Encarte Ouro Preto - Vox 27

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Ouro Preto 300 anos


Essa é a dirEtriz da assEmblEia lEgislativa para os próximos dois anos. Essa é a mEta, a grandE luta dE quE toda a sociEdadE sai vEncEdora. Em sintonia com essa diretriz, a assembleia definiu prioridades a serem implementadas em 2011 e 2012, entre as quais: • Fortalecimento das Comissões Permanentes como espaço de participação da sociedade na formulação, no acompanhamento e na avaliação das políticas públicas; • Interiorização e regionalização das ações da Assembleia, de forma a aproximá-las das necessidades e expectativas da população; • Utilização de novas tecnologias no relacionamento com o cidadão, de forma a ampliar a informação, a participação e a interatividade.

AÇÕES

Realizar Seminário Legislativo para debater políticas públicas de

Garantir o acesso dos cidadãos, em especial das pessoas com deficiência, a todos os espaços da Assembleia.

erradicação da pobreza e redução das desigualdades. O objetivo é mudar a vida dos 900 mil mineiros em situação de pobreza.

Contribuir para a melhoria de vida das populações ribeirinhas do Rio São Francisco.

Executar projetos voltados para os jovens, como o Concurso de Redação “Eu, minha cidade e os

Ampliar os espaços da ALMG e adequar o seu entorno à crescente presença da sociedade nas atividades do Parlamento.

300 anos do Ciclo do Ouro em Iniciar as transmissões da TV Assembleia em sinal aberto.

www.almg.gov.br @assembleiamg

Minas” e o Expresso Cidadania.


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urante todo o dia que passei em Ouro Preto, entrevistei pessoas que tinham muito a dizer. As portas das casas de cada uma delas estavam abertas. Era preciso se sentar, bater um papo, tomar um café, um licor de jabuticaba e comer uma fatia de pão recém-saído do forno. Prosa lenta e boa. Ouro Preto está fazendo aniversário e hoje, com quase 70 mil habitantes, mistura a tradição e os hábitos pacatos das pequenas cidades a uma pitada do “transitório”, característica das grandes metrópoles. A antiga capital de Minas Gerais não parou no tempo, embora ainda respire e inspire histórias. Luiza Villarroel, enviada da VOX a Ouro Preto

Texto e fotos: Luiza Villarroel


História de Ouro Preto

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fundação de Ouro Preto aconteceu em 1698 no arraial do Padre Faria. Dentre os responsáveis pela criação estavam o bandeirante Antônio Dias de Oliveira, o padre João de Faria Filho e o coronel Tomás Lopes de Camargo. Em 1711, o governador Antônio de Albuquerque criou a Vila Rica, reunindo os arraiais garimpeiros que se multiplicavam. Contando desde o surgimento do arraial do padre Faria, Ouro Preto comemora 313 anos em 2011. Se levarmos em consideração a vila, instituída pelo então governador da Capitania de São Paulo e das Minas de Ouro, a antiga capital mineira celebra 300 anos. A história da cidade mistura riqueza, ostentação e revoltas, além de escravidão, alforria, religião, arte e arquitetura. No século XVII, com o declínio do ciclo da cana no Brasil, seguida pela prosperidade da produção açucareira holandesa, Portugal passou a buscar alternativas de enriquecimento. Afinal, os portugueses dependiam dos impostos cobrados na colônia.

Neste período, os bandeirantes começaram a procurar minas de ouro e pedras preciosas no interior do território brasileiro. Paralelamente, a emigração de portugueses para a colônia americana, em busca do el’dorado, acontecia de forma desesperada. O professor de História da América Portuguesa do UNI-BH e doutor em História pela Universidade Federal Fluminense, Hilton César de Oliveira, explica que o jesuíta André João Antonil, residente em Salvador em 1711, narrou o frenesi migratório a partir da região Nordeste. A situação se intensificou graças à grande quantidade de pessoas do Reino que chegavam amontoados nos navios. A maior concentração exploratória aconteceu nas proximidades da confluência entre os rios Sabará e das Velhas, onde foi construída a Vila de Nossa Senhora da Conceição do Sabará. Destacou-se também a região que compreende Ouro Preto, Mariana e as margens do rio das Mortes, local em que surgiram as vilas de São José Del Rei (hoje


O U R O P R E TO 3 0 0 A N O S Tiradentes) e São João Del Rei. Hilton de Oliveira esclarece que o local, onde hoje é Ouro Preto, desenvolveu-se de forma desorganizada e sem planejamento. Na medida em que as casas eram instaladas, a economia mineradora, apesar de hegemônica, expandia associada ao comércio de gêneros alimentícios, ferraria e tráfico de escravos. “Concomitantemente ao sucesso com a mineração, as construções religiosas eram erguidas juntamente com prédios públicos e as moradias dos homens de poder. Algumas benfeitorias públicas também eram realizadas pelo Senado da Câmara, como a pavimentação de vias, instalação de chafarizes e da Santa Casa de Misericórdia, o primeiro hospital inaugurado em Minas e fundado em 1735”. A antiga capital do estado também foi palco de muitos fatos históricos. Um deles, a Guerra dos Emboabas, que colocou em confronto bandeirantes paulistas e forasteiros, chamados emboabas, no ano de 1708. A disputa pelo direito à exploração das jazidas de ouro da capitania teve seu ápice no distrito de Cachoeira do Campo, onde os paulistas saíram vitoriosos. Doze anos depois, aconteceu a revolta liderada por Filipe dos Santos contra a cobrança do Quinto, imposto retirado do ouro alcunhado pela Coroa Portuguesa. Em 1789, outra insurgência, a Inconfidência Mineira, uma união de determinados segmentos da sociedade

mineradora para livrar a então capitania de Minas Gerais da submissão portuguesa. Hilton de Oliveira ressalta que somos levados a identificar esses fatos históricos como os mais importantes e que muitos ouro-pretanos podem pensar de forma diferente. “De qualquer modo, eu diria que na tradição oral da cidade ainda se percebe a presença de personagens como Chico Rei [figura lendária na oralidade mineira] e, é claro, toda a tradição religiosa manifesta, por exemplo, na festa do Rosário e na celebração da Semana Santa”. Escolhida como a capital de Minas em 1720, Ouro Preto perdeu o posto em 1897 por não apresentar estrutura adequada para seu desenvolvimento. No lugar, o antigo Curral Del’Rey, atual Belo Horizonte, assumiu como sede administrativa do estado, com o nome de Cidade de Minas. Durante o período com capital das Gerais, a ex-Vila Rica ganhou a Escola de Farmácia em 1839 e, em 1876, a Escola de Minas. Ouro Preto ainda foi considerada “Monumento Nacional” em 1933, cinco anos antes ser tombada pelo Iphan. Em setembro de 1980, a cidade recebeu o título de Patrimônio Cultural da Humanidade, conferido pela Unesco.


Que história A

historiadora e moradora de Ouro Preto, Ângela Xavier, tem muito a dizer sobre a antiga Vila Rica. Afinal, ela realizou uma pesquisa sobre as lendas da cidade e lançou o livro Tesouros, fantasmas e lendas de Ouro Preto. “Essa pesquisa mostra que as lendas não são histórias inventadas, mas se baseiam no pensamento de uma época, na crença, no modo de agir e no comportamento da sociedade de uma determinada época. É importante estudar, pesquisar e entender a nossa identidade”, explica. Ângela viveu intensamente a década de 1970, anos de ditadura militar. Ela andava de cabelo solto, chinelinho e roupas largas. Saiu de Pará de Minas, onde nasceu, para morar em Ouro Preto, cidade que naqueles tempos era um pólo, um centro cultural extremamente rico. “Era um dos lugares mágicos daquela época. As pessoas que buscavam conhecimento, cultura e liberdade visitavam Califórnia, Marraqueche, Peru e Ouro Preto. A história de Minas está muito viva aqui. É como entrar em um túnel do tempo”, recorda. Na busca por informações para seu livro, Ângela conversou com cerca de 20 pessoas da terceira idade. Para ela, uma cidade com essa história é um prato cheio para acontecimentos macabros. E muita gente em Ouro Preto já viu um moleque pretinho, de uma perna só, gorro vermelho na cabeça e os olhos esbugalhados: o Saci Pererê. No século XVIII, representantes de famílias abastadas e do clero eram as pessoas alfabetizadas. As demais, majoritariamente, analfabetas. A região era muito supersticiosa e as crenças africanas se misturavam às portuguesas. Os padres não lutavam contra isso. As

lendas cumpriam seu papel. “A história da mula sem cabeça tinha a função de impedir que as moças flertassem com os párocos locais. Mariana concentrava grande número de seminários e as moças logo eram avisadas que, se chegassem perto dos padres, se tornariam mulas sem cabeça na sexta-feira da Quaresma. Mulher que mancava no sábado, o povo já ficava de olho”, destaca Ângela. De acordo com a crença, a mula sem cabeça tem que percorrer sete paróquias na noite de sexta-feira santa. Assim retorna à forma humana. As pessoas têm medo, porque ela sai desembestada, pulando em qualquer um para dar tempo de fazer sua “via crucis”. “Uma senhora me contou como faz para pegar uma mula: ‘Você já sabe o trajeto que ela faz, certo? Então, coloca um terço no chão faltando uma conta e a mula fica rodopiando no mesmo lugar. Esse é momento em que você a pega e descobre quem é a moça que estava tentando o padre’”, relembra a historiadora. Segundo Ângela, certa feita, uma mulher disse que pais não gostavam que seus filhos saíssem de casa depois da meia-noite na Quaresma. Era o momento em que as almas cumpriam sua sina e não deviam ser perturbadas. Em Ouro Preto existe um clube chamado XV de Novembro, local onde aconteciam bailes de


é essa?

Carnaval. Na terça-feira do feriado a folia terminava mais cedo para que ninguém corresse o perigo de se deparar com os monstros. Exemplos não faltam e Ângela se lembra de um com detalhes. “Um senhor me disse que, quando jovem, sua mãe pediu para que ele voltasse para casa cedo na terça de Carnaval. Ele estava no Antônio Dias e morava longe. Quando se deu conta que era tarde, apressou o passo, mas não foi suficiente. No momento em que atravessava a ponte na Barra, ele percebeu a presença de um bode do demônio, símbolo de coisas ruins. O animal olhou para o menino com os olhos vermelhos quando começou a bater a pata em sua direção. Ele saiu correndo, chegou em casa tremendo e não conseguiu dormir. ‘Eu não mandei você ficar em casa?’, questionou a mãe”. Homens geralmente têm mais histórias para contar, acredita a historiadora. Dois dos melhores informantes de Ângela eram idosos solteirões que gostavam de enfrentar situações como a de um moço que foi ao forró próximo à Igreja Santa Efigênia, mesmo contrariando a mãe. Enquanto tomava uma cerveja, avistou uma moça bonita e a ofereceu uma bebida. “Não bebo!”, respondeu a menina. Tentando agradar, ofertou um cigarro. “Não fumo!”. Por último, convidou a jovem para uma dança e recebeu mais uma negativa. De tanto persistir, passaram a noite conversando. Quando ouviram o badalo anunciando a meia-noite, a moça quis ir para casa e o rapaz resolveu levá-la. Como estava frio na rua, ele colocou seu casado sobre o ombro da jovem e pensou em voltar no dia seguinte para revê-la com a desculpa de buscar o agasalho. No outro dia, ele bate à porta da moça e é atendido por uma senhora. Pede para falar com a menina que acredita ser a filha dela. A senhora se irrita. O moço insiste e, da porta, avista um porta-retrato com a foto da jovem. “É aquela! Aquela ali, ó! Onde ela está?”, questiona o rapaz. A senhora revela, então, que a filha havia morrido há cinco anos. O rapaz não acredita e a mulher decide levá-lo ao cemitério para mostrar a tumba. Lá, sobre a câmara, encontrava-se o casaco do jovem. Conta-se ainda a história de Teco Mulambo, um valentão que chegava aos lugares empurrando e batendo em todo mundo, mas nunca tinha apanhado de ninguém.

Um dia resolveu entrar em uma mina a procura de ouro e se deparou com um salão. De repente, ouviu uma voz cavernosa anunciando que o pegaria. Deu de ombros. Em um susto, Mulambo começou a receber murros e pontapés que não sabia de onde vinham. Todo machucado, conseguiu chegar em casa arrastado. Quando os amigos o viram pensaram que, finalmente, o valentão tinha encontrado alguém corajoso a ponto de acertá-lo. Foi quando assegurou. “Está pra nascer, nesse mundo, alguém que vai bater em mim. Apanhei de alma penada”. Lendas envolvendo assombrações estão ligadas às histórias da região. “Várias pessoas me contaram que chegavam na janela do quarto de madrugada e viam uma procissão de almas. Acredito que isso seja fruto de acontecimentos passados. Na sexta-feira da Paixão, a Irmandade do Santíssimo saía em procissão para pagar promessas. No caminho iam se flagelando, arrastando correntes, gemendo e lamuriando”, analisa Ângela.


O tesouro perdido

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rua São José está em reforma e o que acontece? Todos averiguam se os buracos e canos de pedra-sabão abrigam algumas moedas antigas ou um cachimbo de escravo. Ângela se recorda que tempos atrás, os compradores de casas em Ouro Preto iniciavam reformas e assim ficavam ricos, sem mais nem menos. Outros sumiam e nunca mais eram vistos. Muita coisa valiosa – para o bolso e para a história – já foi encontrada enfiada entre os buracos das residências e até hoje isso mexe com o imaginário popular. “Existe a lenda de que os escravos eram os guardiões do ouro. Na época da escravidão, seus donos não queriam pagar o Quinto. Então, pediam aos serviçais para cavarem buracos e esconderem barras do metal precioso. Como os negros sabiam onde estava guardada a riqueza, seus donos não tinham outra alternativa senão matá-los. Ficou a imagem de que o ouro é caprichoso e só aparece para quem ele quer”, reforça a historiadora. Um dos grandes receios de Ângela Xavier é que pessoas mal preparadas lidem com os resquícios da história. “A arqueologia no Brasil não é muito desenvolvida. E, às vezes, objetos que parecem não significar nada são extremamente valiosos para a história”. Ângela acrescenta que até mesmo mortos “emparedados” já foram encontrados em casas ouro-pretanas. “A pessoa morre e não deixam enterrála normalmente por motivos diversos, como uma doença específica. Sendo as paredes daqui largas, faz-se uma armação de madeira e encaixa o corpo lá dentro, prática comum na Europa. Ao lado da Igreja do Pilar, uma casa foi reformada e dois emparedados descobertos. Os corpos foram depois enterrados. Mas deveriam ter sido deixados lá, colocado um vidro e aberto para visitação”.


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Rotina e manias. Quem não tem?

senhor Antônio Lobo, de 93 anos, é nascido em Ouro Branco, mas se mudou para Ouro Preto com oito dias de vida e lá foi batizado. Vive, desde então, na mesma casa no bairro Antônio Dias. Perguntado sobre a rotina de um ouro-pretano, ele garante. “A vida aqui é muito mais tranquila do que em uma grande metrópole. Para mim, chega a ser pacata. Raramente tem um crime. Mas Ouro Preto está mudando, ganhando aspectos de cidade grande, com muitos carros pelas ruas. Para quem trabalha e estuda o dia todo, não é fácil”. No vaivém cotidiano, seu Antônio se lembra que ouro-pretano não sabe nome de rua, sequer de monumento. As informações são repassadas a partir de referências como praças, lojas e principalmente igrejas. O nonagenário conta que, quando criança, a vizinhança era formada por muitos portugueses e italianos. Nessa época, ele jogava bola na rua, comia broa de fubá feita em casa, adorava as professoras Galdina e Dona Chiquinha e conhecia “todo mundo”. Nas proximidades do bairro do senhor Antônio, os moradores são conhecidos como jacubas. “Esse era o nome de uma bebida de antigamente, preparada com limão rosa, açúcar mascavo e farinha de milho com água fervida. Todas as casas do lado de cá tinham um pé de limão rosa e fazíamos essa bebida. Do outro lado da cidade, eles são chamados de mocotó, pois por lá existia um matadouro onde compravam canela de boi para fazer o caldo”, explica. Os apelidos, sejam de personagens ou locais, contam mais da história da cidade do que se imagina. O Largo da Alegria, por exemplo, é assim chamado, pois de lá saíam e chegavam todas as escolas de

samba. Além do mais, era o local para a reunião de seresteiros e bandas e, ainda, espaço reservado para a diversão de crianças. O Beco do Boi tem nome “de verdade”, mas ninguém sabe. A ruela era o local do abate, onde os animais iam ao chão e agonizavam até a morte. Já o lugar em que Ângela mora leva o nome de Praia dos Circos, pois, antigamente, nas imediações eram montados até três tendas de uma vez só. Desta brincadeira, nem as famílias escapam. Quase todas possuem apelidos: família do Manteiga, Manteiguinha e Manteigão, família Pirulito, dos Mulambos e os irmãos Passarinho. Ângela acredita que a cidade passa por um crescimento muito acelerado e, em meio a tantas transformações, elementos importantes podem se perder. “Hoje existe a pressa de tudo ser reformado e ficar bonito rapidamente. Tenho receio de que detalhes passem despercebidos e que a história se perca. Assim como na oralidade, cinco dos informantes do meu livro já morreram. A cidade pode e deve se adaptar ao crescimento, mas é preciso preservar o eixo, o antigo. Não se pode mexer nas fachadas das casas, embora as pessoas as modifiquem por dentro. Sugiro que façam como na Europa: que peguem algumas casas bem tradicionais com mobiliário antigo e deixem abertas para visitação, servindo um bom café mineiro. Seria uma forma de preservar e mostrar o que nós realmente temos e somos”.


Arquitetura e Aleijadinho

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rquitetura complexa, de efeitos impactantes, jogos de sombra e contrastes. O barroco europeu chegou a Ouro Preto e, junto com a geografia local, definiu o barroco mineiro. No século XVIII, escultores e pintores imprimiram sua marca na estética barroca de Vila Rica. Estética hoje vista nas pontes, chafarizes, igrejas, nos telhados e nas casinhas coladas, quase espremidas. Vista também no pouso do Chico Rei com janelas, portas e armários pintados por Guignard e nas ruelas que levam o visitante à rua mais famosa da cidade, a Direita. A arte barroca explora o catolicismo em diversos detalhes, desde os santos em relevo nas portas dos templos, até os tetos pintados, aumentando a sensação de profundidade do ambiente. “As igrejas ouro-pretanas, obviamente, simbolizam algo muito além da religiosidade da época. Representam também disputas entre essas agremiações, a cata de prestigio social e deferência. Isso porque a busca pela notoriedade era o combustível que movia aqueles estratos sociais. Certamente o barroco e o rococó são as influências mais sentidas no estilo daquelas construções, mas existem suas particularidades regionais manifestas no uso de material disponível na região como a pedra-sabão, madeiras e corantes”, elucida o professor e historiador Hilton César. Os destaques da época são para o escultor e arquiteto Antônio Francisco Lisboa, conhecido como Aleijadinho, e para o pintor Manuel da Costa Ataíde. A Igreja de São Francisco de Assis foi projetada em 1766 pelo primeiro e é considerada sua obra-prima, com estilo rococó, esculturas em madeira e a porta esculpida em pedra-sabão. Já a pintura da igreja foi feita por Ataíde. O teto possui fortes tons de azul e laranja com a Virgem Maria ao centro. A perspectiva impressa no teto da matriz é belíssima. A igreja possui ainda um cemitério ao lado, onde está enterrado o pintor Alberto da Veiga Guignard. A Igreja Nossa Senhora do Carmo, também do ano de 1766, foi pensada pelo pai de Aleijadinho, Manuel Francisco Lisboa, mas dois altares laterais no interior são do filho. O altar-mor, o forro pintado e o lavabo da sacristia são de Ataíde. Essa é a única igreja mineira que possui painéis de azulejos portugueses.


A arte de Bracher P

intor, desenhista e escultor brasileiro, Carlos Bracher nasceu em 1940, em Juiz de Fora, e iniciou sua atividade artística como decorador de louças da oficina do pai. A mãe era de Diamantina, o que fez Bracher se aproximar dos elementos históricos desde cedo. O primeiro contato com Ouro Preto aconteceu em 1964. O artista viajara com a irmã Nívea à antiga capital mineira para uma temporada de pinturas. Depois retornou cinco ou seis vezes. “Até hoje estou preso no primeiro dia que estive nessa cidade. Foi tudo muito mágico. Nós somos rodeados por mistérios, sabe? É o que nos solidifica em todos os planos e em todos os sentidos. O real é muito fraco, o visível é muito pobre. O lado poético da vida é a busca de algo que está por trás das coisas e a arte é completamente isso. É o exercício dessa abordagem das maravilhas, esse sondar e se apropriar do lado melhor das coisas”, poetiza o pintor. A cada pergunta, Bracher pensava e fechava os olhos ao falar. É como se pintasse as palavras na mente. No ano do tricentenário de Ouro Preto, o artista comemora os 40 anos de sua permanência na cidade. Muito da obra do artista diz respeito a quadros que homenageiam o município pelo qual se apaixonou na década de 1960. Bracher é paisagista e retratista. Pinta natureza morta, flores, os becos da cidade, as igrejas e até um detalhe de dentro do seu próprio ateliê, sempre com pinceladas fortes, marcadas, robustas, utilizando cores densas. Como definiu Affonso Romano de Sant’Anna, o pintor mostra um “lirismo escuro e barroco”.

Para Bracher, Ouro Preto é matriz no fornecimento de riqueza de história, lugar em que o tempo agrega valor à criação. “A poesia está presente aqui. Você, no centro de São Paulo, está destroçado de poesia. É muito difícil percebê-la em um lugar claramente moderno, inclemente nessa obviedade. Aqui em Ouro Preto você tem doçura, anuência, uma vibração natural, uma certa energia. Isso favorece a criação e a intromissão aos nossos próprios valores”, reflete. O pintor é apaixonado por Van Gogh. É o seu deus. Perguntado sobre espiritualidade, opina. “Cada um deve seguir e acreditar no que lhe faz bem”. A religião de Bracher é a cultura, uma boa música e o próprio ato de pintar. Enquanto cria, ele entra numa espécie de transe e permanece neste estado por uma ou duas horas. Quando termina a obra, fica maravilhado com o que suas mãos fizeram, mas o encanto dura pouco. No dia seguinte, já se cansou do quadro, segundo ele, por perceber suas insuficiências. “Nunca estamos satisfeitos e isso é bom, pois é através desse sentimento que melhoramos e buscamos acontecer. Nosso poder crítico é muito maior que a nossa capacidade de realizar. É alegria e descontentamento, um grande drama na arte. Ao pintar vai embora uma parte de mim, uma doação intelectual e imediatamente física”.


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Infraestrutura e economia

economia de Ouro Preto é variada, embora a principal fonte de renda do município continue sendo a exploração das jazidas de minério de ferro. A cidade é reconhecida também pelo turismo, característica que acelera o setor de serviços, oferecendo uma diversidade de hotéis, pousadas, restaurantes, lojas de artesanato, a famosa Feira de Pedra-sabão e muitas joalherias que exploram o topázio imperial. Descoberta por volta de 1760, a pedra é encontrada unicamente na região de Ouro Preto e apresenta tons que vão do amarelo-alaranjado até o rosa e vermelho-cereja. Para o prefeito da cidade, Ângelo Oswaldo, caminhar por Ouro Preto é um prazer. “A cada esquina temos um monumento e uma referência histórica. Entre os atrativos, temos 20 igrejas, 13 museus, quatro grandes parques, o trem de ferro da Vale que liga Ouro Preto à Mariana, o centro de convenções da Ufop e espaços nos hotéis para receber eventos diversos. Temos ainda o Centro de Arte e Cultura da Fiemg, na praça Tiradentes, as galerias da Faop e da Casa de Gonzaga. Além disso, destaco os museus da Inconfidência e da Mineralogia e a Casa da Ópera, o mais antigo museu em funcionamento nas Américas, com 241 anos”, cita.

Atualmente, passam por restauração três igrejas cujas estruturas são de madeira: a igreja de São José, das Mercês e Perdões e de Santa Efigênia. Dentre as construções em processo de conclusão está o Paço da Misericórdia, um centro de artes e artesanato instalado na antiga Santa Casa. Questionado sobre as dificuldades na administração municipal, o prefeito afirma que o grande desafio é conservar a planta no século XVIII, com o dinamismo, a pressa e a vitalidade do século XXI. Os problemas enfrentados pela cidade, hoje, não divergem dos costumeiros aos demais municípios do país. “Há um aumento excessivo na frota de veículos. Ouro Preto sofre com a especulação imobiliária, problemas de limpeza e estética urbana, tratamento de esgoto, abastecimento de água e pressões diversas. As cidades cresceram desordenadamente no Brasil nos últimos 40 anos por causa da migração. A questão do patrimônio assume um aspecto importante, pois queremos preservar Ouro Preto não somente para quem mora aqui, mas também para os que vêm de fora”. Ainda segundo o prefeito, a cidade mais “inchou” do que cresceu e é preciso recuperar a harmonia na expansão do tecido urbano.


Repúblicas, estudantes, Festa do 12 e carnaval

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uro Preto é composta por milhares de estudantes que deixam suas casas e famílias para estudar na Ufop. São mais de 5 mil alunos que chegam anualmente. A maior parte deles mora em repúblicas federais e particulares. Nessas, a acolhida aos calouros, os chamados “bixos” e “bixetes”, pode ser ousada. Para integrar uma república é preciso “batalhar” por uma vaga e isso significa que o calouro terá que se sujeitar, por seis meses, a trotes como andar pelas ruas e ir para a universidade com uma placa grande com dizeres provocativos pendurada no pescoço. Depois de um longo dia de sobe e desce pelas ladeiras da cidade, o bixo corre o risco de chegar na república e não encontrar seus pertences, isso porque os veteranos podem espalhar suas coisas pelas ruas ou por outras repúblicas. A ex-aluna da Ufop e integrante da república feminina Indignação, Fernanda Luiza, conta que existe uma hierarquia a ser seguida dentro da casa. “A ordem é a seguinte: ex-alunas, decanas, moradoras, semi-bixetes e bixetes. Também podem morar na casa as ‘cascudas’, estudantes que ainda não ingressaram na faculdade. Essas não possuem obrigações com a república, mas também não podem opinar nas decisões”. Segundo Fernanda, os trotes das repúblicas femininas costumam ser mais leves. Na Indignação a batalha não tem trotes pesados, mas sim regras que, se não forem cumpridas, podem dar origem a medidas corretivas. Se uma moradora não lavar a louça que sujou, por exemplo, os utensílios vão parar em cima da cama dela. Fernanda é a favor de trotes educativos, mas acredita ser um crime aqueles que humilham e prejudicam a integridade física do estudante. Ela conta como é o processo de aceitação na república em que mora. “Após

a batalha como bixete, caso seja escolhida de forma unânime, a moça se torna moradora e semi-bixete. Sua função agora é orientar a próxima estudante que vai passar pelo mesmo processo de ‘seleção’. Além disso, dentro da república, existe a decana, moradora mais velha que, por obrigação, deve assegurar que as tradições da república se mantenham”, explica. Na rotina da casa, os moradores dividem as obrigações para manter o bom funcionamento dela, como a manutenção estrutural e o gerenciamento financeiro. Para Fernanda, ser estudante em Ouro Preto é a melhor experiência que um aluno do ensino superior pode ter, pois, ingressando na universidade federal, o estudante tem um ensino público de qualidade e auxilio por meio de concessão de bolsas. “Tornar-se moradora de uma república é fazer parte de uma família. A convivência e as responsabilidades dentro da casa constituem um segundo aprendizado em Ouro Preto”, acrescenta a ex-aluna. Os estudantes das repúblicas se organizam na divulgação de duas principais comemorações da cidade, o carnaval e a Festa do 12. Na primeira, a cidade para. As repúblicas hospedam visitantes e colocam seus blocos nas ruas. Um dos mais esperados é o Bloco do Caixão, da República Necrotério, criado há 35 anos. Ele desfila com enormes urnas mortuárias pretas com moças dançando em cima delas. A Festa do 12 de outubro é uma comemoração dos ex-alunos da Escola de Minas que retornam à cidade. A celebração tem o nome de um dia, mas festança dura uma semana e transforma Ouro Preto em um ponto de encontro de turistas e foliões com shows e atrações culturais. Pousadas e repúblicas recebem quem vem de fora. É um segundo carnaval.


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