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PREPARO DA VACA

PARA A SECA

por Equipe Concept Plus Alta

Quando a seguinte pergunta “Estamos dando a devida atenção para as nossas melhores matrizes?” surge, estamos dando a devida atenção para as nossas melhores matrizes? Devemos antes responder outro questionamento. Quais são as nossas melhores matrizes do rebanho? Ou, provavelmente, a melhor e mais completa pergunta seria: que tipo de matriz entrega maior retorno financeiro para a fazenda? Diante desses questionamentos, podemos considerar e eleger as melhores matrizes do rebanho como sendo aquelas que produzem bezerros com qualidade (mais quilos de bezerro por desmame) e maior quantidade de bezerros ao longo da sua

“Estamos dando a devida atenção para as nossas melhores matrizes? Quais são as nossas melhores matrizes do rebanho? Que tipo de matriz entrega maior retorno financeiro para a fazenda?”

vida produtiva. O conceito de stayability, que avalia a capacidade da fêmea permanecer até 76 meses de idade no rebanho, parindo pelo menos 3 vezes, é uma característica que nos auxilia a identificar, em termos quantitativos, quais são essas melhores matrizes. Em relação à qualidade de bezerro produzido por safra (quilos do bezerro no desmame), existem dados interessantes avaliados por Carvalho (2017), que identificaram que os bezerros mais pesados da safra são oriundos das matrizes que mais perderam ECC do momento do parto até o DG da primeira IATF (Figura 1). Ou seja, essas matrizes produziram bezerros mais pesados, pois, provavelmente, conseguem mobilizar mais reservas corporais para a produção de leite, alimentando melhor as suas crias.

Figura 01: Peso médio dos bezerros das vacas do experimento, no momento do desmame e ajustado para 210 dias de idade, de acordo com alteração de ECC entre o parto e o DG da primeira IATF (80,6 +- 0,3 DPP; P < 0,0001). Araguaiana-MT, 2017. Fonte: Carvalho (2017)

Levando essas informações em consideração, voltamos à pergunta principal: será que estamos dando a devida atenção para essas matrizes? Muito provavelmente não. Pois esse problema de manejo nutricional não é fácil de ser resolvido, porque essas matrizes dificilmente terão adequada condição nutricional no início da estação reprodutiva subsequente, época de transição da seca para o verão, momento mais crítico de oferta de forragem no ano. Portanto elas terão mais dificuldade do que as outras

para emprenhar, tendo maior probabilidade de ficarem vazias, na próxima estação reprodutiva, e serem descartadas. Para evitar o risco de descartar as matrizes mais produtivas do nosso rebanho, devemos nos atentar ao ECC, principalmente no momento do parto. Como vemos na Figura 2, observamos que o nível de exigência de energia e proteína eleva, significativamente, durante o período próximo ao parto e início da lactação. Além disso, há uma baixa disponibilidade de folhas pelas pastagens, agravando ainda mais o balanço energético negativo durante essa fase. Portanto, durante esse período, é muito difícil recuperarmos o ECC da vaca recém-parida. Pensando nesse contexto, precisamos construir a melhor condição ambiental para as nossas melhores matrizes que parem no “cedo” da estação. Uma das melhores estratégias a ser tomada é planejar muito bem a entrada da fazenda para o momento da seca, aliviando ao máximo a carga animal, antes mesmo de iniciar o período do inverno.

Figura 02: Exigência nutricional de uma matriz Nelore ao longo dos diferentes momentos do seu ciclo produtivo anual e disponibilidade de forragem ao longo do ano (Adaptada de NASEM, 2016).

O planejamento já começa a ser executado logo após o diagnóstico final de gestação do rebanho. Essa atividade, ao final do período reprodutivo, é extremamente importante, pois é nesse momento que conseguimos identificar, quantificar e separar as matrizes que necessitarão de um plano nutricional estratégico adequado para enfrentar a restrição de oferta de forragem do período seco do ano.

O momento do diagnóstico final da estação reprodutiva coincide com o período de transição do verão para o inverno, em que as chuvas, luminosidade e temperatura começam a diminuir, o que provoca a desaceleração do crescimento das forrageiras tropicais. Portanto, nesse momento, precisamos agir rápido para diminuirmos a taxa de lotação da fazenda, a fim de darmos as melhores condições nutricionais para as matrizes.

O processo de diminuição da lotação da fazenda ocorre através do descarte de matrizes vazias da estação de monta, que pode ocorrer em duas etapas: a primeira consiste em eliminar as vacas vazias com bezerros em idade de desmame (mais velhos, bezerros do “cedo”) e a segunda etapa, as vacas paridas do “tarde” da estação de parição. Em

relação à primeira etapa, dependendo da estrutura da fazenda e plano nutricional adotado após o desmame, conseguimos descartar essas matrizes, em poucos dias, com boa taxa de ganho de peso e com bons retornos financeiros para a fazenda. Por exemplo, em um estudo publicado por Janini (2017), os melhores resultados de ganho de carcaça e GMD foram obtidos quando abateram as vacas com apenas 42 dias em regime de suplemen

“O planejamento já começa a ser executado logo após o diagnóstico final de gestação do rebanho”

tação de alto consumo a pasto. Esse estudo ainda conclui que, após muito tempo em regime de engorda, as vacas começam a acumular gordura abdominal, o que contribui para diminuir o rendimento de carcaça e retorno financeiro. Já em relação à segunda etapa, temos a dificuldade de rápida eliminação dessa matriz da fazenda, pois seus bezerros ainda são jovens e estão em fase inicial de adaptação de mudança de dieta do leite para pastagem. Existem diversas estratégias para contornarmos esse problema. Uma delas, bastante utilizada, seria realizar a desmama precoce específica para esses bezerros do “tarde”. Para isso, devemos prepará-los para esse processo através da utilização de creep-feeding para que possam ter uma melhor adaptação no pós-desmame. Outra estratégia que pode ser utilizada é o confinamento ou semiconfinamento, acelerando o ganho de peso das matrizes. É importante salientar que a escolha da estratégia a ser adotada para descarte dessas matrizes precisa ser elaborada por um especialista em nutrição e levar em conta a peculiaridade da estrutura física e disponibilidade de recursos financeiros de cada fazenda. Após termos resolvido o problema de lotação para a seca, precisamos voltar a atenção para as vacas que ficaram gestantes. Novamente, o mesmo estudo de Carvalho (2017) encontrou uma correlação positiva entre a condição de escore corporal (ECC) da matriz, no momento do parto, com a probabilidade de prenhez na 1º IATF em todas as categorias (Figura 3). Como a medida de ECC é de fácil leitura ao longo da gestação, e pode ser monito-

rado durante o período seco do ano, podemos estabelecer metas de proporção do rebanho com ECC adequado ao parto. Esse valor ideal do ECC, no momento do parto, pode ser ajustado para cada categoria de matriz. Utilizando a escala de 1 a 5, quando trabalhamos com multíparas, o valor ideal de ECC, no momento do parto, pode ser ≥ 3, já para categorias mais novas como a primípara, devemos estipular um valor de ≥ 3,5.

Figura 03: Representação gráfica da probabilidade de prenhez à primeira IATF de acordo com ECC ao parto em primíparas (P-0,006; linear), em secundíparas (P = 0,0009; linear) e em multíparas (P = 0,0012; linear) Nelore lactantes. Araguaiana-MT, 2017. Fonte Carvalho (2017).

De acordo com as metas de3. Nessa categoria mais jovem, terminadas de ECC, podemos para atingirmos a meta de ECC trabalhar o plano nutricional do ≥ 3,5, no momento do parto, período seco devemos destido ano, basená-las para os ado em dois “Podemos trabalhar melhores paspontos principais: categoria da matriz e data da previo plano nutricional do período seco do ano, baseado tos da propriedade, como, por exemplo, no caso de forsão do parto. em dois pontos ma nova em Para as novilhas que estão prenhas, que serão as principais: categoria da matriz e data da previsão do parto” projetos de integração-lavoura- -pecuária. Ainda assim, em futuras primímuitos casos, paras, precidevemos elaborar samos ter uma atenção maior proposta mais intensa de suplequanto ao monitoramento do mentação mineral, como, por ECC, pois é a categoria que mais exemplo, utilizar suplementação tem variação da probabilidade de proteica em diferentes níveis de prenhez de acordo com o ECC consumo, de acordo com a recocomo demonstrado na Figura mendação do nutricionista. Em

relação às multíparas, conforme a data do parto se aproxima, mais importante e intenso se torna o ajuste nutricional para atingir a meta do ECC. Adotando esse tipo de estratégia, conseguimos diminuir os custos com suplementação ao longo da estação de parição, através do monitoramento do ECC, conforme a data prevista do parto for se aproximando. Por fim, para termos bons resultados produtivos em uma fazenda de cria, temos que fazer um bom planejamento do ajuste da taxa de lotação durante o período de transição das águas para a seca. Além disso, também conseguimos atuar diretamente nas nossas melhores matrizes, utilizando diferentes planos nutricionais direcionados para cada categoria e momento do parto. Com isso, conseguimos ter um desembolso com suplementação mais consciente e enxuto, que proporcione adequado desenvolvimento da gestação, atingindo a meta do ECC no momento do parto, favorecendo a reconcepção logo no primeiro serviço, mantendo a distribuição dos nascimentos mais concentrada no início da estação de parição.

Adnan Rodrigues, Francisco Lopes, Isabella Marconato, Manoel Sá, Thais Pereira e Marcelo Oliveira formam a Equipe Concept Plus

Referências:

CARVALHO, R. S. Influência da alteração do escore de condição corporal e de hormônios metabólicos pós-parto na eficiência reprodutiva de vacas nelore inseminadas em tempo fixo. Dissertação (Mestre em Zootecnia), Universidade Estadual Paulista, Botucatu, São Paulo, 2017.

JANINI, A. P. R. Vacas de descarte terminadas em diferentes tempos de suplementação de alto consumo à pasto. Dissertação (Mestre em Zootecnia), Universidade Estadual Paulista, Jaboticabal, São Paulo, 2017.

NASEM (Naonal Academies of Sciences, Engineering, and Medicine). 2016. Nutrient Requirements of Beef Cale: Eight Revised Edion. Washington, DC: The Naonal Academies Press.

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