Revista Digital ARTE INCITATUS Nº 03 • mar / mai • 2015
de ARTE e CULTURA
Revista Digital ARTE INCITATUS Nº 03 • mar / mai • 2015
A definição da cor de um vestido, imagem postada na internet e que causou polêmica por oscilar opiniões entre branco e dourado ou azul e preto, trouxe mais do que uma simples curiosidade óptica: É o poder da imagem que passa a mobilizar virutalmente sentimentos entorno de uma posição opinativa. Não há certo ou errado, apenas uma forma peculiar de perceber a realidade de formas diversas, mesmo que isso signifique trazer mais sono e adormecimento à nossa convivência, e isso é que David Ferreira procura entender e explicar em seu artigo “O vestido furta-cor e a Matrix”.
de ARTE e CULTURA
Dehoney Peclat expande sua visão sobre a utilidade da idiotice em aeu artigo “Idiota Útil - Retrato do Brasileiro”ao dizer que “Somos impregnados por vários rótulos e atitudes que facilmente nos colocam nesta situação de “Perfeito Idiota”. Além de Rosana Dare levantar sua voz em prol da conscientização do papel da mulher na política, Vanessa nos remete à lembrança com suas fotos da exposição sobre Luiz Gonzaga. Já Willian Delarte se pergunta sobre os vários sentidos do inculto “vão”. Quando a “ignorância” parece ser tema para Genadir Garcia e Agnaldo Ruivo, o primeiro nos mostra nela seus inerentes vícios causados pela pressa da informação, enquanto o segundo nos mostra nela uma possível virtude por trazer ou permitir “asas”, mesmo quando o voo seja o de manter vivo o poder imaginativo da criação. E muito mais. Agnaldo Ruivo Editor Pág. 2 | Revista Arte Incitatus • mar a mai 15
trimestral Próxima edição prevista para 15.06.15
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stamos no mês de Março, que é marcado pelas homenagens ao Dia Internacional da Mulher. No entanto, entendo que muito mais importante do que essas homenagens, é o respeito de verdade àquelas que diariamente, enfrentam batalhas para conquistar seu espaço em uma sociedade que ainda tem o machismo enraizado em suas bases. E, diante disso, a questão do empoderamento feminino se faz necessária O processo de empoderamento feminino é visto como estreitamente relacionado ao de participação na construção da sociedade. Experiências em diversas partes do mundo têm mostrado que processos de participação possibilitam processos de empoderamento e que estas metodologias favorecem o estabelecimento de
Por | Rosana Dare
políticas e práticas de desenvolvimento que contemplam as necessidades da sociedade. É importante a promoção e a implementação de processos participativos envolvendo mulheres na gestão das políticas sociais. O Banco Mundial, por exemplo, vê o empoderamento como a última etapa nos processos de participação local nos projetos de desenvolvimento. Por isso, o “empoderamento” é indicado como passo inicial de um processo mais amplo de conquista da cidadania, que deve ser facilitado através da participação em projetos com vistas a propor demandas de políticas públicas. E, falando em espaço na sociedade, mulheres somam 52% do eleitorado nacional, mas apenas 10% de representação em cargos políticos. Isso deixa
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evidente a necessidade de uma maior participação feminina na política, haja vista o fato de que, com isso, o acesso às políticas sociais seria significativo, e se faria refletir de modo positivo na sociedade Se as políticas públicas viabilizam o bem estar social, e, o empoderamento feminino a cada dia mais demonstra ser uma prática aliada ao desenvolvimento social, urge a necessidade da socialização do empoderamento, para que possamos focar na concretização de dias melhores em nossa sociedade.
Por | Guina
Petrolão, mensalão, apagão... corrupção brasIl: mania de grandeza!
Petrolão ou mensalão, quem se importa? daqui á pouco tudo vai ficar às escuras mesmo!
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Legislação sobre drones e VANTs no Brasil Cada dia mais presentes nos ares brasileiros, os drones disseminaram-se como uma modalidade de recreação para pessoas interessadas em novas tecnologias. Esses objetos voadores não tripulados também começaram a ser usados para fazer imagens aéreas e até mesmo para fazer entregas. Como há muitas dúvidas e controvérsias sobre o uso desses equipamentos, o Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea) da Aeronáutica divulgou o ponto de vista oficial sobre essas tecnologias e sobre quando e onde é permitido usá-las. Antes de mais nada, é necessário esclarecer os diversos tipos desses equipamentos de voo atualmente no mercado. Drone O termo “drone” é apenas um nome genérico. Drone (em português: zangão, zumbido) é um apelido informal, originado nos EUA, que vem se difundindo mundo afora, para caracterizar todo e qualquer objeto voador não tripulado, seja ele de qualquer origem, característica ou propósito (profissional, recreativo, militar, comercial etc.). Ou seja, é um termo genérico, sem amparo técnico ou definição na legislação. VANT VANT (Veículo Aéreo Não Tripulado), por outro lado, é a terminologia oficial prevista pelos órgãos reguladores brasileiros do transporte aéreo para definir este tipo de veículo. Há, no entanto, algumas diferenças importantes. A legislação brasileira caracteriza como VANT toda aeronave projetada para operar sem piloto a bordo, mas de caráter não-recreativo e com carga útil embarcada. Ou seja, nem todo drone pode ser considerado um VANT, já que um Veículo Aéreo Não Tripulado utilizado como hobby ou esporte enquadra-se, por definição legal, na legislação pertinente aos aeromodelos, e não na de um VANT. ARP Do mesmo modo, há dois tipos diferentes de VANT. O primeiro e mais conhecido é o ARP - Aeronave Remotamente Pilotada, ou RPA na sigla em inglês (Remotely-Piloted Aircraft). Nesta subcategoria, o piloto não está a bordo, mas controla a aeronave remotamente de
uma interface qualquer (computador, simulador, dispositivo digital, controle remoto etc.). A outra subcategoria de VANT é a chamada “Aeronave Autônoma” que, uma vez programada, não permite intervenção externa durante a realização do voo. No Brasil, as aeronaves autônomas têm o seu uso proibido. Assim, o termo ARP é a terminologia correta para se referir a aeronaves remotamente pilotadas de caráter não-recreativo - um drone que deve se submeter à legislação vigente. SARP Há ainda a categoria SARP, ou Sistema de ARP. Assim, além da aeronave, um SARP inclui todos os recursos necessários para que ela voe: a estação de pilotagem remota, o link ou enlace de comando que possibilita o controle da aeronave, os equipamentos de apoio etc. É comum também o uso do termo em inglês RPAS (Remotely Piloted Aircraft Systems). Regras para aeromodelos e drones No Brasil, os drones - o termo genérico - são classificados e regulamentados conforme seu propósito de uso. Se for para lazer, esporte, hobby ou competição, o equipamento é visto como um aeromodelo. Pode ser tanto um mini-helicóptero, uma réplica de um jato ou até mesmo um helicóptero de várias hélices - os mais comuns são os quadricópteros. Contudo, se o uso do mesmo drone for para outras finalidades (pesquisa, experimentos, comércio ou serviços - de fotografia, por exemplo), o aparelho passa a ser entendido como um veículo aéreo não tripulado (VANT) desde que possua uma carga útil embarcada não necessária para o equipamento voar. Exemplos dessa carga útil são as câmeras acopladas para tomadas aéreas de filmes ou quando alguém embarca uma correspondência para entrega, seja uma carta ou uma pizza. Da mesma forma que as demais aeronaves de aeromodelismo, não há impedimento para a compra, limitação de potência e tamanho do drone. Fonte: http://www.inovacaotecnologica.com.br
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Por | David Ferreira
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ntes, vai uma advertência sobre o titulo para explicar o tema: não gostaria de ressuscitar a polêmica sobre a cor do vestido que uma cantora escocesa postou na rede, que fez sucesso, recheou a internet e telejornais, e sacudiu o repertório das discussões acaloradas de corredor (aquelas bem animadas, mas de passagem, que passam e se esquecem).
Primeiro porque isso, infelizmente, animou por uns dias – uma semana, talvez - um enorme número de pessoas que se deu ao trabalho de ligar o computador e teclar sua percepção em alguma enquete, ou parou os afazeres de cidadão para ouvir chamadas de apresentadores entusiasmados: “E a cor do vestido postado nas redes está dando o que falar!” - E entretinham a audiência com isso, dentre as notícias do aumento das tarifas dos péssimos serviços públicos, das tragédias do cotidiano, das bandalhices da política. Pág. 8 | Revista Arte Incitatus • mar a mai 15
As explicações de oftalmologistas e especialistas em tecnologias puseram ponto final na brincadeira, antes que ela perdesse a graça: a cor é percebida pelo cérebro de acordo com a frequência de luz captada pelas células do olho, que varia de pessoa para pessoa. Interessante! Ocorreu-me, no entanto, que muitos pudessem ter dito (e/ou dito, pensado, sentido): “Ah! Estragou a brincadeira! Que me importa a explicação científica? Tudo bem! Ainda tenho uma enxurrada de novelas, uma penca de programas de auditórios, um montão de reality-shows – aliás, quem eu mando para o paredão nesta semana? -; as “selfies”, as baladinhas, o futebol e a cerveja... E se ‘o bicho pegar’, tenho um zilhão de denominações de igrejas, e uma miríade de
Matrix, e lhe oferece duas pílulas: uma vermelha, que permitirá o ingresso na realidade e na consciência da Matrix; e uma azul, que, ao contrário, o deixará na mesma situação do cotidiano. O moço toma a vermelha e “Tcharam!”: temos o herói das aventuras que se sucedem. Em consultas rápidas na internet (santa e demoníaca, que permite idiotia e sapiência), encontrei um significado místico de Matrix - três ilusões: a física, a psíquica e a espiritual, que ocultam a realidade.
rádios e televisões religiosas...” Lembrei-me do filme Matrix, de 1999, com Keanu Reeves e Laurence Fishburne. Respectivamente, Neo – um jovem messias hacker - e Morpheus, seu preceptor, que lhe dirá do mundo artificial, do controle das máquinas e das ilusões; e do mundo livre (que confesso, me pareceu um tanto sombrio e desenxabido!) – uma dimensão, ou espaço físico clandestino, ou seita, ou grupo extremista, ou o mundo real... Ou tudo isso ao mesmo tempo. O mundo real é contrário ao controle das máquinas que produzem virtualmente a realidade vivenciada pelos seres humanos: uma mentira, uma ilusão - a Matrix. Lembrei-me do filme por que nos primeiros contatos, quando Morpheus troca umas ideias com Neo, pergunta se ele quer saber o que é a
Vou tentar ser mais palatável (ou mais claro): qualquer tempo na televisão custa uma pequena fortuna e um ponto de audiência do Instituto Brasileiro de Opinião Publica e Estatística – IBOPE, no Brasil, pode corresponder a 620.400 telespectadores no mesmo canal num só momento.
“Que me importa a explicação científica? Tudo bem! Ainda tenho uma enxurrada de novelas, uma penca de programas de auditórios, um montão de reality-shows .” Para manter tanta gente “antenada”, é preciso escamotear as mazelas, ou soterrá-las, ou transformá-las em produto de interesse. E para não correr o risco de maltratar a pobre Revista Arte Incitatus • mar a mai 15 | Pág. 9
do?”. Deixa que a depressão pode vir, talvez, pela lambança na economia e nos escândalos dos poderes, com forçosa redução de consumo, mais impostos, preços mais altos, racionamento de água, etc. Ou pela perda da vida de um amado no trânsito, ou por bala perdida, ou num assalto cometido por uma criatura perversa de 14 anos.
Véu Wings Irridescente (Furta-cor)
mente do público, dá-se ênfase aos desfiles das escolas de samba no carnaval e deixam para dizer que 2785 acidentes nas estradas, com 1786 feridos e 120 mortos, são números que representam uma queda de 22% em relação ao ano anterior. Vivas!
Deixa! A Matrix se incumbe de retardar esse processo! Então fica a pergunta de Morpheus: você quer saber o que é a Matrix? Não, não tome droga alguma! Desligue a tevê e saia um pouco do computador. Vá ler um livro, viajar, fazer um curso, conversar com pessoas de verdade, abraçar quem você ama. Ah! Mais uma coisa interessante: Morpheus
Em vez de se discutir sobre o estiolamento das manifestações de Junho de 2013 (quem sabe não fale sobre isso na próxima?), é preferível produzir um caríssimo reality-show que, dizem, está em baixa com 22,8 pontos no IBOPE! Faça as contas de quanta gente vê isso! Para não atirar imediatamente mais gente no grupo dos 11 milhões de depressivos (7,6% dos adultos brasileiros), propõem-se brincadeiras e passatempos do tipo “qual é a cor do vesti-
“O mundo real é contrário ao controle das máquinas que produzem virtualmente a realidade vivenciada pelos seres humanos: uma mentira, uma ilusão - a Matrix”. Pág. 10 | Revista Arte Incitatus • mar a mai 15
Os óculos de sol de cada personagem foram feitos sob medida pela Blinde Design
(Morfeu), na mitologia grega, é o deus do sonho; filho de Hipnos, o deus do sono, que tem um irmão chamado Tânato, o deus da morte. Então, amigos, tentemos dormir o sono dos justos e sonhar com as delícias. Mas, acordados, vamos viver a vida! David Ferreira é escritor, autor do livro “Crônicas dos Coveiros do Cemitério Verde” - 2014
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Por | Dehoney Peclat
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ós, brasileiros conseguimos piorar o pior, rechaçamos nossa cidadania, defecamos sobre os valores morais e éticos com generosa hipocrisia, banalizamos e tratamos como situações típicas fatos criminais e brutais, sem esquecemos o quanto aceitamos passivamente o cabresto do idiota. Defendemos e fazemos vaquinhas para aqueles que nos usurpam financeiramente e moral. Chamamos de heróis aqueles que funestamente sapateiam em nossas feridas. Resenha•violeta? Hunnnn... Não!!! Sei dos fatos, e os fatos descritos motivariam, motivará e motiva, qualquer um a disparar um belo grito de “”IDIOTA”” cercado por outros inúmeros adjetivos... Boçal, Imbecil, Estupido, retardado.
RM da função e dimensão cerebral de um brasileiro
Obs: Lembrando que o texto mando a reclamação em inutifala da maioria dos brasileiros e não está generalizando. Maioria = lidade funcional. Número excedente a metade do todo; Grupo preponderante. 2. Ignorância Pluralística. Vivemos em rebanho conduzido Todo cidadão tem a consciên- pelo desconhecido sem vontacia dos seus deveres e direitos! de própria, sem a presença da Não!!! Não cabe aos brasilei- vontade ou senso individual. ros, respeitar as Leis ou direitos Resumindo somos Maria vai sociais e espaços de outras pes- com as outras. O “não-vai-dar soas. Isso afronta a alma brasi- -em-nada” é um discurso coleira, fere os padrões de sabedo- mum entre os “não-reclamanria/malandragem à brasileira. tes”. Criando uma “Espiral do Exemplos da falta de cidadania Silencio”, uma apatia com o ca ao povo tupiniquim: Furamos os. fila, estacionamos nossos automóveis em locais proibidos, 3. Futilidade e passividade de atrasamos nos compromissos, ideias transformam o brasileiro urinamos nas ruas, jogamos em “Trouxas”. Seja o centro lixo em qualquer lugar, atraves- das atenções, a dica é fale de fusamos farol vermelho, fazemos tebol, fofoca, bebedeira ou pudos automóveis verdadeiras taria. Caso contrário você será boates ambulantes. Não pode- rejeitado. Exceto, se o tema for ríamos esquecer os preguiço- início de uma reclamação colesos, sangues sugam que sem- tiva (que não vai dar em nada). pre deixa para os próximos as tarefas que caberiam a ele... 4. Falta de honestidade, não Tais atitudes ou falta delas, se faz apenas burlancriou uma sigla para descrever do as Leis, tirando o brasileiro. Conheça o PIB vantagens do próxi– Perfeito Idiota Brasileiro e mo. O brasileiro é suas rotinas. um “Trabuqueiro de marca maior”, não é 1. Reclamamos de tudo, po- honesto nem para asrem não temos vontade, nem sumir os próprios ercoragem para mudarmos. ros, sempre procura Abandonamos a necessidade um culpado para suas de procurar soluções, transfor- falhas. Para conhecer
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uma pessoa com caráter dúbio, basta ouvir de sua boca as frases: “Não sou culpado, ele também fez.” (Ou) “...porque você não fala deles também!!!” “...Você acha que só eu fiz...” “É normal, você vive em qual mundo? Todo mundo faz...” 5. Brasileiro valoriza pessoas sem valor, ou, pessoas que nada fez para merecer uma homenagem. Verdadeiro “Puxa Saco”, vírus do idiota proliferado pela mídia. Consciente desse tumor, traremos e forneceremos medicamentos através de informativos, para derrubar essa idolatria e admiração aos falsos feitores oriundos da ignorância humana. 6. Motorista Otário! Sim, o brasileiro adora fazer o papel do palhaço, ainda mais se o kit de otário tiver o pão e circo. Ao
longo da história automotiva deste país podemos citar situações em que o brasileiro aceitou o título de “Otário Maior”. 1° O preço dos automotivos no Brasil é elevadíssimo, fonte de exploração do Governo e suas taxações de impostos altíssimos
e continua durante todo tempo de vida útil do mesmo. (Nunca quitamos de fato os gastos feitos com a compra do auto). 2° Plaquetas para Placa com o ano do licenciamento e trocas constantes de modelos de Placas. 3° Kit Primeiros socorros, inútil para acidentes graves.
4° Somente o povo, brasileiro, aceita pagar e ser penalizado por algo ineficiente como o Extintor veicular. 5°. Soberania da Cidadania (sarcasmo) vem das estradas duplamente tarifadas, IPVA + Pedágios = pagamentos direcionados para a mesma finalidade, além da quebra de uns dos princípios da cidadania a Liberdade. 6° Pérola de vulnerabilidade constitucional do Estado para com o povo é escancarada na taxação do combustível. Petrobras, Estatal de quem? Quais feitos estão presentes no dia a dia do brasileiro? Não sabemos, não temos valorizações e nem melhorias constituídas pelos lucros da Estatal. 7. Para finalizar nós não poderíamos deixar de fora a Hipocrisia brasileira. A. Julgasse as religiões distintas da sua como de 2° categoria e relativamente uma arrogância e prepotência nada divina. O Estado Laico que direciona totalmente seus feriados, festividades e parâmetros de forma discriminatória, que privilegia a uma única religião – Transformando o Estado em uma Teocracia Branda do Bundalelê. A hipocrisia também está presente nas discriminações: B. Opções/orientações sexuais – Sempre agredidos de forma
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física ou verbal. Com apoio geral por todos de forma velada – Explicitamente caracterizado quando se trata de adoções. C. Escolha da agremiação esportiva – Faz de você um inimigo mortal até mesmo para os desconhecidos, basta carregar ou expor um símbolo relativo ao time para entra em estado de risco. D. Partidos Políticos e seus militantes que se julgam verdadeiros salvadores dos valores ou classes são perfeitos oportu-
Somos impregnados por vários rótulos e atitudes que facilmente nos colocam nesta situação de “Perfeito Idiota”. Queremos mudanças, porém não queremos mudar, somos acomodados há uma rotina medíocre de aceitação. Diante das argumentações apresentadas não há um único bra-
lembrar-nos dos valores individuais, suas escolhas e opções, e acima de tudo devemos respeitar ou tolerar da mesma forma que desejamos para conosco. Estatal ou público são denominações de propriedades para todos (do povo), sem excluídos, sem a perversidade do acima da Lei, local onde é não seria permitido a fanfara e apropriação dos bens de Estado. “Lembre! Cidadania é ter em posse os direitos civis, políticos e sócias, sempre entendendo que é um pacto de respeito moral e ético na associação entre os homens. Não é um pacto de submissão ou omissão!” Caso você tenha dificuldade em respeitar as regras sociais de boa vizinhança, juntamente com as Leis Pátrias, saiba que você sofrendo de PIB...
nistas de situações. Exploradores da miséria para benefício próprio. Porém não passam de acéfalos, que nunca enxergam os próprios erros. Mentes atrofiadas que não valorizam uma boa ideia que venha de outro, mesmo que a negativa cause um prejuízo ao povo. (Quem seria político no Brasil sem as regalias e salários surreais?).
sileiro que escape ileso, sem uma única omissão ou participação efetiva em fatores boçais, vergonhosos, a uma boa conduta social de cidadania. Vivemos em uma sociedade que teoricamente é pautada na igualdade (Mas cota é vantagem). Partindo do princípio de igualdade, as leis e obrigações são para todos, devemos
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Dehoney Peclat é Professor Geógrafo/Pedagogo e Escritor, autor das obras: Crucificador de Almas – 2009 Colecionador de Histórias – 2010 Cartas do Holocausto – 2014
Em 2013, a presidente Dilma estampou as páginas das revistas semanais junto com o tomate. Ela teria perdido o controle da inflação e o tomate virou a prova e o símbolo deste descontrole.
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esta série de artigos, buscamos mostrar ao leitor que a linguagem comumente utilizada para relatar eventos sobre o mercado pode mais ocultar que revelar o que de fato acontece. O uso reiterado de afirmações sobre as preferências e o estado psicológico deste “ser” pode ter a função de mistificar as coisas, tornando o leitor presa fácil para manipulações de toda espécie. Para um punhado de situações em que há milhares de agentes tomando posições (por exemplo, eleito-
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Por | Genadir Garcia
res) a mídia em geral gosta de tomar a maioria simples como se fosse o todo, criando, por meio desta linguagem abusada, um efeito chapado, em especial quando mostrar o degradê da situação não lhe convém (ARTE INCITATUS #1). Especificamente, uma maneira de mistificação proporcionada pela linguagem é interpretar variações de preços no mercado acionário como se representassem um estado psicológico unidirecional (otimista ou pessimista), ignorando que para haver negócios é obrigatório que se tenha duas visões concorrentes no momento da transação (ARTE INCITATUS #2). Mas claro, não vamos ser chatos! Quando se diz que o mercado está otimista com uma situação dada e a variação positiva do Ibovespa é apresentada como indicativo da verdade desta afirmação, não tendo
a afirmação outro objetivo que o de comunicar simplesmente uma visão de momento, podemos aceitar isto sem querer analisar muito. Embora sabendo que no núcleo das coisas não seja exatamente isso o que acontece, em uma conversa entre amigos é melhor que se busque compreender o sentido do que está sendo dito e preserve-se a amizade.
“Um exemplo de falta de conhecimento dos eventos do mercado de renda variável é quando se contrabandeia leis e regras do mercado geral para dentro das explicações destes eventos.”.
Mas na mídia em geral, e ainda mais na mídia especializada, se deparar com certas afirmações e explicações espantam e aborrecem. O espanto se dá pela constatação, às vezes, da falta de conhecimento ou de rigor no trato com os eventos de mercado. O aborrecimento, quando se percebe claramente o uso da linguagem comumente aceita para tratar destes eventos com o fim de induzir um estado de ânimo em quem se alimenta desta mídia, visando outros fins que não o meramente informativo. Um exemplo de falta de conhecimento dos eventos do mercado de renda variável é quando se contrabandeia leis e regras do mercado geral para dentro das explicações destes eventos. Já lemos em vários lugares que a cotação das ações da Petrobrás está caindo porque, com o excesso de notícias negativas, deterioração dos seus fundamentos e perspectivas sombrias se abatendo sobre a empresa, há mais vendedores atualmente que compradores. Isto é exato? Em 2013, a presidente Dilma estampou as páginas das revistas semanais junto com o tomate. Ela teria perdido o controle da inflação e o tomate virou a prova e o símbolo deste descontrole. Dilma teria assim “pisado no tomate”. Naquele ano, não estava tão claro se a inflação estava mesmo retornando, apenas que o tomate e mais outros itens de alimentação estava um absurdo de caro e a explicação era a safra ruim por causa de chuvas demais em uma área e seca demais em outras. Normal, mas foi o suficiente para um “taca-le pau” no governo petista. Hoje o tomate não está no mesmo nível de preço de 2013, mas a inflação estourou o teto da meta definida pelo próprio governo como aceitável. Os pés da presidente não estão mais sobre o tomate, mas sobre a lama negra e viscosa do petróleo. Eventos de escassez, como uma safra ruim, deter-
minam preços maiores para produtos de alta demanda. Quando há desequilíbrio entre oferta e procura, os preços oscilam fortemente na direção que convém aos agentes econômicos para auferir maiores ganhos ou manter os custos dentro do limite operacional. O fato é que essa lei que se aplica ao mercado geral, quando em ambientes saudavelmente competitivos, não se aplica ao mercado de renda variável. No mercado geral, vendedores ofertam produtos demandados por compradores que, no final da cadeia de venda, os consumirão totalmente. Ou seja, dinheiro vira produto que vira consumo. No mercado de renda variável, obviamente que as coisas não se processam assim, pois falta o elemento consumo. Ali, dinheiro vira ativo (uma ação, um título, um contrato, todos simples registros eletrônicos) que vira dinheiro novamente. E isso muda muita coisa. Voltemos novamente, como fizemos em artigos anteriores, ao núcleo do mercado de renda variável que são as transações. O que vemos num dia típico de negociações envolvendo as ações da Petrobrás? Em geral, acontecem mais de 25 mil negócios num único dia. Cada negócio é um contrato de compra e venda de certa quantidade de ações. Ao final do dia, temos o volume negociado em milhares de ações ou em milhões de reais. O número de negócios, volume de ações negociadas e volume financeiro variam em qualquer período que se queira considerar. Há dias em que se negocia muito e há dias que se negocia pouco, mas um fato não varia: para cada unidade comprada corresponde uma unidade vendida. Ao final do dia, teremos sempre a mesma quantidade comprada e vendida. Revista Arte Incitatus • mar a mai 15 | Pág. 17
Olhando assim parece tão óbvio que não pode haver em nenhum momento do dia e em nenhum período curto ou longo, mais quantidade vendida que comprada. Para qualquer ativo em que haja li-
‘a mídia... despeja uma torrente de informações nas quais o óbvio se perde, a clareza se dissipa e o sentido é torcido para privilégio de grupos’. quidez suficiente para negociação, sempre haverá a mesma quantidade de compra e venda, então porque se insiste nessa ideia de que as cotações variam por haver mais compras que vendas? Tal ideia não encontra amparo nos fatos deste mercado. Pensando nos agentes responsáveis por estas transações, podemos até nos espantar que, em boa parte das vezes, acontece exatamente o contrário do que se pensa. Um único vendedor, um big player (Fundo de Investimento, corretoras, empresas etc.) detendo grande número de ações pode querer vendê-las de uma única vez, negociando simultaneamente com milhares de compradores cujas ordens de compra já estavam acionadas e compondo o book de ofertas. As cotações desabarão com este movimento e o relatório do período nos mostrará que a cotação variou negativamente, mas não só não tiveram “mais vendedores que compradores” como também não teve “mais quantidade vendida que comprada”. O mesmo movimento na direção da compra gera o mesmo efeito, é claro. E fica fácil, assim, ver o absurdo desta explicação frequentemente utilizada para explicar os movimentos dos preços no mercado de renda variável. Quem as utiliza, realmente, está pisando no tomate.
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Se pensarmos apenas na função comunicativa da linguagem, desenvolveremos um espírito de tolerância com relação ao emprego desta, perdoando erros, passando por cima de deslizes, buscando por trás da palavra mal articulada ou mal escolhida para a frase que lemos ou ouvimos o seu sentido. Só assim podemos lograr entabular um diálogo sincero com o nosso interlocutor, que esperamos, também tenha o mesmo espírito compreensivo com relação ao nosso linguajar tortuoso e inculto. Ocorre que a mídia em geral abusa dessa tolerância e ancorada pelo nosso espírito pouco crítico e nada investigativo, despeja uma torrente de informações nas quais o óbvio se perde, a clareza se dissipa e o sentido é torcido para privilégio de grupos.
Daí que, apesar da pressa, é preciso parar, dar um passo atrás e examinar as informações transmitidas, verificando se, para além da função meramente comunicativa, há algo que está sendo velado pela aposta abusiva na nossa ignorância.
Mais uma vez aqui um registro de ausências. Não que seja intencional, pelo contrário, ruas, nos objetos, em algum lugar que visito, que registro e que por si só me faça revirar
É um lugar repleto de afeto, cheiros e sons. Neste registro, em especial, peço licença ao le singela homenagem. Busco registrar alguns dos elementos que me fazem estar mais pró Gonzaga, no Parque do Ibirapuera há algum tempo, setembro de 2013, para ser exata.
A cultural material aqui presente me faz enxergar um homem simples e sensível, que re na, no repique do pandeiro, no pulsar do triângulo, nas canções e causos, nos perfumes dos sonhos, das nuvens e dos pássaros, essa afetividade atemporal que permeia as raíze
I - Porta para vilarejo no Sertão Que Nem Jiló Luiz Gonzaga Se a gente lembra só por lembrar O amor que a gente um dia perdeu Saudade inté que assim é bom Pro cabra se convencer Que é feliz sem saber Pois não sofreu Porém se a gente vive a sonhar Com alguém que se deseja rever Saudade, entonce, aí é ruim Eu tiro isso por mim Que vivo doido a sofrer Ai quem me dera voltar Pros braços do meu xodó Saudade assim faz roer E amarga qui nem jiló Mas ninguém pode dizer Que me viu triste a chorar Saudade, o meu remédio é cantar Pág. 20 | Revista Arte Incitatus • mar a mai 15
“Se a gente lembra só por lembrar O amor que a gente um dia perdeu”
Por | Vanessa Ferreira
, acredito que na verdade busco essencialmente pessoas e suas faces nas paisagens, nas r a memória e lá encontrar gente.
eitor para falar com objetos sobre o meu saudoso Pai e, de certa maneira, lhe fazer uma óxima dele, do seu sangue nordestino fortemente presente em uma exposição sobre Luiz .
espirava música, que me ensinou a beleza da arte nordestina, seja ela no fole da sanfos dos temperos e dos pratos que juntos saboreávamos. Uma porta de entrada ao mundo es e as memórias de Luiz, um ícone da cultura popular brasileira, e de meu querido Pai.
“Porém se a gente vive a sonhar”
II - Quarto e as facetas de Luiz Gonzaga Revista Arte Incitatus • mar a mai 15 | Pág. 21
Todas as fotos são de autoria de Vanessa Ferreira
IV - Abraço Paterno regado de afeto
“Ai quem me dera voltar Pros braços do meu xodó”
Vanessa Ferreira é educadora em Ciências Humanas, graduada em História e amante da Arte.
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“Com alguém que se deseja rever”
III - Sanfoneiro Violeiro V - O registro das Memórias
“Saudade, o meu remédio é cantar” Revista Arte Incitatus • mar a mai 15 | Pág. 23
Foto: http://www.portalnikkei.com.br/
I
vone Nakamura Shirahata, é natural de Registro (SP) e reside em Cotia há mais de 20 anos. Formada em Serviço Social pela PUC SP, é ceramista discípula de Shoko Suzuki. Considerada atualmente uma das mais importantes representantes da arte koguei no Brasil, a arte de criar objetos a partir de elementos básicos da natureza, como fogo, água, madeira, terra e ferro, Ivone nos concedeu uma entrevista para a 3º edição da revista ARTE INCITATUS no dia 09 de março de 2015.
Arte Incitatus: Ivone, como você se descobriu ceramista? Ivone Shirahata: Em 1992, em busca de uma atividade que pudesse servir como hobby, descobri a modelagem em cerâmica. Nada conhecia sobre o assunto, mas gostei muito da ideia de trabalhar com argila. Pensar em fazer um objeto com as próprias
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Por | Agnaldo Ruivo
mãos, que concretizasse uma ideia era fascinante. No início, a atividade servia para aliviar as tensões do trabalho, já que o Serviço Social lida com situações de extrema complexidade. Meu primeiro professor foi o Mestre Lelé. Com ele aprendi a modelar a argila utilizando o torno elétrico. Após 7 anos, tive aulas com Hideko Honma, com quem aprendi sobre as possibilidades e importância das interferências nas peças torneadas, imprimir texturas, modificar as formas simétricas e principalmente lições sobre o gestual nesta arte, o que dá movimento e expressão à peça. Após este percurso, tive a grande oportunidade e privilégio de ter Shoko Suzuki como Mestre. Após anos de estudo e prática da cerâmica, decidi abrir mão da minha profissão de Assistente Social e passei a me dedicar à Arte Cerâmica. No princípio dei aulas e trabalhei muito na produção de peças para atender encomendas de restaurantes e hotéis. Ao mesmo tempo procurei cursos especializados
para ampliar as minhas possibilidades na cerâmica. Desde então não parei de pesquisar e experimentar novas técnicas. AI: Qual é a sua técnica ou estilo? IS: Trabalho com a argila, utilizando variadas técnicas. Faço peças utilitárias ou objetos de arte no torno elétrico ou manual. Também trabalho a partir de placas ou rolinhos de argila. A escolha da técnica depende do tipo de peça que vou executar. Procuro seguir um pensamento que está intimamente ligado à natureza, ou seja, minhas peças têm formas orgânicas, que parecem pedras, sementes, flores, árvores, galhos, frutas, etc. AI: Que mercados suas obras abrangem ou é a partir de exposições que se realizam as vendas? IS: Há cerca de 15 anos, comecei participar de eventos coletivos para expor os meus trabalhos. No princípio eram peças pequenas, utilitárias e decorativas. O público era formado por amigos e parentes e depois de um tempo passei a produzir cerâmicas para hotéis e restaurantes. A cerâmica que faço não pode e nem deve ser comparada à cerâmica industrial. Pois ela é feita uma a uma, o que lhe confere o status de peça única.
Foto: Rômulo Fialdini
AI: Em que lugares suas obras já foram expostas? IS: Participei de exposições coletivas de Arte em diversas localidades. Mas destaco a minha participação nas exposições promovidas pela Socieda-
de Brasileira de Cultura Japonesa – Bunkyo.-SP. Anualmente acontece uma exposição denominada Grande Exposição de Arte Bunkyo, na categoria Arte Craft. Participei também de Mostras Comemorativas ao Centenário da Imigração Japonesa realizadas no Rio de Janeiro e São Paulo. Em outubro de 2013 realizei a minha primeira Exposição Individual, que intitulei “Origem”, que aconteceu na cidade onde nasci, Registro-SP. Neste ocasião, contei com a participação especial da minha Mestre Shoko Suzuki. Apresentei cerca de 50 obras, feitas ao longo de 20 anos de trabalho com a cerâmica. Fiz também uma instalação que remetia à ideia de um jardim, composta por cerca de 1000 flores feitas com porcelana e centenas de sementes, suspensas acima dessas flores, criando uma atmosfera interessante. Os visitantes podiam passar no meio desse jardim e interagir com as pequenas e delicadas flores e sementes. Recebí o apoio oficial da Prefeitura Municipal, Bunkyo de Registro, Comissão do Centenário de 100 anos da Imigração Japonesa em Registro, Jornal Regional e TIM. Contei também com a participação de familiares e amigos na montagem e realização do evento na cidade. Ressalto que esse importante evento aconteceu graças ao empenho da amiga e professora Cristina Hirota. AI: Qual é a importância de Shoko Suzuki em sua obra? IS: Conheci pessoalmente Shoko Suzuki em 2004. Foi um marco importante na minha vida. Até então a conhecia somente através da mídia e exposições. No ano acima, Shoko havia completado 50 anos de carreira e decidiu dar aulas para um reduzido grupo de pessoas que quisessem conhecer a sua técnica de trabalhar com um torno manual. Ela trouxe essa técnica do Japão e com ela fez as suas maravilhosas obras de arte. Ao longo dos anos de convívio, fui recebendo os seus ensinamentos. Shoko é um exemplo de mulher e artista. Sempre generosa, passou não somente ensinamentos sobre a cerâmica, mas sobre a vida. Senso de justiça, lealdade, honestidade, sempre acompanhados da humildade. Estas são as Revista Arte Incitatus • mar a mai 15 | Pág. 25
AI: Sua produção é mais artesanal ou manual? IS: Atualmente estou tentando focar o meu trabalho para uma produção de peças maiores, para
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constituir um acervo com os meus trabalhos. São peças que compõem séries que classifiquei da seguinte forma: “Origem”, “Sementes”, “Pedras”, “Flores” e “Natureza”. Em alguns momentos procuro desenvolver peças utilitárias a pedido de restaurantes que optam por utilizar louças diferenciadas em cerâmica. AI: Que material você costuma usar para produzir suas obras? IS: A cerâmica que faço é a de alta temperatura. Utilizo argila, própria para a temperatura de 1.280o C. A argila é moldável tanto utilizando somente as mãos como utilizando ferramentas como um torno. Após a modelagem, a peça deve secar naturalmente e depois é colocada no forno para passar pela primeira queima, que atinge cerca de 900o C. Após o esfriamento do forno, as peças são retiradas e recebem uma camada de esmalte e voltam para o forno e são queimadas a 1280o C. AI: Além da criação artística, há produção personalizada (criar produtos por encomenda)? IS: Neste momento estou desenvolvendo um projeto de pratos para um restaurante que optou por utilizar a minha cerâmica. Em vários encontros com o Chef, desenvolvi peças exclusivas e com design personalizado.
Foto: Rômulo Fialdini
a técnica e sua obra
Foto: Rômulo Fialdini
principais virtudes dessa grande Mestre. Com Shoko aprendi muito sobre a Arte Cerâmica. Entendi que para que a obra se expresse, é necessário fazê-la com a Alma. A simplicidade das formas e a suavidade das queimas são traços presentes na obra da Shoko e que me chamaram atenção. A partir dos ensinamentos de Shoko comecei a minha caminhada na busca de uma identidade própria. Certo dia, após concluir uma peça, mostrei à Shoko. Queria ouvir uma opinião da minha Mestre. Ela olhou, olhou e disse: “Muito bom...tem algo de Shoko, mas é Ivone”. Entendi então que estava no caminho certo. Em 2007, decidi construir um forno a lenha, do tipo Noborigama. Sob a orientação de Shoko e seguindo o mesmo projeto do forno dela, construímos o Akebono, nome com o qual ele foi batizado e que tem o significado de “alvorecer”. Este projeto tem uma linda história. Quando Shoko decidiu mudar-se para o Brasil, em 1962, um amigo ceramista, Yoshikzau Shinoda, lhe deu de presente um detalhado projeto desse forno, desenhado à mão, e com todas as medidas e especificações para que ela pudesse construir um forno desse tipo aqui no Brasil. Assim ela fez. Com suas próprias mãos construiu o seu Noborigama, batizado de Saigama, que significa poema, esperança e beleza, como a música “Aquarela do Brasil”. A queima da cerâmica é a finalização da obra. Um dos pontos altos no aprendizado foi participar das queimas com a Shoko, no forno dela. Uma vivência única, onde aprendemos os princípios básicos da queima nesse tipo de queima. O fogo torna-se mágico, intenso e ao mesmo tempo suave. O calor quase que insuportável torna-se suportável e imprescindível. A harmonia entre o fogo, o ar, a terra e a água são essenciais para se obter um bom resultado. A energia das pessoas envolvidas na queima, bem como as condições do tempo, a qualidade da lenha, a sincronia de todos esses detalhes revelarão ao final se tudo foi de acordo.
Um tipo de prato para cada tipo de comida. AI: O que você procura em suas produções? IS: As minhas criações tem como principal característica a forma orgânica. Gosto de observar a natureza para buscar inspiração. AI: E o que você procura transmitir? IS: Gosto do resultado final que concede à peça um aspecto natural. A forma, a cor e a textura que nos remetem à comparação com a natureza me agradam muito. Não que elas devem ser cópias fiéis das coisas da natureza. Gosto das possibilidades infinitas que podemos imprimir nas peças de cerâmica. A rusticidade, a opacidade ou o brilho intenso. A argila é maleável, moldável; extremamente plástica. Permite-nos criar formas e texturas infinitas e ao mesmo tempo únicas. conceitos sobre sua arte ai: A arte cerâmica tem sua “pedra filosofal” em que sentido? is: Quando a argila passa pelo processo de queima, ela se transforma em cerâmica. A alquimia que precisamos fazer para conseguir cores especiais tanto de arg i l a como de esmaltes é fascin ante. Saber combinar m a térias primas natur a i s p ara conseguir os resultados deseja-
dos é um grande desafio, mas ao mesmo tempo um fascínio. ai: Ela também possui a sua “caixa de pandora”? IS: A cerâmica tem seus mistérios, sua magia. Não é a exatidão que revela a sua beleza e a sua arte, mas o resultado obtido de experimentos infinitos que fazemos ao longo dos tempos. Muitas vezes temos resultados surpreendentes, e se queremos repetir o mesmo resultado, podemos nos frustrar, pois como a matéria-prima que utilizamos é completamente extraída da natureza, isso torna-se quase impossível. Aí está a beleza desta arte. AI: Os primeiros objetos em cerâmica serviam para guardar sementes e grãos, ou transportar água, etc., qual a finalidade das obras em cerâmica hoje? IS: Na Antiguidade a cerâmica era utilizada no dia-a-dia. Um material durável que servia para armazenar alimentos, servir refeições, fazer adornos, urnas funerárias, etc. Posso dizer que hoje, a cerâmica está cada vez mais sendo utilizada e admirada. Principalmente como peças utilitárias ou decorativas. Seu aspecto mais rústico diferencia-se das peças industrializadas. As possibilidades de criação são ilimitadas. As obras de arte em cerâmica são surpreendentes, pois às vezes parecem feitas de metal, pedra, gesso, madeira, etc.. Atualmente a cerâmica de alta temperatura está bem mais conhecida do que a 20 anos atrás. Temos inúmeros ateliers que ensinam esta arte em todo o território nacional. AI: Muito do que se conhece de povos antigos se deve à descobertas arqueológicas de objetos em cerâmica, o que a cerâmica representa para a história da humanidade, hoje? IS: Acredito que a cerâmica vai continuar contando a História da Humanidade, assim como fez até o momento. Ao visitar o Metropolitan Museu de Nova Iorque, pude ver milhares de peças de cerâmica, pertencentes às mais variadas civilizações que já passaram pela Terra. A partir desse tesouro arqueológico, podemos imaginar os costumes e a vida de todos os povos. Com a descoberta do fogo surgiu a cerâmica. Pois antes disso, os objetos não poderiam ser produziRevista Arte Incitatus • mar a mai 15 | Pág. 27
AI: Mestre Vitalino (Brasil) e Rosa Ramalho (Portugal), o que eles representam para você na arte ceramista? IS: Mestre Vitalino, grande ceramista do nordeste brasileiro. Ficou conhecido pelas pequenas esculturas que fazia, que retratavam o quotidiano dos habitantes do Alto do Moura, em Caruarú – Pernambuco. Estive lá na casa de Mestre Vitalino e conheci seu filho, que continua reproduzindo as figuras que o seu pai fazia. Observei que há muitos artesãos fazendo o mesmo, pois o local tornou-se roteiro turístico para quem quer conhecer um pouco mais sobre a cerâmica do Mestre. Rosa Ramalho, uma ceramista portuguesa, também fazia pequenas figuras. Não conheci os trabalhos dela pessoalmente, mas imagino o quanto suas peças foram importantes para a história da cerâmica portuguesa. Valorizo cada artista e artesão que trabalhou ou continua trabalhando para concretizar seus sonhos neste universo da cerâmica. Obras que falam por si, que expressam um sentimento, uma emoção. AI: Ser um ceramista é o mesmo que ser um escultor? IS: Acredito que um ceramista pode ser um escultor ao mesmo tempo...mas um escultor não pode ser um ceramista. Um ceramista se permite fazer qualquer tipo de objeto, seja este um utilitário ou decorativo. Já o escultor tem o foco na escultura. AI: Fale um pouco sobre a arte da cerâmica hoje? (mercado, novos artistas, etc). IS: A Arte Cerâmica vem conquistando espaços cada vez mais significativos na sociedade brasileira e no mundo. Hoje vejo que graças ao trabalho de divulgação e dedicação dos ceramistas para elevar a cerâmica ao status de Arte, nossa cerâmica encontra-se nesse patamar. No Brasil, Shoko Suzuki é a nossa grande ceramista, cujas obras são consideradas Arte. Sobre o futuro da nossa cerâmica, acredito que ainda temos muito a fazer. Temos que continuar trabalhando para divulgar a
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Arte Cerâmica. Creio que o mercado está aberto para todos e tudo depende da qualidade, nível , criatividade e originalidade do ceramista que almeja projetar-se com a sua cerâmica. Temos muitos ceramistas com elevado nível técnico e artístico. Por isso imagino que teremos muitos talentos que ainda serão revelados nas próximas décadas.
Foto: https://ivoneshirahata.wordpress.com
dos, uma vez que a argila só se transforma em material durável e utilizável a partir do momento que são queimadas.
”A Arte tem que ser sincera e verdadeira. Dessa forma tem o poder de transformar vidas. Faz refletir sobre possibilidades e impossibilidades, mexe com as pessoas, trabalha com sentimentos, pode ser um instrumento para superação. Instiga, questiona, surpreende. Envaidece, provoca sensações, mostra realidades”. Ivone Shirahata
? MANCHAS Fincou as pálpebras
na frente do espelho. Os
olhos ao fundo das m a n c h a s
denunciavam , era certo: n
ão sabia mai s chorar .
Derramouse em risos.
?para onde vão os pés de Amarildo quando o olho da noite não o vê? ?cadê os lábios, cadê o queixo de Amarildo? ?o joanete, aquele bico de papagaio, a pinta que só ela reconheceria na calada do dia na boca no fumo no beco da madrugada? ?o que fazem os dedos de Amarildo? ?serão setas? ?buracos negros? ?desenharão sóis na areia? ?serão ossinhos ou palitos de dentes na fuça de um cão? ?onde deita a retina da mulher quando encontra nos olhos dos filhos só a ausência do marido? ?cadê Deus que não a escuta?
Willian Delarte
É autor dos livros “Sentimento do Fim do Mundo” (poesia, 2011) e “Cravos da Noite” (contos, 2014), ambos pela Editora Patuá. Tem publicações em diversas revistas e antologias. Foi co-editor da revista “Rebosteio Digital”.
?o que será do crânio, o que terá no peito de Amarildo? ?três balas? ?dois sonhos? ?um vão? Revista Arte Incitatus • mar a mai 15 | Pág. 29
Por | Agnaldo Ruivo
“O que a ignorância traz de conhecimentos sobre nós; humanos tão virtuosos quanto imperfeitos anjos alados?”
E
m “Birdman”, o grande e genial filme vencedor do Oscar 2015, do diretor mexicano Alejandro G. Iñárritu, o conflito existente entre o “personagem-homem” e o “personagem-birdman” pode ser identificado como a ação representativa da eficácia repressiva, pelo fato de manifestar no personagem Riggan Thomson (Michael Keaton) um “valor” ou um “bem” que o engrandece além da realidade Pág. 30 | Revista Arte Incitatus • mar a mai 15
ruim dos dias de decadência. O tempo narrativo acompanha ininterrupto toda sequência de decadência moral e ética, valores humanos nos quais se ocultam a vontade e o desejo de alcançar, de progredir, de se libertar e voar, conceitos que na ausência reforçam a definição de “obstáculos e dificuldades” como algo a prevenir à derrota. Pensando assim, identifica-se a derrocada como a liberdade de escolha e a compreensão de que reduzir-se à renúncia é seguir a lei da impotência sobre a vontade, tudo natural e aceitável porquanto se acredita foco e representante de uma maioria,
mas não quando se trata de viver em busca de um ideal. A suposição de que o processo da representação social em que todas as pessoas cotidianamente vivem seja baseado em como o pensamento se introduz nos objetivos e sobre os ideais de cada ser, a ideia da representatividade e da realidade está dividida entre exploração imaginativa e recusa fragmentada de desafios, numa intervenção direta nas personalidades, ora como interlocução que determina e orienta a personalidade ora como figura associativa do indivíduo. A simples perspectiva de rejeição que se faça de algo que se apresenta com algum apuro, determina a forma com que encaram o problema e o desafio, dividindo o ânimo em determinação do verdadeiro e do falso, do bom e do mau, do possível e do necessário, da liberdade e da coerção. O espírito humano de conquista é o princípio da afirmação de que todos são iguais, porque livres. Existência que está sob as mesmas leis de que todos são autores de suas escolhas.
resolve com a mudança estrutural do pensamento, daí no filme “Birdman” o personagem da ficção em quadrinho aparecer para o ator Riggan Thomson (Michael Keaton), ditando ânimos de comandos em que busca enfrentar as dificuldades conciliando o princípio da igualdade e da liberdade real das desigualdades imaginárias. Um vaso arremessado à parede pelo pensamento não é o mesmo que um arremesso feito com as mãos.
“O espírito humano de conquista é o princípio da afirmação de que todos são iguais, porque livres.”
O maior problema que norteia este princípio, ao contrário de conflito, é a forma de exprimirse, ou seja, do consenso sobre os obstáculos donde possui a forma da contradição e não a da mera oposição. A oposição significa que o conflito se resolve sem modificar a estrutura da personalidade, mas uma contradição só se
Birdman é um filme que há muito não se via nos cinemas: Existencial de contradições imateriais, ilimitado de leituras e conceitos, genial na forma narrativa de se contar uma história e histórico pelo que traz de humano e sobre-humano de cada um de nós, indivíduos e personagens de uma mesma realidade trágica, porém concedente do direito de criar novos rumos, em que a escolha de avançar ou desistir perante os desafios e obstáculos só cabe justificativa se souberem dar “ouvidos” aos próprios pensamentos.
“reduzir-se à renúncia é seguir a lei da impotência sobre a vontade, tudo natural e aceitável porquanto se acredita foco e representante de uma maioria”.
Agnaldo Ruivo editor da Revista AI Revista Arte Incitatus • mar a mai 15 | Pág. 31
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