Março /14 • Edição 57 • Ano VI Distribuição gratuita
Gilberto Silva: a vida para depois do futebol
Fim do ciclo
Anastasia deixa o governo para atender ambições tucanas
‘Contágio virtual’
Pesquisadores comparam crescimento do facebook a uma epidemia
O lixo da Copa Padrão Fifa é desafio para mundial sustentável em Belo Horizonte
O que diferencia uma boa ideia?
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Editorial Uma Copa, dois ‘brasis’ A reportagem de capa da Vox Objetiva deste mês mostra como o país-sede de uma Copa do Mundo pode aprender com os organizadores da Fifa. Pragmáticos e bons de planejamento, os suíços tornaram a entidade um sucesso absoluto de negócios do futebol. Mas os eventos geridos por eles exigem dos ‘países eleitos’ contrapartidas de investimentos voltados para áreas, muitas vezes, sensíveis para a população. Saúde, transporte e segurança pública reforçada para os visitantes são as principais.
Carlos Viana Editor Executivo carlos.viana@voxobjetiva.com.br
“... O povo que conhece o seu Deus se tornará forte e ativo.” (Daniel 11:32)
Não é novidade que o dinheiro gasto com a execução dos projetos voltados para as competições levou milhares de brasileiros às ruas. O padrão Fifa gerou indignação e revolta. Mas, apesar das diferenças gritantes no cotidiano do país, o mundial deixará um legado importante em projetos bancados pela entidade. Um deles é a coleta seletiva de lixo. Aliás, resíduos na Suíça é questão de saúde e de educação. Esse pensamento não poderia ser diferente para o futebol. A decisão dos gestores da Copa de trabalhar com cooperativas voltadas para a geração de renda surgiu após uma inteligente observação. Eles descobriram que o tratamento de lixo poderia gerar a imagem de um suposto ‘luxo e desperdício’ deixado como legado negativo das competições. Na capital mineira, uma das mais organizadas cidades-sede da Copa, não existe um projeto de coleta seletiva que se iguale ao proposto pela Fifa. A entidade e parceiros da Copa selecionaram e treinaram centenas de catadores da Região Metropolitana, como forma de garantir a sobrevivência das cooperativas após o evento. Esse exemplo de educação ambiental e de sensibilidade deveria ter partido dos nossos governantes. Entre os europeus, luxo não combina com a destinação incorreta do lixo. Da mesma forma, as metas da Fifa para o transporte e o atendimento em saúde esbarram no que temos de pior. Nossos hospitais são mantidos à custa de orçamentos cada vez mais altos, mas os resultados obtidos são inexpressivos. Os quase 3 mil leitos exigidos pela organizadora da Copa provêm de estudos minuciosos em logística e qualidade de resposta a grandes eventos. É comum ouvir dos gestores da saúde pública do Brasil que os orçamentos para o SUS estão abaixo do necessário. Essa não é uma verdade absoluta. É raro ouvir deles que nossos hospitais são geridos sem planilhas de custo nem responsabilização por prejuízos causados por projetos errados ou por desvios de verbas.
A Vox Objetiva é uma publicação mensal da Vox Domini Editora Ltda. Rua Tupis, 204, sala 218, Centro, Belo Horizonte - MG CEP: 30190-060
Talvez a principal revolta dos brasileiros não esteja apenas na ‘maquiagem’ de um Brasil, mas na constatação de que as exigências da Fifa nos fazem reconhecer um país desigual para o próprio povo. Os números frios dos suíços e as críticas aos atrasos nos fazem ver o quanto precisamos aprender. O planejamento e a administração nacionais ainda estão longe do que merecemos e sonhamos. A desorganização vista não é deles; é nossa. Isso nos dói muito mais do que os gastos com a Copa do Mundo.
Editor Adjunto: Lucas Alvarenga l Diagramação e arte: Felipe Pereira | Capa: Felipe Pereira | Foto de capa: Felipe Pereira | Reportagem : Alex Moura, Cassio Teles, Daniela Rebello, Lucas Alvarenga, Rodrigo Freitas, Tati Barros, Thalvanes Guimarães | Correspondentes: Greice Rodrigues - Estados Unidos, Ilana Rehavia - Reino Unido | Diretoria Comercial: Solange Viana | Anúncios: comercial@voxobjetiva.com.br / (31) 2514-0990 | Atendimento: jornalismo@voxobjetiva.com.br (31) 2514-0990 | Revisão: Versão Final | Tiragem: 30 mil exemplares | voxobjetiva.com.br 4 | www.voxobjetiva.com.br
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Move, mas, ainda, n達o resolve Foto: Felipe Pereira |5
sUMÁRIO Bruno Cantini
Renato Cobucci/Imprensa-MG
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GILBERTO SILVA Campeão mundial de futebol pela seleção e empreendedor, atleta defende mudanças estruturais no futebol brasileiro
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O FUTURO DE ANASTASIA Tucano se prepara para a disputa pelo Senado, após quatro anos difíceis no Palácio Tiradentes
COPA SUSTENTÁVEL Organização do mundial em Beagá trabalha com os olhos voltados para o uso consciente dos recursos naturais
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Pesquisadores usam dados epidemiológicos para traçar o futuro da rede social mais popular do mundo
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A EPIDEMIA FACEBOOK
QUESTÃO DE GENÉTICA Conheça a hipercolesterolemia familiar: uma doença que eleva as taxas de colesterol de cerca de 300 mil brasileiros
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Outono mais belo Mercado de beleza apresenta produtos para os cílios, lábios e a face com foco na estação mais seca do ano
Weber Pádua
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Renato Araujo
Eder Fortunato
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O FENÔMENO SADA CRUZEIRO Em seis anos, parceria entre o conglomerado mineiro e a agremiação celeste criou uma máquina de jogar voleibol
KULTUR
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MODA COM DNA Empresas mineiras de moda apostam no encontro de gerações para vencer no mercado
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‘haicais tropicais’
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de volta ao samba
Tradicional gênero de poesia japonesa ganha novas formas nas mãos de poetas brasileiros Maria Rita aposta na ‘tristeza que balança, no álbum ‘Coração a batucar’
Artigos
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justiça • Robson Sávio Pedrinhas está logo ali...
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Meteorologia • Ruibran dos Reis
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IMOBILIÁRIO • Kênio Pereira
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PSICOLOGIA • Maria Angélica Falci
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O verão que abalou a economia
A pressão injusta do expropriante
Redes afetivas
crônica • Joanita Gontijo Não seja um pássaro no parque! Receita • Chef Ilmar de Jesus Almôndegas exóticas
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Divulgação/Panathinaikos
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Um líder nato
Campeão da Libertadores e da Copa do Mundo, Gilberto Silva mostra ser um exemplo para os ‘boleiros’ dentro e fora dos gramados Lucas Alvarenga O trabalho nos canaviais foi uma rotina na adolescência do mais ilustre filho de Lagoa da Prata, na Região Centro-Oeste de Minas. Nem mesmo a produção de saborosas balas de caramelo era suficientemente capaz de adoçar a vida daquele garoto. Mas a infância pobre e o trabalho pesado entre 11 e 16 anos não o fizeram desistir de um sonho. “Não quero ser um cortador de cana. Isso é muito pesado! Quero jogar o meu futebol”, sentenciou.
tisfeitos com a organização do mundial, especialmente com as obras e a questão da mobilidade urbana. Mas a Copa está próxima. Nós temos que nos empenhar para termos a melhor Copa possível. O sucesso da Copa é bom para a imagem do país e do brasileiro. O fracasso é ruim para todos. O país precisa de nós. Temos que trabalhar em conjunto para o bem do Brasil. Precisamos buscar soluções em comum em vez de apenas tentar descobrir saídas para o meu ou o seu problema.
No entanto, o roteiro tipicamente brasileiro não poderia ser menos inusitado para aquele garoto. O futuro o presenteou com nada menos que três Copas do Mundo disputadas e uma vencida. Mas sua experiência e o comportamento exemplar lhe renderam frutos além das quatro linhas. Gilberto Silva é um empreendedor nato.
A sua timidez é visível. Mas você está prestes a se tornar comentarista de futebol na TV. Como você está trabalhando essa questão?
Mesmo tendo que parar os estudos formais, a vontade de aprender sempre acompanhou Gilberto. Durante anos de carreira, o ex-capitão da seleção brasileira levou livros para a concentração e contou com o apoio da internet para se preparar para o inevitável fim de carreira. Enquanto se recupera de uma cirurgia, o volante e zagueiro experimenta novos desafios, como comentar a Copa do Mundo no Brasil e cuidar dos negócios no ramo da construção civil. A Vox Objetiva conversou com Gilberto Silva sobre o mundial no país, a organização do futebol brasileiro, o empreendedorismo e sobre a carreira do campeão da Libertadores. E você acompanha a entrevista: um convite para todas as torcidas! Três Copas do Mundo consecutivas e, agora, um mundial no Brasil, com você do outro lado: fora dos gramados. Qual é a sua expectativa em relação à Copa e à seleção? Eu tive o privilégio de jogar três Copas do Mundo seguidas e ganhar uma. Isso é único! A Copa aqui no Brasil também é especial. Lógico que nem todos estão sa-
Eu já fui muito mais tímido! Não falava quase nada. Eu brinco com a minha esposa porque ela fala muito e com desenvoltura. Foi muito em função dela que eu despertei um pouco do meu lado falante, que estava adormecido. Por outro lado, quando nós nos conhecemos, ela conta que eu quase não falava. Mas ela não me deixava falar (risos). Eu precisava exercitar! Agora vou ter essa oportunidade. Durante a Copa do Mundo, eu vou ser comentarista da ESPN Internacional. Essa será a minha quarta Copa do Mundo, mas agora do outro lado: comentando em inglês. Dia desses, tive que fazer careta pra caramba no curso de locução. Eu venho estudando e me preparando para chegar durante o mês de junho pronto para enfrentar mais esse desafio. Em 2008, você assinou um contrato com o Panathinaikos, da Grécia. Nessa época estourou a crise mundial e aquele país foi um dos mais afetados. Como foi a experiência de jogar lá? Eu tive uma experiência fantástica na Grécia. Quando eu fui para lá, muitos se perguntavam: por que sair da Inglaterra e ir para a Grécia? Depois de seis anos na Inglaterra, jogando por um grande clube como o Arsenal, é difícil você se ver em outra equipe. Ainda mais ima-
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ginar a possibilidade de enfrentar o Arsenal, por tudo que vivi e conquistei no clube. Foi uma bela história de dedicação, trabalho e vitórias. Eu tive a oportunidade de ir para outro clube, mas queria ter a oportunidade de brigar por títulos. Esse era o meu objetivo e um fator de motivação para mim. Eu queria disputar a Champions League ou a Europa League [antiga Taça UEFA]. O dinheiro não era a questão mais importante naquele momento. Um belo dia surgiu o Panathinaikos, um dos grandes da Grécia. Então eu resolvi mudar de ares. Na Inglaterra, eu fui superfeliz. Mas era hora de mudar. E foi uma decisão acertada. Qual foi o seu melhor momento no futebol?
“Posso dizer com orgulho: eu fiz parte do grupo vencedor da primeira Copa Libertadores do Atlético”
Eu sempre tive uma regularidade durante a minha carreira. Eu nunca fui nota dez, mas também não era nota um nem dois. Sempre tive uma constante. Isso é fundamental no futebol. Mas quando se fala em melhor momento na minha carreira, não tem como não pensar na Copa do Mundo de 2002 e na ida para o Arsenal depois da vitória no mundial. Eu fiquei na Inglaterra durante seis anos e fui, inclusive, capitão do time. Esses anos foram fundamentais para a minha carreira.
O seu retorno para o Brasil foi marcado pela boa passagem pelo Grêmio e, depois, pelo reencontro com a torcida do Atlético. Como foi voltar para o clube que te projetou? Ah..., eu sempre deixei muito clara a vontade de um dia retornar para o Atlético. Essa volta aconteceu em um momento importante para o clube. Talvez não houvesse melhor cenário. Eu acho que sou um pé-quente, sabe? E, claro, eu me sinto honrado de ter contribuído para um dos momentos mais relevantes da história do Galo. Os atleticanos sempre manifestaram um carinho enorme por mim, mesmo quando estive fora. Agora esses torcedores têm um motivo a mais para se lembrar do Gilberto por muitos anos, talvez por décadas. Posso dizer com orgulho: eu fiz parte do grupo vencedor da primeira Copa Libertadores do Atlético. Você atuou por longos anos no futebol europeu. Ao retornar para o Brasil, quais diferenças você percebeu entre a organização do esporte lá fora e o estágio atual do futebol brasileiro? 10 | www.voxobjetiva.com.br
O futebol europeu se distancia do brasileiro em algumas áreas. A primeira delas é a questão organizacional, que engloba a gestão e a visão de clube. As equipes nacionais precisam avançar muito nessa questão. O segundo ponto é a perda da identidade brasileira, do nosso modo de jogar. O talento brasileiro vai continuar existindo. Mas a gente não pode confiar apenas no talento. É necessário melhorarmos a capacitação dos nossos profissionais. O Brasil é uma referência em fisioterapia esportiva. Mas nós precisamos avançar na formação de treinadores, por exemplo. Há uma geração saindo e, infelizmente, a oportunidade para os novos técnicos ainda é escassa. Temos que pensar em um modelo único de trabalho, da formação ao profissional, para que o atleta saiba como se comportar lá na frente. Há grandes profissionais trabalhando no futebol brasileiro. Mas é preciso investir neles. Somente assim o nosso futebol vai dar um passo à frente. Você é um dos líderes do ‘Bom Senso’. Quais resultados você acredita que o movimento possa colher?
Nós vamos colher frutos a partir do momento que os jogadores entenderem a importância do movimento para o futebol brasileiro. O ‘Bom Senso’ surgiu a partir da percepção de alguns atletas de certo distanciamento do que nós já vivemos e de como se estrutura o esporte atualmente. Não significa que a gente queira fazer do futebol brasileiro algo parecido com o que existe na Europa. Até porque os recursos e as características são outros. O fato de o Brasil ser uma referência no futebol tem que fazer a gente buscar um aprimoramento constante. O atleta tem que ter melhores condições de exercer o seu trabalho. Quando eu falo em condições, significa dizer que precisamos ter um melhor calendário, centros de treinamento e campos de qualidade. Muitos estádios que os atletas profissionais atuam são vergonhosos. Acredito que a gente possa ter condições mínimas de trabalho. A imprensa tem nos ajudado muito, dando apoio à manifestação. Espero que os clubes, as federações e a CBF entendam que nós não queremos tê-los como adversários. Os jogadores apenas esperam participar mais do futebol brasileiro. Afinal, somos ‘atores do espetáculo’. O espírito de liderança sempre esteve presente na sua carreira. Você foi capitão por onde passou.
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Como você leva isso para o lado empreendedor? Durante a carreira, você adquire características de liderança. São vários os atributos: motivação, força de vontade, persistência e o exemplo individual e pessoal. Desde cedo, eu aprendi valores importantes na minha vida que foram pilares na minha trajetória. Uma coisa se juntou à outra. Esses fatores me ajudaram na vida pessoal e na minha carreira. Fico feliz por poder usar esses valores para empreender no esporte e fora dele.
do futebol com os estudos. Isso seria fundamental para termos preparo suficiente para quando chegarmos ao final da carreira. Muitos não sabem o que fazer no dia seguinte, pois perdem aquela rotina e têm que ir à luta para buscar algo novo. A construção civil surgiu por ser uma forma segura de aplicar o meu dinheiro, de investir e ter um retorno. Mas, depois de algum tempo, eu passei a empreender. Hoje tenho a minha empresa. Estou feliz com esse novo desafio. Nele, uso toda a disciplina, força de vontade e o aprendiza-
Bruno Cantini
Por que empreender na construção civil? De modo geral, o atleta de futebol não tem tempo para ter uma formação acadêmica. Temos uma série de compromissos: viagem, concentração, jogos,... Nós deixamos de estudar muito cedo. Eu vivi isso e, infelizmente, vários outros vão continuar vivendo. Ainda não temos um modelo de integração
do que adquiri no ambiente do esporte. Assim eu transponho essa experiência para a área do Gilberto S/A. Chegou a hora de parar? Ainda não sei... Aguardo propostas de clubes. Mas, por enquanto, não sou um aposentado. No máximo, sou um pós-operado (risos)! | 11
Artigo
Robson Sávio
Justiça
Pedrinhas está logo ali... As cenas dantescas de presos decapitados no complexo de Pedrinhas, no Maranhão, escancaram a vergonhosa situação do sistema prisional brasileiro. E Pedrinhas não é exceção. A desumanidade que marca as prisões nacionais é regra. Sem uma profunda reforma no sistema de justiça criminal – isso inclui o prisional – o país não vai sair da Idade Média em relação à execução das penas. Assim, as mais elementares violações de direitos em pleno estado dito democrático vão continuar ocorrendo. O adensamento do sistema prisional é um reflexo direto das políticas contemporâneas de segurança pública. Em especial, aquelas com forte viés repressivo e em resposta às demandas do estado penal. Nas últimas décadas, o sistema prisional se expandiu de modo expressivo no país. Em 1995, eram 148.760 mil presos; em 2012 havia mais de 515 mil detidos. Como se não bastasse, os índices de crimes violentos continuam altos. Por isso, somente a prisão dos infratores não resolve o problema da violência e dos crimes.
Uma solução para impor sanções aos infratores é restringir as prisões aos criminosos que ofereçam risco à sociedade. Isso acontece no Reino Unido, onde houve a ampliação de penas e de medidas alternativas, seguida por um rígido acompanhamento dos condenados pelo Estado e pela sociedade. Os estudiosos comprovam que a possibilidade de recuperação de quem cometeu um delito considerado leve é superior, quando o condenado não cumpre a pena em regime fechado. Além disso, as chances de reincidência são de 12%: índice muito inferior ao exibido pelos egressos das prisões. Outro fator positivo da proposta está no combate ao agravamento da superlotação carcerária.
“Somente a prisão dos infratores não resolve o problema da violência e dos crimes”
Ineficiente, violento, poroso e perigoso, o sistema prisional brasileiro está obsoleto. E os fatos confirmam. O custo médio mensal de um preso é de R$ 1,5 mil. O índice de reincidência é altíssimo. Gangues disputam poder e prestígio dentro das prisões. A corrupção de agentes públicos é constantemente denunciada. E, a qualquer momento, vítimas inocentes podem se tornar presas fáceis desse barril de pólvora. O Primeiro Comando da Capital (PCC), em São Paulo, e o Comando Vermelho, no Rio de Janeiro, demonstram que o crime se organiza dentro dos presídios do país. Pior: isso acontece debaixo da barba dos governantes. E essa modalidade é tão mais perigosa e densa do que a criminalidade urbana. 12 | www.voxobjetiva.com.br
Governos e sociedade precisam discutir um modelo prisional voltado para a ressocialização dos detentos. Nele, a detenção caberia aos indivíduos de alto poder ofensivo. Aos crimes de baixo e de médio teor ofensivo seriam dadas penas e medidas alternativas. Para que esse modelo funcione, é preciso de um Judiciário mais célere e menos seletivo. Da mesma forma em que é essencial investir recursos públicos. Primeiro, em programas de prevenção à criminalidade, principalmente destinados à juventude. Depois, na capacitação permanente dos agentes penitenciários e no combate sistemático à corrupção e à violência promovida no sistema carcerário e pelo sistema carcerário.
robson Sávio Reis Souza Filósofo e cientista social robsonsavio@yahoo.com.br
Eugênio Sávio/Imprensa-MG
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Contra o planejado Sucessor de Aécio, Anastasia deixa o governo de Minas para atender aos anseios tucanos após enfrentar uma série de adversidades políticas e econômicas Rodrigo Freitas
Foram quatro anos ocupando o principal gabinete do quarto andar do Palácio Tiradentes, na Cidade Administrativa. A posição foi herdada do titular Aécio Neves. Era março de 2010, quando o então governador fez sua desincompatibilização para disputar o Senado. Em seguida, Anastasia venceu o peemedebista Hélio Costa no primeiro turno ao governo de Minas, sob as barbas do próprio Aécio. Isso após começar a corrida eleitoral com pouco mais de 10% das intenções eleitorais. A vitória do técnico que se destacara no planejamento do estado veio acompanhada de um cenário político favorável, com mais de 20 partidos aliados.
gestão Aécio. No entanto, as dificuldades políticas e econômicas foram maiores do que as que os tucanos esperavam. O governo Anastasia chegou ao fim de 2013 amargando uma alta de 22,6% nos índices de criminalidade violenta no estado. Por outro lado, os investimentos em saúde cresceram. Minas é o segundo estado do país que mais investe no setor em relação ao orçamento do estado: 16,3%. Este é o cenário para a entrega das chaves do Governo de Minas programada para o dia 4 de abril. Assim como fez Anastasia no início de 2010, o vice-governador Alberto Pinto Coelho (PP) assume o governo no final de um mandato executivo.
Era de se esperar que o governo de Antonio Augusto Junho Anastasia planasse em céu de brigadeiro. Seria uma repetição do que ocorreu em quase oito anos da
O branqueamento rápido do cabelo do futuro ex-governador denuncia que os anos à frente do comando do estado não foram fáceis. Alguns interlocutores contam | 13
metropolis
que ele até chegou a ter queda nas madeixas, recorrendo a um tratamento na Itália para evitar a calvície. Aliás, se dependesse do tucano, ele deixaria a política para viver das aulas de Direito na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e de consultorias na área de planejamento, uma de suas obsessões. “Eu queria mesmo era ganhar dinheiro e viver mais tranquilo”, chegou a confidenciar Anastasia a um interlocutor. Mas, como em política nem sempre são os próprios homens que definem seu destino, Anastasia agora terá que encarar uma candidatura ao Senado em nome do projeto nacional de Aécio, pré-candidato à Presidência da República pelo PSDB. Considerado um grande formulador de políticas públicas, Anastasia assume o papel de um dos principais artífices do plano de governo do senador mineiro. É do então governador a base do ‘Choque de Gestão’, programa de acerto das contas públicas mineiras, iniciado na gestão de Aécio: uma ‘vedete’ dos programas eleitorais do PSDB. A candidatura a contragosto de Anastasia ao Senado leva alguns aliados e assessores mais próximos a
questionar se o governador vai ter ‘paciência’ com a lenga-lenga típica das casas legislativas. O perfil absolutamente prático e executivo do tucano mineiro pode fazer dele um ‘estranho no ninho’, segundo a avaliação daqueles que o conhecem de perto. No entanto, o cientista político Malco Camargos, da PUC Minas e do Instituto Ver, faz um contraponto. Na opinião dele é, justamente o perfil diferente do ex-governador que pode ajudá-lo a se destacar como senador. “Considerando sua brilhante formação jurídica, Anastasia tem um perfil que pode levá-lo a desenvolver um trabalho acima da média do dos demais senadores”, analisa o estudioso. Outra possibilidade que ronda Anastasia é assumir um ministério, caso Aécio consiga uma virada histórica sobre a presidente Dilma Rousseff e chegue ao Palácio do Planalto. A pasta do Planejamento possivelmente ficaria com Anastasia. O tucano ia apenas assumir o mandato como senador e se licenciar em seguida. Nos bastidores, os tucanos de alta plumagem revelam que essa opção anda fazendo brilhar os olhos do futuro ex-governador.
Em recuperação
Fonte: Vox Populi (2011) e CNI/Ibope (2012-2013)
Manifestações de junho derrubaram a popularidade do Governo Anastasia. Percentual voltou a subir em dezembro, mesmo com o governo sob pressão política e econômica
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metropolis
Antonio Anastasia, em 19 de março de 2014
Esse cenário também consolidaria o esforço do PSDB para que Alexandre da Silveira (PSD) venha a ser o primeiro suplente na chapa de Anastasia ao Senado. Silveira assumiu a Secretaria de Estado de Saúde recentemente. Caso o titular vença e seja recrutado ao ministério, ele assumiria o posto de senador por Minas Gerais. Como o PSD nacional apoia a reeleição de Dilma, essa jogada política racharia a legenda. Se o futuro de Anastasia parece promissor, o passado recente acumula uma série de percalços. Afinal, os contextos político e econômico nacionais dos quatro anos de governo Anastasia não permitiram que sua gestão atingisse a magnitude esperada. Sem poder contar com um governo federal parceiro, a administração mineira sofreu algumas sérias dificuldades. “A gestão dele entrou em uma era política e econômica distinta daquela vivida com Aécio como governador. Não havia mais o vigor econômico da era Lula. Além do mais, Minas sofre muito com a pauta de exportação toda focada em commodities e tendo a China como principal compradora. Por isso, o PIB mineiro vai crescer abaixo da média nacional a partir de agora”, analisa o sociólogo e cientista político Rudá Ricci, do Instituto Cultiva. Como se não bastassem os entraves financeiros, Anastasia teve que lidar com Lula. Segundo Rudá Ricci, o presidente de honra do PT decidiu enfrentar todo o PSDB, inclusive Aécio, com a vitória de Dilma. “Lula avaliou que poderia diminuir os espaços dos tucanos em São Paulo e em Minas. Aliás, é o que ele vai tentar de novo neste ano. Essa nova realidade diminuiu os espaços de
Anastasia”, avalia. Apesar dos problemas, o sociólogo ressalta: “Em outros tempos, Anastasia teria sido um fantástico governador”. Até mesmo os aliados admitem as dificuldades geradas pela escassez de recursos. “Vivemos um tempo árido, com queda do crescimento brasileiro e um visível distanciamento da administração federal, que boicotou o governo de Minas”, reclama o deputado estadual João Leite (PSDB). Esse problema se agrava com a forma de repasse de recursos em voga no país. “Se não fizemos mais, foi porque temos muitas carências de verbas, devido ao modelo de distribuição de recursos vigente no Brasil. Há uma grande concentração de recursos na esfera federal. Nós nos esforçamos muito. E vejo que as pessoas perceberam isso”, considerou Anastasia, durante a inauguração do Museu dos Militares Mineiros. Os percalços no cenário nacional levaram Anastasia a apelar para um secretariado de perfil mais político em Minas. A medida foi necessária para acomodar aliados e garantir uma fidelidade dos partidos que compõem a base da situação no estado. “O governo Anastasia tem um aspecto interessante. Penso que ele deu poder demais a algumas pessoas e se perdeu na frente política de seu mandato. No governo Aécio, o técnico Anastasia se destacava. Mas o próprio Anastasia não conseguiu
André Martins
“Se não fizemos mais, foi porque temos muitas carências de verbas, devido ao modelo de distribuição de recursos vigente no Brasil. Há uma grande concentração de recursos na esfera federal. Nós nos esforçamos muito. E vejo que as pessoas perceberam isso”
Segundo o sociológo e cientista político Rudá Ricci, o governador Anastasia foi “a pessoa certa na hora errada” | 15
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Atenção redobrada, resultados diferentes
Fonte: Seds (dados de segurança pública apurados em 2012) e IBGE (dados da saúde apurados em 2013)
Governo Anastasia aplica grande volume de recursos na segurança pública e na saúde, mas obtém resultados diferentes em cada setor
2º maior investimento dentre Maior investimento dentre os estados do país
os estados do país 16,3% do orçamento do estado
13,9% do orçamento do estado
Atenção básica Crimes violentos 22,6% de aumento em Minas 21,7% de aumento na Grande BH
11,8% do orçamento do estado Melhoria na promoção da saúde e na prevenção de doenças
21,8% de aumento na capital
depender do governador A ou B nem do secretário fulano ou beltrano”, considera Sapori. “Em certo momento, um secretário e uma gestão equivocada do governo estadual provocaram essa balbúrdia e todo esse retrocesso. Isso foi o mesmo que aconteceu em São Paulo”, complementa o sociólogo. trabalhar com um secretariado tão técnico como ele. No fim das contas, o governo foi político, mesmo com o chefe tendo perfil técnico”, aponta Malco Camargos. O problema é que, em algumas áreas, as escolhas políticas dos colaboradores de Anastasia não deram bons resultados. É o caso da Defesa Social, conforme pondera o sociólogo e especialista em segurança pública Luís Flávio Sapori. “Minas Gerais é um exemplo claro de estado que foi incapaz de manter uma política pública bem-planejada, bem-gerida e com muito investimento. Houve uma distorção, e a coisa deixou de ser feita. Isso reforça a minha convicção de que não podemos 16 | www.voxobjetiva.com.br
João Leite sai em defesa do governador e culpa o governo federal pelos problemas de segurança pública. “Eu penso que o grande problema brasileiro seja o financiamento da segurança pública. Minas gasta R$ 180 milhões todo mês com um contingente de 59 mil presos adultos. Do outro lado, o consumo de droga dobrou no país. Esse crime é nacionalizado. Mas o Governo Federal parece não se importar. Hoje, 87% do investimento em segurança do país provém dos estados e só 13% vêm da união. Os presídios federais têm 400 pessoas presas. Há uma clara concentração de recursos nas mãos da União. A presidente Dilma fez o pior governo da história na segurança pública”, critica o parlamentar.
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A segurança pública não foi o único setor criticado na gestão do tucano. Sem a mesma experiência política de Aécio, o professor Anastasia – como gosta de ser chamado – enfrentou a maior greve de todos os tempos na rede estadual de ensino. Por ‘ironia do destino’, os professores mineiros ficaram parados por mais de quatro meses em 2011. O governador resistiu à pressão com nervos de aço e se mostrou sempre disposto a negociar. “Anastasia se revelou um importante gestor. Mas talvez precise ter mais tarimba no trato político. Foi sensato durante a maior crise que enfrentou: a greve dos professores. E sempre se mostrou disposto ao acordo. Somente ele e Tarso Genro, governador gaúcho, negociaram com os manifestantes em junho. Anastasia é firme sem ser grosseiro”, avalia Rudá Ricci.
Se a educação deu alegrias e dores de cabeça ao ‘professor Anastasia’, a necessidade de reorganizar seu secretariado no final do ano passado e em janeiro tirou o sono do futuro candidato tucano ao Senado. A edição 55 da Vox Objetiva mostrou os desafios do tucano para compor sua equipe e acomodar os aliados. Talvez esse tenha sido o maior entrave político de sua gestão. Diante do clamor das ruas por uma administração pública mais eficiente e com a arrecadação do estado em queda, restou a Anastasia cortar custos da ordem de R$ 1 bilhão. Isso levou à extinção de cargos e de secretarias, que caíram de 23 para 17. “Eu conversei com vários secretários de governo e pessoas do segundo escalão. Alguns choraram ao falar dos cortes e de projetos jogados fora”, afirma Rudá Ricci. O fato é que a administração de Anastasia chega ao fim com uma série de desafios a serem vencidos, mas também com um legado. “A marca forte do governador e do homem público Anastasia é o planejamento. Ele foi gerado politicamente por meio de uma série de medidas planejadas. Isso é marcante nele”, acredita João Leite. Para Rudá Ricci, considerando a existência de tantos desafios políticos e econômicos, Anastasia “foi a pessoa certa na hora errada”.
Roberto Stuckert Filho/ PR
O esforço para manter a educação equilibrada parece ter surtido efeito. Minas tem a melhor educação básica do Brasil, com nota 6 no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Os dados apurados correspondem ao ano de 2011. O bom desempenho fez com que o estado alcançasse a nota recomendada como padrão de qualidade, inclusive por países da comunidade europeia. Com esse índice, o estado superou o Ideb nacional, que foi de 5.
Dilmasia de novo Anastasia é querido pelos prefeitos mineiros. Em audiências e eventos realizados na Cidade Administrativa, o tucano sempre foi ‘tietado’ até mesmo por petistas. Não raramente, ele distribuía sorrisos e fotos com os gestores municipais do Interior. A relação ‘republicana’ é tão boa que muitos prefeitos petistas vão repetir, em 2014, o movimento que ficou conhecido como Dilmasia. Só que, desta vez, o lema vai ser “Dilma na Presidência e Anastasia no Senado”. Em 2010, vários prefeitos aderiram ao Dilmasia, apoiando a então ex-ministra-chefe da Casa Civil para o Palácio do Planalto e o ex-vice-governador para o Palácio Tiradentes.
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Sustentabilidade em jogo Contando os dias para o mundial, Belo Horizonte se destaca pelo pioneirismo e o engajamento ambiental na preparação da Copa Alex Moura
Na capital mineira, o legado a ser deixado pelo evento sempre esteve em pauta. E quando o assunto é a sustentabilidade, a prioridade aumenta. Essa palavra tão cara
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nos dias de hoje está aplicada na prática desde a modernização do Mineirão até a gestão de resíduos durante as competições Fifa. A certificação de empreendimentos construídos para o evento reafirma essa tendência. Nessas obras, é notória a preocupação com a redução do consumo de água e de energia. Até mesmo a diminuição da emissão de gases causadores do efeito estufa entra nessa pauta.
A fim de atender às exigências da Fifa em relação à sustentabilidade dos projetos que envolvem o mundial, o Comitê Organizador Local (COL) e outros parceiros trabalham arduamente para que tudo seja cumprido. Juntos, eles buscam reduzir os impactos ambientais negativos resultantes da preparação. No caso do Mineirão,
João Marcos Rosa/ Portal da Copa
Estádios atrasados, ruas esburacadas, construções a levantar poeira. Os preparativos para o maior evento esportivo do ano no país geraram, em maior ou menor medida, contratempos e transtornos para os moradores das cidades-sede do torneio. Milhares de cidadãos sofreram, dia após dia, com as consequências do atraso nos cronogramas das obras. Muito se falou em legado, que parece se esvair com a correria para a Copa do Mundo. No entanto, ele existe. Prova disso é que alguns projetos que nasceram ligados ao mundial vão ter sequência após o término da disputa.
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soma-se outra meta: a conquista do ‘selo verde’. Por isso, toda a reforma do estádio se desenrolou sob preceitos sustentáveis. O objetivo do governo é conferir a esse palco da Copa a certificação de Liderança em Desenvolvimento e Design Ambiental (Leed, em inglês), concedida pela ONG norte-americana U.S. Green Building Council. Para conquistar o selo, uma série de medidas de reaproveitamento de material foi tomada. Começou com o antigo gramado do Mineirão, replantado no Plug Minas, projeto social do governo do estado sediado no Horto. A terra retirada do estádio para o rebaixamento do gramado serviu ao aterro da obra do Boulevard Arrudas. A madeira das árvores extraídas no entorno do estádio foi doada a artesãos. Os entulhos gerados pela reforma serviram de brita para pavimentar ruas, e o metal foi destinado às usinas de reciclagem. Até as cadeiras antigas tiveram novo destino: ginásios do interior do estado. Mas o conceito de sustentabilidade não se restringe à reutilização de materiais do antigo Mineirão. Foi implantado no estádio um reservatório para a água da chuva, capaz de armazenar 6 mil metros cúbicos. Além desse sistema de captação, criou-se um lava-rodas com reaproveitamento da água por meio de caixas de decantação e de bombas. A medida tinha o intuito de limpar os caminhões na saída da obra, evitando sujeira no entorno do estádio. Ao todo, essas medidas sustentáveis resultaram em uma economia de R$ 156 mil para a reforma. Aliás, a redução de gastos é a tônica do novo Mineirão, um dos palcos das semifinais do mundial. O reflexo disso está no sistema de energia, constituído por um gerador de energia elétrica conectado a 6 mil painéis fotovoltaicos. A Usina Solar Fotovoltaica (USF), inaugurada em maio de 2013, tem potência de 1,42 MWp (megawatt-pico). Com isso, seria possível atender a até 1,2 mil residências. Segundo o engenheiro de Tecnologia e Normalização da Cemig, Claudio Homero, só esse exemplo não dá a dimensão exata do potencial solar mineiro. “Nossos estudos apontam que Minas oferece condições de insolação superiores aos melhores potenciais europeus”, comenta. O ‘Gigante da Pampulha’ recebe 10% do potencial de energia gerado por essa USF, enquanto uma par-
cela pequena é destinada à manutenção da própria usina. O restante vai para a rede de distribuição da Cemig, por meio de uma subestação dentro do estádio. “As opções energéticas alternativas não estão somente nas fontes. Elas estão presentes nas transformações dos recursos em energia e nas formas de uso final da eletricidade, como é o caso do Mineirão”, observa Homero. A usina fotovoltaica do estádio faz parte do projeto Minas Solar 2014 promovido pela Cemig. Pioneira em estádios do país, a iniciativa – baseada em exemplos suíços e germânicos – teve 80% da construção financiada por fundos do Banco de Desenvolvimento da Alemanha. Por meio do Minas Solar, a companhia vai investir cerca de R$ 28 milhões em novas estações de energia solar fotovoltaica, como a instalada no teto do remodelado estádio Magalhães Pinto. À frente desse moderno e sustentável projeto, o engenheiro da Minas Arena, Otávio Góes, garante que as medidas tomadas têm como objetivo a certificação Leed esperada para este ano. “Nossa preocupação é o compromisso com o meio ambiente. Fizemos o possível para atingir maior eficiência energética e para não poluir o meio ambiente. O sistema de ar-condicionado, por exemplo, não ataca a camada de ozônio”, exemplifica o técnico.
As obras da Copa ajudaram a transformar em realidade o Programa de Certificação em Sustentabilidade de Empreendimentos. Desde 2006, o programa vem sendo discutido pela equipe de Gerência de Planejamento e Monitoramento Ambiental da Secretaria de Meio Ambiente de Belo Horizonte. O objetivo é certificar empresas que se preocupam com o meio ambiente. Para conquistar o ‘Selo BH Sustentável’, a construção precisa se submeter a certos preceitos, como a redução do consumo de água e da emissão de gases de efeito estufa. O primeiro passo rumo à certificação passa por uma auditoria que verifique as condições do empreendimento e trace possíveis melhorias. Assim que esses parâmetros forem alcançados, o local recebe o ‘Selo BH Sustentável’. Posteriormente, novas visitas serão marcadas para acompanhar o desenvolvimento do local. | 19
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Divulgação SLU
Mas as ações sustentáveis em Belo Horizonte vão além da busca por certificações. A pasta de meio ambiente da prefeitura preparou um amplo plano de ações para atender às demandas da Fifa. Essas medidas começam pela utilização preferencial de equipamentos eletrônicos energeticamente eficientes durante o mundial. Isso inclui aparelhos de som, geladeiras, telas e refletores. Também será dada prioridade para produtos de fabricação local. A intenção é reduzir o transporte para longas distâncias. Até fornecedores preocupados com o meio ambiente terão prioridade nas compras.
O aterro da SLU foi contemplado com o ‘Selo BH Sustentável’
Os empreendimentos certificados podem receber três tipos de selo: bronze, prata ou ouro. A conquista varia de acordo com o número de dimensões certificadas – se, respectivamente, uma, duas ou três. Todas as medidas seguem a meta estabelecida pela Secretaria de Meio Ambiente: reduzir em 20% a emissão de gases de efeito estufa até o ano de 2030. Até o momento, a Secretaria de Meio Ambiente já certificou 23 empreendimentos. Dentre eles, estão seis edifícios comerciais e seis hotéis, três edifícios residenciais, dois restaurantes, uma oficina mecânica e um aterro sanitário. Uma frota de 36 veículos leves movidos a biocombustível foi agraciada com o selo. E dez empreendimentos estão em fase de certificação.
Também integram essa pauta medidas relacionadas com o uso sustentável dos recursos naturais e o reaproveitamento de resíduos. A organização do evento trabalha para promover uma redução no consumo de água em sanitários e torneiras durante o evento e incentivar a coleta seletiva e a destinação do lixo para a reciclagem. Para reforçar essa ideia, a prefeitura vai desenvolver campanhas para discutir o uso sustentável desses recursos. Após o fim da competição, um relatório será preparado para atestar se as metas estabelecidas foram alcançadas. Imbuída de ajudar no manejo do lixo, a Coca-Cola, em parceria com a Fifa, vai gerenciar os resíduos sólidos gerados durante a Copa do Mundo. Essa dobradinha se repete após o sucesso na Copa das Confederações, realizada em junho passado. Na época, a empresa e a entidade coletaram 70 toneladas de resíduos nas seis cidades-sede. O material foi destinado às indústrias de transformação. “A experiência positiva que tivemos na Copa das Confederações nos motivou a gerenciar os
Critérios para certificação Redução do consumo
Água 20 | www.voxobjetiva.com.br
30%
Redução do consumo
Energia
25%
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resíduos a serem produzidos nas cidades-sede durante o mundial”, explicou Victor Bicca, diretor de Assuntos Governamentais, Comunicação e Sustentabilidade da Coca-Cola Brasil para a Copa do Mundo. Para repetir o sucesso, a Coca-Cola capacitou 840 catadores de resíduos de Belo Horizonte para o manuseio de equipamentos e para atuar conforme a dinâmica do trabalho de coleta durante o mundial. O treinamento foi feito em fevereiro e teve duração de quatro horas. A atividade será estendida às demais cidades-sede do torneio. “Diante do que representa o mundial, decidimos ir além e contribuir para o crescimento profissional e pessoal desse grupo. Por isso, criamos o treinamento para a gestão de resíduos nos estádios do torneio”, justifica Bicca.
passaram por um processo de trituração e lavagem antes de se transformar em pellets: a matéria-prima dos assentos. Todo o procedimento levou um mês. O estádio foi o primeiro do mundo a ter assentos feitos a partir de garrafas recicladas. Essa referência é motivo de alegria para os catadores da Asmare e, possivelmente, para os filhos deles. As crianças foram ao novo Mineirão em outubro passado em visita técnica da Umei Carlos Prates. Elas se encantaram com o estádio. Alguns se sentaram nas cadeiras do palco da Copa em Minas. Foi a realização de um sonho que seus pais ajudaram a construir com um olho no presente e outro no futuro.
Essas cadeiras foram fabricadas com material PET oriundo de garrafas de refrigerante. Segundo o executivo da Coca-Cola, cada assento fabricado consumiu dois quilos ou cem garrafas PET. A Associação dos Catadores de Papel e Material Reaproveitável (Asmare) se responsabilizou pela coleta do material. As garrafas
Felipe Pereira
Em Belo Horizonte, os resíduos coletados serão enviados à Cooperativa de Reciclagem dos Catadores da Rede Economia Solidária (CataUnidos) e à Cooperativa Central Rede Solidária dos Trabalhadores de Materiais Recicláveis. A estimativa de coleta é de 5 toneladas de resíduos recicláveis por partida realizada. Isso corresponde a 30 toneladas de lixo até o final do evento. O volume pode ser transformado pelas mãos desses trabalhadores, como aconteceu com 3 mil dos 62 mil assentos do novo Mineirão.
Para cada cadeira fabricada, a Asmare coletou dois quilos de PET
O ‘Selo BH Sustentável’ é dividido em três categorias: bronze, prata e ouro. Para conquistar essas certificações, é preciso atender a um, a dois, a três ou mais requisitos listados abaixo:
Porcentagem reciclada
Resíduos sólidos Fonte: Secretaria Municipal de Meio Ambiente
70%
Redução na emissão de gases
Efeito estufa
80% | 21
ARTIGO
Ruibran dos Reis
Meteorologia
O verão que abalou a economia Historicamente a estação chuvosa em Minas Gerais começa em outubro e termina em abril. No mês de outubro, as chuvas acontecem na forma de pancadas no final da tarde, sobretudo nas Regiões Centro-Oeste, Central, Sul, Zona da Mata e no Triângulo. Nas Regiões Norte, Noroeste e nos Vales do Jequitinhonha, Mucuri e Rio Doce, o período chuvoso inicia no final de outubro e no começo de novembro e termina mais cedo. Nesses locais, as chuvas normalmente acabam a partir da segunda quinzena de março, exceto no Noroeste do estado. As formações locais e as frentes frias propiciaram as chuvas de outubro passado. O momento chuvoso deveria afastar o severo período seco iniciado em fevereiro. Mas as primeiras precipitações não foram suficientes para a agricultura nem para abastecer os lençóis freáticos.
seca deste ano nas regiões Sul e Sudeste do Brasil. As cenas se opõem às da maior enchente da história de alguns estados da Região Norte do país. Os últimos relatórios do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) já apontavam para a variabilidade do clima no Brasil. Esse é, aliás, um fenômeno mundial. Infelizmente as autoridades brasileiras não fizeram nada para diminuir a vulnerabilidade dos impactos das mudanças climáticas. Agora, com o déficit hídrico, o governo teve que aumentar o consumo de petróleo e de gás para a geração de energia com as usinas térmicas. Isso eleva o risco de racionamento neste ano. A escassez de chuvas também causou falta d’água em vários municípios do país. Em Minas, a ausência de chuva impediu o crescimento dos grãos de café, elevando o valor da saca. O preço do leite subiu em pleno período chuvoso, pois falta pastagem.
“É pouco provável que ocorram chuvas significativas entre abril e outubro”
Em novembro, as frentes frias chegaram com rigor a Minas. A precipitação observada ficou próxima do esperado para o mês. Na segunda metade de dezembro, uma frente fria estacionou na Região Norte. O resultado foi a ocorrência de fortes chuvas em alguns municípios da região, do Médio Jequitinhonha e do Baixo Rio Doce. Em Capelinha, a precipitação apurada em dezembro foi superior à ocorrida entre janeiro e novembro. Normalmente dezembro é o mês chuvoso nas regiões Central, Sul, Zona da Mata e no Triângulo. Mas, em 2013, as chuvas ficaram entre 30% e 50% aquém do esperado para o mês nesses locais.
Uma massa de ar quente dificultou a ocorrência das ‘chuvas de verão’ entre janeiro e março. Essa formação também causou o bloqueio de frentes frias no estado. O cenário reflete a 22 | www.voxobjetiva.com.br
É pouco provável que ocorram chuvas significativas entre abril e outubro. A possibilidade de racionamento existe. E caso aconteça, os impactos na economia serão altos: da queda da produtividade agrícola e das exportações à diminuição da oferta de emprego e o aumento dos preços. Por isso, é fundamental que o governo ‘corra contra o tempo’. Mas, sobretudo, que invista em pesquisas climáticas.
Ruibran dos Reis Diretor Regional do Climatempo e professor da PUC Minas ruibrandosreis@gmail.com
vanguarda
Há futuro para o facebook? Pesquisadores comparam a rede social mais popular do mundo a uma epidemia prestes a ser ‘controlada’. Especialistas e usuários debatem o assunto Daniela Rebello
É difícil imaginar que uma noite de festa na Universidade de Harvard poderia se transformar no começo de uma das maiores ideias da internet. Foi em meio à informalidade que surgiu o primeiro embrião da rede social mais popular do mundo. No dia 28 de outubro de 2003, Mark Zuckerberg e três amigos criaram um software para o site facemash. Por meio do programa, as fotos tiradas dos anuários de alunos de Harvard eram compiladas e posicionadas lado a lado. Assim, os estudantes poderiam escolher qual das duas pessoas era a mais atraente. O site foi rapidamente fechado por executivos de Harvard, alguns dias depois de sua criação. Quatro meses se passaram e Zuckerberg criou o the facebook. O novo site se baseava nas mesmas ideias do facemash. No ano seguinte, a rede social perdeu o
‘the’ e o nome mudou para facebook.com. A nova identidade veio acompanhada de uma rápida expansão da rede social. O crescimento foi suficiente para tornar o acesso ao site público para maiores de 13 anos, deixando de ser exclusivo para os universitários de Harvard. A guinada do site fez o facebook se tornar uma poderosa rede de comunicação entre jovens. Esses usuários criam um perfil pessoal, compartilham fotos e conversam entre si. A proposta do site vai muito além de uma simples ‘avaliação de pessoas’. O sucesso da proposta de Zuckerberg se reflete no número de usuários da rede em todo o mundo: mais de 1,19 bilhão de pessoas. O Brasil aparece como o terceiro país com maior quantidade de adeptos: mais de 76 milhões. | 23
vanguarda
A avassaladora popularidade do facebook tão logo fez surgir especulações sobre seu futuro. Seria a rede social somente uma moda fadada ao esquecimento? Ou seria possível transformar a criação de Zuckerberg em algo totalmente incorporado ao dia a dia dos usuários, assim como se tornou o buscador Google?
Brian Solis
Dois doutorandos do Departamento de Engenharia Mecânica e Aeroespacial da Universidade de Princeton, em Nova Jérsei, nos Estados Unidos, resolveram investigar o destino da rede social mais popular do mundo. Por meio de um artigo publicado em janeiro, John Cannarella e Joshua Spechler projetaram uma redução acentuada no número de usuários da ferramenta. De acordo com os pesquisadores, a rede atingiu seu pico de público em 2012. Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores fazem uma analogia entre epidemia e cognição para justificar a queda na adesão ao ‘face’. “Assim como acontece com as doenças, as ideias parecem se disseminar como infecções entre as pessoas, antes de acabar morrendo. Isso tem sido descrito com sucesso em modelos epidemiológicos”, argumentam. Segundo Cannarella e Spechler, as ideias são espalhadas por meio da comunicação entre diferentes pessoas que compartilham os mesmos ideais. Em determinado momento, as ideias então defendidas são deixadas de lado ou perdem o interesse. Nesse momento, as pessoas que compactuam com aquele pensamento ganham ‘imunidade’ em relação a ele. Raphael de Aguiar é médico epidemiologista e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O especialista define assim a epidemia: “é a ocorrência, em uma comunidade ou região, de casos de natureza semelhante, claramente excessivos em relação ao esperado”. Pesquisador do Núcleo de Educação em Saúde Coletiva da Faculdade de Medicina da UFMG, Aguiar ressalta que, para ser caracterizada como epidêmica, uma doença precisa ultrapassar os valores preestabelecidos para aquela enfermidade em determinado lugar e espaço. Em relação ao uso do termo epidemia aplicado às redes sociais, o professor não vê nenhuma incorreção. Segundo o docente, do ponto de vista metafórico e cultural, a expressão pode ser usada corretamente para exemplificar diversas situações. Afinal, são as pessoas que atribuem significado às palavras, ressalta o médico. “Uma rede social por si só não tem valor. Nenhuma pessoa faria um perfil numa rede na qual não encontrasse seus amigos, a não ser que ela espere levá-los até lá. Sendo assim, o sucesso de uma rede 24 | www.voxobjetiva.com.br
social – e não só do facebook – realmente deriva do seu potencial de ‘contágio’”, considera Aguiar. Para proceder à análise, os cientistas da Universidade de Princeton aplicaram o modelo de compartilhamento SIR – utilizado na representação de doenças infecciosas. Os doutorandos se basearam em dados públicos de buscas feitas no Google para traçar os prognósticos da pesquisa. Por meio desse método, Cannarella e Spechler concluíram que o facebook vai perder 80% de seus usuários entre 2015 e 2017. Um dia após a divulgação da pesquisa, especialistas em análise de dados do facebook ironizaram os doutorandos e publicaram um relatório usando os mesmos métodos aplicados pelos cientistas. “Princeton terá só a metade de suas matrículas atuais em 2018 e, em 2021, não terá mais alunos”, alfinetaram. E o sarcasmo foi além. “Estamos preocupados com a Universidade de Princeton e ainda mais incomodados com o destino do planeta. As pesquisas do termo ‘ar’ no Google também caíram de forma contínua. Nossas projeções mostram que, para o ano de 2060, não haverá mais ar”, zombaram. Apesar da ironia, o jornalista e professor Evaldo Fonseca Magalhães acredita que a equipe do facebook esteja
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Mark Zuckerberg: fundador da mais poderosa rede social do mundo, o facebook
um fenômeno recente. Mesmo assim, o professor se arrisca ao projetar que a lei da potência deve reger o facebook pelos próximos anos. Se a análise feita pelos cientistas da Universidade de Princeton pode ser questionada, as oscilações de popularidade nas redes sociais não devem ser ignoradas. E o orkut é um belo exemplo disso. Criado em 24 de janeiro de 2004, o site de relacionamentos tão logo se tornou a rede social mais popular do país. Foi no Brasil, inclusive, que o orkut registrou o seu recorde de usuários: 30 milhões. Tanta popularidade fez o Google transferir a sede do site da Califórnia para o Brasil. Porém, com a chegada do facebook, grande parte dos usuários do orkut migraram de ferramenta. A consequência? O site de relacionamentos do Google perdeu o posto de ‘a rede social dos brasileiros’ em 2012.
ciente de uma possível redução do número de usuários na rede. Segundo o mestre em Ciência da Informação pela UFMG, os executivos da rede social deram provas de atenção à popularização de outros aplicativos. Em 2012, o facebook comprou o instagram por US$ 1 bilhão. Neste ano, foi a vez da empresa de Zuckerberg adquirir o whatsApp por US$ 16 bilhões. O aplicativo de celular registra mais de 330 milhões de pessoas conectadas diariamente.
O dinamismo das redes sociais pode ser entendido por meio de dois fenômenos explicados por Magalhães. Segundo o professor, uma rede social pode se propagar na internet por meio do fenômeno de ápice, ao ser apresentada ou divulgada. Esse fenômeno pode acompanhar um retrocesso, como uma curva gaussiana ou de sino. Ao prever o tempo de duração do facebook, Cannarella e Spechler se basearam nesses fenômenos. Mas os doutorandos não previram a possibilidade de o crescimento da rede seguir a lei da potência. Por meio dela, a disseminação de dados na rede atinge um ponto de mutação contínua e crescente – sem indício de declínio. Embora haja ferramentas para análise das redes sociais, Magalhães garante não ser simples diagnosticar o futuro delas. Afinal, os sites de compartilhamento são
Esse fato dá margem para novos questionamentos. O destino do facebook não poderia ser o mesmo? Os diálogos, sobretudo dos mais jovens, dão indícios de que sim. A estudante Maria Clara Navarro, de 18 anos, acredita que existam aplicativos mais fáceis e rápidos para se comunicar com os amigos, como o whatsApp. A mesma lógica vale para as fotografias. “Quase ninguém costuma postar fotos no facebook com o mesmo costume de antes. E nem tem motivo. Existe um aplicativo apenas para isso: o instagram”, lembra Maria Clara. A estudante confessa entrar no facebook apenas para ver eventos e publicações de amigos. Segundo a jovem, o excesso de informações na timeline e de publicidade na tela prejudicam a visualização da página. As demandas do público jovem se tornaram o grande desafio para os desenvolvedores de redes sociais e de aplicativos. ‘Antenadas’, as novas gerações buscam cada vez mais rapidez, praticidade e agilidade. Se, por um lado, a juventude já diminui a usabilidade das redes sociais para adotar os aplicativos para smartphones, por outro, o facebook tem ganhado um novo perfil. A rede tem se tornado mais receptiva às demais idades. Esse fator abre espaço para os pais, tios e avós dos jovens usuários do ‘face’. Justamente por buscar ferramentas ‘únicas’, parte da nova geração retorna às antigas redes sociais, como o orkut. O site teve 6 milhões de acessos no Brasil, em 2013, conforme a consultoria comScore. Alguns deles foram feitos pelos jovens Murilo Lamas e Cesar Viegas. Ambos participam de fóruns e de comunidades no site | 25
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de relacionamentos do Google e mantêm contato com amigos ainda presentes na rede. Viegas aprova a forma de organização do orkut, que privilegia o debate saudável, propicia opiniões divergentes e deixa o usuário menos exposto que no facebook. Segundo ele, na rede de Zuckerberg, as pessoas são intolerantes com suas opiniões e utilizam a rede para atingir e criticar outros usuários. Por isso, Viegas continua a acessar o bom e velho orkut. Os usuários que permanecem a maior parte do tempo no facebook justificam a escolha pela rede por causa da compilação de ferramentas. Juntos, esses recursos oferecem uma praticidade sem igual. Na rede social mais popular do mundo, é possível pos-
tar fotos, conversar e navegar ao mesmo tempo. Com o ‘face’, trabalhos, eventos e notícias também podem ser divulgados com celeridade e poucos cliques. O facebook aposta nessa multifuncionalidade para conquistar mais usuários. Cerca de 4,4 bilhões de pessoas ainda não têm acesso à internet. Logo, elas estão afastadas das redes sociais. Pensando nisso, a empresa firma parcerias com fabricantes de celulares, como a Samsung. O empreendimento de Zuckerberg não busca apenas evitar que o ‘face’ se torne uma ‘febre’. O facebook deseja ‘contagiar’ esse ‘novo mundo’ com compartilhamentos e curtidas, ampliando o acesso para além de um simples ponto de internet. Cannarella e Spechler, provavelmente, não pensaram nisso.
As queridinhas dos internautas Pesquisa feita pela Experian Marketing Services mostra as redes sociais mais visitadas pelos brasileiros. O facebook domina a porcentagem de visitas apurada no mês de outubro do ano passado
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artigo
Maria Angélica Falci
Psicologia
Redes afetivas A modernidade trouxe consigo uma ferramenta poderosa: as redes sociais na internet. Essa eloquente descoberta serve tanto para construir, aproximar e orientar, quanto para destruir, caso seja mal utilizada. Por meio das redes sociais, bons contatos podem ser estabelecidos, e a solidão, aliviada. As redes ainda dão aos seus usuários o prazer de reencontrar amigos da infância ou de conhecer pessoas de outras culturas e indivíduos que as façam pensar sobre si. Essas redes têm ajudado, inclusive, pessoas deprimidas, retraídas e com fobias sociais a se soltar e a encarar novas possibilidades de viver.
Essas redes escondem, a princípio, o caráter e a real situação de muitos indivíduos que aparentam normalidade. A carência, a sensação de rejeição e a grande insegurança de algumas pessoas podem produzir situações violentas e risco à vida dos envolvidos. Pessoas assim apresentam dificuldades de perceber o desajuste do outro.
“O universo virtual carrega diversas ciladas. Mergulhar num mundo de fantasias pode ser uma delas”
De fato, sobram casos positivos de uso das redes sociais. Inúmeras pessoas constituíram famílias por meio desse instrumento. Outras mudaram de país e estabeleceram novos contatos pela rede. Até casais frios e distantes se reaproximaram com ajuda das mensagens e de postagens afetuosas trocadas pela internet.
Como se vê, cada pessoa tem os seus motivos ao utilizar as redes sociais. Esse uso varia de acordo com a estrutura emocional, demanda e pontuações individuais. Mas o que não se altera é o crescente uso da ferramenta, simultaneamente ao aumento da violência. Sabe-se que o universo virtual carrega diversas ciladas. Mergulhar num mundo de fantasias pode ser uma delas, sobretudo se esse universo se distanciar muito da realidade do indivíduo. Quando isso ocorre, o sujeito começa a lançar mentiras de toda ordem. Pessoas com transtornos mentais e emocionais fazem de tudo para ser aceitas e valorizadas. É aí que mora o perigo!
Sempre ouço perguntas do tipo: “Como alguns casais lidam tão bem com sua vida real e virtual, sem entrar em conflitos?” ou “Por que alguns vivem em guerra constante?”.
É preciso avaliar a saúde emocional da relação. Ela geralmente é sinalizada a partir do início de um convívio. É essencial entender o valor que rege essa relação e a estrutura emocional dos envolvidos. Se a relação se norteia pela confiança e pelo respeito, são grandes as chances de o casal continuar unido, mesmo com alguns deslizes. Caso a relação seja pautada por desconfiança, insegurança e desvalorização, as consequências serão inúmeras. Começam pelo ciúme e pela obsessão patológica - aquele sentimento de posse que leva a pessoa querer vigiar constantemente o outro. Isso faz com que ela adoeça e viva sempre em alerta. Pessoas assim tentam manter uma relação falida. Avalie sua vida! Evite conflitos que não lhes deixem em paz.
Maria Angélica Falci Psicóloga clínica e especialista em Saúde Mental angelfalci@hotmail.com | 27
Salutaris
Está no sangue e no DNA Doença genética faz 300 mil brasileiros conviverem com altas taxas de colesterol ruim desde a infância Cassio Teles
Um ataque cardíaco no pai da secretária Sônia Maria Cardoso deixou a família inteira em alerta. O diagnóstico: uma artéria obstruída por placas de gordura. Para salvar esse homem de 50 anos, os médicos adotaram um recurso muito comum nos pronto-atendimentos: a implantação da ponte de safena. Desde então, o pai de Sônia tem cinco atalhos para o sangue no coração. Passados alguns anos daquele infarto, a irmã da secretária também foi acometida pela doença. Uma técnica menos invasiva de desobstrução de artérias, a angioplastia, foi suficiente para salvá-la. Para evitar o pior, os dois irmãos de Sônia Maria tentam controlar o nível de colesterol com medicamentos. Ela fazia o mesmo. Mas ao interromper o tratamento por um ano, após indicação médica, a secretária sofreu um infarto no trabalho. “Senti uma dor aguda no peito. Meu braço esquerdo adormeceu e minha visão escureceu. Fui para a emergência e fiquei em observação. Logo depois, fiz o exame que apontou o colesterol em torno de 400 miligramas por decilitro (mg/dl). Eu vi a morte na minha frente”, confessa. 28 | www.voxobjetiva.com.br
Desde os 25 anos, a secretária tomava remédios para controlar os níveis de lipoproteína de baixa densidade (em inglês, LDL) no sangue. Hoje, aos 55, Sônia leva uma vida estável. Ela caminha cerca de 40 minutos por dia e tem uma alimentação saudável. “Lá em casa, todos têm medo de que o infarto acometa outro membro da família”, admite. Assim como o pai e os irmãos, Sônia é portadora de hipercolesterolemia familiar: doença genética, com 50% de probabilidade de afetar descendentes. Isso significa que metade dos parentes de primeiro grau de um portador da doença terá a mutação no DNA. O defeito provoca falhas no sistema de limpeza das artérias. Essa deficiência faz aumentar o colesterol ruim, o LDL – estopim para a aterosclerose. A produção do colesterol endógeno sintetizado, aquele feito fora do fígado, excede os níveis necessários para o organismo. E só a dieta não é suficiente para conter o acúmulo do LDL no sangue. Por isso, o presidente do Departamento de Aterosclerose da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), José Rocha Faria Neto, faz um alerta: “Pessoas com hipercoles-
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problema está quando os receptores de LDL vêm com defeito. O mau funcionamento compromete a remoção da lipoproteína e aumenta os níveis de colesterol à medida que os receptores diminuem. De acordo com estimativas da SBC a hipercolesterolemia familiar é responsável por 5% a 10% dos ataques cardíacos em pessoas abaixo dos 50 anos. Acredita-se que haja em todo o mundo mais de 10 milhões de indivíduos com a doença. No Brasil, esse número fica entre 250 mil e 300 mil portadores. Mas a doença é subnotificada. Menos de 10% dos casos são diagnosticados corretamente. Os ataques cardíacos são responsáveis por 30% das mortes no mundo. Por isso, lideram como a primeira causa de óbito. No Brasil, os problemas cardíacos também são os principais causadores de morte. Em 32% dos casos – cerca de 350 mil pessoas –, a pessoa vai a óbito. De acordo com a SBC, dois terços desse total morrem por infarto ou por AVC todos os anos. Uma vez diagnosticada a doença, é preciso empreender algumas mudanças no estilo de vida e administrar o uso de remédios que diminuam os lipídios desde a puberdade. Afinal, o acúmulo do LDL começa já na infância. “O tratamento é feito por meio de atividade física, dieta e medicamentos, especialmente as estatinas, usadas para reduzir as taxas de colesterol no sangue”, explica Rocha Neto. terolemia familiar têm níveis significativamente elevados de LDL. Esse colesterol ruim está diretamente ligado ao risco de doenças cardiovasculares”. Níveis de LDL acima de 190 mg/dl em adultos e de 160 mg/dl em crianças e adolescentes sugerem um forte componente genético, como esclarece o especialista. Parentes de primeiro grau com colesterol alto e um histórico familiar de doença cardiovascular também indicam um possível fator genético. Os casos que decorrem desse fator hereditário são especialmente o infarto e o Acidente Vascular Cerebral (AVC) antes dos 65 anos em mulheres e dos 55 anos nos homens.
Novas drogas foram criadas para tratar a forma mais grave e mais rara da doença: a hipercolesterolemia familiar homozigótica, conforme lembra o cardiologista. Mas esses medicamentos ainda não foram liberados no Brasil. Uma alternativa de tratamento para os portadores dessa cardiopatia é um tipo de ‘diálise’: a LDL-aférese. Restrita a pouquíssimos centros, a terapia retira apenas o colesterol do sangue. A forma homozigótica da doença ocorre quando um indivíduo herda um gene com defeito do pai e da mãe, e não de apenas um deles. Embora seja bastante rara, com prevalência de um em cada 1 milhão, seus portadores podem sofrer infarto antes de chegarem à vida adulta.
A SBC define a hipercolesterolemia familiar como uma mutação no gene que capta o LDL plasmático presente na superfície das células hepáticas e de outros órgãos. Esse receptor absorve o LDL por meio da membrana celular em um processo chamado endocitose. Nesse percurso, a lipoproteína é destruída nos lisossomos, responsáveis pela digestão intracelular. E o colesterol segue livre pela corrente sanguínea. O
No Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (Incor/USP), a cada mil pacientes com colesterol alto, 600 apresentam fatores genéticos. “Pessoas com colesterol acima de 200 mg/ dl e histórico de enfarto na família devem fazer o mapeamento genético para ver se existe a mutação. Uma vez detectada, todos os membros da família são chamados para o mapeamento em cascata. O diagnósti| 29
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Medicina nos programas de pós-graduação em Ciência e Saúde pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR). O cardiologista chama a atenção para outra alteração perceptível no exame clínico desses pacientes: a presença do ‘arco corneano’. Geralmente bilateral, essa lesão é marcada pelo tom branco-acinzentado e opaco da periferia da córnea. Segundo Ana Maria, é possível minimizar esse arco com medicamentos. Mas, em vários casos, é preciso fazer uma intervenção cirúrgica.
co só identifica a mutação em 50% a 60% dos casos. A imprecisão no diagnóstico se deve à existência de mais de 1,6 mil mutações do mesmo gene”, aclara Ana Maria Chacra, pesquisadora da hipercolesterolemia familiar homozigótica.
Para chegar ao diagnóstico, os pesquisadores excluem fatores, como problemas na tireoide, hipertensão e tabagismo. Observa-se, porém, o histórico familiar de eventos cardíacos precoces – aqueles acometidos antes dos 50 anos – e se os pais são primos. Essa ocorrência faz aumentar a chance de os filhos nascerem portadores da doença na forma homozigótica, segundo afirma Ana Maria. A forma é mais frequente em famílias de cidades pequenas, com poucos habitantes. “Em casos familiares de entupimento da coronária, todos os filhos, a partir de 2 anos de idade, devem ser monitorados. O ideal é que o tratamento reduza para 100 mg/dl o nível do LDL. Mas o que conseguimos com os medicamentos disponíveis no mercado é diminuir o nível em 50%, minimizando o risco de infarto”, ressalta a cardiologista. O nome da formação dessas placas que entopem os vasos sanguíneos é aterosclerose. A doença é silenciosa, mas costuma formar caroços de lipídios calcificados nos tendões de Aquiles, quando os níveis de colesterol atingem 500 mg/dl. Esses caroços levam o nome de xantomas ou de xantolasmas, caso surjam nas pálpebras. “Os xantomas são tumores benignos, ocasionados por acúmulo de colesterol e triglicérides na pele. Já os xantolasmas de pálpebras são manchas amareladas, em especial na região mais próxima do nariz”, esmiúça Rocha Neto, também professor de 30 | www.voxobjetiva.com.br
Confiante no tratamento e no cardiologista, a cada três meses a secretária faz exames para medir o nível do colesterol. No dia em que Sônia Maria nos contou sua história, a filha mais velha, de 22 anos, foi ao médico pedir o exame de colesterol pela primeira vez. Esse cuidado parece ter se perpetuado na família por gerações.
Cassio Teles
Segundo José Rocha Faria Neto, a ocorrência de colesterol alto em parentes de primeiro grau pode ser um indício para a hipercolesterolemia
Atenta a esses sinais da doença e aos fatores de risco, Sônia Maria entrou para um grupo de combate ao tabagismo. Ela largou o cigarro por acreditar nos malefícios causados pelo vício, sobretudo ao seu colesterol. Desde então, Sônia passou a se sentir melhor e viu o colesterol se estabilizar dentro dos níveis aceitáveis para portadores da doença: 190 mg/dl. “Meu pai era fumante. Eu também era, mas já estou há 40 dias sem fumar. Hoje me sinto outra pessoa”, comenta.
Portadora da hipercolesterolemia familiar, Sônia Maria largou o cigarro e adotou uma vida saudável para controlar a doença genética
Salutaris
Entre gerações A hipercolesterolemia familiar pode acometer uns e outros não. Cada pessoa carrega um par de genes. Alguns recebem dos pais o gene da doença e outros carregam no cromossoma apenas os genes normais deles, como se pode ver a seguir:
72 anos
68 anos
Fonte: Sociedade Portuguesa de Cardiologia (SPC)
1
50 anos
52 anos
2 Coração infartado Gene com mutação Gene sem mutação Coração saudável
21 anos
25 anos
3
1 Eis um casal: o homem tem o gene da hipercolesterolemia familiar, e a mulher não. Eles têm um filho que recebe o gene do pai.
2 O filho desse casal manteve um relacionamento com uma pessoa saudável. Eles tiveram dois filhos.
3 No cruzamento genético, o filho do segundo casal recebeu os genes saudáveis, enquanto que à mulher coube o gene mutante. Ela corre maior risco de infarto.
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receita
Rafael Tavares
Almôndegas exóticas
Chef Ilmar Antonio de Jesus - Casa Cheia (Mercado Central e Savassi)
Receita vencedora do concurso da edição 2008 do ‘Comida di Buteco’
rENDIMENTO
aCOMPANHAMENTO
Aproximadamente 45 almôndegas
Pão italiano fatiado ou Ciabatta com cerveja gelada.
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receita
Ingredientes Para as almôndegas
Para o creme de abóbora com manjericão
1 kg de carne de sol moída
1 kg de abóbora
150 g de linguiça semidefumada
1/2 pimentão vermelho picado
150 g de pernil defumado
1 cebola picada em cubos
2 ovos
1 talo de aipo picado em cubos
250 g de farinha de rosca
1/2 alho-porro picadinho 1/2 maço de manjericão
8 dentes de alho triturados
150 ml de vinho branco seco
1 colher de chá de noz-moscada
1 colher de chá de noz-moscada
1 colher de chá de pimenta árabe
Pimenta-do-reino a gosto
150 g de queijo minas ralado grosso
Azeite e sal a gosto
Óleo de soja
modo de preparo Para as almôndegas Misture a carne com a linguiça e o pernil até homogeneizar. Em seguida, coloque os ovos, o alho, a noz-moscada e a pimenta árabe. Misture os ingredientes novamente até homogeneizar. Depois, enrole as almôndegas e recheia-as com queijo. Empane as almôndegas na farinha de rosca e frite-as em óleo quente até ficarem crocantes.
Dê preferência às cervejas de trigo
Para o creme de abóbora com manjericão
O malte das cervejas de trigo ajuda a realçar o doce da abóbora e a tornar mais aprazíveis os temperos e os sabores salgados da almôndega Shutterstock
Descasque a abóbora e pique em pedaços. Em uma panela, coloque o azeite, o pimentão, a cebola, o aipo e o alho-porro. Deixe cozinhar por alguns minutos. Depois, acrescente a noz-moscada e a pimenta-do-reino. Com tudo cozido, acrescente o vinho e deixe reduzir. Na sequência, venha com a abóbora picada e com alguns galhos de manjericão. Depois de cozida a abóbora, bata tudo no liquidificador e acrescente algumas folhas de manjericão. Tempere com sal, se necessário.
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femme
Coisas de madame Karina Novy
Longos e volumosos O outono chegou e, com a nova estação, vieram as novidades no mercado beauty. A Revlon trouxe a máscara ‘Lash Potion’ com um aplicador de cerdas largas e triplas. O produto é ideal para pentear e alongar os cílios, dando volume aos fios. A máscara para cílios ‘All in One’, da ArtDeco, é outro destaque. À prova d’água e livre de fragrância, o produto traz um pincel com dois aplicadores: um para as áreas de maior intensidade e outro para as de menor intensidade. Assim os fios ficam curvados, longos, separados e volumosos. A fórmula é ideal para quem usa lentes de contato. A marca também promete fortalecer os cílios de dentro para fora com o ‘Lash Growth Activator: Night Repair Balm’. Se aplicado todas as noites, o produto pode até dobrar o crescimento dos fios em um mês.
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Suave expressão Os cuidados com a face fizeram a bareMinerals lançar no Brasil o ‘Allure’s Best of Beauty Awards’: um corretivo cremoso fator 20, disponível em seis cores. A fórmula com extrato de casca de limão protege a pele dos raios solares e ajuda a suavizar as manchas com o uso contínuo. O produto disfarça olheiras, acnes e a vermelhidão sem se acumular nas linhas de expressão. Para atenuar a pele cansada, a opção da bare é o kit ‘Well-Rested Trio’ com dois corretivos iluminadores e um pincel com cerdas sintéticas de textura suave. O corretivo para os olhos fator 20 encobre as imperfeições da pele, enquanto o iluminador facial e dos olhos dá aparência fresca e radiante a essas áreas. As duas fórmulas são totalmente livres de minerais.
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Lábios vivazes Pimenta na boca das outras é refresco? O ‘Hot Chili Lip Booster’, da ArtDeco, mostra que é saúde e beleza. O gloss, com extrato de pimenta vermelha, estimula a microcirculação, deixando os lábios levemente rosados, brilhantes e volumosos. O produto também conta com pequenas partículas de glitter que refletem a luz.
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O ‘Super Lustrous Lipgloss’, da Revlon, é outro produto a combater a irritação labial comum nesta estação. Enquanto o complexo LiquiShine reforça o brilho, a nova fórmula com óleo de abacate e vitamina E deixa os lábios com mais volume e hidratação, sem aparência pegajosa. O produto vem com oito opções de cores.
artigo
Kênio Pereira
Imobiliário
A pressão injusta do expropriante A desapropriação é quando o Poder Público exclui a propriedade de uma pessoa e a toma para si. O procedimento acontece em razão de uma necessidade, utilidade pública ou do interesse social. No caso de imóveis urbanos, a Constituição Federal prevê que a pessoa desapropriada receba uma indenização prévia, justa e em dinheiro.
O proprietário pode até desconhecer a complexa lei de desapropriação. Mas isso não justifica acuá-lo e colocá-lo para fora de sua casa, deixando-o sem receber quase nada. O valor a ser pago pelo imóvel deve ser o de mercado. Caso o dono não aceite o valor ofertado, deve ser paga a ele a avaliação descrita na guia do Imposto Predial Territorial Urbano (IPTU). Se, mesmo assim, o proprietário não concordar, o valor pode ser redefinido na Justiça. Aí o processo vai para a fila dos precatórios.
Mas, na prática, o Poder Público pressiona o dono do imóvel a entregar a propriedade e a aceitar o valor ofertado pela indenização. O agente expropriante intimida e constrange as pessoas. Ele mente ao alegar que vai pagar pelo imóvel o “O Poder Público valor de mercado. E faz isso para que o proprietário não consulte previamente pressiona o dono do um advogado, que poderia lhe garantir a justa indenização em dinheiro. imóvel a entregar a
Ao ajuizar a ação de desapropriação, o Poder Público anda depositando um valor inferior ao de mercado. Por sua vez, o juiz não intima o proprietário para apurar o real valor do imóvel durante a realização da perícia prévia. Pelo contrário. O magistrado determina que o expropriado faça o levantamento de 80% do valor depositado e que se proceda a desocupação imediata do imóvel.
Lamentavelmente as pessoas são ingêpropriedade e a aceitar nuas. Por isso, elas se deixam pressionar e podem ser ludibriadas pelo Poder Púo valor ofertado para a blico. Geralmente o agente expropriante paga um terço do preço de mercado pela indenização“ desapropriação. De modo geral, o Poder Assim, o proprietário só fica sabenPúblico age com malícia e com o intuito do que o valor depositado é inferior de levar vantagem e lesar o dono do imóao de mercado após ser citado pelo vel. Com isso, o dono deixa de agir e passa a acreditar que vai juiz. Os representantes do Poder Público, que antes persuser ajudado por um ‘ser do outro mundo’. adiram o proprietário a não tomar providências prévias, normalmente desaparecem depois de desapropriá-lo. TalNos casos de desapropriação de imóveis urbanos ou rurais, vez isso se justifique pela lógica de caber a cada um cuidar o proprietário deve resguardar seus direitos e tomar as provido próprio interesse. dências cabíveis com urgência, tão logo saiba da desapropriação. Alguns advogados especialistas em direito imobiliário sabem como obrigar o Poder Público a pagar previamente o valor de mercado do imóvel. Mas é preciso agir com antecipaKênio Pereira Presidente da Comissão de Direito Imobiliário da OAB-MG ção e não depois que o agente expropriante entra com o prokeniopereira@caixaimobiliaria.com.br cesso judicial. | 35
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Acima das cinco estrelas Em meia década de parceria com o Cruzeiro, vôlei do Sada conquista o mundo e marca o nome da equipe na história do esporte no Brasil Thalvanes Guimarães Fotos de Renato Araújo
Minas Gerais é assim: um mar de morros e montanhas a desenhar sinuosas paisagens; um lugar de culinária inigualável, capaz de arrebatar até os paladares mais exigentes. E esses apreciadores da boa cozinha garantem: quem a conhece não esquece jamais. Ainda mais quando essas iguarias são somadas à hospitalidade de ‘seus filhos’ - uma herança difícil de explicar. A terra do pão de queijo e do trem suscita esses e tantos outros atributos, como o reconhecido título de lar do voleibol nacional. A maior parte dos principais jogadores de vôlei do país atuou em Minas. E esse estado fez e faz história no esporte. Por aqui, o calor da torcida parece acariciar a equipe da casa e pressionar os forasteiros. Aliás, esse é um raro momento em que se dissipa a lógica de que o mineiro é ser um hospitaleiro. 36 | www.voxobjetiva.com.br
Fica fácil entender por que Minas é uma referência no voleibol, quando se sabe que o Mineirinho detém os dois maiores públicos da história do esporte em jogos internacionais disputados em quadras cobertas. Em 1994, as meninas comandadas por Bernardinho venceram a China por três sets a zero para delírio de 26,5 mil torcedores. Um ano depois, a seleção masculina perdeu em Minas a final da Liga Mundial para a Itália. O jogo vencido no tie-break foi visto por quase 27 mil espectadores. O recorde de público da Superliga também é do ginásio mineiro: 24.082 torcedores assistiram ao Minas derrotar o Banespa por três sets a dois e conquistar o último título nacional do clube, em 2002.
A tradição mineira no vôlei é minas-tenista. O Minas Tênis Clube foi nove vezes campeão brasileiro e bicampeão sul-americano. Mas, nos últimos anos,
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a soberania da equipe foi fortemente ameaçada pela participação do Grupo Sada nesse esporte. O conglomerado mineiro de empresas dos setores editorial, industrial, de transporte e logística e de concessionárias vem investindo pesado no vôlei desde 2006. O Sada Betim, como era chamado, contava com o apoio da prefeitura local. Mas não demorou muito para o grupo empresarial gerir toda a administração da equipe. Logo em 2008, a holding criou a Associação Social e Esportiva Sada. A entidade incrementou o trabalho de formação de base do clube, ao adicionar as categorias juvenil e infantojuvenil masculinas. Na mesma época, o grupo iniciou vários projetos sociais voltados para a prática do voleibol.
Mas só um ano depois, o jovem time viria a fazer uma parceria que definiria um novo rumo para a sua história. A junção com o Cruzeiro Esporte Clube fez mais do que levar o centro de treinamento do clube para a sede celeste, no Barro Preto, Região Central de Belo Horizonte. A parceria rendeu recordes e o apoio de mais de 8,5 milhões de torcedores azuis. Desde o início da sociedade, foram 12 títulos ganhos, com destaque para os dois sul-americanos, uma Superliga e um Mundial de Clubes. Ano passado, o esquadrão consagrou-se como o primeiro e único time brasileiro a conquistar o título mundial. O último e recente bicampeonato sul-americano vai permitir ao clube disputar, pela terceira vez seguida, a principal competição do esporte. A empolgação do presidente do clube, Vittorio Medioli, está em cada palavra sobre o projeto vitorioso. O empresário faz questão de lembrar que a Sada é responsável por toda a gestão do time, sendo também o principal patrocinador. “Essa parceria de sucesso sem precedentes nos deixa muito satisfeitos. A torcida, que nos acompanha em todos os lugares, eleva nossa responsabilidade para que sejamos ainda mais vitoriosos”, acredita o dirigente. Os bons resultados não são um golpe de sorte. Por trás de cada vitória há sinais de uma administração que visou o sucesso em médio e longo prazos e que hoje desfruta das conquistas antes mesmo do planejado. “Temos um orçamento intermediário, se comparado ao das equipes da Superliga. Conseguimos fazer muito com pouco. O sucesso passa também pela estabilidade do projeto e pela manutenção de uma base que segue ano a ano”, explica Medioli. Nem os mais otimistas poderiam imaginar que o apelo midiático da parceria com o Cruzeiro fizesse as coi-
“Tenho a característica de estar sempre vibrando, chamando a equipe e entendo que essa é uma marca de todo o grupo”, confessa Serginho
sas engrenarem rapidamente. Afinal, outras equipes brasileiras formavam times galáticos, com receitas milionárias e atletas titulares da seleção brasileira. Mas o trabalho aprimorado a cada temporada fez desse grupo de jogadores uma referência nacional. E assim as conquistas vieram naturalmente. Atletas, como o oposto Wallace, o líbero Serginho, o ponteiro Filipe, o levantador Willian e o meia de rede Douglas Cordeiro, fazem parte da base dessa equipe. Eles estão no Sada Cruzeiro desde o início da parceria. Desde então, colecionam títulos e destaques individuais. Agora nomes, como o do ponteiro cubano Leal e o central Éder, ambos jogadores de seleção, somam-se aos atletas do Sada. “Não gostamos de perder nem em par ou ímpar”, disseram Filipe e Serginho. A obsessão por vitórias está no espírito e na personalidade desse grupo. É fácil encontrar exemplos de equipes que chegam ao topo e se acomodam em esportes coletivos. Mas esse não é o caso do Sada Cruzeiro. | 37
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Quando os especialistas em vôlei pensam que o ciclo positivo está próximo do fim, a equipe mineira acaba se reinventando e repetindo a dose. Recentemente os comandados de Marcelo Mendez chegaram a estar perdendo a final do Sul-americano por dois sets a zero. Mas a esquadra celeste encontrou forças e seu melhor jogo para virar contra o UPCN da Argentina e se tornar bicampeã. “Nossa equipe é conhecida por ser um time de guerreiros. Estamos sempre tentando fazer o nosso melhor até o fim. Não desistimos nunca. Tenho a característica de estar sempre vibrando, chamando a equipe e entendo que essa é uma marca de todo o grupo”, salienta Filipe. Ao tentar resumir em palavras as razões de tantas vitórias, o ponteiro Filipe cita a afinidade, o compromisso entre os atletas e os enormes talentos individuais como pilares dessa equipe. E o jogador vai além: “Contamos com o imenso apoio vindo das arquibancadas e o ótimo trabalho do Marcelo Mendez. Tudo isso nos credencia a vencer qualquer partida”, completa. Outro símbolo do espírito de luta da equipe é Serginho. Em quadra, o cruzeirense está o tempo todo ligado na mais ‘alta tensão’ para mostrar eficiência na defesa. Tanta dedicação o fez ser escolhido como melhor líbero do Mundial de Clubes por dois anos consecutivos. “Mais difícil do que ser campeão é continuar no topo. Temos uma base vencedora que vem sendo mantida há quatro anos. Além disso, contratações pontuais foram realizadas. Somadas ao bom planejamento, elas nos tornaram um time muito mais forte”, avalia. Se em quadra o vôlei do Sada se tornou recordista, associando sua imagem ao Cruzeiro, a instituição também lucrou com isso. Milhares de torcedores compareceram aos ginásios para acompanhar os jogos do Sada, entoando os mesmos cânticos dos estádios. Associar a imagem do clube à de um time que acumula recordes no futebol foi uma jogada de mestre. 38 | www.voxobjetiva.com.br
Para dar uma ideia da disparidade de torcida do Sada Cruzeiro em relação à dos demais adversários, a página da equipe no facebook conta com mais de 200 mil curtidas. O segundo colocado, o RJ Vôlei, tem menos de 28 mil. Até a festa nos ginásios evidencia a diferença. A torcida canta, pula e reflete um comportamento mais efusivo do que normalmente apresenta o espectador dos jogos de vôlei. A parceria celeste trouxe um novo público para as quadras. O consultor de marketing e gestão esportiva Amir Somoggi afirma que o Cruzeiro é sábio ao explorar a marca dos gramados em favor das quadras. “No Brasil, há a monocultura do futebol. Alguns clubes até tentaram viabilizar projetos em esportes olímpicos. Mas acabam vendo isso como um gasto. O Cruzeiro investe pesado no futebol e empresta a sua marca para um time de vôlei. E, no final, o time celeste só tem ganhado com isso”, argumenta o gestor esportivo. A relação com o Cruzeiro é bastante sólida. Tanto é assim, que, após o Sada vencer o Mundial, a equipe deu uma volta olímpica no Mineirão antes do jogo entre o clube celeste e o Criciúma, válido pelo Campeonato Brasileiro do ano passado. O Cruzeiro também se adiantou ao garantir que o Sada tivesse a mesma identidade de marca da equipe de futebol. Segundo o diretor de marketing celeste, Marcone Barbosa, a tendência é que mais ações sejam realizadas em conjunto com o time de vôlei. “Já existe um acordo para a venda de produtos, e os dados sobre o consumo são muito bons. Para o Cruzeiro, o resultado da parceria foi espetacular. O time é quase imbatível e gera muita visibilidade em todo o Brasil, reforçando a nossa identidade vencedora. Com o vôlei, adquirimos outro nicho. As pessoas que não gostam de futebol ou que curtem o vôlei passaram a acompanhar o Cruzeiro por meio desse esporte”, comemora o gestor.
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O fenômeno Sada Cruzeiro Chegada do técnico Marcelo Mendez, capacitação do grupo e parceria com o clube celeste fizeram do Sada uma máquina de jogar voleibol
2009 Parceria com o Cruzeiro : Terceiro na Superliga e no Sul-americano
2012 A consagração: Um Mineiro, uma Superliga e um Sul-americano
2010 Conquista no exterior: Primeiro torneio internacional Irvine (EUA)
2013 O mundo é celeste: Primeiro brasileiro campeão do Mundial de Clubes
2011 Ano do 'quase'! Vi ce-campeão da Superliga de Vôlei
2014 Só o começo... Campeão da Copa do Brasil e do Sul-americano
Conquistas desde o começo da parceria
19 competições
15 finais
12 títulos
Fonte: Sada Cruzeiro
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Felipe Pereira
A linhagem da moda Diferentes gerações transformam negócios de moda em marcas familiares de sucesso Tati Barros
Tradição, exemplo, valores, identificação e parceria. O que mais é necessário para que um negócio familiar se consolide e prospere? Para cada clã, um indivíduo pode ser o alicerce de uma bem-sucedida relação profissional unida pelos inquebráveis laços familiares. Essa relação sustenta quase 90% dos negócios em todo o país, conforme informações do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). E para entender o mecanismo por trás dessas empresas, esta edição da Vox inicia a série ‘Negócios em Família’. As primeiras histórias da série têm a delicadeza e o faro peculiares aos empreendimentos femininos. E intuição é uma característica inerente às mulheres. De acordo com o Sebrae, 52% dos empresários com menos de três anos e meio de atividade são do sexo feminino. Mas as mulheres estão à frente de negócios com DNA próprio muito antes disso. No começo da década de 90, a artista plástica Maria Rita transformou um sonho em um negócio. A matriarca da 40 | www.voxobjetiva.com.br
Família Malloy, da Arte Sacra
família Malloy transformou a sua arte de adornar peças em bordados minuciosos e modelos autorais. Com a proposta de unir a arte e a moda de maneira inusitada e sofisticada, a artista consolidou, com muito esforço, a sua marca: a Arte Sacra. Após se firmar no competitivo mercado da moda, a empresária passou o comando do seu negócio para suas filhas. A grife é gerida pelas gêmeas Carolina – diretora comercial e de marketing – e Marcela – diretora de estilo. Outras duas filhas de Maria Rita comandam mais outras áreas da Arte Sacra. Renata é responsável pelo estilo e produção e Fernanda é diretora administrativa e financeira. Carolina considera o processo de sucessão na empresa como gradativo e natural. “Desde adolescentes, nós quatro acompanhávamos e ajudávamos a nossa mãe nos trabalhos mais simples. Passamos por todas as áreas da empresa. Foi como um grande estágio. Era uma oportunidade para conhecer o funcionamento geral da grife. À
kULTUR
medida que entrávamos na faculdade, assumíamos cargos de maior responsabilidade. E assim as funções foram redistribuídas”, explica a responsável pelo marketing da Arte Sacra. Mesmo delegando as funções da grife para a nova geração, Maria Rita continua no dia a dia da Arte Sacra. Essa presença é vista com bons olhos por Carolina. A jovem ressalta que essa é uma opção comum no caso de empresas familiares.
demanda, ela sentiu a necessidade de fundar a própria marca: a Vivaz. A intuição e o exemplo da mãe motivaram a relação das filhas, Camila e Isabela, com a moda. “Sempre a admiramos por trabalhar com muito prazer e amor, mesmo tendo uma vida tão corrida. De tanto acompanhar a rotina dela, acabamos nos deparando com a mesma paixão. Assim começamos a cursar a faculdade de moda e fomos trabalhar na Vivaz”, rememoram.
“São três mulheres que, de certa forma, têm estilos diferentes, mas com o mesmo DNA”
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As três comandam a grife, participando ativamente de todo o processo. “O mais enriquecedor do negócio em família é a visão de três E, ao que parece, o trabalho em gerações diferentes. Juntas, agregafamília é o segredo para as grifes mos valor ao estilo e ao comportade moda-festa mineira serem tão mento da nossa coleção. São três prestigiadas nos mercados nacional Isabela e Camila Faria, estilistas mulheres que, de certa forma, têm e internacional. Assim como a Arte estilos diferentes, mas com o mesmo Sacra, a Vivaz é comandada por taDNA”, avaliam Isabela e Camila. Para lentosas mulheres que dividem o sobrenome e a vocação para a moda. Em 2013, a empresa dar conta de tanto trabalho, as três contam com o auxícomemorou seus 15 anos com um emocionante desfile lio dos estilistas Danilo Araújo e Andreia Freitas. Essas na recém-inaugurada fábrica. Essa foi a oportunidade criativas mulheres também cuidam da administração da ideal para desvendar alguns dos ‘códigos’ da trajetória empresa e se responsabilizam pelas tomadas de decisão. dessa bem-sucedida grife familiar. Tamanha proximidade entre as essas três mulheres irEm um pequeno ateliê, a estilista Elisabeth Faria desen- mãs faz da convivência um desafio diário. Saber diferenvolvia peças sob medida. Ao perceber o crescimento da ciar o ambiente familiar e profissional sem gerar confli-
Camila, Elisabeth e Isabela Faria: estilistas da Vivaz, uma das mais conceituadas grifes de moda-festa de Minas Gerais | 41
tos e divergências é uma missão imposta a essa forma de negócio. Carolina Malloy acredita que seja impossível não levar o trabalho para fora da empresa. E isso é mais marcante quando se trata de um negócio dessa natureza. “É muito comum falar de assuntos familiares na hora do trabalho e vice-versa. Mas sempre tomamos cuidado para que isso não atrapalhe nenhuma das esferas”, ressalta.
Weber Pádua
kULTUR
Camila e Isabela Faria fazem coro à fala de Carolina. As irmãs garantem tomar um cuidado especial para não levar assuntos familiares para a Vivaz. “Almoçamos em casa todos os dias e evitamos falar sobre assuntos do nosso dia a dia de trabalho. Isso acontece até mesmo por termos um irmão que trabalha em área totalmente oposta à nossa. Às vezes, é inevitável, mas esse é um ponto ao qual estamos sempre atentas e tentando nos policiar”. O negócio familiar na moda é um fenômeno presente em todo o mundo. A grife Missoni é um dos exemplos mais representativos. A empresa está sob o comando da terceira geração da família italiana de mesmo nome. Fundada pelo casal Rosita e Ottavio Missoni, em 1948, a grife é reconhecida por suas estampas coloridas e marcantes, como o característico e tão copiado zigue-zague. A partir da década de 90, os filhos Vittorio, Angela e Luca assumiram controle da empresa e a direção da marca. No entanto, dois reveses deram um duro golpe na família Missoni, no ano passado. O primeiro foi a morte de Ottavio, um dos fundadores da grife. Depois, veio o desaparecimento de seu filho Vittorio, em um avião da grife desaparecido na Venezuela. Atualmente a bela Margherita é o principal nome da família na empresa. A designer de acessórios é neta dos fundadores e embaixadora da marca de luxo. A imagem de Margherita ainda estampa o perfume Misssoni Acqua. Mas será que existe uma fórmula para o trabalho em família se tornar um negócio de sucesso? A diretora comercial e de marketing da Arte Sacra considera fundamental manter o profissionalismo e não deixar que a informalidade e a hierarquia Margherita, da grife Missoni (Foto Dylan Don/ Opus Reps)
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Carolina e Marcela Malloy, diretoras da grife de moda-festa Arte Sacra
familiar sobressaiam no ambiente de trabalho. “É essencial respeitar a autoridade e a autonomia de cada setor”, aconselha. Nem as inevitáveis divergências tiram o sorriso da filha de Maria Rita. “Sempre levamos em consideração a sintonia e carinho que temos uma pela outra. O relacionamento profissional é o espelho do relacionamento familiar”, considera Carolina. Unidas, essas famílias mostram que o segredo desse tipo de negócio está no objetivo comum para que o empreendimento prospere. Assim pensam Camila e Isabela. “Todas as pessoas da família envolvidas trabalham como se o negócio fosse de cada um. E, talvez, essa seja a diferença. Afinal, se o negócio der errado para um, todos perdem. Aqui na Vivaz, essa ‘cultura familiar’ é passada para os funcionários. A ideia é que eles façam da empresa as suas casas. Se o nosso objetivo é comum, é natural nos unirmos e criarmos forças para batalharmos pelo melhor”.
kULTUR
Guilherme Bergamini
Fabrício Marques: ensaísta da obra de Paulo Leminski, um dos maiores escritores de haicais do país
Aclimatado Haicai ganha jeitinho bem brasileiro Lucas Alvarenga
Começar uma reportagem sobre haicais com um título seria um pecado. Essa forma de poema criada no Japão, durante o século XVI, abriga não mais que três versos sem rimas e 17 sílabas poéticas, divididas em cinco no primeiro verso, sete no segundo e cinco no terceiro. O haicai tradicional deve ser escrito no presente e conter também um ‘kigo’: palavra ou frase que remeta a uma estação do ano. Hoje universal, o mais famoso estilo lírico japonês só ganhou dimensão e popularidade a partir da segunda metade do século XVII, com os escritos de Matsuo Basho. Esse monge zen budista foi o responsável por aperfeiçoar o estilo e compor os haicais em apenas uma linha vertical. Mas o formalismo estético, por si só, não explica o que é um haicai. Para o escritor, professor e jornalista Leo
Cunha, o estilo seduz por sua concisão, pelo tamanho e pela grande capacidade de (e)vocação visual. A sofisticada elaboração imagética também fascina o pitanguense Maurício Guilherme Silva Júnior. Escritor, professor e jornalista, assim como o amigo de Bocaiuva/MG, Silva Júnior estreita a sua relação com os haicais clássicos a partir de pequenas coletâneas de poesia produzidas do outro lado do mundo e inspiradas na filosofia zen de contemplação das coisas. “Os haicais carregam muito do espírito oriental de observar a vida com paciência, além de discutir grandes questões da humanidade por meio de uma ironia particular”, discorre. Se hoje dois escritores mineiros e tantos outros conhecem os haicais, isso se deve em parte a Masuda Goga e a Teruko Oda. Ao imigrarem para o Brasil, os dois japone| 43
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dual de Campinas (Unicamp), Paulo Franchetti define o estilo milloriano de compor haicais. “O Millôr começou a escrever esse tipo de poesia na revista ‘O Cruzeiro’. Ele apresentava alguns tercetos de caráter satírico, cômico, lírico ou apenas espirituoso, que chamou de ‘hai-kais’. São quase sempre epigramas nos quais rimam o primeiro e o terceiro versos”. Segundo Franchetti, a proximidade do haicai milloriano com a cultura brasileira fica evidente nas inspirações do autor. “O tom coloquial e irônico do ‘hai-kai’ do Millôr o aproximava muito da poesia de Oswald de Andrade e do poema-piada criado pelo autor modernista”.
Arquivo pessoal
Mas ninguém abraçou com tanto vigor a produção de haicais no Brasil como o irreverente Paulo Leminksi. Com uma ironia peculiar, o curitibano – filho de pai polonês com mãe negra – recriou o estilo japonês de fazer haicais a partir de ‘Caprichos e Relaxos’, de 1983, até ‘O ex-estranho’, obra póstuma publicada em 1996. “O Leminski foi um grande divulgador da cultura japonesa
Maurício Guilherme e Leo Cunha: jornalistas, professores e escritores de haicais
ses trouxeram a estética estabelecida por Basho para o hemisfério sul. A herança desses autores inspirou Afrânio Peixoto a compor os primeiros haicais ‘tropicais’ em 1919. Os textos estão em ‘Trovas Populares Brasileiras’. Mas foi Guilherme de Almeida quem veio popularizar o estilo no Brasil, como esmiúça o jornalista e poeta Fabrício Marques. “Ele foi o primeiro a sistematizar uma produção brasileira de haicais entre as décadas de 30 e 40. O Guilherme aclimatou essa forma de poesia ao hemisfério sul. Diferentemente do que ocorre com o haicai japonês, ele procurou apresentar rimas internas e finais em sua obra”.
O legado de Almeida foi retomado por Millôr Fernandes décadas depois. Durante os anos 50, o jornalista se aproveitou do espaço que tinha na imprensa para promover uma segunda onda de popularização dos haicais, mas com o melhor estilo milloriano. O escritor publicou algo como “Passeio aflito; Tantos amigos. Já granito”, como se recorda Marques, fã confesso do escritor. Outro admirador da obra milloriana é o escritor pitanguense. “A poesia dele é despretensiosa e divertida. O Millôr influenciou a minha produção de haicais ao ter reestruturado a lógica do haicai clássico por meio de uma proposta mais informal: um abrasileiramento dessa literatura”, revela. Crítico de literatura e professor da Universidade Esta44 | www.voxobjetiva.com.br
Ignacio Costa
kULTUR
e dos haicais. Produzir esse tipo de poesia no Brasil é uma forma de homenagear esse poeta e o legado da sua obra”, acredita Marques, autor do ensaio ‘Aço em flor: a poesia de Paulo Leminski’.
dois anos resolvi selecionar alguns. Os responsáveis na editora Record gostaram muito e resolveram publicar. Ali há haicais inspirados nos clássicos japoneses e há poemas ao estilo de Millôr”, rememora Cunha.
O curitibano e sua esposa, Alice Ruiz, adotaram a filosofia zen como forma de vida. O interesse do poeta e crítico literário pela cultura japonesa o levou a conquistar, inclusive, uma faixa preta no judô. Alice, por sua vez, continua a produzir haicais com uma pegada pop e a disseminar o estilo por meio de cursos literários. “Caetano Veloso já via na obra do Leminski um ‘haicai da formação cultural brasileira’. Pudera: ele uniu o orientalismo zenista, que marcou a contracultura da segunda metade do século XX, à abordagem técnica da poesia concreta”, esclarece Franchetti.
Assim como o autor de ‘Haicais para filhos e pais’, Silva Júnior se aventurou a criar haicais. A produção literária começou como um desafio entre amigos. O pitanguense e o jornalista Frederico Alberti sempre tentaram criar uma série de coisas em parceria. Um dia, Alberti colocou no ar um site para os chamados ‘Jogos de haicais’, uma tentativa de criar poesias com temas diários. “Então vamos retomar aquela tradição millôriana dos ‘kaikais’, que são haicais mais despretensiosos?”, questionou Silva Júnior na época. O amigo aceitou o desafio, e eles começaram a ‘diversão’. “Naquela época, eu me via entrando e saindo do banho, do carro ou da sala de aula pensando em pequenas jogadas de palavras”, brinca o pitanguense, estudioso da poesia curta nacional.
Haroldo de Campos, Augusto de Campos e Décio Pignatari foram só alguns poetas concretos a estudar os haicais, como lembram Cunha e Marques. Para o escritor de Bocaiuva e autor de ‘Haicais para filhos Cada dia, um determinava O livro de Leo Cunha foi o vencedor da categoria ‘infantil’ do e pais’ (2013), o interesse o tema a ser composto. Mas Prêmio da Biblioteca Nacional (Foto Reprodução) contemporâneo por essa a ideia ganhou força com forma de poesia japonea retomada do projeto, não sa tornou o gênero respeitável em vez de somente uma mais no site, mas no facebook. “Por lá, a reação é em temmera excentricidade. A admiração pelos haicais no Brapo real, e o impacto nos pareceu ainda mais interessante”. sil é grande e chega a ponto de o baiano Goulart Gomes Alberti já transformou alguns desses haicais em imagens, se inspirar em Oswald de Andrade e deglutinar a poesia devido à vocação visual desse tipo de poesia. A ideia da oriental, criando o Movimento Poetrix, em 1999. Por dupla é selecionar os poemas divulgados e publicar um meio dessa corrente lírica, chegou-se a um haicai com livro com os ‘jogos de haicais’. título e sem as exigências formais que tornam o estilo O que leva esses escritores a criar haicais, sejam eles quase dialético, segundo Marques: com uma tese, uma orientais, sejam ‘tropicais’? Para Cunha, o estilo está ‘anantítese e uma síntese. tenado’ com o espírito dessa época: de busca por conciO fascínio brasileiro pelos haicais levou Leo Cunha a são, urgência, leveza e visibilidade. Silva Júnior vê os haiescrever ‘Haicais para filhos e pais’. O livro deu ao escais como formas de discurso universal. “Os haicais são critor mineiro o Prêmio da Biblioteca Nacional, na catemuito oníricos. Eles falam dos nossos sonhos e do nosso goria ‘literatura infantil’. “Eu não tenho o hábito de criar inconsciente. Essa poesia consegue construir, inclusive, haicais ligados às estações do ano – a forma mais trapequenas epifanias. Não tem como não se sentir tocado dicional de compô-los. Sempre compunha algo ligado a diante de uma criação imagética tão complexa e sofisticatemas urbanos, às relações humanas e à minha vivência. da”, acredita. Marques sintetiza essa sensação. “O haicai Desde que a minha filha nasceu, há 14 anos, escrevi diajuda a dizer o máximo com o mínimo e a pensar em coiversos haicais a partir dessa experiência de ser pai. Há sas amplas e profundas. Por isso, ele é universal”. | 45
Divulgação
Fabio Bitão
Gal Oppido
Terra Brasilis • agenda
Nando Reis
Banco do Brasil Covers
Ana Carolina
Trilha da novela ‘Lado a Lado’, da Rede Globo, o sucesso da balada ‘Sei’ (2012) parece não ter fim. A música-título do último álbum de Nando Reis deve embalar a próxima apresentação do ex-Titãs na capital mineira. Com lirismo e simpatia, o intérprete e compositor traz para Beagá essa e outras canções do CD produzido por Jack Endino, responsável por álbuns das bandas Nirvana e Soundgarden. Além das 12 faixas de ‘Sei’, Nando Reis apresenta ao público alguns de seus maiores hits, como ‘All Star’, ‘Pra você guardei o amor’ e ‘Relicário’.
No palco, grandes nomes da música brasileira. No playlist, sucessos de compositores consagrados. Sob a direção de Monique Gardenberg, o projeto Banco do Brasil Covers rememora, dia 11, o repertório dos The Beatles, nas vozes e nos metais de Dado Villa-Lobos, João Barone, Leoni, Toni Platão e Liminha. No dia seguinte, Maria Gadú entoa toda a poesia de Cazuza. Zeca Baleiro fecha o projeto, cantando a obra de Zé Ramalho no dia 13.
A inconfundível voz grave de Ana Carolina pode ser novamente ouvida, ao vivo, em Belo Horizonte. A intérprete de ‘Garganta’ apresenta aos mineiros o resultado das misturas sonoras contemporâneas registradas em ‘#AC’, álbum lançado em junho passado. O show traz 25 hits da cantora, com destaque para ‘Resposta de Rita’ e ‘Leveza de Valsa’, parcerias com Chico Buarque e Guinga, respectivamente. Ana também empresta sua voz à música ‘Eu sei que vou te amar’, composição de Tom Jobim e Vinícius de Moraes e trilha da novela ‘Em família’.
Chevrolet Hall 5 de abril, às 22h De R$ 80 a 120 chevrolethallbh.com.br
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Palácio das Artes 11 de abril, às 21h (covers The Beatles) 12 de abril, às 21h (cover Cazuza) 13 de abril, às 20h (cover Zé Ramalho) De R$ 40 a R$ 100 fcs.mg.gov.br
Chevrolet Hall 12 de abril, às 22h De R$ 120 a R$ 200 chevrolethall.com.br
Terra Brasilis • agenda
Irving Penn
João Caldas
Azul Resplendor
Mostra Ingmar Bergman
Eva Wilma celebra seis décadas de carreira e oito de vida ao interpretar o avesso dela. A artista encena uma atriz precocemente aposentada, Blanca Estela, que volta aos palcos graças à insistência de um ator medíocre. Fã incondicional da atriz, ele decide bancar uma grande produção para ver sua diva dar a volta por cima. Com texto-base do peruano Eduardo Adrianzén, a comédia dramática discute os bastidores do universo teatral e o ávido interesse do público sobre a vida privada dos artistas, cada vez mais cultuados.
São 160 sessões sobre a obra de um dos mais inventivos cineastas de arte mundial: o sueco Ingmar Bergman. ‘Instante e Eternidade, a maior mostra latino-americana dedicada à obra do criador de ‘Sétimo Selo’ e ‘Gritos e Sussurros’, vai trazer aos mineiros toda a filmografia do autor. Somam-se a ela raridades, como curtas, making-ofs e peças de teatro concebidas para a TV. A programação conta também com curso, palestras, debates, duas trilogias e a peça ‘Sarabanda’, livremente inspirada em ‘Saraband’, último filme do diretor.
João Caldas
Teatro Bradesco 11 de abril, às 21h; 12 e 13 de abril, às 20h De R$ 70 a R$ 80 teatrobradescobh.com.br
Contrações CCBB De 11 de abril a 4 de maio Sexta às 20h, sábado e domingo, às 19h R$ 10 culturabancodobrasil.com.br
Cenário: o espaço único de um escritório de uma grande corporação. Nele, uma gerente (Yara de Novaes) convoca sua funcionária Emma (Débora Falabella) e pede a ela que leia em voz alta uma cláusula do seu contrato de trabalho. O documento veda qualquer forma de relação sentimental ou sexual entre funcionários da empresa. Amparada pela sua influência, a gerente tenta induzir sua funcionária a acatar a política empresarial. Para manter seu emprego, Emma aceita a manipulação de sua superior. E, assim, ela escancara e danifica sua vida privada.
Cine Humberto Mauro Até 12 de maio Entrada gratuita fcs.mg.gov.br
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Terra Brasilis • literária
Era Uma Vez...Eu ! Autor: Paulo Lins & Cia Editora: Planeta Páginas: 64 Preço: R$ 34,90
Reprodução
Há muito em comum entre o lixo material e aquele lixo acumulado no íntimo da existência humana. Paulo Lins, escritor de ‘Cidade de Deus’, aproveitou essa coincidência em seu último livro. Os versos desse escritor carioca desvendam as facetas mais obscuras de sua personagem principal: a lixeira - uma criatura que emerge do reino dos restos do homem contemporâneo. A poética do autor se soma às ilustrações expressionistas do designer mineiro Eduardo Lima e faz de ‘Era uma vez... Eu!’ um aglomerado de personificações projetadas de cada objeto consumido.
Quando é dia de futebol Autor: Carlos Drummond de Andrade Editora: Companhia das Letras Páginas: 200 Preço: R$ 29,90 O trabalho de Drummond parece ser uma fonte inesgotável para a literatura brasileira. E Luis Mauricio e Pedro Augusto Graña Drummond, netos do poeta, sabem muito bem disso. Os dois reuniram crônicas e poemas futebolísticos do mineiro, escritos, em sua maioria, para os jornais Correio da Manhã e Jornal do Brasil. O resultado é um passeio leve e arguto por sete Copas do Mundo, começando por 1954, na Suíça, e terminando em 1986, no México. Da manifestação popular à metáfora da realidade do país, ‘Quando é dia de futebol’ torna ainda mais fascinante o esporte número um dos brasileiros. Reprodução
Da minha terra à Terra Autor: Sebastião Salgado e Isabelle Francq Editora: Paralela Páginas: 176 Preço: R$ 24,90
Mais vendido
As fotografias em P&B de trabalhadores e refugiados são a marca registrada do fotojornalista Sebastião Salgado. Sua obra desperta no fruidor as mais variadas sensações ao transitar livremente pela arte e pela antropologia. Em 2013, o mineiro de Aimorés expôs o Projeto Gênesis, uma jornada fotográfica por lugares intocados. A proposta virou um livro que expressa todo o amor do fotógrafo pelo planeta. Em ‘Da minha terra à Terra’, Salgado conta com a ajuda de Isabelle Francq para narrar essa e outras histórias de sua vida de militância, profissionalismo, talento e cuidado com a natureza. Reprodução
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Terra Brasilis • crítica
Porto seguro O samba, mais uma vez, cai bem à filha de Elis, que se mostra confortável com o gênero Lucas Alvarenga “O samba é a tristeza que balança”, assim versou o ‘poetinha’ Vinícius de Moraes em ‘Samba da Bênção’. O verso parece ter inspirado a capa e o repertório de ‘Coração a batucar’: o mais recente álbum de Maria Rita. As 13 faixas produzidas por Leandro Sapucahy mostram por que o samba é a rota de fuga para as habituais comparações da intérprete com a mãe, Elis Regina. Não por acaso, o disco ‘Samba Meu’ (2007) renovou o público da cantora e a levou à conquista do Grammy Latino de melhor álbum de samba. ‘Coração a batucar’ nasce gravado em estúdio, mas com uma pegada ao vivo. Entretanto, a tentativa de levar o terreiro para a obra soa espontânea em poucas faixas. O tom jazzístico dado pelo piano de Jota Moraes faz a cantora se manter vinculada ao seu nicho de atuação.
Lele e Davi dos Santos). Esse belo pagode romântico lança de vez a tristeza no disco. E esse sentimento atinge seu auge em ‘Vai meu samba’ (Noca da Portela e Sérgio Fonseca). O andamento cadenciado e a interpretação cool de Maria Rita fazem da faixa um desabafo poético. ‘Abre o peito e chora’ (Serginho Meriti, Rodrigo Leite e Cauíque) deveria aproximar de vez a paulista de seu ídolo, Gonzaguinha – que ganhou o título de ‘cantor-rancor’. Mas os vocalizes e as palmas tão logo transformam a dor em esperança. ‘Bola pra frente’ (Xande de Pilares e Gilson Bernini) reafirma a mensagem positiva, mas em samba menor, que não empolga assim como ‘Nunca se diz nunca’ (Xande de Pilares, Charlles André e Leandro Fab).
Coube aos experientes Arlindo Cruz e Joyce recolocar o disco Na faixa de abertura, ‘Meu samnos ‘eixos’. ‘Rumo ao infinito’ ba sim senhor’ (Fred Camacho, (Arlindo Cruz, Marcelinho MoMarcelinho Moreira e Leandro reira e Fred Camacho) traz a fé Fab), o surdo e a cuíca trazem a em cadência menor e melodia Álbum: Coração a batucar (2014) Intérprete: Maria Rita ambiência pagodeira ao disco. E de pura poesia. ‘Mainha me enNúmero de faixas: 13 a letra não deixa dúvidas quanto sinou’ (Arlindo Cruz, Xande de Distribuição: Universal Music ao ‘namoro’ da intérprete com o Pilares e Gilson Bernini) dissipa Preço médio: R$ 24 samba: “Mais uma vez/ Aqui esa tristeza e festeja o amor com tou/ Não vou negar/ Eu vou reternura. O contracanto fortalepresentar com todo o meu amor”. ce a mensagem. ‘No mistério do Na sequência, ‘Saco cheio’ (Dona Fia e Marcos Antôsamba’ (Joyce Moreno), Maria Rita retoma o suingue nio) fortalece o clima de terreiro. A interpretação dedas primeiras faixas e anuncia a saideira: “Eu preciso bochada da cantora acentua a irreverência de versos ir embora/ O samba mandou me chamar/ E tá quase na como “Deus já deve estar de saco cheio”. hora”. A levada jazzística de ‘Fogo no paiol’ (Rodrigo Maranhão) parece destoar. Se a faixa não incendeia, ‘No meio do salão’ (Magnu Souza, Maurílio de Oliveira e Everson Pessoa) traz a malandragem à obra e dá brechas para a dor do amor. O samba do Quinteto em Branco e Preto é seguido por ‘Abismo’ (Thiago Silva,
As palmas, as referências às escolas de samba e a percussão devolvem o samba para o quintal de forma quase transcendental em ‘É corpo, é alma, é religião’ (Arlindo Cruz, Rogê e Arlindo Neto). A faixa derradeira é a prova de que o disco pode ‘esquentar’ no terreiro-mor: o palco. | 49
crônica
Joanita Gontijo
Comportamento
Não seja um pássaro no parque! Atendi ao telefone e uma voz trêmula dizia: “- Ele terminou tudo! Disse que me ama, mas que sou boa demais para ele!”. Minha amiga mantinha um relacionamento ‘sem definição’ havia oito meses. Não eram apenas ‘ficantes’ porque havia um pacto subliminar de fidelidade e uma eterna expectativa do encontro nem sempre marcado. Também não eram namorados, já que não planejavam juntos nem a noite de sexta-feira. Eles se falavam todos os dias e se procuravam muitas vezes, mas se evitavam outras tantas. Clara tinha medo de cobrar compromisso e receber cartão vermelho. Alimentava a esperança de que, com o tempo, Marcos descobrisse que não conseguia mais viver sem ela. Por não cobrar nada, parecia evoluída, segura e centrada. Mas, na verdade, era como um pássaro no parque. Catava as migalhas que ele jogava como se fossem a única refeição do dia. Quando os ‘farelos de pão’ faltavam, a fome corroía seu estômago, sua alma e sua dignidade. Mas a promessa de que encerraria aquela história maldita durava apenas até a próxima ligação do ‘dito-cujo’. Atendia com doçura e com a desculpa de que a voz chorosa era apenas uma gripe repentina.
Na lista das falsas justificativas para encerrar uma relação também coleciono namorados que se diziam confusos ou, em momentos nebulosos, demais pra me assumir. Agi como psicóloga de vários deles. Se tivesse cobrado pelas consultas, hoje estaria rica! Ouvi de muitas amigas a seguinte explicação: os homens se assustam com mulheres muito fortes. Pode ser... Acho mesmo que alguns representantes do sexo masculino estão perdidos diante do papel independente daquelas que foram definidas, por séculos, como ‘sexo frágil’. Mas acredito, com mais certeza, que quem quer ficar junto, simplesmente fica! Quem não quer, vai embora!
“O amor e os relacionamentos estão longe de ser uma estrada reta, sem obstáculos”
Eu poderia ter ‘dourado a pílula’, mas preferi ser direta com Clara: “- Não, minha querida: ele não terminou com você porque é ‘mulher demais’ pra ele! Rompeu porque não está a fim!”. As ilusões – de todos os tipos – são o motor que nos leva rapidamente às dores da decepção. Já fui dispensada com o mesmo argumento. À época, cheguei a pensar que, se eu era boa demais pra ele, então talvez devesse ser um pouco menos... Menos doce, menos companheira, menos compreensiva, menos eu! E, esse sim, é um risco grande de autodestruição. 50 | www.voxobjetiva.com.br
O amor e os relacionamentos estão longe de ser uma estrada reta, sem obstáculos, encruzilhadas nem riscos frequentes de derrapagem. Mas a disposição para investir ou não em uma relação é como um preceito cartesiano: uma conta matemática que não termina em dízima periódica.
Se você é vítima da infinitude de uma dúvida, tome cuidado! O que está em questão não é você, mas o desejo do outro. Se ele (ou ela) não consegue decidir, faça você mesmo. Pare de matar sua fome com pedaços de pão velho e voe pra longe. Seu estômago e sua sanidade agradecem!
Joanita Gontijo Jornalista e autora do livro “70 dias ao lado dela” joanitagontijo@yahoo.com.br
QUANDO O TRABALHO É DE QUALIDADE, OS RESULTADOS APARECEM:
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DOS NOSSOS ALUNOS LEEM E ESCREVEM JÁ AOS 8 ANOS.
Em 2004, Minas foi o primeiro Estado do Brasil a trazer as crianças aos seis anos para a escola estadual. De lá para cá, com muito afeto e muito trabalho, juntos comemoramos muitas conquistas. • No Ideb, temos o melhor ensino básico do Brasil. • Na Olimpíada Brasileira de Matemática das escolas públicas, somos campeões pela sétima vez consecutiva, o que comprova a qualidade do nosso ensino. Agora, dividimos com você mais uma vitória: 92,3% das crianças da rede pública estadual estão lendo, escrevendo e interpretando textos aos 8 anos de idade. Em 2006, eram 48,6%. Parabéns, diretores, professores, pais, alunos e todos os profissionais da educação. Parabéns, Minas.
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