Portrait Fanzine nº 12

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CARTA ABERTA

SUMÁRIO

Eu sou a minha memória. A cada ano que atravesso, percebo o quanto tudo aquilo que vivi foi o que me definiu. Trabalhar numa revista, participar de uma revista, editar uma revista, ver a revista na banca. Nunca tive sonhos muito definidos, mas vivenciar o ato de produção de uma revista sempre esteve dentro de mim. Do jeito que fosse. Assim foi nos anos 90. Fui assistente, fotógrafo, repórter, editor. E babava na banca quando aquilo em que trabalhei o mês inteiro estava lá exposto pra todos verem. Só faltava eu dizer: ‘Olha, olha, eu trabalho ali’. Eu sei que é bobo, porém quando se tem pouco mais de 20 anos e pouco tempo de trabalho na sua área, bobagens são rotineiras... Essa Portrait Fanzine celebra três anos do início desse projeto. Tudo começou como um trabalho de um curso de design gráfico que fazia. Mas enquanto eu desenvolvia a cara da PF pra entregar no final do mês (foi o número zero), já nascia dentro de mim a ideia de transformar esse “trabalho de escola” em algo maior. Eu teria tempo? Competência? Paciência? Leitores? Algo pra contar??? Bom, mais de mil dias depois, chega ao seu celular, seu computador, seu tablete o número doze do projeto mais irresponsável (no bom sentido da palavra) da minha vida, que sintetiza tudo em que acredito. Minha plataforma política e de resistência. Nesse número, em homenagem àquilo que nos define como seres humanos, fui buscar uma das minhas referências. Jesus Carlos foi o primeiro fotógrafo que me acompanhou nas primeiras aventuras da Revista Atenção (um dia conto a história dela). Quando isso aconteceu, Jesus tinha 20 anos de carreira. Você conhecerá um pouco mais do trabalho e das ideias de um dos grandes fotógrafos brasileiros. Falando em mestres, mais uma capa polêmica. Dessa vez, o educador Paulo Freire. Por que aqueles que governam esse país o odeiam tanto? Foi a pergunta que fiz ao Instituto que leva seu nome. A entrevista com Francisca Pini foi esclarecedora e importante. Uma conversa franca sobre educação no Brasil conservador que se estabelece como paradigma... Há ainda Regina Martines, árbitra do rugby, e o goleiro Anderson Ferreira do polo aquático do Sesi que contam suas histórias pelos campos e piscinas mundo a fora. Do meu baú de histórias velhinhas, duas até que recentes lembram os 25 anos da morte do piloto de F1 Ayrton Senna e os cinco anos dos 7 a 1. A memória me define... Embarquemos...

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PROJETO Alexandre da Costa


Há algo de muito errado no Brasil. O que me espanta? As pessoas parecem não se importar com isso. Exemplos não faltam. Quando um ministro da Educação diz que “a universidade não é para todos”, isso não pode ser aceito passivamente, sem contestação. Não é possível que se concorde com essa posição. Mas só piora. Jair Bolsonaro, na campanha eleitoral de 2018, disse em relação ao Ministério da Educação: “Tem de ser alguém que chegue com um lança-chama e toque fogo no Paulo Freire . Esse método deu errado, tem de acabar com isso. Tem que voltar a pôr tabuada na régua do filho”. Como assim? E o cara foi eleito... Conheci o trabalho de Paulo Freire na Faculdade de História há 15 anos. “Não basta saber ler mecanicamente que ‘Eva viu a uva’. É necessário compreender qual a posição que Eva ocupa no contexto social, quem trabalha para produzir uvas e quem lucra com seu trabalho.” “Uau”, eu pensei na época. Foi como um estalo. Então mergulhei em seu livro mais famoso “Pedagogia do oprimido”. Eu aprendia a partir daquele momento que a educação é “um ato político”. Não só. Ensinar e aprender são expressões de humanidade. Como alguém pode odiar essa forma de pensar a educação? O guru de Bolsonaro, Olavo de Carvalho, questiona os métodos da principal referência brasileira sobre educação no mundo há um bom tempo. “Vocês conhecem alguém que tenha sido alfabetizado pelo método Paulo Freire ? Algumas dessas raras criaturas, se é que existem, chegaram a demonstrar competência em qualquer atividade técnica, científica, artística ou humanística? Nem precisam responder. Todos já sabem que, pelo critério do “pelos frutos os conhecereis”, o célebre Paulo Freire é um ilustre desconhecido”. Esse é o trecho de um vídeo publicado em 2012. Mas qual a razão de tanto rancor e ódio? Fui atrás da resposta com o Instituto Paulo Freire, responsável pelo legado do educador . Confira a entrevista com Francisca Pini:

Portrait Fanzine: Para quem não conhece 4

O med elites bra

Conheça e entenda Paulo Freire, o mais c foco de perseguição e censura

texto: ALE DA COSTA fotos


do das asileiras

celebrado educador brasileiro no mundo, a do governo Jair Bolsonaro

s: INSTITUTO PAULO FREIRE

Paulo Freire, quais as principais características de seus trabalhos e ideias deveriam ser ressaltadas? O que não se pode perder/esquecer/desconhecer a respeito de Paulo Freire? Francisca Pini/Instituto Paulo Freire: Paulo Freire foi um educador brasileiro que concebeu uma teoria do conhecimento de ensino e aprendizagem de educação de jovens e adultos. Nasceu no Recife/PE em 19 de setembro de 1921. Iniciou as primeiras experiências com o Método Paulo Freire em 1946. Em 1959, publicou sua tese “Educação e Atualidade Brasileira”. Em 1963, alfabetizou 300 homens e mulheres. Esta experiência o tornou uma referência internacional no campo da educação de jovens e adultos. Em decorrência do êxito do processo de alfabetização, foi convidado pelo presidente da República João Goulart e o ministro da Educação a elaborar um Programa Nacional de Alfabetização, mas o golpe civil e militar, de 31 de março de 1964, expulsou Paulo Freire do Brasil. No Chile, ele escreveu sua principal obra, “Pedagogia do oprimido”. As ideias defendidas nesta obra tiveram repercussão mundial porque correspondiam à expectativa daqueles e daquelas que defendiam um projeto de sociedade com justiça social, democracia, participação popular, amorosidade, solidariedade, "um mundo em que seja menos difícil amar”, como afirma ele no final daquele livro. Paulo Freire escreveu para diferentes públicos: educadores, médicos, cientistas sociais, físicos, estudantes, pais e mães, operários, camponeses e outros. O reconhecimento de Paulo Freire, fora do campo da pedagogia, demonstra que o seu pensamento é também transdisciplinar e transversal. A pedagogia é essencialmente uma ciência transversal. Desde seus primeiros escritos, considerou a escola muito mais do que as quatro paredes da sala de aula. Criou o “Círculo de Cultura”, como expressão dessa nova pedagogia que não se reduzia à noção simplista de “aula”. Na sociedade do conhecimento de hoje, isso é muito mais verdadeiro, já que o “espaço escolar” é muito maior do que a esco5


la. Os novos espaços da formação (mídia, rádio, TV, vídeo, igrejas, sindicatos, empresas, ONGs, espaço familiar, Internet...) alargaram a noção de escola e de sala de aula. A educação tornou-se comunitária, virtual, multicultural, intertranscultural e ecológica e a escola estendeu-se para a cidade e o planeta. Hoje se pensa em rede, se pesquisa em rede, trabalha-se em rede, sem hierarquias. Paulo Freire insistia na conectividade, na gestão coletiva do conhecimento a ser socializado de forma as-

cendente. Paulo Freire mantém-se atual porque suas contribuições são relevantes para o contexto em que vivemos. O legado que ele nos deixa, entre tantas contribuições, é um legado de esperança, de entender a educação como espaço de transformação social, que nos auxilia não só a ler a história, mas sermos também escritores da história, de entender que o “mundo não é; o mundo está sendo”, de não nos inscrevermos no campo do determinismo e sim no campo das possibilidades, onde há sempre lugar para o sonho, para a esperança. 6

PF: O que se pode alegar contra Paulo Freire a razão de tanto ódio e rancor do governo Bolsonaro e seus seguidores em relação às ideias do educador brasileiro? FP: O ódio a Paulo Freire ocorre pela concepção de educação libertadora que ele defende. As elites brasileiras se acostumaram com a desigualdade do país e convivem bem com a miséria e a pobreza. A educação emancipadora desvela a realidade e apresenta às pessoas

que as expressões da questão social decorrem do sistema capitalista, o qual se alimenta da desigualdade social. Essa elite quer a escola da mordaça, do silêncio, escola privatizada, destruindo a educação pública – aliás, destruindo tudo o que é público. Pretendem consolidar a escola de pensamento único, não plural. PF: Como é possível entender que o educador que teve como meta transformar a educação em algo para todos ser tão demonizado/incompreendido/amaldiçoado?


FP: É possível compreender pelo fato de que o Brasil viveu quase 350 anos escravizando pessoas e nunca formulou políticas para reparar tantas violações. Os que demonizam são os mesmos que defende e praticam as opressões. Demonizar Paulo Freire é demonizar a causa dos oprimidos, feita e construída por ele, por meio de uma educação transformadora, libertadora, que acredita no sonho, na esperança, que acredita que crianças, jovens, adolescentes, pessoas adultas e idosas serão

analisar o país pela ótica daquele que é explorado. Essa postura ganhou cursos no exterior, cadeiras em universidades estrangeiras. Por que o principal exercício desse governo no que se refere à educação é destruir/desqualificar o legado de Paulo Freire? FP: Mesmo no período de reabertura democrática, da década de 1980 para cá, as ideias de Paulo Freire não deixaram de ser atacadas, principalmente, por aqueles que temem o pensamento crítico. As ideias de Paulo Frei-

mais felizes e mais dignas quando respeitadas em seus direitos, em suas realizações, em seus sonhos de um mundo melhor para todos. Paulo Freire defende a inclusão social, o respeito aos direitos humanos, a garantia do direito a todas e todos e, portanto, uma vida mais digna para as pessoas, superando a opressão. É por isso que Paulo Freire é considerado um educador humanista-cristão.

re nunca penetraram de forma hegemônica as políticas educacionais brasileiras. Mas, mesmo sendo atacado, sua resposta sempre foi um convite ao diálogo, à problematização das ideias, ao enfrentamento dos conflitos de forma democrática. Frente à violência, ao silenciamento, defendeu o direito à liberdade de expressão, ao pensamento crítico. Uma das hipóteses para que os que hoje atacam o legado de Paulo Freire é que estes temam, PF: Paulo Freire, Milton Santos, Darcy Ri- por exemplo, ideias como a de que a educação beiro, pensadores brasileiros que ousaram transforma pessoas e pessoas transformadas 7


podem transformar o mundo. Isso apavora aqueles que se alimentam da desigualdade, que estão bem confortáveis mergulhados/as em seus privilégios. Isso apavora, sobretudo, as “elites do atraso”. Não há, por parte dos que atacam Freire, interesse algum em uma educação pública, para todos/as, que seja problematizadora, que questione a desigualdade social e econômica, a injustiça social e todas as formas de preconceito e de discriminação. Uma educação que promova um olhar crítico sobre nosso “estar sendo no mundo”, que des-

naturalize o que não é “natural”. Uma educação emancipadora incomoda quem não quer reconhecer direitos humanos e sociais de todos/as os/as brasileiro/as. Muitos que temem as ideias de Paulo Freire não querem uma sociedade mais igualitária. Entretanto, fora do Brasil, cada vez mais são frequentes manifestações de apoio a Paulo Freire e de reconhecimento de suas contribuições para o mundo, como alguém que se tornou um dos grandes pensadores da educação mundial, em todos os tempos. Fora do Brasil Paulo Freire tem sido cada vez mais respeitado e valorizado. 8

PF: É evidente que o governo Bolsonaro não tem a Educação como prioridade (construir presídios é a meta, entre outras coisas). Num exercício de análise a partir da obra de Paulo Freire, como ele veria o atual cenário da educação no País? FP: O Projeto do atual presidente é o Programa Escola sem Partido, o qual defende o antidiálogo, a retirada do pensamento crítico e a recusa do debate sobre temáticas que se referem aos contextos sociais, como violência contra

mulher, o genocídio da população negra. Falar desses assuntos recebe o rótulo de doutrinação. Como se fosse possível falar de história, sem falar das vítimas da escravidão, falar das conquistas democráticas, sem apontar a contribuição das mulheres sufragistas e o movimento negro feminino. Paulo Freire estaria conosco nas ruas lutando contra qualquer formação de opressão, exploração e preconceito. PF: Por que a ideia de uma educação que atinja todos é tão assustadora para aqueles que governam? Por que um adulto analfa-


beto aprender a ler é tão “subversivo”? FP: Aprender a ler de forma contextualizada significa ler o mundo que circunda sua vida, desnaturalizar e compreender a relação das coisas. Essa educação assusta por promover nas pessoas um sentido ético diante da vida. Eu só sou na relação com o outro. PF: Qual a posição do Instituto sobre a fala do penúltimo ministro da Educação que disse que a “Universidade não é para todos”? FP: A visão das elites é essa, educação superior é para os filhos das elites, pois é a que promove o tripé: ensino, pesquisa e extensão. Filhos das classes populares são para trabalhar no comércio e no ensino médio técnico. Eles não acreditam na capacidade de aprendizagem do filho do camponês e do metalúrgico e ainda não querem ver seus filhos convivendo no mesmo espaço social, a Universidade. PF: Em 500 anos de história colonial do Brasil

a educação nunca foi a protagonista! Por que esse cenário não alcança uma ruptura de fato? FP: Porque educação emancipadora é um projeto de sociedade emancipada, de democracia participativa de controle democrático dos governos, de gestão com participação popular. Isso requer mudança da cultura política do país, em todas as instâncias da vida social. Essa ruptura não será feita pelas elites, mas por pessoas que lutam, sonham e desejam um mundo para todos e todas. Por isso, precisamos continuar nesse trabalho árduo em prol da educação emancipadora. Sugiro que divulgue o link de acesso ao acervo Paulo Freire, nele serão encontrados audiolivros e muitos outros materiais educativos: http://www.acervo.paulofreire.org. Sugiro também as leituras dos livros: Pedagogia do Oprimido, Pedagogia da Esperança, Educação como prática da liberdade, Cartas à Guine Bissau e Pedagogia da Autonomia, todos de autoria de Paulo Freire.

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Um olhar so

O fotógrafo brasileiro Jesus Carlos, com mais de da era digital e o difícil caminho de estabeleci fotos: JESUS CARLOS

Começava minha carreira como jornalista na Revista Atenção. Na época, os críticos a chamavam de “revista do PT”. Estamos na metade dos anos 90. Na verdade, o projeto dessa revista era trazer de volta a essência daquilo que pautava o jornalismo: a grande reportagem. Meu primeiro trabalho, depois de alguns meses ajudando outros repórteres em suas matérias, seria sobre a morte. Novato, teria um parceiro para fazer as fotos. E aí que a coisa ficava engraçada, ao menos para minha mãe. Tocava o telefone de manhã em casa, ela

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atendia e chamava “Alexandre, Jesus está falando da funerária!!” e ela ria porque achava que um trabalho sobre a morte ao lado de Jesus era inusitado. Então, há 25 anos, eu conhecia o fotógrafo Jesus Carlos, que desde a primeira parceria em reportagens, virou uma referência. Depois do fim da Atenção, nos esbarramos várias vezes ao longo dessas décadas pelas ruas e redações de São Paulo. Sempre tive um profundo respeito por todo o conhecimento e poesia que Jesus coloca em suas fotos. Por isso mesmo, quando


obre o tempo

e 40 anos de carreira, analisa as transformações imento de uma linguagem fotográfica no país texto: ALE DA COSTA

pensei em ter um espaço na Portrait Fanzine ratório revelar o filme e, só a partir disso, a pessoa que para homenagear meus mestres, ele sempre está acostumada a ver a foto através do filme descobria foi o número um. Com a palavra, Jesus Carlos: se tinha pego aquele momento exato, se tinha feito a foto, se tinha registrado aquele lapso de segundo. Você man “O bom de todas essas mudanças, de todo o avan- dava fazer a cópia ou, se tinha laboratório, fazia suas ço da tecnologia no campo da fotografia, é que a coisa cópias. E aí levava para a redação. De toda essa revoluacontece na sua frente, você vai lá, fotografa e já de ime- ção tecnológica é o fator mais importante sim. Mas essa diato manda para uma redação, para um blog, para um rapidez trouxe vícios. Isso no começo me chamou muito site. De todas essas mudanças, eu acho a mais importan- a atenção. Eu achava e ainda acho uma coisa estúpida, te porque se você se lembrar da época do filme, depois de você tá fotografando e aí para de fotografar para ver o fotografar, não sabia nem direito o que tinha fotografa- que fez antes, muitas vezes, a pessoa não gostou da foto do, o que tinha conseguido fotografar, você ia pro labo- e deleta ali mesmo... a memória da fotografia se perde...” 13


Acima: Repressão policial na Praça Simón Bolivar na Colômbia. Nas páginas anteriores: Lula e os metalúrgicos em greve em 1980. (esq); Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia - FARC. (dir)

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“Fazer fotografia com câmera digital mudou a linguagem da fotografia. Quem entrou na digital teve que aprender a usar e dominar essa linguagem. A câmera, num primeiro momento, reduzia drasticamente o ângulo da lente. Você usava uma lente de 20 mm e parecia de 28. Isso incomodou muita gente e demorou muito pra me acostumar. No entanto, eu não tive dificuldades de entrar e dominar a linguagem na digital, mas resisti um pouco ... não foi uma transição dolorosa, mas tive muita resistência à digital. Minha primeira câmera fotográfica digital só comprei em 2007. Antes usava minha F5,


tografia digital antes da compra da câmera, toda a parte técnica, conheci o pixel, sensor, cartão de memória.” “Em 1997, comprei meu primeiro computador, um scanner e um gravador de cd. Eu comecei a digitalizar as minhas fotos que fazia em negativo e cromo. Revelava em meia hora, corria pra casa, editava, digitalizava, gravava no cd e levava pro cliente, que achava isso maravilhoso. Aprendi a digitalizar bem, a usar o Photoshop. Uma década depois, a coisa ficou complicada. Você chegava no cliente: ‘Jesus, vai lá, faz a foto, volta pra cá e baixa as fotos aqui no computador’. A casa caiu... Eu não podia fotografar com negativo e ir pra redação. Foi quando parei e decidi comprar a minha digital...” “A transição do analógico para o digital não foi um problema. No entanto, tenho amigos fotógrafos que dançaram no mercado nesse processo. Eles se decepcionaram com o novo modo de fazer uma foto e até mesmo no que se refere a dominar a câmera. Não entendiam a câmera. Aos poucos, eu entendia como aproveitar a linguagem digital. Você desenvolve uma linguagem própria como fotógrafo com o tempo, com o aprendizado.” “A câmera no celular democratizou a foto, o fazer fotografia, só que por trás disso foi criada toda uma ideia de que qualquer um é fotógrafo. Os caras foram criando outros recursos que tecnicamente melhoraram as fotos, editor de fotos pro celular, filtros. Esses recursos todos fazem as pessoas acharem que são fotógrafos. Pode fazer foto no celular, até aí tudo bem, mas dizer que é um fotógrafo?”

uma baita de uma câmera, até hoje me dá saudade, você sentia ... a câmera e seu corpo viravam uma coisa só.” “Eu tinha uma certa resistência com a linguagem digital.Sempre gostei de ver fotografia, exercício que faço até hoje, e via as fotos digitais e achava tudo achatado, perdia profundidade, volume. Isso me incomodava, toda minha vida trabalhei com cromo, negativo pb e cor. Quando você via a foto, via o rosto da pessoa, volume do rosto, as expressões. Resisti em mudar, fui obrigado, o mercado exigiu isso. Li muito sobre fo-

“Fiz foto com drone na manifestação da Avenida Paulista em 14 de junho e um amigo fotógrafo coloriu essa foto, fez outra coisa, deixou fantástica. Me pediu desculpa por ter feito a intervenção e eu disse que ele tinha melhorado minha foto 100%. O colorido ficou parecendo uma árvore de natal, mas tudo bem (risos). Ele estava usando um aplicativo do celular e mudou o clima da foto, o céu, luzes dos prédios.” “Antes da câmera no celular, um lapso de tempo muito pequeno, o mercado já estava banalizando a fotografia... e, claro, visava o lucro. Uma Folha de São Paulo, um Estado de S. Paulo, tinham 30 fotógrafos trabalhando com carteira assinada nos anos 80. O enxugamento 15


Bandas punks do México

começa a partir da chegada dos computadores e informatização das redações. Em primeiro lugar, os caras foram diminuindo os trabalhadores presenciais. O trabalho free-lancer aumentou. Isso vai aos poucos banalizando o jornalismo e com a fotografia não foi diferente. Esse ajuste que foi feito pelo mercado só beneficiou o dono do jornal que aproveitou pra aumentar sua faixa de lucro. Eu tenho noção dessa mudança. Com essa banalização, o mercado da fotografia no Brasil só vai piorar.” “... Cara estava com a câmera digital, corria pra casa e mandava pela internet, se estava com o no-

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parar de fotografar pra ficar vendo as fotos no LCD da câmera...se fez ou não... se deleta... esquema de estupidez que vem junto com o surgimento da câmera digital...” “Todo esse processo de banalização baixou os custos do trabalho em relação à fotografia assustadoramente. Mas isso valeu pro empresário. Eu trabalho muito mais hoje do que na época da câmera analógica. Eu faço a foto, edito e fico duas, três horas, na frente do computador e não reconhecem isso como trabalho. Com a analógica, eu fazia as fotos, se eu ia pro laboratório ou pagava, incorporava ao valor total que cobrava do cliente. Filme, cópias, tudo quem pagava era o cliente. Agora não, essas horas na frente do computador não são levadas em conta. Trabalho mais e ganho menos.” “Quem faz a foto? Você ou a câmera? É você que faz a foto, não a câmera. A foto está na cabeça. Posso usar uma câmera de ponta e posso usar uma câmera de celular. Eu faço coisa com celular hoje. Antigamente, saía com a câmera analógica todo dia. Hoje isso não acontece mais. E aí você olha na tua frente e tem uma foto e rapidamente você saca o celular. Perdi o preconceito com o celular. No entanto, a maioria das fotos é muito ruim tanto como linguagem como tecnicamente falando.”

tebook nas costas, parava no bar da esquina, baixava e mandava as fotos... Logo que comprei minha câmera digital, fui cobrir a vinda do Papa. Ao meu lado, um fotógrafo da Folha. O Papa entrou e quando terminou de passar na frente da gente, o carinha da Folha parou de fotografar , pegou o notebook da mochila e mandou as fotos pra redação e eu só olhando pra aquilo tudo de canto de olho... ‘Puta merda, esse cara tá mandando a foto pra redação.’ Ele editou dez fotos e disparou pra redação. Fechou o notebook e voltou a fotografar. Claro que se acontecesse algo com o Papa naquela hora, ele ia perder a foto... é o que eu falo sobre a estupidez do cara

“Se de um lado há a banalização, de outro, há a democratização da fotografia. Esse negócio de distribuir a foto pelas redes sociais é fantástico. No final dos anos 70, fazíamos oficinas com os metalúrgicos de São Paulo. A ideia era eles fazerem seus próprios jornais. O curso durou três meses e tinha diagramador, editor, fotógrafo, a redação toda. Havia então uma certa mística, um mistério na arte da fotografia. Eu e a Rosa Gauditano mostramos que fazer fotografia não era impossível e ensinamos a fazer foto, a levar a foto para dentro da fábrica naquela época em greve. As pessoas sempre se encantaram com a imagem. A câmera digital ajudou nesse processo de desmitificação, a romper essa magia, a mostrar que você pode fazer uma foto...” “O que me emputece nas redes sociais é que não vejo uma porrada de trabalhos dos meus amigos. Como romper com essas amarras? Você tem mil amigos/seguidores e cerca de 30 tem acesso ao que postou. Os caras tem controle disso e te forçam a pagar pra ter um alcance maior. Parei com minha página no Facebook depois de oito anos por causa da censu-

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Manifestação de camponeses no México

ra. No entanto, as redes sociais acabam com o monopólio de se fazer jornalismo. Isso se rompeu. Você divulga seu trabalho, essa democratização é um fato.”

“A fotografia digital veio pra ficar, não tem jeito.”

“Não foi a revolução digital que matou o jornalismo não. O que matou foi a visão do dono do jornal em relação ao papel e a função do jornalismo, além claro, a questão do lucro. Se pegar o jornalismo feito no 18


ninguém vai querer investir. A Realidade, no final dos anos 60, fez um exemplar inteiro sobre Amazônia. Só fotógrafo bom...Walter Firmo, Pedro Martinelli, foram seis meses de produção daquela revista. Saíram jornalistas de todos os cantos pra esse trabalho, quase 100 páginas, belas fotos, página dupla, tinha tempo pra fotografar, condições, tinha helicóptero, barco. Hoje redação nenhuma quer fazer isso. A qualidade do jornalismo está em função da linha editorial que tem muito a ver com o departamento financeiro. Jornal pautado por quem está interessado só em dinheiro e vê o jornal como mercadoria. Que jornal vai ser esse?” “Quando parei de fazer assinatura de jornal não me fez falta.” “Sinto alegria quando vou fotografar. Comecei a fotografar em 1976. São quarenta e poucos anos de carreira. Parto do princípio que não se pode sair para fotografar imaginando o que vai encontrar pela frente pra não se frustrar. Quando vou fotografar algum tema que me interessa ainda sinto uma certa emoção. Me emociono muito mais hoje quando vou viajar do que com meu dia-a-dia. No caso da viagem, a perspectiva é outra, podem acontecer milhares de coisas, pode acontecer nada, você sai pra aventura. Quando comecei a fotografar, a emoção era de estar aprendendo a fotografar, meu equipamento totalmente mecânico, minha câmera não tinha fotômetro. Ir fotografar era um grande prazer. Às vezes, você vê a foto, antecipa o que vai acontecer, vê coisas que outros não veem. Nas vezes que senti a possibilidade de uma foto e não fiquei no lugar, aconteceu e eu perdi, mas isso você vai aprendendo com o tempo da fotografia. Saio com duas lentes, qual usar? O tempo te ensina isso. Na hora que eu vou fotografar, sei o que vou fazer.” Brasil, há cinco, seis grandes jornais no país... o processo de enxugar a redação, alegando que as pessoas não tem tempo pra ler, que o surgimento da internet fizeram com que as pessoas passassem a exigir menos espaço para leitura, isso acontece por causa da linha editorial.” “Antes, o jornalista e o fotógrafo ficavam um mês viajando pela Amazônia produzindo uma reportagem. Hoje, nenhum jornal faz mais isso. Uma revista como a Realidade, de grandes matérias e temas,

“Encontrei o fotógrafo, meu amigo, Juca Martins: ‘Porra Jesus, o que tá havendo com você? Só estou vendo foto sua agora com drone!! Não acredito! Você tá perdendo a emoção da foto, pegar a câmera, olhar o que tá fotografando e sentir que você fez a foto. A cumplicidade entre você e o fotografado’. Eu digo: ‘Juca, eu não vou parar de fazer foto e não tiro sua razão’. A possibilidade da foto é uma sensação que não tem como dizer. O drone lá em cima, alto, longe distante... Realmente o drone dá uma distância do fotografado e está distante de você também. Mas tem o detalhe, ele tem uma lingua19


Metalúrgicos durante manifestação em São Bernardo do Campo

gem também, você tem que saber explorar o máximo possível dessas novas tecnologias. Tem mais uma alternativa de ampliar sua visão fotográfica. Tecnicamente, o drone usa a mesma tecnologia da câmera. Tem obturador, diafragma, fotômetro, foco, cartão de memória. O que você tem que aprender com o drone são as possibilidades que ele dá. Não é um mero apertar de botão.” “Sebastião Salgado é o único fotografo brasileiro reconhecido e ele diz que só chegou a esse estágio porque estava fora do Brasil. Eu aprendi a desenvol-

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Falávamos muito de fotografia. Era um pessoal muito acessível. Com eles, comecei a criar a minha própria linguagem. A olhar um tema, desenvolver um tema.” “Foram cinco anos, de 1982 a 1987, no México. Me arrependo até hoje de ter voltado. Foi a maior merda que fiz na minha vida. No México, a fotografia é tida como arte, como expressão. Há um investimento muito grande tanto do Governo como da iniciativa privada. Você chega numa livraria mexicana e encontra muitos livros de fotografia. Conheci o primeiro livro do Sebastião Salgado lá no México. A fotografia mexicana tem o Belas Artes, que investe muito, um grande centro como se fosse a Cinemateca em São Paulo. A casa de cultura de fotografia. Oito pinacotecas de fotografia. A questão da fotografia lá tem história. A grande quantidade de fotógrafos que foram pra lá, para fotografar o México. Tina Modotti, Sebastião Salgado, Henri Cartier-Bresson..” “Há uma mentalidade de não reconhecimento da fotografia no Brasil. Tem muita gente nova fazendo coisas muito boas, mas não se ouve falar dos caras. Quem hoje tem no fotojornalismo? Não tem um nome!! Você não vê uma foto legal na capa do jornal. No passado, a foto me chamava a atenção. Não há uma foto que me faça parar pra ver. Nem na capa de revista.” “O Instagram é horroroso. Será o espelho daquilo que se faz de fotografia no Brasil hoje? É muito feio, tem muita porcaria, muita foto ruim no Instagram. Não quero fazer essas fotos não (risos). Eu gosto de ver foto ruim pra não fazer igual. Eu gosto de ver foto boa pra fazer igual ou melhor.”

ver e compreender a linguagem fotográfica, explorar o tema no México.. A cultura norte-americana nunca dominou a cultura mexicana. Identidade muito forte. A cultura mexicana é muito forte. Na época dos grandes murais de grafites em Los Angeles, você via a imagem do mexicano, toda essa identidade. Quando cheguei no México, percebi que mesmo com a cultura fotográfica norte-americana muito forte, o mexicano tem sua linguagem própria de fotografia. Hector Garcia, Pedro Meyer, eu comecei a “beber água” dessa gente. Criei a Imagemlatina com outros quatro fotógrafos mexicanos.

“Se a idade me parar... parou, estou com 69 anos. A questão da idade não é um problema... eu me refiro a parar de fotografar por falta de trabalho, aí vai ser muito ruim. Tenho muita vontade de fotografar, tenho projetos e não vou viabilizá-los por questões econômicas. Isso me deixa muito preocupado. Se for pela idade, não tem jeito. O mercado como um todo que tá me preocupando. E isso me deixa triste. Tenho que tomar uma decisão sobre o que vou fazer da minha vida. Não quero ficar numa cama. Eu vi como foi com minha mãe e não quero isso. A fotografia é uma profissão que a idade não era pra ser um problema. Então, enquanto estiver dando conta do recado... e parar vai ser uma condição sua, não vem de fora...” 21


Rรกpido demais Hรก 25 anos, morria Ayrton Senna, um dos maiores pilotos da histรณria da Fรณrmula 1 texto e foto: ALE DA COSTA

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publicado no site PORTRAIT IMAGENS em maio de 2014


A noite anterior tinha sido ruim, coisa que anos depois se tornou comum. Estava inquieto. Acho que o peito doeu pela primeira vez naquela madrugada, algo que também se perpetuou tempos depois. Fico gelado segundos antes das luzes se apagarem. Na época ainda se dava o sinal verde, mas não lembro. Era um menino, apenas. Um acidente faz aquela inquietação aumentar. Lembro das mãos suadas. O coração batia mais acelerado. Uma nova largada com os carros em

movimento. Ele está na frente, como me acostumei a ver. O cara ali do capacete amarelo tinha falado tanta merda nas últimas semanas que me deixara de saco cheio. Tudo bem, ídolos também erram. E quando ele acelerava, eu esquecia tudo de ruim. Sorria, comemorava. Acordei todo o prédio numa madrugada de 1988 quando o cara foi campeão do mundo pela primeira vez. Fiquei feliz de verdade. Então, a nova largada, ele em primeiro, a curva, a batida, o irremediável ali na minha frente. A cabeça dele pendeu pro lado, achei que era um bom sinal. O homem que grita quando narra estava em silêncio. A aflição aumentava. Eu negava, inconscientemente, o que via. Já pensava no rapaz do capacete amarelo dando entrevista no hospital. O helicóptero chegou. Levou ele. Eu já sabia que era o fim, mas a ficha não caíra. Um tempo depois, o homem sério da TV falou que o piloto que me deixara puto, que tirava uma sorriso sincero de mim toda manhã de domingo, tinha morrido.

Sem referências. Sem chão.

Enlutei. Me entristeci. Não lembro se chorei, acho que sim, mas me calei pela primeira vez. Não fui trabalhar um dia. Não disse nada para ninguém sobre o que sentia naquele momento. Doeu aquela intensidade toda. E o cara era só uma cara que corria de carros e que eu nem conhecia pessoalmente. Aprendi a ver Fórmula Um com ele em 1984 (e faço isso até hoje), um moleque metido, arrojado, corajoso e vencedor. Dez anos depois foi embora sem dizer nada...

Era a segunda morte da minha vida. A primeira tinha sido do meu avô.

Depois, meu filho...

Enfim, há coisas com que não me acostumo... 23


No comando Renata Martines é uma árbitra brasileira do rugby e relata sua trajetória pelos campos do país num esporte que busca reconhecimento texto e fotos: ALE DA COSTA

A brutalidade não dá as cartas no rugby. Você pode até pensar que sim, numa primeira olhada rápida. No entanto, se houver um aprofundamento no conhecimento de suas regras, valores e princípios perceberá que o esporte da bola oval é muito mais que um jogo. Não são raras as vezes que gigantes no scrum são interpelados pelo árbitro, por exemplo, e nada contestam e ainda se ouve “desculpa, senhor!”. Foi nesse cenário que conheci Renata Martines. Ela apitou um duelo do Campeonato Paulista de Rugby masculino entre Rio Branco e Poli em abril de 2017. A postura dos atletas em relação à Renata foi exemplar (como teria sido com qualquer árbitro). Mas não é sempre assim. Ser uma mulher apitando partidas de homens, independente do esporte, ainda traz preconceitos: “É muito triste estar num esporte tão inclusivo, que cria caráter e valores em tantas pessoas e não cuidarmos do machismo que nos rodeia” aponta Renata de 36 anos. Ela é formada em publicidade e marketing, trabalha na SKY Brasil desde 2012 e escreve para a ESPN W Brasil. Conversamos por email e whatsapp durante o mês de junho. Confira o bate-papo exclusivo: Portrait Fanzine: Por que o rugby? Como foi a sua descoberta do esporte? Renata Martines: Eu sempre gostei de esportes. Passei por muitos na adolescência, basquete, vôlei, handebol, corrida de rua... quando parei com as corridas de rua, fui per24

guntar para a minha amiga de longa data, Rafaela Turola, se ela ainda jogava handebol. Ela me disse que não e que estava no rugby! Fui conhecer e me apaixonei de imediato. PF: Por que ser árbitra? RM: Sempre admirei essa posição. Em 2012, fiz o curso de arbitragem e já sabia que quando não pudesse mais jogar iria querer fazer parte da partida com o apito na mão. PF: Há um maior respeito dos jogadores de rubgy perante à arbitragem se compararmos com o futebol. Mesmo assim, como você descreve a experiência de apitar jogos dos homens? RM: Ao longo da jornada como árbitra, eu construí um respeito muito especial com os times masculinos. Não sei se é a empatia, por tentar ser justa ao máximo e ser muito clara que também sou humana, que erro e estou em constante evolução, que fizeram eles me enxergarem diferente. Mas, quero destacar que eu não precisaria ter esse gasto de energia só porque sou mulher! Eu deveria ser vista como arbitragem e ponto... Nós, mulheres, não aguentamos mais ter que passar por alguns “testes” para sermos aceitas pelo bom trabalho que fazemos. Ainda sofro preconceito, assim como minhas amigas e colegas de profissão, precisamos notar que esse preconceito, que soa como brincadeira, não é legal e já passou da


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hora de simplesmente colocar o respeito em não havia ficado em casa para lavar louça. prática 100% do tempo dentro do rugby. PF: Como encara o machismo enraizado na PF: Qual foi sua melhor experiência como cultura brasileira de que a mulher não serve/ árbitra? ou deve fazer esporte? Uma professora de RM: Cada dia eu escrevo uma página nova basquete me relatou, numa entrevista para sobre a arbitragem na minha vida e fazer a a PF 09, um caso recente de que a aluna saiu final da última etapa do paulista no último da escolinha de basquete porque o namorafinal de semana (08/06/19) foi mais que espe- do achou que ela estava musculosa demais... cial: além de ser a final, foi entre Band e São RM: Por mais que o rugby tenha pilares maJosé. Dois times que respeito muito e me de- ravilhosos, ainda há o preconceito na cabeça safiam a cada jogo. Arrisco a dizer que foi o de cada pessoa, mesmo elas dizendo que não melhor jogo que já participei em toda essa jor- possuem.... veja, dizem que o rugby é inclusinada de árbitra, além de ter recebido elogios vo, certo? Eu super concordo, mas, as pessoas de várias pessoas que nem imaginava receber. não são! Hoje a diversidade está estampada em nossa cara e ainda escutamos piadas (e não são PF: E a pior? na maldade) de chamar as pessoas de anãs, de RM: Não tenho uma pior experiência. To- feias, de magrelas, de burras, que é mulher... das elas são boas porque faço de coração etc. Temos que lembrar que trocar o nome das e com a melhor das intenções. Mas, posso pessoas por alguma palavra como “pequena” escrever um dia que estava num jogo mas- já é um preconceito. Conto tudo isto para exculino e um senhor perguntou porque eu plicar o quanto as palavras saem da boca das

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pessoas sem elas perceberem como o outro se sente, entende? Volto à questão do respeito: eu te respeito pelo que você é e fim. Não deveria ter um olhar sobre o gênero, raça, opção sexual, etc... Caso algum árbitro, homem ou mulher, não alcance as expectativas de alguém, a outra pessoa pode ter um pouco de empatia e pensar: não deve estar num bom dia. Não ser xingada por ser mulher ou porque errou.... é muito triste estar num esporte tão inclusivo, que cria caráter e valores em tantas pessoas e não cuidarmos do machismo que nos rodeia. PF: Como você visualiza sua carreira no rugby daqui pra frente? Qual o seu projeto de vida em relação a esse esporte? Quais as perspectivas? RM: Meu sonho já foi muito maior, hoje eu quero sempre fazer meu melhor e deixar as portas abertas para oportunidades que encham meu coração de amor, orgulho e agreguem valor para a minha jornada. Eu treino bastante,

estudo, compartilho, mas, sem cobrança. Faço isto porque me faz bem e continuarei assim enquanto fizer sentido para a minha evolução. PF: Em 18 de maio passado, houve um jogo da seleção brasileira de rugby em Osasco, pelo sul-americano. Público total de seiscentas e poucas pessoas. Dois fotógrafos apenas (eu e o menino da Confederação)... Por que ainda há desdém (não sei se é essa a palavra) da mídia, da torcida de um modo geral em relação ao rugby? Digo isso porque é um esporte consolidado no Brasil no sentido de que há um direcionamento positivo, na medida do possível, mas não se populariza de jeito nenhum... Sabe a razão disso? Alguma teoria?? RM: Como profissional do marketing, ouso dizer que ainda estamos caminhando apartados. Acho que falta unir forças e caminhar juntos para o mesmo lado. Não nascemos com a cultura do rugby, então, quanto mais ótimos quisermos ser, nunca alcançaremos o bom...

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“Defendeeeee texto e fotos: ALE DA COSTA

Anderson Ferreira, mais conhecido como Cirilo, é goleiro do polo aquático do SESI SP e um dos principais nomes do país na árdua posição de proteger um gol

A vida de goleiro não é fácil. “Sofrer no paraíso?” Pode ser, quem sabe? O fato é que os arqueiros mundo a fora, independente do esporte que pratiquem, suam o dobro para estar impecável na hora que importa. No polo aquático, esse momento em que se está de frente com a bola do jogo acontece a cada minuto. Se fizer umas continhas bem mequetrefes, o número um do polo aquático defende, na média, cerca de 50 bolas por jogo. É coisa pacas. Atenção e foco 100% o tempo todo. E aí você per28

gunta: “Uai, por que virou goleiro, então? Vai jogar na linha, oras...” A resposta não é tão simples assim. “Eu tenho um amigo, Ique Guimarães, que jogava no Botafogo, no Rio de Janeiro, isso por volta de 2000. Nós éramos moleques mesmo. Ele me convidou pra fazer um treino, mas eu não sabia nadar, gostava de brincar na água e só. Não conhecia nada do esporte, mas gostei logo de cara, era diferente, tinha o gol, a piscina. Comecei numa raia com outras crianças que não sabiam nadar e por ali foi. Até co-


eeee, Cirilo”

mecei na linha, mas percebi que não ia me dar bem (risos). O técnico me deu a opção de ir pro gol. Peguei umas bolinhas, fui me aprimorando. Não fiquei triste de virar goleiro não (risos)”, comenta Anderson Ferreira, 27 anos, goleiro do Sesi São Paulo desde 2010. Apelidado de Cirilo, o garotinho da novela Carrossel – sucesso dos anos 90 na TV brasileira – desde a base no Rio de Janeiro (isso já faz tanto tempo que Anderson até estranha quando é chamado pelo seu nome), o goleiro teve um sucesso mete-

órico nas piscinas. Em apenas cinco anos, passou de um menino que não sabia nadar para atleta da seleção brasileira júnior. “O que me assustou na minha primeira vez na piscina foi o quanto a água era gelada. E a piscina era funda. Mas me acostumei a tudo isso. Eu olhava o pessoal jogando, achava diferente, eu me virava, seguia a galera pelo cantinho da raia. Eu não me afogava, tava com boia (risos). Eu tinha disposição pra ficar no gol, via muitos vídeos, treinava com os mais velhos, ouvi muito meus técnicos. As 29


coisas caminhavam bem, fui federado, treinava bastante, comecei a viajar com o Botafogo. Tudo aquilo me encantava e eu me desenvolvia bem e rápido”. Não esqueça, leitor, você está conhecendo um goleiro e é evidente que as coisas não seriam simples. Fora da piscina, não parece, mas o gol do polo aquático é grande (3 metros de largura e 90 cm de altura). Cirilo (vamos chamá-lo assim) com seus 1,73 de altura precisa se desdobrar. “O gol é muito grande e sou pequeno, e aí tenho que ser ágil... por isso treino muita agilidade, explosão, saltos... Eu tô boiando na água.. Não se põe o pé no chão, não pode se apoiar no gol. Isso é pênalti. A gente tenta fazer perna alternada e acompanhar a bola sempre. Isso vem no treino, chutes no gol, bola de peso, muito treino mesmo pra aguentar. Apesar da minha altura, eu compenso isso na velocidade, não tenho envergadura, não posso dar canto, tenho que estar bem posicionado sempre. Tento cortar caminho no gol, função muito técnica.. faço natação, faço saltos, posturas de pernas. Eu não posso ficar desorganizado na água. Tenho que estar rápido na água pra chegar na bola. São cerca de 50 chutes por jogo na minha direção. É cansativo, mas eu gosto muito.” O polo aquático brasileiro sempre foi de poucos. Elitizado mesmo em algumas regiões. Na terra do futebol, um garoto chega em casa e fala pros pais e irmãs que escolheu esse esporte. Polêmica? “Eu conversava muito com as minhas irmãs. Meu pai era porteiro e minha mãe doméstica. Eu pensava em treinar, receber um dinheiro do Botafogo, fazer faculdade de educação física ou entrar no exército, era o que eu pensava na época. Minhas irmãs botavam na minha cabeça que eu tinha que treinar, que a vida não era fácil, guardar o dinheiro do bolsa atleta, não sair gastando tudo, guardar dinheiro pro futuro. O apoio deles foi total”. As coisas caminhavam (ou nadavam) bem nas piscinas. Tanto que Cirilo chamou a atenção do Sesi SP no final de 2009. Deixar o Rio e sozinho partir para uma aventura em São Paulo. Dilema. “Fiquei muito confuso nessa época. Eu tinha 18. Não sabia se meu esporte ia durar tanto. Conversei com a família, com os amigos e eles ficaram muito felizes com essa proposta e eu achando que eles não iam gostar. Sair da casa dos meus pais pra ir pra São Paulo? Minha irmã disse que eu poderia voltar se desse errado em São Paulo, que todo mundo gostava de mim no Botafogo. Não conhecia ninguém em São Paulo, mas sabia que não podia ficar preso aos meus pais. Morei em república, foi frustrante em alguns momentos, cheguei a pensar em voltar pro Rio... mas segurei a onda...” Em 2011, um grande susto. O pai, Walter Ferreira de Souza, sofreu um AVC. Ele se recuperou, fez fisioterapia, mas acabou demitido do emprego de 30


zelador num prédio em Botafogo. Consequentemente, a família se viu sem casa. E Cirilo longe em São Paulo. “Fiquei triste com a situação do meu pai. Eles não iam ter onde morar. Foi pesado tudo aquilo. Mas eu pude ajudá-los com meu esporte, com meu trabalho. E aí fiquei feliz por ter ouvido minha família no momento da mudança pra São Paulo. Graças a isso, guardei um dinheiro e com o que eu tinha e o FGTS dele pudemos comprar uma casinha na comunidade lá em São Cristovão. Nos ajudamos sempre”. Cabe ainda uma saudosa lembrança da mãe, Josefa Maria da Conceição de Souza: “Minha mãe, além de doméstica, trabalhou como cozinheira na rua em que morávamos em Botafogo. Ela gostava de cozinhar pra muita gente, era gratificante pra ela, ouvir das pessoas ‘sua comida está maravilhosa, comi muito’. (risos) ... e ela falava: ‘come mais meu filho, comeu pouco’. (risos) ... Algumas vezes, levava meu time pra almoçar ou jantar lá em casa, o Botofago e depois o SESI. Minha comida favorita é lasanha então ela fazia alguns tabuleiros porque sabia que o meu time iria comer também. Em 2016, minha mãe sofreu uma parada cardíaca e foi parar no UTI de Bangu (Rio de Janeiro), ficou um tempo internada, mas não aguentou...” Quando o assunto é seleção brasileira adulta, ele é contundente e maduro: “Hoje a seleção tem o Soro, goleiro sérvio do Botafogo e que faz um trabalho espetacular. Eu e ele juntos na mesma seleção não faz sentido. Eu tenho 27, o Soro 40. Para o trabalho de renovação fazer sentido, tem que chamar um arqueiro mais experiente e um novo, para que ele evolua, pegue experiência. Mas estou treinando forte, estou preparado, quando precisarem, estarei presente.” A distância da seleção não impede, no entanto, um sentimento de realização dentro das piscinas. Títulos não faltam e Cirilo foi novamente um dos craques do Sesi na conquista mais recente do clube: o inédito Brasil Open, torneio que reuniu os principais times de Polo Aquático do país realizado em junho passado na cidade do Rio de Janeiro. Na final, Cirilo e cia. bateram o timaço e favorito Pinheiros por 9 a 7. “De verdade, até hoje não caiu a ficha dessa vitória. Catei muito (risos). E quando chegamos no quarto quarto, estávamos vencendo e me cobrei muito, muito mesmo e sempre focado. ‘não vou deixar passar nada’. E assim foi (mais risos). Foi uma experiência muito, mas muito legal. Foi tudo intenso demais. Pinheiros é muito forte e conseguimos vencer. Fico feliz de falar que sou um atleta do polo aquático. Treino muito de verdade. Dois períodos, é desgastante, mas tudo acaba sendo muito gratificante. Falo sempre com o Rudá (também atleta do Sesi), ‘cara, olha o que a gente tem aqui!’ Eu fico impressionado com isso tudo. E feliz demais.” 31


O maior dos vexames A seleção brasileira de futebol, há cinco anos, perdia por 7a 1 para a Alemanha na Copa do Mundo realizada no Brasil texto e fotos: ALE DA COSTA

Todo mundo lembra onde estava quando o homem desceu na lua. O mesmo serve para o 11 de setembro. A morte de Senna também. São exemplos de fatos marcantes que extrapolaram seu universo, seu nicho, e transbordaram para a vida cotidiana das ditas pessoas normais. Eu, você, ele, enfim. Pra muita gente é difícil perceber, por causa da falta de distanciamento temporal, o fato histórico se desenhando na sua frente. Realmente, não é simples entender que aquilo que conhecíamos não é mais aquilo que, bom, conhecíamos. Tragédias, mudanças sem aviso prévio, tiram o seu chão. Para os que amam futebol, o 8 de julho de 2014 ganhou sua aura de inesquecível num padrão do nível da queda do Muro de Berlim (sim, parece exagero, mas não é não). Não? Vou dar uma dica (ou duas): o 7 a 1? Gol da Alemanha? Pois é, o futebol brasileiro tem seu Waterloo. Você lembra o que sentiu naquela tarde? Tenho que confessar que muitas vezes torço contra a seleção brasileira. Foi assim em 2010 na Copa do Dunga. Tem sido agora também. Vibrei contra os times de Zagallo, Parreira e até Luxemburgo. Rancoroso, sei bem. Sou, entre outras coisas, uma viúva do time de 1982, aquele do meio campo formado por Falcão, Sócrates e Zico. Putz grila, você tem noção do que foi aquela equipe? Se tem, então, entende como me sinto em relação aos escretes canarinhos que vieram depois. A comparação é cruel. Agora, sempre tive simpatia por Luiz Felipe Scolari. Tive a chance de entrevistá-lo duas vezes antes da Copa de 2002, a Copa do Penta. Fiz perguntas complicadas e ele não virou os olhos nenhuma vez e ainda fez graça quando respondia. Pouco passional eu, torci por Scolari no Mundial do Japão e da Coreia. O título veio e o tempo passou. Então, chegou a Copa do Mundo do Brasil em 2014. Scolari substituiu Mano Menezes (que eu gostava), quando finalmente o time do treinador demitido engrenava. Aliás, a saída de Mano pegou todo mundo de surpresa. Agora, a seleção de 2014 estaria sob comando de Felipão e, nas sombras, Carlos Alberto Parreira. Por mais carinho que tivesse por Scolari, difícil engolir as pataquadas de Parreira. Aí, a Copa começou. Neymar era o único talento de um grupo nada mais do que esforçado. Claro, todo mundo que quisesse ver essa verdade, viria. Mas a pachecada entrou naquele esquema do ame-o ou deixe-o (que enche pacas o saco)... eu deixei a seleção de novo. Mas gosto (amo?) de futebol e fui ver tudo da Copa do Mundo. Via Messi se desdobrando pra levar a Argentina nas costas. O Chile vencendo um dos grupos da morte. Itália e Inglaterra dando novos vexames. A Espanha, até aí a campeã do mundo, numa participação frustrante. E tinha o time do Felipão, a duras penas, passando pela Croácia (lembra do apito amigo do japonês?), empatando com o México, derrotando um ultrapassado Camarões. Na sequência, dois clássicos sul-americanos. A quase eliminação contra o Chile e depois (talvez único bom jogo do Brasil) a vitória sobre a Colômbia, que trouxe na bagagem o fim do Mundial para Neymar depois da entrada dura de Zuniga. Nada de especial, na verdade. A choradeira dos boleiros amarelos na hora do hino chamou mais a atenção do que boas partidas de fato. Que venham as semifinais. O Brasil, suando por demais, ao lado de Holanda, Argentina e Alemanha – que havia apresentado um melhor conjunto mas sofreu como nunca nas mãos da Argélia nas oitavas-de-final. Não esqueça também que os alemães acabaram virando o segundo time de todo mundo tamanha a simpatia que exalaram em terras tropicais. Sem Neymar, o Brasil enfrentaria o melhor time do Mundial de olho na final. Felipão surpreendeu todo mundo escalando o franzino Bernard para encarar os gigantes germânicos. Seleção brasileira, sim senhor, jogando pra frente. Não posso dizer que fiquei triste com esse arro32

jo do treinador tupiniquim. Mas, e nessa história sempre tem um mas, o problema é que o Brasil não tinha time para encarar ninguém, não tinha meio campo, a defesa era uma festa e o coitado do Fred, bom, era só um coitado lá na frente. Deficiências claras e evidentes apresentadas há tempos. O jogo começa e não podemos dizer que os dez primeiros minutos foram ruins. Foram não. As coisas até que caminhavam bem para os comandados de Felipão. Bernard, outro coitado, parecia uma criança no meio do jogo de adultos, porém o Brasil encarava a Alemanha. Então, aos 11, um escanteio e a casa caiu. É importante lembrar que Muller apareceu sozinho na área. Só deu um totozinho e rede. Ninguém para marcá-lo. Ok, meninos, então vamos acordar e continuar a peleja. Como disse, eram só meninos, nada mais do que isso. Não havia um líder em campo, nem fora dele. Quando o 23º minuto aportou no relógio, a seleção amarela desandou de vez. Levou quatro gols em pouco mais de 300 segundos. E o resto virou história. Eu estava chocado vendo tudo aquilo. Uma sensação maluca de não estar vendo aquilo. Não era real. Porque ali dentro do campo ninguém de amarelo corria ou fazia algo ou quebrava alguém ou ia pra porrada e nada acontecia além de gol da Alemanha, gol da Alemanha, gol da Alemanha. Pesadelo para quem assistia ou um certo torpor ou as duas coisas. Mesmo sendo da torcida do contra, jamais imaginara que algo assim pudesse acontecer com o outrora melhor futebol do mundo. Eu sabia há algumas décadas que o Brasil não era mais o dono da cocada. Era só mais um. Mas dói quando aquele seu amor mais antigo é maltratado, humilhado, pisado. Eu ria de nervoso, não era real. Gol da Alemanha. O primeiro tempo acabou, 5 a 0 pra eles. Devo ter ido tomar café, meu vício mais querido. Voltei pro meu canto do sofá. O intervalo passou letárgico. As imagens dos torcedores incrédulos, muita gente indo embora do estádio (o que não acho certo porque se é pra torcer, torce até o final e ponto). De verdade, já imaginava coisas piores do tipo vira 5 acaba dez. Quando os alemães voltaram ao jogo, o fizeram num ritmo mais lento. Não fariam mais nada para nos humilhar. Não avisaram pro tal do Schurle que ainda marcou mais dois gols. Vexame escrito e nem o gol do Oscar aliviou muita coisa. 7 a 1. Maior goleada já sofrida na história da seleção brasileira. Acho que só isso já basta como epitáfio. A maior humilhação já sofrida pelo time brasileiro em seus 100 anos de história. Nada havia sido pior do que aquilo. O juiz apitou o fim do jogo e senti que poderia acordar a qualquer momento com aquela sensação de que havia tido um sonho muito ruim. Quando acordasse, tudo seria melhor. Pois é, amiguinho, foi não. Como um crítico do status quo da sociedade humana acreditei (ingênuo coitado) que a vergonhosa derrota serviria como o marco zero de uma nova realidade. Aqueles que faziam mal para o nosso futebol (um bem cultural, sim senhor) seriam limados da face da terra, gente séria assumiria o comando e hoje, um ano depois, estaríamos ainda lambendo as feridas, mas com uma perspectiva diferente. Claro, nada disso aconteceu. Mandaram o Felipão pra China e trouxeram de volta o Dunga. A Copa América que acabou no último sábado foi a prova de que não aprendemos nada com os 7 a 1. A arrogância, incompetência, cegueira global seguem mais fortes do que nunca. E me levam a uma leve sensação de que precisaremos de outras humilhações, como não se classificar para uma Copa do Mundo, por exemplo, o que nunca esteve tão próximo como agora... Mas relaxa, meu pai dizia que eu era pessimista. Devo estar exagerando (o que de fato estou sendo é sarcástico). Sei não, sei não, a luz que aparece no fim do túnel é um belíssimo de um trem sem freio vindo em nossa direção. Que pena.


publicado no site PORTRAIT IMAGENS em julho de 2015

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antes de ir...

Cerca de 700 índios da tribo Guarani vivem nas aldeias TEKOA PYAU e TEKOA ITU no Jaraguá, bairro da zona oeste da cidade de São Paulo. Foto feita em janeiro de 2017


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