aquele vestido e se apaixonaria por ela, como sempre sonhara. — É claro que quero — disse, apenas, procurando afastar seus sonhos bobos e cair na realidade. Sempre sonhara com esse dia. Em poucos minutos, estaria deixando sua casa para se casar com Jack. Claro, não era o Jack de seus sonhos, mas um homem magoado pela perda da mulher amada e que apenas precisava de uma amiga ao seu lado. Era um Jack que sorria pouco, que dizia coisas que a magoavam, que nem a procurara nas últimas três semanas. Haviam se encontrado apenas quando ela levara seus pais e Lizzy para conhecerem a fazenda. Apesar de Jack ter sorrido para ela na ocasião, não havia tentado ficar nenhum momento a sós para poderem conversar mais intimamente. Tinha apenas comentado que a fazenda estava praticamente reformada. — Bem, está pronta para ir ao encontro do homem amado? — Lizzy perguntou, fazendo-a afastar as lembranças dolorosas. — Acho que sim. — Como se sente, querida? — Apavorada. E era verdade. Somente agora tomara consciência do que estava para fazer. Começou a sentir falta de ar e entrar em pânico. Estava vestida de noiva e ia se casar! Lizzy riu, procurando acalmar a irmã. — Tudo vai sair perfeito — assegurou, enquanto pegava o buque e empurrava a irmã para a porta. — Pense apenas em Jack. Às cinco horas em ponto, Ellie caminhou de braço dado com o pai no tapete que a levaria ao altar montado em Waverley Creek. Olhou em volta e viu que Jack preparara bem o local da festa, fazendo com que Waverley voltasse aos seus tempos gloriosos. Havia mesinhas decoradas com flores brancas e bandejas com champanhes que seriam abertas tão logo terminasse a cerimônia. Depois, iriam jantar no galpão que havia sido decorado exclusivamente para aquela ocasião. Quando Ellie apareceu ao lado do pai, ouviu-se um murmúrio entre os convidados. Ellie sentiu um tremor nas pernas quando viu que Jack a esperava junto de Gray. Tudo pareceu ficar nublado. Mal conseguia identificar os rostos sorridentes que a cumprimentavam. Era como se estivesse em um sonho e que acordaria a qualquer momento. Tinha de se convencer que aquilo estava mesmo acontecendo, que logo estaria casada com Jack. E subitamente estava ao lado de Jack, que a olhava com certa surpresa. Estava extremamente atraente com um traje formal, mas sua expressão era tão sombria que Ellie sentiu uma dor no coração. Falseou o passo e teria parado no caminho, se o pai não a empurrasse gentilmente para o encontro de Jack. Teve certeza de que ele não deveria estar ali. O casamento era um erro, porque ele não a amava. Continuava preso às lembranças de Pippa. Estava tudo errado, mas agora era muito tarde para fazer o que quer que fosse. Todos estavam ali, parentes e amigos, todos animados e felizes. Lizzy a acompanhava, sua mãe começara a chorar de emoção e seu pai sorria satisfeito. Um senso de fatalidade a envolveu e apenas deu a mão para Jack e fitou-o. Jack estivera se sentindo doente desde que se colocara no altar. Ficara arrumando o colarinho, imaginando o que estaria fazendo ali, já que ia se unir a uma mulher que ele Projeto Revisoras
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Sempre Sonhei com Você - Sabrina nº 1238 Jessica Hart não amava, uma mulher que amava outro homem... Ficara esperando que Gray o ajudasse a sair da situação desesperadora em que se encontrava. No entanto, o irmão estava sorrindo para Clare, feliz com o casamento que iria ser celebrado, feliz com seu próprio casamento e com a perspectiva de que filho ia nascer. Jack tinha procurado se acalmar. Estava ali por causa de Alice. Sua filha precisava de uma mãe. Por toda parte, os convidados falavam animados, antecipando a cerimônia. Quando ele viu Ellie se aproximar, ao lado do pai, notou que parecia calma. Vestia um elegante vestido prateado, longo, que a deixava muito bonita. Tinha arrumado os cabelos de forma a destacar as linhas de seu rosto delicado. Jack quase entrara em pânico. Não podia se casar com essa estranha que caminhava em sua direção. Ellie estava agora ao seu lado, colocara sua mão na dele, mal sabendo o que ele sentia naquele momento. Os dedos dela tremiam e, quando levantou os olhos, Jack viu que quem estava ali era apenas sua amiga de infância. Aliviado, sorriu para ela, refletindo que a mulher ao seu lado não era uma mera noiva. Era a Ellie que ele sempre conhecera. Devia também estar odiando a cerimônia. Segurando forte a sua mão, Jack virou-se para o sacerdote pronto para fazer os votos. A cerimônia se alongou. Ellie escutou o sacerdote falar sobre o casamento, mas as palavras soavam longe e ela se assustou quando ouviu sua própria voz dando as respostas que devia. Jack estava fazendo o mesmo, e agora colocava a aliança em seu dedo. Suspirou ao sentir o calor de seu toque. No momento seguinte, foram declarados marido e mulher. Marido e mulher! Mal conseguindo acreditar no que acontecera, olhava extasiada a aliança em seu dedo. Ela era a esposa de Jack. Levantou os olhos e encontrou seu marido olhando-a com carinho. — Pode beijar a noiva — o sacerdote disse. Jack tomou consciência do que esperavam dele. Tinha de beijar a noiva, apesar de saber que isso era a última coisa que Ellie deveria querer. Não podia deixar de beijá-la, porém, pois todos ali na cerimônia estavam esperando que isso acontecesse, Segurando o rosto de Ellie com carinho, ele roçou seus lábios nos dela. Foi apenas um momento, mal podendo dizer-se que fora um beijo de verdade, mesmo assim Jack sentiu algo estranho dentro de si e uma necessidade urgente de pegá-la nos braços e beijá-la sem parar. O impulso foi tão forte que Jack mordeu os lábios tentando se controlar. Incapaz de olhar nos olhos dela, pegou sua mão e forçou um sorriso em direção aos convidados. Ellie viu Jack sorrir e adivinhou o esforço que ele devia estar fazendo e sentiu pena. Queria poder confortá-lo, dizer a ele que logo tudo terminaria. Agora não tinham saída. Estavam casados. Não haveria como escapar dali e teriam mesmo que enfrentar os convidados e aceitar os cumprimentos. Sorriu durante toda a cerimônia, agradecendo aos elogios que faziam ao seu vestido. Todos diziam que ela estava linda e Ellie sabia que essas eram as frases que se costumava falar para uma noiva. Ela não se sentia radiante e sim incrivelmente solitária. Jack estava com Alice no colo e a acariciava. Ver os dois juntos a fez lembrar mais uma vez que o casamento somente acontecera porque Jack precisava de uma mãe para sua filha. Os dois precisavam dela. Percebeu que alguém a olhava. Clare estava ali perto e havia uma expressão de simpatia em seu rosto. Devia estar com pena dessa noiva que não era amada. Mas Ellie não queria sentir pena de si mesma. Tinha sido dela a idéia do casamento, mesmo sabendo como Jack ainda amava Pippa. Tinha escolhido seu destino e pretendia fazer o que estivesse ao seu alcance para tornar sua vida feliz. Projeto Revisoras
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Sempre Sonhei com Você - Sabrina nº 1238 Jessica Hart Sorriu para Clare, depois sorriu para as fotografias e quando cortou o bolo. Sorriu até quando escutou uns convidados comentarem surpresos que o noivo já tinha uma filha de uma outra mulher. Deviam estar com pena dela, talvez lhes passasse pela cabeça que Jack escolhera uma noiva tão sem graça porque precisava de uma mãe para sua filha. Ninguém disse isso, mas podiam pensar assim. Percebeu que estava ficando deprimida à toa. Na verdade, os convidados estavam se divertindo e ninguém prestava muita atenção à noiva. Descobrindo-se sozinha, Ellie aproveitou a oportunidade para se refugiar em um cantinho solitário do jardim. Ao longe podia escutar os ruídos de risos, de música e de pares dançando. Reconheceu Gray e Clare observando os casais que dançavam. Gray passava a mão pelas costas da esposa com um gesto discreto, mas muito sensual. Ellie sentiu uma ponta de inveja tão intensa que chegou a sentir seu corpo doer. Viu quando Gray murmurou alguma coisa no ouvido da esposa e o sorriso dela enquanto se apoiava no marido. Havia qualquer coisa tão íntima na forma como estavam ali parados simplesmente e Ellie resolveu afastar o olhar. Somente então percebeu que Jack a olhava de longe. Sentiu como se o coração fosse parar. Jack estava do outro lado do jardim com uma expressão séria. Seus olhares se cruzaram e finalmente ele veio para junto dela. Sentiu-se de repente muito cansada. Sabia que tinha que continuar sorrindo e fingir ser uma noiva feliz e radiante, mas isso se tornara muito difícil... Não podia nem se mover ou falar ou mesmo pensar. Ficou apenas esperando Jack chegar ao seu lado. — Você já está cansada — disse sorrindo. — Vamos embora daqui? CAPÍTULO VII Ellie apenas olhou para Jack e concordou. Deixou que ele pegasse sua mão e caminharam em direção à casa principal. O ar da noite estava fresco, muito mais agradável do que dentro do galpão. Ellie olhou para o céu estrelado e suspirou. — Obrigada — disse finalmente. — Vi você olhando Gray e Clare — Jack falou com simpatia. Pela sua expressão, percebi o que estava sentindo. — Ele hesitou antes de continuar: — Sei o quanto custa ficar sorrindo forçado o dia inteiro. Ninguém pode imaginar que este não é o casamento com o qual você sonhou. — Também não era o casamento que você queria — ela murmurou com voz baixa. — De fato. Jack ainda estava segurando sua mão e Ellie começou a observá-lo. Ele era tão alto, tão forte. A camisa branca contrastava com a pele bronzeada. Jack desabotoara o colarinho e parecia também cansado. Deteve o olhar nos lábios de Jack e lembrou-se do momento em que ele pegara seu rosto nas mãos e a beijara, selando os votos do casamento. — Você acha que alguém nos viu sair? — Ellie perguntou, olhando para o galpão de onde vinham os ruídos alegres dos convidados. — Ninguém vai achar estranho que os noivos escapem da festa. Não se esqueça de que somos casados. — De fato somos — Ellie confirmou, suspirando fundo. — Nem consigo acreditar nisso. — Eu sei! — Jack exclamou. — Disse a Gray e Kevin que não queríamos que fizessem muitas brincadeiras conosco. Com sorte, quem nos viu sair não vai dar o alarme, pensando que estamos ansiosos para ir para a cama. Ellie tentou não deixar transparecer os sentimentos que a envolveram quando tomou consciência de que, como recém-casados, era de se esperar que fossem juntos para a Projeto Revisoras
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Sempre Sonhei com Você - Sabrina nº 1238 Jessica Hart cama. — Você não precisa se preocupar — Jack acrescentou bruscamente. — Com o quê? — Sobre dormirmos juntos. — Ele hesitou. — Temos que dormir hoje no mesmo quarto, porque muita gente vai pernoitar aqui e podem achar estranho que recém-casados durmam separados. Mas vai ser só hoje à noite. Ellie desviou o olhar para que ele não percebesse a amargura que havia em seus olhos. — Não vou encostar um dedo em você — Jack prometeu. — E, quando todos partirem amanhã, eu me mudarei para o quarto ao lado do de Alice. — Está bem. — Acho que devíamos ter conversado sobre isso antes... — Jack estranhou o silêncio dela. — Só achei que estava claro que você não ia querer dormir comigo. Ellie sabia que devia dizer alguma coisa, não a verdade, naturalmente. Como poderia confessar que queria fazer amor com ele não só esta noite, mas em todas as noites de suas vidas? Qual seria a reação dele se pedisse para ser beijada a ponto de perder a respiração? Não podia dizer a verdade, mas tinha que falar alguma coisa. Se não dissesse nada, talvez nunca teria qualquer outra oportunidade como essa. — Bem, eu... —• começou a dizer, sem muita certeza de que deveria continuar. — Sei que é difícil para você — Jack murmurou, vendo que ela enrubescera. — Você está apaixonada por outro homem e é claro que não vai querer ir para a cama comigo. Só não quero que pense que esperava que fizesse isso — Jack terminou, desejando ter se expressado melhor. — Nunca pensei nisso. — Ellie suspendeu a barra do vestido para não tropeçar nos degraus da escada. Tentou não perder o controle, e confessar que sempre o amara. — Achei que era você quem não queria dormir comigo. — Verdade? A frieza com que Jack fizera a pergunta quase a fez tropeçar. Com certo esforço, equilibrou-se e olhou para ele. Jack estava com uma expressão confusa no olhar. — Não... quero dizer... Bem, você disse que seríamos amigos — ela murmurou. Jack olhou para Ellie, parada nos degraus, segurando parte do vestido de noiva com uma das mãos. Sua pele macia como seda estava iluminada pela luz das estrelas e seus olhos pareciam ter escurecido. — Sim, foi o que dissemos, não foi? — Jack deu um leve sorriso. — E amigos é o que seremos sempre. Ellie pressentiu uma certa ironia em sua voz. Estaria enganada e Jack queria que ela fosse mais que sua amiga? Antes que tivesse chance de esclarecer isso, Jack passou na sua frente segurou a porta para que ela pudesse passar com facilidade sem deixar de segurar o vestido. — Lizzy perguntou onde íamos dormir — Jack disse em um tom impessoal. — Ela sabe que não mobiliamos ainda a casa e quis preparar um quarto para nós, deixando-o bem bonito. Lizzy escolhera um dos quartos que Jack e ela haviam deixado para decorar por último. Lembrava-se de que, enquanto pintava as paredes, ficara imaginando se seria ali que dormiriam. Bem, ao que tudo indicava, ia ser exatamente ali. O chão era de madeira, as paredes estavam sem qualquer quadro nem havia ainda cortinas nas janelas. Mesmo assim, Lizzy tentara criar uma atmosfera romântica no aposento. Havia um vaso de flores em cima da cômoda, um abajur iluminava suavemente o ambiente e uma camisola rendada estava colocada sobre a cama. — Oh... — murmurou. Percebeu que Jack estava olhando exatamente para a camisola. — Bem, não podemos negar que Lizzy se esforçou bastante Projeto Revisoras
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Sempre Sonhei com Você - Sabrina nº 1238 Jessica Hart — Jack disse tentando fazer uma graça. — Tem razão — Procurou ler os pensamentos de Jack. Ficaram em silêncio, olhando a camisola, como se a peça íntima os estivesse provocando. Haviam embarcado em um casamento sem amor. Incapaz de agüentar a tensão por mais tempo, Ellie caminhou para a cama e pegou a camisola. Era de uma seda finíssima e devia ter custado uma fortuna. Lizzy quisera a peça perfeita para a noiva. Mas a camisola era para uma noiva de verdade, não para ela. Sentiu seus olhos se encherem de lágrimas e piscou várias vezes tentando fazê-las desaparecer. — É uma camisola linda — ela disse —, mas não é a roupa certa para se dormir com um amigo. — Concordo plenamente. — Jack caminhou para a porta. — Vou ver como Alice está. Deixada sozinha, Ellie andou pelo quarto à toa. Seu corpo doía, sentia uma espécie de torpor, contudo tinha certeza de que não conseguiria dormir naquela noite. Como poderia, se Jack estaria deitado ao seu lado, tão perto que ela poderia até tocá-lo? E se falasse quando estivesse dormindo? E se o abraçasse sem saber o que estava fazendo? E se perdesse completamente a razão e implorasse a Jack que fizesse amor com ela? Continuar sendo apenas sua amiga lhe pareceu, de repente, uma missão impossível, mas era exatamente o que tinha de fazer. Procurou se acalmar. Afinal, ia ser apenas uma noite. Estava se perturbando à toa. Tudo o que tinha de fazer era tirar aquele vestido, lavar seu rosto, achar alguma camiseta bem sem graça que devia estar em alguma das gavetas, dizer boa-noite, virar para o outro lado e dormir. Não ia ser fácil. O primeiro problema que tinha pela frente era conseguir abaixar o zíper do vestido, mas ele estava exatamente nas costas. Tentou de todos os jeitos fazer o vestido sair fechado mesmo, mas não conseguiu. Desistiu e foi ao banheiro tentar tirar a maquiagem. Logo mais ela tentaria de novo e teria maior sucesso. Percebeu que havia luz no quarto de Alice. Jack ainda deveria estar lá e isso lhe daria tempo de se preparar para dormir antes que ele fosse para o quarto. O banheiro ficava no corredor e teria que passar pela porta do quarto de Alice. Como a porta estava entreaberta, pôde ver Jack segurando um porta-retrato nas mãos. Como continuou ali parada, Jack terminou percebendo sua presença. Seus olhos estavam tão tristes que Ellie sentiu uma enorme pena dele. De onde estava, não podia ver o retrato, mas devia ser uma foto de Pippa que estivera sempre perto do berço de Alice lá em Bushman's Creek. Olharam-se em silêncio, enquanto Alice dormia tranqüilamente. Não havia necessidade de palavras, nada que pudessem dizer. Ellie queria poder confortar Jack, porém a única coisa que podia fazer era deixá-lo ficar a sós com seu sofrimento e com sua filha. Virou-se e se afastou rumo ao quarto. Estivera sendo egoísta pensando apenas em si mesma. Lembrou-se do olhar que Jack lhe dera quando caminhava para o altar, depois como tentara parecer o noivo normal durante a festa. O dia inteiro devia ter sido uma agonia para ele. Era Pippa a mulher que deveria ter estado ao seu lado no altar. A imagem de Pippa veio-lhe à mente. Vira tantas fotos dela. Imaginou-a segurando o buque de noiva. Como Jack suportara ver outra mulher em seu lugar? Como conseguira sorrir? Como deixara o casamento ser celebrado? Com um suspiro, sentou-se na cama e acariciou as cobertas. Pobre Jack, pobre Pippa... Todo aquele amor, todo aquele riso, tudo o que haviam compartilhado dera em nada. — Pretende dormir vestida de noiva? — Jack perguntou na entrada, fazendo um esforço para parecer estar se divertindo. Projeto Revisoras
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Sempre Sonhei com Você - Sabrina nº 1238 Jessica Hart — Não! — Ellie levantou-se procurando fingir que não estava perturbada. — É que não consegui abrir o zíper. — Venha aqui que eu a ajudo. Jack aproximou-se e ela virou-se de costas, depois parou indecisa. Não era justo fingir que não sabia que Jack estava com o coração partido. — Oh! Jack — sussurrou com voz trêmula. — Estou tão triste por você... Jack parou sem dizer nada. Apenas abriu os braços e Ellie correu para eles. Ficaram abraçados um longo tempo. — Deve ter sido tão difícil para você, Jack. — Pressionou seu corpo contra o dele querendo mostrar o quanto ela o entendia. — Também para você — Jack murmurou, pousando o queixo sobre os cabelos de Ellie e a apertando mais em um abraço forte. Ela também precisava de conforto. Jack vira a fotografia de Pippa quando fora beijar sua filha. Na foto, Pippa estava sorridente e Jack fora invadido pela sensação de perda. Lembrou-se de como a amada era alegre e bonita, como seu riso parecia ainda ser ouvido ali no silêncio do quarto da filha. Tinha pensado nela durante o dia inteiro enquanto se preparava para o casamento. Ela era a mãe de Alice, a luz que iluminara sua vida e se apagara cedo demais, deixando-o na escuridão. Nunca iria deixar de se lembrar do que haviam compartilhado. Conversara com a foto, jurando que apenas se casara para que Alice pudesse ter uma mãe. O estranho é que, naquele momento, a imagem de Pippa misturou-se com a de Ellie. Lembrou-se da infelicidade estampada nos olhos da amiga quando ela caminhava para o altar. Depois, a vira suspirando ao ver a felicidade de Clare e Gray. A imagem de Ellie com o rosto iluminado pelo luar deixou nublada a lembrança do próprio rosto de Pippa. Agora ele tinha Ellie em seus braços, consciente da suavidade de seu corpo e da maciez de sua pele. Era como se tivesse sido feita para ser abraçada por ele. Sentiu o perfume de seu corpo e acariciou suas costas com Um movimento gentil. Aos poucos, Ellie foi relaxando, deixando-se apenas ser abraçada por Jack. Sem saber bem o que fazia, ele foi soltando as fivelas que prendiam os cabelos de Ellie e deixou-os cair soltos e macios. Ellie não protestou, apenas deixou escapar um leve gemido de surpresa e seu olhar encontrou o de Jack. Ficaram em silêncio, conscientes de que estavam juntos e que, aos poucos, o que fora um abraço de conforto estava se tornando algo infinitamente mais perturbador. Jack deixou cair no chão as delicadas presilhas, mas nem o ruído fez com que ela reagisse. Estava parada, ainda fitando Jack, enquanto uma sensação estranha invadia seu corpo. — Ellie — Jack murmurou em voz rouca. — Você acha que somente por esta noite podemos ser mais do que amigos? Incapaz de responder, tão perturbada estava com a proximidade do corpo de Jack, ela apenas o fitou. Seu coração batia como um louco. Jack a desejava. Queria esquecer a sua mágoa, parar de pensar e lembrar da mulher que amara e escapar nem que fosse por algumas poucas horas. Ela não podia trazer Pippa de volta para ele, mas podia aliviar um pouco seu sofrimento. Colocou os braços em torno do pescoço de Jack e acariciou os seus cabelos. Depois, desabotoou a camisa e acariciou o peito másculo. — Isso pode ajudar, Jack? — perguntou suavemente. — Acho que sim — ele murmurou, enquanto também a acariciava. — Não vou fingir que está tudo bem — Jack continuou —, mas fará com que enfrentemos melhor esta noite. O que você acha? — Também penso do mesmo jeito. — Ellie sentia a boca seca com as sensações que insistiam em invadir o seu corpo. Projeto Revisoras
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Sempre Sonhei com Você - Sabrina nº 1238 Jessica Hart Jack começou a passar os dedos ásperos pela nuca de Ellie. — Você pode dizer não, querida. Não vou forçá-la a nada. Você sabe disso, não é? — Sim, eu sei — ela murmurou fracamente. Com um gemido, Jack a puxou para mais junto de seu corpo. Seus lábios tocaram o rosto de Ellie e deslizaram até a boca sedutora e depois ao pescoço macio. — Será apenas por uma noite — ele insistiu. — Eu sei. — Você também precisa ser confortada, não é? — Da mesma forma que você... — disse, enquanto fechava os olhos na tentativa de não se deixar levar pelo desejo. — Você também precisa de mim hoje, não é verdade? — Jack roçou com seus lábios os de Ellie. — Preciso sim. Eu quero você, Jack. — Sua voz era um pouco mais do que um murmúrio. — Somente por esta noite — corrigiu-se, tentando fazer com que ele não percebesse seus verdadeiros sentimentos. — Isso mesmo — Jack disse, enquanto seus lábios tomavam posse dos dela e Ellie suspirava em uma mistura de alívio e excitamento e com uma estranha sensação de que finalmente chegara ao ponto que sempre sonhara. Estava nos braços de Jack, ele a beijava e iam fazer amor. Entregou-se ao prazer, deixando de lado as restrições que impusera a si mesma por tanto tempo. Ultrapassava as suas expectativas, o que sentia ao ser beijada por Jack. Repetiu a si mesma que era real, que estava acontecendo e, mesmo que não fosse se repetir, pelo menos naquela noite estaria nos braços do homem que amava e podia tocálo e retribuir os seus beijos. Os dois tinham feito uma espécie de acordo para esquecerem de tudo por uma noite. No dia seguinte, podiam voltar a ser como antes. Naquele momento, podia ser sensual, que Jack não descobriria o seu segredo. As mãos de Jack continuavam a deslizar sobre a seda de seu vestido. Ellie sentia-se como se seu corpo fosse se desmanchar quando o prazer foi crescendo mais e mais a cada carícia. — Você quer que eu abra o seu vestido, não é? — Jack sussurrou roçando os lábios em seu pescoço. — Quero... — Respondeu, mal conseguindo respirar. — Vou ver o que posso fazer. As mãos enormes de Jack começaram a lidar com o fecho , do zíper e, no começo, nada conseguiu. Tentou controlar sua impaciência, mas tudo estava ficando mais difícil, pois Ellie insistia em beijá-lo enquanto lhe desabotoava a camisa. Sem parar de beijá-la, Jack conseguiu finalmente destravar o zíper que começou a se abrir. Aproveitou para acompanhar com os dedos as partes do corpo de Ellie que estavam sendo descobertas. Era um toque extremamente erótico que a levou a gemer excitada. Lentamente, ele deixou o vestido dela cair no chão, enquanto procurava avidamente desabotoar o sutiã, que seguiu o mesmo destino. — Ellie... — Ele prendeu a respiração, surpreso em ver tanta beleza em seu corpo despido. Ela o surpreendia. Permanecia parada ali, com os olhos bem abertos, o corpo levemente curvado. A luz do abajur iluminava suavemente sua pele macia. — Ellie... — repetiu com voz trêmula. Tentou encontrar palavras que revelassem o que sentia, mas não conseguiu falar nada. Estava atordoado... Ellie tomou consciência de seu poder ao perceber como Jack estava perturbado por vêla nua em seus braços. Ele a apertava contra seu corpo com uma urgência que surpreendia a ambos. Beijando-se freneticamente, tiraram o resto das roupas, até que os dois corpos se tocaram. Jack a levantou em seus braços e a levou para a cama. Projeto Revisoras
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Sempre Sonhei com Você - Sabrina nº 1238 Jessica Hart Por alguns momentos, ele contentou-se em fitá-la, depois suas mãos se moveram possessivamente, com rudeza sobre aquela pele macia. Jack explorou com os dedos e depois com os lábios cada curva do corpo de Ellie, enquanto pronunciava o nome dela repetidas vezes. Ele a excitava tanto. Tocava no corpo dele sentindo-se a ponto de entrar em desespero. Queria conhecer Jack por Inteiro. Virou-se na cama e colocou seu corpo sobre o dele. Não resistiu e entregou-se a conhecer o sabor de sua pele. Nada mais importava naquele momento, apenas o delírio de sentirem os corpos unidos, do prazer que os lábios descobriam ao tocar as partes mais secretas e mais íntimas. Deixaram-se libertar pelo prazer. Ellie nunca pudera imaginar a intensidade das sensações eróticas que o ato sexual lhe estava revelando. Murmurou o nome de Jack, enquanto enfiava as unhas em suas costas. Seus corpos se moviam juntos em um ritmo irresistível que os levou às alturas, tirou-lhes a respiração para, finalmente, explodir em um êxtase espetacular. Demoraram para dormir. Temiam que a noite passasse rápido demais e logo depois fizeram amor novamente, desta vez mais devagar, com mais ternura. Não falaram palavra alguma, porque o encanto podia se quebrar. Apenas ficaram abraçados depois do amor e Ellie dormiu finalmente, seu queixo pousado no peito de Jack, de onde podia ouvir sua respiração. A luz do sol passou pela veneziana e acordou Ellie. Era já de manhã. Ficou deitada por uns instantes, com os olhos fechados, emergindo com pesar do sono que a mantinha naquele clima encantado. Agora, acordando, tinha que tomar consciência de que a noite acabara. Tentou virar-se de costas para a janela, para não ver a claridade, mas tudo foi inútil. Acordara e o encantamento da noite anterior tinha ido embora com a escuridão. Lembrou-se de que Jack deixara claro que se amariam apenas por uma noite. E agora era um novo dia. Chegou a sentir dor quando lhe voltaram à memória momentos do ato de amor. Nunca se esqueceria nem se arrependeria deles. O que tinha que fazer, porém, era aceitar que não ia acontecer de novo. Jack abriu a porta e entrou no quarto segurando Alice no colo. Estava usando jeans e uma camisa esporte. Colocou a bebê na cama e Ellie tentou encostar-se nos travesseiros ao mesmo tempo que cobria seu corpo nu com o lençol. — Que bom que está acordada — Jack disse em tom apenas amigável. — Trouxe-lhe uma xícara de chá. — Obrigada. — Sentiu-se embaraçada e achou ótimo que pudesse disfarçar brincando com Alice. O bebê engatinhava feliz pela cama em sua direção até receber o seu abraço. — Ninguém acordou ainda — Jack comentou. — Devem estar dormindo. — Ellie tentou manter uma conversação banal como se nada tivesse acontecido entre eles na noite anterior. — Deve ter sido uma festança e tanto. — Deve ter sido mesmo — disse, procurando se concentrar apenas em Alice e brincar com suas mãozinhas. Jack caminhou até a janela e abriu a veneziana. — Foi uma noite e tanto também para nós, Ellie. — É verdade — foi tudo o que ela conseguiu murmurar. — Nem sei como agradecer a você. — Jack aproximou-se da cama. — Não precisa me agradecer — Ellie murmurou, desviando o olhar. — Mas eu quero! — Jack não conseguia deixar de olhar para o corpo de Ellie ainda coberto com o lençol. — A noite passada... — Ele hesitou, querendo encontrar as palavras certas e deixar bem claro o que significara fazer amor com ela. — Eu sei. Nós nos confortamos ontem à noite — ela disse rapidamente. Não ia Projeto Revisoras
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Sempre Sonhei com Você - Sabrina nº 1238 Jessica Hart implorar a Jack por algo que ele não podia lhe oferecer. — Teria sido muito difícil para nós dois se não estivéssemos juntos, mas não precisa se preocupar. Não vou criar problemas. Sabemos exatamente como vamos tocar nossa vida, não é? — De fato — Jack exclamou, disfarçando a irritação que começara a sentir. Gostaria de ser tão frio como Ellie e não ficar se perturbando com a maciez de sua pele ou com a lembrança da paixão que haviam compartilhado durante a noite. Provavelmente era uma sensação que só ele sentia. — Claro que vamos seguir com nossos planos — ele acrescentou com voz firme, para deixar bem claro que sabia qual seria o seu papel dali em diante. Pensara em dizer que algo se modificara entre eles, mas fora melhor não falar nada. No mínimo ela ficaria embaraçada e a última coisa que queria era que Ellie se sentisse sem jeito ao lado dele. — Foi só uma noite — ela continuou, determinada a deixar bem claro a Jack que ela não estava esperando nada dele. Não conseguia fitá-lo e achou mais fácil olhar Alice, que estava agora puxando Jack pela camisa e querendo ir para o seu colo. — Isso mesmo — ele disse aparentando calma, quando estava tenso ao tomar consciência de que Ellie estava nua ali debaixo dos lençóis. — Não é que não foi... não foi... — Ellie queria que Jack soubesse que havia sido maravilhoso fazer amor com ele. — Quero dizer que foi muito bom para mim — conseguiu dizer com certa dificuldade. — Mas acabou, claro. Jack estava irritado. Não havia necessidade de ela ficar insistindo nisso. Já compreendera perfeitamente que ela não queria dormir com ele de novo. Ia responder, mas Alice rolara na cama e os lençóis deslizaram um pouco revelando mais um pouco do corpo de.Ellie, que pareceu não tomar consciência disso, pois procurava segurar a criança e dar-lhe segurança. Era isso o que mais importava, Jack pensou. Estava se esquecendo de Alice e de como ela precisava de uma mãe. Não podia fazer bobagem e tentar renegociar o acordo que haviam feito, pois Ellie podia se sentir ameaçada e partir. Ela estava certa. Tinham aproveitado a noite e agora tocariam tudo como se nada tivesse acontecido. Desse modo não complicariam as coisas entre eles. — Podemos ser amigos como antes? — Jack perguntou. — Claro, seremos sempre amigos — Ellie concordou, forçando um sorriso. Seria sua amiga, mas não como antes. Depois que haviam se amado, tudo seria bastante diferente. Jack se levantou da cama levando Alice com ele. — Tome seu café da manhã sossegada — Ficou um momento observando-a e seus olhos se encontraram. Jack sentiu vontade de dizer alguma coisa, mas mudou de idéia. — Aproveite esse começo de dia — disse saindo do quarto. CAPÍTULO VIII Ambos tentaram, mas de alguma forma ficou mais difícil agirem como se fossem amigos. Jack estava satisfeito pelo excesso de trabalho que tinha para fazer na fazenda porque não lhe restava muito tempo para ficar pensando em sua vida pessoal. Os homens que lhe emprestara haviam chegado e ainda contratou outros três, mesmo assim tinha que trabalhar ao lado deles consertando cercas, verificando os bebedouros para o gado, preparando os campos de pastagens. Jack teve de reunir os cavalos que haviam se tornado selvagens porque o antigo dono da fazenda não cuidava mais deles. Teve de treinar os cavalos novamente, colocando-os em forma para servirem de montaria. Algumas vezes, Ellie levava Alice para olhar o pai treinar os animais. Era um passeio Projeto Revisoras
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Sempre Sonhei com Você - Sabrina nº 1238 Jessica Hart que as duas aproveitavam. Ficava feliz em olhar Jack trabalhando, conversando gentilmente com os cavalos. Ele nascera mesmo para ser um fazendeiro. Jack era seu marido, mas o único momento em que ela o olhava sem acanhamento era quando estava absorvido no trabalho. Aproveitava para olhar seu rosto e seu corpo. Adorava vê-lo usando um chapéu que lhe cobria parte dos olhos e .quando ele o levantava para poder ver a filha melhor. Ellie sentia tanta vontade de tocá-lo que chegava a sentir uma dor profunda no peito. A lembrança da única noite que haviam passado juntos era como se fosse um fogo ainda vivo dentro dela. Tentava mantê-lo sob controle, mas tudo era inútil. Bastava Jack olhar para ela para que o fogo renascesse. Tentava agir como sempre fizera. Procurava ser alegre e amiga, mas evitava tocá-lo ou parecer ansiosa por sua companhia. Também não o chamava de volta quando ele sumia logo após o jantar e se enfiava no escritório por boa parte da noite. Escondendo a frustração, ela se ocupava de atividades o tempo todo. Decidira não ter um momento de folga sequer. Preferia estar lidando com o gado, junto com Jack e seus homens, mas como tinha que ficar na casa cuidando de Alice ou cozinhando para o marido e os empregados, passava o dia inteiro lavando, passando e cozinhando. Desesperada para dar uma volta fora da casa, mesmo que fosse em um passeio pelo jardim, planejara fazer uma horta e já começara a preparar a terra. Era um trabalho duro, mas a ocupava. No fim do dia, terminava cansada mas calma. Podia estar sendo difícil, mas, pelo menos, estava ali em Waverley, com Jack. Não era exatamente o que queria, mas podia ser pior... Jack não estava preparado para vê-la como mais do que uma amiga, mas ela tinha que continuar fazendo o que prometera, sem lhe criar problemas ou embaraçá-lo. Jack podia mudar de idéia e pedir que ela fosse embora dali. Ellie ficou animadíssima quando viu Alice dar seu primeiro passinho. Teve vontade de sair correndo e chamar Jack e contar para ele a novidade. Decidiu, porém, fingir que nada acontecera e deixar que Jack visse pessoalmente a filha andar e pensar que seria aquela a primeira vez. — Acho que papai vai querer ser o primeiro a ver você andar, não acha queridinha? — Dada... — concordou Alice sorridente. Ellie esperava que Alice exibisse sua nova habilidade quando Jack voltasse para o banho naquela noite, mas o bebê estava brincando como sempre e nada aconteceu. Podia jurar que Alice esperava para pegar o pai em um dia em que estivesse mesmo de bom humor e aplaudisse a sua conquista. Passaram-se dois dias. Ellie estava lidando com a horta enquanto Alice a olhava debaixo de uma sombra, brincando com umas panelinhas de plástico e absorvida em enchê-las e esvaziá-las de terra. Foi lá que Jack as encontrou. Ellie estava ajoelhada sorrindo para Alice. Nenhuma das duas o viu chegar e ele pôde observar a filha usando um enorme chapéu e Ellie com o rosto todo sujo de barro. — Vocês duas parecem estar se divertindo bastante — Jack disse em um tom meio emocionado. Ellie sentiu o coração dar um pulo, coisa que acontecia a cada vez que ela via Jack. Tirando o chapéu, tentou limpar as mãos, rezando para que Jack pensasse que o vermelho de seu rosto fosse bronzeado e não que ruborizara ao vê-lo. — Alice está se divertindo mesmo — ela retrucou, procurando sorrir. — Criança se diverte com pouca coisa, não é? Bastam umas panelinhas para deixá-las felizes. Pena que não podemos nos satisfazer com tão pouco. Jack olhou para Ellie enquanto falava. Pretendia usar um tom de brincadeira, mas sua expressão estava séria e quando os olhos dele encontraram os dela, sentiu a boca seca e o coração batendo estranhamente. — Seria mesmo bom — ela concordou. — Pena que as coisas não sejam assim tão Projeto Revisoras
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Sempre Sonhei com Você - Sabrina nº 1238 Jessica Hart simples. Jack pensou em como seus sentimentos andavam confusos, sentindo que não estava sendo leal com a memória de Pippa e ao mesmo tempo sabendo que devia pensar em Alice. Ellie andava ocupando demais os seus pensamentos e ele não entendia bem o motivo ou não queria descobri-lo. — Pena mesmo — ele confirmou. Os dois olharam para Alice, que não parecia em nada satisfeita porque não estava sendo o centro de atenções. Começou a se levantar, desequilibrou-se um pouco e tentou firmar-se melhor. — Logo ela estará andando — Ellie disse, não querendo deixar transparecer que já vira a menina andar. — Vem com o papai, Alice — Jack chamou. — Vem com o papai... Alice hesitou um pouco, mas o sorriso de Jack pareceu animá-la e ela deu um passinho em sua direção, depois outro e mais outro, até cair em seus braços. — Você viu isso?! — ele exclamou radiante. — Ela está andando! Alice parecia saber que deixara o pai feliz e sorria com os olhinhos, satisfeita. — Ela é uma menina muito esperta — Ellie disse. — E com certeza sabe disso — acrescentou, rindo. Jack estava feliz com a conquista da filha. — Vamos andar de novo, Alice — ele pediu e desta vez a criança virou-se para Ellie e caminhou em sua direção. — Veja como ela está andando! — Jack estava orgulhoso. — Mas o primeiro passo foi em direção ao pai! Ela sorriu, satisfeita por não haver comentado a respeito dos passinhos anteriores de Alice. — Agora não vai parar mais e vamos ter um trabalhão para controlá-la — comentou. Enquanto olhavam Alice, eles haviam se aproximado um do outro. Ellie podia ver bem de perto o bronzeado de sua pele, o seu sorriso tranqüilo, o brilho de seus olhos. Pertur bou-se tanto que se levantou de repente como se lembrasse de alguma coisa. — Já está ficando tarde — comentou. — Vou preparar um chazinho para Alice. — Vamos junto com você — Jack falou, pegando Alice no colo. — Foi um dia importante este! Vou me lembrar sempre dele — disse para a filha. — Antes você era um bebezinho e agora já está uma mocinha! Sorriu para Alice, que se pendurou no pai e escondeu seu rostinho no pescoço de Jack. Olhando os dois, Ellie sentiu uma forte emoção. Amava pai e filha. — Você quer que eu prepare um jantar de comemoração? — conseguiu perguntar enquanto caminhava para a casa. — Não se preocupe com isso. Estou tão cansado. Estou planejando terminar o trabalho no fim da semana que vem. Vamos lidar com aquela área onde a vegetação está tão alta que serve de esconderijo para o gado. Jack suspirou fundo antes de continuar. — Falei com Gray ao telefone e ele vem aqui me ajudar. Ele sugeriu trazer Clare junto, assim ela pode ficar com Alice e você pode ajudar com o trabalho no pasto. Vai ser bom se puder nos dar uma mão. — Vou adorar! — Ellie exclamou entusiasmada com a perspectiva de poder trabalhar na fazenda sem ser em trabalho doméstico. Claro que teria sido melhor se a idéia tivesse partido de Jack e não de seu irmão. Mesmo assim, ela ia poder conhecer melhor a fazenda e fazer o serviço que adorava. Se pudesse mostrar a Jack como podia ser útil, talvez a deixasse participar do planejamento de Waverley. Assim, acabariam os desagradáveis silêncios que deixavam os dois sem jeito quando estavam a sós. Gradualmente, poderiam voltar a ser amigos como antes. Deixou a imaginação viajar longe. Eles seriam amigos, trabalhariam juntos e, com o Projeto Revisoras
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Sempre Sonhei com Você - Sabrina nº 1238 Jessica Hart tempo, se ela tivesse paciência de esperar, Jack poderia se acostumar em tê-la por ali. Podia até vir a precisar dela. Subitamente a vida lhe pareceu cheia de possibilidades. — Mal posso esperar — confessou. f Jack ficou um pouco surpreso com a animação de Ellie. Os olhos verdes dela estavam brilhantes e seu rosto radiante. Parecia que tinha lhe oferecido a lua de presente e não apenas lhe proposto um trabalho duro onde ela teria de cavalgar longas horas debaixo de um sol escaldante. Sentiu um nó na garganta enquanto a fitava. Ellie ainda estava com o rosto sujo, segurava um velho chapéu nas mãos e as unhas estavam cheias de terra. E sorria. Jack procurou se convencer de que ela não era bonita, mas no fundo sabia que estava tentando se enganar. Ela não era bonita, insistiu em pensar. Era apenas Ellie. Levara semanas para colocar de lado as lembranças da noite que haviam passado juntos. Queria ser apenas um amigo para Ellie, do jeito que haviam combinado, mas não estava sendo fácil como imaginara. Antes do casamento, ele visualizava tê-la ao seu lado, conversando sobre o trabalho do dia, dos planos para a fazenda. Tudo não passara de planos. Via-se, isso sim, notando como ela andava, como seu rosto era macio, como puxava o cabelo para trás da orelha. Sempre achara que Ellie era uma pessoa quieta, capaz de deixar tranqüilos todos que estivessem juntos dela. Agora percebia que ela o deixava distraído e levemente irritado. Não era culpa dela, naturalmente. Jack sabia disso. Ellie era formidável, sempre procurando parecer alegre e amiga, como sempre fora antes, mas nunca lhe dera qualquer indicação de que a noite de núpcias tinha mudado alguma coisa entre eles. Isso devia fazer com que se sentisse melhor, mas não. Jack se sentia cada vez pior. Não era ruim durante o dia, quando se ocupava com trabalho físico, ou quando brincava com Alice, ou conversava com os empregados. Tudo se complicava à noite... Aí ficava perdido, olhando a transparência da pele de Ellie, as curvas de seu corpo, o jeito com que mordia o lábio. Deitava na cama e ficava olhando para o teto, tentando esquecer como seu corpo se moldava perfeitamente ao seu. Parecia estar tocando os seus seios, acariciando seus quadris, tomando posse de seu corpo. É, as coisas não estavam fáceis... Decidiu que estava exagerando com as lembranças. Tudo ia bem. Alice estava feliz, Ellie parecia satisfeita e os homens certamente gostavam de sua comida. A sugestão de Gray para que Ellie se juntasse ao grupo que ia cuidar do gado prometia fazer os dois voltarem à velha amizade. Parecia ser a solução perfeita e tudo poderia dar certo se ela não ficasse sorrindo e o tirando do sério. O que havia nela que o perturbava tanto? Jack se via sempre em guarda e se sentia ridículo por ficar fingindo que tudo estava bem. Continuava preocupado enquanto dava banho em Alice à noitinha. Ela estava muito excitada com as aventuras do dia e o banho não acabava. Olhou para a filha com carinho e se lembrou de como ela rira, correndo para os braços de Ellie. Estava pensando novamente em Ellie! Seus olhos deram com o retrato de Pippa e ele tocou-o com tristeza. Desejou que os velhos tempos voltassem quando ela estava viva e tudo era tão simples. Sabia o que queria naquela ocasião. Queria Pippa com sua beleza, paixão e sensualidade. Pippa o tinha levado a extremos. Com ela chegara à felicidade máxima, à fúria e ao arrependimento amargo, quando o deixara. No entanto, mesmo nos momentos mais negros, sabia exatamente o que sentia. Nunca estivera tão confuso como agora. Desconhecia o que provocava nele essa confusão. Naquele momento estava hesitando se ia ou não ia para a cozinha ficar com Ellie. Terminou o banho de Alice e a colocou na cama. Encontrou Ellie junto ao fogão. Projeto Revisoras
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Sempre Sonhei com Você - Sabrina nº 1238 Jessica Hart — O que aconteceu? — ela perguntou, vendo a expressão de seu rosto. Jack tinha se esforçado para parecer que tudo estava normal com ele e irritou-se ao ver que Ellie percebera logo que algo estava errado. — Não é nada — mentiu. Ellie não fez qualquer comentário. Apenas continuou fitando-o com ar preocupado. — Estive pensando em Pippa — Jack admitiu finalmente. — Você sente falta dela, não é? — Sinto falta do que poderia ter tido com ela. Lamento que ela não tenha podido ver Alice dar seu primeiro passo; nem vá escutá-la quando pronunciar direitinho a primeira palavra. Ela não devia ter morrido! — exclamou, como se as palavras saíssem com raiva de sua boca. — Não, não devia — Ellie concordou. — Não foi justo ela morrer. — Pensei que tudo seria mais fácil se saísse de Bushman's Creek onde tinha passado tanto tempo com ela. Não adiantou. Penso nela mesmo aqui em Waverley. Por sinal, aqui me sinto pior. Ficou alguns momentos em silêncio e sem olhar para Ellie continuou reclamando: — Pippa teria adorado a fazenda. Teria sido feliz comigo e com Alice. Nós três estaríamos tão bem... Algumas vezes penso que posso escutar o seu riso. — Jack olhou na defensiva para Ellie. —Acha que estou falando bobagens? , — Não, Jack. Isso quer dizer que você a ama e está Sofrendo a sua perda. Jack empurrou uma das cadeiras com força. — Eu me sinto... — Ele procurou as palavras certas. Queria explicar que a lembrança de Pippa estava sumindo, que sua imagem tinha ficado menos nítida, que estava se sentindo culpado por começar a esquecê-la. Pippa tinha lhe deixado Alice e ele tinha de manter viva a sua lembrança exatamente como no dia em que ela havia partido. — Sinto que ela deveria estar aqui — Jack tentou explicar. — Em dias como o de hoje, como quando Alice andou, fico imaginando o que Pippa teria feito, como teria ficado feliz. Mas quando eu olho em volta, ela não está ao meu lado. Ê você quem está em seu lugar. Jack não sabia que cada palavra que dizia era interpretado de forma diferente por Ellie. Ellie sentiu seus olhos começarem a ficar nublados. Como fora tola em pensar que ele esqueceria Pippa aos poucos. Como pudera pensar que seria fácil para ele ver outra pessoa no lugar que havia sido da mulher ele amara? Estivera tão ansiosa com a idéia de trabalhar junto com ele nos pastos, convencida de que Jack começaria a ver o relacionamento deles de forma diferente... Ele nunca esqueceria a mulher que amara e que lhe deixara Alice. Havia procurado consolo junto a ela na noite de núpcias, mas fora apenas isso o que precisara. Devia ter acabado com qualquer esperança que lhe brotara no peito, porque seu sofrimento aumentava com a indiferença com que Jack a tratara desde então. Ficava cada vez mais claro que ele a vinha evitando, pois a cada vez que a olhava, via o fantasma de Pippa e sofria ao tomar consciência do que perdera com sua morte. — Sinto muito, Jack — falou com dificuldade, sabendo que não haveria nada que pudesse consolá-lo. — Queria que as coisas pudessem ser diferentes. Ao ouvir o tom triste da voz de Ellie, Jack logo imaginou que ela deveria estar pensando no homem por quem estivera sempre apaixonada. Tinha se esquecido que ela sofria também. Felizmente agora se lembrava desse outro homem, antes de ter dito a Ellie o que andava lhe passando pela cabeça. Estivera pensando que as coisas podiam ser diferentes entre eles. Saber que suspirava por outro homem devia evitar que se perturbasse tanto quando estivesse ao seu lado. Mesmo assim, viu-se distraído com o jeito que seus cabelos se enrolavam nas pontas, com a graciosidade com que se movimentava. Precisava continuar fingindo que não estivera observando-a como mulher e, quanto mais fingia, mais irritado ficava. Frustrado, procurou se convencer de que Ellie só se importava com o homem que Projeto Revisoras
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Sempre Sonhei com Você - Sabrina nº 1238 Jessica Hart amava e isso não deveria aborrecê-lo. Afinal, ele ainda amava Pippa, não amava? O fato de estar precisando se convencer disso, aumentou ainda mais o sentimento de culpa que vinha acompanhando-o desde o dia em que se casara com Ellie. Assim, continuou falando de Pippa e de Alice, tentando afastar as suas dúvidas e reforçar suas lembranças. Ellie ficou ali ao lado de Jack, dizendo a si mesma que deveria ser compreensiva e amiga. Jack estava sofrendo e precisava falar de Pippa, mas isso estava se tornando insuportável e a ferindo profundamente. Jack terminou saindo da cozinha e indo dar uma olhada em Alice. Quando levou a mamadeira para a criança, Ellie o viu mostrando à filha a fotografia da mãe. — Esta é a mamãe — repetia. — Mamã... — Alice tentou falar e Jack sorriu. — Isso mesmo. Mamãe. Ela era bonita, não era? — Ele beijou a cabecinha de Alice. — Um dia, você vai ser bonita assim. Ellie não queria interromper aquele momento íntimo entre pai e filha e se afastou levando embora a mamadeira. Estava trêmula e saiu da casa procurando um lugar solitário onde pudesse chorar sem ser vista. Era errado sentir ciúme. Alice era filha de Pippa. Cresceria sabendo disso. Sentiu vergonha por desejar que o bebê a visse como mãe. Aos poucos foi se acalmando e procurou pensar apenas no que faria nos próximos dias quando estivesse trabalhando com os vaqueiros. Mesmo que adorasse tomar conta de Alice, estava precisando fazer outras coisas além de apenas brincar de ser mãe e dona de casa feliz. Entrou na casa decidida a contar as horas que faltavam para o momento em que poderia cavalgar pelos campos e lidar com o gado, esquecendo as tristezas e a mágoa de ocupar um lugar secundário na vida de Jack e de Alice. Finalmente chegara o momento de preparar a sela de seu cavalo e cavalgar saboreando o espaço aberto e mesmo o sol escaldante. O trabalho era bastante duro, mas Ellie estava adorando cada momento. À noitinha, os homens armaram uma fogueira e aqueceram a comida que ela havia preparado em casa. Logo estenderam as cobertas e dormiram sob a luz das estrelas. Ellie sentia-se finalmente feliz. Nem bem amanheceu, estava sobre a sela novamente, reunindo o gado que se desviara do rebanho. Não demorou muito para que o número de animais aumentasse consideravelmente. Mesmo que a sela a tivesse deixado com o corpo meio doído, Ellie não reclamou. Preferia aquilo que estava fazendo a lidar com as tarefas caseiras. Quando voltaram para a casa, Alice riu feliz ao vê-la chegando com Jack e então sentiu-se mais satisfeita ainda. A criança sentira falta dela. Jack não se sentia tão feliz quanto Ellie. Muito ao contrário. Havia se arrependido de têla convidado para trabalhar com o rebanho. Tentara ignorá-la, mas era impossível deixar de olhar o que ela fazia, como seus olhos brilhavam ao cavalgar, como se sentia em casa quando percorria os pastos e reunia os animais. Começou a tirar a sela de seu cavalo e suspirou desanimado. Tinha procurado ficar o tempo todo meio afastado de Ellie, mesmo no acampamento, mas não conseguia desviar os olhos dela quando a via conversando com os vaqueiros ou quando simplesmente ela ficava olhando o fogo ou as estrelas. Teria sido melhor se tivesse atrapalhado o trabalho dos homens e não ajudado tanto como de fato acontecera. Fizera parte do grupo, sabendo instintivamente o que fazer, sem precisar receber ordens. Ele deveria agradecer a sua ajuda e, no entanto, não dissera nada. Irritado e sentindo culpa, Jack soltou seu cavalo, que começou a trotar e saltar satisfeito. — Trabalhamos bem, não é? — Gray se aproximara do irmão. Projeto Revisoras
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Sempre Sonhei com Você - Sabrina nº 1238 Jessica Hart — De fato — Jack concordou sem entusiasmo. — O que há de errado com você? — Não é nada. Gray arqueou as sobrancelhas e não insistiu. Esperou que Jack estivesse já perto do portão de entrada para falar novamente. — Foi bom contar com Ellie, não acha? — perguntou. Jack apenas resmungou alguma coisa. — Ela é muito bonita também — Gray disse, observando o irmão. Jack continuou sem responder. Queria que Gray parasse de ficar falando em Ellie. Era natural que estivesse satisfeito. Afinal tinha uma filha e esposa esperando por ele. Gray não sabia o que era viver com alguém que era apenas uma amiga, alguém que estava se tornando importante demais para ele, alguém que estava apaixonada por outro homem e não fazia segredo de que se casara apenas para ficar em uma fazenda. — Sabe, Jack, você tem sorte — Gray continuou. — Como você chegou a essa conclusão? — Pelo que tenho visto com meus próprios olhos. — Bem, você não anda enxergando direito, sabia? — Jack disse com aspereza. Gray decidiu não falar mais nada naquele momento. Jack continuou de mau humor durante toda a semana e ficou satisfeito quando chegou a hora de Gray e Clare partirem. Naquele tempo todo, falara pouco com Ellie, a não ser para dizer a que horas os vaqueiros chegariam para o almoço. Ela estava magoada com a atitude de Jack. Gray e Clare não estavam mais ali e Jack se tornara mais rude ainda. Não restara qualquer vestígio da antiga amizade que sempre existira entre eles. A satisfação que sentira lidando com o gado sumira. Não tinha certeza de ter feito a coisa certa se casando com Jack. Era verdade que estava ali em Waverley em vez de em alguma cidade grande fazendo um serviço aborrecido. Alice era uma criança adorável, mas ela não estava convencida de que tinha o suficiente para ser feliz. Não queria ser apenas uma empregada ou uma babá. Queria que Jack a tratasse como uma parceira. Bem, queria mais do que isso. Queria que Jack a visse como uma mulher ou, melhor ainda, como sua esposa. CAPÍTULO IX Os sonhos de Ellie pareciam não ter chances de se tornar realidade. Aos poucos, ela foi perdendo as esperanças e começando a ficar ressentida com Jack. Para não pensar bobagens, entregou-se às tarefas domésticas com fanatismo. Pelo menos não sobrava tempo para se sentir solitária. Estava esfregando o chão da sala quando Jack apareceu para falar com ela. Irritou-se consigo mesma porque bastava vê-lo que seu coração disparava. Como podia se sentir ainda assim, se estava cansada de ouvi-lo suspirar por outra mulher enquanto a tratava com tanta indiferença? — O que você está fazendo aí ajoelhada no chão? — ele perguntou nitidamente irritado. — O que parece que estou fazendo? Ellie continuou a esfregar o chão. O que estava acontecendo com Jack? Além de ignorá-la, ainda parecia um ingrato. E ela ainda o amava, apesar disso tudo! Seria tão mais fácil se parasse de amá-lo. Poderia levar a vida ali na fazenda, cuidando de Alice, sendo amiga de Jack, tendo um lar. Mas, não. Atormentava-se com a tristeza que ele sentia e ainda continuava tendo uma esperança, por menor que fosse, de que ele viria a amá-la um dia. — Há coisas mais importantes para fazer por aqui do que ficar esfregando o chão! Projeto Revisoras
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Sempre Sonhei com Você - Sabrina nº 1238 Jessica Hart — De fato, Jack. Mas estou me ocupando disso agora, porque assim posso ouvir se Alice acordar e começar a chorar. — Mal acreditava que ele estava criticando o modo como ela organizava o seu tempo. Jack resmungou alguma coisa, mexeu nos bolsos, parecia perdido em seus pensamentos. Ellie não ia ficar parada esperando que ele resolvesse falar. Pegou de novo o esfregão e se pôs a limpar o chão. — Não dá para você parar por um minuto? — Jack perguntou impaciente. — Preciso falar com você. — O que é? — Você não vai gostar do que vai ouvir. Ellie sentiu uma pontada no estômago e quase entrou em pânico. No mínimo ele ia falar que queria pôr um fim ao casamento deles. Ia querer que se separassem... — Pode dizer — disse, engolindo em seco. — Andei falando com Scott Wilson. Ellie sentiu tamanho alívio que largou o esfregão de qualquer jeito. Teve vontade de rir histericamente. — Scott? — ela repetiu. — Você o conhece, não é? Secou as mãos na jeans e preparou-se para ouvir o que Jack tinha a dizer. — Eu o conheço. Ele esteve aqui em nosso casamento. — Isso mesmo. — Jack olhou-a de forma estranha. — Também esteve no noivado. — De fato. Por quê? Aconteceu alguma coisa com ele? — Ele está vindo para cá. — Vai se hospedar aqui na casa? — Hoje à noite. — Hoje à noite?! Por quê? — Ele vai ajudar a reunir o rebanho com o seu helicóptero. Propôs vir bem cedinho e ir embora ao anoitecer, mas achei que ficava melhor ele dormir por aqui. Achei que você gostaria de saber que teremos alguém mais para jantar. Tudo isso só para vir avisar que ela deveria descascar mais algumas batatas! O alívio que sentira há pouco foi substituído pela raiva de saber que nada tinha mudado. Jack poderia ter pedido a ela que fosse ajudá-lo com o rebanho, mas não. Ele a via como uma cozinheira, só isso. — Tudo bem — conseguiu dizer. — O fato é que Scott está me fazendo um favor — Jack continuou. Disse que considerasse a ajuda como um presente De casamento. Nessas circunstâncias, achei que devia lhe oferecer uma cama aqui dentro. — Está certo. — Você sabe como Scott é... — Jack caminhou até a janela e ficou olhando para fora. — Nunca vi ninguém falar tanto como ele. Não pára um instante de contar casos. — E então? — Se perceber que não somos um casal normal, vai ficar falando sobre nossa vida pela cidade toda. — Ah, entendo... — Ellie comentou calmamente. — Você parece não se preocupar com isso. Pensei que ia ficar preocupada que alguém pudesse fazer algum comentário desagradável sobre nós para a sua família. Pelo que vejo, nem liga se vierem a achar que não somos felizes. — O que você sugere que devemos fazer? — Temos que fingir que somos como os outros casais. Já fizemos isso antes e temos de repetir a comédia. — Você quer dizer que devemos agir como um casal apaixonado? — Sim. Acha que pode fazer isso? Projeto Revisoras
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Sempre Sonhei com Você - Sabrina nº 1238 Jessica Hart — Acho que consigo. — Então temos que dormir juntos esta noite. — Jack respirou fundo. Ellie sentiu seu rosto enrubescer. — Não precisa se preocupar. Apenas temos que compartilhar do mesmo quarto. Mais nada. — Scott vai querer conversar, mas não é o tipo de pessoa que vai ficar espionando pela casa! — ela exclamou, sem saber como poderiam dormir juntos, quando havia tanta tensão entre eles ultimamente. — Você é que resolve. Não sou eu que tenho de convencer a família de que meu casamento é normal. Era verdade. Se os pais dela descobrissem que estava infeliz iam ficar preocupados e Lizzy exigiria explicações. — Tudo bem — concordou depois de um momento. — Vamos dormir juntos. Jack apenas a olhou de forma esquisita antes de sair. Ellie terminou de lavar o chão, mas agora seu pensamento viajava longe. Sentia um arrepio percorrer a sua espinha, antecipando o momento em que estariam no quarto, naquela noite. Poderia ser uma chance de saberem se podia haver alguma coisa entre eles. Não tinha idéia do que fazer para acabar com a indiferença e o mau humor de Jack. Quem sabe poderia lhe propor que fossem marido e mulher de verdade? Talvez as coisas passassem a funcionar em suas vidas. Ele poderia dizer não. Certamente diria não, mas achava que valia a pena tentar. Ela não estaria pedindo que ele esquecesse Pippa, só que aceitasse que sua esposa fosse mais do que apenas uma faxineira e cozinheira de Waverley. Não custava nada perguntar o que ele achava dessa nova proposta dela. Olhou-se no espelho e viu o quanto estava desarrumada e suja. Talvez fosse por isso que Jack nem se animava em fingir que gostava dela. Como podia esperar que Jack a visse como uma esposa se não fazia o menor esforço para melhorar sua aparência física? Talvez fosse hora de começar a se arrumar melhor. Alice já fora dormir e a comida estava pronta. Ela também estava pronta. Tudo o que Ellie tinha de fazer era ir se juntar a Jack e Scott, que estavam conversando na varanda. Em vez disso, ficou andando pelo quarto, querendo criar coragem para encarar o marido, com medo de que ele percebesse logo o que ela queria, só de ver que se arrumara melhor. Não se enfeitara demais, apenas substituíra a jeans por uma saia curtinha e uma blusa sem mangas. Tinha lavado os cabelos, deixando-os soltos e pintado os lábios. Lizzy sempre dissera que ela ficava melhor quando se maquiava, mas Ellie nunca ligara para isso. Agora se sentia um pouco ridícula por, ter se preparado daquele jeito. Respirou fundo e tomou coragem. Jack e Scott estavam sentados em umas cadeiras velhas e tomavam cerveja, mas quando ela abriu a porta os dois se levantaram. — Ellie! Você está fantástica! — Scott exclamou, abraçando-a efusivamente. — Obrigada. — Sorriu nervosamente e arriscou apenas um olhar para Jack. Ele estava com um olhar de censura e apertava os lábios em um sinal de mau humor. — Que bom vê-la novamente — Scott estava dizendo, enquanto a segurava pelo braço e a examinava dos cabelos aos pés. — Não tive oportunidade de conversar com vocês durante o casamento. Pelo menos, não tivemos uma conversa longa e gostosa. — Faz tempo que não conversamos, não é? — Ellie perguntou com simpatia. — Na verdade, faz muitos anos que não nos falamos. — Isso mesmo. Lembra-se de quando a levei naquele baile de solteiros? — Scott riu satisfeito. — Nós nos divertimos tanto! Nem acredito que tanta coisa aconteceu conosco. Sabia que me casei? — Mamãe me escreveu quando eu estava nos Estados Unidos e me contou — Ellie disse. — Não sabia que você e Anna eram tão unidos... — E não éramos. Nem gostávamos muito um do outro. Um dia, pronto! Aconteceu! Projeto Revisoras
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Sempre Sonhei com Você - Sabrina nº 1238 Jessica Hart Sem nos darmos conta, estávamos apaixonados e nos casando. Bem, nem preciso contar para vocês como a vida de casados é boa, não é? — Não mesmo! — Jack exclamou, mas havia tanta ironia em sua voz que Ellie ficou sem fala por alguns momentos. — Que bom que você está feliz, Scott — conseguiu falar. — Se estou... Nunca sequer desconfiei que a vida de casado era melhor do que a de solteiro. Bem, é desse jeito que me sinto — Scott disse radiante. — Mas você também parece feliz. — E estou. — Ellie forçou um sorriso. Jack ficou olhando Ellie e Scott conversando e de repente tudo pareceu se encaixar. Desde o momento em que a avisara que Scott iria aparecer por ali, ela ficara diferente. Scott era o homem por quem estava apaixonada! Isso podia parecer absurdo, afinal Scott era meio sem graça, falava demais, não parecia alguém que despertasse paixões nas garotas. Scott tinha estado na festa de noivado e também na de casamento. Devia ter sido um choque para Ellie saber que Scott ia ficar hospedado ali em Waverley. Se tivesse sabido disso antes não teria pedido a Scott para vir ajudar com seu helicóptero. Devia ser uma agonia para Ellie ter de oferecer um jantar para o homem que amava, sabendo que era casado e feliz com a mulher. Jack não queria se sentir culpado. Se Ellie tivesse lhe contado quem era o seu amado, não teria cometido essa gafe. Bem, talvez ela quisesse rever Scott. Jack começou a se sentir profundamente irritado. Tinha facilitado as coisas para ela. Só de ver os dois conversando, já ficava com dor de cabeça. E Ellie se enfeitara toda. Pusera até batom, coisa que não fazia nunca. Sentiu vontade de ir até Scott e lhe dar um soco jogando-o para fora da varanda e de ordenar que Ellie tirasse aquela saia curtinha e fosse vestir de novo sua velha jeans. — Vou pegar uma cerveja para você, Ellie. — Jack procurou se acalmar e agir com naturalidade, mesmo que isso lhe fosse muito difícil. Ellie percebeu o mau humor de Jack e sentiu-se culpada. Não devia ter tentado parecer tão feminina. Devia estar ridícula sem sua calça jeans e maquiada, ainda por cima. Jack estava irritado e com razão. Pelo menos Scott parecia satisfeito em conversar com ela. Parecia contente em recordar os velhos tempos. Já que Jack não estava nada simpático, ela iria receber Scott muito bem e deixá-lo à vontade. Jack ouvia da cozinha os dois rindo. Pareciam bem felizes sem ele! Então Scott Wilson era o galã de Ellie. Pegou uma cerveja e a abriu com violência. O que ela teria visto naquele sujeito tão sem graça? Não que ele tivesse nada com isso. Afinal, não a amava. Mesmo assim Ellie podia escolher alguém mais interessante e não Scott, que ria das próprias piadas. Ela não combinava com alguém desse tipo. Precisava de alguém como... Bem, pelo menos alguém diferente de Scott... Ellie parecia pensar diferente. Quando Jack voltou à varanda ela estava à vontade e feliz, com as pernas cruzadas e o corpo inclinado em direção a Scott. Jack colocou a cerveja na mesinha ao lado dela e se afastou. — Obrigada — disse, notando que Jack continuava irritado. Não entendia por que ele estava assim. Quando Jack puxou uma cadeira e sentou-se ao seu lado, sentiu um arrepio. — Vejo que você conquistou Jack... — Scott riu, dando-lhe uma piscada. Ellie ajeitou-se na cadeira, tentando disfarçar que estava tremendo e lutando contra o desejo de tocar na mão que Jack colocara em suas costas. Ele começara a passar a mão em sua nuca, como que a provocando. Estavam ali com Scott e mesmo assim Ellie não conseguia deixar de estremecer de prazer com o toque de Jack em seu corpo. Projeto Revisoras
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Sempre Sonhei com Você - Sabrina nº 1238 Jessica Hart Tentou puxar conversa com Scott e Jack afastou sua mão, enquanto bebia um gole de cerveja. — Casamento é uma coisa maravilhosa, não concorda comigo? — Scott perguntou a Jack. — Estou adorando. — Você é um homem de sorte por ter conquistado Ellie. — Eu sei. — Sentiu de novo vontade de bater em Scott e teve de fazer um esforço para não perder o controle. Ele não se sentia um homem de sorte. Estava confuso e inexplicavelmente depressivo. Ellie alertou-o com o olhar, como se estivesse pedindo que tivesse paciência com a visita e não deixasse tão claro que não estava feliz com o casamento. Pelo menos podia fazer um esforço. Scott podia ser chato, mas não era bobo. Ia acabar desconfiando que havia algo de errado com o casal que tinha à sua frente. — Espero que tenha comprado um carro novo, Scott — Ellie disse, querendo mudar de assunto. — Pois foi a primeira coisa que fiz ao me casar. Anna deixou claro que, se aquele carro não sumisse lá de casa, quem sumia era ela. — Scott riu. — Lembra-se daquele dia em que o carro quebrou na estrada e ficamos um tempão esperando que alguém aparecesse? Jack encostou-se na cadeira. Ia ser bem difícil ficar a noite toda ouvindo aquelas histórias. Pela primeira vez, sentiu o peso dos anos. Era mais velho que Ellie e Scott e devia haver o conflito de gerações entre eles. Escutou-os falarem de festas, corridas e rodeios. Ele próprio devia ter estado naquelas festas todas, só que em grupinho diferente. Estava surpreso que Ellie tivesse amigos. Não conseguia imaginá-la fazendo parte da vida de alguém. Ultimamente a considerava como parte de sua vida e nem podia aceitar vê-la como parte da vida de Scott Wilson! Quando finalmente haviam jantado e conversado por horas a fio, Scott decidiu ir dormir. Jack estava tão irritado que nem conseguiu dizer boa-noite para ele. Cansara-se de tanto ouvir falarem em festas onde os dois deveriam ter se beijado a ponto de ela se apaixonar. Quase perdera o controle várias vezes durante o jantar, especialmente quando a via sorrir toda dengosa para Scott. Tivera esperança de que Scott se cansasse de falar tanto e fosse dormir logo que os vaqueiros terminaram de comer e se retiraram. Mas, nada. Ellie ainda lhe ofereceu vinho, depois café e os dois continuaram conversando por horas. — Você deve estar cansado — Jack finalmente falou, encerrando a conversa. — Vamos ter de acordar cedinho. Vou lhe mostrar seu quarto — falou, indicando o corredor. Esperou que a porta do quarto de Scott se fechasse para ir procurar Ellie, que estava lavando pratos na cozinha. — Lamento ter estragado o seu bate-papo, mas temos que trabalhar amanhã e ele não vai me servir de nada se não dormir. — Por que você foi tão rude com Scott? — Não fui rude. — Você mal falou duas palavrinhas. Ficou resmungando o tempo todo e nos deixando sem jeito. — Não me pareceu que estivessem desconfortáveis. Achei que você se divertia muito. — Divertir-me? Bem, pelo menos espero que Scott tenha pensado que eu estava me divertindo. — Não deve haver dúvida alguma nisso. — Neste caso você se esqueceu que ele está nos fazendo um favor, vindo ajudar a reunir o gado. Devia ter se esforçado e ser educado com ele. — Ser educado? — Jack resmungou. — E assim que você chama o que estava fazendo, piscando os olhos para ele? Você estava patética! Nem pode imaginar como estava ridícula, sugerindo que se lembrassem dos velhos tempos. Não encontrou nada Projeto Revisoras
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Sempre Sonhei com Você - Sabrina nº 1238 Jessica Hart mais interessante para conversar com ele? — Como o quê? — Ellie estava agora irritada. Jack estava sendo injusto com ela.— Pode acreditar que teria adorado ter achado algum outro assunto para conversar com Scott. Mas o que eu teria para lhe contar de minha nova vida se passo o tempo todo só cozinhando, lavando ou esfregando a casa e cuidando para que tudo esteja perfeito para você e Alice? Desde que me casei com você, não vivi nada interessante! Meu passado pode parecer bem chato para você, mas posso lhe garantir que foi bem mais interessante do que minha vida de hoje em dia. Nem pode imaginar como minha vida tem sido! — O que há de errado nela? — Não faço nada além de cozinhar, limpar e cuidar de sua filha, Jack, e não recebo nenhum agradecimento pelo que faço. Fico enfiada em casa o dia inteiro e nunca vou a lugar algum. — Isso nunca pareceu aborrecê-la. — Pois me aborrece agora. — Você sabia o que teria de enfrentar, quando propôs que nos casássemos. Se não queria ser uma dona de casa não deveria nem ter pensado em se casar comigo. — Propus ser sua esposa, Jack, não uma empregada — ela disse friamente. — E a mesma coisa. Fizemos um trato — Jack reclamou. — Você disse que queria ficar por aqui e eu precisava de alguém para me ajudar a tomar conta de Alice. Foi o que aconteceu. — Concordamos que seríamos um casal. — Pois tem a metade da fazenda, Ellie. O que mais você pode querer? — Quero participar da vida da fazenda. Quero estar envolvida no planejamento. Você nunca me conta nada. — Não posso ficar correndo para casa a cada vez que tenho de tomar uma decisão — Jack reclamou com impaciência. — Você devia saber que era isso o que ia acontecer — completou, quando ela sacudiu a cabeça desanimada. — E verdade — Ellie concordou com a voz desprovida de qualquer emoção. — Você tem razão. Eu devia saber. Por alguma razão inexplicável, o fato de ela ter concordado com ele apenas o deixou mais irritado. Para piorar as coisas, lembrou-se de como ela se enfeitara para receber Scott, como sorrira calorosamente para o amigo, como lhe dera toda a aten ção, mesmo percebendo que Jack estava irritado. Sentiu vontade de magoá-la. — Nesse caso, sugiro que continue fazendo o que prometeu fazer, em vez de ficar perdendo tempo com amigos e sonhando com o seu romance que nem chegou mesmo a acontecer. Ellie olhou para a toalha com que secava as mãos. Sentia-se fria e doente. Era isso o que Jack estava fazendo com ela? Ele a considerava chata e ridícula, incapaz de conseguir uma vida melhor? O que ela era para ele? Pendurou a toalha e caminhou para a porta. — Aonde pensa que está indo? — Jack perguntou furioso. — Vou para a cama. — Não pode me largar aqui no meio de uma discussão! — Posso sim. — Não terminamos! — Pois acho que você já falou mais do que o suficiente — ela afirmou, saindo e caminhando em direção ao seu próprio quarto. Jack estava furioso. Odiara o jeito como Ellie o deixara plantado no meio da cozinha falando sozinho. Nem tivera a decência de gritar com ele, apenas lhe virara as costas e o deixara sozinho. — Você tem de falar comigo — ele retrucou, seguindo-a no corredor. — Não pode simplesmente me ignorar! — Não há qualquer razão para que compartilhemos o mesmo quarto, Jack. Projeto Revisoras
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Sempre Sonhei com Você - Sabrina nº 1238 Jessica Hart — E o que Scott vai pensar? E se nos vir sair de quartos separados? — Não me importo com isso agora — Ellie disse, fechando a porta. Ellie não conseguiu dormir nem um minuto sequer. Ficou a noite toda acordada, incapaz até de chorar. Por que não percebera o quanto Jack a desprezava? Suas palavras cruéis continuavam soando em sua mente. Ela era chata, ridícula e patética. 106 Sentiu-se humilhada, com vergonha de ter tido esperanças e se vestido para agradar Jack. Devia saber que uma saia e um pouco de batom não iam atraí-lo. Tudo o que fizera fora se expor ao ridículo. Jack estava certo. Ela era patética. Patética por esperar que ele se apaixonasse por ela, esquecendo a sedutora Pippa. Bem, agora seus sonhos estavam decididamente enterrados. Jack nunca ia perdoá-la por não ser Pippa. Era tempo de sair daquela situação em que se envolvera e que a fazia se sentir tão miserável. Tinham tentado, mas o casamento não dera certo e ela o amava demais para ficar se apegando a esperanças ridículas. Jack precisava ter a chance de ser feliz de novo e isso não era possível se ficasse ao lado dela. A única coisa que podia fazer era partir. CAPÍTULO X Ellie estava dando comida para Alice quando I ouviu o barulho de botas na varanda. Sabia que devia ser Jack e que precisava falar com ele, mas ainda não estava preparada para lhe contar o que decidira. Jack havia saído bem de manhãzinha com Scott e lhe dirigira poucas palavras. Ellie estava exausta e não saberia como contar a ele que estava pronta para deixá-lo. Uma pena, porque àquela hora Scott já devia ter partido, e eles teriam a casa inteira apenas para eles. Sentia-se aliviada por não ter participado do trabalho com o gado, pelo menos naquele dia. Estava precisando ficar sozinha e pensar no futuro. Olhou para o relógio e constatou que as horas haviam passado e ela não havia conseguido tomar nenhuma decisão. Seu único desejo era poder dormir e ao acordar constatar que tudo tinha sido um sonho ruim. — Ellie? Sentiu alívio ao escutar a voz de Scott e não a de Jack. Foi atendê-lo ainda segurando a tigela de sopa de Alice. — Já de volta? — perguntou forçando um sorriso. — Deixei os outros trazendo o rebanho, mas precisava voltar a Mathison antes que escurecesse, então vim me despedir de, você e de Alice. . Pensara em pedir a Scott que não dissesse a ninguém sobre o clima tenso que havia entre ela e Jack, mas talvez ele nem tivesse percebido. E depois todos logo saberiam que eles estavam separados. Decidiu não tocar no assunto. — Obrigada por ter vindo se despedir — disse, indo buscar Alice. — Tudo bem com você? Parece cansada? — Estou bem. — Ellie sorriu, procurando convencê-lo. — Está tudo bem por aqui. Mas as coisas estavam ruins demais na verdade. Percebeu que Jack se aproximara e ficou ali sem dizer nada. Os dois homens conversaram e depois Scott acenou um adeus e saiu da varanda com Jack. O coração dela bateu mais forte ao ver Jack, como sempre acontecia. Percebera que estava carrancudo. Fazia tanto tempo que não o via bem-humorado, cheio de charme, alegre e brincalhão como antigamente. Seu sorriso sumira. O casamento o tinha transformado em um estranho com olhos tristes. Ela tinha sido responsável por essa transformação. — Dada... — Alice balbuciou toda animada, reconhecendo o pai que se aproximava Projeto Revisoras
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Sempre Sonhei com Você - Sabrina nº 1238 Jessica Hart delas. — É ele mesmo. — Ellie sentiu um aperto na garganta enquanto esperava Jack. Tinha de devolver a Jack a chance de ser feliz, mas como conseguiria não vê-lo nunca mais nem à Alice a quem se apegara tanto? De alguma forma, tinha de arranjar forças e partir. Jack aproximou-se olhando Ellie, que segurava Alice no colo. — Despediu-se de Scott? — perguntou, com a voz estranhamente rouca. Ellie estava tão nervosa que não sabia se conseguiria falar. Apenas concordou com a cabeça. Jack hesitou. Não sabia se devia dizer que descobrira que Scott era o homem que ela amava e confortá-la. — Você está bem? Por que ele estaria repetindo essa pergunta? É claro que ela não estava bem. Teriam que fingir um para o outro? Deveria mentir para Jack como fizera com Scott? Tentou falar, mas as palavras não saíram. Percebeu horrorizada que estava prestes a desabar em lágrimas, mas não podia chorar naquele momento. Se começasse, não pararia nunca mais. — Ellie... — Jack murmurou, aproximando-se, mas ela não se sentia capaz de encarálo. Passando Alice para os braços dele, desceu os degraus da varanda e fugiu para o jardim. — Ellie... — chamou novamente. Ela correu em direção à enseada, porém ele não podia ir atrás dela. Não tinha com quem deixar Alice, então ficou apenas olhando-a se afastar sem poder fazer nada. Estivera furioso com Ellie na noite anterior. O casamento tinha sido idéia dela, mas afinal das contas agora era tarde demais para ficar reclamando que vivia aborrecida. Ellie o surpreendera, porém ele tivera o dia inteiro para pensar em suas queixas e chegara à conclusão de que não a tinha tratado como a uma verdadeira companheira. O que tinha feito ajudara a estragar o relacionamento entre os dois. Tentara se preparar para uma nova discussão, mas vira tanto sofrimento nos olhos dela que sua raiva sumira imediatamente. Ellie estava sofrendo e ele teve vontade de poder consolá-la. Errara e agora sentia que perdera alguma coisa muito preciosa no caminho. Quando ela voltou para casa, Jack já estava dando banho em Alice. Pelo menos estava tentando... Alice parecia nervosa e o banho estava se tornando uma tarefa complicada. Geralmente, quando voltava para casa, já encontrava Alice prontinha para dormir e ficava com a parte mais fácil, que era brincar com a filha. Agora, tinha pelo menos tentado não mudar a rotina da vida da criança e começara o banho. Sorriu quando Ellie apareceu na porta do quarto, mas ela parecia estar tão mal que seu sorriso morreu nos lábios. Seus olhos estavam vermelhos, o que significava que devia ter chorado muito. Jack sentiu pena. Nunca a havia visto chorar. — Sinto muito por ter me comportado desse jeito — Ellie finalmente falou. — Não se preocupe com isso... — Jack tentou animá-la, chocado com o estado em que ela estava. Lembrou-se de seu sofrimento quando Pippa morrera. Ellie devia sentir o mesmo desespero agora que via Scott ir ao encontro da esposa e de uma vida que não tinha nada a ver com a dela. Continuaria suspirando pelo homem que nunca teria ao seu lado? — Você estava aborrecida, só isso — acrescentou, tentando mostrar simpatia pelo que ela sentia. Ellie abaixou os olhos. Jack achava que ela estava aborrecida. Na verdade, ela estava desesperada com o estrago que fizera na vida dele. — Estava cansada e nervosa — mentiu. Alice debateu-se na banheira, como se soubesse que havia algo de errado entre Ellie e seu pai. Jack tentou distrair a filha, mas a criança afastou sua mão e choramingou. — Lamento o que aconteceu ontem à noite — Jack desculpou-se, olhando diretamente para Ellie. Projeto Revisoras
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Sempre Sonhei com Você - Sabrina nº 1238 Jessica Hart — Foi tudo minha culpa. Ambos sabíamos como seria nossa vida de casados. Pensei que tudo ficaria bem, mas me enganei. Nossa vida vai mal, não vai, Jack? Ele hesitou, depois concordou com um gesto de cabeça. Não havia razão para tentar fingir. — De fato vai mal. — Lembra-se do acordo que fizemos antes de nos casarmos? — perguntou, criando coragem. Jack sentiu-se amargurado. Claro que não se esquecera do que haviam combinado. — Você me prometeu que, se eu quisesse partir, bastaria falar com você. — Hesitou antes de continuar: — Quero ir embora, Jack. — Por que justo agora? — ele perguntou com uma voz que parecia pertencer a outra pessoa. — Nada mudou entre nós. — Eu mudei. — Ellie sabia que não podia lhe contar a verdade sobre o porquê de não poder ficar mais ao seu lado. — Pensei que podia viver como combinamos, mas não consigo. — Podemos fazer algumas mudanças — Jack sugeriu à beira do desespero. — Errei quando não a envolvi nos assuntos da fazenda e agora podemos tentar viver bem juntos. Pelo menos quero tentar com mais vontade — ele prometeu. — Não podia acreditar que Ellie estivesse ali à sua frente e falando calmamente que ia abandoná-lo. Como ele poderia ficar sem ela? Não desistiu diante do silêncio de Ellie. — Vou arranjar uma empregada que poderá ajudá-la nos trabalhos da casa e cuidar de Alice. Assim você terá tempo para me acompanhar aos pastos. — Oh! Jack... — Ellie olhou para ele sentindo-se completa-mente sem forças. — Este não é o problema. — E qual é? — É como me sinto — murmurou. Ficaram em silêncio. Jack tirou Alice da banheira e se pôs a secá-la. — Você ainda está apaixonada por ele, não é? — Apaixonada por quem? — Ellie olhou para Jack sem entender a quem ele se referia. — Você me disse que amava alguém... — Jack não queria pronunciar o nome de Scott. — Disse que não tinha esperanças de ser amada. Por isso estava preparada para se casar comigo. — É verdade. — Continua apaixonada por ele? Ellie olhou Jack. Conhecia seu rosto sem precisar fitá-lo. Sonhava com ele todas as noites. Conhecia como eram seus olhos, como os cabelos caíam na testa, da cicatriz que tinha no queixo. Tudo isso fazia parte dela própria de uma forma que não conseguiria explicar. — Sim, continuo apaixonada por ele — disse apenas. — E é por causa dele que você quer ir embora agora? — Sim. — Ellie respirou fundo. Gostaria de fazer Jack entender que estava disposta a ir embora para não deixá-lo mais infeliz do que estava no momento. Nunca teria coragem de confessar que o amava desde quando se entendia por gente. Não conseguiria enfrentar o seu olhar depois dessa confissão. Jack se sentiria pior ainda. Não, era melhor deixá-lo pensar que ela amava outro homem. — Pensei que ajudaria o fato de que nenhum de nós podia ter o que realmente queria — ela disse bem devagar. — Mas não deu certo. Só ajudou a piorar ainda mais as coisas. Nunca vou ser Pippa, Jack. E eu também não vou ter o que sempre sonhei, então não há nada que possamos fazer. Se eu ficar por aqui, terminaremos nos sentindo mais amargos e infelizes. Levantou para ele seus olhos tristes. Projeto Revisoras
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Sempre Sonhei com Você - Sabrina nº 1238 Jessica Hart — Você me entende, não é? Sinto muito que tudo termine assim. Jack ficou mais amargurado ainda. Do que adiantava ela lamentar, se ia embora? — E Alice? — Sabia que não era justo usar Alice como uma espécie de chantagem emocional. Ellie mordeu o lábio. — Não vou embora imediatamente. Claro que vou esperar que você encontre alguém para tomar conta dela. — Obrigado. — Estou fazendo isso por você também, Jack. — Percebera a ironia na voz dele. — Será melhor para nós dois se eu partir. — E para Alice? — Também para ela. Não é bom crescer ao lado de duas pessoas infelizes. — Não precisamos ser infelizes — Jack protestou. Ellie não entendia o motivo que levava Jack a deixar tudo mais difícil para ela. — Mas não temos sido felizes, Jack. Não sou a mulher certa para você. Além do mais, você prometeu que me deixaria livre quando eu pedisse. — Sim, prometi — ele concordou finalmente. — Claro que pode ir, se é isso mesmo que você quer. Não era absolutamente o que ela queria, mas era o que os dois precisavam. Ellie procurou se convencer disso a cada vez que sentia que ia fraquejar. Tentava resistir e não deixar de lado o orgulho e correr para Jack e confessar que o amava e implorar que a deixasse ficar. Não podia fazer isso de jeito algum. Jack podia estar ressentido com ela agora, mas com o tempo encontraria uma mulher a quem amaria do jeito que amara Pippa... E, então, Ellie estaria longe e não sofreria com a felicidade deles. Não ia se tornar um fardo para Jack. Ele nunca saberia como ela precisava dele desesperadamente. Era melhor partir. Melhor, mas tão difícil... Oh! Deus, como era difícil... Jack não tentou fazê-la mudar de idéia. Ele a tratava com delicadeza, mas ficava a distância, deixando Ellie se sentir mais culpada ainda pelo que fizera com a vida dele. Jack havia entrado em contato com uma agência em Darwin e pedido que lhe arranjassem uma governanta o mais rápido possível. — Eles ainda não têm ninguém disponível agora — Jack dissera a Ellie ao desligar o telefone. — Temos que esperar algum tempo, tudo bem? — Claro — concordara, sabendo que tudo ficaria mais difícil ainda para ela. Teriam de ficar juntos por mais algum tempo. Sentiu-se subitamente doente. Continuou cuidando da casa e de Alice como sempre o fizera. Alice já estava andando com mais confiança e já dissera algumas palavrinhas certas. Ellie não sabia como iria viver sem Alice. Não seria ela que veria a criança crescer, que a beijaria quando chorasse, que faria curativos em seus machucados quando caísse. Outra pessoa se encarregaria disso tudo e de ler historinhas para ela dormir. Alguém que não ela cuidaria do jardim, cozinharia os legumes que plantara. Outra pessoa serviria as refeições para Jack e os vaqueiros, participaria dos rodeios... Chegaria a hora em que haveria uma mulher sentada ao lado de Jack na varanda olhando as estrelas. E ela estaria longe. Talvez em uma cidade, aprendendo a viver sem Jack mais uma vez... Toda vez que o telefone tocava, Ellie sentia o coração disparar, temendo que quisessem avisar que a governanta tinha sido encontrada. Sabia que estava chegando o momento em que Jack diria que ela podia partir. Como ninguém telefonava falando da empregada, ela começou a temer o pior. Teria de esperar mais tempo ainda, vivendo agoniada como estava. Começou a rezar para que a agência encontrasse logo uma pessoa capacitada e a libertasse dessa angústia. Quando isso aconteceu, estava ainda despreparada. Descascava batatas, quando Jack Projeto Revisoras
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Sempre Sonhei com Você - Sabrina nº 1238 Jessica Hart entrou na cozinha. — Acabei de falar com a agência — ele falou, sem preâmbulos. — Encontraram uma pessoa com as características que preciso para uma governanta. Tem uns cinqüenta anos, gosta de crianças e sabe cozinhar. Ellie ficou olhando para a batata que tinha na mão. Este era o momento que estava esperando e agora que chegara ela queria gritar que ainda era muito cedo, que não estava pronta para ir embora. Sentiu uma frieza invadir seu coração, deixando-a sem ar. Fechou os olhos para esconder a dor que sentiu naquele instante. — Parece ser uma boa escolha — conseguiu falar finalmente. 114 — O nome dela é Wanda — Jack informou. Já trabalhou em fazendas antes e sabe o que terá que fazer por aqui. — Isso é bom. — As mãos de Ellie tremiam tanto que ela deixou cair a batata que tentava descascar. — Quando virá para cá? — Depois de amanhã. Ellie entrou em pânico. Era cedo demais! — Bom, então está tudo certo. — Certamente... — Jack disse com voz pesada. — Então posso arrumar minhas coisas. — Melhor você ficar e conhecer Wanda para termos certeza de que ela é boa mesmo, não é? — Jack pediu, tentando encontrar uma desculpa que impedisse Ellie de partir imediatamente. — Será mais fácil, para mim, partir antes que ela chegue. — Mas isso significa que você vai embora amanhã! — E, de fato. — Sentiu-se tão desesperada que quase não conseguia pensar direito. Ellie estava indo embora. Jack a fitou enquanto ela continuava de costas para ele, apoiando-se na pia. Ele a conhecia tão bem e agora não iria vê-la mais. Iria embora no dia seguinte e o deixaria... Sabia que ela queria ir embora, mas somente naquele momento entendia a dimensão da perda. Ellie tinha direito de refazer sua vida e ele ficaria ali sozinho. A casa ficaria vazia sem ela. Sempre iria se lembrar de como Ellie sorria para ele segurando Alice no colo e o recebendo após cada dia de trabalho. Amargurou-se ainda mais por não ter sabido como deixá-la feliz ali. Ellie estivera descascando batatas preparando o seu jantar. Subitamente sentiu como se tudo estivesse mais escuro, sem luminosidade alguma. Tudo se transformara, ficara feio. Ele estava apaixonado por ela! Isso era tão óbvio, mas não percebera antes porque era um tolo. Por que não descobrira isso em tempo de conquistá-la? Tentara negar a si mesmo o quanto precisava de Ellie e agora ela ia partir. Era tarde demais para tentar fazê-la mudar de idéia. — Ellie... — Jack começou a falar, depois se calou. Ela se virou da pia, segurando novamente a batata que começara a descascar antes de ele chegar. — O que é? — perguntou. — Por que você está me olhando desse jeito? O que há de errado? Jack queria poder gritar que tudo estava errado. Ele a amava e ia perdê-la. A tentação de segurá-la em seus braços e a beijar até que prometesse ficar foi tão forte que precisou apertar as mãos com força para impedir-se de caminhar até a pia. Nada tinha mudado só porque ele constatara naquele momento o que devia ter descoberto há semanas. Podia estar apaixonado por Ellie, mas ela continuava apaixonada por Scott. Jack sabia que, se implorasse, talvez ela ficasse, quem sabe por causa de Alice, mas de que isso ia adiantar? Não queria que ficasse porque sentia pena dele. Também não Projeto Revisoras
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Sempre Sonhei com Você - Sabrina nº 1238 Jessica Hart queria que ficasse por causa de Alice. Não queria sua misericórdia. Somente aceitaria que ficasse se também descobrisse que o amava e precisava dele do mesmo jeito que ele necessitava dela para viver. Ellie deveria ficar se o desejasse, não por pena dele. Tinha que deixá-la ser feliz, mesmo que isso significasse que nunca mais a veria. Ela tinha razão. Se não era capaz de encontrar a felicidade ali em Waverley, não adiantava ficar ali. Jack não ia aceitar nunca que ela ficasse com ele amando outro homem. Talvez se fosse para bem longe de Scott terminaria por esquecê-lo. — Jack? O que há de errado? — Nada. Não há nada errado — ele completou e deu meia-volta afastando-se dela. — Precisamos conversar! Era Jack que quebrara o silêncio que havia entre eles. Estavam lavando a louça do jantar e tinham tentado manter uma conversação banal durante toda a refeição. Não tinham tocado no assunto da governanta. Ellie se concentrava na lavagem dos copos e pratos e areava as panelas, tentando disfarçar o que estava sentindo. — Suponho que devemos — Ellie concordou, colocando o último copo no escorredor. Jack pegou-o e começou a secá-lo. — Se você vai partir amanhã, temos que deixar alguns pontos bem claros. — Pigarreou, tentando manter a voz firme. — Vou ter de pagar a você pela metade da fazenda, só que não posso lhe dar o dinheiro agora. Vou tentar arranjar um empréstimo. — Não quero nenhum dinheiro, Jack — ela contra-atacou tentando se manter .calma. — Você não precisa me dar nada. — Fizemos um acordo — Jack insistiu. — Você é minha esposa e legalmente tem direito a uma pensão alimentícia. Além do mais, trabalhou todos esses meses e não tirou nenhum proveito. Ellie suspirou, pensando nas vezes que ficara sentada na varanda vendo o pôr-do-sol na enseada. Lembrou-se de sua alegria ao ver Alice dar o primeiro passinho, de como seu coração batia forte quando escutava o barulho das botas de Jack na varanda, anunciando que ele voltava do trabalho. Ela tinha lembranças que serviriam para aliviar a sua dor durante o resto de sua vida. Ia poder se lembrar dos lábios de Jack tocando seu corpo... — Tirei sim — disse baixinho. — Pois vai precisar de dinheiro para começar a vida nova — ele teimou. — É o mínimo que posso fazer por você. — Ele hesitou. — Já contou para seus pais que vamos nos separar? — Ainda não — Ellie enxugou as mãos na calça jeans e se esforçou para sorrir para Jack. Tinha se esquecido de sua família. Não conseguira pensar em mais nada a não ser de onde tiraria forças para viver longe de Jack e de Alice. Jack a observou. Havia um ar de fragilidade a envolvendo, como se ela estivesse para se desmanchar em pedaços. — O que você vai fazer, Ellie? — Desejou poder parar de falar e abraçá-la. — Para onde você pretende ir? — Não sei exatamente — ela confessou, preferindo ter inventado uma mentira. — Não se preocupe comigo, porque estarei bem. — Mas, Ellie... — Melhor eu ir preparar minhas malas — ela murmurou, desesperada em sair dali da cozinha antes que começasse a chorar. Jack a viu virar-se e sair da cozinha. Seria isso o que ela iria fazer no dia seguinte. — Ellie, não vá embora — ele se ouviu pedindo. — Não posso ficar conversando agora — ela sussurrou. — Tenho que preparar minhas coisas. — Eu estou pedindo que não vá embora nunca — Jack falou, sentindo-se Projeto Revisoras
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Sempre Sonhei com Você - Sabrina nº 1238 Jessica Hart desesperado. — Não quero que você vá agora, nem amanhã, nem nunca. Ellie ficou parada, com os olhos fechados, com medo de que ele fosse dizer que ela tinha de ficar porque Alice precisava dela. Talvez não encontrasse forças de recusar o seu pedido. — Por favor, Ellie... — Jack se aproximara e segurava sua mão como se quisesse se assegurar que ela não cairia, tão frágil estava. — Por favor, fique — ele pediu de novo, não se importando em implorar. Já não ligava se ela ficasse com pena dele. A única coisa que importava agora é que Ellie não fosse embora e não o abandonasse. — Sei que quer ir embora — continuou —, também sei que devia deixá-la ir, mas não consigo. Não ia nem dizer nada, mas quando vi você indo arrumar suas coisas, soube que não posso viver sem você. — Mas vai encontrar alguém algum dia, Jack — Ellie disse com dificuldade. — E Alice vai ficar bem. — Não quero encontrar ninguém. — Jack hesitou. — Eu preciso de você, Ellie. — Podemos nos encontrar de vez em quando, se você quiser. Podemos ser amigos de novo — ela conseguiu dizer. — Não quero que sejamos amigos! — Jack praticamente gritara, depois forçou a si mesmo a baixar a voz. — Ser amigos não é o suficiente para mim. Houve um momento de silêncio profundo, enquanto as palavras de Jack ressoavam como um eco na cozinha. Ellie virou-se para ele. Seus olhos verdes destacavam-se em seu rosto pálido. Se ele não estivesse tão desesperado teria rido em vê-la tão surpresa. Como ela não descobrira que ele a amava? — Estou apaixonado por você! — ele disse simplesmente. Ellie olhou-o, incapaz de se mover ou falar. Não sabia se estava sonhando ou se devia acreditar no que tinha ouvido. — Sei que você não sente o mesmo por mim — Jack se apressou em dizer, antes que ela se recuperasse o suficiente para dizer qualquer coisa. — Sei que ama outro homem e que eu me portei mal com você e nem seu amigo fui nestes últimos tempos. Não vou conseguir fazer com que me ame, sei disso. Errei quando aceitei que você trabalhasse aqui em casa, cuidasse de minha filha e trabalhasse até quase cair de cansada. Devia terlhe oferecido um lar e não meramente um trabalho. Nunca fiz nada por você. Jack respirou fundo. Tinha mais coisa para falar, depois de tanto tempo de silêncio. — Nunca mostrei o quanto você era importante para mim — abaixou o tom de voz, o que se ouvia era quase um sussurro. — Mas foi porque nem eu mesmo sabia de meus sentimentos. Só compreendi que a amava quando vi que ia perdê-la. Minha vida ficará vazia demais sem você. Ellie sentia-se estranha, desorientada. — Mas você ama Pippa — ela retrucou, surpresa em conseguir falar, de tão emocionada que se sentia. — De fato a amei — Jack confessou. — Mas nunca a amei do jeito que amo você. Pippa era divertida e excitante. O que vivemos juntos foi maravilhoso, mas de alguma forma nunca foi real. Já tinha percebido isso antes. Talvez, se não tivéssemos brigado e ela partido, tudo fosse diferente. Nem sei se continuaríamos juntos. Agora, tudo me parece um sonho. O que sinto por você é real. Jack não fizera qualquer movimento para tocá-la, temeroso de que Ellie não estivesse pronta para acreditar em sua confissão. — Não esperava me apaixonar por você, Ellie. Só sei que aconteceu. Estávamos tão juntos um do outro e, um dia, olhei para você e vi que fazia parte de minha vida, que era tão necessária para mim como o próprio ar que respiro. Jack tomou fôlego e continuou: — Tinha me acostumado a pensar em você só como amiga, mas na noite em que fizemos amor foi como se eu tivesse renascido. Percebi que não queria apenas sua amizade, pois a queria como amante. Queria que pertencesse a mim e a mais ninguém. Projeto Revisoras
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Sempre Sonhei com Você - Sabrina nº 1238 Jessica Hart Tive vontade de espancar Scott só em ver como ele olhava para você. Jack parou de falar quando percebeu que Ellie não estava dizendo nada. — Não mereço nenhuma chance, Ellie, mas se for preciso, fico de joelhos e imploro para que fique, não por Alice nem porque você gosta de Waverley, mas porque quer ficar comigo. Era um sonho. Tinha que ser um sonho. Ellie sacudiu a cabeça, para ver se tudo não sumia e ela se veria sozinha ali na cozinha. — Não diga que não, por favor — ele implorou. — Pelo menos, pense um pouco no assunto! Sei que ama Scott, mas ele está casado com Anna. Ele não precisa de você, mas eu sim! — Scott? — Ellie finalmente conseguiu falar. — Você acha que eu amo Scott? — E não o ama? — Era Jack que a olhava surpreso. — Não. — Mas você disse que estava apaixonada por alguém... Ela concordou, com um sorriso trêmulo nos lábios. O alívio que Jack sentira ao descobrir que ela não amava Scott evaporou-se. E se esse homem nem fosse casado e pudesse um dia descobrir que Ellie era uma mulher maravilhosa e querer que ela ficasse com ele? — Você disse que não havia futuro para vocês dois — ele a lembrou. — Por que não fica aqui comigo? Vou fazer você ser feliz, prometo. Passarei o resto de minha vida tentando fazer você se esquecer dele. — Eu nunca vou conseguir isso, Jack — Ellie sorriu novamente. — Pode tentar, não pode? Pode aprender a amar de novo. — Havia uma nota de desespero na voz de Jack. — Você pode mudar seus sentimentos. — Não posso. — Sorria enquanto seu rosto ficava molhado pelas lágrimas que deslizavam de seus olhos. — Ele é o único homem que amarei na vida. Jack viu que os olhos de Ellie brilhavam e sentiu uma dor no coração. Bem, pelo menos tinha tentado. Chegara a implorar que ela ficasse, mas não tinha adiantado. Agora tinha que aceitar que ela não mudaria de idéia. Ela era incapaz de mentir. Era a mulher de apenas um homem. Esperava que esse homem soubesse a sorte que tinha por ter uma mulher como Ellie apaixonada por ele. — Então é melhor você ir embora — ele disse, incapaz de descobrir se havia piedade nos olhos dela. — Jack — ela murmurou suavemente. — Jack, é você. — O quê? — Jack não entendeu o que ela queria dizer. — Olhe para mim, Jack. Levantando a cabeça com certa dificuldade, ele a olhou. — É você — ela disse novamente. Colocou a mão em seu rosto. — Sempre só houve você para mim. — Eu? — Tenho amado você em toda minha vida, Jack — ela disse simplesmente. — Nunca vou conseguir amar outro homem. — Você me ama? — ele perguntou ainda pensando que tivesse escutado tudo errado, incapaz de acreditar que ela estivesse contando a verdade sobre o homem a quem amava. — Sempre amei você e vou continuar amando-o. — Diga isso de novo — ele pediu, enquanto a puxava para seus braços. — Oh! meu Deus, Ellie, repita que me ama! — Amo você, só você — ela disse, agora deixando as lágrimas caírem livremente. — De novo, de novo — ele insistiu. — Amo você, amo você! — Ellie ria e chorava ao mesmo tempo. Jack a beijou apaixonadamente. Beijaram-se com desespero por saberem que haviam estado tão perto de se separar e perdido um ao outro. Ellie colocou seus braços em volta Projeto Revisoras
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Sempre Sonhei com Você - Sabrina nº 1238 Jessica Hart do seu pescoço e entregou-se ao prazer de estar sendo beijada pelo homem que amava e que também a amava com loucura. — Por que não me disse antes? — Jack reclamou, enquanto beijava os olhos, o rosto, o nariz, e novamente a boca de Ellie. — Não podia— ela conseguiu dizer quando se afastaram um pouco. — Tinha certeza de que você continuava amando Pippa. Cada vez que você falava dela me fazia pensar que ela era tão maravilhosa, tão diferente de mim, que seria impossível que você viesse a pensar em mim com um sentimento que não fosse o de amizade. Pensei que nunca conseguiria rivalizar com o fantasma de Pippa e achei que se descobrisse que eu o amava, as coisas iam piorar entre nós dois. Eu queria ficar apenas ao seu lado, sem dizer o quanto o amava. — E como ia partir agora? — ele perguntou, segurando seu rosto com suas mãos enormes e a acariciando de tal modo que Ellie suspirou de prazer. — Porque no fim vi que ficar perto de você não era o suficiente. No começo, foi bom, mas quanto mais eu ficava ao seu lado, mais o amava e doía saber que você não sentia nada por mim. — E eu estava com ciúme de Scott! — Jack sacudiu a cabeça, incapaz de aceitar o fato de ter sido tão estúpido. De repente sorriu. — Quer dizer que estava com ciúme de mim, de verdade? Ellie riu e enterrou seu rosto no peito dele, sucumbindo ao desejo de ser novamente abraçada e beijada por ele. O prazer que sentia ao estar ali em seus braços era como se um sonho, um maravilhoso e glorioso sonho estivesse acontecendo. Estava tão feliz que temeu que tudo fosse mesmo fruto de sua imaginação. — Pensei que sabia que eu o amava — Ellie revelou. — Mesmo assim, nunca acreditei que iria me amar também. Nem agora estou acreditando nisso — confessou. — Não mesmo. — Então não me resta outra coisa a não ser provar para você que a amo — ele disse, levando-a para o quarto. — E agora, você acredita em mim? Ellie gemeu ao sentir as mãos de Jack acariciando seu corpo. Ele estava olhando para o seu rosto com ternura. — Agora acredito em você. — Ela o puxou para mais perto. — Mesmo assim, preciso que você fique me lembrando disso regularmente... — Mas não vou ter muito tempo livre — Jack brincou. — Não esqueça que temos que trabalhar! — Falando nisso — Ellie alarmou-se — Temos que ligar para a agência amanhã cedo e dizer que não precisam mandar a empregada para cá. — Pois tenho uma idéia melhor — Jack disse. — Vamos precisar de alguém para fazer o trabalho da casa para que você tenha mais tempo livre e possa trabalhar ao meu lado. Temos muito que fazer e desta vez quero que façamos tudo juntos. Ellie suspirou de felicidade. — E desta vez faremos tudo certo, meu amor.
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