JORNAL DA ALERJ A S S E M B L E I A L E G I S L AT I VA DO E STA DO DO RIO DE JA N E IRO Ano XIV N° 317 – Rio de Janeiro, 01 a 15 de junho de 2016
Supera Rio: rotas de saída da crise Eventos reúnem parlamentares e lideranças regionais e colocam em pauta entraves e alternativas para o desenvolvimento PÁGINAS 3, 4 e 5
Paralimpíada: Brasil investe para alcançar sua melhor marca nos Jogos PÁGINAS 8 E 9 Rio Moda Rio: Palácio Tiradentes recebe desfile do estilista Ivan Aguilar PÁGINA 12
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Frases
Foto: Vitor Soares
A nossa exigência é que os recursos enviados pela União sejam aplicados para resolver problemas concretos da população como saúde, educação, segurança e assistência social" Paulo Ramos (PSol), sobre o empréstimo anunciado pelo Governo Federal para o Rio. Foto: Thiago Lontra
Queremos aliviar a vida do cidadão, para ajudar a tirar o Rio dessa situação dramática. E, depois, responsabilizarmos aqueles que geraram esse quadro calamitoso" Comte Bittencourt (PPS), em discurso sobre a crise econômica que afeta o estado.
Redes Sociais
//assembleiaRJ /alerj
Decreto Calamidade Pública na administração financeira do RJ é a confissão de incompetência e abre caminho para receber recursos federais.
Dep. Luiz Paulo @LuizPaulo_dep
É inaceitável que direitos básicos do cidadão – com saúde, segurança, educação e transporte - sejam negociados em troca das Olimpíadas!
Dep. Marcelo Freixo @MarceloFreixo
Thamires Aboud @thabold Instagram
Alerj sustentável QUESTÃO DE ATITUDE “Tudo é matéria-prima, só vira lixo depois da sua atitude”, alertou Edson Freitas, presidente do Instituto Lixo Zero, na palestra Desperdício Zero, dia 21, na Alerj. O encontro faz parte do Programa de Educação Financeira da Casa, promovido pelo Comitê de Implantação da A3P (Agenda Ambiental da Administração Pública). Ele defendeu a necessidade de conscientização da sociedade e reclamou da falta de políticas públicas de estímulo à reciclagem. “O lixo é o terceiro maior orçamento da maioria dos municípios, atrás de educação e saúde. O desperdício zero é uma forma lógica para enfrentar a crise.” Luiz Antonio Leal (foto), professor da UFRJ, apresentou dados sobre o desperdício de comida. Segundo a ONG Banco de Alimentos, uma família brasileira joga no lixo 20% dos alimentos que compra. “São R$ 90 desperdiçados todo mês. Precisamos mudar hábitos.”
*As mensagens postadas nas redes sociais são publicadas sem edição de conteúdo.
Expediente Presidente - Jorge Picciani 1º Vice-presidente - Wagner Montes 2º Vice-presidente - André Ceciliano 3º Vice-presidente- Marcus Vinicius 4º Vice-presidente - Carlos Macedo 1º Secretário - Geraldo Pudim 2º Secretário - Samuel Malafaia 3º Secretário - Fábio Silva 4º Secretário - Pedro Augusto 1o Suplente - Zito 2 o Suplente - Bebeto 3º Suplente- Renato Cozzolino 4º Suplente- Márcio Canella
JORNAL DA ALERJ Publicação quinzenal da Subdiretoria de Comunicação Social da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro Jornalista responsável: Daniella Sholl (MTB 3847) Editora: Mirella D'Elia Coordenação: André Coelho e Jorge Ramos Equipe: Buanna Rosa, Camilla Pontes, Isabela Cabral, Symone Munay , Tainah Vieira, Thamara Laila, Teresa Klein
(colaboradora), Thiago Lontra e Vanessa Schumacker. Editor de Arte: Rodrigo Cortez Editor de Fotografia: Rafael Wallace Secretária da Redação: Regina Torres Estagiários: Andressa Garcez (publicidade), Felipe Teixeira, Gustavo Natario, Lucas Moritz, Octacílio Farah (foto), Rayza Hannah (publicidade) e Vitor Soares (foto). Impressão: Imprensa Oficial Tiragem: 2 mil exemplares
Telefones: (21) 2588-1404 / 1383 Rua Primeiro de Março s/nº, sala 406 Palácio Tiradentes - Centro Rio de Janeiro/RJ - CEP 20.010-090 Email: dcs@alerj.rj.gov.br Site: www.alerj.rj.gov.br www.twitter.com/alerj www.facebook.com/assembleiarj Instagram: @instalerj Capa: Rodrigo Cortez
CAPA
T ERESA K LEIN
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DA R EDAÇÃO
SUPERA RIO: ROTAS DE SAÍDA PARA A CRISE Eventos regionais, com a participação de parlamentares e lideranças políticas e econômicas, propõem alternativas de desenvolvimento do estado
mais grave crise da história do Rio culminou, em junho, em uma medida inédita: a decretação de calamidade pública financeira. Com um rombo de quase R $ 25 bilhões previsto para este ano, o governo tem atrasado pagamentos a fornecedores, terceirizados e até mesmo servidores. Com a queda do barril de petróleo, a arrecadação de royalties despencou mais de 60% nos últimos quatro anos. A isso, somou-se a crise na Petrobras, motor da economia fluminense, que reduziu drasticamente suas atividades, afetando outras empresas do setor. A reboque, veio a queda na arrecadação. O cenário é classificado por especialistas como uma “tempestade perfeita”. A Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) faz a sua parte. Desde 2015, está cortando na própria carne, com a revisão de contratos e contenção de gastos. O resultado: redução de 7,4% nas despesas de custeio entre 2014 e 2015. A maior economia do estado. A economia de R$ 169 milhões em 2015 possibilitou à Casa doar mais de R$ 50 milhões a órgãos estaduais, em áreas estratégicas, como saúde e segurança. O parlamento colocou suas comissões em campo para analisar as contas do estado, sugerindo cortes, avaliando contratos, mediando negociações com o governo. Também foram aprovadas leis, como a taxa de fi scalização ambiental da exploração de petróleo, gás e energia elétrica, que pode render R$ 1,9 bilhão só neste ano. A iniciativa mais recente é o projeto Supera Rio, lançado no início de junho. Capitaneado pelo Fórum Permanente de Desenvolvimento do Estado, o Supera Rio reúne lideranças políticas e econômicas regionais para identificar potencialidades e gargalos para impulsionar rotas de saída para a crise. Um dos exemplos é a indústria leiteira, que hoje tem uma demanda reprimida. Vire a página e conheça as propostas levantadas nos debates.
Foto: Rafael Wallace
Plateia lotada: encontro em Campos discutiu criação de zonas industriais e adaptação da logística e da mobilidade urbana
HORA DE UNIR ESFORÇOS Construir agendas de desenvolvimento regional, em um esforço suprapartidário de união entre municípios, empresários e diferentes forças políticas para retomar o crescimento econômico e superar a crise. Este é o objetivo do Supera Rio, projeto realizado em parceria com a Inter TV, afiliada da Rede Globo, que foi a quatro regiões do estado para discutir as vocações de cada local e as necessidades para alavancar o desenvolvimento. “A crise no estado não é política, é econômica. É hora de unir esforços para que o estado volte a pagar em dia seus funcionários, fornecedores e volte a crescer. Precisamos restabelecer a governança no estado”, afirmou o presidente da Alerj, deputado Jorge Picciani (PMDB), no evento de abertura, realizado no dia 13 de junho, em Nova Friburgo, na Região Serrana. Uma semana depois, em Campos, a economia do Norte fluminense entrou em pauta. O presidente regional da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), Fernando José Aguiar, defendeu a criação de zonas industriais e empre-
sariais, além da adaptação da logística e da mobilidade urbana. “É preciso novos olhares para identificar potenciais e torná-los fontes de desenvolvimento econômico em harmonia com o perfil e as tradições produtivas locais”, disse. Ao final de cada etapa, os participantes dos eventos redigem uma carta com uma lista de propostas em prol do desenvolvimento regional. A principal medida sugerida nos encontros foi justamente a criação, por meio de lei estadual, de câmaras de desenvolvimento regional, que reuniriam prefeitos, vereadores, sociedade civil e universidades. O objetivo é discutir políticas que possam integrar as regiões de acordo com suas próprias vocações, permitindo um desenvolvimento equilibrado dos municípios. Logística Um dos principais exemplos levantados é o da indústria leiteira, que recebeu incentivos nos últimos anos, mas hoje tem uma produção abaixo de sua capacidade, por problemas na cadeia produtiva e no
escoamento da produção. Presidente do Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados, Antonio Carlos Celles Cordeiro propôs a criação de incentivos para a cadeia produtiva e mais atenção à logística. "É preciso integrar setores complementares com incentivos para toda a cadeia de suprimento, além de elaborar ou atualizar planos municipais de mobilidade”, afirmou. Parceira da Alerj no projeto, a Firjan lançou recentemente o Mapa do Desenvolvimento do Estado do Rio. A partir do diagnóstico de que o Rio é apenas o oitavo estado no ranking de competitividade do país (veja gráfico na página ao lado), o documento apresenta 46 propostas divididas em cinco eixos, como sistema tributário, infraestrutura e gestão de políticas públicas. Até o fim de julho, esse documento será regionalizado, tratando das especificidades de cada parte do estado, um trabalho que vai se somar às discussões do Supera Rio.
RANKING DOS ESTADOS
PAUSA PARA REFLEXÃO
Rio está acima da média nacional, mas aparece apenas em oitavo lugar no Ranking de Competividade dos Estados, feito pelo Centro de Liderança Pública (CLP), BM&F Bovespa e Tendências Consultoria. A nota leva em conta dez "pilares", como segurança, sustentabilidade fiscal e educação. Infraestrutura é área crítica.
Coordenado pelo Fórum de Desenvolvimento do Estado, órgão presidido pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), o Supera Rio rodou o estado para ouvir de lideranças políticas e econômicas regionais suas queixas em relação aos gargalos de infraestrutura e as sugestões para alavancar o crescimento e superar a crise. Secretária-geral do Fórum, Geiza Rocha (foto abaixo) faz um balanço positivo dos encontros. “O Supera Rio contribui para a revisão da matriz de desenvolvimento do estado, calcada no óleo e gás, e acelera ações que podem viabilizar investimentos em outros setores”, diz. Leia abaixo a entrevista. Como o Supera Rio pode colaborar para que o estado saia da crise? O Rio de Janeiro construiu sua matriz de desenvolvimento calcada no óleo e gás. Agora, com a crise econômica, a queda do preço do barril do petróleo, dos royalties, e da arrecadação, precisa rever suas ações e decidir que caminhos deve trilhar. Acredito que o Supera Rio, ao reunir especialistas para debater o desenvolvimento regional, contribui na revisão dessa matriz de crescimento e acelera ações que podem viabilizar investimentos em outros setores em que o estado possui potencialidades já diagnosticadas. Um exemplo que vem sendo citado nos encontros é a produção leiteira. Uma das medidas em pauta é a criação de Câmaras Regionais para alavancar o crescimento. Que outras ações estão em discussão? Ações que visam a estimular a produção leiteira no estado e o fomento à criação de uma base regional de informações que possam ser compartilhadas pelos municípios são algumas das propostas trazidas nesses encontros. E que servirão de base para reflexão. Qual o balanço dos encontros? É sempre muito positivo sair da capital e se reunir com as lideranças locais, ir aos municípios para conhecer os desafios que eles enfrentam. Sem contar que essa oportunidade está nos permitindo reunir uma quantidade importante de informações que ficarão disponíveis para os parlamentares por meio do site www.querodiscutiromeuestado.rj.gov.br Foto: Rafael Wallace
Fonte: Centro de Liderança Pública
EDUCAÇÃO
agora é no voto: Democracia nas escolas Assembleia Legislativa aprova lei que garante eleições para diretor e media negociações com o Executivo
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GUSTAVO NATARIO
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F ELIPE T EIXEIRA
greve dos professores estaduais, iniciada em março, e a ocupação da Secretaria de Estado de Educação (Seeduc) e de mais de 70 unidades de ensino por alunos da rede pública refletem a crise no sistema educacional do estado. Em meio à maior crise fi nanceira da história do Rio, o Executivo, em dificuldades para honrar pagamentos de servidores, terceirizados e fornecedores, não tem margem para atender à reivindicação de reajuste de 30% no salário feita pelos profissionais da educação. Diante desse quadro, a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) tem atuado para buscar o atendimento de outras pautas que não gerem custos para os cofres públicos. Os deputados da Comissão de Educação e a liderança do governo na Casa conseguiram vitórias importantes, como o inédito decreto que cancelou as faltas que haviam sido computadas por greves ocorridas desde 1993, e a liberação da recarga mensal do RioCard dos estudantes. Recentemente, foram aprovadas a redução da carga horária dos funcionários de apoio das escolas estaduais de 40 para 30 horas semanais, o que já ocorria na prática, mas estará amparado por lei. Outra reivindicação atendida é a de professores indígenas com contratos temporários, que agora poderão ser reconduzidos após um prazo de apenas 30 dias do fi m do contrato anterior. Antes, era preciso esperar um ano. O principal pleito de estudantes e professores atendido até agora foi a aprovação pela Alerj da Lei 7.299/16, que entrou em vigor no início de junho e determina a eleição direta para diretores de escolas estaduais e unidades da Fundação de Apoio à Escola Técnica (Faetec), com votos de professores,
funcionários, alunos e pais de estudantes menores de 12 anos. As eleições serão por votos ponderados, na proporção de 50% para os professores e funcionários administrativos e 50% para alunos e pais. Autor da lei, o deputado Carlos Minc (sem partido), comemorou a aprovação da medida: "Ficamos 13 anos sem democracia nas escolas, e agora ela vai voltar graças à luta dos estudantes e professores. O mais importante é que não vai haver mais indicação para a direção das escolas. Tem que ser no voto.” Presidente da Comissão de Educação da Alerj, o deputado Comte Bittencourt (PPS), valorizou a luta dos estudantes: “A Comissão de Educação sempre se colocou favorável ao processo de eleição direta nas escolas do estado. Parabéns aos estudantes, que com seu movimento, foram fundamentais nessa vitória para devolvermos a democracia às escolas", discursou. Segundo secretário de Estado de Educação, Wagner Victer, a sanção do projeto foi uma das prioridades da pasta desde que ele assumiu o cargo, em maio. “Esta lei foi amplamente debatida em reuniões da Secretaria com o Ministério Público e a Defensoria, que discutiram o tema com estudantes em busca de dar mais transparência e participação na escolha dos diretores”, destacou. Presidente da Associação Municipal dos Estudantes Secundaristas (Ames), Isabela Queiroz comemorou a nova lei. Ela acredita que a eleição poderá mudar o cenário atual, em que muitas escolas não têm uma administração transparente. "Achamos nas ocupações vários equipamentos esportivos, alimentos, livros e computadores novos. Os alunos poderiam estar usando todo esse material", contou Isabela.
Foto: Luca Moritz
Alunos reunidos na Alerj com Carlos Minc, autor da lei que prevê eleição nas escolas: "Ficamos 13 anos sem democracia" A estudante Chantal Campello, que cursa o ensino médio na Escola Estadual Edmundo Silva, em Araruama, explica que a atual direção não dialoga com os alunos. "Não permitiram que a gente criasse um grêmio. As eleições para o conselho também não são divulgadas e geralmente têm uma duração de apenas meia hora", relatou. Outras reivindicações Alunos e professores também pedem melhorias na infraestrutura dos colégios e na prestação de serviços como a merenda escolar. Outro problema enfrentado na Faetec, ligada à Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia, é o atraso do pagamento de terceirizados, que já chega a cinco meses. O secretário Gustavo Tutuca afi rmou que irá solicitar ao Executivo uma parte da verba que a União repassa para a educação, hoje destinada integralmente à Seeduc. "A Faetec faz parte da educação e deve ser contemplada. Assim conseguiremos voltar à normalidade", destacou.
EXPERIÊNCIA DEMOCRÁTICA NAS ESCOLAS Apesar da lei que determina a realização de eleições para os diretores nas escolas estaduais do Rio ter sido sancionada em junho, as unidades da Faetec já realizam essas eleições há dez anos. Para Wallace Tavares, professor de literatura da Escola Técnica Estadual República, em Quintino, Zona Norte do Rio, a aprovação da medida é tardia, mas, mesmo assim, muito positiva: “Fiquei até surpreso quando soube que outras escolas não tinham eleição. Penso que um diretor eleito pela escola por meio de um processo democrático deixa o ambiente de trabalho não só mais agradável, como também legítimo e, teoricamente, impassível de críticas. Não havendo lei, esses cargos deixam de ser democráticos e passam a ser políticos”, afi rmou Wallace. Para a aluna Camila Gonzalez, da Escola Técnica Adolpho Bloch, em
São Cristóvão, também na Zona Norte do Rio, da mesma forma é necessário realizar uma eleição para a escolha do presidente da Faetec. "Atualmente, o Governo do Estado escolhe o presidente. Por isso, muitos acabam não sendo da área da educação e não representam os alunos", reclamou Camila. Uma das escolas mais tradicionais do Rio, o Colégio Pedro II também realiza eleições para diretores em suas unidades desde antes da aprovação da lei. A ex-aluna Laura Barbosa, que estudou na unidade Realengo II de 2008 a 2010, afi rma que as eleições trazem muitos benefícios. Com a votação, existem debates e os alunos têm oportunidade de apontar as principais necessidades do colégio. Os candidatos à direção também conseguem expor os planos de gestão, o que é bem melhor para funcionários e alunos”, explicou Laura.
RIO 2016
Paralimpíada: Brasil busca a melhor marca Depois do sétimo lugar em Londres, equipe brasileira quer chegar à quinta colocação; Alerj acompanha Jogos
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I SABELA CABRAL
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CAMILLA PONTES
eclinada sobre três rodas, a atleta Jady Malavazzi, de 20 anos, pedala sua handbike com as mãos a mais de 30 quilômetros por hora. Foi assim que ela conquistou o ouro em cinco campeonatos nacionais, a prata no Parapanamericano de Guadalajara e o quarto lugar na Copa do Mundo de Paraciclismo. Em 2010, três anos depois de sofrer um acidente de carro e ficar paraplégica, a jovem conheceu o ciclismo adaptado para quem tem mobilidade reduzida nas pernas. “O esporte foi uma ferramenta para me ajudar a voltar a ter uma vida normal”, diz. Jady é uma das promessas do Brasil nas Paralimpíadas, de 7 a 18 de setembro. Às vésperas dos jogos, Jady treina pesado e se mudou para Brasília, onde tem acompanhamento de fisioterapeuta, nutricionista e psicólogo. “Melhorei muito a minha performance”, conta a atleta, que, graças ao patrocínio, consegue se dedicar ao esporte. Ela aposta no legado da Rio 2016 para combater o preconceito: Os papéis começam a se inverter. Vão ver um atleta com deficiência e não um deficiente atleta”. Essa será a primeira edição dos Jogos Paralímpicos na América do Sul. Atletas de 176 países participarão de 528 provas, de 23 modalidades diferentes, em 21 arenas. A expectativa é de que 270 atletas do Brasil participem – a maior delegação do Brasil em Paralimpíadas. Mesmo com menos visibilidade do que a Olimpíada, o
Brasil alcançou na edição de 2012 dos Jogos Paralímpicos, em Londres, o sétimo lugar no ranking mundial, sua melhor colocação na história (confira ao lado). Foram 21 medalhas de ouro. O vice-presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), Ivaldo Brandão, sonha mais alto: “Queremos o quinto lugar.” Vitórias e obstáculos Mobilidade urbana pouco acessível, informação técnica insuficiente e dificuldade para conseguir patrocínio. Esses são os pontos principais que fazem a diferença na carreira de um bom atleta. A ausência deles é mais um obstáculo para uma pessoa com deficiência que se profissionaliza em algum esporte, tornando-se um atleta paralímpico. Para Brandão, da CBP, a mobilidade continua a ser um grande desafio. “Há excelentes estruturas esportivas, com dependências acessíveis, mas o trajeto para chegar até elas ainda é precário, o que muitas vezes impossibilita que uma pessoa com deficiência tenha acesso ao lugar.” O vice-presidente aponta a fórmula do sucesso: “A estrutura organizacional existente no país, com auxílio de clubes, confederações, do Comitê Paralímpico, do Ministério do Esporte e calendários consistentes são as bases de sustentação para qualquer talento desportivo”. Ele ressalta que os patrocínios institucionais são vitais para que a equipe do Brasil seja uma potência nos esportes adaptados.
Foto: Jonne Roriz
Foto: Gabriel Heusi
Daniel Dias em ação: "Vejo o esporte paralímpico com profi ssionalismo e espero que deixe um legado para a sociedade"
Daniel, multiatleta e astro das piscinas Um expoente notável dessa potência é o nadador Daniel Dias. Aos 28 anos, ostenta o título de melhor atleta paralímpico do mundo. O maior nome da natação paralímpica brasileira disputará sua terceira Paralimpíada. No currículo, 15 medalhas, sendo dez de ouro. “Estou treinando todos os dias, e as expectativas são as melhores possíveis. Vejo o esporte paralímpico hoje com muito profissionalismo e espero que deixe um legado positivo para a sociedade”, diz. Daniel nasceu com má formação nos braços e na perna direita. Hoje astro das piscinas, só mergulhou no esporte aos 16 anos, ao ver Clodoaldo Silva, o "Tubarão Paralímpico" na TV, na Olimpíada de 2004, em Atenas. Antes, o multiatleta passou por outros esportes. Deu trabalho para os pais: quebrou muitas próteses jogando bola. Alerj sempre atenta A Comissão da Pessoa com Deficiência da Alerj acompanhou atentamente as ações de preparação para
receber atletas e público durante os Jogos Paralímpicos e elaborou um relatório de acessibilidade, que foi entregue ao Governo do Estado e à Prefeitura. O grupo também participou dos eventos-teste do Comitê Paralímpico. “Houve grandes avanços em relação ao Parapan de 2007: a organização está mais atenta à pessoa com deficiência e à área esportiva, mais bem amparada. Mas só vamos entender esse legado após o evento”, diz o presidente do grupo, deputado Márcio Pacheco (PSC). Então vice-presidente da comissão, a ex-deputada Tania Rodrigues, que é cadeirante, fez um levantamento dos problemas de acessibilidade nas áreas com grande fluxo de turistas e no transporte público da cidade. Foram feitas sugestões de adequação para pessoas com mobilidade reduzida, tais como: sinalização de obstáculos, mapeamento tátil e rota de piso tátil antiderrapante ou direcional, dispositivo sonoro nos semáforos, construção e melhoria de rampas de acesso e acessibilidade nos pontos de táxi.
EVOLUÇÃO DO BRASIL NO QUADRO DE MEDALHAS
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24º
Sydney - 2000
9º 14º
7º
Melhor desempenho paralímpico: Londres 2012
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medalhas
Londres - 2012 Pequim - 2008
Atenas - 2004
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UMA JANELA PARA O MUNDO Em cinco anos, TV Degase já capacitou mil internos em oficinas mistas de audiovisual; vídeos passam na TV Alerj
C T ERESA K LEIN
ena: manhã de segunda-feira. Adolescentes em sala de aula. Divididos em grupos, eles discutem o conteúdo didático. A matéria? Produção audiovisual. Close: Meninas e meninos não tiram os olhos do professor que está à frente do grupo. Corta. Seria uma classe comum, exceto pelo fato de os 20 jovens trajarem uniformes do Departamento Geral de Ações Socioeducativas (Degase), onde cumprem medidas socioeducativas por terem cometido crimes. Fim da aula. Eles deixam o local enfileirados, com as mãos para trás, acompanhados por agentes. Vinculado à Secretaria de Estado de Educação (Seeduc), o Degase tem cerca de 2.700 menores internos
em unidades do estado – quase a metade por envolvimento com o tráfico de drogas (veja ao lado). Os adolescentes reunidos nessa sala, apesar de em pequeno número, são a cara da mudança. Eles integram a TV Degase, oficina de audiovisual que existe há cinco anos e já capacitou mil jovens. Uma janela para o mundo, que agora o público poderá conhecer. A TV Degase foi criada pelo psicopedagogo Eduardo Caon (leia abaixo). Convênio com a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) trouxe para a programação da Casa os vídeos produzidos pelos alunos de Caon. “A TV pública tem o dever de prestar contas à sociedade”, diz o diretor da TV Alerj, Jackson Emerick.
Jovem que participa das oficinas de audiovisua
O RECOMEÇO POR MEIO DAS LENTES Fernanda* já não precisa passar os dias e os fins de semana trancafiada em uma unidade do Degase. Ela volta à unidade da Ilha do Governador apenas para dormir, de segunda a sexta-feira. É nessa fase que muitos internos poderiam aproveitar para fugir. Não é o caso de Fernanda. Ela faz questão de voltar toda as segundas e quartas-feiras para a sala de aula, por vontade própria. Quer terminar o curso da TV Degase, que tem duração de três meses. Nas oficinas, que são ministradas duas vezes por semana, os jovens têm aulas teóricas e práticas. Aprendem a operar uma câmera, a se expressar, a fazer entrevistas e entram em contato com todos os detalhes por trás de um
programa de TV. Inclusive aparecer em cena – sem mostrar totalmente o rosto, para se resguardarem, por determinação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Aos 16 anos, Fernanda* sabe que esta pode ser uma oportunidade única de aprender algo e, quem sabe, abraçar uma carreira no futuro. “Não quero mais essa vida para mim, eles estão me ajudando”, diz. A atitude serve de inspiração para o colega João*, também de 16 anos, que gosta de mexer com câmeras. “Quero muito aprender mais. Quando sair daqui, também vou voltar para poder continuar as aulas do curso”, faz coro o rapaz. *Nomes fictícios
RAIO-X: CRIMES QUE LEVARAM O
Foto: Thiago Lontra
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SAIBA COMO NASCEU A TV DEGASE O projeto surgiu por iniciativa do psicopedagogo Eduardo Caon, que percebeu, além da oportunidade de ressocializar esses jovens e inseri-los no mercado de trabalho, a necessidade de os jovens enxergarem a si mesmos. Literalmente. No Degase, assim como em uma prisão, espelhos são proibidos por medida de segurança. Internos chegam a ficar meses ou anos sem contemplar o próprio reflexo. “Se você não vê seu rosto, usa a mesma roupa, tem a mesma cor e adota os mesmos hábitos de seu colega, começa a se diluir na multidão”, afirma. Foi assim que Caon decidiu dar início a um curso de fotografia, que virou exposição e matéria-prima para o documentário O Reflexo na Escuridão. Ele percebeu que, além de vistos, esses jovens precisavam ser ouvidos. Nascia a TV Degase, premiada com a Medalha Tiradentes em 2012. Caon acaba de receber o diploma Heloneida Studart, premiação da Alerj que reconhece ações de destaque na área da cultura. As turmas são de 20 alunos. “E os pedidos para entrar não param de chegar”, destaca o jornalista e professor Thiago Fontoura. “Explicamos que as vagas são limitadas, mas a TV exerce um fascínio muito grande.” Caon vibra ao ver ex-alunos trabalhando. “Para um jovem qualquer, esta é uma oportuni-
dade; para eles, é ‘a’ oportunidade.” Ele acrescenta que a iniciativa proporciona o resgate da autoestima. “Como aqui a aparência deles é mostrada, passam a se cuidar mais e se sentem obrigados a falar corretamente”, observa. Saudade A crise econômica quase acabou com o projeto. Em 2015, o Degase não pode renovar o contrato com o Instituto Pró Menor, ONG que administrava a TV. As atividades chegaram a ser prejudicadas. “Quando vimos a tristeza dos meninos, decidimos tocar nós mesmos o projeto”, relata Caon. Hoje, ele e Fontoura estão à frente de tudo. Apesar das dificuldades, não se arrependem. A família é o principal tema abordado pelos alunos. Eles falam sobre saudade e a promessa de não decepcionarem mais as pessoas amadas do outro lado do muro. A TV Degase, acrescenta Caon, também funciona como uma ponte com o mundo exterior. No Facebook, os familiares assistem aos vídeos produzidos em aula, além das fotos publicadas. A saudade da família ficou evidente quando uma adolescente perguntou a esta repórter se poderia ficar com o bloquinho de notas utilizado para fazer anotações. A menina queria os papéis para escrever cartas à família. Arrematou as folhas e abriu um belo sorriso.
al: ressocialização e chance de uma carreira
EDUARDO CAON: EM BUSCA DE FUTUROS NOVOS
OS JOVENS AO DEGASE Tráfico de drogas - 42,27% Roubo - 28,76% Furto - 8,72% Posse e comércio de armas - 5,29% Outros - 14,96%
Criador da TV Degase, Eduardo Caon fala com orgulho da cria. “Não podemos mudar o passado, mas é possível fazer um futuro novo”. A TV Degase ajuda os jovens a resgatar a autoestima? Ficamos extremamente motivados quando vemos adolescentes que retornam ao curso sem precisar ou ex-internos que viram profissionais. Tivemos alunos com duas ou três passagens pelo Degase e que depois do curso pararam com isso. Não podemos mudar o passado, mas é possível fazer um futuro completamente novo. Aqui, apostamos em futuros novos.
Como a TV Degase ajuda na relação dos jovens com a família? A mãe que veria o fi lho só no dia da visita, vê nas fotos e nos programas. A família também pode assistir a algumas aulas. Não há nada melhor do que isso. Se um jovem não vê a família, o resgate dele é muito difícil. Pedimos os nomes das mães e adicionamos, temos um monte de mães no Facebook.
Foto: 12 Rafael Wallace
Moda:
refresco na crise Explosão de cores toma conta do Palácio Tiradentes no desfile do mineiro Ivan Aguilar
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S YMONE MUNAY
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CAMILLA PONTES
m meio à mais grave crise fi nanceira de sua história, o Rio de Janeiro volta a ter uma semana de moda para chamar de sua após dois anos de jejum com a morte do Fashion Rio. Plataforma que reún desfi les, música e gastronomia, o Rio Moda Rio ocupou locais emblemáticos do centro histórico da capital, como o Píer Mauá, o Museu de Arte do Rio (MAR) e o Palácio Tiradentes, sede da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj). No dia 17 de junho, uma sexta-feira ensolarada, peças leves e descontraídas, desenvolvidas com técnicas de alta alfaiataria, permeadas por cores ácidas e refrescantes, quentes e frias, em estamp a s geo-
métricas, desfi laram pelas escadarias e rampas do Tiradentes. A coleção do estilista Ivan Aguilar fez o público vibrar. “A coleção foi feita para ilustrar o contraste do colorido com a arquitetura sisuda do Tiradentes. Amei o resultado”, comemorou Aguilar. Pedestres, motoristas e passageiros de ônibus pararam para fotografar a transformação do palco de manifestações numa passarela ao ar livre. Na plateia, lotada, estrelas do jornalismo de moda aplaudiram a explosão de cores que tomou conta do prédio histórico. A novidade não agita apenas o mundinho fashion. É um refresco em tempos de aperto e ajuda a reforçar os cofres do estado. A moda emprega quase 200 mil trabalhadores com carteira assinada no Rio, o segundo maior empregador do estado. A capital concentra quase metade desses empregos. Inspiração Mineiro radicado no Espírito Santo, Ivan Aguilar faz sucesso na Semana de Moda de Nova York, e é conhecido como “o alfaiate dos presidentes”. Já fez ternos para os ex-presidentes Lula e José Sarney, além de outros políticos. A inspiração do estilista foi a obra da artista plástica Beatriz Milhazes - daí o nome da coleção, "Milhazes de Cores". As peças homenagearam nortes da moda carioca nas décadas de 1970 e 1980: Simon Azulay, da Yes, Brazil!, e Luiz de Freitas, da Mr. Wonderful. “A moda está sendo homenageada como um todo. Na época em que fiz as primeiras coleções foi uma inovação: homem não vestia cores fortes e vibrantes. Ver tudo isso é maravilhoso”, disse Luiz de Freitas.