Caderneta de Saúde do Idoso by Ana Satake

Caderneta de Saúde do Idoso Dra. Carla de Oliveira Assis – CRM-SP 73462 Dra. Érica Rabello Lopes da Costa – CRM-SP 122908 Dra. Fernanda Carvalho Pinto Fontanezi – CRM-SP 111521 Dra. Tania Regina Guedes – CRM-SP 58153 Responsáveis Técnicas

O QUE É IDOSO? Na legislação brasileira, é considerada idosa a pessoa com 60 anos ou mais de idade. Para comprovar a idade, basta apresentar um documento oficial com foto, como a carteira de identidade ou a carteira nacional de habilitação.

Nesta caderneta serão abordados alguns temas relevantes do envelhecimento, como a importância da prevenção e detecção precoce de agravos à saúde, com o objetivo de preservá-la ao longo dos anos e promover qualidade de vida. O geriatra faz o acompanhamento dos pacientes idosos por meio de uma avaliação clínica ampla que aborda o indivíduo em sua integralidade. Fazem parte da abordagem geriátrica: estratégias de prevenção, de rastreamento de doenças e uma avaliação global do paciente. Este material é informativo. Toda e qualquer necessidade deve ser objeto de atendimento por profissional habilitado. Responsável pela elaboração e validação: Dra. Carla de Oliveira Assis - CRM: 73462

SUMÁRIO Alguns direitos dos idosos...........................................................04 Trabalhando na prevenção..........................................................06 Trabalhando na detecção............................................................08 Trabalhando na avaliação global...............................................09 Você sabia que...............................................................................11 Depressão ......................................................................................16 Demência........................................................................................16 Memória..........................................................................................18 Exercitando a mente.....................................................................19 Atividade física..............................................................................20 Insônia.............................................................................................21 Sexualidade....................................................................................22 3

ALGUNS DIREITOS DOS IDOSOS n Direito a acompanhante em caso de internação ou observação em hospital.

n Direito de exigir medidas de proteção sempre que seus direitos estiverem ameaçados ou violados por ação ou omissão da sociedade, do Estado, da família, de seu curador ou de entidades de atendimento.

n Desconto de pelo menos 50% nos ingressos para eventos artísticos, culturais, esportivos e de lazer.

n Direito de requerer o Benefício de Prestação Continuada (BPC), a partir dos 65 anos de idade, desde que não possua meios para prover sua própria subsistência ou de tê-la provida pela família.

n Reserva de duas vagas gratuitas no transporte interestadual para idosos com renda igual ou inferior a dois salários mínimos e desconto de 50% para os idosos que excedam as vagas garantidas.

n Direito a 25% de acréscimo na aposentadoria por invalidez (casos especiais).

n Reserva de 5% das vagas nos estacionamentos públicos e privados.

n Gratuidade no transporte coletivo público urbano e semiurbano, com reserva de 10% dos assentos, os quais deverão ser identificados com placa de reserva.

n Prioridade na tramitação dos processos e procedimentos na execução de atos e diligências judiciais.

TRABALHANDO NA PREVENÇÃO... A prevenção consiste em identificar os fatores de risco e em realizar orientações/intervenções precoces para reduzir o risco de aparecimento de doenças. Como prevenção encontram-se as seguintes ações:

Desestimular o tabagismo: reduz risco de doenças cardiovasculares, pulmonares e neoplásicas.

Buscar uma alimentação saudável: ingerir 5 ou mais porções de frutas ou vegetais por dia, não exceder o consumo de 6 gramas de sódio por dia, consumir de 1,5 a 2 litros de líquidos por dia, evitar consumo de refrigerantes, embutidos, gorduras em excesso, realizar ingestão proteica adequada.

Praticar atividade física: um programa de exercícios individualizado, podendo incluir exercícios aeróbicos, resistidos, de equilíbrio e mobilidade.

Manter a carteira de vacinação atualizada: indicação individualizada, dependendo da região onde reside o indivíduo, das doenças preexistentes e do histórico vacinal de cada pessoa.

Cuidar da saúde bucal: realização de higiene bucal adequada, visita regular ao dentista.

TRABALHANDO NA DETECÇÃO... A detecção precoce de doenças é realizada por meio de avaliação clínica e exames específicos, permitindo tratamento precoce dessas doenças e evitando agravos na saúde. Entre as estratégias de detecção precoce de doenças encontram-se: Detecção precoce de doenças neoplásicas (a depender da faixa etária e dos fatores de risco): câncer de mama, de colo uterino, de próstata, colorretal, de pulmão, de pele. n

Detecção precoce de doenças crônicas: hipertensão, diabetes, dislipidemia, disfunção tireoidiana, aneurisma de aorta abdominal, osteoporose.

Avaliação de perdas sensoriais: Visão: recomenda-se avaliação oftalmológica anual para rastreio de perda visual. Audição: recomenda-se avaliação anual por meio de testes durante a consulta ou audiometria tonal.

TRABALHANDO NA AVALIAÇÃO GLOBAL... A avaliação geriátrica global consiste na avaliação do paciente em sua individualidade, de maneira integral, identificando riscos específicos do envelhecimento. O objetivo é manter a integridade da saúde, adotando estratégias multidisciplinares que permitam manutenção da saúde e qualidade de vida, reduzindo risco de eventuais perdas e permitindo manutenção da independência e autonomia. Nessa avaliação analisam-se, entre outros fatores do paciente:

Equilíbrio e mobilidade

Condições emocionais

Função cognitiva

Identificação de riscos de quedas, de uso inadequado e efeitos indesejados de medicações, avaliação de incontinências, etc.

VOCÊ SABIA QUE... ...até 30% das pessoas com mais de 65 anos e até 50% daquelas com mais de 80 anos podem sofrer uma queda ao ano? Algumas condições clínicas de saúde podem aumentar o risco de quedas: Condições físicas, como osteoartrose, doenças neurológicas, fraqueza muscular, déficits sensoriais, dentre outras.

n n

Condições emocionais, como depressão, ansiedade.

Condições pessoais, como idade, sexo, história prévia de quedas, fatores do ambiente, uso de determinadas medicações, dor, etc. n

As quedas podem ter consequências físicas e emocionais danosas para o paciente, como lesões e fraturas, medo de cair e restrição de atividades. Por isso, a identificação de fatores de risco e a adoção de estratégias para prevenção são fundamentais e podem ser feitas por meio de: análise da marcha e equilíbrio e adoção de prática de exercícios físicos adequados;

n n

análise e ajuste de medicamentos;

análise e correção de fatores como hipotensão postural;

análise e correção de dores osteomusculares;

correção de eventuais déficits sensoriais;

prevenção e tratamento de doenças como osteoporose e deficiência de vitamina D; n n

cuidado com fatores de risco do ambiente;

cuidado adequado com os pés e calçados. 11

VOCÊ SABIA QUE... ... até 50% dos idosos podem apresentar dor? A presença de dor não controlada pode: n atrapalhar a concentração; n aumentar a incidência de sintomas depressivos ou ansiosos; n limitar a independência e atrapalhar as atividades do dia a dia; n aumentar o risco de quedas; n atrapalhar a qualidade do sono.

Principais causas de dor em idosos Articulações Fraturas ósseas Musculaturas Neuropatias periféricas (por ex.: do Diabetes)

Síndrome dolorosa após AVC Doenças neoplásicas Doenças vasculares Pós-operatório Neuralgia após herpes zoster

No tratamento da dor, é importante avaliar sua intensidade e características, como fatores precipitantes, agravantes, entre outros. Procure fazer o uso adequado das medicações orientadas por seu médico e evitar o uso de medicamentos por conta própria.

VOCÊ SABIA QUE... ...algumas medicações podem aumentar o risco de problemas de saúde? Muitos pacientes fazem uso de cinco ou mais medicações (polifarmácia) e alguns medicamentos podem ser considerados inapropriados para a população idosa. Algumas classes de medicações consideradas inapropriadas aumentam o risco de complicações ou interações com outras substâncias. A prescrição adequada para idosos tem um grande objetivo: minimizar a ocorrência de efeitos colaterais. Entre as medicações que podem ser inadequadas estão algumas classes de anti-hipertensivos, antidepressivos, ansiolíticos e anticonvulsivantes, alguns medicamentos para diabetes, etc. É possível reduzir a polifarmácia e a prescrição de medicações potencialmente inapropriadas por meio de adequada avaliação médica capaz de: certificar que a medicação usada tem uma indicação clínica precisa;

n interromper uso das medicações sem indicação clínica ou que

não tragam benefício conhecido; n indicar medicações com menor risco de efeitos adversos, con-

siderando as alterações na metabolização dessas medicações relacionadas à idade.

TE! IMPORTAN n Só use medicações com orientação médica. n Não compre medicamentos em feiras livres ou em camelôs. n Não pare de tomar seus remédios por conta própria. Caso eles

provoquem mal-estar, conte logo a seu médico. Não tome remédios fora do prazo de validade. Descarte os vencidos.

n Cuidado com as “fórmulas” milagrosas. n Armazene adequadamente as medicações e as manuseie em

ambiente com boa iluminação. n Sempre leve todas as receitas, bem como todos os exames e

medicamentos em uso, em todos os atendimentos médicos.

DEPRESSÃO A depressão NÃO faz parte do processo natural de envelhecimento, mas é uma condição clínica comum. É um problema de saúde frequentemente não diagnosticado e que pode trazer agravos à saúde, prejuízo em qualidade de vida e sofrimento para o paciente. Faz parte da avaliação geriátrica global a identificação e o tratamento da depressão e de outras condições emocionais, como ansiedade e insônia.

DEMÊNCIA As síndromes demenciais, como Alzheimer, demência vascular, etc., também NÃO fazem parte do envelhecimento natural. São, entretanto, doenças que ocorrem com maior frequência com o envelhecimento, podendo acometer mais de 40% dos idosos com mais de 85 anos. É uma condição clínica na qual ocorre um decréscimo da capacidade cognitiva do paciente, levando à dificuldade na memória e/ ou execução de tarefas e atividades previamente realizadas pelo indivíduo. É através das funções cognitivas que as informações do meio externo são recebidas, processadas, armazenadas e utiliza-

das na execução de tarefas. A demência pode ser decorrente de algumas causas potencialmente reversíveis ou de uma doença crônica progressiva, como Alzheimer, que leva à perda cognitiva e à incapacidade funcional progressiva. O diagnóstico das demências é feito por meio de instrumentos de avaliação cognitiva em consulta especializada e da realização de exames complementares. Essas ferramentas permitirão a detecção, classificação e tratamento precoce das demências. A avaliação cognitiva também faz parte da avaliação geriátrica global do idoso.

FIQUE ATENTO

DICAS IMPORTANTES

MEMÓRIA O envelhecimento natural NÃO acarreta perda progressiva de memória. Algumas mudanças, entretanto, podem acompanhar o envelhecimento cognitivo normal. Uma característica do envelhecimento cognitivo é a lentificação na elaboração e no processamento de informações, detectadas tanto em realização de testes específicos (podendo demorar mais em testes de tempo de reação), quanto em situações cotidianas. Idosos têm ainda maior dificuldade de atenção seletiva e de inibição de estímulos irrelevantes, havendo grande variabilidade individual na intensidade e no padrão das diferentes habilidades cognitivas. Fatores emocionais, como depressão e ansiedade, podem influenciar na capacidade de atenção e memorização. 18

EXERCITANDO A MENTE Exercitar o cérebro também é muito importante. É um engano pensar que o esquecimento com o avançar da idade é normal. Portanto, aqui vão algumas dicas para exercitar a memória: n Não deixe seu emocional enferrujar. Mantenha hábitos afeti-

vos saudáveis, ou seja, namore, curta os amigos e a família. n Participe de atividades intelectuais e cognitivas que envolvam

raciocínio. n Mantenha-se ativo física e intelectualmente, realizando ativi-

dade física e fazendo trabalhos manuais, cursos, praticando leitura, mantendo-se informado. Procure desafios novos, como cursos de internet, idiomas etc. Anote tudo que for importante em um caderno ou agenda, para não esquecer.

n A socialização, segundo alguns estudos, previne depressão e

até demência. Portanto, procure não se isolar e participe de centros de convivência, passeios e viagens.

ATIVIDADE FÍSICA A prática de atividade física está relacionada a diversos benefícios e deve ser realizada de forma individualizada, após avaliação médica e orientações específicas. Isso envolve atividades de força (exercícios resistidos), aeróbicas e de flexibilidade.

BENEFÍCIOS DA ATIVIDADE FÍSICA EM IDOSOS n Melhora do equilíbrio e redução do risco de quedas n Preservação da capacidade funcional n Redução do risco de morte por doenças cardiovasculares n Melhor controle do peso corporal n Melhor controle de diabetes, hipertensão arterial, dislipidemia n Melhora quanto à doença vascular periférica n Manutenção da densidade mineral óssea n Melhora da resposta imunológica n Melhora da função intestinal n Melhora do quadro de dor crônica n Melhora da qualidade do sono n Redução do tabagismo e abuso de álcool n Diminuição da ansiedade e do estresse n Melhora do estado de humor e da auto-estima

INSÔNIA Dormir é fundamental para o devido descanso do corpo e da mente. Faz parte dos hábitos saudáveis que todos nós devemos ter. A insônia é uma queixa comum e pode estar relacionada a maus hábitos. Algumas dicas ajudam muito a termos um bom sono. n Procure não fazer uso de produtos cafeinados (por ex.: café,

chá, refrigerantes à base de cola), cigarro e álcool perto do horário de dormir. n As refeições devem ser feitas, de preferência, até duas horas

antes de dormir, evitando beber grande quantidade de líquidos. n Use a cama e o quarto somente para dormir ou para atividades

íntimas. Quando estiver na cama, procure relaxar e ter pensamentos agradáveis. n Acorde todos os dias no mesmo horário, inclusive nos finais de

semana. Se tirar sonecas durante o dia, procure fazer isso antes das 15h e por no máximo uma hora.

SEXUALIDADE As pessoas não deixam de ter desejo sexual e prazer por causa da idade. A ideia de que as pessoas perdem suas habilidades sexuais à medida que envelhecem não passa de preconceito. O fato de haver uma diminuição na frequência das atividades sexuais não significa o fim da expressão ou do desejo sexual. A sexualidade é uma poderosa mistura de impulsos emocionais e físicos, e nela tanto a mente quanto o corpo exercem influência sobre a pessoa.

A ereção, em homens saudáveis, pode ocorrer até o fim da vida, apenas necessitando de maior estímulo. Algumas mulheres, após parar a menstruação, podem apresentar perda do interesse sexual, secura na vagina e na pele, ardência durante a relação sexual, ficando mais expostas às infecções vaginais. O desejo sexual, entretanto, também pode ser estimulado e preservado. É importante a conversa com médico para orientação de algumas medidas que possam auxiliar. Um casal que respeita as limitações de cada um saberá viver intensamente seus desejos e sua sexualidade. Importante: n Se houver qualquer problema, não tenha vergonha em procu-

rar um médico. n A idade não confere imunidade às pessoas contra as doenças,

seja qual for sua origem. Hoje, é comprovada a existência do aumento do número de casos de doenças sexualmente transmissíveis (DST), entre elas a infecção pelo HIV/Aids, em pessoas acima de 60 anos. n Ao se proteger das DSTs (gonorreia, sífilis, condiloma), também estará evitando contrair o vírus do HIV/Aids. n Prevenir-se contra essas doenças é um ato de responsabilida-

de, amor e cuidado por si e pelo(a) companheiro(a). n Use preservativos e NÃO tome remédios para estimulação por

conta própria. Consulte seu geriatra.

Nossa missão é cuidar da vida

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