ARQUITETURA BRASILEIRA
ÍNDICE
marco artigas
1. Introdução - 4 2. Conceito - 8 3. Roteiro - 24 pós graduação arquitetura educação e sociedade
4. Bibliografia - 28
1. INTRODUÇÃO
O trabalho apresentado nas próximas páginas é o resultado do Curso Livre Arquitetura
Paulistana - experiência iniciada no segundo semestre de 2013 e que continua até hoje.
Ao perceber o alcance que tivemos ao longo desses anos, a maior ambição que tenho com esse trabalho é criar uma rede da produção arquitetônica brasileira utilizando a estrutura do curso livre como o fornecedor de conteúdo.
O curso livre Arquitetura Paulistana é baseado em vivencias nas obras de arquitetura
contemporânea na cidade de São Paulo. As visitas com os estudantes sempre acontecem na companhia dos arquitetos que desenvolveram o projeto (acompanhados ou não pelos seus profissionais parceiros).
A ideia do curso surgiu enquanto lecionava como professor assistente na disciplina de projeto para o primeiro ano na Escola da Cidade.
Conversando com os estudantes, muitos deles tinham dificuldade em visualizar os
espaços que estavam desenhando. Apesar de estarem sempre rodeados de arquitetura
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e urbanismo, o que faltava para eles era começar a enxergar as qualidades dos espaços
revistas especializadas, que nos ajudaram com a divulgação de forma espontânea. Nos
buscar alguma forma de contribuir para o crescimento desses estudantes.
com o apoio da equipe de audiovisual da própria Escola da Cidade e disponibilizamos a
bem projetados e transpor este olhar para o papel. E movido por esta observação fui
últimos três módulos do Arquitetura Paulistana começamos a produzir conteúdo em vídeo, captação na página do facebook.
Durante minha passagem pela Escola da Cidade (me formei na primeira turma da
faculdade) tive a possibilidade de participar da Escola Itinerante, programa de viagens
Na última edição do curso criamos um canal no youtube, onde esses vídeos podem ser
todas as outras, já que podíamos conhecer in loco tudo aquilo que nos era apresentado
universidades como conteúdo pedagógico.
para as cidades com arquitetura representativa no Brasil. Essa disciplina complementava
vistos e compartilhados. Alguns dos vídeos foram apresentados por professores em outras
na sala de aula. Considero o aprendizado mais rico durante os cinco anos da graduação.
Acredito que o modelo do curso Arquitetura Paulistana é uma oportunidade de colaborar
Foi um treinamento para o olhar, para as sensações, para a memória, no qual pude somar
com o ensino da arquitetura de uma forma mais livre e extrapolar o espaço da sala de
um pouco de poesia aos projetos que fiz dali em diante. Despertou meu interesse em
aula.
continuar as viagens de maneira independente.
Contudo, a Escola Itinerante viajava pelo país inteiro e pouco nos apresentava da
nossa própria cidade. Esta lacuna me motivou a organizar as visitas do Arquitetura
Paulistana. Assim, logo que deixei a disciplina de projeto organizei um programa do curso e apresentei para a diretoria da Escola da Cidade que ofereceu um apoio institucional decisivo.
O curso foi se estruturando aos poucos e até hoje sofre alterações, sempre na tentativa de atualizar conforme as novas demandas e tecnologias. O público alvo eram os estudantes
da Escola, porém, acabou atraindo estudantes de outras faculdades e o público em geral. Começamos com o caderno de aula cujo conteúdo era fornecido pelos arquitetos
convidados (anexo a esse trabalho) e com uma página oficial do curso no facebook, onde divulgávamos o local. Compartilhávamos o conteúdo que seria apresentado pelo convidado e as fotos das visitas. A página do facebook além de facilitar a
divulgação, inesperadamente supriu uma demanda de curiosidade público e hoje soma mais de 3500 seguidores. O perfil na rede social instagram e a marcação (hashtag)
#arquiteturapaulistana também se mostrou uma ferramenta eficiente para monitorar a participação dos estudantes por meio de suas fotos. Mantivemos relações com sites e
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2. CONCEITO
O depoimento do arquiteto Louis Kahn mostra a importância da vivência dos espaços
construídos, do lugar – da arquitetura e da cidade, portanto - para o desenvolvimento de um determinado projeto. No caso, o projeto pensado pelo norte-americano era o Consulado dos EUA em Luanda.
O edifício desenhado por Kahn, embora não construído, foi pautado na experiência do
arquiteto dentro dos espaços que visitou na capital de Angola. Esse é apenas um exemplo dos incontáveis presentes na história da arquitetura, desde que esta é reconhecida como profissão ou mesmo muito antes disso.
Podemos voltar para as construções indígenas, para as pirâmides do Egito, às
construções Maias ou até mesmo aos habitantes das extremidades do planeta e perceber o quão importante é saber e conhecer o local onde será erigida determinada arquitetura. Todos esses lugares e construções citados refletem um conhecimento intrínseco da
população sobre o território, o clima, os ventos e muitas outras condicionantes que trazem a poesia e a identidade de cada obra.
Levando em conta que essas condições às quais esses projetos foram realizados já estão na maioria das vezes camufladas, dado que grande parte da vida no planeta é urbana, é preciso entender: o que mudou, quais as novas condições que apareceram para nos
“Uma das coisas que me impressionou demais durante minha estadia em Luanda foi o
desafiar e utilizar nossas origens e transformar tudo isso em um desenho capaz de nos
resplendor marcado na atmosfera... se você estivesse no interior de qualquer prédio, olhar
dizer alguma coisa a mais do que uma simples construção nos diria sem o conhecimento
para uma janela era insuportável por causa do brilho. As paredes escuras que emolduravam
do arquiteto.
a luz brilhante de fora faziam você se sentir muito desconfortável. A tendência era olhar para
Levando em conta essa linha de pensamento como o fio condutor deste trabalho,
longe da janela. Outra coisa que me impressionou foi a importância da brisa... a importância
a proposta que será apresentada nas próximas páginas tem a intenção de criar um
da brisa ao levar para longe o ar quente que se acumulava em volta do prédio. E eu pensava
modelo de experiência sensível e teórica do espaço arquitetônico por meio do curso livre
se não seria bom que alguém pudesse expressar... encontrar uma expressão arquitetônica
Arquitetura Paulistana, organizado em uma rede de instituições de ensino para todo o
para os problemas do brilho sem adicionar artifícios a uma janela... mas, preferivelmente,
território nacional em uma primeira etapa e futuramente em alcance mundial.
desenvolver uma arquitetura aconchegante... que de alguma forma contasse a história dos problemas da luminosidade.” Louis Kahn: Forma e Design (1961)
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Quanto à forma do curso, intitulado livre, temos as razões para seguir tal modelo.
Poucos trabalhos, em qualquer área do conhecimento, são realizados de maneira
e o público geral (“não-arquitetos”) é uma grande oportunidade de começar a mudar o
independente, sem o auxílio de outros profissionais. A arquitetura, podemos dizer, que
cenário. Esta convivência pode e precisa ser construída. A integração planejada educa
seja uma das mais abrangentes.
as duas partes, ou as 3 considerando também o professor. A sala de aula convencional
não promove a interação orgânica. Se voltarmos os olhos para algumas experiências na
O arquiteto, por natureza, trabalha com o engenheiros, sociólogos, antropólogos,
educação, ou nos sistemas pedagógicos ditos alternativos, não cansaremos de escutar
educadores, biólogos, entre muitos outros profissionais. As suas atribuições são inúmeras
sobre a convivência, a prática, a experimentação.
e o seu traço generalista faz com que seja o organizador de um pensamento fragmentado entre as diversas funções de um projeto.
Se pegarmos, por exemplo, a Escola Peripatética, fundada na Grécia Antiga por
Aristóteles. Ela é um grande exemplo do empirismo, de aprender filosofia com o que nos
Dentre todos esse intelectuais, o arquiteto trabalha acima de tudo para um em especial:
rodeia, caminhando sobre o pátio da escola, aprendendo sob a copa de uma árvore. Foi
a população. É imprescindível que o arquiteto conheça e dialogue com o grande público.
uma escola filosófica que deu origem a diversos modelos pedagógicos que conhecemos
É fundamental que ele não seja autorreferente. O mais importante de tudo é que a
nos dias de hoje.
população entenda o seu trabalho, as suas atribuições e deseje um arquiteto para projetar os seus sonhos. Construa uma opinião crítica e seja capaz de cobrar e opinar assim como
Essas experiências já vividas e que trouxeram resultados consideráveis para nossa cultura
faz com um livro, com uma peça de teatro ou com um filme de cinema.
e educação servem de base para a estruturação do roteiro que será apresentado. Elas confirmam a experiência de Louis Kahn em Angola e permitem que o público do curso
A cultura da arquitetura no Brasil sempre foi forte, embora pouco abrangente. Nos tempos
possa desfrutar e aprender de uma forma empírica a arquitetura e como contribuir para
de hoje percebemos que o planejamento, como um instrumento cultural de construção
melhorar o local onde vive.
do país, está ainda muito aquém do patamar que deveria estar. Isso se deve à pouca divulgação do trabalho do arquiteto.
Falamos do público em geral e, embora a sua presença não seja o objetivo primordial do
curso, os arquitetos e estudantes são os que poderão transformar essas vivências em algo material.
Da pouca participação da profissão no boca a boca, nas rodas de conversa. Em poucas
A organização do curso de arquitetura normalmente está estruturado em aulas de projeto
cidades do país percebemos iniciativas políticas que contemplem a arquitetura e o
(arquitetônico, urbanístico, paisagístico, entre outros), história, desenho e tecnologia.
planejamento em geral, mesmo em outras profissões. Somos da cultura do paliativo. Não
Essas disciplinas são ensinadas dentro de uma universidade, dentro de uma sala de aula.
evitamos que os problemas aconteçam, nós resolvemos os problemas. Podemos dizer
ironicamente que somos curiosos, queremos vislumbrar o pior em vez de evitar que ele
Para algumas das disciplinas o empirismo não é uma atividade imprescindível. Quando
aconteça.
aprendemos história da arquitetura ou das cidades, os diversos livros, ensaios e teses
podem nos ajudar a construir uma imagem daquilo que estamos aprendendo, ainda que a
Dentro das diversas maneiras que podemos transformar esse terrível hábito, a educação é
vivencia seja complementar a esse conhecimento.
a que nos oferece a melhor base. Enfrentar o problema na raiz.
Nesse sentido, organizar um curso que reúne o arquiteto, os estudantes de arquitetura
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Quando lemos um projeto de arquitetura, urbanismo, seja ele qual for, muito da poesia,
mundial. Mas essas obras já são referencias, já são estudadas há anos e ao voltar os
do conceito, das sensações, das decisões, não são palpáveis, justamente por serem
olhos apenas a essa produção acabamos por dar as costas para a enorme produção atual
imateriais.
da arquitetura.
As aulas expositivas de projeto são feitas de maneira descritiva, narrativa e dependem
De forma alguma devemos deixar de estudar arquitetura moderna, eclética, art-déco, pelo
muito da sedução do professor para que haja uma imersão coletiva dentro do espaço que
contrário, esses momentos da história da arquitetura são fundamentais para entender a
está sendo mostrado em uma planta ou uma foto. Esse modelo de aprendizado de projeto
produção contemporânea. No entanto temos que nos tornar críticos e viver nosso tempo.
é importante para projetos icônicos ou de difícil acesso. Apesar de podermos questionar a
Entender o que está sendo feito, se está sendo construída uma linguagem brasileira, se
necessidade de aprendizagem em sala desses projetos, vamos considerar que ainda são
estamos copiando estilos internacionais, se existe a necessidade de uma arquitetura
importantes para a construção do repertório do estudante. Por isso o depoimento de Louis
brasileira, ou seja, muitas questões são formuladas quando vivemos o presente.
Kahn é importante para entendermos esse contexto.
Com o público sugerido, os objetivos propostos, chegamos no momento de decidir o que
Podemos nos perguntar então... Como faz um estudante para desenvolver um projeto
queremos vivenciar. Optamos, portanto, olhar a nossa produção contemporânea, mas não
sem ter vivenciado muitos dos projetos que estudou durante a faculdade? Podemos
apenas pelas razões acima, mas por uma oportunidade que, talvez, seja a principal.
justificar por meio da imaginação e das experiências de vida, não necessariamente em
obras de arquitetura. Essas duas são fundamentais para o processo criativo. No entanto
A obra contemporânea está sendo feita. Sai dos computadores pra as obras e está
podem ser complementadas com o conhecimento empírico de edifícios que tenham valor
fresca na cabeça de quem criou. Quem a criou está ativo, está disposto a apresenta-
arquitetônico. Seria uma formação mais completa e que daria mais ferramentas para o
la, a explora-la. Por isso vivemos o presente, para poder aproveitar a oportunidade de
desenvolvimento do projeto.
perguntar pessoalmente para esses artistas (aqui chamo os arquitetos de artistas para não termos dúvidas) os porquês de tudo isso. Perguntar se de fato existe um porquê
Como proposta para todos esses temas tratados anteriormente, vamos tirar os estudantes
de tudo aquilo ou se só é uma construção sem poesia, sem sensações. Temos essa
e os arquitetos de dentro da sala de aula e de dentro dos seus estúdios ou escritórios,
oportunidade.
respectivamente. Vamos ampliar o conhecimento das sensações, da poesia, da convivência e transformar a maneira de pensar os nossos espaços.
Os convidados podem ser, além dos arquitetos, outros profissionais que participaram do projeto, como engenheiros calculistas, proprietários das obras vivenciadas, paisagistas,
Uma vez que isso acontece a qualidade dos espaços irão melhorar, uma vez que os
incorporadores, entre outros.
arquitetos estarão com mais referencias e o público geral com uma visão mais crítica e mais exigente dos edifícios e da cidade.
Caso haja uma visita que excepcionalmente aborde um outro momento da arquitetura, é importante que o convidado seja um estudioso do tema, que tenha realizado alguma
O que poderia ser questionado dentro dessa teoria é o acesso às obras e quais obras
dissertação sobre a obra e sobre o autor ou que tenha trabalhado ou convivido durante os
seriam vivenciadas.
anos de realização.
Nós temos uma produção arquitetônica no território brasileiro significativa, principalmente as desenvolvidas nas décadas de 40, 50 e 60, época áurea da arquitetura brasileira e
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As obras escolhidas são indiferentes quanto a uso, escala, localização ou qualquer outra
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FAUUSP (1961-69) - Vilanova Artigas - foto: Raul Garcez
definição que possa resultar em pouca especulação teórica por parte do público. Se
considerarmos a arquitetura indispensável para qualquer tipo de situação, não podemos escolher explorar apenas uma determinada característica.
Falamos acima que, independente do projeto, todos eles devem ter algo a dizer. No
documentário sobre o arquiteto Vilanova Artigas, o homenageado nos fala com mais ênfase sobre essa teoria:
“Quem mandar fazer o seu prédio, quem erige o tectônico do existir embaixo do espaço
coberto, assume com a sociedade a responsabilidade ou a predenta, ou a tarefa de quem
construir, não o faça de tal forma, como diria Wright que isso fora simplesmente uma mera construção, mas que pudesse resultir em uma forma que vibrasse e que cantasse ‘sous la lùmiere’, como queria o nosso patriarca Le Corbusier”.
(Vilanova Artigas: o arquiteto e a luz. Direção Laura Artigas e Pedro Gorsky, 2015).
Portanto, a pluralidade das obras é um ponto que devemos nos debruçar. Todos se
interessam em conhecer lugares diversificados e isso proporciona comparações que não são diretas. Uma praça pública, por exemplo, ela pode gerar sensações que nos
remetam a edifícios. A biblioteca Brasiliana, projeto do arquiteto Eduardo de Almeida em parceria com Rodrigo Loeb. A praça coberta criada entre o acervo e as salas de estudo e
administração, formam junto com o auditório, um espaço público muito utilizado e graças às boas soluções de conforto ambiental, as sensações são tão agradáveis quanto uma praça de bairro, embora sem uma arborização densa.
Essa pequena descrição define o que pensamos como escolha de obra. A curadoria, assim como a arquitetura deve ser crítica, mas sem levar em conta apenas relações pessoais. Hoje em dia, cada vez mais existem núcleos de identificação, proporcionando poucas
trocas e pouca crítica. É um lugar confortável para se estar, onde erramos e não somos
questionados, onde acertamos e não somos invejados, onde as relações são basicamente de proteção.
Se a curadoria bater de frente com essas condições e estiver apta a lidar com
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Biblioteca Brasiliana (1999-2013) - foto: Nelson Kon
convidado ou montado pela organização. O caderno é composto por conteúdo básico, tal
comportamentos diferentes, a riqueza do aprendizado será indiscutível (ou, ironicamente,
como ficha técnica, desenhos, fotos, texto explicativo, croquis, modelos eletrônicos, fotos
discutível).
de modelos físicos entre outros.
A localização aqui é um ponto importante, apesar de não ser seletiva. Ela traz também
Esse caderno, como foi dito, será entregue antes, em formato pdf e distribuído na versão
a citada riqueza do curso. O acesso às obras faz parte do aprendizado. O projeto está
impressa no dia da visita. É um material pequeno, porém proporciona um envolvimento
inserido na cidade, em um bairro, em um terreno, cada um com sua característica
grande do participante, com a possibilidade fazer anotações, desenhar, registrar da
diferente. Como chegamos a essa obra nos faz aproximar do pensamento do arquiteto
maneira que for mais conveniente para cada um.
que o desenvolveu, ou ao menos poder questionar as decisões.
O registro pessoal é uma coisa. O registro de cada visita, por parte da organização é
A ida em transporte público, bicicleta ou mesmo caminhando, são opções para entender,
outra. Podemos dizer que os dois tem o mesmo valor, com a diferença que o segundo
inclusive, o funcionamento da estrutura de transporte da cidade, as dificuldades ou
é uma forma de democratizar esse conhecimento com os que não puderam participar
facilidades da intermodalidade e conhecer o deslocamento diário do usuário da obra.
e além disso formar um acervo da arquitetura brasileira, com possibilidade de
Esse deslocamento, dado que o curso pretende ser de fácil acesso financeiro a todos
desdobramentos em forma de outros materiais, tais como livros, artigos de revistas
os participantes, é feito de maneira independente, dando a liberdade a cada um de se
ou até mesmo o intercâmbio entre o público das diversas cidades onde o curso estará
locomover da maneira que quiser e criar diversas impressões para o debate no local.
acontecendo.
As visitas acontecerão quinzenalmente e sempre aos sábados que é o período que
Existem muitas maneiras de fazer esse registro. O que consideramos ser uma maneira de
consideramos ideal pra o andamento do curso. Não existe a necessidade do curso ser
fácil compreensão e divulgação, é a fotografia e o vídeo.
concentrado. Ele pode ser dividido em módulos, com no máximo 8 visitas por semestre,
As fotos contemplam o contato visual do espectador, gera o interesse imediato, incita a
dependendo da quantidade de produção arquitetônica de cada cidade. Acontece aos
imaginação, enquanto o vídeo é uma forma mais direta de convencimento, de registrar
sábados pela manhã pois é um horário onde os estudantes e os convidados conseguem
as expressões, as perguntas, de mostrar as reações e os trejeitos do convidado. Podemos
participar sem interferir na vida prática.
considerar que o vídeo aproxima e cria uma intimidade entre o convidado e o espectador.
Para preparar o participante, é interessante deixar de lado algumas práticas comuns em
Apesar de ser mais complexo, o trabalho com o vídeo é o que irá ampliar e conectar as
muitos cursos, como por exemplo “esconder” o conteúdo da vivencia. Essa atitude reduz
instituições, os organizadores, em uma rede de conhecimento. É necessário um roteiro
as possibilidades de interação por parte dos participantes. Ao contrário do que acontece
básico para cada visita, talvez com perguntas e considerações pré determinadas,
quando se omite esse conhecimento prévio, a ciência do conteúdo gera o debate, que
proporcionando uma possível comparação entre os convidados e uma escolha, por parte
consideramos uma forma mais colaborativa e dinâmica da aprendizagem. O que vale na
do participante, de uma linha de arquitetura, de uma forma de pensar arquitetura, de se
vivencia não é o que já se sabe e que será apenas escutado pela voz do convidado, mas a
expressar.
possibilidade de somar novas histórias, curiosidades e dúvidas.
O material do curso, no caso, é um caderno da visita, com conteúdo fornecido pelo
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Tanto o vídeo como as fotos não necessitam de um equipamento sofisticado para poder
criar o conteúdo. Hoje em dia temos equipamentos de fotografia capazes de gravar vídeos
desdobramento do curso.
em alta definição e assim estabelecer um critério de qualidade entre todas as instituições
Todo esse conteúdo tem que chegar ao alcance de um número ilimitado de pessoas. A
que resolverem organizar o curso.
maneira atual que temos para conseguir essa abrangência são as redes sociais.
A divulgação desse material digital é um dos pontos fortes do curso. O conteúdo, qualquer
Essas redes, quando bem utilizadas, nos servem para diversas funções. A principal delas é
que seja ele, não deve virar um acervo acessado por poucos, pelo contrário. Quanto mais
a divulgação. Levando em conta que estamos tratando de democratizar o conhecimento, o
gente tiver acesso, mais podemos nivelar por cima a qualidade do aprendizado.
alcance prévio, a ciência da existência do curso e sua repercussão deve chegar ao grande
Atualmente percebemos que a propriedade do conhecimento já extrapolou as barreiras
público.
físicas. Os cursos de graduação já estão nas mãos de todos e de maneira gratuita.
Feita a divulgação e criado o vínculo com os usuários, a rede social ainda nos permite a
Podemos citar aqui a Universidade de Delft na Holanda e Harvard e MIT nos Estados
participação pré e pós visita, a colaboração de pessoas que não podem participar mas
Unidos que criaram o OpenCourseWare onde todo o conteúdo do curso de arquitetura
têm algo a acrescentar, entre outras formas de interação virtual.
está disponível nas páginas da internet de maneira gratuita, sem as avaliações,
As fotos e os vídeos citados anteriormente são divulgadas para o público acompanhar
participações de aula e sem o título de formação.
a repercussão dos cursos que estejam acontecendo simultaneamente. As instituições
Essa iniciativa gera uma produção de conteúdo contínua, democrática e proporciona
que estarão funcionando em rede, acabam compartilhando o mesmo espaço (a mesma
a criação de uma rede ainda maior de conhecimento. É inclusive uma crítica a toda
rede social) e assim todo o conteúdo – inicialmente nacional – poderá ser visto por todos
produção acadêmica que normalmente fica estacionada dentro das bibliotecas em forma
e assim como proposto, comentados e debatidos. É uma página oficial de conteúdo de
de monografias e sem acesso ao público de outras localidades.
vivencia da arquitetura brasileira.
No Brasil temos uma cultura acadêmica pouco democrática, principalmente nas
Hoje em dia contamos com diversas modalidades de rede social. Temos que levar em
universidades mais tradicionais. Quando um curso como esse que é proposto, com
consideração o conteúdo produzido e vincula-lo com a melhor rede disponível, lembrando
caráter livre, sugere seguir um caminho semelhante ao dessas universidades conhecidas
que temos a página oficial e todas as outras redes sociais devem alimentar essa página.
mundialmente e cria uma inquietação dentro da própria educação brasileira. Vem ao caso
Falamos muito do apoio institucional para o curso e alguns motivos nos fazem entender a
dizer que não é uma iniciativa isolada nem inovadora. É a sequencia de um modelo que
importância de uma estrutura como essa.
já foi experimentado em vem se tornando cada dia mais frequente dentro da educação
Poderíamos propor a organização através de um indivíduo. Não temos dúvida que poderia
mundial.
funcionar. No entanto, quando existe uma organização já estruturada, com infraestrutura
Seguindo essa linha de pensamento, podemos sugerir que o curso, dependendo da
básica de operação evitamos começar despreparados.
estrutura de cada instituição pode gerar novas alternativas de propagação. O streaming,
Um instituição de ensino pode ajudar a promover o curso com o auxílio de secretariado,
por exemplo, uma técnica de transmissão ao vivo do conteúdo, presente em muitas
com a organização das inscrições, geração dos boletos de pagamento, impressão dos
palestras, eventos e workshops, pode ser uma opção de veículo de comunicação.
Podemos citar outras formas, mas a base dada mostra as inúmeras possibilidades de
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certificados de participação e com a assessoria de imprensa
tornam o ambiente mais favorável ao aprendizado.
Complementar a essas funções, a instituição normalmente conta com programas de
convênio com outras instituições, o que facilita a formação da rede que pretendemos com
O último traço do organizador segue mais um viés político da profissão. Estar em dia com
o curso. Estas podem ser de cunho educacional (universidades) ou de representação de
os acontecimentos que interferem no dia a dia da arquitetura, das cidades é uma forma
classe (Conselhos de Arquitetura e Urbanismo, Instituto dos Arquitetos, etc).
de fortalecer o discurso do organizador. O arquiteto lida, no dia a dia, com situações
que requerem uma postura política, independente se o projeto terá um caráter público,
Para costurar todos esses pontos apresentados anteriormente, a figura do organizador
privado, independente da escala e do seu uso. Saber convencer o cliente que a ideia
é fundamental. É ele que vai apresentar essa proposta para a instituição e coordenar o
apresentada é boa e soluciona as demandas apresentadas faz parte dessa postura.
conjunto de ações que o curso precisa para ser realizado.
Resumindo, portanto, o organizador ou coordenador do curso é uma figura capaz de
A postura desse maestro do curso é crítica. A participação na vida prática, o vínculo com
sintetizar todo seu conhecimento e transformar a vivencia em um debate. A figura desta
o meio acadêmico e o envolvimento prévio com as instituições constroem um perfil que irá
pessoa é a de um mediador, que irá ditar o ritmo da conversa entre os convidados e os
qualificar o curso.
participantes.
A vida prática gera questionamentos processuais. O lado criativo é o momento de mais
Lembrando que contamos com a presença de um público geral e a sua importância para
curiosidade em relação ao público. É importante saber qual foi o pensamento do arquiteto
alcançar os objetivos propostos pelo curso, a linguagem utilizada pelo organizador deve
em relação ao início do projeto. O organizador, tendo essa ciência da vida prática, é capaz
ser cautelosa. Em toda profissão, quando há a utilização de uma linguagem técnica em
de tirar maior informação do convidado, trocar experiências e envolver o público dentro de
excesso, o conteúdo pode ficar desinteressante ao espectador. É um desafio por parte de
um diálogo consistente.
quem está esta apresentando ou relatando um processo alcançar um equilíbrio no uso de
O conhecimento técnico também fortalece esse diálogo. Entender as características de
expressões específicas da profissão.
cada material utilizado, os porquês da utilização do sistema construtivo, as qualidades
Podemos resumir toda a fala de forma mais objetiva dizendo que a estrutura proposta
de conforto ambiental, além de poder trazer questões sobre sustentabilidade, urbanismo,
é de um curso livre de vivência em obras de arquitetura contemporânea, sempre com a
entre outras variadas escolhas que cada obra de arquitetura pode ter.
presença dos autores dos projetos e em diferentes locais das cidades e diferentes cidades
Essa formação só é possível com a prática profissional. Mas dentro do modelo de um
do país (em um primeiro momento), com a distribuição de material específico, divulgação
curso como esse, a experiência acadêmica é de grande importância.
e registro de cada vivencia em uma rede social colaborativa e participativa.
Existem técnicas e métodos de ensino que ajudam a organizar o pensamento e a construir
Com essa estrutura preparada e aberta a sugestões por parte de cada organizador e
um debate consistente. Claro que depende do entusiasmo do professor e da vontade
instituição que esteja interessada em participar, podemos colaborar com o ensino e o
que ele tem em ensinar, mas ambas características aliadas proporcionam melhores
divulgação da profissão e principalmente acabar com os rótulos que são dados para
resultados.
o entendimento da arquitetura produzida no país de maneira local e criação de uma
Saber lidar com o público, provocar a participação, gerar conteúdo para dar suporte ao momento de apresentação. Esses macetes, quando se tem a experiência acadêmica,
identidade nacional da produção arquitetônica brasileira. 22
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6. OBJETIVOS
3. ROTEIRO
- Criar uma rede colaborativa da produção arquitetônica contemporânea brasileira, organizada em uma página oficial nas redes sociais;
- Ampliar o repertório dos estudantes de arquitetura, arquitetos e do público em geral; - Criar um público exigente em relação aos espaços das nossas cidades, independente da escala desses espaços;
- Formar uma postura crítica quanto a produção arquitetônica contemporânea brasileira; - Debater o ensino da arquitetura dentro das universidades - Criar uma unidade que podemos chamar de Arquitetura Brasileira; 7. MATERIAL
1. O QUE É?
- caderno físico de aula que poderá ser compartilhado nas redes sociais dias antes das visitas.
Curso livre de vivencia dos espaços arquitetônicos contemporâneos na companhia do autor do projeto e do organizador em diversas cidades do paìs com possibilidade de amplia-
- o conteúdo do caderno deve sempre ser composto pelas seguintes informações:
ção para todo o território mundial. 2. ONDE?
As visitas acontecem em obras contemporâneas representativas com localização esco-
ficha técnica do projeto;
texto explicativo; desenhos necessários para compreensão do projeto;
lhida pelo organizador. A escolha das obras variam quanto ao uso, a escala e o perfil do convidado.
fotos (de capa e interna);
3. ACESSO ÀS OBRAS
croquis;
Realizado de forma independente por cada estudante inscrito e de preferencia utilizando por meio de transporte público, bicicleta ou caminhada.
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créditos do material fornecido ou desenvolvido;
8. DIVULGAÇÃO E REDES SOCIAIS - assessoria de imprensa: revistas especializadas, jornais e páginas da internet; - cartaz oficial; - facebook; - instagram: de preferencia com o uso de # (hashtag) específica com o título do curso; - youtube. 4. PERÍODO O curso é semestral e as visitas acontecem quinzenalmente, sempre aos sábados pela manhã.
5. PÚBLICO Livre. 9. REGISTRO - Video: conteúdo integral da visita, editado e preferencialmente alternado com imagens
dos espaços e câmera em movimento para aproximar o espectador da vivencia do projeto. equipamento necessário: câmera com resolução de alta qualidade, microfone de lapela e computador com programa para edição do vídeo.
- Fotos: as fotos tiradas durante a visita deverão ter focos determinados, como o registro do espaço e o registro dos participantes e do(s) convidado(s).
equipamento necessário: câmera fotográfica com boa resolução e computador com programa para tratamento das imagens.
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3. BIBLIOGRAFIA
- Kahn, Louis, 1901-1974. Forma e design / Louis Kahn ; tradução Raquel Peev. – São Paulo : Martins Martins Fontes, 2010. – (Coleção Todas as Artes)
- Moneo, Rafael. Inquietação teórica e estratégia projetual: na obra de oito arquitetos contemporâneos ; tradução Flávio Coddou – São Paulo : Cosac Naify, 2008
- Freyre, Gilberto, 1900-1987. Mucambos do Nordeste – Rio de Janeiro : Ministério da Educação e Saúde
- Hatoum, Milton. A Cidade Ilhada – Brasil : Companhia das Letras, 2009
- Couto, Mia. Mulheres de Cinzas. Volume 1. As areias do imperador - Brasil: Companhia das Letras, 2015
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março de 2016 www.marcoartigas.com artigasforti@gmail.com t.+55 11 25747285 www.facebook/arquiteturapaulistana instagram: @arquiteturapaulistana