Jornal da Alerj Nº 332

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JORNAL DA ALERJ A S S E M B L E I A L E G I S L AT I VA DO E STA DO DO RIO DE JA N E IRO Ano XV N° 332 – Rio, 01 a 15 de novembro de 2017

Alerj promove discussão sobre novas regras da regularização fundiária. A família de Irani foi uma das 100 mil beneficiadas no estado desde 2013 PÁGINAS 4 e 5

Educação indígena: conselho vai acompanhar escolas em quatro aldeias PÁGINAS 6 e 7 Dia estadual do Nanismo é celebrado para marcar luta contra o preconceito PÁGINAS 8 e 9 Lei que pune clubes por racismo de torcidas entra em vigor no Rio PÁGINAS 10 e 11

Direito à moradia


Esperamos que o preço do petróleo aumente. Se isso acontecer e o ambiente de negócios voltar, vamos chegar a um equilíbrio

Fotos: LG Soares

Frases

Deputado Paulo Melo (PMDB), presidente da Comissão de Orçamento, sobre a expectativa de melhora nas contas estaduais no ano que vem

O orçamento de 2018 terá cerca de nove bilhões de restos a pagar. Então, o rombo é de dez, mas pode chegar a quase R$ 20 bilhões Deputado Luiz Paulo (PSDB), durante debate sobre o orçamento de 2018

Redes Sociais

Alerj pelo interior S ymone Munay ​Foto: Isabela Kassow/Diadorim Ideias

A primeira rodovia do Rio

*As mensagens postadas nas redes sociais são publicadas sem edição de conteúdo.

Expediente

Presidente - Jorge Picciani 1º Vice-presidente - Wagner Montes 2º Vice-presidente - André Ceciliano 3º Vice-presidente- Jânio Mendes 4º Vice-presidente - Marcus Vinícius 1º Secretário - Geraldo Pudim 2º Secretário - Samuel Malafaia 3º Secretário - Átila Nunes 4º Secretário - Pedro Augusto 1o Vogal - Carlos Macedo 2 o Vogal - Zito 3º Vogal - Renato Cozzolino 4º Vogal - Bebeto

JORNAL DA ALERJ Publicação quinzenal da Subdiretoria-Geral de Comunicação Social da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro

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Jornalista responsável: Daniella Sholl (MTB 3847) Editor: André Coelho Coordenação: Jorge Ramos e Daniela Matta Equipe: Buanna Rosa, Camilla Pontes, Gustavo Natario, Isabela Cabral, Octacílio Barbosa, Tainah Vieira, Thiago Lontra, Symone Munay e Vanessa Schumacker Edição de Arte: Daniel Tiriba e Rodrigo Cortez Editor de Fotografia: Rafael Wallace Secretária da Redação: Regina Torres Estagiários: Carolina Moura, Danilo Gabriel (redes sociais), Elisa Calmon, Leon Lucius, Luís Gustavo (foto) e Thiago Oliveira (redes sociais) Impressão: Imprensa Oficial Tiragem: 1,4 mil exemplares Telefones: (21) 2588-1404 / 1383 Rua Primeiro de Março s/nº, sala 406 Palácio Tiradentes - Centro Rio de Janeiro/RJ - CEP 20.010-090 Site: www.alerj.rj.gov.br Email: dcs@alerj.rj.gov.br Twitter: @alerj Facebook: @AssembleiaRJ Instagram: @instalerj Capa: Thiago Lontra (foto)

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om um pouco mais de 8.3 ​mil habitantes e localizada entre as m ​ ontanhas e o Rio Paraibuna, Comendador Levy Gasparian, na região Centro-Sul fluminense é internacionalmente conhecida devido às suas corredeiras, favoráveis à prática de rafting, trekking e rapel. Em Levy, se respira ar puro e história na mesma proporção. A cidade abriga o Museu Rodoviário de Paraibuna, único do gênero na América Latina. Nele, está o único exemplar de diligência em exposição pública no Brasil, justamente a que levou D. Pedro II para a inauguração da Estrada União Indústria. Outro orgulho da pequena "Levy" é a preservação de algumas relíquias da história do Brasil-Colônia,​ como a Casa do Registro, o Cemitério dos Barões e o Colégio Estadual​Coronel Antônio Peçanha. Com 144 anos de existência, o colégio está instalado dentro de um belo palacete do século XIX, em estilo neoclássico. A localização privilegiada não foi obra do acaso. Era uma das residências de Hilário Joaquim de Andrade, o Barão do Piabanha que, pediu aos filhos que após sua morte, o palacete fosse transformado em uma escola pública.


Pinga-fogo

Armamento é a solução? Deputados discutem porte para população e guardas municipais Fotos: LG Soares

O cidadão deve ter acesso à arma legalmente e, se errar, deve ser penalizado

É evidente que quanto mais armas circularem, mais violência nós teremos

Deputado FLávio Bolsonaro (PSC)

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Deputado Marcelo Freixo (PSol)

Camilla Pontes

taques a tiros em uma escola em Goiás e em um show na cidade de Las Vegas, nos Estados Unidos, ocorridos no mês de outubro, além da discussão no Congresso Nacional sobre a flexibilização do Estatuto do Desarmamento, em vigor desde 2003, colocaram o debate sobre porte de armas na ordem do dia. O assunto ganhou ainda mais força quando, no dia 29 de outubro, a população de Niterói, em um plebiscito inédito no País, optou por não armar sua guarda municipal - possibilidade prevista no Estatuto Geral das Guardas Municipais (Lei Federal 13.022/14). Ao todo, 19 mil pessoas votaram e 70% disseram não. Com a questão em pauta desde a esfera internacional até a municipal, o plenário da Alerj também foi palco de debates. Para o deputado Marcelo Freixo (PSol), autor de um projeto que

cria o Dia Estadual do Desarmamento, o resultado do plebiscito em Niterói foi positivo. “Armar a guarda é desviar essa função e colocar a vida desse agente em risco, e não vai melhorar os índices de segurança da cidade”, defende. “O papel do guarda é preventivo, de cidadania, próximo às escolas, aos moradores, de preservação do bairro e do patrimônio”, completa. Já o deputado Flávio Bolsonaro (PSC) discorda, e coloca em dúvida o processo de votação. “A legislação ampara o armamento da guarda. Um voto não obrigatório compromete o resultado, porque uma fração pequena da população compareceu. Podia ter sido feito nos moldes da eleição para garantir legitimidade ao processo. O prefeito perdeu uma ótima oportunidade de dar mais segurança pública para a população da sua cidade e ajudar à polícia”. Para ele, a guarda armada continuaria atuando na prevenção.

Estatuto Os dois deputados também tem posições opostas quando o assunto é a possível mudança no Estatuto do Desarmamento, que, entre outras medidas, propõe a redução da idade mínima para o porte de armas de 25 para 21 anos. Bolsonaro diz que a política de desarmamento tira um direito do cidadão de ter acesso a uma arma de fogo para a sua legítima defesa e proteção da sua família. “Os marginais vêm fazendo as maiores atrocidades com as pessoas pois sabem que elas não têm arma. Essa mentalidade de desarmar o cidadão ordeiro é completamente equivocada”, afirma. Para Freixo, essa visão ganha apoio devido à crise na segurança pública, mas o efeito seria o contrário. “Muita gente acha que andar armado resolve. A arma tem que ser usada por quem sabe, que é o profissional de segurança. As polícias precisam ser mais valorizadas e treinadas para serem mais eficientes”, pontua. Rio, 01 a 15 de novembro de 2017

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Capa

Aqui Nova lei federal vai agilizar concessão de títulos de propriedade

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E lisa Calmon

“As pessoas têm mais segurança, e certeza de que vão deixar uma herança para filhos e netos” Irani Silva 4

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ós éramos vistos como invasores. A regularização fundiária nos trouxe dignidade”, conta Jorge José Gomes que vive na comunidade de Vista Alegre, em Araras, distrito de Petrópolis, na Região Serrana. O catador de latinhas, de 61 anos, é um dos 550 moradores que tiveram o direito de posse e propriedade reconhecidos pelo Estado em 2014. O local, com mais de 40 anos de história, abriga, atualmente, cerca de quatro mil pessoas. Mas só passou a existir oficialmente há três anos, a partir de uma iniciativa da associação de moradores para regularizar a situação da comunidade junto ao Instituto de Terras e Cartografia do Estado (Iterj). Teresinha Cardoso, de 64 anos, que fundou a organização comunitária nos anos 90, participou da mobilização que começou em 2009. Ela explica que a área é muito visada pelo setor imobiliário por causa do clima ameno e da paisagem deslumbrante. Por isso, o futuro da comunidade era incerto. Teresinha conta que a legalização das casas representou o fim da insegurança. “A gente tinha muito medo. Sempre aparecia alguém para ameaçar nos tirar daqui. Mas, desde que começamos o processo de regularização, foi um sossego e uma paz. Nunca mais apareceu ninguém dizendo que nós podíamos perder essas terras”, afirma Teresinha. A história dos moradores de Vista Alegre é semelhante à de outras 100 mil famílias que receberam títulos de posse no estado desde 2013. Número que deverá crescer nos próximos anos,


é o meu lugar

Fotos: Thiago Lontra

“Ninguém veio aqui marcar terreno e ganhar dinheiro. Viemos em busca do direito à moradia”

“Agora que a comunidade existe oficialmente, temos o direito de cobrar melhorias do Estado” Jorge José Gomes

Teresinha Cardoso

com a entrada em vigor da Lei Federal 13.456/17, que simplifica os processos e facilita a concessão dos títulos.

Controle do crescimento irregular O programa de regularização fundiária é gratuito para cidadãos de baixa renda que ocupam a terra há pelo menos cinco anos, e que não tenham outra casa. Além

Contraponto Presidente da Comissão de Habitação, a deputada Zeidan considera que a lei federal traz avanços importantes, mas critica alguns pontos. “A lei regulariza áreas muito extensas, verdadeiros latifúndios, sem levar em consideração o licenciamento ambiental. Além disso estabelece que a titularidade da terra seja mercantilizada enquanto as famílias querem essa posse para garantir o direito à moradia”, aponta.

OPINIÃO

Regularização é estímulo à cidadania Secretário de Estado de Habitação entre os anos de 2011 e 2014, o deputado Rafael Picciani (PMDB) participou do seminário na Alerj. Para ele, a regularização é um importante instrumento para reduzir o déficit habitacional, e faz com que as famílias invistam nos imóveis. Ele avalia que a a regulamentação do “direito de laje” terá papel importante. “É uma realidade das comunidades do nosso estado, onde muitas famílias crescem e continuam morando no mesmo local”, afirma. “Isso também permite que comunidades saiam da informalidade e cobrem melhores serviços”, completa. Foto: LG Soares

Mudanças A nova medida também prevê mais autonomia para os municípios no processo de regularização. No modelo, as prefeituras podem notificar os proprietários, que têm o prazo de cinco anos para reivindicar a posse antes da formalização do novo título. Mayumi Sone, presidente do Iterj, afirma que cerca de 60% dos municípios fluminenses ainda estão na informalidade. “O impacto da regularização fundiária vai ser muito grande. Já temos 16 cidades com termo de cooperação técnica e estamos à disposição para dar suporte às prefeituras”, disse. Para estreitar a cooperação entre Estado e municípios, a Alerj realizou, no dia 25 de outubro, um seminário e um workshop para técnicos das prefeituras sobre as mudanças. O evento foi realizado pelo Fórum de Desenvolvimento do Estado em parceria com a Comissão de Habitação e Assuntos Fundiários, presidida pela deputada Zeidan (PT).

disso, a área não pode ser considerada de risco e deve oferecer uma infraestrutura urbana mínima ao redor. Para Irani Babo Silva, aposentada de 62 anos que foi presidente da associação de moradores de Vista Alegre entre 2007 e 2016, a gratuidade permite que as famílias tenham acesso à dignidade e ajuda a preservar as comunidades. Ela conta que, antes da regulamentação, a área começava a sofrer um processo de favelização. “Agora, as pessoas têm consciência de que não podem mais fracionar o terreno. O crescimento irregular foi coibido”, aponta Irani. Segundo ela, outra conquista importante é a garantia para as futuras gerações. "Agora, as pessoas têm mais segurança porque elas têm a certeza de que poderão deixar uma herança para os filhos e netos", finaliza.

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ÍNDIOS

* Educação, em Guarani

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Conselho de Educação Escolar Indígena do Estado é instalado após comissão da Alerj pressionar o Poder Executivo


Fotos: Octacílio Barbosa

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Buanna R osa

tualmente, cerca de 600 índios das etnias Guarani e Pataxó vivem no Rio de Janeiro, segundo dados da Fundação Nacional de Saúde (Funasa). Desse total, 163 são alunos da Educação Escolar Indígena do Estado. No entanto, o governo não investe o necessário na educação desses estudantes. Em 2017, foram repassados mensalmente apenas R$ 1 mil para a manutenção das quatro escolas indígenas do estado. O valor seria o equivalente a cerca de R$ 6 para cada aluno indígena. “Temos escolas nos municípios de Angra dos Reis, Paraty e Maricá e apenas essa verba para manter as unidades funcionando. Esse valor não paga nem o gás para a merenda dos alunos”, disse a diretora da Escola Indígena Estadual Guarani Karai Kuery Renda, em Angra dos Reis, Ronia das Graças Batista. Ela lembrou ainda que as salas de aula de todas as unidades foram construídas pelas comunidades através de doações. Em busca de soluções Com o objetivo de melhorar a oferta do ensino indígena no estado e resolver problemas estruturais, foi instalado no mês de outubro o Conselho de Educação Escolar Indígena do Estado do Rio de Janeiro (CEEI). Criado desde 2014, por meio do Decreto 44.897, o mecanismo só saiu do papel após pressão da Comissão de Educação da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) na Seeduc.

Índios da aldeia Sapukaia sofrem com a falta de recursos destinados à escola “Era descabida essa inércia do Executivo. O governo precisava cumprir a legislação. É necessário assegurar que o ensino indígena aconteça de forma plena na rede. Valorizar e respeitar a cultura indígena é, acima de tudo, preservar a nossa história", afirmou o presidente da Comissão de Educação, o deputado Comte Bittencourt (PPS). A primeira reunião do conselho foi realizada no dia 31 de outubro, na Guarani Karai Kuery Renda. No encontro, o grupo formado por 32 representantes definiu o regimento que será utilizado pelo CEEI. “Teremos como responsabilidade elaborar, fiscalizar e acompanhar políticas públicas de educação indígena”, explicou o professor de licenciatura para indígenas da Universidade Federal Fluminense (UFF), Domingos Barros Nobre, um dos integrantes do conselho. O docente destacou, ainda, que em quase todos os estados do Brasil já existem esses conselhos.

Preservação da língua Diferente do ensino tradicional, a didática aplicada na educação indígena alfabetiza as crianças na sua língua materna, e o português é introduzido nas salas de aula apenas quando os alunos passam para o 5º ano. Porém, com a falta de recursos, as escolas não conseguem investir em um material didático diferenciado, na construção de uma biblioteca e em serviços básicos como limpeza. “Sou professor dessa escola desde 1990. Comecei dando aula embaixo de uma árvore. De lá pra cá, o único livro didático que tivemos em Guarani no estado do Rio foi escrito por um de nossos professores, no ano passado, com recursos próprios. O Estado precisa olhar para a educação dessas crianças. Os índios são muito inteligentes, mas são pouco valorizados”, relatou o professor Karaí Mirim, de 55 anos.

O OUTRO LADO...

De aluno a professor Javy Ju. É com essa expressão, que significa “Bom dia”, que diariamente o índio Guarani, Vera Mirim, de 36 anos, começa suas aulas na Escola Indígena Estadual Guarani Karai Kuery Renda. Ex-aluno, Vera Mirim hoje repassa o conhecimento que adquiriu para as novas gerações. “Fiz todo o ensino fundamental nesta escola e só quando passei para o ensino médio que fui para um colégio tradicional. Tenho orgulho de ser índio e poder continuar lecionando para as crianças da minha aldeia.” Filho de cacique, Vera Mirim é o

coautor do único livro didático em Guarani que existe no estado do Rio. “Me inspiro muito em um dos meus irmãos que mora em São Paulo e também é professor em uma aldeia”, contou. No entanto, não são todos os métodos que Vera Mirim consegue usar com os alunos do Rio. “Lá eles têm biblioteca na escola, muitos livros em Guarani e uma infraestrutura muito melhor do que a nossa. Vamos lutar para que esse conselho dê mais visibilidade para a nossa causa e que a gente consiga mais recursos para continuar ensinando”, afirmou o professor. Rio, 01 a 15 de novembro de 2017

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Economia

Menina com nanismo usa blusa de campanha contra o preconceito durante evento realizado no Palácio Tiradentes

Causa grandiosa Dia estadual do Nanismo é celebrado no Palácio Tiradentes; associação luta por visibilidade e mais acessibilidade no estado

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Vanessa S chumacker

assista e apaixonada por samba, Viviane de Assis concorreu ao cargo de Rainha do Carnaval Carioca de 2016. Não se sagrou campeã, mas virou passista da Escola de Samba Viradouro. A maior diferença dela para a xará Viviane Araújo – outra rainha do carnaval e musa do Salgueiro – é o tamanho: Viviane de Assis tem nanismo e mede 1,25m altura. Ela, que também é bancária, é a prova de que, apesar da condição especial, é possível levar uma vida normal. A sambista mudou padrões ao concorrer à corte do Momo. "Fui barrada porque o regulamento não permitia candidatas que medissem menos de 1,60m. Fiz barulho, reclamei, e consegui fazer uma campanha através das redes sociais que fez com que a prefeitura mudasse as regras", explica. A passista conta que a vida nem sempre foi fácil, e que sofreu muito preconceito: "Tinha mulata que não queria que eu sambasse perto dela porque achava que eu ia roubar a cena, me olhavam de cara feia, mas eu nem ligo". Para combater a discriminação, os parlamentares da Alerj aprovaram a Lei 7.319/16, de autoria da deputada Daniele Guerreiro (PMDB), que institui o dia 25 de outubro como o Dia Estadual do Nanismo. Segundo a parlamentar, o objetivo é difundir informações sobre a deficiência para 8

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Deputados e integrantes da associação do nanismo do estado do Rio de Janeiro se uniram pela causa combater o preconceito e melhorar a qualidade de vida das pessoas com nanismo. Para marcar a data, foi realizado um evento no Palácio Tiradentes, conduzido pelo deputado Rafael Picciani (PMDB), que falou sobre os desafios para dar visibilidade à causa. “Há muito desconhecimento sobre o nanismo, que pode acometer qualquer família. Fazem piada até hoje com anões em programas


Fotos: Thiago Lontra

DEPOIMENTO Sabrina Gonzaga

Nanismo: o tamanho do amor

Passista na escola de samba Viradouro, Viviane de Assis pressionou para alterar critério de altura em concurso

de TV. É preciso respeito e inclusão nas políticas de acessibilidade”, afirma. A solenidade que contou com a participação da presidente da Associação do Nanismo do Estado do Rio de Janeiro (Anaerj), Kenia Rio. Reconhecimento “É muito importante ter um dia só nosso para que a sociedade possa nos enxergar. Tenho filho e neto com nanismo e quero um mundo melhor pra eles. As autoridades precisam se conscientizar sobre a necessidade de adequar os serviços para atender também as pessoas com nanismo, seja no transporte público, nos elevadores ou nos bancos” defende Kenia. O preconceito contra pessoas com deficiência está sendo abordado na novela das nove, da TV Globo, “O Outro Lado do Paraíso”. A trama conta a história de Estela, interpretada pela atriz Juliana Caldas, portadora de nanismo, que é ridicularizada pela própria mãe. Juliana é a primeira mulher com nanismo a conquistar um papel em uma novela no horário nobre da Globo. “Ela vai brilhar mostrando que somos capazes de realizar qualquer função e de estarmos em qualquer lugar”, frisou Kenia. Também presente no evento da Alerj, o chefe do Centro de Genética Médica do Instituto Fernandes Figueira (IFF), Juan Llerena, explicou que existem cerca de 400 tipos de nanismo. “A orientação clínica deve ser multidisciplinar, respeitando particularidades e buscando soluções para os desafios que aparecem ao longo da vida. Mas é fundamental lembrar que o nanismo não traz comprometimento intelectual”, ressaltou. Ele lembrou que o nanismo afeta uma criança a cada 25 mil nascimentos no mundo.

Quando engravidei do Luis Miguel, há três anos, nunca tinha imaginado que teria um filho com nanismo. Meu marido já tinha dois filhos do primeiro casamento e nós tínhamos a Maria Luiza, que na época estava com oito anos. Minha gravidez estava tranquila até a 31ª semana de gestação, quando descobri, através de um exame de ultrasonografia, que os membros superiores do Miguel não estavam se desenvolvendo. Naquele momento, desmoronei. O médico disse que ele não teria braços e que a mão dele seria colada ao ombro. Eu vivi um luto com o meu filho dentro de mim, só chorava e dormia. Apesar de estar grávida, eu perdi 10 kg em um mês e minha pressão subiu. Tinha medo do que eu ia ver quando ele nascesse, eu queria ser dopada na hora do parto. Quando ele nasceu, ouvi o choro e em seguida a médica me mostrou o Miguel perfeito. Percebi que ele tinha pernas e braços. Foi uma alegria imensa. Quando ele tinha cinco meses descobri que o Miguel tinha nanismo. Confesso que no início foi difícil, o primeiro ano foi muito delicado. Mas comecei a frequentar o Instituto Fernandes Figueira e percebi que o meu filho é normal e que ter baixa estatura não representa nada. Sei que existe preconceito. É um mundo desconhecido paras as pessoas, assim como era pra mim, então tento entender e não guardar rancor. Quero mostrar o Miguel para o mundo, acho que assim os olhares preconceituosos vão diminuir. Afinal, todos nós somos diferentes. A chegada do meu filho mudou a minha percepção do amor. Descobri que o amor é imenso. Abraço a causa para que meu filho tenha dias melhores, para que ele possa se aceitar e saber que ele é amado do jeito que ele é. Com o Miguel, me tornei uma pessoa melhor, me aproximei mais da minha família e dos amigos. Descobri que existe muito mais do que o corpo, existe o amor que vale mais do que tudo. Descobri a minha missão e a minha missão é amar.

Sabrina Gonzaga tem 39 anos, é advogada, mãe do Luis Miguel de 3 anos e da Maria Luiza, de 11 (foto). Foto: Arquivo pessoal

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Futebol

Não

A família do jogador Vinicius Junior foi vítima de racismo em partida entre Botafogo e Flamengo pela Copa do Brasil, no dia 16 de agosto

Lei pune clubes por atitudes discriminatórias de torcidas nos estádios

Deputado Luiz Martins (PDT)

“Se o time pode ser punido, o torcedor vai pensar duas vezes antes de cometer esse tipo de crime” Deputado Janio Mendes (PDT)

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I sabela Cabral

Fotos: Vítor Silva/SSPress/Botafogo

“O objetivo é que os clubes adotem medidas para coibir a discriminação e colaborem com as autoridades”

m agosto, Flamengo e Botafogo jogavam nas semifinais da Copa do Brasil no Estádio Nilton Santos, o Engenhão, quando os familiares do atacante Vinicius Junior, do Flamengo, foram vítimas de injúrias raciais. Um torcedor do Botafogo gritava ofensas a tios do jogador e fazia sinais remetendo a macacos. Imediatamente, policiais militares do Grupamento Especial de Policiamento em Estádios (Gepe) o encaminharam para o Juizado Especial Criminal (Jecrim). “Com as imagens das câmeras, a Polícia Militar entrou em ação e foi até o local na hora, onde os próprios torcedores ajudaram a identificar o responsável”, explicou o presidente do Botafogo, Carlos Eduardo Pereira. O racismo – a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência


ao racismo nacional – é crime de acordo com a Lei Federal 7.716/89. Nem sempre os times agem como o Botafogo naquela ocasião. A partir de agora, terão um incentivo a mais, já que os clubes poderão ser penalizados caso seus torcedores pratiquem atos de racismo. É o que determina a Lei 7.712/17, dos deputados Jânio Mendes, Luiz Martins (ambos do PDT) e do deputado licenciado Thiago Pampolha. As multas variam de 50 a 50 mil UFIRs, ou seja, entre R$ 155 e R$ 155 mil. A punição, no entanto, será aplicada nos casos em que o clube não ajudar as autoridades na identificação do transgressor. O deputado Janio Mendes lembra que o princípio utilizado para a punição ao clube que não ajudar a combater o problema é o mesmo já adotado com sucesso pelo Estatuto do Torcedor, em vigor desde 2010. “Se o time pode ser punido, o torcedor vai pensar duas vezes antes de cometer esse tipo de crime”, defendeu. Porém, os deputados esperam mesmo é que a multa não seja aplicada. “O objetivo é que os clubes adotem medidas para coibir a discriminação e colaborem com as autoridades se houver infrações. Temos que acabar com o racismo”, disse Luiz Martins. Para o sociólogo Maurício Murad, especializado em violência no futebol, esse esporte é propício a transgressões. “O futebol

é um fenômeno de multidão e paixão, duas coisas que tendem a acentuar tudo, a ultrapassar limites, para o bem ou para o mal”, afirmou. Murad acredita que as torcidas acabam refletindo um momento histórico de muita intolerância na própria sociedade. “A dificuldade das pessoas conviverem com a diversidade anda muito grande no Brasil e isso se manifesta em várias áreas, inclusive no futebol. O racismo é algo abominável, com impactos muito negativos.”

Contraponto Torcidas organizadas e clubes criticam a medida. Para o diretor do Instituto Nacional do Torcedor (INT), João Pascoa, o mais eficiente é prevenir, não punir. “No INT, fazemos esse processo de conscientização dos torcedores, com palestras e debates”, afirmou. “Além disso, o racismo não é preponderante entre as torcidas. As ofensas partem para outros rumos. A discriminação contra nordestinos e homossexuais é mais forte. A gente trabalha para combater tudo isso”, afirmou. O presidente do Botafogo afirma que é difícil para os clubes conseguir impedir os atos. “O que o clube pode e deve fazer é tomar atitudes para que os culpados sejam punidos quando acontece”, ressaltou Carlos Eduardo Pereira.

CASOS MARCANTES

Manchas no futebol mundial Não são poucos os casos de racismo que ganharam repercussão nos últimos anos no futebol. Um dos mais famosos é o do goleiro Aranha, ofendido por vários torcedores do Grêmio quando defendia o Santos pela Copa do Brasil de 2014. Fora do Brasil o problema também é grande. Em jogo da Eurocopa 2012 o alvo foi o jogador italiano Balotelli, que teve uma banana arremessada contra ele. Outra vítima de ataque semelhante foi o brasileiro Daniel Alves, em partida de 2014 entre Villarreal e Barcelona. Alves, porém, ironizou a ofensa e comeu a fruta.

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Entrevista: José Genilson Ribeiro

Prevenção todos os meses do ano A L eon Lucius

O que é o câncer de próstata e como tratá-lo? O câncer de próstata tem uma tendência a atingir homens a partir dos 40 ou 50 anos de idade. Este câncer não tem uma característica única, podendo ter um grau de risco do menor ao maior. Ele responde a todos os procedimentos oncológicos, mas somente a cirurgia e a radioterapia são curativas. Como diagnosticá-lo? Em uma avaliação feita anualmente, há o exame do toque retal, em que observamos se existe aumento da glândula, endurecimento ou algum nódulo. Além disso, é feita a dosagem do marcador tumoral, o PSA, um divisor de águas que permite o diagnóstico precoce da doença. 12

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Há ainda preconceito com o exame? Sim, mas muito menos do que antes. Com a ação da imprensa e com a prevenção que as mulheres fazem, e influenciam os homens, todas as pessoas estão se tornando mais conscientes. O exame deve ser feito a partir dos 50 anos, ou 45 caso haja histórico familiar. Além do câncer na próstata, a que doenças os homens devem se atentar? O Novembro Azul dá margem para discutirmos outras doenças; dentre elas, a hiperplasia prostática benigna, que atingiu o presidente Michel Temer. Há também o câncer de pênis, que é característico de país subdesenvolvido, pois, com esclarecimento, o procedimento da circuncisão e a

higiene íntima, você abole esse tipo de câncer. Qual é o papel do Poder Público? O grande problema de área não são as doenças em si, mas a falta de locais para tratamento. Por isso, ficamos enxugando gelo. Há hospitais com emergências lotadas e médicos estressados. Além disso, há ainda uma gestão da saúde que trabalha sobre o conjunto das doenças, e não as especialidades. A população está muito mal assistida, esta é a realidade. No entanto, apesar da crise que vivemos, ainda existem profissionais que veem a medicina como sacerdócio e veem neste momento uma forma de ajudar as pessoas a vencer. Mais cedo ou mais tarde, a crise irá acabar.

Foto: Leon Lucius

cada 36 segundos, um homem morre vítima de câncer de próstata no Brasil. Segundo o Ministério da Saúde, foram quase 14.500 novos casos em todo o país em 2015. Celebrado pela primeira vez em 1999 na Austrália, inspirado no Outubro Rosa – campanha de prevenção do câncer de mama nas mulheres –, o Novembro Azul vai além do combate ao câncer de próstata. Hoje, a iniciativa promove a saúde do homem, incentivando a prevenção de doenças físicas e psíquicas com o objetivo de romper preconceitos que ainda afastam a população masculina dos consultórios e fazem com que eles vivam, em média, seis anos a menos que as mulheres. Em entrevista para o Jornal da Alerj, o urologista José Genilson Ribeiro, subchefe do Departamento de Cirurgia-Geral da Faculdade de Medicina da UFF, fala sobre o câncer, a prevenção, o papel do Poder Público e sobre outras doenças que atingem os homens.


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