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REVISTA DA ALERJ Ano III - Número 6 - Junho de 2009

Produtores orgânicos enfrentam desafios de ampliar distribuição e baixar preços para chegar às mesas fluminenses

O melhor da terra REVISTA DA ALERJ

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neste n úm ero

REVISTA DA ALERJ Ano III - Número 06 - Junho de 2009

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TURISMO

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ENTREVISTA

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AMBIENTE

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MEMÓRIA

Dui tet, core delent augait loreet ate dolobore conse vel dolent luptat ut ercidunt in ut augait aut ut Ommod

O melhor da terra O melhor da terra Trinta anos atrás, no Rio, adeptos da alimentação natural e da causa socioambiental foram precursores da difusão da agricultura orgânica no Brasil. Nos anos 80, as lavouras verdes cresceram e os ideais do cultivo sem agrotóxicos foram espalhados. Hoje, o Brasil é o segundo país em área para a produção orgânica, atrás apenas da Austrália. Os produtores brasileiros exportam orgânicos como açúcar, frutas, suco de laranja, café e carne. Em paralelo ao progresso dessa economia verde, a sua regulamentação vem sendo aprimorada. Com as inovações legais, certificar uma pequena propriedade de orgânicos custa caro. A matéria de capa desta RA descreve os sistemas participativos como caminho natural para os produtores fluminenses.

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Com número de visitantes recorde, Cristo pede socorro

As preocupações de Muniz Sodré com a língua portuguesa

Manguezal renasce entre o lixo do Aterro de Gramacho

Imagens do comício das Diretas na Candelária 25 anos depois

OPINIÃO / FELIPE A. DIAS MÍDIA / VERSÃO BRASILEIRA PANORAMA

Páginas 14 a 23 REVISTA DA ALERJ

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referida publicação chega em momento “Aoportuno em que o Governo municipal deseja ampliar e reforçar a divulgação positiva de ações em favor do apoio às nossas tradições

Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro Presidente Jorge Picciani 1ª Vice-presidente Coronel Jairo 2º Vice-presidente Gilberto Palmares 3º Vice-presidente Graça Pereira 4º Vice-presidente Olney Botelho 1ª Secretária Graça Matos 2º Secretário Gerson Bergher 3º Secretário Dica 4ª Secretário Fabio Silva 1a Suplente Ademir Melo 2 o Suplente Armando José 3º Suplente Pedro Augusto 4º Suplente Waldeth Brasiel

REVISTA da Alerj Ano III - Nº 6 junho de 2009 Publicação trimestral da Diretoria Geral de Comunicação Social da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro

Jornalista responsável Fernanda Pedrosa (MT-13511) Coordenação: Pedro Motta Lima e Everton Silvalima Reportagem: Fernanda Porto, Marcela Maciel, Symone Munay e Vanessa Schumacker Fotografia: Rafael Wallace Diagramação: Daniel Tiriba Telefones: (21) 2588-1383/1627 Fax: (21) 2588-1404 Rua Primeiro de Março s/nº sala 406 CEP-20010-090 – Rio de Janeiro/RJ Email: dcs@alerj.rj.gov.br www.alerj.rj.gov.br www.twitter.com/alerj www.noticiasalerj.blogspot.com Impressão: WalPrint Tiragem: 3 mil exemplares

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Reinaldo Rocha

CARTA S Folia de Reis

Águas minerais

Atendendo determinação do prefeito de Duas Barras, Antônio Carlos (PMDB), acuso recebimento da conceituada REVISTA DA ALERJ, que em sua edição Ano II –nº 5, de dezembro de 2008, páginas 26 a 30, publicou matéria sob o título “No reino das Folias”, com impecável texto de Francisco Luiz Noel e fotos assinadas por Fabiano Veneza. A referida publicação, que faz alusão à realização do Encontro do Folclore promovido por nosso município e considerado um dos mais tradicionais do estado, chega em momento oportuno em que o Governo municipal deseja ampliar e reforçar a divulgação positiva de ações em favor do apoio às nossas tradições, reforçando ainda mais o potencial turístico de Duas Barras. Potencial este que poderá ajudar a alavancar a geração de mais empregos e renda para nossa população, que tanto carece de ações neste sentido. Nesta oportunidade, em nome do prefeito municipal, vimos por meio deste externar nossos agradecimentos a toda a equipe desta revista pelo enfoque positivo dado por esta editoria à referida matéria, o que muito irá contribuir para reforçar a proposta do nosso Governo, que tem como desafio auxiliar o nosso povo a construir a sua própria história. Reinaldo Rocha

Parabenizamos pela excelente matéria com o título “Caminho das Águas”, de autoria do Francisco Noel e Rafael Wallace, publicada na última edição da REVISTA DA ALERJ. Entretanto, solicitamos duas importantes correções no texto. A primeira quanto ao consumo estimado de produtos oriundos de outros estados, que corresponde a cerca de 40% do que é consumido no Estado do Rio de Janeiro (estimativa do DRM-RJ, que pode ser confirmada em nossa publicação de 2006, Águas Minerais do Estado do Rio de Janeiro, às páginas 123 e 129). A segunda, retificar que, diferentemente do informado na reportagem, declaramos que, também em acordo com nossas estimativas, o setor teve um faturamento em 2007 na casa dos R$ 50 milhões, correspondendo ao recolhimento do ICMS superior a R$ 5 milhões, baseado em dados fornecidos pela Secretaria de Estado de Fazenda. Flávio Erthal

Assessor de Imprensa da Prefeitura

Presidente do DRM-RJ / Serviço

Municipal de Duas Barras

Geológico do Estado do Rio de Janeiro


E ditorial

Jorge Picciani

Desafios a vencer

V

Fabiano Veneza

anguarda do movimento pela produção de alimentos orgânicos no Brasil, o Estado do Rio de Janeiro tem hoje cerca de 250 propriedades certificadas e mais 70 à espera de certificação. Os números são apenas uma estimativa, já que não existem estatísticas oficiais sobre colheitas, produtores, área e faturamento. A falta de dados por si só já revela a necessidade de se organizar melhor o setor, que demonstra grande potencial de crescimento. Nos supermercados, a procura pelos orgânicos do estado é reforçada pela redução da oferta de grandes fornecedores paulistas, causada por reveses empresariais. Mas a produção fluminense ainda tem muito a conquistar. De acordo com estudos, 60% do nosso mercado são atendidos por empresas de fora. Outros desafios dos produtores verdes são o escoamento da produção, a conquista de mais pontos de venda e a redução dos preços. Segundo representantes do setor, a produção fluminense ainda é pequena, comparada com a de estados como São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, sobretudo por problemas de comercialização. A reportagem de capa deste número da REVISTA DA ALERJ procura traçar um diagnóstico desses entraves, que não chegam a impedir que alguns municípios do estado, como Petrópolis, Teresópolis e Vassouras, sejam verdadeiros celeiros de alimentos sem agrotóxicos.

Também nesta edição, mostramos o crescimento vertiginoso do número de turistas que visitam o Corcovado e os esforços que vêm sendo feitos no sentido de recuperar a estátua do Cristo Redentor e garantir o conforto dos visitantes. Assim como foi feito nos anos 1920, quando a Arquidiocese do Rio de Janeiro mobilizou a população carioca a fazer doações para a construção do projeto, estamos buscando recursos para devolver ao monumento o esplendor que ele merece. Outra matéria de destaque traz uma descrição de como o maior lixão do País se transformou no maior aterro sanitário da América Latina, que reúne mais de 15 mil trabalhadores e movimenta cerca de R$ 1,4 milhão por mês. Gramacho revela mais uma surpresa: o renascimento do manguezal entre o lixo e a Baía de Guanabara. E não deixe de conferir – e relembrar – momentos marcantes da campanha das Diretas Já, registrados pelas lentes do fotógrafo Márcio RM, que estava na Candelária no dia do comício que reuniu um milhão de pessoas para exigir a volta da democracia ao País, há 25 anos.

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Braços abertos para a multidão turism o T exto Celina Côrtes Fotos É rica R amalho

Movimento de turistas que visitam o Corcovado triplica e aponta para a necessidade de melhoria da infraestrutura do monumento

S

A frequência ao monumento saltou de 39.259 visitantes, em abril de 2008, para 126.584, em janeiro de 2009

e depender da nova direção do Parque Nacional da Tijuca, o monumento ao Cristo Redentor vai passar por um verdadeiro banho de loja que turbinará o conforto e a infraestrutura disponibilizada aos turistas. A ideia é diretamente proporcional ao crescimento da visitação. O aumento foi impulsionado por alguns fatores que contribuíram para transformar o alto do Corcovado em verdadeiro formigueiro nos períodos como as festas de fim de ano e o carnaval. Só para se ter uma ideia, desde que as catracas foram instaladas para dar acesso ao monumento, em março de 2008, a frequência saltou de 39.259 visitantes, em abril de 2008, para 126.584, em janeiro de 2009. Estes são os turistas que sobem de táxi ou de van e não representam a maioria dos visitantes. Na 6

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Estrada do Trem Corcovado, com seus 3.800 metros de trilhos que cortam a Mata Atlântica, houve um aumento de demanda de 6% de 2007 para 2008. Um dos fatores que contribuiu para atrair ainda mais interessados ao local foi a instalação das escadas rolantes e elevadores, em 2003. As melhorias permitiram, por exemplo, que idosos e deficientes físicos também pudessem ter acesso, mas necessitam de reformulação. Em parceria com a Fundação Roberto Marinho, o Parque Nacional da Tijuca solicitou ao arquiteto Maurício Prochnik – que assina os acessos instalados em 2003 – um projeto que inclui a reformulação dos elevadores para permitir o controle do público – hoje inexistente –, a fim de evitar justamente o efeito formigueiro. – Nos dias de pico, chegam a subir ao Cristo até 15 mil pessoas.

A ideia é garantir a qualidade da visitação – explica o arquiteto Ricardo Calmon, diretor do Parque Nacional da Tijuca. As futuras transformações vão incluir a reformulação da plataforma de embarque e desembarque das vans, que passará a ser coberta, assim como a área contígua à estação do trem. As lojas e os banheiros também serão adequados ao crescente volume de demanda. Mas nada disso acontecerá de um dia para o outro – o projeto requer um estudo de viabilidade para torná-lo interessante à iniciativa privada. Calmon pretende montar uma estrutura que viabilize para as próximas décadas o complexo turístico formado pelo Cristo Redentor, Hotel das Paineiras e Estrada das Paineiras, fechada aos veículos nos fins de semana. A prioridade imediata é o hotel, inaugurado em 1884 junto


Nos dias de pico, chegam a subir ao Cristo até 15 mil pessoas

com a Estrada de Ferro Corcovado. Localizado em meio à floresta, recebeu hóspedes ilustres como a atriz francesa Sarah Bernhardt e o presidente Getúlio Vargas, além de ter sediado a concentração da Seleção Brasileira na Copa de 70. Privatizado em 1984, voltou às mãos da União e está desativado há 25 anos. Com vistas a novas alternativas para o espaço, um aspecto fundamental já discutido é a construção de um estacionamento com três pavimentos subterrâneos em uma área de 7.500 metros quadrados vizinha ao hotel, atualmente usada por parte das vans cadastradas ao acesso do Cristo Redentor. Para aumentar o conforto dos visitantes, o projeto inclui a construção de banheiros, além de restaurantes e lojas que tornarão o empreendimento economicamente viável. O Instituto dos Arquitetos do

Brasil (IAB) realizou um concurso público para escolher um projeto que beneficie desde o Cristo Redentor à área do Hotel das Paineiras. Em seguida serão feitos um estudo de viabilidade econômica para a execução das obras, a licitação com o projeto já definido e finalmente a concessão. – O resultado final, após todas as etapas, deve sair até julho – acredita o diretor do parque. Aumento da visitação Após a instalação dos acessos mecânicos (elevador e escada rolante), outro fator que influiu no interesse nacional e internacional foi a inclusão do Cristo Redentor, em 2007, entre as Sete Novas Maravilhas do Mundo. O Cristo entrou na seleta lista ao lado de monumentos como a Grande Muralha da China e Machu Picchu, no Peru.

Outro fato que também influenciou a visitação do Corcovado foi o aumento do número de navios de turismo que aportam no Rio de Janeiro. Para se ter uma ideia, em 2007 foram 320 mil pessoas, entre passageiros e tripulantes que desembarcaram na cidade. O Cristo está entre as visitas obrigatórias dessa multidão que vem de outros estados do Brasil e de outros países. Em 2008 o número pulou para 410 mil e, este ano, a estimativa da Riotur é de 550 mil pessoas, o que representa uma injeção de R$ 165 milhões. – A grande maioria destes visitantes, ou 80%, sobe ao monumento de trem. Quando chegam navios ao Porto do Rio, as filas da Estação de Trem Corcovado simplesmente dobram – contabiliza o subsecretário de Turismo do município, Pedro Guimarães. Às vésperas do carnaval, a aposentada paulista Encarnação Amêndola, 82 anos, apreciava a deslumbrante paisagem do alto do Corcovado com um chapéu de palha que protegia seu rosto do sol inclemente do verão carioca. Era sua primeira vez na cidade, de onde começaria um cruzeiro pela América do Sul. – A cidade é maravilhosa, estou encantada. A estátua do Cristo Redentor não podia ser mais linda – derretia-se. No topo do monumento escuta-se uma sinfonia de idiomas, do inglês ao francês, passando pelo italiano, alemão e japonês. Destacava-se na multidão o empresário sul-africano Peter Adams, 59 anos, outro que visitava o Rio pela primeira vez. – O que me fez vir ao Brasil foi o futebol, porque sou ex-jogador. As REVISTA DA ALERJ

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O empresário sul-africano Peter Adams em visita ao Rio pela primeira vez. O casal de argentinos Juan Jorge Insfran e Ana Carolina Auguello escolheu a cidade para passar a lua de mel. O diretor do Parque Nacional da Tijuca, Ricardo Calmon, quer garantir a qualidade da visitação pessoas são ótimas, muito afáveis. Nunca vi nada como isso em toda a minha vida – deslumbrava-se Adams, referindo-se ao Cristo. O casal de argentinos Juan Jorge Insfran, empresário de 38 anos, e Ana Carolina Auguello, analista de sistemas de 24 anos, escolheu a cidade para passar a lua de mel e não estava nem um pouco arrependido. – É uma cidade muito impactante e achamos o Cristo uma verdadeira maravilha. Subimos ao monumento de van e felicitamos a prefeitura da cidade pela organização dos meios de transporte – elogiou Insfran. A transformação do Cristo Redentor em santuário, em 12 de outubro de 2006, data de seu 75º aniversário, também ajudou a aumentar a visitação. – Desde então, percebemos um aumento de 20% na procura de peregrinos que fazem turismo religioso. Depois que a capela virou santuário, 8

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passamos a celebrar missas diariamente, além de batizados. O primeiro a se batizar aqui foi Matheus, filho do governador Sérgio Cabral, em janeiro de 2007. Somos o único santuário do mundo a céu aberto – orgulhase o padre Omar Raposo, reitor do Santuário Cristo Redentor. A ideia de construir um símbolo religioso no alto dos 709 metros do Morro do Corcovado foi sugerida à princesa Isabel pelo padre Pedro Maria Boss, em 1859. O projeto só começou a tornar-se realidade, no entanto, em 1921, com os preparativos para as comemorações do Centenário da Independência. Dois anos depois era organizado o concurso público que escolheu o projeto do engenheiro carioca Heitor Silva Costa, que concebeu a estátua de braços abertos, com altura semelhante à das antenas plantadas no alto do Corcovado. Seu modelo inicial passou por um detalhamen-

to feito pelo artista plástico Carlos Oswald, mas foi o escultor francês Paul Landowski quem deu o toque art-déco ao monumento, revestido de pedra sabão. Na época, a Arquidiocese do Rio de Janeiro mobilizou a população católica carioca a dar uma contribuição financeira para ajudar na execução do grandioso projeto, que é considerado um dos importantes capítulos da engenharia civil brasileira. Em 12 de outubro de 1931, dia de Nossa Senhora Aparecida, foi inaugurada a estátua de 38 metros de altura, sendo oito metros só de cabeça. Em 1937, a estátua foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (Iphan). Em 1980, o monumento passou por obras de recuperação para receber o papa João Paulo II. Se os próximos projetos de fato se concretizarem, o monumento voltará em breve a entrar em obras.


SOS Cristo

Presidente da Alerj lidera grupo de empresários para restaurar santuário Fotos: Rafael Wallace

Na cabeça, de oito metros, já é visível o descolamento das pastilhas de pedra sabão que compõem o revestimento da estátua

Symone Munay O símbolo da Cidade do Rio de Janeiro, orgulho do Brasil, uma das Sete Novas Maravilhas do Mundo Moderno, não está tão em forma como parece e merece. Depois de um encontro com o vigário episcopal e vicariato para Comunicação Social da Arquidiocese do Rio de Janeiro, padre Willian Marcos Bernardo, e o reitor do Santuário Cristo Redentor, padre Omar Raposo, o presidente da Assembleia do Rio, deputado Jorge Picciani (PMDB), comprometeu-se a liderar um grupo de empresários e arrecadar recursos, através de doações, para a reforma do monumento. Para isso, Picciani conversou com o presidente do Conselho Superior da Associação Comercial do Rio (ACRJ), Humberto Mota, para iniciar o trabalho de angariar doações. – O primeiro passo é mobilizar o empresariado para a importância do Santuário do Cristo Redentor, não só para o Rio, mas para o mundo, o que é inquestionável. Agora vamos partir para angariar os recursos que serão, inicialmente, destinados ao projeto executivo da obra. Precisamos saber, tecnicamente, o estado de conservação da estátua e suas necessidades – afirmou o presidente da Casa. O diagnóstico é preocupante, segundo afirmam os engenheiros do Santuário Cristo Redentor. Administrado pela Mitra Arquiepiscopal do Rio de Janeiro, sob a gestão do padre Omar, o monumento apresenta inúmeras avarias e inspira cuidados. A equipe da REVISTA DA ALERJ acompanhou uma vistoria realizada por técnicos à estrutura interna da estátua – de 38 metros de altura e 30 de largura (de uma mão à outra) –, onde foram constatados estragos em vários pontos. Na parte externa do monumento de 1.145 toneladas observa-se a necessidade

de reparos e restaurações. O teto e as paredes da Capela Nossa Senhora Aparecida apresentam infiltrações e fissuras. Além disso, diversas placas de granito no platô que dá acesso à estátua estão quebradas e outras tantas foram arrancadas. Situação que preocupa o reitor, que ressalta a urgência das obras de recuperação, visando a manter a segurança dos visitantes e a preservação do patrimônio público, no auge dos seus 78 anos de idade. – Cabe à Mitra a manutenção da estátua, que hoje necessita de reparos urgentes, principalmente pelas trincas em várias partes da estrutura e pelo descolamento das pastilhas de pedra sabão que compõem o revestimento – salienta padre Omar. Parte do mosaico da cabeça da estátua e dos dedos da mão direita está comprometida devido às intempéries. Dentro da escultura a ferrugem tomou conta da escada de cerca de 30 metros usada para a manutenção da estátua, que está parcialmente corroída, não oferecendo a segurança adequada. Também a oxidação de parte da estrutura do para-raio foi um item que chamou a atenção dos técnicos. – Considero emergencial a recolocação dos granitos no platô. Não vamos medir esforços para sensibilizar as autoridades e a sociedade civil pela preservação do Cristo, patrimônio de todos – concluiu o reitor. REVISTA DA ALERJ

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“A defesa da língua é a defesa da Nação” e ntrevista muniz sodré Como o senhor encara o uso exagerado de estrangeirismos no Brasil? Todo estrangeirismo é uma desestabilização sim, virtual, mas não quer dizer que irá desestabilizar a língua. O estrangeirismo começa sendo tratado como um artifício e funciona bem assim. Até entranhar no vernáculo, pode levar cem anos, como pode levar 20 ou 30. Isso, quem decide é o próprio povo. Toda língua é antropofágica, está sempre incorporando. Para isso acontecer definitivamente depende de muita coisa. Portanto, os estrangeirismos continuarão a ser incorporados ao nosso idioma. A grande diferença é saber usar como artifício ou acabar usando como uma coisa natural à nossa língua, quando não é. E, sobretudo, saber usar bem a própria língua independe de incorporar uma palavra ou outra. E isto está ficando cada vez mais difícil de se ver por aí. Quando leio uma tese de mestrado ou de doutorado bem escrita, confesso que 50% da minha simpatia já estão garantidos, claro que não adianta nada se ela não diz muita coisa, mas já é um grande conforto estar de frente para o bom português. 10

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A

Camila

de

Paula

REVISTA DA ALERJ foi à Biblioteca Nacional para uma conversa bem-humorada com o diretor da casa, o professor, sociólogo, jornalista e tradutor Muniz Sodré, sobre o uso de estrangeirismos no Brasil, cybercultura e outras influências que podem interferir no nosso idioma. Com cerca de 30 livros publicados no País e no exterior, ele escreveu inúmeros artigos na imprensa e em periódicos especializados, além de proferir conferências e cursos em universidades da Europa e da América Latina. Professor titular e coordenador do Programa de Pós-Graduação da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é um dos pioneiros no campo dos estudos de comunicação. Muniz é, sem dúvida, um dos mais respeitados professores e pesquisadores no Brasil. O baiano de São Gonçalo dos Campos domina sete idiomas, entre eles o yorubá, mas isto não faz dele radical com relação às “aventuras antropofágicas” da língua. Ao contrário, considera o estrangeirismo um bom artifício, dotado até de um certo charme, quando utilizado com inteligência e criatividade. Responsável, como orientador de dissertações e teses, pela formação de toda uma geração de novos pesquisadores, anda mesmo preocupado é com a falta de bons usuários da língua portuguesa.

Boa parte dos brasileiros se diz incomodada com o excesso de nomes estrangeiros na publicidade e no comércio em geral. O senhor também? Você encontra uma resistência muito maior em Portugal, por exemplo. Aqui no Brasil se fala mouse referindo-se àquela ferramenta eletrônica, enquanto em Portugal chamam de rato. Não sei por que razões culturais o Brasil é tão permeável a essas influências, e acho que junto com a linguagem da internet, sem dúvida nenhuma, isso representa um perigo para a esta-

bilidade da língua. Considerando que a escrita e o livro têm perdido muito a sua centralidade, isso é um perigo sim. Eu só não estou seguro é quanto a medidas legais na prevenção disso. Não se pode impedir que os comerciantes cometam esses absurdos de colocar nomes estrangeiros em lojas. Mas isso se deve ao grande prestígio das línguas, tanto francês, quanto inglês. E este prestígio depende de muita coisa, do poderio social e comercial e, às vezes, do poderio militar. Em grande parte, do poderio cultural. Os gregos perderam a batalha para


Fotos: Rafael Wallace

te. Porque o que ainda me preocupa não é isso, é a falta de preocupação da maioria com o bom uso do português.

os romanos, mas os próprios colonizaram os romanos pela língua. O inglês representa o poder da cultura de massa, comercial, mas não militar. Você pode ver como o idioma francês e o inglês são bem aceitos em produtos femininos e no comércio, respectivamente. Mas é claro que me incomoda quando um sujeito não coloca o nome de um bar de Chico, mas coloca um apóstrofo e pluraliza a palavra, ficando então Chico's, que não existe na nossa língua mas todos entendem como o “bar do Chico”.

Até que ponto se deve frear isso e preservar a comunicação formal? A língua não é um território fechado, principalmente quando este território colonizador é o inglês, porque é a língua que muitos países utilizam para relações externas e convenções internas, além de ser a língua do comércio internacional e da tecnologia. Então, eu acho que é impossível barrar os estrangeirismos, mas também acho que eles deveriam ser controlados academicamen-

Considerando as dificuldades que o brasileiro já tem com a utilização da própria língua, como lidar com a questão dos estrangeirismos no ensino, no Brasil? O inglês, assim como a redação, já está se tornando um critério de exclusão. Ainda não está comprovado, mas o uso vernacular da língua pode passar a ser um privilégio de um pequeno grupo. É um fosso, como o fosso da renda, que tenta se concentrar naqueles que são bons usuários da língua. E cada vez se encontram menos os bons usuários da língua. O problema é esse fosso! Há um grupo que sempre vai prestar atenção na língua e escrever certo, mas a grande maioria vai achar que estar na modernidade o livra deste "fardo" de escrever corretamente, enquanto estão sendo excluídos da comunicação formal. É um pouco como a roupa, como a aparência em um emprego. Eu sei que algumas empresas excluem pessoas com tatuagens, e olha que tem tanta gente com tatuagem por aí... Acho que a língua, em pouco tempo, será objeto de exclusão. Porque este núcleo seleto, formal e elitista é sempre assim mesmo, preconceituoso. E com relação à escrita também. Então, eu acho que o acesso à comunicação formal, à língua bem falada e bem escrita, deveria ser estimulado. REVISTA DA ALERJ

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Claro que me incomoda quando um sujeito não coloca o nome de um bar de Chico, mas coloca um apóstrofo e pluraliza a palavra, ficando então Chico's

De que maneira? Eu acho que o estrangeirismo, inicialmente, deve ser limitado a meios técnicos, jargões de grupos, como é o caso do economês. Com toda a proporção que ele tomou, quase já precisamos dele para identificar algumas coisas. Ou seja, é justo o estrangeirismo numa gíria de grupo, é justo quando a palavra estrangeira tem um emprego melhor, quando resume em uma palavra uma expressão ou descrição enorme, quando faz parte de um assunto específico. Na culinária, por exemplo, é válido dizer que vai colocar um bouquet garni na comida, ao invés de dizer que vai colocar um sortimento de temperos de vários tipos e qualidades. Esta é a grande diferença: usar como artifício ou impor ao seu idioma natural. E você tem que restringir isto ao artifício, e não trazê-lo para a sua língua natural. Eu não tenho nenhuma posição radical, mas acho que, sabendo usar como artifício e ter respeito à língua, está tudo bem. E a cyber-cultura? Acha que ela pode mudar o caráter das línguas com toda essa informalidade característica da "fala de rede"? Considera isso uma ameaça ao bom português? Eu acho que a cyber-cultura pode ser um novo esperanto. Sempre achei que o esperanto deveria ser 12

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usado internacionalmente, por ser bem simples. E porque considero muito boa a ideia de se ter uma língua internacional paralelamente. Mas não deu certo, porque a língua não é uma questão puramente técnica, depende de outras coisas, como já falamos. A cyber-cultura traz uma espécie de esperanto técnico, escrever sem acento, a omissão de pausas, que é a linguagem que os jovens usam muito. Eu acho que, mais à frente, isso pode influir de modo muito negativo sobre uma redação. Se é que a redação ainda vai ser importante – eu quero sempre apostar que sim. Enquanto for gíria de grupo, ainda pode ser controlada, e deve ser. Seja a do surfista, do povo da internet ou de qualquer outro grupo. É uma coisa que só se encontra num determinado grupo, e isso é difícil de ser evitado. Elas vão se impondo ao uso, e a incorporação disso quem vai decidir é o próprio povo. Ainda mais quando se trata de internet, onde tudo está tão globalizado. Além disso, as ferramentas provêm de uma matriz e essa matriz fala inglês. Acha que atividades de puristas como o movimento MV Brasil, de militância contra festividades estrangeiras como o Haloween, ajudam a complementar o gosto pelas nossas referências

culturais, ou é um exagero? Todos estes argumentos em defesa da língua, quando lastreados no conceito de Nação e de Pátria, esbarram com a globalização. Nós chamamos de cultura tudo aquilo que se faz até os limites da nossa língua. Só que essas fronteiras hoje em dia se batem com a globalização. E aí, vai brigar com a globalização? A defesa da língua, de certo modo, é a defesa da Nação. Se você ainda tem este território numa comunidade,


Eu sou de uma geração em que a língua brasileira era uma coisa muito querida

será importante do ponto de vista político? Como presidente da Fundação Biblioteca Nacional, sou a favor dele. Acho que não será muito bom para os outros países dentro do acordo, pois terão um impacto muito maior, sobretudo na literatura. Para os brasileiros o acordo está bem generoso. Mas, para que a indústria aceite, vai demorar um certo tempo.

ainda que imaginada como a TV, eu diria que está estabelecida uma língua. Eu, pessoalmente, sou de uma geração em que a língua brasileira era uma coisa muito querida. Para se preocupar com o vernáculo é preciso gostar de Machado (de Assis), Graciliano (Ramos), gostar da literatura. Mas mesmo a literatura é aberta ao estrangeirismo. O Cortázar (Julio Cortázar, escritor argentino), por exemplo, incorpora muitos italianismos na sua prosa,

como qualquer escritor contemporâneo incorpora anglicismos. Neste caso, o autor coloca italianismos quando vai falar de mulheres, quando faz um galanteio, o que é moderno. Isso dá um toque, dá um charme. O estrangeirismo pode ser charmoso. Desde que não passe de artifício. Com relação ao acordo ortográfico, o senhor acha que a unificação da língua portuguesa nos países lusófonos

O que pode mudar com o acordo? Para mim o mais significativo é o mercado editorial. Nós editamos muitos livros, a indústria editorial brasileira editou no ano passado cerca de 23 mil livros. O Brasil está na frente de muitos países. Com o acordo ortográfico, poderemos exportar mais para Portugal, Moçambique e Angola, que é o maior país de língua portuguesa da África. Neste sentido, nós, brasileiros, só temos a ganhar com este acordo. Acha que ele está completo e irá trazer as inovações necessárias? Sim, acho o acordo razoável. Estranho um pouco a falta de alguns tremas e acentos. Não estou acostumado a tirar, e sim a colocar, mas acho razoável. Os portugueses é que, me parece, têm estranhado mais ainda, acham que o acordo está "abrasileirando" a língua. REVISTA DA ALERJ

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org창nicos T exto F rancisco L uiz Noel Fotos R afael Wallace

verde Apetite

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A

procura corre na frente da oferta de alimentos orgânicos no Rio de Janeiro. Nascida nos anos 1970, nutrida por idealismo nos 80 e alçada a atividade econômica nos 90, a produção rural ecologicamente correta vive tempos de desafio, em face do aumento da demanda por parte dos consumidores. Produzir mais é pré-requisito para a conquista de mais espaço no mercado, mas uma voz é corrente entre produtores e dirigentes de instituições de apoio: organizar o setor, ampliar canais de distribuição e baixar preços são vitais para o aumento da presença dos orgânicos do estado nas mesas fluminenses. Os bons ventos do consumo são sentidos no dia-a-dia pelos pequenos produtores que abastecem o Grande Rio. “Colocamos no mercado tudo o que produzimos. Se tivéssemos 50% a mais, venderíamos”, diz em Petrópolis (região Serrana), no distrito da Posse, o empresário Paulo Aguinaga, da BioHorta, que comercializa no atacado a produção de 40 agricultores do Brejal, principal reduto de hortaliças orgânicas no estado. A empresa despacha nove toneladas por semana à capital, atendendo a uma rede de mais de cem consumidores e a 20 lojas de produtos naturais. Testemunhos sobre a pressão da procura não faltam. No município serrano de Sumidouro, onde dirige uma unidade embaladora de orgânicos fornecidos a lojas cariocas da rede Hortifruti, o produtor Renato Agostini não dá conta das encomendas. “Trabalhamos com 25 a 30 itens diferentes, mas o ideal seria termos 50”, reconhece. “Estamos sempre cortando pedidos.” Do Sítio Solstício, no distrito de Soledade, ele remete à rede mil unidades diárias de hortaliças e dúzias de ovos, incluídos os orgânicos de cinco produtores de Teresópolis e São José do Vale do Rio Preto. Agricultores como os da BioHorta, com 60 hectares de orgânicos, movimentam-se para saciar o apetite do consumo. “Estamos reprogramando plantios, agregando novas famílias, ampliando a área e melhorando a distribuição, para crescer 50% até o fim do ano”, aposta Aguinaga. Em Vassouras (Médio Paraíba), esforço semelhante mobiliza produtores no distrito de Massambará, de onde o projeto Orgânicos do Vale despacha cestas com hortaliças, ovos e frangos a 80 domicílios por semana. “Queremos chegar a mil em cinco anos”, planeja o coordenador do projeto, Marcos Antônio Araújo Nogueira. “O consumo está em expansão no Rio de Janeiro, onde a geração saúde é exponencial. O orgânico é aderente a esse perfil. Mas, de acordo com estudos, 60% do mercado são atendidos por empresas de fora”, afirma o gerente de Desenvolvimento Territorial do Serviço Brasileiro de Apoio à Pequena e Média Empresa (Sebrae) no estado, Antônio Batista Ribeiro Neto. A falta de números oficiais sobre colheitas, produtores, área e faturamento do setor mostra que há muito a

organizar. “Estima-se que o estado tenha de 200 a 250 propriedades certificadas”, diz Antônio Batista, acrescentando que o Sebrae apoia a certificação de mais 70. Por lei, os legumes, folhosas, frutas, leite, laticínios e outros artigos agroindustriais só têm status de orgânicos quando a produção e o processamento são validados por instituições certificadoras, avalizadas pelo Instituto Nacional de Metrologia, Normatização e Qualidade Industrial (Inmetro) com base na norma ISO-65. Abrir e azeitar canais de escoamento da produção é imperativo para que os produtores locais galguem posições no mercado, destaca a presidente da Associação de Agricultores Biológicos do Estado do Rio de Janeiro (Abio), Cristina Ribeiro. “A produção fluminense é pequena, comparada com a de estados como São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Produzimos menos do que o Espírito Santo e Minas Gerais. Fomos a vanguarda do movimento orgânico no Brasil, mas, hoje, temos muitos problemas de comercialização”, lamenta. Trinta anos atrás, no Rio, adeptos da alimentação natural e da causa socioambiental estiveram entre os precursores da difusão da agricultura orgânica no Brasil, como alternativa à pesada utilização de insumos industriais no agronegócio convencional. Nos anos 80, as lavouras verdes cresceram e os ideais do cultivo sem agrotóxicos foram espalhados em encontros regionais e nacionais. Sinal de que o movimento chegara para ficar foi a criação das primeiras certificadoras, como o Instituto Biodinâmico (IBD), que iniciou o serviço em 1990. O Brasil é o segundo país em área para a produção orgânica, atrás apenas da Austrália, de acordo com o Ministério da Agricultura, Pesca e Abastecimento, que estima em 6,5 milhões de hectares as terras para a atividade rural sem agrotóxicos. Os produtores brasileiros exportam produtos orgânicos como açúcar, frutas, suco de laranja, café e carne. Em paralelo, a regulamentação vem sendo aprimorada: os orgânicos contam com a Lei 10.831/03 e o Decreto 6.323/07, com várias exigências que começarão a vigorar em 2010. Além da certificação tradicional, o decreto prevê mais duas formas de validação da produção verde: o Sistema Participativo de Garantia da Qualidade Orgânica e, restrito à venda direta, o controle social. Voltados à agricultura familiar, os dois mecanismos de garantia são uma alternativa ao custo elevado da certificação formal. Com as inovações legais, certificar uma pequena propriedade de orgânicos vai custar entre R$ 1 mil e R$ 1,5 mil anual, devido a várias exigências feitas às certificadoras, para que os mecanismos de certificação nacional sejam equiparados aos padrões internacionais. Os sistemas participativos despontam como caminho natural para os produtores fluminenses. Hoje, ao custo médio de R$ 360 anuais, a maioria dos 200 filiados detém certificações da Abio, conforme as regras ainda em vigor.

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Sócio do ator Marcos Palmeira, o agrônono Aly Ndiaye criou um sistema agroecológico sustentável

Nada se perde e tudo se transforma Agroecologia é lei na Fazenda Vale das Palmeiras, na localidade de Sebastiana, em Teresópolis, onde a integração das diversas atividades está na base da produção de queijo frescal, iogurte, ricota e 30 tipos de hortaliças. O esterco aduba o plantio, as sobras de horta viram nutrição animal e as galinhas catam carrapatos das vacas. “O que procuramos é cortar a entrada de insumos”, ensina o agrônono Aly Ndiaye, gerente e sócio do ator Marcos Palmeira na propriedade. Na combinação entre pecuária e lavoura, inspirada na agricultura biodinâmica, as 50 vacas Gir comem capim, cana, feijão-guandu e 16

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outras leguminosas. Nos canteiros, a céu aberto e em estufas, o mato protege as hortaliças de insetos e só é retirado quando compete com elas. “Não usamos nem os insumos orgânicos permitidos pelas certificadoras. Só trabalhamos o solo, com adubo verde e rotação de cultura”, diz Aly. Para abastecer com 1,5 mil unidades de hortaliças e 200 de laticínios feitos na fazenda os supermercados Zona Sul, no Rio, a Vale das Palmeiras emprega 30 trabalhadores com carteira assinada. “Não são peões: são empreendedores. Agroecologia é qualidade de vida”, assinala o gerente. A

área produtiva ocupa 15 dos 300 hectares da fazenda, dotada de refeitório e casas para moradia dos casados. Desde 2006 na fazenda, comprada por Marcos Palmeira em 1997, Aly Ndiaye se alterna entre a gerência e a difusão do sistema Produção Agroecológica Integrada e Sustentável (Pais). Criada por ele, essa tecnologia social está sendo levada a mil famílias de cinco estados, com apoio da Petrobras e da Fundação Banco do Brasil. O Pais já é praticado em várias partes do Brasil, replicando, em miniatura, a experiência em curso na Vale das Palmeiras.


Cestas do produtor ao consumidor Mais vistosa vitrine de orgânicos no estado, o Sítio do Moinho, em Itaipava, Petrópolis, dá exemplo de como a entrega de cestas em domicílio pode ser alternativa à venda convencional. Três anos depois de ter trocado o fornecimento a supermercados pela relação direta com o consumidor, o sítio tem 600 clientes em carteira e comercializa 180 cestas por semana na zona Sul carioca, além de abastecer 40 restaurantes. A aposta na oferta domiciliar resgata a motivação que levou o exbanqueiro Dick Thompson e a mulher, Angela, a comprar a propriedade e iniciar o plantio natural, no fim dos anos 1980. Como fornecedor da rede Zona Sul, de 1997 a 2006, o sítio chegou a enviar 25 mil unidades de hortaliças por semana ao Rio, somadas a produção própria e a de 20 parceiros, que cultivavam com acompanhamento em propriedades da região. O baque da virada rumo ao comprador final foi grande. Dos 110 empregados, 60 foram dispensados. “O faturamento caiu 60%. Tivemos que ajustar a produção entre três e cinco mil unidades por semana”, lembra Dick. No trato direto com a clientela, 80% das vendas são via telemarketing e o restante pela internet. Com cinco hectares de área produtiva, estufas, câmaras frias para o processamento dos produtos e veículos de entrega, a propriedade tem 53 empregados com carteira assinada e é uma das poucas a deter o selo EcoSocial do IBD. Além de hortaliças, o cardápio do sítio inclui pães orgânicos e a revenda de produtos importados. A padaria é uma das primeiras certificadas no País, aberta em 2003 nos moldes das

O ex-banqueiro Dick Thompson comercializa 180 cestas por semana na zona Sul carioca e abastece 40 restaurantes

panificadoras do gênero na Itália. “Fazemos o pão com mais rigor, porque as medidas não podem ser alteradas”, diz o padeiro Sivaldo Bonfim dos Santos, com sete auxiliares e consultoria da chef italiana Elena Ruocco. O mercado de cestas é o caminho trilhado também pela Associação Orgânicos do Vale, em Massambará, Vassouras. A aposta no potencial de demanda por hortaliças, ovos e frangos no Médio Paraíba mobiliza 14 produtores familiares do distrito e outros 12 em processo de certificação, num movimento que tem como base de operações a Fazenda São Fernando, do empresário Ronaldo Cezar Coelho. A maioria das 80 cestas semanais é encomendada por telefone e entregue nos municípios da região num utilitário movido a gás natural. “Começamos a investir na venda direta em 2006. O preço é melhor do que o obtido no atacado e menor do que o cobrado nos supermercados,

passando a margem do atravessador para o produtor”, diz o coordenador da iniciativa e gerente da fazenda, Marcos Antônio Araújo Nogueira. A produção mobiliza 35 pessoas, na fazenda e nas propriedades ao redor. Um dos convertidos aos orgânicos é Pedro Soares de Andrade, que plantava tomates no sistema convencional, como a maioria dos proprietários e meeiros do lugar. As garantias de compra e preço dadas pela associação foram o principal atrativo para a conversão, além do uso de compostos e defensivos naturais. “Antes, gastava muito com remédios, ganhava pouco na hora de vender e ainda tinha medo de alguém entrar na lavoura e passar mal, por causa dos produtos. Agora, os remédios dos orgânicos a gente faz em casa. E já planto sabendo que vou vender tudo, com bom preço”, ele compara, para arrematar: “Do convencional, não planto nunca mais”. REVISTA DA ALERJ

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José Sávio vai ampliar o cafezal e o analista do Sebrae José Alcino Nascimento aposta no milho e no arroz

Muito a plantar para Arroz, feijão, milho, hortaliças, banana, laranja, café. O cardápio de orgânicos do Noroeste é diversificado, mas, para o negócio deslanchar, depende da organização dos produtores e do aumento da oferta. Exemplo de superação de fronteiras e conquista de mercado é a cafeicultura, que, de Porciúncula, remete grãos e pó torrados para o Grande Rio. “Nossa produção de bananas e frutas pode atender o Rio, além da

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região, enquanto a de milho tem tudo para abastecer os produtores de ovos e carne do estado. No arroz e no café, temos potencial para a exportação”, aposta o analista de agronegócios do Sebrae José Alcino Nascimento. Fruto dessa movimentação foi, em 2006, a criação da Cooperativa Regional da Agricultura Familiar (Cooperafa), que detém a marca Bio21 e desenvolve uma linha de produtos orgânicos. A região conta

com 25 certificações da Abio – número ainda é modesto, frente à extensão do Noroeste. O café é o carro-chefe dos orgânicos da Bio21, para orgulho de Suhail e Ana Regina Majzoub, da Fazenda Iranita, em Purilândia, Porciúncula. Dos 20 mil cafeeiros, cultivados com seis parceiros, os grãos seguem para torrefação em Juiz de Fora (MG). “Ainda não temos produto suficiente para suprir


O café é o carro-chefe dos orgânicos da Bio21, para orgulho de Suhail e Ana Regina Majzoub

colher no Noroeste o mercado”, diz Suhail, que planeja aumentar a plantação. Outro cafeicultor verde é o técnico agrícola José Sávio Vieira. Coordenador de orgânicos da Cooperafa, ele cultiva 2,8 mil pés em regime agroflorestal, consorciado com espécies como o feijão-guandu. O produtor, que obteve 600 quilos do grão na última colheita, se prepara para ampliar o cafezal. O arroz também promete. Em

Porciúncula, na Fazenda do Macuco, o casal José Edésio Duarte e Edna Pereira pratica a rizicultura orgânica há 12 anos. Certificado pelo IBD, o produto marca presença em feiras como a Biofach, mas, em grande parte, ainda é vendido como convencional. “Nosso entrave é não ter como embalar”, diz Edna, que tenta financiamento para o maquinário. Tocada por 25 meeiros, a rizicultura chega a ocupar 60 hectares

da fazenda, tendo produzido 400 toneladas em 2007. Em Miracema, o arroz orgânico pega carona no resgate da rizicultura pela prefeitura, estado e ministérios e o Sebrae, numa articulação que vai render uma unidade de beneficiamento à Cooperafa. A rizicultura orgânica cobre 3,5 hectares. “Com o beneficiamento, pode ser que o orgânico seja valorizado”, espera o agricultor Vicente Toscano.

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Da serra ao supermercado A virada logística do principal cliente pôs nas mãos do biólogo Renato Agostini um desafio vencido a cada tarde, quando o caminhão carregado parte do Sítio Solstício, em Soledade, Sumidouro, para o Rio. Há mais de 20 anos no ramo, Renato está à frente da unidade embaladora que, desde agosto de 2008, recolhe, higieniza, ensaca e despacha os orgânicos até as prateleiras da rede Hortifruti. Para a rede, que mantinha uma embaladora de orgânicos ao lado da unidade de hortaliças convencionais, o repasse do serviço racionalizou operações, encerrando o périplo às lavouras. “Éramos o maior e mais assíduo fornecedor deles e entregávamos no local”, Renato explica por que foi escolhido “Concentrei o negócio. Isso nos deu um grande impulso em quantidade e qualidade.”

Ponto de convergência de hortaliças e ovos orgânicos de cinco produtores de Teresópolis e São José do Vale do Rio Preto, o Solstício remete à rede a média de mil unidades diárias, incluídos os produtos do sítio. “Em outubro, chegamos a mandar 1,8 mil por dia”, conta Renato, dando ideia do tamanho da demanda e do déficit de produção. No verão, os estragos nas lavouras baixaram as remessas a 600 unidades. Com três hectares plantados e certificados pela Abio, o Solstício dá trabalho a 20 pessoas, incluídas as atividades da embaladora, do escritório e da produção de brotos – um filão criado por Renato nos anos 90. À frente dos oito meeiros do sítio, que também fornece a lojas do Rio e de Teresópolis, está Jordinei Rosa da Slveira, 32 anos, convertido há seis aos orgânicos.

Os canteiros são adubados à base de composto de esterco de boi e restos vegetais. “O serviço é dificultoso, tem que tirar mato com a mão”, resume Jordinei. “Muitos não entram na agricultura orgânica por causa da trabalheira. Outros desconfiam, acham que não dá certo.” Um dos meeiros é Manoel Miguel da Rosa, 49 anos, tio de Jordinei, também há seis no plantio orgânico. “Dá mais trabalho e se colhe menos, mas é melhor para a saúde. No convencional, se planta com mais fartura, mas tem que jogar veneno”, Manoel compara, referindo-se aos herbicidas e defensivos. Sempre atento ao crescimento do mato, o agricultor cuida de nove grandes canteiros de coentro e rúcula. “No convencional, dava para cuidar de duas ou três vezes mais”, diz.

Jordinei Rosa da Slveira retira com a mão o mato que brota nos canteiros adubados com esterco


Caminhos e atalhos até o comprador final As dificuldades dos agricultores para alcançar o consumidor são uma das barreiras de contenção ao crescimento das lavouras. “Numa cidade do tamanho do Rio, só temos uma feira em local público para produtos orgânicos, na Glória (zona Sul), enquanto São Paulo conta com o circuito paulistano de feiras-livres orgânicas”, compara a presidente da Abio, que reivindica apoio semelhante da prefeitura carioca. Venda em feiras-livres, fornecimento para a merenda escolar, entrega de cestas em domicílio, presença em programas governamentais – a abertura de oportunidades como essas é fundamental para o fortalecimento da produção orgânica, aponta Cristina Ribeiro. Na busca de atalhos em direção ao consumidor, muitos produtores buscam passar longe dos supermercados, que, nos anos 90, tiveram papel decisivo na difusão dos orgânicos. “O supermercado dá volume à produção, mas a relação é desigual”, queixa-se Paulo Aguinaga, que forneceu produtos do Brejal a uma grande rede no Rio, em parceria com a Horta Orgânica, de São José do Vale do Rio Preto. Mas, para outros produtores, abastecer supermercados é viabilizar o negócio, dependendo das condições pactuadas. Em Teresópolis, na Fazenda Vale das Palmeiras, do ator Marcos Palmeira, o gerente e sócio Aly Ndiaye não se queixa da rede Zona Sul, que absorve 90% da produção. Da propriedade, no lugarejo de Sebastiana, descem a serra 1,5 mil unidades de hortaliças e 200 de queijo frescal, ricota e iogurte por dia, sem reposições ou bonificações. Em

Para Marcos Antônio Nogueira, o custo alto dos orgânicos é uma lenda nome do poder de barganha frente às grandes redes, Aly prega a união: “O que falta é trabalhar o associativismo, a oferta bem organizada”. Sinônimo de oportunidades para alguns e de frustração para outros, as grandes redes são associadas à pecha de artigo caro e inacessível. A presidente da Abio atesta um dos obstáculos à adesão de muitos consumidores: “Todo mundo diz que prefere o orgânico, se for perguntado, mas logo acrescenta: ‘não posso pagar’”. “Isso de ser mais caro é lenda. Quem ganha com preço alto é o

distribuidor e o supermercado. O orgânico tem mais custo de mãode-obra, mas o convencional gasta muito com adubos e defensivos”, compara Marcos Antônio Araújo Nogueira, de Vassouras. A presidente da Abio resume o desafio a vencer. “O mercado de orgânicos acabou adquirindo a conformação de nicho, com produto caro, para consumidor bem informado e de alta renda. Como em todo nicho, só alguns conseguem sobreviver bem, os que são mais eficientes e têm capital e recursos como irrigação, estufas, veículos e outras facilidades”, analisa. REVISTA DA ALERJ

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À moda caipira Quando se lançaram à avicultura orgânica, no fim dos anos 90, no Sítio Aa Haca, em São José do Vale do Rio Preto, os veterinários Benedito Leônidas Luz, o Kiko, e Eline Mochel de Menezes tinham 200 poedeiras Isa Brown e entregavam a pequena produção em lojas da capital. Uma década depois, o sítio é um dos poucos produtores de frango orgânico em todo o Rio de Janeiro. A criação, mantida com um casal de colonos e certificada pela Abio, possui 600 poedeiras, que botam 160 dúzias de ovos por semana, e 1,5 mil animais de corte, das raças Label Rouge, Hissek e carijó. À base de milho e ração orgânica, as penosas vivem em piquetes com capim Tifton 85, em rodízio de pastos. O abate semanal varia de 150 a 200 aves, pesando de 1,2 quilos (galetos) a 2,6 quilos. Kiko e Eline viabilizaram a avicultura orgânica de corte graças à vizinhança com a criação convencional de São José, município pioneiro em avicultura industrial no Brasil, nos anos 50. “A vantagem é ter quatro abatedouros aqui e estar a apenas 135 quilômetros do Rio”, aponta Eline. Depois do abate, os frangos orgânicos descem a serra em bolsas térmicas, rumo a churrascarias e restaurantes cariocas. O casal faz questão de cultivar o relacionamento com a freguesia. “Existe conversa”, Kiko valoriza. “Todos os meus clientes me conhecem. Isso é importante para 22

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Pioneiro em avicultura industrial, São José do Vale do Rio Preto, com seus abatedouros, viabilizou a avicultura orgânica de Kiko Luz quem está na produção, porque dá retorno sobre o que as pessoas estão achando.” Além de entrar semanalmente na cesta de produtos do Sítio do Moinho, desde 2004, os ovos das poedeiras de Eline e Kiko abastecem lojas em bairros como Leblon e Humaitá. A diferença dos ovos e da carne orgânicos não se limita às vantagens para a saúde, pela ausência dos antibióticos e hormônios de crescimento das rações convencionais. De sabor pronunciado, as

gemas são amarelo vivo e a carne tem textura firme, fortificadas pelo manejo caipira, que permite às aves andar e ciscar. O amadurecimento do negócio mostrou ao casal, porém, que a avicultura natural está longe de fechar a cadeia produtiva no estado. Kiko e Elina importam o milho de Minas Gerais. “Queríamos trabalhar com produtores do estado, mas foi inviável”, lamenta o avicultor, frustrado pela inconstância no fornecimento do produto plantado em solo fluminense.


Toda a família de José Nilton (de boné) aderiu de vez aos orgânicos por causa do preço firme

Celeiro verde na serra Três décadas de enraizamento da lavoura verde fizeram do Brejal, na Posse, Petrópolis, o maior celeiro de hortaliças orgânicas do estado. Numa adesão em cadeia, iniciada pelas mulheres, mais de 150 famílias criadas no cultivo tradicional trocaram os adubos e defensivos químicos pelos compostos e caldas naturais. O produto final da conversão coletiva desce ao Rio para supermercados, lojas e consumidores organizados em rede. A semente foi lançada em 1979, pelo verde Paulo Aguinaga, que alugou um sítio no Brejal para plantar sem agrotóxicos. Ele descobriu que, enquanto os homens praticavam o plantio convencional, as mulheres não usavam produtos químicos nas hortas domésticas. Paulo começou a pregar entre elas e, aos poucos, fez da produção orgânica uma marca do lugar. Paulo Aguinaga criou a BioHorta, que convive no Brejal com outras iniciativas empresariais que mobilizam

produtores orgânicos, como a Vida Saudável e a Fazenda do Cafundó. A BioHorta comercializa no atacado, três vezes por semana, a produção de 40 famílias certificadas pela Abio, totalizando 36 toneladas mensais. Os orgânicos fincaram raízes quando mulheres como Virgínia Rodrigues de Lima aumentaram as hortas para que Paulo escoasse a produção, de ônibus, na Associação de Produtores e Consumidores de Ideias e Soluções Naturais (Coonatura), no Rio. Os homens, como o marido de Virginia, José Nilton, superaram a desconfiança inicial e resolveram experimentar o plantio sem agrotóxicos. O adeus aos pesticidas químicos foi um alívio, mas o grande atrativo foi o valor dos produtos. Paulo estabeleceu com eles um preço fixo, impensável quando levavam os produtos convencionais à Central de Abastecimento (Ceasa), no Rio. “O orgânico tem preço firme, na safra e na entres-

A semente lançada em 1979 pelo verde Paulo Aguinaga germinou no Brejal safra. Na Ceasa, há dias em que não dá nada”, resume José Nilton, que aderiu de vez em 1990. A família faz o perfil típico dos produtores orgânicos do Brejal. Com o casal, cultivando 2,5 hectares, trabalham os filhos Marcelo, Márcia e Fabiana, a nora Luciana e o genro Joel. São 120 caixas de hortaliça por semana. “Cada um tira um salário”, Virgínia se orgulha. REVISTA DA ALERJ

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Zô Guimarães

‘Energia barata, eficiente e ecologicamente correta’ Geraldo Tavares (foto) é professor da Universidade Federal Fluminense e há 15 anos estuda o potencial de implantação da energia eólica no Brasil. "A eletricidade gerada com a força dos ventos é barata, eficiente e ecologicamente correta. Para se tornar realidade, precisa apenas que o Governo estabeleça um marco regulatório", afirma. Diz-se que o País tem potencial para instalar a energia eólica. E o Rio de Janeiro? É propício a esse tipo de geração de eletricidade? O Brasil é excelente, sobretudo por causa da velocidade média dos

ventos. Mas há regiões em que os ventos são constantes, o que torna possível construir máquinas mais baratas. O estado do Rio tem ótimos locais para a instalação de parques eólicos: na região das Baixadas Litorâneas, Arraial do Cabo, Búzios e Cabo Frio; no Norte do estado, destaco São Francisco de Itabapoana, onde há praias ainda não tomadas pela especulação imobiliária.

mão-de-obra para a manutenção. No mundo, esta indústria emprega hoje 400 mil pessoas. E o lugar ideal para instalação das usinas é o interior, onde há carência de vagas de trabalho. E mais: os parques chamam atenção e atraem turistas. O que o poder público pode fazer para viabilizar o desenvolvimento da energia eólica no País? A lei de energias renováveis. Com uma lei adequada, o resto é resolvido pela iniciativa privada. Um bom exemplo é o gás natural: com os subsídios certos, o estado do Rio lotou as ruas de carros a gás.

Que benefícios um parque de aerogeradores traz para a região? Cada megawatt produzido gera 1,3 empregos. Mesmo depois da instalação dos aerogeradores é preciso

Palácios sustentáveis Os edifícios da Alerj vão entrar na era do uso racional de energia. O Palácio Tiradentes, sede do Parlamento fluminense, o Palácio 23 de Julho (Anexo) e o Edifício Engenheiro Leonel de Moura Brizola (Rua da Alfândega, 8) vão integrar o Programa Estadual de Racionalização do Uso de Energia (Proren), que está avaliando o potencial de conservação de energia elétrica em 1.646 escolas públicas, 33 hospitais, 47 presídios e seis edifícios 24

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administrativos do Executivo fluminense. Os próximos passos incluem a formalização de parceria para avaliação do potencial de economia de energia nos edifícios, planejamento para efetuar as mudanças necessárias e avaliação da economia alcançada. A iniciativa surgiu a partir da reunião da Câmara Setorial de Infraestrutura e Energia do Fórum com a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, que coordena o Proren.


Rafael Wallace

Pecuária leiteira em alta

Empregos do petróleo A Petrobras anunciou investimentos de US$ 28 milhões em 2009 e a maior parte deste dinheiro deve ficar no Rio de Janeiro, estado que concentra 80% da produção de petróleo do País. A informação foi divulgada a prefeitos, deputados estaduais, vereadores, secretários municipais e estaduais durante a apresentação do Plano de Negócios 2009-2013 da empresa, feita pelo

presidente José Sergio Gabrielli, na Alerj. “A construção do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), no município de Itaboraí, deve gerar 43 mil postos nos próximos quatro anos. Segundo os estudos feitos pela Fundação Getúlio Vargas, isso vai induzir a criação de cerca de 720 empresas no entorno do Comperj, no Rio de Janeiro”, afirmou o presidente da Petrobras.

Frota verde O Rio de Janeiro terá, a partir de maio deste ano, 15 ônibus circulando com combustível mais limpo. A frota rodará por um ano com o biodiesel B-20, uma mistura de diesel com 20% de biodiesel. Serão analisados a performance, o rendimento e o desempenho ambiental dos veículos comparativamente ao uso do óleo diesel convencional. Atualmente todos os ônibus do estado já utilizam

a mistura de biodiesel B-3. “Em 2007 a Fetranspor realizou importante experimento com o biodiesel B-5 em cerca de 3,5 mil ônibus, considerado o maior experimento com biodiesel do País”, afirma o diretor de mobilidade da Fetranspor, Arthur Cesar.

Os pequenos produtores de leite do Rio já podem dar um “desconto” de quase 20% para as empresas e laticínios instalados em território fluminense. Tratase do crédito de ICMS, que pode ser abatido integralmente pela empresa, desde que ela compre de produtores locais. O ICMS do leite, que passou a ser de 18% com a retirada do produto da lista da cesta básica, ganhou adicional de mais 1% para aumentar a dedução. A vantagem foi viabilizada por uma série de mudanças na legislação, em vigor desde março. As medidas também instituíram o aproveitamento total de créditos do ICMS e crédito extra de mais 2%, para o empresário ou produtor fluminense que decidir fazer investimentos em empresas lácteas no estado. A reivindicação havia sido apresentada aos parlamentares em novembro de 2008 pela Faerj, na audiência pública Rio Competitivo, realizada pelo Fórum de Desenvolvimento do Rio.

✎ O Fórum de

Divulgação

Desenvolvimento do Rio atualiza em tempo real o Twitter, nova febre da internet, com registro de todas as atividades das câmaras setoriais. Para acompanhar, basta acessar www.twitter.com/ forumdesenv

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O aterro reúne cerca de 15 mil trabalhadores e movimenta R$ 1,4 milhão por mês

MEI O AMBI ENT E T exto Pedro Sprejer Fotos Rony M altz

A economia do lixo Maior aterro sanitário da América Latina, Gramacho é cheio de surpresas, como um manguezal que renasce com vigor entre o lixo e a Baía de Guanabara

O

nze horas da manhã de uma sexta-feira de janeiro no bairro de Jardim Gramacho, em Duque de Caxias, Baixada Fluminense. Sol avassalador. Na maltratada estrada de barro, bodes, cavalos, porcos e pessoas de todas as idades perambulam junto a uma densa nuvem de poeira e fumaça de cano de descarga. Uma grande fila de caminhões ingressa lentamente pelo portão do Aterro Sanitário de Gramacho. Alguns estão vindo despejar lixo, outros vêm vazios para buscar o material que será levado para depósitos de reciclagem. Antes de entrar, 26

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os caminhões são pesados por uma balança eletrônica – são mais ou menos mil pesagens por dia. Gramacho recebe diariamente cerca de oito mil toneladas de resíduos sólidos, enviados por seis municípios: Rio (70% do lixo carioca), Caxias, Nilópolis, São João de Meriti, Queimados e Mesquita. Um estudo realizado pela empresa SA Paulista, em 2004, revelou que o Aterro de Gramacho reúne cerca de 15 mil trabalhadores e movimenta R$ 1,4 milhão por mês. São pessoas que atuam em depósitos de lixo, depósitos de reciclagem, supermercados e bares, prostitutas, caminhoneiros

e diversas outras funções. O aterro ocupa uma área de 1,3 milhão de quilômetros quadrados e conta com 22 quilômetros de estrada de terra em seu interior. Trata-se de uma impressionante montanha de 55 metros de altura, composta por resíduos que são despejados todos os dias há mais de 30 anos, cobertos por milhões de toneladas de argila. A argila vem de uma jazida em Belford Roxo e é comprada a R$ 9,50 a tonelada. Por dia, são despejados até 20 mil metros cúbicos de argila. Instalado em 1978 e construído sobre uma área de manguezal, Gramacho já foi o maior lixão do


No meio de um mar de lixo, sob uma temperatura de 40 graus, centenas de catadores ganham seu sustento País. Até 1995, os detritos eram simplesmente jogados no local, sem que fossem tomados grandes cuidados com o impacto ambiental. Em suma, o lixão era uma verdadeira catástrofe ambiental que anunciava uma tragédia ainda maior: caso não houvesse uma intervenção, o solo poderia ceder, o que provavelmente dizimaria uma grande área de vegetação e atingiria boa parte da Baía de Guanabara. Diante de tal risco, teve início a missão, assumida pela Prefeitura do Rio de Janeiro, de transformar o lixão no maior aterro sanitário da América Latina. Uma escola Em sua sala, dentro de uma pequena casa na entrada do aterro, o coordenador de Projetos de Gramacho, Lúcio Vianna, mostra com orgulho fotografias aéreas do local, feitas na época do lixão e recentemente. “Gramacho é uma escola. É uma referência de operação, não de localização. Toda empresa que trabalha com aterro sanitário

deveria passar um tempo aqui”, entusiasma-se. Lúcio começou a trabalhar na Comlurb como mecânico de máquinas, no extinto Aterro do Caju. Há mais de 20 anos lidando com o tratamento do lixo, ele hoje é responsável por coordenar a gestão do aterro. O trabalho dos técnicos é árduo. Para evitar qualquer vazamento, ou rachadura, a área precisa ser controlada 24 horas por dia através de medições e relatórios. Nos últimos anos, a imprensa noticiou algumas vezes riscos de acidentes ambientais no local, que é geotecnicamente instável. Com a sua vida útil prevista tecnicamente esgotada desde 2004, Gramacho merece uma série de cuidados especiais, como acompanhamentos diários de potenciais deslocamentos verticais e horizontais do solo. O aterro está em processo de desativação, à espera da inauguração de um novo local. Há anos está em trâmite um projeto para construção de um novo aterro em Paciência, na zona Oeste do Rio.

Enquanto a solução não sai do papel, Lúcio e sua equipe trabalham incessantemente para equilibrar a grande montanha de lixo e argila sobre um solo lodoso – mais ou menos como um objeto bastante pesado em cima de uma gelatina. Um aterro sanitário ideal deve possuir uma série de características técnicas que garantam o isolamento entre o lixo e o solo, para que os lençóis freáticos não sejam contaminados pelo chorume, o líquido extremamente tóxico gerado pela decomposição do material. Para tanto, o solo deve ser impermeabilizado por uma camada de polietileno de alta densidade. Como o local do aterro não foi planejado, mas adaptado para uma situação emergencial, foi necessário um grande investimento na busca de soluções. Uma delas é a estação de tratamento do chorume, uma pequena usina que, através de complexos processos químicos, filtra o líquido residual, transformando-o em água potável. Ao lado das máquinas há um grande REVISTA DA ALERJ

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É mais fácil ganhar a vida aqui, mas só vou ficar por três meses. Depois me mando para Ribeirão Preto José Pereira

e mal cheiroso lago negro, composto pelo chorume que é captado entre os resíduos. É impressionante ver a água saindo cristalina depois de sofrer o processo que filtra até 97% da matéria orgânica. Um outro projeto que está sendo implementado é a queima do biogás, constituído por metano, gás carbônico(CO2) e água (vapor), produzido pela decomposição de matéria orgânica. Serão construídos 225 poços de captação. A queima do gás, ou sua conversão em energia, poderá ser vendida no mercado internacional de Créditos de Carbono, como previsto no Protocolo de Kioto. Lúcio aponta para os caminhões que estão perfurando o solo para instalar tubos por onde o gás a ser queimado irá passar: “Isso é o futuro, o aterro vai gerar energia, e um dia você vai ver isso aqui sem lixo, com uma pracinha, uns brinquedos...”. Dinheiro limpo A paisagem de Gramacho é impressionante. Tudo em volta é barro. Caminhões e urubus são onipresentes, assim como mos28

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cas e outros insetos. Ao lado do aterro, torres de uma refinaria da Petrobras soltam altas labaredas. Ao longe, à esquerda se vê a bela Serra dos Órgãos, com o Dedo de Deus ao fundo. Do outro lado, se pode vislumbrar o Pão de Açúcar. Em frente, no horizonte, está a Baía de Guanabara. A subida até o ponto onde os caminhões estão despejando o lixo tem que ser feita de carro. Lá em cima estão os catadores que sobrevivem retirando do aterro material que vendem para depósitos de reciclagem. Nas imediações existem cerca de 40 depósitos. No meio de uma infinidade de lixo – produto de apenas um dia de coleta –, sob uma temperatura que facilmente chega aos 40 graus, centenas de catadores separam dos resíduos o seu sustento. O cheiro é indescritível e os insetos formam nuvens imensas e assustadoras. Os catadores não possuem máscaras, luvas ou roupas especiais. Nem mesmo um local próximo onde possam beber água. São cerca de 1.300 catadores cadastrados, que retiram

em média 200 toneladas de lixo por dia. Alguns, 160, são membros de uma cooperativa, têm carteira assinada e direitos trabalhistas. Outros fazem parte de frentes de trabalho independentes. Para se proteger do sol, eles carregam barracas de praia e usam gorros. Botas nos pés e meiões de futebol evitam cortes. O lixo que separam é guardado em tonéis que eles carregam nos ombros e na cabeça. Caminhões enormes despejam toneladas de lixo incessantemente. O chão treme com o tráfego intenso. “Quando despeja o lixo, eles caem dentro”, explica Marcos Francisco Cherém, técnico da Comlurb, que trabalha há 22 anos no aterro. Os catadores se deslocam em função do local determinado na hora para o despejo dos resíduos. Quando eles terminam de retirar o que acham que pode ter algum valor, a montanha de lixo está pronta para ser aterrada pelos caminhões de argila. José Pereira, 37 anos, chegou da pequena Lagarto, no sertão de Sergipe, há apenas um mês. Veio para o Estado do Rio a convite de um irmão, também catador. Pai de quatro filhos, José considera o trabalho de cortador de cana que realizava antes mais duro e perigoso do que o que faz atualmente. Mesmo assim, não quer ficar muito tempo por aqui: “É mais fácil ganhar a vida aqui, mas só vou ficar por três meses. Depois me mando para Ribeirão Preto. Soube que lá tem muitos canaviais que


estão precisando de mão-de-obra, e eles pagam melhor”, conta José. Morena bonita, Carolina Lessa, de 27 anos, trabalha catando lixo há três meses. Ela afirma que veio para Gramacho porque foi o único local em que arrumou emprego após ter perdido todos os documentos. “É um trabalho sujo, com certeza, mas é um dinheiro limpo”, repete a frase, que parece ser uma espécie de lema dos catadores. Uma senhora simpática aparece sorridente mostrando alguns pares de elegantes sapatos femininos – até que bem conservados. Quem os teria jogado fora? E por qual motivo? Não se sabe, nunca se saberá: os objetos aqui já não têm história, seu valor é apenas material. Na economia da reciclagem, um quilo de plástico vale entre R$ 0,20 e R$ 0,25. Quando chove e o calor dá uma trégua é melhor para trabalhar, mas o material molhado é vendido por um preço menor, explicam os catadores. Garrafas PET, plástico fino e alumínio são os produtos mais valiosos. “Toda enzima é uma proteína,

mas nem toda proteína é uma enzima” – assim está escrito com letra bem feita em uma folha de caderno, com data de 24/4/04. Ao lado, uma singela placa de madeira com nomes pintados em várias cores e a inscrição “Chamadinha”. No mar de lixo que os caminhões despejam, encontra-se de tudo: um guarda-chuva, uma boneca aleijada, uma torradeira, uma vassoura que ironicamente foi parar no lixo, fraldas, raquetes quebradas, fitas VHS, restos de tudo o que é possível consumir. “Época de festas é bom porque o pessoal usa muito plástico: copo, garrafa, essas coisas. Fortalece para nós”, comenta Luís Pinto, morador de um barraco no Jardim Gramacho, trabalhando no aterro desde os 12 anos. Resistência A poucos metros do aterro, na beira da Baía de Guanabara, a natureza nos dá uma prova de resistência e recuperação. Ali, entre o lixo e as águas poluídas, milhões de caranguejos e outras espécies substituem os urubus e os mosqui-

tos em um grande manguezal, um oásis que se desenvolveu graças à ação do homem. O mangue é resultado de um processo de mais de 10 anos de plantio de mudas e reflorestamento da vegetação, liderado pelo biólogo Mário Moscatelli. Num frágil caminho de palafitas de madeira, é possível andar durante uma hora, quase em linha reta, sobre o mangue, até a beira da Baía de Guanabara. O caminho está sendo reconstruído, pois boa parte das tábuas de madeira foi roubada para a construção de barracos nos arredores de Gramacho. Ao todo, foram reflorestados mais de cem hectares da área de manguezal, com mudas de árvores como mangue negro, vermelho e branco, em toda a periferia do aterro, alcançando a foz do Rio Sarapuí. Hoje, 50 ex-catadores de lixo vivem da pesca de caranguejos como o guaiamum, o catanhanha, o maré e o atu. Por dia, são capturados cerca de três mil. Durante a caminhada, aos poucos, um cheiro de maresia vai substituindo o forte odor do lixo.

A poucos metros do aterro e da Baía de Guanabara, a natureza dá provas de recuperação

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MEMÓRI A

Fernanda Pedrosa

Os 25 anos do comício da Candelária

Fotos de Márcio RM relembram cenas marcantes do movimento das Diretas Já

R

io de Janeiro, 10 de abril de 1984. Havia uma grande expectativa na cidade para o comício das Diretas Já, na Candelária, após a realização de vários outros comícios pelo País, o maior deles na Praça da Sé, em São Paulo, no dia 25 de janeiro. A campanha pelas eleições diretas para presidente tinha como objetivo imediato pressionar a Câmara dos Deputados a votar a chamada Emenda Dante de Oliveira. Afinal, as eleições diretas para governador haviam sido restabelecidas em 1980 e, em 1982, algumas das mais importantes lideranças democráticas da época ganharam as eleições, como Leonel Brizola, no Rio de Janeiro, Tancredo Neves, em 30

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Minas Gerais, e Franco Montoro, em São Paulo. Embora tenha recebido o apoio de 298 parlamentares e apenas 65 votos contrários, a Proposta de Emenda Constitucional acabou rejeitada pela falta de 22 votos. Em janeiro de 1985 Tancredo Neves foi eleito presidente pelo Colégio Eleitoral. O final da história todo mundo já sabe: Tancredo morreu no dia 21 de abril daquele ano e o vice, José Sarney, assumiu o mandato. Foi a última eleição indireta para presidente da República realizada no País. O fotógrafo carioca Márcio RM estava na Candelária no dia do comício. Muito jovem, tinha menos de dois anos de profissão. Mas as cenas que registrou no palanque lhe ga-

rantiram emprego na revista IstoÉ alguns meses depois. “No palanque, a imprensa ficou num patamar abaixo de onde estavam os políticos e os artistas. Eu me posicionei bem em frente aos microfones, onde coloquei a minha bolsa de equipamentos, e ali fiquei até o fim”, lembra ele, 25 anos depois. “Esta cobertura foi uma das mais importantes que fiz, não só pelo significado desse comício na história do Brasil, como pelas imagens que produzi”, acrescenta Márcio. As imagens do comício da Candelária fazem parte do projeto Rua, que Márcio RM vem desenvolvendo sobre diversas manifestações políticas e outros eventos públicos realizados na cidade do Rio de Janeiro.


Maior manifestação pública da história do Brasil até então, o comício da Candelária reuniu um milhão de pessoas na Avenida Presidente Vargas. Havia nervosismo e apreensão na cidade, quanto à possibilidade de reação dos militares, mas, com a proximidade do início do evento, faixas e bandeiras coloriram as ruas, num clima de festa e descontração. Não faltaram manifestantes fantasiados, trio elétrico, vendedores ambulantes de comida e bebida, militantes oferecendo camisetas de vários grupos e partidos

Participantes diretos do movimento fazem questão de reconhecer que, na campanha das Diretas, o povo foi o protagonista da história. Ainda que por trás de cada comício funcionassem engrenagens e se desenvolvessem articulações políticas, a campanha se espalhou e ganhou vulto graças à mobilização popular REVISTA DA ALERJ

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Fafá de Belém, que participou ativamente do movimento e ficou conhecida como Musa das Diretas, enfrentou problemas na Justiça por cantar o Hino Nacional de forma original em comícios e passeatas. No Rio, ela comoveu a multidão ao cantar baixinho Menestrel das Alagoas, música de Milton Nascimento em homenagem a Teotônio Vilela. Em seguida, Fafá soltou a pomba branca

Muitos artistas, como Xuxa – ainda iniciando a carreira – e Jô Soares, participavam dos comícios. Na Candelária, na sequência de oradores, a apresentadora infantil preferiu dar apenas um assobio

Milton Nascimento dividiu com o locutor Osmar Santos e as atrizes Christiane Torloni e Lucélia Santos a apresentação dos oradores. Mas também causou emoção ao cantar Nos bailes da vida, de sua autoria, que se tornou o hino das Diretas. Quem não se lembra da frase “todo artista tem de ir aonde o povo está”?

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Senhor Diretas. Assim ficou conhecido o presidente nacional do PMDB, principal líder das campanhas pelo retorno do País à democracia. Ao final do comício, Doutor Ulysses resumiu: “Esse milhão de pessoas que aqui está acaba de aprovar a eleição direta para presidente. Está lavrado o atestado de óbito do Colégio Eleitoral”

No palanque também estavam alguns dos governadores que haviam sido eleitos democraticamente em 1982, como Leonel Brizola (RJ), Franco Montoro (SP) e Tancredo Neves (MG)

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Em cima do palanque ou numa brecha da estrutura de ferro, o importante era participar. Havia vontade de mudança e disposição para a de luta. A sociedade civil percebeu que tinha direito a voz

Quem estava lá conta que o momento mais emocionante do comício da Candelária foi quando o jurista Sobral Pinto leu o artigo 1º da Constituição de 67: “Todo poder emana do povo e em seu nome é exercido”

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Tímido e nervoso, o autor da emenda que restabelecia eleições diretas para presidente, deputado Dante de Oliveira, chegou atrasado e, ao final do comício, foi puxado por Brizola ao microfone, mas pouco falou


opi nião

F elipe A. Dias

Na contramão da crise

A

crise econômica mundial vem mostrando seus reflexos sobre o mercado de petróleo. Os principais analistas reviram suas expectativas de demanda para baixo e o preço recuou cerca de US$ 100 por barril desde o seu pico, em julho do ano passado, até início deste ano. Na realidade, a demanda mundial por petróleo já vinha caindo mesmo antes do agravamento da crise financeira, em setembro, em consequência da própria elevação do preço do barril. A trajetória de queda iniciada em julho seguiu de forma praticamente linear até o fim do ano e o preço veio oscilando em torno de US$ 40. Podemos observar duas diferentes interpretações para explicar o contágio. Os mercados financeiros se utilizaram do ciclo de alta de preços das commodities, como o petróleo, para lastrear novos produtos financeiros e recuperar perdas em outros segmentos, como o imobiliário. O pânico financeiro induzido pela crise mundial reduziu bruscamente o valor desses papéis e derrubou os preços do petróleo. A diminuição da atividade econômica e a eminência de um longo ciclo recessivo reduziram a demanda esperada por petróleo, derrubando o preço. A brusca redução dos preços somou-se às projeções de retração ainda maior da demanda, resultando em reversão de expectativas e mudança de comportamento por parte de quase todas as principais empresas petrolíferas no mundo. As dificuldades na geração de caixa e a redução da oferta de crédito agravam ainda mais o quadro e sugerem estratégias mais conservadoras. O resultado deste processo foi uma boa safra de anúncios

de redução de investimentos e adiamento de projetos nas atividades de exploração e produção de petróleo e gás em diversas partes do mundo. Em sentido contrário, o setor petrolífero brasileiro tem dado sinais de que está acelerando o ritmo, motivado especialmente pelo elevado potencial dos novos prospectos do pré-sal. Após o anúncio da Petrobras de um incremento significativo dos investimentos previstos para os próximos cinco anos, grandes empresas internacionais que atuam no Brasil também divulgaram sua intenção de aumentar seus investimentos no País, se distanciando nitidamente de suas estratégias em outras partes do mundo. Este é o caso, por exemplo, da britânica BG, da espanhola Repsol e da americana Hess. O novo plano da Petrobras para 2009-2013 prevê uma média anual de investimentos de quase US$ 35 bilhões, dos quais 90% no Brasil. Um aumento de 55% com relação ao plano anterior. São cerca de US$ 157 bilhões de investimentos no País ao longo dos próximos cinco anos. E os investimentos da Petrobras vêm acompanhados dos investimentos das demais companhias, em especial dos seus parceiros. Com o novo Plano Estratégico, a Petrobras pretende aumentar a sua produção de petróleo e gás no Brasil dos atuais 2,17 milhões de barris equivalentes por dia para 5,1 milhões em 2020. A concretização dessas metas permitirá que o Brasil exporte volumes importantes de petróleo e derivados, com impactos significativos sobre a balança comercial e sobre o crescimento do País. Felipe A. Dias é economista do Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP).

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mídia

L eo Pinheiro

Versão (cada vez mais) brasileira

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uem nunca tentou imitar aquele vozeirão que, ao início de cada filme estrangeiro, anunciava o título da atração e do estúdio responsável pela versão brasileira? Dos tempos da extinta AIC São Paulo e do pioneiro no setor, Herbert Richers, até hoje, o mercado de dublagens cresceu muito e está cada vez mais competitivo. Se antes ouvíamos a voz dos dubladores apenas em poucos filmes e séries na Rede Globo, em novelas mexicanas do SBT e em mais duas ou três emissoras VHF, com o advento da tevê por assinatura, da banda UHF, da tevê digital e do DVD, o mercado passou a oferecer uma centena de veículos de comunicação com áudio em nosso idioma. Alheios à concorrência entre os tradicionais estúdios do Rio de Janeiro e novos de São Paulo por um mercado que cresce na contramão da crise mundial, o brasileiro se acostumou a consumir programas dublados. De acordo com a mais recente pesquisa do Sindicato dos Distribuidores de Filmes do Rio de Janeiro, publicada em 2008, 56% dos frequentadores de cinemas no Brasil preferem assistir a cópias dubladas, contra apenas 37% em favor das legendas. A pesquisa, encomendada ao instituto Datafolha, ouviu 2.120 pessoas em 10 cidades do País, incluindo o Rio de Janeiro. 36

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Crescente demanda de filmes dublados nos cinemas do País demonstra o poder do público junto à mídia

Marcelo Coutinho, sócio-fundador do estúdio Double Sound, no Rio de Janeiro, assegura que a difusão do DVD abriu mais um leque de escolhas para os espectadores, tanto em seu lazer caseiro quanto externo. “Se antigamente era preciso optar entre uma fita VHS dublada ou legendada para ver um filme, com a nova mídia as possibilidades são inúmeras. Com vários idiomas em áudio e legendas, os filmes contemplam todos os públicos”, afirma. Segundo o empresário, essa inovação tecnológica fez o público sentir o gostinho do poder da escolha. No entanto, ele crê que falta incentivo governamental para que o mercado ofereça cada vez mais esta opção à população. “Nos Estados Unidos, 100% dos filmes são dublados. Em países como a Itália e Alemanha, os exibidores são obrigados por lei a transmitir filmes dublados. Aqui no Brasil, apesar dos apelos dos espectadores, menos de 20% do que entra em cartaz é falado em português”, pondera. Marcelo alega que para o distribuidor é cômodo legendar o filme, já que é muito mais barato do que pagar a dublagem. Porém, Coutinho valoriza na dublagem outras questões que não podem ser mensuradas financeiramente, como, por exemplo, a soberania do idioma nacional. A documentarista Ellen Ferreira concorda, mas ob-


Arte Bruno Moura

serva que o grande trunfo da ampliação das dublagens nos cinemas e outros veículos é o público. “No Brasil, exibir cota de filmes dublados não é obrigação, quem impôs essa mudança foi o mercado, e mesmo quem quer ter lucro fácil não pode ir contra isso”, sentencia. Baseando-se nessa crescente demanda por filmes dublados Ellen resolveu fazer um estudo e se uniu às colegas Fernanda Robusti e Lívia Milagres para dirigir o primeiro longa-metragem sobre dublagem no Brasil, Contando loops (nome provisório), com estreia prevista para setembro. Para o trio, o filme só se tornou realidade devido ao interesse do próprio público, que tem curiosidade em saber de quem são as vozes brasileiras dos seus programas prediletos. Lívia revela que, conforme foi tomando contato com o universo da dublagem, percebeu que o preconceito por parte dos fãs de filmes legendados era fruto de uma época onde a cultura norte-americana, tanto nos filmes como na música, era muito mais valorizada do que hoje. “Antigamente era um diferencial falar inglês, e ostentar isso era uma forma de se autoafirmar. Como hoje em dia falar um segundo idioma não é mais novidade, as pessoas estão muito mais voltadas para o que realmente é melhor para elas”, analisa. Já Fernanda acredita que, além da valorização da cultura nacional, outros seguimentos socioculturais são favorecidos pela propagação das versões brasileiras.

Segundo ela, a maior contribuição da dublagem para o povo brasileiro é a democratização da informação e do entretenimento. A diretora ressalta que somente os filmes dublados são acessíveis aos analfabetos, deficientes visuais, crianças e idosos que não conseguem acompanhar as legendas. Na mesma proporção do aumento da oferta de películas dubladas cresceu o interesse do público por informações sobre mais este aspecto técnico dos filmes. E os órgãos de imprensa que fazem a cobertura da produção cinematográfica também estão se adaptando a esta nova realidade. O primeiro jornalista da grande imprensa brasileira a se especializar em dublagem, Rodrigo Fonseca, do jornal O Globo, hoje faz críticas de filmes dublados comentando a interpretação dos atores que fazem as versões brasileiras. Desde 2005 trabalhando na Revista da TV, suplemento dominical de O Globo, Rodrigo revela que a partir de 2007, quando inseriu o tema dublagem em sua coluna, a procura do público pelo assunto cresceu também no jornal. O crítico recebe diariamente dezenas de cartas, emails e telefonemas com elogios, dúvidas e sugestões de matérias sobre filmes dublados. Uma interação que, segundo ele, não acontecia antes. “Não é só o público que é beneficiado, o Cinema ganha com a dublagem. Sem ela não se formam cinéfilos. Sou um amante da mídia Cinema e por isso sempre vou defender a dublagem”, finaliza. REVISTA DA ALERJ

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pa n orama Imagens da democracia A Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro está participando do FotoRio 2009 – Encontro Internacional de Fotografia do Rio de Janeiro, que acontece de dois em dois anos e ocupa os principais centros culturais da cidade. A Alerj estreia nesse acontecimento com a exposição Retratos da Democracia – Expressões e manifestações no Palácio Tiradentes, que reúne 45 trabalhos de fotógrafos e estagiários da Casa. Em 2007, a Alerj cedeu espaço no seu prédio administrativo da Rua da Alfândega para a exibição de fotos de Pedro Stephan sobre espaços de socialização GLS no Rio de Janeiro. Desta vez, estão na mostra imagens feitas no ambiente do Parlamento. São fotos de pessoas famosas e anônimas, em diversos tipos de eventos e manifestações ocorridos no Palácio Tiradentes. “Há mais de 80 anos o Palácio Tiradentes tem sido cenário de acontecimentos que provocam mudanças na história política do País. Por aqui passam cidadãos de todos os matizes sociais, culturais e ideológicos. Políticos, artistas, religiosos, empresários, lideranças de movimentos populares. Todos encontram nesta Casa um espaço democrático”, ressalta o presidente da Casa, Jorge Picciani. O FotoRio é um movimento de fotógrafos que tem como proposta estimular a exposição e discussão de trabalhos históricos e contemporâneos da fotografia brasileira e internacional. O evento tem como objetivo valorizar a fotografia como bem cultural, dando visibilidade aos grandes acervos e coleções públicas e privadas e à produção fotográfica contemporânea brasileira e estrangeira, através de exposições, projeções e intervenções urbanas, cursos, seminários, oficinas, mesas-redondas, palestras e conferências. “Nossa intenção é destacar, através de um evento de porte internacional, a importância da fotografia na comunicação e na vida social contemporânea, buscando atingir um público ainda maior que o frequentador de museus e apreciador da arte fotográfica, levando a fotografia ao alcance de todos”, afirma o coordenador-geral do evento, Milton Guran. Retratos da Democracia tem a participação dos fotógrafos Dafne Capella, Érica Ramalho, Fabiano Veneza, Fabíola Gerbase, Leandro Marins, Rafael Wallace e Zô Guimarães e pode ser vista de segunda a sexta-feira, das 10h às 17h, e domingo, das 12h às 17h, até 30 de agosto. Para mais informações, ligue para (21) 2588-1404 / 2588-1383.

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FALE CONOSCO.

0800 282 0119



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