Jornal da UFRN - Maio de 2013 - Ano XV nº 61

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ano XV | nº 61 | maio de 2013 - distribuição gratuita

Um sonho, uma equipe e o

Cérebro Instituto do Cérebro comemora 2 anos e se consolida como centro de pesquisa de destaque mundial em Neurociência

Páginas 6 e 7

Estudo do Centro de Ciências da Saúde detecta gene ligado ao infarto Página 3

UFRN na Copa planeja ações para que evento beneficie a população Página 5

EDUFRN lança obra em homenagem ao livreiro Luiz Damasceno Página 9


CONSOLIDAÇÃO

Campus Central terá sede estratégica do Instituto Internacional de Física até 2014 Fotos: Erik Oliveira

Por Erik Oliveira

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte se prepara para inaugurar em abril de 2014 aquela que será a sede permanente do Instituto Internacional de Física (IIF), hoje uma das unidades estratégicas mais importantes da UFRN, tanto no processo de internacionalização como de referência científica da Instituição e do país no cenário mundial. A obra da nova sede do Instituto está orçada em R$ 4,8 milhões e irá ocupar uma área de 3.300 m². A construção teve início no dia 9 de abril deste ano e tem prazo de 360 dias para ser concluída. O projeto é do arquiteto Sileno Cirne Trindade, da própria UFRN, e a construção vem sendo supervisionada pela Superintendência de Infraestrutura (SIN). Segundo explicou a reitora Ângela Maria Paiva Cruz durante a reunião do Comitê Científico Internacional do IIF, realizada nos dias 25 e 26 de março, a construção do prédio do Instituto dentro do Campus Central da UFRN configura-se como um dos mais significativos avanços do plano de internacionalização da Universidade. Ainda segundo a reitora, a construção da estrutura física do Instituto vai permitir que sejam viabilizados projetos de formação e de pesquisa “muito importantes não somente para a UFRN, mas também para o mundo”. A nova estrutura está sendo construída ao lado do Laboratório de Geofísica, próximo ao Setor de Aulas II e irá contar com espaços para seminários e eventos, auditório, área de convivência, refeitório, biblioteca, laboratório de informática e um número suficiente de salas para acomodar os professores e pós-doutores que fazem seus trabalhos de pesquisas no IIF.

Orçada em R$ 4,8 milhões, a estrutura permitirá o desenvolvimento de novos projetos “Trata-se do prédio que vai abrigar todas as atividades acadêmicas do nosso Instituto e isso tem gerado uma grande expectativa na comunidade científica internacional”, disse o físico Álvaro Ferraz, professor do Departamento de Física Teórica e Experimental (DFTE) da UFRN e diretor do IIF. Para Ferraz, a expectativa é a de que, justamente por isso, todos os prazos sejam cumpridos. O prédio foi projetado na forma de um leque voltado para as dunas, fornecendo uma visão da paisagem aos usuários do Instituto em todos os andares. O pavimento inferior contará com um jardim interno, complementando a proposta de integração com a natureza, parte da concepção do projeto.

A ideia da galeria surgiu devido às constantes perguntas dos pesquisadores, sobretudo dos estrangeiros, sobre a construção de uma sede permanente para o Instituto. A inauguração deverá ocorrer próximo ao aniversário de quatro anos da fundação do Instituto, ocorrida em 24 de maio de 2010. Características O Instituto, com sede provisória localizada no bairro de Capim Macio,

desenvolve pesquisas de ponta com a colaboração de pesquisadores de instituições de várias partes do mundo, o que tem feito a comunidade científica internacional voltar os seus olhos para o Rio Grande do Norte. Só em 2012 foram 27 artigos publicados em periódios científicos internacionais e cerca de 40 outros trabalhos finalizadas aguardando publicação. Isso tudo levando o nome da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e do próprio Instituto Internacional de Física. “São trabalhos de impacto, que repercutem e trazem visibilidade tanto para o Instituto Internacional de Física quanto para a UFRN. Com esses trabalhos estamos conseguindo consolidar o Brasil no mapa da ciência mundial”, comemora o diretor do IIF. Aos poucos, a unidade internacional e a própria UFRN vêm tornando-se refe­rência internacional como polo de pesquisas científicas em áreas como astrofísica e astronomia, física da matéria condensada, teoria de cordas e holografia, física de hádrons, física estatística e informação quântica. Ambos também vêm se destacando como promotores de eventos acadêmicos internacionais nas fronteiras da física e em áreas correlatas.

“Com os trabalhos desenvolvidos no Instituto temos consolidado o Brasil no mapa da ciência mundial“

Imagens para o mundo Desde o dia 9 de abril, quando foi iniciada a obra, o site do IIF (www.iip.ufrn.br) passou a exibir uma galeria com imagens diárias da construção de sua sede permanente. Assim, os pesquisadores do Brasil e do exterior podem acompanhar o andamento das obras.

Álvaro Ferraz Diretor do Instituto Internacional de Física

EXPEDIENTE Reitora Ângela Maria Paiva Cruz Vice-reitora Maria de Fátima Freire de Melo Ximenes Superintendente de Comunicação José Zilmar Alves da Costa Diretor da Agência de Comunicação Francisco de Assis Duarte Guimarães Jornalistas Antônio Farache, Cledna Bezerra, Enoleide Farias, Hellen Almeida, Juliana Holanda, Luciano Galvão, Marcos Neves Jr., Regina Célia Costa Fotógrafos Anastácia Vaz e Wallacy Medeiros Revisão Emili Rossetti Diagramação Setor de Artes/Comunica

Bolsistas de Jornalismo Auristela Oliveira, Catarina Freitas, Gaston Poupard, Ingrid Dantas, João Paulo de Lima, Kalianny Bezerra, Natália Lucas, Rozana Ferreira, Silvia Paulo, Thalita Sigler, Thyara Dias Bolsista de Letras Karla Jisanny Arquivo Fotográfico Saulo Macedo Endereço Campus Universitário - Lagoa Nova, Natal/RN - CEP 59072-970 Telefones (84) 3215-3116/3132 - Fax: (84) 3215-3115 E-mail boletim@agecom.ufrn.br – Home-page www.ufrn.br Impressão EDUFRN Tiragem 3.000 exemplares

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SAÚDE

Estudo em Biologia Molecular detecta genes ligados ao infarto e pode reduzir custos do SUS Fotos: Wallacy Medeiros

Por Kalianny Bezerra

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dentificar uma ameaça de infarto com menos custos e sem a necessidade de submeter os pacientes a exames invasivos. Esse pode ser o resultado de uma pesquisa desenvolvida pelo grupo de pesquisa em Biologia Molecular Aplicada ao Diagnóstico da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). As doenças que afetam o coração e os vasos sanguíneos são a maior causa de mortes em todo o mundo. Segundo o Banco de Dados do Sistema Único de Saúde (Datasus), os males do aparelho circulatório são os responsáveis por 28,7% de todas as mortes no Brasil, atingindo 3,2 milhões de pessoas por ano. Desse total, um milhão é decorrente de enfermidades causadas por obstruções das artérias, as chamadas doenças isquêmicas, cujo principal representante é o infarto agudo do miocárdio, popularmente conhecido como ataque cardíaco, causa de 79,7% dos óbitos dessa espécie. Ciente desses números, o grupo de pesquisa em Biologia Molecular Aplicada ao Diagnóstico desenvolve estudos para entender o funcionamento de genes que se expressam de maneira diferente em pacientes com sinais de entupimento de vasos sanguíneos que irrigam o coração, conjunto de sintomas denominado de Síndrome Coronariana Aguda. As pesquisas são conduzidas pela professora do Departamento de Análises Clínicas e Toxicológicas da UFRN Vi­ vian Nogueira Silbiger, que deu início ao trabalho ainda em seu doutorado na Universidade de São Paulo (USP). A cientista explica que, durante o estudo que resultou em sua tese, foram comparadas amostras de sangue de pacientes no momento do infarto com as de pacientes sem nenhuma doença do tipo. Como resultado, os exames encontraram alterações em 13 genes. Segundo o orientador do doutorado de Vivian e professor do Departamento de Análises Clínicas e Toxicológicas da USP, Mário Hiroyuki Hirata, a pesquisa tem um papel importante para entender o funcionamento desses genes. “Traba­ lhamos há mais de 30 anos com doenças cardiovasculares e nossa angústia nos últimos tempos era saber como pessoas

Jéssica Araújo, aluna de Biomedicina, participa da pesquisa que analisa indicadores do infarto sem precedentes familiares ou alterações de níveis de colesterol possuíam infarto”, aponta Hirata. De acordo com o professor, a pesquisadora propôs, em seu trabalho, estudar os genes dos pacientes com Síndrome Coronariana Aguda. “Ela já tinha realizado um estágio no centro de genoma humano na Universidade de Santiago de Compostela, na Espanha, então achamos bastante viável desenvolver esse projeto”, diz. A análise de genes ativos e inativos é feita após a coleta de sangue de pacientes e utiliza uma técnica denominada de microarray ou, como é mais conhecida pelos pesquisadores, “chip de DNA”. A tecnologia consiste na disposição de fragmentos de DNA sobre uma superfície sólida e permite a detecção e a quantificação de ácidos nucléicos das amostras. “É como uma sonda que mapeia os genes no corpo humano. Ele funciona identificando, no momento do infarto, quais os RNAs que se manifestam”, explica Mário Hirata. “Esse estudo é importante para entender como funciona a doença”, acrescenta. Na atual pesquisa do grupo em Biologia Molecular Aplicada ao Diagnóstico da UFRN, o propósito é saber se esses mesmos genes estão “exaltados” antes do infarto e não apenas no momento do ataque cardíaco. Para tanto, foram firmadas parcerias com o Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL) e com um estabelecimento particular.

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Vivian Silbiger, coordenadora do estudo, diz que resultados ajudarão médicos e pacientes Vivian Silbiger esclarece que, para dar início às pesquisas, primeiramente é necessário que um médico cardiologista avalie o histórico clínico de pacientes e os encaminhe para exames de laboratório e testes ergométricos, com o objetivo de identificar possíveis chances de infartar. “O profissional irá perceber se está indo menos sangue para o coração do indivíduo e se isso ocorre devido à formação de gordura na parede das artérias. É importante ressaltar que o infarto acontece quando a placa de gordura, chamada placa arterosclerótica, se desestabiliza”, aponta. Se existir uma porcentagem alta de formações de gordura, o paciente se sub-

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mete a um cateterismo, procedimento em que uma sonda é passada através de vasos sanguíneos e identifica a existência ou não das placas. “Esse é um método caro para o SUS”, diz a professora. “Com a identificação da placa aterosclerótica, é possível apreciar como estão aqueles genes que encontrei na minha tese de doutorado antes do infarto”, retoma. Segundo Vivian, o estudo pode ter repercussão positiva nos procedimentos médicos, além de ajudar os pacientes ao oferecer-lhes uma alternativa de exame menos invasivo que o cateterismo. “Um teste laboratorial vai ser suficiente para identificar as placas, além, claro, do custo reduzido que será proporcionado ao SUS”, aponta a professora. PRÊMIO Um trabalho produzido em ação conjunta do grupo de pesquisa em Biologia Molecular Aplicada ao Diagnóstico foi premiado no VII Congresso Norteriograndense de Cardiologia, que aconteceu em abril deste ano. Realizada pela estudante de Biomedicina da UFRN Jéssica Nayara Góes de Araújo, sob a orientação da professora Vivian Silbiger, a pesquisa analisa a expressão de quatro genes como potenciais indicadores precoces para doenças cardiovasculares. ALOX 15, BCL2A1, BCL2L1 e MMP9 são os nomes dos genes analisados. “Escolhemos esses quatro porque eles estavam dentro daquele grupo de 13 genes que se alteram no momento do infarto”, explica Jéssica. Para o estudo desenvolvido pela aluna, foram feitas coletas de sangue com 234 pessoas. Até o momento, os genes de 43 pacientes foram analisados. “Avaliamos também o grau de lesão das artérias, pois, quanto maior a lesão, maior o risco de a placa aterosclerótica se desestabilizar e levar ao infarto”, explica. Os resultados preliminares observaram que, nos pacientes que possuem a placa, para alguns genes, como MMP9 e BCL2A1, a diferença de expressão é proporcional ao grau de lesão nos vasos sanguíneos. “Com esse resultado, contribuímos para o aprimoramento do diagnóstico precoce das doenças cardiovasculares, criando novas ferramentas que poderão ser utilizadas na rotina clínico-laboratorial”, ressalta a estudante.


NOTAS Enfermagem I A Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) realiza a 1ª Jornada de Urgências e Emergências em Enfermagem, com o tema manejo nas emergências clínicas, durante os dias 7 e 8 de junho. O evento se destina a estudantes e profissionais da área e os trabalhos apresentados na ocasião serão publicados em anais. Reuniões quinzenais trabalham aspectos psicológicos por meio da arte e de atividades lúdicas. Ações são abertas a todos os alunos Enfermagem II Os temas abordados na Jornada vão desde os Aspectos Éticos e Legais no Manejo das Urgências e Emergências Clínicas às Diretrizes de Reanimação Cardiopulmonar (ACLS - AHA), passando por Urgências e Emergências Cardiológicas, Emergências Obstétricas, Neurológicas, Metabólicas e Endócrinas, Oncológicas e Respiratórias. Para mais informações: www. manejonasemergencias.blogspot.com História I A UFRN se prepara para sediar o 27° Simpósio Nacional de História, um dos eventos mais importantes da área no País, que acontece entre 22 e 26 de julho deste ano e terá como tema “Conhecimento histórico e diálogo social”. História II A programação do Simpósio de História inclui apresentações de trabalhos, lançamentos de livros, minicursos, palestras e conferências. As inscrições podem ser feitas através endereço eletrônico www.snh2013.anpuh.org até o dia 11 de julho. Música I A Rádio Universitária FM (88,9) abre inscrições para a o III Festival Música Potiguar Brasileira (FMPB-2013). O festival tem como proposta revelar talentos e divulgar gravações de obras musicais inéditas, abrindo espaço na programação da UFM para cantores, compositores, instrumentistas e arranjadores, valorizando a produção e a diversidade da música do Rio Grande do Norte. Música II Podem concorrer músicos nascidos ou residentes no estado do Rio Grande do Norte, com composições inéditas. A inscrição é gratuita e deve ser realizada de forma presencial na Rádio Universitária FM, localizada no Campus Central da UFRN, em Natal. O formulário de inscrição e as regras para essa terceira edição do FMPB estão disponíveis no site www.fmu.ufrn.br.

BEM-ESTAR

Serviço de Psicologia Aplicada ajuda jovens universitários a superar timidez e ansiedade Fotos: Wallacy Medeiros

Por Juliana Holanda

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arde de terça-feira. Em um ambiente descontraído, quinze universitários utilizam ditados populares e massa de modelar para conversar sobre suas experiências pessoais. Medos, tristezas, alegrias, esperanças e ansiedades fazem parte dos temas compartilhados pelos jovens. As reuniões, que acontecem quinzenalmente, trabalham aspectos psicológicos por meio da arte e de atividades lúdicas, deixando o grupo mais à vontade. “As pessoas têm que trabalhar o autoconhecimento para ter um bom desempenho em todos os aspectos da vida”, analisa a psicóloga que coordena as atividades, Maria Angélica Aires Gil. O apoio terapêutico faz parte do serviço de assistência psicológica oferecido para alunos da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) através da PróReitoria de Assuntos Estudantis (PROAE). O estudante do 3º período do curso de Ciências Sociais Diego Azevedo costumava conversar com a psicóloga da escola durante o ensino médio e continua a terapia participando do grupo da UFRN. “Estou gostando bastante porque tenho me sentido mais à vontade para me abrir e me expor com meus colegas”, afirma. Para a psicóloga Angélica Gil, as pessoas que participam das reuniões são diferenciadas, porque perceberam que precisam ser bem resolvidas para conquistar outros objetivos. “Muitos universitários ainda não perceberam a importância de se conhecer”, comenta.

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Psicóloga Angélica Gil: “as pessoas devem trabalhar o autoconhecimento” Atualmente, a Instituição presta apoio psicológico a estudantes por meio de atendimentos individuais e em grupo. Os interessados precisam passar por uma consulta na sede do Serviço de Psicologia Aplicada (SEPA), localizada no Campus Central da Universidade. A triagem acontece toda terça e quintafeira, nos turnos da manhã e da tarde. “O plantão está aberto para qualquer aluno que precise conversar com um psicólogo”, explica a coordenadora de Atenção à Saúde do Estudante da PROAE, Cíntia Guedes Bezerra Catão. Após o atendimento, os discentes são

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conduzidos para sessões individuais ou em grupo, podendo também ser encaminhados para o Sistema Único de Saúde (SUS) ou para profissionais que possuem convênios com a UFRN. A estudante do curso de Teatro Maria Valquíria de Oliveira Lima participa de consultas individuais e coletivas na Universidade e reconhece que o apoio psicológico melhorou o seu bem estar. “É bom conhe­ cer a experiência de outras pessoas, porque todos vivem situações parecidas e você entende que não é o único que está passando por um momento difícil”, diz. Maria sabe que precisa atravessar longo processo para trabalhar questões como timidez, medo e ansiedade. “A terapia é um momento meu, quando posso me conhecer melhor. Percebo que ganhei mais coragem para enfrentar meus problemas”, avalia. Serviços A coordenadora de Atenção à Saúde do Estudante destaca que o setor também oferece suporte no campo acadêmico com plantão de estudos e reorientação profissional para alunos que estão insatisfeitos com o curso, assim como apoio às habilidades acadêmicas com técnicas de estudos e estratégias de concentração e memorização. “Além disso, a PROAE dispõe de aconselhamento em saúde, com foco em questões de sexualidade e distribuição de preservativos”, enfatiza. Interessados podem obter mais informações na sede do SEPA, nas terças e quintas-feiras, nos turnos da manhã e da tarde, ou entrar em contato pelo e-mail psicologiaproae@reitoria.ufrn.br ou ainda pelo telefone 3215-3307.


ESPORTE

Programa defende ideias e ações para que legado

da Copa do Mundo beneficie a população Fotos: Cícero Oliveira

Por Williane Silva

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odo potiguar quer saber que legado a Copa do Mundo de 2014 vai deixar para o estado. Nessa perspectiva, o UFRN na Copa, programa de pesquisa e extensão da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), estuda e planeja ações para que o evento resulte em melhorias efetivas, tanto para a comunidade acadêmica quanto para a sociedade norte-rio- grandense. A iniciativa visa a propor medidas que tragam retorno à população após o Mundial. “São os legados deixados que determinam os benefícios de um megaevento. Eles podem ser infraestruturais, econômicos, educacionais, turísticos, ambientais, entre outros tipos”, explica João Roberto Liparotti, professor do Departamento de Educação Física da UFRN e coordenador do programa. Criado em 2010, o UFRN na Copa surgiu com o propósito de preparar a Instituição para ser utilizada como centro de treinamento oficial de seleções participantes da Copa do Mundo. “Como não tí­ nhamos alojamentos ou locais adequados para receber as confederações, fizemos um acordo de construção da estrutura apropriada com o Ministério dos Esportes”, afirma o professor. Dessa maneira, a Universidade apresentou projeto de adequação de seu parque poliesportivo – que estava sem reforma há 30 anos – aos padrões da Federação Internacional de Futebol (FIFA), entidade organizadora do evento. Entre outras adaptações, as mudanças consistem no ajuste de características como as dimensões do campo de futebol e o tipo de grama utilizada. Sustentabilidade é a base da proposta. Na construção do centro de treinamento da UFRN, chamado de ecoestádio, serão uti-

UFRN na Copa estuda ações para que o evento resulte em melhorias para a sociedade lizados materiais recicláveis, energia solar, sistema de reuso da água para a irrigação do campo, além de realizado o plantio de duas mil árvores. “Depois da Copa, essas obras não se tornarão um ‘elefante branco’ nem um local para eventos da elite, porque servirão para atividades acadêmicas e para a sociedade potiguar”, diz Liparotti, revelando ainda que está prevista a abertura do espaço à população em finais de semana e feriados e durante o período de férias. Também será financiada pelo Ministério dos Esportes a instalação de uma pista de atletismo de nível internacional no parque poliesportivo do campus. Para o coordenador do programa, conseguir essa obra foi uma grande vitória do Departamento de Educação Física. O professor atribui a conquista à história do estado nessa modalidade: “o Rio Grande do Norte tem renome no atletismo. Basta falar em Magnólia Figueiredo, ex-atleta olímpica, de quem todo mundo lembra”. No entanto, as ações não se restringem ao Campus Central. O UFRN na Copa realiza ainda trabalhos em 111 instituições, entre times de futebol e escolas públicas e

privadas, com a distribuição de material didático e a intervenção de um professor. “No ensino infantil, todas as disciplinas possuem livros, menos a Educação Física. Então, preparamos uma cartilha sobre futebol, falando da parte técnica e também um pouco da história do esporte, principalmente a dos clubes potiguares”. Mensalmente, o programa convida uma equipe de bairro para jogar contra a Seleção Universitária de futebol. Para o professor, essa interação vai além do lazer. “Com esse projeto, possibilitamos o contato da população com o meio acadêmico, e dessa forma, conseguimos quebrar a imagem de que os universitários são superiores”, considera. O UFRN na Copa conta com mil voluntários e 11 bolsistas de diversos cursos da Universidade. Além de ser interdisciplinar, a iniciativa é aberta à discussão e à organização de ações, serviços, eventos, projetos e pesquisas que possam qualificar o planejamento e a avaliação do futebol potiguar, visando à realização da Copa do Mundo no Brasil, com foco em Natal como cidade-sede. Dentro do programa existe também o “Ciência no Futebol”, grupo de estudo for-

mado há 11 anos devido à necessidade de inserir e preparar alunos para o mercado de trabalho da modalidade. O projeto está preparando uma coletânea de textos de profissionais da área, como o ex-técnico Ferdinando Teixeira, o médico Roberto Vital e o fisioterapeuta Gildásio Lucena. Seleção Para atender à outra medida da FIFA, que requer a existência de uma equipe de futebol ativa utilizando o centro de trei­ namento oficial, o programa reativou a Seleção Universitária. Emílio Simplício, treinador do time de 2011 a 2012, conta que foi formado um conjunto de 30 atletasalunos, os quais treinavam nas manhãs das segundas e quartas-feiras e aos sábados. “Os atletas passavam uma hora em cada atividade: fisioterapia, preparação física e treinamento técnico-tático”. Durante o período, a Seleção conquistou o título de bicampeã potiguar, de maneira invicta, e representou o estado na Liga Nacional de Desporto Universitário (LDU). Além disso, Arnaldo Júnior, um dos jogadores da equipe, foi eleito o melhor atleta universitário potiguar. Arnaldo, “rebatizado” pelo pai e pelos colegas como “Juba”, também foi convidado para jogar e estudar nos Estados Unidos, na West Hill College, instituição situada no estado da Califórnia. O atleta já planeja seus próximos passos: “estou terminando Gestão de Políticas Públicas, na UFRN, e viajo em agosto. Lá, pretendo cursar Sistemas da Informação e tentar me profissionalizar no futebol”. Outros quatro alunos, dos cursos de Ciências Biológicas, Educação Física, Química do Petróleo e Jornalismo, também foram escolhidos para jogar em universidades norte-americanas. O intercâmbio é executado em parceria com uma empresa ligada à promoção de programas esportivos e educacionais no exterior.

Atualmente em obras, parque poliesportivo da UFRN deverá ser aberto à população após a Copa

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REFERÊNCIA

Instituto do Cérebro completa dois anos com avanços no

ensino e nas pesquisas em Neurociências

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nvestimentos, parcerias, esforços, ousadia e ações decisivas da UFRN foram fundamentais para concretizar o sonho de se criar, no Brasil, um centro de pesquisa de ponta em Neurociência, especificamente no Nordeste”. A afirmação é do neurocientista Sidarta Ribeiro, professor e diretor do Instituto do Cérebro (ICe) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), inaugurado no dia 13 de maio de 2011, como uma Unidade Acadêmica Especializada da instituição. O ICe funciona hoje numa casa ampliada e adaptada na Avenida Nascimento de Castro, bairro de Lagoa Nova, em Natal. O imóvel abriga equipamentos de última geração e neurocientistas que são referências nacionais e internacionais, com o objetivo de pesquisar e descobrir os mistérios de um dos “dispositivos” mais complexos do universo: o cérebro humano. Durante esses dois anos de criação, o ICe cumpre a sua missão que se fundamenta no tripé ensino, pesquisa e extensão. Graças ao Programa de Pós-Gra­ duação em Neurociências (PGNeuro)

nos níveis de Mestrado e de Doutorado, criado desde 2009, o Instituto desenvolve pesquisas de alto nível e promove a excelência científica e a formação de recursos humanos qualificados. “Estamos trabalhando e caminhando para sermos de excelência e uma referência internacional”, afirma Ribeiro. O PGNeuro atua em três linhas de pesquisa: Neurobiologia de Sistemas e Cognição, Neurobiologia Celular e Molecular e Neurociência Computacional, Neuroinformática, Neuroengenharia e Neuroterapia. Os projetos de pesquisa vinculados ao Programa têm contado com apoio financeiro de várias agências de fomento, desde as regionais, como a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Norte (FAPERN), às nacionais (CAPES, CNPq, FINEP) passando pelas internacionais (Alexander von Humboldt Foundation, Human Frontiers Science Foundation, IBRO). Por ser a Neurociência considerada um campo multidisciplinar, o Programa de Pós-Graduação do ICe recebe estudantes com formação básica em várias áreas do conhecimento, incluindo as ciências biológicas, químicas, físicas, computação, matemática, engenharias e áreas de saúde.

“Investimentos, parcerias, esforços e ousadia foram fundamentais para Cedida

Por Maria Ceiça Sousa

concretizar o sonho de um centro de pesquisa de ponta“

Sidarta Ribeiro Diretor do Instituto do Cérebro

O PGNeuro não só desperta interesse de estudantes brasileiros de várias regiões como também tem atraído estrangeiros de várias partes do mundo. No quadro de discentes, que conta hoje com 40 alunos, sendo 17 de mestrado e 23 de doutorado, estão incluídos uma aluna da Tunísia, um de Israel e um da Áustria.

Segundo o coordenador do Programa, professor Dráulio Araújo, o objetivo é buscar alunos que aceitem o desafio de construir carreira de excelência em pesquisa em Neurociências e que também demonstrem criatividade, liderança e compromisso com a busca de conhecimento científico. Cícero Oliveira

ICe abriga cientistas de destaque nacional e internacional além de equipamentos de última geração

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Pluralismo favorece integração dos professores A multidisciplinaridade entre pesquisadores, áreas e atividades de estudo do Programa de Pós-Graduação em Neurociências (PGNeuro) do Instituto do Cérebro (ICe) favorece a integração orgânica entre professores do Instituto e demais docentes da UFRN. Isso fica patente em disciplinas obrigatórias e optativas, em nível de graduação, tanto no caso de componentes já oferecidos em vários departamentos pertencentes aos diversos Centros da UFRN como na forma de novas disciplinas. Paralelamente aos cursos já estabelecidos, o ICe criou, em 2011, uma nova vertente na formação acadêmica, denominada Eixo em Neurociências, voltada especialmente para os alunos de graduação da Escola de Ciência e Tecnologia (EC&T) da UFRN. De acordo com o professor Claúdio Queiroz, coordenador de graduação do Instituto, até agora foram registradas mais de 473 matrículas ativas na graduação. Em relação ao quadro de docentes do ICe o grupo reúne competências em neurociências de sistemas e cognição, neurobiologia molecular e celular,

modelos computacionais de circuitos neurais e análise de dados, neuroengenharia, neuroterapias e bioinformática, através das mais avançadas técnicas moleculares, celulares, eletrofisiológicas, computacionais, bem como imageamento óptico e ressonância magnética funcional. O grupo atual de docentes do ICe, formado por 18 neurocientistas, compreende uma variedade interdisciplinar de professores titulares (faixa etária dos 40 aos 50 anos de idade), que já coordenaram laboratórios em outras instituições antes de chegar à UFRN, bem como de professores adjuntos (na faixa etária dos 35 aos 40 anos de idade), que foram nomeados imediatamente após concluir os seus pós-doutoramentos. De acordo com as informações do Instituto, todos os docentes apresentam uma elevada produção científica com efetiva inserção internacional, totalizando até hoje 613 artigos científicos pu­blicados e 14.146 citações acadêmicas especializadas. Em média, ainda de acordo com os dados do ICe, os professores da unidade apresentam 34 artigos cientí-

Cícero Oliveira

Atual grupo de docentes é formado por 18 neurocientistas e compreeende múltiplas áreas ficos, com 786 citações por docente. Segundo o diretor do ICe, professor Sidarta Ribeiro, a internacionalização do corpo de pesquisadores se expressa ainda na formação superior parcial ou completamente realizada no exterior.

Dos dezoito professores, cinco são estrangeiros: dois argentinos, uma alemã, uma sueca e um dinamarquês. “O corpo docente do ICe compreende múltiplos backgrounds acadêmicos, técnicos e culturais”, destaca Ribeiro.

Projetos do ICe também chegam às comunidades carentes O Instituto do Cérebro (ICe) da UFRN não se projeta hoje somente através de pesquisas, um de seus braços mais fortes. Existem ainda vários projetos desenvolvidos na área de extensão, de cunho científico, cultural e esportivo, voltados para crianças, adolescentes e adultos de escolas, hospitais públicos e comunidades carentes, que fazem o Instituto alcançar uma dimensão complementar em sua missão social e acadêmico-científica. Os projetos de extensão, coordenados pelo professor Antônio Pereira, são realizados em parceria com os departamentos de Educação e de Educação Física e com a Escola de Música da UFRN, entre outras instituições públicas de Natal. Aproximadamente três mil pessoas foram alcançadas pelas ações de extensão do ICe e de seus parceiros em 2011 e 2012. Entre as instituições públicas de ensino parceiras está a Escola Municipal Juvenal Lamartine, no Alecrim, onde se desenvolve, desde o ano passado, dentro do projeto Engenheiros do Futuro, do Ministério da Educação (MEC), uma oficina de robótica educacional para alunos do ensino fundamental. Destaca-se ainda o Projeto Capoeira como vertente do Projeto Semente, coordenado pelo próprio diretor do Intituto, neurocientista Sidarta Ribeiro. “O ICe funciona como uma orques-

Fotos: Anastácia Vaz

tra afinada. De mãos dadas, professores, alunos e técnico-administrativos é que dão vida ao projeto”, ressalta Sidarta Ribeiro. “Essa ideia foi semeada em 1995, e promoveu uma nova forma de organização da produção científica nacional. Queremos contribuir para um Brasil melhor”, afirma o professor.

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VALORIZAÇÃO

Programa Tronco, Ramos e Raízes resgata cultura de comunidades negras do Seridó Cedida / Arquivo Tronco, Ramos e Raízes

Por Juliana Holanda

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ulia Cristina Dantas tem 17 anos. Aluna do primeiro período do curso de Administração no campus de Currais Novos da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), é a primeira pessoa da família a fazer um curso superior. Natural do município de Parelhas, na Região Central Potiguar, Julia viu sua vida mudar quando participou como vo­ luntária do programa de extensão Tronco, Ramos e Raízes, da UFRN. O contato com pessoas da Universidade, o resgate da história de sua comunidade, a valorização de seus talentos e a participação em oficinas culturais despertaram em Julia o desejo de prestar vestibular. “Nunca havia pensado em fazer um curso superior antes de participar do projeto”, afirma a jovem. Tronco, Ramos e Raízes, que transformou o destino de Julia, tem o objetivo de promover a igualdade racial, combater a discriminação, valorizar manifestações culturais e pesquisar a história das comunidades negras da região do Seridó norte-riograndense. “É um projeto pioneiro e também uma nova forma de fazer pesquisa, junto com os detentores da história, pois contamos com a participação dos jovens quilombolas e das pessoas mais experientes”, destaca a coordenadora do programa, a professora do Departamento de Antropologia da UFRN Julie Cavignac. O interesse em trabalhar esses temas na região surgiu em 2007, quando a Universidade auxiliou o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) a estudar a delimitação das terras de seis comunidades quilombolas potiguares. No Quilombo de Boa Vista dos Negros, em Parelhas, a convivência durante o estudo fez com que a comunidade quilombola pedisse ajuda à UFRN para construir um museu. “Como os custos para viabilizar esse projeto eram muito altos, decidimos criar um museu virtual”, explica Julie Cavignac. A pesquisadora conta que a equipe procura informações para compor o museu virtual onde há memória e presença afro-brasileira na região. Enquanto o banco de dados é formado, o grupo construiu uma página no Facebook, acessível no endereço “www.facebook.com/Quilombolas.Serido”.

Programa valoriza manifestações culturais de comunidades quilombolas do interior Wallacy Medeiros

Em 2012, a iniciativa foi formalizada através da Pró-Reitoria de Extensão (PROEX) da UFRN. Com isso, professores dos departamentos de História, Antropologia, Ciências da Informação, Artes e Letras, além de alunos de vários cursos, passaram a atuar junto à comunidade da Boa Vista. Resgate Este ano, o programa começou a discutir com os quilombolas a questão racial. Cavignac enfatiza que pouco se sabe sobre a presença histórica das populações afrobrasileiras na região. “Essas deixaram um importante legado cultural, visível nas manifestações ligadas à Irmandade do Rosário presente na região desde o século XVII”, afirma. Para o professor do Departamento de História do campus de Caicó da UFRN Muirakytan Kennedy de Macedo, a ação é importante, pois trata de um processo social que ainda não acabou. “Conhecer o passado auxilia as lutas do presente, como a reivindicação das terras quilombolas e o combate ao racismo”, avalia. Enquanto realiza o resgate da história e da cultura das comunidades negras, a equipe da UFRN busca promover a igualdade racial e combater a discriminação por meio do diálogo e de ações culturais. Para a antropóloga Julie Cavignac, no Brasil as relações sociais aparentam ser harmônicas, mas na verdade são tensas. A pesquisadora aponta que, no cotidiano, observam-se manifestações de um preconceito racial profundamente enraizado. “Os conflitos são velados porque as vítimas desse racismo não têm nem como reclamar, já que é algo tão naturalizado na cultura nacional”, analisa.

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Antropóloga Julie Cavignac: “pesquisa é feita junto com os detentores da história” A questão racial é discutida ao longo das atividades realizadas pelo Tronco, Ramos e Raízes. “Há muitos discursos sobre o racismo, sobre o acesso à universidade, mas se essa discussão não se acompanha de fatos concretos, os jovens não têm tanto interesse”, enfatiza Cavignac. “Evitamos produzir uma fala vazia e normatizada sobre o combate ao racismo. Propomos ações concretas”, complementa. Aos poucos, o tema passa a fazer parte dos eventos promovidos pelos grupos locais. Até o momento, o principal foi a criação da semana da consciência negra, utilizada pela comunidade quilombola da Boa Vista dos Negros como espaço para discussão. “Eles tiveram a inciativa e organizaram tudo”, ressalta a antropóloga. Capacitação O programa oferece oficinas para os jovens da região como forma de incenti-

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var os talentos locais. Até o momento, já foram realizados cursos nas áreas de arqueologia, documentação histórica, fotografia, audiovisual, roteiro, dança, ritmos e confecção de tambores. Como resultado das atividades de capacitação, houve a produção de um documentário que retrata parte da história do Quilombo de Boa Vista dos Negros e exposições com as imagens produzidas pelos adolescentes. O músico e doutorando em antropologia Cyro Lins foi o responsável pelas aulas de fabricação de tambores, realizadas na Boa Vista dos Negros no final de 2012. A própria comunidade solicitou a oficina porque havia um desconhecimento sobre a produção dos instrumentos utilizados nas danças tradicionais. “Eles tinham a necessidade de recuperar esse modo de fazer o tambor tradicional para não utilizar os instrumentos industriais que existem hoje”, analisa o músico. A oficina, ministrada em conjunto com o artesão Pocidônio Silva, de Caicó, durou dez dias. Os jovens aprenderam todo o procedimento de construção dos instrumentos. “Ensinamos o corte da madeira, a medição do couro para o corte, a preparação do couro, a costura. Foram aulas minuciosas”, descreve. Lins ficou motivado com o interesse demonstrado pelos jovens da comunidade. “Havia um desejo de recuperar a história de seus ancestrais. Foi muito interessante conviver com eles, trocar ideias sobre música e manifestações culturais”, recorda. Outra proposta do programa Tronco, Ramos e Raízes é criar um roteiro turístico que inclua as comunidades quilombolas, as fazendas e os lugares que tenham registros da presença afrobrasileira. “Há monumentos históricos. Alguns são ligados à Irmandade do Rosário, como as igrejas em Acari e Caicó”, afirma a coordenadora Julie Cavignac. Para concretizar a atividade nesses locais, o projeto busca fazer parcerias com prefeituras das cidades do Seridó. “Queremos desenvolver ações para gerar renda para essas pessoas”, esclarece a antropóloga. Pensando no turismo cultural, foi mi­ nistrada uma oficina de fabricação de doces. “O ideal é que as comunidades estejam integradas de forma a oferecer produtos feitos por elas. Os quilombolas demons­traram interesse em participar de cursos de artesanato e de preparação de guias”, conta a professora.


DEDICAÇÃO

EDUFRN e Cooperativa Cultural

homenageiam livreiro Luiz Damasceno Wallacy Medeiros

Por Rozana Ferreira

“S

e queres fazer um livro pode­ roso, deves escolher um tema poderoso”. A frase de Herman Melville, autor de Moby Dick, justifica uma obra dedicada à vida de Luiz Damas­ ceno, o livreiro mais conhecido de Natal. O ofício de livreiro, mais que o de comerciante de livros, possui peculiaridades. Trata-se de profissional que tem o domínio do seu objeto de trabalho, ao qual dedica a maior parte do seu tempo e conhece diversos títulos e gêneros. Além disso, o livreiro cria um relacionamento pessoal com seus clientes e, diferente de um vendedor comum, sabe a importância de cada obra. Hoje aposentado, Luiz Damasceno dedicou grande parte de sua vida à função, em todo o tempo com a confiança e a admiração das pessoas que frequentavam as livrarias por onde passou. Embora tenha sempre sido amante das letras, escrever não é o seu forte, e logo a leitura tornou-se sua companhia e o universo escolhido por ele. Com o intuito de homenagear o profissional que cultivou a arte de bem receber, a Editora Universitária da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (EDUFRN) e a livraria Cooperativa Cultural Universitária realizaram o lançamento da obra “Viva Luiz Damasceno” no último dia 10 de maio, na Galeria do Núcleo de Arte e Cultura (NAC) da UFRN. A obra é uma coletânea de textos ela­ borados por pessoas cujas vidas tiveram a participação do livreiro. São memórias, poesias, análises e depoimentos organizados pelo professor da Universidade de São Paulo (USP) Marcos Silva, que co­ nheceu Damasceno ainda na juventude, por volta dos 16 anos de idade. “O livro é uma obrigação de nós, amigos e admiradores de Luiz, deixando claro o quanto ele é importante para todos e o quanto o amamos”, considera o professor. A diagramação e a capa são de Ivana Lima, filha do homenageado e professora do Departamento de Artes da UFRN. Para ela, que cresceu no universo do pai, rodeada por grandes clássicos, “é gratificante ver como ele é querido e a quantidade de amigos que fez ao longo de anos de trabalho semeados com amor e dedicação”.

Willington Germano, presidente da Cooperativa Cultural: “Luiz Damasceno é um patrimônio” Ivonilde Duarte, esposa de Damasceno, relata na obra que a paixão dele sempre foi o mundo imaginário promovido pela leitura e que, em sua atuação profissional, seu marido interagiu muito bem com um público diversificado, construindo seu espaço ao longo de décadas. Nelson Patriota, tradutor, revisor e editor de publicações literárias da EDUFRN, foi o responsável pela revisão do livro. Segundo Nelson, o caráter polêmico do protagonista se sobressai na obra, que o retrata como homem engajado politicamente, com passagem pelo Partido Comunista, e como dono de uma trajetória pessoal na qual, ao mesmo tempo em que granjeou enormes simpatias, algumas vezes colidiu com figuras do meio intelectual de forma irreversível. Acácio Medeiros Nogueira, gerente da Cooperativa Cultural Universitária, trabalhou com Damasceno durante trinta anos e fala sobre o amigo: “se ele não abordasse o cliente na entrada, ficava o­lhando pra ver o gosto. Numa segunda vez já tinha livros certos para oferecer”, relata. “Ele não gostava muito de escrever, mas de ler e conversar”, conta Acácio. José Wilson da Silva, vendedor da Cooperativa Cultural, vê o livreiro como

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seu mentor intelectual -- ou mesmo como um pai -- já que foi nesse mesmo estabelecimento que Wilson obteve seu primeiro emprego. A ele, Damasceno sempre destinou atenção especial, desde a orientação sobre exemplares até assuntos da área política. Wilson não esquece de um conselho do seu mestre: “procure ler os clássicos, porque a nossa vida não é longa. Podemos chegar ao fim sem conhecer os clássicos”. Segundo o vendedor, seu inspirador nunca acreditou na ideia dos livros digitais, pois acha que esse tipo “não cola”. José Willington Germano, presidente da Cooperativa Cultural, retrata Damas­ceno como um livreiro por vocação. “Em livreiro você confia, enquanto o vendedor está ali só para vender o exem­plar”, diferencia. “Eu acho que ele é um patrimônio, porque teve papel fundamental na difusão da cultura desde a década de 60”, considera Willington. “Entre todos os vendedores, ele se destacava. Ele tinha gosto pela leitura, tinha formação intelectual e conhecia as preferências do público. A opinião dele tinha credibilidade”, afirma. Seu amor pelos livros contagiava. Difícil não se render a suas sugestões.

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Com jeito popular e extrovertido, aliado à inteligência aguçada, o livreiro deu uma enorme contribuição à formação de pessoas que hoje ocupam cargos estratégicos na sociedade. Trajetória Luiz Damasceno é bacharel em Direito. Começou a atividade em livrarias no ano de 1965, depois de ter servido ao exército. Trabalhou na Livraria Universitária e fundou as livrarias Opção, Encontro e Cooperativa Cultural. Nessa última, permaneceu até se aposentar. Estudou no colégio Atheneu NorteRiograndense e participava regularmente das atividades políticas e culturais do grêmio estudantil como membro do Partido Comunista do Brasil. Sob pseudônimo, costumava escrever artigos acerca de obras e os mandava para amigos publicarem em colunas de jornais locais, como forma de contribuir para a resistência contra a Ditadura Militar. Em março de 1971, ele e sua esposa, Ivonilde Duarte, foram presos pelo Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), órgão do governo brasileiro cujo objetivo era controlar e reprimir movimentos políticos e sociais contrários ao regime. Perguntado por um agente do DOPS sobre o motivo de ter tantos volumes, ele respondeu: “para ler, o senhor não sabe que livro foi feito para ler?”, conta Ivonilde. Em 1972, Damasceno foi sequestrado da porta da livraria universitária por agentes do Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI), órgão repressor criado pelo Governo Militar, e ficou desaparecido durante oito dias. Foi deixado em uma rua entre os bairros Tirol e Petrópolis, a pedido dele mesmo, pois, como relata Ivonilde, “pensava que eu estava na casa de meus pais”. “Ele representa um perfil raro hoje em dia. Não só vendia livros, mas disseminava a boa literatura e com seu amor pelo ofício formou uma geração de leitores. É uma pessoa de fácil comunicação, por isso semeou muitas amizades no mundo da leitura e fez dele um espaço de cultura e sociabilidade”, afirma Willington Germano. Um livro é considerado uma homenagem mais do que justa da livraria com a qual sempre se identificou, a Cooperativa Cultural, que por várias vezes é lembrada como a livraria do Luiz.


AGRICULTURA

Projeto Ayram apoia sertanejos que sofrem

com a pior seca dos últimos 50 anos Anastácia Vaz

Por João Paulo de Lima

A

poiar agricultores familiares do Rio Grande do Norte, através da implementação de processos tecnológicos alternativos em relação à seca. É esse o propósito do Projeto Ayram, ação interinstitucional de extensão que oferece suporte aos pequenos produtores do estado. Deusimar Freire Brasil, coordenador da iniciativa, explica que a proposta é fazer com que as famílias possam tirar proveito econômico do ambiente onde vivem: “queremos que o agricultor estabeleça uma relação produtiva com a seca e mostre que a realidade não é apenas aquela situação mostrada na televisão, do solo rachado, de animais mortos e de pessoas chorando com fome. A gente quer ver um cenário melhor no Nordeste”, afirma o professor do Centro de Biociências (CB) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Apresentado como uma alternativa à seca que acomete o semiárido nordestino, o projeto promove a implantação de processos produtivos adaptados às condições de escassez de chuvas. Para tanto, é empregado o cultivo de plantas e a criação de animais que sejam resistentes ou tolerantes a essa condição climática, opção que significa uma mudança de paradigma na produção rural. O Ayram, que significa sol em TupiGuarani, é desenvolvido com agricultores assentados da reforma agrária nas regiões do Mato Grande, Assu-Mossoró e Sertão Central do RN.

Professor Deusimar Brasil: “queremos estabelecer uma relação produtiva com a seca” Nessas áreas, cerca de 300 famílias de agricultores familiares vêm sendo beneficiadas por meio de atividades de capacitação e do desenvolvimento de processos produtivos adequados à condição de estiagem. A iniciativa é fruto de experiências vivenciadas em anos anteriores, em programas desenvolvidos pela UFRN no Agreste do estado. A região afetada pela baixa pluviosidade possui pouca disponibilidade de água, sendo que, muitas vezes, esta é barrenta e salgada ou se encontra armazenada em barragens e açudes quase secos, como o reservatório de Cruzeta, localizado no Seridó, que neste ano chegou a apenas 16% de sua capacidade. Essa situação prejudica a subsistência dos agricultores, e a falta de água, ou mes-

mo de capim para o gado, força os pecuaristas a soltarem seus animais, para que estes procurem sozinhos por recursos. Há repercussão também no preço dos alimentos, tanto no Nordeste quanto nas demais regiões do Brasil. No estado da Bahia, o preço do feijão aumentou cinco vezes na cidade de Conquista. Em Crato, no Ceará, a saca do milho chegou a subir de R$ 18 para R$ 50. Segundo Deusimar Brasil, o desenvolvimento do projeto se dá a partir da análise de aspectos regionais. “Por estarmos em uma região denominada Polígono das Secas, que, apesar de tudo, tem chuvas, o projeto visa a mostrar como trabalhar com a água disponível na região”, ressalta. A proposta é criar uma cultura entre os

agricultores familiares de preparação para as condições do semiárido, o que significa basicamente armazenar água e produzir alimentos para consumo durante a época de estiagem. Deusimar toma como exemplo a situação da Europa, que convive a maior parte do ano com a neve. “A seca aqui é uma questão natural à qual devemos nos adaptar. Temos de buscar alternativas que nos possibilitem usar o que tivermos, como o sol em abundância, e utilizar a água. Basta armazenar”, defende o coordenador do Ayram. O professor destaca que o sol no Nordeste, um dito mal, faz com que a região tenha uma alta taxa fotossintética o ano inteiro. A característica possibilita a produção de frutas mais doces, o que coloca o produto entre os melhores do mundo. Além disso, a pouca umidade do clima ain­da reduz os ataques de pragas e doenças. “Para obtermos resultados favoráveis da seca, é preciso que a ação seja trabalhada junto com os agricultores, aproveitando a organização social que esse processo proporciona”, frisa Deusimar. Grupos de 300 famílias foram formados para trabalhar a questão em sistema de cooperação. Algumas ações já estão em implementação, como instalação de cisternas, irrigação por canteiros impermeabilizados, criação de peixes combinada ao cultivo de verduras e implantação de pomares com irrigação. O Projeto Ayram conta com o apoio das pró-reitorias de Extensão e Administração da UFRN e envolve professores e estudantes dos departamentos de Oceanografia, Geografia e Serviço Social, além da Escola Agrícola de Jundiaí. Cícero Oliveira

Projeto quer deixar para trás imagens de solo rachado e de animais mortos

Jornal da UFRN 10 ano XV | nº 61 | maio de 2013


ENTREVISTA - DENIS RUELLAN

“Alguns jornais impressos permanecerão, mas com

certeza não haverá espaço para todos” Jornalista francês participante de colóquio internacional na UFRN discorre a respeito das mudanças no jornalismo e das repercussões dessas alterações para a sociedade Wallacy Medeiros

Por Luciano Galvão

D

enis Ruellan é jornalista, doutor em Comunicação Social e professor da Universidade de Rennes, na França. Autor de vários livros, Ruellan é membro do comitê organizador do 2º Colóquio Internacional Mudanças Estruturais no Jornalismo (MEJOR), evento que aconteceu entre os dias 7 e 10 de maio na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Promovido pelo Programa de Pós-Gra­ duação em Estudos da Mídia (PPgEM) da UFRN, o Colóquio teve a coordenação da professora Kênia Maia, do Departamento de Comunicação Social. Denis Ruellan recebeu a reportagem do Jornal da UFRN para uma conversa acerca das mudanças e perspectivas da atividade jornalística. O pesquisador francês enxerga uma crise no jornalismo diário que ressoa de maneira negativa no mercado de trabalho e na identidade do profissional. Segundo Ruellan, os novos meios de comunicação e o surgimento de veículos especializados ameaçam a sustentabilidade da mídia tradicional e, na esteira dessas mudanças, o estudioso assinala o aumento da influência de questões comerciais na definição da pauta dos jornais. Jornal da UFRN: Qual a proposta do Colóquio Internacional MEJOR? Denis Ruellan: A proposta é trabalhar as mudanças e as permanências da identidade de uma atividade profissional que é o jornalismo. O intuito é avaliar a evolução das maneiras de se fazer jornalismo dentro dos quadros econômicos e políticos atuais, além de saber qual o seu papel e como as pessoas, dentro da profissão e fora dela, a entendem. É um trabalho sobre a atividade, sobre o contexto e sobre a identidade: a representação de si e a representação que os outros fazem de você.

JUFRN: Quais mudanças e per­ manências podem ser citadas como re­ levantes para o jornalismo? Ruellan: A depender dos países, a situação pode ser diferente. Podemos tomar como exemplo o que acontece na Espanha, tratado pela professora Maria Luísa Humanes durante o Colóquio. Ela explica que, naquele país, há uma tendência de politização da imprensa, uma polarização entre direita e esquerda e uma ligação mais

Denis Ruellan, jornalista francês forte entre veículo e leitor, de modo que a opinião dos jornais reflete a opinião de uma parte do público. Isso demonstra um aumento profundo da mercantilização e revela o fato de que o mercado é cada vez mais importante na definição das matérias de uma edição. Se fala menos de fatos cul-

turais e sociais e mais em entretenimento, consumo e lazer. Eu posso falar de uma outra mudança que é a precarização das condições de trabalho para os jornalistas. Os assalariados têm contratos fracos e muitos não têm situação empregatícia fixa. Temos o aumento do trabalho freelancer, os autônomos, e mesmo de jornalistas que são seus próprios empregadores. Nesse último caso, você faz tudo que é necessário na cadeia produtiva: apura as informações, escreve a matéria, vende, edita, busca anunciantes e vende o produto diretamente ao leitor. O jornalista torna-se mais uma empresa que um assalariado, o que confere a ele menor estabilidade e o faz pensar sobre mudança de emprego. A carreira está afetada pela descontinuidade. JUFRN: E para a sociedade em geral, fora os profissionais do jornalismo, quais são as repercussões dessas mudanças? Ruellan: É difícil saber. Podemos observar que a informação está melhor do que no passado, porque temos jornalistas mais bem mais capacitados, com formação ética mais ampla e melhores condições técnicas de trabalho. Por outro lado, os jornalistas têm que trabalhar dentro de formatos rígidos, obedecendo a um ritmo de trabalho que contribui para a precarização da atividade. Ao final, temos no jornalista um mero produtor de conteúdo, tolhido em sua autonomia intelectual, e isso se relaciona ao fato que o mercado da informação é difícil. Não é fácil obter recursos e vender informações. Parece que há uma contradição. Temos veículos que passam uma informação rápida e factual sobre o que aconteceu. Então o que os jornais, que vão ser impressos durante a noite ou nos fins de semana, vão dizer de novo? Ele vai fazer a análise e trazer matérias mais profundas e avançadas. Ao mesmo tempo, existe um discurso muito forte que afirma que o profissonal deve fazer tudo: gravar, editar, pôr na internet e ampliar a mesma matéria para o impresso. Mas, para fazer análise dos fatos, é preciso mais tempo do que aquele que é dado ao jornalista. Por isso saber o resultado de tudo isso para a sociedade é difícil. Você recebe muitas coisas durante um único dia, porque jornais, sites, televisão e rádios estão produzindo conteúdo. Há uma profusão de

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canais, mas diz-se que a informação em demasia pode matar a informação. JUFRN: No mundo todo acompa­ nhamos o fechamento de jornais diários e revistas semanais. Como isso afeta o mer­ cado para o profissional de jornalismo? Ruellan: A Europa passa por uma crise econômica muito séria, e podemos relacionar o fechamento de veículos a esse fato. Nos Estados Unidos, os empregos estão desaparecendo há mais de dez anos, mas no Brasil não há crise econômica, então não se pode explicar o fenômeno do mesmo modo. Aqui a razão é a crise da imprensa, a dificuldade de lutar contra os conteúdos gratuitos da internet e de fazer informação generalista. Jornais como Le Monde e Folha de S. Paulo têm como objetivo falar a respeito de temas variados como política, economia, cultura, acontecimentos sociais e la­ zer. Isso tornou-se mais difícil com a Internet, pela qual o leitor pode especializar sua busca por informações e pode eleger um site para ler sobre política ou outro para se informar sobre cultura. O modelo da imprensa de informação político-generalista encontra-se em dificuldade. As grandes redes de televisão, que não são especializadas em uma área determinada, também passam pelo mesmo desafio. Essa é a crise do jornal diário, que você tinha como a única fonte de informação. Hoje, quando alguém vai à banca, já tem conhecimento de boa parte das informações principais do jornal, porque a pessoa já recebeu as informações no celular. Então o que você vai procurar nos jornais se não análises e matérias mais profundas? JUFRN: O senhor considera que há salvação para a mídia impressa diária, ou o fim dessa modalidade de jornalis­ mo é questão de tempo? Ruellan: Alguns jornais vão perma­ necer, mas com certeza não vai haver espaço para todos. Essa é uma mudança que teve início ainda no período entre as duas grandes guerras, tanto na Europa quanto nos Estados Unidos, com a chegada da imprensa semanal, que já era mais especializada, e da imprensa mensal. Então a diminuição do número de veículos gene­ ralistas não é algo novo, mas uma tendência que acompanha o crescimento dos meios segmentados.


Coleção Egípcia desperta curiosidade por seu valor histórico e simbólico

EXPOSIÇÃO

Museu Câmara Cascudo exibe tesouros

do conhecimento e da memória universal Fotos: Anastácia Vaz

Por Sílvia Paulo

O

Museu Câmara Cascudo (MCC), unidade suplementar da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), expõe, por três meses, de maio a julho deste ano, “Tesouros do Museu Nacional”, a mais importante mostra itinerante do mais conhecido museu da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o Museu Nacional. Com o propósito de compartilhar preciosidades da memória, do conhecimento, da natureza e da cultura brasileira e da humanidade, o projeto contempla todas as áreas para as quais se volta o próprio Museu Nacional, quais sejam: Antropologia, Botânica, Geologia, Paleontologia, Zoologia, Biblioteca, arquivo e acervo histórico. Através da exposição, que conta com um acervo variado, os potiguares, pesquisadores e estudantes em geral podem apreciar o trabalho e o pensamento da humanidade que estarão disponíveis através daqueles que são considerados os tesouros científicos e históricos. A mostra visa a estender o saber e a percepção através des­ ses considerados valiosos objetos que, de outro modo, somente poderiam ser apreciados no próprio Museu Nacional, no Rio de Janeiro.

Entre as peças, divididas por bancadas, encontramse réplicas da Coleção Egípcia que compõe a Exposição Per-

Professora Sônia Othon: “exposição contribui com a divulgação de um patrimônio brasileiro” manente da instituição, a maior da América Latina e provavelmente a mais antiga das Américas. Entre essas peças da Coleção Egípcia algumas despertam a curiosidade pelo seu valor histórico e simbólico, como a estatueta de uma jovem dama que segura nas mãos uma flor de lótus, em sinal de renascimento e, na cabeça, traz um cone de incenso, características da sofisticação e do luxo da época. Também podem ser vistos shabits, estátuas de servidores funerários que eram guardadas no interior da tumba de sacerdotes mumificados. Conforme a crença egípcia, os shabits ganhariam vida e trabalhariam para os sacerdotes durante a eternidade no Outro Mundo, universo a que estariam destinados os indivíduos após a morte. Há também elementos da natureza. Na bancada de animais invertebrados se destaca o Tatuí Gigante, espécie de crustáceo feroz e carnívoro, que pode alcançar até 45 cm de comprimento e pesar 1,7 kg, além de viver em profundidades superiores a 400 m e em temperaturas de 4º C. Do acervo trazido ao Museu Câmara Cascudo, chamam a atenção ainda dos visitantes os mostruários de insetos, as chamadas caixas entomológicas, que e­xibem variedades de espécies de besouros, borboletas e gafanhotos.

Três peças exclusivas compõem pela primeira vez a exposição itinerante: as réplicas do busto de um Homo Habilis, o primeiro dos hominídeos a construir e utilizar ferramentas de pedra lascada; de uma cabeça de tigre-dentes-de-sabre, felino que viveu há cerca de três milhões de anos, cujos primeiros fósseis foram encontrados em cavernas de Minas Gerais; e de um stauricosauros pricei, espécie de dinossauro carnívoro e semibípede, a mais antiga do Brasil. De acordo com o museólogo Marco Aurélio Caldas, do Museu Nacional, outra peça que merece destaque é “Luzia”, uma reconstituição do rosto de uma mulher, feita a partir do fóssil humano mais antigo das Américas. Para Joana Flores, museóloga do Museu Câmara Cascudo, a exposição e as coleções expostas visam a ampliar o conhecimento e os resultados de inúmeras pesquisas acerca dos elementos trazidos pelo projeto itine­ rante. “O Museu Nacional pertence a todos nós e esse trabalho é importante para todos os estados [do Brasil] e os públicos, desde os curiosos até os pesquisadores”, afirma. Silena Rocha, educadora do MCC, des­ taca a contribuição que as visitas ao museu podem oferecer aos pesquisadores e estudantes. Segundo explicou, na exposição, os professores têm a liberdade de trabalhar o conhecimento em ambientes diferentes, o que possibilita diversas formas de continui­dade da ação educativa.

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Parceria democratiza a cultura nacional A exposição “Tesouros do Museu Nacional” é resultado de uma parceria firmada entre o Museu Câmara Cascudo da UFRN e o Museu Nacional da UFRJ, sendo considerado um passo importante para a democratização da cultura nacional. De acordo com a diretora do MCC, professora Sônia Othon, estabelecer parcerias com outras instituições é um assunto pautado há muito tempo e essa intenção renasceu em um encontro de dirigentes de museus, ocorrido em novembro de 2012,. Na ocasião foi feito o contato com o Museu Nacional, instituição que é referência em todo o País. Sônia Othon explica que a interação com instituições externas possibilita uma importante troca de experiências e de conhecimentos. “A exposição foi pensada para itinerar e colaborar, assim, com o Museu Nacional na divulgação de parte de seu acervo. Buscamos, então, contribuir com essa divulgação a fim de oferecer e facilitar o acesso de todos a um patrimônio histórico brasileiro”. A exposição itinerante “Tesouros do Museu Nacional”, que foi aberta no dia 23 de abril, vai até o dia 5 de julho deste ano e pode ser visitada gratuitamente, de terça a sextafeira, das 9h às 17h. Grupos com número de pessoas superior a 10 devem a­gendar vistas através do telefone 3342-4903.


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