Susan Meier - Volta Da Esperança (Special 78)

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Volta da Esperança NANNY FOR THE MILLIONAIRE’S TWINS

Susan Meier

Ela consegue lidar com os gêmeos, mas e com o chefe? Como a nova babá, Tory Bingham cuida dos adoráveis gêmeos de Chance Montgomery. Apesar de tirar de letra as trocas de fraldase noites em claro, nada a prepara para a presença do belo e estonteante pai dos bebês… Cinco anos atrás, os sonhos de Tory foram destroçados por um terrível acidente, mas conforme se torna parte da família de Chance, ela tem que tomar uma decisão dificílima. Tory ousará superar o passado e ter esperanças na felicidade novamente? Digitalização: Simone R Revisão: Carmita


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) Querida leitora, De vez em quando, uma história me surpreende. Volta da esperança é uma dessas. Comecei com a intenção de escrever sobre um herói com uma postura hostil. Ele teve uma vida terrível, com um pai exigente e, frequentemente, desonesto. Há muito tempo ele tenta superar o abuso emocional. Até que sua ex-namorada lhe entrega seus gêmeos, e ele não pode mais fugir. É aí que entra Tory Bingham. Chance pode achar que a vida foi dura com ele, mas com Tory foi muito pior. Ainda assim, Tory não comenta sobre seu sofrimento, nem busca compaixão. Em vez disso, o ajuda a superar o trauma de ter sido abandonado pela ex e a se tornar um bom pai para os filhos. Tory é leal, honesta e maravilhosa, e quando Chance descobre que os problemas dela são muito maiores que os dele, se torna mais humilde. Ela o muda de uma maneira que Chance não esperava. E o desafia de formas que ele não quer ser desafiado, ainda que a sorte não pareça estar do lado deles, e um final feliz se mostre pouco provável. Mesmo que consigam ficar juntos, o preço será alto... No fim, Chance se torna o homem que estava destinado a ser. Suas escolhas são viscerais e poderosas. Assim como as de Tory. Espero que a história deles inspire você. Boa leitura! Susan Meier Tradução Vanessa Mathias Gandini HARLEQUIN 2013 PUBLICADO SOB ACORDO COM HARLEQUIN ENTERPRISES II B.V./S.à.r.l. Todos os direitos reservados. Proibidos a reprodução, o armazenamento ou a transmissão, no todo ou em parte. Todos os personagens desta obra são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas é mera coincidência. Título original: NANNY FOR THE MILLIONAIRE’S TWINS Copyright © 2012 by Linda Susan Meier Originalmente publicado em 2012 por Mills & Boon Romance Arte-final de capa: Nucleo i designers associados Editoração eletrônica: EDITORIARTE Impressão: RR DONNELLEY www.rrdonnelley.com.br Distribuição para bancas de jornais e revistas de todo o Brasil: FC Comercial Distribuidora S.A. Editora HR Ltda. Rua Argentina, 171, 4o andar São Cristóvão, Rio de Janeiro, RJ — 20921-380 Contato: mailto:virginia.rivera@harlequinbooks.com.br 2


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78)

CAPÍTULO UM

Chance Montgomery estacionou o SUV em frente aos grandes portões negros de ferro da casa da mãe. Ele pressionou o botão do controle remoto que ela havia lhe dado e, após os portões terem sido abertos, dirigiu pelo caminho tortuoso, indiferente ao ver que nada havia mudado. As folhas nas árvores altas que levavam à mansão haviam se tornado vermelhas, amarelas e laranja, da forma que sempre acontecia em outubro em Pine Ward, na Pensilvânia. A mansão de pedras marrons e cinza, sua casa de infância, parecia exatamente como em seu aniversário de 18 anos, quando ele tinha fugido. Fugira porque sua vida estava uma bagunça. Dias, meses e anos de traições e mentiras. Ironicamente, ele estava voltando pelo mesmo motivo. A mulher que ele havia pensado ser o amor da sua vida o deixara quando percebera que estava grávida de gêmeos. Ela nunca o amara, apenas o usara como um degrau para chegar aonde queria em sua carreira. Nove meses depois, ela havia tido os bebês e parecera cuidar deles adequadamente por seis meses ou mais. E, então, subitamente, há duas semanas ela os havia levado para a casa dele e dito que não os queria de volta. Estranho era que o fato de ela ter desistido das crianças reforçou a valiosa lição que ele aprendera quando descobriu que seu pai adotivo era, na verdade, seu pai biológico. As pessoas não eram confiáveis. A maioria olhava apenas para si mesma. Ele deveria ter se lembrado disso quando ela lhe dissera que apenas estivera com ele para usá-lo. Mas não. Ele havia se agarrado à esperança de que, ainda que ela não o amasse, ela poderia amar as crianças. Ele era um idiota. Chance estacionou o SUV em frente a uma das portas da garagem, desligou o motor e saiu do carro. Como se estivesse esperando por ele, a mãe se apressou em sua direção. — Chance, querido! — O cabelo branco como a neve estava cortado em um estilo curto e elegante. As calças e a gola rulê preta com pérolas a fazia parecer a socialite que ela era. A mãe o envolveu em um abraço e, quando se afastou, seus olhos estavam cheios de lágrimas. — Estou tão feliz que você esteja em casa. Chance limpou a garganta. Ele desejou que pudesse dizer o mesmo, mas a verdade era que não estava feliz por estar ali. Ele não estava feliz por não conseguir dar conta dos gêmeos. Não estava feliz por a mãe dos bebês não querer participar da vida deles. E não estava feliz por cada pessoa em sua vida que o machucava, o traía ou mentia para ele. Exceto Gwen Montgomery. A devotada esposa que o pai havia feito com que o adotasse. Uma mulher que, apesar de ter descoberto que ele era filho ilegítimo do marido, não havia deixado de amá-lo. 3


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) — É bom estar em casa. Certo. Isso era uma meia-verdade. Mas como ele poderia dizer a verdade àquela alegre mulher à sua frente? Que essa casa o fazia se lembrar de um pai que não era confiável. Que a sua vida estava uma droga... Ele não poderia. Gwen uniu as mãos e declarou animada: — Então, me deixe vê-los! Chance alcançou a porta traseira do SUV no momento em que uma mulher ruiva saiu da mansão. Ele teria mentido se dissesse que não havia notado que ela possuía um lindo rosto. Olhos grandes e castanhos, um nariz arrebitado e lábios cheios e suculentos. Mas estava vestindo uma blusa branca simples, uma calça na cor cinza e horrorosos sapatos pretos. A mãe disse: — A propósito, essa é Victoria Bingham. Ela gosta de ser chamada de Tory. Eu a contratei para ser a babá dos gêmeos. Normalmente, ele teria aceitado a mão que ela oferecia a fim de trocarem um cumprimento. Em vez disso, no entanto, Chance virou para a mãe e falou: — Eu lhe disse mãe, quero criá-los sozinho. Vim aqui para obter sua ajuda, e não de uma estranha. Gwen se endireitou como se ele a tivesse machucado até a morte. — Bem, é claro, vou ajudá-lo. Mas você também precisa de uma babá para coisas como fraldas... — Eu posso trocar fraldas. Troquei 300 nas últimas duas semanas. Essas crianças foram abandonadas pela mãe. Elas não vão perder o pai também. — Oh, querido. Não vamos deixar essas crianças crescerem sem amor. Você teve uma babá até completar 4 anos. E você não acha que eu o amo menos do que uma criança criada sem uma babá, acha? Chance meneou a cabeça. O amor de Gwen havia sido provado um milhão de vezes, quando ela aceitara a infidelidade do marido bem melhor do que Chance havia aceitado. — Então, você viu? Babá é uma ajuda perfeitamente adequada. — Suponho que sim — murmurou ele, virou-se para a porta do SUV e, após abri-la, revelou seus dois verdadeiros motivos de orgulho e alegria. O pequeno Sam gritou de forma indignada como se ressentisse estar preso dentro do carro enquanto todos os outros conversavam. Cindy exibiu um sorriso radiante. — Oh, querido! Eles são maravilhosos! Eles eram maravilhosos. Em pé próxima à caminhonete, Tory Bingham fitou os dois bebês louros e de olhos azuis. Ela não queria esse emprego. Após anos de cirurgias e terapias para reparar sua perna esquerda, a qual havia sido quebrada em um acidente de moto, ela podia finalmente caminhar com o apoio de sapatos ortopédicos. Ela também podia dirigir. Seu plano havia sido despender os dias com seu noivo, que não havia ficado tão bem quanto ela depois do acidente. Mas seus pais tinham outras ideias. 4


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) Eles queriam que ela arranjasse um emprego. Pior, eles queriam que ela continuasse com a sua vida. Enquanto o noivo estava deitado em uma maca, lutando, eles queriam que ela seguisse em frente. Mas ela estava com 25 anos. Tory não tinha nenhum dinheiro. Não possuía plano de saúde. Todas as suas despesas médicas tinham sido pagas pelo seguro da moto de Jason, mas ela estava ultrapassando até esses limites. Os pais podiam ser amigos dos Montgomery, mas não possuíam o dinheiro que a família Montgomery possuía. Ela não tinha escolha exceto aceitar o trabalho que Gwen havia oferecido. E agora o filho pródigo não a queria. Tudo bem para ela. Tory podia encontrar trabalho em outro lugar. Porém... Bem, os bebês eram adoráveis. Os dois anjos doces sentados nas cadeirinhas do automóvel fizeram com que ela sentisse o coração bater mais forte dentro do peito, e ela não conseguia parar de encará-los. Chance baixou a cabeça para entrar no interior do SUV. — Aqui, vou tirá-los. — Está bem. — Gwen apressou-se em contornar o reboque atado na traseira do SUV O reboque no qual havia uma moto grande e na cor preta. — Você pega Sam. Eu pego Cindy. Ela abriu a porta e inclinou-se para apanhar a pequena garota, mas dentro de segundos ela saiu do carro novamente. — Tory, você pode me ajudar com esses cintos? Não consigo desafivelá-los. — Sim — declarou Tory, e apressou-se em ajudá-la. Aparentemente ela não seria mandada embora. Mas, mesmo ficando o mais longe possível da assombração negra no reboque, seu peito se apertou com terror conforme ela contornava o carro. Tory se lembrou do seu acidente de moto como um flash silencioso em sua mente. Um borrão que havia destruído sua perna e quase levado o homem que ela amava. — Depressa, Tory! Tory abriu a porta do SUV, abaixou a cabeça para desafivelar o cinto e ficou a apenas alguns centímetros do rosto mais adorável do universo. Os olhos grandes e azuis piscaram para ela. Os lábios querúbicos soltavam pequenas bolhas de saliva. — Bem, olá. O bebê gargarejou de felicidade. — Você não é a coisa mais fofa desse mundo? Ela desafivelou o último cinto e ergueu o bebê da cadeirinha. Pela primeira vez desde o acidente, o peito de Tory se expandiu de deleite. O bebê repousou a mãozinha em seu rosto e ela deu risada. Mas Gwen aguardava ansiosamente para segurar a pequena garota, e Tory a entregou. — Meu Deus! — falou Gwen. — É um prazer conhecê-la, Cindy. Eu sou sua avó. Tory ergueu as sobrancelhas. Gwen não havia conhecido sua própria neta? Ela 5


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) sabia que Chance estivera afastado por um tempo, mas pensara que eles haviam se reconciliado. Gwen contornou o reboque novamente. — Vamos levá-los para dentro da mansão. — Na verdade, mãe... — Chance recuou. — Sam precisa trocar a fralda. Talvez devêssemos levá-los direto para a casa de campo. — Oh. — Foi uma longa viagem e, uma vez que eu trocá-los, precisarei alimentá-los. Gwen sorriu, tão feliz que o filho estava em casa que concordaria com qualquer coisa. — Está bem. Tory e eu vamos acompanhá-lo. Chance dirigiu o olhar para Tory e ela o encarou. Ela já tinha notado que ele era alto e magro. Que seu cabelo era negro e seus olhos, azuis. Que uma camisa de flanela vermelha se adaptara perfeitamente ao corpo másculo, assim como o jeans apertado. Mas, fitando o azul dos olhos dele, ela enxergou outras coisas. Astúcia. Aqueles lindos olhos cor de safira tinham a cautela de um homem que não confiava facilmente. O que era simplesmente perfeito. Ela nunca tinha trabalhado em tempo integral além da tarefa de vigiar crianças durante três verões, quando estava no colegial, e agora seu primeiro emprego real viera com um pai desconfiado. Bem, ela não iria implorar a ele para contratá-la ou mesmo defendê-la. Ela não queria trabalhar para um mal-humorado. Principalmente um mal-humorado que ela não conhecia. Babás viviam com a família que os empregava. Se ele a contratasse, ela teria que despender 24 horas ao lado dele. — Apenas pense, Chance — declarou Gwen. — Se você tiver uma babá, não terá que levantar com os gêmeos no meio da noite... E, mesmo se levantar, você terá que trocar e alimentar apenas um dos bebês. Ele passou a mão ao longo da nuca, como se estivesse tenso e achando difícil refutar aquele argumento. — Está bem Vocês duas podem me acompanhar. Após acomodarem as crianças nas cadeirinhas novamente, Tory se sentou no meio dos gêmeos e Gwen se acomodou no banco de passageiro ao lado do filho. Enquanto faziam o caminho ao longo da estrada que contornava a floresta atrás da mansão de Gwen, Tory começou a ver como seria sua nova vida. Ela engoliu a saliva. Talvez seus primeiros instintos estivessem corretos? Talvez ela devesse ter se mantido firme com sua mãe e dito a ela que ela não queria um emprego. Ela queria estar com Jason, para cuidar dele, para ajudá-lo a se recuperar. E não ficar presa em uma casa com um homem que ela não conhecia. Eles pararam em frente a uma casa térrea, grande demais para ser chamada de casa de campo. Gwen os guiou até o cômodo que ela havia replanejado e mobiliado para ser o quarto das crianças. 6


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) Chance repousou Sam no primeiro trocador para trocar o bebê. Gwen repousou Cindy no outro. — Tory, querida, enquanto trocamos as fraldas, você poderia preparar algum cereal para os bebês? — Claro. — Feliz em escapar, ela se apressou até o SUV, assumindo que iria encontrar os suprimentos dos bebês ali. Mas tudo o que ela viu foram duas bolsas de lã. Quando as levou para a cozinha e remexeu nas bolsas, encontrou apenas roupas. — Gostou de alguma coisa que viu? Seu coração quase pulou para fora do peito ao ouvir a pergunta de Chance. A voz dele era baixa e profunda, e a forma sexy com que ele cruzou os braços em frente ao peito e se recostou contra o balcão da cozinha fez com que sua pulsação se acelerasse. O aborrecimento a invadiu. Por que ela continuava notando coisas nesse homem? Ela estava noiva. Não deveria estar encarando o lindo rosto dele ou notando a forma com que ele se movia. Exibindo um sorriso profissional, ela disse: — Eu estava procurando pelo cereal. Chance entregou-lhe a sacola de fraldas. — Está aqui. Minha mãe disse que a geladeira está armazenada com suprimentos, incluindo leite. Use o alimento que está na geladeira, uma vez que o meu esteve nesta sacola de fraldas por horas. Com isso, ele se virou e se afastou, e Tory deixou escapar um suspiro que nem mesmo percebeu que estivera segurando. Ela preparou o cereal rapidamente. No momento em que levou o alimento até o quarto das crianças, Chance e a mãe estavam acomodados nas cadeiras de balanço, cada um segurando um bebê. Ela colocou as duas pequenas tigelas sobre a mesa, entre as cadeiras, e se afastou. Chance alimentou o pequeno Sam e Gwen alimentou Cindy. Com nada mais para fazer, Tory permaneceu em pé próxima à porta, observandoos. Quando terminaram, Chance se ergueu da cadeira. — Eu acho que devemos colocá-los para dormir. Eles já se alimentaram e agora devem estar cansados. — Então eles não costumam tirar um cochilo nesse horário? — perguntou Gwen. Chance soltou uma risada curta. — Horário? Eu não digo a eles quando dormir ou comer. Eles me dizem. Lembrando-se da confusão que ela havia tido no primeiro verão com a família Perkins, advogados ricos com crianças que mandavam neles, Tory não conseguiu conter um “Oh, meu Deus!" que escapou de seus lábios. Ela se arrependeu instantaneamente. Os belos olhos azuis de Chance se estreitaram e os lábios se apertaram formando uma linha fina. Ele deu tapinhas nas costas de Sam, depois deitou a sonolenta criança no berço. Seguindo o exemplo de Chance, Gwen fez o mesmo com Cindy. Os bebês adormeceram instantaneamente e Chance se dirigiu à porta, a mãe sempre o seguindo. Tory os seguiu para fora do quarto das crianças, sentindo-se embaraçada. Chance já não gostava dela e ela precisava tornar as coisas piores com sua boca grande? Quando eles reentraram na sala principal, Gwen se virou para Chance. 7


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) — Uma vez que os bebês estão dormindo, não há razão para ficarmos por perto. Além do mais, você e eu poderíamos usar um pouco do tempo para conversar. — Ela sorriu para ele. — Por que não voltamos para a mansão e nos dirigimos para o esconderijo onde há um bom conhaque? Podemos fazer um lanche também. Chance apanhou as chaves de dentro do bolso do jeans. Em seguida, dirigiu o olhar para Tory. — Cuide das crianças. Ela assentiu com a cabeça, enquanto uma onda de alívio a invadia. Esperançosamente, ele e a mãe iriam conversar tempo suficiente para que ela pudesse descobrir uma maneira de sair do emprego graciosamente, uma vez que suas mães eram amigas. Ele não a queria e ela não queria trabalhar para ele. Após eles saírem, Tory relaxou e vagou pela casa. Ela estivera tão preocupada com Chance e o cereal que não havia dado uma boa verificada na casa. Era o lar perfeito para uma família jovem... Ou recém-casados. Tory correu a mão ao longo do balcão de granito. Ela deveria estar casada agora. Vivendo em uma casa graciosa como essa. Criando os próprios bebês. Mas um dia... Uma hora... Não, um minuto havia mudado tudo. Em vez de estar casada, sendo mãe ou tendo uma carreira, ela despendia horas em um quarto de hospital, conversando com um noivo que não podia responder. Ela nem mesmo tinha certeza de que ele podia ouvi-la. Forçando-se a melhorar o humor, Tory se dirigiu para a sala de estar que possuía um sofá enorme de couro e uma TV de tela grande. Então girou o corpo, formando um círculo. Para uma “casa de campo" isso era inacreditável. — Então agora você está dançando? Ela virou-se para encarar Chance enquanto ele entrava pela porta da frente. — Eu estava apenas explorando um pouco. — Pressionando a mão contra o coração galopante, ela tentou acalmar a respiração. — Pensei que estivesse visitando sua mãe. — Não vou deixar meus bebês indefinidamente com uma estranha. — Não sou uma estranha. Nossas mães são amigas. Chance gesticulou com uma das mãos para que ela se sentasse no sofá. — Nós precisamos conversar. Resignada, ela se aproximou e sentou-se no sofá como ele havia pedido. Chance sentou-se em uma das cadeiras reclináveis. — Você passou dos limites quando me questionou sobre o horário de cochilo das crianças. Tory recuou. — Tecnicamente, eu não o questionei. Eu disse “oh, meu Deus!". — O que é pior. A impressão que eu tive é que você quis dizer: “Ei, Chance. Você está fazendo tudo errado". 8


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) — Desculpe-me. — Esses são meus filhos. Eu passei duas semanas com eles sozinho. Mas estou disposto a lhe dar uma chance porque, honestamente, eu posso precisar de alguma ajuda. Mas eu tenho que lhe dizer, se você for me criticar, podemos terminar com isso agora mesmo. Tory o estudou enquanto todas as peças do quebra-cabeça da situação dele começavam a se encaixar em sua mente. Gwen havia dito que a mãe dos gêmeos havia deixado os bebês com ele, dizendo que não os queria de volta... o que explicava a desconfiança que ele demonstrava. Ele não queria uma babá. Ele queria criar as crianças sozinho. Admirável. Mas ele não sabia como. E, porque estava fracassando, de certa forma ele estava supersensível. Ele não era mal-humorado. Era apenas um pai supersensível que precisava de alguém para ajudá-lo. Subitamente, ser essa pessoa não parecia tão terrível. — Estamos claros? — Sim. — Ótimo. — Nesse instante, um dos bebês começou a chorar. Chance se ergueu da cadeira. Tory também se ergueu. Enquanto caminhava até o quarto das crianças, ele declarou: — Aqui está a única razão de eu não me importar em tê-la por perto. Eles não dormem por mais de 20 minutos e quando acordam se parecem com pequenos gatinhos escalando meu corpo. Eu não tenho um minuto de paz. — Você esteve segurando essas crianças por duas semanas? — Mais ou menos. Algumas vezes elas brincaram no chão. — E quanto ao seu emprego? — Eu tenho uma empresa de construção, então pude fazer o que eu queria pela primeira semana. Mas, uma vez que percebi que meu tempo estava totalmente tomado pelas crianças, eu joguei toda a responsabilidade sobre o meu gerente geral. Tory sustentou-lhe o olhar cuidadosamente. Os olhos azuis dele não estavam mais raivosos, mas cautelosos. — Você não pode viver assim para sempre. Chance soltou uma risada curta e seca. — Não brinca. — Ainda assim, você não quer uma babá. — Eu não quero ser como o meu pai. — Ele nunca tinha tempo para você? Chance suspirou, correu os dedos pelo cabelo curto e escuro. — Essas crianças estão apenas se adaptando à perda da mãe. Eu não posso deixá-los também 9


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) Cautelosamente, ela declarou: — Então você quer sugestões sobre algumas coisas? Ele suspirou. — Sim — Eu não vi um balanço para bebê ou um andador em seu carro... — Um andador? — Ele franziu as sobrancelhas e a encarou como se ela fosse louca. — Como um andador para pessoas mais velhas? Se ele não estivesse tão sério, ela poderia ter dado risada. Sem querer insultá-lo, Tory falou cuidadosamente: — Um andador é um assento com rodinhas onde você coloca seu bebê. Isso os ajuda a aprender a andar, mas também os entretém. — Você quer dizer que eles não têm que despender cada minuto engatinhando em cima de mim? — Sim. — E eu suponho que o balanço também seja útil? Ela recuou e depois assentiu com a cabeça. — Estou surpresa por sua ex-esposa não ter lhe dado essas coisas quando lhe entregou as crianças. — Liliah não era minha esposa. Ela não vai ser esposa de ninguém E, como você pode ver, ela também não conseguiu ser mãe. Ele virou-se e dirigiu-se para o quarto das crianças, e Tory cerrou os olhos com força. Justamente quando parecia que eles estavam começando a se dar bem, ela dissera algo estúpido. Isso nunca iria dar certo.

CAPÍTULO DOIS

Aproximando-se para erguer Sam do berço, Chance impediu a raiva que corria em seu interior. Ele não deveria estar surpreso por Liliah não ter lhe dado todas as coisas de que as crianças precisavam. — Então, por que você acha que eles acordam? Tory se aproximou do berço de Cindy. A pequena estava chorando e ergueu os braços, implorando para sair do berço. — Eles dormiram no caminho até aqui? 10


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) — Sim. — Certo. Então provavelmente eles apenas dormiram depois que você os alimentou porque estavam com o estômago cheio. Eles não precisavam de um cochilo. — Ela ergueu Cindy do berço. — Ei, docinho. O choro de Cindy diminuiu, e Chance assistiu enquanto um olhar de admiração transformava os traços de Tory. Seus olhos castanhos se acenderam de alegria e pela primeira vez em semanas ele começou a relaxar. Ela não apenas sabia o que fazer, mas parecia verdadeiramente amar os bebês. Talvez uma babá não fosse uma má ideia, afinal de contas? — Então, eles querem brincar? — Provavelmente. — Talvez devêssemos ir até a cidade e comprar alguns suprimentos. — Como o andador? — E balanços. Se comprarmos o que eles precisam, além de alguns brinquedos, seremos capazes de cansá-los, fazendo com que eles durmam por mais tempo. Chance a fitou demoradamente. — Sério? Ela riu ao ouvir o som suave com que ele falara. — Sim. Então pegue sua carteira, eu vou pegar a sacola de fraldas e vamos fazer uma corrida rápida até a loja. Pensando apenas em uma noite inteira de sono, Chance colocou as crianças nas cadeirinhas dentro do carro e eles dirigiram até o shopping nos subúrbios da cidade. Quando chegaram, ele ligou a seta sinalizando para entrar no estacionamento do shopping, mas Tory repousou a mão em seu braço e apontou a loja ao lado, que oferecia descontos. — Vamos naquela loja. A qualidade é tão boa quanto no shopping e você vai gastar menos dinheiro. Após apanharem as crianças e saírem do carro, as portas automáticas se abriram e eles entraram na loja. Tory o instruiu a apanhar um carrinho e colocou Sam no assento de bebê. E, então, ela apanhou um carrinho e colocou Cindy no assento de bebê. Eles atravessaram os diversos corredores até chegar à seção de bebês. Tory parou seu carrinho. — O mais importante hoje são os dois andadores, dois balanços, um carrinho de bebê para gêmeos e um cercadinho. — Cercadinho? — Sim É um objeto quadrado como uma caixa com paredes de rede onde você coloca os bebês para que eles possam brincar juntos, mas sem ficarem engatinhando pela casa e arrumando problemas. Ele assistiu enquanto ela colocava uma caixa compacta em seu carrinho. — Presumo que tenha que ser feita uma montagem — ele observou. Tory recuou. — Infelizmente. Talvez possamos chamar Robert? — indagou ela, referindo-se ao jardineiro. 11


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) — Trabalhei em construção por dez anos antes de começar minha própria empresa, e mesmo assim tenho que trabalhar com a equipe algumas vezes. — Por alguma razão desconhecida, o peito dele se estufou com orgulho. — Eu acho que posso montar um cercadinho. Minutos depois, Chance pagou pelas compras e guardou-as no SUV, enquanto Tory colocava Cindy na cadeirinha no banco traseiro e depois Sam. Ela explicou mais sobre o andador durante o caminho até a casa de campo. Quando chegaram, Tory pediu para que ele montasse os balanços enquanto ela alimentava as crianças. Ele acabou de montar no instante em que ela terminou de alimentá-los. Tory ligou a caixa de música de cada balanço, colocou cada criança em um balanço e, voilà, subitamente ambas estavam balançando e felizes. — Uau! Isso é incrível. — Estou surpresa por você não conhecer os balanços. Ele suspirou. — Para quem eu iria perguntar? Quando a minha mãe descobriu que eu estava com as crianças, ela apenas queria que eu voltasse para casa. — E ela havia contratado uma babá. — Sim. — Então talvez sua mãe seja mais esperta do que você imaginava? Chance deu risada. Ela sorriu. E o quarto ficou silencioso. O único som era a música que vinha das caixas e o rangido dos balanços. Chance desviou os olhos dos dela e apontou para um balanço. — Então eles são bons para o quê? Vinte minutos nesse brinquedo? — Na verdade, eles podem ficar mais tempo. Eu ouvi mães dizerem que deixam as crianças tirarem um cochilo no balanço. — É como um milagre. — Bem, despender horas em um balanço não pode ser bom para as costas do bebê. Mas, uma vez que eles estiverem fora do balanço... — Ela se inclinou e apanhou alguns brinquedos de plástico. — Você os coloca no cercadinho com alguns desses brinquedos e vê o que acontece. Se você deixá-los, os bebês vão se divertir por muitas horas. Chance respirou fundo e disse a palavra que estivera presa em seu peito durante toda a tarde. — Obrigado. Ela ergueu a cabeça para encará-lo e sorriu. — De nada. Contudo, o sorriso dela desapareceu rapidamente. Assim como o dele. Aqueles sentimentos masculinos o estavam invadindo novamente. 12


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) Ela era tão linda. E os bebês estavam tão tranquilos que ele se sentiu como um homem novamente. Não apenas um pai. Ela estava atraída por ele. Ele sabia que ela estava atraída por ele. O rosto dela a denunciava. Seria perfeitamente natural começar a flertar agora... Chance interrompeu os pensamentos. Deu um passo para trás. Ele já havia pensado sobre tudo isso. Não queria um relacionamento. Ele absolutamente não iria deixar outra mulher se aproximar o bastante para machucá-lo... Ou os gêmeos. Ele deslizou a mão ao longo da nuca. — Ainda não entregaram sua janta. — Eu sei. — Tory limpou a garganta. — Você acha que ficará bem enquanto eu subo até a mansão e verifico isso? Chance assentiu com a cabeça. — Certo — declarou ela. E se dirigiu para a porta principal. Chance passou a mão pelo rosto. Se ele realmente quisesse se manter na linha perto da babá, não precisava formular um plano para o lugar das mulheres em sua vida. Tudo o que ele tinha que fazer era se lembrar do quanto o último relacionamento dera errado. A dor de saber que ele tinha apenas sido usado. A dor de descobrir que Liliah não queria os bebês. Ela tinha sido uma carga de problemas e drama. Chance uniu as sobrancelhas. E provavelmente era por isso que Tory era tão atraente para ele. Ela era o oposto de Liliah. Bela, doce e gentil com os bebês, Tory não trouxera um pingo de drama para a vida dele. Mas, depois de Liliah, mesmo se Tory fosse sua alma gêmea, não valeria a pena se envolver em um relacionamento novamente e se machucar. Ele havia tido sua parte de drama com Liliah. E não queria mais.

Na manhã seguinte, Tory carregou os dois bebês para a cozinha. Ela os colocou em suas cadeiras altas e começou a misturar o cereal. — Então, presumo que todos tenham dormido bem Cindy deu uma risadinha e Sam gritou. — Ei, ei, Sammy! Eu já entendi. Você está faminto. E eu estou me apressando. Mas sou apenas uma. Então você tem que ser paciente. Ela colocou as duas tigelas de cereal sobre a mesa e as arranjou entre os assentos dos bebês. — Certo. Somos apenas nós três agora. Então todos têm que se comportar bem. Sam gritou, batendo com as mãozinhas na bandeja da cadeira. — Você não ouviu a parte sobre se comportar bem? Seu pai está exausto e nós estamos o deixando dormir. Ela deu uma colherada do cereal para Sam e depois para Cindy. — Mas eu também estou esperando que ele acorde. Nós nunca conversamos sobre folgas e temos que conversar porque... 13


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) Tory deu uma pausa, clareou a garganta, incerta do porquê ela não poderia falar sobre Jason com dois bebês que provavelmente não iriam entender uma palavra do que ela dissesse. Exceto que a situação com Jason era triste e eles estavam felizes. Parecia errado falar com eles sobre algo tão trágico quando eles estavam tão alegres. Então ela não iria dizer a eles, mas tinha que dizer a Chance. Tory precisava pedir dias de folga.

Chance se espreguiçou lentamente quando acordou. Suas costas não doíam Sua mente estava limpa. E seus músculos pareciam ótimos. Ele estava quase elétrico. Chance se moveu na cama e seu olhar se fixou no relógio. Eram quase nove horas! As crianças! Por que elas não estavam gritando? Ele rolou na cama para sair debaixo do fino lençol que o cobria e avistou as cortinas azuis que enfeitavam a enorme janela. Não era sua casa. Era a casa de campo da sua mãe. E ele não havia levantado com as crianças no meio da noite porque agora eles tinham uma babá. Chance tomou um banho, vestiu uma calça, uma camisa branca e uma gravata e rumou até a cozinha. Tory havia colocado os bebês nas duas cadeiras altas e os estava alimentando alternadamente. Seu cabelo ruivo estava preso em um longo rabo de cavalo que a fazia parecer com 20 anos, mas ela usava uma calça larga e uma blusa que escondia suas curvas. Ainda assim, quando a viu, seu coração saltou dentro do peito. Tory sorriu para ele. — Ei, bom dia. — Ela percorreu o olhar por toda a extensão do corpo masculino. — Bem, olhe só para você. Chance sentiu a boca ressecar. Ele tentou dizer bom dia, mas o esforço foi em vão. — Eu fiz café. — Ótimo. — Ele caminhou até o balcão da cozinha, repreendendo-se por ser tão ridículo. Sim, ela era bonita. E, sim, fazia um bom tempo desde que ele olhara realmente para uma mulher... E desde que uma mulher olhara para ele. Ele tinha que parar de reagir a ela. Ele precisava dela. Como uma babá. Chance encontrou uma caneca, se serviu de um pouco de café e sorveu um gole antes de dizer: — Você está bem sozinha com as crianças nessa manhã? Ela sorriu para ele. Um sorriso largo e radiante, fazendo com que seus lindos olhos castanhos cintilassem. 14


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) — Isso é parte do meu trabalho. Chance sentiu os hormônios pularem novamente. Ele inspirou profundamente. — Ótimo. Porque eu tenho uma reunião com meu irmão. — Ah. Isso explica a gravata. Ele afastou a gravata de seu peito e depois a deixou cair novamente. — Isso denuncia, não é? — Bem, eu não achei que você fosse precisar de uma gravata para ir ao café da manhã na casa da sua mãe. Chance sustentou-lhe o olhar. — Ela não requer uma gravata para o café da manhã, mas requer para o jantar. Tory recuou. — Parece divertido. — É entediante. Assim como será essa reunião com meu irmão. — Ele terminou o café, caminhou até a sala e apanhou o paletó. Enquanto caminhava da sala de estar até a porta principal, ele declarou: — Eu não espero voltar por algumas horas... Provavelmente duas. — Certo. — Ela se voltou para Cindy e Sam — Digam “tchau” para o seu pai, crianças. As duas crianças gritaram de felicidade. Chance resmungou baixinho. Ela mexia tanto com ele que ele se esqueceu até de se despedir dos próprios filhos. Após um rápido beijo na cabeça de cada gêmeo, ele deixou a casa de campo e entrou no SUV Disse a si mesmo para pensar em Liliah, lembrando-se de que os relacionamentos sempre significavam problemas. Lembrando-se de que ele não queria ser machucado. Lembrando-se de que ele não queria que suas crianças fossem machucadas por outra mulher que os abandonasse. Chance ligou o motor do SUV e rumou para a estrada. Vinte minutos depois, ele estava do lado de fora do prédio com tijolos amarelos da Montgomery Construções e Empreendimentos. Como poderiam quatro miseráveis andares projetar tamanho ar de poder? Ele inspirou profundamente. Não era de admirar que estivesse cansado de drama. Não apenas Liliah o fizera se sentir infeliz, mas, com exceção de Gwen, a vida de sua família também tinha problemas. Ele pensou que tudo isso havia acabado quando seu pai falecera, mas seu irmão o havia seguido incessantemente pelos últimos anos, tentando convencê-lo a voltar para casa. Ele sempre conseguira dar uma desculpa a ele, até a última semana, quando ele não pudera cuidar dos bebês e correra para casa da mãe. Então, depois de Max telefonar, ele havia telefonado para a mãe para conversar sobre a situação com ela e depois havia voltado para a mansão. Não para acalmar seu irmão e certamente não para sempre. Ele iria sempre chamar Gwen de mãe e, agora que a verdade sobre seu pai estava revelada, sempre iria ter um relacionamento com ela. Mas 15


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) não estava certo de que quisesse um relacionamento com o irmão que havia guardado o segredo do pai. E ele tinha o pressentimento de que a única maneira de se manter longe do persistente Max seria voltar para o Tennessee. Soltando a respiração em um longo suspiro, ele se dirigiu para a entrada do edifício. Iria deixar o irmão fazer seu discurso, agradecê-lo por qualquer oferta que ele fizesse e recusá-la. Ele não iria começar uma discussão. Não iria abrir antigas feridas. Não precisava haver nenhum argumento. Ele iria pedir calmamente ao irmão para deixá-lo em paz — para sempre, dessa vez — e terminar com isso. Chance entrou pelas portas duplas de vidro e parou, totalmente surpreso. Tetos abobadados iam até o telhado. A luz do sol entrava pelas janelas e iluminava os vasos com plantas que ficavam de cada lado do sofá na área da recepção. Uma mesa de madeira clara lustrada estava no centro da sala. Uau! Sua mãe havia dito que Max tinha mudado as coisas, mas ele não havia esperado que isso significasse até mesmo o edifício. A bela moça morena com seus vinte e poucos anos o cumprimentou com um sorriso. — Posso ajudá-lo? — Sim Eu tenho uma reunião com o sr. Montgomery. Ela dirigiu o olhar para uma pequena tela de computador. — Seu nome? — Chance. — Ele deu uma pausa. — Montgomery. A jovem o encarou com uma das sobrancelhas erguidas. Chance fulminou-a com o olhar. Se Max pensava que ele iria pular cercas para conseguir vê-lo, estava tristemente enganado. — Se é um aborrecimento tão grande ver meu irmão mais velho, mesmo com uma reunião marcada, eu posso simplesmente ir embora. A recepcionista ergueu uma das mãos para impedi-lo de prosseguir. — Não. Sem problema! Eu sinto muito, Apenas me dê um segundo para anunciálo. Ela pressionou dois botões no telefone e se virou. Chance ouviu a recepcionista dizer seu nome e depois lhe dar sua descrição. Depois houve um silêncio. O aborrecimento o invadiu. Era por isso que ele detestava ser um Montgomery. A pretensão. Como se fosse o rei da Inglaterra, Max filtrava suas visitas. A recepcionista o encarou. — Eu sinto muito, sr. Montgomery. Pode subir. — Obrigado. Obviamente reconhecendo como ele estava insultado, a recepcionista fez uma careta. 16


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) — Pegue o terceiro elevador no final desse corredor. — Ela apontou para a esquerda. — No momento em que o senhor chegar lá, um segurança o estará aguardando para pressionar o código. Chance se dirigiu ao terceiro elevador, a tentação de ir embora invadindo sua mente. — Bom dia, sr. Montgomery — o segurança cumprimentou, enquanto pressionava alguns números em um teclado. Depois abriu o elevador, gesticulou com uma das mãos para que Chance entrasse e recuou enquanto as portas se fechavam. A subida até o quarto andar levou segundos. As portas dos elevadores foram abertas. Sentado à mesa em frente a uma parede com janelas, Max ergueu os olhos e se levantou da cadeira imediatamente. Quando eles eram crianças, comentavam sobre o quanto era bonito ambos terem cabelo escuro e olhos azuis, apesar de Chance ter sido adotado. Agora, todos sabiam o porquê. — Chance. Desculpe sobre a confusão no andar térreo. Eu disse a eles que você estava vindo. Eu também disse a eles para lhe dar o código do elevador. Chance se sentou no sofá antes mesmo de o irmão convidar. — Bem, eles não me deram. — E você ficou furioso. — Não, na verdade, eles me ajudaram a enxergar o porquê de eu não querer trabalhar aqui. O papai ficaria tão orgulhoso! — O papai não tem mais nada a ver com o que acontece aqui. Eu mudei a forma como fazemos negócios com subcontratantes e vendedores. Não fazemos acordos secretos com sindicatos. Nós não enganamos os funcionários quanto aos bônus. E eu não quero que você fique fora de uma empresa que é tanto sua quanto minha. — Hum. A mamãe falou que você estava diferente — declarou Chance. Max se sentou na cadeira do lado oposto ao dele. — Perder a esposa, admitir que você é um alcoólatra e participar do AA faz isso com você. Chance endireitou-se no sofá. O alcoolismo o derrotou, mas o abandono de Kate o deixou tão chocado que ele se esqueceu de que estava furioso. Embora Max e Kate fossem mais velhos, o trio havia sido como os três mosqueteiros antes de ele fugir. Chance havia amado Kate como uma irmã. — Você e Kate se separaram? — Por oito anos. Ela ficou com minha filha, Trisha. Ela me abandonou e nem mesmo me contou que estava grávida. — Uau! — Demorou um tempo, mas nós nos reconciliamos. — E quanto ao alcoolismo? Foi porque ela o deixou? Max meneou a cabeça. — Eu me tornei um alcoólatra depois que você me deixou, Chance. 17


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) Ele congelou. — Eu? — Eu o amava. Ainda o amo. Você é meu irmão. Eu sentia por tudo o que aconteceu e afastei toda a responsabilidade e a culpa de mim. E comecei a beber. Mas depois que Kate me deixou, eu percebi que beber não estava ajudando em nada e, uma vez sóbrio, eu vi o quanto o papai era ruim. Eu aprendi sobre cada departamento, li cada escritura, conversei com cada contratante e vendedor. E finalmente assumi o comando da empresa. Chance ficou boquiaberto. — Você expulsou o papai? — Ele se demitiu... E demonstrando muita alegria. Nos últimos dois anos ele e a mamãe viajaram. — Ele deu de ombros. — Não estou exagerando quando digo que as coisas mudaram. A empresa está diferente. Eu estou diferente. Você pode confiar em mim. Ele se ergueu da cadeira. — Melhor do que falar o que eu fiz, deixe-me lhe mostrar o lugar. — Ele gesticulou para uma porta dupla ricamente detalhada. — E você poderá ver por si mesmo o quanto a empresa está diferente e também que eu não estou administrando como o papai. Chance também se ergueu, mas lentamente, sem nenhum entusiasmo. Ele poderia ter uma estranha simpatia pelo irmão, mas isso não significava que quisesse trabalhar para ele. — Eu não sei, Max. — Vamos lá. Dar uma verificada não vai lhe fazer mal. Chance meneou a cabeça. — Eu não quero. Eu me distanciei de você e da empresa. — E você me odeia? — Não mais do que você me odeia. Max franziu as sobrancelhas. — Por que eu iria odiá-lo? — Porque você cresceu como o filho favorito. A “real” criança Montgomery, enquanto eu era adotado. Depois, todos nós descobrimos que eu sou tão Montgomery quanto você. Isso tinha que doer. — Na verdade, não. — Ele suspirou. — Olha, eu não acho que nós nos odiamos. Eu acho que tivemos uma briga feia em família. Não vou deixar isso atrapalhar nossa amizade. A mamãe queria que nos aproximássemos. Uma sensação de aconchego o invadiu ao ouvir a menção de sua mãe, a mulher que o amara ainda que ele fosse o produto do caso do marido. Max o virou na direção da porta do seu escritório. — Não vou intimidá-lo a trabalhar para mim. Nós podemos dar uma família à mamãe sem que você esteja trabalhando para mim. Você pode se mudar de volta para o Tennessee e nós ainda podemos ser uma família. Mas, se você gosta do que vê, por que não quer trabalhar aqui? 18


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) Chance deu risada. — Porque eu tenho a minha própria empresa? — Quem está administrando-a enquanto você está fora? — Eu tenho um gerente. — Que eu tenho certeza de que ficaria feliz em continuar administrando-a. — Max deu-lhe um tapinha nas costas. — Espere até ver o que estamos fazendo. Você vai querer fazer parte disso.

CAPÍTULO TRÊS

Algum tempo depois das 14h, Chance apressou-se em direção à casa de campo, como se estivesse atrasado para o seu próprio casamento. Tory não estava certa de que isso fosse um bom sinal ou um mau sinal. Mas não importava. Quando ele saiu do quarto naquela manhã, ela não conversara com ele sobre dias de folga porque ele parecera muito nervoso. Mas, se isso era conveniente ou não, ela tinha que conversar com ele agora... Contar a ele sobre Jason... Para que ela pudesse ao menos visitá-lo dois dias na semana. — Eu sinto muito por tê-la deixado sozinha com eles por tanto tempo! — Chance exclamou. — Eu não esperava passar a manhã inteira com o meu irmão. — Ele meneou a cabeça como se estivesse confuso. — Eu não esperava conversar mais do que 20 minutos, quanto mais almoçar com ele. Eu sinto muito. Ela apontou para o próprio peito. — Babá. — E então apontou para o peito dele. — Chefe. Você é quem manda. É meu dever cuidar das crianças enquanto você faz o que tem que fazer. — Tory beijou o topo da cabeça de Sam. — Além do mais, eles são tão adoráveis. É mais uma diversão do que um trabalho para mim — Isso é porque eles são bons quando estão com você. — Ele jogou as chaves sobre a mesa atrás do sofá. — Estou vendo um lado completamente novo deles quando estão com você. Inclinando-se, ele apanhou Cindy do cercadinho e beijou-lhe a bochecha. — Como está a garotinha do papai hoje? A pequenina sorriu e ele a beijou novamente. E Tory sentiu o coração afundar. Nos anos em que estivera fazendo cirurgias e terapias, não havia pensado realmente em crianças. Ela não pensara em outra coisa a não ser visitar Jason e reparar a própria perna. Mas subitamente esses dois... O mal-humorado Sam e a doce Cindy... Trouxeramlhe desejos que não poderia negar. E ela estava com muito medo de arriscar ficar fora da vida deles ao pedir uma folga. Mas também tinha responsabilidades com Jason. 19


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) — E então, você quer subir para o seu almoço? Eu sinto muito por chegar tão atrasado. Você deve estar faminta. Tory caminhou em direção ao sofá. — Na verdade, Cook e Robert fizeram uma entrega hoje. Mas eu gostaria de conversar com você sobre algo. Uma expressão de pânico cruzou a face dele. — Está bem. Ela gesticulou para uma das duas cadeiras próximas ao sofá. — Não se preocupe. Não é uma coisa ruim. Chance se sentou, acomodando Cindy em seu colo. — Por que você não me deixa ser o juiz disso? — Eu apenas preciso de um dia ou dois de folga por semana. Chance a encarou. — É só isso? — Bem, eu nunca tinha sido uma babá antes, mas parece ser um serviço integral. E eu preciso de dois dias de folga porque normalmente... — Tory limpou a garganta. — Eu apenas tenho que... — Ela deu uma pausa, mais uma vez debatendo-se sobre como explicar a situação. Ela não queria a piedade dele. Ela também achava estranho dividir algo tão pessoal com um homem que mal conhecia. — Há um lugar que eu preciso ir duas vezes por semana. Chance ergueu as sobrancelhas. — Oh? Tory acomodou Sam em seu colo e ele sorriu alegremente. — É apenas coisa de mulher. Chance estudou-lhe o rosto por alguns segundos e depois declarou: — Honestamente, Tory, eu nunca contratei uma babá e eu não me lembro da babá que minha mãe diz ter cuidado de mim, mas eu sei que todos conferem folga de vez em quando. Então, se você quer dois dias, apenas me diga quais dias e eu lhe darei. — Eu detesto pedir porque sei que esse trabalho é apenas temporário. Alguns dias ou semanas... Cindy começou a fazer bagunça e Chance pediu: — Não esqueça o que você ia falar. — E, dizendo isso, ele se ergueu da cadeira. — Quanto tempo faz desde que eles tomaram a última mamadeira? Tory também se ergueu. — Na verdade, está na hora do cochilo. Ele se virou. — Está? — Sim. Nessa manhã eu decidi que nós deveríamos tentar estabelecer horários para eles. — Ela recuou. — Eu provavelmente deveria ter lhe contado isso antes. — Não. Está tudo bem. Você sabe mais sobre bebês do que eu. Eu quero que você mude qualquer coisa que precise ser mudada. 20


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) — Ótimo. — Tory rumou para a cozinha, apanhou duas mamadeiras e o seguiu até o quarto das crianças. — Eles estão tomando leite frio? — Eu testei isso de manhã também. Eles não parecem se importar com leite frio. Isso salva um passo em todo o processo. Além do mais, isso facilita se você estiver em algum lugar onde não possa esquentar as mamadeiras. — Certo. Eles se sentaram nas cadeiras de balanço e alimentaram os bebês com leite o bastante para colocá-los para dormir, depois os repousaram gentilmente em seus berços para o cochilo e saíram do quarto nas pontas dos pés. Pela primeira vez desde o último argumento que tiveram, ela e Chance estavam sozinhos. Caminhando lentamente em direção à cozinha, ele perguntou: — Nós temos algum refrigerante? — Eu acho que é a única coisa que a sua mãe se esqueceu de estocar. — Vou telefonar para Cook. — Chance apanhou uma garrafa de suco e se afastou da geladeira. — Ela faz as compras para as duas casas. Tory sorriu. — Isso é bom. — Ela supôs. Tory nunca havia administrado uma casa. Não tinha ideia de como a casa de uma família rica era administrada. Deus, subitamente ela se sentiu incrivelmente inadequada, incompatível! Chance retirou a tampa da garrafa de suco e se sentou na cadeira reclinável. Vestido com uma camisa branca, com as mangas dobradas até os cotovelos e o cabelo desarranjado, ele estava muito sexy, da forma que um marido iria parecer quando voltasse para sua esposa. Oh, Deus. De onde havia saído isso? Mas ela sabia de onde isso havia surgido. Ela estava atraída por ele. Não apenas porque ele era lindo, mas porque ele era o pai dos bebês que ela adorava. Isso estava errado em vários níveis, e ela queria fugir, mas sabia que não poderia. Ela não apenas teria que se acostumar a viver com ele, mas também precisava ter seus dias de folga para que pudesse ver seu noivo. — Então dois dias de folga será o suficiente? — Ela assentiu com a cabeça e ele sorveu mais um gole do suco. — Você escolhe os dias. — Certo. Dê-me algum tempo para pensar sobre quais dias eu quero e lhe avisarei. — Ótimo. — Ótimo. Um profundo silêncio invadiu a sala novamente. Tory percorreu o olhar ao redor. E agora? Ela queria fugir novamente, mas na verdade iria viver com esse homem por pelo menos duas semanas. Talvez até um mês. Se ela não se acostumasse a ficar na companhia dele, iria estar sempre nervosa perto dele, como uma adolescente. Tory clareou a garganta. 21


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) — Então, como foram as coisas com o seu irmão? — O de sempre. Max quer que eu vá trabalhar para ele. Uma onda de alívio a invadiu. Ele não havia achado estranho ela lhe fazer uma pergunta, e ela estava realmente interessada no que estava acontecendo com ele. Tinha que estar. O que acontecia na vida dele afetava o que acontecia na vida dela. — Você não quer trabalhar na empresa dele? — Eu já tenho a minha própria empresa, lembra-se? Eu não preciso de um emprego. Tory se aproximou do sofá. — Você disse que tem um gerente administrando sua empresa agora. — Aham. Max acha que eu deveria deixar o gerente administrar minha empresa para que pudesse ajudá-lo na Montgomery Construções e Empreendimentos. — Ele recuou. — Como presidente. Tory sentou-se no sofá. — Presidente? — Ele é presidente e chefe do quadro. Tecnicamente, ainda seria meu chefe. — Uau! — É uma ótima empresa. — Ele ficou pensativo. — Era uma empresa terrível quando eu saí. Meu pai era um homem ordinário. Ele controlava cada centavo. Sempre enganando os outros. — Ele soltou uma risada curta e seca. — Eu não trabalharia ali enquanto meu pai estivesse vivo, mas nos últimos anos meu irmão mudou as coisas. A empresa está mais do que respeitável. E crescendo. Algumas coisas que Max está preparando são simplesmente fascinantes. Eu acho que quero fazer parte disso. Tory franziu as sobrancelhas. — Então você vai ficar? Chance fez uma careta. — Eu acho que estou me convencendo disso. Eu sei que minha mãe quer que eu fique. Eu sei que ela quer fazer parte da vida dos gêmeos. E eu a magoei o bastante ao deixá-la quando estava com 18 anos, então sinto que devo isso a ela. — Isso é muito gentil. Ele deu de ombros. — Mas isso significa que o trabalho de babá pode ser seu permanentemente... Se você quiser. Tory sentiu a respiração ficar presa em sua garganta. Era apenas o seu segundo dia de trabalho, mas ela já gostava do lugar. Ela administrava a casa quando ele estava fora e, se ele trabalhasse com o irmão, ele iria ficar fora o dia inteiro. E ela tinha dois adoráveis bebês para brincar e preencher o vazio em seu coração que ela nem mesmo havia percebido que possuía antes de segurá-los. E Chance era um homem gentil. Fácil de lidar. Por anos, ela não havia conversado com ninguém além de terapeutas e enfermeiras e seus pais... E Jason, que não respondia. O único problema era a atração que ela sentia... Mas certamente ela poderia 22


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) manter isso sob controle. Afinal, tinha um noivo. Um noivo que ela iria visitar duas vezes por semana, agora que Chance havia concordado em lhe dar dois dias de folga. Tory umedeceu os lábios com a ponta da língua. — Isso significa que eu teria que tirar meus dias de folga nos sábados e domingos. Chance sustentou-lhe o olhar. — Ou eu poderia conversar com a minha mãe e pensar em outra alternativa. — Você não precisa me favorecer. — Eu gosto de você. Tory sentiu o coração bater forte dentro do peito. Com seus olhares aprisionados e os sons de passarinhos cantando no quintal, ela sentiu um milhão de coisas ao mesmo tempo, mas a maior delas era felicidade. Tory disse a si mesma que era porque ela gostava desse trabalho, mas, fitando os olhos azuis dele, ela soube que não era inteiramente a verdade. Ela gostava dele. Ele a fazia se sentir útil. E bonita. Ele nem mesmo precisava dizer as palavras. Ela podia perceber isso na forma como ele a olhava. — E eu quero mantê-la como uma babá. — É claro. — Idiota! Será que pensava que ele gostava dela de forma romântica depois de 36 horas? E por que ela estava fantasiando as coisas? Ela não havia dito que poderia lidar com essa atração? Sim. Ela havia. Porque ela podia. Porque estar atraída por ele era errado. E ela não era estúpida. — Mas eu quero ser justo também — Ele se ergueu do sofá. — Por que não fazemos uma experiência para ver se dá certo? Veremos se sábados e domingos serão bons dias para sua folga ou se precisaremos fazer outros arranjos. Ele sorriu, e ela sentiu o coração se acelerar novamente. — Não se esqueça de que a minha mãe tem uma equipe de funcionários que podemos chamar para ajudar quando você precisar de um tempo. Confusa, ela apenas assentiu com a cabeça. — Mas, agora, se você não se importa, eu gostaria de tirar essas roupas e talvez fazer uma curta caminhada pelos jardins antes de as crianças despertarem do cochilo. — Isso seria ótimo. Quero dizer... Está bem. É meu trabalho ficar aqui. Ele deu risada e deixou a sala, mas Tory deixou-se cair pesadamente sobre o sofá. Mas o que havia de errado com ela? Sim, ele era bonito. Mas estava fora do seu alcance. E ele era seu chefe! Ele não gostava dela e, mesmo que gostasse, ela não poderia gostar dele. Ela estava comprometida com Jason.

O pequeno deslize sobre gostar dela tinha sido o resultado da testosterona borbulhando novamente, então Chance havia decidido sair da casa para se acalmar. Mas não havia dado nem três passos em meio às árvores antes de sua mente clarear e ele começar a pensar sob o ponto de vista lógico novamente. 23


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) Ela tinha um segredo. Por isso havia falhado na explicação sobre os dias de folga. Por isso ela não diria exatamente aonde iria naqueles dois dias. Havia algo na vida dela que Tory não queria contar a ele. Não que ela não pudesse manter sua vida pessoal em particular, mas... Sua vida havia sido construída sobre segredos e mentiras. E, depois de seu pai e Liliah, ele realmente precisava da honestidade das pessoas em sua vida. Max havia ganhado sua confiança novamente naquela manhã com a linguagem simples e a verdade. Sua babá, por outro lado, estava escondendo algo. Ainda assim, isso poderia ser bom, dependendo do segredo dela. Ela tinha o direito a uma vida particular e seu segredo provavelmente pertencia a algo que não era conectado com ele ou os gêmeos. Mas, mais importante, sendo tão exigente quanto ele era sobre confiança, descobrir que ela estava escondendo algo o deixou decepcionado. Então ele não precisava mais se preocupar com os seus sentimentos por ela. Eles haviam sumido. Essa era a parte boa. A parte ruim era o segredo em si. Ele realmente queria deixar suas crianças com alguém que estivesse escondendo algo dele? Com isso em mente, ele encurtou a caminhada. Chance ouviu as crianças fazendo barulho enquanto ele entrava na casa e rumou imediatamente para o quarto delas para encontrar Tory trocando Cindy enquanto Sam chorava no berço. Ele trocou a fralda de Sam e ele e Tory brincaram um pouco com as crianças antes de ela subir para a mansão a fim de jantar. Ela não parecera nervosa ou aborrecida no tempo em que eles despenderam juntos, então ele decidiu que o segredo dela tinha que ser pessoal. Algo como um namorado que ela encontrava duas vezes por semana. O que era bom. Deixe-a ter um amante secreto. Todo o possível para mantê-lo afastado dela. Quando Tory retornou, Chance estava com os bebês no chão, deixando-os tentando engatinhar. Tory se apressou e parou na frente deles. — Bem, olhe para vocês! Aprendendo a engatinhar! — Ela uniu as mãos com alegria e Chance sorriu para ela, mas logo o sorriso desapareceu do seu rosto. Ela tinha um namorado. Seu estômago se apertou enquanto a decepção o invadia. Se o segredo de Tory fosse outra coisa — uma má recomendação de emprego, uma demissão, uma ficha policial —, algo teria aparecido quando a mãe dele verificara as referências dela antes de contratá-la. Chance tentou dizer a si mesmo que havia conhecido diversas mulheres comprometidas em sua vida e fugido delas de forma tão natural quanto respirar, mas isso não fazia o arrependimento desaparecer. Por que manter distância dessa mulher o incomodava tanto? — O que acha de um lanche e depois hora do banho? — falou Tory, levando Cindy com ela enquanto se erguia do chão. — Parece ótimo. — Ele se ergueu também, lembrando-se de que ela tinha direito a 24


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) uma vida particular. E a um namorado. E ele tinha que superar essa atração. Eles alimentaram as crianças com um pouco de cereal e depois se dirigiram para o toalete no quarto das crianças. Uma vez que a mãe dele tinha feito o melhor para acomodar os gêmeos, havia duas pias no balcão. — Que pena que eles são grandes demais para se encaixar nessas pias. Carregando Cindy em seu quadril, Tory apanhou duas banheiras de bebê de dentro do armário do toalete. — Sim, mas sua mãe pensou nisso. Chance separou as banheiras, encheu-as com água morna e depois despiu Sam Amando a água, Sam bateu na superfície com ambas as mãos. Assentindo com a cabeça para ele, Tory declarou: — Logo mais ele não vai caber nessa banheira. Chance deu risada. — Não. Não vai. — Então teremos que usar a banheira grande. — Isso é perigoso? — Não se nunca o deixarmos. — Ela sorriu para Chance. — Cuidados com crianças exigem um pouco de conhecimento e muito de bom senso. Ele se lembrou de todas as coisas que ela já havia ensinado a ele. Em pouco menos de dois dias, suas crianças estavam felizes e ele se sentia mais competente. A melancolia tomou conta do seu ser. Mesmo com um namorado, ela ainda poderia ser uma excelente babá, mas eles iriam perder algo. Ele queria gostar dela. Ela era doce e divertida. O tipo de mulher que ele precisava depois de Liliah. Liliah. Só de pensar no nome dela ele sentiu uma onda de raiva invadi-lo. Isso o fazia se lembrar da humilhação que Chance sentira depois que ela admitira que havia namorado com ele apenas para usá-lo. Ele a havia conhecido por semanas antes de se envolverem de forma romântica, e ainda assim ela o enganara. Não era estúpido se apaixonar tão rapidamente por Tory? Uma mulher que nem mesmo conhecia direito? Uma mulher com um segredo? Provavelmente um namorado. Deus! Onde estava o seu bom senso? Tory torceu uma pequena toalha cheia de água sobre a cabeça de Cindy. Correntes de água corriam pelos seus cachos e a faziam dar risada. Tory era tão boa com as crianças e as crianças eram tão necessitadas que ele estava levando seus sentimentos de apreciação longe demais. Talvez ele quisesse tanto uma mãe para os seus filhos que estivesse vendo coisas nela que na realidade não existiam. — E a pequena srta. Cindy também gosta de banho. Eles envolveram as duas crianças molhadas em toalhas fofinhas e rumaram para o quarto das crianças, onde os vestiram com os pijamas. Eles os amamentaram, esperaram até que os dois pegassem no sono e depois deixaram o quarto. 25


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) Sozinho na sala de estar novamente, Chance se sentia totalmente sob controle. Ele apanhou o controle remoto da tevê em cima da mesa de centro e se sentou no sofá. Bem ao lado de Tory. Presumindo que ela tivesse ido para o seu quarto, ele nem mesmo havia olhado antes de se sentar, e subitamente eles estavam quadril a quadril. Seu olhar se fixou ao dela. Uma desculpa brotou em seus lábios. Mas os olhos castanhos dela demonstravam tanto desejo que ele se calou. Um calor invadiu-lhe o corpo inteiro. Com um simples movimento de mão, ele poderia tocar-lhe o cabelo sedoso, trazer-lhe o rosto mais próximo ao seu e pressionar um beijo nos lábios suculentos. Satisfazer essa fome que o perturbava toda vez que ele olhava para ela. Como se estivesse lendo os seus pensamentos, ela inspirou profundamente. Com o movimento, os seios fartos subiram e desceram, fazendo com que o desejo dele aumentasse ainda mais. E então ele se lembrou de Liliah. Chance se lembrou da humilhação de perceber que ele a havia julgado totalmente mal e a raiva que sentiu quando ela abandonara as crianças. Ele se lembrou de que mal conhecia Tory e que ela tinha um segredo. Erguendo-se do sofá, ele declarou: — Sabe de uma coisa? Estou mais cansado do que eu imaginava. — E, dizendo isso, ele seguiu em direção ao quarto.

CAPÍTULO QUATRO

O som do choro dos bebês acordaram Tory depois das 3h e ela se ergueu da cama. Após vestir seu roupão macio e felpudo na cor rosa, ela abriu a porta do quarto no mesmo instante em que Chance abriu a porta do outro lado, aquela que conectava o quarto das crianças com o quarto dele. O cabelo curto e escuro estava totalmente desgrenhado. Os olhos dele piscaram em protesto à luz que ela havia acendido. E ele estava sem camisa. Chance vestia apenas uma calça preta que ficava abaixo do seu quadril, revelando um peito musculoso apimentado com pelos tão escuros quanto seu cabelo. Também seus pés estavam desnudos. Tory sentiu a respiração congelar. O momento deles no sofá voltou à sua memória. O tremor quente que a havia invadido voltou a tomá-la novamente. Ela nunca havia sentido nada parecido por um homem antes. Nem mesmo Jason. O que tornava a situação incrivelmente errada. Rapidamente, ela se aproximou do berço de Cindy. 26


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) — Eu pensei que fosse meu trabalho levantar para cuidar das crianças. Chance passou a mão pelo rosto. — Uma noite inteira de sono como a noite passada foi maravilhosa. Mas há dois bebês e dois adultos. Isso irá facilitar as coisas se trabalharmos juntos. Sua voz masculina e profunda fez com que ela sentisse uma torrente de emoções. Em silêncio, eles trocaram as fraldas dos bebês. Quando terminou de vestir Sam, Chance se aproximou da mesa de trocar de Cindy e gesticulou para Tory colocá-la em seu braço que estava livre. — Uma vez que consigo segurar os dois, você pode apanhar as mamadeiras. Tory passou o bebê para o braço dele, tomando muito cuidado para não tocá-lo. Depois, ela saiu do quarto e se apressou na direção da cozinha. Tory apanhou duas mamadeiras da geladeira e voltou para o quarto das crianças. Abrindo a porta com o ombro, ela encontrou Chance lutando com seus dois bebês que gritavam de alegria e pareciam querer engatinhar sobre a sua cabeça. Tory apressou-se com as mamadeiras, simultaneamente entregando uma delas para Chance e apanhando Cindy do colo dele. — Eu entendo o que você quer dizer com os dois engatinhando em cima de você como se fossem gatos. Deslizando o bico da mamadeira na boca de Sam, Chance apenas resmungou. Tory se sentou na outra cadeira de balanço e começou a alimentar Cindy. Exceto pelo ávido sugar das mamadeiras dos dois bebês famintos, o quarto estava silencioso. Tory soltou um longo suspiro. Eles não deveriam conversar. As crianças deveriam se alimentar e depois dormir novamente. Mas o fato de eles não conversarem fez com que o momento parecesse muito íntimo. Tory suprimiu uma risada. A intimidade era apenas a sua percepção. Um homem que salta do sofá e corre para o seu quarto em vez de permanecer sentado ao lado dela não estava se sentindo íntimo. Ela precisava parar com esses sentimentos estranhos e de interpretar as coisas de modo incorreto. Ele era seu chefe. Ela era uma babá. Ele precisava dela. E ela gostava de ser útil. Tory gostava de ficar por perto das crianças. Sam terminou primeiro e Chance o colocou de volta no berço com um suave beijo de boa-noite. Sem dizer uma palavra, ele deixou o quarto das crianças, confirmando que todas as coisas que ela pensava estavam acontecendo apenas em sua mente. Cindy também adormeceu rapidamente e Tory a colocou no berço. Parada na porta, com a mão próxima ao interruptor de luz, ela subitamente desejou que Chance aceitasse o trabalho com o irmão e a mantivesse como babá. Então ela poderia ver essas crianças crescerem. Esse era um sonho tolo. Um sonho perigoso. Ou era isso? Os médicos haviam dito que não tinham ideia de quanto tempo Jason ficaria em coma. E ela não tinha intenção de abandoná-lo. Ser uma babá pelos próximos 18 anos lhe proporcionava algo que ela não iria conseguir de outra maneira... A chance de 27


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) ser mãe. Ela poderia ser mãe de todas as maneiras, ainda que nunca se casasse. Parecia perfeito. Exceto pela sua maldita atração. Não. Ela não poderia ficar ali para sempre. Seis anos, no máximo. O que lhe daria tempo o suficiente para terminar a faculdade à noite. Talvez ela devesse começar a pensar sobre isso, e não sonhar acordada com crianças que não eram suas.

Na manhã seguinte, Chance teve outra reunião com seu irmão. Ele vestiu um terno e uma gravata novamente e se apressou em sair de casa... Exceto que, dessa vez, ele se lembrou de beijar as crianças. Mas, quando estava sozinho no SUV, o momento que passou ao lado de Tory no sofá voltou-lhe à mente. Ele teve que lutar contra o desejo de bater a cabeça contra o volante. Como ele poderia pensar em beijar Tory com as farsas de Liliah ainda tão vivas em sua mente? Principalmente quando Tory tinha “algum lugar” para ir aos sábados e domingos. Ela poderia não ter um namorado, mas tinha um segredo. Ele inspirou profundamente. Um segredo que provavelmente não era da sua conta. Tory era uma funcionária. E talvez, se ele começasse a pensar nela somente como uma funcionária, alguns desses sentimentos desaparecessem. Com esse pensamento, Chance ligou o motor do carro. — O que ela faz com os seus dias de folga não é da minha conta. Chance iria pensar nela apenas como uma funcionária e, mesmo assim, ele seria cuidadoso. Ele não iria... Absolutamente não iria... Tolerar mais drama em sua vida. E, se esse segredo dela lhe trouxesse algum drama, ele iria demiti-la. Ponto. Pensar dessa maneira deveria tê-lo deixado feliz, mas na verdade o deixou inquieto. Ele não queria demiti-la. Não queria que ela tivesse um segredo. Não queria lutar contra essa atração. E queria poder seguir com isso. O que o deixava muito aborrecido. O que essa mulher tinha para que ele não conseguisse parar de pensar nela, mesmo quando o bom senso lhe dizia que ele estava errado? Chance parou o SUV no estacionamento da Montgomery Construções e Empreendimentos, saiu do carro e usou o elevador privativo para subir até o escritório de Max. Quando as portas do elevador se abriram, o sofá e as cadeiras estavam cheios de homens e mulheres vestindo ternos cinza, pretos e azuis. O alívio tomou conta do seu ser. Negócios. Isso era seu domínio. Isso iria desviar sua mente de Tory, seu segredo e seus olhos castanhos. Chance entrou no escritório e, como um irmão mais velho orgulhoso, Max declarou: 28


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) — Pessoal, esse é o meu irmão Chance. Enquanto Max citava os nomes, Chance trocou aperto de mãos com uma fila de pessoas, subitamente se sentindo parte das coisas. Quando o dia terminou, Chance sentou-se em uma cadeira em frente à mesa de Max. — E então, o que você acha? A Montgomery Construções e Empreendimentos parece com o lugar que você poderia trabalhar pelos próximos 20 anos? Chance sorriu ironicamente. — Direto ao ponto, hein? — Ei, eu não sei quanto tempo você vai ficar aqui. Tenho que ir direto ao ponto. — Está bem. Você quer saber o que eu acho? Eu acho que você vai fazer promessas como o papai fez uma vez que me tiver aqui. Max ficou boquiaberto. — Os últimos dois dias não significaram nada para você? — Você é um sedutor igual ao papai, Max. E eu supostamente devo acreditar que você mudou? A cadeira de Max rangeu conforme ele se reclinou no espaldar. — Continue. — Continuar? Prefiro ir embora antes que você me passe para trás, minta ou segure uma informação importante. — Oh! — Max soltou uma risada curta. — Eu entendo o que você está fazendo. Você quer que eu seja como o papai. Você quer me fazer parecer mau para poder dizer à mamãe que tentou, mas que é impossível trabalhar comigo. — Ele se ergueu e inclinou-se sobre a mesa. — Aceite isso, irmãozinho. Você tem um terço dessa empresa. Quando a mamãe falecer, nós dois teremos meio a meio. Estamos presos um ao outro. E eu não quero fazer todo o trabalho sozinho. Eu quero alguma ajuda. Então vamos resolver isso agora. Chance também se ergueu e inclinou-se sobre a mesa quando Max terminou de falar. — Ótimo. Você quer resolver isso? Vamos começar com o porquê de você não ter me contado que sabia que papai era meu pai biológico? Max se inclinou para mais perto. — Porque eu tinha apenas ouvido intriga de escritório. Eu não iria lhe contar fofocas. Agora eu tenho uma questão. Se você é um homem tão bom que ama tanto a mamãe, por que você nem ao menos mandou um cartão de Natal nos últimos 15 anos? — Eu estava furioso. Max assentiu com a cabeça e gesticulou para a cadeira em frente à mesa. — Então você tem medo de trabalhar comigo? Chance se sentou. Se esse era o momento da verdade com seu irmão, então seria um momento genuíno da verdade. Sem restrições. Sem acusações. Apenas a verdade. Porque, por mais que ele quisesse, ele não poderia trabalhar ali. 29


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) — Eu não posso confiar em você, Max. — Tudo porque eu soube de algo por 24 horas sem contar a você? — Eu não sei. Talvez. Mas isso é mais sobre o papai. Sobre conexões com esse lugar das quais não consigo me livrar. Eu despendi 15 anos o odiando. Esse sentimento não some de repente. — Justo o bastante. Chance ergueu o rosto para encará-lo. — Justo o bastante? — Eu acho que você está pedindo um tempo. Eu estou feliz em lhe dar isso. — Eu acabei de dizer que não confio em você, e você está me dizendo que vai me dar um tempo? — Hora de se reconciliar com tudo. Hora de confiar em mim. — Ele reclinou- se novamente no espaldar da cadeira. — Chance, eu sou um alcoólatra que precisou se desculpar com ao menos metade das pessoas da cidade. Eu tive que ser paciente enquanto quase todos que conheço se adaptavam ao meu novo “eu”. Eu seria um verdadeiro idiota se não pudesse esperar meu próprio irmão se adaptar. Chance não disse nada. Ele nunca tinha ouvido tanta sinceridade de alguém. E, se havia alguém a quem ele queria dar uma segunda chance, esse alguém era Max. O irmão mais velho que ele tanto havia adorado. Max tamborilou os dedos sobre a mesa e depois abriu uma das gavetas. — Já que estamos sendo honestos um com o outro... — ele jogou um envelope sobre a mesa — ... isto é seu. Chance nem mesmo apanhou o envelope. — O que é isto? — Abra. Ele abriu o envelope e retirou uma pilha de, pelo menos, cinco declarações anuais da Montgomery Construções e Empreendimentos. — Você quer que eu veja o quanto a empresa está indo bem ou a história do quanto você mudou desde que o papai faleceu? — Eu estive me atualizando nos últimos dias. Essas declarações anuais são para que você veja os números. — Ver os números? — Abra mais o envelope. Ele o fez e encontrou um talão de cheques. — Essa é a sua parte de nossos lucros desde que o papai faleceu. Depois que ele faleceu, a mamãe decidiu que não iria precisar — ou querer — de todo o dinheiro que a Montgomery Construções e Empreendimentos gerasse, então ela nos fez inteiramente sócios. Como eu disse, nós dois temos um terço. Esta... — ele apontou para o talão de cheques — é sua parte. Chance abriu o talão e depois ergueu os olhos para Max. — Há milhões de dólares aqui. — Eu sei. 30


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) — Você deixou em uma poupança? Onde nem chama o interesse? Max deu risada. — Meu trabalho era guardar o seu dinheiro. O seu trabalho é investir isso. — Eu não sei o que dizer. — Ele realmente não sabia. O pai deles nunca teria guardado os lucros. Nem mesmo para um sócio. Max havia guardado para ele. — Diga que vai ficar... Ao menos por um tempo. Dê-me uma chance de provar o quanto estou mudado. As coisas estão muito diferentes agora. Podemos ser uma família novamente. Chance engoliu a saliva. — E se o problema não for que eu não confie em você, mas que eu simplesmente não consigo confiar em ninguém? — Então eu iria recomendar que você ficasse ainda mais tempo. Você constrói confiança primeiro com a família, Chance. Dê uma chance para mim e para mamãe lhe mostrarmos que o amamos e o queremos em nossas vidas. E nós começaremos a partir daí. Chance deu uma risada e sacudiu a cabeça em negativa. — Você quer dizer, começar a interagir mais do que apenas morar na casa de hóspedes da mamãe e lhe visitar no trabalho? — Sim. Você não pode ignorar eu e a mamãe só porque o papai não foi bom com você. As palavras de Max ecoavam em sua cabeça enquanto ele entrava na casa de campo naquela noite. Uma vez que já havia passado das 18h, Tory tinha alimentado os bebês. — Essa foi uma longa visita. — Meu irmão e eu conversamos... — E ele havia ficado tão confuso quanto à desconfiança de Tory... Não importa se eram sentimentos remanescentes de Liliah ou desconfiança genuína porque ela tinha um segredo... Que ele não queria voltar para casa. Então, ele tinha dirigido pelas vizinhanças, tentando entender o que estava acontecendo. Chance não queria ser vítima de uma atração intensa e inesperada. Ainda assim, ele não queria perder uma boa babá devido às suas suspeitas. Chance caminhou até o cercadinho e ergueu Sam no colo. — Ei, garotão. O que você fez o dia todo? — Na verdade, eles tiveram um dia especial. — É mesmo? — Sim, sua mãe decidiu ficar com eles todos os dias ao meio-dia enquanto eu almoço. Ele deu risada, sentindo um pouco da sua apreensão se soltar. — Eu sabia que ela não seria capaz de resistir. — Ela é a avó deles. — Tecnicamente, sim — Tecnicamente? Talvez fosse o momento de ele ser um pouco mais honesto também? 31


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) — Eu sou adotado. — Oh! Chance colocou Sam de volta no cercadinho e ergueu Cindy. — Ei, docinho. Ela friccionou a bochecha contra o rosto dele. — Eu também senti sua falta. Mas o papai vai ter que sair esta noite. Jantar com Max e Kate e os filhos deles era outra parte do plano do irmão para que eles se conhecessem melhor. E, agora que estava pensando a respeito, a resposta dos seus problemas com Tory poderia ser resolvida dessa maneira também. Se ele quisesse confiar nela, precisava saber mais sobre ela. Chance dirigiu o olhar para Tory. — Meu irmão e a esposa querem que eu jante com eles. Espero que você não se importe. Tory sorriu com alívio. — É claro que não me importo. — Normalmente você tem um pequeno intervalo à noite, quando eu brinco com eles. — Eu tive um belo intervalo na casa da sua mãe. — Se quiser jantar agora, você pode subir para a mansão. Eu não vou me trocar até você voltar. — A que horas você vai se encontrar com seu irmão e sua cunhada? — Não importa. Eu vou telefonar para eles agora e dizer que estarei lá às 20h. Apenas vá e aprecie seu jantar. Tory assentiu com a cabeça, apanhou a jaqueta e saiu alegremente para jantar com Cook e os outros funcionários da casa. Quando retornou, ele tomou banho e trocou de roupa enquanto ela alimentava as crianças antes de colocá-las para dormir. Chance deu-lhes um beijo de boa-noite, disse para ela não esperá-lo acordada e saiu de casa. E ela tinha a casa inteira para si. Sem se preocupar se ele havia notado que ela estava atraída por ele. Sem se preocupar com os sentimentos que ela sabia serem errados.

CAPÍTULO CINCO

Aquela noite quando os bebês choraram, Tory correu para o quarto das crianças 32


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) esperando atendê-los antes que eles acordassem Chance, mas não teve sorte. Ele entrou no quarto ao mesmo tempo em que ela. Sem camisa, vestindo uma calça larga no quadril, fazendo-a ficar com água na boca. Tory inspirou profundamente e rumou para os berços, dizendo a si mesma para se controlar e lidar com isso. Ela apenas precisava ficar ao lado dele algumas horas por dia. E eles mal se falavam. Quando retornou do jantar com o irmão, ele não falou sobre si ou perguntou sobre ela. Apenas perguntou sobre os bebês. Chance alcançou os berços primeiro e apanhou Cindy. Tory apanhou Sam e silenciosamente trocou-lhe a fralda, enquanto Chance trocava a de Cindy. Depois, ela entregou Sam para ele e rumou para a cozinha a fim de apanhar as mamadeiras. Quando retornou, Tory apanhou Sam dos braços de Chance. Ela caminhou até a cadeira de balanço, deslizou o bico da mamadeira na boca ávida de Sam e sentou-se para balançar. Da sua visão periférica, ela viu Chance tentar acalmar Cindy enquanto ela se agitava. Quando o bebê não se acalmou, ela declarou: — Ela gosta que converse com ela. Sonolento, ele virou-se para encará-la. — O quê? — Conversa fiada — sussurrou ela, tendo estranhas sensações em seu estômago. Os olhos dele eram da cor de um céu perfeito. Chance uniu as sobrancelhas. — Conversa fiada? — Diga a ela que você a acha bonita. Ele deu risada. Mas, quando ela não riu com ele, Chance franziu o cenho. — Você está falando sério. — Sim. Ela gosta de você. Ela gosta de ter a sua atenção. Então apenas diga coisas gentis a ela. Ele baixou o olhar para Cindy, comprimiu os lábios como se estivesse pensando em algo e depois declarou: — Ei, docinho. Tory assistiu Cindy alargar o sorriso ao redor do bico da mamadeira. — Isso a fez querer beber ainda menos. — Continue falando. Chance suspirou e franziu as sobrancelhas, obviamente pensando, e depois disse: — Ei. Nós não nos divertimos quando brincamos enquanto Tory subia para o jantar? Cindy exibiu um largo sorriso novamente. — Quero dizer, quem não gosta de um monte de anéis coloridos? Lentamente ela começou a sugar o bico da mamadeira. 33


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) — E esses ursos que você tem. Eles são realmente macios. Tory não conseguiu se conter. Ela deu risada. O olhar dele se voltou para ela. — Você disse que era para eu fazer isso. — E você está indo muito bem. É que é estranho ver alguém tão... — Sexy. Viril. Masculino. Ela queria dizer qualquer uma dessas palavras. Em vez disso, ela disse: — Jovem. Alguém tão jovem com um bebê. Chance estreitou os olhos para ela. — Não sou tão jovem. Não. Ele não era. Ele havia atiçado sua curiosidade quando dissera que era adotado e ela perguntara a Cook sobre ele. Cook dissera a ela algumas coisas surpreendentes. Como a idade dele. Ela pensou que ele tivesse 28 ou 30 anos. Mas tinha 34. Achara que fosse algum rico mimado. Mas ele havia ficado por conta própria com 18 anos e trabalhado em construção antes de começar sua própria empresa. — Eu tenho 34 anos. — Eu sei. Cook disse que está aqui há 30 anos e você tinha 4 quando ela começou a trabalhar para sua mãe. Ele estreitou os olhos novamente. — É mesmo? Ela se lembra? — Ela disse que você era uma criança fofa. Ele deu uma risada e verificou a mamadeira de Cindy. — Eu poderia ser um terror. — Ele ficou pensativo por um tempo e depois indagou: — E quanto a você? — Bem, eu não era um terror. — Aposto que você era uma dessas garotas boazinhas que nunca incomodou ninguém — Eu certamente não incomodei a cozinheira, já que eu não tinha uma. Ele deu uma risadinha. — Então, o que você fazia? — O que eu fazia sobre o quê? Ele deu de ombros. — Eu não sei. Quando era criança. Você gostava de história? Tinha um papel na peça de teatro? Você perseguia os garotos? Tory sentiu seu coração bater forte dentro do peito. A atenção que ele estava lhe dando deixou-a surpresa. — Você deveria estar conversando com Cindy. Ele baixou o olhar para o bebê e depois deu risada. — Ela está encantada. Ela quer ouvir sobre você também. Com o coração batendo freneticamente, ela disse: — Honestamente, não há nada para dizer. 34


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) Chance piscou por duas vezes. — Nada? Você teve uma infância totalmente monótona? A adolescência, a juventude? As faces dela ficaram coradas. Tory desejou de todo o coração que tivesse uma história para contar a ele, mas não tinha. Ela namorara Jason no colegial, fora com ele à festa de formatura, se ferira com ele na moto... Depois despendera os próximos cinco anos indo a hospitais ou visitando Jason. Sem terminar a faculdade. Perdendo os amigos. Era como se ela tivesse despendido aqueles anos escondida em um buraco negro. E ela finalmente descobriu o porquê de não querer conversar sobre isso com Chance ou as crianças. Queria um pouco de espaço e tempo para se esquecer disso. Estar com pessoas que não sabiam. Com pessoas que a tratavam normalmente, não com piedade ou um milhão de questões. Chance se ergueu da cadeira de balanço. — Ela está dormindo. Tory baixou o olhar e percebeu que Sam também estava. Ela não teria que responder a questão de Chance. Eles colocaram os bebês nos berços. E, depois, Chance declarou: — Boa noite. E ela respondeu: — Boa noite. Mas nenhum dos dois se virou. Fitando os olhos cor de safira, ela sentiu o coração se acelerar. Ele poderia estar curioso sobre ela porque estava interessado? Ela havia suspeitado disso no primeiro dia, quando eles se entreolharam depois de ele ter montado os balanços e aguardado para que ela colocasse os gêmeos neles. Ela tinha visto certo brilho nos olhos dele que nunca vira nos olhos de outros homens. Mas isso estava errado. Então ela se virou. E ele se virou. Eles abriram as portas de seus respectivos quartos e seguiram direções diferentes.

No dia seguinte, Chance apareceu na cozinha vestido com um terno novamente. — Bom dia. Tory sorriu para ele antes de deslizar uma colher de cereal na boca de Sam Ele caminhou diretamente até a cafeteira. Depois de se servir de uma xícara de café, Chance recostou-se no balcão. — Você e eu precisamos conversar novamente. Tory estreitou os olhos para ele, suas bochechas ficando coradas. — Sobre? 35


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) — O dia depois de amanhã. Sábado. — Oh? — Sábado. Ela deveria ter seu dia de folga. — Oh! Está certo. — Você disse que gostaria de ir a um lugar... — Eu gostaria. — É um lugar próximo daqui? Você precisa estar lá em um horário específico? — Não é longe e eu posso chegar a qualquer horário. — Apenas estou perguntando porque preciso fazer uma agenda para mim. — Agenda? — Eu preciso levantar com as crianças? Você vai voltar à noite ou vai ter o dia todo de folga? Vai passar a noite com seus pais? Tory não havia pensado nisso realmente. Mas sua única prioridade real era ver Jason. Ela não precisava ficar na casa dos pais. Poderia voltar para a casa de campo. — Eu posso levantar com as crianças... — Você não precisa... — Ele suspirou como se estivesse frustrado. — Apenas estou tentando ajeitar as coisas, só isso. — Podemos improvisar no sábado de manhã? Chance repousou a xícara sobre o balcão. — Claro. E então ele partiu e Tory se recostou pesadamente contra o balcão. Tentar fingir que ela não havia sofrido um acidente feio em seu passado estava ficando mais e mais difícil. Claro, ela não queria a piedade dele, e ela não estava mentindo exatamente... Mas também não estava sendo honesta. O arrependimento tomou conta do seu ser. Uma vez que ele soubesse, ele teria pena dela. Ela não iria mais se sentir normal. Tory cerrou os olhos com força. Era realmente por isso que ela não estava contando sua história a ele? Por que ela queria se sentir e parecer normal para ele? Oh, Deus! O que havia de errado com ela? Ao meio-dia, Tory colocou os bebês no carrinho duplo e se dirigiu à mansão de Gwen. Quando alcançou a mansão, ela tocou a campainha. Gwen atendeu imediatamente. A mulher uniu as mãos. — Entre! Entre! — E, virando-se, ela gritou do hall. — Kate, os bebês estão aqui! Uma morena de baixa estatura vestida com um jeans e um suéter apressou-se na direção do hall. Ela olhou para Cindy, que estava com um laço grande rosa em seu cabelo louro encaracolado, e Sam, que preenchia sua metade do carrinho duplo, e ela também uniu as mãos. — Gwen, você estava certa. Elas são as crianças mais fofas do mundo. — E então ela estendeu a mão para Tory. — Eu sou Kate. A cunhada de Chance. Esposa de Max. — E, exibindo um largo sorriso, ela pediu: — Posso segurar um? Tory aceitou a mão que Kate havia estendido. 36


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) — Você pode segurar os dois se quiser. Gwen deu risada. — Vamos ter os bebês só para nós pela próxima hora... Ou duas, se conseguirmos convencer Tory a ter um longo almoço. Tory se livrou da sua velha jaqueta jeans. — Hoje eu não posso. Uma vez que eu almoçar, é a hora do cochilo deles. Finalmente consegui uma agenda para eles. — Então vá adiante — Gwen declarou, guiando-a através do hall que levava à cozinha. — Kate e eu queremos o maior tempo possível com eles. Tory caminhou vagarosamente pelo longo corredor e abriu as portas duplas que davam acesso à cozinha. Cook, uma senhora de cabelo grisalho e baixa estatura, com seus 70 anos e que estivera na família Montgomery por 30, e JoAnn, a empregada, estavam sentadas à longa mesa nos fundos da cozinha. Cook acenou para ela. — A sopa está esfriando. Tory pendurou a jaqueta no espaldar de uma cadeira. — Vocês não precisavam esperar por mim. — Eu não esperei — JoAnn disse, erguendo-se da sua cadeira. — A sra. Montgomery irá promover uma festa no sábado. — Ela deu um abraço apertado em Tory. — Desculpe, mas tenho que correr. Assim que ela saiu, Tory apanhou uma colher e experimentou a sopa. — Hmm. Eu juro, Cook, você poderia abrir um restaurante. Cook gesticulou com uma das mãos para o ar. — Na minha idade? Além do mais, os Montgomery são como uma família agora. Tory baixou o olhar para sua sopa. — Eu posso entender isso. Cook deu risada. — Oh, agora você pode? — Sim Cook repousou uma das mãos no cotovelo de Tory. — Por que eu sinto que algo está errado? Ela suspirou. — Porque algo está errado. Fora de sincronia. — Ela soltou o ar com força. — Eu estou me comportando, de forma diferente, perto de Chance. — Diferente? — Eu nunca contei a ele sobre o meu acidente. Cook franziu as sobrancelhas. — E qual é o problema? Você quer um novo começo. — Ela deu um tapinha na mão de Tory. — Ninguém poderá culpá-la por querer esquecer aquilo. — Eu não acho que seja esse o motivo de eu estar fazendo isso. Eu acho que 37


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) estou fazendo isso porque gosto de Chance. — Gosta? Ou gosta? — Na verdade, gostar pode ser a palavra errada. Eu acho que estou apenas atraída por ele. — Isso ainda é um choque. — Eu pensei que ele fosse um verdadeiro mal-humorado no começo. Mas ele não é. Ele é apenas alguém que teve muita coisa acontecendo em sua vida. E eu acho que só agora está conseguindo lidar com as coisas. Cook ficou pensativa. — Como você? Tory deu de ombros. Quando ela não respondeu, Cook suspirou. — Certo. Vamos fazer o seguinte. Você não é a primeira babá a se apaixonar pelo pai dos bebês que toma conta. É quase uma armadilha do emprego. Tory deu risada. — Mas ele não é o certo para você. Ele é mais velho do que você. — Ela gesticulou com as mãos para o amplo espaço da cozinha. — Ele foi criado em um ambiente totalmente diferente. Então o que você está sentindo é provavelmente nada mais do que uma atração física por um homem muito bonito. Tory soltou um suspiro de alívio. — É isso o que eu continuo falando para mim mesma. — Porque você está certa. — Então, o que eu devo fazer? — Descubra uma forma de difundir isso. Uma maneira de destacar o fato de ele ser o seu chefe. Tory meneou a cabeça. — Eu não tenho certeza se a estou acompanhando. — Você tem que fazer algo que aponte constantemente que o seu relacionamento precisa se manter profissional. — Cuidar dos bebês dele não é o suficiente? — Cuidar dos bebês dele parece ser parte do que a faz gostar dele. Então você tem que se dar uma distração para que o seu trabalho se pareça mais com um emprego do que com uma família. Comporte-se como uma professora. Você disse que ele não sabe muito sobre crianças e você já esteve mostrando coisas a ele. Então coloque na cabeça que isso faz parte do seu trabalho e, em vez de notar que ele é bonito, comece a usar seu cérebro para descobrir maneiras de ajudá-lo a ser um pai melhor. Tory inclinou a cabeça. — Isso pode funcionar. — Isso vai funcionar. Tudo o que você tem que fazer é parar de vê-lo como um pai bonito que você está ajudando e começar a vê-lo como um pai mal preparado que você tem que ensinar a lidar com as crianças. Eu lhe garanto que isso vai funcionar. 38


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) Naquela noite, Tory inspirou profundamente quando Chance chegou em casa e, em vez de dizer “Olá”, ela disse: — As crianças estiveram particularmente boas hoje. Chance se livrou do paletó. — Ah, é? — Eu acho que, como uma recompensa para eles, talvez você pudesse lhes dar o jantar. — Sozinho? — Eu os alimento sozinha o tempo todo. Você pode fazer isso. — Eu devo me livrar dessa camisa? — Eu me livraria se fosse você. Chance rumou para o seu quarto e saiu vestido com uma camiseta e um jeans. Uma camiseta que o fazia parecer muito mais jovem e muito mais sexy do que um pai de trinta e poucos anos devia parecer. Lembrando-se dos planos de Cook, ela se forçou a pensar como uma professora. — Eu já fiz isso antes — comentou ele, virando-se para encará-la. — Eu fiquei sozinho com eles por duas semanas. Não é como se eu precisasse de lições. — Eu sei, mas as crianças gostam do seu tempo e atenção. Com você as alimentando e eu observando, elas têm nós dois, mas principalmente você. Como se estivesse confirmando isso, Cindy deu uma risadinha. Eles despenderam o restante da noite com Tory oferecendo, ocasionalmente, conselhos no que ele estava fazendo com os bebês. E, como Cook havia previsto, ela começou a se sentir melhor. Como uma professora. Ela acordou com os gêmeos às 2h e rapidamente os acalmou para que não acordassem Chance. Quando eles choraram às 6h do dia seguinte, tanto ela quanto Chance correram para o quarto das crianças. Contudo, ela o “expulsou” do quarto dizendo para ele ir tomar banho e se arrumar para o trabalho. Orgulhosa de si mesma, ela teve uma manhã tranquila com as crianças e, ao meiodia, as levou para a mansão de Gwen. Tudo ia perfeitamente bem, até ela entrar no escritório de Gwen para apanhar os gêmeos depois do almoço e Gwen lhe lembrara da festa da noite seguinte. — Seus pais virão, então eu gostaria que você viesse também Tendo a desculpa perfeita, ela sorriu com gratidão e disse: — Isso é muito gentil da sua parte, mas, se quiser Chance na festa, sou eu que terei que ficar com os bebês. Colocando Cindy no carrinho, Kate declarou: — Trisha, minha filha adolescente, irá cuidar deles. — Oh! Gwen deu um tapinha carinhoso na mão dela. — Eu sinto muito, querida. Nós tomamos a liberdade de pedir a Trisha antes de 39


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) mencionar isso a você. Mas Chance concordou. Tory verificou se os dois bebês estavam seguros no carrinho, incerta do que deveria dizer. Na verdade, ela adoraria ir à festa. Ela não se importou que tivessem encontrado uma babá antes de consultá- la. Mas ela não tinha nada para vestir. E, mesmo que tivesse, sua perna estava deformada, inchada. Ela não poderia usar um vestido de festa sem se sentir embaraçada. Mas quando Kate disse “Ótimo! Será muito divertido para Trisha”, ela soube que não teria escapatória. E o primeiro salário que ela havia recebido iria para algum tipo de terninho ou um vestido longo que escondesse sua perna.

CAPÍTULO SEIS

Na manhã de sábado, Chance não despertou até as dez. Mas quando seus olhos se abriram, ele pulou da cama e se apressou na direção do quarto onde Tory estava brincando no chão com os gêmeos. — Hoje não é seu dia de folga? Tory se ergueu do chão. — Você está certo. Hoje é meu dia de folga e preciso ir. Eu queria que você ganhasse um pouco mais de energia antes de lidar com as crianças o dia inteiro. Então eu o deixei dormir. — E, dizendo isso, ela rumou para o seu quarto. Chance a viu caminhar ao longo do corredor e desaparecer atrás da porta do quarto. Minutos depois, Tory saiu do quarto vestida com um jeans, um suéter e óculos escuros, e Chance sentiu seu coração dar um salto dentro do peito. O jeans e o suéter se adaptavam perfeitamente às curvas do corpo feminino e os óculos escuros a deixavam elegante, sexy. — Vou fazer compras com a minha mãe e me vestir na casa dos meus pais para a festa. Kate e Trisha estarão aqui por volta das 18h para dar a Trisha uma hora com você, Kate e as crianças, assim todos podem se conhecer antes de Trisha ser deixada sozinha com eles. E, alcançando a porta da entrada, ela se virou e se despediu dele. Chance fitou a porta fechada, seu coração batendo forte dentro do peito, seus hormônios correndo em seu sangue como carros de fórmula um. Max estava certo. Ele não poderia despender sua vida evitando a família porque o pai havia sido ruim com ele. 40


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) Da mesma maneira, não poderia passar sua vida evitando mulheres por causa de Liliah. Às 19h Chance hesitou à porta da casa de campo. — Não parece certo eu ir à festa. A sobrinha de 14 anos deu risada. Ela possuía cabelo longo e escuro como o da mãe. — Nós estamos bem. Eu cuidei tanto de Clayton que praticamente o criei para minha mãe. Chance deu risada. Clay era o irmão dela de 3 anos. — Aposto que sim Trisha o expulsou do quarto. — É sério. Vá. Eu tenho o número do telefone da vovó e do seu celular e até mesmo do celular da babá. Chance parou de caminhar e a encarou: — Você tem? — Sim, minha mãe pegou para mim. — Está bem. Chance se dirigiu à mansão, entrando por uma porta lateral e caminhando vagarosamente através de um corredor antes de chegar ao salão principal, com um enorme candelabro, pisos de mármore e quadros que valiam milhões. Gwen o avistou imediatamente. Trajando um belíssimo vestido na cor cinza com um casaco brilhante que cintilava quando ela caminhava, ela se aproximou dele. — Querido, você está ótimo. Chance puxou o colarinho do seu smoking. — O quê? Esse smoking velho? Ela deu risada. — Metade dos convidados está aqui. — Ela o guiou até a porta da sala de estar. — Esta festa é para lhe reintroduzir a Pine Ward. Ele entrou na enorme sala decorada com móveis supermodernos na cor preta e branca, tapetes brancos e paredes escuras. Chance conversou com seu irmão e sua cunhada, cumprimentou alguns velhos amigos que ele não via desde que deixara a cidade e conheceu duas mulheres muito interessantes. Mas sempre que se via sozinho, dirigia o olhar para o salão, procurando por Tory. — Ela e a mãe foram fazer compras hoje. Devem estar atrasadas. Mas logo ela estará aqui. Chance se virou e encarou a cunhada. — Não estou procurando por Tory. Trajando um elegante vestido preto, Kate piscou um dos olhos para ele. — Claro que está. Ela é maravilhosa e você é um homem normal. 41


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) Chance enfiou as mãos nos bolsos da calça. — O homem normal em mim acabou de conhecer duas mulheres realmente atraentes. Kate deu risada. — Eu vi. E nenhuma das duas é tão bela quanto Tory. Ou tão doce. — Oh, então você acha que eu poderia me envolver em um relacionamento romântico com uma funcionária? — Eu acho que você deveria estar seguindo seu coração. Antes que ele pudesse replicar, Tory e seus pais entraram na sala de estar. Diferente do vestido curto que Kate usava, Tory trajava uma blusa brilhante sem mangas e calças largas que não mostravam as pernas. A decepção o invadiu. Mas ainda assim ela estava perfeita. De tirar o fôlego. Não era de admirar que as outras mulheres não ficassem à altura dela. — Se você se aproximar dela agora, vai parecer ansioso. — Eu não vou me aproximar e, se eu fizer isso, será como amigo. Ela é minha babá. Eu não estou interessado. — Certo. Você está encarando-a como um tolo. Porque não está atraído por ela. — Kate girou-lhe o corpo para o outro lado. — Volte a cumprimentar os convidados. Faça seu avanço quando ela se aproximar de você, mas até lá tente parecer como um homem que está apreciando a festa da mãe. — Não estou perseguindo-a. — Certo. Seja lá o que for. — Kate, ela é uma funcionária. Uma funcionária que vive comigo. E eu sou um homem que foi rejeitado por uma “ex” malvada e parece não conseguir mais confiar em ninguém. Ela merece alguém melhor do que eu. — Chance, você voltou para casa. Está começando sua vida novamente. Dê um tempo a si mesmo. Vá atrás da mulher que realmente o interessa. Sacudindo a cabeça em negativa, Chance se afastou. Ele se aproximou de um grupo de três colegas de trabalho e suas esposas. Daquele momento em diante, ficou imerso em conversas sobre imóveis e arquitetura, opções e especulações. Ele continuou com eles até o jantar e depois metade da dança no salão que era aberto para os jardins. Mas, novamente, nenhuma das mulheres que ele conhecia o interessava, e seu olhar continuou procurando Tory. Se Kate estava certa, se ele estava recomeçando, se ele merecia uma segunda chance, então ele não deveria ir atrás da mulher que o interessava? Sem se dar tempo para pensar além do encorajamento de Kate, ele se aproximou e se posicionou ao lado de Tory. — Está tentando ser interessante e atraente ao se diferenciar das outras mulheres? Tory virou o rosto para encará-lo. — Diferente? — Suas calças. Todas estão usando vestido. 42


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) As faces dela enrubesceram. Oh, Deus! Ele estava tão sem prática que havia se feito de tolo e embaraçado Tory. Ela limpou a garganta. Parecendo incrivelmente nervosa, Tory declarou: — Eu sofri um acidente de moto há alguns anos. Minha perna está deformada. Está reparada e certamente útil. Mas está... — Ela o fitou diretamente nos olhos e engoliu a saliva antes de finalizar: — Feia. — Eu sinto muito. Eu... Ela repousou a mão no cotovelo dele a fim de impedi-lo de prosseguir: — Está tudo bem. Eu já terminei de fazer cirurgias e terapias. Estou bem. Chance assentiu com um gesto de cabeça e estendeu uma das mãos para ela. — Quer dançar? Tory olhou ao redor como se estivesse procurando uma forma de escapar, e ele sentiu a decepção comprimir seu peito. — Por favor. Eu não deveria ter feito o comentário sobre o vestido. Mas, se serve de consolo, acho que me embaracei mais do que você. Dance comigo para que eu saiba que estou perdoado. Tory sustentou-lhe o olhar. — Você está realmente embaraçado? — Sim. Tory aceitou a mão que ele havia oferecido. — Está bem.

Chance puxou-a e a guiou até a pista de dança. Tory sentiu o coração disparar. Bom Deus! Fazia tanto tempo que ela havia sido abraçada, sentido o corpo de outra pessoa contra o seu. Tory sentiu um calafrio e estremeceu. — Está com frio? — Não! — Oh, Deus. Por favor, não deixe que ele pense que estou com frio! Se ele a puxasse para mais perto do seu corpo, ela iria se derreter. Era uma pessoa normal, e fazia muito tempo desde que ela tivera esse tipo de contato. Mas era apenas uma dança. Ela não estava fazendo nada de errado, nem ele. Ele era o seu chefe e estava sendo amigável. Ela estava apenas retribuindo o carinho. — Eu gosto da mansão da sua mãe. Chance deu risada. — Ela também gosta. Mas eu não gostaria de receber as contas de manutenção que ela recebe. Tory sorriu. — Ela gosta das coisas perfeitamente ajustadas. Chance girou-lhe o corpo uma vez. — Quando éramos crianças... Max e eu... Não havia quarto que estivesse fora dos 43


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) limites. Mas mais de uma vez eu vi a equipe de limpeza entrar em um quarto enquanto estávamos indo para o outro. Tory soltou uma risada curta. — Isso é bobagem — É a verdade. E é por isso que eu nunca vou ter uma casa como essa. Eu não quero que Cindy e Sam se sintam pressionados para ser perfeitos e eu certamente não quero empregar um exército. — Ele deu uma risadinha. — Você consegue imaginar a bagunça que esses dois vão fazer quando estiverem com 5 anos? — Talvez você tenha sorte, e eles serão comportados. Chance deu risada. — Max era a criança mais perfeita do universo e ele trouxe um rato para o quarto. Tory recuou. — Um rato?! — Não era como se ele o tivesse encontrado próximo de um rio. Ele comprou em uma loja de animais. — Mas eles são sujos e possuem dentes afiados. Dando risada, ele girou-lhe o corpo novamente, acompanhando o ritmo da música. — E Max o amava. Ela estremeceu. Ele a puxou para mais perto do seu corpo. — Tem certeza de que não está com frio? — Hmm. Não. Não estou com frio. — Ela afastou a mão que mantinha no ombro dele e se abanou. — Sou só eu ou está quente aqui? — Dançar provavelmente a deixa com calor. — Talvez. Chance a conduziu para as portas francesas que estavam abertas. Era uma rara noite quente de outubro e diversos casais haviam se dirigido para o pátio e os jardins. — Por que não vamos lá fora? Tory se afastou dele e, limpando a garganta, falou em um tom macio de voz: — É sério, estou bem. Eu deveria procurar meus pais. — Mas você ainda nem tomou um drinque. E jantou pouco. — As faces dele enrubesceram — Não que eu estive observando-a. Mas não pude deixar de notar que você não está apreciando muito essa festa. — É uma ótima festa. Nesse instante, Kate se aproximou: — Ei, Tory. — Ela dirigiu o olhar para Chance. — Chance. Uau, está quente aqui! Por que não vamos para o pátio? Ela tomou Tory gentilmente por um dos braços e a guiou para fora. Chance as seguiu, incerto se deveria praguejar contra a cunhada ou se deveria agradecê-la. Ela caminhou com Tory durante todo o caminho até chegar às roseiras. — Ufa! Aqui está melhor. 44


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) — Sim — concordou Tory, obviamente grata por estar do lado de fora. Chance se aproximou delas. — A lua está bonita. — Sim, está — disse Kate. — Ela sorriu com alegria. — Aliás, está tão bonita que eu acho que vou procurar Max. E com isso ela se afastou. Ao ver o olhar de alarme que cruzou as faces de Tory, Chance quase praguejou. — Eu juro que não pedi para ela fazer isso. Tory riu. — Está tudo bem. Eu apenas preciso ir. Tenho certeza de que meus pais estão prontos para ir embora. Chance tomou-lhe uma das mãos. — Você pode ficar quanto tempo quiser. Eu a levo de volta para a casa de campo. Tory baixou os olhos. — Está bem Ela virou-se para ir embora novamente e uma onda de pânico o invadiu. Chance pegou na mão dela com mais força do que pretendia, e ela caiu contra o seu peito. Então ele fez o que era previsto. Chance inclinou-se e a beijou. Os lábios dele encontraram-lhe a boca macia e sensações que ele nunca havia experimentado antes o inundaram. Havia algo sobre essa mulher que lhe chamava a atenção. Mais forte do que o destino, mais complexo do que o desejo, a sensação corria em suas veias e o encorajavam a querer mais e mais. E ela respondeu. Embora parecesse que ele a havia surpreendido no começo, quando ele abriu a boca sobre a dela, ela o beijou de volta. E ele sabia, simplesmente sabia, que ela estava sentindo tudo o que ele estava sentindo. Mas, com a mesma rapidez com que o beijou, ela se afastou. Dando dois passos para trás, Tory pressionou a mão contra o peito másculo e ficou boquiaberta. Com a respiração acelerada, Tory voltou para o salão. Chance correu atrás dela, mas um magnata do petróleo, amigo de sua mãe, o impediu de prosseguir e tentou lhe perguntar sobre possibilidades de investimentos para a empresa. Vendo Tory se aproximar dos pais e gesticular para a porta, ele se desculpou: — Sinto muito, mas preciso falar com alguém antes que ela vá embora. Chance correu para o salão principal, mas era tarde demais. Uma pequena multidão se reuniu, despedindo-se de sua mãe, mas Tory e os pais não estavam entre eles. — Diga boa-noite para os Stevensons, Chance. Ele encarou a mãe com um sorriso e fez o seu dever de família. Podia ouvir portas de carros sendo fechadas, motores sendo ligados, e se perguntou se teria uma babá quando chegasse em casa.

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CAPÍTULO SETE

Os sons de Tory com as crianças acordaram Chance na manhã seguinte e ele soltou um suspiro de alívio. Mas em vez de pular da cama para ajudá-la, ele puxou o cobertor sobre a cabeça. Ele realmente a havia beijado na noite anterior? Ela havia fugido como a Cinderela e provavelmente estava pretendendo se demitir hoje, e tudo porque ele não tinha bom senso. Chance saiu debaixo das cobertas. É claro que ele tinha bom senso. O beijo havia sido um erro. Ele iria se desculpar e os dois iriam seguir em frente. Com um resmungo, ele apanhou uma camiseta e rumou para o quarto das crianças. Ele abriu a porta e deu um passo para o interior do quarto no momento em que ela ergueu o rosto para encará-lo. Seus olhares ficaram aprisionados. Tory engoliu em seco e se virou. Uma onda de embaraço o inundou. Ele não sabia por que sensações estranhas continuavam o invadindo, fazendo-o querer mais dela do que apenas o relacionamento de babá e chefe. Ele deu mais alguns passos para o interior do quarto como se tudo estivesse bem. Como se ele não a tivesse beijado. Como se não tivesse arruinado o relacionamento profissional deles. — Ei. A voz dela soou suave, ofegante e uma avalanche de desejo o invadiu, comprimindo seus músculos, esquentando seu sangue, mas ele ignorou isso. — Antes de dizermos qualquer coisa, eu quero me desculpar por tê-la beijado. — E, apontando para Sam, ele mudou o assunto: — Parece que você já terminou de alimentá-los. — Sim. Eles também já tomaram banho. — Erguendo Cindy do trocador, ela inspirou profundamente e declarou: — Chance, nós ainda precisamos conversar. Ela não iria deixá-lo escapar com sua desculpa. Ela iria pedir as contas. E ele merecia isso. — Por favor, não se demita. Eu sou um idiota e juro que não vou beijá-la novamente. Silenciosamente, ela passou Cindy para ele e levou a mão até o colarinho da camiseta que vestia. Seus dedos se fecharam ao redor de uma grossa corrente de ouro. 46


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) Ela retirou a corrente debaixo da camiseta, revelando um anel de diamante. Ele franziu o cenho. Tory o fitou diretamente nos olhos. — Estou noiva. Levou alguns segundos para que ele absorvesse a informação, mas, quando a absorveu, sentiu o coração congelar. — Você está noiva? — Sim. Chance deixou-se cair pesadamente em uma das cadeiras de balanço. Não era de admirar que ela houvesse corrido quando ele a beijara. — Eu sinto muito. Tory clareou a garganta. — Está tudo bem. Eu não uso a aliança no dedo, então você não tinha como saber. Meu noivo era o piloto da moto que eu estava montada quando sofri o acidente. Chance a observou em silêncio. — Ele deveria me dar o anel naquela noite, mas... Bem, nós tivemos o acidente. Ele não se saiu tão bem quanto eu. — Ela inspirou profundamente. — Ele... Hmm... Bem, ele ficou muito machucado. Entrou em coma e nunca mais saiu. Os pais dele encontraram o anel e a proposta que ele havia escrito. Era um pedaço de papel que ficou tão desgastado... — a voz dela falhou — que nós soubemos que ele havia praticado um milhão de vezes. Ele pode não ter chegado a dizer isso, mas nós sabíamos que foi verdadeiro em cada palavra. Então eu guardei o anel... — ela voltou a colocar a corrente debaixo da camiseta — aqui. — É para onde você vai nos sábados e domingos? Visitá-lo? — Sim — Eu sinto muito. — Eu também sinto, sabia? — Ela ergueu Sam do andador e finalmente o encarou. — Está sendo difícil. É como se eu estivesse sozinha por anos. E estou atraída por você, então você me impressionou na noite passada. Mas sou comprometida com Jason. Amo esse trabalho. Amo as crianças. Eu me machuquei no acidente quando estava com 20 anos, então essa é a primeira vez desde que me tornei adulta que sinto que estou fazendo alguma coisa em minha vida. Mas não posso continuar como sua babá se você estiver interessado em mim. — Eu não estou. — No dia anterior, isso teria sido uma mentira. Hoje, era a mais pura verdade. Ele gostava demais dela, respeitava-a, e ainda mais agora, que estava ouvindo toda a história, não ia querer machucá-la. — E eu a amo como a babá dos meus filhos. Eu nunca fui tão feliz. — Então nós estamos acertados? — Sim. Estamos acertados. Chance brincou com as crianças a manhã inteira enquanto ela colocava alguns macacõezinhos e pequenas meias na máquina de lavar no pequeno quarto entre a cozinha e a garagem. Ao meio-dia, eles alimentaram os bebês e depois os colocaram para dormir. 47


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) Ávido para continuar evitando um ao outro, Chance fez algumas ligações em seu quarto. Quando saiu, ele esperou que ela já tivesse ido embora... em sua visita ao noivo. Em vez disso, ela estava sentada no sofá. Antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, houve uma batida na porta. Ele atendeu para descobrir Robert parado no solado da porta, um grande recipiente cinza em suas mãos. — Para o senhor. Chance apanhou o recipiente e Robert partiu. Ele se virou para Tory. — O que é isso? — Almoço. Telefonei e pedi para Cook mandar o suficiente para nós dois. — Você não precisava ter feito isso. — Eu sei, mas nós tivemos um clima tenso na noite passada e eu acho que o melhor para nós dois é continuarmos conversando. Sem concordar, uma vez que conversar apenas parecia fazê-lo gostar ainda mais dela e se odiar, ele correu a mão ao longo da nuca. — É mesmo? — Sim. Se continuarmos conversando um com o outro, logo mais essa sensação estranha será esquecida. Chance caminhou até a mesa e repousou o recipiente. Enquanto ela apanhava tigelas e utensílios, ele retirava sopa e pão fresco da caixa. Após cada um tomar uma tigela de sopa e algumas fatias de pão quente, ela sorriu brevemente para ele. — Então, sobre o que mais você acha que devíamos conversar? Chance deu de ombros. — Eu não sei. A ideia foi sua. — E, fitando-a diretamente nos olhos, confessou: — Na verdade, eu lhe devo mais uma desculpa. Eu me sinto mal por ter lhe provocado sobre a calça que você vestia. — Está tudo bem. Você não sabia sobre a minha perna. — Dói? — Quando chove. Ele deu risada, mas ela declarou: — Estou falando sério. Algo sobre a pressão atmosférica ou a umidade pode fazer latejar. — É tão ruim assim? — Costumava ser ruim. Agora... — Ela deu uma pausa, baixou a mão e puxou o jeans para que ele pudesse ver a cicatriz em sua perna. Chance fitou-lhe a perna e depois ergueu os olhos para encará-la. — Parece quase artificial. Ela cobriu o ferimento com a calça novamente. 48


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) — Eu sei. Tem algo a ver com enxerto de pele. — Você teve muito enxerto de pele? — Eu sofri diversas operações. E terapia. Muita terapia. — Parece difícil. — Não é tão difícil quanto como eu me senti ao perder cinco anos da minha vida. Estou com 25, mas me sinto com 20. Ele assentiu com a cabeça conforme as coisas sobre ela entravam no eixo para ele. Depois do almoço, ela o deixou com os bebês e tirou o domingo de folga como eles haviam combinado. Quando chegou em casa, ele já havia colocado as crianças para dormir, então ela se despediu e rumou para o quarto. Chance foi para o trabalho na segunda com a sensação de que tudo havia voltado ao normal entre eles. Mas, na segunda à tarde, Tory pediu a Robert para levar o jantar deles. Enquanto Chance se livrava da jaqueta, Tory serviu os pratos e utensílios. As crianças se sentaram em cadeiras altas. Chance tentou não pensar no quanto isso parecia com a cena que ele havia antevisto com ele e Liliah depois que ela lhe dissera que estava grávida. Embora odiasse admitir, ele havia pintado um quadro em seu cérebro de todos eles como uma família feliz, e Tory estava entrando nessa situação. Tory puxou a tampa de um recipiente com bife e molho de tomate, e o aroma preencheu o ar, fazendo o estômago de Chance resmungar. — Ninguém cozinha como Cook. Tory apressou-se em concordar. — Eu sei! Provavelmente irei ganhar 50 quilos antes de sair daqui. Chance riu. Viu? Uma conversa normal. Ele sabia que eles poderiam lidar com isso. — Cinquenta quilos em 18 anos não é tão ruim. Algumas pessoas fazem bem pior. Servindo-se de purê de batata, ela recuou. — Eu não me vejo aqui por 18 anos. — Não? Com uma voz macia e cheia de arrependimento, ela disse: — Não. No início eu achei que poderia, mas os gêmeos não vão precisar de uma babá por tanto tempo. Além do mais, acho que gostaria de terminar a faculdade. Ela entregou a tigela de purê a Chance e ele aceitou. — É mesmo? — Sim. Antes do acidente, eu estava tendo aulas de negócios. — Ela estreitou os olhos. — Mas amo tanto suas crianças... Eu amo todas as crianças e... bem.. agora acho que gostaria de ser professora. Vou precisar ir à escola para fazer isso. Então talvez a conversa deles não tivesse sido tão boa? Se ela estava dando dicas sobre sair e falando sobre ir à escola, talvez ele fosse o único que havia se sentido confortável? Ainda assim, ela era sua babá, não sua namorada, não a mãe dos gêmeos. 49


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) Ela não tinha responsabilidade com eles. E, depois de tudo o que ela tinha passado, ela merecia uma vida, um sonho. — Eu acho que você seria uma excelente professora. — Tive alguns professores maravilhosos na escola. Principalmente na escola primária. Você provavelmente não vai acreditar nisso, mas eu era uma criança tímida. Ele recostou-se no espaldar da cadeira e exibiu um largo sorriso. — Não brinca. — Mas meus professores do segundo grau descobriram uma maneira de me integrar com a classe. — Ela ingeriu um pedaço de bife com molho de tomate e depois levou o guardanapo aos lábios. — É isso o que eu quero ser. — Uma professora de escola primária? — Alguém que veja o que as crianças estão passando e as ajude. Ela realmente seria uma professora maravilhosa. Mas, mais do que isso, ela era uma pessoa maravilhosa. — Eu acho uma ideia fantástica. — Então... — disse ela, arrastando a palavra como se estivesse incerta de como fazer o próximo comentário. E ele sabia o que viria pela frente. Quando o próximo semestre da faculdade começasse, ela iria parar de trabalhar para ele. — Estou procurando tomar aulas noturnas. — Aulas noturnas? Os olhos dela cintilaram de divertimento. — Bem, você não acha que eu vou deixá-lo sozinho com dois bebês, acha? Chance sentiu o coração disparar. Não porque ela iria ficar, mas porque havia pensado nele, considerado as crianças enquanto fazia planos para si mesma. Ela realmente era o oposto de Liliah. Em poucas semanas, ele estava começando a ter sentimentos incrivelmente fortes por ela. Porque ela era gentil. Doce. Tudo o que ele sempre quisera em uma mulher. Mas não poderia tê-la. Droga, ele nem mesmo deveria querê- la. Se não continuasse cauteloso, ele ficaria com o coração partido mais uma vez. — Você não precisa ficar. — Eu amo seus filhos. E eu ouvi o que disse no primeiro dia em que eu estava aqui. Chance ergueu as sobrancelhas de forma interrogativa. — Você disse que as crianças tinham sido abandonadas pela mãe. Você não iria deixá-las também porque elas precisavam de alguma continuidade. Eu posso ser parte dessa continuidade. 50


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) Chance sentiu um nó de emoção se formar em sua garganta. Ela poderia ser tão altruísta, tão doce? Tory repousou a mão sobre a dele e sorriu. — Eu gosto de me sentir útil. Eu acho que estar aqui com você e as crianças, sendo requisitada, é o que está me ajudando a seguir em frente. — Ela afastou a mão que mantinha sobre a dele. — Até conhecer vocês, eu tinha a intenção de passar o resto da minha vida em casa, trancada, sem sentir pena de mim mesma, mas certamente sem querer que alguém me visse. Você me faz sentir bem comigo mesma. Chance sentiu a respiração congelar. Ele a fazia se sentir bem com ela mesma? Ele limpou a garganta. — Você também fez algumas coisas boas por mim O sorriso dela se ampliou, mas, antes que ela pudesse dizer alguma coisa, Sam começou a chorar. Ela se ergueu da cadeira e se aproximou do bebê em segundos. — Qual é o problema, docinho? O bebê ergueu as mãozinhas para que ela pudesse apanhá-lo e ela o fez. Sem hesitar. Sem pensar. Ela apenas o retirou da cadeira e o ergueu em seus braços. — Você quer que alguém o balance? Sam aproximou o rosto do peito feminino, mas Chance se ergueu. — Eu vou balançá-lo. Você termina de comer. — Não. Não. — Ela dispensou o comentário gesticulando com a mão no ar. — Você termina de jantar. Eu acho que nosso doce Sam apenas precisa de um minuto ou dois de atenção. Com isso, ela saiu e Chance se sentou novamente. Cindy sorriu para ele. — Sim. Ela é protetora, está certo. Mas todos nós podemos ter um grande problema porque ela não está pronta para o que eu quero. — Ele inspirou profundamente. — Droga, ela nem mesmo está disponível para o que eu quero. — E, se ele não se controlasse logo mais, iria dizer ou fazer algo estúpido novamente. E, da próxima vez, ela iria realmente embora.

CAPÍTULO OITO

Quando a cozinha já tinha sido limpa e as crianças estavam na cama, Tory rumou para o seu quarto. Chance vestiu a jaqueta, entrou em seu SUV e dirigiu para a mansão da mãe. Ele não bateu à porta, apenas entrou no magnífico salão e rumou para os quartos 51


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) privativos. E então ele bateu à porta. A mãe respondeu imediatamente. — Por que não me disse que ela estava noiva? Gwen gesticulou com uma das mãos para que eles se dirigissem à sala de estar. — Quem está noiva? Ele se sentou em uma das cadeiras em frente à silenciosa tevê. — Tory. A mãe ficou boquiaberta enquanto se sentava na cadeira ao lado dele. — Oh! — Ela franziu o cenho. — Isso importa? — Apenas se me fazer de tolo com ela importar. Gwen franziu o cenho novamente. — Como você pôde ter se feito de tolo? — Eu a beijei. Os olhos dela se alargaram. — Você beijou uma mulher comprometida? Ele gesticulou com as mãos para o ar em desespero. — Eu não sabia que ela estava noiva. — Oh, querido, sinto muito. Esqueci essa parte da história. — Ela recuou. — Eu tinha ouvido como os pais dele haviam encontrado o anel de noivado. — Os olhos dela imploravam por perdão. — Você sabe que não gosto de fofocar, mas o acidente de Tory e Jason foi a pior coisa que aconteceu na cidade por uma década. Nós todos soubemos dos mínimos detalhes. — Então Kate sabia? — Bem, sim — Ela pensou por um segundo. — Honestamente, Chance, com Jason internado, e pelo fato de ele não tê-la pedido em casamento, eu devo admitir que tivesse presumido que Tory havia seguido em frente. — Ela uniu as sobrancelhas. — Mas, para você estar tão chateado por tê-la beijado, isso significa que ela não seguiu em frente. — Não. Não seguiu. Ela usa o anel en uma corrente de ouro no pescoço. — Que romântico. — Gwen sustentou-lhe o olhar. — E leal. — Ela meneou a cabeça. — Que mulher incrível. — Hmm. Obrigado, mãe. Estou tentando pensar em maneiras de parar de gostar dela e você não está ajudando. Gwen deu risada. — Chance, você está se apaixonando por ela porque ela o está ajudando com as crianças. É só isso. Você está apenas grato. Você precisa sair e conhecer novas pessoas. — Eu não quero outro relacionamento. Obviamente, não sou bom nisso. E eu não quero que as crianças se envolvam com alguém apenas para se machucar quando não der certo. — Então parece que você vai precisar começar a fazer coisas como jantar fora. Da forma que está, você está quase brincando de ter uma família. Chance assentiu com a cabeça. Isso fazia sentido. Seus sentimentos por Tory eram provavelmente apenas uma extensão da forma como eles estavam vivendo. 52


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) Então tudo o que ele tinha que fazer era evitá-la. Contudo, na manhã seguinte, em vez do usual pijama de flanela que ela costumava vestir, Tory usou um short e uma camiseta. Chance se apressou para fora de casa para que não despendesse tanto tempo admirando-a. Mas por volta das 22h, Tory o chamou, dizendo a ele que os bebês sentiam a falta dele e, ao ouvir a voz dela, Chance sentiu o coração se acelerar. Ele havia jantado com a mãe e, quando retornara, Tory já estava na cama. Ficou aliviado até a manhã seguinte, quando o cabelo desgrenhado dela o fez se lembrar de coisas que era melhor não pensar perto de dois bebês. Na sexta-feira ele estava simplesmente louco de atração por ela. Chance disse a si mesmo que o desejo que corria em suas veias era, sem dúvida, o resultado de querer algo que ele não poderia ter... o fruto proibido. E, embora isso não tivesse funcionado, ele jantou novamente com a mãe. Na manhã de sábado, Tory o ajudou com a rotina matinal das crianças. Eles brincaram com eles, os alimentaram e depois os colocaram para dormir. Justamente quando ele iria sair para se salvar de passar muito tempo com ela, Robert trouxe o almoço que Cook havia preparado para os dois. Enquanto Tory abria os recipientes, ele colocou os pratos sobre a mesa, sentindose apreensivo por ter que ficar uma hora sozinho com ela. Supostamente deveria evitar ficar muito tempo com ela. Ainda assim, ele estava lá, prestes a almoçar. — Então, você apreciou o jantar com a sua mãe na noite passada? Chance ficou tenso. — Minha mãe é uma excelente anfitriã. — Sim. Ela é. — Ela encheu uma tigela com sopa e entregou a ele. — Viu alguém interessante no jantar? — Sim. — Muitas pessoas. Mas ele pretendia colocar alguma distância entre eles, então eles não deveriam estar conversando. Chance suspirou. Às vezes a melhor forma de resolver um problema era encarando-o. Baixando a colher, ele declarou: — Olha, eu sei que minha mãe lhe contou a minha história e a da mãe dos gêmeos. — Um pouco. — Bem, deixe-me lhe contar o resto. Liliah era egoísta, cruel. Tory deu risada. — Você pode rir porque ela não lhe deixou com os gêmeos. — Mas você está lidando muito bem com eles. Chance jogou o guardanapo sobre a mesa. — Não. Eu não estou. Estou lidando com a situação porque você está aqui. Sem você eu não teria nem mesmo os balanços ou o cercadinho. — Tenho certeza de que Gwen iria... — Pare! 53


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) As faces dela congelaram e ele se sentiu mal com isso, mas prosseguiu: — Eu desconfio de todas as mulheres. Você não deveria nem mesmo ser minha amiga. E eu certamente não quero gostar muito de você porque você é comprometida com outra pessoa. Então pare. Pare de conversar comigo. Pare de ser legal comigo. Pare de tentar fazer de nós uma família e seja apenas uma babá. Um denso silêncio pairou no ar. E, então, Sam começou a gritar. — Ele já não deveria ter se levantado do cochilo? Tory ergueu-se da cadeira, grata pela interrupção. — Eu vou trocá-lo e balançá-lo até ele dormir, mas depois eu terei que partir. Ele ouviu o som estremecido da voz dela e sentiu vontade de praguejar contra si mesmo, mas na verdade isso era para o melhor. — Você tem planos para hoje? Ela se virou. — É sábado. É meu dia de visitar Jason. Chance se ergueu da cadeira. — Você nem deveria ter me ajudado nessa manhã. Deveria ter tomado banho e partido. Esse é o tipo de coisa que eu não quero que você faça. — Ele tentou dar um sorriso. — Está bem? Eu quero ser justo com você, mas eu também quero que você seja justa com você mesma. — Está bem — respondeu ela com tranquilidade e rumou para o quarto. No momento em que ele terminou de colocar Sam para dormir, ela já havia partido. Tory estava tão machucada, tão magoada, que nem mesmo ligou o rádio do antigo carro verde que a mãe a deixava usar, enquanto ela se dirigia ao hospital. Ela entendia o que Chance havia dito. Eles estavam ficando muito próximos. Mas ela achou que eles estivessem se tornando amigos. O que havia de errado em serem amigos? Aparentemente muita coisa, desde que ele basicamente lhe dissera que não queria nada com ela... E isso havia doído. Ela havia se acostumado a jantar com ele. Havia se acostumado a conversar enquanto eles trocavam e alimentavam as crianças. E ela tinha que admitir, ela o aguardava chegar em casa depois do trabalho todas as noites. Como uma esposa. Tory fechou os olhos com força. Ela gostava dele. Mas ele estava certo. Não poderia haver nada entre eles. Ela sabia disso melhor do que ele. Ficar afastado um do outro era a coisa certa a se fazer. Então, por que doía tanto? No momento em que chegou ao hospital, eram quase 14h. Ela não ficou surpresa ao ver os pais de Jason no quarto. Eles o visitavam das 10h até as 14h todos os dias, e provavelmente estavam prestes a se despedir até o dia seguinte. — Ei. A mãe de Jason, Emily, virou-se da janela. 54


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) — Ei. Ela se aproximou e depositou um beijo na bochecha de Tory. — Nós nos perguntamos onde você estava. — Eu estava no trabalho. Por isso não cheguei aqui tão cedo. Emily franziu o cenho. — Um trabalho? — Sim, sou babá de gêmeos. — Oh! Sem entender a censura no tom de voz de Emily, ela declarou serenamente: — Bem, eu não tenho faculdade. Então não há muitos trabalhos que eu possa fazer. O pai de Jason, Nate, se aproximou. — Eu acho que ser babá de gêmeos parece divertido. Tory sorriu com gratidão para ele. — É desafiador. Isso com certeza. Emily forçou um sorriso. — Bem, se é disso que você precisa, então eu acho que está tudo bem. — Eu não tenho plano de saúde, Emily. Ou meu próprio carro, ou mesmo dinheiro para a gasolina. Meus pais não podem me sustentar para sempre. — Você está certa, querida — declarou Emily, com outro sorriso forçado. Ela apanhou o casaco do espaldar de uma cadeira. — Vamos nos ver na próxima semana, já que agora você está ocupada nos dias de semana. Ela beijou Tory no rosto, depois o pai de Jason acenou com uma das mãos e eles saíram, fechando a porta atrás deles. Tory inspirou profundamente e se virou para encarar Jason. Se não fossem os tubos em sua garganta, ela iria simplesmente pensar que ele estava dormindo. Os olhos dele estavam fechados e a expressão do rosto, relaxada. Tory engoliu a saliva e se sentou na cadeira ao lado da cama. — Sua mãe provavelmente não acha uma boa ideia eu ter um emprego. — Ela se remexeu desconfortavelmente. — A equipe de enfermeiros provavelmente contou a ela que eu não estive aqui durante toda a semana. E ela teve toda a manhã para pensar. Então, quando eu disse a ela que tinha um emprego, isso provavelmente a deixou ainda mais irada. — Ela engoliu a saliva. — Mas eu preciso de um emprego, Jace. Meus pais não podem me sustentar para sempre. E olhe... — Ela ergueu a calça. — Não é bonito, mas está curado. Eu posso andar. Mesmo as minhas terapias terminaram. Ela se interrompeu, quase esperando que ele dissesse alguma coisa. Quando ele não disse, ela se ergueu da cadeira, mexeu nos cobertores, cobrindo-o apropriadamente. — Eu cuido de dois gêmeos adoráveis. Sam e Cindy. Tory caminhou até o parapeito da janela e arranjou as flores no vaso que a mãe dele havia deixado durante toda a semana. 55


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) — De qualquer forma, o pai deles é muito rico. — Ela inclinou-se na direção de Jason e sussurrou: — Ele é filho de Gwen Montgomery. Eu acho que os gêmeos serão muito mimados. Ela riu e caminhou pelo quarto, endireitando magazines, arranjando as coisas na bandeja dele. Enquanto vagava pelo quarto, ela contou a ele história sobre os gêmeos e Cook. Ela contou a eles sobre Gwen e Kate verem as crianças todos os dias na hora do almoço. — Imagine ter tanto dinheiro que você possa passar seu dia brincando com seus netos ou sobrinhos e sobrinhas. Ela deu risada. Mas o som ecoou ao redor do quarto. Normalmente, ela não teria notado isso, mas havia se acostumado com o barulho e o som. A ter alguém com quem conversar. Alguém que respondia de volta. E ela havia se demonstrado muito ansiosa pela companhia de Chance. Bem, não mais. Como ele havia dito, não tinha mais razões para eles serem amigos. Eles eram chefe e babá. Nada mais. Quando o sol se pôs e o mundo se tornou escuro, ela deixou o hospital. Normalmente, quando ela entrava no carro depois da visita, sentia-se melhor por ter visto Jason. Esta noite, ela apenas se sentiu solitária, vazia.

CAPÍTULO NOVE

No sábado antes do Dia de Ação de Graças, o sol estava brilhante e o ar estava quente. Tory saiu do quarto para descobrir que Chance havia dado o café da manhã para os gêmeos e Gwen estava sentada à mesa da cozinha. — Bom dia, Tory. — Bom dia, sra. Montgomery. Ela gesticulou com uma das mãos no ar. — Oh, não me chame de senhora. Sua mãe e eu somos amigas. Você pode me chamar de Gwen. Tory sorriu. — Bom dia, Gwen. Gwen se ergueu da cadeira. — Vou levar esses dois anjinhos para a mansão esta manhã porque tenho um fotógrafo a caminho. Chance não disse nada. Ele se ocupou com os pratos das crianças e uma xícara 56


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) de café enquanto a mãe conversava alegremente. — Um fotógrafo parece ser bom — falou Tory. — Eu quero algumas boas fotografias dos gêmeos para mostrar no clube. Kate está trazendo seus dois filhos por volta do meio-dia para que eu possa obter fotografias deles também, e assim poderemos ter algumas fotos de todos os meus netos. — Oh, isso parece ser bem legal. — Então você está de folga? — Sim. — Tem algum plano? — Eu vou fazer a mesma coisa que faço todos os sábados. — E o que seria? — Ela vai visitar o noivo, mãe, lembra-se? Ele foi ferido no mesmo acidente que ela. Ela o visita todos os fins de semana. Gwen repousou a mão no cotovelo de Tory. — Eu me esqueci. Sinto muito, querida. — Está tudo bem. — Ela se virou na direção do pequeno corredor que dava acesso ao quarto das crianças. — Deixe-me embalar algumas fraldas para você e algumas roupas. — Não se preocupe com as roupas — gritou Gwen, assim que Tory saiu da cozinha. — Eu comprei algumas coisas. Chance suprimiu uma risada. — Algumas coisas? Mas Tory continuou atravessando o corredor. No momento em que ela saiu do quarto das crianças com a sacola de fraldas, ele havia partido. E isso estava certo. O acordo deles era não conversar, não serem amigáveis. Ela não se importava para onde ele iria ou quando iria. Ela tinha sua própria vida para viver. Tory ajudou Gwen a colocar as crianças no carrinho, depois tomou um banho e se vestiu. Mas, quando ela deixou a casa e viu Chance sentado no chão ao lado da sua moto, polindo o cromo como se nada estivesse errado, uma onda de irritação a inundou. Tory marchou até ele. — Se você não vai conversar comigo, não deveria responder por mim. — Minha mãe e eu conversamos por alguns dias depois da festa e ela sabia sobre o seu noivado e sobre Jason. Eu apenas estava ajudando-a a se lembrar. — Ótimo. — Havia apenas um motivo para que ele tivesse conversado com a mãe depois da festa. — Você contou a sua mãe que me beijou, não contou? — Eu perguntei à minha mãe porque ela não havia me contado que você estava noiva. Apenas isso. — Está bem. Subitamente ela percebeu que estava a apenas alguns centímetros da moto dele. 57


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) Com o peito cheio de temor, ela recuou um passo. Chance a encarou, depois fitou a moto e seus olhos se estreitaram. — A moto a incomoda, não é mesmo? — Sim. Enxugando as mãos em um pano, ele se ergueu do chão. — Então vá. Vá ver Jason. É o seu dia de folga. Contudo, ela permaneceu ali fitando a moto. E ela não tinha certeza do porquê, exceto que uma moto como essa havia roubado a sua vida. Uma corrida. Um minuto. Um segundo. E tudo havia mudado. — Tory? Ela sacudiu a cabeça em negativa. — Você está bem? Os olhos dela se encheram de lágrimas. — Estou apenas cansada de ter medo de tudo. A voz dele soou macia enquanto dizia: — Ninguém pode culpá-la por ter medo de uma moto. Ela comprimiu os lábios e depois lhe sustentou o olhar. — Eu acho que sim — Mas você não quer ter medo. Ela meneou a cabeça. — Eu poderia lhe dar uma carona. Tory deu um passo para trás. — Vamos lá. Se você tivesse se machucado em um acidente de automóvel, você não iria parar de pegar carona em carros. — Isso é diferente. — Um pouco, sim. Mas medo é medo. E você disse que está cansada de ter medo. Chance estendeu uma das mãos para ela. Tory fitou-lhe a mão e depois ergueu os olhos para encará-lo. — Essa realmente é a única maneira de curar esse medo. Lentamente, ela aceitou a mão que ele havia oferecido. Ele puxou-a gentilmente para perto da moto, entregou-lhe um capacete e colocou o outro. Em seguida, ele montou no banco de couro na cor branca e gesticulou para que ela se sentasse atrás dele. Tory começou a estremecer. — Não posso acreditar que estou fazendo isso. — Apenas suba — pediu ele serenamente. Ela o fez. Enquanto sua perna deslizava pelo generoso banco traseiro, sensações e medos a invadiam Mas ela se lembrou da sensação de vazio que sentia toda vez que visitava Jason. A sensação de que ela não tinha vida, não tinha ninguém, nada, exceto dois pais e os adoráveis bebês de que ela cuidava enquanto o pai deles trabalhava. 58


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) Ela precisava ir além dos seus medos, começar a ver o futuro como algo mais do que um buraco negro. Precisava se ver forte, capaz. Ela precisava parar de ouvir os ruídos e gritos de um acidente que havia acontecido há cinco anos. Precisava fazer isso. Tory se ajeitou no banco traseiro enquanto ele ligava a moto. Chance se virou e gritou: — Segure-se. — E então a moto foi para frente e ela o agarrou pela cintura. Conforme eles seguiam o chão de tijolos na cor marrom, os sons do acidente ecoavam em sua mente. O terror a invadia, deixando-a paralisada. Contudo, ela continuou em seu banco confortável, seus braços seguramente ancorados ao redor de Chance. O ar frio soprava-lhe o rosto. O sol quente envolvia-lhe o corpo. Mesmo quando ela começou a apreciar as sensações, ela se agarrou ainda mais a ele, até não ouvir mais os sons do acidente. Não sentir mais o medo. A absoluta alegria de fazer algo que ela sempre amou invadiu seu interior, saturando-a, elevando seu coração e seu espírito. Ele pilotou a moto por mais ou menos um quilômetro na silenciosa rua. Com seus medos afastados e as sensações de felicidade invadindo-a, subitamente ela percebeu que estava com o corpo colado nas costas de Chance. Seus braços estavam ao redor da cintura dele, sua bochecha pressionada contra as costas amplas. Ela podia cheirá-lo, a combinação do pós-barba e do homem As sensações que se elevaram em seu interior roubaram-lhe o fôlego. Ele não era apenas forte e másculo, tão maravilhoso de tocar, ele também a conhecia. Os pais de Jason queriam que ela despendesse cada minuto livre com o filho deles, fingindo que tudo estava bem. Seus pais queriam que ela continuasse com sua vida e desistisse da esperança. Chance viu o seu medo e a ajudou a encará-lo. Sabia que a real maneira de continuar não era esquecer Jason, mas reentrar no mundo. Chance parou a moto em frente à casa de campo e ela lentamente afastou as mãos que mantinha na cintura dele. Chance se virou com um sorriso. — Está melhor? Ela riu. Por mais que detestasse a ideia de que não poderia haver nada entre eles, ela não conseguiu conter a alegria em seu interior. — Incrivelmente. Chance desceu da moto. — Você será capaz de olhar para a moto agora sem se encolher de medo? Tory assentiu com a cabeça. Relutantemente, ela ergueu a perna do banco e desceu da moto. Enquanto retirava o capacete, ela sustentou-lhe o olhar. — Obrigada. — De nada. Os olhos azuis dele exibiam seriedade. O ar entre eles crepitava com eletricidade. 59


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) Ele havia sentido tudo o que ela sentira em uma corrida de cinco minutos. Conexão. Alegria. Ela deu um passo para trás. Ele deu um passo para trás. Tory entregou-lhe o capacete e depois saiu para ver Jason. Quando ela chegou ao hospital, os pais dele estavam sentados em cadeiras próximas à janela. Eles a cumprimentaram e subitamente partiram. E ela estava sozinha novamente. Tory inspirou profundamente e fez um tour ao redor do quarto da forma que sempre fazia. Ajustando as cadeiras próximas à janela. Limpando o pó da mesa entre elas. — Então, é Dia de Ação de Graças na próxima semana. — Ela não se sentia estranha conversando com Jason tanto quanto se sentia vazia quando ele não respondia. — Eu vou para casa da minha mãe. Chance... Esse é o nome do homem para quem eu trabalho. — Ela deu uma pausa para sorrir para Jason. — De qualquer forma, ele e as crianças irão para um grande jantar que a mãe dele servirá na mansão. A mamãe e o papai foram convidados, mas eu pedi a eles se poderíamos declinar o convite. É difícil trabalhar para um homem, viver com ele e se sociabilizar com ele. Ela engoliu em seco. Percebendo o quanto ela estava perigosamente perto de admitir que tinha sentimentos por Chance, rapidamente mudou o assunto e alegrou o tom de voz. — Além do mais, a mãe dele adora passar um tempo sozinha com as crianças. — Ela suspirou. — Gwen é um pouco formal. — Mas não muito formal. Ela deixava que a chamassem de Gwen. E Kate era doce e Max era divertido. Não era de admirar que fosse tão fácil para ela se sentir parte da família. Ela limpou a garganta e começou a contar histórias das aventuras dos gêmeos a Jason. Quando o sol se pôs, ela apanhou o casaco e a bolsa e rumou para o carro. Ela não iria se permitir pensar no quanto visitar Jason agora parecia um trabalho e brincar com as crianças parecia sua vida pessoal. Ela apenas entrou no carro e dirigiu de volta até a casa de campo. Na manhã de Ação de Graças, Tory ajudou Chance com os gêmeos. Com quatro dias de folga, os pais de Jason iriam esperar que ela o visitasse na quinta, sexta, sábado e domingo. E ela iria. Ela iria. Mas seriam dias longos e silenciosos. Quando ela deixou esse pensamento se formar, a culpa a dominou. Ela era a única que havia sobrevivido. Ele havia sofrido a maior parte da queda, provavelmente deliberadamente para salvá-la. E ela considerava entediante despender algumas horas por semana com ele? Quão ingrata uma pessoa podia ser? Quando as crianças estavam alimentadas e trocadas, Tory voltou para o seu quarto. Ela apanhou a sacola que havia arrumado na noite anterior, vestiu sua velha jaqueta jeans e rumou para a porta. Chance saiu do quarto das crianças enquanto ela passava. — Ei. Tory se virou. 60


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) — Sim? Ele estendeu uma das mãos, agarrou a maçaneta e fechou a porta do quarto das crianças. — Eu quero conversar com você antes de você sair. — Você precisa de alguma coisa? Retirando um envelope do bolso da camisa, ele disse: — Uma vez que você foi contratada pela minha mãe, você está na folha de pagamento da equipe dela. Nós resolvemos esse assunto nessa semana, e eu irei lhe pagar de agora em diante. Mas eu... — Chance limpou a garganta. — Bem, eu agradeço tudo o que você está fazendo por mim e eu pensei que poderia lhe dar o dinheiro que eu deveria ter lhe dado desde o princípio. — Ele entregou o envelope a ela. — Então, aqui está. Tory fitou o envelope e depois o encarou. — Estou recebendo pagamento duplo? — Apenas pelas seis semanas que você esteve aqui. Pense nisso como um bônus. Um bônus que valia centenas de dólares! Um dinheiro que ela poderia guardar para a faculdade. — Eu não sei o que dizer. Ele sorriu. — Agradeça e vá apreciar o seu feriado. — Obrigada. — Ela rumou para a porta novamente, mas se impediu de prosseguir e o encarou. O relacionamento deles tinha se tornado um pouco melhor depois da corrida de moto, mas o ar entre eles era sempre tenso. Ela se sentiu mal por isso. Sentiu- se mal por arrastá-lo para os seus problemas. — Eu sou realmente grata por esse emprego, sabia? — Eu sei. — Ele baixou os olhos e depois voltou a sustentar-lhe o olhar. — E eu sou muito grato por termos resolvido tudo de forma que você pudesse ficar. Meus filhos a amam e eu posso ver que você os ama. Um homem não poderia pedir uma pessoa melhor para ajudá-lo a criar seus gêmeos. Lágrimas de emoção brotaram nos olhos dela. Vestido com um terno e gravata, pronto para levar suas adoráveis crianças para a mansão da mãe, ele parecia um pai orgulhoso. Chance não sabia, mas ele estava dando a ela a única oportunidade de ser uma mãe que ela talvez nunca fosse. Ele era o tipo de homem que qualquer mulher iria desejar ter uma chance para amar. Ela não conseguia acreditar que uma mulher havia partido o coração dele o bastante para que ele se tornasse desconfiado, mas desejava ser a mulher que pudesse mostrar o amor real a ele. Tory engoliu a saliva e virou-se para a porta novamente. Chance não era sua missão. Jason sim.

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Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78)

CAPÍTULO DEZ

Novembro transformou-se em dezembro. O tempo havia mudado. Um dia cheio de suaves flocos de neve preparavam o oeste da Pensilvânia para uma verdadeira tempestade que iria deixar o chão coberto de neve. O velho carro que a mãe de Tory havia emprestado recusou-se a ligar dois sábados seguidos e Chance o consertou até o veículo ronronar como um gato. Então, no terceiro sábado, depois de retornar de sua visita a Jason, quando Chance resmungou sobre ter que comprar presentes para dois bebês, ela se ofereceu para ajudá-lo. — É sério? — Claro. Mesmo se sua mãe não puder olhar as crianças, Cook as adora. Ela provavelmente vai adorar tê-las por algumas horas. — Algumas horas! Você acha que vamos demorar algumas horas? Tory deu risada. — Ei, são suas crianças. Uma vez que começar a fazer compras, você verá um milhão de coisas que vai querer comprar para elas. Vamos precisar de tempo para você se decidir. A expressão dele ainda exibia confusão. — Tempo para eu me decidir? Você tem certeza? — Sim. Eu tenho certeza. — Com uma risada, ela caminhou até o telefone da casa e discou o número da cozinha da mansão. — Você está ocupada esta noite? Cook respondeu alegremente: — Na verdade, não. — Ótimo. Chance precisa comprar presentes para as crianças. Eu me ofereci para ajudá-lo. Você pode olhar os gêmeos? — Claro. Gwen vai jantar fora. Tecnicamente, não era para você estar aqui, então eu realmente não preciso cozinhar hoje. Tory cobriu o receptor do telefone com a mão e encarou Chance. — Sua mãe vai jantar fora. Cook está livre. Ele ergueu as sobrancelhas. — Então estamos acertados? Ela assentiu com a cabeça e voltou a falar ao telefone: — Você quer vir aqui, uma vez que todas as coisas estão aqui? — Claro. E eu prometo que não vou bisbilhotar. — É melhor não. Eu tenho o seu presente aqui e detestaria se você o visse antes do Natal. 62


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) Cook deu uma risadinha. Tory desligou o telefone. — Ela estará aqui em dez minutos. — Quem iria pensar que tantas pessoas iriam querer cuidar de gêmeos? Tory caminhou até o closet a fim de apanhar sua jaqueta. — Eu iria. A maioria das pessoas adora bebês. Gêmeos são o dobro da diversão. Alguns minutos depois, Cook bateu na porta dos fundos. Chance cruzou a cozinha para atender a porta. — Obrigado por isso. A mulher gesticulou com uma das mãos para o ar. — O prazer é meu. — Ela percorreu o olhar ao redor e retirou o casaco. — Onde estão os pequenos? — Aqui — gritou Tory. Cook uniu as mãos e caminhou vagarosamente até os balanços próximos do sofá. — Bem, vocês não são os gêmeos mais lindos do mundo? — Cook parou na frente deles. — Nós vamos passar um tempo maravilhoso juntos! Cindy arrulhou. Sam gritou. — Eles dão trabalho — admitiu Tory. — Então, se você estiver em apuros, eu deixei o número do meu celular. — Eu criei seis crianças. Posso lidar com esses dois bebês. Chance apanhou um pedaço de papel e começou a escrever. — E aqui está o número do meu celular. Eu realmente a agradeço por isso. Cook ficou enrubescida e gesticulou com uma das mãos para o ar. — Apenas saiam daqui — brincou ela. Quando eles saíram, a neve caía, pesada como a chuva. Flocos grandes e úmidos caíam em suas cabeças, suas jaquetas, enquanto eles corriam para o SUV de Chance. Eles dirigiram até o shopping e entraram na primeira loja. — Certo, os preços desses pijamas estão muito bons — declarou Tory, erguendo uma peça de pijama. — Mas talvez a gente deva verificar... Ele a silenciou ao repousar um dedo nos lábios dela. — Já são quase 17h. Eu sei que as lojas ficam abertas até as 21h, mas é serio, tenho dinheiro o bastante para não precisarmos pechinchar as compras. A sensação de ter o dedo dele em seus lábios a fez congelar. A combinação de fitar os olhos azuis dele e tê-lo tocando-a fez com que ondas de prazer a inundassem. Não apenas por causa do contato, mas em razão da intimidade casual. — Então não pechinche as compras, certo? Tory assentiu com um gesto de cabeça. Chance afastou o dedo que mantinha nos lábios dela. — E eu não quero comprar roupas para eles. Minha mãe e Kate vão cuidar dessa 63


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) parte de qualquer forma. — Ele percorreu o olhar ao redor. — Se eu vou ser o Papai Noel, eu quero levar brinquedos. Ela recuou um passo, sorrindo. — Você é um bobo. — Não. Eu sou um homem. Nós não compramos vestidos e pijamas para o Natal. Nós compramos brinquedos. — Ele girou-lhe o corpo e apontou na direção do departamento de brinquedos. — Então, vamos. Eles caminharam vagarosamente no pequeno espaço cheio de brinquedos e jogos de todo o tipo. Tory olhou da esquerda para a direita com assombro pelo fato de haver tantas coisas para escolher. Chance apanhou uma arma de brinquedo. — Olhe para isso. Meu Deus! Parece real. Tory ficou boquiaberta. — Ah, não. Não! Você não vai comprar um rifle de brinquedo para o seu bebê de 8 meses. — Eu estava pensando em levar para Cindy. Tory o encarou por um segundo, e então ele exibiu um largo sorriso e ela lhe deu um tapinha no braço. — Pare com isso. Não me provoque. Eu não tenho ideia do que você quer comprar para essas crianças, então eu tenho que ser protetora. O sorriso dele desapareceu. — Eu sei. E eu gosto disso. Seus olhares ficaram aprisionados e ele sorriu novamente. Um desejo intenso tocou-lhe o coração, capturando-lhe a alma. O que ela não daria para ser capaz de amálo? Tory percorreu o olhar ao redor, procurando por algo para quebrar o encanto. — Então, o que acha de ursos novos? — O que há de errado com os velhos ursos? — Viu? É por isso que você precisa de mim por perto. Não há nada errado com os velhos ursos. Mas você está construindo uma família inteira de animais de pelúcia. Suas crianças precisam de ursos grandes, pequenos, tolos e normais. E não vamos nos esquecer dos coloridos. — Nós vamos comprar 18 ursos? — Não, tolo! Você constrói sua família de ursos com o passar dos anos. Você compra um novo urso para eles a cada aniversário e Natal. Alguns na Páscoa. Outros no Dia dos Namorados. Chance a encarou. — Sério? — Ei, você deveria estar contente por suas crianças gostarem de ursos. Eles são fáceis de receber presentes. — Vou precisar de uma casa tão grande quanto a da minha mãe para guardar os ursos — murmurou ele e rumou para o departamento de brinquedos de pelúcia. 64


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) Dando risada, feliz que o humor sério dele havia evaporado, Tory o escoltou. Eles escolheram quatro ursos, um grande e um pequeno para cada bebê, depois se dirigiram à sessão de bonecas. Chance apanhou uma caixa com a popular boneca fashion, trajando um vestido de baile. — E quanto a esta? Tory recuou. — Quando Cindy estiver com 6 anos, sim. Agora, não. — Ela alcançou uma boneca macia. Uma que Cindy pudesse abraçar durante o sono. — Essa provavelmente ela vai gostar. Chance sorriu. — Parece com ela. Com cachos louros e lindos olhos azuis, a boneca parecia com Cindy. Tory sentiu o coração se aquecer novamente. — Eu acho que sim. Ele colocou a boneca na grande sacola azul da loja que eles haviam pegado quando perceberam o quanto seria difícil carregar quatro ursos. — E agora? Tory o guiou pelos corredores que tinham jogos de aprendizagem para bebê. Chance parou de caminhar. — Você está brincando? Eles são muito novos para ficar presos com algum jogo de aprendizagem! — Jogos de aprendizagem para bebês são criados para ser divertidos. Há música, sons e imagens. — Ela apanhou dois jogos. — Confie em mim, eles vão adorar estes. Eles fizeram compras por mais uma hora, escolhendo quebra-cabeças, blocos, carros e caminhões de plástico para ambos os bebês. Chance pagou pelas compras e, carregando três sacolas grandes de brinquedos, eles rumaram para a porta. — Sabe, quando eles ficarem mais velhos, você não será capaz de comprar apenas brinquedos para eles, certo? Abrindo a porta com um dos pés, ele resmungou: — Acho que não. — Você vai mimá-los de forma irremediável. — Ei, me dê mais um ano ou dois e eu tenho certeza de que ficarei mais do que feliz em discipliná-los. — Ele piscou um dos olhos para ela. — Por enquanto, eu tenho você. Uma onda de felicidade a invadiu. A intimidade entre eles cintilava com a promessa, mas, embora não pudesse ser cumprida, eles pareciam ter tudo sob controle. Agora que eles haviam gastado cerca de uma hora juntos, apenas se divertindo, o coração dela não saltava toda vez que ele a encarava. Ele nunca dissera algo ou fizera algo que fosse muito longe. Ele apenas a fazia se sentir útil... querida. Era tão errado querer se sentir útil? Sentir-se querida? 65


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) Eles carregaram os presentes para o SUV e, enquanto ligava o motor, ele disse: — Então, aonde devemos jantar? Ela deu de ombros. — Não sei. Na verdade, não me importo. Estou faminta. — Eu também. — Chance dirigiu o olhar para o relógio no painel do carro. — E nós apenas estivemos longe por uma hora e meia. — Ele lançou um olhar para ela. — O que você diz de acharmos um lugar e jantar? Seu coração deu um solavanco, mas seu estômago roncou. Ela se lembrou de que eles deveriam lidar com a situação. Aliás, despender algum tempo juntos estava ajudando-a a encará-los com naturalidade. Apenas um chefe e uma babá se tornando amigos. — Estou faminta. — E nós não demos à Cook muito tempo com as crianças. Ela assentiu com a cabeça e ele virou o SUV para longe do shopping. Ele passou em todos os restaurantes bons e dirigiu por uma estrada de duas pistas que estava lotada. — Aonde nós vamos? — Você verá. Em outro minuto, eles chegaram ao topo de uma pequena colina, e à esquerda estava um restaurante de madeira com um estacionamento lotado. Chance abriu a sua porta. — Você vai adorar essa comida. Tory abriu a sua porta. — No momento, eu adoraria qualquer comida. Ele esperou enquanto ela contornava o carro. Quando o alcançou, o desejo de caminhar de braços dados sob a neve a dominou. Então ela enfiou as mãos nos bolsos e rumou para a entrada. Chance se apressou na direção da entrada e abriu a porta para ela. Uma sensação de calor a invadiu novamente. Ela e Jason tinham namorado quando eram crianças. Ele não abria portas para ela. Não esperava por ela. Mas Chance era um adulto. Um homem que era protetor e respeitador. Como um amigo. Ou talvez como um homem que lhe devia por ela tê-lo ajudado nas compras. Nada mais. Uma anfitriã vestida com uma calça preta e uma camisa branca os guiou até uma tenda nos fundos. As luzes estavam suaves e, quando eles se sentaram, estava quase escuro na pequena área. A anfitriã acendeu a vela na mesa e os deixou com os cardápios e a promessa de que uma garçonete iria se aproximar logo mais. Com apenas a luz da vela, subitamente a tenda pareceu pequena, íntima. Ignorando isso e o vazio do estômago, Tory abriu o cardápio. Quando a garçonete se aproximou, eles fizeram os pedidos. Assim que a garçonete se afastou, Chance sorriu para Tory. 66


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) — Obrigado por fazer compras comigo. Ela deu de ombros. — O prazer foi meu. De verdade. As únicas pessoas que eu tenho que ajudar nas compras são meus pais. E eles... Bem.. São um pouco entediantes. — Meus pais não eram entediantes e eles nos deixavam loucos tentando escolher presentes para eles. — É mesmo? Eu não consigo imaginar Gwen deixando alguém louco. — Quando éramos novos, ela era uma perfeccionista. Eu lhe disse que nós saíamos por uma porta e a equipe de limpeza entrava no quarto em seguida. Tory deu risada. — E quanto ao seu pai? Ele recuou. — Você realmente não vai querer saber. — Claro que eu quero. — Não. Você não quer. — Desculpe. Eu não queria bisbilhotar. — Não, eu sinto muito. Você não está bisbilhotando. — Ele suspirou. — Apenas não é uma lembrança agradável. — Ele foi um pai ruim? — Ele foi um pai ruim, um marido sórdido e um ladrão nos negócios. Ela assentiu com a cabeça. — Você mencionou isso quando Max lhe ofereceu o emprego. Você disse que não teria trabalhado para o seu pai, mas Max havia mudado a empresa. Ele deu uma risadinha, mas sem sinal de alegria. — Estou me fazendo de vilão por desgostar tanto dele. Mas, acredite-me, ele merece o meu desprezo, o da minha mãe e, no final, até o de Max. — Mesmo o desprezo de Max? Chance recostou-se na almofada. — Foi Max quem descobriu que Brandon Montgomery era o meu pai verdadeiro. — Seu pai verdadeiro? — Meu pai biológico. Ele disse a Gwen que sua secretária havia engravidado e não poderia manter o bebê. Então ele achou que eles poderiam me adotar, e ela não teria que se preocupar com o casal que adotou seu filho. Na época eles tinham apenas Max, e minha mãe sempre quis outra criança, embora Brandon não quisesse. Então ela achou que me adotar era a forma de ele recompensá-la. A compaixão por Gwen a preencheu. — Mas ele era o homem que havia engravidado a secretária? — Sim. Desta vez, ela se recostou na almofada. — Isso é terrível. 67


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) — Essa é a ponta do iceberg, meu pai, que Deus tenha a sua alma, parecia ter um talento especial para mentir. — Mas, se ele mentia, como você sabe tudo isso? — Eu ouvi meu pai e Max discutindo sobre manter o segredo quando eu estava com 18 anos. É por isso que eu fugi. Pensei que se Max sabia, ele deveria ter me contado. Mas ele havia apenas ouvido rumores no escritório e estava tentando fazer com que meu pai confirmasse a história. Quando ele confirmou, Max queria que ele fizesse a coisa certa. Mas ele não iria fazer. Depois, ele faleceu e Max contou à nossa mãe toda a verdade alguns anos atrás. Ela custou a aceitar, mas isso a ajudou a entender o motivo de eu ter fugido e eles começaram a me procurar, pedindo para que eu voltasse para casa. Esse tipo de coisa. — Ele deu de ombros. — Quando eu tive os gêmeos, eu não poderia mais recusá-los. Eu precisava de ajuda. Gwen e eu conversamos e percebemos que sempre fomos mãe e filho... Não importa quem fossem meus pais biológicos. Porque ela havia me criado. — Isso é incrível. — Incapaz de se conter, ela repousou a mão sobre a dele. — E maravilhoso. Ele sorriu e virou a palma para cima a fim de colocar os dedos ao redor da mão dela. — E isso vai fazer de você um excelente pai. — Sim, se eu sobreviver aos dias de bebê. Ela recolheu a mão com arrependimento. — Oh, acredite-me, o estágio de bebê é divertido comparado aos anos de adolescência. Ele riu. Ela sorriu para ele e, mais uma vez, sentiu o desejo invadir seu corpo. Eles estavam tão perto emocionalmente que suas necessidades físicas brotavam sem aviso. Não apenas necessidades sexuais, mas o simples desejo de tocá-lo. De segurar as mãos dele. Afastar os fios escuros da sua testa. Apertar sua mão. A garçonete se aproximou, repousando a refeição na frente deles. — Obrigado — falou Chance. Enquanto a garçonete se afastava e ele examinava seu prato, ela o estudou. Chance parecia não saber o homem equilibrado e esperto que ele era. Considerando tudo o que havia acontecido na vida dele, ele deveria ter sido o homem mal-humorado que ela pensara que ele fosse quando se conheceram. Em vez disso, ele era gentil, generoso, determinado a ser um bom pai. Não era de admirar que ela quisesse se apaixonar por ele. Eles começaram a apreciar a massa e conversar sobre os gêmeos. — Sabe, uma das minhas maiores preocupações sobre ter gêmeos é o problema que eu tive com Max. — Você teve um problema com Max? — Ele era o irmão mais velho perfeito, mas era também o garoto de ouro. Mesmo que eu não tivesse descoberto o engano do meu pai, eu provavelmente teria fugido em algum momento apenas para fazer minha própria marca, para não ter que competir, para 68


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) ser visto como uma pessoa. — Ele baixou o garfo e fitou-a diretamente nos olhos. — Eu não quero fazer isso com os gêmeos. Não quero que eles sintam que estão em uma competição. Ou que um é melhor do que o outro. — Com uma garota e um garoto, eu acho mais difícil do que se você tivesse dois garotos ou duas garotas em suas mãos. Ele a fitou do outro lado da mesa e finalmente respondeu com serenidade: — Talvez. Ela umedeceu os lábios com a ponta da língua. Eles estavam conversando sobre as crianças como se fossem parceiros na criação delas, e para passarem de parceiros em outras coisas também era um salto. A fácil intimidade que existia entre eles os levava imperceptivelmente ao lugar que eles realmente queriam estar... O lugar onde talvez eles pertencessem. Chance tomou-lhe uma das mãos. — Seria tão errado apreciarmos a companhia um do outro... apenas por esta noite? O coração dela lhe disse que não. Não seria errado. — Você quer dizer, como amigos? — Amigos íntimos. Ela engoliu em seco. O calor dele deixou-a tonta. Mas isso era puramente físico. Era do final emocional que ela sentia saudades. Tory se sentira sozinha e vazia ultimamente, mas ela não tinha percebido o quanto ela queria desesperadamente que esse vazio fosse preenchido. E, na verdade, era tão ruim querer ser amigos? — Eu gostaria que fôssemos amigos. — Por uma noite — avisou ele, lembrando-a de que não queria ser machucado assim como ela. Tory sorriu. — Uma noite. O restante do jantar eles conversaram sobre os bebês, o trabalho dele, os sonhos dela de se tornar uma professora e as aulas que ela finalmente havia começado a procurar na faculdade. No SUV, ele alcançou-lhe a mão no console e segurou-a até eles chegarem à frente dos portões da mansão de Gwen. E então ele a liberou. Seguiram em silêncio através da neve que cobria o chão. Quando alcançaram a casa de campo, eles saíram silenciosamente do SUV. Chance abriu a porta. Ela entrou na casa antes dele e Cook repousou o magazine que estivera lendo. — Como estão as crianças? — Chance quis saber. — Dois anjos — respondeu ela, erguendo-se do sofá. — Vocês compraram todos os presentes que queriam? Os dois se entreolharam. — Nós os deixamos no carro — falou Chance. Enquanto vestia o casaco de lã, Cook riu. — Escondendo-os, hein? Bem, eles ainda são novos demais para que você tome 69


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) medidas extremas. Uma boa sacola irá mantê-los longe dos presentes. — O que acha de eu levá-la até a mansão? — indagou Chance, suspendendo as chaves do carro. — Isso seria ótimo. Eles deixaram a casa de campo e Tory entrou sorrateiramente no quarto das crianças a fim de verificar os gêmeos. Ela puxou a coberta azul de Sam até o queixo, depois puxou o cobertor rosa até o queixo de Cindy. Ela pensou na reação deles ao abrir os presentes na manhã de Natal e desejou com todo o seu coração que pudesse estar ali para vê-los. Mas ela estaria na casa dos pais. Depois passaria a tarde com Jason e os pais dele, fingindo ter um Natal festivo em volta dele. Porque era assim que deveria ser. No momento em que Chance retornou à casa de campo, Tory estava em seu quarto.

CAPÍTULO ONZE

No dia seguinte, logo depois de Chance sair para o trabalho, Robert se aproximou da porta da cozinha com duas caixas de decorações de Natal. — A sra. Gwen achou que você poderia gostar de enfeitar a casa de campo para as crianças para o Natal. Tory arfou ao ver as caixas. Gwen havia mandado diversos enfeites de Natal, incluindo luzes coloridas. Com os sentimentos confusos com relação a Chance, ela se esqueceu de que eles precisavam decorar a casa. Enquanto repousava a caixa no sofá, Robert trouxe um enorme sempre-verde que ele arranjou no canto dos fundos da sala de estar. Quando estava tudo arranjado, ele espiou os gêmeos adormecidos e partiu. Na silenciosa sala, Tory tirou os objetos de dentro das caixas e os organizou. Enquanto os bebês dormiam, ela arranjou os enfeites e as luzes. Os gêmeos acordaram, e ela os alimentou e os colocou no cercadinho, enquanto pendurava os adornos. No momento em que Chance chegou em casa, ela tinha a árvore decorada e as crianças tiravam o cochilo da tarde. — Uau! — Ela uniu as mãos com alegria. — Sua mãe nos mandou tudo do que precisávamos. — Estou feliz que ela tenha pensado nisso, porque, honestamente, eu não pensei. Ela também não havia pensado. — Eu tenho alguns enfeites de reserva. Pensei que pudéssemos colocar luzes sobre as passagens arcadas que levam aos quartos e pendurarmos alguns enfeites. 70


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) — Parece ótimo. — Que bom. Porque eu preciso da sua ajuda. Não sou alta o suficiente. Enquanto eles esperavam Cook mandar o jantar, Chance arranjou as luzes sobre as passagens arcadas e Tory apanhou o restante dos enfeites. Do quarto das crianças, Sam deixou escapar um grito e Chance apressou-se em atendê-lo. Depois de alguns minutos, dos quais Tory presumiu que foram usados para trocar a fralda, ele emergiu segurando Sam, que, sonolento, friccionava os olhos com as mãozinhas. — Como está Cindy? — Dormindo. Tory recuou. — Eu espero que ela acorde logo ou não vai dormir à noite. Chance parou de caminhar. — Eu devo acordá-la? — Não, vamos dar um tempo a Sam sozinho primeiro. Ele gosta de ser mimado, não gosta, docinho? Vestido com um macacãozinho vermelho, Sam gritou de alegria. Tory apontou para a caixa de enfeites no sofá. — Em vez de eu ficar subindo e descendo, você pode me entregar os enfeites? Chance caminhou até o sofá. — Claro. — Ele estendeu uma das mãos e ergueu um enfeite, segurando-o para Sam. — Eu aposto que você iria gostar de decorar. Sam fez um barulho que tinha que ser de concordância. Tory deu risada. — Você dá os enfeites para ele e ele os entrega para mim. Chance segurou a brilhante bola azul para Sam, que a agarrou com júbilo. Quando eles se aproximaram da escada, Chance declarou: — Certo, agora dê para Tory. Sem cooperar, Sam tentou colocar o enfeite na boca. Tory deu risada e apanhou a brilhante bola da mão dele. — Não em sua boca. Para mim — Ela pendurou na fita. — Viu? Ele deu uma risadinha. Chance voltou a se aproximar do sofá a fim de apanhar outro enfeite. Dessa vez, a bola era verde. Quando ele e Sam estavam ao lado da escada, ele entregou para Sam, que novamente levou o enfeite à boca. — Você acha que ele está faminto? — Ele está sempre faminto. — Tory apanhou o enfeite da mão do bebê novamente. — Mas se fizermos isso algumas vezes, ele vai entender. 71


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) Eles fizeram cinco tentativas. Finalmente, Sam entendeu o jogo e começou a entregar os enfeites para Tory depois que o pai os entregava a ele. Incapaz de se conter, Tory beliscou-lhe levemente uma das bochechas. — Você é tão fofinho. — E feliz — Chance declarou, beijando-lhe a outra bochecha. — Ele adora uma atenção especial. — Ambos gostam. Eu sempre tento dar a cada criança ao menos cinco minutos de atenção especial. — Ela apontou sobre o ombro de Chance. — E se pegarmos aquela estrela e ver se conseguimos colocar no centro da fita? — Está bem, mas é um pouco grande. Estou deixando Sam fora dessa. Ele repousou Sam no cercadinho, apanhou o enfeite de estrela de dentro da grande caixa no sofá e o entregou para Tory. Ela virou-se para colocar o enfeite abaixo da fita e depois o encarou novamente. — Não há nada para prender a estrela. — Dê-me um segundo. — Ele voltou para a caixa. — Eu vi algumas dessas fitas adesivas que você colocou na parede. — Aqui. Repousando a estrela no topo da escada, ela apanhou a fita da mão dele e estendeu o braço para prendê-la na parede. Mas mesmo se estendendo o máximo que podia, não conseguia alcançar o ponto que desejava. Então subiu mais um degrau da escada, para se aproximar da parede e tentar novamente. A escada estremeceu, mas ela subiu mais um degrau. Dessa vez, a escada estremeceu com mais violência. Antes que pudesse alcançar o equilíbrio, Tory caiu de costas. Por sorte, Chance a segurou. Seus olhares se encontraram e os dois irromperam em uma gargalhada. Mas dentro de segundos as gargalhadas sumiram. Os braços dele estavam envolvidos ao redor do corpo dela. Os braços dela estavam ao redor do pescoço largo, automaticamente, instintivamente, porque ela não queria cair. Mas parecia tão certo estar nos braços dele e ter os braços ao redor do pescoço másculo que ela não queria recolher os braços. Ele começou a inclinar a cabeça. Lentamente. Pelo calor do desejo estampado nos olhos dele, ela sabia que ele pretendia beijá-la. No momento em que Tory disse a si mesma para se afastar, os lábios dele tocaram os dela. Suavemente. Docemente. O roçar dos lábios dele era um bálsamo para a sua alma magoada, cansada. O vazio em seu interior começou a ser preenchido e, em vez de se afastar, ela respondeu a ele, pressionando os lábios contra os dele. Fazia um longo tempo desde que ela beijara um homem intencionalmente. Embora ela esperasse se sentir estranha, beijá-lo era tão natural quanto respirar. Os lábios dele se moveram e ele aprofundou o beijo, explorando com a língua todo o interior úmido da boca feminina. Sensação após sensação a invadiam. As reações físicas que ela esperava. O calor em seu sangue, o formigamento em sua espinha. Mas as sensações emocionais — o crescer do desejo, o senso de justiça — dominaram-na. Ela nunca tinha sentido nada assim antes. Não apenas um desejo de receber, mas 72


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) também de dar. Doar-se para ele. E isso a assustou. Porque o beijo não iria afetar apenas ela, mas Jason. Os gêmeos. Chance. O resto de sua vida, se uma noite de prazer fizesse com que ela perdesse o emprego que estava ajudando-a a recuperar sua sanidade. — Pare! — Tory se afastou e deu um passo para trás. — Pare. Um calor maravilhoso e o desejo ainda a envolviam. Doces necessidades que ela queria satisfazer tão desesperadamente. Não apenas por si mesma, mas por Chance. Essa parte a magoava, causava uma dor aguda de culpa que ela sabia que iria segui-la por dias. Ela queria ser para Chance tudo o que ele queria que ela fosse. Ela queria cuidar das crianças, mas também queria cuidar dele. Para amá-lo. Para ser sua confidente. Mas ela não poderia. Lágrimas começaram a brotar em seus olhos. Ela recuou mais um passo. — Eu sinto muito — disse ele. — Desta vez suas desculpas não vão resolver nada. Os olhos dele se encheram de tristeza. — Então eu não sei o que dizer. Ela recuou mais alguns passos. — Isso porque não é sua culpa. — É claro que sim. Eu a beijei. — Eu permiti. — Tory limpou a garganta. — Eu queria que você me beijasse. Eu queria tantas coisas. — Ela soltou um longo suspiro. — É muito difícil estar noiva de alguém que nem mesmo consegue falar. Mas eu sou comprometida com ele. Chance meneou a cabeça. — Tory... Ela o interrompeu ao gesticular com uma das mãos para cima. — Eu não sei como ele fez, mas ele me protegeu da pior parte da queda quando a moto atingiu o chão e deslizou ao longo da pavimentação. — As lágrimas começaram a rolar pelo rosto delicado. — Ele me salvou. É por causa dele que eu posso me levantar todas as manhãs, cuidar das suas crianças. Ver o sol. — E você se sente culpada, então acredita que a forma de retribuí-lo é não desfrutar de qualquer uma dessas coisas? — Não. Eu acho que a forma de retribuí-lo é ficar ao lado dele. Chance meneou a cabeça. — Nenhum homem protege uma mulher em um acidente para que ela possa passar o resto dos seus dias sentada ao lado do seu corpo vazio. Tory arfou. Ele a tomou pela mão e forçou-a a encará-lo. — Eu sei que agora você pensa que tudo o que estou prestes a dizer é fruto do egoísmo. Mas, quer saber? Estou dizendo isso porque sou homem. Um homem normal. O 73


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) que eu acredito que Jason era. Um homem normal. Ela tentou se livrar da mão dele, mas ele apressou-se em segurá-la. — Você está olhando para isso como uma romântica. Mas se Jason é metade do homem que você pensa que ele é, ele não iria querer que você passasse os dias sentada ao lado dele, quando ele não pode vê-la ou ouvi-la. — Não há prova de que ele não possa me ouvir. — Você não está me entendendo. Ele não a salvou para que você pudesse sacrificar a vida que ele salvou. Ele a salvou porque queria que você prosseguisse com sua vida. — Você não pode saber isso. — Oh, sim, eu posso. Porque eu sou um homem e sei que, se você e eu estivéssemos na moto e sofrêssemos um desastre e eu usasse meu corpo para protegêla, não seria para que você pudesse desperdiçar essa vida. — Ele sustentou-lhe o olhar. — Aliás, eu ficaria furioso se você jogasse fora a oportunidade que custou a minha vida. Os lábios dela estremeceram. — O tipo de homem que inspirou sua devoção não iria querer o que você está fazendo. Mas há uma razão maior para eu estar lhe dizendo isso. — Ele correu a mão ao longo da nuca. — Estou preocupado com você. Por quanto tempo você vai continuar vivendo pela metade? Tory engoliu em seco. — Não se preocupe comigo. — Alguém tem que se preocupar porque você não está pensando com clareza. Eu acho que você sabe que é a hora de seguir em frente. E isso a está matando, mas você prefere sofrer a seguir em frente. Ela umedeceu os lábios com a ponta da língua e recuou um passo. Tirando a atração sexual e sem contar o quanto ele a fazia feliz, o fato de ele gostar o suficiente dela para ser honesto com ela deixou-a com os joelhos bambos. Tory precisava tanto ser honesta com alguém. Conversar sobre os seus medos. Suas esperanças. Suas necessidades. Ainda assim. Como ela poderia deixar Jason? Como ela poderia colocar sua vida e seus sentimentos acima dos dele, quando supostamente ela era a mulher que o amava? Ela não poderia. Cindy começou a chorar e Chance virou-se e voltou para o quarto das crianças. Tory fechou os olhos, imaginando Jason sozinho naquele quarto solitário se ela parasse de visitá-lo. Enquanto ela apreciasse os gêmeos, se apaixonasse por Chance, tivesse uma vida fantástica, ele estaria sozinho. Ela não poderia deixar isso acontecer. Tory engoliu as lágrimas, dizendo a si mesma que talvez fosse o momento de deixar esse emprego. Mas ela olhou para o adorável Sam no cercadinho e outra onda de tristeza a invadiu. Por mais que ela não pudesse deixar Jason sozinho, também não poderia deixar esse pequeno garotinho órfão de mãe. Chance saiu com Cindy do quarto e ela engoliu a saliva novamente. E quanto a Chance? Ela iria deixá-lo sozinho com dois bebês? 74


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) Quando Chance se aproximou o bastante, Cindy estendeu uma das mãos para ela e Tory tomou-a dos braços dele, permitindo-se silenciosamente admitir que ela precisava estar ali pelo tempo que Chance e os bebês necessitassem dela. Cindy e Sam e até mesmo Chance a preenchiam com esperança e felicidade. Envolvida em seu casaco na véspera de Natal, ela percorreu o olhar ao redor para se assegurar de que Chance não estivesse na sala de estar e deixou um presente para ele e para cada um dos gêmeos debaixo da árvore. Depois, caminhou vagarosamente até o quarto das crianças para desejar um feliz Natal e sair de folga no feriado. Chance entregou-lhe um bônus de Natal. — Sabe, você não precisa continuar fazendo isso. Ele repousou um dedo debaixo do queixo delicado para erguer o olhar dela até o seu. — Eu gosto de você. Eu sei que eventualmente você vai querer ir à faculdade e isso lhe ajudará. Tory recuou um passo. — Sim. Obrigada. E então ela correu para fora da casa antes que não conseguisse mais ir embora.

Na manhã de Natal, Chance foi acordado pelo choro dos bebês. Ele saiu da cama e correu para o quarto das crianças. Com as mãos no trilho, Cindy chorava alto, como se soubesse que Tory não estava. Sam estava sentado no berço, chorando. Bem, dar folga à babá durante a semana do Natal até o dia do Ano-Novo tinha sido uma ideia brilhante. Chance se aproximou de Cindy. — Estou indo, estou indo. Ele a ergueu do berço e depois a colocou sobre o trocador. — Ei! Assim que vocês dois estiverem trocados, vão poder abrir os presentes! Como se tivesse entendido, Cindy parou de chorar. Chance trocou as fraldas dos bebês, alimentou-os com cereal e os colocou em andadores perto da árvore. Encantado, Sam olhou para a árvore, mas o olhar de Cindy ficou fixo em Chance, que correu para procurar sua câmera de vídeo. Quando retornou para a árvore, ele acendeu as luzes, que cintilaram... Mas algo parecia estar errado. Algo estava faltando. É claro que algo estava faltando. Tory estava faltando. Era por isso que ele havia dado tanto tempo de folga a ela. Ele não queria que ela ficasse ainda mais envolvida em sua vida do que já estava. Isso a machucava. E o confundia. Chance suspirou. Ele podia ter sido forte o bastante para deixá-la partir no feriado, mas não era perfeito. — Certo, estamos todos prontos — declarou ele, enquanto deslizava uma das mãos para debaixo da árvore e apanhava um presente para cada um dos gêmeos. 75


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) Em seguida, ele apanhou a câmera. — Certo. Podem rasgar o papel. Cindy brincou um pouco com o seu presente. Sam tentou levá-lo à boca. Chance filmou dois minutos e depois percebeu que iria levar o dia inteiro para que eles abrissem os presentes. Então, ele posicionou a câmera no segundo degrau da escada de três degraus, à altura dos joelhos. A câmera gravou tudo sobre os gêmeos e apenas o filmou quando ele abaixou para dar um presente a cada criança. Mesmo esse processo levou uma hora. Ele não havia percebido quantos presentes ele e Tory haviam escolhido para esses dois. Mas ele também não tinha perdido um segundo do primeiro Natal das crianças. E agora Tory também não iria perder. Pensando em como ela iria ficar feliz em ver o vídeo, Chance dirigiu o olhar para a árvore de Natal e avistou um presente embrulhado com um papel verde e cintilante. Um papel que ele não se lembrava de ter comprado. Ele alcançou a embalagem e viu que era um presente para ele, de Tory. Chance engoliu em seco. Ele não havia comprado um presente para ela porque se preocupara que ela pudesse achar muito pessoal. Que ela se sentiria culpada ao ganhálo. O melhor que ele pôde fazer foi dar um bônus a ela. Chance se sentou. Fitou a bonita embalagem. Lentamente, ele rasgou o papel verde. Quando abriu o suficiente, ele pôde ver que era um livro. Evitando rivalidade entre irmãos. Chance deu risada. Ele havia dito que se preocupava que as crianças fossem competir entre si e ela havia ouvido. Ela sempre ouvia. Ela sempre fazia a coisa certa. E ele iria sofrer demais quando a perdesse. Mas ele iria perdê-la. Antes do acidente, Tory já havia completado quase dois anos de faculdade. Uma vez que se organizasse, iria voltar para rever as aulas básicas e depois precisar de apenas mais dois anos para finalizar seu curso. E então ela iria partir. E perdê-la iria doer mais do que perder centenas de Liliahs.

CAPÍTULO DOZE

Quando Tory retornou, no dia 2 de janeiro, ela se sentiu bem novamente. Normal. Ansiosa para ver as crianças, mas ciente de suas responsabilidades com Jason. Ele havia levado o pior no acidente. Ela iria ficar ao lado dele. Mas, assim que ela abriu a porta da casa de campo, soube que algo estava errado. Retirando o seu novo casaco de lã preta, um presente dos pais de Natal, ela disse: — O que há de errado? Chance a recebeu com uma risada. — O quê? Não vai dizer “olá”? Apenas “o que há de errado”? 76


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) — Eu posso sentir isso no ar. — Não é nada demais. Sam está com o nariz congestionado. É só isso. Ela apressou-se até a cadeira alta onde Sammy estava. — Oh? — Nós o levamos ao dr. Nelson e ele disse que Sam está pegando um resfriado. Novamente, não é nada demais. Tory beijou-lhe a testa. — Bem, pode não ser nada demais para o dr. Nelson, mas para nós é muita coisa. Sam ergueu as mãos, pedindo para ser erguido da cadeira. Tory o pegou no colo, ao mesmo tempo em que perguntava: — Então, o que mais aconteceu? — Eles gostaram dos presentes. Eu gravei um vídeo na manhã de Natal para que possamos assistir hoje à noite, se você quiser. — Eu adoraria. — Ela balançou Sam e exibiu um sorriso para Chance. — O que mais? — Minha mãe os mostrou para uma multidão de pessoas. Ela deu risada. — E, por falar na minha mãe, ela vai para Houston para visitar amigas durante o mês inteiro de janeiro. Tory ficou boquiaberta. — O mês inteiro? — Ela detesta o inverno. — Bem, todos nós não detestamos? Chance riu. — De qualquer forma, ela vai partir, mas Cook estará aqui para o que você precisar. — Parece ótimo.

Chance se virou e forçou-se a sorrir. Ela parecia descansada, mas também parecia feliz por estar em casa. Isso era o suficiente. A alegria dela em ver os gêmeos era tudo o que ele queria. — Ótimo. Vejo você por volta das 18h. Ele deixou a casa e caminhou em direção ao SUV em meio ao vento gelado do inverno. Chance entrou no veículo, apertou um botão do aparelho de som e fingiu que tudo estava bem. Mas isso não impediu a dor em seu peito por algo que ele não poderia ter. Sua única opção era desejar que ela pudesse sair de um compromisso que na verdade a tornava a mulher forte e leal que o havia atraído. Aliás, ele acreditava genuinamente que deveria continuar lembrando Tory que um homem real não iria esperar que uma mulher o aguardasse sob essas circunstâncias. 77


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) Mas seu coração não iria permitir que ele fizesse isso. Ele tinha visto o olhar magoado que ela exibira quando ele sugerira isso antes. Não suportaria ver aquele olhar novamente. Quando chegou ao escritório, seu irmão Max o estava aguardando, sentado na poltrona atrás da mesa. — Então, aqui está ele, o homem do momento com as duas crianças mais adoráveis do mundo. Chance deslizou a maleta sobre a sua mesa e retirou o sobretudo. — Suas crianças não são tão ruins. Max ergueu-se. — Trisha é uma pessoa difícil de lidar. — Trisha é você há 30 anos. Apenas espere até ela ir a uma loja de animais e comprar um rato. — Ele pendurou o sobretudo no closet e depois encarou Max. — Então, o que está havendo? Por que está sentado à minha mesa? — Eu quero te contar antes que alguém o faça. Nossos parceiros do Japão nos surpreenderam com uma reunião nesta manhã. — Reunião ou inspeção? — Eles chamaram de reunião, mas todos nós sabemos que se trata de uma inspeção. Eu não me importo com o que está marcado em sua agenda de compromissos, apenas os cancele. Você e eu vamos bancar os guias turísticos o dia inteiro. Chance resmungou. — É mesmo? — E desligue o seu celular. Nada que aconteça hoje será mais importante do que esses homens. Ele apertou o botão no celular para desligá-lo. — Entendi. Max riu. — E sorria. Você tem duas crianças adoráveis. Você é um sócio da Montgomery Construções e Empreendimentos, ainda assim tem tempo para sua própria empresa no Tennessee. Sua mãe o ama e você é meu irmão. Esses homens pensam que você é melhor do que o príncipe Harry. Ele suprimiu uma risada. Quando Max expôs dessa maneira, ele se sentiu envergonhado por estar tão deprimido nesse dia. Chance repousou o celular sobre a mesa. Max estava certo. Ele tinha muito mais do que a maioria das pessoas. Deveria estar feliz, e não pensando em uma mulher que não poderia ter. Chance caminhou ao lado de Max, mas no último segundo seu nervosismo aumentou. Ele não poderia perder a chance de ouvir a voz dela, principalmente se ela o chamasse para lhe dizer algo adorável que uma das crianças tivesse feito. — Vou pegar meu celular. Max suspirou. — Ao menos desligue o som

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Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78)

Após o cochilo dos bebês, Tory notou uma grande mudança em Sam e chamou Cook. — Ele está apático. — Ele está resfriado. — Isso é mais do que um resfriado. Eu quero chamar o dr. Nelson. Mas eu também gostaria que você descesse caso o doutor queira que eu o leve para o consultório para outro check-up. — Eu estarei aí em dez minutos. Tory telefonou para o consultório do dr. Nelson e, como ela suspeitara, eles queriam que ela levasse o bebê até lá. Ela vestiu o casaco, apanhou o celular e apressouse em discar para o número de Chance. Após quatro chamadas, o celular caiu na caixa postal. — Eu não quero assustá-lo, mas Sam não parecia muito bem depois do cochilo, então eu chamei o dr. Nelson e ele quer me ver novamente nesta manhã. — Ela deu uma pausa. — Então me ligue quando ouvir essa mensagem Cook colocou Sam nos braços dela e Tory apressou-se na direção do carro, mas Robert já estava na garagem com o SUV de Gwen. Ele abriu a porta traseira, revelando os assentos dos bebês. — A sra. Gwen gosta de estar preparada e eu não quero que você dirija. Tory sorriu agradecida. — Obrigada. Depois ela colocou Sam no assento para bebês e correu para o lado do passageiro. Robert os levou à cidade em apenas alguns minutos. Ele estacionou em frente ao prédio onde ficava o consultório do médico e ajudou-a a retirar Sam do carro, porque as mãos dela estavam trêmulas. Na recepção, ela disse: — Eu telefonei para o dr. Nelson nesta manhã. Sam está doente. — Os olhos dela se encheram de lágrimas. — Ele me disse para trazê-lo até aqui. Uma enfermeira apareceu na porta à direita e gesticulou para Tory voltar para uma sala de exames. Uma vez no interior da sala, a enfermeira apanhou Sam e tirou o casaco de neve que ele vestia. — Ei, Sam, docinho — sussurrou a enfermeira, obviamente familiar com o bebê. — Nós vimos Sam há dois dias, quando Chance o trouxe. — Ela sorriu. — Acredito que você seja a babá. Tory assentiu com a cabeça. — Ele assinou os papéis para você, autorizando o tratamento. Tory suspirou aliviada, depois apanhou o celular de dentro do bolso do casaco. Ela discou o número de Chance, mas a ligação caiu novamente na caixa postal. — Sammy — sussurrou a enfermeira novamente, tentando acordá-lo, justamente no momento em que o dr. Nelson entrou na sala. 79


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) — Agora, o que é isso que eu ouvi sobre Sam estar doente novamente? A enfermeira lançou um olhar expressivo para o doutor enquanto deitava o bebê em uma mesa de exame. O doutor se aproximou e abiu os olhos de Sam, espiando-os, depois sussurrou algo para a enfermeira, que correu para fora da sala. — Você é Tory, certo? Tory assentiu com a cabeça. — Certo. Eu preciso que telefone para Chance. Estou enviando Sam para o hospital.

Quando Chance vestiu o casaco, depois de duas horas de almoço, ele sentiu o celular vibrando. Infelizmente, a ligação caiu na caixa postal antes que ele pudesse atender. Só então percebeu que havia oito chamadas perdidas. Chance ouviu o tremor de medo na voz de Tory quando escutou a primeira mensagem dizendo que eles estavam de volta ao consultório do dr. Nelson. E ela estava chorando no momento em que ele ouviu a oitava mensagem, aquela quando ela dissera a ele que Sam estava no hospital e ela estava em uma sala de espera, e não ouvia nada de ninguém por 40 minutos. Ele nem mesmo se despediu de Max ou seus convidados. Chance correu para o seu escritório, apanhou seu sobretudo e as chaves e partiu para o hospital. Ele telefonou para Tory e ela disse a ele que estava na sala de espera do terceiro andar com Robert, e ele deveria encontrá-los ali. O elevador pareceu demorar uma década para levá-lo ao terceiro andar. Enquanto saía, Chance avistou Tory, andando de um lado para o outro do corredor. Ela virou-se e, quando o avistou, correu para os braços dele aos prantos. — Eu não sei o que aconteceu! — falou ela, por entre soluços. — Eu não sei o que há de errado! Chance beijou-lhe gentilmente a testa. — Está tudo bem. Tudo vai ficar bem. Embora, em seu interior, ele não tivesse essa certeza. Tudo o que ele sabia era que o seu bebê estava doente, os dois estavam assustados e que tinha que confortá-la. — Não vamos entrar em pânico até ouvirmos o que o doutor tem a nos dizer. Tory começou a estremecer. — Mas nunca é boa notícia! Embora o medo por Sam ainda o paralisasse, ele subitamente percebeu que os medos de Tory eram cem vezes piores. Ela estivera ali. Provavelmente neste mesmo hospital. Com uma perna danificada e um namorado em coma. Chance acariciou-lhe o cabelo. — Ei. Shh. Vai ficar tudo bem. O dr. Nelson é o melhor. Enquanto dizia isso, o dr. Nelson entrou na sala de espera. — Chance. Vejo que conseguiu chegar até aqui. O fato de a voz dele estar calma fez com que Chance sentisse uma onda de alívio. Ainda assim, quando se virou para encarar o doutor, ele manteve um braço ao redor de 80


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) Tory, apoiando-a. — Estúpidas reuniões. Meu irmão me disse para desligar o celular... — Ele inspirou profundamente. — Como ele está? — Ele está bem. Aparentemente os medicamentos que prescrevemos não baixaram a febre o suficiente. Nós só conseguimos baixar a febre dele agora, mas eu gostaria que Sam passasse a noite aqui. — Ele sorriu. — Apenas por precaução. Chance sentiu-se completamente relaxado. Tory arfou duas vezes e depois se atirou nos braços dele e chorou novamente. — Ele está no quarto 312. Quando quiserem, podem ir até lá — falou o dr. Nelson. Depois, ele se virou e caminhou até a enfermaria. Chance a abraçou com mais força. Ele sentiu tudo o que ela sentiu, queria chorar o mesmo que ela e simplesmente aqueceu-se no fato de não estar sozinho. Ela também não estava sozinha. Eles tinham um ao outro. Mas não tinham de verdade. Ela pertencia a outra pessoa e, cada vez que ele a abraçava ou a beijava, ele pecava. Chance afrouxou o abraço, estabelecendo alguma distância entre eles. Tory exibiu um sorriso tímido para ele. — Eu sinto muito. — Por quê? — Eu entrei em pânico. Fiquei emotiva. Ele sorriu com tristeza. Não queria lembrá-la que esse hospital provavelmente trazia lembranças terríveis a ela. Em vez disso, ele direcionou a conversa o mais longe possível de Jason e do acidente. — Eu gosto que você seja emotiva com as minhas crianças. Isso significa que você as ama. Ela meneou a cabeça e sorriu, depois lhe sustentou o olhar novamente. Mas, após alguns segundos, o sorriso dela desapareceu. Seus olhos se encheram de admiração e ela repousou uma das mãos contra uma das bochechas dele, traçando uma linha imaginária ao longo do queixo masculino. Era como se ela o estivesse vendo pela primeira vez. Ou talvez percebendo pela primeira vez o quanto eles haviam se tornado íntimos. Chance permaneceu imóvel. Ele nem mesmo respirava. Queria tanto essa mulher que doía só de pensar nela. Tory inclinou-se para a frente e repousou os lábios contra os dele. Suavemente. Facilmente. Depois, ela recuou um passo, estudando-lhe os olhos novamente. Chance tentou dizer a ela tudo o que sentia sem pronunciar uma palavra. Ele queria dizer que precisava dela. Que amava o quanto ela era boa com suas crianças. Que havia algo entre eles que deveria ser explorado. Mas ela recuou mais um passo e ele soube que, mesmo que tivesse dito essas coisas, ela não iria se importar. Ela tinha compromissos que não poderia quebrar. Isso o importunava. Enquanto Tory dormia em uma cadeira no quarto de Sam naquela noite, Chance permaneceu próximo à janela, fitando a paisagem. A neve cintilava em meio às luzes dos postes que iluminavam os carros no estacionamento. 81


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) Ele não conseguia descobrir se Tory estava sentindo o coração em pedaços ou se estava conseguindo conciliar os dois mundos. Um mundo, sua vida com Jason, era triste. Provavelmente vazio. O mundo que ela dividia com ele era cheio de risadas e barulhos. Chance caminhou até sua cadeira, sentou-se e friccionou as palmas das mãos no rosto. A parte triste disso era que ele sabia que a lealdade de Tory com o noivo era o que o havia atraído. E, quanto mais ele conhecia Tory, mais se sentia atraído por ela, mais ele se perguntava se o destino não a havia colocado em seu caminho para que ela pudesse voltar para a vida real. Como ele poderia dizer isso a ela? Eles já haviam tido essa conversa e ela não o escutara. Ele deveria tentar novamente? Ou deveria rezar para que ela pudesse absorver o que ele já havia dito?

No dia seguinte, eles levaram Sam do hospital para casa. No segundo que entraram na casa, Cindy começou a gritar. Pensando que ela estivesse cansada de Cook e sentindo a sua falta, Chance apressou-se em tomá-la nos braços. Mas Cindy continuava gritando. Até Tory caminhar com Sam em seu colo. Cindy estendeu uma das mãozinhas, acariciando o irmão, e Cook arfou. — Isso não é adorável? Ela sentiu falta dele. — Eu nunca pensei sobre isso — declarou Chance, enquanto segurava Cindy perto o bastante para que ela pudesse acariciar Sam. — Mas eu acho que eles nunca haviam passado um dia separados. — Ela não estava inquieta na noite anterior — falou Cook. — Dormiu como um anjo. Mas nessa manhã ela estava enlouquecida. — Ela sentiu falta do irmão — observou Tory. — Mas, no momento, precisamos colocá-lo em seu berço. Chance sustentou-lhe o olhar. — Talvez pudéssemos colocar os dois juntos para um cochilo. Tory sorriu e assentiu com a cabeça. — Isso daria a eles um senso de normalidade. Eles colocaram Sam em seu berço e Cindy no berço dela, e isso pareceu o suficiente para Cindy adormecer. Chance rumou para a porta, mas, em vez de segui-lo, Tory sentou-se em uma das cadeiras de balanço. — Você não vem? — Apenas quero ficar um pouco sentada aqui. Chance suspirou. — Eu sei que está cansada. Não foi fácil dormir naquela cadeira. Por que você não... Ela se acomodou na cadeira. 82


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) — Estou bem. — Tory, o monitor de bebê está ligado. E nossos quartos ficam a dois passos daqui. Tome um banho primeiro. Eu tomo depois... Ela meneou a cabeça. — Eu quero ficar aqui. Chance fechou os olhos e depois saiu do quarto. Ele não tinha que ter a conversa com ela sobre lealdade. Se ela não iria deixar um bebê adormecido que havia tido alta, nunca iria pensar em deixar Jason.

CAPÍTULO TREZE

O Dia dos Namorados chegou com temperaturas do ártico e uma explosão de neve. Relutantemente, Chance rolou o corpo debaixo das cobertas quentes ao som do vento em sua janela. Um dos gêmeos gritou e ele ficou imóvel, escutando com mais atenção. Mas ele não ouviu nada exceto os gritos de Sam e o suave choro de Cindy. Tory não deveria ter se levantado ainda. Ele friccionou as palmas das mãos com alegria. Isso era perfeito. Ele poderia não ser capaz de amar Tory da maneira que desejava, mas ele a amava e não havia chance de ele deixá-la passar por um Dia dos Namorados sem saber o quanto ela era especial. Ele entrou no quarto das crianças e levou um dedo aos lábios, silenciosamente dizendo para os gêmeos se acalmarem. — Nós não queremos acordar Tory. Cindy inclinou a cabeça para um lado. Sam franziu o cenho. — Vamos lá. Eu posso trocar os dois sem que nenhum de vocês precise chorar, ninguém precisa ficar impaciente. Sabendo que Cindy era a que menos chorava, ele trocou Sam primeiro, depois Cindy, e levou os dois para a cozinha, colocando-os em cadeiras altas. Rapidamente ele apanhou um pote de café e começou a procurar por uma frigideira. Após retirar uma do armário, ele colocou-a no fogão, acrescentou um pouco de manteiga e rumou para a geladeira a fim de apanhar os ovos. Sam gritou. Chance virou-se para encará-lo. — Ei, estamos fazendo uma surpresa para Tory. Vamos levar o café da manhã dela 83


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) na cama. Vocês vão ser alimentados quando ela for alimentada. Sam gritou com ainda mais intensidade. Chance deu risada. — Você não vai morrer se tiver que esperar cinco minutos para se alimentar. Enquanto o pão torrava, ele fez ovos mexidos o suficiente para Tory, ele e os bebês. Sam começou a bater na bandeja de sua cadeira. — Shh! Eu preciso de mais cinco minutos, no mínimo. Certamente vocês podem me dar cinco minutos. Sam resmungou. Chance deu risada enquanto saía à procura de uma bandeja e da rosa que ele havia comprado na noite anterior e escondido em seu quarto. Com dois pratos de ovos e torrada na bandeja juntamente com um urso de pelúcia e um vaso fino com a rosa vermelha, ele virou-se para apanhar os bebês. Seus olhos se estreitaram. Como ele iria carregar duas crianças e uma bandeja? E então ele se lembrou do carrinho de bebê. Chance colocou os bebês dentro do carrinho duplo. Carregando a bandeja com uma das mãos, empurrou o carrinho com a outra. Quando chegou à porta do quarto dela, ele bateu levemente. — Tory? Chance aguardou alguns segundos, mas não ouviu nada. Então bateu novamente. Dessa vez ele ouviu: “Oh, meu Deus! Eu sinto muito. Perdi a hora!” — Não se preocupe com isso. Você está decente? Silêncio. Depois, parecendo confusa, ela declarou: — Estou usando pijama. — Ótimo. — Com um rápido empurrão, ele abriu a porta e empurrou o carrinho dos bebês para o interior do quarto. — Nós lhe trouxemos o café da manhã na cama... — Ele se interrompeu. Ela estava deitada contra os travesseiros com as cobertas até o pescoço. — Pensei que estivesse decente? — Eu estou. Mas estou confusa. Poi que você iria me trazer café da manhã na cama? — Porque é Dia dos Namorados. O pânico cruzou as faces dela. Tory levou as cobertas até o queixo. Rapidamente, ele declarou: — Nada disso é ideia minha. É dos bebês. Sam gritou. Cindy deu uma risadinha. — E eles estão realmente famintos e meu braço está doendo. A expressão do rosto dela suavizou. Tory empurrou as cobertas para um lado e caminhou até o carrinho. Parando em frente às crianças, ela disse: — Vocês fizeram isso para mim? 84


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) — Sim. Eles fizeram. Sozinhos. Para você. Mas, se você sair da cama, não terá valido a pena. Tory voltou a ficar debaixo das cobertas. Chance colocou a bandeja sobre o colo dela e depois apanhou as crianças. Enquanto ele ajeitava Cindy na cama ao lado de Tory, ela apanhou o urso. — Aqui está o urso. Ele virou-se para apanhar Sam. — As crianças escolheram isso também. Você disse que todos deveriam ter uma família de ursos. Eles decidiram que era o momento de você começar a ter a sua família. Chance repousou Sam na cama. O bebê apressou-se em levar as mãos à bandeja. Chance o apanhou pelos botões do pijama e o afastou. — Ei, olhe as maneiras. Tory riu. — Você alimenta Cindy — falou ele. — Eu alimento Sam Tory assentiu com a cabeça, apanhou um garfo e levou um pouco de ovos mexidos à boca da pequenina. — Obrigada pelo café na cama. Cindy exibiu um largo sorriso. — E o urso. Sam gritou. — Não pense que você vai roubar isso — falou Chance. Sam gritou novamente e Chance o silenciou com um garfo cheio de ovos mexidos. Enquanto alimentava Cindy, Tory mordiscou um pedaço de torrada e Chance relaxou. Ela estava gostando do Dia dos Namorados com as crianças. Ele não havia ultrapassado nenhum limite. Tory deu um tapinha no colchão ao seu lado e capturou-lhe o olhar. — Sente-se. Você não pode alimentá-lo em pé dessa maneira. Ele ergueu Sam do pé da cama e tomou um passo cauteloso em direção ao topo, enquanto ela erguia a bandeja do colo e a colocava do outro lado da cama. Chance se sentou, acomodou Sam em seu colo e depois ajeitou os travesseiros atrás das suas costas. Com a bandeja entre eles, sorriu para Tory. — Obrigado. Tory baixou o olhar e depois pareceu reunir a coragem, encarando-o novamente. — Não. Obrigada você. — O quê? Eu? Os gêmeos fizeram tudo isso. Eu apenas tive que alcançar os armários para apanhar os objetos que estavam em lugares mais altos. Ela deu uma risada. Cindy deu um tapinha na bandeja, obviamente pedindo mais um pedaço. Chance deu a Sam uma garfada de ovos antes de alcançar uma das fatias de torrada. — Há café na cozinha. Eu não queria derrubar em seu quarto. 85


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) Tory deu uma risadinha. — Boa ideia. Chance se acomodou contra a cabeceira da cama. As crianças estavam felizes. Ele estava empolgado. E Tory parecia confortável. O telefone da casa que estava sobre o criado-mudo começou a tocar. Acomodando Cindy em suas coxas, ela apanhou o fone. — Cook? — Hmm. Não, querida, sou eu, Gwen. — Ei, Gwen! Você quer falar com Chance? Ele está bem aqui. Eu coloquei o telefone no viva-voz. — Não. Eu apenas telefonei porque mandei visitas para a casa de campo. — Visitas? — indagou Chance. — Às 7h? — São os pais de Jason, querido. Eles querem falar com Tory. Tory congelou. — Obrigado, mãe — disse Chance. Ele rolou para fora da cama, levando Sam com ele. — Vou levar as crianças para o quarto. Tory rolou na cama para o outro lado. — Eu vou levar a bandeja para a cozinha. Chance apanhou Cindy dos braços dela. Depois, correu para o quarto das crianças e ela correu com a bandeja para a cozinha. Chance ouviu alguém bater à porta e, subitamente, não pôde deixar que ela encarasse os pais de Jason sozinha. Sim, todos ainda estavam com seus respectivos pijamas. Mas eram 7h. Pessoas que visitavam uma casa com dois bebês gêmeos às 7h recebiam o que mereciam. Furioso, defensivo, ele rumou para a sua sala de estar com os seus gêmeos para proteger a sua... babá. A porta foi aberta e no solado estava um homem mais velho e uma mulher. A mulher segurava um lenço amassado. Estava claro que ambos estiveram chorando. — Nate? Emily? — Quando nenhum deles disse uma palavra, Tory recuou um passo, abrindo mais a porta. — Entrem. Nate dirigiu o olhar para Chance e os dois bebês vestidos com pijamas. Ele sorriu ironicamente. — Nós deveríamos ter telefonado. Chance deu alguns passos para a sala de estar, repousou os bebês no cercadinho e declarou: — Não. Estamos bem. Nós já estávamos acordados. — Ele rumou para a cozinha. — Vocês aceitam um café? Emily sentou-se no sofá. — Não. Obrigada. — Ela lançou um olhar para Tory. — Tory, querida, você pode se sentar, por favor? 86


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) Congelada pelo medo, Tory sentou-se na cadeira reclinável. Chance sentiu o coração se acelerar. Os pais de Jason estavam ali. Chorando. — O que há de errado? — Tory quis saber. — Jason sofreu um derrame na noite passada. — Oh! — exclamou Tory, e pressionou uma das mãos aos lábios. — Oh, meu Deus! — Ele está estável — falou Nate. Fechando os olhos, Chance praguejou em voz baixa. Dessa vez ele sentiu piedade por Jason. Precisando fazer alguma coisa, encheu quatro xícaras com café, depois retirou os pratos da bandeja que havia usado para o café da manhã de Tory e colocou as xícaras, o creme e o açúcar. Enquanto caminhava em direção ao sofá, Nate declarou: — Eu sinto muito, Tory. Soluçando em silêncio, Tory declarou: — Não sinta por mim. É com Jason que eu me preocupo. Nate segurou em uma das mãos de Tory. — Querida, o motivo de eu e Emily estarmos aqui não é para lhe contar sobre o derrame. — Ele engoliu a saliva e depois limpou a garganta. — Nesta manhã, os médicos conversaram conosco sobre desligarem os aparelhos. Tory arfou. — Não! — Ela ergueu-se da cadeira. — Não! Chance repousou a bandeja na mesa entre as cadeiras e o sofá. Em seguida, ele tomou Tory em seus braços. — Ei. Não diga nada. Apenas se sinta à vontade para chorar. Emily e Nate se ergueram do sofá. — Nós queríamos lhe dizer isso pessoalmente — falou Nate. — O dano por causa do derrame foi extenso. Ele está no Hospital Mercy, onde eles fizeram o teste. Disseram que ele se foi, Tory. Dessa vez ele se foi. Amparando Tory em seus braços, Chance comprimiu os lábios e assentiu com a cabeça para eles. Emily começou a chorar também. Nate passou o braço ao redor dos ombros da esposa. — E nenhuma decisão foi tomada ainda. Chance encarou Nate. O olhar que eles trocaram era muito significativo. A decisão poderia não ser final, mas havia sido tomada. E tinha sido tomada porque eles não tinham escolha. Nate e Emily saíram em silêncio enquanto Tory o abraçava com ainda mais força. Quando se afastou, as marcas das lágrimas estavam evidentes em seu rosto. — É melhor eu me vestir. — Você pode ficar com seu pijama por quanto tempo quiser hoje. Eu vou ficar em casa com as crianças. 87


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) Ela ergueu o queixo para encará-lo. — Mas eu tenho que ir ao hospital ver Jason. É claro que sim. Como ele pôde deixar de pensar nisso? — Eu dirijo. — Você tem as crianças. — Minha mãe ou Cook podem olhar as crianças. Mas depois que Tory se vestiu com um jeans e um bonito suéter vermelho e retornou para a sala de estar, ela imediatamente apanhou Sam e o abraçou. Sam deixou escapar um grito, como se ela o tivesse apertado com muita força, e ela riu. Deu risada. Em um dia, quando seu coração estava claramente despedaçado, ela havia rido porque amava essas crianças. Chance se aproximou dela. — Minha mãe tem um almoço marcado e Cook precisa estar em algum lugar nesta manhã. Então eu acho que devemos levar as crianças. Tory estreitou os olhos. — Sério? Para um hospital? — As regras do hospital são menos estritas do que costumavam ser. E, quem sabe? Talvez vê-los pode animar Jason também. Tory assentiu com um gesto de cabeça e o ajudou a vestir os casacos de neve nas crianças e depois colocá-las nos assentos apropriados no interior do veículo. Ao chegarem ao hospital, Chance a seguiu através dos corredores e finalmente entrou em um quarto que era tão silencioso que não havia outro som além dos aparelhos ligados ao homem na cama. Segurando Cindy, Tory se aproximou primeiro. — Ei, Jason, olha quem está aqui! É um dos gêmeos que eu tenho lhe falado. — Ela caminhou vagarosamente até a cama. — Esta é Cindy. Diga “olá”, querida. Cindy deixou escapar um som parecido com um latido. Tory riu. Chance poderia ter rido também, mas ele não conseguia tirar os olhos do homem que estava na cama. Havia tubos por todos os lados. As pálpebras dele nem mesmo se mexiam. Subitamente, ela virou-se para Chance e o avistou na entrada da porta, segurando Sam. — Oh, Jason, eu quase me esqueci de lhe apresentar Chance. — Ela gesticulou para que ele entrasse no quarto. — É o pai dos gêmeos, Chance Montgomery. Chance sorriu e disse “Olá”, porque, como ela havia dito antes, eles não tinham certeza se Jason conseguia ouvi-los. E, se isso a ajudasse a passar por essa situação, ele iria simplesmente cooperar. Uma enfermeira entrou no quarto e, quando avistou Chance, Tory e os dois bebês, declarou: — Vocês não podem estar aqui. — Está tudo bem. Eles estão comigo — disse Tory. 88


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) — Só é permitido uma pessoa por vez. Duas, quando os pais dele estão aqui. Depois ela encarou Chance e ele lhe lançou um olhar de súplica. — Está bem, um minuto para cada um se despedir, depois todos saem, menos Tory. Chance assentiu com a cabeça. A enfermeira verificou o soro, fez algumas anotações e depois saiu do quarto. Chance se moveu para o lado de Tory, estendendo o braço para apanhar Cindy. — As crianças e eu vamos lhe esperar na cafeteria. Fique quanto tempo quiser. Tory sorriu com gratidão e depois seus olhos se encheram de lágrimas. — Obrigada. Chance deixou o quarto e Tory se sentou na cadeira ao lado da cama de Jason. — Isso é difícil, Jace. Ele não disse nada. E não apenas não disse nada, mas o quarto parecia vazio, desprovido de sua presença. Tory sentiu um calafrio. Então ela pulou para o assunto que sempre aquecia o ambiente. — Você gostou dos gêmeos? — Ela riu, ou tentou. — Eles, bem, me mantêm esperançosa. Ela se ergueu e caminhou até a janela. — Na verdade, ao longo dos últimos meses eles têm me impedido de enlouquecer. — Ela encarou a cama novamente. — Você não pode imaginar o quanto isso tem sido difícil. E não importava o que ela dissesse ou fizesse. Não importava se cada médico do hospital entrasse no quarto nesse instante e fizesse o seu melhor para salvá-lo. Ele estava morrendo. Lágrimas de angústia começaram a rolar por suas faces. Ela se permitiu chorar até que não tivesse mais lágrimas, depois se inclinou e beijou-lhe uma das faces. Subitamente, Chance apareceu na porta. — Desculpe interromper, mas as enfermeiras precisam entrar agora. Tory virou-se para encará-lo. — Onde estão os gêmeos? — Eles estão sendo entretidos na enfermaria. Ela deu risada. Chance ergueu uma das mãos. — Então, você está pronta? Tory sorriu e assentiu com um gesto de cabeça. Ela caminhou até ele, mas não aceitou a mão que ele lhe oferecia. Ela o guiou para fora do quarto de Jason até a enfermaria, apanhou Cindy no colo, agradeceu a todos a gentileza com as crianças e Jason e saiu.

Tory ficouem silêncio durante todo o percurso até a casa de campo. Ao chegarem, 89


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) ela apanhou Sam e o carregou para o interior da casa. — A primeira coisa que devemos fazer é alimentar esses dois — disse Chance, seguindo-a até a sala de estar. Ele jogou as chaves sobre a mesa de centro em frente ao sofá. — Então você tira os casacos deles enquanto eu esquento algum alimento apropriado para eles. Tory assentiu com a cabeça. Chance correu para a cozinha e preparou a comida das crianças. Um por vez, ela retirou o casaco de neve e depois trouxe cada bebê para sua cadeira. Quando a comida estava pronta, os bebês também estavam. Mas Tory permaneceu imóvel próxima às cadeiras. Ela nem mesmo piscava. — Tory? Uma pequena ajuda aqui? Ela virou-se para encará-lo. — Hein? — Você alimenta Sam. Eu alimento Cindy. Tory recuou um passo e umedeceu os lábios com a ponta da língua. — Certo. — A expressão vazia em seu rosto não estava indo embora. Ela poderia estar na cozinha, mas não estava realmente presente. E ele não a culpava. Ela havia passado por muita coisa naquele dia. — Por que você não vai para o seu quarto? Nós vamos ficar bem. Tory assentiu com a cabeça e correu para o seu quarto. Contudo, algumas horas depois, Chance começou a se preocupar com ela. Tory não havia saído do quarto para o jantar. Então ele bateu à porta do quarto dela. — Sim — respondeu ela, com um tom fraco de voz. Então ele abriu a porta, entrou no quarto e a encontrou fazendo as malas. — O que está acontecendo? — Eu vou embora. — Bem, está bem — disse ele, adentrando o quarto. — Eu sei que você precisa de algum tempo e espaço, mas não há motivo para ir embora. — Eu preciso estar com Jason. — Eu sei disso. Você não terá que trabalhar nos próximos dias. Mas é bem-vinda aqui. Nós queremos ajudá-la a passar por isso. — Ajudar-me a passar por isso? Jason é quem está morrendo. — Eu sei que Jason é quem está morrendo. Mas, Tory, como sempre, você não entende que está sofrendo também Ela recuou um passo. — Eu entendo. Eu apenas não sou importante. — Eu entendo que Jason seja mais importante agora. Eu apenas não quero que você se afaste demais e se esqueça de que tem a gente. Nós queremos que você fique conosco. — Ficar com vocês? — A voz dela soou estremecida. — Como eu posso ficar com 90


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) o homem por quem eu me apaixonei enquanto o meu noivo está morrendo?

CAPÍTULO CATORZE

Chance sentiu o coração dar um salto dentro do peito. Ela o amava? Ele queria tomá-la em seus braços e beijá-la até que ela ficasse tão ofegante quanto ele se sentia. — Eu deveria estar ao lado dele. Estar comprometida com ele. E eu me apaixonei por outra pessoa. — Você nunca deixou de ser fiel a ele. Não faça isso consigo mesma. — Chance alcançou-lhe uma das mãos, impedindo-a de acrescentar mais itens na mala. — Fique. Tory comprimiu os lábios. — Vamos jantar e depois você pode ir para a cama. Conversaremos novamente pela manhã. Ele conseguiu fazer com que ela comesse o jantar que Cook havia lhes mandado. Depois, como se estivesse no piloto automático, ela rumou para o quarto e fechou a porta. Chance a verificou por volta das 22h e notou que ela estava adormecida. Ele afastou algumas mechas do cabelo que lhe caíam sobre o rosto e beijou-lhe a testa. Não sabia como eles iriam passar os próximos dias ou semanas, mas, por Deus, eles teriam que passar. Na manhã seguinte ela estava acordada, cuidando dos bebês, quando ele apareceu na porta da cozinha. Ela havia sentido pena de si mesma o suficiente no dia anterior e não iria fazer isso novamente. Quando ele entrou na cozinha, ela sorriu e apontou para a cafeteira. — Está fresco. — Obrigado. Está se sentindo melhor? — Sim. Chance se afastou do balcão com uma xícara de café na mão e um leve sorriso nos lábios. — Ótimo. Tory se ocupou com os bebês. — Precisa de alguma ajuda? — Ele quis saber. — Não. Estamos bem. — Eu tenho algum trabalho para fazer no computador em meu quarto. Mas, se precisar de mim, é só me chamar. Uma onda de alívio a invadiu. 91


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) — Ótimo — declarou ela, ao mesmo tempo em que seu celular começou a tocar. Tory apanhou o celular de dentro do bolso e atendeu antes que tocasse novamente. — Alô! — É Nathan, querida. — Ele deu uma pausa e soltou um suspiro estremecido. — Jason teve uma noite ruim. Eu acho que você precisa vir aqui em casa. Com o coração batendo desenfreado dentro do peito, ela desligou o celular e ergueu-se da cadeira. — Eu preciso ir... — Ir? Tory sustentou-lhe o olhar. — Para a casa dos pais de Jason. — Está bem, dê-me dez minutos para telefonar para Cook vir cuidar das crianças. Tory o impediu de prosseguir ao repousar a mão no braço dele. — Eu preciso ir sozinha. — Mas você precisa... — Ir sozinha.

Duas horas depois, Chance recebeu a notícia de que Jason havia falecido. Com os bebês dormindo no quarto, ele jogou uma xícara contra a parede da cozinha. — Chance... A voz da mãe ao telefone o trouxe de volta ao presente. — Os médicos com quem eu conversei antes de lhe telefonar me disseram algo muito interessante. — Ah, é mesmo? — No quadro de diretores do hospital, sua mãe tinha ligações com todos e tudo relacionado ao hospital. — Eles disseram que você e Tory levaram os gêmeos para vê-lo ontem. Chance passou a mão ao longo da nuca. — Os gêmeos a acalmam. — A defesa saiu de seus lábios naturalmente. Ele tinha culpa o bastante sobre Jason para durar uma vida inteira. Não precisava de outra coisa. — Oh, eu sei! Uma das enfermeiras monitorou o que havia acontecido no quarto antes de a enfermeira mandá-lo sair. — Ela inspirou profundamente. — A questão é que Jason não faleceu esta manhã. Eles esperaram para telefonar para Tory a fim de que ela pudesse ter tempo para descansar. Ele faleceu alguns minutos depois da visita de vocês. — O quê? — A tristeza o dominou. — Eles tiraram os aparelhos tão rápido? — Eles não precisaram tirar os aparelhos. — Ele faleceu logo depois que fomos embora? — Os médicos sabem tão pouco sobre comas que não têm certeza do que uma pessoa pode ver ou ouvir, mas um deles me disse em particular que a sua visita foi uma 92


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) bênção. Algumas vezes as pessoas não morrem porque ficam preocupadas com quem vai cuidar dos seus entes amados quando eles se forem. O fato de você ter entrado no quarto com Tory, ter levado os bebês, era quase como dizer a Jason que Tory tinha alguém para cuidar dela. Ele passou a mão ao longo da nuca novamente, incerto sobre o que deveria dizer. — Você deu a ele a paz que ele precisava para descansar. Ele desligou o telefone se sentindo bem melhor. Tory retornou duas horas depois, com o rosto completamente pálido. Chance apressou-se em ajudá-la a se sentar no sofá. — Os pais de Jason telefonaram para minha mãe — declarou ele. Ela comprimiu os lábios enquanto as lágrimas enchiam seus olhos. — Então você sabe. — Sim. — Como estão as crianças? — As crianças estão bem. Na verdade, estão com a minha mãe. Tory assentiu com a cabeça enquanto as lágrimas desciam por seu rosto. Incapaz de vê-la dessa maneira, ele a segurou pelos ombros e forçou-a a encará-lo. — Eu sinto muito. As lágrimas dela se transformaram em soluços. — Ele era tão jovem. Tão esperto. Sabendo que ela estava se lembrando do garoto por quem havia se apaixonado, Chance engoliu em seco. — Tenho certeza de que sim. — E divertido. Ninguém conseguia me fazer rir da forma que ele fazia. — Ela se ergueu e se afastou do sofá. — E forte. Eu lhe disse que acredito que ele tenha levado o pior do acidente para me proteger. Esperando confortá-la, ele disse: — Os médicos disseram que ele morreu sozinho. Eles não precisaram desligar os aparelhos. Ela assentiu com a cabeça. Chance inspirou profundamente. — Eles também disseram a ela que Jason havia falecido alguns minutos depois de nossa visita. Ela comprimiu os lábios até formar uma linha fina e assentiu com a cabeça, confirmando a informação. Aliviado, ele prosseguiu: — Eles disseram que algumas vezes as pessoas se mantêm vivas porque se preocupam com quem vai cuidar de seus entes amados. Eles acham que nossa visita com os gêmeos foi quase como dizer a Jason que existia alguém para cuidar de você. Então ele poderia morrer em paz. Ele ficou até saber que você iria ficar bem. — Ele faria isso. Encorajado, Chance se ergueu do sofá: 93


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) — Sim. Ele faria. Porque ele a amava e queria que você ficasse bem depois que ele partisse. Tory não disse nada. — Ele apenas quer que você fique bem. Subitamente ela se virou para encará-lo. — Ele quer que eu fique bem? Eu acho que é você que quer que eu fique bem. Chance suspirou. — É claro que sim, mas isso não significa... Tory recuou um passo, distanciando-se dele. — Eu sei que você e todos pensam que eu deveria estar grata pelo sofrimento dele ter acabado. — A voz dela falhou. — Mas eu não estou. Estou tão triste que sinto meu coração se partir em pedaços. Chance avançou um passo na direção dela. — Tory... Ela ergueu uma das mãos para impedi-lo. — Não. Por favor. Tudo isso... — disse ela, gesticulando com as mãos para a sala de estar — está muito confuso agora. Por dez anos, Jason foi o amor da minha vida. E, quando ele mais precisou de mim, eu estava aqui. — Você tinha que ter uma forma de ganhar a vida. — Eu estava construindo uma vida. — A voz dela falhou novamente. — Prematuramente. Agora eu preciso de tempo para enlutar. — E nós vamos lhe dar o espaço e o tempo que você precisa. Tory sacudiu a cabeça em negativa. — Não! Você não entende? Eu não posso ficar aqui. Isso apenas me lembra de que, enquanto ele morria, eu não estava com ele. — Ela fitou-o diretamente nos olhos. — Estava com você. — Não diga isso. — É a verdade. Nós dois sabemos que é a verdade. — Nós não fizemos nada... — Nós fizemos tudo. As coisas importantes. Nós quebramos minha conexão com ele. — Não. Não quebramos. Nós dois fomos muito cuidadosos, muito respeitosos com ele. — Chance deu mais um passo na direção dela. — E o que nós sentimos não é tolice ou futilidade. Porque eu também a amava. Verdadeiramente. Com todo o meu coração. Tory fechou os olhos e depois, rapidamente, abriu-os e rumou para o quarto. Chance a seguiu, mas ela não disse nada. Simplesmente apanhou a mala e começou a enchê-la com seus pertences. Tristeza e um sentimento de desespero o invadiram. Ele havia dito que a amava e ela não tinha nada a dizer? Ela estava partindo? Chance a viu caminhar através da sala de estar, os ombros curvados, a tristeza evidente em cada passo que dava. 94


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) Ele disse a si mesmo que ela precisava de algum tempo para voltar a ser o que era. Talvez não depois do funeral. Mas, depois de um mês pensando em tudo o que tinha acontecido, ela iria voltar. Mas, quando a porta se fechou atrás dela, ele não estava tão certo.

Pela segunda vez em apenas alguns meses, Chance parou o SUV em frente a um intimidante portão negro de ferro. Era o portão do cemitério Saint John. Depois, ele estacionou o veículo próximo a algumas árvores e desceu do carro. Chance localizou Tory imediatamente. Com um dos braços do pai ao redor de seus ombros e a mãe amparando-a do outro lado, ela soluçava sem parar. Chance sentiu o coração bater forte e inspirou profundamente. Ele não tinha ideia do que era amar alguém a ponto de carregar um fardo de cinco anos de sofrimento. Não tinha ideia do que era ser amado dessa maneira. Como eu posso ficar com o homem por quem eu me apaixonei enquanto o meu noivo está morrendo? Após a reação dela à sua declaração de amor, ele se perguntou se ela se lembrava de que havia dito isso. Ele ouviu o pastor, viu enquanto o homem fechava sua Bíblia e depois caminhou até os pais de Jason para lhes dar conforto antes de parar na frente de Tory e lhe entregar uma rosa. O pastor falou com ela e a abraçou, dando-lhe uma atenção especial. Quando o funeral chegou ao fim, ele entrou em silêncio no carro e dirigiu para casa. Chance entrou na casa de campo e Max e Kate se ergueram do sofá, cada um segurando um dos gêmeos. Max indagou solenemente: — Bem? Chance se livrou do sobretudo. — Ela está devastada. Kate suspirou profundamente. — Eu não posso nem imaginar. — Eu acho que nenhum de nós faz ideia do que ela passou durante esses últimos anos. — Ela vai voltar? — Por quê? Nos últimos meses de vida do noivo dela, nós tentamos afastá-la dele. Fazê-la rir. Encorajá-la a voltar à faculdade. Fazê-la se esquecer do acidente. Se ela não me odeia por isso... E eu tenho certeza que sim, nós a fazemos se lembrar de Jason. Dos últimos meses de vida dele. — Ele deixou-se cair pesadamente sobre o sofá. — Nós a fazemos se lembrar dos piores dias da vida dela. — Certamente deve ter havido coisas boas... — começou Kate. Contudo, Max a impediu ao repousar a mão no braço dela. — Por que não subimos para a mansão e pedimos para minha mãe planejar um 95


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) jantar para todos nós esta noite? Vamos para casa buscar Clayton e Trisha. Depois, todos poderemos ter um jantar agradável e tranquilo. Kate lançou um olhar para Chance e depois para Max. — Sim. Parece uma boa ideia. Algum tempo com a família. Quando Kate saiu, Chance virou a cabeça e espiou Max. — Eu não vou desabafar com você. — Eu apenas quero ouvi-lo. Você pode fazê-la se lembrar dos piores dias da vida dela, mas há algo entre vocês dois. Chance soltou uma risada curta e seca. — Certo. — Você não pode deixar isso escapar. — Eu também não posso fazê-la passar por mais coisas do que ela já tem passado. — Chance, ela está machucada agora e precisa de você. Eu deixei Kate partir quando ela mais precisou de mim e nós perdemos oito anos de nossas vidas juntos. Ela passou pela gravidez sozinha, criou Trisha sozinha por oito anos. Você não quer abandonar a mulher que ama quando ela precisa de você. Chance meneou a cabeça. — Quando Kate precisou de você, ela pertenceu a você. De alguma maneira, Tory ainda pertence a Jason. Ela pode me amar. Pode precisar de mim. Mas eu a pressionei quando ela menos precisava ser pressionada. Eu acho que é por isso que ela fugiu. Para que eu não faça isso novamente. Para que eu não vá atrás dela. Ela tem que voltar para mim.

Tory permaneceu em seu quarto pelos próximos dois dias. Ela não se alimentou. Não dormiu. No terceiro dia, sua mãe entrou no quarto com uma bandeja de café da manhã e abriu as cortinas que cobriam a única janela. — Hora de levantar. Tory suspirou. — Eu já estou acordada. — Eu sei. Você esteve acordada a noite toda, sentada no escuro. Está na hora de acabar com isso. — Na verdade, não. Ainda não. Samantha virou-se da janela. — Eu sinto muito, querida, mas, se você vai ter aulas na primavera, precisa se matricular agora. Tory puxou as cobertas até a cabeça. — Eu não estou pronta. — Você tem que estar pronta. Faltam apenas duas semanas. Quando for tarde demais para se matricular, você vai se arrepender. 96


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) Ela umedeceu os lábios com a ponta da língua. — Acho que sim. — Você também pode querer telefonar para o seu chefe. Tory ergueu o rosto para encarar a mãe. — Chance? — Sim. Você vai precisar de dinheiro para as aulas. Você tem que trabalhar. Ela engoliu a saliva. — Na verdade, eu economizei o bastante para cobrir os dois primeiros semestres. — Então você não vai voltar ao trabalho? Tory sentiu o coração dar um salto dentro do peito. Ela poderia estar com os gêmeos agora. Feliz. Ao ver que ela não respondia, a mãe prosseguiu: — Então coma seus ovos e a torrada que eu trouxe, depois tome um banho e arrume o cabelo. E nós vamos até a faculdade. — Eu não acho que preciso comer. — Por favor. Você pode comer por mim? — Eu vou comer isso se você me fizer um favor. — Qualquer coisa. — Telefone para Gwen e diga que eu me demiti. Diga a ela que Chance precisa contratar outra babá. — Oh, Tory. Você deveria dizer isso a ele pessoalmente. — É mesmo? Eu acabei de perder Jason. Estou exausta. Eu preciso solucionar o resto da minha vida. Você não pode simplesmente telefonar para Gwen e resolver isso por mim? Obviamente surpresa pelo desabafo de Tory, a mãe declarou: — É claro. Eu sinto muito. Tory friccionou a mão ao longo da testa. — Eu sinto muito também E ela sentia. Amargamente por ter arruinado tudo.

Chance soube que Tory havia se demitido quando Gwen apareceu com uma pasta lotada de currículos. Uma vez que tinha ouvido que Tory não iria voltar, ela telefonou para uma agência e eles lhe mandaram um e-mail com a informação que Chance precisava para escolher uma nova babá. Chance a encarou. Ele sabia em seu coração que ela estava fazendo o que considerava ser a coisa certa. Mas ele estava cansado, confuso e furioso por Tory nem mesmo ter lhe telefonado para se demitir. Ela pedira para a mãe telefonar para Gwen. Agora ele estava olhando para currículos? Tory resolveu sair de sua vida dessa maneira? 97


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) — Deixe os currículos — disse ele, erguendo-se do sofá para que a mãe também se erguesse. — Eu vou estudá-los à noite. — E me informar sua escolha de manhã? — Sim. Chance sentiu uma dor intensa invadir seu peito. Mas, se havia notado, Gwen não disse nada. Ela apenas apanhou o casaco e partiu. Em pé na sala de estar, sentindo o coração em pedaços, ele pensou sobre o que Max havia dito, sobre como ele abandonara Kate quando ela mais precisara dele. Cansado e confuso, ele apanhou o telefone e discou os primeiros dígitos do celular dela... O número que ele havia salvado quando ela lhe telefonara do hospital quando Sam estava doente... Mas desligou rapidamente. Chance fez isso por quatro vezes naquela noite, mas, no final, ele simplesmente não poderia telefonar para ela. Tory havia dito a ele que o amava, mas ao mesmo tempo tinha medo de machucar Jason, de perdê-lo. Ela o havia afastado sempre que podia. Tory tinha se apaixonado por ele de forma tão relutante que, algumas vezes, quando pensava sobre isso, ele sentia o coração doer. E quando ele havia dito a ela que a amava... Ela o ignorara. Fingira que não havia ouvido. Chance não poderia ir atrás dela. Se ele fosse e ela o rejeitasse novamente, ele ficaria devastado. Mas ele também sabia que tinha que esperar até que ela estivesse pronta. Ela tinha que vir procurá-lo.

CAPÍTULO QUINZE

Três meses depois, na aula de contabilidade da sra. Mulcahy, Tory fitou com desalento a folha de cálculo que havia criado na semana anterior. Eles deveriam formar um documento que iria ajudá-los a criar um orçamento para um projeto de construção, mas, embora suas fórmulas estivessem corretas, seus cabeçalhos deixavam muito a desejar. Ela havia se esquecido de pequenos materiais como chaves e suportes, ferramentas e pregos. Coisas que Chance teria se lembrado sem precisar pensar duas vezes. Chance. Seu coração perdeu uma batida. Ele a amava. As atitudes dele lhe disseram isso um milhão de vezes. Lágrimas encheram seus olhos e os números na folha ficaram completamente embaçados. 98


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) Ele havia lhe confiado as crianças, lhe dado atenção, respeitado, ouvido seus medos. Ele a levara para passear de moto para que ela perdesse o medo. E ela mal reconhecera qualquer uma das coisas que ele havia feito por ela. Ela o afastara. Tory engoliu em seco enquanto as lágrimas começavam a rolar por seu rosto. Ela se lembrou do primeiro beijo deles no jardim. Lembrou-se das compras de presentes no Natal para os bebês. Lembrou-se do café da manhã na cama. E as lágrimas caíam com mais intensidade. Tudo o que ele havia feito para amá-la sem machucar Jason a deixara maravilhada. Ela não havia notado isso na época, mas agora tudo voltava em ondas de memórias... Tory passou as mãos pelo rosto. Oh, Deus! O que ele deveria ter sentido quando ela simplesmente o ignorara no momento em que ele dissera que a amava. Ela amassou a folha de cálculo que estivera segurando, jogou-a no lixo e ergueuse da mesa. — Srta. Bingham! — exclamou a sra. Mulcahy. — Aonde você está indo? — Vou sair da classe. — Está doente? — Sim. — Isso não era uma mentira. Agora que seu luto tinha acalmado e ela estava se sentindo melhor, sabia que a forma com que havia lidado com Chance tinha sido errada. Ela precisava se acertar com ele. No mínimo, ela lhe devia desculpas.

Chance permaneceu em pé ao lado de uma tela com uma apresentação do PowerPoint para o quadro de diretores da Montgomery Construções e Empreendimentos, com Max sentado à cabeceira da mesa como presidente. — Em um projeto anunciado como o desenvolvimento da comunidade, nós não esperamos fazer lucro, mas vamos ganhar com os empreiteiros que empregamos. Seu celular tocou no bolso do paletó, mas ele ignorou e passou a discutir os prós e os contras de licitar uma reforma num local enorme que não iria lhes dar nenhum centavo. Ainda assim, era exatamente o tipo de projeto que eles estiveram procurando para usar como um retorno para a comunidade. O celular tocou novamente e, dessa vez, ele alcançou o aparelho e o desligou. — Você resolveu o projeto para... — começou Max. O telefone da sala de reunião começou a tocar. A voz da recepcionista foi ouvida no viva-voz: — Eu sinto muito, sr. Montgomery. Mas sua mãe está na linha um. Ela disse que é urgente. Max estendeu a mão para alcançar o telefone, mas Chance alcançou o aparelho primeiro. — Ela está a 500 metros das crianças. Algo deve ter acontecido com uma delas. — Ele arrancou o fone da base. — Mãe? 99


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) — Chance, querido, você precisa vir para casa. Chance sentiu o coração parar de bater. — Por quê? O que aconteceu? As crianças estão bem? — As crianças estão bem, mas eu preciso de você... — Mãe, estou no meio de uma reunião. — Chance, você já me ouviu implorar? — Não. — Então mexa o seu traseiro e venha para casa! Com isso, ela desligou o telefone. — O que está acontecendo? — Max quis saber. — Ela me mandou mexer o traseiro e ir para casa. Max recuou. — Então é melhor você ir. Ele tentou não quebrar nenhuma regra de velocidade enquanto corria pelas ruas da cidade e subia a colina para a parte nobre. Assim que ele alcançou a porta principal, a mãe a abriu, dizendo: — Vá para o estúdio. — Onde estão as crianças? — Estão na sua casa com Bridget — informou ela, referindo-se à nova babá. Ele franziu as sobrancelhas. — Então por que você me telefonou? Ela virou-se e o empurrou de leve. — Vá! Chance tropeçou levemente após a mãe tê-lo empurrado e depois voltou a atravessar o corredor esperando encontrar um presente. Sua mãe havia comprado móveis novos, ternos novos, um novo carro, tudo para que ele pudesse se estabelecer na cidade, mas ele sabia que ela estava tentando ajudá-lo a superar a perda de Tory. Não havia funcionado. O tempo tinha curado algumas feridas. Mas havia dias que ele ainda sentia falta dela. Com um suspiro, ele abriu a porta do estúdio. E avistou Tory. Chance sentiu o coração dar um solavanco dentro do peito. Em parte ele queria correr para ela. Por outro lado, sabia que ela poderia estar ali apenas para se desculpar por ter fugido dele e das crianças. — Olá. Ele avançou um passo e respondeu: — Olá. — Você parece bem. Chance sorriu. — Ternos italianos feitos à mão fazem qualquer homem parecer bem. 100


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) Tory soltou uma risada curta. — Certo. Você sabe que é atraente. Ele avançou mais um passo para o interior do estúdio. — Você também parece bem — Eu estou bem. De verdade. — Os olhos dela se tornaram embaçados. — Eu passei por um período de seis anos muito difícil. — Esses anos foram mais do que difíceis — observou ele, enquanto avançava mais um passo. — Eles foram trágicos. Algumas vezes me perguntei como você estava sobrevivendo. — Algumas vezes eu também me perguntava isso. A voz suave dela trouxe lágrimas aos olhos dele. Ele sempre sentira pena de si mesmo por causa da família, as mentiras do pai, mas, estando a apenas alguns metros de uma pessoa que havia realmente sofrido, ele soube que tinha vivido uma vida abençoada. — Mas você está bem agora. Ela sorriu. — Sim. — E, inspirando profundamente, continuou: — Estou tendo aulas na faculdade. — Que bom. Era isso o que você disse que queria.

Tory o observou entrar na sala lentamente, hesitantemente, e soube que ele não havia superado a dor que ela lhe causara ao deixá-lo. — Eu sinto muito. Ele sorriu. Uma onda de alívio a invadiu. Afinal, ela não havia deixado de assistir a aulas para aliviar sua própria consciência. Ela queria vê-lo para fazê-lo se sentir melhor. — Estou falando sério, Chance. Você foi muito bom comigo. Você foi a única pessoa que realmente entendeu o que eu estava passando. — Ela fitou-o diretamente nos olhos. — Eu agradeço por isso. Ninguém nem mesmo notou que eu estava à beira de um colapso nervoso. Meus pais queriam que eu arrumasse um emprego. Os pais de Jason me queriam no hospital, como se a minha presença provasse que ele ainda estava vivo. — Eu posso entender ambos. — Ainda assim, você foi o único que não me pressionou. Ele riu e desviou o olhar para o outro lado. — Eu lhe dei dois bebês para você cuidar. E em vez de estar por perto para ajudála, eu fui para a Montgomery Construções e Empreendimentos todos os dias, mesmo antes de Max persistir para que eu aceitasse o emprego. — Eu não me importei. — Ela esperou até que ele a encarasse novamente antes de prosseguir: — Amava os bebês. Amava cuidar deles. Eles me faziam sentir viva novamente. Ele sorriu e assentiu com um gesto de cabeça. Tory inspirou profundamente. 101


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) — Você também me fazia sentir viva. — Viva o bastante para se sentir culpada. — Era uma situação difícil. — E é por isso que eu aceito seu pedido de desculpas e entendo totalmente tudo o que você passou. Seus olhares ficaram aprisionados e finalmente ela reuniu coragem para dizer: — Eu amo você. Chance piscou por duas vezes. — Eu sempre amei você. — Com o coração batendo forte, ela não conseguiu parar: — Eu tentei tanto lutar contra isso. Eu tentei tanto dizer a mim mesma que eu estava sozinha e triste e que era por isso que você era tão tentador. Mas eu estava apenas me enganando. Eu o amo verdadeiramente. E você precisa saber disso. Chance engoliu em seco e recuou um passo. Finalmente, ele indagou: — Você me ama? Tory sustentou-lhe o olhar e respondeu com firmeza: — Sim. O silêncio no estúdio piorou a tensão que Tory sentia e ela se perguntou por que estava ali parada. O que estava esperando? Ele dizer que a amava? Ela havia arruinado isso. Ele tinha dito que a amava e ela o ignorara. Ele não seria tão tolo para continuar amando-a depois daquilo. Era hora de ir embora. Tory rumou para a porta. — Vou embora agora. Eu só queria que você soubesse que eu sinto muito. — Ela deu uma pausa e o encarou novamente. — E soubesse que eu o amei. — E, dizendo isso, ela avançou mais alguns passos e alcançou a porta. — Pare. Tory hesitou e depois se virou. Chance caminhou na direção dela e Tory sentiu a impaciência tomar conta do seu ser. Ela avançou alguns passos para se encontrar com ele no meio da sala. Quando estavam próximos o bastante, Chance tomou-lhe as mãos. — Eu a amo. Eu a amei desde que você me apresentou os andadores, colocou as crianças para dormir e me olhou como se eu fosse o homem mais bonito que você já tinha visto em sua vida. Tory riu, mas sentiu a garganta se fechar de emoção. O romance deles nunca tinha sido sobre corações e flores. Tinha sido sobre bebês e cafés da manhã, levantar de madrugada e uma atração que os deixava enlouquecidos. — Eu gosto do fato de você me fazer sentir normal. — Você não é normal. — Ele trouxe as mãos dela para mais perto de seu peito. — Você é linda, forte, sexy e encantadora. — Ele acariciou-lhe os braços. — E eu mal posso esperar para levá-la para a cama. Ela riu. — Isso não é romântico. 102


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) — Claro que sim. Chance a beijou e depois ela, finalmente, não teve que temer. Nenhuma culpa a invadiu. Tudo o que ela sentiu foi prazer... E alegria... E uma felicidade tão forte que ela achou que seu peito iria explodir de emoção. Quando eles finalmente se apartaram, ela agarrou-lhe a gravata. — Então, você acha que posso ter meu antigo quarto de volta? — Você quer ser minha babá? — Eu quero ser a mãe dos bebês. — Bem, isso significa que você terá que dormir com o pai dos bebês, e definitivamente não será empregada dele. — Ele puxou-lhe o corpo para mais perto. — Eu tenho uma ideia melhor. — Você tem? — Sim, eu acho que nós deveríamos namorar. Tory riu. — Namorar? — Você sabe, você e eu, filmes, pipoca. Um jantar de vez em quando. Finais de semana românticos na cama e cafés da manhã. — Ele mordiscou-lhe o pescoço. — Talvez uma viagem às Ilhas Virgens todo inverno. O toque dos lábios dele a fez estremecer. — Exatamente quanto tempo você acha que nós vamos namorar? — Para sempre. Tory acariciou-lhe os ombros. — Oh, não. Você está fazendo de mim uma mulher honesta. — Bem, eu estava pensando que nós poderíamos namorar depois de nos casarmos. — Então, o que faremos primeiro? Ele deslizou as mãos para a cintura dela. — Eu estava pensando em um chá gelado no pátio atrás da casa de campo. Talvez um filme hoje à noite. Chance abriu a porta e a levou até o salão, onde Gwen estava acenando com as mãos. — Pipoca. Um tempo com as crianças. E depois eu a levo para casa e a beijo no carro do lado de fora da casa dos seus pais. Tory riu.

— E então? — indagou Gwen. — Então, nós estamos felizes. Tory sorriu. — Sim, estamos felizes. 103


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) Gwen suspirou aliviada. — Oh, graças a Deus! Eu tenho uma equipe inteira de funcionários na cozinha e eles estavam preocupados. Se você iria sair chorando — disse ela, apontando para Tory. — Ou você iria sair furioso — acrescentou ela, apontando para Chance. E, unindo as mãos com alegria, ela rumou para a cozinha: — Vamos lá, pessoal. O intervalo acabou. De volta ao trabalho. Chance deu uma risada. — Você está pronta para isso? Quero dizer, minha vida não é fácil e Gwen é um pouco maluca... Tory ergueu o rosto e sorriu para ele. — Eu nunca estive mais pronta.

EPÍLOGO

Um ano e meio depois, Chance estava em frente ao altar, no final de um longo corredor, com Max ao seu lado. Trajando um vestido cor-de-rosa, Trisha já havia caminhado ao longo do corredor e permanecia em frente ao primeiro banco. Segurando um buquê enquanto tentava acalmar Cindy e Sam, Kate era a próxima. Ela usava a mesma cor e estilo do vestido de Trisha, assim como a pequenina Cindy, de 2 anos e 6 meses. E então a música parou, antes de o organista iniciar “Lá vem a noiva”. Chance sentiu o coração parar quando Tory e o pai apareceram na porta. Trajando um belíssimo vestido branco, ela e o pai começaram a caminhar pelo corredor. Os olhos de Chance estavam fixos em Tory. No ano anterior, ela havia terminado a faculdade e eles começaram a namorar. E amar um ao outro havia acontecido tão facilmente. E agora ali estava ela. Dele. Chance sentiu o peito se apertar com a alegria. Os olhos grandes e castanhos dela cintilaram enquanto ela se aproximava. Finalmente, Tory o alcançou e ele tomou a mão dela. Então, eles se viraram e encararam o altar, dizendo seus votos. Para amar e cuidar. Respeitar um ao outro. Até que a morte os separasse. Quando a cerimônia terminou, eles entraram na limusine e seguiram para a recepção. Quando alcançaram o country club, Chance ajudou Tory a descer do carro. 104


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) Ela sorriu para ele, inclinou-se contra o peito másculo e o beijou. — Eu amo você. — Eu também amo você. O fotógrafo apontou para um gazebo e começou a dar instruções para tirar mais fotografias. Kate, Trisha, Tory e até mesmo Cindy se apressaram para seguir as direções. Mas Chance se conteve. O fotógrafo queria primeiro tirar fotografias de Tory e das damas de honra. Contente, ele inclinou-se contra a limusine preta e ouviu os alegres passarinhos, enquanto assistia à noiva e à filha posando para fotografias... Contudo, algo abrupto e inesperado preencheu o ar. Era quase como se alguém estivesse conversando com ele. Chance percorreu o olhar ao redor. A paz e a privacidade do exclusivo country club o cercava. Ele começou a relaxar, mas a sensação retornou. Dessa vez mais forte. Chance dirigiu o olhar para Tory e subitamente percebeu o que o estava incomodando. Erguendo o rosto, ele fitou o céu azul. — Eu não sei onde você está. — Chance fez uma careta. — Parece que você está aqui. Ao meu lado. Mas eu não me importo. Você pode me acompanhar para sempre. — Ele inspirou profundamente. — Eu lhe devo. Não por morrer, mas por tê-la salvado. Ela acredita que você a salvou aquele dia do acidente da moto, e eu acredito nela. — Ele engoliu em seco. — Então, obrigado. A sensação inesperada se intensificou. Ele dirigiu o olhar para Tory novamente, posando com Cindy e Sam. Chance fitou o céu novamente. — Eu a adoro. Se você está esperando para que eu diga que vou cuidar dela, estou dizendo isso agora. Eu vou cuidar muito bem dela. Uma brisa soprou em seu rosto. Tão rápida quanto surgiu, desapareceu. E a sensação de que Jason estava ali sumiu. Alguém lhe cutucou no ombro. Ele se virou e encontrou Tory. — Ei! Fotografias, lembra-se? Incapaz de resistir, ele puxou-a contra o seu corpo e a beijou, demoradamente e profundamente como se ele nunca mais fosse ter a chance de beijá-la novamente. — Para que você fez isso? — Uma promessa. — Outra? Nós não fizemos o bastante no altar? — Sim. Mas essa é especial. — Ele acariciou-lhe o rosto. — Eu vou cuidar muito bem de você. Tory sorriu. — Eu sei. — O sorriso dela se ampliou. — Eu sempre soube. 105


Susan Meier - Volta da Esperança (Special 78) — Eu também. Chance se afastou da limusine. Tory estendeu uma das mãos e ele a tomou... Pretendendo cumprir cada promessa que havia feito.

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Próximo Lançamento

CELEBRAÇÃO DO AMOR NICOLA MARSH

— Se você mencionar casamentos, enfeites ou Natal mais uma vez eu vou fazê-lo engolir essa enceradeira. Archer Flett agitou sua enceradeira de pranchas para o irmão mais novo, Travis, que exibiu um largo sorriso e apanhou a enceradeira da mão dele. — Pode resistir o quanto quiser, irmão, você está lutando por uma batalha perdida. — Trav forçou um sorriso e friccionou a enceradeira em sua estimada prancha. Quando se tratava da família sempre parecia que Archer estava lutando por uma batalha perdida. Apesar de fazer progressos com os irmãos Tom e Trav, nada havia mudado com seus pais ao longo dos anos... Seu pai em particular. Era por isso que voltar para casa para o obrigatório Natal o deixava irritado. Ele raramente permanecia em casa por mais do que alguns dias. Neste ano não haveria exceção, apesar de Travis ter se transformado em um babaca romântico. — O que você está pensando? — Archer afundou a prancha na vertical na areia e inclinou-se sobre ela. — Um casamento no Natal? Você pode pensar em algo mais barato? Os olhos do irmão cintilaram e Archer começou a procurar mais besteiras envolvendo a noiva dele. — Shelly queria ser uma noiva no Natal e nós não vemos sentido em esperar. Archer pressionou o polegar no meio da testa do irmão, empurrando-o levemente. — Você já está dominado por ela. Sabe disso, certo? — Estamos apaixonados. Como se isso justificasse o comportamento débil do irmão. Os Fletts eram a terceira geração de habitantes da Torquay, então ele podia apenas imaginar a festa que os pais iriam dar para o casamento. A cidade inteira iria aparecer. Natal e casamento em casa. Uma combinação garantida para fazê-lo escapar assim que o bolo fosse cortado. — Você é muito jovem para se casar — observou Archer. Ele havia despendido a maior parte dos últimos oito anos longe de casa e nesse tempo Travis havia passado de um menino desengonçado para um homem magro e elegante. Archer não ficou surpreso com o fato de o irmão estar se casando com 22 anos.


Trav era um banana, e mesmo que Shelly parecesse uma boa garota, ele não podia imaginar nada pior do que estar algemado a uma pessoa ainda tão jovem. Aos 22 anos ele estivera viajando o mundo, surfando, namorando de forma intensa e tentando esquecer a decepção dos pais. Uma lembrança que ele havia suprimido há tanto tempo voltou em seu subconsciente. A costa sul da Itália. Capri. Longas noites quentes cheias de risos, paixão e calor com Callie. — Então, quem você irá trazer para o casamento? — Travis enrugou o nariz. — Outra daquelas mulheres elegantes da cidade que você sempre traz para casa no Natal? Archer escolhia esses encontros por uma razão: mulheres que exigissem toda a sua atenção para que ele não tivesse tempo de sobra para despender sozinho com os pais. Ele havia feito da fuga uma arte, assegurando que não dissesse coisas que pudesse se arrepender depois. Como o porquê de eles não terem confiado nele para se reunir todos esses anos atrás. Ele não era o surfista distraído que eles haviam assumido que fosse e havia provado isso nesta viagem. Archer esperava que a escola de surf que havia desenvolvido pudesse mostrar a eles o tipo de homem que ele era... O tipo de homem que ele queria ser.


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