Portrait Fanzine nº 06

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CARTA ABERTA

SUMÁRIO

“São as minhas palavras na entrevista”. Pode parecer óbvio, mas nem sempre é assim quando se faz jornalismo. Tenho ouvido bastante a frase acima e isso me orgulha porque mostra aquilo que defendo: não há maquiagem na Portrait Fanzine. Aqui não se inventam palavras, assuntos, verdades para se conseguir likes ou coisas do tipo. Aqui não crio histórias. Elas existem e se contam por si mesmas, sou apenas um veículo, um transmissor, e quanto menos ruído eu promover no meu trabalho, melhor serão contadas essas histórias. Nessa carta aberta, não poderia deixar de homenagear os garotos do Paulistano que faturaram de forma invicta, em fevereiro passado, a Liga de Desenvolvimento do Basquete Brasileiro. Os moleques deram show. Lá embaixo, você encontra uma foto dessa festa do time sub-20 campeão. Algumas arrumações estéticas poderão ser percebidas nessa edição. Por exemplo, cada esporte ou tema da matéria (como portfólio, por exemplo) terão cores diferentes na aba lateral no canto direito das páginas. O basquete será vermelho, o handebol azul, portfólios especiais como o do futebol raiz dessa edição serão pretos e por aí vai... Até o fechamento dessa edição, no NBB, Pinheiros, Vitória, Botafogo e Vasco já tinham sido eliminados nos playoffs das oitavas de final da competição. Eu poderia mexer na capa, tirar os times da montagem ou fazer um X em cima deles. Não seria justo e estragaria os trabalhos... meu e deles. E enquanto encerro essa edição, leio no instagram uma nota de “luto” dos atletas do handebol pelo fim do patrocínio do Banco do Brasil às seleções brasileiras. Parceria que rendeu um desenvolvimento gigante da modalidade no país e que agora acabou. Na boa, não é fácil esse país... Embarquemos

PROJETO

Alexandre da Costa

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100% HANDEBOL Diogo Hubner, craque da seleção brasileira de handebol e do Pinheiros, fala da sua carreira em entrevista exclusiva ao Portrait Fanzine texto e fotos: ALE DA COSTA

Se você fez Educação Física alguma vez na vida já jogou handebol. Se estiver na casa dos 40 e pouco, então, provavelmente você só jogou handebol no colégio. Surge então uma matemática simples: modalidade massificada nas escolas, país potência mundial do esporte. Certo??? No Brasil torto em que você vive é evidente que tal lógica tão lógica não se coloca em prática. “Chega o momento do vestibular e como não temos estrutura, uma ideia de criação de ídolos, como acontece no basquete e o vôlei, rola uma pressão dos pais. Os atletas não vislumbram um futuro nesse esporte”, aponta Diogo Hubner, um dos principais nomes do handebol brasileiro masculino. Diogo se apaixonou pelo esporte quando tinha oito anos e não demorou para decidir que queria isso para a vida. Começou no Niterói. Em 2002, iniciou um casamento com a Metodista que duraria 13 anos. O projeto de São Bernardo acabou, Diogo passou pelo São Caetano e agora defende o Pinheiros. Pela seleção brasileira foi capitão dos times júnior e adulto. Encarou com o escrete verde e amarelo potências como a Rússia e França. Participou dos Jogos Olímpicos do Rio em 2016. Venceu a Alemanha. No entanto, mais do que tudo isso, Diogo Hubner é um dos nomes responsáveis por colocar o Brasil no mapa do handebol mundial. Agora, os caras respeitam a seleção brasileira...

Portrait Fanzine: São vinte anos de vida no handebol. Ser atleta no Brasil num esporte que não é o futebol... Diogo Hubner: Eu ainda coloco o handebol um pouco depois de outros esportes. Eu acredito que o futebol no Brasil é uma religião, não um esporte. E a gente tem o vôlei e o basquete que acabaram se estruturando muito bem, principalmente, fora da quadra. Seus atletas podem desfrutar de campeonatos bem organizados, de uma estrutura muito legal. Aí vem os outros esportes como handebol. Esses engatinham ainda na questão estrutural. É evidente a dificuldade de fazer esporte no país. Nesses vinte anos, eu vi o handebol

nos seus altos e baixos. Eu vivi na minha carreira uma estrutura muito boa em São Bernardo. Foram treze anos, na maioria do tempo, muito bons, mas o fim da equipe foi algo muito triste, muito difícil. Fazer esporte aqui de uma maneira geral é muito complicado e muito difícil. E a gente brinca de sobreviver. No Pinheiros, somos privilegiados, aqui te dão toda a estrutura, trabalho técnico, tudo. Mas o esporte em geral não acompanha essa estrutura do Pinheiros. PF: Você desembarcou em São Paulo muito cedo com apenas 16 anos. Essa experiência não deu certo, foram apenas quatro meses. Como você pensou sua relação com o esporte naquela época? DH: Eu era muito imaturo, mas sabia que queria jogar handebol, era uma certeza. Outras coisas me influenciaram. Eu não conseguia me ver fora de casa naquele momento. Foi conturbado. Tempos depois, era pra vir para o Pinheiros. Mas aí rolou um time em Campos, no Rio de Janeiro. Minha mãe desempregada e optei por ficar lá. A equipe durou um mês e aí desisti. Porém, na mesma semana, a Metodista de São Bernardo me chamou e voltei para São Paulo em 2002. PF: Por muito tempo, o handebol era o esporte mais praticado nas escolas por todo o país. Mas ele nunca se popularizou, nunca se tornou o segundo esporte do brasileiro, por quê? DH: O handebol é um esporte de massa nas escolas. Todo mundo gosta. Chega o momento do vestibular e como não temos estrutura, uma ideia de criação de ídolos, como acontece no basquete e o vôlei, rola uma pressão dos pais. Os atletas não vislumbram um futuro nesse esporte. Como fica você virar para seu pai e falar que não vai fazer o vestibular com 18 anos e sim ser jogador de handebol? Ele te pergunta: onde você vai jogar, meu filho? Não tem onde jogar. Não há equipes suficientes pra abraçar todos os atletas que vem das categorias de base. Como detectar talentos? Muitos atletas estão indo pra Euro5


pa direto, o que não é ruim afinal se eles estiverem aqui não tem time pra todo mundo. Até que é boa essa saída. O Brasil não tem estrutura profissional pra abraçar os atletas que sobem da escola, da base. PF: Os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro em 2016 deveriam ter sido um marco nesse sentido... DH: Eu, como atleta, até tinha uma certa expectativa. A ilusão até havia, mas no fundo sempre soubemos que seria difícil haver uma mudança de mentalidade com a Olimpíada no Brasil. Se pensou muito nas seleções, muito, mas não se pensou no esporte aqui dentro. Jo6

guei os Jogos e tudo o que vivemos foi de outro planeta, tive, durante quatro anos, o privilégio de ser atleta profissional de handebol. Coisa que muitos não conseguem ser e a grande maioria não é. No mundo real, todos tem que conciliar trabalho, estudos com o esporte. Em relação ao handebol na Olimpíada foi tudo muito bem feito e caminhou bem. Quando se entra na Arena com oito mil pessoas vibrando, você acha que todos ali serão mordidos pelo bichinho do esporte, do handebol, que depois daquilo, os caras vão procurar o esporte, procurar um clube, um jogo... mas não aconteceu. A sequência foi muito malfeita. O legado


até tem. Mas não é massificado. Não chega a atingir muita gente. Não se consegue ver evolução dentro do esporte. Claro que fico muito triste com isso. Muito ruim. O handebol só perdeu pro futebol em média de público geral nos Jogos. É um esporte muito bonito de ser ver, muito estético ... Tem os saltos ... emoção...

sabíamos que ali seria o nosso momento. Mas não contra a França. Durante 45 minutos fizemos um jogo muito bom, porém os caras eram os campeões olímpicos. Foi um momento fantástico. No entanto, estamos muito bem encaminhados. O Washington Nunes foi confirmado como treinador e isso é bom, ele é muito competente. As especulações param. Temos atletas diferenciados na seleção. Eles estão jogando na Europa. A seleção brasileira está muito bem encaminhada

PF: E a seleção masculina foi muito bem na Olimpíada... DH: A seleção foi bem e se não cruza com a França, conseguiríamos ir mais longe. Tínhamos certeza dis- PF: Mas esse bom momento da seleção brasileira so. Paramos nas oitavas nos mundiais anteriores, mas masculina de handebol não existiria sem o treina-

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dor espanhol Jordi Ribera, certo? DH: Há um antes e depois dele na nossa história. Ele foi fundamental tanto na primeira quanto na segunda passagem, nos ciclos olímpicos de Pequim e Rio de Janeiro. Ele se preocupava em agregar todas as categorias, foi o primeiro técnico de seleção com condições de fazer isso. Quantos não saíram dos acampamentos que ele promovia? Foi ideia dele. O menino chegava do juvenil e encontrava o mesmo sistema de jogo no adulto. Foi bom para todos nós. Jordi Ribera tem uma visão diferente do jogo, ele vive o handebol. É um cara merecedor do título europeu que conquistou com a seleção espanhola. Todo mundo aqui no Brasil ficou feliz com o sucesso dele. Se sentiu parte desse título. Ele é realmente diferente. Muito querido, virou um pouco de brasileiro. Quando chegou, Jordi Ribera era um “europeuzão”, no final de seu trabalho, ele já estava dando abraços ... Ele mesmo disse que a Espanha tinha um pouco do brasileiro. Fiquei muito feliz com o título dele. PF: Tirando os Jogos Olímpicos, você teve dois momentos marcantes na sua história com a seleção brasileira. A Rússia no Mundial de 2013 e a Argentina no Sul- Americano de 2015. Foram situações dramáticas, como foi lidar com tudo aquilo? DH: O bendito jogo contra a Rússia. Ele não me assombra mais, acho que tudo é aprendizado. Talvez não fosse nosso momento ainda. Aquele grupo trabalhou muito em 2013. Merecia. Cada um sabia o que tinha que fazer e todos aceitaram isso. Questão de detalhes. O último arremesso, tínhamos uma chance. Muita coisa aconteceu. Mas dói olhar pra trás. Fica como aprendizado, não pode tirar tudo de ruim de um jogo. Já contra a Argentina, aqueles dez minutos... Foi muito complicado. O Jordi sempre lembra desse jogo. Eu vinha cobrando os sete metros e não tinha errado nenhum. Contra a Argentina, não tinha errado. Então, claro, faltando poucos segundos, há o tiro de sete metros de novo e vou lá cobrar... e erro. Eu peguei a bola e não estava preocupado com aquele momento. Eu tinha certeza que ia fazer o gol . Estava preocupado com o que ia fazer depois. E aí errei e aconteceu o que aconteceu. Errei e na prorrogação, durante dois minutos, faço duas coisas horrorosas. Jordi me falou que eu precisava voltar para o planeta. Passou um monte de coisas na minha cabeça do tipo 8

“perdemos o título por minha causa”. Argentina estava entalada na garganta. Mexeu muito comigo. No segundo tempo da prorrogação, voltei melhor e não virei vilão. Essa medalha tá guardada em lugar especial. PF: A temporada 2017 foi de sonho com o Pinheiros. Ganharam tudo o que podiam e fizeram um jogo sensacional com um timaço europeu no Mundial. Mas aí chega o último jogo do ano e você tem uma contusão seríssima. Aos 35 anos, como aguentar a fisioterapia, todo o processo cansativo da volta? DH: Eu tenho prazer em ser atleta. Eu gosto do dia a dia, do treino, de ver evolução, de estar na quadra. Então, tento trazer isso pra fisioterapia. Eu gosto de olhar para trás e ver que faço exercícios agora que não fazia uma semana antes. Eu tento pensar no dia a dia. Não posso pensar no amanhã. Foi minha sétima cirurgia, essa experiência ajuda muito. Eu consigo entender os processos. Eu sei o que não posso fazer, controlo minha ansiedade. PF: Já pensa em aposentadoria? DH: Eu parei de pensar em idade. Eu me sinto bem com os jovens, com o time jovem do Pinheiros. Eu vivo o mesmo que eles. Fico bravo quando me tratam diferente por causa da idade. Eu quero fazer tudo. Ninguém vai trabalhar mais do que eu. Não penso em aposentadoria. Deixo meu corpo falar, às vezes, ele grita, pede socorro, vou lá e faço uma cirurgia (risos). Meu corpo entende que quero jogar mais um pouco. Mas claro que me preparo para o futuro. Sou formado em educação física. Já fui treinador. Vou continuar dentro da quadra, quero ficar aqui com o handebol... PF: O que você pensa dos atletas agora participarem mais ativamente das decisões do Comitê Olímpico Brasileiro? DH: Eu não consigo entender como, por tanto tempo, os atletas não tiveram voz. É a gente que trabalha, que faz o espetáculo. No basquete, por exemplo, no NBB, que é a maior competição dos país, tem uma comissão de atletas. Fico revoltado com essa situação de não ser ouvido. Conseguimos mudar algumas coisas, hoje teremos direito a votos na Confederação. Não sabemos nem como fazer com essa parte política, temos que aprender também. Mas tudo bem, o que me incomoda são as coisas que eu penso como atleta e que o dirigente não pensa, não vê. Isso me incomoda muito.


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PROFESSOR DO BASQUETE Diego Silver, uma das cabeças pensantes do basquete brasileiro, fala de NBB, Corinthias, Oscar, novatos. POLÊMICO!!!!!

Até pouco tempo não sabia seu nome completo. Pra mim sempre foi o Diego Silver, the Silvermaniac, blogueiro, professor, técnico, “youtuber”, atleta, aluno de mestrado, dono do site Área Restritiva, pai. Te parece muito, não é? Há mais. Eu o vejo, além disso tudo, como um pensador do basquete, sim sim, exagero que cabe. Um intelectual da bola laranja. Um de alguns caras que tem surgido nos últimos anos que analisam o basquete além do jogo, além das táticas, além daquilo que a grande mídia mostra. Aos 32 anos, Diego Andrade, seu nome, é um cara que pensa e que vale a pena conhecer. Você pode até não concordar com ele (sua opinião sobre a volta do basquete do Corinthians é polêmica), mas Diego entende do assunto. O conheci há quase um ano quando nascia essa revista digital. O cara curtiu o trabalho e me convidou pra escrever para o seu site. Na época, ele ensinava basquete na Malásia. Quando voltou, combinamos de bater um papo sobre o mundo da bola laranja. Isso aconteceu numa enforcada do feriado de aniversário de São Paulo em um shopping center na Avenida Paulista. Papo rendeu... Confira: Portrait Fanzine: Vai ter 3 x 3 na Olimpíada de Tóquio... Você foi um dos primeiros a falar do basquete 3 x3 no Brasil com seu site Área Restritiva. Como é sua relação com esse esporte? Diego Silver: Foi amor à primeira vista. O 3x3 entrou meio sem querer na minha vida. Eu tra-

balhei para a Associação Nacional de Basquete 3 x 3, produzindo alguns textos, há alguns anos. Foi logo depois de eu ter rompido o ligamento cruzado. Eu ia trabalhar nos campeonatos, mas precisaram de alguém num dos times. Mesmo parado há seis meses, aceitei o convite. Disse que não garantia nada afinal seria a primeira vez que pegava numa bola de basquete depois da contusão. Joguei e até passamos da fase de grupos. FOI SENSACIONAL. O 3 x 3 é mais intenso. Você tem contato com a bola o tempo todo. Eu comecei a escrever tudo sobre essa modalidade há três anos quando ninguém falava, apenas o site da CBB. É o futuro do basquete para massificar o esporte. O 3 x 3 é o melhor que tem. PF: Antes dessa entrevista, pesquisei a posição da Malásia no ranking da FIBA. Número 101. O basquete não é o esporte dos caras... Não? De onde surgiu essa ideia de treinar crianças na Malásia? Qual foi o tamanho desse desafio? DS: (risos) Tudo começou com um comentário despretensioso no facebook. Tinha um anúncio para técnico de futebol na Malásia e mandei uma mensagem: tem pra basquete? Então fui dormir. A dona da academia de esportes que oferecia a vaga entrou em contato logo na sequência. E eu já dormindo. Meu celular vibrando toda hora e era a dona da academia. Ela queria criar um programa. Foi tudo muito rápido. Processo seletivo começou na hora. Entrevista, documentos e lá estava eu na Malásia. Quando você chega


texto e fotos: ALE DA COSTA


“Oscar nunca foi o que mais me chamou a atenção, mas foi sempre o que mais apareceu. De verdade, daquela geração sou fã do Marcel. Hoje sou apaixonado pelo Anderson Varejão. É aquele cara que vou torcer a minha vida inteira de graça”

lá, o problema não é a estatura ou o porte físico dos atletas. O problema da Malásia é o calor. Nenhum esporte outdoor funciona. A temperatura lá varia entre 35 e 38 graus. Apenas os esportes indoor como badminton, natação funcionavam. Mas todo mundo queria jogar basquete. Havia essa demanda sim. Você via campeonato 3 x 3 sub-12 com 400 crianças. No sub-15, então, apareciam 700 crianças para um campeonato de final de semana. Fui a um torneio que havia 15 quadras rolando jogos ao mesmo tempo. Aquilo era sensacional. Eles queriam jogar. Não só no basquete, eu via isso em outros esportes também. Parecia São Paulo na década de 90. Acabava o treino e o menininho ficava treinando arremesso livre. Isso era normal. O moleque se dedicava muito.

Em qualquer ano da escola, você encontrará a mentalidade aluno/atleta. Parece o modelo norte-americano. As crianças - diferente daqui - tem muito acesso à locais pra atividade física. O problema mesmo é o clima. É muito comum morarem em condomínios. Todos tem pelo menos uma quadra e não estou falando de condomínio alto padrão. Eles tem onde jogar. Além disso, as escolas ficam abertas a semana inteira. A piscina pode ser usada e pra jogar basquete é o mesmo. Todo moleque tem o tênis de basquete, uma bola de basquete, não importa a marca, o valor, mas ele tem. Todo espaço que existe pode ser usado para o esporte.

PF: Quantas quadras você encontrou no caminho vindo pra essa entrevista (Diego Silver mora no centro de São Paulo, a entrevisPF: No Brasil, o garoto que quer jogar qualquer es- ta aconteceu próxmo da Avenida Paulista)? porte que não seja futebol encontra barreiras de DS: ... Difícil... Aqui no Centro de SP tem a quatodos os tipos como não ter lugar pra ele jogar, por dra da Câmara dos Vereadores. Vira e mexe, ela exemplo. Na Malásia, como funciona essa relação? fica sem tabela, sem aro. A cesta é baixa e não tem DS: O esporte profissional adulto lá não existe. Na cobertura. Dependendo de como jogar a bola é caMalásia, tem um time de basquete profissional, o Kua- paz de cair no Vale do Anhangabaú. Você perde la Lampur Dragons. No sudeste asiático, há um cam- a bola e o jogo acaba. Então não se joga lá. É a únipeonato interclubes. Em Kuala Lampur, o Dragons se ca quadra que se tem no centro... É complicado. divide em dois e joga leste contra oeste e aí se define uma equipe para o torneio continental. E fim. No ní- PF: Vai voltar pra Malásia? vel escolar, porém, isso é absurdo. Oposto do Brasil. DS: Foram nove meses lá no ano passado. Eu tenho Na Malásia, escola serve para educar corpo e mente. vontade sim de voltar e há propostas pra abrir mi12


“Eu vejo a volta do Corinthians com muito medo. Parece muito a tentativa da volta do Fluminense anos atrás. Eles perderam a Liga Ouro feio e rolou um convite para o time jogar no NBB. No final, o Flu não conseguiu comprovar como se manteria na temporada. Tenho medo deles montarem o time e não conseguirem dar conta. Se o time de futebol do Corinthians não tem patrocínio master na camisa imagina no basquete”

nha academia. Os pais queriam isso. Primeiro, preci- né? Mas não foi só isso. Eu tive uma tendinite no omso terminar meu mestrado. Vou tentar entregar até bro também e aí fui parando porque até hoje me incojulho... claro que o tema dele é o basquete (risos). moda. Eu tinha aquela coisa na cabeça de ficar fazendo hora extra no treino, me inspirei no Oscar de fazer PF: Você respira basquete... mais de mil arremessos por dia. Aí um dia, fazendo DS: Por mais que eu tenha morado a maior parte da mi- isso, o ombro deu um estralo e nunca mais foi o mesmo. nha vida no centro de São Paulo, o que nunca foi uma maravilha, o basquete salvou minha vida. Eu tenho vá- PF: Falando nele, o que você pensa do Oscar? É de fato rios amigos de infância que se envolveram com drogas, o nosso maior nome do basquete de todos os tempos? foram presos e, ao invés de estar com eles, eu estava na DS: É um grande nome, mas tem outros. Ele é o ápice de quadra jogando basquete.. Como diz Sergio Marone- um jeito de jogar na nossa história. Ele nunca foi o que ze, “o basquete é uma ferramenta de salvação social”. mais me chamou a atenção, mas foi sempre o que mais apareceu. De verdade, daquela geração sou fã do MarPF: Você chegou a treinar em algum time? Pen- cel. Hoje sou apaixonado pelo Anderson Varejão. É sou numa carreira como atleta de basquete? aquele cara que vou torcer a minha vida inteira de graça. DS: Com 16 anos, recebi um convite para treinar no Palmeiras. Até então, eu era atleta do lendário Rosa PF: Mas não falta um ídolo no basquete brasileiro Branca. Eu sou um dos “netos” do Rosa Branca (ri- hoje? Um cara que as pessoas comprem a camisa... sos). Esse era um ótimo cartão de visitas. Não preci- DS: Hoje falta um time. O basquete não está mais na sava nem de peneira nos clubes. Mas eu não quis jogar época do jogador estrela. O Oscar, o Jordan eram asno Palmeiras. Minha família tinha aquela cabeça de sim. Hoje o basquete tá numa fase “Paulistano”, numa que eu tinha que receber dinheiro para jogar afinal no fase em que há um time bom, um grupo. Basquete hoje futebol era assim. Menino do futebol com 16 anos já é muito mais coletivo, um jogo coletivo de situações recebe. Eu cheguei no Palmeiras e perguntei o que ia coletivas. O Spurs é um exemplo, tem dois, três jogaganhar: lanche em dia de jogo, condução e uniforme. dores excelentes e o time acompanha. Tem mais: os Disse NÃO, obrigado! Com o Rosa Branca era a mesma esportes olímpicos no Brasil são elitizados, querendo coisa e eu ia andando pro treino, era perto da minha ou não. Esse é um problema. O futebol vai passar na casa. Então, não fui pro Palmeiras. Burro pra caramba, TV aberta. Pra jogar futebol, você usa uma latinha, faz 13


O site Área Restritiva foi lançado em outubro de 2011 por Diego Silver. Ele é voltado totalmente para o basquete e não cobre apenas as principais competições como NBA e NBB. É possível, por exemplo, saber o que acontece no basquete de base brasileiro com resenhas e coberturas. O endereço: http://www.arearestritiva.com.br/

a trave com os tênis. É uma baita diferença. Qualquer esporte olímpico é elitizado porque não vai passar em canal aberto e quando passa é descaracterizado como aconteceu no 3 x 3 da Globo. É muito mais fácil continuar investindo no Oscar porque é um nome consolidado. Você chama ele pra comentar o 3 x 3...

cima. Mas de gerar receita e trabalhar nesse marketing. O Mogi é um exemplo disso, o Franca também. O Basquete Cearense faz também e lota o ginásio.

PF: Nesses dez anos de NBB, a Liga Nacional, o basquete brasileiro mudou? DS: O basquete brasileiro não existia mais antes do PF: Mesmo assim, há um futuro para o basque- NBB. Meio que acabou com a geração do Oscar e depois te brasileiro? Tem molecada boa vindo por aí? não sobrou nada. Todos os patrocinadores queriam paDS: O Yago Mateus com 19 anos já é chamado de Isaiah trocinar o Flamengo do Oscar e não sobrava nada pra Tomas brasileiro. Não é mais uma promessa. Ele, o ninguém. Aí acabou. Sou otimista quanto ao basquete Georginho, o Lucas Dias, o Caboclo, o Felício, o Raul- brasileiro. Foi lindo o jogo das estrelas no Ibirapuezinho fariam o menino da favela comprar uma camisa ra lotado. As coisas estão mudando sim pra melhor... deles. Eles tem muito potencial. O Bruno Caboclo foi o mais novo a ser draftado no NBA. Os ídolos existem PF: E nesse cenário, temos a volta do Corinsim. Ser imaturo faz parte da condição de ser um ga- thians ao basquete brasileiro... o que pode ser roto. Yago desestabiliza todo mundo na quadra. Essa bacana, quem sabe o Palmeiras não retorna... é função dele. Ele começa a driblar, os caras perdem as DS: Eu vejo a volta do Corinthians com muito medo. pernas... Mas não faltam problemas: aqueles que que- Parece muito a tentativa da volta do Fluminense anos rem ver basquete nem sabem que tem jogo de graça em atrás. Eles perderam a Liga Ouro feio e rolou um conSão Paulo para se ver. E é jogo do campeonato nacio- vite para o time jogar no NBB. No final, o Flu não connal. Ainda falta a questão midiática. Os clubes pecam seguiu comprovar como se manteria na temporada. nisso ainda. Se cobrassem entrada poderiam investir Tenho medo deles montarem o time e não conseguino marketing do jogo. Enquanto for de graça isso fica rem dar conta. Se o time de futebol do Corinthians complicado. Não to falando de chutar o preço lá em não tem patrocínio master na camisa imagina no 14


basquete. Não quero ver a repetição do que aconte- tem um jogo de transição. O MVP da temporada pasceu com o Vasco nessa temporada que tinha tudo pra sada tá jogando mais agora do que no Paulistano. Mas ser o melhor time e desandou cheio de problemas.. ele precisa olhar mais o jogo. Ele precisa depender mais do time e não o contrário. Mas continuando no PF: Nessa reta final do NBB, com os playoffs, Pinheiros, o Felipe Ruivo é um dos melhores armadoquais são suas apostas? res que vejo hoje. Maturidade imensa. Eu tinha muiDS: Eu apostava muito no Vasco. Não apostar no Fla- ta esperança na geração dele. O Pinheiros não soube mengo é difícil. Paulistano, Bauru e Mogi são favoritos. usar o que tinha. Era um timaço na base, sub-17, subO Franca corre por fora. Quando Rafa Luz e Leandri- 19. Aquele Pinheiros do Davi Pelosini que ganhou a nho se entrosarem, vejo Franca e Flamengo na final. Liga de Desenvolvimento encararia qualquer time hoje no adulto. (NOTA DA REDAÇÃO: Não custa PF: Desmond Holloway foi o MVP da temporada lembrar que essa entrevista foi dada bem antes dos regular do NBB 9. O que você pensa sobre ele? playoffs do NBB 10. Quando você estiver lendo essa DS: O Holloway e o Bennett tem um volume de jogo matéria, já saberá que o Pinheiros caiu nas oitavas de absurdo. Eles caíram como uma luva no Pinheiros que final depois dos jogos contra o Basquete Cearense.)

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Loucuras de março O basquete brasileiro masculino teve um mês fervendo com decisões, craques e novidades por todos os cantos

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Após boa e longa passagem pela NBA - foram 13 temporadas, Anderson Varejão desembarcou no Flamengo para a disputa da Liga Nacional. O pivô campeão pelo Golden State Warriors brilhou no time Brasil do Jogo das Estrelas do NBB sendo eleito o MVP da partida (página ao lado)

Depois de 22 anos, o Sport Club Corinthians Paulista volta a ter um time de basquete masculino adulto disputando uma competição nacional. Treinado por Bruno Savignani (ex-Brasília), o Timão - que já foi -bicampeão sul-americano, tetracampeão brasileiro e vice-campeão mundial em outros tempos - encara a Liga Ouro de olho numa vaga do NBB 11 temporada 2018/19 17


Pelo segundo ano seguido, o Jogo das Estrelas do NBB foi realizado no Ginásio do Ibirapuera, na cidade de São Paulo. O evento, que reuniu mais de dez mil pessoas, marcou a primeira vez do jovem craque da seleção brasileira e do Paulistano Yago Mateus na festa e a despedida do supercestinha Marcelinho Machado

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Flamengo e Paulistano dominaram boa parte da temporada regular do NBB 10. A equipe de São Paulo ficou 22 partidas sem perder até chegar na última rodada quando enfrentou o Caxias. Já o time carioca seguiu o rival de perto e aproveitou o tropeço do vermelho e branco na peleja final. Se o Paulistano perdeu a liderança na última partida, ao menos os atletas de Gustavo de Conti podem comemorar as duas vitórias na fase de classificação sobre o Flamengo

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O futuro do b

Tradicional Forja dos Campeões reúne m O boxe foi o primeiro esporte que fotografei há mais de 20 anos. Ele rendeu matérias em revistas e até um documentário para a minha conclusão de curso da faculdade de comunicação na FAAP. Bons tempos de Baby Barioni. Aí o boxe mudou de endereço, longe demais pra mim. Me afastei. Pra alegria desse coração cansado de guerra, o tradicionalíssimo Forja dos Campeões nessa temporada teve como casa o Esporte Clube Pinheiros. E aí uma década depois, voltei pro ringue... Pra outras histórias ...

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boxe brasileiro

mais de 130 novos lutadores da nobre arte A Forja dos Campeões é disputada desde 1941, quando foi criada pelo jornal “A Gazeta Esportiva”. Todos os grandes nomes do boxe brasileiro passaram pelo torneio, que é organizado pela Federação Paulista de Boxe. Eder Jofre, campeão em 1953, Miguel de Oliveira, Acelino Popó Freitas, Adilson Maguila Rodrigues, tantos, tantos. Nessa edição de 2018, foram 133 jovens atletas que participaram das oito rodadas realizadas em março passado em dez categorias de peso. A ideia do torneio desde seu início é que ele seria o primeiro da vida dos jovens boxeadores...

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A cara do BRASIL

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Na Ponta do Ramo, em Ilhéus, Bahia, o futebol não deixa a areia. Qualquer hora, qualquer dia, qualquer clima, a bola rola... Em tempos de Copa do Mundo com suas suntuosas arenas, o litoral brasileiro apresenta algo mais próximo do esporte que aprendemos a amar desde pequenos fotos: ALE DA COSTA

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até o próximo número ...


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