Cent r odeP ar t oHumani z ado eCl í ni c aObs t ét r i c a naCi dadedeF or t al ez a
O LUGAR DE NASCER: Centro de Parto Humanizado e Clínica Obstétrica na Cidade de Fortaleza.
Ana Edméa Teixeira Elias Orientadora: Vládia Barbosa Sobreira
Ana Edméa Teixeira Elias
O LUGAR DE NASCER: CENTRO DE PARTO HUMANIZADO E CLÍNICA OBSTÉTRICA NA CIDADE DE FORTALEZA.
Trabalho Final de Graduação apresentado ao Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Fortaleza, como requisito parcial para obtenção do Título de Arquiteto e Urbanista.
ORIENTADORA: VLÁDIA BARBOSA SOBREIRA
FORTALEZA - CE 2016
Ficha catalográfica da obra elaborada pelo autor através do programa de geração automática da Biblioteca Central da Universidade de Fortaleza
Elias, Ana Edméa Teixeira. O Lugar de Nascer: Centro de Parto Humanizado e Clínica Obstétrica na Cidade de Fortaleza / Ana Edméa Teixeira Elias. - 2017 108 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) - Universidade de Fortaleza. Curso de Arquitetura e Urbanismo, Fortaleza, 2017. Orientação: Vládia Barbosa Sobreira.
1. Arquitetura Hospitalar. 2. Parto Humanizado. 3. Maternidade. 4. Humanização. I. Sobreira, Vládia Barbosa. II. Título.
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AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus, por me fortalecer em cada obstáculo me dando força e paciência para superar cada desafio desta caminhada. À minha família, por acreditar no meu potencial e estar sempre comigo me apoiando e me fazendo acreditar que posso ir além. Vocês são o meu Porto Seguro, que permanecem incondicionalmente ao meu lado apesar dos altos e baixos da vida. À minha orientadora, Vládia Sobreira, que além de professora é para mim uma grande inspiração, não somente por sua competência profissional, mas principalmente por sua admirável grandeza humana. São profissionais e pessoas como você que contribuem para a evolução da sociedade e do mundo. Obrigada pelos ensinamentos, pelo apoio, paciência e sobretudo, pelo exemplo. Aos meus Arqui-Amigos Kaito Loui, Lucyola, Mirela, Angélica, Gigi e Elita. Sem o apoio de vocês eu não teria conseguido chegar até aqui. Uma vida sem amigos é como uma travessia sem cor. Tenho o privilégio de tê-los ao meu redor. Cada um a seu modo tem um valor único e inestimável pra mim. Ao meu Namorado e Amigo Lucas, que entendeu todos os altos e baixos dessa caminhada e esteve sempre ao meu lado me apoiando com ternura, respeito e amor. A todos, o meu mais sincero e amoroso MUITO OBRIGADA!
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Les mères sont les gardiennes de la vie. Elles incarnent la mystérieuse régénération à la base de toute humanité. La richesse de la sagesse dont elles ont hérité est transmise de génération en génération, de mère en fille, dans le monde entier. La maternité est une cause commune, un don universellement chéri et une expérience à partager.
(As mães são as guardiãs da vida. Elas incorporam a regeneração misteriosa da base de toda a humanidade. A riqueza da sabedoria herdada é transmitida de geração em geração, de mãe para filha, em todo o mundo. A maternidade é um propósito comum, um dom universal e uma experiência única a ser compartilhada com o mundo.)
JACKSON , D. (2000 )
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SUMÁRIO 1. APRESENTAÇÃO ....................................................................... 12
2. JUSTIFICATIVA ........................................................................
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3. OBJETIVOS ..............................................................................
19
3.1 Objetivo Geral ............................................................................
19
3.2 Objetivos Específicos ................................................................ 19
4. METODOLOGIA .......................................................................... 20
5. REFERENCIAL TEÓRICO ...........................................................
22
5.1 Histórico da assistência ao Nascimento ................................... 22 5.2 Políticas voltadas à maternidade no Brasil ...............................
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5.3 Centro de Parto Normal: conceitos ............................................
27
5.4 Efeitos do ambiente sob a percepção humana .........................
29
6. REFERENCIAL PROJETUAL ....................................................
30
6.1 Centros de Parto no Mundo .......................................................
31
6.2 Centros de Parto no Brasil .........................................................
33
6.3 Centro de Parto Normal em Fortaleza .......................................
37
7. REFERENCIAL TÉCNICO ..........................................................
48
7.1 Programa de Necessidades ....................................................... 53 7.1.1 Resumo do Quadro Geral de Áreas ................................... 53 7.2 Terreno ....................................................................................... 57 7.3 Condicionantes Legais .............................................................. 59 7.4 Diretrizes Projetuais ..................................................................
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8. MEMORIAL JUSTIFICATIVO .....................................................
61
8.1 Implantação ............................................................................... 62 8.2 Setorização ...............................................................................
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8
8.3 Fluxos ......................................................................................... 66 8.3.1. Fluxos no Pavimento Térreo .............................................
68
8.3.2. Fluxos no Segundo Pavimento .........................................
69
8.3.3. Fluxos no Terceiro Pavimento .........................................
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8.4 Sistema Estrutural ...................................................................... 70 8.5 Conforto Térmico .......................................................................
71
8.6 Coberta.......................................................................................
72
8.7 Materiais para alvenarias, tetos e fachadas .............................. 73 8.8 Estudo Volumétrico ....................................................................
75
9. CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................
79
10. REFERÊNCIAS ...........................................................................
80
11. CADERNO DE PRANCHAS DO PROJETO ............................... 85
‘
Imagem 01 – Foto de mães grávidas. Fonte: http://www.madameamelia.com.br/
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LISTA DE IMAGENS Imagem 01 – Foto de mães grávidas .........................................................
p.07
Imagem 02 – Ilustração Parto Normal ........................................................ p.12 Imagem 03 – Mãe com Recém Nascido .....................................................
p.12
Imagem 04,05 e 06 – Venus, Akna e Artemis; deusas da fertilidade .........
p.14
Imagem 07 – Foto de Parto Cesariano .......................................................
p.18
Imagem 08 – Mãe com Recém-Nascido .....................................................
p.19
Imagem 09 – Ilustração de Nascimento Indigena .......................................
p.24
Imagem 10 – Maternidade na Cultura Negra ..............................................
p.25
Imagem 11 - Tipos de parto humanizado ..................................................
p.27
Imagem 12 -- Taxas de Cesárea. Panorama Mundial ................................
p.27
Imagem 13 – Indice de Cesárea por Pais ..................................................
p.28
Imagem 14 – Implantação Halcyon Birth Centre ......................................
p.29
Imagem 15 – Planta Baixa Halcyon Birth Centre........................................
p.30
Imagem 16 – Halcyon Birth Centre .............................................................
p.31
Imagem 17, 18, 19, 20 e 21 - Halcyon Birth Centre....................................
p.31
Imagem 22 – Taxas de Cesária no Brasil....................................................
p.32
Imagem 23 – Vista aérea da Casa do Parto de Sapopemba (SP) .............
p.34
Imagem 24 - Casa do Parto de Sapopemba (SP) ......................................
p.35
Imagem 25 – Mapa de Distribuição de Hospitais com Maternidade na Cidade de Fortaleza ..................................................................................... p.36 Imagem 26, 27 e 28– Sala de Parto Normal do Hospital Regional da Unimed. ........................................................................................................ p.37 Imagem 29 – Em destaque a Planta do Centro de Parto Normal do Hospital Distrital Gonzaga Mota Messejana (Setor ainda sem funcionar)...
p.38
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Imagem 30 e 31 – Sala Individualizada para Parto Humanizado no Hospital Distrital Gonzaga Mota Messejana. .............................................
p.39
Imagem 32 –Posto de Enfermagem. Hospital Distrital Gonzaga Mota p.39 Messejana..................................................................................................... Imagens 33 e 34 – Sala de espera para gestantes do Hospital Distrital Gonzaga Mota Messejana. ..........................................................................
p.39
Imagem 35 – Fachada no CPN construído pela UNIFOR dentro do p.40 HDGMM, ainda sem funcionar. .................................................................... Imagem 36 – Interior da Sala PPP com banheiro anexo incluso. Hoje serve como depósito para materiais hospitalares. .....................................
p.40
Imagem 37 - HDGMM. Interior do CPN, posto de enfermagem a Esquerda. Hoje serve como depósito para materiais hospitalares..............
p.40
Imagem 38 – Maternidade Escola Assis Chateaubrian...............................
p.41
Imagem 39 – Planta do Centro de Parto Humanizado da Maternidade Escola Assis Chateabrian ...........................................................................
p.41
Imagem 40 – Centro de Parto Humanizado da Maternidade Escola Assis Chateabrian. ................................................................................................ p.42 Imagens 41 e 42 – Copa (esquerda), entrada do Vestiário e Repouso (direita) do Centro de Parto Humanizado da Maternidade Escola Assis Chateabrian. ................................................................................................
p.42
Imagens 43, 44 e 45 – Sala de Parto Humanizado com banheiro anexo da Maternidade Escola Assis Chateabrian..................................................
p.43
Imagem 46– Sala de Apoio Neonatal do Centro de Parto Humanizado...... p.43 Imagem 47 – Parto por imersão em banheira .................................................
p.50
Imagem 48 - Foto da sala de Parto Humanizado da Clínica Opima (SP) ... p.50 Imagem 49– Vista aérea do terreno. Fonte: Google Earth. ........................
p.56
Imagem 50 – Vista aérea do terreno. Fonte: Google Earth.........................
p.56
Imagem 51 – Mapa dos Bairros de Fortaleza com destaque para localização do terreno .................................................................................. p.57 Imagem 52 – Recorte do Mapa de Zoneamento da Cidade de Fortaleza com desta8que para a localização do terreno escolhido.............................
p.58
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Imagem 53– Planta de Situação .................................................................
p.59
Imagem 54 – Planta de Apartamento ........................................................... p.60 Imagem 55 – Planta Implantação ...............................................................
p.61
Imagem 56 – Planta do CPN........................................................................ p.62 Imagem 57 - Planta da internação com o posto de enfermagem................. p.63 Imagem 58 – Pavimento Técnico................................................................. p.64 Imagem 59 – Pavimento Térreo, com destaque para a Circulação Vertical p.65 Imagem 60 – Indicação de fluxos ................................................................. p.66 Imagem 61 – Fachada Edifício de seis andares .......................................... p.67 Imagem 62 – Planta pavimento de consultórios..........................................
p.68
Imagem 63 – Planta do Setor Logístico ......................................................
p.70
Imagem 64 - Planta de Coberta .................................................................
p.70
Imagem 65 – Foto do Sanatório Paimo.......................................................
p.71
Imagem 66 – Foto do Sanatório Paimo - ....................................................
p.72
Imagem 67, 68 e 69 – Estudo Volumétrico .................................................
p.73
Imagem 70 a 78 – Maquete Eletrônica do Projeto ......................................
p.74
LISTA DE TABELAS Tabela 01 – Número de Salas para Parto Humanizado em Maternidades de Fortaleza ................................................................................................
p.41
Tabela 02 - Programa de Necessidades dos Centros de Parto Natural ....
p.42
Tabela 03 – NBR 50 - Programa de Necessidades dos Centros de Parto Natural.......................................................................................................... p.43 Tabela 04 – Programa de Necessidades dos Centros de Parto Normal ....
p.45
Tabela 05 - Resumo do Quadro geral de áreas..........................................
p.47
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1.
APRESENTAÇÃO De uma simples célula decorrem uma serie de transformações. As
unidades crescem espantosamente em número e tamanho. O volume chega a aumentar 6,5 bilhões de vezes, mas sempre obedecendo a complexas instruções com padrões rigorosos. As células vão se organizando em grupos com funções especificas, até formarem dezenas de variedades de tecidos e órgãos, diferentes entre si e compondo um universo complexo, mas perfeitamente organizado (CIVITA, 1986). A mulher recebeu do universo a missão de abrigar este processo, dando a ele uma morada segura para que estas transformações aconteçam e possibilitando assim a formação de uma nova vida. A gravidez é um dos fenômenos mais admiráveis da existência. Através dela, a complexa gênese da vida se faz presente na experiência humana. A mulher torna-se então um instrumento de renovação para o mundo e, sobretudo para si mesma. Mas apesar de toda a complexidade intrínseca ao processo, a natureza se encarregou de torná-lo fluido. E desta forma, por muitos milênios a humanidade experimentou e vivenciou a gestação como um fenômeno natural, que traz consigo mudanças e dificuldades que fazem parte da experiência materna. O mecanismo do parto opera-se com extraordinária precisão. As diferencias de tempo de duração das gestações normais são insignificantes e o processo se opera espontaneamente em momento muito bem fixado no tempo. Diversos fatores como o tônus, a contratilidade e pressão, além das influencias químicas e hormonais, auxiliam para a determinação do momento do nascimento. Mas apesar da frequente regularidade, o momento também surpreende por sua variação, que poderá ir de um ato biológico simples a um máximo de dificuldades e complicações; podendo custar até mesmo a vida da mãe e do feto. (MELLO, 1966).
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Imagem 02 – Ilustração Parto Normal. Fonte: http://3.bp.blogspot.com/8fZyGmh_CT8/UidUBhPef8I/AAAAAAAAHTM/2vUhui8LjJE/s1600/parto+normal.jpg
Imagem 03 – Mãe com Recém-nascido. Fonte: http://ivanacubasfotografia.com.br/
Na civilização moderna, a gravidez, o parto e amamentação passaram a ser vistos como um fenômeno complexo devido às variadas mudanças acarretadas. Um fenômeno natural foi ganhando novos significados. Para Mello, em seu livro publicado na década de 60, a mulher foi sendo doutrinada a
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enxergar o parto como sinônimo de sofrimento, pois desde criança ouviu falar que é um dos momentos mais difíceis e dolorosos da vida da mulher. Criou-se assim um progressivo sentimento de temor e preocupação. Em consequência, este medo tornou-se então o grande perturbador da harmonia neuromuscular do trabalho de parto e o sonho da maternidade foi sendo sufocado por um oceano de medo e apreensão (MELLO, 1966). Nas últimas décadas do século XX, a preocupação em oferecer maior segurança a vida materna e neonatal acabou por institucionalizar o momento do nascimento. O parto que comumente acontecia em casa sob os cuidados das parteiras e o apoio da família, passou a acontecer quase que plenamente em ambiente hospitalar. Seguindo essa onda, emergiu a possibilidade de escolher o tipo de parto, mas este é um assunto complexo e polêmico, pois os índices de cesariana aumentaram muito além do esperado em diversos países do mundo. A cesariana a pedido tem sido indicada como uma das causas do crescente aumento destes índices, mas diversos fatores estão envolvidos, tais como: aspectos
socioeconômicos,
preocupações
ético-legais,
características
psicológicas e culturais das pacientes e dos médicos. Além disso, também é preciso destacar a participação do médico como promotor de uma cultura intervencionista. Em estudo realizado com 156 gestantes de uma clínica privada na cidade de Osasco (SP) foi observado que algumas vezes o próprio obstetra estimulava a escolha por cesariana, superestimando a segurança e praticidade do processo. (CURY E MENEZES, 2006). Ao longo desta pesquisa foi possível entrar em contato
com
uma
ampla
gama
de
conhecimentos históricos e técnicos em torno deste tema. Assim, o nome AKNA surgiu como uma referência a uma personagem mitológica da cultura préColombiana da América Central. Para os povos da civilização Maia, Akna representava
“A
Mãe”,
deusa
da
Maternidade e do Nascimento. O mesmo nome também foi usado para designar a deusa
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da fertilidade e do Parto para os povos inuits, esquimós que habitavam o norte do Canadá e Alasca (CANADÁ, 2013).
IMAGENS 4,5 e 6 – Da esquerda para a direita: Venus, Akna e Artemis; deusas da fertilidade em diferentes civilizações. Fonte: http://the-many-names-of-god.com/category/inuit/.
2.
JUSTIFICATIVA O Brasil é o país do mundo que mais realiza cesarianas, contabilizando
aproximadamente 1,6 milhões de operações cesarianas por ano. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o percentual recomendado de cirurgias cesariana seria de 15%. No entanto, as taxas já chegam a 26% nos Estados Unidos, 21,3% na Inglaterra e 19% no Canadá. Já no Brasil, os números superam todos os países do mundo, contabilizando cerca de 56% do total de partos. Há, porém, uma diferença considerável entre os serviços de saúde, pois as cesarianas chegam a 85% no sistema privado e a 40% no SUS (MS/SVS/DASIS, 2013). A taxa de referência adequada a população brasileira calculada a partir de um instrumento desenvolvido pela OMS estaria entre 25% a 30% (BRASIL, 2016). Logo, o número de cesarianas no Brasil já contabiliza praticamente o dobro do recomendado pelo órgão mundial.
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Mesmo em ambiente hospitalar, a cesariana só deveria acontecer em casos de emergência, quando houvesse complicações que impedissem o parto normal. Estudos realizados pelo American Journal of Obstetrics and Ginecology mostraram que o parto normal é mais seguro. A mortalidade infantil para nascidos em cesáreas é 11 vezes maior quando comparada aos nascidos em partos normais e o número de óbitos maternos é 10 vezes maior em cesarianas que em partos normais. Isso porque a cesárea é uma intervenção cirúrgica e envolve riscos como: reações anafiláticas, infecções, complicações cirúrgicas e exposição a anestésicos. Além disso, alguns estudos revelaram que os bebês nascidos de parto normal têm menor propensão a doenças respiratórias, autoimunes e até obesidade (RODRIGUES, 2015). Mas segundo dados publicado pelo Ministério da Saúde, não há relação direta entre as taxas de parto cesariano e mortalidade neonatal. Em estudo de corte desenvolvido com 11.702 puérperas não foi encontrada diferença significativa na mortalidade neonatal entre o nascimento cesariano e vaginal. Porém, deixou-se claro que o estudo não tinha capacidade suficiente para avaliar este resultado. (BRASIL, 2016). Os avanços tecnológicos trouxeram diversos benefícios à sociedade. A saúde transformou-se em um mercado lucrativo e promissor, mas é necessário enxergar o ser humano de forma individualizada e não mecanizada. Com a evolução dos processos e necessidade de otimizar a produtividade, o tempo tornou-se um elemento importante e valioso. Mas a busca por uma assistência acelerada e dinâmica muitas vezes acaba por enfraquecer valores básicos e primordiais relacionados as emoções, percepções, sensações e experiências vivenciadas pelos pacientes dentro do universo hospitalar. Normalmente as pessoas já chegam nesses ambientes sentindo-se fragilizadas, por este motivo é necessário um ambiente acolhedor. Partindo dessa ideia, torna-se necessário explorar questões relacionadas ao ambiente das casas de parto, para que este momento possa ser vivenciado de forma plena pelas mulheres. Além da questão relacionada ao tipo de parto, a hospitalização do processo também trouxe algumas questões à tona. A medida que aumentou a segurança técnica do procedimento, alguns pontos foram perdidos ao longo deste caminho de mudanças. Não é difícil encontrar puérperas com queixas em relação às decepções e frustrações que vivenciaram neste momento tão
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especial na vida da mulher. Os casos de violência institucional tornam cada vez mais frequentes e conhecidos. Uma pesquisa realizada na Santa Casa de Misericórdia no Estado do Pará avaliou a experiência de puérperas atendidas no momento do Parto; de acordo com o estudo, a violência é a omissão do estado na garantia do direito da mulher. Os problemas encontrados começam com as dificuldades de acessar os serviços, o que faz a gestante peregrinar à procura de um lugar onde possa encontrar segurança, acolhimento e disponibilidade de leitos. Além disso, o uso sucessivo de tecnologias invasivas, ou ausência destas, quando necessária para redução da dor. As relações desiguais de poder entre profissionais acabam por eclodir em momentos de ação e omissão. (VIANNA, 2014). As Diretrizes para a operação cesariana no Brasil revelaram como justificativas que recomendam a operação cesariana programada: bebês com apresentação pélvica; mães com Infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV); casos de placenta prévia centro-total ou centro-parcial; mulheres que tenham apresentado infecção primária do vírus Herpes simples durante o terceiro trimestre da gestação e com infecção ativa no momento do parto. (BRASIL, 2016). Deve-se considerar que, juntamente com as questões sociais, estruturais e biomédicas que determinam a mortalidade materna no Brasil, as complicações maternas graves decorrentes da operação cesariana também contribuem para o aumento destas taxas no Brasil. Em relação aos impactos para o RecémNascido, a realização de operações cesarianas desnecessárias em mulheres com idade gestacional em torno de 37ª semana contribui para a prematuridade tardia iatrogênica. (BRASIL, 2016). Este grupo, denominado em Neonatologia como pré-termos tardios (LPT), vem aumentando a cada ano e com morbilidade crescente, e esta progressão está relacionado ao número crescente de intervenções obstétricas, especialmente nascidos por cesariana. Os fatores que têm contribuído para o aumento da prematuridade tardia parecem ser: préeclâmpsia e a ruptura prematura de membranas em casos de trabalho de parto pré-termo; o aumento da taxa das mulheres que decidiram ter filhos mais tarde, reprodução medicamente assistida e gestações múltiplas (SANTOS, 2010).
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Os nascimentos não devem ser programados durante o período da prematuridade tardia (34-37 semanas) sem indicações clínicas precisas, pois podem resultar na ocorrência de desconforto respiratório neonatal e consequente internação em unidades de terapia intensiva neonatal. A ocorrência de cesarianas também pode interferir no vínculo entre a mãe e o bebê, no aleitamento materno, no futuro reprodutivo da mulher e repercutir em longo prazo na saúde da criança. (SANTOS, 2010). No entanto, da mesma forma que a operação cesariana possui implicações complexas, são também complexos os motivos do seu uso excessivo no Brasil. As causas incluem a forma como a assistência ao nascimento é organizada no País, centrada na intervenção e escolhas individuais dos profissionais médicos, deixando de lado a abordagem multidisciplinar. Além disso, as características socioculturais, a qualidade dos serviços, as características da assistência pré-natal, que não prepara adequadamente as mulheres para o parto e nascimento. (BRASIL, 2016). Por este motivo torna-se necessário explorar soluções que auxiliem na transformação desta realidade, visando melhorias que se estendam às diversas demandas existentes no Brasil. Neste trabalho o espaço será tomado como ponto de partida para a transformação da situação que repousa sobre o nascimento. O ambiente poderá assim representar um fator de mudança de uma realidade frequente.
Imagem 07 – Foto de parto cesariano. Fonte: http://www.cartacapital.com.br/saude/partohumanizado-o-que-explica-a-sede-da-imprensa-por-sangue-2215.html/cesarea
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3.
OBJETIVOS 3.1 – Objetivo Geral Projetar um Centro de Parto Normal que atenda às gestantes com um
atendimento humanizado, considerando os aspectos socioculturais, econômicos e de saúde pública. 3.2 – Objetivos Específicos
Avaliar o histórico da assistência voltada à saúde materno-infantil, assim como as políticas voltadas ao incentivo do parto normal.
Analisar a realidade das casas de parto em diversos lugares do mundo para assim, formar um repertório teórico capaz de auxiliar na transformação da realidade brasileira.
Apresentar a distribuição e abrangência dos Estabelecimentos de Saúde de Fortaleza que oferecem o serviço de Parto Humanizado.
Utilizar a legislação pertinente ao tema, envolvendo os centros de parto normal no Brasil.
Averiguar possíveis entraves que limitam a implantação das CPN na cidade de Fortaleza;
Imagem 08 – Mãe com Recém-nascido. Fonte: http://financasfemininas.uol.com.br
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4. METODOLOGIA Este trabalho surgiu como resultando de uma pesquisa em torno da temática de humanização do parto no Brasil. Para isso foi inicialmente realizado um estudo descritivo, transversal, de abordagem quantitativa que explorou a realidade de Fortaleza em relação a este tema. Foi realizada uma pesquisa bibliográfica de modo a enriquecer e embasar os conceitos, para então aplicálos no projeto. A pesquisa teórica foi realizada através de livros, artigos, revistas, notícias de jornais e sites. A busca dos textos foi feita através do google acadêmico, bases de dados vinculadas ao sistema Unifor e por livros das bibliotecas da UNIFOR e UFC. Foram selecionados trabalhos relacionados aos temas: Arquitetura Hospitalar, Saúde Pública, Prática Obstétrica e Centro de Partos Normal. Para o levantamento de dados sobre a situação de Fortaleza em Relação ao Sistema de Humanização do Parto Normal foi feito contato com a Secretaria de Saúde do Estado do Ceará, visitas técnicas aos Hospitais com parto humanizado e pesquisa com profissionais da área. A Secretaria de Saúde disponibilizou planilhas com os números de partos e assim foi possível analisar e cruzar essas informações com os dados encontrados na pesquisa bibliográfica. Além da pesquisa teórica foram realizadas também visitas técnicas a espaços relacionados ao tema que se localizem na cidade de Fortaleza. Foram visitados todos os Hospitais públicos que ofereciam minimamente condições para a realização do parto humanizado em Fortaleza, que são: Hospital Distrital Gonzaga Mota de Messejana, Hospital e Maternidade Dra. Zilda Arns Neumam (Hospital da Mulher), Maternidade Escola Assis Chateabriand (MEAC). As visitas foram importantes para avaliar a adequação da estrutura existente na Cidade para o parto humanizado com as exigências do Ministério da Saúde para esta prática. Também foram estudados projetos referências no Brasil e no Mundo para embasar a elaboração do projeto. Todo o repertório teórico foi importante para a elaboração do programa de necessidades, dimensionamento e fluxos coerentes com o conceito de um
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Centro de Parto Humanizado. A pesquisa em Leis e Normas norteou a escolha dos ambientes, assim como os espaços adequados para tais. O projeto foi desenvolvido por partes, começando com o Centro de Parto Normal, em seguida internação, consultórios, Centro Obstétrico, Central de Materiais e Esterilização, Administração, Centro de Estudos e Pesquisa, UTI Neonatal e Apoio Logístico. Assim, a forma foi surgindo de acordo com as necessidades funcionais de cada ambiente necessário para a viabilidade do projeto.
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5.
REFERENCIAL TEÓRICO
5.1 – Histórico da assistência ao Nascimento Atualmente, o hospital tem se apresentado como um ambiente hostil e de indiferença, onde as práticas assistenciais tratam a vida como um “bem de consumo” (SILVA e MACIEL, 1995). O tempo se torna o determinante pela escolha de procedimentos que buscam acelerar o trabalho de parto. Em busca da liberação de leitos para novas parturientes, o tempo vivenciado neste momento é cada vez mais curto, como se fizessem parte de um uma espécie de linha de montagem. (D’OLIVEIRA, 1996). Nesta perspectiva, e considerando que o nascimento é um dos momentos mais importantes da existência humana, é preciso torná-lo realmente especial e fazer com que ocorra de forma natural. Esta é a proposta das casas de parto, que têm principal foco na humanização da assistência à gestante. O atendimento nas Casas de Parto busca colocar a mulher como protagonista do processo, tendo assim a opção de escolher detalhes do parto, como a melhor posição para ter o bebê (na água, de cócoras, entre outras) e a escolha de seus acompanhantes. Muitas vezes, o companheiro participa, segurando e cortando o cordão umbilical do bebê. A enfermeira obstetra conduz o processo e é capacitada para agir em situações complicadas. Em caso de problema, a mãe e o bebê, deverão ser encaminhados para o hospital de referência que, de acordo com a legislação, devem estar a no máximo uma hora de distância. Para isso, todas as Casas possuem motorista e ambulância. Algumas são inclusive intrahospitalares, construídas no mesmo terreno do hospital. Outras são extrahospitalares. (REIS et al, 2004) O nascimento é um evento genuinamente natural que, historicamente, possui um caráter íntimo e privado. Nas mais diferentes culturas em torno do mundo, o nascimento sempre representou um momento vivenciando e compartilhado por mulheres. Em muitos lugares os partos aconteciam apenas com a intervenção da própria mãe que se estabelecia como um agente ativo neste acontecimento, vivenciando-o de forma plena. O ato do nascer, dar à luz
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é um evento único dentro do universo humano, inerente à nossa natureza, faz parte do processo que dá continuidade à nossa espécie. E para isso, o corpo humano foi especialmente concebido para executar tal função. (COELHO, 2003) Após a revolução industrial, com o surgimento de conquistas científicas, o saber médico desenvolveu-se sob assuntos antes obscuros, como é o caso dos fenômenos que envolvem o ato do nascimento humano. A natureza tornouse ferramenta, e a razão começou então a tomar o lugar outrora ocupado pela intuição. Este ato natural do corpo feminino passou a ser objeto do conhecimento científico, o que fez esvair-se aos poucos o saber nato da mulher. (COELHO, 2003). Até o século XIX, o nascimento acontecia com o deslocamento das parteiras ao domicílio, onde acontecia todo o processo. No entanto, já durante o século XVIII, na França, tornou-se crescente a preocupação com as altas taxas de mortalidade materna, isto levou os médicos a inserirem-se neste processo. Até então, os médicos pouco participavam das atividades relacionadas ao parto e nascimento. Neste momento iniciaram-se grandes conflitos entre as parteiras e classe médica. A partir desta nova onda de medicalização da assistência ao parto, em menos de um século, um evento domiciliar passou a exigir uma complexa estrutura hospitalar. (BITENCOURT E KRAUSE, 2004). Ao longo do século XIX, surgiram também diversas descobertas em torno da origem microbiológica das infecções, assim como conhecimentos em torno de técnicas anestésicas. Os trabalhos de Pasteur (1864) sobre o papel das bactérias como agente de enfermidades, assim como os bacilos de Kock (1876) que tornou visível os perigos do contágio, foram reveladores para quebrar as crenças nos miasmas, até então considerados como os principais responsáveis pela contaminação hospitalar (TOLEDO, 2008). A partir de então foram desenvolvidos estudos em prol do combate a estes agentes que resultaram nas evoluídas técnicas de esterilização que temos hoje em dia. A saúde foi completamente tomada pela ciência e as técnicas cirúrgicas evoluíram a cada dia. Desta forma, o momento do nascimento também absorveu essas técnicas e a cirurgia cesariana tornou-se, no Brasil, mais popular do que o próprio parto Natural.
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A cultura brasileira surgiu a partir da fusão dos hábitos de três povos distintos: Portugueses, indígenas e africanos. Todos estes povos trazem consigo seus costumes e modo de vida próprio. De modo a identificar os elementos constituintes básicos da nossa cultura, torna-se importante destacar como o nascimento foi vivenciado por cada uma dessas culturas ao longo da história. Haja vista que um dos pontos essenciais da assistência à saúde é a humanização. Um dos pontos cruciais para que ela se faça de forma plena é o respeito a diversidade cultural e o fornecimento de condições iguais a todos os povos e etnias. De acordo com o manual de Orientações para Elaboração de Projetos para Centros de Parto Normal da Rede Cegonha, implementado em 2013, caso a população atendida pelo centro contenha população indígena, deverá ser previsto pelo menos um quarto com ambiência de acordo com a cultura das etnias atendidas. (BRASIL, 2013). Na tradição indígena, o parto é feito no próprio domicílio, de cócoras (posição coerente com a fisiologia do nascimento por auxiliar a descida do bebê através da gravidade). A placenta, por ter sido fonte de vida para o feto, não pode ser desprezada ou ingerida por animais, é então enterrada no local. O cordão umbilical, que é a união com Nhanderú (nosso Pai), é cortado com ajuda de uma lasca de bambu (takuára) e tesoura (arruína). O sucesso do parto ocorre se forem como
cumpridas uso
de
regras,
ervas/chás
medicinais no decorrer da gestação para que o parto seja mais ágil; quanto à alimentação, os espíritos dos animais deglutidos podem ser
ingeridos
e
causar
doenças; uso do café amargo e quente para manter a Imagem 09 –Ilustração de um nascimento indígena. Fonte: Http://resource.nlm.nih.gov/101449276
mulher e a criança quentes. Logo que a criança nasce já é colocada sob o peito da
mãe, e se esta não possuir leite, é dado ao bebê mingau de amido de milho. Por
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ser um ato natural, deve ser cercado de um ambiente tranquilo e sossegado. (ROZIN et al, 2009). A cultura negra foi bastante afetada com a colonização europeia. Enquanto os índios sofreram a imposição do descobrimento em sua própria terra, os africanos além de terem sua cultura negada, foram forçados a abandonar sua terra natal. Esse deslocamento por si só já traz impactos culturais, somado a realidade de escravidão e imposição da cultura branca, dificultam ainda mais a conservação das manifestações e costumes existentes. Para a cultura africana, ter filhos é encarado como uma glória e as mulheres são apreciadas pela quantidade de filhos que possuem. A poligamia é uma prática aceita e o início da vida sexual acontece entre os 13 e 14 anos, logo, possuem um alto índice de gravidez na adolescência. A cultura é paternalista e os cuidados com a gravidez ficam por conta das mulheres, que vivem em situação vulnerável pois dependem dos homens. Durante o período menstrual, gestação e pós – parto (por cerca de 8 meses), a mulher não tem relação sexual. Segundo dados do Ministério da Saúde sul-africano, 5.3 milhões de pessoas na África do Sul estão infectados com HIV e mais de 40% tem menos de 20 anos. (MÓS, 2013)
Imagem 10 – Maternidade na Cultura Negra. Fonte: http://buff.ly/1c6KRDP
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Com o objetivo de humanizar a assistência à saúde, foi criado o programa nacional de humanização. Humanizar é a atitude de valorização dos diferentes sujeitos implicados no processo de produção de saúde, tanto usuários como trabalhadores e gestores. Para isso é necessário enfatizar a autonomia e o protagonismo desses sujeitos, o estabelecimento de vínculos solidários e a participação coletiva. Para haver humanização deve haver: compromisso com a ambiência, melhoria das condições de trabalho e de atendimento, fortalecimento de trabalho em equipe multiprofissional, respeito às questões de gênero, etnia, raça, orientação sexual e às populações específicas (assentados, ribeirinhos, índios, quilombolas, etc.); fortalecimento do caráter participativo em todas as instâncias gestoras do SUS; e compromisso com a democratização das relações de trabalho e valorização dos profissionais e estimulo a processos de educação permanente (BRASIL, 2011). 5.2 - Políticas voltadas à maternidade no Brasil O grupo populacional designado “materno-infantil” vem há bastante tempo despertando o interesse das instituições estatais, no sentido da promoção de ações prioritárias em políticas públicas de saúde direcionadas para esse segmento específico da população. (MARQUES, 1984). O grupo engloba mulheres em idade fértil, gestantes, parturientes, crianças e adolescentes, e na década de 70, já englobava cerca de 70% da população total do País. Devido sua importância biológica e socioeconômica o Ministério da Saúde passou a destacá-lo como prioridade para ações integradas de saúde de interesse coletivo. (ANAIS DA V CONFERENCIA NACIONAL DE SAUDE, Brasília, 1975). Como resposta à crise que assolou o setor de saúde dos países de economia dependente, surgiu o Programa Materno-Infantil (PMI). Os recursos estavam voltados prioritariamente para o hospital em detrimento do atendimento ambulatorial o que gerou uma baixa cobertura populacional e pouca eficiência na assistência, principalmente no que se refere ao pré-natal e puericultura. O predomínio das atividades curativas deixou descoberta a assistência preventiva o que acabava por congestionar a saúde no nível terciário. Desta forma, o PMI surgiu como o instrumento que introduziu a questão do planejamento nesse setor (MARQUES, 1984).
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5.3 - Centro de Parto Normal: conceitos Os Centros de Parto Normal são unidades de atenção ao parto e nascimento que realizam o atendimento humanizado e de qualidade, exclusivamente ao parto normal sem distocia (problema de origem materna ou fetal que dificulte o parto). Estes centros privilegiam a privacidade e tem foco na valorização da dignidade e autonomia da mulher, em um ambiente mais confortável, acolhedor e com a liberdade de contar com a presença do acompanhante de sua escolha (BRASIL, 2011) O parto humanizado não é apenas um tipo de parto, ele representa um conceito que pode ser aplicado às diversas variedades de parto que existem. O importante é que o parto seja voltado para a necessidade e vontade da mãe. A gestante deve ter privacidade, não sentir fome nem sede, manter-se em um lugar com temperatura confortável, pode andar e se movimentar segundo sua necessidade e, quando o bebê nascer, o aleitamento deve ser imediato, fortalecendo assim o vínculo entre a mãe e o filho.
Imagem 11 - Tipos de parto humanizado. Fonte: http://portalbebes.net/parto-humanizado/
Segundo o Art 1º da Portaria 985 de 08/08/1999, os Centros de Parto Normal (CPN) deverão estar inseridos no sistema de saúde local para assim atuar de maneira complementar às outras unidades de saúde existentes e contribuir para a ampliação do acesso ao parto e puerpério com atendimento humanizado.
O CPN poderá estar vinculado a outro estabelecimento
assistência de saúde na forma de uma unidade intra-hospitalar ou como uma
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unidade isolada que atua de forma independente, desde que disponha de todos os recursos humanos e materiais compatíveis à assistência adequada. Dentre as atribuições desenvolvidas em um CPN estão: desenvolver atividades educativas e de humanização, visando à preparação das gestantes para o plano de parto nos CPN e da amamentação do recém-nascido/RN; acolher as gestantes e avaliar as condições de saúde materna; permitir a presença de acompanhante; avaliar a vitalidade fetal através da realização de partograma e exames complementares; garantir a assistência ao parto normal sem distócias, respeitando a individualidade da parturiente; garantir a assistência ao RN normal; garantir a assistência imediata ao RN em situações eventuais de risco, devendo para tal, dispor de profissionais capacitados para prestar manobras básicas de ressuscitação, segundo protocolos clínicos estabelecidos pela Associação Brasileira de Pediatria; nos casos eventuais de risco ou intercorrências, garantir a remoção da gestante ou RNs em unidades de transporte adequadas, no prazo máximo de 01 (uma) hora; acompanhar e monitorar o puerpério, por um período mínimo de 10 dias (puerpério imediato), e desenvolver ações conjuntas com as Unidades de Saúde de referência e com os programas de Saúde da Família e de Agentes Comunitários de Saúde. (PORTARIA 985, 08/08/1999). Doze anos depois da Portaria que regulamentava os Centros de Parto Normal, foi implementado, em 2011, um novo programa contendo as Orientações Básicas para os projetos dos CPN. Foi intitulada de Rede Cegonha e contém o manual com programa de necessidades exigido tanto para Centros de Parto Normal, como também Casa da Gestante, Bebê e Puérpera (CGBP), além de normas para adequação da Ambiência, Unidade Neonatal e Banco de Leite Humano. (BRASIL, 2013). De acordo com o programa o CPN são unidades destinadas à assistência ao parto de risco habitual, pertencendo a um estabelecimento hospitalar, podendo ser localizado nas suas dependências internas ou externas. Enquanto o Centro de Parto Normal Intra-hospitalar (CPNi) localiza-se nas dependências internas do hospital, os Centros de Parto Normal Peri-hospitalares (CPNp) deverá localizar-se a uma distância de, no máximo, 200 metros do hospital. O CPNp deverá possuir cinco quartos de Pré-Parto, Parto e Pós- Parto (PPP). Já o CPNi poderá ter três ou cinco quartos PPP.
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De acordo com esse novo conceito, a parturiente deverá permanecer no mesmo quarto desde o período pré-parto até o pós- parto. O quarto receberá atividades como assistir parturientes em trabalho de parto, assegurar condições para que acompanhantes assistam a todo o processo, prestar assistência ao RN
incluindo
identificação,
avaliação
de
vitalidade,
higienização
e
preenchimento de relatórios de enfermagem e registro de parto. (BRASIL, 2011). 5.4 - Efeitos do ambiente sob a percepção humana
O ambiente pode causar diferentes efeitos sobre o comportamento humano. A percepção de alguns pontos do projeto está diretamente relacionada com a qualidade ambiental e física tantos dos profissionais que prestam os cuidados como para os usuários dos serviços. Estes fatores podem afetar tanto a produtividade como o bem-estar, por isso é importante que sejam abordados ao longo desta pesquisa. (MOURSHED E ZHAO, 2012). Os pontos que deverão ser considerados são:
Iluminação adequada e Qualidade do ar
Organização dos espaços e Disponibilidade de luz do dia
Facilidade de Limpeza e Manutenção
Vista para o exterior e Layout de mobiliário
Planta e Paisagismo
Localização e orientação do espaço
Nível de ruído e Esquema de Cores
Objetos de arte e Proximidade de enfermarias
Provisão de Higiene das Mãos e Amplidão
Conforto térmico
30
6.
REFERENCIAL PROJETUAL Ao longo do Século. XX, com o processo de Institucionalização do
nascimento, o mundo passou a vivenciar uma verdadeira epidemia de Cesarianas. Apesar da OMS indicar que o percentual recomendado de partos cirúrgicos seja de 15%, poucos lugares se encaixam dentro desta recomendação. No continente americano a completa maioria extrapola esses índices. O Brasil e a República
Dominicana
lideram
ranking
o
de
cesáreas no mundo, com 56%
dos
partos
ocorrendo por meio de cirurgia. Em seguida vêm Egito (51,8%), Turquia (47,5%) e Itália (38,1%). (PERASSO, 2015). Imagem 12 - Taxas de Cesárea. Panorama Mundial. Fonte: http://images.slideplayer.com.br/1/285473/slides/slide_2.jpg
Imagem 13 - Índices de Cesariana por país. Fonte: http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/07/150719_cesarianas_mundo_rb
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6.1 Centro de Parto no Mundo Halcyon Birth Centre - Inglaterra O Halcyon Birth Centre, localizado na cidade de Smethwick, na Inglaterra, é um centro público de parto normal. No ano de 2014, o local recebeu um prêmio do Royal College of Midwives (Colégio Real de Parteiras). O escritório LSP foi selecionado a partir de um concurso público realizado pela prefeitura de Sandwell em agosto de 2010 para projetar o edifício. O terreno escolhido para o projeto localiza-se próximo a um Centro de Cuidados Intermediários, que serve como um ponto de apoio em caso de transferências. O grande objetivo do estabelecimento é promover um atendimento caloroso para as gestantes da região, assim como às suas famílias. A edificação é independente e localiza-se fora do um hospital, o que auxilia na diminuição da ansiedade e melhorar a experiência do parto. (LSP Developments, 2012). As obras de construção deste centro foram concluída em outubro de 2011, contabilizando uma área 348 m² com 10 vagas de estacionamento. O edificio possui três suites para partos, recepção, sala de espera, sala de gases medicinais,
banheiros
unissex
com
fraldário, despensa, armários, loja de serviços domésticos, sala de entrevista/ aconselhamento, entre outros.
Imagem 14- Implantação Halcyon Birth Centre. (Fonte: http://www.lspdevelopments.co.uk/ uploads/projects/25_lsp-insert---sandwell_lr.pdf)
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Imagem 15 - Planta Baixa Halcyon Birth Centre. Fonte: http://www.lspdevelopments.co.uk/uploads/projects/25_lsp-insert---sandwell_lr.pdf
Imagem 16 - Halcyon Birth Centre. Fonte: http://www.keyconstruction.co.uk/
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Imagem 17, 18, 19, 20 e 21 - Halcyon Birth Centre. Fonte: http://www.lspdevelopments.co.uk/developments/halcyon-birthing-centre
6.2 - Centros de Parto no Brasil No Brasil, como já foi citado, os números já chegam a 56% do total de partos, sendo 85% no sistema privado e a 40% no SUS. As regiões centro-oeste, sul e sudeste possuem as mais altas taxas de cesarianas, chegando a 70% em Goias. No Norte e Nordeste as taxas de cesariana variam entre 31 a 57% do total de partos. No Ceará dos 53.664 partos realizados em 2015, 57% foram cesáreos (SESA).
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Imagem 22 – Taxas de Cesária no Brasil. Fonte: http://www.partodoprincipio.com.br/
Casa do Parto de Sapopemba – São Paulo A primeira Casa de Parto do Brasil oficialmente vinculada ao Programa Saúde da Família através do projeto Qualidade Integral em Saúde (Qualis) foi implantada em 1998 pela Fundação Zerbini do Instituto do Coração da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Estas casas de parto têm como um dos principais objetivos oferecer assistência humanizada às mulheres com gestação fisiológica. O Ministério da Saúde confirmou a importância deste modelo quando instituiu o Projeto Casas de Parto e Maternidades-Modelo, resultante das experiências positivas de funcionamento desta primeira Casa de Parto. A partir desses avanços, surgiu a Portaria de Criação do Centro de Parto Normal, que representa uma unidade de saúde destinada a prestar assistência humanizada e de qualidade ao parto fisiológico (HOGA, 2004). A Casa do Parto de Sapopemba é um Centro de Parto Normal, localizado na região sudeste da capital paulista. Atende desde 1998 mulheres com
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gestação fisiológica, vindas de qualquer localidade e atua através do SUS, por convênio ou particular. O atendimento é feito por Enfermeiras Obstétricas apoiadas por técnicas de enfermagem.
Imagem 23 – Vista aérea da Casa do Parto de Sapopemba (SP). Fonte: Google Earth
O acompanhamento do parto se inicia a partir das 37 semanas e a mulher não deve ter problemas de saúde ou na gestação. A gestante deve prosseguir normalmente com o acompanhamento pré-natal, paralelamente ao atendimento na Casa do Parto. A partir do início do acompanhamento, são realizadas consultas semanais até as 40 semanas de gestação. No decorrer destas consultas, as gestantes recebem informações sobre o processo do trabalho de parto, amamentação e tira dúvidas que surjam para o casal ou familiares. Este acompanhamento auxilia na apropriação do espaço pelos usuários que criam mais familiaridade com o ambiente e a equipe. Entre as consultas, a grávida pode retornar ou esclarecer dúvidas por telefone. No período compreendido da 40ª até as 41ª semanas, as consultas são realizadas a cada 2 ou 3 dias. Quando a gestante chega até as 41 semanas e ela e o bebê estão em boas condições, mas não há sinais de trabalho de parto, é feito um encaminhamento para o hospital, para avaliação com o médico obstetra.
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Imagem 24 - Casa do Parto de Sapopemba (SP). Fonte:http://www.saopaulocarinhosa.prefeitura.sp.gov.br/index.php/a-importancia-dos-centrosde-parto-normal-para-a-cidade-de-sao-paulo/
Durante o trabalho de parto, a equipe procura incorporar uma postura otimista, estimulando práticas de conforto e alívio da dor sem uso de medicamentos, tais como: caminhadas, massagens, banhos de chuveiro, hidromassagem e livre movimentação. Além disso, a mulher pode utilizar também outros métodos que considere eficaz, como músicas de relaxamento e aromaterapia. A mulher pode se alimentar livremente, com refeições disponíveis na instituição ou com alimentos externos que considere convenientes para a ocasião. No parto, a mulher escolhe a posição que lhe parecer mais adequada e é evitada a episiotomia, que só será realizada em casos de real necessidade. O contato pele a pele da mãe e do bebê logo após o parto é priorizado, assim como a amamentação na primeira hora de vida e o corte do cordão umbilical pelo acompanhante. O registro do parto em fotos ou vídeo é também decisão da mulher e seus familiares. Após o parto são feitas orientações sobre amamentação, alimentação e cuidados com o bebê e a alta ocorre em torno de 24 horas após o parto, podendo estender-se dependendo das condições da mãe e do bebê. Três dias após o
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parto é agendado um retorno para coleta do exame do pezinho (PKU) e reavaliação da mãe e do bebê. Nas situações em que ocorrer necessidade de encaminhamento imediato da mulher na gestação, durante o trabalho de parto ou para avaliação do recémnascido, a Casa do Parto de Sapopemba dispõe de motorista e ambulância exclusivos para estas transferências. O hospital de apoio em caso de encaminhamentos é o Hospital Estadual de Vila Alpina, localizado a 8 minutos da Casa do Parto. Alguns trabalhos mostraram que os resultados de mães e bebês da Casa do Parto de Sapopemba são similares aos de casas de parto semelhantes na Europa, EUA e Austrália. (Informações coletadas no Site da Casa de Parto Sapopemba, https://casadopartosapopemba.wordpress.com/about/)
6.2 - Centros de Parto Normal em Fortaleza Fortaleza possui dezoito hospitais que dispõe de maternidade, dos quais, treze atendem pelo SUS (Secretaria de Saúde do Estado do Ceará), enquanto cinco são exclusivamente da rede particular. A distribuição destes hospitais dentro do território da cidade está mais concentrada na área próxima ao centro de início da expansão urbana, deixando assim as áreas periféricas com cobertura mais rarefeitas. Porém, dentre todos, apenas cinco possuem estrutura para a realização de partos humanizados, que são: Hospital Regional Unimed, Hospital São Camilo Cura Dars, Hospital Distrital Gonzaga Mota Messejana, Maternidade Escola Assis Chateabriand e Hospital da Mulher. Para a realização de parto humanizado, o hospital deve dispor de estrutura que forneça à parturiente a liberdade de escolher o tipo de parto em que queira se submeter. Estes estabelecimentos foram mapeados e resultaram no mapa abaixo:
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Imagem 25 – Mapa de Distribuição de Hospitais com Maternidade na Cidade de Fortaleza. Fonte: Mapa criado pela autora a partir de informações coletadas na pesquisa.
Na rede particular dois hospitais se destacaram por adaptarem-se a esta demanda de humanização do trabalho de parto: Hospital Regional Unimed e Hospital São Camilo Cura Dars. Ambos aceitaram um desafio lançado pelo Ministério da Saúde, junto à Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), a hospitais públicos e particulares do País. O desafio intitulado “Projeto Parto Adequado” visa estimular a redução do número de partos eletivos desnecessários e gerando assim um aumento dos índices de partos normais. (FREIRE, 2016) O Hospital Regional da Unimed possui um Centro Obstétrico com 04 salas cirúrgicas para cesarianas e uma sala destinada a realização de partos humanizados. Este espaço é equipado com Escada de Ling, cavalinho, bola, chuveiro com água quente, banheira descartável, som ambiente e iluminação com regulador de luminosidade. O Hospital São Camilo Cura Dars possui 03 salas para cesarianas no Centro Obstétrico e uma Sala para parto Humanizado.
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Imagem 26, 27 e 28 – Sala de Parto Normal do Hospital Regional da Unimed. Fonte: http://www.unimedfortaleza.com.br/noticias/estrutura-modernizada-e-atendimento-humanizadohru-inaugura-novas-salas-para-parto;jsessionid=B18979B7B58736CB9AAFF2A9259E695C
Na rede pública, existem três hospitais que suprem essa demanda, que são: Maternidade Escola Assis Chateabriand (MEAC), Hospital Distrital Gonzaga Mota Messejana (HDGMM) e o Hospital da Mulher. A MEAC possui ao todo 09 salas para parto normal humanizado e validou recentemente 03 salas PPP que se enquadram nas exigências do ministério da saúde para Centro de Parto Normal. O Hospital da Mulher foi o mais recentemente inaugurado, em 2012, também possui salas para parto normal humanizado, segundo o setor de educação continuada o hospital possui 4 salas PPP, logo, também se enquadra no quantitativo sugerido pela Rede Cegonha. O Hospital Distrital Gonzaga Mota Messejana é o único hospital com maternidade localizado na regional VI e possui espaços destinados ao parto humanizado, são ao todo seis box individualizados que fornece assistência
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humanizada; mas ainda não possuem banheiro em anexo. Atualmente, o hospital oferece o parto humanizado, mas a estrutura ainda não se enquadra nos requisitos do Ministério da Saúde para CPN. Foi construído recentemente um CPN em anexo ao hospital com recursos advindos da Universidade de Fortaleza, que envia anualmente estagiários de seus cursos para o hospital. No entanto, segundo informações dos funcionários, falta material para que seja iniciado o funcionamento da CPN. Apesar de concluído, serve apenas para depósito de materiais hospitalares enquanto aguardam recursos para iniciar o funcionamento da unidade.
Imagem 29 – Em destaque a Planta do Centro de Parto Normal do Hospital Distrital Gonzaga Mota Messejana (Setor ainda sem funcionar). Fonte: D.M.O. UNIFOR
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Imagem 30 e 31 – Sala Individualizada para Parto Humanizado no Hospital Distrital Gonzaga Mota Messejana. Fonte: Acervo da autora.
Imagem 32 – Posto de Enfermagem. Hospital Distrital Gonzaga Mota Messejana. Fonte: Acervo da autora.
Imagens 33 e 34 – Sala de espera para gestantes do Hospital Distrital Gonzaga Mota Messejana. Fonte: Acervo da autora.
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Imagem 35 – Fachada no CPN construído pela UNIFOR dentro do HDGMM, ainda sem funcionar. Fonte: Acervo da autora.
Imagem 36 – Interior da Sala PPP com banheiro anexo incluso. Hoje serve como depósito para materiais hospitalares. Fonte: Acervo da autora.
Imagem 37 – HDGMM. Interior do CPN, posto de enfermagem a Esquerda. Hoje serve como depósito para materiais hospitalares. Fonte: Acervo da autora.
Dentre os hospitais públicos com maternidade de Fortaleza o único que se obedece às exigências para Centro de Parto Normal é a Maternidade Escola
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Assis Chateabrian. O setor de Parto humanizado da MEAC localiza-se no 3º pavimento do hospital onde antes se localizavam os leitos destinados à pacientes particulares. Com a decisão de tornar a assistência do hospital totalmente pública, este setor foi desativado e tornou-se, anos depois, no Centro de Parto Normal. Consiste em um extenso corredor que dá acesso às salas de parto individualizadas, apoio neonatal, posto de enfermagem, vestiário, copa e repouso de funcionários. As salas de Parto Normal são individualizadas, com banheiro anexo, bancada para prestar primeiros cuidados ao Recém-nascido e equipamentos para alivio da dor (cavalinho, bola, escada de Ling), como recomendado pelo Ministério da Saúde.
Imagem 38 – Maternidade Escola Assis Chateaubrian. Fonte: Acervo da autora.
Imagem 39 – Planta do Centro de Parto Humanizado da Maternidade Escola Assis Chateabrian. Fonte: Setor de Engenharia e Arquitetura da MEAC - EBSERH.
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Imagem 40 – Centro de Parto Humanizado da Maternidade Escola Assis Chateabrian. Fonte: Acervo da autora.
Imagens 41 e 42 – Copa (esquerda), entrada do Vestiário e Repouso (direita) do Centro de Parto Humanizado da Maternidade Escola Assis Chateabrian. Fonte: Acervo da autora.
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Imagens 43, 44 e 45 – Sala de Parto Humanizado com banheiro anexo da Maternidade Escola Assis Chateabrian. Fonte: Acervo da autora.
Imagem 46 – Sala de Apoio Neonatal do Centro de Parto Humanizado. Fonte: Acervo da autora.
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Em 2011, a MEAC aderiu à proposta da Rede Cegonha do governo e foi aos poucos implantando as diretrizes sugeridas pelo Ministério da Saúde. Hoje é considerada referência de boas práticas e centro de apoio para o Ministério da Saúde. Em meados de 2012 todas as unidades da instituição iniciaram as ações ligadas à proposta da Rede Cegonha, que atualmente são acompanhadas através de dados divulgados no site da instituição e discutidas pelos grupos gestores das unidades. Hoje em dia a MEAC tem cerca de 30% dos seus partos realizados por enfermeiras obstétricas do Centro de Parto Normal. No Ceará os números de partos tanto na rede pública quanto na privada estão acima da média nacional. Dos 53.664 partos realizados em 2015, 57% foram cesáreos e 43% normais, segundo a Secretaria da Saúde do Estado. Na rede privada, as taxas são ainda mais alarmantes. Os dois convênios com maior abrangência na cidade de Fortaleza são Unimed e Hapvida. No convenio Unimed Fortaleza, dos 2.377 procedimentos realizados em 2015, 2.186 foram cesáreas, o que equivale a 92% do total de partos. (LIMA, 2015). Já na rede Hapvida, em 2015, dos 30.385 partos realizados, 24.336 foram cesáreas, o que representa 80,1% dos partos realizados pelo convenio. (ANS, 2015). Tabela 01 – Número de Salas para Parto Humanizado em Maternidades de Fortaleza
Salas para
Salas para
Cirurgia
Parto
Cesarianas
Humanizado
Hospital Regional Unimed
04
01
Hospital São Camilo Cura Dars
03
01
02
06
Maternidade Escola Assis Chateabriand
02
09
Hospital da Mulher
06
04
17
21
Maternidades com suporte para parto Humanizado
Hospital Distrital Gonzaga Mota Messejana
TOTAL
Fonte: Tabela criada pela autora com os dados coletados na pesquisa.
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Apesar de existirem hospitais com estrutura para atender a demanda por parto humanizado, estas instalações ainda não são suficientes para atender a demanda do município. Considerando que pelo menos 70% dos partos deveriam acontecer de forma natural, e tomando como base os números divulgados pela prefeitura de Fortaleza em 2015, dos 52.579 partos realizados na cidade (SINASC-Fortaleza), 36.805 deveriam ser normais, que representaria 70% do total. Desta forma, a estrutura montada na cidade ainda não oferece a abrangência necessária para suprir essa demanda exigida pelo Ministério da Saúde. A rede pública possui a maior distribuição de salas para parto humanizado, com 13 ao todo. Enquanto a rede particular dispõe de apenas duas. Pelo SUS foram realizados 32.394 partos em Fortaleza no ano de 2015, menos de 50% foram normais. (Secretaria de Saúde do Estado do Ceará). logo, tais dados comprovam uma relação direta entre o quantitativo de salas e um maior número de partos normais. Já na rede particular, foram realizados cerca de 20.185 partos e mais de 80% dos partos foram cesarianas. Considerando e só existem duas salas equipadas para a realização de parto humanizado, a falta de estrutura para suprir essa demanda pode influenciar diretamente na escolha por esse serviço. Considerando a pequena abrangência dos serviços de humanização do nascimento em Fortaleza, com estrutura ainda limitada e comparando com as exigências da Rede Cegonha do Ministério da Saúde, é possível constatar que Fortaleza precisa ampliar este serviço para que seja possível universalizar a assistência humanizada ao nascimento para toda a população.
48
7.
REFERENCIAL TÉCNICO Os Centros de Parto Normais (CPN) foram criados a partir de uma
Resolução do Ministério da Saúde, através da Portaria nº 985, de 5 de agosto de 1999. Esta publicação estabeleceu os parâmetros legais para a implantação das CPN, cujo objetivo principal era promover a expansão da cobertura e universalização do acesso ao parto em serviços de saúde, para reduzir assim, os óbitos maternos por causas evitáveis. (BRASIL, 2013) Segundo a Resolução de 1999, a estrutura física dos Centros de Parto Normal deveria conter alguns ambientes e características básicas, contidos na tabela abaixo: Tabela 2: Programa de Necessidades dos Centros de Parto Natural ÁREA
AMBIENTE Sala de exame Sala de Admissão de parturientes Quarto para Pre-parto/parto/pós-parto – PPP
AMBIENTES ASSISTENCIAIS
Área para lavagem das mãos Área de prescrição; Sala de estar para parturientes em trabalho de parto e para acompanhantes Área para assistência ao RN Banheiro para parturiente com lavatório, bacia sanitária e chuveiro Copa/cozinha Sala de Utilidades
AMBIENTES DE APOIO
Sanitário para funcionários e acompanhantes Depósito de material de limpeza Depósito de equipamentos e materiais de consumo; Sala administrativa Rouparia/ armário. Fonte: Portaria nº985, de 5 de agosto de 1999.
De acordo com a Portaria nº985, de 5 de agosto de 1999, as instalações prediais devem atender às exigências técnicas das normas de funcionamento de
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estabelecimentos assistenciais de saúde do Ministério da Saúde e dos códigos de obras locais; devem obedecer às exigências técnicas das normas para a segregação, descarte, acondicionamento, coleta, transporte, tratamento e disposição final dos resíduos sólidos de serviços de saúde. Neste documento não chegaram a ser definidas as dimensões recomendadas cada área. A NBR50, de 21 de fevereiro de 2002, incluiu em suas normas a regulamentação técnica para planejamento, elaboração e funcionamento dos projetos físicos de Centros de Partos Normais em Estabelecimentos Assistenciais de Saúde, como contido na Tabela 3. Tabela 3: NBR 50 - Programa de Necessidades dos Centros de Parto Natural UNIDADE FUNCIONAL: 4 – APOIO AO DIAGNÓSTICO E TERAPIA (cont.) DIMENSIONAMENTO UNIDADE /AMBIENTE INSTALAÇÕES QUANTIFICAÇÃO(min.) DIMENSÃO(min.) Centro de Parto Normal Pode ser adotado unicamente para - CPN partos normais “sem risco”, quando se fizer uso da técnica PPP (préparto/parto/pós-parto natural). Não exclui o uso do centro obstétrico para os demais partos no próprio EAS ou no de referência. A distância até esse EAS de referência deve ser vencida em no máximo 1 hora 4.7.1 Área de recepção de 1 Suficiente para o parturiente recebimento de uma maca 4.7.2 Sala de exame e 1 8,0 m² HF;HQ admissão de parturientes 4.7.3; Salão com: Salão com no máx. 10 boxes/ salas. HF;FO;FVC; 4.7.6; Box/Sala para préCPN isolados não poderão adotar a 4.7.8; parto/parto/pós-parto solução de boxes individuais FAM;EE 4.7.11; (PPP) 1 10,5 m² com dimensão 4.7.12 Área de (degermação mínima igual a 3,2 m. cirúrgica dos braços) Nº máximo de leitos por sala Área de prescrição =1 Posto de enfermagem e 1 lavabo a cada 2 boxes/s. de PPP 1,10 m² por torneira com HF serviços dim. mínima = 1,0 m Obrigatório somente para CPN 2,0 m² isolados 1 a cada 10 boxes/salas de PPP. 6,0 m² HF;EE Optativo no caso de CPN isolados Quarto para préObrigatório somente para CPN 12,0 m² ou 14,0 m² (quarto + HF;HQ;FO;FVC; parto/parto/pós-parto isolados. 10 a cada posto de área com bancada para FAM;EE PPP ¹ enfermagem quando na u. de assistência de RN) com internação dimensão mínima igual a 3,0 m. Nº máximo de leitos por quarto = 1 4.7.3 Sala de estar para 1 3,5 m² x nº total de salas de parturientes em PPP trabalho de parto e acompanhantes 4.7.10 Sala/área para 1 a cada 10 boxes de PPP 1 a cada 10 6,0 m² para até 2 salas de HQ;FAM;FO; assistência de R.N. salas ou quartos de PPP sem área de parto. Acrescer 0,8 m² para FVC;EE;ED assistência de RN cada sala adicional AMBIENTES DE APOIO: Centro de parto normal: Sala de utilidades, Copa, Sanitários para funcionários e acompanhantes, Rouparia, Banheiro para parturientes (1 lavatório, 1 bacia sanitária e 1 chuveiro a c/ 4 parturientes)²*, Sala de ultrassonografia, Nº Ativ. 4.7
50 Depósito de material de limpeza, Área para guarda de macas e cadeira de rodas, Depósitos de equipamentos e materiais, Sala administrativa Obs.: - Os ambientes de apoio e a sala de admissão e higienização podem ser compartilhados com os ambientes externos à área restrita do centro obstétrico. - A técnica PPP permite a variação para PP com a realização do pós-parto na unidade de internação do EAS. A higienização da parturiente deverá ser feita no próprio boxe/sala ou quarto para PPP. - ¹ Os quartos para “PPP” podem se localizar em unidades de internação de um EAS, desde que possuam uma área para assistência de RN no interior do quarto ou uma sala exclusiva para essa atividade. CPN isolados não poderão ter mais do que cinco quartos. - ² Junto aos boxes.
Fonte: NBR Nº 50, de 21 de fevereiro de 2002
Com a implementação da Rede Cegonha, houve um grande avanço em relação à regulamentação do programa dos Centros de Parto Normal. No documento constam detalhes para a elaboração do projeto de modo estabelecer um controle de qualidade tanto para os novos centros construídos como também para reformas e ampliação. De acordo com o programa, os Centros de Parto Normal que serão construídos ou reformados deverão possuir minimamente os ambientes descritos na tabela abaixo: Tabela 4: Programa de Necessidades dos Centros de Parto Natural AMBIENTE 1. Sala de recepção acolhimento e registro (parturiente e acompanhante): 2. Sala de exames e admissão de parturientes com sanitário anexo (sanitário com dimensão mínima de 1,20m anexo a este ambiente) 3. Quarto de Pré-parto, Parto e Pós-Parto (PPP): Quarto PPP sem banheira Quarto PPP com banheira 4. Banheiro anexo ao quarto PPP para parturiente 5. Área de deambulação/estar: 6. Posto de enfermagem 7. Sala de serviço 8. Área para higienização das mãos (lavatório) 9. Sala de utilidades: 10. Quarto de plantão para funcionários 11. Banheiro anexo ao quarto de plantão 12. Sanitário para funcionários - masculino e feminino 13. Rouparia: 14. Copa de distribuição 15. Área para refeição 16. Depósito de Material de Limpeza – DML:
ÁREA MÍNIMA 8,00m² 12,00m² 14,50m² 19,30m² 4,8m² 27,5m² 2,5m² 5,70m² 2 leitos – 1 Lavatório 6,00m² 12m² 3,6m² 1,6m², 1 armário c/ 2 portas 2,6m² -
Fonte: Rede Cegonha, 2011.
A Portaria Nº 11, de 7 de janeiro de 2015 Redefiniu diretrizes para implantação e habilitação de Centro de Parto Normal (CPN) como forma de reforçar a importância de garantir a todas as mulheres o acesso à informação sobre seus direitos reprodutivos com uma atenção qualificada, segura e
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humanizada; priorizar ações com o objetivo de reduzir as mortalidades materna, fetal e infantil; Implementar medidas para redução da taxa de cesarianas no país; valorizar as evidências científicas que confirmam os benefícios das práticas assistenciais que respeitam a fisiologia e a normalidade do processo de parto e nascimento; implementar medidas de proteção contra a violência obstétrica, abuso ou negligência durante o parto. O Ministério da saúde nesta portaria ainda reforça a necessidade de organizar e adequar a oferta de serviços de atenção ao parto e nascimento para suprir às diferentes demandas de acordo com o risco obstétrico e neonatal, para assim superar o modelo medicalizante que se fixou amplamente no Brasil. O acesso a tecnologias apropriadas de atenção ao parto e nascimento é um direito fundamental das mulheres e crianças; dentre estes direitos estão: a privacidade, a liberdade de movimentação e de posições durante o trabalho de parto e parto, o direito a acompanhante de livre escolha e a preservação da sua integridade corporal e psíquica. (BRASIL, 2015). Segundo esta última Portaria de 2015, os Centros de Parto Normal devem dispor no mínimo dos seguintes ambientes: Sala de Registro e recepção para acolhimento da parturiente e seu acompanhante, Sala de exames e admissão de parturientes com banheiro anexo, dois quartos para préparto/parto/pós-parto (PPP) sem banheira, um quartos PPP com banheira, 03 banheiros anexos ao quarto PPP, área para deambulação (Varanda/solário) interna e/ou externa. Posto de enfermagem, Sala de serviço, Sala de utilidades, Quarto de plantão para funcionários com banheiro anexo, Rouparia, Depósito de Material de Limpeza, Depósito de equipamentos e materiais, Copa e Refeitório.
Imagem 48 – Foto da sala de Parto Humanizado da Clínica Opima (SP). Fonte: http://www.casaopima.com.br/estrutura-interna
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Imagem 47 - Parto por imersĂŁo em banheira. Fonte: http://www.engeplus.com.br
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7.1.1 PROGRAMA DE NECESSIDADES Considerando as indicações legais para os ambientes de apoio dos Estabelecimentos Assistenciais de Saúde (E.A.S.) foram listados os ambientes necessários para cada setor do projeto. A essência do projeto nasce na assistência humanizada ao parto normal, no entanto, as condições de cobertura do serviço dentro do espaço urbano de Fortaleza acabam por exigir uma ampliação do programa de necessidade para suprir com segurança as necessidades de saúde da população próxima ao terreno escolhido. Para a implantação de um Centro de Parto Normal funcionando com uma estrutura independente é necessário que exista um hospital de referência próximo que absorva as possíveis urgências obstétricas. Para isso, todo CPN deve possuir uma ambulância para transferências em caso de Cesarianas e estar a no máximo 30 minutos do hospital de referência. Assim, devido à ausência de um hospital de referência particular com maternidade na regional do terreno escolhido, além de trânsito as vezes conturbado na cidade, surgiu a necessidade de elaborar um programa que supra inclusive as possíveis urgências. Desta forma, foi acrescido ao Centro de Parto Humanizado um Centro Obstétrico, UTI Neonatal e Central de Materiais e Esterilização. No capítulo seguinte será melhor explorado o terreno e suas características. Tabela 05 - Resumo do quadro geral do programa de necessidades ADMINISTRAÇÃO, INTERNAÇÃO, DIAGNÓSTICO E TERAPIA, CEP ATENDIMENTO AO CLIENTE ADMINISTRAÇÃO ATENDIMENTO CLÍNICO CENTRO DE PARTO NORMAL UNIDADE DE CENTRO OBSTETRICO UNIDADE DE CUIDADOS INTENSIVOS UTI NEONATAL UNIDADE DE INTERNAÇÃO ATENDIMENTO E LAZER ao ACOMPANHANTE ENSINO E PESQUISA APOIO TÉCNICO CME SERVIÇO NUTRIÇÃO E DIETETICA TERCEIRIZADO FARMÁCIA APOIO LOGÍSTICO
54 ALMOXARIFADO GERAL RECEPÇÃO DE ROUPA LIMPA CONFORTO MÉDICO REPOUSO FUNCIONÁRIOS ZELADORIA E SEGURANÇA VESTIÁRIOS DE FUNCIONÁRIOS CASA DE MÁQUINAS PROCESSAMENTO DO LIXO VELÓRIO Tabela 06 – Programa de necessidades por setor com base na RDC 50. ATENDIMENTO AO CLIENTE AMBIENTE Admissão e Alta Secretaria Geral Bho PcD Bho Público Masculino Bho Público Feminino Serviço Social Atendimento Serviço Social Pabx /Som Total
ÁREA- M² 300,00 30,00 7,00 4,00 4,00 30,00 30,00 25,00 430,00
ADMINISTRAÇÃO AMBIENTE ÁREA- M² Recepção 60,00 Secretaria Geral 20,00 Diretor Geral 30,00 Bho Diretor Geral 4,00 Copa Diretor Geral 13,00 Diretorias (2) 2 X 30,00 Sala de Reunião 30,00 Comissão de Controle da Infecção Hospitalar 20,00 Bho Feminino - Diretoria 2,50 Bho Masculino - Diretoria 2,50 Gerências (2) 30,00 Contabilidade – Faturamento - Tesouraria 30,00 Recursos Humanos – Setor Pessoal 20,00 Centro de Processamento de Dados 20,00 Copa 20,00 Bho Feminino Funcionários 22,00 Bho Masculino Funcionários 20,00 DML 6,00 Total 410,00 ATENDIMENTO CLÍNICO AMBIENTE ÁREA M2 Recepção / Espera 140,00 Consultórios Obstetrícia (5) 35,00 Consultório Ginecologia (5) 30,00 Consultório Pediatria (5) 30,00 Sala de Exames e Curativos (4) 20,00 Bhos Consultórios (15) 3,00 Bho Masculino 9,00 Bho Feminino 9,00
55 Bho PcD Guarda de Material DML Total
7,00 4,00 4,00
UNIDADE DE CENTRO CIRÚRGICO AMBIENTE ÁREA- M² Sala de Espera 6,00 Secretaria 14,00 Vestiário Feminino de barreira 30,00 Vestiário Masculino de barreira 30,00 Salas de Cirurgia Grande 36,00 Salas de Cirurgia Pequena 25,00 Área destinada á lavabos cirúrgicos Sala de Prescrição Médica 14,00 Sala de Recuperação Pós-Anestésica 70,00 Posto de Enfermagem 30,00 Farmácia 10,00 Sala de Equipamentos 16,00 Sala de Preparo Material Anestésico 14,00 Rouparia 8,00 Copa 16,00 Expurgo 6,00 DML 4,00 Conforto Médico 20,00 BHO Conforto Médico 4,00 Conforto Enfermagem 14,00 Total UNIDADE DE INTERNAÇÃO AMBIENTE ÁREA M² Sala de Espera 60,00 Bho Masculino Público 12,00 Bho Feminino Público 12,00 Bho PcD Público 7,00 Apto Coletivo (2) 2 x 36,00 BHO Paciente (2) 2 x 6,00 Apto Individual (4) 4 x 12,00 BHO Paciente (4) 2 x 6,00 Posto Enfermagem para apto coletivo (2) 2 x 25,00 Posto Enfermagem 30,00 Sala de Serviço 14,00 Deposito de Equipamentos 6,00 Arsenal 10,00 Rouparia 8,00 Sala de Utilidades 4,00 Expurgo 6,00 DML 4,00 Copa 16,00 Bho Masculino Funcionários 8,00 Bho Feminino Funcionários 12,00 Bho PcD Funcionários 7,00 Total 400,00 CENTRO DE ESTUDOS E PESQUISA AMBIENTE ÁREA- M² Foyer 170,00 Salão de Convenções 60,00
56 Varanda Salão de Convenções Varanda Biblioteca Bho Masculino Bho Feminino Total
26,00 50,00 24,00 24,00 8,00 8,00 320,00
CENTRO DE PARTO NORMAL AMBIENTE 1. Sala de recepção acolhimento e registro 2. Sala de exames e admissão de parturientes com sanitário anexo (sanitário com dimensão mínima de 1,20m anexo a este ambiente) 3. Quarto de Pré-parto, Parto e Pós-Parto (PPP): Quarto PPP sem banheira Quarto PPP com banheira 4. Banheiro anexo ao quarto PPP para parturiente 5. Área de deambulação/estar: 6. Posto de enfermagem 7. Sala de serviço 8. Área para higienização das mãos (lavatório) 9. Sala de utilidades: 10. Quarto de plantão para funcionários 11. Banheiro anexo ao quarto de plantão 12. Sanitário para funcionários - masculino e feminino 13. Rouparia: 14. Copa de distribuição 15. Área para refeição 16. Depósito de Material de Limpeza – DML:
ÁREA MÍNIMA 8,00m² 12,00m² 14,50m² 19,30m² 4,8m² 27,5m² 2,5m² 5,70m² 2 leitos – 1 Lavatório 6,00m² 12m² 3,6m² 1,6m², 1 armário c/ 2 portas 2,6m² -
CENTRO OBSTÉTRICO AMBIENTE 1. Área de recepção de parturientes 2. Sala de exames, admissão e higienização de parturientes 3. Sala de pré-parto 4. Posto de Enfermagem 5. Sala de Guarda e preparo de anestésicos 6. Área de indução anestésica 7. Área de escovação (degermação cirúrgica dos braços) 8. Sala de Parto Normal 9. Sala de parto cirúrgico / curetagem 10. Sala para AMIU 11. Área para assistência de RN 12. Sala para assistência de RN
ÁREA MÍNIMA Suficiente para receber 1 maca 8,0m² 9,0 m² 2,5 m² 4,0 m² 1,10 m² por torneira. Dim. Mínima = 1m
6,0 m² 6,0 m² para até 2 salas de parto. Acrescer 0,8 m² para cada sala adicional 2,0 m² 6,0 m²
13. Área de prescrição médica 14. Posto de enfermagem e serviços 15. área de recuperação pós-anestésica AMBIENTES DE APOIO: Sala de utilidades; Sala de espera para acompanhantes (anexa à unidade); Banheiros com vestiários para funcionários (barreira); Sala de preparo de equipamentos / material; Sala administrativa; Copa; Depósito de equipamentos e materiais; Sala de estar para funcionários; Rouparia; Área para guarda de macas e cadeira de rodas; Depósito de material de limpeza; Sanitários para acompanhantes (sala de espera); Banheiro (s. de pré-parto e higien., sendo 1 lavatório, 1 bacia s. e 1 chuveiro a c/ 4 leitos); Área de guarda
57 de pertences; Sala de distribuição de hemocomponentes (“in loco” ou não) *-Sala de estar (parturientes do pré-parto) CENTRAL DE MATERIAIS E ESTERILIZAÇÃO AMBIENTE ÁREA MÍNIMA Área para recepção, descontaminação e separação de 0,08 m² por leito com área materiais 1 mín. de 8m² Área para lavagem de materiais Área para recepção de roupa limpa Área para preparo de materiais e roupa limpa 4,0 m² Área para esterilização física Área para esterilização química líquida Sub-unidade para esterilização química gasosa ¹ Área de comando Comando = 2,0 m Sala de esterilização S. de esterilização = 5,0 m² Sala ou área de depósito de recipientes de ETO Depósito = 0,5 m² Sala de aeração S. de aeração = 6,0 m² Área de tratamento do gás
7.2 - TERRENO O terreno escolhido para a implantação do projeto localiza-se próximo a Lagoa do Colosso, no cruzamento entre a Av. Washington Soares e a Rua do Corrente. A escolha do terreno se deu devido a carência de estabelecimentos de Saúde com serviço de maternidade na Regional VI que servirá como estabelecimento de apoio para transferências em caso de urgências obstétricas. Além disso, a localização próxima a Washington Soares que se transforma em CE-040, uma via de trânsito rápido que interliga Fortaleza a outros municípios. Segundo estudo do Comitê Estadual de Prevenção ao Óbito Materno, Infantil e Fetal muitas gestantes dos municípios da Região Metropolitana de Fortaleza acabam procurando a capital para dar à luz seus bebês. Em 2014, mais de 60% de todas as gestantes dos municípios vizinhos saíram de suas cidades para parir em hospitais de Fortaleza. Foi realizado um diagnóstico de cada município da região metropolitana da capital cearense com relação à quantidade de nascimentos. Em Itaitinga, por exemplo, somente 6% das grávidas da cidade tiveram seus bebês na maternidade local, enquanto 83% delas foram para Fortaleza. Esse deslocamento influencia diretamente na capacidade dos hospitais da capital. Cinco das principais unidades da cidade operam acima de 100% de sua capacidade. Desta forma, localizar o projeto em uma via de ligação intermunicipal auxilia no suprimento desta demanda.
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Imagem 49 - Vista aĂŠrea do terreno. Fonte: Google Earth
Imagem 50 - Vista aĂŠrea do terreno. Fonte: Google Earth
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Imagem 51 – Mapa dos Bairros de Fortaleza com localização do terreno. Fonte: http://www.ceara.com.br/images/mapafortaleza.gif
O terreno localiza-se no Bairro Edson Queiroz, contornado pelos Bairros Guararapes, Cocó, Dunas, Eng. Luciano Cavalcante, Parque Manibura, Sapiranga, Praia do Futuro II e Sabiaguaba. Todos sem nenhuma cobertura de serviço que atenda maternidade. 7.3 – CONDICIONANTES LEGAIS
O terreno localiza-se na Zona de Ocupação Moderada (ZOM 1), como mostrado no mapa da Imagem 42. Segundo o Plano Diretor participativo de Fortaleza (Seção VII, Art. 99-101): “Art. 99 - A Zona de Ocupação Moderada (ZOM 1) caracteriza-se pela insuficiência ou inadequação de infraestrutura, carência de equipamentos públicos, presença de equipamentos privados comerciais e de serviços de grande porte, tendência à
60 intensificação da ocupação habitacional multifamiliar e áreas com fragilidade ambiental; destinando-se ao ordenamento e controle do uso e ocupação do solo, condicionados à ampliação dos sistemas de mobilidade e de implantação do sistema de coleta e tratamento de esgotamento sanitário. . Art. 101 - São parâmetros da ZOM 1: I - índice de aproveitamento básico: 2,0; II - índice de aproveitamento máximo: 2,5; III - índice de aproveitamento mínimo: 0,1; IV - taxa de permeabilidade: 40%; V - taxa de ocupação: 50%; VI - taxa de ocupação de subsolo: 50%; VII - altura máxima da edificação: 72m; VIII - área mínima de lote: 150m2; IX - testada mínima de lote: 6m; X - profundidade mínima do lote: 25m; “ ( PDP-FOR, 2009)
Imagem 52 – Recorte do Mapa de Zoneamento da Cidade de Fortaleza com destaque para a localização do terreno escolhido. Fonte: http://www.fortaleza.ce.gov.br/sites/default/files/03_-_zoneamento_urbano_a0_final.pdf
7.3 – DIRETRIZES PROJETUAIS
As principais diretrizes que nortearão o projeto serão os conceitos relacionados à Psicologia e Conforto Ambiental de modo a promover a qualidade do espaço e a humanização da assistência. Para o Partido Arquitetônico, as referências projetuais em Centros de Parto auxiliarão na inspiração para a forma, assim como os fluxos internos do edifício.
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8.
MEMORIAL JUSTIFICATIVO Este projeto para um Centro de Parto Normal se desenvolveu a partir da
importância estabelecida à localização e ao desenho de dois elementos primordiais para o tema: A unidade de Centro de Parto Normal e a célula do apartamento de Internação. A unidade de Centro de Parto foi localizada no centro do espaço disponível para o edifício principal, no pavimento térreo e, com acesso direto da Recepção Principal, para que pacientes grávidas pudessem desembarcar com agilidade, priorizando a condição de emergência de algumas situações de risco. A partir desta localização, todos os outros setores se adequaram. Para tanto, o projeto procurou marcar visualmente o acesso da Recepção Principal, com uma marquise em formato curva, sobre o embarque e desembarque de público, que foi projetado reforçando a Entrada Principal desse edifício. Esse acesso torna-se então, o ponto de encontro entre pacientes que se dirigem ao CPN, à pé ou de carro, ponto de partida deste projeto.
Imagem 53 – Planta de Situação. Fonte: Projeto da autora.
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O segundo fator, a célula do apartamento de Internação, foi projetada tendo como base os estudos para o apartamento do hospital Albert Einstein em São Paulo. Foi estruturada para a designação de apartamentos individuais somente, sem a opção de enfermarias, visto o layout desse apartamento possibilitar o convívio individual e humanizado da paciente com sua família. Este desenho da célula foi descaracterizado do formato convencional retangular, encontrado em muitos EAS, onde o fluxo de acesso ao leito pela maca é favorecido, além de permitir o caminho direto da paciente ao banheiro. Pestanas para a proteção solar foram inseridas nas janelas, com inclinação de 45 graus e, definidas esquadrias com peitoris rebaixados que permitem um maior vislumbramento da paisagem externa.
Imagem 54 – Planta do apartamento. Fonte: Acervo da autora
8.1 - Implantação A Implantação acontece levando em consideração o atendimento às gestantes como prioritário, surgindo daí a localização do edifício principal na esquina do terreno, permitindo visuais da Avenida Washington Soares e da Rua do Corrente.
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Pedestres terão acessos pela calçada, que leva a Recepção Principal e veículos serão conduzidos ao embarque e desembarque, com possibilidades de retorno à avenida ou ao estacionamento. No edifício principal encontram-se a Administração, o Centro de Estudos e Pesquisa, os Consultórios Médicos, CPN, Centro Obstétrico, UTI Neonatal, Internação, Área de Lazer Humanizada, Cafeteria, Conforto Médico e de Enfermagem. Foi criado um terraço para contemplação no pavimento técnico. Um bloco específico anexo, intitulado bloco de apoio logístico, agrega o Centro de Material e Esterilização, o Apoio Logístico, Pátio de Carga e Descarga, Vestiários de Funcionários, Lazer do Funcionário, Casa de Máquinas e Gases Medicinais. De
forma
a
individualizar
o
estacionamento
para funcionários,
estabeleceu-se área específica, próxima aos vestiários de acesso dos funcionários, onde se localiza o edifício do apoio logístico. Uma grande área verde, transição das margens da lagoa do Colosso, com um paisagismo sinuoso inspirado no movimento das águas do local, foi desenhado, evidenciando com a diferença das cores da grama e dos passeios, um ambiente criativo e prazeroso.
Imagem 55 - Implantação. Fonte: Projeto da autora.
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8.2 Setorização O partido arquitetônico do edifício principal foi sendo desenvolvido a partir da funcionalidade do Centro de Parto Normal. Todos os quartos de parto estão voltados para o elemento principal da assistência; o Posto de Enfermagem. Este agrupamento resultou uma arquitetura semicircular, formada pelos quartos de parto. E, para todos os quartos foram criados varandas, que dão acesso à um terraço para deambulação da parturiente. Intenção principal: relaxamento e humanização.
TERRAÇO VERDE
Imagem 56 - Planta do CPN. Fonte: Projeto da autora.
De modo a priorizar a assistência médica para o período gestacional, que deve ser bem acompanhado, esse Centro de Parto Humanizado implementou seis pavimentos destinados a Consultórios Médicos, cujas especialidades tratam direta ou indiretamente da mulher grávida. Estes dois setores, CPN e Consultórios Médicos estão localizados no Pavimento Térreo, junto com mais dois serviços destinados ao uso de público externo; a Administração e o Centro de Ensino e Pesquisa – CEP.
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A forma da Unidade de Consultórios Clínicos surgiu do resultado do estudo funcional do Setor de Internação, situado em pavimento específico, o primeiro andar denominado; Pavimento Clínico. A Unidade de Internação foi resultado da soma das células dos apartamentos, já comentados. A intenção da inclinação do pavimento, saindo da forma de planta retangular, é resultado da visualização concentrada do Posto de Enfermagem e diminuição dos corredores laterais.
Imagem 57 - Planta da internação com o posto de enfermagem. Fone: Acervo da autora.
Fazem parte deste pavimento, o Centro Obstétrico e a Unidade de Tratamento Intensiva Neonatal. No segundo pavimento, priorizamos o andar técnico sobre o pavimento clínico. Na torre de Consultórios deste andar, encontram-se mais doze Consultórios Médicos, com seis esperas individualizadas, além de um hall bastante amplo entre os dois corredores nordeste-sudeste. Foi localizado neste pavimento, ainda, com acesso ao público, cafeteria para os acompanhantes e, o Conforto Médico e de Enfermagem com acesso pelo elevador interno de pacientes.
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Sobre os leitos do Centro Obstétrico e UTI Neonatal do pavimento abaixo, estão localizadas as máquinas para o ar-condicionado, gerenciadas pelo setor de Manutenção e o Setor de Engenharia Clínica.
Imagem 58 – Planta do pavimento Técnico. Fonte: Projeto da autora.
A partir do terceiro pavimento, o edifício principal se restringe ao pavimento de Consultórios Médicos.
8.3 - FLUXOS Os fluxos diferenciados de pessoas, serviços e materiais na arquitetura hospitalar, tem sido uma estratégia de projeto que permite a separação de atividades com acesso e com restrições de público a setores estritamente críticos. Acreditamos ser esta condição projetual, atitude que valoriza o partido arquitetônico. Descrevemos assim, estas relações de importância pelos pavimentos projetados. 8.3.1. FLUXOS NO PAVIMENTO TÉRREO A partir da Recepção Principal, consequentemente, foram criados os fluxos de público individualizados. Á direita da Recepção, o público externo,
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poderá ser dirigido ao Setor Administrativo e ao Centro de Estudos e Pesquisa, onde serão atendidas pessoas interessados aos serviços da gestão do CPN no primeiro caso e, ou, ao Centro de Estudos, que estará aberto para palestras e eventos. Ao Centro, a unidade de Centro de Parto Normal - CPN poderá ser acessada com facilidade e rapidez, onde no ambiente do Consultório Médico, poderá acontecer a primeira triagem pré-parto da parturiente; possibilitando o médico avaliar as condições para o parto. À esquerda da Recepção Principal, a paciente poderá ser dirigida ao Setor Clínico, onde se estabelecem as unidades de Consultórios Médicos, destinados ao acompanhamento pré-natal das pacientes. E, pelos elevadores principais, públicos e pacientes podem ser direcionados à Unidade de Internação no primeiro pavimento ou á mais outros quatro pavimentos seguintes destinados à Consultórios Médicos, que totalizam ao todo 72 consultórios.
Imagem 59 – Pavimento Térreo, com destaque para a Circulação Vertical. Fonte: Projeto da Autora
O segundo fluxo diferenciado nesta proposta de projeto é o fluxo interno limpo, necessário á circulação de pacientes, funcionários e material limpo. Elevadores exclusivos foram disponibilizados para isto.
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Este fluxo dá acesso no pavimento térreo ao CPN e direciona para os outros pavimentos o fluxo limpo de material, alimentação e funcionários. No Setor Clínico, do pavimento térreo, foi viabilizado o acesso de médicos aos Consultórios e ao CPN permite acesso individualizado dos médicos aos seus vestiários. Para a torre de internação e demais consultórios, o acesso de pacientes internados e funcionários foi individualizado através de elevadores específicos.
Imagem 60 – Indicação de fluxos no Térreo. Fonte: Projeto da autora
O terceiro fluxo é o de serviços. Este permite a retirada de resíduos sólidos em circulação específica para isto; permite, também, o acesso de funcionários de manutenção e obras, circulação de materiais e equipamentos pesados e óbitos. 8.3.2 FLUXO NO PRIMEIRO PAVIMENTO O acesso de público pelos elevadores sociais e escada permite o acesso ao hall destinado à espera de familiares para o ingresso na UTI Neonatal, assim como, permite o contato à Secretaria do Centro Obstétrico, para busca de informações, posto que o Centro Obstétrico não libera o acesso interno de familiares.
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A partir do hall à esquerda foi localizada a Unidade de Internação, com 16 apartamentos individuais. Poderemos então chamar este pavimento de Pavimento Clínico. Halls individuais com elevadores limpos e de serviço mantém os fluxos separados do fluxo de pacientes e acompanhantes.
8.3.3 FLUXO NO SEGUNDO PAVIMENTO O Hall de Elevadores limpos, neste pavimento, se transforma em Área de Convivência e Lanchonete. Por trás dele criou-se o Andar Técnico, para as máquinas de ar-condicionado do Centro Obstétrico e UTIs. Á esquerda, o edifício de sete andares, neste andar, agrega mais um andar de Consultórios Médicos. Ao todo, o CPN conta com seis pavimentos de Consultórios, viabilizando o acompanhamento da parturiente durante todo o processo de gestação.
Imagem 61 – Fachada de edifício de seis andares. Fonte: Projeto da autora.
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8.3.5 FLUXO NO TERCEIRO PAVIMENTO TIPO A partir deste pavimento, o modelo de Consultórios Clínicos se repete. São evidenciados os acessos de público pelo andar indiscriminadamente. Os halls de elevadores públicos, funcionários e materiais limpos e o de serviços são mantidos.
Imagem 62 – Planta pavimento de consultórios. Fonte: Projeto da autora.
8.4 - SISTEMA ESTRUTURAL Sistema Misto onde foi projetada uma estrutura em laje tipo capitel com espessura 20cm e capitel com 6,00m x 6,00m. Os vãos na maioria com 7,5m na torre de consultórios e internação. Na unidade de UTI, Administração e Centro de Estudo e Pesquisa houve a necessidade de projetar laje protendida de 15,00m x 15,00m em virtude da necessidade de maiores vãos na área dos leitos da UTI Neonatal. Mesma
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situação de amplitude de vão solicitada pelo salão de convenções no pavimento térreo. As vigas inexistem liberando maior espaço entre o fundo de laje e o forro falso necessário para a passagem de tubulações que a arquitetura hospitalar exige. No Apoio Logístico foi tratado o grande vão com coberta em estrutura metálica, posto ser possível cobrir com unicidade todo o setor de Carga e Descarga. A intenção geral foi criar estruturas individualizadas para cada função especifica das unidades deste E.A.S.
8.5 - CONFORTO TÉRMICO Os Estabelecimentos Assistenciais de Saúde devem trabalhar seus ambientes internos, quanto ao conforto ambiental, de acordo com a classificação dos ambientes definidos na RDC-50, em espaços críticos, semicríticos ou não críticos. Os ambientes críticos necessariamente precisam oferecer sistema de ar-condicionado com filtros absolutos. Ou seja, 100% puro o ar interno. Devem estar dentro deste parâmetro o Centro Obstétrico a UTI Neonatal, o Centro de Material e Esterilização. Dentro das áreas semicríticas encontram-se a Unidade de Internação e Consultórios Médicos. Neste caso o ar-condicionado deve existir com tratamento dos equipamentos e menos rigidez no sistema de filtragem. As áreas não críticas serão as destinadas a Administração, Centros de Estudo e áreas abertas e circulações. Para tanto, entendeu-se que os setores fechados da Administração e CEP poderiam estar voltados para o oeste, sem muito prejuízo para o ambiente interno. Contudo foi projetado um mural externo, também usado como testada para divulgação do CPN e, que pode ser tratado como fachada ventilada. Todos os corredores são abertos para ventilação cruzada. Posto, a Unidade de Internação e Consultórios possuem suas fachadas direcionadas para o leste.
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8.6 - COBERTA Para as cobertas sobre o pavimento tipo foram definidas telhas metálicas tipo sandwich, com inclinação de 10%, assim como, na cobertura sobre o pavimento técnico do edifício do Centro de Parto. No setor do Apoio Logístico foi definida uma estrutura metálica de apoio, com telha metálica termo-acústica e um grande vazio, que permite o cruzamento da ventilação entre o bloco aparentemente fechado.
Imagem 63 – Planta Setor Logístico. Fonte: Projeto da Autora
Imagem 64 - Planta de Coberta. Fonte: Projeto da Autora
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8.7 - MATERIAIS PARA ALVENARIAS, TETOS E FACHADAS As cores possuem um poder mágico de transformar ambientes, porque na verdade elas são energia. Alvar Aalto no sanatório em Paimo, Finlândia, em 1929, estabeleceu que o teto dos apartamentos de internação deveria ser mais escuro que as paredes, já que os pacientes passavam mais tempo olhando para o teto do que para as paredes, e isto os tranquilizava. O tom usado foi o verde escuro. Assim, também o fazemos nos apartamentos de internação, com uma combinação de branco acinzentado nas paredes. Mas, tudo o mais são cores que se misturam e que se interagem. Cores mais pastéis em áreas de pacientes e mais fortes e quentes por trás dos balcões das recepções. Nos consultórios clínicos e no Centro de Parto Normal, podemos mesclar a cor rosa chá com cerâmicas coloridas ou vitrais.
Imagem 65 – Foto Sanatório Paimo. Fonte: http://www.arqhys.com/wp-content/fotos/2012/04/sanatorio_paimio-5.jpg
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Para as fachadas foram definidos dois tipos principais de revestimento: o uso do concreto aparente, que proporciona um ar contemporâneo ás fachadas e paredes e dificilmente pode ser reproduzido por outros elementos construtivos e, o uso de faixas coloridas no contexto do branco e do marrom terroso em alguns planos horizontais.
Imagem 66 – Foto do Sanatório Paimo. Fonte: https://c2.staticflickr.com/4/3137/3069741404_5bce7ba1e2_z.jpg
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8.8. ESTUDO VOLUMÉTRICO Ao longo do processo de criação do Partido Arquitetônico foi realizado um estudo volumétrico através de maquetes eletrônica e física. Na primeira volumetria proposta, o edifício possuía apenas 2 pavimentos na parte Oeste e 5 no bloco de consultórios. Porém com o acréscimo do pavimento técnico e com o intuito harmonizar os volumes, tornou-se necessário aumentar o número de pavimentos em ambos os lados do edifício.
Imagem 67, 68, 69 – Estudo volumétrico inicial do Partido com setores integrados. Fonte: Projeto da Autora.
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Imagem 70, 71, 72, 73, 74, 75, 76, 77, 78 – Maquete eletrônica do projeto. Fonte: Projeto da Autora.
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9.
CONSIDERAÇÕES FINAIS Com esta pesquisa foi possível concluir que Fortaleza ainda não possui
um sistema de saúde preparado para a exigência estabelecida pela Organização Mundial de Saúde que visa o aumento do número de Partos Normais. Mas apesar da escassez de serviços que ofertem às parturientes uma estrutura adequada a realização do parto normal humanizado, já é possível identificar em Fortaleza, estabelecimentos que vem buscando se adequar a esta demanda crescente. Atualmente já temos 05 hospitais preparados para receber gestantes que buscam o parto normal humanizado, que são: Hospital Regional Unimed, Hospital São Camilo Cura Dars, Hospital Distrital Gonzaga Mota Messejana, Maternidade Escola Assis Chateabriand e Hospital da Mulher. Sendo três da rede pública e dois da rede particular. Além disso, durante o mapeamento das instituições foi possível identificar uma carência de serviços de obstetrícia principalmente na Regional VI que só possui o Hospital Distrital Gonzaga Mota Messejana com esse serviço. A rede pública possui a maior distribuição de salas para parto humanizado, com 13, das 15 existentes na cidade. Já na rede particular, que mais de 80% dos partos são cesarianas, só existem duas salas equipadas para a realização de parto humanizado. Logo, a falta de estrutura para suprir essa demanda pode influenciar diretamente na escolha pelo parto cesariano. Considerando a pequena abrangência dos serviços de humanização do nascimento em Fortaleza, com estrutura ainda limitada, é possível constatar que Fortaleza precisa ampliar este serviço para que seja possível universalizar a assistência humanizada ao nascimento para toda a população. O nascimento é um evento inerente ao ser humano, e como tal deve também ser visto pelo seu viés antropológico e cultural. A diversidade de manifestações, hábitos e necessidades enriquece a cultura de um povo e por este motivo, a padronização deste evento não deve ser estimulada e propagada como vem acontecendo hoje em dia. Todas as formas de cultura são equivalentes e devem receber o mesmo espaço e valor dentro da sociedade contemporânea.
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O projeto de um Centro de Parto Humanizado deve surgir como uma alternativa a uma demanda existente na sociedade. Uma opção de escolha dentro de um mercado que vem passando por um longo processo de padronização de um evento que guarda em si uma extensa gama de significados e sensações diferenciadas. Não se pode reduzir toda a amplitude do nascimento dentro de um formato pré-definido e extremamente rígido. Por este motivo, é necessário criar espaços que favoreçam a valorização da individualidade dentro de uma sociedade a cada dia mais complexa e dinâmica. O Projeto da AKNA surgiu como resposta a uma necessidade da sociedade. Considerando que o parto Normal deve ser priorizado na atenção ao nascimento, o CPN tomou uma posição privilegiada no projeto, possibilitando um rápido acesso e fácil deslocamento para demais setores. Todas as Salas de Parto Normal dão acesso a um pátio privativo às gestantes; o ato de caminhar por este terraço pode tanto diminuir a ansiedade própria do momento, como acelerar o trabalho de parto. Vale salientar que todos os tipos de partos são importantes e necessários, dadas as diferentes necessidades em cada gestante. Assim, o Centro Obstétrico foi criado para suprir as urgências obstétricas, assim como a UTU materna e a UTI Neonatal. Estes setores darão à família a segurança de que será possível agir de forma rápida nas possíveis intercorrências e urgências. O edifício de consultórios trará a gestante ao local durante o pré-natal, para que ela possa já se apropriar do espaço, evitando o medo e estranhamento no dia do parto. Além disso, o aluguel de consultórios serve como suporte financeiro para suprir os altos custos hospitalares. O ponto essencial para a idealização deste projeto foi tornar o ser humano como o elemento central para as decisões projetuais, fazendo com que as necessidades humanas norteassem as escolhas e as ideias adotadas. A humanização nasce na valorização de cada indivíduo, respeitando suas necessidades e facilitando a qualidade de vida. Assim, é necessário unir conhecimento e sensibilidade para assim impedir que o mercado se sobreponham às necessidades e nuances da experiência humana. “A tarefa do Arquiteto consiste em proporcionar à vida uma estrutura mais sensível” Alvar Aalto
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CADERNO DE PRANCHAS