Vox 63

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Setembro/14 • Edição 63 • Ano VI • Distribuição gratuita

Nunca antes na história deste país Aumento do número de eleitores com nível superior abre caminho para a mudança do pensamento político

Príncipe ‘sujo’ Best-sellers eróticos usam a lógica do conto de fadas para atrair o público feminino

Quando controlar sentimentos e impulsos se transforma em desafio no relacionamento

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mil em um | Lenine e a versatilidade de um talento além das gerações


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Editorial O silêncio dos nada inocentes

Carlos Viana Editor Executivo carlos.viana@voxobjetiva.com.br

“... O povo que conhece o seu Deus se tornará forte e ativo.” (Daniel 11:32)

A Vox Objetiva é uma publicação mensal da Vox Domini Editora Ltda. Rua Tupis, 204, sala 218, Centro, Belo Horizonte - MG CEP: 30190-060

A cada semana, o país é surpreendido por um novo e milionário caso de corrupção. São tantos os escândalos que fica difícil para o brasileiro guardar tanta informação. Um caso acaba abafando o outro. Corrupção é um mal mundial e um tipo de consequência do capitalismo. Nesse aspecto, o que diferencia as nações é justamente os mecanismos de combate a essa prática, que impede o desenvolvimento e favorece a desigualdade social. Aí está o grande problema do Brasil: a impunidade acaba incentivando a formação de quadrilhas escondidas em partidos e políticas públicas. As informações vazadas na delação premiada do ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa são um grande exemplo. Mais uma vez, temos governadores, senadores, deputados e tesoureiro de partido envolvidos no desvio e na distribuição do botim. O grande esquema montado dentro da estatal de petróleo segue os mesmos moldes de processos históricos e até impunes, como o ‘Mensalão do PSDB mineiro’, até hoje sem julgamento, e o ‘Mensalão do PT’, em que os condenados já recebem os benefícios da semiliberdade e circulam sem problemas fora das cadeias. Em outros momentos da história brasileira, denúncias de menor impacto levaram multidões às ruas. Relembremos o impeachment do ex-presidente Collor de Mello. Mas, e hoje? Onde estão as centrais dos trabalhadores, os sindicatos que deveriam defender as categorias envolvidas nos escândalos? Onde estão os estudantes e professores universitários que levantaram bandeiras recentes contra a ‘direita corrupta’? Onde estão os intelectuais brasileiros que, do mesmo modo dos colegas europeus (quem gostam tanto de imitar), deveriam se manifestar contra a corrupção? Nada! Muitos dos que deveriam estar encabeçando a luta por mais dignidade na política se alinharam àqueles que defendem que as denúncias não passam de armação por parte de uma ‘imprensa golpista e entreguista’. É decepcionante e escandaloso o que vivemos hoje no Brasil. Uma parte importante do ‘capital intelectual’ do país está alinhada ao poder por meio de empregos e cargos nos conselhos das estatais ou por patrocínios a projetos culturais de aluguel. Esse grupo sufoca a própria consciência ao sustentar, a todo custo, um projeto de esquerda ideológica que venceu pelo voto, mas não se diferenciou dos chamados ‘inimigos e conservadores históricos’. As ruas, praças e avenidas brasileiras estão vazias da consciência cidadã e do compromisso republicano. O sucesso no combate à corrupção não se faz somente por vias judiciais. Começa, antes de qualquer processo, na consciência pensante e independente dos que escrevem as páginas da história intelectual de um país.

Editor adjunto: André Martins l Diagramação e arte: Felipe Pereira | Capa: Felipe Pereira | Foto de capa: Shutterstock Estagiária: Daniela Rebello l Reportagem: André Martins, Bárbara Caldeira, Cassio Teles, Daniela Rebello, Haydêe Sant’Ana, Rodrigo Freitas, Tati Barros, Vinicius Grissi | Correspondentes: Greice Rodrigues - Estados Unidos, Ilana Rehavia - Reino Unido | Diretoria Comercial: Solange Viana | Anúncios: comercial@voxobjetiva.com.br / (31) 2514-0990 | Atendimento: jornalismo@voxobjetiva.com. br (31) 2514-0990 | Revisão: Versão Final Tiragem: 30 mil exemplares | voxobjetiva.com.br

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olhar bh

Painel de Yara Tupynambรก - UFMG Foto: Felipe Pereira |5


sUMÁRIO 18

Fábio Rodrigues Pozzebom

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Arquivo Pessoal

André Martins

Rossana Magri

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verbo

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Lenine Cantor fala sobre as origens de sua versatilidade e explica como se abriu para as várias possibilidades no campo da música

metropolis

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salutaris

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PET TERAPIA Cachorro, periquito e papagaio como ajudantes na recuperação de doentes e dos idosos

capa

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MORRER DE AMOR

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Voto de confiança Pela primeira vez na história, número de eleitores graduados supera o de analfabetos

Os dilemas enfrentados por quem ama demais e sofre por ter perdido o controle sobre as próprias emoções

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DEVER DE CASA

vanguarda

Home office e escritórios virtuais surgem como alternativas para quem busca otimizar o tempo e reduzir o estresse

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TECNOLOGIA INTERDISCIPLINAR Festival Internacional de Robótica FLL contagia público da Olimpíada do Conhecimento


Reprodução

Washington Alves / Vipcomm

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André Martins

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Guirrilha Fitness

podium

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HEGEMONIA AZUL Em completo estado de graça no Brasileirão, Cruzeiro investe nas categorias de base para prolongar bom momento

Kultur

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O FAZ DE CONTA ERÓTICO Novo romance erótico conquista milhares de fãs utilizando velha fórmula dos contos de fadas

Artigos

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justiça • Robson Sávio O fator Marina Silva

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IMOBILIÁRIO • Kênio Pereira

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PSICOLOGIA • Maria Angélica Falci

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Meteorologia • Ruibran dos Reis

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Os condomínios fechados irregulares

Nosso pranto nos salva

Os gases do efeito estufa

crônica • Joanita Gontijo Letras trocadas

Gastronomia

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RECEITA – Chef Ilmar de Jesus

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VINHOS – Júlia Grossi

Mexido chapado Prazer numa taça de vinho |7


Maurilo Caureto

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Do soturno ao solar Defensor da não categorização da música, Lenine dá forma à arte múltipla e criativa André Martins

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o rock à MPB, das composições para o cinema às voltadas para dança, da música à botânica: tudo parece agradar a Oswaldo Lenine Macedo Pimentel, ou apenas Lenine. Com 31 anos de carreira, o cantor pernambucano é reconhecido no país e no exterior por fazer som brasileiro de qualidade e ser sinônimo de heterogeneidade musical. A tendência à experimentação veio da infância, quando Lenine, estimulado pelo pai, tinha contato com variados estilos musicais, que iam do folclore russo a Dorival Caymmi. Quem vê o artista no palco exalando simpatia e energia, no auge de seus 55 anos, talvez não saiba que cantar e tocar seja apenas algumas das facetas de Lenine. Além de exímio cantor e compositor, o pernambucano é arranjador e produtor musical. Tudo, segundo ele, foi aprendido diante das necessidades impostas pela vida e o desejo de fazer.

irmã, nem sempre estava ao seu alcance. Mas quando você o tinha à mão, o que significava para você? Na verdade, tinha a coisa do furto, né? Do pequeno roubo, que era muito bacana. Quando saía, a minha irmã trancava o violão no guarda-roupa e escondia a chave. Ela só não sabia que eu sabia onde ela a escondia (risos). Então tinha essa coisa do pegar escondido. Eu geralmente tinha duas ou três horas para tocar até ela voltar pra casa. Isso me marcou de alguma maneira.

“Eu sempre acreditei que música não precisa de adjetivo. Sendo assim, eu não consigo setorizar a música. Para mim, é tudo música”

Quando jovem, você foi para o Rio de Janeiro e se lançou numa cidade que não era a sua para tentar viver da música. Mas, para além da ocupação como cantor, havia um plano B ou você sempre acreditou que daria certo?

Antes da passagem de som, o cantor recebeu a reportagem da Vox Objetiva no camarim. Em uma rápida conversa pontuada por sorrisos sempre muito largos, Lenine falou sobre composição, o interesse por Minas e suas diversas frentes de atuação no campo musical – responsáveis por fazer dele um dos artistas brasileiros mais versáteis da atualidade.

Eu sempre achei que poderia sobreviver da música, mas eu estudei Engenharia Química. Eu levei até onde eu pude essa conjugação. Eu gostava mesmo de química e acho que gosto até hoje. Tenho essa paixão pela química. Talvez, por isso mesmo, eu tenha me aproximado da botânica. Hoje sou apaixonado por orquídeas, bromélias, helicônias, filodrendos. Acho que tem a ver com química e com o interesse que sempre esteve muito presente desde a minha infância. Eu fui levando até o momento em que eu disse: ‘Não, agora eu preciso voltar’. E a única opção que eu tinha era sair do Recife, porque eu tinha feito o que eu podia lá. No início da década de 80 havia dois centros, São Paulo e Rio. Eu caí no Rio por causa do mar; por causa da minha relação com o litoral; por ser litorâneo e ter me criado dentro da água. E a opção foi pelo Rio de Janeiro.

Na sua infância, havia um objeto que exercia um poder muito grande sobre você. Esse objeto, o violão de sua

Você é conhecido em todo o Brasil pela sua versatilidade. Por conversar com diferentes estilos musi-

No fim da primeira quinzena de setembro, Lenine esteve em Minas para se apresentar com a Orquestra Sinfônica de Minas Gerais no exuberante Centro de Arte Moderna de Inhotim, em Brumadinho. Abaixo da grandiosa e desfolhada árvore Tamboril, o espaço onde o palco foi montado esteve completamente tomado por fãs.

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Divulgação

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cais, você acha que é mais fácil adentrar os vários nichos da música?

que esse movimento musical tinha que exerceu tanto fascínio em você?

Não é questão de ser mais fácil ou difícil. É questão da opção que você teve na sua vida e de trabalhar com o que você trabalha. Eu sempre acreditei que música não precisa de adjetivo. Sendo assim, eu não consigo setorizar a música. Para mim, é tudo música com a possibilidade de você fazer uma música coletiva.

O Clube da Esquina era a maior referência. Milton (Nascimento) foi a minha escola. Foi a minha universidade musical. O Clube da Esquina foi o que me deu esteio e desejo de fazer música brasileira. Antes de me deparar com o trabalho de Milton, eu gostava muito de rock,; de uma música que não é brasileira. Era uma música mais planetária e tal. E eu percebia que o Milton já dialogava com essa música. Minas está muito presente no meu DNA.

Então estaria correto afirmar que o Lenine não tem preconceito musical? Talvez eu deva ter, mas não que eu perceba. A gente é cheio de preconceitos. Somos frutos de uma formação, e pode ser que eu tenha algumas coisas que nem percebi ainda. Mas em matéria de música, eu ouço de tudo. Realmente, eu ouço de tudo. A música mineira era referência pra você na juventude. O Clube da Esquina foi um dos principais grupos que contribuíram para a sua formação. O 10 | www.voxobjetiva.com.br

Vira e mexe, você está aqui em Minas. Qual a sua relação com o estado? Ah, eu me sinto em casa em Minas já faz um tempão. Tenho muitos amigos e o circuitão que eu faço e frequento. Aqui tem essa coisa da minha reverência para com a música de Minas. Isso também nos aproxima muito. Muitos compositores que admiro são daqui. Tem essa coisa também da montanha, sabe? O não litoral de Minas...


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me pediu uma canção e eu faço quando tenho tempo. É que eu estou envolvido com muitas coisas simultaneamente. Houve um momento em que eu estava muito mais dedicado a só compor. E aí eu tinha um tempo mais elástico para compor para muitas pessoas. E não só para intérpretes, mas para o universo do teatro, do cinema, da televisão, da dança, como a parceria com o Corpo, com os Pederneiras (Paulo e Rodrigo Pederneiras – respectivamente, cenógrafo e iluminador, e coreógrafo do Grupo Corpo), uma coisa da qual eu me orgulho muito. Hoje em dia é mais difícil eu ter disponibilidade para compor para tantos amigos, mas eu continuo compondo. E pra mim, antecede o fato de ser músico, arranjador,.. todas as outras coisas que vêm em decorrência da música antecedem o fato de eu ser compositor. Quando a música vem, você sabe se ela é para você? Não necessariamente. Eu faço para mim. Olha, todas as músicas que a gente faz são a partir de um estímulo. Muita gente tem preconceito com essa coisa da palavra ‘encomenda’. Eu não tenho. Eu preciso da encomenda. Eu encomendo para mim. Nesse exato momento, estou me encomendando um projeto novo, que eu cheguei ao final de dois anos e meio, quase três anos, do projeto ‘Chão’, e esse é um tempo real que preciso para divulgar, por todos os lugares por onde vou, cada projeto que eu faço. Então são dois anos e meio, três anos. Agora eu já estou mergulhado no fazer, e isso é uma encomenda. Eu estou me encomendando um projeto novo. Então, eu vivo de encomenda. É algo muito diferente do que você vivenciou e dos cenários que marcaram a sua infância e adolescência em Recife... Como eu sou um ser litorâneo, eu me criei nisso. O interesse pelas orquídeas surge a reboque dessa minha descoberta do interior do Brasil. Eu fui um cara sempre muito litorâneo. E eu acho que o grande embate cultural que existe no Brasil é entre uma cultura solar e litorânea contrapondo-se a uma cultura mais lunar, soturna e densa que marca o interior do país. Eu gosto de pensar assim. Eu bebo destas duas fontes: do que é do litoral e do que é do interior. Você é um exímio compositor. Compõe muito e para muitos cantores. Parte dessa composição é feita por meio de pedidos ou você compõe e pensa: ‘poxa, essa música é para tal cantor ou cantora’? Olha, para ser honesto, acho que não deve ter regra, não. Depende. Cada situação é uma situação e cada estímulo é um estímulo. Às vezes, pode ser um artista que

Cantor, compositor, arranjador, produtor... essa abertura aconteceu naturalmente e de forma integrada? Não foi consciente não. Primeiro foi a necessidade que eu tinha de me expressar. Então veio a composição, que antecede tudo. Depois, por uma certa frustração por não ver esse material concreto, sendo gravado por outros, eu pensei: ‘eu tenho que gravar’. Como eu não estudei isso, tive que aprender. Como gravar? Como produzir? Então foi meio autodidata, na base da tentativa e do erro. E assim eu fui atuando em outras áreas do mesmo universo musical. Você tem mais de 30 anos de carreira. São centenas de composições, dezenas de parcerias e dez trabalhos gravados. Você acha que já atingiu o ápice da sua carreira e que este é o seu melhor momento? O que você pensa sobre isso? Eu não penso nisso não. Eu não olho para trás (risos). Eu olho sempre para frente e para o agora. Para trás eu não olho. Não tenho esse exercício. Agora, olhando para frente, tem muita coisa para fazer ainda. Muitos planos. | 11


Repro

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metrOpOlis

Os dois lados da mesma moeda A

os 26 anos, Andreia Félix Barbosa, moradora de Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), está com a vida encaminhada. Formada em enfermagem e trabalhando na área que escolheu, ela está a todo o vapor com os preparativos para seu casamento, que será realizado em junho do ano que vem. Também na Grande BH, porém no município de Nova Lima, mora a avó da enfermeira. Dona Maria da Conceição Barbosa tem 77 anos, nunca pôde frequentar a escola porque trabalhou desde nova. A despeito da idade avançada e de saber apenas escrever o próprio nome, Dona Maria não abre mão de votar.

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Pela primeira vez, eleitorado brasileiro é composto por mais pessoas com curso superior do que analfabetos. A politização da sociedade é o caminho para alcançar a qualidade da política feita no país? Rodrigo Freitas

O abismo de escolaridade que separa neta e avó ganhou um contorno interessante na eleição deste ano. Andréia e Maria da Conceição fazem parte das duas pontas de uma tabela formada por 142 milhões de eleitores aptos ao voto em outubro. Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), pela primeira vez, o número de votantes com curso superior ultrapassou o montante de eleitores analfabetos. Neste ano, o eleitorado nacional conta com 8 milhões de pessoas que têm um diploma universitário contra 7,4 milhões de indivíduos que nunca puderam entrar numa escola com lápis e caderno nas mãos.


Shutterstock

metropolis

Embora o número de universitários esteja crescendo no país, os 7,4 milhões de eleitores analfabetos representam, por exemplo, mais do que uma RMBH, que tem 5,5 milhões de habitantes. É mais que a população do estado do Maranhão (6,8 milhões) ou de Santa Catarina (6,7 milhões). Significa que o total de eleitores analfabetos no Brasil é igual à soma das populações dos estados de Sergipe, Rondônia, Tocantins, Acre, Amapá e Roraima. Trata-se, portanto, de um grande desafio social para um país que almeja ser considerado de ‘primeiro mundo’. Para Andreia, o fato de ter tido a oportunidade de frequentar um curso superior a ajudou a ampliar os horizontes e a “ter um voto de mais qualidade”. “Antigamente, era costumeiro que os políticos prometessem cestas básicas, tratamento de saúde ou qualquer outro auxílio em troca de votos. Com o aumento da escolaridade do eleitor brasileiro, essas propostas começam a perder espaço. Hoje o voto é mais consciente, mais valorizado. Nós nos tornamos mais críticos e exigimos resultados por meio de ações voltadas para a melhoria de vida da coletividade. O voto é uma conquista do povo e deve ser desfrutado com responsabilidade”, avalia a enfermeira, que, aos poucos, vai decidindo em quem votar no dia 5 de outubro. Apesar de indicar que a consciência coletiva da sociedade está crescendo à medida que eleitores mais qua-

lificados surgem, os 8 milhões de eleitores com curso superior ainda representam pouco diante da totalidade do eleitorado brasileiro: eles são apenas 5,6% do total de aptos ao voto no país. Embora afirme que o Brasil tem uma “dívida histórica com o ensino”, a especialista em educação Gislaine Matos acredita que, paulatinamente, a realidade do país está se modificando. Ela prevê que, com o passar dos anos, os brasileiros criem uma consciência política mais consolidada. “Quando as pessoas têm informação, elas questionam mais. E assim, tornam-se mais conscientes. Eu vislumbro uma melhora geral. Mais informadas, as pessoas vão pensar mais”, entende. Gislaine adverte, no entanto, que não é necessariamente o curso superior que forma cidadãos mais conscientes na hora do voto. Isso, segundo ela, passa por uma cultura de país. “Outro dia, eu estava no supermercado e observava uma funcionária embalando mercadorias. É uma pessoa simples, mas, por mais inverossímil que possa parecer, ela estava discutindo política com um amigo. Ela discutia com entendimento, com uma segurança no que estava falando que muito doutor por aí não teria na hora de discutir política. Ela falava com base naquilo que ela sente na pele e dizia ver o voto como uma maneira para resolver ou minimizar os problemas. Eu acho que era isso que precisava acontecer. O fato de ela ficar horas no ônibus, não ter saúde, ganhar mal... foi isso que a motivou a pensar politicamente. Isso, na visão dela, tem que ser cobrado de alguém. O nível | 13


superior ajuda a pessoa a se conscientizar, mas não é tudo”, expõe. E a afirmativa da especialista Gislaine Matos faz sentido. Na casa das irmãs universitárias Nathália Luiza Lopes Ferreira, de 20 anos, que estuda Jornalismo, e Nayara Cristina Lopes Ferreira Sena, de 27, estudante do curso de Educação Física, as posturas são diferentes. Tal qual a personalidade, a postura política e em relação ao voto diferem. Segundo Nathália, ela entende pouco de política, mas vem se esforçando para compreender os meandros do sistema eleitoral brasileiro “acompanhando por meio das mídias, da TV, do rádio e das redes sociais”. O fato de ter escolhido o jornalismo como profissão também contribuiu para que ela se interessasse mais pelo tema. “Para o curso que escolhi, é quase uma obrigação acompanhar o que acontece e ter um olhar mais crítico para as propostas políticas. Sendo assim, no momento do voto, é inevitável ter maior consciência para não errar na escolha”, avalia a estudante. Por sua vez, Nayara não faz muita questão de acompanhar o cenário político. Ela afirma que não discute o assunto em casa: porque “a maioria (dos políticos) é corrupta e os que andam na linha nunca ganham uma eleição”. Apesar de reiterar que não gosta de política, a estudante, mãe de duas crianças, reconhece que o fato de estar na universidade a auxilia a definir o voto. “Durante o curso, aprendemos a fazer uma avaliação mais 14 | www.voxobjetiva.com.br

crítica, podendo assim, avaliar os candidatos”, conta a jovem. Como futura profissional da saúde, Nayara diz tomar decisões baseada nas melhores propostas nas áreas de saúde e educação. As irmãs Nathália e Nayara fazem parte de um contingente que tende a aumentar, muito em breve: o potencial de eleitores com curso superior no país. De acordo com o TSE, os votantes que ainda estão cursando a faculdade totalizam atualmente 13,2 milhões de eleitores. O Distrito Federal é a unidade da Federação com os eleitores mais instruídos. Mais de 24% da população apta a votar tem curso superior completo. De mais de 1,9 milhão de eleitores, 460 mil frequentaram a faculdade. No estado do Paraná, o número de eleitores com curso superior mais que dobrou nos últimos quatro anos, passando de 309,6 mil, em 2010, para 624,6 mil, em 2014. Hoje, dos quase 7,8 milhões de eleitores paranaenses, 12,3% cursaram ou estão cursando graduação, o maior índice de instrução entre os eleitores da região Sul do Brasil. Na academia, são muitos os especialistas que consideram que os governos, de todas as esferas, não desejam ter um cidadão instruído porque isso implicaria em uma massa com senso crítico mais aguçado e com maior tendência a fazer mudanças inesperadas. No entanto, para cientista político e educador Malco Camargos,


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“Eu tenho o entendimento de que o governo, de maneira geral, quer que o cidadão seja educado e esclarecido. Isso representa que o próprio governo, quando tem um cidadão mais consciente, não precisa investir tanto e gastar com outras políticas públicas, como a saúde. Um cidadão que tem conhecimento consegue evitar determinada doença, por exemplo, e isso pode levar o governo a reduzir custos. Então, creio que o governo tenha, sim, o interesse de ver as pessoas com maior nível educacional e veja isso como um investimento na sociedade”, afirma o cientista político. Embora sejam um parâmetro interessante, os dados de analfabetismo no Brasil não revelam outra situação que mereça a atenção de governos – sobretudo num momento em que propostas são feitas com vistas às eleições. Trata-se do analfabetismo funcional. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2012, 18,3% dos brasileiros sabem ler e escrever, mas não têm a capacidade cognitiva de interpretar textos. Em números absolutos, fala-se de 33 milhões de pessoas consideradas analfabetas funcionais. O índice é representado pela proporção de pessoas de 15 anos ou mais que têm menos de quatro anos de estudo completos em relação ao total de indivíduos do mesmo grupo etário. “Esses índices tão altos de Analfabetismo funcional se devem à baixa qualidade dos sistemas de ensino público ao longo de décadas”, opina Vicente Vuolo, economista pós-graduado em Ciência Política. “Para melhorar esse quadro, precisamos impulsionar, nas escolas, políticas públicas que atendam à diversidade por meio de planos de ação que valorizem as habilidades e as potencialidades de cada um. É preciso identificar o que cada um tem de potencial e em que medida essas pessoas podem colaborar com as experiências. Deve-se trabalhar a motivação dos alunos, dando oportunidade a eles. Mas a realidade social dos alunos deve ser considerada. Claro!”, complementa o especialista. O eleitor brasileiro tem mudado. Resta saber se os políticos estão preparados para esse novo perfil e para as novas demandas que advêm de um eleitorado cada vez mais politizado.

André Martins

professor da PUC Minas, essa tese não se sustenta. Segundo ele, o aumento do número de brasileiros matriculados no ensino superior e a universalização do ensino básico mostram que o país quer, sim, ter cidadãos mais conscientes.

Três perguntas para... Andréia Félix Barbosa, enfermeira, 26 anos Qual o seu nível de interesse pela política e por quê? Considero alto o meu nível de interesse pela política porque são os políticos que recebem o nosso voto e que, em tese, são a nossa voz. Eles colaboram na elaboração das leis, na divisão do dinheiro obtido por meio dos impostos, na administração dos órgãos públicos, do gerenciamento, da atuação e da supervisão de departamentos e repartições públicas que proporcionam serviços à população, como hospitais, escolas, etc. A política exerce papel fundamental na vida dos brasileiros de maneira direta e indireta. É ela que tem o poder e o controle de influência na atuação dos órgãos do Estado brasileiro. Por consequência, essa influência é concreta na nossa vida e na nossa sociedade. Daí vem o meu interesse pela política, pois se votarmos inconscientemente e o governo cair em mãos de pessoas incompetentes e corruptas, nós é que seremos prejudicados. Você discute política em casa ou com pessoas mais próximas? Sim, discuto. Considero debates e opiniões divergentes como uma importante forma de ampliar o aprendizado. O que é preponderante pra você definir um voto? Primeiramente, as propostas que, em minha opinião, têm que ser adequadas à realidade brasileira. Eu procuro saber se há recursos disponíveis para que o político, caso chegue ao poder, execute os projetos que propõe. Sempre procuro por candidatos que não tenham envolvimento em escândalos de corrupção.

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O SESI e o SENAI, organizações privadas que fazem parte do Sistema FIEMG, dão todo o apoio que a indústria precisa para crescer. O SESI é segurança e saúde no trabalho. É esporte e lazer. São trabalhadores da indústria que ganham qualidade de vida, produzindo mais e melhor. O SENAI é a maior rede de formação profissional do Brasil. São cursos técnicos, de qualificação e aprendizagem industrial. É tecnologia para produzir e inovação para competir. É mais desenvolvimento para todos. Para a indústria. E para você. www.fiemg.com.br 16 | www.voxobjetiva.com.br


artigO

Robson Sávio

Justiça

o fator marina silva Quando esta edição da Vox Objetiva estiver sendo distribuída, já estaremos nos preparando para um segundo turno das eleições deste ano. Mas é importante continuarmos a refletir sobre as mudanças substantivas que aconteceram no processo eleitoral com a entrada de Marina Silva.

nhecer... Mas o que mais me intriga é o discurso altamente conservador: (1) negar a mediação de instituições democráticas, como os partidos: numa democracia representativa, isso é um pensamento pré-democrático. Precisamos atuar para modificar, depurar e melhorar os partidos. Não é possível democracia sem partido político. Caso contráMarina tem muitas qualidades ‘políticas’. E um grande rio, ditadura ou outras formas de totalitarismo podem defeito: não se enquadra quando é contrariada num parganhar espaço; (2) colocar-se acima dos partidos e das tido. Quando foi Ministra do Meio Ambiente, no governo instâncias políticas como mediadora direta entre socieLula, a ambientalista conseguiu destaque, peitou o PT, perdade e governo: isso é populismo do mais tradicional e deu e saiu. O mesmo processo se deu quando de sua rápicentralizador; (3) Negar o papel das instituições demoda passagem pelo PV. Parece claro que ela cráticas e, paradoxalmente, usar-se delas não vai se enquadrar no PSB. Não é à toa para propagar seu discurso; (4) Peitar tais que Marina Silva tenta fundar um partido instituições, colocando-se acima delas, “Como candidata (e mostrando-se refratária à composição e à sua imagem e semelhança: a Rede. ao diálogo quando fere seus interesses. se for presidente), Como compor um governo num modelo Os pessebistas ávidos por cargos e poder e alguns de seus aliados querem Madetermina o presidencialismo de comarina vai enfrentar que rina a qualquer custo. Eles já ‘cheiram’ os alizão? odores da vitória e começam a sentir o temas espinhosos. gostinho de vinganças... Mas lembrando: Para todos os efeitos, volto a afirmar: o o PSB ganha, mas não leva. Porque, no mas vai preferir desejo, a possibilidade de mudança, soano que vem, a possível nova presidente mados ao ódio figadal de uma significase portar como será da Rede. tiva parcela da sociedade e da mídia em relação ao PT podem corroborar a formaMarina, evangélica conservadora, ainda ‘salvadora da Pátria’” ção de um contingente eleitoral capaz de terá vários dilemas. Como candidata (e se ofuscar evidências da ambiguidade e da for presidente), ela vai enfrentar temas esinconsistência do discurso de Marina e de pinhosos. Mas vai preferir se portar como ‘salvadora da seus arranjos políticos. Ressalvando com o velho ditado Pátria’, encarnando o desejo de mudança. popular: ‘quanto mais alto o voo, maior a queda’. Estou tentando entender o discurso da ‘nova política’ e querendo escapar dos preconceitos, do medo do novo e dos dualismos. Entendo que, por um lado, o desejo do novo pode explicar, em boa medida, o ‘furacão’. Marina conseguiu capitalizar parte desse desejo. Temos que reco-

robson sávio reis souza Filósofo e cientista social robsonsavio@yahoo.com.br | 17


Alternativos e viáveis Home office e os escritórios compartilhado e virtual ganham adeptos em busca de comodidade e baixo custo Bárbara Caldeira

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cordar cedo para ir ao trabalho, enfrentar mais de uma hora de engarrafamento, ter de registrar a entrada, contar com uma ou duas horas de almoço, marcar a saída no ponto eletrônico e sofrer no caminho de volta para casa. Essa pode ser a rotina vivenciada pela maioria dos brasileiros. Mas esse quadro está mudando rapidamente. Empresas e profissionais têm recorrido a ambientes alternativos de trabalho em busca de otimizar o tempo produtivo e reduzir o estresse causado pelos deslocamentos. Cresce, também, o número de pessoas que decide trabalhar por conta própria. A Lei Complementar nº 128, assinada em 2008, criou um ambiente propício para que o trabalhador conhecido como informal pudesse se tornar um microempreendedor individual (MEI) legalizado. No Brasil, estima-se que mais de 4 milhões de pessoas estejam inscritas na categoria, de acordo com dados do governo federal. Diante desse panorama, novos ambientes de trabalho ganham força, como as estruturas home offices, os escritórios compartilhados e até mesmo os escritórios virtuais. Para a coordenadora de Recursos Humanos com MBA em Gestão Estratégica de Pessoas Tatiane Freitas, o fortalecimento desses formatos é uma inegável tendência. “As empresas que optam por ter colaboradores trabalhando em casa ganham com a agilidade no atendimento às demandas. Além disso, há a redução dos riscos de acidentes e de custos de deslocamento”, afirma. O modelo também é vantajoso para o funcionário ou profissional autônomo, que escolhe sair do ambiente convencional e investir na flexibilidade para ganhar em qualidade de vida. “Com os modelos alternativos de trabalho, é possível minimizar o estresse que o trânsito das grandes cidades provoca. Assim, o trabalhador acaba dispondo de mais tempo para

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descanso e maior conforto no exercício das atividades”, defende Tatiane. Embora existam muitos pontos favoráveis aos novos ‘ambientes’ de trabalho, a especialista em RH alerta para as desvantagens na adoção do que foge ao tradicional. “A perda da interação física com os colegas de trabalho pode dificultar a percepção da chefia sobre um desempenho, muitas vezes, diferenciado”, pondera. Para quem segue firme no propósito de empreender, é bom tomar cuidados para não se distrair facilmente no ambiente escolhido para a atuação profissional. Há quase dois anos, a publicitária Mariana Vida decidiu deixar a agência de comunicação onde atuava para se dedicar ao próprio negócio. “Sempre gostei de trabalhos em que eu pudesse me envolver de corpo e alma. Tinha prazer em pesquisar e dedicar um tempo maior para a busca de soluções criativas, mesmo que o processo envolvesse trabalhos artesanais, que demandam mais tempo. Fui percebendo que, em muitos lugares à qualidade passou a dar lugar à quantidade, e a ousadia de arriscar foi substituída pelo caminho seguro”, observa. Cultivando a vontade de retomar projetos engavetados e de buscar clientes para quem pudesse fazer um trabalho diferenciado, Mariana viu nascer sua empresa: a Me Llama. Com o empreendimento, surgiram os desafios de trabalhar no próprio lar. Organizada, Mariana tenta manter uma rotina de trabalho, estabelecendo horários produtivos e momentos para pausas. “Utilizo recursos, como calendários virtuais, para que eu possa controlar o tempo gasto em cada projeto e a compensação das horas perdidas com pequenas distrações ou imprevistos. O mais difícil da atividade home office são as interferências externas, especialmente dos moradores da casa”, relata. A publicitá-


metrOpOlis

André Martins

Mariana fez de uma das salas de casa um ambiente de trabalho cool, cheio de referências pessoais

ria planejou o espaço para reduzir ao máximo a distração. “Eu queria um lugar cool, onde estivesse cercada de referências e me sentisse bem confortável. Iria passar a maior parte do tempo nele. Por isso, fiz questão de ter uma cadeira ergonomicamente adequada e um apoio para os pés”, explica. Outro ponto importante: o home office da moça tem acesso direto para a rua. “Dessa forma, meu cliente pode entrar e sair do escritório sem ter contato com outras pessoas e cômodos da casa. Esse detalhe torna tudo mais profissional”. Envolvido com produção de carreiras artísticas e eventos culturais, Gabriel Muzzi não conseguiu se adaptar à rotina de trabalho home office. A solução encontrada por ele foi montar um escritório compartilhado com três amigos de infância, todos profissionais liberais criativos como Muzzi. “Acabei misturando trabalho e lazer e, quando vi, não estava produtivo. Eu não conseguia trabalhar direito, nem descansar adequadamente”, confessa. O produtor admite que é fácil se dispersar nesse modelo e que sentia falta de uma infraestrutura apropriada para receber pessoas. “O novo espaço vai contar com dois ambientes: uma sala de reunião e outra sala com ilhas de computadores. Além de

enxugar os custos, a convivência é ótima para resolvermos problemas do trabalho”, entende. O escritório vai se chamar 2047 Soluções e abrigar, além de Gabriel, um arquiteto, um designer e um profissional de Tecnologia da Informação. “Ninguém atua na mesma área. Mas compartilhando os problemas com os colegas, podemos ter alguma resolução, quem sabe?, na hora”, argumenta. Outra opção de ambiente de trabalho são os escritórios virtuais. Esses espaços são administrados por empresas que dispõem de estrutura completa para que empreendedores possam alugá-los em ocasiões específicas, como reuniões e apresentações, ou por tempo determinado. A maior parte desse mercado oferece serviços de suporte, como recepcionista, office-boy, gerenciamento de correspondências, além da locação de salas. A ideia é ofertar um pacote completo com valor fechado, sem grandes necessidades de investimento, para que o profissional não precise se preocupar com as despesas de pessoal, luz, água, condomínio, internet, aquisição de mobiliário ou equipamentos, manutenção e limpeza: uma grande solução para quem está começando. | 19


HOME OFFICE

VANTAGENS

DESVANTAGENS

PONDERAÇÕES

PERFIL ADEQUADO

Para o trabalhador, estar em casa facilita o acompanhamento da rotina familiar, reduz o estresse causado pelo trânsito das grandes cidades, aumenta o tempo de descanso e permite mais conforto no vestuário.

No caso de empresas que têm profissionais trabalhando em suas casas, o alto investimento em tecnologia, pois são necessários sistemas mais robustos para suportar o tráfego de dados. As relações profissionais passam a ser mais distantes, tornando a troca de ideias mais complicada. Para o profissional, pode haver dificuldade para separar o tempo de trabalho e o tempo de lazer.

Principalmente a relação familiar, já que os moradores devem entender que aquele profissional, mesmo em casa, está em horário de trabalho. É preciso que haja congruência entre a rotina do profissional e a familiar. Deve-se certificar, também, que a residência vai contar com toda a estrutura necessária para as atividades.

Para obter sucesso nesse modelo, o profissional precisa ser disciplinado para respeitar os limites saudáveis de horas trabalhadas, e organizado para facilitar o acesso a documentos e materiais necessários. É importante, também, ter uma boa capacidade de concentração.

ESCRITÓRIO VIRTUAL

VANTAGENS

DESVANTAGENS

PONDERAÇÕES

PERFIL ADEQUADO

Baixo custo de implantação do espaço e da infraestrutura necessários. Com isso, o empreendedor pode focar naquilo que realmente agrega valor ao negócio.

Não exercer controle total da equipe de trabalho. Como a estrutura não é própria, os custos de administração podem tornar-se altos com o passar do tempo, pois passam a ser permanentes.

A seriedade da empresa que se propõe a oferecer a estrutura do escritório virtual e a relação custo - benefício da prestação de serviços.

Para profissionais independentes que não necessitem de uma grande equipe de apoio e que tenham flexibilidade de atuação. Ideal para quem está iniciando um negócio.

ESCRITÓRIO COMPARTILHADO

VANTAGENS

DESVANTAGENS

PONDERAÇÕES

PERFIL ADEQUADO

Redução dos custos administrativos, já que as despesas são divididas, além das possibilidades de parcerias que geram espaços colaborativos para a prospecção de clientes.

As regras de funcionamento do local não dependem somente de um dono. Existe menos privacidade nesse modelo e nem sempre há sinergia entre os parceiros.

Principalmente se unir a pessoas que não tenham ideias e hábitos muito discordantes. É preciso haver sintonia.

Profissionais que gostam de trabalhar em equipes multidisciplinares, que tenham habilidade para lidar com outras pessoas e que saibam negociar com tranquilidade.

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artigo

Kênio Pereira

Imobiliário

Os condomínios fechados irregulares Muitos desejam a segurança e o status de morar em um condomínio fechado. Ocorre que muitas vezes esse sonho vira um pesadelo. São diversos os casos em que o proprietário de uma gleba rural faz um loteamento irregular, com planta sem a aprovação pela prefeitura. Isso acaba acarretando na recusa do Cartório de Imóveis de registrar a escritura de compra e venda. O Código Civil determina que o tornar-se proprietário passa pelo registrar a compra. Diante disso, quem compra um lote ilegal não consegue provar que realmente tem a propriedade do terreno. Crédulas, várias pessoas compram sem saber que a transação envolve um pedaço de fazenda ou uma gleba. Até mesmo advogados, executivos de grande conhecimento jurídico e comercial são induzidos ao erro, pois muitos desses empreendimentos são travestidos de documentos que parecem consistentes, tendo alguns deles convenção ou estatuto particular.

Um lote clandestino com a fachada de ‘condomínio fechado’ acaba iludindo um comprador desatento, pois aquele ‘remendo de loteamento’ pode não ser contemplado com transporte público nem dispor de áreas públicas para a implantação de mecanismos de saúde, educação, lazer e segurança, além de estar propenso a sofrer alagamentos, assoreamento de rios e lagos, além de problemas com saneamento, abastecimento de água e energia elétrica. Assim o local fica fadado a se desvalorizar, pois a prefeitura não tem nenhum compromisso de implantar o que for solicitado pelos moradores. Esse fator desmotiva o comprador a investir no loteamento.

“Crédulas, várias pessoas compram sem saber que a transação envolve um pedaço de fazenda ou uma gleba”

A manobra mais comum é a seguinte: faz-se um loteamento irregular, sem aprovação da Lei 6.766/79, e vendem-se frações ideais de terreno. A operação leva o comprador a ter vários ‘sócios’ da mesma gleba de terra. Quem gostaria de comprar uma casa e ter cem sócios? Logicamente, ninguém! Nessa situação, a pessoa adquire um lote sem saber exatamente onde são os limites, pois não há planta aprovada nem estudos técnicos de sistema viário e parcelamento que evitem erosões e inundações. A procura de assessoria jurídica pode amenizar o prejuízo, pois o comprador pode elaborar os documentos que venham a tornar seu imóvel comercializável.

Pior é quando a vítima descobre que o lote que ela comprou está numa área indivisa. Se ela quiser vender o lote, a preferência de compra é das dezenas de ‘sócios’ desse condomínio.

Muitos são os loteamentos lançados como condomínios fechados, pois cada lote passa a valer 35% a mais. Mas se o loteador não regularizá-lo, vai perder dinheiro diante dos problemas que vão surgir no decorrer do tempo, especialmente com a inadimplência da quota de condomínio/rateio.

Kênio Pereira Presidente da Comissão de Direito Imobiliário da OAB-MG keniopereira@caixaimobiliaria.com.br | 21


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salutaris

Terapia animal Cachorro, periquito, papagaio... os bichos ‘invadem’ hospitais para auxiliar profissionais de saúde no tratamento de doentes Daniela Rebello

E

stá mais do que comprovado pela ciência que o contato com animais de estimação pode trazer bem-estar à vida das pessoas. Cada espécie apresenta uma característica: cães tendem a ser fiéis; gatos, independentes; cavalos são dotados de força e docilidade. Por meio da observação e da vivência cotidiana com os animais, é possível extrair aprendizados. Também é comprovada pela ciência a capacidade dos pets de contribuir para a melhora da saúde física do homem. 22 | www.voxobjetiva.com.br

Nos anos 50, a psiquiatra Nise da Silveira lutou contra os métodos agressivos de tratamento utilizados até então. Eram comuns práticas como o confinamento de doentes em hospitais psiquiátricos e a administração de drogas e choques na recuperação dos internos. A médica era defensora de métodos alternativos para que os doentes conseguissem se expressar por meio da arte e desenvolvessem suas capacidades criativas. Uma das formas de tratamento contava com o auxílio não de en-


salutaris

Vários estudos foram desenvolvidos daí para frente, fazendo com que a terapia com animais, mais conhecida como Pet Terapia, viesse a se popularizar no país. Um estudo publicado no jornal americano de doenças cardiovasculares American Journal of Cardiology constatou que o convívio com animais diminui a pressão arterial, reduz o risco de problemas cardiovasculares e ajuda a controlar o estresse. Comprovados os benefícios do convívio com os bichos, foram criadas empresas especializadas na Pet Terapia. É o caso do ‘Pet Terapeuta’, uma instituição de Porto Alegre que desenvolve atividades e tratamentos utilizando as intervenções assistidas por animais. A psicóloga Karina Schutz é a sócia-diretora do Pet e explica os tipos de procedimentos que podem ser adotados na terapia. Um é a Atividade Assistida por Animais (AAA). “Trata-se de atividades desenvolvidas com a finalidade de recreação e lazer. Não têm um foco específico como na terapia. O animal entra em ação como um facilitador para um momento de descontração de uma rotina ou atividade”, detalha. Já a Terapia Assistida por Animais (TAA) utiliza técnicas adaptadas da psicologia que são desenvolvidas por profissionais da área de saúde, com objetivos já pré-definidos com o paciente. O processo necessita do animal treinado para parte do tratamento e é utilizado para a promoção da saúde física, mental, social, emocional e em funções cognitivas.

entre as duas uma relação de reciprocidade. A paciente criou um vínculo com o animal e sentiu-se responsável por ele. Ao mesmo tempo, a cadela ajudava a jovem como uma facilitadora, de forma que a paciente não percebesse que estava recebendo ajuda. Muitas vezes, o caso não é de rejeição de ajuda, mas de carência de companhia, como acontece nos residenciais geriátricos. Karina leva os animais para visitar os idosos e conta que normalmente a rotina é quebrada. “Os residentes brincam com a bolinha, escovam o cachorro; assobiam com as calopsitas; dão colo, cenoura e couve para os coelhos. Um simples sorriso no rosto de um idoso que não costuma sorrir já é uma conquista. Há

Arquivo pessoal

fermeiros nem de outros profissionais de saúde, mas de animais. Pioneira em estudos e pesquisas que relacionavam pacientes e bichos, Nise percebeu que os ‘ajudantes’ contribuíam na reabilitação de doentes mentais. Desde então, ela passou a se referir aos animais como ‘coterapeutas’.

Segundo a sócia-diretora do Pet Terapeuta Karina Schutz, em muitas situações, os animais conseguem criar vínculos mais fortes com alguns pacientes que os próprios profissionais de saúde

O animal, por si só, pode ajudar também na socialização do indivíduo. De acordo com Karina, o pet entra em ação como um coterapeuta. “Por muitas vezes, ele consegue construir um vínculo mais rápido e forte com o paciente do que o próprio profissional. Uma terapia convencional pode não conseguir o resultado que uma intervenção com a presença de animais consegue”, conta. E experiência na área faz com que Karina acumule várias histórias de sucesso. Ela se lembra de uma paciente com quadro de fobia social que conseguiu ganhos expressivos por meio do tratamento. A psicóloga relata que a paciente não interagia com outras pessoas e sequer saía do quarto. As coisas começaram a mudar após a jovem receber a visita de uma cadela que tinha de medo de pessoas e de passear na rua. Estabeleceu-se | 23


salutaris

Pet vantagens Ajuda a controlar o estresse Diminui a pressão arterial Reduz o risco de problemas cardiovasculares

residentes que ficam a semana toda trancados dentro do quarto, não gostam e não saem nem para atividades de educação física e para brincadeiras, como bingo e cartas. Com a participação dos animais, já conseguimos mudar a rotina dos idosos e torná-los mais ativos até mesmo nas atividades fisioterápicas”, conta a psicóloga. Considerando os benefícios da ajuda de animais em tratamentos, muitos hospitais passaram a permitir que os pacientes recebessem visita de seus bichinhos de estimação. O Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, por exemplo, liberou a entrada de animais a partir de 2009, devido à demanda de pacientes e seus familiares em tornar possível esse reencontro. A instituição desenvolveu uma política de segurança para as visitas. As regras estabelecem que é necessária a autorização do médico responsável pelo paciente. O veterinário deve fazer um laudo atestando as boas condições de saúde do animal, como sua carteira de vacinação atualizada e comprovante de que o pet tomou banho nas últimas 24 horas. 24 | www.voxobjetiva.com.br

Segundo a gerente de Serviço de Atendimento ao Cliente e Planetree do Hospital, Rita Grotto, quem trabalha no local percebe diferenças nos pacientes após a visita dos animais de estimação. “É uma experiência muito agradável. Ter a oportunidade para fazer escolhas quando você está hospitalizado é essencial para a sua saúde e o bem-estar. A família, os amigos e animais são essenciais para o processo de recuperação. Os pacientes tendem a ficar radiantes, melhorar o humor e a disposição, com a chance de ter os bichinhos por perto, apresentando benefícios psicológicos, físicos e sociais”, conta. Desde quando tomou essa iniciativa, o Albert Einstein já recebeu 51 visitas de gatos, coelho, pássaros e cachorros – as mais pedidas e com visitas mais frequentes. “Somos seres humanos cuidando de seres humanos. Ações como essa são importantes, pois reforçam a importância do processo de humanização e, além disso, essa medida só têm trazido bons resultados”, destaca Dr. Claudio Luiz Lottenberg, presidente do Hospital Israelita Albert Einstein.


artigo

Maria Angélica Falci

Psicologia

Nosso pranto nos salva Assim como no último artigo, gostaria de continuar a discutir o papel das emoções em nossas vidas. Chegou a hora de entender como algo natural pode ser tão poderoso a ponto de nos poupar de sofrer com algumas doenças. Neste artigo, quero falar sobre um comportamento que muitos evitam para não se sentir expostos: chorar. Há se soubessem o quanto isso faz bem! Sim. Chorar pode trazer um enorme benefício ao nosso bem-estar físico e psicológico. Segundo William Frey, bioquímico da Minnesota University dos Estados Unidos, o choro “pode salvar vidas porque ajuda a evitar doenças”.

em que, além de eliminar as toxinas, as pessoas conseguem desanuviar a consciência. Elas também obtêm um espectro mais claro dos problemas que estejam enfrentando. Chorar é necessário porque traz clareza das emoções e libera o que está reprimido e incomoda. Externar o que se sente não é algo que faz de você uma pessoa fraca. Pelo contrário: torna você uma pessoa que vive intensamente as emoções.

“Chorar é necessário porque traz clareza das emoções e libera o que está reprimido e incomoda”

Quando estamos sob o efeito de grandes tensões, o pranto serve para exterminar substâncias tóxicas acumuladas em nosso organismo. O pranto libera lágrimas com os hormônios corticotropina e prolactina, cujos níveis aumentam quando estamos estressados. O choro libera também o manganês presente em altas doses no cérebro dos deprimidos. Estudos apontam que grande parte das pessoas se sente muito melhor depois de desafogar a tristeza e a ansiedade após um choro intenso. Sabemos que, culturalmente, os homens choram bem menos que as mulheres. De acordo com as estimativas, eles choram sete vezes ao ano, enquanto, no mesmo horizonte temporal, elas vão às lágrimas por 47 vezes. A vivência prática em atendimentos respalda os estudos. Sou completamente favorável à liberação das emoções por meio do choro. Considero esse ato uma ‘limpeza da alma’,

Uma pessoa que chora constantemente por diversos motivos precisa, sim, ser observada. É possível que ela esteja doente no mais profundo das emoções. Isso não implica, no entanto, algum diagnóstico mais severo. É necessária uma avaliação diferencial para o quadro.

Nesta correria em que vivemos, no ligeiro passar do tempo, muitas vezes não temos tempo para nos analisar e buscar entender o que estamos sentindo. Muitas vezes, assistindo a uma propaganda, uma lágrima rola em nossa face. Algo toca o nosso interior. Nesses momentos, não se contenha. Deixe rolarem as lágrimas. Libere o que você sente. Não guarde, mesmo que você se sinta envergonhado. Saiba que colocar o que sente para fora tem mais valor do que reter. Viva suas emoções!

Maria Angélica Falci Psicóloga clínica e especialista em Sáude Mental angelfalci@hotmail.com | 25


amar

demais

Especialistas discutem a codependência afetiva: um problema grave que nem sempre recebe a atenção devida

Cassio Teles

O

s dilemas e conflitos internos das ‘Mulheres de Atenas’, apresentados na canção de Chico Buarque e Augusto Boal, retratam a vida de absoluta dedicação e doação das atenienses da Grécia Antiga aos seus maridos e filhos. Os versos lançam luz sobre um problema que persiste ainda na chamada pós-modernidade - período marcado pela liquidez de relacionamentos e pelo desapego.

Felipe Pereira

Mulheres de todas as idades e classes sociais, de donas de casa a profissionais brilhantes, mergulham em relacionamentos tidos como doentios. Elas vivem em constante falta de respeito mútuo e, sobretudo, por si. São tidas como as ‘mulheres que amam demais’. A expressão que surgiu em 1985, com o lançamento do livro da psicóloga e terapeuta familiar americana Robin Norwood. Ela traçou um comportamento comum entre mulheres que se envolviam afetivamente com dependentes químicos. Esses relacionamentos foram denominados de ‘codependência’. Foi depois de ler o livro de Robin que uma dona de casa belo-horizontina, que pediu sigilo, percebeu a necessidade de ajuda. Ela procurou auxílio num grupo formado por mulheres que apresentam sintomas da codependência. Lá, todas são orientadas a seguir 12 passos, adaptados do grupo Alcóolicos Anônimos, para se recuperar. “Eu cheguei ao grupo buscando em relacionamentos a validação pessoal. Isso é errado. Eu queria que o outro me desse aquilo que eu não tinha, no caso, a autoestima. Com a leitura e o compartilhar nas


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reuniões, praticando a programação de 12 passos, a gente vai aprendendo a se gostar e a se aceitar como é. Aprendemos também a conviver com pessoas saudáveis”, revela. Após a separação, que envolveu traição do companheiro, a dona de casa, de 55 anos, teve dois relacionamentos frustrados com “pessoas indisponíveis”, segundo ela. Hoje, ela vive uma nova etapa da vida. Está namorando há quase dois anos. Para a psicoterapeuta Marisa Sanábria, relacionamentos que envolvem pessoas fragilizadas são um vícios igual aos outros. “Esse tipo de relacionamento se caracteriza por uma impossibilidade de um escolher coisas boas para si. São relacionamentos construídos a partir de uma baixa autoestima, de uma falsa percepção de que a pessoa não tem direitos, que não pode fazer escolhas e, principalmente, de que ela não pode ser feliz. São relacionamentos atormentadores”, explica a psicoterapeuta coordenadora da Comissão de Mulheres e Questões de Gênero do Conselho Regional de Psicologia. Hoje a dona de casa ouvida pela reportagem da Vox Objetiva se considera uma pessoa em paz consigo e contente com a vida. “Eu era uma pessoa muito insatisfeita, muito infeliz e não valorizava nada da vida . Hoje, graças a Deus, mudou muito. Eu agradeço a vida que eu tenho e o que eu sou”. Mãe de três filhas e avó de um neto, ela participa do grupo de apoio em Belo Horizonte desde 2003 e acredita que a recuperação passe pelo suporte encontrado nas reuniões. De acordo com Sanábria, fatores culturais, como o machismo e o preconceito contra mulheres sozinhas, são propulsores desse comportamento em que a mulher recebe, desde a criação, a missão de viver pelo outro, de ser uma esposa dedicada e uma mãe abnegada. “Por mais que a gente esteja na modernidade, no século XXI, esses traços do ‘eu me postergar em nome do bem-estar do outro’ se mantêm em nossas mulheres. Existe uma dificuldade feminina em se colocar como prioridade. A partir daí, vai surgir uma relação de culpa muito difícil de ser suportada”, explica. Além disso, para a psicoterapeuta, somado ao preconceito, traços

muito femininos devem ser considerados: a fantasia do amor romântico e a ideia de que só é possível ser feliz por meio do outro. J.M.B, de 55 anos, viveu por quase dois em uma relação marcada pela codependência. Após se separar e, segundo ela, ter vivido casamento saudável, a assistente social, à época com 51 anos, imaginava que todos os relacionamentos posteriores seriam uma reprodução da experiência acumulada. “Eu pensava que teria uma relação estável com os homens com os quais eu viria a me relacionar. Era isso que passava pela minha cabeça”, lembra. No entanto, o tempo veio provar o contrário. Somaram-se três relacionamentos fugazes e um quarto, perene, mas, segundo ela, “terrível e triste”. “Eu passei a gostar demais e me via presa a ele. Fiquei com um tipo de encantamento; uma coisa louca; uma paixão adolescente aos 50 anos. Penso que esse aprisionamento tenha acontecido por três motivos: primeiro, era a minha situação pessoal: eu estava muito desacreditada de mim mesma; segundo, ele é uma pessoa muito inteligente, muito politizada; e, em terceiro, sexualmente falando, ele era uma pessoa muito diferente das dos outros relacionamentos que eu tive antes. Eu me encantei com isso”, explica. Outro fator que contribuiu para que o rela- cionamento fosse elevado a outro patamar foi a situação frágil em que ele se encontrava: era um jovem estudante, imigrante, sem contatos e com vários problemas de ordem pessoal. Ao oferecer suporte, J.M.B. entendeu que o jovem acabaria ficando com ela. Mas a contrapartida da dedicação da assistente social foi algo inesperado. Rotineiramente, o namorado a magoava com ataques pessoais e via facebook. Não bastasse isso, o jovem mantinha relacionamentos secretos com outras mulheres. Os problemas do casal eram sempre relevados por ela pelo fato de gostar demais do parceiro. Foram muitas idas e vindas. Entretanto, o namoro não resistiu à descoberta da primeira traição comprovada. “A partir daí, eu fui me desencantando, nós fomos nos separando até que, em fevereiro deste ano, colocamos um ponto-final na história”. Segundo J.M.B, | 27


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a superação completa só veio quando ela começou a se relacionar com outro rapaz, também mais novo. A experiência com o namoro anterior contribuiu para o amadurecimento. “Hoje estou com esse rapaz. Agora eu estou curtindo a relação, mesmo estando gostando dele, mas é só brincadeira na minha cabeça. Não é um sofrimento; é uma coisa gostosa, leve. Eu não fico pensando: ‘Ai, será que esse menino vai ficar comigo?’”, revela. Histórias como a de J.M.B. são mais comuns do que é possível imaginar. Mas ao contrário dela, há quem não consiga se desvencilhar do ‘amar demais’ de forma autônoma, tendo que procurar ajuda em grupos de apoio. O grupo Mulheres que Amam Demais Anônimas (Mada) se popularizou nacionalmente por meio da personagem Eloísa, vivida por Giulia Gan, na novela global ‘Mulheres Apaixonadas’, de 2003. A personagem tinha ciúmes incontroláveis do namorado mais novo. Surtos aconteciam com a impossibilidade de a personagem ter filhos,

Divulgação

Mesmo não descartando a eficácia da participação de codependentes em grupos de apoio, a psicoterapeuta Marisa Sanábria defende o tratamento psicoterápico individual

o que trazia inseguranças em relação ao interesse do parceiro. Na trama, ela buscava ajuda no grupo para se recuperar. Hoje, o Mada, que é restrito a mulheres, promove cerca de 50 reuniões semanais no Brasil. O grupo está presente em 11 estados e no Distrito Federal. Há grupos também em Portugal e na Venezuela. De acordo com a página do Mada na internet, as mulheres que frequentam as reuniões são recomendadas a não dar conselhos nem fazer críticas. Elas só podem falar de suas experiências e ouvir histórias semelhantes. Além do Mada, existem grupos com o mesmo propósito, mas que abarcam toda a diversidade de gêneros. É o caso do Codependentes Anônimos (Coda), uma organização voltada para construção de relações saudáveis, promoção do autoconhecimento e ajuda no processo de reabilitação de pessoas com compulsão sexual. O grupo Dependentes de Amor e Sexo Anônimos (Dasa) é outra organização que abarca temas como codependência, inclusive o oposto, como anorexias sexuais, sociais e emocionais. Todos se baseiam nos 12 passos da superação pessoal. Para Marisa Sanábria, a participação em grupos voltados para a recuperação de codependentes pode ser importante, mas não descarta o acompanhamento individual com um profissional. “Nós sabemos que essa é uma doença que precisa de tratamento. No caso das codependências, nós estamos falando de situações que geram muito sofrimento, em que as pessoas têm que ser ajudadas para poderem sair. E isso é feito com psicoterapias e acompanhamento. Eu não sei se esses grupos funcionam com terapeutas e se há um propósito de um enquadramento terapêutico. Se a gente se relaciona com um grupo e ele funciona, é porque nós nos identificamos, e temos, mais ou menos, o mesmo problema. Então isso produz uma ressonância”, explica. O psicanalista Rodrigo Pardini concorda com Marisa. Segundo ele, na maioria das vezes, quando pede socorro, a pessoa já passou por vários episódios de violência e fracassos nos relacionamentos. “Curiosamente, o doente sabe que precisa de ajuda, embora demore a buscá-la. Quando recebo uma pessoa assim em meu consultório, é porque já aconteceram brigas, casos extremos de violência, inclusive com o acionamento da polícia. Mas, em determinado momento, tudo é esquecido, e o relacionamento se mantém. O doente cria um invólucro para o parceiro não ir embora. Então, assim como os alcoólatras, que negam o vício, temos os codependentes e viciados em relacionamentos que só se

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dão conta de que estão doentes com o tempo”, detalha. Pardini relata que o isolamento e a depressão são recorrentes. Há casos em que a família precisa intervir. “Chega a uma situação em que a pessoa só consegue enxergar o outro, pensar no outro, começa a enfrentar problemas no trabalho, liga o tempo todo e se separa, mas depois volta. Elas ficam com vergonha de contar para a família e se isolam, afastando dos amigos que, às vezes, as recriminam por reatarem o namoro, o relacionamento”, arremata. Com vasta experiência no atendimento a casais, em que um dos parceiros é codependente, a psicóloga e articulista da Vox Objetiva, Maria Angélica Falci, apresenta as possíveis consequências para o doente. “Há pessoas que agravam a baixa autoestima e se anulam; apresentam fobias sociais, depressões, surtos psicóticos, explosões passionais, obsessões e ciúme patológico”, cita. A psicóloga entende que o primeiro passo para a recuperação é o desejo por romper o ciclo. “Há casos em que se consegue uma recuperação plena. Outros requerem uma manutenção constante. Mas é importante a consciência de que o melhor é sair de uma situação de risco que agride, acua e oprime a individualidade”, alerta.

GRuPoS DE APoio

MADA (Mulheres que Amam Demais Anônimas) rua aimorés, 1123 - Funcionários - Belo Horizonte Clínica espaço aberto, próximo à igreja da Boa viagem reuniões todas as 2ª feiras, das 19h às 21h

CoDA (Codependentes Anônimos) endereço: av. afonso Pena, 867 – edifício acaiaca 7º andar – sala 704. reuniões aos sábados, das 17h às 19 h

DASA (Dependentes de Amor e Sexo Anônimos) endereço: av. afonso Pena, 867 – Centro) ed. acaiaca, sala 704. reuniões aos domingos, das 16 às 18h

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Rafael Ravares

receita

Mexido chapado Chef Ilmar de Jesus – Bar e Restaurante Casa Cheia

INGREDIENTES 200 g de alcatra; 250 g de lombo defumado; 250 g de linguiça caseira fina; 2 pimentões vermelhos; 2 abobrinhas; 2 talos de aipo; 1 cebola; 1/2 repolho-roxo; 1 brócolis; 3 cenouras; Cheiro-verde picado; Azeite extravirgem; Alho triturado; Ovo de codorna frito; Pimenta-biquinho; Arroz cozido; Sal e pimenta-do-reino a gosto. 30 | www.voxobjetiva.com.br

Rendimento Serve 2 pessoas

MODO DE PREPARO Frite o alho com o azeite numa chapa. Após misturar os legumes, reserve. Grelhe o lombo defumado, a linguiça e a alcatra, regando sempre com o azeite e um pouco de sal e de pimenta-do-reino. Misture as carnes com os legumes e, em seguida, introduza o arroz. Tempere, misture o repolho roxo picado e salpique cheiro-verde. Coloque o mexido em uma frigideira e decore com a isca de alcatra e os ovos de codorna fritos.


vINHOS

Prazer numa taça de vinho Júlia Grossi Consultora de Vinhos do Provincia Di Salerno

Como profissional do vinho, eu me deparo, todos os dias, com novos consumidores da bebida. Curiosos e atentos às explicações mais breves, eles têm aquela vontade que sempre impulsiona o ser humano: a do conhecimento. E aí está toda a beleza do universo de um iniciante. Cada pequena descoberta gera alegria e cada momento de escolha por um rótulo ou outro provoca um sentimento de dúvida e felicidade ao mesmo tempo. O vinho é isto! Devagar ele vai nos conquistando. Com um cálice ou uma taça de vinho como acompanhante, descobre-se que tudo pode ser potencializado. Uma simples refeição se torna mais gostosa; o bate-papo com amigos causa duplo bem-estar e dividir momentos com a pessoa amada beira a plenitude! A cada dia, os novos apreciadores dessa saborosa bebida, que dispensa comentários, aprendem mais. Eles fazem uma descoberta, um vinho amadeirado, uma uva que agrada mais ao paladar. Ir ao local onde determinado vinho foi produzido é um convite para conhecer um pouco sobre a terra e a história e para apreciar o tão maravilhoso néctar. O vinho nos suscita sensibilidade! Ao incluir a bebida em nosso dia a dia, nossos cinco sentidos se afloram e

começamos a perceber como esse mundo encantado se abre aos nossos olhos. Os aromas nos ensinam a buscar as essências características na natureza e o nosso paladar se torna refinado e ávido por novos sabores. O vinho melhora a nossa vida e enobrece o nosso espírito! Talvez, por sermos profissionais do vinho, a bebida nos proporcione ainda mais. A cada dia conhecemos pessoas que querem aprender e aquelas que nos apresentam um grande conhecimento. Assim o ciclo não se fecha nunca. Uns ensinam, outros aprendem e a magia do vinho vai se multiplicando e se propagando. Temos grande espaço para uma revolução no consumo de vinhos no Brasil, pois ainda consumimos bem pouco a bebida. Como foi apresentado na última edição, a média anual de consumo de vinho no país é de somente dois litros per capita ao ano. Podemos ir além! A bebida de Baco combina com dias quentes e com dias frios. Já que estamos no início da primavera, tenho uma dica para refrescar esses dias tão quentes: um delicioso vinho rosé da Provence: Romance. Fresco e alegre, esse vinho é moderno e acessível. Uma boa primavera, e tim-tim à magia do vinho! | 31


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A corrida pelo conhecimento

Maior evento de educação profissional das Américas leva 300 mil pessoas ao Expominas; delegação mineira se destaca com 17 triunfos Da redação

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os dias 3 a 6 de setembro, o Expominas se tor nou um grande centro dedicado à educação profissional no Brasil. Pela segunda vez, Belo Horizonte sediou a Olimpíada do Conhecimento, evento bienal promovido pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai). A iniciativa visa a melhor qualificação dos profissionais técnicos no Brasil, colocando seus conhecimentos à prova. Cerca de 300 mil pessoas visitaram o Expominas e puderam conhecer um pouco sobre as diversas ramificações da indústria nacional. A Olimpíada deste ano teve disputas em 48 modalidades da indústria, sete do setor de serviços e três da agropecuária. Como vinha acontecendo nas últimas edições, Minas Gerais se destacou no quadro geral de medalhas, chegando à segunda colocação. Apesar de ter ficado atrás de São Paulo em número de ouros, a delegação mineira conseguiu o maior número de

honrarias. Foram 46 medalhas (17 de ouro, 21 de prata e 8 de bronze). Agora os vencedores se preparam para as provas e os testes que dão passe livre para a maior competição de educação profissional do mundo, o WorldSkills. Será a primeira vez que esse evento vai acontecer na América Latina, em São Paulo. Nas próximas páginas, o leitor da Vox Objetiva encontra mais informações sobre o que aconteceu na Olimpíada do Conhecimento, precisamente sobre eventos paralelos à edição de 2014. O Festival Internacional de Robótica First Lego Legue (FLL), promovido no Brasil pelo Serviço Social da Indústria (Sesi), chamou a atenção do público jovem, trazendo robôs feitos a partir de peças Lego. No ‘Brasil Fashion’, iniciativa do Senai, nove jovens estilistas estrearam peças feitas sob a supervisão de respeitados nomes da moda brasileira. Confira!

Quadro de Medalhas São Paulo Minas Gerais Santa Catarina Alagoas Distrito Federal 32 | www.voxobjetiva.com.br

Total

21 17 8 7 3

10 21 6 0 3

5 8 4 6 1

36 46 18 13 7


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Transversalidade e tecnologia Torneio idealizado por ONG americana First, em parceria com a dinamarquesa LEGO, agita a Olimpíada do Conhecimento apostando em robótica e ideias inovadoras para soluções de problemas que desafiam o poder público André Martins

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ão faz muito tempo, lápis, cadernos e livros didáticos eram os objetos mais comuns entre os estudantes. Com a informatização do conhecimento, no entanto, métodos tradicionais de ensino vêm perdendo espaço e se tornando coadjuvantes nas escolas. Cada vez mais inserida em sala de aula, a robótica surge como uma alternativa para revolucionar o ensino. Escolas da rede do Serviço Social da Indústria (Sesi) são algumas das instituições que empregam esse recurso didático. De acordo com a educadora Izabela Giannetti, desde que a chamada robótica LEGO – concebida a partir de peças Lego – foi apresentada aos alunos, a relação deles com os estudos foi modificada. “Eles começaram a ter disciplina, um olhar diferenciado para os estudos, e passaram a ficar mais atentos e compenetrados. Foram desenvolvidas outras habilidades que trazem benefícios para a carreira escolar”, revela.

ciências e matemática. A dinâmica do torneio incentiva os alunos a terem mais familiaridade com essas disciplinas. Isso desperta o interesse. Futuramente, esses jovens serão grandes cientistas, nomes reconhecidos”, explica Izabela, que também é a coordenadora do Festival Internacional de Robótica FLL em Minas Gerais. Pela primeira vez, o evento aconteceu paralelamente à Olimpíada do Conhecimento. No Brasil, quem organiza os torneios da First é o Sesi que, desde 2013, é a instituição operadora oficial no país. Essa edição do festival contou com 18 times

Além de contribuir para a concentração, a robótica tem potencial de despertar os estudantes para matérias que geralmente são mais temidas, como matemática e física. Foi pensando nisso que a ONG americana First (For Inspiration and Recognition of Science and Technology) idealizou o First Lego Legue (FLL), um torneio de robótica internacional do qual participam jovens de 9 a 15 anos. “O FLL foi elaborado pela pouca demanda para profissões ligadas à tecnologia,

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Os estudantes do Colégio Papa João XXIII, de Curitiba, Guilherme e Júlio, acreditam que a robótica una seriedade à diversão

brasileiros e cinco estrangeiros. Quatro quesitos foram analisados para chegar à equipe vencedora: o tema proposto; a programação, construção do robô e a estratégia das missões; o trabalho em grupo e a vivência dos valores da FLL; e, por fim, o desempenho dos robôs nas missões, na arena. Para elaborar os projetos, alunos e professores orientadores foram a campo. A equipe Eagles and Owls, do Sesi Benjamin Guimarães, de Contagem, verificou que os moradores de áreas de risco apresentavam grande receio com a possibilidade de soterramentos. A equipe, então, visitou a Defesa Civil municipal, o Corpo de Bombeiros e ouviu especialistas. A partir da coleta de dados, o grupo criou uma escavadeira com sensor ultrasônico, capaz de identificar a presença de pessoas por debaixo dos escombros. “Por meio de nossa visita ao Corpo de Bombeiros, soubemos que a indefinição do que há por debaixo dos escombros em quadros de soterramento é algo complicado para os bombeiros. O trabalho é realizado vagarosamente, pois não é possível usar maquinário pesado para fazer buscas. É algo manual. Então, tivemos a ideia de criar essa escavadeira com sensor capaz de captar variações de temperatura num determinado raio de distância e profundidade, facilitando e agilizando as buscas”, explica a mentora da equipe, 34 | www.voxobjetiva.com.br

Cláudia Girundi. Os chilenos da equipe The Mainstream, do Colégio San José, de Talca, também se apoiaram na realidade local para a elaboração do projeto. O terremoto que assolou o Chile em 2010 sinalizou um grande problema na cidade: a falta de um local em que a população encontrasse abrigo e tivesse água e energia, após um terremoto. Diante dessa demanda, os estudantes criaram uma zona de segurança para abrigar trabalhadores do centro comercial de Talca. “O projeto prevê para o local painéis solares para alimentar diferentes dispositivos elétricos e atender às pessoas que vão se abrigar nessa zona de segurança. Há também canais que acumulam água de chuva e são capazes de transformá-la em água potável e um hospital para o atendimento dos feridos” detalha o orientador da equipe, o professor de Ciências Jorge Rodrigo Soto Bravo. Já a equipe do Colégio Papa João XXIII, de Curitiba, montou o projeto do Sinalizador Autônomo de Prevenção de Enchentes (Sapa). Em situações de risco de inundações, o dispositivo aciona uma série de alertas à sociedade. “O sistema é feito com um cano de PVC em que nós adaptamos uma boia. Assim que o nível da água aumenta, essa boia se eleva e fecha um circuito. A partir daí, é disparado um sinal sono-


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ro e luminoso. Um GPS indica onde estão os pontos de alagamento”, explica Júlio Sutil de Oliveira Bisneto, de 13 anos. “Tendo a informação, as lideranças de bairro comunicam os moradores por meio de mensagens de texto”, completa o colega, Guilherme Afonso Cabral Nunes, de 14 anos. Mesmo sendo muito jovens, os dois garotos entendem que a robótica é coisa séria, mas, segundo eles, é impossível não se divertir ao fazer a programação e operar o robô. A possibilidade de aprender sobre temas transversais e, às vezes não propriamente relacionados à tecnologia, mas de natureza humana e ambiental, é outro ponto que motiva os alunos. Apaixonados pela robótica, Júlio e Guilherme pretendem estudar Mecatrônica, preservando o contato com as máquinas no futuro. Embora os projetos tenham enorme relevância, foi a competição de mesa que mexeu com o ânimo geral. Feitos com as coloridas, nostálgicas e atemporais Os torneios da FLL são conhecidos por empregar as tradicionais peças Lego na construção dos robôs e na montagem das arenas de competição André Martins

peças de Lego, os robôs, apesar de parecerem brinquedos, não eram tão simples assim. A programação deles foi feita a partir de um dispositivo da LEGO que é acoplado às invenções. Diante de notebooks, os alunos responsáveis pelos comandos ajustavam movimentos nas mesas-teste para não errar quando fossem postos à prova. Com o tema ‘Fúrias da Natureza’, as mesas de competição simularam catástrofes e acidentes naturais para que os robôs executassem missões, como o resgate e atendimento às vítimas, e proporcionar segurança em determinadas áreas. Ao redor das mesas, um misto de excitação e tensão tomava conta das equipes. No somatório, que leva em conta o desempenho nos quatro quesitos, quem se deu melhor foi o time Legosos e Furiosos, do Sesi de Uberlândia. Apesar de apenas uma equipe ter se sagrado vencedora, ao final do evento, o clima geral era de pura confraternização e alegria. De acordo com Bravo, além de conhecimento, o torneio proporciona uma troca de bagagem cultural impossível de ser mensurada. Aprendem os alunos e os professores. “Nós somos de uma cidade ao Sul de Santiago. Quase todas as equipes de robótica que representam o Chile no exterior saem da capital. É a primeira vez que uma equipe de Talca representa o país. Então, imagine você o que é pra gente representar o país, conhecer outras culturas e aprender sob o viés acadêmico! Para os estudantes, isso é muito importante. É uma experiência que se leva para toda a vida”, expressa o professor, que fez a segunda viagem internacional com a equipe chilena. O primeiro torneio disputado foi na Alemanha, em 2013. A variedade de temáticas abordadas pela FLL nos torneios internacionais é um convite para pensar no quão amplo pode ser o emprego da robótica na vida comum. “Eu sou bióloga e adoro robótica. Como também sou coordenadora da escola, eu sempre digo que é possível unir robótica ao ensino até mesmo da geografia e da história. Então eu costumo mostrar ao professor o leque de opções de trabalho que existe com a robótica”, conta Cláudia. A partir de outubro, as equipes começam a preparação para a próxima temporada de competições. Como aconteceu este ano, os alunos devem desenvolver projetos que apresentem soluções inovadoras relacionadas com o tema já determinado: ‘World Class’. O objetivo é responder à seguinte pergunta: ‘o que pode ser feito para a melhora do ensino?’. É necessário ainda montar e programar robôs para as | 35 competições do circuito.


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Brasil Fashion Iniciativa do Senai une estudantes e estilistas veteranos na celebração de novos caminhos para a moda

Texto:Tati Barros Fotos: Sebastião Jacinto Júnior

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ove jovens talentos de diferentes regiões do país assessorados por três nomes de peso da moda brasileira. Esta foi a proposta do Brasil Fashion, evento nunca visto na capital mineira e realizado pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) em parceria com o Serviço Social da Indústria (Sesi). O debut oficial dos proeminentes talentos da arte de corte e costura do Brasil foi um dos eventos paralelos à Olimpíada do Conhecimento 2014. Durante meses, os nove estudantes do Centro de Tecnologia da Indústria Química e Têxtil (Cetiqt) do Senai escolhidos para o projeto tiveram a oportunidade de criar minicoleções. O trabalho foi supervisionado pelos prestigiados estilistas Ronaldo Fraga, Alexandre Herchcovitch e Lino Villaventura. O resultado dessa ação foi apresentado no último dia 4 de setembro na Arena Minas Tênis Club. O local foi transformado em uma bela passarela. 36 | www.voxobjetiva.com.br

Com o tema ‘Escolhas que Emocionam’, o desfile esbanjou criatividade e talento. Cada estilista desenvolveu três peças, responsáveis por representar as referências e o DNA artístico de cada um. Segundo o gerente de Inovação, Estudos e Pesquisas do Senai Cetiqt, Flávio Sabrá, o objetivo do evento foi proporcionar aos participantes uma ideia ampla de como funciona o processo de criação de uma grande marca. “O desfile é a apoteose do estilista. Quisemos que os alunos tivessem a experiência completa, que compreende todas as etapas de desenvolvimento de uma coleção e culmina no momento de apresentá-la para a imprensa, os empresários e os formadores de opinião do mercado da moda”, explicou. E assim como um badalado desfile de Semana de Moda, não faltaram personalidades respeitadas no meio. Marcaram presença as jornalistas Lilian Pacce e Erika Palo-


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mino, a consultora de moda Gloria Kalil e a papisa da moda brasileira Costanza Pascolato, juntamente com sua filha, a blogueira Consuelo Blocker. Para desfilar os modelos criados pelos jovens talentos, foi convocado um time de tops para estilista veterano nenhum botar defeito: Bárbara Berger, Fernanda Tavares, Carol Ribeiro, Ana Cláudia Michels, Izabel Goulart, Carol Trentini, Renata Kuerten, Shirley Mallmann e Emanuela de Paula. A jornalista Lilian Pacce exaltou a iniciativa do Senai e mostrou-se impressionada com o que viu. “Acho que esses alunos ainda não têm ideia do tamanho do sonho que realizaram. Eles nunca mais vão se esquecer disso e talvez não tenham outra oportunidade como esta, de ter uma estrutura ajudando a pensar e fazer o produto e desfilar com essa superprodução. Mas agora eles terão que trabalhar muito para ir em frente”. Para Ronaldo Fraga, o Brasil Fashion surge como possibilidade para uma moda brasileira como mais vigor e troca. “Foi um processo muito legal, por ser algo inédito essa história de pegar o novo, os estilistas veteranos, a indústria e romper com a distância que ainda existe entre eles. Os meninos tiveram que exercitar o desprendimento, e nós, a generosidade. Eu, Lino e Alexandre não tivemos essa oportunidade que eles estão tendo. E é isso que deve ser feito: esse incentivo para o novo”, acredita. Um dos contemplados pelo programa, o pernambucano Jorge Feitosa, tentou analisar como foi a experiência. “Foi magnífico trabalhar com profissionais reconhecidos no Brasil e no mundo inteiro. Discutimos muito em todo o processo a questão do desapego, de deixar as pessoas interferirem no processo de criação e isso foi muito importante”. Fazendo coro à opinião do colega, o belo-horizontino Caio Nascimbeni comemorou a oportunidade e já faz planos para evoluir ainda mais. “Foi um grande passo e uma grande responsabilidade. Mas, acima de tudo, foi uma grande experiência trabalhar com o Ronaldo Fraga! E meus planos, a partir de agora, são seguir a carreira e deixar o vento me levar para os caminhos que surgirem”, projeta. A escolha da capital mineira como palco para o Brasil Fashion, paralelo à Olimpíada do Conhecimento, foi justificada, de acordo com Flávio Sabrá, pela representatividade do estado na indústria têxtil nacional. Para Ele, Minas tem “uma história de grandes nomes da moda, e Belo Horizonte é um mercado dinâmico, tendo tudo a ver com o projeto”, opinou. | 37


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Celeiro azul Cruzeiro colhe frutos do planejamento iniciado em 2012 e fortalece o time principal com talentos formados ‘em casa’ Vinicius Grissi

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campanha histórica que coloca o Cruzeiro como o favorito absoluto a conquistar o Campeonato Brasileiro pela segunda vez consecutiva é vista por muitos como surpreendente. Dentro do clube, porém, todos encaram o ótimo momento como fruto de trabalho e planejamento que começou em 2012 e colheu as primeiras glórias no ano passado. O projeto passa pela Toca da Raposa 2, onde treinam os profissionais, mas também pela Toca da Raposa 1, local onde o clube vislumbra o seu futuro e investe cerca de R$ 7,5 milhões por ano. No elenco qualificado e numeroso, em meio a jogadores experientes e promissores, chamam a atenção também os jovens revelados dentro da Toca. São oito, dentre os 30 profissionais. “O Cruzeiro tinha um problema sério na transição. A determinação do Gilvan é ter um fluxo contínuo de atletas subindo para o time profissional. Quando ele assumiu, só 12% do elenco era formado por jogadores da base. Hoje, já estamos com 30%, e a meta é chegar a 50%”, conta Bruno Vicintin, superintendente das categorias de base celestes desde o início de 2013. Parte importante do processo de mudança no Cruzeiro, o técnico Marcelo Oliveira não foi escolhido por acaso. O trabalho consistente nas categorias de base do rival Atlético foi um dos motivos que fez a diretoria estrelada bancar sua contratação mesmo sem o aval da maioria dos torcedores. “É um cami38 | www.voxobjetiva.com.br

nho importantíssimo para os clubes formarem seus jogadores. Eles chegam ao profissional com muita vontade e desvinculados daquela relação comercial. Felizmente o clube tem uma estrutura muito boa e, desde que eu cheguei, forneceu ótimos jogadores”, explica o treinador celeste. Com quase dois anos à frente do clube, Oliveira projeta um trabalho de longo prazo com os jovens. “Este ano foi muito especial; uma geração muito boa! Mas vai haver anos em que vão chegar atletas para demandar um pouco mais de tempo de preparação. A expectativa é de que, mantendo esta comissão por mais tempo, o clube possa criar uma filosofia de, a cada ano, a gente poder trazer jogadores e ir lançando na medida necessária”, explica o comandante celeste. O volante Lucas Silva, de 21 anos, talvez seja o maior expoente da nova filosofia do Cruzeiro. De-


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Cruzeiro vê nas categorias de base a chance de prolongar o bom momento

com uma vaga no time titular. “Eu fico surpreso quando alguns garotos falam que são meus fãs e pedem orientação. Eu já estive na pele deles. Então fico tranquilo e tento passar confiança pra se entrosarem o mais rápido possível com o grupo”, revela o volante, considerado por especialistas nome quase certo no time que vai disputar as Olimpíadas de 2016. Depois Lucas Silva, que já se firmou entre os titulares, outros jogadores vão ganhando espaço em 2014 no elenco do Cruzeiro. Na lateral direita, Mayke tem cada vez mais minutos acumulados no time titular. Outro que se destaca é Alisson, titular da seleção brasileira sub-21 ao lado do próprio Lucas e tratado internamente como a maior joia da base cruzeirense nos últimos anos. Além deles, os goleiros Rafael, Elisson e Alan; o zagueiro Alex e o volante Eurico disputam espaço no concorrido time de Marcelo Oliveira.

Washington Alves / Vipcomm

pois de ganhar as primeiras oportunidades em 2012, o jogador se firmou de vez no ano passado. Titular absoluto da equipe, ele é observado por grandes clubes do futebol europeu, como Milan e Manchester United há alguns meses. “Quando chegamos, ele não estava jogando e tinha uma necessidade de melhoria. Precisava marcar mais e ser mais contundente para jogar naquela posição. O Lucas entendeu isso e cresceu, e hoje é um dos nossos principais jogadores”, conta Marcelo Oliveira. O papel do treinador também é destacado pelo volante, que nutre por Oliveira muita gratidão. “O Marcelo chegou e deu muita oportunidade para a base, além de confiança. Ele disse que não teria medo de escalar os mais jovens, e eu pude aproveitar quando tive a minha chance”, revela. Com quase cem jogos como profissional, Lucas Silva é visto como exemplo pelos garotos que sonham

Mas nem todos conseguem a sorte de brilhar no time profissional. Além de se destacar por dar oportunidade aos jovens no time, o Cruzeiro chama a atenção também pelos bons negócios realizados com atletas das categorias de base. Nos últimos dois anos, três atletas deixaram o clube para atuar no futebol europeu antes de se firmar na equipe. No ano passado, o lateral esquerdo Vinicius Freitas, de 21 anos, assinou contrato com a Lazio, da Itália, sem sequer estrear no time profissional. Como seu vínculo com a Raposa estava perto do fim, o clube recebeu uma pequena quantia, não revelada, pela liberação. O xará, Vinicius Araújo, teve um pouco mais de tempo. Depois de atuar 27 vezes e marcar 11 gols pelo time profissional em 2013, o atacante, de 21 anos, teve metade dos direitos econômicos negociados com o Valência, da Espanha, por 3,5 milhões de euros no início desta temporada. O caso mais emblemático, porém, é o do zagueiro Wallace. Titular da seleção brasileira sub-21, ele fez apenas oito jogos pelo time do Cruzeiro. Em julho, acabou negociado com o Braga, de Portugal, por 9,5 milhões de euros (sétimo jogador mais caro da posição a deixar um clube brasileiro). Com as contratações recentes de Dedé e Manoel, o jogador acabou tendo pouco espaço no clube. “Zagueiro é uma posição difícil, ainda mais com 19 anos. Mas não tenho | 39


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o que reclamar. O Cruzeiro também não. Fiz um bom contrato e hoje estou jogando em um grande centro da Europa e prestes a disputar minha primeira Liga dos Campeões pelo Mônaco”, explica o jogador, que foi emprestado ao clube francês para esta temporada com os direitos fixados em 40 milhões de euros. Para quem comanda as categorias de base do Cruzeiro, não há nenhum motivo para lamentar. “Eu fico totalmente realizado com a venda do Wallace. O jogador pode trazer resultado técnico ou financeiro. O ideal é que traga os dois. Eu acho que alguns ne-

gócios no futebol sejam irrecusáveis. Se você pensar que vendeu, talvez, a maior promessa da zaga do clube por esse valor e pagou 2,5 milhões de euros por uma realidade, que é o Manoel,... não tinha como o clube segurar. Até porque nem todas as promessas vingam”, comenta Bruno Vicintin. “A gente tem que criar uma cultura de preservar os jogadores dentro de casa. É um projeto longo, e a torcida está apoiando isso”, arremata. E é desta forma, enquanto comemora o presente e sonha com mais um título nacional, que o Cruzeiro projeta um futuro de ainda mais conquistas e construído dentro de casa.

divulgação

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Promessas

Ronaldo

Bruno Edgar

Judivan

Zagueiro, 16 anos

volante, 20 anos

atacante, 20 anos

É titular da seleção brasileira sub-17. muito forte e rápido, além de bom na bola aérea. Apesar de jovem, conta com muito prestígio dentro da CBF

É um jogador que tem uma força física impressionante e por isso, o apelido de Ramires. muito alto e magro, ele tem perfil de maratonista e tem muita qualidade. um volante muito moderno

Atacante rápido e de habilidade. Já chamou a atenção do marcelo Oliveira e tem sido preparado para receber as primeiras oportunidades no concorrido ataque cruzeirense

Pedro Venâncio, Jornalista do blog “na Base da Bola” do globoesporte.com

Bruno Vicintin, superintendente das categorias de base do Cruzeiro

Dassler Marques, jornalista especializado em categorias de base

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ARTIGOS

Ruibran dos Reis

Meteorologia

Os gases do efeito estufa No dia 9 de setembro, a Organização Meteorológica Mundial (OMM) chamou, mais uma vez, a atenção dos governantes para a velocidade alarmante com que os gases do efeito estufa têm se propagado pelo mundo. Em 2013, a concentração de gás carbônico na atmosfera era 142% superior à registrada na era pré-industrial, por volta do ano de 1750. Na comparação desses mesmos períodos, o aumento das concentrações dos gases metano e óxido nitroso era de 253% e 121%, respectivamente. A maior parte dos gases do efeito estufa é absorvida pelos oceanos. Com isso, os mares se tornam cada vez mais ácidos. É um verdadeiro desastre imposto ao meio ambiente. Infelizmente, as autoridades não sinalizam nenhuma preocupação com o problema e sequer esboçam vontade de dar novos contornos a essa história. O Brasil é um dos maiores poluidores do mundo. Amargamos o topo da lista dos países que mais destroem suas matas visando o desenvolvimento agrícola.

da República este ano envolvem o pré-sal. O petróleo que levou milhões de anos para ser formado será gasto agora, por esta geração. Um absurdo! Estamos abandonando as propostas de utilização de energias limpas e priorizando energias que prejudicam a qualidade do ar. Segundo o Dr. Michel Jarraud, secretário da OMM, o dióxido de carbono permanece na atmosfera por centenas de anos. No mar, a sujeira permanece por ainda mais tempo. Sendo assim, as emissões passadas e futuras terão impacto cumulativo e vão agravar o aquecimento global e a acidificação dos oceanos.

“Estamos abandonando as propostas de utilização de energias limpas e priorizando energias que prejudicam a qualidade do ar”

Nos últimos anos, os incentivos governamentais para a aquisição de carros levou o Brasil a uma situação incômoda. O trânsito de médias e grandes cidades se torna cada vez mais intenso, a qualidade do ar é péssima e os gastos com saúde pública aumentaram devido à crescente dos casos de doenças respiratórias e pulmonares. Boa parte das propostas dos candidatos à Presidência

Como foi exposto, os gases do efeito estufa geram grandes impactos ambientais, já que a poluição pode permanecer até cem anos na atmosfera e na saúde pública. Portanto, antes de votar no próximo dia 5 de outubro, vamos avaliar quem está preocupado com o planeta. Quem se preocupa com assuntos pertinentes à realidade nacional, provavelmente tende a pensar de maneira mai s ampla, no bem-estar global.

Ruibran dos Reis Diretor Regional do Climatempo e professor da PUC Minas ruibrandosreis@gmail.com | 41


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Do conto de fadas ao erotismo Sucesso de vendas mundo afora, romances femininos picantes apostam em fórmula do faz de conta... um pouco mais ‘quente’ Haydêe Sant’Ana

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ão é de hoje que temas como erotismo e sexualidade despertam o interesse humano. Falar abertamente sobre esses assuntos, no entanto, continua a incomodar. Parece um eterno tabu. Apesar disso, de alguns anos para cá, a publicação de livros picantes, como ‘Cinquenta Tons de Cinza’ e ‘Toda sua’ trouxe luz a esses assuntos sob a perspectiva literária. São os chamados romances eróticos. Está enganado quem pensa que a onda de publicações de gênero erótico foi inaugurada com o recente ‘Cinquenta Tons de Cinza’. O romance erótico faz parte da literatura há muitos séculos. O primeiro livro do gênero publicado que se tem notícia é o indiano ‘Kama Sutra’, 42 | www.voxobjetiva.com.br

no início do século IV. Esse clássico da literatura erótica trata do comportamento sexual humano e se tornou um tipo de ‘manual do amor’. Assim como o ‘Kama Sutra’, obras, como ‘Decameron’, de Giovanni Boccaccio, de 1350, e ‘Fanny Hill’ ou ‘Memórias de uma Mulher de Prazer’, de John Cleland, de 1748, fizeram história. Na época de suas publicações, os dois livros foram censurados, e os autores, perseguidos. ‘Decameron’ inovou ao romper com a moral medieval. O livro aborda o sexo, a infidelidade e a luxúria do ponto de vista do Renascimento e sua exaltação às relações terrenas. Já ‘Fanny Hill’, um dos primeiros roman-


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ces modernos do século XVIII, provocou a comunidade religiosa da época por narrar as experiências sexuais explícitas da jovem protagonista que dá nome ao livro. Após o lançamento, Cleland, os editores e os responsáveis pela impressão do livro foram presos e acusados de pornografia. Com isso, a publicação foi proibida, passando a circular em versões pirateadas. Nos EUA, ‘Fanny Hill’ só voltou a circular em 1966. No Brasil, Odete Rios teve a própria obra censurada pela ditadura militar. Dos 36 livros publicados pela escritora conhecida pelo pseudônimo de Cassandra Rios até então, 33 foram apreendidos. Suas histórias eróticas eram consideradas pornográficas pelo regime. Nelson Rodrigues foi outro autor consagrado por apostar em temáticas similares. Ele ficou conhecido como ‘anjo pornográfico’ pelo forte apelo erótico de seus livros. ‘Asfalto Selvagem: Engraçadinha, seus pecados, seus amores’, publicado em 1959, fez tanto sucesso que foi adaptado para o teatro, a televisão e o cinema. No campo literário, a distinção entre o erótico e o pornográfico é tênue e gera debates acalorados. Muitos autores, teóricos e críticos preferem fugir de uma categorização, alegando que os temas têm grande similaridade. Alguns dicionários definem a literatura erótica como um gênero que abrange a literatura licenciosa voltada para a libertação do amor sensual ou o desejo sexual, independentemente do grau de licenciosidade. Dentre os profissionais que defendem que há diferenças entre os textos pornográficos e eróticos, está Audemaro Taranto, doutor em Teoria Literária e Literatura

Comparada da PUC Minas. “O texto erótico distingue-se notoriamente do pornográfico porque se constrói numa forma em que predominam a delicadeza, as sugestões, a focalização indireta de gestos e de situações. O estilo busca muito mais provocar do que dizer objetivamente”, entende. “Em contrapartida, o texto pornográfico investe decisivamente na narrativa direta e sem desvios de situações em que pontificam cenas mais cruas, mais naturais e sem retoques”, conceitua. O romance erótico apresenta tendência mais picante, porém a fórmula permanece. Curiosamente, quem domina esse nicho do mercado editorial são as mulheres. Elas são maioria no consumo e na autoria. Muitas vezes, as autoras se colocam no lugar das leitoras para atingi-las com maior impacto. Após o lançamento de ‘Cinquenta tons de cinza’ pela escritora britânica E. L. James e o sucesso estrondoso de vendas – foram mais de 100 milhões de exemplares vendidos em todo o mundo – o mercado editorial teve um boom. Surgiram novos romances e autoras dispostas a se aventurar nesse quente e lucrativo negócio. Na onda apoteótica dos best sellers eróticos estão a série ‘Crossfire’ de Sylvia Day; ‘O diário de uma submissa’ da britânica Sophie Morgan; a série ‘Os Sullivans’ da americana Bella Andre; a série ‘Breathless’ de Maya Banks, entre outros. Erenita Marques, blogueira do Papo sobre Livros e apreciadora da literatura erótica, vê o boom do mercado editorial como algo positivo na medida em que desperta a curiosidade de muitas pessoas para ler os livros. “Vale

Do universo editoral para as telonas, a versão cinematográfica de ‘Cinquenta tons de cinza’ promete ser um dos maiores sucessos de bilheteria de 2014

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até mesmo a leitura masculina, que seja para criticar esses romances”, observa. Fã de literatura erótica, Erenita já leu mais de 20 livros sobre o tema. Dentre seus preferidos estão ‘Cinquenta tons de cinza’, a série ‘Os Sullivans’, e ‘Crossfire’. Para a blogueira, os livros são sucesso de público feminino porque as mulheres querem justamente um romance mais ‘apimentado’. “É o que toda mulher busca: um romance, porém mais ‘hot’, mais sexy do que eles costumam ser. Um pouco menos ‘romance de Harlequin’. Algo com uma história complexa, com personagens envolventes e com aquela ‘’pegada’ mais sexy”, opina. Conhecido também como ‘pornô para as mamães’, o romance erótico vêm atraindo diferentes mulheres de diferentes faixas etárias. As leitoras são desde adolescentes que começam a ter as primeiras descobertas sexuais a mulheres mais maduras e experientes.

to se houver amor. Já os homens aprendem que não há problema em fazer sexo unicamente por prazer. É uma questão social. Não acredito que mulheres biologicamente buscam o sexo só quando há sentimento romântico envolvido”, afirma Nádia. Autora do polêmico livro ‘Cem homens em um ano’, no qual relata as próprias experiências sexuais, Nádia, observa que a maioria dos livros não pregam realmente a liberdade sexual. Essas publicações apenas repetem uma fórmula bastante ‘batida’ e antiga: a existência de um príncipe encantado.“Sinto falta da reedição de livros mais clássicos como os da francesa Anais Nin. Neles, a mulher é imponderada”, queixa-se. As relações sexuais explícitas nos primeiros livros do gênero eram vistas como algo errado ou proibido. Era um reflexo da sociedade da época. “O erótico antigo é meio ‘proibido’. As relações geralmente são vistas nos livros como algo errado e normalmente envolvem crimes, abusos e jogos com a mente. Não é tão romântico como podemos ver nos dias de hoje, é mais cru” aponta Erenita.

Raphaela Barros é administradora do blog Equalize da leitura. Ela já leu vários livros do gênero. Dentre eles estão ‘Irmandade da Adaga Negra’, as séries ‘Crossfire’ e ‘Os Sullivans’, a trilogia Butterfly. Ler o fenômeno de ‘Cinquenta tons de cinza’ só fez aumentar o interesse de Raphaela por livros desse gênero. A busca pela literatura erótica se revela como uma forma de experimentação e de conhecimento de novas sensações. “Assim como qualquer livro, eu gosto de viajar para aquilo que o autor tem a me oferecer. É viajar para outros caminhos e deixar sua mente aberta para o que pode acontecer. É não ter vergonha de falar: ‘eu leio literatura erótica e gosto’”, entende.

Os primeiros romances do gênero causaram frisson por apresentarem mulheres vivenciando a sexualidade de forma livre. O romance erótico atual é marcado por um estilo blasé (indiferente). As histórias giram em torno de uma mulher submissa, ingênua, sem atitudes e que, em determinado momento, encontra um galã sedutor, um ‘príncipe encantado’, porém dominador e que busca a satisfação de seus desejos e prazeres sexuais.

Mesmo com a crescente popularização da literatura erótica, o gênero ainda é muito restrito ao universo feminino. A jornalista e escritora Nádia Lapa entende que as histórias são romantizadas e, muitas vezes, rompem com modelos sociais estabelecidos. Ela acredita que esse fator possa contribuir para a atração do público feminino. “Nós somos criadas e orientadas para acreditar que sexo só pode ser fei-

A tradicional fórmula dos contos de fadas, em que a mocinha encontra o homem de seus sonhos, parece ser o grande filão do mercado editorial desde sempre. Com tamanho sucesso, algumas publicações vão migrar dos livros para as telas de cinema e TV. É o caso da série ‘Cinquenta tons de cinza’, a ser lançado nas telonas em 2015, e de ‘Crossfire’, de Sylvia Day, que será adaptado para série de TV.

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kultur

Literatura do prazer Os romances e livros eróticos que marcaram época

Kama Sutra, de Vatsyayana Antigo texto indiano sobre o comportamento sexual humano. Na origem da expressão, Kama representa o amor e o prazer, Sutra é um termo técnico que significa manual, formando, então, a expressão ‘manual do amor’.

Decameron, de Giovanio Boccaccio Coleção com cem histórias que abordam sexo, infidelidade e luxúria. O livro rompeu com a moral medieval e a valorização do amor espiritual.

Fanny Hill : Memórias de uma mulher de prazer, de John Cleland

A volúpia do pecado, de Cassandra Rios

Uma jovem que muda para Londres e se torna uma cortesã. O livro descreve as aventuras sexuais da protagonista com detalhes, o que desagradou à comunidade religiosa da época.

O primeiro livro lançado por Cassandra Rios causou polêmica por contar a história de amor homossexual entre duas jovens (Lyeth e Irez).

Asfalto Selvagem: Engraçadinha seus pecados, seus amores, de Nelson Rodrigues

A casa dos Budas ditosos, de João Ubaldo Ribeiro

O livro conta a história da vida sexual de Engraçadinha e suas relações familiares disfuncionais. A obra de Nelson Rodrigues foi folhetim, livro, minissérie e livro.

Cinquenta Tons de Cinza, de Erika Leonard James O livro conta a história de Anastasia Steele, uma jovem estudante de literatura que se envolve com Christian Grey, um homem de sucesso e chefe de uma multinacional. A obra é regada a fetiches e fantasias sexuais.

Clássico da literatura erótica nacional narrado por uma mulher de 68 anos que conta suas experiências sexuais de forma natural e explícita.

Toda Sua, de Sylvia Day Primeiro livro da série ‘Crossfire’, narra a trajetória de Eva Tramell, uma jovem de 24 anos que se apaixona pelo sexy Gideon Cross. Uma relação intensa de amor e sexo dita o tom do livro.

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Terra Brasilis • crítica

Múltiplos olhares ‘Rio, Eu te amo’ reúne visões cinematográficas de diretores brasileiros e estrangeiros sobre um dos destinos turísticos mais visados do Brasil Haydêe Sant’Ana

D

epois de Paris e Nova York, chegou a vez de a cidade maravilhosa servir de locação para a série de filmes ‘Cities of Love’. ‘Rio, Eu te amo’ é uma homenagem a um dos cenários mais estonteantes do Brasil. Por meio do cartaz, em que aparece um casal apaixonado e o Pão de Açúcar ao fundo, é possível prever a aura de romance que embala as histórias. O filme conta com dez curtas-metragens assinados por diretores brasileiros, como Andrucha Waddington, Carlos Saldanha e José Padilha, e por internacionais, como Guillermo Arriaga e Im Sang-soo. Cada história se passa em um bairro, explorando características múltiplas dessa pulsante metrópole. A liberdade de criação dada a cada diretor tornou o filme ‘coletivo’, mas a produção não é ‘amarrada’: trata-se de um grande mosaico de histórias que não necessariamente se entrecruzam. As narrativas seguem de forma paralela, abordando diferentes temas que, juntos, formam um imaginário sobre a cidade. Os diretores estrangeiros abusam da criatividade, fazendo uso de paródia, humor e fantasia, sempre com uma pitada de dramas particulares e amores proibidos.

Os diretores brasileiros apostam em retratar o amor pelo Rio. É o caso do curta ‘Dona Fulana’, de Waddington. Ele dirige a sogra, Fernanda Montenegro, que interpreta o papel de uma mendiga que adora viver nas ruas. Embora tenha uma casa, Dona Fulana prefere o contato com o Rio ao conforto do lar. Como contraponto a histórias leves, ‘Inútil’, de José Padilha, faz uma crítica política local. No curta, Wagner Moura é um brasileiro em crise. Ao sobrevoar o Cristo Redentor, ele conversa com o monumento e tece duras críticas à sociedade. Com um roteiro marcado por cenas que descrevem diversos tipos de relação de amor entre as pessoas e com a cidade, ‘Rio, eu te amo’ é um filme que busca encantar brasileiros e o público estrangeiro ao valorizar e ressaltar aspectos culturais nacionais da cidade maravilhosa. O longa não pretende necessariamente ser um retrato fiel da realidade carioca. A proposta é mostrar aos espectadores o que a cidade tem de melhor: a beleza, as pessoas, a paisagem, os monumentos, as praias. Depois de conferir ‘Rio, eu te amo’, fica fácil entender a razão de acidade ser o destino mais procurado por turistas em todo o Brasil.

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reprodução

Henrique marques

eny miranda

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Terra Brasilis • aGeNDa

‘Memórias dos anos 80 e 90’

Circuito Banco do Brasil

A dupla sertaneja que foi apresentada ao sucesso em bares de Belo Horizonte, César Menotti e Fabiano, sobe ao palco do Chevrolett Hall para apresentar o novo álbum do conjunto: ‘Memórias dos anos 80 e 90’. O trabalho traz o som da viola caipira que embala várias canções de sucesso das décadas de 80 e 90. Resgatando as raízes do sertanejo, a dupla regravou músicas de Chitãozinho & Xororó, Leandro e Leonardo, João Paulo e Daniel, Zezé Di Camargo e Luciano, Sérgio Reis, Irmãs Galvão, Chico Rei & Paraná, Duo Glacial, Felipe & Falcão, Duduca & Dalvan.

Em outubro, o Circuito Banco do Brasil reúne, na capital, uma mistura de atrações nacionais e internacionais. O pontapé inicial do evento acontece a partir das 14h, com a abertura da Copa Brasil de Street Skate. As apresentações musicais estão previstas para começar às 17h. O grupo de rock Panic! at Disk, de Las Vegas, caracterizado por suas fortes influências teatrais, e a banda Linkin Park prometem agitar o Mineirão. Dividem o palco com os grupos internacionais, as bandas Titãs e Nação Zumbi. O evento é imperdível para quem curte o combo: rock e skate!

Chevrolett Hall 11 de outubro, às 22h De R$ 35 a R$ 70 (inteira) chevrolethallbh.com.br

Mineirão 18 de outubro, às 14h De R$140 a R$ 280 (inteira) tudus.com.br/tudus/index.html

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Prélio Até o início da segunda quinzena de outubro, a Galeria Arlinda Corrêa Lima, no Palácio das Artes, sedia a exposição ‘Prélio’, do artista mineiro João Castilho. A palavra que dá nome à mostra significa batalha ou luta. A exposição projeta, em um espaço vazio, imagens em alta resolução de um confronto de jiu-jitsu. O artista se atém apenas aos movimentos de combate. O áudio da batalha e outros elementos também compõem o espaço multissensorial criado por Castilho. Galeria Arlinda Côrrea Lima, Palácio das Artes 17 de setembro a 19 de outubro Entrada franca fcs.mg.gov.br


Terra Brasilis • aGeNDa

thomas andersen

divulgação

Os 11 anos do Boi Lourdes Restaurante referência em carnes na capital mineira comemora seus 11 anos em grandíssimo estilo. A festa tem a presença confirmada da banda Paralamas do Sucesso. A dupla Rick & Ricardo e Dj Roy (Supra Sumo) também se apresentam no Mix Garden para tornar a noite ainda mais especial. A dupla canta sucessos da música sertaneja e canções próprias que fizeram sucesso nas rádios de Minas, como Força da Paixão, Gata Manhosa e Alô Morena. Mix Garden 24 de outubro, às 23h De R$ 130 a R$ 250 mixgarden.com.br

Teatro Sesiminas 24 de outubro, às 21h De R$ 60 a R$ 120 (inteira) ingresso.com

guga melgar

Grande ícone do rock mundial, Roger Hodgson vem ao Brasil para apresentações da turnê “Breakfast in America”. Em Belo Horizonte, o cantor e instrumentista fundador da banda Supertramp vai se apresentar ao lado de Rick Davies. Os fãs que comparecerem ao show vão poder apreciar músicas que marcaram a carreira solo de Hodgson e ouvir os clássicos da antiga banda do rockeiro. Parque das Mangabeiras 25 de outubro, às 19h De R$ 100 a R$ 300 (inteira) ingressorapido.com.br

divulgação

Beatles 4ever

Roger Hodgson

O show que conta a trajetória do grupo musical mais icônico de todos os tempos, os Beatles, volta a BH no fim de outubro. O espetáculo já rodou o Brasil e chegou à marca de 10 mil apresentações. Seguindo uma organização cronológica, de início, meio e fim, o espetáculo atinge o ápice ao mostrar o período em que são compostas as melhores canções do grupo, que estão presentes no álbum Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band. Para quem já viu, vale conferir de novo!

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crônica

Joanita Gontijo

Comportamento

Letras trocadas O resultado de anos de dedicação somados à coragem de se expor estava ali. Mais de 300 páginas de uma história fantástica. O lançamento do livro foi um sucesso e, menos de uma semana depois, a caixa de e-mails do autor já estava lotada de comentários positivos sobre a obra. Como um pai que olha enamorado o filho recém-nascido, meu amigo escritor folheava sua cria, orgulhoso do trabalho feito, quando se deparou com algo que lhe pareceu gravíssimo: um erro de digitação! Sim: em vez de uma letra, havia outra. Esfregou os olhos sem acreditar no que via. Como, depois de tantas leituras e revisões, aquela palavra incorreta conseguiu se esconder?

único erro perderia de goleada, mas, na interpretação abstrata do escritor, a letra maldita recebeu todos os holofotes e levou a obra ao vexame. Foi assim com esse autor e é assim comigo. Confesso que, muitas vezes, o tropeço me faz rechaçar o caminho. Se ao final de um dia feliz, eu esbarro o meu carro na parede do estacionamento, eu me pergunto: por que saí de casa hoje? Se naquele ano em que consegui um emprego melhor, viajei para Nova York e consegui tempo para malhar, eu levei um ‘fora’ do namorado, torço pela rápida chegada do réveillon. Só mesmo uma mudança no calendário pode me livrar daquele ano destinado ao infortúnio.

“O sonho virou pesadelo diante de um ‘s’ intruso que não havia sido convidado para a festa, mas entrou de penetra e roubou a cena”

A decepção tomou o lugar da glória. Fantasias sobre leitores decepcionados e livreiros frustrados atormentavam seu sono. Foram três dias amaldiçoando o deslize. Planejou recolher todos os livros e devolver à gráfica para que fosse feita a correção. Quem sabe uma retratação pública em cadeia nacional resolveria? O autor que, havia pouco tempo, estava realizado e feliz chegou a questionar se deveria mesmo ter publicado aquele livro... O sonho virou pesadelo diante de um ‘s’ intruso que não havia sido convidado para a festa, mas entrou de penetra e roubou a cena.

A reação do meu admirado escritor me mostrou muito mais do que seu perfeccionismo: esfregou-me na cara a verdade sobre como lidamos com os erros. O que significa uma letra trocada no meio de milhares de caracteres corretos? Nada ou quase nada... Aquele equívoco não era capaz de ofuscar o brilho das histórias contadas nem de reduzir a força emocional daquelas palavras. No placar imperioso dos números, aquele 50 | www.voxobjetiva.com.br

Quantos dias e quantas histórias ainda terei que definir como perdidas antes de aprender a lição dominada por artistas gráficos, desenhistas e pintores? Sim: são esses mestres da perspectiva que nos mostram em suas obras que o tamanho do objeto depende de onde o colocamos no quadro. Se ele estiver em primeiro plano, vai ser maior do que todo o cenário do fundo e chamar a atenção. É você quem escolhe o lugar dos acertos e dos erros na tela da sua vida. Não pare de pintar só porque o pincel escorregou da sua mão por um momento e borrou a figura. Há muita tinta esperando pelo seu talento!

Joanita Gontijo Jornalista e autora do livro “70 dias ao lado dela”joanitagontijo@yahoo.com.br


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