CURSO CINEMA DE TRANSGRESSÃO: Que novas experiências de representação para o ator/atriz a Belair inaugurou? HELENA IGNÊS: O estilo insurrecional da Belair, fazendo um cinema radical, só poderia existir com experiências de inovação para o ator/atriz. Para mim este foi o ponto central do meu trabalho de realização de personagens. Já anterior a Belair, em Mulher de Todos, essa insurreição já tinha sua fonte em Janete Jane no Bandido da Luz Vermelha. Para mim a Belair, neste sentido, foi a realização e supressão da arte da atuação. CCT: Como se dava as experiências de encenação? HI: A inversão sistemática exposta nos filmes da Belair num momento que a subversão desse cinema constrói um novo mundo, o pensamento é que a arte ou é revolucionária ou não existe, a encenação tinha características rigorosas e anárquicas. Livremente nós atores nos dirigíamos a câmera e tínhamos o corpo livre depois de fechados os ensaios. Posso citar Otoniel Serra em Copacabana Mon Amour como perfeito exemplo disso, a função do ator na construção do espetáculo anti-‐espetáculo, transformando seu próprio trabalho em jogo cênico. Acredito que na Belair foi feita a “festa que é revolução”. CCT: Quais as diferenças e proximidades entre os estilos de direção e visão de cinema entre Sganzerla e Bressane? HI: Essas diferenças e proximidades estão expostas no trabalho de ambos os criadores, nos seus estilos. Da Belair saiu um cinema revolucionário que exercia a desconstrução política e aspirava transformações sociais, “o novo cinema deverá ser imoral na forma, para ganhar coerência nas ideias, porque, diante desta realidade insuportável, somos antiestéticos para sermos éticos...Mas é preciso lutar. Estamos aí para isso mesmo. Em verdade, hoje existem dois cinemas: o novo rico e o cinema de guerrilha. Nesta última perspectiva é que se alinha a nova geração. Não sei bem quem é a nova geração, mas sei que está aí”, escreveu Sganzerla. O que é transgressão? As respostas serão diferentes em tempos históricos diferentes e pontos de vistas diferentes...mas é tudo que você até arrisca
a vida para afirmar, como a liberdade de pensamento e de ser e o papel da arte transformando-‐a em parte da construção da vida comum.