Nº 398 Edição Brasil

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Nº 398 Abril/2011

Ranking Multilatinas: Brasil domina a lista com quase 30 companhias

COMO FINANCIAR SUA EMPRESA

BRASIL

www.americaeconomiabrasil.com.br

VISITA DE OBAMA MUITO OBA-OBA E DECEPÇÃO PARA OS EMPRESÁRIOS

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empresa CFOs LATINO-AMERICANOS DÃO PISTAS E CONSELHOS PRECIOSOS PARA 2011

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nesta edição Seções 06 08 10 14 16 46 72 94 96 98

Portal Carta ao Leitor Cartas/Índice de Empresas Pistas Negócio Fechado Movimentos Opinião – Mac Margolis Ibiz Clics Opinião – Caio Megale

Negócios Ranking Multilatinas Expansão no mercado global Nicolas Fischer – CEO da Nivea América Latina em foco Os planos do Corpbanca Banco chileno quer crescer na região

30

Dólares comestíveis Alimentos pesam no bolso Wikipedia Emergentes são a bola da vez

2

Gastronomia O novo cluster do Peru

Debates

88

52 58 64 68 74

Obama Sem avanços na visita ao Brasil Balança comercial brasileira Momento bom para as commodities Compasso de espera As faces da reforma política Energia nuclear O futuro depois de Fukushima Especial Sustentabilidade Caminhos em prol do meio ambiente

Finanças

82 88 1 1

Especial CFOs Perspectivas para 2011 Microfinanças Bancos miram a baixa renda

Foto de Capa: Aidon/GettyImages

Fotos: 1 - Ian McKinnell/Getty Images; 2 - Pedro Dias

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Ascensão O crescimento das economias da América Latina deve ser de até 3,9% em 2012. A informação está no relatório situação na América Latina, do grupo financeiro internacional BBVA. Conforme o estudo, o aquecimento econômico não vai se manifestar da mesma forma em toda a região. Argentina e Venezuela, por exemplo, têm taxas de inflação elevadas e economia em expansão há alguns anos. Brasil, Chile e Peru poderiam ir pelo mesmo caminho caso o otimismo gerasse um investimento excessivo. Os países que têm maior margem de crescimento para os próximos anos, segundo os dados, são Colômbia e México.

Siga o site da AméricaEconomia no Twitter: twitter.com/AEBrasil

LEIA NO PORTAL EDIÇÃO: AINÁ VIETRO (AVIETRO@AMERICAECONOMIA.COM)

Suave aterrissagem O diretor-geral do FMI (Fundo Monetário Internacional), Dominique Strauss-Kahn, questiona, em artigo para o site de AméricaEconomia, qual a melhor forma de manter o dinamismo econômico e o aumento da qualidade de vida da população latino-americana. Strauss-Kahn ressalta que as economias da AL crescem rapidamente, mas surgem sinais de superaquecimento que podem ser preocupantes, como o aumento da inflação e o rápido crescimento do crédito. Para que o boom não se transforme em queda livre, a principal medida em curto prazo para os responsáveis seria orientar as economias regionais para uma suave aterrissagem. “A retirada do estímulo macroeconômico adotado durante a crise deve ser, provavelmente, o primeiro passo.”

Turismo em baixa Falta competitividade para o Brasil quando o assunto é turismo. Problemas relacionados a questões como infraestrutura, violência, falta de mão de obra qualificada e ausência de investimentos falam mais alto que as belezas do país. Um ranking sobre o setor foi divulgado em março pelo Fórum Econômico Mundial. Entre os 139 participantes, o Brasil ficou em primeiro lugar no quesito riqueza natural, mas em 52o na classificação geral.

TV fechada O setor de TV por assinatura cresceu 30,2% nos últimos 12 meses, segundo a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações). Nos dois primeiros meses de 2011, o setor registrou 155,4 mil novos assinantes. Agora, 9,924 milhões de residências têm o serviço. O Distrito Federal foi o destaque, com 33,1 domicílios com TV paga para cada cem domicílios. São Paulo e Rio de Janeiro seguem na lista, com 30 e 27,7 para cada cem casas com TV a cabo, respectivamente, conforme o IBGE.

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carta ao leitor

A pergunta que não quer calar BRASIL www.americaeconomiabrasil.com.br

PUBLISHER José Roberto Maluf

D

iante de um cenário promissor e, ao mesmo tempo, assustador para as corporações latino-americanas, que inclui queda vertiginosa do

dólar, inflação à espreita e crise econômica na Europa, ao lado de crescimento expressivo dos países da região, expansão da classe média e aumento do consumo, o desafio de que empresários e homens de negócio têm de

CONTEÚDO Diretora de Redação: Tatiana Engelbrecht Editora Executiva: Paula Pacheco Diretora de Arte/Projeto Gráfico: Janaína Diniz Repórteres: Graziele Dal-Bó e Rosa Symanski Editora do Site: Ainá Vietro Revisão: Assertiva Produções Editoriais Produção Gráfica: Eduardo Keppler Colaboradores: Paulo James Woodward (assistente de arte), Francisco Lobo (infografia) e Vértice Translate (tradução)

dar conta é como manter suas empresas capitalizadas e preparadas tanto

COMERCIALIZAÇÃO Diretor Comercial: Mauro Machado – mauro@springcom.com.br Executivos de Contas: Nagibe José Adaime – nagibe@springcom.com.br Samantha Martinez – samantha@springcom.com.br Simone Oliveira – simone@springcom.com.br

ao grau de endividamento e às oportunidades no crescimento dos fundos de

MARKETING Marcia Leonardi, Elisangela Silva e Rafael Borsanelli ADMINISTRATIVO/FINANCEIRO Diretor Executivo: Eduardo Colturato Gerente Financeiro: Edison Arduino CIRCULAÇÃO Gabriela Beraldo Pré-impressão: First Press Periodicidade: Mensal (Abril de 2011) CTP, impressão e acabamento: IBEP Gráfica Circulação auditada por: SPRING EDITORA-PRODUTORA Rua Ferreira de Araújo, 202, 7o andar – CEP: 05428-000 São Paulo/SP – Tel.: 11 3097-7666 Site: www.springcom.com.br E-mail: contato@springcom.com.br AMÉRICAECONOMÍA INTERNACIONAL Diretor: Elias Selman Carranza Vice-presidente Executiva: Gloria Landabur C. Diretor Editorial: Felipe Aldunate M. Editores: Fernando Chevarría (Lima), Juan Pablo Rioseco e Carlos Tromben (Santiago), Karen Correa e Pamela Velasco (Guaiaquil) Diretor de Arte: Álvaro Araya Urquiza Editor de Fotografia: Miguel Candia Diretor Global de Marketing e Vendas: José A. Serrano Chefe de Operações: Matías Agurto AMÉRICAECONOMÍA INTELLIGENCE (Estudos e Projetos Especiais) Diretor: Jaime Contreras Soria Pesquisador Sênior: Andrés Almeida Analista: Catherine Lacourt e Rodrigo Dorn AMÉRICAECONOMIA.COM Diretor de Estratégia Digital: Rodrigo Guaiquil Editor: Lino Solis de Ovando ESCRITÓRIOS Buenos Aires: +5411 4383-8410 Cidade do México: +5255 5254-2400 Costa Rica: +506 225-6861 Lima: +511 610-7272 Miami: +305 648-9071 Panamá: +507 271-5327 Santiago: +562 290-9400 Uruguai: +5982 901-9052 Chairman: Robert R. Paradise

para driblar as dificuldades quanto para surfar na onda das benesses. Nas grandes empresas, o profissional responsável por responder a essa pergunta e trilhar caminhos rumo ao crescimento sustentável e de longo prazo é o CFO (Chief Financial Officer). Este número de AméricaEconomia traz, na reportagem de capa, as respostas de profissionais que atuam em companhias de diferentes setores e países da América Latina. Estar atento private equity, ter cautela com os custos do financiamento em dólar e avaliar a possibilidade de emitir títulos globais no mercado internacional estão entre as recomendações desses especialistas. Não perca, ainda, a nova edição do Ranking das Multilatinas, com as maiores multinacionais da região. Apesar de ter perdido o primeiro lugar no pódio (que no ano passado ficou com a JBS) e certo fôlego, o Brasil mostra sua força e mantém uma participação expressiva, com 27 empresas listadas. E mais: uma entrevista exclusiva com Nicolas Fischer, o alemão que está a fazendo a Nivea do Brasil decolar; a avalição dos empresários brasileiros sobre a visita de Obama ao país; e um especial sobre empresas que estão vestindo a camisa da sustentabilidade e criando soluções inovadoras para seus negócios são outros temas desta edição. Gostaria também de prestar uma homenagem ao colega Sidnei Basile, falecido no último 16 de março, em São Paulo. Advogado por formação e vice-presidente de Relações Institucionais da Editora Abril e também do Comitê de Liberdade de Expressão da Sociedade Interamericana de Imprensa, Sidnei teve sua trajetória pautada pela ética jornalística e pela luta incansável pela liberdade de imprensa. Com certeza, a imprensa nacional perde um dos maiores expoentes da luta contra qualquer tipo de censura. José Roberto Maluf

ASSINATURAS Central de Atendimento Tel.: 55 11 3512-9492, de 2a a 6a feira, das 9h às 18h. Site: www.assineamericaeconomia.com.br. Atendimento: www. assineamericaeconomia.com.br/faleconosco. Cartas: Rua Ferreira de Araújo, 202 – 12o andar – CEP 05428-000 – São Paulo/SP Valores de assinatura: Por 1 ano: R$ 96,00 / Por 2 anos: R$ 170,90 Pagos em até 5x no cartão de crédito ou em até 3x no boleto bancário (preço válido para as vendas realizadas pela Central de Atendimento e pelo website da revista). Exemplares anteriores: solicite diretamente ao jornaleiro. Em caso de descontinuação da publicação, a Spring Editora-Produtora LTDA. garante aos assinantes desta publicação a restituição, em reais, da parte do valor já pago correspondente aos exemplares não entregues, devidamente corrigida monetariamente. Ao fazer sua assinatura, exija a credencial do vendedor e pague sempre com cheque nominal, mediante recebimento da primeira via de nosso pedido de assinatura.

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Na FEMSA damos vida a nossa filosofia de gerar valor econômico e social simultâneamente em nove países.

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cartas OBAMA Pelo visto, nenhuma placa tectônica se moveu nem suavemente por conta da visita do presidente americano. Tal como vocês disseram, foi uma viagem somente para mostrar vontade de ter atenção. (“Obama: o Brasil Está na América Latina”, AméricaEconomia no 397, março de 2011). SANDRA PÉREZ, DE SANTIAGO, CHILE

CAPITALISMO 3.0 Excelente artigo, que toca justamente no ponto de uma forte discussão que se gerou na comunidade on-line de RSE (Responsabilidade Social Empresarial) a propósito das práticas anti-RES por parte de empresas como DuPont, Pioneer e Adecco na Argentina. (“Capitalismo 3.0”, AméricaEconomia no 396, fevereiro de 2011). FERNANDO LEGRAND, DA ARGENTINA

CORREÇÃO No “Especial Milionários” (AméricaEconomia no 397, março de 2011), há uma informação incorreta. Jean-Paul Luksic não é filho do primeiro casamento de Andrónico pai. Na verdade, os filhos são Guillermo e Andrónico. Jean-Paul é filho do segundo matrimônio.

Fale com a redação: Envie sugestões e comentários para a revista AméricaEconomia Brasil:

americaeconomia@springcom.com.br

índice de empresas Os números referem-se à primeira vez em que as empresas são citadas em cada reportagem.

Accion International 93 Ágora Corretora 37 América Móvil 23 Amyris 56 Apple 19, 42 AUX Canadá 16 Avianca-Taca 22 Banchile Inversiones 37 Banco do Brasil 36 Banco do Chile 37 Banco do Nordeste 90 BID 49, 90 Banco Palmas 92 Banco Real 76 Banco Sol 91 Bang&Olufsen 96 BBVA 36 BCI 37 Bematech 24 Blue Tree 15 BM&FBovespa 14 Braskem 75 Brighpoint 19 Brightstar 19 BP 72 Brown-Forman 22 Bunge 81 Caja Popular Mex. 91 Camargo Corrêa 17 Cavo 17 CEF 91 Cemex 22 Cencosud 23 Chartis Seguros 54 Cinépolis 24 Coca-Cola 14, 77 Comscore 95 Concha y Toro 22 CorpBanca 36 Corret. Cereais do PR 60 Cosan 53 Deloitte 47 Democtenia 69 Direct Express 17 e-bit 46 Embalse 70 Emp. Púb. Medellín 83 Enersis 84

Estre Ambiental 17 Even 79 Facebook 43, 94 Falabella 23 Fasa 22 Femsa 19, 23 Ferreyros 84 Feter Vineyards 22 Fibria 17 F-Secure 47 Fukushima Daiichi 72 GC2000 Consultoria 15 General Electric 56 Google 43, 54 Grameen Bank 91 Grupo ACP 93 Grupo Beiersdorf 31 Grupo Casa Saba 22 Grupo EBX 16 Heinz 14, 17 Hi-5 94 IFC 84 IG 43 IM Trust 36 Invap 71 Itaú 91 Iveco 83 Jack Daniels 22 JBS 16, 22 Johnson&Johnson 76 Jones Lang La Salle 15 Kibon 79 KPMG 85 KSR 16 Laguna Verde 69 Lan 19 LLX 16 MAN 86 Manulife 16 Mapfre 76 Minibanco 93 Motorola 19 Multiplex 72 Natura 32, 81 Nielsen 32 Nivea 30 Nokia 19 Orkut 94

Oxil, Água e Solo 17 P&G 31, 33, 76 Panasonic 48 PepsiCo 49, 79 Petrobras 22, 53 Petropak 76 Philips do Brasil 80 Pirelli 15 Planner Corretora 35 Pollo Campero 23 PwC 50, 94, 80 Quepasa Corp 94 Quero Alimentos 17 Randon 84 RC Consultores 61 Rede Ceap 93 Resicontrol 17 Rigamonti 16 RIM 19 Ripley 23 Samsung 96 Santander 36, 91 Scotiabank 83 Select 94 SMU Corp 37 Sonda 24 Sonico 95 Spoleto 14 SucessPar 15 Supermercados D&S 37 Suzano 17 Taca 22 TAM 19 Tech Front 94 Tegma 17 Telefônica 47 Televisa 24 Tenaris 22 Tetra Pak 76 Tivit 83 Totvs 24 Unilever 78 Unimarc 37 Ventana Gold 16 Visa 48 Wella 31, 33 Wikipedia 42 Yucca Flat 71

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18851 -- Arquivo: 252008-18068-HW-AN- Schiphol Aviao-20.2x26.6-Amer Econom_pag001.pdf

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IWC. O futuro da relojoaria desde 1868. Futuro assegurado. Portuguesa Calendário Perpétuo. Ref.ª 5023: Há uma coisa que não muda nunca na IWC: o desejo de ser cada vez melhor. E a procura desse nível de perfeição não é pura coincidência. As suas raízes remontam à navegação marítima do século XVIII. Porque, para além das coordenadas astronômicas, os navegadores e exploradores de Portugal precisavam de tempo exato para melhorar a precisão de sua navegação. Inicialmente, eles ficaram satisfeitos com a invenção do cronógrafo. Mas não por muito tempo. Na década de 1930, dois empresários portugueses com os nomes de Rodrigues e Teixeira estavam à procura de uma outra solução. Para eles, os grandes relógios de bolso eram pouco práticos. Eles queriam um relógio de pulso numa caixa de aço inoxidável com as qualidades e a precisão de um relógio de observação. A IWC tornou tudo isso possível e usou o movimento do relógio de bolso calibre 74 para adaptá-lo como relógio de pulso para os marinheiros. Estabelecendo assim as bases para uma saga familiar destinada a permanecer única na história da relojoaria. A história da IWC começou algum tempo antes da criação desta obra-prima. Foi em 1868 que um relojoeiro e empresário americano, Florentino Ariosto Jones, de Boston, fundou a International Watch Company, no nordeste da Suíça. Desde então, os engenheiros da empresa desenvolveram inúmeros relógios, tais como o Grande Complicação, a linha Ingenieur, os modelos do relógio Portuguesa, a F.A.Jones. família dos relógios Aviador, as séries Da Vinci e Aquatimer. Probus Scafusia (a excelência comprovada de Schaffhausen) encerra em si esta filosofia. As muitas realizações e inovações técnicas, que têm suas origens em Schaffhausen, são impressionante testemunho disso há mais de 140 anos.

Hoje, o relógio Portuguesa Calendário Perpétuo vem com o maior movimento jamais construído pela IWC numa caixa com 44.2 mm. Olhar através do vidro de safira e poder observar, logo de imediato, como o sistema de corda de trinquete Pellaton funciona, gerando energia suficiente para sete dias, visível no mostrador da reserva de marcha. Uma obra-prima da mecânica garante interação automática de todas as 109 peças individuais. Com uma precisão extraordinária, os mostradores e os ponteiros são controlados e ativados de forma perfeitamente legível: em outras palavras, os segundos, minutos, horas, data, dia da semana, mês e quatro dígitos para indicar o ano. Contudo, há pelo menos algo impressionante: 6 315 840 000 para 1. Essa é a grandeza da relação de transmissão entre o ponteiro dos segundos e a corrediça do século. Efetivamente, Movimento isto significa que um ponto no volante manufaturado. abrangerá cerca de 1,6 milhão de quilômetros decurso de um ano, enquanto a corrediça do século, depois de 25 228 800 000 vibrações, se deslocará apenas 26 graus no fim do século. Só desta forma foi possível aos engenheiros da IWC programar mecanicamente um calendário de uso mais fácil para o utilizador até o ano de 2499. O seu mostrador perpétuo e exato das fases da lua somente divergirá um dia do sincronismo com a própria lua, após 577 anos. Resumindo: um relógio que já escreveu o futuro.

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Mecanismo de relógio mecânico IWC manufaturado | Corda automática Pellaton | Autonomia de marcha para 7 dias | Indicador da reserva de marcha | Calendário perpétuo (figura) | Indicação perpétua das fases da lua | Vidro safira antireflexo | Fundo transparente com vidro safira | Resistente à água 3 bar | 18 quilates ouro vermelho

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pistas

BM&FBovespa PUBLICAMOS • A BM&FBovespa quer 200 novas empresas, chegando a 5 milhões de investidores individuais em dois anos. Para isso, tem incluído campanhas de promoção nas praias brasileiras com a divulgação das vantagens do mercado de ações. A expectativa é tanta que novos concorrentes começaram a se apresentar. A americana Bats (Better Alternative Trading System) anunciou, em fevereiro, sua chegada ao Brasil. (“Pecados de Carnaval”, AméricaEconomia, no 397, março 2011)

O NOVO • O presidente da BM&FBovespa, Edemir Pinto, voltou a relativizar, em meados de março, a concorrência que a companhia poderá vir a sofrer com a criação de uma nova bolsa de valores no Brasil. Ele negou que a redução de algumas tarifas cobradas pela BM&FBovespa faça parte de um conjunto de medidas para que a empresa se fortaleça diante de um novo concorrente.

Embalagens PUBLICAMOS • A Coca-Cola lançou no mercado brasileiro um tipo de garrafa PET feita parcialmente com matéria-prima de origem vegetal. A chamada “Plant Bottle” tem em sua composição até 30% de etanol produzido a partir de cana-de-açúcar. (“Soluções para a Mesa”, AméricaEconomia, no 393, novembro 2010)

O NOVO • A Coca-Cola e a Heinz anunciaram, no final de fevereiro, uma parceria estratégica que permite a produção de frascos com a tecnologia da “Plant Bottle” nas embalagens de ketchup Heinz. Os novos frascos PET são feitos parcialmente de insumos de cana-de-açúcar e têm uma menor dependência de recursos não-renováveis em comparação às garrafas de plástico PET tradicionais.

Spoleto PUBLICAMOS • No Brasil, a rede Spoleto conta, atualmente, com um total de 255 lojas. “Adotamos um ritmo de abrir 35 lojas por ano”, explica Edwin Júnior, gerente de Expansão Internacional da Spoleto. (“Exterior à Vista”, AméricaEconomia, no 396, fevereiro 2011)

de fast-food italiana Spoleto anunciou, no início de março, que pretende manter o mesmo ritmo de crescimento do ano anterior e abrir, até o fim deste ano, 35 unidades.

Fotos: Shutterstock

O NOVO • No mercado de refeições rápidas, a rede

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Blue Tree PUBLICAMOS • Outra rede hoteleira que não tem poupado munição para crescer é a Blue Tree, da empresária Chieko Aoki. No final de 2010, a empresa anunciou que planejava captar R$ 680 milhões junto a investidores, com o objetivo de inaugurar 45 empreendimentos nos próximos cinco anos. (“O Apogeu Ainda Está Longe”, AméricaEconomia, no 397, março 2011) O NOVO • Em breve, o Piauí receberá uma das mais conceituadas redes de hotéis do país, o grupo Blue Tree. O empreendimento ainda não tem data prevista para ser lançado, mas tudo indica que a marca desembarcará na capital Teresina até o final deste semestre.

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Pirelli PUBLICAMOS • A presença da

Jones Lang La Salle

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Fotos: 1 - Shutterstock; 2 - Divulgação

PUBLICAMOS • O ramo de shopping no Brasil vem sofrendo transformações para se adaptar aos novos tempos de exuberância econômica. Hoje, há quem aposte pesado no conceito outlet. Amplamente difundido nos EUA, esse tipo de centro comercial privilegia lojas de marcas famosas, mas com preços mais em conta. “Esse formato respeita condições diferenciadas para poder oferecer ao consumidor produtos de qualidade, a preços mais acessíveis”, explica André Costa, diretor de locação da Jones Lang La Salle, que atua na comercialização e consultoria de shopping. (“O Apogeu Ainda Está Longe”, AméricaEconomia, no 397, março 2011). O NOVO • São Paulo vai ganhar um novo outlet com lojas de grifes que vendem coleções antigas a preços mais baixos. Será o segundo empreendimento do tipo no estado. A inauguração deve acontecer daqui a um ano. O centro de compras, cujo investimento inicial será de R$ 130 milhões, entre obras e recursos aportados por lojistas, é resultado de uma parceria entre a consultoria imobiliária Jones Lang La Salle, a consultoria GC2000 e a empresa de desenvolvimento imobiliário SuccesPar Real Estate.

multinacional italiana na América Latina completou 100 anos em outubro. Além do Brasil, a empresa possui indústrias na Argentina e na Venezuela. Mesmo consolidada e, segundo o chairman mundial do grupo, Marco Tronchetti Provera, “líder absoluta”, a Pirelli incluiu a região no plano industrial para 2011-2012. Afinal, a América Latina é responsável por 40% da produção total da companhia. (“Novas Fronteiras”, América Economia no 394, dezembro 2010)

O NOVO • A Pirelli, que tem fábrica em Santo André (SP), fortaleceu sua liderança no mercado latino-americano de pneus em 2010, tanto em participação de mercado quanto em resultado, conforme anunciou a empresa na segunda quinzena de março. O faturamento na América Latina alcançou US$ 2,2 bilhões; um aumento de 20% em relação a 2009. Argentina e Brasil colaboraram com cerca de 80% desse resultado. Abril, 2011 AméricaEconomia 15

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negócio fechado

EIKE BATISTA (I)

91% da

Ventana Gold O empresário Eike Batista adquiriu o controle da mineradora canadense Ventana Gold, que detém ativos de ouro na Colômbia, por cerca de US$ 1,5 bilhão. A AUX Canadá, de Batista, já tinha 20% da empresa e, com a operação, passou a deter 91% do capital total. Com sede em Vancouver, a Ventana explora ativos minerais em 4,59 mil hectares na Colômbia. VALOR: US$ 1,5 bilhão

EIKE BATISTA (II)

5% da LLX à MAM A LLX vendeu 5% de suas ações para a gestora de fundos canadense Manulife Asset Management (MAM), percentual que corresponde a 34.772.230 ações da empresa. O valor da transação não foi revelado. O braço logístico do Grupo EBX, do empresário Eike Batista, está implantando o Complexo Industrial do Superporto do Açu, no estado do Rio de Janeiro, o maior empreendimento porto-indústria da América Latina. A operação deve ser iniciada em 2012. VALOR: Não informado

JBS

A JBS assumiu o controle de 100% do capital da empresa de embutidos Rigamonti, uma das dez maiores do segmento na Itália. A companhia brasileira detinha 70% da Rigamonti desde dezembro de 2009. A empresa italiana tem faturamento bruto de 130 milhões de euros por ano e é líder no setor de bresaola, carne bovina seca e curada, feita com cortes de coxão mole, com forte consumo na Itália. O valor da operação não foi informado. VALOR: Não informado

Fotos: Shutterstock

100% da Rigamonti

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SUZANO

Lance final pela KSR A Suzano Papel e Celulose concluiu a compra da KSR, maior distribuidora de papel do país, que pertencia à Fibria. O valor da transação foi de R$ 50 milhões e ainda pode ser ajustado após a apuração final do capital de giro – o que deve ocorrer até o dia 15 deste mês. Em comunicado, a Suzano afirmou que a aquisição fortalecerá o canal de distribuição e beneficiará diretamente seus clientes. VALOR: R$ 50 milhões

ESTRE AMBIENTAL

Meganegócio A Estre Ambiental comprou a Cavo Serviços e Saneamento, do Grupo Camargo Corrêa, por R$ 610 milhões. A operação criou a maior empresa de gerenciamento de lixo do país, com faturamento previsto para 2011 de R$ 1,13 bilhão. A Estre conta com 12 aterros sanitários e controla várias empresas, como Resicontrol, Oxil, Água e Solo, e Estação Ecologia. VALOR: R$ 610 milhões

HEINZ

Nova dona da Quero A Heinz, gigante americana do setor alimentício, comprou 80% da brasileira Quero Alimentos, por um valor que, embora não tenha sido revelado, é estimado em R$ 1 bilhão. Em comunicado, a Heinz afirmou que a Quero tem vendas anuais de cerca de US$ 325 milhões. A operação deve fazer com que as vendas da empresa na América Latina dobrem em um ano. VALOR: R$ 1 bilhão (estimado)

TEGMA

Diversificação de negócio A Tegma Gestão Logística, que presta serviço de transporte para montadoras, adquiriu 80% do capital social da Direct Express Logística Integrada, por R$ 77,22 milhões. A Direct atua em logística e transporte para empresas de comércio eletrônico. Pelo acordo, a Tegma pode exercer a opção de compra das ações ordinárias remanescentes, representativas de 20% do capital social da Direct. VALOR: R$ 77,22 milhões Abril, 2011 AméricaEconomia 17

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ESPECIAL Ranking Multilatinas

Escalada

regional

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MAIS EMPRESAS, MAIS SETORES, MAIS CONTINENTES. AS MULTILATINAS AUMENTAM SUA EXTENSÃO TERRITORIAL E GANHAM PARTICIPAÇÃO NO MERCADO GLOBAL, COMO DEMONSTRA A NOVA EDIÇÃO DAS EMPRESAS MAIS GLOBAIS DA AMÉRICA LATINA AMÉRICAECONOMIA INTELLIGENCE

mbora seu nome seja desconhecido pela maioria dos usuários de telefones celulares, é muito provável que o smartphone que você usa tenha sido montado nas instalações da Brightstar, empresa fundada pelo economista boliviano Marcelo Claure. Depois de um ano ruim como 2009, quando teve de fechar operações na Índia e no Oriente Médio, a empresa, com sede em Miami, voltou a crescer com mais força e abriu novos mercados, como Rússia, África e China. A rede de distribuição da Brightstar compreende mais de 50 países, e, segundo analistas, a companhia é responsável por um em cada três aparelhos desenhados por Apple, Motorola, Nokia ou RIM que circulam na América Latina. A Brightstar distribui não apenas os aparelhos, mas também o material de marketing. O que aguarda Claure, o empresário multilatino de 2011, no futuro? Nada menos que o controle do mercado europeu, onde a Brightstar está envolvida em uma batalha sem quartel com sua arquirrival americana Brightpoint. Outro caso relevante na operação das empresas latino-americanas de maior vocação global é o da Lan, a companhia aérea chilena que luta para consolidar sua fusão com a TAM. O anúncio da fusão foi uma das grandes notícias empresariais da América Latina em 2010, mas agora depende da decisão final da autoridade antimonopólio chilena, que acolheu a ação interposta por um grupo de consumidores com relação às possíveis implicações anticompetitivas da operação.

E

APOSTAS GLOBAIS As 10 empresas com maior percentual de investimentos no exterior em 2010 83,0 85,0

LAB. BAGÓ

78,0 81,0

TENARIS IMPSA (PESCARMONA)

73,0 78,0 70,2

LAN

76,4 69,0

Ilustração: Patricio Otniel

BRIGHSTSTAR

76,0

GRUPO NAC. DE CHOCOLATES

69,9 71,6

GRUPO ALFA

70,0 71,0

CEMEX

64,0 67,7

AJEGROUP

62,0 67,3

CAMARGO CORRÊA CIMENTOS

67,0 66,0

0

10

20

Fonte: AE Intelligence

30

40

50

60

70

80

90

% Investimento no exterior 2009 % Investimento no exterior 2010

Abril, 2011 AméricaEconomia 19

AE 398 Ranking_Multilatinas.indd 19

3/29/11 12:31:20 AM


ESPECIAL Ranking Multilatinas

RK

RK

EMPRESA

2011 2010

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 24 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 53 54 55 56 57 58 59 60 61 62 63 64 65 66

4 1 3 2 6 10 5 * 7 9 8 14 11 12 31 * 13 22 45 15 17 20 16 28 19 21 37 25 35 18 36 43 32 24 27 30 26 44 29 * 41 59 * 53 46 39 34 50 38 33 23 40 42 60 * 47 52 56 * 54 55 49 * * * 57

BRIGHTSTAR GRUPO JBS CEMEX TENARIS LAN TELMEX GRUPO ALFA IMPSA (PESCARMONA) VALE CONST. NORBERTO ODEBRECHT GERDAU AJEGROUP GRUPO BIMBO PETROBRAS AVIANCA – TACA LABORATORIOS BAGÓ AMÉRICA MÓVIL GRUPO NAC. DE CHOCOLATES GRUPO CASA SABA (FASA) MARFRIG SUDAMERICANA DE VAPORES CENCOSUD CAMARGO CORRÊA CIMENTOS BRASIL FOODS INTEROCEÁNICA MEXICHEM VIÑA CONCHA Y TORO SONDA GRUMA EMBRAER ARAUCO FIBRIA CMPC WEG VOTORANTIM CIMENTOS POLLO CAMPERO PDVSA TAM FALABELLA GRUPO ARGOS GRUPO MODELO TIGRE SUZANO PAPEL E CELULOSE METALFRIO P.I. MABE ARCOR ITAÚ UNIBANCO GRUPO TELEVISA GRUPO ELEKTRA FEMSA GRUPO CAMARGO CORRÊA VITRO ANDRADE GUTIERREZ ARTECOLA COPA AIRLINES MADECO CIA. SIDERÚRGICA NACIONAL NATURA BEMATECH MARCOPOLO GRUPO GLORIA LUPATECH TOTVS DHB COMPON. AUTOMOTIVOS CINÉPOLIS RIPLEY

ORIGEM EUA BR MX AR CL MX MX AR BR BR BR PE MX BR ES AR MX CO MX BR CL CL BR BR CL MX CL CL MX BR CL BR CL BR BR GU VE BR CL CO MX BR BR BR MX AR BR MX MX MX BR MX BR BR PA CL BR BR BR BR PE BR BR BR MX CL

SETOR TELECOMUNICAÇÕES ALIMENTOS CIMENTO SIDERURGIA AVIAÇÃO TELECOMUNICAÇÃO AUTOPEÇAS/PETROQ. ENERGIA MINERAÇÃO ENGENHARIA SIDERURGIA BEBIDAS ALIMENTOS PETRÓLEO AVIAÇÃO FARMACÊUTICA TELECOMUNICAÇÕES ALIMENTOS VAREJO ALIMENTOS NAVAL VAREJO CIMENTO ALIMENTOS NAVAL PETROQUÍMICA BEBIDAS TECNOLOGIA ALIMENTOS AEROESPACIAL FLORESTAL/CELULOSE CELULOSE FLORESTAL MÁQUINAS CIMENTO ALIMENTOS PETRÓLEO AVIAÇÃO VAREJO CIMENTO BEBIDAS MAT. CONSTRUÇÃO CELULOSE ELETRODOMÉSTICOS HIGIENE ALIMENTOS BANCO COMUNICAÇÃO VAREJO BEBIDAS CONSTR./ENGENHARIA VIDRO ENGENHARIA/CONSTR. QUÍMICA AVIAÇÃO FLORESTAL SIDERURGIA COSMÉTICOS TECNOLOGIA AUTOPEÇAS ALIMENTOS ENGENHARIA TECNOLOGIA AUTOPEÇAS ENTRETENIMENTO VAREJO

VENDAS VAR. VENDAS 2010 (EM US$ MILHÕES)

2010-2009 %

4.130,0 28.417,6 14.434,5 7.711,0 4.387,1 8.132,5 11.044,5 788,9 49.949,0 5.500,0 18.841,2 1.127,0 9.487,2 128.000,0 3.000,0 654,5 49.220,6 2.224,9 4.100,0 7.788,1 5.448,1 11.822,2 1.663,2 12.741,8 821,9 2.953,7 798,6 951,9 3.761,3 5.216,2 3.788,4 3.771,1 3.817,9 2.629,2 5.315,6 400,0 95.529,9 6.811,8 8.086,1 1.594,0 6.884,3 1.280,0 2.709,1 470,2 280,0 2.386,7 46.316,9 4.684,9 3.726,3 13.741,5 9.698,0 1.885,5 10.895,3 378,0 1.411,1 338,8 8.300,6 3.082,9 199,5 1.779,2 817,0 349,0 677,9 169,7 787,5 2.122,8

18,0 38,3 -4,7 -5,4 20,0 -10,8 24,8 79,3 8,9 23,6 15,0 6,4 25,6 12,0 62,9 -1,6 46,5 79,7 12,4 10,9 128,5 -6,5 25,7 14,4 28,8 -2,7 -23,4 36,1 60,2 17,6 27,9 70,9 33,3 27,4 17,8 20,5 -0,5 9,9 57,1 19,4 27,3 27,3 8,5 4,7 16,9 13,8 12,0 39,5 2,7 142,1 44,8 12,6 -14,1 31,6 30,6 8,4 50,6 -8,9 9,5 19,4 20,7 16,9 21,1

EMPREGADOS 2010 3.600 123.936 46.500 22.591 17.000 74.769 52.000 1.500 60.036 87.662 9.800 102.000 76.919 6.700 6.500 55.000 28.200 11.922 6.972 101.392 4.751 120.000 2.918 2.935 10.882 19.646 17.009 34.803 14.382 22.984 11.700 5.150 91.949 28.193 67.465 16.000 36.707 22.000 112.000 24.362 37.498 127.179 57.864 16.989 18.293 4.772 2.370 16.974 6.260 20.016 1.600 2.951 950 15.702 19.574

NO PAÍSES

PRESENTE

ZONAS/ REGIÕES

46 21 35 11 19 9 17 11 38 34 14 16 18 28 23 18 18 11 4 22 6 5 4 25 4 15 28 9 14 5 10 7 9 47 4 13 10 13 4 6 22 9 8 6 18 16 12 8 8 9 14 10 13 6 7 3 3 9 25 7 6 38 19 25 10 2

8 8 8 5 7 3 6 3 9 7 6 4 6 8 4 4 4 4 2 6 5 1 1 5 4 4 7 3 7 4 6 4 2 7 3 6 5 3 1 3 9 2 4 4 6 6 4 3 3 3 5 5 7 2 6 1 3 4 7 5 2 6 5 7 4 1

LUCROS 2010 ONDE ESTÁ (EM US$ MILHÕES)

215 -1.337,4 1.127,4 419,4 1.245,7 398,9 18.047,1 1.285,9 436,8 21.119,5 7.354,2 172,1 52,3 147,5 170,7 632,5 224,1 47,0 299,1 89,5 71,6 41,9 314,7 694,0 359,3 637,1 312,0 6.650,1 381,6 882,5 805,2 40,1 7.796,1 622,2 17,5 3.259,3 -111,3 212,1 8,0 1.677,0 446,6 21,2 178,0 75,8 -43,8 82,7 106,8

(*) Empresas que não estavam presentes no ranking de 2010 (-) Dados não informados pela empresa

20 AméricaEconomia Abril, 2011

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29.03.11 15:36:27


ÍNDICE DE COBERTURA 100,0 77,6 96,3 71,9 73,8 59,5 81,5 65,7 89,9 87,2 69,4 72,7 71,6 83,8 74,3 67,9 67,9 58,9 39,1 81,1 58,3 42,8 38,3 91,5 54,8 64,6 83,3 54,4 75,0 57,9 65,7 67,3 55,1 96,2 47,6 70 67,5 76,2 38,3 49,1 78,7 59,2 72,3 64,6 70,5 72,1 73,2 50,6 47,6 50,6 68,7 68,1 67,3 47,0 60,4 32,6 50,6 63,1 85,9 57,3 45,3 47,6 80,1 83,9 53,6 24,6

% VENDAS 2010 2

60,3 89,2 75,6 80,4 78,0 94,9 54,0 84,0 33,6 70,5 38,9 78,0 55,0 34,5 82,0 23,1 36,0 38,0 73,0 54,9 93,4 56,0 51,0 41,9 79,2 76,2 81,5 55,3 66,9 93,0 87,0 44,0 72,5 26,5 35,0 72,0 95,2 31,3 39,5 44,0 47,0 22,4 71,0 36,5 46,1 16,3 12,0 16,8 15,0 44,4 18,4 56,1 25,2 28,0 25,3 58,6 26,2 7,2 13,6 18,0 16,3 23,6 3,8 10,5 5,0 27,0

% VENDAS % INVEST. % TRABALHA2009 2 DORES 2010 1 2010 2

59,3 85,2 79,8 83,1 73,0 67,4 52,3 78,0 32,9 68,8 53,0 76,0 54,6 29,0 80,0 22,0 63,9 37,7 51,5 90,3 55,5 48,0 47,0 81,0 76,2 83,2 55,0 72,6 86,0 90,0 40,0 70,0 21,4 36,0 75,0 94,4 30,8 36,5 50,1 40,9 19,5 21,0 45,0 15,4 10,5 14,9 14,9 40,7 17,5 53,6 15,4 17,0 61,5 22,6 6,9 12,0 15,0 19,0 20,5 2,4 4,0 26,0

76,0 65,5 67,7 81,0 76,4 50,2 71,0 78,0 49,8 56,0 59,9 67,3 60,1 31,0 22,0 85,0 33,0 71,6 53,0 31,6 37,4 48,3 66,0 16,0 58,0 30,1 19,4 42,0 18,4 26,5 23,3 28,0 30,0 19,2 49,0 10,1 5,2 9,0 39,6 32,1 15,6 43,2 10,2 41,0 36,2 27,2 3,8 22,1 28,4 18,0 15,0 15,8 7,5 29,8 18,0 17,0 13,4 7,6 15,0 11,3 14,2 13,7 2,8 3,6 7,5 28,2

% TRABALHADORES 2009 1

84,0 64,0 65,8 71,7 43,0 92,2 51,5 65,0 27,1 48,6 48,0 74,0 52,7 19,9 77,0 69,0 70,0 19,5 70,0 41,7 63,0 55,6 56,7 17,0 54,0 70,0 13,4 79,5 62,6 11,0 21,6 4,0 33,0 14,9 36,0 76,5 5,6 8,3 41,0 35,0 2,9 24,7 5,2 50,0 24,1 30,0 9,8 11,0 17,6 33,4 22,5 17,0 9,7 21,0 24,0 50,7 7,3 26,7 8,3 31,6 24,0 26,2 7,4 1,6 6,0 29,0

80,0 76,5 64,0 73,0 40,6 70,1 51,0 63,0 25,0 49,0 46,3 73,0 51,0 16,7 79,0 65,0 68,7 17,2 35,0 68,0 44,0 60,8 10,0 55,0 72,0 14,6 77,3 60,0 5,0 21,3 2,0 30,5 10,7 34,9 78,0 6,1 5,6 38,2 31,5 3,0 23,0 45,0 22,7 27,9 10,0 10,5 21,0 32,8 21,0 19,0 5,2 18,7 46,2 6,0 23,0 4,5 29,3 22,0 25,3 7,0 4,6 26,9

ÍND. POTENCIAL CRESCIMENTO 2010 70,0 92,3 80,0 77,0 78,0 81,0 72,0 58,5 94,0 67,0 82,0 47,0 69,0 99,3 79,7 40,0 87,0 67,0 69,3 72,0 52,0 66,0 51,7 82,3 40,0 57,0 69,0 49,0 59,0 69,0 64,0 77,0 63,5 65,0 56,7 54,7 77,0 87,0 68,0 67,5 72,0 55,7 69,0 38,0 41,7 57,0 85,3 78,0 72,0 64,3 67,0 54,0 75,0 53,7 56,0 55,5 68,0 65,0 45,0 53,0 61,0 54,0 54,0 50,0 66,0 49,0

ÍNDICE DE GLOBALIZAÇÃO 2010 78,23 78,18 77,71 76,99 73,18 69,97 69,75 68,99 67,19 66,25 65,14 64,03 63,82 61,29 61,27 60,29 60,18 59,11 58,81 56,96 54,12 54,00 53,74 53,68 53,68 53,67 52,67 51,66 51,17 50,63 50,19 49,76 49,62 48,64 48,33 48,29 48,24 48,00 47,99 47,60 47,01 46,22 45,84 45,27 44,49 44,31 43,55 42,93 42,90 42,59 42,43 41,87 41,70 39,35 39,21 39,20 37,89 37,79 37,37 35,71 35,65 34,81 34,18 34,07 33,87 33,68

ENDEREÇO ELETRÔNICO (WWW.) BRIGHSTARCORP.COM JBS.COM.BR CEMEX.COM TENARIS.COM LAN.COM TELMEX.COM ALFA.COM.MX IMPSA.COM VALE.COM ODEBRECHT.COM GERDAU.COM.BR AJEGROUP.COM GRUPOBIMBO.COM PETROBRAS.COM.BR TACA.COM BAGO.COM AMERICAMOVIL.COM GRUPOCHOCOLATES.COM CASASABA.COM MARFRIG.COM.BR CSAV.CL CENCOSUD.CL CAMARGOCORREA.COM.BR BRASILFOODS.COM CCNI.CL MEXICHEM.COM.MX/ CONCHAYTORO.COM SONDA.CL GRUMA.COM EMBRAER.COM.BR ARAUCO.CL FIBRIA.COM.BR CMPC.CL WEG.COM.BR VOTORANTIM-CIMENTOS.COM CAMPERO.COM PDVSA.COM TAM.COM.BR FALABELLA.CL ARGOS.COM.CO GMODELO.COM.MX TIGRE.COM.BR SUZANO.COM.BR METALFRIO.COM.BR GPOMABE.COM.MX ARCOR.COM.AR ITAU.COM TELEVISA.COM.MX ELEKTRA.COM.MX FEMSA.COM CAMARGOCORREA.COM.BR VITRO.COM.MX ANDRADEGUTIERREZ.COM.BR ARTECOLA.COM.BR COPAAIR.COM MADECO.CL CSN.COM.BR NATURA.COM.BR BEMATECH.COM MARCOPOLO.COM.BR GRUPOGLORIA.COM LUPATECH.COM.BR TOTVS.COM.BR DHB.COM.BR CINEPOLIS.COM.MX RIPLEY.CL

(1) Número de funcionários que atuam fora do país de origem da empresa (2) Fora do país de origem da empresa

Abril, 2011 AméricaEconomia 21

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3/29/11 12:23:12 AM


ESPECIAL Ranking Multilatinas JOGO BONITO Quantidade de multilatinas no ranking, segundo a nacionalidade - 2010 27

BRASIL 15

MÉXICO 11

CHILE 4

ARGENTINA 2

PERU COLÔMBIA

2 1

VENEZUELA

1

EUA

3

OUTROS 0

5

10

15

20

25

30

Fonte: AE Intelligence

CAPACIDADE AERÓBICA As 10 empresas com maior potencial para continuar crescendo em 2011

87,0 87,0

82,3 82,0

46.316,90

81,0

90 80,0

80

Fonte: AE Intelligence

A indefinição, que refletiu no preço das ações, não impediu que a Lan subisse uma posição no ranking das multilatinas. Hoje, a companhia aérea é a quinta empresa mais globalizada da região. É superada apenas pelo grupo argentino Tenaris, pela fabricante de cimentos mexicana Cemex, pela brasileira de alimentos JBS e pela Brightstar. O ranking, realizado anualmente, desde 2006, por AméricaEconomía Intelligence, procura medir, comparar e registrar o grau de internacionalização alcançado pelas grandes companhias da região. Para isso, é criado um índice de cobertura baseado na quantidade

14.434,50 CEMEX -1.337,40

8.132,50 TELMEX 1.245,70

12.741,80 BRASIL FOODS 224,10

ITAÚ UNIBANCO

7.796,10

50 40

Base 100

60 18.841,20 GERDAU 1.285,90

49.220,60 7.354,20

28.417,60

6.811,80 TAM 381,60

-20.000

AMÉRICA MÓVIL

0

215,10

20.000

85,3

70

GRUPO JBS

40.000

21.119,50

60.000

PETROBRAS

US$ milhões

80.000

49.949,00 18.047,10

100.000

100

94,0 92,3

VALE

120.000

99,3 128.000,00

140.000

30 20 10 0

Vendas 2010 (US$ milhões) Lucros 2010 (US$ milhões) Índice de potencial de crescimento internacional

de países e diferentes regiões do mundo nos quais a empresa tem operações. Estar em dez países em uma mesma região, como a América Latina, rende menos pontos que ter operações em dez países divididos entre Europa, África e Ásia, por exemplo. A metodologia mede ainda a globalização dos ativos, dos investimentos e dos recursos humanos das empresas, levando em considera-

ção a porcentagem total destes que está fora de seu país de origem. Isso, por exemplo, explica porque a Petrobras retrocedeu um degrau no ranking. Apesar de ter operações petroleiras em muitos continentes, as enormes reservas petrolíferas descobertas no subsolo marinho das costas brasileiras fizeram com que muitos de seus recursos se concentrassem novamente no Brasil. Para atender a essa demanda, a gigante do petróleo levantou US$ 70 bilhões nos mercados acionários em 2010, a maior emissão de ações da história mundial. Por isso, quando o foco de crescimento de uma multilatina está no mercado local, ela acaba perdendo graus de globalização. E sobe à medida que seus investimentos se afastam de seu país de origem. A maneira mais rápida de subir no ranking é por meio de operações de fusões e aquisições. O salto de dez posições da companhia aérea colombiana Avianca foi por sua absorção da rival centro-americana Taca para formar o grupo Avianca-Taca (com o qual somou vários países à sua estrutura operacional). A mexicana Grupo Casa Saba subiu 26 posições após a compra da cadeia de farmácias chilena Fasa. Comportamento semelhante ocorre com a chilena Concha y Toro, uma das marcas de vinhos mais reconhecidas em nível global. Apesar de ter escritórios comerciais em quase todos os grandes mercados do planeta, todos os seus investimentos e operações estavam no Chile. Isso mudou com o anúncio recente da aquisição, por US$ 238 milhões, da vinícola californiana Fetzer Vineyards, ligada à Brown-Forman – conglomerado de bebidas alcoólicas dono da marca Jack Daniels. Embora essa aquisição ainda não esteja incorporada à estrutura da empresa chilena, aumentou o indicador de Potencial de

À medida que aumenta a aposta de uma empresa multilatina no mercado local, ela perde graus de globalização

22 AméricaEconomia Abril, 2011

AE 398 Ranking_Multilatinas.indd 22

3/29/11 12:23:30 AM


Crescimento Internacional, que é onde o modelo metodológico registra esse tipo de operação. Com isso, conseguiu avançar dez posições. Como acontece nas indústrias de

alto dinamismo, neste ranking não avançar é o mesmo que retroceder. As empresas que não iniciaram operações em novos mercados (ou não mudaram a composição de seus investimentos

NEGÓCIOS PERMEÁVEIS As 10 empresas com maior cobertura internacional - 2010

45,0

100,0

96,3

46

96,2

91,5

47

40,0

87,2

85,9

83,9

83,8

90

83,3

80

38 35

35,0 Nº Países

100 89,9

34

70 28

30,0 25

25,0

28

60

25

25

50

20,0

Base 100

50,0

40

15,0

30 5

8

7

20

7

Fonte: AE Intelligence

00 VIÑA CONCHA Y TORO

VALE

BRASIL FOODS

WEG

CEMEX

7

10

BRIGHTSTAR

7

PETROBRAS

7

DHB CONCOM. AUTOMOTIVOS

8

BEMATECH

8

5,0

CONST. NORBERTO ODEBRECHT

10,0

9

Nº de países Zonas/Regiões Índice de cobertura

ou recursos humanos), privilegiando as praças internacionais, caíram de posição. A guatemalteca Pollo Campero, que levou suas lojas de fast-food para China, Indonésia, Espanha e Estados Unidos, além de vários países da América Central, não desembarcou em novos mercados no último ano e, por isso, perdeu seis posições. O caso mais extremo é o da Ripley, cadeia de lojas chilena que foi uma das pioneiras ao cruzar fronteiras rumo ao Peru, em 1997. Depois disso, contudo, não se expandiu para outros países, como fizeram suas concorrentes Falabella e Cencosud. O conceito de multilatina foi criado por AméricaEconomia em 1986, com o objetivo de destacar as empresas que começavam a fazer negócios pelas Américas. Hoje, o conceito também se aplica a companhias que cruzam fronteiras além da região latino-americana. Das 66 empresas que estão neste ranking, 53 têm operações fora da América Latina. A maioria é brasileira. Dos novos destinos, a Ásia está entre os preferidos. Ao todo, 34 companhias iniciaram operações no continente nos últimos anos.

MULTILATINAS INOVADORAS PASSAPORTE CARIMBADO As 10 empresas com maior % de trabalhadores no exterior - 2010 80.000 92,2 74,0 71,7

80 70,0

70,0

70,0

55.000

60.000

90 79,5 77,0 76,5

50.000

40

Fonte: AE Intelligence

N.D

20 10 0

MEXICHEM

CASA SABA (FASA)

AMÉRICA MÓVIL

TENARIS

AJEGROUP

POLLO CAMPERO

AVIANCA-TACA

SONDA

BRIGHTSTAR

TELMEX

0

N.D. - Não divulgado

30

11.922

9.800

5.150

6.700

3.600

10.000

10.882

30.000 20.000

50

22.591

40.000

70 60

% de trabalhadores no exterior

74.769

Nº de trabalhadores

100 84,0

70.000

Nº de empregados 2010 % de trabalhadores no exterior

Daquelas que se concentram apenas na região, há alguns padrões comuns. As chilenas, por exemplo, preferem crescer no bloco formado por Peru, Chile e Colômbia. As mexicanas têm uma preferência especial por crescer nos Estados Unidos, embora não sejam poucas as que se expandem para o restante da região. As mexicanas América Móvil e Femsa estão entre as que construíram corporações 100% latino-americanas e se beneficiaram do bom momento que vivem muitos de seus mercados. O desafio é enorme, pois a América Latina ainda está muito longe de ser o mercado unificado de 500 milhões de habitantes em que poderia se transformar, caso os entraves comerciais, tributários e burocráticos desaparecessem. Uma boa notícia é o surgimento de empresas de alta tecnologia entre as multilatinas, dentre as quais predomiAbril, 2011 AméricaEconomia 23

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ESPECIAL Ranking Multilatinas nam as fabricantes de cimento, as cervejeiras e outras empresas de setores tradicionais. Ao primeiro lugar conseguido pela Brightstar, empresa de logística que agregou à sua operação a fabricação de celulares para diferentes marcas, também se somou a chilena Sonda, especializada em serviços de tecnologia para empresas, dona de operações importantes no México e no Brasil, além de outros países da região. As brasileiras Bematech e Totvs seguem um caminho semelhante. Outra novidade do ranking é a estreia da mexicana Cinépolis, a terceira maior cadeia de cinemas do mundo, com operações em muitos mercados da América Latina, além da Índia, onde entrou em 2009. Apesar de haver debutado no Brasil no ano passado, por ora, sua maior base de negócios ainda está no México. Talvez estejamos no limiar de uma mudança no aparato produtivo na região. Um estudo recente da universi-

A previsão para os próximos anos é otimista: as empresas latino-americanas devem manter a estratégia de globalização dade francesa Insead, financiado pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), concluiu que há três setores de alta inovação nos quais as multilatinas poderiam se destacar internacionalmente. “São eles o das telecomunicações, no qual as latino-americanas têm inovado com a gestão de pagamentos e a chegada aos mercados de recursos mais baixos; as tecnologias vinculadas ao meio ambiente, como foram os biocombustíveis; e as chamadas indústrias criativas, que incluem moda, desenho industrial, cinematografia, produtos audiovisuais e o turismo cultural”, afirma Lourdes Casanova, autora do

estudo. Este último foi o que permitiu à mexicana Televisa abrir passagem no mercado global com suas produções e assumir o controle da maior cadeia de TV em espanhol dos Estados Unidos. O impulso globalizador de nossas corporações deve se manter durante os próximos anos. Em um mundo que caminha a diferentes velocidades, as empresas latino-americanas estão ganhando poder de compra, enquanto os ativos em outros mercados do mundo se desvalorizam. É o destino: a crise financeira global gerada no mundo desenvolvido resultou em um cenário que favorece os investimentos internacionais e a conquista de novas fronteiras.

Metodologia Para medir o grau de globalização das empresas latino-americanas, foram consideradas cinco variáveis principais, que geraram como resultado o Índice de Globalização. As três primeiras englobam o conceito de Operações no Exterior, que inclui, em primeiro lugar, as exportações da matriz e as vendas das filiais, bem como sua porcentagem em relação à receita total das empresas, em dezembro de 2010. Em segundo lugar, consideram-se os trabalhadores que operam nas filiais com relação ao total de trabalhadores que a empresa emprega. Depois, considera-se a porcentagem de investimentos ou ativos que as empresas realizaram no exterior, sobre o total de investimentos (ou ativos), em dezembro de 2010. Essas três variáveis tiveram um peso de 50% no modelo final: 10%, 10% e 30%, respectivamente. A quarta variável foi a Cobertura Geográfica, construída de acordo com a diversificação das operações no mundo. Foram consideradas nove zonas econômicas, às quais foi atribuída uma ponderação segundo o grau de dificuldade que as multilatinas têm para chegar a cada lugar. As regiões foram América do Sul, América Central, América do Norte (México e Canadá), Estados Unidos, Europa, Ásia, África, Oceania e Oriente Médio. Verificou-se em quantos países estava presente ca-

da uma delas. Com isso, construiu-se o indicador final, que teve um peso de 20%. Finalmente, adicionou-se a variável chamada Potencial de Crescimento Internacional, que teve um peso de 30% e foi construída sobre três indicadores. O primeiro foi o tamanho da empresa, que teve um peso específico de 50%. O segundo foi a liquidez da empresa, que pesou 10%. O último foi o fator qualitativo de percepção (em base 100), que inclui os planos de investimentos, as recentes aquisições e os espaços que existem para crescer no mercado global na área de cada empresa. Nesse item, a ponderação foi de 40%. Em todos os casos em que não foi possível contar com alguma informação, optou-se por estimativas, a fim de obter alguns indicadores e, por isso, os fatores publicados devem ser considerados provisórios. A coleta de dados foi feita por meio de uma pesquisa enviada a mais de cem empresas da região, em fevereiro de 2011. Também foram usadas informações públicas dos sites das empresas, superintendências e bolsas de valores, entre outras. Os quatro fatores considerados foram expressos em base 100. Depois foi calculada a média com seus respectivos ponderadores, gerando, assim, o índice de globalização das empresas latino-americanas.

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CRESCIMENTO DO CONSUMO ENTRE BRASILEIROS MUDA FOCO DAS EMPRESAS

Brasileiras Foto: Jorge Araújo/Folhapress

perdem fôlego EMPRESAS VOLTAM-SE AO MERCADO INTERNO PARA APROVEITAR CRESCIMENTO DO PIB E REDUZEM RITMO DE INTERNACIONALIZAÇÃO GIULIANO AGMONT, DE SÃO PAULO

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ESPECIAL Ranking Multilatinas

O

“Não basta ir bem, é preciso ser melhor do que os concorrentes, o que inclui os vizinhos da América Latina”, diz Evaldo Alves, da FGV-Eaesp la de classificação elaborada por AméricaEconomía Intelligence elevou sua internacionalização em 2010 diante dos resultados de 2009. Porém, salvo raras exceções, como as empresas Fibria e Brasil Foods, os grupos brasileiros perderam posições no ranking, mesmo ampliando sua atuação global. O que explica essa dança de cadeiras? Seria um mero reflexo da apreciação do real diante do dólar? Ou uma consequência natural das condições de mercado? As respostas para essas perguntas estão longe de ser absolutas. Mesmo porque, a queda de posições no topo do ranking não foi abrupta, e tem mais a ver com a ascensão de outras companhias latinas, como a mexicana Telmex, a ar-

A GERDAU FOI UMA DAS BRASILEIRAS QUE PERDERAM POSIÇÃO: DE 8O PARA 11O LUGAR

gentina Impsa e a peruana Ajegroup, que determinou o declínio de Vale, Odebrecht, Gerdau e Petrobras. Na parte intermediária da lista, porém, companhias como Marfrig, Camargo Corrêa, Embraer, Weg e Votorantim chegaram a perder mais de dez posições. Na opinião do economista Evaldo Alves, professor de economia internacional da FGV-Eaesp (Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas), isso mostra que o levantamento pode, sim, ser interpretado como um sinal amarelo para as empresas brasileiras. “Não basta ir bem, é preciso ser melhor do que os concorrentes, o que inclui os vizinhos da América Latina. Na comparação com o Brasil, o México entra no mercado com produtos de maior densidade tecnológica”, sustenta Alves. Segundo o professor da FGV, existe uma questão de estratégia em jogo. “A expansão dos grandes grupos brasileiros ocorre a partir de oportunidades em mercados decadentes, com aquisições de empresas em dificuldades. Já chilenos e mexicanos, para citar dois exemplos, investem mais em eficiência e inovação tecnológica para conquistar novos mercados. As companhias brasileiras não podem cair em euforias triunfalistas. Elas precisam agir preventivamente e ser ainda mais competitivas, sem esperar que a desaceleração econômica fique gritante para fazer isso”, defende Alves. “O mundo está se transformando em um grande mercado fracionado de partes e peças, com empresas oferecendo itens cada vez melhores e mais baratos. Esse é o principal nicho hoje e, por isso, a globalização tornou-se uma importante medida do sucesso”, completa.

Foto: Paulo Fridman/Getty Images

ranking multilatinas 2011 reflete o bom momento econômico pelo qual passa a América Latina. Nunca a região experimentou um período tão pujante para os negócios, o que tem se traduzido em uma crescente expansão geográfica de suas principais companhias. Diante da maré favorável, os executivos dos grandes conglomerados da porção centro-sul do continente fecham cada vez mais contratos dentro e fora de seus países de origem. “As empresas latinas ganharam relevância no cenário internacional. Hoje, com fortalecimento, valor em bolsa e capacidade de endividamento a preços competitivos, elas estão apreciadas em relação a outras organizações mundiais, e valem mais em termos relativos”, constata o economista Reynaldo Passanezi, vicepresidente da Sobeet (Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica). O índice de globalização expresso no ranking multilatinas 2011 é o termômetro dessa tendência. A maioria das companhias relacionadas na esca-

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30.03.11 13:07:43


“A escola de negócios No. do mundo” MERCADO DOMÉSTICO A competitividade global é um desafio para os grupos brasileiros, mas as circunstâncias econômicas de 2010 também ajudam a explicar as mudanças do ranking. No ano passado, o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro cresceu 7,5%.“É difícil expandir-se internacionalmente em um país com um cenário tão favorável”, avalia Passanezi, da Sobeet. O também economista Antonio Correa de Lacerda, professor da PUCSP (Pontifícia Universidade Católica) e da Fundação Dom Cabral, concorda: “As empresas se dedicaram mais ao mercado interno, o que acabou ofuscando parte do investimento realizado além das fronteiras do país”. Para Lacerda, a apreciação cambial do real em relação ao dólar também pode ter contribuído para a queda das companhias do Brasil no ranking multilatinas. “A política cambial jogou contra a internacionalização ao prejudicar as exportações, embora a desvalorização do dólar estimule as empresas a deixar de atuar no Brasil para buscar espaço no exterior”, explica o professor da PUC. Apesar dos impactos da alardeada guerra cambial, o professor Evaldo Alves, da FGV, defende que o fenômeno seja tratado como uma questão contingencial. “Ela é fruto do excesso de liquidez, já que a desvalorização do dólar já se tornou quase estrutural. As empresas terão de lidar com essa nova realidade. Como? Aumentando ainda mais sua eficiência, sua produtividade e sua atuação internacional”, considera Alves. Em relação ao peso do mercado interno na queda no ranking de globalização, Alves é mais comedido. “Os emergentes, em especial os Brics [Brasil,

Rússia, Índia e China], além de Coreia do Sul e do próprio México, jogam esse jogo. Equilibram sua atuação nos dois mercados, interno e externo. Todos enfrentaram a crise com medidas anticíclicas em seus mercados e crescem no vácuo dos países desenvolvidos. A força do mercado interno não pode comprometer a expansão internacional”, acredita o especialista da FGV. Passanezi acha que a globalização deve ser mais uma consequência do que uma meta para os grandes grupos latinos. Para ele, o que as empresas precisam é crescer, independentemente do mercado. “É claro que as oportunidades estão dentro e fora de seus países de origem, mas é preciso critério. A Fibria, por exemplo, tem de atuar onde obtiver celulose barata, e o Brasil é um desses lugares. Não tem sentido ir para países onde sua matéria-prima é cara. O mesmo se aplica aos casos de Vale ou Embraer, que devem buscar condições vantajosas para produzir”, defende o vice-presidente da Sobeet. “A sobrevivência das empresas no longo prazo depende de sua inserção global, mas isso não significa estar em todos os países”. Os desafios da América Latina, e do Brasil em particular, são proporcionais às oportunidades internacionais. Não se trata, na avaliação dos especialistas, de competir com a China, que já mudou o eixo da economia mundial. “O Brasil nunca vai ser a China, o que vale tanto para virtudes quanto para defeitos”, destaca Lacerda, da PUC. O que ele quer dizer é que existem valores extraeconômicos que irão pesar a favor da América Latina. Isso se aplica às democracias, aos idiomas, à tolerância étnica, racial e religiosa e ao respeito aos direitos humanos, além do forte crescimento econômico e do alto

A expansão dos grupos brasileiros ocorre a partir de oportunidades em mercados decadentes, por meio de aquisições de empresas com problemas

10

– classificação mundial de 2010 do The Economist

Schulich

Leonardo Meira Salles De Paula (MBA ‘05) Gerente de Projetos McKinsey & Company São Paulo (Brasil)

Uma das dez melhores escolas de negócios do mundo A Schulich está considerada entre as melhores escolas de negócios do mundo pelo The Economist (#10 no mundo); Forbes (6a. melhor escola não-americana); Bloomberg Businessweek (9a. melhor escola de fora dos Estados Unidos) e The Aspen Institute, um celeiro de pensamento dos Estados Unidos (#1 no mundo em Liderança Social e de Meio Ambiente) em suas mais recentes pesquisas globais em Administração de Empresas. O MBA (Mestrado em Administração de Empresas) da Schulich é também classificado em 1o. lugar no Canadá pelo The Economist, Forbes e The Aspen Institute.

Alcance global. Programas inovadores. Perspectivas diversas.

Abril, 2011 AméricaEconomia 27

www.schulich.yorku.ca

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ESPECIAL Ranking Multilatinas

Especialistas avaliam que há tanto desafios quanto oportunidades internacionais para as empresas da América Latina

A PETROBRAS VOLTOU-SE AOS PROJETOS DO PRÉ-SAL NO LITORAL BRASILEIRO

área de alimentos. “Paralelamente, o custo de capital de terceiros diminuiu para essas empresas, com um spread muito mais atraente. O financiamento para elas é mais barato hoje”, explica Passanezi. Evidentemente, os números favoráveis ao Brasil camuflam a falta de competitividade sistêmica do país, com problemas como juros altos, falta de infraestrutura, excesso de burocracia, tributação complexa e câmbio apreciado. Essas dificuldades neutralizam esforços ligados a temas como inovação e sustentabilidade, que estão na pauta global. Mas é um quadro reversível,

acredita Lacerda, principalmente com a continuidade do crescimento. “A internacionalização é uma necessidade empresarial. Primeiro porque é uma forma de equilibrar dívidas em dólares, independentemente da variação cambial do real. Além disso, é uma maneira de estar mais próximo de outros mercados. E, finalmente, facilita o acesso a financiamentos internacionais com condições melhores do que as brasileiras”, lista o economista. As empresas brasileiras entre as 20 primeiras do ranking foram procuradas, mas não quiseram comentar a queda de posição.

Foto: Agência Petrobras de Notícias

preço das commodities. “O Brasil é uma nação singular, muito diferente de regiões da África e do Oriente Médio, por exemplo, que se tornaram áreas de risco para os negócios. Isso deve continuar atraindo muitos investimentos para o país”, acredita o economista. Para o vice-presidente da Sobeet, a estabilidade política e social, aliada ao potencial econômico, faz da América Latina, de fato, um alvo importante de investimentos. Mas não da maneira frágil como já foi no passado, porque as empresas latinas ganharam valor e estão fortalecidas. “Antes, mesmo as empresas mais fortes eram incorporadas por multinacionais estrangeiras que se instalavam na América Latina, como Cofap e Metal Leve. Agora, os papéis se inverteram, por conta da musculatura dos conglomerados de nossa região”, diz Passanezi. O economista tem levantamentos que dimensionam essa mudança. Ele traçou um comparativo de cinco empresas brasileiras com a média das cinco maiores companhias de seus respectivos setores, de 2002 para 2010, e chegou a resultados surpreendentes. A Petrobras valia 18% da média das top 5 do setor de óleo e combustível em 2002, passando a valer 123%. A Vale saltou de 32% para 106% entre as mineradoras. A Gerdau subiu de 18% para 96% no setor siderúrgico. E a Brasil Foods ascendeu de 35% para 241% na

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NEGÓCIOS Beleza

Vaidade

brasileira: a arma da

Nivea

para crescer

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À FRENTE DA OPERAÇÃO LOCAL, O EXECUTIVO NICOLAS FISCHER TEM COMO META CONDUZIR O BRASIL A NÚMERO 2 DO GRUPO AINDA EM 2011 E DOBRAR O TAMANHO DA EMPRESA EM CINCO ANOS. PARA ISSO, CONTA COM O AUMENTO DOS CANAIS DE DISTRIBUIÇÃO E O CRESCIMENTO DO CONSUMO NA BAIXA RENDA GRAZIELE DAL-BÓ, DE SÃO PAULO. FOTOS: PEDRO DIAS

A

o assumir, nos últimos três anos, a liderança de crescimento dentro da Nivea, a América Latina tornou-se um dos focos do Grupo Beiersdorf, holding que controla a marca, para os próximos anos. Incluída no plano que criou uma nova unidade de negócios voltada especialmente aos mercados emergentes, a região tem se destacado quando o assunto é o consumo de produtos cosméticos no mundo. O Brasil, por exemplo, já assumiu a terceira colocação mundial, atrás apenas de Estados Unidos e Japão. Para a Nivea, o cenário é positivo. A operação brasileira da empresa alemã persegue a segunda colocação no grupo em 2011, com uma projeção de crescimento de 15% para os próximos anos. Em entrevista à AméricaEconomia, o presidente da operação da Nivea no Brasil, Nicolas Fischer, um alemão que construiu sua carreira atuando na América Latina, em empresas como Wella, P&G e na própria Nivea, revelou os planos da empresa para o país, a intenção de dobrar de tamanho até 2015 e o foco nos produtos direcionados aos cuidados com a pele, segmento no qual detém uma boa posição mundial.

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NEGÓCIOS Beleza AméricaEconomia • Em 2010, a operação da Nivea no país registrou um crescimento de 13%. Quais são as metas para este ano? Nicolas Fischer • Sim, crescemos 13% em 2010. E nós temos um planejamento estratégico para os próximos cinco anos, no qual queremos crescer a uma média de 15%, o que vai nos permitir dobrar o faturamento da empresa nesse período. Para isso, teríamos de ter crescido 13% no ano passado, o que conseguimos atingir. Agora, está começando um novo jogo, com outra estratégia, e conseguimos a aprovação da matriz para as estratégias dos próximos 5 anos, até 2015. De novo, a meta é dobrar de tamanho. AE • E como vocês esperam crescer esses 15%? De onde virá a expansão? Fischer • O mercado já vai crescer 8%. Então, para fazer um parêntese, só crescendo ao ritmo de mercado, esse percentual seria de 8%, o que já é difícil, porque existem muitos jogadores. Mas esse crescimento virá de várias coisas. Primeiro, da inovação, para ter um produto adequado, moderno, contemporâneo para o consumidor. Segundo, há ainda muitas regiões onde temos espaço, onde podemos melhorar a capilaridade de nossa distribuição. E há algumas categorias de produtos em que a taxa de uso ainda não está muito alta, como a do protetor solar. No Brasil, ainda temos um espaço muito grande para aumentar seu uso. Outra coisa que também temos no Brasil é o crescimento da classe emergente, que está começando a consumir mais e melhor. Ela está mudando de produtos mais básicos para itens mais sofisticados, o que nos ajudará a alcançar esse crescimento. AE • Quanto a operação brasileira representa para o Grupo Beiersdorf? Fischer • Existem várias formas de ver isso. Podemos olhar só para a marca Nivea e podemos olhar para todas as marcas que o grupo possui. Se olharmos só para a Nivea, o Brasil é o quarto país do mundo em receita [atrás da matriz, Ale-

manha, França e Itália]. Acreditamos que, em 2011, vamos conseguir passar os dois outros países e ficar em segundo. Se falarmos na operação do grupo como um todo, hoje somos o sexto país. AE • Como você avalia o mercado de cosméticos na América Latina e no Brasil? Fischer • O Brasil é o terceiro maior mercado de cosméticos do mundo, atrás dos Estados Unidos e do Japão. Além disso, é bastante robusto e muito dinâmico. A área na qual a Nivea atua tem crescido a uma média de 8% ao ano. Eu estou falando do mercado de varejo, que mostrou ter dinamismo até nas categorias mais básicas, como desodorante. Tem ocorrido um fenômeno muito interessante nos países emergentes. O padrão de consumo está mudando, as pessoas estão deixando de comprar produtos mais simples para comprar outros, mais sofisticados, e isso tem nos ajudado. A América Latina é um mercado dinâmico também. Colômbia, Peru e Chile são os três países mais sólidos, com melhor situação macroeconômica, e onde o mercado de cosméticos tem crescido mais. Nos

últimos três anos, dentro da Nivea, a América Latina foi a região que mais cresceu. Em março, a Nivea criou uma nova unidade de negócios chamada Mercados Emergentes, que inclui Rússia, Oriente Médio, Turquia, Índia, África e América Latina. O Brasil é o maior país desse grupo. AE • O que se vê aqui, no Brasil, hoje, é uma tendência de fortalecimento da venda porta a porta. A Natura e a Avon já apostam nisso e, agora, o Boticário também entrou nesse mercado. A Nivea tem planos de investir nesse canal de distribuição? Como competir com tantas empresas no setor e um alto grau de informalidade? Fischer • No Brasil, e na América Latina de um modo geral, a venda porta a porta é muito forte. Se você olhar para um país como o Peru ou a Colômbia, verá que eles têm muitos players importantes por lá também. Mas nós, como Nivea, sabemos que o nosso foco, a nossa especialidade, o que sabemos fazer e trabalhar, é com o mercado de varejo. Nossa marca vai fazer 100 anos em 2011; e há 100 anos atuamos no varejo. Não temos intenção de mu-

Participação de mercado Segundo dados do Euromonitor International, a Beiersdorf AG, controladora da Nivea, ocupa a terceira posição no segmento de skin care no Brasil, com 6,7% de market share, atrás de Natura (21,8%) e Avon (20%). A empresa, no entanto, prefere trabalhar com os dados da Nielsen, na qual aparece como líder, com 25,3% de participação de mercado no segmento de varejo (que exclui a venda porta a porta). Em beauty care, embora a companhia afirme não ser o seu foco, ela aparece em 10o lugar.

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dar isso porque está funcionando muito bem. O mercado é dinâmico, o porta a porta cresce muito, sem dúvida, mas o nosso canal de vendas também tem crescido muito. Felizmente, o espaço no Brasil é muito grande e possibilita a expansão em várias frentes. AE • Com relação ao segmento de skin care, hoje, a Nivea ocupa a terceira posição, segundo o instituto de pesquisa Euromonitor, atrás de Natura e Avon. Como vocês pretendem chegar à liderança? Fischer • O Euromonitor inclui as marcas com venda porta a porta. Nós focamos apenas no varejo, então nós somos líderes, com 25% de market share, segundo a Nielsen [empresa de pesquisas de mercado]. Queremos reforçar isso cada vez mais, pois nós criamos esse mercado de varejo há 100 anos e queremos continuar como líderes. Para isso, vamos apostar em lançamentos e novas tecnologias, como fizemos agora com o Nivea Body. Inovação no setor cosmético é fundamental. As brasileiras gostam de produtos novos, mas tem de ser uma inovação relevante. Cerca de um terço de nossa linha é relançada todos os anos.

O homem à frente da Nivea Graduado em Administração de Empresas em Berlim (Alemanha) e Vancouver (Canadá), Nicolas Fischer ingressou no Grupo Beiersdorf em 1992, exercendo funções na Alemanha, na Colômbia e no Brasil, onde atuou como diretor administrativo e financeiro, entre fevereiro de 1996 e março de 2001. Em abril de 2001, mudou-se para o Chile, onde assumiu a presidência da Wella. A partir de dezembro de 2002, esteve à frente da gerência do Mercosul. O executivo retornou ao Brasil em dezembro de 2004, pela P&G, onde atuou como diretor de Marketing da categoria coloração de cabelo pelo Mercosul. Em setembro de 2005, deixou a P&G para assumir a presidência da BDF Nivea no Brasil, cargo que ocupa até hoje.

AE • Qual é o portfólio da Nivea aqui no Brasil? Fischer • Estamos com oito categorias, atuando em loções para corpo, produtos para o rosto, protetor solar, desodorante, linha masculina, sabonetes, produtos para as mãos. Tudo o que tem a ver com skin care. Queremos estar apenas onde podemos agregar valor para o consumidor. Porque, quando olhamos para o futuro, segundo o Euromonitor, fala-se que mais ou menos 50% do crescimento do mercado virá de skin care. Será o segmento que mais vai crescer, então achamos que estamos bem posicionados. AE • E a famosa latinha azul da Nivea, quanto representa das vendas? Fischer • Bom, isso eu sei, mas não posso falar. Nós não costumamos falar Abril, 2011 AméricaEconomia 35

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NEGÓCIOS Beleza

O padrão de consumo está mudando, as pessoas estão deixando de comprar produtos mais simples para comprar outros, mais sofisticados, e isso tem nos ajudado” de subcategorias. A latinha azul já não é o produto que mais vende, mas é um creme que tem uma venda boa. O carro-chefe são loções para o corpo. É o que mais sustenta a marca Nivea hoje em dia aqui no Brasil. AE • No Brasil, a Nivea chegou a registrar uma rotatividade de funcionários na casa dos 30% seis anos atrás. Como está esse índice hoje e quais ações foram implementadas para reduzir esse percentual?

Fischer • Essa é uma preocupação muito grande, porque você tem seus funcionários, treina-os bem e depois eles vão embora. É um custo muito alto para a empresa. A Nivea é uma empresa que preza muito pela continuidade. Olhamos quais foram os pontos importantes para mudar isso, e eu diria que é preciso ter transparência, comunicação clara dos objetivos, onde a empresa está e onde quer chegar. Quando se tem clareza de onde você quer chegar, você consegue criar objetivos individuais para as pesso-

as e criar planos de carreira. Hoje, todo funcionário tem um plano de carreira, assinado pelo chefe. E ele tem os treinamentos necessários para saber o que precisa para atingir seu crescimento. Essas atividades têm ajudado muito. O índice de rotatividade hoje está em 12%. Então, na média, as pessoas ficavam três anos, e hoje em dia ficam quase 10 anos. Mas, para isso, você tem de desenvolver as pessoas e fazer com que elas tenham desafios. Nós, como empresa, temos a obrigação de oferecer isso a elas.

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AE • A empresa conta com apenas uma fábrica no Brasil, em Itatiba, no interior paulista. Existe a intenção de aumentá-la ou abrir mais unidades? Fischer • A fábrica é relativamente nova, tem oito anos, e já foi projetada para aguentar esse crescimento. Foi construída de forma modular, o que permite ampliar a capacidade quando for preciso. Temos fábricas no México, no Chile e no Brasil, e elas atendem toda a América Latina. Estamos avaliando quais dessas fábricas vamos ampliar, em quais produtos e em qual momento. Nunca olhamos só o Brasil, mas sim a região como um todo. E cada fábrica é responsável por alguns tipos de produto. O que eu posso dizer é que, para 2011, nós não teremos ampliação. AE • Os produtos da Nivea vendidos no Brasil são produzidos nacionalmente ou alguns são importados? Como está essa proporção? Fischer • A maioria vem do Brasil, sim. Eu diria que 60% do que é vendido aqui é produzido aqui. AE • Você acredita que as últimas iniciativas da equipe econômica para restringir o acesso ao crédito podem refletir na disposição das pessoas de baixa renda em comprar cosméticos? Ou pode ocorrer um efeito inverso, com as pessoas comprando menos produtos de maior valor agregado e se voltando para itens mais baratos, como os cosméticos? Fischer • O país está em um bom caminho. Claro, sempre haverá alguns ajustes. De alguma forma, é até bom que haja um controle maior para segurar o crédito. O que nós vimos é que, no auge da crise, no primeiro semestre de 2009, tivemos nosso melhor semestre. Aí vemos que, geralmente, o consumidor, quando consegue comprar um carro, um apartamento ou algum produto da linha branca no crédito, fica com parte de seu orçamento mensal comprometido, pagando as parcelas. Se não consegue comprar um apartamento, um carro, ele vai ter menor parte de seu di-

nheiro comprometido e vai para o consumo mais rápido, o consumo de cosmético, por exemplo. Então, para o segmento de cosméticos, é melhor quando há menos crédito no mercado, porque você não vende com crédito. AE • Você sempre demonstrou interesse em ser um executivo global, trabalhar fora da Alemanha, em diferentes países. Você acha que o brasileiro tem esse perfil global? Fischer • Eu acho que o executivo brasileiro está supercompetitivo em nível global. Vemos que, quando mandamos executivos brasileiros para trabalhar na matriz, em geral, eles se saem muito bem. Eles conseguem soluções rápidas. Infelizmente, ainda falta alguma coisa em algumas áreas. Por exemplo, na área de vendas, muitos não falam bem o inglês, que seria uma coisa básica. Além disso, o brasileiro ainda é muito apegado ao seu país. A maioria dos brasileiros sai do país, gosta da experiência, mas logo quer voltar. AE • Existem rumores de que algumas empresas, como a P&G, com interesse nos países emergentes, teriam dito que a Nivea é uma companhia muito boa. Existe algum tipo de interesse em negociar a venda da operação brasileira? Fischer • Bom, eu não seria a melhor pessoa para te dizer isso, mas desde que entrei na Nivea, em 1992, existem esses rumores. Nós temos nosso mercado, trabalhamos e funciona muito bem. AE • Haverá alguma ação específica para o Brasil na comemoração do centenário da empresa? Fischer • Estamos celebrando em nível global, com diversas atividades. Haverá uma nova campanha de divulgação, que vai reforçar muito os valores da marca. Nossa marca nasceu com produtos voltados aos cuidados com a pele, e a campanha vai focar nisso. Também teremos uma adaptação para o mercado local, com ações na internet e nos pontos de venda.

Setor em expansão O otimismo da Nivea com relação ao crescimento da empresa não é à toa. Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec), o setor cresceu 12,6% em 2010 na comparação com o ano anterior, alcançando um faturamento de R$ 27,5 bilhões. E a estimativa para 2011 é de que essa expansão mantenha o mesmo ritmo. Modernização do parque industrial, democratização do consumo e maior acesso a produtos pelas classes D e E são apontados pelo presidente da entidade, João Carlos Basilio, como fatores fundamentais para esse crescimento. E ele não está sozinho nesse coro. “O Brasil tem, hoje, 14% do mercado global de cosméticos, e as perspectivas macro são excelentes, já que a preocupação com a qualidade de vida está cada vez mais forte. Aliado a isso, temos a realidade da economia brasileira, que está aquecida”, completa Francisco Kops, analista da Planner Corretora.

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NEGÓCIOS Finanças

Decisão arriscada O CORPBANCA E O BBVA PERSEGUEM O CRESCIMENTO DE PARTICIPAÇÃO NO SISTEMA BANCÁRIO DO CHILE. MAS UMA POSSÍVEL ALIANÇA COM O BANCO DO BRASIL PODERÁ FAZER A DIFERENÇA EM FAVOR DA INSTITUIÇÃO CHILENA MATÍAS RODO YURICEVIC, DE SANTIAGO

ario Chamorro aparenta estar tranquilo para alguém que responde por um dos bancos de melhor rendimento dos últimos tempos no Chile. O gerente-geral do Corpbanca comanda, há vários anos, o braço financeiro do grupo controlado pelo empresário Álvaro Saieh. De fato, a instituição apresenta o segundo maior crescimento em investimentos no sistema financeiro do Chile nos últimos sete anos. E quer continuar nesse ritmo. Para isso, acaba de aprovar um aumento de capital de US$ 670 milhões. Além disso, o Banco do Brasil – o maior do país em ativos, com US$ 452,431 bilhões – está mais perto de concretizar sua entrada no banco chileno, com 10% de participação. Hoje, o plano do Corpbanca é passar de uma participação em investimentos no sistema financeiro chileno de 7,3% (cerca de US$ 11 bilhões) para 10% no médio prazo. Mas a tarefa poderia elevar seu nível de risco, por se tratar de um mercado tão ajustado como o chileno. “A menos que baixem excessivamente os spreads e emprestem mais dinheiro”, afirma Álvaro Pipino, diretor de estudos do IM Trust. Além disso, o banco de Saieh enfrenta um concorrente forte: o BBVA. A instituição financeira também tem um plano concreto para chegar a 10% de participação nesse mercado até 2015. Em dezembro de 2010, o banco espanhol detinha 7,27% dos investimentos no Chile.

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O DESAFIO DE CHAMORRO SERÁ ENFRENTAR O APETITE DO CONCORRENTE ESPANHOL

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Um impulso concreto que o Corpbanca terá é o aumento de capital, que, em grande parte, será destinado a turbinar o volume de investimentos e facilitar o acesso ao financiamento, após melhorar suas taxas de capitalização. “Ao aumentar a base de capital, o banco também poderá apoiar a internacionalização que está ocorrendo por parte de várias empresas chilenas dentro da região”, afirma Chamorro. Por outro lado, o Corpbanca anunciou que vai capitalizar 25% de seus lucros e gerar sinergias com o Unimarc, o braço varejista do Grupo Saieh, que possui 350 estabelecimentos, com vendas de US$ 2 bilhões. O banco irá participar do negócio financeiro do Unimarc por meio da criação da SMU Corp., que administrará o cartão de crédito do supermercado. Ao todo, 51% da empresa será do banco, e 49%, do varejista. “A ideia é chegar a setores pouco bancarizados”, afirma Chamorro.

leira Ágora Corretora. Prova disso é a compra de 51% do Banco Patagônia, na Argentina, por US$ 480 milhões. O Corpbanca, que em 2010 teve um lucro de US$ 245 milhões – 46,7% a mais que no ano anterior –, estrutura-se em três mercados: o banco atacadista, que atende empresas com vendas anuais superiores a US$ 30 milhões; finanças e negócios de filiais no mercado de capitais; e imobiliário. Outra divisão é a de empresas, para companhias com vendas entre US$ 2 milhões e US$ 30 milhões, e a de pequenas e médias empresas, com receita inferior a US$ 2 milhões.

US$

tander, Banco de Chile, BCI e Corpbanca. Os investimentos aumentaram 12,2%, impulsionados por bens comerciais e de consumo, afirma Rubén Catalán, analista do BCI. Os mesmos números são esperados para o Corpbanca. E 8,7% para 2012. A base estará no crescimento de sua carteira comercial (9,4% e 6,2%, respectivamente) e hipotecária (23,7% e 15,7% para os próximos dois anos). Mas Chamorro não deve se esquecer de quem tem ao seu lado. O BBVA praticamente empata com ele em investimentos. Ambos querem crescer no segmento varejista. “E têm espaço para

670 milhões

foi o volume total de recursos aprovado no aumento de capital do Corpbanca

Foto: Miguel Candia

FATOR BRASIL A possível chegada do Banco do Brasil – que obteve, em 2010, um lucro de US$ 6,994 bilhões, mais que o dobro dos US$ 3,4 bilhões de todos os bancos chilenos – talvez seja uma das grandes esperanças do Corpbanca. Por um lado, daria-lhe respaldo internacional. Por outro, facilitaria o acesso ao enorme crescimento das empresas brasileiras. “Muitas estão chegando ao Chile, por isso, a sociedade permitirá gerar novos negócios”, afirma Chamorro. A analista do Banchile Inversiones, Claudia Benavente, afirma que o ingresso do BB poderia fornecer ao Corpbanca mais know-how no segmento comercial, que é “o foco do Banco do Brasil”. Desde o governo do ex-presidente Lula, o BB tem a estratégia de partir para novos mercados para acompanhar o crescimento das empresas brasileiras, afirma Boris Molina, analista do Santander em Nova York. “Busca-se uma oportunidade integral no Cone Sul”, diz Aloisio Lemos, analista da brasi-

A instituição também atua como banco varejista, com pessoa física, banco privado e consumer finance. Chamorro busca um balanço mais equilibrado entre ambos, aumentando a porcentagem de retail, em parte com as melhores perspectivas da economia, que abre espaços para que mais pessoas se somem ao sistema, melhorando a rentabilidade. “Considerando o ciclo do risco de crédito na economia, deveríamos ver esforços do banco em entrar mais em segmentos de receitas baixas, ao mesmo tempo em que mantém o banco de clientes de altos rendimentos”, afirma Jorge Chang, diretor do Itaú Chile. Para o Fitch Ratings, a estratégia dota o banco de um portfólio balanceado em investimentos e receitas, com altos níveis de eficiência operacional. O fato é que 2011 será um bom ano para o sistema. Já em 2010, os bancos no Chile registraram lucros de US$ 3,38 bilhões, 26% a mais que em 2009. Ao todo, 75,6% dos lucros se concentraram em quatro entidades: San-

fazê-lo”, afirma Carola Saldías, analista do Fitch Ratings. O BBVA está investindo US$ 48 milhões em 2010-2011 (com o aumento de gastos de 20%) para ampliar a rede de atendimento e melhorar sua tecnologia. O banco também poderia colocar suas fichas no varejo, por meio de uma possível aliança com a rede de supermercados D&S. Se o plano se confirmar, ficaria com 50% da divisão Presto (o processo estava em due diligence até o fechamento desta edição). Por ora, quem tira mais proveito de sua carteira de investimentos é o Corpbanca, com lucro duas vezes maior que o do banco espanhol (US$ 102 milhões no ano passado). Mas é certo que o BBVA provisionou como adiantamento pouco mais de US$ 83 milhões – o que afeta seus resultados do ponto de vista contábil – e seu plano de investimento aumenta seus gastos. Assim, o banco hispânico é um dos tantos obstáculos que Chamorro deve levar em conta na hora de colocar seus planos em prática. Abril, 2011 AméricaEconomia 37

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NEGÓCIOS Câmbio

Dólares 1

O PREÇO DOS ALIMENTOS SOBE E PESA NO BOLSO DO CONSUMIDOR. A ALTA EXPÕE A DEBILIDADE DA MOEDA AMERICANA, A QUEDA DA OFERTA E A NECESSIDADE DE SE DISCUTIR A REGULAÇÃO DOS DERIVATIVOS FINANCEIROS BASEADOS EM COMMODITIES RODRIGO LARA SERRANO, DE BUENOS AIRES

Fotos: 1 - Shutterstock; 2 - Juan Mabromata

comestíveis

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aumento vigoroso dos preços dos alimentos em todo o planeta, nos últimos meses, tornou mais difícil para muita gente desfrutar suas refeições sem que o bolso reclame. Não é nenhuma grande surpresa: as commodities agrícolas retomaram a tendência de alta que já apresentavam em 2008, antes da crise econômica mundial. Mas, por que agora? A abordagem convencional diz que, com a recessão para trás, isso é normal: a demanda por alimentos no mundo retomou o movimento crescente. E, portanto, os preços sobem. No entanto, um argumento diferente começa a ganhar força. Nem China, nem Índia sofreram com a crise. Europa (exceto Alemanha) e Estados Unidos continuam dentro dela. E nem os latino-americanos (excluindo o México) baixaram seu consumo. Então, quem, de imediato, está comendo mais? Ninguém. O problema provém de três fatores: a debilidade do dólar, a explosão do mercado desregulado de derivativos financeiros baseados em commodities e a

O

queda momentânea da oferta causada por problemas climáticos. Com esse diagnóstico, o presidente da França, Nicolás Sarkozy, surpreendeu a todos, recentemente, ao pedir uma “estratégia global destinada a assegurar a estabilidade dos preços dos alimentos”. Sua proposta inicial incluiu a criação de fundos regionais com preços máximos e a regulamentação agressiva do mercado de derivativos. De imediato, o presidente francês deparou-se com a oposição de Estados Unidos, Brasil, Canadá e Argentina, grandes exportadores, para quem a regulação dos preços resultaria em menos produção e mais problemas. “A regulamentação das commodities não é a resposta”, sentenciou na ocasião o ministro da Economia argentino, Amado Boudou. Enrique Dentice, economista do Cime (Centro de Pesquisa e Medição Econômica), da Universidade de San Martín, na Argentina, concorda: “Querem que regulemos o que cultivamos e oferecemos. É o grito de uma

potência decadente”. Ele recorda que o continente europeu é parcialmente responsável pela alta. “A Europa está muito envolvida na demanda por biocombustíveis”, afirma o especialista. Em sua opinião, o problema-base é que “a demanda não é constante, é crescente”. Operador do Mercado de Futuros da Bolsa de Cereais de Buenos Aires, Ricardo Baccarin concorda. “A demanda é bastante inelástica”, afirma. E recorda que a soja, “nos últimos 11 anos, sextuplicou, enquanto os preços triplicaram”. Nesse contexto, “as coisas não voam pelos ares graças à resposta tecnológica à subida dos preços, porque a terra disponível não aumentou tanto”. O problema é que a tecnologia não atua de forma mágica e, de fato, poderia estar perto do limite de seu potencial. A oferta total de soja vem aumentando entre 15% e 20%, anualmente, mas “tudo indica que os rendimentos voltarão a ser decrescentes em escala, em algum momento do tempo”, afirma Dentice.

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A REGULAÇÃO DAS COMMODITIES AGROPECUÁRIAS ENTROU NA PAUTA DE GOVERNOS EUROPEUS E DO BANCO MUNDIAL

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ALTERNATIVAS Mas isso está no futuro. O que fazer agora? “Sou um amante do mercado, mas também sei o problema que está sendo gerado por esse crescimento descomunal do preço dos alimentos”, afirma Jesús Valdés, especialista em finanças e acadêmico do Departamento de Estudos Empresariais da Universidade Ibero-Americana. “Isso pode trazer grandes consequências aos países da região, sobretudo aos da América Central e Caribe.” Diferentemente de outros especialistas, Valdés acredita que a situação é bastante grave. “Valeria a pena, no curto prazo, manter um certo controle dos preços”, afirma. “Os países com altas taxas de desemprego exportam fluxos de liquidez para os mercados emergentes, porque essa é uma maneira de ter um tipo de câmbio baixo e fortalecer sua reativação.” O dólar fraco e abundantíssimo, por outro lado, alimenta o mercado futuro de commodities, “além da oferta e da demanda dos mercados físicos e, inclusive, da influência [de alta] dos biocombustíveis”. Isto é, especulação. Baccarin, que também é secretário do Centro de Corretoras de Cereais, concorda que os bens alimentícios passaram a ser uma fonte de renda financeira. “No fim dos anos 1990, os fundos em matérias-primas gerenciavam US$ 13 bilhões. Agora, gerenciam US$ 260 bilhões”, afirma. Não se trata de quatro vilões em uma torre: “Isso se origina em um público que cada vez mais exige o que se está chamando de investimentos temáticos. Trata-se de todos aqueles que têm determinadas coisas em sua carteira: metais preciosos, petróleo, alimentos”. Para isso, utilizam-se de instrumentos financeiros criados na última década: ações que expressam futuros. São os Exchange Traded Funds (ETF). “Eles podem ser limitados?”, pergunta o corretor. “Sim,

podem ser limitados. O ponto central da discussão é: para onde irá esse dinheiro? As pessoas poderiam tentar colocá-lo em estoques físicos e, com isso, o remédio poderia acabar sendo pior que a doença”, responde. O especialista coloca o dedo na ferida: “O que está por trás de todas essas operações é o fato de as pessoas não quererem ter dólares. Elas querem ter coisas”. Ou, melhor ainda, sentemse mais seguras ganhando dinheiro na compra e venda de opções do que poupando em dólares. “Há 10 ou 15 anos,

260 bilhões de dólares é a soma atual de recursos gerenciados pelos fundos de matérias-primas a porcentagem dos operadores em mercados de futuros era de 70% de arbitradores e 30% de especuladores. Hoje, é o contrário.”

REFORMA FINANCEIRA GLOBAL “São as consequências especulativas desse excesso de liquidez”, afirma Jesús Valdés. A solução do problema, em sua opinião, supõe a reforma, até agora fracassada, da arquitetura financeira global. O economista afirma que nações como Brasil e Argentina deveriam ser mais cautelosas em sua posição, em vez de confiar que preços demasiadamente altos não terão consequências exter-

nas. “No médio prazo, deveriam evitar o estalo de grandes problemas sociais entre seus compradores, o que afetaria as exportações para esses países.” Há uma solução de pernas curtas, como afirma Baccarin: “Uma recessão na China solucionaria esse problema, no entanto, criaria outros”. Talvez terríveis. Pensando em uma medida transitória, Valdés é partidário de “garantir o que são bancos ou fundos de alimentos em âmbito regional”. No caso do México, “isso permitiria que quase 40% da população pobre tivesse acesso aos alimentos se os preços continuarem aumentando”. O que acontece é que o planeta depende agora excessivamente de acasos. “Em Sonora e Sinaloa [México], por causa do forte inverno, quase 70% do amido branco para farinha se perdeu. E houve um replantio”, diz Valdés. Sem sermos alarmistas, o mundo encontra-se em uma situação bastante difícil. Evidência disso são as declarações do presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick. Recentemente, ele enumerou nove medidas que o G-20 deveria adotar daqui a um ano. A mais assombrosa foi o pedido de criação de um sistema de informação em tempo real sobre a existência de cereais. Um caminho de reformas mais ativo é o concebido por Olivier De Schutter, relator especial das Nações Unidas sobre o Direito à Alimentação. Trata-se de impulsionar a produção sob todas as suas formas e, ao mesmo tempo, estabelecer normas para que as operações de derivativos se limitem a investidores “que baseiem suas atividades comerciais nas perspectivas relativas aos fundamentos dos mercados, e não principal ou exclusivamente na obtenção de benefícios especulativos no curto prazo”. Não há solução fácil. Ou colocamos pão nas bocas, ou corremos o risco de viver com o coração na boca.

Foto: Shutterstock

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NEGÓCIOS Tecnologia

Na onda dos emergentes

WIKIPEDIA CHEGA AOS DEZ ANOS COMO O QUINTO SITE MAIS ACESSADO DO MUNDO E MIRA BRASIL, ÍNDIA E CHINA NA NOVA FASE DE EXPANSÃO SUZANA BIZERRIL CAMARGO, DE ZURIQUE

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á dez anos, o site Wikipedia entrava no ar. Em 15 de janeiro de 2001, o portal apareceu online, convidando pessoas do mundo todo a escreverem juntas uma enciclopédia gratuita. Hoje o portal é um dos grandes sucessos da era da internet. O Wikipedia é o quinto site mais acessado do mundo. Está disponível em 270 idiomas, com aproximadamente 17 milhões de artigos, consultados por mais de 400 milhões de pessoas todos os meses. Jimmy Wales é o idealizador e homem de negócios por trás da Wikipedia. Aos 45 anos, o americano prevê que, até 2015, 1 bilhão de pessoas usarão o site mensalmente. Como estratégia de crescimento, ele aposta nos mercados emergentes, como o Brasil, a Índia e a China. O empresário é irredutível quanto à possibilidade de colocar anúncios nas páginas do site. E não disfarça o descontentamento com gigantes como a Apple, que, segundo ele, ameaçaria a liberdade na internet pelo fato de comercializar tantos aplicativos. Recentemente, Wales recebeu, na Suíça, o prestigiado Prêmio Gottlieb Duttweiler, por sua contribuição à comunidade mundial. Mas a vida desse executivo não é feita só de boas notícias. No ano passado, ele teve de enfrentar acusações sobre o possível uso pessoal de dinheiro doado à Wikipedia. Ele, é claro, negou. O portal é administrado pela Fundação Wikimedia, uma organização sem fins lucrativos que arrecada fundos para manter a Wikipedia e os novos projetos do grupo, como Wikiquote, Wikibooks e Wikiversity, entre outros. No total, são 12 portais wiki. Wales falou por telefone com a AméricaEconomia.

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AméricaEconomia • Você esteve no Brasil no ano passado. Qual a sua opinião sobre o país como mercado de internet? Jimmy Wales • A Wikipedia em português é um dos nossos maiores sites. E, certamente, o Brasil é um mercado gigantesco. A população está muito engajada na internet, buscando novas fontes de informação e troca de conhecimento. Obviamente, o Brasil é um país onde a economia está crescendo. Então, ainda há muita gente pobre e sem acesso à internet, mas isso está mudando muito rapidamente e, a cada dia, há mais pessoas conectadas, o que faz com que este seja um cenário muito interessante para novas oportunidades.

Foto: Lane Hartwell

AE • Qual a importância de oferecer conhecimento gratuito, principalmente em países com problemas na área de educação, como o Brasil? Wales • A importância é grande. Tentamos, das mais diversas maneiras, reduzir o custo do acesso à tecnologia e à informação para as pessoas. Isso é particularmente importante em economias que estão crescendo mais rapidamente, mas que ainda enfrentam muitos desafios. AE • Há dez anos, você sonhou em oferecer uma enciclopédia gratuita e online. Esse sonho já está realizado? Wales • Em muitos idiomas esse sonho já se tornou realidade. Temos várias línguas em que há mais de 500 mil artigos publicados online e, comprovadamente, a qualidade é a mesma das enciclopédias tradicionais. Mas meu sonho é uma enciclopédia gratuita para cada um dos habitantes de nosso planeta. Ainda estamos começando a trabalhar em muitos países, e algumas pequenas comunidades estão se estruturando para desenvolver enciclopédias nos idiomas locais. AE • Em quais idiomas a Wikipedia é mais popular e mais utilizada? Wales • O inglês é a língua mais aces-

sada e com o maior número de novos artigos adicionados diariamente. Mas, no geral, as línguas europeias são bastante bem-sucedidas, além da Wikipedia em japonês. No mundo inteiro, o site se tornou popular. Neste ano, vamos investir mais na Índia, onde abriremos o nosso primeiro escritório fora dos Estados Unidos. AE • No plano estratégico para os próximos cinco anos, divulgado recentemente pela Fundação Wikimedia, uma das prioridades é ampliar o alcance do site. Em que regiões do mundo a Wikipedia ainda não se tornou uma ferramenta de uso diário para os internautas? Wales • Os principais lugares são a China, onde fomos bloqueados durante três anos e, por esta razão, estamos ainda muito atrasados lá, além de Índia, sudeste asiático e África. Essas são regiões onde ainda não temos muito conteúdo nas línguas locais e agora se tornaram prioridades para nós. AE • Quantas pessoas estão envolvidas na atualização do portal? Wales • Aproximadamente 100 mil pessoas trabalham todos os meses editando a Wikipedia. Temos cerca de 3 a 4 mil profissionais realmente focados exclusivamente na Wikipedia. AE • Qual é o custo para manter o site Wikipedia online? Wales • O orçamento deste ano da Fundação Wikimedia, a organização sem

fins lucrativos que administra a Wikipedia, é de US$ 20,4 milhões. O custo é baixo. Somos o quinto portal mais visitado no mundo, com mais de 400 milhões de acessos por mês. Entretanto, ainda somos uma empresa com orçamento modesto. AE • É muito difícil administrar um empreendimento tão grande como esse por meio de uma fundação sem fins lucrativos? Wales • É sempre um desafio. Temos de levar muito a sério a captação de recursos, mas esse modelo tem funcionado muito bem. AE • Quem são os principais doadores da Fundação Wikimedia? Wales • Entre os grandes contribuidores está o Google, que, no ano passado, doou US$ 2 milhões. A maior parte do dinheiro, porém, vem realmente de pessoas comuns. Durante o Annual Giving Campaign [campanha anual para arrecadação de fundos para o site], nossos usuários doam, em média, US$ 25. AE • Muito se tem discutido sobre a qualidade e a precisão dos artigos publicados na Wikipedia. Como você rebate essas críticas? Wales • Temos estudos acadêmicos provando a qualidade de nossa enciclopédia se comparada a qualquer outra tradicional, por isso essas críticas não têm fundamento. Para mim, a veracidade e a qualidade da informação são as coisas mais importantes para a Wikipedia.

Concorrência se mexe no Brasil Não é só a Wikipedia que quer tirar proveito do Brasil e de seus estimados 80 milhões de internautas. O Google está adiantado na execução de novos projetos para aproveitar a expansão da banda larga no país. Atualmente, apenas 15% dos brasileiros têm acesso à internet de alta velocidade. O processo será conduzido por Fábio Coelho, que trocou o iG pelo comando do Google. Quem também quer avançar no país é o Facebook, que, em fevereiro, anunciou a abertura de um escritório no país, comandado pelo ex-vice-presidente do Google, Alexandre Hohagen.

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NEGÓCIOS Restaurantes

EM SENTIDO HORÁRIO, MARTÍNEZ (RESTAURANTE CENTRAL), PESAQUE (MAYTA), TSUMURA (MAIDO), SCHIAFFINO (MALABAR) E BERCKEMEYER (OSADÍA): NOVA GERAÇÃO MOVIMENTA O SETOR PERUANO

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Embaixadores do

COM GASTÓN ACURIO NA VANGUARDA, A GASTRONOMIA SE TRANSFORMOU EM UM CLUSTER ECONÔMICO NO PERU. AGORA UMA NOVA GERAÇÃO DE CHEFS SONHA EM MODERNIZAR A CADEIA LOGÍSTICA COM NOVAS PROPOSTAS MARIA CRISTINA PEZET, DE LIMA 44 AméricaEconomia Abril, 2011

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edro Miguel Schiaffino, de 34 anos, sempre esteve em contato com a natureza. Sua família tinha uma chácara onde semeava e colhia vegetais. Ele praticava caça submarina. Por isso, cogitou estudar veterinária ou biologia. Mas os livros não eram a sua praia. Aos 17 anos, foi trabalhar no restaurante Muelle Uno, em Lima, e depois decidiu estudar em Nova York. Hoje, é dono dos restaurantes Malabar, La Pescadería e Pachacamac, e se caracteriza pelas experiências com matérias-primas e sabores. “Uso ingredientes amazônicos, andinos e costeiros, mas sempre procuro buscar minha personalidade e me diferenciar dos demais”, afirma Schiaffino. Algo semelhante é o que procuram fazer Jaime Pesaque com o arroz (risotos, paellas e o prato tradicional peruano conhecido como tacu tacu) e Mitsuharu Tsumaru com a cozinha japonesa e nipo-peruana (ou Nikkei). Ao lado de outros nomes, como Virgilio Martínez, James Berckemeyer, Sebastián Cavenecia e Rodrigo Pastor, eles formam uma nova geração de chefs empresários que aspiram um lugar ao lado do consagrado Gastón Acurio. Todos têm em torno de 30 anos e compartilham uma mistura de cosmopolitismo e rica tradição culinária local; passaram por algum Le Cordon Bleu na França, no Canadá ou no próprio Peru, ou por restaurantes famosos da Europa, como o Celler de Can Roca, na Catalunha. “Por mais que você tenha três estrelas Michelin, é complicado cozinhar para o peruano, orgulhoso de sua comida e muito exigente”, afirma Virgilio Martínez, dono do restaurante Central. Apesar disso, esses artistas do paladar não ficam restritos às tradições. Pesaque, por exemplo, oferece em seu restaurante Mayta, em Lima, um prato com peras grelhadas em chicha morada, com sorvete de gorgonzola e mousse de chocolate branco. Schiaffino, famoso pelas experiências com ingredientes amazônicos, criou uma receita à base

Foto: Sandra Elías e Edwin Zapata

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de caracóis de rio com molho de chouriço e purê de mandioca. O setor gastronômico representa um importante motor da economia peruana: move em torno de US$ 1,5 bilhão em vendas ao ano, em aproximadamente 77 mil restaurantes. “Nos próximos cinco anos, a quantidade chegará aos 100 mil, o que representará um aumento de 100% em relação aos que funcionavam até 2009”, afirma Pedro Córdova, assessor da Sociedade Peruana de Gastronomia (Apega). “Isso implicará também que se dupliquem os postos de trabalho relacionados à gastronomia, que hoje giram em torno de 320 mil.” Como um bom cluster, a gastronomia não apenas envolve trabalhos de cozinha, mas também em infraestrutura, fabricação de utensílios, móveis e maquinário, em uma longa cadeia logística. É aí que Gastón Acurio, o mais famoso dos chefs peruanos, tem realizado a difícil tarefa de envolver todos os escalões no desenvolvimento da indústria. “Estamos trabalhando para que todos apareçam na foto, não apenas os cozinheiros”, disse durante o mais recente evento gastronômico internacional Madrid Fusión, em janeiro. Chefs como Virgilio Martínez aspiram ter terras onde cultivar, criar animais e saber como eles foram cuidados, trabalhando com a denominação de origem das matérias-primas. Outros, como Schiaffino, trabalham com as cooperativas amazônicas. Acurio se esforça para difundir a marca Peru no exterior. “O próximo grande conceito no mundo, assim como foi a cozinha japonesa nos últimos 30 anos, será a cozinha latino-americana, e o Peru está na vanguarda”, afirmou durante o Madrid Fusión.

EXPANSÃO INTERNACIONAL Se Acurio já é uma marca internacional, presente em países da América Latina (inclusive no Brasil, onde é proprietário do La Mar, em São Paulo), nos Estados Unidos e na Europa, a nova geração leva a internacionaliza-

ção com cautela. Alguns, como Cavenecia, sonham exportar suas marcas. “Alguns estrangeiros até vêm a Lima para fazer tours gastronômicos e já nos pedem para abrirmos restaurantes fora”, afirma o chef. Virgilio Martínez por ora está focado no Central. “Antes aspirava ter algo no exterior, mas agora não quero sair daqui. Gosto que o cliente veja o cozinheiro”, afirma. O colega Jaime Pesaque abriu, em dezembro do ano passado, uma casa em Punta del Este, a Nuna. “A ideia não é apenas fazer comida, mas consolidar a marca Peru no exterior de uma forma benfeita. Para isso, precisamos exportar boas matérias-primas e chefs que sejam bons embaixadores.” Alguns, como Pedro Miguel Schiaffino, declaram-se críticos da internacionalização. A gastronomia peruana,

1,5 bilhão de dólares é a receita anual dos 77 mil restaurantes peruanos afirma, é valorizada por aqueles que estão no círculo gastronômico internacional, mas não se massificou: “Temos uma falta de restaurantes, livros, matérias-primas e exportação de chefs.” “Se a Amazônia será a despensa do mundo em 50 anos, devemos trabalhar por isso, mas focados nas tendências atuais, como a utilização de produtos orgânicos e a informação sobre a origem das matérias-primas e seu cuidado e processamento”, afirma Martinez. Porque uma coisa é exportar receitas, mas outra, mais difícil, é estender uma cadeia logística de produtos específicos para o exterior. Abril, 2011 AméricaEconomia 45

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movimentos movimentos

Comércio eletrônico A febre dos sites de compras coletivas, que começou nos Estados Unidos, virou moda no e-commerce do Brasil em 2010. A internet nacional já conta com mais de 1,2 mil endereços que oferecem descontos de até 70%. De acordo com o 23o Relatório WebShoppers, realizado pela e-bit (empresa especializada em pesquisas sobre hábitos e tendências no comércio eletrônico), com apoio da Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico, entre os dias 10 e 14 de março deste ano, 61% dos consumidores virtuais afirmaram conhecer o conceito de compras coletivas. Dos que já compraram, 82% pretendem aproveitar ofertas futuras nos próximos três meses. “Em pouco tempo, as compras coletivas ganharam espaço com uma velocidade impressionante dentro do e-commerce”, diz o diretor de Marketing e Produtos da e-bit, Alexandre Umberti. A pesquisa mostra ainda que o comércio eletrônico brasileiro teve desempenho acima do esperado no ano passado. O faturamento chegou a R$ 14,8 bilhões, um crescimento de 40% em relação aos R$ 10,6 bilhões registrados em 2009.

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Força feminina

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Que as mulheres estão ganhando cada vez mais espaço no mercado de trabalho já não é novidade para ninguém. Agora, a consultoria Deloitte resolveu mensurar a importância delas para a economia. Segundo o estudo global The Gender Dividend: Making the Business Case for Investing in Women, na América Latina, por exemplo, as mulheres no mercado de trabalho ajudaram a reduzir a taxa de pobreza das famílias para 26%. Em 2007, esse número chegava a 40%. Na Europa, elas compõem 45% da força de trabalho. As mulheres também desempenham um papel significativo na economia como mercado consumidor crescente. Nos EUA, elas respondem por, aproximadamente, US$ 20 trilhões dos gastos totais dos consumidores e influenciam até 80% das decisões de compra. São ainda responsáveis pela aquisição de cerca de 50% de bens, como carros e computadores. Embora o cenário seja promissor, atualmente, apenas 3% de mil empresas multinacionais têm CEOs do sexo feminino. Mas, ao que tudo indica, esse número tende a crescer muito rapidamente.

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Fotos: 1 e 2 - Shutterstock; 3 - Divulgação

ANTIVÍRUS A F-Secure, empresa da área de segurança em softwares e serviços, é a nova parceira da Telefônica nos 13 países em que atua na América Latina. Como resultado do acordo, os clientes de internet e banda larga móvel da Telefônica terão acesso aos serviços de armazenamento e proteção em dados e conteú-dos digitais. Cerca de 145 milhões de usuários poderão aderir aos pacotes, ainda sem valores definidos, mas que começarão a operar neste semestre. “A parceria é um marco na estratégia da F-Secure de impulsionar seu crescimento na América Latina”, ressalta Samu Konttinen (foto), vice-presidente executivo da marca.

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País é líder nos pagamentos com VISA

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LINHA

BRANCA A cidade mineira de Extrema foi escolhida para abrigar a terceira fábrica da Panasonic no Brasil. A unidade terá como foco a produção de eletrodomésticos da linha branca – refrigeradores e máquinas de lavar ––, hoje importados de Taiwan Taiwan. As máquinas devem começar a operar já no primeiro semestre de 2012. O presidente da Panasonic no país, Masanobu Matsuda, adianta que o investimento será de R$ 200 milhões e o objetivo é atingir 10% da participação no mercado. Para conseguir atender a demanda, serão abertas 400 vagas de emprego direto. A localização estratégica de Extrema, no sul de Minas Gerais, influenciou a seleção, pois o município está em um ponto que facilita a distribuição dos produtos para as regiões Sul e Sudeste. A Panasonic possui outras duas fábricas no país, em São José dos Campos (SP) e Manaus (AM).

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Fotos: 4 - Divulgação; 5 - Shutterstock

O Brasil foi o maior mercado da Visa, administradora de cartões de créditos, na região da América Latina e Caribe, em 2010. Segundo dados da administradora, o crescimento regional do volume de pagamentos foi de 23,2% em 2010, totalizando US$ 270 bilhões. O Brasil obteve um crescimento anual de 24,6%. O desempenho ficou acima do México, que alcançou 16,8%. Nos demais países da América Latina e Caribe, a alta foi um pouco menor, 22,8%. O sólido resultado foi impulsionado pelo crescimento contínuo do volume de pagamentos e transações processadas na região. “Esse desempenho é o resultado de uma sólida estratégia global de migrar as transações feitas em dinheiro para a nossa rede global de processamento”, processament afirma Eduardo Eraña, presidente da Visa Vis da região da América Latina e Caribe.

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Foto: 6 - Shutterstock

Parceria saudável Há menos de duas décadas, o México tornou-se um importador de sementes e óleo de girassol, com a queda dramática da área plantada. Mas a PespsiCo Alimentos decidiu apostar na retomada da cultura no país, que tem uma área-piloto para reintroduzir o cultivo. De acordo com Pedro Padierna Bartning, presidente da PepsiCo Alimentos para o México, América Central e Caribe, o projeto, que começou em fevereiro passado, prevê a participação de 850 pequenos produtores. A meta é chegar a 50 mil hectares em sete anos. O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) faz parte do projeto e entrou com US$ 5 milhões, além dos US$ 2,6 milhões financiados pela empresa. Esses recursos poderão ser usados no financiamento dos agricultores. Além disso, está assegurada a compra da colheita por US$ 40 milhões. O volume colhido resultará em 40 mil toneladas de óleo para a Pepsico. Além da economia, essa estratégia atende a demanda generalizada diante do grave problema de obesidade e diabetes que afeta o continente americano. “Ao utilizar o óleo de girassol, esperamos reduzir os níveis de gordura em nossas bolachas e botanas [tipo de snack mexicano]”, explica Bartning.

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Laços de família Segundo a PricewaterhouseCoopers, muitas empresas familiares não estão fazendo provisionamentos adequados para o futuro. A consultoria fez uma pesquisa com cerca de 1.600 executivos de empresas familiares, em 35 países, com o objetivo de saber como estão lidando com a crise econômica e como têm se preparado para o futuro. Sobre este último ponto, 53% dos entrevistados pela PwC responderam que esperam que o negócio se mantenha em família. E 48% não têm nenhum plano de sucessão, um percentual similar ao da última pesquisa, feita há dois anos. Dos que têm um plano de sucessão, só 50% já decidiram quem se encarregará do posto mais alto na companhia. “A definição de um novo líder é um processo que toma tempo, deve fazer parte das discussões do protocolo familiar”, comenta José Antonio Torres, diretor do Programa de Empresas Familiares da Câmara de Comércio de Lima. “A seleção do líder depende principalmente do tamanho da estrutura de governança da empresa.”

Brasil

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O Brasil será um dos países com mais condições de contribuir para o desenvolvimento econômico mundial sustentável. Essa foi a conclusão do ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel (foto), durante almoço-debate do Lide (Grupo de Líderes Empresariais), realizado no final de março, em São Paulo. Durante o evento, presidido por João Doria Jr., Pimentel apresentou a 300 CEOs presentes sua visão sobre o tema “Um Novo Olhar sobre a Economia Brasileira”. A plateia de executivos aproveitou para cobrar do ministro medidas para aumentar a competitividade dos produtos nacionais. Pimentel defendeu que a diminuição do peso do custo Brasil e dos encargos trabalhistas é fator-chave para essa melhoria. Sobre os produtos importados, ele criticou os incentivos fiscais praticados por alguns estados, que beneficiam a importação com alíquota reduzida de ICMS. “Dilma cobrou uma solução rápida para esta questão. Essa ‘farra’ vai durar pouco”, afirmou o ministro.

Fotos: 7 - Sergio Lima/Folhapress; 8 - Shutterstock

sustentável

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HOLLYWOOD É AQUI!

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A escola brasileira Saga (School of Art, Game and Animation) e a americana Gnomon School of Visual Effects, com sede em Los Angeles, EUA, anunciaram uma sociedade que promete movimentar o cenário da computação gráfica e da animação 3D no país. A parceria resultará na criação de uma escola internacional de arte digital, que reunirá os melhores técnicos do mundo para habilitar profissionais nas principais tecnologias de animação e efeitos visuais usados em Hollywood. A escola abrirá as portas a partir de 2012. Será a primeira vez, em 14 anos de história, que a Gnomon School of Visual Effects terá uma unidade fora de Los Angeles. “Já recebemos o convite de escolas de todo o mundo para criar parcerias, mas nunca nos interessamos. Com a Saga, identificamos a mesma motivação que a Gnomon sempre teve de ajudar as pessoas”, diz Alex Alvarez, fundador da Gnomon.

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DEBATES Comércio Exterior

Uma visita de

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DEPOIS DE MUITA BAJULAÇÃO DE EMPRESÁRIOS E DO GOVERNO BRASILEIRO, CHEGOU-SE À CONCLUSÃO DE QUE A VIAGEM DE BARACK OBAMA AO PAÍS SÓ DEIXOU PROMESSAS IZABELLE TORRES, DE BRASÍLIA

tamanho da recepção preparada pelo governo brasileiro e a expectativa de diversos setores em torno da visita do presidente americano Barack Obama destoaram dos resultados práticos do encontro. Apesar dos elogios ao Brasil e de uma lista de boas intenções, lembrada em todos os discursos que fez durante os dois dias de viagem, o homem mais poderoso do mundo deixou o país sem dar sinais de que haverá mudanças concretas nos impasses em torno das barreiras comerciais. O saldo da simpática e persuasiva retórica do presidente foi de algumas poucas brechas para futuras negociações, cujo sucesso vai depender muito mais do esforço brasileiro, daqui para a frente. Apesar da reclamação da presidente Dilma Rousseff quanto às elevadas tarifas cobradas pelos Estados Unidos sobre as exportações brasileiras e à política de subsídios agrícolas americana, que coloca obstáculos ao preço competitivo dos nossos produtos, Obama nem sequer prometeu esforço para mudar o atual cenário. O presidente limitou-se a fazer afirmações genéricas sobre a importância de manter boas relações com o Brasil. O comportamento cauteloso é justificado. Qualquer novo rumo na política tributária vai depender do Congresso americano, onde Obama, do Partido Democrata, não tem a maioria dos votos. Também será fator importante a tentativa do governo dos EUA de mostrar que a viagem à America Latina – ocorrida em meio a críticas da imprensa internacional e ao clima tenso em torno dos ataques à Líbia – teve como pano de fundo o trabalho de articulação em torno de parcerias que aumentem o número de empregos nos EUA. Quem resumiu os perrengues nas negociações e arrancou aplausos da plateia durante a Cúpula Empresarial Brasil-Estados Unidos, promovida pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), com a participação de Obama, foi o presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli. Segundo o executivo, a dificuldade de enfrentar o protecionismo americano ao produto nacional se deve também ao fato de os brasileiros não saberem com quem negociar nos EUA. “Temos uma situação em que a estrutura do Estado americano não tem instrumentos para valorar a relação sobre o fornecimento de petróleo. Nos EUA, o acerto é entre empresas, não envolve governo. Ou seja, não temos com quem negociar no governo americano. A gente não sabe a quem deve apresentar propostas. Mas não acho que esse protecionismo de hoje vá permanecer por muito tempo”, diz.

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Foto: Antonio Scorza/AFP

ETANOL EM PAUTA O etanol e as barreiras impostas à entrada da produção made in Brazil nos EUA ocuparam parte das discussões entre empresários brasileiros e americanos durante o evento promovido pela CNI. Em meio às críticas aos obstáculos impostos ao Brasil, as perspectivas são pouco otimistas, tanto com relação a mudanças no tratamento recebido pelos exportadores brasileiros quanto ao etanol, pelo menos para a próxima década. Na avaliação do presidente do Conselho de Administração da Cosan, Rubens Ometto, a taxação ao etanol é estranha quando comparada ao tratamento dado ao petróleo brasileiro. “Não dá para entender porque o etanol da nação amiga é extremamente taxado pelos Estados Unidos, enquanto o petróleo circula livremente. Isso é injusto, está claro!”, reclama. O etanol brasileiro paga, nos EUA, uma sobretaxa de 54 centavos de dólar por galão. Abril 2011 AméricaEconomia 53

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DEBATES Comércio Exterior SOBRAM DÚVIDAS

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ENTRE OS EMPRESÁRIOS QUE SE ENCONTRARAM COM OBAMA (ABAIXO), GABRIELLI (ACIMA) FOI UM DOS POUCOS CRÍTICOS

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Fotos: 1 - Philippe Desmazes/AFP; 2 - Sérgio Lima/Folhapress

Apesar da choradeira em torno da alta tributação imposta ao etanol e da falta de respostas concretas de Obama aos pleitos dos empresários, uma lista bem mais ampla de produtos aguarda uma ação do Estado para negociar a entrada em terras americanas com preço competitivo. É o caso, por exemplo, dos manufaturados e das proteínas animais. “Há muita coisa na fila para negociação. O encontro abriu espaço para conversas. Mas e daí? Qual será o destino dessas promessas e desses acordos pouco específicos? São perguntas que o Brasil vai fazer daqui para a frente”, conclui Alberto Pfeifer, diretor-executivo do Conselho Empresarial da América Latina (Ceal). Apesar do encontro promovido em Brasília pela CNI, os empresários e executivos, inclusive de companhias americanas, não se convenceram de que dias melhores virão na relação comercial entre os dois países. Guilherme Leon, presidente da Chartis Seguros, analisou o encontro com Obama: “Não se espera de um evento como esse que todos os problemas se resolvam, mas podemos acelerar um pouco mais a solução dos assuntos que estão encaminhados”. Presidente do Google Brasil, Fábio Coelho analisa a situação. “Os acordos assinados, ainda que genéricos, mostram o momento da economia brasileira e as oportunidades, finalmente, sendo vislumbradas. Depois de tantos anos de um

Idas e vindas da balança comercial Momentos relevantes da relação entre Brasil e Estados Unidos

1990

2000

Exportações do Brasil R$ 7,6 bilhões

Exportações do Brasil R$ 10,8 bilhões

Exportações do Brasil R$ 13,338 bilhões

Exportações dos EUA R$ 4,1 bilhões

Exportações dos EUA R$ 11,8 bilhões

Exportações dos EUA R$ 13 bilhões

Saldo: positivo para o Brasil em R$ 3,5 bilhões. Apesar da queda constante, o saldo a favor das vendas brasileiras se repete nos cinco anos seguintes

Saldo: negativo para o Brasil em R$ 1 bilhão

Saldo: positivo para o Brasil em R$ 338 milhões. A situação a favor das vendas brasileiras permanece até 2008, com crescimentos discretos

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afastamento relativo entre os dois países, fica claro que temos oportunidades na área de energia elétrica e infraestrutura, inclusive digital. Espero que seja consolidada uma agenda com mais foco.” Na avaliação do cientista político e membro do Grupo de Análise de Conjuntura Internacional da Universidade de São Paulo, Christian Lohbauer, é possível ter esperança quanto ao futuro das relações comerciais entre os dois países. Mesmo sem resultados concretos, os sinais dados representam uma porta que se abriu. Essa abertura inicial vai testar a competência do governo brasileiro para transformar protocolos de intenções em uma pauta específica de negociações com os EUA. “Os elogios de Obama indicam que há interesses no nosso país. Mas, como eles são mais importantes para nossa agenda do que nós para a deles, cabe ao governo brasileiro aproveitar a brecha, trabalhar para reverter o quadro desfavorável de exportações e diversificar os produtos que entram nos EUA”, comenta. Ainda segundo Lohbauer, que também preside a CitrusBR (a associação da indústria de suco de laranja), “o governo anterior foi displicente com a importância real dos americanos para o Brasil e, graças a isso, acumulamos esse déficit histórico no saldo de exportações. É hora de aproveitar a brecha e tentar mudar essa realidade”, analisa, referindo-se aos US$7,7 bilhões de déficit brasileiro na balança comercial em 2010 (veja quadro abaixo). Outro especialista, Tullo Vigevanni, integrante do Instituto Nacional da Ciência e Tecnologia para Estudos dos Estados Unidos e professor da Universidade Estadual Paulista, pondera. “Não nos surpreende o fato de a visita não ter rendido resultados. O poder do presidente nesses casos é limitado. As regras em torno dos tributos não dependem dele. Os negócios que envolvem a tentativa de criar mais vagas de empregos nos EUA precisam de conversas mais profundas. No aspecto econômico, houve apenas uma lista de intenções. No âmbito político, o resultado foi pífio. Os americanos não elaboraram nenhuma política que possa representar mudanças no tratamento dado ao Brasil”, analisa Vigevanni.

Exportações do Brasil R$ 15,7 bilhões Exportações dos EUA R$ 20,1 bilhões Saldo: negativo para o Brasil em R$ 4,4 bilhões

2009

Exportações do Brasil R$ 19,4 bilhões Exportações dos EUA R$ 27,2 bilhões Saldo: negativo para o Brasil em R$ 7,7 bilhões

2010 Fonte: Banco Central do Brasil

Acordos genéricos Os presidentes Barack Obama e Dilma Rousseff assinaram dez acordos de cooperação bilateral. Nenhum prevê mudanças significativas nas relações entre os dois países, mas alguns foram percebidos como um ponto de partida para estreitar os laços. Veja abaixo os principais. Formação de um grupo composto por representantes da área econômica dos dois países. O objetivo do colegiado será trabalhar para melhorar as relações comerciais dos dois países. Empréstimo dos Estados Unidos no valor de R$ 1 bilhão para o Brasil financiar projetos de infraestrutura para o setor petrolífero. Mudanças nas operações comerciais da aviação civil nos dois países. A intenção é aumentar os voos entre Brasil e Estados Unidos e reduzir o preço das passagens. Intercâmbio entre os responsáveis pelos preparativos da Copa do Mundo e das Olimpíadas no Brasil. A relação envolve viagens para conhecer antigas sedes dos eventos e capacitação profissional dos brasileiros.

LISTA LONGA Obama deixou sem respostas muitas reclamações da presidente brasileira. Na conversa reservada, Dilma se referiu à guerra de desvalorização das moedas praticada pela política americana como “constrangimento cambial” e afirmou que é preciso rever medidas protecionistas que fecham as portas para produtos brasileiros, como a carne – em especial a de frango – e o etanol. Pleitos que continuaram sem soluções concretas e serão tratados, segundo as previsões mais otimistas, dentro de um dos acordos de cooperação bilateral assinados entre os dois presidentes (veja quadro acima). Apesar de genérico, o tratado foi interpretado como um sinal distante de que alguma coisa pode evoluir nas divergências tributárias referentes às exportações brasileiras. O texto prevê a formação de um grupo composto por ministros da área econômica das duas nações com o objetivo de “trabalhar para melhorar as relações comerciais dos dois países”. Se, por um lado, ainda é difícil avaliar os efeitos positivos concretos da passagem do presidente americano pelo Brasil, por outro, a abordagem feita por Obama e a forma como ele se referiu ao país amigo em seus discursos podem servir como ponto de partida para uma real aproximação. É nessa brecha aberta pelos dois presidentes que se apegam empresários brasileiros à espera de um cenário melhor para negociações. Nem que seja a longo prazo. Abril 2011 AméricaEconomia 55

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DEBATES Comércio Exterior

OBAMA NÃO DEU IMPORTÂNCIA AO ALERTA FEITO POR DILMA SOBRE O CÂMBIO

Diante de uma lista imensa de demandas brasileiras e da impossibilidade de resolução dos conflitos de interesses no curto prazo, a visita do presidente americano mostrou que os dois países se entendem bem, pelo menos em dois assuntos: a ampliação do uso de biocombustíveis para o setor da aviação e a aquisição de petróleo brasileiro do pré-sal pelos Estados Unidos. No primeiro caso, os dois presidentes parecem falar a mesma língua quanto ao compromisso de reduzir as emissões de gases poluentes e, por consequência, a necessidade de parcerias para expandir a produção dos biocombustíveis, em especial o bioquerosene usado em aviões. A união de interesses das duas nações ganhou força com um acordo que ampliou o Memorando de Entendimentos, assinado entre os dois países em 2007, e passou a incluir nele a previsão de um trabalho conjunto para estimular o desenvolvimento do novo combustível. “Foi natural e muito bem-vindo o apoio formal dos dois governos em cooperar no desenvolvimento do bioquerosene da aviação. A Amyris está comprometida com esse processo, tanto na pesquisa e no desenvolvimento dessas tecnologias nos laboratórios, quanto na utilização da cana-de-açúcar como uma matéria-prima sustentável para o bioquerosene”, avalia Joel Velasco, vice-presidente da Amyris, empresa americana dedicada ao desenvolvimento da tecnologia. A disposição demonstrada pelos dois presidentes na defesa da energia limpa soou bem aos ouvidos dos empresários brasileiros e representantes do governo. Ainda mais no momento em que o Brasil faz as contas dos

investimentos da Petrobras no setor e calcula que as cifras devam passar dos US$ 6 bilhões até 2012. Para o presidente e CEO para América Latina da General Electric, Reinaldo Garcia, os EUA trabalham para que até 2020 os americanos atinjam a meta de ter 20% do combustível de aeronaves obtidos a partir de plantas. Para o maior consumidor de querosene de aviação do mundo, conseguir parcerias significa abrir uma porta para adquirir independência em relação ao consumo de petróleo. Já para o Brasil, o interesse de Obama no desenvolvimento do biocombustível de aviação é a chance de disputar espaço em um mercado estimado em US$ 300 bilhões. Os brasileiros também comemoraram a insistência de Obama em anunciar que os EUA querem ser o maior comprador do petróleo do pré-sal nos próximos anos. A declaração de interesse comercial, no entanto, foi tratada dentro da visão estratégica americana, já que o incremento dos negócios com a Petrobras seria a chance de tornar os EUA independentes dos produtores árabes. Ou seja, não basta o país de Obama continuar comprando petróleo. O importante será saber quanto esse interesse comercial pode influenciar numa pauta real de negociações envolvendo outros aspectos da economia brasileira. Por enquanto, há apenas a previsão de um jogo que pode render vantagens para ambos os lados,. Na prática, o anúncio só trará mudanças significativas para o Brasil se as exportações de petróleo para os EUA tiverem um aumento significativo.

Foto: Jim Watson/AFP

Das divergências às convergências

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anuncio BRASIL curva.ai

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DEBATES Preços internacionais

O MINÉRIO DE FERRO BRASILEIRO PODE SER UMA DAS COMMODITIES BENEFICIADAS PELAS TURBULÊNCIAS INTERNACIONAIS

Um empurrão nas A BALANÇA COMERCIAL BRASILEIRA TEM BOAS CHANCES DE GANHAR REFORÇO NO ATUAL CENÁRIO DE INSTABILIDADE MUNDIAL, COM PROBLEMAS NO JAPÃO E NO ORIENTE MÉDIO ENRIQUETA MENON , DE SÃO PAULO

Foto: Agência Vale

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sinal amarelo que recai sobre o peso excessivo das commodities no saldo comercial brasileiro acendeu momentaneamente, diante da incerteza e da complexidade da economia global. A tragédia no Japão, a alta do petróleo (puxada pela crise no Norte da África e no Oriente Médio) e dúvidas quanto à recuperação mundial são fatores de amplificação da já elevada volatilidade dos preços de alimentos, minerais e petróleo no mercado internacional. Há razões para ficar de olho. Os produtos básicos, nos quais o Brasil é um dos maiores players mundiais, representam 70% das receitas externas, tornando o país cada vez mais dependente do cenário externo. No ano passado, dentre os dez principais produtos em receitas de exportação, nove eram commodities. Minério de fer-

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ro, complexo soja (que inclui do grão ao farelo) e petróleo e seus derivados responderam por cerca de 30% das receitas das exportações brasileiras. Mas, apesar da queda dos preços de alguns produtos logo após os terremotos e o tsunami no Japão, a expectativa é de que o Brasil passe com tranquilidade pelos dias instáveis. Em um cenário mundial ainda nebuloso, diante do desconhecimento do desfecho da crise nuclear no Japão, do ataque das forças de coalizão internacional na Líbia e dos desdobramentos econômicos desses acontecimentos, as previsões tendem a ser positivas para o Brasil, o maior parceiro comercial do japoneses na América do Sul. Poucos apostam em declínio das cotações internacionais.

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DEBATES Preços internacionais

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Os problemas políticos nos países produtores de petróleo têm pressionado o preço do combustível japonês. “Mantemos as estimativas de crescimento das vendas de carne de frango para o Japão que fizemos antes da catástrofe. Não há motivos para mudar as projeções”, afirma o presidente da União Brasileira de Avicultura (Ubabef), Francisco Turra. “Os preços estão dentro da normalidade, esse alimento é barato, e a parceria comercial entre os dois países é histórica”, argumenta o presidente da entidade. “Os japoneses priorizam a alimentação, e esse problema será o primeiro a ser resolvido por aquela nação. Portanto, o fluxo de nossos produtos para lá continuará acontecendo normalmente”, acrescenta Turra. A Ubabef calcula que, neste ano, as exportações de carne de frango para o mercado japonês serão entre 5% e 7% superiores às de 2010. Segundo maior importador dessa proteína animal produzida no Brasil, o Japão importou, no ano passado, 386 mil toneladas (US$ 902 milhões). Situação semelhante é vislumbrada em relação ao Oriente Médio, que compra um terço da carne de frango exportada pelas empresas brasileiras – 1,6 milhão de toneladas por ano. Individualmente, a Arábia Saudita é a campeã, em volume (460 mil toneladas) e em valor (US$ 926 milhões). A Líbia, onde a situação se agravou com o ataque das forças de coalizão, praticamente não compra carne de frango do Brasil. “Estamos acompanhando com muita atenção os conflitos no Oriente Médio e o desastre no Japão, mas, até agora, não houve interrupção das cargas para nenhum dos países envolvidos nas crises”, enfatiza Turra. A opinião é compartilhada por Steve Cachia, analista de Commodities da Corretora de Cereais do Paraná (Cerealpar), para quem as revoluções no Oriente Médio, embora tenham pressionado para baixo os preços no curto prazo, no médio e A PREVISÃO DE EXPORTAÇÃO DE FRANGO DEVE SE MANTER. JÁ OS EMBARQUES DE MINÉRIO DE FERRO PARA RECONSTRUÇÃO DO JAPÃO E DA LÍBIA (FOTO À DIREITA) DEVEM CRESCER

Fotos: 1, 2 e 4 - Shutterstock; 3 - Mahmud Turkia/AFP

“Entre os elementos capazes de contribuir para alavancar as trocas comerciais está a necessidade de reconstrução da infraestrutura nas cidades destruídas pelo terremoto e pelo tsunami”, observa o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto Castro. Os investimentos em obras de construção pesada e a intensa utilização de estruturas metálicas deverão se refletir no aumento das vendas de minério de ferro. Hoje, os japoneses consomem cerca de 30% de todas as exportações de minério do Brasil. Além disso, outro efeito esperado é uma maior demanda do produto por parte da China, principal parceiro comercial dos japoneses. “O Japão deve comprar muito aço das siderúrgicas chinesas”, acrescenta o vice-presidente da AEB. Em outra frente, as exportações brasileiras deverão ser puxadas pela queda na produção de alimentos em território

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longo prazos trarão frutos aos exportadores brasileiros. “São economias grandes que, certamente, com o fim das ditaduras, vão melhorar a distribuição de renda e o poder aquisitivo de suas populações”, comenta. Como em qualquer outra parte do mundo, a expectativa, a partir de agora, é de que a primeira sobra de dinheiro no bolso se traduza em mais consumo de alimentos. “E isso significa soja, milho, óleo e farelo de soja”, explica Cachia. E os maiores produtores desses alimentos são Estados Unidos, Brasil e Argentina. “Já houve uma explosão da demanda dos asiáticos, liderados pela China. Em um futuro próximo, isso deverá se repetir no Oriente Médio. E quem pode responder mais rapidamente a esse movimento é o Brasil, com terras disponíveis para ampliar a produção agrícola”, ressalta o analista da Cerealpar. Análise pouco diferente tem o economista Fabio Silveira, da RC Consultores. Segundo ele, o horizonte de desaceleração do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) mundial para este ano reforça a expectativa de que os preços internacionais das commodities ingressem em trajetória declinante nos próximos meses. A exceção é o petróleo, que deverá fechar 2011 com média de US$ 100 o barril – 25% acima do valor de 2010 (US$ 80 o barril). “O aumento no custo da principal fonte energética do planeta fatalmente enxugará a renda disponível de empresas e famílias em escala global e inibirá o consumo de bens e serviços”, explica. “O mundo se encontra sob forte pressão contracionista neste momento, por causa não apenas da continuidade de crises políticas no

Especialistas esperam que o Brasil aproveite a demanda que deverá surgir no Oriente Médio democratizado

As exportações na corda bamba Até 2008, o mundo assistiu a um boom nos preços das commodities agrícolas e minerais, movimento que ajudou a economia brasileira, com o aumento das exportações de produtos primários. “Veio a crise econômica mundial, e tudo despencou. Em meados do ano passado, tudo voltou a subir, não só em função de especulação, mas de alguns problemas climáticos em regiões produtoras, como a seca na Rússia, as perdas de safra nos Estados Unidos e os efeitos da La Niña na Argentina”, conta o analista da Cerealpar, Steve Cachia. Em meados de fevereiro, quando sobressaía o sentimento de recuperação desses preços, viu-se o início da onda de revoluções no Oriente Médio, que culminou com a crise na Líbia. “E o mercado começou a despencar. É um momento de incerteza. São vários fatores extras, além dos tradicionais, influenciando as cotações. Muitos vendem posição para fugir do risco, e isso coincide com o início da colheita da safra no Brasil, até surpreendentemente boa”, acrescenta o analista de Commodities. “Agora é preciso que o mercado tire o viés psicológico pessimista provocado pelas crises recentes”, conclui.

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DEBATES Preços internacionais Oriente Médio e no Norte da África, mas também do incalculável estrago sofrido pelo Japão”, sublinha o consultor. Menos dúvidas existem quanto à cotação do petróleo no mercado internacional. Segundo Silveira, da RC Consultores, os preços seguirão altos, podendo superar US$ 120 o barril – em razão da indefinição sobre o desfecho dos confrontos no Oriente Médio e Norte da África, regiões relevantes na oferta global de energia fóssil. Dificuldades maiores ou menores na avaliação do cenário global, o fato é que, nas próximas semanas, a especulação deverá continuar sendo a tônica da repercussão dos recentes acontecimentos mundiais. “O que o terremoto no Japão tem a ver com soja, milho e trigo? Nada, mas os mercados de commodities mudaram muito, e não apenas por fatores tradicionais, como clima, volume de produção e demanda, que determinam os preços, mas

a conjuntura externa também influencia”, diz Steve Cachia, da Cerealpar. Ele lembra que, além das bolsas, cooperativas e indústrias, hoje, existe presença maciça de fundos de investimentos operando esses mercados. “E, quando surgem incertezas, a primeira atitude desses investidores é a aversão ao risco. É isso o que derruba os preços em um primeiro momento, como aconteceu logo após o tsunami”, comenta o analista. A instabilidade, porém, permanecerá, pelo menos quanto às commodities agrícolas. A próxima safra agrícola importante para abastecer o mundo é a dos Estados Unidos, onde os estoques estão bastante baixos. “Por enquanto, só sabemos que a colheita será em setembro. Até lá, a especulação vai correr solta. Será que haverá problemas climáticos? Qualquer ameaça nesse sentido poderá levar os mercados a entrar em pânico”, conclui Cachia. *Leia mais na página 98.

Com plantações destruídas e alimentos contaminados, o Japão terá um peso maior na demanda por commodities

A TRAGÉDIA NO JAPÃO DEVE SE TRADUZIR EM GANHOS PARA FORNECEDORES. MAS, POR ENQUANTO, O MOMENTO É DE ESPECULAÇÃO COM AS COTAÇÕES INTERNACIONAIS

Foto: 5 - Nicolas Asfouri/AFP

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DEBATES Política

Até quando

esperar?

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A NECESSIDADE DE FAZER A REFORMA POLÍTICA É UNÂNIME, E O AMBIENTE CRIADO PELO INÍCIO DE UM NOVO GOVERNO É PROPÍCIO. MAS POUCOS ACREDITAM QUE AGORA SERÁ DIFERENTE KALINKA TAVARES, DO RIO DE JANEIRO

o jeito que está não pode continuar. Isso é o que dizem políticos e especialistas quando o tema é reforma política. O problema é como deveríamos estar. Aí as respostas são as mais diversas. Tantas, que fica difícil saber – e mesmo acreditar – se haverá um consenso antes das eleições municipais de 2012. A presidente Dilma Rousseff (PT), assim como os presidentes do Senado Federal, José Sarney (PMDB-AP), e da Câmara dos Deputados, Marco Maia (PT-RS), dizem que o assunto é prioridade. E o início de um novo mandato presidencial parece ser oportuno para se debater uma reforma, seja ela política, tributária ou previdenciária. Na avaliação de Aldo Fornazieri, cientista político e diretor acadêmico da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), a própria história do país mostra que as coisas não funcionam assim. “Passado o primeiro ano de mandato, o tema das reformas vai para um segundo plano da agenda nacional”, diz. E completa: “A reforma política e as outras reformas exigem elevado grau de consenso para serem aprovadas no Congresso. O que falta é a construção dessas maiorias parlamentares em torno de eixos programáticos consensuais. Sem isso, não haverá reformas”. O tão alardeado acordo dá a impressão de ser o grande impasse, já que os partidos parecem concordar em apenas dois pontos: a necessidade da reforma e a participação popular nessas alterações. “Não se tem no parlamento uma maioria significativa em relação ao conteúdo. Existe concordância sobre quais pontos a reforma política deve enfrentar, mas quando se desce para pontos concretos, por exemplo,

Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr

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UMA DAS DIFICULDADES SERÁ CHEGAR A UM CONSENSO NO CONGRESSO NACIONAL

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DEBATES Política o financiamento público de campanha, as divergências se multiplicam. Esse é um dos empecilhos para não ter havido uma reforma política até hoje no Brasil”, diz José Antônio Moroni, do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) e coordenador da Plataforma dos Movimentos Sociais pela Reforma do Sistema Político. Câmara e Senado instituíram comissões para discutir os temas e apresentar em 180 dias e 45 dias, respectivamente, as propostas para os demais parlamentares de suas Casas. Proposições essas que, após a tramitação exigida – no Senado ainda passará pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) –, serão votadas em plenário por todos os deputados e senadores. Ou seja, o grupo maior de parlamentares deverá votar aquilo que os integrantes das comissões definiram como melhores propostas. Isso significa que novos impasses podem ocorrer, especialmente se as mudanças na Constituição tiverem a pretensão de abranger os mais diversos interesses. “Tal reforma não existirá. As alterações serão processuais. Não é possível construir uma proposta abrangente de reforma política. O grau de discordância entre os partidos e também dentro deles é muito grande. Por isso, a reforma avançará paulatinamente”, enfatiza Fornazieri. Os partidos, aliados do governo ou não, têm posições distintas sobre os temas em discussão. Há mesmo quem defenda que a instituição de duas comissões para debater o assunto foi um

Temas polêmicos As pautas das comissões criadas na Câmara e no Senado englobam diversos temas, como fidelidade partidária, sistema eleitoral, financiamento público de campanha, candidatura avulsa, suplência de senadores, reeleição, coligação na eleição proporcional e voto facultativo. Porém, o método para se discutir esses temas não é o mesmo, até porque cada Casa tem um período para concluir os debates. A Câmara elegeu alguns pontos prioritários: sistema eleitoral (onde entra a discussão sobre voto distrital puro, lista fechada e voto distrital misto), financiamento público de campanha, regulamentação do processo eleitoral e institutos da democracia direta (plebiscito, referendo, revogação). “Trabalhamos levando em conta os temas que entendemos ter supremacia sobre os demais. Quando definirmos o ponto sobre o sistema eleitoral, os outros ficarão mais fáceis de serem deliberados”, afirma o deputado Almeida Lima, da Comissão Especial da Reforma Política da Câmara. Já a comissão do Senado aprovou o mandato de cinco anos para cargos do Executivo; o fim da reeleição (a partir de 2014, uma vez que o mandato foi estendido); a manutenção do voto obrigatório; a redução do número de suplentes; a transferência da posse do presidente da República para 15 de janeiro e a de prefeitos e governadores, para o dia 10 do mesmo mês.

erro. “Aqui no Congresso é um equívoco ter dois fóruns sobre o mesmo assunto. Um na Câmara e outro no Senado. Isso deveria ser feito em uma comissão mista”, defende o presidente da Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa do Senado, senador Paulo Paim (PT-RS). O parlamentar acredita que a diferença de opiniões e de prazos das comissões, aliada ao fato de 2012 ser ano de eleições municipais, inviabilizará a matéria. “É difícil que a reforma política aconteça, porque já começou mal com a criação de duas comissões”, critica o senador. Já para o deputado Almeida Lima

Amostras do impasse Muita gente viu, na última eleição, o candidato a deputado federal Tiririca (PR-SP) ser eleito com o maior número de votos do país e, assim, levar consigo companheiros de legenda com poucos votos para a Câmara. Tudo de acordo com o sistema eleitoral vigente. Porém, para o deputado Almeida Lima, essa não é a vontade da população. O parlamentar defende o

(PMDB-SE), presidente da Comissão Especial da Reforma Política da Câmara, apesar do atraso dos trabalhos na Casa, a proposta será apresentada dentro do prazo. “A comissão, em tempo oportuno, apresentará uma proposta sem prejuízo do conteúdo. É preciso abrir o leque de discussões com a sociedade”, sublinha, ao se referir ao fato de que integrantes da comissão irão a cinco estados das cinco regiões brasileiras para dialogar com representantes da sociedade civil. Mas a sociedade estaria preparada para participar dessas discussões? Sobre esse ponto, há divergências. Todos concordam que a voz do povo pre-

sistema majoritário na circunscrição, o chamado “distritão”. De acordo com esse sistema, os candidatos mais votados seriam os eleitos. Consenso? Nenhum. Para o senador Paulo Paim, o Brasil deveria adotar a lista mista, na qual parte dos candidatos seria eleita por voto distrital e parte por lista. Outro tema que deve causar discussões acirradas é o financiamento público de campanha. “O financiamento público só se justifica se forem fechadas todas as torneiras do financiamento privado, com graves punições para quem o

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A população desconhece como funciona o sistema político brasileiro, o que vai dificultar a participação da sociedade civil no processo de mudança cisa ser considerada, mas nem todos concordam sobre quanto os brasileiros conhecem do sistema político. O que se vê é que, com escândalos como o “mensalão”, o caso Jaqueline Roriz, a criação de um novo partido (PSD) pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, e tantos outros eventos, o eleitor olha mais para o aspecto geral, que envolve transparência, compromisso, moralidade e responsabilidade.

FALTA DE INFORMAÇÃO “O eleitor tem opinião definida sobre alguns poucos temas da reforma política. Os detalhes da legislação política e partidária não são pontos que interessam diretamente a ele. Reforma política é um tema para especialistas e para a representação política”, garante o cientista político Aldo Fornazieri. Osíris Barbosa de Almeida, diretor do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE), concorda em parte. “É óbvio que esse debate não está no dia a dia da sociedade. Mas, assim como o que aconteceu no movimento pela ficha-limpa, que começou sendo debatido por setores da imprensa, da área política, do Judiciário e do Legislativo, o caminho deve ser o mes-

mo para a reforma ganhar as ruas e entrar no cotidiano das pessoas”, sugere. De passo em passo, as conquistas que o Brasil obtém na política, apontam especialistas, não têm acompanhado as registradas nas áreas econômica e social. “É um campo que tem avançado pouco. Isso remonta a 1988, quando tivemos uma Constituição não exclusiva, na qual a assembleia constituinte e o parlamento atuavam juntos. Outro aspecto é que avançamos pouco na democracia direta e no sistema representativo”, diz Moroni. Na avaliação da Plataforma – que apresentou no fim de março um projeto sobre o tema de iniciativa popular –, uma reforma política abrangente deveria englobar cinco eixos principais: o fortalecimento da democracia direta; o fortalecimento da democracia participativa (que envolve conselhos, conferências e ouvidorias); o aperfeiçoamento da democracia representativa – onde entra o debate sobre reforma eleitoral –; a democratização da informação e da comunicação; e a transparência e democratização do Judiciário. Os movimentos defendem que esses avanços sejam acompanhados de uma mudança cultural, seja por par-

pratica”, avalia o cientista político Aldo Fornazieri. Paim concorda: “A população não percebe que quem está pagando as campanhas dos poderosos é ela mesma”. Um candidato que gasta de R$ 30 milhões a R$ 40 milhões na campanha tem por trás alguém que está pagando essa conta e que buscará o retorno depois. “Isso só vai desaparecer no momento em que tivermos financiamento público de campanha e uma fiscalização rígida para não permitir o abuso do poder econômico”, declara.

te dos eleitores, da sociedade como um todo, além dos próprios parlamentares. “A cultura política brasileira é machista, paternalista, privada, e a associação do espaço público para interesses privados está presente tanto nas instituições quanto na própria sociedade. Felizmente, alguns partidos e parlamentares perceberam que a reforma política não é só uma reforma eleitoral. É a reforma do próprio exercício do poder. Mesmo aqueles que achavam que a reforma política é apenas eleitoral estão reconhecendo que a sociedade tem o direito de participar do debate”, declara Moroni. É difícil fazer um prognóstico de como o parlamento vai funcionar e se a reforma vai ser aprovada no Congresso. “A reforma só sai este ano se a sociedade civil atuar. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), assim como outras instituições, tem importante papel, que é o de ser uma das vozes da sociedade civil”, diz Cláudio de Souza Neto, presidente da Comissão Nacional de Estudos Constitucionais da OAB.

TIRIRICA, AGORA DEPUTADO

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DEBATES Energia

Depois de

Foto: Noboru Hashimoto/AFP

FUKUSHIMA

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O INCIDENTE NO JAPÃO DEIXOU DÚVIDAS SOBRE O FUTURO DA ENERGIA NUCLEAR E O TAMANHO DA CAUTELA DOS PAÍSES QUE A UTILIZAM RODRIGO LARA SERRANO, DE BUENOS AIRES

que você sentiria se, hoje, ao comprar seu primeiro celular, recebesse um telefone-tijolo dos anos 1990, todo envolto em fitas coloridas, acompanhado de uma advertência de que, se o aparelho cair, pode explodir e mandar para os ares parte de sua casa e a do vizinho? Seria muito assustador, não? Embora o paralelo não seja exato, ele nos ajuda a entender por que a indústria nuclear atual pode produzir acidentes tão graves como o das seis centrais de Fukushima: a usina está obsoleta. “Todo mundo sabe que as centrais japonesas funcionam mal, que estão mal localizadas; mas a população, depois disso, não vai mais querer saber de energia nuclear”, afirma o físico Manlio Coviello, diretor da Unidade de Energia e Recursos da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe), em Santiago, que se define como um “nuclearista convencido”. “Podemos perceber que se tratava de um carro velho indo em direção a um barranco, mas 99,9% das pessoas não sabem disso. Então, a questão nuclear não poderá ser tratada, por ora.” Para Alfredo Sandoval Villalbazo, diretor do Departamento de Física e Matemática da Universidade Ibero-Americana, no México, o que ocorreu no Japão nos obriga a “recalibrar tudo o que estamos fazendo”. Contudo, em vez de abandoná-la como opção, diz, o que se deveria fazer é aceitar a necessidade de acelerar os investimentos em energia nuclear para torná-la totalmente segura. Isso implicaria “não usar reatores de 40 anos atrás, fabricados com materiais de propriedades medíocres, comparadas às dos nanomateriais de hoje em dia, de maior resistência mecânica, isolamento térmico e com melhor absorção de calor”. O México possui uma única central nuclear – Laguna Verde, em Veracruz, sobre o Golfo – onde há dois reatores que geram 682,5 megawatts de eletricidade cada. Uma pesquisa da empresa Democtecnia, posterior à crise no Japão, mostrou que 69% dos entrevistados não acreditam que a segurança seja gerenciada corretamente ali, e 44% estimam que ela é mais insegura que outras centrais do mundo. A surpresa é que – ainda assim – apenas 32% afirmaram que, se dependesse apenas de sua vontade, a usina seria fechada.

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A TRAGÉDIA JAPONESA LEVOU O MUNDO A “RECALIBRAR” TUDO QUE ESTÁ SENDO FEITO NO AMBIENTE NUCLEAR

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COMO ALIMENTAR O FAMINTO Apesar dos discursos sobre abundância, a América Latina tem fome de energia, sobretudo o Brasil. Por isso, ainda com as enormes descobertas de petróleo e gás, o país tem um plano para construir oito centrais com grande potência de hoje até 2030. Essa é a intenção do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão. Poucos dias antes dos acontecimentos de Fukushima, ele assegurou que tentaria obter, neste ano, a aprovação para o início do processo de três a quatro usinas nucleares. O Brasil possui duas centrais operacionais no estado do Rio de Janeiro, Angra I e II, às margens do Atlântico, que fornecem 2,5% de sua eletricidade. Em mais quatro anos, terá uma terceira, Angra III, em fase de construção. E tudo parece indicar que, para a presidente Dilma Rousseff, os planos continuarão em andamento. Aloizio Mercadante, ministro de Ciência e

ridade Regulatória Nuclear argentina, por meio de um comunicado, após o ocorrido em Fukushima. Eles possuem “um circuito de moderação que permite acessar uma quantidade abundante de água durante as operações de refrigeração”. A isso se soma a impossibilidade de tsunamis, embora não de terremotos, no caso de Embalse. Fontes do setor indicam que o acidente em Fukushima terá reflexos no tipo de tecnologia que será escolhida na licitação de Atucha III. Roberto Lavagna, ex-ministro da Economia do governo de Néstor Kirchner, se opõe ao projeto da nova central. Sobre Atucha II, ele assegura que “há especialistas que fizeram parte da Comissão de Energia Atômica que, consultados, afirmaram com estas palavras: ‘Colocá-la em funcionamento seria como utilizar hoje um Ford T’. Dizem que tudo mudou em matéria de centrais”. Ele se refere ao fato de que a construção da central “ficou

Depois do desastre no Japão, o governo brasileiro analisa com mais cautela os futuros projetos de energia nuclear e fala em novos protocolos de segurança Tecnologia, afirmou de maneira tácita: “Tenho a convicção de que, depois dessa tragédia, haverá novos debates sobre o futuro da energia nuclear. Novos protocolos de segurança irão aparecer, e o Brasil seguirá essa tendência.” A Argentina é o terceiro país da região em capacidade nuclear. O país opera as centrais Atucha I, nos arredores de Buenos Aires, e Embalse, na província de Córdoba. Elas produzem 8% da eletricidade consumida no país. Em setembro, será inaugurada a terceira central, Atucha II. Antes, em junho, será licitada uma quarta, Atucha III, que poderá ter duas usinas de 1.000 MW cada. O governo argentino afasta os riscos. “O projeto de nossos reatores é diferente do japonês”, informou a Auto-

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parada por mais de 20 anos, com várias peças embaladas e mantidas até que se decidisse o que fazer”. O assunto foi retomado sem muita discussão (incluindo o Congresso), em 2007.

A ARTE DE NÃO PREVENIR Não é preciso ser apocalíptico. A Argentina planeja concentrar três centrais nucleares a 120 quilômetros de sua capital, que sofreu dois atentados terroristas nos anos 1990. A tecnologia detida pelo país parece garantir imprevistos. Um especialista da área, que prefere se manter anônimo, cita o caso de uma central de pesquisa que a Argentina vendeu à Austrália: “ela tem resistência para protegê-la do impacto de um avião de médio porte”.

Um fenômeno de negação ocorre com as usinas brasileiras Angra I e II. A Eletronuclear, agência que as opera, afirma que é praticamente inexistente a possibilidade de serem atingidas por um tsunami. Mas está equivocada. Em 2001, os pesquisadores Simon Day, do University College London, e Steven Ward, da Universidade da Califórnia, publicaram um artigo no Geophysical Research Letters, publicação da União Americana de Geofísica, mostrando os resultados de um modelo preditivo sobre o que aconteceria se o vulcão Cumbre Vieja, das Ilhas Canárias, entrasse em erupção e seu cone desabasse: um megatsunami se expandiria por todo o Atlântico. Ondas de 50 metros atingiriam a Flórida, nos Estados Unidos, e ondas de 40 metros assolariam a costa norte do Brasil. No sul, elas seriam de menor proporção, mas vale lembrar que o desastre de Fukushima teve origem devido a ondas de “apenas” 14 metros. Mas, ainda que as centrais brasileiras e argentinas jamais sejam molhadas por uma gota de água salgada, a tecnologia atual enfrenta um drama que costuma ser ignorado: o depósito de seus resíduos. Nos dois países, os combustíveis nucleares queimados são armazenados nas próprias centrais. Esses materiais continuarão sendo radioativos durante 10 mil anos, o que significa

Foto: Iatã Cannabrava/Getty Images

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que deveriam ser depositados em lugares mais estáveis e seguros. Dawid Bartelt, diretor da ONG Heinrich Böll Stiftung, ligada ao Partido Verde alemão, afirmou, em entrevista à revista Conjuntura Econômica, da Fundação Getulio Vargas, que o depósito definitivo para os resíduos nucleares produzidos nas usinas de Angra I e II ainda não existe: “Hoje, eles ficam em depósitos intermediários, galpões de concreto feitos dentro de rochas. O início do projeto para encontrar uma solução definitiva está previsto para 2014, as obras vão começar em 2019, e o começo da operação é esperada para 2026”. Quanto isso custará? Seguramente, menos que os US$ 11 bilhões gastos pelos Estados Unidos, sob a forma de um subsídio indireto, para criar um depósito na mítica Yucca Flat, em Nevada.

A PROMESSA DO TÓRIO Existem pelo menos sete tipos de novos reatores nucleares, que superam os já existentes em termos de design. Alguns são do tipo multicombustível e outros operam apenas com tório, material menos radioativo que o urânio e o plutônio tradicionais, mas três vezes mais abundante. É justamente no tório onde se concentram as pesquisas mais promissoras. Embora ele também utilize um pouco

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de urânio, o faz em quantidades pequenas. Como resultado, na maioria desses reatores os resíduos nucleares são em volume bem menor, risco radioativo e vida média (isto é, o tempo que demoram até ficarem inócuos). A isso, somase o fato de que não podem ser utilizados para fazer armas nucleares. A Índia já possui três deles, mas que funcionam por meio de um sistema integrado não aconselhável para nossa região, já que supõe a criação e o uso do perigosíssimo plutônio. Coviello, da Cepal, recorda que “o professor Rubbia está impulsionando o tório e centrais safety by design, nas quais os resíduos anuais serão tão grandes como uma xícara de café”. Ele se refere ao projeto do “amplificador de energia” de Carlo Rubbia, prêmio Nobel de Física em 1989. No entanto, no curto prazo, o dano está feito. “As pessoas têm uma má percepção. E, se falamos agora sobre as bondades do tório, tanto faz, pois continuarão nos olhando com estranheza”, afirma Coviello. “Eu gosto da ideia do tório. Não podemos fazer reatores proliferantes com ele. O ponto é que, agora, todo mundo se lembra do tório, mas o assunto dos custos não é menor”, afirma um cientista próximo à indústria nuclear argentina, que prefere preservar o anonimato. E continua: “Se ouvirmos um

JUNTAS, ANGRA I E II FORNECEM 2,5% DA ENERGIA CONSUMIDA NO BRASIL

nuclearista, ele dirá que é mais barato. Se ouvirmos um antinuclearista, ele dirá que é caro”. A viabilidade da energia nuclear na América Latina, então, está em saber se as empresas que construirão as usinas e vão se responsabilizar pela operação podem vender a energia produzida a um preço suficientemente bom para torná-la realmente segura e, ainda assim, pagar os créditos bancários. E, terminado seu ciclo de vida, não deixar resíduos radioativos que precisem ser financiados pelos cidadãos. Alguns acreditam que isso poderia ser feito por empresas que operam reatores menores, que se resfriam por convecção. Reatores para os quais a companhia argentina semi-estatal Invap criou uma tecnologia própria, chamada Carem, que também existe nos Estados Unidos. É uma decisão que precisa ser tomada por cada sociedade. Países sísmicos e muito ensolarados, como Chile e México, poderiam obter energia bem menos perigosa investindo de US$ 5 bilhões a US$ 10 bilhões nas novas centrais para abandonar o carvão e apostar em energias alternativas, pagando tarifas mais altas por elas. Que poderiam até ser nucleares, se as tecnologias seguras conseguirem florescer.

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opinião

á décadas, cenas de desastre nuclear assombram a imaginação coletiva. O medo é fruto natural de um caldo de cultura tóxica, engrossado por desastres históricos, como o de Chernobyl, e alavancado à potência máxima pelas usinas da Hollywood. O grave acidente na estação nuclear de Fukushima Daiichi, provocado pelo terremoto de 9 graus de magnitude, seguido por um tsunami, nada tem a ver com as fantasias do Multiplex. Arrancou de casa centenas de milhares de japoneses, ameaçou espalhar radiação aos ventos e quase deixou de joelhos a terceira economia do planeta. Mas o pânico que se alastrou, e que ainda paira sobre o mundo, tem ligação íntima com essa cultura de espanto que mistura fatos, dúvidas e delírios. Pode-se chamálo de síndrome de Godzilla. Se não for contida, pode levar a um apagão de raciocínio, comprometendo o debate sobre como prover energia segura e limpa, de Berlim a Angra. Para quem não se lembra, Godzilla é o lagarto mansinho do filme homônimo que toma um banho de radiação após a explosão de uma bomba de hidrogênio e transforma-se em carrasco de Tóquio. Foi um estrondo global, tanto que a 28a versão do filme deverá ser lançada em 2012. Mas, ao que tudo indica, o monstrengo já está à espreita. Ecologistas europeus e americanos tomaram as ruas para exigir uma moratória para a energia nuclear. A Alemanha já desligou da rede sete centrais nucleares antigas, enquanto reavalia o futuro da indústria. Congressistas de Brasília a Washington estudam adiar ou até abandonar a construção de mais usinas. Será o Japão o túmulo da brava indústria nuclear? O grave acidente inspira todo cuidado, mas desativar centenas de reatores que funcionam há décadas sem incidentes seria uma tolice. São quase mil usinas em operação pelo

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mundo e outras 222 em construção ou na prancheta – inclusive mais quatro no Brasil, além de Angra III –, segundo a Associação Nuclear Mundial. Já houve acidentes, mas o único que provocou mortes foi o de Chernobyl, em 1986, onde uma usina capenga falhou, matando 31 pessoas, segundo dados oficiais. O “desastre” anterior, na central americana de Three Mile Island, em 1979, não matou ninguém, muito menos derreteu um buraco na terra até a China, como quis o filme A Síndrome da China. Compare o histórico nuclear com o ciclo de extração de petróleo, esse sim o Godzilla das fontes energéticas. Basta lembrar da explosão da plataforma da BP, que matou 11 trabalhadores e derramou 4 milhões de barris no Golfo do México. Mas o Instituto Paul Scherrer, da Suíça, calcula que, entre 1969 e 2000, o pior momento da indústria, “graves acidentes” tenham matado 20 mil pessoas. É uma taxa de letalidade 18 vezes maior que a da energia nuclear. Já as usinas nucleares construídas na última década são 1.600 vezes mais confiáveis que aquelas dos anos 1970, e as da próxima geração serão ainda mais seguras, segundo a OCDE. O pesadelo nuclear no Japão não acabou. Outros, certamente, existirão e, por mais seguras que sejam as novas usinas, um único acidente atômico pode ser fulminante. Fundamental é avaliar a forma com que as nações, carentes de energia, lidam com desastres e se os governos estão aptos a responder à altura. Os japoneses, velhos conhecidos do monstro, deram um espetáculo de gerenciamento da crise. O Brasil pode estar salvo de terremotos e tsunamis, mas está pronto para uma emergência nuclear, com evacuação em massa pelo corredor acidentado de Angra dos Reis? Godzilla também usa terno.

MAC MARGOLIS é correspondente de longa data da revista Newsweek. Realiza reportagens sobre o Brasil, outros países da América Latina e os mercados emergentes, e já colaborou para diversas outras publicações, entre elas The Economist, The Washington Post e The Los Angeles Times.

Ilustração: Samuel Casal

A síndrome de Godzilla

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s holofotes do mundo estão voltados para o Brasil. Com um crescimento expressivo do Produto Interno Bruto (PIB), que chegou a 7,5% em 2010, ultrapassando economias tradicionais como França e Reino Unido, classe média ascendente e renda em elevação, o país passa por uma nova experiência. Mas, se por um lado, as expectativas de expansão da economia são a aposta de uma maioria por aqui, por outro, é a oportunidade de as atenções mirarem outro foco: como aliar o aumento do consumo com um crescimento sustentável? Em nível mundial, as discussões sobre as mudanças climáticas não são novidade e, agora, vêm acompanhadas da preocupação com o uso da biodiversidade. Pesquisadores do setor discutem a necessidade de uma redução global de até 80% nas emissões de gases do efeito estufa até 2050, no sentido de estabilizar as emissões nos níveis atuais e manter o aumento médio de temperatura em até 2°C até 2100. O investimento em energia renovável seria uma saída (veja a evolução dos investimentos nessa área no gráfico da página 78). Segundo especialistas, os custos e riscos das alterações climáticas serão equivalentes à perda anual de, no mínimo, 5% do PIB global. Eles alertam também para que, se forem levados em conta ameaças e impactos mais amplos, as estimativas desses danos poderiam aumentar para 20%, ou mais, do PIB mundial. E o Brasil, por sua importância econômica, pela liderança na geração de energia proveniente de fontes renováveis e por sua imensa biodiversidade, pode – e deve – ter um papel protagonista na construção de uma economia global de baixo carbono. “As metas de redução de emissões ainda estão em nível voluntário no Brasil, mas esse é o momento de as empresas se anteciparem a uma nova realidade que não vai tardar: a da obrigação. Quem já está dentro desse esquema, sairá na frente, sem dúvida”, analisa Bárbara Oliveira, coordenadora do Programa Sustentabilidade Global do Centro de Estudos em Sustentabilidade (GVces), da Fundação Getulio Vargas. Para aprofundar a relação do mundo corporativo com as questões socioambientais, o grupo criou, em 2009, a Plataforma de Empresas pelo Clima, que conta com a participação de 40 companhias brasileiras de diferentes segmentos, como energia, serviços, alimentação e construção, e com o apoio da embaixada britânica. A consciência e a busca por maior competitividade em um mercado cada vez mais dinâmico têm tornado a questão socioambiental prioridade no planejamento estratégico das empresas, bem como em seus orçamentos anuais. A Braskem, por exemplo, criou, em 2009, uma diretoria específica para a área, tendo à frente o executivo Jorge Soto. “Queremos ser os líderes globais da sustentabilidade na indústria química até 2020”, resume Soto. Os primeiros passos já estão sendo dados. No ano passado, a empresa inaugurou, no

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ESPECIAL Responsabilidade socioambiental

NA PAUTA DE TODOS

COM NOVA TECNOLOGIA, GARRAFAS PET, DA COCA-COLA (ACIMA), TIVERAM O PESO REDUZIDO EM ATÉ 21%. NA FOTO MENOR, FÁBRICA DE ETENO VERDE, DA BRASKEM, NO RIO GRANDE DO SUL

Polo Petroquímico de Triunfo (RS), uma unidade industrial de eteno verde – obtido da cana-de-açúcar e usado na fabricação de plástico – com capacidade de produção de 200 mil toneladas por ano. Com investimento de R$ 500 milhões, a petroquímica estabeleceu uma série de parcerias para fornecimento de polietileno verde a clientes nacionais e internacionais, como Tetra Pak, Johnson&Johnson, P&G e Petropack. A empresa estuda, agora, a implantação de uma nova fábrica, desta vez de polipropileno verde (também usado para fabricar plástico), em local ainda não definido. A unidade, com previsão de entrada em operação em 2013, deve receber US$ 100 milhões em investimento e terá capacidade mínima de produção de 30 mil toneladas por ano.

Outro setor que segue firme na busca de aliar sua marca ao respeito pelo meio ambiente é o bancário. Um dos pioneiros nesse sentido foi o Banco Real, incorporado em 2009 pelo espanhol Santander, que optou por manter as ações voltadas a essa área. Recentemente, especulouse que a troca na presidência ocorrida no final do ano passado – Fábio Barbosa deixou o cargo para assumir o conselho de administração do banco, sendo substituído por Marcial Portela – afetaria a política da instituição. Os rumores são negados pela diretora executiva de Desenvolvimento Sustentável, Maria Luiza Pinto. “Continuamos trabalhando da mesma forma. O atual presidente ocupava, anteriormente, o cargo de presidente do Conselho de Administração do Santander no Brasil, portanto, já acompanhava o nosso trabalho. Somado a isso, desde o início, tivemos o apoio da matriz, que também tem uma área dedicada a esse tema em nível global”, comenta. A seguradora Mapfre é outra que conta com uma diretoria voltada aos temas socioambientais, ligada diretamente à presidência. “Em 2010, iniciamos, por meio do Programa Sustentabilidade na Cadeia de Valor, uma série de workshops em São Paulo, sobre sustentabilidade e sua aplicação prática em cada área e ambiente de trabalho dos colaboradores e fornecedores”, relembra Fátima Lima, diretora de Sustentabilidade e da Fundación Mapfre. Para

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Conservação remunerada Colocar uma cifra nos recursos da natureza parece algo impensável. Pelo menos era. A Fundação Boticário investe, há cinco anos, na remuneração de proprietários de terras próximas à represa Guarapiranga, em São Paulo, por meio do Projeto Oásis. Com recursos cedidos pela Mitsubishi Foundation, o Oásis contempla 13 proprietários. O local é estratégico por sua importância para a conservação dos recursos hídricos que garantem o abastecimento de água para quase 4 milhões de habitantes no município de São Paulo. O valor pago é de R$ 370 por hectare, e o dono de terra que recebe a maior quantia ganha cerca de R$ 93 mil por ano. “Queremos quebrar a lógica de que o incentivo sempre vem no sentido de destruir. É importante mostrarmos o outro lado”, afirma Malu Nunes, diretora executiva da fundação. Em 2009, a iniciativa foi replicada no Paraná, com cerca de 133 produtores rurais das bacias dos rios Pirapó e Tibagi, na cidade de Apucarana, região central do estado. O pagamento, que varia de R$ 850 a R$ 7 mil por ano, vem de recursos do próprio governo.

2011, a ideia é ampliar a ação para corretores e outros escritórios. Para a Coca-Cola Brasil, o assunto também ganhou importância. A multinacional lançou a plataforma de sustentabilidade Viva Positivamente. Nela, foram alinhados compromissos de caráter ambiental, social e econômico. São sete fluxos de trabalho: água; embalagens sustentáveis; benefícios das bebidas; vida saudável; comunidade; clima e ambiente de traba-

lho; e energia. Marco Simões, vice-presidente de Comunicação e Sustentabilidade da CocaCola Brasil, acredita que é necessária a participação de cada um dos colaboradores para que as ideias possam fluir. Quando se fala em reciclagem, Simões comenta que as embalagens de PET reduziram seu peso entre 8% e 21%, dependendo do volume, nos últimos anos. Outro exemplo é a minitampa para garrafas PET, com altura da tampa e

31% Investimento global em energia renovável (por fonte/2008)

24%

25%

9% 3%

PCH (Pequenas Centrais Hidrelétricas)

4%

Solar térmica

4%

Biomassa e geotérmica

Biocombustíveis

Solar fotovoltaica

Grandes hidrelétricas

Eólica

Fonte: Unep Sefi & Nef (2010)

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ESPECIAL Responsabilidade socioambiental

Alternativa mais limpa Investimento global em energia renovável (US$ bilhões)

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73

38 18 0 2004

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Fonte: Unep Sefi & Nef (2010)

do bocal menores que as tradicionais. Isso diminui o consumo da resina derivada de petróleo. A Coca-Cola também lançou a PlantBottle na América Latina. Trata-se de uma embalagem feita de PET na qual o etanol da cana-de-açúcar substitui parte do petróleo utilizado como insumo. “Por ter origem parcialmente vegetal – 30% à base da planta –, a embalagem reduzi-

rá a dependência da empresa em relação aos recursos não-renováveis, além de diminuir em até 25% as emissões de CO².” A Unilever também conta com projetos na área. Juliana Nunes, diretora de Assuntos Corporativos da multinacional, afirma que o detergente e o amaciante líquidos concentrados, lançados recentemente, utilizam menos água tanto

Universidades seguem o tom A exigência da sociedade por negócios que estejam alinhados aos princípios da sustentabilidade tem chamado a atenção das universidades brasileiras. Tanto que as instituições de ensino vêm aumentado a oferta de cursos de graduação com cadeiras direcionadas às questões ambientais. A variedade dos temas propostos nas aulas também tem se expandido. “As empresas vão demandar cada vez mais profissionais com essa qualificação”, afirma Carlos Carneiro, coordenador do curso de Engenharia Mecânica: Energias Renováveis e Tecnologia Não Poluente, criado em 2010 pela Anhembi Morumbi. O currículo mescla disciplinas clássicas da Engenharia com outras, mais específicas, como gestão energética e ambiental, tecnologias não poluentes e energias renováveis. A produção de energia mais limpa também foi o foco da Universidade Federal do Pampa (Unipampa) ao lançar, há cinco anos, o curso de Engenharia de Energias Renováveis e Ambiente, no campus de Bagé (RS). A graduação aborda questões como biomassa e eficiência energética, e a procura não é apenas por candidatos da região. “Os alunos de fora eram 90%, em 2010, e vinham desde São Paulo até locais mais distantes, como o Pará”, conta Cristine Schwanke, coordenadora do curso. Depois de formados, os alunos têm um mercado vasto na própria região, onde três parques eólicos estão em construção.

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Verde por inteiro Em março, a PepsiCo apresentou a primeira garrafa plástica produzida totalmente com materiais naturais e 100% reciclável. Entre as matérias-primas usadas na fabricação estão aveia, batata, casca de pinus e de laranja. A companhia combinou processos químicos e biológicos e conseguiu criar uma estrutura molecular idêntica à do PET, que tinha sua base no petróleo. O recipiente anterior chegava a consumir 17 milhões de barris de petróleo por ano, conforme dados do Pacific Institute, de 2006. “Essa inovação é um avanço para a indústria de bebidas e é resultado direto do nosso compromisso com pesquisa e desenvolvimento”, afirmou Indira Nooyi, presidente do Conselho de Administração e Diretora da PepsiCo. A “garrafa verde” começa a ser usada em larga escala a partir de 2012, mas ainda não há previsão de sua chegada ao Brasil.

em sua formulação quanto no uso. Fora isso, a empresa investiu na substituição dos freezers de sorvetes Kibon por um novo equipamento, que utiliza o gás ecológico R290, que não agride a camada de ozônio e, portanto, não contribui para aumentar o efeito estufa. “As empresas sabem que não dá mais para investir em um negócio sujo”, sentencia Bárbara, do GVces, da FGV. Silvio Gava, diretor Técnico e de Sustentabilidade da Even, uma das principais construtoras e incorporadoras do país, sabe bem disso. O setor é considerado um dos mais poluentes do planeta, e as empresas que nele atuam correm atrás para reverter a má fama. Estimase que somente o cimento seja responsável por cerca de 5% das emissões mundiais de gases causadores do efeito estufa, duas vezes o que é atribuído à aviação. “Começamos a pensar em empreendimentos sustentáveis em 2006. De lá para cá, temos avançado muito. Mudamos nosso sistema de madeira das portas. Agora, elas são todas certificadas”, conta Gava. Neste ano, a empresa recebeu a certificação Aqua para o empreendimento True Chácara Klabin, localizado na Zona Sul da capital paulista, pela adoção de práticas sustentáveis. “Uma construção sustentável, certamente, terá um valor patrimonial mais alto ao longo do tempo do que uma convencional, justamente pela durabilidade e facilidade de manutenção, PERSPECTIVA DO TRUE CHÁCARA KLABIN, DA EVEN, EM SÃO PAULO, QUE RECEBEU A CERTIFICAÇÃO AQUA

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ESPECIAL Responsabilidade socioambiental

Expectativa do consumidor Percentual de concordância com a frase: As empresas sempre deveriam fazer mais do que está estabelecido nas leis, buscando trazer mais benefícios para a sociedade – 60% As empresas deveriam cumprir as leis e fazer algumas coisas a mais se isso trouxer vantagens para ela junto aos seus clientes – 25% As empresas deveriam fazer apenas o que está estabelecido nas leis – 13% Não tem problema se as empresas não fizerem tudo o que está escrito nas leis, pois é difícil cumprir todas as leis – 2% Fontes: Instituto Akatu e Ethos

além do baixo custo operacional”, afirma Manoel Martins, coordenador executivo do processo Aqua na Fundação Vanzolini, desenvolvedora da certificação no Brasil. O fator sustentabilidade faz parte das práticas de empresas como a Philips do Brasil, por exemplo. Ela optou por descontinuar a fabricação de lâmpadas automotivas no país, e, em dezembro de 2010, depois de uma profunda análise, encerrou os trabalhos na fábrica do Recife, responsável pela produção. Agora, o produto é importado da Philips Global (Ásia e Europa). “Abdicar de ter uma fábrica de incandescentes [com consumo maior de energia] é uma visão estratégica voltada para a sustentabilidade, uma vez que esse é o primeiro e mais clássico produto da Philips”, afirma Walter Duran, diretor de Sustentabilidade da Philips do Brasil. Dessa forma, a companhia volta o foco para produtos mais eficazes no que se refere à economia de energia. “Até 2012, esperamos que 30% do nosso faturamento venha dos produtos verdes, e 50%, até 2015”, aponta Duran. Mas a grande surpresa, que deve começar neste ano, é a reciclagem de lâmpadas usadas. “É um processo eficaz, desde que as lâmpadas sejam entregues inteiras, sem quebras, e o custo de recolhimento é alto.”

Essa preocupação das empresas em associar sua imagem a práticas mais responsáveis tem aumentado também a procura pela auditoria de relatórios socioambientais. Segundo Rogério Gollo, líder em sustentabilidade da PricewaterhouseCoopers, a demanda cresce entre 20% e 25% ao ano e vem, principalmente, de setores ligados a consumo, energia, mineração e siderurgia. “E esse aumento é reflexo tanto de ações obrigatórias quanto das que fazem parte do planejamento estratégico da empresa”, diz Gollo.

PRIMEIROS PASSOS O esforço das empresas com ações de sustentabilidade pode ser apenas o começo. A pesquisa O Consumidor Brasileiro e a Sustentabilidade, realizada em 2010 pelos institutos Akatu e Ethos, mostra que 84% dos entrevistados não sabem o que é sustentabilidade. Apenas 16% apontam

HELIO MATTAR, DO AKATU: AS EMPRESAS DEVEM SER MAIS TRANSPARENTES COM OS CONSUMIDORES

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a definição correta do termo. “As classes A e B têm mais compreensão do que as C e D, o que reflete o nível de escolaridade”, explica Helio Mattar, diretor-presidente do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente. Ainda de acordo com o estudo, a internet é um dos caminhos que os consumidores adotam para trocar informações sobre as empresas. Ao todo, 17% dos entrevistados usam a web para saber o que uma empresa está fazendo nesse sentido. Além disso, 85% esperam que as empresas façam mais do que apenas cumprir a lei. “Os consumidores têm pouca confiança nas empresas. Apenas 13% acreditam no que elas dizem”, ressalta Mattar. Para ele, as companhias precisam se preocupar não só em divulgar as ações, mas também em ser transparentes.

85% dos consumidores esperam que as empresas façam mais do que apenas cumprir a lei Por isso, empresas como a Bunge apostam em projetos e parcerias com ONGs. Entre os mais recentes, está o lançamento de uma linha de óleos especiais, com castanha-do-pará. “Este óleo possibilita uma renda extra para comunidades locais e indígenas do Mato Grosso e do Pará, que têm toda a atividade extrativista dentro de padrões aprovados pela Funai e pelo PNUMA (Programa da Nações Unidas para o Meio Ambiente)”, conta Michel Santos, gerente de Sustentabilidade da Bunge Brasil. A empresa criou, ainda, a primeira embalagem biodegradável para margarinas no país. O recipiente, feito a partir de fontes renováveis, degrada-se no ambiente em até 180 dias após ser descartado. No campo da reciclagem, a Bunge trabalha ainda com o Soya Recicla. É um sistema de coleta de resíduos de óleo de cozinha que reduz impactos ambientais e permite a fabricação de sabão e biodiesel.

Pioneira no país Poucas empresas conseguiram aliar seu nome tão fortemente a ações sustentáveis como a Natura. Pioneira nessa área no Brasil, a fabricante de cosméticos começou a investir em produtos menos agressivos ao meio ambiente ainda na década de 1980, quando lançou os seus primeiros refis. Além de ser uma opção mais econômica, o refil consome em média 30% menos recursos naturais do que a embalagem regular, e foi exatamente nisso que a Natura apostou. Para se ter uma ideia, o refil do blush e da base líquida tem impacto ambiental 72% menor. Já o refil do batom impacta 71% menos o meio ambiente, enquanto o do duo de sombras tem 68% menos consequências que o produto regular. “O consumidor acabou adotando os refis, primeiro, porque têm um custo menor, depois, claro, pela questão do meio ambiente”, conta Alessandro Mendes, diretor de Desenvolvimento de Produtos da Natura. Por conta disso, a venda desse item já representa quase 20% do total de produtos comercializados pela empresa. A última iniciativa da Natura na área de embalagens foi adotar o polietileno verde nas embalagens da linha de sabonetes para as mãos Erva Doce. “Muitas vezes, as pessoas podem achar que é fácil mudar uma embalagem, mas é um processo delicado, que envolve muito estudo. Temos de mostrar para o nosso consumidor que, mesmo com uma embalagem mais simples, podemos oferecer um produto muito bom”, completa o executivo.

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ESPECIAL Fontes de recursos

O ano da

LIQUIDEZ CFOs LATINO-AMERICANOS FALAM SOBRE AS OPORTUNIDADES E OS DESAFIOS FINANCEIROS EM 2011 AMÉRICAECONOMÍA INTELLIGENCE

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queda vertiginosa do dólar, a ameaça da inflação externa, os Bancos Centrais observando o momento para intervir… Esse é o dia a dia de um CFO (Chief Financial Officer), responsável pelas finanças de uma empresa. Ouvimos os profissionais de grandes companhias da América Latina, que contam quais são suas estratégias para tirar vantagem do atual momento econômico.

A

AméricaEconomia • Quais são suas perspectivas para o mercado de capitais latino-americano em 2011? Paulo Sérgio Carvalho Freitas (Tivit, Brasil) • O preço das ações não está tão baixo, mas ainda assim a América Latina continua atraente. O crescimento econômico deve continuar atraindo investidores do mundo todo. Além disso, os investimentos dos grandes fundos de private equity terão continuidade no país, o que demonstra o potencial do mercado brasileiro.

Foto: 1 - Shutterstock; 2 - Divulgação

Javier Astaburuaga Sanjines (Femsa, México) • Do ponto de vista da liquidez, o setor corporativo passa por um bom momento. As empresas contam com níveis adequados de caixa e um ambiente de taxas de juros atraentes. A recuperação é incipiente, porém constante, mas existem pressões inflacionárias em muitos insumos e uma situação volátil do ponto de vista geopolítico. Jorge Simino (Fundação Cesp, Brasil) • Vejo um ano complexo do ponto de vista da valorização dos ativos. No caso do Brasil, passaremos por um ajuste fino na questão inflacionária. Na área de emissões de equities e de dívida, talvez tenhamos um ano de operações mais distribuídas, em comparação com 2009 e 2010. Eduardo Gómez de la Torre Pratt (Scotiabank, Peru) • Em relação aos custos de financiamento em dólares, embora não se preveja um aumento drástico da

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A AMÉRICA LATINA CONTINUA NO FOCO DOS INVESTIDORES, DIZ FREITAS, DA TIVIT

“A liquidez dos mercados latinos permite que as empresas financiem grande parte de suas necessidades nos mercados locais” Alfredo Erga, da Enersis (Chile)

taxa de referência do FED (Banco Central dos EUA) durante 2011, há alguns investidores institucionais que especulam que o FED deixará de comprar Títulos do Tesouro, o que poderia elevar as taxas. Esse possível aumento poderia ser em parte compensado por uma certa redução dos spreads corporativos. Bernardo Hamacek (Iveco, Brasil) • O mercado de capitais na América Latina tem crescido. As condições econômicas, em geral, de alguns dos países da região têm sido alavancadas pelos preços das commodities e pelo desenvolvimento dos seus mercados internos. No Brasil, o mercado interno tem suportado esse

crescimento. Vejo a continuidade do investimento externo na região e a busca por nossos mercados.

AE • Qual estratégia você recomendaria para empresas que precisam buscar financiamento externo? Freitas (Tivit, Brasil) • A elevação das taxas de juros internacionais está fazendo com que várias empresas olhem para fora. Embora não se tenha um cenário com grandes flutuações na taxa de câmbio, as empresas que não têm hedge [proteção] e estão expostas ao dólar deveriam procurar fazer hedge. Isso vale para as companhias que têm faturamento doméstico e contam com dívidas em dólares. Óscar Herrera Restrepo (Empresas Públicas de Medellín, EPM, Colômbia) • Recomendaria observar primeiro o mercado de capitais, em vez de créditos sindicalizados que ainda não foram reativados. Da mesma forma, a possibilidade de emitir títulos globais no mercado internacional denominados em moeda local é uma boa chance para obter financiamento na mesma moeda da receita sem assumir risco cambial. Abril 2011 AméricaEconomia 83

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ESPECIAL Fontes de recursos

Patricia Gastelumendi (Ferreyros, Peru) • Para chegar ao mercado internacional, em busca de investimentos maiores, é indispensável ter uma cultura de abertura ao público, o que pode ser feito por meio de relatórios de imprensa periódicos, conferências telefônicas e outros meios que permitam aos diversos investidores ter um conhecimento do negócio no qual pretendem apostar.

Simino (Fundação Cesp, Brasil) • Acredito que seja preciso ter cuidado com o financiamento externo. Estamos perto de um momento de reajuste no tipo de câmbio, embora o preocupante não seja o curto prazo. Luís Antônio Oselame (Randon, Brasil) • Uma sugestão para as empresas é a International Finance Corporation (IFC), instituição internacional que atua como grande financiadora. A empresa que recorrer ao financiamento da IFC conseguirá empréstimos a custos mais baixos, mas terá que se submeter a várias exigências da instituição, como governança corporativa e índice de indicadores de controle.

AE • Há alguma novidade em termos de instrumentos ou condições de financiamento que chame a atenção?

“Para chegar ao mercado internacional, é indispensável a cultura de abertura ao público”

Freitas (Tivit, Brasil) • As pressões inflacionárias nesse início de ano merecem a atenção no Brasil. O governo também anunciou corte de gastos, disse que não abrirá mão do controle da inflação e não aceitará indexação de preços. Portanto, as empresas devem estar preparadas para enfrentar essas taxas de juros mais altas neste ano.

Patricia Gastelumendi, da Ferreyros (Peru) 3

Oselame (Randon, Brasil) • Existe uma modalidade nova, que são os bônus perpétuos, sem data definida de resgate. No mercado internacional, os bônus perpétuos são lançados exclusivamente por empresas consideradas sólidas. Hamacek (Iveco, Brasil) • No setor de caminhões e ônibus, acompanhamos com atenção a evolução dos programas do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), imprescindíveis para a expansão do mercado de bens de capital e, portanto, para o desenvolvimento do país.

É PRECISO CUIDADO COM O FINANCIAMENTO EXTERNO, DIZ SIMINO, DA CESP

AE • Quais são os principais focos de risco que você percebe para a gestão fi-

nanceira neste ano? Como se preparou para enfrentá-los? Freitas, (Tivit, Brasil) • Os principais riscos continuam sendo as taxas de juros e o crescimento mais moderado em relação a 2010. O mercado brasileiro deve estar preparado para um crescimento econômico do PIB na casa dos 4,5%. Na Tivit, temos operações saudáveis e com forte geração de caixa e, mesmo diante de um cenário de menor crescimento do país, continuamos otimistas com a evolução constante do nosso negócio. Astaburuaga (Femsa, México) • Atualmente, os preços das matérias-primas estão pressionados pela alta, em função dos elevados níveis de liquidez global. Continuaremos operando com prudência, movendo-nos na linha em que temos operado, avaliando oportunidades, de acordo com nossa estratégia de negócio. Pratt (Scotiabank, Peru) • O agravamento da crise europeia, os efeitos do desastre no Japão, a escalada de violência na África e no Oriente Médio e os potenciais efeitos recessivos que possam levar a um aumento contínuo no preço do petróleo. A melhor forma de se preparar é com mais liquidez que o usual, bem capitalizado, e ter um bom respaldo de prazos entre as obrigações e a recuperação dos investimentos. Oselame (Randon, Brasil) • Uma coisa interessante é ser livre de endividamento. Quero dizer, o endividamento pode existir, mas com certo controle. Hamacek (Iveco, Brasil) • O controle da inflação crescente, por meio do aumento da taxa de câmbio e da contenção do crescimento econômico, é a maior preocupação. A dosagem desses mecanismos e a declarada intenção do governo de intervir em setores específicos da economia têm dificultado a projeção para 2011.

Fotos: 3 - Divulgação; 4 - Magrão Scalco/Divulgação

Alfredo Ergas (Enersis, Chile) • A liquidez dos mercados latino-americanos permite que as empresas financiem grande parte de suas necessidades nos mercados locais. Se, apesar disso, você precisar ir para o mercado externo, eu recomendaria que tivesse pressa e fechasse em taxa fixa.

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Em busca do Google latino Nos últimos cinco anos, os fundos de capital de risco e private equity proliferaram na América Latina, graças ao crescente interesse de investidores privados e institucionais María Enrile, de Santiago

E

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OSELAME, DA RANDON, RECOMENDA CONTROLE DO ENDIVIDAMENTO

“A melhor forma de se preparar é com mais liquidez que o usual, bem capitalizado” Eduardo Gómez de la Torre Pratt, do Scotiabank (Peru)

AE • Há reformas regulatórias na área tributária ou de mercados de capitais que você esteja acompanhando com especial atenção? Ergas (Enersis, Chile) • A integração dos mercados de capitais latino-americanos por meio do Mila (Mercado Integrado Latino-Americano) apresenta desafios tributários para os mercados de Chile, Colômbia e Peru. Uma real integração das bolsas permitirá aumentar a liquidez dos títulos acionários locais e gerar uma massa crítica relevante de investidores institucionais. Portanto, é urgente resolver não apenas aspectos técnicos, como também tributários, em especial os referentes à tributação de dividendos e ganho de capital.

les começaram em seus próprios quartos, com os computadores pessoais. Tinham pouco mais de 20 anos e, a princípio, ninguém acreditou neles. Hoje, Larry Page e Sergey Brin são milionários e donos do Google, a maior empresa da nova economia: uma aventura que não teria sido possível sem a ativa indústria americana de capital de risco (VC). Algo que, na América Latina, ainda está tomando força, junto do private equity (PE), fundos que andam em busca de empresas paralisadas para colocá-las na corrida para o mercado. Segundo a Associação Latino-Americana de Capital de Risco (Lavca, na sigla em inglês), no ano passado, a região levantou fundos de US$ 8,1 bilhões, 122% a mais que em 2009. “Vemos mais investidores anjos, pessoas com dinheiro que decidem investi-lo em projetos inovadores”, afirma Cate Ambrose, presidente da organização. Em contraste com a América Latina, o capital subscrito por esse tipo de fundo caiu 7% nos Estados Unidos e 32% na Europa, segundo a consultoria britânica Prequin. Um fato significativo, considerando que até cinco anos atrás praticamente não havia capital de risco na região. Tudo começou a mudar com a incipiente oferta de projetos inovadores, incubados por admiradores latino-americanos de Page e Brin. “Os estudantes recém-saídos da universidade não podiam aspirar o trabalho em grandes multinacionais por causa da crise econômica global”, afirma Ariel Muslera, diretor de Estratégia e Desenvolvimento de Produto da Lavca. Muitos assumiram riscos pelo empreendimento, batendo em portas de amigos e, os mais ousados, de indivíduos com capital e vontade de apostá-lo. “No México, por exemplo, existem entre 15 e 20 famílias milionárias que investem seu dinheiro nesse tipo de projeto” afirma Víctor Esquivel, sócio da KPMG México. Segundo a Lavca, do total de arrecadação dos fundos, US$ 3,3 bilhões correspondem a dois fundos, Southern Cross e Advent, que bateram recordes históricos. O Brasil representou 46% das operações e 76% do capital subscrito, com um importante foco em biocombustíveis. O México vem em segundo, seguido por Argentina e Chile. “A Argentina tem mais pessoas empreendedoras, mas há menos facilidades. Já o Chile, por exemplo, tem uma das regulamentações mais transparentes da América Latina”, afirma Muslera. No entanto, diferentemente dos Estados Unidos, a região ainda precisa avançar em aspectos tributários e regulatórios, como a existência de mercados secundários de ações voltados às empresas pequenas e médias, para que a indústria realmente decole. Outro elemento prejudicial é o fato de vivermos em uma cultura na qual o fracasso é castigado e o empreendedorismo gera desconfiança. “A tendência está mudando e, embora esse capital continue sendo financiado por milionários ‘anjos’, aumenta a criação de fundos de investimentos que confiam nos mercados emergentes”, afirma Cate, da Lavca.

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ESPECIAL Fontes de recursos US$ 800 milhões. Do lado da geração, emitimos um título internacional em pesos colombianos por um valor equivalente a US$ 400 milhões – somos a primeira empresa colombiana a realizar uma emissão desse tipo. Oselame (Randon, Brasil) • Para 2011, vamos investir R$ 270 milhões. Desse total, cerca de R$ 100 milhões serão destinados à reposição dos ativos; R$ 110 milhões à modernização do parque fabril; e R$ 30 milhões ao sistema ERP (Enterprise Resource Planning). O restante será alocado em uma unidade fabril em Resende (RJ), um negócio que temos em parceria com a MAN Caminhões e Ônibus, com foco em usinagem, montagem de cubos de rodas e tambores, freios e submontagem de kits de suspensões. São investimentos próprios. 5

AS DECISÕES MACROECONÔMICAS DIFICULTAM AS PROJEÇÕES, DIZ HAMACEK, DA IVECO

Simino (Fundação Cesp, Brasil) • Uma história que começou a circular é a desoneração da folha de pagamento das empresas. Não é a primeira vez que esse assunto é abordado, mas é a primeira vez que esse debate é tratado com intensidade. Hamacek (Iveco, Brasil) • Acompanhamos vários aspectos relacionados à reforma fiscal e tributária. A desoneração dos bens de capital é de extrema relevância para o crescimento do país e da nossa indústria. As questões relacionadas ao Mercosul e as relações aduaneiras com o México são acompanhadas constantemente.

AE • Qual será a principal necessidade de investimentos contemplada por sua empresa em 2011? Quais serão as fontes para financiar esses investimentos?

“Temos previstos investimentos da ordem de US$ 900 milhões” Javier Astaburuaga, da Femsa (México)

Astaburuaga (Femsa, México) • Temos previstos investimentos em ativo fixo da ordem de US$ 900 milhões para nossas operações. Isso inclui aumento de capacidade na Coca-Cola Femsa, abertura de mais de mil lojas da Femsa Comércio e crescimento em nossos negócios estratégicos, como logística e refrigeração. No entanto, nossa capacidade de geração de fluxo nos deve permitir financiar esses investimentos quase inteiramente com nossos próprios recursos. Ergas (Enersis, Chile) • Em manutenção de redes (negócio de distribuição elétrica), o investimento está próximo dos

Ergas (Enersis, Chile) • Acentuou-se aquilo que sempre se exigiu de um CFO: convicção e sangue frio. Estar atento ao que o mercado não espera e ser flexível. Os dinossauros se extinguiram por não se adaptarem... não porque não eram fortes. E não há paradigmas nas finanças: tudo pode acontecer. Simino (Fundação Cesp, Brasil) • Assistimos a grandes transformações. E elas foram bem relevantes na área de recursos de terceiros, que é o nosso negócio. Atualmente, vivemos em um ambiente de taxa de juros reais mais baixa, o que impõe um grande desafio para a gestão. Temos feito certa diversificação, como aplicar mais em renda variável, crédito privado (CDBs e debêntures), em vez de entrar em títulos do governo, que são remunerados pela taxa Selic. Freitas (Tivit, Brasil) • Os objetivos são reduzir riscos, ter maior controle de despesas e também fluxo de informações constante entre áreas diversas da empresa, incluindo diretores e acionistas.

Foto: 5 - Divulgação

Oselame (Randon, Brasil) • O principal item neste governo é a reforma tributária, que deve ser colocada em prática em um futuro próximo.

AE • Qual foi a principal transformação na sua empresa, nos últimos anos?

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cobiçam a

ANTES OFERECIDAS POR ONGS, AS MICROFINANÇAS, QUE INCLUEM SERVIÇOS COMO O MICROCRÉDITO, ENTRAM NA ESTRATÉGIA DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS ENRIQUETA MENON, DE SÃO PAULO

s microfinanças vêm tomando novos rumos no Brasil, o que tem aumentado a participação do sistema financeiro nacional e estrangeiro. Bancos comerciais regulados pelo Banco Central já percebem melhor a potencialidade econômica desse mercado, que começa a ser entendido como um conjunto de serviços financeiros básicos e dirigidos aos mais pobres. Especialistas avaliam que somente o sistema financeiro é capaz de dar resposta à demanda desse público, por sua capilaridade e capacidade de oferecer um conjunto mais amplo de produtos e serviços de inclusão financeira, constituindo-se em um modelo mais próximo do praticado em outros países da região latino-americana. “As entidades sem fins lucrativos cumpriram importante papel no surgimento das microfinanças no país, sobretudo no desenvolvimento do microcrédito”, afirma Eli Moreno, consultor independente na área há dez anos. “Porém, essas entidades se demonstraram incapazes de se transformar em instituições financeiras plenas e atender às demandas microfinanceiras de seu público”, acrescenta Moreno.

Foto: Ian McKinnell/Getty Images

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OS MICROSSEGUROS COMEÇAM A GANHAR FORÇA NAS FAVELAS BRASILEIRAS

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FINANÇAS Inclusão Para o técnico do Fundo Multilateral de Investimentos (Fumin) do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Ismael Gilio, o microcrédito – um dos vários elementos da indústria de microfinanças – atingiu maturidade suficiente para dar um salto no país. Desde os anos 1970, desenvolveram-se centenas de instituições voltadas às microfinanças – Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscips), cooperativas, bancos comunitários, sociedades de crédito ao microempreendedor (SCM), bancos públicos –, além do Programa Nacional do Microcrédito Produtivo Orientado (PNMPO). Seus recursos vêm dos 2% dos depósitos à vista que os bancos são obrigados a destinar, por lei, para o programa. O Fumin-BID, que apoia várias iniciativas de microcrédito no Brasil, quer avançar no desenvolvimento de microsseguro e da microprevidência privada, mas aguarda as diretrizes do governo da presidente Dilma Rousseff (PT) para a área. Ainda engatinhando no país – algumas empresas já oferecem apólices contra acidentes fatais que variam de R$ 3 a R$ 7 por mês para moradores de favelas, com indenizações que partem de R$ 10 mil –, o microsseguro ainda não conta com legislação específica. O produto pode beneficiar cerca de 40 milhões de brasileiros se ganhar dimensão de seguro tradicional, protegendo a produção, inclusive rural, não limitado ao seguro pessoal. “Cabe ao governo contribuir para os próximos passos no marco regulatório do microsseguro, priorizando o tema na agenda governista no Congresso Nacional”, completa Gilio. Alguns projetos de lei sobre o assunto já tramitam no Legislativo. Gilio também vê futuro na microprevidência, pela qual o público de menor renda poderia contribuir regularmente para um plano de previdência privada, como fazem as classes média e alta. “Da mesma forma, a micropoupança e o microleasing podem ser traduzidos para o conceito micro. Se é possível adquirir uma Mercedes com leasing, por que não usálo também para financiar a compra de um pequeno equipamento?”, sugere o especialista do Fumin-BID em desenvolvimento sustentável. O atual conceito de microcrédito produtivo orientado deveria ser ampliado para que despesas com habitação popular, saúde e educação pudessem ser financiadas com esse tipo de recurso. “Se um microempreendedor quiser hoje adquirir uma cadeira de rodas, reformar o puxadinho que ser-

ve de espaço para seu negócio ou até mesmo fazer um curso de especialização com dinheiro do microcrédito produtivo, não pode”, lamenta Gilio.

INCLUSÃO SOCIAL Reconhecidas mundialmente como ferramenta de inclusão financeira e desenvolvimento econômico e social, as microfinanças são ainda mais relevantes em um país como o Brasil, dada sua dimensão continental, o tamanho de sua população e as dificuldades que os pobres ainda enfrentam na hora de acessar serviços financeiros, como o crédito para alavancar suas atividades econômicas. Estima-se que o mercado nacional de microcrédito alcance, hoje, 16 milhões de micro e pequenos negócios, geralmente informais e excluídos do sistema formal de crédito. “É um mercado de crédito estimado em US$ 55 bilhões ao ano”, calcula Eli Moreno. Por outro lado, os micro e pequenos negócios respondem por mais de 20% do Produto Interno Bruto (PIB) e 60% dos empregos e ocupações. “Esses dados evidenciam a importância desse segmento empresarial do ponto de vista econômico e social”, enfatiza. O crédito de consumo popular, especialmente alimentado pelo crescente número de cartões private labels, ou seja, cartões de lojas ou de marcas (um dos produtos das microfinanças), permitiu reduzir sensivelmente os impactos da recente crise financeira mundial na economia brasileira. No entanto, há ainda um papel importante para as microfinanças no Brasil: embora a maioria dos brasileiros tenha conta em banco, 39,5% ainda não a têm, de acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Hoje, já é possível encontrar apólices de seguro para a baixa renda a partir de R$ 3 por mês, com indenizações que partem de R$ 10 mil. Em jogo, um mercado potencial de 40 milhões de brasileiros

ESCALADA ECONÔMICA O atual panorama das microfinanças no Brasil também decorre da melhoria das condições macroeconômicas. “O futuro é das camadas populares. Uma parcela representativa da baixa renda continuará migrando para a classe média, e qualquer empresa ou banco vai olhar para esses consumidores”, afirma Frederico Celentano, consultor especialista em microcrédito. É o que já está acontecendo. Grandes bancos comerciais começaram uma escalada no sentido de ocupar o mercado das microfinanças. Mais avançadas estão as instituições públicas. Além do Banco do Nordeste do Brasil (BNB), institui-

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UMA DAS MODALIDADES DE CRÉDITO É O MICROLEASING, QUE PERMITE A COMPRA DE EQUIPAMENTOS PARA PEQUENOS NEGÓCIOS

Foto: Alexandr Kryazhev/Folhapress

As regras do jogo Ao contrário do que ocorre no Brasil, na maioria dos demais países da América Latina, o setor de microfinanças está submetido à regulação dos Bancos Centrais, como as demais instituições financeiras. Por isso, também pode captar poupança da população, abrir conta e prestar todos os serviços financeiros. Aqui, o Banco Central é extremamente rigoroso e nem todas as instituições reguladas – Sociedades de Crédito ao Microempreendedor (SCM) e financeiras – estão autorizadas a captar depósitos. Somente bancos, como a Caixa Econômica Federal, e cooperativas de crédito podem prestar esses serviços financeiros à população. Na Bolívia, por exemplo, o BancoSol – que é um banco – tinha em 2009 um total de 245.066 contas de depósito, e o PRODEM FFP (uma ONG que originou o BancoSol e hoje continua como um fundo privado) tinha 349.580 contas. No México, a Caja Popular Mexicana – uma espécie de Caixa Econômica – somava 3.073.049 contas em 2009. Já a Fincomún, com 160.683, é uma organização não bancária mexicana com autorização para captar recursos.

ção federal tradicional nesse mercado, a Caixa Econômica Federal deverá lançar, em breve, um programa voltado ao financiamento de escolas técnicas de nível médio, nos moldes do Programa de Financiamento Estudantil (Fies), focado nos universitários; e outro para promover a autonomia dos beneficiários do Bolsa-Família, por meio de empréstimos de cerca de R$ 200, para viabilizar microempreendimentos. “A ideia é que os bancos estatais posicionem-se como precursores, empurrando os privados para o mesmo caminho”, afirma Claudia Forte, consultora do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) na área de microfinanças. “Finalmente, o sistema financeiro nacional entendeu a importância do agente de crédito e do aval solidário, e começa a adotar essas tecnologias criadas fora da banca tradicional”, afirma, referindo-se aos dois pilares da maior referência internacional de microfinanças, o Grameen Bank, fundado pelo economista indiano Muhammad Yunus – Nobel da Paz em 2006. Dentre as instituições financeiras privadas, Itaú e Santander passam pela reorganização de suas divisões de microcrédito, investindo sobretudo na criação de tecnologias para atrair essa clientela e atendê-la com menor custo, ressalta Celentano, especialista no assunto. Esse novo momento das microfinanças começa a se refletir na academia. No âmbito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), também há projetos na área. O banco discute o que deve vir a ser a Universidade de Formação do Agente de Crédito. Abril, 2011 AméricaEconomia 91

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FINANÇAS Inclusão NOVA PRÁTICA

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YUNUS, O PIONEIRO DO MICROCRÉDITO, NOBEL DA PAZ DE 2006

Dinheiro paralelo No Brasil, há várias experiências com moedas sociais que circulam localmente, emitidas por bancos comunitários apoiados pelo governo federal. Essas iniciativas contam com o incentivo da Secretaria Nacional de Economia Solidária (Senaes), do Ministério do Trabalho. Os bancos comunitários são organizações comunitárias sem fins lucrativos, que têm relações contratuais com instituições bancárias (como correspondentes e agentes de microcrédito, entre outros). A rápida proliferação de moedas sociais circulantes locais – complementares e paralelas à oficial, o real – levou o Banco Central a acompanhar o tema mais de perto. Segundo o Relatório de Inclusão Financeira do BC, divulgado no final de 2010, nos próximos anos, pelo menos 180 bancos comunitários estarão em funcionamento, atuando, simultaneamente, como alternativa de acesso a produtos e serviços financeiros, e como agente de promoção do desenvolvimento local. O Banco Palmas, uma rede de 55 dessas instituições no Nordeste, define moeda social como um “circulante local” que objetiva fazer com que o “dinheiro” (um cédula que funciona como um bônus) circule na própria comunidade, ampliando o poder de comercialização local. “Assim, os créditos em ‘reais’ podem ajudar no crescimento econômico do bairro ou do município, gerando novas riquezas. Mas são as moedas sociais que asseguram o desenvolvimento ao favorecer que essa riqueza fique na própria comunidade”, informa o banco.

ças”, afirma Moreno. O exemplo mais conhecido é a parceria entre o Banco do Nordeste e o Instituto Nordeste Cidadania, uma ONG fundada em 1996 e qualificada em 2003 pelo Ministério da Justiça como Oscip, contratada para operar os programas de microfinanças urbanas (o Crediamigo) e rurais (o Agroamigo). Juntos, os dois programas têm mais de 1,3 milhão de clientes ativos, a segunda maior carteira de microcrédito da América Latina. Promissoras também são as alianças entre bancos e agências estaduais de desenvolvimento, com programas de fomento que propiciam a expansão das organizações de microcrédito.

Foto: Steve Jennings/WireImage

A mudança de mentalidade é necessária. É consenso que somente o sistema financeiro é capaz de criar os canais para atender a uma clientela como a brasileira, peculiar não apenas na quantidade, mas muito diversificada sócio, cultural e economicamente, avaliam os especialistas. Mas, para desempenhar esse papel no avanço das microfinanças no Brasil, os bancos tradicionais terão de superar sérios desafios para se igualar ao modelo de atendimento desenvolvido pelas ONGs especializadas no assunto, sobretudo em relação a suas atitudes em finanças de proximidade, ressalta o consultor Eli Moreno. E o motivo é evidente: no sistema financeiro, o crédito para micro e pequenos negócios, principalmente para empreendedores de baixa renda, não teve o mesmo nível de crescimento em relação aos demais serviços microfinanceiros – transferências, pagamentos, recebimentos e outros. Essas características e potencialidades de cada um dos modelos são ainda percebidas como incongruências no país. “No entanto, a integração entre as organizações especializadas em microcrédito e as instituições bancárias tem sido o caminho mais promissor para a expansão das microfinan-

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O secretário-adjunto de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Gilson Bittencourt, acrescenta mais uma razão para a transição entre o modelo atual e o futuro. O Programa Nacional de Microcrédito Produtivo Orientado (PNMPO) realizou entre 2003 e 2010 um total de 12,2 milhões de operações de microcrédito produtivo urbano, com empréstimos de R$ 13,7 bilhões. No mesmo período, o Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) assinou 14,3 milhões de contratos, com financiamento de R$ 61 bilhões. “Ou seja, embora muito maior que a população rural, os pobres das cidades recebem cerca de cinco vezes menos recursos”, sublinha. Outro fator determinante para o incremento das microfinanças será a entrada mais incisiva das cooperativas no microcrédito e na oferta de outros serviços. O número de cooperativas de crédito, somado aos Postos de Atendimento Cooperativo, aumentou de 2.915 em 2002 para 4.319 em junho de 2010, período em que o número de associados saltou de 1,6 milhão para 4,5 milhões, e as operações de crédito passaram de R$ 4,6 bilhões para expressivos R$ 27,8 bilhões. A necessidade de ganhar escala e, sobretudo, de acolher um maior número de micro e pequenos negócios, será elemento-chave para que os sistemas cooperativos intensifiquem sua participação no mercado das microfinanças, analisa Moreno.

CONCORRÊNCIA

a ampliação de nossos serviços por meio do microsseguro”, afirma Claudia Cismeiros, diretora executiva do Centro. A entidade submeterá, em breve, à aprovação do Banco Central um plano de negócios focado em seguro de microempreendimentos. Outra ênfase da parceria é na orientação aos negócios. “Mais do que capital de giro, os microempresários formais e informais necessitam de outros produtos e de capacitação”, explica. Na opinião da diretora executiva da Accion Microfinanças, Bettina Wittlinger de Lima, a atuação de instituições estrangeiras é salutar, porque introduz um caráter mais comercial nas microfinanças, até agora predominantemente praticadas com viés social. “Isso é muito positivo em termos de competição”, afirma. A meta da Accion Microfinanças é conquistar em 2011 – primeiro ano de vida da SCM –, 1,2 mil clientes e emprestar R$ 1,2 milhão. Em cinco anos, o objetivo é chegar a 50 mil clientes no Amazonas e Pará, com prioridade para pequenos e micronegócios. Um dos motivos pelos quais a Accion International se instalou no Norte é o baixo número de instituições voltadas às microfinanças na região: 12 no total. No Nordeste, são 36; no Sudeste, 50; e, em todo o Brasil, 147 instituições. Por enquanto, a Accion Microfinanças vai se dedicar apenas ao microcrédito, mas Bettina defende que o Banco Central flexibilize a legislação e permita às SCMs abertura de contas, captação de poupança e depósitos. “Todo mundo fala em inclusão financeira no Brasil, mas o marco regulatório ainda proíbe a existência de bancos de nichos específicos, como ocorre no Peru, no México e na Bolívia”, afirma a executiva. Segundo ela, mesmo que os bancos múltiplos privados estejam entrando nesse mercado, dificilmente vão se dedicar aos pequenos negócios informais. O secretário-adjunto de Política Econômica do Ministério da Fazenda justifica: “Não dá para imaginar que, num sistema financeiro desenvolvido como o brasileiro, as instituições de microfinanças não controladas pelo Banco Central venham a captar depósitos de poupança da população”. Bittencourt enfatiza que, aqui – ao contrário dos países vizinhos –, o desenvolvimento da indústria de microfinanças não acontecerá por fora do sistema financeiro formal. Um dos motivos é que os bancos se organizaram antes da formação da rede de microfinanças, que surgiu nos anos 1970, sendo, portanto, relativamente jovem.

Juntos, o Banco do Nordeste e o Instituto Nordeste Cidadania têm operações de microfinanças que somam 1,3 milhão de clientes ativos; a segunda maior carteira da América Latina

O novo modelo promete gerar concorrência entre as instituições financeiras que atuam nas microfinanças, inclusive com a presença de bancos estrangeiros. Alguns grupos privados do exterior já estão apostando nesses negócios por aqui. No ano passado, o peruano ACP, proprietário do Mibanco, adquiriu 65% da Rede Ceap (Centro de Apoio ao Pequeno Empreendedor), entidade sem fins lucrativos com atuação no Maranhão, um dos estados mais pobres do país. A Accion International, líder global em microfinanças, associou-se a um investidor privado brasileiro para criar a Accion Microfinanças, uma Sociedade de Crédito ao Microempreendedor (SCM), sediada em Manaus (AM). Depois de 21 anos proporcionando empréstimos entre R$ 300 e R$ 20 mil a cerca de 30 mil clientes – a segunda maior carteira no Brasil –, a Rede Ceap decidiu se tornar um banco especializado em microfinanças para atender à demanda da população. “Tínhamos esgotado nossa capacidade de expansão sozinhos. Com o ACP, estamos iniciando

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Jogo gente grande de

AS EMPRESAS DE REDES SOCIAIS LATINO-AMERICANAS APOSTAM NOS SOCIAL GAMES PARA EXPANDIR OS NEGÓCIOS

ocê gostaria de se transformar em uma reconhecida designer de moda? Ser dona de uma loja e criar suas próprias coleções? Ver como, pouco a pouco, seu império no mundo fashion vai crescendo? Agora você pode fazer tudo isso, sem sair de seu escritório. Essa é a proposta do Satisfashion, um jogo online relançado no final de janeiro pela Quepasa, a rede social focada na comunidade latina. A Quepasa Corp. segue o movimento de outras redes sociais ao apostar nos chamados social games para crescer em número de usuários e em receita financeira. Para isso, começou a arrecadar fundos no mercado. Em dezembro passado, conseguiu US$ 12,9 milhões após a venda de 1,7 milhão de ações. Parte dos recursos foi destinada à compra da brasileira TechFront, que desenvolve jogos online para a plataforma Orkut, por meio da qual a empresa conseguiu, no início de janeiro, um acordo que envolveu o desembolso de aproximadamente US$ 4 milhões. “Grande parte das pessoas que usam redes sociais o faz para jogar. Na América Latina, há uma escassez de jogos relevantes para o público local”, afirma John Abbott, CEO da empresa. Hoje, a versão beta do Satisfashion pode ser en-

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contrada no Orkut e na Quepasa, mas o desafio é estendê-lo a outras redes sociais, como Facebook e Hi5. Para Abraham Llández, analista da Select, consultoria mexicana especializada em tecnologias de comunicação, os jogos colaboram para o sucesso das redes sociais: “É uma indústria que vem crescendo e tem obtido muito sucesso”. Segundo a PricewaterhouseCoopers (PwC), o uso de jogos nas redes sociais é um dos fatores mais relevantes para o crescimento da internet, superando até o uso do e-mail. Rafael Ruano, sócio de consultoria da PwC Chile, diz que os social games ainda têm uma margem muito importante de crescimento nas redes sociais. O executivo prevê que, nos próximos dois anos, eles terão altas entre 35% e 50% ao ano. Uma das características dos jogos sociais é que eles demandam uma alta atenção por parte do usuário, já que essa é a única forma de continuar avançando. Segundo a Select, um usuário médio conecta-se mais de cinco vezes por dia. “Os jogos são uma forma de fidelizar o público”, diz Llández. E é exatamente essa atenção que também permite o desenvolvimento do negócio: o jogo pode ser acessado gratuitamente, mas, para continuar avançando e obter mais reconhecimento, é preciso pagar. “É uma plataforma aberta, que

Imagem: Shutterstock com montagem de AméricaEconomia

PATRICIA ZVAIGHAFT, DE SANTIAGO

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pode ser acessada em qualquer rede social. Mas o negócio é a microtransação”, afirma Abbott. De acordo com o executivo, na América Latina, quem joga em redes sociais gasta uma média mensal de US$ 10. Segundo Ruano, da PwC Chile, o uso de jogos supõe, tanto para o produtor do jogo quanto para o site social, um ganho monetário importante, seja pela compra de tempos ou recursos para jogar, seja pela publicidade em torno do jogo.

Segundo a empresa, em 2010, a Quepasa aumentou em 255% a base de seguidores e chegou a 27,1 milhões de usuários, principalmente no Brasil e no México. “A Quepasa conseguiu uma participação importante no mercado hispanoamericano”, afirma Llández. O motivo é a necessidade de comunicação dos imigrantes com suas famílias e amigos em seus países de origem. Abbott, CEO da Quepasa, explica o crescimento principalmente com base nos concursos, que oferecem prêmios. GRANDES USUÁRIOS “Conecte-se, jogue e ganhe” é o slogan. Até agora, a Quepasa A América Latina tem condições ideais para o crescimenapostou em distribuir jogos desenvolvidos por terceiros, como to desse tipo de empreendimento. De acordo com a cono Satisfashion. Com a compra da TechFront, terá o desafio de sultora americana Comscore, mais de desenvolver jogos próprios. O primei80% dos latino-americanos que se coro, diz Abbott, deverá estar pronto no nectam à internet o fazem para acessar segundo trimestre. as redes sociais; acima dos 70% da méMas uma das lições da primeira dia mundial. onda de negócios digitais é que uma A Sonico busca essa mesma oportucoisa é crescer em usuários, e outra é nidade. A rede social foi desenvolvida ganhar dinheiro. Sob esse aspecto, a pelo argentino Rodrigo Teijeiro, e atuQuepasa tem bons números. No terdos latino-americanos ceiro trimestre do ano passado, teve almente tem mais de 50 milhões de usuários. “Estamos desenvolvendo novas uma receita de US$ 2,7 milhões, um usam a internet para aplicações relacionadas a social games. O crescimento de 135% em relação ao acessar as redes sociais período anterior. potencial é enorme”, afirma Teijeiro.

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opinião

ma das frases mais famosas do financista Warren Buffet diz que “é apenas quando a maré baixa que descobrimos quem está nadando pelado”. Essa ideia ilustra bem a atual situação econômica da América do Sul. A região é notória produtora de commodities. Chile e Peru produzem metais. Paraguai, Uruguai e Argentina, carnes e grãos. Venezuela e Bolívia, commodities energéticas (petróleo e gás natural). E o Brasil, um pouco de cada, com mais ênfase em minério de ferro, soja e petróleo. Dessa forma, os países sul-americanos vêm se beneficiando enormemente do ciclo de alta dos preços internacionais desses produtos, que já dura quase 10 anos: de 2002 ao primeiro trimestre de 2011, o índice do Commodity Research

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CAIO MEGALE é mestre em Economia pela PUC-Rio e economista do Itaú BBA (megalecaio@gmail.com)

Bureau (CRB) – que faz uma média dos preços dos diversos tipos de commodities – subiu em termos reais nada menos que 80%! Que surpresa para os adeptos da antiga tese da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe) de que os preços dos bens primários estavam condenados a cair sistematicamente ao longo do tempo. Essa forte ajuda da conjuntura global tem feito com que o desempenho econômico de curto prazo dos diversos países de nosso continente seja positivo. Na média dos últimos anos, o crescimento econômico tem ficado entre 4% e 5% ao ano, o endividamento interno e externo vem caindo, e a inflação anual, com algumas exceções, permanece em um dígito. Isso significa que os diversos países da região vêm conduzindo uma boa política macroeconômica? A resposta é não. Voltando à frase de Buffet, as commodities funcionam como uma maré alta, que encobre inconsistências de gestão econômica preocupantes em alguns países. É o caso de Argentina e Bolívia. Apesar do bom crescimento recente, o governo não tem sido capaz de gerar um ambiente convidativo ao investimento produtivo privado, e, portanto, não há aumento do crescimento potencial de suas economias, que acabam ficando cada vez mais “viciadas” em commodities em alta. Na Argentina, os sinais de esgotamento dessa capacidade estão ficando claros, especialmente no campo energético. Apagões são frequentes, e a inflação, inevitável. Por outro lado, Chile, Peru, Colômbia e Brasil continuam a experimentar expansão de investimentos e do comércio exterior, o que tende a gerar condições para que suas economias sigam firmes, ainda que o ciclo de commodities se reverta. Será quando (e se) o preço das commodities cair, que descobriremos quem nada pelado, ou seja, a inconsistência e o populismo apresentarão sua conta. Essa realidade ainda não parece próxima. Por um lado, há uma clara tendência de aumento da demanda por commodities de países emergentes. Por outro, a catástrofe natural que se abateu sobre a economia japonesa exige um imenso esforço de reconstrução de suas estruturas, pressionando especialmente preços de metais e grãos, assim como as questões geopolíticas que envolvem os países no Norte da África e do Oriente Médio geram aumento do custo de petróleo e seus derivados. Dessa forma, a alta das commodities tende a durar um bom tempo. É importante que a política econômica dos países beneficiados aproveite esse movimento para construir as bases para o futuro, em vez de se tornar cada vez mais dependente da ajuda da conjuntura externa.

Ilustração: Samuel Casal

Preço das commodities e o futuro da América do Sul

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