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Outubro/14 • Edição 64 • Ano VII • Distribuição gratuita
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mais UM Em disputa acirrada, Dilma Rousseff ‘vira o jogo’ na reta final e vence Aécio Neves. Reerguer economia e promover a reforma política são compromissos do segundo mandato
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‘IMORTAIS’ – O sucesso mantém viva a lembrança de grandes artistas
O que diferencia uma boa ideia?
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Editorial Hora de recomeçar A reeleição de Dilma Rousseff começa com grandes desafios: unir um país dividido e encontrar a melhor alternativa para o retorno do crescimento. Dilma venceu as eleições sustentando, entre os mais simples, o discurso do medo e do retrocesso. A campanha petista soube esconder das novas gerações e dos brasileiros mais simples a constatação de que o progresso alcançado nos últimos anos não são favores nem desejos exclusivos de determinado partido. O bom desempenho dos índices sociais se deve ao esforço conjunto do país por meio dos impostos na geração de riqueza ou da mão de obra trabalhadora.
Carlos Viana Editor Executivo carlos.viana@voxobjetiva.com.br
“... O povo que conhece o seu Deus se tornará forte e ativo.” (Daniel 11:32)
A Vox Objetiva é uma publicação mensal da Vox Domini Editora Ltda. Rua Tupis, 204, sala 218, Centro, Belo Horizonte - MG CEP: 30190-060
Apesar dos escândalos de corrupção e das suspeitas envolvendo nomes importantes de sua base, a presidente e o projeto do PT ganharam uma nova chance. Nos próximos quatro anos, Dilma tem o desafio de mudar o legado negativo que quase a levou a perder nas urnas. Em 1995, início do Plano Real, o Brasil tinha perto de 1 milhão de servidores públicos espalhados pelos três Poderes. Hoje eles somam 1,2 milhão, e a despesa com salários subiu 77%, saindo de R$ 44 bilhões, na era Fernando Henrique Cardoso, para R$ 79 bilhões, no governo do PT. Ainda sob gestão do Partido dos Trabalhadores, as estatais perderam valor, e o brasileiro está quase R$ 200 bilhões mais pobre. Infelizmente não há de se esperar, por conta da vitória de Dilma, que tenhamos o fim do empreguismo público nem do aparelhamento ideológico das estatais administradas por indicações políticas e constantemente envolvidas em escândalos de corrupção e de desvios de verbas. Aumentar o tamanho do Estado é uma das principais características da esquerda ideológica. Mesmo com as promessas de campanha para combater o mal que assola as contas públicas, a presidente terá pouco espaço. A reeleição tem alto preço. E em meio às tradicionais exigências de cargos e de salários na administração pública, serão grandes os esforços para minorar os vários processos judiciais que virão, frutos das investigações na Petrobras. Lula enfrentou o ‘mensalão’. Dilma convive com o escândalo do petróleo somado ao peso de ter aliados pouco interessados na ética pública. Controlar a inflação e as contas públicas é outro desafio que precisa ser encarado com a maior seriedade. Para manter os índices sociais e até mesmo as taxas de desemprego baixas, o Governo aumentou a dívida pública e vai entrar em 2015 amargando uma arrecadação federal entre as piores dos últimos dez anos. Quem decidiu pela manutenção de Dilma deixa um recado: é hora de fazer o país avançar na economia e na qualidade de vida dos brasileiros, corrigindo o que não funcionou bem. É preciso retirar de pauta o discurso que separa concidadãos entre ricos e pobres: entre Norte e Sul. É hora de virar a página do medo, do rancor e das mentiras que marcaram a campanha eleitoral. Boa sorte à presidente reeleita Dilma Rousseff.
Editor adjunto: André Martins l Diagramação e arte: Felipe Pereira | Capa: Felipe Pereira | Foto de capa: Portal EBC Estagiária: Daniela Rebello l Reportagem: André Martins, Bárbara Caldeira, Daniela Rebello, Diane Duque, Haydêe Sant’Ana, Leo Pinheiro, Vinicius Grissi | Correspondentes: Greice Rodrigues - Estados Unidos, Ilana Rehavia - Reino Unido | Diretoria Comercial: Solange Viana | Anúncios: comercial@voxobjetiva.com.br / (31) 2514-0990 | Atendimento: jornalismo@voxobjetiva.com.br (31) 2514-0990 | Revisão: Versão Final Tiragem: 30 mil exemplares | voxobjetiva.com.br 4 | www.voxobjetiva.com.br
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Novo morador - Zool贸gico de Belo Horizonte Foto: Suziane Fonseca |5
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Ricardo Stuckert
reprodução
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LUIZ RUFFATO Escritor mineiro fala da intimidade para retratar o Brasil pobre e critica a falta de investimentos na educação
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REELEIÇÃO
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café chique Indústria do café-gourmet investe na produção de grãos finos
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ORDEM DO DIA A cultura não é prioridade para grande parte dos brasileiros, como revela estudo
podium
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Na disputa eleitoral mais apertada desde 1989, Dilma vence Aécio, assegurando mais quatro anos de PT na condução do país
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NA BERLINDA STJD causa polêmica com punições questionáveis. Galo, Raposa e Coelho estiveram no ‘banco dos réus do futebol’, em 2014
HORIZONTES
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Reencontro Prestes a completar 450 anos, capital fluminense ganha museu que restaura área histórica esquecida há muito tempo
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Daniela Lameira
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Cidade Olimpica/Divulgação
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Horizontes
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NATUREZA MÍSTICA
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PSICOLOGIA • Maria Angélica Falci
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Meteorologia • Ruibran dos Reis
São Tomé das Letras une o conforto interiorano mineiro a roteiros de aventura e contemplação
Kultur
PÓS-MORTE Artistas da música e do cinema que foram venerados e imortalizados no imaginário coletivo depois da própria morte
Artigos
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IMOBILIÁRIO • Kênio Pereira O vendedor e o direito do corretor de imóveis
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justiça • Robson Sávio Ainda sobre eleições O equilibrista
Os céticos das mudanças climáticas
crônica • Joanita Gontijo Sem palavras...
Gastronomia
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RECEITA – Chef Carlos Pitta
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VINHOS – Nelton Fagundes
Salmão Premium Vinhos e fim de ano |7
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Jackson Romaneli
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A missão de Ruffato
Aclamado pela crítica, escritor mineiro dá voz às classes menos favorecidas e critica intelectuais brasileiros Haydêe Sant’Ana Fotos de Jackson Romanelli
É
possível que não haja, dentre os escritores brasileiros em atividade, alguém que tenha história mais inspiradora que a do mineiro Luiz Ruffato. Antes de se tornar jornalista e o exímio escritor que é, o cataguense experimentou diversas privações na vida. Nascido em uma família pobre, ele trabalhou como pipoqueiro, caixeiro de botequim, balconista de armarinho, operário têxtil, torneiro mecânico e gerente de lanchonete. A grande intimidade com a vida do trabalhador comum levou Ruf-fato a ganhar projeção nacional com a série ‘Inferno Provisório’. A obra narra a trajetória do operariado brasileiro da década de 50 até o século XXI, dando voz às classes menos favorecidas, aos que sofrem de um tipo de invisibilidade social, mesmo representando a maior parcela da população brasileira.
Eu sempre estudei em escolas muito ruins em Cataguases. A cidade tinha uma escola de ensino público muito bom, o Colégio de Cataguases, mas nele só estudavam crianças da classe média alta. Em determinado ano, meu pai conseguiu uma vaga para mim nesse colégio e eu iniciei meus estudos no turno da manhã. Eu me sentia muito mal no meio daquelas crianças mais ricas. Certamente havia um preconceito enorme delas em relação a mim. Lembro de querer desaparecer daquele lugar.
“Tenho conseguido viver de maneira decente num país onde ninguém lê. Não tenho do que reclamar”
Dono de uma linguagem diversificada, que não obedece a padrões e que funde jornalismo, teatro, cinema e até mesmo a publicidade, Ruffato é destaque também no exterior. O romance ‘Eles eram muito cavalos’, sucesso por aqui, foi publicado em seis países: Portugal, Alemanha, Itália, França, Argentina e Colômbia.
Em entrevista exclusiva à Vox Objetiva, o escritor mineiro fala sobre literatura, a carreira e sobre os trabalhos mais recentes: ‘A história verdadeira do Sapo Luiz’, primeiro livro infantil dele, e ‘Flores Artificiais’, que retoma a discussão sobre o pertencimento, tema presente em outras obras do autor. Você nasceu em Cataguases, teve uma infância muito simples e seus pais eram analfabetos. Como foi o seu primeiro contato com o mundo dos livros?
Um dia, eu entrei na biblioteca do colégio, que quase não era frequentada, e achei aquele lugar ótimo, pois servia como um esconderijo. A bibliotecária me passou um livro. Comecei a ler e não parei mais. Esse foi o meu contato mais imediato com livros. Em sua obra figuram muitos personagens de sua cidade natal, Cataguases. Esses personagens foram inspirados em pessoas reais ou são criações?
Eu acredito que, para o escritor, nunca seja uma coisa nem outra. Na verdade, é sempre algo misturado. Você conhece algumas pessoas, tem sua vivência e vai misturando pessoas e situações. É daí que vem a invenção, a possibilidade de criar personagens. O livro ‘Eles eram muitos cavalos’ não foi reconhecido pela editora Record como um livro de romance, embora a obra tenha ganhado o prêmio de melhor romance da Associação Paulista de Críticos de Arte. Na literatura, qual é o limite entre o conto e o romance? Eu não me preocupo com isso porque isso não importa para o leitor. Na verdade, o que importa é que
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ele leia. Eu prefiro chamar de narrativa de ficção porque para mim é mais simples, direto e está mais próximo de uma narrativa que tem um fundo de ficção. Seu livro é ambientado na cidade de São Paulo e conta a história de vários personagens que não se cruzam ao longo da narrativa. Quem eram esses ‘cavalos’ a que se refere o título? E por que o uso desse termo? Na verdade, os cavalos são todas as pessoas de São Paulo em uma corrida de cavalos mesmo. Todos saem de um lugar. Há aqueles que chegam ao final e outros que não chegam. Alguns caem pelo caminho. Esse título vem de um verso do poema ‘Dos Cavalos da Inconfidência’, de Cecília Meireles. “Eles eram muitos cavalos, mas ninguém mais se lembra de sua pelagem, de sua cor, de sua origem”. Enfim, desses personagens de São Paulo, ninguém mais vai se lembrar. O livro é uma tentativa de fazer com que, após a passagem do tempo, algumas pessoas se lembrem de quem está no livro. E a ideia de ter vários personagens, mas não fazer o cruzamento de histórias,... Seria uma reflexão para o leitor? Não sei. Eu gosto de pensar que meus livros só existem porque o leitor participa efetivamente da construção deles. A ideia de ‘Eles eram muito cavalos’ é a de que as histórias se constroem na cabeça do leitor. É o leitor que vai fazer com que essas histórias se transformem. A série ‘Inferno Provisório’ foi concebida antes mesmo de seus dois primeiros livros serem publicados. É um tipo de ficção do operariado. Como surgiu a ideia desse projeto? Foi uma iniciativa. Quando eu comecei a ler efetivamente a literatura brasileira, descobri que esses personagens não existiam. Os escritores não representavam esses personagens. Eu assumi o papel de fazer isso. Eu venho de uma família operária. Fui operário têxtil e torneiro mecânico. Então passei a construir essa, digamos assim, ‘saga’ em cinco volumes. São quase mil páginas, em que eu apresento o universo do operariado urbano. Seria uma aproximação com a classe? Uma identificação? 10 | www.voxobjetiva.com.br
Não. É uma questão mesmo de representação. Um dos objetivos da literatura é tentar propor uma reflexão a partir da realidade. Então eu tinha isso como meta. Afinal, vinha desse universo operariado. Eu me senti mais à vontade para escrever sobre esse tema. Em seus livros, os romances fogem um pouco da estrutura tradicional. Que recursos você utiliza para compor sua narrativa? Eu parto do princípio de que a literatura pode fazer uso de todas as linguagens. Sendo assim, eu trago a linguagem do teatro, do jornalismo, do cinema e
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Já o ‘Flores Artificiais’ é um livro que continua discutindo o pertencimento – um tema de que gosto muito. As histórias se passam no exterior, embora sejam narradas por um engenheiro, o Dório Finetto, que é meu parente. Enfim, é um livro que tem essa discussão formal. É um livro dentro de um livro. Essas reflexões sobre o pertencimento são feitas de forma diferente. É uma continuação das minhas preocupações em livros anteriores. Como é ser escritor no Brasil? Viver de escrever? Eu vivo há 11 anos de literatura. E, evidentemente, não vivo só de direitos autorais. Eu vivo de palestras, cursos e de direitos autorais no Brasil e no exterior. Eu tenho também uma coluna no jornal El País. Enfim, é um monte de coisas. Tenho conseguido viver de maneira decente num país onde ninguém lê. Não tenho do que reclamar. Na Feira do Livro de Frankfurt, em 2013, você fez um discurso crítico sobre as desigualdades sociais no Brasil. Para você, qual é o papel do escritor num país como o nosso, marcado por paradoxos? O discurso, na verdade, tentava propor um debate sobre o que nós somos e o que queremos ser. E, nesse sentido, foi um discurso político, crítico. Eu acho que o intelectual deveria, não é obrigatório, mas ele deveria se pronunciar. Nós carecemos muito desse tipo de atuação na sociedade brasileira. Eu acho que se a gente tivesse intelectuais se colocando mais claramente, propondo discussões dentro da sociedade, talvez, a gente tivesse um país melhor. da publicidade. Utilizo até linguagens de coisas que normalmente não são de literatura, como anúncios que se encontram no chão e cartazes. Eu trago tudo para a literatura. Fale um pouco sobre seus livros lançados recentemente: ‘Flores artificiais’ e ‘A história verdadeira do Sapo Luiz’. O sapo Luiz é uma autobiografia porque é a história de um sapo que é beijado por uma princesa, mas não vira príncipe. A brincadeira é essa. Você pode ser sapo, ser beijado e não virar um príncipe. Então você pode ser feliz sendo sapo.
Qual a importância da leitura na sociedade? A leitura é fundamental. Eu acho que o grande problema brasileiro, o nosso grande atraso, é que nós não temos educação de qualidade. Nós somos um dos piores países em nível de educação no mundo. Portanto, isso nos leva a um lugar de desamparo mesmo. Eu acho que o Brasil é um país de desamparo, de injustiças sociais terríveis, machista, xenófobo, racista. Muito disso poderia ser resolvido se a gente tivesse educação de qualidade; se a gente tivesse educação para a cidadania. | 11
artigo
Kênio Pereira
Imobiliário
O vendedor e o direito do corretor de imóveis A experiência comprova que a atuação do corretor de imóveis agiliza e gera maior segurança nas transações imobiliárias. Sem a intermediação desse profissional, é comum ocorrerem desentendimentos. Por falta de orientação profissional quanto ao mercado, vemos negócios encalhados pelo fato de o vendedor ou o comprador ser inexperiente e ignorar as regras. Ninguém é obrigado a contratar um corretor. O vendedor pode negociar ou alugar seu imóvel diretamente. Mas é claro que ele assume riscos. Se optar por vender ou alugar por meio de um profissional que sabe avaliar e promover o negócio, o vendedor tem o dever de agir com lealdade e honestidade, como determina o artigo 727 do Código Civil (CC). “Se, por não haver prazo determinado, o dono do negócio dispensar o corretor, e a transação se realizar posteriormente como fruto da sua mediação, a corretagem será devida; igual solução se adota se o negócio se realizar após a decorrência do prazo contratual, mas por efeito dos trabalhos do corretor”. Se o corretor apresenta um pretendente à compra ou à locação, o vendedor fica obrigado a pagar a comissão pela intermediação.
O vendedor que aceita fazer essa negociata pode se tornar réu em um processo de cobrança e ter despesas com a contratação de advogado. Ao final, o vendedor pode ser condenado pelo Poder Judiciário a pagar os 6% da comissão, acrescidos das custas processuais e dos honorários do advogado do corretor. Não é preciso que o corretor tenha conduzido toda a transação, pois ele foi impedido. Basta provar que o comprador teve conhecimento do imóvel por meio de sua indicação para que o juiz condene o vendedor a pagar a comissão integralmente, acrescida de juros e correção monetária. De nada adianta o comprador fingir que não adquiriu e deixar de fazer a escritura no cartório para ajudar o vendedor a não pagar a comissão. O art. 884 do CC proíbe o enriquecimento sem causa. Mesmo depois demuito tempo, a Justiça garante ao corretor que ele receba o fruto do seu trabalho. Basta haver evidências de que houve a transação. Portanto, agir com boa-fé é sempre a melhor alternativa.
“O vendedor pode negociar ou alugar seu imóvel diretamente. Mas é claro que ele assume riscos”
Há dezenas de decisões judiciais condenando o vendedor e, às vezes, até o comprador.
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Kênio Pereira Presidente da Comissão de Direito Imobiliário da OAB-MG keniopereira@caixaimobiliaria.com.br
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Nova chance Em disputa apertada, Dilma se reelege e estende o ciclo do PT na Presidência da República em meio a muitos desafios André Martins
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esde 1989, não se via no Brasil uma corrida presidencial tão apertada e cheia de reviravoltas. O fator-surpresa iniciou com a trágica morte de Eduardo Campos (PSB), passou pela ascensão e pelo rápido declínio de Marina Silva (PSB) no primeiro turno e desaguou na troca de posições entre Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) nas pesquisas de intenção de voto no segundo turno. No domingo (dia 26), quis a maioria dos brasileiros – 54.501.118 eleitores – que a presidente Dilma permanecesse no governo por mais quatro anos. Até 2018, serão 16 anos consecutivos de PT no poder.
Sem as tradicionais pesquisas ‘Boca de Urna’, um ‘termômetro’ da apuração final feita pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a apreensão pelo resultado crescia exponencialmente à medida que a noite caía no Brasil. A poucos dias do pleito, os institutos de pesquisa sinalizavam a ‘guerra de números’ travada pelas campanhas de PT e PSDB. As pesquisas internas (trackings) contratadas pelos partidos reforçavam o embate, cada uma com índices favoráveis aos seus candidatos. Pouco depois das 20h, o TSE divulgou a primei| 13
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ra parcial, com quase 90% das urnas apuradas. A diferença era de menos de 1% dos votos válidos. Antes das 21h, no entanto, analistas políticos eram enfáticos ao afirmar que Dilma venceria. A apuração andava mais vagarosamente em estados do Norte e do Nordeste, regiões onde a petista era franca favorita. Menos de uma hora depois, a previsão se confirmou: 51,64% dos votos válidos levaram Dilma a derrotar Aécio Neves. Ele ficou com 48,36% dos votos válidos, confirmando os resultados das últimas pesquisas. Em Belo Horizonte, Aécio acompanhou a marcha da apuração e reconheceu a derrota ao lado do vice de chapa, Aloysio Nunes (PSDB), da mulher Letícia Weber e de lideranças tucanas. O senador eleito por São Paulo José Serra estava entre eles. Em um pronunciamento rápido e coeso, Aécio disse ter cumprido seu papel e amenizou as animosidades que marcaram a disputa. “Cumprimentei há pouco, por telefone, a presidente reeleita e desejei a ela sucesso na condução do próximo governo. Ressaltei que considero a maior de todas as prioridades unir o Brasil em torno de um projeto honrado e que dignifique todos os brasileiros”, afirmou. Neto de Tancredo Neves, presidente eleito que faleceu antes de tomar posse do cargo em 1985, Aécio carregava a insígnia de ‘predestinado’ para muitos 14 | www.voxobjetiva.com.br
simpatizantes. O ex-governador teve um desempenho surpreendente em todo o Brasil, mesmo não tendo atingido o objetivo último e perdido no próprio estado, Minas Gerais. A candidatura do tucano conquistou a preferência de 51.041.155 eleitores. Em São Paulo, o senador mineiro entrou para a história como o candidato peessedebista recordista de votos. Aécio também foi bem-sucedido no intento de fazer frente ao PT de Lula e Dilma – feito que companheiros de partido com maior projeção nacional, como José Serra e Geraldo Alckmin, não conseguiram. Aécio não sai dessas eleições como uma liderança consolidada, mas pode não ser o nome que vá representar o partido em 2018, na visão do cientista político Rudá Ricci. “Imagino que Aécio seja rapidamente substituído por lideranças tucanas de São Paulo. A maioria dos eleitores oposicionistas não mira nele nem mirava quando cravavam o voto. Por isso, oscilaram o tempo todo. Em determinado momento, eles escolheram Marina. Aécio nunca atraiu massas para algo que pudesse parecer uma terra prometida”, acredita. Na outra ponta, a presidente Dilma Rousseff fez um discurso longo em um hotel na capital federal. Por diversas vezes, a militância a interrompia gritando o nome dela. O ex-presidente Lula, o presi-
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dente nacional do PT, Rui Falcão, e o vice de chapa, Michel Temer (PMDB) foram algumas das lideranças políticas que dividiram o palanque com Dilma. Afônica, a presidente fez um apelo à união do governo e da sociedade em favor do desenvolvimento do país. “O debate das ideias e o choque de posições podem produzir espaços de consenso capazes de mover nossa sociedade nas trilhas das mudanças de que tanto necessitamos. Minhas primeiras palavras são, portanto, de chamamento à base e à união. União pressupõe abertura e pré-disposição ao diálogo”, declarou. O diálogo com setores organizados da sociedade e aliados políticos será necessário. Em discurso, Dilma refutou a possibilidade de divisão do Brasil. Mas as urnas, as ruas e as discussões acaloradas nas redes sociais indicam um país fragmentado. Para Rudá, essa situação deve se manter por tempo indeterminado. “É legítimo imaginar que o eleitor do Nordeste tenha se sentido vitorioso no segundo turno. A vitória de Dilma é uma decisão da maioria dos mais pobres. Mas a classe média do Sul fica na outra ponta emocional, mesmo que o seu voto não tenha sido exatamente em Aécio. O voto deles foi anti-PT e anti-Dilma. Há muitos interesses, prestígios e ressentimentos em jogo”, pontua. No Congresso Nacional, o considerável encolhimento da base aliada e o crescimento da oposição sugerem que a presidente sofra com instabilidades. A pulverização partidária especialmente na Câmara vai exigir um habilidoso jogo de cintura e muita negociação. Conseguir apoio e reestruturar a relação delicada com o PMDB estão na pauta. Para Rudá, a discussão pública da agenda de reformas – ressaltada no discurso da reeleição pela presidente – pode “diminuir o poder de pressão dos partidos aliados”. Camargos não acredita em dificuldades para a presidente governar a partir de 2015. Segundo o cientista político, a formação da maioria no Congresso Nacional nunca foi um problema para governantes brasileiros. “Espera-se que a oposição seja minoria. No chamado ‘presidencialismo de coalizão’, a base aliada e outros partidos tendem a migrar em direção ao Executivo em troca da participação no poder. Isso vai fazer com que Dilma tenha a maioria. O mesmo processo aconteceria, caso Aécio vencesse”, entende. Um dos compromissos assumidos por Dilma e reiterados no discurso da vitória foi a reforma política. A presidente propõe um plebiscito para a definição desse avanço, assim entendido por especialistas.
A repercussão da vitória nas redes sociais Esse foi o resultado mais apertado do regime iniciado com a Constituição de 1988. No final das contas, a oposição sai mais forte, e o governo fica com mais responsabilidade. O aumento do equilíbrio entre governo e oposição é bom para a democracia. A Câmara ficou fragmentada. Agora o Senado vai contar com quatro tucanos fortes: Aécio, Serra, Anastasia e Tasso Sergio Abranches, sociólogo e referência brasileira sobre presidencialismo de coalizão - @abranches
A democracia brasileira sai fortalecida de mais um pleito. Espero que a Presidente Dilma governe de forma republicana e trate indistintamente os estados da Federação, promovendo as reformas que o país espera há muito tempo. E principalmente: espero que ela trabalhe para unificar os brasileiros, que saíram divididos de uma das mais disputadas eleições presidenciais. Beto Richa – governador do Paraná pelo PSDB @BetoRicha
O desafio para a presidenta Dilma não é só consolidar o que já deu certo e corrigir defeitos, mas inaugurar um ciclo de exercício do poder que signifique um salto de qualidade nas esferas da vida social. Se não houver uma reforma política que elimine de vez as bases da corrupção e que permita um avanço da democracia representativa com a incorporação da democracia participativa, pouco se consegue. Leonardo Boff – teólogo e antropólogo
“Para que nós tenhamos maior controle sobre a corrupção, é fundamental que geremos campanhas mais baratas. Isso só será possível mediante uma reforma política. É importante que a presidente caminhe com a sociedade civil. Assim ela diminui a probabilidade de encontrar eventuais resistências no Congresso”, analisa Camargos. | 15
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CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO Na área econômica, a falta de investimentos, a inflação próxima ao limite e os juros altos formam uma tríade que deixou a presidente desconcertada durante a campanha eleitoral. A forma de ela se esquivar dos ataques foi se apoiando na crise econômica internacional e na necessidade de manter o pleno emprego e os salários. Com perspectiva de crescimento anual variando de 0,3% a 0,9%, a economia do país vive um período de vacas magras. A crise energética no Brasil torna a missão ainda mais ingrata. Os reajustes nos preços do petróleo, álcool e, principalmente, da energia elétrica devem ser pedras no sapato da equipe econômica da presidente. A indefinição do nome que vai substituir Guido Mantega no comando do Ministério da Fazenda inviabiliza uma projeção sobre os caminhos para a retomada do crescimento econômico. E a situação mantém o pessimismo que ronda a política econômica de Dilma. Alguns pontos críticos das diretrizes atuais devem ser observados com rigor, como sugere o professor de Economia do Ibmec Reginaldo Nogueira. “Há três desafios muito importantes: a adoção de uma polícia econômica que faça a inflação recuar para a meta de 4,5% ao ano, um ajuste fiscal que restaure a credibilidade dos índices de déficit público e o estímulo para que a economia do país volte a contar com o investimento privado”, analisa. Os dilemas da saúde pública brasileira lideram a lista de problemas de maior ressonância na população. No segundo mandato, a presidente tem a missão de sanar o gargalo nos hospitais e em centros de atendimento. O governo pretende colocar profissionais de saúde em pontos periféricos de grandes cidades e em áreas mais remotas do país por meio da expansão do programa ‘Mais Médicos’ e da consequente contratação de profissionais estrangeiros. A dificuldade na marcação de consultas e de exames específicos pode encontrar solução no programa ‘Mais Especialidades’. O governo também pretende expandir o Samu, aumentar o número de Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e ampliar o acesso aos medicamentos. Dilma espera viabilizar essas propostas com o auxílio de 25% dos royalties do pré-sal destinados em 16 | www.voxobjetiva.com.br
lei para a Saúde e com a discussão sobre a gestão e o investimento responsável de recursos por parte dos governos estaduais. Os desafios na educação vão além do simples acesso aos ensinos básico, fundamental, médio, técnico e superior. É preciso melhorar a qualidade do ensino e dos profissionais que chegam ao mercado de trabalho. “As escolas de educação básica e os estabelecimentos de ensino superior carecem de investimentos, de uma gestão democrática e de profissionais valorizados”, expôs o cientista político e coordenador-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara, em texto publicado na coluna UOL Educação. A educação em tempo integral para 20% da rede pública, a valorização do professor e uma reformulação na grade curricular dos alunos matriculados no Ensino Médio são promessas de Dilma a serem cumpridas até o fim do segundo mandato. A destinação de 75% dos royalties do pré-sal pode ajudar na conquista desses objetivos. Mas os especialistas consideram prioridade retirar o Plano Nacional de Educação (PNE) da gaveta. Para os ensinos profissionalizante e superior, o projeto é oferecer mais 12 milhões de vagas por meio do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) e ampliar projetos, como o Programa Universidade para Todos (ProUni), o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) e a concessão de mais 100 mil bolsas do Ciência sem Fronteiras até 2018. Na área da segurança pública, Dilma deve combater o galopante aumento no número de homicídios no Brasil, principalmente envolvendo a população jovem e afrodescendente. A articulação de polícias, órgãos públicos e da sociedade civil no enfrentamento da violência e do crime é outro ponto que deve entrar na agenda do governo. Em diversos momentos da campanha, a presidente defendeu um aumento de investimentos federais na área da segurança. A presidente também cogitou enviar para o Congresso Nacional uma proposta de emenda constitucional que defina a segurança pública como atribuição compartilhada entre os estados e a União. Se ela vai conseguir, só o tempo dirá.
Artigo
Robson Sávio
Justiça
Ainda sobre eleições Uma pergunta que não quer calar: com baixíssima renovação nas Casas Legislativas, já que muitos dos ‘novos’ deputados são herdeiros políticos de ‘velhas raposas’, onde estão e como votaram os revoltados de junho de 2013? Bolsonaro foi o mais votado no Rio. Que ‘belas mudanças’!
berturas discricionárias. A guerra do bem versus o mal reproduz o velho estilo maniqueísta. A simplificação nasce da intolerância ou do desconhecimento em relação à verdade do outro e/ou da pressa para entender e refletir sobre a complexidade de tais fenômenos. Quase não se fala, por exemplo, sobre os corruptores, os donos do capital por detrás dos políticos corruptos. Por quê? Será que a mídia deseja subjugar a opinião pública à opinião publicada?
Com mais de 140 milhões de eleitores, foram registrados pouco mais de 100 milhões de votos válidos no primeiro turno. São cerca de 40 milhões de sufragistas (o que corresponde quase ao eleitorado de São Paulo e Rio de JaneiEnquanto houver financiamento privado de campanha ro, juntos), estão se omitindo em escolhas importantes para e coalizões pragmáticas para composição de bases goo país. Quem se omite está tomando uma vernamentais (haja vista que o Congresso posição política eticamente questionável: vem se transformando em uma banca de delegando aos outros (votantes) o poder negócios, dominado por parlamentares “A imprensa tem de decisão dos destinos do país. E não me que representam grupos de interesse e venham culpar a política ou os políticos não a sociedade), não haverá avanço no desprezado o pela omissão dos eleitores. A criminalizacombate à corrupção na política institução da política explica, em parte, a situacional, independentemente do partido que aprofundamento ção. Mas a existência de maus políticos se estiver no poder. das informações deve, em boa parte, a eleitores omissos e inconsequentes. Outro fenômeno que ressurgiu nessas e demonstrado eleições é um sentimento difuso de ódio e O Brasil passou por uma enorme transCom isso, a disputa eleitoral vira discricionariedade da vingança. formação social nos últimos anos. O país uma verdadeira guerra, quando o processaiu do século 19 (estado que atendia cerso democrático da escolha dos represencobertura“ ca de 30% da população) e entra, lenta e tantes deveria ser tão somente um embate progressivamente, no século 21 (um estacivilizado e respeitoso de ideias, opiniões do de bem-estar social). De nada adianta e pontos de vista sobre os rumos do país. estabilidade econômica se não há enfrentamento das deA quem interessa um país dividido; uma nação já fragmensigualdades sociais. Estabilidade econômica é necessária, tada pela desigualdade se transformando em guetos isolamas insuficiente para chegar à equidade social. dos entre seus cidadãos? Tenho acompanhado, com perplexidade e surpresa, a cobertura que a mídia tem dado às denúncias de corrupção que assolam frequentemente a República. A imprensa tem desprezado o aprofundamento das informações e feito co-
robson Sávio Reis Souza Filósofo e cientista social robsonsavio@yahoo.com.br | 17
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Em busca do grão perfeito Indústria investe na produção de cafés refinados para alcançar uma bebida com qualidade cada vez mais superior Haydêe Sant’Ana
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resente na mesa dos brasileiros há séculos, o tradicional cafezinho tem seu valor, não importa em qual refeição seja consumido – se no café da manhã, no lanche da tarde ou após o almoço para espantar o sono provocado pela digestão. Várias são as possibilidades de apreciação: puro, espresso, americano, com leite, cappuccino, pingado, americano, machiatto, mocha,... Cada um escolhe uma maneira para degustar essa saborosa bebida de tonalidade escura. Tão difundido na cultura do país, o hábito de tomar café já se tornou um ritual cotidiano para muitos brasileiros. Essa é uma constatação amparada por números. Segundo o diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), Nathan Herszkowicz, o Brasil é o segundo maior consumidor de café do mundo. São 21 milhões de sacas por ano. O país fica atrás apenas dos EUA, que consomem anualmente 23 milhões de sacas. Cada brasileiro ingere, em média, impressionantes 80 litros de café 18 | www.voxobjetiva.com.br
de janeiro a dezembro. E o consumo continua a crescer. De acordo com dados divulgados pela empresa internacional de pesquisa de mercado Euromonitor, o consumo da bebida por aqui deve expandir 4,7% em 2014 na comparação com o ano passado. O crescimento da produção projetado para este ano no país deve superar o mundial, estimado em 2,5%. O hábito de tomar café remonta à cultura árabe. Planta originária da Etiópia, região Leste da África, o ‘café’ vem da palavra qahwa, que significa ‘vinho’. Em razão disso, a bebida era conhecida como ‘vinho da Arábia’. Até então, o fruto era consumido fresco, sendo utilizado também como alimento estimulante para rebanhos durante viagens. Só a partir do século XVI, na Pérsia, que o café passou a ser torrado e consumido da maneira que conhecemos hoje. A difusão do café pelo mundo árabe aconteceu rapidamente. As primeiras cafeterias, conhecidas como Kaveh
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talidade do café produzido e consumido no mundo. O café arábica etíope, é mais sofisticado por ter um número maior de cromossomos, como explica o especialista Ensei Neto. Essa propriedade gera sementes que dão origem a excelentes bebidas depois de torradas. A espécie tem mais variedades. As mais conhecidas são a Typica, a Bourbon, a Mundo Novo e a Catuaí. A Coffea canephora, também conhecida como espécie robusta, é encontrada em zonas mais quentes, como Uganda. A genética da espécie robusta é mais simplificada que a do café arábica. Dentre as variedades do canephora, Neto cita as mais usuais: o Conilon e a Robusta. No Brasil, as condições climáticas e a geografia favoreceram o florescimento da espécie arábica. Por isso, é o tipo mais cultivado em todo o território. O café arábica representa 72% da produção total do país. Em relação ao mercado mundial, o Brasil é o maior produtor da espécie e o segundo maior produtor do tipo canephora.Os dados são da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). O cultivo dos grãos é feito em lavouras localizadas em terrenos com latitudes variadas e altitudes que podem variar de 400 a 2 mil metros. Normalmente, as regiões mais altas são ocupadas pela espécie arábica. O clima quente das regiões mais baixas favorece o predomínio do cultivo da espécie robusta.
Kanes, surgiram em Meca. A proibição do uso de bebidas alcoólicas pela religião muçulmana favoreceu a popularização dos Kaveh Kanes. Lá os árabes podiam se reunir, conversar e apreciar a famosa ‘bebida dos deuses’. Na Europa, o café tornou-se mais conhecido a partir do século XVII, sendo levado para o Velho Mundo por comerciantes italianos. No Brasil, a bebida foi introduzida na cultura local a partir de 1727, em Belém, por intermédio do sargento-mor Francisco de Mello Palheta. As ótimas condições climáticas locais contribuíram para que o grão se espalhasse rapidamente por várias regiões que hoje compreendem os estados do Maranhão, Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. A planta café pertence à família Rubiaceae, gênero Coffea. Existem mais de cem espécies catalogadas. A Coffea arábica e a Coffea canephora correspondem à quase to-
A produção brasileira se concentra na região Centro-Sul do país. Quatro estados se destacam: Minas Gerais, São Paulo, Espírito Santo e Paraná, além da Bahia. Nesses estados, a produção predominante é de café arábica. Já a robusta é plantada principalmente no Espírito Santo e em Rondônia. Um levantamento de dados da Conab sobre a produção de café neste ano mostra que Minas Gerais tem a maior área cultivável do país, com mais de 1,2 bilhão de hectares. Por aqui, a espécie arábica predomina, sendo cultivada em 98,8% do estado. Esse percentual evidencia a importância do setor cafeeiro do estado, pois corresponde a 54,2% da área de plantio no país O processo produtivo envolve seis etapas: plantio, floração, colheita, secagem, torra e moagem. Depois, os produtos são classificados de acordo com suas propriedades, embalados e disponibilizados nas prateleiras dos supermercados. O processo de secagem é um dos mais importantes. “As sementes cruas depois são comercializadas quase secas para melhor conservação”, detalha Neto. | 19
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Bruno Souza herdou do pai as tradições das lavouras cafeeiras. Ele é dono da Academia do Café em Belo Horizonte. Mesmo com os secadores mecânicos, ele preserva o manejo que virou um ritual: a secagem dos grãos em terreiro. “Sou adepto à forma que aprendi quando menino. A secagem no terreiro é mais lenta, mas se reflete no aumento da qualidade” garante. Souza trabalha apenas com cafés considerados especiais ou gourmet, como é popularmente conhecido. São produtos que apresentam, no mínimo, 80 pontos na classificação estabelecida pela Associação Americana de Cafés Especiais (SCAA). O café-gourmet é produzido com grãos 100% arábica e altamente selecionados. Esse rigor na seleção dos grãos confere ao café qualidade e sabor superiores. Já o café tradicional é feito da mistura de grãos maduros, verdes e até podres.
O empresário explica ainda que esse tipo de café exige maior atenção e seleção dos grãos. “A primeira diferenciação que a gente faz no especial é o tamanho dos lotes colhidos. Eu não misturo os grãos da coleta de hoje com os que vou colher amanhã. É preciso avaliar características, como a umidade e o potencial do café. Então é um produto que exige mais atenção, seleção, que te dá mais trabalho”, afirma. O café-gourmet representa de 10% a 12% da produção, como apontam dados da Abic. Embora seja uma parcela pequena comparada à quantidade do café tradicional produzido no país, o consumo de cafés especiais vem crescendo 15% ao ano, mais que o do comum, que é de 2%. Na opinião do consultor Ensei Neto, a procura pelos cafés especiais é um reflexo a valorização do produ-
A safra 2014 por estados (em milhões de sacas)
pará 0,122
rondônia 1,62
bahia 1,98 Minas gerais 22,99
Mato grosso 0,169
espírito santo 12,20
goiás 0,262
rio de Janeiro 0,308
paraná 0,545
20 | www.voxobjetiva.com.br Fonte: Conab
são paulo 4,233
Outros 0,114
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to. Neto também é Coffee Hunter - profissional que procura verdadeiras ‘joias’ nas lavouras cafeeiras. “Um novo mundo do café se abriu no país a partir do movimento de melhoria da qualidade. Novos tipos de cafeteria surgiram e, principalmente, o consumidor passou a ter mais acesso à informação e a poder viajar”, analisa.
Café e saúde A nutricionista Gabriela Goulart fala sobre os benefícios e malefícios do consumo da bebida que tem lugar cativo na mesa e no coração dos brasileiros
O crescimento do mercado consumidor de grãos selecionados também fez engrenar a procura por cursos profissionais de especialistas em café e baristas. Os interessados na especialização aprendem a avaliar o café conforme a fragrância, o sabor, o after-taste, a acidez e o corpo. Os alunos aprendem a avaliar até a xícara. Uniformidade, limpeza e doçura são os critérios para a escolha do recipiente, como explica Souza.
Benefícios
Já o curso de barista tem duração de dois dias, mas a formação do profissional se consolida com a prática, como explica Júlia Fortini, filha de Bruno. Ela destaca que a função do barista não é só servir café, mas ter conhecimento sobre a bebida que está sendo servindo. “Não é só tirar um bom espresso e pronto. O bom profissional tem que saber falar sobre a bebida que está servindo. É preciso saber provar um café, vaporizar o leite, preparar um café espresso perfeito e servir drinks com e sem álcool”, afirma Júlia, que também é barista.
Devido à quebra de gordura corporal, a bebida pode aumentar o colesterol sérico. A cafeína também induz a produção de suco gástrico. Por isso, o consumo deve ser evitado por pessoas que tenham úlcera ou gastrite. O consumo diário de cafeína leva à dependência moderada. Sua brusca interrupção pode provocar irritabilidade, sonolência, dores de cabeça, náuseas e vômito. A cafeína é um diurético. Se o liquido desprezado não for reposto, pode provocar uma desidratação.
Exóticos e caros Já imaginou tomar um café feito a partir das fezes de um animal? Apesar de bizarro, trata-se de uma tendência. Um tipo de café especial, mas que utiliza métodos nada tradicionais em sua produção, é o Kopi Luwak, fabricado na Indonésia. O produto tem fama de ser o café mais raro e caro do mundo. Para produzir esse tipo de café, o grão é digerido e fermentado no estômago de um mamífero, o civeta. Os grãos são recolhidos e processados após a defecagem do animal. Um quilo desse café custa, em média, US$ 400 nos EUA e R$ 910 no Brasil. Na cafeicultura brasileira, a grande novidade que vem sendo produzida de modo semelhante ao Kopi Luwak é o Jacu Bird Coffee, ou café do jacu, produzido na fazenda Camocim, em Pedra Azul, no Espírito Santo. O jacu é uma ave que se alimenta de folhas e frutos, inclusive café. Antes considerado uma ameaça aos cafeicultores por comerem em média 10% da produção, o jacu tornou-se um aliado, tendo um papel principal na fabricação do café especial. Assim como acontece na produção do Kopi luwak, o café é fermentado no estômago da ave para depois ser recolhido e industrializado. O preço do quilo do produto gira em torno de R$ 240.
Devido o alto teor de cafeína, o café pode melhorar, dentre outros aspectos, o humor, o estado de alerta, a atenção e a concentração.
Malefícios
Quantidade Consumo superior a 250 mg de cafeína (cerca de 500 ml) pode provocar taquicardia e perturbação no sono e interferir na absorção de alguns nutrientes, como o ferro.
Café e esporte Vários estudos demonstram que o café aumenta a performance na prática de endurance. Esse efeito é relacionado à liberação de catecolaminas, ao aumento da lipólise (quebra de gorduras), à redução de potássio no plasma durante o exercício, à ativação do sistema nervoso central e à economia do glicogênio muscular.
Emagrecimento A cafeína provoca o aumento da quebra de gorduras, o que favorece o emagrecimento. Por ser muito estimulante, a cafeína torna a pessoa mais disposta para as atividades cotidianas. | 21
artigo
Maria Angélica Falci
Psicologia
O equilibrista Imagine uma pessoa tentando se equilibrar numa corda bamba. Assim somos nós na nossa luta diária. A vida é feita desse nosso balanço homeostático em busca da estabilidade. É puro movimento feito de contrastes: alegria e tristeza, quente e frio, positivo e negativo,... O nosso organismo também vive em constante movimento: realizamos trocas químicas, acontecem liberações de nutrientes e de oxigênio para nos dar a pressão e o equilíbrio. Nos últimos artigos, venho ressaltando a importância do equilíbrio interno e externo para que possamos transitar bem na estrada da vida. Sempre que tomamos alguma atitude, estamos envolvidos por uma gama gigante de emoções e noções que adquirimos com o nosso aprendizado. Agir por impulso geralmente promove arrependimentos e ressacas morais, produz danos emocionais e relacionais e, às vezes, leva ao adoecimento.
so pode ser a redução dos pensamentos que ficam brigando na mente. O excessivo diálogo interno retira os desejos e as aspirações e provoca um cansaço mental pela aceleração de pensamentos e pela culpa diante da falta de controle. Alguns transtornos são visíveis. As pessoas diagnosticadas perdem rapidamente o controle emocional e ficam chateadas pela exposição à qual se submetem. Tudo fica ainda mais difícil sem a medicação e o tratamento psicoterápico de que necessitam nesses casos.
“Agir de forma coerente com nossas intenções racionais produz benefícios imensuráveis”
Se você apresenta uma boa percepção da vida e tem um bom condicionamento emocional, fique atento ao seu equilíbrio. A corda é bamba, mas podemos encontrar um caminho para nos estabilizar.
Devemos buscar uma capacitação intencional e consciente, focada na atenção e nos próprios atos para nos dar maior probabilidade de perceber e controlar pensamentos, emoções e sentimentos diversos. Agir de forma coerente com nossas intenções racionais produz benefícios imensuráveis.
O atleta que treina pode se tornar um campeão. Nós também podemos treinar nossas habilidades emocionais e nos tornar mais que vencedores diante do maior desafio que há: viver com menos conflitos e relacionar harmoniosamente consigo e com as pessoas ao redor. Uma corda bamba serve para o nosso amadurecimento e nos conduz a um platô, local onde podemos descansar com o sabor da vitória.
Muitas vezes, o ego pode ‘passar um saldo de cartão de crédito’ que o organismo não vai poder ‘pagar’. Lidar com falhas e fracassos não é simples. Portanto, treinar seu compartimento cerebral e suas habilidades subjetivas proporciona um maravilhoso equilíbrio interno. O resultado dis-
Psicóloga clínica e especialista em Sáude Mental angelfalci@hotmail.com
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Maria Angélica Falci
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Segundo plano Pesquisa revela que atividades culturais estão longe de ser prioridade para brasileiros. Entre 2012 e 2013, 42% dos entrevistados tiveram pouco ou nenhum contato com a cultura
Claudia Regina
Diane Duque
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ampanhas de popularização do teatro e da dança, festivais e mostras de cinema, exposições de arte gratuitas: as iniciativas demonstram que faz tempo que a cultura deixou de ser um bem exclusivo de poucos. Mesmo com os esforços do poder público e até da iniciativa privada para levar a cultura a todos, as atividades culturais ainda não são realidade para boa parte dos brasileiros. O levantamento foi feito pelo Panorama Setorial da Cultura Brasileira 2014.
Apoiado pelo Ministério da Cultura, por meio da Lei Rouanet, o estudo foi realizado em 74 cidades das cinco regiões do país. Responsável pelo levantamento dos dados, o Ibope ouviu 1620 pessoas, entre 16 e 75 anos de idade, das classes A, B, C e D, de outubro a novembro de 2013. O resultado indicou que a atividade mais praticada pelos brasileiros é ouvir música (44%), seguida por assistir à televisão (39%), ouvir rádio (35%), acessar a internet (30%) e ir ao cinema (25%). | 23
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Chama a atenção, no entanto, o percentual de entrevistados que tiveram pouco ou nenhum contato com atividades de cunho cultural nos anos 2012 e 2013: foi a resposta de 42% dos entrevistados. Quando questionadas sobre as atividades que realizavam, 42% citaram a prática religiosa. Na opinião do evangélico potiguar Egídio Masceno Duarte, o dado requer uma análise mais detalhada. “Se a pessoa vai visitar a Catedral Presbiteriana ou as igrejas históricas católicas, sim, pode ser um ato cultural. Agora, se nós vamos à igreja para cultuar Deus, isso nunca terá sentido cultural”, afirma Egídio.
Diane Duque
O majestoso Theatro Municipal do Rio de Janeiro
“Verificamos que o consumidor do Nordeste é o que mais valoriza a opinião de críticos e dá mais importância para o local em que a atividade acontece”
Gisele Jordão, pesquisadora
Na região Sudeste foi verificado o maior interesse pela cultura. O Nordeste e o Centro-Oeste aparecem logo em seguida. “Verificamos que o consumidor do Nordeste é o que mais valoriza a opinião de críticos e dá mais importância para o local em que a atividade acontece”, informa Gisele Jordão, que dividiu a autoria do estudo com Renata Allucci. Para Gisele, cultura e conhecimento são ferramentas fundamentais no processo de posicionamento dos indivíduos no mundo, na superação de dificuldades, na conquista de bem-estar e na boa convivência social.”, analisa a pesquisadora. A empresária Claudia Robles sempre acreditou que a cultura é importante para a formação das pessoas. Para ela, apesar dos preços altos, há alternativas que possibilitam esse prazeroso contato. “Concordo que os ingressos para shows, teatro e cinema estão pela hora da morte, mas existem mil maneiras de consumir cultura a preços baixos ou até de graça. Basta ter boa vontade e procurar. Desde os 18 meses de vida, a minha filha, Isabela, de 7 anos, frequenta o cinema e o teatro. Ela adora! Interage, aprende muito e se diverte. Sempre que sai do teatro, ela conta a peça e a moral da história. Acho isso fundamental para o desenvolvimento dela”, exemplifica Cláudia. 24 | www.voxobjetiva.com.br
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Para driblar os preços, a mãe acompanha sites de cultura, que sempre sorteiam ingressos ou dão descontos de até 60%. Ela também recorta cupons em jornais que dão direito à entrada. “O segredo é ser uma das primeiras a chegar. Então eu me programo pra sair mais cedo de casa e sempre conseguimos os convites. Isso sem falar nos shoppings, que muitas vezes oferecem programação infantil gratuita. Nós sempre aproveitamos. E tenho certeza de que essa rotina cultural faz dela uma criança mais esperta, antenada, questionadora e feliz”, revela. Na opinião do produtor cultural Oziel Alves, a cultura no Brasil é dividida basicamente em duas grandes áreas: o entretenimento pago e o entretenimento gratuito. “O pago está cada vez mais caro, e o acesso está restrito às classes mais abastadas. Mas
assistir à TV e ouvir música é um privilégio de quase todos. Eu analiso por dois fatores: primeiramente econômico e cultural porque os jovens tendem a utilizar mais as novas tecnologias do que pessoas acima dos 40 anos”, elucida Oziel. O profissional s se lembra de uma pesquisa recente publicada pelo jornal Folha de São Paulo. Cresceu o números de brasileiros que têm acesso à internet. “Focando, sobretudo, na internet, eu me surpreendi com o baixo percentual da pesquisa. Hoje o número de pessoas que têm acesso à internet, por exemplo, é maior do que o número daqueles que têm um aparelho de rádio em casa. Quase metade da população brasileira tem acesso à internet, e as pessoas fazem tudo pelo o computador: ouvem música, rádio, assistem à TV. Dessa forma, eu esperava um percentual mais elevado”, entende o produtor.
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receita Receita
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Salmão Premium Chef Carlos Pitta – Prato do Vinces Wine & Coffee INGREDIENTES (salmão)
MODO DE PREPARO
200 g de filé de salmão 1 colher de sopa de azeite 1 colher de café de gengibre ralado 1 folha de sálvia picada 2 ramos de tomilho 1 colher de sopa de molho shoyu 100 ml de vinho branco seco 2 dentes de alho picados Sal a gosto Pimenta-do-reino a gosto
Coloque o salmão em uma assadeira e regue-o com o azeite. Faça uma mistura com o gengibre, a sálvia, o tomilho, o shoyu, o vinho e o alho. Corrija o sal e regue o salmão com essa mistura. Em forno pré-aquecido a 200º C, leve o salmão para assar, coberto com papel-alumínio, por aproximadamente 15 minutos. Sirva regado com duas colheres do molho de maracujá e acompanhado com os filamentos de legumes.
INGREDIENTES (filamento de legumes) 1 Cenoura 1 Abobrinha 1 Berinjela Azeite de oliva
Cozinhe a cenoura descascada em água com sal ou no vapor. Após cozimento, corte-a em filetes no sentido do comprimento. Descasque a berinjela, a abobrinha e corte-as em filetes finos no sentido do comprimento. Em água fervente com vinho branco, branqueie as tiras de berinjela até ficarem macias. Os legumes cozidos devem ser colocados em um recipiente com gelo para interromper o cozimento e esfriar. Depois de esfriarem os legumes, faça as porções para compor o acompanhamento e embale preferencialmente a vácuo. Para servir, pegue a porção de legumes, adicione o azeite em uma frigideira aquecida e salteie os filamentos de legumes. Tempere com o sal.
INGREDIENTES (MOLHO DE MARACUJÁ) 1 xícara de açúcar 300 ml vinagre de maçã 1 maracujá grande 26 | www.voxobjetiva.com.br
Faça uma calda leve com o açúcar e o vinagre de maçã. Quando atingir a textura ideal, acrescente a polpa do maracujá. Mexa bem até a mistura ficar homogênea e deixe descansar por 30 minutos. Sirva regando o peixe.
vINHOS
Vinhos e fim de ano Nelton Fagundes Sommelier da Enoteca Decanter BH
Parece que o ano começou ontem, mas a verdade é que já estamos chegando ao final de 2014, hora de ir preparando e antecipando nossos compromissos. O mais importante: os detalhes para a noite de Natal e nossas confraternizações. E, claro, nessa hora, vinhos e espumantes entram na pauta! Calcular e planejar o que vai ser servido, nos dá uma boa garantia de sucesso em nossas reuniões. Para quem gosta de um happy hour com os colegas de trabalho, não há melhor opção do que os espumantes, principalmente os Brut’s. Os espumantes são muito apropriados para eventos informais e despojados, pois podem iniciar e finalizar eventos devido a sua versatilidade. É bom sair da rotina do chopp e da cerveja. Como sugestão, cito o Bossa N° 1 Cave Hermann.
Para eventos mais refinados, nada mais interessante do que servir vários vinhos. O cálculo é feito considerando mais ou menos meia garrafa por pessoa, levando-se em conta o perfil dos convidados. Pense sempre em começar pelos espumantes e champagnes para brindar. Em se tratando de fim de ano, isso é quase obrigatório e muito importante para dar boas energias para o próximo ano. Quanto às comidinhas, nada pesado. Canapés, petiscos leves, pastas e antepastos são as melhores opções. O próximo passo vai depender muito do desenrolar da noite. Mas o mais comum é ir para os tintos e intensificar os quitutes com entradas mais saborosas e com mais informação, como brusquettas, quiches, queijos ou carnes com molhos. Tintos leves podem escoltar bem esses pratos, a exemplo do chileno Carménère Reserva Terranoble. Após esse início em alto estilo, podemos e devemos servir um vinho com mais volume, como um Malbec Reserva Luigi Bosca, da Argentina. Esse vinho com seus taninos fortes e muita intensidade aromática pode surpreender os paladares mais exigentes e escoltar pratos à base de carne vermelha, cordeiro, carnes de caça ou uma carne de panela à moda da mamãe.
Dica de harmonização para o Salmão Premium A textura e aromaticidade do salmão, enriquecida pelo maracujá e outros ingredientes e leveza do prato com intensidade sedutora, pede um rosé mineral, cítrico intenso com notas de frutas frescas, floral. Com ótima persistência e frescor de assustar, deixando a boca enxuta, o rosé mineral finaliza muito bem o gosto leve do salmão.
Para finalizar, nada como uma bela mesa de doces à base de chocolates, tortas e bolos. Hoje está na moda servir mesa com queijos mineiros e doces de leite de Minas. Para acompanhar, sirva vinhos de sobremesa, como o português Porto Warre’s Tawny. Para quem não abre mão de um panetone clássico, não há nada mais prazeroso e emocionante do que um Asti Araldica – Piemonte, da Itália. A melhor combinação do Natal! O poder do vinho em agrupar pessoas positivas é indiscutível. Portanto, neste Natal, abra suas melhores garrafas para seus entes mais queridos. Afinal, não há nada mais chato que beber sozinho, ainda mais um belo vinho. Saúde e até a próxima!
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Futebol de terno e gravata Decisões do STJD ganham cada vez mais visibilidade e se tornam motivo de polêmica Vinicius Grissi
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aem os jogadores, os meiões e as chuteiras; entram os advogados, os ternos e as gravatas. A bola dá lugar à caneta. Um jogo de futebol não termina quando o juiz apita pela última vez. Agora é o auditor presidente da sessão que dá o voto final. Com atuação cada vez mais notória, o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) rouba a cena e força dirigentes, jogadores e imprensa a tentar entender o que se passa nos tribunais que vêm conduzindo o futebol brasileiro. Apenas entre setembro e outubro deste ano, os principais clubes mineiros – América, Atlético e Cruzeiro – estiveram na mira do tribunal. Casos importantes foram acompanhados pela mídia e por torcedores em ‘tempo real’. Novos tempos marcaram o fim do ano passado, quando torcedores de Fluminense e Portuguesa chegaram a ir para a porta da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) para acompanhar o julgamento que decidiu o Campeonato Brasileiro de 2013. Pior para a Lusa, que foi rebaixada para a Série B pela escalação irregular do meia Héverton, 28 | www.voxobjetiva.com.br
que entrou em campo suspenso na rodada final, fazendo o time perder quatro pontos fora de campo. O América viveu agonia semelhante. O lateral esquerdo Eduardo, contratado em junho, jogou apenas 90 minutos pelo Coelho, mas quase fez o time perder 21 pontos na Série B. Como já havia atuado por São Bernardo e Portuguesa na temporada, o jogador não poderia disputar partidas por um terceiro clube em competições nacionais. Após ser condenado a perder todos os pontos em primeira instância, o América recorreu a uma contratação de peso para o julgamento no Tribunal Pleno, o último recurso da esfera esportiva. Mário Bittencourt, responsável por ‘salvar’ o Fluminense no ano passado, foi o escolhido para defender o clube. E conseguiu reduzir a pena de 21 para 6 pontos, convencendo os auditores de que o América deveria ser punido apenas pela partida em que o jogador entrou em campo. A diretoria admite que a experiência e o fato de Bittencourt ser do Rio de Janeiro pesaram na escolha pelo advogado.
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esse controle normalmente”, conta Roberto Pugliese Júnior, advogado da equipe catarinense. Cruzeiro e Atlético também estiveram no banco dos réus, mas por motivo diferente. Mais uma vez, confusões envolvendo as duas torcidas durante o clássico motivaram a denúncia da Procuradoria do órgão. No dia 21 de setembro, na vitória do Galo por 3 a 2 no clássico disputado no Mineirão, rojões teriam sido atirados pelas duas torcidas além de problemas também do lado externo do estádio. Em primeira instância, os dois foram punidos com a perda de um mando de campo além de multa. “Eles querem tirar a polícia dos estádios, e ninguém fala nada. Qual empresa vai controlar 100 mil pessoas? Isso é uma burrice! Nós não queremos explorar o governo. Nós queremos pagar a presença da polícia e dar segurança para todos. É isso que está acontecendo no futebol brasileiro. Chega aqui (no Tribunal) e tem que punir o clube. O que isso vai resolver? Nada!”, reclama o presidente do Atlético, Alexandre Kalil. No ano passado, brigas no estádio Independência também tiraram mandos dos rivais no Campeonato Brasileiro. “O Ministério Público tem que atuar, e a Justiça tem que punir. Não somos nós que vamos fiscalizar a presença de bandidos no meio dos torcedores e ser punidos no Tribunal com multa e perda de mando de campo com enorme prejuízo financeiro”, brada o presidente do Cruzeiro, Gilvan de Pinho Tavares. O caso americano, aliás, escancarou uma novidade triste para o futebol brasileiro. A indústria de denúncias de irregularidades. Alguns advogados se especializaram na arte de encontrar brechas e erros para tirar pontos de clubes rivais na competição. “Eu fico muito triste porque eu sei que a origem dessas denúncias é de empresários e advogados que militam no futebol pra ganhar dinheiro, só que não posso provar nem fazer nada. Enquanto o futebol tiver isso, é cada vez mais difícil conseguir se manter neste meio”, relata Marcos Salum, um dos presidentes do Conselho Gestor do América. O dirigente admite que já recebeu ligações anônimas oferecendo possíveis nomes de jogadores irregulares, mas garante que não aceitou entrar no jogo. Para divulgar os atletas, os agentes pedem até R$ 150 mil. Responsável por oferecer a denúncia do lateral-esquerdo Eduardo ao tribunal, o Joinville se defende e garante que não recebeu a informação de um agente externo. “Um conhecido me falou que havia atletas irregulares na Série B, e eu fui pesquisar. Tive muito trabalho. Por costume, fazemos
Não é de hoje que decisões polêmicas do STJD prejudicam os dois clubes na competição nacional. Em 1974, o Cruzeiro teria o direito de decidir o Brasileiro em casa contra o Vasco. Uma tentativa de agressão do então presidente celeste, Carmine Furletti, ao árbitro Sebastião Ruffino, motivou o clube carioca a buscar o Tribunal e conseguir a inversão de mando que lhe permitiu jogar e conquistar o título no Maracanã. Três anos mais tarde, a demora para julgar o atacante Reinaldo, do Atlético, fez com que o jogador ficasse fora do jogo decisivo contra o São Paulo. A expulsão, que gerou a suspensão do jogador, aconteceu um mês antes em partida contra o Fast Club. “O STJD é um tribunal que julga paixão. Essa exposição crescente contribui para que seja mais sério. É preciso aproveitar a publicidade que a imprensa está dando e ser cada vez mais transparente. Um dos princípios que regem a justiça desportiva é a publicidade e, pra mim, quanto mais publicidade, melhor”, explica Paulo Bracks, ex-auditor do STJD e hoje advogado e consultor de | 29
direito desportivo. Ele também defende o sistema das acusações de favorecer as equipes mais tradicionais. “O Tribunal julga de forma impessoal, independentemente do peso da camisa. Acaba-se dando publicidade maior para os clubes grandes. Às vezes, você tem produção melhor de provas porque os clubes grandes têm condições que os pequenos não têm. E isso pode pesar no julgamento”, opina. Embora todos saibam da necessidade da existência da lei e de um tribunal, vários setores pedem mudanças no sistema. “Não gosto da influência do STJD e acho que alguns julgamentos, envolvendo times mais poderosos, são diferentes. Mas entendo que é a estrutura que precisa mudar”, entende o comentarista da Rádio CBN, Mário Marra. “O caminho é longo. Passa por mudanças
A justiça desportiva no mundo Exemplos de organizações da justiça em outros países podem ajudar nas mudanças necessárias no STJD
Argentina O sistema é parecido com o brasileiro, embora a defesa de clubes e jogadores seja feita apenas por escrito. Clubes que fazem denúncias consideradas maliciosas podem ser multados. A primeira instância tem nove auditores, e o comitê de apelação, três.
Estados Unidos Em geral, as infrações às regras do jogo estão previstas no regulamento e não precisam de julgamento. É ágil, e o Tribunal é privado e autônomo. Caso seja necessária alguma audiência, o presidente da federação instaura uma comissão para conduzir a decisão. 30 | www.voxobjetiva.com.br
de legislação e até da estrutura do futebol brasileiro”, completa o jornalista. Para Bracks, algumas adaptações podem melhorar a agilidade na tomada de decisões. “É preciso diminuir o número de ações a serem julgadas, deixando os problemas menores em âmbito administrativo. Além disso, é fundamental fazer com que os auditores sejam remunerados para que possam ser responsabilizados”, acredita o advogado. Até que seja de interesse também de clubes, CBF e governo federal (que regula a Justiça Desportiva por meio da Lei Pelé desde 1998), a tendência é que o craque que seu time procura possa nunca ter chutado uma bola de futebol, mas vestir um alinhado terno importado no Tribunal.
Espanha Uma Comissão de Competição formada por três juristas decide as penas de forma rápida. Um Comitê de Apelação, com outros três membros, é acionado caso seja necessário.
Inglaterra As suspensões por cartões são bem-definidas. Apenas os casos mais graves são julgados. Os acusados só têm direito de defesa nos casos mais complexos, quando são convocados a depor. Em geral, um comitê se reúne um ou dois dias após cada rodada para definir as penas.
iTÁLIA As decisões são tomadas na segunda-feira após cada rodada e divulgadas no dia seguinte. Não há audiência, mas os clubes podem entrar com recurso. Independentemente disso, porém, os jogadores seguem suspensos preventivamente até o novo julgamento.
ARTIGOS
Ruibran dos Reis
Meteorologia
Os céticos das mudanças climáticas Faz mais de um século que o primeiro trabalho sugerindo mudança no clima do planeta foi publicado. A concentração crescente dos gases do efeito estufa na atmosfera seria o fator responsável pela alteração climática. Ainda assim, muitos ainda não creem que o homem esteja contribuindo para o aquecimento global. São os chamados ‘céticos’. Em 1820, Jean Baptiste Fourier provou que parte da energia emitida pela Terra é retida pela atmosfera. Segundo o físico francês, se não existisse esse fenômeno, hoje conhecido como efeito estufa, a temperatura média da Terra seria de -18ºC. Em 1863, pesquisas do físico inglês John Tyndall comprovaram que o dióxido de carbono e o metano tinham a capacidade de absorver a radiação infravermelha (calor) emitida pela Terra. Os resultados da pesquisa de Tyndall respaldaram as comprovações de Fourier e a existência do efeito estufa.
O Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) foi criado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1988. O objetivo foi promover uma avaliação científica, técnica e socioeconômica da problemática das mudanças climáticas numa base objetiva, integrada e transparente. Os relatórios do IPCC são feitos com base em informações publicadas nas mais respeitadas revistas científicas do mundo. Esse material é selecionado e discutido por um grupo de mais de 2,5 mil cientistas de diferentes áreas de atuação. O papel do homem como responsável pelas mudanças climáticas é uma questão crucial também muito debatida pelos cientistas. Os relatórios do IPCC apontam que há 95% de probabilidade de que o aquecimento global ocorrido nos últimos cem anos tenha relação com as atividades humanas.
“Os relatórios do IPCC são feitos com base em informações publicadas nas mais respeitadas revistas científicas do mundo”
Em 1986, o químico sueco Svante Arrhenius fez, pela primeira vez, estimativas do efeito da variação da concentração do CO2 sobre a temperatura média global da atmosfera. O resultado comprovou que a duplicação da concentração do gás carbônico provocaria um aumento de 5ºC a 6ºC na temperatura terrestre. Se analisarmos o gráfico da evolução da temperatura nos últimos 150 anos, poderemos observar que houve um aumento térmico significativo entre as décadas de 20 e 30. Depois dos anos 80 também. A diminuição da temperatura entre as décadas de 40 e 70 ocorreu devido ao aumento de aerossóis na atmosfera. O acúmulo dessas partículas no ar diminuiu a quantidade da radiação solar que chegou até a superfície da Terra.
O IPCC leva em consideração diferentes visões sobre o tema. Até mesmo o entendimento daqueles que não acreditam que a intervenção humana tenha relação com o aumento da temperatura da Terra. Aos cientistas céticos, basta publicar resultados de pesquisas que sustentem suas posições em revistas sérias. Infelizmente não é isso que acontece, pois os céticos publicam opiniões apenas em jornais ou apresentam suas análises em grupos fechados. Vez ou outra, tentam ridicularizar cientistas com trabalhos consolidados e vencedores de prêmios Nobel.
Ruibran dos Reis Diretor Regional do Climatempo e professor da PUC Minas ruibrandosreis@gmail.com | 31
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Um museu de grandes novidades Museu do Amanhã celebra o futuro e o aniversário de 450 anos do Rio de Janeiro Leo Pinheiro
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uem passa pela Região Portuária do Rio de Janeiro observa homens e máquinas trabalhando em ritmo intenso, redesenhando uma área de 5 milhões de metros quadrados, apontada por historiadores como o berço da cidade. O espaço vai resgatar memórias importantes, como o Cais do Valongo - porta de entrada para mais de 500 mil escravos africanos -, os operários pavimentam o caminho para aumentar o acesso de cariocas e turistas a essa parte da cidade há tanto tempo esquecida. Aqueles que já se aventuram pelos arredores da Praça Mauá, sem se incomodar com o barulho e a poeira provenientes do imenso canteiro de obras, podem vislumbrar uma das joias que ganham forma para coroar a nova realidade do local: o Museu do Amanhã.
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Concebido pelo célebre arquiteto espanhol Santiago Calatrava, o projeto vai ser um dos presentes que o Rio de Janeiro vai ganhar no dia 1º de março de 2015, data de seu aniversário de 450 anos. Com temática diferenciada, o museu vai estimular o público a pensar no futuro. A obra está sendo executada pela Concessionária Porto Novo naquela que é a maior parceria público-privada (PPP) do Brasil, por meio de um contrato de R$ 8 bilhões. A execução prima por altos padrões de sustentabilidade, valorizando, entre outros aspectos, o reúso de água e o aproveitamento da luz solar. “No projeto do Museu do Amanhã, as águas da Baía de Guanabara serão bombeadas e utilizadas na troca de calor para climatização do prédio, reutilizadas no espelho d´água
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e devolvidas ao mar depois de filtradas e limpas. O aproveitamento da luz solar nos ambientes internos propicia um uso mais eficiente da energia elétrica”, explica Alberto Silva, presidente da Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto do Rio de Janeiro (Cdurp), empresa da Prefeitura do Rio, gestora da operação urbana consorciada Porto Maravilha.
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Considerando também aspectos culturais e históricos da cidade e inspirado em elementos da Mata Atlântica – o entusiasmo criador de Calatrava nasceu das bromélias do Jardim Botânico –, o projeto valoriza a paisagem e se integra com naturalidade à Praça Mauá promovendo uma aproximação da cidade com marcos do passado e do presente, como o Mosteiro de São Bento e o Museu de Arte do Rio. “Quando inauguramos o MAR (em 1º de março de 2013), a cidade chegou batendo recordes de visitação. Em 2016, teremos um passeio público arborizado com três quilômetros e meio de extensão e 212 mil metros quadrados em área, mais atrações e equipamentos culturais e sistema de mobilidade urbana moderno, confortável e integrado”, adianta Silva em tom convidativo. O prédio imponente de 15 mil metros quadrados promete mesmo movimentar a vida cultural da cidade. Com curadoria de Luiz Alberto Oliveira, doutor em cosmologia do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, e de Leonel Kaz, professor de cultura brasileira na PUC/RJ e curador do MAR e do Museu do Futebol de São Paulo, o Museu do Amanhã terá uma vasta programação de exposições e eventos, sobretudo de sustentabilidade, “como poderemos viver?”, e convivência, “como queremos viver?”. No entanto, o presidente da Cdurp aposta que o maior legado da Prefeitura do Rio para a população será o reencontro da área urbanizada com as águas da Baía de Guanabara. Erguido após a demolição do Elevado da Perimetral – viaduto da década de 50 que costumava ser criticado por ter mudado consideravelmente a estética do Cais do Porto e por bloquear a vista da cidade, de quem estava vindo de navio, e a vista do mar para quem estava em terra –, o museu terá cerca de 30 mil metros quadrados de área externa, com jardins, um espelho d’água, ciclovia e área de lazer. Segundo ele, a estrutura vai estimular a população a desfrutar a região e não utilizá-la apenas como passagem. Em entrevista exclusiva, Alberto Silva relembra momentos da construção do Museu do Amanhã, os quatro anos à frente das obras de revitalização da Região Portuária e compartilha visões do futuro da cidade do Rio de Janeiro com os leitores da Vox Objetiva. Veja nas páginas a seguir.
Santiago Calatrava Principais obras: Puente de La Mujer, em Buenos Aires Estação do Oriente, em Lisboa Torre de Montjuïc, em Barcelona; Planetário de Valência, que tem o formato de um olho humano com pálpebras de aço que se movem Museu de Arte Milwaukee, nos Estados Unidos, lembra um pássaro com asas que executam discretos movimentos
Inspiração: O Museu do Amanhã terá estruturas metálicas que se abrem e se fecham como pétalas das bromélias do Jardim Botânico do Rio de Janeiro.
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História e sustentabilidade são objetivos, segundo o presidente da Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto do Rio de Janeiro, Alberto Silva No aniversário de 448 anos da cidade, o Rio de Janeiro ganhou o Museu de Arte do Rio. Dois anos depois, o presente será o Museu do Amanhã. A intenção é transformar a Região Portuária carioca em um polo de turismo cultural? No ano do aniversário dos 450 anos do Rio de Janeiro, o Porto Maravilha entrega o Museu do Amanhã e um pacote de obras relevantes à cidade. A reurbanização de parte do novo passeio público se estende dos armazéns do Porto ao Museu Histórico Nacional e vai se somar ao conjunto. Reurbanizado e aberto, o trecho da frente marítima, que vai da Praça Mauá à Avenida Presidente Vargas, vai permitir o reencontro daquela área da cidade com a Baía de Guanabara. A revitalização da Região Portuária proporciona a transformação de grandes proporções. A consolidação de um corredor cultural une o Museu Histórico Nacional aos centros culturais da Justiça, da Saúde, do Banco do Brasil, dos Correios, a Casa França-Brasil, o Museu do Amanhã, o Museu de Arte do Rio (MAR), a Fábrica de Espetáculos do Teatro Municipal e o AquaRio. A transformação vem como consequência desse processo de reurbanização de 5 milhões de metros quadrados, mas o que não posso deixar de destacar é que a Região Portuária já tem, por sua história, vocação cultural importante na cidade. Ela vai fortalecer e integrar a rotina da cidade. Recentemente, o Museu de Arte do Rio ganhou um dos maiores reconhecimentos da arquitetura, o Architizer A+ Awards. O senhor acredita que, com a inauguração do Museu do Amanhã, o Rio de Janeiro também pode entrar na rota do turismo de arquitetura? O Rio de Janeiro pode entrar na rota do turismo de arquitetura hoje. A propósito, a cidade foi a escolhida como nova sede do maior e mais importante fórum internacional de arquitetura, o XXII Congresso Mundial da União Internacional dos Arquitetos (UIA). Com o processo de revitalização não finalizado, a Região Portuária já oferece opções culturais, como o MAR e algumas visitas guiadas a marcos históricos recuperados, como o Cais do Valongo. Como a Prefeitura pretende promover esses ativos turísticos numa cidade que tem tantas atrações, como o Cristo e as famosas praias? Os pontos naturais e culturais da cidade são atraentes, diversificados e não competem entre si no turismo e no lazer. Eles se somam. O que move a busca por lazer, cultura e entretenimento? Fatores como qualidade, importância, tradição e acesso. A Região Portuária oferece tudo
isso. Quando inauguramos o MAR, a cidade chegou batendo recordes de visitação no terminal de cruzeiros marítimos às zonas Norte, Oeste e Sul, na Região Metropolitana,... Visitantes também vêm para as tradicionais rodas de samba da Pedra do Sal, berço do samba, do Largo de São Francisco da Prainha e da Praça da Harmonia. Temos produção teatral de qualidade no Galpão Gamboa, do Armazém da Utopia com a Companhia Ensaio Aberto e da Companhia de Mysterios e Novidades. Em 2016 vamos oferecer um passeio público arborizado com três quilômetros e meio de extensão e 212 mil metros quadrados em área, mais atrações e equipamentos culturais e sistema de mobilidade urbana moderno, confortável e integrado. Não é para vir? O projeto prevê utilização de energia solar e reúso de água. Quais são os aspectos sustentáveis do projeto? Captação de água da chuva, aproveitamento da água da Baía na refrigeração, geração de energia a partir de painéis fotovoltaicos móveis na cobertura metálica e aquecimento solar estão na estrutura da construção. Durante as obras, o cuidado também é permanente. Todas as atividades seguem rigorosas metas que incluem controle da saída de sedimentos da obra, organização e limpeza, elaboração do plano de controle de erosão, sedimentação e poluição no canteiro em busca da sustentabilidade e da eficiência. Mais de 6 mil placas de células fotovoltaicas nas “asas” do museu captam a energia solar para gerar 200 quilowatts Essas asas vão se movimentar de acordo com a posição do sol em um espetáculo à parte. No projeto do Museu do Amanhã, as águas da Baía de Guanabara serão bombeadas e utilizadas na troca de calor para a climatização do prédio, reutilizadas no espelho d´água e devolvidas ao mar depois de filtradas e limpas. O aproveitamento da luz solar nos ambientes internos propicia um uso mais eficiente da energia elétrica. O Porto Maravilha prevê a criação de um passeio público na área da Praça Mauá e o reencontro da cidade com as águas. Como fica a região com o fim das obras? Vai ser a cara do Rio de Janeiro, Patrimônio Mundial como Paisagem Cultural Urbana reconhecido pela Unesco. As obras são um legado da Prefeitura do Rio para a cidade.
horizontes Renata Sette
Curiosidades da Obra
1000 operários
50 Engenheiros na obra
5.600
placas fotovoltaicas farão a captação da energia solar
5.000 130 custo de
milhões de reais
estacas foram usadas para fazer a fundação do prédio
Todas as peças de vidro foram importadas da Alemanha. O molde para a confecção das paredes levou mais de um ano e meio para ser projetado
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Destino Encantado São Tomé das Letras atrai visitantes pela simplicidade interiorana mineira e pelas ótimas opções para o descanso e a aventura Texto e fotos: Daniela Rebello
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izia Guimarães Rosa que “Minas são muitas”. Reconhecida nacionalmente pelo misticismo e por encantar os que têm sensibilidade para captar a energia local, São Tomé das Letras, no Sul de Minas Gerais, é um dos destinos que representam a miríade de faces de um estado tão diverso. Localizada a 340 quilômetros da capital e incrustada na Serra da Mantiqueira, a cidade está inserida no circuito da Estrada Real. O município é refúgio de viajantes desacompanhados a famílias que querem esquecer o caos das metrópoles, adentrando uma atmosfera de calmaria ou se deleitando em belas cachoeiras. O céu azulado, as manhãs quentes, as noites frias e os ventos que ‘transportam’ cristais de quartzitos são características que descrevem um pouco dos dias em São Tomé das Letras. Os detritos no ar são indicativos estruturais da cidade. O município foi erguido sobre uma grande rocha de quartzito, pedra conhecida por armazenar e liberar energias cósmicas. Daí vem a fama de mística.
Também conhecida como pedra São Thomé, essa rocha representa 60% da economia da cidade e pode ser encontrada em quase toda a arquitetura local. Essa pedra está no revestimento de casas, igrejas e restaurantes. A mineração é a base econômica da cidade, gerando cerca de 6 mil empregos diretos. Ainda assim, os moradores se queixam do efeito danoso dessa atividade para a cidade. Repassadas de geração a geração, histórias e lendas da região são atrativos que levam milhares de pessoas a São Tomé das Letras todos os anos. O agricultor José Afonso, de 70 anos, radicado na cidade, revela que até hoje os mitos são assuntos recorrentes na família. “Uma de nossas lendas é a do escravo João Antão, que se refugia em uma caverna no alto da serra após ter o romance com a irmã de seu senhor descoberto. Certo dia, esse escravo encontra um homem de roupas brancas que pede a ele que entregue a seu senhor um bilhete. O homem dizia que, assim, o escravo seria perdoado. A carta dei-
Localizada a três quilômetros do Centro de São Tomé das Letras, a cachoeira Eubiose tem fácil acesso. Suas quedas formam uma grande piscina natural
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xou o senhor intrigado, pois como poderia um escravo escrever de forma tão correta? Ao ir até a gruta verificar o que estava acontecendo, uma imagem de São Thomé entalhada em madeira foi encontrada no local”, conta. Sempre levadas a sério, as lendas deram origem a edificações muito simbólicas. O mito do escravo, que dá conta da miraculosa aparição da imagem do santo no alto da serra, foi mote para a construção da Igreja Matriz no local, no ano de 1785. Esse ponto turístico de São Tomé das Letras foi tombado pelo Instituto Estadual de Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha/ MG) em 1966. A organização da cidade acontece a partir do surgimento de povoados em torno dessa construção. Quem visita a cidade acaba se encantando mais do que esperava. Alguns trocam a vida agitada nas cidades pela simplicidade local. É o caso de Nilza Silva, de 62 anos. Conhecida como ‘Luz da Lua’, Nilza mora na cidade há seis anos e administra a loja de uma amiga. Nascida e criada em Florianópolis, ela pretendia apenas conhecer São Tomé e, quem sabe, permanecer na cidade por um mês. O convite para gerenciar uma pousada fez com que Nilza permanecesse por
O Poço das Esmeraldas, em Sobradinho, é uma profunda piscina natural formada pelas pedreiras da região
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mais tempo e se encantasse ainda mais com a cidade. “Eu vim apenas para conhecer e acabei me mudando. Deixei tudo pra trás: família, casa, carro, conforto e fiquei apenas com uma mala. A vida é muito simples. Aqui você aprende a viver com pouco”, explica. Mas não é somente a calmaria que atrai visitantes. A geografia privilegiada de São Tomé das Letras é um convite aos amantes de esportes radicais. Escalada, Motocross, Mountain Bike e rapel são alguns dos esportes praticados na região. Para quem não é adepto das aventuras, há também variados roteiros simples e rústicos. Durante a manhã, as principais atrações são as trilhas do local, que levam às diversas cachoeiras e grutas, como a do Carimbado. Reza a lenda que o local é um portal que faz ligação entre a cidade mineira e Machu Picchu no Peru. A lenda se sustenta pelo fato de ninguém nunca ter conseguido chegar ao fim da gruta. Historiadores, geólogos, turistas e pesquisadores já tentaram se aventurar, mas não tiveram sucesso. Muitos afirmam que as altas temperaturas e a altitude elevada – São Tomé das Letras está a 1.444 metros do nível do mar – impedem a completa exploração do local.
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“A vida é muito simples. Aqui você aprende a viver com pouco” Nilza Silva, vendedora
As cachoeiras mais conhecidas são a do Véu da Noiva, a mais charmosa e mais visitada da cidade, Paraíso, Eubiose e do Vale da Borboleta. Todas estão próximas à área urbana da cidade. No distrito de Sobradinho está o Poço das Esmeraldas, uma enorme lagoa esverdeada cercada por rochas e que tem em média sete metros de profundidade. O poço foi encontrado quando uma mineradora escavava o local. Com o aparecimento desse recurso natural, a prefeitura proibiu a continuidade da perfuração. Localizada no Parque Municipal Antônio Rosa, a famosa Casa da Pirâmide é um dos pontos mais altos da cidade e um local disputado para quem espera assistir ao pôr do sol. Além dessa casa, o parque oferece o Mirante, a Pedra da Bruxa, o Guardião e o Cruzeiro, onde habitantes afirmam ser o melhor local para observações astronômicas e de fenômenos ufológicos. Enquanto visitantes admiram as paisagens, artesãos expõem seus trabalhos - colares e pulseiras colocados à venda e que chamam a atenção por causa das diferentes pedrarias. Para muitos, a fuga da cidade grande significa um escape da rotina em busca de algo novo, de aventuras e de tranquilidade. Para outros, o contato com a cidade representa aprendizado. “Viajantes vão para São Tomé das Letras em busca de autoconhecimento e concluem que não é preciso uma busca incessante. O grande aprendizado está no cotidiano e nas coisas mais simples”, acredita Nilza.
A reportagem da Vox Objetiva agradece à agência Loucos por Aventura e à Unifort.
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Até que a morte nos destaque Celebridades da música e do cinema atingem o ápice do sucesso após a morte e ficam marcadas para sempre no imaginário coletivo Bárbara Caldeira
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m vida, eles tiveram trajetórias marcantes. Subverteram padrões, provocaram a sociedade, acumularam feitos memoráveis. Rostos expressivos da música e do cinema tiveram coragem de viver os sonhos das pessoas comuns. Ídolos recorrentes na memória de várias gerações, eles alcançaram o topo do sucesso a partir do último suspiro. Elvis Presley, John Lennon, Michael Jackson, Marilyn Monroe e James Dean são alguns exemplos de artistas eternizados no imaginário coletivo. Para o professor de Filosofia, Estética e Cultura de Massa do UNI-BH, Luiz Henrique Magalhães, entender esses processos de ‘mitificação’ requer buscar, historicamente, como se constitui a formação de um ídolo e a identificação por parte do público. “A etimologia da palavra ‘ídolo’ está relacionada com imagem. Nas sociedades arcaicas, todo o conhecimento estava fundado nos mitos sagrados. Basta reportar a essa época para perceber a presença de comportamentos e valores, muitas vezes, encarnados em divindades ou em heróis”, afirma. Mas se em tempos remotos os ídolos tinham caráter pedagógico, o sentido atual é um pouco diferente. Segundo Magalhães, a identificação com personalidades projetadas pelos meios de
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A bela voz, o visual despojado e a forma original de dançar fizeran de Elvis um dos maiores mitos da cultura de massa
comunicação se sustenta por ideais de beleza, juventude e força. Nesse contexto, a morte contribui para o processo de tornar um artista eterno e vivo na memória do público. O docente ressalta também que a atuação da mídia é fundamental para essa construção. “É preciso considerar a imagem divulgada do trabalho que é finalizado e interrompido com a morte do artista. Muitas vezes, é apresentada uma síntese conclusiva e tranquilizadora, que sustenta a importância do artista no cenário profissional, cataloga e classifica o repertório dele, endossando o valor dessa trajetória”, argumenta. Para a mídia, interessa tanto a audiência imediata que cresce em situações dessa natureza quanto a valorização dos produtos que vão ser apresentados ou reapresentados para os fãs a partir da tragédia. “O mercado é mais dinâmico e movimenta cifras muito maiores que as da época em que os artistas mais emblemáticos morreram. Eles viram uma marca”, conclui. Elvis Presley, por exemplo, faturou US$ 55 milhões em 2013, contra US$ 19 milhões, corrigidos pela inflação, contabilizados no ano de sua morte. Lennon faturou, no ano passado, US$ 12 milhões. Após o primeiro mês de seu falecimento, Michael Jackson vendeu 4 milhões de álbuns em todo o mundo.
Os reis e a mensagem da paz Elvis Presley iniciou a carreira musical nos anos 50, misturando country e R&B, o que resultou no rockabilly. Mas foi com seu jeito de dançar, mexendo os quadris de maneira sensual, que o artista conquistou definitivamente o público, ganhando o apelido de ‘The Pelvis’. Mais do que isso, o cantor é dono de nada menos do que a alcunha de ‘Rei do Rock’, ultrapassando os contemporâneos Carl Perkins, Bill Haley e Buddy Holly, que faziam sucesso e contavam com boas canções no repertório. Elvis, no entanto, foi além do musical. Investiu pesado no visual: era mais novo, mais atraente e criou sua identidade cheia de trejeitos e um topete que virou marca registrada. “Elvis, assim como outros artistas expressivos, foi o ídolo certo para a época certa. As pessoas pediam aquele tipo de personagem”, afirma o jornalista e crítico musical Rodrigo James. O Rei do Rock foi encontrado morto em sua mansão, em 1977. Desde então, o espaço se tornou ponto de peregrinação para roqueiros do mundo inteiro. “Graceland é uma verdadeira Disneylândia do Elvis. A estrutura conta um tour pela vida dele, incluindo os aposentos pessoais, museu com carros e aviões. Criar um entretenimento duradouro em cima da imagem de um artista é elevar um ídolo à extrema potência”, pondera Rodrigo.
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Elvis morreu depois de ter vivido a fase áurea da carreira. Ele estava em Las Vegas nessa época. Para o crítico musical e editor da revista Billboard Brasil, José Flávio Júnior, atualmente, até mesmo o declínio ganhou outros ares. “Hoje a fase Vegas decadente é vista com charme por alguns. Elvis morreu cafona, mas em cima do palco. E o cafona dele hoje é cult”, analisa. Manter um mito vivo somente é possível com o gerenciamento da imagem, como frisa Rodrigo James. “Eternizar um ídolo só funciona porque existem pessoas competentes administrando o espólio desses artistas, negociando licenciamento de produtos, alimentando o mercado com material inédito ou novas versões do trabalho do músico”, entende. Lembrado, em vida, mais por episódios polêmicos do que pela trajetória musical, o Rei do Pop, Michael Jackson, experimentou um tipo de redenção em 2009, no ano da morte do artista. As acusações de pedofilia, mudanças drásticas de aparência e a instabilidade nos relacionamentos — um deles, inclusive, com a filha de Elvis, Lisa Marie Presley — foram ofuscados com Quase 35 anos após o assassinato de Lennon, o ex-Beatle continua sendo o porta-voz da paz no meio musical
a perda. “Michael produziu bem pouco nos últimos anos de vida. Mas ele não repetiria a genialidade de ‘Thriller’. Ele estava louco demais para entender o que o mercado esperava dele”, afirma José Flávio. Para Rodrigo, a morte repentina do astro fez com que o público voltasse a prestar atenção no legado dele. “Os fatos polêmicos ainda estão aí, mas o que se destaca é obra riquíssima e o sensacional artista que ele foi”, opina. Um ano após a morte de Michael Jackson, a lenda rendeu US$ 1 bilhão. Já John Lennon sofreu a morte mais trágica e chocante da história do rock. Ele foi assassinado por um fã na entrada do seu apartamento, em Nova York, em 1980. Desde então, Strawberry Fields, um jardim no Central Park, próximo ao local do crime, é ponto obrigatório na rota de saudosos do mundo inteiro. “A morte do Lennon impactou significativamente a cultura pop. Muita gente fez música sofrendo influência daquele choque nos anos que seguiram. Dá para dizer que o assassinato deu uma entristecida no cenário”, conta José Flávio Júnior. Se desde a época de ‘Imagine’ o artista passou a ser associado a um discurso de paz, a morte violenta promoveu o ex-beatle a mártir. A maldição da morte aos 27 Janis Joplin e Jimi Hendrix, em 1970, e Jim Morrison em 1971: em um curto intervalo de tempo, o rock perdeu figuras expressivas e talentosas, todas aos 27
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A morte do mito Jimi Hendrix alimenta a lenda da drástica interrupção de carreira de jovens artistas aos 27 anos
Provando que a moça é sempre atual, o Grupo Dois Palitos promove, em Belo Horizonte, nova temporada da peça ‘Marilyn Monroe.doc’ entre os dias 11 e 26 de outubro. A ideia da produção partiu da atriz Thaís Coimbra, que encarna Monroe nos palcos. “Marilyn tinha um timing para a comédia. Ela se destacou por causa disso. Eu quis pesquisar mais sobre a mulher que existia por trás da personagem”, conta Thaís. O espetáculo se encaixa na categoria de teatro-documentário. Durante o ato, Thaís explora vários aspectos da vida da atriz, especialmente os conturbados relacionamentos. “Acredito que Marilyn tenha sido o tipo de mulher que exerceu o seu poder simplesmente por ser ela mesma. Talvez isso aconteça pela força de sua sensualidade e, ao mesmo tempo, pela sua aparente fragilidade. A beleza dela é inegável e faz com que ela seja um sex symbol até hoje, mesmo sendo um padrão diferente daquele que ela viveu”, explica. James Dean também cavou seu espaço no imaginário coletivo. Ele é um exemplo de sucesso que alcançou
anos.O fenômeno lançou a maldição da morte nessa idade. O misterioso suicídio de Kurt Cobain durante o auge da carreira, em 1994, e a morte de Amy Winehouse por abuso de álcool, em 2011, reforçam o mito. “Tudo não passa de uma coincidência mística. Mas teve tanto alcance porque, nos anos 70, por exemplo, Janis, Jimi e Jim eram os artistas da prateleira de cima. Em uma comparação com o cenário atual, é como se Rihanna, Katy Perry e Beyoncé estivessem com 27 anos e morressem uma atrás da outra”, compara Rodrigo James. “Isso é do imaginário da cultura pop. Essa coincidência acabou virando um chiste. Não há nada que prove que a vida do popstar fica mais difícil aos 27. Alguns nem chegaram ao topo, aos 27. Outros morrem antes ou depois. E a maioria sobrevive”, completa José. A perfeição e a personificação da rebeldia Lendas surgiram da sétima arte. Marilyn Monroe estava consagrada em vida. Ela ficou mais potente depois da morte, aos 36 anos. As circunstâncias foram misteriosas. “Monroe partiu jovem e bela. A imagem da atriz foi congelada assim”, afirma Luiz Henrique. Retomada nas mais diversas linguagens, a diva da telona ficou mais pop do que nunca depois de ser representada nas artes plásticas por Andy Warhol, além das apropriações da imagem da atriz feitas por Madonna.
Filmes de James Dean atingiram extraordinários resultados de bilheteria após a morte do jovem ator
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A atriz Thaís Coimbra, que dá vida à Monroe nos palcos, acredita que Marilyn continue a exercer poder devivo à originalidade que sempre foi marca da estrela hollywoodiana
projeção no fim da vida — principalmente a partir das estratégias de quem mais lucrou com sua imagem: a Warner. ‘Juventude Transviada’, longa lançado um mês antes de James morrer, rendeu US$ 39,4 milhões. ‘Assim Caminha a Humanidade’ saiu um ano depois e arrecadou US$ 118 milhões. Nas duas produções, Dean interpretou jovens rebeldes e subversivos. A morte prematura cristalizou o artista. Dean tinha 24 anos quando sofreu um acidente de carro supostamente em alta velocidade. “Eles vivem nossos sonhos e desaparecem antes da hora, também como nossos sonhos. A vida do artista tem esse componente de fantasia. É quase como se tivessem dado a vida para o nosso entretenimento”, reflete José Flávio Júnior. Nossos ídolos ainda são os mesmos Para a professora de Semiótica e História da Arte da UNI-BH, Luciene dos Santos, há um fenômeno sobre o qual é importante refletir. Os ídolos marcantes, cujas mortes entristeceram e impactaram o público, são os do passado. Atualmente artistas dificilmente alcançam essa projeção. “É interessante notar que, de 1980 para cá, há uma cultura das celebridades, uma fama passageira que pode ser obtida por qualquer um. O ídolo, o mito, passa por uma lógica diferente e transpassa o tempo”, defende. Luciene acredita que o desapego — ou apego efêmero — às figuras da música ou do cinema reflita um comportamento atual da sociedade. “No contexto de hoje, as relações se esvaziam. Com o excesso de informações e a velocidade com que tudo muda, não há tempo para a elaboração fantasiosa nem para a construção imaginária que faz um ídolo ser ídolo. A fantasia não tem sustentação”, analisa. Mesmo o que era chocante, há pouco, ficou cansativo. “Lady Gaga é um exemplo. Sua construção está em crise porque o público já não se espanta mais com suas performances. Hoje as pessoas vestem as fantasias como vestem roupas, de forma descartável, e as tiram muito rápido”. De acordo com a professora, os meios de exposição dos artistas, como perfis em redes sociais, rompem com o mistério que é necessário para a formação e a consagração de mitos. “É preciso refletir sobre a mudança da relação do homem com o mundo e os processos de identificação, além de pesar o que ganhamos e o que perdemos com isso”, arremata.
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Terra Brasilis • literária
O livro da filosofia Autor: Vários autores Editora: Globo Páginas: 352 Preço: R$ 28,80 A obra traça o percurso da história da filosofia, da Antiguidade até os dias atuais. Organizado em capítulos que abordam as temáticas filosóficas, o livro propõe a discussão e o diálogo do pensamento com os assuntos em pauta em diferentes momentos da história. O livro aponta visões e teorias contraditórias, permitindo ao leitor construir o próprio pensamento a partir do estudo e da reflexão. ‘O livro da filosofia’ é uma verdadeira aula sobre o estudo do pensar, pois trabalha com a curiosidade, o raciocínio lógico e o discernimento. Reprodução
Os crimes do monograma – O novo mistério do detetive Poirot Autor: Sophie Hannah Editora: Nova Fronteira Páginas: 288 Preço: R$ 23,90 Com ‘Os crimes do Monograma - o novo mistério do detetive Poirot’, a escritora Sophie Hannah marca a volta do famoso investigador belga criado pela escritora inglesa Agatha Christie, conhecida como ‘rainha do crime’ por seus best-sellers policiais. Na história, Poirot está aposentado, mas é desafiado a investigar um mistério que envolve muita astúcia e abotoaduras com um monograma. Escrito com o apoio da família Christie, o novo livro de Sophie Hannah é um evento para os amantes do romance policial. Reprodução
Se eu ficar Autor: Gayle Forman Editora: Novo Conceito Páginas: 224 Preço: R$ 29,90
Mais vendido
Adaptado recentemente para o cinema, o livro ‘Se eu ficar’ propõe uma reflexão sobre a vida e a morte. O livro conta a história de Mia, uma jovem violoncelista, de 17 anos, que vê o mundo virar de cabeça para baixo após ela se envolver em um acidente de carro com a família. A tragédia mexe com a noção do que é real e do que é inconsciente no mundo de Mia. Sem compreender a própria condição, em estado de coma, a garota deve decidir se quer viver ou se prefere morrer. Reprodução
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Terra brasilis - Crítica
Garota exemplar Suspense de David Fincher, sucesso de público e crítica, propõe investigação psicológica de personagens em busca da verdade por trás das aparências André Martins
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o dia do aniversário do quinto ano de casamento, Amy Dunne (Rosamund Pike) some deixando para trás poucas pistas: uma mesa revirada na sala de estar, estilhaços de vidro espalhados pelo piso, uma gota de sangue seca na lareira. Pelo estado de choque ou puro desmazelo ao longo dos cinco anos ao lado da esposa, o marido de Amy, Nick (Ben Affleck) se vê numa situação comprometedora. Incapaz de dar aos investigadores informações básicas sobre o comportamento da mulher, suas rotinas e contatos, o jornalista acaba se tornando o principal suspeito pelo desaparecimento. Essa é a espinha dorsal que sustenta o início do ótimo ‘Garota Exemplar’, filme baseado no best-seller homônimo da escritora e roteirista do longa, Gillian 46 | www.voxobjetiva.com.br
Flynn e dirigido pelo habilidoso condutor de suspenses David Fincher. Após quase três anos de seu último filme, ‘Millenium - o Homem que não Amava as Mulheres’, o diretor americano volta ao cinema com esse, que promete ser um dos grandes filmes da temporada. Com ‘Garota Exemplar’, Fincher consolida laços com os músicos Trent Reznor e Atticus Ross e com o fotógrafo Jeff Cronenweth. São parcerias que acabam contribuindo para que os trabalhos do diretor sejam impregnados de uma identidade visual e sonora interessantes. É esse DNA que une os três últimos trabalhos de Fincher: obras realistas, filmadas de forma moderna e imersas em uma atmosfera soturna.
Terra brasilis - Crítica
‘Garota Exemplar’ é um filme longo, com duração de duas horas e meia, mas que apresenta uma narrativa fluida, esperta, intercambiando acontecimentos presentes e flash-backs narrados pela voz de Amy. O passado é apresentado por meio do diário da mulher, encontrado semidestruído pela polícia no forno da casa do pai do suspeito. O roteiro bem-amarrado e a multidimensionalidade de cada personagem são pontos altos. A proposição de um tipo de investigação psicológica do casal é mais um fator que torna o interesse do espectador forte como um cordão de muitas dobras. Nick é um sujeito controverso e sociável, mas que evita o contato visual, sempre que parece ter algo a esconder. Ele sorri em momentos inapropriados quase sem se dar conta e tem como única amiga, a irmã gêmea, Margot (Carrie Coon). Amy, por sua vez, é lúcida, inteligente, boa esposa e filha e dona de uma beleza helênica. É uma jovem escritora nova-iorquina que se tornou conhecida na infância por meio de uma série de livros infantis redigidos pelos pais dela. As obras influenciaram a geração da menina e fizeram com que Amy fosse um ícone capaz de despertar uma simpatia generalizada. A dupla de atores Pike e Affleck tem desempenhos contrastantes. A impressão de que ele nunca consegue fugir do óbvio volta a atacar com força. A despeito da beleza e do charme de galã, Affleck provou que é mais diretor
e roteirista que ator. Já Rosamund agarra com gana o mais desafiador teste da carreira. Com feições e olhares doces, madeixas loiras cuidadosamente modeladas e voz modulada, a atriz dá vida a uma personagem extraordinária e, ao mesmo tempo, misteriosa. Antes mesmo do lançamento do filme nos Estados Unidos, o nome dela já era dado como certo no circuito de premiações de cinema, o que, de fato, tende a se confirmar. A partir de sua metade, o filme cresce e evolui de forma ainda mais volátil. Fincher trabalha com consecutivas construções e desconstruções, revelando a realidade do que está por trás do desaparecimento de Amy e conduzindo o filme a um desfecho surpreendente e chocante. Amantes de uma tragédia, a sociedade e a mídia americanas são alvos de críticas no filme. De forma caricata, apresentadores de noticiários fazem do desaparecimento uma crônica da vida comum apelativa, acentuando a tragédia e se posicionando como donos da verdade. Em cartaz no Brasil desde a primeira semana de outubro, ‘Garota Exemplar’ é exemplo de bom cinema. O longa vem sendo aplaudido tanto pela crítica quanto pelo público e é aposta para o Oscar nas categorias de Roteiro Adaptado e, claro, Atriz. O filme é um suspense de alto nível, eficiente, mas que requer estômago e um bocado de sangue... frio.
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Terra Brasilis • agenda
Olhos de Onda
Circuito Literário
Fernando e Sorocaba
A cantora gaúcha Adriana Calcanhotto retorna a Belo Horizonte após um longo tempo afastada de terras mineiras para show de sua nova turnê, ‘Olhos de Onda’. O repertório musical marca o reencontro da compositora com o violão, refletindo a elegância e o casamento perfeito da artista com o instrumento. Composta por músicas de sucesso e algumas inéditas, a turnê parece dar voz a um recital intimista de Adriana. No repertório, sucessos de artistas como Caetano Veloso e Cazuza. Imperdível!
Com o tema ‘Uma pausa para você e as palavras’, o Circuito Literário Praça da Liberdade propõe uma pausa na correria cotidiana e a conexão do cidadão com o universo da leitura. É uma média de 15 atividades por dia e uma lista de 70 autores convidados - escritores renomados, como Humberto Werneck, Carlos de Brito Melo, Marcelino Freire e Elvira Vigna,. O evento promete ser um sucesso. Além das atividades na praça, ao ar livre, os 12 museus e espaços que integram o Circuito Cultural da Praça da Liberdade participam do evento com atividades paralelas.
Trazendo uma mistura de boa música com ilusionismo, a dupla sertaneja Fernando e Sorocaba apresenta sua nova. Além dos grandes sucessos da dupla, o público vai poder conferir um verdadeiro espetáculo com o uso de tecnologia de ponta no palco. A abertura do show vai usar de projeções em 4D. O recurso vai criar a ilusão de ótica de que a dupla está pousando com um avião no palco. Cheio de artifícios, o show deve surpreender por meio dos olhos e, claro, dos ouvidos.
Palácio das Artes 14 de novembro de 2014, às 21h De R$ 70 a R$ 140 (inteira) ingressorapido.com.br
Praça da Liberdade 12 a 16 de novembro Entrada franca circuitoculturalliberdade.com.br
Chevrolet Hall 21 de novembro, às 22h De R$ 80 a R$ 160 (inteira) www.chevrolethallbh.com.br
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Em comemoração aos 40 anos de carreira, a banda norte-americana Kansas se apresenta pela primeira vez em Belo Horizonte, cidade de abertura da turnê brasileira. No setlist, clássicos de grande sucesso, como ‘Dust in the wind’, ‘Play the game tonight’, ‘People of the south wind’ e a mais recente ‘Carry On Wayward Son’, do seriado de TV ‘Supernatural’. Depois de BH, a banda se apresenta no Rio de Janeiro e em São Paulo nos dias 20 e 21 de novembro.
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Kansas 40º Aniversário 48 | www.voxobjetiva.com.br
Music Hall 19 de novembro, às 21h De R$ 165 a R$ 330 (inteira) hwstar.com.br
Terra Brasilis • agenda
Gabriel Villela
Guga Divulgação Melgar
3º Sinal: Belo Horizonte em Cena
Os gigantes da montanha
O Museu Histórico Abílio Barreto recebe a exposição ‘3° Sinal Belo Horizonte em Cena’, que apresenta o universo teatral da cidade. A mostra detalha as trajetórias de artistas e grupos, textos, figurinos, cenários, objetos, programas, fotos e referências sobre essa antiga manifestação artistica na capital. Dividida em três módulos: Teatro, Caixa Cênica e Bastidores, a exposição propõe representar a vida nas suas múltiplas formas estéticas e por meio da emoção e da afetividade.
Premiado espetáculo do Grupo Galpão narra a chegada de uma companhia teatral decadente a uma vila mágica povoada por fantasmas e governado pelo Mago Cotrone. A peça reflete sobre o valor do teatro e a sua utilização na comunicação do mundo moderno, cada vez mais tecnológico. O espetáculo celebra o retorno da parceria com o diretor Gabriel Vilella, famoso por dirigir peças marcantes do grupo.
Museu Abílio Barreto De 1º de outurbo a 31 de dezembro Entrada franca amigosdomhab.com.br
Leo Aversa
Entre 14 a 23 de novembro acontece, no Expominas, a quarta edição do maior evento literário do estado, a Bienal do Livro de Minas Gerais. Oportunidade de leitores terem contato com os mais variados tipos de livro e encontrar célebres escritores para um bate-papo descontraído. A presença de nomes como o da hisDe 14 a 23 de novembro toriadora Mary del Priore 14 de novembro: das 12h às e do escritor Lira Neto es22h; durante a semana: das 9h tão mais que confirmadas. Este ano, a bienal presta às 22h; fins de semana: das homenagem ao falecido 10h às 22h Rubem Alves. De R$ 5 a R$ 10 (inteira) bienaldolivrodeminas.com.br
Bienal do Livro
Guga Melgar
Teatro Bradesco De 13 a 16 de novembro Quinta a sábado, 21h, e domingo, 20h De R$ 15 a 30 (inteira) teatrobradescobh.com.br
Decole mais rápido.
Conexão Aeroporto BH e Betim. Agora, pela pista rápida e exclusiva do MOVE.
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BETIM R$ (HORÁRIOS ESPECIAIS VIA FIAT)
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crönica
Joanita Gontijo
Comportamento
Sem palavras... Assim que abriu os olhos, Irene percebeu que o mal estar na garganta havia piorado. Havia meses, ela tinha a sensação de estar com um caroço de fruta parado perto das cordas vocais. A bancária já saía de casa quando encontrou com a empregada abrindo a porta, atrasada como de costume. Ouviu o repertório de desculpas: o pneu furado do ônibus, o congestionamento, a morte da mesma avó que falecera outras vezes. Irene pensou em protestar, ralhar, mas achou melhor deixar pra lá. Suas palavras provocariam alguns dias de cara feia. Melhor evitar o conflito. Ao se despedir, sentiu a voz falhar. Já rouca, atendeu os inúmeros clientes insatisfeitos com os saldos bancários e a demora na fila. Um deles chegou a dizer que Irene e os outros funcionários eram um bando de preguiçosos. Ela quis se defender da injustiça, tinha argumentos pra isso, mas preferiu não dizer nada e chamar o próximo da fila. Sua voz era ainda mais fraca, quase um sussurro.
Xaropes, antibióticos, gargarejos foram em vão. Os exames não revelavam anomalias, mas Irene continuava calada. A situação incomodava muito mais aos outros do que à doente, que parecia confortável com o próprio silêncio. A limitação incentivava o carinho dos filhos, a atenção do marido, o compromisso da empregada, a disposição dos amigos.
“O doutor foi taxativo:
Depois de alguns meses e muitas consultas, um médico mais atento fechou o diagnóstico: Irene sofria de “medo do confronto”. Era uma doença comum, que provocava, na maioria das vítimas, dores no coração, nos ossos e deformações malignas nas células e até a morte. Não tinha remédio. Pelo menos, nenhuma pílula nem inguento que mudasse a realidade de fora pra dentro. O doutor foi taxativo: a cura só dependia da paciente. Exigiria coragem pra viver e enfrentar palavras, atitudes, afetos, desafetos e o medo do abandono.
a cura só dependia
da paciente. Exigiria
coragem para viver...”
De volta pra casa, Irene preparou o jantar para a família. O filho mais velho reclamou do tempero da comida; o mais novo se queixou de não ter batatas fritas. A mãe buscou o sal e esquentou o óleo pra fritura. Achou mais fácil atender os desejos do que defender seu cardápio. Escolheu o barulho das panelas aos muxoxos de insatisfação. A garganta incomodava tanto que ela sequer conseguiu comer. Na cama, Irene ouviu o celular do marido tocar. Ele olhou o número, tentou disfarçar o constrangimento e saiu do quarto para atender a ligação na varanda, longe dos ouvidos alheios. A esposa, que desconfiava de traição, pensou em buscar a ver50 | www.voxobjetiva.com.br
dade, ouvir a conversa, desmascarar a fraude de um casamento infeliz, gritar impropérios, mas engoliu sua indignação. A voz já não saía mais. Irene estava muda.
Quer saber se Irene voltou a falar? A resposta está dentro de você! Quem aí também atende, algumas vezes, pelo nome de Irene?
Joanita Gontijo Jornalista e autora do livro “70 dias ao lado dela” joanitagontijo@yahoo.com.br
MINAS TREND OUTONO INVERNO
2015
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O MOOD DIVERSO DO INVERNO 2015
“Nós, hoje, sempre”. O mote é subjetivo, mas convida à reflexão sobre o panorama da moda no Brasil e no mundo. E o Minas Trend se inspira nessa concepção para apresentar apostas de 288 expositores para o Inverno 2015. Essa expressiva semana de moda do país ocorreu entre os dias 7 e 10 de outubro no Expominas. O número de marcas no evento é um sopro de otimismo para o mercado fashion. Representa um crescimento de 44% em relação ao inverno passado, englobando os setores de vestuário, calçados, bolsas, acessórios e bijuterias. O balanço de negócios foi mais do que positivo. Houve um aumento na abertura de clientes e incremento nas exportações. E a 15ª edição do Minas Trend levou para as passarelas as principais tendências para a estação fria do próximo ano, elencadas pelo trabalho cuidadoso de estilistas que recorreram a variadas inspirações para construir suas coleções. Lucas Magalhães direcionou os holofotes para a cultura nordestina, defendendo sua valorização — nada mais atual e digno. Enquanto isso, Rogério Lima e Bárbara Maciel pousaram seus olhares sobre os habitantes invisíveis das cidades, homens e mulheres que moram nas ruas e sobrevivem à indiferença urbana. Resgatando a leveza, a Faven mergulhou nas memórias afetivas para encontrar um ponto terno para seu tricô. Conclamando o luxo e provando que é possível vestir joias, a marca Fabiana Milazzo fez suas peças brilharem, literalmente, no caminhar cheio de cadência das modelos. A 15ª edição do Minas Trend contou, assim, com produções de encher os olhos para todos os gostos: do casual chic à moda-festa. Essa característica de Minas Gerais também passou pelo jeanswear e pelos acessórios, que mais parecem elevados ao posto de protagonistas. Imbuída pela diversidade, a Vox Objetiva listou 15 tendências para ficar de olho no Inverno 2015 e usar sem medo. Confira! 54 | www.voxobjetiva.com.br
Rua Brumadinho 270 Prado - Belo Horizonte/MG 3040-8283
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A temporada sugere uma nova maneira de trabalhar proporções. O casaco oversized surge em versões mais despojadas, mas mantém a elegância. O modelo deixa de lado silhueta excessivamente marcada e celebra a graciosidade das peças afastadas do corpo. A Faven proporcionou inspiração máxima com os maxicasacos de listras, prints orgânicos e mix de estampas.
MAXICASACO
Associado às temporadas frias, o veludo mais uma vez marca presença na estação Inverno 2015. O tecido chega, porém, como um elemento de criação de texturas e contrastes, acompanhado de outros materiais. A Arte Sacra apostou em um conjunto feito com essa matéria-prima, composto por blusa-box e saia-tulipa com pregas. “O bordado com vidrilhos e paetês vermelhos no veludo preto compõem uma interessante texturização. Exploramos o aspecto croco para fazer referência à veia animal, mais selvagem, que está em alta”, conta Marcela Malloy, diretora de estilo da grife.
VELUDO
TEXTURIZADO
MIDI MÍDI
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Se ele causou certa estranheza quando chegou como o grande queridinho, agora é quase unanimidade. O comprimento mídi foi destaque nos desfiles e em estandes do Salão de Negócios. E as marcas souberam como aproveitar a proposta e sair do lugar-comum. A aposta foi em shapes justos, fluidos ou até mesmo em volumes e babados localizados na barra. O estilista Lucas Magalhães mostrou-se entusiasta do estilo.
TOM SOBRE
O color block reinou por muito tempo, mas agora prevalecem as misturas entre peças que são da mesma família de cores, porém, de tons diferentes. Vale apostar no mix de verdes, azuis ou de diferentes gradações de rosa, como convida a estreante Raquel Mattar. Na passarela, o romantismo está presente na união entre dois tons rosados bem suaves.
TOM
JEANS DESTROYED
O jeans cai bem em toda situação ou estação. Nesta temporada fria, no entanto, a graça é fugir das lavagens simples e de modelos certinhos, apostando no efeito destroyed. Mas é destroyed mesmo, com regiões desgastadas e grandes rasgos irregulares. “Por ser um tecido tão forte, o jeans foi feito para ser rasgado e para experimentações. Dá um ar bem jovem para a produção e mostra que aquela pessoa está ativa”, argumenta Pedro Rabelo, diretor da Civil Jeans.
ALL BLACK O preto está sempre presente nas composições invernais. Uma produção completa na cor garante uma boa dose de elegância atemporal. Isso é fato. Pela primeira vez no MW, a grife Herchcovitch; Alexandre mostrou a mistura de tecidos e seus acabamentos como recurso para tirar o look all black do óbvio.
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NOVO METALIZADO
Dourado, prata e bronze são os metalizados óbvios. Mas o acabamento aliado a cores inusitadas confere um efeito instantâneo de modernidade. E o efeito fica melhor ainda quando a tendência aparece em peças com recortes e transparências, em um poderoso jogo de mostra e esconde. Essa foi a aposta feita pela estilista Bárbara Maciel na passarela da B. Bouclé, dividida com o designer de bolsas Rogério Lima.
GOLA A grife Plural se inspirou nos picos nevados para desenvolver suas peças. E a marca fez justiça ao incluir uma bela gola-ostentação na produção invernal. Além de ser bem usável no cotidiano, a portentosa gola vai proteger todo mundo do frio e do vento. Ponto para o conforto.
APARECIDA
A peça sempre foi usada para proteger o corpo nos dias frios, mas nunca ganhou muito apelo fashion. O poncho aparece revisitado no Inverno 2015. A estilista Bhárbara Renault é prova disso. Ela está à frente da grife Jardin e buscou inspiração nos grandes centros urbanos para construir sua coleção. “O poncho é uma peça tradicional. O que tem de moderno nessa versão é que eu busquei deixar o shape mais geométrico, com acabamento de matelassê em couro. Isso deu outra cara”, diz. Destaque para a escolha do p&b.
PONCHO
REVISITADO
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A dobradinha de peças segue de pé, e os conjuntos marcam presença nas coleções. Aqui a ideia é ir na contramão da silhueta ladylike e apostar na cintura mais solta, conquistada por cortes retos. As estampas são um charme à parte, conferindo unicidade ao look, como o apresentado pela Alessa na passarela.
CONJUNTINHO
HI-LO
Contrastar luxo e despojo: essa é a grande aposta da temporada. E a grife Mabel Magalhães, reconhecida nacionalmente pela sua rica moda-festa, acertou em cheio ao investir numa mescla muito aplicável à moda cotidiana. Destaque para os moletons bordados e a graciosidade do capuz.
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RECORTES
Nome conhecido da moda-festa mineira, a Vivaz mergulhou na atmosfera dos anos 70 e no poder de mulheres icônicas, como Bianca Jagger e Jane Birkin. Assim prenunciou o que mais vai fazer sucesso nos grandes eventos, fugindo do bordado em excesso herdado do estado. Os modelos vaporosos, com recortes estrategicamente localizados, destacam o colo, os braços, as pernas e as costas — às vezes, tudo ao mesmo tempo. Mas é preciso ter bom senso, é claro!
Fabiana Milazzo apostou na transparência em grande parte de sua coleção, alternando tons claros, escuros e o contraste entre eles. Mas o destaque máximo fica por conta do forro cor da pele, que simula a nudez, complementado por ricos bordados na segunda camada.
TRANSPARÊNCIA 60 | www.voxobjetiva.com.br
OMBROS EM VOGA
Marcar os ombros é uma das principais pedidas da temporada. Patrícia Motta, com seu inconfundível trabalho desenvolvido em couro, investiu no destaque da região de forma impactante, com mangas estruturadas para um visual exagerado, mas delicado, simultaneamente. Para complementar, camisaria é uma boa opção.
Uma eficaz maneira de dar vida à produção de inverno é apostar em cores fortes. Combater um dia cinzento com pink, vermelho, esmeralda ou fúcsia vai surpreender. Para ousar ainda mais, que tal investir no amarelo? A cor tem o aval de ninguém menos do que Alexandre Herchcovitch.
CORES FORTES CORES FORTES | 61
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PAGUE SUA DÍVIDA COM DESCONTO E AJUDE A PREFEITURA A FAZER MUITO MAIS POR VOCÊ E PELA CIDADE.
A Prefeitura de Belo Horizonte está lançando um programa para você que tem débitos com o município vencidos até 31 de dezembro de 2013. Esta é a sua chance de regularizar suas dívidas com até 90% de desconto nas multas e juros. A Prefeitura está fazendo muito pela cidade. E, com a sua contribuição, BH pode se tornar um lugar cada vez melhor para nossos moradores e para os turistas que nos visitam.
Não para de trabalhar por você.
NOVO MIRANTE DO MANGABEIRAS
PAMPULHA – CANDIDATA A PATRIMÔNIO CULTURAL DA HUMANIDADE
CIDADE ONDE A CULTURA GANHA VIDA
Depois de ser reformado, o Mirante do Mangabeiras, que já tinha a mais bela vista da cidade, do Parque das Mangabeiras e da Serra do Curral, agora tem a melhor estrutura.
A orla da Pampulha está com nova iluminação, nova ciclovia, nova pista de caminhada e o trabalho de limpeza e despoluição da lagoa continua.
BH está vivendo o seu melhor momento cultural. A 2ª edição da Virada Cultural, um circuito com 24 horas de programação, atraiu um público de 400 mil pessoas.
MAIS PARQUES E PRAÇAS
NOVOS ESPAÇOS CULTURAIS
ZOO DE BH
Nossa cidade possui 60 parques municipais abertos ao público. O Parque das Mangabeiras foi classificado em recente enquete como um dos 10 melhores parques do Brasil.
A Prefeitura acaba de restaurar 3 importantes espaços culturais da cidade. Os Teatros Francisco Nunes e Marília estão novamente recebendo espetáculos. A Casa Kubitschek foi inaugurada com o conceito casa-museu.
Entre os 3 mil animais espalhados pela imensa área verde, estão os primeiros filhotes de gorila nascidos na América do Sul. O zoo da cidade está entre os mais completos da América Latina.
Não perca o prazo. Acesse o site e veja as condições de pagamento:
www.pbh.gov.br/emdiacomacidade
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