JORNAL DA ALERJ A S S E M B L E I A L E G I S L AT I VA DO E STA DO DO RIO DE JA N E IRO Ano XV N° 333 – Rio, 16 a 30 de novembro de 2017
Memória preservada
Cais do Valongo, declarado patrimônio do estado pela Alerj em outubro, é local símbolo do Dia da Consciência Negra PÁGINAS 4 e 5
A PM fez um bom trabalho ao implantar as UPPs, mas o modelo de polícia atual não está funcionando. Os criminosos voltaram e precisam ser combatidos
Fotos: LG Soares
Frases
Deputado Dionísio Lins (PP), sobre o projeto de lei que muda a organização das UPPs
Não existe nas escolas brasileiras a cultura para situações emergenciais. Aqui no Rio temos casos de tiroteio. O que o aluno deve fazer para se proteger? Átila Nunes (PMDB), sobre o projeto que determina que escolas tenham plano de desocupação emergencial
Redes Sociais
Alerj pelo interior S ymone Munay Foto: Cris Isidoro / Diadorim Ideias
Zoe Konstantopoulou @ZoeKonstant Postado em 12/11/2017
Αύριο στο Κοινοβούλιο του #RioDeJaneiro @alerj για το "ελληνικό" κ το παγκόσμιο δημόσιο Χρέος Amanhã em #RioDeJaneiro @alerj Parlamento sobre "Grego" e Dívida Pública Mundial -> Ex-presidente do parlamento grego sobre sua participação em audiência pública realizada na Alerj (tradução via Google Tradutor)
Thiago de Amorim @ThiagoJec Postado em 12/11/2017
Alô @alerj , podia dar uma sugestão pra @assembleiasc fazer um aplicativo como o "Carteirada do Bem" de vocês! Parabéns mesmo!
*As mensagens postadas nas redes sociais são publicadas sem edição de conteúdo.
Expediente
Presidente - Jorge Picciani 1º Vice-presidente - Wagner Montes 2º Vice-presidente - André Ceciliano 3º Vice-presidente- Jânio Mendes 4º Vice-presidente - Marcus Vinícius 1º Secretário - Geraldo Pudim 2º Secretário - Samuel Malafaia 3º Secretário - Átila Nunes 4º Secretário - Pedro Augusto 1o Vogal - Carlos Macedo 2 o Vogal - Zito 3º Vogal - Renato Cozzolino 4º Vogal - Bebeto
JORNAL DA ALERJ Publicação quinzenal da Subdiretoria-Geral de Comunicação Social da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro
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Rio, 16 a 30 de novembro de 2017
Jornalista responsável: Daniella Sholl (MTB 3847) Editor: André Coelho Coordenação: Daniela Matta e Jorge Ramos Equipe: Buanna Rosa, Camilla Pontes, Gustavo Natario, Isabela Cabral, Octacílio Barbosa, Tainah Vieira, Thiago Lontra, Symone Munay e Vanessa Schumacker Edição de Arte: Daniel Tiriba e Rodrigo Cortez Editor de Fotografia: Rafael Wallace Secretária da Redação: Regina Torres Estagiários: Carolina Moura, Danilo Gabriel (redes sociais), Elisa Calmon, Leon Lucius, Luís Gustavo (foto) e Thiago Oliveira (redes sociais) Impressão: Imprensa Oficial Tiragem: 1,4 mil exemplares Telefones: (21) 2588-1404 / 1383 Rua Primeiro de Março s/nº, sala 406 Palácio Tiradentes - Centro Rio de Janeiro/RJ - CEP 20.010-090 Site: www.alerj.rj.gov.br Email: dcs@alerj.rj.gov.br Twitter: @alerj Facebook: @AssembleiaRJ Instagram: @instalerj Capa: Octacílio Barbosa (foto)
Engenho Central já teve até mesmo moeda própria
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la já teve moeda própria, o maior cinema da região e uma malha ferroviária com três locomotivas, inclusive uma de luxo. A cidade de Itaocara, na Região Noroeste fluminense, chegou a ganhar em 1946 uma sala de projeções com 300 lugares. Os anos de opulência tiveram início no bairro rural de Laranjeiras, atual Laranjal, fruto do Engenho Central, que além da cana-de-açúcar, cultivava vasta lavoura de inhame, mandioca, hortaliças e arroz. Erguida no final do século XIX com o nome de Engenho Central do Rio Negro, a propriedade transformou-se, a partir de 1906, em uma grande usina. Para os seus 1.500 empregados e familiares chegaram a ser criadas ruas e construídas mais de 145 residências. O maior símbolo de poder do Engenho Central, no entanto, foi a emissão de moeda própria, autorizada pela Casa da Moeda. O "Império de Laranjeiras" começou a desaparecer com o fechamento de muitas usinas, no final da década de 60. Hoje, o prédio em estilo vitoriano da velha usina está com seu interior vazio e os arredores desertos, mas não perdeu o esplendor.
República
Por trás da cena
Historiadores revelam bastidores da Proclamação da República
Quadro de Benedito Calixto mostra Deodoro da Fonseca liderando as tropas no Campo de Santana, Centro do Rio Buanna R osa
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á 128 anos, o Brasil se tornava uma República Federativa. O novo sistema de governo foi instaurado no dia 15 de novembro de 1889 pelo marechal Deodoro da Fonseca. Na manhã daquele dia, ele liderou as tropas – formadas principalmente por jovens militares do Exército – que ocuparam o quartel-general, no Campo de Santana, Centro da cidade do Rio Janeiro, então capital do Império. Chegava ao fim a Monarquia vigente no país desde 1822. O imperador Dom Pedro II soube dos acontecimentos no Palácio Imperial de Petrópolis, e voltou às pressas para a corte. Mas não conseguiu impedir o golpe militar. Dois dias depois, a família imperial deixava o Brasil rumo ao exílio em Portugal. Esse é o relato que muitos brasileiros conhecem. Mas historiadores da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) levantaram curiosidades que não estão nos livros.
Você sabia? No período da Monarquia, já existia eleição para parlamentares. Cerca de 10% da população podia votar. Era preciso ser homem, alfabetizado e ter renda considerável. Após a instalação da República Federativa, na primeira eleição do regime, o número de eleitores caiu. Somente cerca de 2,5% da população que poderia votar fez uso do seu direito. A influência norte-americana era tão forte no país que republicanos estudaram mudar a bandeira do Brasil para uma igual a dos Estados Unidos. A única diferença seriam as cores. Mas a ideia logo foi esquecida. A bandeira do Império se manteve com algumas mudanças. O brasão da época da Monarquia foi substituído pelo globo azul e houve a inclusão da frase positivista “Ordem e Progresso”. O nome oficial do país também mudou após a República ser proclamada. Passou a se chamar Estados Unidos do Brasil. Em 1967 o país passa a se chamar República Federativa do Brasil.
A estátua de bronze de D.Pedro I, localizada na Praça Tiradentes, Centro do Rio, era chamada pelos republicanos de "mentira de bronze". E, mesmo após a Proclamação da República, a imagem se manteve na praça. Um dos motivos do sucesso da empreitada republicana foi a insatisfação de um círculo de latifundiários com o fim da escravidão no país. O grupo, que ficou conhecido como "republicanos de última hora", custeou grande parte do movimento republicano. A música do Hino Nacional também foi alterada pelos republicanos. Depois da proclamação, foi realizado um concurso para escolher um novo hino. A música vencedora, entretanto, foi vaiada pelo público e criticada pelo próprio Marechal Deodoro da Fonseca. Somente em 1906 foi realizado um novo concurso para a escolha da melhor letra que se adaptasse ao hino. O poema vencedor foi o de Joaquim Osório Duque Estrada, oficializado por decreto do então Presidente Epitácio Pessoa, em 1922, e que permanece até hoje.
Vídeo mostra pontos históricos A TV Alerj gravou um programa especial revelando a história presente ainda hoje no Centro do Rio. Assista ao vídeo em bit.ly/tvalerj15nov ou acesse o QR Code pelo seu smartphone
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Foto: Rafael Wallace
Consciência Negra
Antônio Carlos Rodrigues reúne até 100 jovens estudantes para passeios que exploram pontos como a Pedra do Sal
Pequena África
Lei declara Cais do Valongo, antigo porto por onde chegaram cerca de um milhão de negros escravizados, patrimônio do estado
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Camilla Pontes , S ymone Munay
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Carolina Moura
enhum local no Rio de Janeiro é mais significativo para se homenagear o Dia da Consciência Negra do que o Cais do Valongo. Principal porto de entrada de africanos escravizados no Brasil e nas Américas entre os séculos XVI e XIX, a área foi, no último dia 11 de outubro, declarada patrimônio do estado. “Vivemos um momento difícil em que o mundo parece estar retrocedendo. Medidas assim são importantes para que ninguém 4
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esqueça o que houve no passado. Para que não se repita nunca mais”, avalia deputado André Ceciliano (PT), autor da proposta aprovada em Plenário. Esta não foi a primeira vez que o Valongo teve sua importância reconhecida. Ponto de desembarque e comércio de cerca de um milhão de negros, o local foi nomeado em julho deste ano Patrimônio Mundial pela Unesco e, em 2013, Patrimônio Cultural da cidade pelo Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH).
História Valongo era o nome da antiga enseada que existia ali. Em 1843, o espaço foi reformado e passou a ser conhecido como Cais da Imperatriz, em referência ao desembarque da princesa Teresa Cristina de Bourbon, que viria a se casar com o imperador D. Pedro II. No início do século XX, o local foi soterrado a mando do prefeito Pereira Passos e, apenas em 2011, durante escavações feitas para as obras do Porto Maravilha, foi redescoberto. Depois que o comércio de escraviza-
Região Portuária reúne diversos pontos históricos da herança africana
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2 Cais do Valongo e Cais da Imperatiz Praça Jornal do Commercio
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6 Pedra do Sal Fim da Rua Argemiro Bulcão, Largo João da Baiana EFÉ
1 Centro Cultural José Bonifácio Rua Pedro Ernesto, 80
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5 Largo do Depósito Praça dos Estivadores
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Foto: Halley de Oliveira / Wikimedia
Foto: Halley de Oliveira / Wikimedia
3 Cemitério dos Pretos Novos Rua Pedro Ernesto, 32/34
dos se tornou ilegal no Brasil em 1831 – o fim da escravidão só viria em 1888 com a Lei Áurea – a Região Portuária começou a ser habitada por negros libertos nas décadas seguintes. O artista Heitor dos Prazeres, um dos pioneiros do samba carioca, batizou a área formada pelos bairros da Gamboa, Saúde e Santo Cristo de "Pequena África". O Cais do Valongo faz parte do Circuito Histórico e Arqueológico da Celebração da Herança Africana que agrega, também, os Jardins do Valongo, a Pedra do Sal e o Largo do Depósito, entre outros. A presidente do Instituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos (IPN), Maria de La Merced, realiza passeios mensais pela região. "Ali nasceram diversas associações, ranchos, além de vários blocos carnavalescos", conta. Maria lembra, ainda, que no Cemitério dos Pretos Novos foram enterrados cerca de 30 mil negros que não sobreviveram à viagem da África para a América. “Trabalho com estudantes de escolas públicas e mostro um pouco de suas raízes, da história e da origem da cidade em que vivem”, diz o guia Antônio Carlos Rodrigues, que chega a reunir até
4 Jardim Suspenso do Valongo Ladeira do Valongo, Rua Camerino
100 jovens para o percurso. “Chamo a atenção para o chão em que eles pisam. Tem inúmeras marcas de um passado muito sofrido”, completa Antônio.
Proteção prevista em lei
Trabalho da Casa A Alerj vem aprovando leis que contribuem para a valorização e a promoção do negro na sociedade. Presidente da Comissão de Combate às Discriminações da Casa, o deputado Carlos Minc (sem partido) afirma que é fundamental dar visibilidade a quem nem sempre tem. “Tudo isso cria mecanismos para combater a triste herança cultural de escravismo colonial”, avalia o deputado. Autor da lei que determina multa para atos de racismo, o deputado Gilberto Palmares (PT) diz que “é importante trabalhar, principalmente no espaço legislativo, para a aprovação de medidas que restrinjam atos de discriminação racial”. Autora do Prêmio Dandara, a deputada Tia Ju (PRB) relata que a premiação reflete a vanguarda da Casa: “Eu me orgulho de compor um parlamento que respeita a pluralidade e luta para diminuir os abismos sociais”.
Lei 6.067/11 - Reserva de vagas para negros e índios nos concursos públicos dos três poderes, do Poder Executivo.
Lei 4.151/03 - Cotas para ingresso nas universidades públicas estaduais, do Poder Executivo.
Lei 6.483/13 - Multas para atos de discriminação racial, de Gilberto Palmares (PT). Lei 6.914/14 - Cotas para ingresso nos cursos de pós-graduação, de Zaqueu Teixeira (PDT). Resolução 137/15 - Prêmio Dandara, dedicado a pessoas ou entidades que contribuíram para a valorização da mulher afrodescendente, de Tia Ju (PRB). Lei 7.712/17 - Penalidades aos clubes de futebol cujas torcidas praticarem atos de racismo em estádios do estado do Rio, de Jânio Mendes (PDT), Luiz Martins (PDT) e do deputado licenciado Thiago Pampolha. Lei 7.782/17 - Inclui no calendário do estado a Semana Estadual do Festival Literário da Diáspora Africana de São João de Meriti (Flidan), de André Ceciliano (PT).
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Inclusão
Filhos do silêncio Tema de redação do Enem chama atenção para desafio na educação de surdos
Fotos: Octacílio Barbosa
N I sabela Cabral
o início do mês, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) pegou muita gente de surpresa com seu tema de redação: “Desafios para a formação educacional de surdos no Brasil". A repercussão pôs em evidência o desconhecimento sobre uma questão que afeta, segundo dados do IBGE de 2010, mais de 2 milhões de pessoas com deficiência auditiva severa ou profunda. Essa realidade torna a Língua Brasileira de Sinais (Libras) o segundo idioma oficial do Brasil. A educação desse grupo enfrenta problemas frequentes. “A rede pública de ensino ainda não está preparada para ter o surdo em sala de aula. Não tem intérpretes, os professores não sabem Libras e não conhecem as necessidades pedagógicas destes alunos”, alerta Marcelo Cavalcanti, diretor do Instituto Nacional de Educação de Surdos (Ines). Nascida surda, a professora Priscilla Cavalcante, de 31 anos, começou sua educação no Ines, a mais antiga escola para surdos do Brasil. Lá, aprendeu Libras e também português, escrito e oral. “Fiz a educação infantil em uma turma de comunicação total”, conta. “A educação dos surdos precisa ser vista da perspectiva deles. A Libras normalmente é a primeira língua do surdo, depois vem o português. Temos que respeitar essa realidade”, defende o presidente da Comissão da Pessoa com Deficiência da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), deputado Márcio Pacheco (PSC). Educadores ressaltam que nem todos os surdos, porém, sabem Libras. Há aqueles que aprendem a falar com ajuda da fonoaudiologia e fazem leitura labial. 6
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Professora e ex-aluna do Ines, Priscilla Cavalcante faz em frente à escola, referência na educação de surdos, sinal que simboliza a instituição
3 PERGUNTAS PARA:
Giselly Peregrino
Professora do Colégio de Aplicação do Ines e Especialista em Educação Inclusiva Quais são as opções para a educação do surdo? O aprendizado linguístico está no cerne dos desafios da pessoa surda e começa na infância, quando os responsáveis devem optar pela escola e, de quebra, pela língua de primeiro contato. Atualmente, o que tem orientado o trabalho é o bilinguismo, em que a Libras é reconhecida e valorizada como primeira língua e o português escrito é considerado o segundo idioma. Para que este seja bem aprendido, é preciso que o primeiro esteja bem formado. E o mesmo raciocínio se estende a outras línguas. O surdo pode aprender espanhol, inglês, francês… Inclusive, pode aprender línguas de sinais de outros países, que são diferentes. Todos os deficientes auditivos sabem Libras? Alguns se comunicam oralmente? A comunidade surda é heterogênea. Existem surdos oralizados, surdos com implante coclear, surdocegos,
Dificuldades Na primeira parte do ensino fundamental, Priscilla frequentou um colégio que é referência para alunos com deficiência auditiva, mas também recebe estudantes ouvintes. Depois, estudou em outras duas escolas regulares, sem intérprete de Libras. “Acredito que o ideal é um modelo baseado na inclusão, em que as pessoas com deficiência estudem em escola regular com acompanhamento especializado, desde que haja de fato a estrutura adequada”, afirma o deputado Flávio Serafini (PSol), integrante da Comissão de Educação. Hoje, Priscilla é formada em Direito, Pedagogia e Letras-Libras, além de ter cursado pós-graduação em Pedagogia Bilíngue. Ela atua como professora de Libras e coordenadora pedagógica no Departamento de Ensino Superior do Ines. A vida universitária, entretanto, não foi fácil. A primeira graduação foi onde encontrou mais obstáculos. “No ambiente acadêmico, os professores davam aula e sumiam. Era tudo muito rápido. O jeito era estudar sozinha. Eu ficava horas na biblioteca”, lembra. Tanta dedicação não foi suficiente para decifrar a linguagem jurídica. Ela decidiu então reivindicar seu direito e pedir um intérprete. O profissional, no entanto, não apareceu, e ela não podia pagar por um. Até que o pai teve uma ideia: gravar as aulas. “Ele ouvia e virava noites transcrevendo tudo pra
surdos com autismo, surdos com deficiência intelectual, surdos com deficiência física etc. Entre os oralizados, que não são poucos, vários sabem Libras também e podem optar pela forma como vão se expressar. Geralmente, eles trabalham bastante com fonoaudiólogos. Afinal, surdos não são necessariamente mudos. O que ainda é preciso desmistificar sobre as pessoas surdas? Ainda existe muito preconceito. Fico feliz com a visibilidade dada ao tema pelo Enem, mas vi, nas redes sociais, uma multiplicação de piadas maldosas a respeito das pessoas surdas. Supostas brincadeiras escondem a discriminação. Não podemos mais fechar os olhos para a segregação e ridicularização a que esses estudantes são submetidos. Educar, nesse contexto, é uma luta contra o preconceito absolutamente necessária.
mim. Era um incentivo e tanto. Meu caderno passou a ser o mais requisitado da turma". lembra. A um ano e meio do fim da faculdade, o pai de Priscilla sofreu um AVC. “Meu mundo desabou. Pensei em desistir”, diz. Mas, logo em seguida, ela ganhou bolsa integral da universidade e o apoio de um intérprete pago pela instituição. “Aí sim eu entendia claramente. Os professores perceberam minha melhora, minha participação maior na sala”, lembra. Segundo dados do Censo do Ensino Superior, entre 2010 e 2015, 7.131 alunos deficientes auditivos, surdos e surdocegos estavam matriculados em instituições de ensino superior em todo o Brasil durante este período. No estado do Rio, esse número é 445. Referência nacional O Ines, órgão do Ministério da Educação, acaba de completar 160 anos. “Somos um centro de referência no país na área da surdez”, afirma Marcelo Cavalcanti. O instituto tem um colégio de aplicação que abrange da educação infantil ao ensino médio e curso superior de Pedagogia Bilíngue. Mais de 600 pessoas são atendidas. “Além disso, produzimos material pedagógico para capacitação de profissionais nesse campo. Temos ainda a TV Ines, com programação voltada para o surdo. Disponibilizamos, também, um curso de Libras gratuito, que tem uma procura enorme", conta Cavalcanti.
Marcelo Cavalcanti: “A rede pública de ensino ainda não está preparada”
Legislação inclusiva Lei 7.329/16 - Lei de Diretrizes para a Acessibilidade, que inclusive estabelece a presença de intérprete de Libras no acesso de surdos à educação, cultura e justiça Lei 7.219/16 - Obriga a presença de intérprete de Libras nas aulas teóricas das autoescolas quando houver aluno surdo Lei 6.491/13 - Cria regras para a inclusão dos alunos com deficiência na rede pública de ensino Lei 4.309/04 - Determina a adoção da Libras nos processos seletivos e nos cursos das universidades estaduais Lei 3.195/99 - Reconhece Libras como meio de comunicação da comunidade surda e assegura atendimento nesta língua em órgãos da administração pública
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Economia
Sabores sobre rodas
A E lisa Calmon
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Lei cria política específica para comércio de alimentos nas chamadas food bikes
L eon Lucius
receita de palha italiana da avó de Anne Rosário, 30, foi o pontapé inicial para montar um negócio com o noivo, o matemático José Valentim, 28, em julho de 2016. O casal decidiu vender o doce na cestinha de uma bicicleta para juntar dinheiro e pagar o casamento marcado para o próximo ano. Hoje, “A Palha do Zé” conta com um cardápio de 15 sabores. O empreendimento faz parte de um setor que vem crescendo em diversas cidades do Brasil: o de food bikes. Só na capital fluminense, existem mais de mil ini-
ciativas como a do casal, segundo estimativa da Associação Rio Sobre Rodas. Para estimular ainda mais o crescimento dessa atividade econômica, a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) aprovou em setembro a Lei 7.767/17, de autoria do deputado Waldeck Carneiro (PT) e do ex-parlamentar Tiago Mohamed. A medida cria a Política Estadual de Incentivo e Fomento à Comercialização de Alimentos em Veículos de Propulsão Humana, tais como bicicletas, trici-
clos, carrocinhas e similares. De acordo com José Valentim, o principal benefício da norma é a permissão para a atuação das food bikes em logradouros, vias e áreas públicas. “Agora, nós estamos legalizados, sem o medo de que nossa mercadoria seja apreendida a qualquer momento”, disse. Segundo o presidente da Rio Sobre Rodas, Renato Barbosa, sem uma regulação a atuação desses comerciantes sofria repressão policial nas ruas e, por isso, ficava restrita a eventos privados. “Estar na rua é uma necessidade, porque o nosso objetivo é alcançar o maior número de pessoas e não apenas um público segmentado”, explicou Renato que pilota uma food bike de churrasquinho. Fotos: Octacílio Barbosa
Jefferson Cardim sonha em vender sua comida havaiana nas praias do Rio de Janeiro
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O casal Anne Rosário e José Valentim lançou "A Palha do Zé": renda obtida com a venda do doce pagará casamento A associação liderada por ele foi criada há quatro meses com o objetivo de organizar os produtores e reivindicar políticas públicas para o setor. De lá para cá, mais de 30 microempreendedores, com cardápio variado, se associaram. Um deles é Jefferson Cardim que, com o irmão e um amigo, abriu uma empresa de sushi para eventos. A bicicleta adaptada era, até então, apenas uma maneira de se diferenciar dos outros fornecedores, um charme a mais. O sucesso foi tanto, no entanto, que o veículo virou food bike, saiu das festas fechadas e ganhou as ruas vendendo pratos típicos havaianos. "Esta lei vai nos beneficiar muito, porque poderemos trabalhar livremente. Meu prato é a cara do verão, das praias", afirmou. Importância econômica Segundo o Sebrae, o setor vem se desenvolvendo através de um processo de inovação e consequente popularização da figura do alimento classificado como gourmet. Os trabalhadores desse ramo já representam 2% da população. A segurança proporcionada pela regulamentação cria um cenário propício para o desenvolvimento do setor, segundo o deputado Waldeck Carneiro (PT). “O estado, por suas características multiculturais, apresenta condições ideais para a consolidação desse tipo de atividade, proporcionando seu crescimento, resguardando o consumidor
Aplicativo aproximará vendedores e clientes A partir de janeiro de 2018, as food bikes estarão a alguns cliques de distância com o lançamento do aplicativo WapFood. A ferramenta vai oferecer a localização dos produtores independentes de comida e permitir o pagamento através da plataforma. O consumidor poderá ainda escolher a forma de entrega. “O objetivo é garantir mais interação entre o público e os empreendedores, dando mais visibilidade para o setor e facilitando o acesso aos produtos”, explica Ygor Canazar, sócio-fundador da empresa responsável pela elaboração do dispositivo. com o comércio sustentável e garantindo a segurança e a qualidade dos produtos oferecidos”, disse Benefícios da mudança Há três anos, Roberta Matheus, 35, vende tapiocas personalizadas em sua food bike. Ela contou que abandonou a carreira de cirurgiã ortodôntica e hoje se dedica exclusivamente ao negócio. “Foram muitas tentativas, mas agora posso dizer que eu estou no caminho certo. Com as tapiocas, eu sustento a minha família e emprego quatro funcionários”, comemora. A história de Roberta não é um caso isolado. O setor tem crescido nos últimos anos, desencadeando uma série de investimentos e empregos. Manuel Vargas, CEO de uma empresa que produz bicicletas modificadas, relatou que, em
18 meses, atendeu 40 clientes. “Temos dois perfis: aquele que tem emprego fixo, mas quer complementar a renda, ou foi demitido e encontra dificuldades em voltar para o mercado”, explicou. Higiene A lei define que os negócios deverão se adequar às normas sanitárias e de segurança alimentar. A "Palha do Zé", no entanto, teve sempre essa preocupação, adotando procedimentos esterilizantes na confecção do produto. “Nós nos antecipamos e procuramos uma profissional que nos orientasse sobre a conservação certa para que o produto não perca a qualidade", disse Anne Rosário. As embalagens já possuem, inclusive, informações nutricionais avaliadas por uma profissional do ramo. Rio, 16 a 30 de novembro de 2017
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Foto: Rafael Wallace
Entrevista: André Torreta
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Gustavo Natario
consultor e estrategista de marketing, André Torretta, é categórico: “Precisamos entender as pessoas”. Torreta afirma que a enorme quantidade de dados e informações disponíveis atualmente sobre os cidadãos, conhecida como Big Data, de nada serve se não for contextualizada e analisada. No último dia 11, ele realizou a palestra "Big Data na Comunicação Política" na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), uma iniciativa da Subdiretoria-Geral de Comunicação Social da Casa. A empresa de Torreta se associou este ano ao escritório inglês de estratégia de comunicação, que realizou as campanhas vitoriosas de Donald Trump, nos Estados Unidos, e do Brexit, no Reino Unido. 10
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o d n e d s n o r e e t En núm os
Como a grande quantidade de dados mudou a forma de realizar campanhas políticas? Os dados sempre foram utilizados pelas campanhas em qualquer lugar do mundo. A diferença é que o volume de informações aumentou muito com a internet e as mídias digitais. Dados isolados, no entanto, não dizem nada. Precisamos entender as pessoas. É importante analisar os bancos de dados para conferir os aspectos demográficos, além de perceber as atitudes e comportamentos nas mídias digitais. É fundamental cruzar esses dados para compreender os perfis psicográficos de cada cidadão, seus valores, crenças e personalidades. Como transformar os dados e as informações em votos? Precisamos modificar as experiências das pessoas. Ou seja, é importante sempre defendermos o mesmo ponto de vista, mas para cada público-alvo mudarmos a argumentação. Um grande exemplo foi utilizado na campanha de Trump que defendia sempre o porte de armas. No entanto, em Nova Iorque, um estado mais liberal, o argumento era a insegurança da população. Já no interior, o discurso era o da tradição em utilizar armas. Muitas pessoas reclamam que está acontecendo uma manipulação da
democracia. O que o senhor pensa sobre isso? Eu discordo totalmente. Todo advento de um novo meio de comunicação causa estranheza nas pessoas. Foi assim desde a invenção da imprensa por Gutemberg. Com a internet não seria diferente. Mas os cidadãos não podem reclamar, eles dão as pegadas digitais, colocam as informações nas mídias. Além disso, os dados sempre foram utilizados. Agora só ficou mais fácil realizar o cruzamento dessas informações e definir o comportamento dos indivíduos para atingir pessoas que pensam da mesma maneira. Durante a palestra, o senhor afirmou que as pessoas gostam de discursos políticos otimistas. Como é possível realizar discursos otimistas, mas com credibilidade? É preciso sempre ponderar. Costumo dizer que as campanhas políticas têm que ser baseadas em 50% de passado e 50% de futuro. Ou seja, o candidato tem que mostrar tudo o que já fez para conseguir a credibilidade, mas também tem que apontar soluções para o futuro. É aí que entram os discursos otimistas. A população está cansada de ouvir lamentações. Queremos alguém que mostre a solução, que tenha um caminho, que represente a esperança de um futuro melhor.