CARTA ABERTA Essa edição da Portrait Fanzine já teve várias caras nos últimos seis meses. Antes, tem que se falar sobre essa gestação tão longa. Primeiras ideias foram abandonadas por causa do isolamento social e, na boa, não havia clima para conversar sobre coisas que não fossem a pandemia e suas consequências. Convenhamos, clima ainda não há e talvez levemos um bom tempo para atravessarmos tamanho luto. É esse o ponto crucial: 2020 marcou a PERDA como parte constante de nossas vidas. Difícil pensar em fazer uma revista com tanta dor ao seu redor e dentro de si. Dizem, no entanto, que mesmo com tudo de ruim, a vida deve seguir. Ok, sigamos, mas não esqueçamos. Essa revista está enlutada. A minha fúria contra o país em que vivemos não arrefeceu. Por isso, uma capa sobre racismo. Enquanto escrevo, acabo de ver num telejornal, um jovem negro que foi parado pela polícia (a quarta vez em 2021) porque, segundo o “agente da lei”, o rapaz “teria cara de bandido e seria parado mais uma outras dez vezes”. Como isso pode ser real ainda no século XXI? A história do Marcus Toledo, a capa dessa edição, não é única e traz um relato quase intermitente do quanto racista é esse lugar em que vivemos e que o negacionismo virou a cara desse momento. Não esqueça que em 20 de novembro passado, o vice-presidente dessa república afirmou que “não havia racismo no Brasil!”. O que foi, então, o policial de arma em punho apontada pro rosto de uma criança de 11 anos? Toledo é de uma sinceridade impar... você precisa ler suas palavras nas entrelinhas também, ele sorri de nervoso, mas a dor está lá e a revolta não se mede em palavras. Quando ele lembra dos conselhos da família antes de sair de casa... Rotina que segue na vida de milhões de negros Brasil a fora. Outro momento dessa revista é o surgimento de um novo time de basquete no tradicional Esporte Clube Pinheiros. Você acompanhou o fim da equipe na edição passada. Agora, um novo começo. Presenciar o início de algo pode ser renovador em meio a tanta desgraça. E fechamos a Portrait, relembrando dez anos da minha vida nas quadras. Foi com o NBB que tudo começou e agora, 10 temporadas depois, já dá pra contar uma história bacana. Não esqueçamos nunca dos que morreram... Embarquemos...
SUMÁRIO
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PROJETO
Alexandre da Costa
O FUTURO texto e fotos: ALE DA COSTA
David Pelosini encara o desafio de assumir o mais novo time de basquete da história do NBB Caiu como uma bomba. Aquilo que só ouvíamos como um sussurro nos intervalos dos jogos, a reportagem de Demétrio Vecchioli no UOL em março passado confirmou: o esporte olímpico no Pinheiros, um dos principais formadores de atletas do país ao lado de Flamengo e Minas Tênis, corria riscos de ser encerrado graças à uma crise política. A equipe de basquete masculino, por exemplo, que estava em sexto lugar na temporada da Liga Nacional foi toda desmontada em abril com seus jogadores (leia a entrevista de Marcus Toledo nessa edição) e comissão técnica sendo demitidos por carta/fax/telegrama. Em maio, o NBB 12 foi cancelado assim como acontecera com outros eventos no mundo todo por causa da pandemia do COVID. A indefinição quanto à doença adiou as notícias e definiçções sobre o futuro do clube da cidade de São Paulo. Havia gente que vivenciava a rotina do Pinheiros que via a possibilidade concreta do time não disputar a temporada 2020/2021. O tempo passou, setembro chegou, e o medo do Pinheiros acabar com seu esporte olímpico, ao que parece, por enquanto, ao menos, está fora dos planos. O técnico David Pelosini, no clube há nove anos, foi promovido da base do basquete (onde o Pinheiros faturou tudo o que disputou inclusive o bicampeonato da Liga de Desenvolvimento – o Brasileirão da garotada) e levou consigo todo seu grupo de atletas. Com a confirmação da participação da equipe no NBB13, o Pinheiros se tornou o time mais jovem da história da competição com média de idade de 20 anos. Pelosini deu o recado: “só com os garotos não dá!” Se juntaram ao time, Humberto de 25 anos, Guilherme Teichmann de 37, Gustavo Basílio de 29 e o uruguaio Mauroz Zubizaurre de 26 (único estrangeiro do time). A média de idade subiu para pouco mais de 22 anos. O Pinheiros não luta pelo título brasileiro como nas temporadas passadas. Pelosini e seus atletas sabem disso. Mas o pouco tempo de vida desse grupo entre os adultos já trouxe altos e baixos pra mexer com o coração de qualquer um. Confira o depoimento do técnico do Pinheiros:
Eu assumi o time adulto do Pinheiros com muita naturalidade. Esse caminho que estou trilhando não começou agora. Antes, fui assistente técnico de equipes adultas, inclusive do NBB, por 4
É AGORA
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Sobre assumir o time adulto do Pinheiros depois de anos comandando a base do clube: “Eu nem pensei em falar NÃO quando fui convidado. Em nenhum momento eu pensei em NÃO”
nove anos. Trabalhei como preparador físico do adulto também do NBB1. Eu tenho uma vivência no basquete adulto além desse desenvolvimento que é o trabalho de base. Na verdade, é o final do trabalho de base que a gente chama de desenvolvimento que é mais o meu perfil. Não sou um treinador de escolinha, de sub-12, eu sou um técnico do desenvolvimento, pegava o atleta de 16, 17, 18 e entregava para alguém do adulto. Não vou deixar de dar treino para essa faixa etária a partir de 18, 19 anos aqui no clube. Vou continuar desenvolvendo, mas agora tenho essa função de colocá-los no adulto. Eu acho um casamento muito bonito, vai ser bem duradouro. Já tenho esse histórico, acho que estou no lugar certo, com um trabalho de base que solidifica o meu trabalho pessoalmente, mas num clube de tradição de formação. É muita coisa junta positiva. Eu nem pensei em falar NÃO quando fui convidado. Em nenhum momento eu pensei em NÃO. O que eu conversei, a princípio, é que eu conhecendo a Liga de Desenvolvimento (que o Pinheiros foi bicampeão) e meus jogadores, sabia que era um pulo muito grande para o NBB. Só com os garotos era melhor não jogar. A gente precisaria de duas, três, quatro peças, algumas contratações pontuais de acordo com o tamanho do nosso orçamento atual. Eles deveriam brigar por isso porque só com o LDB não teríamos condições. A gente mais ia queimar o jogador do que lançá-lo. Se lançarmos três, quatro, cinco jogadores por ano, além de inédito, nosso trabalho será de uma qualidade impar no país. Têm uns jogadores vindo do 17 pro 18, e do 16 pro 17, que são gerações tão fortes quanto aquelas que lançaram Felipe Ruivo, o Lucas Dias, o Georginho, Cauê, Aquiles, Humberto. O Pinheiros não começou hoje fazendo o trabalho de base. Esse clube tem tradição nesse trabalho. Se fizerem um levantamento dos jogadores que passaram por esse desenvolvimento... O trabalho do desenvolvimento do Pinheiros não tem como começar do berçário, não acredito nessa ideia de que o cara tem que nascer no clube. Recrutar os jogadores faz parte desse trabalho de desenvolvimento, a gente não vai fazer milagre. A gente tem que pegar os jogadores com potencial, principalmente atlético e físico, e tentar transformar essas vidas. O clube não está interessado em ganhar dinheiro com esses meninos. Está interessado em fazer o bem, em formar jogador, em fazer pelo Brasil... eu tenho um uruguaio armador, filho de brasileiros, é o único estrangeiro do elenco que é quase mais brasileiro que a gente... adora isso aqui. Eu não tenho gringo. O papel do clube é fundamental pro enraizamento de um basquete de quali6
dade. Nós temos estrutura, temos pessoas afim de fazer. Nós não estamos querendo subir nas costas de jogador nenhum. A gente simplesmente quer fazer basquete e quer pessoas que queiram viver aqui. É uma nova realidade para esse atleta pinheirense vindo da base. Completamente. Ele vai ter que lidar bem com a derrota. Criar casca. Não se cria casca na frente do ventilador tomando vento. Ele não cria casca na rede. Ele cria casca na dificuldade, na fome, na guerra. Na dificuldade, o cara cria aquela resiliência a ponto de ficar o mais constante, intenso durante os momentos críticos do jogo... é pra isso que a gente tenta desenvolver... antes disso, ele tem que ter muito fundamento, biotipo bom, se matar na academia pra se garantir. Há momentos, atualmente, em que a gente fica com dois três jogadores de 20, 19 anos na quadra e eles estão aguentando fisicamente. É um trabalho muito complexo e há uma estrutura por trás do David... Meu trabalho é uma parte do todo. Mas no começo fui muito sincero, não daria pra encarar o NBB só com eles, mas com algumas peças pontuais, a gente consegue fazer esse trabalho... que é o nosso papel hoje. A gente não vai brigar por título, não tenho vergonha de falar isso, apesar de querer (risos), mas a gente está fazendo um papel muito importante pro basquete nacional. Disso eu tenho muito orgulho. Iniciamos nosso trabalho no Campeonato Paulista. Foi importante. Então, quando começou o NBB, a gente percebeu que tinha condições de vencer o Corinthians e deixamos escapar na última bola, ok...natural. Pegamos o São Paulo e encaixamos muito bem defensivamente, com estratégia legal, mas nos faltava, talvez, o poderio ofensivo, alguma coisa que o São Paulo tem. Fomos para o jogo contra Brasília com a chance de ainda beliscar a primeira vitória naquela primeira etapa e não fomos bem. Na véspera do jogo, a gente descobriu que o Mauro estava com Covid e isso impactou ... num simples ambiente, já é difícil regular e ajudar os mais jovens nisso e aí você toma uma paulada dessa, o armador não vai jogar, o próprio menino que vai entrar no lugar já baqueia...Fizemos um segundo quarto muito ruim contra Brasília e depois tivemos um jogo de recuperação muito bom, só que faltaram ali uns três minutos pra gente conseguir buscar. A gente conversou, teve um período curto de treino e pudemos acertar algumas coisas com essa ideia de que na próxima fase seria um outro momento sim pra conseguir a primeira vitória. Apesar da gente ser um time de desenvolvimento, não pode como grupo colocar a vitória à frente do desenvolvimento, isso a gente não pode fazer. O foco individualizado tem que ser em prol do coletivo.
Sobre o jogo contra o Campo Mourão, pelo primeiro turno do NBB13: “Foi sem dúvida alguma a pior partida da minha vida. Eu não sabia o que dizer no tempo, não sabia o que dizer no vestiário, eu nunca tinha passado por essa experiência...” 7
Quando todo mundo vai bem é a nossa chance de ganhar uma partida no NBB. A gente ainda não tinha vencido e estava com isso muito focado na cabeça. Perdemos do Flamengo que é um timaço, normal... E aí veio o Campo Mourão. “Agora começa o campeonato pra gente”. Foi uma pressão tamanha entre os próprios jogadores, que eu percebi que o trem tinha saído do trilho... Foi sem dúvida alguma a pior partida da minha vida. Eu não sabia o que dizer no tempo, não sabia o que dizer no vestiário, eu nunca tinha passado por essa experiência... está sendo muito rico. Eu fiquei dois dias sem dormir, estava muito mal e quem me salvou foi minha mãe que foi na minha casa percebendo o meu semblante e me lembrou o quanto sou bom, o quanto lutei pra chegar ali, que eu tenho 22 anos de carreira, que eu não podia deixar certas coisas acontecerem e eu só ouvia minha mãe e ela me deu um negócio... eu estava desanimado, sem querer ver o vídeo do jogo. Passei a outra noite assistindo o vídeo, rabiscando no meu caderno e arrumei o time, conversei individualmente com alguns jogadores, “tá muita pressão aqui”, “tá muito solto ali”, enxuguei 70% do meu esquema ofensivo e coloquei todas as nossas forças defensivamente e fomos pro jogo contra o Pato Basquete (nota da redação: e venceram!). Esse bom entendimento e esse time que tenho na mão, inclusive os adultos, temos uma parceria muito grande que estou gostando muito. O Buffat conseguiu se soltar, o Valter, o Gabi Campos virou titular ali e vivemos agora um outro momento, um time mais competitivo... Nós vamos perder jogos, vamos ganhar, mas precisamos fazer o máximo e pra fazer o máximo tudo precisa funcionar muito bem, fisicamente e psicologicamente. Momento muito limite, com um time com pouco recurso e acabamos apostando em coisas que não sabemos o que são. Você só tem uma forma de saber o que um jogador jovem consegue fazer jogando com adultos: o colocando lá e deixanDavid Pelosini faturou, com a base do Pinheiros, os dois últimos torneios da Liga de Desenvolvimento de Basquete (2018 e 2019), o Brasileirão da molecada
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do acertar e errar. E errar é coisa que a gente precisa ter o tato porque se ele erra muito, você prejudica o time, se ele acerta muito, você ajuda o time, mas deixar errar e continuar confiando é fundamental quando se tem um time jovem. O atleta sentindo isso, tem uma tendência de acertar mais porque bons eles são... não é à toa que a gente dominou a base nos últimos anos, ganhamos tudo no ano passado. E sabemos do trabalho fortíssimo, do investimento do Flamengo, do Paulistano, do Franca... Não tem nada de pai e filho, absolutamente nada disso em nossa rotina. O que eu trabalho muito é a parte psicológica deles, tenho mestrado em psicologia e acho importante demais isso. O basquete é um jogo de moral, tem que saber dar moral. Muita moral, no entanto, é prejudicial. O relacionamento do respeito é fundamental. Eu sou um técnico um pouco diferente em algumas coisas. Quando ouço um treinador falando “não leva isso pro pessoal” , eu já falo com eles que comigo tudo é pessoal, onde eu estiver é comigo. Se o cara falar mal de mim como técnico, ele tá falando mal de mim... o basquete é minha vida, é o meu amor, é o que eu aprendi com oito anos de idade a fazer. Vou me enfiar nisso aqui até morrer, eu vou morrer numa quadra, não quero me aposentar, não vou me aposentar. Se eu tiver condição de dar treino só pra escolinha, vou fazer isso. Vou morrer numa quadra, não quero sair de lá, não vou sair de lá. Eu gosto de basquete. Esse convívio nosso não é pai e filho porque eu não trabalho com uma hierarquia normal, eu trato todos como irmãos num mesmo plano. A linha que divide a comissão técnica dos jogadores chama-se respeito e ele não pode pensar em nenhum momento pisar nessa linha. Eu, minha conduta no banco, não gesticulo, eu sou incisivo com uns, com outros, vou mais na conversa. Entendo bem o meu grupo psicologicamente e isso é uma vantagem.Trato todos como iguais e quando tenho que dar uma chamada como no pós-jogo contra o Campo Mourão, eu sento todo mundo no chão, pego uma cadeira e digo pra eles que esse é o único momento que quando eu estiver aqui não quero o diálogo. Numa temporada fizemos isso três vezes, o que é quase nada afinal a gente faz tudo junto durante um ano, é uma família, são laços profundos de afetividade... eu trabalho com essa parte espiritual da fraternidade, do convívio entre irmãos. Eu não vejo problema nenhum em falar pra eles que foi o pior jogo da minha vida contra o Campo Mourão, não sabia o que falar no tempo, eu falei isso pra eles.. Você saber lidar com a vulnerabilidade de uma forma humana e saber que o outro também é vulnerável e respeitar isso, motivando pra que ele controle essa vulnerabilidade de desempenhar bem é o cerne do meu trabalho. Se eu precisar trocar tudo amanhã, se for consenso de todos, não tenho essa coisa de ego, que tem que ser tudo do meu jeito e vocês vão ter que engolir. O melhor técnico é o que se doa melhor para seu time. É a doação que faz com que eles abracem aquilo que você quer. Se o jogador não abraçar o modelo de jogo, o técnico não serve pra absolutamente nada. “Eu preciso de você, olhar pra você, é importante, eu preciso de você”... é adotar uma fragilidade natural do jogo e não impor. Eu nunca imponho, vou no diálogo, na prática, vou lá, mostro pra eles que eu tenho condição e conhecimento suficiente para dirigi-los. Isso me traz o respeito que eu necessito para dirigir o time. Sem o respeito dos caras, você não tem a mão no volante, não consegue dirigir. O respeito não se ganha na imposição e, sim, no conhecimento. O Oscar foi um ídolo com a camisa verde e amarela e por isso falamos dele até hoje. O fundamento dele era a bola de três. Não temos a cultura de elogiar e admirar o cara que pega muito rebote. O jogador que faz cesta é quem vira ídolo e o melhor foi o Oscar com a camisa da seleção brasileira. Nós precisamos de um jogador/produto muito mais especializado e é aí que surge o problema porque, depois do Oscar, o mundo inteiro avançou em estrutura, em formação e capacitação de treinadores e o Brasil não. Aqui não temos a cultura do estudo, não temos a cultura de formar pessoas, de formar técnicos, de formar pessoas que tenham o hábito de ler e estudar e o basquete é um jogo muito estudado. Temos jogadores pouco estudados e técnicos menos ainda e precisamos urgentemente mudar isso. Cerca de três por cento do país tem o basquete e quantas cidades tem o estado de São Paulo? Não era pra todas as cidades terem ao menos um time? Mas nós não temos estrutura, sem isso é impossível... eu tenho joga9
dor aqui que não almoçava até o sub-16... é lógico que ele tem defasagens cognitivas e físicas.. é um cara grande com um superpotencial e só de vir pro Pinheiros e almoçar todo dia já melhorou. Olha que país nós estamos pra cobrar um superídolo. Como vai encarar um Lebron James? Esquece... o cara investe um milhão no corpo dele todo ano... ele está a 200 por hora. Nossos jogadores não tem essa cultura, não tem essa grana pra ter essa cultura e nossos treinadores precisam de respaldo, não só de crítica... Primeiro, a gente precisa dar, entregar, botar o técnico pra estudar e depois cobrar, “larga a mão de ser mané e vamos ler”. Não acredito em outro caminho que não seja um técnico muito competente com uma estrutura muito boa, não dá pra gente fazer do jeito que tá fazendo.. É o Pinheiros, é o Minas, é um ou outro que tem... às vezes, até um clube com condições, a gente sabe que o menino não pode ir na musculação do lugar, não pode usar a estrutura que tem. Você vê o menino de 15 anos tendo que escolher se vai treinar muito e tentar ganhar dinheiro com basquete ou se vai pra escola porque a escola não entende que ele treina e o treino não entende que ele tem que ir pra escola... os problemas são tamanhos... eu sou o último a falar mal dos treinadores porque eles não tem respaldo. Aqueles que estudam estão se desenvolvendo. Pra gente proliferar o bem, os técnicos que tem muita capacidade no país podem ensinar aqueles que ainda não são tão bons. Todo mundo se fortalece. Quando os órgãos competentes conseguirem se organizar, tenho certeza que seremos uma potência, começaremos a vencer a Argentina no adulto, esbarrar no Canadá. Estamos longe dos EUA, mas dos outros países é uma questão de organização e investir nos treinadores e nas estruturas.. Se não tiver dirigente firme, a coisa não vai. Eu estava com seis derrotas e dirigente falou pra continuar pondo a molecada porque estamos no caminho certo. Ele não veio me cobrar, enfiar o dedo na minha cara.. O basquete é diferente mundialmente falando. No mundial, se os Estados Unidos forem completo vão ganhar. São incomparáveis. Se não forem completo, tem dez times que podem vencer, no último segundo. No jogo de alto nível, não passam de três pontos. É um nível absurdo.. A gente fez uma partida de estreia no Campeonato Paulista com todo mundo muito ansioso contra o São Paulo e perdemos no fim apenas. Isso surpreendeu e colocou uma expectativa alta. Na sequência, jogamos contra o Osasco. Fizemos um jogo muito ruim, mas matamos aquela bola no último segundo com o Teichmann e vencemos. Jogamos fora contra o Corinthians também e era contra eles que lutávamos pela classificação. Fizemos uma partida pífia e isso é natural que aconteça. Na teoria, tudo bem, mas ficar fora dos oito classificados? Não dava. Veio essa partida contra o Paulistano e a gente com a corda no pescoço em casa, tendo que vencer. Eu devo essa pro Humberto porque o jogo estava abrindo pra 13 pontos e ele deu uma chacoalhão no meu tempo que eu quase não falei. A gente mudou a postura defensiva e a coisa começou a andar. Quando entramos no vestiário, percebemos que se fizéssemos perfeitamente nossa estratégia defensiva, a gente conseguiria segurar o Paulistano. Eles não faziam muitos pontos. Foi 65 a 63. Fomos perfeitos no segundo tempo defensivamente. Encaixamos bem. O Wesley fez a bolinha e partimos pro abraço... Eu sou muito intenso e coloco muito amor que tenho pelo basquete, por meus jogadores, sem medo de ser feliz e quando a gente ganha uma dessas... na vitória contra o Osasco, fui o primeiro a pular no Teichmann. Dou volta olímpica, pareço um louco mesmo, beijo o símbolo. Quando temos momentos muito ruins, eu sofro muito porque a gente quer ver as coisas acontecendo em prol da família, de tudo mais... Sou sempre um indivíduo, uma coisa só no meu trabalho, em casa. Isso reflete quando perco, fico triste, quando ganhamos, fico superfeliz, e quero passar a felicidade para as pessoas. Quando ganhamos, não gosto de não comemorar... senão a vida fica chata. Quando eu ganho, vou pro céu... não foi só mais um jogo. Eu dou folga e quando voltamos temos que voltar como se nada tivesse acontecido. A gente precisa comemorar um dia, descansar e o competidor sempre quer mais... tem que viver o momento presente, curtir o luto, curtir a alegria insana... extravaso, saio correndo... eu me perco mesmo. Eu sei me divertir na hora que pode. 10
A vitória sobre o rival Paulistano no Campeonato Paulista marcou o início desse novo trabalho do Pinheiros com o basquete: “Tem que viver o momento presente, curtir o luto, curtir a alegria insana... extravaso, saio correndo... eu me perco mesmo. Eu sei me divertir na hora que pode”
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DE CORAÇÃO ABERTO Marcus Toledo, ex-pivô do Esporte Clube Pinheiros, revisita o passado e expõe o racismo estrutural de um país que nega inclusive sua existência texto e fotos: ALE DA COSTA
Ele confessa ter tomado um susto. “Dar entrevista?” Brinca no começo do papo dizendo que não teria o que falar. Não? Pois é. Marcus Toledo tem muito o que dizer e, pra mim, sempre pareceu que ele sintetizava o estereótipo de um atleta profissional brasileiro. Mais até. Toledo é a cara do brasileiro (claro, não aquela minoria que conseguiu enriquecer durante a pandemia). Essa conversa vai além da sua carreira nas quadras de basquete do mundo. Negro da zona leste de São Paulo, ele foi uma das vozes marcantes de 2020 no que se refere à luta contra o racismo. Chamado de “extremista”, o atual jogador do Lleida da Espanha (mesmo time que
o recebeu quando moleque lá no início de tudo) ri de nervoso quanto à fala do vice-presidente do Brasil, Hamilton Mourão, de 20 de novembro passado de que “não havia racismo no país”. E o ano que passou pregou mais peças para o pivô. Marcus Toledo está vivenciando um revival do início de sua carreira. Aos 34 anos, o ex-atleta do Esporte Clube Pinheiros se viu desempregado com o desmonte do time de basquete da cidade de São Paulo em abril passado, no começo da pandemia de Coronavírus. A demissão de Toledo abriu as portas para sua volta ao basquete espanhol, assim como fizera quando deixou o Brasil ainda garoto com pouco mais de
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17 anos. Sim, as voltas que esse mundão dá. Que sociais. Você não se cala perante ao racismo, conversa bacana com esse cara. Acompanhe: por exemplo. É uma obrigação do atleta profissional se posicionar em temas tão sensíPortrait Fanzine: Policiais fazendo revistas veis num país como o Brasil dos Bolsonaros? em três jovens na rua. Todos negros. Essa MT: É um direito da pessoa se posicionar. Dizer cena se repete todos os dias pelo Brasil. De que um atleta tem que se posicionar é complicacada dez pessoas mortas pela polícia, oito do... para o negro chegar a uma posição de destasão negras. Já passou da hora do Brasil rei- que em sua área, imagina o que ele passou. Teve vindicar a ideia de que é racista sim. Como que engolir a seco muita coisa. Esse questionavocê se sente nesse cenário? Quando você mento a gente não faz para as pessoas brancas. olha para o hoje do Brasil, qual a perspec- O ser negro não é uma coisa só. O Neymar, por tiva de país você enxerga para seus filhos exemplo, não se via como negro até que sofreu no futuro? Não existe racismo no Brasil? racismo também. A pessoa que alcançou alguMarcus Toledo: (riso nervoso)... Têm estudos ma coisa tem que entender que seu posicionaem que foi perguntado para as pessoas se exis- mento pode dar um clique em outros e é totaltia racismo no Brasil e elas disseram que sim, mente válido. Todo posicionamento é válido. existia. A maioria disse sim. Aí, quando perguntaram se as pessoas eram racistas, elas disseram PF: Os “sapos” que você engoliu ainda incoque não. Mas como isso? Tem o racismo e não modam? tem os racistas? Onde está o racismo? Num exer- MT: O racismo no Brasil não começou agora. cício de autorreflexão, o primeiro lugar onde se Sempre houve. É um negócio estrutural. Agoidentifica o racismo é em casa. Temos atos ra- ra o racismo virou pauta, mas está muito loncistas em casa. Então, alargamos a área de pes- ge ainda qualquer resolução desse problema. quisa. No meu grupo social, as pessoas com que O discurso é muito bonito para se ganhar voconvivo na rua, são racistas? Tem um comentá- tos, audiência, mas o debate não chega de fato rio ou outro, mas se define como racismo? Ahh, onde tem que chegar. As pessoas sofrem isso na “a gente passa o pano”. Não adianta falar que pele. Eu descobri a questão de ser negro no Branão tem racismo porque tem sim. O fato é que a sil quando tinha 11 anos. Eu e meu irmão (um gente acaba normalizando esses comportamen- ano mais velho) estávamos voltando do clube tos... aquela piada, aquele comentário, aquela em que treinávamos de carona com nosso téccoisinha que a gente... mas, pô, não vou levar a nico que é branco. Ele dava carona até o meio sério, não vai me trazer nada de bom. Eu prefiro do caminho e aí, eu e meu irmão, pegávamos engolir seco a começar a bater de frente. Mas há um ônibus para casa. Então, quando estávaum limite e quando comecei a bater de frente mos no Ibirapuera, um policial parou o carcontra o racismo fui taxado de extremista. Eu ro. Eu sentado na frente. O policial mandou a estou falando que está acontecendo, que está gente sair do carro e apontou a arma pra generrado e por eu ter um posicionamento, viro te, duas crianças!!!! O técnico saiu revoltado do extremista? Com certeza existe racismo, não carro dizendo “são atletas, são atletas!” Imagihá como negar apesar do vice-presidente dizer na o trauma. ‘Alguma coisa tá errada’, foi o que o contrário (no dia 20 de novembro, Hamilton pensei. Se fossem outras pessoas dentro carro Mourão em entrevista disse que não havia ra- (brancos?) o tratamento seria o mesmo? Não cismo no Brasil)... queria viver nesse mundo que sei. Foi uma coisa traumática. Fora isso, muiele fala, tomara que um dia a gente chegue lá, tas outras coisas aconteceram e a gente acaba mas acho que isso está bem longe de acontecer. lidando com isso, mas não chego a entender.. PF: Pelos seus tweets, vê-se que há um en- PF: O passado escravagista do Brasil explica gajamento político no que se refere às causas esse momento? 14
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MT: Com certeza. Quando vejo esses números... a gente corre todo dia para não virar estatística também. A cada 23 minutos, um jovem negro é assassinado no Brasil. Não é casualidade. A gente pode ser um desses. Não tem como não pensar isso. Consegui trabalhar, ter o mínimo de conforto... o básico que todos deveriam ter hoje virou privilégio de alguns, saneamento, uma boa escola, que é o que eu tento buscar para meus filhos. Não tem como não pensar que carregamos essa herança escravagista. Você é discriminado por causa de uma característica física e vai além... as pessoas morrem porque são diferentes dos padrões estabelecidos... Tudo isso é muito triste e ruim. A gente amadurece muito antes. O parar de tremer (em referência ao episódio dos 11 anos) é complicado. Minha avó, mãe, tia sempre nos aconselharam antes de sair de casa... “penteia o cabelo, se arruma, leva o documento, você é preto” ... você acaba internalizando isso. Elas estavam fazendo o melhor pra gente, não estavam reproduzindo o racismo...
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elas queriam que eu voltasse pra casa...por isso tantos conselhos. Eu não sei de nada, sei o que vivi, tento ler, estudar, tento abrir mais a mente, tento debater um pouco com as pessoas que conheço. Eu ainda não entendo a pessoa que vive no lugar, vive no país e não entende o que está acontecendo... A minha casa na Vila Formosa sempre foi a mais simplezinha. Nos clubes que joguei, no centro da cidade, conheci outras realidades. Mas quantas pessoas têm essa chance? Eu tive a sorte de ter uma mãe que nos incentivou a ir pro esporte porque era a chance que tínhamos para melhorarmos de vida. A minha geração da família foi a primeira fazer faculdade, por exemplo. Foi a primeira geração a ter uma dinâmica diferente que rompia com o passado de pobreza estabelecido pela sociedade. PF: Você chega à Europa numa primeira passagem com 17/18 anos. Passa quase uma vida esportiva no basquete europeu, dez anos, e volta ao Brasil que retomava sua Liga em busca
de caminhos menos infelizes (não sei se você se lembra, mas o último campeonato brasileiro antes do NBB nem teve campeão). Então, você fica cerca de seis temporadas no Brasil e agora, aos 34 anos, está de volta à Espanha. Como se sente ao refazer o caminho do início da sua carreira? Imaginava voltar à Europa? MT: Eu mudei bastante nesses 20 anos, na minha forma de pensar, de agir, de ser... eu tenho essa noção de não ser a mesma pessoa. A minha visão de mundo é totalmente diferente. Depois do Monte Líbano e Hebraica, vim tentar a sorte na Espanha aos 17 anos sem contrato, nem nada. Ia fazer um torneio de uma semana, um dos melhores eventos do juvenil na época. Joguei bem e veio um clube para me testar um mês, eles gostaram e me fizeram um contrato de cinco anos. E agora essa volta pra Espanha, que eu não tinha programado, nem nada. Retorno pro mesmo clube que abriu as portas pra mim há 17 anos... Minha mãe, dois irmãos, estão na Espanha. Eu nunca joguei sozinho...Eu sempre joguei com o
objetivo de ajudar minha família. Vim pra cá sozinho na primeira vez, foram três anos. Na época, deixaria minha família no Brasil ou levaria pra Espanha? Meus irmãos eram novos. No Brasil, tem as questões de violência, escola, saúde... eu não ia ter condições de mantê-los. Todos aceitaram vir pra Espanha e acabaram ficando. Tive a oportunidade de tentar a sorte nos Estados Unidos. Era escolher EUA ou Espanha, que tinha a possibilidade de me oferecer uma ajuda de custo. No Brasil, eu já conseguia ajudar em casa. Se eu fosse para os Estados Unidos, não teria essa oportunidade. O tempo passou... Até tinha uma previsão de volta pra Espanha num futuro. Minha esposa é espanhola. O que mais pesou nessa volta também é a idade dos meus filhos, o mais velho tem cinco anos... pensando em educação, qualidade de vida.. decidimos voltar pra Espanha... Mas eu voltei pra cá sem clube nenhum. A gente já havia decidido que voltaria pra Espanha e aí veio essa pandemia e eu me preparei então pra não jogar até janeiro de 2021.
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Quando voltou ao Brasil, Toledo jogou no Mogi na temporada 2013/14 (foto da próxima página). Depois de rápida passagem pelo Pinheiros - só retornou ao clube em 2017, desembarcou no Fortaleza Basquete Cearense, onde ficou entre 2015 e 2017
PF: Acompanhei sua despedida do Pinheiros pelo Facebook e vi toda a sua gratidão. Mas como bateu essa demissão em você? Já se falava de uma crise política no clube desde março, vocês atletas já esperavam esse fim? Qual foi a sua sensação ao receber em casa uma carta/telegrama falando de seu desligamento do clube que defendeu numa época de pandemia e incertezas? Faltou sensibilidade à diretoria do Pinheiros? MT: Na hora, ferve o sangue, mas você entende o que está acontecendo. O Pinheiros estava no direito dele e fez o papel de empregador. A lei permitia isso. Essa realidade da demissão como foi pra gente, infelizmente, é a realidade de muitos. Poderia ter sido feita de outra forma, deveria... Se eu estivesse no lugar, eu levaria o lado humano em questão. Nós sabiámos que não seria fácil pra ninguém economicamente essa pandemia, inclusive pro maior clube da América Latina, por isso mesmo poderia ter prezado pelo nome, 18
pela instituição. Tentei não levar pro lado pessoal... o carinho que tenho é pelas pessoas que fazem aquele clube, que trabalham. Não é um grupo fechado de diretores que faz um clube. Claro, eles tomam as decisões, mas o meu agradecimento era para aquelas pessoas que fazem o dia a dia do clube. Havia diretores que estavam preocupados. Seu Carlos Osso, por exemplo... As pessoas que tomaram aquela decisão continuaram vivendo normalmente de uma certa forma. Fomos pegos de surpresa, apesar de que já intuíamos que a crise ali era real. O César Guidetti (técnico do Pinheiros na época) sempre blindou muito a gente, ele queria que a gente focasse no jogo, no nosso trabalho. O César como pessoa, como técnico, é nota mil. Esse trato dele com o ser humano, raras vezes vi num técnico. Ele se preocupa com a pessoa, antes de tudo. Toda a comissão técnica agiu com muita força durante essa crise institucional. Na temporada anterior, lideramos quase toda a fase de classificação. O projeto era bom, era sólido e o basquete foi um dos primeiros cortes que fez o clube... PF: Por que é tão difícil criar ídolos no basquete brasileiro? Se você fizer uma pesquisa rápida, boa parte dos entrevistados ainda falarão sobre Oscar, Marcel e cia... Por que é tão difícil o basquete alcançar o papel de segundo esporte dos brasileiros como foi por tanto tempo? MT: Isso me deixa bem triste, chateado... Há dois anos, fui num treino na Vila Formosa, tem um projeto lá no Clube Manchester com os professores Charles e da Mata. Minha mãe jogava lá, levava a gente quando pequenos e ficamos por lá e, sempre que posso, volto lá pra bater uma bolinha. Eles tem um projeto pra molecada de 12 até 18 anos, duas vezes por semana. Na periferia é difícil ter isso. Conversando com a galera, vendo tudo aquilo, não tinha nenhuma criança com camisa do NBB. Tinha camisa do Curry, do Lebron, mas nada do Marquinhos, Marcelinho, Nezinho, Alex e perguntei pra eles se assistiam basquete nacional e eles disseram que não. Mas por quê? Se na base não estão assistindo, como vão criar esse vínculo, ter um ídolo brasileiro? Criança não pensa em ser um Guilhermão,
um Yago. Ok, tá certo, querer ser um Lebron é o máximo. Acho que no interior de São Paulo se faz um trabalho melhor de aproximação da criança com o basquete nacional, vai nas escolas, incentiva. Eu tinha quer cruzar a cidade pra ser federado. O ídolo se cria também no contato. O basquete nacional se organizou há pouco tempo, veio de uma crise estrutural. Tudo se junta para que o basquete não se desenvolva. PF: Essa bagunça no basquete brasileiro antes do NBB te incentivou a sair do Brasil há 20 anos? MT: Minha mãe foi jogadora. Meu objetivo até os 16 anos era fazer faculdade a partir do basquete e comprar um fusca (risos). O basquete ia me dar a condição de fazer uma faculdade. Estudei em colégio particular graças às bolsas. Tive sorte. É impossível desenvolver uma base sem competições, juntar as pessoas, lapidar talentos, tem muita matéria-prima pelo país. Tanta gente no país e ficamos só centralizados em São Paulo e Rio de Janeiro. Quando eu era da base, via o pessoal do adulto assinando contratos de apenas seis meses e muitas vezes nem recebiam. Tinha que correr atrás de times toda a hora. A possibilidade de ficar sem clube pra jogar era muito grande. Como você vai sustentar sua família assim sem essa segurança? ‘Ah, mas foi você que escolheu essa vida’... ok, a gente ama o esporte. Vencer só vai vencer um projeto. Não tem como todo mundo ganhar. No Brasil, no entanto, tem que ser campeão sempre. Projeto que é feito apenas para ser campeão dura dois, três anos no máximo com dinheiro de uma superempresa, da prefeitura, que usa o esporte como palanque e não tem continuidade. As pessoas tentam fazer da forma como dá. PF: Você saberia explicar por que para a classe política brasileira é tão difícil investir tempo e dinheiro em projetos políticos que tenham o esporte como protagonista? Construir quadra de basquete não dá voto? MT: Qual o projeto político a longo prazo que as pessoas realmente apostam? Projetos de hoje são imediatistas. Não pode ser assim. Parece que não adianta pensar em projetos pra amanhã.
Não tem como. O esporte é um agente modificador... ele mudou a minha vida, mudou a minha realidade, abriu a minha visão para um monte de coisas. Eu não estaria na Espanha hoje se não fosse pelo esporte. Eu consigo ver que isso que muda. A quadra é física, se não tiver ninguém usando, fazendo um trabalho social naquela quadra , deteriora... aí, a cada dois anos, o político vai lá, pinta, fala que vai fazer e volta tudo ao mesmo. Esporte é um projeto de longo prazo. A quadra, a iluminação, a rua, a sociedade, tudo mudaria. Esporte muda a vida sim. Será que isso vende na TV? Coisas boas realmente mudam a vida das pessoas. PF: A partir de uma postagem sua, faço a seguinte pergunta, em meio à pandemia, mais de 200 mil mortos no Brasil, empatia zero, pessoas saindo às ruas sem máscara, fazendo festa... ainda há amor em São Paulo (Brasil)? MT: Fui despedido, me senti mal com tudo isso, mas mesmo no meio disso, encontrei boas pessoas e eu acredito que as más pessoas são a minoria. O Toledo do futuro quer ajudar as pessoas, não serei político, mas posso ajudar as pessoas por meio do esporte. A política é muito longe da gente. Não tive educação de política na escola. A realidade é essa hoje, mas não precisa ser assim pra sempre. Existe amor sim. 19
DEZ ANO
A temporada 2019/2020 marcava a minha décima edição de coberturas fotográfic de Basquete masculino. Teve de tudo nessa longa caminhada e esse ensaio especial ção de “primeiras vezes” dentro da quadra e conta um pouquinho da histó fotos: ALE DA COSTA
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O primeiro jogo da temporada 2020/21 que eu fotografei trouxe a dura realidade da pandemia do Coronavírus. Triste trabalhar no ginásio Hugo Ramos, na cidade de Mogi da Cruzes, que tem capacidade pra nove mil pessoas e que eu já vira lotado tantas vezes, vazio - em silêncio. Marquinhos (foto abaixo) ainda no Pinheiros. Foi o primeiro jogo em que trabalhei do NBB. Pinheiros e São José em 2011 e usava ainda uma câmera analógica Nikon F4
OS
cas da Liga Nacional apresenta uma coleória do NBB
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Como flamenguista, uma emoção diferente na primeira vez em que fotografei meu time no NBB, isso no Ginásio Antonio Prado , na cidade de São Paulo, sede do Paulistano em janeiro de 2012 (foto acima). Ainda nessa temporada, o primeiro clássico tradicionalíssimo entre Paulistano e Pinheiros (foto ao lado)
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A primeira decisão de NBB foi em maio de 2014. Flamengo e Paulistano na Arena HSBC na Barra da Tijuca. na cidade do Rio de Janeiro. No jogo único, deu rubro-negro
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Meu primeiro jogo no Parque Antártica, sede do Palmeiras na cidade de São Paulo, em janeiro de 2014 (foto acima). E para simbolizar tantos talentos que eu vi “crescer”, Lucas Dias - hoje um dos principais nomes da temporada 2020/21 e candidato a MVP da temporada - ainda em seus primeiros passos com a camisa do Pinheiros em 2016 (foto ao lado)
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Mais uma decisão de NBB e a minha primeira vez no Ginásio Wlamir Marques, casa do Corinthians, em maio de 2017 e um novo talento começa a brilhar com intensidade, Yago Mateus - hoje no Flamengo
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O meu primeiro Jogo das Estrelas foi em 2017 e aconteceu no ginásio do Ibirapuera (sim, a maltratada casa dos esportes olímpicos da cidade de São Paulo que querem privatizar). Um evento que colocou mais de dez mil pessoas no local (e que eu repetiria a dose no ano seguinte) e o prazer incomensurável de fotografar Janeth e Alessandra - craques da história do basquete feminino brasileiro (foto ao lado)
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O ginásio Hugo Ramos, em Mogi das Cruzes, do jeito que tem que estar: lotado e torcendo por seus ídolos como Shamell, então, no Mogi em março de 2018
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O ano de 2019 marcou a chegada de duas potências do futebol brasileiro nas quadras do NBB. Tem sido bacana demais acompanhar Corinthians e São Paulo com seus torcedores (fotos da página anterior). Em 11 de março de 2020 (foto acima), meu último jogo antes do Coronavírus trazer o luto para o mundo. A saudade só foi saceada (sem público) oito meses depois
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antes de ir...
210 mil mortos