PALÁCIO TIRADENTES FIEL À DEMOCRACIA Texto de Villas-Bôas Corrêa e ensaio fotográfico de Gustavo Malheiros
ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
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1ª SESSÃO LEGISLATIVA 10ª LEGISLATURA
PAULO MELO PRESIDENTE
EDSON ALBERTASSI 1º VICE-PRESIDENTE
GILBERTO PALMARES
PAULO RAMOS
ROBERTO HENRIQUES
2º VICE-PRESIDENTE
3º VICE-PRESIDENTE
4º VICE-PRESIDENTE
WAGNER MONTES 1º SECRETÁRIO
GRAÇA MATOS
GERSON BERGHER
DR. JOSÉ LUIZ NANCI
2º SECRETÁRIO
3º SECRETÁRIO
4º SECRETÁRIO
SAMUEL MALAFAIA 1º SUPLENTE
BEBETO
ALEXANDRE CORREA
GUSTAVO TUTUCA
2º SUPLENTE
3º SUPLENTE
4º SUPLENTE
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LUISI VALADÃO SUBDIRETORIA GERAL DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
MELISSA ORNELAS DEPARTAMENTO DE CULTURA
STAFF BRASIL REALIZAÇÃO
TATHIANA MACHADO PROJETO GRÁFICO
MURILO LINS ARTE FINAL
JADILSON FIGUEIREDO PRODUÇÃO GRÁFICA
LARRY BUMPUS VERSÃO PARA O INGLÊS
ELAYNE BESSA GILBERTO CATÃO MARCIO ROMÃO REVISÃO
RAFAELLA EYER DANIELA AUTRAN ATENDIMENTO
GUSTAVO MALHEIROS FOTOS
COLOR SET GRÁFICA
PALÁCIO TIRADENTES RUA PRIMEIRO DE MARÇO, S/N˚ - CENTRO - TEL.: 25ľ8 -1000
FICHA TÉCNICA Copyright Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro – Alerj Impresso no Brasil/Printed in Brazil Todos os direitos reservados. A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação do copyright (Lei nº 5.988) 1ª edição - 2002
PALÁCIO TIRADENTES FIEL À DEMOCRACIA 5
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VILLAS-BÔAS CORRÊA Texto de Villas-Bôas Corrêa e ensaio fotográfico de Gustavo Malheiros
GUSTAVO MALHEIROS 7
1.
SUMÁRIO APRESENTAÇÃO O Palácio da Livre Expressão
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INTRODUÇÃO A História Republicana Tem sua Casa Restaurada
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Capítulo 1 Capítulo 2 Capítulo 3 Capítulo 4 Capítulo 5 Capítulo 6 Capítulo 7 Capítulo 8 Capítulo 9
O Palácio do Legislativo De Castellinho a Heráclio Salles Dois Turnos O Ponto de Encontro Palco, Enredo, Elenco O Jogo do Poder O Legado da Minha Geração O Corte de Brasília O Palácio Fiel ao seu Destino
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SUMMARY PRESENTATION The Palace of Free Expression
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INTRODUCTION The Republican History has its House Restored
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Chapter 1 Chapter 2 Chapter 3 Chapter 4 Chapter 5 Chapter 6 Chapter 7 1. Alegoria do Progresso situada na lateral direita da fachada. Obra de Zacco Paraná. 1. Allegory of Progress situated on the right side of the façade. Work of Zacco Paraná.
Chapter 8 Chapter 9
The Palace of the Legislature From Castellinho to Heráclio Salles Two Shifts The Meeting Point Stage, Plot, Cast The Game of Power My Generation’s Legacy The Brasília Cut The Palace Faithful to its Destiny
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2.
2. Cúpula do Palácio Tiradentes. O vitral representa o céu brasileiro no dia da Proclamação da República (15/11/1889). Ao redor, pinturas dos irmãos Chambelland, que apresentam marcos relevantes da história do Brasil. 2. Dome of Tiradentes Palace. The stained glass represents the Brazilian Sky on the day of the Proclamation of the Republic (11/15/1889). Around it, paintings of the Chambelland brothers, that present relevant milestones of the history of Brazil. 11
O PALÁCIO DA LIVRE EXPRESSÃO PAULO MELO
APRESENTAÇÃO Presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro.
Diariamente, centenas de pessoas visitam o Palácio Tiradentes, não somente atraídas por sua beleza arquitetônica, como também para conhecerem um pouco mais da história, através de exposições sobre a evolução das políticas fluminense e brasileira, percorrendo os corredores desse imponente prédio, inaugurado em 1926. Construído no mesmo espaço onde anteriormente havia a Câmara, o Senado e a Cadeia da colônia, o Palácio Tiradentes foi assim nomeado em homenagem ao alferes Joaquim José da Silva Xavier, o famoso herói republicano Tiradentes. Foi da Cadeia Velha, demolida para dar lugar ao Palácio, que Tiradentes partiu para a forca por recusar a opressão da Coroa Portuguesa. Em todos esses anos, muitas coisas mudaram e, a partir do desenvolvimento da imprensa brasileira, alguns dos fatos ocorridos no prédio que se tornou sede do Legislativo fluminense não teriam a repercussão que tiveram não fosse a cobertura jornalística que mereceram. Em seus mais de 80 anos de fundação, o Palácio Tiradentes manteve suas portas abertas para todos – a população em geral e, de forma mais pontual, os profissionais de imprensa – e não somente para os políticos que nele contam, legitimamente, com seus gabinetes e assessores.
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Mas nem sempre foi assim. O prédio já assistiu a instantes em que as bases democráticas pareceram querer ruir, como na época do Estado Novo de Getúlio Vargas, quando o local passou a ser sede do temido Departamento de Imprensa e Propaganda, o DIP, e durante a ditadura militar, que censurou grande parte dos meios de comunicação. Atualmente, para o orgulho de nosso estado, a Assembleia Legislativa não só respira os ares da transparência, como também está em dia com as revoluções tecnológicas em curso, o que nos possibilita desenvolver um portal de internet moderno e estar nas mais diversas mídias sociais. E quem sabe e conhece muito bem a conquista pela garantia de livre expressão chancela a importância das transformações sofridas pelo Parlamento estadual. Assim sendo, nada melhor do que um jornalista da envergadura de Villas-Bôas Corrêa, que iniciou seus trabalhos no prédio em 1948, para escrever sobre curiosidades e momentos relevantes nesta renovada edição de Palácio Tiradentes: Fiel à Democracia. Com tantos anos dedicados ao jornalismo político, Villas-Bôas não poderia nos privar de discorrer sobre o dia-a-dia palaciano. Dono de um vernáculo invejado, o jornalista nos conta, em páginas da mais saborosa verve articulista, seu encontro, pelos corredores do
APRESENTAÇÃO
Palácio, com figuras marcantes, como Carlos Lacerda, o jurista Afonso Arinos, o cronista Otto Lara Resende, o pintor Di Cavalcanti e o escritor José Lins do Rego. Villas-Bôas não foi um nome escolhido à toa. É, ao mesmo tempo, dono de uma refinada escrita, que prima pela informação precisa e isenção no retrato dos fatos, e, partícipe em grande parte dos acontecimentos que marcaram a história do Palácio nas últimas décadas.
do Rio, onde também se encontram o Paço Imperial, o Centro Cultural Banco do Brasil, a Casa França-Brasil, o Museu Histórico Nacional, o Museu Naval, o Centro Cultural dos Correios, o Museu Nacional de Belas Artes e muitos outros monumentos históricos. Um prédio que se transformou em cenário de tantas manifestações políticas e da permanente luta pela democracia. Uma boa leitura...
Por fim, deve-se destacar que, ao texto de Villas-Bôas, junta-se o trabalho do fotógrafo Gustavo Malheiros, harmonizando cada detalhe do Palácio – suas formas, cores e ângulos – ao passado de luta em defesa da cidadania. Tons e luzes misturam-se a cada palavra de VillasBôas, fruto da sensibilidade do artista que fortalece a ideia do Palácio da livre expressão. O trabalho de Malheiros induz ao leitor a sensação de subir as escadarias, pesquisar na biblioteca e assistir a uma sessão plenária, uma poética reprodução da beleza do local de mãos dadas ao processo legislativo. Assim é o Palácio Tiradentes, acima de tudo, um lugar de memória do povo brasileiro, cada vez mais inserido como peça importante do Corredor Cultural do Centro
APRESENTAÇÃO
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A HISTÓRIA REPUBLICANA TEM SUA CASA RESTAURADA CARLOS EDUARDO SARMENTO - HISTORIADOR
INTRODUÇÃO
Em fevereiro de 1995, às vésperas da eleição que marcaria a renovação radical da composição e das práticas políticas da Mesa Diretora da Alerj, um grupo de parlamentares resolveu iniciar seus mandatos em uma nova legislatura do parlamento estadual, promovendo a lavagem das escadarias externas do edifício-sede da Assembleia. Embora inicialmente este ato tenha sido compreendido como uma manifestação que sintetizava os anseios em prol da purificação e da moralização das atividades legislativas, observado a partir da perspectiva das iniciativas que marcaram os oito anos seguintes, tal gesto também pode ser entendido como a pavimentação simbólica das vias de acesso do Palácio Tiradentes, franqueando-o aos cidadãos fluminenses. A construção de um novo padrão de atuação do Legislativo estadual poderia redundar em iniciativas quase inócuas se a este processo não correspondesse um sério e sistemático trabalho de reinserção do espaço político e simbólico do Palácio Tiradentes no cotidiano da população do estado. As reminiscências de Villas-Bôas Corrêa servem como o mais perfeito parâmetro para a compreensão do marcante sentido simbólico que o atual edifício-sede da Alerj representou para várias gerações - não apenas pelo fato de o plenário da Casa ser o epicentro da atividade parlamentar brasileira durante o período do Rio Capital Federal, mas pelo
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próprio Palácio assumir, no imaginário político, o papel de referencial supremo, de verdadeiro lugar de memória das representações da nacionalidade. Percorrer as dependências do Palácio é travar contato com um discurso simbólico meticulosamente elaborado, intencionalmente forjado para tornar a suntuosa construção bem mais que a sede do Poder Legislativo. O Palácio Tiradentes assume as características de um verdadeiro monumento a uma forma específica de compreensão do caráter nacional brasileiro e da dinâmica de seus poderes constituídos. Projetado no ano de 1922, quando o esgarçamento do pacto oligárquico da República Velha já se tornava evidente, a nova sede da Câmara dos Deputados deveria ser portadora de um discurso claro que procurasse valorizar as funções legislativas - tão combalidas no jogo político da política do café com leite - e propagar uma representação da história pátria que tivesse como protagonista o primado soberano do chamado “espírito das leis”: uma versão da história que sintetizasse um sentido para a trajetória política de um país idealmente construído sem conflitos ou radicalismos e calcado no respeito à autoridade estabelecida. Este padrão de interpretação da história fica evidente para qualquer um que se disponha a caminhar pelo
INTRODUÇÃO
edifício. Ao observarmos seus detalhes artísticos e arquitetônicos, notamos os elementos que orientam uma possível leitura acerca do passado, visando a estabelecer um sentido orientivo para os olhares do presente. Nomeado em homenagem ao “mártir da liberdade” - que passara suas últimas horas nas antigas dependências da cadeia da cidade, demolida para a construção do Palácio - a fachada do imponente edifício em estilo eclético é coroada pelas representações estatuárias da Proclamação da Independência e da República. Nas laterais da grande escadaria de acesso, mais dois grandes grupos de estátuas personificam alegorias dos princípios da “ordem” e do “progresso”. A síntese destes elementos é articulada em um claro sentido de justificação do ideal de Nação assumido pelos idealizadores do monumento: a pátria republicana, forjada a partir de dois momentos fundadores (a independência política em relação a Portugal e o estabelecimento do Estado republicano), deve seguir o seu percurso “evolutivo” na trilha do respeito à lei, pautando-se pelos ideais positivistas preconizados no dístico do pavilhão brasileiro. Esta concepção progressista da evolução do Estado e das instituições políticas brasileiras encontra-se detalhada na peça central do edifício: o plenário, eixo fundamental da atividade legislativa. Na cúpula do salão, em oito afrescos de estilo pontilhista, os irmãos
Chambelland traçaram as linhas evolutivas do processo de formação territorial e de construção do arcabouço político e legal que serviram de sustentáculo para a edificação do modelo republicano. Da chegada dos portugueses no litoral nordestino à incorporação das regiões fronteiriças nos séculos XIX e XX, temos toda a representação de um processo pacífico de delimitação do espaço físico do país, onde as principais armas utilizadas são as da negociação e da pactuação em torno de instrumentos legais. A montagem do Estado brasileiro também segue uma trilha teleológica e sem conflitos abertos. Personagens e eventos significativos se sucedem sem qualquer referência a possíveis rupturas, como se as sementes do presente estivessem em processo de germinação desde o princípio da atividade de catequese dos gentios. No alto da cúpula, a luz penetra neste ambiente através dos filtros coloridos de um magnífico vitral representativo da configuração do céu da Cidade do Rio de Janeiro no dia da Proclamação da República. O sentido de tal composição é evidente: por sobre as cadeiras dos representantes eleitos, responsáveis pela elaboração das leis que regeriam o funcionamento do sistema político, deveria pairar a iluminação suprema do ideal republicano, de uma república construída de forma paulatina e consensual. Um modelo de Estado que, lastreado sobre as experiências do passado, buscava erigir o futuro a partir do soma-
INTRODUÇÃO
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A HISTÓRIA REPUBLICANA TEM SUA CASA RESTAURADA. CARLOS EDUARDO SARMENTO, HISTORIADOR.
3.a "Primeiro capítulo da nossa história parlamentar". Tela de Fiúza Guimarães destaca a participação do deputado Antonio Carlos Ribeiro de Andrada nas Cortes de Lisboa. 3.a "First chapter of our parliamentary history." Canvas by Fiúza Guimarães emphasizes the participation of congressman Antonio Carlos Ribeiro de Andrada in the Courts of Lisbon. 3.a
3.b Salão Nobre em estilo Francisco I, onde se destaca um conjunto de pinturas pontilhistas de Timóteo da Costa. 3.b Majestic Hall in Francis I style, where a set of pointillist paintings from Timoteo da Costa are highlighted.
A decisão de restaurar o edifício do Palácio Tiradentes, de dotá-lo de equipamentos culturais e atrações didáticas e oferecê-lo ao livre acesso da população foi uma das mais salutares iniciativas assumidas pelos parlamentares estaduais fluminenses. Desta forma, se co-
roou um processo de aprimoramento institucional e político da Assembleia Legislativa, fazendo com que o histórico edifício fizesse justiça ao epíteto de Casa do Povo. E que a luz que banha o plenário, esta salutar e republicana luz, possa sempre ser admirada e compreendida por todos os cidadãos, agora, enfim, admitidos com toda a pompa e circunstância neste espaço que deveria ter sido sempre seu.
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INTRODUÇÃO
tório das múltiplas tendências que interagem no panorama da sociedade brasileira.
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3.b
4. Solarium que ilumina a escada principal do Palรกcio. 4. Solarium that lights the main stairway of the Palace.
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5.
O PALÁCIO DO LEGISLATIVO VILLAS-BÔAS CORRÊA
CAPÍTULO 1
5. Detalhe das sacadas acima da entrada principal em estilo neoclássico. 5. Detail of the balconies above the main entrance in neoclassical style.
Durante 12 anos, de meados do governo do presidente Eurico Dutra, lá por abril de 1948, até a última sessão da Câmara dos Deputados, em 14 de abril de 1960, quando se despediu do Palácio Tiradentes e do Rio, rebaixado de capital do país para a ilusória compensação de Estado da Guanabara, um curto prazo para arrumar a tralha da mudança para Brasília, frequentei a casa do Legislativo com a assiduidade compulsória da atividade profissional no deslumbramento dos 25 anos e a garra açodada da aprendizagem na especialização de repórter político. De segunda a sexta-feira, antes da abertura da sessão às 14 horas até o encerramento, por volta das seis da tarde, às vezes emendando com a sessão noturna do Congresso, andei por todos os recantos do belo prédio, imponente e austero nas suas linhas neoclássicas, na ronda à cata da notícia. Não me lembro - a memória esquece as amargas - de nenhum momento de tédio, do desânimo da frustração. Certamente não tive a exata percepção, na imaturidade da inexperiência, de que estava testemunhando um momento mágico da tumultuada história da plenitude democrática. Décadas mais tarde, com a vida por um fio e a plena consciência do fim próximo, Carlos Castello Branco, o maior repórter político de todos os
CAPÍTULO 1
tempos, foi se despedir de Ascendino Leite, um dos últimos sobreviventes da nossa geração, em Cabo Branco, onde o paraibano curte a volta às origens, festejado como o mais ilustre escritor e poeta do estado. Na maré saudosista, o frio e preciso analista cunhou a frase exata, no tom conclusivo da verdade inquestionável e a ponta de orgulho do balanço final: “Ascendino, nós fizemos História.” Quem não viu, dê por visto e contente-se com o depoimento dos que têm o que contar. Cada período se identifica com a marca do tempo. E cada um embala as suas lembranças. A evidência se impõe à constatação do consenso dos testemunhos: um conjunto afortunado de circunstâncias assegurou ao Congresso, e especialmente à Câmara dos Deputados, no espaço depois da derrubada da ditadura do Estado Novo, em 29 de outubro de l945, entre a instalação da Assembleia Constituinte, em fevereiro de l946, e a transferência da capital para Brasília, em 1960, a distinção de uma das mais brilhantes fases da nossa crônica parlamentar. A começar pelo paradoxo na tentativa de justificar as diferenças entre os dois últimos mergulhos nas funduras do arbítrio, separados por três décadas: a ditadura assumida, sem máscara, do Estado Novo de
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O PALÁCIO DO LEGISLATIVO. VILLAS-BÔAS CORRÊA.
6. Estátua da Sabedoria, que evoca valores da Antiguidade Clássica. 6. Statue of Wisdom, which evokes values from Classical Antiquity.
Getúlio Vargas - que cobre de cinza o “curto período” de 10 de novembro de 37 a 29 de outubro de 45 - e o rodízio do arbítrio dos generais-presidentes, que começa com o governo do presidente Castello Branco, em 15 de abril de 1964, e exala o último suspiro com a retirada do derradeiro general-presidente João Figueiredo. E que se escafedeu pela porta dos fundos do Palácio do Planalto, depois de intermináveis seis anos de mandato, a 15 de março de 1985, para não passar a faixa ao seu desafeto, o vice-presidente José Sarney. O vice que assumiu a presidência, para exercer cinco anos de mandato, substituindo o presidente Tancredo Neves, eleito na virada do Colégio Eleitoral e operado na véspera da posse. Começo do calvário que comoveu o país, levou multidões às ruas nas despedidas até o sepultamento na sua cidade natal, São João Del Rey, em 21 de abril de 1985 – no feriado nacional em homenagem ao alferes Tiradentes.
últimas: rasgou a Constituição de 34, empurrou a Carta de 37, por alcunha “a polaca”, de goela abaixo da população anestesiada, fechou o Congresso, as assembleias estaduais e câmaras de vereadores, dissolveu os partidos, cassou mandatos por atacado, prendeu, exilou e baniu os adversários e fechou a boca da oposição clandestina com a implacável censura à imprensa. Pelos alinhavos do avesso, as longas férias das instituições democráticas não só as preservaram da desmoralização da tolerância sob controle do arbítrio, como criou na opinião pública o sentimento de respeito, respingado de saudosismo, que explodiu nas manifestações populares com a renúncia de Vargas e a volta dos exilados, recebidos por multidões.
O Estado Novo não escondeu o rosto risonho do ditador. Não cultivou a dissimulação da hipocrisia. Foi às
O regime democrático de 46 inaugura-se em clima eufórico e de raro e excepcional interesse pelo noticiário político. E é aqui que começa a história da minha geração.
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CAPÍTULO 1
6. 23
DE CASTELLINHO A HERÁCLIO SALLES VILLAS-BÔAS CORRÊA
CAPÍTULO 2
As chefias das redações - função que se nomeava com a modéstia de secretário, o faz-tudo abaixo do diretor e dono do jornal - foram surpreendidas com a degringolada do Estado Novo e a renúncia de Vargas, que se recolheu ao voluntário exílio na estância de Santos Reis, na fronteira gaúcha com a Argentina. A redemocratização impôs o desafio da cobertura de área ampla e especializada, com a natural escassez de profissionais familiarizados com o manhoso jogo político. O público, carente com o longo jejum da censura, exigia a informação excitante, nova em folha, saída do forno fora de uso durante anos. O jeitinho espicaçou a criatividade. Recorreu-se, na emergência, aos veteranos dos saudosos tempos da República Velha, um elenco de primeira qualidade. Pioneiros na crônica política assinada da moda da temporada. Prudente de Morais, neto, o Pedro Dantas, admirável figura de fino humor e inesgotável contador de casos, durante anos assinou no Diário Carioca e, depois, no Diário de Notícias e em O Estado de São Paulo, crônicas com o estilo primoroso do escritor e crítico literário do modernismo, com espantosa fertilidade para lançar e sustentar temas, como a tese da maioria absoluta e, anos depois, da antilei da recaída do arbítrio. Do mesmo naipe, o Osvaldo Costa, nas Folhas de Paulo, o Murilo Marroquim, em O Jornal,
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órgão líder dos Diários Associados de Assis Chateaubriand. No tope, os articulistas que sustentavam as posições políticas dos jornais nos então chamados artigos de fundo. Seleção respeitável. Costa Rego, no Correio da Manhã; J.E. Macedo Soares, extraordinário polemista, no Diário Carioca; Rafael Correia de Oliveira, no Diário de Notícias; Assis Chateaubriand, em O Jornal. Quase todos frequentavam, com variável assiduidade, as sessões da Câmara. Dependendo dos assuntos e da temperatura dos debates. Mas, a turma do duro batente de todos os dias, com espaços cativos nos jornais, distribuía-se pelos três setores da rotina parlamentar: comissões, plenário e a atividade política. Todos os grandes jornais mantinham equipe completa para a cobertura das três áreas. As comissões permanentes, com destaque pa ra a de Constituição e Justiça, e a de Finanças, no árduo mutirão diário de percorrer várias vezes o roteiro das comissões na caça à matéria importante nas pautas. E que ao fim da canseira rendia uma magra coluna, espremida na caudalosa cobertura do plenário.
CAPÍTULO 2
7. Detalhe do piso em mosaico do Palácio. 7. Detail of the mosaic flooring of the Palace.
7.
O baiano de Santo Amaro da Purificação, Heráclio Salles, foi o maior repórter parlamentar da fase dourada do Congresso. Escritor de estilo próprio, direto, enxuto e transparente, com fantástica capacidade de trabalho. Durante anos, desde a Constituinte, foi dono da última página do Correio da Manhã, o jornal mais importante do país, com a cobertura do plenário da Câmara, completado com o encaixe das informações políticas. Página inteira de texto irretocável que exigia a dedicação de 14, 15 horas de enfiada, entrando pela madrugada. Antes da sessão estava no seu posto, na bancada da imprensa, no privilegiado centro de observação dentro do plenário, na “terra de ninguém”, de costas para a mesa. Com duas fileiras de poucas e disputadas cadeiras.
por cronistas famosos, como Rubem Braga, Osório Borba, Otto Lara Resende (que cobriu o Senado para vários jornais), Joel Silveira (o maior repórter que conheci, texto e faro para descobrir assuntos sensacionais), Carlos Alberto Tenório, Samuel Wainer, Márcio Moreira Alves, fora os eventuais.
A velha bancada encolheu e mudou de serventia na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. À época, estava sempre ou quase sempre lotada pelos repórteres e visitantes ilustres, como o escritor José Lins do Rego, o pintor das mulatas e das cores vibrantes Di Cavalcanti,
Esse modelo de cobertura parlamentar renovou o estilo rebuscado da República Velha com maior objetividade e, principalmente, isenção, imparcialidade no comentário e na informação correta, que enriquecia o texto com a novidade exclusiva ou a nota pitoresca.
CAPÍTULO 2
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Todos os matutinos, sem exceção, dedicavam espaço nobre e generoso para as seções fixas sobre as atividades diárias do plenário da Câmara e do Senado. Com resumo dos discursos, registro dos apartes, a vivacidade dos debates, os tumultos que pipocavam de quando em vez, as votações. Era comum o acompanhamento de polêmicas célebres, que repercutiam durante dias, no duelo renovado e que se antecipava nos vespertinos.
DOIS TURNOS VILLAS-BÔAS CORRÊA
CAPÍTULO 3
Uma linha divisória apartava a reportagem política em dois blocos de horários e esquemas diversos de trabalho, a partir das características que distinguiam os matutinos e os vespertinos. O Rio chegou a ter cerca de 20 jornais. O bloco pesado e grave dos matutinos desfilava com o Correio da Manhã de abre-ala, seguido do Diário de Notícias, Diário Carioca, O Jornal, A Gazeta de Notícias, A Manhã e outros de menor tiragem. Os matutinos chegavam às bancas aos primeiros clarões da madrugada, eram entregues em casa pelos jornaleiros aos fregueses que pagavam por mês. Jornais pesadões, solenes nos artigos de fundo, nos editoriais e com amplo noticiário internacional, páginas com as seções fixas das matérias políticas, desde as atividades das comissões à completa cobertura do plenário das duas Casas do Congresso e vasto espaço para a política.
O vespertino era o jornal leve, vibrante, das grandes manchetes, para a leitura na volta à casa no fim da tarde. Comprava-se nos ônibus e bondes dos garotos jornaleiros equilibrados nos estribos. No serão da noite, quem ficava em casa passava os olhos nas 10, 12 páginas de O Globo, A Notícia, Diário da Noite, com a primeira página em papel verde, A Noite, Correio da Noite, O Radical, A Vanguarda, Tribuna da Imprensa. O turno de trabalho nos matutinos começava à tarde para os repórteres políticos, entrava pela noite, varava a madrugada. Dependia da agenda do dia, do fôlego de cada um, das peculiaridades da tarefa. A velocidade trepidante do vespertino espremia-se entre as 7h da manhã e o fechamento, em torno das 13h. Uma hora depois chegava à rua, às bancas para a venda avulsa até a noite, quando a cidade recolhia-se para o sono na tranquilidade do silêncio e da segurança que ignorava o medo.
O jornal para a leitura repousada da família, com assuntos para todos os paladares. Para os que dispunham dos vagares da manhã e começavam o batente depois do almoço. Ou para os que aproveitavam o tempo na demorada viagem, sentados nos bancos de madeira dos bondes preguiçosos, nas idas para o trabalho.
Os salários miseráveis obrigavam a ginástica do duplo emprego, emendando o expediente da manhã na pedreira noturna. Ou no bico no rádio e, mais tarde, a partir de l950, com a inauguração da TV Tupi, nos programas e mesas-redondas de debates políticos das emissoras de televisão.
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CAPÍTULO 3
8.a Detalhe da sacada do Plenário. 8.a Detail of the balcony of the Plenary Assembly Room.
8.b Tribuna de honra do Plenário. 8.b Speaker’s platform of honor in the Plenary Assembly Room 8.c Pintura dos irmãos Chambelland, que representa a Proclamação da República brasileira. 8.c Painting from the Chambelland brothers which represents the Brazilian Proclamation of the Republic. 8.a
8.b
8.c
Os dois turnos não cortavam o relacionamento fraterno dos que cavavam a vida no mesmo ofício. Convivíamos na ronda às fontes, nas conversas e entrevistas com ministros, senadores, deputados, nas idas frequentes às sedes dos partidos para a cobertura das famosas reu-
niões das manhãs das quartas-feiras do Diretório Nacional da UDN, de portas abertas, ou das raras e fechadas reuniões do sisudo PSD governista e, quando a crise fervia, do tumulto dos confrontos do PTB à mineirice sonsa do Partido Republicano.
CAPÍTULO 3
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9.
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O PONTO DE ENCONTRO VILLAS-BÔAS CORRÊA
CAPÍTULO 4
9. Plenário Barbosa Lima Sobrinho. Ao fundo, pintura de Eliseu Visconti, que destaca a assinatura da Constituição republicana de 1891. 9. Barbosa Lima Sobrinho Plenary Assembly Room. In the background, a painting from Eliseu Visconti which highlights the signing of the Constitution of the Republic of 1891.
O encontro de todos os dias da semana, que começava segunda-feira e se espichava até sexta-feira, sempre foi no Palácio Tiradentes. As equipes dissolviam-se na frequência aos mesmos gabinetes, nos passos pelos mesmos corredores para a concentração no plenário, onde todos passavam pelo menos algumas horas, seduzidos pelo espetáculo sempre renovado da eloquência da mais brilhante equipe de oradores parlamentares de todos os tempos. Da bancada da imprensa, sentados nas poltronas estofadas; em pé na “terra de ninguém”, rodopiando no espaço permitido, entre a mesa, alteada, na imponência da armação torneada de madeira de lei e as filas de cadeiras dos deputados, ligávamos um ouvido aos microfones das tribunas do governo e da oposição e o outro às conversas sussurradas com as fontes, com os deputados da agenda de confiança de cada repórter, a chave do tesouro da informação e da sorte grande do furo.
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PALCO, ENREDO E ELENCO VILLAS-BÔAS CORRÊA
CAPÍTULO 5
No cenário perfeito do Palácio do Congresso, a geração de Castellinho e Heráclio esculpiu o modelo de cobertura política, que se define pela isenção, a imparcialidade, a análise que valoriza e interpreta a informação e os seus possíveis desdobramentos, na simultânea estreia dos partidos nacionais, criados pela Constituição liberal e democrática de 46. Até então, as siglas não iam além de tentativas de montagens regionais, como os partidos republicanos espalhados em vários estados, ligados pela frouxa solidariedade do nome de batismo e de programas semelhantes, mas com autonomia e dirigentes locais. Na terra arrasada pela ditadura foram plantadas as sementes das legendas que compuseram o mosaico do estilo clássico, com a linha divisória de governo e oposição. O Partido Social Democrático - PSD, articulado pelo gênio político de Vargas, herdou as estruturas administrativas estaduais, montadas pelos interventores da ditadura, e fincou as estacas nas sólidas bases rurais dos coronéis donos dos votos dos currais eleitorais e senhores das fraudes. Partido conservador, sábio, governista, das decisões unânimes na solidez da disciplina, obediente à hierarquia interna e reverente ao poder. Ocupou um dos lados até o espasmo seguinte do arbítrio, com a Redentora de 64.
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O PSD purgou durante toda a vida a pecha, que soava como xingamento, do mais empedernido partido de centro. O rolar do tempo ensinou que era tão assumidamente de centro quanto a dona do outro lado do pedaço, a adversária dos lenços brancos, que atendia pelo nome por extenso de União Democrática Nacional, mais conhecida pela sigla de UDN. A esperteza udenista disfarçava o odor reacionário com o perfume da sua fantástica coleção de oradores e mais o adereço charmoso da oposição, que fala mal do governo e não tem papas na língua. Os grandes duelos no plenário obedeciam ao formato tradicional de governo versus oposição. E os demais figurantes girando como satélites ao redor dos astros do sistema. Nascido no berço suspeito dos pelegos sindicais, o Partido Trabalhista Brasileiro, outra carta da manga de Getúlio, lançada à mesa para manipular a sua popularidade e deter a expansão do Partido Comunista do Brasil, o PCB de Prestes, seu futuro aliado na hora da perdição da crise de 54. O PTB brigava com a UDN em faixa própria. Já o Partido Libertador do santo deputado Raul Pila, papa do parlamentarismo, pendia para a UDN na
CAPÍTULO 5
banda da oposição. E o Partido Republicano, PR, do ex-presidente Arthur Bernardes, jogava o truco dos seus interesses mineiros. Carlos Lacerda foi o maior orador que conheci. Vários dos seus discursos foram gravados e comprovam a avaliação consensual. Completo domínio de ator na tribuna. Físico de atleta de tórax poderoso, gesticulação perfeita, a voz que percorria toda a escala, do tom mais grave à blandícia maliciosa dos apartes desmoralizantes. A deputada Ivete Vargas ousou cutucar o líder da UDN, com o aparte agressivo à sua crítica destruidora do presidente Vargas. Gritou o insulto do microfone do plenário: “Vossa Excelência não passa de um purgante.”
Se o deputado Carlos Lacerda foi o maior orador que conheci em 12 anos de Congresso, o discurso do deputado Afonso Arinos, na tensão da crise que culmina com o suicídio de Getúlio Vargas, assinala o mais alto instante de eloquência parlamentar. O país vivia o transe histórico com a antevisão do desfecho iminente e a crispação coletiva no choque passional da população dividida. Com a Câmara lotada, do plenário às tribunas, as bancadas do governo e da oposição agrupadas em volta da tribuna, o deputado Afonso Arinos, em menos de uma hora, eletrizou a assistência com a violência crescente do improviso, de veemência avassaladora, com trechos de extraordinária beleza literária e a rica adjetivação de um mestre da língua.
Troco instantâneo: “E Vossa Excelência é o efeito.” Na mesma ratoeira caiu o deputado Bocaiúva Cunha, do PTB, insistindo no aparte agressivo, em outro dos libelos diários contra o ex-ditador: “Vossa Excelência é um ladrão da honra alheia.”
De pé, diante da tribuna, o deputado Gustavo Capanema, lívido, olhos fixos, viveu o drama da certeza do fim próximo e da responsabilidade da resposta em nome da situação perdida.
Carlos Lacerda rebateu de primeira: “Então Vossa Excelência pode estar tranquilo, pois não tem nada que eu lhe possa roubar.”
O repórter Oyama Telles, temperamental de repentes, interpelou o líder do PSD, emendando a pergunta na resposta: “Então, deputado? E agora? Está tudo perdido.”
CAPÍTULO 5
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PALCO, ENREDO E ELENCO. VILLAS-BÔAS CORRÊA.
Mas, não só de crises e tragédia se compõe a crônica daqueles tempos. As amenidades do pitoresco e do anedótico quebravam a severidade do eterno debate rotineiro. Gaúcho na autenticidade do sotaque, enriquecido pelo vocabulário espanholado da miscelânea fronteiriça, ponteado de provérbios saborosos, o deputado Flores da Cunha foi personagem único e inesquecível. Com seu lugar na história das revoluções do seu estado.
Educado, culto, de extrema gentileza, o deputado Prado Kelly foi um orador primoroso, de estilo próprio. Expositor fluente, com sólida formação jurídica de advogado famoso e o gosto literário burilado pelo hábito de leituras, escritor e poeta, jamais se alterava nas mais violentas discussões. Foi presidente da UDN, líder da minoria e da bancada, estimado por companheiros e adversários.
Leitor apaixonado pela literatura francesa, elegante no eterno paletó de linho impecável, o velho Flores da Cunha sentava-se na cadeira cativa, a única com placa de exclusividade, a primeira, no corredor à esquerda, em frente à tribuna da oposição. E que ocupava em ocasiões especiais, preferindo os apartes aos discursos, apesar da sua facilidade no improviso. A sua paixão pelas touradas inspirou-lhe o discurso que a Câmara ouviu em silêncio atento e enlevado. A brutalidade do esporte cruel, das bandarilhas que sangram o touro antes da matança pela estocada do toureiro ganharam o colorido da fantasia romanesca do aficionado saudoso.
Fiquemos na citação dos notáveis: Aliomar Baleeiro, baiano de ironia cáustica, o principal opositor do medíocre e opaco governo do presidente Dutra. Catedrático de Economia, foi um dos pioneiros a abordar na tribuna os temas econômicos, na crítica de contundente mordacidade à desastrosa dissipação da política oficial com a importação de quinquilharias, esgotando as reservas acumuladas com os saldos da balança de pagamento durante a Segunda Guerra Mundial.
Lá pelas tantas, numa pausa, o deputado Joel Presídio, do PTB da Bahia, aventurou-se a um aparte: “Deputado, eu fui vaqueiro e não gosto de touradas.” A fisionomia do gaúcho afivelou a máscara do desprezo no revide zombeteiro: “Se Vossa Excelência diz que foi vaqueiro e não gosta de tourada é porque foi vaqueiro de bode, desses que andam a pé e com a vara no ombro...” O elenco dos grandes oradores alinha dezenas de nomes que desfilam na memória. A começar pelos bacharéis da UDN, em relação que se renovava a cada eleição. Desde os mitos do passado, preservados pelo exílio ou pelo congelamento da censura. A fama do baiano Otávio Mangabeira atravessou os anos de exílio e devolveu à tribuna o mestre da postura impecável, da gesticulação contida e de efeito teatral e a eloquência da sonoridade da voz com a característica marcante de uma peculiaridade de dicção. A maldosa intriga de que decorava os discursos, ensaiando diante do espelho, não resiste aos muitos desmentidos dos improvisos no calor dos debates.
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E mais: Bilac Pinto, Adauto Lúcio Cardoso, Alberto Deodato, Oscar Dias Correia, Rui Santos, Aluísio Alves, João Agripino, Ernani Sátiro, Odilon Braga, Artur Santos Paulo Sarasate, Ferro Costa, Seixas Dória, Herbert Levy, José Sarney. O PL engrossava o caldo oposicionista com a serenidade do deputado Raul Pila, o arcanjo do parlamentarismo, com seu aliado inseparável, o gaúcho Coelho de Souza, e a ajuda baiana do deputado Nestor Duarte, temível aparteante das intervenções curtas como golpes de florete. O PSD defendia o governo do seu culto e contra-atacava com a vanguarda de oradores excepcionais. Com destaque para o deputado Gustavo Capanema, o ministro da Educação revolucionário, que em plena ditadura conservadora apoiou o movimento modernista polêmico e contestado, cofiando a Oscar Niemeyer, Cândido Portinari, Di Cavalcanti, Lúcio Costa, Heitor Villa Lobos - arquiteto, pintores, músicos - a responsabilidade dos projetos de obras de governo, como o Palácio do Ministério da Educação, marco singular nas contradições da rançosa obtusidade oficial. A seleção pessedista impunha respeito com o poderio da bancada majoritária: Nereu Ramos, deputado, senador, presidente da Câmara e do Senado, vice-pre-
CAPÍTULO 5
sidente da República e presidente no governo de exceção do contragolpe que garantiu a posse do presidente Juscelino Kubitschek. E, no correr das lembranças: deputados Vieira de Mello, orador de incrível fluência, que travou memoráveis duelos com Carlos Lacerda, José Maria Alkmin, Tancredo Neves, Antonio Balbino, Ulysses Guimarães, Armando Falcão, Samuel Duarte, Bias Fortes, Cirilo Júnior, Paulo Pinheiro Chagas, Oliveira Brito, Daniel Faraco, Hermes Pereira de Souza, Clovis Pestana e uma centena na rotatividade das eleições.
O deputado Arthur Bernardes, com o pincenê acavalado no nariz grosso, o porte ereto, na elegância impecável da sua época de presidente da República, de camisa branca de punhos e colarinho engomados, calça, colete, paletó, bengala e chapéu, dono e símbolo do PR, mereceu a reverência nacional pela coerência da sua biografia e a combativa participação na mobilização popular, com a bandeira nacionalista em defesa do monopólio estatal do petróleo e das nossas riquezas. Uma presença nobre no plenário. Na pequena bancada republicana, destaque para os deputados Amando Fontes, Tristão da Cunha, além de outros.
10.a Assentos do Plenário.
O PTB nasceu no ninho dos pelegos sindicais, com bancada reduzida e desnivelada. Ao lado de deputados, como José Diogo Brochado da Rocha, Fernando Ferrari, Rui Ramos, Temperani Pereira, Gurgel do Amaral, Segadas Viana, Frota Aguiar e Leonel Brizola, a borra do sindicalismo oficial, manipulado pelo Catete e que se forrou nas verbas dos Institutos de Previdência. A influência crescente da bancada gaúcha mudou o perfil do PTB, com a pregação do senador Alberto Pasqualini, teórico da doutrina trabalhista inglesa.
10.a Plenary Assembly Room seats.
10.b Cadeira do Presidente da Sessão Plenária. 10.b President’s chair of the Plenary Session.
10.a
Quando cheguei à Câmara, em 48, não encontrei a combativa bancada comunista, que teve seus mandatos cassados, em 47, depois da brutalidade da cassação do registro do Partido Comunista do Brasil. Mas conheci o deputado Roberto Morena, comunista legendário, eleito em sigla de aluguel e que valia por uma bancada inteira. Baixote, a careca como uma tampa lustrosa terminava no rosto expressivo, de olhos inquietos, sorriso permanente nos lábios e a vivacidade da inteligência do operário, do marceneiro que se destacara em seu ofício e que torneara os móveis e poltronas do Palácio Tiradentes e a tribuna que frequentava em todas as vagas regimentais, para os discursos que o plenário ouvia com atenção. Muitas vezes, no mais absoluto silêncio, contagiado pela emoção dos testemunhos de militante com as marcas no corpo das prisões, das torturas e as cicatrizes dos ferimentos na revolução espanhola contra a ditadura de Franco, de que participou como voluntário.
10.b
CAPÍTULO 5
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O JOGO DO PODER VILLAS-BÔAS CORRÊA
CAPÍTULO 6
Cenário e elenco do enredo do jogo do poder. Este é o diferencial que marca o período dourado da eloquência, que começa com a instalação da Assembleia Nacional Constituinte de 46, depois da derrubada do Estado Novo e se encerra, a 14 de abril de 1960, na fúnebre sessão de despedida do Palácio Tiradentes e da capital que se transferia do Rio para Brasília, na aventura de novo tempo. O Poder Legislativo, mimoseado pela popularidade, desfrutou do prestígio consolidado nos anos de arbítrio. Partidos dissolvidos, Congresso fechado, censura à imprensa preservaram o Poder submetido pela força. E que recuperou a legitimidade amparado pelo interesse da população. Os jornais atendiam à cobrança dos leitores com a copiosa cobertura da atividade parlamentar.
gem do ano. Entrevista coletiva era uma raridade que se conta pelos dedos de uma das mãos. Com o isolamento presidencial, a cobertura política migrou para o Congresso, especialmente para a Câmara, palco das batalhas diárias na guerrilha de governo contra a oposição. E é este enfoque que ilumina a importância dos confrontos parlamentares, o interesse pelos debates nas duas Casas do Congresso, o amplo espaço jornalístico para o noticiário das atividades das comissões, do plenário e das articulações políticas.
O Congresso era mais importante que o Executivo. Poucos repórteres distraíam as horas de ócio na sala de imprensa do Palácio do Catete para recolher as notas oficiais, na tediosa rotina burocrática. Lá uma vez ou outra pingava uma notícia que merecia a primeira página. Os presidentes trancafiados no gabinete, protegidos não se sabe de quem ou do quê pela severidade do protocolo, não tinham contato com os repórteres, a não ser para os cumprimentos na passa-
Decidia-se o destino do país nos debates e nas votações das matérias de significação nacional. E se o presidente e os ministros eram consultados e influíam nas posições da sua bancada majoritária, os entendimentos, os acertos, os acordos, a negociação dos votos que escapavam da malha partidária para a oferta na barganha das vantagens aconteciam no Congresso. Nas tramas dos bastidores para explodir no debate do plenário, que se prolongava, em alguns casos, por dias, semanas, meses. E que os repórteres acompanhavam, catando informações, testando cada versão junto às fontes de confiança. Com a plena consciência de testemunha da História.
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CAPÍTULO 6
11. Detalhe do mobiliário da Biblioteca do Palácio, cujo acervo aproxima-se de 60.000 livros. 11. Detail of the furnishings of the Palace Library, whose collection is nearly 60,000 books.
11.
Natural que, depois do negrume da ditadura, a oposição conservadora da UDN e seus aliadosdo PR e do PL desfraldassem a bandeira da liberdade e das suas convicções liberais na caudalosa oratória que lotava as galerias da Câmara e, mais raramente, do Senado de hábitos pachorrentos de senhores de cabelos grisalhos. Os temas sociais passavam de raspão pelos debates. Nem o PTB se desviava da defesa de Vargas para cuidar de itens engessados do programa que ninguém lia. Discussões sobre assuntos econômicos poucas vezes provocavam a atenção do plenário. O mesmo espaço de pequenas notas na imprensa.
bicheiros garantiam a ordem e substituíam o Estado, eterno ausente. Antes da chegada dos traficantes e do progresso do crime organizado. No jogo do poder, a eloquência não era simples enfeite da vaidade para os torneios de exibicionismo. Mas, a arma poderosa, muitas vezes decisiva nas grandes batalhas, seja para enrijecer a unidade da bancada ou para abalar votos de adversários, com um pé no muro da adesão.
Marcas de um tempo de escassa sensibilidade para as angústias da pobreza envergonhada, que se escondia nos barracos das favelas, que subiam os morros e se espalhavam pelos alagadiços da periferia. Quando os
Os grandes oradores, como Carlos Lacerda, Afonso Arinos, Adauto Lúcio Cardoso, Vieira de Melo, Gustavo Capanema, ganharam e perderam decisões nos duelos oratórios. Quando um aparte afortunado decidia a sorte da votação que desestabilizava o governo ou cravava mais um espinho da derrota na coroa da oposição.
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O LEGADO DA MINHA GERAÇÃO VILLAS-BÔAS CORRÊA
CAPÍTULO 7
No cenário da Casa do Parlamento, onde se travou o jogo do Poder no confronto clássico entre governo e oposição, que se davam ao luxo de dividir o espaço conservador, com o palco ocupado pelos mais brilhantes oradores de todos os tempos, a minha geração de jornalistas forjou o modelo de cobertura política, que é o seu legado para os que nos sucederam. Não éramos muitos; somos poucos os sobreviventes; sou o único em atividade, batucando nas teclas do computador. Poucas vezes voltei ao Palácio Tiradentes depois da mudança da capital para Brasília. Na última visita, fui acompanhado pelos meus fantasmas. Antes da abertura da sessão, a grande maioria já zanzava pelo plenário, pelos corredores, farejando as novidades do dia. Se na diversidade das tarefas cada um dava conta do seu recado, nos caminhos da Câmara todos se encontravam. Os repórteres dos vespertinos não se afligiam com o noticiário do dia, que se esgotava na vasta cobertura dos matutinos. Antônio Viana, de O Globo; Marcelo Pimentel, do Diário da Noite; João Duarte Filho e Murilo Mello Filho, de A Tribuna da Imprensa de
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Carlos Lacerda, sintonizavam-se com as notícias, atentos ao que elas podiam render nas repercussões do dia seguinte. A busca por todos os cantos das informações do dia era o nosso serviço. Do mais numeroso grupo dos que trabalhavam nos matutinos, em jornadas que invadiam as madrugadas. Não andávamos em bando, mas nossos caminhos se cruzavam. Entre a informação exclusiva, pessoal, matéria-prima do furo e a da vala comum da notícia coletiva, a linha demarcatória é facilmente identificável por quem é do ramo. Nosso grupo básico, com a rotatividade das mudanças de atividade ou de empresas, reunia o Castellinho, o Odylo Costa, filho, o Osvaldo Costa, o Ascendino Leite, o Otacílio Lopes, o Murilo Mello Filho, o Benedito Coutinho, o Heráclio Salles, quando saiu do Correio da Manhã e começou no Diário de Notícias. Mais tarde, chegaram os irmãos Holanda, o Haroldo e o Tarcísio, o Carlos Chagas. Sem a assiduidade diária, o Carlos Alberto Tenório, o Samuel Wainer, o Walter Fontoura, o Francisco Pedro do Coutto, o Wilson Figueiredo, o cometa Otto Lara Resende, que batia ponto no Senado. A ronda diária, feita e refeita, passava pelo plenário, ponto de encontro e onde mais tempo permanecíamos, atraídos
CAPÍTULO 7
pelos discursos dos grandes oradores ou no giro para as conversas com os deputados envolvidos nos assuntos do dia e com as fontes da confiança pessoal. A parada repetida no café do Edésio, no espremido canto à entrada do plenário pelo lado da Rua São José, era sagrada. Nos momentos próprios, a visita obrigatória aos gabinetes das lideranças do PSD e da UDN, com escalas nos gabinetes dos líderes do PTB, do PR, do PSP, do PL. Em dias especiais, as comissões de Constituição e Justiça exigiam atenção para projetos importantes e polêmicos. Além da demorada vigília na Câmara, cobríamos as reuniões dos partidos, tentavam-se as conversas com ministros de peso político. E quando a sessão acabava mais cedo ou nada mais tinha a oferecer, cada um pegava o caminho da sua redação. Caminhando pela cidade amorável, bemhumorada, tranquila, tão segura que não nos dávamos conta do privilégio que usufruíamos com a naturalidade com que respirávamos o ar da capital com raízes históricas, o peso da tradição e o deslumbrante colorido das montanhas verdes, com as clareiras das favelas cantadas nas letras dos sambas. E sem nos darmos conta de que a festa estava acabando.
CAPÍTULO 7
Mas deixamos como herança o modelo de cobertura parlamentar e política da isenção, da imparcialidade, suporte da credibilidade; da análise interpretativa, que avança na especulação dos prováveis desdobramentos. Dito assim, parece pouco e simples para mais de década e meia de elaboração. Na verdade, nem simples nem difícil. Nasceu de parto normal, sem planejamento conspiratório, formulação teórica ou esquema tático. E ganhou densidade e consistência à medida que a imprensa e o quadro partidário evoluíam, nas muitas etapas de uma relação que se inaugura com o engajamento ostensivo dos grandes jornais na reação à censura do Estado Novo e no repúdio ao ex-ditador. Na campanha de 45, a virtual unanimidade da grande imprensa apoiou a candidatura do Brigadeiro Eduardo Gomes e colocou na lapela o escudo da UDN. A derrota do candidato udenista, com o molho amargo da surpresa, acirrou a animosidade contra Vargas, o ausente no exílio voluntário em São Borja, responsável pela eleição de Dutra. A cobertura da campanha acompanhou o tom udenista. O acordo tripartidário, envolvendo a UDN, o PSD e o PR, murchou a veemência de alguns jornais, enquanto outros, como o Estado de S. Paulo e o Diário de Notícias, sustentaram o vigor da crítica.
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Pouco a pouco, o noticiário político e das atividades parlamentares enveredou para o atalho da objetividade e as colunas assinadas proclamaram a independência na isenção das críticas e análises.
O LEGADO DA MINHA GERAÇÃO. VILLAS-BÔAS CORRÊA.
A volta por cima de Vargas, em 50, elegendo-se contra a UDN e com a rebelião do eleitorado pessedista, que arrastou o partido na cristianização do renegado candidato oficial, o correto deputado mineiro Cristiano Machado, que virou verbo, soprou as cinzas da fogueira. O bis da derrota do brigadeiro, debitada à manhosa astúcia do solitário ex-ditador, incendiou ódios e ressentimentos.
Na vazante das notícias, com a censura na orgia das proibições, a imprensa enfrentou o teste da resistência possível. Os repórteres e comentaristas políticos mantiveram a chama, exercitando a habilidade dos dribles nos censores, com as manhas dos recados nas entrelinhas.
O desfecho dramático da crise do governo, com o suicídio de Getúlio, genial jogada política que mudou os destinos do país, também acelerou a revisão do modelo de cobertura política. A UDN começou a morrer com o suicídio de Vargas, o adversário histórico desde sua fundação. Manteve-se na coerência oposicionista nos quatro anos do mandato do presidente Juscelino Kubitschek, sem o mesmo vigor e com dissidências internas que minavam a sua unidade. No governo sem ódios de JK, a reportagem política conquistou a maioridade. Os colunistas, articulistas, as seções fixas de cobertura das atividades parlamentares libertaram-se do constrangimento de obediência à linha dos editoriais e aprofundaram os compromissos éticos com a imparcialidade. Atravessamos a turbulência de contratempos nas crises políticas e nos 21 anos da ditadura militar nos seus espasmos de endurecimento. A renúncia do embirutado presidente Jânio Quadros e a resistência golpista à posse do vice-presidente João Goulart acentuaram o confronto ideológico, que altera a linha divisória, colorindo a polarização de governo contra a oposição.
12.
12. Estudantes da rede pública visitando o Plenário. 12. Students of the public school network visiting the Plenary Assembly Room.
A radicalização que rachou o país entre esquerda e direita colocou para os jornalistas políticos o desafio de manter a serenidade em meio aos excessos. Não foi fácil. O quadro se agrava aos limites extremos na volta da censura a partir do AI-5, de 13 de dezembro de 1968, no segundo governo do rodízio de generais-presidentes, em meio ao mandato do presidente Costa e Silva.
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CAPÍTULO 7
O CORTE DE BRASÍLIA VILLAS-BÔAS CORRÊA
CAPÍTULO 8
A mudança da capital para Brasília inacabada, em 21 de abril de 1960, encerra um ciclo. O Congresso nunca mais foi o mesmo. Nem a imprensa política. Não é a oportunidade adequada para a avaliação crítica. Talvez, para a indispensável constatação das diferenças. Brasília foi inaugurada por JK antes de ficar pronta. A pressa no embalo do sonho da volta no JK-65 forçou a transferência para o canteiro de obras. E foi um corte com golpe seco de facão cego, separando etapas. Senadores e deputados não se mudaram para a nova capital. Continuam morando em seus estados, onde permanece a família. Vão e voltam à capital, onde passam dois a três dias da semana, das terças às quintas, quando pegam o avião de volta aos lençóis domésticos.
vos em todos os jornais. O sino emudeceu sem o badalo. A última sessão no Rio, em 14 de abril de 1960, assinala a despedida do modelo de cobertura parlamentar lapidado pela minha geração. Em Brasília, o Congresso merece o interesse da imprensa, gera matérias, é assunto de reportagens nos jornais, rádios e televisões quando escapa da rotina para o sensacionalismo das crises, das denúncias, das CPIs que investigam escândalos. O jornalismo político não frequenta o Congresso como obrigação diária e prazerosa. Castellinho, desde o esvaziamento político do Congresso pela marginalização punitiva nos anos de chumbo do arbítrio, só aparecia no Palácio da Praça dos Três Poderes para conversas, com hora marcada e com antecedência.
Ora, sem sessões diárias não há como manter seções fixas dedicadas aos trabalhos da Câmara e do Senado. Mas, é também verdade que nenhum jornal transferiu para Brasília a sua equipe completa de jornalistas políticos. Ambos, Congresso e jornais, ajustaram-se às novas modas, absorvendo o trauma da perda de espaços catiCAPÍTULO 8
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O PALÁCIO FIEL AO SEU DESTINO VILLAS-BÔAS CORRÊA
CAPÍTULO 9
Cheguei ao fim da visita da saudade ao Palácio Tiradentes despedindo-me dos meus fantasmas para encarar a realidade. Sem o azedume da prevenção. Encarando as coisas como elas são. Com olhos para enxergar o que é bom. Pois o Palácio Tiradentes está nos trinques da mais cuidadosa reforma de sua longa existência, na fidelidade ao seu destino de Casa do Legislativo. As obras de recuperação dos desgastes do uso e das distorções dos abusos obedeceram com escrupuloso rigor às linhas do projeto original dos arquitetos famosos Archimedes Memória e Francisco Couchet, como se comprova na comparação dos retratos e documentos das grandiosas festas da inauguração, em 6 de maio de 1926, com os flagrantes recentes, depois das obras. Ou se constata para um instante diante da estátua de Tiradentes e do Palácio com o seu nome. Construído no espaço de ocupação histórica pelo Legislativo. Desde quando era chamada de Cadeia Velha, quando nela funcionaram a Câmara dos Deputados e o Senado do Império, instalados em 6 de maio de 1826. Abrigou a Assembleia Nacional Constituinte, que elaborou a Constituição de 1823, a primeira do Brasil que conquistara a independência. E que não chegou a entrar em vigor, com a
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decisão autoritária do imperador, Dom Pedro I, de dissolvê-la. Com a Proclamação da República, em 15 de novembro de 1889, e o clamor da imprensa para a construção de novo edifício-sede para a Câmara dos Deputados, a sorte da Cadeia Velha foi selada. O início de sua derrubada desobstruiu o espaço para a construção do Palácio Tiradentes, em homenagem ao alferes que sonhou com a independência, esteve encarcerado na Cadeia Velha, de onde saiu para ser enforcado e esquartejado. Demolido em 1922, o novo e imponente Palácio do Legislativo foi inaugurado em 6 de maio de 1926. Nele funcionou a Assembleia Nacional Constituinte de 33, que elaborou a Constituição de 34, de efêmera duração, rasgada pelo golpe de 37, para a implantação do Estado Novo de Getúlio Vargas. Casa da lei, da liberdade, do voto, purgou a humilhação de sediar o Departamento de Imprensa e Propaganda, o DIP, oficialmente incumbido da censura à imprensa. O vexame prolongou-se de 39 a 45, quando o Estado Novo desabou. No alvoroço da reconquista da democracia, a Assembleia Constituinte de 46 instalou-se na casa CAPÍTULO 9
13.a
13.a Guia da Exposição Permanente Palácio Tiradentes: Lugar de Memória do Parlamento Brasileiro apresentando a tela O primeiro capítulo de nossa História, de Aurélio de Figueiredo. 13.a Guide for the Tiradentes Palace Permanent Exhibit: Memorial to the Brazilian Parliament presenting the painting The first chapter of our History, from Aurélio de Figueiredo.
13.b Escadaria principal do Palácio Tiradentes localizada no saguão Getúlio Vargas. 13.b Main staircase of Tiradentes Palace located in the Getúlio Vargas entrance hall. 13.b
desocupada com a expulsão dos intrusos. Promulgada a Constituição de 46, a Câmara dos Deputados permaneceu no seu lugar e o Senado transferiu-se para o Monroe, no belo e nobre edifício derrubado no governo do presidente Ernesto Geisel, com o desprezo oficial pelas tradições.
O resto é história de ontem. A mudança da capital afaga o Rio com a criação do Estado da Guanabara. No Palácio Tiradentes vazio, instala-se a Constituinte da cidade-estado, em 1960. Em julho de 1974, com a fusão dos estados do Rio de Janeiro e da Guanabara, a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro instala-se definitivamente no Palácio Tiradentes.
CAPÍTULO 9
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14.
14. Sala de leitura da Biblioteca inspirada no renascentismo italiano. 43 inspired by the Italian renaissance. 14. Reading room of the Library
PALテ,IO TIRADENTES FAITHFUL TO DEMOCRACY 44
ENGLISH VERSION
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THE PALACE OF FREE EXPRESSION PAULO MELO
PRESENTATION President of the Legislative Assembly of the State of Rio de Janeiro
Daily, hundreds of people visit Tiradentes Palace, not only attracted by its architectural beauty, but to know a little more about the history through exhibitions on the evolution of Fluminense and Brazilian politics by traveling along the corridors of this imposing building, inaugurated in 1926. Built in the same space where previously there was the House, the Senate and the Jail of the colony, Tiradentes Palace was thus appointed in homage to the alferes Joaquim Jos茅 da Silva Xavier, the famous republican hero, Tiradentes. It was from the Old Jail, demolished in order to give place to the Palace, that Tiradentes went straight to the gibbet because he refused the oppression of the Portuguese Crown. During all these years, many things have changed and, since the development of the Brazilian press, some of the events that took place in the building which became the Fluminese Legislative would not have had the impact they had, had it not been for the journalistic coverage they deserved. In its more than 80 years of foundation, the Tiradentes Palace maintained their doors opened to all - the population in general and, more specifically, the professionals of the press - and not only for the politicians who have their offices and advisors in there.
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But it was not always like that. The building witnessed moments in which the democratic bases simply seemed to collapse during the Season of the New State of Get煤lio Vargas, when the site was the place of the dreaded Department of Press and Advertising, the DIP, and during the military dictatorship, which censored great part of the media. Currently, for the pride of our State, the Legislative Assembly not only breathes the air of transparency, but it is updated with the technological revolutions in course, which allow us to develop a modern portal of internet and be in the several social medias. And who knows and knows quite well the conquest for free expression liberty seal the importance of the changes suffered by the State Parliament. Thus, nobody better than a journalist like Villas-B么as Correa, who began his works in the building in 1948, to write about interesting things and relevant times in this new edition of Tiradentes Palace: Loyal to Democracy. With so many years dedicated to political journalism, Villas-B么as would not deprive us of discoursing on the daily routine of the palace. Owner of an envied vernacular, the journalist tells us about his encounters in the corridors of the Palace with
PRESENTATION
important figures as Carlos Lacerda, the jurist Afonso Arinos, the chronicler Otto Lara Resende, the painter Di Cavalcanti and the writer José Lins do Rego. Villas-Bôas was not a name chosen at random. He is, at the same time, owner of a refined writing, giving special attention to accurate information and exemption in the portrait of the facts, and, participates in great part of the events that marked the history of the Palace in recent decades. Finally, it should be emphasized that, in the text of Villas-Bôas, there is the work of the photographer Gustavo Malheiros, harmonising each detail of the Palace - its shapes, colors and angles - to the past of fight in defense of citizenship.
ed as an important piece of the Corredor Cultural do Centro do Rio, where you also find the Imperial Square, the Centro Cultural Banco do Brasil, the House France-Brazil, the National Historical Museum, the Naval Museum, the Cultural Center of the Post, the National Museum of Fine Arts and many other historical monuments. A building that has been transformed in a scenario of so many political demonstrations and the ongoing struggle for democracy. Have a good reading...
Tones and lights are mixed to each word of Villas-Bôas, fruit of the sensitivity of the artist that strengthens the idea of the Palace of free expression. Malheiros’ work induces the reader to feel the climbing of the stairs, searching in the library and attending a plenary session, a poetic reproduction of the beauty of the place in hand to the legislative process. This is Tiradentes Palace, above all, a place of memory of the Brazilian people, increasingly insertPRESENTATION
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THE REPUBLICAN HISTORY HAS ITS HOUSE RESTORED CARLOS EDUARDO SARMENTO - HISTORIOGRAPHER
INTRODUCTION Coordinator of the Carioca and Fluminense Political Memory Nucleus (Alerj– CPDOC/FGV).
In February 1995, on the eve of the election that would mark the radical renovation of the composition and political practices of the Alerj Directorate Board, a group of parliamentarians decided to begin their terms of office in a new legislature of the state parliament promoting the washing of the external staircase of the Assembly’s building. Though initially this act may have been understood as a manifestation that synthesized the yearning in favor of purification and moralization of the legislative activities, observed from the perspective of the initiatives that marked the following eight years, such gesture can also be understood as a symbolic paving of the access to Tiradentes Palace, opening its door to the Fluminense citizens.
but for the Palace itself assuming, in the political imagination, the role of supreme referential, of the true place in the memory of the representations of nationality. In clearly identifying such characteristics, that manifest the singularity of this building, the Alerj Directorate Board defined the structural, architectonic and artistic recuperation of the palace as priority, enabling it to reassume its historical role and to serve as stage and showcase for the civic show.
The creation of a new standard of performance of the State Legislature could result in near harmless initiatives if to this process did not correspond a serious and systematic work of reinsertion of the political and symbolic space of Tiradentes Palace into the day to day of the state’s population. The recollections of Villas-Bôas Corrêa serve as the most perfect parameter for the comprehension of the marked symbolic sense that the current headquarters of Alerj represented to various generations – not only because of the plenary room of the House being the epicenter of Brazilian parliamentary activity during the Rio-Federal Capital period,
And the Tiradentes Palace building, for years neglected by government, belatedly recognized officially as a national historical heritage, could finally again meet its singular aura. A new meeting that could be witnessed daily by hundreds, thousands of visitors, especially students from the public schools, who, in its interior, come into contact with the historical and symbolic sense of this house of laws. After all, going through the Palace is to come into contact with a symbolic discourse that has been meticulously elaborated, intentionally forged to transform the sumptuous construction into much more than the headquarters for the Legislative Power. Tiradentes Palace assumes the characteristics of a true monument to a specific form of understanding the Brazilian national character and of the dynamics and its constituted powers. Designed in 1922, when the fraying of the
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INTRODUCTION
oligarchic pact of the Old Republic was already evident, the new headquarters for the House of Representatives should have been bearer of a clear discourse that sought to value the legislative functions – so weakened in the political game of coffee and milk politics [referring to the states of São Paulo (coffee) and Minas Gerais (dairy)]; and to propagate a representation of the country’s history having as lead role the sovereign primacy of the so-called “spirit of the laws”: a version of history that would synthesize a sense for the political trajectory of a country ideally built without conflicts or radicalism and embedded in the respect to the established authority.
statues personify allegories of the principles of “order” and of “progress”. The synthesis of these elements is articulated in a clear sense of justifying the ideal of Nation assumed by those who idealized the monument: the republican country, forged from two founding moments (the political independence in relation to Portugal and the establishment of the republican State), must follow its “evolutionary” course on the path of respect for the law, ruled by the positivist ideals extolled in the sayings on the Brazilian flag.
This pattern of interpreting history becomes evident to anyone who is willing to walk through the building. In observing its artistic and architectonic details, we notice the elements that orient a possible reading about the past, seeking to establish an orienting sense towards the eyes of the present. Named in honor of the “martyr of liberty” – who had spent his last hours in the former installations of the city jail, demolished for the construction of the palace – the façade of the imposing building in an eclectic style is crowned by the statuary representations of the proclamation of Independence and of the Republic. On the sides of the grand staircase of access, two more large groups of
The progressive concept of evolution of the State and of the Brazilian political institutions is found detailed in the central piece of the building: the plenary room, fundamental axis of the legislative activity. On the domed ceiling of the room, in eight frescoes painted in the pointillism style, the Chambelland brothers traced the evolutionary lines of the process of territorial formation and of construction of the legal and political framework that served as support for the edification of the republican model. From the arrival of the Portuguese to the northeastern coast to the incorporation of the frontier regions in the 19th and 20th centuries, we have all the representation of a pacific process of demarcation of the physical space of the country, where the main arms used were those of negotiation and of treaties surrounding legal instruments. The
INTRODUCTION
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REPUBLICAN HISTORY HAS HIS HOUSE RESTORED. CARLOS EDUARDO SARMENTO HISTORIOGRAPHER.
15. Estátua de Tiradentes executada por Francisco de Andrade, localizada à frente do Palácio. 15. Tiradentes Statue performed by Francisco de Andrade, located in front of the Palace.
creation of the Brazilian State also follows a teleological trail and without open conflicts. Significant events and characters follow without any reference to possible ruptures, as if the seeds of the present were in a process of germination from the beginning of the activity of indoctrination of the heathens. At the top of the cupola, light penetrates this environment through the colored filters of a magnificent stained glass window representative of the configuration of the skies of the city of Rio de Janeiro on the night of the proclamation of the republic. The sense of such composition is evident: over the seats of the elected representatives, responsible for creating the laws that would rule over the functioning of the political system, should hover the supreme lighting of the republican ideal, of a Republic built in a gradual and consensual manner. A model of State which, founded on the experienced of
the past, sought to build the future from the sum of the multiple tendencies that interact in the panorama of Brazilian society.
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INTRODUCTION
The decision to restore the Tiradentes Palace building, of endowing it with cultural equipment and didactic attractions, and offer it to the free access of the population was one of the most wholesome initiatives assumed by the fluminense state parliamentarians. In this manner, a process of institutional and political refinement of the Legislative Assembly was crowned, causing the historical building to make justice to the epithet of the peoples’ house. And may the light that bathes the plenary room, this wholesome and republican light, always be admired and understood by all citizens, now, at last, admitted with all pomp and circumstance into this space that should have always been theirs.
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15.
THE PALACE OF THE LEGISLATURE VILLAS-BÔAS CORRÊA
CHAPTER 1
During 12 years, from the middle of president Eurico Dutra’s government, around April 1948, until the last session of the House of Representatives, on April 14, 1960, when one bid farewell to Tiradentes Palace and to Rio demoted from capital of the country to the illusory compensation of Guanabara State, a short period to pack one’s things for the move to Brasília, I frequented the house of the Legislature with the compulsory assiduity of the professional activity in the fascination of my 25 years and in the rushed vigor of apprenticeship in the specialization of political reporter. From Monday through Friday, before the opening session at 2 PM until closing, around 6 in the afternoon, sometimes running into the evening session of Congress, I walked through all the corners of the beautiful building, grand and austere in its neoclassic lines, in search for news. I don’t remember – memory forgets the bitters – a single moment of tedium, of the disappointment of frustration. Certainly, I didn’t have the exact perception, in the immaturity of inexperience, that I was witnessing a magical moment in the tumultuous history of democratic plenitude. Decades later, with life hanging by a thread and in full conscience of the approaching end, Carlos Castello Branco, the greatest political reporter of
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all time, went to say farewell to Ascendino Leite, one of the final survivors of our generation, in Cabo Branco, where the native from Paraíba enjoys the return to his roots, heralded as the most illustrious writer and poet of the State. In a longing mood, the cold and precise analyst coined the exact phrase, in the conclusive tone of unquestionable truth and a hint of pride in the final balance: “Ascendino, we have made History”. He, who didn’t see it, consider it seen and be satisfied with the testimony of those who have something to tell. Each period identifies itself with the mark of time. And each cradles its memories. The evidence imposes itself on the authentication of the consensus of the witnesses: a fortunate set of circumstances assured the Congress, and mainly the House of Representatives, in the period following the overthrow of the New State, on October 29, 1945, between the installation of the Constitutional Assembly, in February 1946 and the transfer of the capital to Brasília, in 1960, the distinction of one of the most brilliant phases of our parliamentary chronicle. Beginning by the paradox in an attempt to justify the differences between the last two plunges into the depths of arbitration, separated by three decades: the assumed dictatorship, without disguises, of the New CHAPTER 1
16.a
16.b
State of Getúlio Vargas – which covers in gray the “short period” from November 10, 1937 to October 29, 1945 – and the rotation of arbitrariness of the generalpresidents, which begins with the government of president Castello Branco, on 04/15/1964 and exhales the final breath with the removal of the final generalpresident, João Figueiredo. And that slipped out the back door of Planalto Palace, after interminable six years of mandate, on 03/15/1985, in order to avoid passing over the presidential strip to his rival, vicepresident José Sarney. The vice-president who assumed the presidency, to exercise five years of office, substituting President Tancredo Neves, elected in the upset of the Electoral College and submitted to surgery on the eve of his taking of office. Beginning of the Calvary that touched the country, took multitudes to the streets to bid him farewell up to the burial in his birthplace, São João del Rey, on April 21, 1985 – on the national holiday in honor of second lieutenant Tiradentes.
hypocrisy. He took it to extremes: he tore the Constitution of 1934, forced the Charter of 1937, dubbed “the Pole”, down the throats of the amnestied population, closed Congress, the state legislatures and the city councils, dissolved the parties, cancelled terms of office in a generalized manner, arrested, exiled and banned his adversaries and closed the clandestine opposition’s mouth with a relentless censorship of the press.
16.a Detalhe arquitetônico da fachada do Palácio. 16.a Architectural detail in the forefront of the Palace.
16.b Detalhe em vidro bisotado da porta do Palácio. 16.b Detail in bevelled glass in the door of the Palace.
Through the stitches on the contrary, the long vacation of the democratic institutions not only preserved them from the demoralization of tolerance under control of arbitrariness, but also created in the public opinion the feeling of respect, splashed with a longing for the return of former days, which exploded in the popular manifestations that came with Vargas’ renunciation and the return of those exiled, received by multitudes.
The New State did not conceal the laughing face of the dictator. It did not cultivate the dissimulation of
The democratic regime of 1946 is inaugurated in an atmosphere of euphoria and of rare and exceptional interest by the political press. This is where the story of my generation begins.
CHAPTER 1
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FROM CASTELLINHO TO HERÁCLIO SALLES VILLAS-BÔAS CORRÊA
CHAPTER 2
The editorial room chiefs – function that was named with the modesty of secretary, the Jack-of-all-trades under the director and owner of the newspaper – were taken unawares with the downfall of the New State and the renunciation of Vargas, who retreated to voluntary exile in the estate of Santos Reis, on the border of Argentina. The new democratization imposed the challenge of full and specialized coverage of area, with the natural lack of professionals familiar with the cunning political game. The public hungry from the long fast of censorship, demanded brand new, exciting information, coming from the oven that had been out of use for years.
same suit, Osvaldo Costa, in Folhas de Paulo, Murilo Marroquim, in O Jornal, the leading organ of the Associated Dailies of Assis Chateaubriand. At the top, the feature writers who sustained the political positions of the newspapers in the then-called leading articles. Respectable selection. Costa Rego, in Correio da Manhã; J.E Macedo Soares, extraordinary polemist, in Diário Carioca; Rafael Correia de Oliveira, in Diário de Notícias; Assis Chateaubriand, in O Jornal. Almost all of them frequented, with variable assiduity, the sessions at the House. Depending on the subjects and the temperature of the debates.
Adroitness spurred creativity. One resorted, in the emergency, to the veterans of the long gone times of the Old Republic, a cast of characters of top quality. Pioneers of political chronicles signed in the fashion of the season. Prudente de Morais, the grandson, Pedro Dantas, admirable figure of fine humor and inexhaustible teller of tales, during years in the Diário Carioca and, later, in the Diário de Notícias and in the O Estado de S. Paulo, signed chronicles with the exquisite style of the writer and literary critic of modernism, with astounding fertility to launch and uphold themes, such as the thesis of absolute majority and, years later, of the anti-law of the setback of arbitrariness. Of the
But, the group of the daily grind, with permanent space in the newspapers, distributed itself through the three sectors of parliamentary routine: committees, plenary room and political activity All the large newspapers maintained a full staff to cover the three areas. The permanent committees, highlighting those of Constitution and Justice and of Finance, in the arduous daily job of scouring many times the schedule of the committees in the search of the important matters in the agendas. And that at the end of the tiring work produced a lean column, squeezed in the abundant coverage of the plenary.
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CHAPTER 2
17. Piso em madeira da Sala de Leitura, formando mosaico. 17. Wood floor of the Reading Room, forming a mosaic. 17.
The native of Bahia from Santo Amaro da Purificação, Heráclio Salles, was the greatest parliament reporter of the golden era of Congress. Writer of an individual style, direct, concise and transparent, with a fantastic capacity for work. During years, since the Constitutional Assembly, he was the owner of the last page of the Correio da Manhã, the most important newspaper of the country, with coverage of the House’s plenary, completed with the insertion of political information. Full page of impeccable text that required the dedication of fourteen, fifteen hours at a stretch, piercing the night. Before the session he was at his post, at the press bench, in the privileged center of observation within the plenary room, in “no man’s land”, with his back turned to the table. With two rows of few and disputed seats.
Rubem Braga, Osório Borba, Otto Lara Resende (who covered the Senate for various newspapers), Joel Silveira, (the greatest reporter I have known, text and nose to uncover sensational subjects), Carlos Alberto Tenório, Samuel Wainer, Márcio Moreira Alves, other than the eventual visitors.
The old bench shrunk and changed its usefulness in the Legislative Assembly of Rio de Janeiro. At the time, it was always or almost always filled by the reporters and illustrious visitors, such as writer José Lins do Rego, the portrayer of mulatto women and vibrant colors, Di Cavalcanti; by famous columnists, such as
The model of parliamentary coverage renewed the style brought back from the Old Republic, with greater objectivity and, mainly, the exemption, impartiality in the commentary and in the correct information, which enriched the text with the exclusive news or the picturesque note.
CHAPTER 2
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All the morning papers, without exception, dedicated noble and generous space to the fixed sections about the daily activities of the plenary of the House and of the Senate. Such as summaries of the speeches, registration of the interrupting remarks, the vivacity of the debates, the turmoil that popped up every now and then, the voting. Common was the follow up of famous controversies, that resounded for days, in the renewed duel and that anticipated the evening papers.
TWO SHIFTS VILLAS-BÔAS CORRÊA
CHAPTER 3
A dividing line separated the political reporting into two blocks of time schedules and various work schemes, beginning by the characteristics that distinguished the morning papers from the evening papers. Rio had at one time approximately twenty newspapers. The hefty and grave block of the morning papers paraded with the Correio da Manhã opening the show, followed by Diário de Notícias, Diário Carioca, O Jornal, A Gazeta de Notícias, A Manhã and others of lower circulation.
The evening paper was the light newspaper, vibrant, of the big headlines, for reading on the return home at the end of the afternoon. They were bought on the buses and streetcars from newsboys balanced on the running boards. At night, who stayed at home, would scan the ten, twelve pages of O Globo, of A Notícia, of Diário da Noite, with its front page on green paper; of A Noite, Correio da Noite, O Radical, A Vanguarda, Tribuna da Imprensa.
The morning papers arrived at the news stands at the earliest light, were delivered at home by the newspaper carriers to customers who paid by the month.
The work shift for the morning papers began in the afternoon for the political reporters, went into the evening and pierced the night. It depended on the day’s agenda, the stamina of each one, of the peculiarities of the task.
Heavy newspapers, solemn in the leading articles, in the editorials and with ample international news, pages with the fixed sections of political subjects, from the committee activities to the complete coverage of the plenary session of both Houses of Congress and vast space for politics. The newspaper for the relaxed reading of the family, with subjects for all tastes. For those who had the available leisure time of the morning and started work after lunch. Or for those who took advantage of the time in the lengthy travels, seated on the wood benches of the lazy streetcars, on their way to work.
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The tremulous velocity of the evening paper squeezed itself between 7 in the morning until closing, around 1 PM. One hour later it hit the streets, the news stands for the loose sale until the evening, when the city would retire for sleep in the tranquility of silence and in the security that ignored fear. The miserable salaries forced the physical exercise of dual jobs, taking the morning routine work into the nighttime grind. Or, moonlighting on radio and, later, beginning in 1950, with the inauguration of TV-Tupi,
CHAPTER 3
18. Fachada lateral do Palácio Tiradentes com destaque para a Alegoria da Independência, obra de Magalhães Correia e Modestino Kanto. 18. Sidelong forefront of the Tiradentes Palace highlighting the Alegoria da Independência, piece of Magalhães Correia and Modestino Kanto.
18.
The two shifts did not sever the fraternal relationship of those who made their living in the same trade. We shared in the search for sources, in the conversations and interviews with ministers, senators, representa-
tives, in the frequent trips to the headquarters of parties for the coverage of the famous Wednesday morning meetings of the UDN National Directorate, with its open doors, or the rare and closed meetings of the sober government-friendly PSD and, when crisis boiled, of the turmoil of the confrontations between the PTB and the cunning Republican Party.
CHAPTER 3
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in the programs and discussion panels of political debates of the television stations.
THE MEETING POINT VILLAS-BÔAS CORRÊA
CHAPTER 4
The meeting of every day of the week, which started on Monday and stretched to Friday, was always at Tiradentes Palace. The teams would dissolve themselves in the frequency to the same offices, in the steps through the same corridors for the concentration in the plenary room, where everyone spent at least a few hours, seduced by the show that was always renewed by the eloquence of the most brilliant team of parliamentarian orators of all time. From the press bench, seated in stuffed chairs; standing in “no man’s land” circulating in the permitted space, between the table, raised, in the splendor of the frame made from hard wood and the rows of chairs of the representatives, we would tune one ear to the microphones of the tribune of the government and of the opposition and the other to the whispered talks with the sources, with the representatives of the agenda of each reporter’s trust, the key to the treasure of information and of the grand luck of the scoop.
58 4 CAPÍTULO
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STAGE, PLOT & CAST VILLAS-BÔAS CORRÊA
CHAPTER 5
In the perfect setting of the Palace of Congress, the generation of Castellinho and Heráclio carved the model of political coverage, which defines itself by the exemption, the impartiality, the analysis which values and interprets the information and its possible breakdown, in the simultaneous premiere of the national parties, created by the liberal and democratic Constitution of 1946. Up to then, the abbreviations would not go further than the attempts of regional formations, such as the republican parties scattered over various states, joined by the loose solidarity of the baptismal name and of similar programs, but with local autonomy and directors. In the land destroyed by the dictatorship, were planted seeds of factions that composed the mosaic of classical style, with the dividing line of government and opposition. The Social Democratic Party – PSD – articulated by the political genius of Vargas, inherited the state administrative structures, created by the agents of the dictatorship and drove its stakes into the solid rural bases of the colonels owners of votes in the electoral corrals and masters of frauds. Conservative, wise, government-friendly party, of the unanimous decisions in the solidity of discipline, obedient to the internal hierarchy and reverent to power. It occupied one of the sides until the following spasm of arbitrariness, with the Redeeming of 1964. CHAPTER 5
The PSD purged during all its life the label, which sounded as a curse, of the most hardened party of center. The passing of time taught that it was as assumedly of center as the owner of the other side of the piece, the adversary in white scarves, that answered to the full name of National Democratic Union, better known by the abbreviation UDN. The party’s shrewdness masked the reactionary odor with the perfume of its fantastic collection of orators plus the charming adornment of the opposition, which speaks badly of the government and doesn’t curtail its words. The great duels in the plenary followed the traditional format of government versus opposition. And the remaining observers revolving like satellites around the stars of the system. Born in the suspect cradle of the syndicate political henchmen, the Brazilian Workers Party (PTB), another card up Vargas’ sleeve, played to the table in order to manipulate his popularity and to deter the expansion of the Communist Party of Brazil, Prestes’ PCB, his future ally in the hour of doom in 1954. The PTB fought with the UDN in its own faction. Now the Liberator Party of the holy representative Raul Pila, the pope of parliamentarian government,
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leaned towards the UDN in the faction of opposition. And the Republican Party, PR, of former president Arthur Bernardes played the cards of the Minas Gerais State’s interests.
STAGE, PLOT & CAST. VILLAS-BÔAS CORRÊA.
Carlos Lacerda was the greatest orator I knew. Many of his speeches were recorded and substantiate the consensual evaluation. Complete actor’s domination on the tribune. The physique of an athlete with powerful lungs, perfect gesticulation, the voice that ran the full scale, from the gravest tone to the malicious soft words of the malicious blandishment of the demoralizing interrupting remarks. Representative Ivete Vargas dared jab the UDN leader, with the aggressive interrupting remark against his destructive criticism of President Vargas. She shouted the insult into the microphone of the plenary room: “Your Excellency is nothing more than a purgative”. Instant payback: “And Your Excellency is the effect”. Into the same rattrap fell representative Bocaiúva Cunha, of the PTB, insisting in the aggressive interrupting remark, in another of the daily charges against the former dictator: “Your Excellency is a thief of others honor”. Carlos Lacerda struck right back: “Then Your Excellency can remain calm, for you have nothing that I could steal”. If representative Carlos Lacerda was the greatest orator that I knew in twelve years of Congress, the speech by Representative Afonso Arinos, in the tension of the crisis that culminates with Getúlio Vargas’ suicide, marks the highest instance of parliamentary eloquence. The country was living the historic trance with the foresight of the imminent closing and the collective clenching in the passionate shock of the divided population.
nary literary beauty and the rich use of adjectives of a master of the language. Standing, facing the tribune, Representative Gustavo Capanema, livid, eyes fixed, lived the drama of the certainty of the nearing end and of the responsibility of the answer in name of the lost situation. Reporter Oyama Telles, temperamental of haste, interrupted the PSD leader, joining the question to the answer: “So, representative? And now? All is lost”. But, not only of crises and tragedy is composed the chronicles of those times. The amenities of the picturesque and of the anecdote would break the severity of the eternal routine debate. A native of Rio Grande do Sul in the authenticity of his accent, enriched by the Spanish-like vocabulary of the border miscellany, dotted with flavorful proverbs, representative Flores da Cunha was a unique and unforgettable character. With his place in the history of his State’s revolutions. An impassioned reader of French literature, elegant in his eternal impeccable linen coat, the old Flores da Cunha would sit at his permanent seat, the only one with a plaque of exclusivity, the first, in the corridor to the left, in front of the opposition’s tribune. And which he occupied on special occasions, preferring the interrupting remarks to speeches, in spite of his ease at impromptu. His passion for bullfights inspired him the speech that the House listened to in attentive and rapt silence. The brutality of the cruel sport, of the banderillas that bleed the bull before the kill by the thrust of the bullfighter gained the colorfulness of the Romanesque fantasy of the nostalgic enthusiast. Sometime later, at a pause, Representative Joel Presídio, of the Bahia State PTB, risked an interrupting remark: “Representative, I was a cattleman and I don’t like bullfights”.
With the House packed, from the plenary to the tribunes, the blocs of the government and of the opposition gathered around the tribune, representative Afonso Arinos, in less than one hour, electrified the viewers with the ever-increasing violence of impromptu, of overpowering vehemence, with excerpts of extraordi-
The gaucho’s expression buckled the mask of con0tempt in the mocking retort: “If Your Excellency says he was a cattleman and doesn’t like bullfights it is because he was a goat cattleman, of those that goes around on foot with a stick draped over his shoulders...”
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CHAPTER 5
The cast of great orators lists dozens of names that parade in memory. Beginning with the bachelors of UDN, in a list that is renewed at each election. Since the myths of the past, preserved by the exile or by the freezing of the censorship. The fame of the Bahia native Otávio Mangabeira crossed the years of exile and gave the tribune back the master of impeccable posture, of repressed gesticulation and of theatrical effect and the eloquence of the voice’s sonority with the marked characteristic of a peculiarity of diction. The malicious intrigue that he would memorize his speeches, practicing in front of the mirror, does not hold up to the many contradictions of the impromptus in the heat of debates. Well-mannered, educated, of extreme kindness, representative Prado Kelly was an exquisite orator, of singular style. A fluent exhibitor, with the solid legal formation of a famous lawyer and the literary taste perfected by the habit of reading, writer and poet, he would never lose his temper in the most violent discussions. He was president of UDN, minority and bloc leader, esteemed by friend and foe. Let’s stay with the naming of the notables: Aliomar Baleeiro, a Bahia native of caustic irony, the main opponent of the mediocre and opaque government of President Dutra. Economics professor, he was one of the pioneers to bring up economics themes at the tribune, in the criticism of crushing acrimony against the disastrous dissipation of the official policy with the import of trinkets, exhausting the reserves accumulated with the balances of payments during the second world war. And more: Bilac Pinto, Adauto Lúcio Cardoso, Alberto Deodato, Oscar Dias Correia, Rui Santos, Aluísio Alves, João Agripino, Ernani Sátiro, Odilon Braga, Artur Santos Paulo Sarasate, Ferro Costa, Seixas Dória, Herbert Levy, José Sarney. The PL thickened the opposition with the serenity of representative Raul Pila, the archangel of parliamentarian government, with his inseparable ally, the gaucho Coelho de Souza and the help from Bahia of representative Nestor Duarte, feared speaker of the brief interventions as fencing foil strokes.
orators. Highlighting representative Gustavo Capanema, the revolutionary minister of Education, who in full conservative dictatorship, supported the polemic and contested modernist movement, entrusting to Oscar Niemeyer, Cândido Portinari, Di Cavalcanti, Lúcio Costa, Heitor Villa Lobos – architects, painters, musicians – the responsibility for government work projects, such as the Ministry of Education, singular mark in the contradictions of the rancid official obtuseness. The PSD roster imposed respect with the power of the majority bloc: Nereu Ramos, representative, senator, president of the House of Representatives and of the Senate, vice-president of the Republic and president in the exception government of the counter-coup that guaranteed the taking of office by President Juscelino Kubitschek. And, in the run of the memories: representatives Vieira de Mello, orator of incredible fluency, who had memorable duels with Carlos Lacerda; José Maria Alkmin, Tancredo Neves, Antonio Balbino, Ulysses Guimarães, Armando Falcão, Samuel Duarte, Bias Fortes, Cirilo Júnior, Paulo Pinheiro Chagas, Oliveira Brito, Daniel Faraco, Hermes Pereira de Souza, Clovis Pestana and a hundred more in the elections rotation. Representative Arthur Bernardes, with his pince-nez sitting on top of his fat nose, the erect posture, in the impeccable elegance of his times as president of the Republic, of white shirt with starched cuffs and collar, pants, vest, coat, cane and hat, owner and symbol of the PR, he deserved the national reverence for the coherence of his biography and the combative participation in the popular mobilization, with the nationalistic banner in defense of the state monopoly over petroleum and of our riches. A noble presence in the plenary room. In the small republican bloc, highlights to representatives Amando Fontes, Tristão da Cunha, among others.
The PSD defended the government of its homage and counter attacked with the avant-garde of exceptional
The PTB was born in the nest of syndicate political henchmen, with a reduced and unleveled bloc. Next to representatives such as José Diogo Brochado da Rocha, Fernando Ferrari, Rui Ramos, Temperani Pereira, Gurgel do Amaral, Segadas Viana, Frota Aguiar, Leonel Brizola, the dregs of the official syndicalism, manipulated from Catete and that lined itself with the
CHAPTER 5
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monies of the Institutes of Welfare. The growing influence of the bloc from Rio Grande do Sul changed the PTB profile, with the preachings of Senator Alberto Pasqualini, theorist of the English work doctrine.
STAGE, PLOT & CAST. VILLAS-BÔAS CORRÊA.
When I arrived at the House of Representatives, in 1948, I did not find the combative communist bloc, which had their terms cancelled, in 1947, after the brutality of the cancellation of the Communist Party of Brasil’s registry. But, I knew representative Roberto Morena, legendary communist, elected by a rental party and that was worth a whole bloc. Short, his baldness like a lustrous lid ended at his expressive face, of restless eyes, permanent smile on the lips and the vivacity of a workman’s intelligence, of the wood craftsman who stood out in his trade and who crafted the furniture and seats of Tiradentes Palace and the tribune he frequented in all regimental vacancies, for the speeches to which the plenary listened in attention. Many times, in the most absolute silence, touched by the emotion of the militants testimonies with the body marks of prisons, tortures and scars of the wounds in the Spanish revo-lution against the dictatorship of Franco, of which he participated as a volunteer.
18.
18. Corredor do terceiro andar do Palácio. 18. Palace’s Third floor hallway.
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CHAPTER 5
THE GAME OF POWER VILLAS-BÔAS CORRÊA
CHAPTER 6
Scene and cast in the plot of the game of power. This is the differential that marks the golden period of eloquence, that begins with the installation of the National Constitutional Assembly of 1946, after the overthrow of the New State and ends, on April 14, 1960, in the lugubrious farewell to Tiradentes Palace and to the capital which was being transferred from Rio to Brasília, in the adventure of new times. The Legislative Power, pampered by popularity, enjoyed the prestige consolidated in the years of arbitrariness. Dissolved parties, closed Congress, censorship of the press, preserved the Power submitted by force. And that recovered the legitimacy, backed by the interest of the population. The newspapers fulfilled the demands of the readers with the copious coverage of the parliamentarian activity. Congress was more important than the Executive was. Few reporters spent the hours of idleness in the pressroom of the Catete Palace to collect the official statements, in the tedious bureaucratic routine. Every now and then, a drop of news appeared that deserved the front page. The presidents locked up in the office, protected from God knows whom or what by the severity of the protocol, didn’t have contact with the reporters,
CHAPTER 6
except for the greetings of year end. Press conferences were a rarity that can be counted on the fingers of one hand. With the presidential isolation, political coverage migrated to the Congress, especially to the House of Representatives, stage of daily battles in the war of government against the opposition. And it is this focus that illuminates the importance of parliamentarian confrontations, the interest in the debates in the two Houses of Congress, the ample journalistic space for the presentation of the activities of the committees, of the plenary room and of the political articulations. The destiny of the country was decided in the debates and in the voting of matters of national significance. And if the president, the ministers were consulted and influenced the positions of its majority bloc, the understandings, the adjustments, the agreements, the negotiation of votes which escaped the partisan net for the offering in the bargain for advantages, occurred in Congress. In the backstage scheming to explode in debate in the plenary room, which drug on, in some cases, for days,
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THE GAME OF POWER. VILLAS-BÔAS CORRÊA.
19. Alegoria da Ordem, de Zacco Paraná. 19. Alegoria da Ordem, made by Zacco Paraná.
weeks, months. And that the reporters followed, gathering information, testing each version against trusted sources. With the full conscience of History’s witness. It is natural that after the gloom of the dictatorship, the conservative opposition of UDN and its allies from PR and PL, unfurled the banner of liberty and of its liberal convictions in the abundant oratory that packed the House of Representatives and, more rarely, of the Senate of sluggish habits of gray-haired gentlemen. Social themes were barely passed through the debates. Not even the PTB would detour from the defense of Vargas to take care of the cast items of the program that no one would read. Discussions about economical subjects few times provoked the plenary’s attention. The same space as small notes in the press.
the favelas that crept up the hillsides and scattered through the swamps of the periphery. When the bookies guaranteed order and substituted the State, eternally absent. Before the arrival of drug dealers and of the progress of organized crime. In the game of power, the eloquence was not a mere adornment of vanity for the exhibitionist tournaments. But, the powerful weapon, many times decisive in the great battles, be it to harden the unity of the bloc or to weaken votes of the adversaries, with one foot on top of the fence of adhesion.
Marks of a time of scarce sensibility towards the anguishes of the shamed poor, who hid in the shacks of
The great orators, such as Carlos Lacerda, Afonso Arinos, Adauto Lúcio Cardoso, Vieira de Melo, Gustavo Capanema won and lost decisions in the duels of oratories. When a fortunate interrupting remark decided the fate of the voting that would make the government unstable or would drive one more thorn of defeat into the opposition’s crown.
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CHAPTER 6
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19.
MY GENERATION’S LEGACY VILLAS-BÔAS CORRÊA
CHAPTER 7
In the House of Parliament scene, where the game of power was played in the classic confrontation between government and opposition, which permitted themselves the luxury of dividing the conservative space, with the stage occupied by the most brilliant orators of all time, my generation of journalists forged a model of political coverage, which is its legacy for those who followed us. We weren’t many; few are we the survivors; I am the only one in activity, beating the keys of the computer. Few times have I returned to Tiradentes Palace after the change of capital to Brasília. On my last visit, I was accompanied by my ghosts. Before the opening of the session, the great majority already wandered aimlessly through the plenary room, through the halls, sniffing the day’s news. If in the diversity of tasks each one was able to do the job, in the pathways to the House all of them met. The reporters of the evening papers would not distress at the news of the day, which would run out in the vast coverage of the morning papers. Antônio Viana, from O Globo; Marcelo Pimentel, from Diário da Noite; João Duarte Filho and Murilo Mello Filho from A Tribuna da Imprensa of Carlos Lacerda would tune
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themselves to the news, alert to what they could yield in the repercussions of the next day. The search in all the corners for the day’s information was our job. Of the more numerous group of those who worked the morning papers, in stretches that would invade the night. We didn’t walk in groups, but our paths crossed. Between the exclusive, personal information, prime material of a scoop and that of the common trench of the collective news, the demarcating line is easily identifiable for those in the field. Or basic group, with the rotation of the changes of activity or of companies, was made up of Castellinho, Odylo Costa, filho, Osvaldo Costa, Ascendino Leite, Otacílio Lopes, Murilo Mello Filho, Benedito Coutinho, Heráclio Salles when he left the Correio da Manhã and started working at the Diário de Notícias. Later, arrived the Holanda brothers, Haroldo and Tarcísio, and Carlos Chagas. Without the daily assiduity, Carlos Alberto Tenório, Samuel Wainer, Walter Fontoura, Francisco Pedro do Coutto, Wilson Figueiredo, the comet Otto Lara Resende, who punched the clock at the Senate. The daily rounds, done and redone, went through the plenary room, meeting point and where we spent most of
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our time, attracted by the discourses of the great orators or in the spin of the conversations with the representatives involved in the subjects of the day and with the sources of personal trust. The repeated stop at Edésio’s coffee stand, in the tight corner at the entrance to the plenary room from the side of São José Street, was sacred. In the proper moments, the mandatory visit to the leadership offices of the PSD and of the UDN, with stops at the offices of leaders of the PTB, the PR, the PSP, the PL. On special days, the committees of Constitution and Justice would require more attention for important and polemic projects. In addition to the lengthy vigil at the House, we would cover the party meetings, we would attempt conversations with ministers of public weight. And when the session ended earlier or had nothing more to offer, each one would take the road back to his editorial room. Strolling through the loving, good natured, calm city so secure that we couldn’t grasp the privilege that we enjoyed with the naturalness that we breathed the air of the capital with historic roots, the weight of tradition and the dazzling colors of the green mountains, with the clearings of the favelas sung in the samba lyrics. And without noticing that the party was coming to an end.
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But, we left as heritage the model of parliamentarian coverage and politics of exemption, of impartiality, support for credibility; in the analysis that advances in the speculation of the probable outcomes. As such, it seems too little and simple for more than a decade and a half of elaboration. In reality, neither simple nor difficult. It was of natural birth, without any conspiratorial planning, theoretical formulation or tactical scheme. And it gained density and consistency while the press and the partisan picture evolved, in the many stages of a relationship that inaugurates itself with the ostensive engagement of the large newspapers in reaction to the censorship of the New State and in the repudiation of the former dictator. In the campaign of 1945, the virtual unanimity of the greater press supported the candidacy of Brigadier Eduardo Gomes and placed the shield of UDN on its lapel. The defeat of the UDN candidate, with the bitter taste of surprise, stimulated the animosity against Vargas, the absentee in voluntary exile in São Borja, responsible for Dutra’s election. The campaign coverage followed the UDN tone. The tripartite agreement, involving UDN, PSD and PR, withered the vehemence of some newspapers, while others, such as the Estado de S. Paulo and the Diário de Notícias, sustained the vigor of criticism.
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MY GENERATION’S LEGACY. VILLAS-BÔAS CORRÊA.
Little by little, the political news and the news of parliamentarian activities headed for the shortcut of objectivity and the signed columns proclaimed the independence in the exemption of the criticisms and analyses.
ture writers, the fixed sections of coverage of parliamentarian activities freed themselves from the ill feeling of obedience to the lines of the editorials and deepened the ethical commitments with impartiality.
Vargas’ comeback, in 1950, being elected against UDN and with the rebellion of the PSD electorate, that dragged the party in the Christianization of the renegade official candidate, the correct representative from Minas Gerais Cristiano Machado, who became the word, blew the ashes of the bonfire. The new defeat of the Brigadier, debited to the cunning astuteness of the solitary former dictator, inflamed hatred and resentments.
We crossed the turbulence of setbacks in the political crises and in the 21 years of military dictatorship in its spasms of hardening. The renouncement of the crazed President Jânio Quadros and the resistance to thetaking of office of Vice-President João Goulart accentuated the ideological confrontation, which alters the dividing line, coloring the polarization of government against opposition.
The dramatic closing of the government crisis, with Getúlio’s suicide, ingenious political ploy that changed the destiny of the country, also accelerated the revision of the model of political coverage. UDN started to die with Vargas’ suicide, the historic adversary since its foundation. It maintained itself in the oppositionist coherence during the four years of President Juscelino Kubitschek’s term of office, without the same vigor and with internal dissidence that undermined its unity.
The radicalism that split the country into left and right gave the political journalists the challenge to maintain the serenity amid the excesses. It wasn’t easy. The picture worsens to the extreme limits in the return of censorship beginning from the AI-5, of December 13, 1968, in the second government in the rotation of generalpresidents, during the term of President Costa e Silva.
In the government without hatred of JK, the political reporting conquered the majority. The columnists, fea-
In the draining of news, with censorship in the orgy of prohibitions, the press faced the test of possible resistance. The political reporters and columnists maintained the flame, exercising the ability to dribble the censors, with the cunning of messages in between the lines.
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THE BRASÍLIA CUT VILLAS-BÔAS CORRÊA
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The move of the capital to unfinished Brasília, on April 21, 1960, ends a cycle. Congress never was the same again. Neither was the political press. It is not the proper opportunity for critical evaluation. Maybe, for the indispensable ascertaining of the differences. Brasília was inaugurated by JK before being ready. The rush in the wake of the dream of the return in JK-65, forced the transfer to the construction lot. And it was a cut made with the blunt blow of a dull knife, separating stages. Senators and representatives did not move to the new capital. They continued to live in their own states, where their families remained. They go and come to the capital, where they spend two or three days a week, from Tuesday to Thursday, when they take the plane back to their domestic sheets.
the loss of permanent spaces in all the newspapers. The gong was silenced without the clapper. The last session in Rio, on April 14, 1960, marks the farewell of the model of parliamentary coverage chiseled by my generation. In Brasília, Congress deserves the attention of the press, generates materials, is the subject of reports in newspapers, radios and television when it escapes the routine for the sensationalism of crises, of denunciations, of Congressional hearings that investigate scandals. The political journalism does not frequent Congress as a daily and pleasing obligation. Castellinho, since the political emptying of Congress through the punitive marginalization in the leaden years of arbitrariness only appeared at the palace at the Square of the Three Powers for chats, with an appointment and in advance.
Well, without daily sessions there is no way to maintain the fixed sections dedicated to work in the House and the Senate. But, it is also true that no newspaper transferred its complete staff of political journalists to Brasília. Both, Congress and the newspapers, adjusted themselves to the new fashions, absorbing the trauma of
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THE PALACE FAITHFUL TO ITS DESTINY VILLAS-BÔAS CORRÊA
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I arrived at the end of the homecoming visit to Tiradentes Palace bidding farewell to my ghosts in order to face reality. Without the bitterness of prevention. Seeing things as they are. With eyes to see what is good. For Tiradentes Palace is in tip-top shape following the most painstaking reform of its long existence, in the fidelity to its destiny as House of the Legislature. The labors of restoring the wear from usage and the distortions of abuses obeyed with scrupulous rigor the designs of the original project of the famous architects, Archimedes Memória and Francisco Couchet, as can be verified in the comparison of pictures and documents of the grandiose parties of inauguration, on May 6, 1926, to recent shots, after the renovation. Or one may verify it for an instant before the statue of Tiradentes and of the Palace that carries his name. Constructed in the space of historical occupation by the Legislature. Ever since it was called Old Jail, when in it functioned the House of Representatives and the Senate of the Empire, installed on May 6, 1826. It housed the National Constituting Assembly of 1922, Brazil’s first after acquiring its independence. And that never went into effect, with the authoritarian decision of the Emperor, Dom Pedro I, to dissolve it.
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With the Proclamation of the Republic, on November 15, 1889, and the clamors of the press for the construction of the new headquarters building for the House of Representatives, the fate of the Old Jail was sealed. The start of its demolition opened the space for the construction of Tiradentes Palace, in honor of the lieutenant that dreamed of independence, was incarcerated in the Old Jail, from which he left to be hung and dismembered. Demolished in 1922, the new and imposing Palace of the Legislature was inaugurated on May 5, 1926. In it functioned the Constituting Assembly of 1934, which designed the Constitution of 1934, of short-lived duration, torn by the coup of 1937, for the implantation of Getúlio Vargas’ New State. House of laws, of liberty, of voting, it purged the humiliation of housing the Department of Printing and Propaganda, the DIP, officially in charge of the censorship of the press. The shame lasted from 1939 to 1945, when the New State collapsed. In the rush to conquer democracy again, the Constituting Assembly of 1946 installed itself in the house unoccupied with the ousting of the intruders. With the promulgation of the Constitution of 1946, the House of Representatives remained in its place and the Senate was transferred to the Monroe, in the beautiful
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20.a
20.a Escadaria do Saguão Getúlio Vargas. 20.a Getúlio Vargas Atrium Stairway.
20.b Visita de estudantes da rede pública à exposição permanente. 20.b Public system’s students visitation to the permanent exhibition.
20.b
and noble building demolished during President Ernesto Geisel’s government, with the official contempt for traditions. The rest is yesterday’s news. The move of the capital soothes Rio with the creation of the State of Guanabara. In the empty Tiradentes Palace, is installed the Constituting Assembly of the city-state, in 1960. In July 1974, with the fusion of the States of Rio de Janeiro and Guanabara, the Legislative Assembly of Rio de Janeiro is definitively installed in Tiradentes Palace.
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It is at home. In the house of the legislature. Zealous tenant, in the last two years, it took care of the historic restoration of the original project, in respect to the detailed preservation of the national heritage, from its appearance to its artistic treasures. Tiradentes Palace looks like a bridegroom in a suit made to order. Bursting in the vanity of being the only resident in the House of the Legislature, guardian of the memories of the noble space on XV de Novembro Square.
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