Vox 47

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Utopia na arena

maio/13 • Edição 47• Ano V • Distribuição gratuita

Marina Silva e a bandeira de uma ação política mais utópica e moderna. O foco é o desenvolvimento sustentável e, sobretudo, o respeito ao humano

Expectativa no ninho

Budapeste

Empossado presidente do PSDB, Aécio busca candidatura ao Planalto

A história e a cultura em uma das capitais mais charmosas da Europa


O que diferencia uma boa ideia?


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A Revista Vox é uma publicação mensal da Vox Domini Editora Ltda. Rua Tupis, 204, sala 218, Centro - Belo Horizonte - MG CEP: 30190-060.

“... O povo que conhece o seu Deus se tornará forte e ativo.” (Daniel 11:32) • Editor e jornalista responsável Carlos Viana • diagramação e arte Felipe Pereira • Capa Felipe Pereira • Reportagem André Martins Ilson Lima Jáder Rezende Paulo Filho • CORRESPONDENTES Greice Rodrigues -Estados Unidos Ilana Rehavia - Reino Unido • diretoria Comercial Solange Viana • anúncios comercial@voxobjetiva.com.br (31) 2514-0990 • ATENDIMENTO jornalismo@voxobjetiva.com.br (31) 2514-0990 www.voxobjetiva.com.br • REVISÃO Versão Final • tiragem 30 mil exemplares Os textos publicados em forma de artigos, produzidos por colunistas convidados, expressam o pensamento individual e são de responsabilidade dos autores. Todos os direitos reservados. Os textos publicados na revista Vox Objetiva só poderão ser reproduzidos com autorização dos editores.

editorial

CARLOS viana Editor-Chefe carlos.viana@voxobjetiva.com.br

O tempo das ideias O Brasil começa a observar os candidatos à próxima eleição. Favorita, a presidente Dilma joga para acelerar as mudanças prometidas e apresentar um quadro de realizações maior do que o discurso herdado de Lula sobre a desigualdade. Na esteira do noticiário aparecem também os nomes do senador Aécio Neves — eleito presidente nacional do PSDB e que levanta o discurso das realizações de FHC como o princípio de um novo tempo para o Brasil —, Marina Silva — ainda sem partido, mas apontada pelas pesquisas atuais como o nome mais representativo da oposição e que segue com a proposta de uma política ideológica e voluntária —, e o do governador de Pernambuco, Eduardo Campos — que tenta se livrar do nó político-partidário que armou para si mesmo ao se precipitar no cenário nacional. É essa busca de espaço e de sucesso que exercita o princípio de uma democracia que se renova no voto. Fidelizar os eleitores significa apresentar as melhores propostas e resultados para continuar a construção de um Brasil desenvolvido. Os campos de esquerda e de direita deixaram, há muito, de ter importância. Essa “centralização partidária” não é reflexo somente do esvaziamento histórico das correntes de pensamento ideológico, muito menos de uma unanimidade não criativa. Antes de tudo, reflete o que existe de mais importante em uma humanidade em evolução: a matriz do contemporâneo é construir sobre erros e acertos. Exemplo disso é a recente aprovação da MP dos Portos. Abrir terminais à iniciativa privada seria, em outros tempos, uma espécie de “crime antinacionalista”, denunciado nas ruas e nas tribunas. Sem dúvida, evoluímos! Não temos mais tempo a perder analisando os problemas que nos impediam de crescer ou para defesas de posicionamentos xenófobos. Nossos desafios são muitos. Passam pela educação, pelo combate à violência e à corrupção, pela abertura dos portos e por nossas boas-vindas aos que nos ajudarem a tornar o Brasil mais desenvolvido. A cada voto, cresce o número de brasileiros cada vez mais exigentes e críticos. Aplaudida por todo o setor produtivo brasileiro e internacional, a batalha dos portos no Congresso mostrou que as siglas partidárias, especialmente o PT, já perceberam que só é possível repartir riqueza. Pobreza, é antes de tudo, o pior fracasso de qualquer governo; de qualquer corrente política.


metropolis • OlhAR BH

Fé incrustada na cidade Envolta por árvores e tangenciada pelo trânsito intenso de veículos da avenida Afonso Pena, a Igreja São José é uma das primeiras construções de Belo Horizonte. Erguida em 1910, a paróquia divide espaço com prédios modernos. A grande escadaria e os jardins da igreja são refúgios para o descanso dos transeuntes.

Foto: Jáder Rezende


sumário Stock,xchng

jáder Rezende

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HORIZONTES........................................................................ TURISMO •

BUDAPESTE

Com arquitetura que remonta ao período medieval, Budapeste une história, cultura, charme e um indisfarçável ar de modernidade das capitais europeias

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METRopolis............

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INVESTIGAÇÃO -

segurança

SALUTARIS......................................

Arcaico e estagnado, o modelo de segurança pública no Brasil precisa de mudanças

Quando não são bem administrados, os remédios podem causar males terríveis, muitas vezes levando à morte

SAÚDE • O PERIGO SILENCIOSO Stock,xchng

Artigos............................................................................. justiça • Robson Sávio Reduzir a maioridade: medida panfletária.............................

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política • Paulo Filho

Cuidados redobrados nas estradas........................................

PSICOLOGIA • Maria Angélica Falci Só desejar não realiza..........................................................

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SALUTARIS........................................................................

RECEITA • PALADAR Saint Peter à moda do chef............................................

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VINHOS • DEGUSTAÇÃO A hora de o Brasil mostrar a sua cara...............................

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kultur

IMOBILIÁRIO • Kênio Pereira O valor do dólar vai cair?.....................................................

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Neandertal ou Homo sapiens?.............................................

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Oportunismo + casuísmo = incoerência..................................

meteorologia • Ruibran dos Reis

crônica • Joanita Gontijo

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mondo cult....................................................................

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Luiz Costa/AE

Patrick Oliveira Donnereau

33 PODIUM...................

ESPORTES • HÓQUEI SOBRE PATINS

Contagem, na RMBH, tem o melhor espaço do país para a prática do esporte

Divulgação / ALMG

13 METROPOLIS.......

POLÍTICA • DILEMas petistas

Capa.........................................

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Entrevista • MARINA SILVA

Mais uma vez, o PT vai para uma eleição interna com desavenças à mostra

Com o discurso da sustentabilidade como orientação, Marina e os sonháticos resgatam a utopia como ferramenta política

Edmundo Kumasa

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kULTUR.................................................................. ENTREVISTA • cARLOS careqa

Com mais de 30 anos de carreira, o talentoso multiartista curitibano é um herói entre os independentes

George Gianni

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metropolis............................................ política • PSDB

Desafio de Aécio Neves é unificar o partido

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Arquivo

metropolis • INVESTIGAÇÃO

Retrocesso na segurança pública Na visão de estudiosos, arcaico e estagnado, modelo de segurança pública no país e falta de vontade política são os principais problemas da área Ilson Lima Com indicadores de violência bastante altos, o Brasil está vivendo, desde a década passada, um retrocesso na área de segurança pública. Dados de organismos nacionais e internacionais registram índices elevados de violência generalizada, especialmente de homicídios a mão armada. Dois especialistas em segurança pública, o antropólogo Luiz Eduardo Soares e o sociólogo Luís Flávio Sapori,

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que participaram de governos ideologicamente antagônicos no cenário político, são unânimes: o retrocesso na segurança pública é estrutural e já é um dos maiores problemas a serem enfrentados pela sociedade brasileira nos próximos anos. Outro estudioso da área, o sociólogo Luís Felipe Zilli, faz coro com eles em várias questões, mas difere em algumas. Em comum, veem a necessidade de


metropolis • INVESTIGAÇÃO

reformas urgentes e profundas na segurança pública brasileira, em particular nas instituições responsáveis pelo policiamento ostensivo e de investigação criminal, as Polícias Militar e Civil. Ex-secretário nacional de Segurança Pública do governo Lula, Soares é contundente em suas críticas aos governos das duas últimas décadas, os quais, segundo ele, nada fizeram de significativo na área. “O governo de Fernando Henrique Cardoso foi inerte; o de Lula, tímido, com pequenos avanços, e o de Dilma é um retrocesso sem avanço”, frisa. Soares aponta, como raiz dos problemas, a arquitetura institucional da segurança pública, estabelecida pelo Artigo 144 da Constituição. “Esse artigo atribui à União poucas responsabilidades (salvo em crises), não confere qualquer autoridade relevante ao município (na contramão do que ocorre nas demais áreas) e concentra praticamente todo o poder nas polícias estaduais, ordenadas segundo o modelo que fratura o ciclo de trabalho e, por seu desenho incompatível com as funções atribuídas, condena as instituições à ingovernabilidade e à mútua hostilidade”, afirma. Para o antropólogo, “apesar do amplo consenso entre profissionais da área quanto à irracionalidade da arquitetura institucional, em especial do modelo de polícia, nenhum passo objetivo foi dado em direção à reforma”, o que nos leva, não por acaso, a “ser o segundo país mais violento do mundo, considerando-se os números absolutos referentes aos crimes letais intencionais”. POLÊMICA Já Sapori, no estudo “Avanço no socioeconômico, retrocesso na segurança pública: paradoxo brasileiro?”, não só critica toda a estrutura que dá sustentação à área, como defende uma tese polêmica, das muitas já surgidas para explicar o fenômeno criminal no país. Ex-secretário adjunto de Defesa Social do governo Aécio Neves, em Minas Gerais, e atual coordenador do Centro de Pesquisa em Segurança Pública da PUC Minas, Sapori afirma que, apesar dos avanços socioeconômicos verificados desde o início da década

passada, simultaneamente o Brasil está vivendo um retrocesso na área. Esse aparente paradoxo, alega o professor, consolidou o Brasil como um dos países mais violentos do mundo em todas as pesquisas especializadas. “Não há qualidade de vida em uma sociedade que todos os anos coleciona mais de 50 mil vítimas de assassinatos. Os jovens continuam sendo as vítimas preferenciais dessa violência, especialmente os negros e residentes nas periferias urbanas”, lamenta. Conforme o professor, a desigualdade social não pode ser mais considerada como fator que intervém na criminalidade de forma decisiva como em outras épocas, já que os avanços sociais e econômicos alcançados pelo Brasil na primeira década do novo milênio são bastante expressivos. Sapori sustenta sua tese, descrevendo a evolução alcançada pela sociedade brasileira nos últimos 20 anos: “Diminuímos a magnitude da pobreza absoluta. O acesso à educação básica se universalizou. O acesso dos jovens mais pobres à universidade foi ampliado, a taxa de analfabetismo diminuiu, a esperança de vida ao nascer foi incrementada e até a desigualdade na distribuição de renda nacional diminuiu. Nos aspectos econômicos, por sua vez, alcançamos a posição de sexta economia do planeta, a inflação permaneceu controlada, a taxa de desemprego caiu significativamente, como também ocorreu com a informalidade no mercado de trabalho.” A contradição a esses avanços sociais e econômicos, acentua Sapori, está nos indicadores da violência urbana, onde não se constata fenômeno similar. “As taxas de homicídios oscilaram ao longo da década, crescendo em um primeiro momento, com leve reversão a seguir, e estabilizando nos últimos anos. A maioria dos estados não manifestou tal oscilação, evidenciando trajetória ascendente da taxa de homicídios por todo o período”, destaca. LENHA NA FOGUEIRA Autor da dissertação de mestrado “Violência e criminalidade em vilas e favelas dos grandes centros urbanos: um estudo de caso da Pedreira Prado Lo-

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metropolis • investigação

pes”, defendida em dezembro de 2004 na UFMG, o sociólogo Luís Felipe Zilli põe lenha na fogueira sobre o assunto, ampliando o debate. “Acho sempre complicado falar de “desigualdade” e “criminalidade” em termos genéricos. Quando correlacionamos “pobreza” e “crime”, estamos falando exatamente do quê? O que definimos como “pobreza”? O que definimos como “desigualdade”? O que definimos como “crime”? Todas essas definições são extremamente complexas e multidimensionais. Não podem ser tratadas de modo genérico. Os crimes de roubo e furto seguem lógicas (temporais, geográficas, motivacionais, além de outras) muito diversas dos crimes de homicídio consumado e tentado. A ideia de desigualdade pode se referir a uma dimensão econômica, mas pode perfeitamente bem remeter a dimensões culturais, simbólicas e políticas”, realça. “Acho, portanto, complicado afirmar que não há relação entre criminalidade e desigualdade, simplesmente colocando lado a lado indicadores de melhoria econômica e aumento das taxas de criminalidade.”

com o diagnóstico de Zilli, processos bastante similares: crescimento desordenado, favelização, e outras mazelas. “Os homicídios hoje crescem com mais força nas cidades com população entre 100 mil e 500 mil habitantes. É um processo de urbanização do interior do Brasil e, consequentemente, de interiorização da violência. Cidades pequenas e médias, mas em franco crescimento, têm enfrentado problemas similares aos das grandes cidades. E elas, sim, têm sido os grandes vetores desse crescimento de criminalidade”, conclui. AS SOLUÇÕES APONTADAS Os três estudiosos da segurança pública concordam que a área precisa passar por reformas urgentes e prioritárias, sem as quais o país não vai superar um dos seus maiores gargalos. Uma delas é a reforma das polícias que, 25 anos depois da nova ConstituiAndré Martins

Ex-pesquisador do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (Crisp) da UFMG, Zilli questiona fortemente a correlação direta entre tráfico de drogas e a prática de violência. No seu entendimento, o problema não está necessariamente no tráfico de drogas, mas no surgimento e na consolidação de grupos de jovens armados nas favelas, não necessariamente articulados em função do tráfico. “A meu ver, com exceção do que se vê no Rio de Janeiro, onde temos um modelo de grupos confederados (as chamadas facções), o tráfico é simplesmente a atividade criminosa que sustenta os grupos, dá a eles condições econômicas e logísticas de manterem os conflitos entre si, mas não necessariamente o foco ou a razão principal desses conflitos”, garante. Na opinião do pesquisador, a explicação para o aumento das taxas de homicídios no Brasil é consideravelmente mais simples: os estados do Norte e do Nordeste como as cidades do interior do país estão vivendo agora dinâmicas urbanas, sociais e criminais vivenciadas pelas grandes cidades do Sudeste e do Sul há três décadas , e que, naquele período, começaram a alavancar os crimes no Brasil. São, de acordo

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Sociólogo Luís Flávio Sapori aponta, em estudo, que aumento de renda não influi nos indicadores de criminalidade ........................................................................................................................


metropolis • INVESTIGAÇÃO

ção, ainda são refratárias às mudanças, são hostis entre si e praticam o corporativismo. Mais do que isso, na opinião de Soares, por exemplo, “as polícias civis demonstram baixa capacidade investigativa e, tanto nesta como nas polícias militares, proliferam as máfias, chamadas de milícias, que expandem seus negócios e territórios sob seu domínio”. Sapori, por sua vez, acha que, além da unificação das polícias, reforma a qual não acredita que ocorra em curto prazo, nem mesmo na integração das ações entre elas, é preciso reformar o Código Penal e implementar projetos articulados de repressão ao crime, projetos de prevenção social e criar, urgentemente, um programa nacional de prevenção contra a violência juvenil. Zilli avalia que não faz qualquer sentido a existência de duas polícias para lidar com um fenômeno criminal. “Nada explica isso, senão a cultura e a resistência corporativa dessas instituições. Esse modelo é caro, ineficiente e contraproducente. Sou favorável a uma polícia única, de ciclo completo”, ressalta. Ele vai além e afirma que não se pode confundir a

atribuição de uma corporação com seu modo de organização ou estruturação. “A atividade de policiamento ostensivo não precisa necessariamente ser exercida por instituição militar. Penso que, no atual contexto democrático em que vivemos, com uma demanda imensa e crescente por uma segurança pública mais cidadã, com maior respeito aos direitos civis, não exista mais espaço para uma instituição militar. Por mais polêmica que essa tese possa parecer, acho que precisamos começar a discutir se efetivamente precisamos de uma instituição militar que inevitavelmente trabalha com a lógica da guerra, do inimigo, da ocupação e da defesa do território, da manutenção armada da ordem para provimento da segurança pública”, critica. No gráfico abaixo está a evidência de que a taxa de homicídios para o país, como um todo, oscilou entre 25 e 28 homicídios por 100 mil habitantes. Houve um crescimento da taxa entre 2000 e 2003, sendo sucedida por uma queda nos dois anos seguintes, e uma retomada do crescimento entre 2006 e 2010. Observa-se, portanto, que a tendência da década foi de relativa estabilidade na taxa de homicídios.

Fonte: DATASUS

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Artigo • justiça

ROBSON SÁVIO REIS SOUZA Filósofo e cientista social robsonsavio@yahoo.com.br

Reduzir maioridade: medida panfletária Todas as vezes que ocorre um crime provocando uma comoção nacional, as velhas vozes da intolerância e da vingança punitiva clamam por mais leis draconianas como lenitivo para diminuir a criminalidade violenta. Foi assim com a “criação” da lei de crimes hediondos. Acontece que o simples recrudescimento penal não apresenta resultado em termos de diminuição do número de crimes. É compreensível que, diante de um crime bárbaro, os parentes da vítima desejem vingança. Sob o ponto de vista privado, essa é uma prerrogativa do indivíduo e dos que sofrem a violência desproporcional de qualquer ordem e que estão sob o impacto dela. Porém, o Estado não tem essa prerrogativa. Para os que defendem a redução da idade penal para 16 anos, alguns dados importantes: 92% dos homicidas no Brasil não são presos. Os homicídios praticados por adolescentes na faixa etária entre 16 e 18 anos respondem por menos de 1% do total de assassinatos. Estudos internacionais comprovam que a curva da criminalidade na adolescência/juventude tem seu pico entre 21 e 24 anos - a partir daí, reduz drasticamente. O Conselho Nacional de Justiça, em pesquisa recente, concluiu que quase a metade do total de adolescentes infratores realizaram o primeiro ato infracional entre os 15 e os 17 anos. A maioria deixou a escola (ou foi abandonado por ela) aos 14 anos, entre a quinta e a sexta séries. Outro estudo do UNICEF de 2007 (“Porque dizer não à redução da maioridade penal”) revela que

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79% dos 42 países pesquisados adotam a maioridade penal aos 18 anos. Grande parte, ou seja, 47% desses países adota a idade de 13 ou 14 anos como início da responsabilidade juvenil. No Brasil, a idade fixada é de 12 anos. Ao contrário do senso comum, deve-se afastar uma informação equivocada que povoa o inconsciente coletivo, segundo a qual o cidadão menor de 18 anos é completamente irresponsável por seus atos e está imune a qualquer intervenção estatal, mesmo que pratique um ato análogo a um crime. O Estatuto da Criança e do Adolescente determina que os adolescentes estão sujeitos a um processo de responsabilização diferenciada, cujas regras — mesmo possuindo finalidade diferente daquelas próprias do direito e do processo penal — são extremamente punitivas. Aliás, o ECA, tão atacado, não é cumprido pelo Estado. Numa pesquisa do CNJ, apenas em 5% de quase 15 mil processos de adolescentes infratores havia informações sobre o Plano Individual de Atendimento, medida socioeducativa que poderia funcionar como possibilidade de mudança do adolescente que cometeu um ato infracional. Prender um adolescente de 16 anos e lançá-lo no nosso sistema prisional (“medieval”, nos dizeres do Ministro da Justiça), significa entregar para o crime organizado - que se encontra nas prisões - um jovem que, mais cedo ou mais tarde, voltará para a sociedade. Será que depois da experiência da prisão, esse jovem retornará melhor do que quando entrou?


Divulgação / ALMG

metropolis • POLÍTICA

O deputado federal Odair Cunha, no centro da mesa, lançou, na Assembleia mineira, candidatura à presidência do PT de Minas ..................................................................................................................................................................................................................................

O PT e seus dilemas Dois quadros da tendência Articulação — Gleide Andrade, apoiada por Patrus, e Odair Cunha, apoiado por Pimentel, disputam a presidência do PT estadual Paulo FIlho Apesar do discurso de que as disputas entre os diversos grupos do PT de Minas tinham esfriado, os sinais que a legenda emite apontam na direção contrária. Mesmo escaldados pelas consecutivas derrotas eleitorais para o governo do estado e para a prefeitura de Belo Horizonte, nas quais o partido disputou sem coesão, a tendência ao racha interno continua à toda prova. E, no caso em questão, mais uma vez estão de lados opostos os grupos de Patrus Ananias e Fernando Pimentel. Considerado como o partido mais orgânico e disciplinado da política nacional, o PT, como que se esforçando para negar essa afirmação, vive rotineiramente embates desgastantes (para não dizer violentos) e à vista de todos, causados, na maioria das vezes, pelo voluntarismo e pela ambição de seus membros. A disputa agora se dá em torno do PED, o processo de escolha de suas lideranças que ocorrerá no segundo semestre deste ano. A campanha pela presidência estadual do partido já apresenta um racha com o lançamento de uma candidatura avulsa dentro do grupo Articulação, a tendência majoritária da legenda.

Em uma negociação que buscava aparar arestas e unir o partido, foi colocada em movimento uma articulação para que o ex-ministro Patrus Ananias assumisse a presidência estadual, como candidato único e de consenso. Como tal movimento não prosperou por vários motivos, dentre eles um certo desinteresse do escolhido, dois membros da Articulação —Gleide Andrade, secretária de finanças do partido, e Odair Cunha, deputado federal, colocaram-se como pré-candidatos. Segundo fontes do PT, o combinado era a escolha de um dos nomes por meio de uma prévia dentro da Articulação. A prévia ocorreria no conselho político do grupo, que reúne 20 membros. Realizada em abril, a prévia definiu Gleide Andrade, a candidata apoiada por Patrus, como vencedora com 80% dos votos. Na primeira quinzena de maio, desrespeitando a decisão do seu grupo político, a Articulação, o deputado Odair Cunha, apoiado por Pimentel, lançou sua candidatura com a chapa “Unidade na Pluralidade”. A disputa tem, também, até o momento, o deputado estadual Rogério Correia.

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George Gianni

metropolis • política

PSDB: a hora da verdade Apesar de o senador Aécio Neves ter garantido a presidência nacional da legenda, o PSDB, especialmente a seção paulista, ainda não dá mostras de empenho pela sua candidatura Paulo Filho Apesar do otimismo dos mais próximos e de um certo ufanismo mais do que exagerado de alguns veículos da mídia mineira, a verdade é que, até agora, a candidatura presidencial do senador Aécio Neves (PSDB/MG) não se consolidou. É verdade também que existe tempo suficiente para que isso ocorra, mas que ele, o tempo, exige pressa e acertos, isso também é verdade.

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O quadro que se imaginava havia pouco tempo, de uma campanha polarizada como as últimas entre PT e PSDB, não é o que se configura por enquanto. Com a entrada de Marina Silva e do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), no cenário, o senador mineiro atravessa um momento de ostracismo e, bem abaixo das expectativas criadas quando da sua eleição para o senado, não consegue ter postura


metropolis • pOlítica

nem marcar espaço como uma figura de oposição e de envergadura nacional. Para alguns críticos mais ácidos, Aécio no senado tem se revelado um senador de segunda linha. Mas essa falta de postura e de peso de uma liderança de oposição não é o maior dos problemas enfrentados pelo senador para consolidar sua candidatura. Ter votos no estado de São Paulo é a sua maior preocupação e a chave para que ele tenha chances reais na disputa e, até agora, os sinais que vêm da pauliceia são desanimadores para Aécio. Afora o apoio explícito do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, outros caciques tucanos do estado não demonstram nenhum encantamento com a candidatura de Aécio e, pelo contrário, não perdem a oportunidade colocá-la em dúvida. Recentemente vazou na imprensa nacional um suposto convite de Aécio para que o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB/SP), serrista histórico, fosse seu vice em uma chapa puro-sangue entre Minas e São Paulo para a disputa presidencial. O irônico nisso é que, na campanha passada, o tucanato paulista pressionou para que Aécio fosse vice de José Serra (PSDB/SP), e o mineiro não quis, dando de ombros para a importância de ter unidos os dois maiores colégios eleitorais do país em uma disputa duríssima. José Serra ficou à própria sorte, enquanto Aécio, nas suas palavras, tinha que se dedicar à sua eleição para o senado e à eleição de Antônio Anastasia para o governo de Minas. Com o possível convite ao senador paulista, Aécio tenta claramente amarrar o PSDB de São Paulo à sua candidatura, garantindo uma campanha viável em uma praça com cerca de 31,3 milhões de eleitores (em Minas, segundo colégio eleitoral, são cerca 15 milhões). Para Aécio e seus aliados, só com uma campanha vigorosa nesses dois estados é possível atenuar o predomínio do PT no Nordeste. Essa “dobradinha” seria também a chance de união dos tucanos mineiros com os paulistas, haja vista a dificuldade de relacionamento de Aécio com setores do PSDB mais ligados ao ex-governador José Serra que, inclusive, tem se recusado até a aparecer em eventos em torno do senador mineiro.

Procurado pela reportagem da Vox Objetiva, o senador Aloysio Nunes Ferreira se recusou a fazer qualquer comentário sobre o convite, nem mesmo confirmar se ele existiu. Com uma conotação que a reportagem entendeu como enfado, a resposta foi a de que ele está “cansado de falar do PSDB e suas questões internas”. Mas, se não falou com a Vox Objetiva, com outros veículos o senador falou sobre o tema: segundo o jornal Folha de São Paulo, em entrevista, o senador Aloysio não demonstrou grande entusiasmo pela candidatura de Aécio. O jornal afirma, em subtítulo da matéria: “aliado de Serra não dá como certa a escolha do mineiro para disputar o Planalto”. “Há muitos nomes”, disse o senador. Ao que parece, os movimentos do Lulécio e do Dilmasia e a recusa de Aécio em ser vice de Serra deixaram mais do que mágoas no PSDB de São Paulo, solidificando uma rejeição ao mineiro na seção paulista do partido. No caso do ex-governador José Serra, segundo informações de bastidores, a resistência a Aécio extrapola o campo da política e se assenta nas questões pessoais: a produção de um dossiê com dados sigilosos de Serra e familiares, que circulou no comitê de campanha do PT na eleição passada, foi atribuída pelo seu autor a uma encomenda de Aécio, à época governador de Minas e em disputa com Serra pela indicação de candidatura à presidência pelo PSDB. “A CANDIDATURA DE AÉCIO ME PARECE FRACA” Em conversa com o cientista político Fábio Wanderley Reis, o professor emérito da UFMG fez, à reportagem da Vox Objetiva, um apanhado da situação atual, tendo em vista os nomes já colocados para o processo eleitoral de 2014. No momento, é claro que o quadro pode mudar mais para frente, a esperada polarização entre PT e PSDB está se esvaecendo. Por que isso? A entrada em cena de Eduardo Campos e Marina Silva são respostas? A candidatura de Aécio me parece fraca. Além do PSDB paulista, que não embarca para valer nela,

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metropolis • política

apesar do apoio do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, acho notável como Aécio “submergiu” no Senado, ao contrário do que ocorreu na sua passagem pela Câmara, quando teve atuação destacada e conseguiu visibilidade. Além disso, não há posições ou ideias de Aécio que pudessem servir como marcas de uma candidatura de oposição capaz de dirigir-se com eficácia ao eleitorado. Concordo que ele pode perder substância eleitoral mesmo em Minas. E o fato de ser neto de Tancredo, que certamente serviu como deflagrador de sua penetração junto ao eleitorado mineiro, no plano nacional, e a essa altura, não tem relevância. Mas não faço muita fé em Eduardo Campos nem em Marina Silva.

oposição, qualquer que ela seja. Com os trunfos representados pelo legado de Lula junto ao eleitorado popular e pelo controle do governo, acho precária a aposta nessa direção, cujo acerto dependeria de que as coisas desandassem de vez. Arquivo pessoal

Marina, apesar dos 20 milhões de votos da eleição anterior, me parece desgastada com as vicissitudes de suas ligações e esforços partidários e não creio que tenha conseguido transformar seu foco ambientalista e seus vínculos religiosos numa liderança de maior densidade ou alcance. Eduardo Campos, por seu lado, me parece ter sido projetado precipitadamente pela imprensa à condição de candidato viável em consequência de alguns êxitos do PSB (que e, em alguns casos, não são mais que relativos: a vitória de Marcio Lacerda em Belo Horizonte, por exemplo, se beneficiou do fato de ter tido anteriormente um amplo apoio, que incluiu o PT). Mesmo no Nordeste, é problemático pretender que Eduardo Campos possa levar vantagem, sem mais, em confronto com a penetração que Lula tem lá – e também Dilma, como cria do Lula. Nesse quadro, então, a reeleição de Dilma é amplamente favorita? Acho que esse é o ponto decisivo: a força do apoio eleitoral à Dilma em sua articulação com a figura de Lula e com os ganhos populares permitidos pela política social executada pelo PT na Presidência. O governo vem tendo problemas na administração econômica; a crise mundial deteve o dinamismo da economia; há a ameaça de inflação; há as dificuldades nas relações com a base aliada e com o Congresso. A questão é saber se essas dificuldades se agravam o suficiente para abalar de fato a força de Dilma ao buscar a reeleição e para permitir um segundo turno com perspectivas de êxito para a candidatura de

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Cientista político Fábio Wanderley Reis enxerga fragilidades na candidatura de Aécio Neves ........................................................................................................................


Artigo • política

Paulo filho Jornalista e consultor de Comunicação Social paulo.filho@voxobjetiva.com.br

Casuísmo + oportunismo = incoerência Patrocinados pelo governo, os governistas na Câmara fizeram, recentemente, uma dupla investida contra os que não dizem amém às práticas e à liturgia do modo de governar do condomínio PT/PMDB e agregados. Contra o STF, que condenou os envolvidos no caso do “mensalão”, dentre eles alguns próceres da política nacional, os deputados sacaram uma emenda constitucional que tira poderes do Supremo. Apresentada pelo deputado Nazareno Fonteles (PT/ PI), a emenda foi aprovada em regime de urgência e de forma simbólica na Comissão de Constituição e Justiça (menos de 40 segundos), da qual fazem parte os petistas José Genoíno e João Paulo Cunha, ambos condenados no “mensalão”. A emenda em questão condiciona o efeito vinculante de súmulas aprovadas pelo STF ao aval do Poder Legislativo e submete ao Congresso Nacional a decisão sobre a inconstitucionalidade de leis. Afora o constrangimento, restou a polêmica e, ao presidente da Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB/RN), não coube outra ação a não ser esfriar e “engavetar” a ideia, encaminhando-a para o último lugar em uma fila com 108 propostas de emendas à constituição. Contra os que se aventuram a disputar o poder, os governistas iniciaram a tramitação de um projeto de lei impondo amarras à criação de novos partidos. Se aprovado, tal projeto implodirá as pretensões da ex-senadora Marina Silva, que recolhe assinaturas para a criação da Rede Sustentabilidade, legenda pela qual ela pretende disputar a presidência da República. Também o Partido Solidariedade, articulação do deputado Paulo Pereira da Silva, do PDT, teria sua

criação dificultada. O projeto, avalizado pelo Palácio do Planalto e conduzido à toque de caixa, estipula que políticos que pretendam ingressar em uma nova legenda não podem levar consigo frações do tempo de propaganda gratuita no rádio e na televisão ou de recursos financeiros do fundo partidário. Essa iniciativa, logo após a criação do PSD, com apoio do governo, para abrigar ex-oposicionistas, gerou constrangimentos, ao ponto de senadores governistas se manifestarem claramente contra o oportunismo da matéria. E o que é pior: tratou de maneira venal uma questão — a criação de novos partidos políticos no Brasil — que merece discussão séria no âmbito de uma reforma política abrangente. Esse projeto de lei encontra-se suspenso por intervenção do STF, acatando mandado de segurança impetrado pelo senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF). Ainda no âmbito das mais recentes incoerências, motivadas por puro casuísmo e oportunismo, surgiu a pregação do senador Aécio Neves (PSDB/MG) pelo fim da reeleição e pela ampliação do mandato presidencial para cinco anos (na verdade, todos os mandatos do executivo) e a unificação da data das eleições para presidente, governador e prefeito. Extemporânea ao extremo, tal proposta valeu mais pelas críticas, principalmente, por motivos óbvios, dos seus colegas de partido. De São Paulo, um tucano de alta plumagem disparou: “Incrível! Voltamos ao supérfluo. Discutir cinco anos de mandato e coincidência das eleições. O passado nos chama”. Pelo menos nesse, tema o senador mineiro não passou vergonha sozinho: Eduardo Campos (PSB/PE) apoiou sua ideia.

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Jáder Rezende

metropolis • cidades

Epidemia de acidentes Belo Horizonte registra média de três mortes por semana causadas por atropelamentos Ilson Lima Oito pessoas, em média, são atropeladas em Belo Horizonte todos os dias. Por semana, três cidadãos morrem vítimas desse tipo de acidente que, conforme a BHtrans, empresa responsável pelo transporte e trânsito da cidade, é a ocorrência mais preocupante no cotidiano do município. A maioria das vítimas são os idosos. Mesmo com as divergências nas estatísticas, essa continua sendo uma das deficiências dos órgãos governamentais da área e dos órgãos da saúde: a enorme diferença no registro das informações. Os dados apenas

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refletem e expõem, segundo os especialistas, uma das mazelas do trânsito no Brasil. Para se ter uma ideia da gravidade do problema na capital mineira, somente de janeiro a abril deste ano, 874 pessoas deram entrada no Hospital João XXIII (HPS), vítimas de lesões por atropelamentos, envolvendo pedestres e ciclistas — 772 pedestres e 102 ciclistas. As sequelas resultantes desses atropelamentos são, na maioria, avaliadas como graves, já que uma boa parte


metropolis • cidades

delas atinge os idosos, cuja capacidade de recuperação é mais demorada. Em 2012, segundo a assessoria do HPS, 2.917 pessoas, pedestres e ciclistas, foram atendidas pelo mesmo motivo. Somam-se a esses números os atropelados atendidos em outras unidades públicas de saúde da cidade, entre elas, hospitais municipais Odilon Behrens, Santa Rita e Risoleta Neves, além de unidades de pronto-atendimento da iniciativa privada. Segundo o chefe da Coordenação de Operações Policiais do Detran/MG, delegado Ramon Sandoli de Aguiar Lisboa, as principais causas dos atropelamentos em BH envolvem o comportamento de risco adotado pelos pedestres e a falta de respeito dos motoristas ao dirigir. “Os motoristas não respeitam os pedestres e estes arriscam suas vidas no trânsito”, aponta. Para o delegado, o envolvimento dos idosos na maioria dos atropelamentos tem a ver com a dificuldade deles de percepção, destreza e mobilidade no ato de atravessarem as vias. A diretora de Atendimento e Informação da BHTrans, Jussara Belavinha, admite que os acidentes de trânsito, entre eles os atropelamentos, refletem a realidade do país. “O número de atropelamentos é muito alto e espelha o comportamento de risco que tanto o motorista quanto o pedestre têm. Um e outro são imprudentes no trânsito”, afirma.

LEI SECA As mais recentes informações liberadas pelos órgãos públicos de Minas confirmam que a Lei Seca não “pegou” em Belo Horizonte, ao contrário de outras capitais, em especial, o Rio de Janeiro, que vem servindo de modelo nacionalmente. Ainda assim, a Secretaria de Estado de Defesa Social garante que, desde a implantação da lei, em 2009, houve uma redução de 11% no número de acidentes com vítimas. Entretanto, o órgão público não repassa à imprensa os números absolutos confirmando a informação. No Rio, nos últimos três anos, o índice de acidentes foi reduzido em 27% (índice de redução quase duas vezes e meia maior do que o de Belo Horizonte). Na capital carioca, cuja frota é de 2,6 milhões de veículos, não chegando ao dobro da capital mineira, que é de 1,5 milhão, são feitas 22,5 mil abordagens por mês. Em BH são feitas 5 mil abordagens. Especialistas em trânsito consultados pela Vox Objetiva avaliam que a chamada Lei Seca, que impõe várias punições aos motoristas que dirigem sob efeito de bebida alcoólica ou de drogas psicoativas vem sendo positiva em seus efeitos. Eles acreditam, no entanto, que devido à cultura do brasileiro, de resistência às mudanças e de arrogância em seu comportamento no trânsito, ainda vá demorar um tempo para que a Lei mude o quadro de epidemia de acidentes no trânsito apontado por vários órgãos federais.

Ainda assim, mesmo com esses números desfavoráveis, Belavinha acredita que essa realidade deve mudar. “Estamos fazendo uma campanha educativa desde março, em cinco locais diferentes de maior incidência de atropelamentos, com o objetivo de mudar o comportamento dos atores no trânsito da capital, porque só assim podemos reduzir esses números”, acredita.

Desde 21 de dezembro de 2012, a Lei Seca ficou mais rígida, com novas regras e multas mais caras para os motoristas que dirigem alcoolizados ou sob efeito de drogas ilícitas. Além do teste do bafômetro ou do exame de sangue, depoimentos, provas testemunhais, vídeos e fotos passaram a valer como provas para comprovação de que a pessoa está incapacitada para dirigir.

Os pontos de maior incidência de atropelamentos, conforme a diretora, além da Região Central, são os corredores viários: as avenidas Cristiano Machado, Amazonas, Via Expressa e o Anel Rodoviário e, ainda, a região hospitalar. A campanha a que se refere a diretora da BHTrans é a que está sendo veiculada na mídia, denominada “Pedestre. Eu respeito!”.

Mesmo com os rigores impostos pelas novas regras, consideradas importantes em suas consequências para a preservação da vida, a capacidade do poder público de fazer valer a legislação vem sendo colocada em xeque em todo território nacional. Mais de 43 mil pessoas morreram em acidentes de trânsito em 2012, segundo dados do Ministério da Saúde.

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Luiz Cruz/ ABr


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Marina: uma mulher diferente no cenário político nacional Com jeito sereno e equilibrado, Marina destoa das outras mulheres do ambiente político brasileiro. Apesar de ocupar espaço em um mundo essencialmente masculino, arrogância, voluntarismo e agressividade nunca fizeram parte da sua personalidade Carlos Viana A ex-senadora petista e ex-ministra do governo Lula, Marina Silva, 55 anos, é uma das principais lideranças políticas do país. Acreana, de origem humilde, nascida no Seringal Bagaço e alfabetizada depois dos 14 anos, ela foi uma das fundadoras da CUT e do PT no seu estado natal. Ao longo das últimas três décadas, Marina angariou reconhecimento dentro e fora do país, principalmente pela defesa da ética, da valorização dos recursos naturais e do desenvolvimento sustentável. Na Floresta Amazônica, perdeu a mãe e três de dez irmãos. Depois de sobreviver a cinco malárias, três hepatites e uma leishmaniose, mudou-se para Rio Branco e se alfabetizou pelo Mobral. Aos 18, foi morar em um convento, mas desistiu de ser freira, por “falta de vocação”. Com a saúde frágil, correu risco de vida em algumas ocasiões. Começou a carreira política no curso de história, sete anos depois de ter aprendido a ler e a escrever. Integrou o Partido Revolucionário Comunista, ao lado do sindicalista Chico Mendes, de quem seria vice na CUT-AC e que a influenciaria definitivamente na política. Foi vereadora em Rio Branco (AC) e deputada estadual. Aos 36 anos, elegeu-se a mais jovem senadora da República. Em 2010, depois de rompida com o PT, foi candidata à presidência da República, obtendo cerca de 20 milhões de votos. Nas pesquisas atuais, mirando 2014, aparece em segundo lugar nas intenções de voto.

Por que você, com essa voz suave e aparentemente frágil, assusta tanto quem está no poder? As ideias estabelecidas e cristalizadas não resistem à presença das ideias novas. Eu acho que não é exatamente o medo da Marina; é o medo das ideias. Eu vi isso de perto lá no Acre. O Chico Mendes era um homem frágil, semianalfabeto, vivendo no meio de uma floresta, sendo perseguido por fazendeiros, jagunços e até pelas instituições que deveriam proteger os mais frágeis. Era alguém que assustava tanta gente e hoje eu descubro que não era o Chico Mendes, eram as ideias do Chico Mendes. Porque faz 25 anos que ele morreu, e as ideias dele ganharam uma força tão grande. Então, na verdade, o medo que tinham não era do Chico, mas das ideias dele. E nesse momento, a ideia é fazer esse encontro entre economia e ecologia, que é o grande desafio desse início de século. É o que há de novo no terreno das utopias do século XXI. Talvez seja isso que esteja assustando as pessoas. Você acredita que a liminar conseguida no STF parando a tramitação da proposta que dificulta a criação de partidos surtirá efeito? Do ponto de vista constitucional, há uma sinalização de um membro da Suprema Corte que também diz que há uma inconstitucionalidade na tramitação da matéria e no próprio mérito da matéria, de sorte que eu espero que o pleno do Supremo possa se po-

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sicionar favorável àquilo que é a constitucionalidade. Estamos pedindo uma audiência com o ministro Joaquim Barbosa para tratar dessa questão e mostrar o nosso ponto de vista, de que há ali um processo de dois pesos e duas medidas e uma lei de encomenda para ferir o pluripartidarismo na realidade da nossa democracia.

Divulgação

Essa proposta inviabiliza a criação de partidos este ano? Ela dificulta, porque é como se dissesse: “ninguém está impedindo que você seja um partido, desde que você não tenha como divulgar suas ideias”. Se você não divulga suas ideias, não tem como interagir com as pessoas para que elas se convençam sobre essas ideias, e se elas são boas ou não para a realidade do país. Então você vive uma hipocrisia de dizer “você pode se organizar, desde que você não tenha acesso aos meios para se constituir numa força real a ponto de nos ameaçar. Só em condições em que você não tenha possibilidade de se tornar uma força real é que você pode existir”. Hoje o eleitor brasileiro não vê com bons olhos nem a troca nem a criação partidos. Como você responde a esse posicionamento? Em relação à questão da troca de partidos eu respondo da seguinte forma: a Rede de Sustentabilidade não está fazendo um recrutamento alhures de parlamentares. Todas as pessoas que estão se aproximando são aquelas que têm identidade programática, diferentemente do caso do partido do Kassab, que fez uma abordagem a vários deputados e senadores para ampliar a sua base no Congresso. Do ponto de vista da quantidade de partidos, eu até faço uma brincadeira: alguém pode perguntar “mas para quê tantos casamentos se já existem tantas pessoas casadas?” Porque a realidade muda. Quem foi que disse que as ideias hoje, representadas pelos atuais partidos, são o fim da história? Não temos, na realidade do Brasil, uma força política que combine uma plataforma e os mecanismos para viabilizar essa plataforma. Ou seja, é preciso ter uma coerência, uma convergência entre o programa e a instituição que vai realizar esse programa.

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“O medo é das ideias; não é da Marina” ......................................................................................................................

E a sua experiência no PV? O PV até coloca muito claramente a bandeira do meio ambiente e da sustentabilidade, mas é um partido com uma estrutura verticalizada, em que sequer os seus dirigentes são eleitos. Eles são nomeados pelo presidente Penna, e quando discordam do presidente, são destituídos do seu cargo. Ora, um movimento que precisa de uma ação muito ampla da sociedade e alguém tem uma ferramenta política que inviabiliza essa participação da sociedade, faz com que você fique só com a bandeira. Não tem como realizar. Você já foi sondada por algum pré-candidato para a eleição de 2014? Há alguma conversa nesse sentido? Ainda não, porque a gente está vivendo uma realidade, nesse momento, em que eu tenho me recusado terminantemente a entrar nesse terreno, nessa disputa eleitoral antecipada. Ainda que já tenhamos pesquisas feitas e, talvez, pelo fato de estar em segundo lugar, mesmo


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sem partido, mesmo sem nenhuma estrutura, enquanto os demais candidatos estão se coligando, eles, obviamente, olham com respeito para essa possibilidade. Onde o PT errou? Em que ponto o partido se perdeu?

des hidrelétricas, podem até ter alguma viabilidade econômica, podem até resolver os problemas ambientais. Mas existem problemas que não têm como ser resolvidos, como é o caso dos índios, por exemplo. Então não há viabilidade cultural nem social. Se você pensa o desenvolvimento econômico, colocando critérios de sustentabilidade no planejamento das ações, você vai eliminando aqueles investimentos que não têm como reduzir os impactos, nos quais não adianta uma política de mitigação.

O PT, como a maioria dos partidos de esquerda e de centro-esquerda, deu uma grande contribuição para a realidade brasileira. A gente não pode fazer uma política de tábula rasa na história. Acho que o PT foi muito importante na conquista da democracia, por pautar a questão dos direitos sociais. O PSDB, como partido de Por exemplo, aqui em Minas, onde a mineração é centro-esquerda, deu uma grande contribuição para a uma fonte de riqueza muito importante, há que resdemocracia e para a questão da estabilidade econômica. ponder também a essas questões. Hoje eu fico imOnde é que eles erraram, no meu pressionada, porque a maioria entendimento? Foi no fato de não das pessoas está valorizando uma “A Rede vem no sentido de terem atualizado suas bandeiras e outra mineração, por exemplo, a suas estruturas. Hoje são estrutuquestão dos recursos hídricos. As compatibilizar as ideias e os ras verticalizadas, ainda que com pessoas estão muito preocupabase social ampla, mas você já não das. Isso é também uma mina, meios para viabilizar essas tem mais atravessamentos dessa só que é uma mina de água. As base social em relação às estrupessoas estão vendo que, onde ideias, e é por isso que enturas partidárias. Você viu o que acontecem ações muito impacaconteceu, por exemplo, em Curitantes, há um prejuízo em longo tendemos, assim, a necessitiba, em que o Fruet foi eleito pelo prazo para as fontes de água. InPDT, porque já não havia espaço clusive participei, recentemente, dade de um partido, mas de no PMDB. Veja o que aconteceu no de uma reunião com um grupo estado do Amapá, em que o Cléde pesquisadores que trabalham um partido completamente sio, que era uma liderança do PT, a criação do Parque Gandareteve que ir para o PSOL, porque já la. Fiquei muito impressionada, diferente do que temos aí” não havia mais espaço dentro do porque eles diziam: “aqui nós PT. Entende o que estou dizendo? temos duas grandes minas: uma O que já está estabelecido tem os mina ferro e uma mina de água donos ali, e não há mais lugar para o florescimento de que é responsável pelo abastecimento de toda essa renovas lideranças. gião, inclusive da capital”. Então os projetos serão viáveis se responderem aos aspectos sociais e ambientais. Quais setores da economia você vê com mais preoCom essa visão integrada e transversal, com certeza cupação por adotarem práticas não sustentáveis? há lugar para todos os investimentos, porque a gente tem que ter uma economia diversificada. O minério é Eu acho que a gente não pode satanizar um setor uma safra que só dá uma vez. Então essa safra precisa em especial. O que a gente pode dizer é que os proser trabalhada e bem aproveitada, mas nós precisamos jetos, sejam para a indústria, para a agricultura ou olhar para outras safras, porque sem elas, nada mais para o comércio, devem responder a pelo menos três poderá existir, como é o caso dos recursos hídricos. questões: há viabilidade econômica? Há viabilidade social? Há viabilidade ambiental? E alguns outros, a Uma das propostas da Rede é a contribuição finangente tem que responder se há viabilidade cultural. ceira, até um certo limite, pelos apoiadores. Como fazer Alguns projetos ligados à geração de energia, a granpolítica sem dinheiro?

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Não é que é sem dinheiro. Nós estabelecemos que, ao invés de poucos contribuindo com muito, nós queremos muitos contribuindo com pouco. E é possível. Quando dizemos que haverá um limite para pessoa física e para pessoa jurídica, a gente vai fazer um cálculo, mas dificilmente uma pessoa que doou R$ 300 mil pode se sentir o dono da campanha; isso em uma campanha majoritária para presidente da República. Mais pessoas fazendo isso não impactará para ninguém individualmente. Agora é difícil quando você vê que um volume muito grande é dado por pequenos grupos que, muitas vezes, podem se sentir donos do processo político. Queremos favorecer também quem possa dar R$ 5, R$ 10, R$ 20, R$ 50, R$ 100. Com milhares de pessoas fazendo isso, nós teremos os recursos. É para que, enquanto não vem o financiamento público de campanha, a gente tenha o financiamento popular.

“Os projetos devem responder a pelo menos três questões: há viabilidade econômica? Há viabilidade social? Há viabilidade ambiental? Em outros, tem que responder se há viabilidade cultural”

Divulgação

Marina recolhe, na Feira de Artesanato de Belo Horizonte, assinaturas para a criação da Rede Sustentabilidade ......................................................................................................................................................................................................................................................

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Artigo • METEOROLOGIA

Ruibran dos Reis Diretor Regional do Climatempo Professor da PUC Minas ruibrandosreis@gmail.com

Cuidados redobrados nas estradas Os nevoeiros são considerados nuvens baixas que se formam em função da alta umidade existente em determinada região. Durante os meses de outono e inverno, é muito comum a ocorrência de nevoeiros pela manhã nas regiões Sul, Zona da Mata, Campo das Vertentes e Central de Minas Gerais. Os nevoeiros diminuem a visibilidade e são causadores de inúmeros acidentes nas estradas.

dade, o nevoeiro pode durar mais em uma região do que em outra.

Normalmente os nevoeiros em Minas Gerais são formados pela evaporação que ocorre em superfícies úmidas, lagos e vales e durante a noite. Com a queda da temperatura do ar, ocorre a condensação. Para que ocorra queda acentuada da temperatura do ar, na madrugada, é necessário que não haja nebulosidade. No estado, essas condições só acontecem nos meses de outono e inverno.

Os motoristas devem tomar muito cuidado no período da manhã, nas rodovias BR 381, entre Belo Horizonte e João Monlevade e entre Belo Horizonte e Perdões; na BR 040, entre Belo Horizonte e Petrópolis.

Os nevoeiros podem se formar à noite, entretanto, como as menores temperaturas são observadas em torno das 6h, o mais comum é a formação dos nevoeiros entre 5h e 9h. Dependendo da disponibilidade de umi-

Para este ano, a previsão é a passagem de pelo menos uma frente fria a cada 15 dias pelo litoral da Região Sudeste. A atenção do motorista deve ser redobrada no período da manhã.

Na Região Metropolitana de Belo Horizonte, os nevoeiros se formam com maior frequência nos municípios de Nova Lima, Sarzedo, Mário Campos e Brumadinho. Em Belo Horizonte, esse fenômeno se tornou raro devido à baixa umidade relativa do ar.

Os nevoeiros podem ser mais intensos logo após a passagem de uma frente fria, pois o aumento da umidade relativa causa declínio acentuado da temperatura do ar.

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salutaris • SAÚDE

Perigo silencioso Popular e sem restrições de venda nas farmácias, o paracetamol pode levar à intoxicação e à falência hepática André Martins Texto e fotos Pelo menos duas vezes na semana, a psicóloga Flávia Pereira sofre com intensas dores de cabeça. Como não sabe quando pode ser surpreendida, mantém em casa um “arsenal” contra o problema — uma caixinha com os mais variados tipos de analgésicos. No fundo da bolsa também tem uma cartela de seus “companheiros inseparáveis”. “Eu tomo qualquer analgésico que vejo pela frente. Pode ser paracetamol, dipirona, Dorflex, contanto que a dor pare, ou melhor, nem comece”, explica com bom humor.

Saúde (OMS). Saber o que fazer diante de problemas aparentemente simples pode desinflar os hospitais já saturados de pessoas. O problema é que a diferença entre “remédio” e “veneno” pode ser o mesmo princípio ativo em dosagens desproporcionais. De acordo com dados da Associação Brasileira de Indústrias Farmacêuticas (Abifarma), a automedicação malrealizada é responsável, no Brasil, pela morte de cerca de 20 mil pessoas por ano.

A relação de Flávia com os analgésicos não é nada original. Nas farmácias, esse tipo de medicamento é campeão de vendas entre os que não necessitam de prescrição médica. A facilidade com que podem ser adquiridos estimula o “médico” que, segundo um dito popular, divide espaço com o “louco” existente em cada um. Assim, um “comprimidinho” sempre acaba sendo tomado por conta própria.

Um dos analgésicos preferidos de Flávia é o Tylenol dc, “porque a dosagem é dupla”. Em cada cápsula do medicamento há 500 mg de paracetamol — um dos compostos antipiréticos (contra febre) e analgésicos mais vendidos e populares do mundo. Desprovido da potencialidade da dipirona e do ácido acetilsalicílico de minar a dor, é muito comum o indivíduo aumentar a dosagem sem saber as consequências e os riscos implicados nessa prática.

Demonizada pela sociedade, a automedicação é encarada de outra forma pela Organização Mundial de

O paracetamol pode levar a um quadro irreversível de lesão hepática. O alerta é do professor do De-

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SALUTARIS • SAÚDE

partamento de Morfologia do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG, Gustavo Batista Menezes. Em parceria com os alunos Pedro Elias Marques e André Gustavo Oliveira, o docente acaba de publicar o artigo “Quando o que cura passa a matar” na revista brasileira Ciência Hoje. O trabalho coloca em discussão a utilização do paracetamol no cotidiano. De acordo com o pesquisador, doses acima de 4 g diárias são suficientes para lesar o fígado de forma definitiva. “Se o paciente toma mais que o preconizado (dosagem que varia de pessoa para pessoa), o excesso vai reduzir as vias de metabolismo no fígado e começar a acumular um subproduto que a gente chama de metabólito, que é o resto de um processo de ‘digestão’ do medicamento. Esse excedente se acumula dentro das células, matando-as. A partir daí, elas não conseguem lidar com o agente tóxico, e a função do fígado para”, explica o professor. O fígado cumpre um papel vital no organismo humano. “É como se fosse um laboratório. O fígado é responsável por transformar hidratos de carbono, proteínas, gorduras, vitaminas, sais minerais e outras substâncias que ingerimos. Quanto aos medicamentos, grande parte deles sofre sua primeira transformação no fígado, onde podem ocorrer reações nocivas ao órgão”, explica o diretor do Departamento de Gastroenterologia e Nutrição da Associação Médica de Minas Gerais, José Mauro Messias Franco. Segundo o médico, os rins também podem ser lesados em processos de intoxicação. A partir do momento em que sofre sucessivas lesões, não sendo possível a regeneração do fígado, o paciente tem apenas o transplante como recurso para manter-se vivo, o que, em alguns casos, também pode ser inviável. “Dependendo do caso, metabólitos que deveriam ser excretados pelo fígado começam a se acumular no cérebro. Aí o paciente entra em coma. Pode ser que, mesmo com um órgão disponível para transplante, o paciente morra por não ter mais competência neurológica para viver”, elucida o professor. Diante dos riscos, o que se questiona é a fiscalização da venda de medicamentos tidos como “inofensivos” aqui, mas vistos como um veneno letal em países

como Estados Unidos e Grã-Bretanha. Por lá, grande parte dos suicídios se dão por overdose de medicamentos que levam o paracetamol na composição. O vice-presidente da Federação Nacional dos Farmacêuticos, Rilke Novato Públio, não defende o enrijecimento da fiscalização nem a restrição da venda dos analgésicos, mas é pelo bom-senso na manipulação desses medicamentos. “Os analgésicos e antipiréticos são classificados em nosso país como isentos de prescrição, mas, em absoluto, não são isentos de provocarem riscos à saúde das pessoas”. A leitura da bula, uma ação simples, e muitas vezes ignorada, pode reduzir as chances de lesão hepática por medicamentos. Nela estão contidas informações sobre reações adversas, consequências do uso sistemático e em caso de superdosagem. O Tylenol dc de que Flávia faz uso, por exemplo, alerta para os riscos de intoxicação do fígado. DENGUE Desde os primeiros surtos de dengue no Brasil, o Ministério da Saúde adotou o paracetamol como medicamento padrão para o tratamento. Ele foi o escolhido, porque, ao contrário do ácido acetilsalicílico (presente na Aspirina e no ASS, por exemplo), não eleva o risco de hemorragias internas. Após as constatações do dano causado por superdosagem de paracetamol, começou-se a discutir sobre a utilização do fármaco em casos de pacientes com dengue. Não existiriam antipiréticos mais eficientes e que não representassem risco ao fígado? De acordo com Novato, há no Brasil uma “supervalorização da febre”, e o ideal seria reverter as altas temperaturas e dores suportáveis sem a utilização de medicamentos. “O resfriamento corporal, por exemplo, possui estudos comprobatórios de eficácia”, detalha. Quando se faz necessária, a prescrição médica do paracetamol é muito segura. O limite recomendado por dia é, na maioria das vezes, inferior à metade do máximo que o fígado consegue metabolizar. “O paracetamol não pode ser administrado mais que quatro

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SALUTARIS • SAÚDE

vezes durante 24 horas, e a dose deve ser respeitada de acordo com a idade: em crianças abaixo de 1 ano, dose de 60 mg; de 1 a 4 anos, dose de 60 mg a 120 mg, e acima de 5 anos, dose de 240 mg”, detalha.

lembra que até mesmo “medicamentos à base de ervas, chás medicinais e fitoterápicos representam risco de toxicidade, se ingeridos em exagero”, alerta.

MISTURAS LETAIS Mas o “seguro” também é relativo. Os especialistas alertam para o fato de que existem muitos medicamentos que, de forma associada, possuem o paracetamol na composição. As misturas de comprimidos podem sobrecarregar o fígado, aumentando a probabilidade de lesão. “Pode ser que essa somatória, especialmente se for feita em excesso, leve o paciente para um quadro de lesão hepática aguda. Às vezes, o paciente sabe que tem uma lesão no fígado e, diante de uma gripe, por exemplo, recorre a um antigripal. A maioria dos antigripais tem paracetamol. Se ele fosse ao médico, o profissional saberia que o paciente não poderia tomar aquela dose. Mas o indivíduo não vai. Ele adiciona um medicamento que, em teoria, é inócuo, mas no contexto do paciente se torna crítico”, conta Menezes. Todo cuidado é pouco também no caso de pacientes que ingerem álcool diariamente. Com o fígado já fragilizado, os medicamentos podem ser um agente a mais de sobrecarga do órgão. “Pacientes com quadro clínico de lesão no fígado, hepatites ou uso abusivo de álcool devem ter atenção redobrada em relação à utilização de medicamentos à base de paracetamol. Muitas vezes, a toxidade é silenciosa. A pessoa nem mesmo manifesta a icterícia — o sinal mais marcante de doença do fígado. Só depois de um tempo em que as lesões já estão adiantadas, levando à cirrose, é que o alarme é dado”, explica o doutor José Mauro Messias Franco. O alerta não diz respeito apenas ao paracetamol, mas aos medicamentos em geral, conforme pondera Menezes. O olhar da equipe de pesquisadores se centrou no paracetamol pelo fato de as pessoas estarem mais suscetíveis a gripes e resfriados no inverno, levando-as a procurar o alívio em fármacos como antigripais. Franco concorda com o pesquisador e

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Flávia tem sempre um analgésico na bolsa, seja para o próprio uso ou para “socorrer” um amigo ........................................................................................................................

ESPERANÇA O artigo publicado pelos pesquisadores da UFMG ganhou amplo destaque na imprensa brasileira. Mas não é a primeira vez que um trabalho da equipe chama a atenção. Em 2010, Menezes chefiou uma pesquisa cujos resultados trouxeram novas perspectivas para o


SALUTARIS • SAÚDE

tratamento de pacientes com lesões hepáticas. O trabalho foi publicado em uma das maiores revistas de ciência do mundo: a americana Science. A equipe simulou uma sobredose de medicamentos em cobaias para entender como os fármacos agem lesando o fígado e como se dá a resposta do organismo. Os pesquisadores descobriram que ao invés de reparar o dano, o sistema imunológico pode agravar a situação. “Quando uma célula morre, ela libera diversas substâncias, inclusive mitocôndrias — organelas responsáveis por fornecer energia à célula. O DNA da mitocôndria, que é próprio dela, se parece muito com o DNA de uma bactéria, assim como a própria estrutura. Quando essas mitocôndrias são liberadas numa morte celular, o organismo pode as reconhecer de

maneira errada, como se fossem bactérias. E aí a mensagem é ‘atacar!’”, detalha. Posteriormente, as comprovações se deram por meio de pacientes com lesões no fígado. Segundo o professor, o sangue dos indivíduos com o órgão lesionado tem cerca de 400 mil vezes mais produtos mitocondriais do que o de pessoas sadias. “Nós mostramos que os pacientes com lesão hepática podem estar sofrendo um processo de resposta inflamatória exacerbada e não positiva para o indivíduo. Modular isso, ou seja, fazer o sistema imunológico identificar o produto mitocondrial como não bactericida, pode ser um adjuvante novo para tratar os pacientes com lesões hepáticas”, arremata o professor.

O resultado de uma pesquisa chefiada pelo professor Gustavo Menezes pode indicar novos tratamentos para pacientes com lesões hepáticas ..............................................................................................................................................................................................................................................................

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salutaris • Receita

Saint Peter à moda do chefe Petronio Amaral

INGREDIENTES: 180 g de filé de tilápia (Saint Peter) 150 g de purê de batata Creme de espinafre

Para o creme, coloque o espinafre lavado em água fervente por um minuto para dar um choque térmico. Logo após, bata as folhas no liquidificador e leve essa emulsão ao fogo. Acrescente o creme de leite e o catupiry e mexa até encorpar. Tempere a gosto.

MODO DE PREPARO:

MONTAGEM:

Tempere o filé com sal e pimenta-do-reino a gosto e o empane em farinha de trigo. Grelhe até dourar.

Disponha o peixe no centro de um prato raso, acrescente o creme de espinafre por cima até o cobrir por completo. Faça oito bolinhas do purê de batata ao redor do peixe usando um bico de confeiteiro. Polvilhe queijo parmesão sobre o purê e o creme de espinafre e leve ao forno a 250ºC para gratinar por volta de três minutos.

Para o purê, esprema as batatas inglesas, acrescente creme de leite, manteiga e catupiry. Leve ao fogo baixo e retire quando a massa estiver homogênea.

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Divulgação/ Casa Valduga

salutaris • VINHOS

A hora de o Brasil mostrar a cara Danilo Schirmer Vários eventos importantes se aproximam. Nos próximos três anos teremos a oportunidade de vivenciar os maiores eventos esportivos do mundo: o Mundial da Fifa e as Olimpíadas. O Brasil será inundado por turistas de todas as partes do mundo. Com certeza, eles virão com muita disposição para conhecer nossa cultura, os costumes, hábitos, a culinária, gastronomia, natureza e tudo que for tipicamente brasileiro. Em junho acontece a Copa das Confederações. Será o primeiro e grande teste para os demais eventos que estão por vir ao Brasil. Atentos à chegada de tantos turistas, devemos nos preparar para receber as pessoas que desejam conhecer nosso país, o povo e nossa cultura. No comércio ou nas relações pessoais, a valorização do nosso país, da nossa cultura e dos nossos produtos tem que ser evidenciada. Quando um turista chega, naturalmente ele quer ter experiências novas e inerentes àquela região. Essa é a dinâmica do turismo: conhecer o novo e o diferente. Trazendo esse conceito para o mundo do vinho, podemos considerar que vai haver uma demanda pelos vinhos brasileiros durante a realização desses eventos. O vinho é uma bebida que traz características típicas da região de sua elaboração. A bebida é capaz de contar a história de uma região. Na maioria das vezes, os vinhos se harmonizam perfeitamente com a culinária regional. Esse tipo de expe-

riência é que desperta e aguça o desejo de qualquer turista, principalmente dos amantes do vinho. Sem dúvida, o Brasil está preparado para receber os “enoturistas”. Temos excelentes espumantes (depois dos Champagnes, os melhores do mundo), excelentes vinhos brancos - em função do nosso terroir (termo francês que designa extensão de terra com aptidões para a viticultura) - e ótimos vinhos tintos. Aliás, os vinhos tintos brasileiros recebem prêmios e medalhas nos melhores e mais respeitados concursos do mundo. No Rio Grande do Sul, a vinícola Casa Valduga inovou no mercado brasileiro e adotou o conceito de terroir, já difundido em outros países tradicionalmente produtores. Em sua linha Premium, a vinícola dividiu as uvas de acordo com o local em que elas se adaptam melhor: Chardonnay e Merlot (Linha Leopoldina - Vale dos Vinhedos), Gewurztraminer, Arinarnoa, Marselan e Pinot Noir (Linha Identidade - Encruzilhada do Sul), Sauvignon Blanc, Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e Tannat (Linha Raízes - Campanha). Acredito muito no sucesso desses eventos. O povo brasileiro tem totais condições de proporcionar experiências únicas para os que nos visitarem. E vamos, sim, valorizar o nosso país, o nosso povo, a nossa cultura, os nossos produtos e, claro, os nossos vinhos. Um brinde ao nosso país!

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Artigo • psicologia

mARIA ANGÉLICa Falci Psicóloga clínica e especialista em Sáude Mental angelfalci@hotmail.com

Só desejar não realiza Muitas pessoas se assustam com o tempo em que vivemos. Algumas dizem que não veem mais TV, pois as notícias são as piores possíveis. Outras reclamam que o mundo está um caos, que ninguém se coloca no lugar do outro, que não existem leis decentes,... Os adeptos desse discurso passam a viver com desejo de residir em outro país, de alcançar mudanças no modo de viver, de ser pessoas mais seguras e estáveis. Mas sabemos que o desejo por si só nunca levou ninguém a lugar nenhum. É verdade que vivemos um tempo diferenciado em relação ao de nossos avós, quando o que era considerado “socialmente aceito” e “valores corretos” não corresponde aos parâmetros atuais. A sociedade passou por mudanças culturais perceptíveis nos últimos anos. Isso é inegável. Vivenciamos mudanças drásticas em todas as áreas e, principalmente, na nossa forma de ver e nos relacionar com o mundo. Tudo aconteceu de maneira muito rápida. A vida é muito dinâmica, muda constantemente, mas geralmente sobra o intenso medo de mudar, de dar o famoso passo de ousadia.

Perceber que as mudanças são necessárias assusta, gera receio, medos e fantasmas mentais, mas a evolução do seu potencial só será possível a partir dessa permissão. É essa permissão que nos dá credibilidade para prosseguir e enxergar que existem muitas possibilidades, criatividade e deliberações que podem mudar uma situação intranquila para um momento de real estabilidade.

“O autocrescimento precisa ser vivenciado. Não é teórico, de ouvir falar. É algo interno, subjetivo e que produz benefícios”

Por que resistimos tanto às mudanças? Penso que o medo não seja a principal justificativa, embora tenha potencial para nos paralisar. É importante entender que a inércia, a imobilidade, além de trazer sérias limitações, fazem com que haja um somatório de sintomas negativos, como angústia, inadequação, medo do fracasso, vergonha social, dentre outros. Se uma pessoa encara seus conflitos se paralisando para não sair da zona de conforto,

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ela precisa entender que, na verdade, ela está é potencializando seus conflitos e criando maiores obstáculos para impedir o avanço.

O autocrescimento precisa ser vivenciado. Não é teórico, de ouvir falar. É algo interno, subjetivo e que produz benefícios de diversas ordens. Pense sempre que ao invés de resistir às mudanças logo de cara, é importante analisar, identificar, planejar e “partir para o abraço” que te espera na saída da zona de conforto. Um forte abraço da própria vida.

O Livro Quem Mexeu no meu queijo, de Spencer Johnson, enfatiza, de forma criativa, a capacidade que temos para vencer as dificuldades. Ensina que cada um de nós é responsável pelas escolhas, sucesso ou não, mediante as tomadas de decisão. Portanto, pare de justificar, de insinuar que o outro é responsável por você não conseguir e se coloque como autor principal da sua vida.


podium • esportes

Patrick Oliveira Donnereau

Germano pratica hóquei inline desde os 13 anos. Ele e os amigos que partilhavam da mesma paixão fundaram o Eldorado Vipers ..........................................................................................................................................................................................................................................................

Paixão sobre rodinhas Dinâmico e divertido, o hóquei inline, variação do esporte praticado no gelo, conquista adeptos na Região Metropolitana de Belo Horizonte André Martins Com tacos empunhados e patins nos pés, quatro jogadores de cada equipe disputam a posse de um disco de oito centímetros de diâmetro. O objeto, também conhecido como puck, desliza velozmente por uma quadra de superfície polida. Conduzido por sticks, como é chamada a extremidade do taco, o puck passa de jogador em jogador

até a conclusão do lance. Assim como no futebol, o que todos procuram é o gol. Os que se locomovem pela quadra são atacantes e defensores ao mesmo tempo. Para cada integrante, há dois reservas. Com exceção dos goleiros, eles revezam entre si numa partida intensa, que se divide em dois tempos de 20 minutos cronometrados.

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podium • esportes

No hóquei inline, os acessórios lembram o futebol americano e o golf. As regras assemelham-se, em certa medida, ao típico futebol praticado com os pés. Mas o esporte não nasceu dessa mistura. O hóquei em patins tem suas origens no gelo e surge de uma necessidade de adaptação. Como nem todos os estados americanos têm pistas de gelo em todos os meses, o patins de rodinhas foi a opção encontrada para que os atletas do Ice Hockey, de estados, como a Califórnia e a Flórida, mantivessem o condicionamento físico, podendo treinar com regularidade. A partir daí, as regras da nova modalidade do esporte começaram a se estruturar. No Brasil, a modalidade inline começou a ser praticada na década de 90. Com a abertura econômica promovida por Collor, o país foi inundado por produtos estrangeiros. Dentre os itens que chegavam em gigantescos contêineres aos portos do país estavam os patins rollerblade (de quatro rodas alinhadas). Esses equipamentos ajudaram a difundir a patinação por aqui. As regras do esporte foram adaptadas para a realidade do país. As quadras do Brasil, por exemplo, têm o piso revestido com material apenas similar ao que é comumente empregado nos Estados Unidos e no Canadá. A variedade de pisos possibilita que os jogadores daqui façam uso de sticks e rodinhas de patins diferentes, dependendo do piso da quadra. As brigas, que marcam o início das partidas no hóquei no gelo, foram abolidas no Brasil. Partir para cima do adversário é um ato antidesportivo e passível de punição. O esporte em Minas A história de Germano Rezende com o hóquei inline começou bem cedo, aos 13 anos de idade. Naquela época, o menino e boa parte dos amigos já patinavam. Dentre os diversos filmes que embalaram a juventude da década de 80, o preferido de Germano era Young Blood (Veia de campeão), de 1986. O longa trazia Rob Lowe, em seus tempos de glória, como um jovem que descobre o amor e o hóquei no gelo ao mesmo tempo. “Eu ficava repetindo pra mim: ‘isso deve ser muito legal de jogar’”, lembra. A oportunidade que o jovem sempre esperou ter, embora não na superfície gelada, surgiu por volta de 1996, quando uma escolinha de hó-

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quei se instalou nas proximidades da casa dele. Como dava para imaginar, foi amor à primeira partida. Germano começou a praticar e, desde então, nunca mais parou. Do círculo de amigos, surgiu o time pelo qual grande parte deles ainda joga: o Eldorado Vipers, de Contagem. Minas Gerais conta com apenas seis equipes profissionais vinculadas à Federação Mineira de Hóquei (FMH). A entidade chegou a ser formada por um grupo mais robusto. Os times mais competitivos do Brasil estão concentrados em São Paulo, devido ao maior apoio e ao suporte dado às equipes. Minas Gerais surge como um estado proeminente. Em Contagem, por exemplo, está localizada a primeira quadra pública e oficial do país. Em termos de estrutura e dimensões adequadas para a prática do esporte, não há nada igual no Brasil. Mas não é somente em relação à estrutura que Minas tem chamado a atenção. Recentemente três atletas que jogam no estado foram convocados para a Seleção Brasileira de Hóquei. Flávio Diniz, também jogador do Eldorado Vipers, é um deles. “Ao fim do Campeonato Brasileiro de 2012, fiz um teste com mais 29 atletas e, em janeiro, quando competia em um torneio na Califórnia, recebi a notícia de que havia sido selecionado entre os 18 escolhidos”, conta. Arquiteto de formação, Flávio, assim como Germano, patina desde os 13 anos e não se imagina fora do esporte. “Eu tenho 31 anos e jogo hóquei há mais de 18. É mais que a metade do que vivi. Então o esporte é tudo na minha vida. Eu tenho que estar jogando, senão não me sinto completo”, confessa. Mesmo com o fascínio que o esporte provoca, o hóquei com


podium • esportes

Patrick Oliveira Donnereau

Flávio faz três treinamentos de três horas por semana. Em janeiro, ele recebeu a notícia da convocação para defender a seleção brasileira .......................................................................................................................................................................................................................................................

patins recebe apoio escasso no país. O auxílio conseguido por meio do poder municipal e de outras instituições não exime os atletas de ter de colocar a mão no bolso, caso queiram competir em torneios dentro ou fora do Brasil. É uma realidade que Germano, Flávio e a maioria dos atletas de alto nível vivenciam. Germano é também diretor esportivo, cultural e social da FMH. Apesar das dificuldades financeiras, ele revela que o esporte passa por um bom momento. A definição de uma agenda de torneios e a popularização do esporte – que passa pela publicidade, divulgação de regras e do código de conduta dos atletas – tende a tornar o hóquei inline mineiro ainda mais forte. Como parte dos esforços para promover o esporte, a equipe do Eldorado

Vipers mantém um projeto social que atende a mais de 50 crianças. “Vez ou outra aparecem interessados que começam nessa escolinha e rapidamente passam a treinar com a equipe profissional”, conta Germano. A FMH também se empenha. A entidade realiza um evento open todos os sábados. Na Taça Minas, as seis equipes profissionais do estado competem ente si. Antes do jogo, a quadra é aberta para os visitantes patinarem. O público tem sido cada vez mais expressivo. “Primeiro a gente tem que trabalhar uma cultura de patinação. Depois, evoluir para achar interessados. Lá a gente tem grupos de patinação artística, tem o pessoal que está fazendo o aggressive, o vertical, roller derby e tem gente que quer só patinar. Então, ao reunir essa galera toda, a gente vai se ajudando e encaminhando cada um para a prática mais adequada e os locais mais próximos para o treinamento”, detalha Germano.

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Horizontes • TURISMO complemento

Budapeste: dois lados da mesma moeda Formada por duas cidades, Buda e Peste, unidas há exatos 140 anos, Budapeste promove até o final deste ano uma série de eventos para celebrar a data em grande estilo, a maioria deles regada a muita cerveja Jáder Rezende Texto e fotos Cortada pelo majestoso Danúbio, segundo mais longo rio da Europa, Budapeste figura entre as mais suntuosas cidades do Leste Europeu. Palco de batalhas sanguinárias e assolada durante a 2ª Guerra Mundial, a capital da lendária e medieval Hungria figura hoje no topo do ranking das capitais europeias que oferecem melhor qualidade de vida.

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No mês de junho, os famosos festivais de cerveja dominam o calendário de eventos. O carnaval de lá acontece também nesse mesmo mês e dura bem mais que o nosso, nada menos que uma semana, com atrações locais e internacionais. Em novembro, nos dias 24 e 25, a bebida oficial é o vinho, quando os produtores locais apresentam no Festival dos Novos


Horizontes • complemento

Vinhos e Queijos suas reservas especiais e os melhores queijos para uma perfeita harmonização. A temperatura em Budapeste, nesta época do ano é bem agradável, a máxima gira em torno dos 25ºC e a mínima fica na casa dos 15ºC. Brasileiros não precisam de visto até 90 dias de permanência, mas é recomendável uma permanência de pelo menos cinco dias para aproveitar ao máximo essa verdadeira viagem no tempo. Apesar de pertencer à zona do euro, a moeda que circula por lá ainda é o velho florin húngaro. O ideal é levar pelo menos alguns trocados da moeda local para qualquer emergência. O transporte público é bastante eficiente, com o sistema de integração entre bondes, ônibus e metrô — o mais antigo da Europa Continental — e o preço das corridas de táxi é moderado. Há uma infinidade de bons restaurantes de culinária internacional, mas é sempre bom experimentar as comidas típicas, que por lá são bem picantes, à base de malagueta e outras especiarias. O goulhach (carne cozida com molho bem temperado) é o carro-chefe da excêntrica gastrono-

mia húngara. Mas cuidado na hora de se aventurar nos cardápios, pois há o risco de ser surpreendido com uma avalanche de pimentões em conserva recheados, de todas as formas e cores, que dão para servir um batalhão. Os festivais da cerveja começam com as marcas belgas, de 31 de maio a 2 de junho. Além da bebida, os visitantes podem saborear comidas típicas e ver apresentações de grupos folclóricos. Depois vem o festival da cerveja checa, de 13 a 17, que neste ano chega à sua quinta edição. No mesmo período ocorre o Buda Beer Festival, nos limites do Castelo de Buda, com mais de 200 marcas para serem degustadas. Também no Castelo de Buda acontece, de 7 a 9 de junho, o Foie Gras Festival, evento de culinária com iguarias feitas com carne e vísceras de ganso húngaro. Organizado pela Associação Húngara Ganso, o festival promove oficinas de culinária, programas infantis e várias apresentações musicais ao vivo. Mesmo sem a nossa ginga, o Carnaval de Budapeste promete muita animação. Desfiles de carros alegó-

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Horizontes • TURISMO

ricos e grandes festas às margens do Danúbio colorem a cidade. Em outras cidades, como Busójáras, em Mohács (cerca de 200 quilômetros de Budapeste, na zona de Baranya) e em Gyula, conhecida por sua beleza arquitetônica, o Carnaval do Danúbio vem batendo recordes de público a cada ano. Para quem gosta de compras, a noite do dia 8 de junho deve ser reservada ao Stylewalker Noite, um projeto de caminhada no centro da cidade, promovido por lojas e boutiques até a meia-noite. Realizado duas vezes no ano, a cada semestre, o evento conta com a presença de estilistas que atendem diretamente o público. Além disso, é ideal para garimpar modelos exclusivos entre as muitas promoções. UNIFICAÇÃO

no Castelo de Drácula da Transilvânia (na Romênia). No imenso jardim, logo na entrada, fica a famosa escultura Anonymus, do homem sem rosto, primeiro a transpor para a literatura histórias da Hungria, sem jamais ter recebido reconhecimento em vida e cuja identidade jamais foi revelada. Reza a lenda que quem toca sua caneta tem sucesso nos estudos por toda a vida. Almoçar ou jantar no impecável restaurante Gundel é outra grande pedida. A casa prima pela elegância e sofisticação e é frequentada por astros do cinema e pessoas de grande projeção. Lá se pode saborear, de joelhos, um dos mais pratos de maior sucesso entre os finos paladares, ao Gundel palacsinta, que consiste num crepe com recheio à base de nozes, passas, rum e raspas de limão, regado a molho de chocolate.

Buda, à margem direita do Danúbio, e Peste, na margem esquerda, foram oficialmente declaradas uma só em 17 de novembro de 1873. Dez grandes e suntuosas pontes unem as duas partes. Mais tranquilo e com grandes áreas verdes, colinas e infinitas ladeiras, na porção ocidental fica Buda, primeira capital, que abriga os mais importantes monumentos da cidade, como o Castelo de Buda, residência oficial do presidente da república, o Bastião dos Pescadores e a Igreja Matias, entre outros. Já o lado Peste é bem mais plano e cosmopolita, com uma vida noturna agitada e uma vasta oferta de restaurantes e boates para todos os gostos e fantasias. No centro histórico ficam as principais atrações turísticas, como a elegante Avenida Andrássy — com seus imponentes edifícios centenários e apinhada de lojas de griffe, além de livrarias e restaurantes finos —, além do parlamento húngaro, local no qual a Banda Nacional se apresenta para os turistas todas as manhãs de domingo, e a Praça dos Heróis, com seus monumentos espetaculares. A dica é percorrer a pé a avenida Andrássy até a praça dos Heróis para uma sessão de fotos dos monumentos. Depois, visitar o Castelo de Vajdahunyad, localizado alguns passos adiante, numa pequena ilha, no Parque de Városliget, onde funciona o Museu da Agricultura, num prédio histórico inspirado

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Bares, como o For Sale, lembram antigas tabernas medievais ........................................................................................................................


Horizontes • TURISMO

Entre os grandes monumentos é obrigatória uma visita demorada ao Castelo de Buda, erguido no século XV e que chegou a ser bombardeado durante a 2ª Guerra Mundial. Devidamente restaurado, é considerado uma das maiores obras góticas da Idade Média. Atualmente abriga diferentes museus, teatro e a Biblioteca Nacional. No subsolo foi construído um curioso labirinto, que fica aberto à visitação pública todos os dias, entre 10h e 19h.

Paradas obrigatórias em Budapeste: acima, pátio principal do Castelo de Buda; abaxo, passeio público às margens do rio Danúbio ..................................................................................................................

O Palácio Real é outro ponto turístico que merece parada obrigatória. A suntuosa residência dos antigos monarcas está fincada no alto de uma colina e o acesso é feito por um antigo funicular (meio de transporte tracionado por cordas ou cabos). Lá o visitante tem a oportunidade de percorrer vários aposentos e visitar um museu repleto de peças antigas usadas pela nobreza e também pela plebe. É recomendável dispensar pelo menos uma tarde inteira para conhecer calmamente os pormenores do palácio e observar a paisagem.

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Horizontes • TURISMO

O Templo de Matias é mais um ponto turístico que oferece uma vista excepcional do rio Danúbio e da cidade. A igreja foi construída no século XV, em estilo gótico e, durante a Idade Média, foi o local oficial das cerimônias de coroação de reis. As esculturas em bronze espalhadas pelos jardins retratam, com riqueza de detalhes e impressionantes expressões, as mais importantes figuras e heróis da história húngara. Alguns passos adiante, outro monumento histórico de incomparável beleza merece atenção especial: o Bastiar dos Pescadores, construído em 1895. Na pequena fortaleza medieval funcionou, no passado, um mercado de peixes. Os artistas de rua de diferentes estilos e gerações são atrações à parte. O Bastiar dos Pescadores é conhecido como um dos mais belos e aconchegantes mirantes de Budapeste. As varandas que o cercam são perfeitas molduras para contemplar o Rio Danúbio e Peste.

A terra do genial pianista e compositor Franz Liszt é também conhecida por suas termas, descobertas pelos romanos, que lá se banhavam 2000 anos atrás e que merecem ser visitadas e frequentadas. A cidade tem mais de 130 fontes e 48 serviços de banhos. No Hotel Gellért, que funciona num prédio em estilo Art Nouveau, de 1918, fica uma das mais frequentadas pelos turistas. A temperatura da água na piscina interna chega a 26ºC e na externa a 36ºC. O ambiente é acolhedor e suntuoso, e o local funciona como um verdadeiro spa, com direito a massagem e sessões de relaxamento. Bem mais antigo, erguido em meados do século XIV pelos turcos, o Veli-bej possui cinco fontes, piscinas e até jacuzzi e recebe os visitantes até as 21 horas. Outra boa opção é o Lukács, frequentado por artistas e políticos, que buscam o poder curativo de suas águas.

O suntuoso Parlamento de Budapeste, às margens do rio Danúbio, considerada a maior edificação da Hungria .................................................................................................................................................................................................................................

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Artigo • imobiliário

Kênio Pereira Presidente da Comissão de Direito Imbiliário da OAB-MG keniopereira@caixamobiliaria.com.br

O valor do imóvel vai cair? Muitas pessoas têm falado em queda acentuada dos preços dos imóveis, sem se aprofundar em diversas questões macroeconômicas, o que leva a diagnósticos equivocados. Ainda persistem as condições que motivaram a alta de preços no decorrer do período de 2006 a 2011. Logicamente, não há mais espaço para alta de 25% a.a. (ao ano) como correu em 2010, mas o preço também não cairá muito. A tendência é de manutenção de uma correção próxima da inflação, havendo maior espaço para renegociar os preços e as condições, especialmente nos locais onde as construtoras estão entregando grande volume de unidades compradas na planta. BOM RENDIMENTO DO ALUGUEL

nova realidade imposta pela inflação. Apesar da menor remuneração, o aluguel continua sendo rentável e compensador. IMPEDITIVO O investimento no mercado imobiliário permanece lucrativo, pois o governo tem estimulado grandes obras. Considerando que a construção civil é um segmento gerador de empregos a baixo custo, as taxas e os juros dos financiamentos caíram expressivamente e o prazo aumentou para 35 anos, há grande volume de crédito para o setor que vem agora turbinado pelo crescimento dos Fundos de Investimentos Imobiliários.

“Em todos os setores as margens de lucro sofreram expressiva redução, tendo o valor do aluguel se adaptado à nova realidade imposta pela inflação”

Se o imóvel acompanhar, pelo menos, a alta da inflação de 6,5% a.a., o fato de ele proporcionar um aluguel de 0,4% sobre seu valor venal resulta num rendimento anual de 5%, além da valorização do bem. Esses ganhos somados representam um retorno médio de 12% no ano. Com a Taxa Selic em 7,5% a.a., o juro real no Brasil, descontada a inflação, é de apenas 1,8% a.a., ou seja, a maioria das aplicações financeiras remunera em torno de um terço do rendimento proporcionado pelo aluguel, sem contar a valorização do próprio bem, livre do risco da Bolsa de Valores, do congelamento, do confisco e da liquidação de instituição financeira pelo Banco Central.

Em todos os setores, as margens de lucro sofreram expressiva redução, tendo o valor do aluguel se adaptado à

Além disso, no Brasil vai ocorrer o bônus demográfico, pois as crianças dos anos 80 e 90 são os compradores de hoje, o que irá exigir 23 milhões de novas moradias nos próximos 15 anos. Esse cenário agravará o déficit de 5,5 milhões de moradias, o que justifica o incremento de programas sociais, como o “Minha Casa, Minha Vida”. Num mercado pulverizado como o imobiliário, as mudanças acontecem gradualmente, como vimos com a alta dos preços iniciada após o período de estagnação de 1997 a 2005. Dessa forma, não há clima para quedas expressivas, pois os ajustes de preço são lentos e previsíveis.

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Kultur kultur • complemento ENTREVISTA

Edson Kumasaka

Herói da resistência Confessional e com produção primorosa, o novo disco do cantor e compositor curitibano Carlos Careqa achaca a “chinalização” e a política cultural do país Jáder Rezende Carlos Careqa não dá o braço a torcer, principalmente quando o assunto é o famigerado mercado fonográfico brasileiro. Pontuando entre as figuras mais polêmicas, produtivas e genias da música brasileira, o cantor, compositor, produtor e ator curitibano mantém-se fiel aos seus princípios e rasga o verbo em “Made in China”, o oitavo de sua carreira. Produzido na marra por Marcio Nigro e coproduzido por Careqa, sem qualquer incentivo fiscal e “quase confessional”,

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segundo o artista. Lançado pelo seu selo fonográfico Barbearia Espiritual Discos e distribuído pela Tratore, o novo CD de Careqa traz 14 faixas inéditas, pra lá de intimistas, que revelam suas alegrias e decepções com a música e a globalização, ou melhor, a “chinalização”. Natural de Lauro Müller (SC), Carlos de Souza viveu a infância e a juventude no Paraná, onde cursou música e teatro, antes de radicar-se em São Paulo, há duas décadas. Responsável por várias trilhas para teatro,


Kultur • ENTREVISTA

Careqa trabalhou como ator em várias peças e filmes. No mercado atua desde 1986, tendo participado de mais de 80 comerciais. Depois de uma temporada em Nova Iorque ;,aventurou-se, no início da década de 90, em bares e casas noturnas de Genebra e Berlim. Desta vez, diferentemente dos discos anteriores, Careqa optou por uma produção sem convidados, mas que surpreende (mais uma vez) pela qualidade e pelo capricho. “Made in China” abre com o mantra “Calma Alma”, passa pelo punk-forró “O q q cê tem na cabeça”, a deleitante “Crise de Identidade” — feita sobre poesia de Marcelo Quintanilha” e “Botão de Futebol”, parceria com Adriano Sátiro, únicas dobradinhas do disco — e segue dando o recado ácido e mordaz, característicos do artista. Em entrevista exclusiva à Vox Objetiva, Careqa abre o coração. A palavra “chinalização”, a princípio, remete a um senso pejorativo. Fale do título, como um conceito que poderia soar como crítica e se transmuta em “uma declaração de amor à palavra e às sutilezas provenientes de sua dedicação à música brasileira”.

digamos assim, “apelativa”, seria uma palavra que vem ganhando outra vez relevo a partir da nova geração? Não sei, viu meu caro. Não consigo prever o futuro. Acho que o fundo do poço é sempre mais fundo. Acho que sempre vai piorar em termos de apelação. O que falta no Brasil, mesmo, é educação: educação musical para todos, daí poderemos ter um futuro melhor. Temos que assumir isso. Enquanto não houver um esforço nacional pela educação, seremos sempre subdesenvolvidos culturalmente. O desabafo contra o sistema permeia suas produções e em Made in China isso é bem mais latente. O fato é que o mercado fonográfico continua muito reticente com os artistas independentes. Quais os principais entraves enfrentados por essa moçada?

“Como sempre disse, eu até quero me vender, o problema é que ninguém quis pagar o preço até hoje”

Chinalização acontece em todas as áreas. Na música brasileira também. Você compra um computador e grava um disco. Tudo em casa, malfeito etc. Esse disco tem um pouco esse caráter, pois quis fazer um disco em casa, porém chamei um cara que manja muito de tudo isso, o Marcio Nigro. Tudo é made in china. As canções que não dizem nada também passam por aí. Sei que tem muita coisa boa feita na China, porém me apropriei desse termo para criticar mesmo. E, claro, o restante do disco é realmente uma declaração de amor à canção. O release do novo disco enfatiza a palavra “sutileza”. Considerando o panorama atual da música, acha que a sutileza é uma palavra em via de extinção ou, ao contrário, depois de uma saturação da música,

Olha, eu não encaro como um desabafo. Eu sou assim mesmo. Vou fazendo as canções e então elas vão se encaixando para o próximo disco. Algumas, claro que têm esse tom de falar das coisas que estão acontecendo, porém não me incluo nesse rol de protestantes contra o sistema. Claro que tudo que está aí, está muito viciado num esquema que já faliu faz muito tempo. Só a indústria não percebe, pois ela é feita de gente que não é do meio. Nós continuamos a fazer música de qualquer maneira. Sobremaneira em São Paulo, onde tudo é mais difícil. Se não fosse o Sesc São Paulo, já teríamos falido todos. Eu digo todos, pois todos vêm aqui buscar trabalho em São Paulo. Mas, como disse, sempre buscamos alternativas para fazer nossos trabalhos, seja aqui ou acolá.

São quase 30 anos de bons serviços prestados à música. Você se considera um bastião da resistência? Qual o balanço dessas três décadas?

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Kultur • ENTREVISTA

Não me considero nada. Me considero, como já disse, um trabalhador da canção, somente isso. Acho que poderia ter feito muito mais, mas é sempre duro fazer tudo sozinho. Mas estou feliz com esses 30 anos. Não esperava que chegaria onde cheguei. Me sinto feliz. Você chegou a inscrever o CD em leis de incentivo ou preferiu não usar o recurso das leis? Eu sou teimoso mesmo. Acho que posso sobreviver da minha música. Não acho que os impostos tenham que pagar pela feitura de meu disco, pois somente eu seria beneficiado. Depois, se algum edital me chamar para shows, acho que pode ser, porém não fico correndo atrás de edital. Acho que teria que haver uma rede maior de shows pelo Brasil. Mas tudo tem que ser com edital, etc, etc. Não existem mais aqueles shows em universidades. Os diretórios acadêmicos têm que se render ao pagode universitário, ao funk universitário. Eu gostaria de lançar a Vanguarda

Universitária para tentar alguma coisa. A propósito, você publicou recentemente no facebook que não gosta da “nova música fofinha brasileira”. Daria nome aos bois? Não quero dar nome aos bois ou às vacas, porque espero que eles amadureçam. Mas nem precisa: música fofinha você reconhece de longe. Geralmente as letras são fofinhas, as cantoras são fofinhas, os clipes são fofinhos. Por falar nelas, vários artistas estão recorrendo às redes sociais para arrecadar fundos para suas produções e muitos alcançam seu intento. Como você avalia essa alternativa? Acho muito bom. Eu comecei com isto praticamente aqui em SP, em 2011, com o Catarse, pedindo um apoio para o lançamento do CD “Alma Boa de Lugar Nenhum”. Era pouca grana, mas deu certo. Porém, como tudo, o Edson Kumasaka

O multiartista Carlos Careqa propõe o lançamento da "vanguarda universitária" para fazer frente ao pagode, ao sertanejo e ao funk "universitários" ....................................................................................................................................................................................................................................................................................

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Kultur • ENTREVISTA

lance é que todos estão pedindo, então fica difícil. Viram um “Faceboquistão” do Catarse. Ainda assim, você considera as redes sociais instrumentos eficazes para os independentes? Sim, eu acho muito bom. Não temos assessores de imprensa todos os dias. O FB e o twitter e outros ajudam a divulgar e a estabelecer vínculos com o público. Você diz que se rendeu aos caprichos da mídia. Deu algum resultado? Seria essa uma saída estratégica? Aquilo que canto na mídia é um personagem. Alguns caprichos eu fiz sim, porém nem todos. Como sempre disse, eu até quero me vender, o problema é que ninguém quis pagar o preço até hoje. Que nomes da nova safra você aponta como grandes revelações e promessas?

maquia o orçamento para ganhar mais, etc, etc. A lei de incentivo tem que existir, pois com ela muitos avanços foram feitos. Mas chegou o momento de a gente rever essa lei. O MinC tem que se responsabilizar pela Cultura deste país. A ministra da Cultura, Marta Suplicy, prometeu empenho na reformulação das leis de incentivo fiscal e de direitos autorais. Você ainda defende a criação de uma comissão mista que avalie estéticamente os pedidos de isenção de impostos?

“Como pode uma rede de televisão ser a maior distribuidora de filmes?”

Como eu disse, o MinC tem que assumir a posição de Curadoria da Cultura Brasileira. Uma comissão mista seria uma maneira de colocar todos os que fazem cultura na mesma mesa e de chamar a responsabilidade para isso. Como pode uma rede de televisão ser a maior distribuidora de filmes nacionais? O dinheiro do incentivo fiscal deveria ser para o incentivo à cultura e não para manter uma empresa, seja lá ela qual for.

Laura Wrona, Alexandre França, Dabliu Junior, Daniella Alcarpe, Juliana Amaral, Juliana Cortes, Barbara Rodrix, Juliana Perdigão, Casuarina, O Terno... Tem tanta gente boa por aí…

Em seu CD “Pelo Público” você compara a mulher a um pentágono, quis comer a Xuxa, agora quer comer a Sharon Stone. Até que ponto a mulher o inspira, exerce influência em suas criações?

Como você vê a política pública de cultura do atual governo?

A mulher é o meu motor. Me inspiro noventa por cento nas mulheres. Adoro todas elas. Minha mãe é a número 1. Ela teve oito filhos, seis mulheres e dois homens. Então você já viu, né? Fui criado com mulheres.

Acho complicado. Não existe uma política clara de cultura. Tudo tem esse viés de Lei de Incentivo à Cultura. Poucas coisas boas são feitas com o dinheiro público. Oitenta por cento dos artistas viraram funcionários públicos, todo ano fazem seu projetinho para conseguir sobreviver no próximo ano. O MinC deveria atuar mais como Gestor de Cultura. O Sesc em São Paulo dá um bom exemplo: os Animadores Culturais recebem milhões de projetos e escolhem aqueles que realmente têm a ver com Cultura e não somente uma repetição do que já existe. O MinC se esquiva de fazer esse papel de curador, mas isso é essencial para um avanço dentro da cultura brasileira. Afora as barbaridades que acontecem dentro dessas leis de incentivo, gente que trapaceia, gente que

Há planos de uma turnê de Made in China? Belo Horizonte pode ser contemplada? Caramba! Fico até com vergonha. Sou um tanto tímido quanto a essa questão de fazer turnês, pois não tenho empresário nem vou atrás de editais para levar meus shows para os lugares. Tudo depende de convites. Eu adoro BH, porém estou à espera de convites para fazer shows por aí. Quem sabe você que está lendo esta entrevista não tem uma ideia e me escreve? carloscareqa@gmail.com (risos).

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Kultur kultur • complemento MoNDO cULT

Imagens e sons Divulgação

Com formação em Programação Visual e estudos nas áreas de fotografia e artes plásticas, a cantora e compositora paulista Laura Wrona revelou à coluna que já alinhava o seu próximo disco e promete surpreender ainda mais. Ela adianta que pretende unir seu trabalho fotográfico ao musical. Além de canções inéditas, o disco trará novas parcerias, como é o caso de Luíz Nenund (do grupo Os The Drama Lóvers). Laura Wrona atualmente divide sua agenda entre os seus disputados shows de belíssimas texturas vocais (nos quais as cordas têm papel fundamental) e a seleção de fotos de sua autoria para a publicação de um livro a ser lançado ainda neste ano.

Peixe grande O cantor e compositor mineiro Affonsinho acaba de lançar o oitavo álbum de sua carreira solo (com participações de peso). “Trópico de Peixes” traz 12 faixas inéditas, entre baladas, bossa e até um “fox-trote” — “Cozailoviu”, no qual cita compositores que admira, como Cole Porter, Gershwins, Tom Jobim, Caetano Veloso e Luiz Melodia, dentre outros. O disco tem participação de três beldades: a carioca-americana Alexia Bomtempo, na faixa “Cozailoviu”, a paulista Verônica Ferriani, em “Astronauta e Jasmim”, e a mineira Marina Machado, em “Deixa”. Produzido por Frederico Heliodoro e Affonsinho, “Trópico de Peixes” traz arranjos brilhantes de Frederico Heliodoro, Felipe Continentino e Christiano Caldas. Algumas faixas já estão tocando nas rádios, como “Lá em Yesterday”. Anna Lara

Discoteca básica Mistura fina Lançado há uma década, “Excelentes Lugares Bonitos”, de Beto Villares, é um disco que deve ser celebrado para sempre. O CD traz 15 faixas impecáveis que mesclam diferentes vertentes da música brasileira e conta com a participação de Rappin Hood, Anelis Assumpção (filha de Itamar Assumpção), Fernanda Takai, Zélia Duncan, Céu e Siba (do Mestre Ambrósio), dentre outros. As músicas podem ser baixadas em vários sites. O cantor, compositor, superprodutor e autor de trilhas de vários filmes brasileiros — como “Abril Despedaçado” e “Xingu”, o mais recente — promete surpreender ainda neste ano com um novo trabalho, o segundo autoral de sua carreira.

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Reprodução


Kultur • MoNDO CULT

Chá para todos O contador de casos Olavo Romano, recém-empossado presidente da Academia Mineira de Letras, quer dar novos ares à sisuda instituição, abrindo suas portas à cultura popular. A ordem é promover eventos culturais das mais diferentes vertentes no casarão centenário da rua da Bahia.

Solte o verbo As inscrições para o concurso que vai selecionar três contos a serem publicados na edição 2013 do livro “Poesia de Graça na Praça” podem ser feitas até o final de junho. Promovido pelo Sistema Fecomércio, o concurso literário tem como tema “O começo e o fim”. Para participar, os escritores devem enviar contos que não tenham sido publicados nem divulgados anteriormente. Mais detalhes nos sites www.sescmg.com.br e www.mg.senac.br.

patchwork Divulgação

Inquieta por natureza, a cantora e compositora mineira Consuelo de Paula divide sua agenda entre os lançamentos de seu quinto CD, “Casa” (que acaba de ser disponibilizado no site Rdio), e do primeiro DVD — “Negra”, além de sua mais nova cria, o livro “A Poesia dos Descuidos”. Natural de Pratápolis, no Sul de Minas, Consuelo de Paula vem se firmando como uma das principais compositoras e intérpretes da música brasileira. Suas delicadas e belas canções ecoam em gravações de grandes nomes, entre eles, o de Maria Bethânia. A artista afirma que está empenhada em incluir Belo Horizonte em sua nova turnê. Primoroso em todos os sentidos, “Casa” registra a parceria entre Consuelo e o violonista Rubens Nogueira (1959 – 2012), iniciada com “Dança das Rosas”, em 2004. Rubens fez todas as melodias para as letras de Consuelo.

Jáder Rezende Jornalista vidrado em cultura e música independente jader.rezende@voxobjetiva.com.br

Operação resgate A Fundação Clóvis Salgado vai inserir em suas atividades culturais moradores de rua que perambulam ou dormem no entorno do Palácio das Artes e do Parque Municipal Américo Renné Giannetti. A proposta, segundo a presidente da instituição, Solanda Steckelberg, é manter com essa população uma política de boa vizinhança e dar a ela a oportunidade de viver novas experiências. A aposta é que, por meio de oficinas de arte, como artesanato, literatura, teatro e música, os moradores de rua encontrem uma vocação e despertem para alguma possibilidade de profissão.

Prateleira Ter acesso a livros sem sair de casa e, o que é melhor, sem gastar um centavo sequer, não é uma utopia. Para conferir essa mamata é só acessar a página Prateleira (com a foto de uma corujinha lendo) no facebook. Na rede social desde abril deste ano, a fan page já distribuiu dezenas de títulos. “Qualquer pessoa pode doar. Aceitamos qualquer tipo de publicação. Tudo tem utilidade, nem que for para recortar as figura e fazer trabalhos de escola”, conta Leonel Napoli, o idealizador do projeto.

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Kultur kultur••complemento terra brasilis

Os Titãs sobem ao palco do Chevrolet Hall para única apresentação no dia 15 de junho. Os fãs vão relembrar grandes sucessos dos 30 anos de carreira da banda. O grupo retorna com a turnê do disco Cabeça de Dinossauro, lançado em 1986 e considerado pela revista Rolling Stones um dos mais emblemáticos para a história da música brasileira.

Titãs

Cine OP 2013

Elles

A Mostra de Cinema de Ouro Preto chega ao 8º ano. Como nas edições anteriores, os cinéfilos que visitarem a histórica Ouro Preto entre os dias 12 a 17 de junho poderão conferir centenas de curtas e filmes em pré-estreia. Os que se garantirem por meio de inscrições, poderão participar de oficinas, debates e seminários. O CINEOP levanta a bandeira do cinema como patrimônio e se tornou um dos eventos cinematográficos mais prestigiados do país.

O Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro, expõe obras de mais de 60 artistas mulheres que revolucionaram, cada uma a seu modo, o conceito artístico do tempo em que estiveram em atividade. Na mostra, há obras do Centro Georges Pompidou/ Musée National d’Art Moderne que abriga a maior coleção de arte contemporânea da Europa. Obras de artistas brasileiras como Anna Maria Maiolino e Rosânsega Rennó dividem espaço com pinturas da mexicana Frida Kahlo.

Local: Ouro Preto Período: 12 a 17 de junho Outras informações no site cineop.com.br

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Local: Chevrolet Hall Data: 15 de junho Outras informações chevrolethallbh.com.br

Local: Centro Cultural Banco do Brasil Período: 24 de maio a 14 de julho Outras informações no site bb.com.br


Pintura Chinesa A Pinacoteca de São Paulo apresenta a exposição Seis séculos de pintura chinesa da Coleção do Musée Cernuschi, de Paris. São 120 pinturas realizadas pelos principais artistas da China Imperial e Republicana, bem como os pintores chineses a partir de 1930 foram para o Ocidente e escolheram a capital francesa como lugar de formação. A mostra também será acompanhada de um catálogo digital com reprodução de obras, textos historiográficos sobre a coleção, cronologia e documentação bibliográfica. Local: Pinacoteca de São Paulo Período: 4 de maio a 4 de agosto Outras informações no site pinacoteca.org.br

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CRÔNICA

JOANITA GONTIJO Jornalista e autora do blog tresoumais.blogspot.com joanitagontijo@yahoo.com

Neandertal ou Homo sapiens? As fortes olheiras deixavam claro que, na última noite, ela não havia dormido nada e provavelmente tinha chorado bastante. Ao perguntar qual era o problema, minha amiga desabou e, entre um soluço e outro, contou que o namorado planejava terminar o relacionamento. “Que sinais ele havia dado?”, perguntei. E ela contou. Os dois não se viam havia uma semana e, no último telefonema, ela disse antes de se despedir: “Estou com saudades...”. Do outro lado da linha o silêncio a fez ouvir até os sapos coaxarem. Chegou a pensar que a ligação tinha caído, mas quando chamou pelo nome do indivíduo, ele respondeu prontamente, acabando com as esperanças de que o problema fosse apenas tecnológico e não emocional. Ela tinha certeza! Essa atitude era a pista de que o fim estava próximo. O silêncio... Difícil imaginar que algo tão recomendado em certas ocasiões seja capaz de estragos gigantescos em outras. A falta de palavras acende o barril de pólvora de todas as dúvidas e detona o botão que aciona nossa imaginação apocalíptica. A ausência de explicações, um sussurro ao menos, convence os delírios mais pessimistas de que eles são coerentes e reais. Bom seria se o silêncio agisse sozinho, mas, nesses casos, ele tem ainda uma aliada cruel e maquiavélica na sua gangue do mal: a expectativa. Quando esperamos por respostas, afeto, palavras de conforto e nada é dito, caímos na armadilha. Somos capturados pelos dois comparsas e torturados pelos pensamentos mais destrutivos.

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Para provar o poder desses dois ladrões da nossa tranquilidade, vou contar a história de outra amiga. Havia meses, ela nutria esperanças de engatar um namoro com um “ficante” assíduo. Depois de um fim de semana de promessas de compromisso, ela já esperava, havia três dias, por um telefonema. E nada... Foi então que ela recebeu a seguinte mensagem: “Que bom que faço parte da sua família agora. Estou muito feliz. Adoro você e sua filha”. Apesar do número não corresponder ao do “senhor ilusão”, ela acreditou que fosse ele, talvez usando o telefone da empresa, e respondeu imediatamente. “Também amo você! Quer jantar lá em casa hoje à noite?” Alguns minutos se passaram e o telefone tocou. No visor, o mesmo número desconhecido. Ela atendeu ansiosa e do outro lado da linha era Maria, sua funcionária recém-contratada. Ela disse que ficou emocionada com a mensagem, mas que morava longe demais pra aceitar o convite para jantar, mas que a patroa não ficasse magoada, pois no dia seguinte ela “pegaria cedo no batente” e prepararia um delicioso almoço para a família. A história rendeu boas gargalhadas e uma constatação: se quiser realmente saber uma resposta, pergunte claramente! Se quiser dizer alguma coisa, não fique calado esperando que o outro adivinhe suas intenções. Você corre um grande risco de ser mal interpretado. A linguagem faz parte da evolução humana. Nossa espécie aprendeu a se comunicar para sobreviver e você pode estar ameaçando suas relações, se continuar agindo como um neandertal.


TodAs As porTAs dA AssembleiA esTão AberTAs pArA Você. Participar da vida política é direito de todo cidadão. Por isso, a Assembleia facilita o acesso para você chegar à Casa do Povo. Você pode acompanhar o trabalho dos parlamentares, consultar os projetos e as notícias e apresentar sugestões. Acesse a Assembleia pela internet, TV ou telefone. Ou venha aqui pessoalmente. Fique à vontade, a Assembleia é a sua Casa.

Acesse: www.almg.gov.br Assista: TV Assembleia – em BH, canal 35 UHF Fale: Centro de Atendimento ao Cidadão – (31) 2108 7800 Venha: Rua Rodrigues Caldas, nº 30 – Santo Agostinho – Belo Horizonte. Atendimento das 7h30 às 20h.


A CEMIG OUVIU AS SUAS DÚVIDAS. E AGORA RESPONDE

A TODOS OS MINEIROS. QUEM DEFINE A TARIFA DA CEMIG? A tarifa da Cemig é definida pela Aneel, órgão federal responsável pelo valor das tarifas de todas as concessionárias de energia do Brasil (informações no site www.aneel.gov.br).

O QUE NÓS PAGAMOS NA CONTA DE LUZ? O valor que pagamos na conta de luz corresponde à energia que a concessionária compra e repassa para o consumidor; a custos de mão de obra, manutenção e expansão; ao imposto estadual; a tributos e encargos federais; à taxa de iluminação pública; entre outros itens.

TODO MUNDO PAGA ESSES IMPOSTOS? Os tributos federais são cobrados de todos. Mas, há muitos anos, o Governo de Minas isenta o imposto estadual da conta de metade das famílias mineiras (benefício concedido para consumo até 90 kWh/mês).

Para mais informações, acesse os sites www.cemig.com.br ou www.aneel.gov.br


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