Em busca do trem perdido
janeiro/13 • Edição 43 • Ano V • Distribuição gratuita
O Brasil redescobre o transporte ferroviário de passageiros 50 anos após o abandono de trilhos e composições. O prejuízo aos cofres públicos chega a R$ 60 bilhões
Polenta engarrafada
Para inglês ver
Pesquisa aponta que cervejarias nacionais usam mais milho do que permite a legislação
Designers de moda brasileiros fazem sucesso na capital britânica
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A Revista Vox é uma publicação mensal da Vox Domini Editora Ltda. Rua Tupis, 204, sala 218, Centro - Belo Horizonte - MG CEP: 30190-060.
“... O povo que conhece o seu Deus se tornará forte e ativo.” (Daniel 11:32) • Editor e jornalista responsável Carlos Viana • diagramação e arte Graziele Martins • Capa Henrique André • Reportagem André Martins Ilson Lima Thiago Madureira • ESTAGIÁRIas Luísa Reiff Guimarães • CORRESPONDENTES Greice Rodrigues -Estados Unidos Ilana Rehavia - Reino Unido • diretoria Comercial Solange Viana • anúncios comercial@voxobjetiva.com.br (31) 2514-0990 • ATENDIMENTO jornalismo@voxobjetiva.com.br (31) 2514-0990 www.voxobjetiva.com.br • REVISÃO Versão Final • tiragem 30 mil exemplares Os textos publicados em forma de artigos, produzidos por colunistas convidados, expressam o pensamento individual e são de responsabilidade dos autores. Todos os direitos reservados. Os textos publicados na revista Vox Objetiva só poderão ser reproduzidos com autorização dos editores.
Editorial
CARLOS viana Editor-Chefe carlos.viana@voxobjetiva.com.br
Um novo pacto federativo A decisão do governo federal de reduzir o valor das contas de energia elétrica tem relevância muito maior do que as críticas iniciais entre PT e PSDB. Nem de longe as discussões levam a crer que estaríamos diante de uma salutar reorganização da oposição brasileira. Na verdade, estamos experimentando, mais uma vez, um jogo de interesses ideológico-partidário. Reduzir a conta de luz é uma decisão de política de Estado que pode nos levar a um novo ciclo de crescimento planejado. A medida também reabre a discussão sobre nossa carga tributária e nos questiona sobre qual a relação que desejamos ter com os grandes grupos de investidores internacionais. Seguindo a mesma linha de avaliação, podemos observar que a decisão - unilateral da presidente Dilma - sobre a energia elétrica mostra também que não evoluímos, quando nos deparamos com outras reformas. Embora sejam fundamentais para o crescimento do país, essas reformas esbarram na demora e nas intrigas dos bastidores políticos de Brasília. E são muitos os exemplos. Não há consenso sobre a unificação das alíquotas de ICMS. Não conseguimos definir claramente as novas regras para a distribuição dos royalties do petróleo por conta de uma interferência do Judiciário, evidenciando que nossos representantes legislativos votam movidos apenas por interesses provincianos. Podemos citar também o impasse em torno do Fundo de Participação dos Estados que já deveria ter sido definido em novas regras havia cinco anos, mas nem a “poeira” das páginas foi retirada pelo Congresso Nacional. O resultado dessas indefinições tem nos levado a viver num país de impasses e de decisões tomadas sem a devida discussão nem o equilíbrio entre os Poderes da República. Medidas provisórias que em qualquer país civilizado seriam consideradas ditatoriais, aqui são necessárias para que o Executivo garanta a governabilidade. Deputados e senadores precisam colocar em pauta as reformas e as propostas que nos garantam um novo pacto federativo e permitam uma tomada de decisões democráticas, sem polêmicas particulares na esteira de interesses eleitorais. Tudo seria mais simples se os ilustres representantes do povo nunca se esquecessem de uma lição escolar simples: o interesse público é o princípio da missão que lhes foi confiada pelos eleitores brasileiros.
MetrOpolIS • OLHAR BH
De volta aos anos 70 Marcos Pereira Quem passa em alguns quarteirões do Centro da cidade nos fins de semana se depara com uma cena singular: Soul Music no último volume, sapatos lustrosos, cabelos black cuidadosamente montados, sorrisos largos, gingado e muita alegria. Trata-se do Movimento Soul BH, que trouxe de volta à área central da cidade o encanto dos bailes black da década de 70. Embalados por nomes, como James Brown, brancos, negros, orientais, brasileiros e estrangeiros se reúnem para celebrar a diversidade.
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sumário Dilulgação/ SEE-MG
Henrique André
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entrevista • ANA LÚCIA GAZZOLA
Minas Gerais tem a educação pública melhor pontuada do Brasil. O desafio agora é reduzir a evasão escolar Stock.xchng
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metropolis.............................................. EDUCAÇÃO • ENGENHEIROS
A relação entre as dificuldades com a matemática e a falta de bons profissionais
Capa................................................................... CIDADES •
TRANSPORTE
Atraso histórico no investimento em transporte ferroviário agrava situação das rodovias brasileiras
meteorologia • Ruibran dos Reis A crise econômica na Europa e as mudanças climáticas ........
Artigos.............................................................................
ORIENTE MÉDIO • Frei Geraldo van Buul
política • Paulo Filho
Liturgia cristã em Jerusalém................................................
O ano que interessa..............................................................
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crônica • Joanita Gontijo IMOBILIÁRIO • Kênio Pereira O vício de decidir por intuição ..............................................
justiça • Robson Sávio Judicialização da política ....................................................
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SALUTARIS........................................................................
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RECEITA • PALADAR Salada de parma...............................................................
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VINHOS • Danilo Schirmer Prazer inexplorado ...........................................................
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PSICOLOGIA • Maria Angélica Falci Inimigo público ...................................................................
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Hora de des... descansar......................................................
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Guilherme Testa/ FutBase.net
Stock.xchng
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PODIUM......................................................... esportes • TALENTOS DA BASE
Conheça as maiores promessas do futebol dos principais clubes de Belo Horizonte
Divulgação
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Salutaris.................................................. CONSUMO • CERVEJA
Pesquisa aponta que cervejas nacionais têm muito milho. Bebidas artesanais são saborosas opções de substituição
Reprodução
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kultur.......................................................... MODA
• PERFIL
Eles nasceram no Brasil, conheceram o sucesso em Londres e divulgam tendências para os quatro cantos do mundo Divulgação/ Paramount Pictures
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SALUTARIS.................................................. SAÚDE • YOGA
Filosofia de vida, técnica de relaxamento ou uma ciência? Os benefícios do yoga
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kultur.......................................................... CINEMA
• OSCAR 2013
Academia anuncia indicados. Longa “Os miseráveis” (foto) é um dos destaques
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VERBO
Há vagas. Faltam alunos Em Minas, a evasão leva quatro entre dez estudantes da educação básica a não se matricularem no Ensino Médio. Dos que chegam lá, 35% desistem antes do terceiro ano Carlos Viana Da América do Sul à Ásia. As revoluções educacionais no Chile, na década de 90, e na Coreia do Sul, no período pós-Segunda Guerra, são apenas dois exemplos que indicam o caminho para o desenvolvimento social e econômico de países pela via do investimento maciço em educação. Enquanto a nação latina ostenta um dos melhores índices de desenvolvimento humano da América Latina, o tigre asiático despontou de vez como um importante polo tecnológico e científico mundial.
Quais são os maiores desafios da Educação em Minas? Um sistema como uma rede estadual, capilarizado nos 853 municípios, com escolas urbanas e rurais, indígenas, quilombolas, voltadas para comunidades ciganas, conservatórios de música, escola de educação especial,... é um universo extremamente diverso e heterogêneo. Nós temos problemas com merenda escolar, transporte, remuneração, carreira e infraestrutura, tanto predial quanto de equipamentos. Precisamos aumentar e garantir a qualidade e diversificar e ampliar a Educação de Jovens e Adultos (EJA). Os desafios são enormes, mas nada é mais importante para o futuro de um país do que o desenvolvimento da educação básica.
“Nada é mais importante para o futuro de um país do que o desenvolvimento da educação básica”
Mesmo com os avanços observados nas últimas décadas, o Brasil engatinha rumo à educação de qualidade. Em entrevista à Vox Objetiva, a secretária de estado de Educação de Minas Gerais, Ana Lúcia Gazzola, comenta os resultados atingidos no estado, em 2012. A secretária fala sobre investimentos e analisa a delicada situação de mais de 117 mil servidores: eles podem ser exonerados por causa de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) movida pela Procuradoria-Geral da República.
Ana Lúcia ocupou os cargos de vice-reitora e reitora da Universidade Federal de Minas Gerais, de 2002 a 2006. Durante dois anos, ela dirigiu o Instituto da Unesco para a Educação Superior da América Latina e do Caribe (Iesalc). Em 2010 esteve à frente da Secretaria de Desenvolvimento Social e, desde 2011, ocupa o cargo de secretária de estado de Educação.
Podemos dizer que as crianças e os jovens que queiram estudar estão em escolas públicas? Existem vagas?
Vagas existem. Temos até vagas ociosas em escolas. Mas muitas vezes ocorre de a pessoa não conseguir a vaga na escola que deseja. Não podemos superar o número de vagas que cada escola pode comportar. Mas nós criamos segundos endereços, alugamos prédios quando não temos espaços físicos, apoiamos os municípios, e eles nos apoiam para encontrar soluções pontuais. O Plano de Atendimento das Escolas Públicas é feito anualmente e em conjunto pelas superintendências regionais de ensino da rede
Divulgação/ SEE-MG
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estadual e pelas secretarias municipais de educação. Há um planejamento, uma análise da demanda e um plano de distribuição e oferta. O que a senhora tem a dizer a respeito da alfabetização, do ensino básico e médio em Minas? A gente já conseguiu universalizar o Ensino Fundamental em Minas Gerais, mas ainda não conseguimos universalizar a alfabetização. Ainda há 3% de mineiros adultos analfabetos. Para as Nações Unidas, um território é livre do analfabetismo, quando até 1% de adultos não estão alfabetizados. Nosso grande problema ainda é o Ensino Médio. Temos um número muito grande de pessoas que abandonam ou evadem. Em Minas há uma perda de 45% ao final do nono ano do Ensino Fundamental. Esses jovens não se matriculam no Ensino Médio. Perdemos 35% dos que entram do primeiro ao terceiro ano. É uma perda brutal, e isso é muito grave. A senhora tem ressaltado que Minas terminou 2012 como um dos estados mais premiados na educação pública brasileira. Quais foram os destaques?
O estado prevê um investimento de R$ 20 milhões iniciais na informatização do ensino. O que está previsto?
“Nosso grande problema ainda é o Ensino Médio. Temos um número muito grande de pessoas que abandonam ou evadem”
Eu citaria a sexta vez consecutiva em que nós tiramos o primeiro lugar nas Olimpíadas Brasileiras de Matemática das redes públicas – tanto no número geral de medalhas quanto no número de medalhas de ouro. Na premiação das Olimpíadas Brasileiras de Língua Portuguesa, Minas Gerais foi o estado com mais medalhas: quatro de ouro, sendo duas da rede estadual e duas da rede municipal. Houve uma greve muito prolongada e uma reposição de aulas questionável. Qual é o saldo desse ciclo que se fecha? O saldo é positivo. A gente até poderia dizer que, se não tivéssemos passado por essas dificuldades, talvez os resultados teriam sido até melhores. Mas isso é futurologia voltada ao passado. Basta ver os resultados
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como eles se deram. Nós ficamos em primeiro lugar no Brasil como rede estadual e como estado nos anos iniciais do Ensino Fundamental e somos a primeira rede pública a atingir o índice 6, que é considerado adequado em países industrializados. Então esses resultados foram muito importantes pra nós. Nos anos finais do Ensino Fundamental, a rede estadual ficou em segundo lugar, e o estado em terceiro. No Ensino Médio, a rede estadual alcançou o terceiro lugar, e o estado ficou em terceiro. Mas, de tudo, o que mais me alegra é o indicador de desempenho dos alunos. Nos três níveis do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), nossa rede estadual e o nosso estado ficaram em primeiro lugar.
Esses R$ 20 milhões são apenas para os 62 mil tablets que compramos com recursos do governo federal para todos os professores de Ensino Médio. Além disso, nós concluímos agora a compra de 7,6 mil computadores para melhorar os laboratórios digitais das 133 escolas do pilotão do Ensino Médio, sem prejuízo de continuar investindo nas demais escolas. Estamos planejando um investimento muito maior em 2013 e 2014 para atingir as 2,2 mil escolas do Ensino Médio. Em 2013 vamos implantar os laboratórios virtuais para o ensino de Ciências – tudo com recursos estaduais. Os tablets e as lousas digitais que vamos colocar em 3,7 mil escolas estaduais foram adquiridos com recursos do Ministério da Educação e do FNDE. Então nessa parceria importantíssima, vamos dizer, entre o ente federal e o ente estadual, vamos ter condição de dar um salto muito importante em uso de tecnologias de informação nas nossas escolas em geral e no Ensino Médio em particular. O governo está investindo na informatização e em novos padrões arquitetônicos para as escolas, inclusive criando a Casa-Escola. Mas o que falar do rendimento
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dos professores, aqueles que vão ensinar os alunos?
Divulgação/ SEE-MG
Só em 2012, conseguimos preencher 140 mil vagas de capacitação dos profissionais da educação. Nós fizemos capacitação o ano inteiro. Além disso, criamos o programa “Compartilhar para crescer” para aumentar a capacitação dos gestores escolares e de professores das 700 escolas que estão abaixo do desvio padrão. Estamos trabalhando para melhorar alguns recursos e a remuneração, criar a promoção por certificação ocupacional para os diretores de escola, evidentemente, discutindo a política remuneratória e mais avanços para o ano de 2013. Há pouco interesse pela profissão de professor. As universidades estão formando cada vez menos alunos nessa área. Também há um número muito grande de profissionais pedindo exoneração do cargo. O que dizer dessa profissão para o futuro? Olha, primeiro é preciso dizer que esse é um fenômeno internacional. No mundo cada vez mais tecnológico há muito imediatismo, novas carreiras e novas profissões. É verdade que faltam professores de algumas disciplinas em alguns municípios. Mas todos os 14 mil cargos que nós colocamos em concurso tiveram um enorme número de candidatos. As licenciaturas em algumas universidades estão com um decréscimo, mas o número de licenciaturas no país se multiplicou enormemente nos últimos 20 anos. Eu entendo que temos que voltar a tornar atraente a profissão de professor. Isso passa, certamente, por remuneração, mas também por carreiras, por capacitação e pela valorização social da função do professor. E a questão dos mais de 100 mil servidores que podem ser dispensados pela Adin que está lá no Supremo Tribunal Federal movida pela Procuradoria-Geral da República? A senhora já conversou com o governador Ipsumdessa Dolar sit amet aLorem respeito situação? consectetur adipiscing elit. Praesent malesuada urna Sim. libe. Esses servidores ornare
não correm o risco de ser exonerados agora. A Lei 100 continua em vigor, mesmo que haja uma decisão diferente do STF. Nós estamos
Ana Lúcia tem 29 anos de vida pública, foi vice-reitora e reitora da UFMG e é secretária de Educação há dois anos .........................................................................................................................
acompanhando a matéria. Eu acho que as pessoas têm que ter tranquilidade nesse momento. Claro que é difícil dizer isso. Mas o governo vai defendê-las de todas as formas, porque a Lei 100 foi restauradora de direitos. Os professores que não eram do quadro estavam dentro daquele regime especial. Era preciso recolher a contribuição e repassá-la ao INSS, mas o repasse não foi feito. Então esses profissionais não teríam sistema previdenciário, nem direito à aposentadoria. A Lei 100 representou uma negociação com o INSS para reduzir a multa que o estado teria de pagar, desde que o estado incorporasse as pessoas à previdência estadual. Portanto, o estado arcaria com o ônus de não ter feito transferência do recolhimento até aquele momento. A partir daí, o estado continuou recolhendo a previdência. Então não está onerando mais a previdência do estado. A coisa está sendo feita corretamente. É preciso ressaltar que esses profissionais não tiveram culpa. Eles tiveram o recolhimento, e o recurso não foi passado a quem de direito. O poder público não pode fazer esse tipo de coisa. É preciso restaurar o patamar de direitos. Foi esse o sentido da Lei 100. Estaremos conversando com o Sindicato dos Professores, mas nesse momento nós temos de acompanhar e preparar uma defesa extremamente consistente, porque ela é genuína e verdadeira.
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ARTIGO - POLÍTICA
pAULO fILHO Jornalista e consultor de Comunicação Social paulojfilho@ig.com.br
O ano que interessa A política nacional entrou em 2013 mirando exclusivamente em 2014. Para o governo e o PT, a reeleição de Dilma se resolve agora. Apesar do crescimento pífio, do pibinho, da constante “crise” no setor elétrico e dos sucessivos escândalos de corrupção no governo, se a presidente atravessar o ano arrastando seus índices de aprovação, a reeleição é o resultado mais claro e provável.
2013, Aécio terá de dizer a que veio e trabalhar pela construção e consolidação de sua candidatura. No seu caso, o fato de ser desconhecido nacionalmente representa um mal menor e fácil de ser resolvido diante de problemas maiores, que começam pela rejeição que Aécio sofre no PSDB de São Paulo. Mesmo com o apoio declarado e as articulações explícitas do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso a favor de Aécio, a seção paulista dos tucanos não esquece os movimentos do lulécio e do dilmasia nas últimas três eleições. Só para constar: os tucanos serristas já cogitam, mesmo que sem muito lastro, a candidatura do ex-governador José Serra por um novo partido. Assim dariam o troco das eleições passadas, retirando de Aécio a base e os votos em São Paulo.
Mantendo a atual avaliação nas pesquisas, Dilma entraria no processo eleitoral como o centro de uma polaridade política. Ela conseguiria arrebanhar a maioria dos apoios e, principalmente, manteria os pilares do projeto de poder petista: o aparelhamento da máquina pública, o PMDB e o PSB no balaio. Além disso, a presidente faria a cooptação do maior número possível de legendas menores. Assim Dilma desestimularia uma aventura do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (que poderia ser a candidatura presidencial ou uma composição com os tucanos) e, principalmente, poderia se impor internamente no PT, eliminando ruídos cada vez mais sonoros dentro e fora do partido que defendem a volta de Lula à disputa pela presidência.
Além da dubiedade de Eduardo Campos, Aécio tem de lidar com a possibilidade da candidatura de Marina Silva. Simulações atuais mostram que, com Marina candidata, Aécio veria implodida sua chance de ir ao segundo turno contra um candidato da situação. Com a eleição ainda distante, há tempo bastante para uma mudança nesse quadro, mas muito esforço terá que ser feito para a candidatura de Aécio vir a ser viável.
Para a oposição, o ano também promete. O senador tucano Aécio Neves é, até então, o candidato declarado e ungido por grande parte da cúpula do PSDB como o homem a enfrentar a presidente (ou Lula). Em
PS – Com a reeleição de Léo Burguês na mesa diretora, a Câmara Municipal de Belo Horizonte deu mais uma mostra de que, no Brasil, tudo que é ou está muito ruim, pode piorar.
Mantendo a atual avaliação nas pesquisas, Dilma entraria no processo eleitoral como o centro de uma polaridade política
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Notas Reprodução
E a novela continua... A esperada reforma da BR-381, conhecida como a mais perigosa rodovia do Brasil, pode não ser iniciada na data prevista pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). A licitação da duplicação do trecho entre BH e Governador Valadares foi suspensa, porque quatro construtoras identificaram irregularidades e equívocos no edital e entraram com recurso. O cronograma previa o início dos trabalhos em março. O Dnit nega que a suspensão implicará atrasos. Em nota à imprensa, o órgão informou que “há tempo hábil para a conclusão do processo licitatório”. No primeiro momento, estão previstas obras num trecho de 100,5 quilômetros – do Anel Rodoviário, em Belo Horizonte, a Jaguaraçu, no Vale do Aço. Só em 2012, mais de 120 pessoas perderam a vida na BR-381, de acordo com dados da Polícia Rodoviária Federal. A sinuosidade da via e o grande número de veículos pesados, que se misturam aos carros de passeio, representam um perigo para os que trafegam na Rodovia da Morte. Divulgação/ Dnit
Valiosos Segundo levantamento da empresa Pluri Consultoria, especializada nos negócios do esporte, cinco dos seis times brasileiros que vão disputar a Libertadores 2013 são os mais valiosos da competição. O Corinthians, cujo valor total de mercado gira em torno de 261,4 milhões de euros, encabeça a lista. São Paulo, Fluminense, Atlético Mineiro e Gêmio completam o “Top 5”. O sexto clube brasileiro, o Palmeiras, aparece na oitava colocação. Trinta e oito times, de 11 países, disputam o mais cobiçado título das Américas.
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Fim da dengue? Pesquisadores do Centro de Energia Nuclear na Agricultura da Universidade de São Paulo (USP) estão usando uma técnica aplicada e conhecida da ciência na tentativa de combater o Aedes aegypti. Os cientistas utilizam a radiação para esterilizar mosquitos e depois soltá-los na natureza. Os mosquitos do laboratório iriam competir com os outros machos para a cópula e não produziriam filhotes, o que ajudaria no controle da espécie. O experimento ainda está em teste.
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MetrOpolis • EDUCAÇÃO
Procuram-se engenheiros Shutterstock
A má qualificação dos profissionais de engenharia no Brasil tem feito as empresas preferirem a mão de obra estrangeira ..............................................................................................................................................................................................................................................................
Com a nova cara do Brasil, empresas nacionais e estrangeiras esbarram na falta de profissionais qualificados Luísa Reiff Guimarães Nos últimos anos, o Brasil vem passando por grandes mudanças. Se, em um passado recente, a economia brasileira era motivo de preocupação, esse paradigma vem se reciclando e se modernizando. Atualmente o mercado oferece muitas e boas vagas para profissionais da área de exatas, especialmente para os engenheiros. Entretanto, os formandos não
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têm sido capazes de suprir a demanda. Muitas vezes, esse fator resulta na contratação de mão de obra estrangeira. A base da formação escolar de grande parte dos brasileiros tem um problema preocupante: as escolas públicas de ensino fundamental e médio e muitas da rede particular não oferecem uma educação de
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qualidade. É preciso atentar para essa situação. As últimas gestões governamentais em nível federal consideram prioridade resolver essa situação. Mesmo assim é difícil que melhorias significativas sejam promovidas em curto prazo. Outro fato que impacta de forma negativa e forte a educação no país é a falta de valorização do professor. Não é de hoje que a classe dos educadores vem reclamando, negociando, brigando e, muitas vezes, sendo negligenciada tanto pelo governo federal quanto pelo estadual. O Brasil carece de 250 mil professores da área de exatas. O problema traz complicações na formação de novos e bons profissionais. “detesto matemática” É muito comum ouvir essa queixa partindo de estudantes. Eles estão preferindo se manter longe de cálculos, fórmulas e gráficos. É possível que a maioria deles esteja escolhendo a área de humanas, no vestibular, por causa dessa dificuldade. Em 2010, 66% dos estudantes aprovados em vestibulares em todo o Brasil ingressaram em cursos ligados às ciências humanas. Somente 13% optaram por engenharias, outros 13%, por ciências biológicas e os 8% restantes, por cursos de computação, ciências e matemática.
com relação ao restante da turma em matérias de maior dificuldade, como Cálculo I e II, perdem a motivação e acabam abandonando o curso. O professor Manoel de Almeida Neto, chefe do Departamento de Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), destaca fortes indícios para justificar as dificuldades encontradas pelos estudantes: a precária formação em matemática nos ensinos fundamental e médio. E para os alunos mais pobres, provenientes de escolas públicas, a dificuldade aumenta. Muitas vezes, os alunos do ProUni e cotistas conseguem inverter o déficit de formação em português e ter um desempenho acima da média. Mas nos cursos de exatas, geralmente eles apresentam problemas de desempenho, devido à falta de uma boa base em matemática.
Em 2010, apenas 13% dos estudantes aprovados em vestibulares em todo o Brasil optaram por engenharias
Dos alunos que escolhem alguma área da engenharia como curso superior, 40% não vão se formar. Essa informação vem de uma pesquisa encomendada por importantes instituições, como a Confederação Nacional da Indústria (CNI), o Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), o Instituto de Pesquisas Aplicadas (Ipea), o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) e a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE). A pesquisa aponta para as dificuldades encontradas nos estudos como motivo de desistência de muitos alunos. Eles ficam atrasados
Além disso, o professor aponta deficiências nas faculdades brasileiras. Para ele, muitas faculdades não formam os profissionais de maneira adequada por causa dessa carência. Com isso, poucos engenheiros conseguem se formar. E, muitas vezes, os engenheiros não saem da faculdade aptos para competir com a mão de obra estrangeira nem para desenvolver pesquisas que tragam reconhecimento e avanços para o Brasil. “A maior parte dos cursos superiores, sobretudo os do sistema privado, tem caráter vocacional. Esses cursos são mais voltados para o ensino e para a preparação para o mercado de trabalho do que para a pesquisa científica. Muitas vezes, esses cursos não conseguem nem mesmo atingir o objetivo a que se propõem. A má qualidade dos cursos se reflete nas notas baixas obtidas pelos formandos no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade), do Ministério da Educação. Somente cerca de 12% dos cursos obtêm notas 4 e 5, numa escala avaliada entre zero e 5”, relata Manoel Neto.
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MetrOpolis • EDUCAÇÃO
engenheiros seniores A demanda do mercado interno brasileiro por engenheiros é grande. É maior do que a que vem sendo suprida por profissionais bem-formados em território nacional. Esse fator leva muitas empresas a recorrer à importação de mão de obra. Há 20 anos não era assim. Os recém-formados daquela época não conseguiam emprego. Classificados atualmente como seniores – mais experientes –, esse grupo de engenheiros forma uma mão de obra de que o país também precisa muito. É o caso de Laura Maria Miranda. Ela se formou em engenharia civil pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), em 1982. Quando Laura saiu da faculdade, o mercado era restrito a poucas construtoras; estava praticamente estagnado, segundo revela a engenheira. “Nessa época, os novos engenheiros iam para o Iraque, onde as empreiteiras brasileiras eram responsáveis por grandes obras. Mas essa opção não me atraía. Fiquei três anos ‘tentando ser engenheira’, morando na casa dos meus pais, sem dinheiro nem emprego. Então eu guardei o diploma e Divulgação/ Petrobras
comecei a prestar concursos. Sou funcionária pública estadual desde 1986. Trabalho na Secretaria de Estado de Fazenda de Minas Gerais como auditora fiscal”. Essa é a realidade de muitos engenheiros. Laura trabalha com 13 funcionários. Seis deles são engenheiros civis e um é engenheiro eletricista. Todos com idade próxima dos 50 anos, eles seriam hoje engenheiros seniores, mas não conseguiram entrar no limitado mercado de trabalho da época. Mas se “ontem” os engenheiros procuravam vagas, hoje as vagas procuram engenheiros. Os estudantes que se formam e saem bem-preparados das universidades veem um mundo de opções à sua frente. Raquel Magalhães se formou em Engenharia de Minas há quatro meses pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Não precisou ir para o Iraque procurar uma vaga para exercer sua profissão nem prestar concursos públicos, atuando em uma área distante da que escolheu como carreira. A recém-formada trabalha em uma empresa canadense no estado de Goiás e se diz bastante satisfeita com o salário. Quando concluiu o curso, ela ainda estava insegura. Mas assim que assumiu o cargo de engenheira de minas júnior, sentiu-se apta para exercer a função. No que concerne à própria formação e à faculdade, a engenheira diz que não vê deficiência no desempenho dos professores. Mas quando a análise é sobre a estrutura do curso, Raquel entende que poderia haver mais investimento em certas áreas, como a de pesquisa e extensão, como foi destacado por Almeida Neto.
Os cursos de Engenharia de Minas e de Petróleo vêm registrando boa procura. A quantidade de cursos, no entanto, ainda é pequena .........................................................................................................................
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O docente defende a valorização dos professores como meio para aumentar o interesse dos alunos pelas ciências exatas. Para ele, só assim os alunos vão conseguir se formar com excelência e ficar em condições de suprir a demanda do mercado. Na visão do professor Almeida Neto, a valorização da atividade docente, combinada com o aquecimento do mercado e as ofertas de emprego para engenheiros, físicos e matemáticos, pode motivar os futuros alunos a ingressar na área.
Artigo • IMOBILIÁRIO
kÊNIO DE SOUZA PEREIRA Presidente da Comissão de Direito Imobiliário da OAB-MG keniopereira@caixaimobiliaria.com.br
O vício de decidir por intuição Não raramente as pessoas tratam de assuntos de grande complexidade de maneira simplista. Muitas não analisam as reais motivações, particularidades e consequências dessa postura. As pessoas simplesmente opinam com base no senso comum sobre questões que envolvem valores vultosos e relações familiares ou empresariais que deveriam ser preservadas. Elas dão a desculpa da falta de tempo e resolvem as questões com uma pressa que beira a irresponsabilidade. E aumenta o número de pessoas que decidem sem se importar com prejuízo, com o agravamento de um conflito nem com a busca de uma alternativa.
Da mesma maneira, vejo resultados de assembleias inacreditáveis. Decisões são tomadas de maneira ilógica e contrárias a uma orientação técnica. Isso acaba gerando custos adicionais e desgastes entre os condôminos. Nas reuniões sem coordenação de um especialista, o desastre é uma constante. E isso tem se agravado com a nova geração Dr. Google. O site de busca entende de tudo, pois se tornou expert no copiar e colar, inclusive na época de faculdade. O doutor em ciência política Francisco Weffort, concedeu entrevista à Folha de São Paulo no dia 24 de dezembro passado. Parte da declaração do Dr. Weffort me chamou a atenção: “A capacidade prática deste país de fazer sem saber é enorme. Uma vez conversei com uma figura importante na construção de Brasília. Ele comentava que tinham medo de que o lago não enchesse e as árvores não crescessem. Quase perguntei por que fizeram Brasília naquele lugar. Eles eram de grande audácia e de enorme ignorância, mas fizeram uma imensa cidade”.
“Decisões são tomadas de maneira ilógica e contrárias a uma orientação técnica”
Para economizar, as pessoas desvalorizam o conhecimento especializado, a consultoria isenta de interesse na conclusão do negócio e deliberam. Mas quando ocorre o problema, jogam a culpa nos outros ou dispõem de extrema rapidez e engenhosidade para criar uma desculpa. Assumir o prejuízo, nunca!
Assim, diariamente vemos pessoas inteligentes e de sucesso profissional se arrependendo do contrato que assinaram. Elas lamentam por não ter refletido sobre as cláusulas ou por não ter feito as contas. Queixam-se também por ter ignorado que deveriam planejar, projetar ou que poderia haver falhas na execução ou impontualidade do construtor que inviabilizasse seu êxito.
É impressionante o vício de o brasileiro pedir desculpa por erros previsíveis. Muitas vezes, os deslizes são alertados por alguém que participa da reunião, mas que é ignorado. Até argumentos pertinentes são subtraídos da ata para evitar que fique evidenciado o responsável por decisões infelizes.
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METROPOLIS • capa
Futuro encarrilhado
Henrique André
Até 2015, Região Metropolitana de Belo Horizonte pode ter de volta os trens de passageiros abandonados há cinco décadas Ilson Lima
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METROPOLIS • CAPA
Havia muitas décadas, o Brasil tinha deixado o trem de lado. Agora está pagando caro por não investir no modal ferroviário para o transporte de cargas e de passageiros. Omissão e descaso governamentais, corrupção e concessões malfeitas formam os ingredientes que até hoje dão prejuízos à sociedade brasileira. Tudo isso levou o sistema ao atraso de pelo menos 50 anos, segundo especialistas. O Ministério Público Federal estima prejuízos de pelo menos R$ 60 bilhões provocados pela inoperância e ineficiência do Estado na administração e fiscalização do patrimônio da antiga Rede Ferroviária Federal (RFFSA). Em todo o território nacional, são mais de 13 mil quilômetros da malha ferroviária concedidos a concessionárias, mas que estão abandonados ou subutilizados. Juntam-se a esse desperdício, os equipamentos da antiga estatal, compostos por quase 28 mil locomotivas, vagões e carros de passageiros depositados em pátios ou apodrecendo sobre trilhos sem nenhum destino formal. Na soma dos prejuízos, há um passivo trabalhista deixado pela extinta Rede avaliado em R$ 20 bilhões.
avalia o setor somente pela ótica financeira. “Como transporte é uma necessidade básica como educação, saúde e segurança, é preciso avaliar o setor pela ótica econômica, considerando os impactos positivos e negativos que estão envolvidos”, ressalta. “No mundo, todo modal metroferroviário é percebido por suas vantagens intrínsecas. Devem ser considerados fatores, como a capacidade de transportar grandes volumes de cargas e de passageiros com menor custo e durante longo prazo, a baixa emissão de poluentes, o menor custo energético e o baixo índice de acidentes desse tipo de transporte. Além disso, esse modal é mais confortável e confiável”, explica. Dos pouco mais de 28 mil quilômetros herdados pelas concessionárias, somente 15 mil são operados regularmente para o transporte de cargas. O restante está depredado, abandonado e com as faixas de domínio Henrique André
Badalada como uma solução bem-sucedida durante as privatizações ocorridas há 16 anos, a polêmica sobre as concessões da malha ferroviária brasileira permanece. Para muitos, o país se livrou de um problema e de um prejuízo diário de US$ 1 milhão para manter a extensa malha da Rede. Na época, a malha tinha pouco mais de 28 mil quilômetros. Essa extensão não aumentou. Entretanto, para muitos outros, o discurso do prejuízo e de erros de gerenciamento que havia na estatal não colam. Essa é a opinião do engenheiro civil e mestre em engenharia de transportes, Ubirajara Bahia. “Bastava corrigi-los (os erros), se essa fosse a vontade do governo federal na época. Mas não era. Tanto que o sistema foi entregue na bacia das almas para as empresas que formaram os consórcios que herdaram a malha”, critica. Para Bahia, numa concessão como essa, não se
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Trilhos soltos e enferrujados, vagões tombados e apodrecendo a céu aberto. A situação se estende por diversos trechos do país .........................................................................................................................
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invadidas por moradias e construções irregulares. As empresas que formaram os consórcios são as mesmas que transportavam suas cargas pela Rede. É o caso da Companhia Vale, controladora da Ferrovia Centro-Atlântica (FCA).
ferrovia do aço
Estima-se que as empresas tenham investido mais de R$ 35 bilhões no setor, desde as concessões. O movimento anual de cargas foi elevado de 137,2 bilhões de toneladas por quilômetro útil para 320 bilhões. O crescimento garantiu a expansão e avanços nas exportações de minérios, aço e grãos.
Os desperdícios com o dinheiro público não param por aí. A famosa Ferrovia do Aço é mais um exemplo do descaso. Anunciada em 1973, durante o chamado Milagre Econômico, a malha teria uma extensão de 834 quilômetros. Considerado de primeiro mundo, o projeto foi avaliado, na época, em US$ 1,1 bilhão. Por meio da Ferrovia do Aço, as principais metrópoles brasileiras – Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro – estariam interligadas, facilitando o transporte de mercadorias e principalmente de passageiros.
“As concessionárias investiram muito na malha ferroviária, mas somente os trechos que as interessavam operacionalmente foram beneficiados. Além disso, o governo federal financiou uma parte desses investimentos”, frisa Bahia. Para o especialista, da forma como foram feitas, as concessões representaram mais um erro cometido contra o sistema.
Como faz parte da cultura brasileira colecionar projetos fracassados ou inacabados, o projeto inicial dessa ferrovia não vingou. Dívidas gigantescas foram contraídas e acabaram caindo no colo dos contribuintes. E como também é próprio dos projetos que se prolongam no tempo, a crise econômica da década de 80 acabou por inviabilizar a continuidade Ubirajara Bahia/ ONGTrem
Integrantes da ONGTrem caminham sobre ponte de um dos trechos abandonados, entre Itabirito e Rio Acima .............................................................................................................................................................................................................................................................
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das obras da ferrovia. Atualmente apenas uma parte do trecho – uma linha – está em operação.
Fabio Rodrigues Pozzebom/ ABr
O resultado disso é visível em vários trechos da ferrovia. Entre Itabirito e Belo Horizonte há um trecho de cerca de 30 quilômetros por onde iriam passar os trens. O ramal está totalmente abandonado. O material da eletrificação da ferrovia, entre locomotivas, transformadores, tudo importado da Inglaterra, custou mais de US$ 500 milhões. Os componentes apodrecem num galpão da antiga RFFSA, na cidade de Cruzeiro, em São Paulo. em busca do tempo perdido Diante da situação, os governos federal e de vários estados resolveram reunir esforços e planejar o crescimento da economia brasileira, eliminando os gargalos que travam o desenvolvimento. A base desse planejamento é o transporte metroferroviário. Para isso, o governo prevê investimentos e a construção de 15 mil quilômetros de ferrovias nos próximos anos. Em agosto de 2012, o governo federal anunciou o pacote logístico para a construção de 10 mil quilômetros de ferrovias. Os recursos serão concedidos pelo Programa de Investimentos em Logística, da Empresa de Planejamento e Logística (EPL). Serão investidos R$ 56 bilhões nos primeiros cinco anos. Pelo cronograma da EPL, a publicação do edital e a licitação para 2,6 mil quilômetros de estradas estão previstas para ocorrer entre março e abril deste ano. A extensão corresponde a seis dos 12 trechos do Programa. Em seguida, entre maio e junho, será a vez do edital e da licitação para os 7,4 mil quilômetros de ferrovia para os seis trechos restantes. Além disso, outros 5 mil quilômetros de ferrovias estão sendo construídos por meio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC-2). Ainda que estejam aquém das necessidades, as propostas são consideradas significativas por especialistas, porque interligam o Brasil de norte a sul e de leste a oeste. Para o presidente da EPL, Bernardo Figueiredo, o país precisa de mais 50 mil quilômetros
O presidente da EPL, Bernardo Figueiredo, acredita que o Brasil precise de 50 mil quilômetros de ferrovias .........................................................................................................................
de ferrovias, mas ele teme o longo tempo gasto no Brasil para impulsionar projetos como esse. “A EPL vai estudar e programar novos projetos para permitir atingir a meta de dotar o país de uma malha ferroviária adequada para atender a prioridades a serem definidas no Plano Nacional de Logística Integrada. O Plano deve estar pronto em 2014”, prevê Figueiredo. “O PAC-2 e o plano da EPL são a primeira iniciativa estruturada para dotar o país de um sistema de transporte ferroviário adequado, após duas décadas de baixo investimento”, afirma Figueiredo. trem de alta velocidade Outro projeto que promete impulsionar o setor e ser um divisor no transporte de passageiros no país é o Trem de Alta Velocidade (TAV). O edital foi publicado e prevê o leilão para a participação dos investidores em setembro deste ano. Nas marchas e contramarchas do processo, o projeto teve que ser revisto pelo governo federal. Previsto para julho de 2011, o primeiro leilão fracassou, porque não conseguiu atrair interessados. As mudanças no edital amenizaram os riscos dos investidores. Dessa vez, a crença é de que o projeto
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venha a se concretizar. “O TAV vem para atender à mobilidade nos espaços urbanos densamente ocupados das cidades do Rio de Janeiro, de São Paulo e Campinas”, justifica Bernardo Figueiredo. O TAV vai integrar as três cidades, que somam mais de 33,3 milhões de habitantes, e desafogar os aeroportos internacionais do Galeão, de Cumbica e Viracopos. “Com rodovias e aeroportos saturados, a solução é um ter um sistema de transporte moderno, eficiente e com capacidade para atender a todos e em padrões adequados de qualidade e segurança. O trajeto do TAV vai proporcionar melhores condições para realizar o potencial econômico de centros regionais, como Volta Redonda, São José dos Campos e Campinas”, garante Figueiredo. O investimento no TAV está estimado em R$ 35 bilhões. Com velocidade de até 350 km/h, o trem vai fazer uma viagem entre Rio e São Paulo em 99 minutos. A modalidade vai concorrer diretamente com o transporte aéreo. Bahia acredita que o TAV ligando o Rio a São Paulo e Campinas seja apenas o trecho embrionário para a futura rede do TAV brasileira.
Dentre os objetivos do projeto está a busca da solução para um dos mais graves problemas vividos atualmente pela RMBH: as dificuldades da mobilidade urbana. “O transporte de passageiros sobre trilhos representa uma solução econômica e socialmente inclusiva, que permite a integração com outros modais, como o metrô e o BRT”, diz o diretor de Planejamento Metropolitano da Agência RMBH, Adrian Machado Batista. O novo serviço de transporte de passageiros vai ser operado em pouco mais de 500 quilômetros de trilhos existentes na Região Metropolitana e no seu entorno. Os trechos que integram o projeto são três: Sete Lagoas – Divinópolis, passando por Belo Horizonte, denominado lote 01; trecho Belo Horizonte – Brumadinho, chamado de lote 02; e trecho Belo Horizonte – Nova Lima – Conselheiro Lafaiete – Ouro Preto, o lote 03.
O TAV vai integrar Rio, São Paulo e Campinas e desafogar os aeroportos do Galeão, de Cumbica e Viracopos
“BH precisa se conectar a esse projeto, e a Ferrovia do Aço pode servir como conexão de BH com Rio e São Paulo. Afinal, o projeto original dessa ferrovia prevê a duplicação ao longo de todo o trajeto, mas hoje a operação se reduz a apenas uma linha, que é operada para o transporte de minério”, argumenta. eta trem bão, sô! Na esteira dos projetos para o desenvolvimento do transporte ferroviário de carga, o transporte regional de passageiros por trilhos vem sendo resgatado pelo governo do estado de Minas Gerais. O Projeto Trem foi viabilizado pelo Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado da Região Metropolitana de Belo Horizonte
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(PDDI) e baseado em estudos mais recentes realizados pela Agência de Desenvolvimento da RMBH e por vários setores da sociedade.
Segundo o diretor-geral da Agência RMBH, Camilo Fraga Reis, os projetos dos lotes 01 e 02 devem ser concluídos em março. E os editais para a consulta pública devem estar prontos até o fim do primeiro semestre deste ano. “Acredito que os contratos de concessão sejam assinados no início de 2014”, estima. Ele admite que o lote 03 deve ter o andamento mais demorado, por fazer parte dos trechos que foram abandonados pela FCA e por envolver questões legais entre essa empresa e a União. “Trata-se de um trecho que não está sendo usado nem recebeu manutenção nos últimos anos. Em alguns locais, o trilho foi retirado. É um trecho que necessita de maiores investimentos. Por outro lado, há a possibilidade de devolução desse trecho da FCA à União mediante ressarcimento. Essa hipótese garantiria recursos para os investimentos necessários à reativação do trecho”, explica.
Artigo • Justiça
ROBSON SÁVIO REIS SOUZA Filósofo e cientista social robsonsavio@yahoo.com.br
Judicialização da política Nos últimos tempos percebemos uma tendência em que todo e qualquer conflito - de ordem pessoal, institucional ou moral - deve ser dirimido exclusivamente pelo Poder Judiciário. Há uma preocupante e crescente incapacidade de resolução dos conflitos por vias extrajudiciais. Isso faz com que o Poder dos Tribunais se consolide em detrimento dos demais poderes. É uma afronta ao princípio basilar da república: harmonia e independência entre os poderes. E o mais grave: aos poucos, o direito penal começa a substituir e a sobrepor os direitos constitucionais.
de contas à sociedade? Qual a participação popular na configuração do Judiciário? A onipotência das togas, numa democracia, é indesejável. Não podemos concordar que uma elite jurídica, qual casta incorruptível, venha a determinar os rumos da vida republicana em detrimento da ação política. Juízes não podem ser os donos da verdade. Afinal a democracia só é possível dentro dos marcos do pluralismo das ideias, e as decisões da justiça não podem extirpar a possibilidade do surgimento dos conflitos sociais e da plena mediação de tais conflitos por todos os poderes republicanos, não somente pelas vias jurídicas e judiciárias.
“A onipotência das togas, numa democracia, é indesejável”
Vários comentaristas políticos brasileiros têm demonstrado o perigo de um poder autocrático, como o Judiciário, definir os rumos da vida social e institucional. É nesse cenário que a crescente judicialização da política se torna um risco à democracia. Não podemos esquecer que o Judiciário é o poder menos transparente, menos democrático, mais aristocrático e mais distante da “vida como ela é”, como dizia Nelson Rodrigues.
É verdade que há inúmeros políticos de conduta duvidosa no Legislativo e no Executivo. Mas esses dois poderes, não obstante suas mazelas, têm mecanismos de prestação de contas e controles interno e externo relativamente efetivos. E em relação ao Judiciário, o que podemos dizer em termos de transparência, controle e prestação
Infelizmente nós estamos caminhando a passos largos para uma onipotência judicial ou, se preferirmos, para um governo dos juízes em que as grandes decisões políticas vão se deslocando do âmbito do Legislativo e do Executivo para o do Poder Judiciário. Isso não é avanço institucional. Pelo contrário. Trata-se de retrocesso. A Constituição de 1988, a carta cidadã, estabelece em seu artigo 1º, parágrafo Único: “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta constituição.” Portanto, está claro e cristalino: não é o Judiciário quem dá a última palavra. No artigo 1º, que inaugura a nossa Carta Magna, está definido: o poder emana do povo.
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SALUTARIS • CONSUMO
Gato por lebre Quase metade da cevada é substituída por milho no processo produtivo das grandes cervejarias brasileiras. Enquanto isso, cresce o número de pequenos produtores, e as cervejas artesanais começam a cair no gosto do brasileiro André Martins Um breve descuido e “pow”. Uma das “lendas” que remontam à origem da cerveja diz que tudo começou a partir de um pedaço de pão abandonado na mira de uma goteira. Após um breve processo de fermentação e a intervenção do acaso, surgia um líquido de sabor incomum. A rudimentar cerveja, que havia milhares de anos teria sido “inventada” na região que hoje compreende o território iraquiano, recebeu o nome de cerevisia, em homenagem à deusa romana da agricultura Ceres. Com o tempo, a cevada foi incorporada às mais tradicionais receitas de cerveja, assim como o lúpulo. “Descoberta” por monges, constatou-se que a planta era capaz de liberar substâncias responsáveis por conferir amargor à cerveja e anular levemente o adocicado do malte. Água, cevada e o lúpulo: essas são as matérias-primas da terceira
bebida mais mundo.
do
A cerveja fica atrás somente da água e do chá. Há também os tipos elaborados a partir de outros grãos, exemplo do arroz e do trigo, mas o apreço popular é mesmo pela cerveja à base de malte. As variações na torrefação dos grãos de cevada, as técnicas de fermentação, as concentrações de lúpulo e a adição de aromas garantem uma diversidade inimaginável de marcas e sabores. Precisar o número de rótulos existentes não é tarefa fácil, haja vista a expansão do mercado e o gradual aumento do número de pequenos produtores. Muitos deles são fabricantes de cervejas destinadas ao consumo próprio. Quem produz em pequena escala garante que nunca um lote é igual ao outro. O Brasil é o terceiro maior produtor da bebida no mundo. Em 2011, 13,3 bilhões de litros de cerveja foram fabricados no território nacional. Foram 433 milhões de litros a mais do que em 2010, de acordo com dados da Stock.xchng
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popular
SALUTARIS • CONSUMO
Associação Brasileira de Bebidas (Abrabe). Por aqui, a cerveja responde por quase 90% do mercado brasileiro de bebidas alcoólicas. Por si só, esse número revela que a “loirinha” tem, sim, o status de queridinha nacional. Ainda de acordo com dados da Abrabe, o brasileiro consome, em média, 64,4 litros de cerveja por ano. E o consumo é sazonal. muito milho A legislação brasileira estabelece que a cevada, principal ingrediente das cervejas maltadas, pode ser substituída em até 45% por qualquer grão que seja fonte de amido fermentado. Dentre os ingredientes de substituição possíveis, o milho é o mais utilizado pelas cervejarias. Além de conferir leveza à bebida, o grão diminui os custos de produção. O problema é que, quanto mais adjuntos de substituição, menor é a qualidade da cerveja. E o limite de milho permitido tem sido extrapolado. É isso que aponta um estudo da USP de Piracicaba (SP) elaborado em parceria com a Unicamp.
A Ambev, responsável por produzir diversas marcas de cerveja nacional, incluindo Brahma, Skol e Antártica, disse que prima pelo alto padrão de qualidade de seus produtos. A empresa ressaltou que “o controle quanto à quantidade de malte de cevada é necessário para obter uma cerveja com características adaptadas ao paladar do consumidor brasileiro: leve, refrescante e de corpo suave”, declarou em nota. Todas as cervejas citadas tiveram a porcentagem de milho extrapolada, de acordo com o estudo. A sommelier em cerveja e jornalista Fabiana Arreguy acredita que a indústria nacional desempenhe bem o papel a que se propõe, dando origem a cervejas capazes André Martins
Coordenada pela bióloga Sílvia Mardegan, a análise se baseia na definição dos tipos de carbono 13C e 12C e no comportamento de certas plantas, enquanto fazem a fotossíntese. “Durante os processos bioquímicos da fotossíntese, em que o carbono presente na atmosfera é assimilado pelas plantas e convertido em açúcares, ocorre a discriminação contra o isótopo ‘mais pesado’, o 13C. Como há diferenças nos processos das fotossínteses dos grupos de plantas C3 e C4, ocorre uma variação nessa discriminação, resultando em composições isotópicas distintas”, detalha. As plantas com ciclo C3, caso da cevada, apresentam valores em torno de -28% do carbono 13C, enquanto as plantas do ciclo C4, como o milho e a cana-de-açúcar, apresentam valores em torno de -12%. A partir das definições de porcentagem do carbono mais pesado nas cervejas, um modelo matemático permitiu aos pesquisadores definir o percentual de milho e cevada presente nos rótulos nacionais. O resultado da pesquisa evidenciou que a maioria das cervejas brasileiras apresenta proporção quase equivalente de milho e cevada.
Para Fabiana, as cervejas artesanais podem agradar pelo sabor ...........................................................................................................................
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SALUTARIS • CONSUMO
Embora a pesquisa não revele, o motivo para a substituição da cevada pelo milho seria, também, diminuir os custos de produção ..............................................................................................................................................................................................................................................................
de matar a sede do público de massa. “Para tanto, essa cerveja deve ser isenta de sabores e aromas que sobressaiam e não deve ter muito corpo nem álcool. Devem ser servidas estupidamente geladas para amortecer nossas papilas gustativas”, explica. No entanto, a sommelier entende que a fiscalização por parte dos órgãos competentes deveria ser mais incisiva. Se há uma legislação que preze pela qualidade das cervejas nacionais, ela deveria ser posta em prática de forma efetiva. “A deslealdade, a meu ver, não é só do fabricante, mas também daqueles que fazem cumprir a nossa legislação. Se há uma determinação de porcentagem de insumos, isso deveria ser fiscalizado, cobrado e, no caso de descumprimento, gerar sanções”, opina Fabiana. ARTESÃOS DO SABOR Paralelamente à produção em grande escala, as chamadas microcervejarias têm sido responsáveis por inundar as prateleiras dos supermercados de novas opções de sabor. Comandadas por pequenos produtores, essas marcas correspondem a uma fatia
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ínfima do setor cervejeiro nacional – somente 0,15%. São cerca de 200 pequenas indústrias concentradas nas regiões Sul e Sudeste. Mas o aumento da renda e a disposição do brasileiro a se aventurar por outras experiências sensoriais fazem com que a Abrabe projete um crescimento desses microprodutores de quase 2% em dez anos. Fabiana Arreguy acredita que o brasileiro aprecie as cervejas populares por uma questão de fidelidade a rótulos. Nada que não possa ser revisto. “Isso ainda é moeda corrente por aqui. Sabemos que o paladar é treinável. Mesmo sendo diferente do gosto com o qual estamos acostumados, as cervejas elaboradas dentro do conceito da ‘Lei da Pureza’ bávara podem agradar muito ao brasileiro, pois contêm sabor”, entende. Pablo Carvalho, de 33 anos, é o que se pode chamar de aficionado por cerveja. A paixão é tamanha que a profissão de designer gráfico foi ficando em segundo plano, ao longo dos anos. Ele é um dos mais de 600 produtores artesanais em atividade em Minas Gerais. Há cinco anos, ele produz cerveja, dá cursos e presta consultoria na área. “Tudo começou com uma
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curiosidade. Eu tinha amigos que produziam e achei interessante. Comecei como hobby. Aprendi trocando informações com amigos e pesquisando”, conta. A primeira “leva” superou as expectativas. Pablo conta que até recebeu elogios. “A primeira experiência é sempre uma surpresa. Mas consegui, desde o início, fazer uma cerveja boa”. A La Roche, como é chamada, participou de um concurso e surpreendeu, figurando entre as finalistas. Todos os meses, Pablo produz cerca de 40 litros. É uma cerveja tipo belga, clara e com concentração alcoólica que gira em torno de 7,5%. É uma receita consolidada. O desejo de criar um rótulo e produzir
artesanalmente existe, mas de acordo com Pablo, isso requer investimentos altos demais para o momento. Para os que desejam produzir para o consumo próprio, o cervejeiro desfaz qualquer segredo. “Os equipamentos básicos para a produção são caldeirões de alumínio, baldes, alguns instrumentos de laboratório, como densímetro, termômetro,... São coisas que a gente encontra na região do Mercado Central. Tirando a geladeira e o freezer, que são necessários para uma fermentação controlada, eu calculo que esses equipamentos saiam por R$ 1 mil”, detalha. A cevada e o malte podem ser adquiridos em lojas virtuais que entregam em casa. Para produzir os 40 litros de cerveja, Pablo gasta de R$ 80 a R$ 100 com insumos.
Novos sabores A pedido da Vox Objetiva, a sommelier Fabiana Arreguy dá sugestões de cervejas artesanais produzidas no Brasil e sugere harmonizações de petiscos.
Caium, da Cervejaria Colorado Características: leva maltes e lúpulo importados. Produzida em Ribeirão Preto (SP), essa bebida tem o diferencial de ter a mandioca na composição – ingrediente amplamente utilizado pelos índios brasileiros na alimentação e na produção de bebidas. Harmoniza com torresminho com linguiça.
X, da Cervejaria Wals Características: lupulada, bastante aromática, refrescante e integralmente fiel ao estilo Pielsen. Atende ao gosto do brasileiro. Cristalina, essa cerveja apresenta um toque floral suave e, ao mesmo tempo, marcante. Harmoniza com tira-gostos mais picantes, exemplo do salaminho.
Swchwarbier, da Cervejaria Bamberg Características: cerveja escura, feita com maltes tostados dos quais desprendem aromas de café e chocolate. Com essa bebida, percebemos como é possível criar vários tipos de cerveja a partir dos mesmos ingredientes. Harmoniza com costelinha de porco ao molho barbecue.
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SALUTARIS • SAÚDE
Corpo e mente sãos Yoga pode melhorar vidas, trazer equilíbrio e felicidade. O mais importante? Deixar o preconceito bem longe Luísa Reiff Guimarães Namaste! Essa é a saudação que os praticantes de yoga recebem assim que chegam à sala de aula e quando vão embora. O cumprimento significa “O ser de luz que habita o meu coração saúda o ser de luz que habita o seu coração”. A palavra vem do sânscrito, idioma que era falado na Índia, mas que, atualmente, é basicamente restrito a rituais religiosos. A palavra yoga também vem da mesma língua. A pronúncia varia entre “yôga” e “yóga”; não há um consenso quanto à pronúncia considerada correta. Acredita-se que o yoga surgiu há 5 mil anos, mas os primeiros registros escritos sobre a atividade datam de 2 mil anos. Trata-se de um grande livro chamado “Yoga Sutra”, que contém ensinamentos para a prática visando a evolução do espírito e o equilibro e junção do corpo e da mente. O autor do livro é o siddha (iogue perfeito) Patañjali, que viveu na Índia no século IV d.C. O yoga é benéfico para a saúde física, mental e espiritual do praticante. Trata-se de um exercício para a autocura para vários males. É também uma ciência baseada nas leis da física e da natureza; é uma filosofia de vida que auxilia na construção e no aprimoramento da personalidade, do caráter e do código de ética. Além disso, a atividade é responsável por desenvolver a consciência do próprio ser ou do que pode ser feito de bom para si, para os outros e para o mundo durante a vida. Hospitais de renome em vários países, como o Massachusetts General Hospital, Memorial Sloan-Ketterin Cancer Center, A.C. Camargo, dentre outros, adotam o yoga como terapia complementar para vários tratamentos. Foi provada a eficácia da prática na ajuda do tratamento contra o câncer, a artrose, distúrbios do sono, ansiedade, depressão, transtornos alimentares, hipertensão,... Esses estudos foram publicados em veículos, como o Archives of Internal Medicine, e desenvolvidos em instituições respeitáveis. A Boston University School of Medicine e a Universidade Federal de São Paulo são alguns exemplos. Dentro do yoga, existem várias modalidades, até mesmo para que todos possam se encaixar em alguma. Podem praticar crianças, grávidas, adolescentes, adultos saudáveis e doentes, portadores de enfermidades crônicas ou passageiras e idosos. Há uma frase muito dita por mestres: “Podem fazer yoga homens gordos e magros, doentes e saudáveis, velhos e novos. Só não podem praticar os preguiçosos”.
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SALUTARIS • SAÚDE
Voltando às modalidades, a prática da saúde perfeita, que massageia e pressiona órgãos e glândulas, com terapias semelhantes às somatocêntricas, chamase Hatha-yoga. O Rája é conhecido como o yoga mental, Laya, como yoga da paranormalidade, Bhakti, como devocional, Karma, como yoga da ação, Jñána, como autoconhecimento. Também existem práticas voltadas ao domínio do som, da sensorialidade e da autossuperação e autoentrega.
Luísa Reiff Guimarães
Maria José Marinho é praticante, professora e encantada com yoga. Tinha 23 anos quando começou a praticar e nunca mais parou. Hoje tem 81. Até começar a praticar, ela vivia muito bem, mas sentia que havia uma mágoa dentro de si, uma melancolia. Foi visitar a mãe do Rio de Janeiro e se encontrou com uma irmã que “era nervosa, mas estava mais calma; tinha espinhas, e estava com a pele limpa”. A irmã explicou a origem das mudanças: “eu estou fazendo yoga. É um exercício que parece ginástica, mas não é. Ensina a respirar de maneiras específicas, exercita e acalma”, relembra. O professor da irmã de Maria José era um dos pioneiros do yoga no Brasil, Caio Miranda. Foi com ele que ela começou a praticar e depois se formou professora, em 1965. Com a memória excepcionalmente boa, ela dá o endereço do estúdio em que praticou pela primeira vez. “Rua Visconde de Pirajá, 22. Não me esqueço nunca”. Quando voltou para Belo Horizonte, alugou uma sala na Rua Carijós e foi conhecendo pessoas que a convidaram para dar aulas semanais na televisão e fazer parte de um projeto social ligado à Associação Médica. O número de alunos e interessados foi ficando cada vez maior. Foi 11 vezes à Índia praticar com os mestres, aprimorou-se e trouxe grandes nomes a BH. Maria José formou mais de mil professores. Mas também houve percalços em seu caminho. Sua maior dificuldade era combater o desconhecimento das pessoas. Relembrando, conta que quando deu aula em Curvelo, fez muito sucesso. Eram 78 alunos, incluindo familiares de Ivo Pitanguy. Com tantos adeptos, alguns recorreram ao padre da igreja local para saber
A octogenária Maria José pratica yoga há quase 60 anos .........................................................................................................................
se praticar yoga era considerado pecado. O padre, desinformado sobre a prática, escreveu em um jornal católico um artigo intitulado “Será que os curvelanos estão virando pagãos?” Ela, de forma doce, diz que “não deu conta de responder, porque ficou com medo do padre” e que recorreu ao professor Caio Miranda. Muito mais experiente, ele mandou uma carta com esclarecimentos e livros ao padre que, depois de algum tempo, entrou para as aulas de yoga. A professora foi iniciadora de vários projetos, como a Semana do Yoga pela Paz e congressos. Um desses projetos foi o “Liberdade atrás das Grades”, em que ela dava aula para presidiárias, além de programar atividades de meditação, costura e jardinagem. A melhora das internas foi atestada por psicólogos do presídio. Elas brigavam menos, tomavam menos remédios, e o índice de reincidência diminuiu. “Era
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sALUTARIS • SAÚDE
Luísa Reiff Guimarães
uma reeducação de dentro para fora, de alma e de mente”, afirma. Uma das professoras que estudaram com Maria José é Juliana Slatner. A vida dela com o yoga começou há nove anos com a leitura e meditação, no momento em que ela procurava mudanças. Iniciou a prática sozinha. Ela conta que os livros foram seus primeiros grandes mestres. Hoje Juliana acha imprescindível o acompanhamento de um professor. “É muito importante ter alguém que seja uma referência para sentir confiança ao se entregar a algo novo”, diz. Ela é professora de ashtanga yoga. De modo sempre suave, conta que aprendeu o método, quando morou e estudou em Israel. Uma das primeiras lições aprendidas foi a humildade. Juliana praticava ao lado de pessoas muito mais experientes e tinha aulas em uma língua que não entendia. Então a atenção aos movimentos precisava ser redobrada. Juliana esclarece sobre a prática, explicando que a ashtanga significa “oito partes”. “É como se fossem oito degraus. Os dois primeiros estão ligados ao comportamento, à forma de viver, a ações, como ser grato e falar a verdade. O terceiro degrau são as posturas; o quarto é o pranayama, que é a respiração; o quinto degrau se trata da abstração dos sentidos; o sexto é a concentração; o sétimo, meditação; e o oitavo é o estado pleno”, esmiúça. Na sua formação também está o Instituto indiano Shri K. Pattabhi Jois Ashtanga Yoga. Para receber o certificado de professora, é preciso ir quatro vezes seguidas estudar, aprender e praticar na Índia. Ela está retornando àquele país para sua segunda etapa na escola. Durante as viagens que faz, Juliana já praticou yoga em monastérios de monjas budistas, fez uma caminhada de 17 dias pelo Nepal e teve muitas outras vivências enriquecedoras.
Juliana diz que os alunos são uma inspiração. Quando vê o empenho deles, ela se lembra do próprio esforço .........................................................................................................................
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Com essas experiências, são vários os aprendizados. Ela recorda como é importante não roubar a alegria das pessoas com o que se diz, roubar o sonho de alguém com o desestímulo, roubar o ânimo com a crítica desnecessária. Assim ela conta que vive bem, dorme em paz e fica em harmonia consigo e com os outros.
ARTIGO • PSICOLOGIA
maria angélica falci Psicóloga clínica e especialista em Saúde Mental angelfalci@hotmail.com
Inimigo público O mau humor é considerado um inimigo público. Além de trazer muitos danos para a própria pessoa – por aumentar os riscos de doenças cardiovasculares e reduzir a imunidade, o potencial de concentração e a análise crítica –, o sentimento atinge, ao mesmo tempo, as pessoas que circundam o mal-humorado, contamina ambientes e maltrata as relações em demasia. Existem algumas situações que realmente tiram da pessoa o bom humor. Em geral, os motivos são decorrentes de conflitos de diversas ordens: profissionais, conjugais, familiares, financeiras. Elementos circunstanciais, como mudanças climáticas e trânsito caótico, também têm o poder de alterar o humor.
circundam o mal-humorado são levadas a participar de um ciclo nocivo e cansativo, pois lidar com pessoas irritativas, amargas, negativas e agressivas, que criam muitas fantasias e laços perigosos, é algo ameaçador ao bem-estar ‘público’. Porém, pessoas que aceitam a realidade de seu estado emocional e se esforçam para se livrar do mau humor alcançam momentos mais intensos de satisfação. Sabemos que não é um processo fácil, mas é necessário ter em mente que existem possibilidades. É preciso ter disciplina e desenvolver a capacidade de monitorar as atitudes constantemente.
“Os que conseguem maior controle emocional passam a sentir a vida sob controle e assim vivem com bem-estar, têm sensações de felicidade e as relações ajustadas”
O sentimento surge em grande parte das pessoas. Mas, se você apresenta uma constância de mau humor, precisa tomar cuidados. Em muitos casos, isso pode sinalizar sintomas de transtornos mais graves, como a distimia, ciclotimia, depressão acentuada, bipolaridade, dentre outros.
Pessoas que ficam constantemente sob o domínio do mau humor provocam reações fisiológicas e ambientais. O organismo delas libera uma cascata de hormônios prejudiciais, pois fazem com que a mente fique em alerta no nível máximo, levando o corpo à exaustão. Consequentemente as pessoas que
Os que conseguem maior controle emocional relatam que o “céu é o limite”, pois passam a sentir a vida sob controle e assim vivem com bem-estar, têm sensações de felicidade e as relações ajustadas.
Vale a pena investir em você. Procure neutralizar o principal combustível do mau humor: os pensamentos negativos. São eles que tornam o dia pesado, com vários desconfortos e contrariedades. Muitas vezes vivemos rodeados de pessoas e situações que nos levam a ver somente o lado ruim da vida. Fuja, evite, delete da sua vida situações que não agregam e faça um grande esforço para não se tornar excessivamente crítico e poliqueixoso com a sua vida. Neste novo ano, adote posturas mais otimistas e realidades concretas e possíveis.
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SALUTARIS • receita
Salada de parma Divulgação/ Rede Gourmet
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INGREDIENTES:
MODO DE PREPARO:
20 g de folhas verdes rasgadas 50 g de tomate seco 50 g de queijo de parma 3 unidades de bacon em tiras assadas em micro-ondas Alface roxa Redução de aceto balsâmico
Dispor as folhas de alface sobre o prato, formando uma torre. Dispor o tomate seco e o queijo de forma harmoniosa sobre a torre. Adicionar o bacon e regar com redução de aceto balsâmico.
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SALUTARIS • vinhos
Prazer inexplorado Danilo Schirmer Sempre que falamos sobre vinho, a primeira imagem que vem à cabeça é de uma bela taça de vinho tinto. E não é por acaso. A uva tinta é o tipo mais produzido pelos quatro cantos do mundo. Esse fator gera maior oferta de exemplares de vinho tinto, tornando-o o tipo de vinho mais popular e consumido no mercado. É o mais comum, mas não é o único existente. Vinhos brancos, rosés, espumantes, colheita tardia, licorosos ou fortificados são outros exemplos. Em sintonia com o verão, vamos falar sobre o vinho branco. Não que esse tipo de vinho só deva ser apreciado no calor, mas porque é quase imprescindível nessa época, em função da refrescância. Em geral, os vinhos brancos são mais aromáticos e frutados, lembrando até aromas de flores. Esse tipo de vinho também remete à elegância, à alegria e à jovialidade, além de ser versátil na hora de harmonizar com diferentes tipos de prato. Existem inúmeras opções de rótulos importados e nacionais no mercado. As uvas Chardonnay, Riesling, Sauvignon Blanc e Gewurztraminer são as mais conhecidas por estudiosos e apreciadores. Cada tipo tem característica própria. Dependendo do local em que a uva foi cultivada, a fruta traz também características da região (principalmente aroma e sabor). Em geral, os vinhos brancos são produzidos para ser consumidos jovens, ou seja, próximo da data de sua safra. Assim os aromas e sabores presentes na uva e na terra em que a fruta foi cultivada são preservados. Mas alguns enólogos elaboram vinhos brancos mais estruturados e complexos. Esses vinhos estagiam em barricas de carvalho. O procedimento propicia uma longevidade aos vinhos. Sugiro um rótulo em especial: Casa Valduga Gran Reserva Chardonnay. Esse rótulo ganhou inúmeras premiações internacionais, inclusive o de melhor vinho branco brasileiro em várias degustações às cegas. O vinho estagiou em barricas de carvalho francesas e romenas, o que trouxe aromas e sabores únicos para a bebida. Sem dúvida, essa foi uma grata surpresa para os entusiastas da bebida. Reprodução
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podium • ESPORTE
Garotos de ouro Jogadores das categorias de base dos principais clubes mineiros se destacam e são apontados como promessas Thiago Madureira
Bruno Cantini xxxxx
Tal qual a extração de pedras preciosas, assim é o trabalho na categoria de base dos clubes de futebol. Acima de tudo, é preciso ter atenção, olhos de lince para que nenhuma raridade escape das mãos. Sem a insalubridade das minas, nos campos, o processo de lapidação é ainda mais cuidadoso e demorado. Todos os anos, milhares de garotos participam de seleções para se habilitar a uma vaga. Mas poucos conseguem. Se aprovados, permanecem por anos nas divisões de base. Um apertado funil os separa do sonho de se tornarem novos ídolos. “É na base que nasce o craque do futuro, a joia. Lá são formados jogadores que darão o retorno técnico e financeiro para os clubes. Sabe-se, contudo, que poucos alcançam o objetivo de se tornar um atleta de sucesso”, ressalta Rogério Micale, técnico das categorias de base do Atlético. ‘Garimpo de valor’, Minas Gerais já revelou ao mundo ícones do esporte, como Pelé, Tostão e Reinaldo. Atualmente os clubes da capital ganham mais destaque em competições de base. O Atlético é o atual campeão mineiro e vice da Copa do Brasil; o Cruzeiro é tricampeão do Brasileiro Sub-20; e o América foi semifinalista na Copa Libertadores de 2012. Como consequência do trabalho realizado, atletas têm obtido sucesso nos elencos profissionais. Uma das últimas gratas surpresas do futebol brasileiro nos últimos anos vem da Cidade do Galo. Trata-se do meia-atacante Bernard. Talentoso, o jovem de 20 anos foi decisivo durante o Campeonato Brasileiro. Bernard foi artilheiro do Galo, com 11 gols
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A garotada do Galo comemora o título mineiro conquistado em 2012 ..........................................................................................................................
podium • ESPORTE
marcados no brasileirão do ano passado. Visado, o jogador recebeu sondagens do futebol europeu, mas deve permanecer no Galo pelo menos até o fim da Copa Libertadores.
Guilherme Testa/ FutBase.net
Outras revelações alvinegras podem desabrochar nos próximos anos. Esse é o caso do atacante Carlos, como acredita o técnico Rogério Micale: “É um jovem de muita qualidade. Finaliza bem, tem presença de área, qualidade para voltar, fazer tabelas e abrir espaço para quem vem de trás”, descreve. Matador, Carlos foi o vice-artilheiro da Copa do Brasil Sub-20. Já promovido ao elenco principal para a temporada 2013, o zagueiro Jemerson é considerado pelo técnico Cuca como um atleta com boas perspectivas. O defensor de 20 anos se inspira na dupla de zaga alvinegra, Réver e Leonardo Silva. “Ele mede 1,87m e tem ótima impulsão. Destaca-se pelo bom posicionamento”, revela o técnico do Sub-20 do Atlético. No momento em que os bons laterais estão em falta, Roger surge como um interessante valor. “Executa bons cruzamentos e tem na bola parada uma arma decisiva”, diz Micale, que também ressalta a polivalência do atleta. Convocado para a seleção brasileira Sub-20 para disputar o Sul-Americano da Argentina, o volante Lucas Cândido é descrito como uma grande liderança. “Ele tem voz ativa no vestiário e isso é importante para o grupo. Taticamente, compreende e orienta seus companheiros. É canhoto e bate bem de fora da área”. cruzeiro O Cruzeiro é considerado um dos maiores centros de formação de jogadores. Neste ano, cinco foram promovidos para o elenco profissional: Mayke, Vinícius Freitas, Álisson, Wallace e Vinícius Araújo. “Nosso trabalho na base em 2012 pode ser considero muito bom. Ganhamos com o Sub-20 um título na Holanda e outro em Barbados. Agora coroamos o trabalho com o Campeonato Brasileiro”, comemora o diretor das categorias de base, Márcio Rodrigues.
Na final contra o Inter, o Cruzeiro sagrou-se Tricampeão Sub-20 ..........................................................................................................................
Para selecionar atletas com potencial, o Cruzeiro conta com uma equipe formada por 91 profissionais. “Temos olheiros, técnicos e outros membros preparados para identificar talentos e saber, da melhor forma possível, trabalhar com o atleta que integra os nossos quadros”, afirma o diretor. Márcio enxerga bons valores que podem integrar o elenco principal. “O Eurico, por exemplo, é um ótimo volante. É um atleta com boa saída de bola e uma ótima leitura de jogo. É desses jogadores modernos”. Com nome de craque inglês da década de 80 - apesar da distinta grafia -, Lynneeker é dono de uma história curiosa. Descendente de japoneses, ele começou a carreira no Atlético-PR. Depois se transferiu para o Júbilo Iwata, do Japão, uma vez que seus pais se mudaram para o país, onde ainda moram. Sob a indicação do ex-técnico do Cruzeiro, Adilson Batista, que conheceu o futebol do garoto quando ainda estava na Ásia, Lynneeker foi aprovado em testes no clube mineiro. “Ele é um meia-atacante que joga pelos lados do campo com muita velocidade. Tem um bom drible e deve evoluir ainda mais”, acredita Márcio. Jogador da seleção brasileira, Sávio também é
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podium • ESPORTE
colocado como um garoto de futuro. “Ele ainda integra a categoria Sub-17. É um volante moderno, de bom poder de marcação e tem interessante percepção tática”, diz o diretor celeste. Decisivo na final do Campeonato Brasileiro Sub-20 ao marcar o gol do título aos 38 minutos do segundo tempo, Pedro Paulo é um atacante de características marcantes. “É um jogador com presença de área, haja vista o gol da decisão contra o Internacional. É também uma arma nas jogadas aéreas”, descreve Márcio. américa Conhecido como um celeiro de craques, o América foi o nascedouro de jogadores que passaram pela seleção brasileira - caso de Tostão, Palhinha e Gilberto Silva. Ainda hoje o clube mantém essa tradição. “O bom trabalho se dá pelo planejamento e comprometimento dos profissionais envolvidos”, exalta o técnico do Sub-20 e ex-jogador do clube, Milagres. Entre os talentos da base está o zagueiro Marquinhos. “Tem um bom senso de marcação, é bom na bola aérea e na antecipação aos homens de frente”, descreve o treinador. Eber Vaz
Acostumado a formar grandes craques, o América tem uma base forte. Grupo chegou a disputar a semifinal da Libertadores 2012 .........................................................................................................................
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No meio-campo alviverde, o destaque é o meia Renato Silva. “Jogador inteligente. Um dos melhores camisas 10 das bases de todo o Brasil. Mas precisa de um pouco mais de atenção. Ele é muito magrinho, precisa de suprimentos para encorpar um pouco mais”, avalia Milagres, que descreve outras importantes peças no meio-campo: Luiz Felipe e Júnior Lemos. “O Luiz Felipe é um volante inteligente, tem qualidade no passe e marca muito bem”, diz. “Já o Júnior Lemos é um segundo volante. Ele é muito competitivo e é uma voz ativa no vestiário do clube”, descreve. referência O Barcelona mudou a forma de pensar as categorias de base. Dono de um futebol vistoso e campeoníssimo, o clube espanhol implantou novas metodologias para a formação de atletas. O time que há anos encanta o mundo tem sua base formada por jogadores revelados em “casa”. Messi - eleito o melhor jogador do mundo pela quarta vez consecutiva -, Iniesta, Xávi, Fabregas, Busquets, Pedro, Puyol, dentre tantos outros, foram criados nas “canteras” de La Masia - centro de formação de jogadores do Barcelona. Os responsáveis pela categoria de base dos clubes mineiros concordam que o estilo de jogo promovido pelo Barça é uma inspiração, mas difícil de ser reproduzido. “Qualquer um no mundo sonha em ter uma base que revele tantos jogadores de qualidade. Mas a receita do Barcelona é difícil de ser seguida, porque envolve uma gama de fatores e, principalmente, alto investimento financeiro”, diz Márcio Rodrigues, diretor da base do Cruzeiro. “O modelo do Barcelona serve para eles. Implantar aqui é complicado. Os campos de categoria de base, onde os campeonatos no Brasil são disputados, são de qualidade bem inferior aos da Europa. Com um gramado irregular e cheio de buracos, não há como jogar com tanta troca de passes como faz o Barcelona. O que a gente dá ênfase, além dos passes curtos como eles, é a ligação direta, que é necessária também para a realidade do futebol brasileiro”, explica Rogério Micale.
Artigo • meteorologia METEOROLOGIA
Ruibran dos Reis Diretor Regional do Climatempo Professor da PUC Minas ruibrandosreis@gmail.com
A crise econômica e as mudanças climáticas Em janeiro estive na Europa. Estou começando a fazer o meu pós-doutorado e participando de um projeto da Comunidade Europeia. Pesquisadores de universidades da Alemanha, do Reino Unido, da Itália, da Espanha, de Portugal, da Dinamarca, da Finlândia e da Holanda integram o grupo. O projeto de pesquisa prevê estudos também para a América do Sul. E é nessa fase que eu entro.
geram impactos em vários países. No ano passado, o verão foi rigoroso, com temperaturas acima de 40 graus em quase todos os países do continente europeu. A falta de energia para mover a economia é também um grande fator para a crise. A extração do petróleo no mar do norte já teve dias melhores. Agora os investimentos estão sendo feitos principalmente nas energias eólica e solar.
Durante a passagem de ano, os líderes políticos de Alemanha, França, Espanha e Portugal foram muito pessimistas em relação às perspectivas para a economia da Comunidade Europeia deste ano. Pra eles, a crise ainda não atingiu o ápice. A ordem é economizar, aumentar a carga de impostos e diminuir os “privilégios” até dos aposentados.
Mesmo com a descoberta do pré-Sal, o Brasil deveria olhar com mais atenção para o que está acontecendo na Europa. Segundo o Dr. Felipe D. Santos, “a humanidade se viciou em combustíveis fósseis. O problema desse vício é uma verdade inconveniente para o nosso paradigma energético. A queima dos combustíveis fósseis emite o dióxido de carbono (CO2), que intensifica o efeito de estufa natural na atmosfera, provocando alterações climáticas”. Daí a necessidade de investir o quanto antes em alternativas energéticas.
Os meios para solucionar a crise europeia são complexos. Agora passam também pela necessidade de se adaptarem às mudanças climáticas, que já
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Artigo • oriente médio
Frei geraldo van buul geraldovanbuul@hotmail.com
Liturgia cristã em Jerusalém Frei Geraldo van Buul
Recentemente houve mais uma vez algumas manifestações da folclórica tradição cristã aqui na Terra Santa. No dia da festa de Santa Catarina, padroeira da igreja franciscana de Belém, houve a entrada solene do Custódio na Basílica da Natividade. É uma ocasião em que bandas de música, escoteiros, grupos folclóricos, políticos e naturalmente os frades são mobilizados para introduzir o Custódio no Santuário. Essa basílica está sob o poder dos Grego-ortodoxos. Eles se empenham para que a procissão, depois de entrar pela porta de frente, saia logo por uma porta lateral para ir à igreja de Santa Catarina. Mais tarde, após uma celebração, é possível fazer uma procissão até a gruta da Natividade, mas também por uma porta lateral para que não haja nenhuma invasão em território alheio. Dois dias depois tivemos um mesmo acontecimento em Jerusalém com a entrada solene do novo Núncio Apostólico na Basílica do Santo Sepulcro. Isso só é permitido em companhia dos Franciscanos. Por isso, fomos primeiro ao Patriarcado para buscar aquela excelência e o conduzir então até a Basílica.
A Basílica do Santo Sepulcro é cenário para a devoção dos cristãos ..........................................................................................................................
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No dia seguinte acontece o mesmo, só que com o Cardeal Grão-Mestre da Ordem equestre do Santo Sepulcro, certamente acompanhado de cônegos e cavaleiros do Santo Sepulcro. Em seguida, dentro da Igreja há uma cerimônia que segue a tradição do século XVIII. Nada de microfones, nem alto-falantes. Difícil escutar, caso não esteja perto daquele que fala.
KULTUR • LITERÁRIA
8 ANOS Reprodução
Reprodução
Mensalão Morte Súbita Autora: J.K. Rowling Editora: Nova Fronteira Páginas: 512 Com a saga do bruxinho mais badalado da literatura mundial, J.K. Rowling fez fortuna: vendeu mais de 450 milhões de exemplares do Harry Potter em todo o mundo. O novo livro da autora teve recepção acalorada dos ingleses. “Morte Súbita” foi a obra mais vendida na Inglaterra, em 2012. A história gira em torno do assassinato de um vereador em Pagford, cidade do sudoeste inglês. A partir de então, os moradores partem à procura de um novo representante que possa defender suas conveniências.
Autor: Marco Antônio Villa Editora: Leya Brasil Páginas: 392 Na obra, Villa rememora para os brasileiros o maior escândalo político da história do país – um capítulo que demorou sete anos para ter uma conclusão. O autor volta a 2005, reconstrói fatos, apresenta personagens “(Lula, José Dirceu, Marcos Valério, Roberto Jefferson dentre outros)” e os esquemas que tomaram conta dos noticiários brasileiros desde então. Em 2012 ocorre o desfecho, o julgamento no Supremo Tribunal Federal e a condenação dos envolvidos. Uma obra sintética e indispensável para quem deseja entender o desenrolar dos fatos por meio de uma visão clara.
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kultur • MODA
Em verde e amarelo Eles fizeram da capital britânica uma plataforma para ganhar o mundo. Conheça os brasileiros que fazem sucesso nas vitrines londrinas Ilana Rehavia, de Londres
Divulgação
Com o brilho do ouro, as tramas do tricô e as curvas de modernos óculos escuros, três estilistas brasileiros que vivem em Londres estão deixando suas marcas no universo da moda. Os paulistas Fernando Jorge e Lucas Nascimento e o gaúcho Maurício Stein conseguiram uma façanha para poucos em uma cidade altamente competitiva. Na capital britânica, os jovens talentos mais promissores do mundo lutam para provar que são os mais criativos, os mais descolados, os mais inovadores, os “mais mais”. Nesse cenário, Fernando, Lucas e Maurício conseguiram se destacar na multidão. Eles chamaram a atenção das publicações de moda, despertaram o interesse de lojas conceituadas e, o mais importante: conquistaram os consumidores. A receita desse sucesso é uma identidade forte, muito trabalho, uma pitada de irreverência e um pouquinho daquele charme bem brasileiro.
O joalheiro Fernando Jorge entrou para o time da Valery Demure, agência que reúne os designers de acessórios mais badalados .........................................................................................................................
FERNANDO JORGE Guarde bem esse nome. Com peças femininas e sensuais, o paulista Fernando Jorge é presença garantida nas caixinhas de joias mais antenadas da Europa. No universo do joalheiro, pedras brasileiras e semipreciosas, como ágatas e ametistas, são tratadas com a mesma reverência de esmeraldas e diamantes. As pedras ganham nova vida com contornos suaves e fluidos. “O que vale para mim é o resultado final, a beleza e a elegância. O verdadeiro luxo não vem apenas do valor financeiro das pedras, mas do talento, do trabalho e da habilidade por trás de uma peça”, diz Fernando. O estilista produz suas
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Fotos Divulgação
Fernando busca beleza e elegância em suas peças ............................................
kultur • MODA
joias no Brasil para aproveitar o conhecimento e as técnicas tradicionais usadas no país. Não é exagero dizer que a carreira do joalheiro vem sendo meteórica. Ele lançou a própria grife apenas três meses depois de concluir um mestrado na famosa universidade Central Saint Martins, em Londres. Desde quando começou a assinar Fernando Jorge, há pouco mais de dois anos, o joalheiro se consolidou como um dos principais novos destaques da joalheria mundial. Fernando ganhou as páginas de revistas especializadas em todo o mundo e conquistou espaço para suas peças em lojas importantes, como a londrina Matches Fashion. Fernando enveredou pelo mundo das joias por acaso. Quando ainda estava no Brasil, ele foi selecionado para um estágio na área, durante a graduação de Desenho Industrial. “Foi uma paixão acidental, mas que encaixou. Algumas coisas na minha vida foram assim: elas me escolheram”, conta. Depois do estágio, ele integrou a equipe da conhecida joalheira Carla Amorim durante quatro anos. O joalheiro se divide entre a capital britânica, onde tem seu estúdio de criação e distribuição, e São Paulo, onde procura material e coordena a produção. Esse vai e vem acaba inspirando as criações. “Sou fascinado pela visão que o estrangeiro tem do Brasil e amo a sensualidade brasileira, que vem sem esforço nem vulgaridade.”
que formem pontas, com um resultado levemente agressivo”, explica. Além de experimentar com novas formas e lapidações, os planos de Fernando incluem a expansão da marca. O joalheiro acaba de entrar para o time da agência Valery Demure, que representa alguns dos mais badalados designers de acessórios. Fernando revela que o Brasil está nos planos. Para ele, é uma questão de tempo as consumidoras brasileiras começarem a comprar suas peças em solo nacional. Até lá, a opção para quem se apaixonar pelo trabalho do paulista é encarar o imposto de importação e aproveitar um dos sites internacionais que entregam no Brasil, como o www.coutourelab. com. LUCAS NASCIMENTO Chega a ser um pouco simplista chamar as tramas do paulista Lucas Nascimento de tricô. A palavra não chega nem perto de explicar a beleza de suas criações. Usando as agulhas como ponto de partida, Divulgação
A primeira coleção de Fernando, intitulada “Cheeky” (algo como atrevido, ousado), brincava com duplos sentidos. Anéis e brincos lembravam inocentes sementes ou belos bumbuns, dependendo da interpretação. A segunda linha, a “Fluid”, espelhou-se no molejo brasileiro para criar peças lânguidas, que pareciam derreter no corpo. A coleção atual, chamada “Electric”, abandona um pouco essa suavidade. Ela segue por um caminho mais duro, criando ângulos para safiras azuis, topázios e ródios negros. “A ideia é soltar as pedras de suas linhas arredondadas e permitir
O sucesso de Lucas veio com a mudança para a capital inglesa, em 2001. Ele é um dos destaques da Semana da Moda de Londres .........................................................................................................................
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kultur • MODA
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De sua base na capital britânica, Lucas vem conquistando o mundo da moda. Seus tricôs ilustram as páginas de revistas de peso, como Vogue, Love, Grazia, Wallpaper*, InStyle e W e estão disponíveis nas araras de algumas lojas badaladas do planeta, como as inglesas Dover Street Market e LN-CC, a francesa Le Bon Marché e a americana Moda Operandi. Lucas também é um dos destaques da Semana de Moda de Londres. Ele estreou lá em 2011 e, no ano passado, foi escolhido pelo Conselho Britânico de Moda para o programa Newgen. O programa oferece patrocínio e apoio logístico aos estilistas mais promissores do país. Sem tempo nem vontade de parar para contemplar o sucesso, Lucas está sempre de olho no futuro e já planeja as novidades para a próxima coleção. “Uma mistura do tricô com matérias-primas, como o couro e a pele”, revela.
Os tricôs de Lucas Nascimento estampam páginas de conceituadas revistas de moda mundo afora .........................................................................................................................
Lucas vem revolucionando essa arte tão tradicional. Ele dá ao tricô novas formas e texturas e usa materiais inusitados, como a seda e o neoprene. Criado em Bonito, no Mato Grosso do Sul, o estilista aprendeu a tricotar com a mãe, aos 11 anos de idade. O reconhecimento veio com o trabalho em grifes brasileiras, como a Ghetz, Ellus e Amapô. Em 2001, Lucas partiu para Londres, de olho na expansão de sua marca. “Londres vem sendo extremamente importante para o meu trabalho. Tenho aqui oportunidades incríveis e hoje me sinto parte da cidade”, diz ele.
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A má notícia para as brasileiras é que as peças de Lucas Nascimento ainda não estão disponíveis no país. O foco, por enquanto, é o hemisfério norte. “Estou concentrando minha expansão na Ásia, em países, como a China e Hong Kong”. A boa notícia é que, por causa do clima quente asiático, Lucas está revendo suas criações e trabalhando com fabricações mais leves, que funcionariam perfeitamente para o calor brasileiro. “Adoro o Brasil e obviamente gostaria de um dia disponibilizar minhas peças no país. Há planos, mas nada de concreto”, diz ele. MAURÍCIO STEIN Os variados óculos escuros criados pelo designer Maurício Stein são a cara da Londres em que ele vive há oito anos. São peças modernas, ousadas e irreverentes para quem não tem medo de chamar a atenção. O estilo de Maustein, como gosta de ser chamado, rendeu ao gaúcho uma linha exclusiva para a gigante do comércio virtual, Asos.com. Com quase 5 milhões de consumidores em 160 países, fica fácil entender por que a loja on-line é uma das parceiras mais cobiçadas do mundo da moda.
kultur • MODA
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As peças de Stein são cobiçadas em todos os cantos do mundo ........................................
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A inspiração de Maustein vem a partir do que ele observa nas ruas. Ele já criou acessórios para marcas, como Urban Outfitters e Zara ........................................................................................................................
Ao lado do irmão Eduardo Dechtiar, Maurício comanda sua marca, a Rejected Samples. A marca reúne os óculos “ovelhas negras”, considerados ousados demais para marcas e estilistas com os quais Maurício trabalha. “A ideia é trazer um misto de protótipos e óculos rejeitados pelas grifes, em grande parte por serem estranhos ou conceituais demais e de difícil produção em série”, diz ele. A linha está presente em 15 pontos no Brasil e em lojas em Milão, Tóquio, Praga, Los Angeles e Berlim. Nada mal para quem começou a se dedicar exclusivamente ao universo dos óculos escuros apenas há cinco anos. Maurício estudou Desenho Industrial e começou a carreira como designer de móveis no Brasil. Ele partiu para Londres em busca de independência e novos horizontes e acabou se apaixonando pela moda. “No começo, todos os meus amigos eram dessa área. Aos poucos, acabei fazendo essa transição”, conta. “O nível de exigência em Londres é muito alto, a diversidade cultural é incrível e não há limites para o que se pode fazer”.
Maustein criou acessórios para grandes marcas, como Topshop, Urban Outfitters, Zara e Mango. Ele trabalhou como caçador de tendências, viajando o mundo em busca de novidades e inovações. “Essas andanças pelas minhas cidades favoritas, como Tóquio, Berlim, São Francisco e Reykjavik, ajudam na hora de criar”. Sua principal inspiração é o que vê nas ruas; não nas passarelas e em revistas. E não se engana quem nota um quê de anos 90 nas peças do designer. “É quando fui adolescente. Por isso, acabo usando muitos elementos dessa era no momento de criar”. Mesmo com o amor pelas viagens e pela vida londrina, Maurício revela que pretende voltar ao Brasil um dia para ficar mais perto da família, acompanhar o crescimento da Rejected Samples e prestar consultoria para grifes nacionais. Os modernos brasileiros agradecem.
Serviço Fernando Jorge – www.fernandojorge.co.uk Lucas Nascimento – www.lucasnascimento.com Maurício Stein – www.rejectedsamples.com
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KULTUR • CINEMA
Divulgação/ Imovision
“Amor”, do austríaco Michael Haneke, é o único longa de língua não inglesa entre os nove indicados a melhor filme .............................................................................................................................................................................................................................................................
Todos querem a estatueta dourada Os indicados ao Oscar 2013 foram revelados. Entrega dos prêmios acontece na noite do dia 24 de fevereiro, em Los Angeles André Martins No fim da primeira quinzena de janeiro, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood anunciou os indicados à 85ª edição do Oscar. Como era esperado, a lista traz algumas surpresas, mas obedece a uma ordem quase consensual entre os críticos, que se baseiam nas indicações e em prêmios do circuito americano para fazer suas apostas e previsões. O drama “Lincoln” lidera a corrida, com 12 nomeações. “As aventuras de Pi” vem em seguida, com 11 indicações – a maioria técnicas. Lembrados em oito categorias aparecem “O lado bom da vida” e
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o musical “Os miseráveis”. “Argo” tem sete indicações. Completam a lista de indicados a melhor filme o franco-austríaco “Amor”, o independente “Indomável sonhadora”, “A hora mais escura” e “Django livre” – todos com cinco nomeações cada. Indiscutivelmente os favoritos são “Lincoln”, “O lado bom da vida” e “Argo”, que recobrou o fôlego com a recente vitória no Globo de Ouro. Assim como na lista da categoria pelo prêmio mais cobiçado a ser entregue na noite do dia 24 de fevereiro, as presenças de “Amor” e “Indomável sonhadora” em
KULTUR • CINEMA
direção deixaram todos estupefatos. Ao contrário do que apontava a lista dos indicados ao prêmio do Sindicato dos Diretores (DGA), Michael Haneke e Benh Zeitlin tomaram o lugar dos já vencedores na categoria, Tom Hooper (“Os miseráveis”) e Kathryn Bigelow (“A hora mais escura”). Ben Affleck (“Argo”), que tem se mostrado melhor diretor que ator, subiu no telhado mais uma vez. David O. Russell (“O lado bom da vida”) levou a melhor.
Divulgação/ Fox Film
O veterano Steven Spielberg, dono de dois Oscar de direção, e o taiwanês Ang Lee, ganhador do prêmio por “O segredo de Brokeback Mountain”, completam a lista. Spielberg desponta como favorito, mas a presença de Haneke é uma ameaça. Na condição de um dos produtores de “Lincoln”, é possível que o prêmio de melhor filme fique com Spielberg, enquanto o de direção caia nas mãos de Haneke, responsável pelo devastador “Amor”. Na categoria de melhor atriz, um duplo recorde: aos 85 anos de idade, a francesa Emmanuelle Riva, indicada por “Amor”, tornou-se a atriz mais velha a concorrer a uma estatueta dourada. Já a pequena Quvenzhané Wallis (“Indomável Sonhadora”), com 9 anos, é a mais jovem concorrente em toda a história da premiação. Jessica Chastain, por “A hora mais escura”, Jennifer Lawrence, por “O lado bom da vida”, e Naomi Watts, por “O impossível”, completam a lista. A surpresa ficou por conta da indicação de Wallis e da não aparição de Marion Cotillard (“Ferrugem e Osso”). Ela havia sido indicada ao Globo de Ouro e ao prêmio de melhor atriz do Sindicato dos Atores (SAG). Com quem ficará o Oscar? Difícil prever. Riva completa 86 anos no dia da cerimônia. Seria um presente e histórico. A jovem Jennifer Lawrence, indicada em 2011 por “Inverno da alma”, faz frente à francesa. Naomi Watts observa o “arranca-rabo” de longe e pode surpreender. Já Chastain se agarra à certeza de que o posto de “queridinha de Hollywood” possa lhe render mais do que bons papéis,... quem sabe um Oscar?... Entre os homens, um veterano detém o posto de favorito. Trata-se de Daniel Day-Lewis, o presidente Lincoln da cinebiografia de Spielberg. Ele ganhou em duas ocasiões, o que parece não influir em uma possível terceira vitória. Bradley Cooper (“O lado bom
“Lincoln” recebeu o maior número de indicações: foram 12 .........................................................................................................................
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KULTUR • CINEMA
da vida”) e Hugh Jackman (“Os miseráveis”) correm por fora. Denzel Washington (“O voo”) e Joaquim Phoenix (“O mestre”) são os demais indicados. Phoenix tomou o lugar de John Hawkes (“As sessões”), o que causou espanto. O ator vinha minorando a importância do Oscar. Isso poderia levar a ser considerado persona non grata entre os votantes. Essa é a terceira nomeação para Phoenix. Nas categorias de atuação em papel coadjuvante, veteranos e jovens promessas se digladiam pelas estatuetas. Sally Field, duas vezes congratulada, volta a receber uma indicação depois de quase 30 anos distante da cerimônia, pela interpretação em “Lincoln”. Helen Hunt (“As sessões”) e Jacki Weaver (“O lado bom da vida”) também aparecem como atrizes mais experientes. A briga, no entanto, deve ficar entre Amy Adams (“O mestre”), que em seis anos surpreende com quatro indicações na mesma categoria, e Anne Hathaway (“Os miseráveis”), indicada à melhor atriz Divulgação/ Paris Filmes
Bradley Cooper (esq.) e De Niro foram lembrados pelas atuações em “O lado bom da vida”, de David O. Russell ........................................................................................................................
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em 2009 pelo tocante “O casamento de Rachel”. Anne tem vantagem. Sua atuação tem sido aclamada pelo público e pela crítica. Christoph Waltz (“Django livre”), Philip SeymourHoffman (“O mestre”), Robert De Niro (“O lado bom da vida”), Tommy Lee Jones (“Lincoln”) e Alan Arkin (“Argo”) disputam a estatueta de melhor ator coadjuvante. A corrida é boa e imprevisível. Existe um Waltz que parece ter nascido para eclipsar seus companheiros (depois de Pitt, agora é DiCaprio que amarga a situação); Seymour-Hoffman e Arkin sempre competentes, além de dois veteranos que há muito não “davam as caras” nas cerimônias do Oscar, Tommy Lee Jones e De Niro. Esse fator leva a crer que um dos dois deve ser agraciado com o prêmio. Waltz venceu recentemente por “Bastardos Inglórios”. Isso diminui suas chances diante dos nomes consagrados que disputam com ele. Se pairam incertezas em relação aos possíveis premiados nas categorias principais e de atuações, o Oscar de melhor filme estrangeiro, logicamente, já tem dono: “Amor”. Indicado também a melhor filme, o longa vem conquistando a crítica internacional e ganhando prêmios importantes, como a Palma de Ouro do prestigiado Festival de Cannes. A produção franco-austríaca conta a história de amor entre dois octogenários e o enfrentamento de uma doença degenerativa. Completam a seleção “Kon-Tiki”, da Noruega, “No”, primeira indicação da história do cinema chileno, “O amante da rainha”, da Dinamarca, e “Bruxa de guerra”, do Canadá. Só faria sentido sair derrotado na categoria, caso “Amor” vencesse como melhor filme. É algo improvável, uma vez que o francês “O artista” se sagrou o grande vencedor da edição passada do Oscar. Por falar em França, Hollywood deu um sonoro recado ao país europeu. Bizarramente, deixou de fora da cerimônia “Os intocáveis” – maior sucesso internacional do cinema francês. Talvez tenha sobrado até mesmo para Marrion Cotillard. A cota de francesas na categoria de atriz parece ser só uma mesmo: ou pela força da interpretação ou por ser mais velha, Riva certamente agradece o reconhecimento da Academia.
kultur • CINEMA
O gatilho mais rápido do sul Tiroteios, cães devoradores de homens, grandes explosões, diálogos divertidos intercalados com cenas tensas, ótimas atuações e grande direção... “Django livre” chega às telonas brasileiras Luísa Reiff Guimarães Tarantino é capaz de levar multidões ao cinema, graças a seu nome ao lado do título “diretor”. Responsável por “Pulp fiction”, “Kill Bill”, “Bastardos inglórios”, dentre tantos outros bons títulos, ele dispensa grandes apresentações. O seu novo longa tem ares de western, com pistolas, espingardas, tabernas e zoons dramáticos nos rostos de seus muito bem-escolhidos atores. Por força do destino, o protagonista Django (Jamie Foxx), encontra seu companheiro: um divertido antiescravagista, o ex-dentista e alemão, Dr. Schultz, interpretado por Christoph Waltz. As brilhantes atuações não se ofuscam: completam-se. A dupla não poderia ter sido melhor. É um prazer vê-los em cena.
Depois de reviravoltas, o desfecho da saga é selado. Acompanhadas da trilha sonora, da já clássica “sangueira à Tarantino” e de muitas brigas, as cenas fazem prender a respiração. A trilha sonora que embala o filme é muito interessante. As músicas variam do blues ao bem recente hip-hop, todos surgidos na cultura negra. São também muitos os takes violentos, com a escravidão esmiuçada, detalhando os castigos e a maldade humana. Além de um ótimo entretenimento para os cinéfilos, “Django livre” serve de reflexão para que todo e qualquer racismo continue sendo rejeitado e combatido. Bravo! Divulgação/ Sony Pictures
Dr. Schultz é um caçador de recompensas. Django se junta a ele em seu ofício extraoficial. Eles partem em uma jornada movida por amor e vingança em busca de Broomhilda (Kerry Williams), esposa de Django e propriedade do Monsieur Calvin Candie (Leonardo DiCaprio). O personagem de DiCaprio não fala francês, mas gosta que dirijam-se a ele dessa forma. Ele tem a plantação Candyland (do inglês, se escrito separado, pode ser traduzido como “terra dos doces”). O nome é uma referência tragicômica ao sobrenome do asqueroso e cruel senhor de escravos. Os dois heróis elaboram uma trama para resgatar Broomhilda, mas é claro que nem tudo sai de acordo.
Christoph Walts (esq.) e Jamie Foxx em cena de “Django Livre” ........................................................................................................................
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KULTUR • TERRA BRASILIS
Teatro e Dança A Campanha de Popularização do Teatro e da Dança de Belo Horizonte chega à 39ª edição. O festival resgata espetáculos apresentados durante o ano, dando mais uma oportunidade a quem perdeu a apresentação de uma peça ou um balé. O evento é uma realização do Sindicato dos Produtores de Artes Cênicas de Minas Gerais (Sinparc) e será realizado em todos os teatros de Beagá. Um grande público prestigia o festival todo ano e dá apoio aos artistas, tornando a campanha um evento essencial na agenda cultural da cidade. Local: teatros de Belo Horizonte Data: de 5 de janeiro a 4 de março Outras informações no site www.sinparc.com.br Divulgação
Divulgação Stock.xchng
Carnaval O tradicional baile do Siri na Lata começou em Olinda, em 1979. Durante a festa, o Clube Português – espaço atual do evento – é inteiramente decorado com o tema carnavalesco para agradar aos muitos foliões. Desde o começo da década de 90, anualmente camisas com lindas e típicas estampas são produzidas para o bloco. Em 2013, os foliões vão pular o carnaval ao som de Almir Rouche, da Orquestra Popular da Bomba do Hemetério e da Escola de Samba do Porto Velho, dentre outras atrações. Além da pista, estão à venda mesas e camarotes. Local: Clube Português do Recife Data: 1º de fevereiro Horário: 22h Outras informações pelo telefone (81) 3427-1351
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KULTUR • TERRA BRASILIS
Divulgação
De SP para BH Divulgação/ Fundação Bienal
Grizzly Bear A banda de indie rock nova-iorquina vai dar o ar da graça em São Paulo. A turnê está prevista para fevereiro. A Grizzly Bear vai promover seu quarto álbum, “Shields”, lançado em setembro do ano passado. O grupo acaba de completar 10 anos de carreira e é composto por Christopher Bear, Edward Droste, Daniel Rossen e Chris Taylor.
Parte da exposição apresentada na 30ª Bienal de São Paulo: “A Iminência das Poéticas – Seleção de obras” vai ser exibida em Belo Horizonte. Ao todo serão 270 obras. Depois a mostra itinerante passa pelo interior de Minas Gerais e de São Paulo. Local: Palácio das Artes e Centro de Arte Contemporânea e Fotografia Data: 17 de janeiro a 17 de março Outras informações pelo telefone (31) 3236-7400
Local: Cine Joia – São Paulo Data: 3 de fevereiro Outras informações no site grizzly-bear.net
Grande Teatro O principal espaço de espetáculos da Fundação Clóvis Salgado recebe a peça “Till, a saga de um herói torto”, do tradicional grupo mineiro, Galpão. A história trata de um personagem da cultura alemã, um anti-herói malandro, e de três peregrinos cegos que buscam se redimir. Local: Palácio das Artes Data: 1º e 3 de fevereiro Horário: 21h, na sexta-feira e 19h, no domingo Outras informações no site www.palaciodasartes. com.br
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CRÔNICA
Joanita gontijo Jornalista e autora do blog tresoumais.blogspot.com joanitagontijo@yahoo.com.br
Hora de des... descansar Ah, férias!!! Ficar de pernas pro ar... Não ter que se preocupar com horários e tarefas. Eh... Esse é o primeiro pensamento que vem à mente, quando bato o ponto ao final do último dia de trabalho. Mas o que deveria ser um paraíso tem lá seus inconvenientes, quando deixa de ser um plano para se tornar real. Para começar, as férias dos nossos pequenos são pelo menos duas vezes maiores do que as nossas, simples trabalhadores com direito a, no máximo, um mês de descanso remunerado por ano. Isso significa que, beeeem antes de se despedir do seu chefe, você vai enfrentar a revolta da sua prole. Eles vão se queixar diariamente do quão chatas estão as férias diante da TV e do videogame. Isso não era legal durante o período letivo? Vai entender essas crianças...
está arrependida de ter dispensado sua ajudante e já aprendeu que deve economizar um pouco mais para contratar uma substituta nas próximas férias. Nos últimos sete dias, você cozinhou, lavou, passou, limpou, foi ao supermercado dez vezes, quase quebrou o pé jogando futebol, disputou WAR por 12 horas seguidas (esse jogo não acaba nunca?!), recebeu quatro amiguinhos dos filhos pra dormir em casa (na mesma noite) e... Será que devo ligar para o meu chefe e perguntar se ele não quer que eu volte? Afinal, preciso descansar...
“Será que devo ligar para o meu chefe e perguntar se ele não quer que eu volte? Afinal, preciso descansar...”
E, enfim, o dia chega! Tchauzinho, trabalho! Mal abre a porta de casa cantarolando de felicidade e já combina vários programas para o dia seguinte. E despede-se da empregada que também vai tirar alguns dias de folga. Afinal, você só tem como dar férias a ela quando você está em casa (você ainda não sabe, mas está numa “roubada”). Primeira manhã: triiimmmm!!! O despertador tocou? Mas eu não estou de férias? Ah, me lembrei: é que prometi acordar cedo para levar as crianças à piscina. No final da primeira semana, você já
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Acreditando que tudo ficará bem, quando chegarem à praia, você desiste da ideia e começa a fazer as malas. Oh mar... como eu te amo! Entre “banhos” de protetor solar nos filhos a cada duas horas, apelos constantes para que não se afastem de seus olhos, você consegue beber uma cervejinha com os amigos. Mas você mais interage mesmo é com os vendedores de picolé e queijo coalho. Afinal, as crianças a-do-ram! E eles a-do-ram você que já garantiu o 13º salário da economia informal da areia! Fim de férias! Estão todos felizes e realizados? Sim! Inclusive eu que dormi bem menos do que planejava e trabalhei bem mais do que gostaria. É que as mães têm o dom de transformar tarefa em prazer, cansaço em alegria, dedicação em amor. Mas no ano que vem vou reservar pelo menos uma semana só para mim. Preciso me lembrar de tirar férias das férias...
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