Nº 392 Edição Brasil

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BRASIL

Inbursa

Votorantim BCI

ancolombia Crédito

DESAFIOS DO CRESCIMENTO A MISSÃO DO NOVO PRESIDENTE

Banco do Davivienda Nordeste ARGENTINA GOVERNO PERDE PODER

FUNDOS DE PENSÃO DIVERSIFICANDO ATIVOS

250

www.americaeconomiabrasil.com.br

BBVA

Futurecom: feira destaca inovações em banda larga

BBVA Bancomer

Safra

Federal

Caixa Econômica

Bradesco

Banco Estado Banco de Chile Itaú MAIORES Nación BANCOS da América Citibank

No 392 OUT./2010 R$ 8,90

nco

Chile nesco

SBC

Banco do Brasi Latina

Mercantil del Norte Baname

BANCO DO BRASIL REASSUME LIDERANÇA DO RANKING E BUSCA OPORTUNIDADES NO EXTERIOR

Santander



nesta edição

Seções 04 06 08 08 10 12 26 56 76 78 80 82

Portal Carta ao Leitor Cartas Índice de Empresas Pistas Negócio Fechado Movimentos Opinião – Caio Megale I-biz Clics & Chips Opinião – Humberto Mariotti Linha Direta

66 ESPECIAL Bancos

Negócios

14 18 22

Vinhos Concha Y Toro ao gosto do Manchester United Biodiversidade Falta de marco legal prejudica negócios Aviação Mercado foca na América Latina

40

36 42 43 48 54

Os Melhores e Maiores da América Latina Banco do Brasil reassume liderança Balanço do ranking Instituições mostram força depois da crise Os 25 melhores Santander Chile se mantém no topo Os 250 maiores Brasileiros novamente são destaque Bancos verdes Projetos sustentáveis em foco

Finanças

58

Fundos de pensão Diversificando a carteira de investimentos

Imagens: montagem de Denis S. Cardoso

Debates

62 66 68

Economia Os desafios do próximo governo Argentina A queda de braço entre a presidente e o Congresso Mercosul Bitributação com os dias contados

ESPECIAL Telecomunicações

70

Futurecom Banda larga é estrela principal Outubro, 2010 AméricaEconomia 3


portal

www.americaeconomiabrasil.com.br

Mais brasileiros na classe média A classe média não para de crescer no país. A pesquisa “A Nova Classe Média: O Lado Brilhante dos Pobres” – divulgada pela Fundação Getulio Vargas (FGV) – mostra que 29 milhões de pessoas migraram para a classe C entre 2003 e 2009. Desse total, mais de 3 milhões cruzaram a fronteira entre 2008 e 2009, momento em que o mundo atravessava a fase mais aguda da crise financeira. O pesquisador Marcelo Nery, que comandou o estudo, diz que essa camada, com renda entre R$ 1.126 e R$ 4.854, representa mais da metade da população brasileira, e seu poder de compra só tem aumentado. O levantamento foi feito com base em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Siga o site da AméricaEconomia no Twitter: twitter.com/AEBrasil

EDIÇÃO: AINÁ VIETRO (AVIETRO@AMERICAECONOMIA.COM)

No topo dos investimentos A ONU apontou o Brasil como o terceiro país em que as empresas mais pretendem investir até 2012. A pesquisa, feita com 236 multinacionais e 116 agências de promoção de investimentos, foi anunciada durante reunião da Conferência da ONU para o Comércio e Desenvolvimento (Unctad). A China ficou em primeiro lugar, indicada por mais de cem empresas, seguida pela Índia. O Brasil teve 70 indicações. Segundo o Banco Central, o país já recebeu US$ 14,7 bilhões só nos primeiros sete meses de 2010.

Menos fome

Em artigo para AméricaEconomia, José Graziano da Silva, representante da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) na América Latina e no Caribe, comenta o relatório da FAO que indica a primeira queda no número de pessoas subnutridas no mundo nos últimos 15 anos. Ele aponta, porém, que a América Latina, que tem a produção agropecuária como motor de crescimento, sofre o paradoxo de ter 29,5% da população rural como indigente. 4 AméricaEconomia Outubro, 2010

TV paga para todos Mais de 28 milhões de brasileiros têm acesso à TV paga no país. Isso significa 15,1% da população, de acordo com a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), ou 8,6 milhões de domicílios com TV por assinatura. O maior crescimento é registrado na TV paga via satélite, que tem abrangência de 42,2%. A TV a cabo, no entanto, ainda está na liderança, com 53,9% do mercado.

Foto: SXC com montagem de Denis S. Cardoso; Ilustração: Denis S. Cardoso

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carta ao leitor

BRASIL www.americaeconomiabrasil.com.br

PUBLISHER José Roberto Maluf CONTEÚDO Diretora de Redação: Tatiana Engelbrecht Editora Executiva: Solange Monteiro Diretora de Arte/Projeto Gráfico: Janaína Diniz Editor-assistente: Luís Eduardo Leal Repórter: Graziele Dal-Bó Editora do Site: Ainá Vietro Revisão: Assertiva Produções Editoriais Produção Gráfica: Eduardo Keppler Infografia: Anna Luiza Aragão Colaborador: Denis S. Cardoso (assistente de arte) COMERCIALIZAÇÃO Diretor Comercial: Mauro Machado – mauro@springcom.com.br Executivos de Contas: Nagibe José Adaime – nagibe@springcom.com.br Rogério Ferreira – rogerio@springcom.com.br MARKETING Marcia Leonardi, Elisangela Silva e Rafael Borsanelli

Os mais robustos da América Latina A

tivos de quase US$ 3 trilhões (no ano fechado em 31 de junho) e um crescimento de 14% em relação ao período an-

terior e muito acima do alcançado antes da crise. De fato, os banqueiros latino-americanos não têm do que se queixar. Esta edição de AméricaEconomia que você tem em mãos traz o Ranking dos 250 Maiores Bancos da América Latina, estudo realizado anualmente pela empresa AméricaEconomía Intelligence. Os resultados do ranking demonstram que as finanças da região estão mais sólidas e menos vulneráveis às pressões econômicas. O estudo revela também as 25 instituições financeiras que apresentaram o melhor desempenho. Transformando a crise em oportunidade, o Banco do Brasil

ADMINISTRATIVO/FINANCEIRO Diretor Executivo: Eduardo Colturato Gerente Financeiro: Edison Arduino

reassume a liderança do ranking e se consagra como o maior

CIRCULAÇÃO Gabriela Beraldo

ativos, o BB foca sua estratégia na internacionalização e mira

Pré-impressão: First Press Periodicidade: Mensal (Outubro de 2010) CTP, impressão e acabamento: IBEP Gráfica Circulação auditada por: SPRING EDITORA-PRODUTORA Rua Ferreira de Araújo, 202, 7o andar – CEP: 05428-000 São Paulo/SP – Tel.: 11 3097-7666 Site: www.springcom.com.br E-mail: contato@springcom.com.br AMÉRICAECONOMÍA INTERNACIONAL Diretor: Elias Selman Carranza Vice-presidente Executiva: Gloria Landabur C. Diretora Internacional de Marketing: Mica Selman Diretor Editorial: Felipe Aldunate M. Editores: Fernando Chevarría (Lima), Juan Pablo Rioseco e Víctor Herrero (Santiago), Karen Correa e Pamela Velasco (Guaiaquil) Diretor de Arte: Álvaro Araya Urquiza Editor de Fotografia: Miguel Candia Diretor de Circulação: Marcial Delcorto Gerente de Produção: Constanza del Río Moreno AMÉRICAECONOMÍA INTELLIGENCE (Estudos e Projetos Especiais) Diretor: Jaime Contreras Soria Pesquisador Sênior: Andrés Almeida Analista: Paulina Saavedra, Catherine Lacourt e Evelyn Quezada AMÉRICAECONOMIA.COM Diretor de Estratégia Digital: Rodrigo Guaiquil Editor: Lino Solis de Ovando ESCRITÓRIOS Buenos Aires: +5411 4383-8410 Cidade do México: +5255 5254-2400 Costa Rica: +506 225-6861 Lima: +511 610-7272 Miami: +305 648-9071 Panamá: +507 271-5327 Santiago: +562 290-9400 Uruguai: +5982 901-9052 Chairman: Robert R. Paradise

6 AméricaEconomia Setembro, 2010

banco da América Latina. Com um total de US$ 362 bilhões em mercados como África, América do Sul e Estados Unidos. Além do excelente desempenho do Banco do Brasil, as demais instituições financeiras no país não decepcionam e ocupam as cinco primeiras posições no estudo. O fim da bitributação no Mercosul, as perspectivas para o mercado de aviação na América Latina, os desafios econômicos do próximo presidente brasileiro e a queda de braço na Argentina entre a presidente e o Congresso são outros temas desta edição. Aproveite a leitura. José Roberto Maluf

ASSINATURAS Central de Atendimento Tel: 55 11 3512-9492, de 2a a 6a feira, das 9h às 18h. Site: www.assineamericaeconomia.com.br. Atendimento: www. assineamericaeconomia.com.br/faleconosco. Cartas: Rua Ferreira de Araújo, 202 – 12o andar – CEP 05428-000 – São Paulo/SP Valores de assinatura: Por 1 ano: R$ 96,00 / Por 2 anos: R$ 170,90 Pagos em até 5x no cartão de crédito ou em até 3x no boleto bancário (preço válido para as vendas realizadas pela Central de Atendimento e pelo website da revista). Exemplares anteriores: solicite diretamente ao jornaleiro. Em caso de descontinuação da publicação, a Spring Editora-Produtora LTDA. garante aos assinantes desta publicação a restituição, em reais, da parte do valor já pago correspondente aos exemplares não entregues, devidamente corrigida monetariamente. Ao fazer sua assinatura, exija a credencial do vendedor e pague sempre com cheque nominal, mediante recebimento da primeira via de nosso pedido de assinatura.


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cartas INGRESSO CARO - I O Brasil não é um país desenvolvido, há muito por fazer, mas é um dos principais mercados do Bric e atrai investimento estrangeiro. Estou de acordo quando falam da alta burocracia (“Quanto Vale o Show?”, AméricaEconomia No 391, setembro, 2010), mas isso não impede de fazer negócios com o Brasil. É preciso ter uma assessoria especializada na legislação local. Caso contrário, problemas poderão acontecer, não só no Brasil, quanto em qualquer outro país do mundo. LICENCIADO TORRETI CIDADE DO MÉXICO, MÉXICO

INGRESSO CARO - II Sou brasileiro, mas vivo no Canadá. Trabalho com desenvolvimento de mercado para a América Latina. Estudo “Affaires Internationales” na escola de negócios HEC Montreal e sempre tento explicar como as coisas funcionam no Brasil. Por isso, gostei muita da reportagem (“Quanto Vale o Show?”, AméricaEconomia No 391, setembro, 2010), pois o Brasil realmente é um mercado com uma cultura bastante complexa. ANDRÉ OLIVEIRA MONTREAL, CANADÁ

BATALHA AÉREA Quanto à sua reportagem sobre a fusão LAN/TAM (“O Desembarque”, AméricaEconomia No 391, setembro, 2010), agora será interessante ver a batalha entre LAN e Avianca. A Avianca tem o setor de carga consolidado na Colômbia (maior mercado da região) e uma agressiva estratégia de penetração no Brasil nesse segmento (Synergy-Avianca). Quanto a passageiros, a vantagem é da LAN; por outro lado, com a integração Avianca/Taca, os colombianos continuam se expandindo na América Central e até podem chegar ao México, o que poderia mudar o panorama. VICENTE A. – BOGOTÁ, COLÔMBIA

ERRATA: O nome correto do curso de

MBA do Insper publicado na matéria “Sem Fronteiras”, da edição No 391, de setembro, é MBA Executivo em Gestão de Saúde HIAE – Insper. 8 AméricaEconomia Outubro, 2010

índice de empresas Os números referem-se à primeira vez em que as empresas são citadas em cada reportagem.

3G Capital

12

Citigroup

55

Manchester United 15

AB Inbev

12

Comac

23

Marfrig

38

ABN Amro

55

Concha Y Toro

14

MMX

12

Accenture

77

Constellation

15

Motorola

76

Ágora Corretora

39

Corpbanca

55

Muraro Y Asoc.

66

Airbus

22

CPM Braxis

12

Natura

18

Alcatel-Lucent

71

EGO Emp. Part.

28

Nokia Siemens 62, 74

Alenia Aeron.

23

Embraer

23

Odebrecht

ALL Logística

12

FGV

4, 64

Petrobras

38 38, 58

Andean Resources 12

Fractal

39

Philips

78

Andes Wines

15

Gallo

16

Prospectiva

69

Avolon

24

Goldcorp

12

Rarus

19

Azul

23

Google

31

Rede D’Or

10

Banchile Invers.

16

GVT

74

Research In Motion 78

Banco do Brasil

38

Hardy’s

16

Romer y Asoc.

Bancolombia

55

Hospital São Luiz

10

Santander

Barclays

55

HSBC

39

Silver Lake Sumeru 10

BM&FBovespa

28

IBM

73, 77, 80

Boeing

22

IDC

Bradesco

39

Insper

BTG

10

Intangible Bus.

16

Trump Realty Brasil 28

Burger King

12

Irkut

23

UBS

38

Camargo Corrêa

38

Itaú

39

Unibanco

39

Capgemini

12

LAN

22

Vale

Cia. Mex. de Aviac.

24

LG

78

Verax

61

Locaweb

10

WestLB

55

Cisco

75, 77

67 39, 55

SK Networks

12

77

Sukhoi

23

10, 38

Tradaq

30

38, 58


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pistas

Sem descanso PUBLICAMOS Para Carlos Suslik,

estrangeiro PUBLICAMOS “Quando no México e na Argentina falamos do porte da Locaweb, as pessoas ficam espantadas com nossos 200 mil clientes”, diz Gilberto Mautner, presidente da companhia, confiante no potencial de seu negócio na região. Entre outros números da empresa, estão 2,3 milhões de contas de e-mail, meio milhão de domínios, 320 mil sites e 4,67 mil lojas virtuais. (“Lá Vem a Nuvem”, AméricaEconomia No 387, maio, 2010)

O NOVO O movimento não abrange só os pequenos. Em setembro, o banco BTG – por meio da Rede D’Or – adquiriu o controle do Hospital São Luiz, com três unidades e 803 leitos. Com isso, a rede passa a contar com 17 hospitais próprios e dois sob gestão, no Rio, em São Paulo, no Paraná e em Pernambuco.

O NOVO A Silver Lake Sumeru – responsável pelo fundo de investimentos em mercado de médio porte da Silver Lake, que administra US$ 14 bilhões em ativos –, anunciou que investirá na empresa. O montante não foi revelado. “Estamos impressionados com o sucesso da Locaweb nos últimos 12 anos e esperamos colaborar com seu time de gestores”, afirmou Kyle Ryland, Managing Director na Silver Lake Sumeru, na ocasião do anúncio.

Troca de mando PUBLICAMOS Sem orçamento extra nem aumento de salário. Esse foi o primeiro recado da ministra de Economia do Peru, Mercedes Aráoz, ao assumir o cargo, em dezembro de 2009. “O presidente Alan García me apoiou.” (“Apertar os Cintos”, AméricaEconomia N o 386, abril, 2010)

O NOVO García decidiu afastar sua ministra, apesar de o crescimento do país não ter sido afetado. A decisão ocorre numa tentativa de reverter o baixo nível de popularidade de García – com desaprovação de 63% em agosto. Também se especula que tal saída seja uma estratégia para preparar a ministra como candidata da situação para as eleições presidenciais de 2011. 10 AméricaEconomia Outubro, 2010

Bolívia industrial PUBLICAMOS “O motivo do nosso crescimento não é o boom das matérias-primas”, diz o ministro das Finanças e Economia da Bolívia, Luis Arce Catacora. A demanda interna está crescendo 6% ao ano. Em 2007, criou-se o Banco de Desenvolvimento Produtivo, que, em 2009, ofereceu empréstimos a cerca de 15 mil pequenos produtores. (“As Chaves da Evonomia”, AméricaEconomia No 391, setembro, 2010)

O NOVO O vice-presidente da Bolívia, Alvaro García Linera anunciou em setembro um plano para industrializar o país, com prazo de cinco anos e investimentos de US$ 17 bilhões. “Temos de fazer esse esforço para romper com 500 anos como produtores de matériasprimas”, disse a uma rádio local. Entre os projetos estão uma nova refinaria, uma hidrelétrica e duas plantas para processar zinco.

Ilustrações: Denis S. Cardoso

Impulso

coordenador do MBA em Gestão de Saúde do Insper, em São Paulo, o movimento de consolidações é natural. “A maioria dos hospitais do Brasil possui menos de cem leitos, o que compromete a lucratividade”, diz. (“Energia Revigorada”, AméricaEconomia No 391, setembro, 2010)



negócio fechado MMX BURGER KING

Tacada brasileira

A rede de fast food Burger King – segunda maior dos Estados Unidos, atrás do McDonald’s – foi adquirida pela empresa brasileira de private equity 3G Capital, em um acordo que envolve cerca de US$ 4 bilhões. Entre os sócios da 3G Capital estão Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles, que também figuram entre os principais acionistas da AB InBev, maior cervejaria do mundo e que controla a AmBev. Bernardo Hess, ex-ALL Logística, será o novo presidente da rede. VALOR: US$ 4 bilhões

Parceiro sul-coreano A MMX, do empresário Eike Batista, anunciou a venda de US$ 700 milhões em ações da empresa para o grupo sul-coreano SK Networks. Adicionalmente, a operação contará com um aumento de capital da MMX, que deve totalizar US$ 2,2 bilhões. A companhia brasileira também fará uma oferta pública de permuta para adquirir dos acionistas da LLX e da Centennial, unidade do grupo EBX, a totalidade das ações da LLX Sudeste Operações Portuárias, por aproximadamente US$ 2,3 bilhões. VALOR: US$ 700 milhões

CAPGEMINI

Controle total A Capgemini, empresa francesa de serviços de tecnologia da informação, comprou 55% das ações de emissão da CPM Braxis, assumindo o controle acionário da brasileira. A francesa pagará R$ 517 milhões pela participação na CPM Braxis, que tem um valor estimado em R$ 970 milhões. VALOR: R$ 517 milhões

GOLDCORP

O grupo canadense Goldcorp adquiriu uma importante jazida na Argentina, de propriedade do grupo Andean Resources. O valor da transação foi de US$ 3,4 bilhões. A Andean Resources já tem o projeto de mineração Cerro Negro (ouro e prata), situado na província de Santa Cruz. “Cerro Negro pode gerar uma produção significativa de ouro a baixo custo em um período relativamente curto”, destacou o diretor geral da Goldcorp, Chuck Jeannes. VALOR: US$ 3,4 bilhões 12 AméricaEconomia Outubro, 2010

Fotos: Shutterstock

Mineração na Argentina


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NEGÓCIOS Bebidas

Questão de

terroir

A CHILENA CONCHA Y TORO GANHA MERCADO INTERNACIONAL, MAS SEU CRESCIMENTO PODERÁ SER LIMITADO PELA CAPACIDADE DE PRODUÇÃO

MATÍAS RODO YURICEVIC, DE SANTIAGO 1

34 AméricaEconomia Outubro, 2010


á alguns meses, Eduardo Guilisasti, gerente geral da vinícola chilena Concha y Toro (CYT), recebeu pelo correio uma bola de futebol. Mas não era qualquer bola. Essa chegava diretamente da Inglaterra e tinha estampadas as logomarcas da Concha y Toro e do time de futebol inglês Manchester United. Era um convite do clube de futebol para que a vinícola fosse sua patrocinadora por três anos. Tal episódio reflete o reconhecimento internacional conquistado pela companhia, fundada em 1883 por Melchor Concha y Toro e que, em 2009, registrou faturamento de US$ 643 milhões, com vendas em 135 países. “Queremos que as exportações representem 70% de nossa produção”, diz Guilisasti, indicando que, hoje, esse percentual é de 35%. “Assim, seríamos a maior vinícola exportadora do mundo.” A preocupação em concretizar essa meta tem seus motivos. Depois de anos de crescimento espetacular, a companhia assume ser difícil manter o mesmo ritmo ascendente no longo prazo e chegar ao tamanho de concorrentes como a californiana Constellation, com produção anual de 83 milhões de caixas de 9 litros e vendas de mais de US$ 3,5 bilhões ao ano. “A Concha y Toro quer crescer com o que tem e sob o guardachuva da sua própria marca”, diz Guilisasti, afi rmando que a empresa não tem a intenção de comprar operações em outros países para ganhar escala. “O mercado do vinho é dinâmico e deverá continuar assim.” A aposta da companhia está em manejar como joia o terroir, ou seja, a combinação da qualidade da terra com o clima e a irrigação, e cuja experiência é impossível de replicar tal qual em outra latitude. “Nenhum enólogo, por melhor que seja, conseguirá fazer com que um Don Melchor tenha um mesmo sabor sendo produzido em diferentes partes do mundo”, diz Maximiliano Morales, consultor da Andes Wines. A demanda crescente por vinhos novos e diferentes também atomiza o mercado. “Constantemente são criados nichos, que impulsionam novas vinícolas em nível mundial”, diz René Merino, presidente da Associação de Vinhos do Chile. “Países como Espanha, França e Itália têm mais de mil vinícolas cada, pois os consumidores buscam vinhos cada vez mais exclusivos”, diz Merino. “No caso da Concha y Toro, se [os proprietários] estiverem longe, não poderão controlar o produto desde o início, como gostam de fazer. Ao comprar sociedade em outra vinícola, teriam sua estrutura desconstruída”, diz Maximiliano Morales, da consultoria Andes Wines. De fato, a Viña Trivento, única fi lial da Concha y Toro fora do Chile, na vizinha Argentina, tem um peso pouco relevante no faturamento do grupo. Mesmo localizada em Mendoza,

Fotos: 1 - Morten Andersen; 2 - Divulgação

H

ALFONSO LARRAÍN (COM A GARRAFA NA MÃO) APERTA A MÃO DE DAVID GIL, CEO DO MANCHESTER: PONTAPÉ INICIAL RUMO À ASSOCIAÇÃO

2

“A Concha y Toro quer crescer com o que tem, e sob o guarda-chuva de sua própria marca.” EDUARDO GUILISASTI

gerente geral da vinícola CYT

que tem clima semelhante ao do Vale Central chileno, não atrai a mesma dedicação dos donos – ainda assim, está entre as cinco mais importantes da Argentina, com produção de 2,6 milhões de caixas de 9 litros. “Além do mais, não é fácil trabalhar na Argentina, já que lá existem algumas incertezas macroeconômicas e regulatórias”, acrescenta Guilisasti. Mas o país tem uma vantagem incontestável: uma plataforma de imagem bem mais potente que a do Chile, “além do fato de já trabalhar muito bem a uva Malbec, com boa aceitação no mercado estrangeiro”, diz o executivo da Concha y Toro.

REDE PRÓPRIA Para aumentar suas exportações partindo do Chile, a vinícola passou a lançar mão de uma estratégia muito mais controlada, com uma integração vertical voltada à distribuição. Em 2009, focou-se em potencializar a rede de vendas em países com alto potencial de crescimento: Brasil, Finlândia, Noruega e Suécia – que ganharam distribuição própria –, além de Estados Unidos e Inglaterra, dois países que representaram mais Outubro, 2010 AméricaEconomia 15


NEGÓCIOS Bebidas

Superfícies plantadas Hectares de vinhedo

Empresa

- Foster’s Group (Austrália/USA/Nova Zelândia)

15.114

- Pernod Ricard (França/Austrália/Argentina)

11.026

- Concha y Toro (Chile/Argentina)

9.300

- Constellation (USA/Austrália/Nova Zelândia/Canadá)

8.990

A empresa também está se preparando para atender uma demanda crescente dos consumidores por produtos ambientalmente corretos e será a primeira vinícola a medir a “pegada de água” de sua produção, com a ajuda da Fundación Chile e da organização holandesa Water Footprint Network. O mecanismo consiste em medir a quantidade total de água usada na fabricação de vinho, da plantação da uva ao engarrafamento.

Fonte: Concha y Toro

O CUSTO CHILE Ser uma companhia eminentemente exportadora, como é o plano da Concha y Toro, não a exime de problemas. Susanne, da Banchile, aponta que a de vinho engarrafado* companhia tem de lidar com altos custos de transPaís 2009 2008 Variação porte, por conta da localização periférica do Chile em de origem relação aos seus principais concorrentes, que estão Espanha 504 553 -8,7% exatamente dentro dos maiores mercados, como o Austrália 460 514 -10,3% dos EUA e da Europa. “Para enfrentar isso, a empresa tem de focar seu mix de produtos nos vinhos mais Chile 410 386 6,4% nobres, que garantam melhores margens, para moEstados Unidos 205 240 -14,6% derar o impacto.” Além disso, há o efeito-dólar, que África do Sul 239 224 6,8% vem perdendo valor frente às moedas de economias Argentina 216 211 2,4% emergentes. “Para uma empresa voltada à exportaFonte: Fontes oficiais do setor em cada país, * em milhões de litros ção, a volatilidade cambial pode ser um risco.” organizado por Concha y Toro Outra desvantagem é que o terroir chileno é menos conhecido que o de outros países, como Estados Unidos, França ou Austrália, de 50% das vendas da companhia no afetando diretamente os preços ano passado. Em março deste ano, ao consumidor final. a vinícola inaugurou uma fi lial em Para enfrentar a intempérie, Cingapura, para impulsionar os nea companhia busca a diversifigócios na Ásia. Segundo a empresa, cação geográfica e de moedas. Canadá, Brasil e Ásia (China, Japão Além disso, trabalha constantee Coreia) apresentam um grande mente sua marca nos diferentes potencial no curto e no médio prazos mercados, com resultados posie estão incluídos no plano de desentivos. O estudo “The Power 100: volvimento da indústria para os próximos dez anos. Além disThe World’s Most Powerful Spirits & Wine Brands 2010”, feito so, a empresa conta com executivos que vendem diretamente pela consultoria inglesa Intangible Business, posiciona a viaos varejistas locais, dispensando intermediários. “Sua rede nícola chilena em segundo lugar – depois de ocupar a terceira de distribuição internacional é uma das mais eficientes do posição por quatro anos consecutivos –, tomando o lugar da setor”, diz Morales, da Andes Wines. “E esse é um dos grandes australiana Hardy’s e atrás da norte-americana Gallo. Além segredos do negócio.” disso, o gerente geral da Concha y Toro é reconhecido como Susanne Linhardt, analista da Banchile Inversiones, um dos 50 atores mais importantes do mercado vinícola aponta outras vantagens da vinícola: uma boa relação com os mundial, segundo a revista inglesa Decanter, especializada supermercados e lojas especializadas, garantindo um espaço em vinhos. privilegiado de exposição, forte investimento em campanhas Agora, a Concha y Toro começará a colher os gols de ver publicitárias e promoções, além de grande variedade de prosua marca nos painéis do estádio Old Trafford e nas tribunas dutos, que permite cobrir a maior parte dos segmentos. e bares do estádio do Manchester United.

Exportação

A empresa deverá focar os nichos mais nobres para moderar o

impacto da volatilidade cambial

16 AméricaEconomia Outubro, 2010



visão verde

Sustentabilidade

para poucos

FALTA DE UM MARCO REGULATÓRIO EFICIENTE PARA O USO DOS RECURSOS DA BIODIVERSIDADE EMPERRA PROJETOS E INVIABILIZA NEGÓCIOS GRAZIELE DAL-BÓ, DE SÃO PAULO

astanha para combater o ressecamento da pele, murumuru para domar os cachos, priprioca para perfumar. Princípios ativos como os descritos acima, todos pertencentes à biodiversidade brasileira e conhecidos pelos benefícios que podem proporcionar quando transformados em cremes, xampus e águas de colônia, ganharam rapidamente a simpatia dos consumidores. O que parece não ser tão rápido, porém, é o processo para desenvolver esses produtos. Tudo porque, segundo empresários e especialistas na área, o país ainda não tem um marco regulatório eficiente para o uso dos recursos genéticos brasileiros. “A legislação é antiga, precisa ser revista. Essa Medida Provisória [MP] que está aí é muito ampla e gera insegurança jurídica para todo mundo”, dispara Caio Magri, gerente de Política Pública do Instituto Ethos. A MP a que Magri se refere é a 2.186, de 2001, que instituiu o Conselho de Gestão do Patrimônio Genético (CGen) e regulamentou o acesso aos recursos genéticos da biodiversidade brasileira, considerada uma colcha de retalhos burocrática e ineficiente.

C

As críticas vêm, sobretudo, do setor produtivo. A Natura, que trabalha com 26 comunidades e mais de 2 mil famílias no Brasil e no Equador, tem “algumas dezenas” de projetos parados por conta dessa burocracia, afirma o diretor de Sustentabilidade da empresa, Marcos Vaz. A maior reclamação da Natura é com relação à aprovação das pesquisas. “Para conseguirmos a autorização, precisamos dizer o que vamos fazer, quanto vai custar, qual o retorno disso. Mas o próprio nome diz, é uma pesquisa, há coisas que não sabemos. É o caso de defi nir o que veio primeiro, o ovo ou a galinha”, diz. A secretária de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente, Maria Cecília Wey de Brito, contesta essa afirmação, alegando que as exigências não são tão específicas 18 AméricaEconomia Outubro, 2010

Fotos: Divulgação

QUEDA DE BRAÇO


PROCESSO PARA AUTORIZAÇÃO DE USO DA MATÉRIA-PRIMA NATURAL PODE LEVAR UM ANO

e que muitos obstáculos sem eficácia prática em relação ao uso do patrimônio genético brasileiro já foram retirados da MP. Entretanto, reconhece que a legislação tem, sim, seus problemas. “Um novo texto [um Anteprojeto de Lei (APL)] está em estudo na Casa Civil. O problema é que a aprovação disso, depois, dependerá do interesse do Congresso, que pode ser rápido ou demorar 20 anos, como aconteceu com a Política Nacional dos Resíduos Sólidos.”

PARA POUCOS Enquanto a decisão não é tomada, os trâmites para a fabricação de itens a partir de recursos naturais continuam na berlinda, situação que trava os motores do setor frente a um cenário dinâmico, em um mercado que, nos últimos anos, registrou crescimento muito acima da média da indústria geral no Brasil (veja gráficos na pág. 20). Segundo Vaz, da Natura, além de implicar um longo processo – a aprovação do CGen pode levar de seis meses a um ano –, desenvolver esse tipo de produto gera custos altos. “Temos de contratar antropólogos, advogados, economistas para colocar tudo na ponta do lápis. Isso sem saber se a coisa dará certo ou não”, diz. “A Natura consegue fazê-lo porque é uma empresa grande, mas e as menores? O uso da biodiversidade precisa ser democratizado. Hoje, é só para alguns”, afirma. Sérgio Costa Gomes Neto, CEO da Rarus Naturals, do Rio Grande do Norte, acha que a simplificação das regras aumentaria a velocidade de suas vendas, que, neste ano, devem chegar a R$ 12 milhões. A Rarus trabalha com a fabricação de cosméticos e produtos farmacológicos a partir de recursos naturais da Caatinga brasileira, com foco no consumidor fi nal. Também fornece

Legislação atual protege

a floresta brasileira, mas prolonga a espera para a aprovação de pesquisas com plantas

Outubro, 2010 AméricaEconomia 19


visão verde

Beleza pura Nos últimos 14 anos, setor cresceu mais que a média no Brasil Indústria da higiene pessoal, perfumaria e cosméticos

10,4%

Fonte: Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec)

Indústria em geral

2,3% PIB

2,9%

para outras indústrias, que compram suas essências. O acesso às 15 comunidades com as quais tem parceria é feito por meio da ONG Fitovida, também do Rio Grande do Norte. Hoje, a empresa estuda cerca de 40 plantas diferentes para o uso em seus produtos. Dessas, apenas 12 já estão sendo comercializadas – entre elas, o princípio ativo da aroeira, do angico, do cajueiro roxo e da canela da caatinga. “Não posso deixar de reconhecer que a legislação, sendo ela como for, beneficia a conservação das nossas florestas, mas a espera para a aprovação das pesquisas ainda é longa”, diz Gomes Neto. Magri, do Instituto Ethos, ainda ressalta outro problema gerado por uma lei fraca no que diz respeito à biodiversidade: a falta de uma fiscalização eficiente. “Pergunto-me por que as empresas dos Estados Unidos, por exemplo, têm 20 vezes mais projetos utilizando a biodiversidade brasileira do que as daqui”, indaga ele, concluindo que há uma série de questões complementares que devem ser levadas em conta na hora da regulamentação defi nitiva.

PROBLEMA MUNDIAL

Essa necessidade de unanimidade vem sendo criticada por muitos especialistas, sobretudo porque os interesses são muito diferentes. De um lado, estão nações em desenvolvimento e chamadas “megadiversas” – grupo no qual o Brasil se inclui – que querem agilizar o processo e desejam um protocolo vinculante, ou seja, obrigatório. Do outro, os países ricos, com a preferência por negociações mais lentas e pelo regime voluntário. O Brasil já deu a entender que, se os entendimentos sobre o marco regulatório não avançarem, não estará disposto a ajudar em qualquer outro tipo de negociação durante a COP-10. “Nós sabemos que é arriscado. Pode ficar a sensação de que o Brasil não quer reduzir suas emissões, mas também é preciso acelerar esse processo”, disse Paulino Franco de Carvalho Neto, chefe da divisão de Meio Ambiente do Ministério das Relações Exteriores, durante um seminário sobre sustentabilidade realizado recentemente em São Paulo. Mas como ficam os trâmites para uma lei no país se o regime mundial for realmente definido? Carvalho Neto assegurou que os dois marcos regulatórios serão complementares. “A Convenção aconselha que os países tenham suas legislações próprias”, afirmou. Entre as metas que estarão em discussão durante o evento em Nagoya estão planos bem ambiciosos, como a redução total da perda de biodiversidade e a retirada de todos os incentivos, até 2020, a projetos que possam ser prejudiciais ao meio ambiente. Resta saber de que forma os países cumprirão o que for acordado no Japão, já que as metas definidas para o período 2002-2010 não foram alcançadas.

Se no Brasil a MP que regulamenta o uso da biodiversidade – de forma satisfatória ou não – é criticada, em nível mundial não há qualquer documento que estabeleça regras para esse processo. Oportunidades crescentes O assunto, aliás, será um dos pontos centrais da Principais mercados de higiene pessoal, Conferência das Partes da Convenção sobre Diversiperfumaria e cosméticos no mundo dade Biológica (CDB) – a COP-10 –, que acontece neste Receita Evolução da País (US$ bi em 2009*) Receita (em %) mês de outubro, em Nagoya, no Japão. A discussão é antiga. Um Regime Internacional EUA 58,9 -1,3 para Acesso e Repartição de Benefícios começou a ser Japão 39,9 6,6 estudado em 2004, durante a COP-7 de Biodiversidade, Brasil 28,4 3,2 na Malásia, quando foi criado um grupo de trabalho China 20,8 10,4 específico sobre o tema. De lá para cá, pouca ou nenhuma evolução aconteceu, pois não houve consenso Alemanha 17,4 -4,2 entre as nações – todas as decisões nas Conferências Total 350,3 -2,1 mundial das Partes necessitam de voto igual dos países signaFonte: Euromonitor tários, não existindo a figura da “maioria”. 20 AméricaEconomia Outubro, 2010

Participação (em %)

16,8 11,4 8,1 5,9 5,0 100 *Preço ao consumidor



NEGÓCIOS Aviação

Sem

descanso A AMÉRICA LATINA É HOJE UM DOS MERCADOS MAIS PROMISSORES PARA O TRANSPORTE AÉREO E DEVERÁ CONTINUAR ASSIM PELOS PRÓXIMOS ANOS

Airbus e a Boeing, as duas maiores construtoras de aviões comerciais do mundo, começaram o segundo semestre a todo vapor. Após quase dois anos da crise econômica que afetou seriamente a aviação, ambas as companhias conquistaram contratos bilionários no último salão internacional Farnborough Airshow, promovido em julho, na Inglaterra. A Airbus foi a campeã de vendas, com 255 aviões avaliados em US$ 28 bilhões – 50 deles para a chilena LAN –, contra 206 aeronaves da rival norte-americana, a Boeing, que faturou US$ 23 bilhões. Um dos destaques da feira, neste ano, foi a América Latina. “No passado, o

A

22 AméricaEconomia Outubro, 2010

mercado se recuperava graças ao motor da economia norte-americana, ajudado um pouco pela Europa Ocidental. Agora, quem vai nos tirar da recessão serão o Brasil, a China, a Índia e o resto da América Latina”, afi rma John Leahy, executivo-chefe de Operações Junto aos Clientes e principal executivo de vendas da Airbus. As estatísticas corroboram essa tendência. De acordo com a Iata (Associação Internacional do Transporte Aéreo), entidade que representa 230 companhias aéreas em 115 países, o tráfego aéreo de passageiros na região subiu 11,9% em junho deste ano, e o transporte de carga aérea cresceu

26,5%, comparado a junho de 2009. No mesmo período, as companhias aéreas latino-americanas apresentaram um aumento no tráfego de passageiros de 14,7% e de 44% em carga. De fato, a América Latina é hoje uma das regiões em que o transporte aéreo mais cresce no mundo, e as perspectivas para o futuro são igualmente animadoras. Projeções da Iata e dos principais fabricantes mundiais indicam que o transporte aéreo na América Latina deverá crescer a um ritmo superior ao da média mundial nos próximos 20 anos. Enquanto o crescimento médio mundial deverá girar em torno de 4,7% ao ano, na América Latina é estimado

Fotos: Divulgação

VALTÉCIO ALENCAR, DE SÃO PAULO


JOHN LEAHY, DA AIRBUS: PAÍSES DA AMÉRICA LATINA DARÃO IMPULSO AO SETOR

em 5,8%. Segundo um estudo de mercado apresentado no início deste ano pela Airbus, a frota de aeronaves comerciais na região deverá mais do que dobrar nas próximas duas décadas, passando dos atuais 940 aviões de passageiros e 80 cargueiros para 2.117 aviões de passageiros e 149 cargueiros. Isto representa um mercado potencial avaliado em US$ 163 bilhões.

PARA TODOS A Embraer também colheu bons resultados na feira da Inglaterra, anunciando encomendas e compromissos de compra para 191 aeronaves, avaliados em US$ 6,88 bilhões. Apenas cinco saíram da

cliente Azul Linhas Aéreas, que decidiu investir US$ 850 milhões em aeronaves francesas ATR 72-600, comprovando o ressurgimento dos turboélices. Novos fabricantes, em especial russos e chineses, também mostraram disposição para competir no mercado internacional. A russa Sukhoi ultrapassou a marca de cem pedidos para o Superjet 100, jato para 98 passageiros desenvolvido em conjunto com a italiana Alenia Aeronautica, cuja certificação europeia está prevista para o ano que vem. Sua compatriota, a Irkut, anunciou um total de 130 encomendas para seu jato MS-21, oferecido em três versões (150, 181 e 212 passageiros), que deve

chegar ao mercado em 2016 e promete ser 15% mais eficiente dos que os atuais concorrentes. Já a Comac (Commercial Aircraft Corporation of China) está desenvolvendo o modelo C919, que deverá entrar em operação em 2016 e competirá com os jatos da Airbus e da Boeing no segmento de 150 a 200 passageiros. Os sinais positivos da economia mundial animaram fabricantes, companhias aéreas e empresas de leasing. “O aumento no tráfego de passageiros e de carga é um bom sinal, pois o transporte de carga aérea é sempre o primeiro a reagir”, afirma Andrew Shankland, vice-presidente de Marketing da Airbus. “Outro sinal positivo é Outubro, 2010 AméricaEconomia 23


NEGÓCIOS Aviação MAURO KERN, DA EMBRAER, APOSTA EM NOVAS ROTAS NO BRASIL. ABAIXO, AVIÃO DA LAN, UMA DAS GRANDES CLIENTES DA AIRBUS

que o mercado premium, de Primeira Classe e Executiva, também está voltando a crescer”, ressalta Shankland. Ele já detecta sinais de recuperação na Europa Ocidental, na América do Norte, na região da Ásia-Pacífico e em países emergentes, como o Brasil. “As economias emergentes estão indo muito bem, com crescimento de dois dígitos; na verdade, nunca estiveram em crise”, atesta o executivo da Airbus. É a mesma análise feita por Michael Lillis, presidente da Diretoria Consultiva da empresa irlandesa de leasing Avolon. “Algumas regiões do mundo vivem uma situação particularmente dinâmica, como a China”, diz Lillis. “O mercado latino-americano está crescendo, sendo que o Brasil é muito promissor, sobretudo pelo aumento da demanda doméstica e internacional”, acrescenta o consultor da Avolon. As companhias aéreas da região também vivem bom momento. Em março deste ano, durante o seminário Wings of Change, realizado em Santiago do Chile, o presidente da Iata, Giovanni Bisignani, informou que a América Latina foi a única região do mundo em que as companhias aéreas apresentaram lucro no ano passado, de 24 AméricaEconomia Outubro, 2010

US$ 800 milhões. Bisignani acha que as companhias latinas deverão repetir este mesmo resultado em 2010, ficando atrás apenas das empresas da Ásia-Pacífico, que deverão lucrar US$ 900 milhões. O único mercado que hoje destoa desse cenário é o México, que vive um problema de oferta excessiva. Isso ocorre porque o mercado mexicano é muito atrelado ao norteamericano, e a crise do transporte aéreo afetou bastante os Estados Unidos. A companhia Mexicana de Aviación, uma das maiores daquele país, já acusou o golpe e recentemente declarou concordata.

MAIS JOVENS O estudo elaborado pela Airbus sobre o mercado latino-americano aponta outros fatores que deverão favorecer a expansão do transporte aéreo na região. Um deles é o fato de a América Latina operar uma das frotas mais jovens do

22% foi o crescimento da frota de jatos na América Latina desde o ano 2000

mundo, com idade média de 10,6 anos, contra uma média de 16,6 anos registrada em 1996. Isso se traduz em maior nível de segurança e maior eficiência para as companhias. Além disso, 65% do tráfego intrarregional concentra-se em apenas 20 aeroportos, de um total de 286 existentes na região. Ou seja, existe muito potencial para a aviação se expandir. Além disso, 75% da capacidade ofertada também está concentrada em cinco países. O Brasil responde por 37% desse total, seguido por México (18%), Colômbia (8%), Argentina (6%) e Chile (4%). A frota latino-americana de jatos comerciais cresceu 22% desde 2000 e 61% dos voos intrarregionais têm ocupação apropriada para jatos de 70 a 110 assentos, o que deve impulsionar o mercado regional. Esse mesmo fenômeno já pode ser visto no Brasil. “Hoje há mais potencial para nossos aviões no Brasil, com a abertura de novas rotas e a inserção de novos passageiros”, diz Mauro Kern, vice-presidente executivo de Novos Projetos da Embraer. Kern acha que ainda há espaço para outras empresas atuarem no país. “Existem muitas cidades que são mal atendidas”, reforça o vice-presidente da Embraer. Outro exemplo da força do mercado regional é o fato de a Azul Linhas Aéreas ter comprado os 20 turboélices ATR 72-600 em Farnborough. Com menor capacidade e menor consumo de combustível, esses aviões começarão a ser entregues no segundo semestre de 2011. “Vamos servir cidades do interior paulista, pois temos uma lista de 40 cidades que eram servidas por voos regulares de turboélices e que agora não recebem mais voos”, comenta David Neeleman, fundador e presidente do Conselho de Administração da Azul. Os turboélices têm consumo mais eficiente em viagens de até 800 km e a ideia da Azul é ligar grandes centros a cidades de baixa densidade.


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movimentos

Termômetro executivo No final de agosto, AméricaEconomia participou de evento promovido pela empresa de relacionamento corporativo Consulting House, com 250 executivos, no Guarujá. Na ocasião, perguntamos aos participantes sua percepção sobre o futuro de seus negócios e da economia do país. Entre os resultados, destacamse o otimismo quanto ao crescimento, e a percepção de que, em se tratando de juros e câmbio, o novo governo não trará mudanças. Veja os resultados:

1 Números estimados para: (média calculada com base no total das respostas)

Crescimento do PIB (%) Taxa Selic (%, em 31 de dezembro)

2010

2011

6,35

5,38

10,30

10,27

1,73

1,82

Dólar (R$, em 31 de dezembro)

2

Você acha que o crescimento de sua empresa será maior em 2011 do que foi em 2010? 6,7%

Ficará no mesmo nível

16,6% 76,7%

Não

Sim

3 Você planeja contratar mais em 2011 do que em 2010? Não

5 Em caso positivo, como os financiará?

13,3% 20% 66,7%

Outro Recursos 3,4% externos por meio de emissão de ações

Ficará no 4 Sua empresa projeta novos mesmo nível investimentos produtivos para 2011?

10%

13,3%

Sim

Não 6,7% 73,3% 93,3%

Recursos externos via endividamento

Capital da empresa

Sim

6 Você acha que o primeiro ano do governo do novo presidente poderá provocar algum tipo de instabilidade que afetará o seu negócio?

7 Você avalia que a possibilidade de sua empresa se envolver em um processo de fusão ou aquisição (como vendedora ou compradora) em 2011 é: Nula

73,3%

Não

13,3%

26,7% 33,3%

Sim Alta Baixa

Média 36,7%

26 AméricaEconomia Outubro, 2010

16,7%



movimentos

COMÉRCIO SUL-SUL As trocas comerciais no mundo já não estão ancoradas na característica secular das relações Norte–Sul. No relatório “Panorama da Inserção Internacional da América Latina e do Caribe”, a Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe) indica que os intercâmbios Sul–Sul se converteram em um motor do crescimento mundial, o que aumenta sua relevância, dado o estancamento das demandas nos países desenvolvidos. Segundo a Cepal, entre 2003 e 2008, 18% do intercâmbio comercial dos países latino-americanos ficou na região, e quase 30% nos países emergentes. No caso do Oriente Médio e dos países asiáticos em desenvolvimento, esse percentual oscila entre 30% e 50%. Apesar da queda generalizada em 2009, nos últimos três anos, o comércio intrarregional tem crescido de forma sustentável e logo poderá recuperar seu nível máximo, registrado em 1997. Um dado interessante: a região que mais cresceu dentro da América Latina, no ano passado, foi a América Central, com 23% do total exportado. CARLOS TROMBEN, DE SANTIAGO

Abaixo da linha do Equador Evolução das trocas comerciais* 2005 – 2008

América Latina e Caribe

Europa Central e Leste Europeu

África

Oriente Médio

Países asiáticos em desenvolvimento

Comércio Sul-Sul

América Latina e Caribe

18,4

1,3

1,7

1,1

6,4

28,9

Europa Central e Leste Europeu

1,6

19,4

1,4

3,2

7,5

33,1

África

1,7

0,3

10,0

2,4

15,5

29,9

Oriente Médio

0,2

0,9

3,8

12,2

33,6

50,7

Países asiáticos em desenvolvimento

2,4

2,1

2,6

2,9

37,4

48,5

Comércio Sul-Sul

4,2

3,5

3,1

4,5

27,8

Fonte: Cepal, sobre a base de dados da OMC e das Nações Unidas – Comtrade

43,1 * em US$ bilhões

SALA DE AULA

CHINESA No ano passado, a China superou os Estados Unidos e se transformou no maior destino das exportações brasileiras. Apesar da densidade das relações comerciais alcançada nos últimos anos, o intercâmbio educacional entre Brasil e China ainda é tímido. Para contribuir para a supressão dessa lacuna, a Câmara Brasil-China de Desenvolvimento Econômico e o Instituto Confúcio, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), realizam entre os dias 22 e 23 de outubro, no Memorial da América Latina, em São Paulo, a Feira de Universidades Chinesas 2010, reunindo 26 instituições de ensino e pesquisa. As áreas de interesse abrangem de agricultura e eletrônica a artes e comunicações. “Na feira, será possível ter esclarecimentos sobre como obter bolsas de estudos oferecidas tanto pelas universidades quanto pelo governo chinês para estudantes estrangeiros”, explica o diretor-geral da Câmara Brasil-China, Tang Wei. LUIS EDUARDO LEAL, DE SÃO PAULO

28 AméricaEconomia Outubro, 2010


TROCA-TROCA

A AGÊNCIA QUE FAZ NEVAR NO BRASIL. A resistência à crise e a expansão da economia brasileira têm rendido bons negócios nos setores mais inusitados. Exemplo disso é a rede online de permuta Tradaq, focada no B2B. “Os últimos anos foram muito bons, com crescimento de até 25%”, diz Marco Del Giudice, diretor Comercial da empresa. Segundo Giudice, a vantagem do modelo de negócios da Tradaq é que cada transação gerada é revertida em créditos em uma “conta corrente” de uma companhia. Ou seja, o fornecimento de um produto a determinado negócio não implica a permuta por um produto ou serviço do mesmo. “Quanto mais nossa base aumenta e se diversifica, mais liquidez geramos para as empresas”, diz. O executivo destaca o uso do sistema por pequenas e médias empresas que necessitavam quitar créditos inadimplentes e convenceram seu credor a inscrever-se no site. Dessa forma, o credor buscou algo de seu interesse, que foi pago por créditos da devedora, lançando mão de estoques parados ou capacidade ociosa, que interessavam a um terceiro. Com uma base de 1,1 mil associados em São Paulo e Campinas, agora a Tradaq pretende atender o mercado do Rio de Janeiro, onde inaugurou seu serviço em setembro. SOLANGE MONTEIRO, DE SÃO PAULO

Fotos: SXC

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Outubro, 2010 AméricaEconomia 35 Ou

11 3525 3323


movimentos

Engordar a lista A BM&FBovespa pretende ampliar para 5 milhões o número de investidores na Bolsa nos próximos cinco anos. Embora louvável, a iniciativa deveria ser combinada com a busca por ampliação da base de companhias com capital aberto, argumentou a presidente da Apimec (Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais), Lucy Sousa, durante o 21º Congresso da entidade, realizado em agosto, em Belo Horizonte. “O market capitalization per capita no Brasil é muito alto. Existem 348 empresas listadas, a base é ridícula. Nos Estados Unidos, são 5 mil. É importante que se amplie a base de investidores, mas é válido também que ocorra uma expansão dos emissores”, disse a presidente da Apimec. “Mesmo sem mexer na regulamentação, é possível baixar os custos de abertura de capital. As corretoras poderiam liderar as operações de menor porte, ficando os bancos com as grandes operações. Os serviços ficaram tão caros porque estão concentrados nas mãos de meia dúzia. Há um oligopólio nas emissões, exercido por poucos grandes bancos.” LUIS EDUARDO LEAL, DE BELO HORIZONTE

IMÓVEL DE LUXO Neste ano, o 7 de setembro ganhou uma comemoração especial em Nova York. Esse foi o dia escolhido para a assinatura da joint venture Trump Realty Brasil, sociedade entre Donald Trump e a brasileira EGO Empreendimentos e Participações, liderada pelo empresário Ricardo Bellino. O foco da nova companhia será o mercado imobiliário de luxo, com empreendimentos nas áreas comercial, residencial e hoteleira. Segundo Bellino, o mercado de luxo no Brasil deverá movimentar US$ 10 bilhões somente em 2010. “A marca Trump apresentará diferenciais nos empreendimentos locais dedicados a esse segmento”, diz. Atualmente, a grife imobiliária Trump reúne 70 empreendimentos em vários países. SOLANGE MONTEIRO, DE SÃO PAULO

30 AméricaEconomia Outubro, 2010

4

Fotos: 3 - Zhou Junxiang/AFP; 4 - iStockphoto; 5 - SXC com montagem de Denis S. Cardoso

3


COLONIZANDO A

INTERNET

5

As pesquisas por meio do Google crescem ano a ano, e as empresas começam a identificar sua importância, tanto em momentos de crise quanto de oportunidades. Na América Latina, o destaque é o Brasil, onde mais dinheiro é destinado à publicidade na internet e as buscas feitas no Google cresceram 1.126% entre 2005 e 2010. No Chile, esse aumento foi de 637%, e, na Colômbia, de 527%. Daniel Gertsacov, diretor do Google para América Central, Caribe e Países Andinos, afirma que um dos casos de maior destaque no Brasil é o da Unilever, que dedica mais de 10% do investimento publicitário à web, incluindo no Google. “Em países como Chile, Peru e Colômbia, as empresas destinam, em média, apenas 3% de seus investimentos publicitários à internet”, diz. “Queremos que esse percentual cresça dois dígitos nos próximos três anos.” PATRICIA ZVAIGHAFT, DE SANTIAGO

Outubro, 2010 AméricaEconomia 35


GUATEMALA: ASCENSÃO SUSTENTÁVEL RUMO À LUZ O turismo e os negócios colocaram o país sobre uma onda de prosperidade que os especialistas estimam continuar em alta nos próximos anos.

legendário aviador Antoine de Saint-Exupéry, autor do livro “O Pequeno Príncipe”, dedicou às maravilhosas paisagens da Guatemala o maior elogio que se poderia imaginar: as inseriu nessa incrível obra de ficção, que, setenta anos depois de seu lançamento, continua cativando leitores de todo o mundo. Depois de ter sofrido um grave acidente, Saint-Exupéry passou uma etapa de sua recuperação em Antígua e no Lago Atitlán, e neles se inspirou ao idealizar um dos vulcões que aparecem em seu romance. É assim que a Guatemala inspira os espíritos sensíveis: é uma terra mágica, surpreendente, única. Além disso, essa pérola da América Central também conseguiu consolidar-se como um novo ímã para o investimento estrangeiro na região. A sustentabilidade democrática e a evolução macroeconômica do país se refletem em indicadores de prosperidade que, uma vez assentados os novos cimentos sociais e financeiros, prometem cristalizar um futuro cheio de esperança para essa nação cujo passado é marcado por uma luta diária contra os elementos. Não é exagero afirmar que a Guatemala é um dos países mais bonitos da América Latina. Com um território de 108.889 quilômetros quadrados e uma população de 14,1 milhões de habitantes, atualmente, o país apresenta um leque de cifras que, conjugadas, desenham um panorama excelente para o investimento. E, se a isso ainda somamos a estabilidade do governo de Álvaro Colom – eleito democraticamente depois de um processo eleitoral livre de qualquer suspeita – e o clima de segurança presente hoje no cotidiano da Guatemala, o cenário não poderia parecer mais promissor, dotando o país da disposição necessária para enfrentar a crise econômica mundial com mais sucesso do que muitos outros. Os produtos agrícolas mais importantes do campo “chapín” – gentílico popular que designa o guatemalteco – são o café (de fama internacional por causa de seu delicioso sabor), o algodão, a banana, o feijão, o milho, a cana-de-açúcar, o arroz, o trigo, as batatas, o tabaco, o cacau, uma variedade de legumes e as frutas. A pecuária é uma atividade importante, sobretudo a produção de leite. Também é farta a criação de carneiros

O

Álvaro Colom Presidente

Durante a posse do presidente da Colômbia

para produção de lã, além de sua apreciada carne. A avicultura e a apicultura têm um lugar de destaque na produção nacional. A exportação está focada sobretudo em óleos essenciais, mel e legumes frescos.

Um novo estilo de governo O governo da Guatemala manifestou absoluto respeito ao mandato constitucional que especifica que o Estado é quem garante a vida, a liberdade, a justiça, a segurança, a paz e o desenvolvimento integral das pessoas. Quanto à economia, a visão está baseada no bem-estar do ser humano. Essa mensagem de tranquilidade é a base do discurso público do presidente Álvaro Colom. Colom coloca a promoção do investimento estrangeiro direto em um lugar preponderante em sua agenda de trabalho, sem descuidar do aumento do investimento nacional e do desenvolvimento tecnológico e científico. Os incentivos ao turismo se multiplicaram: hoje se busca ressaltar o brilho da herança maia presente em todo o país. As belezas de áreas da fama de Antígua, Tikal ou do Lago Atitlán não opacam o encantamento com a extraordinária natureza encontrada em uma viagem ao interior do país, cheia de descobertas por toda a extensão de um riquíssimo

“O Estado é quem garante a vida, a justiça, a segurança, a paz e o desenvolvimento integral das pessoas”

1

[Este informe publicitário foi produzido pela ASAP Reports. AméricaEconomia não se responsabiliza pelo conteúdo desta seção.]


Belize MEDITERRANEAN

Mexico

GUATEMALA Honduras

INFORME ESPECIAL GUATEMAL A

El Salvador

tecido socioambiental. As fantásticas praias banhadas pelo mar do Caribe começam a ganhar o papel relevante que sempre mereceram no conjunto da oferta nacional de lazer. Em 2009, o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) da Guatemala foi de 0,6%. Um número que não seria digno de destaque por si só, mas que ganha relevância se comparado ao restante da América Latina, em um ano no qual praticamente todos os países do hemisfério ocidental registraram números vermelhos de crescimento. Tal resultado, portanto, é altamente positivo. E não é só: a projeção de crescimento do PIB para 2010 é de 2,5%, o maior da América Central. Esses números, ainda sob o contexto de uma economia em desenvolvimento, e sem esquecer os problemas endêmicos da nação, permitem falar de esperança. São, definitivamente, argumentos sólidos para confiar em um passo adiante no futuro, no curto e no médio prazos. Um exemplo: em junho de 2010, registrou-se um ingresso de divisas sob a categoria de remessas familiares de US$ 394 milhões, representando um aumento de 13,1% em relação a junho de 2009. Quanto ao comportamento das exportações, no primeiro semestre do ano estas cresceram 18% em relação ao mesmo período do ano anterior, somando US$ 3,028 bilhões, contra US$ 2,565 bilhões nos primeiros seis meses de 2009. O crescimento da entrada de divisas geradas pelos principais produtos de exportação foi de 24% no primeiro semestre, com destaque para o aumento de 107% na exportação de açúcar. Além disso, as exportações ao restante da América Central aumentaram 92,5% na primeira metade de 2010, em relação ao mesmo período de 2009. Uma boa notícia para compensar os danos causados pela tempestade tropical Agatha e a erupção do vulcão Pataya. E não é só: em 2009, a Guatemala foi, junto de Brasil e Peru, a única nação americana com crescimento

quantificável. Com uma população de 14,1 milhões, um notável incremento da capacitação profissionalizante e reservas monetárias internacionais de US$ 5,8 bilhões, a nação guatemalteca acaba de receber um reconhecimento internacional da agência de classificação Moody’s, que coloca a Guatemala no nível ba1 (estava em ba2), o que supõe um incentivo direto ao investimento estrangeiro. Isso, vale destacar, em um ano em que a Moody’s não promoveu muitos aumentos de classificação. O desempenho macroeconômico conservador e consistente da administração de Colom, o baixo déficit fiscal, uma sólida trajetória de pagamento da dívida comercial e o baixo nível de endividamento em relação ao PIB são as bases para essa melhora de classificação. Recentemente, a Fitch Ratings também destacou a estabilidade econômica guatemalteca, e a Standard & Poor’s ratificou a categoria BBB para o país na seção Transfer & Convertibility Assesments. A meta para 2013 é atrair US$ 1,512 bilhão (1,2 bilhão de euros) em investimento estrangeiro direto, que, junto de um investimento doméstico de US$ 10,65 bilhões (8,46 bilhões de euros), equivaleria a 25% do PIB. Para concretizar essa meta, o país conta com um marco legal tranquilizador: não se contemplam expropriações e não há nenhuma forma de discriminação entre investimento estrangeiro e doméstico, com total liberdade de movimento de capital e distribuição de dividendos. Além do foco natural nos Estados Unidos, nos vizinhos regionais e na União Europeia, a Guatemala se abre a novos sócios comerciais e de investimento, como o Brasil. Em maio deste ano, os gigantes empresariais brasileiros Zigma e Patris Holding Group abriram um canal de intercâmbio com empreendedores guatemaltecos. Também há intercâmbios com a Colômbia (negocia-se um tratado de livre comércio com a nação presidida por Juan Manuel Santos) e com a China, e um aumento notável no impacto do turismo médico, para o qual a Guatemala conta com uma grande

CONSELHO DE COESÃO SOCIAL O Conselho de Coesão Social (CCS) foi criado como um conceito de Governo para unificar a ação institucional e focá-la nos municípios mais pobres do país, com o objetivo de reduzir a pobreza. A falta de coesão social em um país debilita a legitimidade da democracia e a ação do Governo. Para concretizar a tão desejada coesão social, parte-se de três dos quatro eixos do Governo: • Solidariedade: orientar e coordenar as ações de desenvolvimento social e municipal de forma integral. • Governabilidade: promover a segurança integral e o Estado de Direito, bem como o desenvolvimento democrático e a legislação e intermediação necessárias para responder às necessidades das maiorias. • Produtividade: impulsionar o desenvolvimento econômico dos guatemaltecos, sem distinção de idade, sexo ou extrato social.

O CCS foi criado com o Acordo Governativo 792008. Não é uma instituição governamental, já que não administra fundos nem recursos públicos. Sua tarefa é coordenar a priorização temática e territorial dos investimentos sociais das instituições que participam de sua execução. Seus membros desempenham cargos ad honorem, sem remuneração. As instituições executoras do Conselho contam com orçamento e devem responder por sua correta aplicação frente à instituição estatal responsável pela fiscalização. As tarefas são variadas: desde a atenção ao fornecimento de água e ao saneamento até a manutenção corretiva de centros escolares, postos de saúde, casas, estradas e caminhos rurais. Foca-se na reconstrução de zonas afetadas por fenômenos naturais. Para fortalecer a sustentabilidade do programa, o CCS administra a cessão de microcréditos, além da capacitação para o desenvolvimento produtivo.

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A primeira-dama em apoio aos afetados pela tempestade tropical Agatha

gama de alternativas. Os movimentos em infraestrutura impulsionados pelo governo de Colom nos últimos dois anos são notáveis. Esta última primavera marcou a colocação da pedra fundamental da termoelétrica Escuintla, a 80 quilômetros da capital, da empresa Jaguar Energy, subsidiária do gigante texano AEI. O investimento supera os US$ 700 milhões (560 milhões de euros), e estima-se que a planta esteja pronta para operar em 2013, com geração de 300 MW destinados ao abastecimento local, além da redução da dependência de derivados do petróleo. Essa é outra iniciativa surgida no calor do DR-CAFTA, acordo de livre comércio entre Estados Unidos, América Central e República Dominicana, que entrou em vigor no verão de 2006. Outros investimentos importantes foram direcionados à construção das estradas Franja Transversal do Norte, Corredor del Polochic e Eje Económico del Pacífico.

Foco no trabalho social Essa realidade promissora não faz o governo de Colom fechar seus olhos para a problemática social existente, bem como para a luta contra a pobreza. O Conselho de Coesão Social (CCS), que nasceu sob a coordenação da primeira-dama, Sandra Torres, e que desde abril está sendo administrado pelo próprio presidente, tem-se configurado como uma revolução, com a polêmica que implica enfrentar vento e maré para levar adiante uma iniciativa desse calibre. Sandra Torres de Colom adotou como causa pessoal a batalha contra a desigualdade social e desenvolve programas para atender prioritariamente as necessidades da população mais carente: primeira infância, mulheres da área rural, terceira idade e deficientes físicos. Buscamse soluções autossustentáveis, que partem dos 177 municípios designados pelo Ministério de Planejamento e Programação da Presidência (Segeplan, na sigla em espanhol), com os objetivos-chave de combater a pobreza e o subdesenvolvimento. Além disso, a primeira-dama é fundadora da Coordenação Nacional da Mulher da UNE, que conta com mais de 30 mil mulheres afiliadas, entre indígenas, ladinas (mestiças),

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Álvaro Colom e Roberto Alejos, presidente do Congresso

garinufas (descendentes de africanos) e xincas (ameríndias da família maia). Consciente de que a pobreza e a pobreza extrema também chegam à área urbana, também se encarrega de obras sociais, políticas, programas e projetos destinados à infância e à adolescência, por meio do Ministério de Obras Sociais da esposa do presidente (Sosep, na sigla em espanhol). Outros trabalhos de Sandra Torres de Colom na área de assistência social são os programas Minha Família Progride (transferência monetária condicionada), Escolas Abertas (jovens moradores em áreas periféricas em situação de risco), Bolsas Solidárias (alimentação), Você Pode (alfabetização), Restaurantes Solidários, combate à mortalidade materna e estratégia de segurança alimentar e nutricional. As ações acontecem mais rapidamente que as palavras, mesmo que, às vezes, as causas sejam impopulares e a oposição decida usar canais abertos para atacar a solidariedade desses programas. No mês de junho, a primeira-dama inaugurou a sede do programa Minha Família Progride na cidade de Guastatoya, onde serão atendidos os beneficiários dos povoados de San Agustín Acasaguastlán e Sanarate. Sandra também ofereceu apoio à reconstrução dessa região depois da tempestade tropical Agatha, principalmente para as comunidades onde 50 famílias foram afetadas, famílias às quais ofereceu teto e melhoria de suas condições básicas de vida. É uma cena que se repete todo o ano no país.

Roberto Alejos, soma e segue Presidente do Congresso há dois anos, Roberto Alejos é uma figura emergente no panorama do país. Advogado, empresário, professor universitário, ele colaborou decisivamente na elaboração do texto constitucional vigente e é um reputado assessor internacional em temas de desenvolvimento, com doutorado em Negociações Internacionais por Harvard. Roberto Alejos é uma pessoa clara, sem medo das consequências de suas decisões e de retidão provada, tendo um papel primordial na luta contra a corrupção. No mês de julho, participou da 3ª Conferência Mundial de Presidentes de Parlamentos, promovida em Genebra. Suas palavras

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Belize MEDITERRANEAN

Mexico

GUATEMALA Honduras

I N F O R M E E S P E C I A L CG OU SA T AE MRAI CL A

El Salvador

refletem firmeza... e a diplomacia que sua experiência internacional lhe conferiu. “Elevo meu enérgico protesto contra as constantes violações aos direitos humanos cometidas diariamente dentro do contexto migratório vivido hoje no mundo. Com especial ênfase, dirijo este protesto contra a questionada Lei do Arizona, que afeta cidadãos de toda a América Latina. Com a mesma energia com que rechaçamos a chamada Lei do Arizona, reconhecemos e apoiamos as ações de oposição do próprio presidente do país que a emitiu.”

Biodiversidade A biodiversidade nacional é um presente para os sentidos. Há florestas tropicais onde os amantes da natureza podem encontrar de tucanos a jaguares. Não se pode deixar de lado as dezenas de povoados coloniais, com igrejas e parques, dotados de personalidade própria e elementos diferenciais marcados pelas montanhas, o clima e o entorno. A Guatemala possui 37 vulcões, ao menos quatro dos quais se demonstram ativos nos últimos cinco anos. Entre os abundantes recursos florestais, por sua vez, brilham as florestas de pínus, carvalhos, abetos e ciprestes. A belíssima região de Petén possui madeiras nobres como a caoba, o pau-rosa, o cedro, o “zapotillo”, o “chicozapote”, e as curiosíssimas seringueiras. Em Petén, obtém-se a matéria-prima que se exporta aos Estados Unidos para a fabricação das melhores gomas de mascar. Também se obtém a “corteza de cinchona”, madeira mais leve do mundo, empregada na fabricação de produtos em diversos segmentos, como salva-vidas, em aeromodelismo e embalagens. Não se pode esquecer de que na cosmopolita capital podem se encontrar todas as comodidades próprias de uma grande cidade. Pontos tão superlativos como o famoso Mapa em Relevo, o Museu Nacional de Arqueologia e Etnologia e o magnífico zoológico são pontos de visita ‘sine qua non’. A jade é a única referência na bagagem de tesouros nacionais de brilho mágico. Também merece essa classificação a obra de Carlos Mérida, pintor “chapin” mais

O majestoso Lago Atitlán

reconhecido internacionalmente, amigo de Diego Rivera em sua fase de muralista e, sem dúvida, o farol que guia muitos artistas guatemaltecos do último século.

Jade, a joia do artesanato “guate” Guatemala e Birmânia são as duas grandes produtoras mundiais de jade. No caso guatemalteco, essa pedra preciosa é muito usada no artesanato e tem grande presença na oferta comercial e turística do país, especialmente na fantástica cidade de Antígua. A jade guatemalteca é encontrada em várias cores. Os maias usavam a jade preta em suas cerimônias de magia. O verde-claro era a cor indicada para abrir as portas do além, depois da morte. Jades dessa cor também são encontradas em túmulos e em colares, tigelas de cozinha e outros utensílios. Era tão valorizada que se costumava colocar uma pequena peça de jade embaixo da língua de uma pessoa morta. Outra cor muito procurada dessa pedra é o jaguar (verde-escuro com pintas pretas), pelas qualidades que a tradição lhe atribui como amuleto de boa sorte.

“A biodiversidade nacional é um presente para os sentidos. Há florestas tropicais onde os amantes da natureza podem encontrar de tucanos a jaguares, dezenas de povoados coloniais com igrejas e 37 vulcões” Assim, a Guatemala é, definitivamente, um país que segue em frente com humildade, consciente de seus problemas e dedicado à solução dos mesmos, centrado numa progressão geométrica da otimização de seus recursos e atividades. É um sócio com potencial de levar incalculáveis benefícios para quem decida se envolver nesse processo. O presente é a esperança, e o futuro lhe pertence.

Templo do Gran Jaguar, Parque Nacional Tikal

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Especial

BANCOS

De novo

no topo

INTERPRETANDO CRISE COMO OPORTUNIDADE, BANCO DO BRASIL SUPERA ITAÚ UNIBANCO E REASSUME LIDERANÇA DO RANKING AMÉRICAECONOMIA DE MAIORES BANCOS LATINO-AMERICANOS LUÍS EDUARDO LEAL, COM SOLANGE MONTEIRO, DE SÃO PAULO

o ano passado, quando os efeitos da crise fi nanceira norteamericana se fizeram sentir com mais intensidade no Brasil, os bancos públicos – e o Banco do Brasil, em especial – tiveram papel fundamental na manutenção do crédito, tanto a empresas quanto aos consumidores. Enquanto os bancos privados adotaram a cautela, seguindo a cartilha tradicional para as épocas de incertezas, o Banco do Brasil desempenhou a função de vanguarda auxiliar das políticas públicas definidas pelo seu controlador – a União, representada pelo governo federal. Em 2009, houve um crescimento do crédito de 15%, puxado pelos bancos públicos, setor em que a oferta de crédito cresceu cerca de 30%, comparada à expansão inferior a 10% proporcionada pelos bancos privados nacionais e à retração da oferta entre os bancos estrangeiros presentes no país. Em 2010, o país emerge da crise com uma perspectiva de crescimento na casa de 7% no ano, inferior apenas às estimadas para os dois gigantes emergentes, China e Índia. E o Banco do Brasil, com US$ 362 bilhões em ativos, além de recuperar do Itaú Unibanco a liderança do ranking anual das 250 maiores instituições financeiras latino-americanas de Améri-

N

36 AméricaEconomia Outubro, 2010


Outubro, 2010 AmĂŠricaEconomia 39


Especial

BANCOS

rigorosos, previstos pelo Acordo de Basileia 3, que serão implementados entre 2013 e 2019.

ALÉM DA REGIÃO

caEconomia, dá polimento a planos de internacionalização que o colocarão no mapa de mercados tão distintos como os de África, América do Sul e Estados Unidos. “Estamos buscando países em que existam concentrações de brasileiros ou de empresas brasileiras, assim como atuação de multinacionais cujo centro de decisão regional esteja aqui. Ou, ainda, países com os quais o Brasil tenha grande relacionamento comercial”, explica Allan Simões Toledo, vicepresidente da Área Internacional e de Atacado do Banco do Brasil. “O objetivo não é partir do zero, mas o de estarmos presentes em países que já tenham sinergias com o Brasil. Daí a aquisição do Banco Patagônia, na Argentina [em abril deste ano], país onde estão presentes 250 empresas brasileiras, com produção local própria – ou seja, fábricas – que envolvem mais de 200 mil funcionários”, acrescenta. Na América do Sul, o Banco do Brasil avalia também oportunidades no Chile, na Colômbia, no Equador e no Peru. Para o departamento de pesquisas do 38 AméricaEconomia Outubro, 2010

banco suíço UBS, a internacionalização em direção à América Latina é uma boa opção não apenas para o Banco do Brasil, como também para as demais grandes instituições financeiras do país. “Acreditamos que uma aquisição na região faz muito sentido, na medida em que os bancos brasileiros alcançaram um valor de mercado significativo, mesmo em uma perspectiva global, e que o número de compradores em potencial diminuiu, por conta dos efeitos da crise financeira [internacional]”, avaliam, em relatório, os analistas Alcir Freitas e Domingos Falavina, do departamento de pesquisas do UBS em São Paulo. Além disso, os bancos brasileiros estão bem enquadrados mesmo quando são considerados os novos critérios de capitalização e alavancagem, mais

Fora do subcontinente, as atenções estão voltadas para os Estados Unidos e para a África, onde o BB fechou parceria para atuar com o Banco Espírito Santo, de Portugal, e o Bradesco. Dentro dos critérios estabelecidos pelo banco para a internacionalização, a África parece uma escolha natural. Há várias empresas brasileiras com forte atuação no continente, como Petrobras, Vale, Odebrecht, Camargo Corrêa e Marfrig. Além disso, argumenta Toledo, os bancos brasileiros têm tecnologia de ponta no mercado de varejo, não só em relação ao atendimento propr ia mente dito, como também em produtos como cartões, seguros e previdência – e pretendem aproveitar essas va ntagens comparativas para crescer em um mercado caracterizado pela baixa bancarização. “Somente 15% dos africanos têm conta corrente, o que significa um bom mercado potencial para venda de produtos, especialmente fi nanciamento”, complementa Ricardo Mollo, professor de Finanças do Insper. Nos Estados Unidos, mercado hoje marcado pela fadiga de crédito decorrente dos excessos verificados nos

400 mil contas

correntes é a meta do BB,

nos EUA, em 5 anos


Em 2009, o crédito cresceu 15% no Brasil, puxado pelos

bancos públicos últimos anos, o interesse do Banco do Brasil se relaciona à ampla comunidade de brasileiros, estimada em 1,4 milhão de pessoas, e, em menor medida, aos hispânicos que residem no país. “Estamos estudando a aquisição de um banco de pequeno porte no país. Temos, atualmente, uma short list com cinco nomes, e a defi nição deve ocorrer até o fim do ano”, diz o vice-presidente da Área Internacional do BB. Como 70% dos brasileiros nos EUA vivem na Flórida ou na região de Nova York (que inclui Boston e Nova Jersey), a sede das operações estará em um ponto ou noutro. A meta é a de que, em cinco anos, a operação do Banco do Brasil nos Estados Unidos conte com 400 mil contas correntes. “O que buscamos nos Estados Unidos é algo semelhante ao

que já desenvolvemos no Japão, onde o Banco do Brasil mantém sete agências, com cerca de 125 mil clientes no total, o equivalente a pouco menos da metade dos cerca de 300 mil brasileiros que vivem no país”, diz Toledo. “No Japão, cerca de 15% dos clientes do Banco do Brasil são sul-americanos que se identificam com a nossa marca”. A ideia é a que fenômeno semelhante possa ocorrer nos Estados Unidos em relação à população de hispânicos, observa Toledo. Outro exemplo que não deve ser esquecido nesse foco internacional é o do segundo colocado do ranking, o Banco Itaú. Enquanto se dedicou ao processo de integração com o Unibanco, cuja fusão foi anunciada no final de 2008, o banco ampliou suas operações de private banking no exterior, sendo a última anunciada em setembro, na Suíça. “Eles tiveram de se concentrar nessa integração, pois é uma operação complexa, sobretudo no varejo. A partir de agora,

ALLAN SIMÕES TOLEDO, DO BB: EM BUSCA DE SINERGIAS FORA DO PAÍS

entretanto, espera-se que ele se volte a investimentos no exterior”, diz Mollo. Tal tendência é confirmada pelo banco. “Estamos atentos a oportunidades na América Latina, para servir melhor aos clientes na região, dando preferência para o ganho de escala nos países em que o Itaú Unibanco já tem presença [Argentina, Chile, Paraguai e Uruguai]”, afi rma Rogério Calderon, diretor corporativo de Controle do Itaú Unibanco. “Há uma mudança cultural no banco, de desenvolvimento de lideranças para essa internacionalização, o que é um fator importante”, destaca Mollo.

FORÇA DOMÉSTICA A decisão de buscar crescimento por meio de aquisições ou parcerias no exterior é vista com simpatia por analistas

Fonte: Banco do Brasil

Outubro, 2010 AméricaEconomia 39


Especial

BANCOS

de mercado, embora muitos coincidam na percepção de que o mercado interno continuará a reservar as melhores oportunidades para o setor. “O grande mercado para os bancos brasileiros, públicos ou privados, é, e continuará sendo, o doméstico, onde ainda há grande espaço para expansão”, avalia Aloísio Lemos, analista do setor fi nanceiro da Ágora Corretora. “Não existe a perspectiva de o Banco do Brasil se globalizar. Ele tende a ser sempre um banco essencialmente brasileiro, com operações em regiões ou países onde a presença econômica do Brasil requer. O modelo é bem diferente do HSBC, por exemplo, que é um banco eminentemente global”, acrescenta o professor Roy Martelanc, coordenador do MBA Banking da Fundação Instituto de Administração (FIA). Lemos, da Ágora, cita um dado inte-

ressante: a expansão do uso de internet banking, no Brasil, tem ocorrido paralelamente ao crescimento do número de atendimentos realizados nas agências físicas, o que mostra que novos clientes continuam a ser incorporados à base das instituições em um contexto de expansão econômica e de maior formalização de vínculos, seja de empresas ou de trabalhadores. Segundo os dados mais recentes do Banco Central, a relação crédito/PIB avançou novamente em agosto, para 46,2%, ante 45,5% no mês anterior e 43,3% em agosto do ano passado. Para efeito de comparação, em proporção ao PIB, o Brasil está bem à frente de países como Argentina, México, Peru e Colômbia na concessão de crédito, mas ainda muito abaixo do Chile, onde a relação crédito/PIB supera a casa de 80%, de acordo com levantamento do UBS.

Crédito imobiliário representa cerca de 3% do PIB

no Brasil 40 AméricaEconomia Outubro, 2010

MARGEM DE EXPANSÃO “Comparações à parte, no Brasil, o crédito cresceu de forma consistente ao longo dos últimos oito anos. Em 2002, a relação crédito/PIB era de apenas 22%”, diz Lemos. “Neste ano, deve crescer na casa de 20%, com a perspectiva de expansão do PIB entre 6% e 7%”, acrescenta, destacando o potencial do mercado de crédito imobiliário, que, a despeito do crescimento recente, tem ainda margem para avanços. “Hoje, o crédito imobiliário corresponde apenas a cerca de 3% do PIB. Há muito espaço para crescer”, reconhece Walter Malieni, diretor de crédito do Banco do Brasil, uma das últimas grandes instituições a ingressar no nicho. “O cenário continua favorável à expansão do crédito em geral, não só o imobiliário, mas também o de veículos, por exemplo. A massa salarial, o nível de emprego, o forte fluxo de ascensão em direção à classe média, tudo isso mantém a perspectiva de demanda”, observa o executivo do BB. “E, no caso das empresas, o nível de utilização da capacidade instalada, de 85,7%, em agosto, indica que elas vão ter de investir para atender ao crescimento orgânico da demanda. Mesmo durante a crise, os investimentos em formação bruta de capital fi xo foram superiores à média dos dez anos anteriores”, acrescenta Malieni. Apesar da ampliação da concessão de crédito bancário no país, não há sinais de aumento da inadimplência. Pelo contrário, desde setembro de 2009, as taxas de inadimplên-


cia, definidas como atrasos de pagamento superiores a 90 dias, vêm recuando de forma sustentada. Após terem atingido, em agosto de 2009, o pico de 8,4% entre as pessoas físicas e de 3,9% entre as pessoas jurídicas, em agosto de 2010, equivaliam a 6,2% (pessoas físicas) e 3,6% (pessoas jurídicas). Na média, a inadimplência ficou em 4,8% em agosto, em baixa de 0,1 ponto percentual em relação a julho e de 1,1 ponto percentual em comparação a agosto do ano passado, de acordo com os mais recentes dados do Banco Central. “No mercado doméstico, o BB está surpreendendo com uma carteira de crédito muito bem estruturada. É um banco com forte presença entre os pequenos negócios, com faturamento anual de até R$ 150 milhões, e teve atuação essencial no enfrentamento da crise”, diz Celso Grisi, diretor-presidente do Instituto de Pesquisas Fractal. “Entre

os quatro maiores bancos brasileiros [BB, Bradesco, Itaú Unibanco e Santander], é o que tem apresentado melhores índices de inadimplência e os maiores índices de cobertura para perdas de crédito”, avalia Grisi. Malieni, do BB, diz que a inadimplência na carteira de crédito da instituição está hoje apenas 0,1 ponto percentual acima da verificada antes da crise mundial desencadeada em setembro de 2008 – e a tendência é de que volte a estar abaixo até o fi m de 2010. “Em 2009, tivemos uma estratégia de expansão de crédito voltada para as pessoas físicas, em um primeiro momento. Para as pessoas jurídicas, independentemente do porte, fizemos uma análise do histórico de relacionamento, de forma a reduzir o risco moral. Assim, foi possível alongar o perfi l da dívida das empresas e conceder recursos novos, para capital de giro, quando necessário”,

NOVA YORK: COMUNIDADE DE BRASILEIROS É UM DOS FOCOS DA EXPANSÃO DO BB

explica o diretor de crédito do BB. “Durante a crise, sobretudo no ano de 2009, os bancos públicos colocaram em prática a estratégia defi nida pelo governo de expandir a oferta de crédito num contexto em que, tradicionalmente, os bancos privados tendem a se retrair, seja pelo maior rigor na análise de crédito, seja por encurtamento de prazos ou aumento de taxas”, diz Martelanc, da FIA. “Com o controlador público por trás da iniciativa – os bancos públicos têm esse diferencial do ‘bote salva-vidas’ –, não há muito como os bancos privados acompanharem na mesma medida. Mas é preciso dizer que todo o sistema bancário está muito bem capitalizado e que a perspectiva de ampliação da inadimplência não é significativa”, conclui. Outubro, 2010 AméricaEconomia 41


Especial

BANCOS

Teste de

estresse SUPERADO O PIOR DA CRISE, BANCOS LATINO-AMERICANOS ENCERRAM DÉCADA COM TAXAS DE EXPANSÃO INÉDITAS E CRESCIMENTO SUSTENTADO AMÉRICAECONOMÍA INTELLIGENCE 42 AméricaEconomia Outubro, 2010


tualmente, os banqueiros não podem reclamar. Pelo menos na América Latina. Eles acompanharam pelo retrovisor a última grande crise, com epicentro em Wall Street e reflexo nas principais economias do mundo. No exercício fechado em 31 de junho de 2010, os 250 maiores bancos latino-americanos somavam ativos de quase US$ 3 trilhões, montante 14% maior do que o registrado no período anterior e muito acima do registrado antes da crise. Apesar de o lucro total dessas instituições não ter chegado aos US$ 24,3 bilhões de 2008, os US$ 18,15 bilhões

A

somados por esses 250 bancos ao fim de junho deste ano refletem um saudável aumento, de 33%, em relação a 2009. “Diferentemente do restante do mundo, na América Latina, a crise não foi financeira”, diz Pamela Cox, vice-presidente do Banco Mundial para a América Latina e o Caribe. De fato, as fi nanças são um dos setores que se mostraram mais fortes nos dois últimos anos diante de pressões econômicas. A evidência mais clara são os resultados desta edição do estudo sobre bancos, realizado anualmente pela equipe de pesquisas de nossa revista, a AméricaEconomía Intelligence, que analisa os

balanços e resultados das 250 maiores instituições fi nanceiras da região, selecionando as 25 que demonstraram o melhor desempenho.

OS MELHORES Entre os melhores, quem leva a dianteira é o Santander do Chile. A fi lial do banco espanhol parece ter encontrado a receita secreta da Coca-Cola, ou o código-fonte da Microsoft: apresenta os melhores resultados do grupo do qual faz parte e mantém, pelo sexto ano consecutivo, o primeiro lugar no Ranking dos Melhores Bancos da América Latina. Para realizar esse estudo,

Os 25 melhores bancos da América Latina RK 10

RK 09

BANCO

PAÍS

ATIVO TOTAL US$ MI

C. VENC./ C. CRÉD. (%) 2010

RENTABILIDADE ROE (%) 2010*

LIQUIDEZ BASE 100

PATRIMÔNIO/ ATIVO TOTAL (%) 2010

EFICIÊNCIA BASE 100

ÍNDICE FINAL

1

1 SANTANDER

CHI

37.793,1

2,8

15,1

16,9

8,2

100,0

64,2

2

2 ITAÚ UNIBANCO

BRA

352.920,1

5,0

6,0

2,9

6,9

69,6

63,3

3

4 CONTINENTAL BBVA

PER

11.081,7

0,2

16,4

26,2

9,0

66,4

62,2

4

3 BRADESCO

BRA

313.189,3

8,5

7,3

4,5

7,9

70,7

61,8

5 13 SANTANDER

MÉX

48.996,1

1,8

8,2

45,3

12,6

83,8

59,7

6

CHI

32.202,5

1,6

15,6

8,3

7,6

73,3

59,4

7 19 INTERBANK

PER

6.065,5

1,2

16,2

34,9

8,1

61,6

57,5

8

- SANTANDER

URU

3.943,0

0,1

7,5

11,4

10,9

83,8

55,9

9

6 SANTANDER

5 BANCO DE CHILE

BRA

207.513,4

7,9

1,9

4,2

17,5

83,8

55,1

10 18 INDUSTRIAL E COMERCIAL

BRA

7.612,8

1,9

6,9

4,3

13,7

89,9

54,6

11 11 BBVA BANCOMER

MÉX

86.635,6

3,5

11,6

31,4

8,9

55,7

54,2

12

PER

18.638,5

1,2

12,2

31,8

9,0

58,8

54,0

13 23 SCOTIABANK

9 CRÉDITO

PER

8.224,2

1,5

10,9

36,7

13,2

58,1

53,2

14 12 BANAMEX

MÉX

84.743,6

1,7

6,9

23,5

13,2

50,6

51,3

15 17 CORP BANCA

CHI

12.896,4

2,3

11,1

5,5

7,1

80,5

50,5

16 22 BANCO DE BOGOTÁ

COL

16.605,3

2,8

8,5

21,6

14,3

64,8

48,9

17

BRA

4.925,8

0,6

4,8

100,0

14,4

47,9

48,1

18 15 BCI

- ABC BRASIL

CHI

23.565,6

2,4

10,3

12,5

7,4

66,0

47,4

19

- BICE

CHI

4.884,3

1,2

8,1

10,9

8,0

66,0

47,2

20 10 PICHINCHA

EQU

5.132,1

1,6

6,4

30,0

9,4

58,0

46,3

21 20 BBVA

CHI

13.556,3

2,7

9,1

6,5

6,7

69,1

44,7

22 25 MERCANTIL DEL NORTE

MÉX

44.802,0

2,4

7,3

29,0

7,3

59,2

44,3

23

- INBURSA

MÉX

17.291,2

1,5

3,0

22,8

20,0

60,1

44,1

24

- GNB SUDAMERIS

COL

4.182,2

1,8

12,3

14,9

6,8

39,2

44,0

COL

22.637,6

3,2

8,6

14,0

16,0

38,1

42,3

25 21 BANCOLOMBIA

Outubro, 2010 AméricaEconomia 43


Especial

BANCOS

44 AméricaEconomia Outubro, 2010

Lucro bancário dos últimos dois anos, em US$ milhões

Fonte: AméricaEconomía Intelligence

Fonte: AméricaEconomía Intelligence

BRASIL

1.463

COLÔMBIA ARGENTINA VENEZUELA PERU PANAMÁ OUTROS

BRASIL

388 359

MÉXICO CHILE

1.881

MÉXICO

187 181 112 88 102 83 79 121 58 50 54 50 109 101

CHILE COLÔMBIA Ativos 2010 Ativos 2009

PERU ARGENTINA VENEZUELA PANAMÁ OUTROS

2.947 1.774 1.476 1.040 1.331 1.078 1.105 632 912 515 636 1.292 453 426 695 607

Lucro 2010 Lucro 2009

INCENTIVANDO O CONSUMO

ESTRELAS DA BOLSA

Carteiras de crédito dos últimos dois anos, em US$ bilhões

Patrimônio bancário dos últimos dois anos, em US$ bilhões Fonte: AméricaEconomía Intelligence

Fonte: AméricaEconomía Intelligence

BRASIL

363

CHILE COLÔMBIA ARGENTINA VENEZUELA PANAMÁ PERU OUTROS

485

153 135 130 122

MÉXICO

72 57 41 35 34 54 32 30 32 27 59 56

9.049

6.391

BRASIL

124

COLÔMBIA CHILE ARGENTINA

Carteira de créditos 2010 Carteira de créditos 2009

VENEZUELA PANAMÁ PERU OUTROS

158

42 36

MÉXICO 14 10 14 14 10 9 7 11 6 6 5 5 11 10

Patrimônio 2010 Patrimônio 2009

CLIENTES CONFIANTES

PARA ONDE VAI O DINHEIRO?

Depósitos bancários nos últimos dois anos, em US$ bilhões

Destino dos fundos dos bancos em cada país Fonte: AméricaEconomía Intelligence

Fonte: AméricaEconomía Intelligence

ARGENTINA VENEZUELA PERU PANAMÁ OUTROS

40% 20% 0% Depósitos 2010 Depósitos 2009

OUTROS

COLÔMBIA

80% 60%

PERU

CHILE

672 175 160 111 108 75 61 75 59 62 99 40 35 38 38 83 71

PANAMÁ

MÉXICO

100% 831

VENEZUELA

BRASIL

COLÔMBIA

Segundo mostra o ranking deste ano, os bancos maiores foram os que cresceram mais. Os dez primeiros cresceram, em média, 20,2% no período analisado. Entre eles, destaca-se o Banco do Brasil, que se consolida como o maior da região ao absorver a Nossa Caixa, permitindolhe incrementar seus ativos em 40% no último ano, superando os US$ 360 bilhões – o equivalente a três vezes o PIB do Peru. Hoje, o Banco do Brasil está em um processo de expansão internacional e busca boas oportunidades em

Ativos totais dos últimos dois anos, em US$ bilhões

MÉXICO

OS 250 MAIORES

... E MAIS LUCRATIVOS

MAIORES...

BRASIL

AméricaEconomía Intelligence desenvolveu uma metodologia com base no modelo Camel, que analisa e compara o desempenho bancário de acordo com a gestão de capital, os ativos, o patrimônio e a liquidez (veja metodologia na pág. 47). Pisando os calcanhares do Santander do Chile está o brasileiro Itaú Unibanco, que nos últimos tempos protagonizou uma campanha de expansão internacional e doméstica sem descuidar dos resultados. O lucro do banco melhorou 72% no período analisado, e seus planos de expansão não param: ele acaba de arrecadar US$ 1 bilhão em uma emissão de bônus, visando gerar novos negócios. Já o Continental BBVA, associação do grupo espanhol com o grupo familiar peruano conduzido pelos irmãos Brescia, surpreende com o terceiro lugar do ranking. A baixa carteira vencida, seu alto nível de liquidez e seu retorno sobre patrimônio (ROE) o colocaram em uma posição inédita para um banco peruano, consistente com a evolução registrada pelo setor nesse país. Outro destaque do ranking foi o fato de as notas dos 25 melhores bancos serem, em média, muito melhores do que em 2009 e 2008, o que indica que, apesar dos impactos dos ciclos econômicos, o sistema bancário latino-americano está ganhando instituições mais sólidas e à prova de crises.

Carteira de créditos 2010 Investimento em valores 2009 * O Chile não tem dados de investimento em valores 2009


CAPITAL BEM-VINDO

EFEITO BOLÍVAR

Fonte: AméricaEconomía Intelligence

Fonte: AméricaEconomía Intelligence

Bancos com maior capitalização SUB RK 10

BANCO

Bancos com menor capitalização PATRI. US$ MI JUN/10

PAÍS

VAR. PATRI. (%) 10/09

RK 10

SUB RK 10

PATRI. VAR. RK PAÍS US$ MI PATR. (%) 10 JUN/10 10/09 VE 158,8 -69,3 134

BANCO

1 BGN

BR

445,8

354,3

160

1 FEDERAL

2 VOLVO BRASIL

BR

211,5

191,2

195

2 CITIBANK

VE

137,9

-55,1 205

3 BCO IBI S.A. BM

BR

1.231,8

175,7

117

3 FONDO COMÚN

VE

130,1

-50,3 175

4 MONEX

MX

128,5

120,5

156

4 AGRICOLA DE VENE.

VE

130,3

-48,1 203

5 BARCLAYS

MX

158,7

116,9

192

5 VENE. DE CRÉDITO

VE

148,4

-40,8 179

6 J. SAFRA

BR

149,0

113,1

206

6 BANESCO

VE

886,2

-39,0 35

7 BANCOOB

BR

148,6

72,3

73

7 CNH CAPITAL

BR

228,9

-37,8 135

8 MERCEDES-BENZ

BR

482,9

71,2

100

8 SCOTIABANK

CH

884,5

-37,2 38

9 HSBC BANK PERÚ

PE

109,3

70,6

217

9 DE VENE. SANTANDER

VE

877,8

-33,0 31

10 CITIBANK N.A.

BR

312,2

68,1

197

10 G. SACHS BM S.A

BR

79,1

-32,6 224

11 BVA

BR

164,4

66,9

132

11 EXTERIOR

VE

267,3

-32,3 111 -32,0 122

12 IND. DE VENEZUELA

VE

157,3

65,3

123

12 CORP. BANCA

VE

252,7

13 MULTIVA

MX

124,3

62,6

170

13 NACIONAL DE CRÉDITO

VE

184,3

-31,1 147

14 CREDIT SUISSE

MX

93,7

55,7

232

14 BANCARIBE

VE

243,4

-30,3 115

15 DE OCCIDENTE

CO

1.219,0

15 PROVINCIAL

VE

1.107,9

-29,9 36

53,4 41

TERRA DE GIGANTES

NEM TODOS CRESCERAM

Os que mais cresceram em ativos

Os que mais caíram em ativos

Fonte: AméricaEconomía Intelligence

Fonte: AméricaEconomía Intelligence

1 BANK OF AMERICA

VAR. AT. AT. RK TOTAL TOTAL PAÍS 10 US$ MI (%) JUN/10 10/09 MX 3.595,5 204,4 99

2 BTG PACTUAL

BR 16.493,8

164,9

3 DEUTSCHE BANK

MX

3.082,4

SUB RK 10

BANCO

SUB RK 10

BANCO

AT. TOTAL PAÍS US$ MI JUN/10

VAR. AT. RK TOTAL 10 (%) 10/09 -59,2 221

1 BANCORO

VE

995,8

2 FIAT

BR

3.023,1

-56,7

110

160,3 108

3 FEDERAL

VE

2.149,4

-55,6

134

24

4 BVA

BR

2.192,3

148,1 132

4 NAC. DE CRÉDITO

VE

1.794,6

-52,4

147

5 BGN

BR

1.599,7

94,9 160

5 BBM

BR

2.862,1

-50,7

113

6 BANCOOB

BR

4.964,2

67,4

73

6 FONDO COMÚN

VE

1.402,3

-50,6

175

7 SOCIETE GENERALE

BR

4.740,8

61,5

79

7 IND. DE VENEZUELA

VE

2.520,5

-49,3

123

8 HSBC FINANCE S.A. BM

BR

1.532,7

61,0 166

8 RBS

CH

796,0

-47,2

241

9 NACIÓN

AR 31.088,0

60,9

17

9 VENE. DE CRÉDITO

VE

1.354,3

-46,3

179

10 ABC BRASIL

BR

4.925,8

58,9

74

10 J. SAFRA

BR

1.102,7

-44,9

206

11 DEUTSCHE BANK

BR

8.570,2

57,2

43

11 BANESCO

VE

9.930,0

-44,0

35

12 IND. E COMERCIAL

BR

7.612,8

57,1

48

12 CREDIT SUISSE

MX

886,0

-43,6

232

13 DAYCOVAL

BR

4.835,4

54,2

76

13 CORP. BANCA

VE

2.533,8

-41,5

122

14 PANAMERICANO

BR

5.685,8

51,9

67

14

CITIBANK

VE

1.108,5

-41,1

205

15 BANCENTRO

NI

1.278,0

50,0 190

15

OCCID. DE DESC.

VE

5.891,8

-40,6

64

vários países da região (veja reportagem na pág. 36). A taxa média de crescimento decai à medida que se incorporam bancos menores: enquanto os primeiros 50 bancos do ranking cresceram 16,6% em média, os 250 chegaram a apenas 13,8%. Uma das análises mais interessantes que emergem dessa lista é a ten-

dência por países, já que os resultados variam de mercado a mercado, reflexo dos diferentes estágios dos bancos latino-americanos. Os 70 bancos brasileiros que pertencem ao ranking elevaram seus ativos 25,5%, em média, durante 2009/2010. Só foram superados pelos 28 bancos mexicanos, que registraram um au-

mento médio de 26,6% em seus ativos. Entre os 21 bancos argentinos, a média foi de 15,5%, e, entre os 22 bancos panamenhos, de 11,8%. No outro extremo ficam os bancos venezuelanos. Apesar de ser um dos setores mais favorecidos na gestão econômica do presidente Hugo Chávez – graças à sua possibilidade de arbitrar instrumentos financeiros e moedas na desordem macroeconômica da Venezuela –, a desvalorização induzida contra o bolívar atingiu as contas dos bancos do país, quando medidas em dólares: os 20 bancos que operam na Venezuela participantes do ranking registram uma queda média de ativos de 33,1%. De fato, o sistema bancário venezuelano é o único da América Latina que demonstra uma consistente tendência de baixa em seus níveis de depósito, lucro e carteiras de crédito. Situação que não se repete entre os bancos equatorianos ou bolivianos, países companheiros da Venezuela na Alba (Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América), que optaram por ser mais ortodoxos na condução da macroeconomia. Não obstante, há bancos venezuelanos, como o Exterior, o Provincial e o Bancaribe, que continuam focando na rentabilidade, com taxas de ROE que superam 16%. Os bancos da América Central, região que se viu fortemente afetada pela crise econômica, também registram um período sem complicações. Mesmo que o lucro tenha sido usado no período pós-crise, a solvência dessas instituições se manteve equilibrada graças a fontes de financiamento interno cada vez mais robustas. A grande exceção nesse quadro está na Nicarágua, onde recentemente foi anunciada a liquidação do Banco del Éxito, instituição fi nanceira local que sofreu com a ação “Movimiento del No Pago”. Essa organização foi criada em março de 2008 por clientes inadimplentes das pequenas financeiras. Incitado pelo presidente Daniel Ortega, o grupo deu início a uma série de manifestações, Outubro, 2010 AméricaEconomia 45


Especial

BANCOS BANCO PRECAVIDO VALE POR DOIS Percentual de provisão sobre os depósitos dos bancos de cada país Fonte: AméricaEconomía Intelligence

VENEZUELA

URUGUAI

EL SALVADOR

PERU

PANAMÁ

NICARÁGUA

MÉXICO

GUATEMALA

VERDE TESOURO Evolução dos ativos em US$ milhões Fonte: AméricaEconomía Intelligence

3.000.000 2.500.000 2.000.000 1.500.000 1.000.000 500.000 0 2000

46 AméricaEconomia Outubro, 2010

EQUADOR

PROVISÕES/DEPÓSITOS 2010

2001

2002

2003

BEM QUALIFICADOS Há dez anos, os ratings de classificação de dívida dos maiores bancos da região – com exceção dos chilenos – concentravam-se em BB, enquanto os do mundo desenvolvido estavam em AA. Hoje, essa diferença se reduziu bastante: os dos países desenvolvidos caíram para A, e grande parte dos melhores bancos latino-americanos subiram para BBB, segundo classificação da agência Fitch Ratings. O preparo demonstrado pelos bancos latino-americanos lhes permitiria inclusive seguir, sem problemas, as novas normas do Comitê da Basileia de Supervisão Bancária – conhecidos como Basileia III –, que elevam os montantes mínimos de capitalização que os bancos devem garantir para enfrentar crises com mais fôlego. Grande parte dos bancos latino-americanos está aci-

REP. DOMINICANA

COSTA RICA

COLÔMBIA

CHILE

BRASIL

BOLÍVIA

0,08 0,07 0,06 0,05 0,04 0,03 0,02 0,01 0 ARGENTINA

que repercutiram por todo o sistema bancário do país. Os três bancos nicaraguenses que participam do ranking registraram uma redução do lucro em 6%, e as carteiras de crédito em 10%, ainda que não corram riscos de insolvência. O Panamá, por sua vez, vive uma situação diferente. Consolidado como um centro financeiro internacional, hoje demonstra querer sair da lista de paraísos fiscais elaborada pela OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico). De fato, chegou-se a cogitar no mercado que o grupo francês Société Générale iria deixar o país devido às preocupações geradas por essa imagem de paraíso fiscal. Por outro lado, a mídia espanhola apontou recentemente que muitos milionários da Espanha estão escolhendo o Panamá para deixar seu dinheiro e fugir da atual diligência da banca europeia. Durante o primeiro semestre deste ano, foram concedidas seis novas licenças de operação para bancos no Panamá, e há outras sete em trâmite, o que colaboraria para consolidar a capital do país como praça financeira global.

2004

2005

2006

2007

Total geral

Brasil

México

Chile

Argentina

Panamá

2008

2009

2010

COFRINHO CHEIO? Evolução dos ativos com base no ano 2000 Fonte: AméricaEconomía Intelligence

8 7 6 5 4 3 2 1 0 2000

2001

2002

2003

2004

Total geral Brasil México

2005 Chile Colômbia Argentina

2006

2007 Venezuela Panamá Peru

2008

2009

2010


ME DÁ UM DINHEIRO AÍ

HOJE NÃO EMPRESTO

Metodologia dos 250 Maiores

Os que mais reduziram sua carteira de créditos

Os que mais ampliaram sua carteira de créditos

Fonte: AméricaEconomía Intelligence

Fonte: AméricaEconomía Intelligence

VAR. CART. RK CRÉD. 10 (%) 10/09

CART. CRÉD. PAÍS US$ MI JUN/10

VAR. CART. CRÉD. 10/09 (%)

RK 10

1 J. SAFRA

BR

994,8

995,1

206

1 B. DE LOS TRABAJ.

GT

99,3

-79,1 247

2 BVA

BR

1.179,4

176,2

132

2 DEL DESARR. RURAL

GT

458,5

-76,2 106

3 HSBC FINANCE BM

BR

667,1

174,8

166

3 REFORMADOR

GT

162,6

-71,9 225

4 FIAT

BR

2.322,2

148,0

110

4 IND. DE VENEZUELA

VE

178,3

-68,9 123

5 BTG PACTUAL

BR

1.093,9

112,0

24

5 BANCORO

VE

344,3

-68,2 221

6 RURAL

BR

1.052,2

93,4

133

6 JOHN DEERE

BR

248,6

-68,0 222

7 BANCOOB

BR

1.615,3

84,1

73

7 AGROMERCANTIL

GT

233,9

-66,2 180

8 BANCO FIDIS

BR

1.917,0

80,9

130

8 J. P. MORGAN

MX

8,4

-65,6 149

9 RABOBANK

CL

580,1

74,4

208

9 INDUSTRIAL

GT

817,3

-65,5

80

10 BGN

BR

1.033,1

73,8

160

10 G & T CONTINENTAL

GT

604,6

-64,0

97

11 ABC BRASIL

BR

3.086,7

72,2

74

11 BBM

BR

199,7

-63,0 113

12 IND. E COM.

BR

5.081,3

72,0

48

12 TOKYO-MITSUBISHI UFJ

BR

51,2

-60,7 213

13 FORD

BR

750,2

71,9

245

13 CITIBANK N.A.

BR

80,8

-58,0 197

14 BANESCO S.A.

PA

489,8

71,4

191

14 NACIONAL DE CRÉDITO

VE

865,3

-55,8 147

15 TOYOTA

BR

808,5

66,8

176

15 FEDERAL

VE

798,0

-53,2 134

SUB RK 10

BANCO

SUB RK 10

CART. CRÉD. PAÍS US$ MI JUN/10

BANCO

MÁQUINAS AJUSTADAS

POUCAS CARAS TRISTES

Os mais rentáveis

Bancos com perdas na região

Fonte: AméricaEconomía Intelligence

Fonte: AméricaEconomía Intelligence

SUB RK 10

BANCO

LUCRO RENT. RK PAÍS US$ MI ROE (%) 10 JUN/10 1º SEM

SUB RK 10

BANCO

LUCRO RENT. RK PAÍS US$ MI ROE (%) 10 JUN/10 1º SEM

1 NOVA SCOTIA

PA

17,8

103,6 164

1 G. SACHS BM S.A

BR

-41,2

-52,1

224

2 EXTERIOR

VE

57,6

21,6 111

2 DE CÓRDOBA

AR

-11,2

-19,3

157

3 COMAFI

AR

17,6

20,9 215

3 CNH CAPITAL

BR

-26,8

-11,7

135

4 AGRARIO

CO

112,7

19,3

4 PAULISTA

BR

-4,8

-8,5

234

5 COMPARTAMOS

MX

68,4

19,2 246

5 HSBC BANK PERÚ

PE

-9,1

-8,3

217

6 HSBC

AR

104,5

18,5

77

6 RABOBANK CHILE

CL

-4,6

-6,5

208

7 COMERCIAL BHD

DO

41,5

18,5 126

7 ITAÚ ARGENTINA

AR

-3,5

-3,2

171

8 BANCOLOMBIA

PA

73,8

18,4 112

8 SOCIÉTÉ GÉNÉRALE

BR

-8,0

-1,3

79

9 PROVINCIAL

VE

196,5

17,7

9 RBS

CL

-2,1

-0,9

241

10 MONEX

MX

22,1

11 SANTANDER RÍO

AR

118,3

12 BVA

BR

27,9

13 CONTINENTAL BBVA

PE

163,8

16,4

29

14 INTERBANK

PE

79,8

16,2

60

15 BANCARIBE

VE

39,1

16,1 115

52

36

17,2 156

10 CITIBANK

ES

-2,6

-0,7

128

17,1

11 SOFISA

BR

-2,8

-0,7

105

12 IXE

MX

-0,3

-0,1

69

46

16,9 132

ma dos novos níveis recomendados, ou pouco abaixo. A força desse sistema bancário explica-se por três grandes fatores: os sólidos balanços, acompanhados de estritos sistemas de regulamentação e supervisão. Além disso, seu foco no ainda pouco bancarizado mercado do-

méstico lhe fez evitar a exposição aos ativos tóxicos que contaminaram os balanços bancários do Primeiro Mundo. Isso, somado ao bom desempenho macroeconômico de seus países e a uma gestão monetária efetiva, permitiu que a primeira década do século 21 – que começou e terminou com crises – tenha sido a prova de fogo que permitiu aos bancos latino-americanos fortalecer sua musculatura.

A informação apresentada corresponde a junho de 2010, salvo quando indicado outro período. O critério pelo qual se elegem os 250 maiores bancos são os ativos totais. A conversão dos diferentes itens contábeis a dólares correntes é feita segundo o tipo de câmbio vigente correspondente à informação publicada. As carteiras de crédito são brutas e compostas por carteiras vigentes mais carteira vencida (ou a carteira líquida de provisões mais provisões). Os lucros correspondem ao período janeiro-junho, semestralizados em caso de balanços que cubram outro período. Para calcular a rentabilidade sobre o patrimônio, também foram usados dados semestrais. No Brasil, a legislação reconhece dois tipos de bancos: os múltiplos e os comerciais. Os primeiros englobam uma série de atividades, como investimento, leasing, corretagem de valores e crédito imobiliário, diferentemente dos bancos comerciais, que correspondem ao conceito tradicional dos bancos (colocação e captação). Na Argentina, a estimativa de morosidade corresponde à razão entre a carteira vencida e o total de empréstimos. O critério de carteira vencida na Argentina corresponde à carteira com inadimplência, cumprimento deficiente, alto risco de insolvência, difícil recuperação, irrecuperável e irrecuperável por disposição técnica.

Metodologia 25 Melhores O ranking tem como base os 100 maiores bancos da América Latina por ativos totais. O ranking não considera bancos estatais porque, em geral, estes não operam sob as mesmas normas de supervisão. A ferramenta utilizada para determinar os melhores é o método Camel: • C: Capital Adecuacy (Estrutura do Capital) • A: Assets Quality (Qualidade dos Ativos) • M: Management (Gestão) • E: Earning (Lucro) • L: Liquity (Liquidez) 1. Estrutura do Capital (15%) Este indicador mede a capacidade que cada instituição tem para absorver perdas ou desvalorizações de seus ativos, já que qualquer deterioração na qualidade dos mesmos deve ser absorvida pelo patrimônio para que não afete os depósitos. 2. Qualidade dos Ativos (10%) Este indicador mostra a qualidade dos ativos de cada instituição analisando a carteira de créditos, a carteira vencida e provisão de recursos. 3. Gestão (25%) Este é um dos fatores mais complexos de avaliar, já que inclui elementos cuja informação, em sua maioria, não está disponível em todos os países. A eficiência administrativa mede a relação entre a soma dos gastos com pessoal e os gastos operacionais diretos do banco em relação à margem operacional. 4. Lucro (20%) A avaliação da rentabilidade está associada ao potencial atual e futuro da instituição em gerar lucros e rendimento dos ativos, bem como equilíbrio entre o rendimento dos ativos e o custo dos recursos captados, além de conceitos como o retorno do investimento. 5. Liquidez (5%) Os indicadores financeiros relacionados à liquidez medem a capacidade operacional do banco para responder por seus compromissos financeiros de curto prazo. Seu grau de vulnerabilidade vai depender do equilíbrio existente entre fatores como os vencimentos dos ativos e os vencimentos dos passivos do banco. 6. Tamanho (25%) Um último indicador que entra na metodologia é o tamanho, já que, apesar de a seleção dos cem primeiros bancos oferecer uma amostra homogênea, a distância entre o número 1 e o 100 é de mais de US$ 285 bilhões.

Outubro, 2010 AméricaEconomia 47


Especial

BANCOS RK 10

RK 09

BANCO

ATIVO TOTAL PAÍS US$ MI (JUN/10)

VAR. ATIVO CART. DE VAR. CART. DEPÓSIVAR. VAR. LUC. PATRIM. LUCRO TOTAL CRÉD. CRÉD. TOS DEPÓSITO EM % US$ MI US$ MI EM % US$ MI EM % US$ MI EM % (2010/ (JUN/10) (JUN/10) 2010/2009 (JUN/10) 2010/2009 (JUN/10) 2010/2009 2009)

LUC./ C. VENC./ PATR. C. CRÉD. EM % EM % (2010) (2010)

1

2 BANCO DO BRASIL

BRA

362.628,2

39,7

138.898,6

44,6

174.018,8

33,3

22.228,7

2.274,3

41,9

10,2

1,5

2

1 ITAÚ UNIBANCO

BRA

352.920,6

20,8

52.824,0

31,3

166.081,8

28,0

24.519,8

1.475,9

72,2

6,0

5,0

3

3 BRADESCO

BRA

313.189,3

27,5

66.672,3

34,5

145.795,2

19,4

24.645,5

1.808,3

21,0

7,3

8,5

4

5 CAIXA ECONÔMICA FEDERAL

BRA

212.117,0

27,1

77.587,5

64,8

108.985,4

20,2

7.953,7

717,6

79,1

9,0

2,3

5

4 SANTANDER

BRA

207.513,4

15,5

50.433,5

7,4

72.795,7

–10,6

36.362,3

675,0

246,9

1,9

7,9

6

6 BBVA BANCOMER

MÉX

86.635,6

1,9

40.314,9

9,4

43.561,5

5,3

7.748,1

896,5

1.323,2

11,6

3,5

7

7 BANAMEX

MÉX

84.743,6

13,1

26.494,4

31,8

32.456,1

18,6

11.218,1

777,6

33,2

6,9

1,7

8

8 HSBC BRASIL

BRA

63.691,1

17,3

15.470,5

12,2

39.938,7

18,2

3.981,8

235,5

82,9

5,9

5,7

9

9 VOTORANTIM

BRA

59.340,1

18,6

8.452,6

10,5

12.421,3

12,3

4.535,6

265,7

242,6

5,9

1,5

10

10 SANTANDER

MÉX

48.996,1

0,7

15.777,6

–1,5

19.516,9

–3,2

6.162,2

503,4

5,2

8,2

1,8

11

11 MERCANTIL DEL NORTE

MÉX

44.802,0

5,0

18.048,6

5,5

21.715,2

8,2

3.271,8

238,6

20,2

7,3

2,4

12

14 SAFRA

BRA

39.651,4

24,8

10.202,4

44,6

10.375,4

7,0

2.847,1

285,0

22,1

10,0

1,2

13

12 SANTANDER SANTIAGO

CHI

37.793,1

3,0

26.540,1

7,3

20.679,3

–4,2

3.082,7

466,7

31,2

15,1

2,8

14

17 HSBC MÉXICO

MÉX

33.027,8

8,3

11.511,2

1,6

18.041,7

8,0

3.152,1

17,8

1.323,1

0,6

4,3

15

16 BANCO DE CHILE

CHI

32.202,5

4,7

24.581,7

8,5

21.206,8

6,7

2.436,8

379,7

63,9

15,6

1,6

16

18 BANCO ESTADO

CHI

31.565,9

8,4

20.683,2

6,7

20.412,4

8,1

1.712,6

73,0

12,4

4,3

6,9

17

20 NACIÓN

ARG

31.088,0

60,9

9.820,6

38,6

24.638,2

65,8

2.432,6

156,2

113,6

6,4

18

22 CITIBANK

BRA

25.805,8

39,0

3.923,9

14,8

8.148,2

28,9

1.771,1

74,3

–90,9

4,2

6,3

19

19 BCI

CHI

23.565,6

3,4

16.706,5

3,4

13.854,0

–4,9

1.740,4

178,8

48,1

10,3

2,4

20

21 BANCOLOMBIA

COL

22.637,6

18,6

15.507,3

15,7

14.479,3

15,2

3.630,4

312,4

19,2

8,6

3,2 1,2

21

24 CRÉDITO

PER

18.638,5

17,1

10.625,7

20,4

12.734,0

15,2

1.677,2

204,6

14,3

12,2

22

25 INBURSA

MÉX

17.291,2

13,5

13.147,8

16,4

10.836,2

3,4

3.450,2

104,8

–30,0

3,0

1,5

23

30 DE BOGOTÁ

COL

16.605,3

29,7

10.249,1

17,7

11.739,2

22,3

2.368,1

202,1

21,3

8,5

2,8

24

54 BTG PACTUAL

BRA

16.493,8

164,9

1.093,9

112,0

3.417,1

91,5

1.911,0

187,1

220,8

9,8

0,2

25

29 BBVA

CHI

13.556,3

4,3

9.158,5

2,3

7.960,4

7,1

902,9

82,4

12,7

9,1

2,7

26

34 DAVIVIENDA

COL

13.414,3

27,5

9.810,7

38,6

8.909,8

22,7

1.515,1

128,4

21,3

8,5

3,8

27

31 SCOTIABANK INVERLAT

MÉX

13.195,0

15,2

7.633,2

8,3

8.788,5

10,6

2.048,8

101,3

66,0

4,9

4,1

28

32 CORP BANCA

CHI

12.896,4

16,7

9.687,7

10,9

7.603,3

14,1

911,9

101,5

55,3

11,1

2,3

29

36 CONTINENTAL BBVA

PER

11.081,7

9,4

7.597,9

14,3

7.673,4

7,5

999,3

163,8

–5,1

16,4

0,2

30

40 BANCO DO NORDESTE

BRA

11.046,7

33,9

4.987,3

33,1

3.821,6

79,7

1.146,6

28,9

–43,6

2,5

2,6

31

28 BANCO VENEZUELA SANTANDER VEN

10.519,7

–24,4

4.136,3

–37,7

8.976,5

–25,2

877,8

0,0

–100,0

0,0

1,8

32

35 BNP PARIBAS

BRA

10.332,5

–1,5

225,1

–17,4

3.059,1

7,4

612,4

61,8

53,1

10,1

0,0

33

48 VOLKSWAGEN

BRA

10.269,1

41,9

7.587,1

58,8

3.486,1

9,9

946,6

65,6

6,9

0,7

34

37 BBVA COLOMBIA

COL

10.057,9

0,7

6.777,7

8,1

7.027,1

2,9

1.072,6

120,9

25,8

11,3

3,9

35

23 BANESCO

VEN

9.930,0

–44,0

5.720,3

–38,6

8.648,5

–44,4

886,2

93,8

–30,6

10,6

1,4

36

27 PROVINCIAL

VEN

9.717,6

–34,7

4.577,1

–36,0

7.843,0

–34,8

1.107,9

196,5

–37,4

17,7

1,1

37

39 HSBC PANAMÁ

PAN

9.674,1

–0,0

6.051,4

0,5

7.778,1

0,3

1.366,0

34,0

–54,6

2,5

38

33 SCOTIABANK

CHI

9.605,2

–10,8

7.300,6

–8,5

4.336,8

–20,2

884,5

46,4

197,5

5,2

8,0

39

26 MERCANTIL

VEN

9.330,4

–38,6

4.919,4

–32,2

8.063,4

–38,6

982,6

102,8

–33,9

10,5

0,9

40

41 REP. ORIENTAL DEL URUGUAY

URU

9.157,6

13,1

6.948,0

48,6

8.200,4

12,9

957,2

79,6

22,6

8,3

0,2

41

55 BANCO DE OCCIDENTE

COL

8.916,9

46,6

5.655,8

42,0

5.515,0

21,8

1.219,0

107,7

24,9

8,8

5,2

42

44 PROVINCIA

ARG

8.720,8

14,0

2.562,8

7,9

7.117,9

17,7

450,5

31,2

–603,3

6,9

43

64 DEUTSCHE BANK

BRA

8.570,2

57,2

377,3

40,5

964,4

–22,4

533,2

25,0

4,7

25,0

44

42 GENERAL

PAN

8.283,4

2,7

5.133,0

–2,7

6.549,1

5,7

894,4

86,0

1,6

9,6

45

46 SCOTIABANK

PER

8.224,2

11,0

4.757,3

10,8

5.669,3

9,4

1.082,8

117,6

25,9

10,9

1,5

46

50 SANTANDER RÍO

ARG

7.662,3

12,0

4.134,1

12,8

5.184,1

12,0

692,6

118,3

295,4

17,1

47

52 BICENTENARIO

VEN

7.652,7

19,9

1.481,3

–10,6

5.352,6

0,3

584,3

7,6

–69,2

1,3

18,7 1,9

48

70 INDUSTRIAL E COMERCIAL

BRA

7.612,8

57,1

5.081,3

72,0

4.067,6

91,9

1.040,3

71,4

35,3

6,9

49

45 I.N.G. BANK

MÉX

7.598,6

1,6

372,2

–22,2

435,8

–3,3

591,4

10,1

–66,4

1,7

0,0

50

53 NACIÓN

PER

7.277,9

14,2

1.342,2

55,1

5.652,0

19,3

505,8

48,7

–55,2

9,6

0,4

48 AméricaEconomia Outubro, 2010


RK 10

RK 09

BANCO

ATIVO TOTAL PAÍS US$ MI (JUN/10)

VAR. ATIVO CART. DE VAR. CART. DEPÓSIVAR. VAR. LUC. PATRIM. LUCRO TOTAL CRÉD. CRÉD. TOS DEPÓSITO EM % US$ MI US$ MI EM % US$ MI EM % US$ MI EM % (2010/ (JUN/10) (JUN/10) 2010/2009 (JUN/10) 2010/2009 (JUN/10) 2010/2009 2009)

LUC./ C. VENC./ PATR. C. CRÉD. EM % EM % (2010) (2010)

51

63 MACRO

ARG

7.090,3

29,2

2.965,9

39,8

4.689,7

31,1

892,4

94,3

129,2

10,6

52

62 AGRARIO

COL

7.051,8

23,7

3.228,2

19,4

4.588,9

23,0

583,8

112,7

15,8

19,3

4,8

53

51 BBVA, FRANCÉS

ARG

6.730,7

0,4

2.859,0

9,1

5.043,6

–1,5

566,8

72,8

221,4

12,9

54

47 J.P. MORGAN

BRA

6.662,1

–8,8

96,3

256,7

–13,5

743,5

19,3

52,2

2,6

0,0

55

56 GALICIA

ARG

6.535,5

12,1

3.114,2

40,3

4.498,5

12,8

684,2

26,7

41,8

3,9

56

61 NACIONAL

C.RI

6.358,0

11,5

3.456,8

9,2

4.556,4

11,6

634,9

28,6

2,5

4,5

3,2

57

59 DEL BAJIO

MÉX

6.245,0

9,2

4.794,2

29,4

3.580,2

15,4

772,1

35,1

40,8

4,5

2,8

58

65 POPULAR

COL

6.216,8

17,1

3.807,1

24,4

4.311,7

16,8

783,1

97,0

38,6

12,4

3,0

59

80 SICREDI

BRA

6.077,4

40,7

2.296,7

63,2

3.097,4

55,6

125,5

9,1

20,3

7,3

0,0

60

68 INTERBANK

PER

6.065,5

22,1

3.595,6

20,8

4.342,4

20,2

492,4

79,8

41,2

16,2

1,2

61

86 INTERACCIONES

MÉX

6.029,6

49,1

3.351,1

51,5

2.556,5

44,9

281,3

30,0

7,9

10,7

1,2

62

87 BMG

BRA

5.992,7

48,3

3.944,9

62,2

2.704,0

104,3

1.201,2

163,6

171,9

13,6

3,6

63

57 NACIONAL

PAN

5.962,8

2,4

2.229,9

–0,3

5.086,6

0,4

548,8

48,9

18,3

8,9

64

38 OCCIDENTAL DE DESCUENTO

VEN

5.891,8

–40,6

2.657,8

–36,5

4.140,9

–43,2

555,3

55,1

–68,9

9,9

3,6 1,6

65

43 SECURITY

CHI

5.796,7

–25,8

3.537,5

4,2

3.412,2

3,6

355,3

34,8

69,6

9,8

66

60 ITAÚ CHILE

CHI

5.705,5

0,0

4.394,9

9,2

3.779,5

8,8

604,1

41,6

12,3

6,9

1,6

67

94 PANAMERICANO

BRA

5.685,8

51,9

2.997,1

49,9

3.182,7

62,0

885,7

9,6

–65,9

1,1

10,9

68

73 BANCO AZTECA

MÉX

5.267,1

14,3

1.694,7

11,4

4.059,4

11,5

362,8

24,2

62,9

6,7

5,3

69

69 IXE

MÉX

5.139,2

3,8

2.002,6

39,0

2.143,6

19,1

338,4

–0,3

–105,4

–0,1

1,0

70

78 PICHINCHA

EQU

5.132,1

18,3

2.765,4

12,6

4.175,6

18,1

484,5

30,9

17,6

6,4

1,6

71

96 MERCANTIL DO BRASIL

BRA

4.971,5

36,0

2.396,2

41,4

2.730,1

42,0

378,5

49,9

861,7

13,2

2,9

72

77 DE RESERVAS

DOM

4.964,7

14,3

3.457,8

15,0

2.560,0

20,0

375,0

43,2

35,6

11,5

1,8

73

114 BANCOOB

BRA

4.964,2

67,4

1.615,3

84,1

2.782,0

146,6

148,6

7,2

123,6

4,9

0,4

74

111 ABC BRASIL

BRA

4.925,8

58,9

3.086,7

72,2

1.667,3

30,5

711,7

33,8

169,2

4,8

0,6

CHI

4.884,3

–2,7

3.578,6

3,8

3.075,6

–1,3

389,3

31,6

7,4

8,1

1,2

BRA

4.835,4

54,2

2.264,9

57,2

1.547,2

47,4

928,1

39,6

99,8

4,3

2,5

75 76

66 BICE 110 DAYCOVAL

77

82 HSBC

ARG

4.800,2

14,3

2.239,0

25,7

3.445,1

20,2

563,9

104,5

0,0

18,5

78

98 COLPATRIA

COL

4.798,4

36,0

3.784,3

38,5

3.177,1

30,9

452,9

40,2

–25,2

8,9

5,3 5,3

79

115 SOCIETE GENERALE

BRA

4.740,8

61,5

268,4

–7,7

1.064,8

22,8

606,4

–8,0

–1,3

80

74 INDUSTRIAL

GUA

4.723,2

3,0

817,3

–65,5

3.710,8

6,5

428,7

45,6

6,9

10,6

81

99 CRUZEIRO DO SUL

BRA

4.610,9

31,1

738,4

–10,5

2.234,1

37,8

618,5

24,3

3,9

3,5

82

90 RABOBANK

BRA

4.523,0

14,7

1.359,8

22,9

245,0

3,9

327,0

22,3

219,6

6,8

1,8

83

91 DA AMAZÔNIA

BRA

4.480,2

14,7

901,0

7,9

1.188,4

17,5

1.083,5

25,9

14,3

2,4

7,2

84

81 POPULAR DOMINICANO

DOM

4.473,4

5,7

2.700,6

11,6

3.067,4

9,0

353,2

49,5

26,2

14,0

1,2

85

84 BLADEX

PAN

4.419,7

7,9

3.081,1

16,3

1.539,2

19,8

639,8

22,1

–9,5

3,5

BRA

4.394,1

35,2

1.788,1

46,3

1.594,7

66,7

474,8

22,1

161,7

4,7

0,9

86

106 PINE

87

92 DE COSTA RICA

C.RI

4.296,2

12,6

2.409,8

15,4

3.059,3

12,4

498,6

24,7

7,3

5,0

2,5

88

109 GNB SUDAMERIS

COL

4.182,2

31,7

1.766,1

21,7

2.540,1

46,4

284,3

34,8

43,3

12,3

1,8

89

100 CIUDAD

ARG

4.181,3

19,2

2.129,1

9,2

3.345,1

21,7

457,6

55,1

298,7

12,1

90

75 GMAC

BRA

4.047,7

–10,0

1.162,4

–7,0

960,7

–29,2

625,8

30,4

–6,6

4,9

2,4

91

103 BCSC

COL

4.016,6

20,2

2.582,3

10,4

3.369,1

19,8

438,4

42,8

334,9

9,8

7,2

92

95 SANTANDER

URU

3.943,0

5,4

3.087,6

21,5

3.512,9

2,6

430,1

32,1

33,1

7,5

0,1

93

88 CITIBANK N.A

ARG

3.867,8

–3,1

1.662,2

7,7

2.205,8

–2,7

521,8

61,0

35,2

11,7

3.848,8

19,0

1.786,0

27,5

3.032,3

17,9

369,9

46,6

55,4

12,6

1,4

94

107 DE BRASÍLIA, BRB

BRA

95

102 CITIBANK

COL

3.795,3

10,0

2.162,4

7,7

2.325,9

5,1

693,9

38,0

–36,8

5,5

4,6

ELS

3.714,4

–8,7

2.380,0

–6,3

2.638,4

–2,0

535,3

37,9

50,4

7,1

3,6

96

85 BANCO AGRICOLA

97

97 G & T CONTINENTAL

GUA

3.710,9

3,3

604,6

–64,0

2.761,0

9,2

356,9

26,7

–9,2

7,5

98

– HELM BANK

COL

3.598,2

2.609,2

2.482,0

546,2

32,3

5,9

3,0

99

198 BANK OF AMERICA

MÉX

3.595,5

204,4

74,4

–21,0

184,0

–19,6

284,6

19,4

120,5

6,8

0,0

100

124 MERCEDES–BENZ

BRA

3.487,1

35,6

2.920,4

54,2

49,8

–85,9

482,9

19,4

4,0

0,6

Outubro, 2010 AméricaEconomia 49


Especial

BANCOS RK 10

RK 09

BANCO

ATIVO TOTAL PAÍS US$ MI (JUN/10)

VAR. ATIVO CART. DE VAR. CART. DEPÓSIVAR. VAR. LUC. PATRIM. LUCRO TOTAL CRÉD. CRÉD. TOS DEPÓSITO EM % US$ MI US$ MI EM % US$ MI EM % US$ MI EM % (2010/ (JUN/10) (JUN/10) 2010/2009 (JUN/10) 2010/2009 (JUN/10) 2010/2009 2009)

LUC./ PATR. EM % (2010)

C. VENC./ C. CRÉD. EM % (2010)

101

113 CREDICOOP

ARG

3.472,0

16,6

1.490,5

–39,7

2.958,8

19,6

280,3

30,5

–3,3

10,9

102

117 SANTANDER

COL

3.440,8

20,2

2.121,1

16,3

2.209,2

4,8

350,8

27,5

29,2

7,9

2,6

103

122 AV VILLAS

COL

3.412,3

29,0

2.285,6

22,5

2.548,4

29,3

409,4

34,1

40,2

8,3

4,2

104

116 BANCO DEL TESORO

VEN

3.399,5

16,1

580,7

37,0

1.977,9

–12,3

208,5

13,5

–33,9

6,5

2,6

105

121 SOFISA

BRA

3.261,3

16,7

1.236,2

26,9

1.354,5

59,2

422,7

–2,8

–156,9

–0,7

13,2

106

112 DEL DESARROLLO RURAL

GUA

3.214,0

5,8

458,5

–76,2

2.586,5

6,5

387,4

41,6

–9,3

10,7

MÉX

3.182,0

–23,8

709,3

–19,8

984,6

47,4

193,3

10,0

43,7

5,2

5,5

107

83 AFIRME

108

196 DEUTSCHE BANK

MÉX

3.082,4

160,3

44,7

0,0

171,0

9,2

295,9

5,4

0,0

109

128 BANREGIO

MÉX

3.049,9

23,3

1.349,4

27,6

1.251,9

27,4

178,6

10,8

19,2

6,0

2,6

110

49 FIAT

BRA

3.023,1

–56,7

2.322,2

148,0

2.417,9

–62,1

527,1

39,9

89,8

7,6

0,6

111

76 EXTERIOR

VEN

2.896,5

–34,1

1.751,7

–36,7

2.525,6

–32,5

267,3

57,6

–31,8

21,6

0,8

PAN

2.877,5

0,7

1.426,3

2,3

1.762,3

–15,1

401,9

73,8

147,6

18,4

BRA

2.862,1

–50,7

199,7

–63,0

311,9

–62,6

361,1

2,4

–87,5

0,7

24,1

112 113

118 BANCOLOMBIA 58 BBM

114

104 HIPOTECARIO

ARG

2.776,4

–16,5

1.106,0

–1,0

1.048,2

16,3

715,9

10,5

32,5

1,5

115

89 BANCARIBE

VEN

2.774,7

–30,3

1.653,1

–26,8

2.342,8

–32,3

243,4

39,1

–7,3

16,1

0,4

116

120 STANDAR BANK

ARG

2.772,1

–1,8

1.414,5

5,2

1.969,9

–2,5

237,1

6,3

–11,5

2,6

117

137 BANCO IBI S.A. BM

BRA

2.740,6

24,7

1.061,6

0,5

158,6

–73,5

1.231,8

154,9

12,6

41,9

118

135 CRÉDITO DEL PERÚ

PAN

2.678,7

20,1

2.581,7

22,6

90,3

–94,6

45,2

3,4

–56,3

7,6

119

133 POPULAR

C.RI

2.626,7

14,4

1.761,6

17,8

1.862,3

9,8

487,2

15,9

1,0

3,3

3,0

120

151 MIFEL

MÉX

2.619,5

37,0

1.160,6

66,5

1.284,4

101,9

89,2

4,8

132,2

5,4

2,8

121

134 CLÁSSICO

BRA

2.587,4

13,6

0,6

3,0

0,4

510,8

2.498,4

9,0

406,0

0,4

0,0

79 CORP. BANCA

VEN

2.533,8

–41,5

1.563,9

–31,6

1.791,6

–34,4

252,7

15,4

–77,6

6,1

3,0

67 INDUSTRIAL DE VENEZUELA

60,8

122 123

VEN

2.520,5

–49,3

178,3

–68,9

1.782,0

–50,6

157,3

13,7

8,7

124

140 GLOBAL BANK

PAN

2.514,0

16,6

1.696,7

22,6

1.832,5

19,1

189,4

10,0

3.426,0

5,3

125

127 PATAGONIA

ARG

2.493,5

0,3

1.267,1

36,8

1.738,5

19,3

449,7

35,8

124,9

8,0

126

145 COMERCIAL BHD

DOM

2.418,0

18,9

1.195,2

16,6

1.083,7

19,6

224,1

41,5

25,2

18,5

1,9

127

152 DEUTSCHE

CHI

2.337,0

23,0

N.D.

685,1

156,1

146,9

21,8

54,4

14,8

128

123 CITIBANK

ELS

2.325,5

–11,3

1.302,3

–17,3

1.615,5

2,8

374,0

–2,6

–0,7

6,1

129

129 BAC INTERNACIONAL

PAN

2.276,3

–7,1

977,7

–9,1

1.237,9

–13,9

864,5

85,9

–1,9

9,9

130

171 BANCO FIDIS

BRA

2.228,2

44,0

1.917,0

80,9

1.623,6

47,7

195,7

9,6

19,5

4,9

0,2

131

163 PACÍFICO

EQU

2.192,8

27,8

904,3

25,7

1.793,8

33,4

298,2

N.D.

–100,0

1,1

132

241 BVA

BRA

2.192,3

148,1

1.179,4

176,2

1.633,8

153,4

164,4

27,9

181,5

16,9

1,1

133

177 RURAL

BRA

2.173,6

43,6

1.052,2

93,4

1.490,9

57,6

234,9

12,3

144,1

5,2

1,3

VEN

2.149,4

–55,6

798,0

–53,2

1.794,0

–45,3

158,8

1,2

–95,3

0,7

8,6

126 CNH CAPITAL

BRA

2.127,5

–15,0

1.179,7

–24,0

551,7

36,1

228,9

–26,8

–11,7

27,6

136

164 LAGE DE LANDEN

BRA

2.110,2

26,1

1.852,0

32,7

N.D.

189,7

5,6

3,0

3,2

137

159 HSBC

CHI

2.071,1

18,1

467,7

9,3

1.084,8

33,5

173,3

1,6

–77,6

0,9

138

144 BARCLAYS

BRA

2.031,2

–0,2

N.D.

216,5

–50,4

392,7

36,6

301,2

9,3

139

150 BAC. SAN JOSÉ

C.RI

2.030,4

5,4

1.446,4

3,1

1.548,9

1,9

205,4

8,9

–52,9

4,3

0,8

140

156 ATLÁNTIDA

HON

1.939,4

7,1

1.133,9

0,3

1.289,1

8,5

200,6

15,2

1,7

7,6

2,2

141

162 NVO. DE SANTA FE

ARG

1.931,4

12,1

839,8

0,2

1.441,1

17,7

232,9

34,5

45,6

14,8

142

142 SCOTIABANK

ELS

1.930,2

–7,4

1.414,4

–1,7

1.392,7

4,7

226,1

3,5

131,5

1,6

4,3

143

139 HSBC

ELS

1.843,6

–14,8

1.143,1

–7,7

1.293,1

–6,2

256,1

6,5

1.870,7

2,5

6,0

144

148 SCOTIABANK

C.RI

1.826,7

–5,4

1.335,9

–5,5

1.524,2

–7,1

180,5

0,3

–92,0

0,2

2,5

145

161 INVEX

MÉX

1.826,1

5,4

540,4

2,7

544,7

24,7

161,2

6,6

10,5

4,1

3,2

146

173 PRODUBANCO

EQU

1.824,0

18,9

833,7

25,7

1.519,1

21,0

161,5

N.D.

–100,0

0,4

134 135

71 FEDERAL

147

93 NACIONAL DE CRÉDITO

VEN

1.794,6

–52,4

865,3

–55,8

1.502,2

–52,5

184,3

4,9

–61,0

2,7

5,2

148

160 DE AMÉRICA CENTRAL

HON

1.777,3

2,1

879,7

–7,3

905,5

–6,3

148,8

9,5

47,6

6,4

1,2

149

157 J. P. MORGAN

MÉX

1.761,2

–2,6

8,4

–65,6

59,0

6,2

342,2

7,1

–81,0

2,1

0,0

150

167 MORGAN ST. DEAN

BRA

1.731,5

6,0

N.D.

702,6

431,4

35,6

8,3

50 AméricaEconomia Outubro, 2010


RK 10

RK 09

BANCO

ATIVO TOTAL PAÍS US$ MI (JUN/10)

VAR. ATIVO CART. DE VAR. CART. DEPÓSIVAR. VAR. LUC. PATRIM. LUCRO TOTAL CRÉD. CRÉD. TOS DEPÓSITO EM % US$ MI US$ MI EM % US$ MI EM % US$ MI EM % (2010/ (JUN/10) (JUN/10) 2010/2009 (JUN/10) 2010/2009 (JUN/10) 2010/2009 2009)

LUC./ C. VENC./ PATR. C. CRÉD. EM % EM % (2010) (2010)

151

179 ITAU

URU

1.729,3

14,5

1.126,0

47,4

1.617,6

14,7

111,7

10,4

9,3

0,2

152

175 INDUSVAL

BRA

1.706,6

11,9

689,9

7,8

754,2

21,1

239,1

1,7

35,9

0,7

3,1

153

166 MERCANTIL STA. CRUZ

BOL

1.691,5

2,5

780,8

1.496,2

107,9

9,0

8,4

0,3

154

165 FICOHSA

HON

1.685,3

1,8

970,1

5,0

890,5

–1,4

146,3

10,7

–9,3

7,3

0,3

155

158 FALABELLA

CHI

1.682,9

–5,8

1.208,5

5,7

759,2

–12,5

175,6

16,6

213,0

9,4

4,0

MÉX

1.644,2

101,8

157,8

37,7

173,6

29,2

128,5

22,1

15,2

17,2

2,0

156

– MONEX

157

178 DE CÓRDOBA

ARG

1.643,9

8,7

732,7

17,0

1.379,3

12,6

57,9

–11,2

–7.974,8

–19,3

158

149 WESTLB

BRA

1.642,1

–14,8

377,2

–2,4

234,7

–19,8

276,6

2,2

–79,6

0,8

2,0

159

176 DE OCCIDENTE

HON

1.622,6

6,6

828,4

1,2

1.219,8

1,8

132,5

11,4

–2,8

8,6

2,4

160

250 BGN

BRA

1.599,7

94,9

1.033,1

73,8

1.072,0

83,6

445,8

23,3

5,2

25,4

161

182 CACIQUE

BRA

1.596,5

8,0

938,6

4,5

978,4

31,2

192,8

0,5

0,2

28,0

162

185 MULTIBANK

PAN

1.594,1

17,6

940,3

20,9

1.251,9

21,7

164,2

10,8

50,2

6,6

163

183 CAJA DE AHORROS

PAN

1.592,1

8,0

1.091,1

12,4

1.287,5

11,5

203,7

11,7

227,8

5,8

164

201 THE BANK OF NOVA SCOTIA

PAN

1.579,8

36,7

1.221,4

18,6

1.507,2

36,9

17,2

17,8

40,2

103,6

165

147 BANKPAR

BRA

1.541,8

–21,4

174,7

3,2

430,5

–56,3

79,9

8,2

10,2

52,6

166

231 HSBC FINANCE S.A. BM

BRA

1.532,7

61,0

667,1

174,8

649,0

172,0

764,0

53,5

36,2

7,0

0,4

167

184 INTERAMER. DE FINANZAS

PER

1.528,4

11,8

967,9

10,6

1.120,8

13,2

106,7

9,4

19,6

8,9

0,8 0,6

168

194 INTERNACIONAL

EQU

1.465,0

18,6

757,1

4,9

1.268,1

18,5

124,2

N.D.

169

193 BOLIVARIANO

EQU

1.457,0

17,2

680,4

9,2

1.233,3

18,5

120,3

N.D.

0,5

170

223 MULTIVA

MÉX

1.446,8

44,7

474,6

41,9

506,1

79,8

124,3

3,1

2,5

6,6

171

197 ITAÚ ARGENTINA

ARG

1.428,5

20,9

769,7

14,6

967,7

18,2

109,7

–3,5

–193,9

–3,2

172

192 NACIONAL DE BOLIVIA

BOL

1.427,4

14,3

674,3

1.232,1

98,1

10,8

11,0

0,6

173

210 MI BANCO

PER

1.414,9

28,3

1.109,5

29,0

885,2

52,6

122,5

19,6

67,5

16,0

3,1

174

203 BANCO CSF S.A.

BRA

1.404,0

21,6

270,0

–1,5

207,2

–15,0

310,6

34,7

23,2

11,2

84,9

175

119 FONDO COMÚN

VEN

1.402,3

–50,6

665,6

–47,9

1.232,4

–50,0

130,1

2,2

–82,7

1,7

1,6

176

190 TOYOTA

BRA

1.394,3

11,0

808,5

66,8

927,0

–3,8

138,9

17,4

239,8

12,5

0,4

177

186 CITIBANK

PAN

1.375,9

6,1

757,3

–20,8

1.148,2

14,6

140,3

3,6

–50,7

2,6

178

187 NVO. COMERCIAL

URU

1.366,3

5,9

948,1

25,4

1.197,4

8,7

168,9

1,6

0,9

0,6

179

125 VENEZOLANO DE CRÉDITO

VEN

1.354,3

–46,3

478,9

–34,8

1.135,6

–47,5

148,4

18,2

–75,9

12,2

0,4

GUA

1.352,0

8,8

233,9

–66,2

1.095,1

9,4

108,9

10,2

9,6

9,4

–12,5

890,0

–10,9

1.059,8

–16,0

143,9

7,1

24,1

5,0

2,2

180

– AGROMERCANTIL

181

172 HSBC

C.RI

1.344,8

182

214 BISA

BOL

1.332,9

23,2

499,0

1.081,1

134,4

13,0

9,6

0,7

183

138 CARONÍ

VEN

1.329,3

–38,6

429,8

–42,3

1.184,4

–39,0

127,1

10,8

–28,8

8,5

2,4

184

199 SUPERVIELLE

ARG

1.309,5

11,4

705,5

34,7

973,0

14,7

138,8

9,3

16,9

6,7

185

200 CREDIT URUGUAY

URU

1.305,5

12,4

1.028,8

31,9

1.221,1

11,9

84,4

1,3

–9,0

1,6

0,1

186

207 ALIADO

PAN

1.300,9

16,7

752,7

21,9

1.069,0

20,9

130,4

5,8

–22,6

4,4

187

227 INTERNACIONAL

CHI

1.298,4

34,0

866,9

36,2

945,6

26,9

78,1

6,1

15,8

7,9

2,0 9,8

188

239 PARANÁ

BRA

1.288,4

43,6

778,9

43,6

653,8

75,1

443,2

19,8

21,7

4,5

189

204 BANSI

MÉX

1.279,1

11,3

441,6

25,7

368,8

25,7

84,5

4,7

35,0

5,5

3,1

190

248 BANCENTRO

NIC

1.278,0

50,0

392,6

–14,5

1.020,0

66,8

91,7

5,6

–3,5

6,1

2,3 –

191

228 BANESCO SA

PAN

1.249,8

29,6

489,8

71,4

1.080,0

28,4

139,5

13,5

119,5

9,7

192

215 BARCLAYS

MÉX

1.248,9

16,2

0,0

0,0

158,7

0,0

–99,8

0,0

193

205 CITIBANK

PER

1.239,4

9,4

635,6

–5,8

820,7

24,8

241,6

7,4

64,5

3,1

3,4

194

191 AMERICAN EXPRESS

MÉX

1.212,1

–3,2

609,8

–19,4

540,0

–12,1

211,5

19,8

2.045,8

9,4

9,4

195

217 VOLVO BRASIL

BRA

1.211,6

15,4

879,8

7,3

206,8

61,6

211,5

27,5

13,0

1,4

196

206 DE LA PRODUCCIÓN

NIC

1.192,0

6,7

471,7

–8,6

923,7

9,4

98,7

5,6

–8,6

5,7

1,8

197

189 CITIBANK N.A.

BRA

1.188,4

–5,4

80,8

–58,0

N.D.

312,2

13,6

–49,0

4,4

324,7 0,0

198

170 ING BANK

BRA

1.181,7

–23,9

116,0

–27,2

286,1

–26,2

267,5

8,4

–60,3

3,1

199

211 DE AMÉRICA CENTRAL

ELS

1.177,9

6,8

772,8

3,6

876,1

26,7

123,7

7,1

99,8

5,7

2,9

200

218 BOAVISTA INTERATLÂNTICO

BRA

1.171,2

11,8

0,8

N.D.

1.074,5

24,4

0,8

2,3

84,8

Outubro, 2010 AméricaEconomia 51


Especial

BANCOS RK 10 201 202

RK 09

BANCO

229 INDUSTRIAL – BONSUCESSO

ATIVO TOTAL PAÍS US$ MI (JUN/10)

VAR. ATIVO TOTAL EM % 2010/2009

CART. DE VAR. CART. DEPÓSIVAR. VAR. LUC. PATRIM. LUCRO CRÉD. CRÉD. TOS DEPÓSITO EM % US$ MI US$ MI US$ MI EM % US$ MI EM % (2010/ (JUN/10) (JUN/10) (JUN/10) 2010/2009 (JUN/10) 2010/2009 2009)

LUC./ C. VENC./ PATR. C. CRÉD. EM % EM % (2010) (2010)

BRA

1.152,9

19,6

539,5

27,1

525,8

29,1

219,0

4,7

–6,2

2,1

BRA

1.130,0

74,2

650,2

61,6

687,8

58,1

209,8

33,5

26,6

16,0

1,7

–27,1

718,8

–6,3

301,4

16,7

130,3

0,6

–94,1

0,5

12,0

203

174 BANCO AGRICOLA VENEZUELA

VEN

1.113,5

48,6

204

236 FINANCIERO

PER

1.109,1

19,1

769,7

18,8

725,1

25,3

115,3

5,8

80,6

5,0

1,9

205

154 CITIBANK

VEN

1.108,5

–41,1

318,2

–34,5

773,0

–46,2

137,9

1,4

–97,4

1,0

3,7

206

146 J. SAFRA

BRA

1.102,7

–44,9

994,8

995,1

923,0

2,6

149,0

4,0

2,7

0,2

207

226 IBM

BRA

1.091,3

10,9

124,5

–15,9

374,2

14,9

130,1

5,6

–56,1

4,3

0,6

CHI

1.081,4

43,2

580,1

74,4

432,5

153,1

70,7

–4,6

–6,5

1,7

234 BANIF BRASIL

BRA

1.067,4

13,2

522,3

53,0

518,2

40,7

99,8

1,9

597,6

1,9

50,2

210

224 SCOTIABANK

DOM

1.065,6

6,6

692,2

7,1

877,5

5,8

153,9

15,2

24,8

9,8

1,8

211

188 HSBC

HON

1.042,8

–19,1

537,2

–22,3

636,9

–18,2

94,9

1,4

1,5

5,1

212

237 LEON

DOM

1.042,0

12,8

654,4

13,4

812,6

12,6

88,6

8,9

238,5

10,1

3,8

213

220 TOKYO-MITSUBISHI UFJ BRASIL BRA

1.031,7

–0,2

51,2

–60,7

228,3

33,8

210,3

1,6

–72,6

0,8

0,0 –

208 209

– RABOBANK CHILE

214

– ES BANK

PAN

1.024,6

36,8

1.001,8

40,2

968,1

38,5

54,1

3,0

25,5

5,6

215

238 COMAFI

ARG

1.016,8

10,5

479,5

10,0

710,0

8,4

84,1

17,6

8,1

20,9

216

230 DEL PAÍS

HON

1.016,7

5,5

693,1

3,4

658,2

4,2

113,5

10,3

0,4

9,0

0,5

217

– HSBC BANK PERÚ

PER

1.009,4

73,5

622,5

48,0

462,3

15,9

109,3

–9,1

–8,3

1,8

218

– TRIÂNGULO

BRA

1.005,3

49,5

564,6

40,7

623,1

76,8

193,7

12,8

100,2

6,6

8,0

219

249 VE POR MÁS

MÉX

998,7

19,2

660,3

41,1

558,4

18,9

79,4

2,3

96,7

2,9

2,1

220

243 CREDICORP

PAN

997,4

15,3

536,4

1,8

837,8

15,2

101,7

5,8

–33,1

5,7

221

130 BANCORO

VEN

995,8

–59,2

344,3

–68,2

369,6

–82,9

183,8

0,6

0,3

30,0

222

242 JOHN DEERE

BRA

988,5

12,7

248,6

–68,0

756,3

163,5

15,8

47,9

9,7

105,6

BRA

988,5

22,6

248,6

756,3

18,0

163,5

15,8

9,7

105,6 –

223

– CREDIT SUISSE

224

212 GOLDMAN SACHS DO BRASIL

BRA

987,4

–10,0

N.D.

73,7

114,1

79,1

–41,2

–52,1

225

222 REFORMADOR

GUA

967,3

–5,2

162,6

–71,9

797,5

3,4

98,5

6,8

–24,6

6,9

BRA

955,4

60,1

874,9

64,5

807,3

59,5

96,2

11,4

132,6

11,8

1,0 0,1

226

– BANCO HONDA S.A.

227

245 BBVA

URU

949,1

10,6

822,5

24,8

878,8

10,3

70,3

0,6

–18,7

0,9

228

246 BICSA

PAN

944,0

10,2

669,3

24,5

571,0

13,5

122,2

6,7

18,3

5,5

229

216 CRÉDITO

BOL

939,0

–11,2

493,2

795,8

84,4

7,9

9,4

0,5

230

233 PSA FINANCE

BRA

935,9

–1,2

705,0

–5,7

675,9

–6,7

156,5

4,8

64,2

3,1

4,2

231

240 DE VIVIENDA

PAN

930,4

3,8

612,0

14,9

790,5

5,0

92,6

0,5

5,6

0,6

232

169 CREDIT SUISSE

MÉX

886,0

–43,6

0,0

73,3

–51,7

93,7

1,8

371,8

1,9

233

– CITIBANK N.A.

GUA

883,6

480,9

665,9

137,8

9,6

7,0

234

– PAULISTA

BRA

876,0

32,8

180,8

0,8

328,9

8,0

56,2

–4,8

–8,5

8,5

235

– AHORRO FAMSA

MÉX

836,4

28,2

648,8

36,3

624,7

24,4

129,4

18,0

13,9

12,5

236

– SAN JUAN

ARG

835,5

46,7

108,4

27,1

482,6

73,4

257,2

39,3

–9,8

15,3

237

– CASA PROPIA

VEN

831,3

10,2

306,5

–16,1

497,3

–21,5

100,9

1,2

–86,1

1,1

0,6 –

238

– CITIBANK N.A.

PAN

827,5

6,6

231,1

–10,2

698,7

6,2

75,6

5,0

28,6

6,6

239

– GTC BANK

PAN

821,8

3,9

514,9

–8,2

730,6

4,9

63,8

3,9

–35,3

6,1

240

– DE AMÉRICA CENTRAL

NIC

819,2

1,3

463,7

–6,3

658,1

5,6

98,6

10,0

–6,5

10,1

1,2 0,3

241

180 RBS

CHI

796,0

–47,2

214,4

–37,3

319,9

–55,4

240,1

–2,1

–0,9

242

– DISCOUNT

URU

794,3

11,0

248,1

18,2

727,6

10,1

66,7

6,5

9,7

0,0

243

– AUSTRO

EQU

794,2

26,5

454,4

21,5

683,3

29,8

63,8

N.D.

–100,0

0,0

244

– NVO. DE ENTRE RÍOS

ARG

788,7

34,1

299,3

–4,7

607,3

40,0

100,9

11,9

28,6

11,8

245

– FORD

BRA

777,7

1,2

750,2

71,9

595,9

6,1

168,6

9,3

–20,4

5,5

35,0

246

– COMPARTAMOS

MÉX

776,8

29,2

650,0

30,7

142,9

32,5

355,2

68,4

47,0

19,2

2,2

247

– BANCO DE LOS TRABAJADORES GUA

747,9

12,2

99,3

–79,1

617,5

17,4

77,3

6,0

–7,9

7,8

248

– BANCO DE LA PAMPA

ARG

744,7

22,8

292,7

10,5

580,5

21,3

83,7

11,2

112,0

13,3

249

– TOWERBANK

PAN

743,1

18,7

433,5

3,2

644,2

23,5

71,5

0,8

–74,2

1,2

250

– PICHINCHA

PAN

741,8

5,7

180,7

–1,8

694,7

9,3

33,8

1,8

5,3

52 AméricaEconomia Outubro, 2010


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Dinheiro

com princípios

OS BANCOS LATINOAMERICANOS COMEÇAM A VER COM OUTROS OLHOS O FINANCIAMENTO DE PROJETOS SUSTENTÁVEIS GRAZIELE DAL-BÓ, DE SÃO PAULO, E FELIPE ALDUNATE, DE SANTIAGO

U

ma estrada cuja construção está suspensa em Cundinamarca, Colômbia, porque afeta os recursos hídricos. Usinas que estão paradas no Brasil por conta de protestos de organizações ambientais. Uma termelétrica que deixa de ser construída no norte do Chile ante o clamor popular de que estaria em uma reserva marinha considerada santuário da natureza. Isso não é mais novidade. Os temas ambientais e sociais se transformaram em uma das principais fontes de risco nos grandes projetos de investimento realizados na América Latina. E os bancos podem ser uma das principais vítimas dessa tendência. “Uma instituição na Ásia Oriental, por exemplo, foi fortemente prejudicada quando o governo decidiu

INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS ESTUDAM COM CUIDADO SETORES COMO O AGRONEGÓCIO

1


Foto: Sergio Ranalli/Pulsar Imagens

fechar, por conta de problemas ambientais, 200 mil empresas para as quais ela havia liberado crédito”, conta Piotr Mazurkiewicz, representante de Políticas Ambientais e Sociais da International Finance Corporation (IFC), unidade do Banco Mundial que trabalha junto ao setor privado. As leis ainda não asseguram que um projeto autorizado pela autoridade ambiental seja finalmente executado, já que a pressão da comunidade pode ir muito mais além. Diante dessa situação, os grandes bancos do mundo têm desenvolvido seus próprios mecanismos para avaliar os riscos sociais e ambientais dos projetos que financiam. Foi assim com a criação dos Princípios do Equador, em 2003, um conjunto de padrões proposto por um grupo de bancos, útil na hora de analisar o financiamento de projetos que podem ter impacto ambiental e social. Esses princípios foram criados por bancos globais, como Citigroup, ABN Amro, Barclays e WestLB com base no modelo ambiental do Banco Mundial e das políticas sociais da IFC. “Apesar de tudo, ainda existem grandes players na região que estão expostos a um alto nível de risco social e ambiental e que não seguem esses princípios”, afirma Mazurkiewicz. O recomendável é que todos aqueles que tenham um volume de crédito corporativo ou de financiamento de projetos superiores a US$ 10 milhões assinem – e assumam – esses princípios. Desde 2002, depois da integração com o Banco Real, o Santander – signatário dos princípios – conta com uma área de Risco Socioambiental no Brasil. Todos os anos, a equipe, coordenada por Christopher Wells e formada por dois biólogos, um geógrafo, um químico e um engenheiro ambiental, analisa cerca de 3 mil empresas para fornecer crédito. “Nesses oito anos, apenas 54 empresas não tiveram o financiamento renovado

por causa de problemas ambientais. Em contrapartida, 5% das companhias que analisamos anualmente obtêm o crédito, mas com condicionantes”, revela Wells, acrescentando que o setor em que isso é mais comum é o do agronegócio. Os casos de instituições latino-americanas que estão dispostas a adotar a série de recomendações previstas nos Princípios do Equador – a participação é voluntária – não se limitam ao Brasil. O chileno Corpbanca é um exemplo. Mesmo com um volume baixo de empréstimos, foi o primeiro e único do país a assinar o documento. “São 11 projetos nos quais olhamos com detalhes a parte ambiental”, diz Jorge Gómez, gerente de Marketing do banco. O Banco-

5% das empresas analisadas pelo Santander obtêm crédito desde que mudem algum processo lombia também foi o primeiro de seu país a ser signatário dos princípios. Por ano, a instituição tem 160 operações de financiamento analisadas com base nesses padrões. Um dos primeiros desafios foi convencer a alta direção. “No começo, a equipe comercial achou que isso representaria mais um requisito para seus clientes, o que poderia prejudicar a participação de mercado”, afirma Franco Piza, gerente de Gestão Ambiental do grupo. “Isso foi superado quando identificamos que há uma tendência dos bancos internacionais em direção a isso.”

PROCEDIMENTOS A adoção dos princípios é um mero trâmite para os bancos. A dificuldade surge quando é preciso torná-los operacionais. Segundo a IFC, a parte mais complexa é “estabelecer um sistema de gestão ambiental e social sólido, além de um mecanismo de controle apropriado”, diz Mazurkiewicz. Tal monitoramento não é realizado nem pela IFC, nem pela Secretaria Executiva dos Princípios do Equador. A tarefa foi assumida por um grupo de ONGs especializadas em ecofi nanças. A BankTrack, sediada em Amsterdã, é uma das mais conhecidas. “Nosso objetivo inicial é ter uma comunicação aberta com os bancos, para sensibilizálos sobre as questões ambientais envolvidas nos projetos que pretendem financiar”, diz Roland Widmer, coordenador do programa Ecofi nanças da ONG Amigos da Terra e representante da BankTrack no Brasil. “Quando existe algum problema, nós comunicamos extraoficialmente. Se ele persistir, entramos na Justiça. Até o momento, porém, não acionamos nenhum banco.” Segundo a ONG, a parte mais negligenciada entre os Princípios do Equador é a referente às consultas públicas. “O princípio número 5 indica que alguns projetos precisam de consultas públicas para serem aprovados, o que muitas vezes não acontece”, diz Widmer. “Nas hidrelétricas do Rio Madeira [Santo Antonio e Jirau] e do Rio Xingu [Belo Monte], por exemplo, há evidências claras de que essas consultas não foram realizadas de forma adequada.” Embora ainda exista o que ser melhorado, os casos mostrados acima, somados à influência dos bancos globais e aos avanços daqueles que passaram a adotar os princípios, são passos necessários para que o financiamento sustentável deixe de ser exceção e se transforme em uma prática corriqueira na concessão de crédito. Outubro, 2010 AméricaEconomia 55


opinião

Motor de ela primeira vez em décadas, o Brasil em 2010 é destaque mundial em crescimento econômico. Segundo projeções do FMI, cresceremos acima de 7%, sendo superados apenas por China (10%) e Índia (9,5%). Em média, o mundo crescerá 4,6%, sendo que as economias avançadas, apenas 2,6%. Quais as razões para essa posição de destaque? Fundamentalmente, o Brasil tem capacidade de crescer porque conta com uma demanda doméstica pujante – embalada pelo mercado de trabalho aquecido – e com um sistema financeiro saudável, com bancos bem administrados e lucrativos, dispostos a financiar o sonho de consumo da classe média emergente. É exatamente o oposto do que acontece nos Estados Unidos e na Europa, onde os consumidores estão endividados demais, e os bancos, descapitalizados. Até o início da década de 2000, o crédito era escasso no Brasil. A proporção do crédito sobre o PIB era de apenas 25% – a média dos países mais dinâmicos é superior a 60%. Com as mudanças iniciadas a partir dos anos 1990 – abertura comercial, estabilização da moeda, privatizações, aumento da regulação do mercado financeiro, redução do risco de ruptura de um governo do PT –, o país amadureceu, criando o ambiente de

P

CAIO MEGALE é mestre em Economia pela PUC-Rio e sócio da Mauá Sekular Investimentos (megalecaio@gmail.com)

56 AméricaEconomia Outubro, 2010

previsibilidade e de juros mais baixos, necessário para fazer florescer o crédito. Hoje, ele já chega a 45% do PIB, o que indica não apenas a melhora, mas também espaço para continuar a crescer, até fazer catch up (ou alcançar o padrão) com nossos parceiros no resto do mundo. No entanto, é preciso chamar a atenção para os riscos desse processo. O nível de endividamento de famílias e empresas brasileiras é ainda baixo, mas, ao ritmo atual, esse quadro pode mudar rapidamente. Países como Irlanda e Espanha, por exemplo, experimentaram um boom de crédito e otimismo com o ingresso na União Europeia, no início dos anos 2000, e hoje enfrentam a “ressaca” dos exageros dos anos passados. E o Brasil tem o agravante de ainda ter taxas e spreads bancários muito altos, o que pode acelerar o processo de comprometimento da renda. Temos de zelar ainda para que o excesso de crédito subsidiado do BNDES – hoje camuflado por uma engenharia contábil pouco clara – não gere esqueletos indigestos no futuro. Hoje, somos uma das estrelas no cenário econômico mundial, foco de interesse de investidores locais e estrangeiros. Esse sucesso é legítimo, dado todo o esforço feito pela sociedade brasileira, desde a redemocratização, para criar fundamentos para o desenvolvimento. No entanto, precisamos consumir esse sucesso “com moderação”, e com transparência nas contas públicas, para não incorrermos no erro que hoje torna as economias centrais tão frágeis.

Ilustração: Samuel Casal

arranque


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FINANÇAS Investimentos

Na rota do

crescimento FUNDOS DE PENSÃO ASSUMEM MAIOR EXPOSIÇÃO NO FINANCIAMENTO A EMPREENDIMENTOS PRIVADOS, DE OLHO NA SUPERAÇÃO DE SUAS METAS ATUARIAIS LUÍS EDUARDO LEAL , DE SÃO PAULO

H

á alguns anos, desde que as rentabilidades oferecidas pela segura aplicação em títulos públicos começaram a declinar, os fundos de pensão se deparam com um duplo desafio: como conciliar o cumprimento – ou mesmo a superação – de suas metas atuariais e o alongamento da expectativa de vida dos beneficiários. A resposta tem sido a diversificação das classes de ativos – especialmente em direção a ações, crédito privado e fundos de participação – e uma política ainda mais atenta ao controle de risco, o que envolve, inclusive, maior participação relativa do patrimônio sob gestão direta. Três grandes fundos de pensão – Petros, Valia e Funcef – têm assumido posição de destaque nessa tendência. “A rentabilidade dos títulos públicos, menos atrativa hoje do que no passado, faz com que os gestores busquem posições mais longas em risco privado. Mas isso está sendo feito de forma gradual, já que os fundos de pensão são como grandes transatlânticos, em que a navegação e os ajustes de rota precisam ser feitos cuidadosamente”, diz Alcinei Rodrigues, assessor da diretoria de Investimentos da Petros, o fundo dos funcionários da Petrobras, com ativos superiores a R$ 46 bilhões. “Instrumentos de renda fi xa privada com garantias reais, como CCB (Cédula de Crédito Bancário), CRI (Certificado de Recebíveis Imobiliários) e CCI (Cédula de Crédito Imobiliário), serão cada vez mais uma opção. E, para atuar nesse campo, as regras de gestão de risco ficarão mais elaboradas”, acrescenta Rodrigues, que fez apresentação sobre o assunto durante o 21º Congresso Apimec (Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais), em Belo Horizonte.

58 AméricaEconomia Outubro, 2010


515 bilhões de reais eram os ativos totais dos fundos de pensão em 2009, o equivalente a 18% do PIB “Há uma tendência natural de diversificação, o que envolve também capacitação dos gestores. É um processo que deve se acelerar nos próximos três, quatro anos”, prevê Ricardo Pena Pinheiro, diretor-superintendente da Previc (Superintendência Nacional de Previdência Complementar). “Com a queda dos juros, os fundos de pensão vão tirar cada vez mais o foco da renda fi xa. Há espaço para crescimento da participação relativa de private equity e de ações nas carteiras, bem como de crédito privado”, acrescenta o diretor de Investimentos e Finanças da Valia, o fundo da Vale, Maurício da Rocha Wanderley. Atualmente, a participação das ações nas carteiras de investimentos dos fundos de pensão gira em torno de 16% a 17%. O espaço para crescimento é amplo, na medida em que a regulamentação limita a 50% a participação da renda variável na composição dos investimentos. “Percebemos o momento atual muito menos como um cenário de ameaça do que como um cenário de oportunidades. O potencial de ganho, com a diversificação, também é maior”, avalia o diretor da Valia, fundo com patrimônio de R$ 12,7 bilhões. Nos últimos dez anos, a rentabilidade nominal média do fundo de pensão da Vale esteve na casa de 22% ao ano, bem acima de suas metas atuariais (inflação mais 6%), o que gerou superávit e aumento de 25% no valor do benefício. “E acreditamos que os próximos anos devem ser ainda melhores do que os últimos”, acrescenta Wanderley.

Foto: Shutterstock

ESPAÇO PARA CRESCER Para se ter ideia da força conjunta da indústria de fundos de pensão – o que a leva a estar presente seja no financiamento de grandes projetos de infraestrutura, como as hidrelétricas de Belo Monte e Jirau, seja no de pequenas startups de tecnologia –, os ativos combinados do setor totalizavam o equivalente a 18% do Produto Interno Bruto (PIB) no encerramento de 2009 – algo como R$ 515 bilhões. Há 15 anos, em 1995, quando o Brasil ainda lutava para se firmar em um ambiente de inflação sob controle, passo fundamental para que os agentes econômicos começassem a mirar o longo prazo, os ativos totais dos fundos equivaliam a pouco mais de 11% do PIB (ou R$ 74,8 bilhões). E a previsão comum é a de que Outubro, 2010 AméricaEconomia 59


FINANÇAS Investimentos continuarão a avançar. “Há países em que os fundos de pensão chegam a 80% ou mesmo a 100% do PIB. Por aqui, ainda há muito espaço para crescer”, diz Rodrigues, da Petros. A partir de 2003, com a melhoria gradual dos fundamentos macroeconômicos, o reforço das reservas cambiais, a diminuição do risco-país e a redução do peso da dívida pública líquida em relação ao PIB, o Tesouro Nacional se valeu de condições favoráveis ao financiamento da dívida em prazos mais longos e com custos mais baixos. Com a diminuição da rentabilidade dos títulos públicos, o caminho natural para grandes administradores de recursos, como os fundos de pensão, foi a diversificação, o que se aprofundou entre 2005 e 2007. A Funcef, o fundo dos funcionários da Caixa Econômica Federal (CEF), por exemplo, divide os seus R$ 40 bilhões de patrimônio em três classes de investimento ou “índices de conjuntura”: juros, inflação e desenvolvimento. Em 2003,

em juros e reforçamos as vinculadas à inflação e ao crescimento do país”, explica Umberto Conti, consultor especial da presidência da Funcef. Desde 2003, a Funcef acumulou rentabilidade de 250%, acima dos 132% previstos como meta atuarial para o período. O desempenho assegurou um superávit que permitiu aprimorar medidas prudenciais, como a implementação de uma tabela atuarial mais conservadora, e melhorar os benefícios pagos aos participantes do fundo. Desde 2006, houve um aumento real de 27% nos benefícios. “No mercado de crédito privado, contribuímos ativamente para que as emissões de debêntures passassem também a ser lastreadas em inflação. Temos hoje uma carteira de R$ 1,5 bilhão em debêntures, dos quais R$ 1 bilhão se refere a títulos vinculados ao IPCA”, afirma Conti. “Discutimos com os intermediários das operações de emissão de debêntures que faria sentido termos algo menos associado ao curto prazo, que

Composição das carteiras de investimento Petros*

Valia

(em %)

(em R$ bilhões) 5,5%

Investimentos estruturados

Imóveis

Porcentagem da carteira

7,970

62,68

Renda variável

3,462

27,23

Estruturados

0,209

1,65

Exterior

0,053

0,42

Imóveis

0,466

3,67

Empréstimos

0,553

4,36

Total de investimentos

12,715

100

Renda fixa

2,6% 28,8%

Operações participantes

Renda variável

Renda fixa

Valor

Segmentos

2,2%

60,9%

Fonte: Valia Fonte: Petros

*Ativos: R$ 46,5 bilhões (maio de 2010)

os investimentos em juros (Selic e CDI) significavam 47% da carteira total; hoje equivalem apenas a 11%. Nos últimos sete anos, houve migração para outros ativos, com alongamento de prazos. Os títulos públicos de curto prazo, como LFTs e LTNs (vinculadas à Selic), por exemplo, foram substituídos pelas NTN-Bs (indexadas ao IPCA). Os papéis vinculados à inflação, sejam eles títulos públicos ou de crédito privado, passaram de uma participação de 25%, em 2003, para os atuais 45% da carteira total. O terceiro índice de conjuntura, o de crescimento, associado a investimentos em ações, mercado imobiliário e private equity, passou de 29% da carteira total, em 2003, para 44%, hoje. “Especialmente a partir de 2006, reduzimos as posições 60 AméricaEconomia Outubro, 2010

é o caso do CDI. E, para os emissores, sem dúvida, também é interessante poder contar com a alternativa do IPCA.” Assim como na renda fi xa, houve também alongamento no perfil dos investimentos da Funcef em renda variável, com a construção de posições em fundos de participação: hoje, esses investimentos em private equity são feitos por meio de 33 fundos de participação, com R$ 3 bilhões em patrimônio líquido comprometido. Os investimentos distribuem-se por áreas variadas, abrangendo agronegócio, construção civil, logística, óleo e gás, saúde, saneamento ambiental e mesmo setores comparativamente mais arriscados, como o de tecnologia da informação. Em private equity, o investimento ocorre com vistas à capitalização e ao desenvolvimento da empresa


para que, no futuro, ela possa abrir capital ou para que a participação do fundo seja vendida a um sócio estratégico.

LIÇÃO DE CASA “Para que o Brasil cresça de forma sustentada entre 4,5% e 5%, em média, nos próximos anos, é importante que os investidores institucionais (entre os quais se encontram os fundos de pensão) dobrem o volume de recursos disponíveis para investimentos no período”, avalia o professor Carlos Antonio Rocca, diretor do Centro de Estudos do Mercado de Capitais do Ibmec (Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais), que observa desafios claros ao setor público. Para que se concretize a perspectiva de manutenção da queda das taxas de juros nos próximos anos, o sucessor do presidente Lula precisará fazer um dever de casa que diferentes administrações evitaram levar às últimas consequências: uma reforma da previdência

Medidas de desoneração, focadas no mercado de capitais, também são importantes para estimular o apetite pelas emissões de crédito privado no contexto em que a continuidade da queda das taxas de juros ainda é incerta. “Persiste uma assimetria de condições que sempre prejudicou o crédito privado quando comparado aos títulos públicos”, observa Marcelo Xandó, sócio-diretor da Verax Serviços Financeiros, uma gestora de recursos. Há sinais dados pelo próprio governo de que alguma desoneração pode ocorrer no crédito imobiliário, em instrumentos como os CRI (hoje, a isenção de IR se restringe a pessoas físicas), assim como nas emissões de crédito privado feitas por empresas de infraestrutura, especialmente em setores nos quais exista grande necessidade de recursos para investimentos, como rodovias e portos. “Os fundos de pensão são parte disso, como grandes financiadores de longo prazo”, observa Xandó. No primeiro

Ativos dos fundos de pensão (em proporção ao PIB) 600 –

20%

18,2

14,1

400

15,7

16,1

500 12,9 11,6

11,1

11,6

12,2

13,1

14,4

18,0

14,9

515,4

456,6

15%

12,8 374,7

444,8

11,1 320,2 280,5

300

10%

Ativos Totais*

240,1 189,3

200

171,2 144,0

5%

126,0

100

0

74,8

86,6

101,0

Ativos Totais/PIB**

101,1

0%

1995

1996

1997

1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009

Fonte: Petros

efetiva, que reverta um quadro insustentável no longo prazo, e um controle determinado dos gastos públicos correntes, que impeça que a sua expansão continue a ocorrer em ritmo superior ao do crescimento do PIB. “Se for analisado o endividamento público bruto das economias reunidas no G-20, o Brasil é o país que está em pior situação”, observa Rocca. “A perspectiva de longo prazo dependerá disso, de que as despesas correntes tenham uma expansão menor do que a do PIB, o que é fundamental para ampliar a poupança pública e conter o peso da carga tributária”, acrescenta o professor. Os gastos públicos com a previdência social, por exemplo, já somam hoje uma montanha de dinheiro equivalente a 12% do PIB.

*em R$ bilhões **em porcentagem

semestre, as emissões de crédito privado recuperaram os patamares de preços anteriores à crise de 2008, período em que a percepção de risco – e consequentemente os prêmios pagos – esteve acentuada. Com a normalização do mercado de crédito privado, que deve prosseguir neste segundo semestre, as margens para os investidores tendem a se estreitar, no caso das emissões feitas por empresas de primeira linha. Mas, com a tendência de o mercado ser acessado também por empresas que oferecem risco maior ao investidor, a gestão precisará ser seletiva, tendo em vista a equação risco/retorno. “Os analistas precisarão se aprofundar cada vez mais na avaliação das empresas, de seus indicadores, num ambiente de opções de investimento mais diversificadas”, conclui Xandó. Outubro, 2010 AméricaEconomia 61


DEBATES Sucessão presidencial

Tarefas

pendentes

CASO SE CONFIRME COMO NOVA PRESIDENTE DO BRASIL, DILMA ROUSSEFF PRECISARÁ FAZER AJUSTES PARA GARANTIR CRESCIMENTO ROBUSTO NOS PRÓXIMOS ANOS PATRÍCIA MENDES, DO RIO DE JANEIRO

62 AméricaEconomia Outubro, 2010

Foto: Roosewelt Pinheiro/ABr

R

eformas constitucionais que exijam apoio do Congresso Nacional estão fora do horizonte do próximo governo, mas a agenda econômica que terá de ser enfrentada a partir do dia 1º de janeiro de 2011 demandará determinação e atitude – além de convencimento político. Embora longe de representar uma guinada na atual política macroeconômica, a lista de prioridades do presidente que será eleito em outubro envolve problemas não apenas complexos, mas amplificados pelo crescimento acelerado, segundo avaliação de especialistas ouvidos por AméricaEconomia. Por isso, independentemente de quem seja o sucessor de Luiz Inácio Lula da Silva, o próximo mandatário terá de fazer o dever de casa – a menos que coloque um freio na expansão do Produto Interno Bruto (PIB). Na nova fase de desenvolvimento do Brasil, chegou a vez de uma política forte para a educação; uma nova relação entre os setores público e privado nos investimentos em infraestrutura; incentivos ao mercado de capitais para ampliar os recursos e o financiamento de longo prazo; competitividade, acompanhada pelo aperfeiçoamento dos sistemas político e tributário; e também temas macroeconômicos, como a melhoria da relação juro-câmbio e a redução do déficit público. Tendo essa complexa agenda em vista, haverá espaço para criar as condições necessárias para uma nova sequência de queda dos juros. “Sem enfrentar essas questões estruturais, o crescimento fica manco e curto. E vamos sempre lamentar que ele poderia ter sido mais robusto”, enfatiza Aluizio Byrro, chairman para a América Latina da NokiaSiemens Networks e coordenador dos Estudos da Agenda 2020 da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletroeletrônica (Abinee).


DILMA ROUSSEFF: SE ELEITA, DEVERÁ ENFRENTAR QUESTÕES ESTRUTURAIS PARA GARANTIR A EXPANSÃO DO CRESCIMENTO

Outubro, 2010 AméricaEconomia 63


DEBATES Sucessão presidencial

IMPULSO ÀS EMPRESAS O porta-voz dos industriais paulistas defende que o governo a ser inaugurado no início de 2011 tenha uma visão desenvolvimentista do Brasil e dê mais chance para o setor privado evoluir. “Pela primeira vez, estamos numa posição de destaque. O novo governo tem de estar preparado para essa realidade. Precisamos nos adaptar. O governo e os empresários não estavam prontos para esse sucesso do país, mas agora temos a obrigação de ampliar o êxito”, enfatiza. Entre as promessas de campanha e a prática dos governantes existe uma larga distância, mas, a julgar pelos sinais

Uma queda mais agressiva da taxa de juros estancaria a vazão de recursos para financiar

a dívida pública emitidos até agora pelos principais postulantes, os pilares da política macroeconômica estabelecida no governo Fernando Henrique Cardoso e seguida na gestão petista – câmbio flutuante, metas de inflação e superávit primário – serão mantidos. “A menos que algo drástico ocorra no panorama internacional, deverá prevalecer o espírito de que não se mexe em time que está ganhando”, diz o chairman para a América Latina da NokiaSiemens Networks. Fora a perspectiva de uma queda mais rápida dos juros, desestimulando a entrada de dólares e provocando uma desvalorização do real, a situação atual não deverá sofrer alterações drásticas. “O que se vê é uma disposição geral de encarar problemas antigos. Estradas, ferrovias e aeroportos melhoraram aqui e ali, mas, agora, o país está maduro para mudar de cara”, afirma Byrro. Ele, como os analistas consultados por AméricaEconomia, baseou suas previsões nas últimas pesquisas de intenção de votos, que conferem a vitória nas urnas à candidata do PT, Dilma Rousseff, com pouco mais 64 AméricaEconomia Outubro, 2010

de 50% da preferência do eleitorado e chances de encerrar a disputa no primeiro turno.

CENÁRIOS POSSÍVEIS O economista Raul Velloso, especialista em contas públicas, considera em sua análise o favoritismo de Dilma, bem à frente do segundo colocado, José Serra (PSDB). “No momento, podemos pensar em uma espécie de terceiro mandato do Lula. Mas isso significa uma mera continuidade? Não, porque dificilmente a criatura sai idêntica ao criador. Além disso, a própria administração de Lula foi se modificando”, observa. Duas decisões centrais definirão não só o perfi l da área, mas do governo como um todo, avalia Velloso. Trata-se do comando do Banco Central (BC) e do Ministério da Fazenda. “O BC não é mais aquele em que o presidente se apoiava numa diretoria de altíssimo nível técnico. Hoje, a instituição é dirigida por funcionários de carreira, que, embora preparados, representam um fator de limite de independência”, afi rma. “No caso de uma diretoria menos ortodoxa, será um sinal do que acontecerá com a inflação. Perda de credibilidade do BC com inflação em alta não será nada bom. Inflação alta é igual à indexação”, observa Velloso. A credibilidade no combate à inflação ajudou o país a atravessar a crise, e a imagem do Brasil no exterior poderá retroceder, se este movimento não prosseguir, diz o economista. Esse cenário inclui uma possível piora das contas públicas. Velloso lembra que o superávit primário vem caindo, e que Dilma, até agora, não demonstrou intenção de implementar uma política fiscal contracionista. “Mas não podemos esquecer que estamos em campanha eleitoral. A partir de janeiro de 2011, tudo poderá mudar. O nome do próximo ministro da Fazenda dirá muito sobre isso: se será um gastador ou alguém que freará as despesas públicas.” Outro dado relevante é se a equipe econômica terá um comando único para articular as políticas de crédito, fiscal e monetária, criando condições efetivas para a redução dos juros. Uma Selic real de 6% ao ano seria um divisor de águas, nível que poderia ser alcançado somente no fi nal do próximo mandato (2014), desde que haja unificação das políticas macroeconômicas. Já a relação com o Congresso não deverá ser problema em um eventual governo Dilma Rousseff, pois tudo indica que a nova gestão contará com maioria mais folgada do que a de Lula – especialmente no Senado –, em decorrência da aliança com o PMDB, lembra Amir Khair, mestre em Finanças Públicas pela Fundação Getulio Vargas (FGV) e ex-secretário de Finanças da Prefeitura de São Paulo. Mesmo com tal maioria, não se pode apostar em sustentação política para grandes reformas, como a tributária, a previdenciária e a trabalhista. “Depois de tantas tentativas frustradas, o mais provável é concentrar esforço no avanço de microrreformas e remendos infraconstitucionais nesses temas”, sublinha.

Fotos: 2 - Fabio Rodrigues-Pozzebom/ABr; 3 - Santi Burgos/Bloomberg News/Getty Images; 4 - Wei Yao/AFP

Nos últimos anos, o Brasil tirou bom proveito do crescimento das principais economias do planeta e construiu fundamentos macroeconômicos sólidos. “Hoje, estamos numa nova etapa, já que a economia globalizada exige um padrão de crescimento baseado na inovação tecnológica. Qualquer empresa que queira continuar no mercado necessita de constante atualização de seus processos produtivos”, ressalta o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Benjamin Steinbruch.


3 2 4

DA ESQUERDA PARA A DIREITA, ANTONIO PALOCCI, OCTAVIO DE BARROS E LUCIANO COUTINHO: APOSTAS PARA A EQUIPE DE DILMA

AS APOSTAS A gestão compartilhada com o PMDB também não deverá tirar da cota pessoal de Dilma a escolha dos cargos mais relevantes. Até agora, a coordenação de campanha não endossou as especulações sobre os nomes que devem compor o futuro governo. Os mais cotados para o Ministério da Fazenda são Nelson Barbosa – atual secretário de Política Econômica – e o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho. Para o BC, são citados o diretor de Normas, Alexandre Tombini, e o economista-chefe do Bradesco, Octavio de Barros. O deputado Antonio Palocci é cotado para a Casa Civil. Para Khair, o próximo presidente terá quatro grandes desafios relacionados à macroeconomia: manutenção do crescimento acima de 5% ao ano, redução da inflação para cerca de 4% ao ano, obtenção do equilíbrio nas contas externas, na área fiscal e redução da relação dívida/PIB. Um dos fantasmas que assombraram o Brasil no passado – o desequilíbrio das contas externas – pode reaparecer. “Uma queda mais robusta dos juros, a elevação do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) – dos atuais 2% para 4% – e prazo mínimo de permanência desses recursos voláteis aplicados em carteira não fariam mal a ninguém”, afirma Khair. Steinbruch concorda. “A combinação de juros altos e câmbio valorizado é perigosa e está levando o dólar para um patamar irreal. Como o dólar aqui é flutuante, temos de tratá-lo de maneira diferente. Ele deve ser direcionado pelo governo, e não deixar a coisa solta do jeito que está. O país está se alijando das exportações e facilitando muito a importação. E, como o Brasil tem mercado interno forte, as empresas de fora jogam aqui todo o excesso de produtos que têm, o que pode desestruturar nosso setor produtivo. Mas, se baixarmos os juros, provavelmente a moeda se desvalorizará”, diz o líder da Fiesp.

Algo estratégico para um governo Dilma é a queda veloz da Selic, resultando em sobra de recursos. Hoje, a conta de juros para financiar a dívida pública equivale a 5,4% do PIB (R$ 180 bilhões, nos últimos 12 meses). “Faz parte do ajuste fiscal estancar a sangria de recursos públicos causada pela Selic no financiamento da dívida pública. Isso se faz com uma queda mais agressiva da taxa de juros”, recomenda Khair. Por outro lado, pontos fortes da agenda do próximo governo são a manutenção do consumo como mola mestra do crescimento, com políticas de salário mínimo semelhantes às praticadas nos últimos anos – com reajustes acima da inflação –, e a continuidade dos programas sociais de transferência de renda. “Crescer de baixo para cima será fundamental para manter a economia aquecida”, afirma Khair. Nesse contexto, os bancos oficiais manterão o papel estratégico desempenhado de 2009 para cá na expansão do crédito. Segundo Khair, se Dilma vencer as eleições, usará o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e o BNDES para aperfeiçoar a logística para o setor privado. Apesar de tudo o que resta a ser feito, ninguém tem dúvida de que quem sair vitorioso das urnas em outubro ganhará força para implementar ajustes necessários para que o país continue em processo forte de desenvolvimento nos próximos quatro anos. Outubro, 2010 AméricaEconomia 65


DEBATES Argentina

Parlamentarismo à vista? O

que se poderia pensar de um mecânico que, de um dia para outro, perde mais de mil ferramentas? Essa é a atual situação do governo argentino. No final de agosto, a oposição deixou caducar cerca de 1,9 mil leis que transferiam ao Executivo poderes que desde 1853 a Constituição atribuía ao Congresso, conhecidas como “faculdades delegadas”. Desse total, muitas já não têm uso. Outras 300, segundo especialistas, poderiam ser essenciais para o presidente manter a posição cômoda de que hoje goza. Entre elas estão a que rege o repasse de arrecadação entre o governo central e as províncias, a transferência de fatias do orçamento dedicadas ao investimento para usá-las em gastos correntes e o polêmico domínio do Código Aduaneiro, que resulta na imposição de retenções (impostos) à exportação. Assim, se as forças de oposição chegarem a um acordo, poderão reduzir ou eliminar as retenções à exportação da soja – principal cultivo do país – e do milho, comprometendo a arrecadação. “Até hoje, as faculdades delegadas permitiram a ditadura da carteira”, diz

DEPOIS DE RETOMAR FACULDADES QUE ESTAVAM EM PODER DO EXECUTIVO POR UM SÉCULO E MEIO, CONGRESSO ARGENTINO PODERÁ DAR TRABALHO AO PRESIDENTE RODRIGO LARA SERRANO, DE BUENOS AIRES

o advogado Ricardo Monner Sans, responsável pela denúncia de casos de corrupção em governos argentinos. Ele concorda com a visão predominante de que, independentemente do partido no poder, essas facilidades derivaram em um “hiperpresidencialismo”. Nele, as províncias ficaram à mercê do governo central, que financia ou não seus défi-

cits em troca de apoio no Congresso e nas eleições. “Aqui, os candidatos são democratas até colocarem a faixa presidencial”, concorda o analista Heriberto Muraro, da Muraro y Asociados.

FUTURO INCERTO Mais do que a expectativa quanto ao destino dos assuntos mais polêmicos da atual agenda política, essa mudança coloca um ponto de interrogação sobre como funcionará a democracia argentina daqui para frente, depois de tanto tempo com um governo executivo superpoderoso.


Fotos: 1 - Shutterstock com montagem de Denis S. Cardoso; 2 - Juan Mabromata/AFP

Para Muraro, a queda das faculdades delegadas deixou uma situação incerta porque “a capacidade cooperativa e organizativa da oposição é quase zero”. Graciela Romer, analista da Romer y Asociados, acrescenta que, “com essa mudança, a governabilidade começará a passar pela capacidade ou não que as principais forças tenham para chegar a acordos de políticas públicas”. A princípio, espera-se pouco ruído no final de mandato de Cristina Kirchner. No Congresso, os legisladores mostram-se mais interessados nas eleições em 2011 do que em estudar as possibilidades geradas com o fim da delegação. Já a presidente, em última instância, poderia lançar mão de um Decreto de Necessidade e Urgência para pressionar uma decisão a seu favor. Um expediente que, até agora, ela usou pouco (média de 0,3 ao mês) em comparação com seus antecessores Néstor Kirchner (média de 5 mensais) e Eduardo Duhalde (9,3 mensais), segundo o Centro de Estudos Nueva Mayoría. Esse jogo de empurra deverá parar no próximo presidente, e os analistas já começam a criar cenários. “Há uma possibilidade de que, depois do primeiro turno, a oposição se una contra Néstor Kirchner [possível candidato da situação]”, diz Monner Sans. “Se ela ganhar, pode haver acordos, entre os quais estariam leis como as referentes às aduanas. Outro cenário igualmente provável é que haja um vencedor sem acordo sobre as faculdades delegadas e se arme tal confusão e paralisia que, no final, tudo volte ao que era antes.” Para Muraro, a evolução para um parlamentarismo dinâmico seria um desafio que “contradiz as mais nobres tradições presidencialistas da Argentina”. Graciela é mais otimista. “O sistema político argentino está tão fragmentado que, mesmo que a situação ganhe, não será maioria”, afirma. “Por isso, é forte a tendência de migrar para um regime semiparlamentar, o que melhoraria a qualidade de nossa democracia, colocando limites ao pouco respeito que hoje se tem pela institucionalidade.”

Rumo à Casa Rosada Quem são os políticos que desejam a presidência da Argentina em 2011

Néstor Kirchner: até antes de se submeter a uma angioplastia, em meados de setembro, o ex-presidente era tido como o futuro candidato da situação à presidência, e tudo parece indicar que continuará tendo a preferência.

Peronismo federal ou conservador

2

Felipe Solá: Ex-secretário de Agricultura e ex-governador da província de Buenos Aires. Ponto forte: grande conhecimento do aparelho estatal. Ponto fraco: não tem bases próprias dentro do peronismo.

Francisco De Narváez: Deputado. Milionário. Ponto forte: manejo político e carisma entre o eleitorado popular. Ponto fraco: é natural da Colômbia e necessita que a Corte Suprema aprove sua candidatura. Mario Das Neves: Governador da província de Santa Cruz. Ex-kirchnerista. Ponto forte: poderia ser o homem de consenso entre os peronistas. Ponto fraco: é pouco conhecido, já mentiu reiteradamente sobre sua formação universitária e tem características autoritárias.

Panradicalismo Ricardo Alfonsin: Deputado. Filho do ex-presidente Raúl Alfonsín. Ponto forte: apoio do partido radical e da classe média. Ponto fraco: não tem experiência administrativa nem carisma. Julio Cobos: Atual vice-presidente, ex-governador de Mendoza. Ponto forte: apoio do setor agroindustrial e dos empresários em geral, além de eleitores do interior. Ponto fraco: é considerado volúvel, e sua proposta de governo, vaga. Elisa “Lilita” Carrió: Deputada. Líder da Coalizão Cívica. Ponto forte: honrada, carismática e com grande experiência legislativa. Ponto fraco: personalista, e assusta parte do eleitorado com visões apocalípticas da realidade.

Proposta Republicana Mauricio Macri: Prefeito da cidade de Buenos Aires. Ponto forte: apoio do empresariado e do eleitorado conservador. Ponto fraco: baixa presença partidária no restante do país.

Esquerda/ Projeto Sul Fernando Pino Solanas: Cineasta de prestígio, deputado. Ponto forte: experiência legislativa. Ponto fraco: seu reconhecimento se limita à cidade de Buenos Aires, e falta solidez à coalizão de esquerda que o apoia.

Outubro, 2010 AméricaEconomia 67


DEBATES Comércio Exterior

Passo

positivo ENRIQUETA MENON, DO RIO DE JANEIRO

68 AméricaEconomia Outubro, 2010

D

esde sua fundação, em 1991, o Mercosul sonha com uma integração semelhante à da União Europeia, com décadas de evolução e criação de uma moeda única. Após seis anos de discussão e em meio às recorrentes dificuldades institucionais, no último dia 3 de agosto, os governos dos sócios do bloco regional fi nalmente aprovaram uma das medidas de maior impacto nos últimos dez anos em direção à união aduaneira completa: o fim da dupla cobrança de impostos sobre a circulação de mercadorias importadas por Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai de terceiros países, com distribuição das receitas dos tributos. A importação de centenas de produtos e bens de capital, sobre os quais atualmente recai a Tarifa Externa

Foto: Delfim Matins/Getty Images

APÓS SEIS ANOS DE LONGAS DISCUSSÕES, MERCOSUL APROVA O FIM DA BITRIBUTAÇÃO INCIDENTE SOBRE A CIRCULAÇÃO DE MERCADORIAS IMPORTADAS DE OUTROS PAÍSES


PORTO DE PARANAGUÁ, NO PARANÁ: FIM DA COBRANÇA DUPLA TRARÁ NOVOS ESTÍMULOS À LOGÍSTICA DE EXPORTAÇÃO

– e da elevada dependência dos tributos de importação na composição de suas receitas públicas. Diante da falta de regulamentação dos procedimentos e do prazo de implementação – entre 2012 e 2019 –, na prática, segundo analistas, o Decreto 1.010 do Conselho do Mercosul é mais um sinal político de que o bloco regional está caminhando, apesar dos percalços. “Há tempos os empresários esperam essa atitude, mas ainda vai demorar para que ela tenha efeitos concretos nas operações comerciais das empresas”, afirma Rubens Barbosa, presidente do Conselho Superior de Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). O que está sendo feito, no entanto, é o possível para avançar em um contexto marcado pela falta de vontade política dos governos, sublinha Barbosa. “O Decreto 1.010 é cheio de indefinições”, diz. Até mesmo as datas de funcionamento das três etapas são previstas no condicional – “no mais tardar”, segundo a Declaração de San Juan, na Argentina. Em uma primeira fase – que entrará em v igência até 1º de janeiro de 2012 –, poderão circular livremente produtos importados de terceiros países, desde que não passem por nenhum tipo de alteração. Na segunda etapa – a partir de 1º de janeiro de 2014 –, as empresas poderão transformar e agregar valor a um grupo de produtos importados para reexportálos aos demais integrantes do bloco. Serão beneficiados os itens taxados pela menor faixa da TEC – entre 2% e 4% – e geralmente sem produção local. “Hoje, isso é permitido, mas as exigências são de toda ordem, entre elas a de incorporação, no processo produtivo, de certo percentual de bens e serviços nacionais. Com a última resolução do

2019 é o prazo máximo para a extinção da bitributação Comum (TEC), terá seu custo diminuído até janeiro de 2019. Para isso, terá de ser criado o Código de Valoração Aduaneira do Mercosul e ser colocada em funcionamento a interconexão de sistemas de gestão aduaneira, com uma base de dados que permita o intercâmbio de informações para a divisão dos recursos arrecadados entre os países membros. Outra providência necessária é o estabelecimento de uma compensação para o Paraguai, por causa de sua condição especial de país sem litoral – as importações entram por portos dos vizinhos

Mercosul, esse requisito cai”, explica Ricardo Mendes, sócio da Prospectiva Consultoria Internacional. Mas a lista de itens que poderão ser beneficiados nessa etapa do cronograma ainda será definida. Na última fase, a liberalização será total. “No mais tardar, a partir de 1º de janeiro de 2019”, segundo o decreto, todos os bens importados de fora do bloco regional poderão ser transformados e exportados dentro do Mercosul.

DIVIDIR O BOLO Outro ponto em aberto é a distribuição das receitas da TEC, que demandará um acordo entre os sócios em torno de um mecanismo de coparticipação nas receitas. As importações do Paraguai, por exemplo, que são feitas por meio dos portos brasileiros, passarão a ser taxadas uma única vez, quando a Receita Federal do Brasil cobrará o tributo, e os recursos recolhidos aqui serão compartilhados com o Tesouro paraguaio. O fato de as empresas, a partir de 2012, poderem importar componentes e insumos e deixá-los estocados no país de entrada por algum tempo, em um centro de distribuição regional, para depois enviá-los aos vizinhos, com menos etapas de importação e exportação, pode estimular os países a criarem logística para atender a essa demanda das empresas, observa Mendes, da Prospectiva. “Isso tende a acontecer no Brasil, pelo fato da escala de mercado ser maior que na Argentina, no Uruguai e no Paraguai”, prevê. Segundo ele, essa perspectiva é interessante para portos com menos problemas de estrangulamento, como Sepetiba, no Rio de Janeiro. Embora a medida seja de regulamentação comercial, outro impacto econômico possível é o estímulo aos investimentos para agregar valor visando à reexportação para o bloco regional, na segunda e na terceira fases. “Na União Europeia, as empresas fazem uma planta industrial em um dos países e têm acesso aos mercados da comunidade. Com o Decreto 1.010, foram criadas as condições para que isso aconteça no Mercosul”, destaca Mendes. Outubro, 2010 AméricaEconomia 69


ESPECIAL Telecomunicações

Banda cada vez

mais larga FUTURECOM 2010 MARCARÁ A GUINADA DA INTERNET DE ALTA VELOCIDADE NO MERCADO LATINO-AMERICANO DE TELECOMUNICAÇÕES E APONTARÁ NOVOS MODELOS DE NEGÓCIO PARA O SETOR GIULIANO AGMONT, DE SÃO PAULO

A

próxima edição do maior evento de telecomunicações e tecnologia da informação da América Latina consolida o protocolo de internet como plataforma-padrão para transmissão de dados, voz e imagem no continente. Quem circular pelos corredores do Transamérica Expocenter, em São Paulo, durante a 12a Futurecom, que acontece de 25 a 28 de outubro, constatará que as telecoms incorporaram o ambiente digital convergente da Web 2.0 e caminham para implantar de forma definitiva a rede IP em seus sistemas. O melhor indicativo dessa tendência é o crescimento vigoroso do acesso à banda larga nos últimos anos. Até o fi m de 2010, estima-se que o número de usuários de internet de alta velocidade se aproxime dos 80 milhões de pessoas só na América Latina, sendo 40 milhões de rede fi xa e 37 milhões de aparelhos móveis. A Ahciet (Associação Iberoamericana de Centros de Pesquisa e Empresas de Telecomunicações, na sigla em espanhol) tem uma meta ousada para a internet rápida: 75% de penetração até 2015 na América Latina. O Brasil, que deve ultrapassar a barreira de 30 milhões de conexões rápidas antes de dezembro, puxa esse crescimento e vive um momento inédito: pela primeira vez, a quantidade de celulares 3G ultrapassou à de banda larga fi xa no país. Atualmente, são 13,9 milhões de linhas móveis, contra 12,2 milhões de conexões fi xas. 70 AméricaEconomia Outubro, 2010


FOCO EM SOLUÇÕES Especula-se que o mercado de banda larga no Brasil exigirá um investimento de pelo menos US$ 60 bilhões até 2014 para suprir o aumento da demanda. O fenômeno da internet de alta velocidade também marca uma transição importante da Futurecom. Segundo Laudálio Veiga Filho, organizador do evento, os mais de 15 mil visitantes não vão até o Transamérica Expocenter para ver gadgets. “É uma exposição que privilegia mais soluções, serviços e aplicações do que produtos. Os executivos que participam do evento estão mais interessados em saber como impulsionar seus negócios com as aplicações dos aparelhos do que com os aparelhos em si”, informa Veiga Filho. Além de contar com mais de 300 expositores, a Futurecom promete atrair líderes de cerca de 40 países, 72% deles presidentes, diretores, gerentes e coordenadores.

Penetração da banda larga na América Latina Inclui todas as velocidades Dezembro de 2009

4,43%

Venezuela

4,82%

Colômbia

5,98%

Peru

Brasil

3,04%

Penetração para cada 100 habitantes (março 2009)

Uruguai

Alemanha + 29,9% Espanha + 20,3% Irlanda + 20,7%

Chile 9,97% 10,39%

10,0%

Portugal + 16,3%

Argentina

Fonte: IDC

Os novos modelos de negócios criados a partir da infi nidade de possibilidades proporcionadas pela plataforma full IP vão monopolizar reuniões e apresentações na área de exposição da feira. A Alcatel-Lucent, líder mundial em conexão de banda larga para redes fi xas, móveis e convergentes, investe nas comunidades de desenvolvedores de aplicativos. O gerente de Marketing da empresa, Murilo Boudakian Moysés, cita como exemplo o site www.topcoder.com. Trata-se da maior comunidade de desenvolvedores de softwares competitivos do mundo, com mais de 250 mil membros. “Estamos trabalhando com esse pessoal para desenvolver aplicativos para iPad, da Outubro, 2010 AméricaEconomia 71


ESPECIAL Telecomunicações

Apple. O potencial desse tipo de parceria é enorme, sem precedentes. São comunidades com pessoas 3G no Brasil inovadoras, livres, muitas vezes, Milhões de vícios corporativos, com liberAcesso por aparelhos dade para criar e tocar os projetos. Modems E todos trabalhando para você”, Total 3G explica Moysés. Segundo o executivo, existem cerca de 6 milhões 3G/Total de celulares de desenvolvedores de aplicativos Fontes: Teleco e Anatel só para a Web 2.0 na América do Norte e a cada oito minutos surge mais um. O mercado de telecomunicações apresenta um cenário de oportunidades. As gerações Y e Z, formadas por jovens que mal conheceram a fita cassete, vêm estabelecendo novos padrões de comportamento, que o mercado ainda tenta entender. São consumidores com menos de 30 anos, bastante familiarizados com as ferramentas digitais, ávidos por tecnologia e interatividade, e que consideram e-mail coisa antiquada. Eles povoam as redes sociais e querem acessar conteúdo em qualquer plataforma, a todo momento e onde quer que estejam. Contribuíram para que o Facebook tivesse quase 100 milhões de usuários em menos de um ano – para se ter uma ideia, a internet precisou de quatro anos para angariar metade disso. Paralelamente, as gerações mais antigas têm mais poder aquisitivo e buscam se adequar à nova realidade 2.0. Nos Estados Unidos, os chamados baby boomers, os hippies dos anos 1960 e 1970, gastam atualmente US$ 2,3 trilhões por ano, parte significativa desse dinheiro em tecnologia.

2o trim./09

2o trim./10

1,0

2,1

10,4

1,1

1,9

3,5

2,1

4,0

13,9

1,4%

2,5%

7,5%

4o trim./08

Total de conexões fixas de banda larga no Brasil 2o trim./09

2o trim./10

ADSL

7.494

8.338

TV por assinatura

2.835

3.350

Milhares

Outros

425

580

10.754

12.268

Acessos/100 hab

5,62

6,36

Fontes: Operadoras e Teleco, não inclui dedicado

*estimativa preliminar da Teleco

Total

SOLUÇÕES COMO A TELEPRESENÇA SÃO BENEFICIADAS PELA MELHORA DA QUALIDADE DA INTERNET

72 AméricaEconomia Outubro, 2010


A conectividade é mais uma característica inerente desse novo mundo que está por se estabelecer. Em casa, no carro, no trabalho, na praia, a perspectiva é a de que os usuários estejam permanentemente plugados à rede, para acompanhar, por exemplo, vídeo por IPTV (Televisão por Protocolo de Internet, na sigla em inglês), tecnologia de transmissão de sinais televisivos para aparelhos de TV e outros meios. No Brasil, essa tendência é ainda mais marcante. Segundo pesquisa Ibope Nielsen Online, o internauta brasileiro é o que mais tempo fica conectado e é recordista em navegação em redes sociais como Orkut, Twitter e Facebook. Um levantamento da Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico mostra que o número de consumidores online subiu de 4,8 milhões em 2005 para 17,6 milhões em 2009. “É por isso que as empresas estão mais focadas em modelos de negócio do que em portfólio”, considera Moysés, da Alcatel-Lucent. Para Roberto Atayde, executivo do IBM Solution Center para a Indústria de Telecomunicações na América Latina, existem características desse mercado que ainda precisam ser entendidas. O executivo cita o tipo de uso que os usuários fazem de seus celulares. Muitos aparelhos contabilizados nas estatísticas estão simplesmente no fundo de uma gaveta, desligados. “Assim como muitas operadoras deixam de valorizar o dono de uma linha pré-paga porque o retorno que ele dá é pequeno. Só que esse cálculo pode estar errado”, diz. “Se integrar uma rede social e tiver um bom relacionamento, ele pode ser valioso para o marketing da empresa. Os R$ 20 que ele gasta por mês podem virar R$ 1 mil. Dar um smartphone com um ano de dados grátis fará com que esse cliente permaneça na rede e replique a boa impressão da empresa”, exemplifica Atayde. Apesar da euforia em torno da banda larga, os serviços de internet no Brasil poderiam ser

17,6

milhões foi

Estimativa de crescimento da banda larga no mundo 2005–2012 Milhões de assinantes 2.100

o número de consumidores

online no Brasil em

1.800 1.500

2009 1.200 900 Banda larga móvel

600 300 Banda larga fixa

0 2005

2006

2007

2008

2009

2010

2011

2012

Fontes: OUVM, Strategy Analytics & Internal Ericsson

Outubro, 2010 AméricaEconomia 73


ESPECIAL Telecomunicações mais acessíveis e oferecer melhor qualidade. As explicações para esse fenômeno indesejável para o consumidor começam na alta carga tributária em telecomunicações, que onera em 43% o setor, passam pela baixa renda per capita do país e a consequente falta de demanda para que as empresas atinjam mais escala, e chegam ao tamanho e à distribuição demográfica do país, que aumenta, e muito, o investimento em infraestrutura de rede. Soma-se a isso o fato de que a concorrência nem sempre é saudável por conta do processo de concentração do mercado. Além disso, o controle da inflação ainda é recente. Outra questão é o tamanho das empresas, que prejudica a agilidade para atuar e também dificulta a transição de uma rede analógica para uma digital. Mas a perspectiva é a de que os serviços melhorem. Uma mostra disso é o avanço da GVT em mercados disputados, como Rio de Janeiro e São Paulo, com pacotes de banda larga de até 100 megabytes. “Nessa velocidade, é possível baixar um CD completo de música em dois segundos, por um custo mensal de R$ 499. Quem optar por um plano de 35 mega, de R$ 139 mensais, baixará o mesmo disco em 15 segundos. Para fazer isso em internet de 1 a 2 mega, o usuário precisará esperar uma hora”, compara o vice-presidente de Marketing e Vendas da GVT, Alcides Troller Pinto. Outra novidade da GVT na Futurecom é o Vox NG, uma solução de voz sobre a rede IP. Segundo o fabricante, a tecnologia permite uma transmissão de áudio mais estável e sem aquele tom metálico típico da internet. A flexibilidade é outro diferencial competitivo do sistema em relação ao PABX. “Você consegue configurar seu ramal para qualquer telefone IP, onde você estiver. É interessante para empresas com fi liais em estados diferentes, por exemplo. Ele permite que os colaboradores ajustem o ramal em que estiverem, garantindo economia com interurbanos”, explica o executivo.

BANDA LARGA MÓVEL DE ALTA VELOCIDADE 4G DEVERÁ SER IMPLANTADA NO BRASIL ANTES DE 2013

74 AméricaEconomia Outubro, 2010

capacidade de

infraestrutura das empresas é despro-

porcional à demanda de tráfego

Vem aí o celular 4G A tecnologia LTE (Long Term Evolution), voltada para banda larga móvel de alta velocidade 4G, deverá estar implantada no Brasil antes de 2013, quando acontecerá a Copa das Confederações. Muitas empresas já se preparam para a chegada dessa nova conexão sem fio para celulares, que será de cinco a dez vezes mais rápida e eficiente do que a 3G, chegando a 100 megabits por segundo. O diretor de Tecnologia para América Latina da Nokia Siemens, Wilson Cardoso, diz que a tecnologia 4G, aliada à difusão da plataforma all IP, tornará a interação do usuário mais simples, efetiva e direta. A empresa tem três focos ao investir em equipamentos com tecnologia LTE: fornecer rede para operadoras e prover conectividade; garantir aos usuários a transição entre as três telas: computador, televisor e celular; e criar base de dados centralizada para gerenciar a identidade do usuário. “Num primeiro momento, os investimentos na cobertura 4G vão acontecer em estádios da Copa, aeroportos, rotas principais, hotéis e algumas outras áreas. Essa é uma infraestrutura que deve ficar no país”, diz Cardoso. “Além disso, o modelo do negócio muda quando a receita de dados ultrapassa a de voz na telefonia.”


Além da GVT, outras operadoras de porte, como Embratel, Vivo, Telefônica e Oi, marcarão presença na Futurecom. Depois de uma sequência de fusões e consolidações, as empresas parecem estar prontas para enfrentar o grande desafio do mercado de telecomunicações: o desequilíbrio do ecossistema do setor. Parece inevitável o surgimento de serviços e plataformas convergentes para sustentar uma sociedade conectada. Contudo, a capacidade de investimento em infraestrutura das empresas é desproporcional à demanda de tráfego, isso no mundo inteiro. “E o que acontece é que as empresas que provêem conteúdo não remuneram o sistema, e isso causa um descompasso”, avalia Laudálio Veiga Filho, organizador da Futurecom. Para Roberto Atayde, da IBM, o que onera o operador é o vídeo. “Uma das soluções seria a de aplicar mais inteligência aos serviços. Um modem comprado pelo usuário poderia ser carregado com esses fi lmes, o que desoneraria a rede sem criar uma nova mídia e estabeleceria um novo modelo de negócio”, explica. A resposta para esse impasse, porém, ainda ninguém tem. Talvez as operadoras possam controlar os aplicativos ou as empresas de aplicativos subcontrolariam links das operadoras. Um meio-termo pode ser a saída, dependendo das circunstâncias. Seja como for, garantem os analistas, o que não vai mudar é que a resposta estará nas decisões dos consumidores. EQUIPAMENTOS DA CISCO APOSTAM NOS APLICATIVOS MÓVEIS E NO MERCADO DE TRANSMISSÃO DE VÍDEO EM ALTA DEFINIÇÃO

Aposta no tráfego de imagem Principal fornecedor mundial de equipamentos de rede para a internet, a Cisco Systems, mais uma vez, montou o maior estande da Futurecom. A gigante, que tem no Brasil um dos centros de seu investimento, reforça sua aposta nas aplicações de vídeo nesta edição de 2010. “É a forma de comunicação mais poderosa que existe”, sustenta Marco Barcellos, diretor de Marketing da Cisco no Brasil. A incorporação da empresa Tandberg, especializada em videoconferência e telepresença, mostra o investimento em tecnologia de transmissão de vídeo em alta definição. Outra mostra dessa opção da Cisco é a decisão de passar a produzir em Manaus conversores de sinal digital para a operadora de TV paga NET. “É um equipamento que integrará a aplicação de imagem em alta definição para a casa do usuário. Permitirá a realização de telepresença doméstica com alta capacidade de compressão de imagem, ou seja, transmissão estável e sem atraso em telas full HD”, explica Barcellos. O executivo esclarece que a rede IP é privada, dedicada ou compartilhada – o tráfego não ocorre pelo www. “O mercado de internet e banda larga tem o tamanho da economia hoje.”

Outubro, 2010 AméricaEconomia 75


ibiz

Cidades do

futuro

CADA VEZ MAIS OS MUNICÍPIOS INVESTEM EM ALTA TECNOLOGIA PARA GERIR SEUS SERVIÇOS BÁSICOS. MAS A CIDADE INTELIGENTE AINDA ESTÁ LONGE DE SER UMA REALIDADE JUAN PABLO DALMASSO, DE CÓRDOBA

FELIPE CASTILLO QUER TRANSFORMAR LOS OLIVOS EM PIONEIRA NO USO DE NOVAS TECNOLOGIAS NA GESTÃO URBANA

76 AméricaEconomia Outubro, 2010

Foto: Sandra Elías

F

elipe Castillo, prefeito de Los Olivos, cidade de mais de 300 mil habitantes ao norte de Lima, no Peru, quer se converter em um paladino da tecnologia na gestão municipal. Em 2008, ele inaugurou a SimiWeb, uma plataforma que permite ao morador interagir com o município de sua própria casa e, aos agentes municipais, fazer sua fiscalização em tempo real empregando dispositivos móveis. Com isso, a pouco conhecida Los Olivos ganhou a 11a posição, de um total de 150, no Ranking Motorola 2009 de Cidades Digitais da América Latina. O prefeito estima que, neste mês de outubro, entrará em funcionamento uma rede de seis anéis de fibra ótica para conectar o governo, as empresas e os cidadãos. O sistema contará com um centro computadorizado que atenderá a gestão municipal e outros serviços públicos, incluindo bombeiros, hospitais e escolas. “Em dez anos, queremos ser uma cidade inteligente como Estocolmo”, entusiasma-se Castillo, que, em março, fi rmou um acordo com a IBM para desenvolver a reengenharia da cidade aplicando os chamados padrões de Cidades Inteligentes da companhia. Dos investimentos totais, estimados em US$ 80 milhões, um quarto será realizado neste ano e, o restante, quando for dado o último passo. “Com uma rede telemática completamente monitorada, os colégios poderão ter acesso ao centro computadorizado, onde ficarão armazenados os materiais desenvolvidos por cada um deles, e criar sinergias entre os professores e as instituições”, diz Castillo.


ibiz Em um futuro próximo, Los Olivos, distrito de classe média do conhecimento de Medina, cujo objetivo é transformá-la emergente, criado nos anos 1980, poderá contar com serviços em um cluster da capacitação tecnológica. Na Europa, cidades de telefonia e TV IP, telemedicina, educação a distância e placomo Málaga e Amsterdã lançaram planos de conversão para taformas de governo e comércio eletrônico. Com isso, poderá se a eficiência ambiental e econômica. transformar na primeira cidade da América Latina e uma das Na América Latina, Los Olivos encontrará, em breve, pioneiras mundiais a adotar novas tecnologias para a gestão acompanhantes para a sua aventura. Guadalajara incorporou urbana. Isso dentro do conceito de cidades ou comunidades ina ideia de se tornar uma região metropolitana inteligente. teligentes que os grandes players Atualmente, trabalha na atuado mercado tecnológico, como a lização de seus servidores, na inUrbes digitais Ranking Motorola 2009 IBM, a Cisco, a Motorola e a Accorporação do Wi-Fi aos espaços das cidades mais digitalizadas da América Latina. centure, vêm promovendo. públicos e na criação do portal Seleção das 15 melhores com base em uma amostra voluntária de 150 centros urbanos De qualquer forma, essas Zona GDL, uma ferramenta que prometidas cidades inteligentes identificará, por meio de mapas, Pontuação de 0 a 100, sendo 100 o nível ideal ainda não existem. O que se tem os diferentes serviços do municíCidade implementado são subsistemas, pio, as zonas de risco por inundaPaís Pontuação como o controle de tráfego de ção e relatórios de doenças, como São Paulo 1 Brasil 52,3 Estocolmo. Na capital sueca, a a dengue. Chihuahua 2 México 51,0 densidade do tráfego é ativada Já no Brasil, com a Copa do Mérida 3 México 51,0 por um sistema dinâmico de Mundo de 2014 e as OlimpíaSan Luís 4 Argentina 50,7 tarifas de entrada na cidade. Codas de 2016, as cidades deverão Guadalajara 5 México 50,3 mo resultado, o acesso médio de fazer fortes investimentos em automóveis caiu 25%, a poluição, modernização. “Temos de somar Florida 6 Uruguai 49,6 14%, enquanto o faturamento do o impacto dos novos projetos Santiago 7 Chile 49,2 comércio local cresceu 6%. petrolíferos e de infraestrutura”, Bogotá 8 Colômbia 49,0 Em Nova York, em meados afirma Pedro Almeida, porta-voz Chacao – Caracas 9 Venezuela 48,2 dos anos 1990, foi implementada do programa Cidades InteligenLas Condes 10 Chile 45,9 a chamada Compstat (abreviates da IBM no país. “Isso implica Los Olivos 11 Peru 45,4 tura em inglês de estatísticas uma oportunidade de incorpocomparativas), uma central de rar tecnologia e uma demanda Salvador 12 Brasil 45,3 dados que reúne toda a inforde sistemas de planejamento, San Joaquín 13 Chile 45,2 mação sobre crimes ou qualquer gestão e controle.” Se ninguém Medellín 14 Colômbia 45,1 tipo de ação ilegal na cidade, nos nega que a tecnologia tem seu Buenos Aires 15 Argentina 44,9 bairros e, inclusive, nas esquinas encanto, a implementação, por Fonte: Convergencia Research das ruas. Parte do programa de sua vez, pode ser complicada. tolerância zero, a Compstat foi As autoridades encarregadas do um fator-chave para a redução da criminalidade que Nova Transantiago, sistema de transporte urbano da capital chileYork experimentou a partir de meados dos anos 1990. na, bem o sabem. Três anos após a sua estreia, acumula perdas mensais de US$ 9,6 milhões. No ano passado, em Córdoba, na A DURA REALIDADE Argentina, foi cogitado implementar um sistema de controle Os promotores da tecnologia de cidades inteligentes não de trânsito com a sede local da Universidade Tecnológica Napoupam promessas. Horacio Werner, gerente geral da Cisco cional. Os funcionários boicotaram a ideia imediatamente, para Argentina, Paraguai e Uruguai, afi rma que, com um alegando que isso afetaria suas horas extras. sistema de infraestrutura eficiente, uma cidade de 5 milhões “Casos como o de Córdoba são extremos, mas sempre há de habitantes pode, em 15 anos, registrar um aumento de que se negociar. Geralmente acontece um rearranjo”, diz, em 10% em seu PIB. Bogotá, na Colômbia, Javier Carranza, especialista em goverCom essas referências, e em um mundo cada vez mais no eletrônico e assessor do Banco Mundial. urbanizado, não é estranho sentir um clima de euforia. A IDC, O público tampouco está disposto a apoiar as mudanças empresa norte-americana de pesquisa de mercado do setor automaticamente. Seria factível implementar um sistema de tecnológico, projeta investimentos globais em infraestrutura pedágio em qualquer cidade? Difícil. “Em Estocolmo, tiveram inteligente da ordem de US$ 122 bilhões nos próximos dois de fazer campanha e um plebiscito”, diz Mark Cleverly, direanos. Na China e na Índia, há 20 novas cidades projetadas tor de Estratégia da IBM Global Government. “Nem todos os desde o zero, e, na Arábia Saudita, é prevista a construção de projetos podem ser implementados, mas temos de avançar vários centros urbanos por US$ 70 bilhões. Um deles é a cidade buscando os acordos necessários”, observa. Outubro, 2010 AméricaEconomia 77


clics

Barbeador

hi-tech A Philips pretende tornar o barbear menos incômodo para os homens e, para tanto, está lançando o SensoTouch 3D. O produto, que deve chegar ao país neste mês, ao preço sugerido de R$ 999, vem com a tecnologia Gyroflex, que acompanha os contornos da face. O barbeador ainda conta com carregador sem fio com carga rápida de uma hora e até 20 dias de autonomia, display com indicadores numéricos de níveis de bateria e função relógio, ideal para viagens. www.philips.com.br

Onda 3D MiniBlackBerry

Fotos: Divulgação

A Research In Motion anunciou a chegada, em países da América Latina e do Caribe, do menor BlackBerry já lançado pela empresa: o Pearl 3G. Com 50 milímetros de largura e peso de apenas 93 gramas, o novo smartphone suporta redes 3G de alta velocidade, Wi-Fi e GPS, além de contar com uma câmera de 3,2 megapixels com flash para fotos de qualidade e cartões de memória de até 32 GB. O preço varia de acordo com a operadora. www.rim.com

A LG coloca no mercado brasileiro sua primeira linha de TVs 3D com os modelos LX9500 (47” e 55”) e LX6500 (42”, 47” e 55”). Segundo a fabricante, um dos diferenciais dos aparelhos é a frequência de 480 Hz (presente na série LX9500), que elimina os rastros na imagem, especialmente nas cenas que exigem alta velocidade de processamento. As TVs são acompanhadas por um par de óculos. Os preços vão de R$ 5.899,00 (LX6500 de 42”) a R$ 10.999,00 (LX9500 de 55”). www.lge.com

78 AméricaEconomia Outubro, 2010



opinião

Novo

desafio os últimos anos, mais um desafio surgiu e se somou àqueles que os líderes enfrentam no dia a dia das organizações: desenvolver e praticar a liderança criativa. Em uma recente pesquisa, feita com mais de 1,5 mil CEOs em corporações de todo o mundo, o IBM Institute for Business Value e o IBM Strategy and Change perguntaramlhes qual seria, em sua opinião, o maior desafio de gestão na atualidade. A resposta da maioria foi: entender a complexidade e aprender a lidar com ela. Entre as atitudes necessárias para tanto, eles destacaram a liderança criativa, que, em síntese, inclui o desenvolvimento das seguintes habilidades: a) admitir a ambiguidade e a incerteza; b) assumir riscos que desafiem modelos de negócio anteriores; c) ir além dos estilos de gestão ditos “testados e comprovados”. A prática dessas atitudes comporta uma adaptação contínua, intensificação de estudos de caso como ferramentas de aprendizagem, atitudes rápidas apesar da incerteza, introdução de inovações radicais e aprendizado das técnicas de persuasão e de compartilhamento do poder, entre outras. Hoje, tais habilidades figuram entre as comumente ensinadas nos MBAs das escolas de negócio que se destacam como pioneiras na implantação da gestão da complexidade como disciplina acadêmica. Essas escolas vão além de recomendações genéricas, e hoje se pode dizer que a gestão da complexidade conta com um apreciável repertório de métodos e técnicas. Fica evidente, portanto, que pensar e agir tanto de modo local quanto de maneira global, segundo as necessidades das organizações e do mercado, passa a fazer parte das tarefas das lideranças atuais. Os empresários e executivos precisam estar atentos aos novos desafios da competitividade corporativa, os quais repercutem de modo direto na gestão de suas carreiras. Quatro deles, entre outros, podem ser considerados essenciais: a) desenvolver habilidades de liderança criativa que se estendam à organização inteira; b) saber reintegrar conhecimentos dispersos; c) saber inspirar visão de futuro; d) saber como criar comprometimento compartilhado.

N

No entanto, mesmo que as pessoas estejam dispostas a se comprometer, é preciso ter clareza sobre o que fazer para que elas se tornem capazes de lidar com a complexidade e a instabilidade dos novos tempos. A complexidade não pode ser compreendida e trabalhada por meio de modos de pensar simplificadores. Não é um conjunto de fenômenos que se possa simplificar além de um certo ponto – muito menos medir. Não é possível enfrentar a diversidade e a instabilidade cada vez maiores do mundo atual com modos de pensar simplistas, imediatistas e locais como os hoje predominantes em nossas sociedades. Portanto, é preciso mudar o modo de pensar, desenvolver novas formas de raciocínio que levem a níveis adequados de adaptabilidade e integração às novas realidades. Essa é uma das principais tarefas dos líderes criativos.

HUMBERTO MARIOTTI é professor, diretor de Pesquisas da Business School São Paulo, fundador do Núcleo de Estudos de Gestão da Complexidade

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Ilustração: Samuel Casal

Não se pode enfrentar a diversidade com imediatismo



linha direta

Repúblicas e luzes

fachada do Zócalo, na capital mexicana, transformou-se em templo asteca, em um tapete de palavras e em um mural do artista plástico Diego Rivera. Ao final, letras enormes formaram a frase: “Viva México!”. Não era uma alucinação coletiva, mas um espetáculo pirotécnico-multimídia para celebrar o Bicentenário da Independência do país. Como em outras nações latino-americanas – Chile, Colômbia e Argentina –, o governo mexicano usou seu edifício emblemático como matéria-prima para instalar uma nova narrativa nacional para as massas. O que teve de diferente da outra? Basicamente, o que omitiram. O México vive a pior guerra interna do último século. Na Argentina, ninguém sabe explicar como se chegou a somar 27 partidos no Congresso; o governo trava uma guerra declarada contra os meios de comunicação e, há quase dez anos do default, o país ainda não conseguiu virar o jogo e conquistar o grau de investimento. Na Colômbia, ainda há sequestrados e milhares de migrantes. No Chile, os indígenas se manifestam por seus direitos, e a pobreza aumentou. Mesmo assim, o La Moneda, sede do governo chileno, cobriu-se de um vermelho duvidoso enquanto a voz de Pablo Neruda evocava o poder sanativo do amor e Violeta Parra dava “Gracias a la Vida”. O presidente Sebastián Piñera quis dar ao seu governo o selo inaugural de uma direita democrática com visão de futuro, capaz de curar as feridas do passado. Seu homólogo colombiano apostou na biodiversidade, no tecno-vallenato (gênero musical autóctone) e nas crianças. Já a cartada de Cristina Kirchner foi o peronismo duro: Perón e Evita, os golpes militares dos anos 1960, as bravatas do ditador Galtieri, as mães da Plaza de Mayo e o “Nunca Más” de Alfonsín, projetados sobre a fachada do Cabildo, edifício

A

82 AméricaEconomia Outubro, 2010

onde foi assinada a independência do país. Há alguns anos, o jornalista Miguel Ángel Bastinier escreveu que temia que os bicentenários latino-americanos fossem comemorados “com certeiras estridências antiespanholas por todo o continente” (El País, 11/09/08). Nada disso aconteceu, ao menos nos atos oficiais. Apenas alguma bandeirinha no capítulo “pais da pátria” – no caso chileno, uma breve menção ao rei Bourbon Fernando 7º, mas nada que pudesse ferir um leitor do jornal espanhol. Ao contrário, os governos aproveitaram a ocasião para renovar a aliança entre os cidadãos e seus símbolos: a bandeira e o hino nacional, mistura de raças na iconografia e o patriotismo cultural. As tecnologias digitais permitiram potencializar esse imaginário ao máximo, voltadas a um espectador nutrido por horas diárias de internet, TV a cabo e publicidade: o meio é a mensagem. Os produtores mexicanos optaram pelo plástico, e os colombianos, pela velocidade; os argentinos, pelo histórico-midiático para recordar o horrível passado, e os chilenos, pela poesia e pelo humor popular. O único presidente que descartou a pirotecnia foi Hugo Chávez. Contratar o Silicon Valley? Jamais! O presidente optou por um tradicional desfile militar, com tropas especiais e arengas socialistas e anti-imperialistas. Depois do discurso, os guerreiros bolivarianos trotaram com o rosto pintado e com as metralhadores em riste. Será preciso ver o que os outros governos latino-americanos farão com seus respectivos bicentenários. O do Paraguai será no ano que vem; o do Peru, daqui a 11 anos. E, no Brasil, embora a comemoração oficial seja em 2022, o evento mais esperado pela população será a Copa do Mundo de Futebol de 2014.

Foto: Luis Acosta/AFP

CARLOS TROMBEN, DE SANTIAGO


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