Vox Objetiva 58

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Abril /14 • Edição 58 • Ano VI • Distribuição gratuita

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UMA LUZ QUE SE APAGA Ausência de planejamento ressuscita fantasma do racionamento de energia no Brasil

INCLUSIVO: O teatro de Débora Falabella, Gabriel Paiva e Yara de Novaes


CONTINUAR E FAZER SEMPRE MAIS. ESSE É O COMPROMISSO COM MINAS GERAIS. Conheça alguns resultados do Governo de Minas.

MINAS GERAIS MÃES DE MINAS

O maior programa estadual do Brasil de atenção à saúde da gestante e do bebê.

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O maior conjunto de obras viárias da história de Minas.

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Ações de saúde, de educação e de assistência social para as pessoas que mais precisam.

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À espera de nova restauração - Igreja São Francisco de Assis Foto: Felipe Pereira |3


Editorial A desconstrução desnecessária Após o início de mais um período eleitoral, os resultados das pesquisas que acompanham o humor dos brasileiros não são nada animadores. Praticamente quatro em cada dez cidadãos não decidiram o voto. E não se trata de uma tendência exclusivamente nacional. Assim como no Brasil, os políticos estão em descrédito na América Latina, de maneira geral. Países com menos crises econômicas, mais tempo de estudo em sala de aula e com instituições mais fortes têm gerado populações mais exigentes em relação à representação partidária. Na eleição para a presidência do Chile em 2013, 47% dos votantes se abstiveram.

Carlos Viana Editor Executivo carlos.viana@voxobjetiva.com.br

“... O povo que conhece o seu Deus se tornará forte e ativo.” (Daniel 11:32)

A grande preocupação das autoridades eleitorais brasileiras é a repetição dos índices de incredulidade nas urnas, em outubro. Em vez de perceber o que os especialistas chamam de Taxa de Insatisfeitos Ativos (TIA), partidos e líderes políticos têm repetido os erros e os acordos a portas fechadas, que geram insatisfação e revolta nos eleitores. Há menos de seis meses do pleito para decidir quem vai se manter ou ocupar o Palácio do Planalto pela primeira vez, temos situação e oposição distantes das mudanças desejadas pelo povo. Os debates e as entrevistas políticas mostram um único objetivo até agora: denunciar e desconstruir os adversários. A celeuma em torno da CPI da Petrobras é um bom exemplo. É difícil acreditar que, de fato, o desejo de uma investigação tenha o objetivo obrigatório e urgente de revelar os desmandos dentro da maior e mais cara empresa brasileira. Nos bastidores, o que se deseja às escondidas é apenas atingir o outro lado, sem mudar as benesses e as partilhas dos cargos disponíveis a cada troca de governo. O Brasil precisa de partidos políticos dispostos a oferecer propostas e assumir compromissos com a eficiência do serviço público e o crescimento dos índices de qualidade de vida. O país necessita também de políticos que assumam posicionamentos e que busquem caminhar com outros dispostos a entender o bem público como princípio inegociável.

A Vox Objetiva é uma publicação mensal da Vox Domini Editora Ltda. Rua Tupis, 204, sala 218, Centro, Belo Horizonte - MG CEP: 30190-060

Estamos apenas começando um novo período oficial para as eleições. Nossos líderes têm tempo suficiente para melhorar os debates e evitar que quase metade dos brasileiros abra mão de escolher um candidato. Votar em branco ou nulo é também uma forma de comunicação. É um basta ao que está sendo oferecido e aos discursos superficiais construídos por especialistas do marketing político, que vendem, mas não entregam o que foi prometido.

Editor Adjunto: Lucas Alvarenga l Diagramação e arte: Felipe Pereira | Capa: Felipe Pereira | Foto de capa: Felipe Pereira | Reportagem: André Martins, Bárbara Caldeira, Daniela Rebello, Lucas Alvarenga, Rodrigo Freitas, Tati Barros, Thiago Madureira | Correspondentes: Greice Rodrigues - Estados Unidos, Ilana Rehavia - Reino Unido | Diretoria Comercial: Solange Viana | Anúncios: comercial@voxobjetiva.com.br / (31) 2514-0990 | Atendimento: jornalismo@voxobjetiva.com.br (31) 2514-0990 | Revisão: Versão Final | Tiragem: 30 mil exemplares | voxobjetiva.com.br

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a prefeitura de belo horizonte, por meio da fundaçÃO MUNICIPAL DE CULTURA, APRESENTA:

FESTIVAL INTERNACIONAL DE TEATRO, PALCO E RUA DE BELO HORIZONTE

Vem aí o FIT 2014, o maior de todos os tempos. Mais de 200 atrações espalhadas por toda a cidade. E, neste ano, a edição vai marcar a reinauguração dos teatros Francisco Nunes e Marília.

O FESTIVAL É DE TODOS. A EMOçao, DE CADA UM. DE 6 A 25/5. fitbh.com.br

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sUMÁRIO 18

Felipe Pereira

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Luiz Paulo Meyer

Lúcia Sebe/Secom-MG

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Daniela Rebello

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GRUPO 3 DE TEATRO Débora Falabella, Gabriel Paiva e Yara de Novaes falam de amor, dominação e relações de trabalho por meio dos palcos

HORIZONTES

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‘APOSTA’ DE AÉCIO Nome de Pimenta da Veiga ainda não emplaca nas redes sociais na internet e gera desconfianças entre o empresariado

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capa

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SINAL DE ALERTA Escassez de chuvas e falta de investimentos em infraestrutura tornam energia mais cara e o risco de racionamento iminente

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Com uma das maiores biodiversidades da África, Tanzânia contrasta culturas e dá exemplo de preservação

podium

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NO BERÇO DA HUMANIDADE

QUESTÃO DE ESCOLHA Pelo sonho de disputar uma Copa do Mundo, um time de brasileiros naturalizados pode reforçar as demais seleções no mundial no Brasil

salutaris

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GERAÇÕES BEM-ESTAR Ex-bailarina transforma residência em academia e vê filha e neta determinadas para continuar o legado


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Renata Maia

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Carlos Delgado

Daniel Mordzinski

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ALIANÇA VALIOSA Mercado das noivas movimenta R$ 16 bilhões em 2013 com uma série de artigos e serviços

A COR DO MOMENTO Violeta é a tendência para o inverno

KULTUR

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MINAS GERAIS DE GABO Autor de ‘Cem Anos de Solidão’, Gabriel García Marquéz inspira mineiros e se deixa encantar por eles

O COMEÇO PELO ‘FIM’ Fernanda Torres estreia como romancista em livro que aborda os últimos momentos de vida de cinco grandes amigos

Artigos

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justiça • Robson Sávio Resquícios do golpe de 1964

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Meteorologia • Ruibran dos Reis

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PSICOLOGIA • Maria Angélica Falci

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IMOBILIÁRIO • Kênio Pereira

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Pode faltar água no Brasil

A guerra que não evito

Potencial construtivo à venda

crônica • Joanita Gontijo Relaxe: o piloto não sumiu! Receita • Chef Remo Peluso Fettucine al Pesto

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“O teatro é o aqui e o agora” Encontros são a essência da união entre Débora Falabella, Gabriel Paiva e Yara de Novaes, fundadores do Grupo 3 de Teatro Texto: Daniela Rebello e Lucas Alvarenga Fotos: Felipe Pereira Quiseram os deuses do teatro cruzar o destino de três mineiros longe de suas raízes. Radicados em São Paulo e sob as bênçãos de ‘A Serpente’, texto de Nelson Rodrigues, nascia uma companhia em 2005. A união estabelecida quase que ao acaso deu continuidade à parceria teatral iniciada na capital mineira, no fim da década de 90. “Nós trabalhávamos na companhia da Yara de Novaes, a Odeon. A Débora Falabella fazia o infantil ‘Família Adams’, e eu, o ‘Ricardo III’”, rememora Gabriel Fontes Paiva. Extasiados pelo sucesso da peça, Débora, Gabriel e Yara resolveram transformar aquele encontro no Grupo 3 de Teatro. Amparada por um discurso político e contemporâneo, a companhia caminha rumo à sua primeira década de história, engenhosamente costurada por laços afetivos, teatrais e regionais. “Nós formamos uma família. Isso faz com que os laços fiquem mais fortes, inclusive no trabalho”, confessa Débora. Do ambiente familiar, os três herdaram o gosto pelas artes. Débora encontrou no pai, ator e diretor de teatro, e na mãe, cantora lírica, belos exemplos. Gabriel teve na mãe o contato com as artes plásticas. E a terceira fundadora do grupo cresceu cercada por música e literatura. “Lá em casa, a arte é encarada como um fundamento”, garante Yara. Em um dos cafés do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) e em conversas por telefone, os três atores e diretores falaram com a Vox Objetiva sobre os rumos do teatro no Brasil, as dificuldades de adaptar um texto para os palcos, o prazer de fazer teatro nas periferias, as raízes mineiras e a essência política de ‘Contrações’. A mais recente peça do grupo deu a Débora e a Yara o prêmio de Melhor Atriz pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA). O título nunca havia sido dividido. A primeira montagem do grupo foi ‘A Serpente’, de Nelson Rodrigues. Esse é o último texto dele – um

tipo de resumo da obra. O que levou vocês a fazer essa escolha? Débora: ‘A Serpente’ era um texto de que a gente gostava. A Yara veio com a ideia de montá-lo, e isso nos pareceu excelente. Esse é o texto mais compacto do Nelson e, talvez, o mais explícito e forte – justamente por ser o último. ‘A Serpente’ tinha um grande valor criativo para nós. Intuitivamente essa escolha acabou nos ligando às outras. E começar com Nelson Rodrigues é sempre começar abençoado! Yara: Ele é nosso pai dramático! O Ziembiński montou o ‘Vestido de Noiva’, do Nelson, e foi aquela revolução na cena brasileira. Mas quando você lê o texto, descobre que as rubricas do Nelson já são propositoras de uma cena revolucionária para a época. E o que nós temos no grupo é um diálogo honesto, direto e livre com esses autores, que também são propositores de cena. Gabriel: É curioso. Todos os quatro autores que escolhemos até então são ligados à forma e a determinantes da cena. E ‘A Serpente’ tem isso que vocês disseram: é um texto sintético, de um ato só, que dura uns 50 minutos. Um ano depois, vocês escolheram ‘O Continente Negro’, do psiquiatra chileno Marco Antonio De La Parra. Como foi explorar um texto que fala de forma tão sintética sobre a falta no sentido psicanalítico? Gabriel: Foi surpreendente! Uma professora da Faculdade de Letras da UFMG – a Sara Rojo – nos apresentou o De La Parra. Esse texto é um dos poucos que conheço feito por histórias entrecortadas que dialogam com o cinema e o hiperrealismo. As cenas que aparecem são sempre antes ou depois do momento mais dramático da peça: o clímax. É de uma sofisticação rara! Nós iríamos fazer outro texto. Lendo ‘O Continente Negro’, mudamos de ideia e fomos conversar com o Aderbal Freire Filho. Ele já conhecia o texto – |9


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pelo diálogo que mantém com o teatro latino-americano – e tinha um desejo enorme de montá-lo. Yara: Essa coisa do clímax é interessante. O autor responde aos anseios e desejos da personagem nesse momento. Como ele trabalha com a linha psicanalítica, as coisas são mais veladas, escondidas e obscuras. Daí o nome de ‘O Continente Negro’ – um lugar longínquo, de que não se tem notícia. Assim como a Grace é a diretora ideal para o ‘Contrações’, ele foi o diretor adequado para ‘O Continente Negro’. Débora: Além disso, enquanto em ‘A Serpente’ os atos eram completamente explícitos, em ‘O Continente Negro’ era o contrário. Continuamos falando de relações humanas e amorosas, mas de forma talvez menos apaixonada, mais triste e sem esperança. Aliás, esses temas se repetem no Rubião. Falando em Murilo Rubião, ele foi um dos raros representantes brasileiros do realismo fantástico. Como foi reproduzir a atmosfera onírica de três contos dele em ‘O Amor e Outros Estranhos Rumores’ (2010)? Débora: Nós tivemos uma excelente adaptadora: a Silvia Gomez, sobrinha da Yara. Quando começamos a discutir o Rubião, foi difícil fazer escolhas. A obra dele é muito rica, apesar de curta – só 33 contos. Por isso, escolhemos três textos que cabiam naquilo que queríamos dizer. Os escolhidos foram: ‘Memórias do contabilista Pedro Inácio’, ‘Bárbara’ e ‘Os três nomes de Godofredo’. Cenicamente, talvez fossem os mais interessantes. Escolher o Rubião foi afirmar nossas raízes e lançar o desafio de adaptar a literatura para o teatro. Gabriel: Adaptar em si já é bem mais difícil do que montar um texto feito para teatro. Você tem a responsabilidade de trabalhar com o que está no imaginário das pessoas, e elas têm de lidar com possíveis frustrações. Yara: Eh... Normalmente você faz pequenas mudanças ao longo do espetáculo. A gente fez duas ou três peças diferentes durante do processo. Foram readaptando ao estilo Rubião? Yara: Ao estilo Rubião! O Gabriel brincava: “Que carma nós herdamos dele!” (risos). Nós mudamos o elenco, o cenário e readaptamos o texto. Assim como o Rubião chegou ao fim só porque morreu, nós tínhamos certeza de que não chegamos a alcançar o cerne da obra dele. 10 | www.voxobjetiva.com.br


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O teatro é o lugar da magia e da convenção. Nele você condensa o tempo e o espaço e salta na geografia e nas épocas. Nós tínhamos que ir além dos códigos teatrais. Chegávamos perto de algo mágico, mas que não era o realismo fantástico para o teatro. A palavra, ainda mais no realismo fantástico, tem mais força que a imagem. Yara: Nós descobrimos exatamente isso: que precisávamos lidar com a palavra como um elemento organizador do realismo fantástico do Rubião. Em alguns momentos, a palavra diria o que tinha que ser. Não poderíamos colocar a Bárbara pesando toneladas, mas a palavra, de certa forma, poderia. O Rubião exigiu uma experimentação de linguagem única. Ele usa muita metáfora. E a gente imagina que as linguagens codificadas são difíceis de ser comunicadas. Mas as pessoas sonham e desejam, e isso é codificado. O David Lynch, no ‘Meditação Transcendental’, cita que as pessoas diziam pra ele: “Nossa, não entendi nada do seu filme!”. Então ele perguntava: “Mas o que você entendeu?”. A pessoa respondia e ele arrematava: “Mas é isso aí, ué!”. Gabriel: Nós fomos nos aprofundar na linguagem do Rubião durante a Mostra Mineira de Arte Contemporânea que promovemos no Sesc Pompeia, em São Paulo. Levamos pra lá 300 artistas mineiros num momento em que a companhia buscava uma identidade. Na mostra, descobrimos que o Rubião é estudado até na USP. Então fizemos uma exposição interativa sobre os contos dele. Quando viemos a Belo Horizonte, promovemos um simpósio na UFMG e uma mostra de filmes no Sesc Palladium sobre essa obra. Depois disso, fizemos a peça, que mais tarde foi para as periferias de São Paulo e algumas cidades do interior. Foi muito bom! Houve acadêmicos que questionaram: “Murilo Rubião na periferia?”. Sim! E funcionou muito bem. Surgiram interpretações incríveis nesses locais.

linguagem com que ela está acostumada: a da televisão. Mas o teatro exige muito mais de quem o frui. Nos trabalhos na periferia, explicamos e falamos sobre os elementos constitutivos da cena, a cenografia, a iluminação,... E existe um público ávido por teatro: o da periferia. Enquanto nos centros de alto poder aquisitivo as pessoas buscam a risada fácil, nas periferias há um público mais participativo, que deseja mais após a ascensão político-econômica. Yara: Esse deslocamento foi importante também pra nós. São Paulo é uma cidade muito separatista, com uma periferia realmente periférica. Lá as pessoas viajam 40 quilômetros, duas horas ou mais para se locomover. No Jardim Ângela, nós ouvimos de um cara o seguinte: “Quantas vezes eu fui ver o grupo de vocês lá no Teatro Tuca. Uma vez eu gastei uma grana porque tive que pegar um táxi! Vocês não imaginam como é bom vê-los aqui no meu bairro!”. Esse deslocamento é simbólico. Alguns espetáculos que fizemos na periferia foram até superiores aos promovidos nos centros burgueses. Nesse contato, tivemos a certeza de que não tinha sentido fazer teatro com preços caríssimos. A preocupação de vocês com a acessibilidade é notória. Débora: Nosso interesse é no grande público. Se a gente não faz espetáculos gratuitos, fazemos a preços

Vocês creem que essa experiência tenha refletido na vida pessoal de cada um? Gabriel: Sim. O teatro é o aqui e o agora. A peça acontece no encontro do público com o palco. É por isso que há a queixa constante sobre a falta de público e sobre como as pessoas têm se desinteressado pelo teatro. Por um lado, as escolas e as faculdades teatrais continuam formando atores. Por outro, há cada vez menos público. Por isso, é essencial saber quem assiste às nossas apresentações. No Brasil, a maioria nunca foi ao teatro, independentemente da classe social a que pertença. Quando vai, às vezes procura por uma | 11


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populares. Queremos formar uma plateia. Não que seja errado cobrar ingressos, mas, primeiro, temos que despertar na pessoa o interesse pelo teatro. O último espetáculo em que a gente cobrou ingressos mais caros foi há uns cinco, seis anos. Gabriel: Prezamos pela gratuidade e pelos preços populares. É claro que o ingresso cheio traz independência, pois, quando a bilheteria não paga a produção, alguém está pagando. Quem paga escolhe pra você. O teatro tem ficado muito dependente do patrocínio. Às vezes, você vai a um grande centro e pratica um ingresso barato, mas quem vai à peça é o pessoal de poder aquisitivo alto, que poderia pagar bem. Isso é diferente de atender à periferia. Por isso, uma parcela das entradas é gratuita. Yara: Nós, que somos subvencionados, temos a obrigação de fazer ingressos mais baratos. Ganhamos uma grana para montar a peça. Agora, ser gratuito não é sinônimo de ser legal. Em um Centro Educacional Unificado (CEU), em São Paulo, a pessoa que queria ir à peça tinha que dar o nome. Caso faltasse sem justificativa, não ganharia mais ingresso naquele ano. Para haver gratuidade, é preciso ter comprometimento e dar valor à arte. ‘Contrações’ sugere o retorno a alguns temas abordados nas outras montagens, como as relações humanas, a dominação e o amor. A peça veio coroar a trajetória de vocês? Yara: ‘Contrações’ é a peça mais política que fizemos até então. Nós escancaramos várias portas com ela. Em todos os locais em que nos apresentamos, o público diz: “Como é urgente que se fale disso”. Quando pedimos para ler o texto, a gente já sabia que era ele pelas críticas e sinopses. É um texto fundamental que se aproveita dos silêncios e do gestual para discutir a questão feminina. ‘Contrações’ nos faz pensar como a mulher transita entre a vida pessoal e a profissional. Por isso, o prêmio APCA que a Débora e eu ganhamos coroa o trabalho do grupo. O movimento artístico da peça se encerra em nós. É como se pensassem: “Não tem APCA para o grupo? Então vamos dar para essas atrizes” (risos). Gabriel: Com o texto do Mike Bartlett, continuamos a abordar questões como as relações existenciais e de dominação. Em ‘Serpente’, elas são pelo sexo. Em ‘Continente Negro’, são pelos relacionamentos afetivos. Em ‘O Amor e Outros Estranhos Rumores’, são pelas obsessões e neuroses. Em ‘Contrações’, elas 12 | www.voxobjetiva.com.br

migram para o trabalho – uma discussão extremamente contemporânea. Débora: Nesse texto, as relações acabam se tornando mais políticas – algo presente, inclusive, na concepção de arte da própria companhia. Em ‘Contrações’, a gente teve um retorno maior para aquilo que nós queremos fazer no teatro. O trabalho é uma resposta à seguinte questão: “A gente faz arte pra quê?”. Vocês já começaram a ‘flertar’ com outro texto? Pensam em buscar na arte mineira a matéria-prima para uma futura peça? Débora: Sempre estamos voltando a Minas. É nosso sangue, nossa essência! Os artistas mineiros sempre vão estar conosco. É mais forte do que a gente (risos)! Gabriel: Minas e Bahia são o Brasil profundo. O artista mineiro tem um envolvimento quase subliminar com a arte. E a nossa relação com Minas Gerais nunca acabou. A Yara saiu de Minas Gerais com uma carreira estabelecida. A Débora e eu consolidamos a nossa lá fora. Mas há uma identificação com os artistas daqui. É inegável! Yara: E eles são bons também. Se a gente conhece, gosta, admira e confia neles, por que não vamos trazê-los para trabalhar conosco? A gente não é fechado! Tivemos o Fábio Namatame como figurinista, o Fabio Retti como iluminador, o Morris Picciotto na trilha sonora,... Nenhum deles é mineiro. Agora, quando você forma um grupo artístico, há algo familiar nisso. E a confiança é fundamental. Fazer teatro e andar com teatro pelo Brasil é um negócio que exige uma ligação entre famílias. A Débora tem a filha dela – a Nina –, e nós precisamos que ela esteja conosco. Da mesma forma, os meus filhos estiveram comigo, e o Gabriel tem o Artur por perto. Gabriel: Quanto ao futuro, ainda não tivemos uma ideia dos próximos artistas com os quais iremos trabalhar, mas cada vez me encanto mais com o Milton Nascimento. Ele é um revolucionário. Com o Clube da Esquina, o Milton trouxe batidas de tribos africanas que vieram só para Minas. Yara: O Milton é uma entidade! Vi uma apresentação dele com o ‘Tio Vânia’, e a impressão foi de que eu estava de frente para algo além do visível. Ele é imantado! E não é que eu gostei desse negócio do Milton! (risos).


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Fora de ordem

Dificuldades para emplacar a campanha de Pimenta da Veiga, resistência do empresariado e denúncias criam empecilhos para os tucanos mineiros Rodrigo Freitas Pedro Paiva

Capitaneado pelo senador da República e presidenciável Aécio Neves, o PSDB mineiro viveu 12 anos num mar de rosas. O partido ganhou, em primeiro turno, três eleições consecutivas para o Governo de Minas: 2002, 2006 e 2010. Os dois governadores eleitos no período – o próprio Aécio e Antonio Anastasia – tiveram ampla aprovação popular. Tudo parecia muito estável e metodicamente planejado no berço tucano. A sinergia entre uma ampla base de apoio político e o empresariado garantiu conquistas estratégicas ao grupo liderado pelo neto de Tancredo Neves.

Tamanha influência dentro do ninho tucano permitiu ao senador ousar. Aécio assistiu a uma disputa visceral de alguns expoentes de seu grupo pela candidatura ao governo do estado. Ao final de tantos embates, o ex-governador tratou de resgatar um ‘nome-surpresa’: o do ex-prefeito de Belo Horizonte e ex-ministro das Comunicações, Pimenta da Veiga. O tucano histórico andava fora da mídia havia uma década. Nesse período, ele morou e advogou em Brasília. Com a escolha de Pimenta, o presidenciável tentou dirimir as divergências entre o presidente estadual do | 13


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PSDB, Marcus Pestana, o Secretário de Estado de Ciência e Tecnologia, Nárcio Rodrigues, o presidente da Assembleia Legislativa, Dinis Pinheiro, e o governador Alberto Pinto Coelho. Todos queriam ser indicados para disputar a vaga ao Palácio Tiradentes. Distante da unanimidade de outrora, a opção por Pimenta sempre esteve longe de ser bem recebida pelos tucanos mineiros. Houve, inclusive, certo desapontamento com essa escolha feita por Aécio. Mas ninguém em sã consciência no PSDB de Minas ousa questionar as ações do senador. Na política, o velho ditado de que o “bom cabrito não berra” faz todo o sentido. Por isso, os tucanos mineiros fizeram com que as próprias fragilidades de Pimenta aparecessem. E justamente isso vem minando o ex-ministro já na pré-campanha. Na outra ponta, quem tem acelerado as viagens e as conversas é o grande rival de Pimenta: o petista Fernando Pimentel.

inspiraram. Ele parece retraído, ‘caladão’, bem na dele”, salienta um empresário do setor de tecnologia, que pediu anonimato. “Pimentel tem transitado muito pelos setores produtivos e se mostrado mais aberto ao diálogo. O petista nos parece, sobretudo, mais contemporâneo. E isso pesa na hora de o empresariado apoiar”, explica um industrial ligado ao Sistema Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Sistema Fiemg).

O primeiro fato a fragilizar Pimenta foi o indiciamento por lavagem de dinheiro. Conforme consta no inquérito da Polícia Federal (PF), o pré-candidato ao governo de Minas Gerais pelo PSDB é suspeito de ter recebido R$ 300 mil das agências de publicidade de Marcos Valério. O empresário foi condenado pelo mensalão petista e é acusado de ser um dos principais artífices do mensalão tucano. A situação despertou um sinal de alerta nos aliados e nos partidos que integram a base de apoio do governo do estado. Após o indiciamento, Pimenta se abateu. Depois, pareceu impaciente, conforme relatam alguns tucanos.

Repórteres que fazem a cobertura da pré-campanha peessedebista também revelam uma constante irritação do pré-candidato com perguntas mais ‘apimentadas’. Mas o que o PSDB não contava era com uma resistência de empresários mineiros ao nome de Pimenta da Veiga, sobretudo após o indiciamento. “O Pimenta não nos passou a confiança que um dia Aécio e Anastasia nos 14 | www.voxobjetiva.com.br

Rossana Magri

Essa dificuldade de interlocução nos meios político e empresarial não veio sozinha. Pimenta tem patinado nas pesquisas eleitorais. O fato de não ter atingido dois dígitos nos mais recentes levantamentos contribuiu ainda mais para que a pré-candidatura de Pimenta perdesse fôlego. A fim de acalmar os aliados diante de tantas turbulências, Pimenta se reuniu com representantes dos 18 partidos da base do governo mineiro. Mas as tensões se agravaram. No fim do mês passado, até mesmo uma desistência de Pimenta foi cogitada no PSDB. A legenda teria avaliado resgatar o nome de Marcus Pestana, que brigou até o último momento pela indicação. Outra opção seria apostar na reeleição de governador Alberto Pinto Coelho. O pepista tem a máquina administrativa e a caneta nas mãos. Inegavelmente, esse fator faz grande diferença na avaliação dos Candidatura de Alberto Pinto Coelho pode fazer PP nacional apoiar Aécio tucanos. Pestana foi procurado, mas não atendeu às ligações nem respondeu aos contatos no whatsApp. O deputado estadual João Vítor Xavier (PSDB), um dos coordenadores da pré-campanha de Pimenta, tratou logo de desmentir a ideia de substituir o postulante ao Palácio Tiradentes. “Não tem nada disso. Tem notícia plantada de todos os lados. Tem até fogo amigo nessa história. A chance de Pimenta desistir é zero. Pode escrever isso aí”, afirmou indignado o parlamentar. A possibilidade de uma reeleição de Pinto Coelho abre caminhos para Aécio na busca pela Presidência. O senador poderia atrair o PP para o seu campo. A legenda


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faz parte da base de apoio nacional à presidente Dilma Rousseff. Para tanto, o presidenciável estaria cogitando oferecer o posto de vice-presidente na sua chapa à senadora gaúcha Ana Amélia (PP). “Essa é uma situação que pode nos favorecer ainda mais no plano nacional. O Aécio precisa de apoio, e o PP seria um fator muito importante”, analisa um tucano. Reservadamente, alguns peessedebistas avaliam que a distância de Aécio em relação às questões mineiras tem criado empecilhos para que Pimenta da Veiga tome decisões práticas. O senador vem concentrando esforços na sua pré-candidatura à Presidência da República. Por causa disso, a escolha do marqueteiro da campanha de Pimenta foi relegada por algum tempo. Caso ele seja mesmo o candidato tucano, Cacá Moreno será o responsável por tentar conduzi-lo ao posto de governador. O marqueteiro trabalhou para o prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda (PSB), em 2012. A missão de Cacá será criar uma imagem para Pimenta, especialmente voltada para os mais jovens, que ainda não o conhecem.

A situação sabe que o trabalho de marketing será árduo, uma vez que o pré-candidato tucano ficou muito tempo afastado de Minas Gerais. Pimenta foi prefeito da capital no início da década de 1990 e ministro durante o governo de Fernando Henrique Cardoso. A situação é muito diferente da do maior rival, o petista Fernando Pimentel. O economista teve êxito em gestões mais recentes à frente da Prefeitura de Belo Horizonte e do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Aliás, Pimentel tem apertado o passo na tentativa de aumentar a vantagem que as pesquisas lhe dão diante de Pimenta da Veiga. As caravanas que o PT vem promovendo têm sido cada vez mais frequentes. Em redes sociais, como o facebook, o nome do petista aparece muito mais ativo do que o do seu rival. Até o meio de abril, a fanpage de Pimentel havia gerado 8.298 comentários contra 4.844 recados deixados na página de Pimenta da Veiga. A diferença no número de seguidores no twitter

A campanha mineira nas redes Equipe de Pimenta de Veiga é mais assídua nas redes sociais na internet, mas detém menor visibilidade que a do rival petista

Fernando Pimentel Pré-candidato ao Governo de Minas

PT

Pimenta da Veiga Pré-candidato ao Governo de Minas

Seguidores:

Seguidores:

18,3 mil

23,7 mil

Comentários sobre a fanpage:

Comentários sobre a fanpage:

8.298 recados

4.221 recados

Seguidores no twitter:

Seguidores no twitter:

17,7 mil

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Fonte: facebook e twitter dos candidatos

PSDB

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Leonardo Prado/Agência Câmara

Leonardo Prado/Agência Câmara

Rossana Magri

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Apolo Heringer

João Vítor Xavier

Miguel Corrêa

Fundador do Projeto Manuelzão

Deputado estadual pelo PSDB

Deputado federal pelo PT

“Queremos ser uma alternativa real a essa dicotomia que hoje existe no estado entre o PT e o PSDB”

“Tem notícia plantada de todos os lados. Tem até fogo amigo nessa história. A chance de Pimenta desistir é zero”

também impressiona: são 17,7 mil do petista contra 637 do tucano mineiro. Pimenta leva vantagem apenas no facebook: são 23,7 mil seguidores contra 18,3 mil fãs da página do petista. “O momento nunca foi tão favorável ao PT de Minas como agora. Não podemos desperdiçar a chance que temos de chegar ao governo”, afirma o deputado federal Miguel Corrêa, fiel escudeiro e homem de confiança de Pimentel. Os petistas creem que Pimentel possa atrair partidos aliados dos tucanos. E os esforços serão concentrados nessa hipótese, nas próximas semanas. Segundo apoiadores do ex-ministro petista, algumas lideranças de pequenas legendas no Interior de Minas estariam fazendo coro à candidatura do PT. “Isso mostra que o apoio de muitos partidos a Pimenta vem de cima para baixo”, afirma Corrêa. Recentemente o senador Clésio Andrade (PMDB) desistiu da sua candidatura ao Governo de Minas, após lideranças peemedebistas decidirem apoiar a candidatura de Pimentel. Com isso, o PMDB deve ficar com o posto de vice na chapa – provavelmente dado ao ex-ministro da Agricultura, Antônio Andrade. Enquanto a candidatura de Pimenta balança, os integrantes do PSB mineiro próximos à ex-senadora 16 | www.voxobjetiva.com.br

“O momento nunca foi tão favorável ao PT de Minas como agora. Não podemos desperdiçar a chance que temos de chegar ao governo”

Marina Silva aproveitam para marcar território em torno de uma candidatura própria. Embora o PSB local sempre tenha sido uma legenda aecista, os integrantes da sigla oriundos da Rede Sustentabilidade vêm tentando mudar esse quadro. O nome do médico e ambientalista Apolo Heringer foi lançado, mas a oficialização ainda depende da confirmação do todo-poderoso Eduardo Campos, presidente nacional do partido e postulante à Presidência. “Queremos ser uma alternativa real a essa dicotomia que existe no estado entre o PT e o PSDB. Os tucanos estão desgastados demais no poder. Já deram o que tinham que dar. Os petistas também esgotaram um ciclo de poder em âmbito nacional. Podemos ser uma nova via para Minas”, afirma Heringer, defendendo sua pré-candidatura. O certo é que, diante da indefinição e da instabilidade da candidatura de Pimenta da Veiga em Minas, outros nomes que querem fazer parte da disputa vêm ganhando espaço. O PSDB ainda pode manter o governo de Minas. Mas a legenda já aceita a ideia de que as eleições de 2014 não serão fáceis como as anteriores.


Artigo

Robson Sávio

Justiça

Resquícios do golpe de 1964 O regime ditatorial foi mais amplo do que se imagina. O falso argumento de que tivemos uma ‘ditabranda’, defendido por um jornalão brasileiro, é falacioso. Sabemos que os comunistas, os marxistas ou os que clamavam por reformas de base na década de 60 foram vigiados, perseguidos, presos ou mesmo mortos – camuflados por alegados ‘suicídios’. As Comissões de Anistia e de Mortos e Desaparecidos registraram 457 pessoas assassinadas ou ocultadas pela repressão política governamental, enquanto a repressão no campo fez mais 858 vítimas. Esses 1.196 casos não incluem genocídios de índios, também reprimidos pelo governo.

pobres e dos moradores das periferias suas principais vítimas. O desumano sistema prisional insiste na tortura como método de investigação e de punição. O judiciário seletivo e encastelado conserva intacta a impunidade aos torturadores, corrobora a violência institucional e aumenta o descrédito geral das instituições da Justiça ao manter o autoritário e vergonhoso imbróglio da Lei da Anistia, considerada constitucional por um STF elitista e conservador.

“O judiciário seletivo e encastelado conserva intacta a impunidade aos torturadores”

O golpe civil-empresarial-militar foi um projeto político dos segmentos mais conservadores e reacionários da burguesia nacional, dos latifundiários e da mídia. As ações foram protagonizadas pelas Forças Armadas e pelos Estados Unidos. Dreifuss ratifica esse pensamento em sua tese de doutorado, publicada em 1981 e editada sob o título “1964: A conquista do Estado, ação política, poder e golpe de classe”. O filme “O dia que durou 21 anos” recupera esse entendimento.

Mas, passados 50 anos do golpe, certos mitos precisam ser desconstruídos. O milagre econômico, benéfico para os 10% mais ricos, e a infraestrutura capaz de atender a apenas 30% da classe média estão entre esses fatos distorcidos. Para o resto da população, sobraram migalhas e uma inflação galopante. A sociedade brasileira ainda é refém de resquícios autoritários, como os critérios para a concessão de emissoras de rádio e de TV. O nosso medieval sistema de justiça criminal é outra chaga desses tempos. Por meio dele, a violência estatal das polícias se mantém e faz dos negros, dos

Os pactos políticos entre elites denotam o controle dos poderosos sobre o Estado e liberalizam pequenas reformas que atendem minimamente a questões cruciais da população. Gramsci apontava esse tipo de transição como ‘revolução passiva’. Enquanto isso, a maldita governabilidade à brasileira, desde Sarney até hoje articulada com os setores sociais mais conservadores, mantém no poder algumas das figuras que estiveram nos braços da ditadura.

A esperança é que as Comissões da Verdade se debrucem sobre o que de fato ocorreu no período de exceção e apontem sugestões de reformas estruturais nos sistemas político e de justiça criminal. Caso contrário, a engenhoca institucional montada na ditadura vai continuar produzindo a violência que segrega, a exclusão que divide a sociedade entre os ‘homens de bens’ e os outros e a falsa ideia de que vivemos num estado democrático e de direito.

robson Sávio Reis de Souza Filósofo e cientista social robsonsavio@yahoo.com.br | 17


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A conta a pagar

Pouca água, desperdício e décadas de escassez de investimentos escancaram os problemas do setor energético brasileiro

Itaipu Binacional

Lucas Alvarenga

A chuva que arrefece o calor comum nos primeiros meses do ano tardou, e não veio. Nesse começo de 2014, as águas de março – cantadas por Tom Jobim – não fecharam o verão. Aliás, a escassez pluviométrica registrada nesse período fez do ano da segunda Copa do Mundo no Brasil o de menor armazenamento de água desde 2001. Os dados são alarmantes. Afinal, há 13 anos, o país viveu uma crise energética sem precedentes, marcada pelo racionamento de energia e por apagões que deixaram evidente a falta de investimentos em infraestrutura no setor. Até a primeira metade de abril, o nível dos reservatórios das hidrelétricas das regiões Sudeste e Centro-Oeste atingiu pouco mais de 38% da capacidade, contra 32,1% em 2001. Furnas, por exemplo, ficou dez metros abaixo do nível máximo de alagamento em março. O limite para operação da usina é de 769,3 metros, enquanto o mínimo é de 750 metros. O fato fez soar o alerta para um possível racionamento, até então negado com veemência pelo governo federal. A justificativa para a escassez pluviométrica foi a formação de uma massa de ar quente que inibiu as ‘chuvas 18 | www.voxobjetiva.com.br

de verão’, como esclareceu o meteorologista Ruibran dos Reis na edição passada da Vox Objetiva. O déficit hídrico obrigou o governo a aumentar o consumo de gás natural e de petróleo para a geração de energia. Com isso, as distribuidoras foram obrigadas a recorrer ao mercado livre para comprar energia, fato que desencadeou uma série de pedidos de aumento de tarifas por parte das concessionárias. A Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) foi uma das primeiras a solicitar o reajuste. A empresa pediu à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) um acréscimo de 29,74% na conta dos consumidores residenciais. No entanto, a agência reguladora aprovou um reajuste de até 14,3%. O cidadão sofre com as consequências do planejamento ineficaz do setor energético. E isso acontece de duas formas: a primeira, com o reajuste direto ao consumidor residencial; a segunda, com a alta da conta de energia para a indústria. Recentemente a Cemig saltou do 12º para o 7º lugar como a tarifa energética mais cara para o setor industrial, conforme análise feita pelo


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Sistema Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Sistema Firjan). O aumento médio nacional foi de 3% contra 12,42% praticados pela concessionária mineira. “Ter energia é garantir o desenvolvimento amplo e universal. E desenvolver não pode ser privilégio de poucos”, salienta o presidente do Sistema da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Sistema Fiemg), Olavo Machado. De acordo com a Aneel, a capacidade instalada do Brasil é de 123 mil megawatts (MW). O número colocaria o país em estado de conforto em relação ao período de Fernando Henrique Cardoso, se não fosse a escassez de chuvas. Em 2001, apenas 80% da eletricidade necessária para o Brasil era produzida em terras nacionais. Hoje esse número chega a quase o dobro. Mas com a demora na renovação dos contratos das concessionárias de energia e com a política federal de redução das tarifas, com o desestímulo do empresariado sentiu-se desestimulado a investir no setor e, consequentemente, diversificar a matriz energética.

Para amenizar a situação, as usinas nucleares de Angra I e II estão trabalhando próximo da capacidade máxima. Isso não precisaria acontecer, caso Angra III estivesse pronta. A terceira usina nuclear está prevista para ser entregue em 2015, 39 anos após o início das obras. Outras três usinas nucleares estão programadas para ser lançadas no Nordeste. “Ao lado de Estados Unidos e a Rússia, o Brasil é um dos poucos países dotados de grandes reservas de urânio, material usado para a geração de energia. Mas o governo continua investindo pesado na energia hidrelétrica, por causa do relevo brasileiro”, ressalta diretor do Centro de Desenvolvimento de Tecnologia Nuclear (CDTN), João Roberto de Mattos.

2009, R$ 8 bilhões foram liberados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para a instalação de parques eólicos no país. Mesmo assim, essa modalidade representa menos de 1% da matriz energética brasileira. “Os investimentos deveriam vir primeiro para universidades e grupos de pesquisa interessados em desenvolver novas tecnologias de geração de energia eólica. Em seguida, o recurso público deveria fomentar o desenvolvimento das tecnologias em escala industrial e fortalecer o discurso pela conscientização do uso de energias alternativas”, acredita o professor de Engenharia Mecânica da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Odenir de Almeida. Essa situação pode mudar no futuro. Estudos da Cemig apontam para a possibilidade de o estado gerar até 40 gigawatts (GW) apenas com a energia eólica. O número é 3,5 vezes superior ao da capacidade instalada da polêmica Usina de Belo Monte, que produz somente 40% da potência máxima. Esse índice fica 10% abaixo da capacidade produtiva da ‘energia dos ventos’. Os dados divulgados em 2010 fazem parte do Atlas Eólico de Minas Gerais. Outra grande esperança mineira é a bacia do Rio São Francisco. João Guimarães Rosa, em ‘Grande Sertão: Veredas’, já fazia menção ao gás que fazia borbulhar as águas da região. “Em um lugar, na encosta, brota do chão um vapor de enxofre, com estúrdio barulhão, o gado foge de lá, por pavor”, escreveu o romancista mineiro. Especialista em energia térmica da Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace), Rodolfo Zamian Danilow mantém grandes expectativas em relação à reserva. “Se esse potencial energético se confirmar, o

O Ministério de Minas e Energia (MME) se gaba pelo fato de o país ter mais de três quartos da sua matriz energética limpos. Mas quase toda essa energia é hídrica. E aí começam as dificuldades. Com poucas áreas passíveis para grandes alagamentos, o potencial hidrelétrico para grandes usinas parece ter chegado ao limite no país. “O Brasil não tem espaço para novas itaipus. No entanto, podemos incentivar a construção das Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs). Há mais de 400 projetos de criação de PCHs no país. Então, por que não fazê-los? Porque o governo federal passou todos os incentivos para as eólicas. O custo das PCHs ficou muito alto, e a taxa de retorno é sempre inferior a 7%. Assim não vale a pena”, analisa o ex-presidente da Eletrobras, Aloísio Vasconcelos. Os incentivos à energia produzida por meio da força dos ventos foi uma opção do governo federal. Desde

Lia Priscila

Funcionando a fio d’água, Furnas ficou 10 metros abaixo do limite | 19


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os gargalos para a popularização dessa energia no país. “Existe a necessidade de desenvolvimento tecnológico para que a energia solar se torne competitiva”, esclarece o engenheiro de Tecnologia e Normalização da Cemig, Cláudio Homero.

Usina eólica experimental do Morro do Camelinho, na Serra do Espinhaço

Divulgação/Cemig

Desde 2004, Minas Gerais é referência em energia solar térmica de baixa temperatura. O Grupo de Estudos em Energia Solar - Green Solar - da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) desenvolveu um simulador certificado pelo Inmetro que testa coletores solares a partir de projeções de radiação solar. Além de verificar a qualidade dos equipamentos usados nas residências brasileiras, o Green Solar trabalha com pesquisas nas áreas de eficiência energética e edificações sustentáveis. Foi o Green Solar que ajudou a Cemig a levar aquecimento solar a 300 prédios da capital mineira. Atualmente, há mais de 2 mil coletores espalhados pela cidade. Os lares contemplados pelo programa tiveram uma redução de 30% na tarifa mensal de energia.

gás da Bacia do São Francisco fica para Minas como o Pré-Sal está para o Brasil”.

Se o investimento na diversificação das matrizes energéticas foi insuficiente, as políticas em favor da eficiência no consumo são incipientes. Em 2013, o Brasil desperdiçou 39% da energia produzida ou quase R$ 60 bilhões anuais. A perda no país chega a 43 terawatt-hora (TWh) por ano. De acordo com o estudo da Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Conservação de Energia (Abesco) divulgado em 2013, os vilões do desperdício são equipamentos obsoletos e problemas em linhas de transmissão. Enquanto isso, a taxa de desperdício chega a apenas 8% em Tóquio, no Japão. O volume

Outro potencial energético imenso, mas abandonado, é o solar. A capacidade energética instalada no país para essa energia é de pouco mais de 25 MW, como apresenta um estudo do MME. Na Alemanha, líder na produção de energia solar, o aproveitamento da potência solar chega a 49%. Nesse país, há É mais de um milhão de painéis solares espalhados, mesmo com níveis de radiação 40% inferiores aos das áreas menos ensolaradas do Brasil. Uma das raras usinas experimentais de geração solar fotovoltaica do Brasil está em Sete Lagoas. Com capacidade de 3 MW, o projeto visa identificar e superar 20 | www.voxobjetiva.com.br

Divulgação/Cefet-MG

A bacia tem perspectiva de produzir 37 milhões de metros cúbicos de gás por dia, como mostram dados da Gas Energy - empresa brasileira de consultoria especializada em gás. O potencial fica 5 milhões de metros cúbicos abaixo do total das importações diárias de gás boliviano feitas pelo Brasil. Mas não há avanços sobre exploração, utilização e desenvolvimento de uma infraestrutura de escoamento e distribuição desse gás.

Cefet-MG faz testes para produzir energia solar fotovoltaica


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Wellington Pedro/ Imprensa-MG

Gás queimando na bacia do São Francisco, em Morada Nova de Minas

de energia jogado fora seria suficiente para abastecer os lares do estado do Rio de Janeiro durante um ano. Em 2000, o governo federal instituiu o Programa de Eficiência Energética (PEE) para combater as perdas de eletricidade. Passada mais de uma década, a questão avançou pouco. Por lei, as concessionárias de energia são obrigadas a destinar 0,5% da receita operacional líquida para a aplicação do PEE. Desse valor, ao menos 60% devem ser direcionados a projetos público-sociais ou a entidades sem fins lucrativos. O restante pode beneficiar a iniciativa privada. No entanto, a opção não é vista com bons olhos pelo setor industrial, responsável por 35,1% do consumo de energia no país. Concebida um ano após o racionamento de energia em 2001, a Efficientia se dedica a atender a somente o setor privado. A instituição provê soluções energéticas para empresas de médio e grande porte de Minas Gerais e do exterior. Subsidiária integral da Cemig, a Efficientia busca reduzir os custos de produção ao revisar e otimizar a matriz energética e diminuir o consumo de quilowatts/hora (kW/h) dos clientes. Os projetos vão desde estudos para a implantação de uma termoelétrica que aproveite o gás residual de processos industriais até a substituição dos semáfo-

ros por sinais de led. Em 2011, a Empresa de Transporte e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans) pôs esse projeto em prática. Com os novos semáforos, a prefeitura reduziu em 80% os gastos com sinalização. No mesmo ano, a economia com os projetos da Efficientia ultrapassaram 100 mil megawatts/hora (MW/h). A quantidade é suficiente para abastecer por um ano as residências de uma cidade de 241 mil habitantes como Ipatinga. “A melhor energia é a não usada. Se um cliente reduz o consumo de 100 kWh para 80 kWh, a diferença pode ser considerada a energia mais limpa possível, pois ela foi poupada”, ilustra Cláudio Latorre, superintendente da Efficientia. Ao conhecer o ‘chão de fábrica’, os engenheiros da subsidiária da Cemig logo aplicam o que se pode chamar de ‘eficiência administrativa’, conforme esclarece Latorre. “Essa medida não exige investimento; apenas uma mudança de hábitos. Por exemplo: se você sair de uma sala, apague a luz. Se for almoçar, desligue a tela do computador. Coloque filmes nas janelas para reduzir a incidência de raios solares no ambiente e poupar o ar-condicionado. Todas essas ações são periféricas, mas o impacto delas é grande, transcende o espaço do trabalho e vai para os lares de cada funcionário”, diz orgulhoso. | 21


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‘Hidrodependência’ Usinas hidrelétricas continuam a dominar a produção de eletricidade no Brasil, mesmo após investimentos federais feitos na diversificação da matriz energética. Veja a evolução percentual das quatro principais fontes de energia nos últimos dez anos

2002 82,4%

2002 82,4% 19,5%

2012 76,9%

Energia Hidrelétrica O Brasil não tem espaço para novas Itaipus. No entanto, podemos incentivar as Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH). Há mais de 400 projetos desses no país

2012 76,9% 13,2%

Energia Térmica

Aloísio Vasconcelos, ex-presidente da Eletrobras Se o potencial energético

2002 2,7%

2002 0%

Fonte: Empresa de Pesquisa Energética

o gás da Bacia do São Francisco estará para Minas assim como o Pré-Sal está para o Brasil

2012 4,4%

Energia Nuclear

Os investimentos deveriam vir primeiro para universidades e grupos de pesquisa interessados em desenvolver novas tecnologias de geração de energia eólica

2012 0,9%

Rodolfo Zamian Danilow, especialista em energia térmica da Abrace

Energia Eólica

Odenir de Almeida, professor de Engenharia Mecânica da UFU

Junto com os Estados Unidos e Rússia, o Brasil é um dos poucos países do mundo com enormes reservas de urânio, material usado para a geração de energia João Roberto de Mattos, diretor do CDTN

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ARTIGOS

Ruibran dos Reis

Meteorologia

Pode faltar água no Brasil O ano de 2014 começou com calor, temperaturas acima da média e ausência de chuvas nas Regiões Sul e Sudeste do país. A escassez pluviométrica entre sete e dez dias, em plena estação chuvosa, é comum em determinados anos. Essa ocorrência é chamada de ‘veranico’. No entanto, a baixa precipitação entre janeiro e março mostrou que os fatores climáticos são diferentes dos que existiam no passado. O período chuvoso entre 2013 e 2014 se tornou um dos piores da história. A presença de uma grande massa de ar quente sobre todo o Brasil dificultou a ocorrência das ‘chuvas de verão’ – pancadas isoladas e de curta duração, comuns nessa época do ano. As frentes frias nas Regiões Sul e Sudeste também foram afastadas por essa massa de ar. Ela se forma por meio da circulação geral atmosférica. O ar ascendente da região tropical desce até a latitude de 30º e circula entre o Brasil e a África. Por sua vez, o ar descendente sobe até a Costa Oeste da África, entre a Namíbia e Botwana, promovendo o clima desértico da região. Essa massa de ar recebe o nome de Anticiclone do Atlântico Sul. Suas características são temperaturas elevadas e alta umidade relativa do ar em regiões de baixo nível atmosférico.

máxima diária observada entre janeiro e março em Minas Gerais ficou 94% dos dias acima da média histórica. Nos últimos meses foi verificada a ocorrência de uma longa estiagem em algumas regiões do país, seguida por ondas de calor na Região Sudeste e pela baixa umidade relativa do ar na Região Centro-Oeste. Temporais com formação de tornados na Região Sul, inundações em São Paulo e em Minas Gerais e enchentes na Região Norte também marcaram o período. Esses eventos impactaram a agricultura e a pecuária. Desde fevereiro, a previsão é de queda na produção de café em Minas Gerais e de soja no sul do país, além do aumento do preço dos laticínios e da carne de boi.

“O período chuvoso entre 2013 e 2014 se tornou um dos piores da história”

O Anticiclone do Atlântico Sul atua durante todo o ano no Brasil, com maior intensidade na Região Nordeste. Em Minas Gerais, as regiões mais afetadas são a Norte, a Nordeste e a Leste. Esse fator climático é o principal responsável pelo baixo volume de chuvas nesses locais. As nuvens até se formam, mas as gotículas de água evaporam antes de chegar à superfície. Devido ao anticiclone, a temperatura

Estamos começando a avaliar os impactos das mudanças climáticas no Brasil, seja na agropecuária, no abastecimento de água, seja na geração de energia. Os países europeus já passaram por essa fase. Agora estudam as adaptações necessárias para cada grau de variação da temperatura. Em termos pluviométricos, a situação das chuvas e das vazões nos rios é pior neste ano do que em 2001, quando houve o racionamento de energia. Infelizmente não aprendemos com os erros nem com os acertos. Afinal, sempre há opções para gerenciar os riscos. Mas, nem por isso, devemos ter medo de tomar as decisões corretas.

Ruibran dos Reis Diretor Regional do Climatempo e professor da PUC Minas ruibrandosreis@gmail.com | 23


podium

Destino: Copa do Mundo

Sem chances de defender a ‘amarelinha’, um time de brasileiros naturalizados pode disputar o maior torneio de futebol mundial por outras seleções Thiago Madureira O fim da partida se aproximava. Tensas, milhares de pessoas assistiam em silêncio aos últimos minutos do segundo tempo no Maracanã. A decisão se encaminhava para os pênaltis até que um brasileiro concluiu com rara precisão. Gol do título! Na arquibancada, perplexidade: mãos na cabeça, expressões de assombramento e olhos perdidos, mergulhados em lágrimas. Revivendo o fatídico ‘Maracanazo’ de 1950, a seleção brasileira voltaria a decepcionar em uma final de Copa do Mundo no país. Mas agora o roteiro trataria de colocar um talento nacional como algoz do selecionado pentacampeão mundial. Por mais estranho e trágico que possa parecer, a descrição acima pode se confirmar no dia 13 de julho, durante a última partida do Mundial. Com a globalização do esporte e a legislação permissiva da Federação Internacional de Futebol Associado (Fifa), cada vez mais brasileiros passaram a ingressar em seleções dos cinco continentes.

do em amistosos e torneios de menor expressão. Mas, para isso, é preciso que ele tenha pais ou avós biológicos nascidos no Estado que pretende defender ou que, a partir da maioridade, viva há cinco anos ou mais nesse país. Em última instância, o atleta pode requerer a mudança à Fifa, que analisa o pedido.

O Estatuto da Fifa é categórico ao determinar duas condições para a naturalização. A primeira é que o atleta nunca tenha participado de uma partida ou de competição oficial de nível ‘A’ pela seleção de seu país de origem. A entidade considera nível ‘A’ os torneios adultos continentais ou globais, como a Eurocopa e a Copa do Mundo. Assim, um atleta pode vestir a camisa de outra seleção, mesmo tendo atua-

Em maio, as listas de convocados para o próximo Mundial podem trazer até um time de brasileiros defendendo outras cores. A previsão é feita com base nas convocações periódicas de cada uma das 32 seleções. Entre os nomes prováveis, um caso chama a atenção. Diferencial do Atlético de Madrid e sensação do futebol europeu nesta temporada, o centroavante sergipano Diego Costa foi convocado para a seleção brasileira e

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podium

Pepe, zagueiro brasileiro naturalizado português, disputa bola com Jô, do Brasil

foi uma escolha muito pensada. Espero estar na Copa do Mundo para jogar tão bem quanto a seleção espanhola no último Mundial”, declarou na época. Apesar do atrito, Diego Costa seria um nome importante para suprir as carências do grupo de Felipão no setor ofensivo. Fred, centroavante titular, vive o drama de seguidas lesões. Seu reserva imediato, Jô, não passa a confiança necessária para comandar o ataque brasileiro.

Francisco Paraiso

Com as Copas do Mundo de 1970 e de 1974 no currículo, o ex-capitão do escrete canarinho Wilson Piazza sabe que parte dos brasileiros é excessivamente passional, quando se trata de futebol. “Muita gente coloca a pátria como algo intocável no Brasil. Mas quem busca jogar uma Copa do Mundo por outra seleção não é antipatriota. Muitas vezes, o atleta não tem oportunidades com a camisa verde-amarela, mas encontra espaço em outros centros. Se ele é bem recebido pela população local, se se identifica com o país e gosta de morar lá, qual é o problema de representá-lo? Jogar um Mundial é a coroação de uma carreira para muitos jogadores”, avalia Piazza.

entrou nos minutos finais dos amistosos contra a Itália e a Rússia. Depois foi relegado por Felipão. Mas o sucesso do atacante na Espanha fez torcedores da ‘Roja’ pedirem a presença dele na equipe de Vicente del Bosque. A Real Federação Espanhola de Futebol convenceu o jogador a atuar pela ‘Fúria’ e tratou logo de regularizá-lo. Com a naturalização encaminhada, Diego Costa foi chamado novamente por Felipão em outubro do ano passado, mas, dessa vez, recusou o convite. Em momento de paranoia, o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), José Maria Marin, prometeu até cassar a cidadania brasileira do sergipano. Sereno, o atacante se esquivou da polêmica. “No momento foi complicado. Eu tentei fazer o que achava correto. Mas

Assim como Diego Costa, outros atletas que provavelmente estarão na Copa poderiam brigar por uma vaga no time de Felipão. Thiago Alcântara, meia da seleção espanhola, é um deles. O atleta preferiu atuar pela ‘Roja’, mesmo sendo filho do ex-jogador Mazinho, campeão do Mundo com o Brasil em 1994. Formado no Barcelona, Alcântara é um dos craques do Bayern de Munique e homem de confiança do técnico Pep Guardiola. Mas o sucesso no atual campeão mundial não é garantia de titularidade do jogador na equipe da ‘Fúria’. Com o zagueiro Pepe, a história é diferente. ‘Xerifão’ da defesa portuguesa, o jogador do Real Madrid disputou a última Copa pelo país das quinas e sempre figura entre os titulares do técnico Paulo Bento. Na Itália, Thiago Motta é nome certo na lista de Cesare Prandelli. O volante chegou a jogar nas categorias de base da seleção brasileira, tendo participado com a equipe sub-23 da Copa Ouro de 2003, no México. Sete anos depois, em uma decisão inédita da Fifa, o meia foi autorizado a defender a ‘Azzurra’. Outros brasileiros têm razoáveis possibilidades de disputar a Copa do Mundo em seu país natal. Pela | 25


Com que roupa eu vou? Dezesseis jogadores brasileiros e uma história em comum: a Copa do Mundo envergando a camisa do rival

FILÓ (1934) Itália

MAZZOLA (1962)

Ponta-direita Curiosidade: Primeiro brasileiro campeão do mundo, mas pela Itália.

Atacante

Itália

OLIVEIRA (1998)

ALEXANDRE GUIMARÃES (1990)

Costa Rica

Meio-campo Curiosidade: Primeiro brasileiro a enfrentar a seleção canarinho..

Atacante

Bélgica

Atacante Curiosidade:

Zagueiro

Tunísia

Foi reserva na Copa do Mundo da França.

Lateral-esquerdo Curiosidade: Jogou uma Copa em seu país adotivo

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Curiosidade: Também disputou os Jogos Olímpicos de 2000.

MARCOS SENNA (2006)

ALEX SANTOS (2002 - 2006) Japão

Curiosidade: Foi titular nos três jogos da Bélgica na Copa.

JOSÉ CLAYTON (1998 - 2002)

WAGNER LOPES (1998) Japão

Curiosidade: Campeão do mundo pelo Brasil em 1958.

Volante

Espanha

Curiosidade: Campeão da Eurocopa em 2008 com a ‘Fúria’.


FRANCILEUDO SANTOS (2006)

DECO (2006 - 2010) Meio-campo

Atacante

Tunísia

Curiosidade: Disputou a Copa das Confederações

Portugal

de 2005.

SINHA (2006)

THIAGO MOTTA (2010)

Meio-campo

México

Curiosidade: Voltou a ser convocado pela seleção aos 37 anos.

Volante

Itália

BENNY FEILHABER (2010)

Curiosidade: Mudou-se para os Estados Unidos ainda criança.

Zagueiro

Japão

PEPE (2010)

Curiosidade: Estreou na Copa empatando com o Brasil em 0 a 0..

Curiosidade: Quinto brasileiro a atuar pela seleção japonesa.

LIEDSON (2010)

Zagueiro

Portugal

Curiosidade: Participou da pior campanha da Itália na história das Copas.

MARCUS TÚLIO TANAKA (2010)

Volante

EUA

Curiosidade: Marcou um gol em cada Copa disputada.

Atacante

Portugal

Curiosidade: Também disputou os Jogos Olímpicos de 2000.

| 27 Fonte: Fifa


podium

América estão Benny Feilhaber, dos Estados Unidos, Sinha, do México, Marco González, do Chile, e Matías Aguirregaray, do Uruguai. Douglas, da Holanda, Cássio, da Austrália, e Marcus Túlio Tanaka, do Japão, também podem ser selecionados para o Mundial.

China, participou da Copa de 1990 pelo país centro-americano. A derrota magra de 1 a 0 para o Brasil, de Sebastião Lazaroni, veio na primeira fase, no Estádio Delle Alpi, em Turim.

A naturalização de brasileiros, hoje evidente, não é bem uma novidade. No segundo Mundial da história, disputado em 1934, na Itália, o ítalo-brasileiro Anfilogino Guarisi Marques, o Filó, optou por defender as cores da anfitriã. Naquela época, jogadores que atuavam fora do país raramente eram convocados para a seleção brasileira. Como jogava na ‘Velha Bota’ desde 1931, Filó aceitou o convite da ‘Azzurra’. Em campo, o ponta-direita participou apenas da vitória da Itália sobre os Estados Unidos, por 7 a 1, num tempo em que não havia substituição. Filó foi o primeiro brasileiro campeão do mundo, mas sob o comando do técnico e jornalista Vittorio Pozzo. Em 1934, o escrete italiano conquistou o Mundial sob a pressão do ditador fascista Benito Mussolini que, antes da final contra a Tchecoslováquia, enviou um recado direto para os jogadores: “vitória ou morte”.

com a globalização. A maior diversidade étnica se tornou evidente nos últimos Mundiais, sobretudo em selecionados europeus. Na França há o predomínio de negros e de árabes filhos de imigrantes. Na Suíça, mais da metade dos convocados em 2013 tinha origem estrangeira. Na Inglaterra, a esperança de gols está depositada em um jamaicano: Raheem Sterling. Alemanha e Itália contam, nesta ordem, com um zagueiro e um centroavante de ascendência ganesa: Jérôme Boateng e Mario Balotelli.

Em 1962, foi a vez de José João Altafini, o Mazzola, trocar de uniforme. Campeão da Copa do Mundo de 1958 pela seleção canarinho, o atacante seguiu a carreira no futebol italiano depois de boas propostas. Naturalizou-se e foi convocado pela Azzurra para a edição de 1962, no Chile. Na ocasião, os italianos foram eliminados na primeira fase. Mas foi um alagoano o primeiro de 13 brasileiros a enfrentar o selecionado verde-amarelo em um Mundial. Alexandre Guimarães nasceu em Maceió, mas se mudou com os pais, ainda jovem, para a Costa Rica. O ex-meio-campista e hoje técnico do Tianjin Teda, da 28 | www.voxobjetiva.com.br

Reflexo social, o futebol ganhou novos contornos

“Essas novas seleções dizem ao mundo que precisamos conviver com as diferenças. Elas apontam que o local de nascimento é apenas uma forma de recrutar jogadores. Também mostram que, mesmo sendo filhos de imigrantes nascidos na Europa, têm os mesmos direitos dos que são filhos de italianos nascidos na Itália, por exemplo. Este é um fato: as novas configurações étnicas já fazem parte do futebol”, pondera Sérgio Settani Giglio, professor de mestrado em gestão do esporte da Universidade Nove de Julho (Uninove), de São Paulo. Essas mudanças, muitas vezes benéficas para a evolução do esporte, não são bem aceitas por todos. Na França, a presença de atletas de ascendência negra ou árabe é colocada em discussão. Na última Copa, eles eram 13 de um grupo de 23 jogadores. Após a eliminação no Mundial da África do Sul, racistas e xenófobos exaltados invadiram a sede da Federação Francesa de Futebol (FFF) e pressionaram o então presidente da entidade, Jean-Pierre Escalettes, a não permitir a convocação de ‘pretos e muçulmanos’.


Horizontes

Exótico paraíso Com mais de 40% da área total protegida, a Tanzânia supera carências sociais e de infraestrutura com a rica biodiversidade e culturas fascinantes Texto e fotos: Daniela Rebello

Um país de extremos, onde a exuberante natureza confronta com a pobreza extrema, uma das 35 mais severas do mundo. Muitas vezes identificada como ‘Berço da Humanidade’, a Tanzânia se afirma com culturas marcantes que refletem inúmeras tradições africanas. Mulheres carregando enormes baldes e sacolas equilibradas na cabeça; corpos cobertos por panos coloridos; toalhas amarradas às costas para carregar crianças; ruas sem faixas a expor vidas que correm em meio a um emaranhado de carros; calçadas lotadas de comerciantes, que vendem desde comidas a um simples pé de sapato. A minha curiosidade diante do estranho sempre vinha acompanhada de um sorriso e de olhos que pareciam dizer mais do que qualquer palavra. Todas essas características pincelam a cultura do local com a maior diversidade que já vi. Sobre essa cultura, há dois aspectos primordiais a serem lembra-

dos: o idioma suaíli e o povo massai. Suaíli é um nome derivado da palavra árabe Sawahil, que significa ‘habitantes da zona costeira’. O termo também designa a língua falada por 90% da população. Conhecidos como um povo guerreiro, seminômade e pecuarista, os Massais preservam suas tradições geração após geração. Eles se vestem com panos vermelhos quadriculados e usam alargadores nas orelhas, enormes colares de miçangas coloridas e um cajado. Há 500 anos na Tanzânia, eles vivem com animais selvagens e mantêm uma relação sagrada com a terra.

Durante 14 dias, participei de um grupo de 20 pessoas que viajou em jipes, caminhões e balsas para explorar e conhecer algumas cidades tanzanianas e suas culturas. A viagem começa por Nairóbi, no Quênia. De lá, foi um dia inteiro na estrada até a chegada ao Parque Nacional de Serengeti. De caminhão, o grupo cruzou a fronteira até Arusha – cidade de apoio entre

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Horizontes

nome se refere às pessoas que ficam com seus guias de animais durante o percurso, marcando as espécies encontradas no caminho. Os passeios são feitos em jipes. Os veículos geralmente são abertos no teto para que os viajantes apreciem a diversidade ao longo do trajeto. As belezas da Tanzânia também podem ser vistas de um balão, ao nascer do sol. Mas, devido ao limite de passageiros, é preciso reservar lugar. Ainda no Parque Nacional do Serengeti, o grupo visitou a cratera de um vulcão: Ngorongoro – reserva considerada Patrimônio Mundial pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). O local é conhecido como ‘Arca de Noé’, devido à variada fauna, e abriga cerca de 30 mil animais. Dentre as espécies encontradas estão leões, leopardos, hipopótamos, elefantes e o rinoceronte negro – animal em risco de extinção. A exótica e exuberante beleza da área de conservação segue preservada, graças às raras intervenções humanas.

os parques do Quênia e da Tanzânia. Por lá, é possível encontrar supermercado, bancos e lojas, algo raro na região. Isso faz do local um indispensável ponto de abastecimento para os turistas que partem rumo aos safáris. No final do dia, estávamos em Serengeti. A reserva ficou internacionalmente famosa pela migração anual de 500 mil gazelas, 200 mil zebras e pelas manadas de 1,3 milhão de gnus – antílopes africanos que percorrem 700 quilômetros em busca de pastos esverdeados. O acampamento dentro do parque nos aguardava rodeado por animais selvagens e sons noturnos. Foi preciso retirar da barraca qualquer objeto que tivesse aroma – desde sabonete até comida. À noite, esses animais podem ser atraídos pelo cheiro. Aliás, a chegada do grupo foi marcada por uma visita inusitada: um elefante! Segundo os guias, trata-se de um frequentador do camping. O animal apareceu para se refrescar na caixa d’água durante a tarde e retornou à noite. Nesse período, o elefante aproveitou para dar voltas em torno das barracas. O dia seguinte começou com um safári, também conhecido como ‘Game Drive’ ou ‘Jogo de Dirigir’. O

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Na reserva, é corriqueiro uma família de elefantes parar em frente ao jipe durante 20 minutos. Eles fazem isso como se os turistas não estivessem ali. Isso não seria natural! Por terem excelente memória e associarem a figura humana à caça, os elefantes conseguem se lembrar daqueles que ameaçaram a sua família, mesmo quando são filhotes. Mas, longe das ameaças, os animais em Ngorongoro consideram o homem como parte do ecossistema. Mesmo assim, os turistas são devidamente instruídos para se precaDiversidade da fauna é um dos atrativos turísticos da Tanzânia


Horizontes

Ilha de Zanzibar chama atenção pelas praias paradisíacas

ver de um possível ataque. Afinal, o elefante age por instinto. Apesar disso, Ngorongoro é um dos lugares mais fantásticos da África, sem dúvida! O destino seguinte foi uma vila próxima a Arusha: MtoWaMbu ou ‘Rio de Mosquitos’. Em um passeio organizado pela comunidade, fomos apresentados à simplicidade do local. A pé pelo vilarejo, o grupo pôde experimentar a famosa cerveja de banana e se deliciar com a culinária local em uma casa da vila. O lucro daquele passeio e de tantos outros é revertido em benefícios para as pessoas de lá, criando assim um turismo comunitário na região. Em Marangu, o grupo passou apenas uma noite. A pequena vila fica nas encostas mais baixas do Kilimanjaro. O monte considerado o topo do continente africano é roteiro de milhares de aventureiros. No outro dia, fomos para Dar Es Salaam, a 560 km do Kilimanjaro. A cidade é a maior e mais populosa do país. Antiga capital da Tanzânia, Dar Es Salaam ou ‘Refúgio de Paz’ é a porta de entrada da Ilha de Zanzibar, refúgio de águas quentes e cristalinas – uma das mais transparentes do planeta. Conhecido como ‘Ilha de Temperos’, o lugar impressiona pela presença expressiva de muçulmanos: 97% da população local. Às mulheres, é recomendado

andar pelas ruas usando roupas que cubram o colo, os ombros e o pescoço, e saias ou calças abaixo do joelho. Tudo isso para não chamar a atenção. Apenas na praia é possível usar biquíni. Andar com roupa de banho pelas ruas? Jamais! Isso seria considerado um desrespeito aos nativos. Uma atividade recomendada em Zanzibar é o mergulho. Após um curto passeio feito em pequenas embarcações, o turista pode desfrutar de uma das águas mais transparentes do mundo. O tempo médio do trajeto até o local do mergulho é de uma hora. Por ser pequeno, o barco balança muito e faz do passeio uma opção inadequada para pessoas sensíveis ao enjoo marítimo. Quando a viagem chegou ao fim, foi preciso um tempo para processar a experiência, antes de retornar à rotina. A Tanzânia tem uma das maiores biodiversidades da África, com extremas belezas e contrastes. O país merece e deve ser estudado minuciosamente, antes de tudo, para o turista não se deixar cair em estereótipos. Por isso, aproveite as diferentes tradições tanzanianas e absorva ao máximo as experiências que essa cultura oferece. Curta cada momento e deixe a memória processar lenta e deliciosamente as lembranças de um lugar cujos segredos a globalização não consegue revelar nem, tampouco, traduzir.

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Com força e jeito Academia mista, dedicada ao fitness e à dança, revela história de prosperidade num empreendimento essencialmente feminino Texto: André Martins Fotos: Felipe Pereira Foi a partir de um sonho comum a muitas meninas na infância que um dos maiores estúdios de dança e espaço fitness de Belo Horizonte começou a ganhar forma. Era o ano de 1944. A menina Mércia Coutinho apenas aspirava a um futuro promissor como bailarina. Aos 8 anos, demonstrando autonomia de gente grande, ela se matriculou sozinha nas aulas de balé clássico ministradas pela única professora da cidade na época: Natália Lessa. A dançarina foi referência na popularização desse estilo na capital mineira. Naqueles tempos, a preparação das pequenas bailarinas visava quase sempre os mesmos objetivos: os festivais que aconteciam todos os finais de ano no hoje revigorado Cine Brasil. Mas após dois anos de 32 | www.voxobjetiva.com.br

envolvimento com a dança, os caminhos que pareciam infinitos e cheios de possibilidades para Mércia convergiram para um inesperado e frustrante desfecho. Uma anemia aguda forçou a menina a afrouxar os laços da sapatilha e abandonar os palcos antes que os mais ambiciosos sonhos de infância se tornassem realidade. Na adolescência e na maturidade, Mércia viu grandes palcos das artes sendo erguidos em Belo Horizonte. O Teatro Francisco Nunes e o Palácio das Artes são exemplos. Até o casamento e a chegada dos filhos, ela preenchia os dias indo a óperas, espetáculos de dança e de música clássica. Quando a família cresceu, a realização pessoal começou a parecer completa.


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Apenas parecer. É que mesmo nunca tendo se distanciado da arte em sua miríade de formas de expressão, Mércia percebia que um sentimento de falta insistia em incomodar.

Reza a cartilha do bom empreendedor que é nos momentos de dificuldade e incerteza que as oportunidades costumam surgir. A despeito da inquietação de mares talvez nunca navegados, os bons empreendedores sempre vislumbram a oportunidade e nela se agarram sem medir esforços. E foi isso que aconteceu no caso de Mércia. Na década de 70, o bairro Cidade Nova era uma região em expansão, com poucos estabelecimentos comerciais. Então, a ex-bailarina teve a ideia de investir em um negócio que estivesse atrelado à arte: um espaço de dança e de ginástica.

de, ao bem-estar e à recreação. “Nós temos alunas cujas mães aprenderam comigo. Há, inclusive, um caso interessante de três gerações da mesma família conosco. A avó faz pilates, step, localizada e aula de dança. A filha dela foi nossa aluna e hoje é professora de balé. E a neta dessa senhora faz aulas conosco. É uma história construída neste espaço”, expõe orgulhosa Simone.

A administração da academia, repassada de mãe para filha, tem a próxima personagem dessa linhagem definida: Rachel Gouvêa, de 18 anos. A estudante do primeiro período de Educação Física da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) é neta de

A academia mista começou a funcionar em 1977. O espaço utilizado para montar o negócio foi o primeiro andar da casa de quatro pavimentos onde ela residia com o marido e três filhos. Balé, jazz, sapateado e ginástica feminina eram as opções oferecidas pela Academia Harmonia, a primeira criada no bairro Cidade Nova. Aos 78 anos de idade, Mércia lembra quão desafiador foi o início do negócio. “Todo começo é difícil. As primeiras alunas chegaram por meio da divulgação de panfletos, cartazes em padarias e faixas. Tudo à custa de muito suor e uma vontade muito grande de vencer”, rememora. Por dez anos, o espaço atendeu basicamente ao público feminino. A partir de 1984, Simone Coutinho, a filha caçula de Mércia e braço direito da mãe, assumiu a administração da academia. Na época com 21 anos, Simone teve um papel importante por trazer novidades e ampliar a oferta de serviços, atraindo o público masculino com a musculação. O tempo passou, e a residência foi perdendo espaço para a academia, até que o estabelecimento ocupasse todo o imóvel. Este ano, foi a dança que ganhou um espaço exclusivo no mesmo bairro. Assim como aconteceu com o fitness anos atrás, a arte se diversificou com expressões contemporâneas, como as danças de rua, de salão e a zumba, além da dança do ventre. “A consolidação do negócio foi o momento mais desafiador para nós. A partir daí, eu diria que tivemos somente momentos crescentes”, entende Simone. As donas da Academia Harmonia acreditam ter identificado um dos maiores trunfos do negócio nos dois ambientes: a atmosfera essencialmente familiar. Gerações se encontram em espaços dedicados à saú-

Ex-bailarina, Mércia Coutinho fez da casa onde morava uma grande academia de dança e ginástica

Mércia e filha de Simone. Ela ajuda a mãe e a avó sempre que é requisitada. Rachel revela que a opção pelo curso foi isenta de pressões familiares. “Caso eu não tivesse vivido neste ambiente a minha vida inteira, não sei se teria escolhido esse caminho. Eu fui indiretamente influenciada, sem nenhum tipo de pressão. Hoje não me vejo em outra profissão. Caso contrário, teria, com certeza, o apoio da minha mãe. Mas isso é o que eu gosto de fazer. A minha mãe ajudou a minha avó, e eu quero ajudar a minha mãe. Tomara que o negócio continue por muitas gerações”, revela com desenvoltura. | 33


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O negócio entre elas Os quase 40 anos da Academia Harmonia são exemplos de um empreendimento de sucesso tocado a três pares de mãos femininas. Não é de hoje que a proeminência delas é notória nos campos do conhecimento e dos negócios. Mas quais seriam as particularidades das mulheres para gerir um negócio? Quando o assunto é a perspectiva de vida útil de um empreendimento, elas saem na frente.

Simone Coutinho e Rachel Gouvêa: o presente e o futuro da Academia Harmonia

Como futura profissional de Educação Física e herdeira da empresa gerenciada pela mãe, Rachel pretende encaminhar sua formação acadêmica para atuar com danças e no universo fitness. “A minha ideia é fazer algumas matérias específicas que possam agregar qualidade para a academia. Quero que tudo fique bem interligado e que ajude o negócio a crescer”, explica. O cuidado da estudante com o profissionalismo e da sua família com o planejamento sucessório são dois dos principais elementos para o sucesso entre as empresas familiares, como revelam analistas do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Ainda é cedo para que Rachel assuma a Academia Harmonia – um dos 7,2 milhões de negócios familiares do país. Mas a neta de Mércia pode fazer com que o negócio da família Coutinho integre o seleto grupo de 10% das empresas familiares brasileiras que conseguem atingir a terceira geração, conforme dados do Sebrae. Simone – que confessa ser metódica e centralizadora – delega pequenas responsabilidades à filha enquanto exercita o desapego. Mãe e neta, entretanto, reconhecem que essa é uma forma muito particular de Simone demonstrar cuidado e carinho com o que ela ajudou a estruturar ao longo de 37 bem-vividos anos. 34 | www.voxobjetiva.com.br

Mércia, Simone e Rachel concordam que homens e mulheres são diferentes na condição de administradores e empresários. Elas afirmam estar em vantagem em relação a eles por serem mais diplomáticas. “Eu acredito que o homem seja mais racional e que a mulher tenha na emoção e no jogo de cintura maior facilidade para lidar com problemas. Antes, a mulher agia basicamente pela intuição. Hoje ela tem conhecimento técnico e prático”, opina Simone. Mércia endossa o pensamento da filha. “Mesmo havendo grandes empreendedores, penso que as mulheres de hoje competem ‘pau a pau’ com os homens”.


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Maria Angélica Falci

Psicologia

A guerra que não evito Por que muitas pessoas desejam viver a tão sonhada paz, e fazem o inverso? Por que tantos indivíduos dão um ‘tiro no próprio pé’? Escutamos muitos relatos, queixas e dificuldades quando observamos as pessoas do nosso convívio. Muitos se dizem focados em promover mudanças em suas vidas. Mas o que geralmente vemos é a fixação do indivíduo em zonas emocionais nas quais ele deseja se transformar. Entretanto, pouco ou nada se esforçam para isso. Ter foco é se concentrar nos objetivos e caminhar em direção à busca de resultados. É algo bem sistêmico. O foco não foi feito para ser fixado na mente nem a criar a ilusão de estar contribuindo para uma mudança. Ter foco é agir com atitude e dar passos largos rumo às transformações. Os registros inconscientes geralmente contribuem para essa fixação nociva. Em sua maioria, essas marcas foram experiências pouco prazerosas, mas que, de alguma forma, ajudam a ligar o ‘alerta psíquico’. Assim, fazem com que a pessoa deseje a mudança, mas continue imóvel.

gar a uma determinada situação e o que fazer para evitar o desassossego. A tão sonhada paz interior não é uma utopia. Ela pode ser conquistada e sustentada por muito tempo. É óbvio que existem fatores externos que influenciam nessa manutenção. Mas a forma como se conduzem as situações faz toda a diferença. Então, por que parece tão complicado e distante ter foco e agir ao mesmo tempo?

“Não force a barra! Faça um favor a si mesmo e não intensifique sua guerra emocional”

Escutamos relatos – muitos convincentes – de que a pessoa está fazendo X e Y para modificar suas zonas de conflito. Mas, por diversas vezes, a realidade mostra o contrário: uma intensa fadiga por nadar contra a maré. Uma pessoa que deseja se libertar de sua ‘guerra emocional’ geralmente tem consciência da própria vontade, mas não encontra forças para agir. Por isso, sintomas, como a angústia constante e a depressão, surgem como uma avalanche. É fundamental termos a consciência de como queremos che-

Ora, o ser humano tem certo prazer de absorver alguns conflitos. A afirmação pode soar estranha e até mesmo incoerente, mas tem seu fundo de verdade. Em vários casos, um registro mal- -localizado passa a valer como verdade, trazendo ganhos secundários para a pessoa. É que em muitas situações, o indivíduo pode intensificar seus conflitos para obter o olhar, a atenção e a vitimização do outro, sentindo-se, assim, ‘confortável’.

Mas é bom ressaltar: sair da ‘zona de conflito’ traz ganhos muito maiores e duradouros. Além disso, controlar as emoções e não criar expectativas ousadas em relação ao olhar e à forma como o outro o valoriza sugere o encontro com a paz interna. Ser amado, valorizado e aceito faz parte da constituição humana. No entanto, esse processo deve ser natural e leve. Não force a barra! Faça um favor a si mesmo e não intensifique sua guerra emocional. Isso trará frutos grandiosos para o seu caminhar.

Maria Angélica Falci Psicóloga clínica e especialista em Sáude Mental angelfalci@hotmail.com | 35


Jô Moreira

Petrônio Amaral/ Olegário Savassi

receita

Fettuccine al Pesto Chef Remo Peluso - Provincia Di Salerno INGREDIENTES

MODO DE PREPARO

Meio maço de manjericão desfolhado 200 ml de azeite 50 g de queijo parmesão ralado 50 g de nozes trituradas Meia batata pequena cozida Massa tipo fettuccine

Bata todos os ingredientes no liquidificador, menos as nozes. As batatas também devem ser batidas para dar liga ao molho. Depois de tudo bem triturado, acrescente as nozes por cima do molho pesto. Cozinhe o fettuccine al dente em uma panela comum e espere ficar consistente e macio.

Tempo de preparo 30 minutos

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Depois de cozido, escorra o fettuccine e dê um choque térmico. Sirva-o com o molho pesto por cima.


vINHOS

Comprar um vinho pela internet Nelton Fagundes Sommelier da Enoteca Decanter BH

Perguntas como essas só podem ser respondidas pessoalmente, com um atendimento de profissionais preparados para esclarecer, informar e indicar o vinho que você vai ter prazer de beber. Uma loja especializada conta com uma equipe preparada e sommeliers: profissionais encarregados de selecionar, controlar safras, conservar, vender, harmonizar e ministrar cursos sobre vinhos. O objetivo dessa equipe não é vender rótulos caros e sofisticados, mas indicar vinhos das mais variadas faixas de preço, dentro do perfil de cada cliente. Se a sua preferência é uma bebida macia, eles vão aconselhar o mais adequado. Se sua intenção é harmonizar com pratos especiais, serão usados critérios técnicos para descom-

plicar sua vida, sempre levando em conta as quantidades necessárias e o seu crescimento enológico. Fico triste por dividir uma taça com amigos e, ao perguntar sobre o vinho, eles não saberem responder nada. Pior do que isso é ouvir de muitos deles que apenas adquiriram a garrafa graças a uma oportunidade de compras pela internet. Comprar vinhos é mais que clicar em um rótulo e conferir nele uma análise superficial sobre as características da bebida. A escolha envolve um pouco de poesia e prazer. Esse ato só é sentido dentro de uma loja especializada, no contato com cada garrafa e na explicação detalhada sobre a história daquele vinho. Talvez você fique um pouco sem jeito no início. Mas, assim que conseguir calibrar a sua percepção a partir dos conhecimentos adquiridos com um sommelier, você vai poder se informar em primeira mão, analisar o produto ofertado e degustar algo “de acordo com o seu paladar”. Adquira vinhos das mais variadas formas e aproveite os benefícios que a tecnologia propicia. Um rótulo já apreciado pode ser facilmente comprado pela internet ou por telefone em sua loja de confiança. No entanto, avalie bem como está o seu desenvolvimento enológico ao comprar um novo rótulo. Veja se você está realmente aprendendo e evoluindo no mundo dos vinhos. E viva o ato de escolher nossos vinhos com a ajuda de quem entende o nosso gosto.

Shutter Stock

Prezado leitor, minha estreia nesta coluna não poderia ser sobre outro tema: a escolha dos vinhos em tempos de realidade digital. Tenho observado uma mudança no perfil dos apreciadores da bebida. Em muitos casos, eles consideram os preços em vez da qualidade. Vários amigos têm deixado de escolher seu vinho, terceirizando o ato com sites especializados que entregam em casa o rótulo indicado. No quesito comodidade, realmente esse é um bom negócio. O produto chega à residência com todo o conforto para o consumidor. Contudo, esses vinhos têm o estilo que o enófilo gosta? Têm taninos macios ou intensos? São mais elegantes ou mais frutados? Têm madeira e acidez adequadas? Quais são os quesitos para essa escolha? Apenas o preço baixo para atender a um nicho de mercado?

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O lucrativo mercado do ‘sim’ Matrimônios impulsionam sólidas empresas e geram oportunidades de negócios na capital mineira Bárbara Caldeira

Tradicionalmente, maio é o mês das noivas. As explicações para a alcunha são diversas. Há quem defenda que a origem vem do hemisfério norte, onde no quinto mês do ano é primavera. Para a Igreja Católica, a escolha se deu porque o período corresponde à consagração de Maria, mãe de Jesus, além de coincidir com a comemoração do Dia das Mães. Seja qual for o motivo, para além do romantismo e das tradições, os casamentos movimentam expressivamente a economia do país e criam oportunidades lucrativas de negócios. A Associação de Profissionais, Serviços para Casamento e Eventos Sociais (Abrafesta) estima que a indústria matrimonial tenha faturado R$ 16 bilhões, somente em 2013. O aumento foi de 8% em relação ao ano anterior. Em Minas Gerais, quem investe no segmento percebe um terreno fértil. Conforme dados do Instituto Brasileiro de Geo-

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grafia e Estatística (IBGE), Belo Horizonte é a capital com maior índice de matrimônios. No coração do estado mineiro, 75% das pessoas que vivem juntas são casadas. Há 11 anos, Danielle Benício criou um ateliê homônimo para receber noivas em busca de vestidos. A estilista enxergou o potencial desse filão e soube se consolidar no mercado. Em 2013, a marca registrou um crescimento de 15% no faturamento e espera um incremento de 10% em 2014. Trabalhando apenas com peças exclusivas e sob encomenda por opção, Danielle produz cerca de 12 vestidos por mês. “Cada um leva, em média, oito meses para ficar pronto. Assim, muitas noivas me procuram com até um ano de antecedência”, salienta. Os preços das criações impressionam: variam de R$ 9 mil a R$ 13 mil. “O valor é diretamente proporcional à quantidade e ao tipo de


Leca Novob

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Os vestidos de noiva desenvolvidos pela estilista Danielle Benício podem custar entre 9 mil e R$ 13 mil

subir ao altar. A procura é tamanha que a empresária Martinha Oliveira decidiu fundar o Spa Bella Donna no ano passado. O local oferece serviços para noivas e conta com equipe de profissionais das mais diversas áreas para garantir uma produção impecável. São mais de 20 especialidades a oferecer um pacote completo, como dermatologia, odontologia estética e cosmetologia. “O mercado de casamento é enorme e está em flagrante evolução. Trabalhar com o sonho de uma pessoa é muito gratificante, e toda a equipe acaba participando dessa felicidade”, confessa Martinha. De acordo com a empresária, o spa chega a atender até três noivas no mesmo fim de semana. O plano básico oferecido inclui uma sala exclusiva para a noiva, assessoria completa com check-list do dia da cerimônia, teste de penteado e maquiagem, produção para o grande dia, alimentação especial, além de penteado e maquiagem para fotos externas – que podem ser marcadas para antes ou depois do casamento. “Pelo tempo mínimo de quatro horas conosco, esse conjunto de serviços custa à noiva em torno de R$ 3,7 mil”, conta Martinha. Há também a ala feminina da família dos noivos, que muitas vezes opta por se arrumar no mesmo lugar que a noiva. “É muito comum recebermos a mãe, a irmã, a sogra e as madrinhas. Nessas ocasiões, o nosso cuidado é redobrado para evitar qualquer dor de cabeça”, ressalta a empresária. renda francesa escolhida e à incidência dos bordados”, explica. Além de atender ao mercado mineiro, a estilista comercializa as peças especialmente com São Paulo, Goiás, Espírito Santo e Alagoas. Compreender o que a noiva sempre sonhou para o grande dia e ter em mente as expectativas que a boda envolve são diferenciais para ter êxito nesse segmento, como acredita Danielle. “O estilista desse ramo deve levar em conta o íntimo e a forma como a noiva enxerga o mundo”, avalia. Para a empresária, a disposição para despender menos ou mais recursos em uma só peça varia conforme os anseios das noivas. “Algumas mulheres sonham com esse momento durante toda a vida. Outras já são mais práticas e realistas”.

Público-alvo do mercado da beleza, as ‘protagonistas dos casamentos’ recebem cuidados especiais para

Do altar para os álbuns de família, a fotógrafa Bruna Finelli e o DJ e produtor cultural Tadeus Mucelli fizeram da união uma oportunidade de negócio. Maio foi o mês escolhido por eles para oficializar os laços matrimoniais no ano passado. O casamento foi em uma manhã de domingo para fugir do tradicional. Bruna pensou em cada detalhe, inclusive na iluminação, inquietação própria de sua profissão. “Decidi que me casaria no mesmo local da recepção e que seria durante a manhã. Acredito que a claridade solar traga um astral leve e tranquilo para uma cerimônia de casamento. Por isso, não hesitei na escolha”, revela. A experiência levou Bruna a constatar dois fatos: casar é caro, mas as pessoas não são tão racionais nessa situação. “Jamais imaginei que o preço final superasse o programado, mas não me arrependo”, admite. A fotógrafa também percebeu que a presta-

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We Casamentos

Moreira. “No mercado de casamentos, não existe tabela definida de valores. Pode-se cobrar de R$ 5 a R$ 20 mil. O que sempre fazemos é conversar com o casal, saber mais sobre eles, o que querem e quanto podem pagar para chegarmos a um valor razoável, sempre pensando na satisfação dos noivos”.

Também imprescindíveis, os bem-casados representam a união selada pela cumplicidade e pelo respeito mútuo, conforme a crença popular. “Casamento sem bem-casado não é casamento!”, brinca a engenheira de alimentos Roberta Pereira. À frente do Buffet Jolie, especializado nos tradicionais docinhos, ela revela que produz, em média, 8 mil guloseimas por mês, o que corresponde a cerca de 16 eventos. “Mesmo que os pães de mel e alfajores também façam sucesso, nada substitui esse clássico”, assegura.

As fotografias do casamento de Bruna Finelli e Tadeus Mucelli foram o primeiro passo para a criação da We Casamentos

ção de serviços para noivos é deficiente, muitas vezes por falta de preparo dos contratados. “A maioria dos fornecedores trata as noivas como clientes de uma empresa. De fato, somos clientes. Mas queremos sempre um tratamento mais intimista”. Da observação, veio o clique para os negócios literalmente. Com os amigos Daniel Moreira e Rodrigo Mendes, fotógrafos escolhidos para registrar sua união e sócios no estúdio Mineral Image, Bruna criou a We Casamentos. A empresa se notabilizou em fotografar matrimônios de forma mais personalizada e menos mercadológica.

O preço médio é R$ 3 por unidade e há variações de sabores. “O campeão de vendas é o bem-casado de doce de leite, mas também oferecemos os recheios de chocolate, coco e ameixa”, detalha. Com 80% da produção direcionada aos matrimônios, o Buffet Jolie aposta em doces personalizados. “Desenvolvemos embalagens de acordo com o perfil de cada cliente. Usamos terços, medalhas, tags com os nomes dos noivos, tecidos, telas, flores, pingentes, pérolas e tantas outras opções de decoração”, lista Roberta. Em 2014, a empresa espera triplicar de tamanho. “Demanda, com certeza, é o que não falta”, confia a empresária.

O orçamento varia muito de acordo com a quantidade e a complexidade de serviços desejados, como esclarece 40 | www.voxobjetiva.com.br

Renata Maia

O trio defende que o ponto forte da We seja criar uma relação de proximidade com as pessoas retratadas. “Buscamos o diálogo e o entendimento, sem esquecer a responsabilidade que todo fotógrafo deve ter e o conhecimento técnico para saber dirigir e gerar uma imagem que estabeleça uma relação com a pessoa que nos contratou. Isso faz a diferença”, aclara Bruna. A empresa fotografa cerimônias e recepções; registra o making of da noiva e do noivo; faz o pré-wedding antes do casamento para que o casal divulgue a data e pós-wedding, ensaio feito após o enlace. “Tratamos digitalmente as fotografias escolhidas e oferecemos o álbum impresso. Geralmente, montamos um miniestúdio no local do casamento para fazermos as fotos tradicionais com os noivos, os pais e os padrinhos”, esmiúça Moreira. Especializado na produção de bem-casados, o Buffet Jolie espera triplicar de tamanho até o final deste ano


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Coisas de madame Karina Novy

‘Calor no olhar’ Com a chegada do outono e a proximidade do inverno, as coleções ganharam paletas vivas e quentes, como as roupas dessas estações. O laranja, o vermelho, o pink, o dourado, o turquesa e o violeta dão um colorido especial para o período de frio. Nas cartelas recém-lançadas de makes, essa tendência foi reafirmada. Não há nada mais démodé do que combinar a sombra dos olhos com a roupa. Por isso, quem optar por cores opacas no vestuário, a dica é marcar bem os olhos. O tom da vez nesta estação é o violeta, cor suave, que reforça a feminilidade e a elegância.

Divulgação

O tom da estação Tendo como referência o violeta, a palette ‘The Dream Sequence’, da bareMinerals, apresenta uma combinação de cores harmônica. A fórmula prensada e a textura macia fazem com que o produto, se bem trabalhado, dê resultados incríveis! Além da ‘The Dream Sequence’, a bareMinerals oferece uma interessante combinação para a sombra: o primer. Esse produto é usado antes da maquiagem. A opção oferecida pela marca é a ‘Sombra Primer para olhos Chroma Violet’ – a cor da estação! A última opção é a sombra solta para os olhos ‘Eyecolor Water Lily’, também fabricada pela bareMinerals. O produto conta com uma cor intensa, grande capacidade de fixação e um toque de brilho – que se funde perfeitamente à pele. Divulgação

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Kênio Pereira

Imobiliário

Potencial construtivo à venda O Poder Público de Belo Horizonte pretende reduzir os Coeficientes de Aproveitamento (CA) – que hoje podem chegar a 2,7, dependendo da região – para apenas 1,0 em todo o território. Multiplicado pela área de um terreno, o índice aponta a quantidade total de metros quadrados passíveis de ser construídos. Um projeto de lei municipal deve estabelecer essa mudança até o final de 2014. O fato foi confirmado no dia 15 de abril, durante a Conferência Municipal de Política Urbana, que tratou da Outorga Onerosa do Direito de Construir.

cial dos terrenos. Os proprietários de lotes permutados terão grande prejuízo, pois é notória a regra do mercado: o terreno vale o que ele produz. Hoje um lote de mil metros quadrados permite edificar 27 apartamentos de cem metros quadrados. Com a nova lei, será possível construir apenas dez apartamentos. A visão dos palestrantes convidados pela Prefeitura coloca os empresários e construtores como ‘exploradores’ por terem um terreno com CA acima de 1,0. Eles alegam que os proprietários ganharam esse direito. Os palestrantes passaram a impressão de que o poder econômico é um inimigo e que todo o acréscimo de valor dos imóveis decorre das obras e dos fundos públicos: uma inverdade. A instalação do Shopping Cidade e do BH Shopping, por exemplo, valorizou o entorno desses centros comerciais, sem ônus para o Poder Público.

“A outorga onerosa deveria promover o equilíbrio de ocupação da cidade e viabilizar novas construções”

A outorga onerosa é uma autorização para construir além dos limites estabelecidos para o local, mediante compensação financeira do beneficiário para a Prefeitura. A redução do potencial construtivo em Belo Horizonte vai gerar maior demanda pela compra do direito de construir além da área do terreno. As consequências disso serão a desvalorização dos lotes e o encarecimento das unidades edificadas. Durante a Conferência, foi informado ao público que a outorga onerosa é um instrumento de redistribuição de riqueza. Seu objetivo é criar um mercado para vender o direito de construção para quem deseja construir acima da área do lote.

Uniformizar o potencial construtivo da capital em 1,0 para depois revendê-lo aos cidadãos não nos parece uma medida constitucional nem leal. A outorga onerosa deveria promover o equilíbrio de ocupação da cidade e viabilizar novas construções, sem retirar o potencial já conferido. O Estatuto da Cidade – que deu origem à outorga onerosa – não menciona, em nenhum artigo, a pretensão de limitar o poten42 | www.voxobjetiva.com.br

A urbanização das cidades e a promoção de programas de habitação social devem ocorrer sem prejuízo para os proprietários dos terrenos. É uma distorção da função social da propriedade retirar o potencial de construção para depois vendê-lo. A Lei do Uso do Solo não pode ser usada para criar uma ‘fábrica de dinheiro’ que ajude os gestores do Poder Público a se perpetuar nele a qualquer custo.

Kênio Pereira Presidente da Comissão de Direito Imobiliário da OAB-MG keniopereira@caixaimobiliaria.com.br


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As Minas de ‘Gabo’ Mineiros atravessaram a vida do autor de ‘Cem Anos de Solidão’ e ajudaram a construir e humanizar ‘o mito do realismo fantástico’ Lucas Alvarenga FNPI

Por caminhos mágicos, a América Latina foi definitivamente colocada no mapa da literatura mundial. Vista com desconfiança pelos europeus, geralmente centrados em si, a produção escrita do hemisfério sul precisou de séculos para fitar os olhares mais descrentes. E não foi com o realismo machadiano ou a vanguarda modernista que o mundo se rendeu à arte das ex-colônias europeias. Os latino-americanos precisaram ser universais, mesmo que ao tratar de particulares e criar um mundo fantástico, aces-

sível a quem quisesse refletir sobre a realidade ou apenas sonhar. Esse mundo, fundado sob a égide de grandes autores, perdeu no dia 17 de abril um de seus principais mentores: Gabriel García Márquez, o Gabo, como era conhecido. Autor do best-seller ‘Cem anos de solidão’, o jornalista e escritor de Aracataca, na Colômbia, vendeu mais de 40 milhões de cópias desse livro. A obra conta a saga de isolamento da família Buendía por | 43


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meio de Macondo, local inspirado na sua cidade natal. Motivado pela realidade política de seu povo e nas histórias simples, contadas a ele ainda quando repórter, García Márquez ajudou a criar uma corrente na literatura mundial a partir de um estilo pessoal. Trata-se do realismo fantástico, movimento do qual foi um dos expoentes, com os argentinos Jorge Luís Borges e Julio Cortázar e os brasileiros Murilo Rubião, Guimarães Rosa e José Veiga. O estilo continua influenciando escritores mundo afora, como o moçambicano Mia Couto. Romancista e ensaísta de Formiga, no Sudoeste de Minas, Silviano Santiago é um admirador confesso da obra de Gabo. Nos anos 60, o escritor colombiano já fazia parte do cotidiano do autor mineiro, vencedor do Prêmio Machado de Assis. “Eu comecei lendo ‘Ninguém escreve ao coronel’ e depois mergulhei na magia dos seus outros textos”, revela Santiago. O ensaísta vê o colombiano como um modelo de literatura latino-americana do século XX por conseguir universalizar o particular. “Independentemente da localização geográfica ‘macondiana’, a obra de García Márquez é atemporal, pois, ao tratar dos descaminhos da família Buendía, ele fala sobre o ciclo da vida”, analisa o autor mineiro. Se Macondo é a alegoria de uma América Latina ‘fantástica’, o atacante Heleno de Freitas foi personagem de memoráveis crônicas esportivas, descritas habilmente pelo mito da literatura latino-americana. Natural de São João Nepomuceno, o ex-craque do Botafogo tão logo se notabilizou pela classe dentro e fora dos gramados, como pelo estilo galanteador e pelo rótulo de primeiro bad boy do futebol brasileiro. A má fama adquirida pelo jogador nos anos 40 o perseguiu, inclusive, na passagem de dois anos pelo futebol colombiano. No país vizinho, o genioso atacante atuou pelo Atlético Júnior de Barranquilla, time de Gabo, entre 1949 e 1950. 44 | www.voxobjetiva.com.br

A Colômbia vivia o apogeu do seu futebol com a Liga Pirata, enquanto García Márquez dava os primeiros passos no jornalismo. O então jovem repórter desembarcara em Barranquilla para trabalhar no pequeno jornal ‘El Heraldo’. Fascinado pela chegada de craques como o hispano-argentino Alfredo Di Stéfano e Heleno de Freitas, Gabo resolveu dedicar algumas crônicas às joias da nova liga de futebol colombiana. Sobre o ‘craque-problema’, García Márquez escreveu dois textos de destaque: ‘O doutor De Freitas’ e ‘Heleno de ponta a ponta’. Ambos foram selecionados para a coletânea ‘Obra jornalística – Volume 1 – Textos caribenhos’, da Editora Record (2006). Na segunda crônica, Gabo realçou a personalidade forte de Heleno. “Em nenhum caso uma partida da qual participe Heleno tem probabilidade de se transformar num logro, porque vaiar, da mesma maneira como aplaudir, é uma forma coletiva de reconhecer publicamente um fato”. A admiração de Gabo pelo futebol de Heleno de Freitas tornou-se pública com tempo. As crônicas do então jornalista registraram esse entusiasmo pelo jogador mineiro e serviram de passaporte para a literatura. Tão logo migrou para a prosa literária, García Márquez ajudou a criar o realismo fantástico, movimento do qual foi um dos expoentes ao lado dos argentinos Jorge Luís Borges e Julio Cortázar e os brasileiros Murilo Rubião e José Veiga. O que muitos não sabem é que o trabalho do escritor – tão popular mundo afora – foi acompanhado, por inúmeras vezes, pela vez de um ‘pequeno gigante da canção’. Considerado brega por alguns, Nelson d’Ávila Pinto, o Nelson Ned, foi uma ‘inspiração’ para Gabo. Com 1,12 metro, o mineiro de Ubá rodou o mundo e vendeu mais de 45 milhões de discos. Os números são notáveis para qualquer intérprete brasileiro.


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A admiração de García Márquez pelo ‘popular’ Nelson Ned causava espanto em vários intelectuais. Biógrafo do mineiro, Paulo César de Araújo rememora uma entrevista de Gabo para Chico Buarque, na extinta TV Manchete, em 1980. Na ocasião, o cantor e compositor teria feito a seguinte pergunta ao escritor: “As suas preferências musicais causam espanto em muita gente, principalmente no Brasil. Se os seus romances fossem música, seriam samba, tango, som cubano ou um bolero vagabundo mesmo?”, questionou. A resposta do autor colombiano foi surpreendente. “Gostaria que fossem um bolero composto por você e cantado pelo Nelson Ned”, recorda-se Araújo, autor da biografia ‘Eu Não Sou Cachorro, Não’, publicado pela Editora Record (2002). O encantamento de García Márquez pelos mineiros não é, porém, inversamente proporcional ao fascínio que a sua obra desperta em Minas. Há pouco mais de dez anos, o escritor e jornalista mineiro Jorge Fernando dos Santos publicou ‘Sumidouro das Almas’, pela Editora Ciência Moderna (2003). O romance segue o estilo do escritor colombiano ao trazer como plano de fundo o arraial sertanejo que dá nome à obra. De acordo com o crítico literário Ronaldo Cagiano, o lugarejo é uma analogia à cidade Macondo de García Márquez. “Sumidouro é uma cidade mítica, em que os escritores costumam projetar o alter ego de suas cidades natais”, observa Cagiano. Se a literatura mineira se inspira em Gabo, as grifes locais também mergulham no universo marqueziano. Comandada por Marina Rodarte, a M.Rodarte, criou a coleção Outono–Inverno 2012 com base no universo mágico do autor colombiano. As estampas e as cores escolhidas pela grife remetem ao conto ‘O Mar do Tempo Perdido’, uma viagem surreal ao fundo do mar. As flores submersas citadas no conto deram forma às estampas; as cores e as texturas de caudas de sereias foram inspiração para os paetês e

Expansão Cultural

Canções de Nelson Ned embalaram os processos criativos do escritor colombiano Gabriel García Márquez

os trabalhos verdes; o solo brilhante das profundezas marítimas fez surgir o dourado; e a penumbra da água disforme levou o acinzentado para a coleção. “A variedade de cores das ricas fauna e flora do conto deu um colorido especial para o que propomos. Mas foi o trecho ‘um cheiro de flores vindo do mar no mês de março’ que nos levou a tê-lo como fonte de inspiração”, assegura a estilista, mais uma fã do autor e de sua literatura inspiradora.

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Vicente de Paulo

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Terra Brasilis • agenda

OSMG & Rosa Passos

Maria Rita

Paulinho Moska

Conhecida por dividir o palco com grandes intérpretes da MPB, a Orquestra Sinfônica de Minas Gerais (OSMG) recebe uma das vozes nacionais mais conhecidas no exterior: Rosa Passos. Com um violão cheio de bossa e arranjos surpreendentes, a cantora baiana é a única brasileira a gravar com o maior violoncelista do mundo, Yo-Yo Ma, e uma das poucas a fazer uma apresentação solo no Carnegie Hall. Pelo projeto ‘Brasil Sinfônica’, Rosa oferece ao público uma série de canções que transitam entre o jazz e o samba.

Sete anos se passaram após a turnê de ‘Samba Meu’, álbum responsável por rejuvenescer o público de Maria Rita. Após uma entressafra musical, a cantora resolveu pôr seu ‘Coração a batucar’ na roda e nos palcos. O novo disco flerta mais uma vez com o ritmo que se tornou um ‘porto seguro’ para a paulistana. Com músicas de Arlindo Cruz, Joyce Moreno, Quinteto em Branco e Preto e Rodrigo Maranhão, Maria Rita tende a levar o clima dos quintais de samba para o Chevrolet Hall e evocar outros sucessos do gênero consagrados por ela.

Cantor independente há dez anos e contemporâneo de Arnaldo Antunes, Marisa Monte & Cia, Paulinho Moska chega a Belo Horizonte para lançar a turnê do CD e DVD ao vivo ‘Muito Pouco Para Todos’. A cria, lançada em 2013, comemora os 20 anos de carreira do carioca com 26 faixas. É um assombro em tempos de crise fonográfica. Ex-integrante da banda Inimigos do Rei, Moska vai do rock ao samba, da música eletrônica à MPB, sem perder a poesia nem a capacidade de instigar o público, características marcantes de sua obra.

Cine Theatro Brasil Vallourec 16 de maio, às 20h30 R$ 60 (inteira) vmcentrodecultura.com.br

Chevrolet Hall 17 de maio, às 22h R$ 100 (inteira) chevrolethallbh.com.br

Sesc Palladium 29 de maio, às 21h De R$ 30 a R$ 40 (inteira) sescmg.com.br

‘O Grão do Corpo’ inaugura uma fase estética e sonora para a trupe de Fernando Anitelli. Conhecidos por fundir as artes cênicas, a literatura, o cancioneiro popular e a política, o grupo O Teatro Mágico traz à capital mineira um espetáculo com ares transgressores. Ao usar o rock in roll e a disco club para contar as particularidades da vida urbana, a formação músico-teatral lança provocações sobre a consciência individual e o sentimento de pertencimento social e universal, deslocando o público do olhar micro para o macrocósmico. Divulgação

O Teatro Mágico 46 | www.voxobjetiva.com.br

Chevrolet Hall 31 de maio, às 22h De R$ 70 a R$ 120 (inteira) chevrolethallbh.com.br


Terra Brasilis • agenda

Leo Aversa Sebastião Salgado

Ney Matogrosso Um ano após a estreia da turnê ‘Atento aos sinais’ em Belo Horizonte, Ney Matogrosso retorna aos palcos da capital mineira para um novo espetáculo. Com faixas regravadas e inéditas na voz do cantor, Ney recria músicas de autores como o rapper Criolo, Paulinho da Viola, Dan Nakagawa e Itamar Assumpção. O álbum conta também com canções da década de 90, como Rua da Passagem e Incêndio, pouco conhecidas pelo público. Com uma pluralidade de ritmos e seu conhecido jogo de sedução, Ney surpreende sem perder sua essência aos 71 anos.

Paula Kossatz

Palácio das Artes 30 e 31 de maio, às 21h, e 1º de junho, às 19h De R$120 a R$200 (inteira) fcs.mg.gov.br

Freud – A última sessão Palácio das Artes 10 de maio, às 20h, e 11 de maio, às 19h R$ 50 (inteira) fcs.mg.gov.br

Baseada no livro ‘Deus em Questão’, de Armand Nicholi, a montagem cômica ‘Freud – A Última Sessão’ resgata o contexto da Segunda Guerra Mundial para apresentar um debate entre dois intelectuais, possível graças à arte. De um lado, Sigmund Freud, crítico de longa data da crença religiosa; do outro, C.S. Lewis, renomado egresso de Oxford, crítico literário e um dos mais influentes e populares defensores da fé baseada na razão. A peça vem para Minas após uma grande e celebrada temporada no Rio de Janeiro.

Genesis A Grande Galeria Alberto da Veiga Guignard e o Espaço Mari’Stella Tristão, no Palácio das Artes, recebem 245 fotografias de um mundo preservado e intocado pelo homem. As imagens em formatos 50 x 60 cm, 60 x 90 cm e 90 x Guga Melgar 123 cm registram nove anos de viagens constantes a locais de difícil acesso e foram realizadas por um dos maiores fotojornalistas brasileiros: Sebastião Salgado. Outras 52 fotos da mostra, dispostas em formato 146 x 200 cm também podem ser vistas pelo público, mas no Parque Municipal. Palácio das Artes e Parque Municipal De 29 de maio a 25 de agosto Entrada gratuita fcs.mg.gov.br

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Terra Brasilis • literária

O ato e o fato Autor: Carlos Heitor Cony Editora: Nova Fronteira Páginas: 224 Preço: R$ 29,90 No dia 1º de abril de 1964, Carlos Heitor Cony foi para as ruas descobrir que por trás de algumas mentiras havia uma fusão de euforia, covardia e medo em relação ao golpe. Por meio da coluna que mantinha no jornal paulistano Correio da Manhã, o jornalista e escritor narrava os atos e testemunhava os fatos que mudariam o rumo da história brasileira. Reunidas em livro, essas crônicas foram a primeira ação de protesto civil após a queda de João Goulart e da tomada do poder pelos militares. Agora, 50 anos após o golpe, a obra de Cony recebe uma nova edição, revisada e ampliada. Reprodução

O bicho alfabeto Autor: Paulo Leminski Editora: Companhia das Letras Páginas: 72 Preço: R$ 39,00

Reprodução

O bicho alfabeto tem 23 patas ou quase isso. No rastro de seu caminhar, palavras e frases são delicadamente marcadas. Mas no contato com a obra de Paulo Leminski, essas palavras se transformam em poesias sobre a natureza e a relação dela com a vida. Desse encontro surgem versos sobre o mar, o vento, a chuva, as estrelas e até mesmo sobre formigas. Temas banais? Não para o poeta curitibano. Com ilustrações de Ziraldo e textos de ‘Toda a poesia’, ‘O bicho alfabeto’ é um convite aos pequenos para uma viagem ao universo da literatura, especialmente dos poemas curtos brasileiros.

O tempo é um rio que corre Autor: Lya Luft Editora: Record Páginas: 144 Preço: R$ 29,00

Mais vendido

Uma reflexão sobre um dos bens mais preciosos do ser humano: o tempo, que nasce e deságua com o surgir e o findar da vida. Essa é a proposta da mais recente obra de Lya Luft. Com memórias e reflexões sobre a passagem do tempo, a escritora gaúcha desenvolve um ensaio sobre as relações humanas da infância à morte e discute o valor da vida. O livro é dividido em três partes: Águas mansas, Marés altas e A embocadura do rio. Todas mostram os caminhos para aproveitar melhor a vida em cada fase e, juntas, rechaçam a cultura da eterna juventude e da futilidade em que vivemos. Reprodução

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Terra Brasilis • crítica

E que debut! Com o ora hilário, ora nostálgico ‘Fim’, Fernanda Torres ataca de escritora e comprova que a tal ‘veia artística’ pode ter ramificações inesperadas André Martins A desenvoltura diante das câmeras e nos palcos é reveladora. Não há o que discutir. Fernanda Torres é ótima no que faz. Por isso mesmo, ela adquiriu o status de ‘grande’ entre as atrizes de sua geração. A habilidade de fazer as comédias que a popularizaram entre os brasileiros não ofusca os trabalhos mais densos pelos quais foi reconhecida internacionalmente. Dentre essas atuações estão os dramas ‘Casa de areia’, do marido Andrucha Waddington, e ‘Eu sei que vou te amar’, de Arnaldo Jabor. O último garantiu à atriz uma Palma de Ouro em Cannes, em 1986, e comprovou a versatilidade de Fernanda na arte de fazer emocionar. Eis que aos 48 anos, a elétrica e sempre sorridente atriz carioca descobre mais uma aptidão artística: a escrita. Com ‘Fim’, Fernanda faz seu debut na literatura. Ambientado no Rio de Janeiro da segunda metade do século XX, o livro fala sobre amizade e momentos finais da vida de cinco cariocas: Álvaro, Sílvio, Ribeiro, Neto e Ciro. O quinteto se conhece na praia ao passar juntos um carnaval na década de 60, estabelecem um pacto e nunca mais se separam. Ao longo de aproximadamente 40 anos, esses homens simples, pouco ambiciosos e de perfis diferentes, partilham histórias de companheirismo, traições, amores, desilusões e algumas desventuras. Há muito do ofício de atriz imbricado nas 201 páginas do livro de Fernanda. O passeio volátil pelo romance de estreia sugere uma imersão, primeiramente da autora-atriz, no universo de cinco homens completamente diferentes. Figuram o ranzinza e egoísta, o tradicional e careta, o negligente e libertino, o infantil e perdido, e o sedutor e depravado. Com espantosa habilidade, a autora incorpora cada personagem e dá voz a eles. Comple-

xidade e leveza estão marcadas por um discurso absolutamente crível. Após o relato em primeira pessoa de cada um dos cinco amigos, os capítulos trazem a narração e o testemunho indireto de familiares, amantes e amigos após as partidas de cada protagonista rumo a um bacanal eterno, muito provavelmente no inferno. Interessante é perceber o mesmo acontecimento e entender o mesmo personagem por vários prismas. Fernanda não tem pudor diante da morte. Ela revela a saudade, a falta e o turbilhão de boas memórias, mas traz o remorso, o rancor e a indiferença por quem passou desta para a melhor e deu paz a quem ficou. Ainda que seja o primeiro livro de Fernanda, em ‘Fim’ já é possível delinear peculiaridades da autora: a intimidade nas construções tanto na primeira quanto na terceira pessoa, a fluidez de um texto gostoso, leve e sem solavancos e a capacidade de surpreender com um humor ácido ou um relato apenas franco sobre misérias e alegrias da vida comum. A finitude é uma sombra constante e abraça toda a obra. Mas, na verdade, ‘Fim’ é uma grande ode à vida e aos começos, meios e fins; é delicioso, divertido e complexo. O trabalho é recomendado e preciso. Que Fernanda Torres tenha complacência de nós, mortais, e se aventure outras vezes pela literatura. A impressão que fica é que ela parece ter chegado para ocupar um lugar que sempre foi dela. Só dela.

Fim Autora: Fernanda Torres Editora: Companhia das Letras Páginas: 201 Preço: R$ 29,90 | 49


crönica

Joanita Gontijo

Comportamento

Relaxe: o piloto não sumiu! Eu tinha duas escolhas: voltar de van com o restante da equipe de trabalho ou pegar carona em um avião monomotor, com capacidade para apenas cinco pessoas. Mesmo com as estatísticas apontando que o transporte pelos céus é o mais seguro, gosto bastante de estar com os meus pés no chão. Fico tensa até em aeronaves grandes. O que dizer dos modelos mais modestos? Mas a saudade pesou e a possibilidade de ver meus filhos mais cedo me seduziu a ponto de encarar o teco-teco. Fiz ‘cara de rica’ e entrei no aviãozinho, como se aquele fosse meu transporte corriqueiro. Pela minha pose e confiança, qualquer um acreditaria que, até para fazer compras no supermercado, eu ia de monomotor. Mas 15 minutos depois da decolagem, o tempo fechou! Nuvens carregadas faziam o avião chacoalhar, a chuva batia no vidro com força e a expressão dos outros passageiros era tão desesperadora quanto a minha. Eu pensava: “O que estou fazendo aqui?”; “Queria ver meus filhos mais cedo e, provavelmente, não os verei nunca mais!”; “Não sei por que usamos cinto de segurança num avião. Se cair, não sobra nada mesmo!”; “Não acredito que vou morrer!”. Pai-Nosso, Ave-Maria e outras orações que não rezava desde a infância saíam da minha boca como uma ladainha, num ritmo frenético, sem pausa.

do de aviões, ficar quieta seria minha melhor colaboração. Nada! Nada mesmo estava sob meu controle! Ter a consciência disso não me fez relaxar e ‘curtir a viagem’, mas poupei energia com escândalos, gritaria e revolta. O tempo entre a turbulência nos ares e a aterrissagem não durou mais do que 30 minutos. Para mim foi uma eternidade. Com os pés no aeroporto e as pernas ainda bambas, pensei em quantas situações semelhantes a essa eu vivi. No avião foi mais fácil me resignar. Afinal, eu não tenho o poder de fazer a chuva parar, nem sei pilotar e estava a mil metros de altura.

“Tenho aprendido que saber esperar o tempo da vida e a sucessão inexorável dos fatos é um sinal de inteligência”

Apertei minhas mãos no braço da poltrona numa ilusão de segurança. Mas logo percebi que, em caso de queda, aquele gesto em nada me protegeria. Pensei em mandar uma mensagem carinhosa de despedida para minha família, mas seria como admitir para mim mesma que não havia escapatória. Oferecer ajuda aos pilotos? Considerando o quanto enten50 | www.voxobjetiva.com.br

Em terra firme, eu me desgastei acreditando que poderia mudar o curso de uma história, mesmo ciente de que não houvesse nada a fazer. A capacidade de se indignar e de lutar é algo que admiro bastante, mas tenho aprendido que saber esperar o tempo da vida e a sucessão inexorável dos fatos é um sinal de inteligência.

Avalie se você vive algo parecido com estar dentro de um avião. Se a resposta for positiva, apenas acredite na melhora do tempo e na habilidade do piloto. Com certeza, por mais que a aeronave balance, tem alguém ou algo no comando. Confie, porque, a qualquer momento, você voltará a pisar o chão firme. Aí, sim, você poderá escolher o caminho a seguir.

Joanita Gontijo Jornalista e coautora da facenovela Do Rivotril ao Redbull joanitagontijo@yahoo.com.br


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*Deputados com imóvel na RMBH.

Nos últimos três anos, a Assembleia criou novas medidas de austeridade e transparência, reduziu custos e melhorou a qualidade de vida dos cidadãos de todas as idades. Também investiu em mecanismos de aproximação com a população, para maior participação de todos, e trabalhou para diminuir as diferenças sociais no Estado. Isso porque a Assembleia de Minas é sua. É o poder e a voz do cidadão.

SAIBA MAIS EM ALMG.GOV.BR E NA TV ASSEMBLEIA. PARTICIPE. ACOMPANHE. DÊ SUA SUGESTÃO. TV Assembleia, em BH, Canal 35 UHF www.almg.gov.br Rua Rodrigues Caldas, 30 Belo Horizonte – (31) 2108 7800 @assembleiamg

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