Press Agrobusiness #09

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EDITORIAL

“Depois de um longo e tenebroso inverno...”

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sta frase compõe o primeiro verso do primeiro poema que eu decorei, ainda com sete anos, no primeiro ano primário, em 1970. Até hoje lembro de cor a obra quase pueril do poeta Luis Caetano Pereira Guimarães Júnior. Ela fala que, assim como as aves voltam ao ninho antigo, depois do inverno, ele, também, quis voltar à casa de sua infância para tentar rever a sua vida. Mas, o que ficou marcado mais fortemente na minha memória foi essa frase, declamada pela minha professora num tom dramático...”depois de um longo e tenebroso inverno”. Ela acompanhou a minha infância, minha adolescência e até hoje me vem à mente, quando enfrento dificuldades na vida. Para quem trabalha no campo, um inverno longo e rigoroso, pode ser algo tenebroso. Ter que enfrentar as geadas, o excesso de chuvas, o granizo, os ventos e tempestades e torcer para que isso tudo afete o menos possível suas plantações e seu gado. O Brasil vem experimentando, nos últimos dois anos, um “longo e tenebroso inverno”, com a economia em sucessivas quedas, numa das piores séries da nosso história. Uma crise política que gerou e se misturou a uma crise econômica e que vem afetando todos nós, em quase todos os setores. O agronegócio tem resistido heroicamente e é o que segurou o PIB, até

agora, para que não sofresse quedas ainda maiores. Depois de oito trimestres de queda, o primeiro trimestre de 2017 apontou um crescimento de 1%. Parecia que o inverno chegava ao fim. Mas, novamente, a crise política, causada pelas denúncias de corrupção, envolvendo altos escalões do governo e o próprio presidente da República, estancaram o sol que se avizinhava no horizonte. Apesar disso, o segundo trimestre do ano apresentou novo crescimento. Apenas 0,5%, mas pelo menos nos possibilita pensar em fecharmos o ano com um traço azul, acima da linha da estagnação. Uma performance que tem tudo a ver com o desempenho da agropecuária. De janeiro a março, o setor primário registrou a maior expansão em 20 anos, saltando 13,4% em relação ao trimestre anterior. Safras recordes, índices de produtividade crescendo sem parar, volumes de exportação crescentes, são algumas das razões para esse desempenho do agronegócio brasileiro. E agora, já podemos pensar como o poeta e jornalista carioca do final do século 19. O longo e tenebroso inverno está chegando ao fim, é hora de pensarmos em novos investimentos, em novos projetos, e, aos poucos, devagar e sempre, retomarmos a vida normal, a vida de um país que tem tudo para dar certo. Ou melhor, quase tudo!

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SUMÁRIO

RUA SALDANHA MARINHO, 82 PORTO ALEGRE CEP 90160-240 FONE: (51) 3231.8181

www.revistapress.com.br/agrobusiness | e-mail: agro@revistapress.com.br Diretor Geral JULIO RIBEIRO

Impressão COMUNICAÇÃO IMPRESSA

Diretora-Executiva NELCI GUADAGNIN

Comercialização PORTO ALEGRE: (51) 3231 8181 e (51) 9971 5805 com NELCI GUADAGNIN

Reportagem CRISTIANO VIEIRA Designer ESPARTA PROPAGANDA Fotografia: JEFFERSON BERNARDES/ Agencia Preview

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Editorial

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Entrevista: Bernardo Pötter

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Capa: Crescendo devagar e sempre

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Educação no campo

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Conscientizar antes de multar

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Renegociação mais fácil

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Combustível limpo

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Vinho: Mais espaço no exterior

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Biotecnologia: Pequenos mas poderosos

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Infraestrutura: Safra perdida pelo caminho

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Couro: Legítimo, só ele

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O pequeno que produz muito

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Água para aumentar a produtividade

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Oliveira, mercado em crescimento

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Contra a tuberculose bovina

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Abigeato: O crime ronda o campo

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Mel: Da colmeia para a mesa

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Languiru: Crescimento com cautela

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Fertilizantes: No rumo da bioeconomia

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A revista PRESS AGROBUSINESS é uma publicação trimestral da Athos Editora Ltda, com circulação por mailling regional e nacional, voltada aos diversos segmentos produtivos e institucionais do setor primário do Rio Grande do Sul. Os artigos assinados e opiniões emitidas por fontes não representam, necessariamente, o pensamento da revista e de sua editora.

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Fazer juntos por tradição, por parceria e pelo crescimento do campo. O apoio ao agronegócio está nas nossas raízes. Desde sempre, estamos ao lado de quem vive no campo e construímos juntos uma relação de confiança e crescimento. Continue contando com essa parceria.

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Liderança russa Conforme projeções do USDA (o equivalente norte-americano ao Ministério da Agricultura), na temporada 2017-2018, a Rússia deve retomar a liderança no ranking mundial de exportação de trigo. A expectativa é de que os embarques russos do cereal alcancem 30,5 milhões de toneladas neste ano (crescimento de 1,5 milhão de toneladas sobre o último levantamento). Os Estados Unidos devem ir para o segundo lugar, com a exportação caindo de 27,2 milhões de toneladas de trigo para 26,5 milhões de toneladas.

Venda da Vigor Uma das joias do portfólio de empresas da holding J&F (dona do grupo JBS), a Vigor foi vendida por R$ 5,75 bilhões para o grupo mexicano Lala Foods, um dos maiores laticínios do continente americano. A Vigor produz leite UHT, iogurtes, requeijão, manteiga e queijos. Com dívidas beirando R$ 20 bilhões com bancos brasileiros, o grupo brasileiro está se desfazendo de ativos no intuito de sobreviver à crise do grupo devido aos escândalos do mercado de carnes.

Minerais e solo Especialistas destacam uma carência importante na característica do solo gaúcho, a falta de cálcio e enxofre. Essa necessidade tem mexido com o mercado de fertilizantes minerais. Tanto que a SulGesso, referência no Sul do Brasil em fertilizante à base de sulfato de cálcio, passou a mirar fortemente o mercado gaúcho. A empresa de Imbituba (SC) é detentora da maior reserva de sulfato de cálcio e óxido de ferro do Sul do país. São mais de 4,5 milhões de toneladas, suficiente para abastecer o mercado nacional por 60 anos.

Sustentabilidade O Ministério da Agricultura recebe inscrições, até o fim do ano, para o projeto Rural Sustentável. O objetivo é incentivar e apoiar financeiramente o uso de tecnologias de baixo carbono em propriedades rurais de 70 municípios brasileiros – do Rio Grande do Sul, estão na lista Passo Fundo, Erechim, Ciríaco, Lagoa Vermelha, Frederico Westphalen, Boa Vista das Missões, Vacaria, Machadinho, Barros Cassal e Agudo. O orçamento total é de US$ 40 milhões originários do Departamento do Meio Ambiente e da Agroindústria da Gra-Bretanha, repassados pelos BID.

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Auxílio no campo Até 2020, a Emater deve investir R$ 4,6 milhões para atender a 860 famílias indígenas, 463 famílias quilombolas e 177 famílias de pescadores artesanais que têm renda de até R$ 85,00 mensais no Rio Grande do Sul. As atividades incluem desde visitas e orientação técnica até diagnóstico e capacitação técnica e produtiva. Os recursos virão via convênio com a Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (Anater).

Biodiesel A aguardada antecipação do B10 (mistura de 10% de biodiesel por litro de diesel) para março de 2018 deve resultar em uma produção total de 5,3 bilhões de litros de biodiesel no próximo ano (elevação de 25% frente a 2017). A estimativa é da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove). Entre outras vantagens, com a adoção do B10, o Brasil deve economizar US$ 3,2 bilhões em diesel importado anualmente para complementar a demanda interna pelo combustível mineral.

nvestimento leiteiro A Cooperativa Dália inaugurou, em julho, o primeiro condomínio associativo do Vale do Rio Pardo com o uso de robôs para a realização de ordenha. Candelária foi o quarto município do Estado a receber o empreendimento tecnológico da cooperativa. O complexo destinado à produção de leite conta com um pavilhão com capacidade para alojar 262 vacas, galpão de máquinas, terneireira, silos e três moradias para funcionários. O investimento da cooperativa foi de R$ 5,6 milhões, recurso aportado pela Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), do Ministério da Ciência e Tecnologia.

Ovinos Antiga demanda dos pecuaristas, a retenção de matrizes de ovinos e caprinos poderá ser realizada por meio de recursos do Plano Safra 2017-2018. Os produtores de ovinos e caprinos poderão acessar o Pronamp (Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural) que terá juros de 7,5% ao ano e contará com R$ 21,7 bilhões, com alta de 12%. Pelo programa, no total, os médios produtores rurais terão à disposição R$ 18 bilhões em custeio e R$ 3,7 bilhões em investimentos.

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Genética que valoriza a carne Por: Cristiano Vieira

ENTREVISTA BERNARDO PÖTTER PRESIDENTE DO CONSELHO TÉCNICO DA CONEXÃO DELTA G

Já se passaram 44 anos desde que um grupo de produtores gaúchos, na década de 1970, resolveu apostar na genética para aumentar a rentabilidade da pecuária de corte. A Conexão Delta G é uma associação que reúne um seleto grupo de agroempresas brasileiras focadas no melhoramento genético. Estas empresas têm fazendas distribuídas nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil. A produção está baseada nas raças Hereford e Braford. Idealizado pelo zootecnista Luiz Alberto Fries, o programa conta com a assessoria da GenSys, empresa que também é responsável pelas avaliações genéticas. O trabalho realizado busca identificar os animais que são superiores para, posteriormente, ofertá-los ao mercado. O objetivo final é colocar nas gôndolas uma carne tenra, macia e saborosa para conquistar de vez o paladar do consumidor. O presidente do Conselho Técnico da Conexão Delta G, Bernardo Pötter, destaca a importância da genética para qualificar a pecuária de corte. Como surgiu a Conexão Delta G? É um programa de melhoramento genético. Ela nasceu com este propósito e continua sendo. Foi fundada em 1973 pela minha família, a Pötter, e pela família Zart, nossos primos. Eram, na época, duas propriedades, a Estância Guatambu (do meu avô, depois dividida entre meu pai e meu tio) e a Alvorada. Parte da Guatambu virou a Estância Caty, que continuamos hoje. Naquela época, não existia nenhum programa de melhoramento genético no Brasil. Só o que tinha, em gado de corte, neste sentido, era nos Estados Unidos. Era essa a informação que nos chegava. Como essa novidade chegou, então, ao Rio Grande do Sul? Naquele mesmo ano, em 1973, um gaúcho chamado Luiz Alberto Fries fez seu doutorado em

genética e criou, então, um programa de melhoramento. Ele precisava de alguns produtores locais para implementar esta iniciativa e fomos alguns dos participantes iniciais. Então, desde lá, a gente vem selecionando os animais por desempenho, por características econômicas bem objetivas. Em 1993, a Conexão Delta G se abriu a criadores de fora da família. Vieram produtores de todo o Brasil. Hoje a Conexão Delta G tem abrangência nacional? Sim, a Conexão Delta G é um programa de melhoramento genético privado que abarca Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Minas Gerais, São Paulo, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. São os principais estados produtores de carne. O que une estes produtores é o programa, que é o mesmo para todos. A genética do programa é igual para todos os associados? A base genética, ou seja, os dados pelos quais os animais são comparados e avaliados, é a mesma para todos os conectados. Daí vem o nome “conexão”, significando a conectividade genética. Entrando um pouco mais na parte técnica, falamos de laços genéticos diretos. Para os animais criados em diferentes ambientes poderem ser comparados uns com os outros, eles devem ter alguns laços genéticos diretos. Senão isso seria impossível. Depois entram as metodologias empregadas, como controle de dados e de grupos contemporâneos. Esses estudos, na prática, são realizados pela GenSys. Como funciona a parceria com a Gensys? A GenSys é uma empresa de geneticistas, fundada junto com a Conexão Delta G, e é a responsável pelas avaliações genéticas.

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ENTREVISTA Quem “roda” os dados nos softwares, quem faz esse trabalho, é a GenSys. Ela foi criada pelo próprio Fries, desenvolvedor do programa de melhoramento. É uma empresa privada também e que, embora criada junto com a Conexão Delta G, presta serviços para outros programas de melhoramento genético, como Promebo e Paint. O programa chegou a se expandir mais? Em meados dos anos 2000, creio em 2007, a Conexão Delta G cresceu de tal modo que se dividiu em Conexão Delta G Sul e Norte, mas acabou que a Norte se separou porque são ambientes diferentes. Fundaram então a Deltagen, uma outra companhia. A Conexão Delta G trabalha com as raças Hereford e Braford, enquanto a Deltagen foca apenas na raça Nelore. O foco sempre foram as raças Hereford e Braford? Na década de 1970, era apenas em Hereford. O Braford começamos a trabalhar na década de 1980, praticamente dez anos após a fundação. Atualmente, são as carcaças mais disputadas do mercado de carnes. O Braford, no Rio Grande do Sul, hoje é a raça bovina mais populosa e valorizada. O melhoramento genético tem como objetivo final aumentar a produção de carne? São basicamente dois objetivos. O primeiro é selecionar animais de alto desempenho a campo. Isto significa mais rentabilidade para o produtor e, dentro deste aspecto, entram todas as características de importância econômica, como fertilidade, precocidade sexual, ganho de peso, rendimento de carcaça, etc. O segundo objetivo é alcançar um produto final de qualidade superior. Falamos então de benefícios diretos para o

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em vez de ficar com o boi dois ou três anos no campo gerando custos, ele tem o animal por apenas um ano ou 14 meses, geralmente.

Há 40 anos na pecuária, em geral, nem se falava em abater um animal aos dois anos de idade. Se pensava em animais com 5 até 6 anos para abater. Hoje abatemos animais com metade deste tempo sem perder nada em peso e acabamento de carcaça.

consumidor, com maciez da carne, acabamento da carcaça, grau de marmoreio, idade de animais ao abate. Grande desempenho a campo e um produto de qualidade superior, uma carne apreciada, é o que buscamos. Nestes 44 anos de programa, que ganhos hoje tem o produtor que investiu em genética? Naquela época, na pecuária em geral, nem se falava em abater aos dois anos de idade, com 24 meses. Se pensava em animais com cinco, até seis anos de idade para abater. Nós, naquele tempo, já tínhamos exemplares prontos para abate com dois anos e, hoje, abatemos animais com metade desse tempo, um ano. Isso sem perder nada em peso ou acabamento de carcaça. E a qualidade da carne é infinitamente superior porque, quanto mais novo o animal, mais macia é a carne. Para o produtor a rentabilidade é maior porque,

Houve melhorias em aspectos como fertilidade e reprodução? Sim, hoje as fêmeas são acasaladas com a mesma idade, cerca de 14 meses. No máximo, aos 24 meses dentro dos nossos parâmetros da Conexão Delta G. A média do Rio Grande do Sul, veja bem, é de pelo menos três anos e meio neste quesito. Há outros pontos importantes ainda. As carcaças trabalhadas pela Conexão Delta G têm um rendimento comercial significativamente superior ao de animais não selecionados. Em média, o aproveitamento do nosso animal é de 7% a 8% a mais de carne. O melhoramento ajuda ainda no combate a doenças? Claro, falando de resistência a ectoparasitas como carrapatos, nós temos um programa de seleção genômica para o animal resistir ao carrapato. É o grande problema hoje no campo. Mas temos linhagens de animais Braford que se infestam, em média, pela metade do que ocorre com animais que não são selecionados geneticamente. Então, há uma série de parâmetros que fazem destes animais altamente selecionados muito rentáveis para o produtor e benéficos para o consumidor final – além de a carne ter propriedades sensoriais superiores, maciez e marmoreio, também é um produto que recebeu menos medicação durante a vida do animal para combater os parasitas. Precisa de menos tratamento. Além do programa de melhoramento, o produtor deve cuidar do manejo do animal no campo. Como conciliar essas atividades? É uma rotina trabalhosa e isso é o


que considero o principal motivo da baixa adesão dos produtores aos programas de melhoramento genético. Devido às dificuldades em conciliar o manejo da propriedade com as metodologias de controle de dados do melhoramento genético. Com isso, apenas uma elite da pecuária, digamos assim, termina por participar dos programas. Por exemplo, na Conexão Delta G somos apenas 18 empresas. Isso no universo do Rio Grande do Sul é quase nada, mas somos os principais fornecedores de genética.

Em termos de pesquisa genética, é um volume grande de informação? Nosso sumário de reprodutores, que a gente publica todos os anos, é a principal referência de reprodutores Hereford e Braford no Brasil. São mais de 700 mil animais avaliados até hoje e que constam em nosso banco de dados. Se multiplicarmos isso pelo número de características de importância econômica que temos no programa, são mais de 23 milhões de avaliações e medições a campo realizadas.

Hoje a genética animal produzida no Brasil é das mais capacitadas? É altamente capacitada. Todos os membros do GenSys são geneticistas reconhecidos em nível internacional. Os técnicos que trabalham a campo, também, são altamente qualificados. Temos metodologias de avaliação sofisticadas, de coleta de dados das mais rigorosas. Já recebemos nas propriedades da Conexão Delta G norte-americanos, canadenses, australianos, neozelandeses e eles ficam espantados não só com a qualidade das nossas metodologias, mas abismados de a gente

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ENTREVISTA

aplicar esse controle rigoroso em cima do volume grande de dados que temos. Os investimentos em touros melhorados geneticamente compensam? Temos clientes fiéis, que fazem essa conta e reconhecem que o investimento em um touro da Conexão Delta G tem retorno infinitamente superior em relação a um touro que não tem melhoramento genético. É por isso que o produtor retorna outros anos e paga mais caro por um touro desses. Entende que o investimento é alto, mas o produto final dele será mais valorizado e terá mais liquidez. Temos dois tipos de clientes. Aquele que compra os animais para reproduzir e fornecer novilhos para o frigorífico e aquele produtor que adquire o touro para procriar e comercializar seus terneiros. Este também

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“Os animais altamente selecionados são muito mais rentáveis para o produtor e ben cos para o consumidor nal

é altamente procurado. De uma forma geral, quem compra um touro desses sabe os benefícios. O melhoramento genético é fundamental para gerar um reprodutor de alta performance. Estamos falando de uma carne de mais qualidade, que custa mais. O consumidor sabe, hoje, diferenciar este produto? Aceita pagar mais? Sem dúvida. Existem marcas de carne criadas pelas próprias associações de criadores divulgando e ressaltando as qualidades superiores dos cortes. O consumidor sabe qual gôndola ele precisa ir no supermercado para encontrar essa carne. Para nós é muito bom porque mostra que o cliente final reconhece a qualidade do produto e está disposto a pagar mais por ele. É um trabalho que começa no campo e termina na mesa do consumidor.


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MATÉRIA DE CAPA

Devagar, mas sempre em frente 14 | PRESS AGROBUSINESS

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ualquer atividade econômica, quando esmiuçada por dentro de sua engrenagem, revela-se uma cadeia de elos fortemente ligados e dependentes entre si. No agronegócio, não é diferente. Mesmo com a visão de que ainda é o setor da economia brasileira mais resistente aos desdobramentos da crise econômica – comparativamente com a indústria e o comércio -, a agricultura é constituída por um conjunto de fatores

que, quando analisados isoladamente, ajudam a desvendar essa complexa cadeia produtiva. Economista do Sistema Farsul, Antonio da Luz explica que, fora algumas questões excepcionais, o desempenho do agronegócio gaúcho em 2017 está dentro do esperando pela entidade. “É um ano de margens apertadas, com rentabilidade baixa ainda por conta dos preços baixos das commodities”, relata ele. A face mais enaltecida do agro-


negócio é a produção brasileira de grãos. São eles que fornecem alimentos para os animais que darão a carne, que geram boa parte das divisas com as exportações, que permitem a compra de novas máquinas etc. Um ciclo que se alimenta permanentemente. Neste quesito, o Brasil é nota 10. Conforme a última estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), com uma elevação de 28% (ou 51,6

milhões de toneladas), a safra de grãos 2016/2017 deve chegar a 238,2 milhões de toneladas frente as 186,6 milhões de toneladas da safra passada. Uma conjunção de fatores explica esta supersafra, como clima adequado, pequena ampliação de área em 4% e o aumento da produtividade média de todas as culturas, à frente soja e milho, que tiveram alto nível de aplicação tecnológica. No Rio Grande do Sul, não

poderia ser diferente. De 33 milhões de toneladas colhidas no ciclo anterior, a estimativa é de que o volume total aumente 10,3%, alcançando 37 milhões de toneladas. A produtividade também cresceu em solo gaúcho: na média geral dos grãos, passou de 3.870 quilos por hectare na safra passada para 4.230 quilos na atual. O Estado segue como o terceiro maior produtor de grãos do Brasil, atrás de Mato Grosso (60 milhões de toneladas) e Paraná (41 milhões). “O produtor tem investido na lavoura, isso é fato. Outro fator que impressiona é que vivemos um ciclo de cinco safras seguidas sem secas. Isso é inédito na nossa história recente”, avalia Paulo Pires, presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Rio Grande do Sul (Fecoagro-RS). O resultado é que, nos últimos dois anos, dinheiro não faltou na guaiaca de muito produtor. “Em 2015 e 2016, tivemos preços excepcionais para a soja e o milho. A soja chegou a R$ 90,00 a saca, e o milho alcançou R$ 50,00”, avalia Pires. Como nem tudo que é bom dura para sempre, o cenário agora é outro. Os dois principais grãos da lavoura brasileira estão rendendo bem menos. A saca da soja tem preço médio de R$ 60,00 e o milho, nos principais estados produtores, é vendido a R$ 25,00, metade do que foi visto em 2015. A questão dos preços baixos de commodities como soja e milho, alta dos insumos e redução no preço pago pela indústria formam um cenário de dificuldade para o produtor rural, na percepção do presidente da Associação Brasileira de Angus, José Pires Weber. “Ano passado, vendíamos a saca de soja a R$ 82,00 e hoje recebemos R$ 60,00. O

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arroz caiu de R$ 60,00 para R$ 42,00 a saca. O produtor no Brasil é herói por conseguir gerar renda em uma situação econômica e política instável como a atual”, avalia.

Falta mais armazenagem Um dos motivos – além da cotação internacional - é justamente aquele enaltecido nos números: safra maior ano após ano. O excesso de milho e de soja tem pressionado os preços no mercado interno para baixo. Parte dos produtores prefere estocar os grãos à espera de melhores ganhos. Isso causa outro problema: falta armazenagem no País. “Ano passado tínhamos um estoque de 1 milhão de toneladas de soja da safra 2015 ainda armazenadas. Depois, tivemos uma safra de milho com alta produtividade e o trigo também foi bom naquele ano. Conjugando isso tudo com os números recordes deste ano, teremos um problema grande em 2018 porque nossos estoques ainda estão elevados”, prevê Pires, da Fecoagro. A recomendação média é que a capacidade de armazenagem

José Weber Presidente da Associação Brasileira de Angus

de um país ou estado seja igual a 1,2 vezes sua produção agrícola anual, ou seja, deveria haver uma folga de 20% nos silos por safra, mas isso não ocorre. No Rio Grande do Sul, a estimativa é de que a capacidade de armazenagem esteja em 100% da estimativa de safra atual. Pires destaca que as cooperativas têm investido em armazenagem, um equipamento caro

Oberdan de Almeida Diretor de crédito do Banrisul

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e que não acompanha o crescimento expressivo das safras ano após ano. “Se aumentamos a capacidade, digamos, em 10%, a safra cresce 15%. Então sempre teremos um pequeno déficit. Mas também é preciso observar que supersafra não é permanente, então trabalhamos com um horizonte mais racional de armazenagem”, explica. Quando a lupa é direcionada

Fábio Medeiros Gerente do Programa Carne Angus Certificada


para o desempenho das exportações do agronegócio gaúcho, percebe-se um resultado relativamente menor que o de 2016. De janeiro a julho, saíram dos campos do Rio Grande do Sul para o exterior um total de US$ 6,343 bilhões em divisas, queda de 4,37% na comparação com o mesmo período de 2016 (perda de US$ 289 milhões). Soja, carnes, produtos florestais e fumo se destacam nos contêineres. Entre os parceiros comerciais do Rio Grande do Sul, a China mantém posição de destaque, respondendo por 42,9% do valor comercializado (US$ 2,724 bilhões). Os Estados Unidos são o segundo maior destino das exportações, com 4% (US$ 254 milhões), na sequência aparece a Rússia, com 3,6% (US$ 229 milhões).

Rentabilidade baixa Estudo divulgado pela Farsul em agosto mostra que os expressivos resultados na produção rural nos últimos anos não se refletem no bolso do produtor. Se as boas safras foram apontadas como fundamentais para a ma-

Cláudio Bier Presidente do Simers

nutenção da economia nacional, o lucro no campo vem caindo a cada ciclo de colheita. E o cenário da pecuária também não se apresenta diferente. De acordo com o levantamento da assessoria econômica da Farsul, as lavouras que apresentaram crescimento no lucro, na comparação entre 2016 e 2017, são aquelas que registraram perdas com as chuvas do ano passado, como arroz irrigado em Uruguaiana e trigo em Carazinho e Tupanciretã, as demais registraram perdas. Esses são os casos da soja em Carazinho (-23%) e Cruz Alta (-9%), milho em Carazinho (-39%) e arroz irrigado em Camaquã, que atingiu -55%. Este último município teve sua produção de soja dobrada em virtude da quebra do ano anterior, mas mesmo assim os produtores amargaram prejuízos. Com a pecuária a situação é semelhante. Na comparação entre 2014 e 2017, em Bagé, o lucro por hectare, que era de R$ 11,87, caiu para R$ -151,76. O economista-chefe do Sistema Farsul, Antônio da Luz, aponta as crises envolvendo a JBS e a operação Carne Fraca como grandes responsáveis pelo resultado.

Paulo Pires Presidente da Fecoagro-RS

Máquinas engatam recuperação Provavelmente, o setor do agronegócio mais duramente atingido pela crise econômica, as máquinas agrícolas entraram 2017 com o pé no acelerador. De janeiro a julho, conforme dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), foram produzidas 34 mil unidades no Brasil (alta de 35% sobre o mesmo período de 2016). As vendas subiram dois dígitos: cerca de 20%, passando de 16.920 máquinas de janeiro a julho do ano passado para cerca de 21 mil nos sete primeiros meses de 2017. Também nas exportações o saldo é positivo. As vendas, em valores, totalizaram US$ 259 milhões em julho, alta de 75,5% na comparação com igual mês do ano passado e de 16,2% sobre o desempenho de junho. No ano, as vendas externas acumulam avanço de 40,8%, para US$ 1,472 bilhão. A notícia é um alento para uma indústria que passa por um dos seus piores momentos nos

Fernando Dall’Agnese Presidente da Central Sicredi Sul Sudeste

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últimos 40 anos. Presidente do Sindicato das Indústrias de Máquinas e Implementos Agrícolas do Rio Grande do Sul (Simers), Cláudio Bier é cauteloso, mas concorda que o cenário é animador. “Eu vejo deste modo: parou de piorar. O desemprego diminuiu, inclusive começamos a contratar novamente. Os primeiros meses deste ano mostraram uma reação nas vendas, mas a instabilidade política segue atrapalhando”, explica ele. De fato, enquanto a indústria de máquinas agrícolas empregava 17.400 trabalhadores em janeiro, em julho este número passou para 18.400 colaboradores. Bier avalia que, mais capitalizado e com crédito mais acessível, parte dos produtores decidiu aproveitar o momento para renovar seus equipamentos. “É um investimento alto, mas o agricultor entende que uma máquina nova traz mais produtividade na lavoura. Isso reduz perdas e amplia ganhos. Como a terra está cara, ele precisa ganhar mais com o mesmo pedaço de chão”, explica o presidente do Simers. Atualmente, existem máquinas que fazem o dobro do trabalho de um modelo mais antigo em um menor espaço de tempo, segundo ele. Haveria possibilidade, no horizonte, de retomar os patamares de quatro atrás, quando as vendas somaram 83 mil máquinas em 2013? Bier acredita que não. “Foi um ano excepcional e que até acabou prejudicando nosso desempenho nos períodos posteriores por que o juro estava muito barato e, com isso, muitos adiantaram as compras. Deste modo, reduziu as vendas nos anos seguintes. Máquina agrícola é um investimento de longo prazo, precisa planejamento, então o ideal é um crescimento sustentado”, completa ele.

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Na carne bovina, dois cenários diferentes Apesar de todos os percalços no caminho dos pecuaristas brasileiros em 2017 – operação Carne Fraca, a crise da JBS e o embargo norte-americano à carne in natura – os dados até julho mostram que, pelo menos nas exportações, o impacto foi nulo. As exportações de carne bovina tiveram crescimento acima de 31% em julho (com faturamento de US$ 540 milhões), segundo dados da Associação Brasileira

das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec). O mês fechou com 129 mil toneladas embarcadas, o que representa um incremento de 22,9% se comparado com os resultados obtidos em julho do ano passado. “No primeiro momento, a notícia da suspensão da compra pelos Estados Unidos foi um choque, porque o mercado deles é visto como referência para outros países. Contudo, nossa carne é de qualidade e a alta nas exportações reflete isso. O efeito foi mais psicológico”, pondera Fábio Medeiros, veterinário e gerente do programa Carne Angus Certificada, acostumado a per-


correr as principais feiras de alimentos do mundo promovendo a carne do Brasil. Ainda conforme a Abiec, nos sete primeiros meses deste ano, nas exportações de carne bovina in natura, o Brasil obteve um faturamento que ultrapassa US$ 2,6 bilhões, o que indica acréscimo de 3,1% sobre a receita do mesmo período de 2016. A perspectiva, de acordo com a entidade, é finalizar 2017, senão com leve crescimento nas vendas, pelo menos no mesmo patamar de 2016. Hong Kong (32,9 mil toneladas) e China (15,9 mil toneladas) continuaram liderando em julho as importações da carne bovina brasileira, seguidos por Rússia (13 mil toneladas) e Irã (11 mil toneladas). A novidade foi o retorno do Egito, que enfrenta problemas cambiais e reduziu muito suas aquisições desde o ano passado, e que comprou em julho 20 mil toneladas. Segundo analistas, mesmo com os efeitos negativos da Operação Carne Seca ainda perdurando em alguns mercados, a carne bovina brasileira continua muito competitiva no exterior.

No mercado interno, entretanto, a situação é diferente, uma vez que a redução nos pedidos das unidades da JBS acabou por bagunçar toda a cadeia produtiva de carne bovina. Desde maio, quando estourou o escândalo envolvendo a companhia, o excesso de oferta derrubou o preço da arroba nos principais estados produtores de carne e obrigou o setor a se reorganizar. Conforme dados do Centro de Pesquisa Econômica Aplicada (Cepea), vinculado à Esalq/ USP, os preços do boi gordo reagiram um pouco as últimas semanas de julho e primeiras semanas de agosto. Com a diminuição da oferta de boiadas em decorrência da queda na qualidade das pastagens, o viés de alta no mercado do boi gordo deve se manter em curto prazo. Este movimento pode indicar uma tendência de recuperação no mercado interno, ainda retraído não só devido à JBS, mas com a diminuição do poder de compra do brasileiro. Apesar da redução no valor pago ao pecuarista, no varejo os preços se mantém elevados. “Nós tivemos queda de 24%

nos preços de nossas carnes em 2016 nas negociações com os frigoríficos. Mas não houve diminuição para o consumidor. Alguém está ganhando neste caminho e não somos nós”, reclama José Roberto Pires Weber, presidente da Associação Brasileira de Angus.

Entressafra diferente no leite Uma série de fatores tem contribuído, nos últimos meses, para reduzir o preço do leite pago ao produtor em todo o País. Ao que tudo indica, este panorama desfavorável deve ser manter até o fim de 2017. Na média Brasil (que inclui os principais estados produtores, como Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Paraná, Goiás, São Paulo, Santa Catarina e Bahia), julho fechou com o valor de R$ 1,23 por litro. De acordo com o Cepea, assim, a cotação do leite retomou o patamar de julho de 2014, em termos reais (valores deflacionados pelo IPCA de junho/17). É a primeira vez neste ano que o preço fica abaixo do

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registrado em 2016 – frente a julho do ano passado, o recuo é de 12,8%. A diminuição dos preços está atrelada à demanda ainda enfraquecida por lácteos e ao aumento da captação, o que é comum para este período de entressafra. “No Sul é um pouco diferente, mas no Sudeste e Centro-Oeste, a entressafra do leite acontece de março a setembro. É um período de menor chuva, pastagem mais rala. Com isso, a vaca produz menos”, explica Natália Grigol, pesquisadora do Cepea. Em uma relação adequada de oferta e demanda, normalmente na entressafra os preços subiriam. Não foi o que aconteceu até agora. “Houve oferta menor de leite sim, mas a demanda no varejo não sustentou a valoriza-

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ção do preço pago lá no campo. O consumo de lácteos no país está baixo devido à crise econômica, e acreditamos que 2017 terminará caracterizado como um ano de consumo reduzido no varejo”, avisa Natália. Uma análise dos preços cobrados pelo litro do leite UHT nos supermercados mostra o tamanho do estrago causado no poder de compra do brasileiro. O valor por litro, em julho deste ano, em média, custava R$ 2,01, cerca de 20% menor que junho e 45% abaixo do preço cobrado por caixa de leite um ano atrás. Ou seja, mesmo com a forte queda no custo, o consumidor tem comprado menos leite. Se antes consumia sete litros por semana, opta com reduzir a quantidade, por exemplo. Essa queda

é maior ainda em relação aos lácteos de maior custo, como queijos, requeijão, leite condensado, iogurtes e creme de leite. “Temos um cenário de pessoas desempregadas, sem perspectiva de renda e isso tem reflexos ao longo do tempo. O brasileiro vai ao supermercado com poder de compra limitado”, explica Natália. Outro ponto que normalmente pressiona os preços no mercado interno é a importação de leite. Apesar de ser um grande produtor (foram 23 bilhões de litros apenas em 2016), o Brasil compra dos vizinhos Argentina e Uruguai leite em pó, destinado tanto para uso industrial (composição de outros alimentos) quanto para envase e venda a varejo. “Se temos leite, porque importamos o produto em pó? Por que


essa complexidade de mercado diariamente, por isso é uma atividade exigente e que deve ser valorizada”, complementa a pesquisadora do Cepea.

Dinheiro para financiar a produção

o preço dele é mais competitivo para a indústria do que produzir aqui no Brasil. É um leite em pó mais barato e de boa qualidade”, destaca a especialista. Natália complementa destacando que o Brasil tem capacidade grande na cadeia do leite, com produção qualificada e condições de dar conta da demanda tanto da indústria quanto do varejo. O que falta é equilibrar essa balança de preços, na qual o leite uruguaio (tradicionalmente de ótima qualidade) ganha mercado no Brasil devido ao custo menor de produção deles. “A pecuária leiteira, ao contrário do produtor de soja, não pode esperar preço. É um produto perecível e que deve seguir seu ciclo econômico imediatamente. Então o agricultor vive

Primeiro mês do Plano Safra 2017-2018, julho teve demanda de R$ 8,4 milhões em crédito bancário por parte de médios e grandes agricultores. O valor é 23,2% superior ao registrado no mesmo mês do ano passado. A maior procura foi influenciada pelo fato de os produtores terem adiado a tomada de crédito nos meses anteriores para o atual ciclo agrícola, na expectativa de redução de juros. O governo federal liberou R$ 188,4 bilhões para financiar a produção agrícola de julho deste ano a junho de 2018. Diretor de crédito do Banrisul, Oberdan de Almeida compartilha do otimismo de parte do mercado. “Sentimos que os agricultores estão mais motivados, e essas cinco safras cheias dos últimos cinco anos ajudam”, avisa ele. Atualmente, o crédito rural reponde por 10% da carteira de crédito do Banrisul, média que se mantém ano após ano. Almeida destaca os recursos de R$ 2,2 bilhões do Plano Safra do Banrisul colocados à disposição do produtor neste ano, R$ 200 milhões a maior que no ciclo anterior. “O pessoal continua cauteloso principalmente devido ao cenário político instável, mas temos visto durante as feiras que o pessoal está mais motivado a trocar uma máquina, por exemplo. Se não fizer isso, pode ter perdas na colheita”, enumera. O presidente da Central Si-

credi Sul Sudeste, Fernando Dall’Agnese, ressalta que o agronegócio responde por 70% das operações da cooperativa. “Ano passado já foi um ano bom para o Sicredi, crescemos quase 20%. A perspectiva é fecharmos 2017 no mesmo patamar de crescimento”, pondera o executivo. Para o ciclo 2017-2018, a cooperativa de crédito aumentou em 20% os recursos do Plano Safra – são R$ 7,10 bilhões em crédito rural para Rio Grande do Sul e Santa Catarina, com estimativa de realizar cerca de 118 mil operações. Ele pondera que, apesar do otimismo, a questão dos preços da soja e do milho são as maiores preocupações para o setor rural hoje. “Em 2015, houve aquela alta exagerada no milho, algo fora da realidade. Aquilo não foi bom para ninguém, porque poucos produtores conseguiram preços altas e a cadeia de carnes terminou prejudicada”, relembra Dall’Agnese. Superintendente regional do Banco do Brasil, Edson Bündchen destaca que, historicamente, a instituição é a maior apoiadora do agronegócio gaúcho, respondendo por 60% dos contratos de crédito rural no Rio Grande do Sul. No novo Plano Safra, o BB está ofertando R$ 12,6 bilhões em recursos para financiamentos rurais. Bündchen espera uma retomada gradual na demanda por máquinas e equipamentos agrícolas, o que deve repercutir nas contratações de crédito. “Não só as máquinas, mas o agronegócio como um todo, nos últimos anos, tem contribuído para a balança comercial do Brasil, inclusive com superávits. É um dos setores que evita com que a crise que vivemos já há três anos não seja ainda pior”, completa o superintendente do BB.

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Câmbio ajuda suínos e frango Se em 2015 os criadores de aves e suínos reclamavam de prejuízos devido ao alto custo do milho, essencial para a ração, hoje a situação se inverteu. A saca, que chegou a custa R$ 50,00, é vendida, em média, por menos de R$ 30,00. Com isso, o produtor aproveita para exportar. Dados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) evidenciam que as exportações brasileiras de carne de frango totalizaram 385 mil toneladas em julho, número que supera em 6,2% o total embarcado no mesmo período do ano passado, com 362,4 mil toneladas. Segundo a entidade, foi o primeiro saldo mensal positivo desde os equívocos ocorridos na divulgação da Operação Carne Fraca, ocorrida em março deste ano. Por isso que, em volume, houve decréscimo de 4,6%, com 2,506 milhões de toneladas neste ano – em 2016, foram 2,628 milhões de toneladas.

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Contudo, em receita cambial, a história é diferente. No acumulado do ano (janeiro-julho), o setor de carne de frango registra alta de 5,4% em faturamento, com US$ 4,201 bilhões em 2017 (foram US$ 3,987 bilhões dos sete primeiros meses de 2016). A diferença se deve ao câmbio mais favorável, neste ano, ao exportador brasileiro. “Emirados Árabes Unidos, Egito, Japão, México, Kwait, Angola e outros mercados contri-

O governo federal liberou R$ 188,4 bilhões para nanciar a produ o agrícola de julho deste ano até junho de 2018

buíram para o bom desempenho registrado em julho”, explica o presidente da entidade, Francisco Turra. A expectativa, segundo ele, é que esse patamar se mantenha até o fim de 2017, recuperando o setor exportador dos impactos negativos registrados ao longo do primeiro semestre. Para a carne suína, as vendas brasileiras para o exterior registraram queda de 6,8% em julho na comparação com o mesmo período do ano passado. Ao todo, foram embarcadas 48,7 mil toneladas no sétimo mês de 2017, contra 52,2 mil toneladas de julho de 2016. No acumulado até julho, ocorreu redução de 3,1% nos volumes, com 342,4 mil toneladas. Novamente, quando se analisa a receita, o resultado é outro: nos sete primeiros meses do ano, o faturamento alcançou US$ 863 milhões, frente a US$ 685,2 milhões em 2016. O ganho se deve principalmente a Hong Kong, tradicional comprador e que retomou mais fortemente as encomendas nos últimos meses.



CAPACITAÇÃO

Educação no campo

O

fim deste segundo semestre marca a formatura das duas primeiras turmas do curso Técnico em Agronegócio, gerenciado pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SenarRS). Com 1.230 horas/aula ao longo de dois anos, o curso tem formato semipresencial, sendo 80% realizado na modalidade ensino à distância (EAD). O aluno deve reservar horários para os 20% restantes, destinados as aulas presenciais – realizadas em visitas a propriedades rurais e agroindústrias. Atualmente, as aulas ocorrem nos polos de Cruz Alta e São Sepé. Em agosto, mais 80 alunos ingressaram no programa desenvolvido pelo Senar-RS em parceria com a Rede e-Tec Brasil. Hoje, são 233 participantes. Em Cruz Alta, a estrutura do

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curso dispõe de 450 metros quadrados, com salas de aula, sala de informática, secretaria, auditório e área de convivência. Já em São Sepé, as atividades acontecem no Parque de Exposições do Sindicato Rural da cidade. Além das aulas presenciais, também são realizadas visitas técnicas a empresas, propriedades e agroindústria, possibilitando aos alunos proximidade prática com os conteúdos abordados em aula. Conduzida por tutores, profissionais instrutores do próprio Senar, a grade curricular é dividida em quatro semestres, tendo como foco a gestão da propriedade rural. No Rio Grande do Sul, o programa teve início ano passado no polo de educacional de Cruz Alta, ganhando mais uma unidade neste ano em São Sepé. Voltado especialmente ao público jovem do meio rural, este é o primeiro curso técnico de nível médio na modalidade a distância (EAD) oferecido pelo Senar-RS. O conteúdo é destinado principalmente para quem vive ou trabalha no campo. Entre as

disciplinas estão administração e economia rural, políticas públicas ao agronegócio, marketing aplicado, qualidade e segurança alimentar, gestão de pessoas, empreendedorismo, tecnologia e inovação, entre outras. Além do Rio Grande do Sul, o programa também ocorre nos estados do Acre, Alagoas, Bahia, Ceará, Goiás, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rondônia, Roraima, Santa Catarina, Sergipe, Tocantins e no Distrito Federal.A Rede e-Tec Brasil no Senar já formou suas primeiras turmas e conta agora com mais de 8 mil alunos.

No nal do ano, se ormar o as duas primeiras turmas do curso de cnico em gronegócio, do EN


MULTAS

Conscientizar antes de multar

A

pós quatro anos de negociação entre produtores rurais, entidades e governo, a Assembleia Legislativa aprovou, em agosto, o Projeto de Lei 113-2017 do Executivo que trata sobre a adoção de medidas de defesa sanitária animal que tornam a lei mais eficiente e educativa, protegendo o rebanho. Agora, o produtor será primeiro advertido e só depois autuado. Hoje, a autuação é direta. Os deputados também aprovaram uma emenda do deputado Elton Weber (PSB). Ela estabelece que a advertência prevista na nova lei não contará como infração para fins de reincidência. Ou seja, a multa dobrada somente poderá ser aplicada a partir da primeira autuação e pela mesma infração. Conforme o deputado, “a demanda beneficia a agricul-

tura familiar. A nova lei conscientiza e educa, e não apenas pune”. Conforme a Secretaria Estadual de Agricultura, Pecuária e Irrigação (Seapi), uma das alterações mais importantes é que os produtores rurais poderão ter desconto de até 80% nas multas decorrentes de infrações na área animal, como a falta de vacina ou de declaração do rebanho, por exemplo, desde que seja a primeira infração. Para haver o desconto, é preciso, também, que o pagamento seja realizado sem interposição de defesa administrativa junto à secretaria e dentro dos prazos legais previstos nos regulamentos, exceto às autuações que envolverem fraude, falsificação, artifício ardil, simulação, desacato, embaraço ou resistência à ação fiscal. O secretário de Agricultura, Ernani Polo, destaca que o pro-

jeto atende a demandas que a Seapi recebeu da Fetag e da Farsul há dois anos. “Trabalhamos muito para viabilizar, pois entendemos que é um pleito justo: a multa deve ser de caráter educativo, e não arrecadatório”, ressalta. Para que as alterações possam ser aplicadas, é preciso aprovar o projeto de lei que regulamenta e institui o Programa de Recuperação de Créditos, relativo a multas não pagas pelos autuados. O objetivo é estabelecer um benefício de quitação de valores em prazo determinado, visando facilitar a regularização de débitos de produtores cujo objeto de infração já tenha sido sanado. O projeto aprovado também inseriu o conceito de bem-estar animal no contexto da lei, o que implicará na regulamentação de ações sobre o tema no Rio Grande do Sul para o tratamento ético dos animais de produção. As alterações feitas na lei estabelecem, inclusive, critérios de agravamento de infrações por submeter animais a atos brutais, potencialmente causando mortes.

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FINANCIAMENTO

Renegociação mais fácil

A

vançou no Senado Federal a proposta que facilita renegociação de contratos de financiamento rural diretamente entre produtores e bancos. O PL 354 estabelece regras para que agricultores que contraíram empréstimos e estejam inadimplentes possam renegociá-los de forma mais ágil e diretamente com institui-

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ções financeiras que integram o Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR). A autora, senadora Ana Amélia (PP-RS), explica que muitos produtores rurais são levados a assumir novas dívidas para quitar débitos anteriores, sendo frequente a necessidade de renegociação. Em muitos casos, segundo ela, a falta de ambiente

para entendimento leva à judicialização dos conflitos, atrasando a solução e prejudicando a produção de alimentos no Brasil. Ana Amélia disse acreditar que os problemas de endividamento dos produtores serão solucionados com mais agilidade e menor custo se os bancos forem incentivados a promover acordos por meio de processos administrativos. O texto define regras para esses acordos, como o estabelecimento de prazos. Para a conclusão de um processo de renegociação,


prevê até 180 dias, com a possibilidade de prorrogação por igual período, “mediante comprovada justificativa”. O projeto determina ainda que, após receber do agricultor o pedido de negociação da dívida, o banco terá até 60 dias para responder. Serão analisadas, entre outros aspectos, a proposta de quitação apresentada e sua capacidade de cumprimento do novo acordo. A instituição financeira poderá pedir perícias técnicas e sugerir mudanças na proposta, caso o agricultor seja devedor de outros empréstimos rurais. Se aprovado, o documento terá força de título extrajudicial. Se a proposta for indeferida ou rejeitada, o agricultor poderá reapresentá-la desde que haja mudança em alguns dos fatores que orientaram sua análise

Regras para o Proagro Ainda no tema crédito e seguro agrícola, o Banco Central divulgou a cartilha “Resumo de Instruções para o Beneficiário do Proagro”, com informações atualizadas para os produtores que aderirem ao Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro) na safra 2017/2018. O Proagro funciona como uma espécie de seguro agrícola, garantindo a exoneração de obrigações financeiras de operações de crédito rural de custeio cuja quitação seja dificultada pela ocorrência de fenômenos naturais, pragas e doenças que atinjam rebanhos e plantações. O programa é custeado por recursos da União e provenientes da contribuição que o produtor rural paga (o adicional ou prêmio do Proagro), bem como pelas receitas obtidas com a aplica-

Projeto de Lei apresentado pela senadora Ana Amélia Lemos amplia a possibilidade de negociação de dívidas de produtores rurais ção do prêmio recolhido. O documento apresenta, de forma simplificada, as regras que os agricultores e as instituições financeiras devem observar desde a contratação do programa até o pedido de cobertura, em caso de perda de produção causada por algum evento amparado pelo programa. A publicação do documento segue recomendação da Secretaria de Controle Externo de Agricultura e Meio Ambiente do Tribunal de Contas da União (TCU). “Os produtores devem ficar atentos às regras do programa, para garantir que receberão a indenização em caso de perda de produção em decorrência dos eventos climáticos amparados pelo Proagro”, diz o presidente da Comissão Nacional de Política Agrícola da CNA, José Mário Schreiner. A CNA informa que, desde 1º de agosto de 2016, financia-

mentos de custeio agrícola de até R$ 300 mil com participação de recursos a juros controlados devem ser integralmente amparados pelo Proagro ou, alternativamente, ter cobertura de seguro rural. O CMN fez ainda uma alteração que pode adiantar a vigência da cobertura do programa. Até julho, a vigência começava quando o banco fizesse o débito na conta vinculada que abre para o produtor rural. Agora, a vigência também pode iniciar-se quando a instituição financeira recolhe o prêmio do Proagro ao BC, o que geralmente ocorre um ou dois dias depois da contratação. O CMN também aprovou a redução, de 6,5% para 3,5%, da alíquota do prêmio do Proagro Mais para o cultivo de frutas temperadas com estrutura de proteção para granizo, especificamente ameixa, maçã, nectarina e pêssego.

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ENERGIA RENOVÁVEL

Combustível limpo

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presentada no fim do ano passado, a política nacional de biocombustíveis (chamada RenovaBio) foi detalhada em agosto pelo Ministério do Meio Ambiente. Construído em articulação com o setor privado e a sociedade civil, o documento prevê a expansão sustentável do setor e é a primeira iniciativa alinhada às metas assumidas pelo Brasil no contexto do Acordo de Paris sobre mudança do clima. A medida contribuirá para a redução do consumo de combustíveis fósseis na geração de energia e nos transportes, além de estimular o biodiesel e a agricultura. De acordo com o Ministério de Minas e Energia, o programa vai ajudar no processo de redução de 43% das emissões de gases de efeito estufa até 2030. A RenovaBio propõe ações voltadas para estabilidade, previsibilidade e criação de empregos. De acordo com o ministro de Minas

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e Energia, Fernando Coelho Filho, a proposta garante, também, a segurança para o setor de biocombustíveis. “É uma política que dá tranquilidade suficiente aos investidores para enxergar que essa é uma prioridade do País”, explicou. Fernando Coelho acrescentou que a medida promove a geração de empregos e renda de forma sustentável. A relação com a produção agrícola também é prioridade. “Esse é um assunto que fala diretamente com geração de renda e susten-

Programa RenovaBio pretende dobrar a produção brasileira de etanol até 2030

tabilidade no campo”, declarou o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Blairo Maggi. Com o programa, a expectativa é dobrar a produção brasileira de etanol até 2030. Atualmente, o Brasil produz, em média, cerca de 30 bilhões de litros de etanol por safra. O projeto consolida o Brasil como um dos maiores incentivadores de biocombustíveis do planeta. Segundo a União dos Produtores de Bioenergia (Udop), atualmente, o País substitui 36% da gasolina por etanol e 8% do diesel fóssil por biodiesel por meio das misturas percentuais autorizadas. Em volume, o Brasil é o segundo maior produtor mundial de etanol e biodiesel e tem um grande potencial não só através desses dois energéticos, mas também através do biogás, do biometano e dabioquerosene. A RenovaBio deve ser o principal assunto da comitiva brasileira na 23ª Conferência das Partes (COP 23) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, que ocorrerá em novembro em Bonn, na Alemanha.


VINHO

Mais espaço no exterior

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ma parceria entre o Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin) e a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) promete fomentar as exportações do setor de uva e vinho brasileiros. O programa Primeira Exportação, promovido pelo projeto Wines of Brazil do Ibravin, pretende capacitar vinícolas para acessar o mercado internacional. Os workshops começaram em agosto e acontecem em outubro e dezembro próximos. Participam da iniciativa as vinícolas que integram o Wines of Brasil – hoje, empresas dos estados de São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul. O Wines of Brasil (WoB) é uma iniciativa de promoção co-

mercial dos vinhos, espumantes e suco de uva brasileiro no mercado externo. O projeto conta atualmente com a participação de 40 vinícolas. Nos últimos anos, cerca de 95% das empresas que aderiram ao WoB conseguiram dar continuidade em suas exportações, devido ao suporte e aos programas de capacitação oferecidos, entre outras ações “O foco é dar suporte às vinícolas do mercado internacional. Nosso objetivo é desenvolver esse mercado, dando orientações antes das empresas irem para o exterior, deixando-as preparadas para atuarem lá fora”, explica o gerente de promoção do Ibravin, Diego Bertolini. Os números mostram a crescente aceitação internacional

dos vinhos brasileiros, principalmente em mercados considerados bastante competitivos, como Estados Unidos, Europa e Ásia. As exportações, em 2016, registraram alta no valor de 45%, totalizando US$ 5,9 milhões, e no volume, de 43%, com 2,2 milhões de litros. Os workshops são voltados para a formação de preço, logística e tendência de consumo nos mercados-alvo do Wines of Brasil (Estados Unidos, Reino Unido e China). Os norte-americanos, por sinal, estão se destacando no cenário mundial – ano passado, o consumo de vinho nos EUA subiu 13%. Por isso é que muitos importadores estão de olho: em 2016, os norte-americanos aumentaram em 34,6% o valor das aquisições de vinhos do Brasil, totalizando US$ 830,7 mil em dividas e 280,6 mil litros exportados.

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BIOTECNOLOGIA

Pequenos mas poderosos

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á mais de quatro décadas, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) investe na conservação de plantas, animais e microorganismos. Estes últimos, que podem ser bactérias, vírus, fungos, leveduras, entre outros, são conservados a curto, médio e longo prazo de diferentes formas, dependendo da espécie e da finalidade. A conservação destes seres vivos é um importante ativo biológico, principalmente para a agricultura. “Hoje, o foco está cada vez mais voltado para a busca da

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funcionalidade dos microrganismos de forma a atender o setor produtivo”, explica a pesquisadora da Embrapa Clima Temperado, de Pelotas, Maria Laura Mattos. A instituição tem hoje 21 coleções de microrganismos distribuídas por 18 unidades de pesquisa de vários estados brasileiros, abrangendo cerca de 45 mil linhagens de microrganismos. Segundo Maria Laura, atualmente os cientistas da Embrapa priorizam a qualidade em detrimento da quantidade do material preservado. O uso de bactérias para fixar nitrogênio do solo nas

plantas já é uma realidade de sucesso há décadas no Brasil, principalmente para o plantio de soja e feijão. Esse trabalho foi iniciado pela pesquisadora Johanna Döbereiner, na Embrapa Agrobiologia na década de 1970. Atualmente, essas pesquisas estão sendo estendidas para arroz irrigado, azevém (gramínea usada em pastagens de inverno na região Sul do Brasil, muito importante na integração lavoura-pecuária) e soja cultivada em terras baixas. Os pesquisadores estão em busca de linhagens de bactérias capazes de resistir ao frio e encharcamento do solo, que possam atender às demandas dos produtores de arroz irrigado, azevém e soja. Maria Laura acredita que a tecnologia de fixação biológica de nitrogênio (FBN) para gramíneas e leguminosas de clima temperado deve despertar o interesse do setor produtivo, já que atende também ao mercado de alimentos orgânicos, que cresce alheio à crise econômica no Brasil. Segundo dados do Conselho Nacional da Produção Orgânica e Sustentável (Organis), o mercado nacional de orgânicos cresceu 20% em 2016, com faturamento estimado de R$ 3 bilhões. Existem, também, pesquisas voltadas para o uso de bactérias como fixadoras de nitrogênio e agentes de degradação de agrotóxicos. Na Embrapa Recursos Genéticos, há estudos avançados para utilização desses microrganismos no controle biológico de insetos-praga e mosquitos transmissores de doenças. A unidade de Brasília mantém um banco com mais de 2.600 tipos de bactérias denominadas entomopoatogênicas, o que significa que são específicas para controlar os insetos-alvo, sem fazer mal aos demais seres vivos e ao meio ambiente.


Desse acervo, já saíram bactérias que foram usadas na formulação de inseticidas biológicos capazes de controlar o mosquito Aedes aegypti (transmissor da dengue, zica, chikungunya e febre-amarela e lagartas que atuam como pragas nas culturas de soja, milho e algodão. Em comum entre todas as unidades da Embrapa que mantêm coleções microbianas está o objetivo de intensificar a parceria com o setor privado para que as tecnologias geradas a partir dos microrganismos cheguem de forma rápida ao mercado brasileiro. As biotecnologias são opções viáveis na busca constante por soluções sustentáveis.“É preciso

aproveitar esse cenário positivo para inserir as tecnologias da Embrapa no mercado brasileiro”, ressalta Maria Laura. Os produtos fitossanitários são importantes para reduzir os danos causados pelas pragas agrícolas e contribuem para que as plantas expressem seu potencial de produtividade. Atualmente, apesar do manejo que se utiliza, as pragas (plantas daninhas, fungos, bactérias, vírus, nematoides, insetos, ácaros etc.) causam danos estimados de 42% na produção vegetal em todo o mundo. Como alternativa os produtos químicos tradicionais, os bioinseticidas têm ganhado espaço

no mercado. A vantagem é que têm como ingredientes ativos organismos vivos que atuam sobre as pragas através de mecanismos como predação, parasitismo, antibiose e competição, além de poderem ser estimulantes de crescimento das plantas. No mundo, os produtos biológicos movimentam cerca de US$ 2,3 bilhões por ano. No Brasil, representa cerca apenas 1,5% de mercado de produtos fitossanitários tradicionais, ou agroquímicos. Entretanto, apresenta tendência de rápido crescimento. Enquanto o mercado de produtos químicos deve crescer 3% ao ano, o de produtos biológicos deve crescer de 15% a 20% ao ano.

A Embrapa possui hoje 21 coleções de microrganismos distribuídas por 18 unidades de pesquisa de vários estados brasileiros

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INFRAESTRUTURA

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Safra perdida pelo caminho

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m anos de aumentos sucessivos na produtividade de grãos, fica difícil não reclamar das dificuldades de escoamento da safra. Em 2017, não é diferente: a infraestrutura precária, tanto nos portos, ferrovias e rodovias, deve resultar em perdas para a agricultura. Um dos principais problemas é a insuficiente malha ferroviária, fator já identificado pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) em recente estudo. Segundo o levantamento, a pouca disponibilidade de ferrovias é considerada problema grave ou muito grave por 83,3% dos embarcadores. O Brasil tem 3,4 quilômetros de infraestrutura ferroviária para cada 1.000 quilômetros quadrados de área. Os Estados Unidos, principal concorrente do Brasil, têm 22,9 quilômetros, e a Argentina, que também disputa mercados com o país, tem 13,3 quilômetros por mil quilômetros quadrados de área. A situação é ainda pior nas rodovias: estradas em más condições deixam o transporte de soja e do milho R$ 3,8 bilhões mais caro, conforme o mesmo levantamento da CNT. De acordo com Paulo Resende, coordenador do Núcleo de Logística e Infraestrutura da Fundação Dom Cabral (FDC), a falta de planejamento de longo prazo aliada à expansão da produção agrícola deve deixar o problema cada vez mais em evidência, impactando diretamente a economia nacional. Estimativas do Ministério da Agricultura apontam que, em 10 anos, a safra de grãos no país

deve crescer 40%. Quanto maiores os custos logísticos para levar os produtos aos compradores, menor o lucro e menor a competividade do produto brasileiro. E haja estradas: cerca de 60% dos grãos são movimentados por caminhões, que geram longas filas para descarregamento em terminais portuários. O acúmulo da carga causa alto custo de manutenção no transporte e perda de competitividade. No Rio Grande do Sul, caso emblemático é o da arrastada obra de duplicação da BR-116 entre Guaíba e Pelotas – a obra é prioritária por acessar conectar a Capital e parte do Estado com o principal terminal portuário gaúcho, o Porto de Rio Grande. O trecho de 250 quilômetros está há cinco anos em obras. As muitas paralisações por falta de orçamento da União levam enormes prejuízos à economia gaúcha, em um momento de safra recorde. Até julho, o porto gaúcho já exportou cerca de 8 milhões

de toneladas do complexo soja (grãos, farelo e óleo), alta de 4% sobre o mesmo período do ano passado e a tendência é de crescimento nos próximos meses. Mas nem tudo é má notícia: em seu último censo sobre as estradas do Brasil, a CNT identificou uma melhoria nas condições gerais. Ano passado, a classificação ótima ou boa chegou a 47% das rodovias federais. Ainda assim, 53% das rodovias públicas avaliadas ainda apresentam condição inadequada ao tráfego. Em 2016, cerca de 31 mil quilômetros apresentavam deficiências no pavimento, na sinalização e na geometria. Esses problemas aumentam o custo operacional do transporte, comprometem a segurança nas rodovias e causam impactos negativos ao meio ambiente. O dinheiro só tem diminuído: enquanto foram investidos R$ 15 bilhões em infraestrutura rodoviária em 2011 pelo governo federal, ano passado o valor aplicado caiu para R$ 8,5 bilhões.

O governo federal vem diminuindo os recursos da ampliação e recupera o da in raestrutura rodovi ria, com re e o direto sobre o escoamento da produção primária do país

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COURO

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Legítimo, só ele

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enos sapato de couro e mais mercado automotivo e moveleiro. É assim que a indústria coureira do Rio Grande do Sul (e brasileira) mudou de perfil nos últimos 20 anos. Com menos espaço na indústria calçadista, o couro hoje é mais utilizado em estofamentos de carros premium ou na composição de confortáveis sofás em lojas de primeira linha. No caso dos gaúchos, os curtumes respondem por uma riqueza de US$ 1 bilhão por ano em processamento de couro. Dados da Associação das Indústrias de Curtumes do Rio Grande do Sul (AICSul), sediada em Novo Hamburgo, indicam que o Estado hoje exporta couro para 60 países, representando 22% do total do Brasil comercializado com o exterior. “São 218 estabelecimentos coureiros registrados conosco. Alguns apenas fazem

o curtimento, outros industrializam o couro. São diversas etapas”, conta o presidente executivo da entidade, Moacir Berger. Ele destaca que o setor mudou para sobreviver. Na década de 1980, 70% do couro era utilizado pela indústria de calçados, ficando os 30% restantes para artefatos, vestuário, estofamentos de carros e outros produtos. Já na década de 1990, apenas 45% do couro teve como destino os calçadistas, 35% nos estofamentos de carros e 20% nos artefatos, vestuário e outros produtos. A mudança ocorreu devido a vários fatores, como a redução nas exportações de calçados brasileiros a partir da década de 1990 e a invasão de sapatos chineses. As vantagens do couro na indústria automotiva não são poucas: o material é mais confortável, fácil de limpar, deixa o interior elegante, é mais resistente e difícil de manchar. “Provavelmente você encontre, hoje, um Audi rodando nos Estados Unidos com bancos de couro de animal abatido em Alegrete”, afirma, orgulhoso. Cerca de 70% do couro pro-

duzido no Brasil vai para o exterior, com destaque para a indústria automotiva europeia e norte-americana. A categoria couro acabado é um dos mais significativos para a exportação - sua demanda é responsável por 60% do valor faturado. Em seguida vem o chamado wet blue (que já passou por um processo inicial de curtimento), com 25,4% das vendas para o exterior. Conforme Berger, a indústria coureira do Rio Grande do Sul tem uma capacidade instalada para processar 10 milhões de peles por ano (cada pele corresponde a um boi inteiro). Como o abate anual no Estado é de 2 milhões de cabeças de gado, o restante da capacidade é suprida por couro vindo de outras unidades da federação. “Onde se mata boi hoje? Goiás, Tocantins, Mato Grosso. Então, não estamos ociosos, mas somos abastecidos por couro destes estados”, conta o executivo. E o potencial é muito grande. Fazendo as contas, Berger ilustra que o rebanho comercial brasileiro é o maior do mundo, com 220 milhões de cabeças. São abatidas

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40 milhões de animais por ano – o que rende 40 milhões de peles para os curtumes. “Claro que o pecuarista abate o boi pela carne e o couro é um subproduto. Mas, para nós, tem muito valor. Imagina se não existissem os curtumes? Não haveria como reciclar esses 40 milhões de peles. Seria tudo enterrado”, destaca ele. Embora o volume pareça grande, há imperfeições na cadeia produtiva, principalmente quanto à qualidade da pele que chega aos curtumes. Parte do couro do animal, ou é danificada no processo de abate e desosssa, ou fica inutilizável devido a um grande problema hoje no campo: os carrapatos. O parasita deixa uma marca, tipo cicatriz, no couro. “Isso é um pecado capital na indústria e ninguém quer esse produto”, afirma Berger. Segundo ele, os curtumes já tentaram desenvolver um programa, junto aos pecuaristas e frigoríficos, com o objetivo de

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Moacir Berger Presidente da AICSul melhorar a qualidade do couro entregue nas indústrias. Não foi adiante, mas a questão persiste. “O couro que recebemos é bara-

to porque é ruim. O couro americano, ao contrário, tem maior valor. Em outras épocas, a gente comprava couro selecionado no frigorífico, recortadinho. Hoje não, vem a pele inteira, com rabo, beiço e manchas. Isso é um problema recorrente”, reclama. E quanto ao concorrente, chamado couro ecológico? Além de se parecer muito com o original, o preço é um atrativo forte: uma jaqueta ou um calçado feitos com couro ecológico, por exemplo, pode chegar a custar até 60% menos que um outro feito com couro bovino. “Olha, não é couro, é plástico, sintético. É um nicho que se abriu, reconhecemos isso, mas não pode ser chamado de couro. Inclusive estamos fazendo campanha junto aos pontos de venda para auxiliar o lojista a diferenciar ambos, porque hoje é praticamente igual, visualmente, um ao outro. O que queremos é que o consumidor não seja enganado”, pondera Moacir Berger.



AGRICULTURA FAMILIAR

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O pequeno que produz muito

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uem compra a caixinha de leite na gôndola do supermercado, muitas vezes, nem imagina o longo caminho que aquele alimento percorreu desde o campo até a mesa do consumidor. Lá na ponta, ainda no campo, faça chuva ou tempo bom, calor ou frio, um agricultor acorda toda madrugada para começar a ordenha das vacas. Muitos desses pequenos produtores rurais são responsáveis por 70% de tudo que a agricultura brasileira produz. Segundo dados do Ministério da Agricultura, o pequeno agricultor ocupa hoje papel decisivo na cadeia produtiva que abastece o mercado brasileiro: feijão (70%), carne suína (59%), leite (58%), carne de aves (50%) e milho (46%) são alguns grupos de alimentos com forte presença de pequenos agricultores na produção. Por isso a agricultura familiar é de extrema importância para a economia brasileira. No Rio Grande do Sul, são cerca de 900 mil pessoas atuando em uma cadeia produtiva que inclui pequenos estabelecimentos rurais, associações e cooperativas. É considerada unidade produtiva familiar a propriedade utilizada para produção de alimentos com até quatro módulos fiscais de área (varia conforme o município, mas, em média, até 20 hectares). Das 441 mil propriedades rurais gaúchas, 379 mil (85% delas) se enquadram nestes parâmetros.

“São famílias produtoras de frangos, suínos, soja, arroz, hortifrutigranjeiros, enfim, grande parte do que comemos hoje”, avisa o titular da Secretaria do Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo (SDR), Tarcísio Minetto. Para estes produtores rurais, capacitação em gestão e qualificação profissional são essenciais para aumentar a produtividade e ganhar mercados. No Rio Grande do Sul, a SDR mantém o Fundo Estadual de Apoio ao Desenvolvimento dos Pequenos Estabelecimentos Rurais (Feaper). “Esta é uma ferramenta importante para levar políticas públicas ao agricultor familiar, que deve se conscientizar da importância de se organizar e trabalhar unido com outros produtores para buscar o que precisam e conseguirem

melhor qualidade de vida”, conta Minetto. Apenas no primeiro semestre de 2017, o Feaper destinou R$ 9,3 milhões para 810 projetos aprovados pelo programa. Os valores são flexíveis conforme a necessidade dos agricultores. O Feaper opera financiamentos subsidiados em até 80%, com recursos do Tesouro do Estado destinados à Consulta Popular e do BNDES Pro Redes. A lista de atividades contempladas pelo Feaper é extensa e variada: inclui desde compra de sementes e de mudas, construção de agroindústria, aquisição de ordenhadeira e compra de reprodutores até questões de infraestrutura, como melhorias na rede elétrica, geração de energia por fontes alternativas, acesso à

Pequenos produtores rurais são responsáveis por 70% de tudo que a agricultura brasileira produz

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internet e telefone, além de projetos de irrigação. Outra questão importante é a formalização das agroindústrias familiares. Muitas vezes o agricultor produz, artesanalmente, seu queijo, ou geleia, suco de laranja, mas não tem acesso ao varejo formal simplesmente porque não cumpre requisitos como registro em órgãos oficiais ou vistorias de sanidade animal e vegetal. Desde 2013, o Programa Estadual da Agroindústria Familiar (Peaf) procura retirar da informalidade esses agricultores, fornecendo toda a assistência necessária. “Hoje, temos cerca de 1 mil agroindústrias cadastradas no programa”, destaca Minetto. Depois de tudo finalizado, os produtos podem utilizar o selo Sabor Gaúcho, que garante a origem daquele queijo ou salame oriundos de uma pequena propriedade rural formalizada e que cumpre as exigências legais e sanitárias.

arcísio inetto secretário do Desenvolvimento ura esca e C erati s

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No Rio Grande do Sul, são cerca de 900 mil pessoas atuando em uma cadeia produtiva que inclui pequenos estabelecimentos rurais, associa es e cooperativas O principal desafio hoje, segundo Minetto, é reter o jovem no campo e evitar o êxodo rural. Muitos filhos de agricultores, por falta de uma renda maior, desistem da atividade e terminam por migrar para cidades. Em muitos casos, o negócio familiar simplesmente termina porque não há quem continue com a atividade rural. Presidente da Federação dos Trabalhadores da Agricultura do Rio Grande do Sul (Fetag-RS), Carlos Joel da Silva concorda que manter os jovens no campo é a questão mais urgente. “Mas, para isso, necessitamos valorizar cada vez mais este profissional rural com políticas públicas estruturantes que garantam a qualidade de vida e a renda no campo”, conta. Conforme ele, o Peaf é fundamental para garantir que a agroindústria familiar continue sendo valorizada no Estado, através das políticas de fomento e do selo Sabor Gaúcho, mas ainda

há muito por ser feito. “Podemos citar a infraestrutura, que em diversas regiões do estado ainda é precária, sem estradas e poucas vias de acesso. Faltam ainda sinal da telefonia móvel e internet de qualidade. Isso é essencial para os agricultores acessarem informações que auxiliam da produção à comercialização dos seus produtos”, conta. Em relação ao crédito rural, a principal política pública para o setor hoje é o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). “A disponibilidade de recursos vem sendo satisfatória e consegue atender a demanda do setor, contudo, é importante que os instrumentos que garantem o seguro da produção estejam funcionando, como o Proagro e o Proagro Mais”, destaca ele. Nesse sentido, conforme Joel, as exigências para acessar o crédito e o seguro estão cada vez mais rígidas, o que acaba por excluir muitos agricultores do programa.



IRRIGAÇÃO

Água para aumentar a produtividade

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uso de tecnologias para irrigação em pastagens e forrageiras vem crescendo cada vez mais no Brasil. Conforme a Embrapa, elas possibilitam obter melhor valor nutricional, maiores índices de produção de matéria seca, além de favorecer o manejo adequado e racional do sistema de produção animal, para produção de carne e leite. Atualmente, cerca de 10 milhões de hectares no País contam com sistemas de irrigação – no Rio Grande do Sul são 1,1 milhão de hectares, principalmente em áreas de plantio de arroz. De acordo com os estudos do Ministério da Agricultura, o potencial brasileiro a ser alcançado com a agricultura irrigada é de 30 milhões de hectares. O estado gaúcho mantém o Conservar para Produzir Melhor, programa de conservação do solo e da água, que visa incentivar, fomentar e coordenar ações integradas em parceria com órgãos e entidades públicas e privadas; estabelecer programas, diretrizes e instrumentos para a proteção e a conservação da qualidade do solo e da água. Conforme o secretário estadual de Agricultura, Ernani Polo, a conservação do solo e da água é de fundamental importância para o aumento da produtividade nas lavouras e também para o meio ambiente: “Trabalhar o solo reflete bons resultados nas colheitas, além de ser benéfico ao meio am-

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biente. As condições de solo e da água são um grande limitador da produtividade no Brasil”, conta. Segundo a Emater, dos 6 milhões de hectares de lavouras de sequeiro do Estado (milho, soja, feijão, fumo e outras), apenas 2% possuem sistemas de irrigação. São 80 mil hectares irrigados com o uso de pivô, 30 mil hectares por outros tipos de aspersão e 5 mil hectares por gotejamento. Para alcançar maiores índices de produtividade, alguns produtores rurais buscam alternativas para incrementar a produção e, consequentemente, aumentar os lucros. “Estas tecnologias diminuem as perdas de produtividade pela estacionalidade, com a eliminação do efeito do estresse hídrico sofrido pelas culturas, em

O potencial brasileiro a ser alcançado com a agricultura irrigada é de 30 milhões de hectares

épocas de veranico, quando falta chuva”, explica o pesquisador Reinaldo Gomide, da Embrapa Milho e Sorgo. Com a irrigação das pastagens e forrageiras, o manejo da bovinocultura de corte e leite torna-


Ernani Polo secretário estadual de Agricultura

-se mais seguro do que em um sistema tradicional de pastejo rotacionado. Gomide considera que, em primeiro lugar, os técnicos e produtores precisam utilizar tecnologias que promovam altas produções da pastagem ou forragem. “A irrigação é uma tecnologia que deve ser aplicada após a verificação de outros fatores relacionados a um sistema de produção adequado de pastagens. No planejamento, é preciso verificar se as condições climáticas são favoráveis e realizar um bom manejo do solo. Fazer a correção da fertilidade, caso seja necessário, baseado em análises química e física e, também, na escolha das melhores cultivares de gramíneas e forrageiras”, avalia.

Outras recomendações que devem estar associadas às boas práticas de irrigação são fazer a semeadura em nível, para evitar erosões, manter as adubações de manutenção e de cobertura para as plantas e realizar o monitoramento e combate às pragas e doenças. “Uma das principais pragas, no caso de pastagem, são as formigas”, destaca Gomide. Mas utilizar corretamente sistemas de irrigação exige atenção do agricultor. O manejo deve ser adequado para racionalizar a aplicação de água às culturas de maneira complementar ou integral. Requer certos procedimentos para determinar o turno de rega (frequência de irrigação), bem como para determinar a quantidade de água necessária às culturas.

O pesquisador ressalta que, no Brasil, as dificuldades para utilizar as equações (ou modelos) para determinar a necessidade de água das plantas, ou evapotranspiração, têm levado os irrigantes a fazer o manejo de água de forma inadequada do ponto de vista técnico, econômico e ecológico. Isso pode ser contornado com o uso de uma planilha eletrônica Excel ou do programa Irriga Fácil, disponibilizado pela Embrapa, que são ferramentas que permitem fazer o manejo da água de irrigação de forma adequada e racional. “Todos esses cuidados são essenciais para a eficácia da irrigação. Mesmo assim, para que a irrigação de pastagens possa atender às expectativas do setor agropecuário, cada caso deve ser analisado individualmente, considerando-se as particularidades e os indicadores econômicos”, conclui o pesquisador.

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OLIVICULTURA

Oliveira, mercado em crescimento

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registro de agrotóxicos específicos e a normatização de padrões para produção de mudas de oliveiras estão entre os temas que mobilizaram, recentemente, autoridades e produtores. Recentemente, foi criada uma Comissão Permanente da Olivicultura Brasileira, composta por 30 técnicos e produtores rurais. De acordo com o coordenador

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da comissão, o auditor fiscal federal Luís Pacheco, uma proposta de produção de mudas de oliveira já foi validada pela Comissão Estadual de Sementes e Mudas do Rio Grande do Sul e agora será analisada pelo Mapa. Uma relação de produtos para controle fitossanitário dos plantios de oliveiras também foi encaminhada ao Ministério da Agricultura. “Esse tema ainda será

discutido com os fabricantes de agroquímicos”, relata Pacheco. Outro assunto em debate na comissão é a proposta para elaboração de um cadastro nacional sobre a produção de oliveira. A comissão é vinculada ao Departamento de Desenvolvimento das Cadeias Produtivas e da Produção Sustentável (Depros), da Secretaria de Mobilidade Social, do Produtor Rural e do Cooperativismo (SMC) do Mapa e é responsável por promover o desenvolvimento da olivicultura nos aspectos sociais, tecnológicos, econômicos e ambientais. O cultivo de oliveira é recente no Brasil. Segundo Pacheco, o


país tem mais de 200 produtores, que plantam em uma área de cerca de 5 mil hectares. Neste ano, o setor produziu 97 mil litros de azeite, a partir de 950 toneladas de azeitonas. A projeção é que a produção chegue a 200 mil litros em 2018. A maior parte da produção está concentrada no Rio Grande do Sul. Embora seja uma atividade recente, a olivicultura brasileira já se destaca no cenário mundial “Alguns de nossos azeites de oliva foram premiados em concursos internacionais”, destaca Pacheco. O Brasil tem atualmente cerca de 40 marcas nacionais de azeite de oliva. É um mercado competitivo – o País importa, por ano, cerca de 70 mil toneladas de azeite de países tradicionais produtores, como Espanha e Portugal. Além de renda, a cadeia produtiva tem potencial para geração de empregos. “No período de colheita, por exemplo, o setor precisa de trabalhadores de maneira intensiva. E o país ainda é carente de mão de obra qualificada para

o serviço”, assinala Pacheco. Por ser uma cultura permanente, o cultivo de oliveiras é apropriado a pequenas propriedades. Isso contribui para adoção de boas práticas agrícolas – normas, princípios e recomendações técnicas aplicadas na produção, processamento e transporte que visam proteger o meio ambiente e promover o bem-estar dos trabalhadores e consumidores. Introduzida no Brasil no século XIX, a oliveira (nome científico Olea europea L) é nativa do Oriente Médio e tem seu fruto, a azeitona, usada sobretudo na alimentação humana. Do fruto são consumidos a polpa macia, que reveste o caroço, e o azeite, óleo produzido a partir do esmagamento da polpa. Cada oliveira leva cerca de quatro anos para atingir o ponto considerado ideal para colheita da azeitona e produz de 2 a 3 litros por safra. Rica em minerais como o fósforo, cálcio, potássio e ferro, a azeitona também contém a vitamina E, substância antioxidante

que age contra doenças cardíacas, tem ação anti-inflamatória e auxilia no aumento do colesterol bom, por exemplo. No Brasil, são mais comuns as azeitonas verdes e pretas, de tamanhos variados, comercializadas em conserva, sem caroço e a granel. O azeite de oliva, derivado da azeitona, e seus benefícios nutricionais são recomendados por seus fatores que inibem o risco de doenças cardiovasculares e no processo digestivo. Os tipos extravirgem, puro ou refinado são aplicados nas diversas formas na alimentação e no preparo de receitas de alimentos. A contribuição da cultura à sustentabilidade ambiental permitiu sua inclusão na linha de crédito de investimento do Plano Agrícola e Pecuária 2017/2018, por meio do Programa ABC (baixa emissão de carbono). O ABC conta com R$ 2,13 bilhões para financiar os produtores neste ciclo agrícola. O limite de crédito por beneficiário é R$ 2,2 milhões, com até 12 anos para pagamento.

Neste ano, o setor produziu 97 mil litros de azeite. A projeção é que a produção chegue a 200 mil litros em 2018. A maior parte da produção está concentrada no Rio Grande do Sul

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SANIDADE ANIMAL

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Contra a tuberculose bovina

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ma nova parceria entre a Embrapa e a empresa norte-americana Ellie LLC promete reforçar o combate à tuberculose bovina. O convênio visa o aperfeiçoamento tecnológico e a exploração comercial do kit (Elisa), sigla em inglês para ensaio de imunoadsorção enzimática, para detecção da tuberculose bovina. As duas instituições trabalham juntas, desde 2015, na padronização do teste Elisa para disponibilização no mercado. A empresa de pesquisa brasileira detém a tecnologia de um teste sorológico Elisa baseado em um antígeno para imunodiagnóstico da tuberculose causada por Mycobacterium bovis, obtido após tentativas iniciadas em 2009, como conta o imunologista da Embrapa Gado de Corte (Campo Grande, MS), Flávio Ribeiro de Araújo. A Ellie, por sua vez, possui capacidade técnica e infraestrutura adequadas para absorver o conhecimento gerado pelos pesquisadores brasileiros e comercializar os testes, além de produzi-los. O contrato está elaborado em duas etapas. A primeira relacionada aos processos de aperfeiçoamento, testes industriais e a campo; e a segunda, à produção, propriamente dita, e comercialização do produto, dentro de um plano de negócios. “Os resultados preliminares da avaliação do teste mostraram-se bastante promissores para o diagnóstico sorológico da tuberculose bovina”, afirma Araújo. O kit em desenvolvimento fornece informações adicionais aos métodos tradicionais de detecção da doença e, segundo o médico-ve-

terinário, em estágios avançados da doença, a ferramenta poderá complementar o teste intradérmico, autorizado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). A tuberculose é uma enfermidade de evolução crônica causada pela bactéria M. bovis e acomete bovinos, caprinos, ovinos, suínos, animais silvestres e também humanos, o que a caracteriza como uma zoonose. Um dos maiores problemas no meio rural é a permanência de animais infectados no rebanho transmitindo a doença aos sadios. O novo kit fornecerá informações adicionais, aumentando a cobertura do diagnóstico.

Parceria entre a Embrapa e a empresa norteamericana Ellie LLC promete reforçar o combate à tuberculose bovina Araújo trabalha ao lado de outros pesquisadores brasileiros e do Reino Unido na identificação de características do genoma de M. bovis em animais dos estados do Rio Grande do Sul e de Mato Grosso do Sul, que possibilitem verificar se há semelhanças entre as mesmas em regiões próximas e as possibilidades de correlações ao trânsito de animais. Eles também estudam a participação de animais silvestres na transmissão da tuberculose bovina.

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ABIGEATO

O crime ronda o campo

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ão é de hoje que o furto e roubo de animais no campo – o abigeato – causa prejuízos na agricultura gaúcha e brasileira. Carneados, muitas vezes, no próprio estabelecimento rural, na calada da noite e sem as mínimas condições de higiene, os animais mortos resultam em pedaços de carne vendidos em muitos estabelecimentos pelo Rio Grande do Sul. A atividade criminosa no meio rural atinge também sementes, cargas de grãos, tratores e máquinas em geral. Velho conhecido dos produtores rurais, o abigeato cresceu e se sofisticou ao longo das últimas décadas devido a vários motivos: as grandes extensões das proprie-

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dades, a dificuldade de fiscalização por parte do Estado e a organização das quadrilhas. A figura de um único ladrão roubando uma ovelha para matar a fome de sua família cedeu espaço a grupos numerosos, ramificados pelo Rio Grande do Sul, com operações de guerrilha. Entre 2015 e 2017, foram registrados mais de 3,3 mil casos de abigeato nos dez municípios gaúchos onde este crime é mais frequente, uma média de quase cinco furtos ou roubos por dia. O prejuízo dos produtores ultrapassou R$ 70 milhões no período, segundo estimativa da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul. O prejuízo é tão grande que,

Rodrigo Lorenzoni Presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Rio Grande do Sul (CRMV-RS)


co de investigação da força-tarefa liderada pelo delegado Adriano Linhares, as ocorrências de abigeato tiveram uma queda de 27% entre janeiro e julho deste ano em relação ao mesmo período do ano passado. O confisco de animais, carnes, armas, automóveis, caminhões e outros bens em poder de criminosos resultou na recuperação de mais de R$ 6 milhões, valores que serão restituídos aos pecuaristas roubados. Uma das operações mais recentes ocorreu na região de Pelotas em julho. Os policiais civis cumpriram 20 mandados de prisão e 18 mandados de busca e apreensão. Durante a ação, 16 pessoas foram presas, entre elas, o líder da organização criminosa e um dos maiores carneadores da região. Em apenas um ano, conforme o delegado Linhares, o grupo desarticulado furtou pelo menos 1,5

segundo dados do Ministério da Agricultura, cerca de 20% da carne consumida no Brasil é clandestina, e chega à mesa do brasileiro custando até 40% menos que a proteína que passou pelos trâmites sanitários oficiais. Por isso mesmo é que, desde 2016, o Rio Grande do Sul conta com uma força-tarefa da Polícia Civil dedicada exclusivamente para combater o abigeato. Sediada em Bagé, com bases avançadas em Rosário do Sul e Pinheiro Machado, a força-tarefa da polícia é composta por nove policiais, com atuação em todo o Estado. Em um ano de trabalho, foram desarticuladas 17 quadrilhas especializadas em abigeato, com 135 criminosos presos e 35 toneladas de carne apreendidas. Os policiais recuperaram ainda 843 cabeças de gado e 11 veículos roubados. Por conta do trabalho científi-

mil bovinos e ovinos em diversos municípios da região. O bando era conhecido pelos produtores rurais de “Grupo dos Seis”, por matarem, em média, seis animais bovinos por vez. A carne era levada pelos abigeatários para Pelotas, onde a quadrilha distribuía o produto por açougues, lancherias, bares e restaurantes, todos de propriedade de um dos criminosos presos.

Uma questão de saúde pública Os prejuízos do abigeato vão além da esfera econômica e alcançam a saúde humana. Quem consome carne sem procedência está sujeito a uma série de infecções e doenças decorrentes do abate clandestino de animais. Presidente do Conselho Regio-

Uma das operações mais recentes ocorreu na região de Pelotas, onde 16 pessoas foram presas, entre elas o líder de uma organição criminosa e um dos maiores carneadores da região

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Entre 2015 e 2017, foram registrados mais de 3,3 mil casos de abigeato nos dez municípios gaúchos onde este crime é mais frequente nal de Medicina Veterinária do Rio Grande do Sul (CRMV-RS), Rodrigo Lorenzoni destaca o risco à saúde pública. “No momento do abate do animal, em frigorífico, há a presença de um fiscal validando todo o processo para garantir a qualidade da carne. No abigeato, ao contrário, há apreensões feitas dentro de Kombi, por exemplo, repletas de sujeira. A gente, brinca, infelizmente, que é o ‘frigomato’”, diz ele. Lorenzoni salienta que, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 70% das doenças que atingem os seres humanos têm origem animal – como dengue, febre amarela, leishmaniose etc. Mas há algumas relacionadas ao consumo de carne animal contaminada, é o caso da cisticercose, brucelose

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e tuberculose bovina. “Há, ainda, a hidatidose, transmitida pela ingestão de carne mal-cozida ou contaminada que pode afetar o nervo ótico e, mais tarde, causar a morte”, conta Lorenzoni. É necessário, ainda, analisar a questão do ponto de vista cultural. O abate para consumo próprio, no interior gaúcho, ocorre historicamente, em várias situações, como famílias destinarem animais para alimentar convidados de uma festa de casamento, por exemplo. “Neste ponto não há problema. O consumo próprio é permitido. Não pode é furtar a carne e comercializar sem inspeção sanitária. Infelizmente, é uma realidade ainda muito presente em nosso Estado”, diz. Mas o presidente do CRMV-RS avisa que o mercado clandestino

só existe porque há demanda. “É preciso uma reflexão por parte do consumidor. Defendemos que se faça um programa de conscientização para os perigos da alimentação com carne clandestina. É um barato que sai caro”. O veterinário expressa outra preocupação sanitária: o trânsito ilegal de animais entre o Rio Grande do Sul e territórios próximos, como Argentina e Uruguai. “Hoje, a aftosa está erradicada no Estado, mas levar gado de um local para outro, sem fiscalização, é um problema grave. Por isso, digo: não tem como retirar a vacina contra aftosa porque hoje ela é um mecanismo de defesa no combate à doença já que temos fronteiras carentes de fiscalização”, finaliza Lorenzoni.


MIX

Exportações do RS Embarques recordes de soja contribuíram para o desempenho positivo das exportações gaúchas no primeiro semestre do ano. Os dados são da Fundação de Economia e Estatística (FEE). Os primeiros seis meses de 2017 registraram elevação das vendas de produtos manufaturados, especialmente os automóveis, mas foi a soja em grão o produto que gerou maior crescimento das receitas (25% do total vendido). Destacam-se, ainda, carne de frango (6,5%), fumo em folhas (5,2%) e farelo de soja (4,4%).

Controle de praga Em agosto, técnicos da Embrapa Uva e Vinho e da Emater instalaram armadilhas para dar início ao programa de monitoramento da mosca-das-frutas (Anastrepha fraterculus) nos municípios de Bento Gonçalves, Farroupilha e Pinto Bandeira. É o início do Sistema de Alerta Mosca-das-Frutas na Serra Gaúcha, que vai auxiliar os produtores a manejar a principal praga que ataca as frutas de caroço, como pêssego e ameixa. Os dados serão avaliados semanalmente e os resultados irão chegar gratuitamente aos produtores e técnicos.

União de gigantes O dia 1 de setembro deste ano marca o nascimento de um gigante da indústria agroquímica: a Dow e a DuPont finalizaram seu processo de fusão anunciado há dois anos. Nesta data, as ações da nova companhia, denominada DowDuPont, começaram a ser negociadas na Bolsa de Nova York. Nos próximos meses, a DowDuPont vai ser dividida em três empresas distintas, com foco em agricultura, materiais e produtos especiais.

Preservação ambiental Informações coletadas a partir do banco de dados do Cadastro Ambiental Rural (CAR) demonstram que, apesar de ser um dos maiores produtores de alimentos do mundo, o Brasil se destaca na preservação ambiental, com mais de 66% de seu território coberto por vegetação nativa. Esse número sobe para quase 75% se as áreas de pasto nativo do Pantanal, Pampa e Caatinga estiverem incluídas.Toda a produção de grãos (milho, arroz, soja, feijão), fibra (algodão, celulose) e agroenergia (cana-de-açúcar, florestas) ocupam apenas 9% do território brasileiro.

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MEL

Da colmeia para a mesa

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tividade ainda predominantemente artesanal, a produção de mel (ou meliponicultura) do Rio Grande do Sul, uma das maiores do Brasil, é fonte de renda, estima-se, para 30 mil apicultores, conforme informações da Federação Apícola do RS (Fargs). Cerca de 60% da produção anual – de 11 mil toneladas de mel – é comercializada para outros estados. A criação de abelhas é uma atividade lucrativa e pode ser praticada pelo pequeno produtor rural ou agricultor familiar, com bons

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resultados. Mas para isso, além de adotar as técnicas corretas, o criador precisa enxergar a produção como um negócio. Existem muitas espécies de abelhas, mas a que produz mel no Brasil é a africana, com ferrão, conhecida pelo nome científico de Apis melífera e muito comum em todo o País. São 500 mil colmeias espalhadas pelo território gaúcho. A apicultura é realizada em boa parte do Estado, mas a principal região produtora encontra-se em uma faixa que se estende do Centro do Estado até a Fronteira-Oeste, passando por municípios como Santa Margarida do Sul, São Gabriel e Rosário do Sul. Conforme o presidente da Fargs, Aldo Machado dos Santos, a questão mais urgente hoje, na apicultura, é reduzir a mortandade de abelhas, o que ocorre por

vários motivos. Enxames inteiros são dizimados devido à utilização incorreta de agroquímicos nas lavouras. “A abelha é muito sensível. Então qualquer pesticida usado para controle de carrapatos, por exemplos, se chega a alcançar o meio ambiente delas, causa a morte”, explica ele. Há casos, ainda, de manejo incorreto do próprio apicultor. “Em algumas regiões, ocorre uma superpopulação de abelhas. São colocadas colmeias e deixadas no local por meses. Sem florada adequada, falta alimentação e elas também morrem”, conta ele. A questão é tema de debate também no setor público, por meio da Câmara Setorial de Apicultura e Meliponicultura da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Pesca (Seapi). Entre uma das medidas está a criação de banco


de dados com o cadastro de produtores que atuam no Rio Grande do Sul para orientar sobre como agir no caso de mortandade de abelhas. “Hoje, devem existir no Estado cerca de 30 mil apicultores. Mas precisamos saber qual o público exato, para auxiliarmos no crescimento da atividade com sustentabilidade”, explica o coordenador técnico da Câmara Setorial, Nadilson Ferreira. O cadastramento deverá ser feito junto às inspetorias de Defesa Agropecuária da Seapi de cada município. Ferreira explica que a média de perda de abelhas é de 30% a 40% por ano no Rio Grande do Sul. “E é provável que grande parte dessa perda se deva mesmo ao uso indevido de agrotóxicos”, avisa. A região de São Gabriel é sede da Cooapampa, maior cooperati-

va de produtores de mel do Estado, também presidida por Santos. Hoje, a cooperativa reúne 298 produtores diretos, que representam, indiretamente, 700 famílias produtoras. A união é essencial para melhorar produtividade e aumentar a renda em uma atividade ainda carente de mecanização. Mas, desde que adequadamente conduzida, a apicultura pode se tornar uma opção de renda para o agricultor que investe em grãos ou animais. “Vamos supor uma pequena propriedade. O agricultor criar seus bois, tem cavalo etc. No mesmo espaço, ele pode colocar as abelhas. Enquanto ele necessita o equivalente a meio hectare de área para produzir um terneiro por ano, uma colmeia exige apenas um metro quadrado. Cada colmeia, na média, produz 20 quilos de mel, mas há produtores retirando até 50 quilos”, explica Santos. Esse é o lado bom, da produtividade em alta. Mas o preço, por outro lado, tem afastado o consumidor brasileiro. Segundo Santos, em média, o quilo do mel chega no varejo, atualmente, custando até R$ 30,00. “O ideal seria entre R$ 15,00 e R$ 20,00, mas a demanda mundial por mel tem forçado os preços para cima, mesmo no mercado interno. E isso afasta um pouco o consumidor”, destaca Santos. A estimativa é de um déficit mundial de 100 mil toneladas anuais do produto. Embora a atividade no Brasil ainda ocorra manualmente, em outros países já existem equipamentos que otimizam a apicultura. “São linhas de produção automáticas, em que você coloca o melgueiro (área da caixa com os favos de mel) em uma ponta e do outro lado já sai a cera e o mel separados, prontos para o envase. Custa entre US$ 50 mil e US$ 70 mil cada equipamento, distante

da nossa realidade”, pondera o presidente da Fargs. Mas a Cooapampa está dando um passo importante no sentido de tornar mais eficiente a produção de mel do Estado. A cooperativa está colocando em funcionamento a primeira sala de extração móvel de mel do Brasil. O equipamento funciona atrelado a um caminhão-baú, que percorre o caminho até a entrada do apiário. O processo é praticamente automatizado, com capacidade para processar 5 toneladas diárias de mel. “Com isso, combatemos outro problema, a contaminação, que costuma ocorrer no caminho entre as colmeias até às salas tradicionais de extração”, destaca Santos.

Há, no RS, cerca de 30 mil apicultores, responsáveis pela produção anual de 11 mil ton. de mel

Espaço para crescer existe, tanto no Rio Grande do Sul quanto em outros Estados. “O gaúcho é o maior consumidor do Brasil, em torno de 160 gramas por ano. Mas ainda é pouco. Na Alemanha e na Suíça, o consumo per capita de mel é de 2 quilos anuais”, conta ele. Toda produção brasileira de mel é considerada orgânica, pois as colmeias permanecem na natureza, criando um melhoramento genético natural. “Não utilizamos nenhum químico para controlar as abelhas. É uma atividade tradicional, que já identificou cerca de 200 tipos de mel, todos de excelente qualidade”, completa o presidente da Federação Apícola do Estado.

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MARKETING

Crescimento com cautela

C

om um faturamento anual de R$ 1,25 bilhão, a Cooperativa Languiru, de Teutônia, reúne seis mil associados e coloca no mercado produtos que são referência em laticínios, carne suína, de aves e rações. A tendência, conforme o presidente Dirceu Bayer, é fechar 2017 praticamente no empate, com o faturamento no mesmo patamar do ano passado. No primeiro semestre, a receita alcançou R$ 600 milhões. Atingida por uma aguda crise a partir de 2002, a Languiru é um exemplo de como a reestruturação financeira e a gestão podem salvar um negócio. “Estávamos praticamente quebrados naquele ano. As medidas que adotamos foram essenciais para reerguer a cooperativa e hoje temos um parque industrial praticamente novo

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para processar nossos suínos, aves e leite”, pondera Bayer. As melhores práticas de gestão permitiram que até 2014 a Languiru investisse R$ 150 milhões na ampliação da produção. Foram investimentos realizados com juros baixos, em um momento considerado certo pela Languiru. Hoje, devido à turbulência econômica, provavelmente os investimentos não fossem feitos. Com a mais recente crise brasileira, a cooperativa novamente passou por uma reestruturação. “Realizamos mudanças em 2015, o que nos permitiu atravessar 2016 um pouco melhores e, nos primeiros seis meses deste ano, registramos um resultado positivo de R$ 27 milhões”, destaca Bayer. O portfólio da Languiru está dividido em partes praticamente iguais: produtos de origem suína

(22% da produção), laticínios (28%) e frango (27%). Há, ainda, um braço importante de varejo, com supermercados, agrolojas e comercialização de frango vivo, que responde por algo entre 22% e 30%, podendo variar conforme o ano. A Languiru inaugurou, em 2008 uma nova planta de embutidos, instalada junto ao frigorífico de aves. A unidade tem capacidade mensal de produção de 300 toneladas de produtos, destinados tanto para o mercado nacional, quanto para exportação. De lá saem linguiças, presuntos, mortadelas e bacon, entre outros alimentos industrializados. Bayer explica que os associados da cooperativa estão localizados, basicamente, nos vales do Taquari, Rio Pardo, Caí e na Serra. O quadro social é formado atualmente por mais de 6 mil associados, distribuídos em 74 municípios. O quadro de funcionários conta com aproximadamente 2,8


Dirceu Bayer res den e da C

erati a angu ru

mil colaboradores. O abate de aves ocorre em uma unidade no município de Westfália, vizinho a Teutônia, com capacidade diária para 115 mil frangos. Os suínos, por sua vez, são processados no frigorífico localizado em Poço das Antas (capacidade para 1,5 mil animais por dia). Já no leite, a indústria processa, diariamente, 400 mil litros em Teutônia. A fábrica de rações, em Estrela, tem produção anual superior a 400 mil toneladas para nutrição animal. “Somos a maior

empresa do Vale do Taquari com sede na região”, destaca Bayer. A reorganização financeira permitiu o fortalecimento da marca Languiru. Cerca de 85% da produção fica no Rio Grande do Sul, e uma parte segue para Santa Catarina, Paraná e São Paulo. A cooperativa ainda exporta suínos e aves para 50 países. Os principais produtos comercializados são o griller (frango inteiro), o pernil e a paleta sem osso, o carré e o lombo suíno. De acordo com o executivo, a estratégia de gestão busca fidelizar clientes de mercados específicos, com altas exigências quanto ao padrão de qualidade. A fidelização, por sua vez, permite aos clientes internacionais realizarem diferentes ações de marketing, como, por exemplo, a adesivagem de caminhões com a marca da cooperativa. A marca também costuma estar presente nas mais importantes feiras de alimentos do mundo. Conforme Bayer, a Languiru tem uma equipe de 50 pessoas (composta por agrônomos, zootecnistas e veterinários) focada diretamente em ações ao produtor. O objetivo é melhorar a produtividade e cuidar da sanidade animal. O planejamento é essencial para a Languiru, que tem planos ambiciosos. Os projetos incluem a ampliação do volume de frangos

e suínos, além da construção de uma queijaria junto ao laticínio de Teutônia. “Estamos nos preparando para investir no momento certo, mas hoje a taxa de juros não é convidativa para contrair novos financiamentos para obras de grande porte. Em 2017, a única obra prevista é a construção de secador de milho junto à fábrica de rações, em Estrela”, destaca. Além da crise econômico-política atual, Bayer avalia que os preços da commodities e a questão do leite são motivos de preocupação. “Para as aves e os suínos, com o preço do milho baixo, o cenário é favorável, reduz custos de produção”, destaca. Na produção de laticínios, a reclamação recai sobre a importação de leite em pó – o que, segundo ele, desestrutura a cadeia e atinge em cheio o produtor rural, reduzindo seus ganhos. “Essa realidade, mais uma vez, mostra a importância da diversidade produtiva e de negócios da Languiru. Nosso desempenho positivo está alicerçado nos bons números apresentados em outros setores da cooperativa”, avalia. Bayer complementa que a Languiru é a segunda maior cooperativa do Rio Grande do Sul e tem como meta, em três anos, ser a maior. “Para isso, temos consciência que precisamos realizar alguns investimentos. Isso será feito, com cautela”, avisa Bayer.

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FERTILIZANTES

No rumo da bioeconomia

A

inda distante hoje da realidade do campo, a biotecnologia deve ser a principal ferramenta para alcançar a bioeconomia avançada, tema essencial para o desenvolvimento da alimentação mundial no futuro. A estimativa é da Associação Brasileira de Biotecnologia Industrial (ABBI), parceira da Embrapa Agroenergia em pesquisas no tema. A biotecnologia industrial utiliza microrganismos em processos industriais e está diretamente relacionada à sustentabilidade. Segundo a ABBI, o Brasil tem um ambiente favorável à expansão do uso da biotecnologia nas

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indústrias. Para começar, dispõe de condições privilegiadas para geração de matéria-prima: clima adequado, maior biodiversidade do planeta, agricultura forte e disponibilidade de terras. A face mais visível hoje da biotecnologia é o segmento de biocombustíveis. Só na produção de etanol, existem 400 usinas em operação no País. E o Brasil ainda é referência mundial em outros subprodutos, como biodiesel e biometano. A biotecnologia industrial é um dos quatro eixos de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) da Embrapa Agronenergia, que aposta no aproveitamento integral da biomassa que sai do campo e tem a bioeconomia como mote de seu trabalho. Por isso, a carteira de projetos e a vitrine de tecnologias da instituição apresenta ações não só para a produção de biocom-

bustíveis, mas também para a cadeia de nutrição animal, agroquímicos, produtos químicos de origem renovável e biomateriais. Por sinal, a adição de enzimas às rações é uma das respostas da biotecnologia para a demanda por eficiência na nutrição animal. Nas granjas de suínos, galinhas poedeiras e frangos, por exemplo, a mistura nas rações de enzimas do tipo fitase começou há mais de 20 anos. Conforme o pesquisador da Embrapa Suínos e Aves Everton Krabbe, os cientistas estão buscando novas enzimas para resolver dificuldades de absorção de nutrientes. O aprimoramento das enzimas já disponíveis no mercado é outro campo de atuação da pesquisa, especialmente para adequação a processos de produção de rações sob altas temperaturas, como a peletização e a extrusão. “Estão surgindo novas


gerações das mesmas enzimas, que são mais eficientes, capazes de liberar uma quantidade maior de nutrientes”, conta Krabbe. A prática não só aumentou o rendimento e melhorou a saúde dos animais, como reduziu o impacto ambiental dos excrementos eliminados, que agora contêm menor volume de compostos poluentes. Pelo viés econômico, o tema é fundamental para a produção animal, uma vez que a alimentação responde por cerca de 70% do custo (as enzimas aceleram o metabolismo do animal e facilitam a digestão).

Menor impacto ambiental Nos fertilizantes, as novidades também são promissoras. As hortaliças, de modo geral, necessitam de grandes quantidades dos mesmos, devido ao seu ciclo curto e à alta produtividade. Isso pode acarretar danos ambientais, tais como a piora da qualidade dos solos e o aumento das emissões atmosféricas de gases de efeito estufa. Os biofertilizantes aparecem como uma opção aos químicos convencionais e promovem uma agricultura mais sustentável. De acordo com a Instrução Normativa 46 do Ministério da Agricultura, biofertilizantes são produtos que contêm componentes ativos ou agentes biológicos, que melhoram o desempenho do sistema de produção e que sejam isentos de substâncias proibidas pela regulamentação de orgânicos. Eles são produzidos a partir de resíduos vegetais ou animais que passam por um processo de fermentação – após, resta um líquido rico em nutrientes e em microrganismos benéficos à produção agrícola. Sob forma líquida, o bioferti-

lizante contém uma complexa composição de nutrientes essenciais às plantas (principalmente nitrogênio e fósforo), atuando como fertilizante e também como defensivo agrícola, erradicando pragas, doenças e insetos. Entre outras vantagens, a aplicação do biofertilizante nas lavouras favorece a multiplicação de micro-organismos, proporcionando saúde e vida ao solo. Além disso, deixam a terra mais porosa, permitindo maior penetração do ar nas camadas mais fundas até as raízes. As pesquisas da Embrapa sobre o tema resultaram no Hortbio, um biofertilizante líquido aplicado diretamente no solo, que possui em sua composição restos

de colheita e produtos de origem animal. Ele é utilizado com sucesso no cultivo de hortaliças. Biofertilizantes também são aliados no cultivo dos alimentos orgânicos, cada vez mais em voga no Brasil. Segundo o Ministério da Agricultura, o País tem cerca de 15 mil propriedades dedicadas aos vegetais orgânicos. A área de produção orgânica no país, em 2017, deve passar da marca dos 750 mil hectares registrados no ano passado e tende a crescer, graças ao maior consumo desses alimentos em grandes centros urbanos. Embora 30% mais caros que o alimento convencional, a tendência é de redução no preço à medida em que os orgânicos ganharem mercado.

Cientistas est o buscando novas enzimas para resolver di culdades de absor o de nutrientes

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MIX

Unidos pelo arroz

uei o certi cado Uma tradição de mais de 200 anos nos Campos de Cima da Serra está prestes a obter o certificado de Indicação Geográfica (IG). O Queijo Artesanal Serrano (QAS) teve o pedido de registro entregue ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), que vai embasar a concessão. A Indicação Geográfica é uma forma de valorização do produto de uma região ou território, caracterizada pelo modo de saber fazer e das especificidades ambientais, incluindo fatores naturais e humanos. Caso seja concedido pedido, será a primeira certificação desta natureza para queijos no Brasil.

A Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul) e a Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz) estão unidas buscando uma política agrícola para o setor. O objetivo é identificar os principais gargalos na orizicultura gaúcha e brasileira, e a partir deste debate, formular proposta para resolver pendências históricas da lavoura, como o alto endividamento dos produtores. A Federarroz defende, ainda, a redução de área para a safra 2017/2018. A estimativa da entidade é que, para amenizar a crise de preços, será necessário diminuir o plantio em pelo menos 250 mil hectares em todo o Mercosul.

Efeito-estufa Terceira maior exportadora brasileira e uma das maiores tradings do mundo, a Bunge divulgou que, em 2016, exportou cerca de 420 mil toneladas de soja certificada, um volume 17% superior ao exportado em 2015. A emissão de Gases de Efeito Estufa (GEE) resultante do processo produtivo deste tipo de grão é 40% menor do que a emissão padrão. A empresa também cancelou contratos com 127 produtores que não cumprem compromissos ambientais ou que se utilizam

Sementes Com 60 anos de atividades, a Cotrijal recebeu, em julho, o mérito Empreendedorismo em Sementes, concedido pelo Encontro de Produtores de Sementes, maior evento do setor no Rio Grande do Sul. A cooperativa inaugurou, recentemente, uma nova unidade para beneficiamento de sementes. Considerada uma das mais modernas do país, a planta tem capacidade para receber 720 toneladas/hora e beneficiar sementes de soja, trigo, aveia e cevada.

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