Nº 409 Edição Brasil

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Especial Finanças Executivos fazem apostas para 2012

BTG PACTUAL

Depois de Chile, Peru e Colômbia, banco mira a Argentina

N o 409

Março/2012

HUGO Chávez

Doente e sob pressão, o presidente está por um fio

BRASIL

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mensalão

CHINA

AméricaEconomia

ISSN 1414-2341

A esperança dos produtores brasileiros de suínos

No 409 MAR/2012 R$ 10,00

No país dos sem-remédio, a Disputa por um mercado bilionário

STF reage à pressão para julgar os réus

Genéricos

No país dos sem-remédio, a Disputa por um mercado bilionário




Negócios

20 Motores

NESTA EDIÇÃO 44 BTG PACTUAL

Depois do Chile, Colômbia e Peru, banco mira a Argentina

WEG investe nos emergentes

48 Mercado de ações

24 Aviação

Participação de minoritários deve aumentar com voto eletrônico

As apostas no mercado de aviões comerciais e militares

32 Tip Top

Empresa troca perfil industrial pelo varejista

54

34 Bimbo

Debates

36 Setor marítimo

Aumenta a disputa entre os laboratórios

54 CAPA – Genéricos

Depois das aquisições, a hora do crescimento orgânico

60 Fim de Chávez?

Líder latino-americana, CSAV tenta se reinventar para sobreviver

Oposição e doença ameaçam líder venezuelano

66 Mensalão

Finanças

STF: pressão para julgar 38 réus de esquema

38 Especial CFO

70 Energias renováveis

Expectativas de executivos de finanças para América Latina

Com vantagens econômicas e ambientais, biomassa chama a atenção de empresas

76 Menos CO2 no tanque

Nova tecnologia transforma casca de laranja em biocombustível

78 China encolhe

Crescimento menor afeta latino-americanos, mas cria oportunidades

6 Portal 8 Carta ao Leitor 10 Índice de Empresas 12 Pistas 14 Negócio Fechado 4 AméricaEconomia Março, 2012

16 Movimentos 43 Opinião – Caio Megale 75 Opinião – Luiz Fernando Furlan 80 Ibiz – Ultraportáteis 82 Opinião – Mac Margolis

Foto de Capa: Shutterstock

Foto: Divulgação

60

Seções

Foto: Shutterstock

28 Suínos

Exportações para o mercado chinês são alternativa à Rússia e Argentina


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PORTAL

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Lado B do crédito

Fotos: Shutterstock

O recente acesso dos brasileiros de menor poder aquisitivo aos serviços bancários, principalmente aos cartões de crédito, trouxe também um lado pernicioso. Segundo a CNDL (Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas), essa camada é a grande responsável pela inadimplência registrada em janeiro. No total, a inadimplência do consumidor brasileiro subiu 2,91% no mês, em comparação com o mesmo período de 2011. “O país está tornando os bancos acessíveis às classes baixas, que entram no sistema de cartão sem ter experiência sobre seu melhor uso. Essas classes ainda não se acostumaram com o aumento do seu poder de compra e acabam se endividando”, ressaltou o presidente da CNDL, Roque Pellizzaro Junior.

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Leia no Portal Pré-sal monitorado

Bolso do consumidor

O secretário de Energia de São Paulo, José Aníbal, declarou, no início de fevereiro, que o estado se ofereceu para receber um centro de monitoramento da exploração do pré-sal. A atividade seria voltada não apenas a eventuais vazamentos, mas também a outras atividades relacionadas ao desenvolvimento do pré-sal, envolvendo tanto a Petrobras quanto outros operadores e seus fornecedores. “Achamos que esse é o procedimento mais objetivo que nós temos a fazer no curto prazo”, afirmou Aníbal, ao ser questionado sobre o posicionamento do governo paulista em relação ao vazamento de petróleo ocorrido no dia 31 de janeiro na Bacia de Santos, a 250 quilômetros de Ilhabela, litoral de São Paulo.

A privatização em alguns terminais aeroportuários brasileiros promete trazer melhorias aos serviços prestados, mas deverá também elevar os custos ao consumidor, segundo a avaliação do especialista em direito administrativo da Unesp (Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho), José Carlos Oliveira. Ele usou o exemplo das concessões das rodovias federais e do serviço de telefonia para explicar o provável aumento de custos e destacou os pedágios “extremamente altos” nas rodovias e a “maior tarifa telefônica do mundo” paga, segundo Oliveira, pelos brasileiros. “Vamos sentir no bolso as tarifas de embarque e as de transporte de carga [com a privatização].”

Prontas para IPO

Entre 40 e 45 empresas brasileiras estão preparadas para fazer oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) neste ano, segundo o presidente da BM&FBovespa, Edemir Pinto. De acordo com ele, a abertura de capital dessas companhias está represada desde o segun6 AméricaEconomia Março, 2012

do semestre do ano passado, quando a movimentação foi suspensa em decorrência da crise europeia. Edemir destacou que a alta de 11,13% do índice Ibovespa em janeiro ajudou a “renovar as expectativas”, conforme publicado no site de AméricaEconomia.



CARTA AO LEITOR

Amargo remédio www.americaeconomiabrasil.com.br

BRASIL

PUBLISHER José Roberto Maluf CONTEÚDO Diretora de Redação: Tatiana Engelbrecht Editora Executiva: Paula Pacheco Diretor de Arte/Projeto Gráfico: Luiz Fernando Machado Repórteres: Graziele Dal-Bó e Sérgio Siscaro Editora do Site: Adriana Chaves Revisão: Victor Paredes Colaborador: Vértice Translate (tradução) COMERCIALIZAÇÃO Diretor Comercial: Maurício Castro – mauricio@springcom.com.br Executivos de Contas: Dora Magalhães – dora@springcom.com.br Jorge Hidalgo – jorge@springcom.com.br MARKETING Marcia Leonardi e Elisangela Goto ADMINISTRATIVO/FINANCEIRO Gerente Financeiro: Edison Arduino circulação Gerente: Fatima Oliveira Tratamento de imagem: Claudia Fidelis Periodicidade: Mensal (Março de 2012) CTP, impressão e acabamento: IBEP Gráfica Circulação auditada por: Spring Editora-Produtora Rua Ferreira de Araújo, 202, 7o andar – CEP: 05428-000 São Paulo/SP – Tel.: 11 3097-7666 Site: www.springcom.com.br E-mail: contato@springcom.com.br AMÉRICAECONOMÍA INTERNACIONAL Diretor: Elias Selman Carranza Gerente Geral: Eduardo Albornoz Assessora do Conselho: Gloria Landabur C. COO: Rodrigo Guaiquil C. Editor Executivo: Carlos Tromben Editor Adjunto: Rodrigo Lara Serrano Editores: Fernando Chevarría (Lima), Juan Pablo Rioseco (Santiago) e Gisela Raymond (Guaiaquil) Diretor de Arte: Álvaro Araya Urquiza Editor de Fotografia: Miguel Candia Chefe de Operações: Matías Agurto AméricaEconomÍa Intelligence (Estudos e Projetos Especiais) Diretor: Jaime Contreras Soria Pesquisador Sênior: Andrés Almeida Analista: Catherine Lacourt e Rodrigo Dorn Pesquisador Especial de Cidades: Marco Ceballos AméricaEconomia.com Editor: Lino Solis de Ovando Escritórios Buenos Aires: +5411 4383-8410 Cidade do México: +5255 5254-2400 Costa Rica: +506 225-6861 Lima: +511 610-7272 Miami: +305 648-9071 Panamá: +507 271-5327 Santiago: +562 290-9400 Uruguai: +5982 901-9052 Chairman: Robert R. Paradise

8 AméricaEconomia Março, 2012

E

m um país onde se comemora a melhora da situação econômica e o aumento do poder aquisitivo da população, a situação da saúde – tanto pública (ineficiente e saturada) quanto privada (nas mãos dos planos de saúde pouco preocupados em atender de forma eficiente os consumidores) – ainda é caótica, para não dizer lastimável. Para grande parte da população, depois de enfrentar o calvário em busca de atendimento na rede pública, começa a saga para conseguir os remédios fornecidos pelo governo, ou então o cálculo de quanto o doente terá de desembolsar para ter acesso ao medicamento de que necessita. Mas, se para os pacientes o diagnóstico não é favorável, do ponto de vista dos negócios trata-se de um mercado para lá de saudável. Para se ter uma ideia, só em 2011 o setor farmacêutico movimentou R$ 40 bilhões no país, segundo dados do instituto IMS Health, enquanto o gasto da população mais pobre com remédios consumiu 12% da renda das famílias. Para tentar equilibrar essa conta, o governo – o maior comprador de medicamentos – se apressa em formular alternativas. Em nossa reportagem de capa, mostramos as novas regras propostas pela Anvisa para os medicamentos de referência com o objetivo de facilitar a vida dos laboratórios de genéricos, beneficiando o consumidor. Esta edição também traz uma reportagem especial sobre a delicada situação de Hugo Chávez. Abalado pela volta do câncer, o presidente venezuelano tem de enfrentar o surgimento de um candidato oposicionista com chances de vitória nas eleições de outubro e as dificuldades que assombram o país, como a alta da inflação e o aumento da violência. Não deixe de ler também as apostas e as dicas de investimentos de executivos de finanças para o ano de 2012; os planos do banco BTG Pactual, de André Esteves, para dominar a América Latina; a pressão da opinião pública para o julgamento dos réus do mensalão; o otimismo dos produtores de suínos brasileiros com a abertura do mercado chinês; e o especial sobre o bom momento da aviação na região. Aproveite a leitura.

José Roberto Maluf

ASSINATURAS Central de Atendimento Tel.: 55 11 3512-9492, de 2a a 6a feira, das 9h às 18h. Site: www.assineamericaeconomia.com.br. Atendimento: www. assineamericaeconomia.com.br/faleconosco. Cartas: Rua Ferreira de Araújo, 202 – 12o andar – CEP 05428-000 – São Paulo/SP Valores de assinatura: Por 1 ano: R$ 96,00 / Por 2 anos: R$ 170,90 Pagos em até 5x no cartão de crédito ou em até 3x no boleto bancário (preço válido para as vendas realizadas pela Central de Atendimento e pelo website da revista). Exemplares anteriores: solicite diretamente ao jornaleiro. Em caso de descontinuação da publicação, a Spring Editora-Produtora LTDA. garante aos assinantes desta publicação a restituição, em reais, da parte do valor já pago correspondente aos exemplares não entregues, devidamente corrigida monetariamente. Ao fazer sua assinatura, exija a credencial do vendedor e pague sempre com cheque nominal, mediante recebimento da primeira via de nosso pedido de assinatura.


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ÍNDICE DE EMPRESAS

Os números das páginas referem-se à primeira vez em que as empresas são citadas em cada reportagem.

A

B

C

D

E

Acer 80 Aeroméxico 25 Airbus 12, 25 Alfonso Gallardo 14 Alphaliner 36 América Móvil 39 Apple 80 Ascend 25 Asus 80 ATR 25 AudingIntraesa 18 Aurora Alimentos 28 AviancaTaca 25 Bank of America Merril Lynch 47 Barclay’s 29, 47, 62 Bimbo 34 BM&FBovespa 6, 14, 47, 50 Boehringer Ingelheim 56 Boeing 25 Bombardier 25 Boskalis 37 BR Pharma 45 Bradesco 47 Brasil Foods 23, 28, 75 Brasil Insurance 14 BTG Pactual 44 CCNI 37 Celfin Capital 44 Centro da Tecnologia Canavieira 72 Cessna 25 Chiavassa & Chiavassa 56 Chinwhiz 29 Cia. Libra de Navegação 36 Citi 47 CMA CGM Group 37 COFCO 29 Coinvalores 21, 29 Convertin 23 Credit Suisse 21 CSAV 36 CSN Steel 14 CSN 14 Datanálisis 61 DCH 28 Dell 80 Demarest 49 Electric Machinery 20 Embotelladora Andina 38 Embraer 23, 25 Estapar 45

F

G

H

I

J K

L

M

N

EuroAmerica 37 Euromonitor International 81 Facebook 16 Fator 29 Feller-Rate 37 Femsa 38 Finsol 16 Fokker 25 Friboi 29 Frimesa 29 GE Energy 20 GlaxoSmithKline 55 Gol 25 Goldman Sachs 47 Grupo Bolívar 39 Grupo Sílvio Santos 45 Grupo Sura 38 Gulfstream 25 Hamburg Süd 36 Havaianas 32 Hewlett-Packard 80 Hope 32 IHS 81 Informa Economics FNP 28 Intel 80 Ipiranga 50 Itaipu Binacional 20 Itaú BBA 47 Itaú Unibanco 44 JBS 29 JSL 38 Keystone 29 Kirin 45 Klabin 70 KPMG 56 Laep 50 Lafis 55 Lenovo 80 Maersk 37 Marfrig 28, 71 Mediterranean Shipping Co. 36 Medley 56 Merck 56 Mesquita Pereira, Marcelino, Almeida Esteves Advogados 51 Mongeral Aegon 16 MZ Consult 49 Natura 51 Navistar 13 Neobus 13

O P

R

S

T

U V W

Z

Novartis 58 Odebrecht 38 Oi 50 P&G 12 PanAmericano 45 Parmalat 50 PDVSA 63 Peixoto de Castro 72 Petrobras 23 Pfizer 55 Pilatus 25 PKS Consultores 26 Polo Capital 49 Probiótica 14 Progen 18 Rafale 26 Rede D’Or 45 Rothschild 47 SAAM 37 SABMiller 12 Samsung 80 Sandoz 58 Sanofi-Aventis 56 Santander 47 Sara Lee 35 Schincariol 45 Senergen 72 Sinergia 16 Sony 80 Stefanini IT 38 Sukhoi 27 SulAmérica 51 Supera 56 Suzano 71 TAM-LAN 25 Teal Group 25 Teuto 56 TGL 14 Tip Top 32 Toshiba 80 UBS 46 Vale 75 Valeant 14 Watt Drive 20 WEG 20 Wickbold 35 WikiLeaks 55 WTorre 45 Zazcar 17

Fale com a redação: Envie sugestões e comentários para a revista – AméricaEconomia Brasil: americaeconomia@springcom.com.br

10 AméricaEconomia Março, 2012


Foto de arquivo Expotrans

Maquete transportada pela Expotrans para a Heliexpo HOU 2010.

EXPOTRANS: vinte anos de sucesso na área de transporte internacional DesdeÊsuaÊfundaç‹o,ÊemÊ1990,Ê aÊ ExpotransÊ ŽÊ umaÊ agênciaÊ italianaÊ especializadaÊ emÊ importaç‹oÊeÊexportaç‹oÊdeÊfeiras,ÊcomÊ maisÊ deÊ 8000Ê exposiç›esÊ peloÊ mundo.Ê AÊ naturezaÊ internacionalÊ deÊ suaÊ atividadeÊ tambŽmÊ podeÊ serÊ vistaÊnoÊaltoÊn’velÊdeÊserviçosÊqueÊ ofereceÊdesdeÊ2004ÊcomoÊaÊagênKQI WÅ KQIT LM \ZIV[XWZ\M LI .QMZI Milano,ÊoÊqueÊgaranteÊaÊlog’sticaÊ integradaÊdeÊquaseÊ80ÊfeirasÊinternacionaisÊ porÊ anoÊ eÊ maisÊ 50Ê milÊexpositores,ÊcuidandoÊdeÊtodosÊosÊtiposÊdeÊproblemas. AÊ ExpotransÊ ŽÊ aÊ TransportaLWZI LM +IZOI WÅ KQIT LI :QUQVQ .QMZI W]\ZW XWTW LM M`XW[Qt M[ deÊ grandeÊ import‰nciaÊ paraÊ aÊ It‡lia. AÊExpotransÊtambŽmÊtrabalhaÊ paraÊ outrosÊ setores,Ê comoÊ m—veis,Êm‡quinasÊpesadas,Êturismo,Ê marcenaria,Ê moda,Ê embalagens,Ê construç›es,Ê hotŽis,Ê tecnologiasÊ ambientes,Ê setorÊ aliment’cioÊ eÊ

aeroespacial,ÊcomÊ360.000ÊserviçosÊalocadosÊaÊessesÊsetores. DesdeÊ 2008,Ê tambŽmÊ operaÊ emÊ Moscou,Ê comÊ aÊ OOOÊ EX87:=;<:)6; KWU Y]MU consolidouÊ suaÊ presençaÊ nesseÊ mercado,Ê oferecendoÊ agoraÊ naÊ : [[QI I Y]ITQLILM LW[ [MZ^QtW[ integradosÊ prestadosÊ aÊ clientesÊ italianosÊeÊestrangeiros. DesdeÊ1992ÊaÊExpotransÊŽÊassociadaÊ ˆÊ IELAÊ (Associaç‹oÊ InternacionalÊ deÊ Log’sticaÊ deÊ Exposiç›es),ÊimportanteÊassociaç‹oÊ presenteÊemÊ43Êpa’sesÊdoÊmundo,Ê alŽmÊ doÊ pontoÊ deÊ referênciaÊ daÊ redeÊ internacionalÊ especializadaÊ paraÊmaisÊdeÊ280Êcorrespondentes.Ê DuranteÊ suaÊ hist—ria,Ê aÊ ExpotransÊ atendeuÊ v‡riasÊ empresasÊ emÊ buscaÊ deÊ novosÊ mercados,Ê \ZIJITPIVLW VI +PQVI : [[QI M )UuZQKI LW ;]T EmÊ particular,Ê aÊ ExpotransÊ fortaleceuÊ suaÊ presençaÊ nosÊ pa’sesÊ sul-americanos,Ê formandoÊ

colaboraç›esÊcomÊagentesÊlocaisÊ queÊcontribu’ramÊparaÊoÊsucessoÊ doÊ transporteÊ paraÊ feirasÊ ouÊ assuntosÊcomerciais. AlŽmÊ daÊ Macef Ê BrasilÊ (junhoÊ deÊ2012),ÊeventoÊimperd’velÊparaÊ distribuidoresÊ eÊ compradoresÊ brasileirosÊe,ÊparaÊosÊamantesÊdoÊ LM[QOV Q\ITQIVW LI .QMZI 5QTIVW paraÊ aÊ qualÊ aÊ ExpotransÊ ser‡Ê aÊ agênciaÊ deÊ transporte,Ê existemÊ v‡riosÊ eventosÊ deÊ relev‰nciaÊ internacionalÊ emÊ todosÊ osÊ setoresÊ LM VMO~KQW[" I >Q\WZQI ;\WVM .IQZ umÊdosÊmaisÊimportantesÊnoÊsetorÊ deÊ m‡rmoreÊ eÊ granito,Ê comÊ maisÊ deÊ 25.000Ê visitantesÊ deÊ 65Ê pa’sesÊnaÊediç‹oÊdeÊ2011;ÊaÊGlassÊ ;W]\P )UMZQKI UIQW LM exposiç‹oÊ bienalÊ sobreÊ vidro,Ê comÊmaisÊdeÊ200ÊexpositoresÊnaÊ T\QUI MLQtrW # I .MQKWV Batimat,Ê eventoÊ sul-americanoÊ maisÊ importanteÊ noÊ setorÊ deÊ construç›es,Ê comÊ cercaÊ deÊ 400Ê expositoresÊ internacionais,Ê emÊ suaÊ20»Êediç‹o.Ê

OsÊ serviçosÊ daÊ ExpotransÊ n‹oÊ seÊ limitamÊ aoÊ transporteÊ dosÊ expositoresÊ italianosÊ noÊ Brasil,Ê masÊ tambŽmÊ oferecemÊ qualiLILM KWUW I IOwVKQI WÅ KQIT LI 5QTIVW .QMZI XWTW LM M`XW[Q ç›esÊ maisÊ importanteÊ daÊ It‡lia)Ê M IOwVKQI M`KT][Q^I LI :QUQVQ .QMZI ) -`XW\ZIV[ \MZn W XZIbMZ deÊ auxiliarÊ osÊ expositoresÊ brasileirosÊqueÊpretendemÊexporÊsuasÊ mercadoriasÊ nosÊ v‡riosÊ eventosÊ oferecidosÊnoÊcalend‡rio.Ê AÊExpotransÊofereceÊvinteÊanosÊ deÊexperiênciaÊnaʇreaÊdeÊtransporteÊ deÊ cargasÊ paraÊ empresasÊ italianasÊeÊbrasileiras,ÊpelosÊserviçosÊdeÊimportaç‹oÊeÊexportaç‹oÊ daÊIt‡liaÊparaÊoÊBrasil,ÊcustomizadosÊ segundoÊ asÊ necessidadesÊ deÊ cadaÊ empresa.Ê OsÊ serviçosÊ XMZ[WVITQbILW[ M I Æ M`QJQTQLILM representamÊ oÊ valorÊ agregadoÊ queÊ aÊ ExpotransÊ ofereceÊ aÊ seusÊ KTQMV\M[ I Å U LM \WZVIZ W XZW KM[[W LM \ZIV[XWZ\M Æ ]QLW M [MU obst‡culos.Ê

O CEO da Expotrans, GUIDO FORNELLI, responde QuaisÊ s‹oÊ seusÊ principaisÊ mercadosÊ internacionaisÊ deÊ interesse?Ê QuaisÊ mercadosÊ consideraÊdeÊinteresseÊparaÊoÊ futuroÊpr—ximo? ) : [[QI KWU VW[[I XIZKMQZI Exporustran.Ê AlŽmÊ deste,Ê asÊ M` ZMX JTQKI[ [W^Qu\QKI[ M W -` tremoÊ OrienteÊ (emÊ especialÊ aÊ China)Ê s‹oÊ interessantesÊ paraÊ oÊ M[\IJMTMKQUMV\W LM VW^I[ Å ZUI[ ouÊ paraÊ aÊ criaç‹oÊ deÊ jointÊ venturesÊ comÊ parceirosÊ locais,Ê comÊ baseÊ noÊ compartilhamentoÊ dosÊ

[Q[\MUI[ LM KILI ]U 6I ÑVLQI Î[QI 8IKyÅ KW *ZI[QT M -[\ILW[ =VQLW[ \IUJuU XWLMUW[ KZQIZ novosÊ acordosÊ comerciaisÊ comÊ parceirosÊ locaisÊ queÊ seÊ tornar‹oÊ l’deresÊ noÊ setorÊ eÊ semelhantesÊ ˆÊ ExportransÊemÊtermosÊdeÊmiss‹oÊ M XWZ\M ;WJZM VW[[I KWTIJWZItrW KWU I .QMZI 5QTIVW XIZI I ?WZTL ExpoÊ2015,ÊoÊeventoÊseÊconcentraÊemÊumÊtemaÊcomplexo,ÊaÊalimentaç‹o,Ê eÊ oÊ desenvolvimentoÊ sustent‡velÊqueÊofereceÊv‡riosÊde[IÅ W[ Y]M M[\IUW[ XZWV\W[ XIZI

MVNZMV\IZ 7 JQV UQW .QMZI 5QTI noÊÐÊExpotransÊj‡ÊproporcionouÊ IW X JTQKW KWU OZIVLM []KM[[W v‡riosÊeventosÊligadosÊaoÊsetor.Ê 6I nZMI QV\MZVIKQWVIT I -`XW transÊ deuÊ suaÊ contribuiç‹oÊ paraÊ eventosÊdeÊsucesso,ÊnoitesÊdeÊgalaÊ eÊdegustaç›esÊdeÊvinhos,ÊemÊiniciativasÊ promocionais,Ê exportaç›esÊ eÊ eventosÊ sobreÊ oÊ estiloÊ deÊ vidaÊ italianoÊ organizadosÊ peloÊ mundo.Ê AÊ ExpotransÊ tambŽmÊ ŽÊ aÊ transportadoraÊ deÊ referênciaÊ paraÊ osÊ expositoresÊ italianosÊ nosÊ

eventosÊ cl‡ssicosÊ deÊ agriculturaÊ VI )UuZQKI : [[QI M Î[QI 8IKy Å KW ) -`XW\ZIV[ \MU TWVOI \ZI diç‹oÊemÊtermosÊdeÊqualidadeÊnaÊ -`XW =VQ^MZ[ITQ M MU M`XW[Qt M[ internacionais,Ê desdeÊ aÊ feiraÊ deÊ ;Q^QOTQI MU !! ) M`XMZQwVKQI adquiridaÊ tornaÊ aÊ ExpotransÊ aÊ parceiraÊidealÊparaÊaÊExpoÊ2015,Ê comÊsoluç›esÊvencedorasÊemÊtermosÊ deÊ log’sticaÊ eÊ credibilidadeÊ internacional. Jornalista: Ana Izabel Mendonça

Publieditorial produzido e criado em colaboração com a Vox Media Partner


PISTAS

SABMiller está otimista com a América Latina

O NOVO

O otimismo da SABMiller com os mercados emergentes foi sentido também na divulgação dos resultados do último trimestre de 2011. A empresa encerrou o período com crescimento de 3% nas vendas, graças ao desempenho observado na América Latina e na África. Os números positivos nessas regiões ajudaram a superar a queda em países da América do Norte e da Europa. As vendas tiveram alta de 11% na África, 8% na América Latina e 7% na Ásia Pacífico.

Cresce percepção da marca P&G PUBLICAMOS

A P&G multiplicou por sete sua receita no país na última década. O desafio nos próximos anos é bem mais difícil: dobrar o tamanho da operação brasileira até 2015. (“P&G Vira Gente Grande”, AméricaEconomia, nº 404, outubro 2011)

O NOVO

Segundo pesquisa do Instituto Ipsos encomendada pela P&G, sete em cada dez brasileiros já conhecem a empresa. Hoje, a marca corporativa da multinacional americana é conhecida por 74% dos brasileiros. No começo de 2011, apenas 10% dos consumidores tinham conhecimento da marca. O resultado mostra que a companhia está no caminho certo, ao optar pela estratégia de marketing de reforçar sua imagem institucional para os consumidores brasileiros.

12 AméricaEconomia Março, 2012

Aviação em destaque PUBLICAMOS

Na América Latina, os números também impressionam. A Associação Latino-Americana e do Caribe de Transporte Aéreo (Alta) estima que a região represente, atualmente, cerca de 7% do mercado mundial. São quase 100 companhias aéreas, das quais 59 operam aeronaves com mais de 40 assentos. A entidade prevê um faturamento anual de US$ 21 bilhões para o setor aéreo na região. (“Turbinas Ligadas”, AméricaEconomia, nº 407, janeiro 2012)

O NOVO

A expectativa positiva para o setor aéreo na região tem impulsionado também as fabricantes de aeronaves. A Airbus, por exemplo, obteve recorde de encomendas na América Latina no ano passado, com 100 aeronaves comerciais avaliadas em US$ 9,5 bilhões, fazendo de 2011 o ano de maior sucesso na história da companhia. O recorde de vendas anterior da Airbus na América Latina foi em 1998, quando obteve 94 encomendas líquidas. Até hoje, a Airbus vendeu 666 aeronaves na região e tem em carteira outras 351. O número de aeronaves Airbus em operação em toda a América Latina e Caribe chega a 435 unidades.

Foto: Shutterstock

PUBLICAMOS

Graham Mackay, executivo-chefe da SABMiller, demonstrou seu otimismo em relação à América Latina durante divulgação de resultados da companhia, em novembro de 2011, ao observar que a região ainda não sentiu os reflexos do recuo das economias maduras. Na ocasião, o executivo também destacou que os países emergentes respondem por cerca de 80% dos lucros globais do grupo britânico. (“Preferência Nacional”, AméricaEconomia, nº 407, janeiro 2012)


Neobus terá fábrica no Rio PUBLICAMOS

De acordo com levantamento do Governo do Estado do Rio de Janeiro, nos próximos dez anos serão investidos R$ 178 bilhões em projetos. Já a Firjan (Federação das Indústrias do Rio de Janeiro) trabalha com um volume de recursos bem maior: R$ 181 bilhões, entre 2011 e 2014. (“Rio, Cidade Maravilhosa para Investir”, AméricaEconomia, nº 404, outubro 2011)

O NOVO

A fabricante de ônibus gaúcha Neobus anunciou a construção de uma fábrica em Três Rios (RJ), com investimento de R$ 90 milhões. O objetivo é produzir seis mil veículos por ano. Com sede em Caxias do Sul (RS), a Neobus já produziu mais de 30 mil ônibus em 12 anos de operação. No início de fevereiro, a empresa anunciou uma associação com a americana Navistar, maior fabricante de ônibus escolares do mundo, que passa a ter uma participação acionária minoritária na empresa gaúcha.

O país avança em transgênicos PUBLICAMOS

Segundo previsão para a safra 2011/2012, a produção de soja transgênica deve ser de 21,1 milhões de hectares, ou 85,3% da área plantada. (“O Brasil Vive Sem Transgênicos?”, AméricaEconomia, nº 408, fevereiro 2012)

O NOVO

Segundo dados da ISAAA (Serviço Internacional para a Aquisição de Aplicações em Agrobiotecnologia), em 2011 a área plantada de transgênicos no Brasil foi de 30,3 milhões de hectares, um aumento de 19,3% na comparação com 2010. Os dados mostram que o país se descolou do terceiro lugar, a Argentina (23,7 milhões de hectares), mas ainda está bem longe do primeiro colocado, os Estados Unidos (69 milhões de hectares). Em 2011, a produção mundial foi de 160 milhões de hectares; 8% de crescimento em relação a 2010.

Fevereiro, 2012 AméricaEconomia 13


NEGÓCIO FECHADO CSN

Siderúrgica brasileira chega à Alemanha A CSN comprou uma siderúrgica de aços longos do grupo espanhol Alfonso Gallardo, na Alemanha. O valor da operação, conduzida pela subsidiária espanhola CSN Steel, foi de € 482,5 milhões. A aquisição inclui a distribuidora Gallardo Sections. O negócio marca a entrada da CSN, tradicional fabricante brasileira de aços planos, no mercado dos chamados aços longos, usados na construção civil e em aplicações industriais. A operação é também mais um avanço da siderúrgica em seu processo de internacionalização: a companhia já tem operações nos Estados Unidos e em Portugal. VALOR: € 482,5 milhões

Valeant

Brasil Insurance

A farmacêutica americana Valeant fechou a sua terceira aquisição no Brasil ao adquir o controle do laboratório nacional Probiótica, especializado em nutrição esportiva. O valor do negócio foi da ordem de R$ 150 milhões. Com essa compra, a Valeant, que tem forte atuação nas áreas neurológica, dermatológica, de antibióticos e de anti-inflamatórios, aumenta sua participação no mercado brasileiro, e agora atinge a liderança no segmento de nutrição esportiva.

A Brasil Insurance anunciou, em fevereiro, o início de suas operações na comercialização de produtos pela internet, com a aquisição do portal Economize no Seguro, de São Paulo, por R$ 13 milhões. A ideia da holding de corretoras de seguros é usar a atual plataforma do site, especializado na negociação de apólices para automóveis, para comercializar outros produtos com os quais já trabalha, e que sejam compatíveis com as vendas online. É o caso dos seguros de vida e de acidente pessoal e da previdência privada, segundo o executivo. No mesmo dia, a companhia anunciou a compra da mineira TGL, especializada na venda de dois produtos que ainda não faziam parte do portifólio da BR Insurance: apólices individuais de seguro de vida e previdência. O valor desta aquisição foi de R$ 5,3 milhões. O pagamento será feito em dinheiro, com o compromisso dos antigos sócios de adquirir o equivalente a 15% do recebido em ações da companhia negociadas na BM&FBovespa. A Brasil Insurance pretende ainda investir cerca de R$ 180 milhões em compras até dezembro.

VALOR: R$ 150 milhões

Estácio

Avanço no Norte do país A Universidade Estácio de Sá incorporou a faculdade Seama, localizada no Amapá, por R$ 21,7 milhões. Hoje com 2,75 mil alunos, a faculdade permitirá que o grupo de ensino fluminense passe a contar com cerca de 13 mil alunos em Macapá. Esta foi a segunda aquisição de uma instituição de ensino pela Estácio na região. A primeira foi a Atual, de Boa Vista (RR). VALOR: R$ 21,7 milhões

14 AméricaEconomia Março, 2012

Duas aquisições para crescer depressa

VALOR: R$ 18,3 milhões Fotos: Shutterstock

Probiótica muda de mãos


do predecessor ao sucessor, a ACE garante o progresso

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MOVIMENTOS

Banco financia jogo de mitologia

No onno oo non ono no non on ono non nono no nono non on ono non ono n

Os recursos que o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) disponibiliza para fomentar o desenvolvimento das empresas do país, por meio de linhas de crédito, também estão sendo utilizados para financiar a criação de um jogo virtual que tem a finalidade de auxiliar as mulheres em seus relacionamentos afetivos ou profissionais. Proposto pela empresa Sinergia, o game “Templo das Deusas” foi um dos projetos audiovisuais selecionados pelo Programa Banco do Nordeste de Cultura, que destinou R$ 6 milhões (repartidos igualmente entre o BNB e o BNDES) a iniciativas que promovam a difusão da cultura nos estados do Nordeste, norte de Minas Gerais e Espírito Santo. Idealizado pela terapeuta comportamental Cristhyane Ribeiro, o “Templo das Deusas” foi lançado via Facebook e busca, conforme a descrição de seus criadores, oferecer dicas e orientações “para ampliar o repertório das jogadoras em seus relacionamentos reais”. Para isso, o jogo utiliza figuras mitológicas femininas, como Afrodite, Kali, Ísis, Oxum e Kuan Yin. Com previsão de lançamento para o início de março, o game está disponível no endereço http://www. facebook.com/pages/Templo-das-Deusas/263507800387014. O BNDES destina recursos ao programa do BNB desde 2010, mas não toma parte no processo de seleção dos projetos. De acordo com a assessoria de comunicação da instituição, o banco federal passará a participar do conselho responsável pela escolha a partir da edição deste ano.

De olho no aumento de renda do brasileiro, as seguradoras apostam no lançamento de produtos voltados para os recém-chegados à classe C. A Mongeral Aegon colocou no mercado em fevereiro seu primeiro seguro de vida popular e está comemorando os resultados. Em três semanas, 2 mil pessoas aderiram ao plano, que oferece, entre outros benefícios, auxílio funeral de R$ 2 mil e cesta básica por um ano

16 AméricaEconomia Março, 2012

ao custo de R$ 9,90 por mês. A expectativa é fechar 2012 com 20 mil clientes, segundo Waldemir Caputo, diretor comercial de Afinidades. Para alcançar a meta, a seguradora tem recorrido às parcerias. O banco de microcrédito Finsol é um exemplo. “Estamos conversando também com supermercados de periferia e varejistas com lojas em regiões mais pobres”, conta Caputo.

Fotos: Shutterstock; Divulgação

Microsseguros em alta


Menos grave do que parece Enquanto muitos analistas acreditam que os serviços continuarão a puxar a inflação para cima, o professor da FEA/USP (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo) e membro do Corecon-SP (Conselho Regional de Economia de São Paulo), Heron do Carmo, tem uma visão mais otimista. Para o economista, a pressão desse segmento sobre o índice inflacionário deve ser menor em 2012,

Inflação do setor de serviços deve recuar

com expectativa de fechar o ano em 6%. Entre os motivos para a baixa, Carmo cita a desaceleração na atividade industrial e a maior oferta em algumas atividades. “A economia está crescendo menos, e isso deve contribuir para um nível menor no preço dos serviços”, afirma. Em 2011, os serviços tiveram alta de 9,01% e pressionaram para cima o IPCA (Ín-

dice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), que fechou o ano em 6,5% – o teto da meta estipulada pelo governo. Para 2012, a expectativa de Carmo é que o IPCA feche o ano em 5%.

Meu carro, seu carro

CNJ ainda está sob tiroteio

Com a facilidade de crédito para a compra de veículos, o sonho do brasileiro de ter seu carro tornou-se mais palpável. Mas os custos de manutenção, sua depreciação ao longo do tempo e a carga tributária fazem com que adquirir um meio próprio de transporte seja dispendioso. E as malhas de transporte coletivo ainda têm deficiências. Uma alternativa é o serviço de compartilhamento de carros – ideia iniciada com sucesso na Europa, disponível já há uma década nos Estados Unidos e agora também em São Paulo. A Zazcar, primeira empresa latino-americana do setor, tem uma frota de 33 carros e mais de 600 clientes, atendendo 12 regiões da capital paulista. Funciona como um aluguel: o interessado se cadastra e pode fazer sua reserva via internet ou telefone. “O início de nossas atividades foi lento, em razão de seu caráter inovador. Mas acreditamos que o brasileiro já perceba com mais clareza as vantagens do compartilhamento, e, aos poucos, vai se desapegar da ideia de posse do veículo. Um levantamento nosso mostra economia de R$ 800 por mês”, avalia o diretor e um dos fundadores da companhia, Felipe Barroso. “O mercado é bastante promissor. Aproveitaremos este ano para consolidar nossa posição e, depois, avaliaremos uma eventual expansão para outras praças.”

O CNJ (Conselho Nacional de Justiça) venceu um round no final de janeiro, ao garantir que seus poderes não fossem esvaziados, de acordo com decisão do STF (Supremo Tribunal Federal). Mas este é apenas um dos temas espinhosos que estão fazendo com que a atuação do Conselho sofra objeções. A regra do regimento interno do CNJ que permite o livre fluxo de informações sigilosas com entidades monetárias, fiscais e empresas de telefonia também vem sendo questionada no Supremo. Agora, outra ação nas mãos do STF tem como alvo esse sigilo. O detalhamento das folhas de pagamento de 22 tribunais do país, iniciado pela Corregedoria do CNJ em 2011, levou três associações de juízes a entrarem na Justiça sob a alegação de quebra ilegal de sigilo de 216 mil magistrados e servidores. Até a Procuradoria-Geral da República tem uma ação contra o Conselho no STF. Em 2008, o então procurador Antonio Fernando de Souza afirmou que o CNJ passou dos limites ao criar regras sobre o processo judicial de interceptação telefônica.


MOVIMENTOS

MBA brasileiro atrai estrangeiro O Instituto Coppead de Administração da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) é o único representante da América do Sul no ranking das 100 melhores escolas de negócios do mundo, divulgado recentemente pelo jornal britânico Financial Times. A instituição também ficou com a melhor colocação na América Latina nos programas Full-Time MBA (que equivale ao mestrado no Brasil), com o 51º lugar. Entre os fatores considerados pelo levantamento está o sucesso profissional dos ex-alunos. Segundo o instituto, três anos após a conclusão do curso, os alunos do Coppead têm uma melhora na carreira, com um acréscimo salarial médio, em dólares, de 151% em relação ao último emprego. O Coppead tem parceria com 37 instituições em todos os continentes, o que facilita os intercâmbios, diz a diretora de Relações Internacionais, Adriana Hilal. “Em 2011, o Full-Time MBA recebeu 45 alunos estrangeiros por meio de seu programa de intercâmbio, criando assim um verdadeiro ambiente multicultural. Considerando que, anualmente, entram no programa aproximadamente 50 alunos regulares, o número de intercambistas recebidos representa 90% do total de estudantes da turma que iniciou o programa em 2011”, explica.

Frango nacional A hora da faz sucesso infraestrutura no Iraque Do total de exportações do Brasil para o Iraque em 2011, cerca de 70% é de carne de frango. O país é o quinto maior comprador das aves brasileiras, segundo Jalal Chaya, da Câmara de Comércio Brasil-Iraque. No balanço oficial do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, os iraquianos aparecem com menos destaque, em 10º lugar. A diferença entre os dados, segundo Chaya, está na triangulação. Dos US$ 780,9 milhões exportados, US$ 380,6 milhões foram embarques triangulados. Ou seja, em vez de ser um contrato fechado com o Iraque, o negócio foi feito com países-parceiros, como Jordânia, Síria e Turquia, que adquirem a mercadoria e a entregam no país vizinho. “O Iraque, apesar de estar em fase de reconstrução, ainda tem problemas com espaço de armazenagem de mercadorias e de falta de energia, pontos cruciais no caso do frango”, explica. Na pauta de exportações, depois da carne de frango, vem o açúcar nacional. E os negócios entre os dois países tendem a aumentar. Está prevista para este mês a reabertura da embaixada brasileira em Bagdá. 18 AméricaEconomia Março, 2012

A Progen, empresa que atua no segmento de engenharia e projetos industriais, anunciou a compra de 50% do capital das operações da companhia espanhola AudingIntraesa no país. “O setor de infraestrutura foi considerado por nós como prioritário. Voltaremos nosso foco tanto à área aeroportuária quanto à de saneamento básico”, afirma o CEO da Progen, Eduardo Barella. “O país está em um momento positivo, mas não fez investimentos em infraestrutura. Agora, poderemos aproveitar um pouco da experiência europeia”, afirma. Sem revelar o valor do investimento na empresa espanhola, o executivo conta que a Progen deverá manter suas operações já existentes no segmento de mineração, no qual é parceira da Vale, e buscar oportunidades também na área de óleo e gás. Em 2011, a Progen faturou R$ 400 milhões – 53,8% a mais que no ano anterior. A meta da companhia é atingir, em 2013, um total de R$ 800 milhões. Barella aposta nos projetos de infraestrutura


Economia e bem-estar catarinense Divulgado recentemente, o IBEE (Índice de Bem-Estar Econômico) aponta que Santa Catarina foi a unidade da Federação com os melhores resultados em termos de bem-estar econômico. Em seguida vieram São Paulo e Rio Grande do Sul e, em último lugar, está Alagoas. O estudo, feito com base em dados de 2008, foi apresentado pela economista Cláudia Bueno Rocha Vidigal, da Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz) de Piracicaba (SP). “Base-

ado em um indicador do Canadá, adaptado às características brasileiras, o IBEE levou em conta o consumo das famílias e as despesas do governo; a riqueza existente e o legado geracional, que inclui tanto investimentos quanto a dívida pública; a desigualdade de renda e a intensidade da pobre-

za; e os riscos relacionados à violência e ao desemprego”, explica a pesquisadora. Por utilizar dados oficiais, o estudo não atingiu anos mais recentes.

Florianópolis, a capital do estado

Fotos: Divulgação; Shutterstock

Integração regional em sala de aula O aumento dos negócios entre países latino-americanos levou o GACInt (Grupo de Análise da Conjuntura Internacional), da USP (Universidade de São Paulo), a criar a pós-graduação em Geopolítica, Estratégia e Negócios Latino-Americanos, vinculada à FIA (Fundação Instituto de Administração). O curso, que começa neste mês, é voltado a executivos e funcionários do governo ligados ao ambiente empresarial da região. “Será um espaço de treinamento para as pessoas que operam negócios na América Latina”, explica Ricardo Sennes, coordenador do GACInt. O estudioso lembra que, cada vez mais, os governos têm procurado formas de

integração regional. É o caso da Anac, a agência que cuida da aviação civil e tem ampliado os acordos regionais, e do BNDES (Banco Nacional de Desenvol-

vimento Econômico e Social), que vem aumentando os empréstimos para empresas brasileiras com atuação em outros países latino-americanos.

Março, 2012 AméricaEconomia 19


NEGÓCIOS Expansão

Fome de crescimento Para o presidente da companhia, Harry Schmeltzer Jr., a diversidade de mercados diminui possíveis vulnerabilidades

Ao mesmo tempo em que amplia presença na Europa e nos Estados Unidos e planeja aquisições, a WEG aposta nos países emergentes Sérgio Siscaro, de São Paulo

20 AméricaEconomia Março, 2012

Fotos: Folhapress/Julio Bittencourt/Valor; Divulgação

N

o início de fevereiro, a WEG – fabricante de motores, equipamentos de energia e tintas sediada em Jaraguá do Sul (SC) – inaugurou o projeto de ampliação de uma subestação da Itaipu Binacional em Hernandárias (Paraguai). A operação, que deverá garantir o fornecimento de energia elétrica ao país vizinho, mostra a evolução alcançada pela empresa em meio século de história. Fundada em 1961, a WEG é uma das principais multinacionais brasileiras. Exporta equipamentos de alto valor agregado e tem unidades industriais em vários países. Recentemente, a companhia deu dois importantes passos nesse processo de abrir novas fronteiras no exterior. Em novembro do ano passado, a WEG adquiriu a austríaca Watt Drive Antriebstechnik, do setor de fornecimento de energia na Europa e com unidades industriais na Alemanha e em Cingapura. No mesmo mês, assinou com a GE Energy um acordo para a compra da americana EM (Electric Machinery), que desenvolve motores e geradores destinados aos mercados de petróleo e gás. Essas aquisições mostram a estratégia da WEG de não apenas colocar seus produtos no mercado externo a partir do Brasil, mas também uma presença internacional mais forte. Atualmente, a companhia tem unidades industriais na Áfri-


ca do Sul, Argentina, Áustria, China, Estados Unidos, Índia, México e Portugal. Além disso, está presente em 16 países (veja mapa na página 22). E, com a crise que abala a Europa e reduz o valor dos ativos, pretende dar mais espaço às aquisições. As oportunidades, dizem os executivos da WEG, devem ser aproveitadas para dar mais visibilidade ao negócio da companhia. No ano passado, a empresa registrou um lucro líquido de R$ 586,9 milhões e uma receita operacional líquida consolidada de R$ 5,2 bilhões – que cresceram 12,9% e 18,15%, respectivamente, em relação a 2010. Ao todo, 44% da receita (ou R$ 2,286 bilhões) veio das operações internacionais. De acordo com o relatório que acompanhou a demonstração dos resultados financeiros da WEG, contribuíram para isso as aquisições feitas no ano anterior no México e na África do Sul, assim como as realizadas em 2011 na Argentina, na Áustria e nos EUA, e a exploração de nichos de negócios nos mercados desenvolvidos, que cresceram menos no ano passado. A diversificação das atividades e o aumento das operações no exterior são uma importante forma de garantir a saúde financeira da WEG. Para Marco Aurélio Barbosa, analista-chefe da Coinvalores, a internacionalização da companhia tem surpreendido, à medida que suas exportações para os mercados desenvolvidos, que atualmente passam por dificuldades, têm aumentado. “A WEG tem aproveitado as oportunidades A WEG está entusiasmada com o crescimento do mercado chinês, onde passou a ter uma fábrica em 2005

Empresa também está diversificando seu portfólio de atuação, ingressando em áreas como a de energias renováveis geradas pela redução do preço dos ativos no exterior e feito aquisições estratégicas lá fora, em uma aposta de longo prazo.” Barbosa avalia ainda que a estratégia da WEG de ter uma atuação maior em segmentos como o de energia é importante – criando condições para que a empresa possa se beneficiar, no futuro, do desenvolvimento dessa área. “Ela tem inclusive investido no campo de energias renováveis, apostando em uma mudança da matriz energética. O segmento de óleo e gás também apresenta perspectivas interessantes e está no radar da WEG, como exemplificado pela recente aquisição da Electric Machinery nos EUA”, afirma. Essa diversificação permite, na avaliação do analista, mitigar riscos conjunturais que possam surgir na economia internacional. “O crescimento no exterior é muito importante, mas a empresa deve ter em mente também o desenvolvimento do mercado doméstico, que oferece grandes oportunidades de expansão nos próximos anos.” Em relatório divulgado após o anúncio dos resultados de 2011, o analista Bruno Savaris, do banco Credit Suisse, avaliou que os resultados da WEG mantiveram-se dentro do esperado, considerando-se a relevância cada vez maior das operações internacionais para os resultados da companhia. Savaris lembrou que, do

início de 2010 até o final do ano passado, a participação dos mercados externos na receita da empresa aumentou de 29% para 41%. De acordo com o analista, essa tendência poderá ser negativa, caso as vendas no exterior tenham margens de lucro menores. Para Harry Schmeltzer Júnior, presidente-executivo da companhia, a forte presença que a WEG tem hoje nos EUA e na Europa – que enfrentam um cenário de menor crescimento econômico, aumento do desemprego e até recessão – não chega a constituir um risco para as operações nesses mercados. “Uma empresa fica mais vulnerável se ela depende de um mercado só. A WEG busca ampliar permanentemente seu portfólio de produtos a fim de atuar em diversos segmentos e, consequentemente, em vários mercados. E isso diminui nossa vulnerabilidade”, disse. O executivo admite, contudo, que a empresa também foi afetada pela desaceleração econômica do Hemisfério Norte, assim como as demais companhias brasileiras que mantêm negócios com aquela parte do mundo. “A crise arrefeceu os negócios, e exigiu da WEG mais energia para continuar crescendo no mercado internacional. Mas conseguimos expandir nossas operações na Europa e nos EUA. E acreditamos ser possível crescer mais de 20% nos próximos negócios no mercado externo em 2012.” Outro possível foco de ameaça às operações da companhia nesses mercados é a forte volatilidade do dólar e dos preços das commodities – no caso da WEG, especialmente o cobre – nos mercados internacionais. Schmeltzer conta que a empresa busca se proteger de tais oscilações adquirindo o cobre com antecedência e obtendo empréstimos para financiar as exportações. “Em razão do dólar, perdemos um pouco de margem de lucro, mas mantivemos nossa competitividade externa. E estamos Março, 2012 AméricaEconomia 21


NEGÓCIOS Expansão

Presença global

Ilustração: Shutterstock

A WEG tem, ao longo dos anos, estabelecido sua presença em vários mercados ao redor do mundo

Áustria Estados Unidos

Maia (Portugal)

Huehuetoca (México) Voltran: Tizayuca (México) Buenos Aires Córdoba San Francisco

aumentando nossa capacidade de produção fora do Brasil – o que também acaba funcionando como uma espécie de hedge às nossas operações”, diz. Mesmo levando em conta esses fatores, a WEG ainda espera manter seu crescimento continuado em 2012 – e para isso conta com a expansão internacional. “Este é um ponto forte de nossa estratégia; continuaremos perseguindo aquisições para sustentar um crescimento de dois dígitos – o que é muito difícil de manter apenas por meio da expansão orgânica de nossos negócios”, afirma Schmeltzer. “Estamos sempre atrás de oportunidades.” Dentro dessa ótica, a WEG está atenta também aos países emergentes. Sua mais recente investida foi na Índia, onde implantou uma unidade produtora na cidade de Hosur (localizada nas proximidades de Bangalore), cujas atividades começaram em fevereiro de 2011. A planta é dedicada à fabricação de motores a se-

Tamil Nadu (Índia)

Equisul: São José HISA: Joaçaba Instrutech: São Paulo Jaraguá do Sul - PF 1 Jaraguá do Sul - PF 2 Blumenau Gravataí Guaramirim Itajaí Manaus Mauá São Bernardo do Campo

Nantong (China)

ZEST: Johannesburgo (África do Sul)

rem instalados em bombas de água e, até sua inauguração, recebeu investimentos de US$ 60 milhões. Para Schmeltzer, os mercados emergentes se encontram, no momento, em um estágio inicial na estratégia da WEG. “A receita nesses países ainda não é tão significativa, mas acreditamos que tanto a China quanto a Índia tendam a contribuir mais para a companhia. Já aprendemos a trabalhar lá, nos estruturamos, e agora devemos começar a colher os resultados. Lá tudo é favorável. Hoje, mesmo quando o PIB [Produto Interno Bruto] desacelera, ele ainda cresce consideravelmente”, afirma. O executivo lembra que levou um período de cerca de cinco anos para a WEG conseguir montar uma estrutura adequada na China – o que não se repetiu na Índia. “Quando chegamos lá, já tínhamos mais experiência em lidar com uma cultura tão diferente, como foi anteriormente o caso do mercado chinês.” Apesar de

A companhia é considerada pela Fundação Dom Cabral como uma das mais internacionalizadas do Brasil 22 AméricaEconomia Março, 2012

Unidades próprias Unidades controladas

Fonte: empresa

considerar que hoje a WEG se encontra entre os principais players internacionais na América do Norte e na Europa, na Ásia a situação é diferente. “Lá, ainda precisamos construir nosso caminho.” Outro vetor importante nos planos de expansão da WEG é a América Latina. A empresa já tem uma presença consolidada na Argentina e continua de olho em outros países da região. “O mercado argentino sempre foi muito importante. Temos lá uma fábrica de motores e outra de automação. Somos líderes de mercado naquele país. Mas temos outras oportunidades interessantes para conquistar na região, como o Peru, a Colômbia e o México”, afirma. O recente fornecimento dos transformadores da hidrelétrica de Itaipu é considerado pelo executivo um marco. “São poucos os fabricantes que têm a competência técnica para fabricar esse tipo de equipamento.” PROCESSO CONTÍNUO Na avaliação do coordenador do Núcleo de Negócios Internacionais da FDC (Fundação Dom Cabral), Sherban Leonardo Cretoiu, esse bom posicionamen-


to da WEG no mercado externo deve-se à experiência adquirida nas últimas quatro décadas – quando a empresa primeiro passou a exportar seus produtos, para depois optar pela implantação de unidades produtivas em outros países e pela aquisição de companhias estrangeiras. A continuidade desse processo tornou as operações internacionais mais importantes para a empresa – tanto que, em seu “Ranking das Transnacionais Brasileiras 2011 – Crescimento e Gestão Sustentável no Exterior”, a FDC classificou a WEG em 16º lugar – acima de companhias atuantes no mercado externo, como Brasil Foods, Embraer e Petrobras. “A WEG tem várias lições a ensinar. Seu processo de internacionalização começou há muitos anos, e fez com que a empresa tivesse de investir em inovação e eficiência para fazer frente aos concorrentes externos. Ela se tornou competitiva e compensou os momentos em que o mercado doméstico não era muito promissor”, avalia. De acordo com Cretoiu, o sucesso da WEG alicerçou-se em dois pontos principais: o estabelecimento de uma estratégia de internacionalização gradual – que deu espaço, com o tempo, à abertura de filiais comerciais e, depois, de parques industriais no exterior – e a manutenção desse curso, por meio da profissionalização da gestão da empresa, que permitiu que essa estratégia fosse perseguida de forma consistente. Além de buscar novas oportunidades de negócios no exterior – e, de certa for-

A WEG também está presente em diversos países da América Latina, e tem unidades de produção na Argentina e no México (acima)

ma, proteger-se de eventuais oscilações do mercado doméstico – a predileção da WEG pela expansão internacional contribui para que ela entre em outros mercados e setores de atuação de forma competitiva. Um exemplo disso foi a recente aquisição da EM, sediada em Minneapolis (EUA), que pertencia à Convertin (que, por sua vez, foi adquirida pela General Electric em setembro de 2011). “Trata-se de uma empresa centenária, com ótima reputação no mercado, que fabrica turbogeradores de dois polos – e a WEG não tem uma participação forte no mercado de fornecimento desse tipo de equipamento. Além disso, a EM participa de forma destacada no segmento de óleo e gás. A aquisição nos coloca em posição mais competitiva”, avalia Schmeltzer. Ele acrescenta que a expertise da companhia nessa área já é ampla, devido à sua atuação no fornecimento de equipamentos destinados a unidades mineradoras e plataformas de petróleo.

Fotos: Divulgação

Com um ano de atividade, a unidade da Índia reforça a aposta em emergentes

TRAJETÓRIA Fundada em 1961 como Eletromotores Jaraguá, a WEG logo encontrou sua vocação para o comércio fora das fronteiras brasileiras. No início dos anos 1970, iniciou seus primeiros negócios internacionais com vizinhos como Uruguai, Paraguai e Equador. “Em um primeiro momento, éramos uma companhia meramente exportadora. Depois, passamos à distribuição de nossos produtos, estabelecemos filiais comerciais próprias em vários países e, atualmente, estamos na fase de ter instalações e indústrias lá fora”, afirma Schmeltzer. Nessas quatro décadas de participação no comércio internacional, a WEG viu o mercado doméstico enfrentar diversas crises – na década de 1980 havia um cenário marcado pela inflação galopante, pelo aumento da dívida externa e pelo impacto do segundo choque mundial do petróleo. Dessa forma, a empresa foi estimulada a buscar oportunidades de negócios em novos mercados. Os anos 1990 assistiriam a um crescimento mais rápido no processo de internacionalização da companhia, com a WEG chegando aos EUA, Alemanha, Reino Unido, França, Espanha e Suécia. Em 2000, vieram as primeiras fábricas no exterior, localizadas na Argentina e no México. Em 2002, a empresa adquiriu uma fábrica em Portugal e, três anos depois, iniciou sua produção na China. E, em fevereiro de 2011, chegou à Índia, por meio da inauguração de uma fábrica em Bangalore. Março, 2012 AméricaEconomia 23


NEGÓCIOS

Transporte aéreo

A Fidae, em Santiago, é uma oportunidade para os fabricantes apresentarem seus modelos nos segmentos de aviação comercial, executiva e de defesa

Pronto para decolar Com milhões de latino-americanos preparando as malas para sua primeira viagem de avião, as principais fabricantes mundiais de aeronaves afinam suas estratégias para crescer e engordar o caixa

E

stá certo que as viagens aéreas a negócios podem se tornar rotineiras, com mudanças de horários, refeições, escalas. Mas você se lembra da sensação de voar pela primeira vez? A cada ano, milhões de pessoas na América Latina e Caribe esperam ansiosamente para embarcar em seu primeiro voo, apertar os cintos e aguardar a decolagem. O desejo é o mesmo entre as fabricantes de aviões que disputam esse mercado, impulsionado principalmente pela

24 AméricaEconomia Março, 2012

queda nos preços das passagens. “Em termos reais, as tarifas atuais diminuíram cerca de 7% em comparação com o ano 2000 e cerca de 62% em relação a 1970”, comenta Patricio Sepúlveda, vice-presidente regional para América Latina e Caribe da Iata (Associação Internacional de Transporte Aéreo). Na região, ainda é baixo o número de passageiros: 0,53 voo per capita por ano, bem inferior à Europa (1,56) e aos Estados Unidos ( 2,35).

Por outro lado, estar distante de mercados mais maduros abre um amplo espaço de desenvolvimento. Por exemplo, apenas em 2011 no Brasil, 10,7 milhões de passageiros viajaram de avião pela primeira vez. Esse crescimento da demanda no último ano foi impulsionado por voos dentro da América Latina, domésticos e internacionais. “Em 2011, o tráfego internacional entre países da região cresceu 9,5%, enquanto que, para outras re-

Foto: Divulgação

David Cornejo, de Santiago


giões, aumentou apenas 1,3%, tendência que continuará”, comenta Alex de Gunten, diretor-executivo da Alta (Associação de Transporte Aéreo da América Latina e do Caribe). Com a demanda identificada pelas companhias aéreas, agora é preciso que o estoque de aviões esteja à altura. Segundo a Airbus, a região precisará de dois mil novos aviões de passageiros ao longo dos próximos 20 anos. As fabricantes estão cientes do potencial de crescimento e preparam-se para aterrissar nesse mercado. O bolo aéreo As maiores companhias aéreas da região são TAM-LAN, AviancaTaca, Gol e Aeroméxico, que possuem frotas de mais de 100 aviões. E o investimento em novas aeronaves tem sido cada vez maior. “Mais de 70% dessas aeronaves são de nova geração. Há 10 anos, eram cerca de 20%”, comenta Gunten, da Alta. Ao contrário da grande variedade de companhias que fabricam aeronaves militares, o estoque latino-americano de

aviões comerciais é dividido entre quatro fabricantes: 38% da Boeing, 36% da Airbus, 11% da Embraer e 6% da Bombardier. O restante do mercado está distribuído entre empresas menores, como ATR e Fokker. Com contratos milionários e alianças estabelecidas por décadas, as aéreas ainda preferem não se arriscar com aviões de fabricantes menores. De acordo a Alta, o modelo mais utilizado pelas companhias aéreas da América Latina é o Airbus A320, com 166 aeronaves. Seu preço: US$ 85 milhões. Na sequência estão o Boeing 737-800, com 120 aparelhos a um custo de US$ 80 milhões cada, e o Boeing 737-700, com 113 aviões (o modelo custa US$ 68 milhões, em média). “A tendência é a compra de aviões de curto alcance, com base na densidade de tráfego entre as cidades”, explica Sepúlveda, da Iata. Os três modelos predominantes são de fuselagem estreita, isto é, com apenas um corredor de passageiros e capacidade média. Segundo a consultora aeronáutica Ascend, atualmente 67 % das aeronaves que operam na América

Latina são de fuselagem estreita e apenas 12% são de fuselagem ampla, com dois corredores de passageiros. Os modelos maiores transportam de 200 a 600 passageiros, enquanto o maior avião de fuselagem estreita leva no máximo 250. Os especialistas do setor aéreo acreditam que há oportunidade de negócios na região também para os aviões maiores, já que a expectativa é de aumento no número de passageiros transportados. Segundo a Airbus, em 2030, esse total será o dobro do atual. A previsão é conservadora em relação à da Iata, que espera que o tráfego na América Latina quase quadruplique em 20 anos. Enquanto isso, será preciso torcer para que os governantes saiam da imobilidade e resolvam o problema dos já colapsados aeroportos. Se estes forem suficientemente eficientes para atender à demanda, a América Latina poderá tirar proveito e aumentar as alianças comerciais e gerar novos negócios, especialmente com as viagens sobre o Oceano Pacífico, que predominarão no mercado aéreo nas próximas décadas.

No Chile, uma vitrine de jatos Não é apenas uma questão de imagem diante dos clientes e da concorrência. Ter um avião privado proporciona segurança, mais privacidade e eficiência aos executivos — e pode até ser decisivo em um negócio que dependa de pontualidade, por exemplo. Porém, desde 2008, as turbulências na economia traduziram-se em uma queda nas vendas mundiais desse tipo de aeronave. Na América Latina e outras regiões emergentes, ocorreu o contrário. O mercado de aviões privados mantém-se em crescimento. “A aviação de negócios na América do Sul tem, atualmente, 1.831 aviões e 1.747 helicópteros”, aponta Richard Aboulafia, vice-presidente e analista do Teal Group, dos Estados Unidos. Segundo projeções feitas pela fabricante brasileira Embraer, uma das protagonistas na avia-

ção executiva mundial, nos próximos dez anos, esse mercado deverá somar negócios da ordem de US$ 12,4 bilhões na América Latina, com destaque para México, Brasil, Venezuela, Argentina e Chile. Uma oportunidade para conhecer mais sobre o setor é a Fidae (Feira Internacional do Ar e do Espaço), que acontece entre 27 de março e 1º de abril, no aeroporto Arturo Merino Benítez, em Santiago. Além de aviões executivos, serão apresentados fornecedores de equipamentos de defesa, segurança, manutenção de aeronaves, serviços aeroportuários e tecnologia espacial. “O setor de aviação executiva, tanto de aviões quanto o de helicópteros, tem alcançado um papel mais relevante devido à prosperidade econômica da região. Hoje, há uma necessidade de acelerar os

negócios entre os empresários e executivos. Além disso, as principais cidades da América Latina estão crescendo, e isso impacta a duração das viagens, mais longas com os congestionamentos no trânsito, impulsionando este mercado”, comenta Sepúlveda, da Iata. Entre os aviões executivos presentes na feira, destaca-se, por sua versatilidade, o PC-12 NH, da fabricante suíça Pilatus. O modelo pode desempenhar um papel executivo, ser configurado como ambulância ou realizar transporte de carga. Uma adaptabilidade bem interessante para o atual momento. “A aviação executiva estará representada na feira por empresas como Bombardier, Gulfstream, Cessna e Embraer”, comenta o coronel Jean Pierre Desgroux, diretor-executivo da Fidae.

Março, 2012 AméricaEconomia 25


NEGÓCIOS

Transporte aéreo

Fotos: Divulgação

O Super Tucano é um dos principais produtos da área de defesa da Embraer

Aviões de farda Os caças-bombardeiros são decisivos em uma guerra entre Estados. Mas, em tempos de paz, são outras as aeronaves que mais atendem às necessidades de defesa de cada país. Atualmente, o perigo de uma guerra externa foi reduzido ao mínimo. Quando muito, há dois ou três conflitos internos, como o que ocorre em território colombiano com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), o problema entre Peru e o Sendero Luminoso e, até certa medida, o conflito do Brasil com o narcotráfico. “Nesse sentido, as aeronaves de carga e ataque leve respondem mais a essa necessidade. Vamos observar uma tendência de adquirir armamento que garanta mais o controle interno do que uma guerra interestatal”, comenta Luis Giacoma, analista político da PKS Consultores, do Peru. Há 100 anos, os italianos lançaram manualmente bombas a partir de seus 26 AméricaEconomia Março, 2012

aviões sobre a Líbia, inaugurando o século de ataques aéreos no mundo. Contudo, os conflitos aéreos na América Latina têm sido raros. Por enquanto, limitaram-se a combates na Guerra das Malvinas, em 1982, na Guerra do Cenepa, entre Peru e Equador, em 1995. Assim, os caríssimos caças-bombardeiros passam a maior parte do tempo nos hangares ou fazendo exercícios de exibição, enquanto os cargueiros e as aeronaves de reconhecimento realizam um importante trabalho de menor visibilidade, mas nem por isso pouco relevante. “O que é mais adequado para cada país depende das ameaças que enfrenta, bem como da geografia, das habilidades e da riqueza, o que determina a amplitude da oferta atual”, comenta Richard Aboulafia, vice-presidente e analista da consultoria americana Teal Group. Um avião de combate clássico – um F16, por exemplo – não seria muito útil no combate ao narcotráfico, já que o mo-

delo não reconhece elementos na selva. “As aeronaves mais úteis são as subsônicas, que não ultrapassam a velocidade do som, como os aviões do tipo Tucano, utilizado pela Força Aérea do Peru, ou o Pillán, do Chile, de treinamento leve”, diz Giacoma. “O mercado está se focando nesse tipo de aeronave, que demonstra mais facilidade e capacidade de operar em espaços de selva e montanhas, diante de inimigos não convencionais, quase sempre carentes de meios antiaéreos”, acrescenta. Por isso, são necessárias aeronaves multifuncionais, adaptáveis aos imprevistos de cada país, além da colaboração entre vizinhos. “Existem necessidades comuns, resultantes de problemas compartilhados, como catástrofes naturais, narcotráfico, terrorismo, para as quais, em muitos casos, já existem acordos para reagir e operar coordenadamente”, comenta Jean Pierre Desgroux, coronel da Força Aérea do Chile.


Mais do que substituir um tipo de aeronave por outra, as necessidades de defesa externa e interna indicam que é preciso combinar diversos equipamentos com diferentes funcionalidades. “A versatilidade demonstrada pelos helicópteros em certas circunstâncias não pode ser imitada por uma aeronave de asa fixa, por exemplo. Em contrapartida, a capacidade dos helicópteros pode se mostrar limitada quando se opera em altura com uma quantidade significativa de carga”, acrescenta Desgroux. Os caças-bombardeiros têm custos que vão de US$ 40 milhões a US$ 100 milhões por avião. São apenas 11 os países que os produzem: Rússia, Estados Unidos, França, China, Índia, Japão, Suécia e o consórcio Eurofighter, formado por Alemanha, Reino Unido, Itália e Espanha.

Um dos atrativos nesse negócio, além da compra da aeronave, é o pacote que vem com a aquisição – mais especificamente a transferência tecnológica entre fabricante e comprador, nos chamados acordos offset. Este é um dos pontos centrais, por exemplo, das conversas entre a fabricante francesa dos aviões Rafale, que está fechando uma importante venda para a Índia, e o governo brasileiro, que quer reaparelhar a Força Aérea. No caso indiano, o acordo prevê a inauguração de fábricas no país asiático, algo a que os brasileiros também aspiram. O objetivo brasileiro tem a ver com uma das principais vantagens das aeronaves de carga e ataque leve: elas potencializam a indústria latino-americana. Grande parte dessas frotas na América Latina é abastecida pela indústria local, sobretudo em países que aumentaram

A Airbus (à esquerda) tem 36% do mercado latino-americano de aviões comerciais. Acima, o F-35B, da Lockheed Martin, usado em defesa

os seus gastos militares na última década. É o caso de Chile, com 48% de crescimento do orçamento militar; Brasil, com 39%; e Colômbia, com 111% de aumento, segundo números divulgados pelo Sipri (Instituto Internacional de Pesquisa da Paz, de Estocolmo). Com esse gasto militar de alguns dígitos, não é de se estranhar que sejam esses os países com maior relevância na região, em termos de frotas aéreas. “Destacam-se, em primeiro lugar, o Brasil, seguido da Colômbia, que enfrenta um conflito armado interno, e, em terceiro lugar, o Chile”, explica Giacoma. Os brinquedos mais caros Entre as aeronaves que mais se destacam na América Latina, estão os helicópteros militares, dada a sua versatilidade em uma geografia diversa. Entre os modelos estão os russos MI-171, com capacidade de transporte e combate, blindados e equipados com mísseis antitanque Ataka/Shturm. Com um custo aproximado de US$ 12 milhões, atualmente são utilizados pelas Forças Armadas de Peru, México, Argentina, Venezuela e Colômbia. Neste último país, tiveram seu momento mais relevante na Operação Jaque, que libertou Ingrid Betancourt em 2008, depois de um sequestro de seis anos articulado pelas Farc. Em termos de aviões, segundo Giacoma, são três os modelos mais utilizados na região – por seu poderio bélico e facilidade de manobra. “Atualmente, o F16, usado pelos chilenos, é a aeronave mais avançada. Na sequência vem o Sukhoi 30, adotado pelas Forças Armadas da Venezuela e, em terceiro lugar, podemos citar aos F5 ou Mirage, que fazem parte da frota brasileira”, aponta. Além dos 36 Rafale que poderão ser adquiridos pelo pelo governo brasileiro em um processo de escolha que começou no governo de Fernando Henrique Cardoso, as aquisições esperadas para 2012 são os dez Super Tucanos brasileiros, da Embraer, que serão comprados pelo Peru e os 12 Cheetah sul-africanos recebidos pelo Equador em fevereiro. Março, 2012 AméricaEconomia 27


NEGÓCIOS

COMÉRCIO EXTERIOR

Começa a corrida dos suínos Início dos embarques para a China ocorre em uma boa hora. País pode ser alternativa à Rússia e Argentina, que seguem barrando o produto brasileiro

C

om 1,354 bilhão de habitantes, a China tem uma necessidade urgente de garantir o fornecimento de alimentos para sua população. E essa alimentação tem como um de seus principais ingredientes a carne de porco, tradicional em sua culinária. Esses dois fatos indicam que o mercado chinês é bastante promissor em termos de importações de carne suína. E as oportunidades proporcionadas pela entrada naquele mercado começarão a ficar mais evidentes para o Brasil neste ano, em razão do início dos embarques do produto. Os produtores brasileiros de suínos já começaram a se movimentar, aproveitando a abertura do mercado chinês. A Aurora fez o primeiro embarque para o país no início de fevereiro. Dias depois, a BRF (Brasil Foods) anunciou uma joint venture com a DCH (Dah Chong Hong), da China, para estruturar sua distribuição. Na empresa já se fala, inclusive, da possibilidade de instalar no futuro uma linha de produção em território chinês.

28 AméricaEconomia Março, 2012

Apesar do apetite das companhias brasileiras, todo o processo de negociação com o gigante asiático costuma ser lento. Até agora, três produtores têm unidades licenciadas pelo governo chinês para vender carne suína para o país: Aurora, Marfrig e BRF. Na avaliação de José Vicente Ferraz, diretor-técnico da consultoria Informa Economics FNP, a China deverá se tornar um importador muito importante de alimentos, levando-se em conta que a rápida urbanização do país vem tornando escassas as regiões destinadas à agricultura e à criação de rebanhos. “Nesse quadro, o Brasil tende a ser um fornecedor natural.” Sediada em Chapecó (SC), a Coopercentral Aurora (Aurora Alimentos) foi uma das primeiras escolhidas para iniciar os embarques de carne suína para a China. No início de fevereiro, a companhia emabarcou no porto de Itajaí (SC) cinco contêineres, ou 120 toneladas – um negócio de R$ 420 mil. Atualmente, a empresa tem como principais mercados internacionais Hong Kong, Ucrânia

e Argentina. Cerca de 15% da produção total da Aurora é direcionada para o comércio exterior. O presidente da Aurora, Mário Lanznaster, lembra que a lentidão no desenvolvimento do mercado chinês é frustrante, mas mesmo assim tem dado frutos positivos. “O país é um tradicional consumidor do produto brasileiro via Hong Kong. Mas sempre quisemos exportar sem intermediários”, afirma. O executivo diz, contudo, que esse primeiro embarque não equivale a 10% do volume diário de produção da empresa. “Esperamos chegar a ter embarques diários de 120 toneladas mais para frente.” Lanznaster ressalta, entretanto, que há problemas que afetam a competitividade externa da carne suína brasileira – como a carga tributária e a dificuldade de escoamento logístico, assim como a volatilidade do dólar. “Os investimentos para expandir a produção visando abastecer o mercado chinês são estratégicos, para que possamos ganhar uma posição de destaque naquele país.” E a Aurora vem

Fotos: Shutterstock; Divulgação

Sérgio Siscaro, de São Paulo


A entrada no mercado chinês e a abertura nos EUA deverão ajudar o setor exportador de carne suína a superar os problemas recentemente trazidos pelo embargo russo e argentino

se movimentando. Neste ano, a companhia utilizará R$ 20 milhões do lucro de 2011 (que atingiu R$ 138,9 milhões) à expansão de suas atividades. incluindo a reabertura de sua unidade de Joaçaba, fechada em razão do embargo russo. O valor estratégico do mercado chinês tem feito as companhias brasileiras movimentarem em na busca de parceiros comerciais naquele país que possibilitem aprimorar os canais de distribuição. A pioneira nesse campo foi a Marfrig, que no ano passado firmou duas joint ventures: uma com a Chinwhiz Poultry Vertical Integration, por meio de uma subsidiária, a Keystone, para o segmento de carne de frango; e outra com a COFCO, voltada ao escoamento logístico de seus produtos na China. Em novembro, a Seara, pertencente ao grupo, iniciou seus embarques de carne suína. Na avalaliação de Ferraz, da Informa Economics FNP, a opção é acertada. “A Marfrig já havia feito isso em outros mercados, como na Europa, assim como a Friboi e a JBS. No mercado chinês, é fundamental ter um distribuidor local. A BRF também foi por esse caminho, e certamente os demais players brasileiros interessados na China farão isso.” A BRF estabeleceu uma parceria com a DCH – o que, de acordo com a exportadora brasileira, possibilitará a distribuição local de produtos in natura e processados. A companhia estima que a joint venture irá gerenciar mais de 140 mil toneladas anuais, permitindo a geração de

receitas de US$ 450 milhões nos primeiros 12 meses de atuação. Para a analista do setor de Alimentos da Coinvalores, Sandra Peres, a parceria será positiva. “A marca Sadia é muito conhecida por lá”, diz. Renato Prado, da corretora Fator, tem a mesma opinião. “É essencial que a BRF possa escoar parte de sua produção para o exterior, a fim de não haver um excesso de oferta no mercado doméstico. E o mercado asiático é bastante importante atualmente no consumo de carne suína.” NECESSIDADE CRUCIAL Com relação às parcerias feitas pela BRF e pela Marfrig, o analista Gabriel Lima, do banco Barclay’s, vê essa aproximação com empresas locais crucial para as vendas do produto no país. “A China considera a questão dos alimentos como estratégica. Além disso, o mercado de lá é bastante diferente; vejo a BRF e a Marfrig atuando como exportadores de car-

120

toneladas de carne suína foram embarcadas em fevereiro pela Aurora com destino à China

ne suína, mas sempre acompanhados de uma empresa chinesa na distribuição”, afirma, acrescentando que as duas empresas deverão ser os principais players brasileiros na China por terem iniciado mais cedo sua internacionalização. A paranaense Frimesa ainda tem uma atuação reduzida no comércio internacional de carne suína. “Já tivemos no pasado um volume mais significativo de produção destinado aos mercados externos, principalmente à Rússia, e também algo para Hong Kong, Uruguai e Ucrânia. No entanto, as restrições sanitárias aplicadas ao Paraná por causa da febre aftosa fizeram com que nos voltássemos mais ao abastecimento do mercado doméstico”, explica o diretor-presidente da companhia, Valter Vanzella. Apesar disso, a empresa também aguarda sua habilitação para vender à China, embora Vanzella não acredite em uma grande expansão das exportações da empresa no curto prazo. “Podemos aumentar de 5% para 10%, não mais do que isso.” Ele conta que, além da questão sanitária, os principais problemas que dificultam a vida dos exportadores do setor continuam sendo a logística deficiente e a volatilidade cambial. ENTRAVES Segundo os dados da Abipecs (Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína), os embarques para a China totalizaram, em janeiro, apenas 52 toneladas, ou US$ 149 Março, 2012 AméricaEconomia 29


NEGÓCIOS

COMÉRCIO EXTERIOR

mil. O valor é irrisório, mas trata-se apenas do começo. Os produtores comemoram o fato de o país ter finalmente aceito a produção nacional, uma notícia que chega em boa hora. Em junho do ano passado, o principal comprador da carne suína brasileira, a Rússia, decidiu embargar a produção nacional, alegando irregularidades de ordem burocrática. Na Ásia, Coreia do Sul e Japão alegam restrições de ordem fitossanitária para não aceitar o produto nacional. E a Argentina também decidiu embargar o produto no início de fevereiro. Nesse contexto, a chegada à China é animadora – mas a médio prazo. Nos próximos meses, o setor deverá continuar amargando uma queda em sua participação no mercado internacional. De acordo com dados da Abipecs, em 2011 foram exportadas 516,4 mil toneladas. Os principais destinos foram Hong Kong e Rússia – ambos respondendo por cerca de metade dos embarques. No entanto, há um ponto positivo – a recente liberação do mercado dos Estados Unidos para a carne suína brasileira. Ainda que não seja um grande comprador – o país é atualmente um dos principais produtores e exportadores de carne suína no mundo – a medida contribuirá para a conquista de novos mercados, que poderão optar pela carne brasileira ao constatarem que esta conta com a chancela de Washington. Para o presidente da Abipecs, Pedro de Camargo Neto, o aspecto positivo do início dos embarques para a China e da liberação das exportações para os EUA não esconde o fato de o setor enfrentar dificuldades. “Temos uma visão otimista 30 AméricaEconomia Março, 2012

Foto: Shutterstock

Boa parte da carne suína que chega à China vem de Hong Kong (foto). Os brasileiros tentam eliminar a triangulação

no médio prazo. Mas, no curto prazo, enfrentamos crises”, diz. Ele lembra que a Argentina consome 8% das exportações brasileiras de carne suína, boa parte originária dos estados da região Sul, penalizados pelo embargo russo. ALTERNATIVAS De acordo com Ferraz, da Informa Economics FNP, o Brasil sofre com a instabilidade do mercado russo, mas a chegada à China e a liberação dos EUA podem ajudar os produtores a combater um possível excesso de oferta no mercado interno. “A entrada na China é muito importante, à medida que aquele país tem hoje grandes dificuldades para alimentar sua população – mesmo sendo responsável por 50% da produção mundial de carne suína. E, de certa forma, já conhece a carne brasileira, uma vez que um dos nossos maiores compradores é

Depois da parceria com um distribuidor, a Sadia planeja instalar uma fábrica na China

Hong Kong, que triangula o produto para a China continental”, avalia. O especialista também avalia como favorável a decisão dos EUA. “Com a liberação, o produto nacional passa a ganhar acesso aos mercados do México e do Canadá, que também fazem parte do Nafta [North American Free Trade Agreement, ou Tratado Norte-Americano de Livre Comércio]. E vários países menores, que não têm meios de controlar a qualidade dos alimentos que importam, tendem a seguir as decisões de Washington. Japão e Coreia do Sul também são muito influenciados pelas medidas adotadas pelos EUA”, pondera Ferraz. Essa avaliação é compartilhada pelo analista de Alimentos da Corretora Fator, Renato Prado, para quem o valor estratégico das exportações para as companhias nacionais vai além do que poderá ser obtido em termos de receita com as vendas internacionais. “Devemos levar em conta o fato de que, para as empresas, a importância do mercado externo está diretamente ligada à atuação no Brasil. Se não houver uma ‘válvula de escape’, a produção será destinada ao mercado doméstico, cuja demanda pode não acompanhar esse movimento. Como resultado, haverá pressão pela diminuição dos preços.”


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NEGÓCIOS

Moda infantil

Estratégia de gente grande Fotos: Divulgação

Tip Top troca perfil industrial pelo varejista, investe em franquias e quer dobrar o número de lojas até 2013 Graziele Dal-Bó, de São Paulo

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esde 2008, a rotina de Mário Silveira, superintendente comercial da Tip Top, envolve mais do que acompanhar o desempenho da companhia de dentro de seu escritório, na zona oeste de São Paulo, onde também fica uma das unidades industriais da fabricante de produtos para bebês e crianças. No dia a dia do executivo, estão presentes ainda viagens frequentes por todo o país e muita negociação com shopping centers. As horas a mais de trabalho, no entanto, nem de longe são motivo para reclamação. Elas fazem parte do novo ciclo da marca sexagenária, que há quatro anos optou por trocar o perfil exclusivamente industrial por um foco mais varejista, por meio da inauguração de franquias. O projeto, capitaneado pelo executivo, deve ser intensificado neste ano. O objetivo é chegar ao final de 2013 com 100 lojas. A Tip Top encerrou 2011 com 54. Ou seja, se o ritmo for mantido, a empresa deve praticamente dobrar o número de unidades até o ano que vem. “Uma das vantagens dessa aproximação com o consumidor final é a experiência de compra que se consegue garantir. Por exemplo, ao contrário do que ocorre na venda para o varejista, na qual sua marca se mistura a outras, na loja própria ou franquia

32 AméricaEconomia Março, 2012

Com 54 lojas, a empresa planeja chegar a 100 até o fim de 2013

é possível criar um ambiente exclusivo e isso certamente influencia nas vendas”, afirma Francisco Saraiva Junior, professor de Gestão de Marcas da FGV-Eaesp (a Escola de Administração de Empre-

sas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas). Esse é um dos fatores que motivaram a Tip Top, a exemplo do que já fizeram Hope, Havaianas e tantas outras, a investir na venda direta aos clientes.


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PRÓXIMAS PARADAS As próximas cidades onde a franquia da Tip Top irá desembarcar são Belém, Jaboatão dos Guararapes (PE) e Salvador. As regiões Norte e Nordeste, aliás, estão no radar na companhia, que já tem presença consolidada no Sul e Sudeste. Outras unidades devem ser instaladas em Jundiaí (SP), Bauru (SP), Mogi das Cruzes (SP) e Recife. Para chegar à meta ousada de uma centena de lojas em 2013, os executivos miram-se nos resultados conseguidos pela companhia com a mudança de rota. O investimento em lojas franqueadas foi um dos principais responsáveis pelo salto de 1.600% no faturamento da Tip Top entre 2008 e 2011, de R$ 2,2 milhões para R$ 37,5 milhões. No mesmo período, as unidades franqueadas passaram de seis para 54. Em 2012, a expectativa é chegar a 74 lojas e um faturamento de R$ 50 milhões. Para chegar a resultados tão positivos, porém, foi preciso rever estratégias e admitir erros. “Era tempo de crise, em meados de 2008, e vimos que não estávamos indo tão bem como gostaríamos. Fizemos uma série de reuniões e percebemos que o problema estava justamente naquilo que mais prezávamos: a força da marca. Ao produzir para vender a outras empresas, estávamos perdendo nossa identidade”, afirma Silveira. Investir em lojas voltadas exclusivamente à própria marca foi o caminho encontrado para vencer as dificuldades. O primeiro passo foi encontrar um local para instalar a primeira unidade, uma das três lojas que pertencem totalmente à Tip Top. A escolha do Shopping Bourbon, em São Paulo, tinha como ponto a favor o fato de ele estar localizado a apenas cinco minutos do parque fabril da companhia e foi a melhor opção depois das várias tentativas de entrar no Shopping Center Norte, também na capital paulista. “Achávamos que o Center Norte seria ideal, pois atrai um público que vai desde a classe A até a classe D, mas o dono do espaço onde ficaríamos postergou muito a negociação. Então re-

Uma das dificuldades para crescer rapidamente é a escassa oferta de pontos em shoppings, diz Silveira

solvemos fechar com o Bourbon, o que foi ótimo porque os resultados nos animaram muito”, diz o superintendente da Tip Top. A partir daí, outras 36 unidades foram inauguradas até 2010. PRÓXIMAS PARADAS Para sustentar o crescimento, foi necessário criar um departamento voltado exclusivamente a franquias. Atualmente, trabalham nessa área 20 pessoas, de assessores jurídicos a gerentes. Apesar do aumento da equipe, Silveira prefere comparecer pessoalmente às conversas com fornecedores e administradores de shopping centers – foco de atuação da Tip Top. Segundo o executivo, um dos principais desafios para o crescimento da companhia está ligado exatamente a locais disponíveis para instalar as lojas. Além do já conhecido problema com os valores do aluguel cobrados por esses empreendimentos, que dispararam nos últimos anos em todo o país, setores como o infantil ainda têm outro obstáculo a superar. “Existem alguns segmentos que são prioridade para

os shoppings, como o feminino. Para se ter uma ideia, estamos esperando há três anos para entrar no Villa Lobos [shopping center localizado na zona oeste de São Paulo]”, conta Silveira. Mesmo assim, o executivo segue confiante. O plano agora é entrar no mundo virtual, por meio do comércio eletrônico. “Mas ainda estamos vendo como participar desse mercado. Afinal, o nosso franqueado não pode nos ver como adversário”. Foi para “proteger” o novo modelo de negócio e dar mais valor à marca que, ao optar por vender através de franquias, o grupo teve de abrir mão de outras frentes. Um exemplo disso foi o encerramento dos contratos com os hipermercados. Outra medida adotada foi deixar de comercializar para os estabelecimentos multimarcas quando um franqueado abre uma loja no mesmo empreendimento. E isso pode desencadear uma retaliação, principalmente no caso das grandes redes varejistas? Silveira garante que não. “Fazemos tudo com muita transparência. Esse foi sempre o ponto central do nosso negócio.” Março, 2012 AméricaEconomia 33


NEGÓCIOS

Alimentação

Menos fermento na receita da Bimbo Empresa mexicana inaugura sua oitava fábrica no Brasil e opta pelo crescimento orgânico para manter a liderança Paula Pacheco, de São Paulo

34 AméricaEconomia Março, 2012

“Há muito potencial na América Latina, e particularmente no Brasil”, diz Servitje

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ma década atrás, a Bimbo chegou com muito apetite no Brasil. Fez aquisições, investiu em fábricas e colocou o país como o terceiro na lista de lugares onde o grupo mexicano mais fatura. Nesse período, conquistou a liderança nacional no mercado de pães industrializados. Tudo aconteceu muito rapidamente na história de uma empresa com tão pouco tempo por aqui. Agora, chegou o momento de mudar a estratégia. Em lugar das aquisições, é hora de mirar o crescimento orgânico. Um dos caminhos é o aumento da produção. No mês passado, a empresa inaugurou a oitava fábrica brasileira, em Brasília ­— as demais ficam em Mogi das Cruzes (SP), Jaboatão dos Guararapes (PE), Salvador, Contagem (MG), Rio de Janeiro, São Paulo e Gravataí (RS). “Pela primeira vez, o conselho de administração da Bimbo reuniu-se no país para definir estratégias para toda a companhia”, conta o diretor-geral Daniel Servitje. A iniciativa mostra que as vendas no Brasil (cujos valores não são revelados) entusiasmaram os executivos mexicanos. A fábrica de Brasília consumiu US$ 29 milhões de investimento. A partir dela,


a empresa vai distribuir seus produtos em Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará, Tocantins, Minas Gerais e Distrito Federal. O objetivo é que os pães e bolos cheguem mais frescos e com um menor custo logístico às padarias, supermercados e empresas que compram a linha food service. Ganhos como esse são fundamentais no atual momento da Bimbo. Quanto mais próxima do consumidor, menor é o gasto com a distribuição dos produtos e maior é a margem de lucro. São movimentos assim que colocam a Bimbo entre as maiores empresas de pães industrializados do mundo. Ao todo, são 156 plantas, distribuídas por 19 países. De janeiro a setembro de 2011, as vendas globais acumuladas já eram da ordem de US$ 10,1 bilhões (em 2010, somaram US$ 9,5 bilhões). Tudo à base de muita farinha, água e fermento, embalados e distribuídos em cerca de 1,8 milhão de pontos de venda. De seus fornos saem por dia 37 milhões de pacotes de pães, bolos e bisnagas, por exemplo. É como se cada habitante da Oceania comprasse um produto da Bimbo por dia. “Viemos de várias aquisições no Brasil e no exterior. Só o que adquirimos nos Estados Unidos resultou em um crescimento de 50% no volume de produção e nas vendas. Vivemos situação semelhante na Europa. Então, chegou a hora de entender esses mercados e integrar os sistemas operacionais e administrativos. Afinal, uma má integração pode ser dolorosa para a companhia. Agora temos de aproveitar a oportunidade para o crescimento orgânico”, explica Servitje. O executivo refere-se aos negócios fechados com a Sara Lee. Em outubro do ano passado, a multinacional americana vendeu suas operações de pães frescos na Espanha e em Portugal à mexicana por € 115 milhões. Um ano antes, a Bimbo já havia fechaO ursinho, símbolo da empresa, tem estampado as embalagens da Pullman

do negócio com a Sara Lee nos Estados Unidos ao ficar com sua unidade de panificação por US$ 959 milhões. No continente americano, a Bimbo é líder. Ao todo, 85% das suas vendas saem dos bolsos de americanos e mexicanos. No Brasil, onde chegou em 2001, é dona das marcas Pullman, Nutrella, Ana Maria, Firenze, Plus Vita, Laura e Crocantíssimo. Depois de uma década no país, conta com 5,3 mil funcionários. Perfil Fundada há 67 anos na Cidade do México, a Bimbo é uma das maiores empresas mundiais de panificação. Sua marca, conhecida pelo ursinho branco com chapéu de mestre-cuca, é encontrada nos continentes americano, asiático e europeu. A multinacional chegou à China há cinco anos. Apesar do tamanho do mercado, sua operação no país ainda não é tão robusta. No Brasil, a situação não é de conforto garantido, pois a empresa tem de enfrentar o movimento constante da concorrência, que se arma seja por meio de aquisições ou com estratégias para acelerar a expansão. É o caso da Wickbold, a segunda colocada no segmento de pães especiais no Brasil (25,2% das vendas), que recentemente divulgou planos agressivos para chegar à liderança até o fim de

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milhões de pacotes são produzidos diariamente pela empresa nos 19 países onde atua 2013. Parte do fôlego virá da inauguração de uma fábrica em Santa Catarina, domínio da marca Nutrella, da Bimbo. Na empresa paulista, fala-se da abertura de outras duas unidades de produção – no Centro-Oeste, onde a mexicana acaba de desembarcar, ou no Nordeste. Servitje conta com o fortalecimento da nova classe média para vender cada vez mais pães ensacados para os brasileiros. “Há muito potencial na América Latina, e particularmente no Brasil. As pessoas tiveram uma melhora na renda, há mais gente trabalhando e o tempo é cada vez menor. O pão industrializado é uma facilidade”, explica o diretor geral da multinacional mexicana. Os números da empresa, ainda que não detalhados, comprovam que o brasileiro quer cada vez mais praticidade na hora de se alimentar. No ano passado, segundo Servitje, as vendas no país tiveram um crescimento de dois dígitos. Como desembarcou no Brasil por meio de aquisições de nomes tradicionais no mercado consumidor, a Bimbo optou por manter as marcas locais. Mas, em abril de 2011, houve uma mudança importante na estratégia, que pode levá-la, no futuro, a repensar as ações de marketing e fortalecer a marca Bimbo. A companhia passou a adotar o ursinho nas embalagens dos produtos da Pullman, de forma tímida. Servitje diz que ainda é cedo para dizer se o logotipo da Pullman poderá ser substituídopelo ursinho ou se o símbolo da Bimbo será colocado ao lado das outras marcas, como Nutrella. O fato é que a empresa já faz um ensaio nesta direção. Março, 2012 AméricaEconomia 35


ESPECIAL Finanças

Riscos & oportunidades Em um ano que começou sob o temor de um default na Grécia que poderia respingar em toda a zona do euro e com os preços em alta das commodities, o que mantêm elevados os fluxos de investimento e comércio na América Latina, os diretores financeiros da região estão otimistas, mas não eufóricos. Oito CFOs (Chief Financial Officer) de empresas de destaque responderam a um questionário de AméricaEconomia e apontam quais são os riscos e as oportunidades que a economia oferece. Sérgio Siscaro e Paula Pacheco (São Paulo), David Santa Cruz (México), Juan Pablo Ríoseco (Santiago) e Jenny C. González (Bogotá)

Jayme Fonseca, CFO da Odebrecht Engenharia & Construção (Brasil) O cenário é otimista, já que os primeiros meses de 2012 indicam uma melhora no mercado de capitais para empresas latino-americanas. A tendência é de recuperação, principalmente se comparada ao segundo semestre de 2011. Alguns pontos que reforçam as perspectivas são o acordo da Grécia com a União Europeia e a leve recuperação da economia americana. Denys Marc Ferrez, diretor Financeiro, Administrativo e de Relações com Investidores da JSL (Brasil) O cenário atual é favorável. Certamente, bem melhor do que aquele visto em outras regiões. Pedro Meirelles, CFO da Stefanini (Brasil) Com o crescimento modesto da região, devemos ter um movimento menos intenso nos mercados de capitais. Ainda que em melhor situação do que a Europa e, eventualmente, os Estados Unidos, as economias da América Latina, que embora estejam mais bem preparadas, ainda dependem muito das exportações e do humor internacional, o que não é positivo para 2012. Não acho que vá haver muitas surpresas negativas este

ano, pois não há muito o que nos afetar – talvez uma queda no crescimento da China, diminuindo os custos das commodities. Javier A. Sanjines, CFO da Femsa (México) Há um maior apetite por risco e um melhor ambiente de negócios na região. Do ponto de vista da liquidez, o setor corporativo passa por um bom momento. Ignacio Calle Cuartas, vice-presidente Financeiro do Grupo Sura (Colômbia) Embora os resultados de 2011 não tenham sido os melhores para o mercado em termos de valorização, a expectativa é que 2012 seja um ano de recuperação. Da mesma forma, espera-se a consolidação de várias empresas que realizaram emissões de ações. Por outro lado, é preciso estar atento ao âmbito político, pois haverá eleições presidenciais em vários países do continente. Andrés Wainer, gerente Corporativo de Administração e Finanças da Embotelladora Andina (Chile) Desde o fim do ano passado temos visto um aumento do fluxo de capitais para a região, o que justifica em grande parte o desempenho positivo apresentado por alguns dos principais merca-

Fotos: Shutterstock

Quais são suas perspectivas para o mercado de capitais latino-americano em 2012?


dos acionários, como Brasil e Peru. Em um contexto macroeconômico que parece razoável, as empresas devem desenvolver novos projetos de investimentos que precisam ser financiados. Essa situação pode envolver um aumento na quantidade de emissões de dívidas nos mercados e mais aberturas de capital. Javier Suárez Esparragoza, vice-presidente de Riscos Financeiros do Grupo Bolívar (Banco Davivienda, da Colômbia) Será um bom ano para o fortalecimento do mercado de capitais. O intercâmbio de bens vem crescendo, e o investimento doméstico e estrangeiro é cada dia maior. Apesar da situação da Grécia e de outros países europeus, por sermos a região do mundo com menor vínculo comercial e financeiro com a Europa, nosso desempenho econômico não será muito afetado. Carlos García Moreno, diretor de Finanças e Administração da América Móvil (México) A América Latina terá um grande crescimento econômico, portanto, os mercados locais estarão bem. Teremos uma certa volatilidade como no ano passado, mas a região se manterá em bom estado.

Quais estratégias você recomendaria às empresas que pretendem buscar financiamento externo? Fonseca, da Odebrecht É importante que as empresas estejam preparadas e atentas às janelas de oportunidade. Com a alta volatilidade do mercado, a recomendação é estar com as demonstrações financeiras em dia para garantir agilidade. Outro ponto é ter contato periódico com investidores, já que isso permite avançar etapas no processo de emissão, sem a necessidade de roadshows. Ferrez, da JSL As empresas buscam preservar seu capital, alocando recursos em operações que tenham rentabilidade próxima de zero. Elas perceberão que, em algum momento, deverão colocar esse capital para trabalhar e, diante do cenário atual, o mercado acionário latino-americano é uma boa opção. Meirelles, da Stefanini O financiamento externo estará atrativo para as empresas sadias financeiramente e em crescimento. A ajuda de bancos de fomento locais e internacionais deve ser decisiva. Essas instituições estão vivendo momentos bem difíceis na Europa, e não muito bons nos EUA, o que nos deixa em posição privilegiada.

Sanjines, da Femsa Embora as medidas econômicas globais tenham se traduzido em uma diminuição na pressão de alta das taxas de financiamento interbancário, o cenário acarreta alguns riscos que devem ser avaliados de acordo com o desempenho e as exigências de cada instituição financeira. Cuartas, do Grupo Sura Os mercados locais são uma excelente opção para as empresas obterem financiamento a baixo custo. Poderíamos pensar também na emissão de bônus em mercados latino-americanos, recomendando sempre taxas fixas e coberturas, tendo em vista as variações na taxa de câmbio. Wainer, da Embotelladora Andina Deve-se aproveitar para tomar dívidas nos momentos em que os mercados estiverem mais calmos. Se uma empresa sabe que precisará de financiamento externo para sua gestão no ano, é melhor que levante os fundos durante os primeiros meses. Mas pode não ser muito conveniente emitir dívida a prazos muito longos, já que, no médio prazo, a situação deve se normalizar e, portanto, as taxas devem baixar mais. Esparragoza, do Grupo Bolívar Os bancos centrais dos países industrializados – FED [EUA], BCE [União Europeia], BOE [Reino Unido] e BOJ [Japão] – mantêm uma política monetária expansiva, o que se traduziu em importantes volumes de liquidez e baixas taxas de juros. Além disso, as autoridades monetárias indicam que essas políticas se manterão por períodos relativamente prolongados. Assim, é um bom momento para o investimento na dívida de mercados internacionais. Para as economias que já tinham um grau de investimento ou que o adquiriram recentemente, o endividamento externo continua sendo uma estratégia adequada. Levando em conta que, desde o final do ano passado, os spreads da dívida soberana sobre os bônus do tesouro voltaram a níveis muito baixos, o endividamento com base em taxas fixas é provavelmente uma ótima opção. A emissão de bônus é especialmente atraente para as empresas que, por seu tamanho, não podem fazê-lo. Embora, como resultado da redução das taxas de juros domésticas, o crédito externo comece a ser menos rentável em outros países da região, na Colômbia é cada vez mais econômico, na medida em que o Banco da República continua incrementando a taxa de política monetária. O país atravessa também uma expansão do setor minerador que, ao fornecer os dólares necessários para a economia, reduz o risco cambial.


ESPECIAL Finanças

Moreno, da América Móvil As empresas da América Latina jamais tiveram financiamentos nos prazos que podem ser conseguidos nos dias de hoje graças à estabilidade macroeconômica. A região tem um grau de investimento inédito, e isso nos abre portas para inúmeros financiamentos de grande porte. Com essa capacidade, as empresas podem conseguir prazos de cinco ou seis anos sem problemas, e até maiores, de até 30 anos, a taxas historicamente baixas.

Cuartas, do Grupo Sura O ano é de consolidação das recentes aquisições, mas continuaremos atentos às diferentes oportunidades de negócios que possam surgir.

Com baixas taxas internacionais de juros, quais pré-requisitos devem ser cumpridos para financiar os aumentos de capital e da dívida?

Esparragoza, do Grupo Bolívar As emissões de capital estão sendo facilitadas nos países emergentes, por motivos externos e internos. Entre eles, destaca-se o crescimento econômico que gerou maior capacidade de economia nos lares e o surgimento de um novo perfil de consumo. Além disso, existe muito apetite por parte dos estrangeiros em investimentos de portfólio.

Ferrez, diretor da JSL A questão da credibilidade é essencial. Por essa razão, o nível de transparência na comunicação da empresa com o mercado é um fator importantíssimo. Meirelles, da Stefanini O mercado de capitais ainda é muito sujeito a humores e efeitos de manada, que nem sempre são explicáveis. Nesse sentido, até pode ajudar a América Latina, pois assim como a BM&FBovespa vem retornando a patamares de meses atrás, outras bolsas da região também estão em fase de recuperação. Está se consolidando a ideia de que nossas economias são sólidas, com baixas dívidas públicas e déficits fiscais (quando comparadas a outros países, notadamente da Europa). Isso aumenta o otimismo, proporcionando maior fluxo financeiro que, por sua vez, permite movimentos de IPO, aumentos de capital e eventualmente de dívidas externas. Sanjines, da Femsa As medidas econômicas globais se traduzem em uma diminuição na pressão de alta nas taxas de financiamento interbancário; portanto, o cenário acarreta riscos que devem ser avaliados conforme o desempenho e as exigências de cada projeto ou instituição.

Moreno, da América Móvil Acredito que, independentemente das taxas, há uma estrutura de capital mínima necessária e, no caso da América Móvil, é fundamental ter uma boa base de capital. Isso é algo que nos permite navegar por águas turbulentas, como vimos nos últimos anos, sem que tenhamos maiores problemas para nossos negócios. Ter um nível de alavancagem adequado que corresponda a seus fluxos de operação é fundamental.

Qual será o principal tipo de investimento que beneficiará sua empresa neste ano? Fonseca, da Odebrecht Como os investimentos da Odebrecht estão concentrados em equipamentos para construção, geralmente, as fontes utilizadas são as agências multilaterais que financiam equipamentos importados ou o Finame [linha de crédito do BNDES], que financia no longo prazo a compra de equipamentos nacionais.

Fotos: Shutterstock

Fonseca, da Odebrecht Percebe-se que o primeiro critério analisado pelo investidor é a qualidade do crédito e o rendimento dos papéis. O rating e o nível de alavancagem baixo também são requisitos fundamentais a serem avaliados, já que trazem uma percepção de que a companhia atende aos critérios de rigidez financeira. O compromisso com a transparência é sempre um ponto crucial para o investidor.

Wainer, da Embotelladora Andina Os spreads para que empresas chilenas possam emitir no exterior aumentaram nos últimos meses. Portanto, não é tão evidente que estamos em um cenário no qual a melhor opção seja financiar-se por meio de endividamento. É preciso ver caso a caso.


Ferrez, da JSL Devemos continuar buscando alternativas interessantes no mercado – como foi o caso da compra da Rodoviário Schio [especializada na movimentação de cargas com temperatura controlada, como alimentos, produtos químicos e de higiene e limpeza] em novembro de 2011. Para manter nossa liquidez nessa operação, buscamos uma linha específica de crédito, sem usar nosso caixa. Meirelles, da Stefanini A maior fonte será o próprio crescimento orgânico, mas também contamos com eventuais financiamentos para aquisições. Sanjines, da Femsa Nossa previsão de investimentos em ativo fixo em 2012 é de aproximadamente 14 bilhões de pesos mexicanos [cerca de US$ 1,1 bilhão] para o total de nossas operações. Nossa capacidade de geração de fluxo deve nos permitir financiar esses investimentos quase inteiramente com nossos próprios recursos. Cuartas, do Grupo Sura As emissões de dívida a taxa fixa podem representar uma ótima opção neste momento, dada a solidez da economia, as projeções de crescimento e a estabilidade financeira, que tornam possível obter taxas bastante atraentes. Wainer, da Embotelladora Andina Nosso plano de investimentos, que é de aproximadamente US$ 230 milhões, será financiado principalmente por meio da nossa própria geração de caixa. Esparragoza, do Grupo Bolívar Recentemente, anunciamos a assinatura do acordo com o HSBC para a compra da operação que ele tem na América Central. A negociação foi em torno de US$ 801 milhões e esperamos que se concretize no segundo semestre. Para o financiamento dessa ope-

ração, aproveitaremos os recursos de uma emissão de ações no mercado local, realizada no final do ano passado por cerca de US$ 400 milhões, e recursos que se encontram no caixa do banco. Temos ainda plano de fazer uma emissão de bônus no mercado internacional, que poderia ser utilizada nesse investimento. Moreno, da América Móvil Temos acesso a muitos mercados. Começamos o ano com um investimento em yuan. Somos o primeiro emissor latino-americano a ter uma emissão na China. Agora precisamos definir os próximos passos, mas sinto que as taxas ficarão nesses níveis ou até mais baixas e haverá possibilidades de fazer coisas no curto prazo em vários mercados.


ESPECIAL Finanças

Quais são os principais focos de risco para a administração financeira neste ano? Como é possível se preparar para eles? Fonseca, da Odebrecht Os principais focos de risco são a volatilidade do mercado de capitais e a variação cambial em países onde operamos. A tendência é de que as empresas reforcem seus caixas e tornem-se mais líquidas. A falta de capacidade dos bancos europeus para financiamento em prazos mais longos também acarreta uma mudança significativa no cenário econômico. Ferrez, da JSL Em um cenário externo marcado por certa volatilidade, é necessário se proteger – como na questão da cotação do dólar. Meirelles, da Stefanini No caso brasileiro, os maiores riscos são eventuais mudanças no âmbito regulatório. A forma como o governo brasileiro está enfrentando a crise internacional demonstra que, se não for este o melhor caminho, pelo menos não está atrapalhando a economia. Sanjines, da Femsa No mundo dos negócios, os riscos são constantes. Por esta razão, seguiremos operando com prudência.

Wainer, da Embotelladora Andina O maior risco no médio prazo é a volatilidade no preço das matérias-primas e uma eventual depreciação das moedas dos países nos quais temos operações. Por outro lado, em um cenário de depreciação das moedas de Chile, Argentina e Brasil, existe um efeito negativo sobre nossos custos denominados em dólar, o que tem um impacto em nossos resultados. Tanto a volatilidade do preço das matérias-primas quanto dos tipos de câmbio são gerenciados por meio de uma boa política de coberturas. Esparragoza, do Grupo Bolívar O risco que provavelmente ocupa uma posição de destaque é a volatilidade na taxa de câmbio. É previsível que, em consequência da expansão monetária na Europa, vivamos uma turbulência significativa na cotação do euro durante este ano. Moreno, da América Móvil O principal risco continua sendo a Europa, que tem um problema de dívida pela frente. Isso terá consequências políticas e nos mercados financeiros, gerando volatilidade na região, embora na América Latina estejamos bem posicionados. Da mesma forma, poderemos ser atingidos por ondas das tormentas de outros lugares, e por isso devemos ser bastante conservadores nas posições cambiais adotadas na América Latina.

Fotos: Shutterstock

Cuartas, do Grupo Sura Seria muito importante que fossem feitas algumas mudanças regulatórias que facilitassem as negociações das ações listadas no mercado europeu, para melhorar sua liquidez. Estamos bastante interessados na inclusão da Colômbia entre os países nos quais os fundos mexicanos possam investir. Por outro lado, acompanharemos com atenção as reformas dos sistemas previdenciários em vários países do continente.


OPINIÃO

Caio Megale é mestre em Economia pela PUC-Rio e economista do Itaú BBA (megalecaio@gmail.com)

Balanço das empresas e crescimento econômico

Ilustração: Stefan

Q

uando as bolsas despencaram em setembro do ano passado, muitos acreditaram que o mundo estava voltando para uma recessão. O Banco Central do Brasil, por exemplo, passou a incorporar em seu cenário base um choque negativo de intensidade equivalente a um quarto do choque de 2008. Se acontecesse, seria uma boa derrapada no crescimento mundial. No entanto, mais uma vez valeu a velha ironia segundo a qual a bolsa antecipa dez em cada cinco recessões. Passaram-se seis meses e o mundo continuou se expandindo, especialmente as economias emergentes e os EUA. Este fato é, até certo ponto, surpreendente, pois o mundo atualmente parece mais fragilizado do que em 2008. Na época, os governos tinham munição para uma política fiscal expansionista – aumento de gastos públicos e corte de impostos –, enquanto hoje o tamanho das dívidas públicas, especialmente nos países centrais, é um constrangimento. Havia espaço para cortes de juros, que no momento atual em muitos casos já estão perto de zero. E os consumidores americanos e europeus continuam quase tão endividados como antes, agora com o fantasma do desemprego elevado rondando suas vidas. Porém, há uma diferença muito importante. O setor corporativo, desta vez, conta com um balanço saudável, com elevada posição de caixa para fazer frente às incertezas econômicas e às intempéries dos mercados financeiros. Por que não era assim em 2008? Durante boa parte da década passada, havia um entendimento (um tanto pretensioso) entre economistas do mainstream de que a ciência macroeconômica estava dominada. Sabia-se

plenamente como domar os ciclos econômicos, permitindo ao mundo crescer com baixa volatilidade do PIB e estabilidade de preço. Havíamos atingido a “grande moderação”. A sensação de baixo risco permanente levou as empresas a tomarem riscos exagerados, endividando-se através de instrumentos financeiros sofisticados. Isso aconteceu em países desenvolvidos e emergentes, como Brasil, México e Coreia do Sul. A elevada alavancagem das empresas foi um acelerador importante da recessão do final da década passada. A situação é diferente agora. As empresas aproveitaram os anos de juros excepcionalmente baixos no mundo inteiro para trocar dívida cara por dívida barata, alongar o prazo e reforçar suas posições em ativos líquidos. O trauma de 2008 deixou as empresas bem mais conservadoras. É verdade que esta postura avessa ao risco acabou fazen-

do com que a recuperação econômica fosse mais lenta que o imaginado inicialmente. Mas torna a retomada mais sustentável. A segurança representada pelo excesso de liquidez no setor corporativo, no entanto, tem seu preço: os juros baixos que remuneram o caixa limitam o lucro. Aos poucos, o zelo vai dando lugar ao espírito animal dos empresários. Um sinal de que isso já está acontecendo é a aceleração do investimento estrangeiro direto no Brasil. Mesmo nos EUA, já são claros os sinais de reaceleração do investimento privado. Os balanços saudáveis das empresas são, portanto, um dos motores que devem empurrar a recuperação da economia global. Mas não devemos esperar grandes arrancadas. O mundo continua incerto, e o trauma de 2008 continua presente. Melhor que seja assim, a última coisa que queremos agora é uma nova bolha de crescimento, inflada por endividamento excessivo.

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FINANÇAS

Esteves: “Queremos ser líderes regionais para competir com bancos globais”

Um novo desbravador latino-americano Compra do controle do Celfin, do Chile, consolida o plano de André Esteves, do BTG Pactual, de tornar-se um líder regional e desbancar o Itaú Unibanco Paula Pacheco, de São Paulo

A

América Latina, quem diria, virou a moça mais desejada do baile no mundo financeiro. É no que acredita o principal banco de investimentos do Brasil: o BTG Pactual, de André Esteves. Conhecido por imprimir agressividade aos negócios, o banqueiro foi categórico no dia em que anunciou a conclusão do negócio com o banco chileno de investimentos Celfin Capital. “O sistema financeiro mundial está se dividindo em grupos locais. Queremos ser líderes regionais para competir com bancos globais”, afirmou o presidente e

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controlador do BTG Pactual durante a conferência de imprensa em São Paulo. Sócio da instituição financeira, Persio Arida defendeu o mesmo ponto de vista. “O objetivo é aproveitar o crescimento de renda e do mercado de capitais nos países dessa região”, afirmou. O plano de André Esteves é ambicioso. “A agenda mundial para a América Latina é muito relevante em termos de investimentos e o nosso plano, assim como o do Itaú, é sermos líderes regionais”, disse já como controlador do Celfin e de suas operações no Chile, na Colômbia e no Peru.

Passaram-se dez meses entre o primeiro contato feito com o banco chileno e a assinatura do contrato, como conta Roberto Sallouti, COO (do inglês chief operating officer) e sócio do BTG Pactual. O valor do negócio não é revelado pelos sócios, mas uma estimativa de mercado feita no início das negociações apontava para algo na casa dos US$ 600 milhões. O BTG pagará US$ 245 milhões com recursos do próprio caixa e passará às mãos dos acionistas do Celfin 2,4% do capital do banco brasileiro. Com esse acordo, o BTG Pactual passa a ter US$ 69 bilhões em ativos na área

Fotos: FolhaPress/Julio Bittencourt/Valor; Divulgação

Investimentos


Alejandro Montero (ao fundo, em pé), entre os sócios do banco chileno: oportunidades de crescimento para as empresas da região

de asset management (gerenciamento de ativos) e US$ 28 bilhões em wealth management (atuação com foco no cliente). O BTG Pactual ficou conhecido nos últimos anos pela participação crescente em vários negócios fora do mercado financeiro por meio da divisão de private equity (chamada de Merchant Banking) do grupo. Entre eles, a BR Pharma, a Rede D’Or, a WTorre e a Estapar. Além disso, o banco comprou, no ano passado, os ativos do banco PanAmericano, do Grupo Silvio Santos. Foi o BTG, por exemplo, que, também em 2011, intermediou a venda da Schincariol para o grupo japonês Kirin. Tantos movimentos levaram André Esteves a ser apontado como um dos homens de negócios mais influentes do Brasil. Segundo a revista americana Forbes, Esteves é o 13º homem mais rico do país. Depois de ganhar musculatura, o mercado dá como certo que o próximo passo será a abertura de capital. BTG e Celfin têm um perfil muito semelhante, o que deve facilitar a expansão dos negócios. Ambos demonstram muito apetite pelo crescimento. A diferença fundamental está no tamanho do grupo. O banco é líder em asset management no Chile, com cerca de US$ 4,6 bilhões de ativos sob sua gestão, e aproximadamente US$ 5,9 bilhões distribuídos em fundos de pensão, fundos exclusivos e fundos de private equity entre investidores institucionais do Chile, Peru e Colômbia. Apesar de manter a estrutura gerencial dos chilenos, o BTG vai carregar para es-

ses países produtos que ainda não são explorados pelo novo sócio. Para Alejandro Montero, gerente-geral e sócio do Celfin, a chegada do BTG dará ao grupo condições de captar melhor as oportunidades de negócios que podem surgir com investidores estrangeiros, particularmente os asiáticos. “Houve um aumento significativo do fluxo de investimentos da Ásia para a América Latina nos últimos anos e isso vai se manter em crescimento. Nós estamos no melhor momento para oferecer a esses investidores um menu completo da América Latina. Esse é um dos ganhos que vejo [com a fusão]. Nós podemos ser uma ponte entre esses fundos e a região”, explica. Além disso, segundo Montero, há oportunidades de crescimento entre as empresas latino-americanas, que têm expandido seus negócios na região. “Muitas delas querem diversificar e ir além das fronteiras”, explica.

US$ 69

bilhões é o total de ativos do BTG na área de asset depois de ter fechado negócio com o Celfin Capital

Roberto Sallouti, que não gosta de ser fotografado, recebeu a AméricaEconomia na sede do banco, localizada na zona sul de São Paulo. Ele detalhou como foi a aproximação com o Celfin e falou sobre seu otimismo em relação ao potencial latino-americano. Acompanhe, a seguir, a entrevista. AméricaEconomia – O que levou o BTG a fechar negócio com o Celfin? Roberto Sallouti – No final de 2010, com a consolidação de nossa liderança no Brasil e a conclusão de nosso private placement [venda de ações, títulos de dívida e outras aplicações diretamente a investidores pessoa jurídica], o que nos deu um grande reforço de capital e, ao mesmo tempo, um aprofundamento da nossa rede global de relacionamentos, achamos que era uma boa oportunidade para expandir nossa franquia para a América Latina. Ao mesmo tempo, acompanhamos sempre o que estava acontecendo na região andina. Colômbia e Peru passam por um processo muito similar ao vivido pelo Brasil 20 anos atrás. E o Chile é o Brasil que já se consolidou e está dez anos à frente, mas segue crescendo 4,5%, 5% ao ano. Além disso, cada vez mais vemos o movimento das empresas latinas fazendo negócios na região. E cada vez mais o mundo estava olhando para a América Latina como uma região. Unimos tudo isso e resolvemos expandir a franquia do banco. Conversamos com muita gente, e a Celfin se destacou pelo fato de a cultura deles ser muito semelhante a nossa. A cultura empresarial é o nosso principal diferencial, então precisávamos de uma empresa que se encaixasse para que a integração fosse suave, e encontramos isso na Celfin.

Março, 2012 AméricaEconomia 45


FINANÇAS

Investimentos

AE – No Chile fala-se em fusão. No Brasil, em aquisição. Qual é a estrutura do negócio? Sallouti – Na verdade, é uma tecnicidade. Nós encaramos como uma fusão, porque esperamos que eles continuem a tocar o negócio. Eles serão nossos sócios e nós temos uma cultura de parceria muito forte. Queremos ser o banco latino local em todos os países, com uma gestão local, com os relacionamentos locais e o conhecimento local; tudo isso unido na América Latina e como um bloco da região para o mundo. Nós não queremos ser um banco do Brasil com sede no Chile, queremos ser um banco multilatino, onde há sócios locais chilenos, com relacionamentos locais, conhecimento local e que são sócios do mesmo negócio. Conseguimos fazer isso aqui no Brasil em vários negócios. E por meio dos nossos negócios em asset management, conseguimos fazer isso fora. Nossos sócios ingleses, suíços, escoceses, dinamarqueses e americanos se sentem sócios da mesma coisa. É o mesmo que nós queremos fazer para a América Latina. AE – Como será a expansão do negócio, com a bandeira Celfin ou BTG? Sallouti – No Chile, será mantida a bandeira Celfin. Vamos fazer os estudos necessários para ver o que fazer com a marca no futuro. No Peru e na Colômbia, nós devemos adotar a bandeira BTG Pactual, assim que o negócio for aprovado pelo Banco Central. AE – Os aspectos políticos dos países da região influenciam a tomada de decisão sobre a expansão dos negócios? Sallouti – Não, pelo contrário. O que há nesses quatro países – Brasil, Colômbia, Chile e Peru – é o consenso político de um modelo de desenvolvimento econômico, seja com o ex-presidente Lula e o teste pelo qual o Brasil passou, com Humala agora no Peru, com o Chile e a troca de poder, ou com a Colômbia, que hoje convive com as Farc [Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia] em um nível completamente diferen-

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Com o negócio, o BTG vai desembarcar no centro financeiro de Bogotá

te. A Colômbia só dominava metade do território, agora ganhou uma fronteira a ser explorada, rica em agricultura, minério e petróleo. Vai ser um boom, na nossa visão, estamos muito otimistas com esses países. AE – Brasil, Chile, Peru e Colômbia já são suficientes para dar ao BTG a liderança na região? Sallouti – Se forem somadas as credenciais do BTG Pactual e do Celfin, chega-se a essa liderança. Contratamos o Gordon Lee, que era o diretor do UBS, um mexicano, para liderar nosso esforço de prospecção no México também. E é muito provável que abramos um escritório

de representação na Argentina nos próximos 12 meses. Nunca direi nunca sobre aquisição. Mesmo porque, se existir uma fusão ou aquisição que faça sentido estratégico, e principalmente cultural, nós a faremos. Mas fazer uma aquisição só para falar que foi fincada uma bandeira em certo lugar, nisso não acreditamos. AE – Existe algum tipo de resistência nos países latino-americanos às instituições financeiras estrangeiras? Sallouti – A América Latina como um todo é como um continente aberto ao investidor estrangeiro e às empresas estrangeiras. Tanto que vemos empresas mexicanas no Brasil, empresas

O Celfin, assim como o BTG, é conhecido pelo perfil agressivo de gestão


Fotos: Divulgação; Shutterstock

e a própria regulação bancária que tem ocorrido na Europa e nos Estados Unidos, terão, cada vez mais, de se concentrar em seus mercados locais e ter nichos de atuação global. Isso abre espaço para os bancos regionais. É possível ver esse fenômeno na América Latina, no Leste Europeu, na Ásia.

O BTG já mira a Argentina. Acima, a Casa Rosada, sede do governo

colombianas e chilenas no Brasil. Há, no entanto, menos empresas brasileiras nesses países. Obviamente, um certo regionalismo sempre acaba existindo. Mas temos sentido nesse nosso projeto o apoio tanto do setor de governo desses países quanto dos empresários. Todos estão vendo essa integração latino-americana, que sempre foi um sonho, tornar-se uma realidade. A cada dia, estamos perdendo mais nosso complexo de inferioridade. Em setembro passado, fizemos uma visita ao Panamá e um dos nossos sócios do private placement [colocação privada], a família Motta [uma das maiores fortunas do país], nos ofereceu um jantar com vários clientes. Na ocasião, um dos integrantes da família falou que ‘nós, que sempre olhamos para o norte como um por-

to seguro, agora estamos só olhando para o sul’. Olhar para o sul hoje em dia é um porto seguro e há muitas oportunidades de investimento. AE – Ou seja, existe demanda pela América Latina? Sallouti – Existe, sim. Entre os nossos clientes chineses, temos três mandatos para a América Latina – um no Chile e dois no Brasil. Há muito interesse dos nossos clientes pela Colômbia, pelo Chile. Este ano, nós já assessoramos uma aquisição no Chile e também uma operação de mercado de capitais. Há demanda tanto dos investidores regionais quanto por parte dos investidores globais. A demanda por bancos regionais é cada vez maior. Esses bancos globais pré-2008, dada a crise daquele ano

No topo da lista BTG Pactual liderou a coordenação das fusões e aquisições em 2011

Instituição

financeira transações (US$ milhões) operações

1

BTG Pactual Itaú BBA 3 Goldman Sachs 4 Bank of America Merril Lynch 5 Bradesco 6 Rothschild 7 Barclays Capital 8 Goldman Sachs 9 Citi 10 Santander 2

Fonte: Dealogic/BTG Pactual

Volume de

Total de

22.758,0 47 21.391,5 38 16.785,6 19 15.562,0 15 14.864,2 10 12.700,8 28 12.001,1 7 11.864,1 22 11.729,0 15 10.002,8 9

AE – A integração regional no mercado de capitais ainda é muito tímida. O que falta para o Brasil olhar para o mercado de capitais latino-americano? Sallouti – A integração empresarial vai acontecer antes da integração de mercados; por razões políticas e até protecionistas e, por que não, regulatórias, isso virá a reboque depois. Há alguns esforços, como a Brain [associação que busca articular a consolidação do Brasil como um polo internacional de investimentos e negócios, com foco na América Latina], mas é uma batalha morro acima. Até há um esforço da BM&FBovespa, que está na Brain, mas também há resistência. Será inevitável e, infelizmente, mais lento do que nós gostaríamos. AE – A América Latina é prioridade para o BTG? Sallouti – Sem dúvida. Somos um banco de investimentos asset management focado na América Latina. AE – O que pode dar errado? Sallouti – Só mesmo se houvesse uma

mudança sobre o atual consenso político, mas me parece difícil. Os fundamentos econômicos conspiram a favor. Precisaria haver alguma coisa que nós não vemos no horizonte neste momento para mudar isso. Mas provavelmente estamos no melhor momento nos últimos 500 anos na América Latina, como muitos acreditam. Esta é uma oportunidade secular. Para o Brasil, a história não é de commodities, porque hoje a história é mercado interno, é a formação da classe média. Com a colaboração de Juan Pablo Rioseco, de Santiago.

Janeiro, 2012

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FINANÇAS

MERCADO DE AçÕES

Com um pé dentro da empresa Possibilidade de votar remotamente pode estimular a participação de acionistas minoritários em assembleias

N

em o crescente desenvolvimento do mercado de ações no Brasil tem conseguido mudar a pífia participação dos acionistas minoritários nas assembleias das companhias. Oportunidade rara para a troca de informações entre os investidores e a direção das empresas, esses eventos atraem um público

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reduzido porque ocorrem obrigatoriamente na sede das companhias – o que, para o acionista, significa investir tempo e dinheiro. Mesmo com esta falta de tradição, as assembleias estão prestes a ganhar um novo estímulo. Neste ano, começa a valer o voto eletrônico dos acionistas, feito remotamente durante a assembleia. O texto, que mu-

da a Lei das Sociedades por Ações, ainda será regulamentado pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários), mas já permite a adesão das empresas com ações listadas na bolsa. Até agora, o acionista podia enviar o voto eletronicamente para ser representado por procuração nas assembleias. Isso significa que um advogado ou ad-

Fotos: Shutterstock; Divulgação

Natalia Gómez, de São Paulo


No ano passado, os acionistas da SulAmérica conheceram a sede da seguradora, no Rio de Janeiro

ministrador da companhia precisava participar presencialmente do evento em nome do acionista. Caso contratasse um advogado para fazer o serviço, o acionista poderia arcar com honorários de R$ 3 mil a R$ 5 mil, custo considerado elevado, especialmente para pessoas físicas. A outra opção é usar ferramentas oferecidas por consultorias especializadas, como a da MZ Consult. Chamado de Assembleia Online, o serviço da consultoria é pago pelas companhias e não gera custos para o acionista. Até o momento, a MZ conta com 12 empresas listadas neste serviço. O sócio da gestora de recursos Polo Capital, Claudio Andrade, conta que, hoje, a participação em assembleias é custosa e difícil, pois requer não apenas a presença de um representante ou do próprio minoritário, mas também uma extensa documentação. “Mesmo os fundos de investimento que possuem maior estrutura têm custos expressivos para exercer seu voto e ter representatividade em assembleias”, afirma Andrade. Com a nova regra, o voto poderá ser

exercido remotamente durante o encontro, o que deve reduzir os custos. Na visão de especialistas, a mudança pode estimular a participação dos acionistas que hoje se ausentam das reuniões. “Qualquer ferramenta que facilite o acesso e o debate terá um efeito importante, em especial uma ferramenta eletrônica”, afirma Renato Chaves, especialista em governança corporativa. O acionista Eduardo Siufi, 26 anos, é um dos que estão otimistas com a iniciativa. Dono de ações de seis companhias, o consultor de negócios diz que muitas vezes não tem condições de participar de assembleias por falta de tempo ou pela distância. Mas isso seria diferente se

o investidor pudesse acessar os encontros via internet. “Eu certamente seria um adepto em todas as empresas que estou comprando”, afirma. Até o momento, nenhuma das companhias em que Siufi é acionista divulgou informações sobre o assunto. Além de despertar otimismo nos agentes do mercado, a novidade também tem provocado muitas dúvidas sobre como será adotado o voto remoto na prática. Um dos principais questionamentos é se o voto à distância será uma ferramenta obrigatória para as empresas, ou se cada uma poderá optar por oferecer ou não este serviço. A lei informa que, nas companhias abertas, o acionista poderá participar e votar remotamente em assembleia geral, nos termos da regulamentação da CVM, mas existem divergências sobre a questão da obrigatoriedade. O advogado Thiago Giantomassi, sócio da área de mercado de capitais do escritório Demarest, acredita que o voto remoto é opcional, não uma obrigação. Segundo ele, as companhias têm feito consultas ao escritório sobre a lei, mas devem aguardar a regulamentação da CVM antes de tomar qualquer decisão. “Como existe pouca informação, Para melhorar o relacionamento, a Natura levou os minoritários até sua sede, em Cajamar (SP), e vai repetir a dose

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FINANÇAS

MERCADO DE AçÕES

Tereza, da MZ Consult: troca de opiniões com a CVM

A nova ferramenta, segundo Chaves, do Demarest, facilita o debate

Fraca participação dos minoritários é cultural, diz Giantomassi

as empresas vão esperar uma posição da autarquia”, afirma. O órgão que regula o mercado de capitais informou que conta com um grupo de trabalho dedicado ao assunto, produzindo pesquisas sobre as experiências internacionais e discutindo a questão internamente. Apesar de ainda não ter regulamentado o tema, a CVM informou que isso não é um impedimento para a realização de uma assembleia que faça uso do voto remoto. “Hoje, caso uma companhia tenha interesse em realizar uma assembleia com o uso de voto não presencial, a Superintendência de Relações com Empresas da CVM analisará a questão da mesma maneira que procede com as demais assembleias, buscando verificar se os requisitos legais estão sendo cumpridos”, informou. Outras dúvidas do mercado recaem sobre o funcionamento da assembleia com participação à distância, como a possibilidade de interação do acionista que quiser fazer perguntas ou sugestões, além da necessidade de tradução para os investidores estrangeiros. O mercado também questiona como lidar com uma eventual queda na conexão de internet. Andrade, da Polo Capital, defende que seja criado um sistema flexível para que minoritários possam apresentar considerações aos itens de pauta. “Por exemplo, facilitar o pedido de voto múltiplo para

conselheiros ou que minoritários possam se unir a outros em propostas.” O voto múltiplo é uma forma de os investidores se organizarem em um grupo para a eleição do conselho de administração, para conseguir um assento. Segundo ele, muitas companhias não facilitam o recebimento de manifestações ou votos contrários à pauta da assembleia, e estes ficam escondidos, pois as atas são redigidas de forma sumária.

A presidente da MZ Consult, Tereza Kaneta, conta que a consultoria foi chamada pela CVM em dezembro de 2011 para conversar sobre o tema. A executiva também participou de um evento promovido pela BM&FBovespa sobre o assunto no final do ano passado e diz que não houve consenso sobre essas questões entre os advogados, pois a palavra final ainda não foi dada pela autarquia. Hoje, a MZ já tem uma plataforma pronta pa-

50 AméricaEconomia Março, 2012

Portal dos minoritários Os minoritários que procuram fontes de informação contam com um site especializado desde o final do ano passado. O Transparência e Governança (www. transparenciaegovernanca.com.br) foi lançado em setembro de 2011 com o objetivo de ser um fórum independente de debates que possam fomentar a melhoria dos direitos dos acionistas minoritários e a aplicação de boas práticas em governança corporativa no Brasil. Segundo Claudio Andrade, um dos sócios da Polo Capital, que está à frente do projeto, o site tem obtido boa repercussão entre investidores minoritários. O caso da Laep, empresa que adquiriu os ativos da Parmalat, atraiu a atenção e é o caso mais comentado até o momento, tendo sido tema de aproxi-

madamente 20% das participações dos membros ativos no site. Na sequência, vieram os casos da Oi, por causa de seu processo de reestruturação, e a venda da Ipiranga. Os cases sobre essas duas companhias atraíram conjuntamente cerca de 14% dos usuários ativos do site. Na visão de Andrade, o mercado brasileiro está evoluindo para se tornar um mercado bem mais ativo e mais participativo, mas é preciso haver iniciativas para educar esses investidores e garantir que exerçam seus direitos. “A grande maioria das companhias é controlada e alguns acionistas controladores não enxergam os minoritários como sócios, apenas como financiadores”, afirma.


Fotos: Divulgação

Eventos são novidade

Siufi está otimista com a possibilidade do voto remoto

ra funcionar com o voto à distância, batizada de Voto Fácil. Tantas dúvidas devem inibir o uso do voto remoto na temporada de assembleias deste ano, que vai até abril. “Não acredito que a virtualização ocorrerá em 2012, porque as empresas ainda não têm tanta desenvoltura com o tema”, afirma o advogado Daniel Alves Ferreira, do escritório Mesquita Pereira, Marcelino, Almeida Esteves Advogados, cuja equipe participa de mais de 400 assembleias ao ano para representar seus clientes. Uma das empresas mais proativas em relação a suas assembleias (leia mais ao lado), a Natura não pretende adotar o voto à distância ainda este ano. Segundo o diretor de Governança Corporativa da empresa, Moacir Salzstein, a nova proposta é muito positiva, pois tem como objetivo aproximar e facilitar a relação com acionistas minoritários. “Porém, ainda existem alguns pontos que precisam ser esclarecidos e, por cuidado, não traremos a opção do voto eletrônico este ano”, afirma. Uma vez que as dúvidas sejam sanadas, ainda resta saber até que ponto o voto à distância será suficiente para atrair a participação dos investidores. Os especialistas lembram que este tipo de envolvimento não é comum na cultura brasileira, e o quórum costuma ser baixo até mesmo em reuniões de condomínio.

Apesar de o Brasil estar distante do modelo de assembleias de empresas dos Estados Unidos, onde esses eventos chegam a reunir multidões em estádios de futebol, algumas companhias brasileiras estão começando a dar maior atenção a suas reuniões com acionistas. Dois exemplos que se destacam neste quesito são a Natura e a SulAmérica. No ano passado, a Natura enviou convites personalizados a seus acionistas e ofereceu ônibus fretados que levaram os investidores à sua sede em Cajamar (SP). Cerca de 200 pessoas compareceram ao evento, no qual fizeram perguntas e sugestões à diretoria da empresa. Após acompanhar a assembleia e participar de um brunch, os investidores assistiram a um vídeo sobre o trabalho da Natura com as comunidades do Norte do país e experimentaram a nova linha de sabonetes da marca. Participaram de uma sessão de perguntas ao presidente e aos fundadores da Natura, Luiz Seabra, Pedro Passos e Guilherme Leal. O diretor de Governança Corporativa da Natura, Moacir Salzstein, afirma que, este ano, a empresa fará um evento nos mesmos moldes, agendado para 13 de abril. “Desde 2010, abrimos o Espaço Natura a nossos acionistas, em um dia aberto não apenas para votação, mas para diálogo, troca de experiências e entendimento maior de nossa empresa”, diz. Um dos acionistas que participaram do evento foi Eduardo Siufi, que tem pa-

“Existe a visão de que uma andorinha só não faz verão, e isso é uma questão cultural”, diz Renato Chaves. O advogado do Demarest também tem dúvidas de que a redução de custos será suficiente para garantir uma participação expressiva no curto prazo. Do lado das empresas, a expectativa é que aquelas com capital pulverizado, sem controle definido, sejam mais rápidas para aderir ao novo sistema, pois

Salstein: “Desde 2010, abrimos o Espaço Natura para os acionistas” péis da Natura desde 2010. Ele conta que se surpreendeu ao receber um convite para a assembleia por meio de uma carta nominal, que depois foi confirmada por um telefonema da equipe de relações com investidores. “Durante o evento, tive a sensação de também ser dono da empresa”, conta, destacando que tanto grandes quanto pequenos investidores foram tratados da mesma forma pela Natura. Outra companhia que está trabalhando para se aproximar dos acionistas é a SulAmérica. No ano passado, a seguradora promoveu pela primeira vez um evento para atrair parte de sua base de 1,4 mil acionistas na modalidade pessoa física. Depois da assembleia, que ocorreu na sede da empresa no Rio de Janeiro, os acionistas fizeram um tour pelas instalações.

quando a empresa tem controle difuso, a participação de outros acionistas é maior. Na prática, as companhias que têm controle acionário definido geralmente fazem propostas na assembleia que já foram aprovadas internamente. Seja qual for a opção do mercado, o fato é que, a partir de agora, existe mais uma alternativa disponível para empresas que desejam incentivar a participação de seus acionistas minoritários. Março, 2012 AméricaEconomia 51




CAPA

Medicamentos

Um Brasil doente Os consumidores pagam a conta, enquanto os laboratórios farmacêuticos disputam um mercado de R$ 40 bilhões Graziele Dal-Bó, de São Paulo

E

m um país no qual, segundo estimativas, 20% da população não tem acesso a medicamentos, em que o serviço público não consegue dar conta da demanda e os gastos da população mais pobre com remédios abocanham 12% da renda das famílias, de acordo com o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), ainda há muito a ser conquistado pelos consumidores – sufocados pela disputa en-

54 AméricaEconomia Março, 2012

tre laboratórios de remédios de referência e de genéricos. Um dos avanços pode vir no fim deste mês, quando se encerra o prazo da consulta pública aberta pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) que define novas regras para os medicamentos de referência e promete facilitar a vida dos laboratórios de genéricos. Com essa medida, a expectativa é aumentar o acesso a medicamentos e reduzir a conta, tanto para o governo – principal cliente

dos laboratórios farmacêuticos – quanto para o consumidor. Na prática, a iniciativa da Anvisa, entre outros pontos, vai obrigar os fabricantes de medicamentos de referência a disponibilizarem amostras desses produtos para a realização dos testes de bioequivalência, necessários para provar a igualdade entre o produto genérico e o de marca. A consulta pública deve beneficiar principalmente os medicamentos que não são vendidos nas farmácias,


Foto: Marlene Bergamo/Folhapress

mas são usados exclusivamente em hospitais, segmento que movimenta cerca de R$ 3 bilhões por ano. Do outro lado do balcão, a promessa é oferecer ao consumidor um mix maior dos genéricos, que são, em média, 52% mais baratos que seus pares de marca. “As empresas levam até seis meses para ter acesso ao medicamento de referência oferecido nos hospitais para fazer o teste. Quando esses laboratórios descobrem que o comprador é um desenvolvedor de genéricos, fazem de tudo para dificultar a comercialização do produto. A desculpa mais comum é a falta de estoque para suprir a demanda”, reclama Odnir Finotti, presidente da PróGenéricos (Associação Brasileira das Indústrias de Medicamentos Genéricos). Partiu da entidade, que reúne grande parte das empresas do setor, o pedido para que o governo interviesse nesse diálogo. Do primeiro contato até a finalização do texto da consulta pela Anvisa, foram três anos de muita pressão em Brasília. Mas este não é um jogo em que de um lado está o mocinho e, do outro, o bandido. Protagonistas e coadjuvantes têm o mesmo objetivo: encontrar maneiras de engordar o caixa. Somente no Brasil, o setor farmacêutico movimentou cerca de R$ 40 bilhões entre janeiro e novembro de 2011, segundo os últimos dados disponíveis do instituto de pesquisas IMS Health. E ninguém quer perder lugar nessa locomotiva. Documentos obtidos pelo WikiLeaks no final de 2010 exemplificam como o jogo é pesado.

Memória Mais além do campo dos negócios, os genéricos chegaram às disputas políticas no Brasil. A entrada desses medicamentos no mercado nacional sempre foi, por exemplo, a bandeira do PSDB – a lei que os instituiu foi promulgada em 1999, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, quando José Serra era ministro da Saúde. Serra, aliás, utilizou-se disso em sua campanha para a presidência em 2002 e 2010. O PSDB chegou a colocar em seu site, durante o período eleitoral, um texto no qual sustentava que o

candidato apresentou a “Lei dos Genéricos”, e destacava a promessa do partido de continuar com a aposta nesse tipo de medicamento. O discurso irritou o PT, da então candidata Dilma Rousseff, que se apressou em reivindicar a paternidade dos genéricos para o ex-ministro do governo Itamar Franco, Jamil Haddad. Em meio à polêmica, Serra negou ter “inventado” esse tipo de remédio, disse que a ideia já existia e que apenas trabalhou para colocá-la em prática enquanto comandava o Ministério da Saúde.

Eles mostraram de que forma funcionava o lobby americano para proteger as patentes das empresas americanas no Brasil. Segundo o site, por meio de telegramas, os diplomatas atuavam para influenciar entidades brasileiras – em especial a CNI, a Confederação Nacional da Indústria – para evitar que a quebra de patentes de remédios para tratamento do vírus HIV se propagasse para outros medicamentos e produtos. Até hoje, a cada possibilidade de mudar as regras do jogo no Brasil, fabricantes de medicamentos genéricos e de referência mobilizam-se nos gabinetes em Brasília para defender seus interesses. Outro caminho para evitar perdas é o da Justiça. Fabricantes de produtos de marca têm recorrido cada vez mais aos tribunais para conter o avanço dos genéricos no país. “A única alternativa que eles têm é tentar prolongar o prazo de ex-

clusividade por meio de liminares”, diz Bruno Nogueira, analista da área farmacêutica da consultoria Lafis. Nos últimos anos, os fabricantes de medicamentos de referência vêm perdendo bilhões em todo o mundo com a quebra de patentes. A Pfizer, uma das mais afetadas, por exemplo, foi obrigada a deixar para trás uma receita de US$ 10 bilhões anuais ao perder a exclusividade sobre o Lípitor, indicado para controlar os níveis de colesterol. O caixa da americana também sofreu com a quebra da patente do Viagra, receitado para tratar a disfunção erétil, em 2010. Nos Estados Unidos, o derretimento dos lucros das fabricantes de medicamentos de marca veio acompanhado de denúncias de fraudes e pagamento de propina para os fiscais do governo. O maior laboratório farmacêutico da Grã-Bretanha, o GlaxoSmithKline, por

Fatia cada vez maior do bolo Participação dos genéricos no faturamento total do mercado farmacêutico brasileiro 2,67%

6,39%

8,97%

12,48%

15%

20,50%

2001

2003

2005

2007

2009

2011

Fontes: Anvisa; PróGenéricos

Março, 2012 AméricaEconomia 55


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Medicamentos

exemplo, terá de pagar US$ 3 bilhões aos EUA, segundo um acordo firmado em novembro do ano passado, para evitar ações criminais e civis resultantes de investigações do Departamento de Justiça do país. O governo acusou o GSK, como é conhecido o laboratório, de desenvolver e comercializar no país medicamentos não aprovados para determinados usos. A multa é uma das maiores da história da indústria farmacêutica. Em meio às discussões judiciais, o consumidor – como sempre – é o mais prejudicado. “O paciente fica refém do oligopólio das grandes empresas”, afirma Rosana Chiavassa, sócia do Chiavassa & Chiavassa, escritório especializado em direito do consumidor. Isso porque, enquanto gigantes do setor farmacêutico – tanto de um lado quanto de outro – debatem a posse de um fármaco, milhares de brasileiros têm de recorrer à Justiça para obter um direito básico: o acesso a tratamento para doenças graves. Os casos mais comuns envolvem o acesso a medicamentos contra o câncer, que chegam a custar R$ 40 mil. Segundo a advogada, esses processos podem durar até quatro anos – não é preciso ser especialista para saber que é tempo demais para quem luta diariamente contra a doença. “Se você conseguir uma liminar do juiz, e o processo for contra o Estado, em três meses você consegue o remédio; se for contra o plano de saúde, o prazo cai para uma semana”, diz Rosana. E, ao que parece, salvo algumas medidas pontuais, como a da Anvisa, não há muita preocupação em mudar o quadro. O deputado federal Darcísio Perondi (PMDB/RS), presidente da Frente Parlamentar da Saúde, por exemplo, afirmou à AméricaEconomia desconhecer a consulta pública da agência que deverá facilitar o acesso a medicamentos. Estratégia Como as questões no Judiciário servem apenas para postergar o uso exclusivo dos medicamentos de referência, as multinacionais têm outra estratégia para não perder mercado: investir nos pró56 AméricaEconomia Março, 2012

Proposta da Anvisa deve aumentar as opções de genéricos para o consumidor

prios concorrentes, a exemplo do que fez o grupo francês Sanofi-Aventis ao comprar a brasileira Medley por R$ 1,5 bilhão em 2009 e da própria Pfizer, ao desembolsar R$ 400 milhões para ficar com 40% da também brasileira Teuto. Um dos casos mais recentes foi a joint venture firmada entre a americana MSD (Merck & Co) e a Supera, empresa criada pelos laboratórios brasileiros Cristália e Eurofarma, este último com forte atuação no segmento de genéricos. Agregar ao próprio portfólio, por meio de aquisições, produtos cujas patentes expiraram é uma tendência que deve se manter nos próximos anos, segundo estudo da consultoria KPMG divulgado em meados de 2011. A pesquisa, intitulada “Pharmaceuticals executive survey: executives seek M&A to spur growth” (Pesquisa sobre a indústria farmacêutica: executivos buscam fusões e aquisições para estimular o crescimento do setor, em tradução livre), mostrou que a atividade de fusões

R$ 8,7

bilhões foi o faturamento dos genéricos em 2011 no Brasil, 41% a mais do que em 2010

e aquisições deve aquecer o setor nos próximos dois anos, estimulando o crescimento e ajudando a compensar as perdas da indústria com patentes, regulação e pressões para a redução de preços. Os números comprovam que o setor farmacêutico é um grande gerador de negócios. Foram 21 aquisições no Brasil em 2011, três a mais que em 2010. “O mercado farmacêutico hoje é muito diferente de cinco anos atrás. Não existe mais uma divisão clara entre empresas que fabricam medicamento genérico e companhias voltadas apenas ao de marca [referência]”, avalia Antônio Britto, presidente da Interfarma (Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa). Mas ainda há quem resista às mudanças, como a alemã Boehringer Ingelheim, fabricante de remédios como o Anador e o Buscopan. “Nosso foco é a pesquisa e o desenvolvimento”, afirma Sérgio Pacheco, responsável pela área de Acesso aos Medicamentos. Ele reconhece, no entanto, que o fim de uma patente pode significar uma queda de até 30% nas vendas do produto. Há três anos, por exemplo, a companhia não tem mais direitos exclusivos sobre o Perlutan, um antirretroviral injetável. Para compensar as perdas, a Boehringer investiu no fortalecimento da marca junto à classe médica e aos consumidores. Isso tem contribuído para uma receita crescente no Brasil. O país está entre os dez mais importantes para os negócios da alemã e fechou 2011 com faturamento de R$ 1 bi-


Fotos: AméricaEconomia; Divulgação

De janeiro a novembro de 2011, setor farmacêutico movimentou R$ 40 bi no Brasil

lhão, 15,1% a mais que em 2010. Para Nogueira, da Lafis, o fato de existirem fabricantes que resistem ao mercado de genéricos não significa que essas empresas estejam nadando contra a maré. “A descoberta de um medicamento resulta em lucros astronômicos durante duas décadas”, pondera. MUITO TEMPO Acelerar a entrada de medicamentos no mercado, principalmente aqueles destinados a tratamentos de alto custo e com poucas alternativas terapêuticas disponíveis, é uma consequência natural da aprovação da proposta. “As empresas [fabricantes de genéricos] reduzirão o tempo para o registro de um novo medicamento, pois não terão dificuldades no acesso aos produtos de referência pa-

ra teste. Esta definição é fundamental para toda a indústria de medicamentos no Brasil”, avalia Dirceu Barbano, diretor presidente da Anvisa. Resta saber se a agência está preparada para atender ao aumento da demanda. Isso porque, segundo a PróGenéricos, enquanto a regulamentação determina que o prazo para que um medicamento seja liberado pela Anvisa seja de 90 dias, na prática essa autorização chega a levar até 15 meses. Considerando o apetite com o qual as empresas entram no mercado brasileiro, a agência reguladora terá muito mais trabalho pela frente. De olho no crescimento que o setor vem apresentando no país, as fabricantes desse tipo de genéricos já falam em aumentar a produção para sustentar sua presença no segundo mercado onde as vendas de genéricos mais

avançam no mundo – o primeiro, como já era de se esperar, é a China. A Teuto é um exemplo disso. Com uma produção atual de 30 milhões de caixas por ano, o laboratório quer dobrar esse número até 2013. Neste caso, a resolução da Anvisa será crucial, segundo Marcelo Leite Henrique, presidente-executivo da Teuto. “Não produzimos ainda remédios contra o câncer, por exemplo. É um mercado no qual podemos entrar se conseguirmos comprar o [medicamento] de marca mais facilmente”, afirma. Para chegar a um total de 60 milhões de caixas no próximo ano, a Teuto destinará US$ 40 milhões à compra de equipamentos que serão instalados em seu parque fabril, na cidade de Anápolis (GO). Grande parte do investimento (70%) será financiada via BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) por meio de programas destinados ao Centro-Oeste. Os 30% restantes virão de recursos próprios. “Já temos uma área grande, com um milhão de metros quadrados de área total e 105 mil metros quadrados de área construída, portanto só teremos de aumentar o número de máquinas. O mercado cresceu muito nos últimos anos, e nós temos de acompanhar”, diz Henrique. A Teuto projeta um aumento de receita de 27% para 2012. No ano passado, o faturamento da empresa foi de R$ 450 milhões líquidos, 40% maior que o re-

Crescimento acelerado Evolução nas vendas de genéricos entre 2003 e 2011 no Brasil (em R$ bilhões) 10

8,7 6,2

5 0,948

1,3

1,7

2,3

2003

2004

2005

2006

2,9

3,6

4,5

0

2007

2008

2009

2010

2011

Fonte: IMS Health

Março, 2012 AméricaEconomia 57


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Medicamentos

Para Barbano, da Anvisa, a consulta deve acelerar o registro de remédios por parte das empresas

pela companhia, que comemora as mudanças propostas pelo governo brasileiro. “A empresa irá apoiar qualquer iniciativa governamental que facilite o acesso da população a medicamentos de qualidade a um custo mais baixo. E se isso puder ser feito em um tempo adequado, melhor ainda”, afirma Daiane. A executiva refere-se ao tempo que um fármaco leva para ser aprovado pela Anvisa – segundo ela, até dois anos, dependendo da prioridade do produto para o Ministério da Saúde. A preocupação da Novartis com sua divisão de medicamentos genéricos está embasada nos resultados obtidos pelo grupo nos últimos anos. As vendas líquidas globais da

Classe médica ainda tem dúvidas Embora a regulamentação dos genéricos esteja completando 13 anos em 2012 – eles foram instituídos pela lei 9.787, de 1999 – esse tipo de medicamento ainda causa desconfiança no Brasil. E, por incrível que pareça, os questionamentos sobre sua eficácia não vêm dos consumidores, mas sim da classe médica. É o que mostra um estudo divulgado pela entidade Proteste (Associação Brasileira de Defesa do Consumidor) no ano passado. Segundo a pesquisa, enquanto 83% dos consumidores confiam plenamente nas cópias, 46% dos médicos ainda têm dúvidas. Polyanna Carlos Silva, supervisora institucional da associação, defende que além da campanha para facilitar o acesso aos genéricos, a Anvisa intensifique a fiscalização, já que uma das preocupações alegadas pelos médicos é quanto à falsificação. “É preciso dar

58 AméricaEconomia Março, 2012

instrumentos para que o médico confie nesse tipo de medicamento, afinal, é ele quem vai receitá-lo ao paciente”, afirma. Florentino Cardoso, presidente da AMB (Associação Médica Brasileira), diz que esse índice alto pode estar ligado também a relatos dos pacientes. “Temos depoimentos de colegas que usaram o genérico para determinado tratamento, e ele não surtiu o efeito esperado. Ao trocar pelo medicamento de referência, a doença regrediu”. Apesar disso, Cardoso se diz favorável à proposta do governo de estimular esse mercado. Finotti, da PróGenéricos, garante que a desconfiança é fruto de preconceito. “Para um medicamento ser aprovado pela Anvisa, ele tem de passar por inúmeros testes. Não estou dizendo que não exista produto de má qualidade, mas isso existe no mercado de marca também”, defende.

Sandoz subiram 10% em 2011, atingindo US$ 9,5 bilhões e ajudando a impulsionar o crescimento da holding. Atualmente, o braço de genéricos do grupo representa 16% das vendas totais da Novartis. RECORDE DE VENDAS Atualmente o Brasil é um dos países onde os genéricos mais crescem. Em volume, o crescimento foi de 32,3% em 2011, na comparação com o ano anterior. Foram comercializadas 581 milhões de unidades no país. As vendas movimentaram R$ 8,7 bilhões em 2011, uma alta de 41% em comparação a 2010, quando a receita do setor fechou em R$ 6,2 bilhões. Foi um recorde histórico. O momento favorável deve continuar neste ano. A expectativa da PróGenéricos é que, em unidades vendidas, os genéricos representem 25% de mercado até o final de 2012 e que, até 2015, essa participação, que hoje é de 22,3%, chegue a 35%. “Ainda há muito espaço para crescer. Em mercados maduros, como o europeu e o americano, a participação dos genéricos chega a quase 50%”, afirma Bruno Nogueira, analista do setor farmacêutico da consultoria Lafis. Em sua avaliação, fatores como o envelhecimento da população e o aumento no nível de renda do consumidor contribuem para o cenário positivo. Mas essa indústria está em condições de atender a esse aumento de demanda projetado para os próximos anos? Finotti, da PróGenéricos, garante que não há riscos. “Produção não é problema. Até 2010, trabalhávamos para fazer produtos com patentes já vencidas. A partir daí, começamos a fazer genéricos de medicamentos que ainda iriam ter suas patentes expiradas”, observa. O processo de produção de uma cópia leva, em média, dois anos.

Foto: Divulgação

sultado atingido em 2010. A empresa fabrica 300 tipos de genéricos e tem outros 189 produtos em análise pela Anvisa. Quem também tem planos ousados é a suíça Novartis, por meio da Sandoz, seu braço de genéricos, cuja matriz está localizada em Holzkirchen, na Alemanha. Na busca por expandir sua atuação além dos territórios americano e europeu, o grupo tem apostado suas fichas no Brasil. O objetivo, de acordo com Daiane Trombini, diretora de Planejamento Estratégico e Portfólio, é repetir a posição já alcançada em nível global. Mundialmente, a Sandoz é uma das líderes no desenvolvimento de medicamentos genéricos, embora ainda não tenha uma representação de destaque em solo brasileiro. Para alcançar a meta, a Sandoz irá acelerar seus lançamentos. Em 2011, a empresa colocou no mercado nacional cerca de 20 novos medicamentos e expandiu sua atuação com o início das operações no setor de saúde feminina, com opções de contraceptivos, e masculina, ao lançar uma linha voltada ao tratamento problemas na próstata. Para este ano, outros 20 tipos de remédios deverão ser lançados


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DEBATES

Chávez, mais perto do ocaso Presidente venezuelano é abalado pela volta do câncer, o surgimento de um oposicionista com chances de vitória e um país fragilizado pela violência e a inflação Andrea N. Miranda, de Caracas 60 AméricaEconomia Março, 2012

Ilustração: Patricio Otniel

Eleições


H

Foto: Juan Barreto/AFP

ugo Chávez pediu perdão ao povo venezuelano. “Foi detectada uma nova lesão no mesmo local em que foi encontrado o tumor cancerígeno”, anunciou o presidente à mídia venezuelana em 21 de fevereiro passado. Assim que reconheceu que precisaria ser submetido a uma nova cirurgia, o presidente venezuelano declarou-se “em boas condições físicas para enfrentar a batalha”. Se ele estava se referindo a sua própria saúde ou ao desafio eleitoral, não ficou claro. Chávez vinha multiplicando declarações que reforçavam seu desejo de lutar por uma terceira reeleição, especialmente depois de a oposição convocar mais de três milhões de pessoas para as primárias, para definir o candidato que a representará em outubro. O escolhido: um advogado de 39 anos que se define de centro-esquerda, aficionado de correr maratonas, descendente de judeus que fugiram do nazismo, declarado católico e admirador do ex-presidente Lula. Henrique Capriles Radonski levanta a bandeira da unidade, da educação, do emprego, da iniciativa privada e da luta contra a violência. Mas, sobretudo, o candidato se preocupa em projetar a imagem de um polí-

tico que não entra no jogo do confronto que Chávez lançou apenas três dias após sua eleição. E este já se manifestou sobre seu oponente. “Uma de minhas tarefas será tirar sua máscara. Quanto mais você se empenhar em se disfarçar, mais vai chegar a mim”, exclamou o comandante-presidente. Rosto da “burguesia” e da direita, como o chamou Chávez, Capriles não fez caso das diatribes e defende-se garantindo que não foi escolhido para brigar, mas sim para resolver problemas. Sua estratégia foi premiada pelo eleitorado oposi-

discurso duro e frontal que tanto sucesso lhe rendeu. Nas eleições presidenciais de 2006, venceu com quase 63% dos votos e, hoje, 13 anos após chegar ao poder, tem níveis de aprovação acima de 50%. Antes de a oposição escolher um candidato único, todas as pesquisas o apontavam como o vitorioso nas urnas. Otimismo Mas, desta vez, há espaço para um otimismo moderado na oposição. Nas primárias, os oposicionistas sacudiram o governo, que não esperava que a partici-

Após anos de estratégias equivocadas, a oposição venezuela acredita agora que é possível derrotar Chávez nas urnas tor: obteve quase dois milhões de votos, muito à frente dos candidatos que interpelaram mais duramente o mandatário venezuelano. “A parte mais perigosa para Chávez no discurso de Capriles é a de unidade nacional, integração e respeito. É preciso desmontá-la. E o desafio de Capriles será suportar as provocações sem se desviar de sua estratégia. Ele não pode morder o anzol da confrontação”, aponta o diretor do instituto de pesquisa Datanálisis, Luis Vicente León. Não se sabe se o presidente Chávez, abatido pela doença ou pelos números desmoralizantes de seu governo, está lançando mão do Capriles: foco na educação, no emprego e no combate à violência

pação fosse tão alta e chegasse aos 17% da população eleitoral, de 18 milhões de votantes. Um grande mérito, considerando o temor que muitos têm de ser objeto de represálias por terem participado. A oposição tampouco esperava tamanha adesão. Nenhum de seus dirigentes havia se atrevido a colocar um número como meta, declaravam apenas que 10% do eleitorado seria um sucesso. Mas, depois de meses de campanha, com os venezuelanos convocados a votar “sem medo”, o chamado da Mesa de la Unidad Democrática foi atendido. O grupo reúne a maioria das forças não-chavistas (cerca de 20 partidos políticos, da centro-direita à extrema esquerda), todas unidas pelo desejo de derrotar Chávez pelas urnas. Em 2002, a oposição participou com mais ou menos protagonismo de um falido golpe de Estado contra Chávez, apoiou uma longa greve petroleira e, nos anos seguintes, cometeu outros graves erros políticos. Hoje, está convencida de uma coisa: que tem diante de si uma oportunidade melhor para derrotar nas urnas o comandante, apoiando-se no desgaste de sua gestão e em transmitir a ideia de um país cansado da divisão política e dos problemas econômicos. Março, 2012 AméricaEconomia 61


DEBATES “O enfrentamento será entre um projeto estadista e autoritário e a liderança de uma oposição que, nos últimos anos, passou a ter uma cara mais democrática e plural”, afirma a historiadora Margarita López Maya, autora do livro Ideias para Debater o Socialismo do Século XXI e antiga partidária de Chávez. A escolha de Capriles despertou também o otimismo dos mercados. No dia seguinte às primárias, os bônus dispararam e o risco-país caiu. “O mercado está reagindo de maneira muito positiva, porque começou a aumentar a probabilidade de uma mudança na condução política e econômica”, destaca Alejandro Grisanti, diretor para a América Latina do Barclays Capital.

tando um terço dos 28 milhões de habitantes de um país que, além de petróleo, tem enormes reservas de água e recursos minerais. O carismático presidente construiu um sólido vínculo com as classes populares e é aí que reside a força de sua liderança. Interpelando diretamente o “povo” e destinando enormes recursos a programas sociais que levaram saúde e educação a setores desfavorecidos, Chávez focou-se em deixar muito claro que assegura o bem-estar de quem apoiou sua revolução bolivariana. “Chávez continua a ser dono do discurso social e, quando a oposição fala disso, ele se encarrega de esclarecer que são uns impostores”, comenta o sociólogo Ignacio Ávalos. “Pode haver insegurança, problemas econômicos ou mau governo, mas até agora a oposição não conseguiu romper o vínculo emocional do presidente com as classes populares.” Com o petróleo acima de US$ 100 por barril, o governo venezuelano dispõe de enormes recursos para mover a máquina eleitoral. Nos últimos tempos, lançou uma série de programas ou “missões” para construir habitações, diminuir o desemprego, cuidar dos idosos e dar dinheiro às famílias pobres. Alguns analistas creem que será a campanha mais cara da história do país. A oposição sabe que não pode competir em recursos com o candidato ofi-

cial e, para compensar os dividendos que Chávez pode vir a ter com isso, tratou de ECONOMIA COM MULETAS criticar os programas sociais do goverO maior produtor de petróleo da Améno, que favoreceram amplos setores da rica do Sul e dono das maiores reservas sociedade com potenciais eleitores. A de óleo cru do mundo não vive seu meaposta de Capriles é conquistar os delhor momento. Em 2011, a inflação venesencantados com a política assistenciazuelana foi de 27,2% e o crescimento do lista do chavismo, ao propor o fortaleciPIB (Produto Interno Bruto), de modesmento do emprego e da educação. tos 4,2%. O panorama econômico é com“Não podemos despachar Chávez plexo para este ano eleitoral, marcado por apenas dizendo que ele tem um talão de um forte gasto público. cheques. Nele, há símbolos, afetos, reAs estatizações, o controle do mercapresentações”, insiste o sociólogo Ávado do dólar, a fixação de preços e a forlos. “Chávez olhou para o povo, levoute dependência da indústria petroleira -o em conta e disse-lhe que era o grande – que nos últimos anos baixou sua proprotagonista. Mas, depois de 13 anos, dução para 2,3 milhões de barris diários, não desperta esperanças”. segundo a Opep (Organização dos Países No centro da proposta econômica Exportadores de Petróleo) de Capriles está o investi– estão entre as principais mento privado, o combaAltos e baixos bolivarianos causas da deterioração da te à inflação e o aumenInflação e desemprego na era Chávez – em % economia, apontam os anato da produção petroleira listas. Claramente, é uma 35 venezuelana. Mas, até o DESEMPREGO INFLAÇÃO economia muito abaixo de momento, o oposicionista seu potencial, embora não 30 não deu detalhes de como em ruínas, como apontam 25 pretende colocar tal plano seus detratores. em prática. O economista E, embora a pobreza te- 20 José Guerra, membro de nha retrocedido nestes 13 15 sua equipe, diz que entre anos de Chávez, que conas primeiras medidas de centrou seu discurso e os 10 um eventual novo goveresforços de seu governo no no estará a diminuição do 5 favorecimento das classes desemprego e da inflação, 0 com menor poder de renque hoje é uma das mais al1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 da, a miséria continua afetas do mundo. Fontes: Banco Central da Venezuela, Instituto Nacional de Estatística

62 AméricaEconomia Março, 2012

Foto: Shutterstock

Eleições


Apesar da pobreza ter recuado no governo chavista, indicadores ainda mostram um grave quadro de miséria no país

“A primeira coisa que Capriles deveria fazer é ter um plano para dar trabalho aos setores mais empobrecidos da população, fortalecendo, por exemplo, a indústria da construção. Depois, deveria também anunciar uma reestruturação da PDVSA [estatal venezuelana de petróleo] e, em terceiro lugar, adotar medidas para diminuir gradualmente a inflação”, afirma Guerra. Com faro apurado para a política, Capriles preocupou-se em assinalar que ninguém será demitido da PDVSA e que também não fará imediatamente um re-

ajuste do preço da gasolina, em um país onde encher o tanque de um carro custa apenas um dólar, graças aos fortes subsídios oficiais. “Capriles foi claro. Aqui, não pode haver ajustes dramáticos, nem choques no curto prazo”, insiste Guerra, ex-diretor do Banco Central. “O foco deste governo deveria ser o desmantelamento gradual do controle do câmbio”, complementa Alejandro Grisanti, que também propõe atacar o desemprego – que ele calcula estar em torno de 50%, se contados os milhares de trabalhadores informais.

Violência e popularidade Resultados eleitorais e violência na Venezuela

56,4% 59,7% ELEIÇÕES PresidenciaIs

HOMICÍDIOS/ANO votaÇÃO de hugo chávez

59,1% 62,8%

REFERENDO (NOVA CONSTITUiÇÃO)

REFERENDO

ELEIÇÕES PresidenciaIs 16.047 12.257

11.342

5.868

8.022

7.960

9.617

9.719

13.156

17.600

14.589

9.964

4.550

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

Fontes: Consejo Nacional Electoral, Observatório Venezuelano de Violência

2009

2010

Mas o comandante se encarregou de deixar as coisas claras. “A batalha está colocada nesses termos. A burguesia contra a classe operária”, resumiu Chávez. Em suas frequentes aparições públicas, ele não se cansa de afirmar que a oposição trata inutilmente de imitá-lo e de diluir as diferenças políticas. Ele chega a afirmar, com a costumeira eloquência, que a “extrema direita” eliminará todos os avanços sociais de seu governo. Proposta de mudança Apesar de um placar favorável até o momento, Capriles terá de acertar em cada um de seus objetivos estratégicos para derrotar o poderoso aparato eleitoral chavista. Por exemplo, precisará explicar claramente o que fará com as dezenas de empresas estatizadas. Ele garante que não vai “tirar nada de ninguém” e que as expropriações se transformaram em um instrumento político. O político diz que convidará todos os setores a uma eventual administração e que governará para aqueles que usarem camisas vermelhas – marca dos chavistas – ou de qualquer outra cor. Assim como Chávez chegou ao poder marcando a derrota de um esgotado sistema bipartidário, que durou 40 anos desde a queda do ditador Marcos Pérez Jiménez, em 1958, Capriles quer surgir agora como o símbolo da mudança e da reunificação de um país dividido pela Março, 2012 AméricaEconomia 63


DEBATES Eleições

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Foto: Shutterstock

política. Com essa estratégia, que o assessor brasileiro Renato Pereira ajudou a desenhar, Capriles aposta na conquista de espaço entre os chavistas menos radicais e os indecisos que inclinarão a balança em 7 de outubro. Com uma projeção tão rápida de Capriles, seus oponentes trataram de reagir prontamente. Uma fonte oficial assegurou que ele era representante do sionismo. Em um programa de televisão – de um canal estatal –, insinuou-se que o candidato é homossexual. A mídia venezuelana também recorda constantemente que em 2004, quando era prefeito do município de Baruta, ele esteve preso por não impedir um ataque à embaixada de Cuba durante o golpe de Estado de 2002, caso do qual já foi absolvido. “Durante a campanha, continuarão a desqualificar Capriles”, afirma o analista político Ricardo Sucre, da Universidade Central da Venezuela. A historiadora Margarita concorda que será uma competição muito desigual. “O presidente utiliza recursos públicos, tem uma plataforma midiática cada vez mais complexa e é um homem muito sagaz, que também fez um hábil uso de sua doença”, comenta sobre o câncer que Chávez descobriu em junho do ano passado. Sobre a doença do presidente, de 57 anos, há detalhes até agora desconhecidos – como a localização do tumor e o seu tipo. Até agora, Chávez foi o único a falar sobre esse assunto, que já deu por superado e sobre o qual a oposição evitou fazer maiores comentários – ao menos em público. Capriles, enquanto isso, explora sua imagem de homem jovem e renovador. Apoiado pelo centro-direitista Primero Justicia (embora afirme “transcender os partidos”), direciona sua munição con-

A continuidade dos fortes subsídios aos combustíveis gera dúvidas

tra a má gestão do Estado, os deficientes serviços públicos, a inflação, a frequente escassez de alimentos e a insegurança. VIOLÊNCIA Com uma taxa reconhecida pelas autoridades de 48 homicídios a cada 100 mil habitantes, uma das mais altas do continente americano, a violência afeta sobretudo as classes populares, o bastião eleitoral chavista. Especialistas apontam, contudo, que na Venezuela se associa violência com pobreza, e não necessariamente à demora judicial, à corrupção das polícias, à altíssima impunidade em que recaem os delitos, à escassa presença do Estado em algumas regiões do país ou às deploráveis condições das prisões; todas estas, questões de política pública. Embora a insegurança seja o principal problema para os venezuelanos, segundo a última pesquisa do Datanálisis, apenas 23% dos entrevistados responsa-

Apesar de preocupante, a questão da violência não deverá afetar a popularidade de Hugo Chávez com os venezuelanos 64 AméricaEconomia Março, 2012

bilizam Chávez por este problema e, por isso, o impacto desta questão em sua alsegundo Luis Vicente León, do instituto. “Quando consultados sobre inflação ou desemprego, as pessoas responsabilizam imediatamente Chávez. Portanto, o custo político dos problemas microeconômicos é muito mais alto que o da insegurança”, assegura. Contudo, se à crescente violência forem somados outros fatores de piora da sociedade venezuelana, a historiadora Margarita considera que a oposição tem diante de si uma poderosa arma para enfrentar o presidente. “Essa sociedade segue um processo de deterioração. Há uma crise, e essa é a grande fraqueza do presidente”, aponta. A corrida até outubro será cheia de incertezas. Dois projetos e dois líderes lutarão por cada voto nos próximos meses, durante os quais Capriles planeja percorrer o país de ponta a ponta, como Chávez fez antes de ganhar a presidência pela primeira vez. “Aquele cavalo está cansado”, afirmou, em uma metáfora grosseira. “Este está cheio de energia, vamos ver quem aguenta esses meses”.


JOÃO DORIA JR., MAIS UMA VEZ, ELEITO UMA DAS 100 PERSONALIDADES MAIS INFLUENTES NO BRASIL E NO MUNDO.

Desde 2007, a revista ISTOÉ elege as 100 personalidades brasileiras e estrangeiras que mais se destacaram no Brasil e no mundo, através de suas iniciativas, opiniões e inovações. E João Doria Jr. foi apontado como uma delas pelo quarto ano consecutivo. É mais um brasileiro se destacando no cenário nacional e internacional.


DEBATES Política

Depois do crime, o castigo? STF sente a pressão para julgar os 38 réus do mensalão, o maior escândalo do governo Lula, antes da prescrição dos crimes Débora Zampier, de Brasília

O

bra de ficção, criação men- ras suspeitas que envolveram o núcleo tal, piada de salão. Essas governista, empresários, gestores e parsão algumas expressões que lamentares em 2005. Para o Ministério já foram usadas para definir Público Federal, trata-se de uma “sofiso maior escândalo de corrupção en- ticada organização criminosa” que movolvendo o Partido dos Trabalhadores vimentou milhões para pagar mesada (PT), que derrubou figurões do gover- em troca de apoio político. Para os petisno Luiz Inácio Lula da Silva e marcou tas, tudo não passou de dinheiro de caipara sempre a política nacional. A rea- xa dois usado para financiar campanhas. lidade mostra, no entanto, que se na poA proximidade do julgamento não lítica os fatos podem ser relativizados, preocupa apenas os réus que temem ser na Justiça não há espaço para subjeti- condenados – e que, nesses anos, aciovismo. Sete anos depois de as denúncias virem à tona, os 38 réus do mensalão estão prestes a ser julgados no STF (Supremo Tribunal Federal). Números do mensalão Mensalão é o termo que define uma série de operações fi7 anos de tramitação no STF nancei38 réus

650 testemunhas

naram o STF quase 30 vezes para tentar atrasar o processo. Além disso, também estão em jogo as eleições municipais de 2012, ocasião que o PT quer aproveitar para ampliar sua presença nos municípios brasileiros. Além da exposição negativa para o partido como um todo, o julgamento antes de outubro afetaria diretamente as pretensões políticas de uma parte dos réus, como é o caso deputado federal João Paulo Cunha (PT-SP), pré-candidato à prefeitura de Osasco (SP). “Caso o julgamento aconteça durante a campanha eleitoral, os adversários certamente utilizarão o assunto para atacar o PT, mas tenho dúvidas se isso real-

1 mil decisões ao longo do processo 50 mil páginas de autos


Fotos: Shutterstock; ABr

Onde estão os mensaleiros? A ação penal começou com 40 réus, mas atualmente tem 38 – o deputado José Janene morreu em 2010 e o ex-secretário-geral do PT, Sílvio Pereira, fez acordo com o Ministério Público para deixar de integrar o processo. Confira a situação dos principais envolvidos:

O escândalo do mensalão marcou o governo Lula

João Paulo Cunha

O que fazia: presidente da Câmara dos Deputados. Acusação: recebimento de propina. Responde por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e peculato. Situação atual: deputado federal, é pré-candidato à prefeitura de Osasco (SP).

mente mudaria votos em grande escala, já que a oposição tradicional não tem se mostrado uma alternativa ética”, avalia o cientista político Leonardo Barreto, da UnB (Universidade de Brasília). “No entanto, acredito que a exposição exagerada do assunto pode de fato abalar a imagem do PT nas capitais, especialmente em São Paulo”. Vale ressaltar que é justamente nas capitais e grandes cidades do país que o PT pretende concentrar seu foco em 2012. A perspectiva é que o partido finque bandeiras em 117 municípios com mais de 150 mil habitantes, incluindo capitais como São Paulo, Porto Alegre e Salvador. “Essas eleições são decisivas e colocam em teste o modo petista de governar. Queremos manter o que temos, conquistar o que perdemos e ampliar nossa presença em cidades estratégicas”, resumiu o presidente da legenda, Rui Falcão, no aniversário de 32 anos do PT, em fevereiro. Resta saber como o mensalão se encaixaria nesse roteiro.

O fantasma da prescrição No que depender do relator do processo, Joaquim Barbosa, o julgamento do mensalão começará ainda no primeiro semestre de 2012, pois ele pretende liberar seu voto em maio. O ministro passou por um problema ortopédico e ausentou-se do tribunal várias vezes nos últimos anos – ainda assim, o mensalão não foi esquecido, e ele fez vários despachos de sua própria casa. O quadro clínico vem melhorando desde meados de janeiro, e a ideia de Barbosa é não tirar licenças longas até o julgamento do processo. No entanto, pessoas próximas ao ministro lembram que o desfecho do caso não depende somente dele, já que cabe ao ministro revisor liberar o processo para a pauta e ao presidente do STF dar início ao julgamento. Em maio, este último posto será ocupado pelo ministro Carlos Ayres Britto, que já sinalizou a intenção de colocar o processo em pauta assim que tudo estiver pronto. Responsável pela revisão do processo, o ministro Ricardo Lewandowski diz que, de sua parte, não haverá atrasos, mas prefere não dizer se o seu voto fica pronto antes de outubro. “Aqui não nos pautamos pelo calendário político. Março, 2012 AméricaEconomia 67


DEBATES Política

Marcos Valério

O que fazia: dono de agências de publicidade que tinham contratos com o poder público. Acusação: fazer repasses de verbas do mensalão. Responde por corrupção ativa, peculato, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e evasão de divisas. Situação atual: consultor empresarial. Condenado pela Justiça mineira a mais de 15 anos de prisão.

Meu gabinete está com todos os esforços concentrados nesse processo, mas é preciso lembrar que são mais de 50 mil páginas com fatos que precisam ser verificados minuciosamente. Eu não faço um voto a partir do relator, eu faço um voto totalmente novo. O que posso garantir é que ele ficará pronto em 2012 e que não haverá risco de prescrição na minha mão”, ressalta o ministro. Ele deve se dedicar mais à análise do mensalão quando deixar a presidência do Tribunal Superior Eleitoral, em abril. A discussão sobre a prescrição das penas assombrou o STF no final do ano passado. Lewandowski disse que a demora no julgamento poderia livrar os réus das condenações menores – e foi taxado de simpático aos mensaleiros. No entanto, o ministro havia alertado para um perigo real que já tinha causado seus primeiros estragos em agosto de 2011, quando o processo ainda estava na fase das alegações finais das partes. 68 AméricaEconomia Março, 2012

José Dirceu

O que fazia: ministro da Casa Civil do primeiro governo Lula. Acusação: ser o chefe do esquema. Responde por corrupção ativa e formação de quadrilha. Situação atual: membro do diretório nacional do PT, trabalha como consultor nos bastidores da política.

A prescrição é calculada de acordo com a sentença definitiva do Tribunal. Os prazos variam segundo a gravidade da pena – as mais leves prescrevem primeiro, as mais graves depois. No caso do mensalão, se os ministros optarem pela pena mínima, os réus escaparão de várias condenações. “É claro que essa é apenas uma tese, mas de fato, quando o réu é primário, a tendência não só do Supremo, mas de toda a Justiça brasileira, é que se aplique a menor pena, deixando um risco real de prescrição. A nossa lei penal é muito benévola”, afirma Carlos Velloso, ex-ministro do STF. Caso essa tese se confirme, os réus escaparão das condenações por formação de quadrilha, corrupção ativa e passiva, peculato, falsidade ideológica e evasão de divisas. Com a validação da Lei da Ficha Limpa no STF, em fevereiro, a possibilidade de prescrição ganhou tons ainda mais dramáticos, já que os réus também deixariam de ficar inelegíveis por oito

anos. Os crimes que ainda não correm o risco de prescrição são lavagem de dinheiro e gestão fraudulenta. O advogado Marcelo Leonardo, que representa o publicitário Marcos Valério no processo, acredita que agora já não faz mais sentido apressar o julgamento, uma vez que as novas prescrições começam apenas em agosto de 2015. “O ministro Ricardo Lewandoski apenas informou o que o Ministério Público, os advogados de defesa, o relator e os estudiosos de direito penal já sabiam. Não há, portanto, motivo para exigir de qualquer ministro do Supremo Tribunal Federal que faça a análise do processo com açodamento”, diz. Togas sob pressão Na frente das câmeras, os ministros costumam dizer que o STF é uma corte independente, que não sofre pressões políticas e não cede à opinião pública. Mas a Suprema Corte não vive em uma redo-


Fotos: Shutterstock; ABr; Evaristo Sa/AFP

Roberto Jefferson

O que fazia: deputado federal pelo PTB e presidente do partido, denunciou o mensalão. Acusação: conceder apoio político em troca de dinheiro. Responde por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Situação atual: presidente do PTB.

ma de vidro. Ainda que não se deixem influenciar, os ministros que julgarão o mensalão vêm sendo cortejados pela nata da advocacia criminalista, prática dentro da lei e relativamente comum no STF. “É claro que procuramos os ministros para tentar convencê-los do nosso ponto de vista, pois precisamos fazer tudo o que está ao alcance para defender nossos clientes. Alguns ministros nos recebem melhor, outros nem tanto, mas esse contato existe sim”, relata um dos advogados do caso. Outro foco de pressão é a opinião pública, que vê o julgamento como a prova de fogo da independência dos ministros indicados pelo PT – oito de um total de 11 – e sinaliza não tolerar absolvições. “Nós estamos analisando as provas e os depoimentos e buscaremos um julgamento justo perante a lei e a nossa consciência. Mas se houver alguma coisa diferente da condenação, sei que seremos crucificados”, desabafa um minis-

Delúbio Soares

O que fazia: tesoureiro do PT. Acusação: captar dinheiro para financiar o mensalão. Responde por corrupção ativa e formação de quadrilha. Situação atual: expulso do PT em 2005, foi readmitido em 2011. Faz palestras em todo o país apresentando sua defesa no caso do mensalão.

tro. Outro integrante da Corte também faz críticas à ansiedade que se criou em torno do julgamento. “Estamos analisando um processo de milhares de páginas, e só ficaremos sabendo do voto do relator e do revisor no dia do julgamento. A coisa mais natural do mundo é que, caso alguém tenha dúvida, possa pedir vista para analisar melhor o assunto, mas aí alguém vai dizer que você não quer julgar o mensalão”. A previsão é que o julgamento do processo demore, no mínimo, três semanas. Caso o desfecho não seja conhecido no primeiro semestre, a aposentadoria dos ministros Cezar Peluso e Carlos Ayres Britto, em setembro e novembro, respectivamente, pode prolongar os prazos por tempo indefinido. O Executivo tem levado meses para repor vagas no Supremo, e na avaliação do jurista Luiz Flávio Gomes, o STF não deverá se arriscar sem a Corte completa. “Julgar um caso dessa magnitude sem to-

dos os ministros é temeroso, poderá dar uma sensação de interferência externa no judiciário”. Também está pendente de análise um pedido para que o processo seja desmembrado, o que poderia dar nova sobrevida aos envolvidos. A solicitação é do poderoso advogado Márcio Thomaz Bastos, ex-ministro da Justiça do governo Lula que influenciou na escolha de vários integrantes do STF. Ele quer que apenas os réus com prerrogativa de foro – hoje os deputados João Paulo Cunha, Valdemar Costa Neto e Pedro Henry – sejam julgados na Suprema Corte, sob pena de violação da Constituição. Enquanto as defesas se desdobram em estratégias, até os ministros mais falantes do Supremo têm se mostrado reticentes em comentar os rumos da votação, sentindo na toga a responsabilidade que têm pela frente. Afinal, essas 11 cabeças decidirão até que ponto a ficção do mensalão foi baseada em fatos reais. Março, 2012 AméricaEconomia 69


DEBATES

Inovação

Sustentabilidade e lucro de mãos dadas Para reduzir a dependência de combustíveis fósseis e abrir novas fontes de renda, empresas avaliam melhor o potencial das fontes de energia renováveis

D

e alguns anos para cá, as vantagens econômicas e ambientais do uso de alternativas energéticas têm se tornado mais atraentes para as empresas. O emprego de processos de biotecnologia – ou seja, transformação de matérias-primas, que podem ser resíduos de processos agrícolas ou industriais, em fontes de energia renovável (veja quadro na página ao lado) – é sustentável do ponto de vista do meio ambiente e, além disso, possibilita a redução de custos. Sem falar que, em alguns casos, permite a criação de uma fonte alternativa de ganhos para as companhias. O presidente da Abib (Associação Brasileira das Indústrias de Biomassa e Energia Renovável), Celso Marcelo de Oliveira, avalia que o mercado potencial nesse campo é imensurável. “Hoje, há um grande aproveitamento de resíduos na área florestal, o que se nota especialmente em lugares mais desenvolvidos, como Estados Unidos, Canadá e Europa. O Brasil desponta com um grande potencial na área de produção e uso de

70 AméricaEconomia Março, 2012

biomassa, gerando anualmente cerca de 100 milhões de toneladas de resíduos florestais reaproveitáveis”, diz Oliveira. Segundo o executivo, a inexistência de benefícios tributários e fiscais para a utilização de energia renovável, que são comuns em outros países, emperra o desenvolvimento do setor. “Estamos buscando elaborar uma proposta de legislação junto ao governo federal.” Em razão do elevado volume de resíduos gerados, o setor de papel e celulose apresenta perspectivas interessantes para o fornecimento de biomassa destinada à conversão em energia. A Klabin é uma das mais avançadas nesta direção. Seu foco é tornar sua matriz energética cada vez mais associada a fontes renováveis. De acordo com o ex-diretor e atual consultor da companhia, José Oscival dos Santos, atualmente o grupo Klabin é menos dependente de combustíveis fósseis. As fontes renováveis de energia respondem por 71% do total, e as fontes mistas (das quais a maior parte é re-

novável), por 9%. Como comparação, a matriz brasileira é composta por 55% de fontes fósseis e 45% de renováveis, segundo dados oficiais. “O valor energético da biomassa depende de seu grau de pureza. A Klabin tem hoje uma tecnologia que gera alta eficiência e possibilita retirar o máximo de proveito dessa fonte”, afirma. A principal fonte de energia gerada pela empresa é o licor negro, extraído a partir do processo de criação da celulose. “O uso de fontes renováveis permite à Klabin ter 45% de autossuficiência em eletricidade – dos 225 MW de consumo médio anual das unidades do grupo, 100 MW vêm de resíduos da floresta, e outros 10% são de origem hidráulica. Nossa meta é di-

Fotos: Shutterstock

Sérgio Siscaro, de São Paulo


A TRANSFORMAÇãO

Madeira

Pellets Farelo Milho

Cana-de-açúcar

Amendoim Casca de laranja Trigo

DE RESÍDUO A FONTE ENERGÉTICA

minuir ao máximo nossa dependência de combustíveis fósseis”, diz Santos. Os investimentos em caldeiras e equipamentos para o processamento de biomassa consumiram, nos últimos anos, R$ 285 milhões em três fábricas do grupo. A Klabin estuda mais uma iniciativa: a gaseificação da biomassa para a utilização nos fornos de cal. “O estudo está em desenvolvimento, mas é uma opção mais complicada, que depende de um estudo de viabilidade”, diz Santos. A concorrente Suzano pretende aproveitar a demanda internacional para exportar. A empresa está prestes a colocar no mercado a Suzano Energia Renovável, que atuará na produção de pellets de madeira voltados à exportação.

O aproveitamento da biomassa, considerada a mais antiga fonte renovável de energia, contribui para reduzir as emissões de gás carbônico na atmosfera, bem como para diminuir a dependência de fontes energéticas como o petróleo – cujo fornecimento sempre depende de delicadas questões econômicas e geopolíticas. Além disso, trata-se de um material que pode ser obtido a partir das sobras de processos agrícolas e industriais di-

Durante a apresentação da Suzano na reunião da Apimec (Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais), realizada em dezembro, o executivo André Dorf, presidente da subsidiária da Suzano, explicou que até 2014 a empresa pretende operar três unidades, cada uma com capacidade de 1 milhão de toneladas por ano, dedicadas à produção de pellets de madeira para geração de energia. O projeto – que já conta com um protocolo de intenções assinado com o governo do Maranhão para a instalação das unidades naquele estado – será focado inicialmente no fornecimento de

versos – do bagaço da cana-de-açúcar à casca de laranja, passando ainda por resíduos gerados pela indústria de celulose. Dependendo da matéria-prima, a transformação pode envolver hidrólise, liquefação, gaseificação e biodigestão, entre outros processos. Com isso obtêm-se, por exemplo, etanol, pellets de madeira, carvão, metanol, biogás e biodiesel, que são convertidos em energia.

biomassa ao mercado europeu. “Temos boas perspectivas na Europa. O Reino Unido, por exemplo, é um mercado muito importante para os pellets, uma vez que a União Europeia prevê metas de redução na emissão dos gases que causam o efeito estufa até 2020. Ou seja, há um incentivo para a utilização de biomassa”, afirmou Dorf na ocasião. FONTES RENOVÁVEIS Outros setores produtivos também estão atentos à necessidade de empregar cada vez mais energia produzida a partir da biomassa. O grupo Marfrig inaugurou um sistema de biodigestores

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DEBATES

Inovação

CANA-DE-AÇÚCAR Uma das principais matérias-primas para a produção de biomassa no Brasil é a cana-de-açúcar. A partir de seu bagaço e de sua palha, por exemplo, é possível obter etanol. De acordo com Suleiman Hassuani, coordenador de Pesquisa Tecnológica do CTC (Centro de Tecnologia Canavieira), o grande desafio é obter formas de aumentar a eficácia energética da cana – uma vez que 50% do bagaço é composto por água, o que demanda energia para ser evaporada. “Apesar da biomassa ser relativamente mais barata e uma fonte renovável, há ainda alguns pontos que inibem sua utilização, como sua grande dispersão geográfica, a baixa densidade energética e a umidade”, afirma. Segundo o estudioso, uma alter72 AméricaEconomia Março, 2012

nativa para aumentar a eficiência da biomassa gerada pela cana é a peletização – processo por meio do qual a matéria-prima torna-se livre de umidade e mais fácil de transportar. “No entanto, a utilização desse processo é mais complicada no caso, por exemplo, da madeira.” Segundo Hassuani, o CTC tem atuado também na geração de energia a partir da palha gerada no processo de colheita da cana, com a finalidade de elevar a disponibilidade de biomassa. “Para tanto, sempre atuamos por meio de parcerias com as usinas de cana-de-açúcar”, diz. Além das tecnologias específicas para a cana, outras já estão ganhando espaço – inclusive iniciativas totalmente verde-e-amarelas. O grupo petroquímico Peixoto de Castro, do Rio de Janeiro, investe em biotecnologias para a produção de energia há 20 anos. Em 2009, associou-se ao empresário Roberto Paschoali para criar a Senergen – que atua no aproveitamento de diferentes tipos de biomassa para a criação não só de energia, mas também de matérias-primas com alto valor de mercado. Atualmente, a companhia tem uma unidade em Lorena (SP), com capacidade de processamento de 20 toneladas de resíduos por

A peletização (acima) permite facilidade no transporte. Já a produção de biomassa a partir da cana (ao lado) demanda processos mais eficientes

dia – e sem emitir CO2. “O que fazemos é reorganizar cadeias de carbono – ou seja, desconstruímos o resíduo e o transformamos em produtos para o mercado”, diz Paschoali. A companhia utiliza duas tecnologias. A primeira, denominada de conversão em baixa temperatura, é aplicada na unidade de Lorena. “Nós colocamos pneus usados na unidade, e deles conseguimos obter três produtos: um gás, que mantém o equipamento aquecido; um óleo combustível, usado para a fabricação de borracha sintética – e que tem entre seus componentes o D-Limoneno, um solvente ecológico; e o negro de fumo, componente do pneu com várias aplicações.”

Fontes primárias de energia no mundo – 2008 Petróleo e carvão ainda são as principais, respondendo por 63% do total 0,1% Energia solar direta 28,4% Carvão

0,002% Energia oceânica

2,3% Biomassa moderna

8%

22,1% Gás

Biomassa tradicional 0,2% Energia eólica 34,6% Petróleo

2,0% Energia nuclear

0,1% Energia geotérmica 2,3% Energia hidráulica Fonte: Srren/Ipcc, 2011

Fotos: Divulgação; Shutterstock

em 2010 em sua unidade Seara Diamantino (MT), a fim de tratar e aproveitar os gases gerados por dejetos suínos. A empresa também produz, em sua planta Promissão II (SP), biogás a partir da biodigestão dos resíduos do abate de bovinos. De acordo com o diretor de Sustentabilidade da empresa, Clever Ávila, a Marfrig tem uma política que busca aumentar a utilização de fontes limpas e renováveis. “Nós compramos energia de PCHs [Pequenas Centrais Hidrelétricas] para substituir aquela obtida de termelétricas. E também passamos a utilizar o bagaço de cana na geração de energia, assim como a biomassa originária do capim, destinada à produção de vapor”, afirma. A utilização de fontes renováveis pelo grupo teve início há cerca de 11 anos e atualmente não são mais usados recursos fósseis. A empresa tem ainda outros projetos em desenvolvimento nessa área. Um deles prevê o uso de resíduos sólidos para geração de energia elétrica. “Estamos utilizando a energia gerada a partir de biomassa, mas poderemos, eventualmente, comercializá-la também. Para isso, são importantes as parcerias tecnológicas e de investimentos, que agregam valor ao projeto”, pondera.


A outra tecnologia empregada pela Senergen é a da pré-hidrólise, que permite aproveitar a biomassa de origem celulósica, como o eucalipto, e extrair todos os produtos químicos que a planta retirou da natureza. “Essas duas tecnologias não existem em lugar algum. Já temos a patente em 45 países”, completa Paschoali. O executivo comenta ainda que, em 20 anos, foram investidos cerca de US$ 35 milhões no desenvolvimento desses processos. “A nossa primeira planta de Lorena consumiu US$ 10 milhões; e agora obtivemos o financiamento de R$ 27 milhões da Finep [Financiadora de Estudos e Projetos, empresa vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia] para uma segunda unidade, que terá capacidade de processar 80 toneladas por dia. Esse valor representa 90% do investimento total do projeto”, afirma. A Senergen ainda está pesquisando outras formas de aproveitar a biomassa de forma rentável, como as que permitem a obtenção de carvão siderúrgico a partir do eucalipto. “Por meio desse processo, podemos obter também alcatrão não-cancerígeno, produto que tem um valor de mercado altíssimo e é utilizado pelo segmento de construção civil. Buscando o carvão vegetal, que vale R$ 500 a tonelada, descobrimos a possibilidade de ter algo que pode valer R$ 20 mil a tonelada.”

TENDÊNCIAS A utilização de biomassa oriunda de diversos tipos de resíduos e seu aproveitamento na geração de energia oferecem oportunidades bastante interessantes aos países que produzem essa matéria-prima – localizados principalmente no Hemisfério Sul. De acordo com a coordenadora do Cenbio (Centro Nacional de Referência em Biomassa, ligado ao Instituto de Eletrotécnica e Energia, da USP), Suani Coelho, a biomassa tem um papel significativo dentre as fontes renováveis. “É a única com possibilidade de utilização

A especialista lembra que o Cenbio vem atuando na proposição de políticas para biomassa e também em projetos-piloto nessa área. Na avaliação da coordenadora, o governo federal poderia adotar uma postura mais ativa para incentivar a utilização das fontes renováveis. “O BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social] poderia ter linhas de crédito mais interessantes para processos de cogeração de energia [como na produção de eletricidade e energia térmica a partir de gás natural ou biomassa] com o bagaço de cana. Também o uso do biogás poderia ser objeto de políticas específicas para produtores rurais”, pondera. O BNDES afirma que os desembolsos acumulados nos últimos quatro anos para a área de cogeração a partir do bagaço de cana somam R$ 5,7 bilhões. A carteira de operações é composta por 56 projetos, que equivalem a uma capacidade extra de geração de energia de 1,7 mil MW. A instituição oferece condições mais favoráveis para essas iniciativas dentro de sua linha Finem (Financiamento para Empreendedores). “Para esses projetos, nós oferecemos uma remuneração básica de 0,9% ao ano, que é bastante vantajosa para os to-

Na avaliação do Cenbio, a biomassa é hoje a melhor alternativa de acesso à energia nas regiões mais pobres do planeta comercial no curto e médio prazos no setor de transportes. Além disso, somente ela tem perspectivas concretas de aplicação nos países em desenvolvimento nesse setor, sendo assim a opção mais indicada, em termos de acesso à energia nas regiões mais pobres”, afirma. Suani acrescenta que, hoje, as alternativas aos combustíveis fósseis mais interessantes economicamente são o etanol de cana e o biodiesel de gordura animal. “Na zona rural, o biogás de resíduos certamente é uma opção importante para a geração de energia elétrica.”

madores desses financiamentos”, afirma o gerente do Departamento de Biocombustíveis da instituição, Arthur Milanez. Já a gerente do Departamento de Energias Alternativas do BNDES, Ana Raquel Paiva Martins, salienta que o banco também oferece linhas de financiamento às empresas que comercializam energia. As operações são feitas na modalidade de project finance junto a companhias que já têm contratos de compra e venda. “No campo das fontes alternativas, acreditamos que haverá um Março, 2012 AméricaEconomia 73


DEBATES

Inovação

Fotos: Divulgação; Shutterstock

Nos arredores de Sevilha, na Espanha, foi construída a PS20, destinada à captação de energia solar

grande crescimento na energia eólica neste ano, assim como na de origem solar”, afirma Martins, acrescentando que o banco também atende clientes que operam PCHs. MERCADO A utilização crescente da biomassa no mundo poderá viabilizá-la como uma commodity de fato – por meio do desenvolvimento de um mercado negociador internacional. A avaliação é da professora Helena Chum, que coordenou a redação do capítulo de bioenergia do SRREN (sigla em inglês para Relatório Especial sobre Fontes de Energia Renovável e Mitigação das Mudanças Climáticas). O relatório foi lançado no ano passado pelo IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas), da ONU (Organização das Nações Unidas). “Hoje, já há uma estrutura de mercado para esses produtos. São commodities, cada vez mais negociadas em várias regiões do mundo”, afirma. Segundo Helena, a grande demanda, principalmente por parte de países europeus, de fontes renováveis – que vão des74 AméricaEconomia Março, 2012

de a energia solar e eólica até os pellets de madeira – oferece oportunidades bastante interessantes. “Já se percebe que esses produtos, como o etanol, são uma commodity. E biotecnologias que geram produtos sólidos, como é o caso dos pellets, têm a vantagem de serem mais fáceis de serem transportados.” Para a professora, o Brasil já é hoje um país desenvolvido no que se refere à utilização da biomassa. O emprego de novas tecnologias, como os métodos transgênicos no cultivo de cana-de-açúcar, poderá elevar a produtividade, favorecendo assim a produção de energia renovável. Colega de Helena na redação do capítulo de bioenergia do SRREN, o professor André Faaij, da Universidade de Utrecht (Holanda), pondera que a utilização mundial de biomassa para gerar energia deverá registrar um aumento de 10% por ano na próxima década. “Esse desempenho depende de políticas de governo dos países, mas o aumento dos preços do petróleo, a preocupação com a sustentabilidade e a chegada de novas tecnologias deverão estimular a produção de bioenergia”, afirma.

Faaij também avalia que as metas estabelecidas por países desenvolvidos para reduzir suas emissões de CO2 contribuirão para gerar oportunidades para o Brasil – especialmente no que se refere à exportação de pellets de madeira. “Essa biomassa tem mais possibilidade de atingir critérios de sustentabilidade e permitir a redução na emissão de gases.” Hassuani, do CTC, lembra que algumas iniciativas foram adotadas no sentido de se incentivar a produção desse tipo de energia. Ele cita a redução do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços) adotada pelo governo paulista no ano passado para equipamentos destinados a unidades que geram energia a partir da biomassa da cana-de-açúcar. E, de agora em diante, as empresas deverão perceber melhor o valor dos resíduos que produzem para a geração de energia. “Os governos estão aderindo a protocolos internacionais na área do meio ambiente, e isso vai gerando incentivos para as companhias utilizarem fontes renováveis de energia”, pondera Ávila, da Marfrig.


OPINIÃO

Luiz Fernando Furlan foi ministro de Estado do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (2003/2007).

Nem tanto ao mar, nem tanto à terra

O

Ilustração: Stefan

Brasil é dependente de commodities”. Esta é uma frase recorrente, mas não deve ser analisada de forma simplista. Na época em que estive no Ministério do Desenvolvimento, o país chegou a ter mais de 50% de suas exportações baseadas em produtos industrializados. Este é um objetivo permanentemente importante: ter a exportação de produtos com valor agregado. Mas, para os distraídos, é bom lembrar que,principalmente no caso de commodities agrícolas, é grande a tecnologia que existe para sermos competitivos. Sem isso, não veríamos o avanço da soja no país, da forma como se deu. O país conseguiu superar a competitividade americana no grão. Nos anos 1970, a soja era um produto restrito às fazendas do Rio Grande do Sul, depois ao Paraná. Hoje, planta-se soja também no Centro-Oeste e no Nordeste. Tudo isso tem a ver com o desenvolvimento de tecnologia. Por trás das commodities, há uma infraestrutura de alta tecnologia que levou o Brasil a expandir sua fronteira agrícola para a região do cerrado, a desenvolver novas sementes e a se tornar um dos maiores produtores mundiais de equipamentos agrícolas. E, claro, é preciso falar do que

não se vê quando o assunto é agronegócio, como a geração de empregos e a de riqueza que irriga em diferentes níveis o setor de produtos e serviços. Em cada caixa de frango, há dez embalagens plásticas e uma caixa de papelão. A Brasil Foods, por exemplo, é a maior exportadora brasileira de caixas de papelão. Isso mostra que o agronegócio agrega valor em outras cadeias produtivas. Sem falar dos efeitos que esse protagonismo brasileiro no agronegócio mundial tem sobre as contas do governo. O superávit na balança comercial gerado nos últimos dez anos, a partir de 2003, é fundamentalmente baseado no agronegócio. Esse superávit é o cerne das reservas do Banco Central, de US$ 350 bilhões, que fazem com que o Brasil hoje passe relativamente tranquilo pela crise mundial. Não fosse a exportação de commodities, o país não teria esta situação tranquila. No capítulo das commodities minerais, a Vale é a empresa mais superavitária em comércio exterior no país. Sozinha, ela exportou US$ 36,85 bilhões a mais do que importou em 2011. No caso dos minérios, os ganhos também são vistos no desenvolvimento de infraestrutura. Para escoar a produção, é preciso investir muito em ferrovias e portos.

Digo tudo isso no sentido de não se desprezar as commodities e o esforço que envolve esse tipo de negócio, quando se fala em agregação de valor. E, apesar de dependermos tanto das commodities, não somos seus reféns. O país não tem uma dependência desta ou daquela commodity. Se olharmos a pauta brasileira de exportações, veremos que o setor mais preponderante talvez represente cerca de 10% do total, não mais que isso. Claro que existe uma ameaça, ainda que muito tímida, ao protagonismo do Brasil como fornecedor mundial de alimentos, já que existe uma crise econômica mundial que pode contaminar, em maior ou em menor proporção, nossos parceiros comerciais. É aí que entra a China. Vemos um esforço muito grande dos chineses em investir em países que possam assegurar o fornecimento de matérias-primas, principalmente no continente africano, mas também em território brasileiro, onde eles têm comprado propriedades agrícolas voltadas à produção de grãos. Isso deveria nos despertar para um tema central: o capital estrangeiro no investimento em terras no país. Existe uma norma constitucional estabelecendo que o capital estrangeiro não deve ser discriminado. Ao mesmo tempo, há um regulamento que limita a posse de terras por estrangeiros. Este tema deveria ser olhado mais de perto. Não é fácil estimular os investimentos sem que haja uma perda da soberania, mas é necessário. Está certo buscar aumento de valor e incremento da exportação de serviços. Mas é impossível ser o melhor em tudo. Portanto, nossas vantagens competitivas devem ser cultivadas.

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DEBATES

Inovação

Laranja no tanque Tecnologia britânica promete encurtar a corrida por melhores biocombustíveis e reduzir a carga de CO2 na atmosfera. A aposta é a fruta brasileira, ou melhor, sua casca Loreto Urbina, de Londres

N

a safra 2010/2011, o Brasil produziu 15,3 milhões de toneladas de laranja. Aproximadamente 86% desse total foi destinado à indústria de suco de laranja fresco. Imagine a quantidade de cascas resultantes dessa atividade. O volume produzido nos pomares brasileiros – responsável por 60% das exportações mundiais de suco – foi mais do que suficiente para chamar a atenção do químico britânico James Clark. O professor do Centro de Química Verde da Universidade de York, no Reino Unido, revolucionou a última Feira Científica Britânica ao apresentar um método que permite transformar cascas de laranjas em biocombustíveis usando energia de micro-ondas. Trata-se de uma das várias pesquisas realizadas no velho continente para desenvolver biocombustíveis que ajudem a diminuir as emissões mundiais de CO2. Contudo, o caminho em direção a uma indústria sustentável de biocombustíveis está permeado de obstáculos econômicos e riscos ambientais. A tecnologia concebida por Clark integra o projeto Opec (Orange Peel Exploitation Company). Ela consiste em triturar a casca da laranja e colocá-la no micro-ondas da mesma forma que se fa-

76 AméricaEconomia Março, 2012


Fotos: Shutterstock

ria com um forno caseiro, obtendo celulose e outros componentes. “A pele da laranja contém um interessante elemento químico que é muito facilmente transformado em combustível”, afirma Clark. A União Europeia contribuiu com € 6 milhões para o projeto, no qual colaboram também o Carbon Trust, maior organização britânica especializada na diminuição das emissões de carbono, e a USP (Universidade de São Paulo). Agora, Clark e seu grupo trabalham na unidade de processamento de prova, que lhes permitirá tratar 30 quilos de casca de laranja (e outros cítricos) por hora. Envolvido com pesquisas que utilizam resíduos para a criação de combustíveis alternativos, o professor titular do IFSC/USP (Instituto de Física de São Carlos, pertencente à USP), Igor Polikarpov, esteve à frente de uma pesquisa sobre a produção de bioetanol a partir de biomassa da indústria de celulose. Em sua opinião, a utilização de cascas de laranja como matéria-prima para a produção de biocombustíveis é bastante interessante. “É necessário equacionar primeiro como obter o maior valor agregado por meio das tecnologias disponíveis. Utilizando-se comercialmente o limoneno [constituinte majoritário do óleo da casca de laranja], com alto valor agregado, é possível transformá-lo em um subproduto da geração do biocombustível, barateando assim o processo como um todo”, afirma o professor. Esse barateamento, de acordo com Polikarpov, é essencial para tornar o processo efetivamente competitivo. “Atualmente, a casca de laranja é utilizada como alimento para animais. Por essa razão, o seu aproveitamento como biomassa deve levar em conta o melhor aproveitamento econômico, a fim de tornar o processo mais atrativo.” Além de liderar a produção mundial de suco de laranja, o Brasil é um dos principais fornecedores de etanol para biocombustíveis. Em 2010, produziu cerca de 28 bilhões de litros de etanol. O projeto de Clark propõe uma

convergência entre as duas indústrias – laranja e cana-de-açúcar. Mas existe uma polêmica entre partidários e detratores dos biocombustíveis. Um estudo recente da Universidade Estadual do Oregon concluiu que todas as leis de biocombustíveis vigentes nos Estados Unidos reduziriam o uso de combustíveis fósseis em apenas 2,5%, a um custo de US$ 67 bilhões. SEGUNDA GERAÇÃO Marvin Marcus, cientista e ambientalista da Escola de Biologia da Universidade de Nottingham, no Reino Unido, que colabora com o Programa Lace (Lignocellulosic Convertion to Ethanol), focado na produção de etanol a partir de resíduos agrícolas, defende alternativas como a da casca da laranja – os chamados biocombustíveis de segunda geração. A Europa está de olho neles, particularmente na produção de etanol a partir de resíduos de palha (waste straw). Marcus não considera que possa haver uma tecnologia sem efeitos colaterais para o meio ambiente. Contudo, os biocombustíveis extraídos de resíduos de palha provêm de materiais de descarte de outras indústrias, o que os transforma em um subproduto. Um estudo do Imperial College de Londres tratou do conflito entre o uso energético e alimentício dos cultivos. Sua conclusão é a de que a substituição gradual de combustíveis fósseis por biomassa só será possível se houver o aumento da produtividade agrícola e seus descartes forem melhor aproveitados.

86%

da produção nacional de laranja é transformada hoje pela indústria em suco

O chileno Claudio Ávila, do Departamento de Química e Engenharia Ambiental da Universidade de York, concorda com Marcus em relação aos efeitos colaterais de alguns biocombustíveis. O uso indiscriminado dos recursos atenta contra a produção de alimentos ou gera aéreas de monocultivos para satisfazer às necessidades de matéria-prima para a produção de combustível. No entanto, Ávila sustenta que esses efeitos colaterais serão reduzidos “`à medida que evoluir a tecnologia empregada, o que depende de fatores econômicos e sociais”. Na opinião do cientista, a principal barreira para a produção de biocombustíveis na América Latina é o alto custo do investimento, assim como a baixa rentabilidade a longo prazo para investidores. No entanto, Ávila acredita que os biocombustíveis poderiam suprir as necessidades energéticas em pequenas comunidades distantes das grandes economias de escala. Por exemplo, a quantidade de gás metano gerado pela fermentação de lixo de um depósito é muito pequena para incentivar uma empresa a investir nele, “mas pode ser uma fonte valiosíssima para uma pequena comunidade agrícola que deseje aquecer casas ou estufas”, salienta. Clark defende sua tecnologia de micro-ondas exatamente com base na questão dos custos. O cientista pondera que, com ela, não busca recriar o tamanho das grandes refinarias de petróleo, mas oferecer uma tecnologia barata e modular. O aparelho de micro-ondas é relativamente pequeno e fácil de ser deslocada para onde estão os rejeitos. “O maior que conheço, capaz de trabalhar com seis toneladas por hora, tem cinco ou seis metros de comprimento”, afirma. Se o projeto vingar, é provável que seu copo matutino de suco de laranja (ou do drinque com vodca da happy hour) sirva também para abastecer seu tanque de combustível. Com a colaboração de Sérgio Siscaro, de São Paulo.

Março, 2012 AméricaEconomia 77


DEBATES

COMÉRCIO INTERNACIONAL

Palavra de ordem: proteger o “8” A China seguirá cautelosa diante do delicado cenário econômico. Um crescimento menor afetará as exportações latino-americanas, mas também criará oportunidades Natalia Tobón, de Pequim

O

número 8 é símbolo de sorte na China, porque sua sonoridade é semelhante à da palavra “tesouro”, que representa dinheiro e fortuna. Há mais de seis anos, o governo chinês afirmou que, para sua estabilidade econômica, o país deveria crescer a uma taxa mínima de exatamente 8%. O número foi facilmente atingido, superando os dois dígitos em 2009. No entanto, a China fechou 2011 exibindo números claros de desaceleração,

com crescimento de 9,2%, menor que os 10,4% do ano anterior. Por isso, se 2011 foi dedicado a combater a inflação, o objetivo de 2012 é manter a estabilidade. Trata-se exatamente de “proteger o 8” em um ano difícil. E os alertas já soaram, pois uma queda no crescimento chinês teria efeitos consideráveis – especialmente no ano de mudança de governo do gigante asiático. Em relação a projeções para 2012, o FMI (Fundo Monetário Internacional) calcula um crescimento de 8,4%. Os

analistas do Banco da China, seguindo com o simbolismo numérico, colocam-no em 8,8%. Embora uma cifra inferior a 9% não seja vista desde 2001, a previsão não é motivo para desespero. Isso, considerando uma economia global “severa e complicada”, como classificou o Ministério do Comércio chinês. Em meados de dezembro passado, a China anunciou para 2012 uma política monetária prudente e uma política fiscal proativa. Não haverá grandes mudanças no plano quinquenal, colocado

Fotos: Shutterstock

Problemas com o crédito e a inflação podem comprometer a demanda interna chinesa

78 AméricaEconomia Março, 2012


em operação no início de 2011. A crise da dívida da Europa e os fracos gastos do consumidor nos Estados Unidos exigem cautela. Nesse cenário, as exportações chinesas foram reduzidas. Para este ano não se espera nenhuma melhora. Esse avanço diminuiu especialmente nos últimos meses, deixando novembro passado com a maior queda desde 2001 (13,8%). Em dezembro, a alta foi de 13,4% na comparação com o igual período de 2011. As consequências nas PMEs (pequenas e médias empresas), das quais dependem aproximadamente 80 milhões de empregos, já estão se manifestando. Centenas de fábricas fecharam em 2011 e houve surtos de protestos sociais. Em setembro passado, por exemplo, o cenário do descontentamento foi uma das mecas das PMEs chinesas: a cidade de Wenzhou, no sudeste do país. Centenas de trabalhadores interromperam o trânsito na região clamando por seus salários, após a falência de uma fábrica de óculos de sol. A indignação ser vista também na China é um claro sinal de alerta. OPORTUNIDADE Por sua dependência da exportação de matérias-primas, a América Latina será afetada pela desaceleração chinesa. Embora sejam poucos os economistas que arriscam um prognóstico categórico, a maioria espera que, no curto prazo, os vínculos comerciais continuem crescendo, mas a um ritmo menor. “Pelo menos nos próximos três a cinco anos, a demanda por matéria-prima latino-americana permanecerá forte”, afirma Matt Ferchen, pesquisador de assuntos latino-americanos da Universidade Tsinghua de Pequim, ressaltando que o mercado de commodities em 2012 não dependerá apenas da China, mas também de outros agentes mundiais. É fato que, durante 2011, o mercado chinês começou a dar mais importância a sua demanda interna. “Antes, concentrávamos a atenção nos investimentos públicos, no comércio exterior. Hoje, devemos atender a um terceiro pilar, que é

Pequenas e médias fábricas chinesas começam a ter dificuldades de caixa

nossa demanda interna”, comenta o professor Wu Guoping, integrante da ACCS (Academia Chinesa de Ciências Sociais). Esse maior protagonismo do mercado interno abre uma possibilidade maior à entrada de outros produtos latino-americanos, além das velhas commodities. Por exemplo, alimentos. Guoping destaca os casos do Chile, que tem buscado exportar, além do cobre, vinhos e frutas; e da Argentina, que depende em 75% das exportações de soja, segundo dados da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe). “A China precisa diversificar os produtos de importação, assim como a América Latina deve fazer um esforço para exportar outros produtos”, acrescenta o acadêmico. Contudo, para acentuar a demanda interna, a China precisa enfrentar dois obstáculos: o problema do crédito e a inflação. Por isso, em meados de dezembro de 2011, foi anunciado um corte nas reservas obrigatórias para os bancos, em 50 pontos básicos. Por outro lado, o presidente do banco central chinês anunciou a intenção de flexibilizar o yuan antes de 2015. No entanto, já se colocou em dúvida a possibilidade real dessa mudança, por causa da instabilidade que poderia ser provocada pela reforma na moeda da segunda maior potência econômica mundial. No momento, trata-se apenas de promessas diante de um ano difícil. Por outro lado, prevê-se que, com o aumento de custos na China, chegará um ponto em que o sistema atual de produção não se sustentará. “É preciso mudar a estrutura de exportação. O país não pode continuar exportando itens manufaturados de baixo valor agregado, mas

deve começar a exportar produtos de alto valor agregado”, comenta o professor Guoping. Por isso, a China deve começar a considerar opções para o atual modelo de crescimento. A solução proposta pelo professor Jiang Shixue, também da ACCS, é pensar em uma aliança estratégica entre Europa, China e América Latina: “A triangulação entre Europa, China e América Latina deve ser construída sobre relações econômicas. Uma das grandes possibilidades pode ser a criação de um fundo comum para facilitar o investimento europeu e chinês na América Latina”, afirma. Guoping ressalta a importância de o mundo deixar de pensar na “ameaça chinesa”. “É o momento de fazer alianças”. É hora de reflexão, mas ficam dúvidas sobre a capacidade real da China de externalizar seus empregos e sua mão de obra – e de compartilhar seu sucesso e avanço em direção à supremacia econômica, já que a ascensão não foi interrompida. A China tem sido um colchão para a América Latina no sentido de amortizar a crise financeira. Por isso mesmo, se chover na China em 2012, a América Latina deverá pegar um guarda-chuva. Em termos mais específicos, se para alcançar os 8% de crescimento o governo chinês decidir impulsionar decididamente a demanda à custa do investimento, algumas commodities de mineração poderão ser afetadas. Em todo caso, uma coisa é certa: a China não é um país de mudanças rápidas ou movimentos bruscos. “A economia chinesa é enorme, e qualquer política só tem efeito depois de muito tempo”, aponta Shixue. Março, 2012 AméricaEconomia 79


IBIZ

Ainda mais portátil Os fabricantes de computadores dão o pontapé inicial em uma nova categoria de dispositivos com a promessa de desenvolver um segmento de aparelhos móveis a serem usados no trabalho Christopher Halloway, de Las Vegas

E

ste será o ano dos ultrabooks... Ou pelo menos é nisso que apostam Intel, HP, Sony, Lenovo, Samsung e praticamente qualquer fabricante de computadores móveis além da Apple. A previsão foi mencionada em cada lançamento, feira ou fórum de discussão nos últimos meses. Porém, como acontece com toda nova tecnologia ou denominação, poucos sabem em detalhes suas características e funções, e menos ainda se esses equipamentos terão um sucesso real no competitivo mercado da tecnologia. O termo não corresponde a um dispositivo radicalmente novo, como foi o caso dos tablets em 2010, mas sim a uma estratégia da Intel de redefinir o mercado dos dispositivos a serem usados no trabalho, introduzindo um equipamento que combine a potência de um notebook com a portabilidade e o baixo preço de um tablet. Isso implica bater de frente com o Macbook Air, da Apple, mas oferecendo como vantagem uma amplitude de

80 AméricaEconomia Março, 2012

softwares e serviços em qualquer nível que não seja o puramente audiovisual ou então o artístico. O que define um ultrabook? Segundo a Intel, esta variedade de notebook precisa ser dotada da última tecnologia de processadores Intel Core (i3, i5 e i7), ter uma bateria com duração próxima a dez horas, peso similar ao do tablet, com espessura em torno de 0,7 polegada, tela na faixa de 13 e 14 polegadas e sistema operacional Windows. E um detalhe igualmente importante: preço inferior a US$ 1 mil. “A Intel trabalhou na criação dos ultrabooks ouvindo clientes que buscavam equipamentos leves, que fossem além dos tablets, que não estavam tendo muita entrada no mundo corporativo por uma questão de compatibilidade de software”, afirma Eduardo Godoy, gerente de Desenvolvimento de Negócios da Intel Chile. “Os ultrabooks não vão tirar espaço dos tablets. Eles terão seu próprio espaço, semelhante ao que aconteceu com os netbooks, isto é, equi-

pamentos de acompanhamento que não necessariamente são equipamentos para trabalhar”. Estrelas em las vegas A CES (Consumer Electronic Show), que acontece em Las Vegas (EUA), é a maior feira de tecnologia de consumo do mundo. Os serviços e produtos lançados no evento costumam marcar a agenda do que será o ano tecnológico em todo o globo. Em 2011, foram apresentados centenas de tablets, e ninguém pode duvidar de que eles foram o artigo eletrônico mais relevante do ano. Antes vieram a TV 3D, o netbook, o Blu-ray. Este ano, em Las Vegas, a CES viu o lançamento de quase 50 ultrabooks, e suas diferentes variações e características foram assunto obrigatório entre os visitantes. Samsung, Sony, Lenovo, HP, Dell, Toshiba, Acer e Asus apresentaram, em seus respectivos setores, um ou vários desses dispositivos. Entre os produtos, modelos inéditos como o IdeaPad YO-


Montagem sobre fotos da Shutterstock e divulgação

GA, da Lenovo, um ultrabook que gira seu teclado para se transformar em um tablet totalmente tátil, e opções como o Envy 14 Spectre, da HP, que se destaca por sua tela Gorilla Glass e a inclusão da tecnologia NFC (sigla em inglês para “comunicação por proximidade de campo”) para realizar compras ou transmissão de informações a curta distância. Como apontou o CEO da Intel, Paul Otellini, em seu discurso para a CES, cerca de 75 modelos devem chegar ao mercado durante 2012. Mas as críticas e dificuldades já surgem para esses novos dispositivos. Segundo Mykola Golovko, pesquisadora da empresa Euromonitor International, a proposta de portabilidade e rendimento pode jogar contra eles por uma razão mais do que relevante: o preço. “Os produtores precisaram incorporar caros discos de estado sólido [SSD, na sigla em inglês] para reduzir peso e espessura, aumentar a vida da bateria e reduzir o tempo de inicialização e reinicialização”. A especialista afirma que a proposta dos ultrabooks de combinar o melhor dos laptops e dos tablets só pode ser um forte gerador de vendas se eles puderem cumprir a promessa de ter baixo custo e peso. “Cumprir apenas metade da promessa, oferecendo um laptop leve, não será suficiente para atrair os consumidores”, avalia. Ainda assim, há aqueles mais otimistas, como a empresa de pesquisa de mercado IHS, que em seu relatório iSuppli Compute Platforms Service prevê que,

em 2012, os ultrabooks conseguirão abocanhar a 13% do segmento de portáteis, subindo para 28% em 2013 e 38% em 2014, praticamente substituindo os netbooks e roubando uma boa fatia de mercado dos notebooks. Ultracorporativos De que forma esses dispositivos atenderão às empresas e com quais características? Segundo Juan Carlos Barroux, gerente da Intel para Bolívia, Chile e Paraguai, os dispositivos contam com soluções específicas e úteis para os clientes de diferentes empresas. “Esses equipamentos vêm com sistemas operacionais Windows Enterprise, ideais para os clientes empresariais, além de contar com a tecnologia Intel de Proteção à Segurança [IPT, na sigla em inglês]”. Essa tecnologia permite armazenar todas as informações de forma criptografada no disco. “Somado ao baixo tempo de inicialização e reinicialização e às dez horas de bateria, ele se torna indispensável

US$ 1 mil é o valor máximo que deve custar um ultraportátil para ser atraente ao consumidor

para executivos e funcionários em deslocamento”, conclui Barroux. Outras características úteis para empresas, mas não exclusivas desses modelos, são a integração, dentro de alguns meses, do novo processador da Intel com tecnologia Ivy Bridge. Trata-se de uma engenharia totalmente nova que substituirá os tradicionais transistores planos por um modelo em três dimensões, aumentando a potência e a eficiência no uso de energia. A Ivy Bridge incluirá também o USB 3.0 para transferência rápida de arquivos e um sistema que permite mostrar até três saídas de vídeo independentes, o que pode ser útil em conferências e apresentações. Dentro das opções para empresas, já está disponível na América Latina o HP Folio 13. Mas praticamente todas as marcas anunciaram produtos com essas características para meados do ano, incluindo Lenovo, Dell e Samsung. “Daqui até o final de 2012, 40% do total de ultrabooks será especificamente para empresas”, afirma Barroux, da Intel. Que expectativas há com relação à adoção desses sistemas? Segundo o executivo, embora os parques de equipamentos se renovem ao longo de períodos de tempo, a aceitação dos ultrabooks deve ser ampla no ambiente dos executivos com alto grau de mobilidade. “Claramente, também é um case de marketing, da imagem que a empresa quer projetar: os ultrabooks são equipamentos elegantes que demonstram ter o que há de mais avançado em tecnologia e design”, aponta. Março, 2012 AméricaEconomia 81


OPINIÃO

Mac Margolis é correspondente de longa data da revista Newsweek. Realiza reportagens sobre o Brasil, outros países da América Latina e os mercados emergentes, e já colaborou para diversas outras publicações, entre elas The Economist, The Washington Post e The Los Angeles Times.

N

o início do ano passado, quando Dilma Rousseff assumiu a Presidência, a especulação fervia. Parte dos observadores internacionais temia que ela mantivesse a diplomacia tendenciosa da era Lula, seu padrinho e feitor político. Outra metade temia que ela recuasse. Mais de um ano, algumas viagens presidenciais e muito palavreado depois, as dúvidas permanecem. Que a política internacional desse país em ascensão está passando por transformações, ninguém duvida. Para onde vai é que ninguém sabe. A única certeza é que ficar como estava, não podia. Na gestão Lula, a historicamente discreta e objetiva política externa tomou anabolizantes. O petista decolava mundo afora, exortando os países emergentes a assumirem o protagonismo na nova geografia do poder global. Tal como João Havelange, o ex-chefão da Fifa, que construiu seu império ao levar a franquia do futebol global aos cafundós, Lula foi longe para estampar seu marco no mundo. Abriu mais de 60 embaixadas e consulados, tornando cada país um seu aliado em potencial na tentativa de conquistar um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas. A caminho, alfinetou as potências ocidentais (honras para os EUA) e os responsáveis pela crise financeira mundial (aquela gente “branca

e de olhos azuis”). Travou uma nova guerra fria à brasileira, uma reprise turbinada da política externa ativa e altiva da época militar. E agora? No governo Dilma há discretos, porém claros, sinais de mudança. Foi-se o ranço antiamericano, o sílabo marxista obrigatório dos formandos do Instituto Rio Branco e os afagos aos tiranos de Teerã a Pyongyang. Antes mesmo de tomar posse na Presidência, em entrevista ao Washington Post, Dilma criou celeuma ao criticar a política de Brasília pela indesculpável vista grossa aos abusos de direitos humanos no Irã. Parecia a senha de que a época Lula havia terminado. Uma vez no Planalto, calibrou o discurso. A diplomacia de Dilma absteve-se na resolução da ONU que condenou a violência da repressão do governo líbio contra civis. Tampouco endossou a censura à Síria, cuja sangrenta repressão à rebelião das ruas imprimia um novo padrão de barbárie à Primavera Árabe. E a mesma Dilma que deplorara a prática “medieval” de apedrejar mulheres não encontrou espaço na agenda para receber Shirin Ebadi quando a Nobel da Paz iraniana esteve no país. Mas em novembro, Brasília saiu do muro. Trocou o “abstencionismo” pela condenação inequívoca da brutalidade do regime de Bashar Al-Assad, uma verdadeira “libertação da camisa de for-

ça” que impedia nações em desenvolvimento de criticar uns aos outros, segundo Human Rights Watch. Tampouco passou despercebido o esfriamento com o Irã quando em janeiro, no auge da crise sobre seu duvidoso programa nuclear, Mahmoud Ahmadinejad fez um giro pela América Latina, sem escala no Brasil. Em vez de Dilma, seu cicerone foi o venezuelano Hugo Chávez, o combalido supremo da inexpressiva aliança bolivariana. Em abril, Dilma irá a Washington para seu segundo encontro com o presidente Barack Obama em pouco mais de um ano, pondo fim ao estremecimento entre os gigantes das Américas desde a época Lula. Já na viagem da presidente a Cuba, Brasília ficou no meio do caminho. Dilma levou a tiracolo uma delegação de empreiteiras, deixando claro que interesses comerciais e não ideológicos pautariam as relações bilaterais. Escapou de uma saia justa ao conceder visto à blogueira dissidente Yoani Sanchez, devolvendo a Havana o ônus da decisão de deixá-la viajar ao Brasil ou não. Mas ao ignorar os oposicionistas cubanos e ainda, ao lado de Raul Castro, bater o tambor contra abusos de direitos humanos dos Estados Unidos, ela virou alvo fácil das mesmas críticas da era Lula. A diferença, talvez, seja mais no tom do que no teor. Hoje, não são afinidades ideológicas que regem os laços do Brasil com o mundo, senão oportunidades econômicas e comerciais. Cinismo? Hipocrisia mercantilista? Talvez. Mas atire a primeira pedra a grande potência que não subscreva a essa cartilha de realpolitik. São críticas duras, mas familiares, de um Brasil menos exaltado e mais centrado em seus interesses. Se a política da era Dilma ainda não disse a que veio, pelo menos deixou de ser a tempestade que havia virado ultimamente. A guerra fria à brasileira acabou. O que virá depois, ainda se desenha.

Ilustração: Stefan

“Dilmaplocia”


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