Revista Bimestral Nº 7 Julho/Agosto
O Chiado está a Arder
25 anos depois
Com participação, das escritoras : Alice Vieira, Lídia Jorge e da jornalista Maria Elvira Bento
APortugal & Seus Encantos Regra dos Terços A Memória dos Afectos FOTOGRAFIA Foto-Jornalismo Fotos que Rimam Galeria de Membros 1
ARTIGOS Edição Ana Luar 2/3 Editorial 4/17 Portugal & SEUS ENCANTOS
Editorial Ana Luar Jornalistas Jorge Jacinto ( Reportér- Fotográfico) Filipe Morais
18/23 CAIS PALAFITICO DA CARRASQUEIRA. 24/25 AINDA À AVIEIROS NO TEJO 26/27 REGRA DOS TERÇOS 28/29 VASCO FREITAS 30/31 JOÃO RIBEIRO 32/33 PAULA NOGUQIRA GUERRA 34/35 TINA ALVES 36/37 A MEMÓRIA DOS AFECTOS 38/39 LEANDRO ARAÚJO 44/45 EQUIPAMENTO FOTOGRÁFICO 46/51 MARIA LÁZARO 52/55 JOSÉ CARLOS COSTA 56/57 FOTOJORNALISMO 58/69 O CHIADO Está A ARDER 70/77 FOTOGRAFIAS QUE RIMAM 78/81 SAPLESS 82/83 PAULO FARIA 84/85 GEOMETRIAS URBANAS 86/87 MANUEL ROQUE 88/112 GALERIA DE MEMBROS 113 / CURIOSIDADES
Dados Legais Distribuição Mensal Online/Papel
Tiragem
100 exemplares
Impressão
DIGISET, LDA
Regº 399674/14 Número de Depósito Legal 352970/12
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EDITORIAL Parece que foi ontem que demos inicio ao primeiro número da revista Fotomanya no entanto já se passou quase um ano, o que nos parece quase impossivel. Se por um lado nos parece pouco tempo, por outro é o concretizar de um sonho que muitos julgavam impossivel. Valeram-nos todos os que acreditaram neste projecto e o abraçaram, Contribuindo com os seus trabalhos fotográficos, os seus textos, as suas pesquisas, reportagens e poemas. A revista ao longo do ano tem sido, um portefólio dos magnificos trabalhos de fotografos portugueses, do grupo Fotomanya Vip, grupo que dá nome e corpo à nossa revista. Lembro algumas reportagens fabulosas como a Mendicidade, Os Meninos do Mussulo, a grande reportagem de Auschwitz-Birkenau sobre os campos de concentração , e agora O Chiado Continua a Arder. Acreditem que , foram reportagens trabalhosas, porque requerem uma grande pesquisa quer fotográfica quer informativa para que toda a informação, seja verdadeira e sem máscaras. Ao mesmo tempo divulgamos concursos, worshops de interesse, exposições de fotografia e não só, Já tivemos a surpresa de ver alguns fotografos venderem fotos a leitores da nossa revista que não estão ligados á fotografia. Sempre achámos que ao iniciar a revista que as vendas nunca ultrapassariam as 20/30 revistas, no entanto já tivemos meses em que foram vendidas 160 revistas, nunca vendendo menos das 100 revistas mensais o que para nós é um feito neste mundo editorial com tantas e belas ofertas. Já tivemos o orgulho de ver a nossa revista sendo apresentada em programas de TV, falada em dois programas da rádio e comentada e admirada por várias personalidades do meio artístico e cultural português. A revista tem corrido mundo e é enviada para fotomanyacos na Bélgica, Suiça, China, Brasil, Angola e Cabo Verde, Espanha, França e Alemanha. Nada trava este projecto, enquanto continuarem a apostar na sua diversidade e apostarem em novos temas e na divulgação do que tão fazem. Resta-nos agradecer a todos e desejar que possamos continuar a merecer a vossa atenção e preferência. Bons clicks para todos
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Portugal & Seus Encantos Situado na ponta sudoeste da Europa, Portugal é uma das nações mais antigas deste continente, oferecendo uma ampla diversidade de tradições e um forte orgulho no passado marítimo. Apesar da sua pequena dimensão, o país é abençoado por uma enorme variedade de paisagens, desde montanhas verdejantes e planícies douradas a belos vales fluviais e quilómetros de praias banhadas pelo sol e pelo Atlântico. Lisboa é a ecléctica capital de Portugal, sem dúvida uma cidade vibrante e cosmopolita. Nas proximidades, Cascais acolhe praias magníficas e Sintra encantá-lo-á com as suas florestas e castelos dignos de contos de fadas. No Norte, o Porto é famoso pelo mundialmente conhecido vinho do Porto e pela região panorâmica do Douro. Se procura uma boa dose de sol e mar, descubra a lindíssima costa com falésias e praias douradas do Algarve, bem como os excelentes campos de golfe Um curto voo levá-lo-á até ao “jardim flutuante” da Ilha da Madeira – uma encantadora ilha com uma beleza natural incomparável e florestas ancestrais. E se anseia por alguma paz e tranquilidade, rodeado de paisagens idílicas, as ilhas dos Açores podem ser um bom destino.
Paulo Mendonça José Carlos Costa
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Joaquim Machado Analua Zoé
Graça Cortez
Portugal foi eleito pela Condé Nast Traveller o melhor destino do mundo para se viajar em 2013. Paisagem, gastronomia e praias foram os aspectos que mais pesaram na escolha dando ainda especial destaque à simpatia do povo português. A prestigiada revista fala do "especial encanto que é visível nas tradições do país, com cidades que combinam a modernidade com o peso visível da história, paisagens e praias que nos reconciliam com a Natureza".
Anita Nunes
Anna Batista Constantino
Também em 2013, o Porto foi eleito pela Lonely Planet como o melhor dos 10 destinos de férias de eleição na Europa.
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Hugo Augusto
O clima e a diversidade geográfica moldaram a flora portuguesa. No que diz respeito às florestas portuguesas estão muito difundidos, por razões económicas, o Pinheiro o Castanheiro , o Sobreiro , a Azinheira o Carvalho-português e o Eucalipto A fauna de mamíferos é muito variada e inclui a raposa, texugo, lince-ibérico, lobo-ibérico, cabra-selvagem (Capra pyrenaica), o gato-selvagem (Felis silvestris), a lebre, a doninha, o sacarrabos, gineta, e ocasionalmente urso-pardo (perto do Rio Minho, perto da Peneda-Gerês) e muitos outros. Portugal é um lugar de paragem importante para aves migratórias que se deslocam entre a Europa e África, em lugares como o Cabo de São Vicente ou a Serra de Monchique, onde podem ser vistos milhares de pássaros que voam a partir da Europa para África no Outono ou no sentido oposto na Primavera. Portugal tem cerca de 600 espécies de aves, entre as quais 235 nidificantes e quase todos os anos há novos registos. Portugal tem mais de 100 espécies de peixes de água doce que variam desde o bagre-gigante-europeu (Parque Natural do Tejo Internacional) a pequenas espécies endémicas que vivem apenas em pequenos lagos (Zona Oeste, por exemplo). Algumas destas espécies raras e específicas estão altamente ameaçadas devido à perda de habitat, poluição e secas. As águas marinhas portuguesas são umas das mais ricas em biodiversidade do mundo. As espécies marinhas são na ordem dos milhares e incluem a sardinha (Sardina pilchardus), o atum e a cavala-do-atlântico. Em Portugal também é possível observar o fenómeno de ressurgência, especialmente na costa oeste, que torna o mar extremamente rico em nutrientes e biodiversidade.71 As áreas protegidas de Portugal, incluem um parque nacional, treze parques naturais (o mais recente criado em 2005), nove reservas naturais, cinco monumentos naturais, e seis paisagens protegidas, que vão desde o Parque Nacional Peneda–Gerês ao Parque Natural da Serra da Estrela. Em 2005, a Área de Paisagem Protegida do Litoral de Esposende, foi promovida a Parque Natural para "a conservação do cordão litoral e dos seus elementos naturais físicos, estéticos e paisagísticos.
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Joaquim Machado Duarte Sol
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Luis Miguel
A Pateira de Fermentelos ou simplesmente Pateira é uma lagoa natural, localizada
no triângulo dos concelhos de Águeda, Aveiro e Oliveira do Bairro, antes da confluência do Rio Cértima com o Rio Águeda. É circundada pelas freguesias de Óis da Ribeira, Fermentelos, Espinhel e Requeixo. É a maior lagoa natural da Península Ibérica. É uma zona muito rica em fauna, flora e espécies aquáticas, incluindo diversas espécies de aves tais como: rabilas, curtos, pica-peixes, e vários tipos de patos. Na flora podemos encontrar desde de nenúfares, canizia e bonhos. A nível piscatório existem achigã, lúcio, carpa, tainha, perca, sendo conhecida pelos seus pimpões existem também grandes quantidades de lagostins-vermelhos e variados tipos de rãs.
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José Carlos Costa
Luis Miguel
Filomena Oliveira
Sérgio Coutinho
Paulo Faria
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Ana Filipa Garin Scarpa Victor Manuel Esteves Gil
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A Aldeia da Estrela tem uma localização privilegiada junto da albufeira de Alqueva. Com a subida das aguas a povoação ficou situada numa península rodeada pelas aguas do Alqueva.
O Cais Ancoradouro da Estrela fica localizado junto à aldeia da Estrela. Permite facilmente o percurso a pé até à aldeia dada a curta distância a que fica. Pela sua localização excepcional foi construído um ancoradouro onde atracam os barcos que cruzam a barragem de Alqueva vindos da Marina da Amieira. É um óptimo local para passear, fazer um piquenique ou até mesmo dar um mergulho. Como chegar? De carro siga até à aldeia da Estrela, chegado ao centro, no largo da Igreja, vire à sua esquerda e siga sempre em frente até um largo em terra que funciona como estacionamento. O Cais fica a cerca de 50 metros. Bem-vindos à Estrela" Pontos de interesse Igreja Matriz de Nossa Sra da Estrela Vista para albufeira de Alqueva em redor da aldeia Ancoradouro (ver Passeios de Barco no Alqueva) Parque de Merendas da Estrela
António Laranjeira
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Carlos Sousa Gabriel Salvador
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Ricardo Zanbujo
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Hugo Augusto
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Paulo Mendonรงa Rosรกrio Soares
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Luis Filipe
Amélia Pegado Paula Silva
Bruno Cruz José Cruz
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Cais Palafitico da Carrasqueira Alcácer do Sal (Alentejo)
UM LOCAL ÚNICO NA EUROPA
por António Laranjeira O Cais Palafitico da Carrasqueira situa-se na Reserva Natural do Estuário do Sado e é fruto da arquitetura e engenho popular, peça única na Europa. Tendo atualmente centenas de metros de cais, foi construído entre as décadas de 50 e 60 do século passado, com base em estacas de madeira irregulares, de aspeto temerariamente frágil. Serve de abrigo e acesso aos barcos de pesca artesanal que ali repousam entre fainas. Os barcos seguindo o ritmo das marés flutuam ou repousam no lodo mas os cais permitem sempre o acesso às embarcações. No entanto, o findo Inverno fez os seus estragos. Consultando trabalhos publicados online de diversos fotógrafos, constata-se a degradação e a metamorfose provocada pelos elementos sobre as estruturas palafiticas ao longo dos anos. Este spot foi determinante em 2012 no meu interesse na fotografia. Os registos deste local cativaram-me de imediato. Confesso que em muitos momentos dei comigo a pensar: ”Uau! Como é que este tipo fez isto?”. Quis ser “aquele tipo” e desde então acompanhei a Carrasqueira pelas quatro estações do ano e já me aventurei inúmeras vezes por lá. Foi um local de aprendizagem duro e caprichoso por vezes, mas muito recompensador. Vou lá muitas vezes e não acuso o cansaço dos quilómetros e dos despertares às cinco e seis da manhã. Porquê? Porque não temos direito a duas visitas iguais. Os barcos mudam de sítio. As estações dão-nos um clima e luminosidade diferentes. Nós mudamos como fotógrafos a cada registo e a cada sessão descobre-se ou redescobre-se novos pormenores ou composições.
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A beleza do local e a variedade de objetos fotográficos ao dispor é muito diversificada, pelo que este é um dos locais mais populares entre os fotógrafos paisagísticos nacionais e não só. Aqui obtêm-se muito mais do que as habituais fotos dos cais entre as águas paradas com recurso a filtros ND (que por sinal são fabulosas e típica “especialidade da casa”). Para os adeptos da fauna, é um paraíso de diversas aves que escolhem o estuário do Sado como morada permanente ou migratória. Não deixa de ser também um local excelente para quem se dedica a registar etnografia e histórias com H grande, tão grandes como a vivência e saber das gentes do mar e do rio. Inevitavelmente é um local que se recomenda nas “horas mágicas” mas tem condicionantes. Por vezes, sinto que ir à Carrasqueira é equivalente a ir ao casino: nunca se sabe como vai correr. Aqui ficam algumas impressões e recomendações, especialmente centradas para a fotografia paisagística e para quem faz as primeiras incursões no local: - Marés: há escolhas a fazer. Ir na preia-mar permite-nos fotos dos cais e dos barcos a flutuar mas há o inconveniente dos que entram e saem da faina agitando as águas à sua passagem, sem falar no caprichoso vento que nos “treme” as fotografias. Escolher a baixa-mar à primeira vista parece desinteressante mas não é! Podemos criar fotos navais dos barcos com a “barriga” assente no leito do rio, desvanecendo-se assim o problema do movimento que a preia-mar e o vento acarretam. - Ventos: o local é muito exposto a ventos moderados a fortes. Se a meteorologia indica que o vento vai estar forte, pense duas vezes em ir pelos motivos óbvios. Pode tornar a jornada também humanamente muito desconfortável: por vezes a temperatura atinge marcas inferiores a 10 graus. - Nevoeiro: é uma zona de nevoeiros habituais ao amanhecer, mesmo que a meteorologia não o avise. O resultado é incerto mas pode compensar. Nestas alturas é esperar… pois o que agora “não funciona”, “funciona” daqui a pouco. Bastam segundos por vezes. - Mosquitos: com a Primavera e o Verão, fazem nuvens! Recomenda-se roupa que cubra o corpo, um chapéu e repelente na cara e mãos. Se pensa que os mosquitos não o mordem, depois faremos o balanço contando os “altos”… - Material: deve ter algum cuidado na sua manipulação em cima dos cais, dado que qualquer descuido pode fazer cair alguma coisa para o lodo ou água. Embora não pareça por vezes, a humidade é elevada e as poeiras e gotículas de água trazidas pelo vento acumulam-se na objetiva e/ou filtros com muita facilidade. A Carrasqueira é incerta tal como outros locais em termos de possibilidades de sucesso de uma sessão fotográfica, mas com planeamento e alguma sorte, os resultados são muito recompensantes. No entanto, por experiência própria, diversas idas e muita persistência irão proporcionar momentos mágicos e registos de qualidade superior. Nisto, como em muitas coisas na vida, a preparação é fundamental. É essencial visitar previamente o local sem ambições e verificar as marés e a meteorologia. Boa viagem! Perguntas? Não hesitem… http:// www.facebook.com/alaranjeiraphoto.
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SÉRGIO COUTINHO “ AINDA HÁ AVIEIROS NO TEJO… “ Desde sempre o rio Tejo, atraiu muitos pescadores vindos de longe. Gente do mar, que de inverno não conseguiam ganhar o seu sustento devido à bravura das ondas, viam o seu ganha pão ser recusado pelo mar, enquanto que o rio Tejo, rico em espécies lucrativas, das quais se destacava o sável, oferecia essa alternativa de sustento o ano inteiro. Várias famílias rumam ao sul, em busca de sustento. Destas migrações internas, que surgiram nos finais do séc. XIX destacam-se os avieiros, originários da Vieira de Leiria, podemos ainda hoje encontra-los em localidades ribeirinhas do Tejo tais como: Escaroupim, Palhota, Póvoa de Santa Iria ou Vila Franca de Xira.
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Regra dos Terços Um dos mais importantes e mais conhecidos princípios da composição fotográfica, a regra dos terços tem como principal objectivo contribuir para a captação de uma imagem visualmente equilibrada e interessante A regra dos terços é um exercício visual onde o fotógrafo olha pelo visor ou ecrã para o cenário que quer fotografar. A regra é muito simples, para utilizá-la basta traçar duas linhas horizontais e duas linhas verticais imaginárias, criando assim nove quadros. Dentro desses retângulos estão localizadas as “linhas de interesse” da percepção humana, então se posicionamos o assunto próximo dos círculos, a composição fica bem mais atraente ao observador.
A aplicação da regra dos terços não é mais do que evitar centrar o elemento a fotografar, e posicioná-lo 1/3 acima do fundo e 1/3 à esquerda ou então 1/3 abaixo do topo e 1/3 à direita e assim sucessivamente. É muito mais usual olharmos para um dos pontos de cruzamento do que para o centro da fotografia. Por isso é tão importante respeitar esta regra, sempre que faça sentido.
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Veja o exemplo... No caso de pessoas e objectos se os posicionar, numa das quatro intersecções da grelha; no caso de paisagens, posicione-as no topo ou no fundo da grelha.
O resultado é uma imagem mais natural, contrabalançada e atractiva ao olhar. Tão fundamental como a visualização da grelha em si, é saber, em primeiro lugar, quais os pontos de interesse do cenário que pretende fotografar; e, em segundo lugar, conseguir posicioná-los sobre a grelha de forma intencional.
Visto que a fotografia é uma forma de arte e de expressão criativa, depois de aperfeiçoada a técnica, crie as suas próprias composições e fuja à regra sempre que achar que deve. Não esqueça daquela máxima “as regras foram feitas para serem quebradas” .... Seja criativo!
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Vasco Freitas Nasci em Vila Nova de Gaia, em 1967, e resido actualmente em Azambuja. Sempre gostei de fotografar e, como a maioria das pessoas, limitava-me a registar imagens cujo objectivo era deixar impressos momentos que mais tarde serviriam para voltar atrás e revivê-los, no entanto, o mundo da fotografia sempre me deslumbrou. Com o acesso às novas tecnologias, num mundo tão vasto que possibilita o conhecimento de pessoas interessantes que partilham as suas experiências, como o Facebook, tomei contacto com o trabalho de macrofotografia efectuado por Pedro Jordão e, também eu, acabei por me render e dedicar-me a este género, que sempre me cativou. As minhas fotografias são executadas tanto na natureza como em casa, num estúdio improvisado, usando uma Canon 1000D e lentes 18-55 e 75-300, na maioria das vezes com tubos de extensão manuais. Devido ao uso destes, é perdida a comunicação entre a câmera e a lente, razão pela qual as minhas fotos são sempre feitas em F13 ou F16, mediante a necessidade de mais ou menos luz ou maior profundidade de campo. No que respeita a velocidade do obturador, tento sempre mantê-lo entre 1/125 e 1/200 para evitar que as fotos fiquem tremidas ou demasiado escuras. No caso do ISO coloco-o no valor mais baixo possível, para que não perca nitidez. Com estas velocidades fico obrigado ao uso de flash, que no meu caso é o pop-up da câmara e, para que a luz não fique muito dura, um difusor “caseiro”, que não me canso de modificar para conseguir melhores resultados. Embora este meu hobbie seja relativamente recente e esteja, em muito, limitado pelo material que uso, pretendo continuar a investir nesta área, aperfeiçoando esta técnica que me possibilita, cada vez mais, obter a perfeição de detalhes que o simples olhar humano não permite.
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JOÃO RIBEIRO “Fotografia Marafada, é pseudónimo de João Ribeiro, Fotógrafo amador, autodidacta. A fotografia entrou muito cedo na sua vida, as fotos de família nas paredes de casa, os álbuns fotográficos repletos de historia fizeram com que logo de pequeno começasse a pedir a camara emprestada a sua mãe para fazer uns cliques. Aos 15 anos recebe de presente a sua primeira reflex e trabalha um verão inteiro para comprar uma segunda para se iniciar na foto-reportagem. Com 19 anos ingressa na vida militar na força aérea e até 2005 fotografa aviões e exercícios militares, expondo os seus trabalhos em 2004 aquando do centenário do campo de tiro de Alcochete. Em 2001 por sua iniciativa fundou o Núcleo de Amigos Fotógrafos do Algarve que ao completar um ano de vida se constitui Associação sem fins lucrativos, servindo para divulgar a fotografia não só no Algarve como por todo o país. A fotografia macro é a sua paixão, em contacto permanente com a natureza revela com as suas fotos o que de melhor ela esconde.” fotografiamarafada.com
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Paula Nogueira Guerra
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TINA ALVES Nasci em 1959 em Lisboa e sempre gostei muito de artes, embora os estudos me levassem para a Contabilidade. No entanto, tive a sorte de o meu primeiro emprego ter sido num laboratório de fotografia em 1976 (Copycolor e mais tarde Gamacolor). Fui Impressora fotográfica durante 5 anos e o meu gosto pela fotografia foi crescendo, embora nunca tenha seguido a carreira de fotógrafa. De 1990 a 2012 fui ceramista. A minha primeira máquina não me recordo da marca e modelo, mas era de rolos 124mm. Quando comecei a trabalhar em fotografia adquiri uma Konica 135mm. Com a chegada da era digital adquiri uma Sony DSC-S950 (que me continua a acompanhar sempre), uma SONY DSLR-A350 com objectiva 18-70mm e uma Canon EOS 400D com objectivas 18-55mm e 75-300mm. Embora me faça acompanhar sempre de uma máquina fotográfica, gosto particularmente de fotografia relacionada com a Natureza.
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Fotografia
A Memória dos Afectos Ana Ribeiro Na fotografia encontramos várias emoções como o sentido da ausência, a lembrança, a separação dos que se amam, as pessoas que já faleceram, as que desapareceram. Para algumas pessoas, fotografar é somente um ato prazeroso, de registar algo que existe. Já para outras, é a necessidade de prolongar o contacto, a proximidade, o desejo de que o vínculo persista. Strelczenia, 2001, assinala que a imagem nasce da morte, como negação do nada e para prolongar a vida, de tal forma que entre o representado e sua representação haja uma transferência de alma. A imagem não é uma simples metáfora do desaparecido, mas sim "uma metonímia real, um prolongamento sublimado, mas ainda físico de sua carne". A foto faz com que as pessoas se lembrem do seu passado e que fiquem conscientes de quem são. O conhecimento do real e a essência de identidade individual dependem da memória. A memória vincula o passado ao presente, ela ajuda-nos a representar o que ocorreu no tempo, porque unindo o antes com o agora temos a capacidade de ver a transformação e de alguma maneira decifrar o que virá. A fotografia captura um instante, põe em evidência um momento, ou seja, o tempo que não pára de correr e de ter transformações. Ao olhar uma fotografia é importante valorizar o salto entre o momento em que o objecto foi clicado e o presente em que se contempla a imagem, porém a ocasião fotografada é capaz de conter o antes e depois. Confia-se, portanto, na capacidade da câmera fotográfica para guardar os instantes que se consideram valiosos. Tirar fotografias ajuda a combater o nada, o esquecimento. Para recordar é necessário reter certos fragmentos da experiência e esquecer o resto. São mais os instantes que se perdem que os que podemos conservar. Segundo Strelczenia "A memória é premiada quando recordamos, fazendo memorável; castiga-se com o esquecimento ". Fotografa-se para recordar, porque os acontecimentos terminam e as fotografias permanecem, porém não sabemos se esses momentos foram significativos em si mesmos ou se tornaram memoráveis por terem sido fotografados. A memória é constitutiva da condição humana: desde sempre o homem se ocupa em produzir sinais que permaneçam mais além do futuro, que sirvam de marca da própria existência e que lhe dêem sentido. A fotografia traz consigo mais daquilo do que se vê. Ela não somente capta imagens do mundo, mas pode registrar o "gesto revelador, a expressão que tudo resume, a vida que o movimento acompanha, mas que uma imagem rígida destrói ao seccionar o tempo, se não escolherem a fracção essencial imperceptível"
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Ana Ribeiro
Todo esse campo de interpretação que a fotografia permite parte de vários factores, ingredientes que agem profundamente (nem sempre visíveis) no significado da imagem. Segundo Lúcia Santaella e Winfried Nöth , esses elementos são: o fotógrafo, como agente; o fotógrafo, a máquina e o mundo, ou seja, o ato fotográfico, a fenomenologia desse ato; a máquina como meio; a fotografia em si; a relação da foto com o referente; a distribuição fotográfica, isto é, a sua reprodução; a recepção da foto, o ato de vê-la. É no ensaio fotográfico que a pessoa busca a emoção, algo que ela nunca tenha sentido. A fotografia é capaz de ferir, de comover ou animar uma pessoa. Para cada um de nós, ela oferece um tipo de afecto. Na composição de significado da foto, segundo Barthes (1984), há três factores principais: o fotógrafo (operador), o objecto (spectrum) e o observador (espectador). O fotógrafo lança o seu olhar sobre o assunto, e faz as fotos segundo seu ponto de vista. O objecto (ou modelo) se modifica na frente de uma lente, simulando uma coisa que não é. No caso do observador, ele gera mais um campo de significado, lançando todo o seu repertório e alterando mais uma vez a imagem. Barthes observa ainda a presença de dois elementos na fotografia, aquilo que o fotógrafo quis transmitir é chamado de studium, ou seja, é o óbvio, aquilo que é intencional. Já quando há um detalhe que não foi pré-produzido pelo autor, recebe o nome de punctum. Esse último gera um outro significado para o observador, fere, atravessa, mexe com a sua interpretação. Reconhecer o studium é fatalmente encontrar as intenções do fotógrafo, entrar em harmonia com elas, aprová-las, discuti-las em mim mesmo, pois a cultura (com que tem a ver o studium) é um contrato feito entre os criadores e os consumidores. A esse segundo elemento que vem contrariar o studium podemos chamar de punctum. Dessa vez, não somos nós que vamos buscá-lo, é ele que parte da cena, como uma flecha, e é como se nos trespassasse. Por meio das fotografias descobre-se a capacidade de obter camadas inteiras e de emoções que estão escondidas na memória. Também se pode descobrir e obter novos significados que naqueles momentos não estavam explícitos. As imagens são aparentemente silenciosas. Sempre, no entanto, provocam e conduzem a uma infinidade de discursos em torno delas. As emoções estão sempre presentes na fotografia, por isso ela pode ser tão pessoal , tão intima. 37
Leandro Araújo O Ballet in the Streets of Portugal inicialmente era um sim-
ples projecto pessoal para o final do curso do fotógrafo Leandro Araújo. Este tema foi escolhido pelo jovem profissional como sendo o tema principal do seu portefólio, trabalho de conclusão do curso de fotografia em Outubro de 2012, na Escola Oficina da Imagem. O projecto inicial visava fotografar bailarinos em posições da dança clássica e para isso, recorreu à um estudante de dança, o bailarino Lucas Bueno. Como estudante na Escola Superior de Dança, o Lucas Bueno tinha a técnica e a criatividade necessária para aplicar às poses e também conhecia outros bailarinos que estavam dispostos a ajudar o jovem fotógrafo na conclusão do seu portefólio. Depois da conclusão do curso, os dois artistas tomaram gosto pelo projecto e algum tempo depois, ganhou outra dimensão, tornando-se um projecto conjunto, como actualmente é conhecido. O Ballet in the Streets of Portugal passou a ser utilizado como meio de divulgação do trabalho fotográfico de Leandro Araújo e do Lucas Bueno enquanto bailarino, tendo como principal objectivo a fusão da arte da fotografia com a dança, procurando dar ênfase à beleza, historicidade e arquitetura das várias cidades e monumentos portugueses com a fluidez e expressividade do corpo dos bailarinos. O projecto percorrerá as várias cidades de Portugal e contará com a presença de muitos bailarinos, estudantes de dança e futuros profissionais do ramo.
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Equipamento Fotográfico
http://www.outex.com/products.aspx http://www.facebook.com/OUTEX
Todos nós já nos defrontamos com locais e situações, em que precisamos fotografar sem que as condições sejam as melhores e onde os elementos da natureza, podem danificar o seu equipamento fotográfico. Para proteger as câmeras fotográficas em cenários adversos,, como a praia, deserto, ou situações de chuva, lama, vento etc..etc.. O ideial é utilizar bolsas estanques. São inumeros os modelos de bolsas estanque mas dentre os mais conhecidos no mercado, existe a bolsa estanque vendida pelo pabricante Outex.
A empresa fabrica uma bolsa estanque em borracha de látex, sem emendas nem costuras e com peso aproximado de 200 gramas. A bolsa possui uma janela ótica na lente e no visor, com vidro próprio para fazer as fotografias sem interferir na imagem registrada. Deixamos algumas fotos do produto:
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Maria Lázaro
Gosto de olhar o mar e despejar na maré o vaivém das coisas em desuso. Casaco e vida às costas, toneladas de peso sobre os ombros que quero que o mar leve. Olho-o no fundo do ancoradouro, perto da areia para o chamar mais depressa.
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Todo o tempo se refugia num ancoradouro. Como se os passos fossem leves e o horizonte já ali, tão certo. Onde o mar se deixa tocar pelo céu, quando este se enfurece.
Já o frio me amordaça a voz.O destino anda-me rondando em fim de cena e eu já me canso de o fintar. Quero a serenidade do ultimo capitulo .Talvez por isso olho a vida e calo a boca.
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Quando toda a onda se abre, todo o medo em desafio, todo o estertor do sal ampliando a espuma. Vicio que atravessa a carne, greta os olhos, pede clemência. Não há mar que não se espante pela força da vontade.
Há uma placidez fria entre os dedos das árvores. Uma doçura , contudo, entrelaça a nudez das ramagens, como pedindo ao espelho de água retorno de vida.
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A alegria desagua no rosto feito estuário. Nele se expande, nele se acolhe e dele resvala para a alma habitando. Só de o olhar , meu sorriso se cola e faz rio.
Na mão dura e feita ferro, há contrabando de ternura...
Viajo em passo lento e não sei se são as paredes que me contam historias se meus olhos cansados que as repetem. Às vezes alargo o passo e as imagens estendem-se para dentro de mim. Outras vezes finjo que as não vejo. Custa menos.
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Cresce a vida à porta de uma casa sem quintal. Nem precisa. Toda a rua Ê das crianças, todo o riso trepa nas paredes, toda a brincadeira se faz cancela e sonho.
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A doçura não tem cor, nem género, nem feitio. Molda-se ao ombro e ao peito, chocolate forrando pérola, rosto de criança alcançando o olhar do mundo
Textos de Laura Silva https://www.facebook.com/laura.silva.7771?fref=ts 49
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JosĂŠ Carlos Costa
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FOTOGRAFIA FOTO-JORNALISMO
O fotojornalismo é um ramo da Fotografia onde a informação clara e objectiva, através da imagem fotográfica, é imprescindível. Também pode ser considerado uma especialização do Jornalismo. Através do fotojornalismo, a fotografia pode exibir toda a sua capacidade de transmitir informações. Essas informações são transmitidas pelo enquadramento escolhido pelo fotógrafo diante do fato. Nas comunicações impressas, como jornais e revistas, bem como pelos portais na internet, o endosso da informação através da fotografia é uma constante. O fotojornalismo preenche uma função bem determinada e tem características próprias. O impacto é elemento fundamental. A informação é imprescindível. É na fotografia de imprensa, um braço da fotografia documental, que se dá um grande papel da fotografia de informação, o fotojornalismo. É no fotojornalismo que a fotografia pode exibir toda a sua capacidade de transmitir informações. E essas informações podem ser passadas, com beleza, pelo simples enquadramento que o fotógrafo tem a possibilidade de fazer. Nada acontece hoje nas comunicações impressas sem o endosso da fotografia.
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Existem, basicamente, quatro géneros de fotografia jornalística: • As fotografias sociais: Nessa categoria estão incluídas a fotografia política, de economia e negócios e as fotografias de fatos gerais dos acontecimentos da cidade, do estado e do país, incluindo a fotografia de tragédia. • As fotografias de desporto: Nessa categoria, a quantidade de informações é o mais importante e o que influi na sua publicação. • As fotografias culturais: Esse tipo de fotografia, tem como função chamar a atenção para a notícia antes de ela ser lida e nisso a fotografia é única. Neste item podemos colocar um grande segundo grupo, a esportiva, pois no fotojornalismo o que mais vende após a polícia é o desporto. • As fotografias policiais: quase todos os jornais exploram do sensacionalismo para mostrar acidentes com morte, marginais apanhados em flagrante, para vender mais jornais e fazer uma média com os assinantes. Pode dizer-se que há uma rivalidade entre os jornais para ver qual deles mostra a cena mais chocante num assalto, morte, acidente de grande vulto etc etc.[Que autor fundamenta isso? De onde veio essa fonte? Os critérios de noticiabilidade do jornalismo hoje não seguem esse padrão, a imparcialidade é fundamental para veículos sérios. Existem veículos sensacionalistas, é claro, mas não se pode generalizar. Segundo Traquina: A escolha da narrativa é orientada pela aparência que a ‘realidade’ assume para o jornalista, pelas convenções que moldam sua percepção e fornecem repertório formal para a apresentação dos acontecimentos. Isso demonstra a relevância da fundamentação jornalística, e dos valores notícia para informar com qualidade, e não opinar.
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Grande Reportagem O CHIADO ESTÁ A ARDER Jorge Jacinto
Com participação, das escritoras : Alice Vieira, Lídia Jorge e Maria Elvira Bento
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O Incêndio do Chiado deflagrou a 25 de Agosto de 1988 nos Armazéns Grandella do lado da Rua do Carmo. Os carros de bombeiro não conseguiram entrar na Rua do Carmo, à data reservada aos peões e enfeitada em anchura com canteiros altos de betão - obra polémica que se deveu ao mandato executivo de Nuno Abecassis, o então presidente da Câmara Municipal de Lisboa. O fogo propagou-se rapidamente aos edifícios contíguos à Rua Garrett. Além de lojas e escritórios, foram destruídos muitos edifícios do século XVIII. Os piores estragos foram naturalmente na Rua do Carmo, vedada ao acesso das viaturas de socorro. Aí, entre al, perderam-se os armazéns do Grandella e a Perfumaria da Moda (cenários da fita O Pai Tirano), assim como os Grandes Armazéns do Chiado e o arquivo histórico de gravações de som da Valentim de Carvalho. Depois do incêndio, os bombeiros continuaram no local durante cerca de dois meses, na remoção de escombros. Durante esse tempo, 58 dias após o incêndio, depois de removidos todos os escombros depararam com uma vítima mortal, um electricista reformado do Arsenal da Marina com cerca de 70 anos. Outra das vítimas mortais, um bombeiro de 31 anos, Joaquim Ramos, morreu no início de Setembro de 1988 no Hospital de São José. Enquanto combatia o fogo na Rua do Carmo foi atingido por uma “língua de fogo” e “gases muito quentes”. Ficou com 85% do corpo queimado. O incêndio continua activo depois de 25 anos, na memória e vida das 2.500 pessoas que perderam os seus empregos, as suas lojas e as suas casas.
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O CHIADO ESTÁ A ARDER …Era a arrumadeira desferindo grandes pancadas, à porta do seu próprio quarto : – “Sr. Eduardo! Está acontecendo uma coisa horrível” Ele saltou da cama e viu as horas. “São sete horas... Uma coisa horrível?” – pensou. “Vista-se, Sr. Eduardo, e venha ver o que está acontecendo. É o fim do Chiado. Os telhados estão todos a arder!” Eduardo não percebia o que não era realidade. “ Mas que dia é hoje?” – perguntou enfiando as calças. “Vinte e cinco, quinta-feira, Sr. Eduardo!” – dizia a arrumadeira. “É um incêndio descomunal!” O seu peito arfava como um fole. “Sábado?” – perguntou ele. “Mas que sábado, Sr. Eduardo ? Não é sábado, é quinta-feira, vinte e cinco de Agosto, Sr. Eduardo!” Um incêndio horrível está ali a devastar a Baixa. Vai tudo à poeira. Olhe além...” - Ambos se dirigiram para a porta da casa. Saíram para a rua. “Ah! Que tragédia, não fica nada...” – ia dizendo Purificação, em transe, enquanto a rua se enchia de gente meio despida. O pessoal do Café Atlântico espalhava-se pelo passeio. Na colina em frente,as labaredas aumentavam e removiam-se sobre superfícies de telha. O rio,esse,estava azul,parado,mas na direcção da água sopravam as colunas de fumo e as línguas de fogo, levadas por uma brisa forte. Por cima daquele archote imenso, uns helicópteros, em forma de moscardo, avejoavam. O incêndio partira do Grande Armazém da Rua do Carmo... (Do romance “O Jardim Sem Limites” de Lídia Jorge)
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O CHIADO Eu estava no Brasil quando do incêndio do Chiado. “Lisboa está a arder”—era o que todos ouvíamos, em todas as esquinas de São Paulo. Num tempo em que ainda não havia telemóveis para ligar para casa. Por isso não vivi em Lisboa esses primeiros dias de dor, de assombro, de raiva. Quando voltei, o que restava do Chiado eram pedras sobre pedras, bocados de paredes, cinzas, entulho. Quando vejo as fotos do Jorge Jacinto é esse tempo que elas me trazem. Olho para elas e consigo ouvir distintamente os gritos, o choro, as sirenes, a correria das pessoas, os nomes que se atiram para o ar-- e também o terrível silêncio das ruinas. Porque uma boa fotografia não nos faz apenas ver: faz-nos também ouvir. E as fotografias de Jorge Jacinto— documentando o que não poderemos esquecer nunca— fazem com que imagem e som entrem dentro de nós e lá fiquem para sempre. ALICE VIEIRA (Escritora)
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"O CHIADO 25 ANOS DEPOIS" Quebrando a sequência das suas últimas mostras, onde focava, num ângulo muito seu, o admirável mundo do espectáculo, Jorge Jacinto vem agora surpreender muitos, principalmente os que não estão em contacto com a sua obra, com a sensibilidade dos seus trabalhos. Este portofólio agora patente mostra-nos a intervenção de Jorge Jacinto naquela manhã de 25 de Agosto de 1988 quando as labaredas cresciam no Chiado. O dramático acontecimento, indiferente à dor de quem o testemunhava,proporcionou verdadeiras maravilhas fotográficas ao Jorge, porque em cada foto sua ficou gravada a destruição e o febril da luta entre os homens e a catástrofe. Numa narrativa incrível, onde as palavras foram substituídas pela película, ele invandiu o dantesco da situação e, indiferente ao perigo, misturou-se com o jorro das águas, envolveu-se no fumo negro e procurou fixar o morrer das casas e os ângulos das ruas retorcendo-se ao calor destruídor . A tragédia estava lá e o Jorge, no meio dela,testemunhou em fontes eloquentes e dramáticas,por vezes até de uma eloquência poética, a manhã tristemente assinalada. Foi um Inferno bonito de fotografar. Bonito porque, sem palavras acompanhou os últimos momentos do velho Chiado e, quando o novo surgir, documentos como os que agora estamos a mostrar serão de valor histórico permanente. Curioso é que se olharmos atentamente algumas das fotos parece que nos ardem os olhos pela cortina de fumo que "salta" do papel e quase é possível sentir o cheiro a queimado das línguas de fogo arremessadas contra paredes candentes, tornando o ar insuportável e mortífero. O Jorge mostra-nos, hoje, tudo isso, sem dizer nada . Parabéns .
Maria Elvira Bento (Jornalista)
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Fotografias que Rimam Merda de Vícios Cheiro a noite nos restos de uma taberna, espalho os dedos na face conspiradora do balcão, buscando entre os vultos exaustos, o feroz cigarro que mutila a escuridão. Penetro a superfície amarrotada, enquanto os meus pés se diluem nos mosaicos estendidos pelo chão, enquanto desfaço os lábios numa cerveja gelada. Desenho nos olhos um desvario, um desejo obsceno na nudez da manhã. Enquanto penteio os cabelos atados pela noite, num grito que goteja, sem prazer, nem amante.
A Espera Um rosto perdido, a solidão da paragem, a demora da tarde, a incerteza da vida. Na pátria desigual, o gemido da aragem, no olhar distante, a terra esquecida. Os vidros listrados, as linhas direitas, o corpo dobrado, as distâncias longínquas. Aguardas no adro, o trilho que espreitas, na nudez empedrada, as palavras usadas. As botas cansadas, a gasta bengala, arrojas espadas aos moinhos de vento. Os olhos vigiam na tarde que embala e a noite se acerca em remoto lamento. Onde as sombras tristes escurecem os muros e os velhos bancos gastos pelo tempo.
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Sem Tempo O dia entardece entre os varais abandonados, entre as sombras sem tempo que a tarde consome, entre as ruas desertas, as lajes incertas, e os velhos passos nos caminhos sem nome. Mas de vez em quando gosto de parar e ouvir o tempo. Sou um vagabundo das minhas raízes, do pó das queimadas, do desvario dos ribeiros, da aragem do vento que sopra de norte. Das aldeias mansas de casas caladas, à espera que o tempo traga outra sorte.
A Solidão Não me quebrem o silêncio, nem o ruído destas folhas. O silêncio é o rito inventado dos que se isolam, o percurso invariável dos abismos, o espaço que tu habitas e eu sonho, que percorro nos limites proíbidos. Não me apaguem as lajes da solidão, a almofada de pedra onde me dobro. As vozes são vagas e as sombras misteriosas, as madrugadas calmas e as tardes inquietas, mas os amantes espreitam escondidos, entre as feridas das paixões secretas.
Poemas de Victor Gil Fotografia: Pedro Gil
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Reflexos Ele é velho, está velho, já nasceu assim: velho. Ela é nova, muito nova. Ela caminha num bordo suspenso, equilibra-se naturalmente e caminha elegante. Ele dá-lhe a mão a que ela se segura enquanto caminha jovem e nua no bordo de fora do mundo. As suas formas uniformes são definidas, firmes, delineadas e belas, muito belas. Ele é um corpo disforme. Ela vê reflexos espelhados numa face de água e não vê as lágrimas cristalizadas nos olhos dele. Apenas ele sabe das suas lágrimas. Apenas ele percebe de lágrimas. Ela conta-lhe do mundo, do mundo novo de todos os dias e do qual vê reflexos espelhados numa face de água quando caminha nua num bordo de terra. Ele surpreende-se com o que ela lhe conta do mundo novo sem que nele fiquem traços de espanto. Ela acredita que ele fica espantado. Ele quando lhe contava, apenas contava mentiras que ela julgava serem verdades e assim ela não sabe que ele mentia e já nem ele sabe. Ela conta-lhe mentiras mas não sabe que são mentiras. Ele ainda lhe conta mentiras que julga serem novas do mundo velho e que a ela já não interessam por serem de um mundo novo que se faz velho todos os dias e ela faz um mundo novo todos os dias. Ela caminha nua num bordo de fogo. Pela última vez conta-lhe sobre os reflexos do mundo. O tempo dele chegou ao fim. Ela não sabia. Ele contou-lhe. Foi um acto egoísta como todos os actos de amor. De noite amaram-se. Pela manhã morreriam. De manhã ela estava morta, nua, jovem e bela. Ele também cortou as veias e morreu velho.
Arnaldo Saldanha Abreu Foto de Paulo Solano
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A Alma de um monumento… A pedra bruta não é moldável… Não se forma à nossa vontade… Não se amontoa por si. A pedra bruta é como um coração… Há que afagá-lo com ternura… Conhecê-lo primeiro por dentro… Falar-lhe baixinho… Como quem segreda ao vento, Palavras de ternura e emoção… Há que encontrar nela a sua alma… Primeiro indistinta… Lá bem no fundo… E saber entrar nela devagarinho… Como quem entra a medo na vida. Aí… A pedra bruta cede-nos o seu encanto… Torna-se macia aos nossos olhos… Bate ritmada no nosso peito… E abre-se a nós. E nela, Podemos finalmente sentir… O Coração e a Alma daqueles que, Com ternura e emoção… Moldaram a Alma do Monumento. Foto e poema Sérgio de Medeiros 72
Anjo Sonhador... Será que os anjos sonham ? Serão seus sonhos purificados ou nem por isso ? Poderão eles sonhar tentações deliciosamente provocantes, ou o seu estatuto celestial limita os seus pensamentos e acções ? Sendo ícone de perfeição, poderão eles ser detentores de rasgos e cativantes preversões ? Quem sabe ?....E porque não ?... Por certo até desejamos que assim seja ! Quem venham eles dominar então o nosso subconsciente... Poema de Paulo Faria Foto de Ana Luar
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HelLag Helena Lagartinho
Com o decorrer do tempo, Rosa passou a desejar ser invisível Não sabia o que acontecera mas agora ele exigia a sua presença, Rosa deixara de ser invisível. De invisível, Rosa passou a ser para ele, a droga para a sua frustração. O que pensava nunca lhe vir a acontecer, aconteceu e havia momentos em que Rosa rezava para ser invisível como antes. Mas agora ele a queria sempre, a toda e qualquer hora mas não para a abraçar, beijar ou simplesmente acariciar. Ele queria a Rosa para a deixar marcada no corpo e alma, para fazer valer a sua força, a sua virilidade. Rosa já não queria mais ser visível, Rosa já não queria ser invisível, Rosa só queria morrer.
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Esta luz tão forte que se abate sobre mim Que me aquece e conforta Antes de adormecer para o desconhecido Olho-a de frente mas não aguento Tão forte que é, obriga-me a fechar os olhos E acreditar que estará presente Quando estes mesmos olhos se abrirem Regressando do sonho que espero não pesadelo. E a luz se desvanece e fica mais fraca E eu mergulho no sono pesado que me é obrigado Até ficar escuro como breu E entrego-me sem resistir Desejando que aquela luz Não me queime a alma E não me roube o que é meu
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Paulo Faria Nasceu em Julho de 1970 na cidade do Porto. Desde muito jovem teve uma curiosidade enorme pela fotografia e todo o misticismo e técnica que envolve essa nobre arte. Um curso básico de fotografia que frequentou também muito jovem onde ainda se revelavam as fotos em câmara escura, iria ser o "click" que necessitava num despertar e direccionar desde então todos os seus sentidos e descobertas para um mundo que é de facto belo, criterioso e ao contrario do que se possa pensar extremamente exigente e complexo. A sua formação profissional de designer de moda direccionara então todo o seu olhar para aquilo que chama "de sua praia" ou seja os detalhes e/ou pequenos momentos. Está convicto que na moda como na vida, as pequenas coisas podem fazer realmente toda a diferença pela positiva. Aquilo que aparentemente nada nos diz pela sua insignificância, será por certo em variadíssimos momentos o melhor olhar que possamos ter um dia, que quase todos temos a apetência para captar grandes momentos... mas muito poucos conseguirão captar os mais belos registos que são os tais detalhes que tanto ama e defende. Seu lema de vida, é viver positivamente rodeado de muitos e bons detalhes, pois somente com muitos e bons detalhes se construirão por certo grandiosos momentos.... Uma foto é o registo exacto onde conseguirás perpetuar a tua verdadeira essência.
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Sara Bento A paixão pela fotografia foi-me transmitida pelo meu pai, também fotografo amador. Aos 10 anos recebi a minha primeira máquina, uma Agfa, que me passou a acompanhar para todo o lado. Na adolescência, tomando de empréstimo uma “Konica Reflex T”, dei largas à criatividade e evolui tecnicamente, sempre com muita leitura e experimentalismo. Daí, saltei por reflexs “Nikon”, marca que ainda hoje me acompanha. Foi no analógico que descobri e aprendi a fotografia, sempre como auto-didacta. O surgimento do digital coincidiu com o meu afastamento da fotografia, muito embora nunca a tenha perdido de vista... Recentemente, no final de 2011, com a compra da minha primeira reflex digital voltei a abraçar a fotografia, estando agora a retomar o longo caminho da aprendizagem. Sou fotógrafa amadora e sempre o serei, pois “amador, é aquele que ama”. A fotografia permitreme “pintar” o mundo com as “minhas cores”. “Geometrias urbanas”
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Manuel Joaquim do Cabido Roque nasceu no Reguengo/S. Mateus, Montemor-o-Novo, em Agosto de 1964. É funcionário do Serviço de Relações Públicas e Comunicação da Câmara Municipal de Montemor-o-Novo. É aí que surge a fotografia na sua vida, paixão que nunca mais o abandonou, bem pelo contrário. Foi correspondente dos jornais desportivos "Off-Side" e "O Jogo". Entre 1993 e 2003, exerce funções de redactor do jornal "Folha de Montemor". Foi membro dos órgãos sociais do Grupo Desportivo do Reguengo/São Mateus durante vinte e quatro anos, entre 1982 e 2009, os últimos treze como presidente da direcção. Integra presentemente os corpos gerentes do Grupo União Sport, dos Serviços Sociais dos Trabalhadores do Município e da Casa do Benfica de Montemor-o-Novo, depois de ter feito parte da Associação de Pais e Encarregados de Educação “Escola em Movimento”. É membro da Assembleia de Freguesia de Nossa Senhora da Vila. Colaborou com a Rádio "Antena Sul", entre Setembro de 2006 e Maio de 2007, e com a Rádio "Nova Antena", entre Setembro de 2004 e Maio de 2006. Em Setembro de 2007, regressa a esta última para o relato de jogos de futebol, no âmbito do programa “Bancada Desportiva”, colaboração que mantém até ao momento presente. É autor dos livros: Do Reguengo a São Mateus (2002), Ao Correr da Pena (2004), Momentos... (2004, fotografia), Grupo Desportivo do Reguengo/São Mateus - as bodas de prata (2007) e Intemporalidades… (2010, fotografia). É co-autor do livro Heranças… (2013, fotografia). Vive em Montemor-o-Novo, é casado e tem dois filhos.
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GALERIA DE MEMBROS
Cristiano Bento
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Davide Sousa
RogĂŠrio Costa 87
Maria Churkina
Helena Lagartinho
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Jacob Lopes Fernando
Leandro AraĂşjo
Gabriel Salvador
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Paulo Benjamim
Paula Cristina
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Maria Churkina
Elsa Martins Esteves
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Rui Lopes 92
Rui Lopes
Mรกrio Fonseca
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Johnny Cruz Jacob Lopes Fernando
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Joaquim Machado Carla Quelhas
Maria Negreiros
Jorge Fonseca
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Isabel G Silva
Paulo Benjamim
Ricardo Zambujo
Paulo Mendonรงa
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Isabel G Silva
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Gabriel Slavador
Isabel Costa Pinto
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Filipe Correia
Filipe Correia
Nuno Borges
Mรกrio Lavrador
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Paulo Abrantes
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João P Santos
Ângela Silva
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Mário Gomes
Álvaro Roxo Armando Romão
Carlos FotoPaixão
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Paula Correia
テ]a Baptista Constantino
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José Esteves
Pedro Reis
Maria Negreiros
Óscar Valério
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Pedro Pisco
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Jo達o Santos
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Gabriel Salvador
Joaquim Machado Pedro Guerra
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Curiosidades
Para que serve o Estabilizador de Imagem presente em algumas lentes? O Estabilizador de Imagem presente em algumas lentes nada mais é do que um mecanismo desenvolvido para reduzir as “tremidas” que efetuamos ao segurar a câmera com as mãos, perceptíveis especialmente quando estamos usando uma lente Tele Objetiva (com lentes Normais ou Grande Angulares esse balanço não faz tanta diferença). Nas lentes produzidas pela fabricante Nikon este recurso é referenciado pela sigla VR enquanto nas lentes da Canon utiliza-se a sigla IS. Vale destacar que ao trabalharmos com um Monopé ou Tripé, o estabilizador de imagem pode acabar atrapalhando ao
Proteger o Equipamento Contra Fungos Um dos maiores temores que temos em relação ao equipamento fotográfico que utilizamos é a ocorrência de fungos nas lentes ou no espelho das câmeras DSLR. Para combater este problema, devemos guardar nosso equipamento juntamente com saquinho de sílica gel, que possuem a capacidade de absorver a umidade do ar. Para encontrar este produto em sites de compra como o e-bay, utilize os termos em inglês desiccant e hydrosorbent. Ele deve ser fornecido em uma embalagem impermeável e lacrada, caso contrário a chance de já estarem com a sua capa-
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