Portrait Fanzine nº 02

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CARTA ABERTA O basquete mudou minha vida. Não há exageros nessa afirmação. Cinco anos atrás, eu, um professor de História, ex-jornalista e apenas um fotógrafo casual. Fotografar não era a minha rotina, eu pensava pautas, projetos, fazia algumas coisas, mas o espaçamento entre eles era imenso ou maior do que gostaria. De verdade, sempre fui inseguro com meu trabalho fotográfico. Alguns editores que conheci só ajudaram nessa insegurança. Como dizia, corria janeiro de 2012 e eu queria fotografar esportes pra valer, como fizera no Japão, uma década antes. Ainda usava filme nessa época, pedi para um colega uma câmera digital emprestada e mandei um email para o Paulistano. Seu assessor de imprensa no basquete, Denis Botana, respondeu minutos depois. Me credenciei sem problemas - Denis foi extremamente atencioso - para o jogo do NBB Paulistano e Joinville. Lá estava eu na quadra com uma câmera semiprofissional tirando leite de pedra... E me apaixonei de vez. Meses depois, finalmente, comprava minha primeira Nikon digital quase profissional para cobrir os jogos do Paulistano. Primeiro eram só os grandes jogos, depois todas as rodadas do NBB, aí decidi fotografar todo o Paulista. Era finalmente um fotógrafo de esportes, claro, sem o equipamento ideal, sem a estrutura ideal, sem grana, mas fazendo, criando uma linguagem e me abrindo pra outros trabalhos como a Superliga de vôlei e as mais variadas competições de rugby. Hoje, produzo essa revista, por exemplo. Tudo isso começou numa noite de janeiro de 2012. Por essa razão, você leitor tem essa edição especial do Portrait Fanzine nas mãos. O Paulistano na final é também o meu trabalho na final. E isso é bom demais. Esse número tem menos páginas, foi feito em tempo recorde, mas serve como um bom guia de como chegamos nessa decisão. Vida longa ao basquete brasileiro.

SUMÁRIO

decisão do NBB pg. 4

Embarquemos...

PROJETO

Alexandre da Costa


ZEBRA? QUE NADA! Paulistano contraria os prognósticos e se garante em sua segunda final do NBB com a mistura perfeita de experiência e juventude textos, pesquisa e fotos: ALE DA COSTA

Se qualquer pessoa em novembro passado dissesse que as finais do NBB não teriam o Flamengo, provavelmente, alguém riria com deboche: “tá bom!” Se alguém cogitasse que Mogi das Cruzes e Brasília não passariam para as semifinais, as reações não seriam diferentes. Pois é. A Liga Nacional de Basquete desse ano surpreendeu e muito. Pela primeira vez em sua história de nove edições nenhum dos top 4 se classificaram para a decisão do título. Mas para quem acompanhou de fato o campeonato desde o início (e o Portrait faz isso há cinco temporadas) já tinha percebido que as coisas estavam diferentes. Isso porque nunca surgiu de fato um time invencível ou uma força que destoasse das demais. O time mais fraco poderia bater o mais forte. Diante desse cenário, não é possível se espantar com o Paulistano dirigido por Gustavo de Conti e finalista do NBB pela segunda vez em sua história. O alvirrubro da cidade de São Paulo não pode ser considerado uma zebra. Ok, ninguém no início do campeonato o colocaria na final. Menosprezo? Não, evidente que não. Fatos? O Paulistano no começo da temporada não tinha nenhum jogador estrangeiro (Daniel Hure só estreou em dezembro). Além disso era o time mais jovem da Liga. Jogadores de talento gigantesco, mas jovens. Como se portariam na hora da verdade? A juventude de George, Pecos, Yago, Lucas Dias, Mogi, Pedro, Luis Fernando - garotos jogando num time em que os titulares são todos (é possível isso? Sim, a rotação do Paulistano é gigante) - pagaria um preço ao menos no início. Na primeira metade da temporada, o time de São Paulo manteve a regularidade. Dez jogos, seis vitórias. Mas aí chegou janeiro e boa parte de fevereiro e a queda foi brutal. Em nove partidas, apenas duas vitórias. Crise? Havia uma base experiente. Jhonatan, Guilherme, Eddy, Daniel Hure aguentavam o tranco de um time ousado, mas inexperiente. Quando a parte final da temporada regular chegou, o Paulistano 4


se encontrou. Nos noves jogos restantes da fase de classificação, oito virórias. Aquela história de garotada, zebras e tudo aquilo que cansamos de ouvir ficou pra trás. O time vermelho e branco terminava essa etapa (que foi extremamente competitiva e decidida nos confrontos direitos) em sexto lugar. Mas claro que a questão da juventude do time ia voltar quando os playoffs tivessem início. Disseram: “No Ceará, vão se apequenar!” ou “Franca ganha fácil!!” As séries foram emocionantes, tensas, decididas nas cestas finais, mas o Paulistano não amarelou: 3 a 2 em ambas. Quando as semifinais contra o Universo/Vitória começaram,

esse papo furado de que os garotos não dariam conta quase não se ouvia mais. O suspense, no entanto, estava no ar. George Lucas, um dos craques do campeonato, pegou uma virose e foi internado. Estaria fora dos dois jogos do time em São Paulo. “Ahhh, agora já eras!” Não, querido pessimista. Você não leu lá em cima que estamos falando de um grupo? Pois é. Yago Mateus, de apenas 18, anos explodiu com cestas de três pontos decisivas. E ainda tinha mais, Lucas Dias, o pivô Guilherme e suas cestas de três, Jhonatan e por aí vai. Resultado? Varrida e vaga na final. O técnico Gustavo deu o recado: “Agora vai ser diferente!!” Você duvida?

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Campanha do Paulistano Equipe venceu 25 de 41 jogos

Série semifinal de gala e vaga em sua segunda decisão do NBB

Triunfo contra o campeão : na reta final da fase de classificação foram oito vitórias em nove jogos

Primeiro jogo em casa, primeira vitória

14.05.2017 Paulistano 70 x 67 Universo/Vitoria 12.05.2017 Paulistano 82 x 72 Universo/Vitoria 09.05.2017 Universo/Vitoria 84 x 93 Paulistano 06.05.2017 Franca 67 x 80 Paulistano 02.05.2017 Paulistano 87 x 105 Franca 28.04.2017 Franca 66 x 69 Paulistano 25.04.2017 Franca 92 x 79 Paulistano 22.04.2017 Paulistano 80 x 65 Franca 18.04.2017 Paulistano 76 x 72 Cearense 15.04.2017 Cearense 67 x 82 Paulistano 11.04.2017 Paulistano 81 x 85 Cearense 09.04.2017 Paulistano 83 x 75 Cearense 06.04.2017 Cearense 87 x 84 (75 x 75) Paulistano 01.04.2017 Paulistano 83 x 66 Universo/Vitoria 30.03.2017 Paulistano 79 x 67 Cearense 24.03.2017 Vasco da Gama 67 x 82 Paulistano 22.03.2017 Caxias do Sul 80 x 82 Paulistano 13.03.2017 Paulistano 92 x 57 Sorocabana 10.03.2017 Paulistano 67 x 74 Pinheiros 23.02.2017 Paulistano 103 x 96Flamengo 21.02.2017 Paulistano 85 x 65 Macaé 16.02.2017 Minas 85 x 96 Paulistano 14.02.2017 Brasília 85 x 76 Paulistano 02.02.2017 Franca 78 x 71 Paulistano 31.01.2017 Bauru 78 x 68 Paulistano 27.01.2017 Paulistano 77 x 78 (63 x 63) Mogi 25.01.2017 Paulistano 78 x 85 Campo Mourão 13.01.2017 Universo/Vitoria 85 x 73 Paulistano 11.01.2017 Cearense 74 x 76 Paulistano 07.01.2017 Sorocabana 71 x 92 Paulistano 03.01.2017 Paulistano 83 x 86 Vasco da Gama 20.12.2016 Paulistano 82 x 49 Caxias do Sul 14.12.2016 Pinheiros 77 x 92 Paulistano 07.12.2016 Campo Mourão 74 x 92 Paulistano 03.12.2016 Flamengo 81 x 72 Paulistano 01.12.2016 Macaé 84 x 96 Paulistano 26.11.2016 Paulistano 98 x 86 Minas 24.11.2016 Paulistano 74 x 90 Brasília 18.11.2016 Paulistano 73 x 76 Franca 16.11.2016 Paulistano 90 x 66 Bauru 13.11.2016 Mogi 86 x 55 Paulistano

Final da temporada regular: sexta melhor campanha

Início complicado: terceira derrota em 4 jogos

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Elenco Gustavo de Conti

Victor AndrĂŠ #10 Jhonatan #7

Arthur Pecos #14

Mogi #3 Luis Fernando #5 Daniel Hure #13 Lucas Dias #9

George de Paula #32 Eddy Carvalho #33 Yago Mateus #2

Pedro Henrique #18

Guilherme #77 Renato #15

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Sem pressão na decisão Gustavo de Conti, técnico do Paulistano, em mais uma final que estamos falamos do time mais jovem da Liga? GC: Tivemos um momento fundamental de mudança durante o inicio do segundo turno do NBB, que foram as seis derrotas seguidas. Isso nos fez mudar um pouco o planejamento e, principalmente, a forma de pensar e encarar derrotas e vitórias, por parte dos jogadores. Mudamos um pouco a estratégia dos treinos e acabou dando certo. Tanto é que embalamos para muitas vitórias depois disso.

PORTRAIT: É inegável o quanto essa temporada do NBB está bacana, equilibrada, cheia de emoção desde seu início. São nove edições até agora. É exagero dizer que o NBB, a Liga, indica um novo e promissor caminho para o basquete brasileiro? GUSTAVO DI CONTI: Seguramente sim. A LNB veio para mudar o panorama interno do basquete brasileiro, com um campeonato organizado pelos clubes, com credibilidade, qualidade e muito organizado, que cresce a cada temporada e ainda tem muito mais a evoluir. P: Como você analisa essa edição do NBB? GC: A cada temporada, o NBB se torna mais equilibrado, mais disputado. As equipes se organizam e planejam melhor, com melhores jogadores e melhor estrutura. A tendência é que o equilíbrio cresça ainda mais a cada ano. P: A fase de classificação foi um perde e ganha gigantesco de todas as equipes. Todas no topo da tabela (até mais, os dez primeiros colocados) oscilaram. Na metade final da fase de classificação, o Paulistano, no entanto, cresceu muito. Foram oito vitórias em nove jogos. Como você explica isso já

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P: Sua segunda final de NBB se aproxima. Agora, ela terá pelo menos três jogos. Eu sei que essa questão é um clichê, mas o que esperar do Paulistano? Os garotos já mostraram que não tremem na hora H.... GC: Os meninos já provaram que não sentem muito jogar em situação de pressão mental e pressão de jogo. Porém, enfrentaremos uma grande equipe, cheia de qualidade. Nosso maior problema será, com certeza, o nosso adversário, e não a pressão de jogar uma final com jovens.

Gustavo de Conti foi eleito o melhor técnico do NBB na temporada 2013-14, edição em que o Paulistano foi para a final contra o Flamengo


Treze titulares e um desejo Arthur Pecos foi o garçom do Paulistano - quarto melhor em assistências do torneio - e parte para sua segunda final

PORTRAIT: Ninguém questiona o quanto o NBB desse ano está surpreendente e sensacional. O Paulistano passou por maus bocados em janeiro e fevereiro (seis derrotas seguidas), mas se encontrou depois e chegou nos playoffs com oito vitórias em nove jogos. Os garotos amadureceram. Entre vocês havia essa sensação de que o Paulistano poderia chegar tão longe? É o time mais jovem numa final do NBB e até agora parece que vocês não sentiram a pressão, parecem veteranos... como você explica isso? ARTHUR PECOS: Naquele momento que tivemos seis derrotas seguidas, nos fechamos e entendemos que sim, com o potencial do nosso time poderíamos chegar bem longe nesse compeonato! Finalizamos a fase de classificação praticamente sem perder e demos um salto na tabela, conseguindo classificar em sexto lugar. Fomos para os playoffs forte! Acho que isso vem também da oportunidade do Paulistano e do Gustavo tem dado pra gente. Nós, apesar de jovens, pegamos a responsabilidade! Fizemos um excelente trabalho para conseguir essa vaga para a final e agora vamos buscar o título!

AP: Nosso time é muito bom por conta disso, do coletivo. Todos fazendo um pouco foi o que deu certo para que tivéssemos esse resultado. Mas como disse antes, ainda não acabou. Com certeza, o fator principal é essa coletividade da equipe! O Gustavo é um excelente técnico e entende muito de basquete. Sempre que fala, buscamos entender e fazer o que pede para que possamos nos sair bem.

P: Você assumiu de vez a condição de titular, mas o Paulistano é um time que parece ter treze titulares... é errada essa constatação? O grupo do Paulistano é o fator principal pra essa campanha belíssima? E o que falar do Gustavo? 9


Os números d 11

pontos fez Pedro contra o Franca em 18.11.16

31

26

pontos fez Eddy contra o Franca em 28.4.17

pontos fez Mogi contra o LSB em 21.2.17

REBOTES

36.73 90.34 EFICIÊNCIA 10

16

25

pontos fez Lucas contra o Flamengo em 23.2.17

26

pon fez V contr Mour 7.12

pontos fez George de Paula contra o Macaé em 21.2.17

PONTOS

81.29 6.93 BOLAS RECUPERADAS


da temporada 165

12

6

ntos Victor ra o C. rão em 2.16

14

23

rebotes teve Guilherme contra o Cearense em 9.4.17

assistências teve Pecos contra o Flamengo em 23.2.17

rebotes teve Jhonatan nessa temporada

06

assistências teve Renato contra o Macaé em 1.12.16

ASSISTÊNCIAS

17.34 13.12

pontos fez Hure contra o Minas em 16.2.17

24

pontos fez Yago contra o Franca em 2.5.17

09

pontos fez Luis contra o Campo Mourão em 7.12.16

57,1% APROVEITAMENTO TEMPORADA REGULAR

ERROS

Fonte: Liga Nacional de Basquete

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A tabela da decisão do NBB 27/05

x às 14 horas Ginásio Antonio Prado Junior, em São Paulo (SP)

02/06

x às 19h30 Ginásio Panela de Pressão, em Bauru (SP)

04/06

x às 14h35 local a definir

10/06

x às 14 horas local a definir

17/06

x às 14horas local a definir

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UM FINAL DIFERENTE Em 31 de maio de 2014, Paulistano enfrentou o Flamengo na decisão do NBB. A equipe de São Paulo não tomou conhecimento do favoritismo do dono da casa e fez jogo duro até o final. Mas... o Flamengo venceu por 78 a 73

Além de Arthur Pecos, Renato Carbonari é um dos remanescentes da temporada quase dos sonhos do Paulistano: 2013/14. Foram duas finais, dois vices. Na decisão do Paulista, o rival foi o Bauru

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até o próximo número ...


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