Janeiro/14 • Edição 55 • Ano VI • Distribuição gratuita
Marcus viana - O ‘mago’ da música no cinema e na TV
Depois de 23 anos, a Afonso Pena volta a brilhar no carnaval de Belo Horizonte
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O que diferencia uma boa ideia?
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Editorial A dança das cadeiras
Carlos Viana Editor Executivo carlos.viana@voxobjetiva.com.br
“... O povo que conhece o seu Deus se tornará forte e ativo.” (Daniel 11:32)
A Vox Objetiva é uma publicação mensal da Vox Domini Editora Ltda. Rua Tupis, 204, sala 218, Centro, Belo Horizonte - MG CEP: 30190-060
Em todos os anos de eleição para o Executivo brasileiro, as reformas de secretários e ministros de Estado ganham destaque na imprensa. O lado político dos acordos e as consequentes alianças eleitorais para a disputa dos cargos são sempre os mais destacados. O que normalmente não se publica é o lado nefasto da troca de cadeiras, que coloca em risco o orçamento e as políticas públicas de setores importantes, como saúde e educação. Geralmente o período eleitoral marca o início de uma hibernação na continuidade das tomadas de decisão. Os novos acordos partidários soam como sentença de morte para secretários e técnicos responsáveis pela qualidade de vida da população. Nem mesmo os servidores concursados escapam da sanha eleitoral renovadora porque eles estão sempre dependentes de quem vai comandar esse ou aquele ministério ou determinada secretaria estratégica. No âmbito das prefeituras, a situação é ainda mais grave. O que importa em anos eleitorais não é a continuidade de projetos e de compromissos assumidos nos pleitos anteriores. Vale a única e obcecada luta pela vitória partidária. Como resultado da impunidade e da falta de compromisso com números e índices, há estradas e programas de saúde da família abandonados, pontes ligando nada a lugar nenhum e escolas sempre em petição de novos investimentos. No campo das Defesas Civis municipais, todo o trabalho de treinamento e capacitação das equipes de socorro desce enxurrada de votos abaixo, quando determinado prefeito não é reeleito. No caso de ministros em Brasília, os valores movimentados nas pastas federais podem gerar prejuízos maiores ainda ao Brasil. Fica sempre no ar a dúvida se as várias decisões tomadas e anunciadas com alarde eram mesmo necessárias ou se escondiam projetos políticos particulares, capazes de tornar o titular mais conhecido dos eleitores de um estado. É bom nunca esquecer que ministros são sempre os mais cotados para os cargos de governador e, para isso, não medem esforços nem gastos nas regiões onde militam. Em meio à discussão sobre uma reforma política, nossos representantes deveriam incluir a obrigatoriedade no cumprimento das promessas de campanha e projetos públicos transparentes e disponíveis para a fiscalização dos que votaram. Político eleito que não cumprisse o prometido perderia o direito de se candidatar novamente e continuar a enganar a população. Na mesma proposta deveria ser proibido o início de grandes projetos por parte do vencedor sem que os anteriores estivessem prontos e entregues à população. Eleições de dois em dois anos não fazem mal ao Brasil. O que nos prejudica é a falta de compromisso dos candidatos e a ausência no controle do gasto público. E não há esperança de melhora em curto prazo. Reformar a política não interessa aos atuais eleitos. O controle dos orçamentos é feito sempre por meio de Tribunais de Contas estaduais comandados por ex-políticos. Por muito tempo ainda assistiremos a um elenco de promessas que sempre se renovarão, mas nunca se tornarão realidade.
Editor Adjunto: Lucas Alvarenga l Diagramação e arte: Felipe Pereira | Capa: Felipe Pereira | Foto de capa: Felipe Pereira | Reportagem : André Martins, Cassio Teles, Lucas Alvarenga, Luciana Hübner, Rodrigo Freitas e Thalvanes Guimarães | Correspondentes: Greice Rodrigues - Estados Unidos, Ilana Rehavia - Reino Unido | Diretoria Comercial: Solange Viana | Anúncios: comercial@ voxobjetiva.com.br / (31) 2514-0990 | Atendimento: jornalismo@voxobjetiva.com.br (31) 2514-0990 | Revisão: Versão Final | Tiragem: 30 mil exemplares | voxobjetiva.com.br 4 | www.voxobjetiva.com.br
Olhar BH
‘Sonho de verão’ Foto de Felipe Pereira |5
SUMÁRIO Luis Carlos Vianna
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Tânia Rego/ABr
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Divulgação/Governo de Minas Gerais
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Marcus viana A arte de compor trilhas para o cinema e a TV e o retorno aos palcos
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metropolis
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a disputa já começou Troca do secretariado de Anastasia e movimentação de Pimentel esquentam bastidores da política mineira
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passando a limpo
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Economia conectada
Educadores e alunos analisam os principais desafios da educação brasileira Movimentações financeiras realizadas por meio de celulares representam 5% do PIB nacional 6 | www.voxobjetiva.com.br
Alternativa à malhação CrossFit conquista quem deseja executar tarefas com maior precisão e força, sem precisar se submeter à malhação diária
hORIZONTES
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Mais que bob marley Jamaica é indicada pelo ‘Oscar da indústria hoteleira’ como melhor destino turístico e roteiro de cruzeiro de 2013
capa
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Vinte e três anos depois Carnaval de Belo Horizonte retorna para a avenida Afonso Pena com ressalvas do setor cultural
Marcos Santos/USP
André Martins
Lucas Alvarenga
Lucas Alvarenga
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Luciana Hübner
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KULTUR
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Irreverentes e populares
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nada de azarões
Marchinhas mostram uma das verdadeiras vocações da folia em Beagá Oscar não deve reservar surpresas nas principais categorias. Saiba quem são os favoritos
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Artigos
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justiça • Robson Sávio Copa do Mundo: a bala de prata?
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IMOBILIÁRIO • Kênio Pereira
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PSICOLOGIA • Maria Angélica Falci
Imóvel com vários donos? Evite problemas
Meteorologia • Ruibran dos Reis Você acredita no aquecimento global?
crônica • Laura Barreto Em um relacionamento sério com você mesma! crônica • Joanita Gontijo Desejo de Ano Novo
Gastronomia
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RECEITA • Chef Fábio Pontes
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VINHOS • Danilo Schirmer
Salada de bacalhau e feijão fradinho Vinhos para o verão
A mudança “nossa” de cada dia |7
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“Sou um pouco de tudo”
Diverso como a obra que o representa, Marcus Viana quer dedicar 2014 ao público, que se acostumou a acompanhá-lo por meio de trilhas no cinema e na TV André Martins O gingado de Taís Araújo como a escrava-rainha de ‘Xica da Silva’, o trote das tropas farroupilhas no Sul do Brasil em ‘A Casa das Sete Mulheres’, os mistérios do Marrocos sob o olhar sedutor de Jade, personagem de Giovanna Antonelli em ‘O Clone’,... Seria arriscado dizer que as imagens referenciadas nessa breve descrição tivessem a mesma força, não fosse a memória auditiva que suscitam de maneira quase instantânea.
De jeito nenhum! Meu pai era assistente do Villa-Lobos, tocava em casa, mas não me estimulava para a música. Cresci ouvindo aquelas composições malucas de Villa-Lobos. Não imaginava que iria trabalhar com música. Desde a infância, a pintura e o desenho eram tudo para mim. Todos achavam que eu seria desenhista. Era o retratista da família (risos).
Autor das trilhas sonoras dessas e de tantas outras obras da teledramaturgia brasileira, Marcus Viana mantém um impressionante ritmo produtivo. A esse belo-horizontino de 60 anos só cabem superlativos. São centenas de composições, dezenas de parcerias e de CDs que vão do rock progressivo aos trabalhos voltados à meditação e ao público infantil.
Mas, aos 13 anos, surgiu uma turma de violino na cidade. Então meu pai sugeriu: “Sei que você não quer mexer com música, mas as aulas são de graça. Por que não vai lá experimentar?”. Aí comecei a frequentar as aulas todos os dias. O meu professor era húngaro. Era comum que as orquestras brasileiras absorvessem músicos que estavam de bobeira no país, após a Segunda Guerra. O resultado dessas aulas foi muito positivo.
Desaconselhado pelo próprio pai a seguir pelas trilhas da música, Marcus acabou envolvido pela magia das canções. Logo no início da carreira, foi disputado pelos integrantes do Clube da Esquina. Com pouco tempo, despertou a atenção de Jayme Monjardim. Na década de 80, o novelista era o diretor artístico da extinta TV Manchete. O convite para os primeiros trabalhos na telinha fez com que o compositor desenvolvesse e consolidasse o trabalho iniciado nos grupos ‘Saecula Saeculorum’ e ‘Sagrado Coração da Terra’, do qual participa até hoje. Em entrevista exclusiva à Vox Objetiva, o violinista que encantou o Brasil com versatilidade e poesia fala sobre processos criativos, a música independente no Brasil, a relação do homem com a natureza e o futuro. Longe da TV e do cinema em 2014, Marcus Viana pretende se dedicar mais ao Sagrado Coração da Terra e ser visto e ouvido pelos fãs, que há muito tempo reclamam de sua ausência nos palcos. Você nasceu em uma família que prezava pelas artes. O seu pai, Sebastião Viana, era músico. A escolha pela música foi um caminho natural?
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Mais tarde, comecei a fazer Direito. Meu pai me aconselhou a fazer Relações Internacionais e seguir carreira diplomática, pois me considerava anárquico para a música. Para ele, só conseguiam sucesso no Brasil os músicos muito sérios. Mas a música começou a tomar conta da minha vida. Tanto que entrei na Orquestra Sinfônica de Minas Gerais e, faltando um ano e meio para me formar, desisti do Direito e esqueci a diplomacia. Como foi o início da carreira? Antigamente cada prefeitura promovia um festival de música. E eu comecei a participar. Percebi que as pessoas gostavam do que eu compunha. Eu sempre ficava entre os primeiros colocados nesses festivais. Então criei o grupo ‘Sagrado Coração da Terra’ em 1979. Foi por meio do grupo que eu fui lançado em todo o estado.` Talvez a melhor palavra para definir o seu trabalho seja transcendental. O Marcus Viana é um
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Olivia Viana
verbo
verbo
homem conectado espiritualmente a alguma coisa? Em que medida a espiritualidade influencia sua obra? Na época em que criei o ‘Sagrado Coração da Terra’, não era moda falar de ecologia. O pessoal nem sabia o que era. Mas a minha preocupação sempre foi com a Terra no plano espiritual. O que é esse planeta para o homem? Existe diferença entre o planeta e o homem? Eu acreditava numa religião da terra, como se o homem fosse parte do sistema: uma religião holística como se crê hoje. É um sentimento de religiosidade completamente diferente de ter uma religião. Sou um pouco de tudo: cristão, espírita, budista, tibetano, hinduísta. Sou uma abelhinha num jardim de flores. As religiões são coisas muito pequenas. O sentimento humano é muito maior do que as igrejas e os templos podem conter. A arte é a sua religião? A arte é uma saída. A arte e a ciência são quase como religiões, só que mais vivas. Quando um cientista coloca paixão na própria pesquisa e um músico compõe uma sinfonia, ambos estão descobrindo o universo. Num futuro não muito distante, a fusão da arte com a ciência vai dar um novo despertar ao ser humano.
Como é o seu processo de pesquisa musical para compor trilhas sonoras? No caso de ‘Pantanal’, eu recebi 40 fitas cassete com tudo sobre o lugar, mas o Jayme Monjardim disse que não daria tempo de ver o material completo e que eu deveria começar a criar. Para ele, a música é parte do contexto de atuação. Por isso, a música era necessária para que os atores começassem a gravar. Enquanto a turma viajou para o Pantanal, eu estava produzindo as trilhas. O mesmo aconteceu com o ‘Clone’. Não faço ideia de como é o Marrocos e o deserto, mas tinha feito uma pesquisa enorme sobre a cultura oriental, a dança do ventre,...
“Só tenho a agradecer por esses 15 anos em que fizemos músicas que pararam o Brasil inteiro”
Compor trilhas sonoras não deve ser fácil. Qual o seu processo? Você assiste ao material antes? Só na publicidade vemos o material antes de produzir. Geralmente os diretores querem primeiro a trilha. Então componho e entrego. No cinema, no teatro e na novela, temos que imaginar a obra e criar a trilha. Depois o diretor vem dizer se gostou ou se ele esperava outra coisa. É algo complicado porque o trabalho antecede o produto final. As inserções da sua música em ‘Olga’ foram muito bem executadas. Parece que foram feitas simultaneamente às filmagens. Eh... Mas não foi assim. Eu criei os temas, e o vídeo foi editado. Porém, eu crio alguns trechos pequenos somente após a edição de vídeo. Um exemplo está na metade final de ‘Olga’. Quando a polícia cerca a casa em que o Luís Carlos Prestes está com Olga, alguém 10 | www.voxobjetiva.com.br
pula a janela, a porta bate, as pessoas correm,... Em casos assim, que envolvem ação e suspense, é preciso uma pontuação exata da cena.
Você mantém um ritmo de produção intenso. Inspiração é algo que nunca se exaure? Ela flui naturalmente? As coisas são relativas. O que inspira é pensar que o projeto será visto e ouvido por muitas pessoas. Só tenho a agradecer por esses 15 anos em que fizemos músicas que pararam o Brasil inteiro.
Atualmente estou numa entressafra. Temos que fluir de acordo com o trabalho. É um fluxo que observamos como o de um rio que passa. Na vida, pegamos as oportunidades à medida que elas aparecem. Agora que estou fora da Globo, e que este ano não faço mais novela, vou aproveitar para tocar e mostrar mais a cara. Muitas pessoas reclamam que eu não toco nem apareço. Alguns artistas nacionais são reconhecidos lá fora e acabam sendo completos anônimos aqui no Brasil. O que você pensa em relação a isso? É tanto artista brasileiro bom que muitos não se consolidam por aqui, mas encontram espaço na Europa. Estive de férias em Caraíva, no Sul da Bahia. O acesso à cidade se dá por barco. Lá havia uma dupla: um tocando bandolim, tipo Hamilton de Holanda, e o outro, violão. O violonista tocava tão bem que dava aulas e fazia shows o ano inteiro nos Estados Unidos. Às vezes, nossos ta-
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lentos nem se apresentam nos grandes centros do país e já partem para o exterior. Muitos moram aqui, mas estão constantemente fora. Isso tem um lado bom: o mundo está acolhendo o artista brasileiro. Por outro lado, vivemos em um país complicado, que trava a divulgação de produtos de boa qualidade para o grande público, como se não tivéssemos condições de absorver boa música. Temos sim, mas ninguém mostra.
Quais nomes proeminentes da música independente no Brasil você considera interessantes? Como você avalia a nova geração de artistas brasileiros? A turma não está fácil não! Sem citar nomes, temos artistas muito bons de MPB no Rio, em São Paulo e em Belo Horizonte. Espero que a carência por músicas de maior qualidade, de arte, force o próprio pensar do brasileiro para que o talento dessa geração seja absorvido. Mas esse é um trabalho de conscientização.
Arquivo Pessoal
Você já trabalhou com diversos profissionais no cinema, na TV, nos estúdios e nos palcos. Há alguma parceria que você considera especial? São muitas parcerias especiais, sejam com pessoas famosas, reconhecidas, sejam com outras que fazem parte do dia a dia. Às vezes, as parcerias de rotina representam mais que as com os famosos. A fama muda as pessoas. Na televisão, isso é mais complicado porque envolve ego, vaidade e política. Para mim, é mais gostoso trabalhar com música livre. O que você tem feito hoje em dia? Estou recuperando filmagens solo e do Sagrado Coração da Terra. Coisas de 2001 para cá. Vamos reuni-las
nos DVDs ‘Sagrado Coração da Terra - Volume II’ e no ‘Transfônica Orquestra’, contendo minhas trilhas de novela ao vivo. Quero tirar do limbo esses dois projetos, que são antigos, para limpar o canal da minha vida e começar coisas novas. Diante do avanço da pirataria e dos downloads de música, o que se pode esperar do futuro do mercado fonográfico mundial? Infelizmente as megastores estão parando de trabalhar com CDs. É uma pena. Eu não sei fazer outra coisa que não seja disco. Se parar de vender CDs, acabou. O negócio agora é a internet. É preciso entender como a internet nos ajuda. De repente, descobrimos uma forma viável de vender produtos por meio da grande rede. | 11
Artigo
Justiça
Copa do Mundo: a bala de prata?
robson Sávio Reis de Souza Filósofo e cientista social robsonsavio@yahoo.com.br
“A bala de prata das
oposições seria a Copa do Mundo que, conforme preveem, levaria novamente milhões de pessoas para as ruas
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A expressão “bala de prata” é uma metáfora para indicar a produção de denúncias de última hora que a imprensa costuma lançar contra políticos, às vésperas de eleições. De caráter bombástico e espetaculoso, essas denúncias visam tumultuar e/ou interferir no processo eleitoral. Na última década, após a assunção do PT ao governo federal, essa estratégia tem sido utilizada com frequência no Brasil. Setores conservadores da sociedade e da mídia têm se esmerado na tentativa de dar um “golpe branco”, já que pelas vias eleitorais não conseguem retomar o poder central. Por fadiga de material (vide o enredo enfadonho do mensalão), nas últimas eleições presidenciais essa tática falhou vergonhosamente. Começam as especulações acerca de nova aventura golpista neste ano. E ocorrem justamente 50 anos após o golpe civil-militar de 1964. A bala de prata das oposições seria a Copa do Mundo que, conforme preveem, levaria novamente milhões de pessoas para as ruas, clamando por mudanças. Esse “desejo espontâneo” de mudança seria propositadamente, via mídia, vinculado à necessidade de mudança de um governo: o do PT. Mesmo tendo sido um movimento difuso e amplo, estudos revelam que as jornadas de junho e julho de 2013 foram capitaneadas, em boa medida, por setores da classe média que registram um histórico de golpes brancos no Brasil. Considerado uma das referências da literatura marginal de São Paulo, Ferréz afirma: “a periferia não desceu às ruas porque, se o fizesse, teríamos muitos milhões de cidadãos reivindicando”. É verdade que os moradores das periferias brasileiras continuam sofredores da violência histórica que segrega e mata os pobres. Mas outros indicadores sociais vêm apontar que “nunca antes na história deste país” a periferia esteve tão bem. Quem diria? Temos hoje uma taxa de desemprego menor que a da Alemanha. Os programas sociais, como o Bolsa Família, o maior do gênero no mundo, tiraram 36 milhões de brasileiros da miséria. Outros programas dão oportunidade de educação superior aos pobres. E para a desgraça dos limpinhos, que gostam de fazer compras em Miami e julgam estarmos no fim do mundo, os pobres até andam de avião. Mas qual é a mudança demandada pelo povo? Aquela saudosa de tempos em que o Estado estava a serviço dos “homens de bens”? Ou seriam mudanças que pedem o aumento da cobertura das políticas públicas e sociais, tendo em vista um país para todos? Parece que a maioria da população faz um cálculo simples e racional: se com o PT está ruim, antes era muito pior. Que se explodam aqueles que vivem falando em PIB. Será que a “bala de prata” tem poder de mudar essa situação? Deixemos outubro chegar.
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Metropolis
Duas forças, um objetivo Enquanto tucanos cortam secretarias e tentam manter aliados em Minas, PT anuncia recursos federais para o estado. Ambos desejam controlar a terceira economia do país Rodrigo Freitas
O ano eleitoral começou e, com ele, chegaram as tentativas e tratativas para o pleito de outubro. De um lado do balcão estão aqueles que detêm o poder e precisam se manter. Para isso, é necessário calcular com maestria os cargos a serem distribuídos a aliados para manter ampla aliança, o que influencia na manutenção do tempo de TV. Do outro lado estão aqueles que pretendem tomar para si as rédeas do poder. Para tanto, precisam colocar o pé na estrada e gastar sola de sapato pelos rincões do país para se mostrar como a melhor opção. Em Minas, a situação é exatamente essa. No clã do governador Antonio Anastasia (PSDB), o desafio é fechar uma equação das mais complicadas. O tucano precisa concluir a reforma do secretariado. Deve diminuir as pastas de 23 para 17. Assim ele
contempla as legendas aliadas e evita insatisfações e possíveis rebeliões. Em ano eleitoral, a engenharia envolvida nessa manobra não admite nenhuma margem de erro, senão ocorre a perda de aliados e a consequente redução do tempo de TV durante a campanha. Do lado petista da disputa, a ideia é turbinar a presença do ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior Fernando Pimentel (PT) no Interior do estado. A estratégia começou no ano passado. O pré-candidato ao governo de Minas desembarcou 29 vezes no estado, em 2013. Esse número foi superior às dez viagens feitas ao Rio de Janeiro e às 11 para a cidade de São Paulo. Em várias das visitas, a agenda cumprida por Pimentel nada tinha a ver com a pasta que ele comanda. Em
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Metropolis
Alair Vieira
Segundo Patrus Ananias, é preciso integrar ao estado e ampliar os projetos que marcaram o governo Lula e vêm tendo continuidade com Dilma
março, o ministro anunciou obras de R$ 400 milhões para o contorno ferroviário de Juiz de Fora. Em setembro foi a vez de participar da formatura de 2.634 alunos do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec). O fato é que a corrida eleitoral de 2014 em Minas será possivelmente a mais concorrida da história. Com Pimentel liderando as pesquisas de intenção de votos, os petistas se veem diante da primeira chance real de eleger um governador no estado. “Nunca tivemos um momento tão propício. Contamos com um bom candidato que está bem avaliado nas pesquisas. Temos um partido unificado e uma relação forte com o governo federal como nunca tivemos. E não temos um adversário consolidado até o momento”, afirma um petista próximo a Pimentel. No ninho tucano há uma consciência coletiva de que é preciso fazer bonito no estado, em 2014. Afinal, o candidato à presidência pelo PSDB vem de Minas: o senador e ex-governador Aécio Neves. É fundamental que o partido dele ganhe – e bem – no estado de origem do tucano para mostrar ao Brasil um modelo vencedor. Para isso, o senador escalou o ex-ministro das Comunicações e ex-prefeito de Belo Horizonte Pimenta da Veiga, 14 | www.voxobjetiva.com.br
que morava em Brasília havia dez anos e anda patinando nas pesquisas. Embora seja o nome de Aécio, Pimenta não é um candidato consensual. O presidente do PSDB em Minas, deputado federal Marcus Pestana, insiste em uma candidatura ao governo estadual. O parlamentar tem viajado sistematicamente pelo Interior do estado. Mas as rusgas internas são minimizadas pelo partido. “É bom que haja uma discussão interna na legenda. Elas nos fortalecem como partido. Chegaremos fortes até a eleição de 2014”, garante o deputado federal tucano Paulo Abi-Ackel. Justamente diante do foco nacional dos tucanos é que crescem as expectativas petistas. “Veja que o Aécio já levou o marqueteiro Paulo Vasconcelos. A Andréa Neves, irmã dele, também vai cuidar da comunicação do senador. O time A do Aécio vai estar com a campanha dele, não com a do Pimenta. Vamos trabalhar isso a nosso favor”, sugere um petista, interlocutor de primeira hora do ministro Pimentel. Uma das estratégias do marketing do PT é estabelecer vínculos entre as conquistas do governo federal e o que pode ser feito em Minas.
Metropolis
“Precisamos trazer para o estado – e realizar aqui – os feitos petistas no campo das políticas públicas sociais para consolidá-las e ampliá-las. Devemos integrar os projetos que marcaram o governo Lula e vêm tendo continuidade com Dilma”, afirma o ex-ministro do Desenvolvimento Social e de Combate à Fome Patrus Ananias (PT). Em 2010, Patrus chegou a disputar a indicação para a candidatura ao Palácio Tiradentes com Pimentel, mas acabou como candidato a vice de Hélio Costa (PMDB). Patrus vai tentar vaga na Câmara dos Deputados. Ele também aposta na unidade do partido e nas viagens pelo Interior. “O importante é construirmos um plano de governo com um projeto para Minas dentro de um projeto mais amplo de Brasil. Por isso, penso que as viagens sejam importantes. Elas são democráticas, pois nos permitem ouvir prefeitos e vereadores, lideranças locais e regionais, a juventude, os empresários e os educadores”, acredita. Paralelamente ao corpo a corpo, o PT aposta nas costuras políticas. Aproveitando a fase de consolidação da campanha de Pimenta da Veiga, os petistas querem se aproximar de algumas legendas aliadas ao governo Anastasia, mas que compõem a base da presidente Dilma Rousseff. O PDT será cortejado pelos petistas. O PT também pretende trazer o PMDB, que esperneia por uma candidatura do senador Clésio Andrade ao governo mineiro. A moeda de troca seria o posto de vice a Clésio e a vaga do Senado destinada aos peemedebistas. Outras legendas, como o PTB, o Pros e o PRB – que é dividido – também serão procuradas.
A nomeação do deputado federal Alexandre da Silveira (PSD) para a Secretaria de Estado de Saúde foi vista como um cortejo para firmar o casamento com a legenda. No plano estadual, o PSD é aliado de Anastasia, mas nacionalmente a legenda vai apoiar um segundo mandato de Dilma. Silveira, no entanto, deve ficar à frente da pasta apenas alguns meses. É possível que ele tente a reeleição para a Câmara ou seja suplente de Anastasia, que vai concorrer ao Senado e é tido como candidato imbatível. Mas negociação política não cartesiana nunca é garantia de agrados e afagos a gregos e a troianos. O próprio Anastasia não é muito afeito a esse tipo de situação. “Nunca vi o governador fazer uma reunião com todos os partidos. Ele não tem paciência, e essas reuniões são engraçadas. É uma ciumeira só. Nesses encontros aparecem demandas que nunca existiram. O que o governador faz é combinar com um por um e só anunciar quando estiver tudo certo”, revela um colaborador próximo a Anastasia. O PDT é umas das legendas que ensaiam insatisfação com a reforma do secretariado. O deputado Zé Silva, que foi da pasta do Trabalho para a Agricultura, gerou certo mal-estar na legenda. Ele havia Wilson Dias/ABr
Para completar o pacote do PT, 2014 será o ano de turbinar anúncios de investimentos no estado. Os petistas querem iniciar a duplicação da BR-381 – a ‘rodovia da morte’ – e pretendem ver o metrô da capital mineira avançar. No entendimento deles, o lucro eleitoral seria apenas uma consequência. Para demarcar território, Dilma esteve na capital no dia 17 de janeiro para falar de investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento 2 (PAC 2). A presidente anunciou a liberação de R$ 2 bilhões para as linhas 2 e 3 do metrô, além de intervenções no Boulevard Arrudas, no Complexo da Lagoinha e nas vias 210 e 710. Manter e avançar Ao governador Anastasia compete articular politicamente o secretariado para não perder aliados.
Dilma anuncia mais verbas para o estado a fim de abrir caminho para que Pimentel possa romper com a hegemonia tucana em Minas | 15
Reprodução
William Dias
William Dias
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“O deslocamento do Zé Silva para a Agricultura não está na cota pedetista, nem atende aos nossos interesses”
“É bom que haja uma discussão interna na legenda”
“Vejo com naturalidade essas saídas e chegadas. Não deixamos de ser leais por uma ou outra substituição”
Carlos Pimenta
Paulo Abi-Ackel
Sebastião Costa
assumido como indicação do PDT, mas recentemente filiou-se ao Solidariedade, criado em setembro passado. Com isso, os pedetistas andam com a pulga atrás da orelha com o governo do estado. “Houve um acidente de percurso porque o Zé Silva assumiu por indicação do partido. Ele era do PDT. Esse deslocamento dele para a Agricultura não está na cota pedetista nem atende aos nossos interesses. Mas foi uma questão do governador com o partido que foi criado. Solicitei a Anastasia que avaliasse nossos deputados estaduais. A legenda precisa de espaço. É um ano eleitoral”, confessa o deputado Carlos Pimenta, que ocupou a Secretaria do Trabalho no governo Anastasia. Pimenta nega, mas, nos bastidores, sua legenda cogita a hipótese de migrar para o lado de Pimentel. Por outro lado, partidos como o PPS garantem fidelidade a Anastasia, mesmo que ocorra a redução de espaço. A legenda perdeu recentemente a Secretaria de Saúde, uma vez que o ex-secretário Antônio Jorge vai disputar uma vaga na Assem-
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bleia Legislativa. “Vejo com naturalidade essas saídas e chegadas. Muitos colegas estão se preparando para ser candidatos. Pode não ser uma troca desejada, mas é necessária. Não deixamos de ser leais por uma ou outra substituição. O governo soube reconhecer a importância do partido na Saúde. Naturalmente ele pode continuar reconhecendo a legenda em outros espaços”, acredita o deputado Sebastião Costa (PPS). O fato é que Anastasia tem um abacaxi nas mãos. Precisa reduzir as secretarias para economizar R$ 1 bilhão para os cofres públicos. Paralelamente ele precisa acalmar os ânimos dos aliados e tomar cuidado com as investidas do PT. Unificado, o partido de Dilma quer competir de igual para igual. Talvez a tarefa fosse mais fácil, caso Anastasia tivesse novamente uma presença forte de Aécio em Minas. O problema é que o senador tem um abacaxi ainda maior nas mãos: consolidar sua candidatura à presidência diante de Dilma e do governador Eduardo Campos, que será candidato pelo PSB. Anastasia terá de testar o animal político que existe dentro de si.
Metropolis
As secretarias de Anastasia Fusões de órgãos e secretarias são o primeiro passo para reduzir em R$ 1 bilhão a folha do estado. Efeitos do corte podem ser danosos às pretensões tucanas para o Governo de Minas em 2014 e tendem a aproximar alguns aliados tucanos da candidatura de Pimentel
Desenv. Regional, Política Urbana e Gestão Metropolitana
Absorveu atribuições das Secretarias Extraordinárias de Gestão Metropolitana e de Regularização Fundiária e o Instituto de Terras do estado, no que tange à regularização urbana
Fusão entre Secretaria de Trabalho e Emprego e Secretaria de Desenvolvimento Social
Desenv. Regional, Política Urbana e Gestão Metropolitana
Responsável pelas competências finalísticas da Ademg e da Secopa, que foram extintas
Absorveu a Secretaria Extraordinária de Regularização Fundiária e o Instituto de Terras de Minas Gerais no que tange à regularização fundiária rural
Agricultura, Pecuária e Abastecimento
A área de Juventude, antes vinculada à antiga Secretaria de Estado de Esportes, passou a integrar a Secretaria de Estado de Governo Turismo e Esportes
Governo Fonte: Governo de Minas Gerais
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Marcelo Casal Jr/ABr
Um longo caminho Investimento no professor e em infraestrutura são alguns desafios da educação brasileira, que gasta somente metade do que deveria na formação de cada aluno Lucas Alvarenga Imagine a cena: algumas escolas de educação primária e, à frente delas, filhas de coronéis, jovens que não precisavam de grandes salários para prestar o nobre ofício de ensinar. Assim surgia o embrião da rede pública de ensino no país. Esse modelo foi criado durante o Segundo Reinado por Dom Pedro II e reflete um dos principais desafios da educação brasileira no século 21: a valorização do professor. Atualmente apenas Acre, Ceará, Pernambuco e Tocantins, mais o Distrito Federal, cumprem integralmente o pagamento do piso nacional de R$ 1.567,00. Em Minas Gerais, o governo não cumpre a jornada extraclasse e aplica a proporcionalidade ao valor do piso, pagando R$ 1.178,10 para nível médio e R$ 1.386,00 para licenciatura plena, por 24 horas semanais. “Para avançar18 | www.voxobjetiva.com.br
mos na gestão e na qualidade da educação e termos profissionais mais capazes de atuar no mercado, é preciso melhorar as condições de trabalho e a atratividade da carreira de professor. A categoria representa 2 milhões de profissionais no país”, opina Daniel Cara, coordenador-geral da Campanha Nacional Pelo Direito à Educação No âmbito federal, ações como o Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica pretendem formar 70 mil docentes até 2014. Mas a escassez de material adequado ao currículo-base, a necessidade de trabalhar em dois ou três turnos e o baixo reconhecimento continuam a assolar os docentes. Professor de história e especialista em Docência Superior, Marcelo Sampaio leciona desde 1984. Na lembrança, o educador guarda a imagem de uma das
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escolas públicas em que trabalhou na área central de Belo Horizonte. “Por lá faltava giz, carteira, água. Não era algo que buscávamos em outra sala. É que não tinha mesmo”, lamenta. Mesmo com o incremento do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), o professor continua desvalorizado. Com o aluno não é diferente. O Brasil investe US$ 26.765 (R$ 61.559) por aluno entre 6 e 15 anos. Mas o recomendado pela Organização para a Cooperação de Desenvolvimento Econômico (OCDE) é de, no mínimo, US$ 50 mil (R$ 115 mil) por aluno. Pegando o ensino médio como exemplo, vê-se a diferença: enquanto o Brasil investe US$ 2.148 por aluno na mesma faixa etária, os demais países da OCDE aplicam US$ 9.543. Em 2010, o Brasil empenhou 18,12% do investimento público na educação. O percentual superou o de países como Coreia do Sul, Suíça e Dinamarca. Mesmo assim, o Brasil destina poucos recursos em relação ao Produto Interno Bruto (PIB). Uma das justificativas para o investimento insuficiente é o excesso de contingente: são 50 milhões de estudantes para receber o investimento de 5,6% do PIB. Os países da OCDE investem 6,3%. Segundo Luiz Cláudio Costa, presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), ao assegurar 75% dos royalties do Pré-sal para a educação, o governo federal reafirma o compromisso do país com o setor. “Em 30 anos, serão injetados na educação R$ 368 bilhões”, projeta Costa.
Apesar disso, Priscila admite avanços estruturais na educação durante as gestões de Fernando Henrique Cardoso (FHC), Lula e Dilma Rousseff. Para a executiva do Movimento Todos Pela Educação, a participação de Paulo Renato, ex-ministro de FHC, foi decisiva para que se criasse um alicerce ao inserir as crianças na escola, formatar um sistema de avaliação e distribuir livros didáticos. Essa base foi aproveitada por Fernando Haddad, principal ministro petista. A medida melhorou a verificação da aprendizagem ao instaurar a Prova Brasil e ampliar o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) e o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). A experiência diante do ensino médio e dos pré-vestibulares faz Sampaio questionar os sistemas de avaliação no país. “O Enem, por exemplo, está sendo banalizado. A prova é um teste de resistência, não de saber. Antes os vestibulares das federais ditavam o ritmo e forçavam uma tomada de conhecimento por parte do aluno”, argumenta o docente, ao fazer referência às 180 questões divididas em dois dias de prova do Enem. Para o historiador e parte do alunato, o interesse dos pais em manter o filho em uma escola privada pode cair em virtude de políticas como as cotas no ensino superior para alunos vindos das escolas públicas. Inclusão pelo ensino Para Costa, as políticas inclusivas em curso são fundamentais para corrigir um atraso histórico na educação. Fábio Rodrigues Pozzebom/ABr
Daniel Cara defende que o Brasil invista no setor 10% em relação ao PIB, número que leva em conta o custo do aluno por ano e a expansão do acesso à educação. Somente na faixa etária entre 7 e 14 anos, o Brasil tem mais de 3,7 milhões de crianças e adolescentes fora da escola. Para Priscila Cruz, diretora executiva do Movimento Todos Pela Educação, o índice é relativo. “Pode ser 10%, 9% ou 11% do PIB. Durante a caminhada é que faremos os cálculos e veremos o quanto será necessário. Mas é preciso romper a inércia e aumentar o investimento por aluno”, ressalta. A educação de tempo integral é um dos principais mecanismos para a melhoria da qualidade do ensino. Esse é um entendimento de alguns especialistas. Mas a oferta dessa modalidade de ensino ainda é baixa no país, de acordo com Cara e Priscila. Dados do Inep apurados em julho passado mostram que 49,3 mil escolas públicas do país oferecem educação em tempo integral e que 32 mil reúnem alunos do programa ‘Bolsa Família’. A meta é atingir 60 mil até o final do ano.
Para Luiz Cláudio Costa, presidente do Inep, as políticas inclusivas são necessárias para sanar o atraso histórico da educação | 19
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“Essas medidas precisam ser mantidas e ampliadas para garantir igualdade de oportunidades educacionais”. Atualmente, 9% dos negros, 9,6% dos indígenas e 11,1% dos pardos estão cursando ou concluíram o ensino superior na faixa etária de 18 a 24 anos. Entre pessoas de 65 anos ou mais, os números caem para 1% dos negros, 1% dos indígenas e 2,4% dos pardos. A educação foi o índice que mais avançou no país entre 1991 e 2010, como mostram dados do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) divulgados pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). O setor avançou 128,3% no período. Além disso, o número de crianças de 5 a 6 anos na escola aumentou de 37,3% para 91,1%. O número de pré-adolescentes da faixa entre 11 e 13 anos frequentando os anos finais do ensino fundamental cresceu de 36,8% para 84,9% no mesmo período. Mauricio Garcia de Souza
Daniel Cara defende o percentual de 10% do PIB aplicado na educação
A taxa de jovens com o ensino fundamental completo quase triplicou em duas décadas. O Brasil é o país-membro da OCDE que mais avança no aprendizado de matemática, como indica o relatório divulgado pela organização. Entre 2003 e 2012, o desempenho passou de 356 pontos para 391. Enquanto isso, o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa em inglês) apontou o Brasil como o segundo país que mais incluiu estudantes de 15 anos: cerca de 425 mil alunos. O mesmo relatório apresentou uma redução de 51,1% para 31,1% na taxa de repetência e na distorção da idade em relação à série cursada. Déficit na formação Mas se os números jogam a favor da educação brasileira, o que falta para o país atingir outro estágio? Na opinião de Daniel Cara, a sociedade brasileira precisa decidir que 20 | www.voxobjetiva.com.br
tipo de jovem ela deseja formar. “Se deseja formar pessoas para trabalhos com pouca qualificação, o Brasil ainda assim está distante, mas não tanto do que é necessário. Agora, se a intenção é formar pessoas com capacidade de liderar o país em todas as áreas que o Brasil necessita, o quadro é dramático”, salienta o especialista. Sampaio acredita que boa parte da mão de obra do país se enquadre no que o docente denomina como “analfabetos com canudo na mão”. “É alguém que propôs a se capacitar para uma profissão, mas não sabe como agir”. Para o professor de história, as instituições de ensino se tornaram desinteressantes e sem efetividade para o aluno. “Precisamos de uma jornada para restituir o respeito pela escola”, sugere. O desinteresse e os problemas na formação de crianças e jovens se devem também à estrutura curricular. A ausência de uma base comum ao país – que respeite as regionalidades – é um problema ainda não enfrentado. Na opinião de Cara, isso deve ser construído coletivamente. Uma das sugestões para o tema parte de Priscila. Para ela, a estrutura de ensino, principalmente do nível médio, precisa ser alterada. É preciso reduzir o número de disciplinas – que podem chegam a 20 – para possibilitar uma nova formatação. “Podemos diversificar o ensino médio por áreas, como as ciências humanas e exatas, ou ter uma grade de disciplinas obrigatórias e eletivas. Do jeito que está, o aluno aprende quase nada de uma série de coisas”, alfineta. Pensando no fato de os estudantes aprenderem conhecimentos isolados e, muitas vezes, distantes da própria realidade, Sampaio e outros professores criaram o Projeto Argumentum em 2007. A tentativa de se antecipar às mudanças do Enem provou ser um bem articulado projeto interdisciplinar. A iniciativa promoveu a autonomia de estudo e costurou temas na história, geografia, sociologia e filosofia. “Nossa ideia era promover no aluno o poder de síntese e de crítica, conectar o presente com o passado e aguçar o interesse pelo estudo. Afinal, o professor não ensina só a matéria; ele ensina pelo exemplo”, explica Sampaio. Durante o primeiro ano de implantação do projeto, a escola saiu do grupo de 50 melhores instituições de ensino de Belo Horizonte para ficar entre as 20 primeiras. “Queríamos ouvir o aluno e os colegas. O objetivo não era fazer da nossa disciplina um feudo. De que adianta falar da Revolta da Vacina sem entrar na Biologia?”, questiona Sampaio. O projeto continua na Escola Alternativa, mas agora sem os idealizadores. Enquanto isso, o professor de história e seus parceiros seguem com o ideal de uma educação mais dialogal e próxima da realidade do aluno, mesmo que isso ainda represente um cenário distante, embora factível.
Desafios para a educação
Especialistas propõem algumas iniciativas para colocar a educação do Brasil nos trilhos
Adotar um currículo nacional para a educação, respeitando as regionalidades Elevar a proporção do PIB aplicado à educação para que o investimento brasileiro por aluno atinja o nível dos demais países da OCDE Garantir acesso à escola a 100% de crianças e adolescentes até 2022 Investir na formação, na carreira e no ambiente de trabalho dos professores Inserir a interdisciplinaridade no dia a dia dos alunos para estabelecer relações entre os conteúdos e aproximar o estudo da realidade do aluno Melhorar os mecanismos de controle à corrupção na área da educação Fazer com que o piso nacional para profissionais da educação seja cumprido em todo o país Promover reuniões locais entre educadores para a troca de experiências Proporcionar uma oferta massificada de educação de tempo integral
Reconfigurar a grade do ensino médio para oferecer disciplinas obrigatórias e eletivas Tratar a matéria ‘educação’ como política de Estado e prioridade para a saúde
Fontes: Daniel Cara, Marcelo Sampaio e Priscila Cruz
Fontes: Daniel Cara, Marcelo Sampaio e Priscila Cruz | 21
Artigo
Imobiliário
Imóvel com vários donos? Evite problemas
Kênio Pereira Presidente da Comissão de Direito Imobiliário da OAB-MG keniopereira@caixaimobiliaria.com.br
“Qualquer imóvel pode ser partilhado. Basta apenas um dos coproprietários exigir a venda
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Quando duas ou mais pessoas são proprietárias de um bem móvel ou imóvel – carro, terreno, casa ou apartamento –, surge o condomínio geral ou voluntário. Nessa figura jurídica, os donos são considerados coproprietários. Eles são donos de uma ‘parte’ do bem, mas não se consegue identificar essa cota-parte. No caso de residências e lotes, esse tipo de condomínio difere do condomínio em edifícios porque é impossível identificar a cota-parte de cada coproprietário. Todos são donos de uma ‘parte’ do imóvel inteiro. Já no condomínio edilício, cada coproprietário é dono de uma unidade autônoma, como apartamento ou loja, distinta e definida em relação às demais. No condomínio voluntário, o condômino é obrigado a contribuir para saldar as despesas de conservação ou divisão da coisa com um valor proporcional à sua cota-parte. Também é dever do condômino suportar os ônus a que estiver sujeito, mas ele tem o direito de requerer a divisão da coisa comum em qualquer tempo. Sabemos que é difícil obter opinião unânime quanto a o que fazer com um imóvel. Um deseja morar, outro alugar, outro reformar ou emprestar para um parente. Assim, quanto maior o número de proprietários de um imóvel, maior a possibilidade de conflito. A situação se complica quando falece alguém e surgem herdeiros, aumentando o número de proprietários. Há casas que se deterioram e perdem a condição de habitabilidade porque parte dos coproprietários se nega a arcar com as despesas de reforma, já que não usufruem do imóvel. Se um imóvel pertence a quatro pessoas, por exemplo, todas têm o mesmo direito de uso e de receber cada uma 25% do valor do aluguel. Nenhum desses quatro coproprietários pode agir de forma a prejudicar os outros três. Exigir que o imóvel permaneça fechado é abusivo e gera despesas com IPTU, água, condomínio e luz. Da mesma forma, se apenas um desses coproprietários ocupa o imóvel, cabe a ele pagar 25% do valor do aluguel de mercado para cada um dos outros três proprietários. Qualquer imóvel pode ser partilhado. Basta apenas um dos coproprietários exigir a venda. Os outros vão ser obrigados a vendê-lo, mesmo contra a vontade. Afinal, ninguém é obrigado a manter um imóvel em condomínio nem a manter uma sociedade em um bem indivisível fisicamente. Uma das partes pode requerer a venda para repartir os recursos. A preferência da compra é do coproprietário, mas se nenhum deles se interessar, um terceiro pode comprá-lo. Se os donos não chegarem a um acordo, pode ser proposta a Ação de Dissolução de Condomínio. Por meio desse ato, o juiz vai determinar a venda. O imóvel pode ser levado a leilão para dirimir os conflitos que não deveriam gerar aborrecimento nem prejuízo.
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, a s n o r c i e d m o â n m i a d i s m e o r a n l o u c l e e C
Inovações nos aparelhos de telefonia móvel dinamizam o mercado e transformam gradualmente as relações de consumo em todo o país Thalvanes Guimarães
Na rua, no trabalho, em casa, no bar ou até na balada. Os usuários de smartphones não conseguem se desgrudar dos aparelhos. Se até há pouco tempo as funções dos celulares se resumiam ao envio de mensagens e à realização de chamadas, hoje o campo de possibilidades não para de se expandir, assim como o apego de quem tem esses aparelhos. Com um smartphone, o indivíduo adquire capacidades que extrapolam a comunicação. Com um clique, ele pode tanto mandar uma mensagem de voz para um grupo de colegas de trabalho quanto pedir um táxi por meio de um aplicativo. É possível até deixar as filas de lado e fazer transações bancárias pelo aparelho. Em novembro passado foi aprovada uma resolução federal que regulamenta o sistema de pagamen-
to de contas pelos celulares e tablets. Mesmo antes da lei, usuários podiam usar aplicativos de bancos para fazer diversas operações, buscando comodidade. Com a regulamentação, a expectativa é de que 39% da população brasileira fora do sistema bancário possa ser beneficiada com o serviço. Essa é mais uma mostra do poder dos celulares modernos de dinamizar a economia. Um reflexo da mudança de hábito vivida nos últimos anos é a diminuição do uso de cheques. Se em novembro de 2002 foram registrados mais de 12 milhões de operações com cheques, no mesmo mês do ano passado, o número não chegou a 4 milhões, de acordo com dados do Banco Central. “Os consumidores buscam praticidade. A tendência é que, quanto mais eles assimilem as inovações tecnológicas, mais naturais se
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Não é à toa que a comercialização desses aparelhos vem batendo recordes. Dados da consultoria International Data Corporation (IDC) apontam para um crescimento de 147% de vendas de smartphones no terceiro trimestre de 2013 em relação ao mesmo período de 2012. Foram mais de 23 milhões de unidades negociadas. Enquanto isso, a procura por telefones móveis comuns caiu 33%. Com esse fenômeno, cresce o número de acessos a serviços 3G e 4G no país: 96,4 milhões. Os dados foram apurados em novembro passado pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). A maioria desses acessos provém de celulares. Com tamanha abrangência, as empresas começam a desfrutar desse mercado para aumentar os lucros. Algumas utilizam a tecnologia para otimizar processos. Outras focam exclusivamente na promoção da marca e na interação com o público. É o caso da cervejaria Carlsberg, que encomendou para uma de suas empresas, a Skol, um aplicativo em forma de rádio. Dentre oito estações, o app permite ao usuário escolher a programação que desce redondo, numa tentativa de reforço da identidade da empresa.
o tempo escasso com o uso do aparelho. “Resolvo uma série de situações por meio do smartphone. Consigo fazer transferências bancárias, pagamentos, efetuar recargas, consultar o saldo da conta e até estudar. Quando faço compras pelo celular e cadastro para receber o boleto no e-mail, baixo o arquivo, o aparelho reconhece o código de barras e faço o pagamento”, esmiúça. As vendas pela internet também têm apresentado crescimento. Cada vez mais confiante nos sistemas de pagamentos virtuais, a sociedade começa a apostar na comodidade oferecida pelas lojas on-line. Cerca de 90 milhões de transações de crédito foram efetuadas via internet no quarto trimestre de 2012, como mostra um levantamento recente feito pelo Banco Central. Esse é um importante indicador para a gradual mudança na forma como o brasileiro lida com o dinheiro no país. Entretanto, o receio de alguns em relação ao uso de aparelhos móveis para efetuar transações financeiras prevalece. Como afirmam os próprios desenvolvedores de aplicativos, a tendência é que esses Isabella Lucas/UFMG
tornem as transações bancárias fora do espaço físico das agências”, projeta Iracy Pimenta, economista da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH).
“Em 2013, a rádio teve 30 milhões de acessos. A cervejaria apostou na mobilidade e entendeu que deve estar em todas as partes. Hoje a empresa certamente colhe os frutos disso”, afirma Rodrigo James, desenvolvedor de conteúdo de aplicativos do Grupo Mobi, empresa responsável pelo projeto. No mercado dos “celulares espertos”, a novidade é uma condição permanente. Por isso, as pequenas e médias empresas, em um futuro próximo, devem recorrer ao setor para impulsionar os negócios. Afinal, aliar a marca à promoção de qualidade de vida gera valor à imagem. “A missão é causar impacto no dia a dia das pessoas. Vai desde ajudar o usuário a se manter em forma até envolvê-lo com entretenimento,” explica James. Um novo horizonte Há algum tempo, os aficionados por tecnologia estão desfrutando das facilidades dos smartphones. O estudante de Engenharia da Computação Saulo Henrique, que também é síndico do prédio onde vive, administra 24 | www.voxobjetiva.com.br
Professor de economia pelo Ibmec-MG, Felipe Leroy acredita que as transações econômicas pelos celulares representem 5% do PIB do país
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usuários desconfiados comecem a se acostumar com a realidade e passem a usufruir desses serviços. Alguns sites já contam com plataformas para vendas pelos celulares. Mas, no geral, ainda há limitações no sistema, como falhas de cobertura para internet móvel e dificuldades de tráfego de dados. Mas, mesmo sendo intangível, pode-se mensurar a relevância do setor, como explica o professor de Economia do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais em Minas Gerais (Ibmec-MG), Felipe Leroy. “Tentando medir o impacto dessa indústria de movimentação financeira pelos smartphones em todas as suas faces, é possível estimar que o novo meio responda por 5% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional”, quantifica o docente. Para o economista do Ibmec-MG, o facebook, acessado em grande medida via celular, ilustra o quanto a ferramenta é poderosa ao conectar 60 milhões de pessoas somente no Brasil. Rompendo barreiras
Jovens startups, como a Iosays, desenvolvem aplicativos para dinamizar as relações entre pessoas e entre usuários e empresas. O ‘Passa Régua’ é um exemplo desses softwares.
O poder do mercado de celulares no Brasil também pode ser verificado pela forma como a tecnologia auxilia usuários de formas inesperadas. A dentista Natasha Rocha utiliza um aplicativo que funciona como um Dicionário de Especialidades Farmacêuticas (DEF) para ler bulas de remédio na hora de diagnosticar pacientes. “Não preciso mais andar com o livro de lá pra cá. Com o app, posso relembrar as funções e contraindicações de cada medicamento que preciso usar durante a consulta”, esclarece. Contando a forma como surgem e são criados aplicativos antes impensáveis, Rodrigo James revela uma ideia inusitada que teve um dia antes da entrevista. “Estávamos imaginando uma proposta complexa, mas plenamente possível para um shopping center: entrar no estacionamento, abrir a cancela e pagar pelo serviço tudo com o uso de um smartphone”. Mas nem só de ideias mirabolantes surgem os projetos. A startup mineira Iosays se aventurou no universo dos aplicativos por meio do ‘Passa Régua’, um programa para
ajudar os amigos a dividirem a conta. Em poucos toques, é possível ratear o valor total, inserir valores extras, taxas de serviço e até repartir os gastos de maneira justa para quem consome menos. Por ser uma companhia recente, por enquanto a Iosays foca a clientela em empresas de médio e pequeno porte que veem na área uma promissora oportunidade de negócios. De acordo com o sócio-diretor da startup, Gilson Júnior, a procura do mercado mineiro por novidades no segmento é intensa. “Toda empresa deseja estar nesse meio e ampliar as formas de divulgar o produto. Daqui a pouco, ter um aplicativo será tão essencial como ter um site”. Em um futuro próximo, para que os aplicativos continuem se popularizando, vai ser necessário um incremento de profissionais capacitados para desenvolver esses programas. “Além da imensa capacidade de geração de emprego e renda, o aumento do setor pode trazer mais bem-estar para a sociedade, facilitando, sobretudo, a vida de quem mora fora dos grandes centros”, observa Leroy. | 25
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CrossFit é alternativa para quem não se adapta às academias tradicionais. Mas qualidade de vida e um corpo perfeito continuam pressupondo uma rotina de treinos desgastante Texto e fotos de André Martins Flexões, saltos, levantamento de peso, atividades com argolas e em barras fixas, corrida, agachamento, suspensão, lançamento de objetos,... No CrossFit, esporte baseado em variados exercícios e atividades funcionais, quase não dá tempo de respirar. Intensidade é a palavra-chave. O princípio básico do esporte é a execução de movimentos e tarefas em alta velocidade e no menor tempo possível. Como os intervalos das séries quase inexistem, ao fim dos treinos, é natural que o cansaço leve todos a nocaute. Resultado: respiração ofegante, roupas encharcadas de suor e completa exaustão refletida nas expressões faciais de dor.
Essa metodologia do fitness surgiu nos Estados Unidos, por volta do ano de 1995. O criador do CrossFit, o treiAlonga, exercita e não para: essa é a rotina de um adepto do CrossFit
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O CrossFit leva o praticante a conhecer os limites do próprio corpo. Pode parecer um verdadeiro tormento executar séries tão puxadas em poucos minutos. Mas os resultados e os benefícios conseguidos por meio desse original esporte de difícil definição fazem com que os praticantes se refiram a ele de maneira entusiasmada. “A maioria das pessoas com as quais converso acham que o CrossFit é coisa de doido. Elas pensam se tratar de algo exagerado. Creio que seja pela forma como eu falo: acabo me empolgando”, conta a engenheira e praticante, Amanda Mota.
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nador americano Greg Glassman, elaborou um treinamento diferenciado, que se baseava em movimentos que pudessem tornar os praticantes aptos a executar tarefas cotidianas básicas com maior precisão e força. A iniciativa deu certo, a ponto de chamar a atenção do governo norte-americano. A partir de 2000, o método passou a ser empregado no treinamento de fuzileiros e virou febre no país. Hoje os Estados Unidos contam com mais de 3 mil academias. No Brasil, o esporte ainda ‘engatinha’. Introduzido a partir de 2009, o CrossFit continua sendo uma aposta por aqui. São cem locais destinados à prática da modalidade, sendo apenas seis em Belo Horizonte. Apesar de serem poucos, os locais que oferecem o CrossFit e funcionam na capital mineira têm investido alto para atrair cada vez mais adeptos. Os administradores da academia onde o grupo CrossFit Guerreiros treina, localizada no bairro Nova Floresta, abriram mão de uma das duas quadras de tênis do local para ampliar em 20 vezes a área destinada aos treinos de CrossFit. Com 50 alunos das mais diferentes faixas etárias, o head coach do grupo, Jorge Ângelo Lavalli Goston, espera atender a um público de 200 pessoas até o fim do primeiro semestre de 2014. No bairro Funcionários, o grupo CrossFit-BH, o segundo do país a se filiar à franquia norte-americana no Brasil, dedica-se exclusivamente à metodologia criada por Glassman. Entre as mais tradicionais da cidade, a academia CrossFit-BH conta com cerca de 380 alunos. O sucesso é atribuído aos diferenciais do esporte e à propaganda boca a boca. “As pessoas conhecem, praticam e indicam aos amigos. Penso que o CrossFit seja mais que um esporte. É fazer parte de uma comunidade mundial; é um estilo de vida”, acredita Luiz Mello, coordenador técnico da academia. A publicidade gratuita e a curiosidade ajudam a propagar o esporte. Goston conta que a maioria das pessoas procura o CrossFit sem fazer a menor ideia do que seja. Ao entrar em contato com o esporte, elas percebem que a atividade é diferente de tudo que envolve o universo da academia e dos treinos de musculação convencionais. “A muitas pessoas não parece interessante a rotina das academias. Aquilo de ter uma ficha de musculação e todos os dias fazer as mesmas coisas... Elas veem isso como uma obrigação. O CrossFit é uma alternativa; uma fuga disso”, revela. Amanda ilustra bem a situação. Embora tenha vivência com alguns esportes e com danças desde o fim da
adolescência, ela nunca foi adepta da maçante rotina dos treinos em academias. A variedade de exercícios e a ludicidade do CrossFit fizeram a cabeça dela desde o primeiro contato com o esporte, há dois anos e meio. A prática era novidade no Brasil. Aos 52 anos de idade, e em plena forma física, a engenheira acredita que o CrossFit seja a atividade que mais se enquadre no perfil dela. Há alguns anos, Amanda deixou as aulas de spinning para se dedicar exclusivamente ao CrossFit. Segundo ela, o esporte é suficiente para queimar a energia acumulada e impor desafios constantes. “Além da resistência muscular e da possibilidade de executar movimentos simples do dia a dia que não fazia, indiretamente a gente ganha autoconfiança. Você se sente incentivada quando atinge objetivos e percebe que consegue realizar algo que pensava não ser capaz”, opina. Resultados com esforço Os benefícios físicos proporcionados pelo esporte agradam a um público vasto. Satisfaz tanto quem pretende manter a forma física quanto aqueles que vislumbram a perda de gorduras ou o ganho de massa muscular. Goston esclarece que a intensidade impressa nos movimentos leva à ativação neural do indivíduo e à produção acentuada de hormônios. “É uma bomba natural que vai fazer do corpo um ambiente totalmente satisfatório para a construção celular, ou seja, ganho de
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Embora o Brasil tenha cem espaços habilitados a oferecer a metodologia do CrossFit, apenas seis estão localizados em Belo Horizonte
massa muscular. Metabolismo alto corresponde a gasto calórico alto. Isso gera perda de gordura corporal e aumento dos músculos”. São dez as capacidades desenvolvidas por meio do CrossFit: resistência de força, resistência cardiovascular e respiratória, força, velocidade, potência, coordenação, agilidade, equilíbrio e precisão. As aulas acontecem em clima de descontração e são divididas em três momentos: aquecimento, parte técnica e o workout of the day - um desafio que varia de aula para aula. Na segunda parte, os alunos aprendem técnicas e a correta execução de movimentos. Na terceira e principal etapa dos treinos, os praticantes devem concluir séries propostas pelo instrutor no menor tempo possível, cada um respeitando os próprios limites. Embora tempo e velocidade sejam variáveis centrais no CrossFit, o mais importante é que o aluno consiga completar a tarefa do dia com segurança acima de tudo. A intensidade do treino e a imposição de desafios particulares podem, no entanto, fazer com que o aluno menos experiente e recém-introduzido na filosofia do esporte faça mais do que pode suportar. Nesses casos, as chances de lesão são grandes. Mello salienta que os alunos são orientados a fazer o treinamento dentro da própria percepção de esforço. “Cada um tem um ritmo e deve controlar a própria pausa. O importante é completar o desafio sem exagerar”. 28 | www.voxobjetiva.com.br
Embora as aulas reúnam alunos de diferentes biotipos, Goston lembra que o planejamento e os objetivos são individualizados. “Consideramos todos os alunos iguais. Todos podem chegar ao mesmo nível. Para evoluir, é preciso subir degraus, mas respeitando os limites. Não posso pedir para quem está começando agora fazer cem flexões de braço, quando a pessoa não consegue fazer nem dez. Essa pessoa iria se machucar”, pondera. Ter orientação adequada é um ponto que merece atenção. Especialistas alertam para o ‘tipo CrossFit’, que tem ganhado espaço em um cenário de descobertas por parte daqueles que até então não tinham ouvido falar sobre o esporte. “Para quem deseja praticar, o primeiro passo é procurar por uma academia afiliada no site crossfit. com. Além disso, deve buscar por academias afiliadas que tenham treinadores competentes. Com o aumento da popularidade do CrossFit, vai ser muito comum surgirem ‘aventureiros’ mais interessados em lucros do que na excelência do treinamento. Esse fator é essencial para que o praticante tenha os resultados esperados com saúde e segurança”, ressalta Mello. Para dar aulas de CrossFit, é preciso que o indivíduo preencha alguns pré-requisitos, como ser formado em educação física, passar por uma qualificação e fazer uma prova aplicada pelo grupo detentor dos direitos da franquia CrossFit. A academia que oferece o serviço necessariamente deve estar credenciada à matriz americana e arcar com um valor anual para a manutenção dos direitos.
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Psicologia
A mudança “nossa” de cada dia
O que realmente importa em cada ciclo da nossa vida muda de geração para geração, de cultura para cultura e de pessoa para pessoa. Mas o que importa saber é como formamos os componentes que ajudam nos processos de mudanças. Por que mudar é algo tão complicado para tantas pessoas? Por que para algumas é tão fácil tomar certos caminhos e para outras esse objetivo parece ser tão distante e impossível? O tempo em que vivemos faz com que cada vez mais as pessoas estejam pressionadas a ser perfeitas e imaculadas naquilo que executam, quase que como se esquecessem de que somos humanos e cometemos erros. Essa exigência feroz que presenciamos do “mundo perfeito” produz um medo massificado e faz com que as pessoas cristalizem sua ousadia, criatividade e vontade para sair de certas zonas de conforto nocivas. As consequências disso são sintomas, como frustração, ansiedade elevada, acomodação e angústia pelo medo de errar. Muitas vezes, assumir posturas que promovam mudanças nos famosos “nós cegos” não são somente necessárias, mas cruciais para que uma pessoa se sinta realmente bem em diversas áreas, sobretudo do ponto de vista emocional. Entender os registros de vida de uma pessoa, sua formação familiar e seu temperamento clareia pontos paralisados pelo medo intenso de prosseguir. Cada pessoa apresenta registros latentes desde a infância que interferem nesse processo. Portanto, em vez de julgar a superficialidade, seria interessante buscarmos compreender a profundidade de cada um. Temos sintomas que nos paralisam e geram medo, a não ser que exista uma patologia mental grave que anule essas conexões. Mas, dentro de uma normalidade, encontraremos pessoas mais aptas e com coragem suficiente para vencer certos desafios e outras com menos aptidão e mais apatia. Seria também pertinente observar os sonhos. Uma pessoa que sonha acaba construindo projetos mais realistas e coerentes com sua existência, diferentemente das pessoas fantasiosas que vivem a construir ideações e utopias. Essas pessoas sofrem muito porque não realizam. Elas apenas se prendem a um mecanismo que gera prazer momentâneo e sem sustentação. Componentes para produzir mudanças estão presentes na libertação do perfeccionismo, do controle dos registros internos que, quando trabalhados mentalmente, produzem grandes avanços. Esses componentes também estão nas construções chamadas “pés no chão”. Nessas construções, os sonhos prevalecem sobre as fantasias. Neste novo ano que inicia, que tal praticar essa reflexão?
Maria Angélica Falci Psicóloga clínica e especialista em Sáude Mental angelfalci@hotmail.com
“Uma pessoa que sonha acaba construindo projetos mais realistas e coerentes com sua existência
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horizontes
O melhor destino do Caribe Com praias exuberantes, o café mais caro do mundo e sob a ‘sombra’ do mito Bob Marley, a Jamaica recebe o título de roteiro de 2013
Em poucas palavras, o nome traduz a rara beleza da ‘Terra dos Mananciais’: a Jamaica - local desbravado por Cristóvão Colombo em 1494 e anteriormente ocupado pelos índios Arawak. A ilha tem a metade do tamanho de Sergipe. São 234 quilômetros de leste a oeste e 80 quilômetros de norte a sul. Mais de cinco séculos depois da descoberta, a Jamaica conquistou o prêmio de melhor destino turístico do World Travel Awards no ano passado. A honraria é considerada o “Oscar” da indústria de viagens. E não foi à toa. Com águas cristalinas e temperatura entre 25 e 38 graus Celsius durante todo o ano, a Terra do Rastafarianismo também venceu como melhor destino de cruzeiro em 2013.
No litoral-norte fica grande parte da vida noturna da Jamaica. Por lá param cruzeiros internacionais de diversas regiões do mundo. Uma das cidades mais visitadas pelos turistas é Ocho Rios - um antigo vilarejo de pescadores onde crianças e adolescentes frequentam uma das sete escolas da cidade. A educação vai até o ensino médio, conhecido por lá como high school. A cidade também é banhada por um mar de um azul-turquesa exuberante e um vasto recife de corais. Ainda a bordo é possível ver altas montanhas emergindo bem perto da praia. Segundo guias de turismo locais, essa paisagem é formada pelos picos de uma enorme cadeia montanhosa submarina.
As razões para a procura e o título de melhor destino do Mar das Caraíbas – o Caribe – estão em um organizado setor turístico, responsável por 25% do Produto Interno Bruto da Jamaica. O turismo é a segunda maior fonte de receita do país. O desempenho fica atrás somente da extração de bauxita, de acordo com o Consulado Honorário da Jamaica no Brasil. Tanta atenção ao turista se reflete na boa infraestrutura hoteleira e na eficácia do sistema de transporte e de comunicação.
Cidade de herança espanhola, Ocho Rios vive do turismo e da produção de bananas, açúcar e melões para exportação. Lá é comum chegar mais de um navio no mesmo dia. Isso faz a população da pequena cidade dobrar. Dentre os pouco mais de 7 mil habitantes da área de veraneio, há um ilustre morador: Mick Jagger, vocalista dos ‘The Rolling Stones’. O artista é proprietário de uma bela casa no topo de uma dessas montanhas, com uma privilegiada vista para o mar. E é justa-
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Luciana Hübner
horizontes
Para quem está a fim de conhecer a capital, por US$ 25 (R$ 57,50) é possível contratar um guia e passear de carro climatizado. O trânsito funciona em mão-inglesa, ou seja, a circulação de veículos é feita pela esquerda herança de uma monarquia parlamentarista ainda submetida à Rainha Elizabeth II, do Reino Unido. E como a Jamaica não produz carros, por lá andam veículos tanto com o volante do lado direito quanto do esquerdo. Tipo exportação
Tomash Devenischek
mente no Mar do Caribe que as quedas de 180 metros de comprimento do Dunn’s River Falls, uma riqueza nacional, deságuam. As praias de areias finas e as enseadas de águas cristalinas, localizadas próximo ao porto, encantam os turistas que vêm pelo mar. Mas para se banhar nessas águas é preciso pagar uma quantia irrisória de US$ 3 (R$ 6,90). Seguranças locais impedem que os visitantes sejam abordados por artesãos ou habitantes que queiram vender qualquer tipo de mercadoria. A cobrança não assusta o turista, que não deixa passar a oportunidade de mergulhar na costa jamaicana. Suingue e adrenalina
Se a produção industrial limita-se a alimentos, têxteis, cimento e maquinário agrícola, a agricultura é uma das principais fontes de renda do país. Representa tanto que a Jamaica produz o café mais caro do mundo, o Blue Mountain. Plantado em apenas 6 mil hectares perfeitamente demarcados, o grão é cultivado em áreas onde a mecanização é praticamente impossível, e a colheita é manual. Certificada para exportação, 90% da produção do café vai para o mercado japonês. As primeiras mudas, trazidas pelo governador inglês Nicholas Lawes, no início do século XVIII, adaptaramse ao clima úmido e aos bons índices de chuva da ilha. Por isso, no início do século XIX, a Jamaica era uma das principais exportadoras mundiais de café. A produção de açúcar, por sua vez, alimenta outra famosa indústria: a do rum. Em algumas regiões da ilha, a fabricação do produto começou ainda no século XVII, época em que a Jamaica, então colônia britânica, produzia 22% do açúcar mundial. A bebida é obtida a partir da fermentação do melaço, que posteriormente é destilado. De acordo com a lenda, o alto teor alcoólico (de 40º a 55° GL) despertou a coragem de muitos piratas durante as batalhas e serviu como moeda de troca de escravos africanos, que correspondem hoje a 80% dos 2,8 milhões de jamaicanos
Para quem aprecia aventura, a Jamaica oferece ótimas correntezas para rafting e condições para a prática de esportes radicais, como o arvorismo. Mas para quem busca outro tipo de agitação, a música é uma ótima opção. O reggae é trilha sonora obrigatória em todos os lugares, sobretudo em agosto, quando ocorrem o SumFest e o Sunsplash, grandes festivais de reggae que duram até uma semana. Os eventos marcam o início do período dos furacões, que se estende até o mês de outubro.
Luciana Hübner
‘Sun is shining’, clássico de Bob Marley, soa insistentemente por onde o turista passa. Aliás, a casa onde o cantor de 200 milhões de álbuns vendidos viveu, no número 56 da Hope Road, na capital Kingston, virou ponto turístico.
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Artigo
Meteorologia
Você acredita no aquecimento global?
Ruibran dos Reis Diretor Regional do Climatempo Professor da PUC Minas ruibrandosreis@gmail.com
“O clima mudou em
todo o planeta. Basta questionar qualquer pessoa, pois, mesmo no período de vida dela, já ocorreram mudanças
”
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A forte onda de frio do início deste ano nos Estados Unidos deu munição para os céticos do aquecimento global. Em alguns estados, a temperatura ficou abaixo de 30 graus negativos (-30ºC), com sensação térmica de -50ºC. Para discutir o aquecimento global, é preciso diferenciar tempo e clima. O tempo é o estado instantâneo da atmosfera. Por isso, um dia pode estar frio, o outro, quente ou chuvoso. Há uma variabilidade grande nas condições do tempo entre dias, meses e até anos. O clima é a condição média do tempo. De acordo com a Organização Mundial de Meteorologia (OMM), são necessários 30 anos de dados meteorológicos para determinar o clima de um local. O fenômeno conhecido como ‘efeito estufa’ é um processo físico que faz com que a atmosfera absorva parte da radiação infravermelha (calor) emitida pela Terra. Devido a esse fenômeno, a temperatura média do planeta é de 15°C. Se não existisse esse fenômeno, a média seria de -18°C. Jean-Baptiste Fourier, filósofo e biólogo irlandês do século XIX, mostrou que o efeito de aquecimento do ar dentro das estufas de vidro, utilizadas para manter plantas de climas quentes no frio da Europa, ia se repetir na atmosfera terrestre. Em 1860, o cientista britânico John Tyndall mediu a absorção de calor pelo dióxido de carbono (CO2) e pelo vapor d’água. E assim mostrou que o CO2 era um importante gás na formação do efeito estufa. O cientista sueco Svante Arrhenius, em 1896, calculou que a duplicação da quantidade de CO2 na atmosfera aumentaria a temperatura de 5º a 6°C. Cientista nenhum do mundo tem dúvida do processo físico que mantém a Terra com média de 15°C. Muito menos que os gases do efeito estufa podem elevar a temperatura do planeta. Então, por que tanta discussão sobre o aquecimento global? O debate vem devido à falta de conhecimento da variabilidade do tempo. O aquecimento global não significa que a temperatura vai subir no planeta ano após ano. A variabilidade do tempo permite chegar a valores extremos. Em um ano chove muito e no outro chove pouco. Ondas de frio e de calor, tempestades severas e secas extremas tendem a varrer o planeta. Em 2013, o tufão Haiyan foi o fenômeno mais mortal da natureza. De acordo com a OMM, as temperaturas observadas em novembro foram as mais altas dos últimos cem anos. O clima mudou em todo o planeta. Basta questionar qualquer pessoa, pois, mesmo no período de vida dela, já ocorreram mudanças. É preciso ficar preparado para viver em climas extremos neste século. No último número da revista Nature, um artigo científico voltou a mostrar que as temperaturas no final deste século devem subir entre 4º e 5°C. Grande disponibilidade de calor pode gerar fenômenos extremos no planeta Terra.
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Leadbelly Em meio ao barulho e à agitação nova-iorquina, o Leadbelly é uma grata opção para quem deseja aproveitar a noite em grande estilo. O despretensioso e aconchegante estabelecimento da Orchard Street, 14, em Manhattan, não tem o tumulto comum dos tradicionais bares norte-americanos e agrada em variadas vertentes. A começar pela decoração, o estilo retrô deixa o ambiente ainda mais charmoso. Em cada canto do
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Greice Rodrigues, de Nova Iorque
bar há objetos que remetem à história, como malas de viagem antigas e estilizadas, pilhas de vinis, vitrolas e uma variedade de fotografias de personalidades que remetem aos anos 50 e 60. Clássicos do blues e do jazz americanos reforçam a ambiência do Leadbelly, local onde a música acompanha de forma harmônica – e sem sobressaltos – o bate-papo com os amigos. O som se desenrola no volume ideal.
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E o cardápio do Leadbelly atende às expectativas. O destaque fica para os frutos do mar, uma das especialidades da casa. Outra boa sugestão são os drinques, como o Basil Brush. A bebida – que mistura gin, groselha e manjericão – leva o nome de uma travessa raposa contadora de histórias, que faz parte do imaginário infantil britânico. Essa combinação de atrativos leva ao bar uma multidão jovem e elegante, especialmente no happy hour. Por isso, o Leadbelly é uma pedida imperdível para pessoas com gostos e estilos requintados.
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Receita
Paulo Cunha
Salada de bacalhau e feijão-fradinho Chef Fábio Pontes - diVino Restaurante
INGREDIENTES:
MODO DE PREPARO:
2 colheres de sopa de pimentões variados 1 xícara de folhas variadas (por exemplo: rúcula, alface e agrião) 1 colher de sopa de cebola 80 g de bacalhau dessalgado 2 colheres de sopa de azeite 2 colheres de sopa de ervas picadas (cebolinha francesa, cerefólio, manjericão e funcho) 2 folhas de louro 1 ramo de tomilho 1 ramo de salsinha 1 colher de sobremesa de alho picado ½ xícara de leite ½ xícara de feijão-fradinho cozido Sal e pimenta-do-reino
Para cozinhar o feijão-fradinho, use água, sal, uma folha de louro e salsinha em panela normal até ficar al dente (cerca de 30 minutos).
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Cozinhe o bacalhau no leite com uma folha de louro e o ramo de tomilho. Escorra. Seque com a ajuda de papel-toalha. Coloque um fio de azeite em uma frigideira, em fogo médio, depois ponha o alho picado e espere dourar. Acrescente o bacalhau, refogue por alguns minutos e reserve em um bol de inox. Refogue os pimentões e a cebola na mesma frigideira. Junte o bacalhau, acrescente o feijão fradinho, as ervas picadas e o azeite. Misture tudo, tempere com sal e pimenta e arrume as folhas variadas em um prato. Enforme a mistura de bacalhau e o feijão-fradinho no centro do prato, com a ajuda de um aro, e sirva.
artigo
Vinhos
Vinhos para o verão Mais um ano se inicia e, com ele, o calor do mês de janeiro. Nos últimos anos, a média de temperatura da Terra vem aumentando consideravelmente. Esse fenômeno influencia diretamente no consumo de outros tipos de vinho, além do tinto. Os vinhos brancos, rosés e, principalmente, o espumante são pedidas perfeitas para o verão, pois a acidez encontrada nessas bebidas faz toda a diferença. Durante muitos anos, o consumo desses tipos de vinho era pequeno e pouco estimulado no mercado do Brasil. Afinal, fomos educados para reconhecer vinho apenas como tinto, muito em função da pouca variedade que nos era ofertada. Além disso, o forte apelo para o consumo de cervejas de baixa qualidade, em função da pouca variedade que era ofertada, ofuscava qualquer possibilidade de mudança de cenário. Ao longo das últimas décadas, muita coisa mudou a favor dos vinhos brancos, rosés e espumantes. Foram investidos recursos em pesquisas, tecnologia e maquinário, além de capacitação e especialização da mão de obra. A junção desses fatores, indiscutivelmente, fez com que a qualidade dessas bebidas desse um salto jamais imaginado. Hoje temos a ciência e o reconhecimento de que o país tem vocação para a elaboração de vinhos brancos, rosés e espumantes, devido aos solos brasileiros mais ácidos. Esse reconhecimento acontece graças a um regime de chuva elevado.
Danilo Schimer Sommelier robsonsavio@yahoo.com.br
Brancos Chardonnay, Sauvignon Blanc, Gewurztraminer, Riesling Itálico, Malvasia, Trebbiano, Moscato, Pinot Gris, Prosecco, Chenin Blanc e Pinot Blanc; Rosés Merlot, Malbec, Cabernet Sauvignon, PinotNoir, Grenache, Syrah, Cinsault e Mourvedre; Espumantes Chardonnay, PinotNoir, PinotMeunier, Prosecco, Riesling Itálico, Moscato, Macabeo e parrellada.
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Fomos educados para reconhecer vinho apenas como tinto, muito em função da pouca variedade que nos era ofertada
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Coisas de madame Karina Novy
Dermocosméticos
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Na linha dos cosméticos para a pele, destaque para o ‘Moderm’ fator 50, um protetor-base em pó com cobertura mate, que ajuda a controlar o brilho da pele. Sua fórmula é hipoalergênica – livre de conservantes – e contém vitamina E. Além disso, apresenta a tecnologia soft focus com microesferas, que refletem a luz de forma uniforme, disfarçando rugas finas e possíveis imperfeições na pele. O ‘Moderm’ está disponível no mercado em duas tonalidades: bege-claro e bege-médio.
Bronzeadores e protetores Reprodução
Alternativa da bareMinerals, o ‘Natural Sunscreen’ fator 30 é um pó solto levíssimo, não oleoso e que evita a obstrução dos poros. O aplicador dele é retrátil e espalha bem o produto. Pode ser usado tanto no rosto quanto no corpo.
Alto verão, sol e muito calor. Para o corpo, nada melhor do que um lindo bronzeado. Para peles que adquirem uma cor imediata, a dica é o bronzeador ‘Australian Gold’ com fator de proteção 8, que promete uma tonalidade dourada e instantânea.
Agora, para quem deseja apenas proteger a pele, a dica são produtos com maior fator UVA/UVB. Os protetores coloridos são uma opção interessante para quem gosta também de manter a pele uniforme ao longo do dia ou mesmo como base antes da maquiagem.
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Proteção e prevenção A Veer Cosméticos lançou o ‘AllBlock Protetor’ fator 32, um mix de gel e creme. O produo tem toque seco, textura agradável e é resistente à água. Na fórmula, há um extrato de melancia africana, aliado na prevenção de rugas e no combate ao envelhecimento precoce. O produto também oferece alta proteção contra queimaduras e manchas causadas pelo sol.
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O produto tem textura de creme colorida, fragrância agradável e é super-resistente à água. A fórmula contém aloe e vitamina E, fundamental por combater os radicais livres. Para peles mais sensíveis, o recomendado são bronzeadores com fatores de proteção solar entre 15 e 30.
crônica
Comportamento
Em um relacionamento sério com você mesma! Que tal começar um relacionamento sério com você mesma? Que tal organizar as coisas, as contas, arrumar os armários, passar para frente o que não lhe cai bem e jogar fora tudo o que não tem mais serventia? E não falo apenas de ‘coisas’ não, tá? Envolve tudo! Falo de sentimentos ruins, pessoas falsas ou negativas, maus pensamentos, além de vícios e relacionamentos que causam dor e mágoas. Que tal desapegar? Que tal cuidar mais de você, reservar um tempo para fazer algo para si, nem que sejam cinco minutos por dia? Que tal começar ou retomar uma terapia? E fazer uma caminhada? Iniciar e levar a sério uma dieta saudável? Mas não se esqueça de fugir dela de tempos em tempos. Pode e, certamente, faz bem para a alma! E que tal ligar para alguns amigos que você não vê há tempos e marcar um encontro? Quem sabe não dá para, em vez de consumir mais, viajar mais? Conhecer culturas, experimentar sabores e ares! Tome vinho! Muito às vezes e pouco sempre! Leia! Desligue a TV por um instante, saia do computador, agarre-se a um bom livro. Converse com as pessoas, mas não pelo telefone nem por mensagem. Olhe nos olhos delas. Sorria de volta e cumprimente as pessoas. Brinque! Sente com as crianças, cante, monte um quebra-cabeça e entre no jogo, mesmo que seja pique-esconde, corre-cutia, amarelinha! Não dependa de dinheiro para ser feliz! Trabalhe com o que você gosta. Não crie problemas; encontre soluções. Não dependa de ninguém; vire-se e se adapte. E, mesmo assim, ajude as pessoas sem querer nada em troca! Ah! E não se esqueça de perdoar… De verdade e pra valer! Experimente ouvir mais do que falar e nem sempre se explique. Um ‘que se dane’ às vezes cai muito bem! No decorrer dessas mudanças, em um dia qualquer, você vai descobrir que é apaixonada pela vida e, sobretudo, por você mesma. Então, como por um milagre, e somente assim, o verdadeiro amor vai acontecer… Acredite!
Laura Barreto Autora do site ociodooficio. com.br laubarreto11@hotmail.com
“Leia! Desligue a TV por um instante, saia do computador, agarre-se a um bom livro
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Felipe Pereira
Um grande palco pede um grande carnaval Após duas décadas, a popular festa pagã retorna à Afonso Pena para a alegria e ressalvas de foliões e sambistas da capital mineira Texto e fotos de Lucas Alvarenga É por pouco tempo. Mas esse período é suficiente para que o trabalhador se despeça da rotina e dê um alô ao prazer; para que o pobre e marginalizado se vista como manda a nobreza e o rico reverencie aquele reinado; para que a avenida das manifestações políticas se transforme em uma passarela de emoções e de beleza. O carnaval inverte situações cotidianas e reordena espaços. A rua ganha significado diferente na vida do brasileiro. De banalizada e violenta, cada via tem um papel num cenário que sempre encanta. E o que era público, torna-se uma extensão de cada lar. Quem dirá na vida do belo-horizontino, que, ano após ano, redescobre o prazer de promover ocupações públicas em nome da alegria.
“Os blocos caricatos e as escolas de samba são os grandes guerreiros do carnaval. Esses grupos estão na batalha há anos, independentemente da época ou de a população aderir ou não à festa”, admite o Luiz Felipe Barreto, diretor de Operações e Eventos da Belotur. O órgão responsável pelo turismo na cidade também é o organizador do carnaval 2014. O evento promete ser grandioso, segundo os organizadores. Serão R$ 5 milhões investidos, sendo R$ 3,5 milhões dos cofres municipais e o restante da iniciativa privada. Além disso, é claro, haverá o retorno dos desfiles de blocos caricatos e escolas de samba para a Afonso Pena.
Faz 23 anos que o cidadão da capital mineira acompanhou o último desfile de carnaval na avenida de todos os belo-horizontinos: a Afonso Pena. Pouco antes disso, a cidade ostentava o título de segunda melhor folia do país, atrás apenas do Rio de Janeiro. Eram as décadas de 70 e 80, quando os blocos caricatos, as marchinhas e as escolas de samba tomavam juntos a área central da cidade. Aos poucos, um espetáculo de cores e sons foi sendo abafado pelo tempo e por uma sequência de administrações municipais.
Reivindicação antiga dos sambistas da capital mineira, a volta ao palco histórico é festejada com ressalvas. O prestígio de desfilar no palco das manifestações sociais mineiras na segunda e terça-feira de carnaval minimiza a perda de recursos por parte das escolas. No ano passado, a prefeitura distribuiu R$ 37,5 mil para cada uma das seis escolas. Este ano, a verba será de R$ 25 mil, mesmo com o crescimento de 43% na arrecadação de recursos para a folia.
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Da esquerda para a direita: Mandruvá, Lulu do Império, Graveto e a Corte Momesca do carnaval de Belo Horizonte, eleita em 2014
“O carnaval de Belo Horizonte virou símbolo de resistência. Os recursos são escassos e sempre chegam atrasados”, cutuca José Eustáquio da Silva, o ‘Mandruvá’, intérprete da escola de samba Cidade Jardim. Na conta de Cremildo de Souza, o ‘Graveto’, o dinheiro parece ainda menor. “Um quilo de pluma custa R$ 1,5 mil. Um metro de pano sai por R$ 12. Uma folha de um metro quadrado de acetato não se compra por menos de R$ 30”, quantifica o carnavalesco da Cidade Jardim. Carioca, Graveto veio para Minas depois de ganhar vários carnavais pela Portela e pela Beija-Flor no Rio de Janeiro. O desejo dele é ver os entes envolvidos com a folia na cidade valorizados. “Aqui eles pagam R$ 140 mil para Ivete Sangalo, R$ 60 mil para um trio elétrico e R$ 25 mil para vestir 800 integrantes de uma escola como a Cidade Jardim. Assim as agremiações da capital vão acabar, mais cedo ou mais tarde”, lamenta. O sonho de ‘Graveto’ é encampado por outros artistas, como Lulu do Império. O intérprete da escola de samba Canto da Alvorada tentou levar a ‘Bateria Show Nota 10’, da qual Lulu faz parte, para um dos 12 palcos deste car-
naval. No entanto, a tentativa de estar entre as 70 atrações da folia em Beagá foi em vão. “Teremos sim atrações locais, mas o foco é a Mart’nália, o Diogo Nogueira e outros músicos de fora”, alfineta o puxador de samba. Ao gerenciar o carnaval, a ideia da Belotur é descentralizar a folia. Por isso, haverá palcos em cada regional, em especial na Savassi e na Pampulha. Esses palcos são considerados estratégicos, segundo Barreto, por servirem de ponto de encontro de foliões. “A iniciativa do município foi criar um carnaval 360º, capaz de envolver toda a cidade e tornar mais fácil a limpeza urbana e a prestação de serviços ao cidadão. Dessa forma, trabalhamos com um público proporcional à capacidade do espaço”, aclara o executivo. Sambista da velha-guarda da capital, Wilton Humberto Alves, o ‘Wilton Batata’, participou durante anos da organização do carnaval na cidade. Sucinto, o músico aposta em uma solução popular, assim como o carnaval: o empoderamento das comunidades e das entidades de bairro onde estão as escolas de samba. “A tarefa do poder público é criar mecanismos | 39
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para que o povo faça a festa e não para que ele a administre”, reflete. No entendimento de quem já fazia a festa acontecer em Belo Horizonte, alternativas existem. Uma delas é defendida por Mandruvá e Graveto: a maior participação da iniciativa privada no carnaval da cidade. Segundo os sambistas, algumas empresas sondaram para patrocinar a folia na cidade durante os últimos anos, mas a festa ainda não é suficientemente atrativa. Mesmo assim, Mandruvá não perde a esperança. “Eu não vou morrer sem ver o carnaval de Beagá com uma multinacional apoiando”.
Quadra da Escola de Samba Cidade Jardim (acima) e a rainha do carnaval de Beagá em 2014 (abaixo)
O carnavalesco da Cidade Jardim levanta outra bandeira: conceber uma federação vinculada à Secretaria de Cultura, retirando da Belotur a competência pela organização do desfile das escolas de samba. “De que adianta dar um terno de linho número 48, sem cinto, para alguém que veste 40? Ele vai ter que segurar as calças”, ilustra o sambista ao se referir à volta do carnaval para a Afonso Pena, mas sem a organização desejada pelas escolas. Única escola de samba da capital com quadra própria, a Cidade Jardim realiza eventos toda semana no barracão. Deles participam membros do Conjunto Santa Maria, onde fica a agremiação, e pessoas vindas de outras áreas – ou do asfalto, como Graveto prefere chamar. “Os eventos na escola movimentam dinheiro, ajudam a gente a fazer o carnaval mais bonito e a manter 50 pessoas trabalhando conosco. Além disso, o pessoal que vem do asfalto traz um respeito enorme pelo samba, que é a nossa raiz”, esmiúça o carnavalesco. Se a ida de foliões da Zona Sul para a escola ajuda a sustentá-la, por outro lado, nem sempre esse movimento acontece em mão dupla. “Não creio que seja ruim esse processo de elitização do samba, saindo da Zona Sul e indo para o morro. Porém, deve haver uma inversão comum aos dois lados. A Zona Sul pode subir o morro, mas o morro não pode ir à Zona Sul?”, questiona o produtor de eventos Wallison Oliveira. Oliveira vê com bons olhos o esforço da prefeitura para organizar a folia na cidade e oferecer o mínimo de infraestrutura para que a festa transcorra sem problemas. Mas, em tom de alerta, o produtor de eventos chama a atenção para um detalhe da organização: “O carnaval não pode ser tratado somente como um ponto da agenda anual da prefeitura. É necessário fazer da festa um atrativo da cidade. Afinal de contas, uma cidade com mais de 2 milhões de habitantes merece
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uma festa adequada para o evento de maior expressão cultural do país”. Os esforços dos organizadores do carnaval também foram observados por Rafael Barros com algumas ressalvas. O ativista cultural, folião e responsável pelo bloco ‘Filhos de Tcha Tcha’ vê um trabalho mais efetivo para a organização da festa, embora defenda que o processo não tenha partido de uma construção conjunta com a cidade. “Não que não haja conversa com o poder público. Mas a construção não foi desde sempre partida do zero. A prefeitura pensou em um modelo de carnaval e o levou para a cidade”, argumenta. De fato, o carnaval organizado pela Belotur foi logisticamente estruturado em quatro pilares: a eleição da corte momesca, os desfiles de escolas de samba e blocos caricatos, os blocos de rua e os palcos e as estações do samba. Com isso, a empresa de turismo espera mais de um milhão de foliões nas ruas da capital mineira e cerca de 200 blocos, ciente de que haverá demanda – sobretudo após eventos, como a ‘Noite Branca’ e a ‘Virada Cultural’. Até o momento, 137 blocos se inscreveram no site da Belotur. No ano passado, apenas 52 blocos preencheram o formulário disponibilizado pelo órgão municipal.
Blocos tocando na Praça da Estação (acima) e o destaque da escola de samba Canto da Alvorada, campeã de 2013 (abaixo)
Talvez mais espontânea e atenta à cultura local, a festa da inversão arrancasse ainda mais sorrisos de Rafael Barros, Wallison Oliveira, Mandruvá, Lulu do Império e Wilton Batata. Se o fizesse, a administração local ia atingir o objetivo defendido por Barreto de ‘realizar o melhor carnaval possível, com segurança e alegria’, desenvolvendo neste ano uma expertise para o futuro. Assim, quem sabe a cidade poderia receber turistas de todos os cantos, movimentando o setor hoteleiro e gastronômico? Pessoas como Graveto ficariam felizes e se sentiriam acolhidas na cidade, que tenta recuperar o posto que lhe é de direito: de uma cidade-foliã.
Carlos Hely
Diante do histórico recente de manifestações populares na cidade, Barros interroga se a escolha por um carnaval em que a relação palco-público prevaleça foi a melhor opção. “A opção da Belotur foi por estruturar de forma muito mais organizada, mas criando um carnaval grandioso e espetacular. Gosto da ideia de um carnaval descentralizado; é um ponto positivo do poder público. No entanto, seria interessante se abrissem mais espaço para a espontaneidade, para a experiência festiva de rua, da interação com as pessoas, de grupos comunitários. Isso seria fundamental para ir fortalecendo os blocos caricatos tradicionais e as escolas de samba em um projeto de longo prazo”, discorre o ativista cultural.
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Críticas sim senhor Marchinhas dão tom irreverente ao carnaval de Belo Horizonte e questionam a postura de ministros do Supremo a cartolas brasileiros Cassio Teles
Durante os primeiros 70 anos do século passado, o Brasil abriu alas para os blocos carnavalescos. Os grupos invadiram as ruas tocando bumbos, surdos, trompetes e trombones com o canto alegre e arrebatador das marchinhas. O gênero se tornou o símbolo musical da folia. Mesmo dividindo atenções, como o axé e os sambas-enredo, as irreverentes marchinhas voltam a ocupar um espaço relevante no carnaval. A posição é mais destacada em Belo Horizonte, onde um concurso reavivou essa tradição há três anos. As letras ambíguas em forma de crônicas da vida social e política local, o exagero do real e a manifestação das fantasias pessoais tomaram conta do concurso musical. Antes, o certame era organizado por Tutti Maravilha em seu programa de rádio. Mas os versos simples e fáceis de memorizar das marchinhas belo-horizontinas encontram ressonância até hoje. Em 2012, nasceu o Concurso Mestre Jonas por iniciativa da Banda Mole. O festival homenageia Jonas Henrique, músico mineiro e artista plástico que deixou um legado de quase mil canções e um álbum, Sâmbero (2010), lançado um ano antes da morte do autor. Para amigos, como Thiago Delegado, a obra de Mestre Jonas foi um sopro de vida no samba e no carnaval da cidade, que passou por um longo período em hibernação. O diretor musical do concurso, Delegado, refere-se a Jonas como um militante do samba que registrou o dia a dia da favela e as armadilhas da vida fácil em letras e melodias de pura alegria. “Joninhas, como o chamávamos, era o carnaval o ano inteiro: um eterno folião. As marchinhas trazem letras ácidas ou de duplo sentido, melodias simples e descontraídas. Tudo isso me lembra ele e o seu modo de ver a música”, rememora.
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Nas duas edições ocorridas, o concurso revelou marchinhas que caíram na boca do povo, como as vencedoras ‘Na coxinha da madrasta’, de Flávio Henrique, e ‘Imagina na Copa’, de Daniel Iglesias, Matheus Rocha e Guto Borges. A primeira ganhou em 2012, com uma ácida crítica aos gastos com lanches efetuados pelo gabinete do vereador Léo Burguês. A segunda, vencedora em 2013, narra a indignação dos moradores atingidos pelas obras para a Copa na cidade e as restrições a que os cidadãos devem ser submetidos durante o mundial. Produtor musical e professor, Renato Villaça participa do concurso pela terceira vez, agora com a marchinha ‘Joaquim e as Alterosas’. A canção alude ao mensalão tucano, que pode ir a julgamento no Supremo 42 | www.voxobjetiva.com.br
Tribunal Federal (STF) ainda no primeiro semestre. “A marchinha reconhece a atuação exemplar na condenação dos mensaleiros do PT e de outros partidos, mas aponta a omissão e cobra providências da Justiça no caso do mensalão mineiro”, explica.
Karina Nicácio
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Com a ‘Marcha da Estação’, Villaça levou o segundo lugar do concurso em 2012. Duas horas depois de ser inscrita, a vice-campeã já contava com 2 mil visualizações. “O segredo é sacar um bom trocadilho com uma situação ou personagem que esteja em voga na mídia ou seja alvo de comentários”, sugere. Delegado pensa de forma semelhante: “A perspicácia está na visão crítica e na inteligência do compositor de enxergar as ‘piadas’ do cotidiano e traduzi-las em música para a população se divertir, manifestar, cantar e pular no carnaval”.
As marchinhas de Clarissa e Renato (ver fotos) estão entre as 119 concorrentes do concurso neste ano
Médica, a mineira Clarissa Santos estreia no concurso com ‘A alergia do prefeito’. A música aborda os transtornos causados pelas obras do Move (antigo Bus Rapid Transit, o BRT) e as promessas para solucionar o transporte público na cidade. “A ideia é expor uma visão cidadã em relação à demora na entrega das obras e aos problemas que se multiplicam, como os buracos pela cidade”, relata.
Lucas Alvarenga
Nascido em pleno sábado de carnaval, o DJ, músico e compositor Heleno Augusto ficou entre os finalistas do ano passado graças à ‘Conexão BH’. Neste ano, ele concorre com ‘Tapete Grande’, uma referência ao imbróglio esportivo que culminou no rebaixamento da Portuguesa para a segunda divisão em 2014. Augusto, que compõe marchinhas há 16 anos, revela que sempre gostou de um ‘auê’. “Minha avó cantava o ano inteiro músicas como ‘O Teu Cabelo Não Nega’ e ‘Linda Morena’. Ela sempre sintonizava a programação de marchinhas da Rádio América para ouvir. Eram horas e horas de Lamartine Babo, Francisco Alves & Cia”. Neste ano, 12 marchinhas serão selecionadas para o Baile do Concurso, marcado para o dia 14 de fevereiro. Na quadra da escola de samba Cidade Jardim, no Conjunto Santa Maria, as escolhidas para a final vão ser executadas e avaliadas com base nos critérios originalidade, letra e performance dos intérpretes. A melhor marchinha recebe R$ 5 mil de prêmio. | 43
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Até o momento, o ‘Baile do Pó Royal’, de Alfredo Jackson, Joilson Cachaça e Thiago Dibeto, desponta como a favorita ao título de 2014. O vídeo com a marchinha chegou à impressionante marca de 150 mil visualizações até ser retirado do ar menos de 24 horas depois da publicação e recolocado mais tarde, atingindo mais 30 mil audições. O recado de que “qualquer semelhança com fatos é mera coincidência” atiça a fruição, enquanto o jogo de fonemas dá o tom a trechos como o refrão: “o pó rela no pé, o pé rela no pó”. Ácidas por natureza Na história do carnaval, as marchinhas sempre questionaram a sociedade e os políticos. Em 1949, ‘Pedreiro Waldemar’, de Wilson Batista e Roberto Martins, retratou a desigualdade social no país, que pedia o retorno de Vargas, o ‘pai dos pobres’. Na narrativa, o pedreiro, assim como milhões de trabalhadores, “constrói tanta casa e não tem uma para morar; constrói um edifício e depois não pode entrar”. A crítica foi feita após o regime do Estado Novo, que propagou conquistas operárias, como as leis trabalhistas e a criação dos sindicatos. Apesar da crítica sobre as composições atuais e as do início do século passado, a origem das marchinhas esbarra em contradições. Em ‘História da Música Brasileira – Dos primórdios ao início do século XX’ (Editora Movimento), o historiador e músico alemão Bruno Kiefer relaciona as marchinhas com uma estratégia da classe média para participar da festa popular. Para o pesquisador naturalizado brasileiro, a ideia era oferecer um contraponto ao samba, ritmo de origem africana comum entre os pobres. A primeira marchinha que se tem notícia é ‘Ô abre alas’ (1899), de Chiquinha Gonzaga, que se popularizou na década de 20. A canção foi rejeitada pelas elites em eventos oficiais no Palácio do Catete, antiga residência presidencial no Rio de Janeiro. A alegação foi que a música era vulgar e popularesca diante das operas e das canções europeias. A era de ouro das marchinhas durou até o final dos anos 60, quando elas cederam lugar aos sambas-enredo, que viria a ser a nova coqueluche das gravadoras. Mas as marchinhas de sucesso atravessaram décadas animando gerações e contribuindo para a memória nacional. “De forma geral, a música presta esse serviço. Desde a época de Braguinha, Noel Rosa e Ary Barroso, as marchinhas retratavam a realidade política e cultural do momento. Também foi assim com verdadeiras pérolas na época da ditadura”, expõe o diretor do concurso. 44 | www.voxobjetiva.com.br
Netun Lima
Delegado acredita que as marchinhas se popularizem na capital
Com o concurso e o fortalecimento do carnaval de rua da capital, a tendência é que o movimento em favor das marchinhas cresça e se torne mais democrático. “Há espaço para todos os estilos no carnaval de Beagá. Mas as marchinhas vêm preenchendo dois pontos fundamentais por meio da ambiguidade. O primeiro é o da sacanagem sadia e inteligente, que rendeu canções hilárias, como o ‘Manja Rolha’, ‘Seu Toim’, ‘Cafetina de Qué Qué’ e ‘Mió Calá’. O segundo é o da crítica social, de cunho político, por meio de letras ácidas, que nos fazem refletir sobre a nossa realidade. Os outros estilos musicais podem até abordar tais temas, mas nenhum traz isso com tanta descontração, alegria e eficácia”, avalia Delegado. Para Clarissa, o tom crítico das marchinhas tem sido o principal atrativo para a adesão de tantos jovens à disputa. “No Rio de Janeiro há um concurso de marchinhas de qualidade, mas em Beagá elas têm esse lado predominantemente político que traduz o que esperamos dos nossos governantes”, enfatiza a foliã e compositora.
Vox literária
Destrua este diário Autor: Keri Smith Editora: Intrinseca Páginas: 224 Preço: R$ 24,90
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Guardador de anotações, memórias e registros cotidianos, o diário não é mais o mesmo – ao menos para a artista canadense Keri Smith. A autora de ‘Destrua este diário’ propôs uma radical interação da sua obra com o usuário. A fim de estimular a criatividade e refutar a forma como são utilizados os objetos, Keri convida o leitor a rasgar, rabiscar, pintar, manchar e até molhar a obra. A ideia surgiu de uma reflexão sobre o perfeccionismo, tão exaltado pela sociedade contemporânea, mas danoso ao processo criativo. A experiência a fez perceber que não há criação sem alguma dose de esculhambação.
Assassinato de reputações - Um crime de Estado Autor: Romeu Tuma Junior Editora: TopBooks Páginas: 560 Preço: R$ 69,90
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Ex-secretário nacional de Justiça e grande arquivista, Romeu Tuma Junior abre o jogo e explica por que se recusou a pôr em prática os métodos impostos por figurões do governo Lula. Em um depoimento minucioso a Cláudio Tognolli, Junior revela o que viu e ouviu do pai, ex-diretor do Dops, sobre a prisão do então sindicalista Lula durante a ditadura. Depois analisa em detalhes o assassinato do prefeito de Santo André, Celso Daniel, e o dia a dia dos órgãos de segurança nacional; apresenta provas do grampo telefônico no STF; conta como são tratados os desafetos políticos do governo e qual é o objetivo de operações midiáticas, como Trovão, Chacal e Satiagraha.
Fim Autor: Fernanda Torres Editora: Companhia das Letras Páginas: 208 Preço: R$ 34,50
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Fernanda Torres mostra em ‘Fim’ que sua essência é mesmo a criação, seja qual for a forma de expressão artística. Primeiro romance da autora, a obra apresenta a história de cinco amigos cariocas que se recordam dos momentos mais marcantes da vida de cada um. Álvaro, que vive de médico em médico, tem aversão à ex-mulher. Ciro é o Don Juan da turma. Neto é um marido fiel. Ribeiro é um rato de praia que ganhou sobrevida sexual com o Viagra. Sílvio é um viciado que não larga as drogas nem o sexo, nem na velhice. Muito diferentes entre si, todos são engenhosamente unidos por um inventário de frustrações envoltas de humor, mulheres e pinceladas de melancolia.
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Cartas marcadas Com poucas surpresas na lista de concorrentes, Oscar tem cinco indicados em grande parte das categorias, mas poucos potenciais vencedores André Martins Com a proximidade do maior prêmio do cinema mundial, a temporada de premiações americanas vai chegando ao fim e apontando os prováveis vencedores das estatuetas douradas. Este ano, os prêmios serão entregues na noite do dia 2 de março, no Teatro Kodak, em Los Angeles, na Califórnia. Na segunda quinzena de janeiro, a Academia anunciou as indicações. O drama ‘Gravidade’ e a comédia ‘Trapaça’ são os recordistas de indicações. Ambos foram lembrados em dez categorias. Em seguida, vem o fortíssimo ‘12 anos de Escravidão’, grande favorito ao Oscar de Melhor Filme, com nove indicações. Além dos três longas citados, seis filmes disputam o principal prêmio da noite: ‘Ela’, ‘Capitão Phillips’, ‘Nebraska’, ‘Philomena’, ‘Dallas Buyers Club’ e ‘O Lobo de Wall Street’.
Atuações masculinas Os prêmios de Melhor Ator e Melhor Ator Coadjuvante devem parar nas mãos de dois parceiros de projeto: Matthew McConaughey, como principal, e Jared Leto, como coadjuvante, pelo ótimo drama ‘Dallas Buyers Club’. O filme conta a história de luta de um eletricista e um travesti, ambos contaminados com o vírus HIV. A trama é uma crítica contundente à Food and Drug Administration (FDA), órgão do governo dos Estados Unidos que fiscaliza e testa medicamentos no país. O filme se passa na década de 80, quando se inicia a epidemia da doença pelo mundo. Os dois atores venceram o Prêmio do Sindicato dos Atores (SAG) com o Globo de Ouro - os melhores do cinema, segundo a Imprensa Internacional. Leto não tem oponentes que lhe façam frente. O único que pode estragar a dobradinha e tirar o prêmio de McConaughey é Chiwetel Ejiofor, ator de ‘12 anos de Escravidão’. Ejiofor venceu boa parte das premiações do circuito americano. Com McConaughey (foto ao lado) e Ejiofor disputam Christian Bale, por ‘Trapaça’; Bruce Dern, por ‘Nebraska’ e Leonardo DiCaprio, por ‘O Lobo de Wall Street’. Leto tem como oponentes Barkhad Abdi, por ‘Capitão Phillips’; Bradley Cooper, por ‘Trapaça’; Michael Fassbender, por ‘12 anos de Escravidão’ e Jonah Hill, por ‘O Lobo de Wall Street’.
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Dois grandes trabalhos
Europeus largam na frente
Na categoria de Melhor Diretor aparecem David O. Russell, por ‘Trapaça’; Alfonso Cuarón, por ‘Gravidade’; Alexander Payne, por ‘Nebraska’; Steve McQueen, por ‘12 anos de Escravidão’ e Martin Scorsese, por ‘O Lobo de Wall Street’. Nessa categoria, apenas dois têm reais chances de vencer: Cuarón, pelo estupendo e visionário trabalho, e McQueen, pela sensibilidade e coragem de apostar em um tema que sempre foi um ‘espinho na carne’ da sociedade americana: a escravidão. Essa é a primeira indicação dos dois, e como o Sindicato dos Diretores deve anunciar os vencedores apenas três dias antes do Oscar, o prêmio de Melhor Diretor deve permanecer uma incógnita.
Na categoria de Melhor Filme Estrangeiro disputam o prêmio: ‘The Broken Circle Breakdown’, da Bélgica; ‘A Grande Beleza’, da Itália; ‘A Caça’, da Dinamarca; ‘The Missing Picture’, do Camboja e ‘Omar’, da Palestina. Nos últimos anos, grande parte das surpresas do Oscar têm saído dessa categoria. O filme dinamarquês fez muito sucesso ao redor do mundo e tem grandes chances de levar o prêmio, mas a Itália é um país com grande tradição na categoria. ‘A Grande Beleza’ referencia o cinema de Fellini e é uma ode à Itália. Não vai surpreender ninguém se vencer.
Atuações femininas
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Assim como o prêmio de papel secundário masculino, o de Melhor Atriz está mais que consolidado. Depois de muito tempo longe do cinema, quando esteve envolvida com o teatro, a australiana Cate Blanchett (foto ao lado) parece muito próxima do segundo Oscar da carreira. A premiação iria coroar a ótima performance como Jasmine, uma milionária que vê o mundo desmoronar após perder os bens e ir morar de favor na casa da irmã, história retratada em ‘Blue Jasmine’, de Woody Allen. Cate venceu a maioria esmagadora dos prêmios que disputou, incluindo o Globo de Ouro e o SAG. Concorrem Amy Adams, por ‘Trapaça’; Sandra Bullock, por ‘Gravidade’; Judi Dench, por ‘Philomena’ e Meryl Streep, por ‘Álbum de família’. Na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante, duas jovens disputam o prêmio. A mexicana Lupita Nyong’o, por ‘12 anos de Escravidão’, quando recebeu o SAG, e a vencedora do Oscar de Melhor Atriz no ano passado, Jennifer Lawrence, por ‘Trapaça’, filme que lhe rendeu o Globo de Ouro. Lupita larga com vantagem. Além de contar com o fato de Jennifer ter vencido no ano passado, a atuação da mexicana está muito elogiada, sendo considerada um dos pontos altos do filme. | 47
terra brasilis
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André Carvalho
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Anime Festival 2014
Alice no País das Maravilhas
The Offspring
Quadrinhos, desenhos animados japoneses, mangás, games e gincanas ligadas ao verão. Essas são algumas das atrações do Anime Festival BH 2014. O evento promete integrar fãs de animações de várias regiões do estado e de outras capitais do país. Um dos atrativos para a vinda dos aficionados por desenhos é o tradicional concurso Cosplay, que acontece durante o festival. No certame, participantes do Anime concorrem na categoria de melhores fantasias de desenhos animados japoneses e de seriados, filmes e animações americanas e europeias.
Último espetáculo da trilogia ‘Aventuras de Alice no País das Maravilhas’, a peça do Grupo Giramundo encanta ao mostrar um clássico da literatura mundial. A adaptação da obra de Lewis Carroll narra a história de Alice que, ao cair em uma toca de coelho, inicia uma jornada mágica na qual as criaturas por ela encontradas fundem real e imaginário. Com trilha sonora de John Ulhoa e Fernanda Takai, também responsável pela voz da protagonista, o espetáculo traz 55 bonecos, sendo alguns digitais, seis versões de Alice e 13 bonecos gigantes de vestir.
Eles são donos de duas marcas até então imbatíveis. A primeira é ter lançado o disco de selo independente mais vendido do mundo, ‘Smash’ (1994), com 11 milhões de cópias. A segunda é Pretty Fly (for a White Guy) ser a música mais baixada da história da internet. Com resultados expressivos, oito álbuns lançados, mais de mil shows e um som pra lá de pesado, a lendária banda de punk--rock da Califórnia sobe em palcos mineiros para única apresentação. No show são esperados hits, como ‘Self Esteem’ e ‘You’re Gonna Go Far, Kid’.
Minascentro 15 e 16 de fevereiro, das 12h às 20h R$ 50 a inteira animefestival.com.br
Teatro Bradesco 29 de janeiro a 2 de fevereiro R$ 40 a inteira ingressorapido.com.br
Chevrolet Hall 5 de fevereiro, às 21h30 De R$ 180 a R$ 240 a inteira ticketsforfun.com.br
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Festival Cachaça Gourmet 48 | www.voxobjetiva.com.br
Valorizar um ingrediente tipicamente brasileiro e tradicional na gastronomia mineira desde os tempos de Brasil-Colônia: a cachaça. Até o dia 7 de fevereiro, a 6ª edição do Festival Cachaça Gourmet apresenta ao público 20 propostas de uso dessa bebida na culinária mineira. Cada restaurante participa com um prato e dá um toque pessoal e cultural ao evento. O festival encerra dia 15 de fevereiro, quando a organização vai anunciar os vencedores do 2º Concurso Nacional de Coquetéis com Cachaça. Restaurantes diversos Até 7 de fevereiro Preços no local festivalcachacagourmet.com.br
BHZ
TERRA BRASILIS
Guto Costa
Paula Fernandes A voz inconfundível da mineira de Sete Lagoas, que fez o ‘Rei’ ficar maravilhado em 2010, pode novamente ser ouvida pelos belo-horizontinos. Baseado no segundo DVD da cantora sertaneja, ‘Multishow Ao Vivo Paula Fernandes – Um Ser Amor’, o show de fevereiro resgata sucessos, como ‘Mineira Ferveu’, ‘Jeito de Mato’ e ‘Pássaro de Fogo’. Um espetáculo à parte, o cenário
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Exposição Atlas Palácio das Artes Até 8 de fevereiro Entrada livre fcs.mg.gov.br
preparado para a turnê se vale da tecnologia e de elementos orgânicos para retratar a natureza: pano de fundo da obra da intérprete, indicada ao Grammy Latino em 2011 e 2012. Chevrolet Hall 8 de fevereiro, às 22h De R$ 60 a R$ 120 a inteira ticketsforfun.com.br
A inspiração para guiar o espectador por um caminho de descobertas de paisagens, sensações e ambientes vem dos mapas. Sem trajeto explícito, divisão cronológica nem geográfica, a exposição Atlas – uma parceria com o coletivo Rapadura, de São Paulo – traz para o Espaço Mari’Stella Tristão uma mostra fotográfica de lugares íntimos do coletivo. Esses locais foram registrados por meio de imagens de arquivo que permitem quem está em contato com as obras criar o próprio percurso imaginário e visual cujo destino pode ser surpreendente.
Você descansa e não cansa ninguém. Partidas a cada 15, 20 e 30 minutos. Valor da passagem: R$ 19,70.
3224-1002 Av. Álvares Cabral, 387 - Lourdes conexaoaeroporto.com.br
Ônibus executivos, Confins-BH-Confins.
crônica
Cotidiano
Desejo de Ano Novo
Joanita Gontijo Jornalista e autora do blog tresoumais.blogspot.com joanitagontijo@gmail.com
“Em tempos de
GPS, redes sociais, aplicativos de relacionamento, os encontros não são a grande dificuldade. A permanência sim
”
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A contagem regressiva acabou, demos boas-vindas ao novo ano e, depois do brinde com a primeira taça de champanhe dos próximos 365 dias, esta pergunta foi inevitável: Quais são as metas para o ano que se inicia? Pelo que vi na festa em que passei a ‘virada’, o povo quer dinheiro! Vestidos amarelos e dourados demonstravam a preferência geral. Mas, ao responder sobre os desejos para o futuro que acabara de começar, minha amiga confessou: – Quero um amor, um companheiro, um namorado mesmo! A reação de todos foi de desestímulo total, e os comentários a seguir pareciam ter saído de livros de autoajuda, mesmo sem que ela tenha disparado nenhum alarme pedindo socorro. – Você não pode focar nisso, querida! Não deve esperar que sua felicidade venha de outra pessoa. – Em vez de se concentrar em amar alguém ou procurar quem a ame, você deveria se dedicar ao amor-próprio. Vá viajar, fazer cursos, comprar roupas! – Peça grana! Não há carência que sobreviva quando a gente tem os bolsos cheios. Minha amiga continuou firme na sua posição e retrucou: – Tenho amor-próprio suficiente para esta e outras encarnações. Adoro viajar e pretendo continuar rodando o mundo. O dinheiro é útil sim, mas o que quero é amar e ser amada. Pareço louca por querer algo tão simples? Aposto que por baixo desses vestidos e dessas camisas amarelas há algumas calcinhas e cuecas vermelhas! Ou será que todo mundo abstraiu o desejo de encontrar alguém pra compartilhar a vida? O silêncio que se deu revelou não só que ela tinha razão sobre a cor das roupas íntimas da maioria, como provou que amor e compromisso não são assuntos populares nas mesas de bar. Cheguei a abrir a boca como as outras pessoas pra dizer a ela que a paixão não aparece quando a gente está à procura, que o amor nos surpreende distraídos e outros blá-blá-blás do gênero. Ao ouvir algo que também fazia sentido pra mim, desisti. Eu confesso: aprecio amar e ser amada. Não espero um príncipe encantado, inventado, idealizado. Seu beijo não precisa me acordar da maldição de uma bruxa invejosa. Mas uma característica é fundamental: coragem! Em tempos de GPS, redes sociais, aplicativos de relacionamento, os encontros não são a grande dificuldade. A permanência sim. É fato que, muitas vezes, não rola química, o papo desanda, o beijo não encaixa, mas, em muitos casos, ele ou ela, ele ou ele, ela ou ela se afastam por covardia. Por isso, eu desejo a todos que querem o mesmo que eu que encontrem alguém corajoso o suficiente para ligar no dia seguinte, se der vontade, valente o bastante para incluir você nos compromissos sociais do fim de semana, destemido a ponto de enfrentar as diferenças e desavenças com força e serenidade e bravo para recomeçar depois de uma crise ou de uma separação. Feliz Ano Novo! Feliz Amor Novo!
pbh.gov.br
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NA CÂMARA DE BH, 2013 FOI UM ANO DE CONQUISTAS PARA O CIDADÃO E DE ECONOMIA DE RECURSOS PÚBLICOS. 34 MIL VISITANTES. Participação em reuniões, eventos ou sessões plenárias para votação dos projetos de lei. MAIS DE 170 AUDIÊNCIAS PÚBLICAS, 8 MIL PARTICIPANTES. Discussão de temas como trânsito, direitos do consumidor, cultura, segurança, meio ambiente, saúde, saneamento, entre outros. 370 MIL ATENDIMENTOS NO NÚCLEO DE CIDADANIA. Emissão de documentos, uso da internet popular, Procon, Juizado de Conciliação ou almoço no refeitório popular. NOVA OUVIDORIA. Por e-mail ou telefone, o cidadão fala direto com o Ouvidor.
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