Portrait Fanzine nº 19

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CARTA ABERTA Até um mês atrás, essa edição da Portrait Fanzine estava com outra cara, outros temas. Reportagens e entrevistas, que já estavam marcadas inclusive, “caíram” - como falamos nas redações. Uma após a outra e a PF19 não existia mais. Ok, mas por que você não tem histórias reservas guardadas na “gaveta”? Sei lá, boa pergunta... Enfim, algumas horas passaram, já era sábado, chegava da feira e pensei: por que não fazer uma edição especial sobre o final do NBB, a Liga Nacional de basquete? A decisão tinha acabado de começar entre Flamengo e São Paulo, eu fotografara 48 jogos na temporada, tinha os contatos, boas ideias... e pronto, aqui está a revista com o Mengo campeão e uma entrevista mais do que exclusiva com o melhor técnico brasileiro da atualidade, Gustavo de Conti. Mas se a ideia de um especial estava tão na cara, por que não fazê-la desde o início? Porque essas 500 mil mortes por causa do coronavírus e esse universo paralelo no qual o Brasil entrou, digno de Black Mirror, não saem da minha cabeça. Ainda não é obsessão, mas está quase lá. Não falar sobre isso, sobre as mortes, sobre o desgoverno, sobre a vida paralisada nesse país, parece não soar certo, sabe? Uma revista inteira apenas sobre basquete me traz uma ideia de alienação. Não sei se me fiz entender... mas é como me sinto. Eu sei que a vida tem que seguir. O luto não pode ser eterno... no entanto, por que não? Não peguei esse vírus, já tomei a primeira dose da vacina, porém, essa doença maldita mexeu comigo, aliás, mexe comigo... Então, me perguntei várias vezes um mês atrás: você vai fazer uma edição para celebrar um campeão em meio a tanto sofrimento? Pois é... fiz... não me sinto culpado (ela está linda), me sinto estranho, num estranho vazio... Não ser consumido pela tragédia deve ser a minha lição de casa para os próximos meses... Me alegrei com essa revista, amo fazê-la, amo entrevistar, fotografar, editar. Se você percebe os detalhes, entenderá e verá o amor que tenho por esse trabalho. E justamente por causa disso, me enchi de orgulho de saber que um garoto brasileiro que entrevistei três anos atrás (Portrait Fanzine 04) faz parte da seleção brasileira de skate, que estará no final de julho no Japão para os Jogos Olímpicos, com chance de medalha. Ahhhh, Pedro Quintas saiu aqui antes.... Bacana, né? Embarquemos...

SUMÁRIO

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PROJETO

Alexandre da Costa


O MELHOR...

Gustavo de Conti comandou o Flamengo em mais um título da Liga Nacional de Basquete texto e fotos: ALE DA COSTA 4


Duas coisas me chamaram atenção quando conheci Gustavo de Conti no primeiro jogo que fotografei do basquete do Paulistano, quase dez anos atrás: sua juventude e a intensidade. Com cara de menino, pouco mais de 30 anos na época, Gustavo não parava um segundo sequer no banco de reservas da equipe paulista. Quase uma década depois, ele se coloca como principal treinador brasileiro do nosso basquete e candidatíssimo ao cargo de técnico da seleção no futuro (que talvez não esteja tão distante). Engana-se, porém, quem acha que o caminho de Gustavo foi cheio de flores. Ahhh, foi não. E esse processo se inicia com uma decepção. Na base, como atleta, desequilibrava. No adulto, logo percebeu que não iria além de um jogador, digamos, comum. Completava 18 anos, entrava na faculdade de educação física e partia para a carreira de treinador. Chegou ao Paulistano, tradicional clube da cidade de São Paulo, em 1998 ainda como atleta. Depois, virou técnico da base, assistente técnico até, finalmente, assumir o adulto do vermelho e branco. A filosofia do Paulistano era (e é) trabalhar com os jovens talentos. E assim, Gustavo se destacou. Na temporada de 2013/14 levou seu time, contra todos os prognósticos, para a final no Rio de Janeiro contra o todo-poderoso Flamengo. Na época, a decisão era realizada em um jogo. E faltando pouco mais de 70 segundos para terminar a decisão, Gustavo e seus atletas marcavam ponto a ponto o rival rubro-negro, que acabou vencendo. Duas temporadas depois, novamente, outro jovem Paulistano, mais uma final (agora contra o Bauru) e outra derrota. A história se repetiu na temporada seguinte, desta vez, no entanto, com resultado diferente. Paulistano, fora de casa, bateu o Mogi e levou seu primeiro título da Liga Nacional. Tamanha alegria e a porta de novos desafios para Gustavo se abrem. Uma delas: aceitar ou não treinar o Flamengo, principal equipe do basquete brasileiro com orçamento e cobrança muito maiores do que o time de São Paulo, mas que andava mal das pernas nas temporadas anteriores. O treinador topou o desafio e desembarcou no Rio. Nos meses seguinte, comemorava o bicampeonato do NBB, além do título do Super 8. As coisas caminhavam bem na temporada 2019/20 quando a pandemia parou tudo. No final de 2020, o basquete voltou com todos os protocolos de saúde possíveis e o Flamengo de Gustavo nadou de braçada no cenário sul-americano. Ganhou Champions League, Super 8 e finalizou uma temporada histórica, em todos os sentidos, com a mais espetacular campanha de um campeão do NBB com aproveitamento de 94,6%. Um show. E agora, Gustavo? Qual o próximo passo? Confira a entrevista exclusiva dada pelo técnico, cinco dias depois da conquista. Portrait Fanzine: O maior campeão na história do NBB com um aproveitamento de 94,6%, 34 jogos sem perder contando o Super 8, melhor defesa do campeonato com 71 pontos, segundo melhor ataque da competição, não perdeu nenhum jogo nos playoffs. Gustavo de Conti, quando você fecha os olhos e lembra desses últimos dias, consegue vislumbrar o tamanho do feito desse time durante a temporada? Gustavo de Conti: Realmente são números que impressionam bastante sim. Sinceramente, ainda não “caiu a ficha”. Nunca tinha tido um 3 a 0 na final, nunca uma equipe tinha ficado invicta no playoff. É muito diferente para nós, é muito especial, no entanto, o mais importante foi o título. Com certeza, mais para frente, vou “cair na real” e ver todos esses recordes ficarem marcados. PF: Ao mesmo tempo que tem essa alegria do título, você vive num país que está passando pela maior tragédia de sua história nos últimos 100 anos. São 500 mil mortos e você, pessoa pública - treinador do time de maior torcida do mundo, de fato, comemora e celebra esse título, mas ao mesmo tempo, é esse impacto, essa contradição, esse luto... como você lida com isso? GC: Foi uma confusão de sentimentos na hora em que vencemos. A gente vê especialistas no assunto do mundo e do Brasil, às vezes, se contradizendo. Não tenho certeza do que realmente está acontecendo agora, ninguém nunca passou por uma tragédia, por uma pandemia desse tamanho. Uma hora, a gente liga a TV e diz “fique em casa”, no outro dia “saia de casa”, no outro dia “não jogue”, no outro dia “jogue”... fica essa confusão de sentimentos. A única coisa que a gente tem certeza é que 500 mil pessoas morreram no Brasil e não sei quantos milhões no mundo. Foi difícil. A temporada foi meio que no automático. Vamos jogar, ver o que acontece, vamos botar o campeonato de pé, mas, a todo o momento, a gente via que não estava normal. Você olhava para a arquibancada vazia ou pra alguém que estava próximo de máscara... a todo o momento, a gente via que não era normal, que não estava normal. A gente ficava com aquilo na cabeça, foi confuso. PF: Para o Flamengo lotar o Maracanãzinho é muito fácil, rotineiro. Um dos choques dessa temporada foi o ginásio vazio, aquele silêncio todo. Não me acostumei em nenhum momento. E sua sensação de dentro da quadra também foi “meio no automático”? 5


GC: O que eu posso te falar é que nós fizemos muitos testes de covid e a Liga foi muito exigente e muito firme em tudo isso. Mas não tem como a gente se sentir 100% seguro ou que a nossa família está 100% segura, também, quando a gente volta para casa. É essa sensação o tempo todo apesar da gente estar mesmo no automático durante a temporada. Essa sensação está viva na nossa cabeça porque estamos vendo ali que tudo é diferente. A torcida não está, você fala e parece que está falando sozinho no ginásio... Essa coisa do covid estava sempre na nossa cabeça por mais que você estivesse ali concentrado no jogo, mas estava sempre de alguma forma martelando... PF: Quando você foi campeão do NBB com o Paulistano disse que tinha uma sensação de dever cumprido e que não conseguia vislumbrar o dia seguinte com seus atletas do Paulistano que alcançaram o topo, que para muita gente era inesperado, e o que diria pra eles. Na época, você precisava de novos desafios e, então, surgiu o Flamengo. E agora, com essa temporada impressionante na história do basquete brasileiro nos últimos 30, 40, 50 anos, você já conseguiu pensar no que vai falar para seus atletas flamenguistas no primeiro dia de trabalho da nova temporada? GC: São dois pontos principais no Flamengo. O primeiro é que você estando no Flamengo é cobrado diariamente. Veja o exemplo do futebol, campeão tantas vezes e aí perde um jogo e as críticas surgem. A cobrança é muito grande, então, o tempo inteiro tem que estar muito alerta, muito atento, buscando sempre... é por isso que acho que combinei tanto com o Flamengo. O segundo ponto é que a gente tem desafios maiores na próxima temporada. Tem o Intercontinental, por exemplo, porque nos classificamos através da Champions League, que é um desafio que ainda não conquistamos. Isso move bastante a gente. PF: Pegando o futebol como referência, o Rogério Ceni tem sido muito criticado e tem gente que diz que o Flamengo, por ter um grande time com grandes jogadores, ganharia tudo mesmo sem ele, que na verdade, não se precisa de um técnico. Como você lida com essa ideia equivocada de que o treinador é apenas um “entregador de camisas” no vestiário, comentário esse que está mais vigente do que nunca no esporte brasileiro? Como lidar com as pessoas que não entendem o jogo, que não entendem a importância do técnico hoje no basquete? Como lidar com o senso comum? GC: Essa é uma cultura muito forte aqui no Brasil. Não é só aqui, claro, mas no Brasil é muito forte, muito mais forte do que nos Estados Unidos ou na Europa. Eu acho que é uma questão cultural mesmo e que está enraizada na sociedade. Até jogadores pensam assim, dirigentes pensam assim, a imprensa pensa assim... Em primeiro lugar, quando uma coisa não está dando certo é quase que 100% das vezes culpa do treinador. Em contrapartida, muitas vezes quando se ganha e se tem sucesso, isso acontece “apesar do treinador” (risos) ... quando eu escolhi ser técnico já sabia que ia ser assim, mas aos poucos a gente tem que tentar mudar isso. Nós, treinadores, temos uma parcela nesse processo sim, mas não é decisiva e nem determinante quando se ganha ou quando se perde. É uma parcela importante sim, uma contribuição importante, cargo de liderança para organizar as coisas, mas ela não é feita sozinha. Eu costumo dizer para os jogadores que eu não sou o dono do time, a gente está ali para ter uma função assim como os jogadores têm a função deles, os dirigentes a deles e por aí vai... a gente tá aí para executar nossa função e isso eu acho que não é determinante nem para um resultado positivo nem para o negativo. Nós não podemos supervalorizar um treinador quando ganha e nem subestimar quando ele perde. Eu acho que deve ser tratado de uma maneira mais normal assim cada função. Para finalizar, tem essa cultura porque geralmente os clubes dão a “chave do cofre” na mão do treinador, dão muito poder para ele e acabam achando que o técnico é o responsável maior por tudo. Tem que ter um planejamento e o treinador faz parte dessa engrenagem. Não é o ator principal. PF: Há algumas semanas, li no twitter, um comentário de uma rapaz comparando a NBA e o basquete brasileiro: “NBB nem é basquete”. Bom, o NBB não é o basquete profissional dos Estados Unidos e essa nunca foi a proposta. Nem a Euro League pode se comparar com a NBA. Qual a sua posição em relação a essa mentalidade que é tão presente no esporte brasileiro? Nos comentários do rapaz, tinha gente concordando com ele... GC: Qualquer coisa que você comparar com NBAvai falar que não é basquete. É muito injusto comparar o NBB, a Liga Argentina, a Euro League com a NBA. Não tem comparação... a qualidade dos jogadores, a quantidade de dinheiro que é investido, até as regras são diferentes para o jogo se tornar um show para quem vê. É injusta qualquer comparação. Acho que quem pensa assim, quem fala assim, tem um pouco de preconceito porque não conhece direito... Hoje, a Liga Nacional postou, no instagram, os highlights da temporada com as dez melhores jogadas e só tem lance excepcional. Tem de tudo, tem game winner, enterradas, bolas de três 6


impossíveis, ponte aérea... tem de tudo ali e não deixa a desejar para nenhuma outra liga. Claro que a qualidade do jogo precisa melhorar, assim como outras ligas também precisam melhorar, mas eu acho que desde que começou, o NBB está num outro nível, outro patamar, outro nível econômico, ganhamos a Champions League da América, o Botafogo foi campeão da sul-americana, a gente vem dominando o continente nos últimos anos. PF: Há bons e grandes jogadores no basquete brasileiro. Mas por que é tão difícil transformá-los em ídolos nacionais? Por que o garoto na rua não usa a camisa do Yago, que destruiu na final contra o São Paulo, mas de um cara da NBA? É importante dizer que no interior de São Paulo, em locais como Franca e Bauru, existe esse reconhecimento do público com seus atletas. Porém, no restante do Brasil isso não acontece... o basquete, que já foi o segundo esporte dos brasileiros, não está nos holofotes... é uma questão de mentalidade também? GC: Nunca é um fator só. Um dos mais importantes é a falta de resultados importantes da seleção brasileira. Isso é muito importante para criar ídolos. Você vê o exemplo do vôlei, tem ídolos, a gente conhece os jogadores porque as seleções, tanto masculina quanto feminina, nos últimos anos, tiveram resultados expressivos em campeonatos mundiais e Jogos Olímpicos. Isso acaba passando para as novas gerações. Um segundo ponto é que a gente ficou, por conta dos resultados da seleção brasileira, um tempinho sem muitos ídolos por aqui, tirando os jogadores da NBA. Ficou um gap aí. E mais: tem a divulgação. Nós não estamos nos principais meios de comunicação diretamente. A gente tá na TV aberta, mas não tem tanta audiência, a gente tá na TV fechada e o acesso é menor. Estamos na internet, começando no streaming, mas tudo está começando nesse meio. É uma combinação de fatores... você vai no interior de São Paulo, por exemplo, cidades menores, a comunidade conhece mais os jogadores. Agora nos centros maiores é um pouco mais difícil ... PF: Você participou como assistente técnico do ciclo olímpico de 2016. Aquela seleção brasileira era muito boa e tinha atletas que se encontravam no auge de suas carreiras. Não era nenhum delírio imaginar uma chance de medalha. Mas chegaram os Jogos, o time fracassou por duas, três bolas contra Lituânia, Croácia e Argentina e acabou eliminado na primeira fase. Você ainda pensa nesses Jogos? Qual foi o aprendizado tirado daquele momento? GC: Foi uma das competições mais tristes que participei. Foi a competição que mais me deixou chateado com o resultado porque realmente uma Olimpíada dentro do nosso país é algo que dificilmente vou viver de novo. Acho que você está certo, o basquete é tão equilibrado no mundo e uma seleção que foi eliminada na primeira fase como a nossa teria condição de disputar uma medalha com certeza. Não vou dizer que a gente ganharia medalha de ouro, mas acho que para disputar uma medalha, a gente teria condições. Havia uma expectativa muito grande. Fizemos bons treinamentos, bons amistosos, estreiamos muito mal contra a Lituânia, deixamos eles abrirem mais de 20 pontos no primeiro tempo e depois a gente teve que correr atrás do jogo. Até terminamos mais perto

“A única coisa que a gente tem certeza é que 500 mil pessoas morreram no Brasil e não sei quantos milhões no mundo. Foi difícil. A temporada foi meio que no automático” 7


no placar, mas o desgaste foi muito grande. Naquela trajetória perdemos alguns jogadores muito importantes. Primeiro foi o Faverani, que saiu machucado, depois o Tiago Splitter e o Anderson Varejão na reta final. Foram perdas significativas que sobrecarregaram o Nenê na posição de pivô, que praticamente era o único. O Cristiano Felício era muito jovem para aquela competição. Foi uma pena.. ainda lembro sim... às vezes, passa na minha cabeça, ainda mais morando aqui no Rio de Janeiro... às vezes, eu passo na frente do Parque Olímpico e relembro momentos tão bonitos que eu vivi naquele lugar, mas momentos tão duros, também, com aquelas derrotas... PF: E Rubén Magnano, então treinador da seleção desde 2010, acabou sendo o único responsável pela derrota. Algum dia, os críticos acordarão e perceberão a importância de Magnano para o basquete brasileiro e esse menosprezo terminará? GC: Eu acho que sim... se menospreza demais o trabalho dele no Brasil, principalmente, os que não entendem muito de basquete. Se você perguntar para os jogadores dessa geração, vai ter quase que unanimidade em relação à importância que ele teve na transformação da mentalidade, na seriedade que ele deu ao trabalho, na qualidade do trabalho dele. É um campeão olímpico, isso ninguém tira dele. É o único campeão olímpico treinador sem ser americano ou russo/soviético. Magnano tem uma importância no basquete muito grande, mas é aquela história que estava falando anteriormente... quando perde parece que a gente tem a necessidade de achar um culpado e aí, às vezes, até as próprias pessoas que estão próximas elegem um culpado. Isso é triste também, isso é lamentável, mas, enfim, ele é um cara que tem bastante experiência e sabe e soube lidar com isso. PF: E sobre esse ciclo olímpico que ainda não está concluído (a seleção masculina joga o pré-olímpico no final do mês) e que você acompanhou de fora... melhoramos? GC: A gente tinha mais jogadores da NBA e em lugares importantes do mundo, jogando em centros com mais importância em 2016, até um pouco antes no mundial de 2014. Foi o auge desses caras. Hoje, a gente não tem tantos protagonistas... temos alguns jogadores na NBA, mas sem tanto protagonismo que a gente tinha antes. Na Europa, acontece o mesmo. No entanto, hoje, temos uma geração de jovens jogadores muito boa que está surgindo com muita personalidade. Mas falta intercâmbio internacional. Eu acredito que jogadores jovens que estão jogando no Brasil poderiam estar jogando em outros centros melhores na Europa e Estados Unidos... pegando uma experiência internacional maior. Já que isso não está acontecendo, a seleção poderia fazer mais jogos. Aqui, a gente está ainda numa situação meio que incógnita, não sabemos realmente depois que esses jogadores pararem de jogar como os novos vão reagir... mas aí tem que botar os novos pra jogar mesmo ... eles tem potencial físico, tem potencial técnico ... PF: Eu estava editando as fotos para sua entrevista e tem uma sua no jogo contra o Corinthians que você

“Eu sei muito bem que tipo de treinador sou. E que tipo de treinador poderei ser, se continuar estudando e procurando conhecimento... e eu sei também o tipo de treinador que serei se ficar parado no tempo” 8


“... se menospreza demais o trabalho dele (Rubén Magnano) no Brasil, principalmente, os que não entendem muito de basquete. É um campeão olímpico, isso ninguém tira dele”

está explicando algo para o Marquinhos. Vocês são contemporâneos, mas o Marquinhos tem uma baita história, é um dos maiores vencedores do basquete brasileiro e você é muito jovem, mas trabalha como técnico há muito tempo. Como é lidar com Marquinhos, Balbi, Olivinha, enfim, com o jogador mais experiente? O Paulistano campeão que você dirigiu era muito jovem, já o Flamengo é diferente nesse processo... como foi conquistar o respeito desses caras? GC: Se eu te falar que foi fácil, estarei mentindo, não foi... tudo é um processo também. Não é de uma hora para outra ... é uma construção de carreira onde as pessoas vão te olhando de uma outra forma e você vai ganhando confiança, vai ganhando respeito das pessoas. Eu também fiquei oito anos como assistente técnico e treinador de escolinha e, depois, de todas as categorias. Todo mundo sabe a minha história ... eu não fui colocado lá por alguém... não ganhei de presente um cargo ... Tudo foi conquistado e acho que as outras pessoas dão mais valor quando acontece dessa forma. Quando eu cheguei no Flamengo, eu já conhecia muitos jogadores. No dia a dia, os jogadores vão te conhecendo. A cobrança que eu tenho em cima deles vem junto com muito respeito também ... a gente vai demonstrando conhecimento, vai passando confiança.. eles vão te enxergando como um treinador e não como um cara que colocaram lá... um cara que tem o que ensinar e aprender com eles. PF: Você ainda se cobra no sentido de ter que provar toda hora para os outros que você tem valor? GC: Eu sei muito bem que tipo de treinador sou. E que tipo de treinador poderei ser, se eu continuar estudando e procurando conhecimento... e eu sei também o tipo de treinador que serei se ficar parado no tempo, tenho isso bem claro dentro de mim . O segundo ponto é que eu não quero vencer, eu não quero ser campeão para provar para ninguém, não vou ser melhor ou pior se for campeão. Simplesmente, quero ser campeão pelo fato de ser campeão, de retribuir o carinho da torcida, retribuir o esforço da minha família, retribuir o investimento do Flamengo. Não é uma questão de querer ter resultado para provar alguma coisa pra alguém porque eu acho que não é por aí ... PF: Você tem uma vida no basquete... Quando garoto, foi o melhor da temporada jogando com 12, 14 e 16 anos. Subiu para o adulto, disputou três temporadas e abandonou as quadras virando treinador. O quanto foi dura essa transição? O quanto foi difícil perceber que o sucesso da base não se repetiria no adulto? Essa aprendizagem você passa para seus atletas mais novos? GC: Cheguei num ponto em que eu não era mais aquele cara que desequilibrava os jogos como fazia nas categorias de base. Eu poderia até jogar no adulto, mas não teria o mesmo sucesso que gostaria de ter. Não chegaria 9


no nível que gostaria de chegar. Queria mesmo era jogar basquete, claro, eu não queria ser treinador naquele momento. No entanto, vislumbrar alguma coisa que me permitisse continuar no basquete e tentar chegar no mais alto nível... não como jogador, que eu sabia que talvez não ia conseguir, mas como treinador. Foi quando mais ou menos com 17 para 18 anos, entrei na faculdade de educação física e já comecei a dar aula para escolinha, peguei gosto de dar aula para a criançada. No outro ano, já comecei a ser treinador de sub 12 ... não foi tão difícil por conta de estar envolvido no basquete em outra situação... Mas eu preferia estar jogando até hoje... eu transmito isso para os jogadores mais novos... aqui você realmente tem que se dedicar, tem que trabalhar, tem que treinar para caramba ... eu queria jogar, no entanto, talvez, não me esforçasse tanto quanto o necessário para ser um jogador de altíssimo nível. PF: Você será o próximo técnico da seleção brasileira de basquete? Você acha que ainda há muita resistência em relação ao seu nome para esse trabalho? GC: Na verdade, eu não penso nisso de ter resistência em relação ao meu trabalho, a gente nunca vai agradar todo mundo. Se eu falasse que penso em seleção brasileira desde o primeiro dia que decidi ser treinador quando tinha 17 anos... eu penso na seleção brasileira não é de agora que eu estou no Flamengo... não é de agora que a gente ganhou o Campeonato Brasileiro... não é de agora... eu já penso desde quando eu tinha 17 anos, mas eu sei que as coisas vão acontecer no momento certo. Se for um momento daqui uma semana, daqui um mês, daqui dez anos... eu espero que aconteça e vai ser um prazer. Estive na seleção brasileira como assistente e foi apaixonante, foi uma das melhores sensações que tive na minha vida profissional, não é balela não... você está lá, representando o seu país, com a camisa do seu país, com o hino tocando, com a bandeira do seu país... acho que não tem sensação igual ... é claro que eu penso, mas estou muito tranquilo com relação a isso, não tenho pressa. Eu quero sim estar preparado para a hora que acontecer essa oportunidade. Sigo no Flamengo por mais um ano...

“Eu não quero ser campeão para provar para ninguém, não vou ser melhor ou pior se for campeão. Simplesmente, eu quero ser campeão pelo fato de ser campeão, de retribuir o carinho da torcida, retribuir o esforço da minha família, retribuir o investimento do Flamengo...”

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... E ELES CONCORDAM jogadores e dos jogadores com ele... quem trabalha com ele sabe da cobrança, sabe que não vai ser fácil, mas sabe que o cara vai querer sempre o seu melhor desempenho ... puxar para cima... vai exigir de você o mesmo profissionalismo que ele tem. Acho que isso é fundamental para o esporte de alto rendimento, para quem quer almejar conquistar tudo que conquistou esse ano... eu acho que o Brasil tá ficando pequeno pra ele... está na hora dele também pensar em voos mais altos, eu acho que em caso de uma conquista de título intercontinental é capaz do nosso Gustavinho começar a pensar em dirigir fora do país, ser assistente ou evoluir algo na Europa, desafios na Argentina, quem sabe como técnico, bom, ele tem capacidade para isso”.

LUCAS GUANAES Fundador da @locomotivaesp, comentarista na @jornadasportiva e @tripledouble_br, colunista no @arearestritiva

RICARDO BULGARELLI Comentarista da ESPN

“É muito legal a gente ver o título deste ano com o Flamengo porque mostra a consolidação do melhor técnico do país. Gustavinho sempre teve muito potencial, conhecido por trabalhar muito bem com os jovens e foi dessa maneira que ele construiu sua carreira no Paulistano. Aí, você vai para um desafio muito maior que é o Flamengo. Não adianta você ter um investimento se também não tem um cara para comandar um time estrelado, um time que a gente pode ter problemas de ego... ele já tinha mostrado muita qualidade no primeiro título em 2019 e, no ano passado, a pandemia evitou o bicampeonato. É indiscutível que ele é o melhor técnico do país. Prova disso é você ver o quanto Yago Mateus jogou nas mãos dele nas duas passagens, tanto com o Paulistano quanto com o Flamengo. O sistema que ele joga ... saem e entram jogadores e o time continua competitivo dos dois lados da quadra. Ele consegue tirar o melhor de cada jogador... ele consegue administrar. Você trabalhar no Paulistano com os jovens, você administrar jovens é uma coisa ... agora, administrar caras mais experientes, egos, tomar a frente de um time de camisa de futebol, um time vencedor, competitivo e o cara se mostrar competitivo em todos os jogos, em todas as competições, não é fácil. Para mim, de longe, ele é o melhor técnico do Brasil, não que o restante não seja... a gente tem muitos grandes técnicos mas ele merece receber em breve uma chance na seleção brasileira. É um trabalho feito já de alguns anos, não é momentâneo esse trabalho do Gustavinho, eu acho que desde quando ele foi assistente técnico do Magnano, desde a primeira vez que ele chegou aqui numa final com o Paulistano A montagem do time, pela leitura que ele tem do basquete atual, é muito dele, sabe? É só você ver as chegadas do Fuller e do Nesbitt no Paulistano... a evolução dos jogadores que passam pelas mãos dele ... essa confiança no trabalho, a confiança que existe mutuamente dele com alguns

“Desde os tempos de Paulistano, Gustavinho demonstrou pensar fora da caixa do que é praticado no basquete brasileiro. Desde a rotação intensa até a carta branca nos chutes de três pontos, as equipes por ele comandadas sempre foram diferentes, tanto na hora de analisar, como na hora de apenas curtir o espetáculo. Além disso, Gustavinho frequentemente dá atenção e faz questão de profissionalizar o entorno do que acontece na quadra, como as equipes de comunicação, análise de dados, etc. Se chegou ao patamar de comandar a primeira equipe da história do NBB a varrer todos os adversários nos playoffs, não foi por falta de mérito”.

FELIPE SOUZA Criador do @HS BasketballBR e do @ECBasquete. Ex-International Writer da D1VISION (USA).

“O Gustavo é o melhor do país sem sombra de dúvidas. O trabalho que ele fez no Paulistano, um time com orçamento muito menor do que o do Flamengo, desenvolvendo os atletas com um jogo bem agressivo que a gente não via há um bom tempo. No Flamengo, já com orçamento maior, o trabalho de gestão de grupo, trabalho de pensar ao longo prazo... fazer a gestão de jogadores dentro e fora de quadra, pensar no estudo para enfrentar os adversários ... Gustavo mostrou que entende muito bem e que parece estar realmente um passo à frente de todos. Hoje pra mim, já falei isso algumas vezes até para ele, falei também em algumas lives, é o técnico que precisa assumir a seleção brasileira, acho que ele é um nome fundamental para a seleção em algum momento, não sei quando, mas em algum momento... Gustavo está fazendo realmente um trabalho fantástico. O Flamengo cada vez mais forte e virando obsessão dos adversários... quem supera o Flamengo? Não foi dessa vez em 2021 e agora os times tentam se remontar e fazer o máximo possível para poder parar a equipe comandada pelo Gustavo de Conti.”

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A TEMPORADA EM NÚMEROS O Flamengo conquistou o sétimo título do NBB - a Liga Nacional de Basquete com a melhor campanha da história da competição pesquisa e tabelas: ALE DA COSTA

PLAYOFFS

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CAMPANHA

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DO CAMPEÃO

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FONTE: LNB.COM.BR 17


HISTÓRIA EM CINCO ATOS Impossível se acostumar a uma partida de basquete sem a presença da torcida. Esse foi o grande impacto do começo da temporada 2020/21 do NBB. Sob a sombra do coronavírus, a principal competição do basquete brasileiro masculino teve “bolhas”, protocolos, testes diários, passos que não foram suficientes para espantar a doença da vida dos atletas: basta lembrar do Corinthians que perdeu dois jogos em dezembro por WO por causa do covid-19. Outro fato marcante dessa edição foi a quantidade de novos talentos que se estabeleceram como titulares em seus times. O Pinheiros, por exemplo, foi mais longe na proposta levando para a quadra a equipe mais jovem da história do NBB. No fim, o Flamengo, comandado por Gustavo de Conti, deu show e faturou a taça com a melhor campanha da história. fotos: ALE DA COSTA

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vazio


19


20

emoções


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22

gerações


23


24

voar, voar


25


26

campeão


27


antes de ir...

500

mil mortos


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