Press Agrobusiness #7

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ANO 2 - EDIÇÃO Nº 07 - FEVEREIRO DE 2017

Agricultura de

PRECISÃO

Informações precisas diminuem custos e aumentam a produtividade na agricultura O Brasil já é o 3º mercado de sementes do mundo, movimentando mais de R$ 10 bilhões/ ano ENTREVISTA Ministro da Agricultura

BLAIRO MAGGI

A Farsul completa 90 anos na liderança do agronegócio do RS


Se investir na sua produção está nos seus planos, conte com o Banco do Brasil na Expodireto Cotrijal. Visite o nosso estande e faça bons negócios na feira. De 6 a 10 de março Parque da Expodireto Cotrijal Não-Me-Toque/RS

Banco do Brasil. Mais que digital. Em todos os campos.


EDITORIAL

Plantar é preciso!

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li pelos anos 70 a.C., o general romano Pompeu usou a frase “Navegar é necessário, viver não é necessário” para encorajar seus soldados a enfrentar os mares bravios do mundo a fim de trazerem o trigo e demais produtos das colonias até Roma. Depois, já no século XIV, o poeta italiano Francesco Petrarca, inventor do soneto na poesia e considerado o pai do humanismo, lapidou a frase do militar romano e a traduziu como “Navegar é preciso, viver não é preciso”, ampliando o sentido da palavra “precisão”, denotando não apenas “necessidade”, mas também de “exatidão”. Por fim, o poeta português Fernando Pessoa, fundiu ambos os sentidos, ao se referir a frase dos antigos navegadores: “...Quero para mim o espírito desta frase, transformada A forma para a casar com o que eu sou: Viver não é necessário; o que é necessário é criar. Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso. Só quero torná-la grande, ainda que para isso Tenha de ser o meu corpo e a minha alma a lenha desse fogo. ...” Bonito, não? Por isso os poetas deveriam ser trata-

dos como sacerdotes, porque eles conseguem incendiar as palavras e fazer pegar fogo as nossas almas. Transportando isso para o oficio da agricultura — a mais antiga das atividades econômicas da humanidade — devemos usar a ambiguidade da frase cunhada por um general e revisitada por dois poetas. Navegar é preciso, porque nos possibilita conhecer novos mundos, novos mares, novas terras, novas gente. Ou seja, a novidade só vem quando arriscamos sair do conforto dos portos e içamos velas. Navegar também é preciso porque é um oficio orientado por mapas, bussolas, astrolábios (atualmente, GPS e internet), informação precisa, exata, cientifica. Já viver tem a ver com o imponderável, o surpreendente, o inesperado. Plantar é preciso, porque é necessário para alimentar o planeta. Plantar é preciso, porque não se pode mais fazer sem informação, sem dados específicos, sem a técnica mais atualizada. A precisão/necessidade forma o mercado, a precisão/exatidão possibilita o melhor produto. Agricultores, produtores rurais, não podem esquecer dessas duas dimensões, porque delas dependem o seu oficio e sacerdócio. Que nos baste a imprecisão da vida, cujos ventos nos levam ao seu sabor. E que sabor! Que as nossas vidas se tornem grandes, ainda que para isso sejam os nossos corpos e almas a lenha desse fogo!

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SUMÁRIO

RUA SALDANHA MARINHO, 82 PORTO ALEGRE CEP 90160-240 FONE: (51) 3231.8181

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Editorial

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Entrevista: Ministro Blairo Maggi

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Capa: Agricultura de precisão

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Máquinas: mais recursos para 2017

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Muito mais do que só sementes`

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90 anos da Farsul

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Milho: produtividade triplicou

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Alternativa na alimentação animal

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Agricultura familiar com mais recursos

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Safra e riqueza

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A instabilidade da indústria do leite

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Florestas e celulose

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Cresce o mercado de suco de uva

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Novos horizontes para a carne gaúcha

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www.revistapress.com.br/agrobusiness | e-mail: agro@revistapress.com.br Diretor Geral JULIO RIBEIRO

Impressão COMUNICAÇÃO IMPRESSA

Diretora-Executiva NELCI GUADAGNIN

Comercialização PORTO ALEGRE: (51) 3231 8181 e (51) 9971 5805 com NELCI GUADAGNIN

Reportagem CRISTIANO VIEIRA Designer ESPARTA PROPAGANDA Fotografia: JEFFERSON BERNARDES/ Agencia Preview

A revista PRESS AGROBUSINESS é uma publicação trimestral da Athos Editora Ltda, com circulação por mailling regional e nacional, voltada aos diversos segmentos produtivos e institucionais do setor primário do Rio Grande do Sul. Os artigos assinados e opiniões emitidas por fontes não representam, necessariamente, o pensamento da revista e de sua editora.

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Sicredi em alta A crise econômica passou longe do Sicredi em 2016. Os vistosos números da cooperativa de crédito incluem alta de 16,3% nos ativos totais, somando R$ 29,86 bilhões. Na carteira de crédito, a elevação foi de 9,3%, com R$ 14,65 bilhões. Somente no crédito rural, os contratos negociados somam R$ 4,7 bilhões, com média de R$ 43,9 mil por operação. A inadimplência do segmento é uma das menores do mercado, de apenas 0,39%. Hoje, as 39 cooperativas de crédito do sistema Sicredi no RS contam com 1,56 milhão de associados.

Na mira dos EUA

Feira de máquinas

Estados Unidos e União Europeia são as esperanças, neste ano, para aumentar as exportações brasileiras de carne bovina. Em 2016, conforme a Associação Brasileira das Indústrias Exportadores de Carnes (ABIEC), as vendas para o exterior somaram US$ 5,5 bilhões, receita 7% menor comparada com o ano anterior. Em volume, contudo, ocorreu pequeno aumento: de 1%, alcançando 1,4 milhão de toneladas de janeiro a dezembro.

Depois do Show Rural Coopavel, em fevereiro, e da Expodireto, em março, o calendário do agronegócio se prepara para outra grande feira neste primeiro semestre: o Agrishow promete movimentar Ribeirão Preto, interior paulista, entre os dias 1 e 5 de maio. O evento é conhecido por disponibilizar as principais novidades em tecnologia para o campo. A expectativa é de retomada na comercialização de máquinas agrícolas.

Alimentos orgânicos Mercado que cresce ano após ano, a agricultura orgânica pode ultrapassar 750 mil hectares plantados no Brasil neste ano, segundo estimadas do Ministério da Agricultura. De 6,7 mil propriedades destinadas ao cultivo sem agrotóxicos em 2013, o País passou a contar com 15,7 mil propriedades rurais, a maior parte de agricultura familiar. No ranking das regiões que mais produzem alimentos orgânicos, o Sul está em último (com 37 mil hectares) e o Sudeste lidera, com 333 mil hectares.

Menos juros Abates suínos O Rio Grande do Sul abateu, em 2016, um total de 9.311.668 suínos. A informação é da Seção de Epidemiologia e Estatística (SEE) da Secretaria da Agricultura. Em relação a 2015, o aumento no número de abates é de 7,5%, ou seja, foram 649.475 animais a mais que no ano anterior.No ranking municipal, ano passado Palmitinho tomou a liderança, com 211.379 cabeças. Em 2015, o município estava na segunda colocação, um pouco abaixo de Nova Candelária, que era líder com 192.306 suínos abatidos.

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Com validade a partir de 1 de julho, o Plano Agrícola e Pecuário (PAP) 2017/2018, conhecido como Plano Safra, pode ter redução nas taxas de juros. A informação é do secretário de Políticas Agrícolas do Ministério da Agricultura, Neri Geller. Para o ano safra 2017/2017, foram disponibilizados R$ 185 bilhões com taxas entre 9,5% e 12,75% ao ano. Conforme Geller, a partir de março, o governo irá conversar com os produtores para definir ações neste sentido.


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Controle do javali

Trigo argentino Com estoques elevados de trigo no mercado interno, a Argentina deve exportar, em 2017, cerca de 5 milhões de toneladas do grão. A informação é do Ministério da Agroindústria. O volume corresponde a pouco mais de 30% da safra total de 16,5 milhões de toneladas previstas para o trigo do país. O Brasil é o principal comprador do trigo argentino, com 4 milhões de toneladas importadas anualmente.

Foto: Camila Domingues/Palácio Piratini

Desde o fim de janeiro, o Rio Grande do Sul conta com uma instrução normativa específica para controlar a população de javalis. O animal selvagem, de comportamento predatório, tem causado grandes prejuízos à criação de ovinos, além de destruir plantações inteiras de frutas e matar filhotes de vacas. A legislação estabelece regras para abate e transporte do javali e pretende, ainda, aumentar a vigilância contra a peste suína clássica.

Peixe Vendas para o México O Rio Grande do Sul foi um dos estados brasileiros visitados, em janeiro e fevereiro, por uma missão veterinária do México. O grupo veio inspecionar plantas frigoríficas de bovinos, aves e suínos para, futuramente, habilitar os estabelecimentos a exportarem para o México. Além do estado gaúcho, as 11 unidades vistoriadas estão localizadas no Rio de Janeiro, em Santa Catarina e em São Paulo.

Agricultura familiar Chegou a R$ 198 milhões, em 2016, o total de recursos destinados pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) no apoio à comercialização da produção da agricultura familiar por meio do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). Os recursos beneficiaram quase 30 mil agricultores vinculados a associações e cooperativas de 477 municípios brasileiros. O PAA garante a compra da produção da agricultura familiar com dispensa de licitação.

Passou de um para três anos o prazo de validade das autorizações de pesca concedidas a embarcações no Brasil. Segundo a Secretaria de Aquicultura e Pesca do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o prazo anterior era reduzido e contribuía para aumentar a burocracia, provocando acúmulo de pedidos de registros e de documentos. Sem a autorização, os pescadores ficavam impedidos de trabalhar.

Figo Cultivado em pequenas áreas, o figo é uma excelente opção para complementar a renda dos pequenos agricultores. Em fevereiro, Nova Petrópolis, na Serra, realizou a 44ª edição da tradicional Festa do Figo. Atualmente, o município tem 70 produtores familiares, que cultivam 42 hectares de figos – a produção, uma das maiores do Estado, chega a 400 toneladas.

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ENTREVISTA BLAIRO MAGGI

“O Brasil tem hoje uma das leis ambientais mais severas do mundo. Produzir de forma sustentável já se tornou um consenso entre a maioria dos produtores rurais.” Por: Cristiano Vieira Fotos: Divulgação

Gaúcho, nascido em Torres, há 60 anos, Blairo Maggi tem a agricultura no DNA de sua família. O pai, André Maggi, criou em 1973 a Sementes Maggi, no Paraná, que daria nas décadas seguintes a liderança para a família no setor. O atual ministro da Agricultura é considerado o “Rei da Soja” por ser o maior plantador individual da oleoginosa no País, com cerca de 5% da produção nacional. Em 2002 foi eleito, pela primeira vez, governador do Mato Grosso, pelo PPS e, quatro anos mais tarde, já no PR foi reeleito. Em 2011, foi eleito senador pelo mesmo estado. Graduado em Agronomia pela Universidade Federal do Paraná, chegou ao Mato Grosso, para plantar soja em Itiquira, no sul do estado. O negócio prosperou, dando origem ao atual Grupo Amaggi, um dos maiores produtores e exportadores de soja do Brasil, com negócios em diversas atividades econômicas, incluindo logística de transportes, pecuária e produção de energia elétrica. Em maio de 2016, filiou-se ao Partido Progressista (PP), a fim de representar o partido no governo Michel Temer, assumindo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Técnico na área, Maggi assumiu a pasta com o desafio de atender ao segmento que responde por mais de um quarto do PIB brasileiro: o agronegócio. Muito se fala em o Brasil ser protagonista do agronegócio mundial. Que ações o ministério planeja neste sentido? Quando assumi o Ministério da Agricultura fixei uma meta: em cinco anos aumentar a participação do Brasil de 6,9% para 10% do agronegócio mundial. E desde o primeiro dia estamos trabalhando para isso. No ano passado fizemos várias missões importantes. A primeira delas foi a aprovação das importações de carne bovina brasileira pelos Estados Unidos

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ENTREVISTA depois de 17 anos de negociações, idas e vindas. Esta abertura do mercado americano para a carne brasileira foi muito importante, porque existem vários países que seguem a política sanitária dos Estados Unidos e teremos mais facilidade para ampliar nossas exportações a partir de agora. Fizemos uma importante missão para a Ásia, onde abrimos negociações com os chineses para ampliar nossas exportações de carnes, frutas e outros produtos. Na Coréia demos o último passo para a formalização das exportações de carne suína de Santa Catarina. Foram 26 dias de viagem e cerca de 40 empresários e representantes de entidades do agronegócio nos acompanharam e fizeram negócios. Havia desde produtores de peixes da Amazônia até exportadores de madeira certificada, passando pelo pessoal da carne bovina, suína, frango, boi em pé, milho, soja, açúcar. O que muda na relação com o Brasil a posse do novo presidente norte-americano? Já houve uma sinalização do Departamento de Agricultura dos EUA de que possa haver mudanças para melhor ou pior na nossa relação comercial com aquele país? As mudanças realizadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, já começam a surtir efeito no Brasil. Grande cliente dos Estados Unidos com cerca de US$ 30 bilhões gastos em importações de commodities, o México já negocia com o Brasil a abertura de portos. Na semana do dia 22 de fevereiro o ministro da Agricultura do México, José Eduardo Calzada Rovirosa, estará no Brasil para tratar de assuntos de importação de grãos brasileiros. Tenho percebido nas movimentações e conversas que tenho tido que as ações do presidente Donald Trump tem feito nos Esta-

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Grande cliente dos Estados Unidos com cerca de US$ 30 bilhões gastos em importações de commodities, o México já negocia com o Brasil a abertura de portos

dos Unidos está deixando outros países agrícolas, que são parceiros deles, que são grandes compradores, em estado de alerta. Decisões de Trump, como a retirada dos Estados Unidos do Tratado Transpacífico de Comércio Livre (TPP, sigla em inglês), tem feito crescer a procura de outros países para conversar com o Brasil. O México sempre foi um grande comprador de alimentos dos Estados Unidos na ordem de US$ 30 bilhões por ano e há muitos anos ele não queria negociar com o Brasil acordos sanitários para podermos exportar para eles. Depois dessa mexida, nesse tabuleiro que o Trump está fazendo, muitos países já nos procuraram e notadamente o México já está com uma missão no Brasil. Eu não diria que as decisões de Trump são loucura, mas no caso ele está colocando o governo dentro da plataforma que ele propôs durante as eleições e isso incomoda muita gente e vão surgir oportunidades. Acho que vai gerar oportunidades, mas temos que ficar atentos para capturá-las. Este ano deve marcar a venda em quantidades maiores de

carne bovina para o mercado norte-americano? Eu costumo dizer que o governo não compra nem vende nada. O governo facilita a vida de quem compra e vende, que são os empresários. No caso dos Estados Unidos, o aumento das exportações dependerá da capacidade dos empresários em abrirem espaços e aproveitarem as oportunidades que forem surgindo. Acredito que na medida em que nossos exportadores ofereçam produtos com qualidade e preço a tendência é um aumento nas vendas. O Brasil é o segundo maior produtor mundial de soja, atrás dos EUA. Temos condições técnicas de ser os primeiros? O que nos falta? Temos condições de passar os Estado Unidos, na medida em que nossa produtividade continue aumentando. O que precisamos é continuar investindo em infraestrutura. A produtividade da soja aumentou muito nas últimas décadas em praticamente a mesma área plantada. Como crescer, sustentavelmente, sem ocupar áreas de proteção ambiental? O Brasil tem hoje uma das leis ambientais mais severas do mundo. Produzir de forma sustentável já se tornou um consenso entre a maioria dos produtores rurais. Na Amazônia, por exemplo, temos que preservar 80% das propriedades e utilizar 20% para a produção. No Centro Oeste é 35%. Entre os países produtores, a média mundial de preservação das matas nativas é de 3%. Aqui no Brasil nós conseguimos preservar 61% da nossa cobertura verde. Usamos 8% do nosso território para agricultura e 19% para pecuária. Crescer sustentavelmente significa ocuparmos espaços que hoje

são destinados às pastagens com produção agrícola. Graças à produtividade na pecuária, enquanto nosso rebanho cresceu para cerca de 200 milhões de cabeças, nossa área de pastagens cai de 220 milhões de hectares para menos de 170 milhões de hectares. O Agro Mais, lançado ano passado, pretende desburocratizar o agronegócio. Que medidas já foram tomadas e como está o projeto hoje? Já foram tomadas inúmeras medidas, que antes de serem propostas foram discutidas com o setor agropecuário através das entidades representativas de casa segmento. Foram consultadas mais de 80 entidades. O Agro+ é um programa importantíssimo porque seu principal objetivo é facilitar a vida dos produtores e da agroindústria. Acabamos, por exemplo, com a duplicidade de fiscalização, o carimbo do SIF para circuitos fechados de frigoríficos, simplificação de autorização de rótulos e registros de produtos. Agora estamos revisando o RIISPOA (Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal). Este regulamento é do início dos anos 50, tem mais de 60 anos e está defasado em vários aspectos. Estamos atualizando e melhorando em sintonia com a Casa Civil.. Os recursos para o próximo plano safra (2017/2018) já foram definidos? Isto depende de acertos com a equipe econômica? No dia 19 de janeiro o presidente lançou o pré-custeio da safra 20172018 com 20% a mais de recursos. Num total de R$ 12 bilhões. O volume de crédito ofertado pelo Banco do Brasil é oriundo de captações próprias da Poupança Rural e de Depósitos à Vista. Os recursos estão disponíveis a médios produtores por meio do Pronamp

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ENTREVISTA (Programa Nacional de Apoio aos Médios Produtores Rurais), com taxas de 8,5%. Os demais produtores rurais acessam o crédito com encargos de 9,5% ao ano. A antecipação dos financiamentos de custeio se destina a culturas da safra de verão 2017/2018, como soja, milho, arroz e café, e permite melhores condições aos produtores para o planejamento de suas compras junto aos fornecedores. Além disso, contribui para o incremento das vendas de sementes, fertilizantes e defensivos Além dos EUA, a Comunidade Europeia e a China são grandes parceiros comerciais do agronegócio brasileiro. Como crescer nestes mercados? Estamos trabalhando intensamente para crescer, especialmente no mercado asiático. Ali está 51% da população mundial, 19% do PIB mundial e onde a classe média mais cresce. Em 2030 a população da Ásia será de 4,8 bilhões de pessoas. Se hoje eles consomem 28% do frango, 20% da carne, 31% dos produtos lácteos e 37% do açúcar, em 2030 a tendência é crescer ainda mais. E o Brasil precisa investir cada vez mais na ampliação das vendas, agregando valor aos seus produtos. Hoje os chineses são grandes exportadores de alimentos porque compram matéria-prima de outros países, processam, agregam valor e revendem com lucro. Nós precisamos fazer o mesmo com a nossa carne, nosso frango, nossa carne suína, peixes, cerais, etc. E não é apenas a China que nos interessa. Existem outros países com grande potencial de consumo, como o Vietnam, por exemplo, com seus 100 milhões de habitantes. O mercado de máquinas agrícolas, com a crise, foi um dos que mais demitiu e registrou recuos nas vendas. Há pers-

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pectiva de melhora neste ano ainda? Quando eu cheguei aqui no Ministério, o secretário de Política Agrícola, Neri Gueller, previu que o Moderfrota iria superar os R$ 5 bilhões. Eu disse que achava que seria menos. Errei e fiquei feliz por ter errado, porque o mercado de máquinas agrícolas se expandiu. Em novembro foram aportados mais R$ 2,5 bilhões para o programa. O Plano Agrícola e Pecuário 2016/2017 destinou R$ 5,4 bilhões para a compra de máquinas e de equipamentos, mas o montante se mostrou insuficiente para atender a demanda do setor. Somente nos três primeiros meses do plano, os produtores já contraíram financiamentos que representam quase 60% do total destinado ao Moderfrota. Por isso, o Mapa quer reforçar o volume de recursos. Estive na Fiesp recentemente e conversei com dirigentes da Anfavea, que me disseram que a venda de máquinas agrícolas está em

crescimento. Isso mostra que os produtores rurais estão investindo Qual a importância das feiras agrícolas como Expodireto, Agrishow e Expointer, hoje, para fomentar o agronegócio? As feiras são de suma importância para os negócios e para a divulgação. Temos que ter cada vez mais participação, não apenas nas feiras nacionais tradicionais, co0mo as que você citou, mas também nas feiras internacionais. Os nossos produtores, nossas associações e entidades de classe podem olhar estas participações internacionais com mais atenção. Hoje o Chile, por exemplo, está mais presente que o Brasil em certas feiras, como a Feira Internacional de Frutas, de Hong-Kong, que visitei ano passado. Precisamos expor nossos produtos, porque esta é uma forma de ganharmos os mercados interacionais, ampliando nossas vendas e gerando mais renda e empregos aqui.



MATÉRIA DE CAPA

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I

nformação é o bem mais valioso, hoje, no agronegócio mundial. Não aquela informação referente à oscilação das commodities ou à previsão do tempo (importante para o planejamento de curto prazo dos agricultores e empresas, os principais agentes da cadeia econômica), mas a informação resultante das pesquisas e do conhecimento vinculados à agricultura de precisão. O termo, à primeira vista, pode parecer apenas mais um sinônimo para o uso de tecnologias na produção de grãos, mas é bem mais do que isso: a agricultura de precisão é um sistema de gerenciamento agrícola baseado na variação espacial e temporal da unidade produtiva. Tem como objetivo incrementar o retorno econômico, fomentar a sustentabilidade e minimizar os efeitos da agricultura no meio ambiente. Há pesquisas e novidades em agricultura de precisão em muitas áreas do agronegócio, conforme o enfoque econômico. Geralmente, a face mais vistosa da agricultura de precisão é encontrada nas modernas máquinas que percorrem os campos de muitas fazendas no Brasil: são equipadas com sistemas de automação inteligentes, controladas por satélites, operadas por piloto automático e capazes de medir os nutrientes de um pedaço pequeno de terra. A partir desta informação, o agricultor tem subsídios para minimizar custos no plantio e reduzir a chance de erros na lavoura, por exemplo. É um dado extremamente útil para calcular a dose certa de fertilizante para um correto desenvolvimento da

planta levando em conta as especificidades daquele solo, a capacidade hídrica do local e a incidência de luz. Parece ficção científica, mas é a agricultura de precisão apresentando ao homem de hoje o modo de produção do futuro. “Lavouras não são uniformes, nós erramos o tempo inteiro. Demoramos a entender isso. A produtividade também não é uniforme e não sabemos responder o porquê disso até hoje. Por isso a pesquisa é tão importante”, afirma José Paulo Molin, professor do Departamento de Engenharia de Biossistemas da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), vinculada à Universidade de São Paulo (USP). Um dos pioneiros no tema no Brasil, Molin avisa que a agricultura de precisão é entendida erroneamente por muita gente. “Há quem a associe a algum pacote de soluções mágicas que chegam via satélite para resolver todos os problemas da agricultura. Esse conceito persistirá enquanto houver desinformação”, diz ele, que preside a Associação Brasileira de Agricultura de Precisão. O conceito tem ramificações na pecuária – caso da zootecnia de precisão. “Se uma vaca que produz 12 litros de leite por dia é tratada do mesmo modo que um animal que produz 5 litros, é burrice. Parece óbvio, mas precisa ser corrigido”, ilustra Molin. É inegável o progresso das máquinas disponíveis hoje para auxiliar o agricultor na gestão produtiva da lavoura. Mas a agricultura de precisão pode ser praticada sem o auxílio de equi-

Foto: Arquivo pessoal

O futuro é agora

pamentos. O conceito é mais de gestão técnica e de conhecimento agronômico, neste caso, do que tecnologia. Três polos de pesquisa em agricultura de precisão, conforme Molin, se destacam no Brasil. O da Esalq/USP, em Piracicaba (SP), liderado por ele e que realizou, há 21 anos, o primeiro seminário sobre o tema no país. A região de Viçosa, em Minas Gerais, veio na sequência. Por fim, a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), por meio do projeto Aquarius. Mas é preciso ir além. “Temos dificuldade em achar pesquisadores”, conta Molin. Na visão dele, o tema exige ainda muita dedicação. “A agricultura de precisão é uma obrigação para quem produz no século XXI. As técnicas devem estar incorporadas no dia-a-dia das fazendas. Devemos produzir com menos erro e mais precisão, este é o segredo”, destaca.

José Paulo Morlin Professor da USP

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Ricardo Inamasu, pesquisador da Embrapa Instrumentação e coordenador da Rede Agricultura de Precisão, explica que “a agricultura de precisão é diferente da convencional porque o produtor não consegue tratar as variações que existem no campo. Em um mesmo pedaço pequeno de terra há diferenças de umidade, de matéria orgânica, de solo. São aptidões que devem ser consideradas”, destaca. A rede é composta por 160 pesquisadores de 25 unidades da Embrapa espalhadas pelo Brasil (de um total de 46 unidades). “São profissionais que estavam desconectados, sozinhos, com suas pesquisas. A rede une este conhecimento”, salienta Inamasu. Iniciada em 2009, a rede realiza pesquisas em 11 culturas perenes e anuais e cerca de 100 atividades de pesquisa, desenvolvimento & inovação. Desde então, alguns resultados importantes vieram por meio da rede, como um medidor de condutividade elétrica do solo para mapeamento de áreas de culturas perenes; sensores de plantas, solo e ar com aplicabilidade em agricultura de precisão, sistema para mapeamento de solo e planta; e sistemas de controle de irrigação por rede de sensores sem fio, entre outros. A Embrapa mantém, ainda, em São Carlos (SP), um Laboratório Nacional de Agricultura de Precisão (Lanapre). Pioneiro no Brasil, ele tem o objetivo de ser um agente integrador com a rede, ao oferecer uma área para desenvolver padrões, realizar testes, validações e certificações de sistemas.

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Alguns resultados são interessantes. No caso da uva e do vinho, por exemplo, descobriu-se que havia alterações no solo em uma pequena área de 4 hectares em Bento Gonçalves. “Havia, na verdade, sete tipos de solo ali. Isto resultou em diferenças na qualidade do vinho produzido no local”, destaca o pesquisador da Embrapa Instrumentação. Inamasu salienta, mais uma vez, o princípio de que a agricultura tem o desafio de lidar mais com diferenças do que semelhanças em pequenas áreas. Ele cita o milho. Em outro experimento, em uma área de 30 hectares, a produtividade oscilava entre 2 e 10 toneladas por hectare. “Ficou provado que as variações e as características de cada pedaço de solo influem no resultado produtivo”, destaca. Mas como este conhecimento chega ao produtor? Hoje, majoritariamente, via equipamentos e softwares. Inamasu não nega a importância das máquinas dotadas de GPS, sistemas de automação e internet. “Sem essas ferramentas é impossível hoje fazer agricultura. Nosso objetivo é fazer com que a gestão da agricultura de precisão chegue com mais rapidez ao homem do campo. Mas não tem sido assim, infelizmente”, conta. Segundo Inamasu, o caminho da pesquisa até o campo é demorado. “Muitas vezes, até você conseguir delimitar o conhecimento, para chegar redondinho ao agricultor, leva tempo. Mais comum é o conhecimento transitar entre os pesquisadores, que vão treinar professores para formar alunos. Estes últimos é que levam, hoje, até o agricultor um pouco dessa gestão”, destaca ele. A agricultura de precisão pode contribuir – e muito – para aumentar a produtividade levando em conta as questões ambientais

Foto: Divulgação UFSM

Cada pedaço de solo é diferente do outro

e econômicas. “Em regiões mais suscetíveis à degradação por erosão, hoje temos ferramentas que ajudam a desenhar um mapa dessas áreas, separando umas das outras. Aí você consegue aplicar a agricultura de precisão como um elemento que ajuda na sustentabilidade”, explica. A otimização das lavouras, atualmente, não pode deixar de considerar estes conhecimentos. “O que a gente recomenda é a realização de um estudo da área antes de realizar o investimento. Tem que fazer mapeamento completo do terreno, levando em conta cada cultura e cada parâmetro, como acidez do solo, por exemplo. É possível inclusive determinar a variabilidade de pragas em uma determinada região”, conta Inamasu.


O projeto Aquarius se desenvolve em 16 áreas do alto do Jacuí, numa extensão de 730ha

Aquarius: pioneirismo no Rio Grande do Sul Pioneiro no Rio Grande do Sul em investigar o ciclo completo da agricultura de precisão em áreas comerciais, o Projeto Aquarius é uma parceria entre setor privado e entidades iniciada no ano 2000. Coordenado pelo professor Telmo Amado, do Departamento de Solos da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), o Aquarius tem como parceiros a Fazenda Anna, a Cotrijal, a Stara, a Pioneer e a Yara.

No Sul do Brasil, o que se tinha, naquela época, segundo Amado, eram iniciativas da indústria de fertilizantes com foco na variabilidade espacial de nutrientes na lavoura. “Eram diagnósticos bem feitos, mostrando que a aplicação de fertilizantes ocorria de modo errado porque não se conheciam as variabilidades do solo”, explica Amado. Mas era preciso ir além. O projeto foi inicialmente desenvolvido em dois pontos da Fazenda Anna: a área Schmidt, com 124 hectares, e a área da Lagoa, com 132 hectares, ambas em Não-Me-Toque. Com o ingresso da Cotrijal, em 2005, o projeto saltou da Fazenda Anna para propriedades de associados da cooperativa em vários municípios. Hoje, são cerca de 730

hectares distribuídos em 16 áreas na região do Alto Jacuí. O projeto contém, ainda, um vasto banco de dados contendo resultados de análises de solo e rendimento de culturas. A partir do Aquarius, estas e outras questões ganharam espaço investigativo. Desde então, muita coisa mudou no agronegócio. Foi um período de intensas modificações na agricultura, com novos equipamentos surgindo. “Tivemos um aumento incrível na produtividade de algumas culturas com o uso crescente da tecnologia e das aplicações que conseguimos criar”, destaca Amado. Outro destaque é o N-Sensor, o primeiro aparelho capaz de realizar a aplicação do fertilizante em tempo real. A iniciativa, da

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Foto: Divulgação Stara

congresso sobre o tema na América do Sul. “A UFSM também desenvolveu um mestrado profissional em agricultura de precisão. A Stara, por sua vez, criou um centro de treinamento para operadores de máquinas de precisão, para suprir uma deficiência em mão-de-obra especializada”, ilustra Amado. De um tempo em que a tecnologia embarcada nas máquinas era praticamente toda importada e com custos em dólar, hoje, segundo Amado, esses sistemas estão nacionalizados. “Isso reduziu e muito o custo com a automação. Hoje, o Brasil inclusive exporta tecnologia de agricultura de precisão”, completa Amado.

Willian Wagner Coordenador de Marketing de Produto da Stara

Yara, está sendo testada em áreas cultivadas com milho e trigo pelo projeto Aquarius. O N-Sensor já foi utilizado em 20 países e tem como vantagens o diagnóstico da demanda antecipada de nitrogênio – com isso, o fertilizante tem maior eficiência na aplicação e maior uniformidade na distribuição da lavoura. De acordo com os dados do Aquarius, as áreas cultivadas pelo projeto obtiveram uma produtividade 50% acima da média do Estado. Entre as inovações tecnológicas estão produtos já comercializados no mercado, como um escarificador e a tecnologia DPS (Distribuição Precisa de Sementes). A partir dos resultados do Aquarius, o Rio Grande do Sul virou referência no tema. Não-Me-Toque passou a ser considerada a capital nacional da agricultura de precisão. A cidade sediará, em setembro deste ano, o 4º ApSul América, principal

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Stara: do RS para o mundo Uma das idealizadoras do Projeto Aquarius, a Stara, de Não-Me-Toque, é destaque na tecnologia disponível, hoje, para sistemas de precisão aplicados na agricultura. Cerca de 70% das máquinas comercializadas pela empresa contém soluções neste sentido. “Um pulverizador da Stara tem GPS e piloto automático. São fatores que nos tornam líderes de mercado neste segmento”, relata William Wagner, coordenador de marketing de produto da Stara. A participação da Stara no Aquarius começou desde o início, e buscava tornar realidade e levar até o produtor rural o resultado das pesquisas obtidas nos experimentos. Mas não foi fácil. “Os equipamentos para agricultura de precisão que existiam eram todos importados, com manuais em inglês ou alemão técnicos. Algo extremamente difícil para compreensão dos operadores. Começamos, então, a


A Stara exporta seus produtos para mais de 35 paĂ­ses

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desde a área comercial até o pós-venda”, relata Wagner.

Falker: inovação na pesquisa Há mais de dez anos no mercado desenvolvendo softwares específicos para a agricultura de precisão, a empresa Falker, de Porto Alegre, é uma das referências na área no Rio Grande do Sul. Com mais de 600 clientes em todas as regiões do Brasil e em alguns países da América Latina, a Falker possui em sua linha de produção amostradores de solo, GPS para navegação em campo e software para geração de mapas e instrumentos eletrô-

nicos para análise de parâmetros agronômicos como compactação do solo, controle de irrigação e nutrição de plantas. Em 2016, três novos equipamentos foram lançados: o Terram, medidor de condutividade, o FalkerMap 2.0, software para agricultura de precisão, e o FarmLink, sistema de monitoramento. Marcio Albuquerque, diretor da empresa e membro da Comissão de Agricultura de Precisão do Ministério da Agricultura, conta que, normalmente, o trabalho se inicia com o mapeamento da fertilidade da área - depois, é possível levantar muitas outras informações como a colheita, a compactação, imagens aéreas e de satélite ou usar sensores que

A Falker desenvolve, há mais de 10 anos, softwares para agricultura de precisão Foto: Falker Divulgação

nacionalizar esses sistemas para deixá-los mais simples”, destaca Em 2010, a empresa lançou o primeiro controlador de precisão com tecnologia totalmente nacional. Hoje, a Stara é a única empresa que produz todos os equipamentos embarcados com tecnologia 100% produzida em Não-Me-Toque. E muitos deles estão rodando pelo mundo. Uma das vedetes atuais da empresa é o pulverizador Imperador 3.0, único autopropelido do mundo que realiza as funções de pulverização e de distribuição na mesma máquina e que tem conquistado os produtores dentro e fora do Brasil. Outro destaque são os sistemas de telemetria. As aplicações da Stara fornecem informação em tempo real sobre as taxas de aplicação em plantio, distribuição e pulverização. Em qualquer dispositivo com acesso à internet, é possível monitorar as operações. A gama de informações é enorme: mapa de aplicação, área feita, área aplicada, porcentagem de transpasse, talhões, bandeiras, velocidade média e localização, entre outros termos técnicos que facilitam a vida de agrônomos e produtores rurais. A empresa exporta para mais 35 países. Possui 121 concessionárias na América do Sul, Europa e Ásia. “Temos mais de 200 pulverizadores em uso no Leste Europeu e na Rússia”, avisa Wagner. Os equipamentos têm manuais disponíveis em quatro idiomas (português, inglês, espanhol e russo). A Stara também mantém um centro de treinamento próprio, pelo qual já passaram 8 mil profissionais – desde alunos do Senar a técnicos de países como Paraguai e Bolívia. “Aqui, eles recebem o conhecimento de ponta a ponta do produto. Isso facilita toda nossa cadeia econômica,


identificam parâmetros direto na lavoura. Ele ressalta que não há como garantir ganhos imediatos, uma vez que cada lavoura é única e os resultados vão depender da situação da área que pode, ainda, ter interferências de variáveis como clima e pragas. “Fazer agricultura de precisão não trará bons resultados se os cuidados básicos não forem bem feitos. Não se consegue corrigir uma lavoura mal semeada ou plantada fora de época. Vale lembrar que, no plantio direto, tem que haver rotação de culturas e cobertura do solo”, explica. Albuquerque salienta que as informações coletadas permitem um conhecimento detalhado da área. “Os resultados aparecem com os ajustes graduais do manejo para tirar o melhor proveito das características da área. A gestão deixa de ser apenas baseada na experiência do produtor e sua equipe e passa a ser feita com números e dados”, relata. As técnicas da agricultura de precisão, de acordo com o executivo da Falker, podem contribuir para o aumento de produtividade ao identificar gargalos e reduzir custos. “É um objetivo sustentável, que pode ser alcançado mantendo o nível de investimento sob controle. A busca contínua por maiores produtividades deve ser

Foto: Divulgação UFSM

A Embrapa Solos (RJ), em parceria com a iniciativa privada, desenvolveu um pacote tecnológico destinado à análise de solos que promete revolucionar o mercado no Brasil

O N-Sensor desenvolvido pela Yara é o primeiro aparelho capaz de fazer a aplicação de fertilizante em tempo real o objetivo, calculando os custos de forma mais precisa”, completa Albuquerque.

Tudo começa pelo solo Diz-se que a agricultura começa pela semente. Pode ser verdade, mas sem um solo rico e bem cuidado, de nada adianta uma semente de última geração. A terra e suas variáveis se constituem em um dos principais focos da agricultura de precisão. A Embrapa Solos (RJ), em parceria com a iniciativa privada, desenvolveu um pacote tecnológico destinado à análise de solos que promete revolucionar o mercado

no Brasil. Denominado SpecSolo, ele tem a vantagem de analisar as amostras de solo de forma não destrutiva, rápida e econômica. Dezenas de parâmetros de fertilidade (carbono orgânico do solo, pH, cálcio, magnésio, fósforo, potássio dentre outros) e física do solo (argila, silte e areia) podem ser analisados simultaneamente em apenas 30 segundos. A análise convencional demora dias para apresentar os mesmos parâmetros. “O SpecSolo é baseado no uso de técnicas de espectroscopia vibracional e de inteligência artificial”, detalha André Marcelo de Souza, pesquisador da Embrapa Solos e responsável pela tecnologia. Ele explica que o equipamento utiliza algoritmos precisos e

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Foto: Embrapa Instrumentação

lise simultânea de 40 amostras de solo e autonomia para trabalhar sozinho durante 20 minutos. Após esse tempo, os resultados analíticos são gerados automaticamente, acessando remotamente o banco de dados. Os resultados podem ser liberados de acordo com o serviço adquirido pelo cliente, podendo ser na forma de resultados analíticos de cada parâmetro do solo, ou por faixas de interpretação da fertilidade do solo. A versatilidade da tecnologia atende a diferentes públicos, como laboratórios de análises de solo, cooperativas agrícolas, órgãos de pesquisa e extensão rural, empresas de agricultura de precisão e consultores.

Ricardo Inamasu Pesquisador da Embrapa

eficientes. “Estes algoritmos atuarão por meio de robusto banco de dados, com mais de um milhão de amostras de solos representativos do Brasil”. As amostras e dados analíticos relacionados foram obtidos de um dos maiores laboratórios de análises de solos do mundo, o Instituto Brasileiro de Análises (IBRA), parceiro do projeto de desenvolvimento e corresponsável pela tecnologia. “O SpecSolo é uma das maiores inovações em análise de solos das últimas cinco décadas no Brasil, “, reitera o chefe-geral da Embrapa Solos, Daniel Vidal Pérez. Além do numeroso banco de dados, o pacote tecnológico SpecSolo conta com um software hospedado na nuvem exclusivo para o processamento da informação e um equipamento inovador dedicado à análise de solos, denominado SpecSolo-Scan. O equipamento possui um visor automático que permite aná-

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A internet das coisas Se pesquisa e tecnologia andam juntas no desenvolvimento da agricultura de precisão, a internet é o meio essencial pelo qual transita a informação necessária ao homem do campo. Agora, o próximo passo é integrar tudo com ajuda da chamada Internet das Coisas – IoT (do inglês Internet of Things). A Internet das Coisas refere-se à capacidade de conectar infraestruturas e objetos do dia a dia à rede mundial de computadores, desde câmeras e meios de transporte até máquinas industriais e sensores, otimizando atividades em diversos setores. O desenvolvimento da IoT para o meio urbano já ocorre, com experiências de soluções para as chamadas Cidades Inteligentes (Smart Cities), boa parte ligadas à mobilidade e à sustentabilidade. A Embrapa saiu na frente e colocou duas unidades – a Embrapa Informática Agropecuá-

ria e a Embrapa Meio Ambiente – atuando juntas em IoT. O projeto, chamado SitLoT, prevê a disponibilização de uma área experimental para que parceiros possam testar suas tecnologias e inovações em IoT na agricultura, visando a geração de soluções integradas. Na agricultura, de acordo com os especialistas, entre as áreas potenciais para aplicação da IoT destacam-se a agricultura de precisão, a automação, a logística, a gestão de rebanhos e o monitoramento ambiental e da produtividade. Pedro Maló, professor da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, afirma que o Brasil tem potencial para tornar-se uma referência mundial no desenvolvimento de soluções IoT na agricultura e disseminar o conceito de Smart Rural (agricultura inteligente). “A tecnologia pode ajudar a promover ainda mais a sustentabilidade e a competência da agricultura brasileira”, avisa. As ferramentas digitais também devem ter um importante papel no aumento da produtividade de forma sustentável. Há uma quantidade crescente de dados gerados por sensores diversos, drones e pela agricultura de precisão, por exemplo, que estão diretamente ligados à produtividade e que representam um ativo importante na tomada de decisão. Entretanto, há empecilhos que são velhos conhecidos: os problemas de conectividade na área rural, com a limitação na cobertura por telefonia celular e internet. Isso sem falar nas grandes extensões rurais ainda sem energia elétrica. A infraestrutura, ao que parece, é o grande entrave ao desenvolvimento de sistemas inteligentes necessários ao agronegócio.


MIX

Queijo serrano

Em fevereiro, o governador José Ivo Sartori sancionou o projeto de lei 63/2016, que reconhece os municípios que integram os Coredes Campos de Cima da Serra, Hortênsias e Serra como tradicionais produtores de queijo artesanal serrano. A iniciativa fortalece o setor e dá mais segurança para o produtor investir na fabricação, que utiliza leite cru. O queijo deverá ser comercializado somente sob registro específico, emitido pelo órgão de controle sanitário do Estado ou por serviço de inspeção municipal.

Seguro rural Culturas de inverno, especialmente milho e trigo, tiveram um reforço nos recursos do seguro nacional: o governo anunciou mais R$ 80 milhões para a modalidade. Também serão destinados mais R$ 10 milhões para a subvenção das demais atividades, como pecuária, olericultura e florestas ao longo do primeiro semestre de 2017.

Azeite cobiçado Ano após anos, as frondosas árvores de azeitonas vão aparecendo pela pampa. Conforme os últimos dados, já são 2,1 mil hectares de oliveiras distribuídos na região Centro-Sul gaúcha. O Estado conta, ainda, com 11 indústrias para processar a fruta e extrair o cobiçado azeite. Futuramente, o objetivo é ganhar mercado frente ao produto importado, a maior hoje vinda de Portugal e Espanha.

Estímulo à produção Mais de 660 pecuaristas familiares gaúchos serão beneficiados em 2017 pelo Programa de Apoio ao Leite Gaúcho e à Pecuária Familiar, da Secretaria do Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo (SDR). O investimento total é de R$ 455 mil com recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O primeiro contrato coletivo, de R$ 15 mil, foi fechado com Associação de Produtores Rurais do Xanota, de Rosário do Sul.

Fomento no BRDE Armazém cheio A norte-americana AGCO, dona da marca Massey Ferguson, fez uma oferta de R$ 579 milhões para adquirir o controle da gaúcha Kepler Weber, maior fabricante brasileira de silos e sistemas armazenagem. Para tanto, a AGCO comprou a parte detida pela Previ (17%) no capital da Kepler. Com isso, a norte-americana passa a deter 65% da Kepler Weber.

A presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Maria Silvia Bastos, esteve no início de fevereiro em Porto Alegre para reunião com a diretoria do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo-Sul (BRDE). No ranking das instituições credenciadas das operações indiretas do BNDES, de janeiro a dezembro de 2016, o BRDE liderou na região Sul, tendo repassado recursos de R$ 2,37 bilhões.

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MÁQUINAS

Produtor vai ter mais recursos para compra de máquinas em 2017

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om a safra recorde se aproximando, o ano promete ser de recuperação – pelo menos em parte – para os fabricantes de máquinas agrícolas e implementos. Mas, para tanto, é preciso mais crédito. Em reunião em Brasília, a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) pediu ao secretário de Política Agrícola do Ministério de Agricultura, Neri Geller, R$ 11 bilhões em recursos para o Moderfrota no Plano Safra 2017/2018. No ano safra anterior, o volume de dinheiro ofertado pela modalidade foi de R$ 5 bilhões, mas faltou – o governo, então, remanejou mais R$ 2,5 bilhões para cobrir as demandas. “Nós vamos trabalhar a possibilidade de não faltar recursos e aumentar ainda mais esse programa para que o produtor tenha acesso a compra de tratores, colheitadeiras e máquinas, faça estruturação

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da propriedade e, assim, aqueça a economia, gerando emprego e renda”, avaliou Geller. O presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas da Abimaq, Pedro Estevão Bastos, avalia que o setor pretende vender 15% a mais que no ano passado.“Nós entendemos que a agricultura voltou a um patamar normal, com projeção de realizarmos uma boa colheita. Com isso, há sempre aumento da demanda. Além disso, como há uma boa remuneração, o setor aproveita para fazer a troca do maquinário”, destacou Bastos. Os primeiros indicadores de 2017 confirma essa tendência. As vendas de máquinas agrícolas em janeiro foram 74,9% quando comparadas ao primeiro mês de 2016. A produção no segmento cresceu 82,2%: foram 3 mil unidades neste primeiro mês doano contra 1,7 mil em janeiro de 2016. Segundo a Associação Nacional

dos Fabricantes de Veículos (Anfavea), após dois anos seguidos de resultado negativo, a expectativa é de que as vendas internas de máquinas agrícolas cresçam 13% em 2017. As exportações também devem avançar, com um crescimento previsto de 6%. Segundo a Anfavea, em 2016 foram negociadas 42,8 mil unidades, queda de 4,8% sobre as 45 mil em 2015. Os sinais positivos estão animando os produtores. O Show Rural Coopavel, realizado entre 6 e 10 de fevereiro em Cascavel, terminou com R$ 1,5 bilhão em vendas – os contratos de máquinas agrícolas corresponderam a mais de R$ 1 bilhão, valor recorde para o evento. Realizado há 29 anos, o Show Rural leva para a cidade paranaense as principais empresas do agronegócio nacional e internacional. Neste ano, foram mais de 500 expositores e cerca de 240 mil visitantes.



SEMENTES

Muito mais do que só semente

Foto: Bayer

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semente é um dos produtos agrícolas que mais recebem investimentos atualmente. Pudera: a biotecnologia é capaz de fornecer sementes de alto rendimento, mais resistentes à escassez hídrica e às pragas, por exemplo. No Brasil, a indústria de sementes movimenta cerca de R$ 10 bilhões por ano – o terceiro mercado do mundo, atrás de Estados Unidos e China. A indústria de sementes é liderada por Monsanto, Bayer e Syngenta, multinacionais com atuação no Brasil e que detêm tecnologias encontradas hoje nas principais lavouras. A biotecnologia desenvolvida por estas companhias produz resultados impressionantes, segundo a Associação Brasileira de Sementes e Mudas (Abrasem). Em 10 anos, a safra brasileira de sementes saltou de 1,8 milhão de tonelada, no período de 2005/2006, para quase 4 milhões de toneladas de sementes na safra 2015/16. Culturas de maior importância econômica, a soja e o milho são destaque neste mercado – juntas, elas respondem por 74% da produção brasileira de sementes. Nos últimos anos, houve um crescimento e uma maior profissionalização de outros importantes mercados de sementes, como os de forrageiras e de olerícolas, que atualmente representam 11% e 6%, respectivamente, da produção total.


Foto: Bayer

prejudicar a soja. Esse controle é importante para não comprometer a produtividade das plantas. “O sojicultor brasileiro tem um problema seríssimo com a resistência de plantas daninhas a herbicidas. A Liberty Link veio para ajudar neste manejo”, avisa Borsari. A Bayer tem mais de 120 locais de pesquisa apenas no Brasil. As estações estão conectadas para produzir variedades necessárias às características locais. “Esse esforço em biotecnologia é global. O mercado de sementes está muito conectado com o que o agricultor precisa hoje”, destaca ele. A suíça Syngenta destaca que tem direcionado esforços na estruturação e manutenção de modelos de negócios focados em rentabilidade e alavancagem de crescimento ao produtor. “Essa divisão de negócio nos trouxe ótimos resultados, passando pelo aumento de faturamento que registramos em milho”, relata a companhia, por e-mail. Nos últimos anos, a Syngenta

Hugo Borsari Diretor de sementes da Bayer

investiu, globalmente, US$ 1,4 bilhão em pesquisa e desenvolvimento. Em São Paulo, a empresa suíça construiu um centro

Foto: Bayer

O Rio Grande do Sul é o maior produtor nacional, com 550 mil toneladas de sementes (boa parte para soja, trigo e milho). Paraná (498 mil toneladas) e Minas Gerais (470 mil toneladas) completam os primeiros lugares do ranking. Segundo a Abrasem, vários motivos tornam o mercado de sementes um importante elo na produção da agricultura. O principal é a biotecnologia encontrada em cultivares geneticamente modificadas. Isso iniciou um novo período dessa indústria do Brasil, alterando, de maneira significativa, a dinâmica do mercado e relação entre compradores e produtores de sementes. As sementes disponíveis hoje já têm o “pacote completo” – chegam ao mercado não só com alto rendimento, mas com sistemas de proteção ao cultivo embutidos. Na prática, significa que contém produtos contra determinadas pragas que costumam atacar aquela lavoura – seja ainda na fase de crescimento ou já na adulta. Hugo Borsari, diretor de sementes da Bayer, destaca que a companhia está focada, atualmente, em soja e algodão. “O Brasil e os Estados Unidos têm se revezado, nos últimos anos, na liderança da produção mundial de soja. Não podemos ficar de fora deste mercado”, destaca Borsari. Prova disso é que, em 2016, a companhia alemã trouxe para o Brasil sua marca global de sementes de soja, a Credenz. Ela tem genética diferenciada, uma grande e inovadora plataforma de traits (tecnologias), além das soluções Bayer já conhecidas no mercado. A empresa também lançou, em 11 variedades de soja, a tecnologia Liberty Link. Ela permite o uso do herbicida Liberty para o manejo de plantas daninhas sem

As sementes disponíveis hoje já tem o “pacote completo”, não só com alto rendimento mas com sistema de proteção ao cultivo embutidos

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Foto: Sérgio Zacchi

de tratamento de sementes. Chamado de The Seedcare Institute, é o maior da América Latina e realiza diferentes testes nas áreas de tecnologia de aplicação, qualidade assegurada e fisiologia de sementes. Em milho, a Syngenta destaca o portfólio de híbridos. Lançado no início de 2016, o Invictus chegou para seguir galgando os bons resultados colhidos pelo Supremo Viptera e o Fórmula Viptera no campo. “A tecnologia Viptera, da Syngenta, é considerada a mais eficaz do mercado contra as lagartas. Com níveis de precocidade variados, os três híbridos são direcionados para plantios em períodos distintos”, destaca a empresa. Como a colheita não acontece de uma única vez, ao combinar os três híbridos em

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uma única área, o agricultor consegue explorar o máximo potencial produtivo. No Rio Grande do Sul, a empresa desenvolve o projeto Sillus – nele, são combinadas sementes híbridas com foco em milho silagem (milho que tem como destino o processamento para ração de vacas) com tecnologia e assistência técnica para que produtores de leite ganhem em produtividade. O milho, por sinal, tem um perigoso inimigo. O percevejo é hoje uma das pragas que mais atacam as lavouras do cereal no Brasil. Os danos causados pelos percevejos no início do desenvolvimento da cultura do milho influenciam diretamente a produtividade, pois podem gerar danos parciais ou até mesmo matar a plântula (em-

brião do cereal). O aumento da praga tem relação com a prática do plantio de milho safrinha seguido da colheita de soja, onde o percevejo é uma praga primária. Ao plantar a safrinha, a população de percevejos já está numerosa e adulta, causando grande pressão sobre as plântulas. É aí que entra a biotecnologia. Para o controle de percevejos é necessário combinar as técnicas de manejo do inseto com o tratamento de sementes. O monitoramento e o controle de percevejos devem ser feitos desde antes do plantio, com objetivo de reduzir a população inicial da praga. As sementes, por sua vez, contêm inseticidas específicos para dizimar com o percevejo. Já em soja, a Syngenta disponibiliza variedades precoces que agregam alto teto produtivo, o que possibilita ao produtor colher duas safras. Segundo a companhia, os patamares atingidos são muito satisfatórios, tanto no Sul quando no Cerrado brasileiro. “Para citar algumas de nossas principais variedades, podemos destacar Intacta, Syn13671, Syn1366, Vtoria, Syn13561 e Syn1585”, finaliza a empresa. A semente é o principal negócio da Monsanto, tanto no Brasil quanto no mundo. Fundada em 1901, a empresa norte-americana foi pioneira na pesquisa com transgenia de sementes. Os primeiros estudos começaram em 1982. Em 1996, é lançada no mercado norte-americano aquela que seria uma das marcas de soja mais vendidas do mundo: a Roundup, até hoje líder de mercado. Na soja, um dos destaques da Monsanto é a tecnologia Intacta Roundup Ready 2 (RR2 Pro), adotada por mais de 140 mil produtores no Brasil. Ela oferece proteção contra as principais lagartas que


atacam a cultura no país – lagarta da soja, lagarta falsa medideira, lagarta da maçã, broca das axilas, também conhecida como broca dos ponteiros, lagartas do gênero Helicoverpa (como a Helicoverpa armigera) e lagarta elasmo. Para o milho, a Monsanto detém a tecnologia VT Pro 3. Seu principal diferencial é a proteção das raízes da planta. A VT Pro 3 utiliza duas proteínas contra pragas da parte aérea e uma específica contra a larva alfinete (Diabrotica spp.), praga que fica escondida no solo e se alimenta das raízes do milho, diminuindo a capacidade de absorção de água e nutrientes, reduzindo o potencial produtivo da lavoura. O sistema é eficiente, ainda, contra as pragas áreas que atacam as folhas, colmo e espiga do milho – lagartas do cartucho, da espiga, elasmo e broca do colmo. “É com a semente que carregamos tudo – começando pelo germoplasma. São vários anos desenvolvendo uma nova variedade de soja ou milho, sempre com foco em aumento de produtividade”, avalia Téderson Galvan, gerente

de produtos da Monsanto. Segundo ele, soja e milho são as culturas que apresentam tendência de aumento de área e de produção – nelas, a produtividade é essencial. Para o milho, as soluções da Monsanto são oferecidas por meio da Sementes Agroceres, tradicional fabricante brasileira de sementes adquirida pela multinacional norte-americana em 1997.

Fusões aceleradas O mercado de sementes e agroquímicos, recentemente, sofreu reviravoltas. Em fevereiro de 2016, a ChemChina, gigante estatal de química chinesa, anunciou a compra da Syngenta por US$ 43 bilhões. Com 1,4 bilhão de habitantes (21% da população mundial), a China tem apenas 7% das áreas agriculturáveis do mundo. Precisa, urgentemente, impulsionar a alimentação. Cerca de 45% da força de trabalho da China está empregada na agricultura. Há cerca de 300 milhões de trabalhadores do campo - a maioria trabalha em pequenos minifúndios.

A ChemChina acaba de adquirir o controle da Syngenta por U$ 43 bilhões

Segundo a Associação Brasileira de Sementes e Mudas (Abrasem) em relatório sobre o mercado chinês, o arroz e o milho híbridos são as duas culturas mais importantes da agricultura chinesa. Essas, juntamente com cinco outras (trigo, soja, batata, algodão e canola) são as culturas sobre as quais o governo chinês exige registros e mantém uma rígida lei de sementes. A fusão deve ajudar a fomentar o mercado agrícola da China – que já é enorme. De acordo com estatísticas publicadas pelo Ministério da Agricultura do país asiático, a área de plantio dos sete cultivos agrícolas citados acima somou 117,2 milhões de hectares em 2015 – no Brasil, para comparação, a safra anual ocupa cerca de 58 milhões de hectares. A Bayer não ficou atrás: fechou acordo para adquirir a maior produtora mundial de sementes, a norte-americana Monsanto, por US$ 66 bilhões, em setembro de 2016. A união delas irá resultar na maior fornecedora de sementes e insumos agrícolas do mundo, com receita de US$ 26 bilhões apenas neste segmento. Conforme estimativas do banco Morgan Stanley, a combinação das empresas resultará em 28% de participação no mercado de defensivos, 36% do mercado de sementes transgênicas de milho e 28% do mercado de soja. E tem mais: em dezembro de 2015, a DuPont (dona da tradicional marca de sementes Pioneer) anunciou união com a concorrente Dow Chemical, um negócio estimado em US$ 130 bilhões. Depois de concluída a fusão, a nova companhia, denominada DowDuPont, será dividida em três empresas distintas, com foco em agricultura, materiais industriais e produtos químicos.

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Foto: Divulgação Farsul

FARSUL 90 ANOS

Na liderança do agronegócio

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om um novo edifício-sede em construção, a Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul) faz de 2017 um ano de celebrações para comemorar os 90 anos de existência da entidade, em maio próximo. Localizado junto à sede atual, na Praça Saint Pastous, em Porto Alegre, o novo prédio de sete andares vai abrigar as três entidades que compõem o Sistema Farsul (a federação, o Senar e a Casa Rural). Serão três andares de estacionamento, com 43 boxes, e quatro

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andares de salas versáteis. A estimava é que o edifício esteja pronto a tempo das comemorações, no fim de maio. A fachada será de alumínio revestido por vidros de alto desempenho. Estão previstos ainda terraço, gerador de energia que alimentará os dois prédios, sistema de ar-condicionado com baixo custo de energia e mais dois elevadores. Precursora da Farsul, a Federação das Associações Rurais do Rio Grande do Sul foi criada a partir da fusão de associações sur-

gidas nos pampas. Oficialmente, a Farsul surgiu em 24 de maio de 1927, em uma cerimônia no Theatro São Pedro, em Porto Alegre. Desde então, muita coisa mudou na agricultura e na pecuária. A organização do setor aliada à pesquisa e à extensão rural multiplicou a produtividade de diversas culturas, como soja, milho e arroz. A carne bovina do Rio Grande do Sul ganhou mercados e se prepara, agora, para abastecer parte das necessidades dos Estados Unidos. Durante o lançamento da pedra fundamental do novo edifício, o presidente da Farsul, Carlos Sperotto, destacou que a entidade chega forte aos 90 anos, e que a construção do prédio anexo será um novo capítulo na história da federação. Entre marcantes ações da Farsul


Foto: Gerson Raugust Foto: Gerson Raugust

O presidente Carlos Sperotto, com o governador Ivo Sartori, no lançamento da pedra fundamental da nova sede do Sistema Farsul durante sua trajetória estão ações como o movimento contra as invasões de terra, a luta pela redução do endividamento agrícola, a articulação junto aos governos estadual e federal de demandas

históricas da classe rural, como seguro agrícola. É por meio do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar-RS), criado em 1993, que a Farsul fomenta atividades voltadas

ao conhecimento do homem do campo. Entre suas várias ações, estão programas de treinamento e cursos de capacitação profissional. Ano passado, entre palestras, oficinas, seminários, cursos e programas, o Senar-RS atendeu a 162.214 pessoas, crescimento de 10,48% em relação a 2015. A Casa Rural, por sua vez, surgiu em 2004 com o objetivo de auxiliar o acesso do produtor às informações de mercado, como preços de insumos, custos de produção e serviços essenciais às atividades da agricultura. A chegada dos 90 anos prevê, ainda, mais atividades, como o desenvolvimento de um novo alinhamento estratégico,a interiorização cadavez maior do Sistema Farsul, e a atenção especial aos jovens e à sucessão de lideranças nosetor e na propriedade rural.

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MILHO

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Produtividade do milho é triplicada em 20 anos

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le perdeu espaço em área plantada, mas não em importância econômica e alimentar. Vastos milharais se estendem por quilômetros adentro do pampa gaúcho. O milho enfrenta a forte concorrência da soja, mais valorizada, além de sofrer maior impacto em épocas de escassez hídrica. O cereal também é o principal componente da ração animal na pecuária leiteira e nas cadeias da suinocultura e da avicultura. A colheita do milho, iniciada em janeiro, deve resultar em um volume de 5,5 milhões de toneladas nesta safra. Com uma área plantada estimada em 900 mil hectares, a produtividade, em algumas regiões, chega a superar 6,4 mil quilos por hectare (a média de 2016 foi de 6 mil quilos). Os números colocam o Rio Grande do Sul entre os seis maiores produtores de milho do Brasil, conforme dados da Emater-RS. Produtores aceleram a colheita no primeiro trimestre em razão do início da colheita da soja, preferencial entre as culturas. As condições de tempo permitiram que a colheita da área de milho alcançasse 45%. A qualidade do cereal é muito boa, não apresentando índices significativos de grãos avariados. Segundo informações da Emater, embora com umidade variando bastante entre o dia e a noite, os produtores estão colhendo as lavouras dentro dos parâmetros de umidade ideal. Há 20 anos, o cenário era bem diferente. O milho ocupava 1,3 milhão de hectares nas lavouras, mas a produtividade nem de

longe lembra a atual: era de 2,1 mil quilos por hectare. A safra alcançava 3 milhões de toneladas. “A soja é um grande concorrente hoje do milho. Perdemos em área, mas aumentamos a produtividade. É isso que tem nos salvado”, avalia Cláudio de Jesus, presidente da Associação dos Produtores de Milho do Rio Grande do Sul (Apromilho). Há, ainda, a questão do preço. Ano passado, a saca de 60 quilos sofreu forte valorização – de uma média de R$ 26,00 no início do ano chegou a bater nos R$ 50,00 em meados de 2016. A elevação em curtíssimo tempo gerou reclamações das cadeias produtivas de aves, suínos e leite. O milho é o principal ingrediente das rações destes animais. “O milho a R$ 50,00 só esculhambou o mercado agrícola. Não ajuda em nada a cadeia produtiva. O preço ideal, hoje, seria entre R$ 32,00 e R$ 35,00. Abaixo de R$ 30,00 nem estimula o agricultor a produzir”, avisa ele. O presidente da Apromilho destaca que há três fatores limitadores ao crescimento da cultura do milho no Estado. Segundo Cláudio de Jesus, o primeiro é a pequena área irrigada – hoje, de apenas 100 mil hectares, conforme dados da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Irrigação. Seria necessário ampliar esta cobertura, uma vez que o milho é mais sensível à falta de umidade que a soja. Um dos objetivos do Agro+ RS, programa que visa desburocratizar agronegócio, é justamente fomentar as ações de irri-

gação para várias culturas, como o milho. Em 2016, a iniciativa simplificou o acesso dos produtores a sistemas modernos de irrigação, ao extinguir, em alguns casos, a necessidade de licença para o pivô. Falta, ainda, um adequado seguro agrícola, com coberturas específicas para a cultura e que leve em conta as necessidades do agricultor. Hoje, o seguro disponível não é ideal para o milho, na avaliação de Cláudio de Jesus. Por último, a irregularidade de preço afeta e muito o mercado. “Quando está alto é ruim para o consumidor. Quando está baixo, é ruim para o produtor. Falta um mecanismo de estabilidade”, completa o dirigente. O presidente da Federação das Cooperativas Agrícolas do Rio Grande do Sul (Fecoagro-RS), Paulo Pires, segue na mesma direção. “O grande problema do milho hoje é o clima – ele é mais suscetível à falta de água. Precisamos de um mecanismo de custeio governamental que garanta ao produtor um preço razoável. Quando houver esse equilíbrio, acredito que teremos aumento na área plantada e na produção”, completa Pires. Quanto ao preço, a tendência é de baixa no Rio Grande do Sul. De acordo com a Emater, o preço médio da saca de 60 quilos do milho teve queda nos primeiros meses, caindo a R$ 28,00 pago ao produtor. Em relatório, a Emater alerta que, com a redução, “a comercialização ficou travada, pois ao invés de vender o milho a esse preço baixo, os agricultores preferem colher a soja e planejar o plantio de inverno, retendo a safra até ocorrer uma melhor definição do mercado”. No Brasil, depois de um ano de safra menor devido à seca no Centro-Oeste, a perspectiva é que o volume de milho colhido

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alcance as 94 milhões de toneladas, alta de 32% sobre o ano anterior. A consultoria Agroconsult estima que o mercado interno absorva 62 milhões de toneladas – uma boa notícia para os produtores de proteína animal, que precisam do milho a custos menores. Contudo, segundo a consultoria, o desafio é exportar os 30 milhões excedentes de milho até o fim do ano para que os preços não fiquem pressionados demais no mercado interno. Em 2016, o principal destino dos embarques brasileiros do cereal foi o continente asiático, com o Irã representando 42% do total exportado em 2016.

Manejo de pragas reduz custo de lavouras Além de acelerar os ganhos com a colheita, o verão é época de planejar a segunda safra nas lavouras e também de monitorar as diferentes pragas que podem afetar o sistema de produção. O milho e o sorgo devem ser alvos de atenção redobrada.

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Paulo Pires, Presidente da Fecoagro-RS

Segundo o pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo Paulo Afonso Viana, o aumento da população de insetos, em especial das lagartas, acontece em razão do uso intensivo de culturas, associado ao clima favorável. “Inicialmente, as lavouras são ataca-

das por lagartas que danificam a base do colmo das plantas. Posteriormente, ocorrem as pragas de hábito aéreo, que atacam as folhas, o colmo e as espigas”, diz. Uma das principais espécies de insetos-praga da fase inicial das lavouras de milho e sorgo é a lagarta-elasmo. O animal causa sérios prejuízos a essas culturas e a diversas outras das famílias das gramíneas e das leguminosas, principalmente quando ocorre um período de estiagem logo após a emergência das plantas. Também merecem destaque, pela importância econômica dos danos que podem causar, a larva-alfinete, para o milho; a larva-arame para o milho, o sorgo e o milheto; os corós e os percevejos barriga-verde para o milho. De acordo com Viana, para fazer um controle mais eficaz e evitar danos econômicos, o produtor deve pensar no complexo de pragas do sistema de produção como um todo e monitorar o animal desde o início, nas diversas culturas. “Para isso é necessário conhecer o histórico da área a ser cultivada, identificando os principais problemas fitossanitários apresentados ao longo


dos últimos anos”, explica o pesquisador. O segundo passo é realizar o monitoramento populacional da praga no campo e conhecer suas principais características biológicas. “É importante ressaltar que uma identificação incorreta do inseto pode acarretar insucesso nas medidas de controle”, afirma Viana. No caso do milho, as pragas iniciais atacam as sementes, raízes e plântulas (plantas jovens) do milho após a semeadura. O tipo de ataque reduz o número de plantas na área cultivada e o potencial produtivo da lavoura. Esses insetos são de hábito subterrâneo ou superficiais e, quase sempre, passam despercebidos pelo agricultor, dificultando o emprego de medidas para o seu controle. Existem outros animais de ocorrência esporádica que também podem trazer prejuízos. As principais são a lagarta-do-cartucho, atacando a base do colmo da planta; a lagarta-rosca, que ‘corta’ o colmo; os tripes, raspando o limbo foliar; e os cupins de hábitos subterrâneos dos gêneros Proconitermes e Syntermes, atacando as raízes. Em determi-

O Doutor Milho é capaz orientar o comportamento das lavouras e sugerir práticas agronômicas que podem aumentar sua produtividade nadas condições, essas espécies podem demandar medidas de controle antes de atingirem elevados níveis populacionais.

Controle na palma da mão Para o produtor, uma ferramenta tecnológica capaz de auxiliar no acompanhamento do ciclo da planta de milho, em cada um dos seus estágios fenológicos, visando um manejo eficiente e sustentável das lavouras seria um aliado importante. Este aplicativo existe e foi criado pela Embrapa Milho e Sorgo em 2015. O lançamento ocorreu em fevereiro, durante a Show Rural Coopavel. O aplicativo começou a ser desenvolvido por uma equipe da Embrapa Milho e Sorgo porque havia necessidade de se identificar a etapa correta de desenvolvimento de cada planta. O Doutor Milho, como é conhecido, é capaz

de orientar o acompanhamento das lavouras e chamar a atenção para práticas agronômicas importantes, que podem conferir maior produtividade e renda. O funcionamento do aplicativo é bastante simples. Para conhecer as práticas mais importantes a serem adotadas, o usuário deve identificar corretamente o estágio fenológico em que sua lavoura se encontra. A partir daí, são descritas as recomendações para cada fase de desenvolvimento, orientando o processo de tomada de decisão. O Doutor Milho funciona no modo off-line, sendo que a referência que deve ser seguida é a data de emergência das plantas. São apenas quatro passos que devem ser seguidos: cadastrar o talhão da lavoura; verificar o estágio correto da planta; confirmar o estágio correto; e obter as práticas recomendadas de manejo. Por enquanto, o app está disponível para os sistemas Android e iOS.

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MANDIOCA

Raiz poderosa

O

s índios foram os primeiros a encontrar na mandioca um aliado importante na alimentação. O ingrediente é, até hoje, muito presente na culinária indígena e ganhou, ainda, a mesa do brasileiro. A ideia não chega a ser uma novidade, mas em tempos de alta nos custos do milho para produzir ração a mandioca é lembrada como uma alternativa ao produtor para alimentação animal. Tanto pesquisadores quando produtores concordam com os benefícios da raiz, mas a adoção da mandioca como substituta para milho e soja esbarra em diversos empecilhos. O engenheiro agrônomo aposentado da Emater Luiz Fernando Gerhard destaca que tanto a

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raiz quanto a folha da mandioca são aproveitáveis na composição de ração, desde que devidamente processadas. “O cuidado é necessário para retirar o ácido cianídrico, presente na planta. Depois, a mandioca pode ser livremente usada para alimentar qualquer animal”, avisa Gerhard. Seja raiz, casca ou parte aérea (as folhas), tudo é aproveitado. Cortada, picada e moída, a raiz é então deixada para secar. A partir de então, parte dela pode entrar na composição de ração para bovinos junto com a silagem, por exemplo. No caso dos suínos, conforme Gerhard, é utilizada a raiz além dos ramos aéreos. “Aliás, a parte aérea da mandioca tem maior concentração de vitaminas que alguns componentes utilizados nas rações tradicionais

Luiz Fernando Gerhard, engenheiro agrônomo


Rogério Kerber, Diretor executivo do Sindicato das Indústrias de Produtos Suínos com farelo de soja e milho. A raiz também uma fonte grande de energia”, conta ele. Gerhard relata que, em estudos realizados em parceria com universidades, a adoção de mandioca na formulação de rações animais, em alguns casos, reduziu os custos com alimentação em até 40%. “Isto se reflete em menor gastos para produzir ovos, carne e leite, por exemplo”, conta. Já o pesquisador da Embrapa Frederico Lisita destaca que a mandioca utilizada no processo deve ser aquela que não tem mais serventia para o consumo: pode ser tanto o produto que não foi vendido na feira quanto a raiz que passou do ponto de colheita. “A ideia é trabalhar com aquelas raízes que não estão mais cozinhando”, diz. A umidade é um fator importante para a concentração de energia. Por exemplo: a raiz fresca tem menos de 1.500 kcal por quilo de massa fresca. Ago-

ra, quando desidratada, varia de varia de 3.200 a 3.600 kcal. Por isso o processo ajuda a conservar melhor a raiz depois de colhida e aumenta o valor nutricional, o que ajuda na composição dos alimentos.“Essa mandioca que iria estragar pode ser triturada, secada e conservada durante muito tempo. Ela pode ficar um ano assim, sendo usada para a ração”, avisa o pesquisador da Embrapa. Há outros pontos favoráveis. A mandioca é um dos cultivos mais fáceis. Tem alta eficiência biológica – converte maior quantidade de energia solar em carboidratos, por unidade de área. A planta, aproveitada de forma integral, é uma excelente forragem, rica em proteína, carboidratos, vitaminas e minerais, além de ser de alta aceitação pelos animais. Apesar das vantagens, a prática ainda é pouco utilizada. Conforme o engenheiro agrônomo, o processo exige muita mão de obra no preparo da mandioca. “Esse é um fator limitante. Outro

Frederico Lisita, Pesquisador da Embrapa

é o comodismo do sistema. Desde a nossa formação acadêmica, tudo tem milho e soja como base. Claro que temos alternativas hoje, mas adoção delas é muito acanhada”, avalia ele. O diretor-executivo do Sindicato das Indústrias de Produtos Suínos do Rio Grande do Sul (Sips), Rogério Kerber, considera positiva a mandioca como alternativa, mas sem chance de ser utilizada em larga escala. “Não temos produçãoda raiz com este fim, seja no Rio Grande do Sul ou no Brasil. Historicamente, a mandioca é usada para subsistência”, conta. Ainda na década de 1960 – antes dos modernos sistemas de integração produtiva - recorda Kerber, a raiz entrava na alimentação dos suínos em uma espécie de cozido. “Naquela época, o produtor tinha as matrizes e ainda cultivava na propriedade a mandioca para alimentação. Isso mudou muito. Ela até pode ser utilizada, mas é de uma eventualidade muito pequena hoje”, relata o diretor do Sips. Em algumas rações, o milho responde por até 70% da composição final. Há, ainda, o farelo de soja e um pouco de trigo. “Isso varia de ração para ração. Há animais em período de lactação, de gestação, outros em terminação. Você pode diminuir um pouco aqui e ali o milho, mas ele é fonte de energia. Enquanto o milho possui 8% de óleo, o trigo não tem nada”, explica Kerber. Em 2016, de acordo com levantamento do IBGE, a produção nacional alcançou 23 milhões de toneladas. Com excelente produtividade (15 toneladas por hectare), a mandioca ocupa cerca de 1,5 milhão de hectares no Brasil. Embora parece grande em volume, praticamente toda a mandioca colhida é vendida em feiras e no varejo, sem virar subprodutos como farelo para ração animal.

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AGRICULTURA FAMILIAR

Mais força para a agricultura familiar Governo federal deve comprar R$ 260 milhões de alimentos de pequenos produtores

Ó

rgãos da administração pública devem investir R$ 260 milhões na compra de alimentos da agricultura familiar em 2017. O valor corresponde a um aumento de 430% quando comparado ao valor investido em 2016, de R$ 61 milhões. Levantamento divulgado pelo ministério mostra a importância dos pequenos negócios rurais no agronegócio brasileiros. A agricultura familiar soma 4,3 milhões de propriedade rurais – elas detém 74% da mão de obra do campo e respondem por 33% do valor bruto de tudo que é produzido no campo e na pecuária.

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No caso do feijão, 70% da produção sai de pequenas propriedades – índice que chega a 58% no leite e a 68% nas hortaliças. As compras serão feitas por meio da modalidade Compra Institucional do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário. A atual legislação determina que órgãos da administração pública federal comprem, no mínimo, 30% dos gêneros alimentícios dos agricultores familiares. A compra institucional promove uma alimentação mais saudável, uma vez que a oferta dos alimentos está mais próxi-

ma dos consumidores. Os órgãos adquirem produtos mais frescos e diversificados, além de colaborarem com o desenvolvimento da economia na região. O Ministério da Defesa, um dos principais parceiros da modalidade, fez a maior aquisição em um único edital em outubro do ano passado e investiu mais de R$ 13 milhões na obtenção de 102 tipos de alimentos. Os produtos atenderam a demandas da administração central do ministério e das unidades do Exército Brasileiro, Marinha do Brasil e Força Aérea Brasileira no Distrito Federal. Na compra institucional, os alimentos são adquiridos com recursos próprios do órgão público e não há necessidade de procedimento licitatório. Cada família agricultora pode comercializar R$ 20 mil por ano por órgão comprador. Para os empreendimentos da agricultura familiar, o valor é de R$ 6 milhões por ano por órgão comprador. Outra novidade para o pequeno produtor ocorreu em fevereiro. O Ministério de Agricultura publicou instrução normativa estimulando a criação e a formalização de agroindústrias familiares. As regras que orientavam a produção de laticínios, ovos e mel comuns aos médios e grandes produtores foram flexibilizadas para viabilizar os pequenos negócios. A legislação é voltada para estabelecimentos de até 250 metros quadrados. Com a mudança, são adequadas as exigências de equipamentos e de instalações para essas pequenas agroindústrias sem abrir mão de parâmetros higiênicos e sanitários. “Serão mantidos cuidados relativos à temperatura e tempo de cozimento ou de resfriamento dos produtos, preservando a segurança dos alimentos e a saúde pública”, explica Luis Rangel, secretário de Defesa Agropecuária do Mapa.


SAFRA

Safra recorde impulsiona o campo

S

afra recorde impulsiona o campo Expectativas favoráveis em relação à safra de grãos deste ano, estimada em 219 milhões de toneladas pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e de 33 milhões de toneladas no Rio Grande do Sul, além do aumento da produtividade, são as principais razões para o prognóstico favorável do faturamento da agropecuária em 2017. Esse resultado, e não os preços, deve determinar o resultado neste ano. Desse modo, o Valor Bruto da Produção (VBP) esperado é de R$ 545,9 bilhões, superior ao do ano passado, que foi de R$ 530 bilhões. O aumento realé de 2,9%. A estimativa é da Secretaria de Política Agrícola (SPA) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). No caso da agricultura, conforme a Conab, o crescimento deverá ser de 17,4% em relação àsafra anterior – aumento de 32

milhões de toneladas nos 219 milhões de toneladas previstos. A área plantada está estimada em 59,54 milhões dehectares. A soja e o milho permanecem como principais culturasproduzidas no País. Os dois produtos correspondema quase 90% do que é produzido. A soja devealcançar uma produção acima de 105,56 milhões detoneladas. Para o milho a estimativa é de 87,41 milhõesde toneladas, distribuídas entre primeira safra(28,81 milhões de toneladas) e segunda safra (58,59milhões de toneladas). Já o arroz e feijão devem alcançar uma produção de11,89 milhões de toneladas e 3,28 milhões de toneladas,respectivamente. O Rio Grande do Sul, que responde por mais de 70% do arroz nacional, deve colher 8 milhões de toneladas nesta safra. Entre outros produtos para os quais se espera bom desempenho estão o feijão, com alta de 38%;

milho, 33%; fumo, 22,2%; e uva, 50%. Na pecuária, o melhor desempenho vem sendo observado em carne suína, leite e ovos. Esses produtos vêm tendo melhora nos preços neste ano. As lavouras representam 66,8% do VBP, e a pecuária, 33,2%. Em relação a 2016, as lavouras tiveram crescimento real no valor de 5,6%, e a pecuária decréscimo de 2,2%. No Rio Grande do Sul, a soja deve resultar em quase 17 milhões de toneladas colhidas; o milho, por sua vez, embora com redução na área, a alta produtividade irá garantir 5,5 milhões de toneladas aos agricultores; e o arroz, neste ano, deve chegar a 8,4 milhões de toneladas. As regiões Sul e Centro-Oeste lideram o faturamento esperado – o Sul com R$ 154,2 bilhões e o Centro-Oeste com R$ 150,2 bilhões.Em seguida, vêm Sudeste, com R$ 143,4 bilhões; Nordeste, com R$ 52,4 bilhões; e Norte, com R$ 32 bilhões.

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LEITE

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A instabilidade da indústria do leite Foto: Agência Brasil

N

o campo, a intrincada equação composta por custos, receita, lucro, oferta e demanda dita o rumo dos negócios em todas as cadeias produtivas. Para quem vive do leite, seja na propriedade rural ou na indústria, a matemática tem se mostrado mais complicada: fatores como clima, preços internacionais, importações e custos de produção refletem diretamente no desempenho, causando oscilações de mercado. Tome-se 2016 como exemplo. Para o consumidor, o litro do leite UHT chegou a custar R$ 4,00 nas gôndolas dos supermercados nos primeiros meses do ano, alta de quase 50% em poucos meses. Segundo relatório do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, que acompanha o mercado leiteiro, uma situação atípica atingiu em cheio a produção brasileira: o aumento significativo no volume de chuvas atrapalhou a qualidade das pastagens e a logística para coleta do leite nas propriedades. Com a produção no campo abaixo do esperado e com o avanço da entressafra, os estoques das indústrias reduziram, impulsionando os valores ao produtor a patamares recordes. Essa alta acelerada durou alguns meses. De acordo com o Cepea, com a chegada das chuvas a partir de agosto, houve forte recuperação dos estoques e a consequente queda nos preços verificadas a partir dos últimos meses de 2016. As importações também

O litro do Leite UHT chegou a custar R$ 4,00 nos supermercados gaúchos tiveram alta acelerada. Quanto aos custos de produção, eles não deram trégua: seguiram em alta em 2016. O custo geral acelerou 5,26%, abaixo do IPCA, que subiu 6,29% no ano passado. O item que mais se valorizou em 2016 foi o concentrado (11,6%) – quase o dobro da inflação. Na alimentação das vacas leiteiras, o concentrado é composto, geralmente, por milho, farelo de soja e silagem. Os gastos com alimentação dos animais respondem por quase 50% dos custos na pecuária leiteira. Alexandre Guerra, presidente do Sindicato da Indústria de Laticínios do RS (Sindilat), concorda que o pico de preços verificado ano passado, principalmente quando se examina o leite UHT, foi algo inédito. “Entretanto, os últimos quatro meses de 2016 puxaram o preço do produto para baixo, e forte. Isso fez com que as indústrias trabalhassem praticamente em um empate técnico. Ainda não temos os números totais, mas 2016 foi um ano de margens bem justas”, explica. Guerra destaca que a composição dos custos, junto com a oferta e a demanda do leite, deve

ser examinada em um contexto maior. “A inflação é repassada para toda a cadeia nas etapas produtivas. Mas quando cai o preço pela lei da oferta e da procura, o custo segue o mesmo e a indústria não para. O que fazemos é acompanhar, digamos, essa ‘lei’ para ajustar os negócios”, exemplifica ele. No caso do leite UHT, por exemplo, 60% do que é produzido no Rio Grande do Sul segue para outros estados e disputa mercados com competidores fortes, como o leite do Paraná, de Minas Gerais e de Goiás. “Atualmente, neste período entre março e abril, ocorre a menor produção do UHT e os preços ao consumidor sobem. É natural, até porque a produção de Minas e de Goiás não subiu como deveria. Então o leite UHT depende de um mercado nacional em constante mudança”, destaca o presidente do Sindilat.

Influência de muitos fatores A questão da alta do milho, que pegou todo mundo de surpresa

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Foto: Carolina Jardine

Alexandre Guerra, Presidente do Sindilat

ano passado – com a saca passando de R$ 30,00 para R$ 50,00 em poucos meses – atingiu em cheio a suinocultura, a avicultura e também a pecuária de leite. Além de entrar no custo da alimentação, o milho se torna atrativo como alternativa de renda. “O produtor de leite tem lá sua área também para grãos. Se a soja e o milho estão melhores em termos de mercado, ele se foca nisso e reduz o leite”, avisa Alexandre Guerra. Ele alerta, também, que o leite é uma atividade familiar e essencialmente braçal ainda nos dias de hoje – são duas ordenhas diárias. Exige mais dedicação diária que os grãos, por exemplo. Não se pode esquecer do mercado externo. Segundo a Embrapa Gado de Leite, um dos fatores que mexeu fortemente com os preços aqui no Brasil, ano passado, foram as cotações internacionais. Nos leilões da plataforma Global Dairy Trade (GDT), principalmente ferramenta formado-

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ra de preços do leite no mundo, a tonelada do produto em pó chegou a ser vendida, em julho, por US$ 2.062.00, preço muito abaixo da média. Isso favoreceu a importação de leite da Argentina e do Uruguai. Em dezembro, conforme dados da Embrapa, o indicador da GDT estava pagando pela tonelada do leite em pó US$ 3.568.00, valor bem mais alinhado com o mercado. A expectativa é de que essa seja a média dos preços internacionais ao longo de 2017, reduzindo a competitividade das importações, possibilitando uma recuperação da produção doméstica. Já para o homem do campo, a oscilação entre oferta e demanda, junto com os custos crescentes de produção, dificultam um planejamento mais rígido. “Em média, o preço pago hoje ao produtor é de R$ 1,26. Isto é suficiente para atingir um ponto de equilíbrio entre custo e ganho, mas é insuficiente para fomentar uma atividade que exige investimentos constantes, como em genética, para dar saltos de qualidade”, avisa Wlademir Dall’Bosco, pre-

sidente da Associação das Pequenas Indústrias de Laticínios do Rio Grande do Sul (Apil). Ele reclama, ainda, que falta no Estado uma política de governo específica para o leite. Entre as dificuldades enfrentadas pelo setor, conforme Dall’Bosco, está a migração dos jovens da zona rural para as cidades. Atualmente, o Rio Grande do Sul tem cerca de 115 mil famílias produzindo leite comercialmente. Em muitas delas, a atividade encontra-se em um beco sem saída: falta sucessor. Sem uma renda satisfatória com o leite, o jovem simplesmente abandona o campo e segue para o meio urbano. O que hoje não parece grave para quem vê de longe a situação, entretanto, terá consequências ruins em um futuro não muito longe. “Hoje, em 63% das propriedades que vivem da pecuária leiteira, o mantenedor tem 55 anos, em média. Dentro de mais alguns anos, este produtor estará aposentado. Quem vai seguir com o negócio?”, pondera ele. Bosco acredita que pode haver uma recuperação nos preços a partir de maio deste ano. Mas

O preço pago hoje ao produtor é de R$ 1,26, em média


Foto: AgroEffective

Wlademir Dall’Bosco,

Presidente da Associação das Pequenas Indústrias de Laticíninos do RS isso depende, em parte, de algo que toda a economia brasileira desde o agronegócio, a indústria e o comércio - espera ansiosamente: a recuperação na renda das famílias e a redução do desemprego, fatores essenciais para movimentar a roda do consumo.

“Há, ainda, conhecidos pontos como redução da carga tributária e manutenção dos incentivos fiscais nas indústrias. Sem isso, o leite, principalmente as pequenas indústrias, não têm como levar seus negócios adiante”, avalia o executivo da Apil. Para o Sindilat, o ramo alimentício é o último a sofrer com a crise. As pessoas deixam de fazer outros investimentos, saem menos de casa, mas não param de comer. A lógica vale para o leite e derivados. “Obviamente que uma melhor distribuição de renda, mais qualificada, contribui para aquecer o mercado do leite e é isso que esperamos em 2017. Mas o que vemos, hoje, é o consumidor – assim como a indústria – fazendo ajustes: muda de marca, reduz a quantidade, mas não deixa de comprar”, destaca Alexandre Guerra. No resultado da conta do leite, o saldo é mais positivo que negativo. A atividade exige dedicação, cuidados e investimentos desde a produção até o envase, mas contribui para fortalecer a economia do Rio Grande do Sul, hoje o terceiro maior produtor do Brasil em 2016, segundo o IBGE, o Paraná tomou o segundo lugar dos gaúchos por algumas caixas de leite a mais. Nada que não possa ser revertido com um aumento na produção em um ano cercado de expectativas positivas. Minas Gerais segue liderando em volume.

O contexto internacional Conforme dados do Ministério da Indústria, Comércio e Serviços, a balança comercial de lácteos terminou 2016 com déficit de US$ 484,5 milhões. O aumento foi de 401% em relação a 2015. O Brasil importou 243 mil toneladas de leite e derivados no ano,

enquanto exportou apenas 51 mil toneladas. O fraco desempenho, segundo o ministério, decorre da queda da produção e da alta de preços dos produtos nacionais (menor competitividade no mercado internacional). Além disso, importantes clientes, como a Venezuela, reduziram as compras em 2016. A menor disponibilidade interna, com a diminuição na produção, e as quedas de preços dos lácteos no mercado internacional na primeira metade do ano, estimularam as compras fora do Brasil. Para a Scot Consultoria, alguns indicadores levam a crer que as importações devem ser menores em 2017.Apesar das recentes quedas nos preços dos produtos no mercado internacional, existem sinais de recuperação das cotações devido à menor oferta mundial. A expectativa de melhora gradual na produção nacional também deve contribuir para o cenário.Outro fator importante, o dólar, apesar das incertezas, deve permanecer em patamares acima de R$3,10 este ano. O câmbio pode favorecer as exportações, visto a maior rentabilidade com a venda do produto. Também existe o fator China: após abertura do mercado para os lácteos brasileiros em setembro de 2015, o gigante asiático ainda não comprou volumes significativos. Porém, a expectativa de queda na produção doméstica chinesa deve colaborar para incremento do volume importado pelo país, o que deve contribuir para uma demanda mundial firme. Para 2017, a conjuntura tende a ser menos prejudicial para o mercado leiteiro do Brasil no cenário internacional – o déficit na balança deve continuar, mas com resultado menor que o de 2016.

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FLORESTAS

Riqueza verde

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e uma floresta de eucaliptos no interior do Estado até os embarques de celulose no porto de Rio Grande, uma gigantesca cadeia econômica movimenta a chamada indústria florestal, também conhecida como silvicultura. O segmento, um dos mais importantes do agronegócio e da indústria, já responde por 4% do PIB do Rio Grande do Sul. Segundo a Associação Gaúcha de Empresas Florestais (Ageflor), a indústria de base florestal gera 7% dos empregos e 3% da arrecadação de impostos do Estado. O Rio Grande do Sul possui 8% da área florestal do Brasil e desponta no cenário nacional com 10% do consumo de madeira do todo País (20 milhões de m³ apenas em solo gaúcho) – a matéria-prima é utilizada, principalmente, na produção de celulose e na indústria moveleira. Há cerca de 2.300 empresas que integram a cadeia produtiva florestal gaúcha, com destaque para o segmento de móveis de madeira, que concentra 95% destas empresas, localizadas nos polos moveleiros de Bento Gonçalves e de Lagoa Vermelha. Na região metropolitana de Porto Alegre encontram-se as principais empresas de painéis de madeira e de celulose. “O Estado tem uma aptidão técnica e ambiental muito favorável à silvicultura. Outro fator importante é a questão logística: apesar das deficiências, temos portos, estradas e hidrovias que nos favorecem. Mato Grosso, por exemplo, tem um custo logístico muito maior devido às distâncias”, avalia Dio-

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Diego Leuck, Presidente da Ageflor

planeta. A transformação repercutiu, como era de se esperar, no quesito ambiental. Dos 324 mil hectares de florestas hoje da Celulose Rio-Grandense, 145 mil hectares estão dedicados à preservação de vegetação, rios, fauna e flora. “Somos, hoje, o maior proprietário de áreas de preservação ambiental no Rio Grande do Sul”, conta Nunes. A Celulose Rio-Grandense mantém, ainda, a Reserva Barba Negra: um santuário de 2,4 mil hectares completamente intocado às margens da Lagoa dos Patos – a área está incluída nos 10,5 mil hectares da Fazenda Barba Negra, de propriedade da empresa de celulose. É a maior área da CMPC no Estado destinada às florestas de eucalipto, localizada no município de Barra do Ribeiro. Em suas terras, além de um valioso patrimônio histórico (casarão colonial e capela de arquitetura portuguesa construídos

Foto: Fernando Dias - SEAPI

go Leuck, presidente da Ageflor. De fato, o pampa tem uma história de mais de um século relacionada às florestas plantadas, quando foram estabelecidos os primeiros plantios de acácia negra para fins industriais, seguidos dos plantios de eucalipto e de pinus. Posteriormente estímulos governamentais, como incentivos fiscais ao reflorestamento oferecidos na década de 1960, impulsionaram a formação da atual base florestal ampliada pelos plantios que se seguiram. Hoje, segundo a Ageflor, o Rio Grande do Sul possui cerca de 600 mil hectares de florestas comerciais (2% da área do Estado). A maior parte, cerca de 310 mil hectares, é ocupada por eucalipto. Foi a partir do incentivo ao cultivo de eucalipto que a primeira fábrica de celulose de fibra curta chegou ao Rio Grande do Sul: em 1972, a norueguesa Borregaard instalou uma planta em Guaíba, abastecida com a madeira de grandes hortos florestais e com parcerias de pequenos e médios proprietários. Fechada anos depois devido a questões ambientais e trocando de donos nas décadas seguintes, a unidade foi o embrião do maior investimento privado da história do Rio Grande do Sul: a ampliação da Celulose Rio-Grandense ao custo de R$ 5 bilhões. Pertencente ao grupo chileno CMPC, a gigantesca fábrica quadruplicou a produção: o volume anual de celulose produzida passou de 450 mil toneladas em 2011 para 1,75 milhão de toneladas ano passado. “Mais de 90% da produção é exportada para Ásia, Europa e América do Norte”, explica o diretor-presidente da Celulose Rio-Grandense, Walter Lídio Nunes. A ampliação transformou a unidade em uma das mais modernas fábricas de celulose do


no século XVIII), funciona um laboratório de pesquisa genética para estudo e melhoramento do eucalipto, viveiro de mudas e uma extensa área natural preservada. “A Reserva Barba Negra foi a primeira Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPM) instituída por uma empresa em solo gaúcho”, destaca Nunes.

Contra a burocracia

O RS possui 8% da área florestal do Brasil e consome 10% da madeira do país

De acordo com o presidente da Ageflor, o principal entrave para o desenvolvimento da silvicultura, no Estado, é o licenciamento ambiental. O dispositivo, conforme Diogo Leuck, carece de um regramento específico. “Hoje, o licenciamento deriva de outras solicitações de estudos de impacto ambiental que mudam conforme se alternam os governos estaduais”, lamenta ele. A atividade econômica da silvicultura exige um planejamento de longo prazo – costuma chegar a 30 anos, entre começar uma nova área de plantio, erguer a fábrica e começar a produzir comercialmente e em grande escala. “Por isso é que pedimos uma maior segurança jurídica na legislação. A gente começa um planejamento, e no quinto ano pedem uma série de documentos novos. Isso atrasa tudo. Não pode mudar a regra durante o jogo”, avisa Leuck. É este tipo de insegurança, por exemplo, que impediu alguns grandes investimentos de virarem realidade nos últimos anos no Rio Grande do Sul. A VCP e a StoraEnso são alguns destes casos. A primeira previa uma fábrica de R$ 1,5 bilhão para produzir celulose no Sul do Estado, em Capão do Leão. Desistiu devido a dificuldades legais, além de ter sido atingida em cheio pela crise de 2009.

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mente a região mais pobre economicamente do Estado e que tinha, na silvicultura, a chance de desenvolvimento. “A Metade Sul tem, hoje, áreas grandes com percentual de ocupação humana muito baixas. A nossa atividade traria um impulso econômico grande. Mas não adianta plantar na fronteira sem uma indústria lá perto. A cadeia é integrada e próxima: floresta, fábrica e porto. Um terço do nosso custo é logística”, avisa Leuck, da Ageflor. A Celulose Rio-Grandense é uma empresa que não esconde que poderia investir na Metade Sul desde que as barreiras legais fossem rediscutidas. Walter Lídio Nunes destaca que, mais que

Walter Lídio, Presidente da Celulose Riograndense Já a sueco-finlandensa StoraEnso planejava uma unidade de US$ 1 bilhão na Metade Sul gaúcha – a empresa, inclusive, havia começado a comprar áreas em Rosário do Sul, Alegrete, São Gabriel e Manoel Viana para começar o plantio das florestas comerciais – o objetivo era alcançar 100 mil hectares com eucaliptos. Neste caso, o projeto foi abortado por uma questão que se arrasta até hoje e com desdobramentos importantes: a proibição de compra de terras por estrangeiros em uma faixa de 150 quilômetros da fronteira do Brasil. Segundo a Lei 6.634/79, a faixa de fronteira é considerada área indispensável à segurança nacional e corresponde aos 150 km de extensão, paralelos à linha divisória terrestre do Brasil com dez países da América do Sul. Por questões de soberania, é proibido que empresas estrangeiras comprem áreas nestas regiões. Este impedimento atinge justa-

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a antiga lei de fronteira, o ponto mais importante, hoje, é um parecer da Advocacia-Geral da União (AGU), de 2013, impedindo que empresas brasileiras com capital estrangeiro (caso da Celulose Rio-Grandense, com controle chileno) comprem terras na faixa de fronteira. Segundo Nunes, 2017 pode trazer novidades positivas para o setor. “Temos notícias que o governo federal discute este assunto e deve propor uma revisão do parecer. Não tem porque esse impedimento. A empresa é brasileira com capital estrangeiro e está sujeita às leis nacionais. O Brasil já controla tudo, a companhia obedece à legislação daqui”, avisa ele.

O principal entrave do desenvolvimento da silvicultura no estado é a demora no licenciamento ambiental


De acordo com Nunes, o texto da AGU alega como motivos para o impedimento temas como pirataria, lavagem de dinheiro e prostituição, entre outros. “São temas completamente alheios à nossa indústria”, explica ele. À época, devido ao parecer, foram travados investimentos estimados em R$ 70 bilhões. Este valor, hoje, estaria próximo de R$ 100 bilhões. “Não estamos falando apenas de fábrica, mas de uma cadeia que inclui portos, estradas, plantio de terras, contratação de pessoas. O investimento em florestas é muito maior que somente uma unidade industrial”, destaca o presidente da Celulose Rio-Grandense.

POLOS FLORESTAIS Rio Grande do Sul possui algumas regiões produtivas que se consolidaram devido à atividade florestal. No Estado, é possível especificar seis regiões ou polos já consolidados, bem distintos em relação à atividade. São elas: • Polo da Serra: Localizado no Nordeste Rio-grandense, especificamente na microrregião de Vacaria, o polo da Serra se caracteriza pelos plantios de pinus na região do alto da serra gaúcha, embora também disponha de plantios de eucalipto. Alguns dos principais municípios que cultivam pinus são Cambará do Sul, São Francisco de Paula, São José dos Ausentes, Bom Jesus e Jaquirana;

• Polo Região Central/Sudeste: Localizado no Sudeste do Estado e tendo o município de Encruzilhada do Sul como um dos principais centros, o polo concentra plantios de eucalipto, de pinus e de acácia negra. Igualmente importantes são os municípios de Piratini, Taquari, Triunfo, Pelotas e Butiá;

• Polo do Litoral: Mais próximo à capital gaúcha, o polo do Litoral possui também concentrações de eucalipto e de pinus. Seus principais municípios são Porto Alegre, Guaíba, Montenegro, Osório, Capivari do Sul, Mostardas, Rio Grande, Gravataí. No litoral sul os municípios de Mostardas, Rio Grande, Pelotas, Palmares do Sul, Tavares e São José do Norte destacam-se com o cultivo de pinus;

• Polo Alto Uruguai: destaca-se os plantios de eucalipto e pinus, principalmente para produção de lenha para secagem de grãos na agroindústria, abrangendo o município de Erechim e outros da região;

• Polo Fronteira-Oeste: este polo surgiu recentemente com plantios de eucalipto realizados para empreendimento de fábrica de celulose nos municípios de Rosário do Sul, São Gabriel, Unistalda, Cacequi, São Borja, Alegrete, Itaqui, Maçambará e outros.

• Polo Zona Sul/Campanha: destaca-se neste, áreas com eucalipto também estabelecidas para empreendimento de fábrica de celulose e plantios de Ácacia Negra, destacando-se o município de Piratini.

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UVA

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Cresce o mercado de suco de uva integral

H

istoricamente, janeiro e fevereiro são meses de muito trabalho nas regiões produtoras de uvas do RS, como a Serra e a Campanha. É no verão que começa a vindima, processo de colheita da fruta que tanta renda gera por meio dos vinhos, espumantes e, mais recentemente, dos sucos integrais. A bebida ocupa espaços cada vez maiores nas gôndolas dos supermercados e o crescimento da demanda tem resultado em ótimos ganhos para a indústria. Neste ano, após uma safra frustrante no período anterior (com quebra de 57% na produção), a estimativa é de colher mais de 600 milhões de quilos de uva. Em média, nos últimos anos, cerca de 55% das uvas têm destino certo: as pesadas garrafas de vidro, cheias de suco integral. Em 2006, há dez anos, este percentual era de apenas 32%. Um litro de suco integral resulta do processamento de dois quilos da fruta. Dados do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin) mostram a aceleração na sede por suco integral de uva. O volume anual passou de 31 milhões de litros em 2010 para 117 milhões de litros em 2015. Os dados referentes a 2016, contudo, mostram uma redução no consumo causada, principalmente, pela quebra da safra e pela crise econômica: foram vendidos, no ano, 94 milhões de litros de suco de uva integral (queda de 20%). Como um todo, o desempenho comercial do setor vitivinícola em 2016 recuou 18% frente ao ano anterior, totalizando a venda de 343,7 milhões de litros em

vinhos, sucos, espumantes, vinagres, destilados e outros derivados da uva. “Já esperávamos que, com uma produção menor, a venda seria também menor. Mas esse recuo foi agravado pela crise econômica, aumento dos impostos, do

desemprego e da queda no poder aquisitivo das pessoas” analisa o diretor de Relações Institucionais do Ibravin, Carlos Paviani, referindo-se à quebra registrada na safra de uva do ano passado. Quanto ao suco, seja branco, rosé ou tinto, o produto hoje é encontrado em praticamente todas as indústrias. “Vinícolas médias e grandes, mesmo aquelas pequenas que possuem uma estrutura de envase, muitas delas produzem o suco integral”, destaca Oscar Ló, vice-presidente do Ibravin e presidente da Vinícola Garibaldi,

É MESMO SUCO? Nem tudo que o consumidor encontra no supermercado é considerado suco de uva integral. Este é caracterizado por não levar açúcar (as frutas já são doces por natureza, contém a chamada frutose). Ele também não foi mexido e nem recebeu água, ou seja, está na concentração natural. Há diversos tipos de bebidas que, conforme a adição de açúcares ou conservantes, são classificadas com outros nomes. Veja, a seguir, as diferenças:

Suco 100% integral: é feito apenas com a uva. Não leva adição de água, nem açúcar ou de conservantes; Suco 100%: também obtido apenas por meio da uva, mas pode levar água ou açúcar na composição; Refresco: contém 30% de uva, é diluído em água e adoçado, podendo receber aroma e sabor artificiais; Néctar: com 40% de sua fórmula composta por uvas, é diluído em água e recebe açúcar; Refresco em pó: totalmente artificial, pode nem levar uva na composição.

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uma das maiores da Serra – nela, o suco de uva já responde por 45% do processamento de uva. Ló destaca que o triunfo da bebida, na última década, resulta de sua associação com a saúde e o bem-estar. “Há pesquisas indicando os benefícios do suco integral. Ele ganhou mais importância na rotina das pessoas que buscam qualidade de vida. Neste sentido, a mídia ajuda bastante”, avisa o vice-presidente do Ibravin. O instituto, a exemplo do que já ocorre com os vinhos e espumantes, criou programa específico para promover o suco de uva integral. “O trabalho é no sentido de mostrar ao consumidor as qualidades do nosso suco, sem desmerecer os outros produtos encontrados nos supermercados. Queremos mostrar as diferenças: suco é uma coisa, néctar é outra”, avisa Ló. Chamado 100% Suco de Uva do Brasil, o projeto abrange os estabelecimentos que elaboram sucos de uva 100% natural e prontos para beber no Brasil. Atualmente, conforme o Ibravin, 16 empresas participam dele. O trabalho tem por objetivo realizar ações de promoção, divulgação e integração do setor, no mercado interno, capacitando produtores e adequando processos e produtos para fortalecer a imagem dos sucos de uva 100%. Ló pondera que, ano passado, devido à quebra na safra, ocorreu elevação nos custos do suco e isto foi repassado para o consumidor. A partir deste ano, com a normalização da colheita, a expectativa é de retomar o crescimento de mercado com preços mais competitivos. “O suco vinha ganhando terreno à taxa de 25% ao ano até 2016. Com a crise econômica e a menor safra, reduziu um pouco. Mas 2017 pode mudar este panorama”, avisa o vice-presidente do Ibravin.

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Loren Ipsm dolor sit ahmet

Como é feito o suco O suco de uva é a bebida não fermentada e não diluída, obtida da parte comestível da uva. As frutas são colocadas em um recipiente e o suco é delicadamente extraído por meio de tratamento térmico e por maceração, mas

sem que o grão seja esmagado – para não dar gosto amargo ao suco. A partir deste ponto, pode-se pasteurizar o líquido e engarrafá-lo. É o chamado suco de uva integral. Trata-se de um processo que origina um suco diferenciado a cada safra - assim como o vi-

BENEFÍCIOS DO SUCO DE UVA Efeito antioxidante: rico em polifenóis, o suco ajuda no funcionamento do organismo. Eles possuem atividade antimutagênica, anticarcinogênica (proteção contra tumores, por exemplo) e antiaterogênica (prevenindo doenças do coração).

Polifenóis: os principais são conhecidos como flavonoides – destaque para catequina, epicatequina, proantocinidinas e as antocianinas. Há, ainda, os não flavonóides, igualmente benéficos, com destaque para o resveratrol.


Loren Ipsm dolor sit ahmet

nho - pois o resultado irá refletir a qualidade e as características da fruta em cada ano. Outra possibilidade, segundo o Ibravin, é estabilizar, concentrar e armazenar o suco de uva para, posteriormente, reconstituí-lo e embalá-lo. Neste caso, pode-se elaborar um suco mais parecido ao longo dos anos.

Ao alcance do pequeno produtor Quem não tem a escala de produção nem os equipamentos de uma vinícola de médio porte para processar e envasar o suco de uva não pode ficar de fora deste mercado. A Embrapa Uva e Vinho, de Bento Gonçalves, em parceria com a empresa Monofrio, desenvolveu um suquidificador integral. A máquina, de fácil uso, foi pensada para atender a mais de 50 mil produtores no Brasil que, atualmente, produzem cerca de 8

milhões de litros de suco de uva integral ainda pelo modo artesanal – utilizando uma panela extratora por arraste de vapor, na qual há acréscimo de água ao produto final, o que altera sua composição e classificação. Conforme o pesquisador da Embrapa Celito Guerra, as análises realizadas com diferentes variedades de uva nas safras 2014, 2015 e 2016 indicam que o suquificador integral produz um suco de uva integral de cor mais intensa, menos turvo, de melhor aroma e sabor, comparado ao suco elaborado com as mesmas uvas pelo método da panela extratora por arraste de vapor. Quanto ao consumo de energia, o novo equipamento é mais econômico, pois necessita apenas de energia elétrica monofásica. O suquificador processa até 70 kg de uvas desgranadas e esmagadas por hora, com um rendimento de pelo menos 35 litros de suco. É construído em aço inoxidável e montado de forma

O suco Suvalan ja é um dos mais vendidos do Rio Grande do Sul, sendo escolhido várias vezes como o melhor fornecedor de sucos prontos pela AGAS inclinada sobre estrado simples e rodas, para facilitar seu deslocamento. O equipamento, vendido pela Monofrio, tem um custo estimado de R$ 15 mil. Informações diretamente na Embrapa Uva e Vinho: (54) 3455-8000.

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CARNE

Recuperação no horizonte

Vamos levar dois anos só para recuperar a queda no consumo de carne”, avisa, no início da entrevista, o diretor-executivo do Sindicato da Indústria da Carne do Estado (Sicadergs), Zilmar Moussalle. Segundo ele, a carne bovina virou produto menos frequente no prato do gaúcho: o consumo anual per capita, que era de 42 quilos por pessoa, baixou para 32 quilos. Um mosaico de indicadores fracos forma o cenário atual da carne bovina. Consequência direta da crise econômica, a redução nas vendas é sentida por toda a cadeia produtiva desde 2015. Junte-se a isso o fechamento dos frigoríficos – não só no RS, mas em vários estados. “Falta boi no pasto. Hoje são 386 matadouros em todo o Rio Grande do Sul. As empresas competem entre si para conseguir carne e, com isso, pagam um preço que não existe. Não há negócio que se sustente”, destaca Moussalle. Um dos casos mais emblemáticos, recentemente, foi o encerramento das atividades do Marfrig em Alegrete. Com capacidade para abater 700 animais, a planta deixou de funcionar em dezembro de 2016. Apesar dos protestos de sindicatos e mobilização de entidades, a empresa confirmou a desativação da unidade. O Marfrig mantém em operação dois outros frigoríficos em solo gaúcho – em São Gabriel e Bagé – inclusive habilitados a produzir cortes para exportação. A crise da carne começa pelo boi no campo. Se o clima não ajuda, a pastagem rala impede um

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Foto: Conexão Delta G

desenvolvimento adequado do animal – e foi o que ocorreu no ano passado. Com isso, gasta-se mais com a suplementação e com rações. O resultado é a escassez de animais com o peso ideal para abate. As carcaças abatidas, muitas delas, não resultaram no volume esperado de carne. Mesmo assim, surpreendentemente, Moussalle conta que houve um acréscimo de 0,16% nos abates bovinos ano passado no RS – foram 1,983 milhão de cabeças. “O que nos salvou um pouco foi a entressafra no Brasil Central, com o boi magro deles. Dezembro conseguimos abater um animal mais pesado. Para 2017, a ideia é manter este mesmo patamar – se tudo seguir favorável”, avisa ele. Se o gaúcho está comendo menos churrasco, uma das saídas é a exportação. A tão esperada abertura do mercado norte-americano para a carne bovina já resulta em alguns embarques, ainda que incipientes. Um dos frigoríficos habilitados é justamente o Marfrig de São Gabriel. “Mas o norte-americano quer é corte para hambúrguer, então não creio em grandes negócios com eles. O que espero, sim, é a abertura de outros mercados, como Canadá e México. No segundo semestre, talvez consigamos o Japão, este sim, muito esperado”, relata Moussalle. Uma das alternativas, segundo o Centro de Estudos de Pesquisa Econômica Aplicada (Cepea) da Universidade de São Paulo, pode ser aumentar a balança comercial da carne com a China. Para isso, a Austrália é fundamental. Em 2016, os embarques de carne australiana recuaram 21% frente ao mesmo período do ano anterior devido à queda de 18% na produção de carne daquele país. E a China era um dos maiores compradores – oportunidade que pode se virar para o Brasil.

Eduardo Eichemberg, Presidente da Conexão Delta G

Ano passado, o país vendeu 1,4 milhão de toneladas, mesmo volume de 2015. Em valores, contudo, devido à valorização do dólar, a receita caiu 7%: ficou em US$ 5,5 bilhões. O preço pago por tonelada reduziu de US$ 4.244,00 em 2015 para US$ 3.944,00 em 2016. A China já ocupa o segundo lugar entre os maiores compradores da carne brasileira – em primeiro está Hong Kong.

Genética garante diferencial Apesar do mercado de altos e baixos ano passado, a carne bovina deve registrar um 2017 mais favorável. Uma das razões é o otimismo com a economia brasileira, com aumento do PIB, juros mais baixos e inflação controlada – isso pode elevar as vendas de carnes. Para o setor produtivo, a genética é essencial para garantir qualidade da carne em um mer-

cado cada vez mais disputado. O presidente da Conexão Delta G, Eduardo Eichenberg, afirma que, mesmo com o cenário negativo ano passado, no tocante à genética, o que se viu foi uma grande demanda por reprodutores ao longo de todo o ano, especialmente das raças sintéticas, como o Braford. “Na temporada da primavera gaúcha, diversos leilões de associados da Conexão Delta G aumentaram a oferta de animais e, ainda assim, conseguiram, se não elevar, ao menos manter as médias de 2015”, salienta. Para 2017, segundo o dirigente, há também uma grande expectativa de crescimento no mercado de carne premium, de maior valor agregado e destinada a um público menos suscetível a crises, e que passa, invariavelmente, pelas raças britânicas e suas cruzas criadas em solo gaúcho. A genética é um dos principais ramos da zootecnica, paralelamente com a nutrição e a sanidade. O melhoramento genético bovino tem sido um aliado fundamental para que o produtor rural alcance o desenvolvimento sustentável e alta produtividade com custos financeiros equilibrados.Os avanços científicos nesta área, nas últimas décadas,têm sido excelentes no Brasil - o país é referência mundial em biotecnologias e soluções inovadoras para o campo. De acordo com o executivo, é essencial para o pecuarista não parar com os investimentos – por isso ele acredita que a demanda por genética seguirá aquecida em 2017, com possibilidade, inclusive, de crescimento em relação à 2016. A Conexão Delta G é uma associação que reúne um grupo de agroempresas brasileiras, tendo como principal objetivo gerar e utilizar tecnologia de ponta para aumentar a rentabilidade da

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Fabiana Freitas,

pecuária de corte. “Independentemente do cenário econômico, o aumento de produtividade é fundamental na atividade pecuária, e isso passa pelo uso de reprodutores melhoradores, que realmente trarão ganhos ao rebanho do produtor, produzindo animais com maior potencial de ganho de peso, maior produção de carne, mais precoces, e mais adaptados às condições de produção brasileiras”, enfatiza. Na opinião de Eichenberg, também poderá haver acréscimos nas exportações de carne, tanto em volume quanto em receita, com um dólar mais valorizado frente ao real em função dos recentes aumentos da taxa de juros americana e um cenário econômico mundial mais favorável. O especialista destaca que compradores importantes como Hong Kong, China e União Europeia devem seguir com forte demanda de carne brasileira.

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As carnes premium, que conquistaram consumidores exigentes, ávidos por um produto de mais qualidade, continuam um nicho à parte. Apesar do cenário econômico ruim para o consumo, em geral, as carnes premium passam por um momento de reconhecimento parecido com o que já ocorreu com o vinho, por exemplo. O alto investimento em genética, com animais com carcaças de maior aproveitamento, os programas de certificação e a parceria com os frigoríficos resultam em um produto final que, embora com maior preço em relação à ‘carne comum’, entrega ao consumidor o que promete no marketing: maciez no corte e um sabor diferenciado, que justifica o investimento mais elevado no tradicional churrasco de domingo. Um dos cases mais emblemáti-

cos é o Programa Carne Pampa Certificada, lançado pela Associação Brasileira de Hereford e Braford (ABHB) em 1999. Garantido por meio de um selo nas embalagens, o programa atesta a presença das qualidades de sabor e suculência inerentes à raça Hereford e suas cruzas - e existentes, também, em animais da raça Braford – em carnes produzidas para consumo humano. Um dos objetivos é inserir a carne de alta qualidade produzida no Brasil no mercado internacional. A veterinária Fabiana Freitas, gerente do Programa Carne Pampa, destaca que, em 2016, do total de 134 mil animais hereford e braford abatidos, apenas 48 mil entraram no programa de certificação. “Não basta ter a raça, ele deve seguir diversos requisitos, como ser animal jovem e com boa cobertura de gordura. Claro que o animal mais magro também é abatido, mas não recebe o selo que certifica nosso programa”, avisa Fabiana. No ano anterior, dos 118 mil animais Foto: Caco Argemi

Foto: ABHB

Carne premium ganha espaço


Zilmar Mousalle, Diretor do Sindicato da Indústria da Carne do RS

abatidos, 41,6 mil receberam o selo nas embalagens. Mas o que, exatamente, o selo garante? Que o consumidor está comprando uma carne que tem origem em uma raça britânica, de um animal que passou por um processo rigoroso de controle desde o campo até o abate – com investimentos elevados em genética e cuidados rigorosos de sanidade - e que produz muita, mas muita carne boa. O acompanhamento começa ainda na propriedade rural por meio de técnicos capacitados pela ABHB – com provas práticas e teóricas. Na indústria, o programa mantém dois certificadores por planta: um acompanha o gado no abate e outro observa a expedição do produto final. O rigor se justifica pela excelência do

corte encontrado no supermercado ou em vários restaurantes especializados em carnes. “As raças britânicas produzem carne de muita qualidade. O hereford e o braford são animais grandes, que consideramos máquinas de fazer carne”, destaca Fabiana. Exigente, o consumidor aceita pagar mais por um produto cuja qualidade é garantida. “Produto de qualidade vende e muito. Se eu tivesse o dobro de abastes certificados, hoje, teríamos mercado. É como um carro, por exemplo. O consumidor quer sempre evoluir. O mesmo vale para a carne. Quem não quer uma picanha gostosa e mais macia no fim de semana, mesmo custando mais? Este é o valor que vendemos”, finaliza Fabiana.

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MIX

Recordes na soja Projeções da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) indicam que o Brasil deve exportar 57,5 milhões de toneladas neste ano. O volume recorde deve fazer com que o faturamento do complexo soja (grãos, farelo e óleo) alcance US$ 26 bilhões em 2017. A previsão é que a colheita de soja, neste ano, alcance 102 milhões toneladas no país – 16 milhões de toneladas apenas no Rio Grande do Sul.

Angus no Norte

Maçã gaúcha

Depois de consolidar a produção de cortes de alta qualidade em outros oito estados, o Programa Carne Angus Certificada chegou à Rondônia marcando sua expansão na região Norte do Brasil. O primeiro abate oficial foi realizado no fim de novembro no frigorífico da Minerva Foods em Rolim de Moura (RO). O lote pertencente a um mesmo criador teve 240 animais certificados e marcou o início do trabalho com os pecuaristas no estado. Hoje, o Programa Carne Angus Certificada congrega 5 mil produtores e abate, anualmente, 600 mil animais da raça.

Segundo maior produtor de maçã do Brasil, o Rio Grande do Sul deve colher, neste ano, 430 mil toneladas da fruta (ano passado foram 410 mil toneladas). Vacaria, nos Campos de Cima da Serra, produz 50% da maçã gaúcha. A variedade Gala, por sua vez, representa 60% dos frutos colhidos, seguida pela Fuji (30%). No país, a expectativa é de sejam colhidas pelo menos 1 milhão de toneladas.

Exportação avícola A Arábia Saudita liderou, com folga, a compra de carne de ave brasileira em 2016, segundo levantamento do Ministério do Comércio Exterior. Das 4,3 milhões de toneladas comercializadas em 2016 com 30 nações, o país árabe comprou 746 mil toneladas (17,4%). Depois vêm China (484 mil toneladas – 11,2%) e Japão (397 mil toneladas – 9,2%). O Brasil é o maior exportador mundial de proteína de frango, seguido pelos Estados Unidos.

Madeira e negócios

Insegurança alimentar

Gramado sedia, entre 4 e 6 de abril, a sexta edição da Feira da Floresta. O evento é o mais importante relacionado à cadeia de produção de madeira e celulose no Rio Grande do Sul. Um dos destaques é a rodada de negócios, promovida pelo Sebrae RS em parceria com a Secretaria do Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia do Estado. A Feira da Floresta acontecerá na Expogramado. Mais informações em www.feiradafloresta.com.br.

Com orçamento de R$ 6 milhões, 14 associações e cooperativas de produtores familiares do Rio Grande do Sul produzirão 2,8 mil toneladas de alimentos como mandioca, batata doce, laranja, alface, arroz, abóbora, cenoura, suco de uva, repolho e couve. A produção será doada, ao longo de 2017, à rede socioassistencial do Estado, para atendimento a milhares de pessoas em situação de insegurança alimentar e nutricional. Os recursos são da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

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