Maio/15 • Edição 70 • Ano VII • Distribuição gratuita
SER MÃE Os reflexos da maternidade no corpo e na alma
A relação entre as campanhas milionárias e os recentes escândalos de corrupção no Brasil
LADOS OPOSTOS - POPULAÇÃO E ESPECIALISTAS DIVERGEM SOBRE REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL
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EDITORIAL Reforma ainda que tardia Esta edição de Vox Objetiva dedica atenção especial a um assunto distante da grande maioria dos brasileiros, mas que influencia a vida de pobres e ricos, independentemente se gostam ou não de política. Redefinir as regras para o financiamento das campanhas eleitorais se tornou necessidade urgente para garantir uma renovação nos quadros da representação, no Legislativo.
Carlos Viana Editor Executivo carlos.viana@voxobjetiva.com.br
“... O povo que conhece o seu Deus se tornará forte e ativo.” (Daniel 11:32)
Salta aos olhos o desequilíbrio claro entre os ganhos mensais dos ilustres deputados e senadores, quando comparados aos valores gastos para alcançar o sucesso nas urnas. A reportagem de Bianca Nazaré revela que o custo per capita (ou por eleitor) do voto saltou R$ 1,30, em 2002, para impressionantes R$ 20,62 no sufrágio de 2012. Vencer uma eleição no Brasil se tornou um tipo de corrida milionária em que a representação popular diminuiu na mesma proporção que se aumentaram os gastos em campanhas. Vence quem arrecada mais. Ainda que as comparações e os dados mostrem a distorção em nosso sistema eleitoral, não será tarefa simples convencer os políticos mais influentes a tornarem as eleições mais horizontais e participativas. Quem cumpre mandato eletivo no Brasil sabe da rejeição à classe política e da dificuldade crescente para convencer o eleitor por meio de um discurso que, na maioria das vezes, não será cumprido e fatalmente será esquecido por quem ouviu e votou. Outra consequência importante do financiamento por empresas a políticos está nas tendências de votos, nas bancadas que reúnem representantes por posicionamentos semelhantes. O maior e melhor exemplo entre esses grupos está ligado diretamente ao principal exportador e gerador de conflitos no campo: o agronegócio. A busca por representatividade é natural diante da importância desse e de outros setores na economia. A questão é evitar um desequilíbrio na tomada de decisões e permitir projetos que tornem a vida política mais transparente e próxima da população.
A Vox Objetiva é uma publicação mensal da Vox Domini Editora Ltda. Rua Tupis, 204, sala 218, Centro, Belo Horizonte - MG CEP: 30190-060
Por outro lado, é prematuro dizer que devemos abolir definitivamente o financiamento de pessoas jurídicas em campanhas eleitorais. Precisamos de uma discussão ampla e definidora de novas regras, novas responsabilidades penais e de novos critérios para eleger os que disputarão a escolha dos eleitores. Só não é prematuro dizer que a política precisa reencontrar o povo nas ruas, ouvir mais o clamor da população, entender os anseios e oferecer regras mais claras para resgatar a credibilidade e a independência entre os Poderes da nossa República.
Editor adjunto: André Martins l Diagramação e arte: Felipe Pereira | Capa: Felipe Pereira l Reportagem: André Martins, Bianca Nazaré, Gisele Almeida, Haydêe Sant’Ana, Tati Barros, Thalvanes Guimarães, Leo Pinheiro | Correspondentes: Ilana Rehavia - Reino Unido | Diretoria Comercial: Solange Viana | Anúncios: comercial@voxobjetiva.com.br / (31) 2514-0990 | Atendimento: jornalismo@voxobjetiva.com.br (31) 2514-0990 | Revisão: Versão Final Tiragem: 30 mil exemplares | voxobjetiva.com.br
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OLHAR BH
Centro de Cultura de Belo Horizonte Foto: Felipe Pereira |5
SUMÁRIO 8
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Divulgação/ OAB MG
Reprodução
VERBO
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LUÍS CLÁUDIO DA SILVA CHAGAS Presidente da OAB-MG comenta Plano de Combate à Corrupção promovido pela entidade
SALUTARIS
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CAPA
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UMA MÃO LAVA A OUTRA A relação entre o financiamento empresarial de campanhas, a corrupção e a falta de representatividade política do brasileiro
Redução da maioridade penal agrada à maior parte da população, mas é rechaçada por especialistas
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Resultado de pesquisa indica benefícios da amamentação para a vida adulta, mas não é consenso entre especialistas
HORIZONTES
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METROPOLIS JUVENTUDE TRANSVIADA
AMAMENTAÇÃO, QI E RENDA
“DE MALA E CUIA” A cidade sueca que vai se deslocar três quilômetros para não ser engolida por uma mina
PODIUM
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CHAMPIONS LEAGUE Por que o maior torneio interclubes da Europa conquistou os brasileiros?
Reprodução
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José Paulo Lacerda
Vinnicius Silva
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Ben Sutherland
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Daniel Peinado
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Colcci
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Cidade Olimpica/Divulgação
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ARTERIS
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EM GRANDE ESTILO
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PSICOLOGIA • Maria Angélica Falci
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METEOROLOGIA • Ruibran dos Reis
O furacão Gisele se despede das passarelas
KULTUR
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O CORPO FALA Fotógrafas brasileiras registram marcas e histórias produzidas pela maternidade
PARA GUARDAR NA MEMÓRIA “Alladin, The Musical” surpreende com show de cores e produção impecável
ARTIGOS
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IMOBILIÁRIO • Kênio Pereira Normas da ABNT e reformas no condomínio
JUSTIÇA • Robson Sávio Contra a violência policial, use o seu smartphone Olhe para mim
O tornado de Xanxerê
CRÔNICA • Joanita Gontijo Ressaca Moral
SAPORIS
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RECEITA – Chef Adenilson Fiúza
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VINHOS – Nelton Fagundes
Chorizo com pappardelle A polêmica sobre a decantação dos vinhos
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Divulgação / OAB-MG
VERBO
VERBO
Cortando o mal pela raiz OAB apresenta propostas de combate à corrupção ao Planalto e se firma como porta-voz de um dos maiores anseios da sociedade civil: a moralização na esfera pública André Martins
e
m menor ou maior grau, a corrupção é um mal que assola todos os países. O que diferencia as nações é a forma como esse problema, muitas vezes entremeado entre o próprio povo, é combatido ou controlado. Por aqui, a corrupção data da época do descobrimento do Brasil por parte dos portugueses e está registrada na primeira carta de Pero Vaz de Caminha ao Rei de Portugal, D. Manuel I. No documento, o escritor, acompanhante da esquadra portuguesa, dava as boas novas ao rei e intercedia em favor do cunhado, pedindo-lhe um emprego. De uma “simples” troca de favores até a burocratização da corrupção, passaram-se mais de 500 anos. Hoje há uma miríade de atos desviantes caracterizados como corrupção. Mais relacionados à esfera política, esses comportamentos e práticas têm sido intensamente apontados pelos brasileiros como o principal mal a ser expurgado para que o país consiga se reinventar e evoluir. Em março, a Ordem dos Advogados do Brasil, atento ao clamor popular, lançou o Plano de Combate à Corrupção, um documento que aponta as práticas a serem combatidas pelo poder público visando a moralização na esfera pública. O documento foi entregue à presidente Dilma Rousseff que, na
mesma semana, lançou um pacote anticorrupção. Em entrevista à Vox Objetiva, o presidente da OAB-MG, Luís Cláudio Chaves, comenta a iniciativa e revela os principais desafios envolvidos nessa empreitada. Para ele, acabar com o “caixa 2” e o financiamento empresarial de campanhas eleitorais são de suma importância. O Plano de Combate à Corrupção da OAB apresenta 14 sugestões. Como esses pontos foram elaborados e a partir de que momento foi iniciado o processo de discussão sobre eles? Como voz constitucional do cidadão, a OAB/MG está engajada no combate à corrupção e no movimento pela reforma política. Dentre os objetivos do movimento estão o fim do “caixa 2” e do financiamento de campanhas eleitorais por empresas. Ressalto que a OAB sempre esteve comprometida com as causas democráticas. Ao longo de sua história, a instituição se pautou pelo combate à corrupção, buscando medidas para evitar a apropriação de recursos públicos por particulares. Sensível ao momento de crise político-institucional em que o país se encontra, a OAB lançou o Plano de Combate à Corrupção durante o Colégio de Presidentes ocorrido em março passado.
A OAB Minas está propondo o envolvimento da sociedade nesse processo. A entidade chama a atenção para a corrupção que está incorporada ao dia a dia do brasileiro e que, por esta razão, nem é vista com estranhamento. O combate na esfera pública vai ser inócuo se esse processo não incluir o combate a esses pequenos desvios praticados cotidianamente pelas pessoas? Acredito que a sociedade seja o reflexo de seus governantes. Por esse motivo, as pessoas públicas devem se comportar para dar exemplo aos cidadãos. De nada adianta voltarmos os olhos apenas para os desvios que ocorrem na seara pública e não nos pautar por uma maneira proba. Os cidadãos também têm o dever de não praticar atos de corrupção. A princípio, essas condutas podem parecer pequenas como a sonegação fiscal. Quando somadas, elas importam na perda de bilhões de reais em arrecadação para o fisco, valor que poderia ser investido em escolas, hospitais e na melhoria das condições de vida da população. É consenso entre analistas políticos e juristas que o enfrentamento à corrupção na política passa, necessariamente, pelo fim do financiamento empresarial de campanhas e partidos. Qual o real peso e o impacto disso para |9
VERBO esse processo de combate à corrupção e para o processo eleitoral brasileiro? O combate ao financiamento empresarial de campanhas eleitorais é um dos pontos cruciais da Campanha de Combate à Corrupção. A finalidade é evitar que as referidas contribuições deem ensejo à troca de favores e a influências indevidas por parte das empresas na gestão do cargo político cuja candidatura financiaram. Entendemos que o atual sistema, ao possibilitar tais práticas, importa em violação ao princípio da isonomia. Um homem, um voto. Pensando nisso, a OAB ajuizou a Ação Direta de Inconstitucionalidade Nº4650 que, lamentavelmente, ainda não foi julgada. O Brasil tem um sistema judiciário marcado pela morosidade. Isso atrapalha o processo de enfrentamento à corrupção? Sim. Para que o combate à corrupção seja eficaz, é necessária uma reforma no sistema judiciário brasileiro, com o aumento de juízes e da dotação orçamentária. Ressalto que a sensação de impunidade muitas vezes decorre da deficiência verificada nos órgãos do Poder Judiciário. A situação leva à ocorrência de causas extintivas da punibilidade, como a prescrição e a decadência. Como você avalia a forma como tem sido promovido o combate à corrupção ao longo desses 27 anos de democracia pós-regime de exceção? Durante o regime de exceção, vivemos um ambiente de privação não só do acesso à informação, mas da liberdade de expressão, em que estava comprometido o livre funcionamento de todas as esferas de poder. O processo de redemocratização do país é resultado da postura ativa da 10 | www.voxobjetiva.com.br
De nada adianta voltarmos os olhos apenas aos desvios que ocorrem na seara pública e não nos pautar por uma maneira proba. Os cidadãos também têm o dever de não praticar atos de corrupção
Divulgação / OAB-MG
Luís Cláudio Chaves, presidente da OAB-MG
população, que se uniu e foi às ruas protestar contra o regime ditatorial que proibia o exercício de direitos e garantias fundamentais. A par desse movimento, a OAB ocupou uma posição relevante na reconstrução da democracia. Amparados pelo Estado Democrático de Direito, podemos nos posicionar e arquitetar medidas perante as instituições competentes para alterar a configuração do cenário jurídico-político, que propicia as condutas corruptas, e possibilitar a responsabilização pessoal dos dirigentes. Segundo o Datafolha, o governo Dilma é o campeão no combate à corrupção, desde o governo Collor de Mello. É um
diagnóstico de impressões populares. Curiosamente esse é o governo que tem sido mais cobrado nesse sentido, devido aos escândalos que envolvem o PT. Como o senhor interpreta o fato de que há reconhecimento de um trabalho, mas há também crítica ao governo que promove esse trabalho? O enfrentamento da questão é relevante, uma vez que ameniza os problemas da corrupção decorrentes. Contudo, para que a preocupação não caia no esquecimento e a sujeira não seja “varrida para debaixo do tapete”, o movimento deve ser contínuo e constante. A presidente Dilma anunciou um pacote anticorrupção em
VERBO em todo o Brasil e contarmos com o apoio da mídia, certamente o Congresso Nacional ficará sensibilizado com o clamor das ruas, como já aconteceu na recente vitória da Ficha Limpa, em que Minas Gerais foi recordista de signatários. As medidas anunciadas por Dilma tornam possível o controle da corrupção por mecanismos autônomos, sem que seja necessária a pressão das ruas? Acreditamos que a simples proibição do financiamento de campanhas eleitorais por empresas já venha a ser uma medida importante para combater a corrupção, mas nenhuma lei é capaz, por si só, de alterar substancialmente o comportamento da sociedade em curto prazo.
março, pouco depois de dirigentes da OAB se reunirem com a presidente e exporem o plano. O pacote da Dilma contempla tudo aquilo que a Ordem acredita ser necessário? Entendemos que um combate efetivo à corrupção passa por uma reforma política, uma vez que o brasileiro tem o direito fundamental a um sistema político verdadeiramente democrático. Defendemos, assim, a criminalização do “caixa 2”, a regulamentação e a aplicação da Lei Anticorrupção (Lei 12.846/13) e da Lei da Ficha Limpa (LC 135/10). Conforme já ressaltado, somos favoráveis ao fim do financiamento de campanha eleitoral por empresas, ao sistema eleitoral proporcional e
à lista aberta de candidatos, à maior representação das mulheres e à regulamentação dos mecanismos de democracia direta. Além disso, devemos cobrar compromisso moral de expurgar dos partidos os políticos corruptos e do Governo aqueles que não têm ética. É o que acontece lá fora. Como você acredita que o Congresso vá reagir a esse pacote? Há muitos congressistas que estão sob investigação na operação Lava Jato. Você acredita que possamos ter essa importante pauta emperrada na Câmara dos Deputados? Acredito nas leis de iniciativa popular. Se conseguirmos assinaturas em número suficiente
No Brasil, é muito comum, no calor do momento, pautas serem discutidas e terem a importância reconhecida. Infelizmente, “baixada a poeira”, nada ou muito pouco acontece. O senhor acredita que estejamos superando isso? Acha que estamos caminhando no sentido de termos uma sociedade proativa, que cobra e não esquece dos seus direitos e das pautas pelas quais ela tem lutado? Acredito firmemente que a população brasileira esteja passando por um período de transformação, que compreende a sua maior participação no processo político. Podemos observar pelos noticiários que os brasileiros não mais se contentam em ser meros espectadores e exigem daqueles que elegeram não só a adoção de um comportamento probo como também decisões que efetivamente representem seus interesses. Fazemos votos de que os governantes abram os olhos para isso. | 11
CAPA
Retorno financeiro e a ruína da representatividade política O financiamento de campanhas eleitorais por empresas se tornou um desafio para o exercício da democracia participativa no Brasil Bianca Nazaré Luis Macedo / Câmara dos Deputados
a
Polícia Federal (PF) estima que 50% de suas operações contra a corrupção estejam relacionadas com o financiamento de campanhas eleitorais. Em declaração ao jornal O Globo, o diretor de Combate ao Crime Organizado da PF, Oslain Santana, revelou que todos os partidos são investigados. Não é em vão que pesquisadores se dedicam a variados estudos para de12 | www.voxobjetiva.com.br
monstrar o papel do dinheiro privado nas eleições e na governabilidade. Representantes de diversos órgãos da sociedade civil também questionam a legalidade das doações oriundas de empresas. Esse é um dos itens da Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) 4.650 proposta pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). A Adin 4.650 é avaliada pelo minis-
tro Gilmar Mendes. Há um ano, ele fez um pedido de vistas, e o processo está parado na Alta Corte brasileira. A votação sobre a inconstitucionalidade do financiamento privado de campanha tinha recebido seis votos favoráveis e um contra, dos 11 ministros do Supremo Tribunal Federal. A Adin tem o objetivo de tornar inconstitucionais os dispositivos da legislação eleitoral que permitem do-
CAPA ações de pessoas naturais baseadas no percentual de rendimentos e autodoações sem limites. A ação inclui o pedido de proibição de doações de pessoas jurídicas. O modelo de financiamento de campanha é misto, sendo possível a destinação de recursos públicos e privados aos candidatos. O financiamento público corresponde aos recursos do Fundo Partidário e ao direito de antena, que é a compensação fiscal da receita publicitária de emissoras de rádio e TV pela veiculação da propaganda partidária gratuita. O financiamento privado é permitido a pessoas físicas e jurídicas, respeitando-se os limites estabelecidos por lei. Pessoas naturais podem doar até 10% de sua remuneração bruta do ano anterior, enquanto as jurídicas, até 2% do faturamento do ano antecedente. Esses recursos são chamados de Caixa Um. Segundo o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (DIAP), calcula-se que 80% do financiamento de campanhas ocorra por meio do “Caixa Dois”, que são as doações não contabilizadas na prestação de contas dos candidatos. O teto de até 2% do rendimento para o financiamento proveniente de empresas vem sendo questionado por permitir que empresas tenham maior influência nas eleições e após o pleito. Pesquisadores também afirmam haver relação direta entre o valor das campanhas eleitorais e a vitória de candidatos: quanto mais arrecada, maior a chance de ser eleito. Essa lógica torna a eleição desigual para candidatos que não têm recursos ou não conseguem angariar fundos que cheguem à média dos recursos de outros concorrentes. O argumento da Adin 4.650 é a manutenção de um sistema eleitoral igualitário e democrático, por meio do estabelecimento de limites de doações para pessoas físicas e da proibição de recursos de empresas no processo. “As empresas não têm direito a voto e não de-
vem exercer influência nas eleições”, argumenta o Promotor de Justiça e Coordenador Eleitoral do Ministério Público de Minas Gerais, Edson Resende. A influência citada pelo promotor estaria relacionada com financiamentos vultosos cedidos por pequena parcela de companhias. Dados disponibilizados pelo site Excelências demonstram que, nas eleições para a presidência da República, em 2010,
[...] o financiamento empresarial é o principal elo da corrupção das empresas e da classe política ... Luciano Santos, cofundador do MCCE
foram arrecadados recursos acima de R$ 1 mil de 543 instituições apenas para a candidata vencedora, atingindo R$ 428,3 milhões. Desse total, apenas 37 empresas destinaram R$ 275,7 milhões à campanha. Essas empresas representam 6,8% das financiadoras responsáveis por 64,4% do total doado à campanha da então candidata Dilma Rousseff.
lucro. “Sabe-se que o doador de grandes quantias cobra do eleito uma postura, na administração ou no parlamento, conforme seus interesses e, às vezes, em detrimento do bem comum. Se no lugar do financiamento concentrado (pelas empresas) houver um financiamento difuso (do cidadão) e público (tempo de Rádio-TV e dinheiro), o eleito terá condições de exercer um mandato independente”, defende o promotor. Estudo realizado pelo DIAP demonstra como o investimento privado nas eleições influencia a representação da sociedade no Congresso: dos 594 parlamentares (513 deputados e 81 senadores) eleitos em 2010, 273 eram empresários (45% dos eleitos). SISTEMA ELEITORAL CADA VEZ MAIS CARO Em 2002, as doações somaram R$ 678,4 milhões. Em 2012, os recursos de campanha saltaram para R$ 3,9 bilhões. Essa é uma evolução do custo do voto (per capita) de R$ 1,30 (2002) para R$ 20,62 (2012). Os números são disponibilizados pela organização “Às Claras”, que faz pesquisas sobre financiamento de campanha eleitoral em parceria com a ONG Transparência Brasil. Entre os maiores doadores, aparecem bancos e empreiteiras. As maiores doadoras financiam candidatos de partidos de diferentes ideologias, conforme estudo de Cláudio Weber Abramo, publicado no site Excelências. “A variedade dos partidos financiados - mais de dez em vários casos - atesta que, no julgamento das empresas doadoras, a filiação partidária dos candidatos é irrelevante”, atesta Abramo. PROPOSTAS DE MUDANÇA FINANCIAMENTO DEMOCRÁTICO
Os defensores do fim do financiamento privado acreditam que as empresas visualizem as doações como um “investimento” que precisa gerar
Há diversas propostas para a mudança do sistema de financiamento de campanhas. Uma delas é o finan| 13
CAPA
Eleições limpas
Fonte: Centro de Estudos Legislativos do Departamento de Ciência Política da UFMG
Foram entrevistados 122 deputados de 20 partidos com representação na Câmara. A pergunta feita foi a seguinte: no que se refere ao financiamento das campanhas eleitorais, o(a) Sr(a) considera que, para assegurar um processo eleitoral democrático, é necessário:
ciamento público exclusivo por meio do Fundo Partidário. Nas eleições de 2010, o financiamento utilizando os recursos do fundo correspondia a 20,9% do total de doações. Em 2012, a participação do dinheiro público foi de 22,6%. Enquanto isso, o dinheiro das empresas correspondeu a uma fatia de 70%, em 2010, e 60%, em 2012. A proposta de entidades que propõe o banimento de recursos privados em campanhas eleitorais é promover o que eles chamam de “financiamento democrático”. Percebe-se que a participação de pessoas naturais no financiamento de campanha, com recursos menores que R$ 100, corresponde a menos de 0,5% das doações. O cofundador do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE) e especialista em Direito Eleitoral, Luciano Santos, concorda com 14 | www.voxobjetiva.com.br
o Conselho Federal da OAB sobre a inconstitucionalidade do financiamento privado de campanhas. “Precisamos de mais participação dos cidadãos para que se cumpra o que está estabelecido no Artigo 1º, Parágrafo Único, da Constituição Federal: Todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente nos termos desta constituição”, cita Santos. A proposta de ampliação da participação da sociedade nas eleições é o mote do projeto da Coalizão pela Reforma Política Democrática e Eleições Limpas, da qual faz parte o MCCE e a OAB, além de cem entidades. Sobre o financiamento de campanha, o projeto propõe o Financiamento Democrático, com recursos da União e de doações de pessoas físicas, respeitando o limite de R$ 700 por cidadão. Resende entende que limitar o valor
das doações de pessoa física evitaria o desequilíbrio provocado pelos recursos dos mais ricos. “Além dessas doações, haveria um incremento do financiamento público, deslocando-se recursos da rubrica ‘publicidade institucional’ (que só em 2012 movimentou cerca de R$ 3,5 bilhões do Governo Federal) para as campanhas eleitorais. Com isso, teríamos ambiente para desvincular os mandatários do poder econômico e, ao mesmo tempo, não teríamos prejuízo de investimentos em áreas essenciais, como saúde, educação, segurança, obras, programas sociais, etc.”, conclui Resende. O financiamento público e de pessoas físicas (com limite) poderia intimidar os corruptos, acredita Santos. “Consideramos que o financiamento empresarial é o principal elo da corrupção das empresas e da classe política, como confirmam os escândalos mais recentes em que todos estão re-
CAPA lacionados com o financiamento empresarial”. O cofundador do MCCE acredita que as leis atuais e os processos de fiscalização de contas dos nossos dias possam ser suficientes para punir empresas que não respeitarem a legislação, se for comparado com o período Collor. O ex-presidente sofreu impeachment quando ficou constatado que sua campanha tinha sido financiada com recursos de instituições privadas. No período, as doações de empresas eram proibidas pela legislação eleitoral. “Não existiam leis [em 1992, ano do impeachment de Collor] que pudessem punir as empresas como temos hoje. A fiscalização era muito precária na Justiça Eleitoral. Basta dizer que a aprovação das contas de campanha era feita por um comitê intrapartidário, ou seja, os próprios partidos aprovavam as contas. A partir daí, a Justiça Eleitoral passou a fazer judicialmente a fiscalização e o julgamento das contas. O projeto de Reforma Política Democrática também prevê punições mais severas para práticas ilegais”, comenta Santos.
O projeto também propõe a cassação da candidatura do concorrente ao pleito que receber contribuições ilegais. A empresa que fizer doações não pode participar de licitações públicas durante um período de cinco anos e recebe multa de dez vezes o valor doado. A coalização também propõe a realização de eleições proporcionais em dois turnos; paridade de gênero na lista pré-ordenada; fortalecimento dos mecanismos da democracia direta com a participação da sociedade em decisões nacionais importantes. O projeto de iniciativa popular pela Reforma Política Democrática e Eleições Limpas está em fase de coleta de assinaturas. De acordo com o MCCE, 550 mil pessoas aderiram ao projeto. Conforme a Constituição Federal, para que um projeto de iniciativa popular siga para a Câmara dos Deputados, é necessária a aprovação de, no mínimo, 1% do eleitorado, distribuído por, pelo menos, cinco estados com, no mínimo, 0,3% de assinaturas em cada um deles. É necessário, no total,
1,5 milhão de assinaturas para que o projeto siga para a apreciação dos deputados. O projeto está disponível no site reformapoliticademocratica. org.br FINANCIAMENTO MISTO Outros especialistas defendem a manutenção do financiamento misto de campanhas por meio de recursos públicos e privados. Mesmo concordando que o dinheiro de empresas altera a representatividade política, a coordenadora do Grupo de Pesquisa, Opinião Pública, Marketing Político e Comportamento Eleitoral e professora do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais, Helcimara de Souza Telles, acredita que a melhor opção seja o sistema misto, com algumas ressalvas. Para a docente, seria mais adequado estabelecer limites para o volume de recursos financeiros de cada cargo em disputa. “O estado tem que financiar a política. Cabe a ele fazer isso, mas atores de sindicatos patronais ou
Fonte: Diap
Há cinco anos, a configuração da Câmara dos Deputados revelava que o setor empresarial era o que tinha o maior número de representantes na Casa. A bancada ruralista aparecia como a terceira maior em número de representantes
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CAPA de trabalhadores ou associações civis podem, sim, financiar os candidatos que correspondem aos seus interesses, desde que, para cada cargo, seja limitado o recurso não apenas das empresas, mas a soma dos recursos privados (pessoas físicas, jurídicas, sindicatos, etc.) e do governo até o limite X para cada cargo”, aponta. Sem a indicação de limites para cada cargo a ser disputado, Helcimara acredita que grupos menores da sociedade não tenham chances de eleger seu representante. “Nós temos hoje a bancada da bala, financiada pela indústria do armamento. Temos a bancada rural, etc. Isso distorce a vontade do eleitor que, sem recursos financeiros, tem chance reduzida de entrar no sistema político”, acrescenta.
acredita que haja meios constitucionais para a realização da Assembleia Constituinte Exclusiva. Ela defende que os membros da constituinte não tenham vínculos com partidos para que seja possível a criação de um sistema “que não seja perfeito, mas pelo menos não esteja contaminado por interesses individuais”, acredita. O diretor do Movimento Contra a Corrupção Eleitoral lembra que foi o sentimento de não ser representado pela classe política que levou o cidadão para as manifestações de rua, desde junho de 2013. “Quando o representante não cumpre a prerrogativa de representação do povo, o cidadão deve se mobilizar e usar os mecanismos que a constituição lhe permite”, sugere Santos.
Eles [os deputados] não vão reformar e não vão mudar o sistema que, até então, tem permitido que eles sejam eleitos Helcimara Telles, cientista política
REFORMA DO SISTEMA POLÍTICO A sociedade pode confiar que as mudanças propostas entrem realmente na pauta dos eleitos? A negativa é unanimidade entre os especialistas ouvidos. Mudar o sistema seria mexer no status quo dos políticos ou de grupos autointeressados, segundo Helcimara. “A reforma política não pode ser feita por meio de grupos autointeressados. Eles não vão reformar e não vão mudar o sistema que, até então, tem permitido que eles sejam eleitos”. A professora defende ser mais compatível a realização de uma Assembleia Constituinte Exclusiva para que a sociedade pense em uma Reforma Política. A Assembleia Constituinte Exclusiva é um mecanismo utilizado para a reforma da Constituição Federal. A presidente Dilma Rousseff tinha sugerido o uso desse mecanismo para tratar exclusivamente da reforma política, após as manifestações de junho de 2013, mas a proposta foi rechaçada pelo Congresso e criticada por juristas que alegaram ser inconstitucional da forma como a medida foi apresentada pela presidente. A cientista política Helcimara Telles 16 | www.voxobjetiva.com.br
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ARTIGO
Kênio Pereira Imobiliário
Normas da ABNT e reformas no condomínio A NBR 16.280 tem causado transtornos para condôminos e síndicos. A norma tem forçado atualizações das convenções de condomínios para a inserção das novasm normas. Várias obras estão sendo impedidas em edifícios residenciais e comerciais pelos síndicos sob a legação de que seria necessária a apresentação de um plano de reforma elaborado por um engenheiro ou arquiteto. Configura abuso de direito exigir esse plano de reforma de maneira generalizada para impedir pequenas obras que visam a manutenção e conservação do imóvel. Incluem-se aí instalações de equipamentos, reparos, troca de revestimentos, pintura e outros procedimentos que não implicam risco para os vizinhos. Por falta de conhecimento, há síndicos afrontando o direito do proprietário de zelar pelo próprio imóvel diante de uma interpretação errônea da norma da NBR, que visa orientar os procedimentos para que as reformas nos edifícios sejam realizadas com segurança.
O síndico tem o direito de exigir informações a respeito das obras que serão realizadas na unidade, e o morador tem o dever de manter o condomínio informado. A norma respalda o condomínio para garantir sua segurança, inclusive num processo judicial. No entanto, a norma não pode ser interpretada com uma visão corporativista para gerar serviços para engenheiros e aumentar os custos para o proprietário. As dificuldades criadas por falta de conhecimento da lei por quem responde pelo condomínio podem gerar um conflito judicial, resultando em desgastes e elevados prejuízos. Esse problema pode ser evitado com a elaboração da convenção do condomínio. A convenção pode ser atualizada com dois terços dos condôminos. As orientações da NBR 16.280 e a responsabilidade pelo pagamento das despesas para cumprir os procedimentos devem ser inseridas no documento. Como normalmente o síndico não domina a matéria, é justo que ele seja assessorado por um engenheiro para evitar riscos. Cabe à convenção estipular quem vai pagar esses custos para avaliar o Plano de Reformas e se realmente há algum risco.
Por falta de conhecimento, há síndicos afrontando o direito do proprietário de zelar pelo próprio imóvel...
Os prédios envelhecem e, por isso, precisam de reformas de modernização para que não deteriorem e se valorizem. Assim somente as obras relevantes devem ser acompanhadas por engenheiros para evitar danos. A norma não se aplica à manutenção do imóvel. Caso o síndico crie obstáculos para realização de reparos simples, tanto ele quanto o condomínio podem ser responsabilizados pelo prejuízo causado ao proprietário.
Kênio Pereira Presidente da Comissão de Direito Imobiliário da OAB-MG keniopereira@caixaimobiliaria.com.br | 17
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METROPOLIS
vilões ou vítimas? Reduzir a maioridade penal, alterar o ECA ou cobrar postura do Estado? População e especialistas estão em lados diferentes
André Martins Reprodução
C
om uma ingenuidade comovente, a mãe pobre conta a proeza de criar um filho em meio ao nada. Sem se dar conta, ela revela os crimes cometidos pelo adolescente na tentativa de vencer a miséria. Um dia, o jovem ladrão é pego e morto. Composta há quase 35 anos, “Meu guri”, de Chico Buarque de Hollanda, continua atual
e pertinente à realidade social do Brasil. A corrupção da juventude, a denúncia a um estado negligente e omisso, a exclusão,... está tudo lá, colocado de forma poética. Nos últimos meses, um tema polêmico voltou a ser debatido pela sociedade e o Legislativo Federal: como Estado e sociedade devem
lidar com adolescentes autores de atos infracionais? A redução da maioridade penal tem sido encarada como caminho para estancar feridas antigas, que nunca se fecharam: a segurança pública caótica e a escalada da criminalidade. A responsabilização de adolescentes como adultos é discutida há | 19
METROPOLIS Guilherme Bergamini / ALMG
componentes demonstra-se receptiva à alteração da Constituinte, analisa a medida. A presidente Dilma Rousseff se pronunciou em sua página pessoal no facebook. Segundo a mandatária, reduzir a idade penal seria um “retrocesso”. Sem poder de veto, Dilma aguarda o desenrolar da história de mãos atadas, acreditando, talvez, que o seu parecer possa ser considerado pela sociedade - a única capaz de pressionar uma Câmara tão convicta.
Eu não posso compactuar com esse discurso que engana a população, apontando a redução da maioridade penal como solução dos problemas Valéria Rodrigues, juíza 20 | www.voxobjetiva.com.br
pelo menos 20 anos no Congresso Nacional. Em 1993, o ex-deputado Benedito Domingos (PP-DF) apresentou a proposta de emenda constitucional (PEC) 171, que propunha a diminuição da maioridade penal de 18 para 16 anos. Ao longo de 22 anos, a PEC permaneceu arquivada. O texto não apresentava dados quantitativos nem pesquisas que fossem para além da sensação de insegurança e da percepção de um suposto aumento no número de ocorrências envolvendo jovens em conflito com a Lei.
A titular da Vara Infracional da Infância e Juventude de Belo Horizonte, a juíza Valéria da Silva Rodrigues, critica a forma como a condução do debate tem sido feita no âmbito político. “Eu não posso compactuar com esse discurso que engana a população, apontando a redução da maioridade penal como a solução dos problemas. As pessoas parecem não perceber que essa questão tem sido usada para fins eleitoreiros. Não há, por parte dos legisladores, uma proposta séria que objetive mudanças. Eles atuam sempre no calor da comoção, quando a sociedade se demonstra fragilizada e saturada de tanta criminalidade. Eles se aproveitam dessa insegurança para virem como salvadores da pátria com um modelo simples e barato, mas não se muda uma Constituição dessa forma”, opina. Para a magistrada, assim como aconteceu na década de 90, a pauta vai entrar novamente na gaveta para ser retirada no futuro.
Blindado pelo desejo da sociedade em relação ao recrudescimento das leis punitivas, o presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ) decidiu retomar a discussão na Casa. No dia 31 de março, a Comissão de Constituição e Justiça do Congresso Nacional analisou e aprovou a admissibilidade da PEC 171. Agora uma comissão especial, cuja maioria dos
O coordenador-geral do Movimento Nacional dos Direitos Humanos (MNDH), Rildo Marques de Oliveira, acredita que a medida não siga adiante essencialmente por dois motivos. Além de a redução ser, segundo ele, inconstitucional por se tratar de uma cláusula pétrea (cuja alteração pode se dar somente mediante a convocação de uma nova Constituinte), mudar
METROPOLIS os termos da maioridade penal no Brasil pode acarretar alterações de ordem cível e que envolvam adolescentes a partir de 16 anos. “Se a maioridade penal for reduzida, isso vai implicar outras mudanças que não têm sido colocadas. É possível que futuramente meninos de 16 anos possam viajar sem autorização dos pais, tirar passaporte, frequentar sexshops e motéis, consumir álcool. Enfim, é possível que eles possam fazer coisas que são permitidas apenas para os adultos. Os pais podem perder total controle sobre os filhos após 16 anos. Por essa razão, à medida que esse debate for acontecendo, a Câmara e a sociedade vão perceber que esse não é o melhor caminho”, entende. Para o presidente da Comissão de Assuntos Penitenciários da Ordem dos Advogados do Brasil/Seção Minas (OAB-MG), Anderson Marques, o entusiasmo popular com a medida surge a partir do descompasso entre o modelo de educação tradicional e a forma como crianças e adolescentes à margem dos
direitos e garantias previstos em Lei crescem no Brasil. “Eles querem que a criança que não teve nada tenha a mesma postura, a mesma consciência e os mesmos princípios que aquelas que tiveram tudo na vida”, entende. Apesar de polêmica tanto para juristas quanto para quem milita pelos direitos humanos, a mudança na Legislação conta com grande respaldo popular. Entre os dias 9 e 10 de abril, o Datafolha ouviu 2.834 pessoas em 171 municípios brasileiros sobre a redução da maioridade penal. O resultado apontou uma aprovação majoritária à proposta (87% favoráveis, 11% contrários, 1% dos entrevistados não souberam responder e 1% eram indiferentes). A pesquisa comprovou que esse não é um anseio novo. Na primeira tomada de opinião do instituto sobre o tema, em 2003, 84% das pessoas ouvidas se diziam favoráveis à redução, enquanto 12% eram contrários e 4% não tinham opinião formada ou eram indiferentes.
Argumentos contrários e favoráveis à medida vêm sendo explicitados extenuantemente. É consenso entre os defensores da medida, que se jovens de 16 anos têm o direito de escolher representantes políticos, eles devem ser responsabilizados apropriadamente pelos crimes que eventualmente venham a cometer. A redução serviria também para inibir o envolvimento de adolescentes com o mundo do crime. Por outro lado, os que rechaçam a medida entendem que, dada a situação precária do sistema prisional brasileiro, a redução da maioridade penal só contribuiria para acentuar o grau de periculosidade dos jovens que viessem a ingressar nos presídios. Segundo analistas, em áreas onde o poder público é ineficiente e a segurança vulnerável, o aliciamento de menores seria agravado com o recrutamento de meninos ainda mais jovens. Manifestantes repudiam a PEC 171 em reunião da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara
Marcelo Camargo / Agência Brasil
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METROPOLIS ECA Instituído no dia 13 de julho de 1990, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) representou um marco em relação às garantias dos menores de 18 anos no Brasil. Se o antigo Código de Crianças não individualizava crianças e adolescentes, o ECA veio para humanizar os menores, que passaram de meros objetos a indivíduos dotados de voz e desejos, seres que têm direitos, mas também deveres a cumprir. A juíza Valéria Rodrigues destaca e enaltece a importância do documento, mas defende alterações no texto do estatuto para adequá-lo ao perfil de juventude de hoje. Segundo ela, esse perfil é muito diferente do de 24 anos atrás, quando o estatuto foi redigido. “Eu acredito que quanto à Medida Socioeducativa de Internação, o tempo de cumprimento dessa medida tenha que ser diferenciado de acordo com a gravidade do crime praticado. Hoje esse tempo é genérico: ele se aplica a qualquer crime, independentemente se o adolescente roubou ou matou. Para os crimes graves, o tempo tem de ser maior”, defende a magistrada. Ela também ressalta que a não diferenciação de tempo de reclusão faz com que os adolescentes percam a referência da gravidade dos atos cometidos. Por ser uma lei comum, o ECA poderia ser atualizado sem a necessidade de alterar a Carta Magna brasileira. Seria o mesmo que acontece com o Código Penal, uma legislação de 1940, mas que passa por constantes alterações, tendo trechos incompatíveis com o contexto da sociedade excluídos, e novos crimes, como os cibernéticos, adicionados à Lei penal. RESPONSABILIDADES Não reduzir a maioridade penal, tampouco alterar o ECA: essa é a 22 | www.voxobjetiva.com.br
opinião de Marques. Para ele, o Estado deve assumir responsabilidades para que os resultados desejados apareçam. “O Estado elabora as leis, mas ele mesmo não cumpre essas leis. Ele apenas pune o adolescente e não o acompanha depois que a pena é cumprida. O Estado não vai à localidade que aquele menor vive, não fiscaliza se ele está tendo cultura, educação, lazer ou se ele está tendo uma perspectiva de vida. O Estado pune o menor, segrega-o da sociedade e depois quer que o adolescente volte melhor do que quando ingressou no sistema. Isso não existe”, acredita. A posição do representante da OAB coincide com o que defende Oliveira. Para o coordenador-geral do MNDH, a tentativa de reduzir a maioridade penal ou provocar alterações no ECA é um atestado da ineficiência das políticas e dos gestores públicos. “Eu acho que o ECA precisa é ser cumprido. Quem não dá resposta são os gestores e as políticas públicas. Se você pegar, por
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exemplo, os planos nacionais para a Primeira Infância, eles estão sendo cumpridos pelos estados, pelos municípios, pela União? Os recursos têm chegado e têm sido aplicados como previsto nos planos? As políticas de saúde, de assistência,... elas estão chegando? O ECA precisa ser refundado. Eu acho que ele não tem que ser revisto. As práticas dos gestores públicos é que têm de ser revistas”, aponta. Para Marques, o governo também precisa dar perspectivas aos adultos para que eles possam se reintegrar à sociedade. Segundo o advogado, é necessário parar de pensar o cárcere e a privação de liberdade de adolescentes unicamente como punições e passar a entendê-los como um tempo voltado para a reflexão do crime cometido. A mudança de postura requer investimento, a começar pela infraestrutura dos sucateados e supersaturados presídios brasileiros e pela reformulação das casas de acolhimento que atendem menores em conflito com a lei.
ARTIGO
Robson Sávio Justiça
Contra a violência policial, use o seu smartphone No final da tarde do dia 2 de abril, o garoto Eduardo Jesus Ferreira, de apenas 10 anos, foi morto com um tiro na cabeça. O menino estava sentado na escada da entrada de sua casa, na comunidade do Areal. A mãe, a doméstica Terezinha Maria de Jesus, de 40 anos, afirma que um policial militar foi o autor do disparo. Infelizmente a violência policial no Brasil tem atingido níveis absurdos. Segundo o Instituto “Sou da Paz”, em São Paulo, 707 pessoas foram mortas por intervenção policial em 2014, mais do que o dobro das do ano anterior. No Rio de Janeiro, o total de pessoas mortas chegou a 582, superando 2013. Na Bahia, uma única ação da polícia no mês de fevereiro causou 12 mortes e feriu seis pessoas. Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em cinco anos, os policiais brasileiros mataram 11.197 pessoas. Nos Estados Unidos, uma marca semelhante (11.090 pessoas mortas) só foi atingida em 30 anos.
timuladas a garantir a lei e a ordem a qualquer custo. Muitas vezes, na prática, isso significa fazer “aquilo que ninguém tem coragem de fazer”. Em vez do recurso à Justiça, nos moldes dos países democráticos, muitos policiais definem a fronteira cotidiana entre o legal e o ilegal. Paradoxalmente a opinião pública é cambiante, dependendo se o castigo e a punição estejam direcionados ao controle dos “bandidos”. Interessante é observar que, dessa maneira, a punição tem como alvo pessoas e grupos; e não os atos infracionais. Há muito tempo defendo que a tecnologia e as redes sociais podem se tornar eficientes mecanismos de controle externo das polícias brasileiras. Afinal, não existe órgão de controle externo independente. Imagens e vídeos tornaram-se instrumentos importantes para o registro da violência policial. A Constituição Federal garante: qualquer cidadão pode filmar a ação de um agente do Estado no espaço público. Mesmo assim, mantenha a tranquilidade e acate as ordens para não ser ameaçado.
Acreditamos que a maioria esmagadora dos policiais aja dentro da lei. Mas, infelizmente, como a impunidade campeia esse país, a violência policial no Brasil parece aumentar sistematicamente. A sociedade clama por vingança e até aplaude as ações discricionárias e arbitrárias de agentes públicos. Já a grande mídia transforma a barbárie em glamour, julga e condena ao arrepio da lei. Nesse cenário dantesco, muitos policiais se sentem estimulados e protegidos por “fazerem justiça com as próprias mãos”.
Preste atenção: agentes do Estado, incluindo policiais, são pagos para garantir a segurança para todos e agir nos limites da lei, dentro da proporcionalidade, razoabilidade, impessoalidade e, acima de tudo, civilidade. Em caso de arbitrariedade, procure a Ouvidoria de Polícia, o Ministério Público ou Disque Direitos Humanos. O número é 100.
Nossa longa tradição autoritária produziu instituições de controle social, como as polícias, que foram e são es-
Filósofo e cientista social robsonsavio@yahoo.com.br
Robson Sávio Reis Souza
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SALUTARIS
Bem-nutridos, inteligentes e ricos? Resultado de pesquisa que correlaciona longo período de amamentação a QI elevado e melhores oportunidades na vida adulta ainda não é comprovado pela comunidade científica Haydêe Sant’Ana
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e tão curiosa, uma pesquisa desenvolvida na Universidade Federal de Pelotas, no Rio Grande do Sul, chamou atenção da comunidade acadêmica internacional. O estudo coordenado pelos médicos e pesquisadores Cesar Victora e Bernardo Horta estabelece relação entre a amamentação, o QI e a renda. Publicado na edição de abril da revista britânica The Lancet Global Health, o trabalho mostra os efeitos da amamentação e impactos na vida adulta. “A ideia surgiu a partir da observação em outras pesquisas de que a amamentação estava associada ao melhor desempenho em testes de inteligência na infância e na adolescência. Por outro lado, uma questão estava em aberto: será que essa diferença persistiria na idade adulta? E qual seria o impacto desse ganho sobre a renda e a escolaridade?”, detalha Horta. O estudo acompanhou 3,5 mil recém-nascidos por três décadas. De acordo com a pesquisa, um bebê que foi amamentado por, pelo menos, um ano, chegou aos 30 anos com 4 pontos a mais de Quociente de Inteligência (QI) e um acréscimo de R$ 349 na renda em comparação com um indivíduo que mamou menos de um ano. A publicação destaca que um bebê que mama por mais tempo tem maiores índices de 24 | www.voxobjetiva.com.br
inteligência, escolaridade e renda ao se tornar adulto. Inicialmente o grupo de pesquisa acompanhou todos os bebês nascidos em 1982, na cidade de Pelotas.
A inovação dessa pesquisa está em mostrar o efeito prático e em longo prazo. Conclui-se que os adultos que foram amamentados ganham mais Marcus Renato Carvalho, professor da UFRJ
Naquela época, o banco de dados contava com informações sobre 6 mil recém-nascidos. Ao longo dos 30 anos de análises, os voluntários fizeram quatro grandes avaliações.
Segundo o médico pesquisador e pós-doutorando da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL) Christian Loret, todos os indivíduos foram acompanhados aos 2 e 4 anos de idade e várias vezes até atingirem os 30 anos. Durante o acompanhamento até a fase adulta, foram coletados dados de quase 70% da amostra inicial. A metodologia empregada na pesquisa foi um estudo envolvendo nascimento e base populacional. Na última avaliação, com indivíduos já com 30 anos, além de testes de QI, foram apresentadas questões sobre renda e escolaridade. Nessa etapa foram avaliados dados de 3.493 participantes. Loret explica que, para facilitar a análise, os indivíduos foram classificados em grupos. “Foram criados vários grupos, os que amamentaram menos de um mês, de um a três meses, de três a seis meses, de seis meses a um ano e por mais de um ano. Foi feita uma comparação entre os indivíduos e percebeu-se que aqueles que foram amamentados por mais tempo tinham índices maiores de QI, renda e escolaridade”, destrincha o pesquisador. A análise levou em consideração dez variáveis sociais e biológicas que supostamente influenciaram no aumento do QI. Dentre elas es-
SALUTARIS
Sanutri Alimentación Infantil
tão renda familiar ao nascimento, grau de escolaridade dos pais, tabagismo materno durante a gravidez, idade materna, peso ao nascer, tipo de parto. “Na análise específica foram usadas análises multivariadas. Levamos em conta as variáveis de exposição (aleitamento) e possíveis confundidores da relação entre aleitamento e os desfechos, QI, renda e escolaridade”, explica Loret. Professor da Faculdade Federal de Medicina do Rio de Janeiro (UFRJ) e especialista em Amamentação pelo International Board Certified Lactation Consultant, Marcus Renato de Carvalho destaca a importância do estudo. “Já tínhamos evidências científicas anteriores comprovando o efeito positivo da amamentação sobre o QI. A inovação dessa pesquisa está em mostrar o efeito prático
e em longo prazo. Conclui-se que os adultos que foram amamentados ganham mais”, esclarece. A relação entre os efeitos benéficos da amamentação no desenvolvimento da inteligência se deve à composição do leite materno, rico em ácidos graxos saturados de cadeia longa que são fundamentais para o desenvolvimento do cérebro. Segundo Carvalho, outros fatores contribuem para uma vida de qualidade, como o contato íntimo, o olhar e a fala materna. “O bebê que é amamentado acaba sendo mais estimulado”. Mesmo tendo sido publicado na renomada revista britânica The Lancet Global Health, o estudo é questionado por alguns pesquisadores. O especialista Erik Mortensen, da Universidade de Copenhague, na Dinamarca, ressalta
que as conclusões a que chegou o grupo de pesquisadores brasileiros devem ser confirmadas por outras pesquisas. Para Carvalho, não há nenhum problema envolvendo o estudo. Ele observa que os pesquisadores tomaram o cuidado de isolar variáveis que pudessem confundir os resultados. “Na amostra avaliada, ou seja, dentre as famílias acompanhadas, o aleitamento materno esteve presente em todas as classes sociais. E, pela primeira vez, eles conseguiram separar as condições socioeconômicas”. VERDADE INQUESTIONÁVEL Embora o estudo suscite divergências de opiniões na comunidade acadêmica, é fato que a amamentação traz diversos benefícios tanto para quem amamenta quan| 25
SALUTARIS to para o bebê. Para a mulher, a amamentação reduz riscos de câncer de mama e de ovário, de hemorragia pós-parto, de anemia, de infarto do miocárdio, de obesidade e diabetes, além de contribuir com uma perda de peso mais rápida e dar mais resistência ao quadril da mulher. Já para o bebê, o leite materno previne contra doenças crônico-degenerativas e provê uma nutrição perfeita, sem necessitar de vitaminas, ferro e água. A amamentação também imuniza o recém-nascido contra algumas infecções. O ato de sugar e o contato pele a pele são analgésicos. Além disso, o bebê amamentado cresce mais seguro, saudável e feliz. De acordo com dados do Ministério da Saúde, divulgados em um estudo sobre amamentação em 2009, 41% das crianças menores de seis meses recebem exclusivamente leite materno e 67,7% mamam na primeira hora de vida. A recomendação defendida pelo ministério é que até os seis meses de vida, o bebê seja alimentado exclusivamente com o leite materno. Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), a amamentação após o nascimento pode reduzir em 22% a mortalidade neonatal que ocorre até 28° dia de vida nos países em desenvolvimento. No Brasil, 69,3% das mortes de crianças com menos de 1 ano ocorrem no período neonatal e 52,6% na primeira semana de vida. “Precisamos continuamente reafirmar o valor do leite materno e da amamentação. Essa é a característica que nos torna mamíferos e que permitiu a sobrevivência da espécie humana nos últimos anos”, frisa Carvalho. 26 | www.voxobjetiva.com.br
ARTIGO
Maria Angélica Falci Psicologia
Olhe para mim Este mês, escrevo sobre um tema sugerido por uma leitora. Ela pediu que abordasse a questão da tecnologia e os relacionamentos. Então vamos lá! Acredito que a tecnologia assuste muito as pessoas pelo fato de ela contribuir tanto para aproximar as pessoas quanto para reduzir o contato real entre elas. De duas, uma: é cada um entretido com o celular na mão ou sozinhos no quarto assistindo à TV. É fato que muitas famílias estão sentindo o impacto disso. As pessoas sentem falta do tempo em que se sentavam à mesa, todos próximos de verdade, jogando assuntos fora ou se divertindo com jogos de tabuleiro. Isso é raridade hoje em dia.
e os amigos? Essa é uma reflexão que precisamos fazer todos os dias. Ficar atento a isso é extremamente importante para evitarmos rebeliões internas e até mesmo compulsões que podem atingir os outros. Ao assistir a um programa de TV, vi o desespero de uma mãe que internou o filho adolescente porque ele não largava o videogame. Era a única atividade do rapaz ao longo de meses. Senti uma tristeza profunda com essa história. É real e muito danoso para o emocional de qualquer pessoa viver dessa forma, imersa em algo imaterial.
As pessoas sentem falta do tempo em que se sentavam à mesa, todos próximos de verdade, jogando assuntos fora ou se divertindo com jogos de tabuleiro
As mudanças se refletem no aumento da frieza e da negligência na criação dos filhos. Muitas crianças reclamam que os pais só ficam no celular e nem olham para elas. É muito triste observar essa carência afetiva ganhar espaço. E pensar que o problema poderia ser solucionado com a simples desativação do aparelho,...
Precisamos, sim, da atenção, do olho no olho, da segurança que uma pessoa passa à outra por estar realmente ao lado dela e interessada no que é dito. Não sou contrária, de forma alguma, à tecnologia. Utilizo-a bastante, mas precisamos entender o reflexo dessa intensidade e o que isso pode gerar em nossos relacionamentos. Há algo mais importante que viver bem com nossa família
Jogar faz bem para o desenvolvimento neurológico. Os benefícios tecnológicos são diversos: atualiza a pessoa ao conhecimento e ajuda a resolver questões imediatas de forma rápida e eficaz. Mas o excesso vira vício. Todo excesso leva a um extremo que pode danificar o que temos de mais precioso e que muitas vezes não será restabelecido. E, muitas vezes, é necessário um tratamento, da mesma forma que um usuário de drogas necessita de um acompanhamento para se livrar do vício.
Relações destruídas, vícios, afastamentos,..., tudo isso leva a pensarmos na tecnologia como uma arma. Claro que se for bem utilizada, a tecnologia pode ser como uma ponte que dá acesso a caminhos de descobertas. Lembre-se: o extremo condena, mas a ótica bem construída e o bom senso fazem toda a diferença.
Maria Angélica Falci Psicóloga clínica e especialista em Sáude Mental angelfalci@hotmail.com | 27
SAPORIS Divulgação
Bife de chorizo com pappardelle ao molho de funghi Chef Adenilson Fiúza, Enoteca Decanter INGREDIENTES (BIFE)
MODO DE PREPARO
1 kg de chorizo em bife 500 g de pappardelle Sal a gosto
Tempere os bifes de chorizo apenas com sal a gosto e umedeça-os com óleo de soja ou de milho. Reserve-os. Coloque a massa de pappardelle para cozinhar em água fervente por cinco minutos para obter uma consistência al dente. Se preferir a massa mais macia, deixe cozinhar por mais dois minutos. Escorra e reserve. Coloque os bifes para grelhar e parta, então, para o preparo do molho.
INGREDIENTES (MOLHO DE FUNGHI) 250 ml de creme de leite 150 g de funghi 1 cebola pequena 1 colher de sopa de manteiga sem sal 2 dentes de alho
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MOLHO DE FUNGHI Coloque a manteiga em uma frigideira aquecida e acrescente a cebola cortada em pedacinhos e o alho. Após dourá-los, acrescente o funghi e deixe dourar um pouco. Acrescente o creme de leite. Deixe ferver até adquirir uma consistência cremosa. Verifique se o ponto do bife está a seu gosto. Acrescente o molho à massa de pappardelle e sirva quente.
SAPORIS
o café com resíduos de pó, que torna a bebida extremamente desagradável. No quesito químico do vinho, podemos citar outras reações, como oxidação positiva, redução ou até mesmo a volatilização dos aromas dos rótulos.
Harmonização Bife de chorizo com pappaderlle ao molho de funghi Nelton Fagundes, Enoteca Decanter
Os taninos firmes da Tannat Bouza - Montevidéu, do Uruguai, dão peso ao vinho. Com presença marcante e longa persistência considerada , uma das uvas mais encorpadas, a Tannat é companheira perfeita para um Bife de chorizo alto, suculento e macio em um prato que exige um vinho mais intenso. A massa com funghi dá cremosidade ao prato e finaliza com muita elegância a textura do vinho.
A polêmica sobre a decantação dos vinhos Nelton Fagundes Sommelier da Enoteca Decanter BH
Como amante de vinhos, confesso que não há nada igual à decantação da bebida. Além de imponente e delicado, esse é um processo bonito de ver e é muito instigante. Os iniciantes no consumo da bebida muitas vezes querem que a decantação seja feita sem ao menos saber o porquê de tal prática e se ela é realmente necessária.
A decantação é a separação das partes líquidas e sólidas de um dado componente. Se formos seguir a definição do dicionário, o processo consiste em transvasar um líquido para libertá-lo das impurezas e dos resíduos. A ideia é deixar o vinho livre de partículas indesejáveis. Um exemplo prático e semelhante que podemos usar é
É importante informar que as borras (partículas presentes nos vinho), principalmente nos tintos, não fazem mal à saúde, mas tornam a degustação desagradável. Há outras situações em que a decantação se faz necessária. Por exemplo, quando o vinho tem um sabor mais fechado, com taninos firmes, como os de Bordeaux (mais sofisticados e jovens e que precisam ser amaciados) ou até mesmo um bom Cabernet Sauvignon chileno (encorpado e que precisa ser areado). Ainda exemplifico utilizando os rótulos da região de Rioja, na Espanha, com taninos presentes e madeira marcante que podem se tornar muito mais apreciáveis após uma decantação de alguns minutos. Todo o processo depende do vinho. Indico sempre que a bebida já tenha sido provada pelo degustador. Assim, conhecendo o vinho, ele saberá identificar as nuances e os detalhes do rótulo e fazer uma comparação pós-decantação. Outra boa possibilidade para o processo é esconder o rótulo do vinho, algo que os apaixonados pela bebida adoram pelo fato de desafiar os sentidos. Indiferentemente de quando se usa a decantação, é importante saber os detalhes dos rótulos para poder degustar melhor a bebida. Decantar um vinho frutado, simples, por exemplo, que tem como principal característica a fruta fresca, é expulsar toda a sua energia, deixando-o sem vida. Por isso, longe de ser uma frescura, como muitos consideram, a decantação serve como um artifício para que seja possível apreciar melhor o vinho. Um brinde e vamos degustando!
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HORIZONTES
De malas prontas Conheça a história da cidade sueca que terá que se mudar para não ser engolida pela maior mina subterrânea do mundo Gisele Almeida, de Estocolmo Fredric Alm
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ituada no ponto mais ao norte da Suécia, a 200 quilômetros do Círculo Polar Ártico, Kiruna é, em muitos aspectos, um lugar de extremos. O verão é caracterizado por cem dias sem o sol se pôr e, no inverno, o astro-rei passa tenebrosos 50 dias sem aparecer. É um período de escuridão total e temperaturas que rondam os 20º C negativos.
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Kiruna é palco de raros acontecimentos naturais. Mas é lá que ocorre um dos fenômenos mais impressionantes da terra: a incrível Aurora Boreal. O fenômeno acontece quando partículas eletricamente carregadas de energia solar entram em contato com os gases presentes na atmosfera. O resultado desse encontro é um hipnotizante espetáculo de luzes que dançam no céu,
mudando de lugar e de cores. A convite do governo sueco, eu e outros dez correspondentes que vivem na Suécia visitamos Kiruna, uma cidade que passa por grandes transformações urbanas. Não bastasse o fato de existir civilização num lugar tão inóspito, a cidade faz as “malas” literalmente. O motivo? A presença de uma mina que vai forçar a cida-
HORIZONTES de a se refazer num ponto não muito distante de onde está edificada.
Divulgação
Desde o nascimento, Kiruna foi projetada para coexistir com uma mina rica em minério de ferro. O material, procedente da montanha Kirunavaara, é um dos mais puros na natureza, do tipo magnetita. A construção da cidade foi aprovada pela Coroa Sueca em 1900. O fundador do município foi o geógrafo sueco Hjalmar Lundborhm. À época diretor da Luossavaara-Kiirunavaara Aktiebolag LKAB, empresa estatal responsável pelas atividades de mineração na região, Hjalmar observou que era necessário um ambiente funcional para a distribuição do minério extraído. Fazia-se necessária também a construção de uma zona urbana no local. Para o geógrafo, não bastava apenas construir uma ferrovia no meio do nada. O local tinha de ser atrativo para os trabalhadores envolvidos na atividade mineradora. A LKAB é a maior mina subterrânea do mundo e está em plena expansão. Testes realizados pela Luossavaara-Kiirunavaara Aktiebolag LKAB apontam a existência de minério de ferro a até 1,8 mil metros de profundidade. Quanto mais funda a perfuração, mais puro é o material extraído. Para entendermos a grandiosidade da LKAB, seguimos para uma visita à mina. Adentrei a montanha Kirunavaara sem a mínima noção do que poderia encontrar ali. Com poucos minutos e uma curta caminhada, minha noção de profundidade simplesmente foi para o espaço, dada a escuridão e a umidade daqueles grandes túneis que comunicam entre si formando um verdadeiro labirinto de rochas. Há uma série de cuidados a serem tomados dentro de uma mina. Não escondo o fato de ter sentido um
frio na barriga quando um dos seguranças incumbidos de nos conduzir mina adentro nos alertou sobre os requisitos de segurança. O alerta me lembrou aquelas demonstrações feitas por comissários de bordo em aviões antes da decolagem, informações para as quais é preferível não prestar tanta atenção para não entrar em pânico. Caminhamos mais um pouco e finalmente chegamos ao local de nosso tour, o Centro de Visitas da LKAB, localizado a 540 metros abaixo da superfície da terra. O espaço é um notável complexo com instalações modernas. Lá, até o wifi funciona numa velocidade razoável. Atualmente destinada ao turismo, essa repartição é composta por um auditório, um museu, imensos túneis que guardam máquinas e outros objetos de exposição. Claro que não poderia faltar uma cafeteria! Afinal, na Suécia, a pausa para o fika, a hora de apreciar um café acompanhado de um bulle (pão doce sueco), é algo sagrado - seja no cume de uma montanha, seja em um grande buraco. Mesmo com a riqueza mineral que contribui de maneira direta para a
Erguida em 1912, a Igreja de Kiruna vai se delocar com a cidade
economia local, a presença da mina ameaça Kiruna. “Precisamos deslocar a cidade porque a LKAB está em expansão. Todos os dias é retirada uma grande quantidade de minério
Queremos reinventar Kiruna da forma mais moderna, mas ainda assim manter a essência e a identidade que foi construída aqui ao longo de um século Eva Ekelund, gerente de desenvolvimento | 31
HORIZONTES e, quando esse material é extraído, a deformação das áreas próximas à mina é inevitável. Dessa forma, temos que mover a cidade antes que ela seja destruída”, explica a guia responsável pelo nosso tour. Desde 2012, autoridades locais, cidadãos e diretores da LKAB dialogam para colocarem em prática o ousado plano de transferir a cidade para uma área a três quilômetros de onde ela está. A medida vai evitar que Kiruna seja ‘engolida’ pela mina. Arquitetos, representantes da empresa e antropólogos integram a comissão “Kiruna 4 Ever” (Kiruna para Sempre), cuja missão é reconstruir a cidade. A primeira fase desse plano tem conclusão prevista para 2018, ano em que serão entregues a nova praça central e a nova prefeitura. “Queremos reinventar Kiruna da forma mais moderna, mas, ainda assim, manter a essência e a identidade que foi construída aqui ao longo de um século. Se alcançarmos esse equilíbrio, nosso plano terá sido bem sucedido”, comenta Eva Ekelund, gerente de desenvolvimento de Kiruna. Para manter a identidade local, 21 monumentos históricos da cidade serão transferidos. Eles serão desmontados e recolocados no novo centro. “Esses edifícios vão ser retirados do lugar e remontados, peça a peça, Fredric Alm
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Mattias Mannberg
como num quebra-cabeças”, explica Mikael Stenqvist, arquiteto que lidera a reconstrução de Kiruna. Um dos edifícios que serão transferidos é a Kirunas Kyrka (Igreja de Kiruna). Idealizada pelo arquiteto Gustav Wickman, a construção de 1912 é inspirada no formato das tendas Sami, povos indígenas que habitam a região: uma charmosa construção
vermelha, curiosamente utilizada tanto para eventos católicos quanto em celebrações de outras religiões. Tendo sido planejada para ser um local de todos, na igreja praticamente inexistem símbolos religiosos. Entre uma conversa e outra com alguns moradores, tenho a impressão de que, para eles, a mudança é positiva. “Temos a oportunidade única de transformar a cidade em algo melhor”, comenta Dan Ludndström. Muito simpático, Dan faz questão de apresentar a casa onde reside, localizada em uma das áreas que serão demolidas na já iniciada primeira fase do projeto. Dan e a esposa já procuram uma nova residência. “Já visitamos dois apartamentos, mas ainda não gostamos do que vimos. Na nova casa, queremos ter mais espaço para receber nossos filhos e netos. Não abro mão de uma varanda”, comenta. Da atual residência, Dan tem uma visão privilegiada da montanha Kirunavaara e do empreendimento responsável pela futura demolição do imóvel.
HORIZONTES A aurora boreal, um dos fenômenos naturais de maior beleza, acontece todos os anos no céu de Kiruna
Outras cidades do mundo já tiveram de se mudar devido a grandes obras ou por questões ambientais. Mas o desafio de Kiruna é único dada a escala dessa mudança. “Temos de construir um centro da cidade e áreas residenciais. Tudo isso exige a construção de uma infraestrutura, como sistemas de água e esgoto e de abastecimento de energia elétrica”, explica Bäckström. O encontro com o secretário de desenvolvimento de Kiruna foi finalizado com um jantar no qual foi servido um prato típico da região: bife de rena com geleia de lingonberry, uma combinação agridoce muito apreciada na Escandinávia. A LKAB oferece o valor de mercado dos imóveis, com um acréscimo de 25%, aos proprietários de apartamentos ou casas que optarem pelo ressarcimento financeiro. A empresa também é responsável pela construção de edifícios residenciais para os moradores que vivem de aluguel. Os novos apartamentos podem ser alugados a um preço reduzido nos primeiros cinco anos.
Postos à mesa, os jornalistas deixam as questões relativas à mudança de endereço de Kiruna de lado e a pauta passou a ser a belíssima Aurora Boreal. Presentes em um dos poucos locais do mundo onde o fenômeno acontece, tínhamos a esperança de assistir àquele espetáculo natural. A previsão de visibilidade da Aurora Boreal atingia quase a escala máxima. Pouco antes das 23h, fomos presenteados com um belíssimo show de luzes no céu. Em êxtase, entendi a razão de os moradores de Kiruna viverem tão orgulhosos do município, como divulga o site de turismo da cidade. Para todos nós, o inverno rigoroso, com temperaturas abaixo de 0ºC, foi completamente esquecido por cerca de duas horas. O que era o frio? Não sei dizer. Só tinha olhos para o céu de Kiruna.
Divulgação / White Archtecture
Seguimos para uma reunião com Lars Bäckström, secretário de desenvolvimento de Kiruna. No bate-papo com os jornalistas, ele explica que o município é responsável pela estruturação e execução do projeto de realocação, enquanto a LKAB faz as negociações com os moradores das áreas afetadas. “Em números, essa transformação vai afetar diretamente cerca de 6 mil pessoas. Antes de sair demolindo tudo, é necessário um plano viável de desenvolvimento”, comenta.
Projeção de como será a nova praça central da cidade | 33
ARTIGO
Ruibran dos Reis Meteorologia
O tornado de Xanxerê No dia 20 de abril, por volta das 15h, alguns moradores da cidade catarinense de Xanxerê observaram uma formação de nuvens sem, sequer, cogitarem o desastre que estava prestes a acontecer. Um tornado com ventos de mais de 200 quilômetros por hora atingiu vários bairros da cidade. Mais de 2,6 mil residências foram atingidas, sendo que algumas tiveram perda total, cerca de 120 pessoas ficaram feridas e duas morreram. No mesmo momento, há 45 quilômetros de Xanxerê, outro tornado atingia a cidade de Ponte Serrada, também em Santa Catarina. Os tornados são formados pelas cumulonimbus, nuvens com espessuras que variam de mil a 1,5 mil metros. Quando há ventos em superfícies quentes e úmidas e ar frio em altitude, supercélulas (aglomerados de cumulonimbus que causam fortes rajadas de ventos, chuvas de granizo e muitos raios) são formadas ao longo das frentes frias. Nem todas as formações de supercélulas dão origem a tornados, mas os tornados sempre se formam dentro de supercélulas.
O tornado é o fenômeno mais feroz da natureza, uma vez que os ventos em seu interior podem chegar a impressionantes 500 quilômetros por hora. O tempo de formação e dissipação de um tornado acontece rapidamente. Varia de três a cinco minutos. É possível prever a formação de supercélulas, entretanto não é o mesmo que acontece em relação à formação dos tornados.
O tornado é o fenômeno mais feroz da natureza, uma vez que os ventos em seu interior podem chegar a impressionantes 500 quilômetros por hora
Comuns nos Estados Unidos, os tornados matam, em média, 300 pessoas por ano naquele país. Nos últimos 20 anos, tem-se observado a formação frequente de supercélulas na região Oeste do Rio Grande do Sul, em Santa Catarina, no Paraná e em São Paulo. Já houve algumas ocorrências de quedas de torres de linhas de transmissão provenientes da usina de Itaipu. Minas Gerais também já foi atingida por tornados. O 34 | www.voxobjetiva.com.br
primeiro fenômeno dessa natureza registrado no estado aconteceu há dez anos, na zona rural do município de Andradas, no Sul de Minas. O segundo atingiu a periferia de Uberlândia, no dia 5 de dezembro de 2010.
No início de abril, a Organização Meteorológica Mundial apresentou um relatório técnico, no qual aponta o mês de março deste ano como o mais quente da história. O aumento da disponibilidade de calor é um dos principais fatores para a formação das nuvens supercélulas. Daí a maior frequência de tornados no Brasil.
De acordo com o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, as temperaturas tendem a subir cada vez mais nos próximos anos. Portanto, é importante elaborar planos de emergência para alertar a população com um tempo mínimo de antecedência e, assim, evitar perdas humanas.
Ruibran dos Reis Diretor Regional do Climatempo e professor da PUC Minas ruibrandosreis@gmail.com
Minas Trend
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Não deixe o verão para mais tarde Tati Barros Fotos de Bernardo Silva
Já é verão! A afirmação pode parecer um grande exagero, uma vez que as temperaturas amenas do outono mal começaram dar o ar da graça. Mas, como se sabe, o calendário da moda não para, e a estação mais quente do ano já mostra as cores e formas - pelo menos na passarela do Minas Trend. A semana de moda mineira abriu a temporada fashion nacional e antecipou as principais tendências que foram vistas, posteriormente, no São Paulo Fashion Week e que vão ganhar as ruas em breve. Como já virou tradição, o desfile de abertura, com modelos das marcas participantes do salão de negócios, deu o start ao evento. Para muitos, a apresentação foi considerada uma das mais belas da história do Minas Trend. Pela segunda vez consecutiva, o stylist Paulo Martinez assinou a curadoria do fashion show, que apresentou uma atmosfera tropical oriental com cores quentes, quimonos e estampas florais. O tema desta edição, “Viva Ciclicamente”, foi evidenciado pelas produções que faziam clara referência às décadas passadas, sem perder o ar de contemporaneidade. Afinal, a capacidade de se reinventar e de trazer sempre um novo olhar é o que encanta na moda. Nas próximas páginas, o leitor fica conhecendo as apostas das grifes para o verão 2016.
VIVAZ A grife de moda-festa apresentou uma coleção inspirada na pérola negra brasileira: a jabuticaba. O tema ficou evidenciado na atmosfera campestre impressa em cada peça. Parte do DNA da marca, os bordados ganharam formas do fruto e de galhos de árvores. Peças com uma pegada masculina, como jaquetas bombers e a calça, fazem referência ao homem do campo, reforçando a ideia de cultivo e colheita. A combinação do glam com o sportwear se mantém forte e é uma aposta da grife, que já se mostrou especialista na proposta em temporadas anteriores.
LUCAS MAGALHÃES Essa foi a primeira coleção do estilista após se unir ao grupo Nohda, de Patrícia Bonaldi, que conta ainda com Luiz Cláudio, da Apartamento 03. A coleção inspirada na liberdade dos beatnicks trouxe estampas marcantes em mix inusitados. Os prints foram dos mais diversificados, com destaque para a tapeçaria e as listras. Com uma atmosfera hippie, a coleção trabalha com o comprimento midi, coletes e as franjas. São os anos 70 mostrando que voltaram com força total!
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ALEXANDRE HERCHCOVITCH PRÊT-À-PORTER Com uma proposta mais comercial, Herchcovitch apresentou, pela segunda vez, o seu o prêt-à-porter no Minas Trend. O que se viu foi um verão clean e minimalista, marcado pela escolha do preto, gelo e branco, na maior parte das peças. A única estampa presente é o xadrez em P&B. A cintura marcada, transparência e comprimentos acima do joelho também foram aposta do estilista.
FABIANA MILAZZO A grife trouxe do Nepal a inspiração para o seu verão. A religiosidade do país foi impressa em bordados de mandalas, mantras e cânticos religiosos em sânscrito. A marca se mostra ainda fiel ao já saturado bordado sobre o tule, com transparência, mas traz também propostas interessantes, como os casuais maxicoletes sobrepostos aos elaborados vestidos longos. Outro destaque são as faixas de couro tressê usadas como cinto, trazendo uma pegada boho que promete agradar ao público jovem da marca.
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FAVEN O verão da Faven pode ser resumido em uma palavra: assimetria. As peças construídas em camadas com pontas assimétricas marcaram presença em grande parte da coleção, resultando em modelos com certo movimento. O tricô, principal característica da grife, aparece trabalhado com fios metálicos, dando origem a formas geométricas. A cartela de cores é formada por tons intensos, com destaque para o roxo e o laranja. A grife foi mais uma a apostar nas franjas e na transparência acentuada.
PLURAL Inspirada pelo trabalho do mineiro Marcílio Gazzinelli, a Plural imprimiu em algumas de suas estampas fragmentos de imagens captadas pelo fotógrafo. A coleção é marcada por cores claras e modelagens amplas. As sobreposições ganham destaque, assim como amarrações na cintura. A grife também apostou em camisaria, túnicas, calça cropped e peças de tecido metalizado prata. Um verão no melhor estilo “livre, leve e solto”.
PATRÍCIA MOTTA Com o tema “A alegria do Senhor é a nossa força”, Patrícia deixa mais evidente a influência religiosa em suas criações. A coleção é marcada por modelos leves e amplos, como caftãs, batas e vestidos longos com muito movimento. A cartela de cores é composta por tons suaves. A estilista conseguiu trazer leveza ao couro, matéria-prima dominante especialmente nos modelos com desenhos recortados a laser.
Se depender de Rogério Lima, o verão 2016 será das bolsas grandes e rígidas. O designer de bolsas apostou em formatos diferenciados, mas que trazem em comum uma cartela de cores neuras, como branco, caramelo e bege. O couro liso, a textura croco e o plástico transparente foram os materiais escolhidos para a temporada. Para investir: as mochilas são práticas e ganharam status fashion.
ROGÉRIO LIMA
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MABEL MAGALHÃES Um verão romântico, vintage e glamouroso. Foi essa combinação apaixonante que se viu no desfile da Mabel Magalhães. A coleção aparece com formas estruturadas e combinação de cores vibrantes, como o amarelo-fluo e o azul-royal. Até mesmo a renda e o bordado, tão presentes na moda-festa, aparecem com uma proposta diferenciada, colorida e moderna. A Mabel apostou também na capa, comprimento midi, hot pants e no floral: modelos dignos de serem usados por divas em um red carpet internacional!
MADREPEROLA Apesar de veterana no salão de negócios, essa foi a estreia da marca na passarela do Minas Trend. Com styling de Paulo Martinez, a Madreperola apresentou uma coleção destacada pelo trabalho na alfaiataria, com uma pegada minimalista que agradou. Os tecidos finos foram aposta da grife, como o zibeline e o tweed. O que se viu foi um trabalho que transmitiu uma sensação de inovação, mas mantendo o ar clássico.
WishList Tendências que mais marcaram presença no Minas Trend para investir na próxima temporada:
Franjas
Anos 70
Comprimento midi
Colete
Tecidos fluidos
Sobreposições
O MUNDO DA MODA NÃO PARA. O MINAS TREND TAMBÉM NÃO. PREPARE-SE PARA A PRÓXIMA EDIÇÃO.
6 A 9 DE OUTUBRO DE 2015
MINAS TREND OUTONO/INVERNO 2016 //OUTUBRO 2015 MINASTREND.COM.BR
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PODIUM
TAPETE VERMELHO Liga dos Campeões da Europa crava espaço na grade de programação na TV brasileira Thalvanes Guimarães
Com os atletas enfileirados no meio do campo, a música é cantada em inglês, francês e alemão. Tudo ao mesmo tempo. A letra diz: “O mestre, o melhor, as melhores equipes, os campeões!”. É difícil não se arrepiar, até porque, quando se trata de um jogo da Liga dos Campeões da Europa, não está em questão um jogo qualquer. Os estádios cheios e modernos, o gramado em perfeito estado e o futebol de primeiríssimo nível explicam a razão de a competição ser vista como a melhor disputa entre clubes do Velho Continente. Até há alguns anos, assistir futebol europeu era um luxo dirigido às elites, que tinham acesso aos canais pagos de televisão. Hoje, muito devido à existência deste torneio, a Globo transmite os jogos em dias de semana e vem obtendo altos índices de audiência, assim como a Band, que também televisiona as partidas. Tornou-se comum a repercussão na imprensa sobre o Barcelona, o Real Madrid, o Bayern de Munique, o Chelsea, como outros grandes do continente europeu, na concorrida grade do Jornal Nacional, algo que não ocorria. Na Liga, que tem 32 times, estão os principais jogadores
do mundo e os principais clubes da Europa. Os clubes precisam se classificar nas competições nacionais para chegar ao torneio dos sonhos. Para dar uma ideia do peso da disputa, a última edição rendeu quase R$ 5 bilhões para a Uefa, entidade organizadora. No Brasil, a audiência da partida entre Barcelona e Manchester City, pelas oitavas de final da Champions, surpreendeu e foi melhor até do que a dos jogos entre São Paulo e
San Lorenzo, pela Libertadores, e Flamengo e Brasil/RS, pela Copa do Brasil. Tanto no Rio quanto em São Paulo, havia menos televisores ligados à tarde que à noite, mas o percentual de pessoas assistindo à competição europeia foi maior em ambas as praças. Uma das explicações para o sucesso dos clubes europeus em solos brasileiros é a geração de jovens. O estudante Gabriel Salatiel, de 16 anos, deixa de ver seu time de coração, o Cruzeiro, para poder assistir aos jogos do Barcelona. “Estou acostumado a jogar com esses craques no videogame. Então gosto de acompanhar. Lá joga o melhor do mundo, que é o Messi, e outros jogadores de quem sou muito fã, como o Neymar e o Suárez,” explica. Segundo estudo do Ibope Repucom, o Barcelona é o time internacional com mais admiradores no Brasil, com 35% de preferência. O bom futebol apresentado nos últimos anos pela equipe espanhola é a grande razão desse sucesso, mas a transferência do melhor jogador brasileiro para a Espanha fortaleceu ainda mais esse | 47
PODIUM Ben Sutherland
laço com os brasileiros. Assim como outros clubes europeus, o Barça tem redes sociais e conteúdos em português voltados exclusivamente para os brasileiros. A maior loja de departamento esportivo da América Latina fez um ranking das camisas infantis mais vendidas. Dentre as dez primeiras colocadas, seis são de equipes da Europa. Um problema é a falta de cuidado e de profissionalismo dos clubes do Brasil que, muitas vezes, nem se preocupam em oferecer produtos para o público nessa faixa etária. Na última edição do jogo Fifa, um dos mais jogados entre as crianças, os times nacionais não conseguiram oferecer a licença para estarem representados no mundo virtual. Mesmo com as deficiências na organização do futebol brasileiro, o especialista em Marketing Esportivo Amir Sommogi avalia o sucesso da Liga dos Campeões em terras tupini48 | www.voxobjetiva.com.br
quins de forma natural, já que o Brasil é um dos maiores mercados de futebol do mundo. “É a competição que mais chama a atenção no mundo do futebol; é um torneio diferenciado. A Champions arrecada para a Uefa o mesmo que a Copa do Mundo rende para a Fifa”, diz.
O PSG, de David Luiz, em partida contra o Chelsea, de Diego Costa, na edição da Champions de 2015
Amir também salienta que o caráter global das partidas é um atrativo, já que os principais astros de todos os cantos do mundo estão disputando a taça. “Os grandes craques, como Cristiano Ronaldo e Messi, estão angariando cada vez mais fãs. Eles alimentam essa paixão. E, nessa geração que vai de 7 a 13 anos, os times brasileiros estão perdendo de goleada. O videogame acaba influenciando bastante”.
os melhores jogos e as verdadeiras seleções mundiais. “Se você pegar os melhores atletas da Costa do Marfim, todos estão na disputa. Com a Seleção de Camarões, a mesma coisa.z E por aí vai. É nesse torneio que o jogador tem a possibilidade de mostrar, independentemente de onde ele tenha nascido, que está entre os melhores,” explica, ao mencionar que muitos craques podem ficar de fora da Copa. No último mundial, Bale e Ibrahimovic não jogaram, enquanto Cristiano Ronaldo foi eleito o melhor do planeta justamente pelo seu desempenho na Liga, e não na Copa, em que não teve destaque.
O correspondente do jornal Estado de Minas em Barcelona, Marcelo Bechler, diz que o nível técnico da Liga é maior do que o de uma Copa do Mundo e que é na competição que estão
O atleta mineiro Mancini, que hoje atua pelo América, já jogou a competição por duas equipes de ponta da Itália: a Roma e a Internazionale de Milão. É dele um dos gols mais boni-
PODIUM tos da história da Liga, em que pedala na área e fuzila o ângulo do goleiro em partida contra o Ollimpique Lyonnais. O atleta reconhece que a Liga é um torneio especial. “O nível técnico, o ambiente, a torcida, o glamour, até a música na entrada, tudo que envolve a Champions repercute muito mais. Jogá-la é algo diferente. Todos esses fatores explicam por que as pessoas gostam tanto de assistir,” avalia. Algumas equipes têm uma legião de brasileiros. É o caso do Shaktar Donetsk, que tem 13. Os ucranianos caíram nas oitavas para os poderosos alemães do Bayern de Munique, que contam com três jogadores brasileiros no plantel. O Paris Saint-German tem a dupla de zaga titular da Seleção Brasileira, David Luiz e Thiago Silva, e outros três que também falam nosso português. O time enfrentou nas quartas de final o Barcelona, que, além de Neymar, tem Daniel Alves, Adriano, Rafinha e Douglas no plantel. Com Oscar, Willian, Filipe Luís, Diego Costa e Ramires no Chelsea, Marcelo e Lucas Silva no Real, dentre outros, os brasileiros têm a chance de ver na Champions atletas que saíram de seus clubes para brilhar na Europa. Em alguns casos, eles nem chegam a se destacar por aqui, como foi a situação do Hulk, que atua no Zenit, e só se tornou conhecido aqui por conta das convocações para a Seleção. Além da maciça presença de brasileiros em solo europeu, um fator que impulsiona o interesse pela Liga dos Campeões é a impessoalidade, como explica o colunista de Marketing Esportivo Vinicius Paiva. Segundo ele, no Brasil, o torcedor de determinado time não tem costume de assistir a jogos de outros, mas na Champions, o telespectador se interessa pelo espetáculo. “Não há o clubismo nem a rivalidade. Existe o show, o espetáculo, o que naturalmente é um ponto positivo que se reflete na audiência”, entende.
Depois dos 7 a 1 sofrido na Copa do Mundo, a qualidade do futebol brasileiro - famoso por ser o mais vitorioso da história do esporte - começou a ser muito mais questionada pela mídia em todo o mundo. Sobre a possibilidade de os clubes brasileiros perderem a preferência para os europeus em seu próprio território, Vinicius acredita que isso não ocorra, ao menos em curto prazo. “Ainda não há nenhuma evidência sobre a queda do interesse pelo nosso futebol. Na mesma medida que a audiência da TV aberta caiu, houve crescimento no pay per view. Mas a chance existe, para o futuro. Então fica aceso o sinal de alerta para que melhoremos a qualidade do nosso produto”, alerta.
O nível técnico, o ambiente, a torcida, o glamour, até a música na entrada, tudo que envolve a Champions repercute muito mais. Jogá-la é algo diferente. Todos esses fatores explicam por que as pessoas gostam tanto de assistir Mancini, atleta
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FEMME
O ADEUS DE GISELE A maior modelo da história fez seu desfile final durante o SPFW Tati Barros
U
m furação, um orgulho, um exemplo,... Quantas palavras podem caracterizar a top mais famosa da história da moda, Gisele Bündchen? Difícil dizer. Nos últimos 20 anos, o Brasil e o mundo acompanharam cada passo da jovem modelo gaúcha que ganhou as passarelas mais cobiçadas dos eventos de moda do planeta. Na última edição do São Paulo Fashion Week, Gisele fez sua última apresentação como modelo. Um clima de saudades antecipadas marcou o desfile da aposentadoria da top. Gisele não precisa de sobrenome nem de apresentações. Seu nome diz tudo! Afinal, se existem tops, ela é Über. A maior de todas! A pergunta que dominava os corredores do Parque Villa Lobos, palco do SPFW, era basicamente uma: como ficará a passarela sem o seu ícone? Com personalidade única ao desfilar e um brilho raro de se ver, a brasileira fez com que, ao longo desses 20 anos, a passarela a amasse e o público a tivesse como uma deusa. Até mesmo os fashionistas mais críticos esqueciam os próprios ares blasés e, ao ver a bela desfilar, rendiam-se ao “efeito Gisele”.
Divulgação / Agência Fotosite
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Desde o primeiro dia da principal semana de moda brasileira, havia uma discreta agitação no ar. Não tinha como fugir. Tudo convergia para
FEMME o derradeiro desfile de Gisele. Não era para menos! Essa temporada entrou para a história por marcar o fim de uma era para a moda mundial. No dia 15 de abril, todos os flashes e holofotes, mais uma vez, convergiram para a estrela, durante o desfile da Colcci, marca para a qual a top desfilou com exclusividade nas últimas temporadas. É possível afirmar que nunca uma coleção foi tão coadjuvante em um desfile. Essa foi a primeira vez que Gisele reuniu a família completa - incluindo o marido, o ídolo do futebol americano, Tom Brady - para acompanhar sua apresentação. Na passarela, modelos amigas da Über foram convidadas especiais para encerrar esse ciclo. Gisele não conseguiu segurar a emoção no palco e levou admiradores às lágrimas com ela. A Vox Objetiva conversou com algumas das tops que tiveram o privilégio de fazer parte desse momento histórico ao lado de Gisele. Elas revelaram facetas e histórias desse fenômeno das passarelas. Confira!
Divulgação / Agência Fotosite
Carol Ribeiro
Aline Weber
Desfilei muito com a Gisele no Brasil, antes de ela ir pra fora. Depois também nos encontramos em semanas de moda internacionais. Ela sempre foi muito pra cima, empolgada, meio elétrica, não para de falar um minuto! Lembro que no meu primeiro desfile lá fora, para a Gucci, ela era a única brasileira presente. Gisele me deu muita força, ficava puxando papo e me colocando no grupinho. Ela é muito tranquila, muito acessível, mas, por causa de todo o alvoroço em torno dela, é impossível para ela chegar aqui e caminhar no meio de todo mundo como eu posso. Ela é, realmente, diferente!
A Gisele é uma pessoa muito simples. A primeira vez que desfilei com ela foi para a Givenchy. Entrei na frente dela, como penúltima na fila, e ela veio falando em inglês comigo, trocando um papo. Eu era bem novinha, desconhecida ainda, e falei: “Sou brasileira também”. E na última temporada do SPFW, desfilei depois dela, na Colcci, e fiquei com um frio na barriga, pois ela me cumprimentou de novo. Ela tem uma energia muito bacana e é muito verdadeira
Thairine Garcia Desfilei com ela na última temporada pela Colcci e agora de novo. Ela é linda, maravilhosa! Uma grande referência para toda modelo, de forma direta ou não. Em algum momento, todas observaram pelo menos uma foto dela e tentaram imitar aquela pose
Bruna Tenório É sempre incrível desfilar com ela. Em qualquer contato com Gisele, a gente consegue aprender um pouco. Acabamos nos espelhando, porque ela é superprofissional e transmite uma energia muito boa. Sempre a vi como uma pessoa mais evoluída por ter conseguido chegar onde chegou. Eu sei que não é uma carreira fácil. O que ela conquistou, foi por merecimento | 51
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Pele de mãe Fotógrafas retratam marcas e histórias produzidas pela maternidade Haydêe Sant’Ana Renata Penna
Ana Julieta de Oliveira e Ítalo
a
preocupação com a estética e a beleza nunca foi tão grande. Para o universo feminino, as cobranças pelo corpo perfeito ganham outra dimensão. Ser magra e estar sempre bonita e arrumada são necessidades sutilmente introduzidas na mente das mulheres. Numa sociedade em que a cultura é extremamente atrelada ao aspecto visual, os padrões de beleza ditados
pela mídia e pela moda acabam se refletindo no comportamento social. A cobrança com a beleza se estende até mesmo às mulheres que acabaram de gerar um filho. Não importa o fato de terem carregado um bebê por nove meses, sofrerem com enjoos, oscilações hormonais e dores do parto. A gestação modifica o corpo de uma mulher. As mudanças
acontecem por fora e por dentro. Transformações na pele, no peso, nas formas e nas curvas são apenas algumas das alterações perceptíveis a olho nu. Mas é por dentro que as mudanças se revelam ainda mais intensas. Com o nascimento de um bebê, nascem uma mãe, um pai e toda uma família. | 53
KULTUR Foi pensando na fase do pós-parto - de reconhecimento e aceitação do corpo por parte das novas mamães - que a fotógrafa Renata Penna desenvolveu o projeto “Bonita é a mãe”. Ela explica que a ideia surgiu de reflexões e experiências pessoais, logo após a maternidade dela. “Quando tive minhas filhas mais velhas, há quase dez anos, fui percebendo o quanto esse processo de aceitação é delicado e importante e o quanto é solitário também, porque o corpo não se mostra. Pelo contrário. Ele se esconde. Foi quando comecei a pensar que era preciso libertar o corpo materno do confinamento, do obscuro, trazê-lo à luz, falar dele e apontar sua beleza, que é única, especial e que conta histórias”, revela. O projeto de Renata tem como proposta mostrar as histórias que os corpos maternos contam, ressaltando, assim, as marcas, as formas e as curvas de uma nova mulher. O intuito é fazer as mulheres se olharem, aceitarem e gostarem do que veem. Para Penna, o trabalho funciona como uma forma de libertação feminina. “Ele liberta dos padrões irreais que a sociedade vende, que geram insatisfação, Renata Penna
infelicidade e um gasto imenso de energia correndo atrás de um corpo de fantasia, um corpo plastificado, padronizado, sem vida”, observa. Dezesseis mulheres já foram fo-
Eu participei do projeto por acreditar que, sim, é preciso que os corpos pós-gravidez deixem de ser tabus, tanto para as mães quanto para as outras pessoas Andreas Carvalho, professora
tografadas por Renata. Há também uma lista com 18 sessões marcadas. A professora e ativista do parto e da maternidade consciente Andreas Carvalho apoia a causa. “Eu participei do projeto por acreditar que, sim, é preciso que os corpos pós-gravidez deixem de ser tabus, tanto para as mães em questão quanto para outras pessoas”, conta. Antes da gravidez, Andreas participava de competições de ciclismo em equipe. Ela conta que viu o corpo mudar incrivelmente. O formato arredondado, o passo mais lento e a respiração ofegante foram se tornando mais perceptíveis ao longo da gestação. Passados 15 meses do nascimento do filho Daniel, a professora observa que o corpo mudou, embora não seja o de antes. Problema nenhum. Muito pelo contrário. “Agora sinto que minhas formas são diferentes. Sinto meus ombros e quadris mais largos e me sinto maior e mais poderosa. Meu corpo é um templo mágico e forte, pronto para qualquer desafio!”, opina entusiasmada. Situações constrangedoras de preconceito ocorrem de forma tão natural que passam muitas vezes despercebidos. Andreas viveu isso na pele. “Na semana seguinte à do nascimento do meu filho, disseramme que eu jamais voltaria a competir por conta do meu peso. Lembro que essa sentença que me foi dada caiu como uma bomba na minha cabeça. Eu fiquei martelando isso por dias e por vários momentos e acreditei que seria impossível voltar”, relembra. Em alguns casos, as mulheres que sofrem com esse tipo de preconceito passam a esconder o corpo por vergonha de não corresponderem às expectativas sociais. Essas mulheres sentem baixa autoestima, culpa e impotência. É difícil lutar contra o preconceito numa sociedade que cultua o corpo. como defende a médica cirurgiã plástica Dra. Patrícia Leite.
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KULTUR Letícia Valverdes
“Nós vivemos a ‘ditadura da beleza’, tanto que as exigências no consultório médico na área de cirurgia plástica são cada vez maiores”, ressalta. Após a gravidez, há quem recorra à lipoaspiração, um dos procedimentos estéticos mais visados, na tentativa de eliminar os quilos extra adquiridos ao longo dos nove meses. De acordo com Patrícia, a ‘lipo’ não é indicada para todas as mulheres. “É um procedimento recomendado quando a pessoa já adquiriu hábitos de vida saudáveis, como ir à academia e ter uma dieta equilibrada. A lipo é aconselhada para pessoas magras com gorduras localizadas. Pessoas com excesso de peso devem fazer uma dieta antes de se submeter a esse procedimento”, explica. Para Renata Penna, a imposição de um padrão de beleza social ignora a pluralidade humana e as particularidades de cada corpo e de cada história. “É um padrão massificante que busca igualar seres humanos que, por definição, são inigualáveis. A beleza do ser humano é a diversi-
dade e o fato de não existir ninguém igual a nós, nem por dentro, nem por fora”, ressalta. Por enquanto, o “Bonita é a mãe” está disponível on-line no tumblr, mas Penna deseja ampliar a iniciativa e transformá-la num projeto itinerante em todas as regiões do país. “MARCAS DE NASCENÇA” Outro projeto que também visa a imponderação de mães por meio da fotografia é o “Marcas de Nascença”, assinado pela fotógrafa Letícia Valverdes. Ela é autora de trabalhos que exploram noções de identidade, imagem corporal e autoestima. Destacam-se os projetos “Meninas de Rua”, “O Vestido de Noiva”, “Retratos Pintados” e “Caixa de Música”. O “Marcas de Nascença” teve início a partir da autofotografia da autora. “Olhar para mim no processo de ter filhos e refletir sobre as mudanças externas e internas trazidas pela maternidade foi apenas uma consequência natural do tornar-se mãe”, explica.
O projeto “Marcas de Nascença” propõe aguçar novos olhares sobre as marcas da maternidade
Letícia conta com um vasto material de fotos e de selfies. Como se divide entre o Reino Unido e o Brasil, o acervo fotográfico reúne fotos de mulheres de ambas as nações. À parte de algumas questões culturais, ela pretende mostrar que o que diz respeito à maternidade é universal. “Ser mãe é complexo. Passamos por tantos sentimentos, amores e medos. Ninguém nos prepara para as mudanças, para a ambiguidade e para os desafios do ser mãe presente por inteiro nos dias claros e nas noites escuras”, reflete. O “Marcas de Nascença” tem um perfil no facebook. A fanpage divulga o material produzido por Valverde e publica os autorretratos enviados por internautas. Letícia planeja transformar o projeto num livro, reunindo fotos que sejam referência para mães de todas as idades.
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KULTUR Deen van Meer
Divulgação
Arrebatador! Prestes a completar 1 milhão de espectadores, a mais nova produção da Disney no Teatro, “Aladdin, The Musical”, abre as portas para a equipe de Vox Objetiva Leo Pinheiro, de Nova Iorque
q
uem nunca sonhou em ver um espetáculo na Broadway? Famosa no mundo inteiro, a luminosa Times Square, em Nova Iorque, abriga grande parte da meia centena de teatros localizados entre as ruas 40 e 57, e sexta e oitava avenidas. 56 | www.voxobjetiva.com.br
Passar por elas e não assistir a um show é como ir a Roma e não ver o Papa ou ir a Agrabah e não ver Aladdin. Bem, na verdade, Agrabah não existe no mundo real. Mas se você, caro leitor, deseja realmente conhecer a fictícia capital dos sete reinos
das Arábias, basta entrar na rua 42 e se dirigir ao lendário e luxuoso Amsterdam Theatre, onde está em cartaz o espetáculo “Aladdin, The Musical”. A viagem de cerca de duas horas e meia pela aventura, comédia e
KULTUR semana de 10 de agosto de 2014, o recorde de arrecadação de toda a história do Amsterdam Theatre. O faturamento? Incrível US$ 1,6 bilhão! Apesar das oito semanas a menos de apresentações que a maioria dos concorrentes, “Aladdin” foi o terceiro espetáculo de maior bilheteria do ano passado – atrás apenas de “Wicked” e de “O Rei Leão”. A tarefa de contar uma história conhecida por quase todos é mais complexa do que parece. Pois, se é fácil agradar ao público com um enredo que já arrecadou quase um US$ 1 bilhão nos cinemas ao redor do mundo, difícil é surpreender. ”Aladdin, The Musical” faz isso com maestria. A fórmula Disney contendo o herói plebeu (Aladdin), a mocinha rica (Jasmine), o pai controlador (Rei), o bandido poderoso (Sultão) e um amigo engraçado (Gênio) está lá, mas as piadas sobre o cotidiano, cinema e até outros espetáculos teatrais deixam claro que a direção teve liberdade criativa.
romance clássico fica muito mais rápida e eficiente, se o espectador comprar o ingresso ainda no Brasil, imprimir em casa e apresentar na entrada do teatro. É tudo muito prático – como quase tudo nos Estados Unidos. Não é preciso fazer troca na bilheteria nem enfrentar filas. Os preços variam de US$ 100 a US$ 300. Vale cada centavo, mesmo com o nada favorável câmbio atual. Baseado no desenho animado vencedor do Oscar, em 1992, o musical é considerado pela crítica norte-americana como o maior sucesso da Broadway na temporada 2014-2015. A opinião do público parece ser a mesma. Prestes a chegar a 1 milhão de espectadores, a peça quebrou, na
O musical também escapa da tentação didática e explora a oposição entre os valores humanos e as riquezas materiais com bom humor. Na versão ao vivo, o protagonista não é um coitado, tampouco bonzinho. Em alguns momentos lembra um típico malandro carioca. Isso é compreensível por qualquer um que tenha um inglês intermediário. Não ser fluente no idioma, no entanto, não é problema. Durante a apresentação é possível ver dezenas de crianças e adultos rindo, chorando e vibrando com cada cena, música ou coreografia. Esse é um indício importante de que o espetáculo não tem contraindicação para brasileiros nem marinheiros de primeira viagem na arte de apreciar musicais da Broadway. SHOW À PARTE A batida história de amor entre a princesa e o plebeu não chega
a empolgar, principalmente pela apatia de Courtney Reed no papel da Princesa Jasmine. O ótimo e mais experiente Adam Jacobs, Aladdin (que já interpretou Marius, em “Os miseráveis”, e Simba, em “O Rei Leão”, na Broadway), é a ponta mais forte da dupla. Mas a grande parceria do show é entre o protagonista e James Monrroe Iglehart, intérprete do gênio da lâmpada. Não é exagero dizer que Monroe, premiado com o Tony (Oscar do Teatro norte-americano) de melhor ator coadjuvante por “Aladdin”, tem a melhor atuação da peça. O ator é muito ajudado pelo encanto do papel, por inúmeros truques de mágica, aparições e desaparecimentos por meio de pequenos – porém, visíveis – alçapões no palco. Há momentos que o ator de dois metros de altura e 150 quilos vai ficar entalado, e que algum truque vai dar errado. Daí convém lembrar que a realização do espetáculo é da Disney Theatrical Productions. Esse fator garante que a apresentação não terá erros ou que eles serão imperceptíveis. A grandiosidade de Monroe no palco, no entanto, vai além do seu porte físico avantajado e das muletas que a impecável produção lhe fornece. Tanto é assim que ele é o único do elenco a ser aplaudido em cena aberta. O ator cumpre com excelência a difícil tarefa de assumir o papel que, na animação, foi dublado pelo saudoso Robin Williams – e que ainda povoa o imaginário das crianças... de todas as idades. Os adultos de hoje que se apaixonaram pelas inocentes brincadeiras do gênio de rosto azul dos anos 90 agora levam os seus filhos à plateia e se divertem com a picardia do ator negro. A lubricidade da personagem, é claro, é contida. Afinal “Aladdin” é um espetáculo para a família. | 57
MÚSICA
Deen van Meer
Repleto de personagens imaginativos, trocas das luxuosas roupas – no número final o figurino de cada dançarino tem 1.428 pedras de cristal Swarovski – e cenários exuberantes, com muitos recursos tridimensionais, como um tapete que voa (mesmo) em pleno teatro, ‘Aladdin’ conta com o maior trunfo que um espetáculo da Broadway pode ter para cativar crítica, público norte-americano e turistas do mundo inteiro: uma trilha sonora composta pelos vencedores do Oscar Alan Menken (oito vezes vencedor do Oscar); Tim Rice e Howard Ashman, que também ganharam a estatueta, respectivamente três e duas vezes. A trilha sonora do espetáculo apresenta todas as composições do filme, como a premiada com um Grammy e um Oscar “A Whole New World”, e novas músicas e letras assinadas pelo trio de compositores. A sonoplastia e a orquestra ao vivo deram um ótimo fundo para todas as ações
Cylla von Tiedemann
e, principalmente, às magistralmente coreografadas cenas de luta. Quanto às músicas cantadas pelos atores, o destaque é para Cortney Reed (oriunda de outro musical da Broadway, “Mamma Mia!”), que se mostra muito mais segura e sensível na posição de cantora. Em um elenco de 34 atores sobram destaques. Clifton Davis, o Sultão, e Brian Gonzales, no papel de Babkak, sobressaem muito mais por suas vilanias cômicas do que pela cantoria. Vale registrar também a ficha técnica impecável de um espetáculo desse porte. O vencedor do Tony de melhor ator coadjunvante pelo espetáculo, James Monrroe, o Gênio da lâmpada, rouba a cena no show
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Reunir no mesmo time craques, como o cenógrafo Bob Crowley, o figurinista Gregg Barnes, e a iluminadora Natasha Katz, foi mais um gol de placa da Disney. Isso mostra que o braço teatral da empresa está levando muito a sério a tarefa de estender até a Broadway os seus maiores sucessos. Dentre eles estão “A Bela e a Fera”, que ficou 13 anos em cartaz, e “O Rei Leão”, que este ano apresenta a 17ª temporada de sua versão ao vivo. “Aladdin, The Musical” tem tudo para quebrar mais esse recorde e, quem sabe, ser um “Fantasma da Ópera”, que ocupa o topo da lista dos espetáculos mais duradouros, por estar nada menos do que 27 anos em cartaz. | 59
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TERRA BRASILIS • AGENDA
“Insular ao vivo” Com um repertório um tanto quanto abrangente, o cantor, compositor, instrumentista e escritor Humberto Gessinger se lança na carreira solo com o DVD/CD “Insular ao vivo”. Em maio, o artista sobe ao palco do Chevrolet Hall para apresentar o novo trabalho que traz imagens do show realizado na capital mineira há um ano. O CD conta com participações especiais de Bebeto Alves, Luís Carlos Borges, Duca Leindenker e Carlos Ayala ex-bateristas dos Engenheiros do Hawaii.
Chevrolet Hall 30 de maio de 2015, às 22h De R$ 90 a R$ 140 (inteira) chevrolethallbh.com.br
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9° Festa Tradicional da Itália Muita música, dança e gastronomia de qualidade. A 9ª Festa Tradicional da Itália pretende reunir italianos, brasileiros e ítalodescendentes numa grande comemoração. O evento comemora o Dia da República da Itália, data mais importante do calendário daquele país. A festa organizada pela Associação de Cultura Ítalo-Brasileira do Estado de Minas Gerais (Acibra-MG) apresenta um pouco das tradições e dos hábitos da cultura que está mais do que incorporada ao cotidiano do brasileiro.
Av. Getúlio Vargas Savassi 31 de maio de 2015, das 10h às 22h Entrada franca acibramg.com.br
Saideira A famosa festa de Saideira do tradicional festival Comida di Buteco, o maior evento gastronômico do Brasil, vai contar com a participação de 45 bares, shows e muita gente bonita. Para animar a galera, a banda Jota Quest, o cantor Vander Lee e a Orquestra Mineira de Brega (OMB) estão confirmados. E para os apreciadores de samba, Vitor Santana e o Bloco Moreré prometem agitar o público com o melhor repertório musical.
Estádio Mineirão 16 de maio, às 12h De R$ 60 a R$ 120 (inteira) ingressorapido.com.br
TERRA BRASILIS • AGENDA
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Casar pra quê? Compartilhar e dividir a vida com alguém não é fácil, mas pode ser, sim, muito divertido. É o que mostra a peça “Casar pra quê?”, dirigida por Eri Johnson. Com muito bom humor, a peça traça as diferenças enfrentadas por todo casal. Na história, enquanto a esposa vê a vida de um jeito mais metódico, o marido tenta curtir tudo da melhor forma possível. A convivência a dois é regada a muito amor e paixão, ingredientes que os mantêm unidos. A peça promete arrancar muitas gargalhadas do público com situações inusitadas. Teatro Bradesco 15 e 16 de maio, às 21h De R$ 30 a R$ 60 (inteira) teatrobradescobh.com.br
MinasCentro 16 e 17 de maio, das 12h às 20h De R$ 20 a R$ 25 animefestival.com.br
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Em maio, a animação japonesa toma conta do Minascentro. Mangás, quadrinhos, desenhos animados, games e gincanas vão fazer a alegria da garotada e de muita gente grande interessada pela cultura nipônica. O tradicional Concurso Cosplay, no qual os fãs mostram as melhores fantasias de personagens de filmes, seriados e desenhos animados, é sempre um dos momentos mais aguardados pelo público.
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CRÔNICA
Joanita Gontijo Comportamento
Ressaca moral Os raios do sol acordam você por volta das 2h da tarde. Você tenta abrir os olhos, mas eles continuam “fechados pra balanço”. A cabeça dói... Como seria bom se pudesse arrancá-la do pescoço até que parasse de latejar... Você estica o braço, abre a gaveta do criado-mudo e pega um analgésico. Precisa de água. Sim! Litros de água! A sede é como a de um beduíno que atravessou o deserto. Quando o mal-estar físico começa a passar, vêm à mente as lembranças da noite anterior. Se não tivesse bebido tanto,... Não teria dançado até o chão. Poderia ter ido embora mais cedo, mas só deixou a boate a convite do gerente enfurecido. Aquele amigo do amigo do amigo era mesmo chato, mas, talvez as palavras que você usou para afastá-lo tenham sido grosseiras demais... Ressaca moral!... Quem nunca? Dá vontade de não sair do quarto até o final desta encarnação. Quem sabe o número do telefone da Nasa? Não são eles que prometem lotar um ônibus espacial rumo a Marte? Nunca mais bebo! Nunca mais! O dia passa arrastado, você se consome em culpas e passa horas se convencendo do quanto tem vergonha de si. A ressaca moral costuma ser um fenômeno que acomete os bêbados da noite anterior. Mas não são raros os casos de pessoas que se culpam, atormentam e se julgam com rigor extremo diariamente e sem ter consumido uma gota de álcool. A cobrança pela perfeição, a culpa pelos erros (pequenos ou grandes...) e o remorso por não ter atendido todos anseios do resto da humanidade estão gravados nas moléculas do DNA. Você se identificou com essa descrição? Bem-vindo ao 62 | www.voxobjetiva.com.br
clube dos candidatos a salvadores do mundo! Já fui associada, mas descobri recentemente que, muitas vezes, não sigo as regras e me excedo, falho e não preciso me autoflagelar por esses desequilíbrios naturais. O processo de absolvição não é fácil. O hábito de fumar cachimbo deixa a boca torta assim como o costume de se punir por tudo destrói lentamente a sua autoestima. A dica é racionalizar da mesma forma como você fez para se recuperar do último vexame na balada. Errou? As outras pessoas também, em algum momento, já pisaram na bola. Não dá para viver elegante sobre o salto alto da perfeição o tempo todo. Escorregar faz parte e você não é pior do que ninguém por isso. Se sua atitude causou tanto mal-estar, peça desculpas, mas não se esconda embaixo da cama. Quem se recusa a ter “manchas no currículo” acaba se tornando uma alma asséptica. Aposente os alvejantes e seja leve com você mesmo. Comece já, pois o tempo e o esquecimento que ele traz fazem você mais indulgente consigo. Transforme seus micos em lendas e seus defeitos em humanidade. Prometa tentar ser melhor ou beber menos, mas não se culpe se algum tempo depois você estiver “quebrando tudo na pista” com seus amigos e quebrando a promessa de passar longe da bebida e de não errar nunca mais.
Joanita Gontijo Jornalista e autora do livro “70 dias ao lado dela” joanitagontijo@yahoo.com.br
Transformar a vida das pessoas p e l a e d u c a ç ã o. É a s s i m q u e a g e n t e fa z a m e l h o r c a p i t a l d o B r a s i l . “A Escola Integrada é tudo.
É onde eu aprendo a realizar os meus sonhos. Lorrany Lima
”
Aluna da E. M. São Rafael
Educação de qualidade 9 horas por dia para 66 mil alunos da rede municipal.
Atividades dentro e fora da escola, em museus, parques, clubes e outros espaços urbanos.
Com o Programa Escola Integrada, a Prefeitura de Belo Horizonte amplia o tempo na escola e as oportunidades para milhares de crianças e jovens.
Programa universalizado, disponível em todas as 173 escolas da Prefeitura.
Além do currículo regular, os alunos praticam atividades artísticas, esportivas e recebem reforço escolar.
Não para de trabalhar por você | 63
www.pbh.gov.br
Exposição
Até 22 de junho
CCBB Belo Horizonte - Entrada Franca
AD Venha conhecer a trajetória e as ideias do artista russo Wassily Kandinsky, pioneiro do abstracionismo. A mostra inédita reúne mais de 150 obras, entre trabalhos do próprio Kandinsky e de artistas contemporâneos a ele, além de peças da arte popular e da cultura xamânica que influenciaram a visão estética do artista ao longo dos anos. Coordenação
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