Vox 48

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O país protesta

JUNHO/2013• Edição 48• Ano IV • Distribuição gratuita

Mudança de atitude leva pessoas às ruas por ética, direitos e cidadania

Botox

Cultura

Estética, cura e prevenção na agulha

Pathé, Chico Nunes e Cine Brasil voltarão a funcionar


TodAs As porTAs dA AssembleiA esTão AberTAs pArA Você. Participar da vida política é direito de todo cidadão. Por isso, a Assembleia facilita o acesso para você chegar à Casa do Povo. Você pode acompanhar o trabalho dos parlamentares, consultar os projetos e as notícias e apresentar sugestões. Acesse a Assembleia pela internet, TV ou telefone. Ou venha aqui pessoalmente. Fique à vontade, a Assembleia é a sua Casa.

Acesse: www.almg.gov.br Assista: TV Assembleia – em BH, canal 35 UHF Fale: Centro de Atendimento ao Cidadão – (31) 2108 7800 Venha: Rua Rodrigues Caldas, nº 30 – Santo Agostinho – Belo Horizonte. Atendimento das 7h30 às 20h.


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Expediente

A Revista Vox é uma publicação mensal da Vox Domini Editora Ltda. Rua Tupis, 204, sala 218, Centro - Belo Horizonte - MG CEP: 30190-060.

“... O povo que conhece o seu Deus se tornará forte e ativo.” (Daniel 11:32) • Editor e jornalista responsável Carlos Viana • diagramação e arte Felipe Pereira • Capa Felipe Pereira

editorial

CARLOS viana Editor-Chefe carlos.viana@voxobjetiva.com.br

A voz das ruas Até o fechamento desta edição de Vox Objetiva, o país ainda estava em alerta por conta das manifestações e das cenas de vandalismo e quebradeira em várias capitais. As vitórias conquistadas pelos manifestantes se tornaram combustível para mais protestos.

• Reportagem André Martins Ilson Lima Jáder Rezende Paulo Filho

Entre os jornalistas, o relacionamento com os manifestantes se tornou de coação: ou se concordava com todas as imposições ou os veículos e profissionais passavam a ser imediatamente atacados pelas redes sociais. Inauguramos a era do “fascismo cibernético”.

• CORRESPONDENTES Greice Rodrigues -Estados Unidos Ilana Rehavia - Reino Unido Isabela Araújo - Portugal

Diante do cenário de dúvidas, é preciso buscar caminhos nas certezas que aprendemos depois de três décadas de ditadura militar e pouco mais de duas de democracia.

• diretoria Comercial Solange Viana • anúncios comercial@voxobjetiva.com.br (31) 2514-0990 • ATENDIMENTO jornalismo@voxobjetiva.com.br (31) 2514-0990 www.voxobjetiva.com.br • REVISÃO Versão Final • tiragem 30 mil exemplares Os textos publicados em forma de artigos, produzidos por colunistas convidados, expressam o pensamento individual e são de responsabilidade dos autores. Todos os direitos reservados. Os textos publicados na revista Vox Objetiva só poderão ser reproduzidos com autorização dos editores.

As ruas tomadas por milhares de manifestantes mostraram que o diálogo entre os poderes e a população havia se rompido há muito, e as autoridades, no conforto dos privilégios e dos altos salários, não perceberam o desligamento. É preciso urgentemente restabelecer a troca de informações e anseios para que as decisões sejam mais bem discutidas e voltadas para o desenvolvimento da qualidade de vida da população. O recado dos manifestantes que saíram às ruas não pode mais ser colocado em segundo plano. O combate à corrupção precisa ser uma prática diária e incansável para o destino correto do dinheiro público e a punição dos culpados por falcatruas. Apenas aumentar as penas para os crimes de desvio do dinheiro dos impostos não basta. É preciso que os envolvidos sejam identificados e punidos. Judiciário, Executivo e Legislativo têm de retomar a credibilidade, mostrando transparência nas decisões e na extinção de privilégios que soam como deboches diante das muitas carências da população. Ainda que chocados com cenas deploráveis de violência sem controle, podemos aprender e aprimorar nossa democracia. Basta que os homens públicos “quebrem” primeiro as vidraças do distanciamento e dos gabinetes onde as decisões são tomadas quase sempre para atender a interesses particulares e não coletivos.


metropolis • OlhAR BH

O reencontro com as ruas A voz de centenas de milhares de brasileiros ecoa nas ruas de todo o país por mais justiça, solidariedade e, sobretudo, pelo fim da corrupção. O movimento sem bandeiras partidárias chama a atenção do mundo para o país do futebol e revela um novo Brasil, combativo e com esperança de dias melhores.

Foto: Jáder Rezende


sumário Divulgação / SOS Mata Atlântica e Inpe

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Paulo Filho

metropolis.............................................. MEIO AMBIENTE •

Mais uma vez, Minas Gerais lidera entre os estados que mais devastam o bioma

André Martins

14 verbo...........................

entrevista • AFONSO BORGES

Idealizador do Sempre Um Papo revela como surgiu a iniciativa que estimula a leitura no Brasil

política • manifestações e protestos

População vai à rua e sacode o cenário político nacional

Artigos.............................................................................

crônica • Joanita Gontijo

IMOBILIÁRIO • Kênio Pereira

É só correr para o abraço....................................................

Convenção sem valor gera prejuízos .....................................

Marolas e Ondas..................................................................

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SALUTARIS........................................................................

RECEITA • PALADAR Lagosta com fettuccine à carbonara...............................

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VINHOS •Danilo Schirmer A Casa do vinho.................................................................

Impostos civilizados. Lucros também.....................................

política • Paulo Filho

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justiça • Robson Sávio

meteorologia • Ruibran dos Reis Programa de Agricultura de Baixo Carbono...........................

PSICOLOGIA • Maria Angélica Falci Ruas do tempo ....................................................................

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Capa...................................................................

41 47

32 27

KULTUR................................................................................ MONDO KULT.............................................................. 32 DA PASSARELA PARA A RUA................................. 27


André Martins

Divulgação / Francisco Nunes

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Salutaris. ................................................ ESTÉTICA• BOTOX

A busca pela perfeição e a luta contra os sinais do envelhecimento –

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kultur. ........................................................ cênicas

• BOAS-NOVAS PARA BH

Espaços tradicionais são reformados e restaurados

Rodrigo Rodrigues

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horizonteS---------------------TURISMO • PARQUE GÜELL

Idealizado por Antoni Gaudí, o espaço é símbolo do modernismo na região catalã

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Divulgação / SOS Mata Atlântica e Inpe

metropolis • meio ambiente

A destruição da Mata Atlântica, no Vale do Jequitinhonha, visa alimentar as milhares de carvoarias ilegais da região .............................................................................................................................................................................................................................................................

Na trilha da extinção Pelo quarto ano consecutivo, Minas Gerais lidera o processo de degradação da Mata Atlântica Jáder Rezende

A Mata Atlântica, único bioma brasileiro que tem lei específica, é também o mais ameaçado. E Minas Gerais é o principal vilão nesse processo. Nos últimos quatro anos, mais da metade da área remanescente no país foi riscada do mapa. O trecho estava localizado em território mineiro. A maior parte foi dizimada para fomentar a produção de carvão e implantar monoculturas, sobretudo de eucalipto, que provoca sérios danos ao meio ambiente, caso não sejam tomados alguns cuidados no cultivo. Originalmente a Mata Atlântica abrangia uma área superior a 1,3 milhão de quilômetros quadrados e se estendia ao longo de 17 estados. Atualmente restam

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apenas 8,5% de remanescentes florestais acima de cem hectares em relação ao que havia antes de Cabral dar início ao processo de colonização. Somados os fragmentos de floresta nativa acima de três hectares, o que sobrou de Mata Atlântica no país chega a 12,5%. O bioma é classificado como um dos mais ricos em biodiversidade e foi decretado Reserva da Biosfera pela Unesco e Patrimônio Nacional pela Constituição Federal de 1988. Sua composição original é um mosaico de vegetações definidas como florestas ombrófilas densa, aberta e mista; florestas estacionais decidual e semidecidual; campos de altitude, mangues


metropolis • meio ambiente

e restingas. De acordo com o Censo Populacional 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais da metade da população do país vive na Mata Atlântica. São 112 milhões de habitantes distribuídos em 3.284 municípios. A luta pela conservação desse importante patrimônio natural vem sendo travada há décadas, mas interesses e o poder de grandes corporações são poderosos impeditivos. Para dar uma ideia, a votação do Projeto de Lei da Mata Atlântica, que regulamenta o uso e a exploração de seus remanescentes florestais e recursos naturais, arrastou-se por 14 anos no Congresso Nacional, sendo finalmente sancionado em dezembro de 2006. Um novo capítulo dessa história foi aberto recentemente. Na véspera do Dia Mundial do Meio Ambiente (5 de junho), a Fundação SOS Mata Atlântica e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgaram dados nada animadores sobre o Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica, entre 2011 e 2012. O Brasil perdeu cerca de 23 mil campos de futebol do bioma, perfazendo um aumento de 29% no desmatamento em relação ao período anterior, conforme revela o estudo. E pela quarta vez consecutiva, Minas Gerais lidera o processo de degradação. O novo Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica aponta uma supressão de vegetação nativa de 23,55 mil hectares ou 235 Km². A degradação é dividida em cerca de 22 mil hectares de desflorestamentos, 1,5 hectare de supressão de vegetação de restinga e 17 hectares de supressão de vegetação de mangue. Dez estados foram avaliados nos períodos: Minas Gerais, Bahia, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo. O resultado da comparação revelou um aumento na degradação de 29% em relação ao período anterior (2010-2011) e de 23% em relação aos três últimos anos (2008-2011). A taxa anual de desmatamento é a maior, desde 2008, conforme o levantamento. Entre 2008 e 2010, a taxa média anual foi de 15,18 mil hectares. No levantamento de 2010 a 2011, a taxa anual ficou em 14,09 mil hectares. A exploração de carvão vegetal e

a expansão agrícola em Minas, principalmente para a cultura de soja, são as principais formas de aniquilamento de florestas virgens, segundo revela Marcia Hirota, diretora de Gestão do Conhecimento e coordenadora do Atlas pela SOS Mata Atlântica. “Minas Gerais é o estado com maior cobertura florestal em termos de área, com expressiva cobertura de florestas naturais. O que observamos nas últimas edições é a supressão de vegetação nativa, especialmente na Região Noroeste do estado, nos limites da Bahia e no Cerrado. Na edição anterior apontamos ali a existência de um triângulo do desmatamento, porque os três municípios campeões de desmatamento estão lá: Água Vermelha, Jequitinhonha e Ponto dos Volantes. Hoje identificamos várias supressões de vegetação nativa na mesma região”, afirma. No final do ano passado, a Fundação SOS Mata Atlântica alertou o Governo de Minas e o Ministério Público sobre a continuidade de desmatamentos. A diretora da ONG se baseou em estudos prévios para advertir sobre a necessidade de deter essas ações. “As ações que cabiam ao Governo de Minas em nada avançaram. Com a colaboração do Ministério Público, realizamos um trabalho de campo para verificar as licenças emitidas e a situação dessas áreas”, conta. Mais incisivo, o Ministério Público de Minas partiu para o ataque e ajuizou, dias depois, três ações penais contra o executivo estadual. As ações foram definidas paralelamente ao pedido de moratória feito pela Fundação SOS Mata Atlântica, exigindo que não seja concedida nenhuma licença de desmatamento nos próximos 12 meses e promovendo uma grande operação pente-fino para revisar as autorizações de licença emitidas. A expectativa geral é de que o estado apresente um plano de ação para proteção, restauração ou ampliação de área ou mesmo campanhas educativas. Uma das ações do MP em que o Governo de Minas figura como réu envolve a Fazenda Turmalina. Houve destruição de Mata Atlântica no empreendimento para a implantação de eucalipto. A mesma propriedade funcionava sem licença ambiental e expandiu sua cultura para uma Área de Preservação Permanente (APP). Na ação, o MP pediu a paralisação do

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metropolis • meio ambiente

empreendimento até a regularização ambiental e a retirada de todo eucalipto inserido em APP e em áreas que continham Mata Atlântica em estágio médio e avançado de regeneração. Além disso, exigiu a recuperação das áreas. Nesse caso, houve decisão liminar favorável, exigindo a interrupção imediata do funcionamento do empreendimento, a retirada de eucalipto da APP e a recuperação da área. Outra ação é relativa à Viena Fazendas Reunidas. O local ocupa uma área superior a de países como Mônaco e San Marino. A área suprimida foi de 6,2 mil hectares. Desse total, 4,95 mil hectares de Mata Atlântica em estágio médio de regeneração foram suprimidos para a implantação da cultura de euca-

lipto. O empreendimento também não tinha licença ambiental, entre outros problemas. No dia 4 de junho passado, o juiz Manoel dos Reis Morais concedeu liminar determinando a interrupção das atividades de silvicultura pela fazenda e a retirada de plantações e edificações das áreas de APP e nas áreas em que havia mata nativa secundária. O juiz deu o prazo de dez dias para que o processo de licenciamento fosse iniciado. O descumprimento sujeita o infrator a uma multa diária de R$ 10 mil. Os desmatamentos são promovidos por grandes empreendimentos, e a conduta ilícita de servidores

Divulgação / SOS Mata Atlântica

Marcia Hirota, coordenadora do Atlas pela SOS Mata Atlântica: “As ações que cabiam ao Governo de Minas em nada avançaram” .............................................................................................................................................................................................................................................................

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metropolis • meio ambiente

Divulgação / SOS Mata Atlântica e Inpe

Vista aérea de área degradada da Mata Atântica. Minas Gerais volta a liderar o ranking de desmatamenhto pela quarta vez consecutiva .............................................................................................................................................................................................................................................................

da área ambiental possibilita a supressão indevida de Mata Atlântica, conforme conclui o Ministério Público. “Esse é só o início da nossa atuação integrada com a SOS Mata Atlântica. Temos um total de 18 inquéritos referentes a siderúrgicas, pois precisamos acionar não só quem desmata, mas também quem consome o carvão obtido das florestas nativas”, disse Carlos Eduardo Ferreira Pinto, coordenador-geral das Promotorias de Defesa do Meio Ambiente de Minas Gerais. O promotor considera os atos rigorosos extremamente necessários. “É importante salientar que Minas chegou a um patamar absolutamente inviável de sustentabilidade”, ataca o promotor. Os inquéritos identificaram o fracionamento de grandes empreendimentos para

burlar o sistema e causar danos ambientais irreparáveis, conforme observou. “Foi possível identificar áreas absolutamente relevantes e extensas sendo fracionadas para possibilitar a supressão sem nenhum tipo de apresentação de estudo. Isso foi demonstrado graças a imagens de satélite. Na manobra, o indicado como desmate de pastagem se tratava de supressão de Mata Atlântica em estágio avançado de regeneração”, conta. Entre os casos berrantes, Carlos Eduardo cita o de uma propriedade de 11 mil hectares fracionada em mais de dez autorizações com pessoas físicas individualizadas. “Quando fomos a campo, verificamos que se tratava de uma área relevante e extensa que perfazia um único empreendimen-

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metropolis • meio ambiente

to e que só poderia funcionar com licenciamento e estudo de impacto ambiental. Só nesse caso verificamos mais de 6 mil hectares suprimidos de maneira ilegal”, disse, observando que essa prática é corriqueira. “É uma maneira de garantir permissões mais rápidas, frágeis e simplificadas, talvez com a certeza de impunidade”, conclui. O promotor não abre mão da defesa de uma revisão completa na lei ambiental do estado. “Não adianta paralisar determinados empreendimentos, se a política continuar a fomentar outros desmatamentos. Não podemos aceitar que nosso estado continue a figurar como primeiro no ranking de desmatamento”. A meta, segundo ele, é constituir um comitê para estabelecer regras, padrões de fiscalização e, principalmente, termos de referência para novas autorizações e controle das emitidas. “É necessário projetar uma revisão geral do sistema. Não se pode mais alegar que sejam pequenas propriedades ou de supressão para atividades de subsistência. Já identificamos que são grandes empreendimentos e grandes corporações envolvidas no processo”, alerta. Seis dias depois da divulgação do novo Atlas da Mata Atlântica, o Governo de Minas, por meio da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), divulgou as ações a serem adotadas no combate ao desmatamento no estado, garantindo que as práticas seriam “adotadas imediatamente para proteger a Mata Atlântica remanescente em Minas Gerais”. O secretário de Estado de Meio Ambiente e De-

senvolvimento Sustentável, Adriano Magalhães, assinou a Resolução Semad 1.871/2013, que determina a suspensão temporária dos Documentos Autorizativos de Intervenção Ambiental (Daias) e das Autorizações de Intervenção Ambiental (Aias) emitidos pelo Sistema Estadual de Meio Ambiente (Sisema). De acordo com o documento, a suspensão vale para os Atos Autorizativos que se referem às atividades de silvicultura no bioma, que respondem por 80% dos Atos Autorizativos de supressão de vegetação. Além disso, Magalhães determinou a revisão de todos os Atos Autorizativos e das Declarações de Colheita e Comercialização (DCCs) concedidos pelo Sisema a partir de 2011 para atividades de silvicultura e a divulgação mensal das concessões de Daias, Aias e DCCs nos sites do Instituto Estadual de Florestas (IEF) e da Semad. “Dessa forma, poderemos observar e ser bastante restritivos em relação às autorizações de intervenção em áreas de Mata Atlântica no estado”, declarou. A preocupante e crítica situação de Minas Gerais no Atlas da Mata Atlântica ecoa também no Ministério do Meio Ambiente, que promete integrar a força-tarefa para conter a devastação desenfreada no estado. “Os dados indicam que deve haver um olhar especial para Minas no sentido de combater, e depressa, o desmatamento na Mata Atlântica. Vamos unir forças para identificar os pontos-problema, como os compradores de carvão, o perfil de cada empresa, se ela participa do programa carvão legal e tirar Minas dessa posição incômoda”, detalha o diretor do Departamento de Conservação da Biodiversidade, Carlos Alberto Scaramuzza.


artigo • imobiliário

Kênio Pereira Presidente da Comissão de Direito Imbiliário da OAB-MG keniopereira@caixamobiliaria.com.br

Convenção sem valor gera prejuízos Há condomínios perdendo ações judiciais contra infratores ou devedores. Isso, porque o juiz verifica que a nova convenção registrada no Cartório de Títulos e Documentos, que fundamenta o processo, não tem valor perante os réus que adquiriram as unidades após a sua confecção. Ele sentencia que vale a convenção original, porque na nova convenção faltam requisitos que possibilitem a sua aceitação no Cartório de Registro de Imóveis. Resultado: o condomínio é condenado a pagar as despesas do processo e os honorários do advogado dos réus, em vez de receber o seu crédito. A convenção é o documento mais importante de um condomínio. Conforme o art. 167, inciso I, item 17 da Lei de Registros Públicos n.º 6.015/73, o Cartório de Registro de Imóveis, o mesmo onde está a matrícula dos apartamentos, é o único apto a registrar corretamente “incorporações, instituições e convenções de condomínio”. Não se admite que um advogado especializado desconheça o art. 1.333 do Código Civil. O artigo determina que a convenção somente terá valor contra todos que vierem a adquirir uma unidade imobiliária, se for registrada no Cartório de Registro de Imóveis. Confira a sua convenção para evitar prejuízos. Quem orienta errado o condomínio infringe a boa-fé e a probidade nas relações contratuais. O infrator pode também responder por prestação de serviço defeituoso, conforme art. 14 do CDC: “O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relati-

vos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos. § 1° O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode esperar [...]”. PROPAGANDA ENGANOSA Se houver uma divergência entre a convenção original e a rerratificação que foi registrada no Cartório de Títulos e Documentos, prevalece a convenção original, pois ela não foi alterada perante o Cartório de Registro de Imóveis, diante dos defeitos existentes. Vender um serviço ineficaz consiste infração ao art. 37 do CDC que proíbe publicidade enganosa ou abusiva, capaz de induzir a erro o consumidor a respeito da natureza, das características ou da qualidade, porque deixa de informar sobre dado essencial do produto ou do serviço. ÉTICA PROFISSIONAL O Estatuto da Advocacia da OAB proíbe esse tipo de conduta ao dispor que:“Art. 34. Constitui infração disciplinar: VI - advogar contra literal disposição de lei...; XXIV - incidir em erros reiterados que evidenciem inépcia profissional; XXV - manter conduta incompatível com a advocacia; XIV - deturpar o teor de dispositivo de lei”. Diante da importância da convenção, não escolha quem irá redigi-la pelo menor valor, mas pela competência.

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Verbo

Entrelinhas e entreolhares André Martins A adolescência do escritor, produtor cultural e empresário Afonso Borges possivelmente não foi a das mais convencionais. Com apenas 25 anos, o belo-horizontino já havia devorado alguns dos maiores clássicos da literatura mundial. García Márquez, Dostoievski, Jorge Amado, dentre outros só faziam ocupar a cabeça do jovem que lia compulsivamente, em qualquer oportunidade. Tal qual a mãe poetiza, Afonso enveredou pelo campo dos versos, publicou quatro livros e, não satisfeito, iniciou, há 27 anos, um projeto cultural que se destacou no Brasil por estimular a prática da leitura e por aproximar autores e leitores. O Sempre Um Papo conta com números expressivos que falam por si. Eles dão conta de um empreendimento cultural de sucesso. Em quase 30 anos de atividades, o projeto atuou em mais de 30 cidades brasileiras e em algumas do exterior. São mais de 4,5 mil eventos promovidos, com um público estimado em mais de 1,5 milhão de pessoas. Nada mal para uma iniciativa que, como o próprio Afonso revela em entrevista à Vox Objetiva, tinha como expectativa ficar limitada à região da Savassi.

Minha mãe sempre gostou muito de ler. É, inclusive, com 81 anos, uma excelente poetisa. E foi nesse canal que comecei minha vida literária, publicando três livros de poemas, todos independentes. Foi numa época em que era possível, em BH, vender livros nos bares, cinemas e restaurantes, de forma mambembe, ali pelos anos 80. Mas escrevo em jornais desde os 15 anos. O jornalismo foi um caminho natural, no meu caso. Quando veio o Sempre Um Papo, a literatura passou a ser a minha vida. O que você gostava de ler? De tudo um pouco. Mas intensamente, entre 17 e 25 anos, li todos os clássicos, de Faulkner a Dostoievski, de García Márquez a Jorge Amado. Lia andando, dentro de ônibus, nas mesas de bares,... Lia até dormir. Sou uma pessoa nascida e criada no Centro de BH. Eu me lembro de cada esquina; de cada lugar. No Suplemento Literário de Minas Gerais, ainda que muito precocemente, tive a felicidade de conhecer Murilo Rubião, Duílio Gomes, Paulinho Assunção e Jaime Prado Gouvêa. Foi uma escola à parte para minhas leituras. Nesse sentido, a companhia de bons leitores é fundamental para a formação de um bom leitor. E hoje: o que te interessa na literatura?

Pela sua biografia, a literatura sempre esteve presente em sua vida. Como esse interesse surgiu? Você teve alguém como referência, que o estimulou a enveredar por esse caminho?

Muita gente boa que nasceu nos blogs e hoje é autora de bons livros e boa literatura. Mas, curiosamente, quase todos são professores. Quer uma lista instantânea


Divulgação/ Sempre Um Papo

O Sempre Um Papo, de Afonso Borges, movimentou um público de 1,5 milhão de pessoas em eventos promovidos em todo o Brasil .............................................................................................................................................................................................................................................................

de 15 novos bons autores? João Anzanello Carrascoza, Joca Reiners Terron, Sérgio Alcides, Cadão Volpato, Cíntia Moscovich, Santiago Nazarian, Ivana de Arruda Leite, Tatiana Salem Levy, Cristiane Costa, Rique Aleixo, Michel Laub, Veronica Stigger, Paulo Henrique Scott, Noemmi Jaffe. Mas já me lembro de Carlos Herculano Lopes, João Paulo Cuenca, Carola Saavedra,... Temos ótimos novos autores. De língua portuguesa, Gonçalo Tavares, Mia Couto, Agualusa e o espantoso Valter Hugo Mãe. Você é tido como um dos indivíduos que mais estimulam a literatura e a leitura no Brasil. As condecorações e os prêmios recebidos por você são reflexo desse esforço. Eles devem fazer bem para o ego, mas o que move o Afonso Borges? A alegria de fazer os outros lerem mais. Não me deixo levar pelo ego e por vaidade. Veja as peças do Sempre Um Papo: a logo é pequena, e o nome dos autores,

imenso. E nem aparece o meu nome, mesmo que eu faça, há 27 anos, a mediação dos eventos. Considero os elogios ao projeto um canal de comunicação entre os autores e a necessidade que eles têm de reforçar a importância da leitura. É uma cantilena da maior importância: leiam mais, leiam mais, leiam sempre. Isso, sim, vale a pena. Como você avalia a política cultural brasileira no que diz respeito à literatura e ao estímulo à prática da leitura? Temos incentivos e boas ideias suficientes por aqui? Ótimas ideias, boas iniciativas, muito esforço e pouca recompensa. É esta a nossa vida. Quer um exemplo cruel? Em todas as passeatas, vocês viram um só cartaz dizendo: “Mais Cultura!” ou “Mais Leitura!” Cá entre nós: o que falta, ao lado da educação? Mais leitura. É um esforço enorme para um resultado mínimo - mas vale a pena cada letra lida por qualquer pessoa.

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Verbo

Está comprovado que o brasileiro lê pouco. Na sua avaliação, a que se deve essa “falta” de hábito de leitura, principalmente quando comparado aos padrões de leitura até mesmo dos nossos vizinhos latino-americanos, que leem mais que nós? É um paradoxo. Ao mesmo tempo, dê uma olhada no site do pnll.gov.br - milhões de reais investidos em doações de livros para escolas. Centenas de bibliotecas públicas beneficiadas em todo o Brasil. Dizem que o brasileiro lê pouco. Mas os números do mercado editorial não confirmam essa frase. É um mercado crescente. Ao mesmo tempo, faltam livrarias. O importante mesmo é persistir com campanhas de incentivo à leitura. Afinal, nunca se leu e se escreveu tanto, nos últimos dez anos, graças às novas mídias e às tecnologias. A pergunta é a seguinte: o que se está lendo e como? Alguém sabe a resposta? Como surgiu o Sempre Um Papo? Surgiu de um seminário que promovi, na Comunicação da PUC-MG, chamado “Os Anos Médici”. Foi logo após a morte do ex-presidente Emílio Garrastazu Médici. Eu convidei Heloísa Starling e René Dreifuss. Fiquei com esse chamado para o debate. Como eu tocava em um barzinho na Savassi, decidi fazer um bate-papo com escritores, antes da cantoria, que se arrastava até a madrugada. O primeiro convidado foi Oswaldo França Júnior. Depois Frei Betto sugeriu esse “Sempre Um Papo” que, de um despretensioso bate-papo em botecos, transformou-se em um dos mais longevos programas de literatura do país. Hoje minha grande batalha é organizar o acervo, disponibilizar no site e democratizar o acesso à informação que tenho. A ideia foi para além do que você havia concebido ou você sempre imaginou incluir o Brasil inteiro nesse movimento de valorização da leitura e dos nossos autores? Nunca imaginei passar da Savassi! Mas fizemos eventos até no interior da floresta amazônica. E continuamos Brasil afora, de Norte a Sul. Veja: o projeto existe há anos em Porto Velho e Rio Branco. Fiz um ano de eventos em Madrid, na Casa de América. Recentemente fomos convidados pela Sorbonne para uma série de eventos. Mas continua sendo muito difícil. Afinal, tem entrada franca e necessita

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de patrocínio para se viabilizar. Se não fossem as leis de incentivo, não sei o que seria. A sua obra publicada diz respeito, em grande medida, a poemas. O campo dos versos parece um tanto quanto intrincado e complexo. É difícil fazer poesia? Em que momento você estabelece que um poema está pronto e não existem aparas? Tenho, ainda na poesia, a expressão máxima do meu sentimento literário. Sou colunista da CBN, com o “Mondolivro”, escrevo continuadamente para jornais, faço textos diariamente e leio sete jornais por dia. O twitter @sempreumpapo faz parte do meu cotidiano. Mas o poema contém as melhores ideias. É um jogo de xadrez; um campo de guerra. Você joga, mexe e se movimenta até alguém sair vencido... ou vencedor. Para o bem do leitor. Como você descreve a sua obra? Sintética, esparsa e cética. Tenho três livros e a certeza da inexatidão. Falem por vocês. Grande parte dos meus poemas eu escondi em bit.ly/Xa8mS5. Gabriel Araujo


Artigo • Justiça

ROBSON SÁVIO REIS SOUZA Filósofo e cientista social robsonsavio@yahoo.com.br

Impostos civilizados. Lucros também O Brasil tem uma das maiores cargas tributárias do mundo. Em 2012 chegou ao recorde de 36,27% do Produto Interno Bruto (PIB), conforme aponta um estudo divulgado recentemente pelo Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT). A arrecadação tributária chegou a R$ 1,59 trilhão em 2012, contra R$ 1,49 trilhão registrado em 2011.

dor público sabe, e vive clamando, que é preciso ter recursos financeiros para manter o Estado em ação.

No dia 23 de maio, as grandes empresas e a grande mídia denunciaram, nos quatro cantos, a carga tributária brasileira. Compararam o Brasil a Miami. As associações comerciais e empresariais culpavam o governo, em uníssono, como se fosse o poder público o único vilão “Ora, as fontes de arredos preços altos de todos os itens de consumo. Esqueceram-se, presuncadação para o finançosamente, de falar dos lucros exorbitantes que estão embutidos nos ciamento das políticas preços. O estudo do Sindipeças, por exemplo, constatou que a margem públicas são impostos, de lucro das montadoras no Brasil é o dobro da média mundial e mais do taxas e tributos. triplo da dos EUA.

O mesmo país que tem tributos penalizando proporcionalmente os mais pobres – porque estão embutidos no consumo e não nos bens de capital – apresenta um dos maiores déficits sociais. A situação é resultado de cinco séculos de exclusão social e de concentração de renda. Isso significa que o poder público – em todos os níveis de governo – precisa de dinheiro, e muito dinheiro, para financiar programas Dinheiro não cai do céu” e políticas sociais dos mais variados. No Brasil é comum que as empreAssim o Brasil tenta diminuir as desas e o comércio pratiquem lucros sigualdades a patamares civilizados. enormes, exorbitantes, escorchantes. Aquilo que os países europeus conTodos sabem disso... Com um sisseguiram implantar após a segunda guerra mundial, um tema bancário dos mais predatórios – com juros que se estado de bem-estar social, ainda está em curso nesta terra. configuram como verdadeiro assalto à mão desarmada –, Isso, porque ainda somos reféns de uma brutal concentra- esses setores oneram ainda mais os preços dos produtos ção de renda e de riqueza que envergonha qualquer pessoa brasileiros. Tudo isso é considerado normal e legal. Porém, sensata. óbvio, a prática é amoral e antiética. Ora, as fontes de arrecadação para o financiamento das políticas públicas são impostos, taxas e tributos. Dinheiro não cai do céu. É verdade que há muito desvio de recurso público, má gestão em todos os níveis de governo e nos três poderes da República. Não obstante, todo administra-

Então fica uma pergunta básica: empresas, comércio e o sistema bancário estão dispostos a reduzir suas margens de lucro para patamares civilizados, como em Miami? Ou a velha cantilena de sempre culpar os governos vai continuar?

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capa • política

A política na rua Iniciado com a “revolta dos centavos”, o movimento por um Brasil melhor tomou conta das ruas e dos corações em todo o país Paulo Filho e Ilson Lima Fotos de Jáder Rezende De uma hora para outra, o Brasil entrou no rol dos países que lidam com a população ocupando as ruas em manifestações e protestos que reivindicam seus direitos, sejam eles a democracia, a cidadania, as políticas sociais, sejam outros com temas mais focados, como os econômicos e os ambientais. Do Norte da África ao Oriente Médio, com a Primavera Árabe, e da Europa, com as manifestações dos imigrantes e dos protestos na Grécia, Espanha e em Portugal por questões econômicas, aos Estados Unidos, com o Ocuppy

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Wall Street, o mundo vem, nos últimos anos, sendo “sacudido pelas pessoas”. Destemidamente, elas usam da ocupação coletiva dos espaços públicos como a única ferramenta e forma de pressionar os governantes por seus desejos e reivindicações. No Brasil, a eclosão desse movimento da sociedade questionando e exigindo mudanças nas práticas e nas ações políticas em todas as esferas do poder, no âmbito da União, dos estados e dos municípios, teve


início com um fato isolado e circunscrito à cidade de São Paulo. O que eram manifestações localizadas contra o reajuste das tarifas de transporte coletivo, organizadas pelo Movimento Passe Livre (MPL), transformou-se, após as ações absurdamente violentas da Polícia Militar de São Paulo, em repressão às manifestações de rua, em um movimento catalisador de todas as aspirações por mudanças no país. E com uma espontaneidade que surpreendeu todos, o movimento se espraiou por todo o território nacional, chamando a atenção, sobremaneira, o fato de que os manifestantes repudiam abertamente a participação ou a vinculação do movimento a políticos ou a agremiações partidárias. Convocadas e potencializadas pelas redes sociais, as manifestações de rua têm levado contingentes imensos de pessoas a participar de protestos pelos mais variados objetivos. No pacote das reivindicações — aos prefeitos, aos governadores, à presidente, aos vereadores, deputados, senadores e ao Judiciário —

constam, dentre outros, a cobrança por mais investimentos em educação, saúde e segurança, o combate à corrupção generalizada, a melhoria na qualidade do transporte público, o repúdio à PEC 37 (que retira poderes de investigação do Ministério Público), o repúdio ao Estatuto do Nascituro, o repúdio a qualquer proposta de tratar a homossexualidade como doença e, de forma bem direta, contra os pesados e nebulosos investimentos feitos para que o Brasil sedie a Copa do Mundo de Futebol em 2014. Se em São Paulo a ação da Polícia Militar potencializou as manifestações, em Minas Gerais, o governo Antonio Anastasia teve papel preponderante para impulsionar os protestos, quando tentou proibir, via Justiça, durante a realização da Copa das Confederações, qualquer tipo de manifestação no estado. A resposta imediata foi o povo nas ruas, além, é claro, das categorias profissionais do funcionalismo público estadual que estão em greve. O governo mineiro recorreu, além da Polícia Militar, à Força de Segurança

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Nacional que, num primeiro momento, enviou 150 homens ao estado para fazer frente às manifestações. Tendo como base a reivindicação primeira, o valor das tarifas do transporte coletivo, até o dia 20 de junho, mais de 30 municípios reduziram o valor cobrado no transporte público de passageiros. “Os prefeitos estão morrendo de medo de que haja um recrudescimento dessas manifestações”, afirma o sociólogo e cientista político Rudá Ricci. Um fato tem chamado a atenção: os manifestantes agradecem pela redução das tarifas, mas não saem das ruas. Em Belo Horizonte, as manifestações seguem em ritmo crescente de quantidade de participantes e

de realizações. Na semana de 16 a 22 de junho, elas foram diárias, em vários pontos da cidade e com o apoio da maioria absoluta da população. No sábado, dia 22, mais de 120 mil pessoas ocuparam o centro da cidade e caminharam até a região do Estádio Governador Magalhães Pinto, o Mineirão. Barrados pela Polícia Militar a cerca de dois quilômetros do estádio, a região, segundo a PM, a partir de ações de vândalos e baderneiros, virou uma praça de guerra, com feridos graves dos dois lados e mais de 30 prisões. Bens públicos e privados foram depredados e saqueados. SEM PARTIDOS Chama a atenção, na onda de manifestações, a rejeição à participação de partidos políticos nos protestos. Em vários momentos, com destaque para ocorrências em São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro, militantes de partidos de esquerda foram expulsos das manifestações. Em São Paulo, a expulsão de militantes petistas e de membros da Central Única dos Trabalhadores (CUT) ocorreu com agressões, queima de bandeiras e violência desmedida. Para muitos, especialmente os militantes de esquerda, essa posição contrária à participação dos partidos e dos políticos em geral nas manifestações aponta para um “movimento fascista” que está se apoderando de um movimento que não tem lideranças definidas. Em sentido contrário, a maioria dos manifestantes faz questão de deixar claro que os protestos são também contra os partidos políticos brasileiros. Com a visão de que são todos “farinha do mesmo saco”, as manifestações apontam a desonestidade, a corrupção, o fisiologismo, a demagogia e o exercício do poder apenas pelo poder como características comuns a todas as agremiações partidárias brasileiras.

Manifestantes tomam as ruas em passeata por mudanças no país ........................................................................................................................ .........................................................................................................................

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Além dessas, pelo menos mais uma característica pode ser elencada nesse rol: o oportunismo. Chama a atenção como dois dos maiores partidos políticos do país, PT e PSDB, tentam se aproveitar das cir-


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cunstâncias criadas pelas manifestações. O PSDB, tendo como principal porta-voz o senador Aécio Neves, pré-candidato do partido à presidência em 2014, age como se não fosse governo em dois dos maiores estados do país — São Paulo (mais de 20 anos) e Minas Gerais (mais de 10 anos) e se manifesta como vestal (puro) em um ambiente insalubre. Mas os manifestantes questionam também, para focar só em Minas, o desvio de recursos da área de saúde, os valores gastos na construção da Cidade Administrativa e na reforma do Mineirão, dentre outras coisas. Aécio ainda se esquece dos vários casos de corrupção vinculados ao seu partido, que vão, dentre outros, desde a “compra” de parlamentares para votarem a favor da reeleição, no governo Fernando Henrique Cardoso, passando pelo “tucanoduto” mineiro, com o ex-governador Eduardo Azeredo, até chegar às recentes acusações de envolvimento do governador de Goiás, Marcone

Perillo, com o contraventor Carlinhos Cachoeira. Já o PT, que em um primeiro momento orientou sua militância a ir para as ruas defender o governo Dilma e confrontar os manifestantes, voltou atrás, segundo consta, por orientação de Lula e do marqueteiro João Santana, e tentou se apoderar das bandeiras e de pleitos colocados pelos manifestantes, motivo que acirrou os ânimos contra os militantes do partido. Para Lula, o PT deve aparelhar o movimento e agir como o “senhor” da pauta reivindicatória. Ele se esquece dos seus oito anos de mandato e do seu aval à sucessora. Dez anos nos quais as demandas da população se avolumaram, as denúncias de corrupção continuaram como em todos os governos, haja vista o “mensalão” e, como a cereja no bolo, ele, que trouxe a Copa, com as reformas bilionárias dos estádios (muitos verdadeiros elefantes-brancos) e a subserviência à Federação

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Internacional de Futebol (Fifa). MOVIMENTO AVANÇA E DEFINE RUMOS Em uma “assembleia popular ampliada”, realizada no dia 22 de junho embaixo do Viaduto Santa Tereza (local em que várias assembleias populares vêm sendo realizadas para discutir e avaliar as manifestações), e que contou com a participação de cerca de 2 mil pessoas, o movimento de protesto em Belo Horizonte começou a definir novos contornos. Como exemplo de que o movimento não se prenderá a “lideranças formais” e tradicionais, o encontro teve mais de cem oradores inscritos, evidenciando que os rumos e as ações continuarão sob uma grande liderança coletiva, “sem dono”, como diz a maioria dos manifestantes. Francisco Maciel, secretário da Associação dos Usuários do Transporte Coletivo em Belo Horizonte e histórico militante dos movimentos sociais na cidade, presente em todas as assembleias, avaliou que o movimento entra agora em outro patamar. “Com essa assembleia ampliada, estamos dando o

primeiro passo para uma melhor definição e coesão das pautas reivindicatórias do movimento. Organizar e sistematizar as pautas é muito importante para direcionarmos as cobranças de quem e onde”, diz. Um dos fundadores do PT na cidade e Secretário-Geral do partido em Belo Horizonte, Maciel discorda das avaliações e afirmações de que o partido foi pego de surpresa pelas manifestações. Segundo ele, o inconformismo com os rumos que a legenda tomou, após a chegada ao poder, vem sendo manifestado e discutido internamente há muito tempo e, paulatinamente, crescendo, até transbordar com as manifestações e os protestos atuais. “O partido vem se distanciando dos movimentos sociais cada vez mais. No âmbito do governo federal, as alianças à direita têm isolado os movimentos sociais dentro do governo. Os governos do PT vêm sendo exercidos com partidos e figuras históricas da direita e associados a práticas políticas nefastas, como são os casos de Sarney, Renan, Collor, Roberto Jefferson, agora Kátia Abreu e, absurdo dos absurdos, até Paulo Maluf”. “Aqui em Belo Horizonte, esse distanciamento dos movimentos sociais também ocorreu e foi questionado. Em certo momento, na gestão petista da prefeitura, os interlocutores privilegiados do prefeito passaram a ser a Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) e o tucano Aécio Neves. Tanto é que o Marcio Lacerda foi eleito prefeito por meio de uma aliança entre o PT e os tucanos”, desabafa Maciel. Apesar do quadro atual, o Secretário-Geral do PT de Belo Horizonte mantém um olhar positivo a respeito de tudo que vem ocorrendo: “eu espero que essas manifestações sirvam para que o PT faça uma revolução interna, rearticulando-se com os movimentos sociais, com as vozes das ruas e que promova políticas públicas que atendam a todas essas reivindicações que estão colocadas”. Na assembleia ampliada foram definidas as seguintes ações:

Francisco Maciel mantém expectativa de avanços sociais após as passeatas .........................................................................................................................

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Grande manifestação, dia 26, a partir das 12h, na Praça Sete, e realização de nova assembleia, dia 27,


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a partir das 19h, embaixo do Viaduto Santa Tereza. Além dessas ações, foram criados dez grupos de trabalho para organizar as pautas de reivindicações. Os grupos foram definidos pelos seguintes temas: transporte, Fifa e grandes eventos, saúde, educação, moradia, polícia (segurança pública), reforma política, minorias e direitos humanos, democratização da mídia e meio ambiente. RASTILHO DE PÓLVORA As manifestações tomaram um vulto tal — em duas semanas, protestos atingiram mais de 140 cidades do país — que obrigaram a presidente Dilma Rousseff a fazer um pronunciamento à nação na sexta-feira, 21 de junho, e determinar que sua equipe definisse medidas concretas nas áreas de transporte público, saúde, educação e transparência. Na segunda-feira, 24, a presidente recebeu os líderes do Movimento Passe Livre, que iniciaram os protestos mais veementes em São Paulo, além de governadores e prefeitos de capitais. A tentativa do governo federal é fechar um pacote de medidas nas áreas críticas que motivaram os protestos. A pressa desmedida dos governos federal, estaduais e prefeitos também está relacionada com as quedas de suas avaliações, apontadas pelas pesquisas reservadas, que podem prejudicar seus projetos eleitorais, principalmente na disputa de 2014. Conforme disse a presidente, o foco será “primeiro a elaboração do Plano Nacional de Mobilidade Urbana que privilegie o transporte coletivo. Segundo, a destinação de 100% dos recursos do petróleo para a educação. Terceiro, trazer imediatamente milhares de médicos do exterior para ampliar o atendimento do Sistema Único de Saúde (SUS)”. É de ressaltar que o pronunciamento da presidente não surtiu o efeito desejado entre os manifestantes. Durante o fim de semana, as manifestações foram realizadas em várias capitais e em municípios do país, e as decisões foram que os protestos continuem até o final da Copa das Confederações, já que depois virá o período de férias escolares.

Pelo menos é o que dizem os manifestantes, após a conquista do rebaixamento das tarifas do transporte público por todo o país. Além do mais, dizem os cientistas políticos, o pronunciamento da presidente resvalou entre o óbvio — “a mensagem das ruas exige serviços públicos de qualidade, escolas de qualidade e atendimento de saúde de qualidade, um transporte público melhor e mais justo, mais segurança, quer um combate sistemático à corrupção e ao desvio de recursos públicos e, para isso, as instituições e os governos devem mudar”— e o reconhecimento do vigor das manifestações, de que elas vão produzir mudanças no país e na forma de o povo se mobilizar. Mas, é inegável que a pressão popular está sendo sentida entre governantes, classe política e todas as instâncias do poder. A partir do início das manifestações até o dia 26 de junho, várias “iniciativas” foram tomadas: o Senado aprovou, com extrema rapidez, projeto que torna a corrupção crime hediondo e o Supremo Tribunal Federal (STF) determinou a prisão do deputado federal Natan Donadon (PMDB-RO). Ele é o primeiro parlamentar, no exercício do cargo, que cumprirá pena por condenação na Justiça desde o advento da Constituição de 1988. Nesse caso, mesmo sem ser notificada, a Câmara abriu o processo de cassação do parlamentar. Na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, parlamentares aprovaram o fim do voto secreto em caso de cassações de mandato ou de condenação do parlamentar com sentença final na Justiça e, no plenário, foi aprovado por unanimidade o fim do 14º e do 15º salários dos deputados. A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) decidiu adiar o reajuste das passagens do transporte interestadual e internacional de passageiros. Ainda na área de transporte público, a Câmara dos Deputados aprovou o projeto de lei que reduz a zero as alíquotas das contribuições para o PIS/Pasep e a Cofins incidentes nas tarifas dos serviços de transporte público coletivo rodoviário municipal, metroviário, ferroviário e aquaviário de passageiros. E, coroando o surto de efetividade no parlamento, os deputados derrubaram a PEC 37, e o pastor Feliciano, pasmem, começou a rechaçar e tentar se distanciar do projeto de Cura Gay.

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VANDALISMO, CONFLITO E MORTE Em Belo Horizonte as manifestações tiveram início de forma pacífica. A partir do momento em que os protestos passaram a ocorrer na região do Mineirão, os conflitos foram registrados por conta de atos de vandalismo. Até o dia 25 de junho, os prejuízos causados aos estabelecimentos privados giravam na casa dos R$ 2 milhões. No patrimônio público, prefeitura e estado ainda não haviam feito o levantamento até essa data. Inicialmente, os serviços de inteligência das polícias Militar e Civil mineiras apontaram os atos de vandalismo como resultado da infiltração de um grupo denominado Black Bloc nas passeatas. Com sete comunidades espalhadas pelo país uma em Minas, o grupo tem a capacidade de se infiltrar nesse tipo de manifestação, utilizar roupas pretas, máscaras, capacetes e vários tipos de artefatos explosivos. Além desse grupo, há a suspeita da participação de tipos e grupos de vândalos.

Volkswagen. A revendedora Pampulha Car Shopping também foi alvo de vandalismo. Uma loja de bebidas localizada em um Posto Shell foi depredada e saqueada e o posto sofreu tentativa de incêndio. Em um balanço preliminar, foi divulgado que 18 pessoas ficaram feridas. Um rapaz de 21 anos morreu, depois de cair do viaduto José Alencar e outro perdeu a visão de um olho após ser atingindo, provavelmente, por uma bala de borracha. Foram presas, até a madrugada do dia 27, 109 pessoas — 79 adultos e 30 adolescentes. 26 maiores de idade tiveram prisão em flagrante decretada. 53 foram ouvidos e liberados. 18 adolescentes foram apreendidos e encaminhados ao Juizado da Infância e da Juventude. Com os detidos foram encontrados explosivos, bolas de gude, facas, escudos artesanais de metal, alicates, tesouras, uma marreta, estilingues e pedras.

Para parte dos manifestantes, existe até mesmo a possibilidade de que policiais militares estejam se infiltrando no movimento, com o objetivo de incitar a violência para justificar a repressão posterior. Inclusive, essa informação circulou em redes sociais na internet, com fotos identificando três homens que possivelmente seriam do quadro da P2, o serviço de inteligência da PM. Essa informação não foi comprovada.

caio Martins

Morte Na manifestação do dia 26, que contou com mais de 50 mil pessoas, a violência e os confrontos aumentaram. Iniciada e conduzida a maior parte do tempo de forma pacífica, a manifestação terminou com um saldo extremamente negativo, com depredação, saques e incêndios causados por um pequeno grupo de vândalos. Grande trecho da avenida Antônio Carlos, próximo ao Mineirão, foi destruído. Lojas e concessionárias de automóveis foram saqueadas e depredadas. Equipamentos, móveis e veículos foram incendiados. As mais prejudicadas foram as concessionárias Kia Motors, Hyundai e

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Felipe Nicolau

Atos de vandalismo levaram ao confronto entre baderneiros e Polícia Militar .................................................................................................................

RUPTURA RADICAL


capa • ENTREVISTA

RUPTURA RADICAL

O sociólogo Rudá Ricci acredita que o movimento em curso cria a lógica das mobilizações sociais .................................................................................................................

político. Uma delas, garante ele, é que o movimento, mesmo com sua força, não conseguiu mobilizar as camadas sociais das classes C, D e E, que incluem pessoas que integram o programa Bolsa Família do governo federal e os operários. “Esses”, pondera Ricci, “não estão ainda nessas manifestações; são refratários a esses movimentos de rua. A grande incerteza, contudo, de acordo com o sociólogo, é que não se sabe, ainda, o rumo que essa manifestações no Brasil vão ter; para onde elas vão. “Já há um afunilamento dos grandes temas, como educação, saúde e transporte público, mas não sabemos se esse movimento vai conseguir mudar alguma coisa importante no país”, ressalta Ricci. Para ele, o que está claro é que o país vive um momento de transição importante na sua história.

Em entrevista à Vox Objetiva, após os desdobramentos e a expansão do movimento pelo país, o sociólogo e cientista político Rudá Ricci avalia que o país está diante de uma inovação radical na forma de mobilização das pessoas. “Este movimento rompe com as formas de mobilização do século XX e cria a lógica da mobilização pelas redes sociais”, acredita. “Nos grandes movimentos ocorridos no século passado, no período pós-64, como o Diretas-Já e o Impeachment do ex-presidente Fernando Collor, as lideranças políticas e os dirigentes de entidades e instituições de representação nacional prevaleceram como condutores desses processos”, diz Ricci. “Nas manifestações de agora não existem lideranças. Pelo contrário: as lideranças partidárias estão sendo rechaçadas”, pontua. Na opinião do sociólogo, como na de outros especialistas que estão observando e analisando as recentes manifestações, o movimento vira a página em relação ao século passado. “As pessoas estão se mobilizando pelas redes sociais, pela relação de afeto que têm com as outras, sejam amigos sejam parentes”, frisa Ricci. Mesmo com a pujança das manifestações e a certeza dessa ruptura com o passado, o movimento tem, até o momento, algumas incertezas, segundo o cientista

Manifestantes caminham até o Mineirão, palco dos jogos da Copa das Confederações em Minas Gerais .........................................................................................................................

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artigo • Política

Paulo filho Jornalista e consultor de Comunicação Social paulo.filho@voxobjetiva.com.br

Marolas e ondas A queda da aprovação do governo e da popularidade da presidente Dilma não é nada surpreendente para a política em si nem assustador para o PT e parceiros. Essa marcha à ré vinha sendo monitorada e era esperada pelos caciques do condomínio governista havia algum tempo. E, mais do que isso, vinha sendo cantada em tom de alerta e de aviso pelas principais raposas da base no Congresso — na linha do “abra o olho, senão a vaca vai para o brejo”.

bens, produtos e serviços e tem contas a pagar no final do mês —, a classe média, esses sim estão propensos a mudar de opinião e tentar novas escolhas, mesmo que essas sejam no escuro, sem nenhuma garantia de melhorias. Isso faz parte do jogo. Mas é bom que fique claro: o jogo depende mais de fatores externos do que de internos; a bola ainda está com a Dilma e, até o segundo semestre de 2014, ainda falta muito chão para percorrer.

As pesquisas divulgadas agora são “A bola ainda está com Um mix de várias coisas com certeas primeiras públicas que explicitam za gerou algum desgaste, dentre elas o a inversão na tendência de aproa Dilma e, até o perfil centralizador, autoritário e rude vação do governo e da presidente. da presidente, os diversos escândalos Até então, em todas, o viés era de segundo semestre no governo, a paralisia das ações e de crescimento da aprovação. Os sinais obras da União (como a transposição que as pesquisas emitem servem de 2014, ainda falta do Rio São Francisco e os PACs), as também para clarear uma caractedisputas (e derrotas) com o Congresso, rística da sociedade brasileira — já muito chão os problemas com a Petrobras, o “menpercebida e amplamente trabalhasalão” ainda como pauta da mídia, a da por partidos e, principalmente, para percorrer ” volta ao governo de políticos e partidos por políticos de sucesso no país (e afastados sob a pecha de corruptos e, os marqueteiros, que aqui não pomais recentemente, a trapalhada da Caixa Econômica Fedem ficar de fora de jeito nenhum). Para a população, deral com a antecipação do pagamento do Bolsa Família, ideologia e coerência no cenário político nacional não culminando com a bobagem da presidente de acusar, em valem nada nem são referência para nada - Fernando público, a oposição pelo erro do banco. Mas não são esses Henrique Cardoso e Lula que o digam. os responsáveis diretos pela queda na avaliação positiva do governo. Plagiando o marqueteiro americano, os goverAté ontem, Dilma e o governo petista eram aprovados nistas devem estar bradando: “- é a economia, estúpida!”. por quase 70% da população. Para muitos de dentro do partido e do governo, a avaliação “tão boa” era fruto Os solavancos na economia com a volta da inflação e o do “modo PT de governar” e das políticas de “esquerda” fantasma da carestia logo ali na esquina abalaram grande adotadas a partir do governo Lula. Balela. Encurtados os parcela da população que referendava o governo. A turma ganhos e caída a qualidade de vida, o modo de governar do Bolsa Família continua no pacote e não vai mudar de e a identidade do governo não sustentam ninguém no opinião, mas quem pega no batente — depende de transpoder. Mesmo porque, sai um, entra outro, do lado de porte público ou gasta combustível, consome alimentos, fora a visão é a de que é sempre mais do mesmo.

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André Martins

O cirurgião-dentista José Bernardes das Neves ressalta a contribuição do Botox para os tratamentos odontológicos .............................................................................................................................................................................................................................................................

Botox: a estética da cura

Especialistas e entidades alertam para uso indiscriminado do produto Ilson Lima Utilizada cada vez mais pelos brasileiros, a toxina botulínica, o popular Botox, nome da marca norte-americana do produto, já é o segundo procedimento não cirúrgico mais realizado no país. A aplicação dessa técnica para fins estéticos só fica atrás da de preenchimento cutâneo, ou dérmico, cujo objetivo, nesse caso, é o mesmo da injeção da toxina botulínica: tentar corrigir as marcas que o tempo estampa no rosto. Uma parcela da sociedade brasileira, ainda que proporcionalmente pequena em relação à população do país, consome produtos caros, muitas vezes indiscriminadamente, como o Botox, cuja aplicação gira em torno de R$ 1 mil a R$ 1,5 mil, por sessão, sem atentar para os riscos embutidos nas aplicações.

A banalização da estética é um dos temores salientados por especialistas e entidades nacionais e internacionais, diante do aumento expressivo no uso do medicamento em todo o mundo. Advertências e alertas têm sido feitos desde que a toxina botulínica do tipo A, a mais utilizada, foi liberada para aplicações cosméticas. Não é à toa que atores e outras celebridades midiáticas aparecem nas telas e na internet com seus rostos desfigurados ou com suas expressões faciais muito diferentes do que são na realidade. A utilização excessiva do Botox e de seus similares pode custar não só caro, mas provocar outros males, como a dismorfofobia – doença provocada pela obsessão das pessoas por um corpo perfeito e pela aparência

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sempre jovem. O dermatologista Fernando Macedo, professor e colaborador da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), garante que é cada vez mais frequente a presença de dismorfofóbicos nas clínicas de estética. “As pessoas passam a ter uma percepção errada da beleza e uma elevada insatisfação pessoal. Isso pode gerar um transtorno psicológico e até psiquiátrico”, diz. O especialista também critica o uso indiscriminado do medicamento. “Diante do boom do Botox ocorrido nos últimos anos, pessoas despreparadas, nem sempre licenciadas, passaram a aplicar o produto. Mas, sem uma técnica apropriada, o procedimento pode causar efeitos colaterais”, frisa. Ele explica que, ao ser aplicado, o produto se espalha de 1 cm a 1,5 cm ao redor daquele ponto. Isso pode afetar indevidamente um grupo muscular, deixando um canto da boca ou um lado da sobrancelha irregular, por exemplo, conforme esclarece. Macedo também destaca o fato de que o medicamento tem sido vendido indiscriminadamente por meio da internet e que o uso da substância, nesse caso, não é recomendado, já que não tem regulamentação. O CONTRASTE DA MEDICINA O Brasil enfrenta sérios problemas na área de saúde, inclusive com falta de médicos em várias especialidades, nos grandes centros urbanos, em regiões metropolitanas e interior afora. Na área de cirurgia plástica, porém, não há essa carência. De acordo com levantamento da Sociedade Brsileira de Cirurgia Plástica (SBCP), o Brasil tem um cirurgião plástico para cada 44 mil habitantes. Esse número supera o de cirurgiões plásticos por habitante nos Estados Unidos. Em quatro anos, de 2008 a 2011, a cirurgia plástica estética cresceu 97% no Brasil. O país se mantém na vice-liderança entre os países que mais realizam esses procedimentos cirúrgicos e não cirúrgicos. Somente em 2011 foram realizadas mais de 905 mil cirurgias plásticas no Brasil, quase todas com fins estéticos. Houve um crescimento de 43% nas cirurgias plás-

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ticas no país, nesse período. Com base em uma estimativa feita pela Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (Isaps) em parceria com a SBCP, em 2011 foram feitas mais de 120 mil intervenções não cirúrgicas no país, entre elas as injeções de toxinas botulínicas. Cláudio Salum, presidente da Regional Minas Gerais da entidade (SBCP-MG), justifica números tão expressivos como resultado do desejo crescente dos brasileiros de ter um corpo ideal somado à falta de tempo de praticar exercícios e à ânsia por resultados rápidos. “O país está crescendo economicamente. Somos a sétima potência econômica mundial e um maior número de pessoas está tendo acesso à cirurgia plástica. Outro fator é o interesse, cada vez maior, do público masculino pela especialidade”, esclarece. PERIGO À VISTA Em seu site, a SBCP faz várias advertências às pessoas que querem remodelar seu rosto e pretendem usar a toxina botulínica. A entidade alerta: “embora a injeção seja geralmente segura, efeitos colaterais e complicações podem ocorrer após as aplicações, como hematomas e dor no local da injeção, vermelhidão, dor de cabeça, sintomas gripais, náuseas e fraqueza temporária facial ou ptose”. Muito raramente, a toxina pode se espalhar para além da área de tratamento, podendo causar sinais e sintomas de botulismo, como problemas respiratórios, dificuldade de deglutição, fraqueza muscular e fala arrastada. O uso inadequado e indiscriminado do medicamento pode ser fatal ou, no mínimo, perigoso. “Em mãos erradas ou inexperientes, a toxina botulínica torna-se um perigo. Além de procurar um médico treinado e qualificado em cirurgia plástica, é importante que a pessoa se certifique de que o profissional tem experiência específica com esses tipos de procedimentos”, informa a SBCP. Segundo o cirurgião plástico Silmar Grey, discípulo de Ivo Pitanguy por dois anos, é possível assegurar que as três áreas autorizadas a fazer uso do medicamento―- a Medicina, a Biomedicina e a Odontologia - no Brasil têm profissionais capacitados para reali-


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zar esse procedimento de forma segura. Fora disso, a pessoa corre risco iminente, segundo ele. O cirurgião afirma que o uso indiscriminado e as doses exageradas da toxina deformam inapelavelmente a face, tirando os traços espontâneos das pessoas. “É o que chamamos de rosto em máscara, sem expressividade”, ensina. Silmar Grey caracteriza outro uso incorreto do produto, quando há exagero ou aplicação feita por quem não tem conhecimento amplo, científico nem técnico do assunto. “O rosto pode ficar semelhante ao do personagem infantil ‘Fofão’, do extinto programa de televisão Balão Mágico”, frisa. Em sua opinião, o produto definitivamente não deve ser visto como solução para todos os males. “Cada caso é um caso e demanda tratamento específico, conjugado ou não com outra modalidade”, pondera.

VENENO MORTAL A toxina botulínica é uma substância venenosa, natural, gerada pela bactéria Clostridium botulinum, encontrada em alimentos inadequadamente enlatados ou malconservados. A bactéria produz o botulismo – intoxicação por envenenamento. Sua ação no organismo humano é devastadora. Pode matar a pessoa em pouco tempo, caso a toxina se espalhe no corpo para um local distinto daquele em que foi injetada. Potencialmente a toxina botulínica é um veneno 40 milhões de vezes mais poderoso que o cianureto – um ácido venenoso também encontrado em solução. Criada há mais de 150 anos, e com o rigor reconhecido internacionalmente, a Food and Drug Administration (FDA) - órgão responsável pela vigilância sanitária nos Estados Unidos - não chegou a proibir André Martins

O cirurgião plástico Silmar Grey alerta para os perigos da aplicação incorreta. Para ele, cada caso requer um tipo de tratamento .............................................................................................................................................................................................................................................................

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a comercialização do Botox, única toxina botulínica do tipo A existente no mercado americano. Informações da Sociedade Americana de Cirurgia Plástica e Estética (Asaps, em inglês) davam conta de que quase 2,8 milhões de norte-americanos tinham se submetido às aplicações do Botox. Os Estados Unidos lideram o ranking mundial em cirurgia plástica (perto de 1,1 milhão em 2011) e procedimentos não cirúrgicos com fins estéticos. No comunicado à imprensa divulgado pela FDA, o órgão afirma ter recebido relatórios que descreviam reações graves às toxinas botulínicas, como problemas respiratórios e mortes. A declaração foi feita pelo então diretor da divisão de produtos neurológicos da entidade, o médico Russell Kratz. Os efeitos colaterais foram observados em crianças e adultos. Os pacientes foram tratados com a toxina para fins terapêuticos, no combate a sintomas, como espasmos nos músculos do pescoço e das costas, estrabismo, contrações em pernas, pálpebras e pescoço, além da suavização da transpiração excessiva. Entre 1997 e 2006, a FDA confirmou 16 mortes entre os 658 casos reportados de pacientes que sofreram efeitos adversos, após receber injeções da toxina botulínica. A entidade admitiu, entretanto, que até aquela data não tinha sido possível estabelecer uma relação de causa e efeito entre os medicamentos utilizados e as ocorrências. Não foi possível a FDA determinar aos profissionais de saúde que parassem de prescrever os produtos. REMÉDIO EFICAZ Ainda que contenha suas contradições internas, como toda novidade que surge no mundo científico, toxina botulínica é uma descoberta importante para a humanidade. Os benefícios são terapêuticos e estéticos. Inicialmente a substância foi liberada para tratamento do estrabismo, no final da década de 70, nos Estados Unidos. A utilização dessa toxina purificada em procedimentos cosméticos só foi aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em 2000. Nos Estados Unidos, a FDA liberou o uso em 2002.

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Doutor em implantodontia e professor de técnicas de aplicação do Botox, o cirurgião-dentista José Bernardes das Neves defende o uso do medicamento e assegura a contribuição que essa nova técnica trouxe para a medicina e a odontologia nos últimos anos, quando ganhou espaço em tratamentos nessas áreas. Ele esclarece que a dosagem aplicada para fins terapêuticos e estéticos é muito pequena e incapaz de desencadear as reações do envenenamento alimentar do botulismo. “O Botox é conhecido e muito usado na dermatologia e na estética, mas é preciso saber como usar”, alerta. “Nos casos odontológicos ou nas patologias, então, é preciso muito cuidado e, acima de tudo, técnica, pois a banalização do uso pode trazer mais complicações do que benefícios para o cliente”, salienta. O professor é um dos que acham que o uso do medicamento na Odontologia já passou da fase do experimento e que seu efeito positivo já está comprovado cientificamente. Ele ressalta que recentemente a Anvisa autorizou o uso da toxina botulínica em casos específicos, como o bruxismo ou ranger de dentes, o sorriso gengival e outros procedimentos. Reprodução


SALUTARIS • saúde

A ESTÉTICA DA CURA Se a toxina botulínica ou a sua forma popular, o Botox, fez fama quando demonstrou ser um medicamento eficaz para suavizar as rugas e as marcas de expressão, é nos tratamentos terapêuticos que o medicamento ajuda a resgatar a qualidade de vida de milhares de pessoas no Brasil. Os tratamentos por meio da toxina botulínica tipo A estão espalhados pelo mundo. Mais de 70 países adotaram o remédio como procedimento não cirúrgico importante para amenizar e curar vários tipos de doenças. No Brasil, a substância é indicada e aprovada pela Anvisa para sete tipos de tratamentos com fins terapêuticos: 1- Incontinência urinária (ou bexiga hiperativa) - É uma disfunção do órgão que pode ser causada por uma infecção urinária ou por alterações nos nervos que controlam o aparelho.

Rugas

Estrabismo

2- Hiperidrose ou excesso de transpiração que ocorre, em geral, nas mãos, na planta dos pés e nas axilas.

Papada

3-―Estrabismo―- É o desvio ocular que foge ao controle do paciente. Os eixos visuais se comportam de modo diferente. 4- Distonia ou distúrbio que provoca contrações involuntárias dos músculos do corpo -―As contrações involuntárias podem atingir várias partes da musculatura. A medicina ainda não sabe o que causa esse distúrbio. Acredita-se que seja uma disfunção do cérebro ou alguma lesão no sistema nervoso central. 5- Blefaroespamos ou distúrbio que afeta a pálpebra - O distúrbio é caracterizado pelos movimentos involuntários da pálpebra, semelhantes a um tique nervoso. A pessoa pisca de forma involuntária e constantemente.

Distonia Volume

6- Espasticidade ou distúrbio que afeta a musculatura dos braços e das pernas - A espasticidade também não tem cura. 7- Espasmo hemifacial ou distúrbio que afeta os músculos da face - A doença se caracteriza pelas contrações involuntárias dos músculos da face.

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salutaris • receita

Lagosta com fettuccine à carbonara

INGREDIENTES: 200 g de lagosta 100 g de de fettuccine 50 g de bacon 80 ml de creme de leite fresco 1 cebola 50 ml de vinho branco 2 dentes de alho 2 colheres de sopa de manteiga Há 13 anos servindo exclusividade e bom gosto.

MODO DE PREPARO: Coloque a manteiga, a cebola ralada, o alho picado e o bacon em uma frigideira. Após dourar, junte o creme de leite e o vinho. Coloque a lagosta temperada a gosto e cozinhe por cinco minutos. Cozinhe também o fettuccine em uma panela com três litros de água e sal. Depois junte-o ao molho.

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salutaris • VINHOS

A casa do vinho Danilo Schirmer Todo mundo precisa de um lugar para repousar e descansar. Com o vinho não é diferente. Assim como nós, o vinho é um ser vivo que nasce, cresce e morre. E o que acontece durante o seu crescimento, ou seja, a sua evolução, vai ser determinante para quando a garrafa for aberta e o líquido for consumido. Portanto, fazer uma armazenagem correta é essencial para extrair o máximo do que o vinho pode nos oferecer. Os locais apropriados para fazer a armazenagem das garrafas de vinho são chamados adegas. Existem vários tipos. Ao longo dos anos, as adegas foram sendo aperfeiçoadas e adaptadas para as necessidades de cada lugar, o tipo de vinho e o perfil de consumo. Existem adegas simples e complexas, artesanais e eletrônicas, rústicas e sofisticadas. O importante é você identificar a sua necessidade e saber quanto pode investir. Também vale observar o valor médio da sua coleção: vinhos com maior valor agregado merecem e devem ter uma armazenagem mais cuidadosa. É mais comum encontrar adegas adaptadas e artesanais em residências, escritórios e casas de veraneio no Brasil. É que a elaboração de vinhos finos ainda é recente por aqui. Antes não precisávamos nos preocupar tanto com a conservação da bebida. Consequentemente a qualidade do vinho também não era priorizada. A oferta de vinhos de qualidade era baixa, e o acesso, bastante restrito. Esse cenário contribuiu

para que as adegas fossem construídas de forma mais intuitiva do que técnica. Mas a realidade mudou. O Brasil elabora vinhos finos de excelente qualidade. Os vinhos brasileiros são premiados em vários concursos internacionais e exportados para vários países. Por outro lado, a importação de rótulos de outros países é abundante. Alguns são de qualidade; outros não. Esses fatores contribuíram para o interesse e o aumento do consumo da bebida em solo brasileiro. A mudança de comportamento e de hábitos despertou novos interesses e necessidades na relação do consumidor com o vinho. Atualmente há inúmeras ofertas de adegas climatizadas no mercado. As opções buscam oferecer um controle mais eficaz e eficiente na conservação das garrafas armazenadas. São várias marcas e modelos com características parecidas ou recursos diferenciados. Alguns modelos servem, inclusive, como peça de decoração, agregando ainda mais valor ao ambiente. É importante observar alguns pontos na hora de escolher a adega: capacidade de garrafas, sistema de refrigeração, controle e display de temperatura externos, iluminação interna e externa, disposição interna, consumo de energia, garantia e manutenção do fabricante. Mas a dica mais importante é: quanto maior for o valor agregado da sua coleção de vinhos, maior deve ser o cuidado, a atenção e o investimento com o lugar em que a coleção vai ser abrigada. Afinal, a adega é a casa do vinho!

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Horizontes • complemento

Ana Carolina

Assim como é característica das construções do Parque Güell, o teto da Sala das Cem Colunas é um grande mosaico de estilhaços de porcelana ..............................................................................................................................................................................................................................................................

Um tesouro no coração de Barcelona Ícone do modernismo espanhol, o Parque Güell encanta turistas com obras que integram construções às belezas naturais Isabela Araújo Ao lado de Pisa, Londres, Roma e Paris, Barcelona se configura em um dos mais desejados destinos da Europa. Localizada no Nordeste da Espanha, a cidade litorânea tem os elementos necessários para agradar a gregos e troianos. De um lado estão imensas igrejas e catedrais, castelos milenares, praças monumentais, museus e galerias com as mais importantes obras de arte do mundo. Do outro ficam os arranha-céus, a arquitetura excêntrica – muito bem representada pela casa Batlló, projetada pelo arquiteto e artista Gaudí –, as praias lotadas de surfistas; explosões de cores nas vitrines de lojas, placas e monumentos; um transpor-

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te público dos mais bem desenvolvidos do mundo e as atrações noturnas, que transformam Barcelona na Meca de festas, bares, pubs e boates. A energia da maior cidade da região Catalã da Espanha é ímpar. Dá para senti-la no ar e na recepção calorosa feita pelos nativos. Entre os pontos mais importantes de Barcelona estão a Sagrada Família – catedral que começou a ser construída em 1882 e só será finalizada em 2026, no centenário da morte de seu arquiteto, Antoni Gaudí. A casa Batlló é outro monumento projetado pelo ar-


Horizontes • TURISMO

quiteto. A casa se tornou um expoente da arquitetura moderna no mundo. Em outro extremo da cidade está o complexo que comportou as Olimpíadas de 1992. Do lado Oeste estão as maravilhosas praias e o castelo na colina Montjuïc, de onde se tem uma visão panorâmica do porto e da parte antiga da cidade. Ao Centro está a torre Agbar, com 142 metros, e uma incrível iluminação que se transforma com as mais variadas cores durante a noite e, finalmente, o Parque Güell – o equivalente à Torre Eiffel para a Espanha.

Isabela Araújo

Gaudí também é responsável pelo projeto do maior representante do modernismo catalão e da arte da cidade de Barcelona: o Parque Güell. O espaço recebe cerca de 4 milhões de visitantes por ano. Dentre eles, 84% são turistas. Esses números conferem ao local o título de monumento mais visitado de Barcelona. O número de visitas ao Güell supera até mesmo o da Sagrada Família, considerada a catedral mais importante da Europa. O Parque Güell foi construído entre 1900 e 1914, atendendo à encomenda do empresário Eusebi Güell. A ideia inicial era construir um parque particular, com entrada paga. Mas a tentativa fracassou. Em menos de dez anos após a inauguração (1922), o Parque foi vendido para o município de Barcelona. Após se tornar um patrimônio público, o Parque Güell passou a ter entrada gratuita e se tornou um atrativo relativamente raro na Europa. Todos os anos fervilham milhões de turistas no local, sempre dispostos a pagar ingressos e entradas nos principais pontos das cidades. Um dos maiores atrativos do parque foi nomeado pela Unesco como Patrimônio da Humanidade. A casa onde Antoni Gaudí morou por mais de 20 anos fica no “Caminho do Rosário” – um dos mais bonitos do parque. A casa guarda obras e objetos pessoais do artista. O local foi projetado para servir de habitação-modelo: um exemplo para a engenharia e a arquitetura da época. A princípio, a intenção era colocar a casa à venda, mas o fracasso nos primeiros anos de funcionamento do parque levou à aquisição do imóvel pelo próprio Gaudí. O arquiteto viveu na casa com o pai e uma sobrinha até se mudar para a oficina da Catedral Sagrada Família,

A casa Batlló impressiona pelas curvas nada convencionais ........................................................................................................................

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Horizontes • TURISMO

em 1925. A casa de Gaudí é o único acesso cobrado dentro do Güell. O ingresso custa seis euros (cerca de R$ 17). Diferentemente do que se imagina em um parque, o Güell não conta apenas com atrações naturais. Em toda a sua extensão há coloridas estruturas que geram uma combinação incrível entre a paisagem e as atrações dessas estruturas. Recomenda-se guardar uma tarde inteira e muita disposição e energia para visitar o parque. Os atrativos da visita começam antes mesmo de cruzar a entrada. As ruas de acesso têm um intenso trânsito de turistas de todas as partes do mundo. Outra atração são as inúmeras e coloridas lojas de souvenirs que oferecem toda a sorte de objetos para levar de lembrança do local. O acesso ao parque é feito por transporte público. Os meios de condução são bastante facilitados. Nas principais avenidas da cidade existem linhas de ônibus que levam ao local. Já dentro do parque, é hora de começar a subida. Construído sobre uma montanha, o local emprega a sensação de entrar em níveis de diferentes atrações. A cada lance de escadas, o passeio proporciona uma vista incrível da cidade à medida que se alcançam os níveis mais altos.

Uma das mais incríveis características da arquitetura do parque é a inovação. Ainda em 1900, Gaudí empregou técnicas de sustentabilidade para a manutenção do local. A enorme praça está exatamente sobre o teto da Sala das Cem Colunas - conhecida como Praça Oval ou Teatro Grego. A praça não é pavimentada. O chão de terra permite o acúmulo da água das chuvas. A água é drenada, canalizada por dentro das colunas da sala que está abaixo e usada na irrigação de plantas e jardins do local. No mesmo nível da Praça Oval estão inúmeros viadutos, pórticos, muros de suporte e estradas. Gaudí projetou essas passagens para que suportassem o trânsito de pedestres e o de carruagens. As estruturas feitas em pedras apresentam desenhos curvos – uma das características mais fortes do estilo do arquiteto. Gaudí se recusava a usar ângulos retos em seus projetos. Para ele, essa característiRodrigo Rodrigues

Na entrada, o primeiro ponto que enche os olhos são os dois pavilhões com belíssimas estruturas destinadas a serviços do parque, como o de portaria. Construídas em alvenaria de pedra rústica e adornadas com abóbadas de cerâmica colorida, as construções remetem os visitantes a ilustrações de contos de fantasia. Logo à frente fica a primeira escadaria do parque. É um dos pontos mais icônicos do local. Ao longo dos degraus, além de inúmeras esculturas e azulejos coloridos, estão três fontes que levam até a Sala das Cem Colunas – uma incrível estrutura com colunas de seis metros de altura. As colunas sustentam um teto feito de material que imita o mármore e é adornado com gigantescos mosaicos de cerâmica colorida.

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Uma das construções da Praça Oval, erguida em alvenaria de pedra rústica remete os visitantes a ilustrações de contos de fantasia ........................................................................................................................


Horizontes • TURISMO

ca foge do aspecto da natureza. De fato, a técnica impressiona. Em alguns pontos do parque, chega a ser difícil identificar se o local foi projetado pelo homem ou se é obra da natureza. Além do encantamento com os espaços projetados, a parte natural impressiona. Por não ter quase nenhuma vegetação, a montanha onde o parque foi construído era conhecida como Montanha Pelada. No local, Gaudí desenvolveu o aspecto natural com maestria. Entre as espécies encomendadas para constituir a nova vegetação estão pinheiros, azinheiras, eucaliptos, ciprestes, figueiras, amendoeiras, ameixoeiras, magnólias, heras, lavandas e até mesmo palmeiras – espécie rara na Europa. No Parque Güell, as palmeiras adornam o extremo norte da grande Praça Oval. O que mais impressiona é a harmonia entre a vegetação e o espaço

físico. Tudo é tão bem colocado que não seria difícil acreditar que sempre fizeram parte da montanha. Ao longo do passeio, o visitante encontra monumentos, como O Calvário, local originalmente desenhado para comportar uma capela que nunca foi construída, devido à falta de público nos primeiros anos do parque. E uma diversidade de detalhes, peças, azulejos, desenhos, esculturas e cores, tudo repleto de simbolismo e de história da arte e do povo, pode ser encontrada na visita. Quem pretende visitar o parque no inverno europeu – entre novembro e março – precisa saber que o local tem horário de encerramento antecipado durante a estação: às 16h. Por isso, é importante se programar para não perder nenhum detalhe desse espaço mágico no coração de Barcelona.

Rodrigo Rodrigues

A primeira escadaria do Parque Güell revela a ousadia arquitetônica de Gaudí e a integração do espaço com as belezas naturais da Catalúnia ..............................................................................................................................................................................................................................................................

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Kultur • complemento kultur • CÊNICAS

Divulgação

Memória e arte resgatadas Reforma e restauração do Teatro Francisco Nunes, do Cine Theatro Brasil e das salas de cinema Pathé e Santa Tereza devolvem à cidade espaços nobres da cultura e da história municipal Jáder Rezende O belo-horizontino é o mais assíduo frequentador de teatro do país. A informação vem de uma polêmica pesquisa do Ibope que provocou reações de dirigentes e produtores do setor. A parcela que mantém o hábito de assistir a peças e óperas corresponde a 15% da população. Agora esse grupo seleto pode voltar a reservar lugar na agenda para retomar sua programação cultural. Os grandes e tradicionais espaços culturais fechados anos a fio

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serão reabertos ainda este ano. O Espaço Cultural da Praça da Estação vai ser integrado pelo suntuoso V & M Brasil Centro de Cultura (antigo Cine Brasil) ao lado do charmoso Chico Nunes. Os dois locais são as cerejas do bolo da retomada dos espaços culturais da capital mineira. Com esse incremento cultural, a cidade vai abrigar novos festivais em 2013, entre eles, a Noite de Museus e o Festival de Cinema Ibero-Americano.


Kultur • cênicas

A reabertura do V & M Brasil Centro de Cultura (antigo Cine Brasil) está prevista para a segunda quinzena de setembro. A solenidade promete ser apoteótica, com um grande espetáculo com Milton Nascimento, Fernando Brant, Ana Botafogo, Alex Neoral e Hamilton de Holanda. O time de estrelas se apresenta no vernissage de uma mostra imperdível de Cândido Portinari. A exposição é ancorada nos gigantescos painéis que compõem a obra Guerra e Paz. O evento foi concebido para a sede da ONU, em Nova Iorque, entre 1952 e 1956. Além das obras originais, o Centro de Cultura vai expor um conjunto de estudos preparatórios do pintor para a elaboração da obra. O público também vai conhecer uma centena de documentos históricos, como fotografias, cartas, recortes de jornais e objetos pessoais do pintor. O espetáculo de inauguração da exposição já foi apresentado no Rio de Janeiro e em São Paulo. A restauração do antigo Cine Brasil começou em 2007, um ano depois de a Fundação Sidertube, mantida pela V & M do BRASIL (VMB) ter adquirido o imóvel. O prédio está sendo modernizado com a preservação das características originais de sua construção em estilo Art Déco da década de 1930. Tombado como bem cultural pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG), o imóvel de 8,3 mil metros quadrados e 11 andares recebeu uma ampla sala de cinema e teatro, com 1,1 mil lugares, além de um miniteatro para 200 pessoas e um café-livraria. As interferências seguem com a reabertura de uma antiga galeria que ligava a rua Carijós à avenida Afonso Pena e da varanda lateral (com vista para a avenida Amazonas e a rua Carijós), que serão utilizadas para a apresentação de espetáculos especiais. Segundo o superintendente da Fundação Sidertube, Alberto Camisassa, os investimentos para a realização do projeto somam R$ 40 milhões, originados de recursos próprios da VMB e de repasse da Lei Rouanet do Ministério da Cultura (MinC). O projeto também recebeu apoio da Usiminas, da Cemig e do Banco Itaú. “O cronograma está sendo cumprido corretamente,

e as obras no prédio estão praticamente prontas. Estamos finalizando o planejamento com os responsáveis pelo Projeto Portinari para definirmos a data exata em setembro. Mas, possivelmente, a reabertura do prédio e o início da exposição Guerra e Paz devem acontecer na segunda quinzena do mês”, afirma Camisassa. Ele pondera que o processo foi um verdadeiro desafio, a começar pela escassez de documentação técnica. Essa dificuldade fez com que todas as etapas de preparação para a obra fossem muito mais demoradas do que o planejado. Gratas surpresas vieram à tona durante a obra, como a descoberta de importantes pinturas do italiano Ângelo Biggi, escondidas debaixo de várias camadas de tinta, segundo revela Camisassa. “Cerca de 470 metros quadrados foram restaurados cuidadosamente com o uso de pincéis finos de vários formatos e tamanhos para que se pudesse alcançar o tom mais fiel ao original. Essa pintura foi um elemento bem relevante e inesperado da restauração. Outro fator relevante é a importância arquitetônica do prédio. A cada dia, a equipe responsável pela restauração se impressiona mais com as técnicas e os processos usados na construção do prédio, muito avançados para a década de 30”, conta. Camisassa afirma que o Cine Theatro Brasil está preparado para acolher as mais diversas manifestações artísticas. A agenda dos eventos será construída à medida que o espaço for sendo absorvido pela cidade e pelos produtores culturais. Palco de grandes movimentos de artes cênicas, festivais e espetáculos memoráveis, o velho Chico Nunes, sediado no Parque Municipal, também deve ser reaberto neste ano. As obras começaram em maio e seguem a toque de caixa. Inicialmente chamado “Teatro de Emergência”, o Francisco Nunes foi inaugurado em 1950, quando a cidade se ressentia da carência de bons teatros. À época, o antigo Teatro Municipal havia se transformado no Cine Metrópole, demolido em 1983, e o Palácio das Artes ainda estava em construção. Hoje a capital conta com mais de 30 teatros. A reforma do Chico Nunes está sendo executada em parceria com a Unimed BH, por meio do Programa

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Kultur • cênicas

Adote um Bem Cultural, criado pela prefeitura para incentivar a colaboração entre o poder público e a iniciativa privada na restauração, conservação e promoção de bens culturais. Segundo o presidente da Fundação Municipal de Cultura, Leônidas José de Oliveira, serão iniciados os acertos com o Sindicato dos Produtores de Artes Cênicas (Sinparc), que coordena a Campanha de Popularização do Teatro e da Dança, e a coordenação do Verão Arte Contemporânea (VAC) para a seleção de espetáculos. Com isso, o Chico Nunes vai integrar a pauta de programação dos tradicionais festivais da cidade. “Quanto mais democrático o acesso, mais sucesso teremos na governança do espaço cuja diretriz deve privilegiar também a cidade de Belo Horizonte por ser seu teatro municipal por excelência”, diz. Entre os planos para ocupar os espaços ociosos, como auditório e salas de espetáculos, consta a abertura de editais para a ocupação do Centro de Referência da Moda, do Museu de Arte da Pampulha (MAP) e do Museu Histórico Abílio Barreto (MhAB), conforme revela Oliveira. Os imóveis

estão passando por processos de adaptação, como restaurações e compra de equipamentos para suas salas. Já os cines Pathé e Santa Tereza, também em reforma, devem ser entregues em breve, agora como cinematecas e centros culturais. A nova sede da Fundação Cultural, na rua da Bahia, também será utilizada para apresentação de espetáculos. Segundo Leônidas, o espaço será dotado de auditório e espaços de convivência. Outra promessa é manter os calendários tradicionais de eventos e ampliar as programações. A partir deste ano, por exemplo, está prevista a Virada Cultural, em setembro, e a noite de museus no dia 9 de julho. “Será um grande festival da memória, quando todos os museus da cidade terão, durante a noite e a madrugada, apresentação de espetáculos, exposições, seminários e teatro”, assegura Oliveira. Pela primeira vez, BH vai sediar o Festival de Cinema Ibero-Americano, a ser realizado em outubro em parceria com o Instituto Cervantes, e vai reeditar o Festival de Arte Negra (FAN) e o Festival Internacional de Quadrinhos (FIQ) neste ano.

Divulgação

Projeto da plateia do novo Francisco Nunes prevê mais conforto para o público. Revitalizado, o espaço voltará a abrigar grandes eventos .............................................................................................................................................................................................................................................................. ..............................................................................................................................................................................................................................................................

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Artigo • Meteorologia

Ruibran dos Reis Diretor Regional do Climatempo Professor da PUC Minas ruibrandosreis@gmail.com

Programa de Agricultura de Baixo Carbono A agricultura é responsável por 13% das emissões dos gases do efeito estufa em todo o mundo, conforme revela o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC). Em recente levantamento, o governo brasileiro constatou um percentual de contribuição no país acima de 30%. Com o objetivo de diminuir as emissões, o governo federal lançou o Programa de Agricultura de Baixo Carbono (ABC). Criado em 2010, o programa concede benefícios e créditos para os agricultores que querem adotar técnicas agrícolas sustentáveis. A taxa de juros do programa é a menor fixada para o crédito rural destinado à agricultura empresarial: 5,5% ao ano (a.a). Conforme dados do Ministério da Agricultura, o ABC é composto por sete programas. Seis são referentes às tecnologias de mitigação e um, a ações de adaptação às mudanças climáticas. São eles: • Programa 1: Recuperação de Pastagens Degradadas; • Programa 2: Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF) e Sistemas Agroflorestais (SAFs); • Programa 3: Sistema Plantio Direto (SPD); • Programa 4: Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN); • Programa 5: Florestas Plantadas; • Programa 6: Tratamento de Dejetos Animais;

• Programa 7: Adaptação às Mudanças Climáticas. A abrangência do programa ABC é nacional e sua vigência vai até 2020. Nesse período, estão previstas revisões e atualizações em prazos regulares não superiores a dois anos. Essas medidas são necessárias para readequar o programa ABC às demandas da sociedade, às novas tecnologias e incorporar novas ações e metas, caso se faça necessário. Em Minas Gerais, os agricultores das regiões do Triângulo, Noroeste e Alto Paranaíba são os que têm fechado mais contratos no programa ABC, conforme revela a Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa). De julho de 2012 a maio deste ano foram assinados mais de mil contratos, a maioria destinada à recuperação de pastagens. Também houve contratos para o plantio de eucalipto, florestamento e reflorestamento, a correção de solo, o plantio de cana-de-açúcar e a criação de gado para produção de leite. A iniciativa do governo brasileiro é muito louvável, pois não podemos ficar discutindo se o planeta está aquecendo ou nem quais as consequências do aquecimento. Precisamos tratar o planeta como nossa casa e deixar para as gerações futuras uma atmosfera mais saudável.


Kultur • complemento Mondo cult

Chiclete com Banana

Língua mátria

Desprezado pela grande indústria fonográfica brasileira, o bamba Pedro Moraes segue consolidando sua carreira nos Estados Unidos. O cantor e compositor carioca está com tudo e não está prosa. No NPR.org, considerado o site mais importante de música alternativa das terras do Tio Sam, ele está entre “os dez artistas que você deveria ter conhecido em 2012”. Além disso seu último CD, Claroescuro, teve uma super recepção por aquelas bandas. O segundo disco está a caminho. No Brasil, o artista dedicou este último ano e meio à consolidação do Coletivo Chama, com vários artistas de sua geração, como Thiago Amud – que recentemente esteve em BH participando de show do Graveola -, Ivo Senra, o grupo Escambo e Sergio Krakowksi. Além disso, apresenta na rádio Roquette Pinto o programa Rádio Chama, que completa um ano agora em julho. Todos os episódios podem ser conferidos no chama.podomatic.com. “É uma experiência radiofônica bastante incomum!”, garante Moraes.

Quem for a Lisboa em julho deve conferir a terceira edição da Obranome, que incorpora diversas tendências da poesia visual. As linguagens vão do caligrama ao ideograma; da poesia-objeto ao poema-processo; da videopoesia à poesia gráfica; das instalações poéticas à poesia eletromecânica e eletroeletrônica. Foram selecionadas obras de 66 artistas, como Arnaldo Antunes, Augusto de Campos, Hélio Oiticica e Siron Franco. A mineira Adriana Maciel marca presença na mostra que encerra a programação do Ano do Brasil em Portugal. A mostra pode ser conferida até o dia 31 de julho no Mosteiro de Alcobaça, a 90 quilômetros de Lisboa. Divulgação

Adriana Maciel, Deslocamento - políptico, acrílica sobre tela

Discoteca básica JOia rara Entre as joias raras de nossa múltipla discoteca nacional irradia brilho todo especial o disco Free Bossa, lançado em 2000 pela YBrazil?Music. O quarto trabalho do Nouvelle Cuisine, que apresentou a banda somente como Nouvelle e sem Carlos Fernando, vocalista da formação original, foi também o último lançado no mercado. Sem perder suas origens jazzísticas, o grupo paulista surpreende ao recriar clássicos da canção brasileira e americana. Totalmente acústico e agradavelmente suave, o disco é ancorado pela voz de Estela Casillati em quase todas as faixas. Completam a banda Luca Reale no piano Fender Rhodes e na clarineta, Guga Stroeter no vibrafone, Maurício Tagliari com guitarras, violões, violas caipiras e guitarra cubana e, no baixo e na percussão, Marinho Andreotti. Entre os doces deleites, destaque para as faixas “Sereia” e “Quem Vem pra Beira do Mar”, de Dorival Caymmi, o clássico cubano “Decidete Mi Amor”, além de “I Loves You Porgy”, ária de Porgy & Bess, dos irmãos Gershwin.

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kultur • mondo cult

nOVOS PASSOS Mais nova trupe de balé clássico mineira, a Sesc Cia de Dança faz sua primeira apresentação no dia 22 de agosto, no Sesc Palladium, em Belo Horizonte. O número será a suíte La Bayadère, de 1887, que revolucionou a dança com o chamado balé abstrato. Serão somente duas apresentações. Em seguida, a companhia segue turnê pelo Interior de Minas e pelo país. A coreografia é assinada pelo premiado Henrique Rodovalho, autor de todos os espetáculos apresentados pela companhia de dança goiana Quasar. Em outubro, os 20 bailarinos (cinco deles, mineiros) selecionados com rigor máximo sobem ao palco do Palácio das Artes como convidados da montagem da ópera Um Baile de Máscaras, de Giuseppe Verdi. E uma nova seleção pode ser promovida a qualquer momento, segundo revela a bailarina Maria Elisa Medeiros – diretora da companhia de dança do Sesc. “É só ficar de olho no site da entidade”, avisa. Os candidatos devem ter idade acima de 18 anos, conhecimento e domínio das técnicas de balé clássico e de dança contemporânea.

JÁder Rezende Jornalista vidrado em cultura e música independente jader.rezende@voxobjetiva.com.br Tie Coelho

Filha pródiga Radicada na Holanda, Ceumar volta a se apresentar em Minas, no próximo dia 20 de julho. O show será no Festival de Inverno de São João del-Rei. E ela garante que não vai deixar os fãs de Belo Horizonte a ver navios. A mineirinha de Itanhandu, no Sul de Minas, aguarda apenas confirmação de pauta na capital.

Divulgação/ Scarceus

PÉ NA ESTRADA A banda mineira Scarcéus está em turnê por Minas Gerais para lançar o terceiro DVD, “Rock é Pedra, Amor é Love”, que conta com participação especial de Milton Nascimento na música “Minha Sina”. O trabalho traz 19 músicas e dois vídeos extras, os clipes “O Dia”, que conta com a presença da atriz e cantora Mariana Rios, e “Meu chegado”. Com cinco álbuns lançados, a banda segue se mantendo fiel às influências que a tornaram conhecida: rock nacional dos anos 80 mesclado ao pop-rock internacional e uma pitada de country music. A banda é formada por Henrique Papatella, vocalista, Augusto Nogueira na guitarra, João Márcio no baixo e Alexandre Marques na bateria. No dia 12 de julho, os caras se apresentam na Festa da Cidade de Capela Nova. Um dia depois aportam na Exposição de Santa Bárbara e, no dia 21, mandam ver na Exposição de Resende Costa. Depois de uma pausa, no dia 26 esquentam o Festival de Inverno de Congonhas. Há shows agendados na sequência para Belo Horizonte, Juiz de Fora, Carangola e Itabira.

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Kultur Femme •• complemento agora é moda

Férias Hora de arrumar as malas e cair na estrada. É tempo de organizar a bagagem, um ato que pode se tornar prazeroso, antecipando os dias de puro lazer e descanso. A dica é montar uma mala inteligente, bem-planejada, com looks interessantes e versáteis. O importante é que a mala não pese tanto para não se transformar em verdadeiro suplício durante a viagem. O tubo preto, a calça jeans e o blazer são peças básicas, obrigatórias em qualquer mala. Para não errar, baseie-se nas cores da estação ao escolher os acessórios.

Neste Inverno, o vermelho é o hit, do vivo ao vinho. Vale combinar com cores neutras como com o preto e o branco, ou criar um tonsurton em um look com peças de diferentes tons de vermelhos juntas, criar um look monocromático ou até misturar com tons opostos, como o azul cobalto, outra cor-tendência da estação do frio. O P&B, uma das misturas mais clássicas e elegantes da moda, também aparece soberano, facilitando a composição de looks sofisticados e requintados, mas confortáveis e práticos, como reza a cartilha das férias.

Pra arrasar nas férias de Inverno! A coluna “Agora é moda” convidou quatro conhecidos estilistas mineiros – Victor Dzenk, Edna Thibau, Regina Salomão e Ilda Buzetti – para sugerirem looks para as férias de julho. Inspirem-se nas dicas de nossos experts e boa viagem! Victor Dzenk Com sua moda descontraída, irreverente, colorida e, sobretudo, muito brasileira, o mineiro Victor Dzenk conquistou o Rio de Janeiro e a Europa. Mesmo no Inverno, ele sempre pensa em férias à beira-mar: Look férias - Sofisticado e leve, o vestido curto de seda tem estampa de sabiá com aplicações de renda no decote. Boa opção para eventos diurnos ou noturnos

Divulgação/Victor Dzenk

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FEMME • agora é moda

aLPHORRIA E ALPHORRIA CULT

Weber Pádua

O look para as férias de Inverno sugerido pela estilista Edna Thibau, da Alphorria e da Alphorria Cult: Look férias - Casual chic, com blusa solta, confortável (tem detalhe de moulage nas costas). A estampa digital, exclusiva, de textura xadrez, compõe com outras peças. O short em couro ecológico tem um bordado em pedraria, o que enriquece a peça

Divulgação

Regina salomão Regina Salomão aposta no preto e branco, com peças fashions, mas básicas, que podem se misturar em inúmeros looks para várias situações: Look férias - O P&B na míni de couro e malha e na camisa de seda com detalhes em crochê no bolso para compor qualquer produção Divulgação

DBZ Jeans O pretinho básico, peça indispensável na mala feminina, e o jeans, imbatível, são a proposta da estilista mineira Ilda Buzetti, da DBZ Jeans, para as férias de julho. Ela sugere também: Look férias - Saia preta justa com camisa branca, sempre elegante

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Femme • agora é moda

Brasil verde-amarelo Quem apostou no verde para o Inverno atirou no que viu e acertou no que não viu. Junto do amarelo, o tom formou o duo fashion nas ruas brasileiras, esquentando a estação. As cores da bandeira são o it da temporada, revelando a criatividade do brasileiro nas camisetas, nas bandanas, nas bandeiras e nos chapéus. #vempraruabrasil!

Tetê Rios Jornalista de moda e variedades tete.rios@voxobjetiva.com.br

Botas, pra que te quero! Esportivas ou habillés, com salto alto ou baixo, de cano curto, médio ou longo, as botas são item obrigatório em qualquer mala feminina nas férias de julho. De acordo com a temperatura do destino escolhido, as botas substituem, com vantagens, qualquer sapato, pois podem ser usadas com diversos tipos de roupa: das calças skinny a saias, vestidos e shorts. Neste inverno, as de cano curto vieram com força total, seguindo a tendência europeia, e há modelos para todos os gostos. De couro ou de nobuque, com tachas, franjas, aplicações metálicas ou aplicações de cristais; com fivelas ou bordadas, elas compõem qualquer look. O estilo country é imbatível e marcante nas sensuais Open Boots ou nas botas mais pesadas, que vão incorporando novos nomes: Western Boots; Chelsea Boots; Biker Boots; Fringe Boots, com elementos punks, góticos, folk, hippies, românticos ou country. Seja qual for o modelo, o importante é que a bota combine com o seu estilo. Esta edição da Vox traz sugestões de três fabricantes mineiros que fincaram sua marca país afora e no exterior: Arezzo, Shutz e Príncipe Verde apresentam modelos pra montar um visual de arrasar!

Fotos: Divulgação - Arezzo, Schultz e Principe Verde

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Artigo • PSICOLOGIA

mARIA ANGÉLICa Falci Psicóloga clínica e especialista em Sáude Mental angelfalci@hotmail.com

Ruas do tempo Perguntamos sempre por que o tempo, às vezes, é tão injusto, cruel e insano. Será? Muitas pessoas passam uma vida reclamando do tempo em que vivemos, da falta de tempo, do envelhecimento que o tempo nos traz e por aí vão...

peso, mas um processo de elaborações que nos ensinam a enxergar a vida com mais leveza e menos acidez. A gente muda a pele, o cabelo, o corpo, mas a mente não deveria ser enfraquecida nem reduzida com o tempo. A mente deveria ser sempre ativada por bons pensamentos e sentimentos. Assim torna-se possível, em qualquer idade, manter o fôlego da vida e das descobertas, pois quem para não acompanha o seu tempo e perde, principalmente, a própria estabilidade.

“Todos os dias quando acordo, Realmente vivemos uma Não tenho mais o tempo que aceleração do tempo fora da ‘normalidade’. As pessoas espassou tão vivendo no automático, Mas tenho muito tempo sem sentir nem perceber muiTemos todo o tempo do tas essencialidades ao seu redor. Mas não percebo o tempo mundo. como vilão. Pelo contrário. O Todos os dias, antes de tempo bem vivido será um redormir, flexo de grandes e doces lemDigo sempre às pessoas que atendo: branças na idade mais avanESTABILIDADE é, sim, o termômeLembro e esqueço como foi çada, em que um coração sem tro da felicidade. Se uma pessoa fica o dia... muitas lamúrias vai viver bem estável em grande parte do seu tem...Sempre em frente, até o final do seu tempo. O que po, pode-se dizer sobre a felicidade ocorre com muitas pessoas é dessa pessoa. É evidente que o temNão temos tempo a perder.” o alimento emocional inadepo vai trazer estresse, mas precisaquado de um passado malremos aprender a entrar e a sair desses Renato Russo solvido, conduzindo a patolomomentos de profundo desconforto. gias progressivas. A depressão, Aprender a não permanecer. por exemplo, é uma doença do tempo. Essa patologia tem o poder de impregNão podemos interditar nossas ruas, não fazer nar no passado da pessoa e de não permitir reformas quando surgir a necessidade, nem simque ela avance. A depressão cristaliza raízes plesmente arrancar o trânsito de nosso tempo pelo nocivas e impede a pessoa de sentir e vivenciar medo do avanço e do que está por vir. Vamos encaa beleza do tempo. rar o tempo como aliado; um caminho com jardins adornados. Que o encantamento pela vida cresça A grande verdade é que o tempo não para como uma rua de passos estáveis e sensações que (como dizia outro poeta). Mas o que fazer com transmitam êxtase do brilho pueril e certo bucolisa angústia que as transformações do tempo mo, e que venha a serenidade e a sabedoria diante acarretam? Amadurecer não deveria ser um das ruas cheias de buracos.

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Kultur kultur••complemento terra brasilis

Divulgação

Clarisse Falcão

Fotografia brasileira

A atriz, compositora e cantora Clarice Falcão vem ao Granfinos, em Belo Horizonte, para a apresentação da turnê Monomania. Clarice acaba de lançar o primeiro CD da carreira. Virtuais, as faixas podem ser adquiridas pelo iTunes. Mesmo com a pouca idade (23 anos), Clarice alcançou amplo destaque no Brasil por meio de curtas-metragens, trabalhos na televisão e, principalmente, pelo projeto “Porta dos Fundos” - pequenos vídeos humorísticos disponíveis em um canal do youtube.

Depois de passar por Paris, Rio de Janeiro e São Paulo, a Coleção Itaú de Fotografia Brasileira pode ser apreciada pelo público de Belo Horizonte. A exposição aborda a fotografia modernista experimental, principalmente entre as décadas de 40 e 60. Até o dia 25 de agosto, o público pode observar os elementos conceituais e estéticos do período modernista e estabelecer uma relação com a fotografia contemporânea. A entrada é franca.

Local: Granfinos Data: 28 de junho Outras informações no site granfinos.com.br

Refinaria da Imagem

Savassi Festival 48

Divulgação

Local: Grande Galeria Alberto da Veiga Guignard Período: 22 de junho a 25 de agosto Outras informações no site fcs.mg.gov.br

Promovido pelo Café com Letras, o evento já se consolidou na agenda cultural de Belo Horizonte. O festival inclui muita música instrumental em espaço público, com franquia gratuita. Além disso, o evento estimula os artistas locais, consolidados ou emergentes, colocando-os em contato com a comunidade e a cidade. O festival é ao ar livre, com palcos, lounges, áreas de convivência e alimentação. Local: Vários pontos da cidade Período: 10 a 21 de julho Outras informações no site savassifestival.com.br


BHZ Divulgação

Intimismo e dor O primeiro documentário assinado pela diretora e atriz belo-horizontina Petra Costa suscita dois olhares: é um choro copioso ou uma tentativa de cura interna cadenciada e silenciosa? A visão varia de acordo com o olhar que se lança para a confrontação da dor à qual a diretora se propõe em “Elena”. O nome que intitula o documentário é o da irmã de Petra. Elena é uma jovem que parte para Nova York em busca da realização profissional, mas não consegue vingar e acaba sendo lançada em um turbilhão de autocobranças e tristeza. Com o desenrolar da avassaladora depressão, Elena tira a própria vida. O que sobra para a pequena Petra, na época com 7 anos, são lembranças de uma infância sobrevivida à penumbra do vazio que se alastra pela família ao longo dos anos. Na mesma medida, “Elena” é triste e corajoso. A diretora refaz os caminhos da irmã, junta as peças, mergulha na dor para, quem sabe, se “curar” do passado ou esquecê-lo. O documentário segue uma linha nada convencional, alternando depoimentos com trechos de filmagens da jovem atriz na adolescência. A fita chega até a flertar com a ficção — em certo momento, a dor funde as irmãs e não se sabe quem fala, quem desabafa, quem chora. Em entrevistas, Petra tem revelado que o documentário é mais que um desabafo; é a vontade de que assuntos como o sofrimento da mulher, a depressão, a infelicidade e o suicídio não deixem de ser discutidos no mundo e abafados como tabus. Universal e denso, “Elena” é um acerto narrativo e visual.

Você descansa e não cansa ninguém. Partidas a cada 15, 20 e 30 minutos. Valor da passagem: R$ 20,45.

3224-1002

Av. Álvares Cabral, 387 - Lourdes conexaoaeroporto.com.br

Ônibus executivos, Confins-BH-Confins.


Cronica

JOANITA GONTIJO Jornalista e autora do blog tresoumais.blogspot.com joanitagontijo@yahoo.com

É só correr para o abraço! Não há dúvidas de que o assunto do momento seja futebol. Então eu me rendo. Vamos a ele! Conheço pouquíssimos torcedores que “viraram a casaca” e trocaram o time do coração. Para ser mais precisa, apenas dois. O primeiro tinha pouco mais de três anos de idade, quando mudou as cores da camisa preferida. Ele foi influenciado por um tio muito querido que, provavelmente, o chantageou com algum joguinho eletrônico. O outro, pasmem, sucumbiu ao time favorito da namorada! Não quero nem imaginar o preço que ele cobrou... O que acontece entre um amante dos campos de futebol e sua equipe é sentimento pra vida toda. Mas essa relação não está imune às crises. Tem time por aí que não ganha um título de maior importância há várias décadas e ainda expôs a torcida à chacota do adversário, quando visitou a temida Segunda Divisão. Mas quem se lembra dos atleticanos comemorando o título da Segundona ao som de Beth Carvalho, que cantava “... você pagou com traição a quem sempre lhe deu a mão...” sabe que, nesse relacionamento, o perdão tem lugar de destaque.

Mas não é porque o Galo está em alta que cruzeirenses se sentem tentados a mudar de time ou achincalhar, em mesas de boteco, a fase nada brilhante da equipe celeste (principalmente se houver algum adversário por perto...). A frustração com a escassez de vitórias é abafada por um discurso orgulhoso que lista títulos nacionais e internacionais. O passado notável é o argumento preferido para defender a reputação do clube. Ninguém foge da briga e, ao menor sinal de glória, exibe com satisfação a conquista. Lembram-se “Ainda somos reféns de da quarta rodada do Campeonato Brasileiro deste ano? Mesmo uma brutal concentrafaltando 34 jogos para o final do torneio, a torcida da Toca da ção de renda e riqueza Raposa publicou nas redes sociais fotos da tabela de classificação: o que envergonha qualCruzeiro estava em primeiro lugar, e o Atlético segurava a lanterna. quer pessoa sensata” Não duvido que, em algum canto da cidade, um torcedor mais empolgado tenha gritado no meio da rua: “É campeão”!

Atualmente a torcida alvinegra está no auge da paixão! Nas arquibancadas e em bares, cada vitória é comemorada com shows pirotécnicos dignos de festas de casamento. Falta só a chuva de arroz, mas ninguém duvida da fertilidade dessa história de amor. Prova disso é que hoje é mais fácil encontrar crianças atleticanas cantando o hino do “campeão do gelo” do que há alguns anos. Fazem isso, mesmo que seguramente o troféu já tenha derretido.

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O que acontece com os torcedores mineiros se repete em qualquer lugar do mundo onde uma bola esteja rolando. É um amor insano que eu confesso invejar e que deveria inspirar os casais de namorados. Em muitas relações anda faltando talento pra driblar as crises, tolerância pra perdoar “bolas na trave” e orgulho pra vestir e exibir a camisa de quem dorme ao seu lado. Torça sempre por quem você ama! Afinal, ganhar e perder, errar e acertar fazem parte do jogo, tanto nos campos quanto na vida.




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