Nº 404Edição Brasil

Page 1

Nº 404 Outubro/2011

BB lidera o Ranking dos Maiores Bancos da América Latina RIO DE JANEIRO O ESTADO SE TORNA O PRINCIPAL DESTINO DE INVESTIMENTOS DO PAÍS www.americaeconomiabrasil.com.br

CARROS CHINESES DEPOIS DE MUITO BARULHO, A HORA DA VERDADE

Maiores Bancos da América Latina

A estratégia das instituições financeiras brasileiras para continuar a engordar o caixa

AE 404 capa FINAL V2.indd 1

ISSN 1414-2341

250 OUT./2011 R$ 10,00 No 404 4

AméricaEconomia

MAIORES E MELHORES BANCOS DA AMÉRICA LATINA

BRASIL

28.09.11 19:17:19



Estamos aqui para garantir que suas viagens

Onde o objetivo encontra a facilidade

.cnI lanoitanretnI ttoirraM 1102© BASE PAGINA COMPLETA.indd 2-3

Aproveite mais nos hotéis Marriott

sejam tudo o que você imaginou – e muito mais.

Visite-nos para mais informações Experimentemarriott.com.br London Marriott Hotel Grosvenor Square

Beijing Marriott Hotel City Wall

28/09/2011 19:13:09


nesta edição Negócios

1

24 30 36 40

Carros chineses Momento de enfrentar a concorrência Aula de espanhol Empresas do Brasil invadem a América Latina Estratégia agressiva P&G planeja dobrar de tamanho até 2015 ESPECIAL Rio de Janeiro Estado desponta com aportes bilionários

Debates

48 Seções Portal Carta ao Leitor Cartas/Índice de Empresas

Cloud computing Combate ao crime ganha novas tecnologias Controle da mídia PT retoma proposta de cercear a imprensa Implantação de cartórios Brasileiros exportam know-how para haitianos Escândalos da era Uribe Denúncias ameaçam atingir ex-presidente

24

Pistas Negócio Fechado Movimentos Opinião – Mac Margolis Opinião – Caio Megale Ibiz Opinião – Luiz Fernando Furlan

Finanças

68 90

2

Comércio intrarregional Cepal discute alternativas à crise mundial

CAPA Ranking de bancos Conheça as 250 maiores instituições da AL Títulos do Tesouro em alta Maior rendimento atrai investidores

Foto de Capa: Shutterstock

Fotos: 1 - David McNew/Getty Images; 2 - Wang Jianmin/AFP

08 10 12 14 16 18 34 88 94 98

48 54 58 62 64 66

Guerra contra as drogas EUA patinam na busca por solução

06 AméricaEconomia Outubro, 2011

AE 404 Nesta Edio.indd 2

27.09.11 21:01:55


JULES AUDEMARS EXTRA-THIN L E B R A S S U S ( VA L L É E D E J O U X ) - S U I Ç A - a u d e m a r s p i g u e t . c o m

BASE PAGINA COMPLETA.indd 1

23/09/2011 17:23:52


portal

www.americaeconomiabrasil.com.br

Energia renovável é a aposta dos italianos As companhias italianas estão buscando parcerias com empresas da América Latina, principalmente brasileiras, para investir em biocombustíveis. Para o diretor-geral de Energia do Ministério do Meio Ambiente da Itália, Corrado Clini, os biocombustíveis representarão de 25% a 30% do consumo total de combustíveis para transporte nos próximos 20 anos. A região está em primeiro plano na expansão desse setor. Como os preços do petróleo se mantiveram elevados, e os governos lançaram medidas para impulsionar tipos de energia menos prejudiciais ao meio ambiente, os biocombustíveis se tornaram mais populares. Segundo Clini, há recompensa financeira para tais investimentos. O Ministério registra retorno de até dez vezes os gastos iniciais em fontes renováveis de energia na América Latina.

Siga o site da AméricaEconomia no Twitter: twitter.com/AEBrasil

LEIA NO PORTAL América Latina para turistas As belezas latino-americanas estão em alta. O turismo nos países da região cresceu 15% no primeiro semestre de 2011, em relação ao mesmo período do ano passado. Os dados são da OMT (Organização Mundial do Turismo), órgão das Nações Unidas. Já no Oriente Médio e na região norte da África, o movimento de turistas caiu, devido aos conflitos políticos locais. Os dados confirmam que, apesar dos desafios, o setor segue a tendência de crescimento, após a queda sofrida em 2009, um dos anos mais difíceis para o turismo.

Dívida histórica A Rede Latino-Americana de Organizações da Sociedade Civil pela Educação, formada por entidades de 13 países da região, busca estratégias para melhorar a educação latino-americana. A ideia é formar um banco de experiências em políticas públicas que tiveram bons resultados. Para o ministro da Educação do Brasil, Fernando Haddad, existe uma “dívida histórica” com a educação e os países devem trabalhar juntos para melhorar o ensino. A rede conta com empresários e setores da sociedade civil.

Para pressionar o Congresso dos Estados Unidos a aprovar o projeto de criação dos TLCs (Tratados de Livre Comércio), assinado em 2006 e bloqueado na Casa, o presidente Barack Obama vem defendendo que “é hora de abrir caminho para uma série de tratados comerciais” que facilitariam a venda de produtos das empresas americanas em países como Panamá e Colômbia. Os parlamentares questionam as condições trabalhistas.

Foto: Shutterstock

Tratados contra a concorrência global

8 AméricaEconomia Outubro, 2011

AE 404 portal.indd 2

9/27/11 4:40:49 PM


Job: CARLOS-EINTEIN -- Empresa: Z+ Comunicação -- Arquivo: EINSTEIN-30-9-20X26.6-RANKING_pag001.pdf

Registro: 49722 -- Data: 19:14:16 30/09/2011


carta ao leitor

Caixa cheio BRASIL www.americaeconomiabrasil.com.br

PUBLISHER José Roberto Maluf

E

sta edição de AméricaEconomia costuma ser uma das mais comentadas do ano. Afinal, é nela que publicamos o ranking dos

250 Maiores Bancos da América Latina, realizado há dez anos por AméricaEconomía Intelligence. A versão 2011 do estudo compro-

CONTEÚDO Diretora de Redação: Tatiana Engelbrecht Editora Executiva: Paula Pacheco Diretora de Arte/Projeto Gráfico: Janaína Diniz Repórter: Graziele Dal-Bó Editora do Site: Adriana Chaves Revisão: Assertiva Produções Editoriais Produção Gráfica: Eduardo Keppler Colaboradores: Fernando Morra (assistente de arte), Francisco Lobo (infografia) e Vértice Translate (tradução)

va o bom momento do setor na região, mesmo diante da possibili-

COMERCIALIZAÇÃO Diretor Comercial: Eduardo Colturato – eduardo.colturato@springcom.com.br Executivos de Contas: Nagibe José Adaime – nagibe@springcom.com.br Samantha Martinez – samantha@springcom.com.br Simone Oliveira – simone@springcom.com.br

30%, ultrapassando US$ 24 bilhões.

MARKETING Marcia Leonardi e Elisangela Goto ADMINISTRATIVO/FINANCEIRO Diretor Executivo: Eduardo Colturato Gerente Financeiro: Edison Arduino CIRCULAÇÃO Rafael Borsanelli e Fatima Oliveira

dade de uma nova crise mundial. Descolados da indústria financeira global, os bancos latino-americanos alcançaram resultados recordes, com 33% de alta em seus ativos, que somaram US$ 4 trilhões, nos 12 meses terminados em junho de 2011. Já os lucros anuais dessas instituições no mesmo período cresceram cerca de O Brasil, mais uma vez, não desapontou e ocupa as cinco primeiras posições no ranking, nada mal. O Banco do Brasil repetiu a boa performance de 2010 e conseguiu se segurar na primeira posição, seguido pelo Itaú Unibanco. Mas, se o primeiro lugar do ranking dos 250 maiores não teve surpresas, o mesmo não se pode dizer da lista com os 25 Melhores. Neste ano, o Itaú Unibanco estreia no topo do pódio, desbancando o Santander de Santiago. Além dos principais números do setor, o especial inclui uma

Pré-impressão: First Press Periodicidade: Mensal (Outubro de 2011) CTP, impressão e acabamento: IBEP Gráfica

reportagem sobre as estratégias que os maiores bancos brasileiros

Circulação auditada por:

o crescimento da demanda por crédito no país.

SPRING EDITORA-PRODUTORA Rua Ferreira de Araújo, 202, 7o andar – CEP: 05428-000 São Paulo/SP – Tel.: 11 3097-7666 Site: www.springcom.com.br E-mail: contato@springcom.com.br AMÉRICAECONOMÍA INTERNACIONAL Diretor: Elias Selman Carranza Vice-presidente Executiva: Gloria Landabur C. Diretor Editorial: Felipe Aldunate M. Editores: Fernando Chevarría (Lima), Juan Pablo Rioseco e Carlos Tromben (Santiago), Karen Correa e Pamela Velasco (Guaiaquil) Diretor de Arte: Álvaro Araya Urquiza Editor de Fotografia: Miguel Candia Chefe de Operações: Matías Agurto AMÉRICAECONOMÍA INTELLIGENCE (Estudos e Projetos Especiais) Diretor: Jaime Contreras Soria Pesquisador Sênior: Andrés Almeida Analista: Catherine Lacourt e Rodrigo Dorn AMÉRICAECONOMIA.COM Diretor de Estratégia Digital: Rodrigo Guaiquil Editor: Lino Solis de Ovando ESCRITÓRIOS Buenos Aires: +5411 4383-8410 Cidade do México: +5255 5254-2400 Costa Rica: +506 225-6861 Lima: +511 610-7272 Miami: +305 648-9071 Panamá: +507 271-5327 Santiago: +562 290-9400 Uruguai: +5982 901-9052 Chairman: Robert R. Paradise

estão colocando em prática para manter a boa fase, aproveitando A tentativa do governo de restabelecer a censura aos meios de comunicação, o especial sobre a enxurrada de investimentos no Rio de Janeiro, os desafios dos automóveis chineses no mercado nacional e a aposta da polícia latino-americana em tecnologia para combater o crime são outros temas desta edição. Boa leitura. José Roberto Maluf

ASSINATURAS Central de Atendimento Tel.: 55 11 3512-9492, de 2a a 6a feira, das 9h às 18h. Site: www.assineamericaeconomia.com.br. Atendimento: www. assineamericaeconomia.com.br/faleconosco. Cartas: Rua Ferreira de Araújo, 202 – 12o andar – CEP 05428-000 – São Paulo/SP Valores de assinatura: Por 1 ano: R$ 96,00 / Por 2 anos: R$ 170,90 Pagos em até 5x no cartão de crédito ou em até 3x no boleto bancário (preço válido para as vendas realizadas pela Central de Atendimento e pelo website da revista). Exemplares anteriores: solicite diretamente ao jornaleiro. Em caso de descontinuação da publicação, a Spring Editora-Produtora LTDA. garante aos assinantes desta publicação a restituição, em reais, da parte do valor já pago correspondente aos exemplares não entregues, devidamente corrigida monetariamente. Ao fazer sua assinatura, exija a credencial do vendedor e pague sempre com cheque nominal, mediante recebimento da primeira via de nosso pedido de assinatura.

10 AméricaEconomia Outubro, 2011

AE 404 carta ao leitor V2.indd 2

29.09.11 14:42:04


Compromisso com o cliente. Soluções globais. Total conectividade. Maximizando suas oportunidades. Isto é retorno no relacionamento.

“Bank of America Merrill Lynch” é o nome comercial para os negócios de banco global e mercados globais do Bank of America Corporation. Empréstimos, derivativos e outros produtos e serviços de banco comercial são conduzidos globalmente por uma afiliada do Bank of America Corporation, incluindo Bank of America, N.A., membro FDIC. Valores mobiliários, assessoria estratégica e outros produtos e serviços de banco de investimento são conduzidos globalmente por um banco de investimento afiliado do Bank of America Corporation (“banco de investimento afiliado”), incluindo, nos Estados Unidos, Merrill Lynch, Pierce, Fenner & Smith Incorporated e Merrill Lynch Professional Clearing Corp., membros da FINRA e SIPC, e em outras jurisdições por entidades registradas localmente. Produtos de investimentos oferecidos por afiliadas de banco de investimento: não estão assegurados pela FDIC; podem perder valor; não são garantidos pelo banco. ©2011 Bank of America Corporation


cartas

índice de empresas Os números referem-se à primeira vez em que as empresas são citadas em cada reportagem. * Não constam as instituições presentes no Ranking de Bancos.

AGRADECIMENTO Gostaria sinceramente de agradecer à equipe da revista AméricaEconomia, em especial à jornalista Graziele Dal-Bó, pela entrevista publicada comigo na edição de agosto. Ficou excelente! (“Clube do Milhão”, América Economia, nº 402). CARLOS FERREIRINHA, PRESIDENTE DA MCF CONSULTORIA, BRASIL

ENTREVISTA Na edição número 402 de AméricaEconomia, agosto de 2011, mais especificamente no texto “Meu Melhor Conselho”, incluído no Especial Mulheres 2011, causou-me surpresa o que foi escrito sobre a situação das empresas assumidas por mim em 1977. A frase diz: “Isso lhe deu forças para recuperar as ruínas que seu ex-marido, Isidro Romero, conhecido dirigente esportivo, havia deixado”. Gostaria de esclarecer que o grave estado financeiro das empresas que comecei a liderar na ocasião devia-se a fatores como o ambiente econômico do Equador (estávamos à beira do feriado bancário que congelou os fundos de todos os correntistas do país) e outros pouco previsíveis, como o fenômeno El Niño, que causou grandes estragos nos cultivos de cana, afetando diretamente a produção de nossa principal indústria, a Compañía Azucarera Valdez. Quero deixar claro que, em nenhum momento, responsabilizei o engenheiro Isidro Romero por nossos problemas financeiros. Estamos certos de que esse erro será esclarecido na próxima edição de sua prestigiada revista. ISABEL NOBOA DE LOOR, PRESIDENTE EXECUTIVA DO GRUPO NOBIS, EQUADOR

Fale com a redação: Envie sugestões e comentários para a revista AméricaEconomia Brasil:

americaeconomia@springcom.com.br

ADK Automotive 27 Allianz 42 Alpargatas 32 Ambev 31 Anhanguera Educ. 17 Apple 96 Asia Pulp & Paper 21 Austing Rating 80 Baker Hughes 42 Banco do Brasil 80 Banco Patagonia 83 Banco Real 86 BBVA 69 Belltech 95 Bertin 16 BG 42 Blanver 23 BM&FBovespa 90 BNY Mellon 16 Bradesco 80 Brasil Foods 18 BuscaPé 31 Caixa Econ. Federal 80 Camargo Corrêa 31 Capital Markets 92 Carrefour 87, 96 Casa & Vídeo 16 Casas Bahia 83 Cathay 21 Chartis 42 Chemtech 42 Chery 25 Chevrolet 26 CIMC Raffles 43 Citroën 26 CMA 94 Coinvalores 80 Concórdia Corretora 83 Corret. Renascença 91 Cushman & W. 44 Custódia 90 Deutsche Bank 68 Disney 19 Dow Brasil 20 Editora Abril 86 Effa 26 EMC 42 Ericsson 32 Espalhe M. Guerrilha 19

Facebook 19 Fiat 25 Flacso 59 FMC Tec. 42 Ford 25, 32 Foxconn 96 Gartner 95 GE 42 Gerdau 44 GM 25, 32 Grupo Clarín 63 Grupo Dass 32 Halliburton 42 Hamilton Lane 14 Hay Group 23 Honda 26 Honghua 43 Hosp. Albert Einstein 19 Hosp. Sírio Libanês 19 Hospital das Clínicas 19 HRT 43 HSBC 69 Huawei 96 IDC 61, 95 Inntech 61 Insper 20 International Paper 17 Itaú Unibanco 70 JAC 25 JBS-Friboi 18 Job Design Criativo 23 Johnson & Johnson 19 Kaiser Associates 25 Keystone Foods 17 Kraft 19 Lehman Brothers 70, 88 Lide 22 Lockton 42 Lojas Americanas 83 Lojas Colombo 84 Magazine Luiza 83 Marfrig 17, 31 Marisa 83 Martin-Browner 17 Mercedes-Benz 26 Microsoft 59 Motorola 61, 96 Moura 31 MPX 16

Nokia 96 Odebrecht 32 OGX 43 Orkut 19 P&G 36 Pagamento Digital 31 Pão de Açúcar 83, 96 Pátria Invest. 17 Penalty 32 Petrobras 20, 42 Peugeot 26 Polo Capital 16 Queiroz Galvão 43 Qumulos 59 Rent a Box 20 Roland Berger 25 Rolls-Royce 42 Santander 69 Saveme 31 Schahin Cury 43 Schlumberger 42 Shandong Kerui 43 Shell 43 Siemens 32, 42 Socopa Corretora 91 Sodexo 16 Sonda 59 Statoil 43 Stefanini 32 Talent 22 Temple-Inland 17 Tenaris Confab 42 The Wall St. Journal 96 The Washington Post 67 Tivit 32 Topper 22 Totvs 32 Toyota 26 Trevisan 86 Uniban 17 Unilever 36 Usiminas 42 Vale 18 Viajanet 31 Volkswagen 25 Volvo 26 Vtex 31 Vulcabras 32 ZPMC 43

12 AméricaEconomia Outubro, 2011

AE 404 cartas ind empresas.indd 2

28.09.11 16:55:35


pistas

Fundos apostam

no Brasil

PUBLICAMOS • Segundo o estudo “A Indústria de Private Equity e Venture Capital – 2º Censo Brasileiro”, divulgado em junho pelo GVcepe e pela ABDI (Associação Brasileira de Desenvolvimento Industrial), os recursos disponíveis para serem investidos no Brasil chegaram a US$ 36 bilhões em 2009, sete vezes mais do que existia no começo dos anos 2000 (US$ 5 bilhões). Estima-se que outros US$ 20 bilhões devam ser captados por esses fundos até 2012. (“Um Negócio Bilionário”, AméricaEconomia, n0 403, setembro 2011) O NOVO • A consultoria de private equity Hamilton Lane planeja abrir um escritório no Rio de Janeiro para atuar como gestora de ativos no Brasil. O grupo tem sede na Filadélfia e US$ 110 bilhões em ativos sob sua administração. “O Brasil é peça fundamental no cenário global de private equity”, explica Mario Giannini, diretor executivo. A Hamilton Lane vem investindo no Brasil há algum tempo e agora quer potencializar os resultados.

Nos trilhos PUBLICAMOS • A expansão da economia brasilei-

PUBLICAMOS • Por trás das placas que estampam o preço do etanol a mais de R$ 2 está um complicado desarranjo na cadeia produtiva, que começa nos canaviais e usinas espalhados pelo país e termina nos gabinetes do governo em Brasília. Não há cana-de-açúcar em volume suficiente para atender a demanda de etanol, e não existe uma política de combustíveis clara para o setor. O déficit de oferta do combustível chega a 5 bilhões de litros. (“O Etanol em Xeque”, AméricaEconomia, n0 399, maio 2011)

O NOVO • Para garantir o abastecimento de etanol e tentar conter a alta de preços, o governo decidiu reduzir de 25% para 20% a proporção da mistura de álcool anidro na gasolina. Por causa da mistura, o aumento do preço do etanol vinha impactando a alta da gasolina.

O NOVO • As equipes da presidente Dilma Rousseff e do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, retomaram a ideia do Ferroanel: a construção de um trecho de 66 quilômetros entre Campo Limpo Paulista (por onde passam os trens vindos de Campinas) e Engenheiro Manoel Feio (a caminho do porto de Santos). O chamado Tramo Norte deverá seguir o traçado do Rodoanel Norte, a partir da estação Perus.

Fotos: Shutterstock

Mais fôlego para o etanol

ra, os eventos que o país receberá nos próximos anos e a necessidade de melhorar a mobilidade urbana têm impulsionado um setor que, por décadas, ficou praticamente esquecido no Brasil: o metroferroviário. Se a previsão do governo e da iniciativa privada se confirmar, serão investidos, nos próximos anos, algumas dezenas de bilhões de reais na área. A iniciativa privada – tanto nacional quanto estrangeira – está atenta ao momento favorável e vê no país uma oportunidade para aumentar a receita e ampliar os negócios com o crescimento da demanda por vagões e locomotivas. (“Investimentos a Todo Vapor”, AméricaEconomia, n0 403, setembro 2011)

14 AméricaEconomia Outubro, 2011

AE 404 pistas.indd 2

9/27/11 4:42:24 PM


ESTÁ NA HORA DE ELEVAR AS SUAS EXPECTATIVAS INTRODUZINDO O NOVO FALCON 2000S DE 3.350 MN Finalmente, uma aeronave de cabine grande com a agilidade e eficiência de um jato menor a um preço médio. É aquele pelo qual você tem esperado. O novo Falcon 2000S tem tudo isto. Conforto inigualável. Desempenho insuperável. E um valor imbatível.

Eleve as suas expectativas. Acesse o site www.falcon2000S.com.

Brasil +55.11.3818.0992 U.S. +1.201.541.4600


negócio fechado MPX

Negócios com a Bertin A MPX, empresa de energia de Eike Batista, comprou, no início de setembro, dois projetos pertencentes à Bertin Energia: o UTE MC2 João Neiva e o UTE MC2 Joinville. Com essa aquisição e a capacidade contratada no leilão de energia A-3, o Complexo Termelétrico MPX Parnaíba passa a ter 1.175 megawatts e conta ainda com licença ambiental para a implantação de 2.547 MW adicionais. Do total desembolsado, R$ 183,4 milhões, 70% foi pago pela MPX e 30% pela Petra Energia. VALOR: R$ 183,4 milhões

CASA & VÍDEO

SODEXO

Nova dona da Puras A empresa de refeições coletivas Sodexo pagou € 525 milhões (cerca de R$ 1,2 bilhão) para ficar com o controle da Puras, segunda maior companhia do setor no país. Com o negócio, o grupo francês passa a ter um faturamento anual de cerca de R$ 2 bilhões no Brasil e tira o primeiro lugar da GRSA no mercado nacional. O fundador da Puras, Hermes Gazzola, ficará na presidência do Conselho de Administração das operações locais da Sodexo no segmento de refeições coletivas.

O Austra FIP, fundo de investimento sob gestão da Polo Capital e administrado pelo BNY Mellon Serviços Financeiros, passou a ser acionista da rede de varejo Casa & Vídeo. Pelo acordo, Fábio Carvalho permanecerá como acionista e presidente da empresa. O montante aportado na rede não foi revelado, mas deve ajudar a varejista a saldar as dívidas acumuladas por causa de um processo judicial. Em 2008, as lojas da Casa & Vídeo foram fechadas pela Polícia Federal sob acusação de sonegação fiscal. A reestruturação da dívida – que passou de R$ 280 milhões para R$ 100 milhões – ocorreu no ano seguinte. O vencimento das primeiras parcelas será em julho de 2012. VALOR: Não revelado

VALOR: € 525 milhões

Fotos: Shutterstock

Aporte da Polo Capital

16 AméricaEconomia Outubro, 2011

AE 404 negocio fechado2 V1.indd 2

9/27/11 4:28:58 PM



movimentos

União na AL para vender aos árabes

1

A Câmara de Comércio ÁrabeBrasileira decidiu mobilizar os países sul-americanos para que também se organizem na forma de associações. Atualmente, além do Brasil, apenas a Argentina tem uma entidade similar, voltada ao fomento de negócios com os países árabes. A experiência brasileira pode ser motivadora aos vizinhos. De janeiro a julho, segundo Michel Abdo Alaby, diretor geral da Câmara, o fluxo comercial entre o Brasil e os países árabes aumentou 36% em relação aos primeiros sete meses de 2010. “Queremos puxar os países da Améri-

ca do Sul para encontrar o caminho do comércio”, diz. A previsão, segundo Alberto Pfeifer, executivo da entidade, é que dentro de dois anos também tenham suas câmaras o Chile, o Uruguai, o Paraguai, a Colômbia, o Peru e a Venezuela. O passo seguinte é uma associação sul-americana, a exemplo do que existe em outras regiões. Entre os principais exportadores brasileiros para a região estão a Vale, a Brasil Foods e a JBS-Friboi. Em julho deste ano, o Irã passou a Rússia entre os maiores compradores da carne nacional in natura.

18 AméricaEconomia Outubro, 2011

AE 404 movimentos3 V2.indd 48

29.09.11 14:48:42


Fotos: 1 - Duda Pinto/AFP; 2 - Divulgação

Receita de saude A Johnson & Johnson Medical Companies (divisão da multinacional americana voltada aos dispositivos médicos e diagnósticos) recorreu aos profissionais do Disney Institute para fazer uma série de seminários nos países da região, como Brasil, Colômbia, México e Chile. A iniciativa faz parte de um projeto da empresa voltado a soluções para os profissionais de saúde. São palestras e softwares que permitem aos hospitais, por exemplo, melhorar questões como qualidade clínica, segurança do paciente e administração de custos. Segundo pesquisa feita entre presidentes de hospitais de nove países da América Latina, a satisfação do paciente é o segundo indicador de desempenho mais importante, daí a parceria com a Disney, modelo de atendimento ao cliente. Jose Maria Amorim, vice-presidente da divisão para a América Latina da Johnson, lembra que um dos problemas no setor da saúde é a qualidade dos serviços médicos. “É preciso entender como melhorar esses serviços e reduzir os custos. Os governos querem dar mais acesso à saúde, mas sem um aumento exponencial das despesas. Nós procuramos apontar formas de melhorar a qualidade e trazer outros ganhos. A melhora no atendimento permite que se atenda mais pacientes”, explica Amorim. O serviço é gratuito e atende tanto hospitais públicos quanto privados. No Brasil, entre os participantes dos seminários, estiveram o Hospital Albert Einstein, o Sírio-Libanês e o Hospital das Clínicas.

Por um punhado

de balas As empresas, que antes dependiam de institutos de pesquisa e departamentos de marketing sempre atentos aos desejos dos consumidores, aderiram com força às redes sociais. É o caso da Kraft, que decidiu relançar o Halls no sabor uva verde depois de uma mobilização no Orkut e no Facebook. O produto saiu de linha em outubro do ano passado. Segundo Vinicius Pan, gerente de Marketing da Categoria Balas da Kraft Foods Brasil, o rodízio de sabores é comum. “Há uma limitação de espaço no ponto de venda e na linha de produção”, explica. Os órfãos da bala mobilizaram-se nas redes sociais e convenceram a empresa a retomar a produção. O confeito voltou a ser vendido no mês passado. Diego Barrabas, de São João do Meriti (RJ), foi quem liderou o movimento no Orkut. O operador de tráfego propôs: “Temos de fazer uma rebelião (...)”. Barrabas e outros três consumidores (um deles escolhido pela Fan Page de Halls no Facebook) serão homenageados com bustos feitos por artistas plásticos (foto abaixo), construídos com matérias-primas da bala da Kraft. Gustavo Fortes, sócio da Espalhe Marketing de Guerrilha, responsável pela campanha, diz que o segredo para se comunicar nas mídias sociais é gerar assunto. “Mais do que clientes, são fãs que vão defender e passar sua marca para frente”, avalia.

2

Outubro, 2011 AméricaEconomia 19

AE 404 movimentos3.indd 49

9/27/11 5:07:21 PM


movimentos

TODO PODER ÀS MULHERES Discutir o papel das mulheres na sociedade e, sobretudo, no mundo corporativo, foi a proposta do Fórum Mulher, realizado pela Dow Brasil, em 30 de agosto, em São Paulo. O evento reuniu participantes de peso, como a executiva americana Carol Williams, vice-presidente da divisão de Chemicals & Energy da Dow; a Ph.D. em Economia pela Universidade de Illinois e professora do Insper Regina Madalozzo, que estuda o mercado de trabalho com foco nas mulheres; Maria das Graças Silva Foster (foto), diretora de 3

Gás e Energia da Petrobras; e Maria Fernanda Teixeira, presidente do Grupo Executivo Mulheres de São Paulo. Apesar de reconhecer as conquistas femininas, os debatedores concordaram que ainda há um longo caminho até que as condições entre homens e mulheres no mercado de trabalho sejam iguais, principalmente em relação ao salário e à proporção de profissionais do sexo feminino que ocupam cargos de liderança. Segundo Regina Madalozzo, no Brasil, os homens ainda ganham 17% a mais que as mulheres – e, quanto mais elas estudam, maior é essa diferença. Já em relação à proporção de mulheres em conselhos de administração, o índice no país é de 5,1%. Na Noruega, que tem uma das maiores taxas mundiais, essa participação chega a 39,5%. Em meio à discussão sobre as dificuldades encontradas pelas mulheres, a executiva da Petrobras fez o contraponto. Maria das Graças, que ocupa um dos mais altos cargos da estatal, disse que é preciso considerar a disposição das mulheres em se dedicar à carreira. “Para chegar a posições de liderança, é preciso que a mulher esteja 100% à disposição da empresa, como acontece com os homens. Isso muitas vezes não é realidade. Tenho minha família, mas minha prioridade sempre foi o trabalho e a Petrobras”, ressaltou. “Muitas mulheres chegam até certo ponto da carreira, mas no momento em que a empresa precisa que ela tenha experiências em outro país, por exemplo, a vida pessoal fala mais alto, e isso faz com que elas próprias estabeleçam limites a seu crescimento profissional”, ressaltou.

Nem só de alegria é feita a vida dos brasileiros que conseguem realizar o sonho da casa própria. Muitas vezes, as obras do apartamento adquirido na planta atrasam, e é preciso deixar o imóvel onde se está morando antes da entrega da casa nova. Uma alternativa pode ser se mudar para um flat, mas o que fazer com os móveis? Um serviço ainda bem pouco conhecido no Brasil começa a ganhar terreno como solução para alguns desses transtornos cada vez mais comuns: o self storage, ou guarda-móveis. Criada em 2005, em São Caetano do Sul (Grande São Paulo), a Rent a Box tem expandido suas atividades na capital paulista, com filiais nos bairros do Limão (zona norte), Belenzinho (zona leste) e Interlagos (zona sul). A empresa oferece boxes de tamanhos entre 2 e 100 metros quadrados para pessoas físicas e jurídicas, a partir de R$ 152 por mês. “Há mais de 50 mil empresas de self storage nos Estados Unidos, mas aqui o número é incipiente. Quando começamos, quase ninguém conhecia o serviço. Hoje, há cerca de 30 empresas no Brasil”, afirma a gerente de Marketing da Rent a Box, Márcia Fruchtengarten. Graças a estratégias de divulgação online, a Rent a Box alcançou 80% de ocupação, com potencial de faturar R$ 100 mil por mês.

Fotos: 3 - Agência Petrobras; 4 - Divulgação; 5 - Fábio Ura

Fim da falta de espaço

20 AméricaEconomia Outubro, 2011

AE 404 movimentos3 V2.indd 50

29.09.11 14:49:11


FÁBRICA DA APP, EM HAINAN, NO SUL DA CHINA

4

Planos só no papel As dificuldades impostas à compra de terras brasileiras por estrangeiros, a disputa com as fabricantes locais e a novela do Código Florestal fizeram a Cathay, subsidiária brasileira da APP (Asia Pulp & Paper), uma das maiores produtoras de papel e celulose do mundo, adiar os planos de construir uma fábrica de celulose no país. Embora o Brasil tenha potencial de consumo – enquanto nos países desenvolvidos o consumo per capita anual de papel é de 300 quilos, no Brasil esse número não chega a 50 quilos –, a multinacional, com sedes na China e na Indonésia, está receosa com os rumos do setor no país. Além dos entraves mencionados, em maio, o governo aumentou a lista dos tipos de papel que não terão mais licenças automáticas. “Não somos uma ameaça, mas sim uma oportunidade para o consumidor local”, defende-se Geraldo Ferreira, que comanda a operação brasileira. A APP produz, anualmente, 8 milhões de toneladas de celulose e 12 milhões de toneladas de papel. No ano passado, a operação brasileira importou 142 mil toneladas de papel. Em 2006, um ano antes da abertura da Cathay, esse volume foi de 18,6 mil.

Prêmio para a AméricaEconomia Intitulado “Sem fronteiras na América Latina”, o case do portal AméricaEconomia (www.americaeconomiabrasil.com.br) foi o vencedor do VII Prêmio Anatec na categoria Melhor Projeto OnLine. No ar desde 1998, o site conta com versões em português e espanhol e traz notícias de negócios, política e economia em tempo real. A cerimônia de premiação aconteceu no dia 17 de agosto, em São Paulo, e reuniu profissionais de importantes veículos de comunicação do país. Com abrangência nacional, o Prêmio Anatec é realizado anualmente pela Associação Nacional de Editores de Publicações e tem como objetivo premiar os editores com as melhores práticas em comunicação segmentada. A Spring Editora, que publica a AméricaEconomia no Brasil, venceu em outras duas categorias, com as publicações custo-

5

A PARTIR DA ESQUERDA, MILTON TORTELLA, DIRETOR DA TORTELLA COMUNICAÇÃO; ADRIANA CHAVES, EDITORA DO SITE AMÉRICAECONOMIA BRASIL; PAULA PACHECO, EDITORA-EXECUTIVA DA REVISTA AMÉRICAECONOMIA BRASIL; E TATIANA ENGELBRECHT, DIRETORA DE REDAÇÃO

mizadas Docol Magazine (troféu Ouro na categoria Melhor Capa) e revista Day By Day – Banco Daycoval (troféu Prata na categoria Melhor Projeto Gráfico). Outubro, 2011 AméricaEconomia 21

AE 404 movimentos3.indd 51

9/27/11 5:08:01 PM


movimentos

A TOPPER É PATROCINADORA DA EQUIPE BRASILEIRA DE RUGBY

6

Rugby: a nova paixão nacional? em números, mas afirma que o retorno financeiro e de imagem foi tão grande que a marca resolveu estender o contrato com a Confederação Brasileira de Rugby até 2013. A estratégia da Topper parece mesmo ter sido acertada, se levarmos em conta os resultados do estudo “Muito Além do Futebol – Estudo sobre Esportes no Brasil”, divulgado no mês passado pela consultoria Deloitte. Segundo a pesquisa, realizada com cerca de 700 pessoas, por meio de questionário online, o rugby foi apontado pelos entrevistados como o esporte que mais vai crescer no país nos próximos anos.

Prioridade para a indústria nacional A defesa da indústria nacional foi o argumento da ministra do Planejamento, Miriam Belchior, para o aumento de 30% do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para veículos importados, anunciado pelo governo em setembro. “Nosso objetivo é proteger a indústria nacional da ação predatória de algumas empresas e países”, disse durante almoço-debate do Lide (Grupo de Líderes Empresariais). Segundo Miriam, a medida pode ser revista em 2012, mas o Brasil continua “extremamente atraente para investidores estrangeiros”. Em relação às obras de infraestrutura para a Copa de 2014, ela destacou a necessidade de alternativas, como a construção do módulo provisório do Aeroporto Internacional de Guarulhos (SP), ressaltando que ajustes na malha aeroviária dependem da definição da tabela de jogos. “Estamos adiantando o que leva mais tempo, o operacional será definido adiante.”

Fotos: 6 - Sylvia Diez/Divulgação; 7 - Divulgação; 8 - Shutterstock

“Ai, eu sempre adorei o rubgy.” A frase, falada com as letras do nome da modalidade erradas mesmo, e creditada a uma suposta maria-chuteira do rugby, faz parte de um dos divertidos comerciais criados pela agência Talent para a Topper, com o objetivo de divulgar o esporte no Brasil. “Patrocinamos vários times na Argentina e queríamos ajudar o crescimento da modalidade no Brasil. Foi enxergando o potencial de crescimento que decidimos apoiar e divulgar a modalidade no país por meio da veiculação de campanhas”, explica Germán Pipet, gerente da Topper no Brasil. Pipet não fala

22 AméricaEconomia Outubro, 2011

AE 404 movimentos3 V1.indd 52

28.09.11 11:48:45


Negócio em família 7

É quase impossível andar por grandes cidades sem dar de cara com um carro adornado por um adesivo da família. A moda conta com as mais inusitadas versões, diz Germano Spadini, fundador da Job Design Criativo, idealizador de uma das primeiras linhas de adesivos do gênero, a Família Feliz. Com a possibilidade de personalizar a encomenda, os negócios não param de crescer. Recentemente, ele fez um modelo feminino com luzes californianas nos cabelos e outro com uma sogra sem cabeça. Agora, a onda de montar sua família chegou aos pingentes de ouro e bijuterias. “Depois de São Paulo, começaram os pedidos de outros estados, principalmente do Norte e do Nordeste”, conta Spadini.

Aposentadoria

mental

No passado, variáveis como salário, estabilidade e status do cargo eram determinantes para avaliar a satisfação dos trabalhadores. Hoje, a desmotivação é a principal queixa para 31% dos funcionários ouvidos pela consultoria Hay Group. Ao todo, foram entrevistados 261 mil trabalhadores, de 85 empresas que atuam no país. Embora o resultado seja um alerta, na opinião de Eduardo Shinyashiki, especialista em desenvolvimento humano, o problema pode estar ligado à postura desses profissionais em relação às suas carreiras. “É cada vez mais comum identificar pessoas que culpam as organizações pela falta de motivação. A pergunta é: será que elas realmente estão refletindo sobre o que querem e colocando em prática ações que possam trazer resultados efetivos?” Para Shinyashiki, pensar que não se pode mais evoluir na carreira e passar o dia reclamando, em vez de buscar novos desafios, são sintomas comuns aos “aposentados mentais”. “O que é bom em você já traz resultados, e, por isso, o importante é trabalhar o que prejudica sua performance. O autoboicote é um comportamento comum e altamente prejudicial, pois, se o indivíduo não acredita em si mesmo, é muito difícil que ele transmita credibilidade no ambiente corporativo”, diz o especialista. 8

Mudança de foco lucrativa O velho ditado que diz “as oportunidades estão onde você menos espera” foi provado pela brasileira Blanver Farmoquímica, uma das três maiores fabricantes de insumos para as indústrias alimentícia e farmacêutica do mundo. Com vendas de R$ 200 milhões anuais e 40% da receita voltados ao mercado externo, a empresa viu seus lucros desabarem por causa da valorização do real. A solução foi diversificar os negócios. Hoje, além de fornecer produtos básicos, a Blanver produz suas próprias misturas. “Antes, nós vendíamos os insumos para o blender, e ele fazia a mistura para enviar às indústrias. Hoje, continuamos a comercializar para o blender, mas podemos vender diretamente para as indústrias, o que dá um retorno 20% maior”, explica o presidente Sergio Frangioni. A mudança incluiu ainda a fabricação de medicamentos para o tratamento de pacientes com HIV e hepatite B, vendidos ao Ministério da Saúde, e a terceirização de serviços. “Se um laboratório tem algum gargalo de produção, nós podemos fabricar o remédio em nossas plantas”. E os resultados já começam a aparecer. O Ebitda da empresa (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização), que, de 20% chegou a 0%, hoje está em 5%. E a empresa já começa a pensar em investimentos. “Em 2012, deveremos ter US$ 30 milhões para crescer organicamente ou por meio de aquisições”, conta Frangioni. Outubro, 2011 AméricaEconomia 23

AE 404 movimentos3 V1.indd 53

28.09.11 11:58:42


NEGÓCIOS Indústria automobilística

NEGÓCIO DA

CHINA?

1

CARROS PRONTOS PARA O EMBARQUE NO PORTO DE LIANYUNGANG , NO LESTE DA CHINA

OS CARROS CHINESES GANHARAM MERCADO NO PAÍS COM O APELO DE PREÇO BAIXO, MAS AINDA PECAM NA QUALIDADE E AGORA TÊM DE ENFRENTAR O LOBBY DA CONCORRÊNCIA GRAZIELE DAL-BÓ, DE SÃO PAULO

24 AméricaEconomia Outubro, 2011

AE 404 Indústria automobilística.indd 2

9/29/11 11:35:13 AM


les chegaram com tudo ao Brasil. Graças a estratégias agressivas de marketing, como o uso de garotos-propaganda bem conhecidos no país, caso de Faustão, Gugu Liberato e Rodrigo Faro, os carros chineses conseguiram abocanhar rapidamente uma parcela (1,97%) do mercado automobilístico brasileiro. A fatia ainda é pequena, mas foi suficiente para tirar da zona de conforto montadoras consolidadas no país. “Em 2007, antes da entrada das chinesas, Ford, Volkswagen, GM e Fiat concentravam 84% das vendas. Hoje, esse número caiu para 75%, e a projeção é de que a participação seja menor que 70% em 2015”, calcula Stephan Keese, sócio responsável para o segmento automotivo da consultoria Roland Berger. No entanto, depois da euforia inicial causada pelo principal atrativo dessas marcas – carros completos por preços até 30% inferiores aos de montadoras instaladas no país –, os chineses começam a passar pelas primeiras provações. A começar pelo próprio valor dos carros, que, embora continue em um patamar baixo, começa a ser seguido de perto, e até ultrapassado, por outras montadoras. Lançado em maio, o QQ – anunciado à época como o carro mais barato do país – já perdeu seu posto para o Mille, da Fiat. Enquanto o modelo da Chery custava, em setembro, R$ 23.990 – depois do reajuste de R$ 1 mil feito em julho –, o da montadora italiana era vendido a R$ 23.600. Isso sem falar nas medidas protecionistas que essas montadoras enfrentam no Brasil. A mais recente foi o aumento de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) anunciado pelo governo no mês passado e que afeta diretamente esses grupos. Outro terreno sobre o qual os chineses patinam diz respeito à qualidade. “Esses carros ainda têm alguns problemas básicos, como o desalinhamento de portas e a pintura ruim, coisas que podem até não ser prioridade no mercado chinês, mas são facilmente perce-

1,97%

Fotos: 1 - Wang jianmin/AFP; 2 - Divulgação

E

é a soma da participação das montadoras chinesas no setor automobilístico brasileiro bidas aqui”, afirma David Wong, diretor da consultoria Kaiser Associates. Não por acaso, clientes atraídos pelos preços oferecidos por essas marcas agora reclamam de problemas no funcionamento dos veículos, apesar do esforço das montadoras em adaptá-los às exigências legais. O curitibano Carol Thiago Costa é um desses consumidores. Ex-proprietário de um Celta, ele resolveu trocar de carro, em junho. O preço convidativo e a promessa de ter um automóvel completo fizeram com que o professor

universitário escolhesse o J3, da JAC. Valor pago: R$ 39 mil. “Os problemas começaram na entrega, pois recebi o carro com atraso. Dias depois de estar com o veículo, percebi uma luz piscando no meu painel. Levei para a concessionária e me disseram que era problema na luz do EPC (Engine Power Control), mas não sabiam me explicar por que isso estava ocorrendo”, conta. Quando a luz do EPC mantém-se acesa, é sinal de problemas elétricos ou eletrônicos. A falha se repetiu com Carol outras três vezes. “Hoje, eu não recomendo a ninguém comprar um carro chinês. Talvez daqui a um ano, isso se eles já tiverem conseguido melhorar muito”, conta o curitibano. Mário Mizuta, diretor Comercial da JAC, marca que detém a maior participação de mercado dentre as montadoras chinesas, defende-se. Segundo o executivo, dos 15 mil carros que o grupo já vendeu no Brasil, apenas 18 apresentaram o problema. “Eu vejo muita coisa sendo dita sobre a qualidade dos carros chineses, mas é preciso separar as marcas. Nós fizemos 242 modificações

2

O QQ, DA CHERY, JÁ PERDEU O POSTO DE MAIS BARATO DO BRASIL PARA O MILLE, DA FIAT

Outubro, 2011 AméricaEconomia 25

AE 404 Indstria automobilstica V1.indd 3

9/27/11 4:34:01 PM


NEGÓCIOS Indústria automobilística 3

4

A JAC (À ESQ.) DETÉM A MAIOR PARTICIPAÇÃO DE MERCADO ENTRE OS CHINESES VENDIDOS NO BRASIL. ACIMA, A FÁBRICA DA EFFA, NO URUGUAI, DE ONDE VÊM OS MODELOS LIFAN 320 E 620

nos automóveis que comercializamos aqui, justamente para atender às exigências locais”, afirma. Casos como o de Carol, no entanto, não são isolados. O empresário Jair Gregório, de Carapicuíba (Grande São Paulo), também teve problemas com sua picape baú, fabricada pela Effa. “Com 16 mil quilômetros, já tive de trocar quatro vezes as pastilhas de freio.

Fora que o carro é muito fraco para subir qualquer ladeira. Se for muito inclinada, pode esquecer”, conta. O motor, aliás, é uma das principais reclamações do empresário. Dono de uma loja de móveis para escritório, ele precisa de um veículo potente para levar seus produtos até os clientes. Apesar de toda a dor de cabeça gerada pelo mau funcionamento da pica-

A onda do recall O fantasma do recall assombra indistintamente montadoras americanas, europeias e asiáticas. Um dos casos mais recentes no Brasil teve como protagonista a japonesa Honda. No mês passado, a fabricante anunciou o recall de quase 1 milhão de carros do subcompacto Fit e de outros modelos para reparar defeitos, como o funcionamento inadequado dos botões das janelas. Em junho, a sueca Volvo, conhecida por seus carros de primeira linha, convocou proprietários de 106 unidades dos modelos S60 e XC 60 para resolver uma falha no sistema de combustível. Ford, Peugeot, Toyota, Citroën, Mercedes e Chevrolet também anunciaram recalls neste ano.

pe, Gregório prefere tratar o caso com bom humor. Mandou fazer um adesivo com os dizeres “Effa – lixo da China no Brasil” e o colou no carro, junto com a propaganda da loja dele. “A gente brinca, mas é de chorar. Tive uma S10 antes, que me foi roubada, e ela andou 387 mil quilômetros sem nunca precisar de um reparo muito grande, só o padrão para um carro com bastante quilometragem”, afirma.

CINTO TROCADO Em novembro do ano passado, o DPDC (Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor), órgão ligado ao Denatran (Departamento Nacional de Trânsito), exigiu que a chinesa Effa convocasse 500 proprietários do M100 para um recall por causa de problemas nos cintos de segurança dos bancos traseiros. Em vez do cinto de três pontos exigido pelas normas brasileiras, os desse modelo eram de apenas dois pontos, em diagonal.

26 AméricaEconomia Outubro, 2011

AE 404 Indstria automobilstica V1.indd 4

9/29/11 11:32:51 AM


Fotos: 3 - Antonio Scorza/AFP; 4 - Divulgação; 5 - Zé Gabriel

“O veículo foi homologado dentro do que prevê a legislação, com cinto de três pontos nos bancos laterais traseiros. Constatou-se, porém, que um lote não atendia a essa exigência, o que levou ao recall”, explica Orlando Moreira, coordenador geral de Infraestrutura de Trânsito do Denatran. Segundo ele, a ausência desse tipo de cinto diminui a segurança do ocupante em caso de colisão. Clóvis Rodrigues, gerente de Marketing do Grupo Effa, diz desconhecer a informação de que os carros foram homologados com o cinto de três pontos e comercializados com o de dois pontos, mas reconhece que alguns veículos chegaram ao país com o problema. “Agimos de acordo com o previsto pelas normas brasileiras, ou seja, fizemos o recall. Todas as montadoras têm problemas, isso não se restringe às chinesas”, argumenta o executivo. Na avaliação de Paulo Roberto Garbossa, diretor da consultoria ADK Automotive, que acompanha o setor há 30 anos, a desconfiança vivida pelas chinesas já foi experimentada pelas japonesas e coreanas quando chegaram aqui. “As primeiras levaram 15 anos para ter sucesso no Brasil. Hoje, a Toyota é líder no segmento de sedãs médios. As chinesas devem demorar um pouco menos que isso, talvez uns

Ladeira acima Histórico de emplacamento de veículos chineses por marca no Brasil

14.481 12.780

43.782

11.514

EMPRESAS 17.277

Hafei 8.160

Chery

7.008

JAC Chana 2.940

1.031 Lifan

1.903

1.700

Effa Jinbei

2.016

TOTAL

304

00

525 202 0 0

2008

497 306 281 156 0 0

2009

868 703 426

2

601 487

110

2010

2011*

* acumulado de janeiro a agosto Fonte: Fenabrave

cinco ou seis anos, por causa das facilidades tecnológicas de hoje”, acredita. Se for levada em conta a rapidez com que as chinesas têm aumentado a participação no mercado brasileiro, a projeção de Garbossa pode até parecer conservadora. No acumulado (de janeiro a agosto) de 2011, as vendas somaram 43,7 mil unidades, duas vezes e meia o que foi vendido em todo o ano de 2010 e 40 vezes o comercializado em 2008, quando as marcas começaram a chegar ao país. O Brasil já aparece como principal destino de exportação dos

carros da JAC dentre os 90 países nos quais o grupo atua. Por causa disso, a companhia tem planos de aumentar o número de concessionárias dos atuais 55 para 80 até o fim do ano. No caso da Effa, a meta para 2012 é dobrar a participação nas vendas, que, em agosto, era de 0,07%. Para Wong, da Kaiser Associates, embora as marcas chinesas ainda tenham um longo caminho pela frente para ajustar seus carros ao gosto do brasileiro, elas levam vantagem no preço, o que deve manter seu crescimento no país. “Elas estão bem posicionadas em relação a valores. Seus modelos custam até R$ 7 mil a menos que os equivalentes nacionais, isso incluindo alguns opcionais. Para se dar bem aqui, essas empresas focam em quem prioriza o ‘mais por menos’”, afirma.

PRODUÇÃO LOCAL

5

O EMPRESÁRIO JAIR GREGÓRIO TEVE PROBLEMAS COM SUA PICAPE BAÚ, DA EFFA, E COLOU NO VEÍCULO UM ADESIVO NADA ELOGIOSO À EMPRESA

Com a promessa de crescimento do consumo, as principais marcas decidiram apostar no investimento em fábricas no país, embora em ritmo um pouco menos acelerado agora, por causa das medidas protecionistas anunciadas no mês passado pelo governo brasileiro (leia mais no box da página seguinte). Em agosto, a Chery deu início à construção de sua primeira unidade Outubro, 2011 AméricaEconomia 27

AE 404 Indústria automobilística.indd 5

9/27/11 4:37:36 PM


Protecionismo à brasileira Pátios lotados, retração na oferta de crédito por parte dos bancos e aumento na venda de carros importados. A combinação de fatores fez o governo brasileiro lançar mão – mais uma vez – de um plano para blindar a indústria automobilística nacional. A solução para atender aos pedidos das montadoras com produção no país foi aumentar em 30 pontos percentuais o IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) dos veículos que não atenderem às novas regras do setor, entre elas a de garantir 65% de conteúdo nacional e a de preencher seis de 11 requisitos para a fabricação no país. A medida protecionista foi um golpe nos importadores, principalmente chineses e coreanos. Os dois países devem enfrentar o Brasil na OMC (Organização Mundial do Comércio). De acordo com as regras da organização, o tratamento para itens nacionais e importados deve ser igualitário. Automóveis fabricados no México e na Argentina não entraram no pacote por causa de acordos comerciais que os dois países mantêm com o Brasil. Para a Abeiva (Associação Brasileira das Empresas Importadoras de Veículos Automotores), o governo cedeu ao lobby das montadoras “nacionais”. “Nós representamos 5,8% do mercado. Se levarmos em conta apenas os modelos que concorrem diretamente com a indústria local, esse percentual cai para apenas 3,3%. Portanto, não representamos ameaça alguma”, disse José Luiz Gandini, presidente da Abeiva e representante da Kia no Brasil, durante coletiva de imprensa realizada um dia após o anúncio do governo. Segundo cálculos da associação, um carro de R$ 38 mil passará a custar R$ 47.880 com o novo tributo. Segundo o presidente da JAC Motors, Sérgio Habib, em vez de atrair investimentos, o aumento de imposto para os importados vai causar insegurança em quem pretende se instalar no Brasil. “Se você analisar, todas as empresas que entraram aqui começaram importando os carros para avaliar o mercado. Depois é que investiram em fábricas locais. É o caminho natural”. O próprio governo admitiu o protecionismo da medida no curto prazo, mas argumentou que, no médio prazo, ela garantirá investimento em inovação tecnológica no país. E, apesar da reação dos que foram diretamente prejudicados com as novas regras, a equipe da presidente Dilma Rousseff não deve fazer alterações no texto, válido até dezembro de 2012. Coincidência ou não, os carros vendidos no Brasil estão entre os mais caros do mundo.

PARA “BLINDAR” A INDÚSTRIA NACIONAL, GOVERNO AUMENTOU IPI DE IMPORTADOS

no Brasil, em Jacareí, no interior paulista. Com investimento de US$ 400 milhões, a planta deve começar a produzir em 2013 e terá capacidade para fabricar 170 mil unidades por ano até 2016. Outros US$ 100 milhões serão aplicados pelo Grupo Effa em uma fábrica da Lifan, a ser construída em Goiás ou Santa Catarina. A previsão é que as obras comecem neste ano. A unidade vai funcionar em sistema CKD (Completely Knocked-Down Vehicles), em que o carro chega desmontado do exterior e é montado no local. A montadora comercializa atualmente dois modelos no Brasil: o hatchback 320 e o sedã 620, ambos montados no Uruguai. Em março, a marca anunciou investimentos de US$ 70 milhões em um centro de pesquisa e desenvolvimento a ser instalado em São Paulo. A JAC também anunciou, no início de agosto, um aporte de R$ 900 milhões para instalar uma planta no Brasil, com capacidade de produzir 100 mil veículos por ano, em dois turnos. O plano de construir no país, no entanto, teve uma reviravolta no mês passado, após o anúncio de aumento de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para os veículos importados. O presidente do grupo no Brasil, Sérgio Habib, argumenta que inaugurar uma planta com 65% de nacionalização é algo inviável. Segundo o executivo, para alcançar esse índice seriam necessários pelo menos três anos. A previsão inicial da JAC era de que a fábrica começasse a operar em 2014. Até o fechamento desta edição, o grupo foi o único a admitir que irá congelar os investimentos anunciados para o Brasil. Ainda é cedo para dizer se os carros chineses continuarão sua trajetória na primeira marcha para conquistar o mercado brasileiro, mas uma coisa é certa: eles conseguiram mexer com um setor que andava meio acomodado no Brasil, graças aos consumidores ávidos por ter um carro novo em suas garagens e pelas benesses de um governo protecionista.

Foto: Lucas Lacaz Ruiz/Folhapress

NEGÓCIOS Indústria automobilística

28 AméricaEconomia Outubro, 2011

AE 404 Indstria automobilstica V1.indd 6

9/27/11 4:35:14 PM



NEGÓCIOS Internacionalização

1

Próximo destino, América Latina CRESCEM OS CASOS DE EMPRESAS BRASILEIRAS QUE BUSCAM A REGIÃO PARA DIVERSIFICAR A FONTE DE RECEITA E GANHAR MAIS CLIENTES PAULA PACHECO, DE SÃO PAULO

30 AméricaEconomia Outubro, 2011

AE 404 Aula de Espanhol.indd 2

9/29/11 11:36:35 AM


s razões que motivam o interesse em fazer negócio no Brasil são conhecidas: melhor distribuição de renda, queda do desemprego, relação ainda pequena entre crédito e PIB (Produto Interno Bruto) e um grande mercado consumidor. Quem já atua no país tem tirado proveito do bom momento econômico – apesar das dúvidas recentes provocadas pela crise econômica internacional. Mas o ambiente favorável no mercado doméstico não inibiu o aumento de casos de empresas brasileiras, dos mais diferentes portes e principalmente da área de tecnologia, que perceberam ser possível expandir os negócios nos países latino-americanos. O site de busca de serviços turísticos Viajanet foi nessa direção. Capitalizada por fundos de investimento, a empresa começou recentemente a operar no México. Até o fim do ano, pretende expandir para Venezuela, Colômbia e Argentina. Em 2012, a ideia é se instalar em pelo menos mais dois países. “Nosso plano é montar operações locais. É a melhor forma de absorver a cultura de cada país”, diz Alex Todres, sócio-fundador do site de viagens. Para Todres, atuar além das fronteiras é uma forma de ganhar mercado antes da chegada dos competidores estrangeiros e equilibrar as fontes de receita. “Mesmo no futuro, com a operação madura, 70% da nossa receita deverá vir do Brasil. Mas é preciso diversificar, evitar os riscos de estar em um único mercado”, explica. O grupo BuscaPé, do qual fazem parte empresas como Pagamento Digital, Saveme e o próprio BuscaPé, também decidiu apostar em fontes diversificadas de faturamento para crescer de forma consistente. A primeira expansão aconteceu em 2006, quando a marca BuscaPé foi para a Argentina. “Abrimos apenas um escritório para conhecer o mercado, depois montamos a operação do site”, conta Rodrigo Borer, vice-presidente do grupo. Em 2007, foi a vez de prospectar os mercados chileno e mexica-

Fotos: 1 - Shutterstock com montagem de Fernando Morra; 2 - Divulgação

A

As empresas na área de tecnologia estão entre as que mais buscam a expansão para a AL no. “Antes de fazer as malas, nós precisávamos entender primeiro qual era o espaço que poderíamos ocupar naqueles países”, afirma. Hoje, a companhia tem operações físicas em Argentina, Chile, México, Colômbia e Peru, além de negócios remotos nos demais países da América Latina. “Temos a vantagem, ao começar uma operação fora do Brasil, de não nos preocuparmos com fornecedores de matéria-prima ou rede de distribuição. Em compensação, precisamos de uma boa infraestrutura tecnológica, um bom nível de bancarização e dos investimentos nos canais de divulgação dos sites”, explica o executivo. Nem sempre a expansão internacional é fácil. Em Belize, na América Central, por exemplo, as regras são tão confusas para os negócios virtuais que a empresa teve dificuldades até para registrar o domínio do site BuscaPé. “Em casos assim, é melhor hospedar o

site nos Estados Unidos e, a partir de lá, operar em Belize”, exemplifica Borer. A Vtex, especializada em desenvolver tecnologia para plataformas de comércio eletrônico, fez o mesmo movimento em direção à América Latina e, até o fim do ano, abrirá os primeiros escritórios fora do Brasil. O objetivo, segundo Alexandre Soncini, diretor de Vendas e Marketing, é aproveitar os negócios gerados por clientes brasileiros que rumam para esses países.

ANTIBARREIRAS Não é de hoje que grandes grupos brasileiros experimentam o dia a dia na América Latina. É o caso do Grupo Marfrig, do setor de alimentos, dono de operações na Argentina, no Chile e no Uruguai. A Ambev fez caminho semelhante. A Camargo Correa expandiu-se com a compra de concorrentes argentinos e uruguaios. Já a fabricante de baterias Moura tem atualmente negócios na Argentina. O país, por sinal, merece um capítulo a parte. A Moura instalou-se em território argentino, entre outros motivos, por pressão do governo, irritado com o volume de exportações de baterias que saía do Brasil. Para contornar um possível acidente diplomático, costumeiro na relação entre os 2

ATÉ 2012, TODRES QUER LEVAR A MARCA A CINCO PAÍSES DA REGIÃO

Outubro, 2011 AméricaEconomia 31

AE 404 Aula de Espanhol V1.indd 3

9/27/11 4:21:38 PM


NEGÓCIOS Internacionalização

Amcham cria conselho voltado a negócios na AL O principal fluxo de comércio do Brasil é com os países da América Latina. Mas a região poderia ter mais destaque na pauta brasileira, não fossem problemas conhecidos, como a insegurança jurídica, o câmbio desfavorável às exportações, a dificuldade de acesso a parceiros locais e os problemas de logística. Essas são algumas das conclusões apontadas por presidentes de empresas nacionais e multinacionais instaladas no país, segundo pesquisa feita pela Amcham (Câmara de Comércio Americana). A Amcham criou, no fim de agosto, um conselho empresarial voltado aos negócios na região, o “Business Affairs Latam”, e escolheu Miguel Jorge, ex-ministro do MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior), com passagem pela presidência da Volkswagen e do Santander, para liderar as discussões. O objetivo é que o grupo elabore propostas para facilitar os negócios na região. Participaram do primeiro encontro executivos de empresas como GM, Ford, Odebrecht, Siemens, Ericsson, Stefanini, Tivit e Totvs. “Queremos trocar experiências entre os presidentes de grandes empresas, brasileiras e multinacionais, instaladas no país, para encontrar formas de facilitar os negócios na região. O objetivo é não só aproveitar as experiências internamente, mas apresentar sugestões ao governo para aumentar as exportações para a América Latina”, explica Miguel Jorge. De acordo com a pesquisa feita entre os participantes do conselho, 42% dos executivos têm planos de ex-

Há também aquelas empresas brasileiras que optaram não por aquisições ou por montar subsidiárias, mas por ter operações a partir do Brasil. E isso também tem crescido, como mostram dados divulgados recentemente pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Nos últimos dez anos, o banco ampliou em cerca de sete vezes os empréstimos à infraestrutura na América Latina. Os objetivos são aumentar a liderança regional de empresas nacionais e garantir as exportações a partir do Brasil. A previsão é que o ano termine com empréstimos da ordem de US$ 1,5 bilhão, equivalentes a metade da carteira internacional.

portar para a América Latina. Uma das razões, segundo o presidente da comissão, é o atual cenário econômico internacional. “Com essa disputa cada vez maior por mercados no mundo todo, as empresas brasileiras e as multinacionais instaladas aqui perceberam que é preciso buscar oportunidades também na América Latina.” A comissão da Amcham ainda está em fase de organização, mas, logo no primeiro encontro, segundo Miguel Jorge, foi possível notar que a pauta de reivindicações é extensa. “Mas, para que as exportações aumentem de fato, é preciso que alguns problemas sejam resolvidos, como a burocracia exagerada, principalmente na fronteira, e o excesso de politização das instituições governamentais”, diz o presidente do grupo. Os executivos também apontaram para a necessidade de mais acordos comerciais entre os países latino-americanos, a padronização de regras entre as nações do bloco e maior apoio do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para as empresas instaladas no Brasil que tenham interesse em ampliar os negócios na região. 4

MIGUEL JORGE QUER LEVAR PROPOSTAS AO GOVERNO

Fotos: 3 - Divulgação; 4 - Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr

3

INFRAESTRUTURA CONDICIONA OS PLANOS DE EXPANSÃO, DIZ BORER

governos brasileiro e argentino, a companhia montou uma pequena subsidiária naquele país. Assim, conseguiu evitar problemas como a paralisação dos desembarques das cargas de baterias nas fronteiras argentinas, como costuma ocorrer. O setor de calçados está repleto de exemplos de aproximação com os vizinhos. A Penalty foi uma das empresas que optaram pela expansão na Argentina para fugir das barreiras comerciais e aproveitar o mercado interno. O Grupo Dass, que fabrica para marcas como Fila, Umbro e Nike, seguiu a mesma estratégia. Vulcabras e Alpargatas são outros exemplos de produção de calçados na Argentina.

32 AméricaEconomia Outubro, 2011

AE 404 Aula de Espanhol.indd 4

9/27/11 4:23:29 PM


Publieditorial produzido e criado em colaboração com a Vox Media Partner Foto de arquivo Expotrans

EXPOTRANS Uma empresa italiana em um Mundo sem fronteiras Desde sua fundação, em 1990, a Expotrans é uma agência de transportes italiana especializada em feiras, com mais de 8000 exposições em todo o mundo. A forte natureza internacional de sua atividade também pode ser vista no alto nível internacional de serviços que a Expotrans oferece desde 2004 como agência oficial de transporte da Fiera Milano, o que garante a logística integrada de quase 80 feiras internacionais por ano e mais de 50 mil expositores, cuidando de todos os tipos de problemas, como alfândega, custos de despacho, armazenamento e transporte de mercadorias antes e durante os eventos. A Expotrans também é a Transportadora oficial da Rimini Fiera, outra demonstração de grande vitalidade e importância para a Itália. Desde a sua fundação, a sociedade conquistou boa reputação no mercado global graças a suas qualidades, como pontualidade, eficiência e excelentes parcerias internacionais, oferecendo soluções “prontas” criadas com base em solicitações de clientes. Desde 2008, também opera em Moscou, com a OOO EXPO-

RUSTRANS, com quem consolidou sua presença nesse mercado russo, podendo oferecer a qualidade dos serviços integrados Forklift Expotrans na Fiera Milano oferecidos a clientes italianos e estrangeiros grande sucesso e para participação em várias no país. Desde 1992 a Expotrans é associada à Feiras. IELA (Associação Internacional de Logística de Entre os projetos mais importantes da ExpoExposições), importante associação em 43 pa- trans para 2012 destaca-se a MACEF BRASIL, íses do mundo, e ponto de referência da rede iniciativa da Fiera Milano que ocorrerá em São internacional especializada para mais de 280 Paulo, uma das exposições mais visitadas para correspondentes, através dos quais a empre- design residencial. A MACEF Brasil, que deve sa organiza remessas para qualquer evento acontecer em maio de 2012, será um evento do mundo, e com quemmantém parcerias para imperdível para compradores e distribuidores garantir assistência aos expositores que en- brasileiros e aqueles que apreciam o design viam suas mercadorias para eventos italianos. italiano. Quanto ao transporte internacional, Durante sua história, a Expotrans trouxe para a Expotrans sugere, para mercadorias destio mercado várias novas empresas atuando na nadas a esta e outras exposições na América China, Rússia e América do Sul. Em particular, do Sul, soluções de transporte marítimo ou reforçou sua presença nos países sul-america- aéreo, sempre em colaboração com os parceinos criando colaborações com agentes locais ros mais especializados presentes no cenário de transporte. Tudo isso contribuiu para seu internacional.

Entrevista com o AD, GUIDO FORNELLI

Nos dedicamos completamente a nossos clientes QuaisÊs‹oÊasÊprincipaisÊmetasÊeÊprioridadesÊparaÊosÊpr—ximosÊanos? AÊ ExpotransÊ ŽÊ umaÊ empresaÊ queÊ sempreÊ esteveÊfocadaÊnoÊatendimentoÊdasÊnecessidadesÊdeÊseusÊclientes,ÊorientadaÊaÊresolverÊ osÊ complexosÊ problemasÊ deÊ transporte,Ê alf‰ndegaÊ eÊ movimentaç‹o.Ê OsÊ principaisÊ escoposÊ queÊ aÊ ExpotransÊ seÊ imp›eÊ comoÊ empresaÊs‹oÊcontinuarÊliderando,ÊacimaÊdeÊ tudo,ÊemÊboaÊsinergiaÊcomÊosÊorganizadoresÊ deÊ eventosÊ internacionaisÊ (ou,Ê melhor,Ê M^MV\W[ OTWJIQ[ I ÅU LM XWLMZUW[ WNMrecerÊnossaÊcontribuiç‹oÊdesdeÊoÊin’cioÊdoÊ projeto.Ê AÊ dimens‹oÊcertaÊdoÊtempo,Ê [MRI XIZI ÅV[ LM transporteÊouÊalfandeg‡rios,ÊouÊparaÊaÊ simplesÊ permanênciaÊdosÊfuncion‡riosÊ dasÊempresasÊdeÊexposiç‹o,Ê tornou-seÊ Guido Fornelli umaÊquest‹oÊmuitoÊ

BASE PAGINA COMPLETA.indd 1

importanteÊ naÊ escolhaÊ dosÊ eventos.Ê AÊ ExpotransÊ operaÊ comÊ aÊ convicç‹oÊ deÊ que,Ê aÊ ÅU LM UIV\MZ [M][ KTQMV\M[ ÆM`QJQTQLILM M modularidadeÊ dasÊ soluç›esÊ oferecidasÊ s‹oÊ fundamentais.Ê TendoÊemÊvistaÊaÊExpoÊ2015,ÊqualÊŽÊaÊ suaÊ avaliaç‹oÊ doÊ sistemaÊ log’sticoÊ doÊ setorÊaliment’cio?Ê ) 4WUJIZLQI Y]M ÅKI VW ¹KWZItrWº LW [Q[temaÊecon™micoÊitaliano,ÊcertamenteÊpodeÊ oferecerÊexcelentesÊestruturasÊeÊmeiosÊparaÊ OMZMVKQIZ KWU MÅKQwVKQI M I LQ[\ZQJ]QtrW LM produtosÊaliment’ciosÊeÊbiol—gicos.ÊObviamente,Ê aÊ pr—ximaÊ WorldÊ Expo,Ê centradaÊ emÊ umaÊ quest‹oÊ t‹oÊ complexaÊ quantoÊ osÊ alimentosÊ eÊ oÊ desenvolvimentoÊ sustent‡^MT \ZIb ^nZQW[ LM[IÅW[ UI[ VW[ [MV\QUW[ prontosÊ paraÊ lidarÊ comÊ eles.Ê SemÊ dœvida,Ê aÊFieraÊMilanoÊeÊaÊExpotransÊj‡Êcuidaram,Ê comÊsucesso,ÊdeÊeventosÊrelacionadosÊaoÊsetorÊaliment’cio.Ê NoÊ ‰mbitoÊ internacional,Ê aÊ ExpotransÊ contribuiuÊparaÊoÊsucessoÊdeÊeventosÊcomoÊ

degustaç›es,Ê jantaresÊ deÊ gala,Ê degustaç›esÊ deÊ vinhos,Ê organizadosÊ paraÊ promoverÊ aÊ exportaç‹oÊeÊoÊmodoÊdeÊvidaÊitaliano.Ê AlŽmÊdisso,ÊaÊExpotransÊŽÊaÊprincipalÊtransportadoraÊ deÊ cargasÊ paraÊ osÊ expositoresÊ italianosÊqueÊparticipamÊdasÊreuni›esÊcl‡ssicasÊdeÊagroneg—cios,ÊnaÊAmŽrica,ÊRœssiaÊ M Î[QI 8IKyÅKW OÊ queÊ oÊ senhorÊ esperaÊ paraÊ oÊ futuroÊ pr—ximo? OsÊ œltimosÊ trêsÊ anosÊ mudaramÊ profundamenteÊaÊestruturaÊdoÊsistemaÊecon™micoÊdaÊ It‡liaÊeÊdoÊmundoÊemÊgeral.ÊOÊfuturoÊaindaÊ pareceÊturbulento:ÊoÊprincipalÊvalorÊqueÊasÊ empresasÊ queÊ organizamÊ eventosÊ eÊ osÊ expositoresÊprocurar‹oÊcadaÊvezÊmaisÊser‡ÊaÊ KIXIKQLILM LM WNMZMKMZ [WT]t M[ ÆM`y^MQ[ NossaÊempresaÊest‡ÊprontaÊparaÊgerenciarÊ comÊsucessoÊessesÊnovosÊcen‡riosÊe,Êassim,Ê WNMZMKMZ I VW[[W[ KTQMV\M[ [I\Q[NItrW ¹[MU NZWV\MQZI[º Jornalista: Ana Izabel Mendonça

22/09/2011 11:22:08


opinião

iga-se o que quiser de Barack Obama, mas o presidente americano não desiste. Mal terminou a batalha para rolar a dívida pública dos Estados Unidos e Obama já se lançou em outra cruzada, chamada de American Jobs Act (lei de empregos americana). Pudera. Com a economia global patinando, 250 milhões de adultos estão sem trabalho no mundo. Na Europa, são 44 milhões e nos EUA, 14 milhões. No país de Obama, a taxa de pobreza, de 1%, é a pior das últimas duas décadas. E, já que o ócio é a fagulha do diabo, há até quem fale, como o prefeito nova-iorquino Michael Bloomberg, em risco de uma “primavera americana”, com jovens sem soldo incendiando as ruas. Talvez não chegue a tanto, mas a política é um patrão impiedoso e, se não vingar o novo programa de geração de empregos, o emprego de Obama também não vai durar. A 13 meses do próximo pleito, os eleitores estão com a sensação de déjà vu. Obama começou o mandato com a economia na fossa e o mercado de emprego em recuo. Deve terminar da mesma forma. Acossado pela guerra sobre a dívida e acusado pelos parceiros democratas de ceder aos radicais da direita, Obama partiu para a briga. Microfone em punho e mangas arregaçadas, ele roda o país no melhor estilo populista à americana para empurrar a bondade trabalhista. A conta do Ato para Empregos Americanos é salgada: US$ 447 bilhões. Como bancá-lo? Novos impostos. Afinal, os EUA sofrem um desequilíbrio histórico, agravado pela tributação regressiva que escandaliza até seus beneficiários, como admitiu Warren Buffet, que confessou pagar menos ao fisco do que sua secretária. Assim, a conta não fecha. “Não é ideologia, é matemática”, repete Obama aos quatro ventos. Taxar os ricos soa bem no calor da campanha. Mas o público americano já ouviu esse jingle. O farto programa de estímulo de 2009 despejou US$ 787 milhões do contribuinte

D

na economia, com a promessa de criar 3,5 milhões de postos de trabalho. De lá para cá, 1,7 milhão de empregos evaporaram. Metade dos compatriotas de Obama não confia em seu programa de empregos, segundo uma pesquisa recente. Em um levantamento da consultoria Gallup, os americanos dizem acreditar que 51 centavos de cada dólar pago a Washington acabam desperdiçados. Em 1986, acreditavam que só 38 centavos se perdiam pelo ralo. Esses números condenam a todos (a reprovação do Congresso é ainda pior do que a do presidente), mas a tragédia da era Obama é que os democratas, partido que ostenta laços profundos com o povão e as classes trabalhadoras, ainda não enxergam o colapso da fé americana em sua visão de mundo. Os americanos estão fartos de recuperação sem empregos, estímulos que não estimulam e incentivos que abençoam lobbies, e não os cidadãos. Em Washington, confundem-se medidas quebra-galho com o reparo estrutural do desgovernado engenho americano. O partido republicano agradece. “A melhor forma de fortalecer a demanda dos consumidores e das empresas seria reduzir o ônus para a renda privada e as barreiras à iniciativa de livre impostos pelo nosso sistema tributário”, disse um renomado político americano. Brado dos fundamentalistas do Tea Party? No, sir. A receita é de John F. Kennedy, democrata-modelo, que quebrou o tabu do seu partido e defendeu um forte corte de impostos para ressuscitar a combalida economia. Os progressistas, com o keynesiano John Kenneth Galbraith à frente, denunciaram um complô reacionário. Kennedy ganhou a queda de braço no partido e ainda conseguiu adesões de peso em redutos republicanos tradicionais. Tudo indica que teria ganhado de lavada a reeleição em 1964, mas foi assassinado em 1963, e a lição política se perdeu na história. Não tinha nada a ver com ideologia, apenas matemática.

MAC MARGOLIS é correspondente de longa data da revista Newsweek. Realiza reportagens sobre o Brasil, outros países da América Latina e os mercados emergentes, e já colaborou para diversas outras publicações, entre elas The Economist, The Washington Post e The Los Angeles Times.

Ilustração: Samuel Casal

Desemprego à americana

34 AméricaEconomia Outubro, 2011

AE 404 opiniao Mac V2.indd 2

29.09.11 14:17:35


�������������������� ������������������ ������������������������������

�������������� ��� ������������������������������

��������������������

����������

����������� ����������������

������������� ����������� ����������� ������������� ��������������

�������������������

������������������������������������

BASE PAGINA COMPLETA.indd 1

22/09/2011 15:54:04


NEGÓCIOS Indústria 1

P&G vira gente grande

A FÁBRICA DO MACH3, EM MANAUS, FOI UMA DAS TRÊS INAUGURAÇÕES DOS ÚLTIMOS ANOS

COM ESTRATÉGIA AGRESSIVA DE LANÇAMENTOS NO BRASIL, A EMPRESA PLANEJA DOBRAR DE TAMANHO ATÉ 2015 surgimento de um exuberante mercado consumidor no Brasil, nos últimos anos, após décadas de timidez e apostas infrutíferas da indústria e do varejo, foi a oportunidade esperada pela multinacional americana P&G. Depois de pouco mais de duas décadas no país, a empresa vem conseguindo agora expandir seus negócios por aqui e mostrar que pode de fato rivalizar com outra gigante do setor de higiene e limpeza, a Unilever.

O

A P&G multiplicou por sete sua receita no país na última década. O desafio para os próximos anos é bem mais difícil: dobrar o tamanho da operação brasileira até 2015. “O Brasil tem credibilidade para conseguir os investimentos necessários para atingir essa previsão”, diz Cyro C. Gazola, brasileiro que recentemente assumiu a vice-presidência de Vendas para a América Latina. Na região, o Brasil tem posição de destaque. Até porque no México, ape-

sar de a empresa ser tradicional, a taxa de crescimento tem sido mais conservadora que a registrada por aqui. Diz o executivo: “O Brasil é uma das prioridades globais da companhia”. Os números comprovam a afirmação do vice-presidente. De 2011 até 2013, os investimentos no país, incluindo a verba publicitária, passarão de R$ 1 bilhão. Nos últimos cinco anos, a P&G, que tinha três unidades de produção no Brasil, inaugurou outras três. Es-

Fotos: 1 e 2 - Divulgação; 3 - Thiago Teixeira/AFP

PAULA PACHECO, DE SÃO PAULO

36 AméricaEconomia Outubro, 2011

AE 404 P&G.indd 2

9/27/11 4:05:54 PM


2

1 bi

de reais é a previsão de investimentos da P&G no país até 2013

SEGUNDO GAZOLA, O BRASIL É UMA DAS PRIORIDADES PARA A MULTINACIONAL

se crescimento do índice de nacionalização, que hoje é de 90%, tem a ver com o aumento de escala. Conforme o volume de vendas no país evoluiu, tornou-se mais viável substituir a importação pela produção local. Os aparelhos de barbear Mach3, por exemplo, antes importados dos Estados Unidos, passaram a ser feitos na nova fábrica de Manaus. A expansão no país está ligada também à entrada da companhia em novos segmentos. À medida que os negócios cresceram, a multinacional se viu obrigada a aumentar sua presença nas gôndolas. Há uma década, a P&G atuava no Brasil em sete categorias, e agora está presente em 15. Ao longo dessa trajetória mais recente, a multinacional fez duas aquisições que ajudaram a impulsionar as vendas: Wella (2003/2004) e Gillette (2005/2006). Segundo Gazola, a arrancada da empresa aconteceu porque, entre outras razões, se optou pela estratégia de proximidade com os clientes. “Procuramos conhecer o consumidor brasileiro, e isso gerou credibilidade”, diz o executivo. Gabriela Onofre, diretora de Assuntos Corporativos da P&G Brasil, dá como exemplo o que foi feito na linha de cuidados para os cabelos da Pantene. Na formulação original, o xampu já vinha com o condicionador,

algo impensável para as brasileiras. Na avaliação das consumidoras nacionais, esse tipo de cosmético deixa os cabelos pesados. Com adaptações na fórmula e Gisele Bündchen como garota-propaganda, o produto estourou e já é o segundo mais vendido no país e o primeiro na cidade do Rio de Janeiro. Também foi preciso sentir o terreno antes do lançamento do anti-idade Olay. “Fizemos testes em Campinas [SP], na casa das consumidoras. Normalmente, as brasileiras acham os cremes estrangeiros para a pele gor3 durosos, mas, neste caso, isso não aconteceu, e mantivemos a formulação original”, conta Gabriela. Além da preocupação com inovação, empresas como a P&G precisam saber como comunicar as novidades mercadológicas aos consumidores. Foi o que aconteceu quando a companhia, quatro anos atrás, decidiu trazer para o país o sabão líquido Ariel. Até então, essa categoria de produto era praticamente inexistente. A concorrência correu atrás, e hoje é mais comum ver propagandas na TV do sabão lí-

quido do que da versão em pó. Do total das vendas da categoria, Ariel líquido detém 70%. “Diferentemente da concorrência [Omo, da Unilever], queremos que seja um produto que, ao mostrar inovação, passe de filha para mãe, não de mãe para filha”, explica Gabriela.

MARKETING Parte do crescimento da P&G está relacionada à agressividade na comunicação com os consumidores. Quatro anos atrás, a multinacional ocupava o 42º lugar entre os maiores anunciantes do país. Em 2009, passou para a 24ª posição. No ano passado, já era a 10ª. Nesse pacote publicitário está a contratação de nomes como Faustão, Angélica, Luciano Huck e Ana Maria Braga, escolhidos como “embaixadores” da companhia em grandes campanhas publicitárias. Além disso, a P&G mundial tem contrato de patrocínio da Olimpíada e da Copa do Mundo. “O Brasil, como país-sede desses eventos, certamente terá ainda mais importância para nós”, diz Gazola.

GISELE AJUDOU A COLOCAR A MARCA PANTENE NA SEGUNDA POSIÇÃO ENTRE AS MAIS VENDIDAS

Outubro, 2011 AméricaEconomia 37

AE 404 P&G.indd 3

9/27/11 4:06:14 PM


VENHA OUVIR QUEM SEMPRE PENSOU GRANDE, MESMO QUANDO ERA PEQUENO.

FÁBIO BARBOSA Presidente da Abril S/A

LUIZA HELENA TRAJANO Presidente do Cons. do Magazine Luiza

De 18 a 20 de Novembro. Casa Grande Hotel-Guarujá.

Chegou a hora de você aprender como boas ideias se transformaram em grandes sucessos. O

FÓRUM

DE

EMPREENDEDORES,

um

dos

maiores

eventos

empresariais

do mercado, será uma verdadeira aula de empreendedorismo. Quais as bases e fundamentos de alguns dos maiores empreendedores do país para chegar ao

topo

com

do

quem

mundo fez

o

dos

negócios?

caminho

do

Uma

sucesso,

oportunidade as

razões

única

para

para

chegar

entender, ao

pódio.

2º FÓRUM DE EMPREENDEDORES. Mais uma iniciativa do LIDE ®. Quem é líder participa. w w w.forumempreendedores.com.br

ALBERTO SARAIVA Presidente do Habib’s

REVISTA LIDE.indd 1

LUIZ BARRETTO Presidente do Sebrae

Iniciativa:

Realização:

9/29/11 4:56 AM


ESPECIAL Rio de Janeiro

,

Foto: Blue Images

cidade maravilhosa para investir

40 AmĂŠricaEconomia Outubro, 2011

AE 404 Rio.indd 2

29.09.11 15:23:14


INVESTIMENTOS NA CASA DOS R$ 178 BILHÕES IMPULSIONAM A ECONOMIA NÃO SÓ DA CIDADE, MAS DE TODO O ESTADO CRISTINA DOS SANTOS, DO RIO DE JANEIRO

scolhido como sede dos dois maiores eventos esportivos do planeta – a Copa do Mundo, em 2014, e a Olimpíada, em 2016 –, o Rio de Janeiro tornou-se a Cidade Maravilhosa também para aqueles que tomam as decisões no mundo dos negócios. Não só a cidade, mas todo o estado. Segundo levantamento do Governo do Estado do Rio de Janeiro, nos próximos dez anos, serão investidos R$ 178 bilhões. Já a Firjan (Federação das Indústrias do Rio de Janeiro)

E

trabalha com um volume de recursos bem maior: R$ 181 bilhões, entre 2011 e 2014. Os setores e os volumes desembolsados são diversificados e incluem de investimentos da Petrobras nos projetos do pré-sal a expansão de uma planta siderúrgica da Gerdau. A efervescência não é alimentada apenas por aqueles que vão despejar milhões, e até bilhões, de reais no Rio. Passa também pelos micro e pequenos comerciantes, que querem aproveitar a maré favorável aos investidores,

empresários e executivos transferidos para atuar em recém-inaugurados escritórios, seguradoras, lojas, hotéis e restaurantes. Para não perder as oportunidades geradas pelos novos empreendimentos, a mão de obra se apressa em se qualificar, buscando abocanhar as milhares de vagas que surgem nos ramos mais diversos. “Não há como negar a importância do Rio de Janeiro no atual cenário financeiro do país. Quem abre um negócio hoje no Brasil tem de acessar

Outubro, 2011 AméricaEconomia 41

AE 404 Rio.indd 3

27.09.11 17:07:59


ESPECIAL Rio de Janeiro 2

INVESTIMENTOS NO PRÉ-SAL, COMO A PLATAFORMA P56, SERÃO GRANDES GERADORES DE CAIXA

Surge uma nova Houston Considerada referência no setor petroleiro, a cidade texana de Houston tende a perder, em poucos anos, o posto para uma pequena ilha localizada na zona norte do Rio de Janeiro, a Ilha do Fundão. Sede da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e do Cenpes (Centro de Pesquisas e Desenvolvimento da Petrobras) – o mais bem preparado centro de tecnologia de exploração de petróleo em águas profundas no mundo –, o lugar começa a ser chamado por muitos de “ilha do petróleo”. É lá, em uma área de 350 mil metros quadrados, que está se formando o Parque Tecnológico do Rio de Janeiro. O projeto nasceu em 2003 com o objetivo de estimular a interação entre a universidade e as empresas. “Em Houston, há uma grande concentração de empresas do setor de petróleo e gás. Aqui, várias companhias do setor estão instalando centros de P&D [pesquisa e desenvolvimento]”, afirma Maurício Guedes, diretor do Parque Tecnológico do Rio. Entre as empresas que optaram por instalar no local seus centros de excelência estão a francesa Schlumberger, as americanas Baker Hughes e FMC Technologies, do setor de petróleo e gás, e a Usiminas, do setor siderúrgico, as três em fase de instalação. Também foram aprovadas as multinacionais Halliburton e Tenaris Confab. A EMC, a Chemtech, braço da Siemens no segmento de petróleo, e a BG venceram a licitação pelos últimos três terrenos disponíveis. “A Siemens e a Chemtech seguem um modelo de inovação aberta. Vamos contar com a UFRJ para as atividades de pesquisa e pretendemos desenvolver mais parcerias, primeiramente para atender às demandas do mercado brasileiro e, no longo prazo, às globais”, ressalta Roberto Leite, diretor de Pesquisa & Desenvolvimento da Chemtech.

Além de soluções voltadas aos desafios tecnológicos do pré-sal, o ambiente deve gerar oportunidades para empresas de menor porte e incentivar a interação com pesquisas acadêmicas. Para isso, o restante da área do parque está reservado ao desenvolvimento de projetos de incentivo a pequenas e médias empresas. Um deles é a Torre de Inovação, que abrigará cerca de cem pequenas e médias empresas, de diversos setores. A previsão é que as obras comecem no próximo ano e sejam concluídas em 2014. Com isso, cerca de R$ 500 milhões deverão ser investidos nesses pequenos empreendimentos nos próximos três anos, gerando emprego para 5 mil pesquisadores. Os investimentos também estão programados para a região próxima ao Parque Tecnológico. A GE, por exemplo, instalará seu Centro Tecnológico Global em uma área de 13 mil metros quadrados cedida pelo Exército brasileiro. A unidade vai consumir parte dos US$ 550 milhões que a companhia pretende investir no Brasil nos próximos anos. Outro projeto é o da Rolls-Royce, que planeja implantar na região de Itaguaí, no sul fluminense, seu quinto centro de excelência no mundo. O projeto faz parte dos planos da empresa de construir uma unidade de montagem de turbinas para plataformas de petróleo no país, com investimentos de US$ 150 milhões. “Muitos me perguntam o motivo de não trazer para o Brasil uma fábrica de turbinas, e eu simplesmente respondo: uma fábrica gera 30 empregos, em decorrência da elevada automação. Já uma fábrica de montagem terá centenas, e até milhares, de trabalhadores. Mas, para formar essa mão de obra, precisamos ter aqui um centro de excelência, com profissionais e tecnologia de ponta. E é isso que vamos fazer”, garante Francisco Itzaina, presidente da Rolls-Royce na América Latina.

Fotos: 2 - Agência Petrobras; 3 - Ana Carolina Fernandes/Folhapress; 4 - Rafael Andrade/Folhapress

imediatamente este mercado”, avalia Fábio Cabral, gerente comercial da companhia Chartis, que instalou em agosto sua filial carioca, depois de anos de atuação em São Paulo. “A Petrobras está no Rio e a área de resseguros também. As grandes empresas que estão chegando para atuar no país estão vindo para cá. Não há como ignorar este mercado”, garante. O Rio de Janeiro participa com pelo menos 11% do mercado de seguros brasileiro, mas tem potencial para chegar a 20% em quatro anos, calcula Cabral. Assim como a Chartis, suas concorrentes Allianz e Lockton, a maior corretora de seguros de capital fechado do

42 AméricaEconomia Outubro, 2011

AE 404 Rio.indd 4

27.09.11 16:26:48


3 4

mundo, tomaram o mesmo rumo. Elas estão de olho não somente nos projetos ligados aos eventos esportivos, mas em outro segmento que impulsionará a economia local: a indústria do petróleo. “O seguro de uma plataforma ou de uma embarcação é um negócio de bilhões”, lembra o executivo da Chartis. Na área de petróleo, a economia do Rio vem ganhando impulso na atração de investimentos graças não apenas aos negócios da Petrobras, mas também às novas companhias, como a petroleira de Eike Batista (OGX), a brasileira HRT e ainda multinacionais, como Shell, Statoil e BG Group. De acordo com o Renai (Relatório de Anúncios de Projetos de Investimentos) de 2010, do MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e

ACIMA, DONA MARTA, PRIMEIRA COMUNIDADE PACIFICADA DO RIO. AO LADO, OBRAS DO MARACANÃ PARA A COPA

Comércio Exterior), o Rio de Janeiro passou à frente de Minas Gerais e São Paulo, e assumiu a liderança do total de US$ 268,8 bilhões anunciados no ano passado a serem investidos no país nos próximos anos. Serão aplicados no estado US$ 18,45 bilhões, segundo o ministério, ante US$ 10,607 bilhões que serão recebidos por Minas Gerais e US$ 10,471 bilhões por São Paulo. “O aspecto mais positivo é que os recursos não se concentram na cidade. Eles estão espalhados por todo o estado, tanto por conta da Petrobras quanto por segmentos como logística e siderurgia. Isso garante que a boa fase de negócios não será passageira”, analisa Cristiano Prado, gerente de Competitividade Industrial e Investimentos da Firjan.

O levantamento da Firjan, que apontou o aporte de R$ 181 bilhões em investimentos de 2011 a 2014, elevou em 40% a previsão feita na pesquisa anterior, para o período de 2010 a 2013. Ao se considerar a pequena área ocupada pelo estado em relação ao território nacional, os bilhões de reais previstos dão ao Rio o título de maior concentrador de investimentos em todo o mundo, segundo o MDIC. São R$ 4 milhões por metro quadrado. Tamanha concentração de recursos, acompanhada de um PIB (Produto Interno Bruto) comparável ao do Chile, combinada a um elevado índice populacional (16 milhões de habitantes na região metropolitana) e à baixa taxa de desemprego – aproximadamente 5% –, cria um mercado consumidor invejável, com renda per capita superior à de São Paulo, perdendo no Brasil apenas para o Distrito Federal, que tem distorções em decorrência do salário de deputados, de senadores e do funcionalismo público. O alinhamento dos três níveis administrativos (municipal, estadual e federal) pela primeira vez em décadas, a pacificação das favelas e a nova era do petróleo chegam quase a colocar em segundo plano o fato de a cidade ter sido escolhida como sede dos Jogos Outubro, 2011 AméricaEconomia 43

AE 404 Rio V2.indd 5

29.09.11 14:25:49


ESPECIAL Rio de Janeiro Olímpicos, na opinião de Prado, da Firjan. “Além do ritmo acelerado das novas encomendas do setor de petróleo, que exigiram a ampliação das instalações de estaleiros e de toda a cadeia fornecedora, é inegável a importância do projeto de pacificação das favelas para o marketing local. O setor do turismo voltou a investir e novas lojas também chegaram, na esteira da recuperação da renda”, avalia Prado. O momento de crescimento trouxe de carona os negócios ligados ao varejo e aos serviços. Segundo dados da ABF (Associação Brasileira de Franchising), a quantidade de franquias existentes na cidade hoje equivale a 12% do total do país, mas essa participação deve chegar a 20% até 2014. “São empresas de cosméticos, butiques, restaurantes e pequenos negócios que estão se instalando aqui, vindos de outros estados e países. Há uma crescente procura pelo Rio de Janeiro, e não estamos falando dos megainvestimentos, mas de negócios que abrem em cada esquina”, avalia Maurício Chacur, da agência governamental de fomento Investe Rio. Criada em 2007, a Investe Rio deve liberar, neste ano, R$ 400 milhões em financiamentos para novas empresas. Entre as beneficiadas está a alemã Schulz, que planeja inaugurar sua quarta fábrica de dutos no país. As duas pri-

Investimentos de peso Em dezembro de 2010, enquanto discursava para uma plateia de mais de 200 investidores estrangeiros na sede da Associação das Nações Unidas, em Nova York, o governador Sérgio Cabral não titubeou ao falar sobre uma possível candidatura à presidência do Brasil em 2014, com base nos feitos do estado. “Não vejo razão. Hoje, eu já me sinto governando o Brasil. O Rio é um país e é a síntese do Brasil”, resumiu o governador, enquanto enumerava os investimentos de peso que o estado está prestes a receber. E não se trata de contar vantagem apenas em relação às descobertas da Petrobras na camada do pré-sal. Outros empresários acreditam que é o momento de aproveitar as oportunidades. O bilionário Eike Batista entrou na onda e, além de investimentos na cidade, constrói, no norte do estado, um dos maiores projetos logísticos já feitos na América Latina, o Porto do Açu, que vai abrigar estaleiro, siderúrgica, termelétricas e toda a base de apoio às suas plataformas que vão operar na exploração e no desenvolvimento dos campos da OGX. Outra mudança radical no estado será a instalação do Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro), que vai levar para a Baixada Fluminense um novo perfil de oferta de trabalho. A área deverá ser ocupada por fornecedores da empresa e clientes da área petroquímica. Segundo a coordenadora do NEPHU (Núcleo de Estudos e Projetos Habitacionais e Urbanos da Universidade Federal Fluminense), Regina Bienenstein, Itaboraí – cidade-sede do Comperj – já apresenta indicadores socioeconômicos que apontam para a expansão da região. Entre 2008 e 2010, por exemplo, a população local subiu de 187 mil habitantes para 218 mil. A empregabilidade teve crescimento significativo no setor de construção civil, passando de mil empregados em 2006 para 11 mil em 2010. Mas a principal preocupação é a qualificação da mão de obra local. Verificou-se, por exemplo, que a maioria dos alunos com até 14 anos ainda não concluiu o Ensino Fundamental. De cerca de 4 mil alunos, somente 800 estão na série correta. O Comperj começa a operar em 2012 e a Petrobras tenta compensar o quadro com a oferta de qualificação. “A expectativa é treinar 2 mil pessoas até lá”, garante o diretor de Abastecimento da estatal, Paulo Roberto Costa.

5

A ILHA DO FUNDÃO (À ESQ.) DEVE VIRAR REFERÊNCIA NO SETOR PETROLEIRO MUNDIAL. ABAIXO, HOTEL GLÓRIA SE PREPARA PARA RECEBER OS TURISTAS

6

34 AméricaEconomia Outubro, 2011

AE 404 Rio V2.indd 6

29.09.11 14:28:04


AS CONSTRUÇÕES SE MULTIPLICAM NA CAPITAL FLUMINENSE, ONDE O METRO QUADRADO JÁ DESBANCOU MANHATTAN, NOS EUA

7

Uma revolução urbana

Fotos: 5 - Agência Petrobras; 6 - Rafael Andrade/Folhapress; 7 - Panoramic Images/Getty Images

O Rio de Janeiro está em revolução, e os planos são ambiciosos: tirar do papel o metrô que ligará a Barra da Tijuca – na zona oeste – ao centro da cidade e implementar o projeto do Porto Maravilha. Tudo isso, intermediado por intervenções profundas na mobilidade urbana, no setor hoteleiro e na revitalização de áreas, além de projetos em telecomunicações. No total, já em 2011, cerca de R$ 3 bilhões estão sendo investidos na cidade. Até 2016, a estimativa é que sejam mais R$ 12 bilhões, desembolsados pelo governo, com aportes do COI (Comitê Olímpico Internacional). Esses recursos serão destinados a projetos de infraestrutura, com ênfase na área de transportes. O impacto disso, de acordo com estudos do governo municipal, aponta para algo em torno de R$ 90 bilhões na capital fluminense. São investimentos que derivam do aporte para infraestrutura feitos pela iniciativa privada, como a construção de hotéis, restaurantes e obras do COI (como alojamentos para atletas). Esses recursos podem gerar, a partir de 2016, cerca de 120 mil empregos diretos e indiretos. A principal modificação será nas proximidades do porto do Rio de Janeiro. A primeira fase inclui a revitalização dos bairros da zona central e a construção de garagens subterrâneas. Para uma segunda fase, está prevista a demolição do viaduto da perimetral, avenida de entrada e saída do Rio que liga o centro e a zona sul à ponte Rio-Niterói e à Avenida Brasil. A construção de uma avenida com seis pistas subterrâneas, a implantação de sistema de transporte com veículos leves sobre trilhos, as obras de saneamento e urbanização e a construção de museus são o que vêm depois da demolição, em um investimento inicial em torno de R$ 400 milhões. Já o metrô que ligará a zona sul (Ipanema/Leblon) à Barra da Tijuca terá a possibilidade de integração com a BRT (Bus Rapid Transit) – pistas exclusivas para ônibus. Serão quatro linhas construídas e 53 estações previstas ao longo das BRTs. O custo do projeto é de R$ 800 milhões, para uma rota de 56 quilômetros. No setor hoteleiro, a principal iniciativa até agora é a revitalização do Hotel Glória. Mas, segundo dados do Governo do Estado, são esperados outros R$ 500 milhões em novas instalações e modernização das unidades hoteleiras já existentes.

meiras foram construídas no estado do Rio nos últimos seis anos, e a terceira está em obras. Os novos investimentos somam R$ 80 milhões. Quando anunciou a quarta unidade, o presidente mundial da empresa, Wolfgang Schulz, esteve no Rio e resumiu: “Nós acreditamos e apostamos no Brasil”. A origem do dinheiro que se destina ao Rio de Janeiro é diversificada, mas espera-se que os chineses despontem. Segundo o presidente da CCIBC (Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China), Charles Tang, ainda neste ano pelo menos 30 empresas deverão abrir representações no estado, assinar parcerias com empresas nacionais

e dar início à produção local. Isso considerando apenas a área de óleo e gás, a mais monitorada pela entidade. De acordo com a CCIBC, a primeira onda de investimentos deverá se concentrar nos fornecedores de sondas e equipamentos de produção onshore. Entre as empresas interessadas em se instalar no Brasil estão a CIMC Raffles, que forneceu duas plataformas para a Schahin Cury, e a Honghua, que negociou duas sondas terrestres para a Queiroz Galvão. A lista ainda inclui a Shandong Kerui, especializada em sondas, e a ZPMC, do mercado de equipamentos portuários. “O Brasil como um todo, e o Rio de Janeiro em espe-

cial, têm grandes oportunidades, mas também limitadores de crescimento”, avalia Tang. Ele se refere particularmente ao setor portuário, que precisa avançar em tecnologia e mão de obra para alcançar níveis de competitividade mundial. Não são só os chineses que reclamam. A falta de qualificação profissional e a urgência na melhora da infraestrutura são apenas alguns dos gargalos a serem enfrentados por quem quer fincar bandeira em solo fluminense. Outro problema apontado por quem prospecta negócios no Rio é a falta de terrenos e, consequentemente, o encarecimento do metro quadrado. Outubro, 2011 AméricaEconomia 45

AE 404 Rio V2.indd 7

29.09.11 14:34:14


ESPECIAL Rio de Janeiro mo o morador comum sente no bolso os efeitos colaterais dessa escassez. Segundo a consultoria imobiliária Cushman & Wakefield, o metro quadrado carioca desbancou Manhattan, no ano passado, quando subiu 50% em relação ao ano anterior (passando para US$ 1.291,20). O valor representa US$ 53,80 a mais do que na região central da famosa ilha nova-iorquina. O Rio saltou da 13a para a quarta posição no ranking global de mercados de escritórios, atrás de Hong Kong, Londres e Tóquio, informa o relatório. Entre os imóveis residenciais, a zona sul, reduto da alta renda carioca, tem visto seus moradores serem expulsos dos apartamentos com menos de

Desfrutando de um alto índice de aprovação entre eleitores como há muito não se via no estado, o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), tem a seu favor um cenário promissor, com investimentos bilionários. Apesar disso, em meados de 2011, surgiram sinais de um desgaste. Os índices de popularidade do governador começaram a subir desde a implementação, com sucesso, das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadoras) nas favelas do Rio de Janeiro e ganharam espaço na mídia depois que as forças militares, em conjunto com o Exército, conseguiram ocupar a maior das comunidades e principal ponto do tráfico no estado, o Complexo do Alemão. Diante disso, a população acreditou que as medidas certas estavam sendo tomadas. A imagem do governador do Rio de Janeiro, porém, começou a ser arranhada quando ele decidiu enfrentar os bombeiros do estado que protestavam por melhores salários. Ao comandar a invasão do quartel, ocupado pelos bombeiros, a reivindicação tomou as ruas, e as manifestações contra o governo ganharam força. Em junho deste ano, um acidente de helicóptero na Bahia provocou efeitos colaterais dramáticos sobre sua gestão, evidenciando suas ligações com empreiteiras e empresários, além da

A fase delicada de

Cabral

80 metros quadrados, que passaram para a casa do milhão de reais. “No reajuste do aluguel, os proprietários pedem o triplo do valor. Passam de R$ 4 mil para R$ 12 mil. Ou então querem vender por cinco a seis vezes o preço original que pagaram três anos atrás. Apesar desses valores estratosféricos, conseguem vender para executivos de empresas que estão chegando ao Brasil. Não sei se é uma bolha, mas também não consigo ver em que isso vai dar”, relata o corretor de imóveis Alexandre Santos. Mas, animado pelos bons negócios, ele pondera: “O Rio é um camarote para assistir ao espetáculo do desenvolvimento. E todo mundo quer um lugar na janelinha, não é?”

má gestão das verbas em setores prioritários como educação e saúde. A situação ficou mais delicada quando surgiram novas denúncias sobre os contratos para a instalação das UPAs (Unidades de Pronto Atendimento), um dos trunfos eleitorais do governador na campanha para sua reeleição. Para completar a má fase, o acidente com o bonde no bairro de Santa Teresa, que resultou na morte de seis pessoas e em 50 feridos. O incidente evidenciou a dificuldade do governador para se posicionar diante da omissão de seu secretário de Transportes, Julio Lopes, que um ano antes havia ignorado o laudo que obrigava a suspensão da operação dos bondes, desgastados pelo uso e pelo tempo. Cabral rompeu com a imprensa e sofreu novo golpe, desta vez de dentro do símbolo de sucesso de seu mandato. Os moradores do Complexo do Alemão se revoltaram com a permanência do Exército no local, e denúncias apontaram para irregularidades na conduta dos policiais que atuam em outras UPPs. Agora, o governador tomou para si a briga pela divisão dos royalties do petróleo, e depende disso para sair vitorioso – com o apoio do governo federal – e se segurar na tênue linha que o mantém ainda em um patamar elevado de popularidade, apesar do desconforto. Um projeto de lei que prevê a redivisão dos royalties também entre os estados não produtores de petróleo foi vetado pelo ex-presidente Lula, mas ainda causa pesadelos no governador. Se o veto for derrubado no Congresso Nacional, o estado perderá uma receita anual de R$ 8 bilhões (valor atual), que deve ser multiplicada por quatro com a entrada em operação do pré-sal. É uma queda de braço política na qual Cabral não poderá, desta vez, contar com o auxílio do Bope – a elite da Polícia Militar do Rio de Janeiro.

Foto: Pedro Carrilho/LatinContent/Getty Images

Isso afeta os negócios nas mais diferentes proporções. Enquanto grandes empresas, como Petrobras e Gerdau, brigam para conquistar uma saída para o mar na área de Itaguaí, o pequeno investidor garimpa espaços onde possa instalar seu comércio, escritório ou indústria, pagando peso de ouro. E mes-

46 AméricaEconomia Outubro, 2011

AE 404 Rio V2.indd 8

29.09.11 14:37:38


Bilhões no horizonte Relação de investimento no Estado do Rio de Janeiro Carteira de Investimentos no Rio de Janeiro Setor

Valor Prazo (US$ bi) Início - Fim

Região

Petrobras

Petróleo

42,8

2010

2012

Norte Fluminense

Chevron

Petróleo

2,4

2010

2012

Norte Fluminense

OGX

Petróleo

0,8

2010

2012

Norte Fluminense

Comperj

Petróleo

20,0

2010

2017

Metropolitana

Gerdau

Siderurgia

1,4

2011

2016

Metropolitana

Estaleiro da Marinha e Base Naval em Itaguaí

Náutico

0,2

2011

2015

Metropolitana

Estaleiro Inhaúma

Náutico

0,1

2011

2012

Metropolitana

Complexo Ind. e Portuário de Barra do Furado

Náutico

0,1

2011

2013

Norte Fluminense

STX (Barra do Furado)

Náutico

N.D.

2011

2014

Norte Fluminense

Benetau

Náutico

0,1

2011

2012

Costa Verde

Alusa /Galvão

Náutico

0,4

2011

2014

Norte Fluminense

Estaleiro Aliança

Náutico

N.D.

2011

2012

Metropolitana

OSX

Náutico

1,8

2011

2015

Norte Fluminense

Intermarine

Náutico

N.D.

2011

2011

Costa Verde

Pegeout Citroën

Automobilístico

0,8

2011

2012

Médio Paraíba

Michelin

Automobilístico

0,6

2010

2012

Médio Paraíba

Arvinmeritor (MAN)

Automobilístico

N.D.

2011

2012

Médio Paraíba

Maxion (MAN)

Automobilístico

N.D.

2011

2012

Médio Paraíba

Suspensys (MAN)

Automobilístico

N.D.

2011

2012

Médio Paraíba

Coquepar

Ind. de Transformação

0,4

2010

2012

Metropolitana

LS Cable

Ind. de Transformação

0,3

2011

2013

Médio Paraíba

Technip

Ind. de Transformação

0,2

2011

2013

Costa Verde

Schulz e W. Maass

Ind. de Transformação

N.D.

2011

2011

Norte Fluminense

Di Santinni

Ind. de Transformação

N.D.

2011

2012

Baixada Fluminense

Nestlé

Alimentos e Bebidas

0,1

2011

2012

Centro-Sul Fluminense

CSN

Portos

2,1

2010

2012

Metropolitana

Technip

Portos

0,2

2011

2014

Costa Verde

Angra 3

Energia

4,0

2011

2015

Costa Verde

Grupo Canabrava

Energia

0,2

2011

2013

Norte Fluminense

Metrô Rio: Linha 4

Transporte Público

4,0

2011

2016

Metropolitana

BRT – Transcarioca

Transporte Público

0,8

2010

2014

Metropolitana

BRT – Transolímpica

Transporte Público

1,0

2010

2016

Metropolitana

BRT – TransOeste

Transporte Público

0,4

2010

2016

Metropolitana

Reforma do Maracanã

Equipamentos Esportivos

0,5

2010

2013

Metropolitana

Porto Maravilha

Infraestrutura Urbana

1,9

2011

2016

Metropolitana

Morar Carioca

Infraestrutura Urbana

5,0

2011

2020

Metropolitana

GE

Centros de Pesquisa

0,10

2011

2012

Metropolitana

Baker Hughes

Centros de Pesquisa

0,03

2011

2012

Metropolitana

Confab/Tenaris

Centros de Pesquisa

0,02

2011

2012

Metropolitana

BG Group

Centros de Pesquisa

0,03

2011

2020

Metropolitana

Ternium

Siderurgia

5,0

2012

2015

Norte Fluminense

EMC2

Centros de Pesquisa

0,02

2012

2016

Metropolitana

N.D. – Não Divulgado

Fonte: Secretaria de Desenvolvimento do Estado do Rio de Janeiro

Outubro, 2011 AméricaEconomia 47

AE 404 Rio.indd 9

27.09.11 16:28:25


DEBATES Segurança & Saúde

USUÁRIO DE CRACK EM LOS ANGELES: PRISÕES POR TRÁFICO AUMENTARAM 186% ENTRE 1980 E 2009 NO TERRITÓRIO AMERICANO

48 AméricaEconomia Outubro, 2011

AE 404 drogas.indd 2

9/29/11 11:37:30 AM


Repensando

a guerra DEPOIS DE MUITOS INVESTIMENTOS EM PROGRAMAS ANTI-DROGAS, OS EUA PATINAM SEM ENCONTRAR UMA CARLOS TROMBEN, DE SANTIAGO SOLUÇÃO PARA O PROBLEMA

peruana Dora Guevara trabalha há dez anos no Latin American Youth Center (LAYC), uma organização sem fins lucrativos, em Washington, que oferece apoio a jovens com problemas de alcoolismo e uso de drogas ilícitas. “A mais usada é a maconha, seguida da cocaína”, afirma. Washington é uma das regiões com maiores índices de consumo problemático em nível nacional. Segundo um recente relatório da Substance Abuse and Mental Health Services Administration, 21,25% das pessoas que vivem na capital americana tiveram problemas com álcool e drogas entre 2008 e 2009, contra 20,4% em nível nacional. Os jovens que chegam ao LAYC são imigrantes ou filhos de imigrantes que trabalham dois turnos em empregos de baixa qualificação ou afro-americanos em situação econômica precária. Eles costumam ter problemas de aprendizado e inserção no mercado profissional. Apesar dos altos índices de dependência química, porém, os jovens de Washington são, de alguma forma, privilegiados em comparação com os de outros estados. Têm seguro médico, e os tribunais não aplicam pena de prisão por posse de pequenas quantidades de drogas. Mas são obrigados, em troca, a en-

Foto: David McNew/Getty Images

A

trar em programas sociais, como o oferecido pelo LAYC. “Com a aprovação do Wellstone-Domenici Act [lei relacionada a um programa de saúde], houve um forte impulso do governo federal para exigir que as seguradoras privadas reconheçam e ofereçam tratamento aos viciados como a qualquer outro doente”, afirma Rosalie Pacula, economista e codiretora do RAND Drug Policy Research Center. A situação contrasta com quase 20 anos de linha dura contra consumidores e distribuidores de drogas. Entre 1980 e 2009, as prisões por drogas nos EUA aumentaram 186%, as relacionadas a posse de maconha cresceram 123% e, por crimes violentos, 22,4%. O resultado disso é que o país têm o maior índice mundial de adultos encarcerados: em 2009, eram 743 presos a cada 100 mil habitantes (segundo o Departamento de Justiça). Considerando apenas países da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), os que mais se aproximam são Israel (325) e Chile (312). Enquanto a população americana cresceu 9% entre 2000 e 2009, a carcerária subiu 23%. Mas há uma novidade: em 2009, pela primeira vez, o número baixou em relação ao ano ante-

rior (2,3%). Estaria o presidente Barack Obama tentando desfazer o problema social criado por seus antecessores?

MÃO DURA Em 1914, os EUA proibiram os médicos de receitar substâncias narcóticas como ópio, morfina e cocaína. Em 1937, foi aprovado o Marihuana Tax Act, uma estranha lei que, embora não proibisse, tornava a distribuição da maconha um procedimento extremamente complicado. O governo de Franklin Roosevelt lançou uma campanha contra o consumo recreativo de um tipo de substância utilizado na fabricação de cordas, vernizes e outros produtos industriais. Apesar do endurecimento das penas contra o consumo, a posse e o tráfico, a guerra contra as drogas só se tornou uma realidade no país a partir dos anos 1970. De fato, é uma espécie de ajuste de contas com a época das flores, quando o consumo ganhou uma abrangência sem precedentes. Em 1970, um ano depois de meio milhão de jovens se reunirem em Woodstock para uma festa de “música, paz e amor”, o presidente Richard Nixon conseguiu que o cong resso aprova sse o Cont rol led Substances Act. Dois anos depois, foi criada a DEA (Drug Enforcement Outubro, 2011 AméricaEconomia 49

AE 404 drogas.indd 3

9/27/11 4:12:14 PM


DEBATES Segurança & Saúde Administration) e nasceu a figura de um “Czar Antidrogas”. “Nesse momento, a situação era simples: a maconha era trazida da Jamaica, da Colômbia e do México”, afirma um funcionário aposentado do Departamento de Estado, que pediu para não ser identificado. Em 40 anos de guerra, o panorama mudou. A maconha deu lugar à cocaína, e os EUA começaram um jogo de gato e rato na Bolívia e no Peru contra os cartéis colombianos. O jogo aumentou de intensidade a partir de 1991, explica a mesma fonte, quando a prioridade de segurança nacional americana passou do combate ao comunismo internacional para o combate ao narcotráfico. O Plano Colômbia não teria sido possível sem a definição de ‘narcoterrorismo’, cunhada pelo general Barry McCaffrey em alusão ao cultivo de cocaína nos departamentos de Caquetá e Putumayo, zonas controladas pe-

no de Ronald Reagan aprovou o Sentencing Reform Act, que acabou com o sistema de parole (liberdade condicional) e endureceu as penas contra uma série de delitos. Os ministros da Justiça do presidente republicano se encarregaram de torná-las particularmente duras no caso de drogas. O crescimento da população carcerária, a privatização de parte do sistema e a composição étnica dos réus de drogas são diferentes aspectos do mesmo debate. “A proibição impôs um custo alto e desigual às minorias, como confirmam as enormes disparidades raciais nas taxas de prisão”, reconhece

Com o aumento do uso de cocaína, os EUA passaram a combater os países produtores 2

OS ASIAN BOYZ SÃO UMA DAS GANGUES AMERICANAS COM FORTE PRESENÇA NO TRÁFICO

las Farc (as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia). Porém, enquanto nos vales andinos os Estados Unidos financiavam a erradicação de cultivos, a derrubada de pequenas aeronaves e o crescente envolvimento das Forças Armadas locais, em casa se agravava a repressão contra os consumidores e as redes de distribuição domésticas. Em 1984, o gover-

Leslie Pacula, do RAND, referindo-se à transformação dos guetos em campos de batalha.

GUERRA EM CASA Elas estão em lugares públicos, nas escolas e nos vagões dos trens suburbanos: enormes grafites, letras exageradas e quase ilegíveis de grupos juvenis. Algumas se definem como contracul-

turais, de caráter político ou artístico, mas há outras que têm a capacidade de infundir temor na população e preocupação em policiais e juízes. Um estudo elaborado pelo National Drug Intelligence Center concluiu que aproximadamente um milhão de pessoas pertencem a alguma das 20 mil gangues ativas em nível de bairro, regional ou até nacional. Elas são as principais distribuidoras varejistas e atacadistas de drogas ilícitas dentro dos Estados Unidos. Muitas delas, de fato, atravessam ilegalmente a fronteira mexicana para obter a matéria-prima. O estudo classifica as gangues como de rua, carcerárias e de motociclistas. Na primeira categoria encontra-se, por exemplo, a 18th Street, nascida em Los Angeles e composta por mexicanos e centro-americanos; na mesma região também estão a Crips, de afro-americanos, e os Asian Boyz. Mexicanos e porto-riquenhos da região de Chicago formaram a ALKQN (Almighty Latin King and Queen Nation), enquanto os salvadorenhos se agruparam na mais jovem e temida, Mara Salvatrucha. As gangues carcerárias talvez sejam um problema ainda mais grave, pois se incubaram em um sistema penitenciário em constante aumento. Hermandad Aria, Barrio Azteca, Black Guerrilla Family e La Ñeta são, segundo o relatório, “redes criminais altamente estruturadas” que controlam a distribuição de drogas no interior do sistema carcerário e exercem controle e influência sobre as gangues de rua. Em outras palavras, são os professores. A lavagem de dinheiro do tráfico tem sido outro tema discutido em âmbito internacional, focado em cartéis latino-americanos e paraísos fiscais do Caribe. No âmbito americano, é uma realidade menos romanceada. Segundo relatórios policiais, as gangues utilizam lojas de vestuário, salões de beleza e pequenos selos de gravadora musical para legalizar o dinheiro da droga. Algumas gangues também organizam sofisticados esquemas de fraude imobiliária para fazer investimentos em propriedades,

50 AméricaEconomia Outubro, 2011

AE 404 drogas.indd 4

9/27/11 4:12:30 PM


PROGRAMAS COMO O PLANO COLÔMBIA LEVARAM A UMA MIGRAÇÃO DAS PLANTAÇÕES DE COCA PARA OUTRAS REGIÕES DO PAÍS

Fotos: 2 - Axel Koester/Corbis; 3 - Raul Arboleda/AFP

3

operações que facilitaram durante anos a bolha do subprime. Em Chicago, por exemplo, foram detectadas várias gangues utilizando “falsos compradores” e agentes imobiliários para comprar propriedades a um custo mínimo. O falso comprador pedia um crédito imobiliário concedido pelo agente. O imóvel era vendido, o falso comprador deixava de pagar o empréstimo e o membro da gangue ficava com ganho de capital. Obviamente, o estouro da bolha acabou com essas operações. As ramificações das gangues não incluem apenas os grandes cartéis mexicanos. O relatório do National Drug Intelligence Center reconhece que membros de várias gangues conseguiram entrar nas Forças Armadas. Assim, eles podem se movimentar dentro do país e viajar para o exterior. “Uma grave ameaça à lei, em função das competências adquiridas e da disposição em ensiná-las a outros membros de gangues”, aponta o relatório.

MUDANÇAS? O principal resultado da repressão da oferta e do consumo foi o aumento da população penal. E o vínculo entre gangues carcerárias e de rua mantém vivo o tráfico em âmbito doméstico. Porém, apesar da inflexibilidade do discurso e

Uma das críticas é que os EUA atacam criminosos envolvidos no cultivo e no tráfico e se esquecem dos doentes viciados da política federal, há mudanças à vista. De fato, o primeiro sinal veio da Califórnia, em 1996, com a aprovação do uso medicinal da maconha. “A descriminalização começou no âmbito dos estados há algum tempo, e não adquiriu visibilidade até pouco tempo atrás”, afirma Rosalie Pacula, coordenadora do RAND. “O que nem mesmo os responsáveis pelas políticas federais entendem bem é o número de estados que reduziram as penas associadas à posse de maconha, eliminando a prisão sem adotar explicitamente a descriminalização.” Até hoje, 17 estados adotaram (ou estão discutindo) legislações similares, relaxando as penas por posse de pequenas quantidades. Hoje, existem jurisdições locais (São Francisco ou Seattle, por exemplo) que fizeram da maconha a última de suas prioridades policiais. Não é de se estranhar: basta somar a crise fiscal que afeta estados e municípios e a aceitação cultural da maconha. Nem todos estão de acordo. A posição da DEA é contundente: “A legaliza-

ção da maconha, independentemente de como comece, será à custa de nossos filhos e da segurança pública. Criará dependência e problemas de tratamento e abrirá as portas para o uso de outras drogas, danos à saúde, comportamento delitivo e motoristas drogados”, afirma um relatório de janeiro de 2011 intitulado “The DEA Position on Marihuana”. Segundo o órgão, a campanha para a “maconha legal” baseia-se em duas falácias: que a ciência vê a droga como um remédio e que a DEA reprime pessoas doentes e moribundas que a utilizam. “A DEA ataca criminosos, não os doentes.” O mais importante serão as ações do líder do órgão, o ministro da Justiça, general Eric Holder. Em 19 de outubro de 2009, ele anunciou as diretrizes oficiais para os fiscais em estados que aprovaram o uso medicinal da maconha: “O Departamento [de Justiça] continuará perseguindo pessoas que, reivindicando conformidade às leis, escondam atividades inconsistentes com os termos, as condições e os propósitos destas”. Outubro, 2011 AméricaEconomia 51

AE 404 drogas.indd 5

9/29/11 11:38:02 AM


DEBATES Segurança & Saúde Brasil, um país entorpecido Paula Pacheco, de São Paulo O Brasil, ainda que tenha uma produção pequena de drogas, é uma importante rota por onde passa a droga produzida em alguns países vizinhos. E pouco se ouve falar sobre programas conjuntos para p o combate ao tráfico na região. O tema da descriminalização do uso de su substâncias u ub como a maconha, como se vê nos Estados Unidos, por sua vez, é an ant antigo, nt mas ainda não avançou para discussões mais consistentes. Aqui e ali, li,, são são vistos ensaios de iniciativas, como a formação çã ã de grupos de estudo e até té é ass marchas ma m em defesa da legalização da maconha, ha a,, que q pipocam, sob ameaça aç aça a da d polícia, p po aqui e ali. Ou seja, no que diz respeito o a dro dr drog d drogas, parecemos baratas ratas atas as tonta tont ttontas. nccipal pal dificuldade pa di dif e desenvolver desenvo se o e combate comb mba ba ao narA principal para se uma ação de cotráfico na a América Améric m ca a Latina é a interferência nte terferência erferênci rê ia dos EUA nass iniciativas inicia niciativa iativa tiv v regionais. A avaliação é de W Wálter Wáltte er Fanganiello ellllo o Maierov Maiero Maierovitch, a v presidente sident dente nte d do o In IInstituto Brasileiro Giovanni nii Falcone, F co o de desembargador d ar argador rgador o aposentado ap apo o do o e ex-secretário ex-secr ex-secre -sse e et Nacional Antidrogas do governo overno no Fernando Fern Fe er o Henrique ri e Cardoso. C doso oso. o. “Oss EUA E querem q encabeçar a solução do op problema. roblema. em Fiz em Fi Fizeram am am isso s com co o o Plano P o Colômbia C Colôm e, mais recentemente, ccom o Plano ano an no Mérida, érri n é no México. M c No No caso ca da a Colô Colômbia, Colôm ôm a produção de coca oca ca não nã caiu, caiu, apenas a apen ape s mudou m ou de e região. rre egião. ião. o No oM México, co o pla co plano p plan foi um fracasso absoluto, o o, serviu se s viu para pa p alime alim alimen men entar ntar uma um m p po polícia olícia ci cco o pt orrupta. pt [O O presidente p te Felipe] p Caldeldee alimentar corrupta. rón usou o Exército itto no o comb combate comba mbate ate e e es está está co ccom completamente om mpletame ple pletam le e ente te perdido no meio me d dess dessa des ess e guerra. Essa política lít ítica ica de combate com om mb te e não nã não empolga em emp p po polg polga ga a a América Am ica ca do Sul.” S Su u a que ue o Brasil Brasi B assiill tem tem em um um papel pape pe pel el importante important i t t no narcotráfiMaierovitch lembra co regional. Apesar pesar sar de não sser err produ p pro produtor rodu odu odut duto du u utto tor to orr de d drogas, dr drogas drog rrogas, ogas gas é o maior fornecedor de g produtos odutos tos os químicos qu usados us d no o refino refi efiiin no das das as fo ffolha folhas ha ha has ass de de coca coca, ccocca, ttra transformadas em cocaína. na “No Peru, Peru P na Colômbia Colôm ômbia mbia bi bia ia a e na n Bolívia B ívia Bo viia a não nã há nã há indústrias iin nd d dústr dú ússt iass de úst d éter, acetona e cloridrato. Tudo isso so o é comprado ccom omprado o m no n Brasil, silil,, ‘batizado’ ‘bati ‘b b ba bat batiz attiz do’ o’’ [misturado [m [misturad misturado mis misturad istttu urad urra ad a outras substâncias para aumentar me en ent a rentabilidade] id da bu b e distribuído para os países andinos produtores de coca”, diz o especialista. lilist Para ele, além de o país ser um corredor de escoamento de cocaína e maconha para a Europa, a África e a Ásia, é um grande consumidor. “O resultado disso é a corrupção generalizada no país e a proliferação de casos de lavagem de dinheiro. O tráfico traz a reboque uma série de outros problemas”, analisa.

A MARCHA DA MACONHA, EM SÃO PAULO, PROVOCOU REAÇÃO DA POLÍCIA

Foto: Fabio Braga/Folhapress

Isso, de um lado. Do outro, há aqueles que arriscam que Holder reverterá paulatinamente a política de sentenças duras instaurada por Reagan. “A velocidade do processo dependerá da reeleição de Obama”, afirma o ex-funcionário do Departamento de Estado. Servirá para acabar com o círculo vicioso da prisão e das gangues? Para Rosalie Pacula, a equação é mais complexa do que sustentam os legalizadores. “Como economista familiarizada com a literatura sobre elasticidade de preço das drogas ilícitas, o custo da regulamentação, o custo econômico de produzir e distribuir drogas, a economia do castigo e o custo de fornecer tratamento médico às pessoas com transtornos de comportamento não me convencem de que saibamos com certeza se uma política alternativa à criminalização é economicamente melhor.” Outro sinal importante é que a repressão da oferta dos países fornecedores da América Latina também não passa por seu melhor momento. Desde 2001, o narcotráfico perdeu status diante do terrorismo de origem islâmica. “O senhor do DEA não se senta mais no Conselho Superior de Segurança Nacional”, segundo uma fonte reservada. É só ver os orçamentos: o Plano Colômbia custou ao contribuinte americano US$ 6 bilhões. O Plano Mérida, para o México, recebeu US$ 1,5 bilhão, dos quais apenas uma parte foi desembolsada até agora. Por outro lado, Dora Guevara, do LAYC, não se assusta com o desafio de continuar ajudando os adolescentes vulneráveis na capital americana. “Eu não vejo um aumento no consumo”, afirma. “O consumo de anfetaminas e PCPs [droga alucinógena] aqui é mínimo e, em geral, os jovens que consomem cocaína também têm um consumo problemático de álcool.” Nesses momentos, a dor de cabeça para Dora e seus colegas que trabalham em organizações similares, em outras partes do país, é a mesma. “Dependemos de doações e recursos federais. Com a crise, tudo foi cortado”, afirma. 52 AméricaEconomia Outubro, 2011

AE 404 drogas.indd 6

9/27/11 4:13:33 PM



DEBATES Entrevista

Por onde começar

? 1

CONTRA A CRISE, ALICIA BÁRCENA, SECRETÁRIA ECRETÁRIA EXECUTIVA DA CEPAL, DEFENDE O COMÉRCIO INTRARREGIONAL TRARREGIONAL E A DISTRIBUIÇÃO DOS GANHOS ENTRE OS TRABALHADORES COMO FORMA DE CRESCIMENTO ECONÔMICO CARLOS TROMBEN, DE SANTIAGO

54 AméricaEconomia Outubro, 2011

AE 404 Cepal.indd 2

27.09.11 15:40:47


m um momento de dificuldade na economia global, Alicia Bárcena, secretária executiva da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe), propõe que a região siga alguns parâmetros na busca por crescimento e distribuição equitativa de renda. Segundo ela, uma das formas de passar com menos dificuldades por este momento delicado é por meio de programas que auxiliem a proteção dos mercados internos. Como exemplo, l Alicia Ali i cita it o Plano Pl Brasil B il Maior, que propõe criar vantagens à indústria nacional para que os setores sofram menos impacto com a invasão de produtos estrangeiros. Por outro lado, defende que é preciso dar garantias aos empregados, ou seja, nada de falar de flexibilização fl ibili ã d das lleis i trabalhistas. b lhi A secretária da Cepal alerta para o fato de poucos países estarem se preparando para duas questões importantes: o investimento em inovação e na previdência social. Apostar na inovação pode ser a diferença entre passar ileso pelos solavancos da economia e ganhar dinheiro em tempos difíceis. No caso da previdência, explica, se não se pensar na geração de empregos com direitos, o resultado será um tremendo passivo nas contas públicas, que terá de arcar com o envelhecimento da população na região.

Fotos: 1 - Juan Carlos Perez/Notimex/AFP; 2 - Miguel Rojo/AFP

E

AméricaEconomia • Como podemos enfrentar a valorização das moedas na região? Alicia Bárcena • A situação é muito preocupante. Os únicos países que conseguiram resistir à valorização cambial foram Peru, Panamá, Nicarágua e Argentina. Creio que isso envolve um conjunto de políticas. Ninguém tem a receita. No fundo, estamos falando da necessidade de estabelecer políticas muito claras em relação ao controle da inflação. Poderíamos encarar a inflação de forma mais ampla, com uma relação mais direta com o crescimento, e com outro parâmetro fundamental, que é o do investimento – não apenas investimentos públicos, como também

“Alguns dirão que o Brasil caminha em direção a uma dinâmica protecionista” privados. Essa Ess é a grande questão com a qual nossa macroeconomia deveria se preocupar. AE • Como instalamos na América L ti uma tendência Latina t i a um maior investimento produtivo? p Alicia • Vou dar como exemplo o q que o Brasil está fazendo. O país coloc colocou em prática o Plano Brasil Maior, qu que, na verdade, é um plano para 2011-20 2011-2014 que compreen nde a política industri compreende industrial, a tecnológica, ló i a de serviços e a comercom cial. O que o país busca é estimula estimular a inovação e a competitividade indu industrial nos mercados interno e extern externo. Alguns dirão que o Brasil caminha eem direção a uma dinâmica protecionisprotecion ta, mas creio que o país está tentando tentan se defender dessa valorização camb cambial e dar um alívio, digamos, tributár tributário, aos seus exportadores. Um país com co um banco nacional de desenvolvimendesenvolvime

to, que tem uma política industrial explícita, pode fazer esse tipo de plano. Outros não podem. Não há uma receita única diante da valorização, mas não há dúvidas de que isso envolve fortalecer a produção e a competitividade e potencializar o mercado interno. Se não podemos fazê-lo país por país, pelo menos deveríamos caminhar rumo a um mercado intrarregional. É muito importante que a América Latina se organize melhor para consolidar um mercado intraindustrial e que esses ganhos de competitividade não continuem saindo da região, mas se distribuam entre os atores produtivos, começando pelos trabalhadores. AE • Uma das regiões que mais registraram avanço nesse sentido é a América Central. A que a senhora atribui esse fato? Alicia • A América Central tem um

2

PROGRAMA URUGUAIO DE PREVIDÊNCIA SERVE DE MODELO

Outubro, 2011 AméricaEconomia 55

AE 404 Cepal.indd 3

27.09.11 15:40:11


DEBATES Economia

CONDIÇÕES PRECÁRIAS DE TRABALHO, COMO A DOS MINEIROS BOLIVIANOS, SÃO ALVO DE CRÍTICAS

mercado único. Eles conseguiram uma integração mais profunda em energia e infraestrutura. Em toda a região e em todo o mundo, o comércio está mudando de natureza. É cada vez mais composto por insumos do que por produtos finais, e é assim que vão se formando, hoje, as cadeias de valor. A Ásia-Pacífico, por exemplo, tem um comércio intrarregional de 46%; a América Latina, em média, tem 17%; e a América Central, 30%. Uma das questões mais interessantes na América Central é a ampliação do Canal do Panamá, que será um dos fatores de dinamismo mais importantes da região. AE • Por que, para a Cepal, a produtividade não deve se basear na flexibilização das leis trabalhistas? Alicia • Por várias razões. No Brasil, na Argentina e no Uruguai, optou-se

por uma política de salário mínimo que aumenta em função do crescimento econômico. E a previdência social acompanha, ao garantir o emprego com direitos. Para nós, a competitividade baseada em baixos salários e precariedade de mão de obra é uma competitividade espúria, porque estamos explorando o recurso humano e os recursos naturais e não estamos conseguindo que os ganhos de produtividade sejam distribuídos em nossa região. Se continuamos exportando recursos naturais com base em precariedade de mão de obra, o que estamos fazendo? Estamos exportando os ganhos de produtividade. Uma forma de nos apropriarmos dos ganhos de produtividade é por meio do mercado de trabalho. Afinal, queremos uma sociedade mais equitativa, que tenha acesso à educação, à saúde. Por isso, precisamos de um Estado melhor,

“Quem absorve os custos da economia do cuidado? Francamente, as mulheres”

AE • A estrutura demográfica da região evolui em direção ao envelhecimento da população. Como essa variável entra na análise anterior? Alicia • Se nós garantirmos o emprego com direitos, garantiremos o futuro. Uma sociedade que nos leva à vanguarda é o Uruguai, onde as negociações são quadripartidas: trabalhadores, empregadores, Estado e aposentados. Por quê? Porque os aposentados desempenham um papel muito importante, são a maioria no país. Há países que ainda têm uma janela demográfica. E isso significa que a sociedade tem a possibilidade de investir naqueles que têm entre 15 e 30 anos agora, ao lhes oferecer educação e emprego com direitos. Para quê? Para que tenham cobertura de previdência social no futuro. O que faremos com todos os precatórios que surgiram na década de 1990? Pois é o que estamos vivendo agora, a crise dos sistemas de previdência social e da economia do cuidado. Quem está absorvendo os custos da economia do cuidado? Francamente, as mulheres. Porque são elas que estão dedicando sua vida e seu tempo ao cuidado dos idosos, assim como antes cuidavam das crianças, sem remuneração. Esse custo está sendo assumido por metade da população, e com custos, porque, se a mulher entrasse no mercado de trabalho, abriria espaços de produtividade adicionais. Esse é um exemplo concreto. Preparar-se hoje em termos de mercado de trabalho, de produtividade e de previdência social é uma grande questão. Países como o Chile devem se preparar agora. Uruguai, Argentina e Brasil estão se preparando de maneira interessante para a transição demográfica.

Foto: Spencer Platt/AFP

mais eficiente, que garanta isso. Isso nada mais é do que a financeirização dos ativos e o ganho da especulação. O que se está buscando, no final das contas, é uma maior produtividade, mas que esses ganhos sejam distribuídos entre as cadeias de valor e o mercado de trabalho. E em que deve ser investido esse ganho? Em inovação, a palavra-chave.

56 AméricaEconomia Outubro, 2011

AE 404 Cepal.indd 4

27.09.11 15:41:25


A o

ú n i c a

q u e

tênis de mesa

beisebol

r e v i s t a

r o l a

golfe

n o

q u e

m u n d o

bilhar

softbol

bocha

handebol

futsal

futebol society

t r a z d o s

sinuca

lacrosse

t u d o

e s p o r t e s

tênis

críquete

sepak takraw

futebol americano

futebol de areia

floorbol

polo aquático

rúgbi

vôlei de praia

vôlei

Na Revista ESPN não é só a bola que rola. Rola também comportamento, notícias, opiniões, história e reportagens que vão do futebol ao golfe, passando pelo vôlei, basquete, boliche, automobilismo, boxe, natação, esqui, polo, rúgbi, atletismo, surfe, esgrima e muitas e muitas outras modalidades. boliche

futebol

basquete

A

ML001-11_AnESPN 200x266.indd 1

E S P N

D E

L E R

5/24/11 3:42 PM


DEBATES Segurança

UMA NOVA MUNIÇÃO 58 AméricaEconomia Outubro, 2011

AE 404 cloud computing2.indd 2

27.09.11 16:24:09


AS POLÍCIAS LATINO-AMERICANAS APOSTAM NO CLOUD COMPUTING E NA VIRTUALIZAÇÃO COMO ESTRATÉGIAS TECNOLÓGICAS PARA COMBATER O CRIME SERGIO JARA ROMÁN E CHRISTOPHER HOLLOWAY SALINAS, DE SANTIAGO

m um sequestro, as primeiras 72 horas são cruciais. A polícia sabe disso, e cada informação é vital. Às vezes, a única pista é um número de telefone. Talvez o crime esteja ligado a um caso de extorsão, a uma fraude financeira ou até a uma violação sanitária. Mas o problema da América Latina, com as complexas estruturas que envolvem as organizações públicas, é que transformar esse grupo de dígitos em informações úteis para o caso pode levar horas, dias e até semanas. O oficial encarregado do caso geralmente precisa lidar com outras agências policiais, militares ou de investigação, cada uma com seu próprio sistema burocrático, para trocar informações. Contudo, a inteligência relativa à segurança pública vem recebendo ajuda da tecnologia: o cloud computing e outras tecnologias relacionadas estão permitindo às agências encarregadas da segurança de seus países e cidades contar com informações compartilhadas e de acesso rápido. Um esforço que está principalmente concentrado no México e na Colômbia, mas que também é seguido por Brasil, Argentina e Chile. Boa notícia para uma região que tem uma das taxas de criminalidade e de homicídios mais altas do mundo, mas onde as estruturas policiais se destacam por sua ineficiência. “Na América Latina, é evidente que são necessários sistemas mais sofisticados para prevenir e controlar os delitos”, afirma a peruana Lucía Dammert, diretora do programa Segurança Cidadã da Flacso (Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais). “Existe uma urgência no que se refere ao desenvolvimento tecnológico em diversos âmbitos, mas sobretudo no que diz respeito à unificação de bases de dados de informações.”

Foto: Image Source/Getty Images

E

O México foi um dos primeiros a perceber essa necessidade. O aumento da violência no país, efeito da guerra contra as drogas, e a enorme pulverização de sua força de segurança (há cerca de 2.200 corporações policiais diferentes) fizeram com que o país buscasse novas formas de combater o crime. Em 2008, o governo nacional lançou o programa Plataforma México, um sistema centralizado de informação cujo objetivo é unir as bases de dados de todos os organismos públicos que se ocupam da segurança no país. Com um orçamento de quase US$ 130 milhões apenas para 2011, o plano se concentra no fortalecimento da infraestrutura de telecomunicações, no desenvolvimento de sistemas de informática e no fornecimento de equipamentos. “Plataforma México é um projeto localizado na Cidade do México, em um complexo subterrâneo de cinco níveis, com fortes medidas de segurança”, conta Rogelio Cerda, presidente da Comissão de Defesa Nacional da Câmara dos Deputados do México. Muitos criticaram a execução e a enorme quantidade de recursos gastos na iniciativa. “É um grande esforço do país, e é preciso gerenciá-lo transversalmente, porque logo começará a dar frutos”, afirma Cerda. “No geral, o governo cresceu com silos de informação. A justiça tem sua base de dados, a polícia tem a sua, e os elementos de investigação têm seus próprios”, afirma Guillermo Almada, diretor de Negócios para o Setor Público da Microsoft na América Latina, empresa que fornece tecnologia para o programa. “Um dos pilares da Plataforma México é a consolidação de todas as informações em uma base de dados integrada, lógica, que permita melhorar a

qualidade das respostas e agilizar a colaboração entre as entidades que intervêm em um determinado caso.” Concretamente, trata-se de alojar as informações das forças de segurança pública nas nuvens e aproveitar a mobilidade que isso permite e a economia em infraestrutura de data centers dispersos. “O cloud computing pode ajudar os departamentos de polícia a ter seus registros [bancos de fotos, formulários e ordens, entre outros] nas nuvens e acessá-los a partir de qualquer lugar e dispositivo”, afirma Sergio Rademacher, gerente da Qumulos, fornecedora regional de cloud empresarial da chilena Sonda. “Isso permite também consultar todas as informações, sem limitações geográficas, temporais ou de espaço físico, e, além disso, realizar o trabalho de forma mais eficiente e em um ambiente mais colaborativo.”

REALIDADE NACIONAL No Brasil, também entendeu-se que as nuvens são uma alternativa eficiente para organizar as informações dispersas das polícias e das forças de segurança. Os desafios trazidos pela realização do Mundial de Futebol em 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016 colocam o país necessariamente em uma posição complexa quando se trata de enfrentar sua alta taxa de criminalidade. Segundo números da ONG Fórum Brasileiro de Segurança Pública, no ano passado, foram cometidos 43 mil homicídios no país. “Nesses eventos globais, a segurança não pode falhar, e, por isso, fechamos há pouco tempo um acordo com o Brasil para mover para as nuvens todos os sistemas de segurança da polícia”, afirma o colombiano Orlando Ayala, vice-presidente Corporativo e Outubro, 2011 AméricaEconomia 59

AE 404 cloud computing2.indd 3

27.09.11 15:47:15


DEBATES Segurança PARA EVITAR O FIASCO NA COPA, ALÉM DO TREINAMENTO, A POLÍCIA BRASILEIRA TERÁ DE INVESTIR NA ORGANIZAÇÃO DE INFORMAÇÕES

2

assessor-chefe de Operações da Microsoft, um dos cargos mais altos da empresa em âmbito mundial. “Serão 110 mil efetivos da polícia brasileira treinados para gerir o sistema de cloud para a segurança dos eventos.” Essa é uma aposta que também foi bem recebida na Argentina, com algumas nuances. Desde 2008, o país está integrando as diversas bases de dados relativas à segurança pública, estabelecendo diferentes ‘pontes tecnológicas’, que permitem o compartilhamento de informações entre os muitos órgãos relacionados à segurança nacional. “Contudo, o grande problema é a diferença de desenvolvimento tecnológico entre os diferentes órgãos e os diversos estados. A Argentina tem uma organização federal, na qual cada província tem sua autonomia: sua própria polícia, seu próprio poder judicial, seu próprio poder executivo provincial. Portanto, primeiro é preciso superar-

mos os obstáculos dos diferentes graus de desenvolvimento para só então começarmos a nos conectar de forma eficiente”, afirma Mónica Mitza, diretora do Registro Nacional de Reincidência do país. “Mas tudo indica que, no médio prazo, vamos conseguir.”

EXPERIÊNCIA CHILENA No Chile, as instituições vivem um desafio semelhante. Embora haja esforços governamentais para avançar nessa questão, por meio da integração das forças públicas de segurança em um comitê, trata-se ainda de uma tarefa em desenvolvimento. “Existe um programa que integra a Polícia de Investigações (PDI) e os Carabineros por meio de um sistema de denúncia e detenção”, afirma Lucía Dammert, que já prestou assessoria para o governo de Sebastián Piñera em questões de segurança. “Contudo, o Ministério Público é autônomo, então ninguém pode

pedir sua base de dados.” Isso faz com que a unificação total das informações fique manca, impedindo o Chile de aproveitar as sinergias que poderiam ser produzidas. O país da região que está mais avançado nesse esforço é a Colômbia, onde a Polícia Nacional conta com 150 mil efetivos e, diferentemente do México, é unificada. Apesar dessa maior centralização, por causa das características naturais do território colombiano, montanhoso e selvagem, a comunicação eficiente e em tempo real é um verdadeiro desafio para as forças de segurança. “O que fizemos foi conectar todos os efetivos policiais distribuídos no país por meio de uma tecnologia denominada Instant Messenger, que interconecta rádios, computadores, vídeo e telefonia tradicional”, diz Guillermo Almada, da Microsoft. O objetivo é que os efetivos policiais colombianos possam ter acesso à base de dados

60 AméricaEconomia Outubro, 2011

AE 404 cloud computing2.indd 4

27.09.11 15:47:37


Fotos: 2 - Moacyr Lopes Júnior/Folhapress; 3 - Peter MacDiarmid/AFP

a qualquer momento, em qualquer lugar do país, em um esforço de virtualização de alta complexidade. Segundo Raúl Durán, gerente geral da Inntech na Colômbia, empresa responsável pelo desenvolvimento da virtualização da polícia local, são três as características que tornaram o projeto especialmente complexo. A primeira tem a ver com a busca de soluções para levar banda larga a todo o país, inclusive ao meio da selva e aos Andes. O segundo aspecto é que os dispositivos com os quais as polícias trabalham não devem ter nenhum tipo de informação residual. “Se, durante um confronto, um policial perde seu smartphone, por exemplo, este não deve conter nenhum tipo de informação que possa ser usada contra ele”, explica Durán. O terceiro elemento é a segurança com a qual se transmite a comunicação, que deve viajar com medidas adicionais de segurança, além dos mais altos níveis de criptografia. Apesar dos diferentes programas nacionais, os avanços são incipientes. “A resistência em compartilhar informações entre os diversos aparatos governamentais ainda existe em alguns países da região”, afirma Ricardo Villate, vice-presidente de Pesquisa

A Microsoft fechou um acordo com o governo brasileiro para mover para as nuvens os sistemas de segurança da polícia e Consultoria da consultoria IDC. “Isso acontece porque alguns governos são conservadores frente às tecnologias.” Contudo, colaboração e conectividade não servem de nada, se não houver tecnologia de ponta por trás delas. Por esse motivo, o Exército brasileiro fechou um contrato com a Motorola Solutions para fazer os primeiros testes de 4G na América Latina. Para isso, serão investidos US$ 2 milhões na adoção de uma rede LTE (Evolução de Longo Prazo) em Brasília, com o objetivo de garantir mais velocidade e segurança nas comunicações.

BIG BROTHER A tecnologia por trás dos Circuitos Fechados de Televisão (CCTV) também tem atraído os olhares das autoridades

SOFTWARES DE RECONHECIMENTO FACIAL, COMO OS USADOS NOS ATAQUES NA INGLATERRA, SÃO A PRÓXIMA TENDÊNCIA 3

latino-americanas. “Depois dos atentados de 11 de setembro de 2001, há uma explosão tecnológica vinculada a todos os mecanismos de CCTV”, explica Lucía Dammert, diretora do programa Segurança Cidadã da Flacso. “Atualmente, isso está muito mais avançado, pois há o desenvolvimento de softwares que reconhecem certos movimentos suspeitos. Isso está crescendo bastante na América Latina.” Lucía refere-se especificamente aos softwares de reconhecimento facial e de comportamento que alguns países europeus utilizam para prevenir ataques terroristas ou atos de vandalismo, como os ocorridos recentemente na Inglaterra. A tecnologia ‘Big Brother’ gerou um grande debate sobre eventuais violações à privacidade. De qualquer forma, essa modalidade de vigilância e reconhecimento começa a ser introduzida na América Latina, por enquanto mais para tarefas relacionadas ao controle migratório e a delitos tradicionais. Na Argentina, para agilizar o processo de compartilhamento de informações de segurança, estão sendo implantadas novas tecnologias, como o reconhecimento biométrico, que registra dados como feições faciais e imagens da retina. “Estamos utilizando biometria em todos os tipos de documentos, como passaportes, documentos de identidade, registro e identificação de detentos e réus com processos penais,” afirma Mónica Mitza, do Registro Nacional de Reincidência da Argentina. “Isso facilita a identificação das pessoas, a obtenção de um melhor controle migratório, a agilidade nos processos e a aceleração do sistema de busca e identificação de pessoas desaparecidas e possíveis vítimas de crimes.” Não se trata só de comprar gadgets e novos serviços. Para que as novas tecnologias cumpram seus objetivos, elas devem estar acompanhadas de mudanças culturais e estruturais baseadas na colaboração policial a partir de todos os órgãos. Sem isso, as promessas de usar a tecnologia a serviço da segurança ficarão nas palavras. Outubro, 2011 AméricaEconomia 61

AE 404 cloud computing2.indd 5

27.09.11 15:47:59


DEBATES Censura

Cala-te,

boca!

A IDEIA DE LULA DE CONTROLAR A IMPRENSA É APOIADA POR DIRCEU, MAS NÃO CONTA COM O AVAL DE DILMA

1

O QUE ESTÁ POR TRÁS DA RETOMADA DA PROPOSTA DE CONTROLE DA MÍDIA FEITA PELO PT IZABELLE AZEVEDO, DE BRASÍLIA epleto de estrelas partidárias denunciadas por corrupção, o PT decidiu partir para a linha de frente do debate sobre o controle da mídia e estuda, agora, como aprovar no Congresso Nacional um marco regulatório para o setor. Enchendo de adjetivos o trabalho da imprensa brasileira, figurões do partido defenderam abertamente a aprovação de regras mais rígidas para punir crimes de calúnia e difamação e evitar o que chamam

R

de “jornalismo marrom”. A posição partidária ficou clara durante o 4o Congresso Extraordinário do PT, realizado em Brasília no início de setembro. No evento, alguns dos petistas mais prestigiados pelos delegados presentes foram José Dirceu e Delúbio Soares; ambos citados como operadores do esquema de pagamento de propina a parlamentares conhecido como mensalão. Em meio a discursos exaltados contra a atuação dos meios de comunica-

ção e os excessos causados pela ampla liberdade de imprensa, surgiram alguns argumentos mais racionais para a defesa do controle social da mídia. O PT diz, por exemplo, que considera inaceitável o fato de o Brasil continuar a conviver com a falta de regulamentação de artigos da Constituição que tratam sobre propriedades cruzadas de meios de comunicação e com a ausência de uma lei de imprensa vigente. Brechas que o governo já havia anunciado que se in-

62 AméricaEconomia Outubro, 2011

AE 404 censura V1.indd 2

29.09.11 14:20:49


Fotos: 1 - Alan Marques/Folhapress; 2 - Antonio Cruz/ABr

teressava em fechar e deu carta branca para seus porta-vozes iniciarem o debate. “Não vamos defender nada que não conte com o aval e o interesse do governo. Como a ideia é tratar desses temas no parlamento, temos de discutir. Mas as pretensões do PT são as mesmas do governo”, diz o líder governista na Câmara, Cândido Vacarezza (PT-SP). “Não é possível que, toda vez que defendemos o debate, venham dizer que se trata de uma tentativa de censura”, reclama o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho. Apesar dos discursos pela afinação entre o que pretendem os petistas e o que quer o governo, a polêmica em torno da tentativa de regulamentar a mídia não é uma conta que a presidente Dilma Rousseff esteja disposta a pagar. Tanto que o Palácio do Planalto se apressou em comunicar que, apesar da regulamentação da mídia ter sido anunciada como uma bandeira permanente do PT, não é uma pauta governista. A posição palaciana interferiu no desfecho do congresso do PT. Inicialmente, a ideia da cúpula partidária – encabeçada pelo presidente nacional, Rui Falcão – era aprovar um documento em forma de resolução. O texto iria detalhar o plano de trabalho para o processo de regulamentação dos veículos de comunicação que atuam no Brasil. Em vez disso, o PT aprovou apenas uma moção de apoio a uma “agenda estratégica” que vai iniciar as discussões sobre a atuação da mídia no país. Na prática, a mudança sinaliza que o partido está disposto a trabalhar pela

2 regulamentação, mas sem a ajuda do Executivo ainda não é possível transformar o tema em uma bandeira prioritária. O recuo do PT e o temor do Planalto de que as discussões arranhem a imagem de Dilma foram resultados dos ataques feitos pela oposição. Para o CARVALHO DIZ QUE PROPOSTA NÃO É TENTATIVA DE CENSURA líder do PSDB, Duarte Nogueira (SP), trata-se de uma tentativa deliberada de mos conversar muito com os parlameninstalar a censura no país como retaliatares sobre o tema”, afirma Rui Falcão. ção à sequência de denúncias sofridas A resistência dos parlamentares pelos petistas nos últimos anos. “Esao anteprojeto não se resume à preotá claro que há uma tentativa de evicupação dos políticos com a liberdade tar a fiscalização e segurar o trabalho de imprensa. Um dos itens da “agenda da imprensa. Eles dizem que a pauta é estratégica” anunciada pelos petistas é um marco regulatório. Na verdade, é a o combate ao acúmulo de concessões instalação da censura”, ataca. de veículos de comunicação nas mãos O marco regulatório discutido pelos dos mesmos grupos, além da defesa de petistas é uma bandeira do ex-presidenregras mais rígidas para a distribuição te Lula. Quando estava no governo, Lude publicidade. A questão é que polítila apresentou um anteprojeto regulando cos influentes, como o líder do PMDB, a mídia, mas as pressões do setor e a reaHenrique Eduardo Alves (RN), o líção dos congressistas contrários à mader do DEM, Antonio Carlos Magatéria o obrigaram a retirar a proposta e lhães Neto (BA), e o senador Fernando a enviar para uma nova análise do MiCollor (PTB-AL), comandam grandes nistério das Comunicações. grupos de mídia em seus estados. Nas mãos do ministro das ComuNa falta de interesse dos políticos nicações Paulo Bernardo desde o início de perderem espaço, restou a Falcão do ano, a proposta está sendo reformupregar que a restrição para o acúmulo lada para retornar ao Congresso. Mas a não atingiria os atuais donos de meios ordem é ter cautela porque nem os próde comunicação, apenas evitaria novas prios integrantes da base aliada estão concessões. O problema é que ninguém dispostos a entrar no debate. “Precisareparece estar convencido disso.

O mau exemplo latino-americano O Brasil não é o único país na América Latina a ter algum tipo de movimento de controle da mídia. Na Vezenuela, emissoras de TV foram fechadas pelo governo de Hugo Chávez sob a acusação de apoiar o golpismo. As entidades de defesa da liberdade de expressão, no entanto, avaliam que se trata de retaliação a órgãos de impresa contrários ao presidente venezuelano. O tema também anda bem quente na Argentina. O governo da presidente Cristina Kirchner tem jogado pesado contra o Grupo Clarín, que

viveu casos pitorescos, como a invasão da redação do jornal El Clarín por policiais. Agora, a munição foi direcionada aos jornalistas da área econômica. Numa medida intimidatória, um juiz determinou que as empresas de comunicação informem os dados completos dos jornalistas econômicos que divulgarem índices de inflação que não sejam o oficial. O índice do governo, o Indec, tem sido questionado por economistas e pelo FMI (Fundo Monetário Internacional), que o consideram bem abaixo da inflação real. Ou seja, a suspeita é de manipulação de dados da economia.

Outubro, 2011 AméricaEconomia 63

AE 404 censura.indd 3

27.09.11 15:37:54


DEBATES Ajuda humanitária

Identidade para o Haiti

PROJETO DE CARTÓRIOS BRASILEIROS AJUDA A REGULARIZAR O SISTEMA DE REGISTROS NO PAÍS CARIBENHO ADRIANA CHAVES, DE SÃO PAULO ajuda brasileira ao Haiti vai além da presença de tropas militares de pacificação após o terremoto ocorrido em janeiro de 2010. Em uma iniciativa inédita, associados à Anoreg-BR (Associação dos Notários e Registradores do Brasil) trabalham na reestruturação completa dos registros civis e de imóveis naquele país. Neste mês, começam a funcionar os primeiros cartórios-modelos, e funcionários haitianos passarão por treinamento. Um grupo composto por dez donos de cartórios no Brasil, visitou o Haiti em julho para conhecer a realidade do país e dar início aos trabalhos, de acordo com o diretor de Qualidade e Normas da Anoreg-BR, José Maria Siviero. Na primeira fase, o projeto pretende instalar um sistema de registro que contemplará de recém-nascidos a jovens de até 18 anos, além de regularizar as propriedades imobiliárias. “Para levantar os dados de pessoas acima dos 18 anos, aproveitaremos o cadastro feito para as eleições”, explica Siviero. Depois de um primeiro turno tumultuado, em novembro de 2010, foi eleito presidente o cantor popular Michel Martelly, com 67,57% dos votos, em abril deste ano. As eleições marcaram mais um passo na tentativa de se recuperar da devastação provocada pelo terremoto, que deixou mais de 200 mil mortos e destruiu prédios públicos e privados, além de ter “engolido” os documentos dos haitianos. Segundo Siviero, a iniciativa de regularizar o sistema de registros haitia-

A

EM PORTO PRÍNCIPE, O EXÉRCITO BRASILEIRO FAZ A DISTRIBUIÇÃO DE ALIMENTOS DEPOIS DO TERREMOTO DE 2010

64 AméricaEconomia Outubro, 2011

AE 404 Haiti V2.indd 2

9/27/11 3:57:46 PM


no não tem custo algum para o governo brasileiro e está sendo bancada por donos de cartórios e empresas, que colaboraram com kits de biometria, computador com software para cadastro, máquina fotográfica digital e scanner para coletar impressões digitais. Neste mês, o grupo volta ao Haiti e inaugura dois cartórios-modelos: um na Embaixada do Brasil e outro no escritório da OEA (Organização dos Estados Americanos), ambos na capital

Porto Príncipe. A partir dos dois pontos serão feitos os registros e oferecidos treinamentos para qualificar cidadãos haitianos a trabalhar nos cartórios. Representantes da OEA, do Banco Mundial e da ONU (Organização das Nações Unidas) também estiveram no Brasil para acompanhar o funcionamento dos cartórios e a exportação do know-how brasileiro. Há uma demanda estimada de 10 milhões de documentos no Haiti, de

Calcula-se que a demanda no Haiti chegue a 10 milhões de documentos acordo com Siviero. “Depois, pretendemos estender a iniciativa para cada um dos povoados, com os próprios haitianos tomando conta de cada um deles. Todo o processo de reestruturação levaria sete anos, mas nós pretendemos reduzir esse prazo para até dois anos com essas ações.”

Foto: John Moore/Getty Images

TROPAS BRASILEIRAS As tropas brasileiras no Haiti devem ser reduzidas em até 800 homens, a partir de março do ano que vem – hoje são cerca de 2,2 mil soldados. O anúncio foi feito pelos ministros das Relações Exteriores, Antonio Patriota, e da Defesa, Celso Amorim, em setembro, durante um encontro da Unasul (União das Nações Sul-Americanas). A medida faz parte da estratégia de diminuir gradualmente a presença militar internacional no país caribenho. “A discussão ocorre em torno do tema de voltar aos níveis preexistentes [ao terremoto de 12 de janeiro de 2010]”, disse Patriota no encontro da Unasul. Atualmente, há no país quase 12 mil militares e policiais estrangeiros, e a redução depende da aprovação do Conselho de Segurança da ONU. O Brasil é responsável pelo comando militar da missão e quer liderar a retirada dos soldados. Para o governo brasileiro, a missão alcançou o objetivo de promover a segurança e ajudou na troca de poder por meio de processo democrático, já que o parlamento foi reformulado e dois presidentes foram eleitos (René Préval em 2006 e Michel Martelly este ano). Também enviaram militares Argentina, Bolívia, Canadá, Chile, Equador, Estados Unidos, Filipinas, França, Guatemala, Japão, Jordânia, Nepal, Paraguai, Peru, Coreia do Sul, Sri Lanka e Uruguai. Outubro, 2011 AméricaEconomia 65

AE 404 Haiti V1.indd 3

9/27/11 3:58:46 PM


DEBATES Investigação

Uribe

sob fogo

JUAN MANUEL SANTOS (ESQ.), ATUAL PRESIDENTE, APROVEITA A FRAGILIDADE EM TORNO DO ANTECESSOR, URIBE (DIR.)

OS ESCÂNDALOS ENVOLVENDO OS COMANDADOS DO EX-PRESIDENTE COLOMBIANO MOSTRAM O LADO OBSCURO DE SUAS CONQUISTAS JENNY CAROLINA GONZÁLEZ C., DE BOGOTÁ ex-presidente colombiano Álvaro Uribe teve uma de suas mais nefastas semanas no final de julho. Com poucos dias de diferença, dois de seus mais próximos amigos e ex-colaboradores foram envolvidos em uma espiral de escândalos que ainda não terminou.

O

O ritmo adquirido pelos processos com a nova procuradora geral Vivian Morales, somado às revelações do governo do atual presidente Juan Manuel Santos, manchou a imagem do presidente mais popular da história da Colômbia, que terminou seu governo, em agosto de 2010, com aprovação de 75%.

Um ano depois, o índice caiu para 60%, segundo um levantamento do Ipsos. “As questões de corrupção apresentadas pelo governo atual não envolvem diretamente Uribe, mas há muitos escândalos que depõem contra sua administração”, afirma o cientista político Cesar Caballero.

66 AméricaEconomia Outubro, 2011

AE 404 Uribe.indd 2

9/29/11 11:41:44 AM


“Preocupa-me que sejam adaptados os testemunhos, em prejuízo do meu governo, da minha família e da minha pessoa, que haja confabulação entre as pessoas que eu extraditei e suas vítimas, no sentido de me maltratar”, afirmou Uribe na comissão que investiga sua suposta participação em interceptações e nos monitoramentos ilegais de integrantes da oposição, jornalistas, magistrados e defensores dos direitos humanos a partir do DAS (Departamento Administrativo de Segurança), órgão de inteligência ligado à Presidência da República. Segundo um artigo do jornal americano The Washington Post, o DAS teria usado ajuda da Casa Branca nos trabalhos de espionagem voltados a cinco ex-diretores do órgão, além de ter provocado a prisão de Bernardo Moreno, secretário particular de Uribe durante seu segundo mandato. O ex-diretor da UIAF (Unidade de Informação e Análise Financeira), Mario Aranguren, também enfrenta um processo por ter fornecido ao DAS informações confidenciais, sem ordem judicial, das movimentações bancárias de alguns magistrados das altas cortes. Para Gustavo Petro, um dos políticos afetados pelas escutas, o importante é demonstrar que o monitoramento foi feito com o consentimento do ex-chefe de Estado. “A perseguição do DAS vinha sendo dirigida e ordenada desde o gabinete do presidente da República”, afirma o ex-senador, que considerou que apenas a justiça internacional poderia julgar Uribe, dada a politização da comissão parlamentar, em que os membros da oposição não têm espaço.

Foto: Rodrigo Arangua/AFP

OS INVESTIGADOS Nem o mundo das celebridades ficou de fora. Valerie Domínguez, atriz e miss Colômbia de 2005, é uma das 22 pessoas investigadas por ter recebido irregularmente subsídios não reembolsáveis da AIS (Agro Ingreso Seguro). O escândalo também chegou ao ex-ministro da Agricultura e Desenvolvimento Rural de Uribe Andrés Felipe Arias, que tenta provar que não

beneficiou famílias endinheiradas por meio da AIS. A Procuradoria busca descobrir se aqueles que receberam os subsídios da AIS contribuíram com dinheiro para a campanha presidencial de Arias (conhecido como “Uribito”). Pelas irregularidades à frente da AIS, o político está impedido por 16 anos de exercer cargos públicos. Outros altos ex-funcionários do governo de Uribe formam o grupo dos investigados. O ex-alto comissário de paz Luis Carlos Restrepo ainda se esforça para explicar à justiça o aval que teria dado a traficantes para que fossem tratados como paramilitares. Sabas Pretelt de la Vega, ministro do Interior e da Justiça na primeira administração de Uribe, e o ex-ministro de Proteção Social Diego Palacio respondem por privilégios concedidos a alguns parlamentares para influenciar na votação que aprovou a emenda constitucional que

mo direito de combater a corrupção, faça alguns shows publicitários que mais parecem escândalos jornalísticos do que tarefas de administração”, afirmou Uribe, que lançou uma velada ameaça a seu sucessor. “Tomara que essas descobertas não sejam convertidas em falsos positivos, ou seja, casos plantados de corrupção”, disse, referindo-se ao escândalo que envolveu integrantes do exército colombiano no assassinato de civis inocentes para fazê-los passar por guerrilheiros mortos em combate. Para a ex-ministra da Defesa Marta Lucia Ramírez, há “interesses políticos nas denúncias de falência de um governo sobre outro, sejam derivadas da corrupção ou da falta de controle”. Ela reconhece, contudo, que há casos em que os escândalos são mais do que justificados e não são invenções. Não por acaso, os escândalos salpicam precisamente em agências-chave para pacificar o país. Por exemplo,

Analistas acreditam que, em algum momento, as denúncias contra a ex-equipe de governo chegarão a Uribe abriu as portas para o segundo mandato do ex-presidente da Colômbia. Completam a equipe de investigados o ex-ministro do Transporte Andrés Uriel Gallego, com um caso anterior na Procuradoria por supostas irregularidades de contratação, e Edmundo del Castillo, ex-secretário Jurídico da Presidência, que, além de responder pelo mesmo caso de Gallego, deverá explicar uma reunião que realizou, dentro da Casa de Nariño, sede do governo, com o porta-voz das AUC (Autodefesas Unidas da Colômbia), um grupo de paramilitares, Antonio López, também conhecido como “Job”. Como quem coloca a cereja no bolo, o presidente Juan Manuel Santos revelou desfalques milionários nos setores de saúde, educação e impostos, somando cerca de US$ 46 milhões. “O que me preocupa é que o governo do presidente Santos, em seu legíti-

a Direção Nacional de Entorpecentes, sobre a qual foi dito que os narcotraficantes continuavam a gerenciar os bens confiscados por meio de documentação falsa e de testas de ferro. A pergunta é se os processos vão afetar a imagem do ex-presidente e diminuir seu poder. Dependerá muito de, se em algum momento, a justiça associar os escândalos diretamente a Uribe. A analista Cecilia López se pergunta por que a justiça não envolveu o ex-presidente. Na sua opinião, ele deve responder. “Por ação ou omissão, não é possível entender por que esses escândalos não chegam a ele”, diz. Apesar do panorama nebuloso enfrentado pelo ex-presidente, a opinião pública ainda não lhe deu as costas, e suas conquistas continuam a pesar no imaginário colombiano. Embora os métodos tenham sido questionáveis, o país continua reconhecendo os fins. Outubro, 2011 AméricaEconomia 67

AE 404 Uribe V1.indd 3

9/27/11 4:03:37 PM


CAPA Ranking de Bancos

A salvo da crise DESCOLADOS DA INDÚSTRIA FINANCEIRA GLOBAL, OS BANCOS LATINO-AMERICANOS ALCANÇAM RESULTADOS RECORDES

os 12 meses terminados em junho de 2011, os 250 maiores bancos da América Latina mostraram estar totalmente descolados da indústria bancária mundial. Enquanto os bancos globais sofrem com a falta de liquidez e a desvalorização de seus ativos, as instituições financeiras desta parte do mundo conseguiram um aumento de 33% em

N

seus ativos, chegando a quase US$ 4 trilhões. Seus lucros semestrais no mesmo período cresceram em média 30%, somando US$ 24,206 bilhões. Assim, tem-se praticamente um empate com as cifras de 2008 – o maior registro histórico dos bancos latino-americanos em termos de lucro. “A rentabilidade dos bancos da região é a mais alta do mundo”, afirma o argen-

tino Gabriel Roitman, diretor de Mercados Globais da sucursal nova-iorquina do Deutsche Bank Securities, citando um recente relatório interno do banco alemão. O ROA (retorno sobre ativos) dos 250 maiores bancos latino-americanos foi, em média, de 1,77% no ano terminado em junho de 2011, enquanto a rentabilidade de seu patrimônio che-

Foto: Shutterstock

AMÉRICAECONOMÍA INTELLIGENCE

68 AméricaEconomia Outubro, 2011

AE 404 RK 250 bancos V2.indd 2

29.09.11 17:45:29


gou a 16,4%. Em meio a inúmeras notícias sobre as perdas dos bancos ao redor do mundo, dos 250 maiores da América, apenas 18 ficaram negativos na última linha. Grandes grupos financeiros globais têm encontrado na América Latina retornos inexistentes em outros lugares, como o britânico HSBC. Seus bancos na região geraram US$ 1,15 bilhão em lucros na primeira metade de 2011. É um número 30% maior que no mesmo período de 2010 e 10% de seus lucros totais (em 2010, era de apenas 8%). Para os bancos espanhóis, com forte presença na América Latina, os resultados obtidos na região simplesmen-

te foram a salvação. Em meio à recessão espanhola, o grupo financeiro BBVA aumentou em 14% seus lucros em euros gerados na América Latina durante o primeiro semestre do ano. Na Espanha, a queda foi de 34,4%. A região já gera 47% da margem bruta da instituição financeira espanhola, mesmo representando apenas 22% de seus ativos. Para o Santander, a história é parecida. A região gerou US$ 4 bilhões em lucros no primeiro semestre deste ano, 13,4% a mais que no mesmo período de 2010. Ao mesmo tempo, os lucros de suas operações na Europa continental caíram 17%. No encerramento do primeiro semestre de 2011, 44%

dos lucros do grupo foram gerados na América Latina. Os maiores lucros e o crescimento dos ativos foram resultado do aumento da cobertura bancária. Contudo, os bancos não podem ser medidos apenas por seus lucros. Embora a existência de bancos geradores de lucros seja consequência da força corporativa e da capacidade para enfrentar choques externos, há outros fatores que colaboram para o vigor do sistema financeiro da América Latina. Sua gestão deve cuidar da capacidade de responder aos empréstimos e depósitos e enfrentar com sucesso os ciclos de contração de crédito e depreciação de ativos.

ÍS

NC

PA

BA

AT IV (U O TO S$ TA MI L LH ÕE VA S) 20 R. 11 11 ATIV /1 O 0 ( TO EM TA % L ) C. VE NC ./ C. LU CR CR ÉD O . (% S ) 2 OBR (%) 20 01 E 11 1 PA * VA TR R. IM ÔN 11 REN IO /1 T 0 ( AB % IL ) ID AD LIQ E UI DE Z BA SE 10 0 PA TO TR TA IMÔ L( N % IO/ )2 A 01 TIV 1 O EF IC IÊN CI AB AS E1 00 VA /2 R. 01 EF 1 IC IÊN CI A1 ÍN 1/ DI 10 CE (% BA FI ) SE NA L 10 0

O

10 20

RK

RK

20

11

Os 25 Melhores Bancos da América Latina

1

2

ITAÚ UNIBANCO

BRA

480.623,0

36,2

4,2

13,6

13,2

20,0

5,8

74,3

6,8

61,0

2

1

SANTANDER SANTIAGO

CHI

52.546,9

39,0

2,6

27,4

-9,5

70,0

7,7

100,0

-

60,8

3

4

BRADESCO

BRA

432.594,5

38,1

7,1

14,9

1,3

20,0

7,8

73,1

3,4

60,7

4

6

BANCO DE CHILE

CHI

43.133,9

33,9

1,0

28,2

-9,4

90,0

8,1

72,8

-0,7

58,0

5

3

CONTINENTAL BBVA

PER

14.440,5

30,3

0,2

34,2

4,2

100,0

7,8

67,5

1,7

57,6

6

5

SANTANDER

MÉX

67.748,2

38,3

2,4

15,2

-6,8

100,0

10,6

80,2

-4,3

54,4

7

7

INTERBANK

PER

7.026,5

15,8

1,1

31,2

-3,6

100,0

8,3

61,8

0,3

53,4

8

9

SANTANDER

BRA

270.588,1

30,4

7,3

2,1

-44,4

30,0

15,2

80,3

-4,2

53,1

9

CITIBANK

BRA

30.589,9

18,5

4,3

48,9

482,9

60,0

8,8

52,1

-3,3

52,9

10

12

11

8

12

11

BANCO DE CRÉDITO DE PERÚ

PER

23.666,6

27,0

1,1

24,4

-0,2

100,0

8,6

58,7

-0,2

51,3

SANTANDER

URU

4.536,2

15,0

0,1

6,0

-59,5

80,0

9,9

79,3

-5,4

51,2

BBVA BANCOMER

MÉX

95.914,9

10,7

3,2

21,1

-9,0

100,0

9,8

52,9

-5,0

51,1

13

13

SCOTIABANK

PER

10.338,0

25,7

1,2

19,8

-8,7

100,0

12,5

57,6

-0,9

50,7

14

10

INDUSTRIAL E COMERCIAL

BRA

10.793,3

41,8

1,9

9,6

-29,9

20,0

12,0

89,1

-0,9

50,6

15

15

CORPBANCA

CHI

16.899,7

31,0

1,9

23,5

5,4

40,0

6,5

82,7

2,7

50,5

16

16

DE BOGOTÁ

COL

23.018,6

38,6

1,9

13,1

-23,0

100,0

18,8

64,5

-0,5

50,4

17

19

BICE

CHI

6.327,8

29,6

0,8

19,9

22,6

90,0

8,0

62,1

-5,9

50,0

18

20

PICHINCHA

EQU

6.245,5

21,7

1,7

22,8

78,9

100,0

8,8

58,2

0,3

49,9

19

18

BCI

CHI

31.869,2

35,2

2,1

24,2

18,0

100,0

7,6

68,9

4,4

49,7

20

22

MERCANTIL DEL NORTE

MÉX

50.475,6

12,7

2,4

14,3

-1,7

100,0

7,8

59,1

-0,2

44,6

21

21

BBVA

CHI

16.063,9

18,5

2,1

16,8

-7,8

80,0

6,9

68,3

-1,2

43,8

22

25

BANCOLOMBIA

COL

30.698,3

35,6

2,1

17,6

2,5

100,0

14,4

39,2

2,9

43,2

23

23

INBURSA

MÉX

22.605,3

30,7

4,2

8,6

41,0

100,0

18,2

60,0

-0,2

42,5

24

17

ABC BRASIL

BRA

5.951,6

20,8

0,3

10,8

13,1

10,0

15,3

49,5

3,3

42,4

25

14

BANAMEX

MÉX

96.962,2

14,4

15,6

8,0

-42,5

100,0

11,1

49,8

-1,6

40,6

* Relação entre carteira vencida e carteira de crédito

Outubro, 2011 AméricaEconomia 69

AE 404 RK 250 bancos V2.indd 3

29.09.11 17:46:02


CAPA Ranking de Bancos Mais empréstimos Bancos que mais aumentaram suas carteiras de crédito (em variação anual percentual) 700 600 500 400 300 200 100 A) GU

A) IAL (

A(

G&

TC

J.P .

IND U

ST R

J. SA FR

MO R

ON TIN EN TA L(

GU

A) BR

BR GA N(

R( RM AD O FO RE

AG R

A)

A) GU

(GU CA NT IL OM ER

RU

DE

DE

LD

LO

ST

ES AR R

OL

LO

RA BA JA DO

ND JO H

A)

A) RA L(

S( RE

RE EE

AN CO CIB

GU

A) GU

(BR

(M ÉX

)

A)

0

Cofre aberto Bancos que mais aumentaram sua relação de crédito sobre ativos (em pontos percentuais negativos) 90 80 70 60 50 40 30 20 10 ) ÉX (M

(BR

NK

SO

DE

CIÉ

UT

SC

GE

HE

BA

RA

N.A NK IBA CIT

PA

A)

) RA . (B

BR O( CL

ÁS

SIC

LB WE

ST

AN RIC NA

ME

A)

A)

BR O(

B( IM

AF

(BR

A)

A) BR

X) MÉ E( IRM

NK BA ING

SA

FR

A(

(M

BR

ÉX

)

A)

0

J.

É por isso que, além de revisar os balanços dos 250 maiores bancos da América Latina para preparar este especial, a AméricaEconomía Intelligence realiza testes de resistência e liquidez para escolher os 25 melhores bancos da região. Isso é feito segundo a metodologia Camel, uma referência internacional que analisa as instituições financeiras com base em sua adequação de capital ou de patrimônio, qualidade dos ativos, management ou capacidade gerencial, lucros (earnings, em inglês) e liquidez. Além disso, considerando as dificuldades que as instituições financeiras têm para manter os bons níveis anteriormente descritos, a metodologia de seleção dos melhores bancos também leva em consideração o volume de ativos a ser gerenciado. Na versão de 2011 do ranking, o Itaú Unibanco, do Brasil, ocupa o primeiro lugar pela primeira vez. Sua capacidade de gerar um crescimento sem precedentes em ativos, patrimônio e depósitos, melhorando ao mesmo tempo os indicadores que compõem a metodologia Camel, o levaram ao topo do ranking deste ano. Assim, a instituição destrona os seis anos de reinado da filial chilena do Santander. Apesar de uma queda nas relações de rentabilidade, o chileno continua sendo o banco mais eficiente da América Latina. E, ao olhar os bancos, é preciso fazê-lo de maneira completa. Especialmente nos tempos atuais, em que a qualquer momento, no ambiente global de baixo crescimento, se pode somar o impacto da quebra de alguma grande instituição europeia (banco ou país), o que poderia gerar um choque no sistema financeiro de todo o mundo. Em 2008, quando a falência do banco americano de investimentos Lehman Brothers gerou uma corrida bancária generalizada e os governos precisaram injetar dinheiro para evitar novas quebras, os bancos latino-americanos sofreram o impacto. No ano fiscal terminado em junho de 2009, os bancos da região viram os ativos diminuírem em 0,65%, depois de dois anos

PERU

PANAMÁ

Ativos bancários Evolução dos ativos dos 250 maiores bancos da América Latina, por países, em bilhões de dólares BRASIL

MÉXICO

CHILE

COLÔMBIA

ARGENTINA

VENEZUELA

OUTROS

4.500 4.000 3.500 3.000 2.500 2.000 1.500 1.000 500

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

2010

2011

Fonte: AméricaEconomíaIntelligence

70 AméricaEconomia Outubro, 2011

AE 404 RK 250 bancos V4.indd 4

30.09.11 18:28:07


com taxas de crescimento em torno de 40% ao ano. Mas o que acontecerá se uma nova crise financeira eclodir? “Essa nova crise global vem em um momento em que a América Latina não está totalmente preparada”, afirma a economista peruana Liliana Rojas Suárez, membro sênior do Center for Global Development e presidente da CLAAF (Latin American Shadow Financial Regulatory Committee), em Washington. “Grande parte da saúde fiscal foi gasta para neutralizar os efeitos da crise anterior, e esta nos pega sem muita margem de manobra.” Para o brasileiro Ernani Torres, consultor em finanças e até pouco tempo atrás diretor de Pesquisas Econômicas do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), “é errado pensar que a crise originada pelo Lehman e que ainda continua no mercado global não afetou a América Latina”. “Ela afetou e continuará afetando a região, basta ver a fusão de Itaú e Unibanco, que não teria ocorrido sem a crise.” Torres acrescenta que, para o Brasil, foi fundamental um acordo estratégico fechado pela indústria, pouco conhecido pela opinião pública. “Em dezembro de 2008, o governo, o Banco Central e o BNDES montaram um comitê de crise, trancaram em uma sala todos os players bancários e empresários que estavam com os bolsos cheios de derivativos e lhes disseram que quem quisesse sair que saísse. Quem ficasse que fechasse os olhos e se preparasse para seguir o plano que iriam colocar em prática.” Segundo Torres, foi graças à capacidade de mudança e adaptação aprendida durante décadas de instabilidade política e econômica local que, de forma intuitiva, todo o setor financeiro

decidiu seguir a receita do governo para solucionar a caixa preta dos derivativos. “Os Estados Unidos foram um elefante lento e atrapalhado, que levou a crise ao Congresso, desvalorizou seus ativos e transformou a crise econômica em política,” afirma. “Nós, por outro lado, pudemos resolvê-la em apenas 90 dias, e isso se nota agora.” Um dos resultados desse acordo foi um forte aumento nos empréstimos, sem impor muitos pré-requisitos na hora de avaliar os antecedentes daqueles que os solicitavam. Agora, o Brasil está no caminho oposto ao reduzir a alavancagem, tentando realizar os ajustes para evitar o superaquecimento da economia. “Hoje, estamos cortando nossa contribuição para o financiamento desses empréstimos, para evitar uma bolha”, afirma Marcelo Nascimento, analista sênior de pesquisa do BNDES. Contudo, para muitos observadores, o Brasil realiza esse exercício de forma tardia. “O país não conta com margem fiscal para promover políticas fiscais expansivas nem para realizar reduções nas taxas de juros”, afirma Liliana, da CLAAF. A Colômbia estaria em situação semelhante: o país aumentou seus déficits fiscais nos últimos anos. Já México, Chile, Peru e Panamá geraram espaços para recuperar a capacidade de ação que tiveram a partir de 2008. Se o cenário global não tiver um choque maior, os bancos e as economias latino-americanas poderão continuar respirando tranquilos. Mas será que as instituições financeiras terão capacidade para repetir os recordes nos dois próximos semestres? Por enquanto, a resposta está fora de nossas próprias fronteiras.

33%

foi o aumento dos ativos dos bancos da AL entre junho de 2010 e 2011

Metodologia – 250 maiores bancos As informações apresentadas correspondem a junho de 2011, salvo quando indicado outro período. O critério de escolha dos 250 maiores bancos são os ativos totais. A conversão dos diferentes itens contábeis em dólares correntes é feita segundo o tipo de câmbio vigente correspondente às informações publicadas. As carteiras de crédito são brutas e compostas por carteira vigente mais carteira vencida (ou carteira líquida de provisões mais provisões). Os lucros correspondem ao período janeiro–junho, semestralizados no caso de balanços que cubram outro período. Depois, são anualizados para cálculo da rentabilidade. No Brasil, a legislação reconhece dois tipos de bancos: múltiplos e comerciais. Os primeiros englobam uma série de atividades, como investimento, leasing, corretagem de valores e crédito imobiliário, diferentemente dos bancos comerciais, que correspondem ao conceito tradicional de banco (investimento e captação). Na Argentina, a estimativa de morosidade corresponde à razão entre a carteira vencida e o total de empréstimos. O critério de carteira vencida na Argentina corresponde a: carteira com problemas, com cumprimento deficiente, alto risco de insolvência, difícil recuperação, irrecuperável e irrecuperável por disposição técnica. Metodologia – 25 Melhores Bancos O ranking tem como base os 100 maiores bancos da América Latina em ativos totais. Não considera bancos estatais, pois, em geral, estes não operam sob as mesmas normas de supervisão. A ferramenta utilizada para determinar os melhores é o método Camel: (1) C: Capital Adecuacy (Suficiência de Capital); (2) A: Assets Quality (Qualidade dos Ativos); (3) M: Management (Gestão); (4) E: Earning (Lucro); (5) L: Liquity (Liquidez). 1. Estrutura de Capital (15%) Este indicador mede a capacidade que cada instituição tem de absorver perdas ou desvalorizações de seus ativos, já que qualquer deterioração na qualidade dos mesmos precisa ser absorvida pelo patrimônio, para que não afete os depósitos do público. 2. Qualidade dos Ativos (10%) Este indicador mostra quão bons são os ativos de cada instituição, por meio da análise da carteira de crédito, da carteira vencida e das provisões. 3. Gestão Operacional (25%) Este é um dos fatores mais complexos de avaliar, pois está carregado de elementos cujas informações, em sua maioria, não estão disponíveis em todos os países. A eficiência administrativa mede a relação entre a soma dos gastos com pessoal e os gastos operacionais diretos do banco em relação à margem operacional. 4. Rentabilidade ou Lucro (20%) A avaliação da rentabilidade está associada ao potencial atual e futuro da instituição de gerar lucro, o rendimento dos ativos, assim como o equilíbrio entre o rendimento dos ativos e o custo dos recursos captados e com conceitos, tais como o retorno sobre o investimento. 5. Liquidez (5%) Os indicadores financeiros relacionados à liquidez medem a capacidade operacional do banco de responder por seus compromissos financeiros no curto prazo. Seu grau de vulnerabilidade depende do equilíbrio existente entre fatores como vencimentos dos ativos e vencimentos dos passivos do banco, além do risco das taxas de juros. 6. Tamanho (25%) Um último indicador que entra na metodologia é o tamanho, já que, apesar de a seleção dos cem primeiros bancos oferecer uma amostra homogênea, a distância entre o número um e o cem é de mais de US$ 450 bilhões.

Outubro, 2011 AméricaEconomia 71

AE 404 RK 250 bancos V4.indd 5

30.09.11 15:18:28


CAPA Ranking de Bancos

A perder de vista Pelo segundo ano consecutivo, os bancos latino-americanos mostram números de causar inveja a seus pares nos países desenvolvidos 74% é o tamanho da carteira vencida em relação

3 bancos latino-americanos têm seus passivos 50 vezes maior do que seu patrimônio: The Bank of Nova Scotia do Panamá (91 vezes), Deutsche Bank de México (67) e a filial panamenha do Banco de Crédito do Peru (54,7)

ao total de créditos do banco brasileiro CSF. Sua cifra é a maior, ao lado do Bankpar Brasil (57,3%) e do Industrial de Venezuela (43,4%)

Volta ao topo Evolução dos lucros semestrais dos 250 maiores bancos da América Latina, por países, em milhões de dólares

26,2%

BRASIL

MÉXICO

CHILE

ARGENTINA

COLÔMBIA

VENEZUELA

PERU

PANAMÁ

OUTROS

30.000

é a taxa de redução dos ativos do Citibank do Panamá, a instituição financeira que mais encolheu no período

25.000

20.000

15.000

10.000

5.000

0 2005

2006

2007

2008

2009

2010

2011

Fonte: AméricaEconomíaIntelligence

Dólar obtido por dólar investido Relação entre o ROE médio da indústria bancária por país e o número de bancos ROE médio

28 24 20 16 12

80 1

70

2 3 4

6 60 5 6 7 8 9 10 11 12

550 13 14

4 40 15

3 30

16

8

220

4

10

0 -4 -8

17

0 -10 -20

1. PANAMÁ 2. VENEZUELA 3. REP. DOMINICANA 4. GUATEMALA 5. PERU 6. EQUADOR 7. CHILE 8. NICARÁGUA 9. ARGENTINA 10. BRASIL 11. BOLÍVIA 12. COLÔMBIA 13. HONDURAS 14. MÉXICO 15. EL SALVADOR 16. COSTA RICA 17. URUGUAI

Fonte: AméricaEconomíaIntelligence

Infografia: Álvaro Araya Urquiza

N Número de bancos

32

72 AméricaEconomia Outubro, 2011

AE 404 RK 250 bancos V4.indd 6

30.09.11 18:19:14


Domínio brasileiro Número de bancos entre os 250 maiores, por país BRASIL 74 BOLÍVIA 4 COLÔMBIA 16 HONDURAS 6 MÉXICO 30 EL SALVADOR 5 COSTA RICA 7 URUGUAI 8 PANAMÁ 18 VENEZUELA 17 REP. DOMINICANA 5 GUATEMALA 7 PERU 10 EQUADOR 7 CHILE 15 NICARÁGUA 2 ARGENTINA 19

430%

466,1% é a taxa de variação dos ativos do Banco J. Safra, o que mais cresceu no último ano

é o aumento da carteira de crédito da filial brasileira do banco John Deere

23,1%

3,9%

é a variação média anual entre os bancos latino-americanos de suas carteiras vencidas

é o tamanho médio da carteira vencida sobre o total de créditos entre os bancos da AL

925,3% é o aumento anual da carteira vencida de créditos do banco Banamex Fonte: AméricaEconomíaIntelligence

30% éo crescimento médio das provisões dos bancos da AL no último ano

Tirando vantagem dos ativos Bancos com maior ROA em junho/2011 (%), comparado a junho/2010

10,7 vezes o patrimônio é o endividamento médio de um banco latino-americano

ROA jun 2011

24

13%

20 16 12 8 4 0 Á

AN

M

CO TI ÂN TL ) RA ÉX TE (M IN S TA ES IS PR AV EX BO AN IC ) ER RG AM (A AN JU N ) SA N ) A (P RA N) A I (B PA BI IB L( OM NA OL IO NC AC BA RN TE ) IN ) C RA RA (B B BA ( M NK BA EB C ) TI N CI ÉX NA (M FI OS BC HS AM RT PA ) RA

CO

R PA

é o que representa o Banco do Brasil entre toda a carteira de créditos dos bancos da região

ROA jun 2010

(B

) RA (B

Fonte: AméricaEconomíaIntelligence

US$ 1,4 TRILHÃO é a soma das carteiras de crédito dos 250 maiores bancos da América Latina

1.181%

foi o aumento das provisões do Banco del Tesoro de Venezuela, a maior variação entre os bancos da região

Outubro, 2011 AméricaEconomia 73

AE 404 RK 250 bancos V3.indd 3

29.09.11 18:23:11


CAPA Ranking de Bancos

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50

BRA BRA BRA BRA BRA MÉX MÉX BRA BRA MÉX BRA CHI MÉX CHI CHI MÉX ARG CHI BRA COL BRA PER COL MÉX BRA MÉX COL CHI CHI BRA BRA VEN BRA PER MÉX BRA COL VEN VEN VEN VEN CHI MÉX URU COL BRA PAN BRA PER ARG

IED AD E A US TIVO $ M TO ILH TA Õ L VA ES (JUN /1 20 RIA 1) 11 ÇÃ /2 O 01 A 0 T CA (% IVO TO (J RT ) TA UN EIR L /1 A 1) DE U VA S$ CR DE RIA MIL ÉDIT CR ÇÃ HÕ OS ÉD O D ES . A DE 2011 CA US PÓS /20 RT. $ M IT 10 ILH OS (% ) Õ (J VA ES UN/ 11 20 RIA ) 11 ÇÃ /2 O 01 D 0 E PA (% DE US TR ) PÓS ITO $ M IMÔ S ILH NIO LU ÕES (JU C N/ US RO 11 $ M (J ) ILH UN /1 Õ VA ES 1) 20 RIA 11 ÇÃ /2 O 0 D LU 10 ( O L % UC CR ) RO O/ PA TR C.V . 20 EN 11 C./ (% RK C.CR ) ÉD 20 .2 10 01 1( % )*

OP R

ÍS

NC O

BANCO DO BRASIL ITAÚ UNIBANCO BRADESCO CAIXA ECONÔMICA FEDERAL SANTANDER BANAMEX BBVA BANCOMER HSBC BRASIL VOTORANTIM SANTANDER SAFRA SANTANDER SANTIAGO MERCANTIL DEL NORTE BANCO DE CHILE BANCO ESTADO HSBC NACIÓN BCI BTG PACTUAL BANCOLOMBIA CITIBANK CRÉDITO BANCO DE BOGOTÁ INBURSA BANRISUL SCOTIABANK INVERLAT DAVIVIENDA CORPBANCA BBVA BANCO DO NORDESTE BNP PARIBAS B. VENEZUELA SANTANDER DEUTSCHE BANK CONTINENTAL BBVA DEUTSCHE BANK VOLKSWAGEN BBVA COLOMBIA BANESCO PROVINCIAL BICENTENARIO MERCANTIL SCOTIABANK ING BANK REP. ORIENTAL DEL URUGUAY BANCO DE OCCIDENTE INDUSTRIAL E COMERCIAL HSBC PANAMÁ J.P. MORGAN SCOTIABANK PROVÍNCIA

PR

PA

RK

BA

20 11

Os 250 Maiores Bancos da América Latina

E PD PD E PE PE PE PE PD PE PD PE PD PD E PE E PD PD PD PE PD PD PD E PE PD PD PE E PE PE PE PE PE PE PE PD PE E PD PE PE E PD PD PE PE PE E

492.278,5 480.623,0 432.594,5 293.374,8 270.588,1 96.962,2 95.914,9 88.581,1 81.960,6 67.748,2 55.237,6 52.546,9 50.475,6 43.133,9 42.911,8 42.262,2 35.608,6 31.869,2 31.177,5 30.698,3 30.589,9 23.666,6 23.018,6 22.605,3 22.363,0 18.000,5 17.638,9 16.899,7 16.063,9 15.813,3 15.517,6 15.421,4 14.971,5 14.440,5 14.357,4 13.858,2 13.026,3 12.939,2 12.898,8 12.600,7 12.477,8 11.666,8 11.616,9 11.322,1 11.096,5 10.793,3 10.755,9 10.347,9 10.338,0 10.003,9

35,8 36,2 38,1 38,3 30,4 14,4 10,7 39,1 38,1 38,3 39,3 39,0 12,7 33,9 35,9 28,0 14,5 35,2 89,0 35,6 18,5 27,0 38,6 30,7 28,0 36,4 31,5 31,0 18,5 43,1 50,2 46,6 74,7 30,3 365,8 34,9 29,5 30,3 32,7 64,7 33,7 21,5 52,9 23,6 24,4 41,8 11,2 55,3 25,7 14,7

185.260,0 76.439,7 96.043,6 122.931,3 68.328,9 29.336,9 47.304,2 22.973,0 11.663,5 24.034,7 16.304,9 37.108,9 22.024,7 33.815,0 25.331,9 15.106,6 11.599,6 22.117,4 2.676,0 21.370,22 5.707,7 13.516,6 13.846,21 12.595,4 10.822,6 9.163,3 13.122,72 12.221,3 11.635,6 6.298,1 214,9 6.233,0 447,2 9.663,6 47,8 10.923,7 9.320,90 7.388,8 6.734,1 1.916,0 7.334,8 8.706,2 348,4 8.757,9 7.388,83 6.609,5 7.002,0 342,5 5.922,9 3.153,6

33,4 44,7 44,1 58,4 35,5 10,7 17,3 48,5 38,0 52,3 59,8 39,8 22,0 37,6 22,5 31,2 18,1 32,4 144,6 37,8 45,5 27,2 35,1 -4,2 41,1 20,0 33,8 26,2 27,0 26,3 -4,5 50,7 18,5 27,2 7,0 44,0 37,5 29,2 47,1 29,3 49,1 19,3 -6,4 26,0 30,6 30,1 15,7 255,7 24,5 23,1

232.072,3 234.047,1 186.967,4 149.480,9 98.688,5 41.464,6 51.643,9 49.186,6 14.266,6 26.867,8 17.023,3 28.342,8 23.754,0 28.183,7 28.932,1 23.225,9 28.354,5 18.440,7 5.575,3 18.183,34 11.151,0 15.402,7 14.386,96 10.713,0 12.759,9 10.424,6 11.177,56 9.611,3 9.000,7 5.619,6 3.010,0 13.825,2 2.043,5 9.678,8 158,0 3.562,4 9.150,04 11.197,0 10.617,0 7.802,8 11.006,5 5.141,9 439,4 10.114,6 6.759,34 5.960,0 8.476,9 525,9 6.786,6 8.781,7

33,4 40,9 28,2 37,2 35,6 27,8 18,6 23,2 14,9 37,7 64,1 37,1 9,4 32,9 41,7 28,7 15,1 33,1 63,2 25,6 36,9 21,0 22,6 -1,1 32,7 18,6 25,5 26,4 13,1 47,0 -1,6 54,0 111,9 26,1 – 2,2 30,2 29,5 35,4 45,8 36,5 18,6 0,8 23,3 22,6 46,5 9,0 104,9 19,7 23,4

34.983,3 27.900,1 33.689,9 11.647,9 41.249,3 10.800,4 9.438,3 5.245,6 5.632,1 7.177,1 3.778,5 4.042,0 3.932,8 3.482,7 1.998,1 3.120,7 2.955,0 2.426,9 3.714,9 4.425,34 2.695,8 2.038,7 4.319,60 4.121,4 2.663,5 2.345,1 2.146,22 1.103,7 1.104,9 1.528,7 685,9 1.140,4 642,0 1.121,0 206,1 1.280,4 1.282,05 1.136,0 1.460,2 569,5 1.141,3 1.167,2 679,3 1.207,5 1.506,21 1.297,5 1.584,2 927,5 1.290,5 570,8

3.061,4 1.901,1 2.503,7 1.176,6 425,6 430,3 993,9 389,4 344,6 546,2 372,9 553,9 282,0 491,8 96,2 43,5 191,0 294,2 276,9 390,40 659,0 248,3 283,73 176,6 206,7 121,0 168,08 129,5 93,0 150,9 41,3 160,5 10,4 191,6 3,2 83,4 128,70 142,1 274,0 75,2 181,0 85,5 -3,8 85,7 120,03 62,4 49,3 30,4 127,9 43,9

34,6 28,8 38,5 64,0 -36,9 -44,7 10,9 65,3 29,7 8,5 30,8 18,7 18,2 29,5 31,7 145,2 22,2 64,5 48,0 25,0 787,2 21,3 40,4 68,4 82,2 19,5 31,0 27,6 12,9 421,8 -33,2 – -58,2 16,9 -65,0 27,2 6,5 51,4 39,5 886,5 76,1 84,3 -137,9 7,7 11,4 -12,5 45,2 57,6 8,8 40,5

17,5 13,6 14,9 20,2 2,1 8,0 21,1 14,8 12,2 15,2 19,7 27,4 14,3 28,2 9,6 2,8 12,9 24,2 14,9 17,6 48,9 24,4 13,1 8,6 15,5 10,3 15,7 23,5 16,8 19,7 12,0 28,1 3,2 34,2 3,1 13,0 20,1 25,0 37,5 26,4 31,7 14,7 -1,1 14,2 15,9 9,6 6,2 6,6 19,8 15,4

1,0 4,2 7,1 2,0 7,3 15,6 3,2 3,5 1,0 2,4 0,9 2,6 2,4 1,0 4,9 2,5 – 2,1 0,5 2,1 4,3 1,1 1,9 4,2 1,7 3,0 3,2 1,9 2,1 2,9 5,3 1,2 0,2 0,2 0,0 0,6 2,2 1,4 1,6 13,1 0,9 6,1 0,0 0,2 2,9 1,9 – 0,0 1,2 –

1 2 3 4 5 7 6 8 9 10 12 13 11 15 16 14 17 19 24 20 18 21 23 22 – 27 26 28 25 30 32 31 43 29 108 33 34 35 36 47 39 38 49 40 41 48 37 54 45 42

Obs: A posição de alguns bancos no ranking de 2010 sofreu alteração em virtude da inclusão do Banco Guayaquil de Ecuador. A alteração, feita pela AméricaEconomía Intelligence, foi publicada no site www.americaeconomia.com * Relação entre carteira vencida e carteira de crédito; PE: Privado Estrangeiro; PD: Privado Doméstico; E: Estatal

74 AméricaEconomia Outubro, 2011

AE 404 RK 250 bancos V2.indd 8

29.09.11 17:49:31


SANTANDER RÍO SICREDI GENERAL AGRARIO MACRO GALICIA BANCOOB

58 BBVA FRANCÉS 59 60 61 62 63 64 65 66 67 68 69 70 71 72 73 74 75 76 77 78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 100

BMG ITAÚ CHILE POPULAR IXE DE LA NACIÓN DEL BAJÍO SECURITY FIBRA BANK OF AMERICA INTERBANK DAYCOVAL SOCIÉTÉ GENÉRALÉ NACIONAL INTERACCIONES PANAMERICANO NACIONAL OCCIDENTAL DE DESCUENTO MERCANTIL DO BRASIL CRUZEIRO DO SUL BICE AFIRME PICHINCHA J. SAFRA RABOBANK COLPATRIA PINE HELM BANK DA AMAZÔNIA ABC BRASIL BANCO AZTECA HSBC BLADEX INDUSTRIAL BANESTES DE BRASÍLIA (BRB) BANCO DEL TESORO FIAT POPULAR DOMINICANO GNB SUDAMERIS DE COSTA RICA DE RESERVAS MERCEDES-BENZ

IED AD E AT US IVO $ M TO ILH TA Õ L VA ES (JUN /1 20 RIA 1) 11 ÇÃ /2 O 01 A 0 T CA (% IVO TO (J RT ) TA UN EIR L /1 A 1) DE U C VA S$ R DE RIA MIL ÉDIT CR ÇÃ HÕ OS ÉD O D ES . A DE 2011 CA US PÓS /20 RT. $ M IT 10 ILH OS (% ) Õ (J VA ES UN/ 11 20 RIA ) 11 ÇÃ /2 O 01 D 0 E PA (% DE US TR ) PÓS ITO $ M IMÔ S ILH NIO Õ LU ES (JU C N US RO /1 $ M (J 1) ILH UN /1 Õ VA ES 1) 20 RIA 11 ÇÃ /2 O 0 D LU 10 ( O L % UC CR ) RO O/ PA TR C.V .2 EN 01 C./ 1( C % .CR RK ) ÉD 20 .2 10 01 1( % )*

OP R

ÍS

PR

PA

BA

NC O

20 11 RK

51 52 53 54 55 56 57

ARG BRA PAN COL ARG ARG BRA

PE PD PD E PD PD PD

9.986,6 9.024,0 8.656,2 8.444,8 8.090,3 7.969,2 7.805,1

30,3 48,5 4,5 19,8 14,1 21,9 57,2

5.238,9 3.476,0 5.398,2 N.D. 3.843,0 4.240,9 2.432,8

26,7 51,3 5,2 – 29,6 36,2 50,6

6.832,2 4.221,4 7.019,8 5.325,30 5.435,3 5.799,6 5.078,7

31,8 36,3 7,2 16,0 15,9 28,9 82,6

836,3 272,5 868,7 699,82 1.074,4 689,7 212,0

90,4 15,5 87,3 123,52 62,8 57,3 11,5

-23,6 69,7 1,5 9,6 -33,5 115,0 59,3

21,6 11,3 20,1 35,3 11,7 16,6 10,9

ARG

PE

7.764,3

15,4

3.937,5

37,7

5.875,2

BRA CHI COL MÉX PER MÉX CHI BRA MÉX PER BRA BRA C.RI MÉX BRA PAN VEN BRA BRA CHI MÉX EQU BRA BRA COL BRA COL BRA BRA MÉX ARG PAN GUA BRA BRA VEN BRA DOM COL C.RI DOM BRA

PD PE PD PD E PD PD PD PE PD PD PE E PD PD PD PD PD PD PD PD PD PD PE PD PD PE E PD PD PE PD PD E E E PE PD PE E E PE

7.751,2 7.672,8 7.660,1 7.628,6 7.415,6 7.217,8 7.191,4 7.095,8 7.067,5 7.026,5 7.024,1 7.004,5 6.949,4 6.804,8 6.765,5 6.739,2 6.688,1 6.545,8 6.515,2 6.327,8 6.293,5 6.245,5 6.242,8 6.241,0 6.240,3 6.105,8 6.091,9 6.009,3 5.951,6 5.951,4 5.926,4 5.870,9 5.771,5 5.618,1 5.354,3 5.060,9 5.057,6 5.017,5 4.981,2 4.949,0 4.902,8 4.891,9

29,3 34,5 23,2 48,4 1,9 15,6 24,1 25,6 96,6 15,8 45,3 47,7 9,3 12,9 19,0 13,0 13,5 31,7 41,3 29,6 97,8 21,7 466,1 38,0 30,1 39,0 69,3 34,1 20,8 13,0 23,5 32,8 22,2 8,4 39,1 48,9 67,3 12,2 19,1 15,2 -1,2 40,3

5.502,3 6.273,1 5.340,78 2.645,5 1.700,5 5.236,2 4.633,5 3.150,4 183,6 4.490,2 3.685,6 104,3 4.026,6 3.774,6 1.888,3 2.812,6 3.292,9 3.371,8 1.081,4 4.560,2 810,4 3.362,8 3.508,1 1.667,9 5.106,69 2.342,9 4.622,79 1.298,9 3.829,2 2.600,3 2.887,8 4.781,8 2.719,8 895,0 2.543,7 1.117,4 4.079,2 3.123,9 2.168,97 2.999,1 3.026,9 4.405,8

39,5 42,7 40,3 32,1 26,7 9,2 31,0 29,9 146,7 24,9 62,7 -61,1 16,5 12,6 -37,0 26,1 23,9 40,7 46,4 27,4 14,3 21,6 252,6 22,7 34,9 31,0 77,2 44,2 24,1 53,4 29,0 55,2 232,8 – 42,4 92,4 75,7 15,7 22,8 24,5 -12,5 50,9

4.075,3 4.994,2 5.202,96 2.699,3 5.719,6 4.266,6 4.274,9 3.887,5 307,8 4.610,0 2.684,4 803,5 4.865,6 2.879,1 2.246,4 5.830,9 5.210,6 3.998,5 2.743,3 3.795,3 1.153,5 4.965,0 5.742,9 283,5 4.344,53 2.036,8 3.907,55 1.609,1 1.731,9 4.467,3 4.087,5 2.123,4 4.323,1 2.294,6 4.232,6 3.316,6 3.809,5 3.425,8 2.964,8 3.618,3 2.641,2 27,4

– 0,0 – – – – 0,0

46 59 44 52 51 55 73

16,5

743,1

47,6

-34,6

50,7 32,1 20,7 25,9 1,2 19,2 25,3 29,6 67,3 6,2 73,5 -24,5 6,8 12,6 -29,4 14,6 25,8 46,5 22,8 23,4 17,2 18,9 522,2 15,7 36,7 27,7 57,4 35,4 3,9 10,0 18,6 38,0 16,5 – 39,6 67,7 57,6 11,7 16,7 18,3 3,2 -45,0

1.363,4 826,1 998,04 417,2 599,6 925,5 446,4 571,1 357,7 580,9 1.174,6 500,6 734,4 394,5 959,4 553,7 587,0 442,7 749,2 505,3 221,0 552,4 345,4 447,3 562,46 569,2 634,79 1.259,7 908,0 446,1 587,0 701,3 412,9 520,6 507,6 307,2 678,2 396,2 325,36 576,2 390,2 685,6

13,9 67,2 108,20 -0,6 116,2 35,9 39,9 7,7 43,7 90,7 59,2 -202,4 27,8 39,9 24,4 48,1 74,3 27,5 45,0 50,2 7,8 63,1 7,5 31,2 63,17 26,5 34,98 27,6 48,8 29,3 104,8 42,4 57,5 N.D. 57,0 78,8 54,1 55,6 31,24 23,4 40,5 38,3

-91,5 61,6 11,6 -84,0 138,7 2,2 14,9 44,6 124,9 13,7 49,4 -2.418,4 -2,6 33,1 154,2 -1,7 34,8 -45,0 85,3 59,1 -22,0 103,9 84,5 40,4 57,0 19,5 8,4 6,7 44,3 21,4 0,3 91,3 26,3 – 22,1 483,4 35,6 12,3 -10,3 -5,3 -6,3 98,0

12,8

53

2,0 16,3 21,7 -0,3 38,8 7,8 17,9 2,7 24,4 31,2 10,1 -80,9 7,6 20,2 5,1 17,4 25,3 12,4 12,0 19,9 7,1 22,8 4,3 14,0 22,5 9,3 11,0 4,4 10,8 13,1 35,7 12,1 27,9 – 22,4 51,3 16,0 28,1 19,2 8,1 20,8 11,2

2,9 1,1 2,3 1,0 0,4 3,2 1,4 1,2 0,0 1,1 1,6 0,0 3,9 0,8 21,0 – 4,9 4,7 3,3 0,8 5,0 1,7 0,4 1,2 4,2 0,9 2,1 5,8 0,3 3,0 – – 0,7 5,3 1,8 8,0 0,8 0,7 1,6 2,5 2,0 0,3

62 66 58 69 50 57 65 – 99 60 76 79 56 61 67 63 64 71 81 75 107 70 207 82 78 86 98 83 74 68 77 85 80 – 94 104 110 84 88 87 72 100

* Relação entre carteira vencida e carteira de crédito; PE: Privado Estrangeiro; PD: Privado Doméstico; E: Estatal

Outubro, 2011 AméricaEconomia 75

AE 404 RK 250 bancos V2.indd 9

29.09.11 18:25:40


101 102 103 104 105 106 107 108 109 110 111 112 113 114 115 116 117 118 119 120 121 122 123 124 125 126 127 128 129 130 131 132 133 134 135 136 137 138 139 140 141 142 143 144 145 146 147 148 149 150

BCSC CIUDAD SANTANDER GMAC BANREGIO CITIBANK EXTERIOR CREDICOOP G&T CONTINENTAL INDUSTRIAL DE VENEZUELA CRÉDITO DEL PERÚ CITIBANK AV VILLAS BARCLAYS DEL DESARROLLO RURAL SANTANDER BANCARIBE BVA BANCOLOMBIA PATAGONIA BANCO AGRÍCOLA STANDARD BANK MIFEL IBI SOFISA BBM POPULAR CLÁSSICO BANCO FIDIS CORPBANCA GLOBAL BANK DEUTSCHE BANK J.P. MORGAN DE LAGE LANDEN GUAYAQUIL INDUSVAL HIPOTECARIO PACÍFICO BHD RURAL HSBC INVEX BBVA BAC INTERNACIONAL NACIONAL DE CRÉDITO MORGAN ST. DEAN FALABELLA ATLÁNTIDA MONEX CNH CAPITAL

COL ARG URU BRA MÉX ARG VEN ARG GUA VEN PAN COL COL BRA GUA COL VEN BRA PAN ARG ELS ARG MÉX BRA BRA BRA C.RI BRA BRA VEN PAN CHI MÉX BRA EQU BRA ARG EQU DOM BRA CHI MÉX URU PAN VEN BRA CHI HON MÉX BRA

IED AD E AT US IVO $ M TO ILH TA Õ L VA ES (JUN /1 20 RIA 1) 11 ÇÃ /2 O 01 A 0 T CA (% IVO TO (J RT ) TA UN EIR L /1 A 1) DE U C VA S$ R DE RIA MIL ÉDIT CR ÇÃ HÕ OS ÉD O D ES . A DE 2011 CA US PÓS /20 RT. $ M IT 10 ILH OS (% ) Õ (J VA ES UN/ 11 20 RIA ) 11 ÇÃ /2 O 01 D 0 E PA (% DE US TR ) PÓS ITO $ M IMÔ S ILH NIO Õ LU ES (JU C N US RO /1 $ M (J 1) ILH UN /1 Õ VA ES 1) 20 RIA 11 ÇÃ /2 O 0 D LU 10 ( O L % UC CR ) RO O/ PA TR C.V .2 EN 01 C./ 1( C % .CR RK ) ÉD 20 .2 10 01 1( % )*

OP R PR

PA

ÍS

NC O BA

RK

20 11

CAPA Ranking de Bancos

PD PD PE PE PD PE PD PD PD E PE PE PD PE PD PE PD PD PE PD PD PE PD PD PD PD PD PD PD PE PD PE PE PE PD PD PD PD PD PD PE PD PE PE PD PE PD PD PD PE

4.823,2 4.557,2 4.536,2 4.506,0 4.487,2 4.351,7 4.341,9 4.276,2 4.183,8 4.175,0 4.076,1 4.069,8 3.975,6 3.923,5 3.906,7 3.882,7 3.829,6 3.715,3 3.639,2 3.627,2 3.583,5 3.555,9 3.519,7 3.519,4 3.471,4 3.320,4 3.195,1 3.190,6 3.095,8 3.065,4 3.045,5 2.979,1 2.954,8 2.889,4 2.856,2 2.828,5 2.800,6 2.687,9 2.671,8 2.671,6 2.569,3 2.546,7 2.542,1 2.524,0 2.478,2 2.420,1 2.419,9 2.402,0 2.394,8 2.360,5

20,1 9,0 15,0 11,3 47,1 12,5 49,9 23,2 12,7 65,6 52,2 7,2 16,5 93,2 21,6 12,8 38,0 69,5 26,5 45,5 -3,5 28,3 34,4 28,4 6,4 16,0 21,6 23,3 38,9 21,0 21,1 27,5 67,8 36,9 18,0 65,7 0,9 22,6 10,5 22,9 24,1 39,5 167,9 10,9 38,1 39,8 43,8 23,9 45,7 11,0

2.827,88 2.698,2 3.490,1 1.498,8 1.776,9 2.044,5 2.767,2 1.939,4 1.938,1 224,7 3.823,7 2.580,04 2.605,63 N.D. 2.383,6 2.687,84 2.573,7 2.492,9 1.861,1 1.826,9 2.390,8 1.746,2 1.137,2 1.308,1 1.045,3 266,5 2.075,1 0,4 2.713,8 1.926,8 2.419,7 – 10,7 2.442,7 1.478,2 904,3 1.252,5 1.234,9 1.304,5 1.589,1 504,2 643,0 2.078,9 1.012,4 1.260,5 N.D. 1.755,2 1.255,6 261,4 1.445,9

9,5 26,7 13,0 28,9 31,7 23,0 58,0 30,1 220,5 26,0 48,1 19,3 14,0 – 419,9 26,7 55,7 111,4 30,5 44,2 0,5 23,5 -2,0 23,2 -15,4 33,4 17,8 -40,0 41,6 23,2 42,6 – 27,9 31,9 25,1 31,1 13,2 36,6 9,1 51,0 7,8 19,0 152,8 3,5 45,7 – 45,2 10,7 65,6 22,6

3.923,8 3.681,6 4.089,0 1.375,8 1.592,6 2.559,5 3.893,2 3.719,8 3.157,4 2.560,7 169,1 2.626,71 3.168,69 472,1 3.263,9 2.498,67 3.358,7 2.502,1 2.106,4 2.627,4 2.531,17 2.606,4 1.908,1 52,6 1.500,3 421,7 2.265,2 0,1 2.105,4 2.416,4 2.247,4 685,9 38,9 32,9 2.177,4 956,0 1.286,7 2.207,2 1.151,0 1.862,6 1.248,8 753,3 2.353,1 1.482,1 2.198,9 705,4 1.271,8 1.562,8 268,9 339,9

16,5 10,1 16,4 43,2 27,2 16,0 54,1 25,7 14,4 43,7 87,3 12,9 24,3 118,1 26,2 13,1 43,4 53,1 19,5 51,1 -4,1 32,3 48,6 -66,8 10,8 35,2 21,6 -82,0 29,7 34,9 22,6 0,1 -34,1 – 20,9 26,8 22,7 23,1 6,2 24,9 15,1 38,3 167,8 19,7 46,4 0,4 67,5 21,2 54,9 -38,4

536,05 598,3 447,3 796,2 276,3 604,5 354,7 315,0 333,9 172,1 73,1 746,52 486,37 467,8 460,1 409,14 336,9 355,0 514,5 543,8 560,34 269,9 114,4 1.668,0 497,4 336,1 627,9 2.524,6 261,0 236,6 237,5 201,2 363,7 306,4 218,3 361,2 736,1 333,7 255,4 256,6 192,2 206,9 189,0 973,5 233,0 582,2 238,6 218,8 196,4 626,2

56,72 56,6 13,5 52,1 25,9 29,5 81,9 41,6 43,8 3,6 16,6 37,21 42,03 24,6 55,3 34,30 66,9 24,2 105,0 29,6 61,20 6,4 4,2 96,1 5,3 17,2 39,4 -40,8 20,0 36,7 3,8 20,2 -5,9 -10,7 25,5 -37,6 11,5 25,0 41,0 -7,1 -8,0 7,2 -14,6 101,3 19,7 29,2 24,9 13,7 28,4 47,5

32,6 2,7 -57,9 71,3 140,5 -51,7 42,1 36,3 64,3 -74,0 385,2 -2,1 23,2 -32,8 32,7 24,5 71,2 -13,3 42,4 -17,5 61,7 2,6 -13,6 -38,0 286,6 605,6 147,0 -553,4 107,0 137,8 -61,6 -7,3 -183,1 -289,1 55,7 -2.306,8 9,8 – -1,3 -158,1 -589,6 9,2 -2.401,7 17,8 301,4 -18,1 49,9 -9,8 28,1 277,3

21,2 18,9 6,0 13,1 18,8 9,8 46,2 26,4 26,3 4,1 45,4 10,0 17,3 10,5 24,0 16,8 39,7 13,6 40,8 10,9 21,8 4,8 7,3 11,5 2,1 10,2 12,5 -3,2 15,3 31,0 3,2 20,1 -3,3 -7,0 23,4 -20,8 3,1 15,0 32,1 -5,6 -8,3 7,0 -15,5 20,8 16,9 10,0 20,9 12,5 28,9 15,2

4,9 – 0,1 2,0 1,8 – 0,5 – 1,6 43,4 – 3,4 3,2 – 0,9 1,8 0,5 0,4 – – 3,2 – 4,2 39,3 4,0 9,3 2,8 0,0 0,4 3,6 – – 0,0 2,0 1,1 5,3 – 0,6 2,0 0,0 – 2,0 0,2 – 3,2 – 3,6 1,7 1,5 14,6

91 89 92 90 109 93 111 101 97 123 118 95 103 139 106 102 115 133 112 125 96 116 120 117 105 113 119 121 131 122 124 128 150 137 126 153 114 132 127 134 138 146 228 130 148 151 156 141 157 136

* Relação entre carteira vencida e carteira de crédito; PE: Privado Estrangeiro; PD: Privado Doméstico; E: Estatal

76 AméricaEconomia Outubro, 2011

AE 404 RK 250 bancos V2.indd 10

29.09.11 17:50:58


BAC. DE SAN JOSÉ DE CÓRDOBA ITAÚ HSBC FINANCE S.A. BM BBVA NUEVO B. DE SANTA FE AGRÍC. DE VENEZUELA CITIBANK BANKPAR BGN BARCLAYS PRODUBANCO INTERNACIONAL SCOTIABANK DE OCCIDENTE FICOHSA TOKYO-MIT. UFJ BRASIL BANESCO MULTIBANK GOLDMAN SACHSBRASIL HSBC SUPERVIELLE PARANÁ VENEZOLANO DE CRÉDITO SCOTIABANK DE AMÉRICA CENTRAL INTERAMER. DE FINANZAS WESTLB BANESE BCO CSF CACIQUE MI BANCO DE LA PRODUCCIÓN MERCANTIL STA. CRUZ CAJA DE AHORROS TOYOTA FONDO COMÚN BOLIVARIANO AGROMERCANTIL INTERNACIONAL THE BANK OF NOVA SCOTIA CITIBANK NVO. COMERCIAL BONSUCESSO BANPARÁ IBM CITIBANK INDUSTRIAL BOAVISTA INTERATLÂNTICO ITAÚ ARGENTINA

C.RI ARG URU BRA PAN ARG VEN ELS BRA BRA MÉX EQU CHI C.RI HON HON BRA PAN PAN BRA ELS ARG BRA VEN ELS HON PER BRA BRA BRA BRA PER NIC BOL PAN BRA VEN EQU GUA EQU PAN BRA URU BRA BRA BRA PER BRA BRA ARG

IED AD E AT US IVO $ M TO ILH TA Õ L VA ES (JUN /1 20 RIA 1) 11 ÇÃ /2 O 01 A 0 T CA (% IVO TO (J RT ) TA UN EIR L /1 A 1) DE U C VA S$ R DE RIA MIL ÉDIT CR ÇÃ HÕ OS ÉD O D ES . A DE 2011 CA US PÓS /20 RT. $ M IT 10 ILH OS (% ) Õ (J VA ES UN/ 11 20 RIA ) 11 ÇÃ /2 O 01 D 0 E PA (% DE US TR ) PÓS ITO $ M IMÔ S ILH NIO Õ LU ES (JU C N US RO /1 $ M (J 1) ILH UN /1 Õ VA ES 1) 20 RIA 11 ÇÃ /2 O 0 D LU 10 ( O L % UC CR ) RO O/ PA TR C.V .2 EN 01 C./ 1( C % .CR RK ) ÉD 20 .2 10 01 1( % )*

OP R

ÍS

PR

PA

BA

NC O

20 11 RK

151 152 153 154 155 156 157 158 159 160 161 162 163 164 165 166 167 168 169 170 171 172 173 174 175 176 177 178 179 180 181 182 183 184 185 186 187 188 189 190 191 192 193 194 195 196 197 198 199 200

PE PE PE PE PE PD PD PE PD PD PE PD PD PE PD PD PE PE PD PE PE PD PD PD PE PD PD PE E PD PD PD PD PD E PE PD PD PD PD PE PE PE PD E PE PE PD PD PE

2.312,2 2.210,1 2.204,8 2.155,4 2.149,3 2.091,4 2.075,0 2.074,3 2.068,8 2.058,8 2.056,9 2.046,5 2.039,9 2.017,4 1.996,5 1.993,7 1.971,7 1.958,3 1.931,2 1.889,2 1.883,5 1.881,7 1.860,9 1.847,9 1.813,9 1.800,3 1.798,9 1.789,4 1.749,9 1.746,1 1.742,5 1.741,5 1.728,9 1.714,1 1.713,4 1.710,6 1.706,9 1.692,2 1.658,7 1.655,8 1.625,0 1.618,9 1.614,9 1.608,5 1.579,8 1.537,2 1.519,9 1.508,4 1.505,5 1.504,0

13,9 34,4 27,5 40,6 6.198,6 8,3 86,3 -10,8 34,2 28,7 64,7 12,2 57,1 10,4 23,0 18,3 91,1 56,7 21,1 91,3 2,2 43,7 44,4 36,4 -6,0 1,3 17,7 9,0 29,4 24,4 9,1 23,1 45,0 1,3 7,6 22,7 21,7 16,1 22,7 13,0 2,9 36,2 18,2 42,3 48,2 40,9 22,6 30,8 28,5 5,3

1.693,9 943,8 1.587,1 1.028,7 1.638,4 1.107,4 930,9 1.114,1 198,1 1.345,8 0,0 927,2 1.419,7 1.452,0 883,4 1.113,5 97,9 766,1 1.137,5 N.D. 1.194,7 1.130,6 1.094,4 721,0 1.337,4 905,6 1.157,1 212,7 818,3 313,1 1.247,3 1.311,2 501,0 999,8 1.209,6 1.133,0 721,3 835,8 943,8 883,2 1.365,6 42,8 1.230,9 970,7 605,4 100,8 650,6 786,9 2,3 918,7

17,1 28,8 40,9 54,2 7.847,7 31,9 29,5 -14,4 13,4 30,3 – 11,2 63,8 8,7 6,6 14,8 91,2 56,4 21,0 – 4,5 60,3 40,5 50,6 -5,4 2,9 19,5 -43,6 69,0 15,9 32,9 18,2 6,2 28,1 10,9 40,1 8,4 22,8 303,6 16,7 11,8 -47,0 29,8 49,3 41,5 -19,1 2,4 45,9 173,7 19,3

1.600,2 1.863,1 2.081,1 987,4 1.672,1 1.484,5 393,8 1.589,2 545,8 1.439,6 0,0 1.650,2 1.539,2 1.596,3 1.519,5 1.120,3 287,5 1.731,2 1.446,6 160,5 1.370,7 1.459,3 941,6 1.591,2 1.250,9 938,1 1.224,5 167,4 1.322,9 150,8 1.234,3 1.190,4 1.437,1 1.519,6 1.390,0 615,7 1.508,8 1.410,5 1.371,2 1.437,2 1.565,8 N.D. 1.415,0 1.009,0 1.296,0 827,6 1.067,0 722,1 N.D. 1.068,2

3,3 35,1 28,7 52,1 7.188,9 3,0 30,7 -1,6 26,8 34,3 – 8,6 62,8 4,7 24,6 25,8 26,0 60,3 15,6 117,6 6,0 50,0 44,0 40,1 -10,2 3,6 9,3 -28,7 16,2 -27,2 26,2 34,5 55,6 1,6 8,0 -33,6 22,4 14,4 25,2 13,3 3,9 – 18,2 46,7 50,7 121,2 30,0 37,3 – 10,4

256,3 101,7 123,8 1.055,9 295,0 235,1 169,9 331,65 104,7 532,7 225,3 176,5 113,2 237,3 148,8 173,6 664,6 180,5 195,2 291,7 258,67 164,2 695,9 210,3 216,17 163,6 126,3 322,7 127,6 378,1 70,8 147,0 110,8 128,1 205,9 184,2 180,0 135,6 133,9 136,4 17,6 732,2 199,8 259,8 194,4 163,0 206,6 264,3 1.306,4 141,2

22,9 6,1 -5,9 131,3 20,1 24,5 0,9 10,52 13,1 2,9 49,1 15,0 10,0 1,8 12,2 13,2 0,7 21,7 9,3 291,7 6,88 11,5 181,7 33,4 7,42 11,7 10,7 6,7 24,5 21,7 70,8 17,9 9,1 10,8 2,9 13,8 5,1 11,9 11,3 12,8 19,1 72,7 -2,0 18,8 26,0 6,1 13,2 4,5 36,2 -5,7

158,0 154,3 -156,8 145,6 -3,5 -28,9 43,4 500,2 60,3 -87,5 – – 63,7 447,4 6,4 22,8 -56,5 60,8 -14,1 808,1 5,9 23,0 817,2 84,0 109,4 23,2 13,1 207,2 143,9 -37,5 14.772,1 -8,6 62,3 20,0 -75,3 -20,4 125,6 – 10,3 – 7,4 435,3 -225,3 -43,8 50,7 8,3 78,3 -3,9 48,6 -62,9

17,9 11,9 -9,6 24,9 13,6 20,8 1,0 6,3 25,0 1,1 43,6 17,0 17,7 1,5 16,3 15,2 0,2 24,0 9,5 200,0 5,3 14,0 52,2 31,8 6,9 14,3 16,9 4,1 38,4 11,5 200,0 24,4 16,3 16,9 2,8 15,0 5,6 17,6 16,8 18,8 217,1 19,9 -2,0 14,5 26,7 7,5 12,8 3,4 5,5 -8,1

0,6 – 0,1 0,5 – 32,0 6,1 57,3 1,3 – 0,5 1,1 2,0 2,3 0,3 0,0 – – – 5,3 – 6,9 0,3 5,4 0,7 0,6 2,0 1,1 74,0 2,1 2,4 2,9 0,2 – 0,4 1,5 0,4 2,9 0,6 – 0,0 0,3 2,2 1,0 3,1 1,8 2,1 35,5 –

140 158 152 167 – 142 204 129 166 161 193 147 188 145 160 155 214 192 163 225 144 185 189 180 143 149 168 159 – 175 162 174 197 154 164 177 176 170 181 169 165 198 179 203 – 208 194 202 201 172

* Relação entre carteira vencida e carteira de crédito; PE: Privado Estrangeiro; PD: Privado Doméstico; E: Estatal

Outubro, 2011 AméricaEconomia 77

AE 404 RK 250 bancos V2.indd 11

29.09.11 17:51:28


201 202 203 204 205 206 207 208 209 210 211 212 213 214 215 216 217 218 219 220 221 222 223 224 225 226 227 228 229 230 231 232 233 234 235 236 237 238 239 240 241 242 243 244 245 246 247 248 249 250

PAN BOL BRA VEN C.RI PER MÉX BRA BOL CHI URU PAN COL BRA MÉX MÉX HON MÉX PER BRA HON BRA C.RI BRA ELS MÉX DOM GUA ARG ARG PAN NIC MÉX BOL DOM MÉX COL MÉX BRA PAN GUA PAN VEN BRA MÉX BRA GUA EQU URU URU

IED AD E A US TIVO $ M TO ILH TA Õ L VA ES (JUN R /1 20 IA 1) 11 ÇÃ /2 O 01 A 0 T CA (% IVO TO (J RT ) TA UN EIR L /1 A 1) DE VA US$ CRÉ DE RIA MIL DIT CR ÇÃ HÕ OS ÉD O D ES . A DE 2011 CA US PÓS /20 RT. $ M IT 10 ILH OS (% ) Õ (J VA ES UN/ 11 20 RIA ) 11 ÇÃ /2 O 01 D E 0 PA (% DE US TR ) PÓS I ITO $ M MÔ S ILH NIO LU ÕES (JU N/ US CRO 11 $ M (J ) ILH UN / VA ÕES 11) 20 RIA 11 ÇÃ /2 O 0 D LU 10 ( O L % UC CR ) RO O/ PA TR C.V . 20 EN 11 C./ (% RK C.CR ) ÉD 20 .2 10 01 1( % )*

OP R

ÍS

NC O

ALIADO NACIONAL DE BOLIVIA BANIF CARONÍ HSBC FINANCIERO AMERICAN EXPRESS JOHN DEERE BISA RABOBANK CHILE CITIBANK BIC HSBC VOLVO BRASIL BANSI MULTIVA DEL PAÍS CIBANCO HSBC BANK PERÚ BCO HONDA HSBC TRIÂNGULO AGRÍCOLA DE CARTAGO FATOR DE AMÉRICA CENTRAL VE POR MÁS SCOTIABANK REFORMADOR COMAFI SAN JUAN ES BANK BANCENTRO COMPARTAMOS CRÉDITO LEÓN CREDIT SUISSE BANCOOMEVA AHORRO FAMSA PSA FINANCE CREDICO CITIBANK CITIBANK CITIBANK PAULISTA BANCOPPEL ING BANK BANCO DE LOS TRABAJADORES AUSTRO DISCOUNT HSBC BANK

PR

PA

RK

BA

20 11

CAPA Ranking de Bancos

PD PD PE PD PE PD PE PE PD PE PE PE PE PE PD PD PD PD PE PE PE PD PD PD PD PD PE PD PD PD PD PD PD PE PD PE PD PD PE PE PE PE PE PD PD PE PD PD PE PE

1.501,8 1.471,0 1.458,9 1.455,8 1.428,1 1.423,4 1.416,5 1.401,7 1.390,1 1.389,8 1.322,4 1.313,9 1.296,4 1.288,4 1.262,3 1.260,2 1.257,1 1.231,7 1.213,8 1.204,9 1.204,6 1.199,0 1.196,5 1.184,0 1.183,7 1.169,0 1.158,4 1.151,3 1.147,0 1.141,5 1.125,3 1.121,5 1.099,8 1.089,7 1.077,8 1.077,3 1.074,3 1.051,7 1.035,0 1.033,6 1.023,9 1.015,7 1.015,5 1.001,4 992,6 984,8 957,7 951,4 947,5 925,4

15,4 3,1 36,7 9,5 6,2 28,3 16,9 41,8 4,3 28,5 83,7 39,2 46,6 6,3 -1,3 -12,9 23,6 105,2 20,2 26,1 15,5 19,3 16,5 70,9 0,5 17,1 8,7 19,0 12,8 36,6 9,8 -12,2 41,6 16,1 3,4 21,6 – 25,7 10,6 3,6 15,9 -26,2 -8,4 14,3 63,3 -16,7 28,1 19,8 19,3 34,8

935,4 863,1 679,8 403,4 862,2 937,9 597,5 1.317,6 618,7 897,4 1.074,5 880,9 847,2 984,0 518,2 691,6 836,9 191,7 654,1 1.110,9 527,6 708,4 462,0 75,4 782,67 736,9 771,5 650,6 589,7 144,3 1.109,0 448,5 966,1 638,2 610,6 0,0 999,6 824,2 906,5 574,8 455,6 676,0 415,9 217,3 311,4 136,4 521,0 559,7 315,9 705,6

24,3 28,0 30,1 -6,1 -3,1 21,8 -2,0 430,0 24,0 54,7 65,6 31,6 50,7 11,9 17,3 45,7 20,7 581,9 5,1 27,0 -1,8 25,5 21,8 50,7 1,3 11,6 11,5 300,0 23,0 33,1 10,7 14,2 48,6 29,4 -6,7 – – 27,0 28,6 7,1 -5,3 -10,7 30,7 20,2 98,9 17,6 424,5 23,2 27,3 32,8

1.217,2 1.207,7 754,1 1.265,6 1.088,4 947,1 578,4 27,1 1.145,9 322,0 1.248,0 724,6 638,4 122,3 406,9 792,1 850,2 675,3 904,2 988,0 715,6 744,3 1.018,0 303,8 936,32 642,8 930,1 912,6 868,6 714,3 1.056,9 848,2 241,8 942,6 877,4 66,1 482,3 817,1 613,8 858,2 633,2 823,0 765,6 474,1 854,1 260,3 803,9 812,1 868,6 875,0

13,9 -2,0 45,5 6,9 2,7 30,6 7,1 -96,4 6,0 -25,6 90,1 26,9 18,0 -40,9 10,3 56,5 29,2 211,6 95,6 22,4 12,4 19,4 15,9 62,8 6,9 15,1 6,0 14,4 22,3 48,0 9,2 -16,8 69,2 18,5 8,0 -9,9 – 30,8 -9,2 2,4 -4,9 -28,3 -1,0 44,1 63,6 -9,0 30,2 18,8 19,4 35,2

144,3 116,9 114,6 167,2 153,7 126,4 301,9 197,0 140,7 123,6 74,4 134,5 122,9 276,8 95,8 157,2 115,0 65,8 111,4 143,7 95,6 236,3 92,8 269,8 130,13 98,1 197,0 105,6 93,9 268,6 65,0 98,7 515,4 92,2 97,6 166,1 82,5 162,7 182,0 119,5 129,2 136,8 171,1 74,7 115,6 340,5 79,8 76,5 78,9 50,4

6,7 12,2 1,3 3,7 2,6 5,5 34,3 13,2 7,3 0,3 5,3 7,5 -17,9 19,3 4,1 1,3 12,0 2,9 -9,3 15,9 0,6 12,6 7,3 -3,3 10,03 4,2 16,4 7,5 16,7 29,0 7,6 7,4 86,1 6,4 6,8 5,8 3,4 22,0 4,8 8,1 14,9 2,8 18,8 4,0 0,3 17,8 6,7 8,2 -1,1 -9,4

15,4 13,6 -30,4 -65,3 -63,2 -4,7 73,2 -16,7 -43,6 106,3 -13,8 11,8 -71,2 -29,8 -11,6 -57,3 17,2 -30,2 -2,5 40,0 -56,5 -1,5 51,9 -129,4 41,4 80,8 8,1 10,8 -5,4 -26,0 150,2 32,3 26,0 -19,3 -24,3 217,9 – 22,2 -0,8 39,4 54,7 -23,5 1.240,3 183,4 103,1 112,2 11,1 – -117,4 -323,5

9,2 21,0 2,3 4,5 3,4 8,7 22,7 13,4 10,4 0,5 14,3 11,2 -29,2 14,0 8,6 1,7 20,9 8,8 -16,7 22,2 1,3 10,7 15,7 -2,4 15,4 8,5 16,6 14,3 35,5 21,6 23,4 14,9 33,4 13,8 13,8 6,9 8,3 27,1 5,3 13,6 23,1 4,0 22,0 10,6 0,5 10,5 16,7 21,4 -2,9 -37,3

– 0,7 9,9 3,7 1,9 1,4 4,9 0,7 0,2 1,3 0,0 – 4,0 1,3 3,2 3,3 0,3 0,1 2,8 1,1 1,8 7,0 2,0 1,3 2,7 1,6 2,4 3,2 – – – 1,7 1,9 0,4 1,8 – 4,8 14,3 4,4 – 7,8 – 2,4 3,1 20,8 3,1 3,4 2,8 0,1 0,0

187 173 210 184 182 205 195 223 183 209 – 229 – 196 190 171 217 – 218 227 212 219 – – 200 220 211 226 216 237 215 191 247 230 213 233 – 236 231 221 234 178 206 235 – 199 248 244 243 –

* Relação entre carteira vencida e carteira de crédito; PE: Privado Estrangeiro; PD: Privado Doméstico; E: Estatal

78 AméricaEconomia Outubro, 2011

AE 404 RK 250 bancos V2.indd 12

29.09.11 17:52:04


Foto: Robson Ventura/Folhapress

O CONSUMO DEVE CONTINUAR EM ALTA NO PAÍS

Espaço para engordar o caixa NEM A CRISE INTERNACIONAL VAI ATRAPALHAR O CRESCIMENTO DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS DO PAÍS, APOIADO NA DEMANDA POR CRÉDITO NATALIA GÓMEZ, DE SÃO PAULO

turbulência que atinge o mercado internacional e abala as expectativas sobre as economias dos Estados Unidos e dos países da zona do euro, principalmente Grécia, Portugal e Itália, está longe de tirar o sono dos banqueiros brasileiros. Até o momento, a sensação do mercado é de que o sistema bancário local está protegido da crise externa, pois a economia brasileira continuará a crescer, mesmo que a taxas mais modestas que as de 2010. O crédito, grande propulsor dos bancos nos últimos anos, seguirá sua trajetória de crescimento, graças aos bons níveis de emprego e de renda e à expansão da classe média. Os gigantescos projetos de infraestrutura planejados para o país também devem garantir

A

bons negócios às instituições financeiras, pois vão gerar uma demanda de crédito de nada menos que R$ 1 trilhão nos próximos cinco anos. O baixo nível de exposição do Brasil aos mercados estrangeiros é outro fator positivo. Ao contrário dos fundos de pensão americanos, por exemplo, as fundações brasileiras não estão expostas a outros países e concentram seus negócios em solo nacional, assim como o setor de indústria e comércio. Os bancos nacionais tampouco enfrentam os mesmos riscos das instituições estrangeiras, pois não têm altos níveis de alavancagem e possuem poucos papéis de dívida europeia. Apesar desses pontos favoráveis, o temor concentra-se em uma possível redução na liquidez internacional, que Outubro, 2011 AméricaEconomia 79

AE 404 RK 250 bancos.indd 79

29.09.11 12:45:18


Projetos de infraestrutura no Brasil devem gerar uma demanda de crédito de R$ 1 trilhão nos próximos cinco anos pode causar um aumento nos custos de emissão e captação de recursos externos. Mesmo assim, o Banco Central conta com boas armas para amenizar os impactos da crise global, como a redução da taxa do depósito compulsório dos bancos, o que aumenta a liquidez do sistema, segundo o vice-presidente e diretor de Relações com Investidores do Bradesco, Domingos Figueiredo de Abreu. “Hoje, o volume de compulsório é de aproximadamente R$ 420 bilhões, algo muito superior aos R$ 270 bilhões de 2008”, afirma. À frente do mercado, os maiores bancos brasileiros – Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Bradesco e Itaú Unibanco – devem continuar apresentando fortes resultados. No ano passado, o lucro líquido dessas instituições cresceu 19,79% na comparação entre o primeiro semestre de 2010 e 2011 (dados da Economatica), beneficiado pelo forte crescimento econômico, segundo estu-

do feito por AméricaEconomía Intelligence. Neste ano, os números não devem se repetir, mas o cenário segue favorável.

OPERAÇÕES ENXUTAS Além do aumento da bancarização e dos juros altos, outros fatores que explicam os resultados desse mercado são os esforços para a redução de custos e os investimentos realizados em tecnologia nos últimos anos. “Os bancos fizeram sua lição de casa”, afirma o analista da consultoria Austing Rating Luís Miguel Santacreu. Ele lembra que as instituições começaram a aumentar a concessão de crédito depois que deixaram de ganhar dinheiro com a inflação, após o Plano Real, o que mudou o perfil do negócio no país. O Itaú Unibanco, primeiro colocado no ranking de AméricaEconomía Intelligence dos 25 melhores da América Latina, atribuiu ao crédito os bons resultados divulgados neste ano. Em 30 de junho, a 2

LONGE DO BRASIL: CIDADÃO GREGO ENDIVIDADO PROTESTA CONTRA BANCO

carteira de crédito da instituição atingiu R$ 360 bilhões, aumento de 22,3% em relação ao mesmo período do ano anterior. Segundo o diretor corporativo de Controladoria do Itaú, Rogério Calderón, o crédito foi um dos destaques nos resultados positivos do banco. O crédito concedido às pessoas físicas aumentou 8,7% de dezembro de 2010 a junho de 2011, enquanto o crédito para pessoas jurídicas cresceu 7,6%. A previsão é de que o crescimento do crédito, neste ano, fique abaixo de 20%, o que, ainda assim, é um número elevado. Segundo Calderón, um dos destaques é o crédito imobiliário, que ainda é baixo no país, mas vem crescendo rapidamente. “Nós estamos agora em bases anualizadas com crescimento acima de 70% neste segmento”, disse, durante apresentação dos resultados do segundo trimestre. No crédito pessoal, que teve alta de 27% no semestre, o banco foi impulsionado pela consolidação das operações do Itaú e do Unibanco em uma única plataforma. “A rede única permitiu avançar bastante e aproveitar melhor as oportunidades que o mercado nos oferece aqui”, afirma o executivo. Hoje, a relação entre crédito e PIB (Produto Interno Bruto) no Brasil é de 47,5%, quase o dobro da registrada em 2002 (24,6%). No entanto, ainda existe espaço para o avanço dessa taxa, que está abaixo da de outros países ricos e também é inferior à de outros países emergentes. Segundo os analistas da Coinvalores Marco Saravalle e Bruno Camargo, o Chile tem uma relação de quase 80% entre dívida e PIB, enquanto os países desenvolvidos apresentam índice superior a 130%. Neste ano, o mercado nacional de crédito cresceu 8,7%, entre janeiro e julho, na comparação com o primeiro semestre do ano passado. A previsão dos analistas é de que este índice aumente 15% até o final do ano, abaixo de 2010, quando a oferta de crédito cresceu 20,5%, mas muito superior à média histórica. No pré-crise, o crédito chegou a crescer mais de 30% ao ano.

Fotos: 2 - Nontas Stylianidis/AFP; 3 - Mateus Bruxel/Folhapress

CAPA Ranking de Bancos

80 AméricaEconomia Outubro, 2011

AE 404 RK 250 bancos.indd 80

29.09.11 12:47:24


3

O BANCO DO BRASIL PAGOU R$ 2,3 BILHÕES PARA ATUAR JUNTO AO BANCO POSTAL, DOS CORREIOS

BOM RITMO A Caixa Econômica Federal prevê um crescimento menor para o crédito em 2011. Segundo o vice-presidente de Finanças, Márcio Percival, o avanço, neste ano, deve ficar em 16%. Ele conta que as empresas já começaram a demandar menos crédito porque estão com estoques acima do planejado. “Acredito que a atividade industrial e o comércio devem crescer em um ritmo menor por causa do cenário global de incerteza”, conta. No crédito à pessoa física, o executivo também prevê uma tendência de desaceleração, mas isso deve ficar para o ano que vem, por causa do alto nível de emprego e renda, além do natural aquecimento nas vendas de fim de ano. Apesar dessas previsões, Percival está otimista. “O avanço pode não ser o mesmo de 2010, quando a economia cresceu 7,5%, mas ainda é um crédito maior do que no ano passado”, explica. Em sua visão, não há perspectiva de contágio da crise externa no Brasil porque o país não tem envolvimento com a dívida dos países europeus.

Um dos incentivos para os negócios dos bancos no Brasil será a procura para financiamento de projetos de infraestrutura nos próximos anos, relacionados à Copa do Mundo, ao pré-sal, ao PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e ao programa habitacional Minha Casa, Minha Vida. Segundo o executivo da Caixa, a demanda por financiamento será de R$ 200 bilhões por ano, nos próximos cinco anos, o que perfaz um total de R$ 1 trilhão. “Nossa expectativa é que os investimentos continuem a crescer, especialmente em infraestrutura”, afirma. No momento, o banco tem R$ 20 bilhões em projetos de infraestrutura em carteira comercial e de fundos. Para garantir seu crescimento nos próximos anos, a Caixa tem como prioridades as áreas de crédito imobiliário, infraestrutura e operações para pessoas físicas e jurídicas. “Queremos crescer, diversificar e aproveitar o avanço da bancarização, trabalhando com as melhores taxas do mercado”, explica. Tradicionalmente voltada ao público de baixa renda, a Caixa buscará fideli-

zar seus clientes da nova classe média. Uma das formas de conseguir esse resultado é por meio do crédito imobiliário, área em que o banco é líder de mercado, com participação de 75%. A Caixa estima liberar R$ 90 bilhões em recursos para crédito habitacional neste ano, crescimento de aproximadamente 17% em relação a 2010. Em junho, a carteira de crédito imobiliário alcançou saldo de R$ 129,3 bilhões, valor 49% superior ao volume apresentado em junho de 2010. Segundo Percival, o banco está preparado para assumir o mesmo papel que teve durante a crise de 2008, quando promoveu a expansão do crédito enquanto os bancos privados tinham maior cautela. O desenvolvimento dos negócios da Caixa deve ocorrer tanto de forma orgânica, com a abertura de novas agências e canais de relacionamento, quanto por meio de parcerias estratégicas. Segundo Percival, essas parcerias podem ser feitas com empresas de áreas ligadas às atividades bancárias, como tecnologia da informação, cartões, seguros e promoção de vendas. Outubro, 2011 AméricaEconomia 81

AE 404 RK 250 bancos.indd 81

29.09.11 12:47:48


CAPA Ranking de Bancos

4

ALÉM DO AGRONEGÓCIO Outro banco público que aposta na diversificação é o BB (Banco do Brasil), que, pelo segundo ano consecutivo, lidera o ranking dos 250 maiores bancos da América Latina. Tradicionalmente voltada ao setor do agronegócio, a instituição trabalhou para crescer nos grandes centros urbanos. Hoje, o banco segue líder no setor agrícola, com 66% de participação de mercado, e é o segundo colocado no crédito para consumo, com destaque para o financiamento de veículos. Há cerca de três anos, o BB iniciou a concessão de crédito imobiliário, e tem apresentado rápido crescimento nessa área. Em junho, divulgou em seu balanço que a carteira do segmento atingiu a marca de R$ 5 bilhões, crescimento de 114%, na comparação com o saldo de maio do ano passado. Também registrou em maio o maior volume

contratado para um único mês em toda a série histórica da sua carteira de crédito imobiliário. Segundo o vice-presidente de Finanças do BB, Ivan Monteiro, essa é uma área promissora porque a estabilidade econômica e a redução da taxa de juros estimulam a compra de imóveis. A opção por crescer no crédito imobiliário também se explica pelos baixos níveis de inadimplência, assim como ocorre no crédito consignado. Para pessoas físicas e jurídicas, o banco revisou suas projeções depois das medidas macroprudenciais anunciadas pelo governo em dezembro de 2010. A previsão para a carteira de crédito passou de 17% a 20% para de 15% a 18%, de acordo com o último balanço divulgado. Mesmo com expectativas reduzidas, o executivo destacou que é importante manter o crédito aberto durante as crises, como ocorreu em 2008.

Os baixos níveis de inadimplência nos financiamentos imobiliários garantem bons retornos às instituições

“Queremos ser um banco de relacionamento, não de transação”, explica. Essa visão é fruto do aprendizado no setor agrícola, no qual o crédito tem hora certa para ser concedido. “O custeio do café em Santa Rita de Sapucaí [MG] não pode ser paralisado por causa de uma crise em Oregon [estado americano]”, afirma. Essa estratégia do banco garantiu bons resultados na crise de 2008. Desde então, o BB ganhou cinco pontos porcentuais de participação no mercado de crédito, chegando a uma fatia de 20%. Além do avanço do financiamento habitacional, também aposta nos projetos de infraestrutura como vetor de crescimento do crédito. Na visão de Monteiro, a crise internacional, até agora, não teve nenhum “cadáver”, diferentemente do que ocorreu em 2008, com a quebra do Lehman Brothers. Ele acredita que o acesso mais restrito ao crédito externo poderá gerar negócios para os bancos nacionais, pois as empresas tendem a se financiar com recursos internos. A retração do mercado de capitais e o enxugamento de ofertas de ações também poderão direcionar as empresas para o crédito bancário. Do outro lado da

Fotos: 4 - Joel Silva/Folhapress; 5 - Moacyr Lopes Júnior/Folhapress; 6 - Adriano Vizoni/Folhapress

O BB QUER IR ALÉM DA LIDERANÇA NOS FINANCIAMENTOS AGRÍCOLAS E BUSCA CRESCER TAMBÉM NO SETOR IMOBILIÁRIO

82 AméricaEconomia Outubro, 2011

AE 404 RK 250 bancos.indd 82

29.09.11 12:48:13


moeda existe o risco de que as empresas posterguem suas decisões de investimento, à espera do resultado da crise externa, mas ainda é cedo para dizer qual cenário prevalecerá.

CLASSE MÉDIA Para garantir seu desempenho, o BB está atento ao avanço da classe média. “O banco tem familiaridade com esse público”, conta o vice-presidente de Finanças. Um dos caminhos para se aproximar dos novos consumidores é a parceria assinada com os Correios no Banco Postal, que oferece serviços bancários básicos ao público nas agências da estatal em todo o país. O banco ofereceu o lance de R$ 2,3 bilhões em um leilão pelo acordo e tomou o lugar

comércio for grande e também estar próximo aos brasileiros em outros países”, explica. Recentemente, o banco anunciou a compra do Banco Patagonia, na Argentina, e o plano de abrir uma corretora em Cingapura. Após o sucesso do BB na compra do Banco Postal, o Bradesco informou que manterá os clientes conquistados em seu portfólio. Em teleconferência à imprensa, o presidente do banco, Luiz Carlos Trabuco Cappi, afirmou que não prevê impactos negativos, pois o banco tem condições de atender a cada um dos clientes. No período em que foi parceiro do Postal, o Bradesco conseguiu cerca de 5 milhões de novos clientes. Hoje, o Bradesco está presente em todos os municípios do país e faz um 5

dade para o Bradesco, depois do sucesso na diversificação de seus negócios. Inicialmente voltado às grandes massas, o banco passou a incluir clientes pessoa física de alta renda, grandes e médias empresas e private banking. Hoje, a meta é aproveitar a janela demográfica que deve incorporar mais pessoas ao sistema bancário. Para isso, conta não apenas com a abertura de contas correntes, mas também com a adesão a planos de seguro, consórcios ou planos de previdência. “As áreas de cartões, financiamentos e seguros são aspectos essenciais para a estratégia de fortalecimento diante do cenário financeiro nacional e global”, explica Abreu. A diversificação dos produtos oferecidos aos clientes tem sido uma forte tendência no se6

AGRESSIVA EM CRÉDITO PARA A HABITAÇÃO, A CAIXA ECONÔMICA FEDERAL ATUA TANTO EM FEIRÕES QUANTO NO MINHA CASA, MINHA VIDA

do Bradesco, que mantinha a parceria com o Banco Postal há dez anos. Outros lances ousados, como aquisições, também estão no horizonte do banco. Segundo Monteiro, o BB avalia a possibilidade de fazer novas compras no futuro, com o objetivo de se aproximar de brasileiros e companhias nacionais no exterior. “Queremos estar com as empresas brasileiras onde o fluxo de

acompanhamento contínuo das praças para identificar as regiões com potencial de expansão. Segundo o vice-presidente e diretor de RI do Bradesco, Domingos Figueiredo de Abreu, algumas regiões de maior crescimento econômico nos últimos anos foram Norte, Nordeste e Centro-Oeste, especialmente nas cidades menores. O ganho de escala tornou-se priori-

tor bancário nos últimos anos, segundo o analista-chefe da Concórdia Corretora, Leonardo Zanfelicio. Outro caminho foi a criação de parcerias com o varejo para incentivar a venda dos produtos via cartão de crédito com marcas de lojas, a exempo do que o Itaú mantém com Lojas Americanas, Pão de Açúcar, Marisa e Magazine Luiza, e o Bradesco, com Casas Outubro, 2011 AméricaEconomia 83

AE 404 RK 250 bancos.indd 83

29.09.11 12:48:45


CAPA Ranking de Bancos

Em busca da nova classe média O esforço para se aproximar das classes D e E está ganhando cada vez mais força nos grandes bancos, e a conquista da parceria com os Correios no Banco Postal pelo Banco do Brasil foi um dos movimentos recentes nesse sentido. Com cobertura de 57% do território nacional, o BB passará a cobrir nada menos que 96% dos municípios após o acordo, que começa a valer em janeiro de 2012. A meta do banco era estar presente em 100% dos municípios brasileiros até 2015, mas a parceria antecipará esse projeto em três anos, para 2012. “A riqueza no Brasil está mais distribuída, e, por isso, é natural buscar maior capilaridade”, afirma Ivan Monteiro, vice-presidente de Finanças do BB. Hoje, o banco conta com 36 milhões de clientes das classes D e E, mas pretende agregar novos consumidores. “Estaremos mais próximos e poderemos atender melhor à nova classe média.” A busca por esse público tem levado os bancos a pensar em soluções ainda mais criativas, como a criação de agências flutuantes, que circulam pelos rios da Amazônia atendendo os moradores da região. O BB oferece três correspondentes bancários fluviais no Amazonas, que percorrem as principais calhas dos rios do estado, atingindo 58 comunidades ribeirinhas em 35 municípios. O serviço é resultado de um acordo entre o banco e o governo estadual, que cedeu a estrutura das embarcações. Segundo o banco, os objetivos são oferecer atendimento bancário às comunidades e prestar serviços como recebimento de guias de convênios, títulos compensáveis de qualquer banco e do BB e tributos municipais, estaduais e federais. Também é possível efetuar pagamento de benefícios sociais e do INSS, além de verificação de saldo e de saque em conta corrente, poupança, recebimento e encaminhamento de propostas para abertura de contas correntes, cartão de crédito, empréstimos e financiamentos. Outras instituições também se utilizam de agências flutuantes para chegar até os clientes do Amazonas, como a Caixa e o Bradesco. A Caixa já realizou mais de 10 mil atendimentos à população ribeirinha do Rio Solimões (AM) desde janeiro deste ano, em uma embarcação transformada em uma agência bancária. Durante os seis primeiros meses do projeto, foram realizados cerca de 3 mil atendimentos relativos a programas sociais, como Bolsa Família, Cartão do Cidadão, saque do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) e cadastramento do PIS (Programa de Integração Social). Foram abertas 1.500 contas, nas modalidades Caixa Fácil, poupança e conta corrente de pessoa física e jurídica. O Bradesco iniciou em 2009 as operações da primeira agência bancária fluvial do Brasil. O atendimento é feito no barco Voyager III, um supermercado flutuante que atende a uma população de 210 mil pessoas, em duas viagens de sete dias por mês. O trajeto percorrido é de aproximadamente 1.600 quilômetros, entre os municípios de Manaus e Tabatinga, também no Amazonas. Nesse percurso, passa por 11 municípios e chega a cerca de 50 comunidades ribeirinhas. A gerente que trabalha na embarcação do Bradesco também visita regularmente a população das comunidades situadas às margens do Rio Solimões para orientá-la quanto à abertura de conta e à utilização de produtos e serviços bancários. A PULVERIZAÇÃO DA RENDA PELO INTERIOR LEVOU BANCOS COMO O BB A MONTAR AGÊNCIAS FLUTUANTES NO AMAZONAS

Foto: Divulgação

Bahia e Lojas Colombo. De acordo com o analista, os bancos investiram ainda na personalização do atendimento, por meio da criação das denominadas “áreas private”, além de contar com bancos de investimentos que permitem fornecer operações estruturadas, como debêntures, FDIC (fundos de investimento em direitos creditórios), até mesmo abertura de capital para as pessoas jurídicas e gestão de recursos para todos os tipos de clientes. O crescimento da bancarização, resultado do aumento da formalidade do mercado de trabalho e pela melhora da renda, tem sido perseguido pelos bancos em todo o país, com sucesso. O número de contas correntes ativas passou de 73,7 milhões, em 2006, para 88,6 milhões, em 2010, avanço de 20%. As contas poupança tiveram crescimento de 26,6% no período, chegando a 97,2 milhões. Em volume de depósitos, o aumento no período foi ainda mais expressivo, com alta de 69,5%, segundo dados do Banco Central e da Febraban (Federação Brasileira dos Bancos). Mesmo assim, ainda é pouco para o potencial previsto para o mercado brasileiro. Um bom exemplo é o mercado de seguros. Hoje, o Brasil é o 47º colocado no ranking de prêmios per capita de seguros, atrás de países como o Chile e a África do Sul. Mais um sinal de que os bancos têm espaço para enveredar ainda mais rumo à diversificação e a ganhos de escala, garantindo um crescimento sustentável pautado no mercado interno.

84 AméricaEconomia Outubro, 2011

AE 404 RK 250 bancos V1.indd 18

29.09.11 12:27:27


Saiba como Ajudar

Conheรงa o Projeto

www.institutorollingstone.org.br twitter twitter.com/institutoRSbr

facebook Pรกgina do Instituto Rolling Stone Brasil apoio:

AMร RICA ECONOMIA.indd 1

7/4/11 11:51 AM


CAPA Ranking de Bancos

O verde virou vermelho SAÍDA DE FÁBIO BARBOSA DO SANTANDER MARCA RUPTURA DEFINITIVA COM O LEGADO DO REAL NATALIA GÓMEZ, DE SÃO PAULO

7

sinal já havia sido dado em dezembro do ano passado, quando Fábio Barbosa saiu da função de presidente executivo do Santander para ocupar a presidência do Conselho de Administração. Mas o recente anúncio de que o executivo deixou o posto para assumir a operação da Editora Abril encerra a questão: o cordão umbilical que ligava o Santander ao legado do Banco Real, de onde veio Barbosa, está oficialmente cortado. Três anos após os espanhóis terem adquirido o Real, prevaleceu a cultura do comprador, com sua conhecida agressividade comercial, e ficou para trás o tempo da bandeira verde, imagem associada a Barbosa, que se dedicou ao Real durante 16 anos. Quando o processo de integração dos dois conglomerados financeiros teve início, o discurso interno era de que

O

seria aproveitado o que cada banco tinha de melhor. Isso não valeu apenas para o Realmaster (com seu conhecido slogan “dez dias sem juros”) e para o atendimento Van Gogh aos clientes de alta renda, que foram mantidos pelo Santander. O presidente da instituição financeira comprada também foi escolhido para presidir o novo grupo. O passar do tempo mostrou, porém, que não seria possível preservar estilos tão diferentes. “Prevaleceu a cultura vermelha, espanhola”, afirma um ex-diretor do banco. A influência ficou patente após a indicação de Marcial Portela Álvarez para a presidência do banco. O executivo era vice-presidente executivo do Santander na Espanha. O agravamento da crise no país europeu explica o maior foco da matriz no Brasil. Até o presidente mundial do grupo Santander, Emílio Botín, já dis-

se que o país será um motor do crescimento do banco nos próximos anos. As principais marcas do estilo Santander são a agressividade e o foco no varejo. A bandeira da sustentabilidade nos negócios, que estava no DNA do Real, perdeu o protagonismo. Na opinião do consultor Marcos Hiller, coordenador do MBA de Gestão de Marcas da Trevisan Escola de Negócios, o atributo da sustentabilidade não passou das mãos do Real para as do Santander, do ponto de vista dos clientes. “Não é uma imagem que o consumidor associa ao banco”, explica. A saída de Barbosa foi na hora certa, segundo a consultora de empresas e professora da PUC (Pontifícia Universidade Católica) de Minas Gerais Betânia Tanure. “As pessoas e as empresas têm seus ciclos, e uma das inteligências dos executivos está em reconhe-

Fotos: 7 - Scott Eells/Bloomberg via Getty Images; 8 - Denis Doyle/Bloomberg via Getty Images

NOS TEMPOS DE BARBOSA, O REAL TINHA UMA RELAÇÃO MAIS PRÓXIMA COM OS CLIENTES

86 AméricaEconomia Outubro, 2011

AE 404 RK 250 bancos.indd 86

29.09.11 12:49:16


cer que esse ciclo se fechou”, afirma. A consultora acaba de lançar um livro sobre Barbosa, batizado de Os Dois Lados da Moeda em Fusões e Aquisições (Editora Campus). Foram dois anos de conversas com o executivo para concluir o projeto. Segundo Betânia, a principal marca deixada por Barbosa no banco foi o sentido de relações sustentáveis, que não se traduzem apenas em lucro, mas em uma relação de “ganha-ganha” com o cliente, o banco e a sociedade. Aos olhos do consumidor, a troca de comando no Santander não deve ter impacto significativo, segundo o especialista da Trevisan. Mas isso não significa que tudo são flores na relação entre o Santander e seus clientes. No momento, o banco enfrenta críticas do público, e um dos desafios da nova gestão será melhorar essa imagem. Procurado por AméricaEconomia, o Santander não quis comentar o assunto. Segundo a Fundação Procon-SP, o banco foi o que menos solucionou as queixas apresentadas pelos clientes em 2010. Um levantamento aponta que 79% das 693 reclamações feitas contra o Santander não foram atendidas – nível mais alto dentre as instituições financeiras. À frente do Santander está apenas o grupo Carrefour (84,8%). Em terceiro lugar está o Banco do Brasil (78,4%), seguido por Itaú Unibanco (51,6%) e Bradesco (44,3%). A especialista em Defesa do Consumidor da Fundação, Renata Reis, conta que o Santander tradicionalmente apresenta altos níveis de reclamação não atendida. “Já o Real sempre teve um bom perfil na relação com os consumidores, mas, na fusão, prevaleceu o foco do Santander”, diz. Segundo Renata, a queixa mais comum dos clientes do Santander é a cobrança de tarifas atreladas ao uso da conta corrente, como a de adiantamen-

to a depositante e de excesso de limite. Ela cita o exemplo de um cliente que havia ultrapassado seu limite de cheque especial, fez um saque de R$ 5 e pagou uma tarifa de quase R$ 35. “Existe uma falta de proporcionalidade entre a tarifa e a operação”, explica. Outro problema é a falta de informações ao consumidor, estimulado a usar os serviços automatizados do banco e a não frequentar as agências, justamente onde as informações sobre tarifas são publicadas.

foi extinta em novembro do ano passado, e a integração tecnológica ocorreu em fevereiro deste ano, com muitos problemas técnicos e reclamações de clientes e funcionários. Na visão da sindicalista, apesar de ter levado três anos para ser concluído, o processo foi feito com muita rapidez. “O sindicato sugeriu que o banco fizesse a transição por partes para evitar transtornos, mas isso aconteceu de uma só vez. O resultado foi uma situa-

8

BOTÍN, DO SANTANDER, ESPERA QUE O BRASIL SEJA O MOTOR DE CRESCIMENTO DO BANCO

Após a divulgação dos dados de 2010, o Procon foi procurado pelo Santander, que quer melhorar esse quadro, reduzindo o número de entradas no Procon e aumentando o índice de solução das reclamações. Os resultados serão divulgados nos próximos meses. “Esperamos que o novo presidente do banco acompanhe o pensamento da gestão anterior e continue a estreitar relações com os órgãos de defesa do consumidor”, afirma Renata. Muitos dos problemas enfrentados pelo banco foram causados pela integração tecnológica entre o Santander e o Real, segundo Juvandia Moreira, presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo e Região. A marca Real

Três anos após a aquisição do Real, prevaleceu a cultura do comprador, com sua conhecida agressividade comercial

ção caótica”, conta. Algumas das reclamações incluíam erros em endereços para correspondência e em saldos das contas, que, em alguns casos, apareceram zerados. Os funcionários do banco não sabiam dar explicações sobre os problemas. Na relação com os funcionários, um dos pontos em discussão é o trabalho dos caixas das agências na venda de produtos, como seguros e cartões de crédito. Segundo Juvandia, esse problema não é exclusividade do Santander, mas o banco é o que mais tem gerado reclamações de funcionários. “O caixa não tem condições de atender a fila e ainda vender produtos”, afirma. As respostas dadas pelo Santander a tantos desafios, após a saída de Barbosa, ajudarão o mercado e os clientes a conhecer o perfil do banco, agora mais próximo de suas origens, e a saber qual é sua maneira de fazer valer o slogan “Vamos fazer juntos?”. Outubro, 2011 AméricaEconomia 87

AE 404 RK 250 bancos.indd 87

29.09.11 12:49:40


opinião

crise financeira se aprofundou nos últimos meses. Bolsas caíram e juros soberanos europeus subiram, assim como os indicadores tradicionais de aversão a risco, como o VIX, que mede a volatilidade implícita da bolsa americana. Além das preocupações com a sustentabilidade da dívida pública nos países centrais, o mercado começou a flertar com o risco de uma nova crise no sistema financeiro internacional. Ações de bancos americanos e europeus caíram fortemente, e seus spreads de crédito se deterioraram. O movimento trouxe de volta o fantasma da crise de 2008, quando a situação dos bancos provocou um congelamento do mercado de crédito internacional. De fato, a crise de dívida externa machuca a atividade econômica, mas o travamento do crédito global pode empurrar a economia para uma recessão tão abrupta e profunda como a vivida em 2008. Três anos atrás, o catalisador da crise financeira foi a quebra do banco americano Lehman Brothers. O fato deu a sensação ao mundo de que todo o sistema financeiro dos Estados Unidos poderia entrar em colapso. Desta vez, o olho do furacão está do outro lado do Atlântico. Por anos, bancos privados europeus financiaram os governos de Grécia e Portugal. Hoje, com esses países à beira da bancarrota, o mercado passa a duvidar da saúde dessas instituições financeiras. Há solução? Sim, mas envolve a necessidade de maior coordenação política na zona do euro. Em primeiro lugar, é preciso reconhecer a insolvência de alguns estados nacionais e, rapidamente, partir para uma estratégia mais ousada de reestruturação financeira. Ao mesmo tempo, deve-se recapitalizar o sistema financeiro para que não haja receio de que alguma instituição de porte relevante interrompa suas funções.

CAIO MEGALE é mestre em Economia pela PUC-Rio e economista do Itaú BBA (megalecaio@gmail.com).

Segundo contas do FMI apresentadas em seu último “World Economic Outlook” (disponível no www.imf.org), a necessidade de capital dos bancos europeus gira em torno de € 200 bilhões. Essa recapitalização tende a ser feita por meio do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (EFSF, na sigla em inglês), mas, para tal, é preciso a aprovação unânime de todos os parlamentos da zona do euro. Daí a necessidade de coordenação política. Caso a crise global evolua para um cenário de credit crunch nos moldes do observado na esteira da quebra do Lehman Brothers, os impactos sobre a economia global serão tão intensos como em 2008? Por um lado, o setor privado global está menos endividado. E preços de ativos importantes, como imóveis nos EUA, já experimentaram importante correção. Por outro, as economias do G3 têm pouca munição para suportar uma nova onda recessiva, dado que as taxas de juros já estão praticamente zeradas e o alto endividamento público não dá muita margem de manobra para política fiscal. Dessa forma, o impacto sobre o crescimento global tende a ser amortecido pelo menor endividamento das famílias e das empresas, mas pode ser mais duradouro. O agravamento da crise global sugere que 2012 pode ser um ano difícil. Mesmo que o quadro de estresse financeiro descrito acima não se materialize, no mínimo teremos um ano de crescimento mundial baixo. E com impactos sobre a economia brasileira, como sugere o nervosismo no mercado cambial. Temos um mercado consumidor amplo e um bom pipeline de investimentos, o que tende a sustentar uma boa taxa de crescimento ao longo dos anos, além de instrumentos de política econômica eficientes para incentivar a demanda doméstica – como as taxas de juros, que o Banco Central começou a cortar mesmo com a inflação corrente ainda pressionada. Mas talvez não escapemos de passar apertado por alguns trimestres, como na virada de 2008 para 2009.

Ilustração: Samuel Casal

O fantasma de 2008 A

88 AméricaEconomia Outubro, 2011

AE 404 opiniao Caio.indd 2

9/27/11 4:27:14 PM


ARTE DE FAZER CHURRASCO Av e n i d a R E b o u รง a s , 1 0 0 1 - J a r d i m P a u l i s t a - S รฃ o P A u l o - S P - T E l . ( 1 1 ) 3 0 8 3 - 4 2 6 5 - w w w. v e n t o h a r a g a n o . c o m . b r

Anuncio_churrasco_America Economia.indd 1

29/10/2010 14:43:40


FINANÇAS Investimentos

Brasileiros descobrem o

Tesouro EM BUSCA DE MAIS RENTABILIDADE, INVESTIDORES OPTAM PELA APLICAÇÃO DIRETA EM TÍTULOS DO GOVERNO

fraco desempenho da Bolsa de Valores, a desvalorização do dólar frente ao real, as elevadas taxas de juros no Brasil e a alta da inflação são alguns dos fatores que fizeram o Tesouro Direto despontar como o investimento do ano. Por meio desse mecanismo, investidores pessoas físicas podem comprar títulos públicos pela internet, por intermédio de um banco ou de uma corretora, sem precisar aplicar em um fundo de investimento. “No cenário atual, marcado por muitas in-

O

certezas, a renda fixa é o grande porto seguro. O Tesouro Direto, portanto, tornou-se a alternativa do ano”, diz o economista Roberto Troster. O Tesouro Direto é um ambiente integrado de compra, venda, liquidação e custódia de títulos públicos por pessoas físicas. Ele só pode ser acessado pela internet e funciona em parceria entre o Tesouro Nacional e a CBLC (Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia)/BM&FBovespa. Somente nos seis primeiros me-

ses de 2011, o volume de vendas de títulos públicos aumentou 82%, de quase R$ 1 bilhão para R$ 1,8 bilhão. O estoque total de títulos públicos nas mãos dos investidores atingiu a marca inédita de R$ 6 bilhões em junho deste ano. No fim de 2010, o estoque total somava R$ 4,65 bilhões. Em julho, os títulos remunerados por índices de preços (como o INPC - Índice Nacional de Preços ao Consumidor) responderam pelo maior volume no estoque, alcançando 50,16%. Na sequên-

Foto: Shutterstock

ANA BORGES, DE SÃO PAULO

90 AméricaEconomia Outubro, 2011

AE 404 tesouro.indd 2

9/27/11 4:01:46 PM


cia, aparecem os títulos prefixados, com participação de 35,98%. Já os títulos indexados à taxa Selic ficaram com 13,85%. São dois os tipos de investidores que estão colocando seus recursos em títulos públicos. Uma parte da migração vem daqueles que fogem da renda variável, por causa do desempenho negativo do mercado acionário e da forte volatilidade. Existem também os investidores que nunca acessaram o home broker para a compra de títulos ou ações, mas buscam obter uma rentabilidade melhor sem perder a segurança. Para esses, o Tesouro Direto tem sido a saída. “Quando conhecem o Tesouro Direto, as pessoas se interessam bastante, pois a rentabilidade é maior que a da poupança, e o risco é baixo”, explica o gestor do Renatrader, plataforma de investimentos da Corretora Renascença, Eric Cardoso. O levantamento (veja abaixo) realizado pela Socopa Corretora sobre a rentabilidade da compra direta de três tipos de títulos (são cinco modalidades) em comparação com a poupança comprova o motivo da euforia de quem descobre o Tesouro Direto. Segundo a pesquisa, quem investiu R$ 10 mil na poupança, em 30 de agosto de 2009, por exemplo, resgatou, dois anos depois, o valor de R$ 11.508,59. Já o mesmo valor em NTN-B (Notas do Tesouro Nacional Série B – títulos in-

82% foi o aumento de títulos negociados no primeiro semestre dexados ao IPCA) levou a um resgate bruto de R$ 13.196 e líquido (descontada a inflação) de R$ 12.637,01. As LTNs (Letras do Tesouro Nacional – títulos prefixados) proporcionaram resgate líquido de R$ 11.896,73, e as LFTs (Letras Financeiras do Tesouro – títulos indexados à taxa Selic), de R$ 11.745,42. “Mesmo com o pagamento de imposto de renda, os ganhos com qualquer um dos títulos do Tesouro foram maiores”, observa Rogério Manente, gerente de Home Broker da Socopa Corretora. Esse é um dos motivos para o aumento da visibilidade do investimento em títulos. “Há uma migração notável de investidores que saem da poupança e do CDB para o Tesouro Direto. No nosso caso, o número de novos investidores em Tesouro Direto praticamente dobrou nos últimos 12 meses”, lembra Manente.

Opção atraente Rendimento do tesouro direto é bem maior que poupança e CDB Data aplicação: 30/08/2009 | Data resgate: 30/08/2011 Valor aplicado: R$ 10 mil

Investimento

Valor bruto*

IOF

IR*

Taxa de Taxa de operação* custódia*

CRESCIMENTO EXPRESSIVO Segundo os dados mais recentes do Tesouro Nacional, o total de investidores cadastrados ao fim de julho chegou a 252.729, o que representa um aumento de 28,20% nos últimos 12 meses. Somente em julho, 5.604 novos participantes se cadastraram no Tesouro Direto. A utilização do programa por pequenos investidores pode ser observada pelo elevado volume de vendas de até R$ 5 mil, cuja participação concentrou 58,37% do total aplicado em julho. O valor médio por operação, naquele mês, foi de R$ 13.739. Para ingressar não é preciso investimento elevado, ou seja, com apenas R$ 100 um investidor já pode experimentar a plataforma. “O crescimento está relacionado ao cenário de juros elevados, que aumenta a rentabilidade dos títulos públicos, e à campanha das corretoras, da Bolsa de Valores e do próprio Tesouro para incentivar o ingresso das pessoas físicas”, afirma Cardoso, do Renatrader. O programa teve mais visibilidade depois das campanhas. A facilidade de acesso é outro diferencial do Tesouro Direto. Desde 2009, há a integração entre os sistemas de negociação eletrônica de ações (home broker) com o de títulos públicos. Dessa forma, o investidor que aplica em bolsa via home broker não precisa deixar o sistema para comprar títulos públicos. “É uma grande facilidade entrar e operar no Tesouro Direto. O sistema é muito explicativo”, afirma o gerente de Home Broker e Tesouro Direto da Capital Markets, David Marques. As corretoras oferecem apoio para o investidor que pretende começar,

Valor líquido*

Vencimento

Correção em valor bruto (%)

Correção em valor líquido (%)

POUPANÇA

11.508,59

11.508,59

15,09

15,09

CDB PÓS 90% CDI

11.909,85

286,48

11.623,38

19,10

16,23

TESOURO DIRETO – LFT

12.143,36

321,50

10,00

66,43

11.745,42

07/03/2014

21,43

17,45

TESOURO DIRETO – LTN

12.322,00

348,30

10,00

66,97

11.896,73

01/01/2012

23,22

18,97

TESOURO DIRETO – NTN-B PRINC.

13.196,00

479,40

10,00

69,59

12.637,01

15/05/2015

31,96

26,37

* Em reais Fonte: Socopa Corretora

Outubro, 2011 AméricaEconomia 91

AE 404 tesouro.indd 3

9/27/11 4:02:20 PM


FINANÇAS Investimentos

2

mas não recomendam qual tipo de título deve ser adquirido. Ao investidor cabe gerenciar seus investimentos por meio da escolha de títulos de curto, médio ou longo prazo e o tipo de rendimento (inflação, taxa Selic ou prefixados com alta liquidez). O primeiro passo é fazer um cadastro nas instituições financeiras e ter acesso à plataforma de negociação via home broker. Assim, é possível comprar e vender títulos.

PARA LEIGOS Para tomar suas decisões, o investidor não precisa ser um especialista em finanças, mas é indicado que faça um acompanhamento da conjuntura econômica, principalmente no que diz respeito às taxas de juros e à inflação. O risco do investimento é baixo e, para quem não quer ter surpresas como a última redução da Selic (taxa básica de juros), que diminuiu a rentabilidade das LFTs, o ideal é buscar os prefixados. “Muitos investidores preferem os títulos prefixados, pois sabem exatamente a rentabilidade que terão. Comprar diretamente os títulos do Tesouro é muito mais transparente do que aplicar em um fundo de investimento”, avalia Marques. As taxas de administração e custódia são baixas, e o IR é cobrado só no momento de venda ou vencimento do título. Isso significa que o valor que seria pago de IR renderá enquanto o investimento for mantido. Após a data de vencimento, o investimento é creditado automaticamente na conta do aplica-

dor. “Não existe o famoso come cotas, como ocorre com os fundos de investimentos”, ressalta Cardoso. A alíquota de IR depende do tempo do investimento. Quanto maior o prazo, menos imposto será cobrado. O tributo varia de 22,5% a 15%. Para aplicações de até seis meses, o IR é de 22,5%. Entre seis meses e um ano, a alíquota cai para 20%. De um ano a dois anos de prazo, a tributação é de 17,5% e, acima de dois anos, cai para 15%. Em relação à liquidez, Cardoso lem-

R$ 100 é o valor mínimo para quem quer investir em Tesouro Direito

3

Fotos: 1 e 2 - Divulgação; 3 - Shutterstock

1

PARA MANENTE, DA SOCOPA, (À ESQ.) E CARDOSO, DO RENATRADER, O ATUAL CENÁRIO ECONÔMICO É O QUE MAIS ATRAI

bra que não são todos os dias que o investidor pode se desfazer dos títulos. “A recompra é garantida com rentabilidade proporcional ao período que o investidor ficou com os títulos, mas os leilões ocorrem uma vez por semana”, relata. O Tesouro Nacional garante a recompra do seu título todas as quartas-feiras. Para as corretoras, o acesso de novos investidores ao Tesouro Direto é um movimento benvindo, pois parte significativa desses clientes recorre também a outros tipos de aplicações, como o mercado de ações. “No caso da Socopa, 20% dos clientes que começam com Tesouro Direto optam também por ações. Essa é uma forma de conhecer o home broker”, diz Manente. Por esse motivo, algumas decidiram não cobrar taxa de corretagem para essas operações. Existem três taxas cobradas pelo sistema. A primeira é no ato da compra (0,1% sobre o valor da operação), há ainda a taxa de custódia (0,3% ao ano sobre o valor dos títulos). Em terceiro estão as taxas de serviços cobradas pelos agentes de custódia.

92 AméricaEconomia Outubro, 2011

AE 404 tesouro V1.indd 4

9/27/11 4:00:20 PM


Master

Platinum

Gold

Apoio

Afiliado à

Realização


ibiz

Ganhos portáteis PREVISÃO DE AUMENTO DE 500% NAS VENDAS MUNDIAIS DE TABLETS ATRAI EMPRESAS QUE DESENVOLVEM SOLUÇÕES PARA O MERCADO FINANCEIRO

e olho na febre causada pelo lançamento dos tablets da Apple, trazidos ao Brasil pela primeira vez em 2010 e disseminados também pelas mãos de outros fabricantes, empresas ligadas ao mercado financeiro têm oferecido soluções aos clientes que querem controlar seus investimentos por meio da famosa prancheta. O raciocínio é simples: quanto mais rápida for a decisão do

D

investidor de aplicar ou desinvestir, menos perda – ou mais ganho – ele terá. A possibilidade de oferecer aos clientes uma maneira mais rápida de comprar ou se desfazer de ativos foi a linha de partida da brasileira CMA, uma das líderes no setor de softwares de negociação eletrônica no mercado financeiro brasileiro, ao criar um home broker (sistema que permite negociar de ações via internet) para tablets.

Fotos: Shutterstock

GRAZIELE DAL-BÓ, DE SÃO PAULO

94 AméricaEconomia Outubro, 2011

AE 403 ibiz V1.indd 2

9/27/11 3:53:20 PM


Mercados da CMA. Para o executivo, já não há mais como desenvolver uma tecnologia sem considerar o funcionamento também nesses equipamentos. Ao analisar os números das consultorias que acompanham o setor, é possível dimensionar a afirmação do executivo. Estudo da Gartner mostra que o número de tablets vendidos deve passar das 17,6 milhões de unidades, em 2010, para 108,2 milhões, em 2012 – um salto de 500%. Nesse mesmo período, o avanço na comercialização de PCs será bastante inferior, de 23%. Somente no Brasil, segundo dados da consultoria IDC, serão vendidos 400 mil tablets em 2011. A expectativa de Juan, da CMA, é vender 500 sistemas para tablets até o final do ano, ao custo mensal de R$ 20 cada um. Junto do home broker, a empresa também lançou outras soluções voltadas às corretoras e aos bancos, em um investimento de R$ 53 milhões. Um dos focos da CMA é o mercado latino-americano. Segundo o diretor da companhia, a participação de países como Peru, Argentina, Chile, Colômbia e Uruguai na receita do grupo deve passar dos atuais 8% para algo entre 20% e 30% até o final do ano. A fabricante também atua nos mercados americano e europeu. “Não podemos desperdiçar o bom momento da economia latino-americana”, resume o executivo. Nesse cenário de tecnologias móveis voltadas à área financeira, o Brasil tem papel fundamental. Isso porque o governo defende incentivos fiscais e políticas para atrair a produção local de tablets por meio da inclusão dessa indústria na Lei do Bem, que reduz a zero as alíquotas referentes ao PIS/ Cofins. A MP (Medida Provisória) só depende da sanção presidencial. Para receber os benefícios, as empresas terão de se comprometer a um conteúdo nacional de 20% no início da produção e de 80% em três anos. Conforme cálculos do ministro de Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, os preços dos tablets devem cair 40% com a isenção de 31% de impostos federais e a redução de taxas estaduais e municipais.

APOSTA NO BRASIL

Lançada no mês passado, a novidade possibilita ao investidor acessar todos os aplicativos da plataforma de negociação, com gráficos, análises e notícias, tudo atualizado em tempo real, além de permitir a adaptação do layout. “Basta o investidor abrir a tela e, com apenas um toque, a bolsa de valores estará em suas mãos, em qualquer lugar do mundo em que ele estiver”, diz Raphael Juan, diretor de Produtos e

Com um mercado ainda embrionário, o Brasil se tornou destino certo de empresas como a chilena Belltech, que tem aqui um de seus países-chave para aumentar as receitas do grupo. Em parceria com a BT, a empresa lançou recentemente no mercado brasileiro o iTrade, plataforma de negociação direcionada a corretoras, bancos e bolsas de valores que reúne em uma única página de internet todo o histórico do cliente. “O trader [operador de mesa] poderá ter acesso a todo o perfil do cliente, como seus últimos negócios e os setores nos quais prefere investir. E isso poderá ser feito por meio de um notebook, de um tablet e até de um smartphone. As informações aparecerão na tela”, explica o chileno David Vaizer, diretor de Contas Regionais da Belltech. A companhia, que tem operações na Argentina, no Chile, na Colômbia e no Peru, desembarcou aqui no ano passado e tem previsão de atingir um faturamento anual de Outubro, 2011 AméricaEconomia 95

AE 403 ibiz V1.indd 3

9/27/11 3:55:24 PM


ibiz R$ 20 milhões no país até 2015. O valor é um quarto do total de vendas da Belltech em 2010, que chegou a R$ 85 milhões. Metade dessa quantia vem de produtos voltados ao mercado financeiro – a empresa também atua no varejo e em serviços. O desenvolvimento de ferramentas para os aplicativos móveis é um dos focos da Belltech para o segmento financeiro.

“Os dispositivos portáteis vivem uma explosão entre os usuários finais. O próximo passo é conquistar o mercado corporativo, e a indústria financeira é muito importante nesse novo cenário. O uso e os aplicativos têm uma flexibilidade tremenda, e estamos convencidos de que a gestão dos negócios será importante e um fator-chave”, afirma Vaizer.

OS SUICÍDIOS NA FOXCONN DESENCADEARAM PROTESTOS

Tapete vermelho para a Foxconn Paula Pacheco, de São Paulo Quando o empresário Abilio Diniz anunciou que teria o apoio financeiro do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para juntar o Grupo Pão de Açúcar com o Carrefour no Brasil, foi um Deus nos acuda. As críticas concentraram-se no fato de o banco ter planos de ajudar, indiretamente, uma companhia estrangeira. Recentemente, ouviu-se uma promessa muito parecida. O ministro Aloizio Mercadante, de Ciência e Tecnologia, disse que o BNDES poderá se tornar sócio da Foxconn, gigante de tecnologia de Taiwan. Até o fechamento desta edição, o BNDES ainda não havia confirmado se entraria de fato no negócio. O assunto é conduzido pelo ministério. Vale relembrar o começo dessa história. Em abril, na primeira viagem oficial internacional da presidente Dilma, houve um estardalhaço em torno do anúncio de que a Foxconn fabricaria tablets da Apple no Brasil a preços atraentes. Pa-

ra isso, investiria um caminhão de dólares – primeiro falou-se em US$ 8 bilhões, depois, em US$ 12 bilhões. Cifras estratosféricas, que não são vistas nem em indústrias de capital intensivo. Seriam contratados 100 mil trabalhadores. Nos últimos meses, Mercadante tem feito campanha em prol dos tablets. Primeiro, disse que, em setembro, o Brasil teria os primeiros produtos de fabricação nacional. Depois, afirmou que este seria o Natal dos equipamentos. A última do ministro foi a “forcinha” que se pretende dar à Foxconn por meio do BNDES. A empresa de Taiwan tem na sua carteira clientes como Apple, Nokia, Motorola e Huawei. Na unidade de produção no interior de São Paulo, produz celulares. Os acionistas pressionam por resultados melhores. Não será uma tarefa fácil. Afinal, a Foxconn tem lidado com o crescimento dos gastos e dos conflitos trabalhistas. A companhia enfren-

tou, no ano passado, uma onda de suicídios em suas fábricas. Foram 17 mortes e pelo menos uma dezena de tentativas. Neste ano, ocorreram mais duas mortes. Terry Guo Tai-ming, CEO da Foxconn, declarou na época que sua empresa “não é nenhuma fábrica exploradora”. Ativistas protestaram em frente à sede da empresa, em Hong Kong, exibindo cartazes com dizeres como “suicídio não é acidente”. O estresse profissional teria sido desencadeado por longos turnos de trabalho, pela velocidade da linha de produção e pela disciplina militar imposta nas fábricas. Roberto Mayer, vice-presidente da Assespro (Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação), critica a ideia de financiar a Foxconn: “Se há dinheiro, que seja dado a uma empresa brasileira. Há muitas que precisam desse tipo de incentivo para expandir seus negócios e competir com os estrangeiros”. Em entrevista dada no ano passado ao The Wall Street Journal, o Brasil não era uma das prioridades da Foxconn. O presidente Terry Gou Tai-ming falou da forma como os empregados da Foxconn trabalham no Brasil: “É um país fantástico, eles [os brasileiros] têm muitos minerais e a Amazônia, o que lhes confere um grande potencial hidrelétrico. Mas os brasileiros, bem, tão logo eles ouvem a palavra ‘futebol’, param de trabalhar. E há também toda aquela dança. É maluco. Então, o Brasil é um lugar OK para produzir para o mercado local, mas, para produzir coisas para o mercado americano, é mais barato e rápido fazer isso a partir da China”, disse. Mas com dinheiro alheio, fica bem mais fácil mudar de opinião.

96 AméricaEconomia Outubro, 2011

AE 403 ibiz V1.indd 4

9/27/11 3:56:01 PM


Venha participar do espetáculo que reune o melhor do relacionamento com o cliente.

dia 19 de outubro no memorial da américa latina em são paulo. empresas Vencedoras | ABS Brasil | AES Eletropaulo | Algar Telecom | Almaviva do Brasil | Ampla Energia e Serviços | Banco Bradesco | Banco do Brasil | Brasilcenter Comunicações | Call Contact Center | CEG Rio | Cooperforte | Credicard | CSU.Contact | CTIS Tecnologia | ddCom Systems | Elektro | Fidelity | Gas Natural São Paulo Sul | GSK | I9 Contact Center | Intelbras | Itaú Unibanco | MAPFRE Seguros | Master Brasil | Mercedes-Benz | Net Serviços | Plusoft | SEBRAE/RJ | Seguros Unimed | SKY | Telefonica | Ticket | Tim Brasil | Ultracenter informações e convites | premioabt@premioabt.com.br | (11) 3801.2970/2843 | www.premioabt.com.br

anuncio_XI_premioabt_evento_america_economia_200x266_06.indd 1

29/09/11 15:22


opinião

ouca gente se lembra dos índices de avaliação do Brasil em janeiro de 2003. A Bolsa de Valores começava, no início daquele ano, na casa dos 11.200 pontos. A taxa Selic era de 25%. No começo do governo Lula, vimos uma elevação da Selic logo na primeira reunião do Copom, além do aumento da meta do superávit primário. O Risco Brasil, naquela época, superou os 2.400 pontos. Quando analisamos a situação atual, percebemos uma imensa melhora. O que não quer dizer que não exista espaço para melhorar mais. Em uma reunião ministerial no começo daquele ano, fiz uma aposta com o então ministro da Fazenda, Antonio Palocci, sobre quando o Risco Brasil cairia para 1.000 pontos, depois para 600 pontos, até chegar aos 400 pontos. O ministro, com aquele jeitão que todo mundo conhece, não quis assumir nenhum risco fazendo previsões. Mas eu propus que nós estourássemos uma garrafa de champanhe quando o país cruzasse os 1.000 pontos. E, à medida que os outros patamares fossem atingidos, a qualidade do champanhe seria melhorada. Quando o Risco Brasil chegou aos 400 pontos, em janeiro de 2004, eu já tinha comprado uma garrafa de champanhe para comemorar, com direito a foto ao lado do presidente. O registro foi feito pelo fotógrafo oficial da presidência. Mas o ministro da Fazenda preferiu segurar a foto por seis meses até mandar uma cópia para mim. Ele tinha receio de que a imagem vazasse e o Risco Brasil, depois, voltasse repicando, colocando a credibilidade do governo em risco. O mercado poderia pensar: “Está vendo, comemoraram algo que não se sustentou”. A expectativa daquela ocasião se confirmou com o passar do tempo. No começo de 2007, o Risco Brasil estava na casa dos 190 pontos e, hoje, apesar de toda essa crise, está pouco acima dos 250 pontos. Certa vez, o presidente disse que nós tínhamos de buscar uma taxa real de juros de um dígito. Um belo dia, o ministro da Fazenda anunciou que havia chegado lá. O presidente perguntou: “Quanto?” A resposta foi 9,9%. Singelamente, Lula falou que 9,9 não era um dígito. Mas sim quando chegasse a 9. Hoje, nós temos uma taxa real de juros LUIZ FERNANDO FURLAN foi ministro de Estado do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (2003/2007).

perto de 6%. A presidente Dilma falou recentemente que há condições para que o Brasil alcance uma taxa real de juros entre 2% e 3% até o fim de 2014. Quando desembarcamos na Índia, em 2004, o primeiro-ministro disse que o país tinha reservas externas de US$ 100 bilhões. E todos nós ficamos imaginando quando o Brasil chegaria a ter uma reserva daquelas. Pois é, hoje, nós temos reservas de US$ 350 bilhões, e crescendo. Mas há quem continue raciocinando como se o Brasil fosse o mesmo país de anos atrás. Ao olhar para os juros, nós temos de enxergar o futuro com ousadia e confiança. O que obriga o Brasil, hoje, a ser campeão de taxa real de juros? Melhor olhar o problema a partir de outra perspectiva. Nós, provavelmente, temos hoje a menor inflação entre os países do Bric. A Índia tem inflação maior que a nossa, a Rússia vem sistematicamente registrando inflação maior que a nossa. O mesmo se pode dizer sobre o índice chinês, muito parecido com o nosso. Agora, analise as taxas reais de juros nesses quatro países. Elas são substancialmente menores que as nossas. Há algo errado. O que obriga o governo brasileiro a pagar US$ 500 milhões de juros por dia? Esse dinheiro, certamente, seria mais bem empregado no equilíbrio das contas públicas, ou em áreas importantes, como educação, saúde e infraestrutura. Está na hora de dar os passos seguintes. Se nós, hoje, somos vistos como um país com credibilidade, se estamos cumprindo metas de superávit primário, se essa questão da inflação, embora alta, está dentro de um contexto do qual fazem parte outros países, como Coreia do Sul e Estados Unidos, é preciso olhar o entorno e analisar o que acontece também com os países comparáveis. A inflação vai cair, e um dos indutores dessa inflação mais baixa pode ser a redução da taxa de juros. Mas é preciso agir com coragem e ousadia.

Ilustração: Samuel Casal

Coragem e ousadia P

98 AméricaEconomia Outubro, 2011

AE 404 opiniao Furlan V1.indd 2

9/27/11 4:50:06 PM


ONDE VOCÊ ENXERGA CAFÉ E LEITE, NÓS ENXERGAMOS UMA POSSÍVEL JOINT VENTURE. Mais do que promover o encontro entre líderes de expressivo impacto (LEI), a Consulting House é uma empresa de relacionamento corporativo que sabe enxergar além. Afinal, ela é capaz de conectar pessoas com os mesmos objetivos em comum, colaborando para uma maior geração de negócios, troca de experiências e capacitação profissional.

consultinghouse@consultinghouse.com.br www.consultinghouse.com.br

Relevant Corporate Relationship

Consulting House Group Por trás de cada contato, uma real possibilidade de negócio.



Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.