Esquadrinhamentos e deambulações

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Esquadrinhamentos e deambulações Bruno Reis Esquadrinhar o espaço com o corpo. Deambular por uma cidade. Pensar uma sessão de cinema é sempre tentar formular aproximações, tensionar diferenças. Fortaleza Idade Média, de Eric Barbosa e A Fera do Clima, de Andréia Pires e Lucas Girino são filmes que lidam com o espaço de maneiras muito diferentes, mas me arrisco na formulação de que são duas obras que tentam, cada uma à sua maneira, construir uma dramaturgia do espaço.

Em Fortaleza Idade Média temos dois movimentos. Primeiro o de um título- metáfora, que tenta articular junto com a trilha sonora uma espécie de narrativa sensorial, um modo de perceber um espaço. Um movimento que não se completaria, sem um segundo gesto, o do esquadrinhamento de dois espaços bastante específicos, a Catedral da cidade e um cemitério. Esses dois gestos, é claro, são simultâneos. O segundo, porém, o de traçar de maneira minuciosa secções e perspectivas do espaço, me parece que se submete de certa forma ao primeiro. De traços góticos, a catedral, mesmo em dia de chuva, contrasta com a luz forte do sol de Fortaleza. Sua superfície externa, puída, escura, parece à parte do interior, quase clean, meio sala de estar de médico. Que Fortaleza é essa que o filme vai revelando?

Existe um percurso que vai de um espaço religioso ao cemitério. O medievo é, de certa forma, construído como espaço de decadência, monumentalidade esvaziada da presença humana. Há uma potência sensorial muito forte na maneira como trilha e imagem se articulam. A banda sonora cria uma narrativa, de fato uma outra temporalidade que não a da duração cronológica.

O curta trabalhar com um rigor de enquadramento que constrói uma espacialidade própria do filme, mais do que simplesmente registar um espaço. A catedral vira de ponta a cabeça. Há um olhar que produz experiências de sufocamento e amplidão, desnorteamento, se descolando de uma representação euclidiana do espaço. O quadro produz volumes, vertigens, assim como a trilha produz um discurso. Um discurso sensorial, que escapa inclusive da metáfora da cidade como espaço medieval. Há uma dissonância possível, quando a música se liberta da excessiva harmonia imposta pela Igreja. A dissonância era proibida no medievo. É ela, também, a base do heavy metal. Outras estratégias aparecem em A Fera do Clima. Andréia Pires e Lucas Girino percorrem, em plano-sequência, o espaço de um apartamento. A partitura desse percurso é feita de rolamentos, suspensões, trepadas na parede, nos móveis, nas portas. Há basicamente uma exploração intensiva das superfícies de uma habitação e dos corpos dos performers. O jeito de fazer o reconhecimento do apartamento é rolar junto, até que as roupas todas saiam, enquanto luzes de strobo e a música eletrônica intermitentes acompanham esses corpos.

Existe um terceiro corpo alí, que é o corpo da câmera. Sempre muito próxima, em planos médios, ela acompanha o encontro dos corpos dos performers enquanto deambulam pelo espaço. Embola-se junto com eles. Se em Fortaleza Idade Média há um itinerário claro a ser


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