Práticas de Animação nº10
issn: 1646-8015
2017
“Práticas de Animação”
ano 11 | número 10 | outubro 2017
Índice CONSELHO DE REDAÇÃO | 4
EDITORIAL | 6
FEIRA NACIONAL DA CEBOLA DE RIO MAIOR – CONSTRANGIMENTOS E INCENTIVOS PARA A AFIRMAÇÃO LOCAL EM CONTEXTOS DE ENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO | 7 ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL GERONTOLÓGICA PROMOTORA DA SATISFAÇÃO COM A VIDA EM IDOSOS FREQUENTADORES DE CENTROS DE DIA NA REGIÃO INTERIOR | 27 PEOPLE MAKE...COMMUNITIES - APONTAMENTOS SOBRE DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO NA ESCÓCIA | 48 RECUPERANDO ESPAÇOS PARA A CONVIVENCIALIDADE| 68
PENSAR LA RECREACIÓN Y LA NARRATIVA DE LA DECOLONIALIDAD ENTRE LAS TENSIONES Y PARADOJAS ÉTICAS, ESTÉTICAS Y POLÍTICAS DE AMÉRICA LATINA… | 88
ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL NA 3ª IDADE | 118 ANIMACIÓN SOCIOCULTURAL Y EDUCACIÓN DE CALLE: LA ASC COMO HERRAMIENTA DE EMPODERAMIENTO COLECTIVO Y TRANSFORMACIÓN SOCIAL | 128 “A ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL NA TERCEIRA IDADE PROJETO DE INTERVENÇÃO NO CENTRO DE DIA DA CASA DO POVO DE FONTELAS” | 138 O PAPEL DA ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL NA REABILITAÇÃO PSICOSSOCIAL EM SAÚDE MENTAL | 147
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Ficha Técnica Diretor: Albino Luís Nunes Viveiros E-mail: albinoviveiros@netmadeira.com E-mail da revista: revistapraticasdeanimacao@gmail.com Design/Paginação: Elisa Franco Catanho Coordenação de conteúdos: Cláudia Paixão Textos (os artigos assinados são da inteira responsabilidade dos seus autores): António Sérgio Araújo de Almeida, Alixon Reyes, Ana Teresa Menezes da Silva Alves, Bruno Trindade, Cláudia Dias, Daniel Ferreira, Diogo Marques Vala Firmino, Ernesto Candeias Martins, Leonardo Manuel Lopes Pereira Couto, Maria João Trindade de Figueiredo, Mário Montez, Mario Viché Gonzalez, Sergio Buedo Martínez. Periodicidade: Anual Número atual: Ano 11 - N.º 10, outubro 2017 | outubro 2018 ISSN: 1646-8015 Revista com referee
Projeto de intercâmbio editorial «Animação Digital» (para aceder às revistas Quaderns d’ Animació i Educació Social e Animación, territórios y prácticas socioculturales clique no logo «AD»):
Apoio:
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Conselho de Redação Prof. Doutor Victor J. Ventosa Universidade Pontifícia de Salamanca | Rede Iberoamericana de Animação Sociocultural
Prof. Doutor Marcelino Sousa Lopes Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro
Prof. Doutor Victor Melo Universidade Federal do Rio de Janeiro | Grupo de Pesquisa "ANIMA"
Prof. Doutor Avelino Bento Instituto Politécnico de Portalegre/ Escola Superior de Educação
Prof. Doutor Mário Viché Universidad Nacional de Educación a Distancia | Revista Quaderns d' Animació i Educació Social
Prof. Doutor Jean Claude Gillet Universidade de Bordeaux
Prof. Doutor Xavier Úcar Martinez Universidade Autónoma de Barcelona
Prof. Doutora Ana Piedade Instituto Politécnico de Beja/ Escola Superior de Educação | Rede CRIA
Dr. Manuel Martins Revista Anim'Arte 4
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Dr. José Vieira Instituto Português de Juventude
Dr. Albino Viveiros AIASC – Associação Insular de Animação Sociocultural
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Editorial Albino Viveiros
A «Práticas de Animação» conta já com dez anos de existência. Um projeto desenhado em contexto de intervenção associativa que, ao longo de uma década conseguiu singrar e hoje é uma publicação que continua fiel aos objetivos fundadores, «(…) porque entendemos [continua a fazer sentido] que é fundamental cimentar um espaço de reflexão e um tempo de participação acerca das questões da Animação Sociocultural». É com sentido de responsabilidade redobrada que reafirmamos o escrito no editorial do número 0 da revista, a propósito dos conteúdos que, número após número tem assinalado a identidade do projeto. A «Práticas de Animação» continua a registar a «(…) universalidade de temas, pensamentos verbalizados pela escrita, reflexões de investigadores (…)» e da teorização das práticas profissionais dos animadores socioculturais. O trilho percorrido até agora marca a singularidade editorial do projeto associativo mas, não menos importante, é o contributo para a sedimentação das identidades socioprofissionais dos agentes da animação sociocultural.
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Feira Nacional da Cebola de Rio Maior – Constrangimentos e incentivos para a afirmação local em contextos de envolvimento comunitário Maria João Trindade de Figueiredo Diogo Marques Vala Firmino Leonardo Manuel Lopes Pereira Couto António Sérgio Araújo de Almeida
Resumo
Aludindo ao primado do envolvimento comunitário para a afirmação de eventos sustentáveis, o presente trabalho, constatou um desinteresse popular local em torno da Feira Nacional da Cebola de Rio Maior, paradoxalmente, por parte dos indivíduos com maior grau de escolaridade. A metodologia deste trabalho consistiu numa pesquisa de campo, com a aplicação de inquéritos presenciais junto dos moradores de Rio Maior. Desta forma, percebeuse o afastamento da comunidade local com mais elevados níveis de formação, embora haja uma perceção generalizada dos potenciais benefícios ao nível do turismo e da economia local, decorrentes da afirmação da Feira Nacional da Cebola de Rio Maior. Ao invés, os indivíduos com graus mais baixos de escolaridade estão mais próximos e envolvidos no evento.
Palavras-chave: envolvimento comunitário, formação local, eventos sustentáveis.
National Onion Fair in Rio Maior - Constraints and incentives to the local assumption in contexts of community involvement Abstract
Alluding primacy of community involvement for the role of sustainable events, this work, found a popular local disinterest around the National Fair of the Onion of Rio Maior, paradoxically, by individuals with a higher education degree. The methodology of this work consisted on a field research, by applying in-person surveys with residents of Rio Maior. In this
Doutor em Ciências do Turismo, membro integrado no CiTUR – Centro de Investigação Aplicada em Turismo – ESTM/IPLeiria. antonio.s.almeida@ipleiria.pt
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way, it was noticed the removal of local community, more formally formed, although there is a widespread lack of potential benefits in terms of tourism and local economy. Instead, individuals with lower degrees of education are closer to the event.
Keywords: community involvement, local education, sustainable events.
Introdução Os grandes eventos concelhios e o seu potencial de ligação à atividade turística, mercê de um desejável envolvimento comunitário, poderão revestir-se de interesse económico local, acentuando a própria autenticidade assente nos sistemas de valores locais. Este é um fator que assumidamente contribui para a diferenciação do Destino. A escolástica reconhece unanimemente que o envolvimento local é condição essencial para transmitir o incontornável conceito de Autenticidade no âmbito da Experiência Turística. Neste sentido, o presente trabalho tem o propósito de compreender de que maneira grandes eventos concelhios de cariz popular, podem contribuir para afirmar a identidade de um determinado destino. A Feira Nacional da Cebola de Rio Maior (FRIMOR), Portugal, é o caso presentemente estudado. Recorrendo a uma abordagem quantitativa e qualitativa, definiu-se um perfil sociodemográfico dos inquiridos, sendo que a presente investigação decorreu mercê do envolvimento pessoal dos investigadores em relação ao concelho de Rio Maior. Como questão de partida pretendia-se apurar em que medida é que os graus de escolaridade/formação afastam ou aproximam as comunidades dos valores associados à ruralidade e ao campo. Como pano de fundo surgiram conceitos incontornáveis como a emancipação sociocultural, e, no plano do Turismo, a qualidade da Experiência assente na autenticidade local. A compreensão dos mecanismos de envolvimento comunitário em torno dos sistemas de valores locais é uma matéria em aberto no âmbito da sustentabilidade dos territórios e este trabalho pretendeu dar um contributo para melhor compreender o fenómeno.
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Os eventos como parte integrante da afirmação do Destino
Os grandes eventos assumem-se como um potencial incontornável de envolvimento comunitário e assunção identitária, posicionando-se desejavelmente como montras de um determinado território. A própria Imagem do Destino Turístico é condicionada pelo relacionamento existente entre comunidades locais e visitantes e pela relação de reciprocidade que usufruem numa perspetiva de valorização e usufruto mútuos dos espaços. (Xavier & Almeida, 2017). A apropriação simbólica da realidade é um processo da psicologia social, passível de estudos no âmbito da realização de eventos e da potencial assunção identitária por parte das comunidades locais. O envolvimento do indivíduo e dos grupos é condição essencial para a afirmação de algo que pretenda assumir-se como ferramenta de diferenciação local. A autenticidade existencial, (Wang 1999) determinada pelo grau de envolvimento do “Eu Turístico”, terá de ser considerada aquando do desenvolvimento de um produto turístico, pois irá determinar, ou não, como ocorrerá a experiência do turista e o seu envolvimento na mesma, bem como o seu entendimento sobre o destino, a comunidade visitada e ele próprio. “Num contexto coletivo de emancipação e de sustentabilidade, deseja-se que na comunidade turística o sistema seja integrado numa lógica de maximização equilibrada e equitativa de vantagens mútuas, de forma transparente, sendo que as ações individuais são devidamente planeadas e harmonizadas entre si para um todo coerente e consequente perante uma imagem de prestígio que a promove como destino turístico diferenciado e sustentável. Por interferir direta ou indiretamente nesta construção, esta comunidade está consciente dos processos e dos resultados que
se
consubstanciam
numa
experiência
turística
global
partilhada
e,
consequentemente, numa imagem de marca, capaz de retirar benefícios económicos mercê da sua capacidade de retenção turística”. (Almeida P, Almeida, ASA, 2017). Importa apurar o papel da formação local em relação aos sistemas de valores, dado que a própria formação será aprioristicamente algo que determina o grau de
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sensibilidade e apropriação coletiva dos símbolos locais, nomeadamente no que concerne aos grandes eventos. “Apesar das características ambientais, culturais e sociais serem elementos constitutivos e diferenciadores dos lugares, é precisamente a sua identidade que confere originalidade e singularidade aos lugares e os distingue de outros. É neste contexto que surgem outros conceitos fundamental para esta temática: a autenticidade e assunção identitária”. (Malheiros, Lourenço & Almeida, 2016) “In terms of demand, heritage tourism is representative of many contemporary visitors’ desire (hereafter, tourists) to directly experience and consume diverse past and present cultural landscapes, performances, foods, handicrafts, and participatory activities. On the supply side, heritage tourism is widely looked to as a tool for community economic development and is often actively promoted by local governments and private businesses”. (Chhabra, Healy & Sills, 2003) O sucesso dos eventos e os benefícios económicos com consequências positivas para as comunidades locais envolvidas, acaba por ser um fator promotor da própria sustentabilidade dos territórios. O facto de estes eventos se revestirem de interesse turístico acaba por reforçar a sua importância económica no âmbito da emancipação local. Por outro lado, é notável a interação entre comunidades locais e turistas que ocorre no âmbito dos eventos. “A interação tem vindo a promover a própria capacidade de retenção do destino (…), fazendo jus à convicção, segundo a qual a participação e o envolvimento dos visitantes prolongam o interesse turístico na componente cultural dominante. Este Turismo Cultural Participativo proporciona uma convergência de interesses entre as Comunidades Locais e os Turistas e/ou visitantes. O conceito turismo pedagógico assumido como um espaço de educação não formal/informal e encarado como ferramenta de emancipação coletiva, tem vindo a ser integrado numa perspetiva de sustentabilidade, através da qual cada experiência pode tornar-se uma oportunidade de envolvimento comunitário, proporcionando ciclos viciosos de apropriação, partilha de conhecimento e resultados. (Salvador, Boavida, & Almeida, 2016)
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A participação local nos processos de tomada de decisão é encarada como uma ferramenta promotora do envolvimento comunitário e as vantagens económicas decorrentes das receitas turísticas acabam por proporcionar uma aproximação os conceitos Animação Sociocultural e Animação Turística. No meio rural, esta aproximação poderá proporcionar oportunidades interessantes no âmbito de uma complementaridade entre Animação Turística e Animação Sociocultural, tanto mais que “este tipo de animación turística tiene muchos más puntos en común com la Animación Sociocultural, dado que comparte no solo metodologia, técnicas y recursos, sinó también determinados objetivos, tales como la recupración, el aprovechamiento y la puesta en valor del patrimonio antropológico, ecológico y cultural de un determinado território o comunidade, ofreciéndolo a los que vienen de fuera y compartiéndolo com los que viven dentro.” (Ventosa, 2014) “It is, therefore, important to discuss which mechanisms may be triggered in tourism systems in order to give rise to new collective attitudes for the Identity Assumption, which may somehow result in sustainable tourism and differentiated offerings, thus reflecting the diversity concentrated of Portuguese territory”. (Almeida, 2010) O próprio processo de apropriação simbólica da realidade por parte das comunidades locais, poderá ser materializado em grande parte através dos eventos e mais ainda se estes gerarem vantagens locais, mormente a própria promoção da qualidade de vida e consequentemente a autoestima coletiva. “Community residents can realize cultural benefits from tourism in one of two ways. First, tourism exposes the host to other cultures and can result in benefits such as tolerance and understanding. Second, the act of presenting one’s culture to outsiders strengthens the idea of what it means to live within a community, thus increasing identity, pride, cohesion, and support” (Besculides, Lee & McCormick, 2002)
FRIMOR – Contexto Histórico Segundo informações disponibilizadas pelo município de Rio Maior, a Feira Nacional da Cebola, também conhecida como FRIMOR, é o evento mais antigo do
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concelho, remontando ao início do século XVIII, mais propriamente a 1760, quando D. José o instituiu como feira franca. A feira era inicialmente realizada em Arrouquelas. Posteriormente passou para Rio Maior. Ocorria junto à capela de S. Sebastião, onde eram transacionados produtos agrícolas, pecuários, metalúrgicos, têxteis e sal, proveniente das salinas de Rio Maior. Também de acordo com informações da edilidade local, a data oficial do início da feira é a de 15 de setembro de 1761. Nos dias de hoje, é uma feira agrícola, comercial e industrial, que tem como objetivo divulgar as potencialidades económicas e potenciar a economia do município de Rio Maior. O certame tem vindo a agregar outros recursos locais, tal como atesta a inclusão em 2016 do primeiro Festival gastronómico de carne de porco e aves. A Câmara Municipal local sublinha que na feira participam dezenas de produtores e expositores que pretendem divulgar os seus produtos, realçando os tradicionais ceboleiros da região e no âmbito da feira são, portanto, realizadas anualmente as tradicionais exposições de cebolas e o concurso que elege o melhor cabo de cebolas. A autarquia destaca que para a promoção deste setor agroalimentar, na feira encontram-se também disponíveis workshops, onde participam expositores e diversas associações do setor, tais como a Aproder e a Nersant, num espaço dinamizado pelo Centro de Negócios de Rio Maior. A popularidade da feira deve-se também às suas iniciativas complementares, como colóquios, exposições e espetáculos de índole social, desportiva e artística. Nos dias que correm, a feira parece estar mais virada para a população jovem, sendo muito famosa pelo seu divertimento noturno, nomeadamente mercê da música e do consumo de bebidas. (Fonte: Camara municipal de Rio Maior – www.cm-riomaior.pt)
Metodologia
Este estudo baseia-se numa abordagem quantitativa e qualitativa, sob a forma de inquéritos aplicados a uma amostra de residentes do município de Rio Maior. Para a realização deste estudo, foram efetuados 60 inquéritos a 60 pessoas escolhidas aleatoriamente. 12
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Relativamente ao perfil dos entrevistados, foram colocadas algumas variáveis que permitem definir um perfil sociodemográfico dos inquiridos (idade, género, nacionalidade e área de formação). Estes inquéritos tiveram lugar nos dias 16 de Novembro de 2016 e 25 de novembro de 2016. Para os mesmos foram elaboradas dez perguntas quantitativas onde os itens foram medidos a partir de uma escala de Likert de 5 pontos, na qual 1 significa “discordo totalmente” e 5 “concordo totalmente”. Estas perguntas foram posteriormente agrupadas por nível de classificação em formato Excel para melhor análise estatística. Para além das perguntas quantitativas foram também elaboradas cinco perguntas qualitativas, ou seja, de resposta aberta, cujo objetivo terá sido a perceção de um padrão de resposta dominante e a sua análise para desenvolvimento do projeto. Estas questões abertas acabaram por orientar uma série de questões e sugestões a analisar num estudo futuro. Em relação às questões representadas nos inquéritos, tanto as questões quantitativas como as questões qualitativas (de resposta aberta), poderão suscitar algumas dúvidas devido à sua complexidade e ambiguidade, pelo que foi dado esclarecimento a todos os inquiridos pelos autores do presente trabalho, o que tornou a análise das respostas mais simples e completa.
Análise e Discussão de Resultados
Após a recolha dos 60 inquéritos fez-se uma caracterização do perfil da amostra. Esta análise foi possibilitada através do fornecimento de informação por parte dos inquiridos aos quais era pedido que respondessem às variáveis género, idade, nacionalidade e área de formação. Género Feminino
Masculino
39
21
As principais características dos residentes que compõem a amostra são: a maioria dos respondentes (65%) são do sexo feminino correspondendo a um total de 39 indivíduos, enquanto os respondentes do sexo masculino representam 35% da amostra, ou seja 21 indivíduos. 13
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Idade [20; 29]
13
21%
[30; 39]
13
21%
[40; 49]
22
36.67%
[50; 59]
7
11.67%
[60; 69]
5
8.33%
Relativamente à variável “Idade”, organizou-se a amostra por classes, correspondendo cada classe a um segmento da amostra. Após selecionar-se a idade mínima e a máxima (20 e 69, respetivamente) efetuou-se a distribuição dos indivíduos coincidindo a sua idade na respetiva categoria (classe). Obteve-se assim os resultados apresentados na tabela acima, onde é possível observar na segunda coluna, correspondendo à frequência absoluta da amostra, a classe com maior e menor número de indivíduos, enquanto na coluna da esquerda encontram-se dispostos os valores da frequência relativa da amostra, correspondendo cada valor à percentagem que cada classe ocupa perante o total (60 indivíduos). Relativamente à variável “Nacionalidade” verificou-se que todos os respondentes eram de nacionalidade portuguesa.
Área de Formação
Advogado(a)
2
3,33%
Atleta Profissional
1
1,67%
Comerciante
8
13,33%
Educador(a)
3
5%
Engenheiro(a)
1
1,67%
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Estudante
8
13,33%
Florista
1
1,67%
Funcionário(a) administrativo
9
15%
Funcionário(a) público
8
13,33%
Técnico(a) de comunicação
1
1,67%
Telefonista
1
1,67%
Sem área de formação
17
28,33%
Perante a variável “Área de Formação” obteve-se as categorias e os seus respectivos valores
acima transcritos, sendo que grande parte da amostra
corresponde a individuos sem área especifica de formação, seguido por “funcionários administrativos” e “funcionários “públicos”. Questões De Seleção por Classificação (1 a 5 – escala de Likert) Sente que a Cultura, os Costumes e a Gatronomia locais estão a ser expostos ao público em pleno?
Discordo Plenamente
Discordo
Indiferente
Concordo
Concordo Plenamente
Figura 1 - Respostas relativas ao interesse da Cultura, Costumes e Gastronomia para o público
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Relativamente à questão sobre o interesse da Cultura, dos Costumes da Região e à gastronomia para o público, ou seja, para os turistas/visitantes, as respostas são bastante heterogéneas, sendo que a maioria concorda com a importância dada às variáveis Cultura, Costumes e Gastronomia para a atração de visitantes ao evento. No entanto é de referir o facto de muitos inqueridos responderem “Discordo” e “Discordo Plenamente”, ao que, presencialmente justificaram a sua resposta pelo facto de os visitantes visitarem a feira pela atração noturna e não pela essência do evento, ou seja, para apreciarem a Cultura, Costumes e Gastronomia da região.
O Produto Turístico serve como impulsionador do turismo e/ou atrativo de mais turistas e visitantes?
Discordo Plenamentre
Discordo
Indiferente
Concordo
Concordo Plenamente
Figura 2- Respostas relativas à feira como atração turística
Perante esta questão, a maioria dos inqueridos concorda com o facto do Produto Turístico, ou seja, a Feira Nacional da Cebola, servir como impulsionador do turismo, capaz de estimular a economia local e promover os recursos da região. É de referir também a grande quantidade de inquiridos que discorda desta afirmação, lamentando, à semelhança da questão anterior, que grande parte dos visitantes, sobretudo os segmentos mais jovens, não procurem a feira como um local privilegiado para conhecer a cultura e participarem na mesma mas antes como um local de entretenimento noturno.
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O Produto Turístico da região tem em conta as tendências dos consumidores?
Discordo Plenamentre
Discordo
Indiferente
Concordo
Concordo Plenamente
Figura 3- Respostas relativas às tendências gerais dos consumidores em comparação com a feira
Relativamente a esta questão as respostas incidiram sobretudo no “Indiferente” e no “Concordo”. A procura evolui no sentido da oferta turística local?
Discordo Plenamentre
Discordo
Indiferente
Concordo
Concordo Plenamente
Figura 4- Respostas relativas à procura e à oferta turística da feira
Com esta pergunta procurou saber-se se a procura turística, ou seja, o número de visitantes/turistas aumentava conforme a diversidade de produtos oferecidos e/ou 17
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expostos na feira. A maioria dos inquiridos respondeu que concordava com o facto de a procura estar relacionada com a oferta, ou seja, quanto mais diversidade de produtos existir, maior a abrangência do evento e por conseguinte maior o número de pessoas que a feira atrairá.
A Frimor tem interesse para o público em geral?
Discordo Plenamentre
Discordo
Indiferente
Concordo
Concordo Plenamente
Figura 5-Respostas relativas ao interesse do público na Frimor
Relativamente à questão acima referia, relativa ao facto da FRIMOR ter interesse para o público, pode observar-se um grande contraste nas respostas, sendo que, a maioria dos inquiridos respondeu que Discorda Plenamente, mencionando com pena que a feira já não transmita os seus valores iniciais ao público e que o público em geral visite a feira pelas tasquinhas (gastronomia local) e pelo entretenimento noturno. A segunda resposta mais votada foi o Concordo, com os inquiridos a justificarem que concordam com o facto de a feira ter interesse para público/turistas fora da região. No entanto quem mais visita a feira, nas opiniões expressas, continuam a ser pessoas das imediações. É de referir também que as respostas a favor do “Discordo Plenamente” são provenientes de indivíduos de idade mais avançada, entre os segmentos dos 50 aos 69 anos, lembrando com saudade a feira de há uns anos atrás. Os respondentes da opção “Concordo” são portanto os segmentos mais jovens da amostra. 18
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Através da realização da Frimor estaremos a atrair um público mais diversificado?
Discordo Plenamentre
Discordo
Indiferente
Concordo
Concordo Plenamente
Figura 6- Respostas relativas á possibilidade de atração de novos públicos-alvo
Metade dos inquiridos, como observado no gráfico acima, revela que concorda com o facto de a feira atrair público que não se costuma dirigir ao município regularmente. No entanto, presencialmente, verificou-se que grande parte dos inquiridos associados ao “Concordo” diziam que concordariam que a feira atraísse um público mais diversificado se houvesse algumas adaptações/melhorias da feira aos novos padrões da procura.
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A comunidade local deve participar na realização da Frimor?
Discordo Plenamentre
Discordo
Indiferente
Concordo
Concordo Plenamente
Figura 7- Respostas relativas ao envolvimento da comunidade local na Frimor
Com esta pergunta procurou saber-se se a comunidade estaria interessada em participar na FRIMOR. À partida, observando o gráfico, assume-se que a população estaria motivada para o envolvimento na feira. Contudo, presencialmente, o que foi justificado aquando a realização dos inquéritos, foi que a comunidade gostaria de participar na feira na medida em que gostaria de ver as suas ideias expostas para a melhoria e desenvolvimento do evento lá retratadas. No entanto existe um desinteresse geral na transmissão dessas ideias à organização do evento. Curiosamente, o segmento que mostrou mais interesse em causar a mudança, em melhorar o produto turístico do município, a FRIMOR, corresponde ao segmento da amostra Sem Área de Formação, o que é surpreendente pois, aprioristicamente, pessoas com uma área de formação definida e educação superior serão indivíduos com uma maior capacidade de efetuar a mudança nas suas dinâmicas comunitárias. Ora, é precisamente este segmento que se mostra de costas voltadas ao evento o que se traduz num desinteresse pela promoção das potencialidades turísticas da sua própria região.
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Nível de Satisfação com o Produto Turístico?
Muito Insatisfeito
Insatisfeito
Indiferente
Satisfeito
Muito Satisfeito
Figura 8- Respostas relativas ao nível de satisfação com a Frimor
O gráfico acima revela uma variedade de respostas relativas à satisfação da comunidade com a FRIMOR. É notável a quantidade de inquiridos que se recusou a responder ou respondeu com “Indiferente”, não mostrando o mínimo de interesse em expressar agrado ou desagrado com a feira. Sendo esta uma pergunta subjetiva, é surpreendente o facto de ter havido tantos inquiridos hesitantes em responder de forma positiva ou negativa. De novo, os segmentos que mostraram interesse em responder e de novo manifestaram o seu interesse na evolução e progresso da feira foram precisamente os indivíduos “Sem Área de Formação”, comprovando de novo o desinteresse geral da parte da comunidade com níveis de educação superiores, comparativamente com os de instrução formal inferior.
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O Produto Turístico beneficiaria com alterações/ajustes?
Discordo Plenamente
Discordo Plenamente
Indiferente
Concordo
Concordo Plenamente
Figura 9-Respostas relativas ao emprego de alterações na FRIMOR
Observando o gráfico relativo à adaptação/alteração e/ou melhorias a fazer na feira, os resultados foram igualmente interessantes. Apesar de se verificar um desinteresse de uma camada considerável da amostra, é clara também a expressão dos indivíduos ao concordarem que a feira beneficiaria de possíveis alterações. Presencialmente foram facultadas algumas dessas possíveis alterações nas questões de resposta aberta que serão analisadas de seguida. Após a recolha de informação dos inquéritos por escala, foram analisadas as respostas de questão aberta. Perante a multiplicidade de respostas, procurou agruparse as respostas por resposta padrão, de acordo com a maior frequência de escolha dos inquiridos.
Questões Abertas: “Na sua opinião, o que deveria mudar? O que se podia melhorar?” Dos 60 inquéritos, apenas se obteve respostas por parte de 31 inquiridos, tendo os restantes recusado a responder. Cerca de 70% dos 31 indivíduos afirmaram que se deveria “Apostar” em mais atividades e mais diversificadas no âmbito da
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animação, ou seja, a resposta padrão engloba a criação de atividades de entretenimento, particularmente noturno, focado nos jovens e na diversificação das atividades já existentes. Outras respostas que poderão ser revelantes para estudos futuros prendem-se com a necessidade de associar o conceito da feira da cebola com a parte do entretenimento (tasquinhas) e conceder apoio aos comerciantes e artesãos.
“Na sua opinião, para que tipo de visitantes o nosso território se presta melhor?” Dos 60 inquéritos, obteve-se 49 respostas, sendo que a resposta-padrão foi que, para o território do município de Rio Maior e a FRIMOR, o tipo de visitantes ao qual o evento melhor se presta são famílias, seguido de pessoas de idade, essencialmente visitantes de aldeias próximas que partilham o interesse pelo cultivo e comércio da cebola.
“A que categorias se adapta menos bem?” A presente questão impõe sentido crítico e de conhecimento da feira como atrativo turístico e não só como evento cultural. As respostas foram mais reduzidas, com apenas 20 respostas por parte dos inquiridos. Estes responderam que o público que menos se adapta ao evento, ou seja, o público ao qual é necessário fazer-se um maior esforço no sentido de atrair novos visitantes deste perfil, foram os jovens. Outro ponto referido pelos inquiridos foi a inexistência de turistas estrangeiros. A esta constatação pode atribuir-se o facto do alcance da feira não ser tão abrangente quanto deveria. De acordo com o modelo de Diaz, onde as atrações e eventos são agrupados por nível hierárquico de 1 <4, a feira classifica-se como uma atração de nível 2, embora com potencial para ser elevada a nível 3 com a adequada divulgação. Incorremos na presente convicção dado que mais de metade dos indivíduos não respondeu a esta questão mostrando assim um desinteresse generalizado.
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Figura 10 – Modelo de Diaz
“Como afeta os visitantes/turistas?” A resposta padrão assentou na “divulgação da gastronomia local”. No entanto apenas 18 inquiridos responderam à presente questão, revelando assim um desinteresse geral por parte dos restantes indivíduos.
“Pontos fortes e fraquezas deste produto turístico?” Em relação aos pontos fortes, a resposta padrão foi a divulgação do produto regional, ou seja a Cebola. No entanto, obteve-se também um número reduzido de respostas, devido ao desinteresse dos sujeitos na prestação de resposta. Em relação aos pontos fracos, a resposta padrão foi a “Falta de Publicidade e Divulgação”, com cerca de 22 inquiridos. Os restantes 38 indivíduos não mostraram disponibilidade/interesse em responder.
Conclusão
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A maior ligação afetiva e emocional ao evento por parte da população com menor grau de escolaridade suscita uma reflexão interessante e trabalhos futuros. Em que medida os elevados graus de formação afastam ou aproximam as comunidades locais dos valores associados à ruralidade e ao campo, é uma questão oportuna no âmbito da emancipação sociocultural e no próprio plano turístico. Em causa estarão bases locais para um Turismo de qualidade assente na autenticidade e potencialmente demonstrável pelos próprios territórios. A educação (seja no plano formal ou não formal/informal) para o Turismo sustentável, envolvendo comunidades locais em processos de gestão participativa e integrada, em torno do seu legado cultural, ganha, em casos como o estudado presentemente, uma importância acrescida. De referir que os menos qualificados academicamente mostraram “saudades” dos tempos antigos do evento, manifestando interesse em que essa nostalgia fosse capaz de atrair visitantes ao concelho. Assim, o interesse primeiro e principal da feira seria a exposição e venda da cebola bem como a divulgação da cultura do município e todo o processo inerente à mesma, e não o entretenimento em primeiro lugar, como parece acontecer atualmente. Outro ponto esclarecedor foi também o facto de terem sido abordados alguns artesãos e comerciantes que participam ativamente na feira. Estes manifestam interesse em participar nas tomadas de decisão relativas ao evento, bem como na necessidade de apoios para a melhor participação na mesma. Este estudo apresenta algumas limitações que deverão ser retificadas em investigações futuras. Uma delas tem que ver com o tipo de amostra e com o facto de se referir apenas à análise da localidade propriamente dita, não englobando as freguesias de todo o concelho. Este estudo pode ser alargado com a introdução de novas variáveis ligadas ao desenvolvimento sustentável do património.
Bibliografia Almeida P, Almeida, ASA (2017) Introdução à Gestão de Animação Turística, 2ª edição, LIDEL, Lisboa. ISBN: 978-989-752-264-2;
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Almeida, ASA (2010) The inter-community competition as a factor for sustainability and differentiation of tourism product – the case of National Park of Peneda Gerês. European Journal of Tourism, Hospitality and Recreation, Vol. I, 1: 39-50; Besculides, Lee & McCormick, (2002) Residents’ Perceptions of the Cultural Benefits of Tourism, Annals of Tourism Research, Vol. 29, No. 2, pp. 303–319, 2002; Chhabra, Healy & Sills, (2003) Staged Authenticity and Heritage Tourism, Annals of Tourism Research, Vol. 30, No. 3, pp. 702–719; Malheiros, A.P., Lourenço P.C. & Almeida, ASA (2016) Some Contributions to the Assumptive Identity of Portugal’s Jewish Heritage – the Case of Belmonte. Revista Portuguesa de Estudos Regionais, Código JEL: H7; J4; L8; O2, nº 43, 69-88 Salvador, V. M. M., Boavida, A. T. F. V. & Almeida, ASA, (2016). Contributos para a compreensão da integração turística no âmbito da interação cultural – Os casos da feira do cavalo da Golegã e do comboio histórico a vapor no Alto Douro Vinhateiro. Tourism and Hospitality International Journal, ISSN: 2183-0800, 6(1), 35-54; Ventosa, V.J. (2014) Animación Turística – Perfil profesional, metodologia y prática, Editorial CCS, Madrid, ISBN: 978-84-9023-197-5; Wang, N. (1999) Rethinking authenticity in tourism experience. Annals of Tourism Research, v. 26, n. 2, p. 349-370; Xavier, A., Almeida, ASA. (2017) Políticas Locais e Impactos na Conceção da Experiência Turística em Espaços Urbanos – os Casos do Bairro Alto e da Mouraria, Lisboa. Revista Brasileira de Gestão e Desenvolvimento Regional, G&DR • v. 13, n. 2, p. 322-350, maiago/2017, Taubaté, SP, Brasil, ISSN: 1809-239X.
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Animação sociocultural gerontológica promotora da satisfação com a vida em idosos frequentadores de centros de dia na região interior
Ernesto Candeias Martins
Resumo: Abordamos a animação sociocultural como promotora da satisfação e qualidade de vida no processo de envelhecimento de 68 idosos, de 5 centros de dia rurais, na região de Castelo Branco (Portugal). Foi um estudo de metodologia qualitativa, longitudinal, descritivo, analítico e interpretativo, no ano de 2015-16. Nortearam-nos os seguintes objetivos: promover o nível de satisfação com atividades culturais; desenvolver relações de convivência e autoestima; melhorar o clima social. Utilizámos como técnicas de recolha de dados as entrevistas e observações aos idosos, responsáveis e técnicos, para além da análise às variáveis sociodemográficas de caraterização dos sujeitos intervenientes. Aplicámos aos idosos um programa de atividades de animação sociocultural para melhorar o estado de ânimo, as relações, a convivência e qualidade de vida. Compreendemos a realidade social analisando as necessidades e exigências dos idosos e promovemos a sua participação nas atividades. O programa foi autoavaliado pelos idosos e responsáveis e técnicas dos centros. Os resultados demonstraram o que os estudos confirmam: a qualidade de vida aumenta à medida que os idosos realizam tarefas e atividades socioculturais periódicas de que gostam e são protagonistas. Houve uma melhoria na autoestima, na satisfação com a vida e no clima social e institucional, através da animação cultural.
Palavras-Chave: gerontologia; animação sociocultural; idoso; satisfação de vida; centro de dia
Doutor em Ciências da Educação (Área de Teoria e H.ª da Educação/H.ª da Educação Social) pela Universitat de les Illes Balears (Palma de Mallorca –Espanha), Mestre em Educação (Área de Desenvolvimento Pessoal e Social) pela Universidade Católica Portuguesa/Faculdade de Ciências Humanas, licenciado em Filosofia pela Universidade Católica Portuguesa de Braga e em Pedagogia/Ciências da Educação pela Universidade Pontíficia de Salamanca / Universidade de Lisboa – FPCE e Master em Comunidades Europeias (Área do Desenvolvimento regional). É docente no Instituto Politécnico de Castelo Branco/Escola Superior de Educação, coordenador do Mestrado em Intervenção Social Escolar e membro das Comissões Científicas de outros mestrados na ESECB. Leciona nos mestrados de Gerontologia Social, Animação Artística, Pré e 1.º Ciclo do Ensino Básico e de Serviço Social. 27
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Questões prévias O envelhecimento demográfico tem vindo a acentuar-se na sociedade. As modificações dos comportamentos demográficos repercutem-se, impreterivelmente nas estruturas populacionais de forma irreversível. De facto, o envelhecimento nos seus âmbitos biopsicossociais é um fenómeno de dimensão ínfima tendencialmente durável, irreversível e com efeitos em todas as sociedades (Quaresma, 2004). Segundo dados da Organização Mundial da Saúde a esperança de vida mundial era, em 2015 de 73 anos. Entre 2020 a 2025 o número de idosos portugueses alcançará os 18% da população, enquanto a população jovem rondará os 16% (Nazareth, 2009). Os próprios rendimentos (pensão/reforma) destes coletivos são escassos havendo 84% de pensionistas de velhice na Segurança Social com uma pensão mensal inferior a 500 euros e só 6% com pensão superior a mil euros. Estes e outros dados ilustram que, em 2009, a taxa de risco de pobreza foi de 21%, com tendência a aumentar à medida que vai avançando na idade (Martins, 2013). Neste sentido as investigações sobre os aspetos (positivos) do envelhecer e da velhice adquiriram grande relevo, alterando as visões tradicionais que concebiam este ciclo de vida como declive e perda generalizada (Pérez Blasco, 2013). A explicação das várias teorias sobre a velhice e os conceitos de envelhecimento satisfatório, com êxito e bem-sucedido insistem na capacidade dos idosos manterem a sua autonomia e em seguir implicados com a vida, experimentando novos ganhos (Fonseca, 2005; Paúl & Fonseca, 2005). É verdade que as mudanças económicas e sociais têm transformado as relações familiares e sociais e, hoje em dia, muitas das funções anteriormente desempenhadas pela família, por exemplo o cuidado e a atenção aos idosos é atualmente, uma função que cabe ao Estado e/ou ao setor privado, o que provocou o aumento do número de instituições de acolhimento (Cardão, 2009). Estas instituições promovem e satisfazem a função de bem-estar dos utentes, recorrendo a projetos e atividades, a maior parte na área da animação (sociocultural), para além de lhes oferecerem teto, comida e assistência médico-sanitária, apoios diversos, etc. A generatividade (teoria do desenvolvimento de Erikson) destaca esta capacidade do indivíduo de desenvolver e participar em atividades institucionais e na comunidade. Ou seja, a generatividade implica aunar o desenvolvimento pessoal com o social (Erikson, 2000) dando-lhe momentos de satisfação. Neste sentido a animação 28
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sociocultural, no âmbito gerontológico, favorece a participação dos idosos e contribui para a sua qualidade e cidadania ativa. O papel do animador converte-se fundamental. Situações como a solidão (individual, social), o viver sozinho, sem vizinhos por perto, a falta de rendimentos, a inatividade no domicílio e nas instituições constituem fatores de risco para os idosos, em termos de necessidade acrescida à dos serviços de saúde, assistência e de bem-estar (Araújo & Carvalho, 2004). Pensamos que os futuros idosos terão características distintas das atuais, seja ao nível da instrução, condições de vida e de habitação, acesso aos cuidados de saúde, diferentes valores e preferências, maior capacidade de participação e disponibilidade de recursos sociais, o que implica maior exigência das instituições e dos seus técnicos. O nosso estudo abrangeu uma amostra representativa de idosos (n= 68) de cinco centros de dia rurais (E1, E2, LO, LA, PR) que distam num raio de 15 a 30 Km da cidade de Castelo Branco, num total de 25 centros existentes. Os sujeitos da amostra estão aposentados, são maiores de 65 anos (média=80 anos, a mais velha tem 96 anos), frequentam diariamente os centros e são autónomos ou com uma dependência leve (critério de seleção). Tratou-se de uma investigação de metodologia qualitativa (descritiva, analítica e interpretativa), que teve a aplicação prática de um Programa de Intervenção em Animação Sociocultural (PIAS), de índole investigação-ação e/ou participativa. O problema que nos norteou o processo foi o seguinte: Será que um programa de intervenção em animação sociocultural (PIAS) aplicado a idosos de cinco centros de dia do concelho de Castelo Branco, melhora a satisfação, o estado de animo, as relações sociais e de convivência e, consequentemente, a qualidade de vida desses utentes? Os centros de dia são instituições que os idosos frequentam para conviver, realizar atividades, partilhar ações e tomar as refeições principais. Ou seja, são valências ou equipamentos que funcionam durante o dia e que prestam apoios sociais, culturais, recreativos, educativos, etc. mantendo essas pessoas no seu meio social e familiar. Atendem às suas necessidades, estabilizam ou atrasam as consequências do envelhecimento, prestam apoio psicológico e social, promovem relações pessoais e intergeracionais, permitindo ao idoso continuar a viver na sua casa, evitando ou adiando o internamento em lares residenciais e, ainda prevenindo situações de dependência. Os principais objetivos deste tipo de estruturas de apoio são: (i)
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recuperar ou manter ao máximo o grau de autonomia individual que permitam as potencialidades do individuo; (ii) prevenir o incremento da dependência através da realização de intervenções reabilitadoras; (iii) facilitar como meio o desenvolvimento de relações e atividades sociais gratificantes para o sujeito; iv) retardar as institucionalizações precoces e indesejadas; (v) promover a permanência do indivíduo no seu meio; (vi) proporcionar a realização de atividades básicas da vida quotidiana fornecendo apoio ao adulto idoso, assim como aos elementos pertencentes ao seu núcleo familiar; e por último, (vii) melhorar e manter o nível de saúde aos utilizadores através do controlo e prevenção de doenças. De um modo geral, os centros de dia favorecem as condições de vida das pessoas idosas dando-lhes dignidade e contribuindo para a manutenção e continuidade do seu modo de vida de autonomia. Intentámos compreender a realidade social de cada centro de dia participante no estudo (entrevistas aos responsáveis, técnicos e colaboradores), analisando as necessidades e exigências dos seus idosos e promovemos a sua participação, através do PIAS, de modo a valorizar a intervenção da animação gerontológica na satisfação e qualidade de vida. Os objetivos deste programa de animação foram os seguintes: desenvolver a independência da pessoa do idoso na realização de atividades; contribuir para o bem-estar físico e psicológico nos idosos; criar momentos de aprendizagem e realização pessoal e social; promover os interesses e motivações dos idosos com atividades diversas nos vários âmbitos da animação (expressões, artística/lúdica, plástica, físico-motora, cultural, cognitiva, socias); adquirir novos conhecimentos e/ou aprendizagens através das atividades; prevenir a desorientação espácio-temporal mantendo um ritmo de execução das atividades de acordo com as suas capacidades e motivações diárias; desenvolver a confiança, a autoestima e a participação. O Pias integrou atividades relacionadas com as áreas de animação: Animação físico-motora e sensorial; Animação artística (expressão plástica, lúdica e trabalhos manuais); Animação cognitiva; Animação para o Desenvolvimento Pessoal e Social; Animação cultural e social. Todas as atividades e ações propostas visaram a autonomia e qualidade de vida nos idosos (níveis de satisfação). Os resultados demonstraram o que teoricamente afirmam as investigações: a qualidade de vida dos idosos desses centros aumenta à medida que realizam tarefas e atividades socioculturais periódicas (Martins, 2013). Em geral, a valorização dos idosos,
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responsáveis e técnicos confirmam: melhoria na autoestima e satisfação com a vida dos idosos ao realizarem atividades; expressam uma maior satisfação com o material produzido nas atividades; promovem um melhor clima social (amizades, relações, convivência), através da animação, e um autoconhecimento dos outros.
2.-Metodologia do Estudo A presente investigação permitiu a aquisição de conhecimentos fundamentais sobre os idosos em centros de dia. Para tal situamo-nos no paradigma interpretativo, que nos permitiram conhecer a sua realidade (problemas, motivações, interesses). Utilizámos uma metodologia qualitativa, participativa, ativa, de investigação-ação, uma dinâmica de grupo-orientada à realização de atividades, associada aos interesses dos próprios idosos. A parte da metodologia quantitativa destinou-se à análise das variáveis sociodemográficas dos sujeitos das amostras. Optámos como técnicas de recolha de dados a observação participante, a observação documental (institucional, individual), entrevistas semiestruturadas na fase Pré-Programa de Intervenção Animação Sociocultural - PIAS (13 questões) e na fase Pós-PIAS de avaliação (8 questões), aos idosos (n=68), aos responsáveis diretivos (nR=5) e diretoras técnicas (nT=5). Antes da aplicação daquelas técnicas mantivemos contactos informais e formais (protocolo, termo de livre aceitação, normas éticas) com as instituições e sujeitos, participando na organização da Feira Intergeracional do Idoso (finais de julho de 2016), que envolveu agrupamento de escolas, associações culturais e os 5 centros de dia. Com os registos observacionais (notas de campo) e as informações diagnósticas caraterizamos os sujeitos e programámos o PIAS (20 sessões em cada centro de dia), que decorreram em 2016. Após a recolha dos dados submetemos as entrevistas a análise de conteúdo. Os dados, com as notas de campo e registos observacionais, foram submetidos à triangulação. Contemplamos que a animação sociocultural com idosos contribui para consolidar projetos orientados à participação e satisfação dos participantes, para além da sua transformação sociocultural e educativa, do desenvolvimento da autonomia e ‘ser pessoa’ ativa.
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3.- Análise interpretativa dos dados Fizemos uma análise de conteúdo às entrevistas, através do sistema de codificação e categorização. Da análise aos segmentos de texto (parâmetros de evidências) passámos à sua interpretação elaborando sínteses com os aspetos mais significativos (descritores, evidências). Esta análise concentrou-se nas frases e narrações dos sujeitos, guiando-nos por um critério holístico, no sentido de que o individuo é percebido e estudado na sua totalidade e representação social. Os resultados foram produzidos, de acordo com a perspetiva narrativa do afirmado (indicadores expressivos dos juízos contidos no discurso da frase) e discurso coletivo. Ou seja, estabelecemos indicadores e procurámos o seu sentido integrando-os na respetiva
categoria/subcategoria
(procedimento
desconstruído,
sincrónico
e
sucessivo).
3.1.- Entrevistas aos idosos A entrevista Pré-Pias aos idosos tinha 13 questões abertas (pergunta 6 desdobrava-se em duas: ‘como passa os seus tempos livres’ e que ‘atividades costuma fazer’) e só as questões 8 e 10 eram de escala nominal (Sim/Não). As categorias/subcategorias estabelecidas foram as seguintes: Categoria Centro de Dia ‘Razões de escolha’ (Q1), ‘O que é mais importante no Centro’ (Q 2), ‘Importância local do centro’ (Q 3), ‘Serviços prestados’ (Q4) e ‘Relação exterior do Centro (família/comunidade) (Q 5); Categoria Recreação –‘Tempos livres’ (Q 6), ‘Importância da ocupação dos tempos livres’ (Q 7), ‘Tipo de atividades em que participa’ (Q 8), ‘Decisão sobre as atividades’ (Q 9), ‘Sugestões’ (Q 10) e ‘Atividades Novas a promover’ (Q 11); Categoria Bem-estar e Qualidade – ‘Mudava algo no centro (Q 12) e ‘Centro de dia amigo dos idosos’ (Q 13). Da análise categorial destacamos os seguintes descritores/evidências: *-A ‘viuvez’ e/ou ‘Viver sozinho’ e o estar perto de casa são os motivos que maioritariamente levam os idosos a frequentar o Centro. Não indicam a alimentação/comida e a higiene em primeiro lugar, quando em outras questões as referem. Em alguns centros responderam: ‘Sabe…espero que consiga ter alguém até ao final, porque fiquei sozinho”. 32
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*– O ‘apoio’, a ‘alimentação/comida’ e a ‘companhia’ ou ‘comida/convívio’ e ‘roupa/higiene’ são os serviços mais destacáveis nos idosos, os quais valorizam esta decisão repetindo: ‘Olhe ainda bem que há estas casas para nos acolher senão era muito triste’. *– Os idosos valorizaram positivamente a relação ‘Centro com o exterior’ (comunidade local) designando-a de forma unânime de ‘Muito boa’, ‘Muito importante’. *– Os idosos designam de ‘Muito boa’ (90%) os serviços prestados, destacando a alimentação, como um dos melhores serviços, seguido ‘apoio assistencial e social’ e higiene. Em LO indicam maioritariamente todos os serviços do centro, sem distinção. Em geral consideram: ‘O centro é a nossa segunda casa. Há uma relação muito próxima’. *- Maioritariamente os idosos valorizam a relação do Centro com a família de ‘Muito Boa’ (80%), havendo uma harmonia dos responsáveis, técnicos e cuidadores com as famílias. *-Os idosos têm poucas ou nenhumas atividades diárias nos centros de dia e quando as têm são em datas pontuais. Habituaram-se a ver TV, a rezar, a dormir, isolar-se, etc., exceto no Centro LO onde há um grupo de idosas que fazem renda e elaboram objetos diversos. *-Todos os idosos dos centros consideram que gostam muito de ocuparem o seu tempo em atividades de interesse ou inovadoras (unanimidade -‘Sim’ gostam muito). *-A participação em atividades do centro é escassa e pontual (Natal, Páscoa, Carnaval, Dia do Idoso, aniversários, etc.), cumprindo o seu Plano Anual/Trimestral. Esta falta de participação deve-se também a algumas limitações físico-motoras (E2) e/ou cognitivas (PR). *-Em relação às sugestões e decisões de proporem atividades nos centros, cabe às técnicas decidirem os planos de atividades, comentando com os idosos as tarefas (novas) que querem fazer. Esta escassez de sugestões implica falta de motivação e diálogo com os idosos. Ao não serem estimulados acabam por perder algumas faculdades e não sabem o que dizer. A técnica de LO é a que promove mais atividades.
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*-A maiorias dos idosos acostumaram-se a fazer poucas atividades e, por isso parecem-lhes bem a repetição de algumas. Os idosos de E1, E2 e LA propõem a música (animação social, musicoterapia), as expressões e a ginástica. *- A maioria dos idosos não mudaria nada no centro, pois estão satisfeitos com os serviços. O seu nível de exigência é muito fraco, parecendo-lhes tudo bem e não se acham no direito de dizer seja o que for. *-‘Centro Amigo do Idoso’ tem, para eles o significado de ‘apoio’ e ‘ajuda’ prestada (serviços), por isso consideram-no ‘amigo’, porque ‘ouvem’ e preocupam-se pelos idosos. Há um certo conformismo nos idosos na realização de atividades, porque não estão habituados a ter uma programação semanal/mensal. Valorizam a instituição neste ciclo de vida, as relações com a família e comunidade e a ação dos funcionários. A sua representação social sobre o centro é o de ajuda, apoio e ‘ser amigo’ deles. A proposta do PIAS pretendeu incrementar os níveis de satisfação e da qualidade de vida destas pessoas idosas.
3.2.- Análise às entrevistas aos responsáveis e diretoras técnicas Aplicámos entrevistas semiestruturadas aos dirigentes (R-E1, R-E2, R-LA, R-LO, R-PR) e às diretoras técnicas (T-E1, T-E2, T-LA, T-LO, T-PR). Destacamos as seguintes variáveis de identificação em ambas amostras: *-Responsáveis dirigentes: a maioria é do sexo feminino (75%), excluindo E1 e LO (masculino=25%); média de idades à volta de 56 anos, exceto em E1 e LA que ronda os 70 anos; todos casados (estado civil), exceto em LA (solteira); grau de habilitações literárias elevado (licenciados e mestrados), exceto em E1 (4.ª classe); residem na mesma povoação, exceto LA; ocupam o cargo há mais de 4 anos, exceto E2 (20 anos) e LO (um ano). *-Diretoras técnicas: são todas mulheres, licenciadas em serviço social e residentes em Castelo Branco, cujo estado civil ia de solteiras (T-E2; T-PR), casadas (TE1, T-LA) e divorciada (T-LO), com uma média de idade de 33 anos. Todas trabalham na instituição há mais de 3 anos, em regime de contrato temporário, deslocando-se 3 a 4 dias à semana.
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A segunda parte das entrevistas continha 12 itens, sendo o primeiro destes itens relativo aos anos no cargo ou anos de serviço como responsável ou diretora técnica. Analisemos os respetivos itens referentes aos responsáveis dos centros: -‘Nível dos serviços prestados’. Todos os responsáveis referem ao que a lei prevê nos serviços a prestar e a sua adequação às necessidades dos idosos, mas nem todos centros cumprem na totalidade essa missão. Notámos que as pessoas que estão nestes cargos, já levam muito tempo e têm pouca inovação, exceto em R-LO. -‘Importância local do centro’ - Atribuem uma grande importância à instituição, destacando o apoio às famílias e à empregabilidade local (R-LO), indo ao encontro das necessidades básicas dos idosos (apoios, serviços). -‘Objetivos do Centro’ – Todos responsáveis referem a qualidade, satisfação e o bem-estar como objetivos centrais, pois o centro constitui o grande suporte para a família e para os idosos. -‘Execução dos objetivos’ – Todos mencionam que há uma adequação dos objetivos à missão e à valência da instituição, a qual se empenha em dar aos idosos uma boa qualidade de vida, garantindo as suas necessidades básicas diárias. -‘Realização de atividades’ – Todos têm uma noção clara da importância das atividades, mas na prática fazem poucas, já que as técnicas estão com contratos de ‘par time’. -‘Animação socioculturais no centro’ – Todos reconhecem que a animação é promotora de satisfação, terapia ocupacional e bem-estar. Consideram-na primordial para o bem-estar físico e psíquico dos idosos, uma vez que estes ganham autoestima e autonomia. -Relação ‘Centro – Família’ – É ‘Muito boa’ (unanimidade). Esta tarefa não é fácil porque alguns familiares não se interessam pelos idosos, regularmente visitamnos aos domingos, mas não sabem o que fazem no centro. Apercebemo-nos que é muito difícil falar com determinados familiares. -Articulação ‘Centro–Comunidade’ – Todos valorizam esta relação de ‘Muito Boa’, destacando o apoio das entidades locais (juntas de freguesia, paróquia, empresas), exceto o R-E2 pontuou como ‘Boa’. -‘O que mudaria no centro?’ – Todos mudariam algo, por exemplo, novas instalações e melhores condições (R-E1), mais cuidadores/técnicos (R-LA; R-PR) ou
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uma valência de lar (R-LO). Alguns dirigentes dos Centros de Dia contratariam mais funcionários e/ou técnicos se tivessem possibilidade económica (R-E1, R-LA, R-LO). -’Qualidade de vida no idoso’ – Está relacionada com as necessidades básicas (biopsicossociais), bem-estar físico e psíquico (saúde) dos idosos ou o ‘saber ouvi-los’ (assertividade e acuidade) (R-PR). -‘Centro amigo dos idosos’ – As instituições destinam-se a preocupar-se e a compreender os idosos, satisfazendo-lhes as suas necessidades e dando-lhes qualidade de vida. Daí que o centro amigo é o que os ajuda e compreende. Analisemos as mesmas questões feitas às diretoras técnicas dos centros: -‘Nível dos serviços prestados’. Todas as técnicas referem a qualidade dos serviços, preferentemente os básicos do dia-a-dia (necessidades). Há coincidência com o discurso dos responsáveis na prestação e adequação às ‘necessidades’. -‘Importância locais do centro’ – Devido ao envelhecimento demográfico os centros asseguram a qualidade de vida nos idosos, promovendo-lhes relações de proximidade (comunidade, família). Há coincidência com o discurso dos responsáveis. -‘Objetivos do Centro’ – As técnicas são unânimes que os centros assegurem a satisfação das condições básicas, promove o bem-estar e a autoestima dos idosos. Há coincidência com o discurso dos responsáveis dos centros. -‘Execuções dos objetivos’ – Todas as técnicas cumprem os objetivos relativos à missão institucional e às necessidades dos idosos. Reconhecem que se pode fazer ‘algo mais’. -‘Realização de atividades’ – As técnicas realizam atividades adequadas aos interesses e limitações dos idosos, mas são escassas. Reconhecem que eles necessitam de motivação e que as estratégias usadas não são as melhores. Escasseia-lhes formação em animação. -‘Relações com a família’. Todas as técnicas confirmam a boa relação com a família, mas essas relações podem melhorar criando mais laços de amizade e confiança. -‘Animação sociocultural no centro’ – As técnicas fazem uma definição clara de animação e da sua importância no bem-estar, no desenvolvimento pessoal e social, na criatividade, relações e participação, mas na prática não operacionalizam estas ideias. A representação social do seu discurso coincide com a dos responsáveis.
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-‘Articulação Centro – Comunidade’ – Há coincidência com o discurso dos responsáveis ao designarem por unanimidade de ‘Muito Boa’ essa relação. -‘O que mudaria no centro?’ – Há coincidência com o discurso dos responsáveis ao desejarem mais recursos técnicos. Destacamos T-LO e T-LA ao desejarem uma animadora. -’Qualidades de vida no idoso’ – As técnicas destacam o significado da ‘qualidade de vida, coincidindo com alguns dos responsáveis, principalmente na relação com as necessidades básicas (biopsicossociais), bem-estar (saúde), aceitação e felicidade. Para elas a qualidade passa pelo apoio ao idoso, criando-lhe satisfação. -‘Centro amigo dos idosos’ – As técnicas atribuem este significado ao apoio e carinho (afetividade) aos idosos, à sua segurança e em mantê-los ocupados, ou seja, uma instituição que satisfaça as suas necessidades dá-lhes qualidade e felicidade/bemestar emocional. É notório que os discursos narrativos dos dirigentes e das técnicas coincidem na sua representação do discurso social coletivo, havendo uma preocupação pela satisfação das necessidades e promoção da qualidade de vida (Araújo e Carvalho, 2004). No âmbito da animação sociocultural todos os centros escasseiam dessas atividades, já que essas técnicas, formadas em serviço social, não têm um complemento formativo em animação (Silva & moinhos, 2010). Isto vai ao encontro da importância que tem a animação nestas valências, da utilidade dum programa de animação, que inclua atividades diversificadas e adequadas.
4.- Programa de Intervenção Sociocultural aos idosos
As 20 sessões de animação, nos centros de dia, ocorreram uma ou duas vezes por semana e ao sábado. Previamente estabeleceu-se a duração das atividades, mas por vezes dependeu das destrezas de cada idoso. As sessões executaram-se de acordo com os objetivos, características dos idosos e do que gostariam de fazer (Jacob, 2007). Em todas as atividades realizadas demos apoio afetivo-emocional, indo ao encontro das suas problemáticas, desdramatizando situações causadas pela perda de capacidades e atuando estados de ânimo, de modo a permitir às pessoas portadoras de alguma limitação participarem, valorizando-se pessoal e socialmente (Marques, 2011, p. 2-6). Usufruíram plenamente dos seus direitos e sentiram-se cómodos ao 37
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executar as tarefas. Respeitámos os ritmos, gostos, saberes, interesses e aprendizagens (significativas). Por isso, as sessões mesmo planeadas previamente (objetivos, estratégias, material disponível e recursos, avaliação), estas nem sempre seguiram o plano, dadas as imprevisibilidades e o ritmo de cada idoso 3 os interesses manifestados, bem evidente nas opiniões em ‘focus group’ realizadas de cada 4 sessões. Normalmente cada sessão estava dividida em duas partes: uma de manhã e outra à tarde, consoante a natureza das atividades, a disposição e gostos dos idosos, sempre iniciadas como musicoterapia e procedimentos de relaxe. As atividades iniciais eram de animação físico-motora e sensorial (mobilidade, flexibilidade e agilidade), no sentido de levar os idosos a descontrair e a participar e, em seguida executavam-se as atividades de caráter cognitivo e cultural. De tarde, realizávamos atividades de expressão plástica, artística e lúdica. Durante o desenvolvimento das atividades apresentávamos os objetivos e o modo de fazer, com intuito de os motivar para se envolverem nas tarefas. Os recursos materiais de apoio foram previamente pedidos, garantindo-se a preparação das actividades, distribuídas por grupos. No final de cada atividade passámos uma ficha de autoavaliação e no final fizemos ‘focus groupe’ - entrevista de discussão sobre o ocorrido. A maioria dos idosos gostou e disfrutaram da atividade física sensorial e motora: “É muito bom, as pernas e as costas pesavam, e passado algum tempo ficam aliviadas’ (LA-9, LO-4). Esta atividade pretendia que os idosos relaxassem o corpo e a mente ao som de uma música adequada. Outra atividade que gostaram imenso foi a ‘expressão plástica e lúdica’, dobragem de revistas (dois modelos diferentes o simples e o duplo), para no final sair numa a vela e na outra um boneco: ”Tem a certeza que é mesmo uma vela e um boneco? (E1-3), ‘Não somos capazes!’ (LA-1), ‘Bem, já conseguimos dobrar’ (E2-5), ‘Não ficou parecido com uma vela nem um boneco?’ (LO10), mas todos conseguiam fazer (emoções positivas). Fizemos “marcadores de livros” com vários materiais (feltro de várias cores, cola, desenhos alusivos ás épocas, pedaços de renda, cartolina de várias cores, fitas de cetim) e a “construção do jogo do galo”, cujo objetivo era recordar como se jogava e depois construi-lo, para que eles conseguissem jogar. Tratou-se de uma atividade muito participada e de interesse comum.
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Foram lidas alguns textos a pedido dos clientes (ateliê de leitura) para que todos pudessem estimular a memória com essas leituras (expressões, frases) as quais eram muito bonitas, debateu-se o tema da família: “hoje em dia já não havia o conceito de família’ uma vez que as pessoas estão mais egoístas (E1-4, LA-6, LO-7, PR2). No final da atividade, os idosos tinham a liberdade de poder dialogar e dar o seu contributo, partilhando a história e discutindo o significado das palavras na sua vida, nas relações e experiências. Todas as sessões decorreram no ambiente alegre, salvo alguns dias em que alguns idosos estavam com baixos estados de ânimo. Uma das dificuldades iniciais foi o fato dos idosos não desenvolverem a troca de opiniões, a comunicação entre eles, pois isolavam-se. Desenvolvemos capacidades de carater pessoal e social (González Rodríguez y Muñoz Marrón, 2008). O animar passou a significar para eles uma capacidade de promoção da interação entre eles (convívio), potencializando a sua capacidade expressiva/comunicativa.
5- Valorização do Programa de Intervenção de Animação Sociocultural Após a aplicação do PIAS solicitamos aos idosos, responsáveis dirigentes e diretoras técnicas que efetuassem a sua avaliação, através de entrevista individual com 8 questões, sobre a execução do programa, o impacto que teve na vida da instituição e nos seus idosos.
5.1.- Satisfação nos idosos Uma vez que trabalhámos mais as áreas das expressões plásticas, artísticas e culturais, ouve o cuidado de saber se tinham realizado algumas atividades, mas a maioria tinham feito poucas, exceto em LO e LA. Daí termos ajustado o programa a outras atividades de interesse nestas áreas da animação sociocultural. Algumas atividades demorarem muito mais tempo do que o esperado e, outras coincidiam com a proximidade de datas festivas, por exemplo, a Feira intergeracional, o dia dos Avós, dos Namorados, o Carnaval, festa religiosa local, dia do aniversário, etc., o que obrigou a integrá-las no nosso plano. Assistimos a uma grande progressão de centro para centro devido, em parte, à 39
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participação de algumas técnicas na estimulação cognitiva dos idosos (González Rodríguez & Muñoz Marrón, 2008). As fichas de autoavaliação foram passadas no final de cada módulo (áreas) do PIAS, sendo valorizadas, com a ajuda das notas de campo, observação participante e entrevista em grupo no final. Analisemos essa autoavaliação (fichas): *-Em relação aos escores de pontuação (escala de Likert) de ‘gostar da atividade realizada’, a totalidade dos idosos manifestaram ‘Muito’ (intervalo 4). Ao ser passada a ficha no final da tarefa o gosto de realizá-la expressou um contentamento elevado de ‘fazer’ e ‘ser capaz’ nos idosos. *-Na opinião sobre a atividade (‘divertida’ ou ‘aborrecida’, na mesma escala) todos os idosos dos centros de dia disseram ‘Muito divertida’ (intervalo 5). *-No ‘aprender algo de novo’ com a atividade realizada, os idosos manifestaram palavras conotadas com a dimensão emotiva e sentimental (‘bonito’, ‘interessante’, ‘fácil’, ‘engraçado’, ‘faz bem à saúde’, ‘gostamos muito’, foi coisas novas, etc.). *-A maioria dos idosos disse que ‘Não’ (75%) conhecia a atividade realizada. *-Sobre qual das ‘atividades que preferiram’, a maioria dos idosos dizerem ‘Todas’ (80%), mas alguns destacaram mais a ‘ginástica’, seguido de atividades lúdicas e culturais. Em PR as opiniões foram mais dispersas, devido ao grupo de idosas muito ativas, que estão sempre interessadas em algo ‘novo’ (exigência). *-Em relação ao ‘Sentido da aprendizagem’ (aprender a aprender) os idosos manifestaram as seguintes respostas: ‘Aprendemos muito’, ‘foi interessante’, ‘aprendemos algo esquecido’, ‘convivemos em grupo’. *-Na ‘atividade que menos gostaram’ não houve discurso negativo, pois a maioria dos idosos gostaram de todas, exceto algumas tarefas mais trabalhosas e de maior concentração. Podemos afirmar que as autoavaliações dos idosos foram muito positivas e motivadoras para a avaliação do PIAS, podendo sintetizar algumas ideias reflexivas: Alguns idosos não conseguirem fazer os trabalhos como eles queriam e estiveram para desistir de algumas atividades, dizendo: “Olhe o que me está a propor é muito difícil” (E1-6, E2-2, PR-9); “Se ficar ao meu lado farei tudo, senão, não vale a pena insistir” (E2-1); Nota-se que em alguns dos centros de dia os idosos não são estimulados, daí a recusa inicial em participarem nas atividades: ‘eu já sou velha para quê fazer isto, não sei”
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(E1-9, LA-3, LO-7), muitas vezes não era o gostar da atividade, mas o facto de participar e entrar no desconhecido. Passado algum tempo proferiam: “É assim que se faz”, ”afinal não é difícil” (E2- 4) reforço) e experimentavam. Do ponto de vista físico-motor houve idosos que queriam participar nas atividades, mas as suas limitações físicas não favoreciam: “tenho as pernas que não ajudam nada” (E12), “doem-me as mãos e os dedos dos pés” (LO-6, PR-5), mas acabavam por fazer e gostaram. As atividades começavam com poucos e terminavam envolvendo todos: “As atividades correm bem, apesar de gostar de ter mais gente a participar (E1-8, E2-6, LA-11). Tivemos em conta situações criadas por algumas atividades, por exemplo, maus cheiros das tintas acrílicas e a constatação de alguns idosos em terem as mãos pintadas (passou-se a usar luvas): ”Bem agora já parece que vão limpas para a mesa” (E1-3, LA-4) Incentivámos a melhoria dos trabalhos: “Está haver com está bonito e é capaz”. Reforçamos com palavras positivas e a força de vontade: “Afinal já sou capaz, e que bonito que está” (E1-5, LA-9, LO-3, PR-2 e 7). Minimizámos algumas consequências provocadas por ações não ligadas diretamente ao projeto no seu plano diário de atividades: “Foram às consultas e os idosos gostariam de ter participado nas atividades” (LO-5; PR-4). Houve alguns idosos que não estavam a participar diretamente nas atividades que se iam levantando e espreitando o que estávamos a fazer. Isto demonstra o interesse que gerava as atividades, transformando-se numa oportunidade para participarem à nossa pergunta “Então está a gostar do que estamos a fazer?”: “Bem eu acho bem mas tenho medo de não saber fazer!”, a que replicávamos se não ficasse bem dava um jeito (LO-11). A importância em levar para os familiares ou amigos as peças produzidas fazia que estes os elogiassem nas suas capacidades. Daí promover-se o aumento da participação nas atividades e o entusiasmo na sua realização, por exemplo na confeção de porta-chaves ou pregadeiras: “Enquanto fazíamos as atividades (PR-6) contou com alegria que a sua nora e neto tinha estado lá em casa e que tinham adorado”; “a minha nora gostou muito da pregadeira e disse-me para lhe oferecer uma para colocar naquele casaco verde ” (E2-9). O gosto das peças produzidas foi enorme: “Estou sempre encantada” (LO-10); “Afinal somos capazes com esta idade” (E2-3); “Este é um dos trabalhos mais bonitos” (E1-7); “Tudo o que fazia achava bonito” (LA-2).
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Ao longo das atividades os sentimentos iam aflorando melhor e mais rápido, pois disseram “que iam fazer as atividades porque gostavam de se entreterem um pouco’ (E1-10, PR-3); o ‘tempo assim passa mais depressa” (E1-4). Muitos idosos no fundo gostavam, mas não queriam dizer com medo de parecerem intrometidas: “ adoramos fazer as atividades” (LA-5 e 7; LO-2 e 9). Foi importante o reforço positivo que demos ao longo das sessões e, isso deu-lhes segurança e bem-estar. As alegrias e momentos de diversão. Muitas das atividades proporcionaram vários momentos de riso, de alegria, de diversão. Verificamos as reações em relação às mãos pintadas com flores, ao amigo que pintou a colega do lado e ela olhou para ele com um ar de zangada, mas segundos depois desataram-se todos a rir, a anedota que foi contada, as máscaras que eram todas diferentes e levou alguns idosos a dizerem: “parece os meus netos, se os meus filhos vissem, não faltariam a dizer, o pai está bom? (LO-4) ou “a mãe hoje deve ter visto um fantasma, não” (E2-5, LA-6). Os desejos de quererem participar nas atividades. Antes de irem para o refeitório comer os idosos perguntavam quando faziam outras atividades - “no próximo sábado” e retorquiam “tanto tempo, venha antes amanhã, nós gostamos muito quando cá está” e, assim acumulavam energia para as tarefas seguintes (E2-11; PR-lO,). Chegado a hora de irem para comer o lanche, algumas idosas não ‘queriam deixar a atividade a meio” (E2-7). As possibilidades de terem experiências novas: “Para onde nos leva?” (LA-8) “Nunca vimos para aqui, desde que estamos cá, nunca vimos” (LA-10), referindo-se a um local do centro de dia, pois fomos para uma sala ao lado para fazer a atividade de animação físicamotora e sensorial (E1-8), já que havia mais espaço e condições. A valorização do PIAS, por parte dos que não participaram diretamente nas atividades: “o centro já estava a precisar destes trabalhos’ (E1-11, E2-8; LO-1); ‘ficam muito bonitos no móvel e nas paredes, como enfeitam” (LA-1, PR-1), O poder do jogo (dimensão lúdica e motora) foi muito importante, por exemplo no jogo do galo. Alguns dos idosos disseram: ”tem a certeza que conseguimos fazer o jogo?” (E2-1, E1-5, PR-2). Insistíamos que era fácil e recapitulávamos os passos: “ficou bonito e afinal é fácil’ (LA-9). ‘As telhas são para o telhado’ (E2-10). É verdade, mas vão ver como vão ficar bonitas: ‘Bem eu posso pedir á minha filha’ (PR-7); ‘Não, quem pede sou eu’ (LO-8). No final estavam contentes e disseram que as filhas não iriam pensar que tinham feito as ‘telhas’.
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O segredo da realização das atividades foi o facto de haver muito diálogo/comunicação com os idosos, uma alegria e interação nas pequenas coisas que iam desenvolvendo, de tal forma que contagiou as técnicas e os cuidadores. Realçamos a importância dos incentivos, estímulos (autoestima) nos idosos e, simultaneamente reforçar a dimensão psicológica-emotiva para melhorar a confiança.
5.2.-Eficácia valorizada pelos responsáveis e técnicas das instituições
Analisemos, na base do método da triangulação, os dados das questões feitas aos responsáveis e diretoras técnicas dos centros de dia envolvidos no estudo, após a aplicação do PIAS. *-Á volta de 70% dos sujeitos das amostras (responsáveis e diretoras técnicas) valorizam ‘Muito Bom’ o PIAS e o resto de ‘Bom’ (30%). Idêntico resultado foi obtido sobre a adequação do PIAS às características dos idosos (70% disseram ‘Muitíssimo adequado’ e 30% de ‘Boa adequação’). Estes escores demostram que o PIAS teve a eficácia pretendida. *-Os contributos dados pelo PIAS orienta-se á ‘participação’, ‘ocupação dos tempos livres’, o ‘sentir-se bem’ com o que faz e ser uma mais-valia para o bem-estar. *-Sobre o impacto do PIAS na qualidade de vida desses idosos, 70% dos respondentes disseram ‘Muitíssimo’ e 30% ‘Muito’, o que coincide com a alegria e a boa disposição que manifestaram os idosos em todas as sessões. *-Entre as atividades preferidas pelos idosos, no dizer dos responsáveis e técnicas dos centros, destacamos maioritariamente os trabalhos manuais e lúdicos (40%), a atividades físico-motoras (30%), as culturais (15%) e cognitivas (15%). *-Sobre a importância da ‘animação nos centros de dia’, a maioria dos respondentes (70%) disseram que a assiduidade de atividades, mais diversificadas, considerando-as muito importantes para evitar o tédio, o isolamento e comodismo, de modo a deixarem de pensar nas suas mágoas e tristezas, de ver TV, dormir ou estarem sentados sem mobilidade. *- Em relação ao contributo das atividades nas relações entre os idosos os respondentes destas amostras afirmaram ‘Muitíssimo’ (70%) ‘Indiferente’ (20%) (casos
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de centros com muito convívio e fortes relações de amizade – LO e PR) e ‘Muito’ (10%). *-Em relação à aplicação do PIAS os responsáveis e técnicas disserem ‘Muito Boa’ (60%) e os restantes classificaram de ‘Boa’ (40%). Por conseguinte a valorização dos responsáveis e das técnicas foi muito positiva, afirmando alguns deles a grande utilidade da animação gerontológica nos centros de dia e da possibilidade de haver uma animadora ou terapeuta ocupacional em algumas das instituições.
Algumas Ideias (In) Conclusivas
Para além das atividades descritas, que constavam no Programa, realizámos debates sobre temas locais (história, gastronomia, provérbios, lendas), que assumiram um papel crucial ao longo das sessões, pois os idosos partilharam as suas ideias, foram ouvidos e compreendidos (espaço de expressão livre, onde refletiram e comunicaram sem receios). Promovemos com a aplicação do PIAS que os idosos tivessem mais oportunidades de refletirem sobre temáticas do seu quotidiano, participando nas tarefas, atividades e jogos didáticos. O seu envolvimento permitiu aumentar a sua autoestima, o nível de autoconfiança e motivação. Os coletivo de idosos, em cada centro, ficaram mais sólido, unido e com um maior dinamismo. Criamos um ambiente mais dinâmico em que os idosos se sentiram atores e protagonistas do que fizeram, desenvolvendo a parte comunicativa e criativa. A entreajuda, a colaboração, a preocupação em concretizar os objetivos da tarefa, enquanto grupo, também foi um dos aspetos destacáveis. Em termos globais, as atividades assumiram-se como promotoras de dinamismo, interação, participação e convivência (Oliveira, 2008). Podemos sintetizar a eficácia e valorização do PIAS nos seguintes pontos: *-O que os idosos fizeram (‘Possibilidades de Ser’). Os idosos trabalharam mais á base de materiais reciclados e reutilizados, de forma a rentabilizar os recursos e/ou custos e saberem que há materiais que podemos utilizar e não deitar o lixo (educação ambiental e ecológica). Há medida que os trabalhos iam sendo feitos o grau de exigência foi aumentando, gerando nos idosos prazer de executar e fazer, ficando mais
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orgulhosos e sentiram-se bem e felizes. Esta foi uma das melhores experiências vê-los satisfeitos, alegres e mais confortáveis interiormente (o ‘Eu’). Outro aspeto foi o facto de lhes incutir a liberdade de fazerem e escolherem o que queriam realizar. Foi gratificante ver os idosos tomar decisões, manifestando reações e atitudes interessantes. Os incentivos foram importantes, pois os idosos sentiram-se mais confiantes e seguros nas capacidades de ‘fazer’ e no processo de envelhecer. *-Ambiente institucional (Relação dos idosos: empatia, amizade, convívio e afetividade). A aceitação do PIAS e a relação inter e intra idosos foi muito boa, havendo sempre alguns, que no início ao terem pouca confiança neles, sentiam-se inseguros. Com o passar do tempo os idosos foram ganhando confiança, perderam esse ‘temor’ e insegurança em si’ e conseguiam partilhar e participar ativamente, fazendo as atividades. Daí a valorização de satisfação pessoal e social e de eficácia dada ao PIAS pelos idosos, responsáveis e técnicas. *-Aceitação pelos responsáveis/técnicos das instituições da animação gerontológica. Em geral os responsáveis, as técnicas e funcionários mostraram-se muito satisfeitos com as atividades de animação, demonstrando disponibilidade, apoio na aquisição de material, espaço e apoios, fazendo os possíveis para termos as atividades organizadas. As técnicas participaram em muitas atividades e valorizaram a animação sociocultural e educativa. *-Programa de intervenção (PIAS). A sua aplicação em 20 sessões por centro foi bem aceite por todos os idosos, responsáveis e técnicas. Após a sua execução refletimos reflexão-ação) na possibilidade do programa poder ser alterado incluindo outras atividades (musicoterapia, ateliê de leitura). Os idosos ficaram com uma boa imagem do que é a animação sociocultural, de tal modo que exigiam a presença de animadoras ou terapeutas ocupacionais nos centros. O Programa fê-los sentir-se mais úteis e felizes, influenciando-os positivamente ao nível do bem-estar físico, psíquico/emocional e, consecutivamente, o aumento do sentido de confiança e de felicidade (Schaie & Willis, 2003; Zimerman, 2005). Na verdade, o estudo e a aplicação eficaz do PIAS demonstraram o contributo da animação na satisfação com a vida e na qualidade de vida dos idosos de centros de dia (Jacob, 2007). As relações sociais, as redes de relações (convivência), as atividades de animação sociocultural, e o apoio social são aspetos fulcrais, especialmente no que
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diz respeito às contribuições dadas aos idosos para terem um bem-estar e uma satisfação com a vida no seu envelhecer (Cardão, 2009). Em definitivo, o objetivo do envelhecimento ativo é o de proporcionar uma maior integração (cidadania ativa e participativa) e uma motivação para a vida das populações mais idosas (seniores), assente em medidas/serviços de políticas sociais destinados à prevenção, intervenção e inclusão. Pensamos que nessa concretização de medidas e disponibilidade de serviços aos idosos os cuidadores formais/informais (voluntariado) e os técnicos são fundamentais para a sua satisfação e qualidade para a vida (bem-estar), zelando-os como sujeitos históricos com identidade e dignidade, respeitando-os nos seus pontos de vista, na sua cultura, sentimentos e vivencias de envelhecer (Marques, 2011). A aproximação profissional (ethos) a essas pessoas no envelhecimento implica um atuar/agir, a partir das necessidades e da perceção do idoso como sujeito (ator e protagonista das ações e intervenções) e não como alguém dependente que não sabe dialogar e atuar por si mesmo (Paúl & Fonseca, 2005). O segredo de uma velhice bem-sucedida depende da capacidade física e psicológica de cada um, em encontrar o seu caminho de envelhecimento ótimo, caminho esse que cedo se inicia, com progressivas perdas, dependendo do diálogo entre o sistema biológico, psicológico e social do indivíduo e das repercussões que têm entre si.
Bibliografia ARAÚJO, L.F.& CARVALHO, Van de L. (2004). Velhices: estudo comparativo das representações sociais entre idosos de grupos de convivência. Textos Envelhecimento, 7 (1), p. 1-10 CARDÃO, S. (2009). O idoso Institucionalizado. Lisboa: Coisas de Ler ERIKSON, E. (2000). El ciclo de la vida completado. Barcelona: Paidós – SET & SET FONSECA, A. M. (2005). Desenvolvimento humano e envelhecimento. Lisboa: Climepsi GONZÁLEZ RODRÍGUEZ, B. & MUÑOZ MARRÓN, E. (2008). Estimulación de la memoria en personas mayores. Madrid: Síntesis JACOB, L. (2007). Animação de Idosos - Atividades (2ª ed). Porto: Editora Ambar
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MARQUES, A. (2011). A animação cultural com idosos e o processo de individuação. Revista Práticas de Animação, Ano 5 – N.º 4 (out.), p.1-9 MARTINS, E. C. (2013). Gerontologia & Gerontagogia e Animação em Idosos. Lisboa: Cáritas Portuguesa NAZARETH, J. M. (2009). Crescer e envelhecer. Constrangimentos e oportunidades do envelhecimento demográfico. Lisboa: Editorial Presença OLIVEIRA, J. (2008). Psicologia do idoso. Porto: Livpsic PAÚL, C. M. & FONSECA, A.M. (2005). Envelhecer em Portugal. Lisboa: Climepsi PÉREZ BLASCO, J. (2013). Aprendiendo de los grandes cambios vitales. Valencia: Publ. Universitat de Valence PINTO, A. (2001). Envelhecer Vivendo. Coimbra: Editorial Quarteto QUARESMA; M. (2004). O Sentido das Idades da Vida, Interrogar a solidão e a independência. Lisboa: CESDET – I.S.S.S. SANTOS, M. F.S. & ALMEIDA, A.M. O. (2004). Práticas sociais relativas ao idoso. Temas de Psicologia (Ribeirão Preto- Brasil), 10, (3), p. 221-228 SCHAIE, K.W & WILLIS, S.L. (2003). Psicología de la edad adulta y la vejez. Madrid: Pearson SILVA, E. & MOINHOS, R. (2010). Animação sociocultural – módulos opcionais. Lisboa: Plátano Editora SIMÕES, A. (2006). A Nova velhice: um novo público a educar. Lisboa: Ambar SOUSA, L. et al. (2003). Qualidade de vida e bem-estar dos idosos: um estudo exploratório na população portuguesa’. Revista de Saúde Pública, Vol. 37, 3 (junho), p. 48-69 SQUIRE, A. (2002). Saúde e bem-estar para pessoas idosas – fundamentos básicos para a prática. Oeiras: Lusociência ZIMERMAN, G.I. (2005). Velhice – Aspetos Biopsicossociais. Porto Alegre: Artmed Editora
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People make...communities - Apontamentos sobre desenvolvimento comunitário na Escócia Mário Montez* Daniel Ferreira
Resumo Tomando em consideração o desenvolvimento comunitário como campo da animação sociocultural, este artigo apresenta um conjunto de aprendizagens de um aluno e de um professor do curso superior de Animação Socioeducativa da ESEC-IP Coimbra, em contacto com práticas e políticas de desenvolvimento comunitário na Escócia. As experiências foram possibilitadas pelo Programa Erasmus +. Das práticas observadas e das aprendizagens obtidas (métodos, políticas, programas) partilham-se as que consideramos mais distintas e de maior interesse para futuros desenvolvimentos na realidade da animação sociocultural e do desenvolvimento comunitário em Portugal.
Palavras-chave:
Desenvolvimento
Comunitário;
Políticas
de
Desenvolvimento
Comunitário; Educação ao Longo da Vida; Programa Erasmus +.
Abstract This text presents an over view of a study trip and an internship of a teacher and a student of Socioeducative Animation course of Coimbra School of Education/ Polytechnic of Coimbra during their Erasmus + mobilities on community development and sociocultural animation. In these experiences they both were in contact with field practices and community development politics. Here we report and share the ones we considered of major interest looking at future possibilities in the Portuguese realities of sociocultural animation and community development.
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Animador sociocultural; professor na Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Coimbra
Licenciado em Animação Socioeducativa
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Key-words: Community Development; Community Development policies; Life Long Learning; Erasmus + Programme.
PARTE I: INTRODUÇÃO 1. INTRODUÇÃO No âmbito do programa Erasmus + foram realizadas duas mobilidades de Animação Socioeducativa na Escócia, em 2017, dando seguimento às muitas anteriores mobilidades já realizadas no âmbito deste curso da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Coimbra. A mobilidade de estudo, foi realizada pelo estudante Daniel Ferreira e a mobilidade Staff (formação), pelo docente Mário Montez, ambos autores deste artigo. Por considerarmos a leitura deste texto uma forma de partilhar conhecimento adquirido, e dado que se destina a colegas animadores e animadoras socioculturais, ousamos narrar as aprendizagens e observações na primeira pessoa do plural, assumindo um claro e personalizado “Nós” no diálogo com os leitores e leitoras. Esclarecemos que a mobilidade Erasmus + de estudo foi realizada pelo Daniel no 2º semestre de 2016/17 no West Dunbartonshire Council e a mobilidade Staff do Mário foi uma visita de estudo/study trip de uma semana ao Community Learning and Development Standards Council (CLDSC). Num determinado momento as mobilidades cruzaram-se, tendo sido possível acompanhar in-loco parte do estágio do Daniel, reunir e conhecer a equipa que o acolheu, que o tutorou e que muito o estima, assim como rever um dos jovens colegas escoceses, atual responsável de uma das equipas do programa Working 4U. Foi ainda possível discutir ideias, sonhos e projetos futuros num dos vários ambiente descontraídos e amigáveis que Glasgow proporciona. As problemáticas e as práticas de desenvolvimento comunitário têm uma afinidade indiscutível com a animação sociocultural. Princípios que enquadram a prática social da animação sociocultural, tais como a capacitação de pessoas e grupos a participação social, política, cultural e educativa, são igualmente abraçados pelo métier do desenvolvimento comunitário, ou em particular, do que na Escócia se designa atualmente de Community Learning and Development (CLD). O facto de se inscrever nesta designação o termo Learning reforça a importância da aprendizagem como forma de alcançar consciência dos problemas e potencialidades existente nas comunidades, numa perspetiva de educação permanente ou ao longo da vida. Estas modalidades de educação tomam um papel importante na qualificação de adultos em idade ativa, possibilitando que as mesmas desenrolem um papel ativo no mercado de trabalho e na educação formal, não formal e informal dos seus agregados familiares. A 49
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educação está assim associada à ideia de que as comunidades mais desenvolvidas têm mais possibilidades de gerar emprego e pessoas qualificadas que desempenhem papéis ativos no mercado de trabalho e na comunidade. Nestes contextos, a animação sociocultural, na sua modalidade educativa, desempenha um papel indispensável na medida em que se apresenta como o principal mecanismo de educação pelas suas características, das quais se destacam a flexibilidade, o protagonismo dos participantes e a associação da aprendizagem ao lazer. Neste quadro ressalta a visão de que a educação e as competências de literacia estão intimamente relacionadas com a inclusão social, com a consolidação de aprendizagens e com a consciencialização das problemáticas sociais, tornando-se ferramentas imperativa para a definição coletiva das suas soluções. As competências de literacia surgem também como sinal inequívoco da qualificação das pessoas, fator essencial para o desenvolvimento de um território e das comunidades que o compõem. A intervenção da animação sociocultural, tendo em conta os domínios social, cultural e educativo, encontra nestes contextos um paralelismo flagrante. Daí termos encarado os contactos na Escócia e o trabalho de CLD como um desafio incontestável, quer para um trabalho de Estágio curricular de final de curso, quer para uma mobilidade Erasmus+ em modalidade de formação para “Staff”. Este texto dá conta dos percursos, descobertas e alguns confrontos de paradigmas com que nos deparámos, no encontro com práticas e políticas de desenvolvimento comunitário que interessam à animação sociocultural e que nos poderão inspirar no eventual (re)traçar de um caminho idêntico. O texto divide-se em três partes. Uma primeira parte introdutória que contempla também uma clarificação da terminologia usada no contexto escocês; uma segunda parte de partilha das práticas; uma terceira e última parte de considerações finais.
2. DESIGNAÇÕES, DESAMBIGUAÇÕES E CONTEXTUALIZAÇÕES
De modo a facilitar a compreensão de conceitos que se tornam importantes neste relato, apresentamos um conjunto de termos que merecem um entendimento particular, à luz da realidade escocesa. A tradução é um meio para clarificar conceitos e práticas, ainda que por si só não seja a forma completa para os compreender na sua plenitude, uma vez que por detrás da terminologia linguística há todo um contexto cultural e histórico impossível de assimilar nestas linhas e nas experiências que tivemos. A tradução aqui esboçada tem por base o conhecimento que adquirimos nas nossas experiências, contactos, leituras, estudos, conversas
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e noutras vivências anteriores neste país. Apresentam-se então alguns conceitos que nos parecem mais importantes de contextualizar.
COMMUNITY LEARNING AND DEVELOPMENT (CLD): conceito relativo ao trabalho de capacitação das comunidades e de grupos existentes nas comunidades com vista ao seu desenvolvimento, envolvendo a área da educação não formal, o desenvolvimento pessoal e social, a intervenção social, o bem-estar pessoal e social, a inclusão social. Neste conceito integram-se conceitos como a animação sociocultural, a intervenção social, a educação social, a educação de adultos, a educação ao longo da vida, a educação permanente. Este conceito é ao mesmo tempo um label (rótulo) que tem sido utilizado como terminologia dominante nas políticas de desenvolvimento comunitário, seguindo-se a outro termo antes utilizado: Community Education.
STANDARDS: padrões; neste caso os padrões definidos pelo CLDSC são padrões considerados pelas organizaçõoes que trabalham no terreno.
COUNCIL: Conselho, enquanto órgão composto por pessoas consideradas membros e que têm funções perante o órgão em si, perante os decisores políticos e junto dos técnicos que trabalham no terreno.
PRACTITIONERS: Pessoas qualificadas para desempenhar uma determinada profissão. Neste caso trata-se de profissionais pertencentes a uma organização, um serviço público ou da administração local que exercem funções na área do desenvolvimento comunitário, comummente designados de Community Workers.
COMMUNITY WORKER: profissional que trabalha na área do desenvolvimento comunitário; animador sociocultural.
LOCAL AUTHORITY: autoridade local ou órgão da administração local, geralmente equivalente ao concelho ou município, na realidade portuguesa. A autoridade local tem responsabilidade direta sobre o trabalho social, educativo e comunitário desenvolvido na sua área territorial. A Escócia tem 32 autoridades locais.
COMMUNITY EMPOWERMENT ACT (2015): lei do governo escocês, de 2015, que decreta a necessidade de se trabalhar o Desenvolvimento a partir das comunidades,
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impelindo um conjunto e iniciativas de base local e legitimando o trabalho da animação comunitária. http://www.gov.scot/Topics/People/engage/CommEmpowerBill
GLASGOW LIFE: Agência criada pela autoridade local de Glasgow que é responsável pela gestão das políticas e das estruturas educativas, culturais, desportivas, comunitárias, sociais do município. Tem assim à sua responsabilidade estruturas como museus, bibliotecas, centros comunitários, etc, e seus projetos, articulando com projetos e trabalho realizado por outras organizações locais. http://www.glasgowlife.org.uk/Pages/default.aspx
PARTE 2: PARTILHAS 1. ESTÁGIO EM WEST DUNBARTONSHIRE COUNCIL
West Dunbartonshire é um dos 32 councils (equivalente a um município) que constituem o grupo de áreas de administração territorial da Escócia, sendo constituído por 16 localidades, e com um total de 89590 habitantes. Situado a oeste do município de Glasgow, com o qual faz fronteira, West Dunbartonshire conta com 14 grupos étnicos, dos quais se destacam os irlandeses, paquistaneses, polacos, indianos e africanos. Atualmente foi local de acolhimento de migrantes/ refugiados sírios. A História de West Dunbartonshire está ligada à construção naval e a uma ultra especialização técnica dos profissionais desta indústria, cujo declínio durante a segunda metade do século XX lançou para o desemprego, depressão, criminalidade e alcoolismo uma grande fatia da população. Deste panorama, generalizado na área de Glasgow, surgiram preocupações específicas para com a educação na Escócia (Scottish Education) que passou a encarar a formação pessoal, social e de participação cidadã como prioridades educativas, ao invés de um investimento na especialização técnica. Uma lição que a Escócia pode partilhar com outros países e agendas educativas (ideológicas) que assombram sociedades quando sob governação de ideologias conservadoras. De forma a abranger todas as áreas sociais, culturais, comunitárias e legais da sua zona de ação, o council está dividido em três grandes grupos de atuação municipal:
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1- Transformation and Public Service Reform; 2- Regeneration, Environment & Growth; 3- West Dunbartonshire Health and Social Care Partnership. Os três dividem-se em grandes equipas de trabalho que atuam em áreas particulares inscritas nas temáticas inerentes a cada grupo de atuação. Por sua vez cada equipa de trabalho organiza-se ainda por sub-equipas, numa lógica de atuação de proximidade. O estágio curricular de Animação Socioeducativa foi realizado pelo Daniel Ferreira no grupo Regeneration, Environment & Growth, numa equipa específica que coordena o programa Working4U. Working 4U é um serviço de suporte em três componentes: 1. Emprego - reinclusão de desempregados no mercado de trabalho; 2. Dinheiro - assistência com benefícios e dívidas; 3. Formação – literacia e numeracia, literacia digital e preparação para empregabilidade. De forma sumária, pode dizer-se que o objetivo geral desta equipa é proporcionar oportunidades de formação focando-se na capacitação dos indivíduos para a empregabilidade e na garantia do seu bem-estar financeiro durante o processo. Este departamento encontra-se dividido em 2 equipas com públicos-alvo diferentes: Adult: Adult Employability; Financial Inclusion; Adult Learning and Literacies Youth: Youth Learning; Youth Employability and Literacies; Skills Compliance and Development
A equipa de Adult Learning and Literacies, onde se desenvolveu o estágio do Daniel, trabalha na formação e desenvolvimento profissional e pessoal de adultos. Este processo é desenvolvido de forma gradual através de 5 fases (Strategic Skills Pipeline) que explicamos de seguida:
Fase 1 – Referência e Envolvimento: onde se procura identificar as necessidades das pessoas, desenvolver um plano de acção e fomentar o seu envolvimento, numa fase em que ainda não estão preparadas para o mercado de trabalho.
Fase 2 – Remoção de Barreiras: onde se procura superar as necessidades identificadas (normalmente associadas com literacia ou barreiras linguísticas) e reconstruir a confiança das pessoas, sendo esta última fase de preparação dos mesmos para a reinserção profissional.
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Fase 3 – Atividade Vocacional: Nesta fase as pessoas já se encontram preparadas para a prática profissional, pelo que se procura assistir na procura de emprego, na formação vocacional e na colocação em experiências de trabalho, como por exemplo voluntariado.
Fase 4 – Envolvimentos dos Empregadores: onde se procura integrar as pessoas no mercado de trabalho através de emprego sustentável (contratos superiores a 6 meses) ou do emprego por conta própria. Fase 5 – Suporte a Empregados: Nesta fase final, as pessoas já se encontram inseridas no mercado de trabalho e procura-se garantir o seu bem-estar, bem como sensibilizar os empregadores para a promoção da formação dos seus trabalhadores.
A equipa Adult Learning Literacies está principalmente envolvida na segunda fase, proporcionando cerca de 60 cursos divididos em 13 áreas, das quais 8 são exploradas em parceria com o West College Scotland, entre outras iniciativas e projetos. Assim, as pessoas são encaminhadas por outras organizações ou pela própria equipa Working 4U para os cursos ajustados à sua fase de desenvolvimento e área menos desenvolvida ou a especializar. De forma a garantir a acessibilidade aos cursos, estes são dinamizados localmente em escolas primárias, centros comunitários ou hubs, facilitando a deslocação dos participantes. A relação de proximidade que a equipa procura ter com as várias comunidades do município é também um fator imprescindível para a incursão das pessoas como participantes nos cursos de formação. Por fim, estes cursos e projetos têm, ainda, a vertente de voluntariado, sendo normalmente tutorados por um voluntário com experiência ou conhecimento na área, construindo-se depois um grupo de voluntários para ajudar no processo, de forma a garantir que todos os participantes tenham a atenção e o acompanhamento necessários para o seu desenvolvimento. Estes tutores, habitantes no município, passam por um período de formação antes de poderem exercer a tutoria, sendo que, quando se torna um encargo financeiro para os mesmos, as despesas de deslocação são pagas pelo programa. Durante o estágio curricular Daniel esteve envolvido em vários projetos com vista à inclusão social e à capacitação dos agentes comunitários da área abrangida pelo council. Destacamos aqui os projetos que acreditamos que melhor transparecem a ideia de “foco em Pessoas”, enquanto elemento da equação Comunidade. Numa área onde a saúde mental, a toxicodependência ou o alcoolismo e a inclusão dos refugiados sírios se apresentam como os principais desafios sociais, é no sentido da sua solução que têm sido criados projetos de intervenção.
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Figura 1: A equipa Working4U com Daniel Ferreira.
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Figura 2: Aspeto do bairro em redor da estação de Clydebank, um dos lugares de West Dunbartonshire.
Projeto Steps to Excellence: O curso Steps to Excellence, é um curso criado pela Pacific Institute que foi adotado pelo West Dunbartonshire Council como ferramenta de combate a problemas de saúde mental como a baixa autoestima, a ansiedade ou o excesso de stress. Ao longo de 8 sessões procurouse explorar o potencial dos participantes, promovendo a sua autoconfiança, autoestima e autonomia, através dos métodos participativo e expositivo, apostando na valorização da história de vida de cada participante. De forma a garantir a sustentabilidade da intervenção, foi-lhes fornecido um conjunto de ferramentas práticas e um manual que poderiam usar em qualquer momento do curso e depois do mesmo. Na sessão final, foram apresentados outros cursos e oportunidades de voluntariado aos participantes, de forma a que estes continuem o seu desenvolvimento e para que, caso se sintam preparados, possam começar a desenrolar papéis ativos nas suas comunidades.
Projeto Safe as Houses: Como resposta ao segundo desafio enunciado (toxicodependência e alcoolismo) surgiu a Safe as Houses, um centro de reabilitação onde se utiliza a terapia de grupo como ferramenta de recuperação. Neste centro os participantes passam por várias fases antes de poderem voltar a ser plenamente integrados na sociedade, seguindo, assim, um plano pessoal e gradual ajustado às necessidades e potencialidades de cada um. Durante este processo, são oferecidas várias oportunidades de formação para garantir que os e as participantes têm um leque de competências que possa sustentá-los após a reabilitação, ainda que continuem a ter algum acompanhamento.
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Projeto Ready, Steady, Atbakh: A resposta encontrada para o último desafio (inclusão social dos refugiados sírios) passa pela criação de oportunidades de encontro e convivência deste grupo de pessoas com as comunidades locais. A partir da organização de torneios de futebol entre ambas as comunidades, como estratégia inicial de integração da população síria, criou-se o projeto Ready, Stready, Atcakh. Este foi um projeto de promoção da integração das famílias de refugiados sírios através da culinária, onde se procurou explorar as diferenças culturais ao longo de 6 sessões, sendo o grupo de participantes constituído por membros de 5 famílias sírias e de 5 famílias escocesas. Destas 6 sessões, as 2 primeiras foram de tomada de decisões, sobre o que fazer e como desenvolver a atividades, e de aproximação ao grupo. As outras 4 sessões destinaram-se à confeção de pratos típicos de cada uma das culturas. Assim, saíram para a mesa das sessões um prato vegetariano na primeira sessão, um prato de frango na segunda, um prato de sopa na terceira e um prato de carne picada na última sessão. Procurouse que os pratos tivessem sempre o mesmo ingrediente base, quer para as famílias escocesas, quer para as famílias sírias, como promoção da interculturalidade, possibilitando perceber e explorar as diferenças culturais como algo positivo que enriquece a comunidade. O sucesso deste projeto levou a que se criasse uma segunda fase em que os participantes escreverão um livro de receitas sírias e escocesas – incluindo aquelas que foram usadas nas sessões – em parceria com a biblioteca local. Alguns destes participantes participam também na atividade Language Cafe, destinada a treinar e desenvolver competências de literacia e conversação em inglês. Importa referir que as atividades acima apresentadas se desenvolvem por iniciativa e sob orientação do council mas com a colaboração de voluntários e de pessoas dinamizadoras da comunidade. É neste sentido que se torna importante o trabalho de capacitação das pessoas para a participação cidadã, que tem vindo a ser desenvolvido em vários municípios da área de Glasgow e que se considera o coração do trabalho de desenvolvimento comunitário. Destas práticas podemos destacar a iniciativa Learners Voice que é um grupo de participantes de vários cursos criado com o objetivo de representar a totalidade dos participantes de todos os cursos, envolvendo-os nas tomadas de decisão que os afetam.
2. VISITA DE ESTUDO AO COMMUNITY LEARNING AND DEVELOPMENT STANDARDS COUNCIL
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Study Visit/ Visita de Estudo é uma das modalidades da mobilidade Erasmus + destinada a professores e funcionários dos estabelecimentos de ensino superior. A intenção é a de proporcionar aprendizagens aos profissionais, numa determinada área relacionada com a área de atuação. A visita de estudo ao Community Learning and Development Standards Council comportou objetivos orientadores diversos, tais como o aprofundar do conhecimento sobre o conceito, políticas e práticas de Communuty Learning and Development (CLD) e sobre o CLD Standards Council, no que concerne à aprendizagem propriamente dita. Contemplou ainda objetivos práticos como angariar parcerias organizacionais (de terreno e não académicas) que possam contribuir para a formação oferecida pela ESEC nos cursos de licenciatura e de mestrado (partilha de conhecimentos, acolhimento de estágios). Por isso a visita de estudo suportou-se no contacto pessoal e in loco com um leque diversificado de organizações, community workers e estruturas comunitária. Durante a visita de estudo, e através do trabalho de preparação à distância realizado com a pessoa de contacto no CDLSC, Mário visitou, reuniu e participou em atividades nas seguintes organizações, para além do CLDSC:
Glasgow Life (programas de educação, cultura, desporto, lazer)
Rosemount Lifelong Learning (trabalho comunitário; idosos, crianças, literacia de adultos, etc.)
North Lanarkshire Council – North Motherwell Centre (idosos, crianças, literacia de adultos, etc.)
Scottish Community Development Centre (promoção do DL; apoio técnico; programas de DL)
South Lanarkshire Council – Universal Conections Youth Centres (Capacitação juvenil, lazer)
West Dunbartonshire Council – Working4U CLD programme (Idosos, literacia, crianças e jovens)
Univestity of Glasgow – Activate Programme (formação universitária em contexto comunitário)
Community Links Scotland (apoio ao DL: educação, arquitectura, construção, fundos, etc.)
Do amplo arco íris de aprendizagens possibilitado pela visita de estudo, focamos-nos em três projetos de três organizações que consideramos distinguirem-se da realidade portuguesa, podendo inspirar eventuais parcerias e práticas a desenvolver em Portugal.
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Figura 3: Sessão de literacia digital no centro comunitário de North Motherwell.
Figura 4: Cantina de iniciativa comunitária em North Motherwell.
Community Learning and Development Standards Council (SLCSC) http://cldstandardscouncil.org.uk/
O CLDSC é um órgão administrativo responsável por definir e monitorizar os padrões pelos quais se deve orientar o trabalho de Community Learning and Development (desenvolvimento comunitário e educação ao longo da vida) na Escócia. O CLDSC foi criado por iniciativa governamental mas tem carácter independente. A nível administrativo e orgânico integra-se na agência Education Scotland, órgão do governo escocês responsável pela orientação das políticas educativas na área da Educação Formal e Não Formal, com especial atenção à educação realizada nos contextos de intervenção social e de desenvolvimento comunitário. Só pela fusão entre as duas tipologias de educação e reconhecimento da importância da Educação Não Formal no sistema educativo, esta agência merece uma melhor atenção, em especial de quem se debruça sobre as problemáticas da educação ao longo da vida, educação plena e por necessárias reformas efetivas na Educação (e não somente no sistema de ensino) em Portugal. Contudo o contexto e o plano da visita de estudo não contemplava um olhar particular sobre esta estrutura política. Foquemo-nos então no Community Learning and Development Standards Council. O CLDSC foi criado a partir de uma atenção particular para com as questões relacionadas com a vulnerabilidade social de populações, tanto urbanas (desemprego, alcoolismo, toxicodependência, violência doméstica, depressões pessoais, sentimentos pessoais de impotência para agir) como rurais (isolamento, falta de acessibilidade a subsistemas sociais, alcoolismo). Esta preocupação provém dos anos 70 do século XX e foi-se 58
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materializando a partir dos anos 90 no que atualmente é o CLDSC. Surge ainda no contexto de um olhar atento do governo escocês perante as questões do desenvolvimento comunitário e da publicação de um guia estratégico para o planeamento em parceria no desenvolvimento comunitário, o Community Planning Partnerships, em 2012. Neste documento o governo delimita o propósito do Community Learning and Development, associando claramente o desenvolvimento comunitário à aprendizagem ao longo da vida:
“We see [CLD] as empowering people, individually and collectively, to make positive changes in their lives and in their communities, through learning.” (CLDSC website acedido em 29 setembro 2017)
Tanto as organizações com ação no terreno como os decisores políticos sentiram haver necessidade de criar padrões que orientassem o trabalho de desenvolvimento comunitário, tendo em conta a diversidade e a ambiguidade de práticas e de abordagem, desenvolvidas por profissionais de várias áreas mais ou menos relacionadas com esta área. A par destas preocupações o ensino superior escocês foi criando formação na área de desenvolvimento comunitário, investindo na formação de novos profissionais e na requalificação de profissionais com experiência. A formação superior em desenvolvimento comunitário passou a ser um critério fundamental nos padrões exigidos pelo CLDSC. O CLDSC foi criado por iniciativa governamental. A definição de critérios para estabelecimento de padrões específicos de qualidade, exigência e de coerência com os princípios do desenvolvimento comunitário foi resultado de um processo de 2 anos que contou essencialmente com as opiniões e preocupações das organizações que trabalham no terreno. Este fator parece ter sido fundamental para a credibilidade e para a durabilidade do CLDSC enquanto órgão orientador. Os padrões definidos pelo CLDSC são reconhecidos pelo governo escocês e pelas organizações que trabalham na área do desenvolvimento comunitário, incluindo associações locais, ONG’s, autarquias e estabelecimentos de ensino superior.
O que faz o CLDSC?
A acção do CLDSC realiza-se a três níveis: Político, Profissional e Formativo. a) Político: A nivel político o CLDSC conta com um Advisory Council composto por profissionais, representantes de organizações e académicos que têm como função influenciar os decisores 59
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políticos e orientá-los na condução de políticas públicas coerentes com os princípios e valores do desenvolvimento comunitário e com os princípios das próprias políticas de desenvolvimento comunitário, como é o caso do Community Empowerment Act (lei de 2015) e de anteriores regulamentações do governo escocês respeitantes a esta área de desenvolvimento. O Adisory Council tem também como função orientar o trabalho realizado pelo CLDSC, em particular pelos seus técnicos. b) Profissional: A nível profissional o CLDSC contempla um serviço designado Registration. Este serviço tem como função registar os profissionais que pretendam ser integrados na rede profissional de trabalhadores de desenvolvimento comunitário do CLDSC, sendo assim reconhecidos formal e oficialmente como tal, e de partilhar ferramentas formativas em comunidades de práticas. Neste contexto o Registration disponibiliza e dinamiza uma plataforma on-line aberta (em grande parte) a qualquer pessoa de qualquer país. c) Formativo: A nível formativo o CLDSC tem como função garantir que os cursos de formação na área do CLD e do desenvolvimento comunitário preencham os requisitos definidos, que sejam promotores e coerentes com os valores e os padrões definidos para o desenvolvimento comunitário. A estrutura do CLD compõe-se de: a) Chair: Pessoa responsável por todo o CLDSC. b) Advisory Council: Conjunto de pessoas provenientes de organizações locais, ONG’s na área da CLD e outras com funções de orientar o trabalho do CLD e as políticas públicas nesta área, influenciando e orientado decisores políticos. c) Administration: conjunto de profissionais que compõem a equipa técnica do CLDSC ao nível do trabalho executivo nas áreas de: Aprovação (das organizações e profissionais); Registo (de profissionais associados); Acompanhamento técnico; Contabilidade e logística. Nesta área trabalham 7 pessoas. d) Commitee Members: Profissionais que trabalham no terreno (field workers; practioneres) e todos os profissionais que estão registados no CLD como community workers.
Por que razão definir padrões e por que razão os seguir?
De acordo com a política escocesa para o desenvolvimento comunitário, a partir da sua relação com a educação não formal e a educação ao longo da vida, e de acordo com a equipa do CLDSC, a definição de padrões para o desenvolvimento do trabalho de desenvolvimento 60
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comunitário conduz a que as práticas realizadas no terreno sejam alvo de uma atenção especial por parte do governo e da sociedade civil. A ideia é evitar deturpações no que se estabeleceu politicamente como Desenvolvimento Local/ Comunitário. Desta forma, preocupações como o envolvimento das pessoas da comunidade no desenvolvimento e transformação da mesma, a participação na tomada de decisão sobre questões locais, a tomada de consciência da importância da democracia e a participação democrática, entre outros valores, ficam salvaguardados, tanto do lado das organizações locais e das comunidades como do lado das instâncias políticas e do interesse do estado escocês em si. A definição de padrões orienta as práticas pela bitola da legislação criada pelos governos escoceses para as questões do CLD, garantindo assim o investimento político feito em vários Acts (Leis) que antecederam a atual lei de bases do desenvolvimento comunitário, a Community Empowerment Act, de 2015 e, eventualmente, em leis que se venham a elaborar posteriormente. Seguir os padrões definidos é, para as organizações, uma forma de garantir o reconhecimento do trabalho realizado e de ter poder junto dos decisores políticos, uma vez que estes são abordados pelo CLDSC. Para além disso há questões culturais subjacentes que fomentam esta lógica assim como o investimento político no CLD (numa lógica distinta à dominante lógica de investimento financeiro). Em suma, as organizações da sociedade civil com ação comunitária sentem que a criação de padrões os orienta e permite realizar um trabalho estrutural e de continuidade com as comunidades, sentido-se elas próprias e os seus profissionais, uma comunidade em si.
Scottish Community Development Centre http://www.scdc.org.uk/
O Scottish Community Development Centre (SCDC) é uma organização não governamental que promove o desenvolvimento comunitário e que atua nos seguintes níveis: a) Político: Advocacy junto do poder político nacional e local no sentido de influenciar e orientar políticas públicas e locais na área do desenvolvimento local, da participação e da capacitação das comunidades locais. Promoção do desenvolvimento comunitário enquanto prática para o Desenvolvimento.
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b) Técnico: facilitação de processos de planeamento de projetos, de tomada de decisão participativa. Apoio técnico e dinamização de uma plataforma informática de conceção de projetos, especialmente orientada para organizações com menos recursos e menor know-how. Formação de técnicos de desenvolvimento local. Criação de materiais técnicos e de formação (manuais, documentos, publicações, em papel e Online).
O SCDC está sediado em Glasgow mas trabalha a nível nacional, dando apoio a pequenas organizações e a municípios de diversas regiões da Escócia. Utilizam metodologias participativas e de educação não formal no trabalho de facilitação e de formação de equipas de projetos e de técnicos de desenvolvimento comunitário. O SCDC desenvolve, entre vários projectos, o Supporting Communities Programme, com um grupo de ONG’s. Trata-se de um projeto de produção de conhecimento sobre desenvolvimento comunitário e de criação de uma rede de trabalho. Atualmente desenvolve ainda um projeto com enfoque na educação para a saúde enquanto elemento essencial ao desenvolvimento comunitário e à melhoria das condições de vida das pessoas – Community Health Exchange (CHEX). O SCDC desenvolveu uma metodologia para a conceção e monitorização de projetos que comporta vários materiais em formato papel e informático: o LEAP – Learning Evaluation Planning. Esta metodologia contempla um esquema da lógica da intervenção que leva as organizações a pensar e a refletir sobre o que fazer e porque realizar um determinado projeto. Ao mesmo tempo comporta um conjunto de ferramentas informáticas de fácil manuseamento e destina-se, principalmente, a organizações com poucos recursos técnicos, humanos e financeiros, geralmente de territórios mais vulneráveis.
Activate programme – Universtiy of Glasgow http://www.gla.ac.uk/schools/education/cpd/activate/
O programa Activate é um programa educativo do curso de Community Development da Universidade de Glasgow que tem como destinatários os agentes de desenvolvimento local das comunidades (pessoas com iniciativa; lideres comunitários, etc.). O programa tem como intenção familiarizar as pessoas com os conteúdos académicos relativos ao desenvolvimento local, criando um ambiente de contacto inicial entre elas e o meio académico, sem que se
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tenham de deslocar à universidade, e tem em vista a capacitação de atores locais para o desenvolvimento comunitário. O Activate consiste numa formação de 50 horas sobre Community Development baseado nos conteúdos do curso universitário e lecionada nas comunidades, através de organizações locais. Cada organização local encomenda o curso à universidade, com um determinado custo, com vista à capacitação das pessoas como agentes de desenvolvimento. Este programa é tomado como um investimento social e académico, de qualificação e de desenvolvimento. Os participantes não pagam (ou pagam muito pouco) e cada organização poderá encontrar a melhor forma de cobrir os custos do programa, aproveitando diversos recursos e linhas de financiamento específicas. Este programa permite uma primeira aproximação de pessoas menos qualificadas ao ensino superior e capacita agentes de desenvolvimento local esclarecidos e conscientes das problemáticas, conceitos, princípios, valores e políticas de Desenvolvimento.
PARTE 3: CONSIDERAÇÕES FINAIS Consideração primeira: Os diversos contactos e debates no decorrer desta visita de estudo contribuíram bastante para solidificar uma ideia que desde há bastante tempo se encontra sob a mesa para debate: há mais do que diferenças semânticas entre Community Development e Desenvolvimento Local. Exploramos aqui umas pontas desta consideração, esperando receber respostas e contestações esclarecidas. A designação de Community Development (Desenvolvimento Comunitário) é usada para designar um conjunto de práticas e de objectivos de melhoria de vida das pessoas e das comunidades que em Portugal, geralmente, designamos por Desenvolvimento Local (ou até, por vezes, Intervenção Social). Apesar de idênticas, ambas as designações comportam enfoques diferentes que as tornam distintas nos valores e, por conseguinte, nas políticas e nas práticas. Trata-se de uma diferença semântica linguística que pode fazer com que no primeiro caso (desenvolvimento comunitário) o desenvolvimento seja pensado numa perspectiva sentido humano, a par com a ideia de comunidade; isto é, com as pessoas. Já no segundo caso (desenvolvimento local) o desenvolvimento é encarado numa perspectiva física, pois tem como preocupação o local; isto é, o território. Uma simples fórmula: Comunidade = pessoas que habitam um local (C=P+L); Local = espaço no qual habitam pessoas (L=E+P). Esta diferença de mind set implica de certo com a sensibilidade política (elaboração de normas e leis) e de cidadania (participação cívica) em 63
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redor das questões do Desenvolvimento. E levanta-se o seguinte pressuposto: poderemos pensar o local sem pensar nas pessoas; não poderemos pensar a comunidade sem pensar nas (e com as) pessoas. O termo Community Development parece comportar um enfoque na comunidade (pessoas) mais do que no local (espaço). De facto, o substantivo “comunidade”, de raíz latina, não reside na cultura portuguesa tal como na cultura escocesa e anglo-saxónica (que inclui os E.U.A., Canadá e Austrália). Na oralidade popular portuguesa não se emprega, por hábito e com naturalidade, a palavra “comunidade” para designar o local onde vivemos; para isso usamos palavras ou expressões como “terra”, “aldeia”, “bairro”, “lá onde eu moro”, “freguesia”, etc.. Embora exista a noção de comunidade na cultura portuguesa a palavra, que acabou por entrar no vocabulário popular devido aos discursos sociológicos e políticos contemporâneos, não habitava o léxico popular até há relativamente pouco tempo. Um estudo mais aprofundado talvez nos levasse a compreender a relação deste substantivo com a organização administrativa e religiosa (uma a par da outra) que ocorreu nas sociedades latinas e católicas da Europa durante largos séculos, desaguando, eventualmente, na relação que estes dois poderes (político e religioso) tiveram na governação das sociedades. Um exemplo desta relação e da dimensão política da questão conduz ao que Jean-Claude Gillet refere sobre a hesitação no uso do termo “comunidade” em França, como resultado do enaltecimento do individualismo suscitado pela revolução republicana (Gillet, 2006), considerando daí que a noção de comunidade em França é pouco familiar.
Consideração segunda: Embora muitas das práticas, realizadas no terreno, com que tivemos contacto, sejam semelhantes às que se realizam em Portugal, em contextos idênticos, ressalta aqui a relação entre as práticas realizadas nas comunidades e as políticas que as enquadram, num processo dialógico e dinâmico. Em contraponto os e as practitioners sentem que há um desinvestimento financeiro, por parte do governo, desproporcional ao investimento político, como tem sido panaceia na maioria dos países europeus. Contudo, fica a ideia de que as práticas de CLD se apoiam em políticas específicas que atribuem importância ao desenvolvimento comunitário como metodologia de Desenvolvimento Humano.
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Consideração terceira: Ficam também as ideias de que as políticas de desenvolvimento local se têm desenhado com o apoio dos atores coletivos ao nível das comunidades e de que a formação de técnicos superiores nesta área se harmoniza tanto com as políticas como com as necessidades do trabalho comunitário, seguindo padrões oficiais que almejam bons resultados no desenvolvimento local.
Consideração final: Community Learning and Development é uma metodologia da família da Animação Sociocultural que igualmente assenta na capacitação das pessoas e das comunidades, e tem sido politicamente considerada essencial para a melhoria das condições de vida das comunidades escocesas e das pessoas que nelas habitam. A consideração política para com a importância da CLD levou à definição de padrões que permitam garantir a seriedade do trabalho realizado, envolto nos valores que devem ser os do Desenvolvimento Humano que têm as pessoas como centro do desenvolvimento. Por isso por toda a cidade de Glasgow se lê a frase que marca a vivência no município de Glasgow: people make Glasgow. E podemos confirmar a realidade desta divisa pela forma como os e as Glaswegians nos acolheram e connosco se relacionaram. Também inspirados nesta máxima, e à laia de conclusão, deixamos nota do elemento essencial, pressuposto fundamental, que permite compreender o Desenvolvimento Comunitário tal como o encontrámos na Escócia: são as pessoas que fazem uma comunidade. Ou simplesmente, na língua em que trabalhámos nesta experiência: People make communities.
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Sítios da Internet consultados: Activate programme: http://www.gla.ac.uk/schools/education/cpd/activate/ CLD Standards Council: http://cldstandardscouncil.org.uk/ Scottish Community Development Centre: http://www.scdc.org.uk/ West Dunbartonshire Council: http://www.west-dunbarton.gov.uk/council/
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Recuperando espaços para a convivencialidade Mario Viché González*
RESUMO A animação sociocultural desenvolveu-se ao longo do século XX a partir dos postulados funcionalistas da modernidade. Assim, ruas e praças, ateneus, casinos, centros socioculturais, clubes de lazer, casas de cultura, entre outras instalações, foram institucionalizados como espaços próprios para ação sociocultural. O século XXI trouxe-nos um novo paradigma social. A sociedade digitalizada descontextualizou esses espaços de uma dinâmica de deslocalização e assassinato. Muitos desses espaços tornaram-se "não-lugares", espaços de passagem e consumo, carentes de identidade e necessitados de redefinição a partir de novos significados identitários. Por outro lado, a convivência, um termo proposto por Ivan Illich em 1978, convida-nos a uma humanização do uso e das funções aplicadas às tecnologias digitais para a ação social e a cidadania. O presente trabalho revela como a animação sociocultural, no âmbito de uma cultura livre, se adapta aos critérios de uma sociedade tecnológica e assume o desafio de redefinir espaços e equipamentos para reconverte-los em locais próprios para a convivência, dotandoos, desta forma, de novos significados e identidades multiculturais.
*
Professor Associado da Universidade de Valencia. Editor de la revista quadernsanimacio.net
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PALAVRAS-CHAVE Espaços e lugares, digitalização, convivencialidade, ação sociocultural
Introdução A animação sociocultural como ação comunitária de solidariedade e transformação consolidou-se através da gestão de espaços de comunicação e convivência entre pessoas que constituem uma comunidade local. Nesse sentido, tem sido o espaço físico para o encontro, a comunicação e o disfrute do ócio, os locais onde tradicionalmente se desenvolveu a ação sociocultural. Deste modo, foram as ruas e praças de cidades, parques e jardins, as instalações de associações e centros de lazer, cultura, casas juvenis ou centros sociais comunitários, os espaços privilegiados que, em tempos de modernidade, foram usados pelos diferentes agentes socioculturais, dando-lhes significado e identidade como lugares de criação, interação, debate social, disfrute de ócio e criação de um tecido social de solidariedade dotado de espaços de história e identidade coletiva. Posteriormente, a sociedade pós-moderna com a sua vontade de desenvolvimento desenfreado, com a aceleração dos tempos e ritmos pessoais de trabalho, deslocamento, ócio e relacionamento, com a ocupação da rua pelo automóvel e generalização das tecnologias de comunicação digital, contribuiu para modificar as coordenadas espaço-temporais que afetam diretamente os processos e práticas da ação sociocultural. Os espaços tradicionais para a ação sociocultural perdem ou vêem alteradas as suas funções sociais, perdem a sua identidade coletiva e tornam-se espaços de passagem, impessoais, funcionais e com falta de identidade. São denominados pelo sociólogo Marc Augé (2008) como "Não lugares". Praças, cafés e locais de encontro tradicionais tornam-se espaços para relações superficiais, estádios, macro eventos, concertos ou espetáculos de massa tornam-se concentrações humanas sem comunicação e sem interatividade. Linhas de metro, aeroportos e centros comerciais são usados como locais de passagem que não possuem uma identidade coletiva. Junto com esse facto, outros fatores característicos do neoliberalismo condicionam a perda de identidade e funcionalidade dos espaços tradicionais para o 69
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encontro e comunicação no seio das comunidades humanas. Um funcionalismo exacerbado que coloca valor na rentabilidade económica em todas as nossas ações, uma ruptura das coordenadas do espaço temporal causadas pela dispersão do trabalho, tempo excessivo dedicado ao transporte quer para as nossas atividades de trabalho quer para o disfrute do ócio, bem como a generalização do ciberespaço como um lugar descontextualizado de intercâmbio e comunicação são alguns dos factores que contribuem para esse descontente social. Por outro lado, a aceleração dos ritmos e a mercantilização do tempo concebida como economicamente rentável, contribuem para espaços e tempos prioritários de consumo, transporte e vaidade em lugares e momentos de comunicação, intercâmbio, análise crítica e autonomia individual. Ao mesmo tempo, o desenvolvimento acelerado das tecnologias digitais enfatizou a robotização total de todas as atividades humanas, incluindo o trabalho servil, a saúde e as relações de vida. A sociedade pós-moderna parece ter colocado a ênfase na libertação da humanidade não só dos empregos mais pesados e insatisfatórios, mas também no objetivo de substituir funções como o pensamento, a tomada de decisão e até as emoções humanas pela ação precisa e infalível das máquinas digitais. O ser humano transformado num ciborgue corre o risco de desprezar ações tão humanas como na análise crítica, a interatividade ou tomada de decisão, ações típicas da socialdemocracia, a autonomia e organização solidária da vida em comunidade. Juntamente com o perigo da perda de identidade e funcionalidade de espaços privilegiados para o encontro, a comunicação, a autoria coletiva e tomada de decisões colaborativas, existe um perigo muito maior, o do totalitarismo e a manipulação dos seres humanos pelos seus próprios homólogos.
1. De "não-lugares" para espaços que recuperam a sua identidade. O manifesto de Marc Auge
Augé
(2008) analisa os espaços da
sociedade a que chama
de
"sobremodernidade", definindo-os como "não-lugares". Para este autor, os nãolugares são definidos como espaços para a circulação, são lugares sem uma identidade histórica e territorial que os identifique no imaginário coletivo: “Los no lugares son 70
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tanto las instalaciones necesarias para la circulación acelerada de personas y bienes como los medios de transporte mismos o los grandes centros comerciales, o también los campos de tránsito prolongado donde se estacionan los refugiados del planeta.” (Augé, 2008: 41). Para Augé, a concepção do não-lugar designa duas realidades diferentes que se referem não apenas aos espaços, mas também às relações específicas, efémeras e contratuais que os indivíduos estabelecem com esses "não-lugares". Nesse sentido, afirma: “Se ve claramente que por no lugar designamos dos realidades complementarias pero distintas: los espacios constituidos con relación a ciertos fines (transporte, comercio, ocio), y la relación que los individuos mantienen con esos espacios.” (Augé, 2008: 98). Augé aponta como “los no lugares mediatizan todo un conjunto de relaciones consigo mismo”, ao mesmo tempo que cria “la contractualidad solitaria”. (Augé, 2008: 98). Os não lugares convertem-se em espaços úteis e necessários para os indivíduos que os usam de forma pragmática o tempo que, desde o anonimato, estabelecem relações, em princípio solitárias e interessadas; mas ao mesmo tempo, ao estabelecerem relações contratuais, criam ligações efémeras mas sólidas à medida que se tornam usuários desses não-lugares. No entanto, ao apresentar os não-lugares como espaços de sobremodernidade, Augé (2008) incide em que a separação entre "o lugar" e o "não lugar" não representa uma fenda radical e dicotómica, mas uma fronteira transitável que através da interatividade, da ação dialógica e tomada de consciência coletiva, as comunidades podem atravessar. A este respeito o autor afirma: “El lugar y el no lugar son más bien polaridades falsas: el primero no queda nunca completamente borrado y el segundo no se cumple nunca totalmente: son palimpsestos donde se reinscribe sin cesar el juego intrincado de la identidad y la relación.” (Augé, 2008: 84) Augé reforça que: “los espacios, los lugares y los no lugares se entrelazan, se interpenetran”. Por outra parte, como parece lógico: “El retorno al lugar es el recurso de aquel que frecuenta los no lugares.” (2008: 110). O retorno ao lugar é o retorno à identidade e à coesão solidária, ao espaço simbolizado, à recuperação de um lugar físico que se torna significativo para os indivíduos e comunidades que o compartilham.
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Os lugares têm como características comuns a identidade compartilhada, o estabelecimento de relações solidárias e a criação de uma história coletiva. O lugar é um espaço de representação através do qual, mulheres e homens patilham imaginários coletivos e dão sentido a experiências comuns. O lugar como um sistema de representação que “permite dar forma a las categorías de la identidad y de la alteridad” (Augé, 2008: 44) constituem-se desta forma, como espaços de “reconocimiento más que de conocimiento” (Augé, 2008: 39). Se a perda de identidade dos espaços que tradicionalmente tenham sido espaços de significado e de vivência coletiva, lugares para o encontro, para o intercâmbio e disfrute do ócio, tem sido constante numa sociedade pós-moderna colonizada por carros e os serviços públicos do mercado global , a recuperação desses espaços para o diálogo, para a alteridade, para a cultura e para a convivência cidadã é um dos desafios da ação sociocultural no século XXI. A partir dos novos parâmetros do espaço temporal da sociedade digital, dos modelos de uma comunicação deslocalizada e de uma convivência cidadã construída a partir da alteridade, da inteligência emocional, da autonomia e da autogestão, as comunidades humanas colocam o ênfase na recuperação desses espaços para a gestão da cidadania, para a cultura livre, para as liberdades individuais e da comunicação multicultural transmedia. Os centros sociais auto-administrados, as praças e ruas recuperados para a circulação lenta e pedonal, os parques dotados especificamente para a comunicação e a alteridade tornam-se lugares e fatores para a recuperação de "não-lugares" que são convertidos em espaços reciclados para a significação, a interatividade e identidade múltipla e comunitária.
2. A convivencialidade. Humanizando as ferramentas tecnológicas. As teses de Ivan Illich
Ivan Illich (1978) foca a relação do ser humano com o seu ambiente tecnológico como um dilema humanista. Face a uma sociedade tecnológica ele recorda-nos que o objetivo de toda a tecnologia é de facilitar a vida de relação e humanizar as relações de convivência. Ao analisar os resultados e as consequências da sociedade industrializada, Illich afirma: 72
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“La solución de la crisis exige una conversión radical: solamente echando abajo la sólida estructura que regula la relación del hombre con la herramienta, podremos darnos unas herramientas justas. La herramienta justa responde a tres exigencias: es generadora de eficiencia sin degradar la autonomía personal; no suscita ni esclavos ni amos; expande el radio de acción personal. El hombre necesita de una herramienta con la cual trabajar, y no de instrumentos que trabajen en su lugar. Necesita de una tecnología que saque el mejor partido de la energía y de la imaginación personales, no de una tecnología que le avasalle y le programe.”
Em virtude da sua análise, Illich formula a teoria da sociedade convivencial ao afirmar que “Una sociedad convivencial es la que ofrece al hombre la posibilidad de ejercer la acción más autónoma y más creativa, con ayuda de las herramientas menos controlables por los otros.” Illich é apresentado como um precursor do humanismo na análise dos usos e abusos das ferramentas e espaços digitais na sociedade de comunicação do século XXI. Numa sociedade global marcada por um uso maciço de tecnologias digitais, pelo controlo social exercido pelas multinacionais da comunicação através do Big Data, por uma cultura transmedia e pelo ciberespaço como lugar privilegiado para a criação e gestão de redes de cidadania, as mulheres e os homens encontram-se numa situação de limite, em que o desenvolvimento do conceito e prática ciborgue representam um risco elevado de perda de liberdade e da capacidade crítica. Uma resposta convivencial que enfatize a capacidade de análise e tomada de decisão do ser humano, a possibilidade de uma tomada de decisão crítica e consciente sobre os usos e funções das tecnologias, a capacidade de controlar códigos e ferramentas e uma cultura livre e autogestionada são algumas das dinâmicas covinvenciais da ação sociocultural num contexto digital altamente tecnológico. A recuperação de espaços tecnologicamente dotados para facilitar o trabalho das mulheres e dos homens, para o bem-estar individual e coletivo e para a convivência solidária e sustentável, o uso e disfrute do tempo livre e para a criação e a expressão cultural é o objetivo da ação sociocultural enquanto dinâmica de consolidação de um tecido social inclusivo em que os cidadãos assumem o protagonismo da sua gestão, a liberdade de expressão e comunicação e o controlo na 73
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planificação e o uso das tecnologias digitais ao serviço da humanização dos mecanismos e dinâmicas de produção, aculturação, convivência e sustentabilidade das comunidades humanas. É nesse sentido que a convivencialidade torna-se não só o princípio da relação do ser humano com a tecnologia, mas também o princípio que rege as práticas de comunicação, autogestão, tomada de decisão e organização de comunidades humanas livres e sustentáveis.
3. Uma cultura livre para pessoas livres. Lawrence Lessig
A cultura livre é uma aspiração de todo ser humano que, no presente século há sido popularizado por Lessig (2005), assim como pela Fundação por um Software Livre patrocinada por Richard Stallman. A liberdade de todo o ser humano de acesso à produção cultural, ao direito ao acesso livre e ao uso colaborativo de bens e produtos culturais, bem como, a liberdade de uso e recriação do património cultural coletivo são os princípios básicos que inspiram o movimento por uma cultura livre. No fundo, a cultura livre é o reconhecimento do direito inalienável de todo ser humano de participar na vida cultural. A cultura livre é uma cultura de caráter digital, uma cultura imaterial na qual a criação sobre a produção, a comunicação sobre o consumo e o intercâmbio e a participação sobre os parâmetros do mercado. A cultura livre é uma cultura partilhada em rede, vivida em comunidade e expressa-se colaborativamente. A cultura livre é uma cultura de autonomia, de autogestão, de identidade e de empoderamento cidadão. Neste sentido, Lessig (2005: 19) afirma: “La difusión de poder a través del control local, animando así la participación individual, es la esencia del federalismo y la expresión más grande de la democracia”. Na sociedade digital, a cultura livre é apresentada como uma construção coletiva e intercultural que inclui as distintas identidades individuais, assim como, as representações coletivas que a interação destas individualidades são capazes de gerar e que se desenvolve através das dinâmicas participativas, de intercâmbio solidário, de cooperação e interatividade.
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Na cultura livre, o protagonismo é dos cidadãos que se tornam atores das diferentes dinâmicas identitárias, criativas e comunicativas que interagem no universo comunitário. Uma sociedade livre e democrática necessita de desenvolver uma cultura livre, uma cultura não dirigista, não dogmática, não sequestrada pelos poderes públicos e pelas dinâmicas do mercado. Uma cultura em que os cidadãos sejam criadores e expressem as suas próprias ideias, participem do debate social e giram as suas próprias representações identitárias. Como afirma Lessig: “Cuando cada vez más ciudadanos expresen lo que piensan y lo defiendan por escrito, esto afectará la forma en que la gente entiende las cuestiones públicas” (Lessig 2005: 62). A recuperação de espaços físicos e virtuais para a criação, expressão, intercâmbio, comunicação, recreação de identidades e alteridades de solidárias, assim como para a autonomia e expressão de uma cultura autogestionada e produzida por grupos de cidadãs e cidadãos que encontram na expressão e comunicação cultural a sua identidade coletiva e o bem-estar subjetivo, é o objetivo de uma sociedade equilibrada e democrática que enfatiza a expressão da liberdade individual e dos direitos culturais sobre outros fatores próprios de uma sociedade de mercado, o individualismo e a competição.
4. A ASC. Recuperando espaços para a convivencialidade
Chegados a este ponto, podemos afirmar que a tarefa da animação sociocultural na sociedade digital é reinventar espaços para a comunidade. Lugares e contextos para a interação, o diálogo, o empoderamento, a autogestão, a tomada de decições livres e a ação colaborativa. Não se trata de recuperar espaçosa partir das suas identidades históricas, das suas funções clássicas e modelos de interação tradicionais, mas reconverte-los em locais físicos ou virtuais para a convivência em que a tecnologia é colocada ao serviço da criação de um tecido social solidário, em que os fatores de sustentabilidade vão além da assistência a espaços físicos em momentos síncronicos dotados de uma identidade histórica e cultural para se tornarem lugares virtuais e asíncronicos de alteridade e confluência de múltiplas identidades em um
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contexto de cultura livre baseada na experiência dos direitos individuais, da tomada de decisão autónoma e de autogestão como forma de organização e capacitação. Desta forma, os espaços de convivencialidade tornam-se significativos. Os centros sociais autogestionados, as comunidades virtuais, as redes colaborativas, os espaços públicos reconvertidos, os movimentos sociais horizontais, os meios de comunicação comunitários, os micromuseos, os espaços de jogo ou os espaços para a expressão e a criação coletiva formam-se como novos contextos de significado que dão sentido e identidade aos espaços de interatividade, alteridade e ação social colaborativa. Alguns espaços para a convivencialidade que têm como características principais: Ser espaços de alteridade como lugares de novas identidades multiculturais em que o respeito pelas identidades individuais e locais é combinado com múltiplas identidades resultantes da mestiçagem cultural e da criação coletiva. Uma alteridade gerada pela comunicação intercultural, o respeito pelas individualidades, a tolerância, a visibilidade e a livre expressão individual e coletiva. A alteridade torna-se desta forma, uma fórmula de troca e coexistência comunitária. Um espaço para comunicação transmedia, interativa e libertadora. Uma comunicação que possibilite o processamento da informação, da análise crítica e o posicionamento individual consciente, fundamentado e eleito autonomamante num exercício de liberdade individual. Uma comunicação transmedia como um processo interativo, multicultural e multimídia. Uma comunicação "total" fundamentada numa produção digital desenvolvida através de múltiplos suportes mediáticos. Narrativas que não seguem a lógica do espaço temporal e que são estruturadas na versatilidade para mudar idiomas, suportes e canais para uma comunicação sustentada na expressão individual que, quando converge no ciberespaço se transforme numa comunicação comunitária. Como afirma Ruíz Moreno (2014); “Así pues, aunque parezca una paradoja, con la llegada de estos llamados nuevos medios, de alguna manera se entró a privilegiar el desarrollo de una comunicación uno a uno, más natural y dialogada, el voz a voz de las comunidades”. Lugares lúdicos para a recreação, a interação e a liberdade de expressão. Espaços onde o jogo é vivenciado como um fator relacional, facilitador de comunicação e as relações sociais apresentadas como um fator de desenvolvimento
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afetivo emocional. A vivência lúdica como exercício de experimentação coletiva, de ação colaborativa, de exploração do meio ambiente e de construção de redes de convivência é um dos fatores que junta a arte, entendida como criação individual e coletiva, fruto da livre expressão de inquietudes, vivências e representações partilhadas, contribuem para configurar uma vivência coletiva construída a partir da individualidade, interação, empatia, colaboração e criatividade grupal. Os ambientes para a arte enquanto expressão social das identidades e vivências partilhadas. Uma arte social que é acima de tudo, expressão e visibilidade dos indivíduos e comunidades em busca constante e dialógica de autonomia, liberdade de expressão e empoderamento social. Os ambientes para a arte e a expressão que se constrói sobre uma cultura livre em que as cidadãs e os cidadãos autogerem códigos e idiomas, recriam conteúdos e fazem da arte um ambiente privilegiado para a criação e troca de produtos e significados culturais. Diante dos espaços unidireccionais para o consumo cultural e de ócio, a animação sociocultural recupera espaços para a autoestima, a participação, a autoria coletiva e uma arte colaborativa que confere sentido e identidade à vida comunitária. Espaços para a arte e para a recreação que dão novos significados aos espaços urbanos, centros culturais comunitários e grupos humanos desde a ótica de uma cultura livre, colaborativa e transformadora. Um lugar para as emoções, para a afetividade, para o desenvolvimento de sentimentos coletivos que dão sentido à vida comunitária e sedimentam as redes de interatividade e ação solidária. Espaços para consolidar a auto-estima e o bem-estar individual num contexto comunitário em que emoções e sentimentos constroem sólidos laços de convivência e colaboração. Alguns espaços para a autogestão de dinâmicas comunitárias de criação cultural, participação e ação social colaborativa. Contextos criativos e transformadores que desde a gestão do cidadã, dão forma a uma nova cultura livre, convivial e autogestionada. Nesse sentido, cibercomunidades, coletivos cidadãos e movimentos sociais livres apresentam-se como espaços para o intercâmbio solidário, para a interatividade e a transformação sociocultural.
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5. Espaços para a convivialidade. Um olhar para o nosso ambiente sociocultural mais imediato
Para terminar esta exposição, vamos apresentar vários exemplos de espaços recuperados ou em processo de transformação através dos quais a animação está dando novos significados identitários a espaços novos e antigos que, são recuperados desde uma perspectiva convivial. A partir do uso humanizado e humanizador das tecnologias digitais. Estes contextos são reinventados dia-a-dia, a partir das coordenadas de uma cultura livre, uma arte social transformadora, uma ação colaborativa e uma dinâmica de autogestão cidadã. Vejamos alguns exemplos:
5.1 Centros sociais autogeridos
Na presença dos espaços culturais e sociais geridos por profissionais e instituições socioculturais desenhados para o consumo de produtos culturais e serviços de ócio e tempo livre, a animação recupera o modelo para a convivencialidade, promovendo a autogestão e a iniciativa cidadã como fórmulas de organização, democracia participativa e transformação cidadã. Para Alcântara (2011), um centro social é autogerido “Cuando la asociación, colectivo o grupo vecinal sin ánimo de lucro arraigado en el territorio realiza la gestión de un equipamiento” Del mismo modo Alcantara (2011) señala las características de este tipo de espacios “Como puntos fuertes, al igual que en la gestión ciudadana podemos definir que la participación vecinal es el motor de dinamización y transformación donde la participación es directa, horizontal y sin intermediaciones”. São vários os centros que podemos apresentar como exemplo deste tipo de espaços para a convivencialidade. Em Barcelona, centros como o Ateneu Popular 9Barris (http://www.ateneu9b.net/) ou Can Batlló (https://www.canbatllo.org/) representam este modelo de autogestão comunitária da cultura popular e convivência cívica. Igualmente, o centro Can Vies (https://canvies.barrisants.org/), do qual Alcantara (2014) afirma “Can Vies ha sido un centro social de referencia, creado por los
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jóvenes del barrio hace más de diecisiete años. Un equipamiento que ha permitido crecer a la juventud de forma implicada con su comunidad para transformar y para construir una sociedad más justa a través de valores como la cooperación, la solidaridad, el apoyo mutuo, el diálogo y el respeto”. Podemos encontrar outro exemplo de centro social autogerido em CSA La Tabacalera de Lavapies (Madrid) (http://latabacalera.net/c-s-a-la-tabacalera-delavapies/csa/). Um centro que na sua página web é definido como “La Tabacalera es un centro social autogestionado: un espacio donde hay teatro, música, danza, pintura, conferencias, reuniones, audiovisuales, talleres, eventos, intervenciones en el barrio… Intentamos que ninguna actividad predomine sobre otras, y que el carácter colectivo, público y de transformación social esté presente en todas ellas”. Um centro que se define a partir dos seguintes critérios: horizontalidade, transparência, gratuidade, sustentabilidade
económica,
co-responsabilidade,
cooperação,
compromisso,
proporcionalidade, respeito, autonomia, cultura livre, versatilidade, flexibilidade e não exclusividade em termos de ocupação de espaços.
5.2. Redefinindo as nossas cidades
A cidade como espaço comunitário para a comunicação, a interacção, o ócio, a festa e a identidade foi substituída por uma cidade para o tráfico, a mobilidade, os serviços e os "não-lugares". De uma cidade acolhedora e geradora de vínculos identitários, passamos para cidades impessoais por onde transitamos sem descanso, em que os mesmos parques e serviços nos impõem uma tarifa condicionada por fatores de segurança e consumo. A modernidade criou cidades sem espaços significativos para "conversas", para a recreação, para a interação ou o jogo. Em contraste com este modelo, surgem opções alternativas e convivenciais promovidas por movimentos educativos e cidadãos. A
cidade
das
crianças
(http://www.lacittadeibambini.org/spagnolo/interna.htm), projeto nascido em Fano (Itália), em 1991 e cujo objeto é “trabajar para una nueva filosofía de gobierno de la ciudad”, combater a degradação das cidades com base em propostas participativas que priorizem as necessidades dos cidadãos sobre os interesses econémicos e 79
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capacitem a cidadania no quotidiano da gestão da cidade. Como Tonnucci afirma ao se referir a este modelo de cidade (2015: 15) “En nuestras ciudades se ha aceptado cambiar el orden de las propiedades en muchas ocasiones, y privilegiar a los peatones frente a los automóviles, los barrios frente a las ciudades, los niños frente a los adultos, el juego frente al trabajo”. As
cidades
lentas
(http://www.slowmovement.com/slow_cities.php)
movimento internacional que promove a desaceleração da vida nas cidades através de propostas como reduzir o som e o tráfego, aumentar as zonas verdes, promover a economia local ou fomentar o espírito de hospitalidade e boa vizinhança. “En una ciudad lenta tienes tiempo para relajarte, para pensar, para reflexionar sobre las grandes cuestiones de la existencia” … “Simplemente deseamos alcanzar un equilibrio entre lo moderno y lo tradicional, que promueva la buena vida”.Carl (2016: 97). Juntamente com estas iniciativas, encontramos propostas concretas, como a criação de espaços pedonais no centro das cidades, áreas de circulação lenta, pistas de bicicleta, ruas e praças sem circulação. Todas elas oferecem propostas alternativas para a convivencialidade que promovem o encontro, a interação e a criação de espaços de significado e de identidades múltiplas. A ocupação de espaços urbanos por grupos de cidadãos que vivem e se expressam na cidade com base nos seus interesses e formas de enfrentar sua realidade vital. Os artistas de graffiti, skaters, grupos étnicos, "colles de castellers" (http://www.cccc.cat/qui-som) e outros grupos urbanos contribuem com iniciativas de ocupação criativa e convivência dos espaços urbanos que dotam de sentido festivo, recreacional e sociocultural. A criação de parques ou espaços temáticos para uso cidadão e convivencial é outra das realidades que completam as iniciativas como as que apresentamos nesta seção. Assim, espaços como El Cyber Parc Arsat Moulay Abdeslam em Marraquexe (http: //www.marrakech- cityguide.com/cyberparc-arsat-moulay-abdeslam-825), um espaço projetado como local de encontro e recreação, ao mesmo tempo lugar para acesso às tecnologias e interatividade digital unem-se a lugares como skateparks e outros espaços que contribuem para redesenhar a cidade desde uma perspectiva humanizadora.
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5.3. Cibercomunidades
O ciberespaço converteu-se num contexto vital de referência tanto para o acesso e análise da informação como para o debate social, a participação, a tomada de decisão, a organização e mudança social. Enquanto espaço de significado, alteridade e regulação das relações socioculturais, o ciberespaço é um componente indisociável do nosso mundo de relações, participação e organização social. Nesse sentido, a ciberanimação como prática de animação sociocultural na Sociedade Digital é definida como a ação de cidadãos e coletivos sociais tendente à criação de comunidades sociais solidárias, inclusivas e sustentáveis através de ações pontuais e acidentais ou através de projetos de ação sociocultural acordados e planificados por diferentes atores sociais (http://ciberanima.blogspot.com.es/). Surgem assim as cibercomunidadse ou comuniddes digitais “Comunidad que se estructura sobre una base tecnológica, sobre identidades individuales que se interrelacionan en el contexto del no espacio y el no tiempo y que establecen relaciones sociales desmasificadas” (Viché, 2007:77). Estas comunidades digitais estruturadas sob uma comunicação interativa, uma ação social colaborativa e uma autoria coletiva convertem-se em espaços de interação, debate, visibilidade e empoderamento constituindo lugares para a criação de identidades coletivas e alteridade. Assim, através das redes sociais e de todo um universo de comunicação 2.0, indivíduos e coletividades estabelecem novos laços e dotam de significado espaços de convivência e solidariedade que são fruto da interação de vivências reais e virtuais num mundo real, enquanto o dotamos de sentido e ação cooperativa. Esta realidade está incorporada na secção Tiempo de Blogs produzida por Antonio Alcántara que publica periodicamente a revista “Quaderns d'Animació i Educació Social” (http://quadernsanimacio.net/index_7.htm) e que podemos igualmente analizar a partir do Observatorio Ciberanima de animação sociocultural no ciberespaço (http://ciberanima.blogspot.com.es/p/blog-page.html).
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5.4. Espaços para uma arte social
A arte é, acima de tudo, uma forma de expressão de inquietudes e vivências interiores. Através da arte, mulheres e homens expressam-se livremente, representam a realidade e criam identidades. Através da arte, as individualidades tornam-se visíveis num universo coletivo de intercâmbio e criação cooperativa. A arte cria significados, gera narrativas identitárias e estabelece laços de intercâmbio e alteridade. Frente a uma arte comercializada e convertida num produto de consumo que é distribuído através de contentores e espaços de exposição e consumo passivo, a animação sociocultural opta por uma arte como expressão social fruto da liberdade, da criatividade, da participação e do intercâmbio. A Asociación Arte Social (https://www.artsocial.cat/) define a arte social como todas as actividades artísticas que “tienen como objetivo el empoderamiento y la integración de comunidades, personas o colectivos que de forma puntual o continuada requieren una herramienta para la transformación de su situción social”. É desde a concepção comunitária e transformadora que a animação recupera espaços para a arte e o intercâmbio cultural. Desde uma perspectiva convivencial, a animação reconverte os lugares tradicionais ao mesmo tempo que dota outros espaços de conteúdo expressivo, interativo e libertador, nos quais os cidadãos deixam de ser um público receptivo/consumidor de bens e produtos culturais para se transformarem em cidadãos prossumidores que produzem e trocam significados artísticos, dotando-os de novas identidades comunitárias. Desta forma, os centros sociais, as ruas ou praças são redefinidos como lugares para o circo social. Para Antonio Alcántara (2011) o circo social do Ateneu 9Barris de Barcelona como projeto artístico “Es un espacio educativo global donde se potencia la adquisición de una base técnica de circo de calidad, y a la vez pretende dotar de recursos
educativos
para
la
formación
global
de
la
persona”
(http://quadernsanimacio.net/ANTERIORES/trece/pdf/9barris.pdf). Por seu lado, o teatro do oprimido, contributo de Augusto Boal, a linguagem corporal e as narrativas de expressão dramática recriam espaços muito diversos para expressão e a comunicação teatral. No teatro do oprimido, atores e espectadores tornam-se mediadores de uma leitura crítica da realidade, enquanto os espaços, desde 82
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uma pequena sala até uma grande avenida, passando por cenários e plateias muito diversas, tornam-se locais de interação e de diálogo, adquirindo novos significados identitários. Do mesmo modo, artistas de graffiti e youtubers reinventam todos os dias novos espaços urbanos e digitais para uma arte expressiva e um intercâmbio de significados que se transformam em "lugares" com identidade própria para a arte e a cultura pó-moderna.
5.5. O espaço dos movimentos sociais inteligentes
Os movimentos sociais inteligentes são aqueles que compreenderam que a ação sociocultural e cidadã longe das propostas dirigistas e funcionalistas é organizada a partir de uma dinâmica que surge da autogestão e que é organizada de baixo para cima de forma colaborativa. Os movimentos sociais inteligentes são estruturados com base em diversas representações e identidades que convergem através do diálogo, em narrativas de alteridade e consenso. A partir de uma organização horizontal e através de uma liderança emocional, os movimentos inteligentes geram narrativas partilhadas de forma dialógica provocando dinâmicas libertadoras de empoderamento e autonomia. Uns movimentos sociais nos quais, como afirma Rheingold (2004), “La reciprocidad, la cooperación, la reputación, la limpieza social y los dilemas sociales parecen piezas fundamentales del puzzle de las multitudes inteligentes”. Estes movimentos que tradicionalmente haviam utilizado espaços físicos para contextualizar a sua ação: casinos, casas do povo, ateneus e locais sociais, na Sociedade Digital, assumiram não apenas uma mudança organizacional e comunicacional, mas adaptaram-se às tecnologias digitais e souberam aplicar as contribuições da convivencialidade para reconverter e dar novos significados aos espaços virtuais, ruas e praças, ambientes de convivência e interação, lugares convertidos em espaços de identidade para debate, análise e ação colaborativa. Estes espaços de significado que utilizam os movimentos inteligentes como afirmamos em (Viché 2009), são organizados e dotados de identidade a partir de:
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“Utilizar la Red como medio de comunicación y organización. Fundamentr su acción a partir de una imagen compartida de la realidad social. Generar su intervención a través de unas identidades múltiples compartidas que se constituyen en el motor para su participación en el debate social. Utilizar la reciprocidad y la cooperación que les facilita la Red para generar proyectos de acción solidarios e interactivos. Convertirse en autores de contenido a través de un discurso multimedia asumido de forma colectiva, que se hace presente en el debate social. Convertirse en micropoderes cuya acción tiene un impacto directo en las dinámicas socioculturales de la comunidad. Ser motores de desarrollo sostenible a través de la puesta en acción de sus objetivos y proyectos”.
5.6. Espaços para uma comunicação comunitária
Frente aos meios de comunicação unidirecionais e mercantilizados nas mãos e ao serviço dos grandes grupos mediáticos que controlam a dinâmica de mercado, a animação sociocultural recupera o espaço de comunicação para uma comunicação convivencial. A animação há anos que escolheu uma comunicação local gerada pela interação de múltiplos atores nas dinâmicas socioculturais da comunidade. No entanto, com a comunicação global via Internet, a animação encontrou novos espaços para uma comunicação multidirecional e interativa através dos que tomam a palavra e tornam visíveis o número de grupos multiculturais e comunidades locais. Através deles se produz uma comunicação inclusiva que permite a visibilidade da raça e de género como a autoria e presença de uma multiplicidade de coletivos e sensibilidades no debate social, facilitando o empoderamento num novo quadro comunicativo, plural e autenticamente democrático. É
assim
que
a
web
2.0,
os
espaços
indymedia
(https://www.indymedia.org/or/index.shtml), os canais de intercâmbio de vídeo e os meios de comunicação alternativos se dotam de identidade como novos espaços para uma comunicação plural, dialógica e participativa que dão sentido a uma comunicação livre e autogerida, em que os grupos e agentes sociais muito diversos tomam a palavra num contexto de debate e participação ativa nas dinâmicas de transformação e sustentabilidade.
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5.7. Recuperando o Planeta para a convivencialidade
O meio ambiente natural é outro dos contextos que tradicionalmente utilizaram a animação sociocultural como espaço privilegiado para atividades de ócio e tempo livre. Desta forma, marchas, acampamentos ou desportos de natureza e aventura fizeram parte das propostas ambientais que a animação desenvolveu. Nos últimos tempos, fatores como a degradação do meio ambiente, a sobreexploração de recursos, as mudanças climáticas, a concentração urbana, a prioridade que o sistema outorga às infra-estruturas para o transporte e a comunicação terrestre vinculada a um conceito de atividades ambientais como oferta ligada ao consumo de serviços no contexto de um ócio mercantilizado tornaram, em alguns casos, os espaços e recursos ambientais em "não-lugares", pois são consumidos à margem do seu significado dentro do contexto do equilíbrio ecológico e da sustentabilidade. Diante desse desajuste ecológico, a animação sociocultural recupera a representação do Planeta como um lugar para a convivencialidade. A Terra torna-se um espaço de significado através do qual estabelecer uma comunicação interativa na qual possamos poder ouvir seus sons e impulsos vitais e contribuir com respostas e propostas de sustentabilidade. O Planeta como um lugar de prazer como a capacidade de encontrar significados de bem-estar na nossa relação com o meio natural como um lugar de emoções, sentimentos e vivências partilhadas. Desta forma, o espaço natural deixa de ser um contexto de uso e prazer para um lugar dotado de significado para interação, a ação solidária e o compromisso com a sustentabilidade. Assim, a animação sociocultural recupera os espaços naturais como locais de convivencialidade quando gera propostas de interação e compromisso com o meio ambiente.
Projetos
como
o
Proyecto
(http://www.limne.org/index.php/val/hacemos/custodia-fluvial)
que
Rios dota
de
identidade esses ecossistemas vitais, ações para uma ecologia ativa e comprometida, espaços verdes e sustentáveis, itinerários ambientais ou programas de voluntariado ambiental são iniciativas que dotam de sentido identitário os diferentes ecossistemas como lugares de convivencialidade e futuro sustentável.
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PENSAR LA RECREACIÓN Y LA NARRATIVA DE LA DECOLONIALIDAD Entre las tensiones y paradojas éticas, estéticas y políticas de América Latina… Dr. Alixon Reyes*
RESUMEN Pensar la recreación en aras de la decolonización del pensamiento que alrededor de esta experiencia gravita supone posicionarse en una plataforma desde la que nos deslastramos de posturas dogmáticas que sin duda alguna tienen repercusión no solo a nivel de imaginarios, sino también en la biopolítica cultural y cotidiana. De alguna manera las incidencias de una recreación subvencionada desde su episteme por los presupuestos euroccidentales no producirá en América Latina las condiciones propicias para su liberación, para su independencia social, cultural, política, económica, etc. Así, se hace preciso comenzar a plantearnos la posibilidad de una recreación liberadora que trascienda definitivamente al escenario del divertimento y se instale en la cotidianidad popular con una agenda sustentada en Lajusticia social, en la soberanía, en la independencia, en la libertad, etc.
Palabras clave: recreación, recreación liberadora, decolonización, biopolítica, cultura. THINKING RECREATION AND THE NARRATIVE OF DECOLONIALITY Between the ethical, aesthetic and political tensions and paradoxes of Latin America ... ABSTRACT To think of recreation for the sake of the decolonization of thought which, around this experience, gravitates, presupposes positioning ourselves on a platform that dazzles us with dogmatic positions which undoubtedly have repercussions not only on a level of imaginary but also on the cultural and daily biopolitics. In some ways, the incidences of a subsidized recreation from its episteme by the Euro-Western presuppositions will not produce in Latin America the conditions conducive to their liberation, to their social, cultural, political, economic, and other independence. Thus, it is necessary to begin to consider the possibility of *
Centro de Investigación en Pedagogía del Movimiento “Prof. Darwin Reyes”. Universidad Pedagógica Experimental Libertador, República Bolivariana de Venezuela. Línea de Investigación: Estudios en Recreación alixdavid79@gmail.com
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a liberating recreation that transcends definitively to the stage of amusement and is installed in the popular daily life with an agenda based on social justice, sovereignty, independence, freedom, etc.
Key words: recreation, liberating recreation, decolonization, biopolitics, culture.
PENSAR LA RECREACIÓN Y LA NARRATIVA DE LA DECOLONIALIDAD Entre las tensiones y paradojas éticas, estéticas y políticas de América Latina…
“Vernos con nuestros propios ojos” Aram Aharonian
Pensar la recreación en y desde América Latina es una posibilidad ineludible que no debemos perder ante la cuestión de la imaginación y la concreción de una nueva configuración de América Latina, la del siglo XXI, una no dependiente, una América Latina realmente libre, soberana, reconocida en su ancestralidad, en su cotidianidad, en las opciones para construir sus propios caminos en aras de generar condiciones en pro del vivir bien y la felicidad de los pueblos. Escribiendo el texto Viaje alrededor de una mesa (1970), Julio Cortázar ha dicho: Hay que ir mucho más lejos todavía en las búsquedas, en las experiencias, en las aventuras, en los combates con el lenguaje y las estructuras narrativas. Porque nuestro lenguaje revolucionario, tanto el de los discursos y la prensa como el de la literatura, está todavía lleno de cadáveres podridos de un orden social caduco. Seguimos hablando de hoy y de mañana con la lengua de ayer. Hay que crear la lengua de la revolución, hay que batallar contra las formas lingüísticas y estéticas que impiden a las nuevas generaciones captar en toda su fuerza y su belleza esa tentativa global para crear una América Latina enteramente nueva desde las raíces hasta la última hoja. En alguna parte he dicho que todavía nos faltan los Che Guevara de la literatura. Sí, hay que crear cuatro, cinco, diez Vietnam en la ciudadela de la inteligencia. Hay que ser desmesuradamente revolucionario en la creación, y quizá pagar el precio de esa desmesura. Sé que vale la pena (p.12).
Y es que, pensar la recreación se impone hoy como agenda prioritaria en el plano cultural debido a que las revoluciones se gestan partiendo desde los planos mentales hasta llegar a los planos materiales (Cortázar, 1983), además de que se impone esto como necesidad para decolonizar el pensamiento y los imaginarios que nos orientan como sociedad. Siendo así, el pensamiento, la teoría, amerita una 89
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conciencia crítica como sustento de una praxis coherente. Y, en este sentido, bien vale la pena recordar a Marx, para quien la praxis contiene tres elementos, a saber: la teoría, la práctica social, y el compromiso revolucionario. Hablar de recreación como se pretende en esta oportunidad no nos ancla a pensarla desde las coordenadas de las lógicas de consumo del mercado, desde las casetas de los grandes malls, o desde los estacionamientos de las grandes salas de cine o casinos, etc., por el contrario, nos lleva a pensarla desde las esferas de la cotidianidad, desde los registros comunitarios, desde las prácticas familiares y personales, desde los nutrimentos culturales pluridiversos de las regiones, desde los senderos ocultos de las historias locales, y desde las prácticas de organización y empoderamiento popular allende los espacios de convivencia y el espacio público. De esta forma se comprende que no se trata solo del Estado, que no se trata solo de la gobernanza, sino también de la oportunidad de pensar nuestras vidas en la comunalidad, en la construcción autónoma de nuestros propios registros cotidianos. Y, hacerlo desde nuestras realidades, desde nuestros espacios, desde nuestras historias invisibilizadas, es la premisa en América Latina. Ese es el itinerario en esta oportunidad, es ese el propósito. No obstante, comprendo que plantear y hacer tal cosa en momentos como los que vivimos en América Latina y especialmente en Venezuela, genera sospechas en los círculos de estudio que custodian las costumbres y tradiciones del euroccidentalismo. Me refiero a aquellas de las llamadas sociedades del conocimiento que se asumen como cónclaves, como censores del saber y el hacer humano y que se asumen impermeables a cualquier otro proceso de raciocinio. Ante tal panorama vale destacar que, a pesar de que por mucho tiempo fue invisibilizado, existe en América Latina una forma otra de pensamiento con la fortaleza suficiente como para interrogarnos, comprendernos, inventarnos y reinventarnos desde otras plataformas, diferentes a las que siempre fueron erigidas, impuestas y protegidas por los sistemas de interpretación del mundo anglosajón y el mundo colonialista. Simón Rodríguez, José Carlos Mariátegui, José Martí, Fidel Castro, Ernesto “Che” Guevara, Hugo Chávez, Arturo Roig, Leopoldo Zea, Augusto Salazar Bondy, José Vasconcelos, Enrique Dussel, Eduardo Galeano, Horacio Cerutti, Ludovico Silva, Edgardo Lander, Walter Mignolo, Néstor Kohan, entre muchos otros, antes y después, han sido y son una expresión remanente de quienes se han aprestado al reconocimiento de quienes
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somos como cultura autónoma, original y originaria. En tal sentido, pensar la recreación en y desde nuestra tierra, en y desde nuestra ancestralidad, en y desde nuestras culturas, en y desde nuestras cotidianidades, en y desde nuestras realidades históricas pasadas y presentes, reconociendo incluso la impronta de la huella anglosajona, se convierte en una urgencia hoy. Y, ¡créanlo!, ya se levantarán mil voces en señal de defensa del canon euroccidental… No es fácil salirse del raíl hegemónico sin descarrilar; no ha sido, ni es todavía, tarea sencilla buscar la manera de labrar un nuevo camino distinto a aquel establecido e impuesto… No es fácil proponer otras alternativas porque la hegemonía suele limitar excesivamente la capacidad para imaginar otras opciones (Serrano, 2015; p. 15).
Blasfemia, herejía, cuasi-filosofía, teoricismo, academicismo, intelectualismo inorgánico, dogmatismo; son estos algunos de los variados epítetos que se han empleado para intentar invisibilizar, silenciar, minimizar, intimidar, desmerecer, y, en cierto punto desacreditar las posibles contribuciones del ideario latinoamericano que se plantea para el debate público. Y en realidad esto se entiende en palabras de Romano (2015), y es así en tanto él sostiene: “se silencia, se oculta y se tergiversa el conocimiento que podría ayudar a los ciudadanos a comprender su entorno, la sociedad en la que viven, y actuar racionalmente sobre ella” (p. 412). Quizá suceda también como dice Néstor Kohan (2003), el poder ha establecido un perímetro de lo pensable y lo discutible, pero se trata entonces de un perímetro muy amplio y sigue estando cercado. Hay temas que parecen malditos, temas proscritos, nombres que suenan a prohibidos, abordajes intocables, pareciera que sagrados y por tanto inaccesibles e imposibles para los mortales. Comprendo que mucho de ello se debe a que quienes así proceden desde los respiros euroccidentales en América Latina y fuera de ella, han abandonado el campo de las tensiones éticas, estéticas y políticas a partir de las cuales se comprenden estas lógicas, y lo hacen de tal forma en tanto les conviene mantener convicciones que pretenden inmunidad frente a toda revisión interpretativa. Se asumen como censores incuestionables e inmunes, como una instancia escolástica e inquisitorial que emite sentencias en nombre del saber amparados en la lógica de una búsqueda interna de acercamiento al poder (a decir de Traverso, 2013). Y ello en función de estrategias premeditadas para violentar la resistencia del pensamiento latinoamericano desde ciertos espacios y enclaves institucionales (y no institucionales) que han sido asumidos 91
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como espacios exclusivos de poder y control. Pero, ¡cómo no esperarlo!. Extraño fuese que tal cosa no sucediera; y es de esta forma por cuanto lo que se plantea en esta oportunidad direcciona de manera frontal una denuncia que toca los intereses de quienes no entienden otra forma de vida que no sea la subordinación del espíritu y el intelecto, de quienes no aceptan otra cosa que no sea el vasallaje cultural y la supresión del otro al punto de convertirle en un ser invisible, a decir del poeta venezolano Gustavo Pereira. Además, esta propuesta discursiva direcciona el reclamo justo e impostergable por y para la necesaria desautorización de las narrativas euroccidentales y las gramáticas de sentido que han dado explicación y conformación inéditas a nuestra historia, a nuestra cultura, a nuestras formas originales de recreación, a lo que somos, a lo que hacemos, al cómo lo hacemos, a sus porqués y que han sido legitimadas por las llamadas sociedades del conocimiento que imponen como herencia postcolonial una historia, una agenda, un tributo. De allí que, pensar la recreación para actuar diferente y desde la desobediencia epistémica (Mignolo, 2010) pasando por alto las maneras tradicionales y sumisas de la academia latinoamericana, esto es, de manera inductiva o deductiva, representa todo un desafío en tanto implica generar una forma otra de pensarnos y decirnos las cosas; pensar la recreación de forma, ahora sí, transductiva, desde las bases de nuestra ancestralidad, desde nuestra historia silenciada, desde las nuevas realidades geopolíticas y culturales, desde nuestras prácticas y cotidianidades, desde las raíces populares, desde la colectividad, resulta además en maneras diversas y autónomas de hacer las cosas para transformar nuestras propias realidades; pensar la recreación desde estos menesteres, en y desde el complejo marco de la diversidad y las relaciones éticas, estéticas, sociales, políticas, económicas y culturales actuales de América Latina, y más aún, desde una perspectiva crítica sustentada en el respeto a la soberanía y la autodeterminación de los pueblos, sustentada en la necesaria constitución del sujeto político, sugiere la generación de discursos de identidad y narrativas refrendadas en la historia invisible y la urgencia latinoamericana, sugiere la transgresión de un ideario ajeno que ha sido elevado al altar de la geopolítica de la cultura, al sagrario mismo de la biopolítica del lenguaje, del conocimiento y la política misma logrando neutralizarnos como personas, como pueblos, como culturas… Así, y como ya hemos dicho, pensar la recreación en y desde nuestras circunstancias, sugiere
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además la lucha por la vivificación ontológica y epistémica de nuestras propias gramáticas de sentido, sugiere pensar por nuestra propia cuenta y a nuestro propio riesgo, al margen incluso de quienes legitiman, en euroccidente, y sí, también a pesar de un contingente humano bien importante que en nuestra misma América Latina ejerce roles de fiscales del saber. Y es que, a propósito de ello, bien vale la pena hacernos acompañar de Guadarrama (2008), cuando sostiene que: El fantasma de la dominación ideológica y alienante nos obliga a pensar con cabeza propia. El desafío es ahora mayor, porque son más eficientes los mecanismos de comunicación y de manipulación de las conciencias. Por tanto esta será una época de nuevos retos para los que pensamos que no vivimos en el mejor de los mundos posibles y que América Latina tendrá que pagar dobles cuotas de sacrificio si no asume a tiempo no solo la actitud de pensar con cabeza propia, sino, lo que es más importante, de actuar (p. 365).
¿Qué de la recreación en este contexto?
En el contexto de la recreación como expresión de la cultura humana se ha ido absolutizando una especie de abuso literario, una suerte de acoso práctico que se ha constituido en norma para algunos(as) y en especie de medicamento dosificable para otros(as). Ello ha marchado de forma paralela y ha servido como mecanismo legitimador para la instauración de una política del olvido, del enajenamiento, de la colonización del saber, de la subordinación y la difuminación cultural, concretándose en la imposición de lógicas subrepticias, haciéndose realidad en prácticas cotidianas dizque inocentes y cuasi divertidas pero diametralmente opuestas al verdadero ideal de una recreación liberadora, asociado éste último como está con la afirmación y elevación de la condición humana, con la libertad plena, con la autonomía, con el aprendizaje, con la soberanía cognitiva, con la dignidad, con la responsabilidad, con la restauración físico-psíquica y emocional, con el protagonismo del poder popular, con la democracia directa, participativa y protagónica, con la formación permanente, con la organización de las bases sociales y comunitarias, con la autodeterminación, con la autorregulación, etc. De esta forma, la emergencia de nuevas gramáticas de sentido son, más que necesarias, imprescindibles. Y podemos tener por seguro que una nueva gramática no granítica, no subvencionada por las lógicas imperiales y además que esté
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siendo pensada desde la América Latina, será vista —como ya se ha dicho— con sospecha, con demasiados prejuicios, con suspicacia, e incluso, ya ha ocasionado que se le tilde de academicista, de antipopular, de inorgánica, de “muy” filosófica, de innecesaria. En realidad, no tiene una sola de esas características, pero lo que sí es, es culturalmente incómoda y subversiva. Por eso los ataques… No debemos caernos a mentiras. Todo el blindaje y el aparataje de la episteme euroccidental está orientado y dirigido a la cauterización de la conciencia crítica en América Latina. Y ello debido a que de esa forma puede imponer sin resistencias una biopolítica que iniciando por el lenguaje termina generando formas de vida, formas de pensar, formas de sentir e interpretar los sentidos, un cierto modelaje de la corporeidad y de la experiencia lúdica, e incluso, formas de actuar en el campo de la política misma. Y pues, los latinoamericanos sabemos por experiencia propia y sin necesidad de que nos echen cuentos de cuna a qué se debe todo esto. La larga noche neoliberal fue superada ya, pero eso sí, amenaza resurgir con fuerza. Y quienes primero deben hacer el esfuerzo para desterrarla somos nosotros mismos sacando de nuestro interior lo neoliberal que aún nos habita. El presente ejercicio literario procura reivindicar una premisa fundamental de la vida humana pensada desde el contexto de la recreación: a saber, la libertad. Y bien convendría recordar a quienes incurren en la manifestación de conductas neocomarcales y colonizadoras, que la libertad no es una palabra liviana, no es un slogan publicitario, que la misma no es un modismo ni un regalo, que no se trata de una medalla de honor al mérito, sino que, por el contrario, la libertad tiene que ver con la esencia de lo que somos en tanto seres humanos, en tanto personas, en tanto ciudadanas y ciudadanos, en tanto hijas e hijos de una patria/matria; tiene que ver incluso con la forma de vida de un pueblo, de una nación, por tanto, es al mismo tiempo, un concepto político, y más aún cuando lo asociamos directamente con la idea bolivariana de la suprema felicidad social. “Esa es una expresión de Bolívar. Cuando él habla de la suprema o la mayor suma de felicidad posible, está hablando de un concepto político, de una búsqueda política, y hoy estamos claros” (Chávez, 2011; p. 26). Por tanto, no es cosa mínima la que tenemos entre manos. Por ello es tan importante el que hurguemos con seriedad y encontremos las articulaciones de esos senderos que parecen tan seductores pero que tenebrosamente tejen sistemas de
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relaciones en los que la opresión es la seña de identidad. Esas relaciones entre recreación y libertad, libertad y recreación, son vitales. De allí que parte de la lucha estribe en trascender la lógica actual que plantea la recreación como lugar común (heterocondicionamiento) llevándole y elevándole a la categoría de experiencia que tributa a la libertad. Ahora bien, ¿por qué pensar la libertad desde las coordenadas de la recreación y la cultura en una oportunidad como esta?. En primer lugar, porque creo que la recreación trasciende al divertimento implicándose con elementos de carácter ético, estético, cultural, pedagógico, político, público, que a todos y todas conciernen, esto es, trata de la vida humana, de lo cotidiano; en segundo lugar, porque creo necesario reivindicar la esencia histórica y política del concepto de la libertad en su relación con la cultura y con la recreación, dado que el sustento de eso que se nos vende hoy como “recreación” desde la industria cultural del entretenimiento y la diversión desechable, no ha sido más que la amalgama de convenciones históricas falseadas desde el contexto político, académico y empresarial en una desenfrenada relación con el capital, curiosa y paradójicamente defendida a rajatablas por un sector de la academia venezolana y latinoamericana. Así, esa misma academia que ha traicionado los intereses históricos de la América Latina, se ha esforzado por generar una falsa conciencia que ha causado que una parte de las y los latinoamericanos detesten lo propio. A la sazón pregunta Abelardo (2012): “¿acaso el carácter semicolonial de la América Latina disgregada y la pérdida de su conciencia nacional no se prueba en no pocas universidades?” (p. 28). La mutilación de América Latina no viene solo con el despojo de nuestras tierras y riquezas, sino con el despojo de nuestra historia, de nuestra cultura, de nuestras lenguas, de nuestros hombres y mujeres originarios, de nuestros viejos, de nuestras niñas y niños, de nuestro propio nombre, y peor aún, del espíritu mismo de rebeldía y liberación de nuestros pueblos originarios. La mutilación de América Latina se concreta incluso con el despojo de nuestro derecho a escribir nuestra historia y a escribir también nuestro presente. Además, tal y como lo sostiene Rodríguez (1977): El pasado se nos ofrece en forma de interpretaciones ya hechas que por hábito y pereza se aceptan sin examen previo. Pero es claro que tal aceptación equivale a renunciar por anticipado, en nombre de la comodidad, a la aventura personal de entrar por cuenta propia en contacto con la realidad histórica a que dichas interpretaciones nos refieren.
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Ungidas del respeto que inspiran las cosas consagradas, hace falta esfuerzo y atrevimiento para levantarse en armas contra su autoridad (p. 21).
Podría suceder que tal y como lo comenta Rodríguez, la comodidad, la pereza y/o el hábito sean causales de la aceptación sin más de convenciones que para nada se aproximan a la libertad y la autonomía cultural, que nada tienen que ver con la latinoamericanicidad, que en nada se parecen a lo que somos en tanto seres culturales. Pero, ¿y qué, si ello sucede no solo por pereza sino también por complicidad?; ¿qué, si ello sucede no solo por hábito sino también por imposición y vasallaje?. En tercer lugar, nos aventuramos a pensar en las coordenadas de la recreación porque es que allí se encuentra una posibilidad única y maravillosa para enriquecer la vida humana con aquellas cosas que en realidad son importantes, esto es, viene pensada desde la posibilidad del amor, de la alegría, la empatía, el compartir, la lúdica, la cultura, el arte, el juego, la historia, la familia, la comunidad, la felicidad, la tolerancia, el respeto, el reconocimiento del otro y del sí mismo en el otro, la solidaridad, la hospitalidad propia de las y los latinoamericanos, la convivencia, la ciudadanía, el Vivir Bien, la afirmación y elevación de la condición humana, el bien común, la sustentabilidad del planeta, la salvación de la especie humana, entre tantas otras cosas. En este sentido, vale la pena el que nos hagamos algunas preguntas intencionales para avanzar en el recorrido: ¿qué pensamos cuando vemos que se asoma la palabra recreación?, ¿desde dónde la pensamos?, ¿con qué la asociamos?, ¿con qué soñamos cuando enunciamos la palabra?, ¿nos emociona ella?, ¿está cancelado ya su discurso, tal y como lo han pregonado ciertos agoreros?, ¿cuál es el modelo de recreación que impera en nuestra sociedad?, ¿es el modelo de recreación dominante, realmente compatible con el ideal de una recreación liberadora?, ¿a qué nos referimos al hablar de una recreación liberadora?, ¿existen en el campo de la recreación, interpretaciones euroccidentales asumidas en América Latina como materia inefable de carácter universal?, ¿cuánto de ello nos permea aún?, ¿es cierto que la recreación se contrapone al trabajo?, ¿es cierto que la recreación es científica?, ¿qué significa eso de la “democratización de la recreación”?, ¿qué de las políticas públicas, la justicia social y la legislación en el marco de la recreación?, y por supuesto: ¿qué nos convoca a pensar la recreación?, ¿qué nos insta a sentirla?.
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Invitamos a pensar la libertad desde las coordenadas de la recreación (y viceversa), porque la recreación que conocemos en América Latina y nuestras prácticas lúdico-recreativas, llevan la impronta de occidente, marcadas con el tiempo de la tradición y la imposición cultural. Así, el inmediatismo que ahoga el pensamiento es la moneda diaria del sistema de dominación que ha impedido pensar la cuestión epistémica en la recreación, teniendo además que, como dice Quintar (2016), siempre se ha pensado la recreación desde occidente. Y ella añade la pregunta: “¿cómo aprendemos a conocer en occidente?”… Pues, tal pregunta no tiene una respuesta tan difícil: aprendemos a conocer en occidente basados en las lógicas que se nos vierten e imponen
como
imprescindibles,
desde
los
heterocondicionamientos
y
la
homogeneización euroccidental. Por lo tanto, pensar la recreación desde una perspectiva crítica y desde una plataforma que rescate la autonomía y nuestras huellas originarias, resulta ser un atrevimiento que se paga caro. Por supuesto, estas líneas no tienen un telos chovinista, tampoco tienen la intención de agotar la discusión o cancelarla disparando respuestas a mansalva; mucho menos pretende circunscribir el debate a los espacios de interés de la premeditación. No es esta una reflexión llena de respuestas, es por el contrario una oportunidad para generar algunas preguntas desde aquello que llama Mignolo (2010), la desobediencia epistémica, o una posibilidad otra para reinterrogarnos y pensar la recreación desde la decolonización del pensamiento y de nuestras circunstancias.
Recreación
“Recreación”; es ésta una palabra fantástica, misteriosa, y sí, quizás un poco abstracta; bien podríamos decir que hasta romántica, pero también es una palabra que desde la plataforma del discurso tradicionalista de la institucionalidad y la vigilancia (espontánea y no espontánea), se dice todos los días de formas muy dispersas, confiriéndosele un tratamiento conceptual exageradamente elástico y laxo. Se trata de una palabra que dice de todo y nada a la vez, una palabra que ha sido abandonada a la deriva semiótica, que ha sido además des-historizada, que ha estado atrapada en la atmósfera de un monocultivo cultural que restringe extraña y sutilmente la 97
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singularidad y la pluralidad; es una palabra que ha sido encerrada en el recinto de la doctrina segura, y a la que, por tanto, se le han asignado significantes privilegiados por la corte que la subordina, nociones volátiles, ocasionando su difuminación, y peor aún, su modelaje en la horma de la lógica del libre mercado. Es más, a la palabra ‘recreación’ se le ha convertido en una palabra tipo “llave maestra”, al punto que puede significar de todo y nada al mismo tiempo. Y ese es un peligro de importantes dimensiones en tanto a la recreación se le ha pretendido vaciar de contenido al difuminarse el sentido, y precisamente como lo refiere Jean Luc-Nancy (2002) se le ha llevado al naufragio del sentido, al punto que ya, tal palabra hoy no dice mucho, convirtiéndole, en consecuencia, en una palabra que dice muy poco, y si acaso está diciendo algo, probablemente solo esté repitiendo el dictado de la sociedad de control imperante a través de la cultura satélite del libre mercado y el consumo, lo mismo que ha legado y legitimado la tradición institucional de forma histórica, esto es, la expresión de un lenguaje seductor conocido y pretendidamente neutral: actividad, técnica, comercio, negocio, mercado, oferta y demanda, consumo, consumidor, beneficiario, clientela, empresa, prestador de servicios recreativos, entretenimiento, esparcimiento, distracción, diversión, tiempo libre, etc. Triste, es que, como lo comenta Michael Apple (2000), hemos estado presenciando cómo algunos elementos de la ideología de los grupos dominantes no solo se han arraigado en nuestras sociedades, sino que se han vuelto verdaderamente populares, a tal punto que son defendidos a capa y espada, como si se tratase de un asunto de naturaleza y composición. Alienación pura; falsa conciencia, a decir de Marx, Engels, etc. Y valga la oportunidad para mencionar que el término ideología usado en esa reflexión está siendo usado en la connotación que del mismo ofrecen Karl Marx, Friedrich Engels, Adolfo Colombres, Angelo Broccoli y Ludovico Silva, esto es, a las determinaciones no conscientes de la conciencia discursiva que impactan y se diluyen en la conciencia práctica (como así lo llama Anthony Giddens, 1984). Por cierto, ideología que a decir de Broccoli (1978) “es una ética privada de historia, pero ha terminado por convertirse en la historia de todos los días, pese a su misma irrealidad” (p. 161). El tema de la ideología es importante. Aparece recurrentemente al igual que el tema de la alienación, de la falsa conciencia, de la imposición cultural, del euroccidentalismo, entre otros que guardan relación. Y sí, se piensa desde una
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perspectiva marxista (distanciándonos de las desviaciones del marxismo-leninismo y más aún del stalinismo). Esto porque ni en Marx, ni en Broccoli, ni en Ludovico Silva (que es uno de los estudiosos de Marx más aventajados en Venezuela y América Latina) se aprecian ideas de una ideología revolucionaria. Así, ¿qué es la ideología para Ludovico?: “denotará siempre un campo de acción mental encargado de preservar los valores de la clase opresora; y es un campo que actúa en la mente de los oprimidos como fuente irracional de lealtad hacia el sistema de opresión” (pp. 93-94). Ahora, para contrarrestar la ideología, Silva (1978) apela a la conciencia de clase, la cual en Marx no es más que el: (…) campo de acción mental de aquellos oprimidos que luchan conscientemente por liberarse de la opresión… La ideología capitalista ha penetrado tan profundo en nuestros psiquismos, que hemos terminado por declarar necesaria la existencia de la ideología, y hemos llegado a pensar que a la ideología hay que combatirla con ideología (p. 94).
Harnecker (1974), a la sazón, sostiene: “la ideología se ejerce sobre la conciencia de los explotados para hacerles aceptar como natural su condición de explotados; se ejerce sobre los miembros de la clase dominante para permitirles ejercer como natural su explotación y dominación” (p. 99). Ahora bien, los parches filosóficos oriundos del euroccidentalismo, las adhesiones ideológicas eurocéntricas y anglosajonas, intentan explicar el mundo y la realidad latinoamericana desde la perspectiva de quienes se asumen como dueños del planeta con derecho exclusivo a prescindir de las y los demás para legitimar, amalgamar y homogeneizar sus formas de vida. Así, escriben una historia que, además, termina siendo “la” historia oficial. Y eso es lo que ha sucedido en América Latina. Es que hasta el mismo nombre termina siendo eso, un implante, una invención eurocéntrica (Reyes, 2016). Del colonialismo y el vasallaje a los que fueron sometidos los pueblos de la Abya Yala después del exterminio a la imposición a sangre y espada de una otra cultura; de la limpieza étnica (así le llamaban los ideólogos europeos de otrora) a la cuasi-purificación de las almas en una especie de inquisición a la americana. De allí que, aunque no todas, sí muchas las costumbres y las prácticas sociales heredadas en realidad sean implantes, fieles reproducciones euroccidentales. Así que, cuando se habla de ciertas prácticas culturales como actividades originarias, en realidad se
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comete un error al tiempo que se aceptan como un implante cultural. No son originarias, no son propias de los habitantes de la Abya Yala, no son nacidas en nuestras tierras, ni de nuestra gente. Terminaron convirtiéndose en tradicionales debido a los procesos de aculturación, sustracción e imposición al que fueron sometidos nuestros pueblos originarios desde la conquista a través de la implantación de formas culturales exógenas, a través de la esclavitud, a través de la imposición y la dominación, a través de la cuasi-evangelización y el exterminio. De allí que, pensar hoy la recreación en América Latina supone hacerlo en resistencia, en rebeldía a los nuevos intentos de coloniaje. De allí que no se trate única y exclusivamente del elemento gramatical (como algunas y/o algunos investigadores sostienen) sino de un proceso de formación de la conciencia histórica. Y justo acá me hago acompañar de Arendt (1973), en tanto ella sostiene que: “El empleo correcto de las palabras no será solo cuestión de gramática lógica, sino de perspectiva histórica, puesto que una sordera de significados lingüísticos ha tenido como consecuencia un tipo de ceguera ante las realidades a las que corresponden” (pp. 145–146). Y Pérez (2009), a la sazón agrega afirmando que “las palabras representan la conciencia de los hombres” (p. 07). En función de esto que se viene comentando, David, Blasco, Machado y Conde (2006), sostienen: Sabemos que la vida de las poblaciones antes de la llegada de los conquistadores europeos (españoles, portugueses, ingleses, franceses, holandeses) a las costas de lo que llamamos América era rica en rituales, celebraciones y expresiones lúdicas. Vida, rituales y juegos formaban parte de una sola y única realidad, indivisible. Con la llegada de los invasores, seguramente muchos de los juegos y los juguetes fueron reemplazados, y sus nombres, cambiados. ¿Cómo fue vivido este traslado de juegos y juguetes europeos?. En aquellos tiempos y también ahora, aquellos juguetes artesanales fueron sustituidos por otros más ‘novedosos’ en una dinámica de imposición cultural que desvaloriza sistemáticamente los productos locales. ¿Qué habrá pasado con los juegos de aquellos niños?, ¿dónde quedaron sus juguetes?. A pesar de todo, en las fronteras de la pobreza, en las poblaciones rurales, en los asentamientos suburbanos, la memoria persiste, y se mantienen algunos de aquellos juegos ancestrales, como también renovadas expresiones lúdicas que se nutren de la vida local. Estas preguntas surgen con ausencia de respuestas, porque los cronistas que debían documentar sepultaron, como sin valor o como memoria peligrosa, todas aquellas manifestaciones culturales diferentes de las europeas. Se produjo así un doble mecanismo de ocultamiento y enmascaramiento (pp. 12-13).
Entonces, pensar la recreación desde la plataforma del euroccidentalismo, desde la plataforma del canon eurocentrista y de lo anglosajón nos conduce al mantenimiento de la postración intelectual y cultural inducida e impuesta durante más de 520 años, y más aún si tomamos en consideración que, tal y como sostiene Wallerstein (1999), muchas de las suposiciones euroccidentales —engañosas y 100
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constrictivas— están demasiado arraigadas en nuestra mentalidad, tanto que dichas suposiciones, consideradas liberadoras del espíritu, hoy en día son la principal barrera intelectual para analizar con algún fin útil el mundo social. Probablemente
ésta sea
una
lectura
incómoda para
la
academia,
anticonvencional, antisolemne (a decir de Carles Álvarez Garriga), pero especialmente incómoda para quienes desean mantenerse aferrados a una lógica que da orden a sus convicciones, y ello en tanto se trata de una escritura que invita y permanece en tensión constante, una escritura que no puede dar las cosas por sentado, que no calcula, que no ofrece fórmulas prescriptivas para la recreación, pero sí ofrece la tensión entre aquello que nos es dado como palabra única y totalitaria y aquello que podríamos hacer emerger; esto es, una escritura contestataria que se pregunta por las paradojas que tensionan el campo de la recreación como dimensión humana, como posibilidad de transformación social, como expresión patrimonial, cultural y universal, como signo interrogante de la singularidad, como seña de la formación de ciudadanía y democracia, como forma de expresión espontánea de un pueblo, e incluso como posibilidad inclusiva desde el campo de las políticas públicas que pueden generarse en atención a la justicia social. Además, trata de una escritura que eleva la voz y toma la palabra ante la mudez que impone esa misma lógica y esa misma narrativa totalitaria del sistema-mundo organizado y previsto desde los centros de poder y la geopolítica del conocimiento en articulación con el libre mercado y el capital. Y es que, tal y como lo sostuviese en su momento, Hans Christian Andersen, convengo en que no tenemos por qué aceptar como verdad ni tiene por qué ser verdad lo que todo el mundo piensa y acepta como verdad sacrosanta… Y es que, aunque estas consideraciones en torno a la recreación sean apaleadas, pues, francamente prefiero acogerme y refugiarme en las palabras del maestro brasileño Darcy Ribeiro al decir en el hermoso poema Mi victoria, lo que sigue: “me puse del lado de los indígenas y fui derrotado, me puse del lado de los pobres y fui derrotado, me puse del lado de los campesinos y fui derrotado, me puse del lado de los obreros y fui derrotado, pero nunca me puse del lado de los que me vencieron”. ¿Cómo entender entonces el concepto y la idea de una recreación liberadora en un país como Venezuela (que ha iniciado un tránsito hacia un socialismo inédito, esto es, hacia el socialismo bolivariano del siglo XXI), a partir de categorías heredadas
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del capitalismo (armas melladas del capitalismo, a decir del Ché Guevara), categorías hermanadas con la modernidad, categorías que responden a las preguntas del euroccidentalismo, siendo que la única libertad que conoce y defiende el capitalismo es precisamente la libertad de mercado?. ¿Es que acaso esa recreación liberadora está asociada con ese mercado y esa supuesta libertad?, ¿no se percibe un coqueteo incómodo allí?. ¿Cómo entender una recreación presa de la pragmática y castigada en/por el uso corriente y legitimado de la palabra agotada de la modernidad, ahora matizada por la postmodernidad?, ¿qué de la transmodernidad en este contexto?. ¿Cómo entender la necesidad de una participación protagónica real para la enunciación y generación de una recreación liberadora?, ¿cómo podemos entonces permitirnos seguir pensando la recreación como patrimonio universal, como derecho público en el ideario de la justicia social, como arista fundamental para la democracia y la participación protagónica, usando las claves identitarias del capital, y más aún, desde la plataforma de la lógica comercial y neoliberal, justo en momentos en los que construimos el socialismo bolivariano (el cual pregona y defiende la idea bolivariana de la suprema felicidad social, la liberación, la autonomía, la autodeterminación de los pueblos, el derecho social para el Vivir Bien)?, y finalmente, ¿qué del lenguaje y sus usos desde la plataforma sociocultural, política, pedagógica?, ¿qué de las prácticas que convencionalizamos a diario?, ¿será que estamos reproduciendo y consolidando un lenguaje que nos hiere de manera divertida y subrepticia?, ¿hacia dónde tributa el modelo de recreación que se desarrolla y se hace cuerpo?, ¿hacia la dependencia, o hacia la libertad?. Y es paradójico: a pesar de todo el blindaje de argumentos que se imponen como puntos de partida y llegada, argumentos que se trajean (al decir de Gustavo Pereira, 2010) como verdades absolutas, argumentos que se asumen como códigos inexpugnables y funcionan a la vez como amenaza feroz, nos encontramos ante una palabra poderosa que se resiste a sucumbir: RECREACIÓN. Se trata de una palabra mucho más poderosa que como nos la pretenden hacer ver. Se trata entonces, de una palabra todavía virgen, exuberante, prometedora, y a la vez, tan, pero tan sencilla. Es una palabra que lucha por erguir su cabeza a pesar de que las traiciones de todo tipo le aplican la zancadilla. Pese a ello, insisto, es una palabra que se ha trivializado (usándosele para todo de forma indiscriminada), una palabra que se encuentra
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atrapada en una trama laberíntica de sinsentidos, en una trama de vacíos, una palabra que se encuentra groseramente secuestrada por un discurso dominante que se ha popularizado desde la falsa conciencia y el imperio de un lenguaje abrumadoramente dizque imparcial, cuasi somnífero, saturado de imágenes y representaciones erigidas desde el tótem del libre mercado y el ruido ensordecedor del entretenimiento fugaz. Quizá lo más triste, no es que la academia aplauda tal cosa como foca, sino que, lo que más duele es que las capas populares se hayan apropiado de tales señas, de tales formas de conducta. De allí que Marx dijese con toda razón que las ideas de la clase dominante terminan siendo las ideas de la clase dominada. Freire lo comentaba al decir que lo peor que pudiese sucederle a la clase oprimida era desear convertirse en clase opresora. Y es que tal entumecimiento se produjo y se ha ido produciendo aguas abajo, es decir, de manera solapada y sin mucho ruido bajo la aceptación genérica de sociedades a las que se les indujo y se les ha inducido desde hace varios siglos desde ciertas esferas de poder a la concentración en masa de la abulia (pan y circo), a la despolitización, a la sumisión volitiva y el vasallaje cultural e intelectual, bajo la complicidad de los poderosos y omnipresentes medios de comunicación y de la escuela (sí, esa escuela que confunde educación con escolarización, capacitación y adiestramiento con educación y formación, juego con jugar; esa escuela que reproduce el modelo del sistema dominante), bajo la mirada escrutadora de una academia que se asume como templo y como morada exclusiva de la verdad a resguardo, bajo la automática firma aprobatoria permanente de pequeños grupos de funcionarios públicos y legisladores predispuestos al servicio de una lógica de mercado, bajo las sospechas de la risa manifiesta y el aplauso sostenido de una cultura pasajera del entretenimiento y la diversión desechable que allende los poderosos medios de comunicación homogeneiza y convierte en instantánea y en homogénea la experiencia. Por ello es necesario “tener los ojos bien abiertos: no solo para ver la superficie, lo que aflora en determinados momentos, sino lo que subyace, lo que se mueve más abajo” (Rangel, 2012; p. xiii), aquello que, aunque no sea explícito, sí está siendo invocado, aquello que al igual que un abrigo bien diseñado, oculta más de lo que deja ver (Judt, 2011). Y es curioso, porque existiendo quienes pudiendo ayudar a provocar la liberación de la recreación como posibilidad multidimensional para la consolidación
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y elevación de la condición humana (desde el ejercicio público, académico, legislativo y político), son precisamente quienes, bajo el uso eficaz y elástico de los conceptos, eufemismos y máscaras, proclaman desde el discurso su poderosa potencialidad, mantienen incluso una retórica marxista (aunque no su política), pero en el ejercicio cotidiano desarrollan prácticas diametralmente contrarias, justo porque han descubierto a la recreación como catapulta para la satisfacción de sus aspiraciones de lucro personal. Escribo considerando tales situaciones en tanto me preocupa en demasía el empobrecimiento al cual se ha conducido al fenómeno recreativo desde el ejercicio práctico, académico, institucional, político, popular, y desde el abuso literario de humores volátiles; desde el despotismo de un discurso episódico, autocomplaciente y poderoso de expertos, legisladores y especialistas en legitimación que auscultan y aprueban una parálisis práxica y lingüística que, sabemos, no es neutral, y por tanto, se trata de un asunto que debemos interrogar desde otra perspectiva. Ese viejo discurso se ha blindado asumiéndose a sí mismo y vendiéndose como neutro, como un producto cultural ideológicamente intachable, pero en realidad no hace más que legitimar y consolidar el sistema de control y dominación vigente sin la pretensión de romper con la estructura de poder que lo mantiene (Ribeiro, 2006). Por ello, si lo que deseamos es recuperar la posibilidad de ser nosotros mismos en la América Latina, si deseamos la posibilidad de gestar la consolidación de una conciencia otra, de sentar las bases para una cultura de la recreación con la cual nos identifiquemos plenamente y que desde su epicentro podamos consolidar la condición humana, el horizonte del Vivir Bien, la Suprema Felicidad Social, la solidaridad, la tolerancia, la paz, la responsabilidad, la dignidad humana, la libertad, la autonomía, la soberanía, la autodeterminación, entonces, develar y denunciar los lugares de enunciación, generación y legitimación del conocimiento en el campo de la recreación, el ocio y la lúdica, se ha convertido en una necesidad de primer orden. De allí que comparta la tesis de Osorio (2016), cuando sostiene que debemos superar las entradas únicas a los estudios sobre/de los fenómenos del ocio y la recreación. A la sazón, no intento discutir en referencia a los fundamentos teóricos de la recreación al estilo de la vieja usanza, esto es, empleando las normas y los cánones de la tradición académica que ha privilegiado el euroccidentalismo. He preferido en esta
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ocasión hacerlo desde otra perspectiva, esto es, aproximándome desde una visión crítica y liberadora que se reconoce en el fragor de la nueva cultura política, el saber popular, y la posibilidad de una historia otra, aquella que nos fue ocultada y/o matizada. Así, y al partir de allí, debemos reconocer y comprender que estamos ante la manifestación de un anquilosamiento lingüístico (y de un efecto de Alzheimer en cuanto a la historia) que se propuso —con cierto éxito— hacer que las mentiras sonaran como verdades; por tanto, y como muy bien lo refiere Mélich (2012), tenemos la necesidad, y más que todo, una urgencia, de desenmascarar las formas de control social de producción del discurso euroccidental, tenemos la necesidad y la urgencia de desmontar la lógica capitalista en el discurso y en la praxis toda en el campo multidimensional de la recreación, el ocio y la lúdica en Venezuela y la Abya Yala; mucho más ahora, cuando la recreación en las pulsiones de este espacio continental, ha de ocuparse de des-homogeneizar esos discursos y prácticas euroccidentalistas con los cuales ha sido construida categóricamente… (Carreño, 2006).
Academia, recreación y el discurso
Hay una otra posibilidad para interrogar y re-interrogar la palabra, los lenguajes, los discursos, los textos, las instituciones, los aparatos jurídicos, los valores, los imaginarios, las prácticas mismas que se erigen como sínodo oculto; posibilidad ésta que surge desde significados considerados incómodos y hasta heréticos por la cofradía del conocimiento instalada en la comarca de la academia (y me refiero a esa academia que se ha convertido en un apéndice de las necesidades del mercado — Albornoz, 1999—). Y atención, haciéndome eco de Freire (2003), puedo decir y aclarar que, “mi posición no es de rechazo a la academia, porque de alguna manera somos académicos. Lo que no somos es academicistas” (p. 14), aunque me acusen de esto último algunos(as) de mis consagrados(as) detractores(as). Por supuesto, esas cofradías no solo se instalan en la academia, sino también en la escuela, en la legislatura, en los medios de comunicación social, en instituciones del Estado, en la escena del comercio nacional e internacional, y por supuesto, también en el ejercicio público. 105
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Cuando quienes nos acusan nos tildan de academicistas esgrimiendo que nuestros argumentos no tienen nada que ver con la cotidianidad, con la gente, con el pueblo, entre otras cosas, en realidad enmascaran sus verdaderas intenciones. Además de intentar desprestigiar nuestros argumentos, lo que no consiguen superar son los vestigios euroccidentales que arraigados en sí mismos(as), no les permiten atreverse a la incertidumbre poietica y autopoietica latinoamericana. Al parecer, y partiendo de las convenciones de quienes nos cuestionan, habría que seguir pensando la recreación desde los contornos de la gramática europea y anglosajona. Por lo pronto puedo decir que tal cosa no es sensata ni aceptable hoy en Venezuela. Bohórquez (2014), nos habla sobre este tema: Cierto es que resulta difícil exigir del hombre americano una reflexión originaria sobre sí mismo y sobre el mundo que le circunda, cuando no se ha aprendido a tener confianza en las propias capacidades del pensar y cuando las diversas generaciones de hombres nacidos en América, habían aprendido que para ser considerados hombres y de valía, tenían que pensar como el modelo español exigía (2014, p. VII).
Creo profundamente que las y los latinoamericanos tenemos que pensarnos a nosotros mismos para reivindicar la esencia de aquello que en realidad somos. Quizás en tal empeño nos equivoquemos en más de una ocasión, pero de seguro que aprenderemos a agendar nuestras propias experiencias y nuestra propia historia. Y es que habrá que pensarnos desde y en nuestras contextualidades, en nuestros espacios, en nuestros lamentos y lloros, en nuestras festividades y alegrías, en nuestras derrotas, y también en nuestras victorias. Pensarnos nosotros desde nuestras subjetividades sin anclarnos tampoco en el provincianismo y en el reconocimiento de aquellas y aquellos otros que desde otras latitudes comparten nuestras convicciones aún estando en el mismísimo centro de dominación del mundo. A la sazón sostiene Guadarrama (2008): Pensar con cabeza propia no significa asumir posturas de chovinismo epistémico y cerrarse a los aportes de cualquier parte del mundo, así como de pensadores con los cuales se puede coincidir parcial o totalmente. Por el contrario, significa asumirlos, pero no indiferenciadamente sino en correspondencia con las exigencias cognoscitivas, axiológicas e ideológicas que cada momento reclama (p. 363).
Por eso, se trata de una posibilidad para la interrogación que surge desde la experiencia plural humana, desde la intimidad y la sensibilidad latinoamericana; desde la esfera colectiva originaria, y la recreación es un lugar de y para la experiencia, tanto
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singular como plural. Es la recreación el centro de interés como posibilidad para una práctica y ejercicio de la libertad humana en nuestro tiempo histórico, uno que se reconocerá en la historia como el tiempo en el que se hizo justicia. Ahora bien, como en esas andamos, esto es, la recreación como un lugar de y para la experiencia, debo decir con total responsabilidad que es esa una de las paradas obligatorias en el itinerario de este escrito. Y es quizá de esta manera en tanto la experiencia tiene que ver con lo que somos y con lo que vamos siendo, tiene que ver con la fibra de la que estamos compuestos, con lo que nos pasa por dentro, con lo que sentimos, y apenas si intentamos reconocerlo, quizá porque sea misterioso e inexplicable en muchos casos. Lo que sí puedo decir de forma primaria, es que se trata de algo importante, especial, de lo cual gustamos volver, o por lo menos intentar. Ya dirá Savater (2014): “Ocurre que lo fantásticamente significativo nunca sucede fuera de nosotros, en el escenario fotográfico y pedestre, sino dentro…” (p. 60). Quizá valga la pena considerar que probablemente no comprendamos mucho de lo que nos sucede por dentro debido a la intrincada complejidad humana, además de que es necesario recordar que los imperativos del positivismo que se impuso en América Latina como forma exclusiva en/para la generación del conocimiento, excluyeron la comprensión de lo humano desde otras coordenadas, privilegiando así la cáustica de “una” ciencia monodisciplinar (que no de toda) y positivista en todos los órdenes del saber; por ello defiendo a capa y espada la posibilidad de la elevación, la transformación y la consolidación de la condición humana desde la recreación, desde esos vectores que poco conocemos y en los cuales poco hurgamos, pero que son los que encienden la misteriosa y fabulosa experiencia humana, entendiendo al mismo tiempo que, a ésta se le ha intentado llevar a la conversión de un no lugar como espacio de apretujamiento de multitudes sin conexiones relacionales y en las que aflora el desconocimiento en forma casi que tribal.
Experiencia y recreación
La idea de experiencia sobre la cual deseamos comentar, tiene que ver —a decir de Jorge Larrosa—, con aquello que en realidad nos pasa y nos acontece; y, al ser 107
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eso que me pasa y que nos pasa desde la particularidad y la singularidad, tiene que ver entonces con la cotidianidad (que no con la rutina, no con la pericia, tampoco con la costumbre, mucho menos con la experticia o con el acumulado de años de servicio profesional). Esto es, con una cotidianidad pensada en claves de identidad, con lo que sentimos, con lo que pensamos, con lo que nos emociona, con lo que nos hace felices, con lo que amamos, pero también con lo que odiamos, también con lo que sufrimos, e incluso con lo inédito de la experiencia misma, esto es, con lo que nos hace humanos; por supuesto, al ser de esta forma, también se entrecruza con lo que hacemos en/y a cada momento, pero igual tiene que ver con lo que padecemos…; esto es, porque la recreación tiene que ver con lo que somos, con lo que nos pasa por dentro a los seres humanos, a su vez se implica con las emociones, con los sentimientos, con esas cosas casi que inexplicables, con las palabras, con los acontecimientos, con las acciones, con las lenguas y los lenguajes, con las marcas, con los símbolos, con los sentidos, los significados, los rostros, el llanto, la risa, el gozo, las miradas, los gestos, las imágenes, las representaciones, los imaginarios, los cuerpos, los otros, el otro, la vida toda. Así de complejas son las tramas de la recreación. O bien pudiésemos hablar de una recreación cotidiana. Ugas (2010), a la sazón manifiesta: La cotidianidad no es una rutinaria opción de repeticiones sino un espacio de significados y construcción de sentido, donde lo ordinario y lo extraordinario se integran. Eso genera pensamientos y dimensiones que se expresan en el fluir constante de intensidades, donde las diferencias, dadas las condiciones de posibilidad devienen singularidades (p. 35).
Interesante entonces es que todo eso que implica la experiencia puede generarse desde la cotidianidad, desde la intimidad, pero también puede lograrse desde la comunalidad, como muy bien lo pronuncia Jaime Martínez Luna (2015). Y es que la posibilidad de ir generando un nuevo sistema de relaciones a partir de la experiencia recreativa es un tema que ha venido generando no solo interés en Venezuela sino en toda América Latina. A la recreación no se le encuentra en algún lugar, o en algún sitio, no se le puede atrapar o encapsular, no se le encuentra alojada en órgano alguno del maravilloso y misterioso cuerpo humano, o en un momento específico de la vida, o quizás en alguna circunstancia particular; porque es que ella no está, ella —la recreación— es inasible, ella simplemente es y existe… Entonces, pensar la recreación
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invita a pensarla entre las tensiones de la vida, entre los misterios de lo que desconocemos, entre las mismas tensiones de las disciplinas, entre las tensiones políticas de la institucionalización y las paradojas existentes; y convoca al mismo tiempo a pensar en lo inédito de las vivencias, en lo inédito e irrepetible de las experiencias, en lo que de único tiene la vida, en el escenario infinito de las posibilidades; nos convoca a pensar en la aventura constante de interrogación del ser humano, en la interpretación. Como de seguro ya habréis entendido en estas pocas líneas que lleváis de lectura, hemos de pensar la recreación desde una perspectiva un poco más densa a lo usual, esto es, desde una perspectiva ética, estética, filosófica, política y cultural, intentando deslindarnos de aquellas otras perspectivas inmediatistas,
superficiales,
conservadoras,
consentidoras,
utilitarias
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instrumentalistas que ven en el hacer de la recreación, el elemento neurálgico de la misma. Ahora, y entiéndase muy bien esto, aunque la recreación no se encuentra ni se encontrará en algún lugar —porque no es cosificable, no es un objeto, tampoco se trata de una metodología, ni una herramienta, mucho menos una estrategia—; sí se piensa que es la recreación, un lugar de y para la experiencia. Siendo así, se trata entonces de la categoría LUGAR como una dimensión aespacial, atemporal, esto es, un lugar que es inasible, que no se puede ubicar geográficamente, y es inasible porque a pesar de ser un lugar, no es un espacio físico sino que se trata de un lugar que está en otra dimensión de la realidad, no pudiéndose encontrar en el mundo de lo concreto y lo objetivo. De allí que sea intangible. Y la experiencia siempre se da con fuerza, con intensidad, con una intensidad única en esa otra dimensión de la realidad. De allí que para los(as) obsesionados(as) con el pragmatismo y la ciencia como única forma de explicación de lo humano, sea casi que imposible comprenderle desde otras coordenadas que no sean las de la técnica, la reproducibilidad (como característica del método científico) y la homogeneización de la experiencia. Experiencia y recreación. Esta relación la abordamos desde la escritura. Y es la escritura una posibilidad para que algo pase, para que algo nos pase; y ojalá que en el encuentro de ésta, su lectura, y de ésta mi escritura, nuestras miradas se crucen, nuestras voces se levanten y se confundan, nuestras manos se toquen, nuestros gustos
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y disgustos se encuentren y confronten para bien; por supuesto, ojalá pueda surgir una ocasión para la experiencia. El hablar de lúdica, recreación, y de la libertad humana, de esos dones preciados, experiencias maravillosas, vivencias, realidades esenciales y tan características de los seres humanos, ya representa un atrevimiento. Es éste un asunto verdaderamente complejo por cuanto se trata de conceptos que se reconfiguran a merced del tiempo histórico, a merced de categorías y perspectivas antropológicas, a merced de perspectivas —a nuestro juicio, cósmicas y cosmopolitas—, e incluso, a merced de lo político, lo filosófico, lo religioso, lo económico, lo cultural y lo social; y es además, un asunto complejo por cuanto uno de los correlatos que le es afín pasa por la permanencia de la resistencia ante el orden naturalizado (que no natural); es más, debemos admitir que tanto los conceptos, como las categorías y su comprensión, superan nuestras posibilidades reales de enunciación en el fragor de los tiempos y el futuro mismo. Sin la pretensión de redescubrir la rueda, la bombilla o el agua tibia; sin tener la arrogante pretensión de poseer la palabra definitiva o de agotar la realidad, puedo decir que, así como la libertad y la responsabilidad son realidades antropológicas, políticas, culturales y sociales innegociables, asimismo, la educación, la lúdica y la recreación son expresiones de la cultura, y son fenómenos imprescindibles para la comprensión de nuestra historia, para la comprensión de lo que somos partiendo desde la impronta de nuestros pueblos originarios, e incluso, son imprescindibles en la formación de un nuevo hombre, de una nueva mujer, de una sociedad diferente, de un mundo complejo pero diferente, diverso, pluripolar y multicéntrico; por ello, se hace necesario destacar su correspondiente papel en las infinitas posibilidades de transformación humana, y así lo diluye el maestro de la pedagogía crítica latinoamericana, Paulo Freire, en una de sus grandes obras, La educación como práctica de la libertad (1967). Y desde ese ejemplo, muy bien podríamos hablar de la recreación como una posibilidad cierta para la práctica y el ejercicio permanente de la libertad plena en el tiempo (Reyes, 2014)... Es más, en Freire se halla una pista para comprender el entramado de la libertad y la autonomía. El pedagogo brasileño comienza hablando de la opresión y la libertad en la obra ya mencionada. Luego se viene con La pedagogía del oprimido. Y para aquellos(as) que deseen trasladarse en la
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trayectoria escritural de Freire, al leerle siguiendo su línea en el tiempo encontrarán que el maestro parece haber comprendido que la autonomía es un estadio para la libertad; de allí que sus textos siguientes enfatizan el tema de la autonomía y la responsabilidad. De eso pretendemos hablar en esta obra en relación con la recreación. Por otra parte, y al pensar en la necesaria vinculación de estos temas de la pedagogía y de la libertad con los temas de la lúdica, la recreación, el ocio y el juego, tenemos que, la lúdica, muy al contrario de concepciones poco generosas que abundan en la literatura específica actual, trata de un concepto superior del cual emergen experiencias sensibles a la humanidad. Indiscutiblemente, la lúdica pasa por evidenciarse como un proceso constructor de humanidad en tanto se trata de una actitud, y como muy bien lo dicen estos amigos que señalamos, está profundamente ligada a la condición humana (Arendt, 2003); no se trata entonces de una nueva ciencia, ni de los alevosos entreveros de una neodisciplina (al modo de la trama orwelliana), y mucho menos de una nueva moda. A pesar de que el concepto de lúdica es un concepto complejo, poroso, es necesario deslindarlo de la parálisis pragmática que intenta reducir todo al hecho apodíctico, controlador y predictivo de la ciencia positivista heredada de los postulados del Círculo de Viena. La lúdica, más bien, parece estar asociada a una actitud, a una predisposición del ser frente a la cotidianidad. Tendría que ver con una forma, con un modo de ser y de estar en la vida, con una manera de relacionarse con ella en esos espacios atemporales en que se producen disfrute, goce y felicidad, acompañados
de
la
distensión
que
producen
actividades,
situaciones
y
manifestaciones tan simbólicas e imaginarias como el juego, la chanza, el sentido del humor, la escritura, el arte, y una gama muy amplia de posibilidades. Pero hay más, mucho más. Es decir, la lúdica no se agota en estas palabras, o en este discurso, y mucho menos en estas páginas. Lo que no conocemos aún está por descubrirse, y lo más probable, es que, en estos temas de la lúdica, la recreación, el ocio y el juego, apenas estemos reconociendo y rozando tan solo la punta del iceberg. Ahora bien, de la lúdica saltamos caprichosamente al tema del juego. Después de todo, un salto ni tan saltado… Allí tenemos muchísimo que aprender de los pueblos originarios de los cuales somos hijos e hijas, de las y los afrodescendientes, y por
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supuesto, de esa mezcla de aborigen, de la negritud (concepto que como nos orienta Rojas —2015—, fue creado originalmente por Aimé Césaire y otros intelectuales como Leopoldo Sédar Senghor, Léon Damas, Jacques Ruomain, Frantz Fanon) y el europeo de la cual devenimos. Y hay que decir con justicia que, de una forma realmente brillante, el sociólogo holandés Johan Huizinga, en su obra cumbre Homo Ludens, previó y reivindicó el status del juego como realidad fundacional de la cultura (que no la única). Es el juego una realidad lúdica, una manifestación de la experiencia humana recreativa; no obstante, si en algo comulgo con la mayoría de las y los autores e investigadores(as) latinoamericanos en el campo de estudios de la lúdica, la recreación y el ocio, es que: el juego, es apenas una manifestación lúdica de las tantas posibles en el infinito abanico de posibilidades, esto es, lo lúdico no se agota en el juego ni se angosta en su presencia. En el contexto de este incipiente debate, me preocupa poderosamente la inclinación que ha tomado el imaginario social y académico en torno a las concepciones de lúdica, juego, recreación, tiempo, libertad, educación, formación, responsabilidad; concepciones variopintas que a su vez legitiman prácticas recreativas exclusivistas y enajenantes, en desmedro de su papel reivindicador de la cultura, de la dignidad, de la libertad, de la responsabilidad, de la democracia y de la condición humana. Es pues éste, uno de los temas sobre los que estamos trabajando y haciendo hincapié en Venezuela, especialmente desde el entorno de las implicaciones culturales, formativas, sociales, éticas, estéticas y políticas que tiene la recreación como derecho social, como posibilidad y como catalizadora en la consolidación y elevación de la condición humana, como elemento clave de/para la formación popular y específica, para la educación, para la gestación y la expresión de una cultura diferente de la recreación, para la idea de democracia de una nación, para la organización comunitaria, para la participación popular, para el acompañamiento de los procesos de transformación social, y para la misma agenda de la política pública. El ideario de la recreación sobre el que intentamos abordar en esta ocasión, no es dogmático, pero sí dialéctico. Además, trata de un ideario que está siendo desplazado desde su territorialidad tradicional para moverse y transformarse hacia una nueva dimensionalidad (Crisorio, 2007), una dimensionalidad que comprende los usos y abusos del término desde los discursos que legitiman la estructura del saber-poder. Y
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es que hay que reconocer que el planteamiento tendencioso de los temas permite a ciertos intelectuales presentar como plausibles algunas interpretaciones de sucesos, fenómenos sociales, actitudes y orientaciones que un examen riguroso descubre como falsas (López, 2001). Se trata entonces, de un ideario diferente que subyace y se registra en la retina de la experiencia personal desde la transformación íntima y el estado del ser para el Vivir Bien, aquel que reivindica la dignidad humana y la concreción de propósitos de vida; aquel ideario de recreación que se permea desde una experiencia cultural, colectiva, ética y estética, susceptible de ser vivida como práctica y ejercicio de la libertad plena en el tiempo, y no como un elemento subsidiario de práctica estática concreta alguna; incluso, ofreceremos algunas consideraciones en torno a aquello que data de la institucionalidad y la institucionalización, aquello que data del secuestro de la recreación, el ocio, la lúdica y el juego como prácticas institucionales y homogeneizadoras de las experiencias; analizaremos en torno a ciertas prácticas que nos hacen ser de una manera (y no de otra), prácticas que, a decir de Foucault (2009), han pasado casi inadvertidas, y que han llevado —de paso— a algunos, a creer que estas concepciones devienen de las huellas de la escuela del recreacionismo norteamericano tras algunas revisiones históricas interesantes pero insuficientes para la comprensión, el registro y la validación. Puede que esto último se deba en parte a una tendencia que aún marca la manifestación de casos de Alzheimer selectivo con respecto a la invisibilización de la historia. O quizá se deba tal y como lo mencionara Luis Britto García (2014), a la ufana ignorancia de quienes (occidentales) confunden la historia universal con la de unas doce tribus en oriente y alguna otra decena de reinos en Europa… A ello podríamos sumarle las experiencias de occidente que pretenden seguir mostrándose como patrones culturales exclusivos a seguir. Ese espejismo euroccidental arropa todos los espacios, y por ello, es preciso comprender, reivindicar y luchar (a decir de Britto García, Ídem) para mostrar que nuestras culturas no son postdatas o notas a pie de página de la estética o del pensamiento universal, no son meras coincidencias en el mundo… La decolonización del pensamiento es urgente en América Latina, y más aún cuando los movimientos populares están resurgiendo desde la resistencia, cuando están tejiendo su propio camino, cuando los pueblos americanos quieren ser libres. Y
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justo en el campo de la recreación se hace vital decolonizar lo que pensamos y creemos si queremos fortalecer las propuestas de liberación en el continente. Justo sobre ello, sostiene Britto García, 2000): (…) los latinoamericanos sufrimos una Gramática redactada por Nebrija como instrumento de expansión del Imperio, y un Diccionario de la Academia Española que funciona como Inquisición de las palabras heréticas. La lengua que hoy nos constituye como Nación Latinoamericana es la misma que ayer nos redujo a Colonia Ibérica. Es afirmación y negación, libertad y cárcel (p. 71).
Entonces, amanecerá y veremos…
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Animação Sociocultural na 3ª Idade Bruno Trindade*
Resumo Analítico A Animação no contexto gerontológico tem vindo a constituir-se um fator essencial no domínio das áreas sociais, desportivas e educativas para a cultura do indivíduo, pressupondo uma aprendizagem contínua não formal e uma transmissão dessa mesma aprendizagem. O objetivo deste trabalho é investigar sobre a importância da Animação no contexto da gerontologia social, explorando os seus conceitos e as suas metodologias, para futuramente, se poderem implementar estratégias contínuas que permitam criar, adquirir e desenvolver competências, dando resposta às necessidades educativas, sociais e culturais das comunidades gerontológicas na vertente da Animação Sociocultural. Com este projeto pretende-se investigar novos modelos de pensamento, de intervenção e novas perspetivas que contribuam para a interação entre a reflexão e a prática na implementação sustentada da Animação Sociocultural na vertente Gerontológica.
Palavras-chave: Animação, Social, Gerontológica.
Abstract
The Animation in the gerontological context has become an essential factor in the social, sporty and education domains for the culture of the individual, assuming a non-formal continuous learning and the transmission of that learning. The aim of this work is to investigate the importance of Animation in the social gerontology context, exploring its concepts and methodology. In the future continuous strategies will be able to be implemented allowing to create and to develop skills, answering
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Frequência do programa de Doutoramento em Ciência Sociais e Educativas; Formación en la Sociedad del Conocimiento – “A importância da Animação Sociocultural em contexto educativo” – Universidade de Salamanca. Mestrado em Animação Artística – IPCB, Escola Superior Educação. Pós Graduação em Animação Artística – IPCB, Escola Superior EducaçãoFrequência da Pós Graduação em Gerontologia Social – IPCB, Escola Superior Educação. Licenciatura em Animação Cultural – IPCB, Escola Superior de Educação. 118
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the educational, social and cultural needs of the gerontological communities in the Social Animation field. This project intends to investigate new thinking and intervention models and new perspectives that contribute to the interaction between theory and practice to implement Social Animation in the social gerontology context.
Keywords: Animation, Social, Gerontological.
Introdução
Segundo Roccio Ballesteros (2004) “Os progressos registados ao nível científico, tecnológico, biomédico, educativo e social, a par de um conjunto de fatores demográficos têm vindo a permitir que os seres humanos vivam por períodos cada vez mais longos.” (p.31) O aumento da longevidade constitui um novo desafio para as sociedades, para os pesquisadores, para os gestores de saúde e para a própria população que envelhece em todo o mundo. Viver mais é um desejo e torna-se importante desde que se consiga agregar qualidade e significado aos anos adicionais de vida. (Lima-Costa & Veras, 2003 citados por Andrade & Martins, 2011) Assim, têm aumentado o número de estudos sobre a qualidade de vida dos idosos, na sua vertente multidimensional, e sobre as relações que se estabelecem, formais e informais, e a forma como se veem na sociedade e no seio da família. (Correia, 2009) O envelhecimento demográfico é uma realidade nas sociedades desenvolvidas, que se apresenta com diferentes desafios, devido às implicações diretas na esfera socioeconómica, no impacto que produz na família, na sociedade e no sistema de saúde, para além das modificações que refletem a nível individual. (Carrilho e Gonçalves, 2006; Correia e Rodrigues, 2006 citados por Araújo, Paúl e Martins, 2009) A temática do "envelhecimento" tem sido alvo de estudos e de pesquisa e tem desencadeando novos conhecimentos que contribuem significativamente para a melhoria da qualidade de vida das pessoas que alcançam esta etapa da vida. O que sucede atualmente é uma mudança significativa das atitudes e dos comportamentos da sociedade, em relação ao segmento da terceira idade.
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1. O Idoso e o Envelhecimento
O Homem envelhece ao logo do tempo. O envelhecimento acontece progressivamente na vida de uma pessoa sem esta estar preparada socialmente e psicologicamente. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) (cit. In Oliveira, 2005, p.10) a pessoa idosa, é considerada aquela que já completou 65 anos. Fernandes (2002, p.35) refere também que, embora (...) o indivíduo seja considerado idoso quando atinge a idade de 65 anos (...) corre maiores riscos, porque esta fase da vida é rica em transformações nos planos físico, psíquico e social, de origem interna ou externa. Apesar de se tratar de uma nova fase do ciclo de vida, os idosos, ainda são associados à improdutividade devido à idade. Esta afirmação enquadra-se com Valente (cit. in Fernandes, 2002, p.30), onde defende que na sociedade “(...) predomina uma noção de velhice baseada em critérios de estatuto e de idade.” Todavia, é incorreto pensar desta forma, visto que de dia para dia os seres humanos envelhecem cada vez melhor. Para Baldassin (1993, p.492) “(...) a velhice não se define só pelo calendário (...) começamos a envelhecer no dia em que nascemos.” Torna-se então fundamental definir velhice, que segundo Silva (2006, p.4), esta é um (...) estado ou condição de velho, sinónimo de idoso, de idade avançada, período do ciclo da vida humana que sucede à idade madura, venerável, digno de respeito (Morais, 1994), apresentando-se com uma dimensão biológica e uma dimensão cultural. A evolução do Homem ao longo do seu percurso de vida pode trazer mudanças nos estilos de vida, mas não deve implicar diferença de direitos enquanto pessoa. Conforme Berger e Poirier (1995, p.6) “A velhice é um período importante da vida, com as suas vantagens e com os seus inconvenientes.” Como representação da última fase do ciclo vital, as pessoas encontram-se mais frágeis, podendo aparecer algumas deficiências e uma diminuição da atividade física e mental. Na verdade, existe um paradoxo em relação à velhice por parte de muitas pessoas, visto que gostariam de viver por muitos anos, mas, em simultâneo, têm receio de ser velhas.
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Como se sabe, a única forma de não se ser velho é morrer cedo. Contudo, como ninguém deseja morrer cedo, é importante sensibilizar as pessoas a desenvolverem estratégias e atitudes que lhes permitam desfrutar de uma velhice bem-sucedida quer a nível físico, psíquico e social. Assim, a velhice deve incidir na relação de saúde/doença sendo crucial manter a qualidade de vida através da manutenção da saúde e do bom funcionamento bio-psico-social. Todavia, o envelhecimento humano subdivide-se em envelhecimento primário e secundário. “O envelhecimento primário refere-se ao processo de senescência normal (...)” (Berger e Poirier, 1995, p.126). A senescência é um processo natural que designa uma degenerescência patológica associada à velhice, mas com origem em disfunções orgânicas. Nesta ocorre uma modificação nas qualidades e sobrevivência fundamentais à vida sendo substituídas por outras. Pode-se afirmar que se trata de um processo de adaptação a uma nova realidade.
2. Importância do Animador Sociocultural
Se a Animação Sociocultural é o instrumento adequado para motivar e exercer a participação dos cidadãos, o Animador é o elemento básico e fundamental na Animação Cultural, uma vez que é ele o impulsionador que cria e desenvolve atividades, de uma forma lúdica e recreativa, contribuindo para o desenvolvimento cultural, social e pessoal dos grupos. No entanto, o Animador, ao proporcionar o desenvolvimento, tem que estar atento, porque ele é também mediador, educador e dinamizador das componentes de relacionamento social e afetivo, e estas são áreas de extrema importância para o ser humano. Cabe ao Animador ser também um agente social, na tentativa de combater os problemas sociais e pessoais e melhorar a qualidade de vida dos próprios indivíduos. O Animador sociocultural, para além de tratar de atividades educativas, no âmbito dos tempos livres ou fora deles, deve formar o seu público-alvo para que viva o seu ócio recreativo de forma mais positiva. “O Animador Sociocultural assume uma importante função de mediador e facilitador das práticas culturais nos tempos livres,
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de forma a contribuir para o desenvolvimento cultural de um colectivo, grupo ou comunidade.” In (APASC) http://www.apdasc.com/pt/ (APDASC 2011/04/15) A Animação Sociocultural contribui para o desenvolvimento cultural da sociedade, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida do grupo. Assim sendo, as atividades que os Animadores exercem abrangem uma grande amplitude de ações. Se, por um lado, desenvolvem atividades que requerem e/ou são facilitadas pelos talentos pessoais do técnico, como cantar ou fazer rir, outras exigem formação no sentido de adquirir conhecimentos específicos relacionados com determinada realidade cultural. Outras mais-valias dos Animadores são as atividades de organização e gestão no domínio das relações sociais, pedagógicas e didáticas de grupo, bem como, a utilização de técnicas culturais, sociais, educativas, desportivas, recreativas e lúdicas.
3. Animação Sociocultural
Segundo Ventosa “O termo Animação, do ponto de vista etimológico, tem origem (greco – latino), reportando para dois sentidos: um traduzindo a expressão «anima» que quer dizer vida, sentido; outro, traduzindo a expressão «animus», ou seja, movimento e dinamismo”. (2002:30) Animação, como deduz o próprio nome, significa vida, dinamismo, movimento, alegria, partilha. O conceito de Animação está associado a diferentes contextos de aprendizagem nas áreas sociais, educativas e culturais, valorizando o saber, saber fazer e o saber ser. Segundo Trilla “(…) será a palavra animação a mais adequada para explicar o que se pretende expressar? Por exemplo, há quem, e com uma certa razão, preferisse falar de «dinamização…»”. (1998:24) A Animação emerge a partir da conjugação de vários fatores: o aumento do tempo livre e a preocupação com o preenchimento criativo do lazer e do ócio; a necessidade de educação e de formação permanente ao longo da vida. Assim sendo, a Animação abrange uma grande diversidade de áreas ao nível educativo, social, e cultural de forma transversal e uma multiplicidade de funções de adaptação/integração, recreativa, educativa, corretora e crítica, sendo essencial a
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fomentação dos aspetos individuais e sociais do ser humano para uma melhor promoção de uma educação social.
4. Animação no Contexto da terceira Idade
Segundo Bugalho, no documento Situação dos idosos em Portugal e Apoios do Ministério do Trabalho e Solidariedade Social, nas últimas décadas deu-se uma mudança na estrutura demográfica na qual é visível um aumento da população idosa em todo o mundo. Nos países desenvolvidos, estas pessoas representam cerca de 20% da população e as tendências futuras apontam para os 25%. Nos países em desenvolvimento e nos menos desenvolvidos o valor supera os 10% e nas próximas décadas irá aproximar-se dos 20%. Atualmente não só se destaca o aumento significativo da população idosa, como também, a alteração dos padrões associados à terceira idade. (em linha, 2005) Vivemos um momento de mudança no que diz respeito às questões do envelhecimento, se há umas décadas, envelhecer era acabar com a vida ativa, neste momento verifica-se que envelhecer pode ser uma etapa para novos projetos. Citando Jacob, “Neste sentido, consideramos que uma boa abordagem à reforma implica uma continuidade da vida, não fazendo uma ruptura brusca com o passado nem perspectivando um grande vazio em relação ao futuro, a continuação ou reavivamento das relações sociais e humanas e a realização de alguma actividade útil” (2007:21) No livro Animação Sociocultural na Terceira idade, Lopes e Pereira afirmam, “Aquilo que se espera de um programa de Animação Sociocultural para a Terceira Idade não é trabalhar para a Terceira Idade, mas sim trabalhar com a Terceira Idade transformando os utentes em protagonistas, levá-los à projecção e à partilha das suas vivencias, das suas memórias, dos seus saberes e das suas inquietações” (2009:10) Os lares/residências seniores do futuro devem favorecer a realização destes projetos, devem abrir as portas a novas aprendizagens e experiencias, devem privilegiar a integração do idoso na vida ativa e no próprio desenvolvimento da comunidade.
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Segundo Caride “(…) a participação representa uma meta ou finalidade que a Animação Sociocultural deve habilitar e impulsionar, como, e fundamentalmente, porque é um processo inerente à sua própria natureza conceptual, metodológica e estratégica.” (2007). É com base nesta premissa que surge este projeto, as propostas apresentadas muitas pensadas pelas próprias estruturas residenciais, tentam responder às novas exigências e necessidades dos seniores, fomentando ainda uma forte interação entre estas pessoas e restante comunidade. A vida, cada vez mais prolongada, tem sido alvo de questões e preocupações, no sentido de que esse prolongamento seja vivido com qualidade e vitalidade. (Silva, 2009) Uma vida com qualidade para os idosos do futuro poderá passar por um estilo de vida saudável, pelo sentimento de viver em segurança e sobretudo pela manutenção da participação social. (Correia, 2009) O envelhecimento é um processo de vida que tem que ser vivido de uma forma positiva, com um sentido de experiência social, educativa e cultural, sempre associado a uma componente lúdica. Para se referir a este ponto de vista, a Organização Mundial de Saúde adotou o termo “Envelhecimento Ativo” – “processo de otimização das oportunidades para a saúde, participação e segurança, para melhorar a qualidade de vida das pessoas que envelhecem” in dgs.pt. O Envelhecimento Ativo tem como objetivo aumentar a expetativa de uma vida saudável, permitindo às pessoas uma maior perceção do seu bem-estar físico, social e mental ao longo da vida, mantendo a sua autonomia e independência. Segundo a decisão nº 940/2011 EU do Parlamento Europeu e do Conselho de 14 de fevereiro.
“Promover o envelhecimento activo significa criar melhores oportunidades para que as mulheres e os homens mais velhos desempenhem o seu papel no mercado de trabalho, combater a pobreza, sobretudo das mulheres, e a exclusão social, encorajar o voluntariado e a participação activa na vida familiar e na sociedade, e incentivar o envelhecimento com dignidade.”
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Envelhecer é um processo natural do ser humano, contudo é essencial que se capacitem as instituições dos recursos humanos e técnicos necessários para que a pretendida melhoria da qualidade de vida seja uma realidade.
Para Jacob e Fernandes (2011), “no sentido de compreender o que é um envelhecimento activo, é fundamental, entender o que é a saúde. A saúde traduz-se numa boa qualidade de vida, isto é, qualquer combinação de actividades de apoio político, educacional, organizacional, jurídico, financeiro, ambiental, e social direccionada para hábitos e condições de vida que visam aumentar a satisfação e o bem-estar dos indivíduos.”
Considerações Finais
Devido às transformações demográficas iniciadas no último século, em que temos uma sociedade mais envelhecida, tem existido uma preocupação na proatividade na 3ª idade. A Animação Sociocultural tem tido um papel importante em complementação com as estruturas residenciais na prevenção e manutenção de um envelhecimento ativo. Verifica-se cada vez mais uma preocupação em garantir aos idosos não só uma longevidade maior, mas também uma boa qualidade de vida (Vecchia et al., 2005). Este conceito pode ser fundamental para dinamizar medidas adequadas a essa população, que permitam alcançar um envelhecimento bem-sucedido. Se for bemsucedido, os idosos atingem uma maior longevidade, o que está intimamente ligado a uma boa qualidade de vida. (Sousa, Galante, & Figueiredo, 2003; Trentini, 2004). Uma vida ativa possibilita e facilita a adaptação à 3ª idade. É importante o autoconhecimento para se perceber os seus anseios, habilidades e dificuldades. Recorrer ao desporto, às artes, à aprendizagem, à tecnologia, à vertente educativa e ao convívio com outras pessoas permite uma visão diferente perante as adversidades ou mesmo isolamento. É importante que as pessoas que estão na 3ª idade optem por um estilo de vida ativo. Neste sentido, é necessário procurar realizar atividades que concedam prazer, divertimento, satisfação e educação.
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Animación Sociocultural y Educación de calle: La ASC como herramienta de empoderamiento colectivo y transformación social Sergio Buedo Martínez*
Resumen: Si echamos un vistazo al panorama internacional de las últimas décadas, así como de las diferentes problemáticas que comienzan a azotar a estas nuevas lógicas y relaciones globales, podría decirse que nos encontramos ante una sociedad cada vez más atomizada, dividida, segregada e individualizada por sus propios intereses. Nacemos, crecemos y morimos en ciudades cada vez más pobladas, pero cada vez más desiguales y “solitarias”, donde el individualismo marca las relaciones socioafectivas. La Animación Sociocultural ha luchado históricamente ante esta situación, en sus inicios democratizando la cultura y actualmente empoderando a las comunidades, comenzando a ser una efectiva herramienta de intervención social para transformar estos acuciantes procesos de inequidad entre una población que debería estar cada vez más unida. Esta investigación trata de dar valor a la técnica trasformadora de acción socioeducativa que ha tomado esta disciplina.
Palabras clave: Animación, empoderamiento, cultura, intervención, transformación.
Resumo: Se olharmos o panorama internacional das últimas décadas, bem como dos diferentes problemas que começam a atrapalhar essas novas lógicas e relações globais, pode-se dizer que estamos enfrentando uma sociedade cada vez mais atomizada, dividida, segregada e individualizada por sua próprios interesses. Nascemos, crescemos e morremos em cidades cada vez mais povoadas, mas cada vez mais desiguais e "solitárias", onde o individualismo marca as relações sócio-afetivas.
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Educador de calle e Investigador del Grupo Interdisciplinar de Estudios en Migraciones, Interculturalidad y Ciudadanía (GIEMIC). sergiobuedo@gmail.com 128
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A animação sociocultural tem lutado historicamente com esta situação, em seus inicios democratizando a cultura e capacitando as comunidades, começando a ser uma ferramenta efetiva de intervenção social para transformar esses processos urgentes de desigualdade entre uma população que deve ser pouco a pouco mais unida. Esta pesquisa procura dar valor à técnica que transforma a ação sócio-educacional que tomou essa disciplina.
Palabras chave: Animação, capacitação, cultura, intervenção, transformação.
Introducción:
Animación
sociocultural,
del
entretenimiento
al
empoderamiento.
Históricamente, la Animación Sociocultural ha sobrevenido como una disciplina de dinamización y animación comunitaria, a través de la cual la población se organizaba tratando de volverse sujetos activos de participación social con el fin último de transformar su propio contexto. Desde sus inicios, ha estado vinculada a un carácter ocioso y de entretenimiento, pero es a través de la interacción con la propia población, y a la adaptación de la propia disciplina a las vicisitudes de las comunidades en la actualidad, cuando la “ASC”, comienza a abandonar su carácter ocioso para centrarse en un carácter participativo y transformador. En octubre de 1979, en el Seminario del Institut National d’Education Populaire (Francia), se define que la “acción sociocultural representa un intento de contribuir a la democratización de los medios de producción y apropiación de la cultura” (UNESCO. 1982:30). La discusión acerca de los inicios de esta forma de intervención socioeducativa ha sido más que tratada y confrontada en diversas investigaciones, al igual que su evolución hacia un carácter reformista, abandonando progresivamente los preceptos unilaterales de entretenimiento de los que partió en sus inicios. Lamentablemente, y dándole valor a la necesidad de esta teorización, en la práctica profesional ha sido condenada y maltratada hacia un aspecto ocioso y pasivo del uso del tiempo libre de las instituciones hacia sus ciudadanos. Más en tono cómo definiría Caride, la expresión Animación Sociocultural adapta y extiende el alcance de sus raíces etimológicas anima (dar aliento, dar vida) y animus
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(vitalidad, dinamismo) a una “serie de procesos en los que se expresa una determinada concepción del trabajo cultural, orientada a promover la iniciativa, la organización, la reflexión crítica y la participación autónoma de las personas en el desarrollo cultural y social que les afecta y en un territorio y una sociedad determinados”. (Caride, 2005:9). La Animación Sociocultural no es simple entretenimiento, es dinamización de interrelaciones sociales, de aprendizajes, de conocimientos, de diferentes formas de sentir y resolver conflictos conjuntamente, de participar en procesos etnopolíticos comunitarios, en comprender, apoyar y ayudar en su comunidad al relacionares entre los iguales creando o fortaleciendo nuevas y viejas redes sociales. Ampliando el colchón social de la ciudadanía y por ende la protección de la misma. Se requiere así una alianza no formal entre estas dinámicas de participación y organización ciudadana, con aquellas disciplinas de intervención social comunitarias (desde el acompañamiento social a la psicosociología). Comenzando a integrar las diferentes metodologías de actuación y dinamización de la Animación Sociocultural, hacia aspectos de intervención directa y sociocomunitaria, buscando empoderar a la propia comunidad. Con este empoderamiento colectivo, se logra inspirar la transformación. esto se hace comunicándonos, relacionándonos e interaccionando, en definitiva, viviendo en sociedad y socializando y “enculturizándonos” con la misma. La Animación es por tanto una estrategia de intervención que trabaja por un determinado modelo de desarrollo comunitario. Este modelo de desarrollo en, desde y para la comunidad tiene como finalidades últimas promover la participación y dinamización social, desde los procesos de responsabilización de los individuos en la gestión y dirección de sus propios recursos. En el ámbito nacional, desde un punto de vista teórico, la ASC tal y como la conocemos hoy día surge de los movimientos de finales del siglo XIX y principios del XX, a través de las misiones pedagógicas de la Educación Popular. Movimiento por el cual se pretendía trasladar y democratizar la educación y cultura a las clases populares. La Animación Cultural surge como un movimiento en lucha contra segregación que comenzaba a darse por la falta de oportunidades de una población sin acceso a la cultura. Progresivamente ha ido adaptándose al progreso de la Globalización actual tratando de devolver el acceso a oportunidades y la toma libre de decisiones a las comunidades cada vez más desiguales.
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La praxis del desarrollo socio-comunitario. ASC como metodología de intervención social.
Son numerosos los autores (Anger-Egg, Caride, Trilla, Úcar, …) que justifican la implementación de la Animación Sociocultural como herramienta del desarrollo comunitario, no sólo por los procesos de participación y cohesión social que este tipo de acciones desempeñan en los territorios donde se aplican estas estrategias de intervención, sino también por la carga política (Desde el punto de vista pedagógico) que la creación de estas interrelaciones, con fines fundamentalmente culturales, genera en el imaginario colectivo y por tanto en el sentir y vivir de las personas integrantes de las comunidades en transformación. La comunidad empoderada aprende y ejerce la Educación social, hecho que desde la educación de calle se interpreta como “enseñar al público determinado a usar el sistema de promoción disponible y estar dispuesto a ayudar para que los recursos disponibles puedan proporcionar al público los servicios y herramientas más apropiados”. (Red Internacional TS, 2008) Con estos procesos la población toma conciencia de: -
La cultura e historia de la comunidad y el perfil genérico de la población residente en la misma.
-
La situación sociopolítica del territorio donde se encuentre la comunidad y el papel de la misma en la propia localidad.
-
El poder asociativo y la capacidad de resolución de problemas que tienen las personas a pesar de la sensación de individualismo y soledad que los valores “globales” conllevan.
-
Los diferentes problemas individuales y personales una vez establecida la vinculación emocional entre las personas participantes.
-
El poder de transformación, cambio y reivindicación social que posee la comunidad.
La ASC es por tanto una herramienta de cambio social integral, una estrategia adecuada para motivar y dinamizar la sociedad civil. Al estar compuesta por “acciones sistemáticas capaces de promover actividades y la creatividad social, la generación de 131
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espacios de encuentro y relación, y el desarrollo de la comprensión crítica de las diferentes formas de dominación cultural (Ander-Egg, 1989: 22. En Caride, 2005:10) Para que esta imagen de la Animación Sociocultural pueda impregnar las realidades sociales más cotidianas, “es preciso insistir en que ha de ser considerada una práctica sociocultural y educativa relacional, necesariamente contextualizada en un territorio y en una comunidad local, mediante la cual se promueve el desarrollo integral de los individuos y los grupos sociales. Por eso, su acción-intervención socioeducativa” (Caride, 2005) En el Desarrollo Sociocomunitario, la animación sociocultural se alza como herramienta metodológica que nos permite a los profesionales que pretendan interactuar con determinadas comunidades:
a) Conocer la realidad cultural de una comunidad. b) Conocer y comprender los procesos relacionales y participativos que tienen las personas de un territorio determinado. El grado de tejido y colchón social existente. c) Asimilar y vislumbrar las actividades de ocio y tiempo libre que dispone una comunidad particular y los diferentes sectores generacionales y sociales pertenecientes a la misma. d) Selección de las personas o el grupo de personas con las que comenzar el primer acercamiento y vinculación. e) Mediar e interactuar con toda persona vinculada los anteriores, para erradicar la subjetividad de la que partimos al inicio de la investigación (en búsqueda de la intersubjetividad). f) Elegir Rol en cada situación con el fin de integrarse en la comunidad o población. Continuando con el aprendizaje aprehensivo del conocimiento situado. Este computo de conocimientos, nos ayuda como profesionales de intervención social a dibujar un esquema integral de la comunidad que pretende empoderarse. Tomando parte del rol de la comunidad, de cada persona en la misma y de nuestro rol 132
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como profesionales en ella: “Como ser humano debo ser alguien…debo entender que la condición de “ser alguien” opera en un espacio abierto y relativamente indeterminado de relaciones prácticas: un espacio complejo. Sólo de este modo puedo llegar a interpretar qué significa “ser”, y para qué, en cada sociedad concreta.” (Díaz de Rada, 2010).
La Animación Sociocultural como herramienta para evitar prácticas culturo y etnocéntricas: Frente al individualismo, vinculación comunitaria.
Uno de los principales hándicaps a la hora de cambiar estos procesos ha sido la vinculación de la intervención social propiamente dicha, con acciones que partieran de una base dinamizadora y no visiblemente terapéutica (a priori). La acción social, en sus marcados inicios por disciplinas “clínicas”, comenzaba a “salir de sus despachos” e intentar solucionar los problemas de las personas y los contextos con y junto a ellos, en donde el conocimiento y fomento de las diferentes dinámicas sociales establecidas en una comunidad pueden ayudar a transformar la vida de las personas y de los contextos donde trabajemos. Esta reconceptualización y adaptación de la Animación, se produce en una comunidad delimitada territorialmente, que tiene por objeto “convertir a sus miembros, individual y socialmente considerados, en sujetos activos de su propia transformación y la de su entorno con el fin de conseguir una mejora sustantiva en su calidad de vida” (Úcar, 1995, p. 33). Volviendo a los sujetos antes pasivos ante sus propias necesidades y oportunidades a sujetos de su propio cambio. “Que convierten al público-espectador (objeto de la atención y de la acción cultural) en protagonistaactor (sujeto de la acción y de la creación cultural), afianzando su condición ciudadana”. (Caride, 2005:9). Durante los primeros pasos que encomiende cualquier profesional que trabaje desde la Animación, se ha de establecer una comunicación con la población intentando lograr una reciprocidad donde la comunidad sienta imprescindible a esta nueva figura, y gracias a esa “confianza y vinculación” que se establece, poder ofrecer una intervención lo más eficaz junto a la comunidad, tras obtener los “anclajes morales” 133
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existentes en la misma. Anclajes morales basados en los pequeños detalles prácticos de la coparticipación y la reciprocidad ordinaria, y no en esos grandes principios universalistas y comúnmente equivocados llamados “valores” (Díaz de Rada, 2010). Valores a través de los cuales transformaremos la comunidad volviéndola participe y poniendo en valía su propio cambio. Este proceso implica “fomentar en los individuos y en la comunidad una actitud abierta y decidida para involucrarse en las dinámicas y los procesos sociales y culturales que les afecten, y también para responsabilizarse en la medida en que les corresponda” (Trilla, J. 1997: 23). El objetivo principal del fortalecimiento de este tejido sociocultural entre las personas de un mismo territorio es que estas logren comprender los procesos en los que se ven inmersos como colectividad y tratar de transformarlos hacia el bien común. Esta
transformación
es
conocida
como
Comunnity
Empowerment:
“el
empoderamiento comunitario se refiere a la gente y al gobierno trabajando juntos para conseguir una vida mejor y supone que las personas se involucran y asumen responsabilidades en la toma de decisiones políticas respecto a las situaciones y problemáticas de sus comunidades”. (Úcar, X. 2008: 17). Para finalizar, se podría decir que el proceso que ha vivido la animación sociocultural, ha buscado revitalizar la convivencia y coparticipación de una comunidad específica, desde una postura inclusiva, colaborativa y “comunitarista”, luchando contra la inequidad social y las nuevas formas de desigualdad e individualismo, “por medio de la participación activa de la ciudadanía en su proceso de empoderamiento, para que luchen por sus propios derechos y legitimen los nuevos factores de protección social”. (Aguilar y Buedo, 2016: 131).
Conclusiones personales
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Con la globalización se han transformado las formas de relacionarse entre las personas, al igual que la manera de ocupar el tiempo libre, que esta sociedad “líquida” y cambiante” cercena en nuestro aprovechamiento y uso del espacio socio-personal entre la continua tarea de producir y consumir lo producido. Ante este panorama nos encontramos con una sociedad cada vez más urbanita y masificada, pero con unos umbrales de inequidad y desigualdad cada vez más acuciantes. Entre estos problemas destacan la atomización y el individualismo. A nivel comunitario se vislumbra como a través de este individualismo, en lo relativo a actividades de ocio y tiempo libre ofertadas en los territorios por las instituciones, la acción socio-comunitaria suele ser prácticamente inexistente. En este anterior sentido, las poblaciones desde sus propias vivencias aprecian un camino unilateral que, en última instancia, simboliza el síndrome amotivacional que la mayoría de personas parecen desarrollar por ese vacío vital en su propio autodesarrollo. Marcando dos colectivos especialmente perjudicados por esta falta de animación y dinamización cultural: la población infanto-juvenil y la tercera edad, condicionando el crecimiento y la socialización primaria, y el envejecimiento activo y favorable de nuestros mayores. Esta población queda así “Dar vida y movimiento”, objetivo por el cual se gestó la Animación en sus comienzos, no es transformar explícitamente una comunidad ni la situación de la misma. Desde una postura laboral, a través de la diversificación laboral y la contratación fraccionaria, se han creado diferentes disciplinas y trabajos temporales, que lejos de poseer las competencias, actitudes, y aptitudes necesarias para dar el sentido profesional y transformador a esta “animación”, se ha relegado a esta disciplina en numerosas ocasiones a un espectáculo de cuidados, ocio y actividades “pasatiempo” al aire libre. Gracias al surgimiento y evolución de las disciplinas de intervención social, apoyadas teóricamente por la pedagogía social, la sociología, la psicología o la antropología. La intervención social comenzaba a acercarse a los “sujetos” de intervención por medio de metodologías cada vez más holísticas, abiertas y participativas. La introducción en estos contextos ha sido para todo agente socioeducativo de campo una de las tareas más arduas y a la vez primordiales a la hora de intervenir en y junto a una comunidad específica.
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En el trabajo de intervención socioeducativa a pie de calle, el profesional vive en primera persona la dificultad y las vicisitudes por las que pasa un agente exógeno que “trata de ayudar a la comunidad” desde el momento en el que entra en esta sin que ninguno de sus habitantes “se lo haya pedido”. ¿Cómo introducirnos entonces en un contexto en el que ya la propia intromisión supone una “invasión” hacia la intimidad de las comunidades y su soberanía sociocultural? Mediante la Animación Sociocultural. A la hora de acceder a una comunidad desconocida, si nuestro objetivo es de alguna manera intervenir en ella, primeramente, hemos de incluirnos y ser incluidos, en y por la comunidad. En este proceso de establecer una relación favorable entre las personas autóctonas, y la figura del profesional exógeno e “invasor”, se integran una serie de elementos de sinergia entre la cultura y la propia socialización. En este sentido, el profesional ha de tener todos los recursos y herramientas a su disposición a fin de ser aceptado y establecer relaciones de confianza con la comunidad. En este proceso de vinculación emocional y cultural que viven ambas partes, animador y población, el profesional de campo ha de conseguir esa aceptación e invitación de la comunidad hacia su transformación, evitando en cualquier caso la subjetivación, el etnocentrismo, el culturocentrismo o el paternalismo en nuestras acciones. Para ello, la Animación Sociocultural se visualiza, y sobre todo en la práctica, como una eficaz herramienta metodológica de dinamización, que bien utilizada, nos abrirá las puertas hacia estas comunidades. Como animadores hemos de buscar y encontrar muestras de la infinidad de actividades y tradiciones socioculturales que cada comunidad posee de forma particular, y que como agentes de cambio socioeducativo podemos observar, analizar, comprender e imitar para poder enculturizarnos desde una intersubjetividad que nos permita entrar de la forma más natural y eficiente en estos contextos. Por último, cabe destacar que la Animación Sociocultural ejercida con eficacia, genera en las comunidades la preocupación por sus iguales, comprensión de su contexto, e incrementa la influencia de las administraciones en sus quehaceres diarios y su posible defensa y lucha ante las posibles adversidades que les acontezcan tanto individual, como colectivamente; pues la animación sociocultural aporta participación y cohesión ante una sociedad global que socialmente puede situarnos cada vez más
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cerca, pero que relacional y emocionalmente cada vez más separa y segrega más los unos de los otros.
Referencias bibliográficas
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UNESCO (1982). The training of cultural “animators”. Documentary Dossier 18-19. Cultural Development: UNESCO.
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“A ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL NA TERCEIRA IDADE PROJETO DE INTERVENÇÃO NO CENTRO DE DIA DA CASA DO POVO DE FONTELAS” Ana Teresa Meneses da Silva Alves*
“A terceira idade procura na actividade de animação poder sentir-se útil, dar um novo sentido à sua vida. Digamo-lo em quatro palavras, o que o idoso necessita é de: - participar; - mover-se; -actuar; -sentir-se vivo. Sobretudo o sentido último, por razões mais que evidentes para quem observa no horizonte o ocaso da sua vida.”
Cubero (cit. por Lopes, 2008:335)
RESUMO
O presente artigo apresenta excertos da minha Dissertação de mestrado orientada pelo Prof. Dr. Marcelino de Sousa Lopes, concluída em 2015. O trabalho de investigação foi desenvolvido no âmbito do 2.º Ciclo de Estudos, em Ciências de Educação – Área de Especialização em Animação Sociocultural, da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. Ambicionou-se estudar os procedimentos e as técnicas que o Animador Sociocultural e o Gerontólogo podem e devem adotar num Centro de Dia. Para tal, através da aplicação de inquéritos por entrevista aos Utentes do contexto indicado, e a Profissionais da área, pretendeu-se identificar que tipo de atividades se podem desenvolver, para além de se conhecer as Histórias de Vida do público-alvo, de forma a realizar um Projeto de Intervenção, que fosse de encontro às necessidades e gostos dos Utentes.
*
Técnica Superior de Educação Social e Técnica de Animação Sociocultural. Licenciada em Educação
Social pela Escola Superior de Educação de Viseu. Mestre em Ciências da Educação – Especialização em Animação Sociocultural, pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.
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INTRODUÇÃO
A investigação apresentou como referencial metodológico o Estudo de Caso e a Investigação-Ação, tendo como objeto de estudo uma Instituição Particular de Solidariedade Social. Os Centros de Dia são estruturas dirigidas à Terceira Idade, e que devem fomentar um conjunto de atividades e de ações de cariz cultural, recreativo, social, educativo (Lopes, 2008). A questão de partida é uma fase muito importante, na medida em que determina o caminho de estratégia de exploração, ou seja, serve de fio de condutor para o desenrolar de um processo de investigação. Partiu-se assim da seguinte questão: que procedimentos e técnicas o Animador Sociocultural e o Gerontólogo podem e devem adotar num Centro de Dia? Os destinatários e beneficiários do Projeto foram os Utentes do Centro de Dia do contexto já mencionado. Tendo como ponto de reflexão o tema desta investigação e a pergunta de partida, identificou-se: a) Reconhecer as vantagens e os benefícios que a Animação Sociocultural traz para a Terceira Idade; b) Identificar que atividades de Animação Sociocultural se realizam num Centro de Dia; c) Entender o que pensam os Utentes da Animação Sociocultural; d) Saber as perspetivas de profissionais ligados à área sobre a Animação Sociocultural na Terceira Idade.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
1. Envelhecimento Populacional da Atualidade
São vários os autores que vão de encontro à mesma visão no que concerne ao aumento demográfico das pessoas idosas. Eis algumas considerações: 139
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Requejo (2005)
Jacob (2007)
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Um dos aspetos sociais mais evidentes dos últimos tempos é o envelhecimento da população, visíveis na queda da fecundidade, e no aumento da esperança de vida. Em 1960 a população portuguesa com menos de quinze anos representava 28,8 por cento da população total e as pessoas idosas caracterizavam 8,1 por cento dessa população. No ano de 2004, o panorama alterou-se e as pessoas mais velhas representavam 15,2 por cento da população e os jovens calculavam 16,8 por cento. De acordo com as previsões, em 2020 a percentagem de pessoas idosas será de 20,6 e a de jovens 12,6 por cento.
Daley et al. (cit. por A população cresce aceleradamente, nomeadamente nos Oliveira & Vieira, países desenvolvidos. Por volta de 1940 a expetativa de vida 2009) para homens e mulheres é de 75 e 83 anos, respetivamente. Junior (2009)
Menciona que foi no século XX que o facto se sucedeu, bem como da longevidade média.
Quem nasceu no país de 1960 vivia em média 60,7 anos se fosse homem e 66,4 anos se fosse mulher, mas para quem Paúl e Ribeiro (2011) nasce atualmente a realidade é bem diferente, sendo que a esperança média de vida à nascença é de 75,4 anos para os homens e 82 anos para as mulheres. Grelha 1 – Aumento demográfico das pessoas idosas
2. O que é a Animação Sociocultural?
Constata-se que é uma tarefa complexa indicar somente uma definição de Animação Sociocultural, já que Ander-Egg (2000: 90) expõe:
como explicar por escrito algo que por definição é acção, movimento, actividade, impulso, vida? Como expressar numa definição o que é comum, nessa variedade caleidoscópica de actividades que se denominam de animação sociocultural?
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Requejo (2008) refere que a Animação Sociocultural supõe uma função social na comunidade e permite também a transformação da realidade nos diversos grupos sociais. Com as pessoas idosas assume características que podem centrar-se em três dimensões: - A dimensão intelectual, que deve favorecer a prática do exercício mental para a aquisição de novos conhecimentos, o exercício das atividades cognitivas, a criatividade, a autonomia pessoal, crenças e pensamento; - A dimensão biológica, que deve assumir a manutenção da saúde física nos seus diferentes âmbitos, já que favorece a ausência de muitas limitações; - O nível psicológico, a intervenção com os séniores permite níveis maiores de autoconceito, autoestima, bem-estar, maior estabilidade emocional e diminuição da ansiedade. A Animação Sociocultural tem como principal objetivo motivar as pessoas a serem protagonistas do seu próprio desenvolvimento. Devem criar-se dinâmicas de participação, conforme Lopes (2008: 77) identifica:
a Animação Sociocultural é algo que deve ser encarado como um processo complexo e não, propriamente, como objecto singularmente determinável. Dada a sua natureza social, é a relação entre pessoas que interactuam, partilhando conhecimentos, experiências, vivências, sentimentos, que gera o conhecimento que serve de suporte ao nosso estudo.
3. Animação Sociocultural em Centros de Dia
Perante o envelhecimento progressivo da população em Portugal e a impossibilidade de algumas famílias apoiarem os seus entes mais idosos, a sociedade civil e o Estado criaram condições para acolher um número crescente de seniores. Daí, terem surgido no âmbito social os Centros de Dia. Salselas (2007) apresenta que à diversidade das necessidades definidas como características da Terceira Idade, existem equipamentos sociais e sanitários. Entre eles, surgem os Centros de Dia, que são o referencial para a criação de uma nova imagem da velhice, uma vez que este é um dos equipamentos que traz visibilidade ao grupo
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etário decorrente. Constitui um espaço de convivialidade e participação, que corporiza a conceção ativista e participante. Já na opinião de Cid e Dapía (2007), um Centro de Dia caracteriza-se por uma permanência diurna, direcionado para pessoas que tenham algum tipo de dependência (física ou psicológica). Inclui o fornecimento de cuidados de saúde, psicossociais, fisioterapêuticos, alimentação e transporte adaptado. No que concerne à realização de atividades socioculturais e recreativas, embora não seja uma função prioritária, esta oferta inclui-se, devido ao tempo livre que as pessoas dispõem, sendo assim uma função a satisfazer.
4. Similitude entre a Animação Sociocultural e Gerontologia
De acordo com Barroso (2013), a Animação Sociocultural e a Gerontologia recorrem aos mesmos métodos e técnicas, de forma a atingir os mesmos propósitos, como a história da pessoa idosa, a Animação através da comunicação, como também associada ao desenvolvimento pessoal e social, ou a cognitiva, a comunitária, a lúdica, de integração, entre outros. A Gerontologia aproveita as capacidades e os conhecimentos da pessoa idosa, para torná-la instruída, ativa e produtiva, de forma a desempenhar papéis importantes na sociedade. Lopes (2013) diz que se encontra similaridade entre a Animação Sociocultural e a Gerontologia, já que se fundamentam nas dimensões social, cultural e educativa, pois o percurso de um geronte passa por uma aprendizagem que se estabelece nas dimensões mencionadas. Para finalizar, acrescenta-se que tal como a Animação Sociocultural, a Gerontologia também procura uma intervenção com vista à participação, à consciencialização, à autonomia, ao autodesenvolvimento, ao sentido crítico e à aspiração de um bem-estar comum (ibidem).
METODOLOGIA
No campo metodológico abordou-se a Investigação-Ação que descreve processos de investigação de que deveriam originar avanços teóricos e mudanças sociais. É 142
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imprescindível referir que a Investigação-Ação e/ou a Animação Sociocultural reforçam a contribuição da educação e da cultura para o desenvolvimento do indivíduo, bem como, o bem-estar das pessoas e a sua qualidade de vida (Caride, 2011). “A animação sociocultural pode e deve ser entendida como um processo de investigação-acção; esta pode e deve ser sempre um modo de projectar socioculturalmente a animação.” (Caride, 2011: 121). Também foquei o conceito de Histórias de Vida, que de acordo com Denzin (cit. por Pernas, 2011), é uma biografia interpretada, visto que o investigador é quem escreve e descreve a vida de outra(s) pessoa(s). Efetuou-se a técnica mais usada na obtenção de uma História de Vida por considerar que a entrevista facilitasse um maior nível de controlo, abordando questões com uma sequência lógica. A forma de registo que se usou foi a gravação, pois pensouse que seria uma forma mais fiel de gravar os nossos entrevistados, facilitando também a transcrição das entrevistas. Resumindo, realizaram-se duas entrevistas, sendo que uma foi aplicada a um universo de quatro Profissionais da área do envelhecimento: a Doutora Lourdes Bermejo, a Mestre Lia Araújo, o Mestre Ruben Amorim e a Diretora Técnica da Instituição Tânia Cardoso. A outra entrevista aplicou-se a doze Utentes do Centro de Dia Casa do Povo de Fontelas, tendo sido dada a liberdade para dar a conhecer a sua História de Vida. Para além do apresentado, também se recorreu à análise documental e à observação participante.
RESULTADOS DOS INSTRUMENTOS DE RECOLHA DE DADOS
O instrumento de recolha de dados aplicado aos Utentes dividiu-se em seis partes: os dados biográficos da pessoa antes de iniciar as questões, que enquadraram o passado relativo à infância e juventude; a fase adulta; a terceira idade; a atualidade no Centro de Dia; os sonhos, interesses e necessidades e a Animação Sociocultural. A entrevista implementada aos quatro Técnicos focou o papel da Animação Sociocultural na Terceira Idade, os aspetos que favorecem a Terceira Idade a partir de 143
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programas de Animação Sociocultural, as perspetivas de como as instituições de Terceira Idade vêem a Animação Sociocultural, as atividades que promovem maior adesão pela Terceira Idade, as perspetivas da participação de pessoas idosas num Centro de Dia, as suas opiniões quanto à intervenção junto deste público-alvo no meio rural e urbano, as características das pessoas idosas para a participação e envolvimento, os saberes e tradições na Terceira Idade, e a Educação Gerontológica e a Educação Intergeracional. De forma geral, identificou-se como atividades socioculturais com mais-valia para os Utentes do contexto de estudo, o jogo do Boccia e os trabalhos manuais. Neste ponto de vista, também é relevante acrescentar-se que a aprendizagem da leitura e escrita evidencia um grande sonho, bem como a dinamização de diferentes atividades até então não realizadas. Apurou-se que a infância foi simples e, nalguns casos, vivida com miséria. Os Utentes começaram a trabalhar demasiado cedo e as suas funções destacavam-se na agricultura e costura, tendo os seus pais lhes transmitido esses saberes. Realçou-se também que a estadia no Centro de Dia sofreu, em alguns entrevistados, algumas alterações na medida em que afirmaram que as suas rotinas iniciais baseavam-se em ver televisão, descansar e fazer as refeições. Como resposta à questão de partida, refletiu-se que os procedimentos e as técnicas deverão ter em conta as características do público-alvo, ressalvando então sobre os seus interesses, desejos, vivências, conhecimentos, sonhos, necessidades, … E, a partir daí, adotar métodos de trabalho que visem a estimulação e a dignificação de cada pessoa. Acima de tudo, elaborar um conjunto de atividades socioculturais que visem corresponder ao público-alvo, e não implementar aquelas que os Profissionais considerem que são ideais.
CONCLUSÃO
Este Estudo de Caso avaliou as várias respostas obtidas nas entrevistas e subdividiu-as por tópicos. Ao longo do Enquadramento Teórico também se mencionou alguns excertos quer dos Técnicos, quer dos Utentes.
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Após essa avaliação, apresentou-se um Projeto de Intervenção designado “Geração Ativa a 100%” com variadas atividades socioculturais que poderiam ser dinamizadas no Centro de Dia, de acordo com as datas comemorativas mensais. É urgente implementar nas Instituições de Terceira Idade, neste caso, nos Centros de Dia, projetos de intervenção em Animação Sociocultural que intervenham nos âmbitos cultural, social e educativo. Neste sentido, identifica-se a Animação Sociocultural como uma das metodologias mais adequadas como meio de transformação social, com vista a proporcionar a integração das pessoas idosas e uma participação mais ativa.
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O Papel da Animação Sociocultural na Reabilitação Psicossocial em Saúde Mental* Pontos comuns à Animação Sociocultural e Reabilitação Psicossocial em Saúde Mental
Cláudia Dias
Resumo Este artigo científico pretende dar a conhecer e reconhecer ao leitor, a importância do profissional qualificado em Animação Sociocultural no contexto de Reabilitação Psicossocial em Saúde Mental. No decorrer do artigo demonstrarei aspetos semelhantes e complementares entre a Animação Sociocultural e a Reabilitação Psicossocial em Saúde Mental mediante as perspetivas de Lopes (2006) e Deus (2016). Refletirei também acerca dos efeitos que a motivação intrínseca e extrínseca proporciona no processo de reabilitação e serão apresentadas, igualmente, propostas de intervenção que o animador está habilitado a realizar junto de adultos com patologias psiquiátricas. Desta forma, este artigo defende a Animação Sociocultural como ato terapêutico e potenciador de participação ativa, trabalhando para a constante melhoria da qualidade de vida das pessoas, procurando respostas variadas consoante as necessidades.
Palavras-chave: Animação Sociocultural, Reabilitação Psicossocial, Motivação, Qualidade de vida, Participação Ativa
Abstract This scientific article serves to show the reader, the importance of the qualified professional in Socio cultural community development in the context of Psychological Rehabilitation of Mental Health. In this article I will demonstrate complementary and similar aspects between Socio cultural community development and Psychosocial Rehabilitation in
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Trabalho realizado no âmbito da Pós-Graduação em Reabilitação Psicológica e Psicossocial em Saúde Mental - 3ª Edição (Lisboa), na área de Animação Sociocultural.
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Mental Health according to the perspectives of Lopes (2006) and Deus (2016). I will also reflect on the effects that intrinsic and extrinsic motivations, can provide in the rehabilitation process and there will be presented, equally, intervention proposals that the animator is habilitated to perform with adults with psychiatric pathologies. This way, the article defends the Socio cultural community development as a therapeutic act and enhancer of active participation, working towards the constant improvement of the quality of life of people, searching for different answers according to the their needs.
Keywords: Socio cultural community development, Psychosocial Rehabilitation, motivation, quality of life, active participation
Introdução Este artigo científico pretende refletir acerca do papel da Animação Sociocultural (ASC) na Reabilitação Psicossocial em Saúde Mental (RPS). A animação sociocultural tem, segundo Martins (2016), “ (…) um papel importante ao gerar interações geracionais, com uma atenção especial às interações na promoção da convivência institucional e comunitária, no diálogo, na cidadania ativa e participada (…)“ Numa primeira fase será feita uma contextualização histórica e concetual dando enfase às fases mais relevantes para a conceção atual tanto da ASC como da RPS. Numa segunda fase será feita uma reflexão acerca da importância da motivação intrínseca e extrínseca bem como estratégias sugeridas para ajudar os indivíduos a trabalharem na sua Reabilitação. Em último lugar serão dadas pistas de intervenções possíveis, adotadas por animadores socioculturais em contexto de reabilitação psicossocial onde se pretende segundo Anthony (1979), “assegurar que a pessoa com doença mental possa desenvolver as capacidades emocionais, sociais e intelectuais necessárias a viver, aprender e a trabalhar na comunidade, com o mínimo de suporte necessário por parte dos técnicos de saúde mental”.
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Contextualização histórica e concetual da Animação Sociocultural
Já em 1977, a UNESCO definiu a Animação Sociocultural como “um conjunto de práticas sociais que têm como finalidade estimular a iniciativa, bem como a participação das comunidades no processo do seu próprio desenvolvimento e na dinâmica global da vida sociopolítica em que (os indivíduos) estão integrados”. No entanto, não é possível atribuir uma data à origem da ASC em Portugal. Existem registos, lembra-nos Lopes (2006), que demonstram que houvera grupos de pessoas que tentaram, durante o Estado Novo (1926 - 1974) emancipar-se e fazer-se ouvir. Todavia, só a partir de 1974 se pôde assistir a uma fase revolucionária da ASC, levando a cabo sucessivas campanhas de dinamização cultural e preservação territorial. Assim, segundo Lopes (2006), ainda não assumidos desta forma, animadores socioculturais juntaram-se e tentaram criar dinâmicas junto das populações no sentido de estas gerarem processos organizativos e de autodesenvolvimento. A partir desta altura, alavancado pela Revolução dos Cravos, a par de tantas mudanças de pensamento e consequente ação, o cidadão é “chamado” a participar e a tornar-se protagonista da sua vida e da sua cidade. A Animação Sociocultural por ser uma “profissão que surge da necessidade” tinha como requisito único para o seu exercício, a experiência como animador. No entanto a partir dos anos 80 começam a formar-se animadores ao nível secundário com base teórico-prática e a partir dos anos 90, técnicos superiores em Animação Sociocultural. A partir de 1996, surge uma fase, que se mantem até hoje, caracterizada segundo Lopes (2006), por “Globalização” que conduz a Animação Sociocultural a intervir recorrendo a tecnologias e nas mais diversas áreas, “num quadro que integre e eleve o ser humano a participar nos desafios que se lhe deparam, tornando-o protagonista e promotor da sua própria autonomia”. Em 2005, é criada a Associação Portuguesa para o Desenvolvimento da Animação Sociocultural (APDASC) com múltiplos objetivos, em que entre eles se espera dignificar a profissão. Assim, produz-se o Estatuto dos Animadores Socioculturais, defendendo que: 149
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A Animação Sociocultural é o conjunto de práticas desenvolvidas a partir do conhecimento de uma determinada realidade, que visa estimular os indivíduos, para a sua participação com vista a tornarem-se agentes do seu próprio processo de desenvolvimento e das comunidades em que se inserem. A Animação Sociocultural é um instrumento decisivo para um desenvolvimento multidisciplinar integrado dos indivíduos e dos grupos. O animador sociocultural é aquele que, sendo possuidor de uma formação adequada, é capaz de elaborar e executar um plano de intervenção, numa comunidade, instituição ou organismo, utilizando técnicas culturais, sociais, educativas, desportivas, recreativas e lúdicas.
Partindo desta premissa e de forma a reforçar o exposto, o animador portador da formação e experiência adequada, tem competências para desempenhar funções em áreas sociais (lares de idosos, centros de dia, gabinetes de apoio à vítima, gabinetes de apoio a dependências, bairros comunitários,…), educativas (escolas, atividades de tempos livres (ATL), centro de apoio à família (CAF),…) e culturais (museus, centros associativos, bibliotecas,…). Indo ao encontro da temática abordada neste artigo, Lopes (2006) lembra-nos alguns benefícios de ter animadores socioculturais em equipas multidisciplinares em variadas áreas: “saúde: a partir da ação terapêutica da Animação Sociocultural, é possível reduzir nos custos com fármacos e antidepressivos, através do bem estar, felicidade, harmonia, criatividade e auto estima conferidos pela ação da Animação; Educação: através da articulação dos espaços educativos formais, não formais e informais e, ainda, pela partilha e cruzamento de saberes (…)”.
Contextualização histórica e concetual da Reabilitação Psicossocial em Saúde Mental
As doenças mentais passaram por diversas “verdades” consoante a época, o território e o povo. Ora veja-se que, na Grécia antiga encarceravam nas suas casas e em prisões os “loucos”; passando pela Idade média em que se acreditava que as pessoas estavam embruxadas, ou possuídas pelo demónio. Já no séc. VIII, os árabes criaram os primeiros hospitais dando assim um passo para a humanização. Já no séc. XX começam a trabalhar com os indivíduos a reabilitação e não só o assistencialismo total. 150
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A partir dos anos 50, os doentes eram sujeitos a tratamentos muito dolorosos e por vezes incapacitantes, neste sentido, os indivíduos ficavam muito prostrados e com outros problemas de saúde associados (sonolência, aumento de peso, perda cognitiva, problemas cardíacos), consequência de medicamentos antipsicóticos típicos. Devidos aos severos efeitos secundários, várias vezes os doentes faziam abstinência de medicação o que gerava agravamento da sintomalogia. A partir dos anos 60 começa-se a trabalhar na desinstitucionalização da pessoa com doença mental de forma acompanhada e com suporte na comunidade, e assim surge o acompanhamento da Saúde Mental Comunitária. Deus (2016), dá-nos o exemplo dos EUA, onde se criam clubes em diversas cidades com o objetivo de apoiar pessoas com problemas de saúde mental e em que trabalham o desenvolvimento de estratégias de coping com o meio; promoção da saúde e não a eliminação de sintomas; crença na capacidade produtiva destas pessoas; orientação na realidade e não em fatores intrapsíquicos. Com o aparecimento nos anos 90 dos antipsicóticos atípicos, houve melhorias significativas na qualidade de vida dos indivíduos por terem menores efeitos secundários. Isto permitiu que os indivíduos passassem a ter uma vida mais normalizada e funcional. Hoje, como salienta Deus (2016), o tratamento pretende-se multidisciplinar ao nível farmacológico, seguimento de caso, treino de competências, iniciativas de suporte no meio, variando a sua necessidade conforme a patologia sofrida. Com a inovação farmacológica, surge a possibilidade de trabalhar a reabilitação psicossocial (RPS), que segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) é um “processo abrangente, e não simplesmente uma técnica. As estratégias de reabilitação psicossocial variam segundo as necessidades do utente, o contexto no qual é promovida a reabilitação (hospital ou comunidade) e as condições culturais e socioeconómicas do país onde é levada a cabo”. Em Portugal fazem-se progressos em direção à Reabilitação Psicossocial em Saúde Mental e, nos anos 90 surgem os primeiros programas de apoio ao emprego financiado pela Comissão Europeia. Em 1998 foram criados serviços sócio ocupacionais e residenciais para atuar no âmbito da desinstitucionalização – fóruns ocupacionais, áreas dia e unidades de vida autónoma (Cotovio, 2016).
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Em reabilitação é primordial, como nos lembra Fonseca (2016), aferir expetativas conjuntas (doente, equipa técnica e família) não as tornando demasiado elevadas – frustrando o indivíduo, mas também não subestimando as suas capacidades. Os níveis de sucesso em RPS não são iguais para todos, nem todas as pessoas poderão depois de um processo de reabilitação ter uma casa, emprego e criar família, no entanto, pretende proporcionar-se ao indivíduo a maior qualidade de vida tendo em conta a sua condição atual tornando-o o mais autónomo possível. Veja-se dois exemplos díspares: um doente que tem a sua casa com refeições e tarefas organizadas, devido à disponibilidade financeira, tudo é assegurado por terceiros. No entanto, o indivíduo está totalmente isolado sem sequer conseguir deslocar-se até ao café ao lado de casa. Será isto reabilitação psicossocial? E outro que vive numa Unidade de Vida Protegida (UPRO), com acompanhamento profissional noturno, e em contrapartida faz todas as tarefas domésticas, compras semanais e tem uma vida social saudável. Isto não é reabilitação psicossocial? Por RPS entenda-se, desenvolvimento de competências, desenvolvimento de recursos no meio, diminuição das desvantagens a que está sujeito. Assim, será recomendado recorrer a estratégias começando pela adesão à terapêutica, sem a qual o trabalho não é possível, pois a medicação irá ajudar na redução de sintomas e consequente diminuição de defeitos cognitivos e melhoria do desempenho social e vocacional (Deus, 2016). Todas as intervenções deverão ser sujeitas a avaliações formais de forma a reunir os melhores resultados e neste sentido, deve construir-se um Plano Individual de Intervenção (PII), que será explorado mais à frente. Compreende-se hoje que a doença mental é um problema do foro psiquiátrico, que pode atingir qualquer pessoa independentemente do seu meio social, económico e familiar, causando incapacidades mais ou menos significativas na vida do indivíduo e dos seus familiares. É importante estimular a pessoa para a recuperação, aceitando as suas limitações e potencialidades.
Pontos comuns à Animação Sociocultural e Reabilitação Psicossocial em Saúde Mental
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Motivação
Uma das grandes dificuldades com que um técnico se depara quando vai iniciar trabalho com uma pessoa com problemas de saúde mental é a motivação. Segundo Cotovio (2016), motivação é “aquilo que nos leva a fazer o que queremos/desejamos e/ou necessitamos fazer”. Neste sentido, a motivação para executar qualquer tarefa deve ser intrínseca, pois todo o trabalho feito é em proveito pessoal. No entanto pessoas com problemas de saúde mental têm, devido à doença, baixos níveis de motivação e outros sintomas negativos acentuados (desmotivação, apatia, anedonia) sendo estes mais difíceis de colmatar do que os sintomas positivos (alucinações auditivas, visuais, tácteis). Só relativamente aos últimos, podemos melhorar com recurso a fármacos. Neste sentido, com ausência de motivação intrínseca, recorremos à motivação extrínseca que está relacionada com comportamentos consequentes, com recurso a recompensas e objetivos exteriores. Assim, o animador sociocultural em contexto reabilitativo pode ter uma tarefa fundamental no trabalho direto com o indivíduo privilegiando a sua história de vida, comportamentos e preferências, para poder ir ao encontro dos seus interesses. Mesmo não trabalhando numa primeira fase, objetivamente, para a reabilitação (passar a ferro ou confecionar refeições) reforçamos a auto estima, trabalhamos a estimulação cognitiva, a partilha, a escuta ativa. Darei ao leitor um exemplo claro do trabalho de um animador sociocultural que aproveita as histórias de vida para fazer projetos com diversas populações, “(…) podemos definir claramente que trabalhar histórias de vida, seja em que idade for, nos permite desenvolver projetos intergeracionais baseados na interculturalidade (independentemente do tempo e ainda do território), já que geram processos pessoais e coletivos que dão valor, tanto à própria experiência como à do grupo (…) bem como de pertença à sociedade” Maños (2016). Motivar é também ajudar os indivíduos a serem mais felizes. Não raras são as vezes que os próprios desconhecem interesses e aptidões e cabe ao técnico dar espaço ao diálogo, ao erro, fazer tentativas e (otimamente) chegar ao sucesso do trabalho.
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Nem sempre é possível alcançar o sucesso, ou conseguimos motivar os indivíduos. Nem conseguimos sempre encontrar a “alavanca que faz tudo o resto mexer”. Não podendo a avaliação do técnico depender do sucesso do PII. Muitas vezes precisamos de pedir ajuda a colegas, sem pudor ou receio, para olharem para um caso com perspetivas diferentes, sendo isto, trabalhar em equipa. Assim, podemos chegar à motivação desejada, intrínseca – sendo este o “locus de controlo interno - resulta das consequências dos seus atos” Cotovio (2016)
Trabalho desenvolvido em RPS através da ASC
O animador sociocultural não tem como exclusiva função, como vários confundem, “pintar uns desenhos” ou “fazer umas colagens”. Fá-lo-á com certeza, se fizer sentido dentro do trabalho a desenvolver, no entanto tem muitas mais competências como já tem vindo a ser demonstrado. A Animação Sociocultural e a RPS têm em comum a necessidade de estar vinculadas à autonomia, participação, ao desenvolvimento e à diversidade. Neste sentido, as pessoas sujeitas a fraca ocupação (seja ela de ócio ou profissional), estão em situação de vulnerabilidade fomentando a degeneração cognitiva, funcional e social. Segundo a OMS “a saúde é um estado de completo bemestar físico, mental e social e não somente ausência de afeções e enfermidades”. Partindo da premissa que o estado mental está comprometido é importante reforçar o das restantes, criando ambientes favoráveis à manutenção e aprendizagem de áreas funcionais, sociais e culturais. Tal como identifica, Carreiro (2015), um dos fatores de proteção para a pessoa com problemas de saúde mental, são programas de reabilitação psicossocial (aprendizagem de competências, estilo de vida saudável). A ausência de atividade seja ela funcional, social ou cultural provoca uma degeneração rápida. A participação e envolvimento da pessoa (motivação intrínseca) é também fator essencial para a sua recuperação, bem estar e até eficiência do serviço prestado. Reforça esta afirmação a Coordenação Nacional para a Saúde Mental quanto à participação da pessoa com doença mental, esquematizada na imagem:
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Segundo o Decreto Lei n.º 8/2010, de 28 de Janeiro, Reabilitação Psicossocial é “o processo de desenvolvimento das capacidades remanescentes e de aquisição de novas competências para o autocuidado, actividades da vida diária, relacionamento interpessoal, integração social e profissional e participação na Comunidade” e assim, faz sentido lembrar que os técnicos superiores de animação sociocultural trabalham em equipas multidisciplinares, e após o diagnóstico realizado criam um plano de intervenção (PII), de forma a melhorar a vida do seu público alvo em parceria com os mesmos. Assim, fará sentido, numa instituição que trabalha com pessoas em processo de RPS um animador sociocultural propor diversas atividades dentro de 3 grandes áreas – terapêutica, funcional e relacional:
Área terapêutica:
1) Relaxamento e caminhadas – de forma a diminuir sintomatologia, adquirir estratégias de resistência à frustração
Área funcional:
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1) Estimulação cognitiva, debates – de forma a adquirir/manter competências cognitivas 2) Atividades da vida diária (preparar refeições, gerir o seu próprio dinheiro, executar tarefas domésticas) – de forma a adquirir/manter competências da vida diária
Área relacional:
1) Treino de competências sociais (lidar com sentimentos, competências de assertividade, gestão de conflitos) – de forma a adquirir/manter competências sociais 2) Teatro – de forma a trabalhar competências de exposição, fomentar a concentração, criatividade, comunicação e auto estima
Como já fora referenciado acima, as atividades propostas deverão ser pertinentemente enquadradas num Plano Individual de Intervenção (PII) onde o indivíduo, família e equipa técnica definem um plano de ação. A ASC bem como a RPS seguem a mesma metodologia de trabalho: avaliação de necessidades, planeamento, intervenção e monitorização. Assim, otimamente, com o ajuste contínuo é possível uma recuperação/recovery com resultados satisfatórios. Por recovery entenda-se, não uma remissão ou redução da doença mas, “uma nova forma de vida, e uma atitude de enfrentar os desafios do quotidiano (…)” Deus (2016)
Conclusão
Otimamente estarão espelhadas neste artigo práticas de trabalho que tenho oportunidade de colocar em execução todos os dias. Este foi escrito com o intuito de dar a conhecer as potencialidades destas duas grandes áreas de trabalho. Importa assim refletir que, para o sucesso da Animação Sociocultural na Reabilitação Psicossocial em Saúde Mental os animadores socioculturais se interessem mais pela área da saúde mental e por seu lado, a área psiquiátrica considere outros tipos de intervenção que não só os de saúde.
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Em formato de conclusão, se tivermos que definir dois grandes objetivos para a conceção do presente, serão o de dar um testemunho de profissional para os seus pares, e o de facultar ferramentas de trabalho prático. Assim, deve refletir-se e reforçar a documentação escassa, relativa à experiência da ASC na área da saúde, especificamente na RPS. Neste sentido, cabe ao animador sociocultural interessar-se, pesquisar, adquirir experiência e escrever sobre esta temática desafiante. Só através do registo podemos assegurar que as boas práticas não se esgotam e os mesmos erros não se cometem. Assim, contribuímos para criar espaço para que o animador qualificado esteja cada vez mais presente na RPS. De forma a facultar ferramentas de trabalho, importa lembrar que os nossos objetivos para um indivíduo em RP podem não ser os que ele tem para si. Neste aspeto importa, ter uma grande capacidade de resiliência, escuta ativa e otimismo. Acima de tudo, “devemos ter disponibilidade para nos surpreendermos”. Importa dar espaço à pessoa com problemas de saúde mental para experienciar e não se limitar à obrigação do “Ser produtivo”. Devido às limitações da sua doença e por variadas outras razões haverá diversos momentos de frustração e vontade de desistência. Se pudermos, enquanto profissionais, não fomentar este sentimento, e até ajudar a desconstrui-lo, tanto melhor. Neste sentido a ASC tem um papel fundamental, relevando capacidades em vez de realçar problemáticas e não valorizando (só) o produto final mas sim o processo. Não podemos, nem temos, de ser todos brilhantes.
Referências bibliográficas
Documentos académicos
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Publicações
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Sítios eletrónicos
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