Revista Vox Objetiva

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fEVEREIRo/13 • Edição 44• Ano V • Distribuição gratuita

Somos todos culpados Questão central em países do primeiro mundo, tratamento do lixo é colocado em segundo plano no Brasil. Situação é tão grave que os lixões a céu aberto, além de contaminar o solo, agora colocam em risco pousos e decolagens nos maiores aeroportos do país

Sem papas na língua

Charme e história

Gabeira “cutuca” PT e fala em alternativa ao governo atual

Vestuário da BH dos séculos passados é redescoberto em exposição


O que diferencia uma boa ideia?


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A Revista Vox é uma publicação mensal da Vox Domini Editora Ltda. Rua Tupis, 204, sala 218, Centro - Belo Horizonte - MG CEP: 30190-060.

“... O povo que conhece o seu Deus se tornará forte e ativo.” (Daniel 11:32) • Editor e jornalista responsável Carlos Viana • diagramação e arte Eduardo Mendes • Capa Eduardo Mendes • Reportagem André Martins Thiago Madureira Ilson Lima Paulo Filho • CORRESPONDENTES Greice Rodrigues -Estados Unidos Ilana Rehavia - Reino Unido • diretoria Comercial Solange Viana • anúncios comercial@voxobjetiva.com.br (31) 2514-0990 • ATENDIMENTO jornalismo@voxobjetiva.com.br (31) 2514-0990 www.voxobjetiva.com.br • REVISÃO Versão Final • tiragem 30 mil exemplares Os textos publicados em forma de artigos, produzidos por colunistas convidados, expressam o pensamento individual e são de responsabilidade dos autores. Todos os direitos reservados. Os textos publicados na revista Vox Objetiva só poderão ser reproduzidos com autorização dos editores.

Editorial

CARLOS viana Editor-Chefe carlos.viana@voxobjetiva.com.br

A lei que não cumprimos Esta edição de Vox Objetiva traz um retrato do perigo que representa o descaso em relação ao tratamento do lixo em todo o Brasil. De tão grave, a situação nos obriga a rever um ditado antigo: “o céu é o limite”. Pois não é mais. A maior parte dos acidentes aéreos no entorno dos principais aeroportos é provocada pela colisão de pássaros com aeronaves. As espécies são atraídas por lixões muitas vezes mantidos por prefeituras sem políticas públicas de tratamento adequado de resíduos sólidos urbanos. Um bom exemplo está bem perto de Belo Horizonte. Toneladas de material descartado foram depositadas em uma área na rota de pousos e decolagens do Aeroporto Internacional de Confins. Notificada, a Prefeitura de Vespasiano ainda tentou atrasar a decisão que evitaria riscos para a vida de milhares de passageiros do transporte aéreo de Belo Horizonte. Somente com uma intervenção federal foi possível encerrar a disputa. O exemplo do tratamento incorreto do lixo se mantém como um desafio que esbarra em questões políticas e financeiras para a implantação de soluções. É preciso dizer também que a impunidade aos gestores públicos incentiva atrasos e situações que mantêm as trocas de governantes locais, mas o problema dos resíduos sólidos persiste. Dizer que a questão é nova seria esconder que o problema passa por gerações de brasileiros. Eles não foram educados para lidar com a sustentabilidade diante do consumo cada vez maior. A situação nos permite encher armários de comidas e materiais recicláveis tratados como “lixo”, não como fonte de riqueza. Precisamos tomar consciência e planejar o futuro, porque problemas estruturais nos cobram um preço muito alto pela omissão. Precisamos não de arranjos ou improvisos, mas de políticas de Estado que nos coloquem no caminho certo para permitir um crescimento econômico sem mais agressões ao meio ambiente. Na prática, os “lixões” têm data para acabar. O ano de 2014 é o limite previsto pela Lei Nacional de Resíduos Sólidos. É só olhar o tamanho do problema para acreditar ou não na eficácia do prazo. Leis existem. O problema é fazer com que sejam cumpridas e parem de ser descartadas como o lixo jogado sem compromisso em cada esquina.


MetrOpolIS • OLHAR BH

Encontro Marcado

Marcos Pereira

Seus arcos espreitam, solitários, o vai e vem de carros e pedestres. As marcas do tempo denunciam os seus quase 84 anos. Projetado pelo engenheiro Emílio Baumgart, o Viaduto Santa Tereza faz parte do imaginário do belo-horizontino. Inspirou escritores, como Fernando Sabino, que imortalizou o elevado nas páginas do romance “Encontro Marcado”. Entre poemas, músicas e fotografias, um dos cartões-postais da cidade sofre com o abandono. As curvas históricas e silenciosas resistem como uma mensagem de esperança para o patrimônio da cidade.

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sumário Luísa Reiff Guimarães

barackobama.com Divulgação

8 verbo........................ entrevista •

FERNANDO GABEIRA Jornalista e sociólogo mineiro faz duras críticas ao PT e diz que futuro da esquerda está indefinido Willian Dias

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metropolis..............................................

POLÍTICA • ELEIÇÕES 2014

O “ninho” tucano está agitado em Minas. Sucessão para governador mobiliza bastidores do PSDB

Capa................................................................................................................................................................................ METROPOLIS •

CRIME AMBIENTAL

Lixões a céu aberto, aterros e bota-foras ilegais: o descaso e a falta de fiscalização no tratamento do lixo contaminam o meio ambiente e até o céu. Pássaros colocam em risco vidas de pilotos e passageiros

Artigos............................................................................. política • Paulo Filho Marina, morena....................................................................

15 IMOBILIÁRIO • Kênio Pereira

justiça • Robson Sávio Impunidade: incentivo à violência.......................................

PSICOLOGIA • Maria Angélica Falci InvejaDOR ..........................................................................

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Por que os golpes acontecem? .............................................

ORIENTE MÉDIO • Frei Geraldo van Buul A guerra nossa de cada dia..................................................

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André Martins Reprodução

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ESPORTES • A MÁFIA DO APITO

Interpol vai entrar no combate à praga da manipulação de resultados

Salutaris..................................................

Stock.xchng

SAÚDE • ANSIOLÍTICOS

Os fármacos químicos e a promessa da medicina homeopática

Divulgação

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PODIUM.........................................................

horizonteS.............................................. TURISMO • LONDRES

Sinônimo de eficiência e agilidade, metrô londrino completa 150 anos

Nathália Turcheti / CR Moda

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kultur.......................................................... moda • CR MODA

“Relíquias” do vestuário da Belo Horizonte do passado contam a história da capital

Rafael Ribeiro/ CBF

SALUTARIS........................................................................

meteorologia • Ruibran dos Reis

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RECEITA • PALADAR Lula ao molho de ervas...................................................

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VINHOS • Danilo Schirmer Enoturismo........................................................................

A tempestade Gong..............................................................

crônica • Joanita Gontijo Não “curti”!........................................................................

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Fรกbio Rodrigues Pozzebom /ABr


VERBO

De peito aberto Sem se esquivar da verdade, Gabeira fala sobre assuntos polêmicos com independência e coragem. Para ele, a sociedade deve criar uma alternativa ao governo atual Ilson Lima e Paulo Filho Em visita a Belo Horizonte para o lançamento do livro Onde está tudo aquilo agora? Minha vida na política, o jornalista e escritor Fernando Gabeira conversou com a reportagem da Vox Objetiva sobre vários assuntos, em especial, sobre o momento político que o país atravessa. Da perda de identidade dos partidos de esquerda até a criação de um partido para dar sustentação à candidatura da ex-petista Marina Silva à presidência, Gabeira expôs sobre esses temas com inteligência, elegância e lucidez raras no cenário político brasileiro.

junção dos verdes e dos vermelhos, os ambientalistas e os socialistas, para emancipar a discussão e as ações políticas rumo à sustentabilidade. Pouco tempo depois, você saiu do PT. Não deu certo?

A experiência com o PT era muito promissora. Examinando o PT nacionalmente e desenvolvendo lutas ambientais, víamos que, de todos os partidos, o PT era o que tinha mais gente engajada nessas lutas, a começar pelo Acre. Então parecia natural que o PT fosse o aliado mais importante nosso. Além disso, havia a experiência histórica alemã, Ex-militante contra a ditadura “A alternativa é um que foi a primeira coligação nas décadas de 60 e 70, ex-preso verde – vermelha a conquistar político, exilado até a anistia em campo político que um governo e que depois 1979, em dez anos ele esteve em vários países, entre os quais consolidou essa aliança na queira ser racional na França. Era então um caminho Chile, Suécia e Itália. Na Suécia, natural. O socialismo vermelho onde viveu a maior parte de seu economia e nas políticas já não era mais a alternativa. exílio, estudou Antropologia Era um partido dotado de uma na Universidade de Estocolmo sociais e racional na visão de sustentabilidade e e trabalhou como repórter e relação com o meio condutor de metrô. De volta visão ecológica, que passava a ao Brasil, Gabeira atuou como ser uma coisa nova, altamente ambiente” jornalista e escritor, defendendo interessante. Acontece que, o fim do regime militar. na Europa, os dois partidos se coligaram, mas aqui não. O PT Um dos fundadores do Partido não quis. Então eu fui para o PT e, logo no início, percebi que Verde brasileiro, Gabeira já foi grande parte dos quadros dirigentes do partido tinha candidato a presidente da República, a governador uma perspectiva muito parecida com a dos dirigentes do Rio de Janeiro e a prefeito da capital fluminense. comunistas do Leste Europeu. Eles privilegiavam Como parlamentar, exerceu quatro mandatos de a questão do emprego, das melhorias materiais e deputado federal consecutivos (de 1995 a 2011), subestimavam o impacto ambiental do crescimento. colocando-se entre um dos mais atuantes e avaliado A partir das decisões que eles tomaram no primeiro dentre os melhores parlamentares da história republicana brasileira. ano de governo, como a legalização do transgênico clandestino, eu percebi que eles estavam dispostos a tudo Em 2001, você se filiou ao PT. A ideia era fazer a pelo crescimento e a quase nada pelo meio ambiente.


VERBO

E o futuro da esquerda no Brasil, tendo em vista essas questões éticas e a necessidade de alianças e coligações para governar, qual a sua visão sobre isso? Essa questão é talvez a principal questão política do Brasil. Quando chegou ao governo, o PT fez a promessa de renovar a política nacional do ponto de vista ético. E o que ele fez ao longo desses anos foi consolidar o domínio dos setores mais atrasados e mais desonestos da política brasileira. As eleições agora do Renan e do Henrique Alves para as presidências do Senado e da Câmara são uma espécie de coroamento da degradação a que o PT submeteu a política brasileira. Acho que o PT se comportou um pouco como a “Velha Senhora”, um personagem de uma peça de Dürrenmatt, uma prostituta que volta rica para sua cidade. Como a esnobavam, ela passa a comprar todo mundo. Ela dizia assim: “o mundo fez de mim uma puta e eu vou fazer do mundo um rendez-vous”. E o PT fez isso — transformou o Brasil político em um imenso bordel, cujo coroamento é essa eleição do Renan, do Henrique Alves e do Eduardo Cunha para a liderança do PMDB. Esse processo não aconteceu de repente. Eles, sistematicamente, foram se unindo e fortalecendo os setores mais conservadores, com a inspiração e a ajuda do Lula. O Lula, por exemplo, beijou a mão do Jáder Barbalho e do José Sarney. Ele disse, aqui em Minas, Willian Dias

que o Newton Cardoso é o Pelé da política. Ele trouxe todo esse pessoal para o governo do PT. Ele disse: ”venham que vocês são nossos; nós absorvemos vocês”. Já estava difícil fazer conceituação direita e esquerda. Se isso já era difuso, quando a esquerda chega ao poder, mistura-se com esse lado bandido e passa a ter práticas semelhantes, para a população isso fica mais difuso ainda. Hoje eu não acredito que alguém vote em um candidato por ser “de esquerda” ou não. As pessoas estão buscando hoje definições do próprio candidato — o que ele pensa sobre os temas que interessam ao eleitor. Ninguém se define mais como esquerda ou direita. A prática petista não só veio a confundir isso mais ainda, como borrou as diferenças essenciais. Para onde nós vamos? O PV é a solução, a Marina é a solução? O PT tem salvação? Vamos devagar. Não creio que o PT tenha salvação. A Marina não é a solução e o PV não é a solução, mas o fato de a Marina não ser a solução e o PV não ser a solução, não significa que a solução não exista. A solução que eu acho possível é aquela que a necessidade histórica vai criando progressivamente, formando um campo histórico que não seja necessariamente um campo radical de esquerda, nem um campo radical de direita, mas um campo democrático em que você tenha a colaboração de pessoas de diferentes partidos em relação a algumas tarefas básicas. Esse campo pode se constituir agora nas próximas eleições, porque a população já deu sinais de cansaço em relação ao PT e ao PSDB nas últimas eleições municipais. A Marina jamais será uma alternativa, porque a alternativa não é uma pessoa; a alternativa é um campo político que queira ser racional na economia e nas políticas sociais e racional na relação com o meio ambiente, propondo, de certa maneira, novas práticas com a população. Agora, para constituir esse campo e essa alternativa, é preciso de tempo. Você acredita, então, que a Marina, crescendo como uma opção, pode fazer frente à candidatura da Dilma?

Em BH, Gabeira foi recebido pelo Deputado Estadual Antônio Roberto (esq.) e pelo presidente do PV mineiro, Ronaldo Vasconcellos ............................................................................................................................

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Se ela quiser, porque, quando foi questionada, ela disse que não é oposição nem governo. Isso acabou nos deixando em uma situação um pouco delicada. Entre os possíveis candidatos, o Eduardo Campos é um braço do governo. O Aécio Neves não faz oposição. Ele


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botou na cabeça que mineiro não briga, o que não é verdade. Então ele não é oposição, e se a Marina diz que não faz oposição, quem vai fazer oposição ao governo? Será que vamos fazer uma campanha sem que a oposição admita que é oposição? A tendência, nesse caso, é a Dilma ganhar. Pelo que você fala, o PV e a Marina estão no mesmo campo? Acho que sim. Existem ressentimentos da Marina em relação ao PV e do PV em relação à Marina que acabaram provocando a saída dela do partido. O que temos que pesar é se esses ressentimentos vão dominar a opção nacional ou se a opção nacional sobrepõe esses ressentimentos. Em minha opinião, os ressentimentos têm que ficar pelo caminho. Temos que, primeiramente, unir o nosso campo. E acho que, mesmo com a união do nosso campo, ainda é muito pouco. Temos que buscar mais reforço na sociedade. Jamais vamos vencer uma eleição com um partidinho, com dois partidinhos. Gostaria que você falasse sobre essa questão do personalismo na política brasileira, em que determinados políticos sobrepõem os próprios partidos.

O Lula é isso tudo que ele acha que é? Qual é a sua visão sobre ele? O Lula é uma pessoa que é muito sensível às críticas e aos preconceitos que ele viveu. Ele tende hoje a ter um discurso autoafirmativo. Ele tende a valorizar um pouco mais o papel e a personalidade dele. Isso é uma forma de ele superar as situações vividas no passado. Ainda que ele tenha feito muitas bobagens, ele foi uma pessoa muito castigada pelas críticas. As pessoas falam coisas bárbaras dele, que é analfabeto, ignorante. Isso vai batendo forte nele. Cria essa vontade muito grande nele de triunfar sobre aqueles que o negam. Isso cria uma personalidade que às vezes exacerba. Ele não é seguro.

“Será que vamos fazer uma campanha sem que a oposição admita que é oposição? A tendência, nesse caso, é a Dilma ganhar”

No caso da Marina, por exemplo, ela tem uma visão crítica sobre isso. Talvez ela não tenha uma prática que seja convincente. Ela está consciente sobre esse problema e sabe que, se você quer um partido com a preponderância de uma pessoa, os outros tendem a não querer entrar. Acho que no partido que ela está tentando criar, como os que estão sendo criados, é mais fácil você combater o personalismo. Embora o partido dela esteja nascendo com essa aura, talvez seja o que tem Lorem Ipsum Dolar sit amet mais condições de entender a limitação dessa consectetur eadipiscing elit. proposta superá-la. Praesent malesuada urna ornare libe.

É por isso que eu acho que essa história vai ser lida de outra maneira. Eu não sei se o partido que está sendo colocado vai ser criado. Caso ele seja criado, ele vai precisar de um mínimo de tempo de televisão para bancar a sua candidatura. Ele vai ter que fazer alianças. E à medida que você avança, o partido vai ter que se abrir cada vez mais e vai ter que, dentro dos limites, reduzir essa questão do personalismo. Mas eu não vejo a formação desse partido nesse momento. Eu vejo esse momento como uma tentativa.

Mas o que se sabe é que esse novo partido está sendo criado para viabilizar a candidatura dela, Marina, à presidência da República.

E essa influência que o Lula exerce hoje no governo, mesmo estando fora dele? Isso é inevitável. Você acha que a Dilma seria eleita a alguma coisa? Nem à vereadora de Porto Alegre ou de Belo Horizonte ela conseguiria ser eleita. Ela não tem nenhuma habilidade política nem é uma grande administradora como dizem. Ela é um quadro técnico que o Lula pegou, que não é ameaçador, para fazer esse papel. Ela sabe muito bem o peso do Lula e o peso do PT. Ela nem era do PT. Então o Lula escolheu uma pessoa sobre a qual ele pudesse ter o máximo de influência. Ela não tem nada. Ela sabe que não tem futuro fora da generosidade do PT com ela.

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MetrOpolis • POLÍTICA

José Cruz /ABr

Paulo Filho

A candidatura do senador mineiro Aécio Neves é dada como certa entre companheiros de partido e analistas políticos ............................................................................................................................................................................................................................................................

“A prioridade é o Aécio” Indefinido, o nome do escolhido para disputar o governo de Minas pelo PSDB deve ser o que for mais conveniente para a briga de Aécio pela presidência da República Paulo Filho

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Sem rodeios nem dissimulações. Quando o assunto é a sucessão no governo de Minas, o PSDB é direto na resposta — vale o que for melhor para o projeto presidencial do senador Aécio Neves, mesmo que para isso o partido desocupe a cadeira do Palácio Tancredo Neves, da qual vem sendo titular nos últimos dez anos.

Marcio Lacerda traria o PSB para o projeto aecista. Por sua vez, o vice-governador Alberto Pinto Coelho, do PP, é um nome capaz de manter a unidade do grande bloco político construído no estado em torno da dupla Aécio/Anastasia. Além disso, o vicegovernador pode vincular a legenda conservadora, mas de representação nacional, a Aécio.

Nessa perspectiva, inicialmente dois nomes que pontuam no cenário da sucessão mineira entre os tucanos e partidos coligados saem com vantagem. São nomes mais atrativos para o senador mineiro.

Ainda pelo campo situacionista, os outros nomes que circulam na mídia com mais força como possíveis candidatos são o do presidente do PSDB em Minas, o deputado federal Marcus Pestana, o do presidente


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da Assembleia Legislativa de Minas, o deputado Dinis Pinheiro, do PSDB, e o da discreta e onipresente primeira irmã de Aécio, Andréa Neves, também pessedebista.

Neves. Eu não tenho pretensões, não pleiteio, mas também não refugo. Se tiver de ser candidato, se for o escolhido, irei em frente. Mas deixo claro que posso cumprir vários papéis”.

Em conversa com o deputado Marcus Pestana, ele foi direto ao ponto: “o projeto presidencial do Aécio é maior do que o projeto do PSDB no estado. O que nos orienta é esse projeto presidencial e, pelo Aécio, eu abro mão, com convicção e prazer, de uma candidatura ao governo do estado”. Concluindo o raciocínio, Pestana garante que “Aécio será candidato a presidente”, e a candidatura do grupo em Minas vai ser montada de acordo com o que for melhor para a candidatura presidencial do senador.

Na leitura do deputado, compartilhada por vários analistas e atores da cena política mineira, não há dúvida de que o PSDB e seus aliados têm grandes chances de manter o governo do estado. Um “grande líder”, um governador bem-avaliado, a máquina na mão, uma imensa base de apoio na Assembleia e uma aliança política com um conjunto de partidos são uma vantagem muito forte.

“A candidatura dele será a grande alavanca para a candidatura do nosso campo aqui em Minas. Eu costumo dizer, em tom de brincadeira, que aqui no nosso estado, acima do PSDB existe o PAA, partido do Aécio e do Anastásia. É essa frente política ampla aqui instalada que vai caminhar unida, sem divergências”, aponta.

“Em tom de brincadeira, digo que em Minas, acima do PSDB existe o PAA, partido do Aécio e do Anastasia” Marcos Pestana, presidente do PSDB - MG

Na avaliação do presidente regional do PSDB, o fundamental para a manutenção do poder no estado e o sucesso da empreitada nacional é a manutenção da ampla aliança construída em Minas — “que estejamos todos juntos, e o Aécio será o grande arquiteto da reafirmação dessa aliança”. “Embora não tenhamos um nome que naturalmente se sobreponha ou se destaque para a sucessão estadual, temos vários bons nomes que estão colocados, como o do vice-governador Alberto Pinto Coelho, o do secretário de Ciência e Tecnologia, Nárcio Rodrigues, o do presidente da Assembleia, o deputado Dinis Pinheiro, o meu nome, que sou presidente do PSDB em Minas, o do prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda, o do secretário de governo, Danilo de Castro, e o da irmã do senador Aécio, a Andréa

“Na nossa base é mais fácil falarmos por exclusão. Todos os partidos estão conosco, exceto PT, PC do B e parte do PMDB. Grande parte do PMDB, deputados, vereadores e principalmente prefeitos têm afinidade conosco. E temos que levar em conta que em Contagem, na eleição para prefeito, fizemos aliança com o PC do B. Eu estive lá, o governador Anastasia também, e apoiamos o candidato do partido à prefeitura, que venceu com nosso apoio”, analisa Pestana.

Embora enfatize a união e a unidade da “grande aliança política” mineira em prol do projeto tucano/aecista, Pestana reconhece a existência de divergências e disputas internas no PSDB. Mesmo reconhecendo que existem, o deputado as minimiza e contemporiza, garantindo que a “grande aliança” seguirá unida e coesa. Sobre a mais visível dessas “divergências”, que ocorreu na eleição da mesa diretora da Câmara Municipal de Belo Horizonte, Pestana garante que foi apenas um fato isolado. A cúpula do PSDB, aí incluídos Aécio e Anastasia, e o prefeito Marcio Lacerda bancaram um nome do interesse comum. Em uma articulação atribuída ao secretário Danilo de

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MetrOpolis • política

Paulo Filho

“O quadro para nós é muito favorável” Qual a expectativa do senhor para a próxima eleição no estado? O PT, que deve lançar candidato, tem um histórico de fragmentação e de divergências internas muito radical. Isso ficou muito claro na eleição agora em Belo Horizonte. Então o quadro para nós na sucessão do governo do estado é muito favorável. As condições subjetivas e objetivas para que continuemos à frente do governo são bastante claras. Apesar de não termos um nome, um candidato natural, temos um grande líder que vai interpretar e corporificar um projeto de Minas como candidato à presidência da República e isso alavanca o nosso candidato. Esse quadro revela que temos uma grande força coletiva, uma base de partidos muito sólida e experiência de governo muito positiva, além de um governador muito respeitado e admirado. Sobre os nomes colocados como possíveis candidatos da base aecista, qual a sua opinião?

O nome de Pestana também tem sido cogitado para a disputa .........................................................................................................................

Castro, o vereador Léo Burguês (PSDB), rejeitado pela opinião pública e com problemas para a manutenção do mandato, atropelou o candidato escolhido e foi reeleito presidente da Casa, acarretando desgaste e desconforto no PSDB e no governo municipal. “Houve, sim, influência externa. Ali foi um processo muito equivocado em que todos os atores cometeram erros. Mas a Câmara de Belo Horizonte foi uma decisão circunscrita, pontual, que não traz maiores consequências. Ali cada ator consultou quem achou que deveria consultar e tomou seu posicionamento. É obvio que nós temos diferenças naturais dentro do partido. A minha história é uma, e outros têm histórias diferentes, mas estamos juntos nesse processo do PSDB. A política não se faz só com iguais; é feita com semelhantes e com diferentes. Com alguns, você tem antagonismo; com outros não”.

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Quanto ao Marcio, tenho contato constante com ele. A sinalização dele é de que não sai da prefeitura. Ele quer terminar o mandato, concluir os projetos estruturantes que estão em curso em Belo Horizonte, como o BRT e a ampliação do Metrô, e ser o prefeito da cidade na Copa do Mundo. Para ser candidato, ele teria que renunciar na primeira semana de abril do ano que vem, o que ele não quer e tem manifestado em nossas conversas. Além disso, o Marcio tem uma relação de lealdade e de parceria com o Aécio e o governador Anastasia. Ele fala também que jamais enfrentaria o Aécio e o Pimentel em uma eleição direta nem indiretamente. A Andréa é um quadro qualificadíssimo, dos melhores que nós temos, preparadíssima. Ela é uma pessoa inteligente e gosta de atuar mais nos bastidores. Mas eu vejo a possibilidade de a Andréa ser candidata em uma hipótese de o Aécio não ser candidato a presidente. Primeiro, porque ela é essencial e central em qualquer campanha do irmão. Segundo, ela é importante como tática eleitoral: não seria viável ter o irmão candidato a presidente e a irmã candidata ao governo de Minas. O nosso vice-governador é também um bom nome, um grande quadro político e importante nessa ampla aliança construída no estado. Se for ele o candidato, com certeza estaremos todos juntos.


ARTIGO - POLÍTICA

pAULO fILHO Jornalista e consultor de Comunicação Social paulojfilho@ig.com.br

Marina, morena A ex-ministra do governo Lula, ex-senadora e expetista Marina Silva (participou da fundação do PT e da CUT no Acre) anunciou a criação de mais um partido político no país – o Rede Sustentabilidade. É uma pena que mais um partido seja criado no Brasil. dá para perder a conta de quantos existem. Esse foi criado, especialmente, para sustentar uma candidatura à presidência da República. Dessa forma, é mais um partido que surge dentro de uma perspectiva exacerbadamente personalista, em que a figura da liderança é muito maior do que a postura ideológica da agremiação. Por outro lado, respaldada pelos cerca de 20 milhões de votos conseguidos na última eleição, a participação de Marina no próximo pleito é um alento. Sua entrada em cena amplia e melhora o debate, além de tirar o sono dos postulantes que já estão colocados. Para Dilma e o PT, Marina significa o segundo turno. Para o PSDB e o PSB, Aécio Neves e Eduardo Campos, ela significa a possibilidade de que eles nem cheguem ao segundo turno. No fundo, Marina e seus companheiros jogam com a estratégia de tentar o segundo turno agora, consolidar o novo partido e disputar para valer a presidência em 2018. Mas isso só acontece se o roteiro for bem trabalhado e tiver chances reais de vitória.

Sustentabilidade tem apenas três meses para conseguir 500 mil assinaturas que respaldem a sua criação. Com domínio do uso da internet, ampla penetração nas redes sociais e uso de um discurso coletivista pela sustentabilidade, que remonta às “comunidades” sessentistas, a aposta é a de que o número de apoiadores seja batido. Os problemas de Marina devem se dar no jogo pesado dos bastidores. Ninguém põe a cara para dizer que é contra a criação do novo partido. No entanto, a dinâmica das cooptações, das ofertas de vantagens, das “plantações” de notícias na imprensa amiga (e nos “veículos oficiais e oficiosos”) e dos questionamentos legais deve ganhar volume a partir de agora.

“A entrada de Marina em cena amplia e melhora o debate, além de tirar o sono dos postulantes que já estão colocados”

Criar o partido não será tarefa simples nem fácil, principalmente pela urgência dos prazos – o Rede

Enfim, a entrada de Marina no jogo sucessório da presidência, acompanhada ou apoiada, pelo menos por enquanto, por poucos e bons nomes (Gabeira é um deles). é um salutar sinal de que poderemos sair do limitadíssimo debate imposto por PT e PSDB – aquele que tem no marketing orientado por pesquisas seu único pilar.

Não fosse por sua opção evangélica, Marina poderia estar sendo saudada por Darcy Ribeiro e Leonel Brizola, de onde quer que estejam (se é que estão em algum lugar), como a mais digna herdeira e representante do “socialismo moreno” que apregoavam.

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sxc.hu

Enfim, juntos Mudança na Lei de Imigração vai permitir que ilegais casados com cidadãos americanos recebam o green-card sem o castigo de deixar o país e a família Greice Rodrigues, de New York O caminho para o tão sonhado green card deve ficar menos oneroso e mais curto para milhares de imigrantes que vivem sem documentos nos Estados Unidos. Uma recente mudança administrativa anunciada pelo U.S. Citizenship and Immigration Services (USCIS), o Departamento de Imigração Americano, vai reduzir o tempo de espera e deixar menos burocrático o processo para a obtenção da cidadania americana. Chamada de “Lei do perdão”, a medida vai beneficiar principalmente milhares de cônjuges. Mesmo sendo casados com cidadãos ou cidadãs americanos, esses imigrantes vivem como ilegais no país. São pessoas que entraram clandestinamente nos EUA ou que permaneceram no país depois de expirar a validade do visto. A lei norte-americana prevê que qualquer pessoa com esse perfil precisa deixar os EUA e, a partir do país de origem, pleitear a mudança para residência perman-

ente. O problema é que esse processo pode levar até dez anos para ser avaliado e aprovado pelas autoridades americanas. E tem um agravante: ao deixar o país, a pessoa corre o risco de ter seu pedido negado e ficar proibida de retornar aos EUA pelo mesmo período em que morou ilegalmente no país. Esse é um risco que ninguém quer correr, porque os imigrantes nessa situação ficariam obrigados a ter de viver longe de seus cônjuges e filhos por tempo indeterminado ou até mesmo permanentemente. Então a alternativa mais “segura” era continuar ilegal no país, mas ao lado de suas famílias. Agora autoridades do serviço de imigração americano avaliaram que essa obrigatoriedade de separação tem causado muitos danos para os familiares que ficam nos EUA, em especial, para os filhos pequenos que sofrem com a ausência de seus pais. Por isso, a nova


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representa um grande avanço e deve encabeçar a lista de novas mudanças que devem ser aprovadas nos próximos meses”, afirma o advogado brasileiro Moisés Apsan, especialista em imigração. A medida foi comemorada por imigrantes que vivem nessa condição no país e por ativistas que defendem o direito das famílias. A lei do perdão, no entanto, também recebeu críticas de alguns conservadores. Contrários à administração Obama, eles alegam que o presidente inflige as leis do país ao conceder o que chamam de “anistia pela porta dos fundos”.

“A história dos imigrantes na América não é a história deles, é a nossa história. É quem nós somos” .........................................................................................................................

conduta que deve entrar em vigor em março próximo prevê uma redução do tempo em que pais e filhos ficam separados. Em vez de anos, o candidato agora vai ficar apenas algumas semanas no país de origem. “Essa mudança vai provocar um impacto significativo para filhos, marido e mulher. O período em que ficavam separados era de muito sofrimento para todos”, declarou Alejandro Mayorkas, diretor do USCIS. Mas, para ter esse benefício, o candidato deve provar que sua ausência causaria “extrema dificuldade” aos seus familiares. A “extrema dificuldade” pode ser interpretada como danos psicológicos e financeiros decorrentes da separação. Outra vantagem é que todo o procedimento para a obtenção da cidadania será iniciado nos EUA. O estrangeiro também vai ter de deixar o país. Mas ele terá a resposta da aprovação do seu novo status, antes da saída. Na prática, o imigrante vai receber um “pedido de perdão” temporário que vai permitir o regresso dele aos EUA. A estimativa é de que mais de 1 milhão de imigrantes sejam beneficiados. A lei vale para qualquer pessoa – desde que esteja casada há, no mínimo, cinco anos com cidadão americano - e até mesmo para as que tenham carta de deportação. A única restrição é para pessoas com antecedentes criminais no Brasil ou nos EUA. “Essa nova diretriz

A iniciativa das autoridades americanas é considerada um passo positivo para a tão esperada Reforma da Lei de Imigração nos EUA. Um programa mais amplo vem sendo defendido pelo presidente Obama e até ganhou o apoio de seus opositores. Nos próximos meses, o Congresso americano deve iniciar uma votação para aprovar essas novas regras. Para os 11 milhões de imigrantes que vivem ilegalmente nos EUA, a contagem regressiva para uma nova realidade já começou.

ENTENDA O QUE É A “LEI DO PERDÃO” OU WAIVER

O que é? Uma norma administrativa que vai reduzir o tempo de espera para a obtenção da cidadania. O objetivo é evitar que pais e filhos fiquem separados.

Quem pode se beneficiar dessa lei? Qualquer estrangeiro em situação irregular, mas sem antecedentes criminais, que esteja residindo nos EUA e seja parente imediato de cidadãos americanos, ou seja, esposo ou esposa, filhos e pais.

Como funciona? O interessado deve solicitar aos órgãos competentes um “pedido de perdão” e apresentar provas de que sua ausência vai causar sofrimento a seus familiares. O candidato espera pela resposta nos EUA. Após a aprovação, o interessado deve viajar ao país de origem para a entrevista e a finalização do seu pedido de cidadania. O prazo de conclusão do processo deve ser de até quatro semanas. Depois o imigrante pode retornar aos EUA.

Quando entra em vigor? A partir de 4 de março 2013.

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Riqueza perdida O descaso com o lixo, considerado o novo garimpo do século XXI, se tornou fonte de contaminação e acidentes aéreos no Brasil. Em Minas, 654 municípios não têm licença para o tratamento correto dos resíduos sólidos. Apenas duas em dez cidades cumprem a lei Ilson Lima São 278 lixões espalhados por todas as regiões do estado e mais de 300 aterros controlados com métodos paliativos. Essa realidade faz de Minas um lixão a céu aberto. Às vezes, o cenário está apenas recoberto, refletindo a imagem do atraso do país no

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tratamento de resíduos. E a questão é considerada vital para o desenvolvimento econômico das sociedades contemporâneas. A produção do lixo urbano no estado é estimada em


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9 mil toneladas por dia. Há 654 municípios fazendo a destinação incorreta de resíduos. Estima-se que mais de 6 mil toneladas de material orgânico e inorgânico sejam despejadas todos os dias nesses lixões e recolhidas em aterros ambientalmente inadequados.

essa melhora não reduziu a feiura do bicho. “A questão do tratamento do lixo no Brasil continua preocupante em Minas e em todo o país”, lamenta o advogado e presidente da Comissão de Direito Ambiental da OAB/ MG, Mário Werneck.

Somente os 48 municípios do Colar Metropolitano e de sua área de influência produzem mais de 3 mil toneladas de lixo por dia, segundo informa a Secretaria de Estado Extraordinária de Gestão Metropolitana (Segem). O volume equivale a um terço do lixo total produzido em Minas Gerais.

E uma pesquisa do IBGE confirma o que diz o representante da OAB/MG. Em 2008, 73% dos municípios brasileiros faziam seus serviços de manejo de resíduos sólidos de forma inadequada ou usavam métodos paliativos. Desse total, 51% dispunham seus resíduos em lixões e mais de 22%, em aterros controlados.

Em maio passado, a Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam) divulgou o Panorama da Destinação de Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) em Minas Gerais. Os 853 municípios foram pesquisados. Dentre eles, 49 não entraram na classificação do pormenorizado estudo, porque não tinham concluído as instalações das unidades de tratamento ou não iniciaram a operação recomendada com os resíduos. O retrato fiel da realidade contido no relatório da pesquisa é o seguinte: 654 cidades, mais de 70% dos municípios mineiros, ainda não dispõem de formas consideradas ambiental e tecnicamente corretas para o tratamento do lixo urbano. O número representa a soma de 278 lixões, 307 aterros ambientalmente impróprios, 20 cidades da RMBH nas mesmas condições e 49 equipamentos do Colar Metropolitano com equipamentos não liberados pela Feam. Em termos populacionais, vê-se a dimensão do problema. Mais de 7,5 milhões de mineiros (quase 45% dos habitantes) que vivem nessas cidades não têm o atendimento por disposição adequada dos RSU. “Este cenário representa o grande desafio para o atendimento da meta definida na Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Ela prevê o fim dos lixões em todo o país até agosto de 2014”, traz o relatório da Feam. O paradoxo do diagnóstico governamental é a constatação de que o cenário evoluiu de 2005 até hoje. A situação era muito pior. Naquele ano, já em pleno século XXI, foram identificados 564 lixões em operação no estado. Mas especialistas afirmam que

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Do ponto de vista institucional, os desafios também são imensos e reconhecidos pelas próprias autoridades responsáveis pelos encaminhamentos das soluções. Para o Ministério do Meio Ambiente (MMA), a realidade conjuntural por parte dos municípios é negativa e será preciso muito esforço de todos os entes da federação para o cumprimento das metas fixadas. “A maioria das prefeituras ainda não dispõe de recursos técnicos e financeiros para solucionar os problemas ligados à gestão de resíduos sólidos”,


municipais”, conclui. LIXO CLANDESTINO A fotografia dessa triste realidade fica ainda mais sombria, se for levada em conta a existência de lixões e dos descartes clandestinos. Os resíduos sólidos urbanos – o lixo domiciliar e o oriundo da limpeza urbana – e os bota-foras de resíduos inertes (principalmente de material da construção civil) estão espalhados pelos centros urbanos das cidades mineiras, inclusive da capital. Divulgação

O representante da OAB/MG denuncia que as irregularidades têm sido minorizadas e, de certa forma, acobertadas pelo poder público ........................................................................................................................

ressaltam os técnicos do MMA. Mesmo reconhecendo as dificuldades impostas pelo problema, eles alimentam a expectativa de que essa realidade seja alterada nos próximos anos, por meio das medidas lançadas pelos governos federal e estadual que visam apoiar os municípios e investir neles. Conhecedora dos problemas da área, a presidente da Feam, Zuleika Torquetti, é uma das pessoas que acham difícil implementar a PNRS no período estipulado. “O prazo que temos para o cumprimento em um ano e meio é exíguo”, diz. Zuleika admite que, desde 2003, um dos objetivos da instituição é erradicar os lixões no estado, por meio do programa “Minas sem Lixões”. “Estamos atrasados na erradicação das formas inadequadas de disposição dos resíduos sólidos. Apenas alguns municípios têm projetos. Boa parte deles ainda está iniciando ou nem tem projetos para a gestão do lixo, conforme orienta a lei que criou a PNRS”, confessa a presidente da Feam. Na avaliação de Zuleika, é necessário dar continuidade às ações de apoio aos municípios para a erradicação de lixões e a transformação dos aterros controlados em sistemas adequados. “Conforme está constatado na pesquisa, os aterros são a demonstração da fragilidade da sustentabilidade desses sistemas em longo prazo. E esse é um dos principais desafios dos gestores públicos

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O advogado Mário Werneck denuncia esses absurdos ambientais. Ele revela a presença desses espaços irregulares muito perto das autoridades e da sociedade em geral. Segundo ele, o que acontece é um misto de omissão e descaso dos gestores públicos e a falta de educação e de cultura ambiental demonstrada pela maior parte dos cidadãos. As autoridades estão cometendo crime, quando não dão a importância devida ao problema do lixo urbano em suas variadas modalidades, segundo enfatiza Werneck. O presidente da Comissão de Direito Ambiental da OAB/MG acrescenta que os gestores estão sujeitos a sanções penais previstas na legislação específica que dispõe sobre os crimes praticados contra o meio ambiente. “Os gestores das prefeituras normalmente fazem vistas grossas para as irregularidades que ocorrem no meio ambiente e que existem aos montes em Belo Horizonte e em todas as cidades da Região Metropolitana e do estado”, critica o advogado, com a autoridade de quem atua na área há quase 20 anos. A urbanização é crescente no Brasil, nas últimas décadas. Esse fenômeno vem impactando fisicamente as cidades em ritmo frenético. E os denominados Resíduos Sólidos da Construção Civil (RSCC) ampliaram os problemas da cadeia produtiva do lixo. Sem controle nem capacidade operacional de fiscalização por parte de estado e municípios, os bota-foras de entulhos da construção civil se transformaram em uma das maiores agressões ao meio ambiente e ao conjunto de leis existentes no país.


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A gravidade do problema tem provocado questionamentos por parte de especialistas e entidades ambientais. A situação levou a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) a intensificar o combate a esses aterros clandestinos, desde o ano passado. Mesmo tendo legislação específica proibindo bota-foras em seus limites territoriais, Belo Horizonte vive com pelo menos 650 depósitos de entulhos clandestinos identificados pela prefeitura. As autoridades admitem que esse número deve ser bem maior. A ganância pelo lucro fácil alimenta o problema. Desde os pequenos transgressores, que utilizam carroças para o transporte do material, até os micros e grandes empresários do setor usam caminhões e até carretas para a prática desses crimes. Os despejos geralmente são realizados à noite ou durante a madrugada. A PBH estima que esses 650 bota-foras clandestinos recebam 11,5 mil toneladas de resíduos por mês. O número equivale a 6% do volume recolhido na capital. Para tentar eliminar de vez o problema, a prefeitura planeja usar as regionais para aumentar a fiscalização e aplicar a legislação específica contra os infratores. Muitas vezes, o abuso chega a ponto de esses entulhos serem despejados em ruas, calçadas e em qualquer espaço da cidade, principalmente, em bairros de

periferia. O dirigente da OAB não deixa por menos. Werneck faz uma ponderação pertinente, que ele mesmo responde mais à frente. “Se os bota-foras são proibidos em BH, e os resíduos inertes clandestinos correspondem a 6% do volume mensal recolhido na capital, para onde está indo o restante, se o aterro oficial da prefeitura (Aterro de Macaúbas, em Sabará) só pode receber resíduos domiciliares e de limpeza urbana? LIXÕES PROLIFERAM EM CIDADES DA RMBH Werneck não tem dúvida de que milhares de toneladas de entulho da capital sejam despejadas diariamente nas cidades limítrofes. Esses municípios estão sendo feitos de depósitos clandestinos de resíduos sólidos urbanos e de resíduos inertes. Há diversas consequências decorrentes dessa prática, segundo garante o ambientalista. Lixos diferentes são misturados e jogados em qualquer lugar, muitas vezes na beira de rios e córregos, poluindo cursos d’água e gerando várias doenças endêmicas, como é o caso da dengue. Conforme revela a Comissão de Direito Ambiental da OAB, além de Belo Horizonte, cidades como São José da Lapa, Pedro Leopoldo, Contagem, Betim e, principalmente, Santa Luzia estão infestadas de aterros

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Excluídas socialmente, muitas famílias sobrevivem dos lixões de onde retiram os material reciclável para a comercialização ............................................................................................................................................................................................................................................................

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clandestinos ou semiclandestinos. Nesses aterros, as irregularidades e agressões ao meio ambiente são visíveis, e os empreendimentos funcionam abertamente. Para fugir da fiscalização na capital, os infratores buscam refúgio nas cidades vizinhas. Na RMBH, eles conseguem driblar mais facilmente o poder público. Às vezes contam com a benevolência dos gestores municipais. No caso dos RSU, o lixo é simplesmente jogado nos espaços vazios. Tanto as rodovias asfaltadas de acesso a essas cidades quanto as sem pavimento se tornaram redutos de entulhos em suas margens. Um dos métodos utilizados para burlar as autoridades e as legislações pertinentes é obter apenas uma das autorizações exigidas pelas várias entidades governamentais envolvidas na área, como a Autorização Ambiental de Funcionamento (AAF), e colocar o empreendimento para funcionar como se fosse plenamente legal.

Com a posse do novo governo em janeiro, o recolhimento do lixo foi resolvido, mas as irregularidades com relação aos lixões e ao manejo dos resíduos sólidos da construção civil permanecem. O problema é admitido pelo próprio secretário de Meio Ambiente e Agricultura do município, Deusdedite Ferreira de Aguiar. Segundo ele, até hoje o município não tem nem um plano de gestão de resíduos sólidos. “Estamos sob pressão do Ministério Público e da OAB, mas temos que administrar o problema e, paralelamente, tomar as medidas necessárias e urgentes”, admite. “Diante da falta de um plano para a área, as primeiras ações que estamos tomando é elaborar o projeto do município. Ao mesmo tempo, vamos fazer o levantamento de todos os empreendimentos regulares e irregulares que existem na cidade”, garante. O secretário afirmou que a expectativa de conclusão do levantamento seria para o fim de fevereiro.

Mais de 70% dos municípios mineiros ainda não dispõem de formas consideradas ambiental e tecnicamente corretas no tratamento do lixo urbano

Para legalizar totalmente um empreendimento, são necessários vários licenciamentos de órgãos diferentes, cujo ritual pode se iniciar pelas prefeituras municipais e passar pelos órgãos estaduais e federais. E os ambientalistas afirmam que não é questão de burocracia. O problema é que o lixo urbano, em particular, envolve até mesmo questão de segurança. Há o perigo da existência de lixões próximos a zonas aeroportuárias. (Veja ao lado)

Na verdade, o empreendimento funciona de forma semiclandestina e pratica várias irregularidades, segundo afirmam as autoridades do meio. Com uma população estimada em 250 mil habitantes, Santa Luzia é um exemplo. Desde o ano passado, a cidade vem sendo vítima da omissão e do descaso do governo municipal. Até mesmo o lixo doméstico ficou sem ser recolhido por vários dias, ficando exposto pelas ruas.

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Deusdedite Aguiar não alivia a gravidade do cenário que encontrou, quando assumiu a pasta. O secretário promete rigor máximo com os infratores. Até agora foram identificados sete empreendimentos irregularidades no município, fora os lixões e botaforas com resíduos misturados, segundo afirma o secretário. Mas para a OAB existem mais empreendimentos irregularidades na cidade. O secretário estabeleceu o mês de março para regularizar, pelo menos em parte, a crise enfrentada por Santa Luzia nessa área. “No segundo momento, todos os empreendimentos que operam na cidade terão que ter o licenciamento ambiental do município, na forma das legislações específicas. Caso contrário, serão interditados”, promete. Aguiar revela que será exigida a regularização inclusive dos operadores de transporte de resíduos – os chamados caçambeiros. Eles terão que fazer o cadastro no órgão municipal.


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Companhias aéreas têm sinalizado ao Cenipa um número cada vez maior de ocorrências envolvendo aves ............................................................................................................................................................................................................................................................

PERIGO NO AR A proliferação de lixões na RMBH provoca danos ambientais e é foco de doenças. Isso é ponto pacífico. Mas as consequências dessa irregularidade vão além. A localização de espaços para a destinação de resíduos tem gerado sérios riscos à segurança de voos. E a irregularidade afeta principalmente o Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins – o mais movimentado de Minas. Os lixões e até mesmo os chamados aterros controlados têm sido instalados em zonas aeroportuárias. A presença de aves, principalmente urubus, nesses locais acaba provocando colisões com as aeronaves. E o número desses acidentes cresce em todo o país. A expansão da aviação civil e o crescimento das cidades próximas aos aeroportos têm colocado em alerta o Comando da Aeronáutica (Comaer) brasileira. Em 2011, o órgão baixou a Portaria 249/CGS que criou o Plano Básico de Gerenciamento do Risco Aviário (PBGRA). Com regras rigorosas, a proposição deve ser cumprida por todos os aeródromos brasileiros. A nova regulamentação surtiu efeito. O aterro

controlado que existia em Vespasiano desde 1948 – e que funcionou durante décadas como lixão – foi desativado pela Infraero no ano passado. A medida foi um cumprimento à determinação do Comando Aéreo Regional (Comar), com base no PBGRA. Antes disso, o aterro havia sido notificado e interditado pela Feam, mas continuou funcionando até ocorrer a intervenção do órgão federal. Diariamente o aterro recebia 170 toneladas de lixo urbano de Vespasiano, Confins, Lagoa Santa e São José da Lapa, segundo a assessoria de comunicação da Prefeitura de Vespasiano. Com a desativação do aterro, o município está descartando o lixo no Aterro Sanitário de Macaúbas, criado para atender somente a Belo Horizonte. O custo dessa operação para a prefeitura gira em torno de R$ 400 mil por mês, de acordo com a assessoria. Mas uma licitação para terceirizar a coleta está em curso. O objetivo é obter um novo aterro. O equipamento de Vespasiano estava localizado a 5,7 quilômetros do Aeroporto de Confins. De acordo com as regras do PBGRA, a distância é ilegal. Localizados na RMBH, os aeroportos de Confins, Carlos Prates e da


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Acidentes envolvendo aves são os mais comuns no transporte aéreo. No ano passado, um lixão de Vespasiano foi desativado pela Infraero ............................................................................................................................................................................................................................................................

Pampulha estão na lista de aeródromos prioritários para o gerenciamento do risco aviário controlada pelo Centro de Investigações e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa). Nesses três aeroportos há registros de ocorrências de colisão de aeronaves com aves. A quantidade de urubus que estava sendo atraída para as imediações do aterro acendeu um sinal de alerta para a direção do Aeroporto de Confins. O próprio comando do aeroporto reconhece que o fenômeno vinha colocando em risco iminente a operação das aeronaves. O risco envolvia pousos, decolagens e

manobras de aproximação do aeródromo. Em 2011, o aeroporto operava com 530 pousos e decolagens e tinha um fluxo de 25 mil passageiros por dia. Foram registradas 16 colisões nos últimos anos. Em todo o estado, o número chega a 45, segundo informa o Cenipa. Em todo o país, os números também são altos: 1.460 notificados até abril do ano passado. Na próxima edição de Vox Objetiva, você confere as estratégias governamentais para solucionar a situação em Minas. Você vai conhecer o inovador sistema japonês de tratamento de resíduos e uma boa prática na RMBH.


Artigo • Justiça

ROBSON SÁVIO REIS SOUZA Filósofo e cientista social robsonsavio@yahoo.com.br

Impunidade: incentivo à violência Por que é preciso apurar com celeridade e eficiência os crimes? Obviamente não é para promover a vingança, segregar ou aniquilar o infrator nem ampliar as garras do Estado. A certeza da impunidade favorece a prática de crimes. No Brasil, vergonhosamente, para cada cem homicídios, apenas oito são totalmente processados pelo sistema de justiça criminal. E somente dois têm os autores presos. Pouco efetivos são os mutirões para concluir milhares de inquéritos abertos e sem solução. Mas, às vezes, esses procedimentos são necessários. De um total de 143 mil inquéritos de homicídios sem solução, apenas 20% tiveram um fim, segundo informaram recentemente organizadores de um desses mutirões. Os 80% restantes foram arquivados, sem nenhuma solução. O número de casos remetidos ao Ministério Público para o oferecimento de denúncia foi de parcos 3% do total. Abrir mão da apuração dos crimes sinaliza o fracasso do Estado e o caráter dúbio da Justiça (a aplicação da lei vai depender de circunstâncias aleatórias). Resultado: o crime pode compensar.

de repressão – que aparentemente dão resultado (nem que seja midiático) –, em vez de direcionar os investimentos para uma polícia mais eficiente, menos preocupada em prender e mais direcionada para a elucidação dos crimes. Polícias eficientes, que solucionam os crimes, oferecem ao Ministério Público processos robustos. Por sua vez, o MP permite ao Poder Judiciário (se menos encastelado e seletivo) julgar com rapidez. Por fim, com um sistema prisional direcionado somente para quem oferece risco social - e não como instrumento para prender os pobres e negros e praticantes de crimes contra o patrimônio (que respondem por 65% da massa carcerária) -, haveria um quadro de maior efetividade da Justiça e a possível diminuição da impunidade. Afinal, justiça tardia é a negação da justiça.

“A situação não será resolvida com medidas paliativas nem com reformas incrementais nas agências do sistema de justiça criminal”

Onde estão os problemas? Os baixos investimentos em estruturas de investigação, inteligência e perícia das polícias são fatores que corroboram o caos do sistema de justiça criminal. Mas não dá para responsabilizar somente as polícias pela situação desastrosa. Governantes insensatos, que se contentam com o “aqui e agora”, sempre preferem investir nas ações

Somente repensando as estruturas arcaicas, inquisitoriais e baseadas na intuição - que não respondem mais aos reclamos de uma sociedade democrática -, que haverá um sistema de justiça que faça jus a esse nome.

Mas a situação não será resolvida com medidas paliativas nem com reformas incrementais nas agências do sistema de justiça criminal. Afinal, quando há pressão social ou midiática, as respostas do Estado são sempre nos moldes dos remendos novos em panos velhos. Resultado: mantendo-se essa estrutura, sem profundas reformas, o problema vai persistir e outras tantas ações enxuga-gelo serão sistematicamente implementadas. A quem interessa a atual situação de insegurança e impunidade?

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Salutaris • SAÚDE

Problema comprimido Venda recorde de ansiolíticos acende o alerta vermelho entre órgãos de saúde. Medicamentos naturais são menos agressivos, mas também exigem prescrição e o acompanhamento por especialistas André Martins Aos 29 anos de idade, a vendedora Valéria Guelber teve a vida emocional abalada. Perdas e problemas de ordem familiar levaram-na a procurar nos ansiolíticos uma forma de se ver livre, por algumas horas, dos problemas que a acometiam. “Eu queria fugir. Queria algo para ‘apagar’, para dormir e não me lembrar de mais nada”, revela. O clonazepam Rivotril de 2 mg foi o tranquilizante prescrito pelo psiquiatra. Tudo começou com um

comprimido, até chegar ao estágio atual, de três – uma dosagem considerada bem acima da média. Ao longo dos 12 anos que faz uso da droga, Valéria adquiriu a percepção da quantidade realmente necessária para descansar a mente. Ela até chegou a reduzir o consumo por um período prolongado. Mas, com a perda da mãe ocorrida há seis meses, a vendedora voltou à estaca zero. Para não colocar a cabeça no travesseiro em vão, ela toma três comprimidos de Rivotril, antes de se deitar. Ficar cinco dias sem tomar o remédio é algo possível. Passado esse curto período, os limites do corpo e da mente são sinalizados pela irritabilidade, as tremedeiras e os ataques de pânico. Esses são os sintomas da abstinência. Por ainda não conseguir viver sem o medicamento, o quadro clínico de Valéria é considerado de dependência química. “Eu tenho consciência de que o ansiolítico me faz mal. Muitas pessoas tomam o medicamento achando que aquilo está fazendo bem a elas pelo fato de conseguirem dormir. Mas não está. Você acorda no outro dia, mas você não é você. Acha que o seu trabalho está fluindo, mas, na realidade, você está mais lenta”, opina.

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Pode parecer incoerente, mas casos como o de Valéria são comuns em um país cuja alegria do povo é “vendida” aos estrangeiros. O jornal Estado de Minas encomendou um levantamento ao instituto de pesquisa IMS para medir o consumo desse tipo de medicamento. Em 2012, os brasileiros gastaram cerca de R$ 1,85 bilhão em ansiolíticos e reguladores de humor. O valor corresponde à saída de 42,33 milhões


Salutaris • SAÚDE

de caixas das gôndolas das farmácias de todo o país. O número é recorde e estarrecedor no país que todos os anos pula carnaval nos mais variados ritmos. A expansão do consumo desse tipo de fármaco envolve três fatores, conforme enumera o psiquiatra Helio Lauar. “Há novos medicamentos com menos efeitos colaterais; a produção aumentou, e isso se refletiu na concorrência e na variação de preço; houve também a mudança na direção prescritiva. O novo conceito da escola americana de psiquiatria permitiu a inclusão de muitos novos casos clínicos na indicação de estabilizadores de humor”, aponta. Entretanto, há outras razões para o boom nas vendas. O crescimento do número de pessoas com depressão é uma delas. Esse é um grande sinal dos tempos em sociedades marcadas por níveis cada vez maiores de estresse. Dentro de 15 anos, cerca de 20% da população mundial vai conviver com a depressão, conforme estima a Organização Mundial da Saúde (OMS). A depressão será mais comum do que as doenças cardiovasculares. Influenciados além da medida pela mídia, pacientes e médicos também têm alimentado a engrenagem que movimenta o lucrativo mercado das “pílulas da felicidade”. Não são raros os casos em que o paciente força a prescrição. Os muitos médicos com autonomia para receitar medicamentos abusam desse poder. Muitas vezes, eles prescrevem de maneira simplista e irresponsável. Em Minas Gerais, o Conselho Regional de Medicina pretende fechar o cerco contra os médicos que receitam de forma deliberada. Caso seja constatada a irregularidade em prescrições, os profissionais podem ser cassados. “Muitas vezes, o próprio procedimento de atendimento está contaminado pelo consumo. Portanto, o profissional faz muito em pouco tempo e perde em qualidade. O médico perde a capacidade de escutar e convencer o seu paciente a achar saídas para seu sofrimento que não estejam exclusivamente vinculadas ao consumo de medicamentos”, analisa Lauar. A substituição do tratamento à base unicamente

de medicamentos pela associação do tratamento psicofarmacológico com a terapia seria a principal forma de cortar o mal pela raiz. “Se o medicamento atua regulando a vulnerabilidade biológica, a psicoterapia educa, muda hábitos, aumenta a adesão e permite uma ampliação da capacidade reflexiva do sujeito sobre suas relações com o outro e com o seu desejo”, explica. Desde quando começou a fazer uso dos medicamentos, Valéria se encontra periodicamente com uma psicóloga. Ela revela que os benefícios são muitos. A psicoterapia a tornou mais forte para lidar com os desafios cotidianos e a enfrentar a maior perda de sua vida. “As sessões me ajudam muito a lidar com medos, angústias e problemas em geral”, relata. André Martins

Dependência e risco. Valéria faz uso de ansiolíticos há 12 anos. “Sei que o medicamento não me faz bem” .........................................................................................................................

MEDICINA NATURAL Eles são considerados inofensivos. Por correntes mais “totalitárias”, são tidos como uma farsa. Não é de hoje que os homeopáticos são mal vistos por alguns segmentos da classe médica. A despeito do preconceito, a médica homeopata Walcymar Leonel Estrela, integrante da diretoria da Associação Médica Brasileira, defende

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Salutaris • SAÚDE

a homeopatia. Ela esclarece que existem estudos que comprovam a eficácia dos tratamentos homeopáticos. Além disso, ela expõe que, em 1980, o governo e os órgãos de saúde legitimaram a homeopatia, ao estabelecê-la como uma especialidade médica. Walcymar consegue identificar o lado positivo nas declarações coléricas contra os tratamentos homeopáticos. “Não é totalmente ruim, porque suscita o debate e coloca as pessoas para pensar. O que a gente alerta à população é que nem tudo que se diz que é homeopatia, é homeopatia. Então os resultados variam de acordo com a forma e o tipo de profissional que põe o tratamento em prática”, aponta. G.S. começou a fazer uso de ansiolíticos naturais e remédios homeopáticos há 20 anos. A crise no casamento, uma filha pequena e a distância dos pais começaram a minar a saúde emocional da auxiliar administrativa, hoje com 45 anos de idade. Por recomendação de um amigo farmacêutico, ela optou por fármacos mais leves. O maior receio era de passar a ser dependente de um medicamento químico.

Essa é a instrução dada pela médica homeopata. Ela aclara que a possibilidade de dependência por medicamentos homeopáticos é inexistente pelo fato de o paciente adquirir o equilíbrio e conseguir “caminhar sozinho”, sem necessitar do remédio para sobrevier. “Eu tenho pacientes que retornam ao meu consultório somente após um período superior a um ano depois da última consulta. O medicamento só é indicado novamente diante de um possível novo desequilíbrio”, pontua. Apesar de muitos rótulos serem facilmente encontrados nas farmácias, existem homeopáticos que só podem ser comercializados mediante a apresentação da receita. Os fármacos de alta potência – acima de 30 – carecem de prescrição médica. As farmácias que desobedecem à norma cometem infração e ficam sujeitas a sanções legais.

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O tratamento à base de remédios homeopáticos desvirtua totalmente do tratamento da alopatia, segundo afirma Walcymar. Ela explica que na medicina tradicional, para cada doença há um medicamento correspondente. “Na homeopatia, o médico especialista faz o diagnóstico do distúrbio único que o indivíduo tem. Geralmente é esse distúrbio que vai gerar uma série de alterações no organismo. Aí o indivíduo passa a ter vários problemas, várias doenças. É nesse distúrbio único que a homeopatia vai atuar. É a partir do combate a esse distúrbio que os problemas dele decorrentes vão sendo eliminados”, detalha. Os homeopáticos trazem uma sensação de bem-estar físico e dão controle à G.S. Embora sejam medicamentos naturais, a auxiliar administrativa não abusa. “Problemas sempre vêm e vão. Por isso, eu me conscientizo de que nem sempre o que precisamos é de medicamento. Procuro por eles apenas em momentos em que percebo que estou sem o domínio ‘completo’ do meu corpo e da minha mente. Quando tomo remédio, faço por pouco tempo ou pelo tempo direcionado por um profissional”, revela.

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Os medicamentos homeopáticos também exigem cuidados. O objetivo é retomar de forma mais segura o controle emocional que, quando perdido, deixa marcas em todo o corpo .........................................................................................................................


ARTIGO • PSICOLOGIA

maria angélica falci Psicóloga clínica e especialista em Saúde Mental angelfalci@hotmail.com

InvejaDOR Falar sobre a inveja pode ser polêmico, mas é necessário clarear sobre esse primitivo sentimento inerente à natureza humana. O neurocientista japonês Hidehiko Takahashi, do Instituto Nacional de Ciência Radiológica, em Tóquio, publicou estudos reveladores sobre o tema na revista científica americana Science. De acordo com o material, a inveja estaria localizada na mesma região cerebral da dor física, e o sentimento de contentamento diante do infortúnio alheio, ligado ao prazer. “Quando a sua conquista é a minha dor, a sua dor é a minha conquista”, conclui o pesquisador. Podemos ir adiante e dizer que, além de provocar emoções dolorosas, a inveja danifica o estado físico e emocional de quem a sente. O sentimento fragmenta relações, dilacera famílias e promove um profundo desconforto. Geralmente a inveja está associada a frutos de forte insegurança e baixa autoestima. “Ao mesmo tempo em que o ciúme é querer manter a todo custo o que se tem e a cobiça é desejar aquilo que não lhe pertence, a inveja é não querer que o outro tenha”, expôs Takahashi.

construtivo e destrutivo. O construtivo permeia o campo da admiração, do desejo de parecer com alguém bemsucedido e alcançar o sucesso. Serve como uma mola para o crescimento. Nesse campo, a pessoa não deseja o infortúnio do outro e não faz nenhuma ação contrária. No entanto, essa é uma linha tênue que precisa ser trabalhada na mente e estruturada para que a pessoa se sinta bem sendo ela mesma e com gratidão por suas conquistas, mesmo que sejam diferentes do que foi idealizado.

“Podemos ir adiante e dizer que, além de provocar emoções dolorosas, a inveja danifica o estado físico e emocional de quem a sente”

É difícil pensar que uma pessoa possa se sentir realizada com a não conquista do outro, mas é comum identificar esse sentimento, principalmente em pessoas com proximidade de faixas etárias, profissões similares e pertencentes ao mesmo nível socioeconômico.

A inveja pode ser relacionada com dois campos:

Quando essa linha é ultrapassada, chega-se à inveja destrutiva. Aí mecanismos de autodestruição e ações contrárias podem ser comuns. A pessoa passa a ter ideias fixas, revoltas gritantes, depressões graves, agressividade extrema e possibilidade de autoextermínio e atos conscientes ou não contra si. Nesse estágio, essas pessoas podem armar, manipular, difamar, perseguir, torturar, caluniar e até desejar a morte. Salvo exceções, as pessoas geralmente apresentam possibilidades reais de vivenciar ou eliminar a inveja. É um sentimento primitivo, mas não estático, que pode ser trabalhado e eliminado da mente. Quando uma pessoa se sente bem consigo, gosta das suas escolhas, torce verdadeiramente pelas conquistas alheias e se satisfaz com facilidade, ela geralmente tende a sentir menos inveja.

Portanto, sua trajetória de sucesso pode estar bem ao seu lado. Foque em você, siga bons exemplos e encontre o seu lugar.

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SALUTARIS • receita

Lula ao molho de ervas INGREDIENTES:

MODO DE PREPARO:

2 lulas grandes limpas e abertas ao meio

1 molho de tomilho

Tempere as lulas e reserve. Pique bem as ervas e coloque o vinho para reduzir até a metade. Adicione o caldo de peixe (ou de carne) e deixe ferver em fogo baixo por dez minutos. Torre a farinha em uma panela separada durante cinco minutos. Adicione a manteiga e adicione o caldo aos poucos, mexendo para não empelotar. Tempere com sal e pimenta.

1 molho de sálvia

Grelhe a lula e sirva com o molho.

1 molho de salsa

Fonte: Restaurante Udon

Dashinomoto (tempero japonês) 1 molho de alecrim

200 ml de vinho tinto 200 ml de caldo de peixe (ou de carne) 2 colheres de sopa de manteiga 2 colheres de sopa de farinha de trigo Sal e pimenta Petrônio Amaral

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SALUTARIS • vinhos

Divulgação/ Casa Valduga

A Villa Valduga é refúgio reservado ao descanso e aprendizado dos que se aventuram por novos sabores no Sul do Brasil ........................................................................................................................................................................................................................................................

Danilo Schirmer

Enoturismo

Não é de hoje que viajar e comer são alguns dos maiores prazeres da vida. Essas duas atividades sempre despertaram e aguçaram os nossos sentidos, envolvendo-nos em uma atmosfera de pleno bemestar. Habitualmente presente nas refeições e em momentos de relaxamento e socialização, o vinho também se destaca no quesito viagem.

das atrações mais procuradas no enoturismo é a Festa da Vindima. A Vindima é o momento de celebração e comemoração da colheita da uva; é quando os participantes desfrutam de muito vinho e comidas típicas da região. Em sua programação, o visitante é convidado a conhecer o processo de elaboração do vinho.

A Europa é, sem dúvida, o berço e um local a ser explorado. França, Itália, Portugal, Espanha e Alemanha são destinos certos para quem procura esse tipo de turismo. Mas outros países também se destacam: Estados Unidos, Austrália e Nova Zelândia. Na América do Sul, Argentina, Chile e Uruguai são as regiões mais tradicionais no enoturismo.

Pioneira no enoturismo no Brasil, a vinícola Casa Valduga se consolidou como o primeiro complexo enoturístico da região do Vale dos Vinhedos, em Bento Gonçalves - RS. É a única vinícola brasileira citada no livro “1.000 lugares para conhecer antes de morrer”, da autora Patrícia Schultz. Situada no coração da vinícola, a Villa Valduga tem cinco pousadas, quatro restaurantes e uma enoboutique. Há também um espaço para eventos corporativos. Para o turista, é possível experimentar até mesmo a tradição secular de pisar nas uvas. À noite é oferecido um churrasco de fogo de chão, como manda a tradição gaúcha, sob os parreirais em um dos restaurantes da Villa Valduga. O período da Vindima é de janeiro a março, com programação sempre aos sábados. Sem dúvida, vale a pena conferir.

No Brasil, a modalidade de turismo está presente no Sul, tendo a Serra Gaúcha como referência. Várias vinícolas disponibilizam visitas guiadas, incluindo degustações de vinhos, espumantes e afins. O enoturismo já é uma das principais fontes de renda da região, empregando grande parte da população e estimulando a economia. O povo sulista é muito hospitaleiro e entusiasta da cultura vitivinícola. Uma

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podium • ESPORTE

Fora de Controle Escândalos envolvendo manipulação de resultados levam Fifa a adotar ações preventivas para impedir que os tentáculos do crime se alastrem em jogos da Copa do Mundo Thiago Madureira Paradoxalmente, o complexo sistema começava com um simples telefonema. Chefes do crime organizado da Ásia contatavam interlocutores no Leste Europeu. Os europeus corrompiam árbitros de futebol, que decidiam resultados de partidas nas mais diversas competições internacionais. Alguns jogadores e dirigentes também participavam do esquema. Essa era a fórmula para faturar milhões de euros em apostas. As investigações minuciosas perduraram por mais de um ano e meio. Em fevereiro, a polícia europeia (Europol) desmantelou uma das maiores redes de manipulação do esporte. Foram analisadas mais de 680 partidas em 30 países. De acordo com informação oficial, 425 suspeitos foram identificados e 50 foram presos. A notícia abalou o mundo do futebol.

A maioria das apostas ilegais foi feita em partidas disputadas na Turquia, Alemanha e Suíça. Jogos na América Latina, África e Ásia também estão sob suspeita. Fazem parte do esquema confrontos da Liga dos Campeões (maior competição interclubes do mundo) e das eliminatórias da Copa do Mundo. Embora ainda não haja confirmação, fraudes também podem estar ocorrendo no Brasil. Um alerta grave vem do diretor de segurança da Fifa, o alemão Ralf Mutchke: grupos criminosos estão infiltrados no futebol sul-americano.

Embora ainda não haja confirmação, fraudes também podem estar acontecendo no Brasil

“É evidente que se trata da maior investigação de todos os tempos sobre supostas manipulações de jogos”, declarou o diretor da Europol, Rob Wainwright. “O caso atingiu a integridade do esporte”, acredita Wainwright. “É o trabalho de uma organização criminosa sofisticada, com base na Ásia e que trabalha com coordenadores em toda a Europa. A manipulação de resultados é uma ameaça real ao futebol que implica muita gente. Os benefícios ilegais ameaçam a situação geral desse esporte”, alertou.

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“Em primeiro lugar, precisamos admitir que o envolvimento do crime organizado em apostas no esporte aumentou. Fazem como qualquer empresa do mundo: avaliam o tamanho do mercado e os riscos. O mercado mudou nos últimos anos. Pela internet, você pode ter acesso às casas de apostas no Sudeste Asiático e, a partir daí, de todas as partes do mundo. Mesmo que as apostas sejam proibidas em seu país, você pode fazê-las pela internet em empresas na Ásia.

O mercado também mudou, depois que passou a ser possível apostar enquanto um jogo está correndo. Antes a realização de apostas era possível somente antes de o jogo começar. Agora há muitas formas de


podium • ESPORTE

apostar. Essa condição torna o jogo muito atraente para o crime organizado. Vemos grupos criminosos da Ásia e do Leste Europeu em toda a América do Sul avaliando se as apostas são de alto lucro e baixo risco. Por isso, estão investindo muito para se infiltrar no futebol”, afirmou Mutchke, em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo.

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Em ação preventiva para as Copas das Confederações e do Mundo, em março será adotado no Brasil um projeto para identificar grupos criminosos que cooptam árbitros e jogadores. “Se eles se infiltrassem nos nossos produtos mais nobres, como a Copa do Mundo, seria terrível. Seriam os melhores lucros que poderiam obter. Todos os árbitros que vão ao Mundial no Brasil estão sendo treinados. Todos vão assinar uma declaração de integridade. Haverá também um encontro dos árbitros com a Interpol”, frisou Mutchke. Mas a cruzada contra a manipulação ainda está longe do fim. A própria Fifa reconhece que o problema não está sob controle. “A Fifa pede que os órgãos de aplicação da lei continuem com seu compromisso, assim como nós continuaremos a luta global contra a manipulação de resultados e o crime organizado no futebol, mesmo que as investigações sejam consideradas complexas e difíceis”, disse o presidente da Fifa, Josef Blatter, em pronunciamento oficial.

CORRUPÇÃO NO ESPORTE O jornalista canadense Declan Hill é um dos maiores especialistas no assunto. Ele é autor de “The Fix: Organized Crime and Soccer”, livro ainda não publicado no Brasil. A obra detalha como criminosos de quatro continentes controlam resultados de partidas para se beneficiar com apostas. Com formação pela Universidad de Oxford, Hill explica o processo de corrupção pelo viés sociológico. “A corrupção nos esportes remonta a pelo menos 2,8 mil anos. Sempre haverá algum tipo de corrupção, enquanto houver esportes de competição. É simplesmente parte da natureza humana”, pondera. “Manipulação e corrupção no esporte têm uma longa história. Se você fosse ao local das antigas Olimpíadas, na Grécia, você encontraria, fora das ruínas do

Declan Hill denuncia o esquema de manipulação de jogos nos quatro cantos do mundo no livro The Fix: Organized Crime and Soccer .........................................................................................................................

estádio, destroços de estátuas de Deuses. Essas estátuas eram pagas por atletas e técnicos que eram flagrados trapaceando”, acrescenta. No entanto, Hill considera que o novo fenômeno de manipulação se potencializou com o processo de globalização. “A nossa geração está diante de algo inteiramente novo. É como se alguém tivesse injetado esteroides na antiga manipulação de resultados. Essa nova forma de corrupção vai, como um tsunami, varrer todas as outras questões e deixar alguns esportes mortos e destruídos”, define.

CHINA, LESTE EUROPEU, ITÁLIA... Como as máfias de grande poderio estão concentradas na Ásia, o esporte bretão no continente está seriamente infectado por essa praga. Escândalos de manipulação são comuns, principalmente na China. No ano passado, 39 pessoas foram presas no país. O árbitro Lu Jun, que atuou na Copa do Mundo de 2002, foi condenado a

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cinco anos e meio de prisão. Diretores da Associação de Futebol e da comissão de arbitragem também foram punidos. “O mercado de apostas asiático é medido em bilhões de dólares. Pessoas que atuam dentro desse mercado, manipulando resultados, destruíram boa parte do mundo esportivo no continente e agora estão voltando sua atenção para outros países”, relata Hill. Países do Leste Europeu também viram esse fenômeno se multiplicar. Uma pesquisa realizada na Ucrânia, antes da Eurocopa de 2012, mostra que 13,8% dos jogadores que atuam na primeira divisão admitem saber da existência de casos de manipulação no futebol local. “A gente percebia que era sempre beneficiado pela arbitragem”, confirmou o zagueiro Rodolfo, hoje no Vasco, que atuou pelo Dínamo de Kiev entre 2004 e 2006. “Turquia, Grécia, Itália, Alemanha, Bulgária, Bélgica, Suíça, Áustria e Finlândia já tiveram escândalos envolvendo a manipulação de partidas. No último verão europeu, a Noruega enfrentou o problema pela primeira vez, quando houve partidas suspeitas em sua terceira divisão”, diz Hill.

advogado Daniel Gimenes. Eles são suspeitos de terem manipulado 40 partidas da Copa Libertadores, Copa Sul-Americana, Campeonato Brasileiro das Séries A e B e do Campeonato Paulista. O episódio ficou conhecido como Máfia do Apito. Na primeira divisão do Campeonato Brasileiro de 2005, 11 jogos foram anulados. Os árbitros envolvidos foram banidos do futebol e denunciados por estelionato, formação de quadrilha e falsidade ideológica, assim como outros envolvidos. A ação penal foi suspensa em 2007. Em agosto de 2009 foi “trancada”. Se o julgamento não ocorrer até 2016, o caso será prescrito. Na década de 80 houve outro caso grave: a descoberta da Máfia da Loteria Esportiva, envolvendo jogadores, árbitros, técnicos e dirigentes de todo o país. Ao todo, 125 pessoas foram denunciadas, mas ninguém foi preso. Wilson Dias / ABr

Casos de manipulação também assolam a Itália. Na década de 80, as equipes do Milan e da Lazio acabaram rebaixadas. Entre outros, o atacante Paolo Rossi, campeão mundial em 1982, foi preso e afastado do esporte. Em 2006, em escândalo que incluía entrega de jogos e armação na escolha da arbitragem, a Juventus foi punida com a perda de dois títulos e acabou parando na Segunda Divisão. No ano passado, 19 pessoas foram presas, entre elas, dez jogadores ou ex-jogadores profissionais acusados de manipular resultados do Campeonato Italiano de 2010 e 2011.

BRASIL O futebol brasileiro também sofreu com a manipulação de resultados. Em 2005, os árbitros Edilson Pereira de Carvalho e Paulo José Dalenon admitiram participar de esquema de apostas com o empresário Nagib Fayad, conhecido por Gibão, e o

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Segundo Blatter, as investigações continuam, independentemente das dificuldades para desarticular os esquemas criminosos. .........................................................................................................................


Artigo • IMOBILIÁRIO

kÊNIO DE SOUZA PEREIRA Presidente da Comissão de Direito Imobiliário da OAB-MG keniopereira@caixaimobiliaria.com.br

Por que os golpes acontecem? É intrigante a sucessão de golpes que ocorrem todos os dias, especialmente contra pessoas instruídas, com boa cultura geral e de alto padrão financeiro. Diariamente verifica-se que a vítima do golpe reconhece que achava que sabia de tudo. Mas somente depois de tomar o prejuízo, ela percebe que faltavam informações importantes. Aí ela conclui que não se inteirou o suficiente para entender tudo sobre o negócio. A cultura de levar vantagem e de obter lucro fácil, aliada à falta de informação e ao comodismo das vítimas, estimulam os golpistas do mercado imobiliário. Basta oferecer uma grande vantagem, um “negócio da China”, que logo se forma uma fila de interessados que vão assinando tudo sem refletir.

Outra causa que estimula diversos abusos é o fato de as pessoas acharem normal tomar prejuízo. As pessoas prejudicadas acreditam que outros possam tomar providências, mas nada é feito. A situação chega ao ponto de deixar o mau empresário feliz com a ideia de que o crime realmente compensa. É preciso entender que a má-fé nas atitudes que visam coagir os consumidores do setor imobiliário não se enquadram somente em atos ilícitos sujeitos à indenização pecuniária em processo cível. Na realidade, esses empresários têm praticado crimes típicos de estelionato. Logo, eles podem ser condenados criminalmente e ter de pagar as multas devidas.

“Outra causa que estimula diversos abusos é o fato de as pessoas acharem normal tomar prejuízo”

Um dos principais instrumentos para evitar esse risco é o Contrato de Compra e Venda. Mas o documento deve estipular todas as condições do negócio. Essa precaução evita os casos em que construtoras inserem cláusula fazendo o comprador assumir o pagamento antecipado de despesas ordinárias. A construtora antecipa a instalação do condomínio, muitas vezes estando em atraso com a data para concluir as obras. Assim, logo após a realização da primeira assembleia, os compradores de imóveis na planta acabam tendo de saldar taxa de condomínio, IPTU e juro de 1% ao mês sobre o saldo devedor, mesmo com as unidades estando sem condições de ser ocupadas.

A ausência de informação e a dificuldade de encontrar um especialista que realmente entenda do assunto têm sido trunfos para o sucesso dos golpes. Certamente a manobra desonesta é bem-sucedida com a ajuda da própria vítima. O comprador repudia a ideia de pedir um aconselhamento e acha que vai perder mais se agir em juízo, ignorando as constantes condenações contra os maus empresários. Se os compradores e seus advogados atentassem para a viabilidade de propor um processo criminal, muitos problemas na área imobiliária não se repetiriam, pois haveria condenações penais exemplares, com um ótimo caráter pedagógico.

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horizontes • turismo

London Transport Museum

Litografia da estação Baker Street, representada na segunda metade do século XIX ............................................................................................................................................................................................................................................................................................

Londrinos comemoram aniversário do centenário metrô da cidade e relembram histórias. Na terra da rainha, o serviço é de dar inveja - une funcionalidade a uma grande abrangência Ilana Rehavia, de Londres “Please mind the gap”. Quem visitou Londres conhece bem essa frase. Transmitida pelos altofalantes do metrô, com aquele sotaque bem britânico, a mensagem pede que os passageiros tomem cuidado com o buraco entre os vagões e as plataformas. Comemorando 150 anos de história, o metrô da cidade é absolutamente vital para a vida na megalópole. Impossível imaginar Londres sem ele. Com 402 quilômetros de extensão e 270 estações, essa gigantesca rede atende a mais de um bilhão de pessoas por ano. São passageiros, como o

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mineiro Luís Falconeri, que vive em Londres há seis anos. O consultor corporativo de idiomas precisa se movimentar rapidamente pela cidade para visitar clientes e fazer reuniões. “Eu uso o metrô praticamente todos os dias e várias vezes por dia. Prefiro, porque é normalmente mais confiável e rápido do que as outras formas de transporte”, conta. Como a maioria dos londrinos, Luís tem uma relação de amor e ódio com seu meio de transporte diário. Por um lado, acha que o serviço é bem executado, levando em conta o tamanho da rede. Por outro, os preços das


horizontes • turismo

passagens desagradam o mineiro. As tarifas partem de £2.10 (R$ 6,70) para um bilhete unitário na zona central da cidade, comprado com o cartão eletrônico da rede de transporte, o Oyster. O valor pula para £4.50 (R$ 14), se for adquirida sem o uso do cartão. Outra reclamação são os trens lotados na hora do rush. “Chega a ser insuportável”, desabafa. Quem usa o metrô nos horários de pico está mesmo acostumado a ter que deixar passar vários trens abarrotados até conseguir espaço em um vagão. Os dirigentes do metrô reconhecem que há problemas, mas dizem que a situação foi muito pior. “A performance da rede hoje é a melhor da história. O universo é diferente do início dos anos 80. Em torno de 30 anos atrás, cerca de um terço das viagens eram canceladas todos os dias”, disse o diretor administrativo do London Underground e London Rail, Mike W.T. Brown, em um artigo no site The Huffington Post.

As controvérsias em torno do metrô londrino não são de hoje. A rede nasceu criando polêmica. Na época do lançamento, em 1863, o então primeiroministro, Lord Palmerston, recusou-se a participar da viagem inaugural. Aos 79 anos, ele disse que preferiria passar o resto de seus dias sobre a terra, e não embaixo dela. A suposta claustrofobia das viagens subterrâneas, porém, não incomodou os 30 mil passageiros que fizeram fila durante o primeiro dia de funcionamento do serviço. Polêmicas à parte, o metrô cresceu, ganhou novas linhas e teve um papel fundamental no crescimento de Londres. Áreas que eram vilarejos distantes se tornaram parte da mesma metrópole. Os novos subúrbios viveram uma explosão imobiliária. E essa nova oferta de moradia permitiu a onda de imigração e a diversidade cultural que hoje é a marca da cidade. Durante a Primeira Guerra Mundial, o metrô acabou tendo outra função. As plataformas subterrâneas

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Divulgação Cerca de 1,107 bilhão de pessoas são atendidas anualmente pelo metrô da nublada capital britânica ...........................................................................................................................................................................................................................................................

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horizontes • turismo

foram o abrigo perfeito para muita gente na hora dos ataques aéreos inimigos. Cerca de 300 mil pessoas se protegeram nas estações. Quando veio a Segunda Guerra, 22 mil camas foram instaladas nas plataformas para abrigar quem não tinha para onde fugir. Atualmente o metrô é moradia para espécies bem diferentes. Estima-se que nada menos do que 500 mil ratos vivam nos trilhos e nas plataformas. Eles dividem espaço com o mosquito Culex pipiens molestus. A espécie, que só existe no metrô londrino, é conhecida pelas picadas vorazes. Dizem que os túneis escuros têm também habitantes sobrenaturais. A estação de Farringdon, por exemplo, seria assombrada pelo fantasma de Anne Naylor, uma jovem estilista assassinada no local em 1758. Já funcionários da estação de Bethnal Green dizem ouvir barulhos estranhos, como gritos de mulheres e de crianças. Durante a Segunda Guerra, 173 pessoas morreram pisoteadas no local, quando tentavam buscar abrigo durante uma suspeita de ataque aéreo. O metrô também é um dos locais mais populares para suicidas em Londres. São cerca de 50 ocorrências

por ano. É comum ouvir o macabro anúncio de que “os atrasos no serviço estão sendo causados por um passageiro embaixo do trem”. Mas nem só de tragédias vive esse curioso universo subterrâneo. Nesses 150 anos de história, três bebês nasceram no metrô. O mais recente foi um menino, em 2008. Figuras ilustres também trocaram seus carros com motorista pelos vagões comunitários. O escritor americano Mark Twain fez uma viagem de metrô em 1900. Em 1969 foi a vez da rainha Elizabeth II participar da viagem inaugural da linha Victoria. Mais recentemente, a popstar Rihanna surpreendeu os fãs ao tomar o metrô para ir a um de seus shows na casa de eventos O2. PASSADO E FUTURO O aniversário do London Underground está sendo marcado por uma série de eventos especiais durante todo o ano. As comemorações foram abertas em janeiro, com a viagem de um trem-fumaça original pelos túneis do metrô. O prefeito londrino, Boris Johnson, foi um dos passageiros da histórica e surreal viagem. “Foi uma experiência inacreditável viajar exatamente como um passageiro da era vitoriana”, disse ele. Uma coleção especial de selos e duas novas capas comemorativas para o mapa de bolso da rede, criadas

London Transport Museum

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horizontes • turismo

por artistas britânicos, também fazem parte da festa. O mapa, aliás, é outra marca registrada do metrô londrino. O desenho foi idealizado por Harry Beck em 1931. Inspirado pelo formato dos circuitos elétricos, Beck abandonou as curvas do traçado real das linhas e optou por um modelo mais simples e estilizado. A ideia foi considerada radical demais e acabou inicialmente sendo rejeitada. O desenho só foi aprovado em 1933. Desde então, tornou-se um modelo para outros metrôs do mundo. De olho no futuro, a rede deve passar por algumas mudanças importantes para se preparar para os próximos 150 anos. Uma delas é a renovação de 40% da frota. Os novos trens terão ar-condicionado, atendendo a uma reclamação antiga dos passageiros. Nos raros dias quentes do verão, o calor nos vagões é tanto que as pessoas são orientadas a carregar garrafinhas de água para evitar desmaios. A extensão da rede também será ampliada com o Crossrail, o maior projeto de construção da Europa. Com 118 quilômetros, o acréscimo vai permitir ligar Londres a regiões vizinhas, como Berkshire, Essex e Kent. Para muitos especialistas, porém, é preciso cuidado com o aumento das linhas em uma rede quase saturada. O jornalista especializado Gareth Edward, editor do site London Reconnections, defende a ampliação das estações existentes. Ele participou de um evento comemorativo que reuniu escritores e historiadores no Museu do Transporte de Londres. “A questão não é como você coloca estações extras, mas sim como melhora as estações existentes para poder movimentar mais facilmente números cada vez maiores de passageiros”. Para o mineiro Luís Falconeri, bom mesmo seria se o modelo de Londres fosse seguido por sua cidade natal, Belo Horizonte. “Estive lá recentemente e fiquei idealizando a existência de um metrô como esse. Acostumado com a facilidade de Londres, eu me senti ilhado em BH”, conta. Em sua “Belzonte” ideal, “o tráfego de veículos seria drasticamente reduzido, a qualidade do ar melhoraria, as pessoas ganhariam mais autonomia e tudo ficaria mais fluido”. Aí está o exemplo dos 150 anos de Londres com seu indispensável metrô.

● 426 escadas rolantes – 23 só na estação de Waterloo ● 164 elevadores ● 270 estações em funcionamento ● 4,13 mil vagões ● 19 mil funcionários ● A estação de Baker Street é a que tem mais plataformas: 10 ● A extensão total da rede do metrô é de 402 km ● O túnel contínuo mais longo vai de East Finchley a Morden e tem 27,8 km ● A maior distância entre estações é de 6,3 km – Chesham e Chalfont and Latimer, na linha Metropolitan ● A menor distância é de 300 metros entre Covent Garden e Leicester Square ● A maior distância que pode ser percorrida sem baldeações é 59,4 km entre West Ruislip e Epping, na linha Central ● A escada rolante mais longa é a de Angel, com 60 metros. A mais curta fica em Stratford e tem apenas 4,1 metros ● A estação mais profunda é Hampstead, que fica a 58,5 metros abaixo do nível da rua ● O metrô leva 1,107 bilhão de passageiros por ano. Isso daria 135 viagens por cada homem, mulher e criança que vive em Londres (apesar de 1 milhão dos passageiros ser de fora da cidade) ● A estação mais movimentada é Waterloo, com 82 milhões de passageiros por ano. Diariamente 57 mil pessoas passam pela estação nas três horas do horário de pico da manhã ● 25% dos itens perdidos por passageiros são devolvidos ● Um londrino passa em média 5,2 dias por ano nos túneis do metrô ● Um trem do metrô percorre anualmente em média o equivalente a 4,6 voltas ao mundo. ● Estima-se que 500 mil ratos vivam no metrô ● Apenas 40% da rede do metrô é subterrânea

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Artigo • oriente médio

Frei geraldo van buul geraldovanbuul@hotmail.com

A guerra nossa de cada dia No fim de janeiro fui a Hebron, a uns 35 km da Terra Santa. Como aquele é um território palestino, não existem ônibus que partam diretamente de Jerusalém. Um dos meus companheiros de viagem foi um estudante de teologia que até então eu não conhecia: o Frei Ivaldo Mendonça. De Belém, um amigo nos conduziu até a cidade em seu carrinho velho. Hebron tem muitas oficinas de produção de objetos de vidro, copos, jarras, cálices e por aí

vai... E foi um desses locais que nós fomos visitar, assim que chegamos. O centro antigo da cidade é sumamente interessante. No entanto, não existem belezas que saltem aos olhos. Podemos dizer que se trata de uma típica cidade árabe. Choca o fato de os palestinos terem sido obrigados a armar proteções de tela por cima das ruas. O espaço situado atrás de casas e lojas palestinas foi ocupado por israelenses. Rotineiramente os judeus arremessam pedras, pedaços de pau, garrafas, latas

Geraldo van Buul

Estrutura de ferro e tela como proteção contra objetos jogados pelos judeus .............................................................................................................................................................................................................................................................

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artigo • oriente médio

e mais uma infinidade de sujeira para baixo.

Geraldo van Buul

Enquanto andávamos por aquelas ruas antigas, um rapaz nos convidou para entrar na casa dele. Através de um escuro corredor e escadas, chegamos a um terraço. Ao lado há imóveis invadidos por israelenses e soldados que armaram guaritas em cima das casas. O rapaz nos mostrou como os judeus têm prazer em praticar tiro ao alvo nos tanques de água palestinos, especialmente de madrugada. No outro dia, o recipiente está vazio. A coisa mais importante em Hebron é, sem dúvida, a Macpela – um enorme santuário construído pelo rei Herodes sobre os túmulos dos patriarcas. Metade do templo pertence aos judeus e metade, aos muçulmanos. Nós entramos na parte muçulmana, passando pela mesquita. O túmulo de Abraão e de Sara dá para o lado muçulmano e para o lado judeu. A área ao redor de Macpela é fortemente guardada por soldados do exército israelense. Os judeus que vi sair de Macpela são todos de correntes muito ortodoxas e fanáticas. Infelizmente ensinam às crianças pequenas que elas devem tratar os palestinos com ódio e humilhação. Estávamos diante de uma loja cujo dono logo nos ofereceu café e nem sequer insistiu para que comprássemos algo. Lá havia também um garotinho de uns 6 anos, filho ou neto desse comerciante. De repente, apareceu um menino judeu, mais ou menos da mesma idade, com talit, kipá e payim e deu uma cusparada no outro garoto e no dono da loja.

Soldado em cima de uma casa ..........................................................................................................................

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KULTUR • MODA

A fio e agulha Exposição “A fala das roupas” revela a Belo Horizonte dos séculos passados, por meio de trajes e acessórios Luísa Reiff Guimarães Bem no centro de Belo Horizonte existe um pequeno e lindo castelo de vidraças coloridas. Quando o sol bate, a esquina da rua da Bahia com a avenida Augusto de Lima fica toda enfeitada de tons amarelos, verdes, azuis e vermelhos. Pode parecer uma igreja, porque a construção assinada pelo arquiteto Francisco Izidro Monteiro é grandiosa e delicada em seu estilo neogótico. Lá dentro observa-se melhor a escolha de madeiras nobres, o pé-direito de sete metros e a escada antiga feita de encaixes. Os vitrais belgas, que chamam a atenção dos passantes, ficam mais bonitos, quando são vistos de dentro. As peças refletem quadrados de cor nas paredes e corredores da construção tombada pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha) e pelo Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural do Município de Belo Horizonte (CDPCM-BH). Embora pareça muitas coisas, o edifício sempre foi somente uma: um prédio público a serviço da população da cidade. O espaço já abrigou a Biblioteca e a Câmara Municipal, a Rádio Mineira, o Museu de Mineralogia e foi usado como sala de aulas da Escola de Arquitetura da UFMG e eventos da Academia Mineira de Letras, dentre outros. Como forma de presente no centenário da capital mineira, o espaço se tornou o Centro de Cultura de Belo Horizonte (CCBH). Entre 2007 e 2009, o prédio ficou fechado para reformas. Como sempre circulava um grande número de pessoas no local, era necessário que fossem vistoriadas e revitalizadas as instalações construídas há cem anos. Pisos, esquadrias, vidros, teto, madeiras, varanda e colunas passaram por cuidados. Este robe du jour, de 1873, é a peça exposta mais antiga da coleção ........................................................................................................................................ Miguel Aun - CR Moda

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KULTUR • MODA

Em novembro de 2012 ocorreu mais uma mudança. Dessa vez, não foi na estrutura do prédio, mas na atividade exercida no local. O imóvel passou a sediar o Centro de Referência da Moda (CR Moda). A ideia para a criação do Centro de Referência surgiu com o projeto da exposição que está ocorrendo no espaço intitulada “A Fala das Roupas”, segundo revela Marta Guerra – gestora do CR Moda. A exposição é coordenada por Marília Salgado e está intimamente ligada à história da moda e de vida da cidade. A prefeitura de Belo Horizonte e a Fundação Municipal de Cultura se juntaram para criar esse projeto. O objetivo é ampliar a integração da moda com todo o cenário cultural, social e de turismo. Quatro doadores de famílias tradicionais e antigas de Belo Horizonte forneceram as peças para a exposição. As mudanças de guarda-roupas acompanham toda a história da evolução da moda na cidade. Na primeira sala, os visitantes podem ver meias, gravatas, chapéus, luvas e peles de raposas e martas. Para quem não apoia o uso de peles, a visão pode ser um pouco incômoda. Vale lembrar que o uso dessa matéria-prima faz parte da história da moda da cidade. As peles compõem a narrativa do vestuário, e a apreciação é bem-vinda. Na segunda sala, uma TV exibe vídeos do cotidiano das décadas de 20 e 30. O público pode ver imagens de pessoas andando pela cidade ou indo à missa, com trajes pomposos, usados aos domingos. No andar de cima está a “cereja do bolo”, brinca a guia da exposição e estagiária do Centro de Cultura, Vitória Beatriz Araújo. Peças muito bem-conservadas da moda antiga são exibidas no terceiro andar. A exposição traz, inclusive, a peça mais antiga: um robe du jour de 1873. Em uma palestra do CR Moda foi dito que é mais difícil conservar tecidos do que papéis, como conta Vitória.

A expectativa positiva de público tem se confirmado e está aumentando o número de visitações ao CR Moda, como revela a gestora Marta Guerra. “Os estudantes da moda também vão encontrar aqui um espaço para a troca de conhecimento, informação e formação. Afinal, temos cinco faculdades de moda em Belo Horizonte, além de profissionais renomados, pesquisadores, estilistas e outro grupo de pessoas interessadas”, diz. Sobre a próxima exposição a entrar em cartaz, estão sendo realizadas pesquisas, e o conceito está em elaboração, segundo adianta Marta. “Posso garantir que vai ser mais uma exposição rica, com conteúdo cultural diversificado. Certamente vai despertar grande interesse em toda a população de Belo Horizonte” conclui. Divulgação

Adereços e peças de viagem da Belo Horizonte do passado viraram artigos vintage da moda e da decoção ........................................................................................................................ Divulgação

Também estão expostas peças delicadas e cheias de bordados, como uma trousse (pequena bolsa ou estojo) de 1924, fardas e artigos militares, sofisticados vestidos de baile, roupas íntimas femininas, espartilhos, combinações e lingeries. É uma verdadeira biografia da história da moda belo-horizontina

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KULTUR • CINEMA

Divulgação / Paris Filmes

Na imagem, Amy Adams (de azul), Phillip Seymour Hoffman (ao centro) e Joaquim Phoenix (à direita) em cena do excêntrico O mestre ......................................................................................................................................................................................................................................................

Loucura e fé

Novo filme de Paul Thomas Anderson acompanha surgimento de movimento religioso nos Estados Unidos do pós-guerra e gera desconforto ao ser associado à Cientologia André Martins O encontro entre um homem desajustado e um proeminente líder religioso. Aos mais desatentos, esse pode ser considerado o simples X da questão de “O mestre”, em cartaz nos cinemas brasileiros. No entanto, como tão aguardado novo filme, o cultuado diretor Paul Thomas Anderson faz uma viagem no tempo e monta uma alegoria sobre o surgimento de um movimento religioso nos Estados Unidos da década de 50. Na filmografia do diretor é possível perceber, com nitidez, seu fascínio pelo período pós-guerra. É nesse cenário de prosperidade, favorecido por uma Europa apagada e sob os escombros da II Guerra Mundial, que a economia se expande e surgem ideologias e caminhos alternativos no Novo Mundo. Era preciso

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haver algo novo em que se acreditar, pelo simples fato de que muitas das convenções e os modelos que até então vigoravam estavam falidos. Movimentos presididos por líderes carismáticos, como Charles Manson e Jim Jones, são exemplos da efervescência de ideias que varriam os EUA e conseguiam atrair adeptos independentemente do teor da mensagem e do transcorrer dos fatos, que incluem uma onda de assassinatos e um histórico suicídio coletivo. Em “O mestre”, Joaquim Phoenix é Freddie Quell, um ex-combatente da marinha americana que se vê no limiar entre a sanidade e a loucura. Dono de uma vida em desordem, Freddie vive de pequenos trabalhos


KULTUR • CINEMA

temporários, é viciado em álcool e tem explosivos rompantes de violência. Acidentalmente o caminho do personagem vivido por Phoenix se cruza com o de Dodd Lancaster – interpretado pelo ótimo Phillip Seymour Hoffman – uma figura paternal e robusta que oferece ajuda. A sinergia entre os dois é sintomática. Um queria as soluções que o outro dizia poder oferecer. Então o “louco” é acolhido como um membro da família, e o processo que – esperava-se – levaria à recuperação passa a ser um exercício prático e doutrinário do movimento denominado “A causa”. Embora tenha descartado que o filme trate do surgimento de uma religião específica, o diretor revelou em entrevista à jornalista e crítica de cinema Ana Maria Bahiana que “O mestre” “bebe” da fonte de L. Ron. Hubbard, mentor da Cientologia – religião imersa em polêmicas repercutidas pela imprensa e que tem como garotos-propaganda astros hollywoodianos, como Tom Cruise e John Travolta.

com a Cientologia, assim como a figura do líder no filme nada tem a ver com a de Hubbard”, explica. Ela revela ainda que a Cientologia não seria dirigida aos desajustados, mas faria o homem descobrir potencialidades. “A Cientologia torna o capaz mais capaz. Ajuda uma pessoa a descobrir quem é realmente, quais são suas habilidades e como utilizá-las para melhorar sua vida”, arremata. Anderson mostrou o filme a Cruise, de quem é amigo e com quem trabalhou no premiado “Magnólia”. Mas o astro, envolvido em uma polêmica separação conjugal, não gostou do que viu, e o diretor preferiu abafar o assunto. “Fica entre nós”, declarou à imprensa após a exibição fechada. Se a amizade não foi abalada, pelo menos a probabilidade de uma nova dobradinha de sucesso foi, pode-se afirmar, reduzida.

Na relação entre “mestre” e “discípulo” há oportunismo ou generosidade? Impossível saber

Há momentos na fita em que personagens aparecem em sessões de regressão – que se assemelha ao método cientológico de retorno consciente, chamado audição. Não parece ter sido proposital, também, a escolha, aparentemente a dedo, de Phillip Seymour Hoffman para o papel de Lancaster. Sem nenhum recurso de maquiagem, a figura do ator já permitiria uma conexão instantânea com o escritor e estudioso Hubbard – autor dos diversos livros que norteiam os fiéis da Cientologia em todo o mundo.

Lucia Winther, presidente da editora Ponte do Brasil, que publica as obras do autor com exclusividade no país, descarta a possibilidade de o filme fazer alusão à religião. “Hubbard era um escritor que viajava muito pesquisando e estudando. Ele não tinha tempo para atendimentos personalizados. A primeira ideia era que as pessoas lessem os livros e usassem o conhecimento direto da obra. Por isso, a ideia do filme, baseada no relacionamento mestre e discípulo, não tem nada a ver

Acima de qualquer polêmica, em “O mestre”, Paul Thomas Anderson realiza um belo estudo de personagens. O magnífico desempenho do elenco favorece muito. O destaque vai para um Phoenix totalmente entregue. As expressões faciais, a forma de se locomover, os sorrisos,..., tudo parece meticulosamente pensado. O ator entrega, talvez, o melhor trabalho da carreira. O sexto filme de Anderson transborda humanidade e, nitidamente, traz personagens talhados a carne e sangue. Há de se atentar para o fato de que no longa figura um homem que se dispõe a estender a mão a um desconhecido, sem fazer concessões explícitas. E talvez resida aí o mais interessante da fita. Na relação entre “mestre” e “discípulo” há oportunismo ou generosidade? Impossível saber. Embora não tenha agradado tanto ao grande público, “O mestre” é honesto, carrega o propósito de investigar uma maneira de expressão religiosa moderna de forma crua, revelando os questionamentos, as polêmicas e a “loucura” que permeia grande parte das expressões de fé, sejam modernas, sejam milenares.

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KULTUR • LITERÁRIA

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Um lugar na janela

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Um porto seguro

Autor: Martha Medeiros Editora: L & PM Páginas: 192

Autor: Nicholas Sparks Editora: Novo Conceito Páginas: 384

Um diário de viagens. Assim pode ser descrito o novo livro de Martha Medeiros. Na obra não existem invenções. A autora do bestseller “Feliz por Nada” revela acontecimentos de viagens feitas em diferentes momentos da vida e a diversos lugares do mundo. “É um convite para que o leitor embarque junto”, revela Martha. Na obra, ela cita destinos, faz observações sobre hotéis e conta experiências que certamente serão úteis para os que desejam colocar o pé na estrada. Um lugar na janela é o 24º livro da autora

O novo romance de Sparks gira em torno de Katie, uma misteriosa mulher que cruza os Estados Unidos e encontra abrigo na paradisíaca e acolhedora Southport, na Carolina do Norte. Após um período de isolamento, Katie passa a se envolver com o doce Alex, viúvo, pai de dois filhos, e Jo, uma vizinha que logo se torna uma amiga e conselheira. Em determinado momento, as lembranças e as razões que levaram à fuga voltam a incomodar Katie. Só mesmo o amor de Alex parece funcionar como refúgio.


artigo • meteorologia

Ruibran dos Reis Diretor Regional do Climatempo Professor da PUC Minas ruibrandosreis@gmail.com

A tempestade Gong Na tarde do dia 18 de janeiro, o Instituto de Meteorologia Português do Mar e da Atmosfera (Ipma) divulgou um alerta de que Portugal seria atingido por uma forte tempestade nas 24 horas seguintes. Naquela ocasião, eu estava em Lisboa, participando de um projeto de pesquisa. Logo em seguida, comecei a acompanhar a tempestade por meio de imagens de satélites e de dados meteorológicos de superfície. A tempestade Gong, como foi chamada, é um ciclone extratropical. Vista por uma imagem de satélite, a tempestade se parece com um furacão, mas como se forma em regiões de altas latitudes, sua intensidade é mais fraca. Gong se formou no oceano Pacífico, nas costas do litoral de Portugal e Espanha. Em menos de 19 horas houve uma queda na pressão atmosférica no centro da tempestade (olho) de 28 hPa. A título de comparação, para uma tempestade, o normal é 10 hPa em 24 horas.

chegaram a mais de 140 km/h. A tempestade só enfraqueceu na noite de sábado. A Proteção Civil de Portugal recebeu 9 mil chamadas. Quedas de árvores, de alambrados, de casas, inundações, acidentes com automóveis e falta de energia foram as maiores queixas. Um navio cargueiro de 84 metros de comprimento e 1,5 mil toneladas ficou encalhado, ao ser lançado sobre um banco de areia numa praia. A embarcação deve ser desmontada, pois não existe possibilidade de removê-la de lá.

“Na Europa não se discute mais se vai haver ou não mudanças climáticas nos próximos anos, pois elas já estão acontecendo”

Os ventos começaram a aumentar a velocidade no final da tarde de sexta-feira, dia 18. Na madrugada e na manhã de sábado houve um aumento significativo na intensidade da tempestade. Janelas e portas assoviavam a ponto de passar a impressão de que os vidros iriam estourar a qualquer momento. As rajadas de ventos na Região Metropolitana de Lisboa

No domingo, as autoridades calculavam os prejuízos. Centenas de postes de cimento se quebraram, deixando cidades do interior sem energia. Passada a tempestade, a Proteção Civil até comemorou o fato de que, em meio aos danos materiais, foi registrada apenas uma morte.

O grupo de pesquisas do qual estou participando na Europa visa analisar os impactos que as mudanças climáticas estão causando na intensificação dos fenômenos severos e apresentar propostas de adaptação. Na Europa não se discute mais se vai haver ou não mudanças climáticas nos próximos anos, pois elas já estão acontecendo. Agora os governantes pensam em estratégias para sofrer o mínimo possível.

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KULTUR • TERRA BRASILIS

Elton John e Banda Como campo de futebol, Cruzeiro e Atlético duelaram na reestreia do Mineirão. Como uma grande arena de shows, a reabertura do gigante da Pampulha vai ficar a cargo de ninguém mais, ninguém menos, que o mito Elton John, em turnê comemorativa pelos 40 anos de carreira. Belo Horizonte é a última capital em que o cantor se apresenta no Brasil. Dia 27 de fevereiro, o show acontece em São Paulo, no dia 5 de março, em Porto Alegre, e no dia 8, em Brasília. Além de seis prêmios Grammy, Elton John tem um Oscar, um Globo de Ouro dentre outros prêmios que o levaram a ser conhecido como um dos nomes mais influentes do pop mundial.

Divulgação

Local: Mineirão Data: 9 de março Outras informações pelo telefone (31) 3499-1154

Djavan Aqui não tem overbooking.

ÔNIBUS EXECUTIVOS PARA AEROPORTO INTERNACIONAL - BH •Horários sincronizados com todos os voos •Trajeto em pista exclusiva, sem escalas, 24h por dia •Valor: R$20,45 •Av. Álvares Cabral, 387- Lourdes - 3224-1002 - www.conexaoaeroporto.com.br

Dono de verdadeiras preciosidades da MPB, Djavan se apresenta em março na capital paulista. O renomado cantor alagoano é conhecido por encontrar poesia e cores nos fragmentos do cotidiano. Djavan tem mais de 40 anos de carreira, diversas músicas emplacadas em novelas e mais de 20 CDs lançados. Em abril, os belo-horizontinos têm a oportunidade de apreciar a voz singular do cantor. O Chevrolet Hall recebe o show na noite do dia 13. As apresentações fazem parte da turnê “Rua dos Amores”: o 21º álbum da carreira de Djavan, lançado em 2012. Local: Credicard Hall São Paulo Período: 15 e 16 de março Horário: 22h Outras informações no site www.credicard.com.br


Festival do Japão 2013 em MG O festival tem o propósito de aproximar os mineiros de tradições e costumes japoneses. Artesanato, apresentações artísticas e gastronomia são algumas das atrações do evento, que é promovido e realizado pelo Consulado-Geral Honorário do Japão, em Belo Horizonte. Local: Expominas Período: 15 a 17 de março

David Guetta

Outras informações pelo site www.amcnb.com.br

Percurso Afetivo Um dos mais emblemáticos nomes do Modernismo Brasileiro, Tarsila do Amaral tem a obra redescoberta em grande exposição no CCBB, no Rio de Janeiro. O quadro mais famoso da pintora, “Abaporu”, foi vendido ao colecionador argentino Eduardo Costantini, em 1995. Tarsila propunha a ressignificação, à forma brasileira, da arte estrangeira “devorada” pela classe artística nacional. A curadoria da exposição é da sobrinha-neta da artista, Tarsilinha do Amaral. Local: Centro Cultural do Banco do Brasil (Rio de Janeiro) Período: 14 de fevereiro a 29 de abril Outras informações no site www.bb.com.br

Jairo Goldflus

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Frágil? Local: Palácio das Artes Data: 1º de março Horário: 21h Informações : (31) 3236-7400 O Ballet Jovem Palácio das Artes apresenta o metalinguístico “Frágil?”, de Peter Lavratti. A montagem será executada com mais duas coreografias: “Goldberg”, de Tídaro Silvano, e “Contracapa”, coreografia de Cassilene Abranches. O ballet estabelece diálogos da dança com a música e com recursos visuais.

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CRÔNICA

Joanita gontijo Jornalista e autora do blog tresoumais.blogspot.com joanitagontijo@yahoo.com.br

Não curti! “Estudos mostram que o facebook é responsável por um terço dos divórcios”. A notícia me impressionou, principalmente porque expõe a fragilidade das relações. Difícil compreender como algo real pode terminar por causa de uma comunidade virtual. Tudo bem que tem gente (muita!!) sem-noção nas redes sociais. Colocam a intimidade na vitrine e tratam conhecidos como se fossem amigos de outras encarnações. Há quem não guarde nenhum segredo. Se está chateado ou feliz? Publica. Brigou com o namorado ou com o chefe? Deixa claro em frases nada discretas ou músicas no estilo “dor de cotovelo”. Mudou-se de cidade, bairro ou apenas foi da sala para o banheiro? Avisa pra “geral”. Tenho vontade comentar: “E daí?”, mas isso renderia também a minha exposição e não sou novela para que o mundo inteiro acompanhe os capítulos da minha vida!

são o sinal mais suspeito da gramática, mas daí a desconfiar de traição?! O facebook garante o poder de onipresença que quase 100% dos casais gostariam de ter. Lá você pode analisar as fotos do passado e do presente do seu namorado, avaliar a beleza das colegas de trabalho dele e a intimidade com as “conhecidas” do curso de mergulho... Se alguma mulher for adicionada à lista de amigos, basta um click sobre o nome e você já sabe quase tudo sobre ela. O status de relacionamento diz que é solteira. Ai, ai... Por que ele foi me trair com essa “zinha”?

“Até entendo que os

três pontinhos são o

sinal mais suspeito da gramática, mas daí a

desconfiar de traição?!”

Da mesma forma que existem os exageros de exposição, há os excessos de deferência. É comum que “curtidas” sejam interpretadas por casados, namorados e amantes como “cantadas”. Outro dia uma amiga me contou que pediu explicações ao marido por que uma mulher comentou na foto em que ele aparecia com o cachorro: “Saudades...”. Quando perguntei por que isso fez surgir tantas “pulgas atrás da orelha”, ouvi a seguinte resposta: “o problema não foi o que ela escreveu, foram as reticências. Percebi nelas que tinha algo no ar”. Como assim?! Até entendo que os três pontinhos

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Com seu namorado não será diferente. A imaginação e os delírios a respeito do que ocorre na rede de intrigas... ops... na rede social não escolhem suas vítimas pelo sexo. Acredite! Seu queridinho vai não só ler, como interpretar todas as mensagens de “feliz aniversário” publicadas na sua página. Alguém disse que você é especial e merece tudo de bom? Humm... O “cara” é bonitão? Tem coisa aí...

Atenção!!! Evitem cair nas armadilhas virtuais da insegurança, dos ciúmes e da pouca autoestima. A internet é uma das maiores invenções da humanidade, mas use com moderação. Você compra flores em uma loja de Hong Kong, passeia pelas ruas de Paris ou Amsterdã e termina uma história de amor verdadeiro com apenas alguns movimentos com o mouse. Convoco todos a voltarem à vida real. É nela que reside o bom senso! Curtiu? Então compartilhe!


TodAs As porTAs dA AssembleiA esTão AberTAs pArA Você. Participar da vida política é direito de todo cidadão. Por isso, a Assembleia facilita o acesso para você chegar à Casa do Povo. Você pode acompanhar o trabalho dos parlamentares, consultar os projetos e as notícias e apresentar sugestões. Acesse a Assembleia pela internet, TV ou telefone. Ou venha aqui pessoalmente. Fique à vontade, a Assembleia é a sua Casa.

Acesse: www.almg.gov.br Assista: TV Assembleia – em BH, canal 35 UHF Fale: Centro de Atendimento ao Cidadão – (31) 2108 7800 Venha: Rua Rodrigues Caldas, nº 30 – Santo Agostinho – Belo Horizonte. Atendimento das 7h30 às 20h.


A EDUCAÇÃO EM BH ESTÁ VIVENDO A MAIOR TRANSFORMAÇÃO DA SUA HISTÓRIA.

JÁ SÃO MAIS DE 66 MIL ALUNOS NAS ESCOLAS INTEGRADAS, APRENDENDO 9 HORAS POR DIA.

O DESEMPENHO DOS NOSSOS ALUNOS MELHOROU EM TODOS OS ÍNDICES DE AVALIAÇÃO: NO AVALIA-BH, NO PROALFA E NO IDEB.

Não para de trabalhar por você.

MIRLEY DAMASCENO MENDES E SUAS FILHAS JULIA E MARIANA, ALUNAS DA ESCOLA MUNICIPAL MARIA MODESTO CRAVO

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