ANO 2 - EDIÇÃO Nº 08 - JUNHO DE 2017
Um ano conturbado para a
CARNE BRASILEIRA Operação Carne Fraca, delação da JBS e suspensão das importações pelos EUA mudaram completamente o cenário de otimismo da cadeia produtiva da carne em 2017
EMBRAPA
Com orçamento de R$ 3 bilhões/ano e 46 unidades em todo o país, a Embrapa tem sido fator de desenvolvimento do agronegócio brasileiro
PLANO SAFRA
O governo federal destinará R$ 190 bilhões para o plano agrícola e pecuário 2017/2018
ENTREVISTA: FRANCISCO TURRA avalia as consequÊncias da operação carne fraca
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EDITORIAL
Uma safra de más noticias
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ue ano, senhoras e senhores. Parece um 2016 reload, revisto e corrigido, um remake em looping. Na verdade, acho que o país entrou num tubo, uma espécie de Matrix e não consegue sair dela. Quando a economia começa a mostrar sinais ainda que tímidos de recuperação — o PIB cresceu 1% no primeiro trimestre — uma avalanche de novos escândalos embaralha tudo outra vez e, mais uma vez, a recuperação econômica do País é adiada. O agronegócio, que tenta fazer seu caminho independente da crise, e, em boa medida consegue, também acaba sendo afetado pela crise política e de gestão pública no Brasil. O caso da carne brasileira é um exemplo de como essas duas coisas se conjugam de forma desastrosa. A venda de carne para o exterior, um negócio que supera U$ 14 bilhões por ano, vinha de comemorar a abertura do mercado americano para nosso produto in natura, ocorrida no ano passado, e que serviria, segundo a maioria dos analistas, como passaporte de qualidade para os nossos negócios com outros países e blocos econômicos, acabou tendo este ano, três grandes reveses. O primeiro foi a descuidada Operação Carne Fraca, que colocou sob suspeita toda cadeia produtiva da carne brasileira. Óbvio, que essas suspeitas encontraram eco, imediatamente, entre os nossos principais mercados compradores. Dois meses e muito trabalho de articulação institucional e depois, quando já se imaginava que o pior já havia passado e que os nos-
sos clientes voltavam às compras normais, um novo escândalo, as delações da JBS. Bem, esse aí deixou, inclusive, o presidente da República na corda-bamba. Hoje, não há quem arrisque a apostar que ele fica até o final de 2018 no cargo. A delação da maior empresa processadora de carne do mundo, obviamente, teve repercussões negativas sobre toda a cadeia produtiva da carne no país. Os efeitos disso sequer tinha sido, completamente, mensurados e controlados, quando vem a terceira má noticia deste ano até aqui: os EUA suspenderam a compra de carne bovina brasileira in natura por tempo indeterminado, até que as autoridades brasileiras tomem as medidas consideradas essenciais pelos órgãos de controle americano para garantir a qualidade do produto. É certo que vários outros segmentos do agronegócio sofrem com esse cenário negativo da carne, desde os setores de forragens, vacinas, transportes, etc. Com maior ou menor dimensão, quase todo o agronegócio vais sofrer algum tipo de impacto dessa situação enfrentada pela carne. Tudo isso e recém fechamos o primeiro semestre do ano. Temos ainda longos seis meses para vermos esse ano pelas costas. A única coisa que resta aos produtores, criadores e demais empreendedores do setor primário brasileiro é trabalhar. Trabalhar ainda mais duro, para contornar todas essas dificuldades e garantir um fechamento de ano positivo. Ah, rezar um pouquinho, também não fará mal!
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SUMÁRIO
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Impressão COMUNICAÇÃO IMPRESSA
Diretora-Executiva NELCI GUADAGNIN
Comercialização PORTO ALEGRE: (51) 3231 8181 e (51) 9971 5805 com NELCI GUADAGNIN
Reportagem CRISTIANO VIEIRA Designer ESPARTA PROPAGANDA Fotografia: JEFFERSON BERNARDES/ Agencia Preview
A revista PRESS AGROBUSINESS é uma publicação trimestral da Athos Editora Ltda, com circulação por mailling regional e nacional, voltada aos diversos segmentos produtivos e institucionais do setor primário do Rio Grande do Sul. Os artigos assinados e opiniões emitidas por fontes não representam, necessariamente, o pensamento da revista e de sua editora.
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Editorial
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Entrevista: Francisco Turra
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Capa: A carne no olho do furacão
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Água, decisiva para a agricultura
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Milho: valioso da cozinha à indústria
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Agricultura familiar
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Os altos e baixos do trigo
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Fruticultura: acidez que gera renda
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Incremento ao biodiesel
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Por dentro da Embrapa
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Agrimark: gestão para crescer
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Plano Safra 2017/2018
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Agroquímicos com mais controle
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Suínos: dois mercados, duas realidades
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Leite: produto barato e nutritivo
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Censo agropecuário
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Marketing: força total nas máquinas
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Tecnologia que aumenta a produtividade
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Abate consciente O Brasil já conta com um novo conjunto de normas para manejo e abate humanitário de animais. A instrução normativa 12, editada pelo Ministério da Agricultura, estabelece diretrizes que garantem o bem-estar animal, desde o embarque na propriedade até o frigorífico, evitando maus tratos, negligência e reduzindo perdas na cadeia produtiva. A exigência atende a pedido da União Europeia, um dos principais compradores da carne brasileira.
Leite saudável Tecnologia e assistência Em maio, a Emater recebeu 297 computadores doados pela Secretaria Especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário (Sead). O investimento, de R$ 800 mil, irá permitir o acesso à internet para os extensionistas que trabalham pela Emater no interior gaúcho. A medida deve beneficiar cerca de 150 mil famílias no Estado. Segundo a secretaria, ainda neste ano devem ser repassados à Emater novos veículos para a frota de assistência rural.
Antes controlada pelo Ministério da Agricultura em Brasília, a aprovação dos recursos do programa Mais Leite Saudável pode ser realizada por cada Estado. Atualmente, entre R$ 75 e R$ 80 milhões estão destinados à produção leiteira apenas com esse programa. Estão em andamento 300 projetos voltados para 60 mil produtores em todo o País. A maior parte dos criadores está localizada no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Minas Gerais.
Tempo recorde A tempo de comemorar os 90 anos de fundação, em junho, a Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul) inaugurou, em maio, a expansão de sua sede. O novo prédio, com 3.500 metros quadrados de área construída, foi erguido ao lado da sede atual em menos de um ano. Segundo o presidente da Farsul, Carlos Sperotto, a conclusão da obra é apenas o início das celebrações dos 90 anos da entidade, que devem ser comemorados ao longo dos próximos 365 dias.
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Arroz doce gigante Em maio, durante a Fenasul, em Esteio, um doce típico da infância de muito gaúcho foi preparado com quantidades recordes: 1.260 litros de leite, 505 quilos de leite condensado e 165 quilos de arroz resultaram no maior arroz de leite produzido no Brasil. Depois de pronto, o doce rendeu 1.488 litros. A iniciativa, da Secretaria da Agricultura, Sindilat e Farsul, buscou destacar a importância da cadeia leiteira na economia gaúcha.
Recorde na parreira
Sustentabilidade Nos últimos 26 anos - entre 1990 e 2015 - as emissões de gases de efeito estufa (GEE) geradas pela colheita da cana-de-açúcar foram reduzidas em 44% no estado de São Paulo, maior produtor brasileiro de cana, com 423 milhões de toneladas produzidas em 2015 (55% do total nacional). Pelo método antigo, até 1995, durante a colheita, era feita a queimada, com objetivo de eliminar as folhas. Conforme nova legislação, até 2022, o uso do fogo não será mais permitido.
Depois de um 2016 desastroso, com quebra de 57% na produção de uva, os agricultores gaúchos só têm o que comemorar neste ano: segundo o Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), a safra alcançou 750 milhões de quilos de uva. O volume é 5,8% maior que o registrado em 2011, último recorde registrado, com 709,6 milhões de quilos. A produção deve vinhos e espumantes deve utilizar 50% do total, a outra metade será destinada para sucos e derivados.
Cidades e área rural
A Embrapa Gestão Territorial divulgou estudo recente em que mapeia a extensão das áreas urbanas do Brasil. Cerca de 55 mil quilômetros quadrados (apenas 0,64%) do território brasileiro são ocupados por cidades – nelas residem 80% da população. Isso revela o expressivo adensamento populacional em tornos de grandes núcleos urbanos e demonstra que, no interior dos municípios e estados, a zona rural é predominante. Porto Alegre está entre as maiores áreas urbanas do Brasil, ocupando cerca de 307 quilômetros quadrados.
Abaixo da demanda Em mais uma proposta do Plano Agro +, que busca reduzir a burocracia no agronegócio brasileiro, o prazo de registro de medicamentos de uso veterinário deverá cair para apenas seis meses com as medidas definidas na Portaria 72, editada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) no início de junho. A medida vale também para o registro de defensivos agrícolas.
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ENTREVISTA FRANCISCO TURRA Presidente da ABPA
Operação Carne Fraca: um espetáculo de horror Por: Cristiano Vieira
Presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) – entidade que representa as cadeias produtivas de aves e suínos em todo o país, segmentos do agronegócio responsáveis por R$ 80 bilhões em produção anual – Francisco Turra lamenta a repercussão violenta e negativa da Operação Carne Fraca, ocorrida em março deste ano. No episódio, as fraudes cometidas por um pequeno grupo de frigoríficos (cinco em um universo de quase 2 mil no Brasil inteiro) descobertas pela Polícia Federal causaram um terremoto no mercado interno e externo da carne brasileira – seja ela bovina, suína ou de aves. A divulgação precipitada, segundo as entidades do setor, aliada à falta de conhecimento técnico, resultou em um “espetáculo de mentiras e absurdos”, segundo afirma Turra. De um prejuízo inicial com países recusando embarques e o consumidor interno reticente com a qualidade da carne, após quatro meses de um intenso trabalho de articulação entre entidades, empresas e governo, parece que o mercado está voltando ao normal. Na entrevista, o gaúcho de Marau, aos 74 anos, com passagens pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e Ministério da Agricultura, além de mandatos parlamentares, conversa sobre a carne do Brasil (que tantos mercados ganhou no exterior) e destaca a excelência do agronegócio produzido no País. A repercussão da operação Carne Fraca foi exagerada? Não apenas exagerada. Foi deturpada. Os absurdos que nasceram a partir dos equívocos da divulgação da operação pela Polícia Federal tiveram consequências catastróficas para o país. Parte da imprensa, de maneira absolutamente sensacionalista, se apegou aos erros cometidos na divulgação da PF e transformou a repercussão da Operação em um espetáculo de mentiras e absurdos.
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ENTREVISTA Por que isso ocorreu, na avaliação da ABPA? A amostra de frigoríficos investigada era muito pequena, como se viu. Amostras pequenas, falta de conhecimento e ausência de técnicos envolvidos na investigação são apenas alguns dos motivos. Era uma operação que tinha uma boa finalidade – extirpar operações corruptas em questões burocráticas e documentais. Ao contrário disto, se transformou em um espetáculo de horror e desinformação. Não havia profundidade técnica para as afirmações que foram feitas em 17 de março, conforme a Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais (APCF), que criticou duramente os resultados da Operação. Como o senhor reagiu no momento, quando soube do caso? Imediatamente, a ABPA assumiu posicionamento de esclarecimento e defesa do setor. Sabemos da qualidade e da competência do trabalho desenvolvido pelo Brasil, e tínhamos certeza de que se tratavam de questões pontuais, como de fato eram. Iniciei uma articulação setorial junto ao governo, com o presidente Temer e o Ministro Blairo Maggi. Começamos uma das maiores ações articuladas pelo setor privado e pelo governo em defesa do agronegócio. Foram semanas de intenso trabalho diplomático, esclarecimento público e defesa setorial. Passados quatro meses do caso, o Brasil já está com seus mercados no exterior abertos novamente? Ainda temos cerca de 2% dos mercados com embargos e bloqueios no mercado internacional. O cenário é melhor em relação à situação imediatamente após a divulgação da Operação, mas ainda falamos de prejuízos ao
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País como impactos diretos. A imagem internacional do Brasil ficou manchada, e estamos trabalhando para recuperá-la. É esperada uma queda na balança comercial deste ano, como queda nas exportações de proteína animal devido ao episódio? Os impactos foram grandes, mas o Brasil ainda é o maior exportador mundial de proteína animal. E há escassez global de oferta de proteínas, especialmente pelo fato de que grandes consumidores, como a China, estão reduzindo sua produção. Os indicadores
nos mostram que, mesmo diante desta tempestade, devemos encerrar o ano com números positivos. No caso dos suínos e aves, como a ABPA reagiu às acusações sobre qualidade da carne? Foram infinitos contatos com o grande público, e a imprensa se mobilizou neste sentido. Realizamos uma grande coletiva de imprensa na segunda-feira seguinte à divulgação dos fatos, que ocorreu em uma sexta-feira, esclarecendo ponto por ponto sobre cada questão levantada em relação à qualidade. Os esclarecimentos que
apresentamos orientaram a pauta da semana na imprensa nacional em torno do tema. Esse episódio todo mostrou que ainda é preciso fazer um trabalho de imagem da carne produzida no Brasil, tanto para o mercado interno quanto para o exterior? Na verdade, o episódio retraiu os avanços que tínhamos obtido com um grande trabalho que já era executado pela ABPA e pelo setor. Estávamos em uma etapa de reconhecimento de origem de qualidade, que vinha se construindo com grande sucesso. O
Brasil já era reconhecido internacionalmente como produtor de cárneos de altíssima qualidade. Infelizmente, tivemos que dar alguns passos atrás para reconstruir esta confiança internacional. A cadeia produtiva terá que investir muito para retomar a imagem que construímos ao longo de décadas de trabalho e investimentos. A fiscalização sanitária hoje, no Brasil, é eficiente? O que se pode melhorar? Temos um excelente sistema de fiscalização, mas é claro que temos pontos a aprimorar. É um trabalho que o Ministro Blairo
vem, juntamente com as secretarias do ministério, atuando para verificar os pontos que devem ser melhorados dentro do sistema de auditoria fiscal agropecuária do Brasil. O Brasil faz um esforço permanente para conquistar novos mercados para nossa carne no exterior, tanto bovina quanto suína e de aves. A ABPA, como entidade, acompanha este processo? Como contribui? Atuamos em conjunto com o Governo Federal para negociar a abertura de novos mercados,
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ENTREVISTA realizar painéis contra bloqueios injustificados e expandir os negócios. A ABPA é a representação setorial, por isto, em todas as negociações está envolvida, desde o início das negociações, prospecção e levantamento de entraves, até a conclusão dos trâmites para viabilização dos embarques. O País tem um projeto de se tornar um dos maiores players do agronegócio nos próximos anos, mas, na prática, já é. Este trabalho depende de safras cada vez maiores, por exemplo, ou de competir de igual para igual no mercado internacional? Depende de muitos fatores, como o incremento de nossos índices de produtividade, de nossos ganhos em custos de produção e competitividade, mas, principalmente, da melhoria de nossa capacidade de gerar valor agregado. Este é o caminho para que nossa produção gere mais empregos e rentabilidade para o Brasil. O principal custo de produção de suínos e aves ainda é a ração animal, que depende do preço do milho? Houve alta expressiva no preço do grão ano passado. Isso chegou a causar pressão nos preços finais dos cortes? A composição de custos do setor é complexa, mas podemos dizer que o milho e a soja estão entre os grandes pesos na conta da produção. Em 2016, vivemos um momento extremamente delicado: o milho atingiu altas históricas, engolindo parte de nossa competitividade; a oscilação do câmbio reduziu a rentabilidade dos negócios internacionais; e a crise econômica impactou diretamente no consumo interno de produtos. Apesar dos pontos desfavoráveis, as exportações mantiveram ritmo elevado e atingimos recorde his-
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A Operação Carne Fraca abalou a imagem e os negócios da carne brasileira no exterior tórico em volumes de embarques, o que reduziu a pressão interna sobre a oferta de produtos. Neste contexto, conseguimos equilibrar eventuais perdas setoriais. O Sul é a região com maior participação na produção de suínos e aves, notadamente RS e SC. Como o senhor vê a importância dessas cadeias para o agronegócio dos Estados? O setor de proteína animal é uma cadeia com papel decisivo no contexto socioeconômico do Sul. Dezenas de municípios e diversas regiões produtoras tem na avicultura e na suinocultura o seu grande motor econômico. São atividades que geram renda e desenvolvimento, com centenas de milhares de famílias envolvidas diretamente. Indiretamente, uma infinidade de empresas fornecedoras atua nestas gigantes cadeias produtivas, contribuindo,
de forma definitiva, para o desenvolvimento da região Sul. A crise econômica parece dar sinais de enfraquecer...o senhor acredita que 2017 pode terminar com aumento no consumo interno de carne suína e aves? Acredito que teremos um ano mais sólido para o setor. Podemos ver, sim, um melhor consumo per capita de proteínas, mas acredito especialmente na retomada da confiança. Vivemos um período bastante conturbado nestes últimos tempos, com uma crise política que se alastrou na maior crise econômica da história. Os sinais indicam uma retomada da produção e do cenário positivo, o que deve influenciar todos os elos de nossa economia. Neste cenário, veremos a retomada, também, da confiança do consumidor, o que deve gerar números positivos para toda a economia.
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MATÉRIA DE CAPA
A carne no olho do furacão Por Cristiano Vieira
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uem olha hoje para o Brasil percebe, com um indisfarçável alívio, que a profunda crise econômica que assola o País desde 2015 finalmente dá sinais de arrefecer e parece indicar uma retomada no crescimento do PIB. Inflação menor, venda de máquinas agrícolas em alta, supersafra enchendo os silos (e o bolso do agricultor) são apenas alguns
dos sinais de boas notícias. Se é verdade que a turbulência aparece distante no retrovisor, para um mercado específico, entretanto, ela apenas começou. A cadeia produtiva da carne, que gera riquezas anuais de US$ 14 bilhões em exportações (inclui bovinos, suínos e aves) levou três pesados golpes em 2017: a Operação Carne Fraca (em março), a delação da JBS (a partir de maio)
A cadeia produtiva da carne levou três golpes em 2017: A Operação Carne Fraca, em março; a delação da JBS, em maio; e a suspensão da compra de carne bovina brasileira pelos EUA, em junho. e, em junho, a suspensão da compra da carne bovina brasileira in natura pelos Estados Unidos. Esses três fatores jogaram uma pá de cal no otimismo dos pecuaristas para 2017 quando, há um ano, justamente os Estados Unidos anunciaram a reabertura do seu mercado para a carne fresca bovina do Brasil. A medida encerrou um processo de intensa negociação, que durou 17 anos,
e anunciava um Ano-Novo recheado de boas notícias para a pecuária brasileira. Desde então, a realidade se mostrou mais dura. Vice-presidente da Sociedade Rural Brasileira, Pedro Camargo Neto destaca que a dificuldade que atravessa a pecuária brasileira este ano vai além da questão econômica. “O Brasil ainda é visto, externamente, como um lugar
onde impera a corrupção na política. Sem credibilidade. Este é um fato que deve ser considerado também”, avalia. Para o Ministério da Agricultura – com Blairo Maggi ausente do País na época, em viagem à China – coube ao secretário executivo da pasta, Eumar Novacki, lidar diretamente com a questão envolvendo os Estados Unidos. Novacki salientou que o governo colabora com as autoridades sanitárias dos EUA, mas considerou exagerada a atitude, que pode ter como verdadeiro motivo uma reserva de mercado para a carne produzida lá. Segundo Novacki, desde a Carne Fraca, mercados como os dos Estados Unidos e da Comunidade Europeia determinaram a fiscalização de 100% da carne brasileira. “Nós esperamos reverter essa suspensão o mais rápido possível”, salientou ele. “O mercado dos Estados Unidos é importante não só pelo volume e o que significa, mas porque serve de referência para vários outros mercados”, acrescentou. O ministério acredita em uma certa resistência nos Estados Unidos ao produto brasileiro, uma vez que é bastante competitiva e chega lá com preços mais atraentes. Isso não justifica, obviamente, a alta taxa de produto rejeitado: o Serviço de Inspeção e Segurança de Alimentos dos EUA, desde março, recusou a entrada para 11% da carne fresca. “Esse valor é substancialmente superior à taxa de rejeição 1% das remessas do resto do mundo”, diz a nota do governo americano.
A medida dos Estados Unidos A suspensão das exportações de carne bovina in natura do
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Brasil para os Estados Unidos pegou de surpresa a pecuária nacional que, aos poucos, vinha retomando fôlego após a Carne Fraca e ainda lidacom a queda abrupta dos preços no mercado interno devido à crise da JBS. No fechamento desta edição, em fim de junho, o secretário de Agricultura dos Estados Unidos, Sonny Perdue, destacou que a suspensão dos embarques permaneceria em vigor até que o Ministério da Agricultura brasileiro tomasse s medidas corretivas que o Departamento de Agricultura americano considerasse satisfatórias. A suspensão atingiu as 13 plantas frigoríficas brasileiras que estavam habilitadas a exportar para os Estados Unidos – entre elas, a unidade do Marfrig de São Gabriel. Entidades do setor e analistas afirmam que a medida é preocupante, uma vez que a chancela sanitária dos norte-americanos é importante por sinalizar para outros mercados que a carne do Brasil tem qualidade. Em um esforço conjunto para reverter a medida, governo, entidades e frigoríficos defendem a carne bovina nacional – a suspensão ocorreu devido a presença de abscessos na carne. Isso acontece, conforme autoridades sanitárias, devido a reações da vacina contra febre aftosa. A Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne (Abiec) lamentou a suspensão das exportações de carne bovina in natura e informou que “ações corretivas para adequação dos processos produtivos já estão sendo tomadas - elas serão apresentadas em missão coordenada pelo Ministério da Agricultura, prevista para as próximas semanas, aos Estados Unidos”. O próprio ministro Blairo Maggi se prontificou a negociar pessoalmente negociar com os nor-
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apoiar as ações do ministro Blairo Maggi e do ministério para o pronto restabelecimento do mercado norte-americano. Para a entidade, a suspensão prejudica ainda mais os pecuaristas brasileiros, “que já enfrentam hoje uma série de dificuldades, como a queda no preço da arroba, o aumento dos custos de produção e os desdobramentos da Operação Carne Fraca e da delação da JBS”. A questão pode ter desdobramentos mais graves, como o fechamento de outros mercados para a carne do Brasil. Hélio Sirimarco, vice-presidente da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), salientou que a decisão do governo norte-americano causa enorme baque à credibilidade do produto brasileiro. “A preocupação é mais com a imagem do país como exportador e produtor de pecuária, já que as vendas para os EUA ainda não pequenas”. Sirimarco destaca que a projeção era de que, ao fim de 2017, o volume exportado fosse de
Pedro de Camargo Neto, vice-presidente da SRB
te-americanos. Internamente, o governo brasileiro anunciou que aumentará o rigor na fiscalização dos frigoríficos, entre outras medidas. Uma delas é recomendar o fatiamento da carne como solução para as irregularidades encontradas, conforme Novacki. “Apenas a aparência fica comprometida e o produto não oferece nenhum risco à saúde”, avaliou ele, na época. O Brasil vende para os Estados Unidos a parte dianteira do boi, local onde o gado recebe a vacina contra a febre aftosa. Mesmo que não esteja aparente, alguma inflamação pode ser detectada quando a peça é cortada. Visualmente é desagradável, mas basta retirar o pedaço com o problema e pronto. “No momento em que eles vão fatiar para cortes ou moer para fazer hambúrger, pode-se detectar, e isso é descartado”, complementa Novacki. A questão das lesões provoca-
A suspensão de compra pelos EUA atingiu 13 plantas frigoríficas brasileiras das pela vacina na carne, conforme Camargo Neto, da SRB, “é mais velha que andar para frente. Todo mundo, desde produtores até a indústria, sabe disso. Por mais que se diga que não causa danos à saúde, é irresponsabilidade de um frigorífico mandar para o exterior carne com abscesso”, critica ele. Camargo Neto presidiu, por nove anos, o Fundo para o Desenvolvimento da Pecuária (Fundetec)de São Paulo. “Fizemos uma campanha, a nível nacional, ainda na década de 1990, para mudar o local da vacinação, indicando o pescoço. O fato de vacinar no traseiro gera esses problemas e ainda prejudica os cortes mais nobres, como a picanha. Foi um sucesso, mas ainda falta orientação na hora da aplicação”, explica ele. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) admitiu “perplexidade a decisão dos Estados Unidos” e afirmou
1,5 milhão de toneladas – ligeira alta de 7,1% sobre o total de 2016. Essa estimativa deve cair por terra nos próximos meses. Agora, o que todos se perguntam é: haverá novos desdobramentos, como suspensão total da carne brasileira, incluindo produtos industrializados? Mais: caso outros países acompanhem os Estados Unidos, o ano pode chegar ao fim de maneira desastrosa para o exportador. A carne bovina rendeu, em 2016, US$ 5,5 bilhões em receita para o país, com o embarque de 1,4 milhão de toneladas. Cerca de 160 países são clientes do Brasil, com destaque para Hong Kong (US$ 719 milhões), China (US$ 705 milhões), Egito (US$ 528 milhões) e Rússia (US$ 390 milhões). Conforme informações da Abiec, do total exportado, a maioria esmagadora – 1 milhão de toneladas – é de carne in natura (77% do volume). Depois,
vêm miúdos (14%), carne industrializada (8%) e tripas (1%).
O fator JBS No cenário atual de incerteza da pecuária brasileira, o maior processador mundial de carne, o grupo brasileiro JBS, é um dos atores principais: o conglomerado está afundado em um escândalo político que tem respingado em suas atividades econômicas. Várias unidades estão fechadas, sem operar, ocasionando excesso de boi no pasto em diversos estados. Conforme João Adrien, produtor rural de São Paulo e diretor da Sociedade Rural Brasileira (SRB), o tamanho das operações da JBS termina por influenciar todo setor brasileiro de proteínas. Eles compram carnes bovina, suína e de frango e processam leite e derivados, entre outras atividades.
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“Este não tem sido um ano bom para o pecuarista, que já tomou um grande susto com a Carne Fraca meses atrás”, avalia ele. A JBS, por si só, detém 49% dos abates de Mato Grosso, estado com o maior rebanho do Brasil. No país todo, a capacidade de abate da empresa chega a 25% do total. Com o rebanho sobrando nas fazendas, os produtores buscam outros frigoríficos, inclusive menores, na tentativa de conseguir ainda um preço razoável pelo animal. “Existem outras empresas, como Marfrig e Minerva, como alternativa à JBS. Mesmo assim, há muita oferta de animais no mercado”, lamenta. Dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) mostram o tamanho do problema. Em maio, o preço da arroba recuou 4,63%, a maior queda desde maio de 1998 – portanto, quase 20 anos. A forte desvalorização está atrelada, entre outros fatores, à maior oferta de animais para abate.
João Adrien, diretor da SRB
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Quanto à demanda, a economia brasileira não tem apresentado sinais de recuperação suficientes a ponto de elevar o consumo da proteína. Para o Cepea, além da Carne Fraca, o outro fator preponderante para a queda dos preços pagos ao produtor são as turbulências que rondam a maior empresa do setor – neste caso, a JBS. O resultado: a arroba do boi gordo, que já chegou a R$ 156,00 em junho de 2016, rondava o patamar de R$ 120,00 em junho deste ano. Embora não tenha operações de carne bovina no Rio Grande do Sul, a crise da JBS respingou no Estado. “Como sobra boi em estados como Mato Grosso e Goiás, esse animal está descendo e chega aqui custando menos ainda, cerca de R$ 100,00, para outros frigoríficos. O produtor precisa vender, não tem muita alternativa”, explica Zilmar Moussalle, do Sicadergs. De acordo com João Adrien, da SRB, uma alternativa para resolver ou, pelo menos, suavizar o problema é forçar uma maior ingerência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) na administração da JBS. “A SRB se posicionou neste sentido, uma vez que foi o BNDES que criou essa estrutura gigantesca. Cabe a ele administrar essa crise”, pondera Adrien. A JBS foi uma das companhias brasileiras, de diversos setores, escolhidas pelo governo federal, para a política de “campeões nacionais” colocadas em prática a partir de 2007. A ideia era transformar essas empresas brasileiras em multinacionais capazes de movimentar o mercado mundial em seus setores. Fundada como um pequeno frigorífico no interior de Goiás em 1954, a JBS passou de um faturamento de R$ 4 bilhões em
Zilmar Moussalle, diretor-executivo do Sicadergs 2006 para R$ 170 bilhões no ano passado. Esse grande salto só foi possível graças a sucessivos investimentos do BNDES, que se tornou, hoje, dono de 21% da JBS, só perdendo em ações para os irmãos Batista. “Atualmente, a JBS não paga mais à vista a carne e não tem crédito na praça. Mesmo sendo uma empresa gigante, vários fundos de investimento fecharam a torneira após os escândalos. O produtor está assustado e não sabe nem se vai receber seu dinheiro após vender o boi”, ilustra Adrien. E não faltam motivos: o grupo comandado pelos irmãos Batista tem capacidade de abate de 35 mil animais por dia no Brasil, mas tem recebido menos 20 mil diariamente. Para a SRB, os frigoríficos atuais não têm capacidade de assumir o total de animais que a JBS está deixando de abater. É um problema que aumenta a cada dia e que pode trazer mais prejuízos nos próximos meses.
O começo de tudo – Operação Carne Fraca O mês de março foi marcante para a pecuária brasileira – infelizmente, não por um bom motivo. Foi nele que, dia 17, o mundo tomou conhecimento da Operação Carne Fraca, desencadeada pela Polícia Federal em alguns frigoríficos mostrando fraudes que comprometiam a qualidade da carne. Do dia para a noite – literalmente – o Brasil praticamente viu as exportações quase desaparecerem. Com o escândalo, dos dez maiores compradores da carne oriunda do Brasil, sete deles suspenderam os embarques ou tomaram medidas restritivas – entre eles, União Europeia, China, Hong Kong e Egito. O estrago foi tamanho que, três dias após a divulgação da operação, a média diária de embarques de carne brasileira caiu de US$ 63 milhões para apenas US$ 74 mil. Com o pânico instalado, governo federal, entidades do agronegócio e frigoríficos uniram forças para mostrar ao mundo – e também ao consumidor brasileiro – que não havia motivos para tamanho receio. Quatro meses após, justo quando havia passado o pânico inicial e os mercados estavam reabertos, a medida norte-americana causou novo revés à pecuária brasileira. Diretor-executivo do Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados do Estado (Sicadergs), Zilmar Moussalle lembra que, nos dez primeiros dias após a Carne Fraca, ocorreu queda nos abates diários ocorridos no Rio Grande do Sul. “A primeira consequência, quando algo escandaloso sobre a carne é divulgado, é parar de comer a proteína. O consumi-
dor, ou migra para outra carne, como porco, ou reduz mesmo”, lembra ele. Moussalle concorda que o pânico foi exagerado. “O consumidor não é idiota a ponto de comer carne com papelão. Ele percebeu que isso não era verdade, que ocorreu erro de informação”, conta. A Carne Fraca foi mais um baque num setor que tem sentido os resultados da crise econômica ultimamente. A operação veio se somar a um desempenho instável para o mercado de carne bovina. Apenas no Rio Grande do Sul, conforme o
dirigente, o consumo da proteína caiu 20% em dois anos. Hoje, cada gaúcho come, em média, 45 quilos por ano – ainda acima da médica nacional de 30 quilos anuais por habitante. A combinação de redução no poder de compra, preços maiores e desemprego elevado fez com que as concorrentes carne suína e de frango ganhassem mercado. “Ainda somos um estado carnívoro, mas se antes uma família fazia churrasco duas vezes na semana, hoje opta por uma só, no domingo”, ilustra Moussalle. Mesmo assim, o mercado de
A normas sanitárias que regem a cadeia da carne bovina são rígidas
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As vacinas devem ser aplicadas nos locais indicados pelos fabricantes - geralmente na tábua do pescoço ou embaixo da pele carne vai se ajustando, apesar dos percalços. Moussalle projeta que 2017 termine com o mesmo volume de abates registrados no ano passado em solo gaúcho: cerca de 1,98 milhão de cabeças. “Estamos mantendo a média de 158 mil abates mensais, o que nos permite, pelo menos, imaginar um empate no desempenho anual”, avisa o dirigente do Sicadergs. Para a presidente do Sindicato dos Médicos Veterinários do Rio Grande do Sul (Simvet-RS), Angelica Zollin, não se pode dizer que tenha sido uma surpresa geral a operação Carne Fraca. “Sabemos que há desvios em todo o lugar, que a ganância impera e que há gente envolvida nessas falcatruas de todos os setores. O espanto, sim, foi pela proporção do evento”, alerta. Conforme Angelica, as normas sanitárias que regem a cadeia da carne bovina – desde o abate até
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a embalagem – são rígidas. As unidades frigoríficas são inspecionadas diariamente por fiscais
Angelica Zollin, Presidente da Simvet - RS
e devem prestar contas de todos os processos. “Já ouvi histórias de caminhões entrando em abatedouros com os animais já mortos. Isso é um absurdo. O gado chega vivo para só depois ser abatido. Tem muita coisa de “alguém viu, alguém comentou” e que não é verdade”, avisa. E a carne com papelão? Mito, segundo a médica veterinária. Em um frigorífico, há muitos setores pelos quais passa a proteína. Tem as câmaras, tem o embalamento, tem separação. “Algumas carnes podem ser transportadas em caixas de papel ou de plástico neste processo todo. Caso falte de plástico, pode ir em papelão. Nada mais que isso”, conta. Além do mais, em contato com papel, a carne apodreceria mais rápido – deste modo, não faz sentido nenhum, do ponto de vista comercial, a mistura.
Para o especialista no tema Sérgio De Zen, professor do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), existem falhas no sistema de fiscalização dos frigoríficos – contudo, “de uma hora para outra, colocar toda carne brasileira na mesma “vala comum” também é exagero”, avalia. Conforme o professor, o Brasil tem uma das melhores e maiores indústrias da proteína animal do mundo, que abastece 200 milhões de habitantes e ainda vende para mais de 160 países, de todos os continentes. “Somos o maior exportador de carne bovina e de aves, e quarto de suínos”, avisa. Dito isso, para De Zen, o setor é bem maior que alguns fiscais e algumas plantas frigoríficas mal-intencionadas (cerca de 0,3% do total da capacidade instalada) flagradas pela Operação Carne Fraca. “Lógico que o fato é gravíssimo, visto que cria insegurança sobre todas as carnes de aves, boi e suína vendidas no País e ao exterior”, reconhece. O pesquisador do Cepea destaca que a agropecuária está para o Brasil assim como a indústria está para a China. Há competência produtiva no campo, na indústria e na distribuição. São pelo menos 30 anos de pesados investimentos em tecnologia agrícola. “Isso não quer dizer que o País é perfeito. O Brasil tem imenso potencial para ser muito mais eficiente, especialmente na pecuária de corte”, ilustra.
Manejo correto reduz danos da vacinação As reações causadas na carne bovina devido ao manuseio
Sérgio de Zen, professor do Cepea da vacina contra aftosa durante sua aplicação são conhecidas há bastante tempo, segundo especialistas em saúde animal e da indústria frigorífica. Elas podem ocasionar manchas e abscessos no produto, mas não resultam em prejuízo para a saúde de quem ingere a carne. A questão pode ser vista sob vários ângulos – desde excesso de cuidados sanitários até puramente visual, ao verificar que o produto não parece “bom”-, até uma possível justificativa para intensificar o protecionismo do país de Donald Trump contra o Brasil. O fato é que há explicações dos motivos dessa vacina causar reações e como minimizar o problema. A pesquisadora da Embrapa Gado de Corte Vanessa Felipe de Souza explica que é necessário associar o uso de produtos confiáveis e cuidados na aplicação com boas condições de saúde para que o animal possa desenvolver uma resposta imune satisfatória. Segundo Vanessa, a origem dos abscessos está ligada à aplicação do produto. “A vacina
deve ser aplicada nos locais indicados pelos fabricantes, geralmente, na tábua do pescoço (intramuscular) ou embaixo da pele (subcutânea)”, avisa. Caso contrário, pode ocorrer redução de rendimento da carcaça pela remoção de partes impróprias no frigorífico. Ela lembra que é recomendado que os animais sejam contidos individualmente no tronco para a aplicação da vacina, pois isso diminui o risco de quebra de agulhas, refluxo do produto, perda de doses e acidentes com trabalhadores e animais. “A vacinação deve ser feita, preferencialmente, nos períodos mais frescos do dia, com tranquilidade, sem correrias e barulhos excessivos, a fim de evitar estresses desnecessários”, complementa. A higiene é fundamental durante o procedimento. Recomenda-se a desinfecção de agulhas e pistolas, por fervura em água, durante pelo menos 15 minutos. “Além disso, durante a vacinação, deve ser feita a troca de agulha, por exemplo, a cada dez animais ou recarga da pistola”, avisa a pesquisadora da Embrapa. A introdução repetida de agulhas já utilizadas no frasco aumentar as chances de contaminação do produto e pode provocar abscessos nos animais. “Ao final da vacinação, seringas e pistolas devem ser guardadas depois de lavadas, desinfetadas e secas”, completa. Há outras recomendações que parecem óbvias mas que, em uma propriedade com grande número de bovinos, podem escapar dos administradores. “Animais doentes ou submetidos a atividades desgastantes, como longas caminhadas ou viagens, não devem ser vacinados. Nunca devem ser utilizadas agulhas sujas ou enferrujadas”, conta Vanessa.
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Enquanto a vacina não é retirada por completo do rebanho brasileiro, outras medidas adotadas prometem minimizar o problema. No início deste ano, o Ministério da Agricultura solicitou formalmente aos laboratórios fabricantes que reduzam a dose dos atuais 5 ml para 2 ml. A justificativa, segundo o ministério, é que, como é Brasil é considerado zona livre de aftosa, a dose reforçada pode ser diminuída. Outra alteração relevante é a retirada do sorotipo C da vacina aplicada no Brasil, também por solicitação do ministério e que deve acontecer a partir de 2018. Estudo do Centro Americano de Febre Aftosa concluiu pela inexistência do vírus da febre aftosa tipo C na América do Sul – fator determinante para recomendação da Comissão Sul-Americana para a Luta contra a Febre Aftosa (Cosalfa) de suspender a vacinação com esse sorotipo na região. De acordo com o estudo, o último foco de febre aftosa com o sorotipo C nas Américas remonta a 2004. Atualmente, a vacina é trivalente e protege o rebanho dos vírus A, C e O. As duas medidas podem diminuir os custos com transporte e armazenamento da imunização até sua retirada totalmente, cuja expectativa é de que comece em 2019 e finalize em 2023. O Brasil vacina a quase totalidade de seu rebanho bovino, de 215 milhões de cabeças. Atualmente, apenas Santa Catarina é zona livre da doença sem vacinação no território brasileiro. Em 25 de maio de 2007, o Estado se tornou o único do Brasil a conquistar esse status sanitário diferenciado, sendo referência em sanidade animal. O último foco da doença em Santa Catarina foi registrado em 1993 e a última vacinação foi em maio de 2000.
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O Brasil detém o maior rebanho bovino (214 milhões de cabeças), o título de segundo maior consumidor (38,6 kg/ habitante/ano) e o de maior exportador (1,4 milhão de toneladas) de carne bovina do mundo
o rebanho é imediatamente sacrificado. O temor maior é de que a doença atravesse fronteiras internacionais por meio do transporte de animais infectados e da importação de produtos de origem animal (principalmente carne com osso). A preocupação é tamanha que própria Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), sediada em Paris, determina que, caso um foco seja descoberto em qualquer país, automaticamente as exportações de carne daquela nação ficam suspensas.
Qualidade reconhecida As perdas da doença A febre aftosa é uma das doenças infecciosas mais contagiosas que atinge os animais de cascos fendidos (bipartidos) no mundo. Não há registro de transmissão para o ser humano, mas o vírus causa perdas enormes. No Brasil não há casos desde 2006. O mal pode alcançar rapidamente criações inteiras. O vírus se dissipa pelo contato entre animais doentes e pode contaminar o solo, água, vestimentas, veículos, aparelhos e instalações. O vento também pode transportar o vírus. A aftosa provoca febre e perda de apetite, entre outros sintomas que vão se agravando. Isto repercute em quebra da produção leiteira, perda de peso, crescimento retardado e menor eficiência reprodutiva. Pode levar à morte principalmente os animais jovens. Por isso, quando há identificação de algum foco de aftosa,
Não é de hoje que o Brasil se posiciona como um dos maiores players em carne do mundo. Esse status foi conquistado ao longo das últimas décadas, em um trabalho conjunto que envolveu empresas de pesquisa, como a Embrapa, associações de produtores, pecuaristas e governos estaduais. Esse conjunto de ações resultou em investimentos em tecnologia que elevaram não só a produtividade como também a qualidade do produto brasileiro, fazendo com que ele se tornasse competitivo e chegasse ao mercado de mais de 150 países. O Brasil detém o maior rebanho bovino (214 milhões de cabeças), o título de segundo maior consumidor (38,6 kg/habitante/ano) e o de maior exportador (1,4 milhão de toneladas) de carne bovina do mundo, tendo abatido mais de 40 milhões de cabeças. Cerca de 80% da carne bovina consumida pelos brasileiros é produzida no próprio país - o parque industrial para processamento tem capacidade de abate de quase 200 mil
bovinos por dia. Segundo dados da Embrapa, a exportação de carne bovina representa 30% do PIB do agronegócio – essa participação aumentou em quase 45% nos últimos 5 anos. Há 40 anos, esse cenário era uma realidade bem distante. O rebanho mal chegava à metade do atual (era de 100 milhões de cabeças), importava-se muito para abastecer o mercado interno, questões sanitárias sérias impediam exportação, pastagens degradadas marcavam a paisagem das propriedades e a produtividade era baixa. No período de quatro décadas, a pecuária bovina sofreu uma modernização revolucionária sustentada por avanços tecnológicos dos sistemas de produção e na organização da cadeia, com claro reflexo na qualidade da carne. O rebanho mais que dobrou, enquanto que a área de pastagens pouco avançou ou até diminuiu em algumas regiões indicativo claro de aumento da produtividade. Houve também aumento do ganho de peso dos animais, diminuição na mortalidade, crescimento das taxas de natalidade e diminuição do tempo de abate. “Ganhos possíveis graças à crescente adoção de tecnologias pelos produtores rurais especialmente nos eixos de alimentação, genética, manejo e saúde animal”, destaca a Embrapa, em levantamento sobre o setor. A evolução alcançou também a segurança da carne – esta preocupação atravessa todo o sistema de produção, desde o alimento fornecido para o gado até a carne embalada presente nas gôndolas do supermercado. São grandes os esforços na busca de novas vacinas, como, por exemplo, contra a brucelose bovina, visando além da eficá-
cia vacinal, a segurança dos manipuladores e do próprio animal vacinado e, principalmente, que seu uso não interfira nos testes diagnósticos utilizados nos atuais programas de controle. Para garantir a segurança do alimento outro aspecto primordial é a disponibilidade de metodologias de diagnóstico rápidas e eficazes, para a detecção de patógenos. Outras frentes de pesquisa serão realizadas por meio do Laboratório Multiusuário de Biossegurança para Pecuária (Biopec), o mais moderno laboratório de pesquisa em segurança e qualidade da carne da América Latina, inaugurado em março deste ano na sede da Embrapa Gado de Corte, em Campo Grande (MS). O Biopec conta com um conjunto de instalações que aumenta a capacidade do Brasil de garantir a qualidade sanitária dos rebanhos. Será possível estudar, em um mesmo laboratório, bactérias causadoras de tuberculose bovina, botulismo, salmonelose e de intoxicações alimentares. O laboratório está capacitado também para desenvolver testes e vacinas para doenças como a brucelose e trabalhos de pesquisa com príons (proteínas) causadores de encefalopatias espongiformes (vaca-louca e scrapie), sempre de acordo com as mais avançadas normas de biossegurança do mundo. Instalado em uma área de 1 mil metros quadrados, com diversos níveis de segurança, o Biopec recebeu investimentos de R$ 10 milhões.
Reforço na inspeção O debate gerado a partir dos solavancos do mercado da carne, por um lado, chamou a atenção
para a qualidade dos serviços federal e estaduais de inspeção. A atividade é realizada por médicos veterinários. A presidente do Sindicato Médico Veterinário do Rio Grande do Sul (Simvet-RS), Angelica Zollin, destaca que, apesar do excesso de trabalho e do número insuficiente de fiscais, tanto federais quanto estaduais, o serviço de inspeção sanitária mantém a qualidade. “A nossa carne (no RS) não teve nem um problema. Os processos técnicos são realizados dentro da normalidade. O que precisamos é qualificar as pessoas que trabalham nas chefias. Há técnicos que chegam nas chefias não por mérito, mas por indicação de A, B, ou C. Isso compromete o serviço”, destaca ela. Uma novidade colocou em alerta a categoria no Estado: o projeto de lei apresentado pela Secretaria da Agricultura do Rio Grande do Sul que retira do Estado a responsabilidade do serviço de inspeção sanitária e possibilita que o mesmo seja feito por empresas credenciadas. A proposta, que será encaminhada para votação na Assembleia Legislativa em regime de urgência, dissocia a inspeção da fiscalização, esta sim que ainda continuará realizada pelos servidores estaduais. De acordo com o secretário Ernani Polo, a medida tem como objetivo desafogar os serviços de inspeção da secretaria, de modo que seus médicos veterinários possam se voltar para os serviços de fiscalização e fortalecer o serviço de defesa, tendo em vista o déficit de servidores que a entidade enfrenta atualmente. Neste novo modelo de inspeção, os veterinários seriam habilitados a partir de treinamentos realizados em convênios – a Seapi tem buscado parcerias com o
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Angela Antunes, Presidente da Afagro-RS Senai e a Universidade Federal de Santa Maria para estruturar esta capacitação. Além disso, os profissionais receberiam treinamento da própria equipe oficial da Secretaria, para haver um nivelamento no processo de inspeção. “Isso daria uma maior dinâmica. Temos empresas que estão buscando abrir seu negócio ou ampliar suas atividades, e isso não está sendo possível por falta de disponibilidade. Estamos diante de uma situação bem difícil, nosso serviço de defesa precisa ser ampliado, melhorado, com o objetivo de avançarmos em nosso status sanitário. Só faremos isso com mais pessoas atuando nessa área no Estado”, destacou o secretário. Para Angelica, o projeto é muito amplo e vago. “No que diz respeito à inspeção ser feita pelo setor privado depois de treinamento e habilitação realizados pelo setor público, se o setor público já não consegue fiscalizar com as pessoas que tem, como terá braço para treinar o
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número necessário de médicos veterinários para inspeção? Isto não é algo que se resolve com pequenos cursos, serão necessárias diversas horas de qualificação”, questiona. Angelica também lembra que é necessário avaliar se a lei estadual não sofre com o impeditivo de leis federais, já que as mesmas determinam que a inspeção e fiscalização dos produtos de origem animal devem ser de responsabilidade única dos médicos veterinários do serviço oficial. Também a Associação dos Fiscais Agropecuários do Rio Grande do Sul (Afagro-RS) se posicionou contra a medida. “A quem interessa a terceirização da inspeção?”, pergunta a presidente da entidade, Angela Antunes. “Certamente não interessa ao consumidor”, completa, afirmando que as doenças transmitidas por alimentos são uma gravíssima questão de saúde pública. Conforme Angela,operações como Carne Fraca e Leite Compen$ado alertaram o consumidor para as fraudes. Segundo a dirigente, “os profissionais terceirizados estarão submetidos a uma situação precária de empregabilidade, extrema fragilidade e promiscuidade. Isso porque não possuirão poder de polícia administrativa, e não terão autoridade para autuar, apreender e condenar produtos que possam prejudicar a saúde pública”. Atualmente, o Estado conta com 400 fiscais agropecuários, entre veterinários, agrônomos e engenheiros florestais, cada um com atribuições diferentes. A maior parte dos profissionais é formada por veterinários encarregados de inspeção. Conforme estimativas da Afagro-RS, o setor trabalha com déficit e seriam necessários hoje 560 fiscais no
Rio Grande do Sul. “Recentemente, se aposentaram 20 fiscais. No mínimo deveríamos repor esses profissionais, mas nem isso foi feito”, reclama ela. Consuelo Paixão Cortes, delegada regional do Sindicato Nacional dos Fiscais Federais Agropecuários (Anffa), segue na mesma linha e reclama da falta de pessoal. “Temos 500 fiscais, somando ativos e aposentados. Para atender a toda demanda dos frigoríficos, seriam necessários mais 150 fiscais”, pondera. Segundo ela, há 100 frigoríficos com inspeção federal em atividade no Rio Grande do Sul – a fiscalização ocorre nos três turnos. Consuelo reclama, ainda, das indicações políticas em cargos essências da atividade agropecuária no Brasil. Por exemplo, das 27 superintendências regionais do ministério, 17 são chefiadas por pessoas de fora. “É uma reivindicação histórica nossa que um profissional de carreira ocupe a superintendência do ministério, mas as indicações continuam”, diz.
Consuelo Paixão Cortes, delegada regional da Anffa
SUSTENTABILIDADE
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A água, decisiva para a agricultura
A
ssim como a maior produtividade se tornou a chave para aumentar os ganhos do campo em várias culturas, também o uso correto da água na agricultura é visto não mais como alternativa, mas uma necessidade. Seja com a reutilização da água ou via modernos sistemas de irrigação, evitar o desperdício hídrico é hoje uma preocupação ambiental tão importante quanto o desmatamento. Para o engenheiro agrônomo e pesquisador da Embrapa Solos, Fernando Saraiva do Amaral, tem crescido muito nos últimos anos a preocupação no tocante à economia e reutilização da água na agricultura. Com relação à economia direta, no chamado uso primário, pode-se destacar o desenvolvimento de sistemas de irrigação cada vez mais eficientes. “Hoje, equipamentos como o pivô central do tipo LEPA (Low Energy Precision Application) assim como equipamentos do tipo gotejamento com tubogotejadores autocompensantes permitem índices de eficiência em torno de 95%”, explica ele. Com relação ao uso secundário ou, como é conhecida, a água residual, várias iniciativas tiveram sucesso no reuso destas águas para irrigação e fertilização dos solos. “Podemos citar o uso da água proveniente da lavagem do café; a vinhaça, que é um subproduto do beneficiamento da cana-de-açúcar; e o bioefluente que provém do biodigestor mui-
to utilizado na criação de suínos e aves, entre outros”, relata Amaral. Com relação ao uso de esgoto, são poucas as ocorrências no Brasil, devido principalmente ao rigor da legislação. Conforme o pesquisador, outros países, no entanto, utilizam largamente esta fonte, como em Israel – “onde se diz que os vinhos produzidos em parreirais irrigados como água de esgoto são muito mais saborosos”. Sobre a visão comum de que a agricultura é a atividade econômica que mais utiliza água no mundo, Amaral avisa que não é bem assim. Depende de qual ótica se analisa a questão. “Se tomarmos como ponto de partida a Lei de Conservação das Massas, também conhecida como Lei de Lavoisier - “Na natureza nada se cria e nada se perde, tudo se transforma” - a resposta é não”, destaca ele. Para Amaral, a agricultura, assim como uma hidrelétrica, não “consome” água. Cada molécula entra no sistema de irrigação como água e sai como tal, seja na forma de água constituinte dos produtos (frutas, grãos, fibras, etc), seja na forma de vapor/ nuvens como constituinte do sistema solo-planta-atmosfera. “O mundo hoje tem exatamente o mesmo número de moléculas de água desde que foi “criado”. A agricultura não “consumiu” uma molécula sequer”, relata. Por outro lado, sob a ótica do consumo estanque ou instantâneo, imediato, a resposta é sim, Ele cita um exemplo simples e real. Um grande sistema de irrigação é implantado em uma comunidade que depende do rio para sobreviver, seja para atividade laboral (pesca) seja para a própria dessedentação (fornecer água para os animais). De acordo como pesquisador,
assim que o poderoso conjunto de bombas é acionado para dar vida ao sistema de irrigação, os ribeirinhos são imediatamente atingidos e começam a ter sua própria existência ameaçada naquele local. Neste caso, “para o cidadão impactado, pouco interessa Lavoisier e suas teorias - ele talvez não tenha tempo de esperar o vapor d’água formar a nuvem, dar uma volta pelo mundo e retornar sob a forma de chuva salvadora”, ilustra.
Solo tratado, água preservada Outro ponto a ser considerado é solo – fundamental no ciclo da água, funcionando como uma verdadeira caixa d’água. Ele absorve o excesso e libera água, aos poucos, para alimentar fontes e córregos. “Sem água não há vida e sem solo não há água potável em quantidade e qualidade”, conta Amaral. No entanto, todo este processo só existe ou se mantém se o solo for preservado ou se for bem manejado. Práticas agrícolas mal-feitas, em desrespeito às peculiaridades e especificidades de cada solo, conduzem à sua degradação e, em consequência, todo o processo produtivo e ambiental. Um solo bem manejado, conforme Amaral, é aquele que preserva ao máximo suas características e diferenças. Nem todo solo tem o mesmo potencial produtivo, pode variar. E o que é um solo com alto potencial produtivo? “É aquele que possui, de modo geral, boa profundidade, boa fertilidade sem excesso de sais solúveis, que ocorre em relevo de baixa declividade e que não possui impedimentos à mecanização nem horizontes que restringem a drenagem vertical etc”, explica. Os chamados solos tropicais
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são os mais difíceis de lidar. O cuidado com o manejo dele ganha maior importância quando utiliza-se a irrigação. “Irrigar um solo, principalmente aqueles ocorrentes na região semiárida, é uma atividade que requer uso de tecnologia de ponta e manejo acurado, uma vez que solos e algumas águas desta região, se mal utilizados, podem resultar no surgimento de vastas áreas salinizadas, resultando, muitas vezes, em abandono e a perda de grandes recursos financeiros e forte impacto ambiental”, avisa Amaral. Tanto a irrigação quanto o reuso da água são práticas complementares. A irrigação convencional, junto com a adubação, é considerada pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), órgão da ONU, como a atividade que propicia o retorno mais elevado na agricultura. “Os ganhos de produtividade podem variar desde o dobro até cinco vezes, dependendo do ambiente e cultura vegetal considerados”, ilustra o pesquisador da Embrapa Solos. Para que a irrigação seja uma atividade vencedora, é preciso que o solo tenha aptidão, a água tenha qualidade, quantidade e custo satisfatórios e a cultura a ser explorada seja rentável, compensando o elevado custo da irrigação. Quanto maior a área irrigada, menor o custo unitário. “A irrigação não convencional, digamos assim, ou seja, aquela efetivada com o reuso de água, normalmente se adequa a casos pontuais, específicos e de menor escala. Em ambos os casos, licenças ambientais prévias são itens obrigatórios”, explica. Devem ser consideradas, ainda, as peculiaridades de cada planta. As culturas apresentam diferentes demandas hídricas de acordo com sua fisiologia (tipo C3 ou C4
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de fotossíntese), espaçamento e estadio (fase) de crescimento. Segundo Amaral, as espécies da família das poáceas (capins como brachiária, elefante, colonião etc) e cereais (como milho, arroz, etc) exigem alto consumo de água, uma vez que possuem elevada eficiência fotossintética (tipo C4). “Algumas espécies florestais que produzem grande quantidade de biomassa, como o eucalipto, igualmente necessitam de quantidade proporcional de água”, avisa.
O exemplo gaúcho Assolado por severas secas nas últimas décadas e sujeito às ações de fenômenos climáticos adversos como o El Niño, o Rio Grande do Sul buscou alternativas para reduzir as perdas na agricultura. Para tanto, implementou ações que estimulam a irrigação e reutilização da água. Destaque para o Programa Estadual de Conservação do Solo e da Água, implementado a partir de 2015. O objetivo, conforme o engenheiro agrônomo da Emater Edemar Streck, é melhorar a manejo e a conservação do solo para facilitar a infiltração e o armazenamento da água no solo. “Para tanto, são necessárias práticas conservacionistas, como a cobertura permanente do solo com plantas e resíduos culturais com objetivo de reduzir as perdas de água por evaporação e escoamento superficial”, avisa ele. Conforme Streck, apenas a melhoria da cobertura do solo, muitas vezes, é insuficiente para retenção das águas nas coxilhas e alimentar os mananciais hídricos. “Isso porque chove 1.800 mm/ ano e estamos perdendo muita água e, consequentemente, armazenando pouco líquido”, diz. As-
O RS é disparado o estado com maior área de arroz irrigado do país, com 1 milhão de hectares plantados
sim, o uso de práticas mecânicas como o terraço de retenção, contribui para reter e infiltrar a água da chuva no solo - com isso, há mais água disponível para o uso. O tema é essencial uma vez que, em média, a cada cinco ou seis anos uma estiagem atinge o Rio Grande do Sul. De acordo com Streck, as curtas estiagens - de 8 a 10 dias sem chuva durante a safra de verão - são mais frequentes do que as de longa duração. Para estas, pode-se minimizar seus efeitos através da melhoria do manejo e cobertura do solo. Juntamente com a irrigação, segundo o agrônomo da Emater, o agricultor pode melhorar o manejo do solo com plantas de cobertura. Para a soja, antes do início da queda das folhas, por exemplo, há opções como nabo forrageiro, capim sudão (aveia de verão), milheto ou braquiária. “A ideia é manter o solo coberto e melhorar a produção de resíduos culturais – isso estimula a infiltra-
ção da água no solo pela ação das raízes das plantas, melhorando-se a estrutura do solo”, relata. Segundo Streck, a cultura que merece mais atenção é do milho, pois sempre nos períodos de floração ocorrem curtas estiagens, mas a maior escassez de água é no verão, principalmente nos meses de janeiro ou fevereiro. Outra possibilidade é a construção cisternas – considerada uma excelente alternativa para armazenar a água chuva para fins de utilização em hortas domésticas (desde que tratada), limpeza de calçadas, água para os animais e outros pequenos usos. A Emater vem fazendo projetos de construção de cisternas ou pequenos açudes revestidos com PVC para melhor aproveitamento da água da chuva. Embora práticas, as cisternas não resolvem problemas de grandes estiagens. A alternativa seria utilizar algo gratuito – a água que vem com a chuva. “Nós, no Bra-
sil, não aproveitamos a água da chuva. Em outros países, onde há escassez da água, a chuva é melhor utilizada. Nestes locais, as precipitações anuais são 50% inferiores às do Rio Grande do Sul”, explica. Um exemplo é a Ilha da Madeira. Toda água da chuva é canalizada para poços com objetivo de uso posterior em irrigação nos períodos de escassez de água e também para produção de energia. A estimativa é que, até 2020, as perdas de produção agropecuária devido à escassez hídrica no Estado deverão ser reduzidas em 20%, através da armazenagem de água no solo e da construção de pequenas barragens/açudes para irrigação. Em outra frente, o estado implementou o Programa Segunda Água, gerido pela Secretaria do Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo (SDR), no Rio Grande do Sul, por meio de convênio com o governo federal. O objetivo é garantir acesso, de famílias em situação de vulnerabilidade social, à água para produção no meio rural. O projeto estimula a construção de cisternas, microaçudes e instalação de sistemas simplificados de irrigação. Já foram disponibilizados R$ 19,6 milhões. No estado gaúcho, o programa deve alcançar 2,7 mil famílias, sendo 1.080 com microaçudes e sistema de irrigação, 540 com microaçudes para piscicultura e 1.080 com cisternas e sistema de irrigação. Do total previsto, já foram concluídos 830 microaçudes, sendo 492 para irrigação e 329 para piscicultura, e entregues 427 kits de irrigação.
Estímulo aos açudes privados Para a irrigação, recentemente,
houve alterações da legislação ambiental e passou-se a estimular a construção de barragens particulares nas próprias unidades produtivas. A iniciativa passou a ser denominada “reservação privada” – ela busca, como toda “poupança”, reter o excesso de água da estação chuvosa para ser usada na época seca, sem sobrecarregar os córregos, rios e barragens públicas e sem comprometer sua recarga. “O Rio Grande do Sul tem se destacado nesta iniciativa, fruto de programas governamentais que integraram os diversos agentes (públicos e privados), e estimularam com ações técnicas, fiscais e legais. A reservação pode ser feita em qualquer região, desde que atendidas as exigências legais federal e estadual”, ilustra Amaral, da Embrapa. Segundo ele, a Região Sul do Brasil e, principalmente, o estado gaúcho, apresentam uma arraigada tradição no uso da irrigação. É disparado o estado com maior área irrigada, notadamente com a cultura do arroz – cerca de 1 milhão de hectares são dedicados ao arroz irrigado no Rio Grande do Sul. A escassez hídrica motivada pelas seguidas e intensas “secas”, o esgotamento dos recursos naturais e a disputa pela água forçaram, nas últimas décadas, a ação do Poder Público no sentido de reduzir conflitos e buscar melhor aproveitamento destes recursos. Com isso, políticas públicas foram implementadas buscando estimular a reservação privada do excesso d’água, o uso de sistemas mais eficientes na irrigação e a cobrança pelo uso da água para qualquer atividade. “Hoje se observa o uso de sistema de irrigação mais eficientes como o pivô (central ou linear) para a produção de arroz, coisa impensável há alguns anos atrás”, destaca Amaral.
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SUSTENTABILIDADE
Grão valioso da cozinha à indústria
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á produtos que se gabam de ter mil e uma utilidades, como deve estar na memória afetiva de muito consumidor brasileiro. Entretanto, nenhum deles é páreo para o milho: o cereal de cor amarelada, tão aproveitado na cozinha e na ração animal, também é muito disputado pela indústria. Versátil, seus subprodutos são utilizados na produção de tintas, papéis, adesivos, carpetes, cremes de barbear, papel de parede e até –
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por mais incrível que pareça – na fabricação de explosivos. A cientista de alimentos e coordenadora do Laboratório de Grãos da Embrapa Milho e Sorgo, Maria Cristina Dias Paes, explica que os componentes químicos do milho, especialmente os biopolímeros proteína e amido, apresentam propriedades químicas e físicas muito distintas de outros produtos. “Isso permite sua transformação em adoçante, espessante, adesivo, papel, em
etanol combustível e produção de óleo e derivados”, conta. Somente o sorgo possui algumas das caraterísticas tecnológicas semelhantes ao milho. De acordo com Maria Cristina, os demais cereais como trigo, arroz, aveia e cevada não se assemelham em propriedades nutricionais e tecnológicas como o milho. E tanta versatilidade se traduz em maior demanda pelo grão. Conforme dados da Associação Brasileira das Indústria do Milho (Abimilho), das 93 milhões de toneladas da safra 2016-2017, o uso industrial deve consumir cerca de 7 milhões de toneladas (dez anos atrás, eram 4 milhões de toneladas). Grande parte da safra – 49 milhões de toneladas – tem como destino certo a produção de ração para bovinocultura, suinocultura e avicultura. O elevado consumo na cadeia produtiva de carnes é explicado pelo valor energético do cereal na alimentação dos animais. Para a produção de um quilo de carne de aves de corte, normalmente são necessários dois quilos de ração com composição média de 1,4 kg de milho mais 0,4 kg de farelo de soja (70%-20%, essa proporção pode variar, e 10% de outros elementos); para carne de porco, 2,8 kg de rações para um quilo de carne em proporções ligeiramente diferentes (70%-25%) ou 2 kg de milho e 0,7 kg de farelo de soja. No caso de outros usos, conforme a cientista, as variações de cultivares obtidas através do melhoramento genético permitem a ampliação das aplicações dos derivados do milho, especialmente proteínas, amido e carotenoides. “Há, inclusive, resultados de novos filmes bioativos produzidos com a proteína principal do milho, a zeína, além de obtenção de nanopolímeros da palha do milho”, explica. A valorização do germoplasma
colorido do milho (grãos pretos, roxo, azul e vermelho) também tem permitido a caracterização de genótipos para usos inovadores a partir da extração de compostos bioativos presentes nesses materiais. “Destacam-se o uso desses fitoquímicos como pigmentos de ação funcional (nutricional) e aplicação industrial (corante natural para alimentos e cosméticos); antioxidante (alimentos); e, ainda, como agente de inibição de microrganismos em alimentos (filmes coloridos bioativos).
Melhoramento genético Pesquisador da área de melhoramento de milho da Embrapa, Lauro José Moreira Guimarães destaca que o tipo de cultivar de milho mudou bastante nas últimas décadas, passando de variedades e híbridos duplos para cultivares de alto potencial de heterose (melhor desempenho), como os híbridos triplos e, principalmente, os híbridos simples. “A maioria dos híbridos modernos são transgênicos, que permitem a proteção das plantas contra lagartas e uso de herbicidas para controle de plantas daninhas, protegendo a lavoura de estresses causados por pragas”, explica Guimarães. Além disso, os híbridos modernos toleram muito mais a alta competição intraespecífica do que as cultivares antigas, sendo que a alta densidade de plantio é um dos fatores de maior importância para o aumento da eficiência no uso de água e nutrientes, e, consequentemente, maior produtividade. Voltando 40 anos no tempo, no ano agrícola de 1976/77 foram cultivados, aproximadamente, 11,8 milhões de hectares com milho no Brasil, enquanto que,
no ano agrícola de 2016/17, são 17,3 milhões de hectares com essa mesma cultura. A produção passou de 19,26 milhões de toneladas de grãos para 92,8 milhões de toneladas atualmente, caracterizando um aumento de 4,82 vezes na produção de grãos de milho do País. “A área cultivada cresceu 1,46 vezes nesse período, mas o maior ganho em produção foi devido aos ganhos em produtividade, visto que a produtividade média do Brasil passou de 1.632 kg/ha para 5.383 kg/há”, ilustra Guimarães. Pesquisas demonstram que os ganhos em produtividade resultam da combinação de ganhos genéticos e de ganhos em manejo (melhoria das técnicas de cultivo), e considera-se que esses dois fatores têm contribuição equivalente no desempenho de cultivares modernas de milho, ou seja, a genética contribui com 50% e o manejo com os outros 50% do potencial de produtividade de uma lavoura de milho.
MIL E UMA UTILIDADES DO MILHO - Giz de cera - Explosivos - Tintas - Adesivos - Papéis - Produtos farmacêuticos - Plásticos - Vidros - Chiclete - Etanol - Baterias veiculares - Alumínio - Lápis de cor - Ketchup - Inseticida - Automóveis (volante, assentos, pneus e borrachas sintéticas)
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AGRICULTURA FAMILIAR
Da família para o mercado Se há recursos para o grande e o médio produtor, no caso da agricultura familiar não poderia ser diferente: serão R$ 30 bilhões em crédito entre 2017/2018, a uma taxa de juros entre 2,5% e 5,5%. As medidas buscam ir além da disponibilização de crédito, abrangendo também medidas de regularização fundiária, comercialização, assistência técnica e extensão rural. O percentual de juros variará em função dos produtos e da forma como a produção é feita. Os produtores que fazem uso de energia renovável e práticas sustentáveis de manejo do solo e da água continuarão pagando uma taxa de 2,5%. Apesar dos números vistosos, a Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado (Fetag-RS), em nota, salienta que “um cenário de incerteza vem assombrando a agricultura familiar nos últimos tempos, tanto pela questão econômica como também pela iminente perda de direitos na Reforma da Previdência. Estes fatores contribuem para a redução na ampliação das atividades e investimentos no meio”. À primeira vista, a Fetag avaliou o plano safra da agricultura familiar como razoável – mas esperava mais avanços, uma vez que o PAP destinado aos grandes produtores teve crescimento de 2,4% nos recursos e juros reduzidos em 2% para investimentos em algumas linhas. Segundo a entidade, a agricultura familiar precisar de um olhar diferenciado por parte do gover-
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no. A produção em pequenas propriedades rurais é responsável por 46% do milho comercializado no Brasil; 34% do arroz; 70% do feijão; 16% da soja; e 62% dos hortifrutigranjeiros. Responde, ainda, por 74% dos postos de trabalho no meio rural – são 4 milhões de famílias, em um total de 13,6 milhões de pessoas vivendo da agricultura familiar. A gestão é outro ponto importante. No Rio Grande do Sul, o Programa de Gestão Sustentável na Agricultura Familiar já atende a 10 mil famílias. Lançado em junho de 2016, o programa foi implementando pela Secretaria de Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo (SDR) e pela Emater com o objetivo de incrementar os resultados das pequenas propriedades rurais por meio de ferramentas de gestão. Entre as ferramentas, o programa coloca à disposição dos extensionistas da Emater uma planilha econômica, questionário ambiental e social e plano de gestão. A meta é chegar, no final de 2019, a 20 mil famílias atendidas. Apenas no Estado gaúcho, conforme dados da Emater, a agricultura familiar responde por 86% das propriedades rurais e por 75% da mão de obra utilizada no campo.
ministração pública federal. A modalidade estimula a compra de alimentos de pequenos produtores locais. Com recursos próprios de cada órgão, a ação garante mercado para a agricultura familiar, além de incentivar que eles continuem no campo. A atual legislação determina que órgãos da administração pública federal comprem, no mínimo, 30% dos gêneros alimentícios dos agricultores familiares. Conforme as regras do programa, um agricultor pode vender até R$ 20 mil por ano para cada órgão comprador. Já as cooperativas ou associações têm o limite de R$ 6 milhões por ano por comprador. Os alimentos são adquiridos com recursos próprios do órgão público e não há necessidade de procedimento licitatório. Segundo o governo federal, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) é a instituição pública de ensino superior com maior volume de compras feitas por meio do PAA.
No ano passado, a universidade gaúcha comprou R$ 6,9 milhões em alimentos da agricultura familiar – quase 65% do total de compras feitas pelas universidades federais. Em 2017, a Ufrgs deve destinar R$ 8,2 milhões para a aquisição de produtos, o que equivale a 45% do orçamento total da instituição para alimentação. Os gêneros alimentícios – grãos, doces, frutas, hortaliças, carne e sucos, entre outros - são ofertados diariamente a 12 mil alunos e servidores que utilizam seis restaurantes universitários. Outro destaque é o Ministério da Defesa, um dos principais compradores da modalidade. Em outubro do ano passado, o órgão fez a maior aquisição em um único edital: mais de R$ 13 milhões na compra de 102 tipos de alimentos. Os produtos foram destinados para atender as demandas da administração central do ministério e das unidades do Exército Brasileiro, Marinha do Brasil e Força Aérea Brasileira.
PAA – fomento aos pequenos Um dos programas de maior importância para os pequenos produtores, o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário (MDSA), movimenta a cadeia produtiva da agricultura familiar. Até o fim deste ano, o PAA irá comprar R$ 260 milhões de pequenos empreendimentos rurais para abastecer órgãos da ad-
Para a safra 2017/2018 os agricultores familiares terão um montante de R$ 30 bilhões em crédito a juros subsidiados
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TRIGO
Os altos e baixos do trigo
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ultura historicamente importante para a sustentabilidade da agricultura, o trigo passa por um momento delicado no mercado brasileiro. Está sujeito ao clima nada amistoso do inverno – e já castigado pelas chuvas em plena época do plantio neste ano –, concorre com o produto de
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melhor qualidade importado da Argentina e sofre com o baixo preço pago ao agricultor. Apesar disso, os agricultores resistem ano após ano. Alternando safras boas com outras nem tanto assim em uma área plantada que diminui, pouco a pouco, no Rio Grande do Sul, o trigo ainda procura um ponto de equilíbrio em uma conta difícil de fechar. Para piorar, o valor pago pela saca, atualmente, mal paga os custos de produção. “Ainda há produtores com trigo estocado da safra passada, esperando uma melhora no preço. Mas isso acaba também por repercutir na redução da área plantada. Ano passado foram
778 mil hectares com trigo. Neste inverno, devemos alcançar 727 mil hectares em 282 municípios do Rio Grande do Sul”, avalia o diretor técnico da Emater, Lino Moura. Por sinal, 2016 foi um ano de notícias boas para o produtor. Devido a uma conjunção excepcional de clima adequado, com chuvas bem distribuídas, a safra de trigo somou 2,24 milhões de toneladas no Estado, com uma produtividade de 3.132 quilos por hectare – bem acima da média histórica, de 2.400 quilos por hectare. Mas isso virou passado. Em 2017, o cenário é completamente diferente. Paralisado devido
às enchentes da primeira metade de junho, o plantio do trigo recomeçou logo após a melhora do tempo – ainda que o solo estivesse excessivamente úmido nas últimas semanas de junho. Vários produtores, segundo a Emater, realizaram operações de secagem nas lavouras, contando com clima mais favorável nas semanas seguintes. Outros agricultores, por sua vez, precisaram refazer todo o manejo do trigo, repondo novamente fertilizantes e herbicidas para que as sementes tenham uma germinação adequada. Nas áreas onde as chuvas foram mais intensas, muitas das lavouras foram atingidas por enxurradas, o que exigiu mais trabalho: nivelamento de solo, limpeza de canais escoadores e a reconstrução das vias internas para a passagem das máquinas dentro das lavouras. É, literalmente, uma corrida contra o tempo. Em meados de junho, normalmente, conforme a Emater, cerca de 50% da área destinada ao trigo já está plantada. Agora, este percentual era de 12% em junho. “Embora uma cultura de inverno, o trigo precisa de solo seco e não pode ter frio demais. Também o excesso de umidade prejudica. Por isso mesmo mantemos uma projeção conservadora para este ano”, ressalta Moura.
Por que continuar plantando? Mas porque, então, o agricultor insiste no trigo? Em análise puramente contábil, qualquer pessoa abandonaria a cultura e procuraria outros grãos com maior valor. Moura salienta, contudo, que o trigo é importante no manejo anual das propriedades. “O trigo é essencial para cobertura
do solo no inverno, intercalando com gramíneas e soja. Caso o produtor consiga, pelo menos, equilibrar os custos com outros cultivos anuais, ele deve ser plantado, até porque o planejamento da fazenda inclui outros gastos”, destaca. Do ponto de vista econômico, a concentração de recursos numa única safra aumenta o risco de prejuízos causados por frustrações do clima ou oscilações do mercado. O indicado é diluir o custo de insumos, mão de obra e maquinário na diversificação de culturas que permitam mobilidade na receita e no investimento. Moura salienta que a Emater tem trabalhado em um programa de gestão que busca mostrar ao produtor rural a necessidade de planejar os custos da propriedade. “Há mão de obra que precisa ser paga, financiamentos que seguem com os bancos. Então o agricultor não pode deixar a produção parada, sem um mínimo retorno”, ilustra o diretor técnico da entidade. O pesquisador da Embrapa Trigo João Fernandes Pires concorda. Segundo ele, por mais que ocorram frustrações de safra, os benefícios diretos e indiretos do cultivo de trigo, ao longo dos anos, são maiores do que a alternativa de manter as áreas em pousio. Pires salienta que o trigo, no inverno, contribui indiscutivelmente para a conservação do solo. A monocultura da soja deixa o solo descoberto após a colheita - diferentemente do milho, a oleaginosa não produz grande quantidade de palha e é de rápida decomposição. Há outras vantagens: a cobertura do solo com culturas de inverno é fundamental para aumentar a quantidade e diversificar a fonte de palha, contribuindo para evitar a erosão e
melhorar o controle de plantas daninhas. “Simplesmente convencer o produtor a plantar trigo mesmo tendo prejuízo não existe. É preciso olhar o conjunto”, explica Moura, da Emater. E faz parte deste conjunto a forte concorrência com o trigo argentino, considerado de melhor qualidade que o produzido no Brasil. “O grão que vem da Argentina se encaixa melhor nas necessidades do mercado de panificação. Embora tenhamos, hoje, variedades de trigo-pão com maior qualidade, ainda o argentino ganha neste sentido”, destaca Moura. Os números, neste sentido, mostram a fome brasileira por trigo do exterior. Apenas em 2016, o volume importado cresceu 33% - foram 6,6 milhões de toneladas no período. Neste ano, até maio, a importação somou 2,6 milhões de toneladas – a Argentina lidera com folga: vendeu para os brasileiros 2,1 milhões de toneladas de trigo nos cinco primeiros meses de 2017.
Lino Moura, diretor técnico da Emater
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FRUTICULTURA
Acidez que gera renda
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lém da redução nas temperaturas, a chegada dos meses mais frios do ano anuncia a época em que as frutas cítricas aumentam sua presença nas feiras livres e supermercados gaúchos. Entre elas, a bergamota responde por maior parte da safra de citros, cuja colheita começa em maio. A maior região produtora é o Vale do Caí. Em 2017, a safra alcançou 162 mil toneladas de frutas, com destaque para a bergamota: 107 mil toneladas. Entre os municípios, Montenegro e São Sebastião do Caí lideram a produção. Este último tem 820 hectares plantados com bergamotas, laranjas e limões. A safra total de São Sebastião do Caí deve alcançar 16 mil toneladas de citricos. Segundo a Emater, as chuvas regulares, suficientes e bem dis-
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tribuídas na época de desenvolvimento das plantas, contribuíram para que as frutas crescessem com bom tamanho e qualidade. No caso das laranjas, a maior parte da produção está concentrada na região Norte do Rio Grande do Sul. E parte das bergamotas do Rio Grande do Sul ganha mercados além da divisa gaúcha – é o caso da variedade Montenegrina, comercializada para outros estados como São Paulo, Santa Catarina e Paraná e com colheita mais tardia, em julho e agosto. Antonio Conte, assistente técnico em fruticultura da Emater, salienta que a primeira variedade que chega à mesa dos consumidores nesta época é a Ponkan – conhecida pela casca grossa, que se solta facilmente da fruta. “Ao contrário, a Montenegrina, que leva este nome por causa do município gaúcho, tem a casca mais fina e grudada na bergamota. É a variedade de produção mais tardia”, conta. O excesso de chuva na primeira metade de junho trouxe prejuízos para os produtores do Vale do Caí. Além de dificultar a colheita, a chuva causa rachadura na casca das frutas e maior incidência de
fungos – como resultado, ocorre o apodrecimento e a queda precoce de bergamotas das árvores. Segundo a Emater, a queda foi muito mais intensa nas frutas maduras, prontas para a colheita, como as bergamotas Caí e Ponkan, e as laranjas Céu Precoce, umbigo Bahia, Seleta e Shamouti. As perdas estimadas ocasionadas pela queda das frutas, tanto em bergamoteiras como em laranjeiras, atingem, em média, 20% para frutas maduras na região do Vale do Caí. Em Bom Princípio, ocorreram prejuízos em todas as variedades de laranjas, sendo que as perdas maiores (30% a 40%) atingiram as variedades precoces, principalmente a Céu Paulista e a umbigo Bahia. À parte a questão climática, que atinge todas as culturas, no caso das frutas, entre as principais demandas dos fruticultores de cítricos gaúchos estão questões relacionadas ao crédito e propostas de alterações para o modelo atual, em que projetos de custeio para a bergamota e a laranja são únicos, independentemente da variedade. Como há diferença de tempo entre as safras dessas frutas, o ideal seria implementar um modelo de custeio para cada uma delas.
FONTES ALTERNATIVAS
Incremento ao biodiesel
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om a ociosidade atingindo 40% da capacidade instalada, a cadeia produtiva do biodiesel vê na antecipação do aumento das misturas do produto no diesel – B9 e B10 – a chance para reativar o setor, ainda mais em um ano recorde de produção de soja, com 115 milhões de toneladas (principal matéria-prima para o biodiesel brasileiro). Presidente da Associação dos Produtores de Biodiesel (Aprobio), Erasmo Batistella avisa que o governo federal se mostrou receptivo ao pleito da indústria em reuniões realizadas no primeiro semestre. Atualmente, a mistura adição permitida é de 8% de biodiesel por litro de diesel (B8). O próximo passo, o B9 (9% de mistura) seria dado apenas em 2018 e o B10 (10%) entraria em 2019. “Nós pedimos o B9 já para este ano e a antecipação do B10 para março de 2018. Estamos trabalhando de novo com uma previsão de safra de soja recorde para o próximo ano. Não falta matéria-prima nem indústria para processamento. Queremos gerar empregos, mas precisamos, para isso, incentivar o biodiesel”, conta Batistella. A favor dos empresários do setor há, ainda, a grande importação de diesel para suprir a demanda do mercado interno. Atualmente, 50% do diesel vendido no País vem do exterior. Ano passado, o Brasil importou 7,9 bilhões de litros de diesel – cerca de 1 bilhão de litros a mais que em 2015. Entre as principais vantagens do biodiesel está a redução na emissão de poluentes, que pode chegar a 70% se comparado
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ao diesel comum. Estudo encomendado pela Associação Brasileira de Óleos Vegetais (Abiove) projeta que, até 2030, o biodiesel produzido tem muito a crescer. Conforme a entidade, uma das metas mais ambiciosas do compromisso brasileiro no histórico Acordo de Paris prevê, até 2030, a participação de 18% (B18) de biocombustíveis na matriz energética do país como forma de reduzir as emissões de gases do efeito estufa (GEE). O biodiesel brasileiro tem ainda um papel social importante, pois beneficia a agricultura familiar. O programa Selo Combustível Social, que fixa percentual mínimo de matéria‐prima da agricultura familiar a ser adquirido pelas usinas de biodiesel, atendeu ano passado a mais de 70 mil famílias e gerou R$ 4 bilhões de renda a esses trabalhadores. Conforme a Abiove, é meio do selo que as usinas de biodiesel prestam assistência técnica rural a esses produtores, possibilitando o incremento de produtividade e melhor inclusão social e produtiva. Boa parte da soja utilizada no processo do biodiesel vem das pequenas propriedades rurais. A produção anual de biodiesel do Brasil alcançou 4 bilhões de litros ano passado, mas tem potencial para chegar a 18 bilhões de litros em 2030 – o estudo leva em conta o aumento da safra de soja dos atuais 113 milhões de toneladas para 170 milhões de toneladas neste período. O estudo projeta ainda uma elevação na capacidade instalada – hoje, de 7,3 bilhões de litros por ano em 50 usinas. Assim, no período de 2019 a 2030, serão necessárias novas 48 unidades de processamento de soja e mais 59 usinas de biodiesel (totalizando 109 usinas). Para os próximos anos, o setor deve crescer na ordem de
A produção anual de biodiesel do Brasil alcançou 4 bilhões de litros ano passado, mas tem potencial para chegar a 18 bilhões de litros em 2030 10% em demanda. Atualmente, o Brasil é o segundo maior produtor mundial de biodiesel, atrás apenas dos Estados Unidos, que produziram 5,9 bilhões de litros em 2016. Quando se avaliam os ganhos ambientais, não há dúvidas da necessidade do biodiesel. Segundo a Abiove, caso as metas até 2030 se tornem realidade, será evitada a emissão de aproximadamente 34 milhões de toneladas de CO2 por ano em 2030, o que corresponde a 250 milhões de árvores plantadas por ano. Conforme o Ministério de Minas e Energia, a antecipação para março de 2018 do B10 deve ser discutida na próxima reunião do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), ainda neste ano. Em outra ação complementar, recentemente o governo federal lançou o programa RenovaBio, que busca justamente estimular a produção de biocombustíveis no Brasil (além do biodiesel, inclui o etanol). Comandado pelo Ministério das Minas e Energia, o RenovaBio pretende aumentar a competitividade na produção, comercialização e no uso de bio-
combustíveis, com estímulo à concorrência entre os próprios biocombustíveis e em relação aos combustíveis de origem fóssil. De acordo com o ministério, o programa é essencial para auxiliar no processo de redução de 43% das emissões de gases de efeito estufa até 2030, conforme metas firmadas na Conferência do Clima de Paris.
Erasmo Batistella, presidente da Aprobio
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PESQUISA
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Por dentro da Embrapa
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os 44 anos, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) é uma das mais importantes instituições de pesquisa agropecuária do Hemisfério Sul. Com um orçamento anual de R$ 3 bilhões, possui 46 unidades de pesquisa espalhadas em todo o Brasil – no Rio Grande do Sul, são quatro (uva e vinho, trigo, pecuária sul e clima temperado). A criação da Embrapa, vinculada ao Ministério da Agricultura, ocorreu em 26 de abril de 1973. Na década de 70, a construção da infraestrutura da Embrapa foi acompanhada do investimento em recursos humanos. Em setembro de 1974, havia 273 pesquisadores em cursos de mestrado, sendo 20 no exterior. Dos 44 pesquisadores em doutorado, 19 estavam fora do País. Ao todo, apenas naquele ano, eram 317 pesquisadores adquirindo conhecimentos para estabelecer e ampliar as bases científicas da pesquisa brasileira. Naquele mesmo ano, a Embrapa herdou do então Departamento Nacional de Pesquisa e Experimentação (DNPEA) 92 bases físicas: 9 sedes dos institutos regionais, 70 estações experimentais, 11 imóveis e 2 centros nacionais. Com a desativação do DNPEA, a Embrapa iniciava a sua fase operacional, passando a administrar o sistema de pesquisa agropecuária no âmbito federal. Na década de 1980, a Embrapa se consolida no cenário da agricultura nacional como fonte de inovação. A pesquisa agropecuária, juntamente com a exten-
são rural, promove ganhos no campo: a oferta de leite, couro, embutidos, queijo e ovos aumenta consideravelmente. O mesmo ocorre com hortaliças, frutas, flores, fibras e essências florestais. Um dos destaques, deste período, é o milho. A produtividade do grão e sua qualidade nutricional e agronômica foram adaptadas às necessidades das várias regiões brasileiras com o melhoramento do manejo e novas cultivares. O BR 201 foi o primeiro híbrido duplo nacional de alta tolerância a solos ácidos; o BR 106, de polinização aberta, trouxe maior produtividade aos pequenos produtores; e o BR 451 tem melhor valor nutritivo e proteico. A década de 1990 marca a maior conexão da Embrapa com a pesquisa realizada no exterior. O bom desempenho dos estudantes, aliado ao amplo intercâmbio com universidades e centros de excelência científica internacionais em agropecuária contri-
buíram para que a Embrapa se tornasse um centro de ciência e tecnologia de destaque. Mais tarde, isso resultaria na criação e consolidação do programa Labex - Laboratório Virtual da Embrapa no Exterior. O primeiro deles foi criado em 1998, nos Estados Unidos. A pesquisa agropecuária brasileira nos anos 1990 também buscou soluções para os problemas da monocultura e agregou prioridades de trabalhos com meio ambiente, qualidade dos alimentos, bem-estar da sociedade e desenvolvimento de sistemas agroindustriais. Os anos 2000 trouxeram grandes transformações, como a revolução tecnológica, a globalização com a abertura de mercado e a força do consumidor. Para a Embrapa, foi o momento de se posicionar definitivamente na fronteira do conhecimento científico, assumindo um papel cada vez mais importante no cenário internacional. No caso da biotecnologia, poucos fatos foram tão emblemáticos quanto o nascimento da bezerra Vitória, o primeiro clone bovino da América Latina, em 17 de março de 2001 Da raça simental,
Com um orçamento anual de R$ 3 bilhões, possui 46 unidades de pesquisa espalhadas em todo o Brasil
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O Rio Grande do Sul possui quatro unidades da Embrapa: Pelotas (clima temperado), Bagé (pecuária sul), Passo Fundo (trigo) e Bento Gonçalves (uva e vinho) Vitória foi gerada na Fazenda Sucupira (Brasília), utilizando-se praticamente o mesmo método que deu origem à ovelha Dolly, o primeiro animal clonado do mundo, apresentado em 1997. Outras conquistas da biotecnologia nesse período foram o sequenciamento do genoma do café. A década marca, ainda, um maior esforço no fomento ao pequeno produtor. A pesquisa agropecuária também busca soluções para erradicar a pobreza e incluir a agricultura familiar no setor produtivo. Intensificou-se o esforço para que o conhecimento gerado pela Embrapa chegasse a esse público. A partir de 2010, a sustentabilidade domina as preocupações na agricultura. O Brasil figura entre as maiores economias e é peça-chave no agronegócio global. O País é referência na geração pela
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A nova estrutura, de 2 mil metros quadrados, custou R$ 13 milhões. Além das câmaras para sementes a -20 graus centígrados, o espaço possui laboratórios, câmaras de conservação de plantas in vitro, botijões de nitrogênio líquido e bancos de DNA para conservação de animais e microrganismos.
Meio ambiente: Brasil é exemplo Informações do go Grupo de Inteligência Territorial Estratégica (Gite) da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) indicam que mais de 174 milhões de hectares de vegetação nativa preservados estão dentro de imóveis rurais particulares. A quantidade corresponde a 47,7% da área total dos imóveis
de tecnologias agrícolas tropicais, e tem a missão de atender a parte da crescente demanda de alimentos, fibras e energia pela sociedade. Por outro lado, há o imenso desafio de produzir com sustentabilidade, compromisso traduzido em metas quantitativas de redução de emissões de gases de efeito estufa. Neste aspecto, a pesquisa agropecuária atual desenvolve e aperfeiçoa sistemas de produção não apenas mais eficientes, mas mais sustentáveis econômica, ambiental e socialmente, tais como a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta. E o futuro? A demanda crescente por alimentos é um desafio para a agropecuária mundial. A Embrapa e seu ecossistema terão que ter a capacidade de gerar conhecimentos, tecnologias e informações que garantam o
crescimento da oferta de alimentos, com segurança alimentar e nutricional.
Genética líder na América Latina Há três anos, a Embrapa inaugurou o maior banco de recursos genéticos da América Latina. O prédio reúne os acervos de plantas, animais e microrganismos da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, em Brasília. A unidade tem como objetivo principal garantir a segurança alimentar da população. O antigo banco genético da Embrapa possui mais de 124 mil amostras de sementes e capacidade para guardar até 250 mil. A nova estrutura triplicou a capacidade - para 750 mil amostras - e colocou o Brasil entre os três países com as maiores coleções genéticas do mundo, atrás dos Estados Unidos e da China. O presidente da Embrapa, Maurício Antônio Lopes, explicou que os recursos genéticos estão na base do desenvolvimento da agricultura, e a empresa atua com pesquisas na área desde o seu início. “O trabalho de coleta, conservação, agregação de valor e uso de recursos genéticos é que permitiu o grande salto da nossa agropecuária nos últimos 40 anos”, afirmou ele. Grande parte do que o Brasil cultiva hoje, segundo Lopes, tem origem externa, como a soja (da China), a cana-de-açúcar (da Índia) e o milho (do México) - o trabalho da Embrapa tem sido fundamental no fortalecimento dessas culturas para adaptá-las ao agronegócio brasileiro. A Embrapa Recursos Genéticos também trabalha com o melhoramento preventivo, que antecipa as pragas que podem atacar determinadas culturas.
rurais brasileiros cadastrados no Sistema Nacional de Cadastro Ambiental Rural (SICAR) até dezembro de 2016 - excluindo os estados do Mato Grosso do Sul e do Espírito Santo, que ainda não estão no sistema. “Em todos os estados, os agricultores preservam mais do que a lei exige. Eles estão todos acima do mínimo. Esse mínimo é por bioma. No bioma Mata-Atlântica é 20%, no bioma Cerrado e Pampa também. Passa a 35% quando o cerrado está na Amazônia Legal, enquanto no bioma Amazônia é 80% [a exigência] de área preservada”, destacou o coordenador do estudo e pesquisador da Embrapa Evaristo de Miranda. O Cadastro Ambiental Rural (CAR) é um registro eletrônico, obrigatório para todos os imóveis rurais. Ele foi instituído pelo novo Código Florestal. Os agricultores têm prazo para cadastrar todo o seu capital ambiental até o fim de 2017. No entanto, a maioria dos registros já havia sido feita até dezembro de 2016.
Maior estudo de solos em andamento Em março deste ano, pesquisadores da Embrapa Solos iniciaram o projeto-piloto do Programa Nacional de Solos do Brasil (PronaSolos). O programa será feito em parceria com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM) e universidades brasileiras e deverá ser concluído em nove meses. O custo estimado nessa primeira fase é de cerca de R$ 900 mil. O PronaSolos pretende mapear o território brasileiro e gerar
Mauricio Lopes, presidente da Embrapa dados com diferentes graus de detalhamento para subsidiar políticas públicas, entre outras aplicações.Uma vez aprovado pelo governo federal, o PronaSolos passará à fase de execução, que pode levar entre dez e 30 anos, segundo estimativas do chefe-geral da Embrapa Solos, sediada no Rio de Janeiro, Daniel Vidal Perez. O estudo será completo, gerando informações necessárias para, por exemplo, incentivar projetos de irrigação ou calcular o estoque de carbono para mitigar as emissões de gases de efeito estufa, por meio da manutenção ou do sequestro desse carbono em solo. “Mas, para isso, é preciso conhecer o solo em profundidade e em detalhe. E essa informação, infelizmente, nós não temos”, conta Perez. Perez explicou que a maioria dos trabalhos de reconhecimento dos solos brasileiros foi feita nas décadas de 1970 e 1980, mas a representatividade do conhecimento do solo por área é muito baixa. “Nos números atuais,
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aproximadamente, é como se eu tivesse conhecimento do solo a cada 150 mil hectares, o que, para uma necessidade estadual ou mesmo municipal, é inviável”. Alguns estados das regiões Sul e Sudeste têm informação mais detalhada, mas no resto do Brasil os dados são reduzidos. São áreas desconhecidas em que não há informações sobre o tipo de solo. Hoje, na região de maior crescimento da agricultura brasileira, que abrange partes do Maranhão, Tocantins, Piauí e da Bahia, o conhecimento desses solos é muito baixo. A execução do PronaSolos demandará investimentos públicos e privados que poderão alcançar R$ 1 bilhão, para um trabalho básico a ser feito no prazo de 30 anos, ou R$ 3 bilhões para um trabalho que poderá ser feito em dez anos. O PronaSolos deverá gerar ganhos para o Brasil de R$ 40 bilhões, em uma década. Uma vez aprovada sua estrutura, a execução do programa será imediata.
ecologia e agricultura familiar; agroenergia e agrobiodiversidade; e qualidade ambiental.
A empresa no Rio Grande do Sul
O governo destinou R$ 900 mil para a fase piloto do programa PronaSolos, que em dez anos deverá ter aporte de até R$ 3 bilhões
EMBRAPA CLIMA TEMPERADO Sede: Pelotas Atribuições:desenvolve tecnologias para os agroecossistemas do Sul do Brasil e pesquisa alternativas para uma região de clima bem característico. O arroz e as frutas de clima frio, como o pêssego, são alguns dos segmentos de destaque trabalhados. Nos cenários dos campos, serras e planaltos sulinos, a unidade está ligada a grandes eixos de pesquisa: cadeias produtivas do leite, frutas, hortaliças, grãos, agro-
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Site: www.cpact.embrapa.br
manter cooperação técnica com todo o sistema Embrapa, está articulada com entidades representativas de produtores e outras instituições ligadas ao ensino, à pesquisa, ao desenvolvimento e à inovação em produção pecuária do País e do exterior. Os trabalhos buscam viabilizar tecnologias, conhecimento e inovação para a sustentabilidade da agropecuáriacom foco em bovinos e ovinos.
Site: www.cppsul.embrapa.br
EMBRAPA TRIGO
EMBRAPA PECUÁRIA SUL Sede: Bagé Atribuições: realiza pesquisas em bovinocultura de corte e leite, ovinocultura e forrageiras nos Campos Sul-Brasileiros, compreendidos pelos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. A unidade, além de
Sede: Passo Fundo Atribuições: investiga inovações tecnológicas para o aumento da rentabilidade agrícola brasileira, de modo sustentável, preservando os recursos naturais e a biodiversidade. Os projetos são planejados e conduzidos em colaboração com o Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária, procurando atender às demandas do complexo agroindustrial do trigo e demais culturas de inverno, como cevada.
Site: www.embrapa.br/trigo
EMBRAPA UVA E VINHO Sede: Bento Gonçalves Atribuições: possui duas estações experimentais, a de Fruticultura Temperada, em Vacaria (RS), e a de Viticultura Tropical, em Jales (SP). Em quase 40 anos de funcionamento, busca cumprir sua missão de viabilizar soluções de pesquisa, desenvolvimento e inovação para a sustentabilidade da vitivinicultura e da fruticultura de clima temperado. Suas pesquisas estão focadas em maçãs, peras, frutas de caroço e frutas pequenas.
Site: www.cnpuv.embrapa.br
EVENTO
Gestão para crescer
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ealizar uma produção sustentável com adequada gestão dos recursos é essencial para o sucesso dos empreendimentos rurais. Aliado a isso, a inovação como constante fator de aprimoramento também deve ser considerada pelo produtor rural. Estes e outros temas concentraram os debates do 14º Agrimark Brasil - Seminário Brasileiro de Marketing no Agronegócio, ocorrido dia 12 de junho, em Porto Alegre. Promovido pelo I-Uma (Instituto de Educação do Agronegócio), o evento celebrou também os 62 anos da Emater. “O Brasil será o celeiro do mundo, não há dúvidas”, afirmou Alan Bojanic, representante da ONU para Alimentação e Agricultura (FAO) para o Brasil, lembrando que é preciso considerar não apenas as projeções de produção de grãos, que têm evoluído, mas as da população – calcula-se que, em 2050, haverá 10 bilhões de pessoas no mundo. “O desafio possível é poder ali-
mentar a todos”, ressaltou. Bojanic avaliou ainda o problema das mudanças climáticas e defende uma agricultura adaptativa, capaz de produzir alimentos que atendam a essa demanda crescente. Segundo o representante da FAO, estamos vivendo a quarta revolução industrial, digital, que vai além da agricultura de precisão e oferece muita intensificação nos sistemas de produção. “Precisamos atingir maior produtividade com menos insumos e recursos naturais e em menos espaços, com o uso de irrigação e fortalecendo a integração lavoura-pecuária-floresta”, alertou. Para ele, o desafio é conciliar as contabilidades ambiental e financeira: “melhorar o uso das tecnologias modernas, que são mais eficientes, para atingirmos o desenvolvimento sustentável”. O presidente do I-Uma, José Américo da Silva, apresentou o programa Reduc no Meio Rural, que envolve o que ele chama de Trilogia da Inovação Tecnológi-
ca: gestão, inovação tecnológica e educação – “temas estratégicos para qualificar a gestão agropecuária”. Ernani Polo, secretário da Agricultura, Pecuária e Irrigação (Seapi) do Rio Grande do Sul, destacou as transformações ocorridas na agricultura, que passou de subsistência para tecnológica, e ressaltou que a produção do setor deve avaliar não apenas as safras de grãos, mas considerar o tabaco, as frutas, os hortigranjeiros e as carnes. Conforme o secretário, é preciso “intensificar a orientação técnica para construirmos juntos novos caminhos”. Lino Moura, diretor-técnico da Emater, destacou o programa de Gestão Sustentável da Agricultura Familiar, lançado há quase um ano pela Secretaria do Desenvolvimento Rural (SDR) e executado pela Emater junto a 10 mil das 211 mil famílias de agricultores atendidos pela instituição em 2016. “Enquanto extensionistas, devemos inovar na forma de atuação dos agricultores que assistimos para qualificar a produção, melhorar a produtividade e agilizar o processo de tomada de decisões”, disse.
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SAFRA
Com o cofre aberto
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ivulgado início de junho pelo governo federal, o Plano Agrícola e Pecuário 2017/2018 terá recursos de R$ 190,2 bilhões. Mesmo com os cortes nos orçamentos de diversas pastas devido à crise econômica, aqui ocorreu aumento: o valor é maior que o montante ofertado no período anterior, de R$ 185 bilhões para 2016/2017. De acordo com o Ministério da Agricultura, o volume de crédito para custeio e comercialização ficará em R$ 150,25 bilhões. Deste total, R$ 116,25 bilhões terão juros e taxas fixados pelo governo. Outros R$ 34 bilhões serão disponibilizados a juros livres, por meio de negociações envolvendo as instituições financeiras e o produtor. A verba total inclui recursos de R$ 550 milhões para o seguro rural.
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Na ocasião, o ministro da agricultura, Blairo Maggi, salientou que o agronegócio tem ajudado a fomentar o PIB do País. “Quando vendemos nossos produtos (agrícolas e pecuários), vendemos tecnologias de muitos anos. O Brasil não seria o produtor de alimentos que é hoje sem os conhecimentos tecnológicos que tem”, explicou. Conforme dados do ministério, os juros cobrados sofreram redução de um ponto percentual ao ano nos “programas prioritários” voltados à armazenagem e à inovação tecnológica na agricultura – ligados ao Programa para Construção e Ampliação de Armazéns (PCA), e ao Programa de Incentivo à Inovação Tecnológica na Produção Agropecuária (Inovagro), respectivamente. A taxa cobrada nesses dois progra-
mas é a mesma: 6,5% ao ano. Os juros cobrados para o custeio caíram de 8,5% e 9,5% ao ano para 7,5% e 8,5%. O Inovagro tem entre seus objetivos financiar equipamentos de agricultura de precisão e conta com R$ 1,26 bilhão em recursos, com limite de R$ 1,1 milhão por produtor. Ainda no âmbito deste programa, será disponibilizada uma linha de crédito para facilitar a conectividade no campo, em ações para informatizar e dar acesso à internet às propriedades rurais. Devido aos sucessivos recordes da safra – cujo último número aponta em 234 milhões de toneladas, segundo a Conab – o governo disponibilizou R$ 1,6 bilhão para investimento em armazenagem. Entre as entidades do setor agrícola, as repercussões variaram.
Na avaliação do vice-presidente da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Gedeão Pereira, o montante é expressivo - no entanto, há uma preocupação em relação ao acesso a esses recursos. Conforme o dirigente, no plano do ano passado, somente 63% do valor anunciado pelo governo chegou aos produtores rurais. Pereira considera ainda insuficiente o subsídio ao prêmio do seguro agrícola. Na avaliação da entidade, os R$ 550 milhões representam cerca da metade do montante que seria necessário para cobrir as necessidades dos produtores rurais. Segundo o economista-chefe do Sistema Farsul, Antônio da Luz, o número de produtores que tomaram crédito, ano a ano, vem caindo, o que demonstra um desalinho entre o plano safra e as necessidades dos produtores. Dos recursos anunciados para o apoio à comercialização, por exemplo, apenas 18% foram usados para essa finalidade.
Paulo Pires, presidente da Fecoagro
Além disso, o economista defende mudanças na formatação do plano, que, tendo um caráter anual, impede planejamentos a longo prazo. Luz reconhece, no entanto, os esforços do governo para realinhar os recursos destinados a alguns programas que são de alta demanda, como o Programa de Construção e Ampliação de Armazéns (PCA), e o Moderfrota, destinado à modernização da frota de tratores, implementos e colheitadeiras. Já o presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), Henrique Dornelles, considerou o novo plano adequado. Entretanto, conforme Dornelles, apesar de o plano ser coerente com a dificuldade que o Brasil atravessa atualmente, ainda é pouco para o contexto da agricultura. “Além disso, o produtor passa por dificuldades extras da atividade, como as questões de logística e de transportes, que são problemas para a competitividade do setor”, justifica. Dornelles salientou que, apesar da redução de um a dois pontos em determinadas linhas de financiamento, queda nos juros ainda é pequena para a necessidade dos produtores. “O corte nos juros foi modesto. Talvez para alguns economistas estes cortes foram positivos devido à inflação atual, mas para a agricultura, atividade com faturamento de ciclo anual, eles são altos, ainda mais se compararmos aos demais concorrentes do agronegócio”, completou. Para a Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado do Rio Grande do Sul (FecoAgro/RS), o plano anunciado foi o “possível”. Paulo Pires, presidente da entidade, destacou que a redução dos juros poderia ser mais em função da queda da inflação. Conforme Pires,
Ministro da Agricultura Blairo Maggi a taxa real é bem maior do que no ano passado, mas reconhece que houve um empenho por parte do Ministério da Agricultura. “Nos juros dos investimentos, por exemplo, se fez o possível. Como estava antes, era impossí-
Gedeão Pereira, vice-presidente da Farsul
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agropecuário, houve “avanços diante do ambiente político em que o País vive”. Para a CNA, o governo atendeu pleitos importantes, como a manutenção do prazo máximo de 15 anos do Programa de Construção e Ampliação de armazéns (PCA) e a criação da Comissão Consultiva de Entes Privados do Seguro Rural. A entidade destaca ainda a abertura do diálogo entre governo e setor privado para a modernização da política agrícola e afirmou que o desafio, agora, é garantir o acesso dos produtores rurais ao crédito.
Tarcisio Minetto, secretário da SDR vel realizar qualquer investimento”, completa. A Confederação Nacional da Agricultura (CNA) destacou que, embora o volume de recursos e as taxas de juro do plano estarem aquém das demandas do setor
Gerson Seefeld, diretor executivo da Central Sicredi Sul Sudeste
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Sicredi destina R$ 7,10 bilhões em crédito Com alta de 20% nos recursos, o Sicredi separou R$ 7,10 bilhões para Plano Safra 2017/2018 para os estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. A meta é realizar 118 mil operações de crédito rural. Do total de recursos, R$ 5,8 bilhões vão para custeio, comercialização e investimento em linhas do Pronaf, do Pronamp e demais produtos. Além disso, cerca de R$ 1,3 bilhão será direcionado para operações com fontes do Bndes. No ciclo anterior (2016/2017), o Sicredi liberou R$ 5,9 bilhões em crédito por meio de 107 mil contratos nos dois estados do Sul. “Como nosso olhar está direcionado para o crescimento sustentável do associado, buscamos entender suas necessidades para apoiá-lo no financiamento da produção. Assim, conseguimos gerar um efeito positivo que se estende a toda a comunidade”, avisa o diretor executivo da Central Sicredi Sul Sudeste, Gerson Seefeld.
O pequeno e médio produtor rural e a agroindústria familiar seguem como o segmento mais atendido pelo Sicredi no Brasil. No Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, este segmento representou 83,8% das operações realizadas no período 2016/2017. Ao todo, no Brasil, o Sistema Sicredi está disponibilizando mais de R$ 14,8 bilhões em crédito rural para o Plano Safra 2017/2018, projetando atingir cerca de 195 mil operações, entre custeio e investimento.
Sistema financeiro gaúcho oferta R$ 3,2 bilhões Por meio de três instituições financeiras ligadas ao Rio Grande do Sul – Banrisul, BRDE e Badesul – o governo estadual irá ofertar neste plano safra R$ 3,2 bilhões. O montante supera os R$ 3 bilhões liberados em 2016 e os R$ 2,8 bilhões de 2015. Dos R$ 3,2 bilhões, R$ 2,2 bilhões serão liberados pelo Banrisul, R$ 600 milhões pelo BRDE e R$ 400 milhões do Badesul. Os recursos são para linhas de crédito de custeio, comercialização e investimento. Entre as novidades, neste ano serão abertas linhas de crédito para o desenvolvimento da olivicultura e da pecanicultura (noz pecã). Conforme o secretário do Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo (SDR), Tarcísio Minetto, a boa aplicação de recursos de custeio e investimentos na safra passada rendeu R$ 30 bilhões de faturamento bruto somente com a produção e comercialização de grãos. “Por isso, o crédito é o principal indutor da produção e tem que estar à disposição na hora certa”.
DEFENSIVOS
Agroquímicos com mais controle
U
ma das maiores preocupações da agricultura, o controle sobre defensivos agrícolas e produtos químicos usados no campo conta com um novo sistema no Rio Grande do Sul. Lançado em junho, o Sistema Integrado de Gestão de Agrotóxicos (Siga) deve agrupar, em uma única ferramenta, todas as informações sobre a comercialização de defensivos agrícolas, permitindo que o Estado reforce o controle sobre o uso de pesticidas nas lavouras e utilize estatísticas para criar políticas de proteção à saúde e ao meio ambiente. O Siga será implementado pela Secretaria da Agricultura, Pecuária e Irrigação (Seapi). Conforme o secretário Ernani Polo, a medida disponibilizará dados verdadeiros às autoridades para rastrear ilegalidades. “O sistema possibilita que o Rio Grande do
Sul dê um passo de extrema importância para o futuro agrícola gaúcho”, avisa. O cruzamento de informações também permitirá investigar o uso de químicos aprovados para determinada cultura em outra. “Por meio do Siga, a Fepam (Fundação Estadual de Proteção Ambiental) vai regular o uso de agrotóxicos de forma inteligente, através de informações concretas e de fácil acesso”, acrescenta a secretária do Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Ana Pellini. No sistema, profissionais do setor também poderão consultar históricos de emissão, pesquisar receitas por culturas e pragas e emitir prescrições de receitas agronômicas no receituário eletrônico. A iniciativa garante maior segurança na recomendação, já que o Siga integra o banco de dados da Fepam, permitindo que os técnicos indiquem apenas
produtos químicos autorizados pelo Estado. Ainda faz parte do Siga uma ferramenta de controle aos estoques comerciais por meio digital, inserindo entradas e saídas que serão contabilizadas automaticamente. Além disso, possui banco de dados alimentado pela indústria com informações das bulas e rótulos dos produtos. O catálogo é livre para consulta e pode ser acessado no portal da Seapi. Atualmente, o Rio Grande do Sul possui cerca de 1,5 mil empresas registradas como comércios de agrotóxicos que, no passado, enviavam as movimentações de compra e venda de forma física. O método gerava de documentos, dificultando a análise. Agora, as empresas enviarão de forma eletrônica informações referentes à venda dos defensivos agrícolas. As companhias terão 90 dias para adequação ao sistema. O Estado será um dos pioneiros no Brasil ao disponibilizar dados concretos sobre o assunto. O Paraná foi o primeiro a implantar o Sistema de Monitoramento do Comércio e Uso de Agrotóxicos (Siagro) em 2010.
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SUÍNOS
Dois mercados, duas realidades
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esmo com os percalços da Operação Carne Fraca atingindo o setor – parte dos frigoríficos flagrados processavam derivados de porco – as exportações de carne suína terminaram ano passado em alta e continuam, em 2017, de vento em popa. Conforme a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), até maio, o volume é 29% superior aos cinco primeiros meses do ano passado devido ao câmbio favorável. Ao todo, os resultados chegam a US$ 658,7 milhões neste ano, frente a US$ 510,9 milhões em 2016. O levantamento inclui desde carne in natura a alimentos processados. Maior importador de carne suína do Brasil (com 40,3% do total), a Rússia foi destino de 111,1 mil toneladas entre janeiro e maio deste ano, volume 10% superior ao obtido no mesmo período do ano passado.
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Em segundo lugar, Hong Kong comprou 58,2 mil toneladas no mesmo período (21,1% do total), volume 22% inferior ao realizado nos cinco primeiros meses de 2016. Para a China (3° maior importador) foram embarcadas 22,3 mil toneladas (8,1% do total), volume também 22% menor em relação ao ano anterior. Consolidada na quarta posição, para a Argentina foram embarcadas 14,8 mil toneladas (5,4% do total), volume 80% superior na comparação com o ano passado. “Com crescimento expressivo desde meados de 2016, as exportações para a Argentina agora assumiram um papel estratégico nas vendas internacionais brasileiras, passando a liderar as vendas do setor de suínos na América do Sul”, ressalta Ricardo Santin, vice-presidente de mercados da ABPA. Santa Catarina, maior estado
exportador de carne suína do Brasil, embarcou entre janeiro e maio o total de 113,3 mil toneladas, volume 8% maior em relação ao mesmo período do ano passado. Em segundo lugar, o Rio Grande do Sul foi responsável pelos embarques de 78,8 mil toneladas no período (-10%). Paraná, com 37,9 mil toneladas (+4%), Mato Grosso, com 17,2 mil toneladas (-13%) e Goiás, com 14,7 mil toneladas (-39%) completam a lista dos cinco maiores estados exportadores. No mercado interno, entretanto, o cenário é diferente. Levantamento da Associação de Criadores de Suínos do RS (ACSURS) mostrou que, em junho, houve redução de R$ 0,10 no preço pago pelo quilo do suíno vivo ao produtor independente do Estado - ficando em R$ 3,46 (anterior R$ 3,56). Os custos, por outro lado, também reduziram. O valor da saca de 60 quilos do milho baixou alguns centavos, ficando em R$ 26,33 (anterior R$ 26,62). O preço do farelo de soja também caiu, ficando em R$ 1.005,00 no pagamento à vista (anterior R$ 1.025,00) e em R$ 1.025,00 no pagamento com 30 dias de prazo (anterior R$ 1.045,00).
MIX
Doce apoio Realizada em maio e junho em Pelotas, a Festa Nacional do Doce (Fenadoce) deste ano contou com a participação de 51 agroindústrias familiares do Rio Grande do Sul. Além das delícias, produtores levaram para a festa produtos como queijo colonial, artesanato, conservas, sucos orgânicos, vinho, cachaça e licores. Os pequenos empreendedores integram o Programa Estadual de Agroindústria Familiar (Peaf), que oferece qualificação técnica e ajuda nas questões sanitárias, ambientais e tributárias.
Ovos Os números mais recentes sobre a produção de ovos de galinha mostram retração do setor. No primeiro trimestre de 2017, o mercado recebeu 788,26 milhões de dúzias, volume 1,5% menor que o mesmo período do ano passado. As maiores reduções ocorreram no Paraná e no Mato Grosso. Com 29% da produção nacional, São Paulo lidera o ranking. O Rio Grande do Sul ocupada a quinta posição, com 3,3% do total.
Preço em queda Com valor de R$ 26,00 a saca de 60 quilos, o preço do milho está 50% menor neste ano quando comparado ao mês de junho do ano passado. Segundo a Scot Consultoria, a baixa liquidez no mercado interno e a maior disponibilidade do grão, além das exportações menores, explicam o comportamento dos preços. O avanço da colheita da segunda safra 2016/2017 deve exercer pressão ainda maior sobre as cotações – conforme a Conab, o total de milho colhido deve alcançar 94 milhões de toneladas.
Aquisição de alimentos A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) está com inscrições abertas, até 14 de julho, para agroindústrias familiares, associações e cooperativas interessadas em vender sua produção para o órgão federal. O programa de Aquisição de Alimentos (PAA) irá investir R$ 50 milhões na compra de gêneros alimentícios. Cada organização fornecedora poderá apresentar apenas um projeto, com valor máximo de R$ 320 mil. Para o agricultor, o limite é de R$ 8 mil. Informações em conab.gov.br.
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LEITE
Dos oito nutrientes analisados, os lácteos apresentaram custo competitivo para quatro deles: proteína, cálcio e vitaminas A e D. “Além de reforçar a importância do leite e seus derivados na alimentação humana, o estudo mostra que consumir produtos lácteos faz bem não apenas para a saúde, mas também para o bolso do consumidor”, avisa Kennya. Denominado Projeto Nutrileite, o estudo utilizou como base de dados a tabela nutricional e os produtos presentes na Pesquisa de Orçamentos Familiares do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ao todo foram investigados 443 alimentos e bebidas, dos quais 43 eram produtos lácteos.
Produto barato e nutritivo
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inda que o mercado lácteo tenha sido questionado sobre fraudes no setor em operações como a Leite Compen$ado, uma pesquisa recente da Embrapa confirma que o leite ainda é o alimento que melhor supre as exigências nutricionais humanas com menor custo. O trabalho investigou alimentos e bebidas consumidos pelos brasileiros e calculou quanto custa atender 30% das necessidades diárias de oito nutrientes: proteína, cálcio, ferro, fibras e vitaminas A, C, D e E. O estudo aponta o leite como uma das fontes mais baratas de nutrientes que existem. O leite integral, por exemplo, pode suprir 30% das necessidades de cálcio de um adulto sau-
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dável ao custo de apenas R$ 0,97 centavos. De acordo com a pesquisadora da Embrapa Gado de Leite Kennya Siqueira, que conduziu os trabalhos, os derivados do leite também ocuparam as primeiras posições no ranking de custo da vitamina D e obtiveram boa colocação no ranking de proteína e vitamina A. Quanto à proteína, o leite integral perdeu apenas para carnes, amendoim e ovo de galinha. Já em relação à vitamina A, o lácteo mais bem colocado foi o creme de leite, seguido pelo leite em pó desnatado, leite semidesnatado, manteiga e requeijão. O custo para se adquirir 30% das necessidades diárias de vitamina A por meio desses derivados lácteos é de menos de R$ 2,00.
No Brasil, produção crescente A produção atual brasileira está em torno de 33,6 bilhões de litros anuais – destaque para Minas Gerais e Rio Grande do Sul, os estados líderes. O rebanho leiteiro brasileiro é o segundo maior do mundo, ficando atrás apenas do da Índia. São cerca de 70 milhões de animais utilizados na pecuária de leite. Em 1961, o país produzia pouco mais de cinco bilhões de litros de leite. Em 2016, atingiu 35 bilhões de litros, um aumento de sete vezes em pouco mais de cinco décadas. As exportações brasileiras aumentaram com a abertura de novos mercados, como a China e a Rússia, que são os maiores consumidores de produtos lácteos do mundo. O país faturou US$ 167,90 milhões em 2016 com as exportações – este ano, de janeiro a abril, a conta alcançou US$ 45 milhões.
CENSO
O campo na ponta do lápis
O
Brasil se prepara para realizar um novo censo agropecuário. Realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o levantamento pretende visitar 5,3 milhões de propriedades rurais em todo o País – 415 mil delas no Rio Grande do Sul. A coleta de dados acontecerá entre 1 de outubro deste ano e fevereiro de 2018. Serão 18 mil pessoas envolvidas no trabalho. A pesquisa será digitalizada e os estabelecimentos, georreferenciados, dando agilidade ao processamento, análise e divulgação dos resultados, previstos para a partir de março do próximo ano. O último censo agropecuário foi realizado em 2006. Por falta de recursos, uma nova edição havia sido adiada e, neste ano, finalmente, o governo federal resolveu promover o censo. O questionário será mais enxuto, focando na
produção, tecnologias, uso da terra, mão-de-obra, comercialização dos produtos e o meio ambiente. O presidente da Emater-RS, Clair Kuhn, destaca que o levantamento irá respeitar as diferenças regionais para levantar um correto perfil das propriedades rurais. Kuhn também defende a construção de políticas públicas para a agricultura a partir dos dados levantados pelo IBGE. Inicialmente previsto para ocorrer a cada cinco anos, o censo agropecuário de 2017-2018 irá mostrar um Brasil agrícola muito diferente daquele retratado em 2006. A área plantada com soja, por exemplo, cresceu 10 milhões de hectares, enquanto o rebanho bovino aumentou em 13 milhões de cabeças. Também será preciso mapear a nova fronteira agrícola do Brasil, a região conhecida como Matopiba (formada por partes dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia).
No caso dos grãos, a produtividade teve ganhos impressionantes, mudando completamente o perfil e o tamanho da safra brasileira. Em 2006, saíram do campo 120 milhões de toneladas de soja, milho, arroz, trigo e outros cultivos. Onze anos depois, em 2017, a supersafra alcança 234 milhões de toneladas –quase o dobro (114 milhões de toneladas a mais). Em 2006, o Sul liderava a produção, seguido de perto pelo Centro-Oeste. Hoje, o panorama é outro: a força econômica de Mato Grosso, Goiás e Mato Grosso do Sul é incontestável – a região Centro-Oeste responde por quase 95 milhões de toneladas, enquanto o Sul produz 79 milhões de toneladas e o Sudeste 21,6 milhões de toneladas. No Nordeste, a safra soma 18 milhões de toneladas. Com tantos números vistosos, o orçamento não pode ser pequeno (apesar das reduções e atrasos). De acordo com o IBGE, o orçamento total do censo é de R$ 770 milhões – sendo R$ 500 milhões em 2017 e R$ 270 milhões em 2018. Serão contratados cerca de 26 mil trabalhadores temporários em mais de 4 mil municípios para a coleta dos dados.
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MARKETING
Força total nas máquinas
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ona de duas das marcas mais vendidas do mercado de máquinas agrícolas – Massey Ferguson e Valtra – a AGCO acredita que o ano de 2017 é de retomada nos negócios. Conforme o diretor de marketing da AGCO, Alfredo Jobke, a empresa investiu em novidades para este ano e prevê um cenário de crescimento de até 10%. O panorama é um alívio para o segmento de máquinas agrícolas, um dos mais castigados pela crise econômica que afeta o Brasil nos últimos anos e que – ao que tudo indica – está diminuindo. Dados da Associação dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) mostram que, até maio, os números são positivos: a venda interna de máquinas agrícolas cresceu 28% sobre o mesmo período de 2016: 17,3 mil máquinas comer-
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cializadas contra 13 mil unidades. Apenas nos tratores, o crescimento é de 34,5% - o mercado interno comprou 14,6 mil unidades neste ano, até maio, contra 10,8 mil de janeiro a maio de 2016. Para os fabricantes de máquinas e implementos, esse alívio começou em meados do ano passado, permitindo que o setor investisse em novidades para as grandes feiras deste ano – como Expodireto, Agrishow e Expointer – na tentativa de convencer o produtor rural a renovar suas máquinas. “O produtor rural é um homem cauteloso. Ele analisa as condições climáticas, o mercado de commodities, a questão cambial. Nos últimos semestres, ele percebeu que, para o agronegócio, a perspectiva era boa. E trabalhamos neste sentido também”, explica Jobke.
Conforme o executivo, o parque de máquinas agrícolas brasileiro ainda permite muito crescimento – cerca de 65% das máquinas em atividade têm mais de 15 anos. Há um espaço grande para renovação, embora agricultores de estados produtores da região Centro-Oeste, como Mato Grosso (líder hoje na soja), tenham aproveitado o boom de quatro anos atrás para comprar novos equipamentos. Em 2013, segundo a Anfavea, o mercado de máquinas agrícolas do Brasil atingiu seu auge: foram vendidas 82,7 mil unidades no país, com destaque para tratores de rodas e colheitadeiras. Três anos depois, a realidade era bem mais dura: 2016 finalizou com 42 mil máquinas comercializadas, redução de quase 50%. E para esta retomada, segundo Jobke, a AGCO está pronta, com as duas marcas com novidades para atender desde o pequeno produtor, com foco na agricultu-
ra familiar, até clientes de grande porte, compradores de colheitadeiras gigantescas. Tanto Valtra quanto Massey atuam em diversos mercados, sendo complementares entre si, com algumas diferenças. Apenas a Valtra, por exemplo, fornece máquinas para o mercado de cana-de-açúcar, um dos mais pujantes do Sudeste, com destaque para São Paulo. Há ofertas de tratores pequenos para agricultura familiar – indo de 50 cv até 85 cv – nas duas marcas, além de outros com mais potência. No caso das colheitadeiras, há algumas de menor porte (abaixo de classe 5, como o mercado chama) até colheitadeiras hoje de classe 9, das maiores que a indústria oferta. Esse perfil das máquinas mudou acompanhando as transformações do agronegócio. Jobke lembra que a área plantada no Brasil cresceu bem menos que a produtividade. Então, um trator utilizado nos anos 1970 tinha menos potência do que um necessário hoje porque a máquina acompanha essa evolução do campo”, ilustra ele. Naquela década, a média, em potência, era de 75 cv para os tratores – hoje, está em 90 cv. O mesmo vale para as colheitadeiras. A tecnologia aplicada a elas leva em consideração as necessidades da lavoura, que ganha cada vez mais em produtividade. “Somos parte de um mercado tecnológico que passa também pelas sementes e insumos melhores a cada ano. É um pacote que ajuda no crescimento da produtividade”, conta. Esse cenário positivo para o meio rural, de acordo com Jobke, passa também pela profissionalização do agricultor. “Você não ganha se arriscar com mudanças bruscas. O produtor brasileiro está mais capacitado em gestão e
tem condições de atender às necessidades de grandes mercados, como a China”, avalia. Condições favoráveis para isso o Brasil – e o Rio Grande do Sul – têm de sobra. “Aqui no Brasil, mais Argentina, Uruguai e Paraguai, são os únicos países do mundo com duas safras por ano. Esse diferencial competitivo é enorme e não ocorre nos Estados Unidos e na Europa. Você planta soja, depois milho. Aproveitamos a mesma terra. A América do Sul é o graneleiro do mundo e tem potencial para ir além”, finaliza Jobke.
As novidades deste ano Tanto Massey Ferguson quanto Valtra oferecem ao produtor rural novidades em máquinas e equipamentos agrícolas em 2017. No caso da Massey, são quatro novos modelos de tratores: MF 6700 Cabinado, MF 7200, MF 7700 Dyna-6 e MF 8700 Dyna-VT. Todos são equipados com
Alfredo Jobke, diretor de marketing da AGCO
A AGCO prevê um crescimento de 10% em 2017
motor eletrônico AGCO Power, que atende à nova legislação ambiental MAR-1 de redução de emissão de gases, apresentando alta performance. A potência varia entre 195 cv a 250 cv. Em colheitadeiras, os destaques da Massey são as linhas MF 4690, MF 5690, MF 6690, MF 9695 e MF 9895. Todas também já adaptadas ao MAR-1, as máquinas vão desde 200 cv de potência (caso da MF 4690, indicada para a agricultura familiar). Já os modelos MF 9695 (360 cv) e MF 9895 (470 cv) são mais robustos e projetados para propiciar altaperformance e eficiência operacional. Permitem 60% mais fluxo de grãos em condições de altaprodutividade. Na Valtra, o destaque em tratores são os quatro modelos da linha CVT - T195 CVT (195 cv), T210 CVT (210 cv), T230 CVT (230 cv) e T250 CVT (250 cv). Todos saem de fábrica com o câmbio CVT, completamente automático e com quantidade “ilimitada” de marchas. É a primeira vez que a tecnologia é oferecida em máquinas agrícolas no Brasil. A Valtra também disponibiliza novidades em colheitadeiras, pulverizadores e equipamentos específicos para a cultura da cana-de-açúcar.
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PRODUTIVIDADE
Tecnologia que aumenta a produtividade
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área colhida com cana-de-açúcar, milho e soja aumentou em 106,8 % em 25 anos no Brasil. No mesmo período, a quantidade produzida cresceu 197,4 %. Apesar de apresentar crescimento total de área e produção em todas as regiões do País, os aumentos não foram uniformes no espaço para as três lavouras. Os dados constam de estudo realizado por pesquisadores da Embrapa Meio Ambiente e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Informações sobre área colhida e quantidade produzida das três maiores culturas em área: soja, cana-de-açúcar e milho, fornecidas pelo IBGE no período entre
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1990 e 2014 mostraram a dinâmica da agricultura nacional. A análise focou o aumento no tempo e a mudança no espaço ocupado pela produção. Imagens de satélite foram utilizadas para exemplificar as mudanças de uso e cobertura do solo em algumas áreas escolhidas. Em 25 anos, a combinação do aumento da produtividade agrícola brasileira com a adoção em grande escala da prática da safrinha ou segunda safra (intensificação da agricultura) resultou em um aumento de 197% na produção dessas culturas, sem expandir a área cultivada na mesma proporção da produção. Conforme os pesquisadores,
“os avanços técnicos são responsáveis por grande parte dessas mudanças. Entretanto, também envolveu melhorias na infraestrutura e nas políticas públicas, além de maior inserção nos mercados internacionais. Estas considerações mostram que a agricultura brasileira optou por crescer via produtividade, um método moderno, baseado em ciência e tecnologia, que exige forte participação do setor público”. Essas três culturas apresentaram o maior volume de produção, em toneladas, e também ocupam maior área colhida, em hectares, entre as 31 culturas temporárias levantadas mensalmente pelo IBGE. Além de observar como o mapa da produção se altera ao longo do tempo, a partir dos dados do IBGE, a pesquisa mostrou como essa mudança registrada pelos números do levantamento agríco-
Loren Ipsum dolor sit ahmet la oficial se reflete no aspecto do uso do solo conforme identificado pelas imagens de satélite. No caso da soja, enquanto o número de municípios responsáveis por um quarto da produção brasileira quase não aumentou indo de 26 para 27 em 25 anos -, apenas 9 deles permaneceram no grupo de maiores produtores, o que demonstra a mudança geográfica ocorrida. A produtividade da cultura cresceu 52,6%. A cultura do milho passou por enormes transformações tanto na distribuição espacial como no nível tecnológico nos últimos 25 anos. Enquanto eram necessários 81 municípios para resultarem em um quarto da produção nacional em 1990, em 2014 apenas 24 foram responsáveis por 25% do total colhido. “Surgiram 16 novos destaques entre os municípios responsáveis pela produção do milho brasileiro. Pelo lado
tecnológico, a produção média nesse grupo de maiores produtores aumentou 113,1 %”, destacam os pesquisadores.
Recordes na lavoura Os levantamentos mensais sobre a safra brasileira, realizados tanto pela Conab quanto pelo IBGE, demonstram que o momento atual da agricultura nacional é de recordes. Pela última estimativa da Conab, em junho, a safra de grãos 2016/2017 será de 234,3 milhões de toneladas – aumento de 25,6% sobre a colheita anterior. Conforme a Conab, os responsáveis pela supersafra atual são o crescimento de área e as produtividades médias. A previsão é de ampliação de 3,7% na área total, podendo chegar a 60,5 milhões
de hectares, incluídas as culturas de segunda e terceira safras e as de inverno. A soja segue na ponta do levantamento. A produção da oleaginosa deve crescer 19,4% atingindo 113,9 milhões de toneladas, com ampliação de 1,9% na área plantada estimada em 33,9 milhões de hectares. No caso do milho total, a produção deve alcançar 93,8 milhões de toneladas, 41% acima da safra 2015/2016 – a Conab estima 30,3 milhões de toneladas para a primeira safra e de 63,5 milhões para a segunda. A área total deve ser de 17,3 milhões de hectares, com uma ampliação de 8,9%. Milho e soja respondem por quase 90% dos grãos produzidos no Brasil. Os números vistosos se repetem na produção agrícola do Rio Grande do Sul, terceiro maior produtor de grãos do Brasil (após Mato Grosso e Paraná). Em solo gaúcho, a safra deve passar de 33 milhões de toneladas, volume recorde. Destaque para os líderes soja (18,7 milhões de toneladas), milho (6 milhões de toneladas) e arroz (8,5 milhões de toneladas). Houve ganhos de produção nas três culturas. No arroz, a produtividade registrada passou para7.482 quilos por hectare. Com isso, a produção total subiu 14,3% (em 2016, foram 7,4 milhões de toneladas). Para o milho, o ganho na safra supera 21% - no período anterior, o montante foi de 4,7 milhões de toneladas. No caso apenas da soja, os números indicam um aumento naprodução de 12,53%, quebrando a barreira dos 18milhões de toneladas, contra as 16,2 milhões detoneladas do ano passado no RS. No total, a safra 2016/2017 dos principais grãosde verão no Rio Grande do Sul terá um aumento de 14,56% em relaçãoà passada.
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Livre de doenças O Brasil foi reconhecido pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) como país livre da pleuropneumonia contagiosa bovina (CBPP em inglês). De acordo com a OIE, “a concessão reflete a transparência e a qualidade do serviço veterinário do Brasil”.A pleuropneumonia é uma doença de bovinos e búfalos causada por bactéria. Ataca os pulmões e a membrana (pleura) que reveste o tórax. Por ser altamente contagiosa, com taxa de mortalidade de até 50%, causa grandes perdas econômicas.
Produção recorde Produção recorde Em mais um indicativo de que, apesar da crise econômica, o agronegócio ainda é um dos setores com melhor desempenho no Brasil, o valor bruto da produção agropecuária (VBP) de 2017 está estimado em R$ 546,3 bilhões - o maior dos últimos 27 anos. O montante é 5,3% superior ao de 2016, de R$ 519 bilhões. Os dados são do Ministério da Agricultura. O valor bruto das principais lavouras, estimado para este ano, representa 69% e a pecuária, 31%. O Rio Grande do Sul ocupa o quinto lugar no ranking dos Estados, com um VBP de R$ 55,1 bilhões.
Do RS para o mundo As exportações do agronegócio gaúcho fecharam os cinco primeiros meses do ano em US$ 4,138 bilhões, um crescimento de 4,5% em relação ao mesmo período de 2016. O bom desempenho dos grupos Soja (24,7) e Carnes (8,6%) garantiu o resultado positivo. Apenas em maio, último mês disponível, o setor exportou US$ 1,225 bilhão, equivalente a 68,5% do total comercializado pelo Rio Grande do Sul para o exterior, com um volume de 2,581 milhões de toneladas.
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Mais frango e açúcar Na contramão das notícias ruins sobre a carne bovina, desde o início de julho a União Europeia informou ao Ministério da Agricultura que irá aumentar as cotas de importação de carne de frango e de açúcar do Brasil. A UE se comprometeu a acrescentar mais 78 mil toneladas à cota de açúcar (hoje em 310 mil toneladas). No caso das carnes de aves, houve acréscimo de 4.766 toneladas à cota brasileira (mais que o dobro, hoje, de 2,3 mil toneladas por ano).